orquÍdeas no paisagismo da Área urbana de ipanema

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Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2014, v. 18, n. 18, p. 54 73 ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA RJ MELLO, A. C. F. 1 PANTOJA, S. C. S. 2 Resumo Devido ao grande número de gêneros, as orquídeas possibilitam um leque de opções no paisagismo urbano. Este trabalho se baseia no paisagismo vertical com orquídeas, objetivando dados comparativos dos gêneros encontrados desde 2007 a 2013. O estudo revela a escolha dos gêneros, o número de mudas plantadas e as que resistem até hoje, o engajamento dos moradores, a sustentabilidade e os fatores abióticos que influenciaram. Dessa forma, foi possível constatar durante o levantamento a diminuição do número de orquídeas, além da presença de novas orquídeas provenientes da iniciativa de moradores, mas que mesmo assim garantiu o sucesso do projeto. Palavras-chave: Orquídeas Paisagismo Sustentabilidade Levantamento. Abstract Because of the large number of genera, orchids enable a range of options in urban landscaping. This work is based on vertical landscaping with orchids, aiming comparative data genera found from 2007 to 2013. The study reveals the choice of genres, the number of seedlings planted and enduring even today, the engagement of residents, sustainability and environmental factors that influence. Thus, it was established during the survey to reduce the number of orchids, and the presence of new orchids from the initiative of residents, but still ensured the success of the project. Keywords: Orchids Landscaping Sustainability Survey. Introdução O paisagismo, como prática socioambiental, reveste-se de caráter cultural e histórico. Enquanto linguagem, expressa símbolos e valores da sociedade. Na medida em que adota elementos naturais como matéria-prima, o paisagismo submete-se também a ditames ecológicos. A combinação dessas características faz com que diferentes formas de interpretação, apropriação e recriação da paisagem expressem, em variados graus, relações entre sociedade e natureza (CESAR & CIDADE, 2003). 1 Estudante de graduação do curso de Ciências Biológicas. Universidade Castelo Branco, Escola da Saúde e Meio Ambiente. Avenida Santa Cruz, 1631, Realengo, 21710-250 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. (E-mail: [email protected]) 2 Professor assistente / pesquisador orientador. Universidade Castelo Branco, Escola da Saúde e Meio Ambiente. Avenida Santa Cruz, 1631, Realengo, 21710-250 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. (E-mail: [email protected])

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Page 1: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2014, v. 18, n. 18, p. 54 – 73

ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA – RJ

MELLO, A. C. F. 1

PANTOJA, S. C. S. 2

Resumo

Devido ao grande número de gêneros, as orquídeas possibilitam um leque de opções no

paisagismo urbano. Este trabalho se baseia no paisagismo vertical com orquídeas,

objetivando dados comparativos dos gêneros encontrados desde 2007 a 2013. O estudo

revela a escolha dos gêneros, o número de mudas plantadas e as que resistem até hoje, o

engajamento dos moradores, a sustentabilidade e os fatores abióticos que influenciaram.

Dessa forma, foi possível constatar durante o levantamento a diminuição do número de

orquídeas, além da presença de novas orquídeas provenientes da iniciativa de

moradores, mas que mesmo assim garantiu o sucesso do projeto.

Palavras-chave: Orquídeas – Paisagismo – Sustentabilidade – Levantamento.

Abstract

Because of the large number of genera, orchids enable a range of options in urban

landscaping. This work is based on vertical landscaping with orchids, aiming

comparative data genera found from 2007 to 2013. The study reveals the choice of

genres, the number of seedlings planted and enduring even today, the engagement of

residents, sustainability and environmental factors that influence. Thus, it was

established during the survey to reduce the number of orchids, and the presence of new

orchids from the initiative of residents, but still ensured the success of the project.

Keywords: Orchids – Landscaping – Sustainability – Survey.

Introdução

O paisagismo, como prática socioambiental, reveste-se de caráter cultural e

histórico. Enquanto linguagem, expressa símbolos e valores da sociedade. Na

medida em que adota elementos naturais como matéria-prima, o paisagismo

submete-se também a ditames ecológicos. A combinação dessas

características faz com que diferentes formas de interpretação, apropriação e

recriação da paisagem expressem, em variados graus, relações entre

sociedade e natureza (CESAR & CIDADE, 2003).

1 Estudante de graduação do curso de Ciências Biológicas. Universidade Castelo Branco, Escola da Saúde e Meio Ambiente. Avenida Santa Cruz, 1631, Realengo, 21710-250 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. (E-mail: [email protected]) 2 Professor assistente / pesquisador orientador. Universidade Castelo Branco, Escola da Saúde e Meio Ambiente. Avenida Santa Cruz, 1631, Realengo, 21710-250 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. (E-mail: [email protected])

Page 2: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

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Vivemos em um país com uma flora riquíssima, numa cidade com uma beleza

natural comentada no mundo inteiro e conhecida como Cidade Maravilhosa. E como em

toda cidade que cresce de maneira desordenada, os problemas surgem e criam um

círculo vicioso, no qual o ser humano destrói e acaba sofrendo as consequências de sua

própria ganância e descompromisso com o meio em que vive.

Diante deste quadro, a constatação de que existem projetos, nos quais há

preocupação com o meio ambiente e, portanto, com o bem-estar da população, deve ser

destacada e divulgada.

Assim, encontrar orquídeas nas ruas de Ipanema nos leva a uma reflexão sobre a

natureza, o crescimento urbano e a educação ambiental caminhando juntos. "As

orquídeas têm fascinado os homens por mais de dois mil anos. Foram utilizadas no

passado em poções curativas, afrodisíacos, para decoração e ocuparam grande papel nas

superstições" (LAWLER, 1984).

A Orchidaceae é considerada por muitos autores como a maior família de

angiospermas. Quanto a sua evolução, acreditava-se que as orquídeas teriam surgido na

Terra há aproximadamente 2,5 milhões de anos, juntamente com a evolução do homem,

mas um achado fóssil, datado de 15 a 20 milhões de anos, faz crer que os primeiros

ancestrais das orquídeas tenham surgido na era dos dinossauros. Estas possuem diversas

formas de vida, possibilitando a ocupação de diferentes tipos de ambientes, uma vez que

orquídeas podem ser encontradas em formações vegetais diversas. Esta família possui

um desenvolvimento rápido e numerosas subfamílias.

Este trabalho tem como principais focos o aspecto paisagístico e sua relação com

a mobilização comunitária entorno de uma proposta que visa, não somente embelezar as

ruas do bairro, mas integrar a comunidade na busca da valorização socioambiental como

afirmam Cesar e Cidade (2003):

O paisagismo que expressa valores culturais e subordina-se a condicionantes

ecológicos. Essa combinação revela relações entre sociedade e natureza e

reflete visões de mundo predominantes. Interpretações sobre a realidade

existem desde o início da história humana (CESAR & CIDADE, 2003).

Como todo projeto de paisagismo, requer observação, estudo, enfim um

planejamento. A escolha das espécies que se adaptam melhor ao clima. "O trabalho do

paisagista vai além do bom gosto e do bom senso e requer muita técnica e criatividade"

(FINI, 2011, p.4). Trata-se de um projeto de paisagismo e não apenas de jardinagem.

Page 3: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

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O paisagismo, como tal, é considerado arte ou técnica de fazer um projeto,

planejar, gerir e preservar determinado local. Já a jardinagem nada mais é que a prática

de criar e manter um jardim. "Para mim, o conceito mais importante do paisagismo é a

integração do homem com a natureza, para que essa relação resulte em melhor

qualidade de vida e equilíbrio do meio ambiente" (NAKATA, 2011, p.4, p.5).

As orquídeas compõem uma das maiores famílias de plantas existentes com

imensa variedade de espécies e cores. A escolha para melhor adaptação ao ambiente e o

período de floração de cada uma das espécies para fazer a combinação, mantendo o

ambiente sempre florido, requer cuidados. "Recentemente, o paisagismo evoluiu ao

adotar princípios da ecologia e a compreensão ambiental. Ainda em construção, o

paisagismo ambiental expressa muito das contradições da sociedade atual" (CESAR &

CIDADE, 2003).

A primeira questão a ser investigada é sob quais circunstâncias que surgiu a ideia

do projeto de orquídeas no Quadrilátero do Charme de Ipanema. Com este fim, foi

realizado contato via e-mail com a Associação Comercial atuante em parte do bairro de

Ipanema. A partir deste, foi possível verificar que o Quadrilátero do Charme de

Ipanema fica entre as ruas Anibal de Mendonça e Joana Angélica e Av. Vieira Souto e

Epitácio Pessoa. Estas 21 quadras de Ipanema contam com 70 empresas associadas de

segmentos de moda, joalheria, gastronomia, decoração, beleza e hotelaria.

A ideia de criar um projeto de orquídeas no Quadrilátero do Charme de Ipanema

deu ao lugar beleza e um tom primaveril, transmitindo alegria e sofisticação às ruas. A

preservação em todo território nacional não é uma tarefa fácil devido à devastação das

matas e ao comércio ilegal que ameaçam a diversidade destas belíssimas plantas tão

delicadas; daí a importância de um trabalho socioeducativo valorizando estas delicadas

plantas tanto para a ciência como para o ecossistema, despertando uma consciência

ecológica nos habitantes. Desta forma, o plantio de orquídeas nas áreas urbanas é fruto

de estudos, dedicação e conscientização das questões ambientais, transformando as ruas

antes vistas apenas pela sua arquitetura, agora também são apreciadas pela exuberância

das plantas e pela sensação de bem-estar das pessoas que por lá transitam.

Page 4: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

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Objetivos

Geral

Analisar a escolha de orquídeas no paisagismo urbano de Ipanema, destacando a

valoração das mesmas, tanto do ponto de vista estético quanto na preocupação em

transformar os espaços dos meios urbanos em lugares de convivência agradável,

realizando um estudo dos gêneros utilizados na ornamentação.

Específico

Explicar a proposta da associação comercial, destacando as etapas, a

conscientização, a conservação e a valorização do projeto paisagístico;

Analisar o envolvimento da população nas questões ambientais;

Caracterizar a escolha destas plantas, sua importância estética e ambiental nos

centros urbanos;

Realizar levantamento dos gêneros utilizados na ornamentação urbana e suas

contribuições para o meio ambiente;

Aplicar planilha para levantamento do número de orquídeas presentes nas ruas de

Ipanema, de modo a fazer uma comparação estatística entre a quantidade de mudas

implantadas no início do projeto e a quantidade existente nos dias de hoje;

Verificar quais medidas socioeducativas foram aplicadas visando ao sucesso do

projeto.

Material e métodos

O material utilizado e os procedimentos realizados no desenvolvimento da pesquisa

foram: computador portátil tipo notebook, marca Itautec, modelo infowaynote w7645

com sistema operacional Windows Vista Home Basic e os programas computacionais

Microsoft Office Word 2007, Excel 2007, PowerPoint 2007, Windows Explorer 2007,

Outlook 2007. O presente trabalho foi realizado através de comparação com bibliografia

específica por meio de artigos, sites de revistas científicas e livros sobre orquídeas,

paisagismo e questionários. Foi feito também uso de materiais para a pesquisa de

campo, como mapa das ruas de Ipanema, caneta esferográfica, papel A4, prancheta,

lupa. As orquídeas foram fotografadas no local com auxílio de uma câmera fotográfica e

identificadas de acordo com as características morfológicas predominantes das flores e

folhas de cada um dos gêneros que são alvo desse trabalho.

Page 5: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

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A coleta de dados ocorreu através da contagem das orquídeas implantadas pelo

projeto nas ruas de Ipanema, fazendo um comparativo entre o número de mudas do

início do projeto e a quantidade encontrada nos dias de hoje. Além disso, foi aplicado

um questionário a respeito do projeto tanto a moradores de Ipanema quanto a

integrantes da associação comercial do bairro.

Figura 1: Mapa de Ipanema.

Fonte: Site de Mapas – Rio de Janeiro, 2013.

Resultados

Orchidaceae é a maior família, em número de espécies, entre as

monocotiledôneas, possuindo distribuição cosmopolita e pantropical, sendo mais

numerosa e diversificada nos neotrópicos. As orquídeas apresentam estruturas

morfológicas e anatômicas das mais especializadas do reino vegetal, além de

constituírem um dos mais belos grupos de plantas e um dos maiores êxitos da evolução

vegetal. Elas apresentam variações quanto ao local onde se desenvolvem na natureza,

podendo ser epífitas, terrestres, rupículas ou litofíticas e saprófitas. A sua identificação é

um trabalho difícil e complicado devido à existência de muitos gêneros complexos.

"Estima-se que na natureza existam aproximadamente 25 mil espécies. Os cientistas

classificam como uma espécie quando ela se reproduz e gera descendentes férteis. Mas

números precisos não combinam com orquídeas. O que dificulta tudo é que orquídeas

podem ser pequenas ou grandes, roxas ou azuladas, terrestres ou epífitas, inclusive de

Page 6: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

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gêneros diferentes" (ARAUJO, 2013, p.3). A flor das orquídeas diferencia-se da flor das

outras plantas através do labelo, que é uma pétala central diferente e maior do que as

laterais, com uma forma, cor e desenhos característicos e, além disso, a presença da

coluna ou ginostêmio, uma espécie de coluna arqueada, onde se encontram agrupados

os órgãos reprodutores – masculino e feminino – da planta. A orquídea pode ser

considerada uma flor completa devido à presença de cálice, corola, androceu e gineceu.

A sua flor típica é trímera, já que possui três sépalas, uma dorsal e duas laterais, e três

pétalas, sendo duas de formato igual e uma terceira completamente modificada, tanto no

tamanho quanto na forma e na sua estrutura, chamada de labelo, já citada anteriormente.

É do labelo que sai o perfume destinado à atração dos polinizadores, servindo de

plataforma para pouso. Ele também é utilizado pelos taxonomistas para a possível

identificação da orquídea.

Figura 2: Estruturas florais.

Fonte: CULTIVO DE ORQUÍDEAS 2011.1 (desenho).

Quanto ao crescimento, as orquídeas podem ser classificadas em simpodiais, que

são plantas que crescem na horizontal, ou seja, o novo broto se desenvolve na frente do

bulbo adulto formando o rizoma e um novo pseudobulbo, em um crescimento contínuo,

e também monopodiais que são aquelas de crescimento vertical e estão dispostas

simetricamente no caule da planta.

Page 7: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

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Figura 3: Crescimento simpodial e monopodial.

Fonte: BLANCO, C. Paixão por orquídeas. 2012.1 (desenho color).

A maioria dessas orquídeas se forma na base das folhas do pseudobulbo, de onde

sairá a haste floral, uma estrutura especializada, como uma folha, chamada bainha, cuja

função é proteger as gemas e as partes novas da planta. Uma das características da

Cattleya Lindl. (1821) é a formação de uma estrutura denominada espata, também

conhecida como bráctea, que tem a função de proteger o botão floral.

Figura 4: Órgãos vegetativo e reprodutivo.

.

Fonte: CULTIVO DE ORQUÍDEAS. 2011.1 (desenho).

No caso das epífitas, os troncos onde são fixadas devem ser de madeira resistente

e de preferência com casca firme e rugosa; dessa forma, as plantas dificilmente sofrerão

por umidade excessiva. Apesar de viverem grudadas em tronco de árvores, essas plantas

não são parasitas, pois elas vegetam sobre árvores, usando-as somente como suporte.

Page 8: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

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A primeira flor de Oncidium Sw. (1800) foi catalogada por Olof Swartz em 1800.

"A origem do nome é grega – onkídium – e pode ter dois significados: o formato de seta

das flores ou uma protuberância que apresentam no labelo" (RAPOSO, 2009). Apesar

da discordância entre a maior parte dos etimólogos, a segunda hipótese é a mais aceita,

visto que em algumas espécies não é possível observar a seta. O gênero Oncidium Sw.

(1800) é caracterizado pela presença de pseudobulbos uni ou bifoliados, com um internó

que sustenta uma dística bainha em forma de folha. A inflorescência é produzida nas

axilas dessa bainha ou na base do pseudobulbo. Uma característica marcante desse

gênero é a floração abundante onde cada inflorescência pode trazer uma ou mais de cem

flores, que na maior parte são amarelas, mas também é possível encontrar tons de

vermelho, branco e marrom. O tempo de floração dura em média 30 dias. Assim como a

maioria das orquídeas, elas precisam de muito vento, já que são suscetíveis a ácaros,

pulgões e cochonilhas. O clima ao qual ocorre uma melhor adaptação da Oncidium Sw.

(1800) é o da América Tropical, temperaturas entre 27° C e 30° C durante o dia e entre

13° C e 15° C à noite. A faixa entre 35° C e 45° C também é tolerável, contanto que a

umidade e a ventilação, especialmente nas raízes, sejam aumentadas, o que explica a

perfeita adaptação ao clima do Rio de Janeiro, sendo mais específico, às árvores de

Ipanema, onde a umidade e a ventilação estão aumentadas devido à proximidade com o

mar.

A Cattleya labiata Lindl. (1821) chegou à Europa por meio de caçadores de

orquídeas em 1818, sendo cuidada por dois anos até florescer pelo inglês e doutor em

botânica John Lindley, considerado hoje como o pai da orquidofilia. Suas flores são

compostas por pétalas e sépalas de cores brancas até tons de roxo, possuindo a parte

interna do labelo manchada. O labelo das orquídeas só passou a ser chamado assim

depois da descoberta da Cattleya labiata Lindl.(1821). "Antes da labiata ser descoberta,

o labelo das orquídeas era chamado apenas de pétala modificada" (BOHNKE, 2013,

p.18). Suas flores ocorrem no outono, o que ajudou a tornar essas orquídeas as mais

utilizadas em hibridação, duram duas semanas ou mais e geralmente se encontram

reunidas no alto de uma haste de até 14 cm de comprimento. Costumam apresentar três

a cinco flores por haste. "As flores da Cattleya labiata Lindl. (1821) são grandes,

medem entre 12 cm e 18 cm, e exalam um perfume muito agradável principalmente pela

manhã. Para se ter uma ideia da fragrância da florada, ela é comparada à do famoso

perfume Chanel n.º 5" (BASTOS, 2013, p.17).

Page 9: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

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Originária do continente asiático, a Phalaenopsis amabilis (L.)Blume foi descrita

em 1825 pelo botânico holandês C. L. Blume. Phalaena (mariposa) enquanto opsis

(aparência de) se referindo à forma chamada por muitos de borboleta. Ela possui ótima

durabilidade e uma floração prolongada, permanecendo a flor aberta por até três meses,

possui folhagem suculenta e crescimento monopodial. Essa orquídea aprecia clima

quente, meia-sombra e alta umidade do ar, adaptando-se bem, portanto, ao clima do Rio

de Janeiro.

Quanto ao projeto, no início se tratava de uma Associação de Amigos da rua

Garcia d'Ávila, criada pelo joalheiro Antônio Bernardo, depois foi batizado em 2006

como Quadrilátero do Charme, abrangendo as ruas Vieira Souto, Joana Angélica, Maria

Quitéria, Garcia d'Ávila, Anibal de Mendonça e Epitácio Pessoa, no total de 22

quarteirões onde se concentram hotéis, restaurantes, lojas de grife, livrarias, galerias de

arte, cabeleireiros, joalherias, comércio chique do bairro e cursos de idiomas. É

considerado oficialmente pela Prefeitura do Rio de Janeiro como um dos 20 polos do

Rio que hoje é composto por cerca de 70 empresas.

O momento mais crítico antes do projeto ser implantado foi em 2007, quando

ocorria roubos e assassinatos até mesmo em Ipanema; sendo assim imagem da região

precisava mudar. Visto isso, os moradores foram convidados a plantar orquídeas, se

envolvendo então no projeto paisagístico, cuja ajuda deles acabou se tornando

fundamental, e as orquídeas acabaram por cair no gosto da população.

No início do projeto, eram 350 troncos, que receberam 6 mudas de orquídeas

cada, sendo duas de cada espécie. Foram amarradas 2.100 orquídeas na primavera de

2007 em um domingo, 23 de setembro. Foram utilizadas bolsas de juta e potes cortados

pela metade a fim de fixar as orquídeas nos troncos. Segundo registro da Associação

Comercial responsável pela implementação do projeto, mais da metade desapareceu, já

que vários quarteirões foram praticamente "depenados".

A maioria das orquídeas plantadas na orla não resistiu, provavelmente devido à

maresia e à falta de ações socioeducativas mais intensivas, visto que placas com

informações não foram mais encontradas. Atualmente, foi possível observar um

reestabelecimento do quantitativo de Orquídeas no Quadrilátero do Charme,

verificando-se um movimento ascendente de expansão dos espaços ocupados por este

tipo de paisagismo proveniente da adesão dos moradores. Tal informação pode ser

Page 10: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

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comprovada segundo estatísticas obtidas em pesquisa de campo relatada nos gráficos

abaixo:

Figura 5: Descreve os dados coletados na rua Joana Angélica.

Figura 6: Descreve os dados coletados na Rua Maria Quitéria.

Figura 7: Descreve os dados coletados na rua Garcia d’ Ávila.

Dados Coletados Rua Joana Angélica

Phalaenopsis amabilis: 114

Cattleya labiata: 26

Oncidium micropogum: 36

Árvores com orquídeas: 48

Árvores sem orquídeas: 41

Total de mudas: 176

Total de árvores: 89

Outras orquídeas: 0

Dados Coletados Rua Maria Quitéria

Phalaenopsis amabilis: 60 Cattleya labiata: 15 Oncidium micropogum: 14 Árvores com orquídeas: 33 Árvores sem orquídeas: 29 Total de mudas: 89 + 7* = 96 Total de árvores: 62

Outras orquídeas: 6* (Dendrobium) + 1*

(Oncidium equitante)= 7*

Dados Coletados Rua Garcia d’Ávila

Phalaenopsis amabilis: 98

Cattleya labiata: 29

Oncidium micropogum: 35

Árvores com orquídeas: 48

Árvores sem orquídeas: 34

Total de mudas: 162 + 40* = 202

Total de árvores: 82

Outras orquídeas: 40* (Dendrobium)

Page 11: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

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Figura 8: Descreve os dados coletados na rua Anibal de Mendonça.

Figura 9: Descreve os dados coletados na Av.Vieira Souto.

Figura 10: Descreve os dados coletados na Av. Epitácio Pessoa.

Dados Coletados Rua Anibal de

Mendonça

Phalaenopsis amabilis: 121

Cattleya labiata: 59

Oncidium micropogum: 59

Árvores com orquídeas: 49

Árvores sem orquídeas: 30

Total de mudas: 239 + 2* = 241

Total de árvores: 79

Outras orquídeas: 2* (Dendrobium)

Dados Coletados Av. Vieira Souto

Phalaenopsis amabilis: 43

Cattleya labiata: 28

Oncidium micropogum: 2

Árvores com orquídeas: 26

Árvores sem orquídeas: ≅ 109

Total de mudas: 73 + 4* = 77

Total de árvores: ≅ 135

Outras orquídeas: 4* (Dendrobium)

Dados Coletados Av. Epitácio Pessoa

Phalaenopsis amabilis: 111

Cattleya labiata: 20

Oncidium micropogum: 46

Árvores com orquídeas: 25

Árvores sem orquídeas: ≅ 218

Total de mudas: 177 + 19* = 196

Total de árvores: ≅ 243

Outras orquídeas: 19* (Dendrobium)

Page 12: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

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Tabela 1: Tabela comparativa de orquídeas por ruas do Quadrilátero do Charme de Ipanema.

QUADRO COMPARATIVO DE ORQUÍDEAS POR RUAS DO QUADRILÁTERO DO CHARME

Rua Joana Angélica

Rua Maria Quitéria

Rua Garcia de Ávila Rua Anibal de

Mendonça Av. Vieira

Souto Av. Epitácio

Pessoa Resul-tado

Phalaenopsis amabilis:

114 60 98 121 43 111 547

Cattleya labiata: 26 15 29 59 28 20 177

Oncidium micropogum:

36 14 35 59 2 46 192

Árvores com orquídeas:

48 33 48 49 26 25 229

Árvores sem orquídeas:

41 29 34 30 ≅ 109 ≅ 218 ≅ 461

Total de mudas: 176 89 + 7* = 96 162 + 40* = 202 239 + 2* = 241 73 + 4* = 77 177 + 19* = 196 988

Total de árvores: 89 62 82 79 ≅ 135 ≅ 243 ≅ 690

Outras orquídeas: 0 6* (Dendrobium) + 1* (Oncidium equitante)= 7*

40* (Dendrobium) 2* (Dendrobium) 4*

(Dendrobium) 19*

(Dendrobium) 72

Legenda: (*) Número correspondente a outros gêneros de orquídeas encontrados. / (≅) Faz referência a

um dado aproximado.

Tabela 2: Tabela comparativa por anos de 2007 e 2013.

Planilha comparativa anos de 2007 e 2013

Dados de 2007 Resultado Geral 2013

Phalaenopsis amabilis: 700 547

Cattleya labiata: 700 177

Oncidium micropogum: 700 192

Árvores com orquídeas: 350 229

Árvores sem orquídeas: não possuíam esse dado ≅ 461

Total de mudas: 2100 988

Total de árvores: não possuíam esse dado ≅ 690

Outras orquídeas: não foram incluídas no projeto 72

Legenda: (≅) Faz referência a um dado aproximado.

Page 13: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

66

Figura 11: Dados relacionados ao ano de 2007.

Figura 12: Dados obtidos no ano de 2013.

Discussão

As árvores existentes nas ruas que abrangem o Quadrilátero do Charme de

Ipanema estão sendo bem valorizadas através do paisagismo vertical com o uso de

orquídeas bem adaptadas aos fatores abióticos da região.

A maioria das orquídeas é tropical e, apesar de muitas serem de elevações

pequenas, a grande maioria cresce em maiores altitudes. A teoria mais aceita para o

surgimento e evolução das orquídeas apresenta a abelha como personagem central e

''dispersora de sementes''. No ano 2000, na República Dominicana, foi encontrado um

fóssil de abelha que indica que as orquídeas teriam coexistido com os dinossauros.

Junto do animal, foi encontrado um polinário – pólen aglutinado –, que é a maneira

como as orquídeas até hoje dispersam seu pólen. Ambos estão preservados em âmbar e

datam do Mioceno (20-15 milhões de anos). A abelha pertence à extinta espécie

Proplebeia dominicana (WILLE & CHANDLER, 1964). Através do polinário, a

espécie de orquídea foi descrita como Meliorchis caribea L., pertencente a um subgrupo

que apresenta ainda representantes vivos na flora atual.

Page 14: ORQUÍDEAS NO PAISAGISMO DA ÁREA URBANA DE IPANEMA

67

Em termos históricos, o filósofo chinês Confúcio destacava as propriedades do

perfume destas plantas, ao qual atribuía o caráter Lán, que significa amor, beleza,

delicadeza, elegância e pureza. Sobre isso, Chen e Luo (2008) afirmam:

A China tem longa história na apreciação destas flores. Orquídeas são citadas

pela literatura antiga e retratadas pela arte chinesa desde o décimo século

antes de Cristo, pinturas do começo de dinastia Song, entre 960 e 1127

chegaram até os nossos dias (CHEN & LUO, 2008).

Na Europa existem registros de Theophrastus de Lesbos. "Em seu trabalho

Historia Plantarum, volume 9, descreve uma planta com dois pequenos tubérculos

subterrâneos aos quais chama orchis, que corresponde à palavra testículos"

(THEOPHRASTUS, 1988).

Na América, entre as sociedades indígenas a presença das orquídeas é identificada

através de informações dadas pelos espanhóis. Por exemplo, "antes dos espanhóis

conquistarem o México a fruta de Tlilxochitl, uma espécie de Vanilla sp. Lindl. (1835),

era a mais estimada dentre as especiarias astecas" (OSSENBACH, 2005, p.183). O

estudo a respeito da flora da América do Sul comunicava que ela era utilizada como

perfume, especiaria e como uma poção para se ter boa saúde. Os maias também a

usavam. "Os astecas utilizavam também algumas espécies de orquídeas para fabricação

de cola" (HERNÁNDEZ, 1959).

Uma curiosidade histórica também ajudou a aumentar o prestígio das orquídeas,

pois nenhum botânico conseguia semear as plantas até o século 19, o que tornava único

cada exemplar extraído da natureza. "Na época as orquídeas só podiam ser

multiplicadas por divisão de touceira. Por isso ter uma orquídea em casa era difícil e

caro, um verdadeiro símbolo de status. Quanto mais orquídeas se tinha e quanto mais

bonitas elas fossem, mais prestígio a pessoa exercia" (BOHNKE, 2013, p.7, p.8).

O aperfeiçoamento do microscópio e a fundação da Royal Horticultural Society,

em 1804, estimularam muitos estabelecimentos comerciais europeus a patrocinar

expedições botânicas por países tropicais com o propósito de coletar plantas ainda

desconhecidas, de preferência orquídeas, pois valiam mais. "A rivalidade entre essas

firmas era tanta que, após recolherem da natureza quantas orquídeas pudessem levar, os

desbravadores destruíam os exemplares restantes para preservar a raridade da espécie"

(BOHNKE, 2013, p.8). Logo após o desembarque das plantas na Europa, era realizado

o leilão das plantas roubadas, entusiasmando nobres e aristocratas, mas como não

sabiam cuidar muito bem das plantas, a grande maioria morria em pouco tempo por

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culpa também dos caçadores de orquídeas que, a fim de despistar a concorrência,

acabavam por mentir a respeito do local da coleta, dando assim pistas incorretas sobre a

maneira de manter as espécies.

As orquídeas só se tornaram populares na Europa no final do século 19 e início do

século 20, quando os botânicos descobriram como semeá-las e obtiveram sucesso em

técnicas de hibridação. Com isso as publicações sobre o assunto se tornaram mais

frequentes, dando início a exposição em eventos. Foi publicado no Japão, em 1728, o

primeiro livro sobre orquídeas: Igansai-ranpin. Depois da publicação de Species

Plantarum (LINNAEI, 1753), os registros sobre orquídeas começaram a ficar cada vez

mais frequentes.

Em 1735, o botânico sueco Carl Von Liné (LINNAEUS) deu origem à primeira

classificação coerente das plantas, que seria o nome genérico seguido do nome

específico, e as linhas de desenvolvimento dos seres vivos, além das leis da evolução.

No seu trabalho chamado Genera Plantarum, ele usou a palavra "Orchidaceae", que

seria uma derivação de "Orkhis", denominando assim toda a família das orquídeas. Suas

obras acabaram por abrir caminho para os estudos de Darwin, sendo que em 1763 fui

publicado um novo tratado com centenas de espécies diferentes onde as classificou

todas como Epidendrum sp. L..

"Em 1818 chegaram os primeiros exemplares de Cattleya labiata Lindl. (1821)

provenientes do Brasil, causando grande sensação e reforçando ainda mais o interesse

pelas espécies tropicais destas plantas" (WILLIANS & KRAMER, 1980).

Em 1830, um botânico e taxonomista chamado John Lindley realizou a primeira

classificação das orquídeas. Seus trabalhos sobre orquídeas lhe renderam fama como "O

gênero e espécies das plantas orquidáceas". Ele deixou um livro inacabado, mas que

mesmo assim é considerado um clássico da botânica, sendo ele Folia Orchidacea. Em

1862, Darwin publicou The Various Contrivances by Which Orchids are fertilized by

Insects. Essa foi a primeira contribuição vital para a compreensão e estudo das

estratégias utilizadas na disseminação das espécies. Já em 1887, Lewis Castle publicou

o livro Orquídeas: sua estrutura, história e cultura.

No Brasil, que foi amplamente explorado pelas expedições botânicas europeias,

foi apenas no final do século 20 que as orquídeas começaram a ficar populares, nos anos

de 1990, após a estabilização da moeda."O Brasil é um dos países mais ricos em

orquídeas, comparável somente com a Colômbia e Equador. Estudos recentes registram

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cerca de duas mil e trezentas espécies para o território brasileiro. Existem no Brasil mais

de 2.500 espécies catalogadas" (GOMES, 2012, p.12).

O volume III de Flora Brasiliensis, publicado em 1906, foi a primeira grande

obra dedicada exclusivamente às orquídeas brasileiras, incluindo a descrição de plantas

e apresentação de desenhos por Von Martius. Barbosa Rodrigues, além de ter sido um

importante botânico e diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, deixou um legado

com muitas obras científicas, além das aquarelas e desenhos mostrando seu senso

artístico. Muitos estudiosos brasileiros e estrangeiros também deram sua contribuição

para o conhecimento das espécies brasileiras.

Encontrar orquídeas nas ruas da Zona Sul, além de tornar o ambiente agradável,

contribui para uma reflexão sobre a qualidade de vida, que é tão desejada pela

população. Natureza e crescimento urbano caminhando juntos. A mistura das espécies

possibilita a floração e um toque primaveril aos lugares em que houve aprovação do

projeto. Além da grande variedade de cores, o que também possibilita uma enorme

quantidade de combinações.

Foi possível encontrar algumas semelhanças na metodologia aplicada na

implementação do projeto Quadrilátero do Charme com o trabalho de levantamento

Florístico da Praça Coronel Moura em Botucatu, SP, realizado por Fabio Fernandes

Roxo; Luiz Roberto Hernandes Bicudo e Renato Eugênio da Silva Diniz (2009), já que

verificou-se a preocupação com o ambiente, com a flora e o interesse pela

conscientização das novas gerações, além do levantamento florístico.

O projeto do Quadrilátero do Charme, além de valorizar o plantio de orquídeas,

também oportunizou um levantamento das espécies que mais se adaptam ao meio

ambiente e à sua devida divulgação, promovendo uma conscientização ambiental.

O paisagismo vertical, modelo adotado pelo projeto, também leva em conta a

sustentabilidade, conforme artigo publicado por redação intitulado O paisagismo

sustentável aliado ao desenvolvimento urbano (2013), que une baixo custo de

manutenção, valorização estética, conscientização, adaptação à realidade do

crescimento populacional, que leva a um número maior de prédios, num movimento de

promoção da integração do meio e do homem com a natureza. Tal afirmativa é

ratificada no Projeto realizado em Botucatu, SP, onde o espaço da praça foi bem

aproveitado devido à arquitetura da cidade, e verifica-se também os mesmos moldes de

estudo e levantamento da flora e modificação da paisagem.

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70

O plantio de orquídeas nas árvores, dentro do Projeto do Quadrilátero do Charme,

foi decidido pela associação em 2006 como forma de embelezar o local; sem perceber

que estavam lançando uma moda que veio a se espalhar pelo bairro e outros lugares. Em

relação a isto, Bastos, 2013, p. 7, afirma que as orquídeas são as plantas mais

colecionadas do planeta. Muitos fatores contribuíram para que elas despertassem tanta

paixão. O primeiro, e mais visível, é a beleza de suas flores, encontradas nos mais

variados tamanhos, formatos e cores. O segundo é interessante: a família das orquídeas

é a única com espécies nativas dos cinco continentes, ou seja, é possível encontrar as

plantas em florestas úmidas e secas, cerrados, regiões litorâneas e até locais de altitudes

extremas, como os 4.600 m da Cordilheira dos Andes, na América do Sul.

Foram plantadas 2.100 mudas de orquídeas em 350 árvores da região de três

espécies diferentes, sendo duas da Mata Atlântica, que são Oncidium micropogon Rchb.

f. (1854) e Cattleya labiata Lindl. (1821), e uma estrangeira, asiática, mas que se

adaptou bem ao clima, a Phalaenopsis amabilis Lindl. (1838). Ambas florescem em

épocas diferentes. Foram utilizadas aproximadamente 700 mudas de cada espécie,

distribuídas de forma que cada uma das 350 árvores recebeu seis plantas, duas de cada

espécie.

Inicialmente, o projeto alcançou uma divulgação positiva, fazendo com que,

posteriormente, os próprios moradores e comerciantes da região passassem a colocar

mais orquídeas nas árvores. Dessa forma, houve continuidade nesta iniciativa tão bonita

de plantar orquídeas nas árvores.

Ao longo do processo de implementação do projeto Quadrilátero do Charme,

baixas foram verificadas através do roubo e da morte de muitas plantas, entretanto

muitas sobreviveram e permanecem embelezando a região.

Com Cerca de 600 espécies distribuídas pelas Américas Central e Tropical, o

gênero Oncidium já foi considerado um dos maiores da família das

orquidáceas. Entretanto, há algum tempo, estudiosos têm elevado algumas

espécies à situação de gênero, diminuindo, consideravelmente, a família

(LUCCHESI, 2006, p.19).

Refletindo acerca das inúmeras espécies de orquídeas de diversos ecossistemas, é

possível afirmar que estas nos dão oportunidade de criar várias combinações. A

Phalaenopsis amabilis Lindl. (1838) é um ótimo exemplo de adaptação ao clima do Rio

de Janeiro e de gênero, cujos seus híbridos, grandes responsáveis pela abundância de

cores, formas e tamanhos das flores, são amplamente utilizados em cruzamentos

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encontrados nos mercados ou em coleções, sendo considerada uma das orquídeas mais

populares como afirma Bastos (2013, p.14). "A Cattleya labiata Lindl. (1821) é nativa

do Nordeste brasileiro e foi considerada pelos franceses a orquídea mais bonita da

Natureza. Melhor, seu cultivo é muito fácil".

O paisagismo vertical é o que melhor atende as necessidades de uma cidade

grande onde cada espaço é disputado pela população. Reis, Algayer e Taglietti (2013)

explicam isso:

Aqui no Brasil, já na década de 70, o renomado paisagista Roberto Burle

Marx desenvolveu projetos paisagísticos incluindo jardins verticais e paredes

verdes (em pouca escala). Os mais conhecidos foram desenvolvidos para a

Xerox do Brasil e para o Parque Central, em Caracas na Venezuela. Usando

bromélias, orquídeas e outras epífitas, Burle Marx construía lindas esculturas

e paisagens verticais. Projetos fundamentais na constituição e consolidação

da arquitetura moderna no Brasil (REIS; ALGAYER; TAGLIETTI, 2013).

Outro profissional bastante conhecido mundialmente no trabalho com paisagismo

vertical é o botânico francês Patrick Blanc, que iniciou seus trabalhos a partir da

observação da flora na natureza constatando a maneira como a vegetação desenvolve-se

em encostas rochosas, despenhadeiros e no alto das árvores.

Seja em uma cidade grande, onde cada área é disputada, ou em uma cidade do

interior com mais espaço, a preocupação com o paisagismo leva à reflexão de que há

sempre uma maneira de integrar o paisagismo ao ambiente, de maneira a aumentar a

qualidade de vida, com uma manutenção de baixo custo, além de promover

conscientização e educação ambiental. O uso de orquídeas no paisagismo vertical

valoriza a flora sem que para isto se modifique a arquitetura das cidades. Por meio do

projeto, verificou-se que crescimento urbano e paisagismo vertical podem coexistir

promovendo um equilíbrio ambiental nas cidades.

Conclusão

É fundamental que se invista cada vez mais em medidas socioeducativas,

permitindo também que a população se aproprie de novos conhecimentos científicos.

Esse investimento deve ter como uma de suas premissas interferir no cotidiano

rompendo os inúmeros preconceitos existentes, como o pensamento de que flores são

apreciadas apenas por mulheres. Somente através de rupturas nessa "muralha" de

preconceitos será possível construir uma sociedade comprometida com um futuro

melhor para todos, principalmente nas questões ambientais.

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72

Tendo em vista os fatos mencionados ao longo desse trabalho, se faz

importante uma tomada de consciência no que diz respeito ao caminho a ser percorrido

para garantir que o verde faça parte de nossas vidas, hoje e nas gerações futuras. Para

que a população se sinta confiante e integrada ao projeto, é importante que sejam

despertados, cúmplices entre si. Para tal se faz necessário que sejam implementadas

novas ações de medidas socioeducativas e de incentivo à população, chamando-a para

auxiliar na preservação dessas orquídeas e para o plantio de novas mudas.

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