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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA O LOCAL E OS SISTEMAS DE INOVAÇÕES EM PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS: O CASO DO ARRANJO PRODUTIVO DE MODA PRAIA DE CABO FRIO/RJ FLÁVIO JOSÉ MARQUES PEIXOTO Dissertação de mestrado submetida ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Economia Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Cassiolato Rio de Janeiro, Agosto de 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ECONOMIA

O LOCAL E OS SISTEMAS DE INOVAÇÕES EM PAÍSES

SUBDESENVOLVIDOS: O CASO DO ARRANJO PRODUTIVO DE MODA

PRAIA DE CABO FRIO/RJ

FLÁVIO JOSÉ MARQUES PEIXOTO

Dissertação de mestrado submetida ao

Instituto de Economia da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção

do título de Mestre em Economia

Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Cassiolato

Rio de Janeiro, Agosto de 2005

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ECONOMIA

O LOCAL E OS SISTEMAS DE INOVAÇÕES EM PAÍSES

SUBDESENVOLVIDOS: O CASO DO ARRANJO PRODUTIVO DE MODA

PRAIA DE CABO FRIO/RJ

FLÁVIO JOSÉ MARQUES PEIXOTO

Dissertação de mestrado submetida ao

Instituto de Economia da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção

do título de Mestre em Economia

Banca Examinadora:

_______________________________________

Prof. José Eduardo Cassiolato (Orientador)

_______________________________________

Profª. Helena M. M. Lastres (Suplente)

_______________________________________

Prof. Renato Ramos Campos

_______________________________________

Prof. Victor Prochnik

Rio de Janeiro, Agosto de 2005

3

Resumo

Este trabalho discute a importância do local nos estudos de arranjos e sistemas

produtivos locais tendo como foco o aprendizado, o conhecimento, a cooperação e a

inovação no âmbito dos países subdesenvolvidos. O objetivo é demonstrar que o

conhecimento e a inovação representam fatores cruciais para o sucesso competitivo,

onde o aprendizado – em especial o aprendizado pela interação – está vinculado à visão

sistêmica do processo de inovação. Tais processos tomam forma através da criação e

manutenção dos espaços de aprendizado interativo (representados pelos arranjos e

sistemas produtivos), que representam uma condição essencial para a superação do

processo de exclusão dos países subdesenvolvidos. Nesse contexto, a análise da

evolução do arranjo produtivo local de moda praia de Cabo Frio/RJ, a partir do

referencial teórico de base neo-schumpeteriana utilizado pela RedeSist (Rede de

Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais), em relação à inovação,

cooperação e aprendizado, discute a importância de políticas públicas que busquem, a

partir das especificidades locais, promover e gerar os processos que estimulem o

aprendizado, acumulação e difusão de conhecimentos capazes de não apenas alavancar

a competitividade das micro e pequenas empresas locais, mas também promover o

desenvolvimento econômico e social.

4

Abstract

This work discusses the importance of the locality in the local productive

systems and arrangements studies by focusing on learning, knowledge, cooperation and

innovation in the context of underdeveloped countries. The aim of this dissertation is to

demonstrate that knowledge and innovation represent crucial factors to the competitive

success, where learning – in special learning-by-interacting - is attached to the systemic

perspective of the innovation process. Such processes are mainly shaped by the creation

and maintenance of the so-called “interactive learning spaces” (represented by the

productive systems and arrangements), being an essential condition to the overcoming

of the underdeveloped position. Therefore, the next step consists at the trajectory

analysis of the beach wear local productive arrangement in Cabo Frio/RJ. This analysis

is made by taking the neo-shumpeterian literature – which recognizes the central role of

cooperation, innovation, learning and capacity building on development processes,

utilized by RedeSist - as the theoretical reference. In order to implement policies to

promote “real competitivity” of the local productive arrangement’s micro and small

enterprises, local specificities should be taken into consideration, not only to better

stimulating those policies, but also to real foster social and economic development.

5

Dedicatória

Dedico este trabalho aos meus pais,

José Antonio Assunção Peixoto

E

Edir Marques Peixoto

Sem vocês eu não seria.

6

Agradecimentos

Difícil resumir em poucas palavras a gratidão por todos que fizeram parte, direta

ou indiretamente, da elaboração deste trabalho. No entanto, pior seria não fazê-lo. Por

isso, desculpo-me desde já qualquer esquecimento momentâneo.

Ao professor e orientador José Eduardo Cassiolato, meus sinceros

agradecimentos por toda paciência, dedicação e incentivo durante todo o tempo. Por

toda seriedade e competência, sua postura constituiu-se um grande exemplo.

À professora e co-orientadora Helena Lastres, que também esteve presente

durante todo o tempo, não saberia como agradecer de forma diferente toda sua

paciência, dedicação e incentivo. Foi um privilégio trabalhar com vocês!

Aos professores Renato Campos e Victor Prochnik, que gentilmente aceitaram

fazer parte da banca examinadora.

Aos colegas da Redesist, Max Santos, Fabiane Moraes, Tatiane Moraes, Marcelo

Pessoa, Paula Schatz, Gustavo e, em especial, Eliane Pires, meus agradecimentos por

todo o suporte e incentivo.

Ao Sebrae nacional e a coordenação NEITEC do Departamento de Economia da

UFSC, a oportunidade de fazer parte do Programa de Financiamento de bolsas de

mestrado, coordenado pelos Professores Renato Ramos Campos, José Antônio Nicolau

e Silvio Antonio Ferraz Cario.

À Renato Dias Regazzi, Gerente da Área de Desenvolvimento

Setorial/Empresarial do Sebrae-RJ, Sérgio Tostes, Gerente Regional do Sebrae de Cabo

Frio e a Cláudia Magalhães, Técnica Articuladora do Sebrae de Cabo Frio, por facilitar

o contato com as empresas de moda praia de Cabo Frio.

À Associação Comercial, Industrial e Turismo de Cabo Frio (ACIA) pelo

fornecimento de uma lista de empresas que foi fundamental para que as entrevistas

fossem agendadas.

Aos empresários das confecções de Cabo Frio que responderam ao questionário

pacientemente meus sinceros agradecimentos. Em especial, agradeço Maurício

Nogueira Brito por todas as informações a respeito do História da Rua dos Biquínis, que

foi fundamental para este trabalho. Sem vocês este trabalho não existiria.

Aos professores, funcionários e alunos do mestrado do Instituto de Economia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro que de alguma maneira fizeram parte desde

7

caminho percorrido até aqui, em especial Bruno Moretti, Clarice Braga e Vicente

Guimarães.

Aos meus pais e irmãos Rafael e Fernanda, pela paciência e incentivo em todas

as etapas da minha vida.

Aos meus familiares, por toda a torcida durante todo o tempo.

À Paula, minha quase esposa, pela lição de paciência, compreensão e,

principalmente, pelo amor e dedicação incondicionais.

À todos os amigos que têm estado presentes, ainda que não fisicamente.

Obrigado a todos!!!

8

“Não se deve confundir o conhecimento ponderado

do que é do outro com uma submissão mental às

idéias alheias, submissão esta de que estamos

muito lentamente aprendendo a nos livrar”.

Raúl Prebisch

9

SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................................... 1

Capítulo I – Sistemas de inovação em países subdesenvolvidos: uma breve análise a

partir da perspectiva latino-americana de dependência ........................................... 7

1) Introdução ................................................................................................................ 7

2) Conexões do pensamento latino-americano da CEPAL e a abordagem dos Sistemas

Nacionais de Inovação .................................................................................................. 9

3) A dinâmica da dependência a partir de Prebisch e Furtado: as grandes empresas do

sistema capitalista ....................................................................................................... 12

4) Pensando Sistema Nacional de Inovações numa perspectiva de países menos

desenvolvidos: a visão do Sul...................................................................................... 15

5) Considerações parciais............................................................................................ 18

Capítulo II – Cenário da importância do local na abordagem de arranjos e

sistemas produtivos e inovativos locais em países subdesenvolvidos ...................... 20

1) Introdução: a importância do local .......................................................................... 20

2) Arranjos e sistemas produtivos locais: aprendizado, conhecimento, cooperação e

inovação numa abordagem neo-schumpeteriana .......................................................... 26

2.1) O aprendizado local e o conhecimento tácito ................................................ 28

2.2) Cooperação e capital social: elementos para o desenvolvimento local........... 30

2.3) A inovação como um processo de interação local ......................................... 31

3) Conclusões parciais ................................................................................................ 34

Capítulo III – Panorama da indústria de confecções............................................... 36

1) Introdução .............................................................................................................. 36

2) Características da cadeia têxtil – confecções ........................................................... 37

3) Panorama mundial de confecções............................................................................ 41

3.1) Perspectivas pós-2005: o fim das barreiras à importação de têxteis e

confeccionados.................................................................................................... 45

4) A nova organização da indústria têxtil-confecções nos países desenvolvidos: as

cadeias produtivas globais........................................................................................... 48

10

4.1) As cadeias de commodities/valores............................................................... 50

4.2) Mecanismos de sub-contratação ................................................................... 55

4.3) Aprimoramento (Upgrading) Industrial na cadeia de commodities/valores de

confecções a partir da perspectiva das cadeias produtivas globais: o caso dos tigres

asiáticos .............................................................................................................. 57

5) Diferentes abordagens da cadeia de valores e os limites ao aprimoramento industrial

................................................................................................................................... 60

6) O panorama nacional de confecções na década de 1990 .......................................... 62

6.1) A abertura comercial dos anos 1990 ............................................................. 63

6.2) Regime tecnológico...................................................................................... 65

6.3) Comércio exterior ........................................................................................ 67

7) Considerações parciais............................................................................................ 70

Capítulo IV – O arranjo produtivo local de moda praia de Cabo Frio .................. 73

1) Introdução .............................................................................................................. 73

2) A moda praia: evolução e características específicas deste nicho de mercado .......... 73

3) Características da cidade de Cabo Frio.................................................................... 77

3.1) Principais atividades produtivas ao longo do tempo...................................... 78

4) Origem e desenvolvimento ..................................................................................... 81

5) Perfil dos principais agentes ocupados nas empresas do arranjo .............................. 85

6) Infra-estrutura local................................................................................................. 90

7) Vantagens dinâmicas locais para a competitividade ................................................ 92

7.1) Quanto à localização .................................................................................... 92

7.2) Quanto à mão-de-obra.................................................................................. 94

7.3) Principais determinantes da competitividade ................................................ 95

8) Interação e processos de aprendizagem: treinamento e informação.......................... 96

9) Principais esforços inovativos ............................................................................... 102

10) Formas de cooperação no arranjo produtivo ........................................................ 107

11) Síntese parcial..................................................................................................... 110

Capítulo V – Perspectivas do APL de moda praia de Cabo Frio: políticas de

promoção e a questão da inserção no mercado externo ........................................ 113

1) Introdução ............................................................................................................ 113

11

2) Principais dificuldades enfrentadas pelas empresas do arranjo............................... 114

3) Considerações de políticas para promoção do arranjo produtivo de moda praia ..... 118

4) O Consórcio Pau-Brasil de Moda Praia e a questão da exportação......................... 122

5) Exportação e cadeia de commodities/valores: o Consórcio de Exportação Pau-Brasil

................................................................................................................................. 126

5.1) A busca de uma “inserção virtuosa” no mercado externo............................ 127

5.2) A relevância do mercado interno e regional ................................................ 129

6) Síntese parcial....................................................................................................... 130

Considerações finais................................................................................................ 132

Referências bibliográficas....................................................................................... 135

Anexo....................................................................................................................... 146

12

ÍNDICE DE TABELAS E FIGURAS

TABELAS

TABELA III.1 – Principais Países Produtores de Confecções – 2000............................41

TABELA III.2 – Principais Exportadores de Confecções, 1980-2002...........................42

TABELA III.3 – Principais Importadores de Confecções, 1980-2002...........................43

TABELA III.4 – Percentagem mínima do volume de importações de cada país, em

relação à 1990, que deve ter cota removida.....................................................................46

TABELA III.5 – Brasil, Exportações de confecções por volume e valor (1997-

2001)................................................................................................................................64

TABELA III.6 – Brasil, Importações de confecções por volume e valor (1997-2001)..

.........................................................................................................................................65

TABELA III.7 – Balança Comercial Têxtil e de Confecções – 1975 a

2004.................................................................................................................................69

TABELA IV.1 – Produto Interno Bruto, em valores absolutos e per capita, segundo as

Regiões de Governo e Municípios...................................................................................78

TABELA IV.2 – Número de estabelecimentos – Cabo Frio – 2002...............................81

TABELA IV.3 – Porte das Empresas da Amostra do Arranjo Produtivo de Confecções

em Cabo Frio/RJ..............................................................................................................85

TABELA IV.4 – Tipo de Relação de Trabalho nas Micro e Pequenas Empresas do

Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.......................................................86

TABELA IV.5 – Perfil dos Sócios Fundadores das Micro e Pequenas Empresas do

Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.......................................................87

TABELA IV.6 – Número de Sócios Fundadores das Micro e Pequenas Empresas do

Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.......................................................87

TABELA IV.7 – Escolaridade dos Proprietários das Micro e Pequenas Empresas do

Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.......................................................88

TABELA IV.8 – Atividade Anterior dos Proprietários das Micro e Pequenas Empresas

do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ..................................................89

TABELA IV.9 – Escolaridade do Pessoal Ocupado nas Empresas do Arranjo Produtivo

de Confecções em Cabo Frio/RJ.....................................................................................90

TABELA IV.10 – Vantagens da Localização para as Micro e Pequenas Empresas do

Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.......................................................93

13

TABELA IV.11 – Transações Comerciais Realizadas no Local pelas Micro e Pequenas

Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo

Frio/RJ.............................................................................................................................94

TABELA IV.12 – Avaliação da Mão-de-Obra Local segundo as Micro e Pequenas

Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo

Frio/RJ.............................................................................................................................95

TABELA IV.13 – Fatores Determinantes da Competitividade das Micro e Pequenas

Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo

Frio/RJ.............................................................................................................................96

TABELA IV.14 – Atividades de Treinamento e Capacitação de Recursos Humanos das

Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo

Frio/RJ.............................................................................................................................97

TABELA IV.15 – Fontes de Informação empregadas pelas Micro e Pequenas Empresas

do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ................................................100

TABELA IV.16 – Resultados Obtidos com os Processos de Treinamento e

Aprendizagem das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em

Cabo Frio/RJ..................................................................................................................101

TABELA IV.17 – Número de Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo

Frio/RJ que Introduziram Inovações entre 2000 e 2002................................................102

TABELA IV.18 – Constância da Atividade Inovativa ns Micro e Pequenas Empresas do

Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.....................................................105

TABELA IV.19 – Impactos Gerados pela Introdução de Inovações nas Micro e

Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo

Frio/RJ...........................................................................................................................107

TABELA IV.20 – Participação em Atividades Cooperativas em 2002 das Empresas do

Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.....................................................108

TABELA IV.21 – Atividades Cooperativas Desenvolvidas pelas Micro e Pequenas

Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ em

2002...............................................................................................................................109

TABELA IV.22 – Resultados Obtidos com as Parcerias Realizadas pelas Micro e

Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo

Frio/RJ...........................................................................................................................110

TABELA V.1 – Grau de Dificuldade Operacional das Empresas do Arranjo Produtivo

de Confecções em Cabo Frio/RJ...................................................................................115

14

TABELA V.2 – Obstáculos que Limitam o Acesso a Financiamento das Micro e

Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo

Frio/RJ...........................................................................................................................117

TABELA V.3 – Fonte de Financiamento do Capital das Micro e Pequenas Empresas do

Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.....................................................117

TABELA V.4 – Políticas Públicas que Poderiam Contribuir para o Aumento da

Eficiência Competitiva segundo avaliação das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo

Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ (Grau de

Importância)...................................................................................................................119

FIGURAS

FIGURA III.1 – Configuração Básica da Cadeia Têxtil.................................................38

1

INTRODUÇÃO

A teoria da concorrência schumpeteriana tem como principal característica sua

inserção numa visão dinâmica e evolucionária do funcionamento da economia. A

evolução desta economia é vista ao longo do tempo como baseada num processo

ininterrupto de introdução e difusão de inovações em sentido amplo, isto é, de quaisquer

mudanças no “espaço econômico” no qual operam as empresas, sejam elas mudanças

nos produtos, nos processos produtivos, nas fontes de matérias-prima, nas formas de

organização produtiva, ou nos próprios mercados, inclusive em termos geográficos.

Nesse sentido, qualquer inovação é entendida como resultado da busca constante de

lucros extraordinários, mediante a obtenção de vantagens competitivas entre os agentes

(empresas), que procuram diferenciar-se uns dos outros nas mais variadas dimensões do

processo competitivo, tanto tecnológicos quanto os de mercado (Dosi, 1988; Possas,

2002).

No entanto, é importante ter em mente que esta perspectiva de inovações em

sentido amplo não se trata apenas de enfatizar a mudança tecnológica – como às vezes

se supõe ao interpretar erroneamente, de forma reducionista, a concorrência

schumpeteriana – mas toda e qualquer mudança no espaço econômico, promovida pelas

empresas em busca de vantagens e conseguintes ganhos competitivos (Ibdem).

Nesse contexto, novas abordagens teóricas que exaltam a importância da

inovação e do aprendizado no processo de desenvolvimento econômico surgiram a

partir da idéia inicial desta teoria.

Ressaltando a importância do conhecimento como requisito fundamental ao

processo de inovação e o aprendizado como o mais importante processo de geração

deste conhecimento, a teoria evolucionária/neo-schumpeteriana vem, cada vez mais,

ganhando espaço nas discussões a cerca da atual conformação industrial. Esses enfoques

teóricos destacam a importância do conhecimento (resultado do processo de

aprendizado) como principal insumo deste padrão de desenvolvimento. Segundo

Lundvall (1998, p.33), “the starting point is the assumption that the current economy is

one where knowledge is the most important strategic resource and learning the most

important process (…) where information technology revolution makes more kinds of

knowledge become even more important for economic performance and success than

before”.

2

Vargas (2002) destaca que a percepção de que o conhecimento e a inovação

representam fatores de suma relevância para o sucesso competitivo, e o

desenvolvimento de indivíduos, firmas, regiões e países não se constitui num fato novo

na literatura. Entretanto, no decorrer das últimas décadas, a emergência de um novo

paradigma tecnológico1 aliada ao debate em torno do fenômeno da globalização

contribuíram consideravelmente para reforçar o interesse em torno da importância que

assume o processo de geração, distribuição e uso do conhecimento no atual estágio de

desenvolvimento do sistema capitalista.

Nesse sentido, o aprendizado – em especial o aprendizado pela interação – está

vinculado à visão sistêmica do processo de inovação, onde a capacidade de geração,

difusão e utilização de novos conhecimentos consolida-se como um processo que

transcende a esfera da firma individual e passa a depender da contínua interação entre

firmas e entre estas e as diferentes instituições que constituem sistemas de inovação em

diferentes âmbitos.

Dessa forma, a abordagem sobre os sistemas de inovação reside na constatação

de que a inovação consiste num fenômeno sistêmico no sentido de que os processos de

inovação que têm lugar no nível da firma são, em geral, gerados e sustentados por

relações inter-firmas e por uma complexa rede de relações institucionais.

Percebe-se que este cenário não consiste numa mera delimitação geográfica, mas

antes constitui uma unidade própria de análise, que condiciona o desempenho

competitivo e inovativo de empresas articuladas em torno de arranjos e sistemas

produtivos.

Frente à polarização econômica e social existente entre os países desenvolvidos

e subdesenvolvidos, a criação de condições adequadas ao pleno desenvolvimento de

processos de aprendizado constitui um fator essencial para a própria dinâmica do

crescimento econômico. Nesse sentido, a criação e manutenção dos chamados espaços

de aprendizado interativo (representados pelos arranjos e sistemas produtivos)

representam uma condição essencial para superação deste processo de exclusão dos

países subdesenvolvidos.

Dessa forma, a localização, a interação entre indivíduos, grupos e firmas e os

aspectos particulares – as especificidades – de um determinado local, região e país são

elementos fundamentais na discussão do papel dos arranjos e sistemas produtivos para o

1 Ver Freeman & Perez, 1988.

3

desenvolvimento econômico e social. Este papel está intimamente relacionado à

discussão, desenvolvimento e implementação de políticas especificas de

desenvolvimento, de acordo com as particularidades de cada local onde ela está sendo

implementada, atendendo aos interesses de seus agentes, e não de poucos indivíduos

(firmas estrangeiras) com interesses bastante específicos (privados).

Nesse contexto, o objetivo é ter claro as diferenças entre as políticas de

desenvolvimento local daquelas elaboradas sob uma perspectiva “global” generalizada,

para não mais se confundir a lógica do chamado mercado global com a lógica individual

das empresas candidatas a permanecer ou a se instalar num dado país; o que exige a

adoção de um conjunto de medidas que acabam assumindo um papel de condução geral

da política econômica e social. O argumento, fundado no chamado “pensamento único”,

inclui um receituário de soluções, sem as quais – diz-se – um determinado país se torna

incapaz de participar do processo de globalização. Em nome da inserção desse país na

nova modernidade e no mercado global são estabelecidas regras que acabam por

constituir um conjunto irrecusável de prescrições. Isso equivale, para cada país, a uma

abdicação da possibilidade de efetuar uma verdadeira política nacional, tanto econômica

quanto social (Santos e Silveira, 2001).

Para Santos e Silveira, o discurso do mercado global faz pensar que essa

entidade dita universal atua quase automaticamente sobre o mundo, isto é, sobre todos

os países. Na prática, a ação efetiva dá-se por intermédio de empresas, diferentes

segundo os países, cada qual trabalhando exclusivamente em função dos seus próprios

interesses individuais e buscando adaptar a esses interesses as práticas correntes em

cada nação. Todavia, o que se chama de lógica global na verdade não existe

empiricamente senão por um conjunto de idéias aplicadas a todos os países,

independentemente do que cada um deles na verdade é. Os atores desse enredo atribuído

ao “mundo” são, na realidade, as empresas que dispõem de força suficiente para induzir

os Estados a adotar comportamentos que respondam aos interesses privatistas, ainda que

isso se dê a partir da idéia mais geral de globalização, tal como hoje ela é oficialmente

entendida e aceita.

Quando se fala em mundo, está se falando, sobretudo, em mercado que hoje

atravessa tudo, inclusive a consciência das pessoas. Mercado das coisas, inclusive da

natureza; mercado das idéias, inclusive da ciência e da informação; mercado político.

Justamente, a versão política dessa globalização perversa é a democracia de mercado.

Além desta democracia de mercado, o neoliberalismo é o outro braço dessa

4

globalização necessário para reduzir as possibilidades de afirmação das formas de viver

cuja solidariedade é baseada na contigüidade, na vizinhança solidária, isto é, no

território compartido (Santos, 2005).

Dessa forma, esta concepção do desenvolvimento baseada na livre atuação do

mercado num mundo globalizado, seguindo os moldes dos países desenvolvidos, não se

constitui uma solução para uma distribuição automática e igualitária tanto do

conhecimento quanto da riqueza entre setores, regiões e, menos ainda, entre nações.

Nesse sentido, uma nova perspectiva do desenvolvimento e das relações sociais onde a

“racionalidade do mercado” não se faça tão presente é o que se busca nesta perspectiva.

Assim, a participação do Estado adquire especial relevância devido ao papel que este

pode desempenhar não apenas na condução econômica, mas no desenho e consecução

de objetivos econômicos e sociais. Este tema chave do papel do Estado se encontra

estreitamente ligado a dois outros: um é o das relações sócio-políticas que servem de

base de sustentação; o outro é a das relações geo-políticas em que se encontra imerso

(Rodríguez, 2001).

Ainda que a igualdade seja uma utopia no sistema capitalista – que tem como

principal fator dinâmico a “produção” de desigualdade -, enquanto houver capitalismo

nosso objetivo é tentar “humanizá-lo” o máximo possível, tanto através de teorias

(como fazer teorias sem utopias?)2 quanto de políticas que busquem o desenvolvimento

em geral.

Neste contexto, o principal objetivo desta dissertação é analisar a evolução do

arranjo produtivo local de moda praia de Cabo Frio/RJ, a partir do referencial teórico

neo-schumpeteriano em relação à inovação, cooperação e aprendizado.

Especificamente, pretende-se discutir a importância de políticas públicas que busquem,

a partir das especificidades locais, promover e gerar os processos que estimulem o

aprendizado, acumulação e difusão de conhecimentos capazes de alavancar a

competitividade das micro e pequenas empresas locais; sendo esta competitividade, o

resultado da interação entre indivíduos, firmas e instituições, interagindo no mesmo

território, gerando o aprendizado necessário para as oportunidades de inovação.

A pesquisa de campo que serviu de base para a elaboração deste trabalho foi

realizada em julho e agosto de 2004, na qual foram entrevistadas 18 empresas

formalmente constituídas e, em todas, foi aplicado o questionário padrão do “Programa

2 Santos (2000, p. 48).

5

de Pesquisa Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais no Brasil”3. O

programa foi realizado através do convênio celebrado entre a Fepese/UFSC e o

SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) Nacional, que

concedeu bolsa de estudo e suporte financeiro para a pesquisa de campo. O programa

foi coordenado pelo Professor Renato Campos do Núcleo de Economia Industrial e da

Tecnologia do Departamento de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina.

A amostra foi selecionada a partir de uma lista de empresas fornecida pelo

SEBRAE de Cabo Frio (defasada, pois, a grande parte das empresas listadas já não se

encontrava mais em operação no período da pesquisa) e de uma lista de empresas em

funcionamento fornecida pela Associação Comercial, Industrial e Turismo de Cabo Frio

(ACIA)4.

A dissertação está estruturada em cinco capítulos.

O primeiro capítulo procura apresentar a abordagem latino-americana da

CEPAL com o intuito de relacionar a discussão dos sistemas de inovação com a

dinâmica da dependência existente no sistema capitalista. O objetivo é justamente

pensar o desenvolvimento desses sistemas de inovação a partir de uma visão focada na

realidade (e limitações) desses países subdesenvolvidos.

O segundo capítulo tem como objetivo apresentar a importância do local nos

estudos de arranjos e sistemas produtivos locais tendo como foco o aprendizado, o

conhecimento, a cooperação e a inovação a partir da perspectiva dos países

subdesenvolvidos, em especial da América Latina. Nesse sentido, busca-se realizar uma

análise multidisciplinar, em especial tomando emprestado objetos da geografia, que

sugerem exatamente a visão sistêmica da teoria.

O terceiro capítulo pretende apresentar as características gerais da indústria de

confecção no Brasil e no mundo. Partindo de um panorama geral da organização da

produção e distribuição na indústria de confecções, o capítulo se concentra na análise

das cadeias produtivas globais de confecções –que é uma forma de interpretação da

dinâmica desta indústria -, com o objetivo de deixar aparente as relações de poder

existente entre as grandes empresas dos países desenvolvidos e dos demais localizados

nos países subdesenvolvidos. Dessa forma, procurou-se demonstrar, brevemente, como

atuam estas empresas em todo o mundo, apontando o lugar ocupado pelo Brasil neste

3 Ver questionário em anexo.

6

cenário e as mudanças ocorridas ao longo dos últimos quinze anos. Ademais, o capítulo

procura apontar a possível direção do comércio mundial de têxteis e confeccionados

com o fim das barreiras à importação em 2005.

O quarto capítulo apresenta as principais características do arranjo produtivo

local de moda praia de Cabo Frio desde sua origem e desenvolvimento, examinado o

perfil dos principais agentes ocupados nas empresas do arranjo, a infra-estrutura local,

as vantagens dinâmicas locais para a competitividade, a interação e processos de

aprendizagem, os principais esforços inovativos e as formas de cooperação ali existente.

O quinto e último capítulo se concentra na análise das principais perspectivas

para o arranjo produtivo de moda praia. Em primeiro lugar, são discutidas as principais

dificuldades enfrentadas pelas empresas do arranjo. Em seguida, conhecendo as

principais fragilidades a serem enfrentadas, são feitas considerações de políticas para a

promoção do APL de moda praia. Conhecendo o objetivo do consórcio de exportação

existente no APL, destaca-se os perigos de uma inserção passiva na cadeia produtiva

internacional. A este respeito, o capítulo procura deixar evidente que mais importante

do que conquistar grandes mercados externo, no momento é preciso priorizar o

desenvolvimento do APL para que esta mesma inserção seja “virtuosa” e bem sucedida

a longo prazo.

4 Alguns empresários não puderam ou não quiseram responder o questionário e aqueles que o responderam foram bastante receptivos e responderam as perguntas sem maiores problemas, pedindo sigilo em determinadas questões, principalmente relacionada ao faturamento.

7

CAPÍTULO I – SISTEMAS DE INOVAÇÃO EM PAÍSES

SUBDESENVOLVIDOS: UMA BREVE ANÁLISE A PARTIR DA

PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA DE DEPENDÊNCIA

1) Introdução

Diferentemente do antigo padrão de acumulação baseado em recursos tangíveis,

dispersos ao redor do mundo, o conhecimento exerce o papel central (ainda mais

visivelmente) no novo padrão de acumulação no âmbito do novo paradigma das

tecnologias de informação e comunicação (TICs)5.

Apesar de se tratar de um recurso intangível, cujo "uso" é inesgotável, sua

“apropriação” e uso não se dão em bases de igualdade entre diferentes lugares. Pelo

contrário, quanto mais ele é consumido maior o seu acúmulo. Seu consumo não o

destrói. Quando é “vendido ou transferido”, não significa que esteja perdido. Por isso, o

conhecimento não se dá em bases de igualdade. Quando já se possui conhecimento,

senão impossível, é difícil perdê-lo. É possível compartilha-lo sem, necessariamente,

esgotá-lo.

Por isso, o interesse nos Sistemas de Inovação é tão importante para os países,

principalmente os subdesenvolvidos. Este interesse se dá, principalmente, porque se

acredita que a abordagem dos Sistemas de Inovação representa uma importante

ferramenta analítica para se entender o processo de criação, uso e difusão do

conhecimento (Vargas, 2002; Campos et al., 2003).

Além disso, a análise dos Sistemas (Nacionais) de Inovação permite levar em

consideração contextos geopolíticos específicos de diferentes sistemas nacionais. É

nesse sentido que esta abordagem considera que a geração de inovação está localizada e

limitada às fronteiras nacionais e regionais, diferentemente da idéia do tecno-globalismo

tão ressaltada na atualidade6. Por isso, questões relacionadas à assimetria de poder

político e econômico entre os países são de fundamental importância para uma melhor

compreensão das especificidades dos contextos sócio-econômicos nos quais os Sistemas

de Inovação de diferentes países, em especial os subdesenvolvidos, estão inseridos

(Lastres, 2003).

5 Ver Cassiolato (1999); Lastres & Ferraz (1999); Castells (1996). 6 Ver Edquist & Johnson (1997); Lundvall et al. (2001); Campos et al (2003); Maldonado (1999).

8

Partindo da idéia de que existem diferenças entre os sistemas de inovações dos

países desenvolvidos e subdesenvolvidos, onde há uma clara relação de poder entre eles,

numa típica relação centro x periferia da antiga divisão internacional do trabalho –

porém agora com uma nova “roupagem” -, esta seção procura mostrar como esta antiga

dinâmica de dependência (mais do que nunca) se faz presente7. Também apresenta,

brevemente, uma nova visão em relação ao desenvolvimento a partir de um “olhar do

Sul”, diferentemente da antiga idéia do mimetismo em relação aos países

desenvolvidos, como se a simples implementação das práticas e instituições que lá

existem fosse suficiente para que os países fizessem o tão desejado catching-up.

Ressalto, entretanto, a necessidade de certa cautela quanto à utilização da idéia

de catching-up. Em primeiro lugar, é preciso ter uma clara idéia da diferença entre

modernização e difusão da inovação. O primeiro se refere à transmissão, a partir do

mais desenvolvido industrialmente, para o menos desenvolvido, da imagem projetada

do próprio futuro deste último. O segundo está relacionado ao reconhecimento do papel

central do conhecimento como principal elemento do processo de inovação, e de que

seu uso geralmente proporciona o seu aumento. A modernização é aquele processo de

adoção de modelos sofisticados de consumo sem a existência de uma correspondente

acumulação de capitais ou de progresso nos meios de produção, ou seja, a modernização

está relacionada ao subdesenvolvimento, isto é, ao desenvolvimento dependente

(Furtado, 1974).

Por isso, utilizar a idéia de catching-up como um mecanismo para o

desenvolvimento pode ser falaciosa, se pensarmos o mesmo como um processo de

modernização sem a acumulação dos conhecimentos (e capitais) necessários ao

progresso dos meios de produção, organização e etc.

No entanto, isto não significa que não aceito a relevância do conceito de

catching-up ao longo da História. Pelo contrário, é inegável que países como a

Alemanha, Japão e Coréia, por exemplo, obtiveram sucessos relativos e/ou absolutos

neste emparelhamento. Estes países – utilizando a terminologia de Perez e Freeman

(1988; 1997) - aproveitaram "janelas de oportunidades" únicas num determinado

momento histórico para seus respectivos processos de desenvolvimento8. Por outro

7 Um exemplo desta perspectiva será dado no capítulo III quando analisada, em linhas gerais, a dinâmica internacional da indústria de confecções no mundo. 8 Sobre o sucesso do catching-up na Alemanha, Coréia e Japão, ver: FIORI (1999), “Estados e Moedas no Desenvolvimento das Nações”.

9

lado, para que os atuais países subdesenvolvidos façam o emparelhamento tecnológico

em relação aos desenvolvidos, seria necessária uma estrutura tão complexa quanto

inviável; não pela capacidade de aprendizado existente nesses países, mas,

principalmente, pela utilização dos recursos disponíveis, em especial os naturais9. Nesse

sentido, pensar o desenvolvimento a partir de uma outra perspectiva é o que se espera

dos países subdesenvolvidos.

2) Conexões do pensamento latino-americano da CEPAL e a abordagem dos

Sistemas Nacionais de Inovação

Muito há em comum entre a Escola Estruturalista – ou o que conhecemos de

forma menos rigorosa como “Pensamento Cepalino” – e a discussão do

desenvolvimento de um Sistema Nacional de Inovações nos países subdesenvolvidos,

em especial na América Latina.

O ponto de partida do “pensamento cepalino” se dá com os trabalhos de Raúl

Prebisch e Celso Furtado através de uma análise de longo prazo dos problemas

econômicos e sociais da América Latina através de uma “visão sistêmica e global sobre

as condições periféricas e as restrições externas ao crescimento” (Fiori, 2001) latino-

americano.

De forma simplificada10, as condições periféricas e as “restrições externas” se

referem ao papel desempenhado pela América Latina na divisão internacional do

trabalho – derivada do ideal ricardiano das vantagens comparativas – “proposta” pela

Inglaterra. Dessa forma, os países latino-americanos se especializaram na produção e

exportação de produtos primários de baixo valor agregado e baixa produtividade em

relação aos produtos manufaturados dos países centrais11. Tal diferença (produtividade e

valor agregado) produzia longos períodos de deterioração nos termos de troca da

produção exportável comprometendo a acumulação de capitais para a própria

manutenção e crescimento do setor agro-exportador; sem contar a possibilidade de

9 Não pretendo, no entanto, me estender nesta discussão a respeito da validade do conceito de catching-up neste contexto. Apesar de reconhecer a importância da discussão, acredito que esta não faça parte do escopo mais amplo desta dissertação. Para uma discussão neste sentido, ver AROCENA & SUTZ, 2004. 10 Esta questão é bastante discutida na literatura Cepalina. 11 Como veremos no capítulo III, em relação ao setor têxtil mundial, este tipo de relação se torna cada vez mais presente.

10

acumulação de capitais para importação de bens de capitais para o processo de

industrialização.

Neste contexto, Prebisch propôs a industrialização e a incorporação de progresso

técnico, como as ferramentas mais poderosas do desenvolvimento, capazes de retirar o

continente de sua dinâmica dependente e reflexa do centro cíclico principal (Tavares,

2001). Tal proposta teve grande influência na origem ao Processo de Substituição de

Importações que naquele momento se tornara uma necessidade para ‘suavizar’ o

problema do ‘gargalo’ das importações. Dá-se início, a partir desse processo, a uma

tentativa de um catching-up industrial (e, ainda que em menor grau, tecnológico) por

parte dos países latino-americanos em relação aos países centrais, encontrando na ação

ativa do Estado o principal agente propulsor desse processo12.

A participação do Estado é o que Bielschowsky (2000) identifica como o

princípio “normativo” da contribuição cepalina: “Seu princípio normativo é a idéia da

necessidade da contribuição do Estado ao ordenamento de desenvolvimento econômico

nas condições da periferia latino-americana. Trata-se (...) do paradigma

desenvolvimentista latino-americano” (Bielschowsky, 2000, p.16).

Fiori vai além e identifica na Teoria Estruturalista a preocupação pela descrição

e interpretação dos fenômenos econômicos reais, na sua complexidade social e

histórica. Segundo ele, “o estruturalismo compartilhou com o nacionalismo alemão (...)

a visão do papel do Estado, da importância da industrialização e da necessidade da

construção de um sistema econômico integrado e capaz de auto-reproduzir-se, de forma

relativamente endógena, graças a uma integração virtuosa entre a agricultura e a

indústria, ao incentivo estatal, ao desenvolvimento tecnológico e à criação de um

sistema econômico nacional que priorize o crescimento das forças produtivas” (Fiori,

2001, p.43).

É a partir da figura de Friedrich List como um dos principais representantes do

nacionalismo alemão que se torna possível falar num sistema nacional de inovações.

List criticava os economistas clássicos por darem pouca atenção principalmente à

ciência e tecnologia no processo de crescimento das nações. Segundo Freeman e Soete

(1997, p.295), “his book on The National System of Political Economy (1841), might

12 A dinâmica substitutiva consiste na forma como a economia reage a sucessivos estrangulamentos do balanço de pagamentos. Por progressiva compressão na pauta de importação, a industrialização vai

11

just as well have been called ‘The National System of Innovation’ (…) He clearly

anticipated many contemporary theories on ‘national systems of innovation’”.

List estava preocupado em analisar de que maneira a Alemanha e outros países

menos desenvolvidos em relação à Inglaterra poderiam “ultrapassá-la” em

desenvolvimento. Para ele, tanto a proteção às indústrias nascentes quanto uma série de

políticas estatais capazes de acelerar a industrialização e o crescimento econômico eram

os principais fatores deste catching-up. Tais políticas baseavam-se, principalmente, no

aprendizado e aplicação de novas tecnologias.

Além disso, ele também reconhecia a interdependência da importação de

tecnologia estrangeira e o desenvolvimento tecnológico doméstico. Entretanto, na sua

visão13, “nations should not only acquire the achievements of other more advanced

nations, they should increase them by their own efforts” (Freeman e Soete, 1997,

p.297).

Para tanto, a promoção do que seria um sistema nacional de inovações14, na

forma de instituições de educação e treinamento, acumulação de conhecimento tácito,

adaptação de tecnologias estrangeiras às particularidades locais15, estratégias industriais

e etc., com a participação ativa do Estado coordenando e promovendo políticas de longo

prazo tanto para a indústria quanto para a economia foram resultados da análise de List.

Dessa maneira, “a base da superioridade industrial alemã consolidava-se através

de inovações tecnológicas, as quais se nutriam de um enfoque pertinente quanto ao

papel da educação (...). Esse sistema educacional era parte do que hoje se designaria um

“sistema nacional de inovações” (Braga, 1999, p.199).

No caso da América Latina, (principalmente Brasil e México) apesar de seu

relativo êxito, o Processo de Substituição de Importações cessa com o fim do fluxo

internacional de capitais da década de 1980 e a crise da dívida na região, sem que ela

alcançasse um grau de complexidade tecnológica16 necessária para seu crescimento

passando de setores de instalação “fácil”, pouco exigentes em matéria de tecnologia, capital e escala, a segmentos cada vez mais sofisticados e exigentes (Bielschowsky, 2000, p. 29). 13 Ver Friedrich List: “National System of Political Economy”. Book I: The History. 14 Apesar de List não ter utilizado esta expressão, sua análise reflete o que hoje conhecemos por Sistema Nacional de Inovações. 15 Este tipo de proposta se assemelha à concepção de inovação proposta por Mytelka (1993, 2000) e Mytelka e Farinelli (2003). 16 Durante o Processo de Substituição de Importações, o progresso tecnológico orientou-se, basicamente, para a economia de mão-de-obra em detrimento à produtividade física do capital. Em outras palavras, substituiu-se certos itens das importações - substituídos no mercado por produção interna - e ampliou-se

12

sustentável e sustentado. De acordo com Tavares (1972, p.50), “um dos aspectos que

mais se tem acentuado é o fato de que os países subdesenvolvidos importam uma

tecnologia que foi concebida pelas economias líderes de acordo com as suas

constelações de recursos totalmente diversos das nossas. A necessidade de importar essa

tecnologia estaria dada pelo próprio caráter substitutivo da industrialização, e pela

impossibilidade de criarmos técnicas novas mais adequadas às nossas condições

peculiares”.

Dessa forma, durante a década de 1980 a diferença tecnológica entre os países

latino-americanos e os do centro se ampliou de forma significativa.

A década de 1990 na América Latina é marcada pela estabilização

macroeconômica, as reformas estruturais e o rápido processo de “globalização”. Havia a

“esperança” (alimentada principalmente pelos economistas ortodoxos) de mudanças

tecnológicas no sentido do aumento da produtividade e crescimento, ou seja, na

diminuição da lacuna existente entre a América Latina e os países centrais. Esperava-se

uma convergência à organização da produção a níveis de produtividade internacionais.

No entanto, “not only have most countries in the region not been able to grow faster, or

significantly reduce the productivity gap they exhibit vis a vis more mature industrial

societies, but they have now become more unequal than in the past” (Katz, 2003).

Por isso, mudanças significativas na estrutura e comportamento no “sistema de

inovações” na América Latina se fazem necessárias, principalmente num contexto onde

a tecnologia de informação, telecomunicação, o sistema financeiro etc. impõem um

outro tipo de dependência, mais sutil e perigosa, que se traduz numa espécie de

“colonização” ideológica e cultural.

3) A dinâmica da dependência a partir de Prebisch e Furtado: as grandes

empresas do sistema capitalista

A dinâmica da dependência nos países subdesenvolvidos, em especial da

América Latina vem sendo desenvolvida por diversos autores ao longo dos anos. No

entanto, dois se destacam como pioneiros do pensamento latino-americano sobre a

(a importação) daqueles itens de substituição mais difícil, com maior intensidade de capital. Nesse sentido, a produção substitutiva não se verificou em setores de maior complexidade tecnológica,

13

questão da dependência dos países subdesenvolvidos e a relação centro x periferia: Raúl

Prebisch e Celso Furtado.

Desde o século XIX, a dependência latino-americana em relação aos países

centrais se deu nos diferenciais de poder entre sociedades industriais e agrárias.

Prebisch (1949, 1963) demonstrou esta relação em termos do diferencial de

produtividade (e da renda média) do setor agrário e o industrial, principalmente, em

função do progresso técnico. Ele demonstrou que, além da relação de preços ter se

movido de forma adversa à periferia - onde os frutos do progresso técnico não foram

divididos (como se esperava) com os países periféricos causando enorme concentração

de capitais nos países centrais -, “os centros preservavam integralmente o fruto do

progresso técnico de sua indústria, e os países periféricos transferiram para eles uma

parte do fruto do seu próprio progresso técnico” (Prebisch, 1949, p.83). Esta relação

ressaltava a própria impossibilidade dos países da periferia de se desenvolverem já que

dependiam do comércio exterior, ou seja, eram bastante sensíveis às repercussões

econômicas dos países centrais. Em outras palavras, até o estímulo para se acionar o

mecanismo dinâmico da própria dependência em relação aos países centrais estava

fortemente relacionados aos impulsos dos mesmos. Nesse sentido, Prebisch nos mostra

que é preciso incorporar o progresso técnico ao processo produtivo. Para ele, o

problema da produtividade além de relacionado com a escassez de poupança para

investimento em bens de capital, também está relacionado à “capacitação de homens

que saibam aproveitar eficazmente esses bens nas diferentes fases do processo

produtivo” (CEPAL, 1949). Nesse sentido, ele reconhece - mesmo implicitamente - a

importância da capacitação e do conhecimento para este processo de desenvolvimento:

“Aqui deparamos, mais uma vez, com outro dos contrastes sugeridos do grau

muito desigual de desenvolvimento. Nos grandes países industrializados, as referidas

aptidões, assim como a habilidade dos trabalhadores, desenvolveram-se

progressivamente, à medida que foi evoluindo a técnica produtiva. As aptidões, a

destreza e a técnica foram, na realidade, manifestações de um mesmo fenômeno geral,

que (...) vinha-se preparando no decorrer de longos séculos de trabalho artesanal e de

um desenvolvimento crescente da experiência do comércio” (CEPAL, 1949, p.175).

mantendo os países que a praticaram ainda dependentes da importação de bens mais intensivos em tecnologia e capital.

14

Dessa forma, podemos perceber de que maneira para Prebisch a industrialização

e a incorporação do progresso técnico se traduzem em importantes meios para o

desenvolvimento, capazes de tirar a América Latina da dinâmica dependente dos países

centrais e o seu reconhecimento da importância de políticas específicas para a América

Latina, de acordo com suas especificidades e possibilidades.

Furtado (1961), também aponta a (baixa) produtividade e a deterioração nos

termos de troca como fatores que não permitem a acumulação de capitais necessária

para dar impulso ao progresso tecnológico. No entanto, reconhece que é “possível

industrializar-se e crescer sem romper com a estrutura de dependência e dominação que

perpetuam o subdesenvolvimento” (Tavares, 2001). Para ele, é perfeitamente possível

estas economias atingirem um alto grau de complexidade produtiva sem romperem os

laços da dependência, principalmente tecnológica, em relação aos grandes centros. “O

subdesenvolvimento não constitui uma etapa necessária do processo de formação das

economias capitalistas modernas. É, em si, um processo particular, resultante da

penetração de empresas capitalistas modernas em estruturas arcaicas” (Furtado, 1961,

p.191).

Vejamos um exemplo deste processo17. A grande empresa controla a inovação

(num sentido amplo) – a introdução de novos produtos e processos – dentro das

economias nacionais, certamente o principal instrumento de expansão internacional;

elas são responsáveis por grande parte das transações internacionais e operam

internacionalmente sob orientação que escapa em grande parte à ação isolada de

qualquer governo.

Além disso, “o dinamismo econômico no centro do sistema decorre do fluxo de

novos produtos e da elevação dos salários reais que permite a expansão do consumo de

massa. Em contraste, o capitalismo periférico engendra o mimetismo cultural e requer

permanente concentração de renda a fim de que as minorias possam reproduzir as

formas de consumo dos países cêntricos. Esse ponto é fundamental para o conhecimento

da estrutura global do sistema capitalista” (Furtado, 1974, p.45). Esta estrutura permite,

dessa forma, que “a grande empresa, ao organizar um sistema produtivo que se estende

do centro à periferia, consegue, na realidade, incorporar à economia do centro os

recursos de mão-de-obra barata da periferia”, ou seja, “uma grande empresa que orienta

seus investimentos para a periferia está em condições de aumentar sua capacidade

15

competitiva graças à utilização de uma mão-de-obra mais barata, em termos do produto

que lança nos mercados” (Ibdem, p.50).

Dessa forma, está se configurando uma situação que permite à grande empresa

utilizar técnica e capitais do centro e mão-de-obra (e capital) da periferia, aumentando

consideravelmente o seu poder de manobra, o que reforça tanto a tendência à

internacionalização das atividades econômicas dentro do sistema capitalista quanto o

aumento da dependência dos países periféricos em relação aos centrais18.

Neste cenário, pensar num outro tipo de desenvolvimento se torna de

importância fundamental. Um Sistema Nacional de Inovações numa perspectiva do sul

se apresenta como uma forte opção.

4) Pensando Sistema Nacional de Inovações numa perspectiva de países menos

desenvolvidos: a visão do Sul

A visão estruturalista, inaugurada pela CEPAL nos anos 1950, empenhou-se em

destacar a importância dos parâmetros não-econômicos dos modelos macroeconômicos.

Como o comportamento das variáveis econômicas depende em grande medida desses

parâmetros, que se definem e evoluem num contexto histórico, não é possível isolar o

estudo dos fenômenos econômicos de seu quadro histórico. A observação é

particularmente pertinente com respeito a sistemas econômicos heterogêneos, social e

tecnologicamente, como é o caso das economias subdesenvolvidas (Furtado, 2002).

Lastres e Cassiolato (2000, 2002) destacam que os principais problemas

enfrentados pelo Brasil e outros países latino-americanos na virada do milênio se

refletem no entendimento equivocado da natureza e conseqüências das transformações

da economia mundial. As políticas adotadas pela maioria desses países refletem estes

equívocos e levaram a subestimação das atividades inovativas pelas firmas, assim como

à perda de capacitação e “desaprendizagem”.

Nesse sentido, buscando o desenvolvimento a partir de uma “perspectiva

meridional”, faz-se necessário no atual cenário político e econômico mundial, uma

17 Baseado em Furtado (1974): “O mito do desenvolvimento econômico”. 18 Um exemplo deste tipo de “funcionamento” é dado ao longo do capítulo III ao analisar o sistema internacional de produção e distribuição do setor têxtil e confecções.

16

análise das questões relacionadas ao desenvolvimento que levem em consideração o

conhecimento, a inovação e o aprendizado.

Em primeiro lugar, como destacado pelos referidos dois autores, é preciso

considerar que o desenvolvimento não deve ser entendido como se a história econômica

de todos os países seguisse trajetórias de desenvolvimento comuns. Cada país, ao seu

tempo e velocidade, traça sua própria trajetória, de acordo com as especificidades e

possibilidades que lhes são apresentadas. Em segundo lugar, não menos importante, é o

reconhecimento de que a evolução de sistemas econômicos nacionais (e regionais)

depende, fundamentalmente, de sua posição na estrutura hierárquica e de poder do

sistema capitalista mundial. Por último, nesse sentido, é importante ressaltar que as

condições locais e nacionais podem levar a diferentes trajetórias e a crescentes

diversidades, diferentemente da estandardização e convergências sugeridas pelas teses

baseadas na influência da globalização nos sistemas nacionais e sub-nacionais.

Arocena e Sutz (2004) destacam que o estudo da inovação a partir do Sul

procura combinar a teorização da inovação tecno-produtiva desenvolvida desde a

década de 1980 nos países do Norte, com a análise das especificidades da “condição

periférica”. Para isso, consideram a teoria dos Sistemas de Inovação como uma

ferramenta conceitual bastante útil para o estudo dos processos sociais de inovação nos

países do Sul, em especial os latino-americanos. No entanto, para dar conta de tais

processos, certos elementos da teoria em questão devem ser revisados e até modificados

substancialmente. “No se trata pues de trasladar la teoria desde el Norte, ni tan solo de

adaptarla al Sur, sini de ponerla a prueba, aprovecharla y discutir con ella desde el

Sur”. Nesse sentido, esta perspectiva do Sul poderia se beneficiar da incorporação de

algumas premissas da teoria do subdesenvolvimento latino-americano, em especial

quando se trata da análise da posição destes países na estrutura hierárquica e de poder

do sistema capitalista mundial.

Nesse sentido, não é possível falar em Sistemas de Inovação melhores ou piores.

Os Sistemas de Inovação não são bons ou ruins. “Não existe o sistema de inovação

“ótimo”; qualquer tentativa de se fazer benchmarking comparando os Sistemas de

Inovação tendo algum outro como referência contradiz a especificidade sociocultural,

historicamente constituída, dos sistemas (...) de inovação” (Arocena e Sutz, 2004).

Pode-se dizer, portanto, que os sistemas de inovação são “sistemas abertos”, estão num

constante processo de mudança.

17

Entretanto, dizer que não se trata de um sistema fechado não significa dizer que

não existem parâmetros básicos. Arocena e Sutz (2004) destacam que a teoria dos

Sistemas de Inovação possui um aspecto normativo: um sistema “melhora” se, em

paralelo, sua conectividade se fez mais densa, a cooperação entre atores prevalece sobre

os conflitos, se multiplicam os espaços interativos de aprendizagem e a inovação se

orienta preferencialmente à satisfação de genuínas necessidades coletivas. Dessa forma,

os sistemas de inovação são legítimos objetos de política: a teoria busca formular

propostas, que não significa a pretensão de criar sistemas por decreto, mas que podem

ajudar a fortalecer vínculos, a estimular aprendizagem e a orientar a inovação até a

solução de problemas sociais substantivos.

Nesse sentido, pensar os sistemas (nacionais) de inovação sobre a perspectiva do

Sul é mais do que simplesmente propor políticas que, em última instância, promovam a

inovação. É também um instrumento de grande importância para se pensar numa nova

concepção de desenvolvimento que busque a promoção da igualdade, através de

estratégias econômicas alternativas, orientadas para a elevação do nível de

conhecimento e qualificação do conjunto das atividades produtivas de bens e serviços;

renovação das políticas públicas, para que o Estado possa se apresentar como o

articulador de atores, esforços e iniciativas várias que busquem a concepção de sistemas

de inovação; e transformação na educação, entendida como o principal instrumento de

aprendizagem.

Neste cenário, a própria concepção da inovação pensada por Mytelka (1993,

2000)19, utilizada como base na pesquisa de campo deste trabalho, já reflete a inovação

pensada num ambiente que propõe elaborar um tipo de desenvolvimento mais

sustentável.

A este respeito Furtado (1974, p.70) se refere da seguinte forma:

“Se fosse mais bem distribuído no conjunto do sistema capitalista, o

crescimento dependeria menos da introdução de novos produtos finais

e mais da difusão do uso de produtos já conhecidos, o que significaria

um mais baixo coeficiente de desperdício”.

19 Como veremos no próximo capítulo, Mytelka se refere à inovação como um processo incremental e de adaptação pelo qual as empresas dominam e implementam o desenvolvimento e a produção de bens e serviços, que sejam novos para elas, independentemente de serem novos para seus concorrentes.

18

Em outras palavras, num ambiente onde haja maior igualdade, a constante busca

(por uma reduzida camada da sociedade) por novos produtos e estilos de vida que

consomem cada vez mais recursos seria, ao menos, amenizada, uma vez que a difusão

dos mesmos atingiria maior parte da sociedade, não sendo necessário, então, constante

introdução desses novos produtos20.

Por último, uma vez ressaltada a heterogeneidade, tanto social quanto

tecnológica, dos países latino-americanos - em especial do Brasil – e a importância dada

à discussão em torno das políticas de desenvolvimento, a abordagem dos sistemas locais

de inovação21 apresenta-se bastante relevante22.

5) Considerações parciais

Ao destacar a importância dos parâmetros não-econômicos dos modelos

macroeconômicos em consonância com uma visão global derivada da história, o

enfoque “estruturalista” vem se esforçando para compreender o “atraso” brasileiro não

apenas pela sua posição relativa atual, mas também pela ótica da especificidade do

subdesenvolvimento.

Para Furtado (2002), o subdesenvolvimento é a resultante de um processo de

dependência, e que para compreendê-lo é necessário estudar a estrutura do sistema

global: identificar as invariâncias no quadro de sua história. Somente a partir desta

perspectiva é que se cabe considerar uma política de desenvolvimento nacional.

A economia de qualquer país, mas particularmente a de um país

subdesenvolvido, necessita assimilar o progresso tecnológico numa frente mais ampla

possível. No caso do Brasil, o progresso tecnológico tem sido uma conseqüência do

“desenvolvimento” e não o seu motor, um subproduto de certos investimentos e não

algo inerente ao processo de formação de capital. À falta de uma política de fomento e

disciplina da assimilação do progresso tecnológico, chegou-se a uma situação em que

20 Ver também Furtado (2003): "Raízes do subdesenvolvimento", para uma discussão à cerca dos diferentes padrões de consumo das diferentes camadas da população dos países da América Latina. 21 O que se denomina Local certamente pode se referir a uma determinada região ou a um país. No entanto, quando faço esta distinção entre Sistema Local e Sistema Nacional desejo não mais do que ressaltar o ambiente heterogêneo que um Sistema Nacional pode estar inserido, principalmente nos países subdesenvolvidos. Por isso que tento abordar os Sistemas Locais como espécies de subsistemas do Sistema Nacional. Procurarei deixar claro quando estiver me referindo a estes conceitos como sinônimos. 22 Diversos pesquisadores, estudos de caso e outros trabalhos analíticos e conceituais desenvolvidos nos países latino-americanos reafirmam a importante difusão deste conceito na região.

19

empresas estrangeiras são as principais beneficiárias do avanço da técnica que se

assimila. Trata-se de problema que requer uma abordagem global, no quadro de uma

política que vise fomentar a criação e a adaptação de novas técnicas, bem como sua

assimilação (Furtado, 2003).

Nesse sentido, uma nova visão em relação ao desenvolvimento a partir do local

– em especial das especificidades locais -, é necessário no contexto dos países

subdesenvolvidos. A abordagem de arranjos e sistemas produtivos locais se apresenta

como um importante instrumento para este fim.

20

CAPÍTULO II – CENÁRIO DA IMPORTÂNCIA DO LOCAL NA

ABORDAGEM DE ARRANJOS E SISTEMAS PRODUTIVOS E INOVATIVOS

LOCAIS EM PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS

1) Introdução: a importância do local23

A emergência do “novo paradigma tecno-econômico”, associado ao processo de

globalização atual, está associado a um amplo conjunto de transformações centrados

num novo padrão tecnológico e produtivo relacionado às modernas tecnologias de

informação e comunicação (TICs). A intensificação desse processo deu início a um

intenso debate sobre a dicotomia entre o espaço global e o espaço local enquanto esferas

de organização e condução das atividades produtivas, tecnológicas, e até culturais24.

Diversos autores (principalmente os pós-modernistas) se utilizam de diversas

metáforas geográficas (em especial) para sugerir, com base nesta “aceleração”

contemporânea centradas nas modernas TICs, que o espaço não existe, a região não

existe, e o lugar também não existe mais. Daí se falar em desvalorização do território;

de desterritorialização; de banalização e homogeneização; de precedência do tempo

sobre o lugar; de esvaziamento do tempo como condição para o esvaziamento do

lugar25. Nesse sentido, a noção de territorialidade é posta em xeque. Alguns autores

(Ianni, 1992; Margolin, 1991) falam em desterritorialidade, atribuindo significados

como o da supressão do espaço pelo tempo (Harvey, 1993; Virilio, 1984) ou da

emergência do que chamam “não-lugar” (Augé, 1992)26. A mobilidade, não apenas da

23 Situado ante o global, local pode referir-se a uma dada localidade (cidade, bairro, rua), região ou nação, constituindo, em qualquer dos casos, um subespaço ou um subconjunto espacial, e envolvendo algum modo de delimitação ou recorte territorial, que se expressa em termos econômicos, políticos, sociais e culturais. Usualmente, local tem sido identificado com a idéia de lugar. Dentro de uma acepção geográfica estrita, lugar pode ser definido como uma porção do espaço na qual as pessoas habitam conjuntamente, implicando, portanto a idéia de co-presença. Lugar é associado à idéia de localidade, enquanto cenário físico da atividade social, com uma localização geográfica determinada (RedeSist, 2004). Para Giddens (1991, p.26), “lugar é melhor conceitualizado por meio da idéia de localidade, que se refere ao cenário físico da atividade social como situado geograficamente”. Em diversas passagens a idéia de local estará associada à de espaço, e até mesmo de território. O importante, no entanto, é a idéia de local como um conjunto de especificidades sociais, políticas, econômicas e culturais inerentes a um território geográfico. Apesar de saber que se tratam de conceitos diferentes numa análise mais elaborada, tomarei a liberdade de analisá-los, muitas vezes, como sinônimos. Ver Santos (1994, 2001, 2004), Giddens (1991) e Albagli (1999). 24 Ver Santos e Silveira (2001) e Santos (2003, 2004, 2005) para a discussão da dicotomia entre o espaço global e local relacionada às transformações associadas ao moderno processo de globalização. 25 Sobre estas questões, ver B. Badie e M.C. Smouts, J.L Margolin; J. Chesneaux, J. Steiner, O. Ianni; F. Oliveira; Virilio; Giddens. 26 Apesar de considerar esta discussão de suma relevância, não abordarei mais profundamente esta questão por não fazer parte do escopo mais amplo deste trabalho.

21

informação, mas dos próprios homens, se tornou praticamente uma regra. O movimento

se sobrepõe ao repouso. A circulação é mais criadora que a produção. Mas também os

produtos, as mercadorias, as imagens, as idéias.

Esta pretensa separação entre tempo e espaço é fundamental para a dinâmica

deste novo cenário nesta perspectiva, uma vez que “serve para abrir múltiplas

possibilidades de mudança liberando das restrições dos hábitos e das práticas locais”

(Giddens, 1991). Em outras palavras, este “desencaixe” possibilita um deslocamento

das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação através de

extensões indefinidas de tempo-espaço, ou seja, estas transformações “anulam o espaço

através do tempo” (Harvey, 1993), revolucionando as relações espaço-temporais. Daí a

idéia de desterritorialização. Utilizando uma expressão marxista, segundo Santos (2004,

p.328), desterritorialização é, frequentemente, uma outra palavra para significar

estranhamento, que é, também, desculturização.

Entretanto, diferentes contribuições interdisciplinares - conceituais e

metodológicas, cuja análise recai sobre a proximidade geográfica, as especificidades dos

locais, o aprendizado interativo, o conhecimento, a inovação e etc. - vêm evoluindo ao

longo do tempo no sentido de resgatar a importância da diversidade e das

especificidades que caracterizam os diferentes formatos de aglomerações produtivas

territoriais. Considerando-se os diferentes contextos sociais, políticos e institucionais,

estas contribuições apresentam uma clara contraposição aos argumentos sobre a

crescente desterritorialização da economia contemporânea induzida pelo fenômeno da

globalização e tecno-globalismo.

Segundo Santos (2005), ao contrário do que muitos foram levados a imaginar e a

escrever, na sociedade informatizada atual nem o espaço se dissolve, abrindo lugar

apenas para o tempo, nem este se apaga. Seria impossível pensar em evolução do espaço

se o tempo não tivesse existência como tempo histórico27; é igualmente impossível

imaginar que a sociedade possa realizar-se sem o espaço ou fora dele. A sociedade

evolui no tempo e no espaço. “Tempo e espaço conhecem um movimento que é, ao

mesmo tempo, contínuo, descontínuo e irreversível. Tomado isoladamente, tempo é

sucessão, enquanto o espaço é acumulação, justamente uma acumulação de tempos (...).

Somente a partir da unidade do espaço e do tempo, das formas e do seu conteúdo, é que

27 Grifo meu.

22

se pode interpretar as diversas modalidades de organização espacial” (Santos, 2005,

p.63).

Se a informação (ou fluxo de informação possibilitado pelas TICs), por um lado,

é capaz de criar esta idéia de “separação” do espaço-tempo28, por outro, o conhecimento

gerador e codificador destas informações é um dos elementos que os une através dos

lugares.

A informação, segundo Santos (2004, 2005), é o motor da divisão do trabalho,

tornada claramente internacional. Esta divisão do trabalho, movida pela produção,

atribui, a cada movimento, um novo conteúdo e uma nova função aos lugares. Assim, o

mundo humano se renova e diversifica, isto é, reencontra sua identidade e sua unidade

enquanto os seus aspectos se tornam outros. A divisão internacional do trabalho apenas

nos dá a maneira de ser do modo de produção dominante, apontando as formas

geográficas portadoras de uma inovação e, por isso mesmo, carregadas de uma

intencionalidade nova. É através da incidência num país da divisão internacional do

trabalho e da conseqüente divisão interna do trabalho que as especificidades começam a

repontar. A divisão internacional do trabalho é processo cujo resultado é a divisão

territorial do trabalho.

A divisão do trabalho pode ser vista como um processo pelo qual os recursos

disponíveis se distribuem social e geograficamente. Os recursos do mundo constituem,

juntos, uma totalidade. Santos (2004, p.132) define como recursos a toda possibilidade,

material ou não, de ação oferecida aos homens (indivíduos, empresas, instituições).

Recursos são coisas, naturais ou artificiais, relações compulsórias ou espontâneas,

idéias, sentimentos, valores. É a partir da distribuição desses dados que os homens vão

mudando a si mesmos e ao seu entorno. O valor real de cada recurso não depende de sua

existência separada, mas de sua qualificação geográfica, isto é, da significação conjunta

que todos e cada qual obtêm pelo fato de participar de um lugar. Fora dos lugares,

produtos, inovações, populações, dinheiro, por mais concretos que pareçam, são

abstrações. A definição conjunta e individual de cada qual depende de uma localização.

Por isso, a formação sócio-espacial, e não apenas o modo de produção, constitui-se

como instrumento adequado para entender a história e o presente de um país.

28 Nesta perspectiva, a instantaneidade da informação globalizada aproxima os lugares, torna possível uma tomada de conhecimento imediata de acontecimentos simultâneos e cria, entre lugares e acontecimentos, uma relação unitária na escala do mundo.

23

Nesse sentido, o espaço tem um papel privilegiado na medida em que ele

cristaliza os momentos anteriores, e é o lugar de encontro entre o passado e o futuro,

mediante as relações sociais do presente que nele se realizam.

Neste cenário, tanto a informação quanto o conhecimento necessário para sua

geração e interpretação, também se caracterizam como recursos.

O acesso às mais novas tecnologias de informação: informática,

telecomunicações, microeletrônica etc. possibilitou a ampla difusão da informação em

todo o mundo. Porém, acesso ao uso da tecnologia não significa acesso à geração e

desenvolvimento da mesma. Nesse sentido, verifica-se a distinção entre informação e

conhecimento, sendo este último, o “verdadeiro” recurso diferenciador29. A informação

é, simplificadamente, subproduto (codificado) do conhecimento (que, por sua vez,

resulta do processo de aprendizagem).

Dessa forma, no âmbito da globalização atual, uma nova dinâmica de

diferenciação se instala no território. Em primeiro lugar, distinguem-se zonas servidas

pelos meios de conhecimento e áreas desprovidas dessa vantagem. E dentro das próprias

áreas “conhecidas” as empresas se distinguirão pela sua maior ou menor capacidade de

utilização da informação30. É possível imaginar que tal seletividade espacial e

socioeconômica conduza a mudanças rápidas na divisão territorial do trabalho, com as

firmas mais dotadas do ponto de vista técnico e financeiro tendendo a buscar uma

localização onde o lucro potencial será mais forte, deixando o resto do território, ainda

que com virtualidades naturais semelhantes, a firmas menos potentes (Santos, 2004,

p.243). O conhecimento exerceria assim seu papel de recurso.

29 Apesar de estarem intimamente relacionados, é necessário destacar que informação é diferente de conhecimento. Conhecimento é um conceito muito mais amplo do que informação. É a partir do conhecimento e da aprendizagem que se gera e difunde informação.

Lundvall (1998) destaca a distinção entre dois tipos de conhecimento – o tácito e o codificado – que se referem ao grau no qual o conhecimento pode ser escrito e transferido. A codificação do conhecimento é, basicamente, um processo de redução e conversão que implica sua transformação em informação. Tal processo permite que a transmissão, tratamento, armazenamento, reprodução e até a comercialização do conhecimento (transformado em informação) se tornem possíveis e mesmo tarefas simples. Por outro lado, o conhecimento tácito é aquele que sua geração e difusão dependem de toda uma estrutura de relações sociais, institucionais e, até mesmo, políticas. Tal conhecimento não pode ser facilmente transferível por não ser passível de se colocar num formato explicitado. O conhecimento tácito é um conhecimento de caráter localizado, específico, dependente de uma série de relações entre indivíduos e instituições, e possuem um papel fundamental ao processo inovativo, sendo difíceis (senão impossíveis) de serem transferidos. 30 Capacidade esta intimamente relacionada ao conhecimento necessário para a utilização de tais informações.

24

Por isso, fica claro que a divisão territorial do trabalho cria uma hierarquia entre

lugares e, segundo a sua distribuição espacial, redefine a capacidade de agir de pessoas,

firmas e instituições, gerando muitas vezes conflito e desordem. Os espaços assim

requalificados atendem sobretudo a interesses dos atores hegemônicos da economia e da

sociedade, e assim são incorporados plenamente às correntes de globalização.

Esta nova “ordem” gera desordem (localmente), não apenas porque conduz a

mudanças funcionais e estruturais, mas, sobretudo, porque essa ordem não é portadora

de um sentido, uma vez que seu objetivo (o mercado global) é uma auto-referência, sua

finalidade sendo o próprio mercado global. Nesse sentido, a globalização, em seu

estágio atual, é uma globalização perversa para a maior parte da humanidade. Por isso,

esta noção de “desterritorialidade” vem sendo questionada frente à ampla percepção de

“que a globalização constitui-se num processo assimétrico e incapaz (...) de diminuir a

tanto a desigualdade como a incerteza e a entropia do sistema mundial” (Vargas, 2002,

p.37).

Milton Santos chama de espaços de horizontalidades, aqueles que são “alvos de

freqüentes transformações, (onde) uma ordem espacial é permanentemente recriada,

onde os objetos se adaptam aos reclamos externos e, ao mesmo tempo, encontram, a

cada momento, uma lógica interna própria, um sentido que é seu próprio, localmente

constituído” (2004, p. 334).

Dessa forma, pode-se dizer que é o lugar que oferece ao movimento do mundo a

possibilidade de realização. Para se tornar espaço31, o mundo depende das virtualidades

do lugar. Então, a ordem global é “desterritorializada”, no sentido de que separa o

centro da ação e a sede da ação, ela busca impor a todos os lugares uma única

racionalidade. Por outro lado, a ordem local, que “reterritorializa”, reúne numa mesma

lógica interna todos os seus elementos: homens, empresas, instituições, formas sociais e

jurídicas e etc., ou seja, os lugares respondem ao mundo segundo diversos modos de sua

própria racionalidade32.

31 Considerando a dimensão geográfica o foco central de sua análise, Santos (2004) define o espaço como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações, cuja dinâmica atual encontra-se marcada pela emergência das redes e do processo de globalização. Por um lado, tais redes são globais na medida em que, através do avanço tecnológico, ‘transportam o universal ao local’, unindo pontos distantes numa mesma lógica produtiva. Tal movimento é definido como o funcionamento vertical do espaço geográfico contemporâneo. Por outro lado, as redes também são locais e refletem localmente as condições técnicas de trabalho que são determinadas a partir de uma divisão do trabalho em nível global (Vargas, 2002). 32 Segundo Santos (2004, p.45), “o processo de globalização, em sua fase atual, revela uma vontade de fundar o domínio do mundo na associação entre grandes organizações e uma tecnologia cegamente

25

Para Santos (2005, p.154), “a regulação mundial é uma ordem imposta, a serviço

de uma racionalidade dominante, mas não forçosamente superior. A questão, para nós,

seria descobrir e pôr em prática novas racionalidades, em outros níveis e regulações

mais consentâneas com a ordem desejada, desejada pelos homens, lá onde eles vivem”.

É buscando maior compreensão dessa racionalidade relacionada ao local que

este trabalho busca discutir o mesmo (o local) “como elemento de transformação

sócio-político-econômico, representando o lócus privilegiado para novas formas de

solidariedade e parceria entre os atores” (Albagli, 1999), onde a cooperação faça parte

dos mecanismos de competição. O local, dessa forma, constitui-se em espaço de

articulação, sinalizando a possibilidade de gerarem-se, a partir de sinergias geradas por

estas interações, soluções inovadoras para muitos dos problemas típicos da sociedade

contemporânea.

Por isso, segundo minha interpretação, quando Milton Santos afirma que a

informação é o motor da divisão do trabalho, ele está se referindo àquela informação já

resultado da diferenciação instalada no território em relação às zonas servidas pelos

meios de conhecimento e áreas “desprovidas” dessa vantagem33. Em outras palavras, a

informação se torna, de fato, um recurso quando o conhecimento já o é anteriormente.

Daí a importância do local, e suas especificidades nesta discussão. Lundvall e Bórras

(1997) enfatizam que a mobilidade espacial do conhecimento constitui-se num dos

limites mais importantes da globalização (como ela é proposta atualmente), que

subestima o papel desempenhado pela proximidade geográfica no processo de

transmissão de formas tácitas de conhecimento e no desenvolvimento de processos de

aprendizado interativo. É exatamente esta possibilidade de transmissão de conhecimento

tácito e aprendizado interativo que faz toda a diferença quando se busca a análise do

local e suas especificidades.

Dessa forma, o desenvolvimento local ganha uma nova dimensão. O ambiente

local não consiste numa mera delimitação geográfica, mas antes constitui uma unidade

própria de análise, que condiciona desempenho competitivo e inovativo de empresas

articuladas em forma de arranjos e sistemas produtivos (Vargas, 2002).

utilizada. Mas a realidade dos territórios e as contingências do “meio associado” asseguram a impossibilidade da desejada homogeneização”. 33 “(...) é preciso relacionar o conhecimento do lugar com o conhecimento produzido no lugar. Essa informação endógena (grifo meu) nutre-se da força da contigüidade territorial e da energia de um acontecer homólogo, e constitui uma possibilidade de dinamizar, pela base, a economia. Ela também fundamenta a divisão territorial do trabalho” (Santos, 2001, p.100).

26

Nesse sentido, este trabalho procura relacionar a importância da inovação,

cooperação e do aprendizado (como principal mecanismo de geração de conhecimento),

no processo de desenvolvimento econômico a partir da análise do local e suas

especificidades.

2) Arranjos e sistemas produtivos locais: aprendizado, conhecimento, cooperação e

inovação numa abordagem neo-schumpeteriana

A formação de arranjos e sistemas produtivos locais encontra-se geralmente

associada a trajetórias históricas de construção de identidades e de formação de vínculos

territoriais (regionais e locais), a partir de uma base social, cultural, política e

econômica comum. Sistemas são mais propícios a desenvolverem-se em ambientes

favoráveis à interação, cooperação e confiança entre os atores. Estes vínculos territoriais

muitas vezes estão ligados à proximidade geográfica, levando ao compartilhamento de

visões e valores econômicos, sociais e culturais, constituindo fonte de dinamismo local,

bem como de diversidade e vantagens competitivas em relação a outras regiões

(RedeSist, 2005).

Nesse sentido, existe espaço para se falar em territorialidade, que está ligada a

interdependências específicas da vida econômica, não podendo ser definida meramente

como localização das atividades. Ela reflete o vivido territorial, em toda sua abrangência

e em suas múltiplas dimensões – cultural, política, econômica e social. A territorialidade

de uma atividade ocorre quando sua viabilidade econômica está enraizada em ativos

(incluindo práticas e ações) que não estão disponíveis em outros lugares e que não

podem ser facilmente ou rapidamente criadas ou imitadas em lugares que não as têm.

Ela desenvolve-se a partir da existência comum dos agentes exercendo-se sobre um

mesmo espaço geográfico (RedeSist, 2005; Cassiolato e Lastres, 2003).

A proposta para se entender arranjos e sistemas produtivos locais fundamenta-se

na visão neo-schumpeteriana sobre inovação e mudança tecnológica. Dessa forma, não

é a inovação como um processo independente a responsável pelas mudanças na

dinâmica local, econômica e setorial (possibilitando maior possibilidade de

desenvolvimento), mas a inovação relacionada ao aprendizado, conhecimento e

cooperação, ora afetando, ora sendo afetada por estes fatores.

Nesse sentido, tanto o reconhecimento de que inovação e conhecimento

colocam-se cada vez mais visivelmente como elementos centrais da dinâmica e do

27

crescimento de nações, regiões, setores, organizações e instituições, quanto a

compreensão de que a inovação e o aprendizado, enquanto processos dependentes de

interações (refletidas na cooperação), são fortemente influenciados por contextos

econômicos, sociais, institucionais e políticos específicos são fundamentais para se

compreender esta questão.

Segundo Cassiolato e Lastres (1999, 2003), é fundamental nesta análise o

entendimento das relações e interações entre os diferentes agentes visando ao

aprendizado, as quais apresentam forte especificidade local. Diferentemente do que é

sugerido por aqueles que defendem que o que importa na atual fase da globalização é a

aquisição – através, na maioria das vezes, da importação - de altas tecnologias, passam a

ter maior relevo os objetivos de promover e gerar, localmente, os processos que

estimulem o aprendizado e a acumulação de conhecimentos. “Esse conhecimento pode

ser um dos pilares para criar uma base de vida que amplie a coesão da sociedade civil, a

serviço do interesse coletivo” (Santos, 2001, p.101).

Nesse sentido, arranjos e sistemas produtivos locais podem ser definidos como

conjuntos de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto

específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes.

Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde

produtoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas

variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras

instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos

humanos (como escolas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia;

política, promoção e financiamento. Em geral, trata-se de agentes econômicos, políticos

e sociais, localizados em um mesmo território, desenvolvendo atividades econômicas

correlatas e que apresentam vínculos de produção, interação, cooperação e

aprendizagem, com potencial para gerar o incremento da capacidade inovativa

endógena, da competitividade e do desenvolvimento local (Cassiolato & Lastres, 2003;

Redesit, 2005).

Para diversos autores34, a participação em arranjos e sistemas produtivos locais

se caracteriza como uma oportunidade única para micro e pequenas empresas,

principalmente em países subdesenvolvidos, se aproveitarem da sinergia gerada por este

tipo de configuração que estimule o aprendizado e a inovação.

34 Nadvi, 1995; Nadvi & Schmitz, 1997; UNCTAD, 1998.

28

Nesse contexto, novas abordagens teóricas que exaltam a importância da

dimensão localizada do processo de aprendizado, da cooperação e da inovação enquanto

fonte de vantagem competitiva de firmas, regiões e países surgiram a partir da idéia

inicial da teoria schumpeteriana.

2.1) O aprendizado local e o conhecimento tácito

A possibilidade de codificação do conhecimento e sua difusão não significa

pleno acesso a essas informações por todos os indivíduos se eles não possuem

‘conhecimento’ necessário para a compreensão e utilização desses conhecimentos

transformados em informação. Em outras palavras, a transferibilidade de conhecimentos

codificados encontra-se intimamente associada a processos de aprendizagem.

A importância do aprendizado e do conhecimento está ainda mais fortemente

relacionada ao novo paradigma tecno-econômico por duas razões: i) na medida em que

a competência humana encontra-se no centro do processo de desenvolvimento de

qualquer sociedade, a constituição de uma visão que focaliza o aprendizado e o

conhecimento em qualquer processo histórico de formação sócio-econômico constitui-

se num elemento analítico importante; ii) partindo-se de uma perspectiva histórica

específica que remete às condições atuais de desenvolvimento, na qual a economia

encontra-se profundamente enraizada na produção, distribuição e uso de conhecimentos,

justifica-se a ênfase no surgimento de uma nova era caracterizada como Economia do

Conhecimento e do Aprendizado (Foray & Lundvall, 1996; Lundvall, 1996).

Nesse contexto, o aprendizado se torna um processo ainda mais fundamental

para a construção de novas competências e obtenção de vantagens competitivas, “o

qual, pela repetição, experimentação, busca de novas fontes de informação e outros

mecanismos, capacita tecnologicamente as firmas e estimula as suas atividades

produtivas e inovativas” (Campos et al., 2003, p. 52).

Estes processos de aprendizagem decorrentes da cumulatividade da experiência

dos indivíduos e firmas na produção e suas conseqüentes inovações incrementais em

produtos e processos podem caracterizar mecanismos informais ou não estruturados que

também criam capacidades inovativas internas às firmas: learning by doing e learning

by using. Além desses mecanismos de aprendizagem internos às firmas, existe uma

29

outra fonte de conhecimento que não se restringe unicamente à firma: o aprendizado por

interação (learning by interacting).

Este tipo de aprendizado se destaca quando se reconhece que quase todos os

processos de aprendizado são sociais e interativos, sendo o conhecimento afetado e

transformado através de processos permeados pela interação social e onde as próprias

instituições mudam como resultado dessa interação voltada para criação de novos

conhecimentos (Vargas, 2002, p. 29).

Nesse contexto, um aspecto da característica do conhecimento que é importante

para a discussão dos processos de aprendizagem é a natureza tácita e codificada do

conhecimento. As possibilidades de transferência de conhecimento tácito estão

relacionadas à demonstração e experiência. Isto implica a necessidade do contato face-

a-face e, por conseqüência, a proximidade espacial entre os agentes e a importância dos

códigos de compartilhamento, fazendo com que o contexto social seja decisivo para as

possibilidades de transferência.

Dessa forma, os processos de aprendizagem por interação pressupõem cinco

características fundamentais para que esta relação se efetive (Lundvall, 1998): i) Fluxo

sistemático de informações entre os agentes, com a necessidade da constituição de

canais de comunicação e do estabelecimento de códigos comuns que viabilizem esta

troca de informações35; ii) confiança mútua entre os agentes; iii) sistema de incentivos

que evite o rompimento dos vínculos entre os atores; iv) aprofundamento das relações

de confiança e cooperação entre os atores; e v) a consolidação desses processos de

interação e cooperação leva à constituição de um espaço econômico próprio.

Então, diferentemente do que ocorre com o conhecimento codificado, o

conhecimento tácito não pode ser facilmente transferido, dado que sua

“transferibilidade” encontra-se condicionada pelo contexto social e institucional onde

ocorre a interação entre indivíduos, firmas e organizações. Esta dificuldade inerente à

transmissão do conhecimento tácito, por sua vez, contribui para que ele geralmente

encontre-se associado a contextos organizacionais ou geográficos específicos,

dificultando ou mesmo impedindo o seu acesso por atores externos a tais contextos.

Dessa forma, o conhecimento tácito permanece sendo um elemento chave no processo

de apropriação e uso de conhecimentos.

35 O que só é possível num ambiente específico, ou seja, num contexto social e local específico.

30

Segundo Vargas (2002), na medida em que se concebe o ambiente local como

um conjunto de configurações institucionais e organizacionais inseridas num rol de

interações com diferentes atores econômicos, percebe-se a importância que assume a

dimensão localizada dos processos de aprendizagem e capacitação inovativa das firmas.

Por isso, a noção de arranjos e sistemas produtivos locais possibilita o destaque

da importância do local, pelas especificidades que se formam em espaços geográficos e

institucionais particulares, criando possibilidades únicas para interações e

desenvolvimento de competências dos agentes nos processos inovativos. Esta interação

possibilita a discussão de um outro tipo de relação entre os agentes igualmente

importante para a análise dos processos inovativos numa dimensão local: a cooperação.

2.2) Cooperação e capital social: elementos para o desenvolvimento local

Em linhas gerais, o significado de cooperação é o de trabalhar em comum,

envolvendo relações de confiança mútua e coordenação, em níveis diferenciados, entre

os agentes. Em arranjos e sistemas produtivos locais, identificam-se diferentes tipos de

cooperação, incluindo a cooperação produtiva visando à obtenção de economias de

escala e de escopo, a melhoria dos índices de qualidade e produtividade; e a cooperação

inovativa, que resulta na diminuição e riscos, custos, tempo e, principalmente, no

aprendizado interativo, dinamizando o potencial de criação de capacitações produtivas

e inovativas.

Uma outra forma de se pensar na cooperação é através do conceito de capital

social. O capital social pode ser pensado como “traços da vida social – redes, normas e

confiança – que facilitam a ação conjunta em prol de objetivos comuns”36 (Puttman,

1993). Segundo este autor, a confiança é alcançada a partir do conhecimento mútuo

entre os membros da comunidade e de uma forte tradição de ação comunitária.

Arranjos e sistemas produtivos locais, como visto, não envolve apenas empresas,

mas também outros atores (organismos governamentais, associações, instituições de

pesquisa, educação e treinamento, entre outros). Ambientes ricos e dinâmicos de

aprendizagem coletiva, favorecem os processos de interação e de articulação entre os

agentes, estimulando assim a geração e difusão de conhecimentos e inovações que ali se

31

situam (Albagli e Maciel, 2003). Nesse sentido, a noção de cooperação e capital social

ganha força na medida em que as relações puramente de mercado mostram-se incapazes

de estimular a interação entre os diferentes agentes, bem como o compartilhamento de

informações e conhecimentos requeridos neste processo de inovação e aprendizado. São

os comportamentos associados à idéia de cooperação e capital social (confiança,

compromisso com outros, redes e valores compartilhados) que contribuem para os

processos de inovação e de aprendizado interativos, de criação e de intercâmbio de

conhecimentos e habilidades.

Cabe ressaltar que a idéia de cooperação de forma alguma é contraditória a de

concorrência. Uma vez enfatizado o papel da inovação e do aprendizado para o

dinamismo econômico, sendo este último visto como processo contínuo e interativo de

aquisição de diferentes tipos de conhecimentos e habilidades por parte dos agentes

individuais e coletivos, propiciando a inovação, a cooperação (e o capital social) é um

elemento que reforça esta dinâmica. Porém não com ênfase apenas no que se

denominou mercado, mas com um olhar sobre os indivíduos e o ambiente no qual eles

estão inseridos. Por isso, a noção de territorialidade e da importância do local são tão

comentados ao longo deste trabalho.

Dessa forma, a noção de interação cooperativa se torna um fator de grande

relevância para o desenvolvimento local e, de acordo com Albagli e Maciel (2003),

deve ser considerada uma peça importante – mas não a única – na mobilização de

arranjos (e sistemas) produtivos locais.

2.3) A inovação como um processo de interação local

Segundo Dosi (1988), a inovação se caracteriza pela busca, descoberta,

experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, processos e

novas técnicas organizacionais. O que se busca, por definição, não pode ser conhecido

com precisão antes das atividades de descoberta e experimentação. Dessa forma, a

inovação envolve um elemento fundamental de incerteza. No entanto, o conhecimento

científico acumulado ao longo do tempo, aliado às atividades de pesquisa integradas a

diversas organizações formais, são características fundamentais para as atividades

36 Existem outras definições de Capital Social que não serão discutidas neste trabalho. Ver: Albagli e Maciel, 2003.

32

inovativas. Ademais, as atividades de interação - formais e informais - são fundamentais

para o aprendizado cumulativo, que também se caracterizam como elementos

fundamentais à inovação.

Nesse sentido, inovação é aqui entendida como o processo pelo qual as

organizações incorporam conhecimentos na produção de bens e serviços que lhes são

novos. O foco principal de análise recai sobre as mudanças técnicas, e outras correlatas,

tidas como fundamentais para o entendimento dos fatores que levam organizações,

setores, regiões e países a desenvolverem-se mais rápida e amplamente que outros

(RedeSist, 2005).

Em linha gerais, as inovações podem ser de dois tipos: i) inovação tecnológica

de produto e processo: refere-se à utilização do conhecimento sobre novas formas de

produzir e comercializar bens e serviços; e ii) inovação organizacional: refere-se à

introdução de novos meios de organizar a produção, distribuição e comercialização de

bens e serviços. Estas inovações podem ser: i) inovação radical: refere-se ao

desenvolvimento de um novo produto, processo ou forma de organização da produção

inteiramente nova; e ii) inovação incremental: refere-se à introdução de qualquer tipo

de melhoria em um produto, processo ou organização da produção.

Até o final dos anos 1960, a inovação era vista como ocorrendo em estágios

sucessivos e independentes de pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento,

produção e difusão (visão linear da inovação).

A partir da década de 1970, a inovação passou a ser visto não mais como um ato

isolado, mas como um processo, de múltiplas fontes, derivando de complexas

interações entre agentes. Dessa forma, a inovação passa a ser definida como processo

não linear, que pode envolver, inclusive simultaneamente, conhecimentos resultantes

tanto da contratação de recursos humanos, da realização de atividades de treinamento e

de pesquisa e desenvolvimento (P&D), assim como das demais atividades e

experiências acumuladas pela empresa a partir de sua interação com outros agentes e

com o ambiente que a cerca.

A partir da década de 1980, particular atenção passou a ser dada ao caráter

localizado e sistêmico da inovação e do conhecimento. Desfaz-se também o

entendimento de que a inovação deve ser algo absolutamente novo, em termos mundiais

- restritos às áreas de tecnologia de ponta - passando a ser percebida como o processo

33

pelo qual as empresas dominam e implementam o desenvolvimento e a produção de

bens e serviços, que sejam novos para elas, independentemente do fato de serem novos

para seus concorrentes – domésticos ou internacionais37 (Mytelka & Farinelli, 2003;

RedeSist, 2005).

Esta abordagem é utilizada por Mytelka (1993, 2000), onde a inovação não

precisa necessariamente ser algo totalmente novo, mas enfoca a inovação sob o ponto de

vista do agente econômico que a está implementando. Sua abordagem tem por objetivo

principal apontar as possibilidades de inovação em países subdesenvolvidos, que além

de não se encontrarem na fronteira do desenvolvimento tecnológico, também se

caracterizam pela grande presença de micro e pequenas empresas como fundamentais

para a economia.

Nesse sentido, esta nova proposta de abordagem do conceito de inovação não

propõe negar a importância do papel da P&D na geração de conhecimento, mas permitir

a extensão do mesmo (conceito) destacando a importância de inovações incrementais,

como melhoria nos produtos em relação ao design e à qualidade, mudanças

organizacionais e no processo de produção, práticas de marketing, entre outros, de

modo a aumentar a capacidade competitiva das empresas localizadas nestes países38.

Estas práticas caracterizam a inovação como um processo interativo, que

envolve a contribuição de vários agentes econômicos e sociais que possuem diferentes

tipos de informação e conhecimentos, realizados dentro e fora da empresa. Este

“conhecimento é a base do processo interativo, e sua criação, uso e difusão alimentam a

mudança econômica, constituindo-se em importante fonte de competitividade

sustentável, associando-se às transformações de longo prazo na economia e na

sociedade” (RedeSist, 2005).

37 “(...) innovation should then be understood as the process by which firms master and implement the design and production of goods and services that are new to them, irrespective of whether or not they are new to their competitors – domestic or foreign” (Mytelka & Farinelli, 2003, p.250). 38 “To emphasize innovation in this sense is not to deny the role that R&D can play in generating new knowledge. Its purpose is rather to permit the extension of the concept of innovation to cover continuous improvement in the product design and quality, changes in the organization and management routines, creativity in marketing and modifications to production processes that bring costs down, increase efficiency and ensure environmental sustainability. Innovation of this sort is critical to firms in the developing world today. Adopting such a definition will encourage policy-makers to take a broader perspective on the opportunities for learning and innovation to pay greater attention to innovation in SMEs and in the so-called traditional industries than has been the case in the past” (Mytelka, 2000, pp. 18-19).

34

Santos (2003), numa discussão acerca da difusão das inovações, toma por base

alguns autores39 para destacar que o efeito-proximidade permitiria uma propagação mais

rápida da inovação, e as barreiras que dificultam a intercomunicação seriam algo

dependentes dos indivíduos, uma vez que o nível de resistência muda de um indivíduo

para o outro. Por isso, o controle sobre o processo de difusão de inovações requer a

utilização de redes interpessoais de comunicação.

Dessa forma, a localização, a interação entre indivíduos e grupos, e os aspectos

particulares – as especificidades – de um determinado local, região e país, devem ser

levados em conta na discussão do papel não só da inovação40 mas dos processos de

aprendizado e capacitação, uma vez que estes elementos são influenciados e

influenciam os ambientes sócio-econômico-políticos onde se realizam.

3) Conclusões parciais

Este capítulo procurou demonstrar como questões relacionadas às

especificidades locais, principalmente quanto ao aprendizado, conhecimento,

cooperação e inovação, são importantes para se pensar em estratégias de

desenvolvimento local, regional e nacional.

Partindo da análise da importância das especificidades locais (territoriais) frente

ao mundo globalizado, a abordagem de arranjos e sistemas produtivos locais na

perspectiva neo-schumpeteriana foi utilizada para se analisar questões relacionadas ao

conhecimento tácito, cooperação e inovação. Esta abordagem destaca o papel do

aprendizado e da inovação, como fatores de competitividade dinâmica e sustentada e

engloba empresas e outros agentes, assim como atividades conexas que caracterizam

qualquer sistema de produção.

Esta relação foi feita procurando-se adaptar tais conceitos à realidade dos países

subdesenvolvidos, principalmente em relação à inovação, vista aqui como um processo

incremental e de adaptação pelo qual as empresas dominam e implementam o

39 HAGERSTRAND, T. (1952). “Aspects of Spatial Structure of Social Communications and the Diffusion of Innovations”. PPRSA 16, pp.27-42. 40 “A country’s (or region’s) innovative capacity derives from the relations among its social actors, movements, organizations and institutions. And this capacity is its ability to make the most adequate choices, and to apply the results of those choices where they will be most productive, socially and economically” (Cassiolato, Lastres e Maciel, 2003, p.16).

35

desenvolvimento e a produção de bens e serviços, que sejam novos para elas,

independentemente do fato de serem novos para seus concorrentes.

Esta perspectiva da realidade dos países subdesenvolvidos (apresentada no

capítulo I), num mundo com relação de poder claramente definido, foi feita a partir da

visão latino-americana de dependência da CEPAL, buscando apresentar o fomento aos

sistemas de inovação locais como reflexo do esforço da implementação de políticas que

visem o desenvolvimento local (regional e nacional). Para isso, segundo Cassiolato e

Lastres (2003), do ponto de vista normativo, não basta desenvolver indicadores e mapas

objetivando identificar a quantidade de arranjos existentes e suas diferentes

configurações e graus de desenvolvimento. Por ser baseado no reconhecimento das

especificidades dos diferentes arranjos, as políticas para sua promoção são

incompatíveis com modelos genéricos que utilizam idéias de benchmarking e best

practices, como implicitamente ressaltado na última seção.

Dessa forma, a mobilização de um determinado arranjo produtivo local

geralmente implica conjuntos específicos de requerimentos que variam no tempo e

podem levar a diferentes caminhos de desenvolvimento, uma vez que as interações e

diferentes modos de aprendizado criam diferentes complexos ou aglomerações de

capacitações que, no seu conjunto, definem as diferenças específicas entre as

localidades.

Nesse sentido, a discussão da impossibilidade do desenvolvimento a partir de

modelos pré-determinados é ratificada pela discussão das especificidades locais em

arranjos e sistemas produtivos locais.

Adicionalmente, destaca-se que ainda que não sejam suficientes, as políticas de

promoção aos APLs são complementares àquelas que focalizam setores e cadeias

produtivas, e "não devem ser implementadas de forma isolada" (Lastres e Cassiolato,

2003). Para que obtenham maiores chances de sucesso, estas devem representar os

rebatimentos locais dos setores, cadeias produtivas e demais prioridades elencadas por

um projeto de desenvolvimento de sistemas produtivos e inovativos locais na busca de

um desenvolvimento local, regional e nacional de longo prazo.

36

CAPÍTULO III – PANORAMA DA INDÚSTRIA DE CONFECÇÕES

1) Introdução

Este capítulo pretende apresentar, de forma geral, as principais características da

cadeia produtiva da indústria têxtil e confecções no Brasil e no mundo. Busca-se, em

seguida, apresentar resumidamente o panorama mundial da indústria no que diz respeito

aos principais produtores, importadores e exportadores, e a evolução deste quadro ao

longo das décadas. Dentre os fatores de destaque para a compreensão desta dinâmica

evolutiva está o papel das barreiras à importação de têxteis e confeccionados. Nesse

sentido, a apresentação de algumas perspectivas com o fim destas barreias é de grande

relevância nesta análise, principalmente num cenário onde se trata das diferenças na

estrutura de poder representados pelos países desenvolvidos e subdesenvolvidos.

Tendo em vista a hierarquia criada entre os lugares, numa típica divisão

territorial (internacional) do trabalho existente na cadeia produtiva têxtil-confecções, o

capítulo avança na discussão da inserção das empresas dos países subdesenvolvidos no

cenário da globalização atual no que diz respeito à indústria têxtil-confecções. Para isso,

uma visão sobre a nova organização desta indústria nos países desenvolvidos,

representada pelas cadeias produtivas globais, é discutida neste capítulo.

O papel das grandes empresas (lead firms) é de fundamental importância nesta

dinâmica. São elas que, dotadas dos conhecimentos técnicos e financeiros, buscam uma

localização para produção onde o seu lucro potencial será maior através,

principalmente, de uma “vantagem comparativa” relacionada ao custo da mão-de-obra.

Nesse sentido, argumenta-se que as empresas dos países subdesenvolvidos deva fazer

parte desta cadeia para que, através da aprendizagem (mimetismo), possa melhorar suas

posições no comércio mundial.

Tendo esta perspectiva sido ressaltada, o capítulo procura, em seguida,

apresentar diferentes visões quanto à inserção dos países subdesenvolvidos nas cadeias

produtivas globais, tendo como principal argumento o fim da subordinação dos países

periféricos em relação aos centrais que está dinâmica proporciona.

Em seguida, as principais mudanças ocorridas no Brasil ao longo da década de

1990 são apresentadas, tanto no que diz respeito à participação e evolução do Brasil no

comércio mundial, e os efeitos da abertura no segmento, quanto em relação aos esforços

de atualização tecnológica no período.

37

Por último, é necessário ressaltar que a literatura não trata da “indústria de

confecções” em separado da têxtil. Ela está sempre relacionada à dinâmica da indústria

têxtil, na qual está inserida. Por isso, ao longo do capítulo, confecção estará, em geral,

relacionada downstream com a cadeia têxtil, e upstream com a comercialização em

geral.

2) Características da cadeia têxtil – confecções

O complexo têxtil-confecção – que engloba a produção de fibras (naturais,

artificiais ou sintéticas), fiação, tecelagem, malharia, acabamento e confecção – vem

passando, em nível mundial, por transformações estruturais, acompanhando a própria

evolução da microeletrônica, que permitiu a automação e o conseqüente aumento de

produtividade em várias etapas do processo de produção (Gorini et al.1997), assim

como da organização, distribuição e comercialização.

O setor é atualmente intensivo em capital nos segmentos de fiação e tecelagem,

todavia, apresenta-se intensivo em mão-de-obra no segmento de confecção, difícil de

ser automatizado. Esta dificuldade não se dá somente pelo custo da automatização, mas,

sobretudo, pelo fato do uso intensivo de mão-de-obra ser mais barato no processo de

produção.

A cadeia têxtil – confecções é formada por diversas atividades e está associada a

outros complexos produtivos num intenso relacionamento tanto downstream com a

agropecuária, a indústria petroquímica e a metal-mecânica (fornecedora de maquinário

industrial) quanto upstream com o comércio atacado e varejo. A figura III.1 apresenta

os principais elos do processo produtivo desta cadeia.

O primeiro segmento consiste na produção de fibras naturais (algodão, seda,

rami/linho, lã e juta) e artificiais (viscose, acetato, nylon, poliéster, lycra e

polipropileno). A mistura destas fibras permite uma variada gama de fios mistos. De

acordo com Soares (2003), em relação ao tipo de matéria-prima utilizada pelo setor

têxtil brasileiro, constata-se que cerca de 70% é fibra de algodão, 25% fibras artificiais e

sintéticas e 5% composto de linho, lã, seda, etc.

A fiação compreende a segunda etapa deste segmento. A fiação de algodão

compreende diversas operações através das quais as fibras seguem uma mesma direção

– paralelizadas – e torcidas de modo a se prenderem umas às outras por atrito. A fiação

de fibras artificiais é composta das etapas de extrusão – operação na qual uma

38

substância pastosa é pressionada através da fieira -, resultando em filamentos que são

endurecidos através da operação de solidificação. As empresas que compõem este

segmento são intensivas em capital, criando barreiras à entrada de pequenas e médias

empresas.

Figura III.1 – Configuração Básica da Cadeia Têxtil.

Fonte: Adaptado a partir de IEL et al., 2000.

A terceira etapa consiste na tecelagem, que é dividida, basicamente, em

tecelagem plana e malharia. Na tecelagem plana existem três linhas importantes de

Acabamento

Tecelagem Malharia

Fiação

Fibras Artificiais Fibras Naturais

Nylon

Poliéster

Lycra

Polipropileno

Viscose

Acetato

Algodão

Seda

Rami/Linho

Juta

Confecção

Comércio (Atacado e Varejo)

Marketing e Distribuição

39

tecidos: i) os tecidos pesados (índigos, brins e roupas profissionais); ii) tecidos de

camisaria e; iii) tecido para cama, mesa e banho e para decoração.

A etapa seguinte é o acabamento. Uma série de operações é realizada nesta etapa

nas quais proporcionam ao tecido conforto, durabilidade e propriedades específicas ao

produto.

Em seguida, apresenta-se o setor de confecções, um dos últimos elos da cadeia

produtiva têxtil-confecção. Este setor é um segmento específico e tem como principais

etapas de produção o corte, a costura e o acabamento.

Por fim, a comercialização apresenta-se como a última etapa desta cadeia. Ela

pode ser tanto no varejo quanto no atacado, e está intimamente relacionada às atividades

de marketing e distribuição.

O predomínio de pequenas empresas, com utilização intensiva de mão-de-obra, e

a diversidade, heterogeneidade e pulverização da demanda são algumas características

marcantes no setor de confecções no Brasil. O equipamento básico utilizado nestas

empresas continua sendo a máquina de costura, o que diminui a possibilidade de criação

de barreiras tecnológicas à entrada. Além disso, e fortemente relacionada à intensiva

utilização da mão-de-obra, é a presença da informalidade (que se intensificou ao longo

da década de 1990, devido tanto ao baixo crescimento da economia e aumento do

desemprego quanto, e relacionado a isto, a intensificação do processo de terceirização).

Por isso, trata-se de um segmento bastante competitivo, competição essa que tem se

intensificado em função das constantes mudanças na moda e pelo ciclo sazonal da

produção.

Existe uma grande heterogeneidade das unidades produtivas, associada à

existência de grande número de empresas de tamanhos variados41, que pode ser

considerada como característica estrutural básica da indústria de confecções.

Características tecnológicas e, principalmente, forte segmentação do mercado são

responsáveis por esta estrutura. Se, por um lado, poucas grandes empresas estão

modernamente equipadas42, por outro, existe uma grande segmentação do mercado,

tanto no que diz respeito ao número de produtos (lado da oferta), quanto ao mercado

41 Em 1996, estavam em funcionamento (formalmente) no país 18.036 empresas empregando 905.003 pessoas diretamente na produção. Do conjunto das empresas 70% correspondem às que empregam até 60 pessoas, 28% de 61 a 300, e apenas 2% das unidades produtivas empregam acima de 300 funcionários (ABRAVEST/IEMI). 42 Como veremos nas próximas linhas, a própria segmentação da demanda é um dos principais fatores que limitam a utilização de tecnologias de produção mais modernas.

40

consumidor que atinge (lado da demanda), com diferentes níveis de renda, idade, padrão

cultural, entre outras características.

Dentre alguns ramos do setor de confecções destacam-se: Roupas íntimas, de

dormir, de praia/banho, de esportes, de lazer, sociais, de gala, infantis, protetoras,

profissionais, de segurança, artigos para cama, mesa, banho, copa/cozinha, decorativos,

entre outros.

Como se trata de um segmento intensivo em trabalho, os custos, a gestão e a

qualificação da mão-de-obra são fatores fundamentais na competitividade das empresas,

assim como os investimentos em outros fatores intangíveis como design e marketing

pois, em grande parte, são eles que definem o posicionamento das empresas em setores

de maior ou menor valor adicionado e lucratividade.

Segundo Coutinho e Ferraz (1994), o emprego intensivo da força de trabalho

decorre das dificuldades de introdução do progresso tecnológico na etapa de montagem

ou de costura. Além das dificuldades de manuseio da matéria-prima – tecido – e a

existência de uma grande variedade de texturas, que colocam sérios obstáculos à

automação da etapa de montagem das peças, destaca-se, outrossim, a questão já

mencionada do custo da mão-de-obra, tão importante para a competitividade (espúria)

das empresas.

Na etapa de desenho e corte das peças, foram obtidos avanços significativos a

partir da introdução da tecnologia CAD/CAM (Computer Aided Design/Computer

Aided Manufacturing), o que proporcionou uma redução nas perdas de tecido e um

grande aumento de velocidade na criação, especificação técnica das peças e modelagem

dos tamanhos (Coutinho e Ferraz, 1993). No entanto, a costura ainda é a fase principal

do processo produtivo, o que faz com que o processo de confecção, como um todo, seja

altamente dependente da habilidade e do ritmo da mão-de-obra.

Por fim, cabe destacar que as novas tecnologias permitem uma maior

especialização da produção. Em geral, este tipo de especialização está relacionado a

nichos específicos que são mais viáveis às grandes empresas que, em geral, estão

inseridas no mercado internacional e já possuem marcas consolidadas em todo o

mundo; ou seja, a demanda existente para estes produtos é que viabiliza

economicamente a alta escala de produção. No caso do Brasil, não existe esta demanda

suficiente, tanto no mercado interno quanto no externo, que viabilize a concentração da

produção em apenas um artigo em uma unidade confeccionista, o que justifica (aliado à

sazonalidade da produção e às variações da moda) maior flexibilização na produção.

41

Dessa forma, as maiores empresas produzem peças mais padronizadas e com

menos influência da sazonalidade, inerente à moda, como as roupas de dormir, roupa de

esporte, roupa íntima, camisetas de malha de algodão, roupa de lazer (jeans), artigos de

cama, mesa e banho. Estes produtos são mais padronizados e, portanto, melhor

adaptados a maiores escalas produtivas, o que não quer dizer especialização num único

produto.

Por isso, na indústria de confecções brasileira as micro e pequenas unidades

produtivas têm maior tendência à diversificação da sua produção, e maior tendência a

especialização cresce com o tamanho da empresa (ABRAVEST).

O segmento de confecções é o segmento de maior contato com as preferências

dos consumidores com relação a tipo de tecido, padrões de corte e de cores sendo,

portanto, responsável direto pela comunicação de alterações nos padrões de consumo

para os outros elos da cadeia têxtil. Nesse sentido, o conhecimento no segmento de

confecções é compartilhado com o resto da cadeia, sendo responsável, muitas das vezes,

pelas inovações ao longo da mesma. Em outras palavras, o maior conhecimento em

relação às preferências dos consumidores, aliado às inovações no desenho dos produtos

pode levar, em última instância, a significativas mudanças no padrão tecnológico ao

longo do setor, seja em relação à inovação em matérias-prima, seja em relação às

máquinas utilizadas.

3) Panorama mundial de confecções

Dentre os principais produtores mundiais de confecções, destacam-se: China43,

Estados Unidos, Índia, Taiwan e Brasil, que ocupa a 5ª posição no ranking, à frente de

países como México e Coréia do Sul no ano 2000 (Tabela III.1).

Tabela III.1 – Principais Países Produtores de Confecções - 2000

Países Produção (em toneladas)

1. China 5.331.744

2. EUA 3.954.787

3. Índia 3.922.768

4. Taiwan 1.376.321

5. Brasil 1.286.826

43 Para maiores detalhes sobre o caso chinês, ver: Abernathy et al., 1999.

42

6. México 1.111.738

7. Coréia do Sul 891.665

8. Turquia 785.324

9. Paquistão 641.716

10. Japão 631.490

11. Alemanha 415.836

12. Rússia 315.810

13. Outros 1.384.786

Total 22.050.810 Fonte: ITMF – Países membros Apud IEMI, 2002; in: Castro, 2004.

No entanto, quando analisamos os principais exportadores de confecções no

mundo (Tabela III.2), percebemos claramente que os maiores produtores não são,

necessariamente, os maiores exportadores. De acordo com a tabela III.2, observa-se que

a União Européia vem se destacando como a maior exportadora de confecções desde

1980, apesar desta participação nas exportações mundiais estar decrescendo ao longo

dos últimos vinte anos. É interessante observar que pela tabela III.1 (principais países

produtores de confecção), o único país da UE que aparece entre eles é a Alemanha,

mesmo assim, ocupando a 11ª posição no ranking.

Os principais países exportadores de confeccionados da UE em 1997 eram a

Itália, com 8,4% das exportações mundiais, seguida pela Alemanha com 4,1% e França

e Reino Unido, ambas com 3% das exportações de confeccionados mundiais (Gorini,

2000).

Por outro lado, a China que em 1980 participava com 4% das exportações

mundiais, vê sua participação chegando a 21% em 2002, atrás apenas da UE. No

entanto, trata-se apenas de um país contra vários países exportadores da UE, ou seja,

trata-se do maior exportador de confecções. Já em 1997, a China participava com 18%

das exportações mundiais de confeccionados, bem acima dos países europeus. Ademais,

como já vista acima, além de ser o maior país exportador, a China é também a maior

produtora de confecções mundial.

Tabela III.2 – Principais Exportadores de Confecções, 1980-2002

Valor (US$ Bilhões) Participação nas exportações mundiais Exportadores

2002 1980 1990 2000 2002

União Européia (15)

Exportações extra - UE

50,45

16,59

42,0

10,4

37,7

10,5

24,1

7,4

25,1

8,3

43

China 41,30 4 9 18,3 21

Honk Kong, China

Exportações de origem local

Reexportação

22,34

8,31

14,04

-

11,0

-

-

9,0

-

-

5,0

-

-

4,0

-

Turquia 8,06 0,3 3,1 3,3 4,0

México 7,75 0,0 0,5 4,4 3,9

Estados Unidos 6,03 3,1 2,4 4,4 3,0

Índia 5,48 1,7 2,3 3,1 2,8

Bangladesh 4,13 0,0 0,6 2,1 2,1

Indonésia 3,95 0,2 1,5 2,4 2,0

República da Coréia 3,69 7,3 7,3 2,6 1,8

Tailândia 3,37 0,7 2,6 1,9 1,7

Romênia 3,25 ... 0,3 1,2 1,6

República Dominicana 2,71 0,0 0,7 1,5 1,4

Tunísia 2,69 0,8 1,0 1,1 1,3

Filipinas 2,61 1,4 1,6 1,3 1,3 Fonte: OMC, 2003; in: Castro, 2004.

Em relação aos principais importadores de confecções entre 1980 e 2002,

destacam-se a União Européia, os Estados Unidos e o Japão, sendo os Estados Unidos o

principal país importador, responsável, isoladamente, por 31,7% do total das

importações mundiais no segmento em 2002.

Tabela III.3 – Principais Importadores de Confecções, 1980-2002

Valor (US$ Bilhões) Participação nas importações mundiais Importadores

2002 1980 1990 2000 2002

União Européia (15)

Importações extra - UE

84,88

51,02

54,3

23,0

50,6

25,2

38,8

22,9

40,3

24,2

Estados Unidos 66,73 16,4 24,0 32,5 31,7

Japão 17,60 3,6 7,8 9,5 8,4

Honk Kong, China

Importações definitivas

15,64

1,60

-

0,9

-

0,7

-

0,8

-

0,8

México 4,06 0,3 0,5 1,9 1,9

Canadá 4,01 1,7 2,1 1,8 1,9

Rússia 3,86 - - 1,3 1,8

Suíça 3,45 3,4 3,1 1,6 1,6

República da Coréia 2,17 0,0 0,1 0,6 1,0

Austrália 1,82 0,8 0,6 0,9 0,9

44

Singapura

Importações definitivas

1,81

0,54

0,3

0,2

0,8

0,3

0,9

0,3

0,9

0,3

Emirados Árabes unidos 1,55 0,6 0,5 0,7 0,8

Noruega 1,36 1,7 1,1 0,6 0,6

China 1,36 0,1 0,0 0,6 0,6

Arábia Saudita 0,86 1,6 0,7 0,4 0,4 Fonte: OMC, 2003; in: Castro, 2004.

O comércio internacional de artigos de vestuário vem demonstrando grande

dinamismo. Entre 1995 e 2000, o comércio mundial de confecções cresceu 5,9% ao ano,

enquanto as trocas internacionais para todos os produtos cresceram a uma taxa anual de

4,6% e as de produtos têxteis aumentaram apenas 2,6% ao ano (Prochnik, 2002). Esse

dinamismo é acompanhado por importantes mudanças no segmento de vestuário ao

longo dos anos 1990 que se articulam às transformações na indústria têxtil mundial

desde meados da década de 1970.

A perda de competitividade dos tradicionais produtores de confecções, como os

Estados Unidos e Europa, em relação aos países periféricos como Coréia do Sul,

Taiwan, Honk Kong, Indonésia, Tailândia, Índia e Paquistão, levou os primeiros a

promoverem importantes mudanças em suas estratégias competitivas. Para enfrentar a

concorrência, os produtores norte-americanos e europeus investiram pesadamente em

novas tecnologias de criação e processo, além de adotar estratégias de marketing

altamente agressivas, ampliando a velocidade do lançamento de novas coleções e

diversificando as linhas de produtos. As estratégias dinâmicas da indústria contribuem

para tornar cada vez mais voláteis as demandas da moda, pressionando, dessa forma,

pela redução dos tempos de criação, produção e comercialização de artigos

confeccionados.

Além disso, segundo Castro (2004, p.5), “a proximidade com os centros

consumidores e/ou a existência de acordos regionais ou bilaterais, envolvendo

preferências tarifárias, (também) têm sido fatores decisivos para a integração de

economias periféricas a essas redes dinâmicas. No caso da Europa, a sub-contratação

tem se dirigido para a Turquia, alguns países do Norte da África e do leste europeu. Já

os EUA têm integrado em seu circuito de produção de confecções, principalmente, o

México e a América Central. A proximidade é um fator relevante, na medida em que se

exige grande agilidade para se atender aos ditames de moda cada vez mais volátil. De

outro lado, como toda a cadeia têxtil conta com uma proteção tarifária bastante superior

45

à média dos demais setores, a existência de acordos de preferência tarifária tem forte

impacto sobre os custos”.

Entretanto, a proximidade não é o único fator relevante. O preço e a habilidade

da mão-de-obra também contam. Apesar de haver uma tendência à regionalização na

cadeia de commodities na Ásia, América do Norte e Europa, no caso dos Estados

Unidos, por exemplo, os países que conseguiram acesso ao seu mercado foram aqueles

capazes de exportar “pacote completo” (Honk Kong, Taiwan e Coréia do Sul) ou

aqueles que vêm tentando fazê-lo, e que possuem custos mais baixos (caso da China).

Dessa forma, a proximidade não é o fator crucial nesta cadeia global44. O tipo de

serviço (especialmente “pacote completo”) é bastante relevante neste cenário, tanto que

as grandes empresas de varejo e as comercializadoras de marcas conhecidas, que

utilizam encomendas do tipo “pacote completo”, o fazem nos países asiáticos (Honk

Kong, Taiwan e Coréia do Sul). Países como México e do Caribe, se quiserem competir

no mercado norte americano com produtos de maior valor agregado terão que

desenvolver este tipo de serviço.

Nesse sentido, a tendência à proximidade co-existe com a visão de cadeia global

neste setor. Não é desejável sua abordagem em separado, já que a existência de uma não

implica, necessariamente, na exclusão da outra. Além disso, tanto a proteção quanto a

existência de acordos de preferência tarifária têm forte impacto sobre os custos e a

competitividade na cadeia têxtil-confecções.

3.1) Perspectivas pós-2005: o fim das barreiras à importação de têxteis e

confeccionados

Após a Segunda Grande Guerra, diversos países em desenvolvimento (inclusive

o Japão) passaram a exportar crescentes quantidades de têxteis e confeccionados de

algodão para diversos países desenvolvidos. Países como Estados Unidos, França e

Reino Unido, entre outros, ao perceberem sua indústria doméstica ameaçada, sobretudo

empregos, por importações mais baratas, assinaram uma série de acordos limitando a

quantidade exportada por aqueles países em têxteis de algodão.

Em 1961, trinta países assinaram um Acordo de Curto Prazo sobre o Algodão,

no qual haveria uma cota em volume por exportação de têxteis de algodão (produtos

44 As principais cadeias globais serão analisadas na próxima seção.

46

contendo 50% ou mais de algodão por peso). Este acordo foi seguido pelo Acordo de

Longo Prazo sobre o Algodão (1962 – 1973).

À medida que os países exportadores atingiam o limite quantitativo de suas

cotas, começaram a procurar novas maneiras de aumentarem sua participação no

mercado através da produção de fibras sintéticas. Por isso, alegando procurar atender

aos interesses da indústria e dos trabalhadores, os países desenvolvidos procuraram um

novo acordo que abrangesse uma maior gama de produtos têxteis.

Em 1974 foi assinado o acordo Multifibras que objetivava, principalmente, a

contenção de exportações, através do estabelecimento de cotas e tarifas. Neste acordo,

predominavam as negociações bilaterais e os países em desenvolvimento foram os mais

prejudicados, pois, além das restrições quantitativas, era permitido que os países

desenvolvidos adotassem certas medidas de caráter extraordinário para defender os

produtos nacionais (Prochnik, 2003). Em 1995, os Estados Unidos negociou 750 cotas

restritivas com quarenta países exportadores, incluindo a China e o Japão. Centenas de

categorias de produtos foram estabelecidas nas quais cotas (em unidades físicas) e taxas

de crescimento anuais foram determinadas individualmente (Chiron, 2004).

No entanto, em 1994, o Acordo sobre Têxteis e Vestuário (ATV) nasce como

resultado de oito anos de negociações (1988 – 1994), na Rodada do Uruguai. O novo

ATV tem o intuito de liberalizar o comércio deste setor em dez anos, entre 1995 e

janeiro de 2005. Neste período, as regras do antigo Acordo Multifibras foram

gradualmente desmanteladas, eliminando-se as restrições quantitativas impostas aos

produtos. O ATV reduz, gradualmente, a quantidade de produtos que estão sujeitos às

restrições e aumenta o tamanho das cotas de importações. Com isso, os produtos,

gradativamente, deixam de ser governados pelo ATV e passam a submeter-se às regras

da OMC (Prochnik, 2003).

A tabela III.4 resume as quatro fases deste processo: Tabela III.4 – Percentagem mínima do volume de importações de cada país, em relação à 1990, que

deve ter cota removida

Data inicial

% do volume físico de

comércio de cada país,

em relação a 1990, cuja

cota deve ser removida

% cumulativa do volume

físico de comércio de

cada país, em relação a

1990, cuja cota deve ser

removida

Fase 1 01/01/1995 16% 16%

Fase 2 01/01/1998 17% 33%

47

Fase 3 01/01/2002 18% 51%

Fase 4 01/01/2005 Restrições eliminadas 100% Fonte: Chiron, 2004.

No entanto, mesmo no período pós-2005, espera-se que existam limites para a

liberalização total do comércio45. Estes limites podem ser agrupados em quatro grupos

(Chiron, 2004):

I) Salva-Guardas genéricas dentre das regulações da OMC: Sob o artigo XIX

do GATT, um membro da OMC pode restringir importações por um período

de até oito anos para proteger uma específica indústria doméstica caso um

aumento das importações “cause sérios danos à indústria”.

II) Permanência do velho regime para não-membros da OMC: Mesmo após

2005, países exportadores não-membros da OMC ainda terão cotas sobre

suas exportações de têxteis e confeccionados, definidos por acordos

bilaterais.

III) Salva-Guardas específicas negociadas com a China: Apontada como a

principal beneficiada da liberação comercial de têxtil e confeccionados, a

China é vista como a maior ameaça ao emprego nos Estados Unidos,

segundo o Instituto Americano de Fabricantes Têxteis (IAFT) e outras

organizações. De acordo com o IAFT, num estudo focado sobre a China,

durante os seis primeiros meses de 2003 (3ª fase), a malharia chinesa

exportada para os Estados Unidos cresceu 22%; no mesmo período, a

exportação de luvas da China para os Estados Unidos triplicou, e a

exportação de roupa de dormir e vestidos mais que quadruplicou.

Dessa forma, até 2013 o comércio com a China de têxteis e confeccionados

será sujeito a regras de limites e salva-guardas específicas.

IV) Continuação de tarifas preferenciais nos acordos de comércio regionais

(como o NAFTA e a União Européia): Após 2005, espera-se que tarifas

especiais tome o lugar das cotas por volume como fator determinante do

comércio de têxteis e confecções.

Segundo Prochnik (2003, p.9), “também existe um receio de que as quotas

possam vir a ser substituídas, nos países desenvolvidos, por outros tipos de barreiras não

45 Ver também: Abernathy, Dunlop, Hammond & Weil (1999, 2004) e Abernathy, Volpe & Weil (2004).

48

tarifárias. Entre estes, são usualmente mencionadas as mudanças nas regras de origem,

investigações antidumping (o número de investigações vem crescendo rapidamente) e

medidas que, em princípio, deveriam ter como objetivo a proteção do meio-ambiente e

os padrões de trabalho”.

Nesse cenário, parece pouco provável que o Brasil encontre um lugar de

destaque nesses mercados. Uma vez que o comércio internacional é muito assimétrico, e

os acordos parecem ser essenciais para assegurar a continuidade das exportações dos

grandes grupos, tais acordos poderiam beneficiar as empresas mais competitivas caso

elas protegessem os mercados externos contra uma “invasão asiática”. O aprimoramento

da qualidade, produtividade e inovatividade (produtos e processos) são fatores

determinantes para uma política de competitividade para a busca do verdadeiro mercado

potencial do Brasil: o interno e o regional (Mercosul, principalmente). E a abordagem

de arranjos produtivos locais parece essencial para a busca desses fatores,

principalmente em relação à inovatividade, que depende, além dos fatores políticos,

também de especificidades particulares locais que estes arranjos façam parte.

4) A nova organização da indústria têxtil-confecções nos países desenvolvidos: as

cadeias produtivas globais

A indústria de confecções tem sido uma das mais profundamente afetadas pela

difusão das tecnologias de base microeletrônica e pelo processo de globalização a ela

associado. Nos últimos 20 anos, tais tecnologias permitiram a reorganização da

produção e distribuição de confecções em escala mundial de maneira a alterar

significativamente o padrão de concorrência no setor. As taxas de crescimento das

exportações de confecções têm se situado, nas últimas duas décadas, acima das taxas de

crescimento do comércio mundial como um todo.

Esta reorganização da produção em escala global tem significado, de fato, que

grandes distribuidores de confecções nos países mais avançados (lojas de departamento

e alguns supermercados, como o Wal-Mart, K-Mart e Sears) têm constituído e

coordenado cadeias de commodities às quais empresas – particularmente MPEs –

organizadas em arranjos produtivos em diferentes países do Sudeste Asiático, Leste

Europeu e América Central têm se integrado. Tal integração tem se realizado de forma

tal que as atividades de maior agregação de valor (design, inovação, etc.) tem se

mantido nos países centrais, restando às MPEs dos países em desenvolvimento um

49

papel de produção com baixo valor agregado e pequena geração de renda local (Peixoto

& Cassiolato, 2004). A Benetton foi provavelmente a primeira empresa cujo

funcionamento ilustrou essa nova dinâmica.

As empresas do setor de confecções nos países desenvolvidos foram

gradualmente se desfazendo das operações de menor valor agregado, mais

especificamente as atividades de montagem, as quais sendo realocadas em países

subdesenvolvidos. Passaram, então, a se concentrar nas atividades de marketing, design

e de desenvolvimento dos produtos.

Nesse sentido, observa-se uma clara tendências das grandes empresas de

abandonarem a produção de commodities e, mantendo a liderança tecnológica e/ou

mercadológica, passarem a organizações de cadeias produtivas (globais) através da

terceirização da produção.

Para muitos países subdesenvolvidos, a entrada no mercado internacional vem

sendo feita através da indústria têxtil-confecções. Isto se aplica em especial ao caso dos

países asiáticos, que a iniciaram dentro de uma estratégia essencialmente manufatureira,

passando, posteriormente, a dominar determinadas etapas do processo produtivo, de

design e marketing. No entanto, este tipo de estratégia de aprimoramento na posição de

mercado está extremamente dependente da demanda, pois, esta cadeia produtiva passou

a ser comandada pelos compradores. Dessa forma, uma empresa (ou grupo de empresas)

que ocupe posição estratégica na cadeia produtiva, estabelece como deverão se

comportar as demais participantes da cadeia e que resultados poderão almejar.

Por isso, a abordagem de cadeias produtivas globais se refere a um tipo de

organização voltada a atender especificidades/características dos mercados

consumidores dos países desenvolvidos, não estando preocupada com o real

aprimoramento da produção nos países subdesenvolvidos. As cadeias globais atendem,

basicamente, aos países do Norte, ou seja, atendem às camadas de renda média e alta

desses países. A maior camada da demanda, que se situa nos países subdesenvolvidos e,

conseqüentemente, possuem rendas mais baixas, estão fora desta lógica produtiva. Por

isso, a inserção nestas cadeias de produção e os mecanismos de aprimoramento

sugeridos no seu âmbito não atende às reais necessidades dos países subdesenvolvidos,

pelo contrário.

Neste sentido, esta abordagem pode ser utilizada, também, como uma forma de

interpretar o próprio movimento da globalização, relacionado à estrutura de poder

mundial no sentido de uma “triadização” em relação ao mercado global.

50

Vejamos em seguida os principais modelos de organização de empresas que

exercem o controle de cadeias produtivas na indústria de confecções.

4.1) As cadeias de commodities/valores46

Uma cadeia de commodities/valores se caracteriza como uma seqüência de

atividades requeridas para trazer um produto (ou serviço) desde sua concepção até o

consumidor final, contando com uma organização produtiva onde há uma típica divisão

(internacional) do trabalho nas diferentes etapas produtivas. As etapas referentes,

principalmente, à montagem - intensiva em mão-de-obra mais barata -, estão designadas

aos países periféricos, enquanto as atividades que são responsáveis por maior agregação

de valor - atividades envolvidas, principalmente, em design, produção e marketing - se

concentram nos países centrais.

Esta divisão internacional do trabalho “é um processo cujo resultado é a divisão

territorial do trabalho” (Santos, 2004, p.132), que “cria uma hierarquia entre lugares e,

segundo a sua distribuição espacial, redefine a capacidade de agir de pessoas, firmas e

instituições” (Santos, 2004, p.135). Nesse contexto, as “vantagens comparativas” da

típica divisão do trabalho não se dão apenas em relação aos recursos disponíveis, social

e geograficamente, como matérias-primas específicas e habilidade da mão-de-obra, mas,

principalmente, em relação aos custos desta mão-de-obra e capacidade tecnológica de

diferentes regiões e países. Ou seja, dependendo da cadeia considerada, determinados

segmentos do processo produtivo estarão em melhores condições de definir a dinâmica

de funcionamento da própria cadeia e mesmo suas futuras trajetórias de

desenvolvimento (Rochlin, 2004), como ocorre na cadeia produtiva global de

confecções.

Para Gereffi (1999, 2002), no capitalismo global a “internacionalização” se

refere ao espalhamento geográfico das atividades econômicas além das fronteiras

nacionais. Já a “globalização”, implica numa integração funcional entre atividades

dispersas internacionalmente. O funcionamento das cadeias produtivas globais, na sua

visão, atende a esta lógica, sem que alguma consideração quanto às diferenças

existentes os países seja considerada. Pelo contrário, para ele, a participação nesta

46 Abordarei, nesta seção, as cadeias de commodities e valores como sinônimas, baseadas, principalmente, nos trabalhos de Gereffi (1999, 2002) e Gereffi & Memedovic (2003), que se tornaram a referência

51

configuração não só se torna desejável como necessária para o aprimoramento industrial

das empresas nos países periféricos “because it puts firms and economies on potentially

dynamic learning curves” (Gereffi, 1999, p.39).

No entanto, como já ressaltado anteriormente, configura-se uma situação que é

permitida à grande empresa utilizar técnicas e capitais do centro, e mão-de-obra (e não

raras vezes capitais) da periferia, reforçando tanto a tendência à internacionalização das

atividades econômicas dentro do sistema capitalista quanto o aumento da dependência

dos países periféricos em relação aos centrais. Esta configuração não permitirá aos

países subdesenvolvidos aprender para se desenvolverem como os países

desenvolvidos, como acredita Gereffi, mas sim exercerem um papel de submissão

participando de uma concorrência predatória.

Para ele, a configuração da globalização fora promovida por empresas

industriais e comerciais que estabeleceram dois tipos básicos de estruturação das

cadeias econômicas internacionais: as lideradas por produtores (Producer-driven

commodity chains) e aquelas lideradas por compradores (Buyer-driven commodity

chains).

As primeiras encontram-se as cadeias onde os setores fornecedores dos produtos

assumem papel preponderante na dinâmica das relações intra-setoriais. São aquelas em

que grandes firmas, em geral transnacionais, exercem o controle central da cadeia

produtiva (incluindo as ligações para trás e para frente da cadeia produtiva). São

características de indústrias intensivas em capital e tecnologia como a automobilística,

aérea, computadores, semicondutores e maquinário pesado.

Por outro lado, o segundo tipo se refere àquelas indústrias nas quais grandes

empresas de varejo, de empresas que comercializam, mas não produzem, produtos de

marcas conhecidas e de grandes trading companies exercem o controle da rede global

de fornecimento, descentralizada numa variedade de países exportadores, tipicamente

subdesenvolvidos.

De acordo com Rochlin (2004), nesse tipo de cadeia as grandes empresas de

varejo e as empresas que comercializam marcas consagradas ocupam-se das etapas da

produção relativas às atividades de design, marketing e varejo, encomendando o

fornecimento do produto final, segundo especificações estritas, às unidades localizadas

em regiões onde os custos de produção são relativamente mais baixos. Não por acaso,

principal para esta análise. No entanto, retomarei esta discussão no item 5 deste capítulo apresentando uma outra perspectiva sobre a questão.

52

essas unidades concentram as etapas da produção mais intensivas no uso do fator

trabalho, como a costura das peças e a aplicação de acessórios, que representam as

etapas de menor valor agregado.

Uma vez que tais unidades utilizam intensivamente o fator trabalho – em geral

pouco qualificado – nas confecções, as companias transnacionais optaram por não

estimular as vantagens potenciais específicas das firmas beneficiadas pelo investimento

direto estrangeiro em cada localidade. Ao invés disso, elas priorizaram outras formas de

atividades transnacionais, como a importação de artigos de vestuário prontos, licenças

para utilização de marcas registradas e sub-contratação internacional de operações de

montagem. Estas várias atividades levaram ao surgimento de diversas empresas

controladoras (lead firms) nas cadeias de commodities lideradas por compradores.

O que, de fato, distingue as empresas controladoras (lead firms) das demais

(non-lead firms) é que elas detêm o controle do acesso aos recursos (design, novas

tecnologias, marcas consagradas ou controle sobre o mercado consumidor) que geram

maior lucratividade.

Existem, basicamente, três tipos de empresas controladoras na cadeia de

commodities de confecções: i) Grandes empresas de varejo (retailers); ii) Empresas que

comercializam, mas não produzem, marcas conhecidas (marketers); e iii) Grandes

empresas produtoras que exercem o controle da rede global de fornecimento (branded

manufactures). Como a produção no segmento de confecções se tornou global (no

sentido empregado por Gereffi, principalmente) e a competição entre estas empresas

tem se intensificado, cada uma delas vem desenvolvendo, ao longo do tempo, uma

capacidade de organizar os recursos globalmente.

I) Varejistas (Retailers): Estas grandes empresas de varejo estão ocupando espaços cada

vez mais significativos na comercialização de confecções. Elas eram, até pouco tempo,

os grandes fregueses das confecções nos seus países. No entanto, elas vêm se tornando,

cada vez mais, suas principais concorrentes, principalmente em função da demanda do

consumidor por melhores preços, recorrendo, dessa forma, à importação. A simples

comercialização através de grandes redes de distribuição já cria um canal alternativo de

comercialização que privilegia empresas de confecções que adotem estratégias de

padronização, alta escala e preços baixos. Nesse sentido, sua capacidade competitiva se

concentra nesses quesitos (preços baixos, grandes quantidades e produtos

padronizados). Apesar disso, sua lucratividade é bastante alta.

53

Em geral, tais empresas recorrem a mecanismos de sub-contratação onde

fornecem a matéria-prima para as montadoras (assembly), ou ainda fazendo

encomendas do tipo full-package47. São exemplos: Wal-Mart, K-Mart, Sears entre

outros.

II) Branded Marketers: São empresas que comercializam, mas não produzem, produtos

de marcas conhecidas. Estes ‘fabricantes sem fábricas’ incluem empresas como Nike,

Reebok, Calvin Klein, entre outras. Este tipo de atividade vem se difundindo entre estas

grandes empresas desde meados dos anos 1970 como uma reação à competição dos

países produtores de confecção em todo o mundo.

Como as grandes empresas varejistas, estas empresas que comercializam marcas

consagradas ocupam-se das etapas da produção relativas às atividades de design e

marketing, encomendando o fornecimento do produto final, segundo especificações

estritas, às unidades localizadas em regiões onde os custos de produção são mais baixos.

No entanto, sua capacidade competitiva não se dá via preços e sim pela qualidade e

marca.

III) Branded Manufactures: Estas grandes empresas ‘produtoras’ de grandes marcas se

caracterizam, principalmente, por exercer o controle da rede global de fornecimento.

Uma vez que a produção estrangeira (em relação às grandes empresas

localizadas em países desenvolvidos) é capaz de prover o mercado consumidor de forma

similar – em relação à quantidade, qualidade e serviço – às empresas domésticas (países

desenvolvidos), mas a preços mais baixos, os grandes produtores se viram numa

posição difícil. Dessa forma, diferentes empresas estão respondendo de diferentes

maneiras. As pequenas empresas americanas e européias, percebendo a impossibilidade

de competir com os custos estrangeiros mais baixos, passaram a importar desses países.

As grandes empresas, no entanto, não mais se preocupam com a possibilidade de se

utilizarem da produção estrangeira e sim como organizá-la e controlá-la. Estas firmas

fornecem insumos intermediários como peças cortadas de fábrica, linhas, botões e

outros ornamentos, para grandes cadeias de fornecedores estrangeiros, em geral países

com proximidade geográfica que gozam de acordos comerciais favoráveis, permitindo

47 Estes tipos de sistemas produtivos serão apresentados na próxima seção.

54

que o produto final seja reimportado com tarifa incidente somente sobre o valor

agregado relativo ao trabalho.

É necessário ressaltar que, cada vez mais, estas empresas estão deixando de

produzir nos seus países de origem, não raro transferindo quase toda a planta produtiva

para outros países48. Dessa maneira, pode-se prever que, se este tipo de relação

internacional continuar, as branded manufactures deixarão de produzir o que ainda resta

para se tornarem branded marketers de uma marca única.

As possibilidades surgidas deste novo quadro, de se encomendar a fabricação de

produtos sob estrita especificação do comprador e de se realizar etapas distintas da

produção em diferentes países, sob a coordenação das empresas transnacionais, tem

implicado no acirramento da concorrência entre grandes varejistas e fabricantes

tradicionais, americanos e europeus. Tanto os varejistas têm promovido a criação de

redes globais de fornecedores, para os quais indicam as especificações relativas ao

design do produto, recebendo o produto final de acordo com estas instruções, como os

grandes fabricantes de marcas próprias têm estabelecido redes regionais de fabricação

que incluem a indicação não só das especificações do produto mas também o

fornecimento dos próprios insumos envolvidos na produção. Junto a isso, verifica-se a

criação de parcerias estratégicas com empresas dos países subdesenvolvidos e a

constituição de redes de sub-contratação baseadas nesses mesmos países. Enquanto os

varejistas intensificam suas estratégias de atuação, internacionalizando suas fontes de

fornecimento, e deslocando com isso a oferta de empresas tradicionais, os fabricantes

americanos e europeus buscam se adaptar a nova configuração do mercado, utilizando-

se de estratégias que contemplam o estabelecimento de associações com fabricantes dos

países subdesenvolvidos ou a abertura de suas próprias unidades produtoras nesses

países (Rochlin, 2004).

Este sistema de sub-contratação internacional existe em cada região do mundo.

Em relação aos Estados Unidos, este tipo de relação se dá, predominantemente, com o

México, América central e Caribe; na Europa, os principais fornecedores estão no norte

48 O exemplo italiano é indicativo desta tendência: “According to empirical evidence and personal interviews, Italian manufactures tend to keep at home the global study, product development, organization and commercialization phases, while relocating the productive phases in low labour cost countries. Progressively, companies tend to maintain in Italy only the productive structures that are capable of responding to small runs and emergency orders in very brief delays or else in upmarket and niche production, requiring specific expertise. From the cost point of view, relocation is more convenient the bigger and more standardized are the amounts of products required. In this sense, the bigger the dimension of the firm, the bigger the frequency of relocation should tend to be”(Graziani, 1998).

55

da África e Europa Oriental; e na Ásia, fabricantes como Honk Kong subcontratam da

China e outros países de salários mais baixos.

Nesse sentido, a indústria de confecção é ideal para se analisar a dinâmica destas

cadeias lideradas por compradores, principalmente quando se leva em consideração que

estas cadeias são caracterizadas pela alta competitividade e pelo sistema de produção

descentralizado com baixas barreiras à entrada, além do protecionismo ainda existente

por parte dos paises desenvolvidos no setor. Dessa forma, convém analisar como se dá o

sistema de produção internacional com seus mecanismos de sub-contratação e os

mecanismos de aprimoramento (upgrading) sugerido nesta abordagem.

4.2) Mecanismos de sub-contratação

A liberação do comércio internacional ao longo dos últimos anos, aliada ao

grande desenvolvimento dos meios de comunicação e informação49, possibilitaram às

grandes empresas transnacionais reestruturarem suas estratégias produtivas em relação à

sua demanda por confecções. Por um lado, existe a contratação da montagem do

produto final onde etapas intermediárias como costura das peças, na qual se utilizam

insumos e especificações técnicas que são fornecidas pelas empresas transacionas

contratantes. Por outro lado, existe a aquisição do produto já acabado, ainda segundo

especificações do comprador, no entanto, não havendo envolvimento deste no processo

de confecção. Neste caso, o comprador não fornece insumos e componentes para a

realização do processo de montagem, sendo de responsabilidade do fabricante a entrega

do produto final acabado. Em ambos os casos, as etapas de criação, design e marketing

49 A modernização das manufaturas na qual uma variedade de avanços tecnológicos que estimularam as empresas a produzirem uma maior diversidade de produtos mais rapidamente e eficientemente tem recebido bastante atenção nos últimos anos. Segundo Hwang & Weil (1998, p.4), “the adoption of advanced manufacturing practices by apparel business units occurs in the context of change in the basic relationship between apparel suppliers and their retail customers. Retail practice is being transformed by the incorporation of information processing technologies, major investments in automated distribution centers, and the creation of new pricing, inventory, and logistic strategies which draw on these investments. Innovative retailers who have made these investments attempt to reduce their exposure to demand risk by adjusting the supply of products at retail outlets to match consumer demand on the basis of daily, point of sale information flowing from bar-code scanners within individual stores. These retailers consolidate this data and use it to generate orders from suppliers based on actual sales. As a result, they require that suppliers compete not only on the basis of price, but on their ability to meet “rapid replenishment” requirements (i.e. a reduced amount of time from receipt of the retail order to arrival of the ordered goods at the retail distribution center), and provide associated services required to move supplier shipments rapidly through retail distribution centers and to individual stores for stocking”. Apesar de reconhecer a importância desta questão na dinâmica produtiva global na indústria de confecções, as especificidades da mesma não serão amplamente discutidas neste trabalho.

56

(atividades de maior valor agregado) permanecem sob a responsabilidade das grandes

empresas contratantes.

Existem, basicamente, três mecanismos de sub-contratação internacional:

I) Montagem (Assembly): Forma de sub-contratação industrial na qual as

plantas produtivas de confecção se utilizam de insumos importados para

montagem; comum em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs).

II) Fornecedores de Pacote Completo (Full-Package ou OEM – Original

Equipment Manufacturing): Forma de sub-contratação comercial na qual a

empresa fornecedora faz o produto de acordo com o design especificado pelo

comprador; o produto é vendido com a marca do comprador; o fornecedor e

o comprador são empresas separadas; e o comprador não tem controle sob a

distribuição.

III) Fabricante Original de Marca Própria (OBM – Original Brandname

Manufacturing): Forma de aprimoramento na qual o fabricante passa de

‘fornecedor de pacote completo’ para desenvolver seu próprio design e

vender os produtos com marca própria.

Na cadeia de commodities de confecções tanto as grandes empresas de varejo

quanto aquelas que comercializam, mas não produzem, grandes marcas, em geral,

contam com a cadeia de fornecimento do tipo ‘Pacote Completo’. Por outro lado, as

grandes produtoras de grandes marcas contam com as cadeias produtivas focadas na

montagem utilizando insumos importados. Segundo Gereffi et al.(2003), a cadeia de

fornecimento do tipo ‘Pacote Completo’ é geralmente global, enquanto a cadeia

produtiva das produtoras de grandes marcas são predominantemente regionais.

Nesse sentido, as empresas transnacionais, a partir da redução das barreiras

tarifárias dos países desenvolvidos (inicialmente por força do Acordo Internacional

Multifibras – MFA)50, aliadas à formação de grandes blocos regionais, adotando a

estratégia de coordenar a formação de redes globais de produção, passaram a buscar na

Ásia, México, Europa Oriental, norte da África e Caribe outras fontes de fornecimento.

De acordo com Gorini (2000, p.20), “cabe destacar a forma de atuação de alguns

blocos de comércio. Dentro do NAFTA, por exemplo, os Estados Unidos exportam

50 O item 3.1 deste capítulo tratou da evolução das barreiras tarifárias, bem como a perspectiva do fim das mesmas a partir de janeiro de 2005.

57

tecidos pré-cortados e outras matérias-prima para o México, que fica responsável pela

confecção e re-exportação para o mercado norte-americano, em condições de acesso

privilegiadas. Não obstante, as matérias-prima utilizadas devem ser obrigatoriamente

provenientes do NAFTA. Nesses mesmos moldes, os países do Caribe, sob o

“Caribbean Basin Economic Recovery Act” (CBERA), também têm vantagens de

acesso ao mercado norte-americano, com a presença de grandes confecções, bastante

modernas, especializadas em fornecer para o mercado norte-americano. As ZPEs

caribenhas desenvolveram nichos de exportação altamente especializados, tais como

roupas íntimas, cabendo destacar que República Dominicana, Costa Rica, Honduras e

El Salvador fornecem mais de 40% de todas as importações norte-americanas desse

segmento. Assim como o NAFTA, o CBERA e o mercado dos Estados Unidos, os

países da Europa Central e Oriental, incluindo a Turquia, são outro exemplo de acesso

privilegiado ao mercado europeu, através do chamado “Outward Processing Trade”

(OPT), que consiste na exportação de tecidos para os países vizinhos, de mão-de-obra

barata, para serem confeccionados e re-exportados para a União Européia, com tarifas

(quando aplicáveis) somente sobre o valor adicionado”.

Nesse sentido, fica claro que “a inserção desses países no comércio internacional

faz crer que os padrões de organização e produção adotados implicam na promoção de

determinados atributos produtivos (...) que possibilitaram uma maior ou menor

capacitação das empresas locais para o atendimento da demanda das empresas

transnacionais” (Rochlin, 2004), ou seja, é a combinação dos interesses dos grandes

compradores (big buyers) com as potencialidades colocadas por cada um dos modelos

de organização produtiva que as atendem que vai condicionar a promoção de uma dada

inserção competitiva das indústrias desses novos países competidores.

Em outras palavras, a própria dinâmica competitiva desses países depende, em

última instância, da dinâmica inovativa, organizacional, entre outras, das grandes

empresas dos países desenvolvidos.

4.3) Aprimoramento (Upgrading) Industrial na cadeia de

commodities/valores de confecções a partir da perspectiva das cadeias produtivas

globais: o caso dos tigres asiáticos

A idéia de “aprimoramento industrial” é associada à posição de que existe uma

trajetória através da qual empresas evoluem para etapas mais sofisticadas da cadeia

58

produtiva. O processo no qual isto ocorre se dá através do aumento na capacidade de

uma firma (ou uma economia) de evoluir para nichos de mercado mais lucrativos e/ou

mais intensivos tecnologicamente, em detrimento do uso intensivo do fator trabalho

para nichos econômicos intensivos em capital e maiores habilidades (capital and skill).

Em outras palavras, é a evolução dentro da cadeia produtiva para etapas responsáveis

por maior agregação de valor.

Segundo esta perspectiva, a participação nas cadeias de commodities global é

uma condição necessária para o aprimoramento industrial. Ainda que as condições

pareçam restritivas e impeditivas para uma evolução significativa, as empresas que

adotarem uma postura de aprendizagem, e conseguirem aproveitar os espaços que a

dinâmica das cadeias produtivas oferecem, serão capazes de tornar este progresso

possível51.

No caso das empresas asiáticas, o aprimoramento envolveu um extensivo

processo de aprendizagem organizacional que se deu na própria estrutura da cadeia

produtiva. Inicialmente, estas empresas eram fornecedoras OEM das grandes marcas

mundiais. Baseadas num forte processo de aprendizagem sobre as preferências de

clientes estrangeiros, assim como sobre os critérios de estabelecimento dos padrões

internacionais de preços, qualidade e entrega, e a preocupação com o desenvolvimento

de máquinas e equipamentos, algumas empresas passaram de fornecedoras de “pacote

completo” (OEM) para fabricante de seu próprio design e marca. Em Honk Kong, as

empresas de vestuário têm sido as de maior sucesso nesta transição. A cadeia de roupas

femininas Episode, controlada pelo Honk Kong’s Fang Brothers Group, um dos maiores

fornecedores OEM para a Liz Clairbone nos anos 1970 e 1980, tem lojas em 26 países,

sendo apenas um terço delas na Ásia. A Giordano, marca de roupas mais famosa de

Honk Kong, adicionou à sua base inicial de fábricas de vestuário 200 lojas em Honk

Kong e China, e mais 300 lojas de varejo espalhadas pelo sul da Ásia e Coréia.

Recentemente, entrou nos Estados Unidos através da aquisição das marcas Tommy

Hilfiger e Liz Clayborne.

51 Adotar uma postura de aprendizagem, nesta perspectiva, implicitamente, significa adotar uma postura de submissão à organização produtiva comandada pelos países centrais. A idéia que se tem aqui é que a não adoção desta postura significa um "estado estacionário" de subdesenvolvimento. Como veremos nas próximas linhas, o caso asiático se caracterizou mais por uma postura da adoção de políticas de desenvolvimento do que por uma "aprendizagem passiva" nas cadeias de commodities.

59

Para Gereffi (1999), o sucesso do caso asiático se deu porque as empresas se

aproveitaram do fluxo de informações associados às relações com os compradores, para

ele, fundamentais neste processo:

“At the organization level, industrial upgrading in East Asia’s apparel

commodity chain was produced by the information flows and learning

potential associated with the buyer-seller links established by different

types of lead firms (retailers, marketers and manufactures), and also

by a distinctive pattern of organization sucession among these lead

firms, who placed varied kinds of demands on their overseas

suppliers”(Gereffi, 1999, p.52).

Fica claro, dessa forma, que o aprimoramento destas firmas está, segundo esta

abordagem, fortemente relacionado à dinâmica dos grandes compradores quando estes

passam a demandar produtos mais sofisticados, de melhor qualidade52. É o típico

cenário dos países subdesenvolvidos que dependem da dinâmica dos desenvolvidos,

mais especificamente, das grandes empresas localizadas naqueles países.

Entretanto, algumas observações merecem destaque. Em primeiro lugar, o

desenvolvimento de equipamentos, como ocorreu nas empresas asiáticas, é uma parte

indissociável do processo de aprendizagem sobre uma determinada indústria; ele

representa o real entendimento e o domínio das tecnologias de produção de um

determinado produto. Dificilmente, um país poderá almejar uma posição forte na

indústria têxtil se, em algum estágio de sua trajetória, não dominar os conhecimentos

sobre a produção de máquinas e equipamentos. Em segundo lugar, a forma na qual

ocorreu o desenvolvimento na indústria têxtil nos países asiáticos foi, em grande parte,

justificado pela necessidade de contornar uma série de restrições provenientes das cotas

impostas pelo Acordo Multifibras. Por isso, acredito que o asiático seja mais um caso de

implantação de políticas de desenvolvimento com objetivos estruturados de

concorrência do que um caso de aprimoramento proveniente da sinergia existente

daquelas empresas com as grandes dos países desenvolvidos.

Nesse sentido, fica claro que estratégias de aprimoramento mais “ambiciosas”

podem ir de encontro aos interesses dos grandes compradores. Uma das grandes

52 “This sucession of foreign buyers thus permitted manufactures to upgrade their facilities as they met buyer demands for more sophisticated products” (Gereffi, 1999, p.39).

60

“fragilidades” desta abordagem ocorre, principalmente, ao não se levar em conta a

importância de políticas de desenvolvimento e das estruturas de concorrência, tratando,

em última instância, a possibilidade ou não de aprimoramento de acordo com os

interesses e dinâmica das grandes empresas líderes. Por isso, diferentes abordagens a

respeito das cadeias produtivas de commodities/valores, que apontem os limites ao

aprimoramento, devem ser discutidas.

5) Diferentes abordagens da cadeia de valores e os limites ao aprimoramento

industrial

Até aqui procurei tratar cadeia de commodities e cadeia de valores como

sinônimos, baseada na análise de Gereffi (1999, 2002), que se tornou a principal

referência nesta literatura. No entanto, algumas limitações vêm sendo observadas a

respeito desta abordagem.

Schmitz (2003) destaca que o termo cadeia de commodities é “traiçoeiro”. O

problema com o termo é que “commodity” tende a ser associada a produtos

estandardizados, produzidos em larga escala, enquanto a maior parte das pesquisas se

volta para a fabricação e comercialização de produtos diferenciados - que é a principal

característica na cadeia têxtil-confecções na busca de agregação de valor. Nesse sentido,

o termo cadeia de valores tem a vantagem de chamar a atenção para a questão de quem

adiciona valor onde ao longo da cadeia.

A abordagem de Gereffi (1994, 1999) procura ressaltar que a analise sobre

cadeias globais resgata a dimensão internacional de cadeias produtivas e os modos de

coordenação ao longo destas cadeias como um elemento chave na busca de vantagens

competitivas. Além disso, considera que a inserção em uma cadeia oferece aos

produtores locais a possibilidade de embarcar numa trajetória progressiva de

capacitação (aprimoramento) através dos processos de aprendizado e novos

conhecimentos adquiridos a partir da interação com compradores globais.

No entanto, Vargas (2002) destaca que na medida em que a literatura sobre

aglomerações industriais passou a avançar na discussão sobre o impacto de vínculos

externos no processo de aprimoramento de produtores locais nos países

subdesenvolvidos, seus pontos de divergência com relação à abordagem sobre cadeias

globais de produção foram explicitados.

61

Em primeiro lugar, o enfoque sobre cadeias globais de Gereffi ainda apresenta

um alcance limitado na análise sobre o papel de atores locais nas estruturas de

coordenação e estratégias de capacitação em arranjos e sistemas produtivos. Dessa

forma, a ênfase nas formas de coordenação que operam ao longo da cadeia produtiva

global tende a subestimar o papel de outros mecanismos de coordenação tais como

vínculos locais de cooperação e formas de regulação governamental em âmbito nacional

ou internacional.

Em segundo lugar, apesar da inserção em cadeias globais haver facilitado a

capacitação de produtores locais nos países subdesenvolvidos em esferas associadas à

produção, o mesmo não pode ser dito quanto à capacitação desses produtores em esferas

que se estendem além da produção, ou seja, a inserção em cadeias globais pode

dificultar o acesso de produtores locais a etapas da cadeia produtiva que incorporam

maior valor agregado, tais como atividades relacionadas à comercialização e design53.

Por último, Mytelka e Farenelli (2003, p.254) destacam que “where competition

is based on price and wage reductions rather than on quality, technological upgrading

and product innovation, cooperation relationships are rended more difficult”. Em

outras palavras, uma vez que o que realmente interessa aos países centrais quando

transferem a etapa de montagem de sua produção para os países periféricos é o custo da

mão-de-obra, pelo lado dos países periféricos, basear sua capacidade competitiva

(espúria) no baixo custo desta mão-de-obra é estar, quase que conscientemente, se

submetendo e corroborando um contínuo processo de dependência.

Dessa forma, entendendo o aprimoramento enquanto o processo de capacitação

produtiva e inovativa das empresas que integram arranjos e sistemas produtivos locais,

principalmente em países subdesenvolvidos, que resulta da necessidade de enfrentar

pressões competitivas, a inserção destes nestas cadeias globais deve ser feita (se feita)

levando-se em consideração estes limites em relação ao aprimoramento. Ou seja, antes

de fazer parte das cadeias globais, determinado arranjo deve explorar seu potencial de

aprimoramento baseadas na sinergia criada pelo mesmo e sua capacidade de ação

conjunta.

Nesse sentido, Prochnik (2003) chama a atenção para o fato de que o

aprimoramento não depende apenas do aprendizado e do espaço do produtor, de um

53 Esta dificuldade está relacionada aos limites impostos pelos países desenvolvidos ao aprimoramento das empresas localizadas nos países periféricos para se alcançar maior agregação de valor ao longo da cadeia.

62

lado, e do interesse do consumidor do outro. As regras norte-americanas de importação,

por exemplo, desincentivam a iniciativa de aprimoramento nas ZPE’s situadas em

países do Caribe, pois apenas componentes feitos nos EUA são isentos de tarifas,

quando o produto final é exportado de volta para aquele país.

Dessa forma, é relevante para a política comercial brasileira (em especial do

caso estudado no próximo capítulo) procurar evitar esta configuração geral, que

dificulta o aprimoramento de possíveis exportadores.

Schmitz (2003) destaca que melhores oportunidades podem existir em cadeias

de valores de alcance nacional ou em países vizinhos, uma vez que tais cadeias tendem

a ser menos dominadas por grandes compradores, a relação comprador x produtor tende

a ser mais igualitária e o tamanho dos pedidos tendem a ser menos “opressivos”,

abrindo espaço para a possibilidade de novas experiências.

6) O panorama nacional de confecções na década de 1990

A década de 1990 foi marcada por uma grande reestruturação produtiva na qual

as empresas optaram por estruturas desverticalizadas e terceirizadas. Além disso, o

baixo dinamismo da economia devido, principalmente, à estabilização decorrente da

aplicação do Plano Real, teve grande impacto na indústria têxtil-confecções no Brasil.

A indústria têxtil, incluindo fiação, tecelagem, malharia e acabamento, encolheu

em número de unidades industriais (declínio acumulado de 25% entre 1990 1999) e

empregos (declínio acumulado de 67% no mesmo período). Por outro lado, o número de

confecções aumentou em 13% (taxa acumulada), passando a gerar menos empregos

(declínio acumulado de 9% no período considerado). Apesar do aumento do número de

confecções, a baixa geração do número de empregos, característica marcante desta

década, contribuiu para o aumento da informalidade nas confecções.

Por outro lado, a produção têxtil cresceu moderadamente entre 1990 e 1999: a

produção de fios (em t) teve uma taxa acumulada de 10% nesse período, a de tecidos

planos acumulou 3% e a de malhas 30%. Já a de confeccionados, incluindo vestuário,

cresceu à taxa acumulada de 84% no mesmo período. O consumo também apresentou

uma significativa expansão na década, passando de 8,27 kg/habitante para 9,50

kg/habitante (Gorini, 2000).

Este fato pode ser compreendido, principalmente, pela substituição da produção

de tecidos planos pelos de malhas de algodão, cujos investimentos são mais baixos e o

63

produto em geral também é mais barato, estando mais acessível à nova parcela de

consumidores que o Plano Real (muitos temporariamente) incorporou ao mercado54.

Entretanto, o Brasil, apesar de grande produtor de confecções, como mostrado

na tabela III.1, tem uma participação muito pequena no processo de reestruturação da

indústria em nível internacional. Ao mesmo tempo em que o país ocupa o quinto lugar

no ranking mundial por volume de produção no segmento, sua participação nas

exportações mundiais de artigos de vestuário e confecção, além de inexpressivas, foi

declinante ao longo da década de 1990. Ela era de 0,2% em 1990 e caiu para 0,1% em

2001 (OMC, 2003), ainda que o segmento de confeccionado seja o que mais cresce em

termos de valor mundial exportado. Ademais, a participação do Brasil no comércio

mundial de têxteis se aproxima de 1%, sendo a parcela mais relevante das exportações

nacionais relacionadas ao segmento têxtil.

Nesse cenário, dois fatores merecem destaque. Em primeiro lugar, apesar do

declínio da participação das exportações mundiais de confeccionados brasileiro ao

longo da década, tanto a produção quanto o consumo por habitante cresceu no período.

Este fato se deve, principalmente, ao aumento relativo da renda da camada mais pobre

da população num primeiro momento, ou seja, por um aumento do mercado consumidor

(beneficiada também pelo barateamento dos produtos importados proveniente da

Ásia)55. Em segundo lugar, e como extensão do primeiro, é exatamente este mercado

consumidor representado por uma camada de renda mais baixa na população que é o

maior consumidor deste setor no Brasil. Em outras palavras, é o mercado interno – em

especial de renda mais baixa– que, historicamente, se caracteriza como o dinamizador

do setor têxtil-confecções no país.

6.1) A abertura comercial dos anos 1990

A indústria de confecções foi fortemente impactada pela abertura comercial do

início dos anos 1990.

A redução tarifária dos primeiros anos da década, aliada à sobrevalorização

cambial como processo de estabilização do Plano Real após 1994, produz uma sensível

54 Desde que o Real entrou em circulação, o setor têxtil elevou seus preços em apenas 12,72%, enquanto a inflação medida pelo IPC-Fipe, no período, acumulou uma alta de 161,48%. 55 Segundo a OECD (1983), o crescimento da renda per-capita tem efeito positivo sobre a demanda, embora sua “elasticidade-renda da demanda aparente”, a preços constantes, seja bem menor que a unidade.

64

redução nos preços relativos dos bens importados e, consequentemente, uma expressiva

expansão de sua participação no mercado nacional. O coeficiente de penetração das

importações do setor têxtil-vestuário no Brasil, por exemplo, que era de 1,7 em 1990,

cresce substancialmente ao longo da década, alcançando um pico de 14,8 em 1997,

caindo para 11,2 em 2002 (Castro, 2004). Segundo Gorini (2000), o setor têxtil no

Brasil historicamente desenvolveu-se através da internalização de todas as suas

atividades produtivas (tendo como foco um mercado praticamente imune a produtos

estrangeiros), com baixos índices de produtividade e baixos investimentos em

tecnologia de ponta (também em função da grande instabilidade macroeconômica da

década de 1980).

Dessa forma, somando-se ao grande aumento das importações, as elevadas taxas

de juros e o baixo crescimento da década, o setor se encontrou obrigado a fazer uma

profunda reestruturação. No segmento de confecções, as estratégias utilizadas foram,

principalmente, a redefinição das linhas de produtos e a ampliação da terceirização

como forma de redução de custos. Esta terceirização é, sem dúvida, concomitante ao

grande aumento da informalidade no segmento, que afeta negativamente a

competitividade no mesmo.

A partir de 1997, o segmento recupera uma trajetória de crescimento. As

exportações de confecções no Brasil entre 1997 e 2001 mais do que duplicaram em

volume, principalmente após 1999 com a desvalorização cambial de janeiro, e

cresceram cerca de 37% em valor.

Tabela III.5 – Brasil, Exportações de confecções por volume e valor (1997 – 2001)

1997 1998 1999 2000 2001

Volume (Ton ./Ano) 10.617 10.194 11.464 20.593 22.876

Valor em US$/mil (FOB) 199.594 178.199 166.835 273.928 273.521 Fonte: SECEX/IEMI Apud Abravest, 2003.

Em relação às importações do segmento no mesmo período, elas caíram para

menos da metade em volume e apresentaram uma redução de 58,3% em valor.

Tabela III.6 – Brasil, Importações de confecções por volume e valor (1997 – 2001)

1997 1998 1999 2000 2001

Volume (Ton ./Ano) 36.921 21.149 13.683 15.851 17.506

Valor em US$/mil (FOB) 369.580 301.812 160.180 140.801 153.933 Fonte: SECEX/IEMI Apud Abravest, 2003.

65

Dessa forma, o país saiu de um déficit comercial no segmento em 1997 de cerca

de US$ 170 milhões, para um superávit de aproximadamente US$ 120 milhões em

2001.

Com a abertura comercial, foram adotadas uma série de medidas defensivas e de

reestruturação industrial. Um fenômeno importante na dinâmica competitiva do setor foi

a relocalização da produção, com o direcionamento de investimentos para as regiões

Nordeste e Centro-Oeste, em busca de menores salários e incentivos fiscais estaduais

(Melo & Hansen, 2004).

Nesse sentido, a abertura comercial revelou que o Brasil, tomando como

referência os custos da mão-de-obra no Nordeste, é “competitivo”56 neste quesito em

relação aos grandes exportadores de confecção como México, Tailândia e Turquia57.

Contudo, sua maior distância relativa (quando se pensa no caso asiático) aos mercados

atendidos por aqueles países, os Estados Unidos no caso do México e a União Européia

nos demais, e, sobretudo, o nível mais elevado de barreiras tarifárias que ele enfrenta

nesses mercados, limitam sua capacidade de expandir suas exportações. Sua

possibilidade de ampliação das vendas de confeccionados para aqueles países está,

principalmente, em nichos de mercado de maior valor agregado nos quais o país possui

determinadas vantagens comparativas58, como na moda praia, ou mesmo jeans de

melhor qualidade.

6.2) Regime tecnológico

Após a abertura comercial, a indústria de confecções realizou um importante

esforço de atualização tecnológica que, ao lado do aumento das importações, apresentou

forte impacto sobre o nível de emprego na cadeia produtiva.

No setor de confecções, o parque industrial brasileiro contaria com cerca de 875

mil máquinas em 2003. Entre 2000 e 2002 foram adquiridas 230 mil máquinas, o que

56 Naturalmente que se trata de uma “competitividade espúria”, numa clara relação de poder centro x periferia. 57 O custo da mão-de-obra (dólar/hora) no setor de confecções em 2001 no nordeste brasileiro era de US$ 1,00, enquanto na Turquia, Tailândia e México estes custos eram, respectivamente, US$ 1,95, US$ 1,56 e US$ 1,50. No entanto, este custo na China, Índia e Indonésia era, respectivamente, US$ 0,52, US$ 0,50 e US$ 0,24. Por outro lado, no Sul do Brasil o custo da mão-de-obra era de US$ 2,40 (GHERZI Apud ABRAVEST, 2003). 58 Estas vantagens comparativas aqui referidas são aquelas vantagens “criadas” como resultado de uma dinâmica social específica de cada lugar (território). Milton Santos (2004) utiliza o termo espaço, como sinônimo de território, para se referir a “uma construção horizontal, uma situação única” (2004, p.103).

66

seria um investimento considerável, mesmo considerando que 165 mil delas tenham

sido descartadas, ainda que este descarte não signifique sua inutilização. A maioria dos

equipamentos acaba sendo revendida ao mercado informal. As máquinas que estão

sendo adquiridas pela indústria de confecção brasileira são, na sua maioria,

consideradas de 2ª geração, contando com acessórios auxiliares, como cortadores de

linha, motores de passo com velocidades e pontadas programáveis, posicionamento da

agulha, arremate automático e refiladores. Nas máquinas de 3ª geração, o processo de

costura é executado automaticamente, mas devido ao custo elevado, ainda não estão

sendo introduzidas massivamente59 (Melo & Hansen, 2004).

As inovações tecnológicas no setor concentram-se nas primeiras etapas, do

desenho ao corte, onde não há a necessidade de haver manuseio dos tecidos, com a

utilização de sistemas CAD (Computer Aided Design)/CAM (Computer Aided

Manufacturing) e dispositivos de controle numérico, o que possibilitou nesta fase da

confecção diminuir o tempo de produção e de desperdício de matéria-prima, além de

aumentar a flexibilidade produtiva. No entanto, a costura ainda é a fase principal do

processo produtivo, que continua baseada na máquina de costura, com intensa utilização

da mão-de-obra.

A escassez de inovações radicais na fase de montagem se dá pelas dificuldades

de manipulação do tecido, em função de sua grande maleabilidade e variedade de

texturas, e da realização de costuras tridimensionalmente. Essas dificuldades impedem a

automatização da fase da costura, o que faz com que essa etapa do processo seja

altamente dependente da habilidade e ritmo da mão-de-obra.

Alguns avanços, entretanto, mesmo que parciais, têm sido obtidos com a

incorporação de alguma tecnologia microeletrônica na máquina de costura, bem como

na automatização de algumas atividades.

Uma vez que a produção pode ser dividida em etapas isoladas, onde

predominam estágios distintos de desenvolvimento tecnológico, é possível graus

crescentes de especialização entre empresas – que operam em etapas e patamares

técnicos de produção diversa. No entanto, conforme já ressaltado, no Brasil não há

demanda suficiente no mercado interno de forma a viabilizar a concentração da

59 “As máquinas hoje existentes pertencem a modelos de três gerações: as de primeira geração são máquinas simples, como motor acoplado por fricção mecânica; as de segunda são dotadas de acessórios para corte de linha etc, que podem ser acionados por meios eletromecânicos comandados pelo próprio motor da máquina; por fim, as de terceira geração têm operação controlada por microprocessador, cabendo ao operador o manuseio do tecido” (Bastos, 1993, p. 24 , in:Castro, 2004).

67

produção de uma unidade confeccionista em apenas um artigo. Dessa maneira, existe

certa flexibilidade na produção, conforme a preferência e necessidade do mercado, para

não correr o risco de ter estoques encalhados.

Ademais, esta flexibilidade na produção também se justifica tanto pela

sazonalidade da produção em alguns nichos de mercado (como o caso da moda praia)

como ao próprio ajuste das empresas às novas tendências da moda através do

lançamento contínuo de novas coleções ao longo do ano. Essa flexibilidade, assim como

a simplicidade administrativa, é mais facilmente encontrada nas empresas de pequeno

porte do que nas de grande porte, capazes de produzir uma alta quantidade de produtos

padronizados sem diferenciação de estilos (IEL et al. 2000).

Segundo estudos realizados pelo Sebrae, poucas empresas no segmento

confeccionista brasileiro são atualizadas tecnológica e organizacionalmente, sendo que a

maioria é composta por empresas defasadas que competem no mercado via custo da

mão-de-obra ou terceirização, além da informalidade. Portanto, de um modo geral, esse

segmento no Brasil não é competitivo, precisando-se buscar um maior grau de

utilização de equipamentos CAD/CAM, maior organização da produção das pequenas,

via políticas de fomento aos pólos existentes e/ou cooperativas e maior treinamento da

mão-de-obra envolvida na produção60.

6.3) Comércio exterior

O saldo da balança comercial da cadeia têxtil brasileira era positivo até 1994. No

entanto, uma série de fatores contribuiu para a reversão deste quadro: entre 1995 e 1997,

o déficit comercial foi crescente, de US$ 800 milhões em 1995 a US$ 1,1 bilhão em

1997, diminuindo em 1999, quando a balança fechou em US$ 400 milhões negativos,

devido à desvalorização cambial de janeiro de 1999 e à queda das importações (Gorini,

1997, 2000). O impacto da desvalorização de janeiro de 1999 foi principalmente

sentido nas importações, que sofreram uma queda de 25% entre 1998 e 1999,

alcançando US$ 1.443 milhões em 1999. Entretanto, os efeitos sobre as exportações

apareceram com uma certa defasagem, declinaram cerca de 9% no mesmo período,

caindo para, aproximadamente, US$ 1 bilhão em 1999. Em 2000 tiveram um aumento

de 21% em relação ao ano imediatamente anterior.

60 Em 2004, as empresas que atuam no segmento investiram, , US$ 103,6 milhões, principalmente na compra de máquinas e equipamentos. A expectativa para este ano é de um crescimento da ordem de 10%.

68

A partir de 2001, o saldo comercial volta a ser positivo. Entre 2001 e 2002, o

saldo registra um crescimento de 108%, apesar da queda de, aproximadamente, 10% nas

exportações, porém com uma queda ainda maior (16%) nas importações. Entre 2002 e

2003, o crescimento no saldo chega a 290% (aumento de 40% nas exportações) e, entre

2003 e 2004, este crescimento é de apenas 10%, registrando um saldo positivo de US$

657 milhões, o maior desde 1992. A tabela III.7 apresenta a balança comercial têxtil e

de confecções entre 1975 e 2004.

Não só o aumento das importações, devido à sobrevalorização do Real, foi o

responsável pela reversão do saldo comercial. Também, as exportações diminuíram no

mesmo período. O crescimento do comércio intra-blocos, em especial a partir da criação

do NAFTA em 1994, deslocou parte das exportações brasileiras para o Mercosul.

Paralelamente, as exportações nacionais para os Estados Unidos, o maior importador

mundial de confecções, vêm declinado ano após ano, enquanto as exportações

mexicanas para os Estados Unidos alcançaram valor superior a US$ 5 bilhões em 1998,

entre tecidos planos e confeccionados (Prochnik, 2003).

Paralelamente, a Turquia e outros países do leste europeu vêm aumentando suas

exportações, afetando os tradicionais mercados de cama, mesa e banho brasileiros.

69

Tabela III.7 - Balança Comercial Têxtil e de Confecções– 1975 a 2004

(em US$ 1.000.000)

ANO

EXPORTAÇÃO

IMPORTAÇÃO

SALDO

1975

535

114

421

1980

916

120

796

1985

1.001

72

929

1990

1.248

463

785

1991

1.382

569

813

1992

1.491

535

956

1993

1.382

1.175

207

1994

1.403

1.323

80

1995

1.441

2.286

(845)

1996

1.292

2.310

(1.018)

1997

1.267

2.416

(1.149)

1998

1.113

1.923

(810)

1999

1.010

1.443

(433)

2000

1.222

1.606

(384)

2001

1.306

1.233

73

2002

1.185

1.033

152

2003

1.656

1.061

595

2004

2.079

1.422

657

Fonte: MDIC – Alice Web Elaboração: ABIT

Dessa maneira, durante a década de 1990 observou-se a perda de importantes

mercados internacionais - devido à reestruturação produtiva mundial analisada ao longo

deste capítulo, na qual o Brasil não é um participante de peso - e a crescente

concentração das exportações têxteis brasileiras na América Latina, em especial o

Mercosul.

No que se refere ao destino das exportações têxteis brasileiras por blocos

econômicos, em 1996 o Mercosul absorvia 31% dessas exportações – especialmente

70

para a Argentina, que passou a ser nosso maior parceiro comercial individual no setor

têxtil, com participação de 22% das exportações nacionais – contra 18% dos Estados

Unidos (que em 1995 absorvia 22%) e 16% da União Européia. Em 1999, o Mercosul já

absorvia 39% dessas exportações e a América Latina (exceto Mercosul) outros 18%,

sendo a participação da América do Norte de 22% e da União Européia de 14% (Gorini,

1997, 2000).

7) Considerações parciais

Para a maioria dos países subdesenvolvidos a integração na economia global não

se trata de uma escolha. O que, de fato, se busca escolher é como fazer parte desta

configuração. Apesar de ser a "porta de entrada" para muitos países periféricos na

indústria de confecções, as cadeias produtivas globais não atendem aos reais interesses

desses mesmos países na busca do aprimoramento necessário para obter real

competitividade nesta cadeia, aumentando o valor agregado dos produtos a serem

exportados e, consequentemente, o nível de renda nos mesmos.

A (re)organização das cadeias produtivas globais se refere a uma lógica voltada

a atender as especificidades/características dos mercados consumidores dos países

desenvolvidos, em especial das suas classes médias com poder aquisitivo relativamente

alto, ávidos por consumir produtos de marca, com matéria-prima de qualidade e a

preços mais baixos. Neste caso, são os países subdesenvolvidos que trabalham na

montagem desses produtos que atendem esta demanda, principalmente através do baixo

custo da mão-de-obra. Na verdade, a principal vantagem das cadeias globais para os

países desenvolvidos é exatamente este baixo custo da mão-de-obra.

Nesse sentido, as cadeias produtivas globais pode ser considerada uma formas

de interpretação do processo de globalização onde existe uma divisão internacional do

trabalho na qual, como ressaltou Furtado (1974), a grande empresa organiza um sistema

produtivo do centro à periferia, incorporando mão-de-obra barata desta última, de modo

que haja um aumento da capacidade competitiva dos países centrais graças à utilização

desta mão-de-obra.

Assim como no resto do mundo, no Brasil a lógica das cadeias globais também

atende a apenas uma parte da produção e consumo; este último também representado

por uma camada de maior renda. A maior camada da demanda, representada pelas

71

classes mais baixas, escapam a esta estrutura. Na verdade, esta é a lógica do capitalismo

periférico na dinâmica da estrutura do capitalismo global.

A grande maioria das empresas da indústria têxtil-confecções no Brasil volta-se

unicamente para o mercado doméstico, e boa parte não teria realmente capacitação para

participar do mercado internacional, apesar dos baixos salários que vigoram no país.

Algumas adotam estratégias de diferenciação de produtos, fabricando artigos de

qualidade e que incorporam design e atualização de estilos, mas com pouca eficiência

produtiva, praticando preços incompatíveis com os principais mercados. Outras

privilegiam baixos preços em suas estratégias, mas em detrimento da qualidade, e sem

alcançar níveis satisfatórios de produtividade. A heterogeneidade de capacitações e

estratégias competitivas é característica desses setores em todo o mundo. Mas no Brasil,

acompanhando a extrema desigualdade na distribuição da renda, essa característica

parece exacerbada.

As maiores dificuldades por que passa a indústria de confecções no Brasil estão

relacionadas, em grande parte, com o tamanho das empresas, o produto elaborado e suas

articulações com o mercado. Os segmentos hoje identificados com os que mais crescem

são aqueles de empresas bem estruturadas em termos gerenciais que produzem com

qualidade para mercados mais exigentes. Na maior parte das vezes, elaboram produtos

padronizados em média/grande escala. As menores que se inserem neste grupo são

empresas que trabalham sob encomenda para as maiores ou para grandes cadeias de

lojas varejistas. Portanto, há micro e pequenas empresas com potencial para se lançarem

em fatias de mercado mais exigentes de qualidade e, portanto, aumentarem sua

capacidade competitiva.

Por outro lado, aqueles segmentos que apresentam certa estagnação são aqueles

que produzem para as classes de renda mais baixa. Na verdade, não se trata de falta de

demanda por parte desta camada da população. A concorrência de produtos importados

e de produtos nacionais a preços mais baixos, desbancam mercadorias de melhor

qualidade –e mais caras- com facilidade. Isto significa que o fator preço, mais que a

qualidade, se mostra cada vez mais relevante por parte desta camada de demanda

(segmentação da demanda em função da renda).

Nesse sentido, as estratégias das empresas que fabricam produtos padronizados

(empresas de maior porte) com marca própria ou não é buscar a automatização e a

eficiência produtiva, enquanto a estratégia das empresas que produzem moda com

72

marca própria é baseada na flexibilidade da produção, no design e na agilidade

organizacional.

Dessa forma, é na criação de novos modelos, sujeitos à sazonalidade, que reside

o processo inovativo das empresas da indústria de confecções, em geral de menor porte.

A criação e a comercialização são os principais elementos para a competitividade desta

indústria. Dito de outra maneira, é a capacidade de agregar valor aos produtos que, em

última instância, garante a capacidade competitiva destas empresas, tanto no mercado

nacional quanto no internacional.

Então, devido às características dos mercados dos países subdesenvolvidos, em

especial do Brasil, principalmente em relação à demanda, a falta de políticas de

desenvolvimento que busquem uma inserção competitiva nestas cadeias produtivas

globais apenas acarretaria a contínua precarização do trabalho, renda, e etc. e o

conseqüente aumento da informalidade, processo indissociável a esta dinâmica.

Por estas e outras características das economias periféricas, é realçada a

fragilidade (ou ingenuidade) propositiva da inserção nas cadeias globais como a única

(ou melhor) forma de participar do comércio mundial.

73

CAPÍTULO IV – O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE MODA PRAIA DE

CABO FRIO

1) Introdução

Este capítulo apresenta as principais características do arranjo produtivo local de

moda praia de Cabo Frio desde sua origem e desenvolvimento, examinado o perfil dos

principais agentes ocupados nas empresas do arranjo, a infra-estrutura local, as

vantagens dinâmicas locais para a competitividade, a interação e processos de

aprendizagem, os principais esforços inovativos e as formas de cooperação ali existente.

Tendo em vista a análise do funcionamento das cadeias produtivas globais de

confecção realizada no capítulo III, onde fica evidente a estrutura de poder ali presente,

na qual aos países subdesenvolvidos cabe o papel de fornecedores de mão-de-obra

barata – referentes a uma lógica voltada a atender os mercados consumidores dos países

desenvolvidos -, este capítulo procura, ainda que implicitamente, apontar as

potencialidades e fragilidades quanto à uma inserção competitivas das empresas do

arranjo produtivo de moda praia de Cabo Frio nas cadeias produtivas globais. Reforçado

pelo capítulo V, o presente capítulo sugere que políticas de fomento à competitividade

são fundamentais para o desenvolvimento do arranjo.

Nesse sentido, a apresentação do APL de moda praia de Cabo Frio é

fundamental para a compreensão deste processo no qual a ausência de tais políticas de

desenvolvimento não apenas reforçam o caráter da dependência dessas empresas frente

às demais – na lógica do mercado global –, como também explicitam as fraquezas da

perspectiva das cadeias produtivas globais como um instrumento de desenvolvimento e

inserção dos países subdesenvolvidos no mercado externo.

2) A moda praia: evolução61 e características específicas deste nicho de mercado

Um setor do vestuário em que o Brasil realmente se destaca é, sem dúvida, o de

moda praia. Além de ser o país que mais fabrica e consome esse tipo de roupa, o Brasil

avançou em tecnologia e modelagem ao longo dos anos. O biquíni brasileiro é

conhecido e reconhecido internacionalmente, seja por seu estilo mais ousado, por sua

61 Baseado no artigo de Cláudia Garcia na Folha de São Paulo.

74

qualidade ou mesmo pela criatividade dos modelos, que o diferencia dos outros

fabricados em outros países (Folha de São Paulo).

Apesar de toda essa vocação natural em relação aos trajes de banho, o biquíni

não é uma invenção nacional. Ele foi inventado pelo estilista francês Louis Réard que o

batizou com o nome do pequeno atol de Bikini, no Pacífico, onde os americanos haviam

realizado uma série de testes atômicos.

O lançamento do primeiro biquíni foi em 26 de junho de 1946 e causou grande

euforia. Apesar de toda a euforia em torno do novo traje de banho, descrito por um

jornal da época como "quatro triângulos de nada", o biquíni não emplacou de imediato.

O primeiro modelo, todo em algodão com estamparia imitando a página de um jornal,

se comparado aos atuais, era bastante “comportado”. Entretanto, para os padrões da

época, um verdadeiro escândalo. Tanto, que nenhuma modelo quis participar da

divulgação do pequeno traje. Por isso, em todas as fotografias do primeiro biquíni,

pousava a Stripper Micheline Bernardini, a única a aceitar o desafio.

Na década de 1950, as atrizes de cinema e as pin-ups americanas foram as

maiores divulgadoras do biquíni. Em 1956, a francesa Brigitte Bardot imortalizou o

traje no filme "E Deus Criou a Mulher", ao usar um modelo xadrez vichy adornado com

babadinhos.

No Brasil, o biquíni começou a ser usado no final dos anos 50. Primeiro, pelas

vedetes, como Carmem Verônica e Norma Tamar, que juntavam multidões nas areias

em frente ao Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e, mais tarde, pela maioria decidida

a aderir à moda dos novos trajes. A partir daí, a história do biquíni viria se tornar parte

da história das praias cariocas, verdadeiras passarelas de lançamentos da moda praia

nacional.

Na década de 1960, a imagem da atriz Ursula Andress dentro de um biquíni, em

cena do filme "007 contra o Satânico Dr. No" (1962) entrou para a história da peça. Em

1964, o designer norte-americano Rudi Gernreich dispensou a parte de cima do traje e

fez surgir o topless. No Brasil, essa moda não fez tanto sucesso quanto em algumas

praias da Europa, mas mesmo assim o então prefeito de São Paulo, Prestes Maia,

chegou a proibir o uso do topless em piscinas públicas. Um modelo muito usado nos

anos 60 era o chamado “engana-mamãe”, que de frente parecia um maiô, com uma

espécie de tira no meio ligando as duas partes, e, por trás, um perfeito biquíni.

Mas foi no início dos anos 70, que um novo modelo de biquíni brasileiro, ainda

menor, surgiu para mudar o cenário e conquistar espaço no mercado mundial: a tanga.

75

Durante os anos 80 surgiram outros modelos, como o provocante enroladinho, o

asa-delta e o de lacinho nas laterais, além do sutiã cortininha. E quando o biquíni já não

podia ser menor, surgiu o imbatível fio-dental, ainda o preferido entre as mais jovens.

Nos anos 90, a moda praia se tornou cult62 e passou a ocupar um espaço ainda

maior na moda. Um verdadeiro arsenal, entre roupas e acessórios passou a fazer parte

dos trajes de banho, como a saída de praia, as sacolas coloridas, os chinelos, óculos,

chapéus, cangas e toalhas. Os modelos se multiplicaram e a evolução tecnológica63

possibilitou o surgimento de tecidos cada vez mais resistentes e apropriados ao banho

de mar e de piscina.

As principais matérias-prima utilizadas na fabricação de biquínis são o

elastano64, a poliamida (Nylon)65 e, para a fabricação de biquínis de crochet,

principalmente, o algodão. As proporções de cada material variam de acordo com a

qualidade dos biquínis. Em geral, os biquínis considerados de boa qualidade são

compostos por 85% de poliamida e 15% de elastano. Os biquínis de crochet, em geral,

são feitos de fibras de algodão.

A poliamida é um material mais resistente que o algodão em relação à tração e

ao desgaste. São fios com resistência cerca de 3,5 vezes superior a dos fios de algodão.

O elastano é utilizado na fabricação de tecidos com elasticidade e não deformáveis. Seu

espichamento é altíssimo, o que confere o confere a capacidade de esticar e retornar ao

seu estado inicial sem danificação. Empregado juntamente com outras fibras (neste caso

a poliamida) tem como finalidade aumentar a elasticidade do tecido sem prejuízo da sua

forma, o que é importante no caso do biquíni em relação a um melhor ajustamento ao

corpo (aderência adequada).

O elastano trata-se de um fio constituído de multifilamentos, colados

irregularmente entre si. A estrutura multifilamentar proporciona flexibilidade e os

pontos de aderência facilitam o processamento dos fios. Propriedades de força e

62Dicionário Michaelis: Culto; seita. Expressão inglesa utilizada para designar algo realmente admirado, uma espécie de adoração, que pode ou não estar na moda. 63 Em especial as fibras sintéticas. 64 Fibra artificial proveniente do poliuretano. O mais conhecido é a Lycra, da DuPont, nome tão difundido que hoje é usado como denominação genérica para os fios elásticos têxteis. Ela surgiu na década de 1950, sendo comercializada pela DuPont a partir de 1958. 65 Primeira fibra sintética produzida pelo homem. Tem como característica a alta resistência, fácil lavagem, resiste ao amarrotamento, baixa absorção de umidade, toque agradável e secagem rápida. Os tecidos de malha produzidos com nylon associado a um elastano são amplamente utilizados na confecção de roupas de banho.

76

extensibilidade diferem sensivelmente de outras fibras. A extensibilidade até a ruptura é

de 500-600%, ou seja, em torno de dez vezes maior que a poliamida.

Entretanto, alguns cuidados são necessários: Para se efetuar o tingimento é

necessário o uso de produtos químicos que sejam capazes de combinar com a molécula

da fibra têxtil; devem ser alvejados quimicamente, sem branqueadores óticos e sem o

uso de produtos clorados; no processo de preparação devem ser eliminados os resíduos

de cálcio e magnésio; entre outros.

Nesse sentido, a combinação dos materiais é um fator de grande relevância para

se determinar a qualidade, a flexibilidade, a aderência, a durabilidade, e até o preço

neste segmento.

Em relação ao processo de produção, a confecção do biquíni não possui uma

característica especial que o diferencie na cadeia têxtil-confecção. O corte, a costura e o

acabamento são as principais etapas da produção neste segmento. A inovação do

produto no segmento se dá, principalmente, no desenho e corte das peças. É possível

também diferenciações no tipo de costura, como num dos casos analisados neste

capítulo, e inovações incrementais no acabamento. A diferenciação no segmento ocorre

mesmo no tipo de comercialização e marketing.

Tecnologias do tipo CAD/CAM não são comuns no setor, uma vez que a imensa

maioria das empresas que confeccionam biquínis é micro e pequenas empresas que não

possuem acesso a estas tecnologias devido, principalmente, aos altos custos envolvidos.

A costura é a principal fase do processo produtivo, sendo também altamente

dependente da habilidade e ritmo da mão-de-obra.

Por fim, vale ressaltar que, ainda que exista uma combinação de materiais capaz

de resultar num produto de boa qualidade, invariavelmente, haverá um tempo de “vida

útil” não muito diferenciado. Esta “necessidade” implícita de materiais que confiram

todas as características necessárias esperadas neste segmento, aliada a uma “vida útil”

mais longa do produto, abre espaço para se pensar numa maior interação dentro da

própria cadeia produtiva têxtil-confecção, onde todos os elos da mesma possam

interagir sistematicamente. Em outras palavras, um sistema inovativo onde o

conhecimento “circulasse” em todos os elos da cadeia produtiva.

77

3) Características da cidade de Cabo Frio

A cidade de Cabo Frio pertence à Região das Baixadas Litorâneas do Estado do

Rio de Janeiro, composta pelos municípios de Araruama, Armação de Búzios, Arraial

do Cabo, Cabo Frio, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Rio

Bonito, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia, Saquarema e Silva Jardim.

O município tem uma área total de 410,6 km², correspondentes a 7,6 % da área

da Região das Baixadas Litorâneas e encontra-se a 148 Km da cidade do Rio de Janeiro.

De acordo com o censo de 2000, Cabo Frio tem uma população de 126.828

habitantes, correspondentes a 19,9 % do contingente da Região das Baixadas

Litorâneas, com uma proporção de 98,7 homens para cada 100 mulheres. A densidade

demográfica é de 308,9 habitantes por km². Apresenta uma taxa média geométrica de

crescimento, no período de 1991 a 2000 de 5,81 % ao ano. A taxa de urbanização do

município corresponde a 83,8 % da população66.

Com uma população correspondente a, aproximadamente, 0,91 % e 20,08 % das

populações do Estado do Rio de Janeiro e da Região das Baixadas Litorâneas em 2001,

respectivamente, a cidade de Cabo Frio é responsável por 22,17 % do PIB da Região

das Baixadas Litorâneas e apenas 0,4% do PIB do Estado do Rio de Janeiro. A tabela

IV.1 apresenta esta situação em valores absolutos, inclusive a renda per capita da

população correspondente.

O rendimento per capita da população de Cabo Frio representou neste ano

(2001) 44,67 % (R$ 5.349) do rendimento per capita da população do Estado (R$

11.073), valor maior do que o rendimento per capita da população da Região da

Baixada Litorânea (40,50 %) em relação ao Estado. Ainda que a cidade de Cabo Frio

esteja inserida na Região da Baixada Litorânea, esta diferença de rendimento per capita

sugere maior dinamismo relativo da primeira em relação à segunda.

66 Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE RJ) - Estudos Socioeconômicos dos Municípios do Rio de Janeiro 1997-2001.

78

Tabela IV.1: Produto Interno Bruto, em valores absolutos e per capita, segundo as Regiões

de Governo e Municípios

Estado do Rio de Janeiro - 2001

PIB

Regiões de Governo e Municípios Valores absolutos

(1.000 R$) População Valores per

capita (1,00 R$)

Número índice (Estado=100)

Estado 174 558 834 14 578 903 11 973 100,00

Região das Baixadas Litorâneas 3 206 056 661 137 4 849 40,50

Cabo Frio 710 857 132 813 5 349 44,67 Fonte: Fundação CIDE - Anuário Estatístico do Estado do Rio de Janeiro 2003

3.1) Principais atividades produtivas ao longo do tempo

Com a abolição da escravatura em 1888 e a proclamação da República no ano

seguinte, desorganizaram-se algumas atividades produtivas de Cabo Frio, como a

agricultura do café que fora substituída pela pecuária em pequena escala.

Os ex-escravos da zona rural reagruparam-se e fundaram uma povoação na Praia

Rasa, em Búzios, passando a trabalhar na pesca e em horticulturas próprias, enquanto os

ex-escravos da cidade de Cabo Frio tomaram posse e fundaram a povoação da

Abissínia, que mais tarde deu origem ao atual bairro da Vila Nova, trabalhando no

fornecimento de carvão vegetal aos antigos senhores.

Embora a atividade pesqueira fosse bastante desenvolvida, em especial depois da

introdução das traineiras na captura em alto-mar, até pouco mais da metade do século

XX, o parque salineiro de Araruama dominou a produção econômica da região. Com a

substituição do trabalho dos ex-escravos pelos imigrantes portugueses do Aveiro, que

trouxeram e adaptaram técnicas artesanais consagradas, houve um incremento da

qualidade e quantidade de cristalização marinha artificial de Araruama.

A ferrovia Niterói - Cabo Frio, as melhorias no porto de Arraial do Cabo e a

posterior inauguração da Rodovia Amaral Peixoto contribuíram para o aumento da

produção de sal e para o transporte eficiente até na cidade do Rio de Janeiro e outros

importantes centros consumidores do país. O auge do desenvolvimento setorial ocorreu

na década de 1960, com a instalação de duas grandes usinas de beneficiamento de sal

em Cabo Frio, e com a construção do complexo industrial da Cia. Nacional de Álcalis,

79

no Arraial do Cabo, que abriu salinas e passou a extrair cálcicos dos moluscos,

depositados no fundo da laguna ao longo de milhares de anos, para a produção de

barrilha. Atualmente, apesar da baixa produção, assegura a proteção física da laguna,

uma vez que impede o crescimento imobiliário em boa parte de sua margem.

Com o aumento da produção do nordeste brasileiro, que conta com âmbito mais

produtivo para esta atividade, como clima, técnicas e equipamentos mais produtivos,

aliado a uma pureza superior ao sal produzido em Arraial do Cabo, além da vantagem

geográfica para a comercialização, a produção de sal perdeu a importância de outrora.

O declínio desta atividade torna-se responsável pela diminuição das fontes de

empregos diretos e indiretos, sendo dificultada sua reimplantação, principalmente pela

lacuna na cultura popular (técnica) intimamente relacionada à extração do sal.

Não obstante estas ocorrências, a desativação das salinas induz as ocupações das

áreas dantes utilizadas naquelas atividades para o crescimento imobiliário, através de

loteamento dos terrenos - muitas vezes desorganizado e prejudicial ao meio ambiente - e

para fins turísticos.

A atividade pesqueira tradicional da região, que durante muitos séculos foi de

grande importância, tem declinado nos últimos anos devido a uma série de fatores, entre

eles: obsolência da frota e das técnicas pesqueiras, deficiente estruturação de

comercialização e beneficiamento do pescado, e da falta de terminais pesqueiros

adequados. Como conseqüência, os profissionais desta atividade estão migrando para

outras atividades, como a construção civil e o turismo. Dessa forma, esta atividade,

fortemente relacionada ao conhecimento local adquirido durante séculos, sofre ameaças,

que afetam tanto os pescadores como também os carpinteiros navais, os tecelões de

rede, entre outros.

No entanto, existe a possibilidade destas dificuldades serem diminuídas - e

talvez superadas - com a criação de escolas de pesca em São Gonçalo (que tem tradição

na atividade pesqueira e industrialização do pescado) e em Arraial do Cabo, como um

primeiro passo rumo à recuperação da vocação pesqueira do Estado e da região, uma

vez que Cabo Frio apresenta condições favoráveis para esta indústria, além do

aproveitamento da sinergia entre o turismo e a pesca, para a manutenção da imagem de

uma "aldeia de pescadores".

A região possui forte tradição turística devido, principalmente, aos atrativos

naturais do litoral de Cabo Frio.

80

A exploração turística na região se intensificou após a construção da ponte Rio-

Niterói, que trouxe também investimentos, principalmente, na construção civil, além da

migração de mão-de-obra para estas atividades, dando início a uma ocupação urbana

mais intensa, em especial na periferia da cidade.

Esta imigração se intensificou no final da década de 1980. Se num primeiro

momento este fluxo era oriundo da Região Norte Fluminense, passou a ser também da

Baixada Fluminense e da cidade do Rio de Janeiro, em busca de emprego e melhor

qualidade de vida que a região oferecia com a intensificação do turismo.

Esta tendência se manteve ao longo da década de 1990, onde esta mão-de-obra

encontrava ocupação na construção civil e no mercado informal do comércio ambulante

das praias e ruas da cidade.

Sem dúvida este intenso crescimento populacional e turístico ocorrido na cidade

foi responsável pela alavancagem do comercio local e regional, gerando emprego para a

população, principalmente no verão.

No entanto, este mesmo intenso crescimento da população e das atividades

turísticas, que foram acompanhadas de grande especulação imobiliária, também trouxe

consigo graves problemas ambientais. A estrutura sanitária não cresceu na mesma

proporção do número de pessoas da cidade (que aumenta consideravelmente no verão)

ocasionando considerável aumento do despejo de esgoto doméstico e pluvial na laguna,

colocando em risco o principal fator responsável pelo dinamismo econômico da cidade:

o turismo.

A tabela IV.2 aponta o número de estabelecimentos por setor e porte das

empresas em Cabo Frio no ano de 2002. Do total de estabelecimentos (2.852) divididos

nos setores indústria, comércio, serviços e agropecuária, 2.609 estabelecimentos se

concentram apenas nos setores comércio e serviços. Ou seja, aproximadamente, 91,5 %

das atividades na cidade se concentram nestes setores fortemente relacionados à

atividade turística.

Além disso, cabe observar que quase 99 % destes estabelecimentos são micro e

pequenos negócios, característica marcante de setores intensivos em mão-de-obra.

81

Tabela IV.2: Número de estabelecimentos – Cabo Frio - 2002

Número de estabelecimentos - Cabo Frio - 2002

Porte/Setor Indústria Comércio Serviços Agropecuária Total %

Micro 193 1.018 1.307 24 2.542 89,13%

Pequena 21 113 139 2 275 9,64%

Média 3 13 11 0 27 0,95%

Grande 0 2 6 0 8 0,28%

TOTAL 217 1.146 1.463 26 2.852 100,00% Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) - RAIS 2002

É neste contexto que este trabalho procura analisar a dinâmica do arranjo

produtivo de moda praia de Cabo Frio, em especial as confecções especializadas nesta

atividade tão peculiar aos atributos locais, e ao mesmo tempo tão dependente de fatores

externos, principalmente o turismo.

4) Origem e desenvolvimento

As origens do arranjo produtivo de moda praia de Cabo Frio podem ser

encontradas em 1953 quando a cabofriense Nilza Rodrigues Lisboa, até então sem

profissão, pegou emprestado roupas da atriz Tônia Carrero, na época freqüentadora

assídua da cidade, para copiar os moldes. A atriz se encantara com a habilidade da então

jovem e talentosa costureira e acabou sendo uma das primeiras clientes.

Utilizando uma máquina de manivela (que ainda guarda de lembrança) e

trabalhando à luz de lampião, criou a primeira roupa de praia na região: um biquíni

samba canção. As atividades de produção de confecções de moda-praia são, desta

maneira, originadas com o desenvolvimento do turismo (Peixoto & Cassiolato, 2004).

Com a ajuda da família, a produção de Nilza foi crescendo, contando, pouco

tempo depois, com 32 costureiras e 22 máquinas. Além de autodidata, ela foi professora

e incentivadora de muitas das costureiras, ajudando, inclusive, várias delas na abertura

de seus próprios negócios.

82

É nesse contexto que a Rua dos Biquínis (Rua José Rodrigues Povoas), que era a

única passagem para Búzios67 e diversas praias de Cabo Frio, foi crescendo e ficando

famosa68.

No entanto, a história da Rua dos Biquínis vai além da ação pioneira de D.

Nilza. Em meados dos anos 1980 alguns microempresários já haviam se instalado no

local em lojas adaptadas: salas e quartos das famílias de pescadores que as alugavam

para a abertura de estabelecimentos comerciais. Como a oferta de salas e quartos com

potencialidade de virar loja se extinguiu, uma vez que alguns destes microempresários

abriram mais de uma loja, os moradores locais, fomentados pelas “luvas” cobradas no

ato da assinatura do contrato de locação, começaram a construir pequenas lojas que

rapidamente ocuparam a quase totalidade do primeiro quarteirão da Rua José Rodrigues

Povoas. Como conseqüência, observou-se, durante aquele período, grande valorização

imobiliária das residências daquele quarteirão e aumento do nível financeiro daquelas

famílias.

Esses microempresários introduziram na cidade novos maquinários, novas

técnicas de produção, tecidos, modelos e padronagens que acompanhavam as tendências

da moda resultando no aumento da oferta de empregos tanto de balconistas como,

principalmente, de costureiras. Assim, houve um estímulo para que as mulheres - que

sabiam o básico da técnica de costura - se capacitassem para desenvolver uma melhor

produção e produtividade para serem absorvidas nestas novas confecções ou

terceirizando suas atividades em suas residências.

A partir de então novos empresários, não só de Cabo Frio, mas também do Rio

de Janeiro, Petrópolis, São Paulo e Minas Gerais, se instalaram na Rua. Estes novos

empreendedores, principalmente os de Petrópolis, ampliaram a produção local além dos

biquínis, introduzindo outros itens da moda praia como vestidos, “shortinhos”,

camisetas femininas e camisas de malha com estampas náuticas e da fauna marinha

levando o nome de Cabo Frio. Dessa forma, a Rua dos Biquínis deixou de ser apenas

especializadas na produção deste item, apesar de que ele ainda representa a imensa

maioria das confecções comercializadas.

67 A cidade de Armação de Búzios, ou simplesmente Búzios, se localiza a 180 Km da cidade do Rio de Janeiro. O antigo distrito situado ao norte de Cabo Frio ficou famoso após a visita da atriz francesa Brigitte Bardot em 1964. A cidade cresceu e deixou de ser uma aldeia de pescadores para se transformar num dos lugares mais procurados do Estado do Rio de janeiro. Uma vez mais o turismo se mostra de grande importância para o desenvolvimento da região. 68 Agradeço Cláudia Magalhães, técnica do SEBRAE de Cabo Frio/RJ, pelas informações a respeito desta história e pela ajuda na identificação das empresas.

83

Diversos lojistas e “sacoleiros” tanto de outras cidades como de outros estados

encontravam na Rua dos Biquínis uma boa opção para suas compras. Pequenas vendas

no atacado somadas a intensa venda no varejo, principalmente na alta temporada, e

viagens de alguns microempresários para a venda no atacado nas regiões Norte,

Nordeste e Sudeste, eram fatores que ajudavam a difundir o nome da Rua dos Biquínis

por todo o país.

Dessa forma, pequenos comerciantes de outras localidades foram atraídos para

Cabo Frio. Com a chegada desses novos comerciantes que, em geral, já possuíam

experiência em comércio e confecções – principalmente os vindos de Petrópolis e da

cidade do Rio de Janeiro –, a concorrência entre os empresários se intensificou,

resultando num aumento de produtividade no setor para níveis bastante satisfatórios

para a época.

Este crescimento do comércio foi acompanhado pelo crescimento dos aluguéis e

“luvas” cobradas pelos proprietários, que começaram a fazer investimentos mais

expressivos em construções comerciais. Diversas lojas foram construídas, além de dois

pequenos shoppings, saturando os espaços específicos para o comércio. Então, novas

lojas surgiram nas ruas e praça adjacentes, transformando o quarteirão inteiro num

ponto comercial.

No entanto, até este período, a Rua dos Biquínis ainda era carente de uma infra-

estrutura básica: iluminação pública, coleta de lixo, segurança, organização do

transito69, melhoria da rede elétrica, entre outros, o que dificultava a prosperidade do

69 Existe nas proximidades da Rua dos Biquínis (a margem do Canal do Itajurú) uma grande área da Marinha do Brasil, utilizada como estacionamento, que é muito importante para o desenvolvimento do comércio local, principalmente do ponto de vista turístico, pois é lá que os compradores da Rua estacionam seus veículos. No entanto, em 1998, a Marinha resolveu reintegrar esta área que, segundo os lojistas, só não foi apropriada por posseiros porque sempre foi utilizada pelos moradores locais, tanto para o lazer (partidas de futebol) como pelos pescadores, que atracavam seus barcos para desembarcar o pescado e fazer pequenos consertos, principalmente reparos nas redes de pesca. Dessa forma, diversos lojistas, moradores e pescadores se organizaram para protestar contra esta atitude da Marinha. Organizaram protestos e impediam a construção do muro tapando os buracos feitos pelos operários contratados para a empreiteira. Diversas viaturas da Marinha fora deslocada para o local e por pouco não houve um confronto violento, uma vez que um Capitão empunhou arma contra os manifestantes. Com o tumulto causado pelos protestos, os meios de comunicação e as autoridades locais não tardaram em aparecer, se posicionado a favor dos protestantes. Um amplo círculo de negociações fora aberto entre a Marinha do Brasil e a comunidade local, demarcando a divisão da área, além da transferência imediata do Capitão. Sem dúvida, este episódio foi de suma relevância para a definitiva estruturação e crescimento das atividades de confecção de moda praia no local. Além disso, pode-se dizer também, que foi o primeiro ato de cooperação, não só entre os empresários, mas também entre a comunidade como um todo, para a consolidação do arranjo produtivo de moda praia de Cabo Frio.

84

comércio local. Várias destas atividades eram exercidas pelos próprios empresários,

principalmente na alta temporada.

A partir da segunda metade dos anos 1990, a Rua dos Biquínis começa a receber

maior atenção por parte do poder público com a introdução de serviços públicos de

coleta de lixo, segurança, iluminação, entre outros. Com a intensa urbanização ocorrida

em Cabo Frio, a Rua dos Biquínis recebeu um volumoso investimento estrutural com a

reforma total da antiga Rua José Rodrigues Povoas que se transforma no Gamboa

Shopping70.

Atualmente a Rua dos Biquínis se esforça na busca de um novo desafio: a

exportação. Tal empreitada já conta com um consórcio exportador, o Consórcio Pau

Brasil, formado por sete empresas que já exportam, principalmente, para a Europa,

tendo como parceiros a prefeitura de Cabo Frio, o SEBRAE (Serviço Brasileiro de

apoio às Micro e Pequenas Empresas) e a FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado

do Rio de Janeiro). Um dos principais objetivos do consórcio é a busca de novos

mercados para diminuir o problema da sazonalidade da produção e a rotatividade da

mão-de-obra71.

Nesse contexto, o Gamboa Shopping, além de ser o principal ponto comercial da

região voltado ao turismo, é também um destacado pólo de confecção de moda praia no

país, com potencial gerador de empregos diretos e indiretos- além dos já gerados,

principalmente no verão- na região.

É nesta perspectiva que uma melhor compreensão do impacto e especificidade

desta atividade local se torna tão relevante. Tanto os empresários quanto as costureiras

já vêem seus filhos (segunda geração) assumindo essa atividade como profissão,

indicando o caráter de uma atividade com especificidades locais, uma característica

cultural da região, que ainda conta com o primeiro Museu do Surfe do país, o que só

vem a reforçar esta característica cultural.

É nesse sentido que existe espaço para se falar da questão da territorialidade,

tratada no capítulo II deste trabalho, que está ligada a interdependências específicas da

vida econômica, não podendo ser definida meramente como localização das atividades.

A territorialidade de uma atividade ocorre quando sua viabilidade econômica está

70 Agradeço imensamente a Maurício Nogueira Brito, sócio-gerente da confecção Mauna Loa, pela exposição desta história da Rua dos Biquínis e o papel dos empresários na sua constituição. 71 Uma discussão sobre alguns benefícios e problemas relacionados à exportação será feita no próximo capítulo, levando-se em consideração a discussão da competitividade na cadeia produtiva de confecções feita no capítulo III.

85

enraizada em ativos (incluindo práticas e ações) que não estão disponíveis em outros

lugares e que não podem ser facilmente ou rapidamente criadas ou imitadas em lugares

que não as têm (Cassiolato e Lastres, 2003).

5) Perfil dos principais agentes ocupados nas empresas do arranjo

O arranjo produtivo de moda praia em Cabo Frio congrega diversas confecções

responsáveis tanto pela produção de biquínis quanto por outras peças do vestuário

relacionadas à moda praia. Segundo a base de dados da RAIS (2001), haviam 48

confecções de artigos do vestuário em Cabo Frio no ano de 200172. No entanto, este

número não reflete a realidade das confecções de moda praia em Cabo Frio dada a

existência de diversas confecções que operam na informalidade. Empresários do setor

estimam que, em meados de 2004, existiam em torno de cem empresas voltadas à

confecção de moda praia, enfatizando que este número pode dobrar na alta temporada,

no verão.

Do total das empresas entrevistadas, apenas uma é de pequeno porte sendo as

demais micro empresas, conforme a tabela IV.3 apresentada abaixo. Estas empregam,

em média, 8 pessoas e a pequena empresa tem 30 pessoas ocupadas na atividade

produtiva principal (biquíni).

Tabela IV.3 - Porte das Empresas da Amostra do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

Porte Nº de Empresas % Nº de Empregados %

Micro 17 94,4 145 82,9 Pequena 1 5,6 30 17,1 Média 0 0,0 0 0,0 Grande 0 0,0 0 0,0

Total 18 100 175 100 Fonte: Pesquisa de campo.

Entretanto, é importante ressaltar que a sazonaliadade do emprego é a

característica principal da atividade no arranjo, com a maioria destas empresas

contratando serviços temporários no verão, quando a produção e as vendas aumentam

consideravelmente. Com o fim da alta temporada, esta mão-de-obra temporária é

72 Apesar de não haver uma classe de atividade econômica especifica de moda de praia na classificação da CNAE, esta se encontra agregada em artigos de vestuário (CNAE 18.12).

86

novamente dispensada, criando um sério problema de rotatividade. Quando há alguma

costureira muito boa, o empresário a mantém na confecção. No entanto, a maioria das

costureiras é demitida e quando são novamente admitidas na temporada seguinte, os

empresários já não conseguem a mesma pessoa, tendo que admitir outras diferentes e,

algumas vezes, até treiná-las novamente.

É sob esta perspectiva que devem ser entendidos os dados da tabela IV.4 abaixo

que apresenta informações sobre os diferentes tipos de relação de trabalho nas Micro e

Pequenas Empresas do arranjo produtivo de confecções em Cabo Frio, conforme

informações obtidas na pesquisa de campo. De acordo com os dados desta tabela, 80%

dos trabalhadores são empregados com contrato formal e apenas 1% da mão-de-obra se

encontra em serviços temporários nas micros empresas do arranjo. Como no período da

pesquisa, nos meses de julho e agosto, as empresas encontravam-se na baixa temporada

produtiva, pode-se supor que tal relação deva ser significativamente diferente no

período de verão quando se intensifica a atividade produtiva.

Tabela IV.4 - Tipo de Relação de Trabalho nas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

Micro Pequena Relação Nº

Empregados % Nº

Empregados % Sócio Proprietário 27 14,9 2 6,3 Contratos Formais 145 80,1 30 93,8 Estagiário 0 0,0 0 0,0 Serviço Temporário 2 1,1 0 0,0 Terceirizados 0 0,0 0 0,0 Familiares sem contrato formal 7 3,9 0 0,0

Total de Postos de Trabalho 181 100 32 100 Fonte: Pesquisa de campo.

A tabela IV.5 aponta o perfil dos sócios fundadores das micro e pequenas

empresas do arranjo produtivo de confecções de moda praia em Cabo Frio. Ela aponta

que 23,5% dos proprietários possuíam menos de 30 anos de idade, e quase metade

(47,1%) entre 31 e 40 anos de idade nos anos das respectivas fundações no caso das

micro empresas, e 100% entre 31 e 40 anos de idade no caso da pequena. Ademais,

pouco mais de 70% desses empresários não tiveram os pais como referência na gerência

dos seus próprios negócios.

87

Tabela IV.5 - Perfil dos Sócios Fundadores das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

% Perfil dos Sócios Fundadores Micro Pequena Idade no ano da fundação

Até 20 anos 5,9 0,0 Entre 21 e 30 anos 17,6 0,0 Entre 31 e 40 anos 47,1 100,0 Entre 41 e 50 anos 29,4 0,0 Acima de 50 anos 0,0 0,0

Total 100 100 Sexo

Masculino 58,8 100,0 Feminino 41,2 0,0

Total 100 100 Filho de Empresário

Sim 29,4 100,0 Não 70,6 0,0

Total 100 100 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 Fonte: Pesquisa de campo.

Além disso, a maior participação masculina (58,8% no caso das micro empresas

e 100% no caso da pequena) dos sócios fundadores das confecções também merece

destaque. No entanto, é importante ressaltar que a maioria dos empresários do sexo

masculino não estava só no ato da fundação das confecções. Seus respectivos cônjuges,

em geral, eram (ainda são) suas sócias ou trabalham nas confecções. A tabela a seguir

reflete um pouco esta situação.

A tabela IV.6 abaixo aponta o número de sócios fundadores das micro e

pequenas empresas do arranjo produtivo. Observa-se que 35,3% (6 empresas) das micro

empresas só tiveram um sócio fundador. Apesar de não ser possível observar pelas

tabelas IV.5 e IV.6, quatro destes micro empresários são do sexo masculino, e todos

eles trabalham com suas respectivas esposas nas confecções.

Tabela IV.6 - Número de Sócios Fundadores das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

Micro Pequena Número de Sócios Fundadores Nº Empresas % Nº Empresas %

Um 6 35,3 0 0,0 Dois 11 64,7 1 100,0 Três 0 0,0 0 0,0 Quatro 0 0,0 0 0,0

Total 17 100 1 100 Fonte: Pesquisa de campo.

88

Em relação à escolaridade dos proprietários das micro empresas, observa-se,

pela tabela IV.7, que a maioria dos empresários (35,3%) possui o ensino médio

completo, seguido do superior, tanto incompleto quanto completo, representando 23,5%

dos empresários. Apenas um dos empresários possuía pós-graduação na área de

finanças, pela FGV-SP, e trabalhava em empresa privada em São Paulo (tabela IV.8).

Chama a atenção nesta tabela o alto grau de escolaridade dos empresários, uma vez que

88,2% deles possuem, pelo menos, o ensino médio completo. Este fato não passa

despercebido, principalmente quando se trata da percepção por parte dos empresários da

necessidade e formas de organização, conhecimento do mercado em que atuam, e da

capacidade de formular uma análise conjuntural bastante aguçada. Eles conhecem muito

bem o mercado em que atuam, sabem onde buscar a informação necessária para fazer

melhorias e conquistar maior espaço no mercado, além de estarem dispostos à

realização das mudanças necessárias. No entanto, esbarram com o principal fator

restritivo: (falta de) recursos financeiros. Tabela IV.7 - Escolaridade dos Proprietários das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções

em Cabo Frio/RJ % Grau de Ensino Micro Pequena

Analfabeto 0,0 0,0 Fundamental

Incompleto 5,9 0,0 Fundamental Completo 5,9 100,0 Médio Incompleto 0,0 0,0 Médio Completo 35,3 0,0 Superior Incompleto 23,5 0,0 Superior Completo 23,5 0,0 Pós-Graduação 5,9 0,0

Total 100 100 Amostra (Nº de Empresas) 17 1

Fonte: Pesquisa de campo.

Somente 17,6% dos proprietários das micro empresas de confecções já possuíam

experiência como empresários anteriormente (tabela IV.8). O mesmo percentual é

observado em relação àqueles que eram estudantes universitários. O percentual é menor

(11,8%) quando se trata de antigos funcionários de instituições públicas (Álcalis e

CERJ). Além disso, 23,5% dos empresários trabalhavam como empregados de empresas

fora do arranjo (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais). A maioria dos empresários

(29,4%), no entanto, exerciam outras atividades, sendo algumas diretamente

89

relacionadas com confecções. Um dos empresários, junto com a esposa, herdou a

confecção de sua sogra. Outras já possuíam suas confecções em casa e costuravam

"para fora". Além desses que já se ocupavam em confecções, há vendedores autônomos

e donas-de-casa.

Alguns empresários, que trabalhavam em empresas privadas fora do arranjo e

um dos que eram funcionários de instituição pública, utilizaram suas respectivas

indenizações para abrirem suas empresas. Outros, que trabalhavam em empresas

privadas fora do arranjo, decidiram morar em Cabo Frio por diversas razões, entre elas

questões relacionadas ao desemprego e violência, principalmente na cidade do Rio de

Janeiro. Entre os empresários encontram-se bancário, engenheiro, biólogo,

administrador de empresas e zootecnista, sendo que alguns nem chegaram a exercer

atividades relacionadas às suas formações.

Tabela IV.8 - Atividade Anterior dos Proprietários das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

% Atividade Micro Pequena

Estudante Universitário 17,6 0,0 Estudante de Escola Técnica 0,0 0,0 Empregado de micro ou pequena empresa local 0,0 0,0 Empregado de média ou grande empresa local 0,0 0,0 Empregado de empresa de fora do arranjo 23,5 0,0 Funcionário de instituição pública 11,8 0,0 Empresário 17,6 100,0 Outra 29,4 0,0

Total 100 100 Número de empresas 17 1

Fonte: Pesquisa de campo.

Em relação à escolaridade do pessoal ocupado nas empresas do arranjo, mais da

metade (56,2%) possui apenas o ensino fundamental completo contra 32,8% que possui

o ensino médio completo, sendo este o maior grau de escolaridade do pessoal ocupado

nas micro empresas do arranjo produtivo, e também onde pode se concentrar o potencial

de expansão para uma qualificação mais formalizada e especializada. Ademais, todos os

30 empregados da pequena empresa possuem o ensino médio incompleto, segundo a

entrevista realizada nesta empresa.

90

Tabela IV.9 - Escolaridade do Pessoal Ocupado nas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo

Frio/RJ % Grau de Ensino Micro Pequena

Analfabeto 0,0 0,0 Fundamental Incompleto 3,6 0,0 Fundamental Completo 56,2 0,0 Médio Incompleto 7,3 100,0 Médio Completo 32,8 0,0 Superior Incompleto 0,0 0,0 Superior Completo 0,0 0,0 Pós-Graduação 0,0 0,0

Total 100 100 Total de Pessoal Ocupado 145 30

Fonte: Pesquisa de campo.

O baixo grau de escolaridade reflete o fato de que esta atividade, intensiva em

mão-de-obra, requer um tipo de conhecimento diferente daquele encontrado nas

empresas mais intensivas em capital. O aprendizado no arranjo ocorre através de

processos informais de transmissão de conhecimentos tácitos e práticas no processo de

produção (learning by doing). A experiência de cada firma e indivíduo é disseminada

pelo arranjo, formal ou informalmente, seja através da troca de informações, seja

através da transmissão de conhecimentos por parte dos trabalhadores que transitam por

diferentes empresas e dentro das próprias empresas através da interação e capacitação

de familiares (learning by interacting). Apesar disso, como já dito, existe espaço para

maior capacitação desta mão-de-obra.

6) Infra-estrutura local

Ainda que o componente tácito do conhecimento local seja bastante forte nesta

atividade produtiva, a cidade de Cabo Frio não conta com uma infra-estrutura local,

principalmente educacional e científico-tecnológica, adequada para o fomento deste

segmento. Ela é bastante deficitária tendo-se em conta a demanda dos empresários por

qualificação da mão-de-obra e programas de treinamentos regulares.

De acordo com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Universitário de

Cabo Frio, existem quatro instituições de ensino médio que oferecem cursos técnicos

91

complementares (4° ano) regularmente, entretanto, nenhuma delas voltadas às

necessidades específicas do arranjo73.

Quanto à educação superior, quatro instituições74 oferecem diversos cursos tanto

de graduação e extensão quanto de pós-graduação, além do Instituto de Pesquisa da

Marinha em Arraial do Cabo.

Ademais, a cidade conta com dois centros de capacitação profissional, sendo que

ambos relacionados à educação75, e com a presença do SENAC (Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial) e com uma unidade do SEBRAE para a Região dos Lagos.

Não obstante a presença destas instituições de ensino superior, técnico e de

capacitação profissional, é curioso o fato de que nenhuma delas oferece cursos

diretamente relacionados às atividades de confecção, em especial de moda praia, cuja

vocação local é mais do que visível. A grande maioria dos empresários entrevistados

ressaltou exatamente esta carência como o principal problema da qualificação da mão-

de-obra local. Quando existe a necessidade de fazer treinamentos, é necessário recorrer

ao SENAI/CETIQT (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial/Centro de

Tecnologia da Indústria Têxtil) na cidade do Rio de Janeiro, o que torna bastante

custoso, e muitas vezes inviável.

Existe uma expectativa muito grande por parte dos empresários das confecções

de moda praia em relação tanto à implementação de cursos especializados como

também à criação de cursos superiores de Moda e Design nas universidades locais, o

que, já fora solicitado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Universitário.

Dessa forma, apesar da vocação local existente para a moda praia e o

componente tácito bastante peculiar desta atividade produtiva, fica claro que os

empresários estão cientes da importância de cursos especializados que serão bastante

importantes para a competitividade dessas empresas. Esta maior capacitação da mão-de-

obra aliada ao conhecimento local já existente pode ser bastante relevante para o futuro

da atividade do arranjo produtivo local de moda praia de Cabo Frio.

73 Estas são: Simetria (Técnico em Enfermagem e Informática), Instituto Educacional Professor Ismar Gomes (Formação de Professores), Colégio Aplicação (Técnico em Enfermagem) e Colégio Estadual 31 de Março (Técnico em Enfermagem e Informática). 74 Universidade Veiga de Almeida, Universidade Estácio de Sá, Faculdades da Região dos Lagos e Curso de Ciências Contábeis (Universidade Federal Fluminense). 75 Centro Fernando Azevedo (Educação Inclusiva) e Centro Educação Natália Caldonazzi (Educação de Professores).

92

7) Vantagens dinâmicas locais para a competitividade

7.1) Quanto à localização

A principal vantagem em relação à localização das empresas apontada na

pesquisa de campo (tabela IV.10) foi a proximidade com os clientes e consumidores,

onde 94% dos empresários das micro empresas atribuíram como médio ou alto o grau

de importância deste fator. A micro empresa que atribuiu baixa importância a este fator

é porque vende maior parte de sua produção para outras empresas no Brasil, e a pequena

empresa, que atribuiu importância nula, é porque vende em torno de 60% de sua

produção para o mercado externo. Apesar de muitos empresários vislumbrarem a

possibilidade de exportação, a maioria vende seus produtos nas suas lojas localizadas,

principalmente, na Rua dos Biquínis. No entanto, vale ressaltar que a maioria dos

consumidores é constituída de turistas que visitam a cidade, principalmente, nos fins de

semana.

Principalmente depois da constituição do Gamboa Shopping, a infra-estrutura

física local também foi apontada como importante para a maioria dos empresários76. No

entanto, apesar de terem ganhado o direito de usufruírem o estacionamento no terreno

da Marinha, ainda persiste o problema da construção de um estacionamento apropriado

para os clientes da Rua, que deixam seus veículos sob a lama quando há chuva.

De acordo com a tabela IV.10, é possível observar que a maioria dos

empresários compra seus insumos, matéria-prima e equipamentos fora da localidade,

principalmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Dessa forma, estas atividades

não são uma vantagem do arranjo, exceto na compra de equipamentos usados e algumas

poucas matérias-prima.

Em relação à disponibilidade de serviços técnicos especializados, as empresas

atribuíram considerável relevância nesse sentido por existirem somente três técnicos

especializados para a manutenção das máquinas das confecções, ainda que não possuam

nenhuma qualidade diferenciada.

76 Apenas um dos empresários entrevistados se queixou a respeito da reforma feita na Rua. Segundo ele, uma vez que os carros que por ali passavam agora são obrigados a fazerem outro trajeto, a “vitrine

93

Tabela IV.10 - Vantagens da Localização para as Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

%

Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Vantagens

Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Disponibilidade de mão-de-obra

qualificada 11,8 29,4 41,2 17,6 100 0,51 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30

Baixo custo da mão-de-obra 5,9 88,2 0,0 5,9 100 0,32 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Proximidade com fornecedores

de insumos e matéria prima 64,7 29,4 5,9 0,0 100 0,12 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

Proximidade com clientes e consumidores 0,0 5,9 17,6 76,5 100 0,89 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

Infra-estrutura física Local 0,0 17,6 29,4 52,9 100 0,76 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Proximidade com produtores de

equipamentos 70,6 17,6 11,8 0,0 100 0,12 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

Disponibilidade de serviços técnicos especializados 5,9 11,8 41,2 41,2 100 0,69 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60

Existência de programas de apoio e promoção 41,2 17,6 17,6 23,5 100 0,39 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

Proximidade com universidades e centros de pesquisa 82,4 17,6 0,0 0,0 100 0,05 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

Outra 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).

Fonte: Pesquisa de campo.

Uma vez que não existem cursos especializados oferecidos pelas universidades

ou centros de pesquisa, a proximidade com estas não possui praticamente nenhuma

relevância para as firmas.

Em relação à mão-de-obra, quase 60% dos entrevistados apontaram a

disponibilidade de mão-de-obra qualificada como um fator de média e alta relevância.

No entanto, é necessário ressaltar que esta qualificação apontada se refere ao

conhecimento tácito no processo produtivo local. Os empresários têm clareza a respeito

da necessidade de treinamento da mão-de-obra para se obter maior competitividade,

aproveitando a sinergia deste conhecimento tácito local.

Ademais, em relação à existência de programas de apoio e promoção, é

importante ressaltar que sua existência é importante para aquelas empresas pertencentes

ao consórcio de exportação. Para as demais, segundo os entrevistados, estes programas

de apoio e promoção são irrelevantes.

A tabela IV.11 reforça o que foi dito anteriormente. Tanto na tabela IV.10

quanto na tabela IV.11, a proximidade e aquisição de insumos e matéria-prima por parte

natural” da Rua dos Biquínis fora perdida. No entanto, todos os demais empresários se mostraram bastante satisfeitos com a mudança.

94

das micro empresas apresentam praticamente o mesmo índice (0,12 e 0,11,

respectivamente). O mesmo pode ser dito em relação a proximidade com clientes e

consumidores e as vendas de produtos no local (0,89 e 0,96, respectivamente),

ressaltando a importância da localização para a dinâmica comercial das empresas.

Ademais, apesar da pequena empresa ter atribuído nenhuma importância para a

proximidade com clientes e consumidores na tabela IV.10, ela aponta a venda de seus

produtos localmente como bastante relevante. Ainda que grande parte de suas vendas

seja feita para fora do país e do Estado, percebe a importância da venda local para a

dinâmica de sua empresa, principalmente no verão. Os índices 0,96 e 1,00 apontam este

grau de importância levando-se em consideração todas as micro empresas no primeiro

caso, e a pequena empresa no segundo.

Tabela IV.11 - Transações Comerciais Realizadas no Local pelas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

%Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena

Tipo de Transação Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*

Aquisição de insumos e matéria prima 70,6 23,5 5,9 0,0 100 0,11 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

Aquisição de equipamentos 82,4 11,8 0,0 5,9 100 0,09 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Aquisição de componentes e peças 23,5 52,9 23,5 0,0 100 0,30 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Aquisição de serviços especializados 0,0 17,6 29,4 52,9 100 0,76 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Vendas de produtos 0,0 5,9 0,0 94,1 100 0,96 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).

Fonte: Pesquisa de campo.

A aquisição de insumos e matéria-prima e de equipamentos no arranjo é

apontada como pouco relevante do ponto de vista das transações locais, pois, como já

ressaltado, as empresas realizam estas transações fora do arranjo. Os índices 0,11 e 0,09,

respectivamente, refletem esta situação.

7.2) Quanto à mão-de-obra

O conhecimento prático e técnico na produção e a capacidade de aprender novas

qualificações foram apontados por mais de 94% dos micro empresários e por todos os

pequenos como fatores de alta relevância como características da mão-de-obra local.

Este fator, mais uma vez, revela a importância do conhecimento tácito no processo de

produção. Além disso, outras características como disciplina, flexibilidade e criatividade

também foram apontadas como importantes características da mão-de-obra local,

95

características importantes quando se pensa num ambiente onde a inovação é uma

característica fundamental para a dinâmica destas empresas.

Tabela IV.12 - Avaliação da Mão-de-Obra Local segundo as Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

%Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena

Característica Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*

Escolaridade formal de 1º e 2º graus 11,8 52,9 35,3 0,0 100 0,37 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Escolaridade em nível superior e técnico 88,2 11,8 0,0 0,0 100 0,04 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Conhecimento prático/ técnico na produção 0,0 5,9 11,8 82,4 100 0,91 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Disciplina 11,8 11,8 29,4 47,1 100 0,68 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Flexibilidade 5,9 23,5 17,6 52,9 100 0,71 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Criatividade 11,8 0,0 29,4 58,8 100 0,76 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Capacidade para aprender novas

qualificações 0,0 5,9 29,4 64,7 100 0,84 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Outras 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).

Fonte: Pesquisa de campo.

Não surpreendente é o fato da escolaridade formal de 1º e 2º graus ter sido

apontada por apenas 35% das empresas como tendo média importância, e a de nível

superior apontada por todas as empresas como tendo baixa ou nula importância,

refletindo a importância do caráter tácito do conhecimento local em relação ao setor.

7.3) Principais determinantes da competitividade

A tabela IV.13 apresenta os fatores determinantes da competitividade das MPEs

do arranjo produtivo de confecções em Cabo Frio/RJ segundo a percepção dos

empresários. Em primeiro lugar, pode-se apontar que a qualidade da matéria-prima e

outros insumos e, conseqüentemente, a qualidade do produto, foram apontadas como

sendo extremamente importantes para a competitividade por praticamente todos os

empresários. O único que atribuiu baixa importância não confecciona biquínis e sim

roupas esportivas e relacionadas ao surf e enfrenta séria competição em preços com os

produtos chineses. Ainda assim, preza pela qualidade dentro do possível e oferece prazo

de garantia, uma diferenciação não observada nas demais empresas (Peixoto &

Cassiolato, 2004).

96

Tabela IV.13 - Fatores Determinantes da Competitividade das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

%Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena

Fator competitivo Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*

Qualidade da matéria-prima e outros insumos 0,0 5,9 5,9 88,2 100 0,94 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Qualidade da mão-de-obra 0,0 35,3 17,6 47,1 100 0,68 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Custo da mão-de-obra 0,0 82,4 5,9 11,8 100 0,40 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Nível tecnológico dos equipamentos 5,9 11,8 23,5 58,8 100 0,76 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Capacidade de introdução de novos

produtos/ processos 5,9 0,0 52,9 41,2 100 0,73 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Desenho e estilo dos produtos 0,0 0,0 5,9 94,1 100 0,98 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Estratégias de comercialização 0,0 5,9 17,6 76,5 100 0,89 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Qualidade do produto 0,0 0,0 5,9 94,1 100 0,98 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Capacidade de atendimento (volume e

prazo) 0,0 0,0 17,6 82,4 100 0,93 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Outros 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).

Fonte: Pesquisa de campo. Além destes fatores, a capacidade de introdução de novos produtos/processos

também foi mencionada como sendo importante por mais de 90% dos entrevistados.

Como se sabe, tal capacidade está fortemente relacionada às inovações em desenho e

estilo dos produtos, e ambas também foram apontadas como fatores muito importantes

para se manter a capacidade competitiva. Na verdade, aliada à qualidade dos produtos,

esta capacidade de inovar em design, e novas estratégias de comercialização é que

diferenciam a competitividade da grande maioria das empresas (Peixoto & Cassiolato,

2004).

8) Interação e processos de aprendizagem: treinamento e informação

Não obstante a já referida carência de cursos de capacitação para a mão-de-obra

local, o conhecimento tácito existente nos indivíduos e sua interação é que, em última

instância, garante a dinâmica produtiva das empresas do arranjo. O aprendizado no

arranjo ocorre, principalmente, através de processos informais de transmissão de

conhecimentos tácitos e práticas no processo de produção. A experiência de cada firma

e indivíduo é disseminada pelo arranjo, formal ou informalmente, seja através da troca

de informações, seja através da transmissão de conhecimentos por parte dos

trabalhadores que transitam por diferentes empresas (a já referida questão da

97

rotatividade da mão-de-obra) e dentro das próprias empresas através da interação e

capacitação de familiares.

Dessa forma, diversos empresários, na constituição de suas empresas, optaram

por entrar no setor através da aquisição de mão-de-obra com experiência (com

conhecimento tácito do processo de produção) e aquisição de equipamentos usados (o

que ainda ocorre atualmente).

Treinamento e Capacitação

A tabela IV.14 apresenta a visão dos empresários quanto ao grau de importância

das atividades de treinamento e capacitação de Recursos Humanos das MPEs do arranjo

produtivo de confecções de moda praia em Cabo Frio.

Em primeiro lugar, observa-se que todas as empresas respondentes77 consideram

o treinamento na empresa de média ou alta importância. Na verdade, para muitas, esta é

a única forma de treinamento possível. Este fato não causa estranheza já que não há

cursos técnicos especializados e a mão-de-obra, como já mencionado, é bastante

rotativa.

Tabela IV.14 - Atividades de Treinamento e Capacitação de Recursos Humanos das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

%Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena

Atividades Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*

Treinamento na empresa 6,3 0,0 43,8 50,0 100 0,76 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Treinamento em cursos técnicos no arranjo 18,8 31,3 18,8 31,3 100 0,52 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Treinamento em cursos técnicos fora do

arranjo 68,8 0,0 18,8 12,5 100 0,24 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60

Estágios em empresas fornecedoras ou clientes 81,3 0,0 6,3 12,5 100 0,16 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

Estágios em empresas do grupo 62,5 12,5 12,5 12,5 100 0,24 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Contratação de técnicos/engenheiros de outras

empresas do arranjos 93,8 0,0 0,0 6,3 100 0,06 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

Contratação de técnicos/engrenheiros de empresas fora do arranjo 87,5 12,5 0,0 0,0 100 0,04 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

Contratação de formandos dos cursos universitários localizados no arranjo ou próximo 87,5 6,3 6,3 0,0 100 0,06 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30

Contratação de formandos dos cursos técnicos localizados no arranjo ou próximo 93,8 0,0 6,3 0,0 100 0,04 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

Amostra (Nº de Empresas) 16 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).

77 A empresa que atribuiu importância nula é porque sua empresa não confecciona as peças que vende. Além disso, uma das empresas entrevistadas não forneceu qualquer informação a este respeito, uma vez que não realizou qualquer atividade de treinamento e capacitação de recursos humanos no período (quem confecciona é somente a própria empresária), optando, dessa forma, por não atribuir nenhum grau de importância à referida questão. Por isso, a amostra das micro empresas nesta tabela é 16.

98

Fonte: Pesquisa de campo.

Em relação ao treinamento em cursos técnicos realizados no arranjo, 50% das

empresas consideraram este tipo de treinamento como sendo de média ou alta

relevância, ainda que sua participação efetiva seja esporádica. No entanto, este número

reflete uma questão importante a ser mencionada. Pelo menos sete destas empresas que

participam de forma regular de treinamentos oferecidos, principalmente, pelo SEBRAE

local fazem parte do Consórcio de Exportação Pau-Brasil78, que conta com o apoio do

mesmo.

Se analisarmos o treinamento em cursos técnicos realizados fora do arranjo, em

geral ligados ao SENAI/CETIQT na cidade do Rio de Janeiro, percebemos que um

número reduzido (seis empresas – cinco micro e uma pequena) considera este item

como sendo de média ou alta importância. A maioria das empresas não realizou

qualquer treinamento nos últimos anos fora do arranjo, principalmente por não poderem

custear estes treinamentos. Curiosamente, apenas uma destas empresas que considerou

esta atividade de elevada importância faz parte do consórcio de exportação.

Neste cenário, muitos empresários reclamam quanto à atuação do SEBRAE

local, que se preocuparia em apoiar somente as empresas que fazem parte do consórcio.

Pouca importância também é dada tanto a estágios, seja em empresas

fornecedoras ou clientes seja em empresas do grupo79, quanto à contratação de

técnicos/engenheiros de empresas do arranjo ou fora dele.

Ademais, sem causar surpresa, é a pouca importância dada pelas empresas em

relação à absorção de formandos em cursos técnicos e universidades. Quando isso

ocorre, se dá através de estágios temporários e apenas na área administrativa. No

entanto, é preciso ressaltar que existe demanda por parte dos empresários por estes

formandos, tanto de nível técnico quanto superior, porém, em outras áreas de atuação já

mencionadas, principalmente Moda e Design.

Informação para o aprendizado

As fontes de informação para o aprendizado empregadas pelas MPEs do arranjo

estão sintetizadas na tabela IV.15. As principais fontes são explicitamente internas, com

78 Será feita uma apresentação mais detalhada sobre este Consórcio no próximo capítulo.

99

maior relevância da área de produção, onde ocorre tradicionalmente a transmissão de

conhecimento tácito e, em segundo lugar, as áreas de venda e marketing e serviço de

atendimento ao cliente, onde o empresário passa a conhecer melhor os demandantes dos

seus produtos e obter maiores informações de outros potenciais.

Quanto às fontes externas de informação, observa-se a importância que a troca

de informação com os clientes é dada pelas empresas. Esta via é, na verdade, um

complemento do serviço de atendimento ao cliente, onde o empresário, além de

conhecer os demandantes de seus produtos, passa a saber o que fazer para melhorar,

tanto os produtos quanto a relação com o próprio cliente.

Em relação às fontes externas, um fato extremamente interessante refere-se aos

itens que tentam identificar a importância do treinamento em outras empresas dentro do

grupo (informações de empresas do grupo e do setor). Nestes itens, 47,1% e 35,3% das

micro-empresas, respectivamente, informaram ser este tipo de fonte de informação de

alta importância e praticamente todas fazem parte do consórcio de exportação. Assim,

pode-se inferir que a formação do consórcio tem, de fato, levado as empresas que dele

fazem parte a se aproveitar de conhecimentos e capacitações de ordem tácita das demais

participantes (Peixoto & Cassiolato, 2004).

As universidades, institutos de pesquisa e instituições de testes, ensaios e

certificações foram apontadas por quase todos os empresários como sem relevância na

obtenção de informações para o aprendizado, dado que esta interação praticamente não

existe no arranjo. Algumas empresas apontaram alguma relevância aos centros de

capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção, sendo que sete delas

fazem parte do consórcio de exportação.

Outra forma de obtenção de informações que fora bastante ressaltada é através

de publicações especializadas e participações em feiras e exibições. Ainda que as

participações em tais feiras sejam consideradas relevantes para a maioria das empresas,

em geral, não existe uma ação conjunta para a realização desses eventos, exceto as

empresas participantes do consórcio. Este fato também foi bastante ressaltado por

alguns empresários quanto à atuação do SEBRAE, propondo que a instituição se

preocupasse mais com a promoção da Rua dos Biquínis em geral, e não apenas com a

participação das empresas do consórcio nestes eventos e outras ações fomentadoras.

79 Aqui, como empresas do grupo, considerei empresas que realizam a mesma atividade que fazem parte do arranjo produtivo de moda praia local.

100

Tabela IV.15 - Fontes de Informação empregadas pelas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

% Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*1. Fontes Internas

Departamento de P & D 70,6 11,8 11,8 5,9 100 0,16 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Área de produção 5,9 5,9 5,9 82,4 100 0,88 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Áreas de vendas e marketing 5,9 0,0 23,5 70,6 100 0,85 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Serviços de atendimento ao cliente 5,9 0,0 23,5 70,6 100 0,85 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Outras 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00

2. Fontes Externas Outras empresas dentro do grupo 23,5 23,5 5,9 47,1 100 0,58 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Empresas associadas (Joint Venture) 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Fornecedores de insumos 11,8 29,4 29,4 29,4 100 0,56 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Clientes 11,8 0,0 11,8 76,5 100 0,84 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Concorrentes 58,8 11,8 17,6 11,8 100 0,26 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Outras empresas do Setor 29,4 23,5 11,8 35,3 100 0,49 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Empresas de consultoria 94,1 0,0 0,0 5,9 100 0,06 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

3. Instituições de Pesquisa, Capacitação e Serviços Tecnológicos

Universidades 94,1 0,0 0,0 5,9 100 0,06 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Institutos de Pesquisa 94,1 0,0 0,0 5,9 100 0,06 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Centros de capacitação profissional,

de assistência técnica e de manutenção 29,4 5,9 11,8 52,9 100 0,62 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Instituições de testes, ensaios e certificações 94,1 0,0 0,0 5,9 100 0,06 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

4. Outras Fontes de Informação Licenças, patentes e “know-how” 82,4 0,0 0,0 17,6 100 0,18 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Conferências, Seminários, Cursos e

Publicações Especializadas 11,8 5,9 11,8 70,6 100 0,79 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Feiras, Exibições e Lojas 23,5 17,6 0,0 58,8 100 0,64 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Encontros de Lazer 23,5 58,8 17,6 0,0 100 0,28 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Associações empresariais locais 52,9 0,0 5,9 41,2 100 0,45 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Informações de rede baseadas na

internet ou computador 11,8 5,9 5,9 76,5 100 0,82 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte)

Fonte: Pesquisa de campo.

Finalmente, a utilização da Internet como fonte de informação foi apontada pela

maioria dos empresários como importante instrumento de aprendizagem. Além de

realizarem consultas na rede sobre diversas questões relacionadas ao setor produtivo, a

maioria destas empresas também possui, ou estão em via de construção, de sites com

informações sobre as mesmas.

101

Alguns resultados obtidos com os processos de treinamento e aprendizagem

A tabela IV.16 apresenta o grau de importância sugerido pelas empresas com

relação aos resultados obtidos com os processos de treinamento e aprendizagem das

MPEs do arranjo produtivo de moda praia em Cabo Frio. O maior conhecimento por

parte das empresas sobre as características do mercado em que atuam foi o item

considerado como mais importante (94% dos entrevistados80 consideraram média ou

alta importância).

Tabela IV.16 - Resultados Obtidos com os Processos de Treinamento e Aprendizagem das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

%

Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Resultados

Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Melhor utilização de técnicas

produtivas, equipamentos, insumos e componentes

5,9 0,0 29,4 64,7 100 0,82 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Maior capacitação para realização de modificações e melhorias 5,9 0,0 11,8 82,4 100 0,89 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Melhor capacitação para desenvolver novos produtos e processos

5,9 5,9 11,8 76,5 100 0,85 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Maior conhecimento sobre as características dos mercados de atuação

0,0 5,9 5,9 88,2 100 0,94 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Melhor capacitação administrativa 0,0 0,0 35,3 64,7 100 0,86 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).

Fonte: Pesquisa de campo.

Além disso, a maior capacitação para realização de modificações e melhorias e

melhor capacitação para desenvolver novos produtos e processos também foram

apontados como itens bastante relevantes.

De acordo com os empresários entrevistados, o que determina a sobrevivência

das empresas neste setor é a capacidade de introdução de produtos diferenciados por

cada empresa individualmente, seja em relação à qualidade seja no que se refere

especificamente ao design de cada nova coleção. Nesse sentido, conhecer o mercado em

que atuam (considerado o item mais importante), ter idéia das tendências da moda que

possam agradar os consumidores (através de publicações especializadas, participação

80 Não confundir esta percentagem com o índice ponderado (0,94) em relação ao grau de importância atribuído pelas micro empresas neste quesito.

102

em feiras e exibições e, principalmente, acompanhar as tendências propostas pela

mídia) e ter a capacidade de perceber quando e quem será o principal demandante é de

fundamental importância para a dinâmica produtiva do setor.

Um fato interessante relatado por alguns empresários, cada um a seu modo, foi a

existência de “empresas inovadoras” e “empresas copiadoras” (Peixoto & Cassiolato,

2004). As primeiras seriam aquelas que saem na frente em relação às novas tendências e

modelos, enquanto as outras, ficam esperando para copiar e até mesmo obter os novos

moldes diretamente de dentro das empresas inovadoras. Segundo um dos empresários

entrevistados, a maneira mais eficaz de se evitar a cópia é através da diferenciação dos

produtos81.

Nesse sentido, entender esta dinâmica do processo de inovação no arranjo

produtivo de moda praia de Cabo Frio – levando-se em consideração o processo de

aprendizagem e o conhecimento gerado - é de fundamental importância para a

compreensão da discussão que este trabalho procura travar.

9) Principais esforços inovativos

Uma vez reconhecida a importância da inovação para a dinâmica do arranjo de

confecções de moda praia em Cabo Frio, a análise do seu processo se faz necessária. A

tabela IV.17 apresenta o número de empresas do arranjo produtivo que introduziram

inovações entre 2000 e 2002.

Tabela IV.17 - Número de Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ que

Introduziram Inovações entre 2000 e 2002 Micro Pequena Descrição Sim Sim

1. Inovações de produto 5,9% 0,0% 1 0 1.1. Produto novo para a sua empresa, mas já existente no mercado?

5,9% 0,0% 0 0 1.2. Produto novo para o mercado nacional?

0,0% 0,0% 0 0 1.3. Produto novo para o mercado internacional?

0,0% 0,0% 2. Inovações de processo 11,8% 0,0%

2 0 2.1. Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no setor? 11,8% 0,0% 2.2. Processos tecnológicos novos para o setor de atuação? 1 0

81 Como se verá adiante, esta diferenciação dos produtos se traduz, basicamente, a novos modelos. Ou seja, não há a introdução de novos produtos para a empresa e sim modificações no mesmo produto (novos designs).

103

5,9% 0,0% 3. Outros tipos de inovação 100,0% 100,0%

3 1 3.1. Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo de acondicionamento de produtos (embalagem)? 17,6% 100,0%

17 1 3.2. Inovações no desenho de produtos? 100,0% 100,0%

4. Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais) 82,4% 100,0%

3 1 4.1. Implementação de técnicas avançadas de gestão ? 17,6% 100,0%

7 1 4.2. Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional? 41,2% 100,0%

11 1 4.3. Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing ? 64,7% 100,0%

14 1 4.4. Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização ? 82,4% 100,0%

1 0 4.5. Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando a atender normas de certificação (ISO 9000, ISSO 14000, etc)? 5,9% 0,0% Amostra (Nº de Empresas) 17 1

Fonte: Pesquisa de campo. No que diz respeito à inovação de produto, apenas uma empresa (5,9% da

amostra) afirmou ter introduzido algum produto novo para a sua empresa, mas já

existente no mercado. Neste caso único, a empresa que diversificou introduziu a

confecção de roupas de ginástica. Entretanto, a inovação não representou um sucesso,

pois, segundo informações obtidas em entrevista, a produção continuada de tais

produtos era mais custosa, além de requerer investimento em novos equipamentos.

A aquisição de novos equipamentos é parcialmente refletida quando se analisa as

inovações de processo. Assim como no caso das inovações de produto, poucas empresas

informaram ter introduzido processos tecnológicos novos para sua empresa, mas já

existente no setor (11,8% da amostra). Trata-se, basicamente, da aquisição de novas

máquinas (porém não as mais modernas) que ainda não eram utilizadas pelas empresas.

Quanto aos processos tecnológicos novos para o setor de atuação, apenas uma empresa

(5,9% da amostra) respondeu ter introduzido este tipo de inovação. Esta inovação se

trata de uma modificação feita pelo próprio empresário no funcionamento da máquina

(que ele já possuía) que, segundo ele, produz uma diferenciação na costura que

nenhuma outra empresa do setor possui. Tal modificação é o típico resultado de

processos produzidos por learning by using. A carência desse tipo de inovação é

104

resultado de uma grande dificuldade enfrentada pelas empresas para a aquisição de

novas e modernas máquinas e equipamentos82.

As empresas, porém, têm efetuado importantes inovações organizacionais. De

fato, 82,4% das empresas entrevistadas afirmaram terem implantado, entre 2000 e 2002

mudanças organizacionais. Dentre tais mudanças, as mais importantes têm sido as

mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização (82,4% das

empresas pesquisadas) e mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de

marketing (64,7% das empresas). As mudanças nas práticas de gestão não parecem ter

sido tão significativas. Apenas 17,6% das empresas informaram terem implementado

técnicas avançadas de gestão e 41,2% das empresas implementaram mudanças

significativas na estrutura organizacional.

Além disso, como já previsto, a totalidade das empresas informou ter efetuado

inovações no desenho de produtos. Pelo menos uma vez por ano (às vezes duas ou três

vezes), as empresas efetuam o lançamento de uma nova coleção. Dessa forma, é nesta

atividade que se concentra o principal diferencial de cada empresa, ou seja, é na

inovação constante no design dos produtos que ocorre a competição entre as empresas.

Segundo o depoimento de alguns empresários, apesar de existirem muitas lojas na Rua

dos Biquínis especializadas na produção deste produto, percebe-se que muitas marcas

possuem seu próprio estilo de biquíni. Este tipo de estratégia responde, então, pela

elevada percentagem acima apontada com relação a mudanças tanto nas práticas quanto

nos conceitos de marketing e comercialização (Peixoto & Cassiolato, 2004). Este tipo

de estratégia está associado ao próprio padrão de concorrência observado no arranjo,

sendo responsável para que as empresas mantivessem a sua participação no mercado,

apesar do acirramento da concorrência que as mesmas estão enfrentando,

principalmente em relação à própria comercialização.

A tabela IV.18, que aponta a constância das atividades inovativas nas MPEs do

arranjo produtivo, reforça o que foi dito ao longo desta seção. As novas formas de

comercialização e distribuição são apontadas por 82,4% das empresas como atividades

inovativas que são rotineiramente realizadas. Este tipo de inovação sistêmica, como dito

anteriormente, está associado ao padrão de concorrência das empresas do arranjo.

Ainda que, aproximadamente, 94% das empresas efetuem aquisição de máquinas

e equipamentos, a maior parte (58,8%) apenas o faz ocasionalmente. Este tipo de

82 Ver tabela V.1 no próximo capítulo.

105

atividade inovativa possui o mesmo “grau de constância”83 para as empresas que os

programas de treinamento orientado à introdução de produtos/processos, apesar da

enorme relevância na inovação constante no design destes produtos.

A pesquisa e desenvolvimento na empresa não é uma atividade amplamente

realizada pelas empresas do arranjo. O que existe, como já dito anteriormente, é uma

ampla difusão do conhecimento tácito e práticas no processo de produção que são

transmitidos, principalmente, através de processos informais de interação entre os

agentes.

Tabela IV.18 - Constância da Atividade Inovativa nas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ (%)

Atividade Inovativa Micro Pequena

Não

desenvolveu

Rotineiramente

Ocasionalmente Total Índice*

Não desenvol

veu

Rotineiramente

Ocasionalmente Total Índice*

Pesquisa e Desenvolvimento na empresa

58,8 29,4 11,8 100 0,35 0,0 100,0 0,0 100 1,00

Aquisição externa de P&D 94,1 5,9 0,0 100 0,06 100,0 0,0 0,0 100 0,00

Aquisição de máquinas e equipamentos

5,9 35,3 58,8 100 0,65 100,0 0,0 0,0 100 0,00

Aquisição de outras tecnologias (licenças, patentes)

82,4 5,9 11,8 100 0,12 100,0 0,0 0,0 100 0,00

Projeto industrial ou desenho associados à produtos / processos

82,4 5,9 11,8 100 0,12 100,0 0,0 0,0 100 0,00

Programa de treinamento orientado à introdução de produtos/ Processos

11,8 41,2 47,1 100 0,65 0,0 0,0 100,0 100 0,50

Programas de gestão da qualidade ou de modernização organizacional

58,8 5,9 35,3 100 0,24 0,0 0,0 100,0 100 0,50

Novas formas de comercialização e distribuição

5,9 82,4 11,8 100 0,88 0,0 100,0 0,0 100 1,00

Amostra (Nº de Empresas) 17 1

*Índice = (0*Nº Não desenvolveu + 0,5*Nº Ocasionalmente + Nº Rotineiramente) / (Nº Empresas por Porte).

83 Este “Grau de Constância” referido significa apenas que estas atividades possuem o mesmo índice, calculado como uma média ponderada em relação às constâncias inovativas das empresas.

106

Fonte: Pesquisa de campo.

Dessa forma, pode-se dizer que a produção de moda-praia na região não é

intensiva em inovação (radical) tecnológica e de produto. O que torna, de fato, a

empresa competitiva é a capacidade de introdução de inovações no design e estilo dos

produtos, aliados a melhoria de acondicionamento dos produtos e estratégias de

marketing e comercialização.

No entanto, é necessário ressaltar que inovações no processo, principalmente

através da aquisição de máquinas e equipamentos que implicariam em significativas

melhorias tecnológicas, aquisição de tecnologias (principalmente softwares

relacionados a tais máquinas) e que seriam de grande relevância para a competitividade

das empresas, não têm sido objeto de preocupação dos empresários locais. Enfrentando

difícil concorrência e não encontrando políticas adequadas de financiamento, os

empresários de Cabo Frio não conseguem atualizar seus processos produtivos. Este fato

pode significar uma barreira significativa, particularmente, para atender um mercado

externo em expansão. Este é de fundamental importância para a dinâmica de longo

prazo do arranjo, principalmente se for levada em consideração a sazonalidade, tanto da

produção quanto da mão-de-obra.

A tabela IV.19 aponta os impactos gerados pela introdução de inovações nas

MPEs do arranjo produtivo de moda praia de Cabo Frio. A maioria dos empresários

apontou o aumento da qualidade dos produtos como o fator mais importante resultante

da introdução de inovações. Ainda que enfrentem grandes dificuldades84,

principalmente em relação à concorrência dos produtos chineses, o que afeta,

consideravelmente, a comercialização dos seus produtos, este aumento na qualidade é

uma maneira de se diferenciarem em relação a estes produtos que são, em geral, de

baixa qualidade. Esta diferenciação, aliada à ampliação da gama de produtos ofertados,

é responsável, em última instância, pela manutenção na participação nos mercados de

atuação, resultado, outrossim, da introdução de inovações.

Algumas empresas conseguiram aumentar sua participação no mercado nacional

e até alcançar o mercado internacional. Este aumento, no entanto, se deveu não apenas

às atividades inovativas, mas também a novas formas de cooperação entre algumas

empresas.

84 As principais dificuldades na operação das empresas serão melhores analisadas no item 2 do próximo capítulo.

107

Deve-se ressaltar ainda que poucas empresas tiveram seus custos (trabalho,

insumo e consumo de energia) reduzidos devido às práticas inovativas. Pelo contrário, a

maioria teve ampliação dos mesmos, tanto pela aquisição de novas máquinas quanto

pela utilização de novos insumos e matéria-prima.

Por último, de acordo com os empresários, houve ampliação da gama de

produtos ofertados e aumento da produtividade de algumas empresas como resultados

da introdução de inovações.

Tabela IV.19 - Impactos Gerados pela Introdução de Inovações nas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

%

Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela PequenaImpacto

Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Aumento da produtividade 11,8 17,6 41,2 29,4 100 0,59 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Ampliação da gama de

produtos ofertados 0,0 5,9 29,4 64,7 100 0,84 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Aumento da qualidade dos produtos 0,0 11,8 11,8 76,5 100 0,87 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Manutenção na participação nos mercados de atuação 0,0 5,9 23,5 70,6 100 0,86 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Aumento da participação no mercado interno 11,8 35,3 23,5 29,4 100 0,54 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Aumento da participação no mercado externo 35,3 29,4 5,9 29,4 100 0,42 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Abertura de novos mercados 5,9 41,2 17,6 35,3 100 0,58 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Redução de custos do trabalho 52,9 35,3 5,9 5,9 100 0,20 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Redução de custos de insumos 64,7 11,8 17,6 5,9 100 0,20 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Redução do consumo de

energia 64,7 17,6 5,9 11,8 100 0,21 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30

Enquadramento em regulações e normas / padrão relativas ao Mercado Interno

70,6 29,4 0,0 0,0 100 0,09 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60

Enquadramento em regulações e normas / padrão relativas ao Mercado Externo

88,2 5,9 5,9 0,0 100 0,05 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60

Redução do impacto sobre o meio ambiente 88,2 0,0 11,8 0,0 100 0,07 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00

Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).

Fonte: Pesquisa de campo.

10) Formas de cooperação no arranjo produtivo

Dados da pesquisa de campo sugerem claramente uma nítida diferenciação, por

parte dos empresários, em relação à cooperação. Esta diferenciação se dá,

evidentemente, entre aqueles que participam e os que não participam do consórcio de

exportação. Entre os do primeiro grupo, a noção e a importância da cooperação são

108

muito mais claras em diversos sentidos, seja na compra de insumos e matéria-prima,

participação em eventos, venda conjunta, etc. No segundo grupo, entretanto, não apenas

a noção de cooperação, mas a interação e troca de informações não são claramente

compreendidas. Apesar de estarem em constante contato com outros empresários, seja

na própria Rua dos Biquínis ou mesmo na Associação Comercial, da qual alguns fazem

parte, trocando informações e até mesmo discutindo formas de ações conjuntas para a

melhoria local, diversos empresários alegaram não participar de atividades cooperativas.

Alguns até demonstraram certa ironia em relação às mesmas, carregando muito forte a

noção de concorrência. Percebe-se, claramente, que consideram a existência de uma

barreira entre cooperação e concorrência, não percebendo que a interação entre as

mesmas pode ser benéfica. Segundo Regazzi et at. (2004), tais atitudes seriam

obstáculos colocados pela cultura empresarial da região: em geral, muito individualista,

desconfiada, pouco estratégica e incapaz de perceber vantagens competitivas na

cooperação.

A tabela IV.20 aponta a participação em atividades cooperativas das empresas

do arranjo. Observa-se que metade das empresas (micro e pequenas) respondeu que

participaram de atividades cooperativas em 2002, ressaltando que sete das mesmas

fazem parte do consórcio de exportação. Das duas que não fazem parte do consórcio,

uma delas realizou compra de insumos e participou de atividades de marketing comum

às empresas da Rua. A outra, participou da realização de uma feira com outras

empresas.

Tabela IV.20 - Participação em Atividades Cooperativas em 2002 das Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ %

Porte Participa Não Participa Total Amostra

(Nº de Empresas) Micro 52,9 47,1 100 17 Pequena 0,0 100,0 100 1

Fonte: Pesquisa de campo.

Dentre as principais atividades cooperativas desenvolvidas pelas empresas do

arranjo em 2002 destacam-se compra de insumos, venda de produtos, desenvolvimento

de produtos e processos e no design e estilo de produtos, reivindicações e participação

conjunta em feiras (tabela IV.21).

Aproximadamente 67% das empresas consideraram de média e alta importância

a cooperação na compra de insumos e 77,8% na venda conjunta de produtos, no

109

desenvolvimento de produtos e processos e no design e estilo dos produtos. Não menos

importantes são as cooperações visando a participação conjunta em feiras e buscando

organizar processos reivindicatórios.

Tabela IV.21 - Atividades Cooperativas Desenvolvidas pelas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo FrioRJ em 2002

%

Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Finalidade da Cooperação

Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Compra de insumos e equipamentos 22,2 11,1 22,2 44,4 100 0,32 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Venda de produtos 22,2 0,0 0,0 77,8 100 0,41 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Desenvolvimento de Produtos e

processos 22,2 0,0 11,1 66,7 100 0,39 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00

Design e estilo de Produtos 22,2 0,0 0,0 77,8 100 0,41 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Capacitação de Recursos Humanos 33,3 44,4 0,0 22,2 100 0,19 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Obtenção de financiamento 44,4 0,0 22,2 33,3 100 0,25 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Reivindicações 11,1 0,0 22,2 66,7 100 0,42 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Participação em feiras, etc 11,1 0,0 11,1 77,8 100 0,45 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Outras 0,0 0,0 50,0 50,0 100 0,09 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00

Amostra (Nº de Empresas) 9 0 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Total de Empresas)

Fonte: Pesquisa de campo.

Apesar da importância da capacitação de Recursos Humanos, apenas 22,2% dos

empresários consideraram esta forma de cooperação como de alta importância. No

entanto, o que este número reflete é exatamente a carência local deste tipo de serviço, e

não que os empresários não a considerem importante. Ainda assim, mesmo os

empresários participantes do consórcio não consideraram esta atividade tão relevante,

uma vez que eles não se mobilizaram, de fato, para este fim.

Quanto à obtenção de financiamento, 55,5% dos empresários consideraram esta

forma de cooperação de média e alta relevância, sendo todos participantes do consórcio

de exportação. Segundo eles, é mais fácil conseguir crédito quando se está em conjunto,

pois as garantias podem ser “diluídas” entre os empresários85. Ainda assim, existe muito

receio por parte dos micro empresários, em geral, na busca de financiamento para seus

negócios.

Como principais resultados destas ações cooperativas destacam-se: melhorias

nas condições de fornecimento dos produtos, melhoria nas condições de

85 Este fato abre espaço para se pensar na possibilidade da introdução do microcrédito na região para atender as necessidades mais básicas dos empresários. No entanto, é necessário ressaltar que este tipo de financiamento, ao meu ver, é insuficiente para atender às reais necessidades de fomento do arranjo produtivo de moda praia da região, principalmente para o aumento de sua competitividade para atingir o mercado que se pretende. No entanto, esta questão específica não faz parte do escopo que este trabalho propõe discutir, ainda que se reconheça a enorme relevância da questão.

110

comercialização, novas oportunidades de negócios, promoção de nome/marca das

empresas no mercado nacional e, principalmente, maior inserção das empresas no

mercado externo. A tabela IV.22 resume estes resultados.

Tabela IV.22 - Resultados Obtidos com as Parcerias Realizadas pelas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

%

Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Resultados

Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Melhoria na qualidade dos produtos 11,1 11,1 0,0 77,8 100 0,43 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Desenvolvimento de novos produtos 22,2 0,0 0,0 77,8 100 0,41 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Melhoria nos processos produtivos 22,2 11,1 55,6 11,1 100 0,25 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Melhoria nas condições de fornecimento

dos produtos 0,0 0,0 55,6 44,4 100 0,41 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00

Melhor capacitação de recursos humanos 33,3 55,6 11,1 0,0 100 0,12 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Melhoria nas condições de

comercialização 0,0 0,0 0,0 100,0 100 0,53 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00

Introdução de inovações organizacionais 22,2 44,4 11,1 22,2 100 0,22 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Novas oportunidades de negócios 0,0 0,0 11,1 88,9 100 0,51 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Promoção de nome/marca da empresa no

mercado nacional 0,0 0,0 22,2 77,8 100 0,48 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00

Maior inserção da empresa no mercado externo 22,2 0,0 0,0 77,8 100 0,41 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00

Outras 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Amostra (Nº de Empresas) 9 0 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Total de Empresas).

Fonte: Pesquisa de campo.

Naturalmente, os maiores beneficiados destas atividades de cooperação foram as

empresas participantes do consórcio de exportação, principalmente em relação à

melhoria nas condições de comercialização, novas oportunidades de negócios,

promoção de nome/marca da empresa no mercado nacional e inserção no mercado

externo. No entanto, estas empresas ainda dependem da atuação de órgãos fomentadores

para que o consórcio funcione.

11) Síntese parcial

Este capítulo apresentou as principais características do arranjo produtivo local

de moda praia de Cabo Frio desde sua origem e desenvolvimento, examinado o perfil

dos principais agentes ocupados nas empresas do arranjo, a infra-estrutura local, as

vantagens dinâmicas locais para a competitividade, a interação e processos de

111

aprendizagem, os principais esforços inovativos e as formas de cooperação no arranjo

produtivo.

Observou-se que a sazonaliadade do emprego é a característica principal da

atividade no arranjo, com a maioria destas empresas contratando serviços temporários

no verão, quando a produção e as vendas aumentam consideravelmente. Apesar disso, o

aprendizado no arranjo ocorre através de processos informais de transmissão de

conhecimentos tácitos e práticas no processo de produção (learning by doing). A

experiência de cada firma e indivíduo é disseminada pelo arranjo, formal ou

informalmente, seja através da troca de informações, seja através da transmissão de

conhecimentos por parte dos trabalhadores que transitam por diferentes empresas e

dentro das próprias empresas através da interação e capacitação de familiares (learning

by interacting).

Além disso, observou-se, também o tipo de aprendizado learning by using nas

empresas do arranjo, seja no treinamento interno das firmas seja através da modificação

em equipamentos para melhor utilização na busca da inovação.

Apesar disso, o arranjo não conta com uma infra-estrutura adequada no que diz

respeito à capacitação de mão-de-obra voltada para as atividades relacionadas à moda

praia. Existe uma expectativa muito grande por parte dos empresários das confecções de

moda praia em relação tanto à implementação de cursos especializados como também à

criação de cursos superiores de Moda e Design nas universidades locais.

Dentre as principais vantagens dinâmicas para a competitividade destacam-se: a

proximidade com clientes e consumidores, venda de produtos, conhecimento

prático/técnico da produção por parte da mão-de-obra, qualidade da matéria-prima e

outros insumos, além do desenho, estilo e qualidade dos produtos. Observou-se,

outrossim, que é esta capacidade de inovar em design, aliadas à novas estratégias de

comercialização que diferenciam a competitividade da grande maioria das empresas do

arranjo.

Nesse sentido, a principal atividade de treinamento e capacitação de Recursos

Humanos das MPEs do arranjo produtivo de confecções de moda praia em Cabo Frio

baseia-se no treinamento nas empresas, uma vez que não há cursos técnicos

especializados no arranjo. As principais fontes de informação para o aprendizado são as

áreas de produção das empresas, venda e marketing, informações provenientes do

contato com o cliente e informações baseadas na internet ou computador.

112

Os principais resultados desta busca de informações são melhor capacitação para

desenvolver produtos e processos, melhor capacitação para a realização de melhorias e

modificações e maior conhecimento sobre as características dos mercados de atuação.

Dentre os principais esforços inovativos realizados pelas empresas destacam-se

inovações nos desenhos do produto e mudanças significativas nos conceitos e/ou

práticas de comercialização, resultando, principalmente, na ampliação da gama de

produtos ofertados, aumento da qualidade dos produtos e manutenção na participação

nos mercados de atuação.

Entretanto, poucas empresas participaram de atividades cooperativas. Dentre as

que participaram, os principais resultados obtidos com as parcerias realizadas pelas

micro e pequenas empresas do arranjo produtivo foram as seguintes: melhoria nas

condições de comercialização, novas oportunidades de negócios, promoção de

nome/marca da empresa no mercado nacional, e maior inserção da empresa no mercado

externo. Os maiores beneficiados destas atividades de cooperação foram as empresas

participantes do consórcio de exportação, que ainda dependam da atuação de órgãos

fomentadores para funcionar.

113

CAPÍTULO V – PERSPECTIVAS DO APL DE MODA PRAIA DE CABO FRIO:

POLÍTICAS DE PROMOÇÃO E A QUESTÃO DA INSERÇÃO NO MERCADO

EXTERNO

1) Introdução

Com base no que foi apresentado nos capítulos anteriores deste trabalho, em

especial na análise do arranjo produtivo local de moda praia, este capítulo procura fazer

um exercício de análise quanto a possível trajetória a ser seguida pelas empresas do

arranjo no âmbito da competição internacional do setor de confecções.

É claro que num cenário de possibilidades a análise pode apresentar certa

fragilidade caso o contexto histórico e, principalmente, político não seja levado em

consideração. Para isso, toda a análise desenvolvida no capítulo I e II em relação à

dinâmica do capitalismo dependente deve ser levado em consideração quando pensamos

na inserção das empresas na cadeia competitiva global.

Dessa forma, as políticas de promoção de APLs, na medida em que refletem a

capacidade de determinados atores de estimular o desenvolvimento de atividades

econômicas que apresentam vínculos de produção, interação, cooperação e

aprendizagem, com potencial para gerar o incremento da capacidade inovativa

endógena, da competitividade e do desenvolvimento local, representam elementos

fundamentais nesta discussão. Por isso, é fundamental a compreensão do papel de

determinados atores na coordenação e promoção de atividades que busquem o

desenvolvimento do APL considerado.

Uma vez ressaltada a importância do aprendizado nesta discussão, quando se

considera o papel de políticas que busquem a promoção de diferentes formas de

aprendizado, devemos considerar que “o locus do aprendizado deixa de ser

exclusivamente a firma individual e passa a incluir também a interface com outros

agentes – firmas, agências públicas e privadas de P&D, consumidores, provedores etc.”

(Mytelka, 2000). A existência de instituições e arranjos capazes de coordenar e

potencializar essas interações assume um papel extremamente importante.

Nesse sentido, abre-se espaço para potencializar a competitividade e a

participação tanto no comércio interno quanto no externo. Este seria o espaço de

sobrevivência e expansão das MPEs como parte de uma estrutura de rede ou de um

arranjo inovativo capaz de viabilizar processos de aprendizado. As políticas públicas,

114

orientadas a fortalecer essas redes de interação, poderiam assim desempenhar um papel

crucial no processo de construção da competitividade, seja aumentando-a no âmbito

interno seja abrindo espaço para a inserção no âmbito externo.

Nesse cenário, o capítulo aponta as principais dificuldades enfrentadas pelas

empresas do arranjo para, então, fazer considerações de políticas para o fomento do

mesmo. Em seguida, é apresentado o consórcio Pau-Brasil de moda praia e seu principal

objetivo que é a inserção no mercado internacional. No entanto, apesar de reconhecer a

importância da conquista desses mercados, a análise sugere cautela, principalmente,

quanto à atuação das grandes empresas e outras formas hierarquizadas de coordenação

no arranjo capazes de articular os atores locais com o mercado internacional. É preciso

estar ciente dos desafios específicos que a condição periférica impõe para a adoção de

políticas em favor do aprimoramento da/para inserção internacional destas MPEs.

2) Principais dificuldades enfrentadas pelas empresas do arranjo

Os dados levantados pela pesquisa, principalmente, com relação à inovação,

aprendizado e cooperação parecem refletir a precariedade institucional e os problemas

estruturais geradores das principais dificuldades enfrentadas pelas empresas do arranjo

produtivo de moda praia de Cabo Frio.

A tabela V.1 apresenta o grau de dificuldade operacional das empresas do

arranjo produtivo de confecções de moda praia em Cabo Frio tanto no ano de

estabelecimento da empresa quanto em 2002. A análise da tabela mostra que a principal

dificuldade enfrentada pelos empresários, seja no primeiro ano de funcionamento da

empresa seja em 2002, é em relação à contratação de empregados qualificados.

Conforme já ressaltado, a falta de cursos regulares de capacitação profissional voltados

para as confecções é uma das principais carências percebidas em relação à qualificação

da mão-de-obra local.

Em relação à produção com qualidade, praticamente todas as empresas alegaram

que suas principais preocupações residem na produção de alta qualidade, utilizando

matéria-prima e demais insumos de qualidade. Pela tabela V.1, é possível perceber que

este tipo de dificuldade diminuiu para as empresas desde o primeiro ano de

funcionamento até o ano 2002.

115

Tabela V.1 - Grau de Dificuldade Operacional das Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ %

Grau de Dificuldade Atribuído pelas empresas do arranjo 1º Ano de Atuação Em 2002 Dificuldade

Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Contratar empregados qualificados 11,1 0,0 5,6 83,3 100,0 0,87 16,7 0,0 11,1 72,2 100,0 0,79 Produzir com qualidade 50,0 22,2 11,1 16,7 100,0 0,30 55,6 22,2 16,7 5,6 100,0 0,22 Vender a produção 22,2 50,0 16,7 11,1 100,0 0,36 11,1 22,2 33,3 33,3 100,0 0,60 Custo / falta de capital de giro 27,8 5,6 11,1 55,6 100,0 0,64 16,7 11,1 5,6 66,7 100,0 0,73 Custo/falta de capital para aquisição

de máquinas e equipamentos 27,8 22,2 16,7 33,3 100,0 0,50 16,7 27,8 16,7 38,9 100,0 0,57

Custo / falta de capital para aquisição / locação de instalações 55,6 22,2 11,1 11,1 100,0 0,24 88,9 5,6 0,0 5,6 100,0 0,07

Pagamento de juros 66,7 11,1 5,6 16,7 100,0 0,23 50,0 22,2 11,1 16,7 100,0 0,30 Outras dificuldades 50,0 0,0 0,0 50,0 100,0 0,50 0,0 0,0 33,3 66,7 100,0 0,87

Amostra (Nº de Empresas) 18 18 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).

Fonte: Pesquisa de campo.

Não obstante a preocupação com a qualidade dos produtos, as empresas estão

também enfrentando, cada vez mais, dificuldade para vender sua produção. Um dos

fatores apontados pelos empresários é a “invasão chinesa” com mercadorias bem mais

baratas e algumas de boa qualidade. Além deste tipo de concorrência, muitos

empresários se referiram à “concorrência desleal” gerada pela informalidade, que vem

crescendo continuamente ao longo dos últimos anos como resultado do aumento do

desemprego e da queda do nível de renda da população. Reconhecem os empresários

que não há possibilidade de competir em preços, por isso tentam direcionar sua

produção para mercados de maior poder aquisitivo, preocupando-se, portanto com a

qualidade. No entanto, é significativo que diversos empresários observaram que, talvez

como resultado da diminuição da renda de significativa parcela da população brasileira,

principalmente nos últimos quinze anos, tem havido, nestes anos uma mudança no perfil

do consumidor brasileiro: tem aumentado o número dos que passam a se preocupar mais

com preços em relação aos que enfatizam a qualidade do produto. Este fato é percebido

quando analisado o grau de dificuldade para se vender a produção na tabela V.1.

O aumento dos problemas relativos ao custo ou falta de capital de giro, de

capital para a aquisição de máquinas e equipamentos e dificuldades encontrada com o

pagamento de juros, está relacionado ao obstáculo encontrado pelas empresas ao acesso

ao financiamento. A maioria das empresas resiste em adquirir financiamentos. E quando

o fazem, tomam emprestado baixos montantes para questões emergenciais. Esta questão

está fortemente relacionada à própria viabilidade do arranjo produtivo de moda praia no

116

longo prazo. Sem melhores condições na obtenção de empréstimos, principalmente para

a compra de modernas máquinas e equipamentos, a competitividade das empresas corre

sério risco de se extinguir, não obstante às questões relacionadas às especificidades

locais.

O Banco do Brasil é a principal instituição lembrada pelos empresários para a

obtenção de crédito tanto para capital de giro quanto para estímulo à exportação. Dentre

estas modalidades de financiamento destacam-se o Programa de Financiamento às

Exportações (Proex), Adiantamento sobre Contratos de Câmbio (ACC) e Adiantamento

sobre Cambiais Entregues (ACE), que consistem na antecipação total ou parcial de

recursos financeiros ao exportador, em moeda nacional, correspondentes ao pagamento

em moeda estrangeira que será efetuado pelo importador no futuro por conta de uma

exportação.

No entanto, poucos empresários utilizam tais modalidades de financiamento. Em

geral, se limitam a pequenos empréstimos para capital de giro quando há necessidade.

Sua verdadeira carência, como já dito, se encontra num financiamento adequado para

compra de máquinas e equipamentos. A maioria demonstrou grande interesse nesse

sentido, reconhecendo, porém, a total impossibilidade de viabilizar tais financiamentos,

tendo em vista a total inadequação das estruturas de financiamento existentes. As

informações obtidas com os dados da tabela V.2 abaixo, que se referem aos obstáculos

que limitam o acesso ao financiamento por parte das MPEs do arranjo produtivo de

confecções em Cabo Frio, comprovam e qualificam tal assertiva. Pelos dados da tabela,

mais de 60% das micro empresas apontaram as “dificuldades ou entraves burocráticos

para se utilizar as fontes de financiamento existentes” e “exigência de aval/garantias por

parte das instituições de financiamento” como fatores de limitação média e alta ao

acesso ao financiamento86.

86 Como algumas empresas nunca recorreram a empréstimos, optaram por considerar de baixa ou nenhuma importância tais obstáculos.

117

Tabela V.2 - Obstáculos que Limitam o Acesso a Financiamento das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ

%

Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Obstáculos

Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Inexistência de linhas de crédito

adequadas 17,6 35,3 17,6 29,4 100 0,51 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Dificuldades ou entraves burocráticos para se utilizar as fontes de financiamento

11,8 17,6 23,5 47,1 100 0,66 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Exigência de aval/garantias por parte das instituições de financiamento 11,8 23,5 23,5 41,2 100 0,62 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Entraves fiscais que impedem o acesso às fontes oficiais de financiamento

23,5 17,6 17,6 41,2 100 0,57 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00

Outras 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).

Fonte: Pesquisa de campo.

Não é surpreendente, portanto que nenhum empresário tenha recorrido a

empréstimos em instituições financeiras direta ou indiretamente através de

adiantamento de materiais e recursos por fornecedores ou clientes para a constituição

das empresas. A tabela V.3 abaixo aponta as fontes de financiamento das micro e

pequenas empresas no seu primeiro ano de funcionamento e no ano de 2002. Das 18

empresas entrevistadas, apenas uma utilizou, na totalidade, recursos de parentes para

abrir sua empresa. Uma empresa utilizou metade do capital próprio e a outra metade de

parentes. Uma utilizou recursos provenientes de indenização trabalhista para tal. As

demais utilizaram recursos próprios dos sócios fundadores para abrirem seus negócios.

Em 2002, a totalidade das empresas operava apenas com recursos próprios dos sócios.

Tabela V.3 - Fonte de Financiamento do Capital das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo

Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ %

Micro Pequena Fonte de Financiamento 1º Ano 2002 1º Ano 2002

Recursos Próprios (sócios) 85,3 100,0 100,0 100,0 Empréstimos de parentes e amigos 8,8 0,0 0,0 0,0 Empréstimos de instituições financeiras 0,0 0,0 0,0 0,0 Empréstimos de instituições de apoio as MPEs 0,0 0,0 0,0 0,0 Adiantamento de materiais por fornecedores 0,0 0,0 0,0 0,0 Adiantamento de recursos por clientes 0,0 0,0 0,0 0,0 Outra 5,9 0,0 0,0 0,0

Total 100 100 100 100 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 Fonte: Pesquisa de campo.

118

Uma outra questão, também relacionada ao sistema financeiro, que segundo os

empresários é geradora de grandes entraves, se refere às administradoras de cartão de

crédito que retêm entre 3% e 4% da receita bruta nas vendas no cartão. É claro que não

é possível a não utilização desta forma de pagamento uma vez que, para algumas

empresas, em torno de 60% das vendas é realizada desta maneira. Dessa forma, esta

questão, relacionada ao aumento da competição – especialmente a informal já referida –

se torna uma das responsáveis para a queda da margem de lucro das empresas ao longo

do tempo.

3) Considerações de políticas para promoção do arranjo produtivo de moda praia

Ainda que o arranjo produtivo local de moda praia de Cabo Frio não apresente

vínculos expressivos desejados de produção, interação, cooperação e aprendizagem para

que, segundo diversos autores, seja considerado um sistema produtivo e inovativo local,

constatou-se, ao longo deste trabalho, a importância da rede de interações locais – ainda

que na maioria das vezes informais – na dinâmica do arranjo.

Nesse sentido, políticas de promoção ao APL se fazem necessárias levando-se

em consideração as especificidades do arranjo e tendo em mente o potencial existente

nestas interações entre os atores para o fomento do mesmo. Além da existência desse

potencial, acredito que para se alcançar os objetivos de crescimento e expansão dos

mercados nacionais e internacionais que os empresários do arranjo almejam, torna-se

necessário uma estrutura sistêmica que viabilize este objetivo numa dinâmica não

apenas de crescimento e expansão mas, sobretudo, de desenvolvimento local, de forma

que a dinâmica do arranjo seja “controlada” pelos próprios agentes do mesmo, e não por

outros externos a este.

Tomando como ponto de partida a tabela V.4 (Políticas Públicas que Poderiam

Contribuir para o Aumento da Eficiência Competitiva), como resultado da pesquisa de

campo, todas as empresas entrevistadas consideram que programas de capacitação são

de grande relevância como forma de política de contribuição ao desenvolvimento do

arranjo. Não obstante a importância que o conhecimento tácito local e seus mecanismos

(informais) de transmissão possuem na dinâmica produtiva do arranjo, estes não se

apresentam como condições suficientes para garantir a inserção do arranjo num

ambiente competitivo mais dinâmico, onde outros tipos de conhecimento (não apenas

119

do processo produtivo, mas também da concepção e comercialização do produto) são

fundamentais.

Tabela V.4 - Políticas Públicas que Poderiam Contribuir para o Aumento da Eficiência Competitiva segundo a Avaliação das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo

Frio/RJ (Grau de importância) - % Micro Pequena Objetivo das Políticas

Nula Baixa Média Alta Total Nula Baixa Média Alta TotalProgramas de capacitação 0,0 0,0 11,8 88,2 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Melhorias na educação básica 0,0 11,8 41,2 47,1 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Programas de apoio à consultoria técnica 0,0 5,9 41,2 52,9 100 0,0 0,0 0,0 100,0 100 Estímulos à oferta de serviços tecnológicos 5,9 0,0 23,5 70,6 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Programas de acesso à informação 0,0 5,9 52,9 41,2 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Linhas de crédito e outras formas de financiamento 0,0 5,9 35,3 58,8 100 0,0 0,0 0,0 100,0 100

Incentivos fiscais 0,0 11,8 23,5 64,7 100 0,0 0,0 0,0 100,0 100

Políticas de fundo de aval 0,0 17,6 52,9 29,4 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Programas de estímulo ao investimento 5,9 5,9 47,1 41,2 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Outras 0,0 0,0 0,0 100,0 100 0,0 0,0 0,0 0,0 0 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 Fonte: Pesquisa de campo.

A combinação do conhecimento local já existente, as formas de transmissão dos

mesmos aliados à, por exemplo, programas de capacitação e treinamento regulares da

mão-de-obra local poderiam criar uma sinergia bastante interessante. A carência de

cursos técnicos e universitários relacionados ao setor (principalmente Moda e Design) é

um fator bastante ressaltado pelos empresários como alvo de políticas no sentido de

fomento ao arranjo.

Ainda que o arranjo tenha apresentado significativas formas de aprendizado,

principalmente por uso e no processo produtivo (Learning by using e doing), observa-se

que outras formas de aprendizado, formais ou informais, devem ser estimuladas,

principalmente quando se vislumbra aumento da competitividade e conquista de novos

mercados consumidores. Mesmo que o aprendizado por interação tenha sido observado

dentro das empresas, esta interação ainda é muito embrionária nas relações interfirmas.

Esta troca de informações entre as empresas do arranjo ainda são bem escassas.

120

Nesse cenário, é necessário mais do que ter pleno domínio do processo

produtivo resultando num produto de boa qualidade, ainda que seja essencial. É

necessário também conhecer os consumidores (efetivos e potenciais), saber o que eles

querem e onde estão. Práticas de marketing e comercialização eficazes são

extremamente importantes num cenário onde aqueles outros fatores são conhecidos.

Aliados á diferentes desenhos dos produtos, o marketing e práticas de comercialização

estão fortemente relacionados à dinâmica inovativa deste arranjo.

Outro fator bastante relevante que pode ser alvo de políticas, e relacionado ao

aprendizado por interação, é em relação ao estímulo à cooperação. Maior

esclarecimento não apenas quanto à importância e estímulo à cooperação e atividades

cooperativas, mas quanto ao próprio conceito de cooperação pode ser uma maneira

eficaz de dinamizar a concorrência nas empresas do arranjo. Apesar de algumas ações

cooperativas terem gerado resultados positivos, apenas algumas empresas se

beneficiaram delas. A maioria ainda desconhece, e até mesmo evita, a cooperação e

atividades cooperativas.

Segundo a tabela V.4, outras políticas que merecem destaque são as de estímulos

à oferta de serviços tecnológicos e linhas de crédito e outras formas de financiamento. É

possível que haja uma correlação entre esses itens como reflexo da carência de

máquinas mais modernas que os empresários gostariam de obter, mas não possuem

recursos para tal, muito menos uma forma de financiamento adequada que lhes

possibilite estas aquisições.

Quanto aos incentivos fiscais, todos os empresários reclamaram da alta carga

tributária que as micro empresas devem pagar. Uma das empresas, inclusive, já fora

uma pequena empresa, porém, devido à carga tributária, teve que voltar para o status de

micro empresa. Além disso, outra questão também relacionada à questão tributária, é a

grande presença da informalidade no arranjo. Vários empresários reclamaram a respeito

da presença de algumas confecções (que vendem bem) operando na informalidade na

Rua dos Biquínis, o que consideram uma competição desleal.

Ainda que o APL de moda praia de Cabo Frio não seja intensivo em inovações

radicais - tecnológica e de produto -, observou-se grande capacidade quanto à inovação

incremental por parte das empresas do arranjo. A capacidade de introdução de

inovações no design e estilo dos produtos, aliados a melhoria de acondicionamento dos

mesmos, e estratégias de marketing e comercialização são o que torna, de fato, as

empresas competitivas. Este tipo de estratégia ganhou maior destaque, principalmente,

121

ao longo da última década quando as empresas tiveram que forçosamente se adaptar à

nova realidade da “nova era” da globalização, além da constante crise econômica.

Outro tipo de ação também merece destaque. Trata-se da promoção de uma

marca (ou marcas) que carregue(m) a idéia da vocação natural local para a moda praia.

Para o mercado externo, poder-se-ia explorar aspectos da “intimidade” brasileira

relacionada à praia, explicada pelo clima (em alguns Estados brasileiros é “verão”

durante a maior parte do ano) e pela extensão do litoral que tem mais de sete mil kms de

praias, procurando transformar o país no lançador mundial de tendências desse

segmento. No mercado interno, tem-se a idéia do Rio de Janeiro como uma espécie de

“vitrine” da moda praia do país, sendo Cabo Frio e Búzios as principais praias turísticas

do Estado. Dessa forma, trata-se de promover algo que já pode existir no imaginário dos

consumidores de moda praia, como os vinhos, perfumes e moda franceses e as massas e

calçados italianos, por exemplo.

Uma vez criada condições reais para que as empresas do arranjo sejam, de fato,

competitivas, através da utilização de equipamentos mais modernos, maior organização

da produção, treinamento da mão-de-obra envolvida na produção, seja em nível

operacional, gerencial ou controle, e acesso ao financiamento, principalmente, para a

modernização tecnológica das empresas e consolidação de marcas e design próprios,

abre-se espaço para se pensar em franchising.

Entretanto, pensar em franquia não é trivial. A rapidez do varejo, a organização

do estoque e relacionamento com o cliente são fatores de extrema importância para a

gestão do negócio. Além disso, é condição básica que se trate de marcas sérias e

estruturadas.

É claro que este trabalho não pretende abordar todas as questões relevantes para

que esta tarefa seja concluída. No entanto, o objetivo é contribuir para que ela se realize.

Nesse sentido, estas sugestões estão baseadas, principalmente, no que foi observado na

pesquisa de campo.

Observou-se que o APL de moda praia é capaz de crescer horizontalmente, sem

institucionalidade. É exatamente a possibilidade de inserção de tal institucionalidade

que estas políticas poderiam visar, ou seja, é a busca da promoção de um sistema

produtivo e inovativo local de moda praia que se pretende alcançar.

Um primeiro passo nesse sentido já foi dado com a criação do consórcio de

exportação e a participação do SEBRAE e algumas outras instituições públicas. A

promoção de uma marca (Pau-Brasil) como sinônimo de um produto específico da

122

região parece promissor, no entanto, é necessário considerar esta iniciativa como sendo

um primeiro passo para o desenvolvimento do arranjo como um todo. Para que isto

aconteça, políticas mais abrangentes devem ser desenhadas e implementadas.

4) O Consórcio Pau-Brasil de Moda Praia e a questão da exportação

O Consórcio Pau-Brasil foi formado há pouco mais de dois anos a partir de um

projeto do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas),

desenvolvido em parceria com a FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de

Janeiro) e conta com a participação de sete micro empresas de confecção de moda praia

da cidade de Cabo Frio, que possuem uma capacidade de produção de cerca de 40 mil

peças/mês. O principal objetivo das empresas que compõem o consórcio é aumentar as

exportações, sejam “internas” ou “externas”, como uma forma de diminuir os problemas

enfrentados no período da baixa temporada, principalmente em relação à mão-de-obra.

Durante bastante tempo, os empresários tocavam seus negócios vendendo para o

turista durante os três meses de verão e auferiam renda para o ano todo. No entanto, há

pouco mais de cinco anos o setor de moda praia da região passou a enfrentar um novo

problema. Houve uma mudança na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDB) que reduziu as férias escolares no verão para 35 dias, “reduzindo o verão” para

os empresários locais, pois o grande cliente de uma cidade praiana é o jovem e o

adolescente.

Diante desta mudança no perfil da economia local os empresários se assustaram,

uma vez que suas vendas se realizavam apenas no varejo local.

Neste cenário, o SEBRAE local começou a agir na região desde o início da

Agência de Desenvolvimento Regional. Os primeiros projetos que objetivavam a

formação de um modelo cooperativista não foram bem sucedidos. No entanto, o

SEBRAE começou a atuar procurando demonstrar a necessidade de atuar de forma

distinta àquela até então em prática. A idéia, em primeiro lugar, seria criar um novo

produto para vender na baixa estação. Além disso, seria importante começar a vender

também no atacado. Apesar de sua importância fundamental, a Rua dos Biquínis não

deveria ser a única prioridade. Seria necessário uma mudança na forma de

comercialização do produto e buscar a exportação, tanto para o mercado interno quanto

para o mercado externo.

123

Dessa forma, os diversos atores sociais da região foram percebendo a

necessidade de se definir uma ação que seria capaz de mobilizar as empresas de

confecções de moda praia no sentido de elaborar um projeto que visasse o

desenvolvimento econômico e social local, a partir de ações capazes de fomentar o setor

que pudesse integrar o território (Regazzi et al., 2004).

Nesse sentido, o SEBRAE/RJ tomou a iniciativa de realizar um estudo87 sobre

alguns ícones culturais que representassem a cultura local e que pudessem ser utilizados

pelas empresas de confecção como uma maneira “não só de alavancar sua

competitividade (agregando valor), mas também de promover um sentimento de

pertencimento a uma coletividade (iniciar a integração entre atores, instituições e

localidade)” (Regazzi et al., 2004).

Em março de 2003 foi, então, elaborada uma proposta de trabalho com foco na

participação das empresas do setor de confecções de moda praia de Cabo Frio, na forma

de um consórcio de exportação, no maior evento de Moda do Rio de Janeiro e o

segundo maior do país: o Fashion Rio e o Fashion Business, realizados no MAM/RJ

(Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro). Este último trata-se de uma grande rodada

de negócios que tem por objetivo aproximar compradores nacionais e estrangeiros das

empresas ofertantes de produtos de confecção.

Para participar deste evento, decidiu-se pela criação de uma coleção única

focada em elementos culturais locais. Contando com a assistência do historiador local

Márcio Werneck, realizou-se um estudo que explorasse a cultura local dos índios

Tupinambás, antigos habitantes da região.

O segundo momento se deu com a atuação da designer Joana Pessoa, “que

soube com grande maestria ‘costurar’ os vários aspectos culturais presentes nas

diferentes culturas locais: Tupinambá, das rendas e da pesca e do cotidiano das

confecções” (Regazzi et al, 2004). Os biquínis e acessórios concebidos pela estilista

utilizaram bordados artesanais, adereços com miçangas e madrepérola, com o objetivo

de criar uma coleção exclusiva.

Como resultado, o consórcio realizou vendas de 35 mil peças para o mercado

espanhol, continuando a exportar, ao longo do ano, pequenas quantidades para os EUA,

Itália, Alemanha, Grécia, Austrália e Portugal. Também foram conquistados

compradores no mercado interno, com vendas para São Paulo, Brasília e Goiás. Além

87 Estudo elaborado pela FP Engenharia Cultural, coordenado por Fernando Portela e Marcio Werneck intitulado Programa Tupinambá (GECAY) de Moda Praia, em 2003.

124

disso, a Prefeitura e a Câmara Municipal de Cabo Frio incluíram a Coleção Tupinambá

na celebração dos 500 anos do Município de Cabo Frio no ano de 2003.

Neste processo, a FIRJAN, através do SENAI, teve importante papel ao auxiliar

o SEBRAE local na definição do grupo das sete empresas que constituiriam o

consórcio. De acordo com o documento elaborado pelo responsável pela avaliação e

seleção das empresas, Domenico Caputo, Coordenador de Produto Têxtil e Confecção

do SENAI/RJ, os critérios utilizados estavam relacionados “aos valores organizacionais

e ao modo como os empresários gerenciam as empresas a curto, médio e longo prazos”.

Foram eles: sazonalidade, canais de distribuição, área geográfica das vendas,

relacionamento com os clientes, planejamento estratégico, qualificação de RH,

aparência, arrumação e limpeza do local de trabalho, sistemas produção, métodos

operacionais corretos, balanceamento da produção, capacidade instalada x utilizada,

qualidade, produtividade, desperdício, registros, custos, modelagem, design, gestão

centrada nos clientes, foco nos resultados, comprometimento da direção, valorização da

equipe, visão de futuro, resposta rápida e melhoria contínua (Regazzi et al., 2004).

Entretanto, o início deste consórcio não foi tão simples. Segundo Cláudia

Magalhães, técnica do SEBRAE, “a maior dificuldade no processo de articulação após a

seleção, foi trabalhar a falta de cultura associativista, o individualismo, e durante muito

tempo era evidente a dificuldade que os empresários possuíam em distinguir quando

estavam representando o consórcio de quando estavam representando o empresário

enquanto dono de uma micro empresa. Só após a realização do Programa do

SEBRAE/RJ, de redes associativas, com os empresários do consórcio, conseguimos

começar a reverter este quadro (...). A partir deste trabalho, demos um salto enorme,

eles começaram a ter consciência do que realmente implica participar de um consórcio,

entendendo, de fato, a proposta do SEBRAE”88.

A realização deste workshop organizado pelo SEBRAE sobre Redes

Associativas pode ser considerado como um importante ponto de inflexão na

mentalidade dos empresários participantes do consórcio. O outro foi, sem dúvida, a

participação no Fashion Week. Segundo uma das empresárias que participam do

consórcio, “o workshop sobre associativismo foi excelente, serviu como uma ‘lavagem

de roupa suja’ final. Chegamos a conclusão de que temos que nos unir. O mercado está

muito competitivo, a indústria têxtil é muito cara. Não adianta só ter o produto se não

88 Entrevista realizada em outubro de 2003 com a técnica do SEBRAE de Cabo Frio, Cláudia Magalhães, responsável pela articulação do Consórcio de Exportação Pau-Brasil, in:Regazzi et al., 2004.

125

tiver uma marca, nem visibilidade no mercado. Pode se ter um produto de qualidade,

mas de nada adianta se o seu marketing for fraco e se você não souber como atingir o

cliente. Não há como concorrer com as grandes empresas. Precisamos nos unir ou

seremos em breve um conjunto de empresas quebradas no Brasil”.

Este depoimento parece bastante esclarecedor depois da análise feita ao longo do

último capítulo. Os empresários que participam do consórcio parecem que entenderam a

importância da cooperação para o futuro de suas empresas. No entanto, ainda há um

ambiente com forte resistência ao cooperativismo entre os empresários do arranjo

produtivo de moda praia de Cabo Frio.

Por fim, com a perspectiva de crescimento, resta saber se as empresas estão

preparadas para atender grandes volumes de pedidos. Com uma capacidade de produção

de 40 mil peças ao mês, e tendo que atender também o mercado interno, o consórcio

parece enfrentar um grande desafio de se organizar de forma totalmente diversa para se

defrontar com os problemas específicos da busca pelo mercado externo. No entanto, o

equacionamento desta questão, implicitamente sugerido ao longo do capítulo, depende

de se enfrentar várias outras. Em primeiro lugar, existe a questão da mão-de-obra.

Apesar de possuírem um conhecimento tácito na área de produção, fica claro que para

atingir outros mercados (principalmente externo) é necessário uma mão-de-obra

qualificada que saiba, entre outros atributos, operar máquinas de última geração e esteja

familiarizada com as novas tendências. Em segundo lugar, tem-se a questão da

atualização dos equipamentos. Não basta comprar as máquinas (o que por si já é uma

tarefa complicada), é necessário operá-las com eficiência. Informações obtidas com as

entrevistas sugerem que o empresariado local tem plena consciência desta questão.

Diante deste cenário, é necessário pensar qual o verdadeiro objetivo de um

consórcio de exportação. A resposta parece clara, entretanto, algumas questões devem

ser levadas em consideração: i) quem são e qual o perfil dos consumidores

internacionais?; ii) qual o perfil das empresas atuantes do arranjo produtivo local, não só

as que fazem parte do consórcio?; iii) quantas e quais empresas seriam capazes de fazer

parte de um grande consócio? e; iv) é importante se formar outros consórcios ou um

grande consórcio de exportação?

O próximo item procurará responder algumas destas perguntas quando se tentará

fazer uma análise crítica das reais condições de uma inserção virtuosa no mercado

externo, e não via inserção passiva em cadeias de commodities buyer-driven,

características de setores de bens de consumo intensivos em mão-de-obra, e que

126

inexoravelmente delegam às MPEs dos países em desenvolvimento um papel

subordinado e secundário e que não permite uma agregação de valor local e, portanto,

uma mais significativa geração de renda (Peixoto & Cassiolato, 2004).

5) Exportação e cadeia de commodities/valores: o Consórcio de Exportação Pau-

Brasil

Apesar de toda a discussão da desterritorialização, dos espaços econômicos

abertos, o território continua sendo uma realidade atuante, ainda que o Estado Nacional,

igualmente sobrevivente, tenha mudado de figura e de definição segundo os países. A

economia de todos os países conhece um processo mais vasto e profundo de

internacionalização, mas este tem como base um espaço que é nacional e cuja regulação

continua sendo nacional, ainda que guiada em função dos interesses de empresas

globais.

A economia globalizada reclama condições territoriais indispensáveis para a sua

produção e regulação. Esses espaços globalizados tanto são espaços agrícolas como

industriais e de serviços, e caracterizam-se pela sua inserção numa cadeia produtiva

global, pelas relações distantes e, freqüentemente, estrangeiras que criam e também pela

sua lógica extravertida. Mas o território não é “global”, ele não é completamente

globalizado. No entanto, e seja como for, o comportamento dos agentes e dos lugares

que não são globalizados é, direta ou indiretamente, influenciado e, em muitos casos,

subordinado, acarretando com isso efeitos não desejados e não previsíveis. Produz-se

um efeito de entropia das empresas globais e das grandes empresas sobre nações e os

lugares, na medida em que, para melhor funcionarem, tais empresas criam ordem para si

mesmas e desordem para o resto. De modo geral, e como resultado da globalização da

economia, o espaço nacional (local) é organizado para servir às grandes empresas

hegemônicas e paga por isso um preço, tornando-se fragmentado, incoerente, anárquico

para todos os demais atores (Santos e Silveira, 2001, p. 257-258).

No momento atual da globalização, e com o avanço do processo de fusões, as

lógicas ditas globais ampliam e aprofundam sua força. Quando examinamos o processo

de adoção dessas lógicas planetárias, o chamado imperativo de exportação é outro dado

a ser levado em conta na medida em que acelera a necessidade de adoção dos modelos

da economia global (Ibdem, p.258).

127

É nesse cenário que se busca analisar a questão da exportação no APL de moda

praia de Cabo Frio, ressaltando os cuidados quanto à inserção no mercado externo de

uma forma passiva em cadeias de commodities/valores buyer-driven, características de

setores de bens de consumo intensivos em mão-de-obra e que inexoravelmente delegam

às micro e pequenas empresas dos países subdesenvolvidos um papel subordinado e

secundário e que não permite uma maior agregação de valor local e, portanto, uma mais

significativa geração de renda, além de deixar tais empresas à mercê da dinâmica das

grandes empresas dos países desenvolvidos.

5.1) A busca de uma “inserção virtuosa” no mercado externo

A inserção (virtuosa) no mercado externo se trata, em grande parte, de uma

questão política. Num ambiente onde as relações internacionais se dão através de uma

clara relação de poder nas quais aos países periféricos cabe um papel subordinado de

profunda dependência, a dimensão da política industrial e da promoção de instituições

que viabilizem o desenvolvimento dos APLs é, nesse sentido, uma dimensão chave da

ruptura do círculo vicioso de reprodução da condição periférica.

Nesse cenário, algumas observações merecem destaque quanto ao caso do APL

de moda praia de Cabo Frio, pois apesar de fazer parte de um setor (confecção) onde há

baixa barreira à entrada, as grandes empresas são dominadoras no contexto do comércio

internacional.

Em primeiro lugar, é necessário maior clareza quanto ao perfil e localização do

mercado consumidor potencial para exportação. Ainda que as empresas do consórcio

participem de feiras e exposições nacionais e internacionais, esta prática ainda á

bastante tímida. Diversos empresários, não só os participantes do consórcio, se queixam

da impossibilidade de participarem de feiras no exterior, por exemplo na França e Itália,

por falta de recursos financeiros. É necessário “buscar” o consumidor para exportação

tendo as ferramentas necessárias para negociar um produto reconhecido e de qualidade.

Nesse sentido, em segundo lugar, é necessário definir os objetivos do consórcio

quanto às empresas participantes, o mercado que se deseja atingir, a capacidade de

produção e a própria viabilidade de se formarem outros consórcios, ou a ampliação do

já existente. Quanto às empresas participantes, ficou claro nas entrevistas que diversas

empresas gostariam de participar do consórcio de exportação. No entanto, alguns fatores

ainda impedem esta participação. Destacam-se: i) ainda há pouca compreensão da

128

importância da cooperação em todo o arranjo; ii) ainda que muitos desejem exportar em

conjunto, diversos empresários resistem à idéia de padronização, principalmente pelas

diferenças em relação ao maquinário; e iii) diferenças quanto ao acesso as máquinas e

equipamentos mais modernos. Quanto ao mercado que se deseja atingir, é preciso maior

clareza quanto a inserção num mercado consumidor preocupado com preços e,

conseqüentemente grandes quantidades, ou um mercado que procure qualidade e

diferenciação de produto. Neste último caso, fatores como marca e design são

fundamentais. Quanto à capacidade de produção, fica claro que as empresas do

consórcio, com uma produção estimada em 40 mil peças/ano, não seriam capazes de

atender um grande aumento do mercado consumidor. Esta questão está amplamente

relacionada à possibilidade de ampliação do consórcio de exportação.

Por último, é necessário destacar que a inserção no mercado externo não se

traduz apenas em exportar. O capítulo III deste trabalho procurou apontar as diferentes

posições das empresas localizadas nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos quanto

à subordinação dos últimos em relação às primeiras.

Ainda que o APL de moda praia de Cabo Frio tenha começado a busca por

consumidores estrangeiros, sua posição ainda é bastante frágil dada a realidade do

arranjo. Um exemplo desta fragilidade fora narrada por um empresário e demonstra

claramente a posição do APL no mercado externo: um comprador alemão adquiriu

diversas peças ao preço de US$ 8,00 cada e as revende por 30 Euros. Em outras

palavras, caracteriza-se uma típica inserção passiva na cadeias de commodities/valores

onde o país subdesenvolvido produz a um preço bem mais baixo, principalmente em

função do custo da mão-de-obra, e o país desenvolvido revende a um preço bem mais

alto devido à sua marca, estratégia de comercialização e etc.

Dessa forma, fica claro que a posição do consórcio de exportação ainda é

bastante frágil no contexto da competição das cadeias globais.

Ainda que o primeiro passo (com a formação do consórcio de exportação) na

busca de novos mercados já tenha sido dado, muito há para ser feito. Em primeiro lugar,

é necessário o planejamento de políticas mais abrangentes em relação às empresas do

arranjo produtivo e não apenas àquelas que fazem parte do consórcio. Em segundo

lugar, está claro que somente a formação de um ou outro consórcio não seria suficiente

para resolver o problema do setor. Conforme explicitado ao longo deste trabalho, é

necessário criar condições reais para que estas empresas sejam competitivas através da

busca da utilização de equipamentos mais modernos, maior organização da produção,

129

treinamento da mão-de-obra envolvida na produção, seja em nível operacional,

gerencial ou controle, e acesso ao financiamento, principalmente, para a modernização

tecnológica das empresas (Peixoto & Cassiolato, 2004).

Dessa forma, pode-se criar reais condições para uma inserção virtuosa no

mercado externo, por exemplo, através de marcas e design próprios, exportação direta,

franchising, etc. e não via inserção passiva em cadeias de commodities buyer-driven,

características de setores de bens de consumo intensivos em mão-de-obra (Gereffi,

1999) e que inexoravelmente delegam às MPEs dos países em desenvolvimento um

papel subordinado e secundário e que não permite uma maior agregação de valor local

e, portanto, uma mais significativa geração de renda. As empresas se juntariam

(estímulo à cooperação) no sentido de desenvolver estratégias de comercialização,

procurando nichos de valor agregado em design, marca etc.

Nesse sentido, a promoção da marca Pau-Brasil como sinônimo de um produto

específico da região parece promissor, desde que se pense no desenvolvimento do

arranjo como um todo. Para que isso ocorra, políticas mais abrangentes têm que ser

desenhadas e implementadas, de modo que se constitua um sistema produtivo e

inovativo com vínculos bastante expressivos.

5.2) A relevância do mercado interno e regional

Diante as dificuldades de inserção nas cadeias globais devido tanto a estrutura de

dominação existente das grandes empresas quanto as “novas” barreiras tarifárias

utilizadas pelos países desenvolvidos em substituição às quotas extintas em janeiro de

2005, parece pouco provável que o Brasil encontre um lugar de destaque nesses

mercados. Nesse sentido, levando-se em consideração a realidade do APL de moda

praia de Cabo Frio, esta inserção parece arriscada num cenário onde diversas questões

devem ser solucionadas para se criar reais condições de competitividade.

Dessa forma, paralelamente ao desenvolvimento do APL, maior importância

poderia ser dada aos mercados interno e regional.

O mercado interno consiste no mercado local (Cabo Frio e Estado do Rio de

Janeiro) e nacional (demais Estados), sendo difícil, entretanto, uma separação rigorosa

entre eles. Cabo Frio é uma cidade com grande atividade turística. O turista que visita a

cidade não é apenas do Estado do Rio de Janeiro mas também de outros Estados do

Brasil. Ainda que a venda no atacado para outros Estados do país seja feita por diversos

130

empresários, a maioria ainda concentra suas vendas no varejo nas lojas locais, sendo o

turista o maior consumidor, mesmo na baixa temporada. Por isso, é difícil distinguir o

consumidor “local” do “nacional”.

Por isso, uma vez ressaltada a importância do Rio de Janeiro como uma “vitrine”

da moda nacional, apresentar a moda praia de Cabo Frio como o local capaz de perceber

o comportamento das pessoas, num verdadeiro exercício de observação, procurando

mostrar que a moda não se trata de imposição e sim de uma sutil observação daquilo

que as pessoas gostariam de vestir, poderia ser de grande importância para a promoção

da moda praia de Cabo Frio em todo o país.

Quanto ao mercado regional, duas observações merecem destaque. Em primeiro

lugar, o turista regional, principalmente vindo dos países do Mercosul, também se faz

bastante presente na cidade. Estratégias parecidas poderiam ser pensadas para se atingir

o mercado desses países. Em segundo lugar, conforme já ressaltado no capítulo III, o

crescimento do comércio intra-blocos, em especial a partir da criação do NAFTA em

1994, deslocou parte das exportações brasileiras para o Mercosul. Em 1999, o Mercosul

já absorvia 39% das exportações brasileiras de têxteis e a América Latina (exceto

Mercosul) outros 18%. Nesse cenário, este mercado regional não deve ser ignorado,

pelo contrário.

6) Síntese parcial

O capítulo apresentou algumas perspectivas esperadas para o arranjo produtivo

de moda praia de Cabo Frio. Partindo das principais dificuldades enfrentadas pelas

empresas do arranjo na condução de seus negócios, buscou-se a elaboração de algumas

propostas de políticas para promoção do mesmo. Nesse sentido, o consórcio Pau-Brasil

de moda praia foi apresentado como um elemento promissor para o desenvolvimento do

arranjo, principalmente em relação à questão da exportação, ainda que o consórcio

esteja apenas no seu começo e ainda enfrente diversas barreiras, principalmente em

relação ao financiamento de algumas atividades e a sua inserção no mercado externo.

Nesse tocante, o capítulo procura apontar o papel a ser desempenhado pelo

consórcio na cadeia de valores internacional caso sua inserção no mercado externo não

seja feita de maneira "virtuosa", ou seja, com reis condições de competitividade, e não

de forma passiva como simples fornecedor de mão-de-obra barata. Ademais, e

131

relacionado a isto, o capítulo termina com a sugestão para se reconhecer a relevância do

mercado interno e regional para o desenvolvimento do arranjo.

132

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho procurou demonstrar como questões relacionadas às

especificidades locais, principalmente quanto ao aprendizado, conhecimento,

cooperação e inovação, são importantes para se pensar em estratégias de

desenvolvimento local, regional e nacional.

Partindo da análise da importância das especificidades locais (territoriais) frente

ao mundo globalizado, a abordagem de arranjos e sistemas produtivos locais na

perspectiva neo-schumpeteriana foi utilizada para se analisar questões relacionadas ao

conhecimento tácito, cooperação e inovação no APL de moda praia de Cabo Frio. Esta

relação foi feita procurando-se adaptar estes conceitos à realidade dos países

subdesenvolvidos, principalmente em relação à inovação, vista aqui como um processo

incremental e de adaptação pelo qual as empresas dominam e implementam o

desenvolvimento e a produção de bens e serviços, que sejam novos para elas,

independentemente do fato de serem novos para seus concorrentes. Ainda que estas

inovações sejam imitações, elas não são possíveis sem um processo de aprendizado. É

necessário aprender para imitar. Esta imitação não precisa ser, necessariamente, idêntica

ao que foi imitado. Por isso, nesse processo gera-se um conhecimento específico do

processo, adaptado às especificidades de quem imitou.

Esta perspectiva da realidade dos países subdesenvolvidos, num mundo com

relação de poder claramente definido, foi feita a partir da visão latino-americana de

dependência da CEPAL, buscando apresentar o fomento aos sistemas de inovação locais

como reflexo do esforço da implementação de políticas que visem o desenvolvimento

local (regional e nacional). Dessa forma, concluiu-se que os arranjos e sistemas

produtivos e inovativos locais representam o locus para a implementação destas

políticas de desenvolvimento local, pois é ali onde há a interação entre os agentes,

acrescido dos aspectos territoriais específicos, que são capazes de criar oportunidades de

aprendizagem, geração e difusão de conhecimento e inovação.

Considerando que o processo de globalização vigente é um processo assimétrico

onde existe uma hierarquia na divisão internacional do trabalho, no qual aos países

subdesenvolvidos cabe, geralmente, o papel de mão-de-obra barata, considerou-se neste

trabalho a cadeia produtiva global têxtil-confecções como uma representação deste

processo de globalização considerado.

133

Levando em consideração estas questões, foi apresentado (capítulo III) o

funcionamento das cadeias produtivas globais de confecção, onde a estrutura de

dominação e as dificuldades enfrentadas pelos países subdesenvolvidos ficam evidentes

frente aos países desenvolvidos. Esta apresentação foi feita com o intuito de apontar as

armadilhas que a inserção nestas cadeias apresenta para arranjos que não possuem

condições reais de competitividade, como o caso do APL de moda praia de Cabo Frio.

As principais conclusões deste capítulo mostraram que a (re)organização das

cadeias produtivas globais se refere a uma lógica voltada a atender as

especificidades/características dos mercados consumidores dos países desenvolvidos,

em especial das suas classes médias com poder aquisitivo relativamente alto, ávidos por

consumir produtos de marca, com matéria-prima de qualidade e a preços mais baixos.

Neste caso, são os países subdesenvolvidos que trabalham na montagem desses

produtos que atendem esta demanda, principalmente através do baixo custo da mão-de-

obra. Na verdade, a principal vantagem das cadeias globais para os países desenvolvidos

é exatamente este baixo custo da mão-de-obra.

No Brasil, a lógica das cadeias globais também atende a apenas uma parte da

produção e consumo; este último também representado por uma camada de maior renda.

A maior camada da demanda, representada pelas classes mais baixas, escapam a esta

estrutura. Na verdade, esta é a lógica do capitalismo periférico na dinâmica da estrutura

do capitalismo global.

Nesse sentido, a análise do APL de moda praia de Cabo Frio foi apresentada

posteriormente, procurando deixar claro tanto suas potencialidades quanto suas

deficiências, tanto para se pensar em estratégias de desenvolvimento como para se

pensar nos riscos inerentes a inserção em cadeias globais; ainda que a exportação seja

de grande relevância para o crescimento do mesmo. Esta análise é complementada no

capítulo seguinte ao se apresentar algumas políticas de fomento ao arranjo que podem

ser essenciais para o desenvolvimento do mesmo, principalmente em relação à questão

do comércio internacional.

Dessa forma, observou-se que caso o arranjo não conte com uma estrutura de

fomento que realmente dê condições para o aumento de sua competitividade, o papel a

ser desempenhado pelo consórcio na cadeia de valores internacional será,

inevitavelmente, de simples fornecedor de mão-de-obra barata. A inserção no mercado

externo deve ser feita de maneira "virtuosa", ou seja, com reais condições de

competitividade, e não de forma passiva.

134

Nesse contexto, o trabalho procurou mostrar que no estudo de arranjos e

sistemas produtivos locais é fundamental ter em vista a sinergia existente entre

territorialidade de uma atividade e o conhecimento local existente naquela atividade, de

modo que se crie vantagens competitivas dinâmicas que, mais do que não ser facilmente

replicáveis, sejam únicas. Ademais, a territorialidade representa, também, uma forma de

reação às questões colocadas ao paradigma pós-moderno do não-lugar, como

apresentado no capítulo II.

No entanto, apesar da importância dada ao local ao longo deste trabalho, não é

possível descartar a “questão global”. Pelo contrário, elas estão amplamente conectadas

e são, de certa maneira, inter-dependentes pois é no âmbito local que se criam as

condições globais, que, por seu turno, exercem grande impacto nas questões locais.

Dessa forma, falar em inserção internacional e globalização sem falar em

políticas (macroeconômicas), principalmente em relação à educação e conhecimento,

que promovam o desenvolvimento, é ignorar a realidade do permanente vínculo ao

“ciclo de subdesenvolvimento”. A elaboração e a especificação de políticas que visem

estes objetivos são cada vez mais necessários, e sua aplicação é tarefa que compete a

cada país (localidade), pois somente no âmbito de cada sociedade nacional é possível

determinar as prioridades, desenhar os planos de ação e colocá-los em prática,

conjugando as condições, os recursos e os apoios para viabilizar as reformas propostas e

compatibilizá-las com a conservação e o enriquecimento da pluralidade e diversidade de

canais de conhecimento na cultura de cada país89.

Nesse sentido, principalmente em relação ao caso do APL de moda praia de

Cabo Frio, é preciso pensar a questão do desenvolvimento local como forma de se criar

reais condições de competitividade no comércio internacional, numa gama de políticas

industriais e tecnológicas que assim o façam.

89 CEPAL/UNESCO, 1992, p.918.

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VIRILIO, P. (1984). “L’espace critique”. Paris, Christian Bourgeois, 1984.

Anexo

REDESIST - QUESTIONÁRIO PARA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES SOBRE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS

- Bloco A: Para coleta de informações em instituições locais e de fontes estatísticas oficiais sobre a

estrutura do arranjo produtivo local - Bloco B: Para coleta de informações nas empresas do arranjo produtivo local

BLOCO A - IDENTIFICAÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL

Este primeiro bloco de questões busca uniformizar as informações gerais sobre a configuração dos arranjos a serem estudados a partir do uso de estatísticas oficiais. Tais informações são obtidas a partir de fontes secundárias tais como a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego, Base de informações Base de Informações Municipais (BIM), Censo, entre outras. A RAIS é fonte obrigatória para todos os estudos, de forma a permitir sua comparabilidade. As informações desta fonte referem-se ao número de empresas, seu tamanho e pessoal ocupado, obedecendo à classificação CNAE do IBGE. Neste bloco deve-se identificar também a amostra de empresas pesquisadas,, estratificada por tamanho. As demais fontes de informação devem ser definidas pelos pesquisadores de acordo com as características específicas de cada arranjo, observadas previamente, e devem possibilitar a identificação da estrutura educacional, de coordenação, tecnológica e de financiamento90.. Arranjo Nº____________ 1. Municípios de abrangência do arranjo:

Municípios abrangidos População residente

Pessoal ocupado nas atividades

pesquisadas*

Pessoal total ocupado nos municípios**

Notas: * Somatório do pessoal ocupado (empregado) nas classes de atividade econômica (classe CNAE – 5 dígitos) inseridas no arranjo produtivo, com base nos dados da RAIS91 – MTe. ** Emprego total nos municípios que compõem o arranjo, com base nos dados da RAIS – MTe. 2. Estrutura produtiva do arranjo:

Número total de empresas conforme tamanho92 Classificação CNAE (Classe de atividade econômica – 4

dígitos) Micro Pequena Média Grande Total

90 Identificar as fontes de informações usadas para o preenchimento de cada tabela. 91 A base de dados RAIS e RAIS - ESTABELECIMENTOS do Ministério do Trabalho e Emprego deve ser usada pelos pesquisadores, para o levantamento dos dados referentes ao emprego formal e ao número e tamanho de estabelecimentos. 92 Pessoas ocupadas: a) Micro: até 19; b) Pequena: 20 a 99; c) Média: 100 a 499; d) Grande: 500 ou mais pessoas ocupadas.

147

3. Estratificação da amostra: Número de empresas selecionadas conforme tamanho Classificação CNAE (Classe

de atividade econômica – 4 dígitos) Micro Pequena Média Grande Total

4. Infraestrutura educacional local/regional:

Cursos oferecidos Número de cursos Número de alunos admitidos por anoEscolas técnicas de 2ograu Cursos superiores Outros cursos profissionais regulares Cursos profissionais temporários

5. Infraestrutura Institucional local: Associações, Sindicatos de empresas/trabalhadores, cooperativas e

outras instituições públicas locais.

Nome/Tipo de instituição Criação Número de filiados Funções

6. Infraestrutura científico-tecnológica:

Tipo de instituição Nº. de instituições Nº. de pessoas ocupadas Universidades Institutos de pesquisa Centros de capacitação profissional e de assistência técnica

Instituições de testes, ensaios e certificações. 7. Infraestrutura de financiamento:

Tipo de instituição Número de instituições Volume de empréstimos concedidos em 2002

Instituição comunitária Instituição municipal Instituição estadual/Agência local

Instituição federal/ Agência local

Outras. Citar

148

8. Financiamento por tamanho de empresa seguindo o tipo de instituição no ano 2002: Percentual de empréstimo por tamanho de empresa Tipo de Instituição Micro Pequena Média Grande

Instituição comunitária Instituição municipal Instituição estadual/Agência local Instituição federal/ Agência local Outras (Citar):

149

BLOCO B - AS EMPRESAS NO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL

Código de identificação: Número do arranjo ____________________Número do questionário___________________ I - IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA 1. Razão Social: ___________________________________________________________________ 2. Endereço_______________________________________________________________________ 3. Município de localização: ___________________________(código IBGE)__________________ 4. Tamanho. ( ) 1. Micro ( ) 2. Pequena ( ) 3. Média ( ) 4. Grande 5. Segmento de atividade principal (classificação CNAE): _________________________________ 6. Pessoal ocupado atual: ___________ 7. Ano de fundação: _______________ 8. Origem do capital controlador da empresa: ( ) 1. Nacional ( ) 2. Estrangeiro ( ) 3. Nacional e Estrangeiro

9. No caso do capital controlador estrangeiro, qual a sua localização: ( ) 1. Mercosul

( ) 2. Estados Unidos da América

( ) 3. Outros Países da América

( ) 4. Ásia ( ) 5. Europa ( ) 6. Oceania ou África 10. Sua empresa é: ( ) 1. Independente ( ) 2. Parte de um Grupo

150

11. Qual a sua relação com o grupo: ( ) 1. Controladora ( ) 2. Controlada ( ) 3. Coligada EXPERIÊNCIA INICIAL DA EMPRESA (As questões a seguir, do item 12 a 18, são específicas para a pesquisa sobre Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais). 12. Número de Sócios fundadores: ______________ 13. Perfil do principal sócio fundador:

Perfil Dados Idade quando criou a empresa Sexo ( ) 1. Masculino ( ) 2.Feminino Escolaridade quando criou a empresa (assinale o correspondente à classificação abaixo)

1. ( ) 2. ( ) 3. ( ) 4. ( ) 5. ( ) 6. ( ) 7. ( ) 8. ( )

Seus pais eram empresários ( ) 1. Sim ( ) 2. Não 1. Analfabeto; 2.Ensino Fundamental Incompleto; 3. Ensino Fundamental Completo; 4. Ensino Médio Incompleto; 5. Ensino Médio Completo; 6. Superior Incompleto; 7. Superior Completo; 8. Pós Graduação. 14. Identifique a principal atividade que o sócio fundador exercia antes de criar a empresa:

Atividades ( ) 1. Estudante universitário ( ) 2. Estudante de escola técnica ( ) 3. Empregado de micro ou pequena empresa local ( ) 4. Empregado de média ou grande empresa local ( ) 5. Empregado de empresa de fora do arranjo ( ) 6. Funcionário de instituição pública ( ) 7. Empresário ( ) 8. Outra atividade. Citar

15. Estrutura do capital da empresa:

Estrutura do capital da empresa Participação percentual

(%) no 1o. ano

Participação percentual (%) Em 2002

Dos sócios Empréstimos de parentes e amigos Empréstimos de instituições financeiras gerais

Empréstimos de instituições de apoio as MPEs

Adiantamento de materiais por fornecedores

Adiantamento de recursos por clientes Outras. Citar: Total 100% 100%

151

16. Evolução do número de empregados:

Período de tempo Número de empregados

Ao final do primeiro ano de criação da empresa Ao final do ano de 2002 17. Identifique as principais dificuldades na operação da empresa. Favor indicar a dificuldade utilizando a escala, onde 0 é nulo, 1 é baixa dificuldade, 2 é média dificuldade e 3 alta dificuldade.

Principais dificuldades No primeiro ano de vida Em 2002 Contratar empregados qualificados ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Produzir com qualidade ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Vender a produção ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Custo ou falta de capital de giro ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas e equipamentos

( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Custo ou falta de capital para aquisição/locação de instalações ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Pagamento de juros de empréstimos ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Outras. Citar ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) 18. Informe o número de pessoas que trabalham na empresa, segundo características das relações de trabalho:

Tipo de relação de trabalho Número de pessoal ocupado Sócio proprietário Contratos formais Estagiário Serviço temporário Terceirizados Familiares sem contrato formal

Total II – PRODUÇÃO, MERCADOS E EMPREGO. 1. Evolução da empresa:

Mercados (%)

Anos Pessoal ocupado

Faturamento Preços correntes

(R$) Vendas nos municípios do arranjo

Vendas no Estado

Vendas no Brasil

Vendas no

exterior Total

1990 100% 1995 100% 2000 100% 2002 100%

152

2. Escolaridade do pessoal ocupado (situação atual):

Ensino Número do pessoal ocupado Analfabeto Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental completo Ensino médio incompleto Ensino médio completo Superior incompleto Superior completo Pós-Graduação Total

3. Quais fatores são determinantes para manter a capacidade competitiva na principal linha de produto? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.

Fatores Grau de importância Qualidade da matéria-prima e outros insumos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Qualidade da mão-de-obra ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Custo da mão-de-obra ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Nível tecnológico dos equipamentos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Capacidade de introdução de novos produtos/processos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Desenho e estilo nos produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Estratégias de comercialização ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Qualidade do produto ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Capacidade de atendimento (volume e prazo) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outra. Citar: ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

III – INOVAÇÃO, COOPERAÇÃO E APRENDIZADO

BOX 1 Um novo produto (bem ou serviço industrial) é um produto que é novo para a sua empresa ou para o mercado e cujas características tecnológicas ou uso previsto diferem significativamente de todos os produtos que sua empresa já produziu. Uma significativa melhoria tecnológica de produto (bem ou serviço industrial) refere-se a um produto previamente existente cuja performance foi substancialmente aumentada. Um produto complexo que consiste de um número de componentes ou subsistemas integrados pode ser aperfeiçoado via mudanças parciais de um dos componentes ou subsistemas. Mudanças que são puramente estéticas ou de estilo não devem ser consideradas. Novos processos de produção são processos que são novos para a sua empresa ou para o setor. Eles envolvem a introdução de novos métodos, procedimentos, sistemas, máquinas ou equipamentos que diferem substancialmente daqueles previamente utilizados por sua firma. Significativas melhorias dos processos de produção envolvem importantes mudanças tecnológicas parciais em processos previamente adotados. Pequenas ou rotineiras mudanças nos processos existentes não devem ser consideradas.

153

1. Qual a ação da sua empresa no período entre 2000 e 2002, quanto à introdução de inovações? Informe as principais características conforme listado abaixo. (observe no Box 1 os conceitos de produtos/processos novos ou produtos/processos significativamente melhorados de forma a auxilia-lo na identificação do tipo de inovação introduzida)

Descrição 1. Sim 2. Não Inovações de produto Produto novo para a sua empresa, mas já existente no mercado?. ( 1 ) ( 2 ) Produto novo para o mercado nacional?. ( 1 ) ( 2 ) Produto novo para o mercado internacional? ( 1 ) ( 2 ) Inovações de processo Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no setor? ( 1 ) ( 2 ) Processos tecnológicos novos para o setor de atuação? ( 1 ) ( 2 ) Outros tipos de inovação Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo de acondicionamento de produtos (embalagem)? ( 1 ) ( 2 )

Inovações no desenho de produtos? ( 1 ) ( 2 ) Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais) Implementação de técnicas avançadas de gestão ? ( 1 ) ( 2 ) Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional? ( 1 ) ( 2 ) Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing ? ( 1 ) ( 2 ) Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização ? ( 1 ) ( 2 ) Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando a atender normas de certificação (ISO 9000, ISSO 14000, etc.)? ( 1 ) ( 2 )

2. Se sua empresa introduziu algum produto novo ou significativamente melhorado durante os últimos anos, 2000 a 2002, favor assinalar a participação destes produtos nas vendas em 2002, de acordo com os seguintes intervalos:(1) equivale de 1% a 5%; (2) de 6% a 15%;(3) de 16% a 25%; (4) de 26% a 50%; (5) de 51% a 75%; (6) de 76% a 100%.

Descrição Intervalos

Vendas internas em 2002 de novos produtos (bens ou serviços) introduzidos entre 2000 e 2002 ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) ( 5 ) ( 6 )

Vendas internas em 2002 de significativos aperfeiçoamentos de produtos (bens ou serviços) introduzidos entre 2000 e 2002

( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) ( 5 ) ( 6 )

Exportações em 2002 de novos produtos (bens ou serviços)introduzidos entre 2000 e 2002 ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) ( 5 ) ( 6 )

Exportações em 2002 de significativos aperfeiçoamentosde produtos (bens ou serviços) introduzidos entre 2000 e 2002

( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) ( 5 ) ( 6 )

3.Avalie a importância do impacto resultante da introdução de inovações introduzidas durante os últimos três anos, 2000 a 2002, na sua empresa. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Aumento da produtividade da empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Ampliação da gama de produtos ofertados ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Aumento da qualidade dos produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu que a empresa mantivesse a sua participação nos mercados de atuação ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

154

Aumento da participação no mercado interno da empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Aumento da participação no mercado externo da empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu que a empresa abrisse novos mercados ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu a redução de custos do trabalho ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu a redução de custos de insumos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu a redução do consumo de energia ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu o enquadramento em regulações e normas padrão relativas ao:

- Mercado Interno ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) - Mercado Externo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) 4. Que tipo de atividade inovativa sua empresa desenvolveu no ano de 2002? Indique o grau de constância dedicado à atividade assinalando (0) se não desenvolveu, (1) se desenvolveu rotineiramente, e (2) se desenvolveu ocasionalmente. (observe no Box 2 a descrição do tipo de atividade)

Descrição Grau de Constância Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na sua empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) Aquisição externa de P&D ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) Aquisição de máquinas e equipamentos que implicaram em significativas melhorias tecnológicas de produtos/processos ou que estão associados aos novos produtos/processos

( 0 ) ( 1 ) ( 2 )

Aquisição de outras tecnologias (softwares, licenças ou acordos de transferência de tecnologias tais como patentes, marcas, segredos industriais)

( 0 ) ( 1 ) ( 2 )

Projeto industrial ou desenho industrial associados à produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente melhorados

( 0 ) ( 1 ) ( 2 )

Programa de treinamento orientado à introdução de produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente melhorados

( 0 ) ( 1 ) ( 2 )

Programas de gestão da qualidade ou de modernização organizacional, tais como: qualidade total, reengenharia de processos administrativos, desverticalização do processo produtivo, métodos de “just in time”, etc

( 0 ) ( 1 ) ( 2 )

Novas formas de comercialização e distribuição para o mercado de produtos novos ou significativamente melhorados ( 0 ) ( 1 ) ( 2 )

4.1 Informe os gastos despendidos para desenvolver as atividades de inovação: Gastos com atividades inovativas sobre faturamento em 2002.....................( %) Gastos com P&D sobre faturamento em 2002...............................................( %) Fontes de financiamento para as atividades inovativas (em %) Próprias ( %) De Terceiros ( %) Privados ( %) Público (FINEP,BNDES, SEBRAE, BB, etc.) ( %)

155

BOX 2

Atividades inovativas são todas as etapas necessárias para o desenvolvimento de produtos ou processos novos ou melhorados, podendo incluir: pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos; desenho e engenharia; aquisição de tecnologia incorporadas ao capital (máquinas e equipamentos) e não incorporadas ao capital (patentes, licenças, know how, marcas de fábrica, serviços computacionais ou técnico-científicos) relacionadas à implementação de inovações; modernização organizacional (orientadas para reduzir o tempo de produção, modificações no desenho da linha de produção e melhora na sua organização física, desverticalização, just in time, circulos de qualidade, qualidade total, etc); comercialização (atividades relacionadas ao lançamento de produtos novos ou melhorados, incluindo a pesquisa de mercado, gastos em publicidade, métodos de entrega, etc); capacitação, que se refere ao treiname0nto de mão-de-obra relacionado com as atividades inovativas da empresa. Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) - compreende o trabalho criativo que aumenta o estoque de conhecimento, o uso do conhecimento objetivando novas aplicações, inclui a construção, desenho e teste de protótipos.

Projeto industrial e desenho - planos gráficos orientados para definir procedimentos, especificações técnicas e características operacionais necessárias para a introdução de inovações e modificações de produto ou processos necessárias para o início da produção. 5. Sua empresa efetuou atividades de treinamento e capacitação de recursos humanos durante os últimos três anos, 2000 a 2002? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Treinamento na empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Treinamento em cursos técnicos realizados no arranjo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Treinamento em cursos técnicos fora do arranjo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Estágios em empresas fornecedoras ou clientes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Estágios em empresas do grupo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Contratação de técnicos/engenheiros de outras empresas do arranjos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Contratação de técnicos/engrenheiros de empresas fora do arranjo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Absorção de formandos dos cursos universitários localizados no arranjo ou próximo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Absorção de formandos dos cursos técnicos localizados no arranjo ou próximo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

BOX 3

Na literatura econômica, o conceito de aprendizado está associado a um processo cumulativo através do qual as firmas ampliam seus conhecimentos, aperfeiçoam seus procedimentos de busca e refinam suas habilidades em desenvolver, produzir e comercializar bens e serviços. As várias formas de aprendizado se dão: - a partir de fontes internas à empresa, incluindo: aprendizado com experiência própria, no

processo de produção, comercialização e uso; na busca de novas soluções técnicas nas unidades de pesquisa e desenvolvimento; e

- a partir de fontes externas, incluindo: a interação com fornecedores, concorrentes, clientes, usuários, consultores, sócios, universidades, institutos de pesquisa, prestadores de serviços tecnológicos, agências e laboratórios governamentais, organismos de apoio, entre outros.

156

Nos APLs, o aprendizado interativo constitui fonte fundamental para a transmissão de conhecimentos e a ampliação da capacitação produtiva e inovativa das firmas e instituições. 6. Quais dos seguintes itens desempenharam um papel importante como fonte de informação para o aprendizado, durante os últimos três anos, 2000 a 2002? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Indicar a formalização utilizando 1 para formal e 2 para informal. Quanto à localização utilizar 1 quando localizado no arranjo, 2 no estado, 3 no Brasil, 4 no exterior. (Observe no Box 3 os conceitos sobre formas de aprendizado). Grau de Importância Formaliza

ção Localização

Fontes Internas Departamento de P & D ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) Área de produção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) Áreas de vendas e marketing, serviços internos de atendimento ao cliente ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 )

Outros (especifique) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) Fontes Externas

Outras empresas dentro do grupo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Empresas associadas (joint venture) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )

Clientes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Concorrentes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Outras empresas do Setor ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Empresas de consultoria ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Universidades e Outros Institutos de Pesquisa Universidades ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Institutos de Pesquisa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Centros de capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )

Instituições de testes, ensaios e certificações ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )

Outras fontes de informação Licenças, patentes e “know-how” ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Conferências, Seminários, Cursos e Publicações Especializadas ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )

Feiras, Exibições e Lojas ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Encontros de Lazer (Clubes, Restaurantes, etc) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )

Associações empresariais locais (inclusive consórcios de exportações) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )

Informações de rede baseadas na internet ou computador ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )

BOX 4 O significado genérico de cooperação é o de trabalhar em comum, envolvendo relações de confiança mútua e coordenação, em níveis diferenciados, entre os agentes. Em arranjos produtivos locais, identificam-se diferentes tipos de cooperação, incluindo a cooperação produtiva visando a obtenção de economias de escala e de escopo, bem como a melhoria dos índices

157

de qualidade e produtividade; e a cooperação inovativa, que resulta na diminuição de riscos, custos, tempo e, principalmente, no aprendizado interativo, dinamizando o potencial inovativo do arranjo produtivo local. A cooperação pode ocorrer por meio de: • intercâmbio sistemático de informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas (com clientes,

fornecedores, concorrentes e outros) • interação de vários tipos, envolvendo empresas e outras instituições, por meio de programas

comuns de treinamento, realização de eventos/feiras, cursos e seminários, entre outros • integração de competências, por meio da realização de projetos conjuntos, incluindo desde

melhoria de produtos e processos até pesquisa e desenvolvimento propriamente dita, entre empresas e destas com outras instituições

7. Durante os últimos três anos, 2000 a 2002, sua empresa esteve envolvida em atividades cooperativas , formais ou informais, com outra (s) empresa ou organização? (observe no Box 4 o conceito de cooperação). ( ) 1. Sim ( ) 2. Não 8. Em caso afirmativo, quais dos seguintes agentes desempenharam papel importante como parceiros, durante os últimos três anos, 2000 a 2002? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Indicar a formalização utilizando 1 para formal e 2 para informal. Quanto a localização utilizar 1 quando localizado no arranjo, 2 no estado, 3 no Brasil, 4 no exterior. Agentes Importância Formaliza

ção Localização

Empresas Outras empresas dentro do grupo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Empresas associadas (joint venture) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais, componentes e softwares) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )

Clientes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Concorrentes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Outras empresas do setor ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Empresas de consultoria ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Universidades e Institutos de Pesquisa Universidades ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Institutos de pesquisa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Centros de capacitação profissional de assistência técnica e de manutenção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )

Instituições de testes, ensaios e certificações ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )

Outras Agentes Representação ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Entidades Sindicais ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Órgãos de apoio e promoção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Agentes financeiros ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) 9. Qual a importância das seguintes formas de cooperação realizadas durante os últimos três anos, 2000 a 2002 com outros agentes do arranjo? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.

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Descrição Grau de Importância Compra de insumos e equipamentos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Venda conjunta de produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Desenvolvimento de Produtos e processos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Design e estilo de Produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Capacitação de Recursos Humanos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Obtenção de financiamento ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Reivindicações ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Participação conjunta em feiras, etc ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outras: especificar ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

10.Caso a empresa já tenha participado de alguma forma de cooperação com agentes locais, como avalia os resultados das ações conjuntas já realizadas. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Melhoria na qualidade dos produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Desenvolvimento de novos produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Melhoria nos processos produtivos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Melhoria nas condições de fornecimento dos produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Melhor capacitação de recursos humanos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Melhoria nas condições de comercialização ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Introdução de inovações organizacionais ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Novas oportunidades de negócios ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Promoção de nome/marca da empresa no mercado nacional ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Maior inserção da empresa no mercado externo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outras: especificar ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

11.Como resultado dos processos de treinamento e aprendizagem, formais e informais, acima discutidos, como melhoraram as capacitações da empresa. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Melhor utilização de técnicas produtivas, equipamentos, insumos e componentes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Maior capacitação para realização de modificações e melhorias em produtos e processos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Melhor capacitação para desenvolver novos produtos e processos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Maior conhecimento sobre as características dos mercados de atuação da empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Melhor capacitação administrativa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

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IV – ESTRUTURA, GOVERNANÇA E VANTAGENS ASSOCIADAS AO AMBIENTE LOCAL

BOX 5 Governança diz respeito aos diferentes modos de coordenação, intervenção e participação, nos processos de decisão locais, dos diferentes agentes — Estado, em seus vários níveis, empresas, cidadãos e trabalhadores, organizações não-governamentais etc. — ; e das diversas atividades que envolvem a organização dos fluxos de produção, assim como o processo de geração, disseminação e uso de conhecimentos. Verificam-se duas formas principais de governança em arranjos produtivos locais. As hierárquicas são aquelas em que a autoridade é claramente internalizada dentro de grandes empresas, com real ou potencial capacidade de coordenar as relações econômicas e tecnológicas no âmbito local. A governança na forma de “redes” caracteriza-se pela existência de aglomerações de micro, pequenas e médias empresas, sem grandes empresas localmente instaladas exercendo o papel de coordenação das atividades econômicas e tecnológicas. São marcadas pela forte intensidade de relações entre um amplo número de agentes, onde nenhum deles é dominante.

1. Quais são as principais vantagens que a empresa tem por estar localizada no arranjo? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.

Externalidades Grau de importância

Disponibilidade de mão-de-obra qualificada ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Baixo custo da mão-de-obra ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Proximidade com os fornecedores de insumos e matéria prima ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Proximidade com os clientes/consumidores ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Infra-estrutura física (energia, transporte, comunicações) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Proximidade com produtores de equipamentos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Disponibilidade de serviços técnicos especializados ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Existência de programas de apoio e promoção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Proximidade com universidades e centros de pesquisa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outra. Citar: ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) 2. Quais as principais transações comerciais que a empresa realiza localmente (no município ou região)? Favor indicar o grau de importância atribuindo a cada forma de capacitação utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.

Tipos de transações Grau de importância

Aquisição de insumos e matéria prima ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Aquisição de equipamentos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Aquisição de componentes e peças ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Aquisição de serviços (manutenção, marketing, etc.) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Vendas de produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

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3. Qual a importância para a sua empresa das seguintes características da mão-de-obra local? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.

Características Grau de importância Escolaridade formal de 1º e 2º graus ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Escolaridade em nível superior e técnico ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Conhecimento prático e/ou técnico na produção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Disciplina ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Flexibilidade ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Criatividade ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Capacidade para aprender novas qualificações ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outros. Citar: ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

4.A empresa atua como subcontratada ou subcontratante de outras empresas, através de contrato ou acordo de fornecimento regular e continuado de peças, componentes, materiais ou serviços? Identifique o porte das empresas envolvidas assinalando 1 para Micro e Pequenas Empresas e 2 para Grandes e Médias empresas. 4.1 Sua empresa mantém relações de subcontratação com outras empresas ?

( 1 )Sim ( 2 )Não Caso a resposta seja negativa passe para a questão 7 4.2 Caso a resposta anterior seja afirmativa, identifique:

Sua empresa é: Porte da empresa subcontratante Subcontratada de empresa local ( 1 ) ( 2 ) Subcontratada de empresas localizada fora do arranjo ( 1 ) ( 2 )

Porte da empresa subcontratada Subcontratante de empresa local ( 1 ) ( 2 ) Subcontratante de empresa de fora do arranjo ( 1 ) ( 2 )

5.Caso sua empresa seja subcontratada, indique o tipo de atividade que realiza e a localização da empresa subcontratante: 1 significa que a empresa não realiza este tipo de atividade, 2 significa que a empresa realiza a atividade para uma subcontratante localizada dentro do arranjo, e 3 significa que a empresa realiza a atividade para uma subcontratante localizada fora do arranjo.

Tipo de atividade Localização

Fornecimentos de insumos e componentes ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Etapas do processo produtivo (montagem, embalagem, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Serviços especializados na produção (laboratoriais, engenharia, manutenção, certificação, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Administrativas (gestão, processamento de dados, contabilidade, recursos humanos) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Desenvolvimento de produto (design, projeto, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Comercialização ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Serviços gerais (limpeza, refeições, transporte, etc) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

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6. Caso sua empresa seja subcontratante indique o tipo de atividade e a localização da empresa subcontratada: 1 significa que a empresa não realiza este tipo de atividade, 2 significa que sua empresa subcontrata esta atividade de outra empresa localizada dentro do arranjo, e 3 significa que sua empresa subcontrata esta atividade de outra empresa localizada fora do arranjo.

Tipo de atividade Localização

Fornecimentos de insumos e componentes ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Etapas do processo produtivo (montagem, embalagem, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Serviços especializados na produção (laboratoriais, engenharia, manutenção, certificação, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Administrativas (gestão, processamento de dados, contabilidade, recursos humanos) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Desenvolvimento de produto (design, projeto, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Comercialização ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Serviços gerais (limpeza, refeições, transporte, etc) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

7. Como a sua empresa avalia a contribuição de sindicatos, associações, cooperativas, locais no tocante às seguintes atividades: Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.

Tipo de contribuição Grau de importância Auxílio na definição de objetivos comuns para o arranjo produtivo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Disponibilização de informações sobre matérias-primas, equipamento, assistência técnica, consultoria, etc. ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Identificação de fontes e formas de financiamento ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Promoção de ações cooperativas ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Apresentação de reivindicações comuns ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Criação de fóruns e ambientes para discussão ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Promoção de ações dirigidas a capacitação tecnológica de empresas ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Organização de eventos técnicos e comerciais ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

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V – POLÍTICAS PÚBLICAS E FORMAS DE FINANCIAMENTO 1. A empresa participa ou tem conhecimento sobre algum tipo de programa ou ações específicas para o segmento onde atua, promovido pelos diferentes âmbitos de governo e/ou instituições abaixo relacionados: Instituição/esfera governamental

1. Não tem conhecimento

2. Conhece, mas não participa

3. Conhece e participa

Governo federal ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Governo estadual ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Governo local/municipal ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) SEBRAE ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outras Instituições ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

2. Qual a sua avaliação dos programas ou ações específicas para o segmento onde atua, promovido pelos diferentes âmbitos de governo e/ou instituições abaixo relacionados:

Instituição/esfera governamental

1. Avaliação positiva

2. Avaliação negativa 3. Sem elementos para avaliação

Governo federal ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Governo estadual ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Governo local/municipal ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) SEBRAE ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outras Instituições ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

3. Quais políticas públicas poderiam contribuir para o aumento da eficiência competitiva das empresas do arranjo? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.

Ações de Política Grau de importância Programas de capacitação profissional e treinamento técnico ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Melhorias na educação básica ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Programas de apoio a consultoria técnica ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Estímulos à oferta de serviços tecnológicos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Programas de acesso à informação (produção, tecnologia, mercados, etc.) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Linhas de crédito e outras formas de financiamento ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Incentivos fiscais ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Políticas de fundo de aval ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Programas de estímulo ao investimento (venture capital) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outras (especifique): ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

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4. Indique os principais obstáculos que limitam o acesso da empresa as fontes externas de financiamento: Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.

Limitações Grau de importância

Inexistência de linhas de crédito adequadas às necessidades da empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Dificuldades ou entraves burocráticos para se utilizar as fontes de financiamento existentes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Exigência de aval/garantias por parte das instituições de financiamento ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Entraves fiscais que impedem o acesso às fontes oficiais de financiamento ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )

Outras (Especifique): ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )