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1 OS CAMINHOS DA TECNOLOGIA AGRÍCOLA: PASSADOS E PERSPECTIVAS YOHANNA VIEIRA JUK 1 MARCOS PAULO FUCK 2 Resumo: O trabalho pretende apresentar as principais características das trajetórias tecnológicas na agricultura, dando maior atenção à co-evolução e à relação entre as fontes de instituições públicas e as fontes privadas de pesquisa e extensão agrícola. O fio condutor que auxiliará na análise será a literatura neo-schumpeteriana, dando destaque especial aos aspectos relacionados ao processo de inovação e as formas de articulação de seus principais atores. Procura-se evidenciar os elementos técnicos, econômicos e políticos inerentes aos seguintes momentos: a partir da década de 1950/1960 apresentando a Revolução Verde, seguindo-se da Revolução Genética em 1980/1990 e expondo aspectos de uma trajetória alternativa que vem se destacando nas últimas décadas. A Revolução Verde criou um modelo muito específico de transferência entre centros de pesquisa, o que contribuiu para a consolidação de um sistema nacional de pesquisa agrícola, com o protagonismo de instituições públicas. A Revolução Genética possui uma estrutura radicalmente diferente do modelo anterior, com a atuação de grandes empresas privadas guiadas por elementos comerciais ancorados nos direitos de propriedade intelectual. O artigo faz uma avaliação das trajetórias alternativas como a agroecologia e as possíveis parcerias e redefinições de papéis dos setores público e privado em relação às atividades de pesquisa e extensão rural. Palavras-chave: Trajetórias Tecnológicas; Produtivismo; Biotecnologia; Agroecologia. INTRODUÇÃO Os padrões inovativos na agricultura possuem características específicas que foram por muito tempo ignorados. Até a década de 1960 as análises direcionadas ao assunto focavam principalmente na dinâmica inovativa dos setores à jusante (empresas de fertilizantes, sementes, pesticidas e máquinas agrícolas). Possas, Salles-Filho e Silveira (1994), no entanto, questionam se a análise agrícola não demanda um olhar mais específico e direcionado, focando a análise para as peculiaridades do processo inovativo da agricultura per se. A literatura neo-schumpeteriana torna-se o fio condutor da análise de Possas, Salles-Filho e Silveira (1994), assumindo que as mudanças técnicas bem como as inovações na agricultura de fato se devem em grande medida às indústrias fornecedoras, no entanto, a presença constante e considerável de políticas públicas e instituições públicas dispondo de fundos e 1 Universidade Federal do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Brasil. E-mail: [email protected] . 2 Universidade Federal do Paraná, Professor no Departamento de Economia e Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas , Brasil. E-mail: [email protected] .

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1

OS CAMINHOS DA TECNOLOGIA AGRÍCOLA: PASSADOS E PERSPECTIVAS

YOHANNA VIEIRA JUK

1

MARCOS PAULO FUCK2

Resumo: O trabalho pretende apresentar as principais características das trajetórias

tecnológicas na agricultura, dando maior atenção à co-evolução e à relação entre as fontes de

instituições públicas e as fontes privadas de pesquisa e extensão agrícola. O fio condutor que

auxiliará na análise será a literatura neo-schumpeteriana, dando destaque especial aos

aspectos relacionados ao processo de inovação e as formas de articulação de seus principais

atores. Procura-se evidenciar os elementos técnicos, econômicos e políticos inerentes aos

seguintes momentos: a partir da década de 1950/1960 apresentando a Revolução Verde,

seguindo-se da Revolução Genética em 1980/1990 e expondo aspectos de uma trajetória

alternativa que vem se destacando nas últimas décadas. A Revolução Verde criou um modelo

muito específico de transferência entre centros de pesquisa, o que contribuiu para a

consolidação de um sistema nacional de pesquisa agrícola, com o protagonismo de

instituições públicas. A Revolução Genética possui uma estrutura radicalmente diferente do

modelo anterior, com a atuação de grandes empresas privadas guiadas por elementos

comerciais ancorados nos direitos de propriedade intelectual. O artigo faz uma avaliação das

trajetórias alternativas como a agroecologia e as possíveis parcerias e redefinições de papéis

dos setores público e privado em relação às atividades de pesquisa e extensão rural.

Palavras-chave: Trajetórias Tecnológicas; Produtivismo; Biotecnologia; Agroecologia.

INTRODUÇÃO

Os padrões inovativos na agricultura possuem características específicas que foram

por muito tempo ignorados. Até a década de 1960 as análises direcionadas ao assunto

focavam principalmente na dinâmica inovativa dos setores à jusante (empresas de

fertilizantes, sementes, pesticidas e máquinas agrícolas). Possas, Salles-Filho e Silveira

(1994), no entanto, questionam se a análise agrícola não demanda um olhar mais específico e

direcionado, focando a análise para as peculiaridades do processo inovativo da agricultura per

se. A literatura neo-schumpeteriana torna-se o fio condutor da análise de Possas, Salles-Filho

e Silveira (1994), assumindo que as mudanças técnicas bem como as inovações na agricultura

de fato se devem em grande medida às indústrias fornecedoras, no entanto, a presença

constante e considerável de políticas públicas e instituições públicas dispondo de fundos e

1Universidade Federal do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Brasil. E-mail:

[email protected]. 2Universidade Federal do Paraná, Professor no Departamento de Economia e Programa de Pós-Graduação em

Políticas Públicas , Brasil. E-mail: [email protected].

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realizando pesquisas não podem ser ignorados.3 Desta forma, os autores apresentam uma

classificação que se propõe a auxiliar a análise do processo inovativo na agricultura,

apresentando instituições que promovem ou auxiliem as inovações. Destas seis instituições

que serão apresentadas mais adiante, será dada maior atenção justamente a co-evolução entre

as fontes de instituições públicas e as fontes privadas de organização de negócios industriais

junto às tecnologias.

A breve contextualização acima auxilia no entendimento do objetivo do presente

artigo, este se tratando da análise da evolução da dinâmica relacional entre instituições

públicas e privadas na pesquisa agrícola. Tomando como base a argumentação de Buainain et

al. (2013), atém-se então a temporalidade do processo (datando da evolução a partir da década

de 1950 e 1960) e aos catalisadores e oportunidades, como a evolução dos direitos de

propriedade intelectual que contribuíram para a mudança significativa da dinâmica inovativa

na agricultura e às críticas recentes à agricultura moderna e às mudanças profundas nos

ecossistemas ancoradas no fenômeno global das mudanças climáticas que sustentam

trajetórias alternativas. O fio condutor que auxiliará na análise proposta será, em consonância

às análises de Possas, Salles-Filho e Silveira (1994), a literatura neo-schumpeteriana, dando

especial destaque ao conceito de trajetórias tecnológicas aplicadas a agricultura.

O artigo está dividido em quatro seções, incluindo esta introdução. A seguir será

apresentada brevemente a literatura neo-schumpeteriana e sua aplicação agrícola, junto dos

principais conceitos que auxiliarão na discussão. A seção seguinte apresentará a

temporalidade do processo, destacando a dinâmica no período da Revolução Verde (1950-

1960), seguindo-se das principais alterações na relação entre os atores nas últimas décadas

junto à Revolução Genética, em grande medida catalisadas pela ascensão dos direitos de

propriedade intelectual, e seguidas da discussão da consolidação das trajetórias alternativas e

dos impactos ambientais da agricultura moderna na dinâmica relacional na agricultura, junto

as possíveis parcerias e redefinições de papéis dos setores público e privado em relação às

atividades de pesquisa e extensão rural. E por fim, as considerações finais.

3 “Esta visão sistêmica que vê nas atividades agrícolas um campo privilegiado de incorporação de inovações não

significa que possamos aplicar a ela noções especificamente desenvolvidas para setores em que a inovação é um

elemento fundamental do processo de concorrência capitalista. Possas, Salles-filho e Silveira fazem uma

interessante tentativa de aplicação do arcabouço neo-schumpeteriano ao caso da agricultura, não sem enfrentar

algumas dificuldades advindas das características de seu processo inovativo.” (BUAINAIN, SOUZA FILHO,

SILVEIRA, 2002: 61)

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REFERENCIAL TEÓRICO

Esta seção apresenta os trabalhos dos autores da teoria neo-schumpeteriana, visando à

exposição dos principais conceitos que vão nortear a análise do presente artigo, seguida da

aplicação dos mesmos na agricultura.

Diversos autores retomaram as discussões da abordagem schumpeteriana acerca da

inovação. A visão schumpeteriana destaca a competição e a busca contínua de lucros pelas

empresas como a motivação essencial para a adoção de inovações. Os autores neo-

schumpeterianos, como Richard Nelson, Sidney Winter, Giovanni Dosi, Chris Freeman, entre

outros, procuraram aprofundar as discussões acerca da inovação e do crescimento econômico

dando destaque “às causas e aos impactos estruturais do progresso técnico no sistema

produtivo” (LA ROVERE, 2006:285). Os conceitos desenvolvidos pelos autores citados

contribuem para a consciência de que a inovação não depende unicamente da capacidade da

firma ou da natureza do setor, e fatores institucionais contribuem para a geração e difusão de

inovações.

Por esta ótica, as inovações são entendidas como processos dependentes da trajetória,

por meio do qual o conhecimento e a tecnologia são desenvolvidos a partir da interação entre

vários atores e fatores. As trajetórias mencionadas dizem respeito ao que Giovani Dosi (1984)

compreende por “trajetórias tecnológicas”: escolhas contidas em determinado arcabouço

técnico e produtivo que direcionam os possíveis caminhos pelos quais as tecnologias podem

percorrer. O conjunto de trajetórias e soluções possíveis estão ancoradas em um paradigma

tecnológico específico, o qual determina justamente respostas e modelos técnicos e

econômicos feitos por agentes econômicos em determinadas situações. A compreensão de

paradigma tecnológico é importante, pois este define contextualmente as necessidades a

serem atendidas, os padrões científicos a serem incorporados e o tipo de tecnologia utilizada –

ou seja, determina os possíveis caminhos a serem seguidos, ou ignorados, no que diz respeito

a possíveis mudanças técnicas.4 Desta forma, o paradigma tecnológico “é um padrão de

solução de problemas tecnológicos selecionados, baseados em princípios selecionados,

derivados das ciências naturais, e em tecnologias materiais selecionadas” (DOSI, 1984:41,

4 A noção de paradigma tecnológico foi inspirada no paradigma científico de Thomas Kuhn, argumentando que o

progresso técnico ocorre com base na busca por respostas às questões que estão inseridas dentro de um sistema

específico de abordagem de problemas técnicos (POSSAS, 2006).

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grifo do autor).5 Assim, as soluções possíveis já se encontram dentro do paradigma, e

determinados caminhos ou trajetórias são mais prováveis de serem seguidos que outros.

Conforme destaca Possas (2006), alterações podem ocorrer dentro de um mesmo paradigma,

no entanto a maior parte dos atores, das atividades, dos materiais envolvidos permanece os

mesmos – apenas uma mudança drástica nesses elementos pode resultar um novo paradigma

tecnológico.

O progresso dentro de trajetórias e as próprias mudanças de paradigmas são

condizentes com o argumento defendido pelos autores neo-schumpeterianos de que elementos

organizacionais e institucionais são essenciais na dinâmica inovativa e no progresso técnico.

Apresentando assim o último conceito a ser exposto na presente seção: a noção de co-

evolução entre instituições e tecnologias. Conforme destacado por Salles-Filho (1993:96), as

instituições assim como as tecnologias, possuem capacidade de transformação baseadas em

seu processo histórico, “as instituições teriam, nesta perspectiva, trajetórias institucionais,

mais ou menos vinculadas às trajetórias e aos paradigmas tecnológicos”. Richard Nelson

(2007), já citado como um dos principais nomes da teoria neo-schumpeteriana, ressalta que

instituições como universidade, centros de pesquisa, podem se alterar junto às tecnologias,

bem como instituições jurídicas como os direitos de propriedade intelectual. Desta forma, “as

forças políticas devem ser levadas em conta explicitamente não apenas ao influenciar o

desenvolvimento transitoriamente ou a curto prazo, mas como determinantes de caminhos

amplos pelos quais a tecnologia vai proceder” (NELSON, 2007:316).

A literatura neo-schumpeteriana de acordo com Possas, Salles-Filho e Silveira (1994),

ajuda a enquadrar a análise das especificidades da agricultura de uma forma menos arbitrária,

apontando os conceitos expostos da natureza dos paradigmas tecnológicos, as próprias

respostas comportamentais (aplicadas às unidades agrícolas) e a seleção de processos como

elementos que auxiliam na análise econômica de atividades relacionadas à agricultura. Desta

forma, em harmonia com os elementos apresentados, os autores destacam que o processo

inovativo da agricultura deve se ater às fontes de inovação e a natureza e dinâmica relacional

entre esses atores. As fontes identificadas são: (a) fontes privadas de organização de negócios

industriais; (b) fontes de instituições públicas; (c) fontes privadas relacionadas à

agroindústria; (d) fontes privadas, organizações coletivas e organizações sem fins lucrativos;

(e) fontes privadas relacionadas ao serviço de fornecedores; (f) e as unidades produtivas

5 Ademais, conforme destacado por Giovanni Dosi (1984) o paradigma tecnológico possuí um alto grau de

exclusão, ou seja, as soluções encontradas e as próprias pesquisas focam em direções precisas, no entanto ficam

cegas para outras possibilidades tecnológicas (p.42).

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agrícolas. Assim, o regime tecnológico da agricultura moderna envolve não apenas as

indústrias químicas, de agrotóxicos, de sementes, de máquinas, e ferramentas mecânicas;

envolve também pesquisa pública, instituições de educação, organizações de produtores e

também fundações de pesquisa pública e privada. Os autores compreendem que a maneira

como essas fontes evoluem e se relacionam umas com as outras é a grande força institucional

que desenvolve as trajetórias tecnológicas na agricultura e fornecem um padrão

compreensível e coerente para o regime tecnológico moderno agrícola (POSSAS, SALLES-

FILHO e SILVEIRA, 1994).

A próxima seção visa destacar o regime tecnológico da agricultura moderna,

destacando a dinâmica relacional entre as indústrias e as instituições de pesquisa pública no

processo inovativo agrícola, a partir da Revolução Verde.

A DINÂMICA INSTITUCIONAL NA AGRICULTURA: OS CAMINHOS DA

TECNOLOGIA AGRÍCOLA

A partir das décadas de 1950 e 1960 se inicia a base produtiva da agricultura moderna.

O processo produtivo e inovativo que se inicia nesse período passou a ser conhecido como

Revolução Verde, que ampliou a intensificação do uso da terra, visando a maximização de sua

produção em geral em países populosos com recursos escassos, como a Índia, Paquistão,

China e México (BUAINAIN et al., 2013). Segundo Buainain et al. (2013), as mudanças

apresentadas viabilizaram o crescimento da produção agropecuária, “tendo afastado o

fantasma malthusiano que ameaçava aquelas sociedades, além de terem contido a ameaça da

fome catastrófica e disseminada”. A promessa nesse sentido se ancora na argumentação da

erradicação da fome no mundo, viabilizada pela produção e padronização dos produtos

agrícolas. Assim, a Revolução Verde pode ser vista como a indução de um programa de

transferência de tecnologia agrícola e de assistência técnica para aumentar a produtividade

dos países em desenvolvimento.

O foco da presente análise diz respeito à difusão da tecnologia e do conhecimento

nesse período, sendo criado um modelo muito específico de transferências entre centros de

pesquisa. Segundo Salles-Filho (1993), esse processo de reorganização institucional da

pesquisa agrícola vai do período de 1950 à 1970 (sendo este o período destacado

anteriormente da Revolução Verde). Desta forma, o uso intensivo de sementes melhoradas de

alto rendimento e de fertilizantes exigia que fossem criados centros de pesquisa nos países em

desenvolvimento para que pudessem desenvolver e adaptar localmente as variedades

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melhoradas. A pesquisa e a inovação formaram o cerne da mudança agrícola nesse período e

suas atuações na difusão das novas práticas influenciaram sobremaneira os sistemas agrícolas,

estimuladas e financiadas por agências públicas de pesquisa (SALLES-FILHO, 1993) e com a

criação de centros de pesquisa que visavam a difusão e a adaptação do conhecimento agrícola

às condições nacionais (HAYAMI RUTTAN, 1988).

Desta forma, um dos grandes legados da Revolução Verde ou do padrão produtivista

foi a consolidação e a disseminação do padrão moderno produtivo, em grande medida como

ainda se vê nos dias atuais, baseado em uso intensivo de insumos agrícolas, ancorado em

bases científicas multidisciplinares, “com uma forte complementaridade entre insumos e

técnicas e elevada especificidade relacionada às condições naturais de solo e clima”

(SALLES-FILHO, 1993:31).

O contexto econômico e político que envolve a Revolução Verde foi descrito por

Parayil (2003). O autor enfatiza que este processo contribui e muito para a consolidação do

modelo inovativo agrícola, este ancorado por um cenário de políticas pós-coloniais e da

argumentação do “fim da fome” durante a Guerra Fria. Além disso, o autor também enfatiza

que muito embora a transferência de tecnologias durante o período seja considerado um

sistema inovativo bem sucedido, os aspectos distributivos e os riscos ambientais resultantes

da Revolução Verde não eram tidos como preocupações prioritárias dos desenvolvedores de

tecnologia. Assim, outro legado da Revolução Verde diz respeito aos diversos impactos

ambientais e sociais cujos efeitos se manifestam até os dias de hoje e sustentam algumas

trajetórias alternativas, como é o caso da agroecologia.

Os efeitos ambientais e principalmente o papel da agricultura produtivista na

intensificação das mudanças climáticas vêm mobilizando desde 1980 encontros científicos e a

incorporação dessa pauta na agenda de pesquisa internacional (VANLOQUEREN e BARET,

2009), especialmente ao considerar que agricultura é diretamente responsável por 15% das

emissões de gases de efeito estufa (GEE) (WORLD BANK, 2009). A característica agrícola

nesse contexto é que, além de ser uma das causas das mudanças climáticas, a agricultura

também é afetada por este condicionante, e as mudanças produtivas necessárias para a

sustentabilidade da agricultura, ao contrário de cenários anteriores, não se dá por uma

imposição do mercado e sim por imposições da natureza. Assim, o papel fundamental da

pesquisa e da inovação destacados anteriormente na consolidação da agricultura produtivista

é, como apontam Lybbert e Sumner (2012), ainda mais central – e desafiador – nesse novo

contexto.

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Salles-Filho (1993) conclui que o padrão tecnológico moderno é resultado de um

processo cumulativo, que se inicia muito antes da Revolução Verde, ou seja, a ideia de que

este é um pacote tecnológico concebido ex ante não corresponde ao processo histórico que de

fato ocorreu. Argumentação que se confirma com as características de trajetórias tecnológicas

de Dosi, em que é questionável a possibilidade de se definir a priori a superioridade ou a

escolha entre trajetórias. Ou seja, “ele (o padrão tecnológico) é um processo de

desenvolvimento tecnológico cujas origens, desdobramentos, caminhos, estímulos e

obstáculos só podem ser entendidos à luz dos momentos históricos em que se deram”

(SALLES-FILHO, 1993:35).

Conforme destacado por Fuck (2009) acerca da organização da pesquisa agrícola no

período, a consolidação de uma rede internacional de pesquisa foi fundamental para a

transferência internacional de materiais genéticos. No entanto, atualmente são questionadas as

capacidades das grandes organizações internacionais, como o Grupo Consultivo para a

Pesquisa Agrícola Internacional em continuar as atividades de disponibilização de tecnologias

agrícolas para os países em desenvolvimento. Em grande medida, o grande obstáculo que

modifica a dinâmica de difusão do conhecimento diz respeito aos direitos de propriedade

intelectual. Ou seja, neste momento, o protagonismo do desenvolvimento de novas

tecnologias agrícolas na pesquisa e na comercialização de produtos se alterou, com destaque

para as grandes empresas transnacionais (FUCK, 2009). As questões decorrentes dessa nova

configuração dos direitos de propriedade intelectual configuram um problema que deve ser

amplamente debatido. Como indicam Salles-Filho e Bin (2014), enquanto as empresas e as

grandes multinacionais estão preparadas para garantir e para explorar a apropriabilidade de

suas inovações tecnológicas, as organizações de pesquisa pública estão preparadas apenas

para serem detentoras da propriedade. Parayil (2003) argumenta que a Revolução Genética

não foi desenvolvida naturalmente a partir da Revolução Verde – o desenvolvimento e a

difusão de inovações estão situadas em sistemas inovativos profundamente distintos,

moldadas por diferentes aspectos políticos, econômicos e sociais. Ou seja, a Revolução

Genética possui uma estrutura radicalmente diferente do modelo característico apresentado na

Revolução Verde, ancorada pela globalização e por um “capitalismo intelectual” (PARAYIL,

2003: 986):

O processo de produção e difusão de inovações na agropecuária mudou

completamente sua natureza, quando comparado com o de algumas décadas

passadas. É hoje um desafio gigantesco, pois opõe distintos interesses sociais e

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econômicos (rurais e não rurais). Considerando-se o tema das mudanças climáticas,

ultrapassa inclusive as fronteiras nacionais. (BUAINAIN et al., 2013:1169)

Salles-Filho (1993) destaca que a agricultura passa a partir da década de 1990 por um

momento de transformação, que ao chegar ao seu limite, diminui assim a sobrevida do

modelo produtivista. Fuck (2009) aponta justamente para o processo de co-evolução entre as

inovações institucionais e tecnológicas que passam a estruturar um novo modelo, baseado nas

culturas geneticamente modificadas. Com a perda do protagonismo público na transferência

de materiais genéticos, que foi essencial na consolidação do modelo durante a Revolução

Verde, a partir de então as grandes empresas multinacionais são as principais responsáveis por

estas atividades, no entanto, as pesquisas se direcionam ao mercado de sementes mais

atrativo, como a soja, o milho e o algodão. Salles-Filho e Bin (2014) apontam que, no caso

brasileiro, as instituições de pesquisa científica e tecnológica se encontram um tanto

deslocadas nesse novo contexto, justamente porque o modelo de produção produtivista ainda

está presente, mas a atuação dos principais atores foi realocada. Os autores destacam a

abordagem de Atkinson et al. (2003), que atribuem a mudança dessa dinâmica e da alteração

do protagonismo da pesquisa pública às mudanças nas condições de apropriabilidade de

tecnologias.

Com a nova configuração institucional questiona-se quais atividades devem ser

desenvolvidas por qual ator específico, evitando a sobreposição de atividades ou o efeito

crowding-out, que seria um processo em que o investimento público em pesquisa deslocaria

investimentos do setor privado (SALLES-FILHO e BIN, 2014). O novo contexto incorpora a

entrada de novos atores e o questionamento dos papéis das instituições tradicionalmente

atuantes, além de questionamentos futuros no desenvolvimento inovativo baseado em uma

fraca conexão entre as instituições chaves e à perda de espaço da pesquisa pública agrícola

(BONACELLI, FUCK, CASTRO, 2015). No entanto, Vanloqueren e Baret (2009) indicam

uma sobrevida à pesquisa agrícola que engloba justamente o legado dos efeitos ambientais e

das mudanças climáticas na agricultura. Em um contexto em que as inovações e a pesquisa

podem estar direcionadas para um novo padrão produtivo, que não visa exatamente a

produtividade, mas principalmente a sobrevivência das atividades agrícolas em um contexto

ambientalmente instável, a ciência e a inovação assumem novamente papel fundamental –

justamente pela incerteza e pela falta de incentivo econômico relacionado às pesquisas

ambientais, o protagonismo público será maior nesse momento do que a atuação privada

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(BIN, 2004).6 No entanto, as dificuldades nesse cenário se dão justamente pela imposição de

diversas restrições que não são economicamente atrativas aos produtores, exigindo assim

incentivos para a adoção de novas práticas (SMITH et al., 2008). Dessa forma, como

destacam Smith et al. (2007) serão necessárias políticas inovadoras e interdisciplinares que

reconheçam e removam as barreiras que dificultam a difusão de tecnologias e conhecimento

aos produtores.

A consolidação desse paradigma, ultrapassando apenas progressos incrementais, pode

ser resolvido ao se observar a trajetória decorrente da Revolução Genética como

complementar a trajetória agroecológica, de acordo com Vanloqueren e Baret (2009). “Por

exemplo, espera-se que plantas transgênicas tolerantes a seca possam ser incorporadas em

sistemas agroecológicos concebidos para maximizar a resistência às condições climáticas

extremas” (VANLOQUEREN e BARET, 2009: 981). No entanto, existe ainda um debate

sobre o misto entre a agricultura intensiva e a agricultura sustentável e agroecológica, em

especial no que diz respeito introdução de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs).

Bin (2004) destaca justamente que muito embora argumentem sobre uma possível

contribuição das práticas biotecnológicas na agricultura sustentável, o conhecimento sobre os

efeitos e riscos potenciais envolvidos com a biotecnologia ainda são desconhecidos –

levantando algumas barreiras, mas não impedindo avanços na pesquisa agrícola, o que

endossa o argumento de Vanloqueren e Baret (2009). Ou seja, segundo Bin (2004:73), “a

internalização da variável ambiental na pesquisa agrícola não se faz de forma separada do

conjunto do padrão tecnológico agrícola mais amplo”. Com o avanço das discussões acerca

das duas trajetórias e de sua possível fusão, junto ao debate sobre a tensão entre a participação

pública e privada, será possível compreender o delineamento e a consolidação das trajetórias

alternativas.

O papel da pesquisa agrícola, com seu protagonismo em cheque, pode ser repensado

quando se tratam das trajetórias alternativas e sustentáveis. Ou seja, o papel fundamental da

pesquisa e da inovação destacados anteriormente na consolidação da agricultura produtivista

é, como apontam Lybbert e Sumner (2012), ainda mais central nesse novo contexto. Mas a

efetividade de sua ação depende em grande medida de outras iniciativas, como a extensão

rural e políticas inovadoras para que os agricultores percebam os ganhos a longo prazo de

mudanças nas práticas produtivistas, e compreendam que as limitações do ambiente agora se

6 “Nesse sentido o inexorável aumento das temperaturas no globo levará à intensificação dos estresses técnicos,

hídricos, nutricionais e sanitários para plantas e animais nos trópicos exigindo soluções que só poderão ser

alcançadas através de um modelo de inovação transdiciplinar.” (BORGES FILHO, 2005, p.129)

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sobrepõe aos interesses mercadológicos. O papel do desenvolvimento e da estabilização da

agenda agrícola, bem como a difusão de conhecimento e tecnologias são as variáveis

fundamentais para se compreender como e quão bem os agricultores se adaptam e diminuem

os efeitos da mudança climática em suas práticas. Medidas e iniciativas dos centros de

pesquisa públicos voltados para as trajetórias alternativas podem contribuir para o

fortalecimento dessas trajetórias, com possíveis parcerias e redefinições de papéis dos setores

público e privado em relação às atividades de pesquisa e extensão rural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este artigo buscou-se fazer uma revisão histórica da dinâmica entre atores na

pesquisa pública agrícola, em especial nas transferências de tecnologia entre centros de

pesquisa. A nova conjuntura apresentada anteriormente aponta justamente para mudanças no

papel e nas interações entre atores, demonstrando uma tensão entre o protagonismo público e

privado na dinâmica inovativa agrícola. A literatura neo-schumpeteriana auxilia junto aos

seus conceitos, a compreensão acerca do paradigma produtivo que se consolida com a

Revolução Verde, e as trajetórias tecnológicas produtivistas cuja força ainda inibem

trajetórias alternativas, promovendo apenas progressos incrementais nas condições atuais

(SALLES-FILHO e BIN, 2014; PARAYIL, 2003). O papel do Estado junto aos centros de

pesquisa demanda atenção justamente porque no novo contexto da Revolução Genética, essas

novas tecnologias impõem a necessidade de uma postura ativa por parte do setor público em

relação às atividades de pesquisa e de regulamentação. O contexto apresentado junto à co-

evolução visível entre instituições e o ambiente em que atuam, em especial ao papel dos

direitos de propriedade intelectual devem ser observados com atenção. Salles-Filho e Bin

(2014) destacam justamente a necessidade de um movimento realmente sério de coordenar

expectativas mútuas de divisão de tarefas no sentido de desenvolvimentos simultâneos e

complementares entre pesquisa público-privada e como a proposta de discussão sobre uma

adaptação do regime atual de propriedade intelectual que priorize objetivos sociais em

detrimento de ganhos privados.

A definição de um novo regime na agricultura é complicado por considerar muita

especulação, em especial por se tratar de regimes tecnológicos – e as tecnologias são de difícil

previsibilidade, por definição. No entanto, como concluem Possas, Salles-Filho e Silveira

(1994), as novas áreas-problema, em especial a atuação público-privada no contexto da

Revolução Genética e da possível consolidação de trajetórias alternativas como a

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agroecologia junto as discussões sobre impactos ambientais e sobre as mudanças climáticas,

indicam os pontos-chaves a serem discutidos, revistos e alterados. No entanto, a atuação dos

centros de pesquisa publica direcionada para as trajetórias alternativas pode contribuir para a

sobrevivência da pesquisa pública e para o fortalecimento de outras práticas direcionadas

principalmente à sustentabilidade e aos objetivos sociais, em detrimento de ações voltadas

unicamente aos ganhos privados.

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