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Relações Internacionais e Globalização DAESHR014- 13SB (4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI [email protected] UFABC – 2018.I (Ano 3 do Golpe) Aula 2 5ª-feira, 22 de fevereiro

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Relações Internacionais e Globalização DAESHR014- 13SB

(4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI

[email protected]

UFABC – 2018.I

(Ano 3 do Golpe)

Aula 2

5ª-feira, 22 de fevereiro

Blog da disciplina:

https://rigufabc.wordpress.com/

No blog você encontrará todos os materiais do curso:

• Programa

• Textos obrigatórios e complementares

• ppt das aulas

• Links para sites, blogs, vídeos, podcasts, artigos e outros materiais de interesse

Horários de atendimento extra-classe:

• São Bernardo, sala D-322, Bloco Delta, 3as-feiras e 5as-feiras, das 13-14h (é só chegar)

• Atendimentos fora desses horários, combinar por email com o professor: [email protected]

Módulo I: Origens de nosso tempo

Aula 2 (5ª-feira, 22 de fevereiro): Conceitos fundamentais:

globalização(ões), imperialismo(s) e hegemonias do capitalismo histórico

Texto base:

KOCHER, Bernardo, (2011) Globalização: Atores, ideias e instituições.

O’ROURKE, Kevin H. e WILLIAMSON, Jeffrey G. (2004) “Once more: When did globalisation begin?”, p. 23-47, http://www.tcd.ie/Economics/staff/orourkek/offprints/EREH2004.pdf

Textos complementares:

ARRIGHI, Giovanni. (2000) “As três hegemonias do capitalismo histórico”, p. 27-47.

AMIN, Samir (2005) “O imperialismo, passado e presente”, p. 77-123, http://www.scielo.br/pdf/tem/v9n18/v9n18a05.pdf

HARVEY, David (2004) “The ‘new’ imperialism: accumulation by dispossession”.

DOWRICK, Steve, DeLong, J. Bradford (2003) “Globalization and convergence”.

Conceitos fundamentais: globalização(ões), imperialismo(s) e

hegemonias do capitalismo histórico

Globalização(ões)

• O que é?

• Quando começou?

• O que se globaliza?

• Quem se beneficia?

• Como medir?

Globalização(ões): O que é?

“Trata-se de um neologismo surgido nos anos 1980 e amplamente difundido na década seguinte. (...) A expressão é, num primeiro momento, uma dimensão ideológica da vitória do capitalismo sobre o comunismo. Saindo de cena o regime comunista surgia um mundo globalizado. (...) Diríamos que tratamos de um paradigma sem teoria, utilizado para explicar todo e qualquer fato. Dada a inviabilidade de um consenso teórico procuraremos o significado da globalização refletindo sobre a necessidade do seu uso – e não de sua essência – em função das transformações que o capitalismo sofreu desde meados dos anos 1960”. (Kocher, 2011: 151)

Globalização(ões): O que é?

“A globalização não é ainda uma realidade totalmente factível, já que existem, por exemplo, inúmeras barreiras concretas a uma livre circulação da força de trabalho e de produtos agrícolas em diversos mercados. (...) Materializando-se apenas em algumas atividades (finanças, informações, comércio internacional de mercadorias manufaturadas, turismo etc.) a globalização tem sido desde as suas origens mais um projeto do que uma realidade para a maioria dos seres humanos”. (Kocher: 152-153, in Kocher 2011)

Globalização(ões): O que é?

“(...) Para definir o momento atual em que se encontra a economia capitalista, prefiro falar de mundialização, que é um processo que implica que os elementos fundamentais desse sistema, como a lei do valor, a extração de trabalho excedente da classe operária, a obtenção de ganhos pela classe capitalista a partir da apropriação da mais-valia gerada pelo mundo do trabalho, são verdadeiramente os suportes sociais e estruturais que estão sendo ‘globalizados’, no sentido de que operam em escala mundial e simultânea em favor do capital e da classe capitalista em seu conjunto”. (Sotelo: 154, in Kocher, 2011)

Globalização(ões): O que é?

“(...) Outro elemento que hoje é mais mundializado em relação ao passado é o imperialismo entendido como a superestrutural atual do modo de produção capitalista, sem a qual esse modo fatalmente pereceria”. (Sotelo: 155, in Kocher, 2011)

Globalização(ões): O que é?

“Globalização é uma categoria muito utilizada na atualidade e não possui um significado único. É utilizada como sinônimo de mundialização e alude à eliminação das fronteiras nacionais aos efeitos da atividade econômica. É um conceito que, em geral, define a tendência crescente de abertura da economia mundial, favorecendo a circulação de bens, serviços, capitais e, até certo ponto, pessoas.” (Gambina: 158, in Kocher, 2011)

Globalização(ões): Quando começou?

“Is globalisation 50, 500 or 5.000 years old? Most economists take the ‘big bang’ view, and think globalisation happened very recently. Most historians also take the big bang view, but point to globalisation in the distant past, citing famous dates like 1492. We argued recently in this (O’Rourke and Williamson 2002a) and another journal (O’Rourke and Williamson 2002b) that both views are wrong. Instead, we argued that globalisation has evolved since Columbus, but that the most dramatic change by far took place in the nineteenth century.” (O’Rourke e Williamson, 2004: 109)

Globalização(ões): Quando começou?

“Economically significant globalisation did not start with 1405 and the first junk armadas heading west from China, or with 1492 and Columbus sailing those little caravels west from Europe, or with 1571 and the arrival in Manila of those stately galleons from Mexico. Globalisation became economically meaningful only with the dawn of the nineteenth century, and it came on in a rush.” (O’Rourke e Williamson, 2004: 109)

Globalização(ões): Quando começou?

• Andre Gunder Frank (1990), começo do sistema mundo:

“The origins of our present world system can and should be traced back at least 5,000 years to the beginning of the relations between Mesopotamia and Egypt”. (Frank, 1990: 228).

Crescente Fértil

Globalização(ões): Quando começou?

• Enrique Dussel (2005), começo da história mundial:

“Nunca houve História Mundial até 1492 (como data de início de operação do sistema-mundo). Antes dessa data, os impérios ou sistemas culturais coexistiam entre si. Apenas com a expansão portuguesa desde o século XV, que atinge o extremo oriente no século XVI, e com o descobrimento da América hispânica, todo o planeta se torna o ‘lugar’ de ‘uma só’ História Mundial (Dussel

2005: 28).

Américas-Atlântico

Globalização(ões): Quando começou?

• Flynn e Giráldez (2004), começo da globalização:

“We propose that globalisation began when the Old World became directly connected with the Americas in 1571 via Manila”. (Flynn e Giráldez, 2004: 82).

Espana na Ásia-Pacífico

Globalização(ões): Quando começou?

Dowrick e DeLong (2003), eras da globalização:

• 1870-1913: 1ª era da globalização;

• 1914-1945: interregeno, fechamento das economias nacionais no entreguerras;

• 1945-2000: 2ª era da globalização.

Europa-Atlântico

Globalização(ões): Quando começou?

• Neste curso, adotaremos como data inicial do (atual) processo de globalização os anos 1970.

• Eventos marcantes:

– Fim do Sistema Bretton Woods (1971, EUA acabam com a conversibilidade ouro-dólar); segue-se processo de financeirização e desregulação da economia mundial.

– Choques do petróleo (1973 e 1979), gerando inflação e recessão na economia mundial e o fim da era dourada de crescimento e convergência pós IIGM.

– Eleições de Margaret Thatcher (1979-1990) e Ronald Reagan (1981-1989), que implementam plataformas neoliberais.

– Choque de juros do FED em 1979 (comandado por Paul Volcker), resultando na crise da dívida da América Latina.

Globalização(ões): o que se globaliza?

• Capital;

• Produtos agrícolas e manufaturados;

• Serviços;

• Mercadorias ilícitas;

• Informação;

• Tecnologia;

• Conhecimento;

• Pessoas;

• Doenças;

• Instituições;

• O que mais?

Globalização(ões): Quem se beneficia?

• Globalização gerou convergência ou divergência entre as nações?

“Our historical narrative makes it clear that globalization of the economy does not necessarily imply global convergence. Periods of expansion of transport and trade and flows of capital and migrants have marked the development of a club of convergent economies, but countries outside the club have fallen behind in relative terms even in eras of strong growth. Moreover, over the past two decades many countries have fallen behind, not just relatively but absolutely, in terms of both income level and structural development”. (Dowrick e DeLong, 2003: 2017)

Globalização(ões): Como medir?

• Indicador discreto binário: presença ou ausência de fluxo de x entre regiões, independentemente do volume?

• Indicador contínuo: a partir de que volume de fluxo de x pode-se falar em globalização?

• Tudo se globaliza com a mesma facilidade (por exemplo, capital e pessoas)?

• Grande ênfase na literatura sobre globalização em indicadores econômicos; não há consenso sobre os indicadores mais adequados.

Imperialismos

“Derived from the Latin word imperium, it refers to the relationship of a hegemonic state to subordinate states, nations or peoples under its control. An imperial policy therefore usually means a deliberate projection of a state's power beyond the area of its original jurisdiction with the object of forming one coherent political and administrative unit under the control of the hegemon”. (The Penguin Dictionary of International Relations, 1998, verbete Imperialism).

Imperialismos

“Territorial expansion is an age-old phenomenon but in the modern world it is usual to identify two distinct phases: (a) mercantilist or dynastic imperialism which dates roughly from 1492 to 1763 and which saw the Western hemisphere and much of Asia come under European control and (b) 'new' imperialism 1870-1914, which witnessed the subjugation by Europe of most of Africa and part of the Far East. The period between is dormant in the sense that domestic issues such as balance of power, free trade, nationalism and the industrial revolution were the major preoccupation's of the European states [e o imperialismo britânico???!!!].” (The Penguin Dictionary of International Relations, 1998, verbete Imperialism).

Imperialismos

“In contemporary usage the word has become politicized and now denotes any form of sustained dominance by one group over another. 'Cultural', ‘economic’ or 'structural' imperialisms are phrases frequently used to describe more subtle forms of relationship that do not involve overt political control.” (The Penguin Dictionary of International Relations, 1998, verbete Imperialism).

Interpretações clássicas sobre o imperialismo, Mariutti (2013)

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• Interpretações liberais (John Hobson, Norman Angell, Joseph Schumpeter):

“O aspecto mais relevante das interpretações sobre o imperialismo que aqui qualificamos como ‘liberais’ é o destaque do peso que as forças ‘pré-capitalistas’ exerceram na expansão territorial que marcou a Era do Imperialismo.” (Mariutti 2013: 40)

Interpretações clássicas sobre o imperialismo, Mariutti (2013)

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• Interpretações liberais (John Hobson, Norman Angell, Joseph Schumpeter):

“É evidente que, como tal procedimento tinha como objetivo dissociar o imperialismo do capitalismo, a tendência foi mais no sentido de exagerar a influência dos traços ‘“pré-capitalistas’ do que em mostrar os processos e as circunstâncias em que estas forças se amalgamaram com os elementos ‘tipicamente’ capitalistas.” (Mariutti 2013: 40)

Interpretações clássicas sobre o imperialismo, Mariutti (2013)

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• Interpretações liberais (John Hobson, Norman Angell, Joseph Schumpeter):

“E, mesmo nos momentos onde este tipo de vínculo é estabelecido, a tendência é reforçar o caráter anômalo da situação, de modo a preservar o axioma básico de que o capitalismo, em sua forma pura (sic), não geraria nenhuma tendência ao imperialismo.” (Mariutti 2013: 40)

Interpretações clássicas sobre o imperialismo, Mariutti (2013)

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• Interpretações marxistas (Rosa Luxemburgo, Vladimir Lênin, Rudolf Hilferding, Nikolai Bukharin):

“O cenário é diferente no caso das interpretações marxistas. O vínculo entre a exportação de capitais e o imperialismo era um dos temas dominantes na passagem do século XIX para o XX. Dentre os marxistas, predominantemente, a relação entre o capitalismo e o imperialismo era vista a partir desta ótica.” (Mariutti 2013: 40)

Interpretações sobre o imperialismo do século XIX, Mariutti (2013)

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• Interpretações marxistas (Rosa Luxemburgo, Vladimir Lênin, Rudolf Hilferding, Nikolai Bukharin):

“Em parte, isto se explicava pela necessidade de apontar as diferenças entre o imperialismo e o colonialismo mercantilista e, simultaneamente, ressaltar o caráter crescentemente parasitário do capitalismo avançado.” (Mariutti 2013: 40)

Imperialismo segundo Lênin

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• Exportação de capitais dos países centrais para a periferia.

• Hegemonia do capital financeiro no modo de produção capitalista, a partir da fusão do capital bancário com o industrial, sob domínio do primeiro (Lênin, Imperialismo, fase superior do capitalismo, 1917).

• O imperialismo provoca o parasitismo especulativo, as guerras e o colonialismo. Mas ele não é o reflexo de uma condução errada do capitalismo. É um caminho natural deste, dada a monopolização do capital (sociedades anônimas, ações, cartéis e monopólios) e a influência crescente deste na esfera do Estado.

Imperialismos: Ellen M. Wood, imperialismo excedente”

“Pela primeira vez na história do Estado-nação moderno, as maiores potências do mundo não estão engajadas numa rivalidade geopolítica e militar direta. Essa rivalidade foi efetivamente deslocada pela competição à maneira capitalista. Ainda assim, à medida que a competição econômica foi superando o conflito militar nas relações entre os principais governos, mais os Estados Unidos lutaram para se tornar o poder militar mais esmagadoramente dominante que o mundo já viu.” (Wood, 2014/2003, O império do capital: 109).

Imperialismos: Ellen M. Wood, imperialismo excedente”

“Alguns poderiam chamar isso de ‘imperialismo excedente’ (...) Esse é o paradoxo do novo imperialismo. É o primeiro imperialismo em que o poder militar foi criado não para conquistar território nem para derrotar rivais. É um imperialismo que não busca expansão territorial nem dominação física de rotas territoriais. Ainda assim ele produziu essa enorme e desproporcional capacidade militar com um alcance global sem precedentes.” (Wood, 2014/2003, O império do capital: 109).

Imperialismos: Ellen M. Wood, imperialismo excedente”

“O capital global necessita dos Estados locais. Mas, apesar de os governos que agem sob o comando do capital global serem talvez mais eficazes que os antigos colonizadores, que no passado levaram os imperativos capitalistas por todo o mundo, eles também geram grandes riscos. Em particular, estão sujeitos às suas próprias pressões internas e forças de oposição; e seus próprios poderes coercitivos podem cair nas mãos erradas, contrárias à vontade do capital imperial. (...) O capital global, liderado pelos Estados Unidos, não pode receber bem nem mesmo o tipo de mudança eleitoral que, no momento em que este livro era finalizado [2003] ocorria no Brasil.” (Wood, 2014/2003, O império do capital: 117)

Imperialismos: novo imperialismo, acumulação por espoliação, David Harvey

“Global capitalism has experienced a chronic and enduring problem of overaccumulation since the 1970s. (…) I interpret the volatility of international capitalism during these years, however, as a series of temporary spatio-temporal fixes that failed even in the medium run to deal with problems of overaccumulation. It was, as Gowan argues, through the orchestration of such volatility that the United States sought to preserve its hegemonic position within global capitalism.” (Harvey, 2004: 64)

Imperialismos: novo imperialismo, acumulação por espoliação

“The recent apparent shift towards an open imperialism backed by military force on the part of the US may then be seen as a sign of the weakening of that hegemony before the serious threat of recession and widespread devaluation at home (…). But I also want to argue that the inability to accumulate through expanded reproduction on a sustained basis has been paralleled by a rise in attempts to accumulate by dispossession. This, I then conclude, is the hallmark of what some like to call ‘ the new imperialism’ is about.” (Harvey, 2004: 64)

Samir Amin (2005): Imperialismo, passado e presente

“O título escolhido para as páginas que seguem (o imperialismo – passado e presente) refere-se diretamente à minha tese central, a saber, de que a expansão global do capitalismo foi imperialista em todas as etapas de sua história e assim permanece por todo o futuro vislumbrável (enquanto o sistema permanecer essencialmente fundado sobre a lógica do capitalismo).” (Amin, 2005: 82)

“O imperialismo, então, não é um estágio – nem mesmo o estágio supremo – do capitalismo. Ele é, desde a origem, imanente à sua expansão. A conquista imperialista do planeta pelos europeus e seus filhos norte-americanos se desdobrou em dois tempos e dá início talvez a um terceiro.” (Amin, 2005: 84)

Samir Amin (2005): Imperialismo, passado e presente

“O primeiro momento desse desenvolvimento devastador do imperialismo foi organizado em torno da conquista das Américas, no quadro do sistema mercantilista da Europa atlântica da época (...) O segundo momento da devastação imperialista foi construído com base na revolução industrial e se manifestou pela submissão colonial da Ásia e da África. ‘Abrir os mercados’ e apoderar-se das reservas naturais do globo eram as reais motivações, como é sabido hoje em dia (...). Estamos hoje nos confrontando com o início do desenvolvimento de uma terceira onda de devastação do mundo pela expansão imperialista, encorajada pela derrocada do sistema soviético e dos regimes do nacionalismo populista do terceiro mundo.” (Amin, 2005: 84)

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Principais conceitos:

– Soberania

– Dominação

– Hegemonia

– Anarquia ordenada

– Caos sistêmico

– Lógica territorialista

– Lógica capitalista

– Ciclos sistêmicos de acumulação (fases de expansão material e expansão financeira)

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I

II

III

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Soberania: “reúne numa única instância o monopólio da força num determinado território e sobre uma determinada população”.

• Dicotomia soberania estatal – anarquia internacional: “Só onde existe o fenômeno de uma pluralidade de Estados soberanos é que se pode distinguir, em sentido estrito, uma esfera de relações internas, ou seja, subordinadas à soberania, de uma esfera de Relações Internacionais, isto é, desenvolvidas entre entidades soberanas, não subordinadas a uma autoridade superior”.

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• “O conceito de ‘hegemonia mundial’ (...) refere-se especificamente à capacidade de um Estado exercer funções de liderança e governo sobre um sistema de nações soberanas. (...) O governo de um sistema de Estados soberanos sempre implicou algum tipo de ação transformadora, que alterou fundamentalmente o modo de funcionamento do sistema. (...) Esse poder é algo maior e diferente da ‘dominação’ pura e simples. É o poder associado à dominação, ampliada pelo exercício da ‘liderança intelectual e moral’.” (Arrighi 2000: 27-28)

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• “A dominação será concebida como primordialmente fundamentada na coerção; a hegemonia, por sua vez, será entendida como o poder adicional que é conquistado por um grupo dominante, em virtude de sua capacidade de colocar num plano ‘universal’ todas as questões que geram conflito.” (Arrighi 2000: 28)

• “Um Estado dominante exerce uma função hegemônica quando lidera o sistema de Estados numa direção desejada e, com isso, é percebido como buscando o interesse geral.” (Arrighi 2000: 29)

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Dominação:

imposição por meio da força; coerção;

submissão; ausência de legitimidade

• Hegemonia:

dominação

+

consentimento; adesão consensual; liderança; persuasão; algum grau de legitimidade

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

“A ‘anarquia’ designa a ‘ausência de um governo central’. Nesse sentido, o moderno sistema de nações soberanas e o sistema de governo da Europa medieval, de que ele emergiu, classificam-se como sistemas anárquicos. Todavia, cada um desses dois sistemas teve ou tem seus próprios princípios, normas, regras e procedimentos implícitos e explícitos, que justificam nossa referência a eles como ‘anarquias ordenadas’ ou ‘ordens anárquicas.’” (Arrighi 2000: 30)

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

“O ‘caos’ e o ‘caos sistêmico’, em contraste, referem-se a uma situação de falta total, aparentemente irremediável, de organização. (...) À medida que aumenta o caos sistêmico, a demanda de ‘ordem’ – a velha ordem, uma nova ordem, qualquer ordem! – tende a se generalizar cada vez mais entre os governantes, os governados, ou ambos. Portanto, qualquer Estado ou grupo de Estados que esteja em condições de atender a essa demanda sistêmica de ordem tem a oportunidade de se tornar mundialmente hegemônico.” (Arrighi 2000: 30)

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Anarquia: ausência de um poder central, de um líder

• Anarquia ordenada: ausência de um poder central, mas existência de regras no sistema

• Hierarquia: existência de um líder, estrutura estratificada de poder (acima, abaixo, no mesmo nível)

• Caos: ausência total de regras

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

Arrighi descreve o capitalismo histórico como uma sucessão cíclica de caos sistêmico, anarquia ordenada, nova queda no caos sistêmico, volta à anarquia ordenada: caos sistêmico, portanto ausência de uma potência hegemônica; ascensão de uma potência hegemônica, que estabelece uma anarquia ordenada; decadência da potência hegemônica e disputa entre várias potências pela hegemonia, que lança o sistema internacional novamente no caos sistêmico; vitória e ascensão de uma nova potência, que restabelece a anarquia ordenada etc.

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

“(...) Ciclos sistêmicos de acumulação, cada um consistindo numa fase de expansão material (DM) seguida por uma fase de expansão financeira (MD’).” (Arrighi 2000: 88)

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• 1ª Hegemonia do capitalismo histórico: cidades-Estado italianas (Veneza, Florença, Gênova e Milão), séculos XIV-XVI

• 2ª Hegemonia do capitalismo histórico: Províncias Unidas, séculos XVIII

• 3ª Hegemonia do capitalismo histórico: Reino Unido, século XIX

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

4ª Hegemonia do capitalismo histórico: Estados Unidos (século XX-XXI?)

“(...) Uma nova ordem mundial, centrada nos Estados Unidos e organizada por esse país. (...) No fim da Segunda Guerra Mundial já estavam estabelecidos os principais contornos desse novo sistema: em Bretton Woods foram estabelecidas as bases do novo sistema monetário mundial; em Hiroshima e Nagasaki, novos meios de violência haviam demonstrado quais seriam os alicerces militares da nova ordem; em São Francisco, novas normas e regras para a legitimação da gestão do Estado e da guerra tinham sido explicitadas na Carta das Nações Unidas.” (Arrighi 1996: 283)

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Cada hegemonia do capitalismo histórico foi acompanhada por um ciclo sistêmico de acumulação e uma lógica de ação estatal:

– Primeira hegemonia/ciclo sistêmico de acumulação: Gênova (e Veneza, Florença e Milão); lógica capitalista;

– Segunda hegemonia/ciclo sistêmico de acumulação: Províncias Unidas; lógica capitalista;

– Terceira hegemonia/ciclo sistêmico de acumulação: Grã-Bretanha; fusão das lógicas capitalista e territorialista;

– Quarta hegemonia/ciclo sistêmico de acumulação: EUA; fusão das lógicas capitalista e territorialista.

Hegemonias do capitalismo histórico (Arrighi, 2000)

• Pensando a partir de Arrighi (2000), em que fase estamos do atual ciclo de acumulação capitalista? Há alguma potência hegemônica? Até quando? Quais as nações rivais dessa potência? Dentre essas, qual(is) tem maiores chances de ser a próxima potência hegemônica?