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Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2014, v. 18, n. 18, p. 87 – 108 ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA RJ MELLO, A. C. F.¹ ³ PANTOJA, S. C. S.² ³ RESUMO Devido ao grande número de gêneros, as orquídeas possibilitam um leque de opções no paisagismo urbano. Este trabalho se baseia no paisagismo vertical com orquídeas, objetivando dados comparativos dos gêneros encontrados de 2007 a 2013. O estudo revela a escolha dos gêneros, o número de mudas plantadas e as que resistem até hoje, o engajamento dos moradores, a sustentabilidade e os fatores abióticos que influenciaram. Dessa forma, foi possível constatar durante o levantamento a diminuição do número de orquídeas, além da presença de novas orquídeas provenientes da iniciativa de moradores, mas que mesmo assim garantiu o sucesso do projeto. Palavras-chave: Orquídeas. Paisagismo. Sustentabilidade. Levantamento. ABSTRACT Because of the large number of genera, orchids enable a range of options in urban landscaping. This work is based on vertical landscaping with orchids, aiming comparative data genera found from 2007 to 2013. The study reveals the choice of genres, the number of seedlings planted and enduring even today, the engagement of residents, sustainability and environmental factors that influence. Thus, it was established during the survey to reduce the number of orchids, and the presence of new orchids from the initiative of residents, but still ensured the success of the project. Keywords: Orchids. Landscaping. Sustainability. Survey.

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Page 1: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE … · gosto e do bom senso e requer muita técnica e criatividade" (FINI, 2011, p.4). Trata-se de um projeto de paisagismo e não apenas

Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2014, v. 18, n. 18, p. 87 – 108

ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA – RJ

MELLO, A. C. F.¹ ³

PANTOJA, S. C. S.² ³

RESUMO

Devido ao grande número de gêneros, as orquídeas possibilitam um leque de opções no

paisagismo urbano. Este trabalho se baseia no paisagismo vertical com orquídeas, objetivando

dados comparativos dos gêneros encontrados de 2007 a 2013. O estudo revela a escolha dos

gêneros, o número de mudas plantadas e as que resistem até hoje, o engajamento dos moradores,

a sustentabilidade e os fatores abióticos que influenciaram. Dessa forma, foi possível constatar

durante o levantamento a diminuição do número de orquídeas, além da presença de novas

orquídeas provenientes da iniciativa de moradores, mas que mesmo assim garantiu o sucesso do

projeto.

Palavras-chave: Orquídeas. Paisagismo. Sustentabilidade. Levantamento.

ABSTRACT

Because of the large number of genera, orchids enable a range of options in urban

landscaping. This work is based on vertical landscaping with orchids, aiming comparative data

genera found from 2007 to 2013. The study reveals the choice of genres, the number of seedlings

planted and enduring even today, the engagement of residents, sustainability and environmental

factors that influence. Thus, it was established during the survey to reduce the number of

orchids, and the presence of new orchids from the initiative of residents, but still ensured the

success of the project.

Keywords: Orchids. Landscaping. Sustainability. Survey.

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1 Estudante de graduação do curso de Ciências Biológicas.

2 Professor assistente/pesquisador orientador.

3 Universidade Castelo Branco, Escola da Saúde e Meio Ambiente. Avenida Santa Cruz, 1631, Realengo, 21710-250 Rio

de Janeiro, RJ, Brasil. Autores para correspondência: [email protected] / [email protected].

INTRODUÇÃO

"O paisagismo, como prática socioambiental, reveste-se de caráter cultural e histórico.

Enquanto linguagem, expressa símbolos e valores da sociedade. Na medida em que

adota elementos naturais como matéria-prima, o paisagismo submete-se também a

ditames ecológicos. A combinação dessas características faz com que diferentes formas

de interpretação, apropriação e recriação da paisagem expressem, em variados graus,

relações entre sociedade e natureza" (CESAR; CIDADE, 2003).

Vivemos em um país com uma flora riquíssima, numa cidade com uma beleza natural

comentada no mundo inteiro e conhecida como Cidade Maravilhosa. E como toda cidade que

cresce de maneira desordenada, os problemas surgem e criam um círculo vicioso, no qual o ser

humano destrói e acaba sofrendo as consequências de sua própria ganância e descompromisso

com o meio em que vive.

Diante deste quadro, a constatação de que existem projetos nos quais há preocupação com

o meio ambiente, e portanto com o bem-estar da população, deve ser destacada e divulgada.

Assim, encontrar orquídeas nas ruas de Ipanema nos leva a uma reflexão sobre a natureza,

o crescimento urbano e a educação ambiental caminhando juntos. "As orquídeas têm fascinado

os homens por mais de dois mil anos. Foram utilizadas no passado em poções curativas,

afrodisíacos, para decoração e ocuparam grande papel nas superstições" (LAWLER, 1984).

A Orchidaceae é considerada por muitos autores como a maior família de angiospermas.

Quanto a sua evolução, acreditava-se que as orquídeas teriam surgido na terra há

aproximadamente 2,5 milhões de anos, juntamente com a evolução do homem, mas um achado

fóssil, datado de 15 a 20 milhões de anos, faz crer que os primeiros ancestrais das orquídeas

tenham surgido na era dos dinossauros. Estas possuem diversas formas de vida, possibilitando a

ocupação de diferentes tipos de ambientes, uma vez que orquídeas podem ser encontradas em

formações vegetais diversas. Esta família possui um desenvolvimento rápido e numerosas

subfamílias.

Este trabalho tem como principais focos: o aspecto paisagístico e sua relação com a

mobilização comunitária entorno de uma proposta que visa, não somente embelezar as ruas do

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bairro, mas integrar a comunidade na busca da valorização socioambiental como afirmam Cesar

e Cidade (2003):

O paisagismo que expressa valores culturais e subordina-se a condicionantes

ecológicos. Essa combinação revela relações entre sociedade e natureza e reflete visões

de mundo predominantes. Interpretações sobre a realidade existem desde o início da

história humana (CESAR & CIDADE, 2003).

Como todo projeto de paisagismo requer observação, estudo, enfim um planejamento. A

escolha das espécies que se adaptam melhor ao clima. "O trabalho do paisagista vai além do bom

gosto e do bom senso e requer muita técnica e criatividade" (FINI, 2011, p.4). Trata-se de um

projeto de paisagismo e não apenas de jardinagem.

O paisagismo, como tal, é considerado arte ou técnica de fazer um projeto, planejar, gerir e

preservar determinado local. Já a jardinagem nada mais é que a prática de criar e manter um

jardim. "Para mim, o conceito mais importante do paisagismo é a integração do homem com a

natureza, para que essa relação resulte em melhor qualidade de vida e equilíbrio do meio

ambiente" (NAKATA, 2011, p.4, p.5).

As orquídeas compõem uma das maiores famílias de plantas existentes com imensa

variedade de espécies e cores. A escolha para melhor adaptação ao ambiente e o período de

floração de cada uma das espécies para fazer a combinação, mantendo o ambiente sempre florido

requer cuidados. "Recentemente, o paisagismo evoluiu ao adotar princípios da ecologia e a

compreensão ambiental. Ainda em construção, o paisagismo ambiental expressa muito das

contradições da sociedade atual" (CESAR & CIDADE, 2003).

A primeira questão a ser investigada é sob quais circunstâncias surgiu a ideia do projeto de

orquídeas no Quadrilátero do Charme de Ipanema. Com este fim, foi realizado contato via e-mail

com a Associação Comercial atuante em parte do bairro de Ipanema. A partir deste, foi possível

verificar que o Quadrilátero do Charme de Ipanema fica entre as ruas Anibal de Mendonça e

Joana Angélica e as avenidas Vieira Souto e Epitácio Pessoa. Estas 21 quadras de Ipanema

contam com 70 empresas associadas de segmentos de moda, joalheria, gastronomia, decoração,

beleza e hotelaria.

A ideia de criar um projeto de orquídeas no Quadrilátero do Charme de Ipanema deu ao

lugar beleza e um tom primaveril, transmitindo alegria e sofisticação às ruas. A preservação em

todo território nacional não é uma tarefa fácil devido à devastação das matas e ao comércio ilegal

que ameaçam a diversidade destas belíssimas plantas tão delicadas, daí a importância de um

trabalho socioeducativo valorizando estas delicadas plantas tanto para a ciência como para o

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ecossistema, despertando uma consciência ecológica nos habitantes. Desta forma, o plantio de

orquídeas nas áreas urbanas é fruto de estudos, dedicação e conscientização das questões

ambientais, transformando as ruas antes vistas apenas pela sua arquitetura, agora também

apreciadas pela exuberância das plantas e pela sensação de bem-estar das pessoas que por lá

transitam.

OBJETIVOS

Geral

Analisar a escolha de orquídeas no paisagismo urbano de Ipanema, destacando a

valoração das mesmas, tanto do ponto de vista estético quanto na preocupação em transformar os

espaços dos meios urbanos em lugares de convivência agradável, realizando um estudo dos

gêneros utilizados na ornamentação.

Específico

Explicar a proposta da associação comercial, destacando as etapas, a conscientização, a

conservação e a valorização do projeto paisagístico;

Analisar o envolvimento da população nas questões ambientais;

Caracterizar a escolha destas plantas, sua importância estética e ambiental nos centros

urbanos;

Realizar levantamento dos gêneros utilizados na ornamentação urbana e suas contribuições

para o meio ambiente;

Aplicar planilha para levantamento do número de orquídeas presentes nas ruas de Ipanema,

de modo a fazer uma comparação estatística entre a quantidade de mudas implantadas no

início do projeto e a quantidade existente nos dias de hoje;

Verificar quais medidas socioeducativas foram aplicadas visando ao sucesso do projeto.

MATERIAL E MÉTODOS

O material utilizado e os procedimentos realizados no desenvolvimento da pesquisa foram:

computador portátil tipo notebook, marca Itautec, modelo infowaynote w7645 com sistema

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operacional Windows Vista Home Basic e os programas computacionais Microsoft Office Word

2007, Excel 2007, PowerPoint 2007, Windows Explorer 2007, Outlook 2007. O presente

trabalho foi realizado através de comparação com bibliografia específica, por meio de artigos,

sites de revistas científicas e livros sobre orquídeas, paisagismo e questionários. Foi feito

também uso de materiais para a pesquisa de campo, como mapa das ruas de Ipanema, caneta

esferográfica, papel A4, prancheta, lupa. As orquídeas foram fotografadas no local com auxílio

de uma câmera fotográfica e identificadas de acordo com as características morfológicas

predominantes das flores e folhas de cada um dos gêneros que são alvo desse trabalho.

A coleta de dados ocorreu através da contagem das orquídeas implantadas pelo projeto nas

ruas de Ipanema fazendo um comparativo entre o número de mudas do início do projeto e a

quantidade encontrada nos dias de hoje. Além disso, foi aplicado um questionário a respeito do

projeto tanto a moradores de Ipanema quanto a integrantes da associação comercial do bairro.

Figura 1: Mapa de Ipanema.

Fonte: Site de Mapas - Rio de Janeiro, 2013.

RESULTADOS

Orchidaceae é a maior família em número de espécies entre as monocotiledôneas,

possuindo distribuição cosmopolita e pantropical, sendo mais numerosa e diversificada nos

neotrópicos. As orquídeas apresentam estruturas morfológicas e anatômicas das mais

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especializadas do reino vegetal, além de constituírem um dos mais belos grupos de plantas e um

dos maiores êxitos da evolução vegetal. Elas apresentam variações quanto ao local onde se

desenvolvem na natureza podendo ser epífitas, terrestres, rupículas ou litofíticas e saprófitas. A

sua identificação é um trabalho difícil e complicado devido a existência de muitos gêneros

complexos. "Estima-se que na natureza existam aproximadamente 25 mil espécies. Os cientistas

classificam como uma espécie quando ela se reproduz e gera descendentes férteis. Mas números

precisos não combinam com orquídeas. O que dificulta tudo é que orquídeas podem ser pequenas

ou grandes, roxas ou azuladas, terrestres ou epífitas, inclusive de gêneros diferentes" (ARAUJO,

2013, p.3). A flor das orquídeas diferencia-se da flor das outras plantas através do labelo, que é

uma pétala central diferente e maior do que as laterais, com uma forma, cor e desenhos

característicos e, além disso, a presença da coluna ou ginostêmio, uma espécie de coluna

arqueada, onde se encontram agrupados os órgãos reprodutores – masculino e feminino – da

planta. A orquídea pode ser considerada uma flor completa devido à presença de cálice, corola,

androceu e gineceu. A sua flor típica é trímera, já que possui três sépalas, uma dorsal e duas

laterais e três pétalas, sendo duas de formato igual e uma terceira completamente modificada,

tanto no tamanho, quanto na forma e na sua estrutura, chamada de labelo, já citada

anteriormente. É do labelo que sai o perfume destinado à atração dos polinizadores, servindo de

plataforma para pouso. Ele também é utilizado pelos taxonomistas para a possível identificação

da orquídea.

Figura 2: Estruturas florais.

Fonte: CULTIVO DE ORQUÍDEAS. 2011. 1 desenho.

Quanto ao crescimento, as orquídeas podem ser classificadas em simpodiais, que são

plantas que crescem na horizontal, ou seja, o novo broto se desenvolve na frente do bulbo adulto

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formando o rizoma e um novo pseudobulbo, em um crescimento contínuo, e também

monopodiais , que são aquelas de crescimento vertical e estão dispostas simetricamente no caule

da planta.

Figura 3: Crescimento simpodial e monopodial.

Fonte: BLANCO, C. Paixão por orquídeas. 2012. 1 desenho.color.

A maioria dessas orquídeas se forma na base das folhas do pseudobulbo, de onde sairá a

haste floral, uma estrutura especializada, como uma folha, chamada bainha, cuja função é

proteger as gemas e as partes novas da planta. Uma das características da Cattleya Lindl. (1821)

é a formação de uma estrutura denominada espata, também conhecida como bráctea, que tem a

função de proteger o botão floral.

Figura 4: Órgãos vegetativo e reprodutivo

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.

Fonte: CULTIVO DE ORQUÍDEAS. 2011. 1 desenho.

No caso das epífitas, os troncos onde são fixadas devem ser de madeira resistente e de

preferência com casca firme e rugosa, dessa forma as plantas dificilmente sofrerão por umidade

excessiva. Apesar de viverem grudadas em tronco de árvores, essas plantas não são parasitas,

pois elas vegetam sobre árvores, usando-as somente como suporte

A primeira flor de Oncidium Sw. (1800) foi catalogada por Olof Swartz em 1800. "A

origem do nome é grega – onkídium – e pode ter dois significados: o formato de seta das flores

ou uma protuberância que apresentam no labelo" (RAPOSO, 2009). Apesar da discordância

entre a maior parte dos etimólogos, a segunda hipótese é a mais aceita, visto que em algumas

espécies não é possível observar a seta. O gênero Oncidium Sw. (1800) é caracterizado pela

presença de pseudobulbos uni ou bifoliados, com um internó que sustenta uma dística bainha em

forma de folha. A inflorescência é produzida nas axilas dessa bainha ou na base do pseudobulbo.

Uma característica marcante desse gênero é a floração abundante onde cada inflorescência pode

trazer uma ou mais de cem flores, que na maior parte são amarelas, mas também é possível

encontrar tons de vermelho, branco e marrom. O tempo de floração dura em média 30 dias.

Assim como a maioria das orquídeas, elas precisam de muito vento, já que são suscetíveis a

ácaros, pulgões e cochonilhas. O clima ao qual ocorre uma melhor adaptação da Oncidium Sw.

(1800) é o da América Tropical, temperaturas entre 27°C e 30°C durante o dia e entre 13°C e 15

°C à noite. A faixa entre 35°C e 45°C também é tolerável, contanto que a umidade e a

ventilação, especialmente nas raízes, sejam aumentadas, o que explica a perfeita adaptação ao

clima do Rio de Janeiro, sendo mais específica, as árvores de Ipanema, onde a umidade e a

ventilação estão aumentadas devido à proximidade com o mar.

A Cattleya labiata Lindl. (1821) chegou a Europa por meio de caçadores de orquídeas em

1818 sendo cuidada por dois anos até florescer pelo inglês e doutor em botânica John Lindley,

considerado hoje o pai da orquidofilia. Suas flores são compostas por pétalas e sépalas de cores

brancas até tons de roxo, possuindo a parte interna do labelo manchada. O labelo das orquídeas

só passou a ser chamado assim depois da descoberta da Cattleya labiata Lindl.(1821). "Antes da

labiata ser descoberta, o labelo das orquídeas era chamado apenas de pétala modificada"

(BOHNKE, 2013, p.18). Suas flores ocorrem no outono, o que ajudou a tornar essas orquídeas as

mais utilizadas em hibridação, duram duas semanas ou mais e geralmente se encontram reunidas

no alto de uma haste de até 14 cm de comprimento. Costumam apresentar três a cinco flores por

haste. "As flores da Cattleya labiata Lindl. (1821) são grandes, medem entre 12 cm e 18 cm, e

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exalam um perfume muito agradável, principalmente pela manhã. Para se ter uma ideia da

fragrância da florada, ela é comparada a do famoso perfume Chanel n.º 5" (BASTOS, 2013,

p.17).

Originária do continente asiático, a Phalaenopsis amabilis (L.) Blume foi descrita em 1825

pelo botânico holandês C. L. Blume. Phalaena (mariposa) enquanto opsis (aparência de) se

referindo à forma chamada por muitos de borboleta. Ela possui ótima durabilidade e uma

floração prolongada, permanecendo a flor aberta por até três meses, possui folhagem suculenta e

crescimento monopodial. Essa orquídea aprecia clima quente, meia-sombra e alta umidade do ar,

se adaptando bem, portanto, ao clima do Rio de Janeiro.

Quanto ao projeto, no início se tratava de uma Associação de Amigos da rua Garcia

d'Ávila, criada pelo joalheiro Antônio Bernardo, depois foi batizado em 2006 como Quadrilátero

do Charme, abrangendo as ruas Vieira Souto, Joana Angélica, Maria Quitéria, Garcia d'Ávila,

Anibal de Mendonça e Epitácio Pessoa, no total de 22 quarteirões onde se concentram hotéis,

restaurantes, lojas de grife, livrarias, galerias de arte, cabeleireiros, joalherias, comércio chique

do bairro e cursos de idiomas. É considerado oficialmente pela Prefeitura do Rio de Janeiro

como um dos 20 polos do Rio e hoje é composto por cerca de 70 empresas.

O momento mais crítico antes do projeto ser implantado foi em 2007, quando ocorria

roubos e assassinatos até mesmo em Ipanema; sendo assim a imagem da região precisava mudar.

Visto isso, os moradores foram convidados a plantar orquídeas, se envolvendo então no projeto

paisagístico; a ajuda deles acabou se tornando fundamental, e as orquídeas acabaram por cair no

gosto da população.

No início do projeto eram 350 troncos, cada um recebeu 6 mudas de orquídeas, sendo duas

de cada espécie. Foram amarradas 2.100 orquídeas na primavera de 2007 em um domingo, 23 de

setembro. Foram utilizadas bolsas de juta e potes cortados pela metade a fim de fixar as

orquídeas nos troncos. Segundo registro da Associação Comercial responsável pela

implementação do projeto, mais da metade desapareceu, já que vários quarteirões foram

praticamente "depenados".

A maioria das orquídeas plantadas na orla não resistiu, provavelmente devido à maresia e à

falta de ações socioeducativas mais intensivas, visto que placas com informações não foram mais

encontradas. Atualmente foi possível observar um reestabelecimento do quantitativo de

Orquídeas no Quadrilátero do Charme, verificando-se um movimento ascendente de expansão

dos espaços ocupados por este tipo de paisagismo proveniente da adesão dos moradores. Tal

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Dados Coletados Rua Joana Angélica

Phalaenopsis amabilis: 114

Cattleya labiata: 26

Oncidium micropogum: 36

Árvores com orquídeas: 48

Árvores sem orquídeas: 41

Total de mudas: 176

Total de árvores: 89

Outras orquídeas: 0

Dados Coletados Rua Maria Quitéria

Phalaenopsis amabilis: 60

Cattleya labiata: 15

Oncidium micropogum: 14

Árvores com orquídeas: 33

Árvores sem orquídeas: 29

Total de mudas: 89 + 7* = 96

Total de árvores: 62

Outras orquídeas:

6* (Dendrobium)

+ 1* (Oncidium

equitante)= 7*

informação pode ser comprovada segundo estatística obtidas em pesquisa de campo relatada nos

gráficos abaixo:

Figura 5: Descreve os dados coletados na rua Joana Angélica.

Figura 6: Descreve os dados coletados na Rua Maria Quitéria.

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Dados Coletados Rua Garcia d’

Ávila

Phalaenopsis amabilis: 98

Cattleya labiata: 29

Oncidium micropogum: 35

Árvores com orquídeas: 48

Árvores sem orquídeas: 34

Total de mudas: 162 + 40* =

202

Total de árvores: 82

Outras orquídeas: 40*

(Dendrobium)

Dados Coletados Rua Anibal de

Mendonça

Phalaenopsis amabilis: 121

Cattleya labiata: 59

Oncidium micropogum: 59

Árvores com orquídeas: 49

Árvores sem orquídeas: 30

Total de mudas: 239 + 2* =

241

Total de árvores: 79

Outras orquídeas: 2* (Dendrobium)

Figura 7: Descreve os dados coletados na rua Garcia d’ Ávila.

Figura 8: Descreve os dados coletados na rua Anibal de Mendonça.

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Dados Coletados Av. Vieira

Souto

Phalaenopsis amabilis: 43

Cattleya labiata: 28

Oncidium micropogum: 2

Árvores com orquídeas: 26

Árvores sem orquídeas: ≅ 109

Total de mudas: 73 + 4* = 77

Total de árvores: ≅ 135

Outras orquídeas: 4*

(Dendrobium)

Dados Coletados Av. Epitácio

Pessoa

Phalaenopsis amabilis: 111

Cattleya labiata: 20

Oncidium micropogum: 46

Árvores com orquídeas: 25

Árvores sem orquídeas: ≅ 218

Total de mudas: 177 + 19* = 196

Total de árvores: ≅ 243

Outras orquídeas: 19* (Dendrobium)

Figura 9: Descreve os dados coletados na Av.Vieira Souto.

Figura 10: Descreve os dados coletados na

Av. Epitácio Pessoa.

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Tabela 1: Tabela comparativa de orquídeas por ruas do Quadrilátero do Charme de Ipanema.

QUADRO COMPARATIVO DE ORQUÍDEAS POR RUAS DO QUADRILÁTERO DO CHARME

Ruas de Ipanema:

Joana Angélic

a

Maria Quitéria

Garcia d’Ávila

Anibal de Mendonça

Vieira Souto

Epitácio Pessoa

Resultado

Phalaenopsis amabilis: 114 60 98 121 43 111 547

Cattleya labiata: 26 15 29 59 28 20 177

Oncidium micropogum: 36 14 35 59 2 46 192

Árvores com orquídeas: 48 33 48 49 26 25 229

Árvores sem orquídeas: 41 29 34 30 ≅ 109

≅ 218

≅ 461

Total de mudas:

176

89 + 7* =96 162 + 40* =

202 239 + 2* =

241

73 + 4* = 77 177 + 19* =

196

988

Total de árvores: 89 62 82 79 ≅ 135

≅ 243

≅ 690

Outras orquídeas:

0

6* (Dendrobium) +

1* (Oncidium

equitante)= 7*

40* (Dendrobium)

2*

(Dendrobium)

4* (Dendrobium)

19*

(Dendrobium)

72

Legenda:(*) corresponde a outros gêneros de orquídeas encontrados.(≅) Faz referência a um dado

aproximado.

Tabela 2: Tabela comparativa por anos de 2007 e 2013.

Planilha comparativa anos de 2007 e 2013

Ruas de Ipanema: Dados de 2007 R esultado Geral 2013

Phalaenopsis amabilis: 700 547

Cattleya labiata: 700 177

Oncidium micropogum: 700 192

Árvores com orquídeas: 350 229

Árvores sem orquídeas: não possuíam esse dado ≅ 461

Total de mudas: 2100 988

Total de árvores: não possuíam esse dado ≅ 690

Outras orquídeas: não foram incluídas no projeto 72

Legenda: (≅) Faz referência a um dado aproximado.

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Figura 11: Dados relacionados ao ano de 2007. Figura 12: Dados obtidos no ano de 2013.

DISCUSSÃO

As árvores existentes nas ruas que abrangem o Quadrilátero do Charme de Ipanema estão

sendo bem valorizadas através do paisagismo vertical com o uso de orquídeas bem adaptadas aos

fatores abióticos da região.

A maioria das orquídeas é tropical e, apesar de muitas serem de elevações pequenas, a

grande maioria cresce em maiores altitudes. A teoria mais aceita para o surgimento e evolução

das orquídeas, apresenta a abelha como personagem central e ''dispersor de sementes''. No ano

2000, na República Dominicana, foi encontrado um fóssil de abelha que indica que as orquídeas

teriam coexistido com os dinossauros. Junto do animal, foi encontrado um polinário – polén

aglutinado – que é a maneira como as orquídeas até hoje dispersam seu pólen. Ambos estão

preservados em âmbar e datam do Mioceno (20-15 milhões de anos). A abelha pertence à extinta

espécie Proplebeia dominicana (WILLE; CHANDLER, 1964). Através do polinário, a espécie

de orquídea foi descrita como Meliorchis caribea L., pertencente a um subgrupo que apresenta

ainda representantes vivos na flora atual.

Em termos históricos, o filósofo chinês Confúcio destacava as propriedades do perfume

destas plantas ao qual atribuía o caráter Lán, que significa amor, beleza, delicadeza, elegância e

pureza. Sobre isso, CHEN; LUO (2008) afirma:

A China tem longa história na apreciação destas flores. Orquídeas são citadas pela literatura antiga e retratadas pela arte chinesa desde o décimo século antes de Cristo,

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pinturas do começo de dinastia Song, entre 960 e 1127 chegaram até os nossos dias

(CHEN; LUO, 2008).

Na Europa existem registros de Theophrastus de Lesbos. "Em seu trabalho Historia

Plantarum, volume 9, descreve uma planta com dois pequenos tubérculos subterrâneos aos quais

chama orchis, que corresponde à palavra testículos" (THEOPHRASTUS, 1988).

Na América, entre as sociedades indígenas a presença das orquídeas é identificada através

de informações dadas pelos espanhóis. Por exemplo, "antes dos Espanhóis conquistarem o

México a fruta de Tlilxochitl, uma espécie de Vanilla sp. Lindl. (1835), era a mais estimada

dentre as especiarias astecas" (OSSENBACH, 2005, p.183). O estudo a respeito da flora da

América do Sul comunicava que ela era utilizada com perfume, especiaria e como uma poção

para se ter boa saúde. Os maias também a usavam. "Os astecas utilizavam também algumas

espécies de orquídeas para fabricação de cola" (HERNÁNDEZ, 1959).

Uma curiosidade histórica também ajudou a aumentar o prestígio das orquídeas, pois

nenhum botânico conseguia semear as plantas até o século 19, o que tornava único cada

exemplar extraído da natureza. "Na época as orquídeas só podiam ser multiplicadas por divisão

de touceira. Por isso ter uma orquídea em casa era difícil e caro, um verdadeiro símbolo de

status. Quanto mais orquídeas se tinha e quanto mais bonitas elas fossem, mais prestígio a pessoa

exercia" (BOHNKE, 2013, p.7, p.8).

O aperfeiçoamento do microscópio e a fundação da Royal Horticultural Society, em 1804,

estimularam muitos estabelecimentos comercias europeus a patrocinar expedições botânicas por

países tropicais com o propósito de coletar plantas ainda desconhecidas, de preferência

orquídeas, pois valiam mais. "A rivalidade entre essas firmas era tanta que, após recolherem da

natureza quantas orquídeas pudessem levar, os desbravadores destruíam os exemplares restantes

para preservar a raridade da espécie" (BOHNKE, 2013, p.8). Logo após o desembarque das

plantas na Europa era realizado o leilão das plantas roubadas entusiasmando nobres e

aristocratas, mas como não sabiam cuidar muito bem das plantas, a grande maioria morria em

pouco tempo por culpa também dos caçadores de orquídeas que, a fim de despistar a

concorrência, acabavam por mentir a respeito do local da coleta, dando assim pistas incorretas

sobre a maneira de manter as espécies.

As orquídeas só se tornaram populares na Europa no final do século 19 e início do século

20, quando os botânicos descobriram como semeá-las e obtiveram sucesso em técnicas de

hibridação. Com isso as publicações sobre o assunto se tornaram mais frequentes, dando início a

exposição em eventos. Foi publicado no Japão, em 1728, o primeiro livro sobre orquídeas:

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Igansai-ranpin. Depois da publicação de Species Plantarum (LINNAEUS, 1753), os registros

sobre orquídeas começaram a ficar cada vez mais frequentes.

Em 1735, o botânico sueco Carl Von Liné (LINNAEUS) deu origem à primeira

classificação coerente das plantas que seria o nome genérico seguido do nome específico e as

linhas de desenvolvimento dos seres vivos, além das leis da evolução. No seu trabalho chamado

Genera Plantarum, ele usou a palavra "Orchidaceae", que seria uma derivação de "Orkhis",

denominando assim toda a família das orquídeas. Suas obras acabaram por abrir caminho para os

estudos de Darwin; sendo que em 1763 foi publicado um novo tratado com centenas de espécies

diferentes, todas classificou como Epidendrum sp. L.

"Em 1818 chegaram os primeiros exemplares de Cattleya labiata Lindl. (1821)

provenientes do Brasil, causando grande sensação e reforçando ainda mais o interesse pelas

espécies tropicais destas plantas" (WILLIANS; KRAMER, 1980).

Em 1830, um botânico e taxonomista chamado John Lindley realizou a primeira

classificação das orquídeas. Seus trabalhos sobre orquídeas lhe renderam fama, como O gênero e

espécies das plantas orquidáceas. Ele deixou um livro inacabado mas que mesmo assim é

considerado um clássico da botânica, o Folia Orchidacea. Em 1862, Darwin publicou The

Various Contrivances by Which Orchids are fertilized by Insects. Essa foi a primeira

contribuição vital para a compreensão e estudo das estratégias utilizadas na disseminação das

espécies. Já em 1887, Lewis Castle publicou o livro Orquídeas: sua estrutura, história e cultura.

No Brasil, que foi amplamente explorado pelas expedições botânicas europeias, apenas no

final do século 20 que as orquídeas começaram a ficar populares, nos anos de 1990, após a

estabilização da moeda."O Brasil é um dos países mais ricos em orquídeas, comparável somente

com a Colômbia e Equador. Estudos recentes registram cerca de duas mil e trezentas espécies

para o território brasileiro. Existem no Brasil mais de 2.500 espécies catalogadas" (GOMES,

2012, p.12).

O volume III de Flora Brasiliensis, publicado em 1906, foi a primeira grande obra

dedicada exclusivamente às orquídeas brasileiras, incluindo a descrição de plantas e

apresentação de desenhos por Von Martius. Barbosa Rodrigues, além de ter sido um importante

botânico e diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, deixou um legado com muitas obras

científicas, além das aquarelas e desenhos mostrando seu senso artístico. Muitos estudiosos

brasileiros e estrangeiros também deram sua contribuição para o conhecimento das espécies

brasileiras.

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Encontrar orquídeas nas ruas da Zona Sul, além de tornar o ambiente agradável contribui

para uma reflexão sobre a qualidade de vida, que é tão desejada pela população. Natureza e

crescimento urbano caminhando juntos. A mistura das espécies possibilita a floração e um toque

primaveril aos lugares em que houve aprovação do projeto. Além da grande variedade de cores o

que também possibilita uma enorme quantidade de combinações.

Foi possível encontrar algumas semelhanças na metodologia aplicada na implementação do

projeto Quadrilátero do Charme com o trabalho de levantamento Florístico da Praça Coronel

Moura em Botucatu, SP, realizado por Fabio Fernandes Roxo; Luiz Roberto Hernandes Bicudo e

Renato Eugênio da Silva Diniz (2009), já que verificou-se a preocupação com o ambiente, com a

flora e o interesse pela conscientização das novas gerações, além do levantamento florístico.

O projeto do Quadrilátero do Charme, além de valorizar o plantio de orquídeas, também

oportunizou um levantamento das espécies que mais se adaptam ao meio ambiente e a sua devida

divulgação, promovendo uma conscientização ambiental.

O paisagismo vertical, modelo adotado pelo projeto, também leva em conta a

sustentabilidade, conforme artigo publicado por redação intitulado "O paisagismo sustentável

aliado ao desenvolvimento urbano" (2013), que une baixo custo de manutenção, valorização

estética, conscientização, adaptação a realidade do crescimento populacional, que leva a um

número maior de prédios, num movimento de promoção da integração do meio e do homem com

a natureza. Tal afirmativa é ratificada no projeto realizado em Botucatu, SP, onde o espaço da

praça foi bem aproveitado devido à arquitetura da cidade, e verifica-se também os mesmos

moldes de estudo e levantamento da flora e modificação da paisagem.

O plantio de orquídeas nas árvores, dentro do Projeto do Quadrilátero do Charme, foi

decidido pela associação em 2006 como forma de embelezar o local. Sem perceber que estavam

lançando uma moda que veio a se espalhar pelo bairro e outros lugares. Em relação a isto,

Bastos, 2013, p.7, afirma que as orquídeas são as plantas mais colecionadas do planeta. Muitos

fatores contribuíram para que elas despertassem tanta paixão. O primeiro, e mais visível, é a

beleza de suas flores, encontradas nos mais variados tamanhos, formatos e cores. O segundo é

interessante: a família das orquídeas é a única com espécies nativas dos cinco continentes, ou

seja, é possível encontrar as plantas em florestas úmidas e secas, cerrados, regiões litorâneas e

até locais de altitudes extremas, como os 4.600 m da Cordilheira dos Andes, na América do Sul.

Foram plantadas 2.100 mudas de orquídeas em 350 árvores da região de três espécies,

diferentes, sendo duas da Mata Atlântica que são Oncidium micropogon Rchb. F. (1854) e

Cattleya labiata Lindl. (1821) e uma estrangeira, asiática, mas que se adaptou bem ao clima, a

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Phalaenopsis amabilis Lindl. (1838). Ambas florescem em épocas diferentes. Foram utilizadas

aproximadamente 700 mudas de cada espécie, distribuídas de forma que cada uma das 350

árvores recebeu 6 plantas, 2 de cada espécie.

Inicialmente, o projeto alcançou uma divulgação positiva, o que acarretou posteriormente

que os próprios moradores e comerciantes da região passassem a colocar mais orquídeas nas

árvores. Dessa forma houve continuidade nesta iniciativa tão bonita de plantar orquídeas nas

árvores.

Ao longo do processo de implementação do projeto Quadrilátero do Charme, baixas foram

verificadas através do roubo e da morte de muitas plantas, entretanto muitas sobreviveram e

permanecem embelezando a região.

Com Cerca de 600 espécies distribuídas pelas Américas Central e Tropical, o gênero

Oncidium já foi considerado um dos maiores da família das orquidáceas. Entretanto, há

algum tempo, estudiosos têm elevado algumas espécies a situação de gênero,

diminuindo, consideravelmente, a família (LUCCHESI, 2006, p.19).

Refletindo sobre as inúmeras espécies de orquídeas de diversos ecossistemas, é possível

afirmar que estas nos dão oportunidade de criar várias combinações. A Phalaenopsis amabilis

Lindl. (1838) é um ótimo exemplo de adaptação ao clima do Rio de Janeiro e de gênero, onde os

seus híbridos, grandes responsáveis pela abundancia de cores, formas e tamanhos das flores, são

amplamente utilizadas em cruzamentos encontrados nos mercados ou em coleções, sendo

considerada uma das orquídeas mais populares, como afirma BASTOS (2013, p.14). "A Cattleya

labiata Lindl. (1821) é nativa do Nordeste brasileiro e foi considerada pelos franceses a orquídea

mais bonita da Natureza. Melhor, seu cultivo é muito fácil".

O paisagismo vertical é o que melhor atende as necessidades de uma cidade grande onde

cada espaço é disputado pela população. REIS; ALGAYER; TAGLIETTI (2013) explicam isso:

Aqui no Brasil já na década de 70 o renomado paisagista Roberto Burle Marx

desenvolveu projetos paisagísticos incluindo jardins verticais e paredes verdes (em

pouca escala). Os mais conhecidos foram desenvolvidos para a Xerox do Brasil e para o

Parque Central, em Caracas na Venezuela. Usando bromélias, orquídeas e outras

epífitas, Burle Marx construía lindas esculturas e paisagens verticais. Projetos

fundamentais na constituição e consolidação da arquitetura moderna no Brasil (REIS;

ALGAYER; TAGLIETTI, 2013).

Outro profissional bastante conhecido mundialmente no trabalho com paisagismo vertical

é o botânico francês Patrick Blanc, que iniciou seus trabalhos a partir da observação da flora na

natureza constatando a maneira como a vegetação desenvolve-se em encostas rochosas,

despenhadeiros e no alto das árvores.

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Seja em uma cidade grande onde cada área é disputada ou em uma cidade do interior com

mais espaço, a preocupação com o paisagismo leva à reflexão que há sempre um modo de

integrar o paisagismo ao ambiente, de maneira a aumentar a qualidade de vida, com uma

manutenção de baixo custo, além de promover conscientização e educação ambiental. O uso de

orquídeas no paisagismo vertical valoriza a flora sem que para isto se modifique a arquitetura das

cidades. Por meio do projeto verificou-se que crescimento urbano e paisagismo vertical podem

coexistir promovendo um equilíbrio ambiental nas cidades.

CONCLUSÃO

É fundamental que se invista cada vez mais em medidas sócio educativas, permitindo

também que a população se aproprie de novos conhecimentos científicos. Esse investimento

deve ter como uma de suas premissas interferir no cotidiano rompendo os inúmeros preconceitos

existentes, como por exemplo o pensamento de que flores são apreciadas apenas por mulheres.

Somente através de rupturas nessa "muralha" de preconceitos será possível construir uma

sociedade comprometida com um futuro melhor para todos, principalmente nas questões

ambientais.

Tendo em vista os fatos mencionados ao longo desse trabalho se faz importante uma

tomada de consciência no que diz respeito ao caminho a ser percorrido, para garantir que o verde

faça parte de nossas vidas, hoje e nas gerações futuras. Para que a população se sinta confiante

integrada ao projeto é importante que sejam despertados, cúmplices entre si. Para tal se faz

necessário que sejam implementadas novas ações de medidas socioeducativas e de incentivo à

população, chamando-a para auxiliar na preservação dessas orquídeas e para o plantio de novas

mudas.

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