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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7Cadernos PDE
II
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL PARANÁ – FAP
ÁREA ARTE
VIVIANY SALOM DE MIRANDA ZAVERI
JOGOS DRAMÁTICOS NA SOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE
NO ENSINO FUNDAMENTAL
CURITIBA – PR
2014
FICHA PARA CATÁLOGO
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
PDE- 2014
Título: JOGOS DRAMÁTICOS NA SOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE NO ENSINO FUNDAMENTAL .
Autora
Viviany Salom de Miranda Zaveri
Escola de atuação
Escola Estadual Monsenhor Ivo Zanlorenzi
Município
Curitiba -PR
Núcleo Regional
Curitiba
Orientadora (Mestre)
Elvira Fazzini
Instituição de Ensino Superior
Unespar – FAP
Disciplina/Área (entrada no PDE)
Arte
Formato
Caderno pedagógico/Unidade didática
Relação Interdisciplinar
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Público Alvo
9ºAno do Ensino Fundamental.
Localização
Escola Estadual Monsenhor Ivo Zanlorenzi Rua Eduardo Sprada, 4114 – Campo Comprido, Curitiba- PR
Resumo:
A Unidade Didática destina-se a fundamentação teórica e as atividades práticas a serem desenvolvidas na Proposta de Intervenção Pedagógica na Escola, e está direcionada a alunos do 9º Ano. Estruturada partindo da introdução onde se mostra a importância e os conceitos dos jogos dramáticos na escola, suas características e peculiaridades. Destaca a utilização dos jogos dramáticos, como uma forma de socialização dos alunos, através de práticas relacionadas à empatia dos indivíduos, desenvolvendo a observação e a dinâmica do grupo envolvido. As atividades práticas englobam, o improviso, técnicas cênicas em grupo e individuais, bem como os jogos de cena e dramatizações do cotidiano, desenvolvendo o conhecimento da arte dramática, focando sempre no processo e na construção do conhecimento, não apenas em resultados finais como apresentações, e sim no cotidiano dos jogos e como estes podem interferir no convívio social do ambiente escolar.
Palavras Chave (3 a 5 palavras)
Jogos, jogos dramáticos, socialização, teatro, improviso.
APRESENTAÇÃO
A Unidade didática a ser apresentada, desenvolverá o que foi proposto no
projeto de implementação pedagógica na Escola, como parte integrante do
Programa de Desenvolvimento educacional – PDE, da Secretaria de Estado da
Educação do Paraná. Esta proposta metodológica será direcionada para os
alunos do 9°ano do ensino fundamental, no turno matutino, da Escola Estadual
Monsenhor Ivo Zanlorenzi, localizada na Rua Eduardo Sprada, n°4114, bairro
Campo Comprido, na cidade de Curitiba – PR.
A socialização do educando é parte importante do processo educacional,
pois faz a integração entre os membros participantes do ensino-aprendizagem,
e está presente nas diversas disciplinas do ciclo escolar, porém ao observar as
queixas de professores em relação ao comportamento dos alunos, bem como
dos alunos entre seus colegas de classe, percebesse que existe um conflito das
relações, o qual sempre existiu, mas tem tomado força com o passar do tempo,
transformando-se em casos extremos em bulliyng. Por ser um problema real e
pertinente, que todo professor pode observar em seu trabalho docente, a
pesquisa adotada foi justamente sobre como a arte, no caso o teatro pode ajudar
nas relações sociais. De tal modo os jogos teatrais mostraram ser um excelente
caminho para melhorar as relações no ambiente escolar.
O jogo é uma maneira lúdica de aprender e apropriar-se de conceitos e
conteúdos, é algo chamativo, pois sai do cotidiano e leva para a reflexão de
forma divertida e participativa. Os jogos dramáticos representam, além disso,
uma gama de situações e formas de expressão pessoal e grupal, que em sala
de aula podem contribuir muito para a melhoria dos relacionamentos
interpessoais.
No contexto do jogo existem muitos aspectos, dentre eles: culturais,
sociais, políticos, cognitivos e motores entre outros, os quais podem ser
explorados e experimentados durante sua realização, que na maioria das vezes
se mostra um momento divertido e prazeroso, por ser descontraído atrai a
atenção e estimula o aluno a participar.
O teatro nos traz em sua bagagem, os jogos dramáticos com improvisos
e exercícios, que dispõe uma série de propriedades, capazes de despertar no
aluno o olhar para si, e para o outro, identificar relações sociais e afetivas, lidar
com questões cotidianas e observar de modo crítico o que se passa a seu redor.
Historicamente o teatro foi conhecido como um instrumento para transmitir
conhecimentos de diversas vertentes educacionais, sem tirar este mérito, ele
também pode ser visto como um conhecimento através de suas técnicas as
quais elaboram ricamente aspectos cotidianos e sociais, nos quais todos estão
culturalmente inseridos.
Portanto se faz necessário abordar os jogos dramáticos no ensino
fundamental, a fim de transpor barreiras sociais e culturais, ampliando a visão
do teatro na escola não meramente como objeto de apreciação e apresentações,
e sim como um veículo para absorção de conhecimento próprio, valorizando os
jogos e ações dramáticas como um processo de aprendizagem envolvente e
dinâmico, para despertar a vontade de aprender, buscar novas formas de
convivência, construir objetivos comuns, favorecer e estimular o ensino da arte
na escola.
Objetivos específicos
Estimular a sensibilidade e a observação pessoal e coletiva nos aspectos
relacionados aos jogos dramáticos.
Expressar por meio de gestos, textos, e improvisos, sensações cotidianas do
ambiente em que vive e convive.
Refletir sobre o papel do espectador e sua participação nas ações dramáticas.
Aprimorar as relações sociais de convívio e respeito por meio dos jogos
dramáticos e teatrais
Experimentar novas possibilidades de movimentos corporais e faciais
desenvolvidos no mecanismo do jogo.
Verificar a relação espaço e tempo na ação dramática, partindo do improviso a
pequenas esquetes teatrais.
A importância dos Jogos:
A natureza do jogo é a ação, a prática a experimentação requisitos
que devem ser supervisionados e estabelecidos através de regras, só se
aprende a jogar jogando, e este tipo de jogo, dramático, teatral tem como
qualquer outro, estas características e as possibilidades já citadas, sendo assim
de grande valia na aprendizagem como um todo, não apenas nas aulas de arte.
O teatro nos trás em sua bagagem, os jogos dramáticos com improvisos e
exercícios, que dispõe uma série de propriedades, capazes de despertar no
aluno o olhar para si ,e para o outro, identificar relações sociais e afetivas, lidar
com questões cotidianas e observar de modo crítico o que se passa a seu redor.
Para Spolin:
“O jogo é democrático! Todos podem aprender jogando! O jogo estimula vitalidade, despertando a pessoa como um todo - mente e corpo, inteligência e criatividade, espontaneidade e intuição - quando todos, professor e alunos estão atentos para o momento presente.” (2012, p.30).
Conhecer as diferentes linguagens ou poéticas artísticas já fazem parte
do currículo escolar, o teatro como uma delas é tratado algumas vezes
erroneamente como momento festivo de apresentação, visando o resultado final
e não o processo desenvolvido, partindo desta observação se faz necessário
colocar a importância dos jogos dramáticos e teatrais como um processo de
construção do conhecimento, onde será oportunizado ao aluno práticas nas
quais respeitem o conhecimento e realidade cultural do educando, de forma a
ampliar seu repertório.
Segundo a DCE:
“Na escola, a dramatização evidenciará mais o processo de aprendizagem do que a finalização, a montagem de uma peça. É no
teatro e em seus gêneros, propostos como jogo do riso, do sofrimento e do conflito, que se veem refletidas as maneiras de sentir
Augusto Boal evidencia que o teatro e a arte de representar como
manifestação é possível a todos, a qual estamos dispostos a estabelecer em
nosso cotidiano, que o papel de espectador não deve ser o único, que devemos
transformar a realidade através da arte, mesmo que seja em nosso dia-a-dia, na
forma de enfrentar problemas ou na maneira de encarar o mundo. Para o autor
“todo teatro é político” e desencadeia várias situações, as quais nos trazem a
reflexão como resultado, determinando o senso crítico e o pensamento social,
que não deve ser condicionado, porém socialmente temos a opressão de
classes, culturas que acabam limitando a liberdade de expressão.
Então é possível se manifestar através dessa linguagem e ela é aberta a
todos, e uma forma de alcançar essa fluência é através de jogos dramáticos, os
quais podem ser desenvolvidos dentro do currículo educacional, e desenvolvidos
através das práticas propostas pelo professor, que deve buscar conhecer seu
contexto e conteúdo, bem como formas de transmitir e direcionar estas
atividades.
A prática dos jogos dramáticos pode e deve ser introduzida no início da
vida escolar, desde a pequena infância e ter continuidade e amadurecimento no
decorrer da aprendizagem , para Slade :
“O jogo dramático é uma parte vital da vida jovem. Não é uma atividade de ócio, mas antes a maneira da criança pensar, comprovar, relaxar, trabalhar, lembrar, ousar, experimentar, criar e absorver.(1978,p.07.)
O jogo dramático conforme Slade pode ser pessoal ou projetado. Pessoal:
onde o corpo é o instrumento, enquanto personagem a ser assumido, o que
resumidamente com a prática reflete em desenvolvimento de liderança e controle
pessoal nos participantes. Projetado: quando se usa objetos, brinquedos,
fantoches, para projetar intenções, ocasionando concentração, organização e
paciência nos envolvidos. Observa-se então as questões psicológicas
relacionadas ao tema, que é permeado por atividades que fazem com que o
participante fantasie, saia da rotina, sempre envolvendo questões emocionais de
experiências fictícias ou reais as quais muitas vezes pertencem ao universo do
aluno.
Em Elkonin e sua psicologia do jogo, nota-se a ambivalência entre o social
e o psicológico. “A essência do jogo infantil consiste na interpretação de algum
papel”. (p.03.) Segundo o autor o fundamental no jogo é a “situação fictícia” a
qual propicia a assimilação das relações sociais , sendo o jogo de papéis de
origem social. Nesta temática de ideias apoiadas na teoria de Vygotsky onde a
imaginação surge na imitação (infantil) e no jogo, evidencia-se a importância da
ludicidade, do brincar e do jogar no desenvolvimento humano.
“O âmbito das atividades humanas e as relações entre as
pessoas, em que o seu conteúdo fundamental é o homem – a atividade do homem e as relações entre os adultos-, em virtude do que é jogo é uma forma de orientar nas missões e motivações da atividade humana.”(1998,p.08).
Orientar para a maturidade das relações é o que o jogo pode alcançar,
através da mediação correta e encaminhamentos que tornem as atividades
interessantes, e reflexivas para o educando.
Imaginário e o Jogo Dramático:
Os jogos em geral têm muito do lúdico e do imaginário, já o jogo dramático
é basicamente imaginação em ação cênica, pois favorece o reviver, o repensar
de práticas cotidianas, através do simbolismo, que não pode ser atingido pelo
pensamento direto.
O jogo dramático não exige cenário, figurino, ou outros meios para sua
prática, tudo está no imaginário, na ficção, sem o compromisso de formar artistas
(atores), mas formar um ser capaz de perceber e repensar a realidade em que
vive, resignificando o social. Esta prática permite o uso do corpo, das sensações,
e sentimentos exercitando a capacidade criativa do indivíduo, e desenvolvendo
a emoção a ser compartilhada através de uma estética pessoal organizada a
partir das vivências do aluno, através das atividades.
Atividades que devem respeitar e despertar o imaginário do aluno, através
de práticas que podem usar diversos recursos, como cenas com temas
específicos, improvisos com imagens, sons, leituras. Explorar a linguagem verbal
e corporal, bem como o espaço para desenvolver o gesto e sua dramaticidade.
Elkonin coloca a influencia do jogo no papel do desenvolvimento psíquico
da criança e que ele é um agente de transição para os novos períodos evolutivos
do educando, sendo assim a mediação deste processo deve ser elaborado a fim
de estabelecer ligações com o cotidiano dos envolvidos, seus anseios e
questões.
Para Viola Spolin no livro Jogos Teatrais na sala de aula, o jogo dramático
envolve, o brincar, a liberdade, a intuição, a transformação esta completamente
ligada à imaginação onde: “Os efeitos do ato de jogar não são apenas sociais ou
cognitivos. Quando jogadores estão focados no jogo, são capazes de
transformar objetos ou criá-los”. Spolin(p.33). Ela coloca que as transformações
surgem da troca de energia entre os participantes, e que elas ocorrem vários
momentos da ação. A autora reforça que existem três essências do jogo teatral
que seriam: foco, instrução e avaliação.
Foco
Que significa manter-se atento, cada atividade terá um foco diferente do
qual não se deve fugir se quiser solucionar a ideia proposta (problema), o foco
não é o objetivo do jogo, mas é necessário para manter os jogadores dinâmicos,
a incerteza sobre os resultados diminui preconceitos e gera envolvimento e une
os participantes.
Instrução
É o estalo inicial da dinâmica, frase ou enunciado que mantém o jogador
com foco. Isto irá guiar os participantes em direção ao foco, gerando interação,
movimento e transformação.
Avaliação
Não se trata da avaliação metodológica, de julgamento ou crítica, mas o
reestabelecimento do foco, a observação de que os participantes lidam com o
problema que o foco propõe, se os alunos que estão como espectadores
compartilham o jogo. É um momento para os jogadores e o professor emitirem
suas opiniões sobre a maneira “correta” de fazer algo. “Não assuma nada;
apenas avalie o que você acabou de ver” Spolin ( 2001p.35).
O formato do jogo, também é parte integrante das ideias e práticas da
autora citada, bem como esse formato pode ser maleável de acordo com a faixa
etária número de alunos e a observação do mediador.
Olga Reverbel coloca em seu livro “Oficina de teatro” os princípios
pedagógicos e psicológicos do ensino do teatro e de suas práticas como o jogo
no desenvolvimento social do educando. “Educar não é transmitir conhecimentos
treinar condutas, mas criar uma situação psicossocial que leve o aluno descobri-
los por si mesmo e integrá-los” (1978 p. 12). No mesmo livro a autora discorre
sobre a importância das atividades e propõe organizações metodológicas para
que uma oficina teatral possa ser bem sucedida, divide as formas de atividades
com temas, observando o relacionamento grupal, descontração, respiração,
técnicas vocais, relaxamento, espontaneidade, gesto, improvisações verbais e
gestuais, jogos de cena, para então tratar das questões de interpretação e
montagem teatral.
Nesta unidade didática a ser trabalhada, o resultado final de uma peça
teatral não é o foco do estudo, e sim a dinâmica que antecede e os benefícios
obtidos através dela, o que importa é o desenvolvimento psicossocial e as
relações interpessoais dos participantes, para que estas relações sejam
saudáveis e despertem a empatia o respeito mutuo e o entendimento de grupo
e também da individualidade.
O imaginário é alvo de muitos estudos filosóficos e antropológicos, o qual
pode ser estruturado através da antropologia como fez, Gilbert Durand (1997),
onde o princípio construtivo da imaginação consiste em, simbolizar os anseios e
medos relacionados à vida e a morte com a intenção de dominá-los. Assim a
imaginação é vista como simbolismo que está presente desde o mais distante
antepassado do homem, e nesse contexto o jogo dramático é uma forma de
representar e experimentar através do recurso simbólico da imaginação.
Nesse contexto existem vários autores que organizam práticas e
formulam teorias para o desenvolvimento dos jogos teatrais na escola muitos
deles tem a autora Viola Spolin como fonte inicial, e referencia principal nos
textos encontrados. Porém os formatos dos jogos variam muito e podem ser
mudados conforme a necessidade e os objetivos a serem alcançados, o que não
varia é o encontro do imaginário com o jogo, pois há uma relação de
interdependência que faz desse momento de experiência no caso o jogo algo
tão importante e interessante para o participante.
Autores expoentes nos Jogos Dramáticos
Existem alguns estudiosos no assunto que são justamente conhecidos por
criarem métodos e escolas nas quais pautam o teatro como ferramenta de
aprendizagem e evidenciam nos seus trabalhos a importância dos jogos, bem
como definem padrões para as práticas. Este capítulo específico irá mostrar as
ideias e praticas dos seguintes autores:
Viola Spolin em seu livro “Jogos dramáticos na sala de aula”, colabora
para o entendimento do jogo como meio de aprendizagem, deste modo ela
reforça que este meio tornará os alunos mais conhecedores si mesmos, eles irão
adquirir além da habilidade de performance, regras básicas para contar histórias,
apreciação da literatura, construção de personagens, e principalmente
desenvolver a criatividade a concentração e a interação com os outros.
O jogo é um conjunto de regras que o jogador aceita compartilhar, as
quais não restringem o jogador ao contrario o mantém jogado e dá sentido ao
jogo. Crianças, jovens e adultos podem se divertir através das praticas e da
experiência dramática sem a necessidade de se expor em uma apresentação
pública.
Partindo destes princípios a autora organiza os jogos da seguinte forma:
Iniciam as atividades sempre com aquecimento, corporal e vocal depois
entram os jogos propriamente ditos como: Jogos de movimento rítmico, que
focam na interação do grupo e também podem ser usados como aquecimento,
Jogos de transformação, feitos com objetos no espaço cênico, visa sentir o
espaço e despertar a imaginação e espontaneidade diante de situações, Jogos
sensoriais para aguçar os sentidos e respeitar as subjetividades dos jogadores,
jogos como parte de um todo envolvendo o grupo, jogos de espelho, para refletir
o que se vê.
Então se tem os jogos partindo das conhecidas perguntas: Onde? Quem?
O que? Criando ambientes, personagens e ação através do jogo. Jogos do onde
são referentes ao cenário ou ambiente onde ocorre a cena, Jogos do quem se
referem ao personagem e seus conflitos e os relacionamentos que são
desencadeados a partir dele, jogos do que, envolvem a ação sendo a interação
entre os personagens e o cenário juntamente com o tema que flui por meio desta
estrutura.
A autora então conduz uma série de exemplos que partem destes
pressupostos, com nomenclatura específica e descrição passo a passo para que
o professor possa utilizar em sala de aula.
Para Olga Reverbel em seu livro “Um caminho do teatro na escola”, ela
aborda questões históricas relacionadas ao ensino do teatro na escola, sua
importância pedagógica, aborda a pedagogia da expressão, as formas de
expressão de modo geral e nas artes, principalmente no teatro. Dedica um
capítulo inteiro sobre as técnicas de expressão (vocal, corporal, musical,
coreográfica, mímica, plástica e dramática), e outro capitulo para o jogo
dramático, que para ela é um estímulo incomparável, de caráter individual e
coletivo. Onde os jogos se mostram um precioso instrumento de
aperfeiçoamento físico e intelectual.
A autora prevê em suas técnicas o aquecimento corporal e vocal como
agentes fundamentais do processo, sugere alguns tipos de jogos como:
representação de personagens, jogo de profissões, jogo de som e ação, jogo
dois a dois, jogo em grande grupo, assim ela determina o jogo de acordo com a
faixa etária e número de participantes. Faz um relato sobre as experiências
realizadas nas escolas, discute a importância do fazer teatro na escola, com
linguagem bem pedagógica, priorizando sempre que a participação do aluno na
atuação é voluntária, deve ser ativa e coletiva.
Incentiva que os jogos comecem com linguagem gestual para depois
valorizar a linguagem verbal, saindo do cotidiano da comunicação dos
participantes, demonstra através de experiências que se pode trabalhar com os
jogos usando textos simples do folclore, até trechos de peças de teatro nas
atividades. Utiliza também as ideias dos participantes para que eles mesmos
construam improvisos e cenas para desenvolver com o grupo.
Ryngaert propõe em “O Jogo Dramático no Meio Escolar”, uma
sequência de classificação de experiências. Em sua tipologia inicia com o ponto
de partida do jogo que pode ser um texto, imagens, fotografias e etc. Indica
exercícios técnicos para desbloquear o imaginário, utilizando gestos, voz,
entonações, para desenrolar o discurso. Improvisação coletiva sem olhar
exterior, jogo pelo jogo sem expectadores dando maior liberdade e ludicidade a
prática. O Corpo, o objeto e a fabricação de imagens. Esta proposta envolve o
uso de imagens publicitárias, fotos, reproduções de obras de arte, a turma
estabelece um conjunto de materiais que permite experimentar o funcionamento
metonímico do objeto no discurso teatral. Improvisação de situações a partir de
propostas modificáveis, o próprio título é autoexplicativo, improvisar com
situações que possam mudar evitando verbalismo. Dizer um texto não
dramático, ou seja, fazer uma leitura qualquer que impeça a invenção prendendo
o jogador ao texto e seu ritmo. A Volta do texto dramático, a fim de valorizar uma
obra a ser estudada. Improvisação coletiva para os outros: uma situação de
comunicação, esta atividade permite a aprendizagem da liberdade
Os envolvidos poderão se expressar partindo de uma temática livremente. O
autor enfatiza que essa classificação é apenas um guia, não um manual a ser
seguido a cada passo. E que cabe a cada um definir suas práticas de acordo
com cada situação.
Augusto Boal articula jogos e exercícios em “200 Jogos e exercícios para
o ator e não-ator que pretende dizer algo através do teatro” onde o título já mostra
as ideia de teatro democrático onde todos podem participar, dos iniciados aos
leigos, indica exercícios de aquecimento, relaxamento, integração, foco e
cooperação, mostrando o caráter social da arte teatral e o que ela possibilita .O
autor mostra detalhadamente vários tipos de atividades, sugere questões e
situações problema que podem ser trabalhadas de diversas maneiras diferentes
nos jogos dramáticos.
Este breve apanhado de autores relacionados ao tema foi realizada na
intenção de legitimar e ilustrar as atividades que serão sugeridas nesta unidade
didática.
Sugestões de atividades
Introdução:
Iniciar o diálogo com os alunos participantes situando-os do projeto de
implementação pedagógica do PDE, bem como caracterizando o material
didático a ser trabalhado, ao longo das aulas (oficinas).
Explicar que será utilizada a técnica do teatro chamada jogos dramáticos,
que dão origem a interpretação e intenções de cena, bem como fazer com que
conheçam um pouco mais dessa linguagem artística.
Mostrar que todos podem e devem participar das atividades, contribuindo
com ideias e ações dentro do contexto, e que possa melhorar o convívio social
no ambiente escolar.
Preparação
Aquecimento corporal/ vocal
Será realizada em todo o início de atividade, como preparação, o aquecimento
corporal e vocal, descritos e segue o link de onde foram retiradas algumas das
informações a respeito da preparação. www.profala.com/arttf133.htm
Relaxamento
Relaxar atingindo normotonia muscular: O aluno deverá relaxar, mentalizando
as partes do corpo. Iniciando pelos pés, subindo lentamente tentando
desmanchar os nódulos de tensão. Respirar de modo costodiafragmático
Deitado – O aluno deverá deitar colocar as mãos na região do diafragma
(situando os dedos logo acima do umbigo) fazendo com que o abdome eleve em
seguida expirar sentindo o abdome baixar lentamente , este exercício deve feito
de forma nasal.
Relaxamento geral
• Deixar o corpo cair como um pêndulo e expirando;
• Rotação da cabeça; rotação dos ombros;
• Alongar o corpo em todas as direções – espreguiçar tentando chegar com as
mãos ao teto;
• Massagem da cintura escapular e laríngea;
Relaxamento do trato vocal
• Fazer caretas (relaxamento facial e maxilar);
• Vibração dos lábios sem som e com som (se não se conseguir pode-se pedir
a produção de [z] ou [f]);
• Vibração da língua sem som e com som (BRRR…/TRRR…/PRRR…); Fazer
estalos com a língua;
Os últimos dois exercícios irão promover o relaxamento das estruturas glóticas
e supraglóticas.
A vibração deve primeiro ser feita sem som e de seguida com som, sendo esta
última acompanhada de uma extensão vocal - do mais grave para o agudo e
vice-versa, Ex: BrrrrrrrrrriiiiiiiIIIIIIIIIIIIIIiiiiiiiiiiiii
• Mastigação com simultânea produção vocal (relaxamento da língua e de toda
a musculatura laríngea)
Respiração
• Inspirar rapidamente pelo nariz e expirando pela boca soltando o ar
lentamente. O tempo entre a inspiração e a expiração deve ir aumentando;
• A respiração deverá ser costo-diafragmática;
Ressonância
• Trabalhar com sons nasais contínuos ou modelados para aumentar a
ressonância melhorando a projeção vocal:
- Sequência “Ma Na Nhá” por 1 minuto;
- Produção de palavras orais/nasais: vede-vende; puto-punto; lobo-lombo;
Jogos Dramáticos em Ação
1-Jogo do ambiente: com todos os alunos reunidos em círculo, iremos fechar os
olhos e imaginar um lugar (praia, floresta, cidade) descrever as características
do lugar escolhido, e pedir para quem souber e quiser fazer os sons que
representam este ambiente, chegando a uma paisagem sonora. Com a
paisagem e sons definidos podemos iniciar de olhos abertos, uma estória sobre
este lugar cada um pode falar no máximo duas palavras e as preposições, tendo
que ter coerência na continuidade da estória em conjunto. Feitas as práticas
vamos dialogar sobre ela.
2-Jogo do movimento: Fazer a proposta com os alunos organizados em círculo,
depois pedir para que se movimentem desordenada e lentamente no espaço,
obedecendo aos níveis que deverão ser intercalados, nível alto (ponta dos pés),
nível médio (corpo levemente flexionado), nível baixo (corpo bem flexionado ou
no chão), pode ser colocada uma música de fundo. Em seguida irão caminhar
em duplas segurando em uma parte do corpo do colega (braço com braço, perna
com perna, costas com costas, cabeça com cabeça e assim vai) o objetivo é
trocar o máximo de vezes possível a dupla, tocando no próximo e soltando o
colega. Ao sinal combinado todos voltam a andar sozinhos, porém terão de imitar
movimentos diferentes do cotidiano ex: mancar, saltar, arrastar, balançar o
corpo, daí entram personificações andar do idoso, do jovem, da modelo, do
colega, da professora, deixar que eles mesmos indiquem. Ao sinal todos podem
andar livremente fazendo movimentos livres de uma dança qualquer, ao sinal
ficar parado na posição (estátua), o mediador vai liberar quatro jogadores e estes
terão de fazer os outros se mexer ou rir sem tocar apenas com gestos e sons
muito baixos. Termina com todos liberados ou com os vencedores que
continuaram imóveis sinalizar o término.
3-Jogo do ser objeto: dividir a turma em grupos de quatro alunos para esta
atividade, entregar um papel com o nome de um objeto para um integrante de
cada grupo, e o grupo deverá desenvolver um meio de “ser” este objeto,
pensando em sua forma e utilidade, sem fazer sons, dar um tempo mínimo para
pensar, e apresentar para os demais um grupo por vez a ideia é ser o mais
perceptível possível. Após comentar como seu grupo faria para ser o objeto que
o outro grupo pegou.
4-Jogo da fita: os alunos serão divididos em dois grupos onde um grupo receberá
uma fita de papel crepom bem longa para amarrar na cintura este grupo será o
grupo dos ratos o outro será o grupo dos gatos que irão tirar a fita ou rabo dos
ratos, os que perdem o rabo tornam-se gatos e irão tentar tirar a fita dos restantes
sem tocar no colega apenas na fita, o processo pode ser repetido com a inversão
dos grupos. Terminada a ação sentar em circulo e desenvolver uma fala som de
voz para o gato e para o rato, cada um fará o sua voz e apresentará uma frase
que esses animais pudessem falar um para o outro se falacem.
5-Jogo de cena (sonoplastia): dividir os grupos de cinco alunos ou menos,
entregar o tema para uma cena improvisada ex: consultório do dentista, fila do
ônibus, festa infantil, salão de beleza, compras no mercado e etc...explicar que
com estes temas podem criar a situação que acharem mais interessante para
apresentar uns para os outros, dar uns dez minutos para a produção. Quando
estiver tudo pronto um colega de outro grupo será designado para fazer efeitos
sonoros no grupo do outro e vice-versa .
6-Jogo da blablação ou língua inventada: cada um fará um breve discurso, ou
comunicado para todos ou para um participante específico em um idioma
inventado com entonação livre, sem repetir ou imitar a linguagem inventada do
outro, a sequência fica com indicação gestual de quem fala, indicando o próximo
jogador que será escolhido por ele.
7-Jogo da dublagem: em duplas, um dos jogadores ficará sentado fazendo a
leitura em voz alta e entonada de um texto dado pelo mediador e o outro irá
movimentar os lábios e gesticular dublando o jogador que está lendo, revezando
as duplas com textos diferentes e curtos, para dar tempo de todos jogarem e não
inibir os participantes.
8-Jogo das quatro cabeças: organizar grupos de quatro alunos que serão uma
só voz(irão tentar falar a mesma coisa ao mesmo tempo e movimentar-se como
se fosse uma só pessoa) de improviso com outro grupo também na mesma
situação, dado um tema ex: festa, conversa entre amigos, jogo de vôlei,
lanchonete e etc. Trocando os participantes sinal de tempo para início e término.
9-Jogo das palavras soltas: em uma cena qualquer dado um tema ex: terapia,
manicure etc...enquanto os participantes improvisam, o mediador irá falar uma
palavra a qual deverá fazer parte do improviso e assim vai introduzindo várias
palavras as quais os jogadores terão de improvisar com elas naquela situação
do improviso e do tema dado.
10-Jogo com objetos: em grupo de quatro alunos usar um tema como o telejornal
(onde teremos personagens fixos como os ancoras menino e menina), o repórter
e a garota do tempo, que ficarão posicionados e irão criar as notícias de acordo
com os objetos que serão mostrados durante a fala que iniciará livre e deverá
manter o ritmo conforme os objetos serão apresentados e indicados para os
jogadores.
11-Jogo das frases prontas: cada aluno irá fazer uma frase livre, podendo ser
irreverente, absurda, simples, ditado popular e etc, após escrever colocarão em
uma caixa, da qual cada um irá tirar uma das frases e deverá interpretá-la ou
comentá-la.
12-Jogo do espelho: jogo de empatia onde os jogadores irão brincar com sua
imagem e o reflexo da mesma onde um será o espelho do outro, aprofundar a
brincadeira com trechos de textos de teatro que o espelhado estaria estudando,
e interpretando na frente do espelho.
Variantes destas atividades podem ser encontradas em: É Tudo Improviso.
Encaminhamentos metodológicos:
As orientações serão tratadas nas atividades, através de dinâmicas
em grupo, improvisos, esquetes do cotidiano, observações comportamentais,
gestualidade, movimento, e interações temáticas. Também serão introduzidos,
conceitos sobre o teatro e suas vertentes a fim de contextualizar as atividades
propostas, bem como enriquecer o repertório do aluno sobre as artes cênicas.
Para o processo será utilizada a sala de aula, espaços externos da
escola como pátio, jardim, e etc. Os mais diversos materiais poderão ser
utilizados, como maquiagem, fantasias, objetos, aparelhos áudio visuais, entre
outros, dependendo da atividade a ser aplicada, as quais estão especificadas e
organizadas no capitulo anterior com doze sugestões de práticas. O expressão
pessoal e grupal dos alunos, que terão de participar e analisar as participações
dos colegas.
Mostrar respeito, em relação aos colegas e suas atividades,
entender como o outro pode vir a se sentir, através da empatia que será
desenvolvida com as atividades, colocar-se no papel do outro para que isso
ocorra efetivamente durante os jogos dramáticos, vivenciar questões simples do
cotidiano, desmistificar a gestualidade usando o corpo para se expressar,
entender e aperfeiçoar o diálogo, usar a voz e suas tonalidades para captar o
que o outro está transmitindo, e identificar o que a voz representa no seu dia a
dia, valorizar nas atividades o aquecimento vocal, e como faz diferença o tom
com que se fala e o que ele pode representar.
Avaliação:
As avaliações serão contínuas, e dependerão da participação no
processo, do envolvimento do aluno, em seus questionamentos, nas
observações pessoais e do grupo, não basta apenas participar e sim entender o
que está sendo feito, buscar melhorar com o desenvolvimento e abrir espaço
para o que será proposto. Para isso a cada atividade, o grupo terá um momento
para discutir e avaliar o trabalho, para entender como podemos mudar as
atitudes e repensar, o que pode ser melhorado no convívio escolar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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de dizer algo através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995;
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Perspectiva S.A, 2001;
ELKONIN, D.B .Psicologia do Jogo. São Paulo: Martins Fontes, 1998;
PARANÁ – SEED- Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Diretrizes
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Curitiba: Editora do Estado, 2008.
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REVERBEL, Olga. Um caminho do teatro na escola. Paraná: Editora Scipione
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SLADE, Peter. O Jogo Dramático Infantil. São Paulo: Summus Editorial, 1978.
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www.profala.com/arttf133.htm. Acesso em 21 de novembro de 2014.
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http://www.youtube.com/watch?v=HVmdGvaf_OE. Acesso em 21 de novembro
de 2014.