possas preços e distribuicao em sraffa

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  • 8/4/2019 Possas Preos e distribuicao em Sraffa

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    Precos e distrihuicao em Sraffa:uma reconsideracdo *

    MARIO Lmz POSSAS *'Ic

    Neste artigo e proposto um reexame de alguns pressupostos e do alcanee dosrespectiuos resultados da contribuidio de Sraffa a teo ria dos precos e distribuictiode renda. A retomada deste tema sob a otica de uma critica interna (a sua con-sistencia] mals do que externa (ou aos pressupostos), atualmente em voga, torna-se oportuna por duas razors: a) a crescente aprouaciio que aquela contribuifliovern conquistando sob influencia da chamada escola neorieardiana, que a con-sidera capaz de suporiar 0 peso de urn sistema teorico aiternatiuo em Economia;e b) a existencia de lacunas serias no abundante mas pouco conclusiva literatureque ela originou nas ultimas duas decadas. De inicio, sao refutadas interpretafoessuperficiais [reqiientes a respeito da analise de STaffa sobre a relarao disiributiuainversa entre lucros e saldrios em conexiio com a mercadoria-padriio e 0 "proble-ma de Ricardo". A seguir, siio euidencuulas e questionadas as hip6teses altamenterestritiuas implicitas no seu tratamento da distribui,iio e no constru,iio da mer-cadoria-padrtio, sem as quais esta ultima torna-se Inutil. Por fim, sugere-se quea precariedade desia analise da distri buifao decorre dos contornos teoricos rigidamente estaticos em que 0 problema economico de Sraffa estd [orniulado,

    1 - IntroduefioA relevancia intrinseca da contribuicflo de Sraffa (1960, esp. Parte I)a teoria dos pre

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    no ambito da crttica a teoria neoclassica - justificou aparentementealguma indulgencia inicial na avaliacao do seu alcance, Cessado 0impacto inicial e recobrado algurn senso critieo entre 05 econornistas"criticos", abriu-se em anos mais recentes, a partir de urn razoavelesforco de absorver e interpretar 0 significado daquela contribuicao,urn serio dilerna sobre 0 que Iazer COmela.Duas parecem ser as opcoes basicas em vista. Urna c a chamada

    neo-ricardiana, que pretende reconstruir sobre Sraffa a problematicaclassica (ai induido Marx) ate mesmo em sua dimensao relativa adinamica e a acumulacao de capital A Outra e a que recusa 0marco estatico em que a proposta sraffiana e apresentada: mesmoadmitindo quase sempre sua consistencia interna dentro dos limitesem que se desenrola, considera-os excessivamente estreitos para conteralguma concepao relevante, ainda que meramente propedeutica, daeconomia capitalista ,2Este ensaio pretende sugerir a retornada da discussao em urn ponto

    anterior deste processo, ao por em questao a legitimidade de algu-mas proposicoes relativas it teoria dos pre

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    Entretanto, e necessaria deixar bern claro que esta nao se pretendede nenhum modo exaustiva, e muito menos se prop6e a uma ava-liacao global da obra de Sraffa .3 Tampouco preocupa-se este artigoem reivindicar originalidade para os ternas levantados, 0 que seriauma ingenua presuncao quando se trata de urn autor tao esmiucadocomo Sraffa. A unica rnotivacao e a importincia das limitacoes quesofre a questao distributiva em seu enfoque, como procurarei de-manstrar, confrontada com a pouca au quase nula atencao que lhefoi dedicada pelas inumeras controversias em torno do Produdio demercadorias, que apenas resvalam na questao central, sem de fatoenfrenta-la, A pletora de textos de divulgacao e mesmo de inter-vencoes mais especializadas com acentuado envolvimento ideol6gico- quase diria ernocional - produzida sabre Staffa, sob 0 estlmuloda controversia em torno da teoria neoclassica do capital, tornouem boa medida mais dificil uma avaliacao adequada de sua con-tribuicao neste campo, ja em si complexa. Urn retorno i problema-tica original de Sraffa e , por iS50, indispensavel a crftica "interna"aqui prapasta.A principal obra de Sraffa dispensa uma apresentacao detalhada

    quanta a sua motivacao e ao impacto que causou, Para uma carac-terizacao sucinta, creio que basta lembrar, de acordo com Steedman(1977, p. 13), que "sua preocupacao central era com as relacocs quesao necessariamente estabelecidas entre salaries, lucros e pre

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    simultaneamente os precos de reprodurao e a taxa de lucros, quan-do a "configuracao produtiva" - reunindo uma estrutura produtiva(quantidades totais de cada produtoj e as condicoes tecnicas de pro-ducao manifestas nas inter-relacoes dos processos produtivos - sesupce dada, e, a meu ver, sua contribuicao principal. 4No entanto, foi mais difundida e apreciada sua demonstracao,atraves da "mercadoria-padrao", da oposicao entre a taxa de lucros

    e a taxa de salaries, em urn contexto teorico semelhante ao classico,A importancia de uma demonstracao rigorosa desta relacao in-

    versa para a teoria classica do valor e patente, Garegnani (1980,pp_ 10-1) expoe 0problema de forma lfmpida. Trata-se do fato deque na formulacao classica do excedente Sao dadas as magnitudesdo produto social (tecnicamente, pelas necessidades da reproducao ououtra hipotese analiticamente uti l) e do eonsumo necessario a pro-ducao, "quando expressas em agregados fisieos; serao dadas tambernquando expressas em magnitudes de valor [precos de producao]P"Como "nao [e ] este 0 caso, e as magnitudes de valor [sao] dependentesda taxa de lucros, a determinacao dos lueros como urn excedente"fica prejudicada por Urn raciodnio circular. Segue-se que "a relacaorestritiva pela qual uma classe nao pode obter mais do produto semque outra passe a obter menos - tao evidente se observamos 0 pro-duto em termos ffsicos - e obscurecida: nao poderia 0 salario elevar-se sem afetar a taxa de lucros au esta ultima elevar-se sem afetar assalaries", como supunha A. Smith? A solucao, e claro, deve passarnecessariamente pela determinacao simultanea das variaveis.Uma avaliacao rigorosa de ate que ponto estes resultados da contri-

    buicao de Sraffa Ioram efetivamente alcancados sera Ieita a seguir _5

    4 A mesma posisao basica e sustentada extensamente por RoncagIia (1975,Cap. 1).5 0 leitor iniciado observara que a enfase na distribuicao C bern maior nesta

    avaliacao do que no livro de Sraffa. 0 motivo, como foi sugerido, e que esta ea parte do trabalho de Sraffa que apresenta maiores problemas de interpretacaoe mesmo de consistencia. Minhas criticas restringem-se ao modelo de producaosimples e capital circulante tratado por Sraffa na Parte I de seu livro, Asconclusfies a que chego, se aceitas, valern a fortiori para 0 modelo com producaoconjunta e capital fixo (Parte II) .

    578 Pesq. Plan. uco. 13(2) ago. 1983

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    Ela pressupoe urn conhecimento ba,lw da Parte ido livro de Sraffa,o leitor encontrara no Apendice (Se~ao A.I) uma exposicao comnotacao compacta (matricial) desta parte da construcao teorica deSraffa.6

    2 - Uma reavaliacao criticao objetivo desta se~ao e examinar a procedencia de algumas con-quistas marcantes reclamadas para a obra de Sraffa par simpati-zantes ou simples estudiosos da rnesma, especialrnente quanto aconsistencia de certas suposicoes do proprio autor. Criticas de na-tureza mais geral e "externa" serao esbocadas posteriormente porp,casiao dos cornentarios conclusivos.

    2. 1 - Dois erros de interpretacao

    Antes de entrar no tema central que e objeto desta critica "interna",convcrn afastar sumariamente dois erros flagrantes de interpretacaonao raro encontrados entre divulgadores de Sraffa 7 ou difusamenteem opini6es nao especializadas, mas que de modo algum podernser atribuidas ao proprio autor: a) alega-se com alguma frequencia,especialmente na literatura menos especializada e de divulgacao, quea construcao da mercadoria-padrao c necessaria para demonstrar au

    6 Ernbora disponivel nesta forma em outras publicacoes - par exemplo, Pa ..sinetti (1977, Cap. 5) = ereia que cia nao e superflua, por duas razfies: ainexistencia de similar em lingua portuguesa (as versoes existentes sao ineom-plctas au contem enos de revisaoj : e 0 fato de center csclarecimentos 5Ob1'eccrtas passagens de Sraffa que podem dar margem a interpretacoes equivocadase que nao sao explicitadas clarameute pelos seus princtpais iutcrpretes.7 Mas nunca sustentados seriamentc, 0 que seria impossrvel.

    57~

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    explicitar a relacao antagonica entre salaries e taxa de luero, 8 emborao proprio Sraffa jamais tenha afirmado tal coisa; e b) e comumencontrar-se em textos de divulgacao a ideia de que Sraffa teriaresolvido 0 "problema de Ricardo" ao efetuar sua demonstracaoda relacao inversa entre salario e taxa de luero atraves da "mer-cadoria-padrao" .9Quanto a primeira reivindicacjo, trata-se de urn equivoco banal.

    Em urn sistema de producao sraffiano sern producao conjunta, aexistencia de relacao inversa entre a taxa uniforme de lucros e a taxade salaries dispensa a "mercadoria-padrao", ou qualquer outro padraoinvariavel, e muito menos requer a forma linear da fronteira deSraffa .10

    8 Essa e uma imprcssao trpicamcnte leiga, mas ainda assim cnconr.ravel emautores competentes. Por exernplo, Benetti (197G, p_ II7) afirrna que "a expres-sao anallricamente rigorosa destc conf'lito [entre eapitalistas e trabalhadores aonivel da reparticao de renda J e fornecida pe[a rela

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    Quanto a segunda, cabe uma discussao urn pouco mais extensa,pais, emhora dcsmentida expressamente par varies autores, ncm adiferenciacao entre Ricardo e Sraffa neste particular tern sido colo-cada claramente, nern Ioi adequadamente explorada uma solucaoalternativa a estc "problema de Ricardo" a partir do proprio instru-mental oferecido par Sraffa - scm necessidade da "mercadoria-padrao",Se entendermos como 0 "problema de Ricardo" nao tanto a

    definicao de uma medida invariavel de valor, que e antes de tudoa pesquisa de urn recurso instrumental, mas a dernonstracao de queem condicoes crescenternente deslavoraveis de producao dos meiosde subsistencia dos trabalhadores, e na ausencia de efeitos campen-sat6rios significativos (basicamente, aumentos de produtividade), ataxa de lucro tended a cair,11 nao se pode pretender que Sraffa resolveu, Primeiro, porque Sralfa procurou mostrar, no que diz res-peito a distribuicao, que salario e taxa de Iucro se opoern na hip6-tese estritamente estatica de ausencia de qualq uer alteracio nas con-dicoes de producao - que pode ser de utilidade subsidiaria paraalguns mementos da analise ricardiana, mas, e evidente, nao respon-de a sua quesrao central, que depende crucialmente de mudancasnas condicoes de producao . 12Segundo, e relacionado ao anterior, a salario nao pode ser des-

    locado para 0 excedente na perspectiva ricardiana, porque com issoperde 0 carater de elernento do processo de reproducao, isto e , deurn conjunto [isicamente definido de mercadorias necessarias a con-tinuidade do sistema produtivo.V 0qual so se transforma em uma

    11 Uma otima slntese encontra-se em Napolconi (1977, pp. 32-4 e 43) .12 A proposito, Benetti (1976, p. 109), apoiado em Sraffa (1951, PI" xlvi c

    segs.), observou com razao que Ricardo "procurava um padriio que Iosse inva-riavel respectivamente quando sc processem modificacoes nas condi~5es de pro-ducao das mercadorias c, VHa condicoes de producao dadas, quando se modif'iquea distribuicao de renda. Esta dupla cxigmcia rcsulta do objcto da . investigacaode Ricardo, que nao concerne somente :1 teoria da distr ibuicao, mas tambcm iltccria do 'progresso' cccnomico".13 A sugestao do proprio Sraffa, adotada por alguns ..seguidor'cs, de manter

    parte do salario ao nivel de reproducao e 0 restante .ncexccdcntc. de fato naoe suficiente; mas, ainda que 0Iosse neste aspecto, nao pode contornar as objecoesexpriCssas no para.grafo anterior e no seguinre.

    t ' re~os e d is tT ib uir iio e m S Ta ffa 5 B l

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    grandeza homogenea (valorizada) pela aplicacao a posteriori dosprec,;os respectivos. Qualquer razfio canvincente para esse desloca-mento poder-se-ia procurar em vdo em Sraffa .14Uma possibilidade aventada seria a de que tratar 0 salario como

    uma "cesta" dada de mercadorias, implicando intcrpretar alteracoesno salario como alteracoes nas condicoes de producilo destas mercado-rias, prcssup5e mudancas na configuracao produtiva e, portanto, noproprio sisterna-padrao - que deixaria de se-Io .15 Como deducaoquanto aos "motives ocultos" de Sraffa, 0 argumento pode ate serprocedente, mas e puramente especulativo. Como explicacao daultima ratio do procedirnento de Sraffa, entre tanto, nao se sustenta,pois presume nao so que a demonstracao de Sraffa quanto a exis-tencia e a forma da oposicao salario versus taxa de lucro atravesda mercadoria-padrao seja satisfatoria c, port anto, sujiciente - 0quee no minimo discutivcl, como vercmos na Subsecao 2.2 a seguir -,mas tambem que ela seja necessaria, 0 que tampouco e verdade,como se pode Iacilmente demonstrar.De fato, quando se introduz nas equar,;5es de producao do sistema

    basico de Sraffa 0salario camposto por uma "cesta" de mercadoriasde subsistencia predeterminada, e imediato provar que a taxa delucro caira se, e somente se, algum coeficiente produtivo se elevar,

    14 Sraff'a (1960, Cap. 2, pp. 8-9). Garegnani (1980, p. 5) sugere que osautores classicos nao teriam em comum "a ideia de um salario deterrninado pelasubsistencla, mas a nocao mais gcral de um salario regu!ado por forcas eco-nomicas e socials". 0argumento nao pode scr invocado para justificar a operacaosraffiana (nem Garcgnani se propoc a tal coisa no contexto citado), pois 0essencial para que sen modelo traduza adequadamente 0 "problema de Ricardo"e que em dado "memento" (Iogico) possa ser deEinido um conjunto de bcns-salario, seja de subsistencia ou nao, "constance" ou nao {essa questao simples-mente nao se coloca) , para que a eventual pressao dos salaries sobrc os lucrose a taxa de lucro resulte nao de uma hipoterica barganha salaria!, "poHtica"ou "economica", mas de uma piora das condiciies de produ,lio de pelo menosurn destes bens.15 Benetti (1976, p. 129) acrescenta: "Result a dai que a ccnccpcao do salario

    como fra~ao do produto liquido e uma hipotese indispensavel que condiciona apropria existencia da mercadoria~padrao no sentido de STaffa". A mesma con-clusao e compartilhada por Tolipan (1979, pp. 394~5).582 pesq. Plan. Econ, 13(2) ago. 1983

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    refletindo uma deterioracao nas condicoes diretas ou indiretas deproducao dos bens-salario (no Apendice, Secao A. 2, e apresentadauma dernonstracao formal sucintaj .! "

    2.2 - As Iimitaeoes da abordagem de Sraffa adistribui~aoE muito difundida a conviccao de que urn dos principais meritos deSraffa teria sido 0 de resolver 0 problema conceitual da distribuicao(em termos estaticos) 17 numa economia capitalista, por meio darnercadoria-padrao, supondo unicamente uma "configuracao produ-tiva", isto e , sern recorrer a hipoteses quer tecnologicas, quanto aosretornos de escala, quer a respeito da demanda, proporcionandoassim elementos basicos de critica a cconomia marginalista. 18 0questionamento dessa conclus.io, cmbora nao preocupado diretamcntecom a critica a teoria neoclassica, pode repercutir sobre a propriaextensao em que eles constituam cfetivamente urn "preludio a criticada teoria economica" (marginalista), como se propoe a obra em seusubtitulo.As objecoes que pretendo formular podern ser feitas diretamente,

    sem qualquer Iormalizacao, pais sao, na verdade, muito simples eclaras.T' e podem ser resumidas no seguinte: Sraffa nao foi capaz

    16 Dcmonstracoes analogas sao encontradas na literatuta, mas nao referidasdiretamente it questao ricardiana, POl' exernplo, em relacao a Marx, resultado domesmo tipo e exposto por Medio (1972, p. 340) - mas em valor-trahalho, naoIisicamente - e por Steedman (1977, Cap. 9), num contexte diferente (0 dadiscussao da tendencia it queda cia taxa de lucro em Marx) e de forma poueoconcisa.17 0 conceito de "estatico" e usado aqui no sentido de abstracao ou ausencia

    de raovimerrtc, e nao de "equilibric" de forcas, como na acepcao neoclassica,18 Por exeruplo, Robinson (1961), especialmente em rela~ao it demanda (p.

    202), e tambern Dobb (1972, particularrnente pp. 21'5-7), dentrc uma legiao decomentaristas.19 0 eonhecedor das controversias dos anos 60 e 70 em torno da Interpretacao

    dos conceitos empregados por Staffa podera ter a impressao, tendo os paragtafosseguintes, de que esta ultima crltica, "interna", nao passa de uma incursao tardia

    P re ro s e distT ibui~ a o e m S r a f f a 58 3

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    de manter-se inteiramente coerente com seu projeto original - ex-prcsso no Prefacio do seu livro [Sraffa (1960, P: v)] - de circunscre-ver sua investigacao "exclusivamente aquelas propriedades de urn sis-tema economico que nao dependern de mudanras na escala de pro-ducao ou nas proporcoes de 'fatores'."E verdade que 0 autor dispensa, de forma logicamente irrecusavel,

    qualquer conceito de "Iatores" de producao semelhante ao margina-Iista , Os insumos para a producao de rnercadorias sao eles propriosmcrcadorias, nao agregiveis senao como custos e nao remuneradossenao pelos respectivos pre

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    calculado". A referenda a continuidade temporal das condicoes deproducao e urn equivoco 16gico, e por iS50mesmo denota urn possivelrnal-entendido de conseqiiencias seriasP?E fora de duvida que 0 modeIo de Sraffa - bern como as con-

    cepcoes marginalistas a que ele se refere aqui - e "temporalmenteestatico" (redundancia util para sublinhar 0 argumento), 0 que eperfeitamente legit imo no contexte puramente reprodutivo em queele formula 0 seu problema economico . Mas isto nao 0 autoriza aafirmar a inexistencia em seu modelo de "mudancas" no sentido re-levante para 0 mesmo, isto e, a negar que tenha introduzido a pos-sibilielade de distintas eonfigurar;oes produtivas hipoteticas para 0mesmo "momento" 16gico; e e csta mesma possibilidade que acabaPOt reintroduzir de modo inevitavel as questoes indesejaveis paraa concepcao de Staffa e tao caras ao pensamento neoclassico: a pro-blemarica tecnologica, e com ela a questao do, retornos; e, paralela-mente, os possivcis efeitos da demanda sobre as variaveis elo sistema.Vejamos mais concretamente 0que csta em jogo. Enquanto per-

    manece fiel (ate 0Capitulo 2) a sua proposta inicial de fazer abs-tralSao de "rnudancas" - no sentielo precise indicado acima, melhorsugerido por exemplo pela expressao "distintas situacoes possiveis" -,Sraffa tern exito em demonstrar que 0 sistema econ6mico que elegecomo objeto relevance e logicamente auto-reprodutlvcl . Isto se tra-eluz no seguinte: concentrando-se deliberaelamente na interdepen-dencia material dos processes produtivos e na Iixacao dos prelSos ede taxas de IUCTO e de salario uniformes, ao demonstrar que 0 sis-tema em questao e Iogicamcnte (matcmaticamentc) deterrninado estaao mesmo tempo provando que uma teoria da dcmanda e umateoria das tecnicas de producro podem ser legitimamente excluidasdos [undamentos de uma teoria economica de urn sistema de trocas

    20 Harcourt (1972, p. 179) tambem observa isso, reconhccendo que, mesrnonos modclos marginalistas de pTC~OS, tais "mudancas" gaO puramente nocionais,e se v e ;JS voltas com dificuldades para interpretar 0 scntido preciso desra afir-macae de Sraffa.

    Pre co s e d is tr ib ui~ {jo e m S ra ffa ~85

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    capitalistaF' Contudo, e preciso nao exagerar no entusiasmo emface desta conrlusao: em si mesma, ela niio significa em absolutoque as condicoes tecnicas de producao e de demanda sejam irrele-uantes para a determinacao daquelas variaveis, 22 uma "demonstra-1 5 . 1 0 " deste genero jamais poderia ser purarnente 16gica, mas exigiriaexatamente 0 que Sraffa se recusa a fazer a priori, e com todo 0direito: uma teoria ... das condicoes tecnicas de producao e da de-manda! Significa tao-somente que elas podem ser tomadas como exo-genas se, e somente se, as variaveis eleitas como economicamenterelevantes forem mantidas inalteradas.A Iorca desta constatacao impoe-se com todo 0 rigor a partir do

    momento em que Sraffa viola 0 compromisso assumido de inicio epassa a supor "mudancas" na distribuicao de renda - as quais,insisto, sao de fato nocionais, nada tendo a ver com variacoes notempo. Na verdade, essa intencao de analisar os efeitos de distintasparticipacoes de lucros e salaries na renda sobre a taxa de lucroatraves da mercadoria-padrao como que representa a tentativa detratar um modelo que e, por construcfio, "logica e temporalrnenteestatico", como se fosse apenas "temporalmente cstarico". 23 Especifi-camente, este equfvoco tem como consequencia inevitavel a neces-

    21 Apesar de inexistir ai urn tratarnento te6rico do capital, seja como valore menos ainda como "fator"; existe urn conceito de capital (e, por extensao, decapitalismo) implicito na consideracao de uma taxa de lucro (uniforme ou nao,e outro problema) como sua rernuneracilo. Este pode nao estar muito longe doricardiano, exceto basicamente pela ausencia do valor-trabalho como "substancia",22 Rowthorn (1974, p. 73) afirma algo quase idcntico: "0 trahalho de Sraff'a

    nao provou que a distribuicao de rcnda e Indepcndentc da oferta e dcmanda",que por sua natureza "s6 podem ter efeito numa situacao onde exista a possibi-lidade de variacao se]a na producfo, no consume ou na oferta de trabalho", Mas,como verernos, 0 argumento devc ir alem disso,23 Essa ambigiiidade curiosamente cvoca 0 problema analogo (mas nao

    "semclhanrc", C o : claro) - com os planos Iogico e temporal invertidos - daconceituacao neoclassica de "ilhas" de equilibrio cstatico ao longo de uma funcaode producao (ou pscudofuncao, como consagrado na literatura sobre a contro-venia dos dois Cambridge), dcsconsiderando a transicao temporal entre elas,tao duramente criticada por Robinson (1953, passim, e 1971, pp. 348 e 1034).Para um resumo dessa discussao, ver Harcourt (1972, pp. 24 e scgs.).

    5 8 6 Pesq. Plan. Econ. 13(2) ago. 1983

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    sidade de eufrentar a seguinte alternativa drastica: 0 modelo se veobrigado a adotar hipoteses altamente restritivas, justamente em re-la

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    a pensar em termos do equilibrio entre oferta e demanda", mas que,de fato, "tal hipotese nao e Ieita" 25 - quer dizer, "nao deveria" ser,Uma tentativa de justificar a adocao da hipotese de retornos

    constantes e apresentada sob 0 argumento de prescrvar a continui-dade com 0pensamento clissico _ Esta identificacao pareee-me muitoproblernatica. A proposta de Sraffa - de investigar as propriedadesdos sistemas economicos (de trocas) que "nao depcndem de mu-dancas na escala de producao ou nas proporcoes dos Iatores" -nao se confunde sob esse aspecto com ados economistas classicosquando estes supunham em certos casos que, "em determinadas con-dicoes tecnol6gicas, as vantagens de escala .. _ seriam constantes", 26porque aqui tais hip6teses de carater tecnol6gico e empirico sao per-tinentes e ate necessirias, inserindo-se num campo de investigacaodo processo economico de desenvolvimento que abrange 0 estado e arnudanca das tecnicas ,27 Que este program a te6rieo dos clissicos sejaanaliticamente precario e nso possa ser cumprido no quadro parcial-mente estatico em que 0 formularam e outro problema.

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    de retornos de escala a de rendimentos a curto praw, lembro que,com razao, Sraffa nao tern qualquer "teoria microeconornica": emseu modelo nao hi "curto prazo" e "fatores Iixos", nem, portanto,"rendimentos", decrescentes au nao, nem "capacidade produtiva",ociosa au nao; so hi processos, e a nocao relevante e mesmo a deretornos de escala - 0 que nada tern aver, frise-se de novo 0 obvio,com a transcurso do tempo, mas unicamente com a tecnica momen-tanearnente disponivel .Urn equivoco semelhante e 0 de validar os retornos constantes como

    reflexo de urn conhecimento tecnico "dado", isto e, resultado daopcao estatica do modelo sraffiano par desconsiderar mudancas tee-nol6gicas, como se elas fossem essenciais para conceituar as retornosde escala e estes nao pudessem ser definidos num plano temporalrigorosamente estatico ,28Por outro lado, ao nivel ernpirico au do realismo, tampouco a

    hipotese tern mais base. Note-se que a restricao que ela impoe e extre-mamente forte, ao exigir retornos constantes em todos as processos,pais no sistema basico de Sraffa a interdependencia produtiva c pordefinicao completa; assim, bastaria que urn unico processo apresen-tasse retornos decrescentes ou crescentes para que, frente a duas si-tuacoes distributivas distintas, a mercadoria-padrao tivesse que serredefinida - vale dizer, deixasse de ser "padrao" de coisa alguma. Ede nada valeria supor alteracces "marginais" (0 que quer dizerisso?) na configuracao produtiva e!ou no seu irnpacto sobre as coe-

    28 Ver Harris (1978, P: 122) . Este equtvoco surge com frequencia na Iiteraturae pareee ser um dos principals responsaveis pe1a recusa em considerar as pos-siveis efeitos de diferentes composicoes do produto - e, portanto, de escalas deproducao - sobre os coeficientes produtivos e, atraves destes, sobre a mercado-ria-padrao. Ao identificar-se erroneamcnte a possibilidade de alterarao nos coe-ficientes apenas com "mudancas tecnicas", e tendo sido estas desde logo descar-tadas (corretamcntc) por Sraffa neste ponto da analise (distribuicao de renda) ,exclui-se liminarmente a pertinencia de qualquer referencia a retornos de escalana analise sraffiana da distribuicao. Ver, por exemplo, Reder (1961, P: 691) eHarcourt (1972. pp. 182 c 195. A ausencia de qua1quer referenda aquela pos-sibilidade par Roncaglia (1975 e 1977) em seus extensos C em geral compctentescomentarios a Sraffa talvez se expliquc pela mesma causa.

    P re r o s e di5t r ibu i~ i io e m Sraf fa 58 9

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    ficientes produtivos, dado que, alem de envolver neeessariamentehipoteses (ilegitimas) sobre a dcmanda e/ou a tecnologia, implieao evidente absurdo de eonsiderar marginais os desloeamentos ao lon-go da fronteira que Sraffa eonstruiu, abarcando valores para a par-ticipacao dos salaries (e dos lucros) situados "apenas" entre zero eo maximo alcancavel - todo 0exeedente ...A atitude mais comum entre os interpretes que simpatizam com

    as posicoes de Sraffa, no enranto, e de simplesrnente reafirrnar apresuncao do autor de que na verdade niio estti supondo retornosconstantes.w Qual a base desta afirrnacao? Existe uma alternativapara a hipotese de retornos constantes? Sim, mas e a meu ver aindamais inaceitavel supoy que a distrlbuicao nfio afeta a estrutura pro-dutiva e, portanto, a "configuracao produtiva". Com efeito, esta sopoderia permaneeer invariavcl Irente a distintas partici pacoes de lu-eros e salarios na renda (que em Sraffa C 0 proprio exceclente)sob a hipotese economicamente absurd a, por ser dernasiado restritiva,de que salaries e lucros sao gastos nas mesmas mercadorias e nasmesmas proporrocs destas - vale dizer, trahalhadores e capitalistastern exatamerue 0mesmo padrao de consume: ou, 0 que darla nomesmo (pois igualrnente absurdo) , que 0 exccdentc fossc eonstituidode uma unica mercadoria; ou ainda, deixando de lado a restricaode que salaries e lucros sao gastos segundo algum "padrao" definido(caso contrario, para que Sraffa teria abandonado a hipotese de urn

    29 As razocs que apresentam para que Sraffa niio deva Iazc-lo sao em geralcorretas, como, por excmplo, em Roncaglia (1975 e 1977), mais ou menos naIinha dos argumcntos que aprcsentei acima, Contudo, a jusrificativa no scntidode que Sraffa de fato niio fe z tal hipotcse e precaria, porque scmpre respondea uma objcc;ao trivial: a de que haveria mudancas de escala implicitas na cons-trucao do sisrerna-padrfin e no metodo dos "subsistemas" para 0 calculo dasquantidadcs de trabalho dirctas e indiretas de cada mercadoria [Sraffa (1960,Apendicc A)]. Ver, por cxcmplo, entre rnuitos outros, Levine (1974, p. 378),Roncaglia (1975, pp. Hi e 20), Levine (1975, p. 438) e Pasinetti (1977, pp. 116-7).A objc~ao havia sido teita orlginalmeute par Bharadwa] (1963) (que na recdlcaode seu arligo rnodiflcou essa parte) e Collard (1963 e 1964) e facllmente reEutadapar Bose (196S, 1964a, 1964b c 1965), ja que em ambos as casas - tanto nosistema-pad rao como nos subsisternas - se trata clara mente de uma construcaopurarnentc mental, imaginaria, (lue nao afeta 0 sistema econornico original.

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    dado salario real de rcproducao, incluindo-o no exccdente?) c pcr-mitinde que ambos variem em termos rcais sempre que houvermudancas na distribuicao (c na taxa de Iucros e nos precos) , chega-se a resiriciio mais geml: que q!wlquer alteracao no salario real eexatamente cornpensada, em termos [isicos, por alteracao inversanos lucros, isto e , salaries e lucros reais sao sempre iguais "na mar-gem", de forma que urn passa a comprar exatamente 0 que a outrodeixa de comprar.De fato, nao poderia ser de outra forma, porque Sraffa havia

    suposta inicialmente que 0 excedente e dado [isicamente, c niiorelaxou esta hipotese quando passon a considerar, a partir do Capi.tulo 3, distintas participacoes de salaries e lucros no excedente -porque so poderia Iaze-lo assumindo os indesejiveis retornos constan-tes , Ele tern todo 0 direito, e claro, de Iormular qualquer hipotese,inclusive esta. 0 que considero justo cobrar de Sraffa e que umahipotese tao altamente implausiveI deve ser tom ada explicita (amenos que 0 autor nao se tenha dado conta delaj , para que 0leitor possa avaliar que relevancia resta para os resultados obtidos,especialmente quando a questao e tao intrincada e tdo pouco obvia,como sugere a quase total omissao da extensa Iiteratura sabre 0terna . Sob esse aspecto, a presente critica e qualitativamente distintadas Irequentes reclamacoes quanto a concisao e falta de explicitacao,pOl' Staffa, do exato significado de varies de seus pressupostos.Poder-se-ia Ievantar a aparente objecao de que, talvez exatamente

    para evitar esse problema, Sraffa (1960, Cap. 2, P: 10) deslocou osbens-salario integraimente para 0 excedente e, ainda mais, para 0"limbo dos produtos nao-basicos": 30 Mas a ressalva e irrelevan-te. E evidente que, se se alterar a producao de algum bern deconsumo - pOl' exemplo, uma producao de alimentos maior devidoa uma distribuicao de renda mais Iavoravel aos salaries ~, isto vairepercutir inexoravelmente na producao dos seus meios de producao,e so por coincidencia nao modificaria a configuracao produtiva. Casocontrario, nao haveria qualquer conexao produtiva entre os sis-

    30 Note-sc que a distincao tern sentido: 0 fato de Iazcr parte do excedentenao torna urn produto necessariamente "nfio-basico": esta restricao de SraffaC adicional e, pensando bern, logica e economicarnente exagerada.

    Pre~ os e d is tr ib u i~ iio em S Ta ffa 5 9 1

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    temas basico e nio-basico, 0 que obviamente contraria a p r o p r i adefiniriio do sistema basico; ou entao, 0que da no mesmo, tratar-se-ia de dois sistemas independentes, e seria necessario ignorar 0sistema basico, redefinindo urn novo subsistema basico no interiordo sistema nao-basico, recomecando tudo outra vez e repondo 0problema inicial.Em suma, a alternativa nfio ofercce uma saida aceitavel: Hadota-la

    significa "saltar da frigideira para 0 fogo". Robinson (1961, p. 199)foi a primeira - e ao que eu saiba a unica - a perceber clara-mente e explicitar este dilema - embora, como Iaz com frequencia,de forma muito passageira, sern desenvolver 0 argumento. Entretanto,consegue surpreendentemente exercer uma preferencia: "Eu achei queisto [a sugestao de Sraffa de considerar retornos constantes como hipo-tese provisoria, nao essencial] s o me fez ficar mais confusa. Parco;'melhor supor que rnudanras na participacao dos salaries nao afetama composicao do produto". Mas nao explica suas razoes, nem con-sigo adivinha-las , A meu ver, equivale a preferir ser carbonizadoem vez de fri to ...Alguns autores nao chegam a colocar a questao em termos deuma alternativa porque parecem considerar muito natural que 0excedente (a renda) seja fixado em termos ffsicos previamente a suadistribuicao e aos precos.s- No caso (extremo) de Eatwell (1975,pp. 544-5) esta hipotese e explicitada - e defendida - com 0 argu-mento surpreendente, aplicado a mercadoria-padrao, de que a relacao

    31 Que sc trata de uma alternatioa fica evidente recorrcndo ao sistema ernquantidadcs Iisicas, dual do de pres'os: (I - A) x = )',onde )' C 0 vctor deproduto ltquido. Conclui-se que A pode manter-se inalterada se, e sornente se:a) adrnitindo variacoes ern y, a estrutura produtiva x se modificar sem afetar A,o que implica supor retornos constantes C:~l todo sistema; ou b) y permanecerinalterado.32 Por exemplo, Reder (1961, P: 691): "super que os salaries sao zero nao

    altera a cornposicao ffsica do exccdcntc, e portanto a medida da renda nacionalem unidades da mercadoria-padrao nao variara com mudancas na relacao entresalaries e Iucros". Harcourt e Massaro (1964, p. 722) sao ainda mais taxativose laconicos ao concluirern seu artigo sobre os subsistemas de Sraffa com a seguin-te "constatacao", dcsconectada do restante: "Finalmente, podemos notar que,dadas as condlcoes tecnicas de producao, 0produto liquido e determinado indc-pendentemente [ s i c ] de sua divisao entre salaries e lucros",

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    entre lucros e salaries que ela perrnite obtcr independentementc(sic) dos pre~os seria "consistente com a visao classica de que adeterminacao da distribuicao de renda entre salaries e lucros elogicamente previa, e independente dos precos" (p. 548, grifo nooriginal). Nfo so a referencia aos classicos e equivocada - bastalembrar a inter-relacao indissoluvel entre valor e distribuicao emRicardo, a ponto de nao conseguir tratar nenhuma das duas qucs-toes sem a outra, como mostrou 0 proprio Sraffa (1951) conclusiva-mente -, mas sua interpretacao do metodo adotado por Sraffa e umaextrapolacao indevida das intencoes expressas do proprio autor.Nem Earwell nem ninguern pretende neg-ar que no sistema de

    Sraffa com excedente os precos e a distribuicao (0 valor do salario,sua participacao no excedente au a taxa de lueros) sao "determina-dos" simultaneamente, de urn ponto de vista logico-matematico. 0que esta sendo questionado na posilSao deste autor (e aparece quasetao explieitamente nas citacoes da nota 32) e a naturalidade comque aeeita, atribui a Sraffa e remere aos classicos uma predetermine-r ;ao teorica em terrnos fisicos, nao 56 do excedente, como de suadistrihuiciio entre lucros e salaries, ehegando a concluir que estapredeterminacao "revel a a origem do excedcnte de urn modo livredas arnbiguidades engendradas peIo calculo dos precos" (p. 548).Estas conclusoes sao urn non sequitur. Sraffa (1960, p_ 8) afirmaque "a distribuicao do excedente dcve ser determinada atraves domesmo mecanisme e ao mesmo tempo que as pre

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    Voltamos assirn a situacao inicial: se par hipotese nao se admitemmudancas de escala e de composicao do produto (incluindo 0 ex-cedente}, fazer (como Sraffa) variar a distribuicao implica neces-sariamente formular hipoteses insustentaveis sabre como sao gastosos salaries e as lucros, sob pena de tornar inutil a mercadoria-padrao: au entao deve-se aceitar supar retornos constantes, talvezcomo uma "primeira aproximarao" teorica, com todos as inconve-nientes que isso aearreta.A maioria dos que intervieram na discussao, entre tanto, nao en-

    frenta diretarnente este problema, talvez por desvineular de talmaneira os dais polos do "dilema" que ele passa despercebido: aquestao dos retornos, de urn lado (juntamente com a tecnica, asescalas e a composicao da producao dadas) , e a distribuicao de renda,de outro (ligada a discussao do porque de sua fixacao exogena -de uma das variaveis - e da ausencia de uma analise da demanda) .Este pareee ser tipicamente 0 caso de Roncaglia (1975 e 1977,passim) , que em nenhurn momento poe em relacao os dois as-pectos do problema. E possivel que a mesmo se aplique ao proprioSraffa (1962), a julgar pela maneira superficial e auto-suficientecom que pretendeu responder em poucas frases (de urn total deapenas duas paginas) a observacao de Harrod (1961) - dentre ou-tras menos felizes de sua resenha do Produdio de mercadorias -,na qual este considerava estranha a ausencia de influencia da de-manda sabre as pre

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    Enfim, a unica conclusao cabivel e que, a nao ser mediante suposi-~oes teoricarnentc injustificaveis nos proprios uermos da propostasraffiana e empiricamente absunlas (retornos constantes em todo 0sistema) , ou entao economicamente inaceitaveis (excedente cuja corn-posicao fisica nao se altera com a distribuicao}, a mercadoria-padraoe inutil .a4 0 "padrfio invariavel" varia, pais nao pode permanecer(sem rctornos constantes e admitindo variacoes na composicso do produto) podeser atribuido a mcrcadorla-padrao, retruca: "0 exercicio de: construcao de umnumerario por Sraffa ... tambem lanca luz sobre 0 'modo pelo qual mudancasnas parcelas distributivas podem afetar 0 conjunto de pre

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    estavel quando se "altera"a distribuicao, 35 e, como esta (assim comoos precos) nao pode ser medida rigorosamente contra 0 "padrao",continua-se scm saber se uma alteracao na taxa de lucro se cia comaumento ou diminuicao da parcela salarial: a "fronteira" taxa delucro versus salario desaparece, reduzindo-se a urn ponto.A importancia da conclusao anterior justifica uma analise mais

    minuciosa de suas implicacoes , Retomando a fron teira de Sraffaobtida na equacao (9) do Apendice, e facil verificar que, alterando-se a matriz de coelicientes, devem modificar-se tarnbern os valores da"razao-padrfio" e da taxa de salario .36 A prirneira, por estar associa-da univocamente a referida matriz atraves de sua rail caracteristicadominante ~ conforme 0 Apendice, Ser,;ao A.I, equacao (3).Asegunda, porque sua unidade de medida - no caso, 0 produtoIiquido do sisterna-padrao ~ tambern ten! sofrido modificacoes, tantodevido a rnudanca de pelo menos urn dos coeficientes da matriz (porhipotese, caso contrario se estaria reintroduzindo a hipotese de re-tornos constantes) como devido a paralela rnudanca do vetor demultiplicadores definidor do sisterna-padrao, alterando 0vetor carac-teristico da matriz de coeficientes, correspondente a razao-padrao -equacao (3) do Apendice , Assim, e como se a fronteira estivessese deslocando a cada alteracao de UI ou r; mais precisamente, sendow urn valor dimensional (expresso em unidades de renda do sistema-padrao ~ a "mercadoria-padrao") e l' urn nurnero absoluto.P" a

    35 Robinson (1961, P: 202) afirma com toda a tranqiiilidade que, "quandoretiramos nossa cerca protetora [sugerida antes, p. 199, para "evitar que mer-gulhemos no abismo" pOf falta de pontos de apoio num equilfbrio apenas par-cialmente cstabelecido, referindo-se :\ hiporcse de retornos constantes 011 d~estrutura produtiva inalteravel com a distribuicao] e pcrmitimos que mudancasna distribuicao afetern a composicao da produclio, necessitamos de um novoconjunto de equacoes ... mas isto e um outro problema" [ s ic ] . 0paradoxa! e queela tem toda a razao no que se refere it l6gica do sistema reprodutivo. A unica se-quela - pequeno detalhc, rnesmo -e invalidar a "mercadoria-padrao: de Sraffa,as Urn caso particular analogo e mais simples seria a alteracao do vetor de

    coeficientes de trabalho, que manteria inracta a razao-padrao, mas em geralmodificaria os pre~os, a taxa de salaries c a taxa de lucros,37 Pode parccer a primcira vista que 11' mede a participacao do salario na renda,

    alemde ser por detinicao a taxa de salario, e que como tal d ispensaria a unicida-de do padrao, Esta e uma impressao Ialsa. 0salario w e medido em termos darenda do sistema-padnlo, e nao do sistema real. e desta forma nao expressa a596 pesq. Plan. Econ, 13(2) ago. 1983

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    rigor nao se poderia definir uma "fronteira" entre as duas variaveis,ja que elas nao estao referidas a uma metrica (mica.Alem disso, e igualmente importante a conclusao indicada acirna

    de que a relacao entre ,weT fica indeterminada quando se perrniteque alteracoes na distribuicao afetem a estrutura produtiva, a "con-Iiguracao produtiva" e, finalmente, os coeficientes de producao, EIacil verificar que nao apenas a Ironteira de Sraffa, mas qualquerdernonstracao geral da relacao inversa entre ~we r nos termos pro-postos por Sraffa, depende crucialmente da pressuposicao de queos coeficientes produtivos e de trabalho nao se alterem. Por exemplo,adrnita-se uma elevacao da taxa de salario em termos da mercadoria-padrao pertinente ao sistema economico dado; suponha-se que haja,em consequencia, urn deslocamento da demanda em favor de deter-minado bern-salario cuja producao consome maior proporcao de urnproduto basico, e que este em sua Iabricacao esta sujeito a retornoscrescentes em terrnos de pelo menos urn de seus insumos (podendoser 0trabalho) . 0 coeficiente produtivo deste ira decrescer (manten-do-se por hipotese os demais inalteradosj , provocando uma diminui-~ao dos custos de producao e uma reordenacao dos pre - w,L1 - rw,.L

    onde os subscritos 1 e 2 indicam as situacoes antes e depois da elevacao dossalaries, q e 0 vetor de multiplicadores que formam a "merradoria-padrjto" nasitua~ao I, X c a matriz diagonal formada com 0vetor de producao da situacaoI, A e B sao as matrizes de coeficientes produtivos nas duas situacoes, P, e p.US vetores de pre~os respectivos e L a quantidade total de trabalho homogeneo,Fre fo s e d is tr ib ui~ iio e m S Ta ffa 59 7

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    Antes de concluir, a fim de dissipar possiveis duvidas de inter-pretacao quanto ao que csta em questao, pode ser conveniente assina.lar que a argumentacfio anterior nada tern aver, e mesmo precedelogicamente, os desenvolvimentos de Sraffa e dos que 0succderam arespeito tanto da producao conjunta (e a introducao de capital Iixo)quanto da mudanca de tecnicas , No que se refere a prirneira, sabe-se que, sob a hipotese de producao conjunta, nao pode ser sustentadoque r e w cstejam inversamente relacionados em face de qualquerpadrao escolhido, mas a radio e inteiramente distinta da apresentada,pois em nenhum momento Sraffa (1960, Cap. 9, pp. 61-2) cogitade mudancas na "configuracao produtiva" associada as alteracoesna distribuicao .Por outro lado, a abordagem da mudanca de tecnicas por Sraffa

    de Iato envolve alteracoes nos coeficientes produtivos, mas por esco-lha de tecnicas de producao mais lucrativas (modiica~oes prim arias)e, mats uma vez, nao como resultado de alteracoes na distribuicao(modificacoes secundar ias) . Nao e por outro motivo que a "fron-teira composta" obtida pOl' Sralfa (1960, Cap. 12, pp_ 85-6) no casogeral asscgura urn decrcscirno sistematico de r em relar,:ao w: na ver-dade, a fronteira e precisamente definida em cada regiao discretaem que se decomp5e, ao passo que os respectivos pontos de inter-secao nao apresentam qualquer descontinuidade em ambas as varia-veis. sn E desnecessario acrescentar que a critica anteriorrnente for-mulada tambem poe em xeque a possibilidade de construir estas"fronteiras parciais" e, portanto, a demonstracao feita por Sraffa dapossibilidade do "retorno" (reswitching) de tecnicas (embora naoa validade doseu conteudo para a crttica da nocao ncoclassica decapital e da correspondente teoria da substituicao tecnica de fatores) .Finalmente, cabe notar que as reierencias frequentes a aplicacflo

    da construcao sraHiana a questfio da mudanca de tecn icas parecem

    39 Cf. tarnbcm Pasinetti (1977, P: 157), que, com razfio e ao contrario de Sraffu(1960, Cap. 12, p. 86), ncm chcga a empregar a mercadoria-padrfio de cada"tccnica" em sua exposicao, dada a fiagrantc inutil idade da mesilla nesse contexte.

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    estar fundamental mente vinculadas a conrroversia em torno da va-lidade de determinados conceitos neoclassicos, especial mente, nestecaso, i concepcao desta escola acerca da substituicao de Iatores viamudanca tecnica. E preciso ressaltar, entretanto, que as considera-

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    pode ser encarada realmente como "mudanca tecnica" se se trataefetivamente de retornos de escala, vale dizer, referidos a mesmatecnologia.

    3 - Comentarios finaisPartindo da premissa de que uma avaliacao correta da contribuicaode urn autor deve, se possfvel, examinar sua consistencia interna eo cumprimento daquilo que se propos, por mais limitado que estepossa parecer, para 56 entao voltar-se it critica dos limites como tal,foi necessario desenvolver uma exposicao e uma critica a aspectosbasicos da abordagem da distribuicao em Sraffa. Feito isto, umaconclusao parcial se impoe: 0 saldo dos resultados por ele alcanca-dos neste terreno nao c muito grande. Mas e preciso nao pararneste ponto e extrair algumas implicacoes mais gerais que a propriacritica sugere de imediato.Nesse sentido, ha duas conclusoes que em parte extrapolam 0 tra-

    balho de Sraffa e que gostaria de assinalar.l,a) E importante ter presente que 0 mesmo raciocinio desenvol-

    vido na ultima ser;ao - com relacao a influencia da composicao doexcedente sobre a estrutura e a configuracao produtivas - pode sergeneralizado para qualquer alteracao na composicao da demanda,provenha de mudanca na distribuicao ou de outra origem - desdeque ligada ao modo como 0 excedente e apropriado e despendido,Ele deixa claro, no contexto dos prer;:os de reproducao (com ousern as hipoteses espedficas de Sraffa) , que riiio pode ser demonstrado- exceto invocando os indesejados "retornos constantes" - que ademanda nao afeta os prer;os e a taxa de luCIO,supostamente deter-minados exclusivamente pelas "condicoes de producao", como costu-meiramente se atribui aos classicos e ao proprio Sraffa. 41 Incluam-seou nao os salaries no excedente, sua composicao e fundamental para41 Este equivoco frcquente aparece tam bern em obras de maior folego, como,

    por exemplo, em Harris (1978, P: 78) , sob a prernissa de retornos constantes,

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    deterrninar a estrutura e a contiguracao produtivas, que e justa.mente por onde a demanda pode influenciar os pre~os e a propriataxa de lucro! As condicoes de producao seriam responsaveis ex-clusivas pel os pre~os se so houvesse demanda intersetorial, isto e,se nfio existisse excedente .422.a) Deve-se extrair da indeterrninacao da relacao entre distri-

    buicao e taxa de lucro que resulta desta crttica as suas consequen-cias necessarias , Na Subsecao 2. I expus a unica demonsrracao darelacao inversa entre salario e taxa de lucro que me parece consistentecom urn modelo teorico de economia de trocas capitalista em estadode "reproducao estatica" (nao-temporal), 43 e que requer tomarern-seas condicoes de producao (que incJui as componentes do salarioreal) e de demanda como "dadas", para concentrar-se nos pre~ose na taxa de luero. Desde que 0 salario e introduzido como saldriode reproduciio, nfio se poe a questao de uma distribuicao entrelucros e salaries definida [ora do sistema (na esfera "politica", ouo que seja): eia e determinada de forma rigorosamente simultdneaaos pre~os e a taxa de Iucro , Exogena, coerentemente, e a compo-si~ao do excedente (reduzido a sua forma principal, 0 lucro) , quetern relacao com a demanda e com aestrutura produtiva , A de-monstracfo passa entao fatalmente pela alteracao de algum dadoexogeno - no easo ricardiano as condicoes de producao dos bens-salario -, uma vez que a taxa de luero e os prer;os (e, portanto,. adistribuieao estatica) estao associados biunivocamente it conliguracaoprodutiva dada, e so podem modificar-se se esta tambem sofrer algu-rna alteracao, seja por modificacao nas condiroes tecnicas ou pormudanca da estrutura produtiva, ligada a tecnica e a dernanda final- ou seja, a forma como e gasto 0 excedente.

    42 Coisa que, alias, Sraffa (1960) chegou a notar algo confusamente no iniciodo Capitulo 2, quando diz que a introducao do excedente rorna 0 sistema "au-tocontradit6rio" (p. 6).

    4:l Que nao signitica ncm "simples", nern "ampliada": tais concertos nao seaplicam neste tipo de modelo. A situacfo de "reproducao estatica" independede hip6teses cspecificas sobre 0 Iato de 0 excedente ser totalmente oonsumido ounao, no seutido de que e compauvel com qua'quer uma delas,f 'rero~ e distr ibuirlio em STaffa 60 1

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    Chegamos com i8S0ao ponto crucial. Aquela demonstracfio destacaa relacao monotonica inversa entre a taxa de lucro e os coeficientesprodutivos (indicando piora das condicoes de producao) , e comotal parece constituir a unica forma de relacionar inversamente 0salario com a taxa de lucro nos limites do modelo estatico repro-dutivo. Mas ao Iaze-lo deixa de Iado nao so, paradoxalmente, aquestao da distribuicao - que nao e pressuposta, mas urn resultadoautomatico da solucao do sistema -, como tambem a influenciaque esta pode exercer sobre os coeficientes produtivos atraves dacomposicao do produto, que e uma dificuldade semelhante a deSraffa. Em outras palavras, ernbora a dernonstracao seja formalmenterigorosa e 0 resultado importante, na medida em que mostra quea piora das condicoes de producao e necessaria e suiiciente para 0dedinio da taxa de lucre, nao e capaz de estabelecer scm ambigiii-dades a origem das modificacoes naqueles coeficientes; e verdadeque estes ultimos sempre refletem as condicoes de producao, masisto nao basta, ja que em principio as alteracoes nos coeficientes tantopodem ser "autonomas" (por mudancas tecnologicas) como decor-rentes da nova composicao da producao associada a distribuicaomodificada, se nao se quer supor retornos constantes no restantedo sistema. Em outras palavras, niio se tern como tratar de formapuramente logica a vinculacao entre a configuracao produtiva emduas situacoes distintas, uma vez que estes vinculos se dao atravesde variaveis sobre as quais oinodelo nao pode formular hipoteses:simplesrnente nao faz sentido que ele teorize sobre aquilo que pre-viamente postulou como "dado" exogeno ...Em sintese, 0 problema esta com os proprios Iimites do modelo

    estatico reprodutivo, em sua incapacidade de dar conta do problemada distribuicao. Este nao pode ser resolvido nem "dentro" nem"fora" de urn modelo deste tipo; simplesmente requer outro modelo,ou concepcao teorica, que trate a distribuicao e os prec,;osconjunta-mente, mas nfio no interior de urn "sistema" interdependente eatemporal (simultaneo) . Os objetivos que este pode alcancar saobem rnais restritos: referem-se a forrnulacao de determinados con-ceitos em estado teorico "puro" - vale dizer, onde e possivel abstrairo tempo eo movimento - e nao para representar urn possivel estado60 2 pesq. eta. Econ, 13(2) ago. 1983

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    tendencial, mesmo se a "longo prazo", da trajetoria de uma economiacapitalista, ou ainda inenos para fundar as bases para uma teoriageral deste tipo de economia, que tern no movimento urn tracemar-cante.E preciso reconhecer cabalmente que urn modelo estatico-reprodutivo pode set quando muito uma construcao auxiliar pura-mente conceitual, Hmas nunca urna "primeira aproximaciio", aindaque reconhecidamente limitada, 1 5 a uma compreensao do caraterdinamico do funcionamento da economia capitalista, como se propoeo projeto teorico neo-ricardiano.A discussao dos problemas especificos do modelo estatico repro-

    dutivo de tipo sraffiano para retratat uma economia capitalista,on 0 qne denominei sua "crftica externa", fugiria do ambito desteensaio. Nao obstante, para conduir, pode ser util apenas enumeraralguns dos obstaculos possivelrnente mais import antes aquela pre-tensao neo-ricardiana:a) Como sugerido antes, hi problemas serios na identificacao de

    uma situacao estatica reprodutiva com a tendencia temporal doprocesso de expansao de uma economia capitalista, Este tipo de

    44 Este ponto foi desenvolvido urn pouco rnais em out.ro artigo [cf. Possas(1982) ].45 0 rcconhecirnento destas limitacoes tern de ser urn estimulo ao desenvol-

    vimento te6rico de uma abordagem essencialmente dinamica para a economiacapitalista, ainda que "pouco rigorosa " (? ) em term os formais, e nao umadeclaracao cautelosa e exteriormeme morlesta com o fim aparentc de conseguiradcsoes as posirocs neo-ricardianas, Como observou Lippi (1978, pp. 889),"a leitura de Marx proposta pOl' Garegnani parece mais dominada pelo afa defazer COm que os rnarxistas se dirijam a Sraffa do que pelo Iim de proporcionaruma reconstrucao da teoria do valor de Marx que sirva como base para deserr-volver seus aspectos vitals". 0 mesmo pode SCT dito sobre a Icitura de Sraffapor este autor, como sugcrem os seus comentarios de que seria totalmenteerr6nca "a lese de urn STaffa (_[ue teria levado a crise a teoria economica deMarx." c de que seria urn erro "buscar no Produdio de mercadorias 0 que naoexiste: uma reoria da acumulacao capitalisra e das crises, ou, inclusive, umateoria do modo pclo qual as relacoes entre as duas classes socia is dcterminama divisao do pruduto entre salaries e lucros", assunto que Sraffa rerncteria a() Capital de Marx para desenvolve-Ias "em :relacao .com 0 estado prcsente darealidade c dos conhecimentos eronomicos". Vcr Garegnani(1978b, p. 161),

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    modele de equacoes sirnultaneas e concebido para tratar uma situa-r;;ao atemporal, e nao tendencial, a nao ser como "estado estaciona-rio". Em particular, boa parte do que nele pode aparecer comomudancas nos parametres deve ser tratada diretamente como varia-veis numa analise dinamica.

    b) 0 processo real da concorrencia capitalista nao pode sobre-por-se as condicoes tecnico-produtivas em que ela opera; estas pos-suem especificidades em suas caracteristicas temporais de comporta-mento, njio apenas no que se refere aos periodos de producao ecirculacao do capital, mas tambem em termos da maior ou menorduracao da difusao de inovacoes, eliminacao de lucros de monop6lioe ajuste da capacidade produtiva as alteracoes da estrutura produtivada economia em sua repercussao nos fluxos intersetoriais,

    c) 0 paradigma de equilibrio, ainda que deliberadamente ausentena Iormulacao do modelo estatico reprodutivo, deixa residuos naode todo eliminaveis, A enfase na interdependencia sob a hipotesede simultaneidade - itens a e b acima - reforca implicitamente ainterpretacao do sistema economico mercantil como uma totalidadeIuncional, traduzindo-se especificamente em privilegiar 0momentode ajustamento na atuacao do processo de concorrencia e em encarararbitrariamente 0 movimento e 0 desenvolvimento como desajusteou desequilibrio.d) A determinacao dos precos e tratada sem a sua dimensao tern-

    poral intrinseca, rnesmo ao nivel de cada processo produtivo, ondee necessario distinguir os prer;;os dos meios de producao no inicioe no fim do periodo de producao, 46 para que a formacao de prer;;osapare

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    talista, 0 que tem relacao com seu carater estatico, Sao "as discre-pandas ternporais entre os atos de vendas e compras dos agenteseconomicos que exigem que se faca uma distincao dos pre

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    . . .onde X e a matriz diagonal formada pelas quantidades produzidasde eada uma das n mereadorias, A e a matriz quadrada de eoefiei-entes produtivosw p e 0 vetor dos pre

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    sendo u' 0 vetor (linha) de elementos unitarios, Uma vez que 0volume de cmprcgo total e dado por ~ {i x i = L,50 iS50permite que,iao fixar-se 0 salario w em termos da rend a ou produto Iiquido, seesteja deterrninando a partiripacao dos salaries no produto, w L(e ados lucros, I ~ w L ) . Nesse caso, a distribuicao pode aparecercomo dada exogenamente 10sistema reprodutivo, como faz Sraffa,fixando-se 0 valor de w; 0 sistema passa Iter igual numero deequaroes e incognitas, obtendo-se os prer;;ose a taxa de lucro univo-camente.o problema "classico" da determinacao nao-rircular de prer;;os etaxa de lucro fica, portanto, resolvido sem 0 recurso ao trabalhocomo medida de valores, com as simples quantidades fisicas demercadorias, embora com a restricao de tomar 0salario como partedo excedente e de so considerar 0 capital circulante - que constituimera simplificacao, logicamente desnecessaria a solucao,2) Em seguida, Sraffa passou a investigar as conseq uencias de

    distintas taxas de salario c respectivas parcelas distributivas sobrea taxa de lucro, independentemente do efeito que certamente pro-vocam sobre os prer;;os reIativos. Trata-se de problema analogo 1 0da "medida invariavel de valor" de Ricardo, exceto pelo fa to deSraffa ter elirninado de inicio urn dos polos do dilema que 0 tornavainsoluvel - a conceito substancial de "valor" (como quantidadede trabalhoj - para concentrar-se no outro polo - a da medida"invariavel". ~1

    50 Sralfa faz L = 1, mas esta h ipotesc e desuecessaria, podendo confund'r ()Ichor desprevenido, Nao constirui nenhuma equacao adicional, mas sornentea dcfinicao (arbitraria) da unidade de medida ria quantidade de trahalho ho-mogeneo.

    ;'1 Os doh criterios de invariancia postulados por Ricardo para 0 "padraoinvariavel " - que seja produzido com a mesma quanudade de trabalho ("valorabsoluto " inalrerado) , para rcflctir as mudancus de produtividade, e que sejainsenslvel a altera~ocs na distribuicao, para que os "valores de troca" relativosnao sejarn atetados pelo deito daquelas alteracoes sobre 0 proprio padrao _.sao incornpativeis, como dcmonstra Sraffa (1951, p. xlvii) , porque a condicaode invariancia frcnte a mudanras na dlstribuicao (a "proporcao media" entrecapital c trabalho) e modificada quando sc alteram as condicces de producaode qualquer mercacloria cujo "valor absolute" deve ser medido contra 0 padrao,

    fre~m e d is tr ib uir i io e m .S ra ffa 6 0 7

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    Coerentemente com a Iormulacao originaria, constroi um "sistema-padrao" a partir do sistema inicial (mudando a escala de cadaprocesso), de forma que a relacao - que chamou de "razao-padrao",R - entre 0excedente de cada produto e a quantidade usada comorneio de producao das diferentes atividades seja uniorme. 0 vetor qdos multiplicadores q, de cada equacao original que geram 0 sistema-padrao deve entao satisfazer a condicao:- -A X q (I + R) = X q (3)ou:

    [1 - A (1 + R)] X q (3')onde 1 > e 0 vetor (coluna) nulo.o sistema de equacoes homogeneo em (3') tera solucao nao trivial

    (q = 1 = 1 56 se det [I - A (I + R)] = 0, que e a equacao caracte-rfstica da matriz A. Esta solucao e sempre possivel.De fato, a matriz A e quadrada e nao-negativa; se dela excluirmos

    antecipadarnente as linhas e colunas correspondentes as mercadorias"nao-basicas", que por hip6tese nao entram direta ou indiretamentena producflo de todas as mercadorias (e cujos prec;:os,portanto, naoafetam os demais e a taxa de lucro), a matriz sera tambem inde-componivel. Logo, a ela se aplica 0 teorema de Perron-Frobenius, 5~que assegura que A tera uma e apenas uma raiz caracterlsticaA = 1 R' positiva e de maior modulo, cujo vetor caractedstico1 +X q seja positivo (para que tenha significado economico).Alern disso, para que se tenha R > 0 deve-se ter 0 < A < 1;

    falta entao mostrar que A < 1. Isto ocorrera se, e somente se, Afor "produtiva", isto e, tal que x > A x au y > y A para algumx 011 y tal que x, y > 1 > . 5~ Mas a existencia de excedente, como foi

    ~2 Veja-se Debreu e Herstein (1953; p. 598). Para um rcsumo dos principalsresultados referentes a este ripo de matrizes, veja-se Morishirna (1964, Apendice)ou Pasinctti (1977, Apendice) .~:{ Veja-sc, pOl' exemplo, Morishima e Catephores (1978, Cap. 6) .

    6 0 8 Pesq. Plan. Econ, 13(2) ago. 1983

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    pressuposto, e necessaria e suficiente para isto; de fato,eJa equivalea supor ~ au : s ; I para eada ie ~ a",j < 1 para algum m, donde

    i -jse pode escrever que u > Au, sendo u 0vetor (colunaj unitario,e en tao A e produtiva.

    Em sintese, a solucfio para R > 0 e Xq > < p e unica, ou seja, asistema-padrfio e unico, a menos que haja urn fator de proporcio-nalidade arbitrario que fixe 0 vetor q, cuja "estrutura" e sempredeterrninada. Sraffa define este "ator de escala" de modo que avolume de trabalho empregado no sistema-padrao seja igual ao dosistema basico: ~ q;l;x; = L, au, em forma matriciaI, qlXI = L.

    iResta apenas definir 0 "padrao" propriamente dito, e, para poderexplicitar as alteracoes na distribuicao, Sraffa 0 faz normalizandoa renda liquid a do sistema-padrao:

    : (qiX;

    au:q' X (I - A') P (4)

    que e a ehamada "mercadoria-padrao".Pode-se entao tomar a equacao (4) como normalizacao do siste-

    ma (1'), e a fixacao de apenas uma variavel, seja r ou w (e comcia a distribuicao) em term os da "mercadoria-padrao" (4), permitecomo antes determinar univocamente as demais variaveis: mas per-mite acima de tudo estabelecer uma relacao geral entre a taxa delucro e a distribuicao indcpendentemente dos pre

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    rosamente uma propriedade do sistema original, M tornando desne-cessdrias especulacoes sobre a "correspondencia" entre este ultimoe 0 sistema-padrao, bern como sobre a possivel deterrninacao da taxade lucro "fora" do sistema original. Para ressaltar este ponto, convemmostrar como se deriva a fronteira diretamente do sistema original,em conjunto corn as equacoes definidoras do sistema e da mercadoria-padrao - (3) e (4) -, para em seguida provar que a "razao-padrao"R tambem e a taxa maxima de lucro do sistema original e queseu calculo equivale logieamente a construcao do sistema-padrao.

    3) Inicialmente, pre-multipliquemos a sistema ( I ') por q':X (sig-nifiea sornar os valores da producao de todas as mercadorias nasquantidades definidas por urn vetor q > cp ) :

    q' X A' P (1 + r) + q' X 1 w =q' X p (5)Transpondo 0 sistema (3) e pos-multiplicando por p:

    ~ ~q' X A' P (1 + R) =q' X P (6)Aplicando a definicao da mercadoria-padrao (4) em (5) e (6),

    obtem-se:q' X A' P r + q' X 1 w 1 ( 7 )

    e:(( X A' P = R (8)

    Fixando-seo vetor q tal que q' X 1 L (escolha do "fator deescala") , resulta finalmente, de (7) e (8), a fronteira: 05

    T =R (1 - w L) (9)J4 Ele na verdade 0 faz em parte, porern apenas no Cap. 5, pp. 2H e seg., apos

    a construcao da mercadoria-padrao c a derivacao da "fronteira", quando passaa operar com R como a "taxa maxima de Luero" _ Pasinetti tam bern observouesse aspecto, ernbora a men ver de forma tao remota e po nco enf'atica quantoSraffa, Ver Pasinetti (1977, pp. 96, 99 e esp, 115-6).

    o r; Para L = 1 obtem-se a conhecida equadio original de Sraffa.610 Pesq -.Plan, ECOtL 13(2) ago, 1983

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    4) Agora a demonstracao sera refeita estritamente dentro. dosistema original (reduzido ao sistema basicoj, Defina-se como R*o valor de r quando w= 0, chamando-o de "taxa maxima delucro". iiHTem-se entao, de (1'):

    A'po(l + R*) = Po ( 10 )sendo Po > 4 > 0 vetor de prec;os (na verdade, uma "estrutura") queresulta da solucao nao-trivial deste sistema, [I~A' (1 + R*)] Po = < P 'obtendo-se urn unico R* > 0, ja que A' e indecomponivel e produtivase A tambem 0for. Ademais, c facil verificar que a raiz caracteristica( 1 ~ ~*)de A', que satisfaz 0sistema acima, e igual a - de A,- quesatisfaz 0 sistema du

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    Substituindo-se (12) em (5) e (11), tem-se:q.' X A' P r + q.' X I w

    Aou, escolhendo-se os elementos de q* tais que q'*" X I L: 59q , * , 1 X A' P r + w L = 1 (13)

    e:q.' X A' Po 1R (14)

    Obtem-se finalmente de (13) e (14) uma fronteira mais geral:r R (1 - w L) q*' X A' Poq.' X A' P (15)

    ou, chamando K q'*' X A' Poq , * , 1 X A' Pr = R (I - w L) K (15')

    No caso particular em que q'*" X A' P = q.' X A' Po para qual-quer p que satisfaca 0 sistema original, tem-se necessariamenteq* = q,60 quer dizer, 0 sistema modificado pelos multiplicadoresq* e 0proprio sistema-padrjio, K = 1, e reconstitui-se a fronteira (9)de Sraffa. ~1

    ;;l) Isto scmpre e possivel, uma vel que, como se recorda, h a dois graus deIiberrlade no sistema,

    ,.,,0 Se esta conc.usao nao parece evidente, basta lembrar a equarao (8), pela1qual q' X A' P = __ , ou seja, os custos de produ~ao sao invariaveis COlRrclacao aos prct;os no sistcma-padrao , Outro caso particular interessante seriaquando q* = u, que faz retornar ao sistema original (1') e it primeira medidaproposta par Sraffa 0 produto liquido deste: a equacao (12) converte-se emu' X (I - AI) p = I.61 Note-se que a fronteira (15') s6 prova a relacao inversa entre w e r pam

    K = I (sistema-pad.rao] I ja que 0 fator K e variavel com P e, portanto, comU e r.

    612 Pesq. Plan. Econ. lJ(2) ago. 198)

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    A.2 - Solugao alternativa ao "problema de Ricardo"sem urn "padrao invariavel"

    Considere-se novamente a equacflo (1'), mas incorporando 0 salarioreal como conjunto de mercadorias predeterminado, como fez Sraffano inicio de seu Capitulo 2 . Isso equivale a tomar 0 trabalho homo-geneo como mercadoria e 0 salario vunitario como 0 seu pre

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    - que integra 0 conjunto de bens-salario 63 (au seja, tal que ;> 0).Sendo A*, indecornponfvel, prova-se que a aumento de qualquerelemento de A*, e condicao necessaria e suficiente para aumentarsua raiz caracterfstica de maior modulo; 6~ como esta ultima e igualIa I + r' segue-se que a taxa de Iucro T deve necessariamente cair.

    A [ortiori se muitos (ou todos) coeficientes a jm se elevarem, 0 queparece ser mais compativel com a hipotese ricardiana de rendimentosdecrescentes na producao agricola (e pelo menos nao significativa-mente crescentes em outras atividades). Note-se que a demonstracaonao requer uma analise do comportamento dos precos, do propriosalario e da distribuicao, dispensando com isso 0recurso a qualquerpadrao de medida "invariavel",

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    64 Debreu e Herstein (1953, p. 598) , ou Pasinctri (1977, p. 2'72) .~l4 Pesq, eta: Econ, J3(2) ago. 1983

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