oncofertilidade: preservaÇÃo da fertilidade em …

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA CURSO DE BIOMEDICINA ANDREÇA DE PAIVA SOUZA MIZAEL ÂNGELO ANTÔNIO DA SILVA BÁRBARA MAIA DA SILVA FREITAS TACIANY CAMILLE SANTOS ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM PACIENTES ONCOLÓGICOS Belo Horizonte, 2021

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Page 1: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

CURSO DE BIOMEDICINA

ANDREÇA DE PAIVA SOUZA MIZAEL

ÂNGELO ANTÔNIO DA SILVA

BÁRBARA MAIA DA SILVA FREITAS

TACIANY CAMILLE SANTOS

ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM

PACIENTES ONCOLÓGICOS

Belo Horizonte,

2021

Page 2: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

ANDREÇA DE PAIVA SOUZA MIZAEL

ÂNGELO ANTÔNIO DA SILVA

BÁRBARA MAIA DA SILVA FREITAS

TACIANY CAMILLE SANTOS

ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM

PACIENTES ONCOLÓGICOS

TCC apresentado na disciplina de

Trabalho de Conclusão de Curso -

Orientação, do Curso de Biomedicina,

do Centro Universitário UNA, como

parte da exigência para a obtenção do

título de Bacharel em Biomedicina.

Prof. Dr. Leandro Gonzaga de Oliveira

Belo Horizonte,

2021

1

Page 3: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

AGRADECIMENTOS

Inicialmente gostaríamos de agradecer aos nossos familiares -

especialmente aos nossos pais, maridos e filhos amados - pelo apoio, confiança e

compreensão.

Agradecemos, também, ao nosso orientador, professor Leandro Gonzaga

de Oliveira, pelo auxílio, orientação e sugestões que enriqueceram o estudo para

a realização do trabalho.

Aos demais professores do curso de Biomedicina, pela transmissão dos

conhecimentos, em especial a professora Paula Suzanna Prado Rocha pelo amor

transmitido ao lecionar a matéria de Reprodução Humana Assistida.

Enfim, somos eternamente gratos a todos que, direta ou indiretamente,

auxiliaram na nossa formação acadêmica.

Page 4: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

RESUMO

A oncofertilidade é um campo de estudos que busca interpor conhecimentos e

aperfeiçoamento das estratégias de preservação da função reprodutiva em

pacientes com câncer. Nos últimos anos os avanços tecnológicos na área de

oncologia têm proporcionado aos pacientes tratamentos que revolucionaram a

esperança de ter melhor qualidade de vida. Entretanto, esta evolução nem sempre

tem evitado o prejuízo da saúde reprodutiva causada pelas cirurgias, quimioterapias

ou radioterapias, comuns a estes pacientes. A infertilidade pode provocar efeitos

psicológicos devastadores, tanto na esfera individual como na conjugal. As atuais

técnicas, como congelamento de sêmen e embriões, congelamento de óvulos,

fragmentos de ovário, fragmentos de testículo, associadas às técnicas de fertilização

assistida, ampliam as perspectivas para que o desejo de ter filhos após os términos

dos tratamentos não se torne uma frustração e, sim, uma esperança para os

pacientes. Desta forma, esta revisão de literatura objetiva descrever as principais

opções de preservação da fertilidade no tratamento do câncer.

Palavras-chave: Oncofertilidade; preservação da fertilidade; fertilização in vitro;

criopreservação; saúde reprodutiva; infertilidade; oncologia.

Page 5: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

ABSTRACT

Oncofertility is a field of studies that seeks to interpose knowledge and improvement

of strategies for preserving the reproductive function in cancer patients. In recent

years, technological advances in the field of oncology have provided patients with

treatments that revolutionized the hope of having a better quality of life. However, this

evolution has not always avoided the damage to reproductive health caused by

surgeries, chemotherapies or radiotherapy, which are common to these patients.

Infertility can cause devastating psychological effects, both in the individual and in

the marital sphere. Current techniques, such as freezing semen and embryos,

freezing eggs, ovary fragments, testicle fragments, associated with assisted

fertilization techniques, expand the perspective so that the desire to have children

after the end of treatments does not become a frustration and be a hope for the

patients. Thus, this literature review aims to describe the main options for preserving

fertility in cancer treatment.

Keyword: Oncofertility, fertility preservation, fertilization in vitro, cryopreservation,

reproductive health, Infertility, oncology.

Page 6: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 8

1.1 Objetivo Geral 9

1.2 Objetivos Específicos 9

2. METODOLOGIA 10

3. REFERENCIAL TEÓRICO 11

3.1 Métodos de preservação da fertilidade em pessoas do sexo feminino 15

3.1.1 Crianças, adolescentes e adultos do sexo feminino 15

3.1.2 Criopreservação de oócitos 17

3.1.3 Criopreservação de embriões 17

3.1.4 Transposição ovariana (Ooforopexia) 19

3.1.5 Criopreservação de Tecido Ovariano (CTO) 19

3.2 Métodos de preservação da fertilidade em pessoas do sexo masculino 21

3.2.1 Crianças, adolescentes e adultos do sexo masculino 21

3.2.2 Criopreservação do Sêmen 23

3.2.3 Transposição testicular 24

3.2.4 Criopreservação de Tecido Testicular 24

3.3 Métodos para construção familiar alternativa de ambos os sexos 26

3.3.1 Doação de gametas reprodutivos 26

3.3.2 Doação de óvulos 26

3.3.3 Doação de Sêmen 26

3.3.4 Útero de Substituição (Barriga de Aluguel) 27

3.3.5 Adoção de embrião 27

3.3.6 Adoção tradicional 28

3.4 Legislação aplicável aos métodos 29

4. DISCUSSÃO 30

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 33

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35

5

Page 7: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

LISTA DE ABREVIATURAS

CFM Conselho Federal de Medicina

CTO Criopreservação de Tecido Ovariano

DNA Ácido Desoxirribonucleico

EOC Estimulação Ovariana Controlada

FIV Fertilização in vitro

FOP Falência Ovariana Prematura

GnRH Gonadotrofina

ICSI Injeção Intracitoplasmática de Espermatozóides

INCA Instituto Nacional de Câncer

LH Hormônio Luteinizante

MESA Extração de Sêmen Através de Microcirurgia

MIV Maturação in vitro

OPAS Organização Pan-Americana da Saúde

PESA Extração de Sêmen Percutânea

PF Preservação de Fertilidade

RHA Reprodução Humana Assistida

RNA Ácido Ribonucleico

SBRH Sociedade Brasileira de Reprodução Humana

SOP Síndrome do Ovário Policístico

SSCs Células-tronco Espermatogoniais

TESE Extração de Espermatozóide Testicular

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Risco estimado para diferentes combinações de agentes quimioterápicos

antineoplásicos de genotoxicidade ovariana ............................................................ 13

Figura 2 – Algoritmo para Preservação da Fertilidade em Mulheres com Câncer

...................................................................................................................................16

Figura 3 – Criopreservação do Tecido Ovariano ..................................................... 21

Figura 4 – Risco de Infertilidade após Tratamento de Tumores Comuns na Infância e

na Adolescência ....................................................................................................... 25

Page 9: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

8

1. INTRODUÇÃO

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) relata que o câncer é a

segunda principal causa de morte no mundo, sendo responsável por 9,6 milhões de

mortes em 2018 (OPAS, 2020). O INCA (Instituto Nacional do Câncer) estima que

no Brasil entre 2020-2022, pode haver aproximadamente 625 mil novos casos de

câncer, entre a população no geral. Esses valores correspondem a um risco

estimado de 137,87 casos novos por milhão no sexo masculino e de 139,04 por

milhão para o sexo feminino (INCA, 2020).

Vários tratamentos de câncer têm o potencial de prejudicar parcial ou

totalmente a fertilidade futura dos pacientes devido aos efeitos gonadotóxicos da

quimioterapia, radiação quando ocorre nos órgãos reprodutivos ou a remoção

cirúrgica do tecido reprodutivo. Ter filhos é geralmente considerado fundamental

para a vida de muitas pessoas e a maioria dos sobreviventes do câncer expressa o

desejo de ter filhos (TOMÁS, C. et al., 2016).

Apesar de muitas pessoas ainda não terem um conhecimento prévio, graças

ao avanço da tecnologia, já é possível garantir a preservação da fertilidade dos

pacientes em tratamentos oncológicos, a chamada “Oncofertilidade”. Com o

desenvolvimento recentemente observado de embriologia, biologia molecular e

técnicas de reprodução assistida, iniciou-se uma nova direção na medicina. Porém,

um dos grandes obstáculos é a falta de diálogo entre família e corpo clínico, ou até

mesmo o tempo para o tratamento, já que alguns pacientes não possuem, ou

mesmo a dificuldade de acessibilidade da população à realização das técnicas.

Dentro deste contexto, a ciência tem buscado alternativas para preservar a

fertilidade de pacientes oncológicos. Grandes estudos epidemiológicos

demonstraram que os sobreviventes do câncer têm menor probabilidade de terem

filhos biológicos do que os indivíduos sadios, tanto entre aqueles diagnosticados na

fase de vida adultos jovens quanto entre aqueles diagnosticados durante a infância.

O tema selecionado é de grande importância para a população, devido à

grande incidência de casos estimados no Brasil pelo INCA, pois, além de todas as

dificuldades que o câncer trás, incluindo o medo, os sintomas, as sequelas, pode

apresentar também risco de infertilidade. A partir disso, ainda há problemas que a

Page 10: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

9

perda da capacidade de ter filhos ou dificuldades em conceber traz para esses

pacientes, como, por exemplo, a dificuldade de adaptação na sociedade, cujos

efeitos subsequentes frequentemente se manifestam em problemas psicológicos.

Nesses casos, a infertilidade passa a ser definida não apenas como uma doença de

parceiros sexuais, mas também como entidade patológica com caráter psicossocial.

1.1 Objetivo Geral

Avaliar as metodologias disponíveis que permitam a preservação da

fertilidade em pacientes oncológicos.

1.2 Objetivos Específicos

● Analisar o impacto da perda da fertilidade após o tratamento oncológico.

● Citar as técnicas usadas atualmente para a preservação da fertilidade.

Page 11: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

10

2. METODOLOGIA

Para contextualizar a fisiopatologia do tema da preservação da fertilidade em

pacientes oncológicos, serão utilizados para o desenvolvimento do estudo pesquisas

bibliográficas utilizando como base materiais já publicados sobre o conceito de

Oncofertilidade.

A partir do exposto, a pesquisa bibliográfica será realizada a partir de

levantamentos de materiais com dados já analisados e publicados por meio

eletrônicos como: artigos científicos publicados por revistas, sociedades de

referências, principalmente em páginas na Web como Scielo, PubMed, NCBI, entre

outros.

Os descritores usados foram: Oncofertilidade, Preservação da Fertilidade,

Fertilidade Pós Tratamento Oncológico, Preservação da Fertilidade em Crianças,

Fertilização in vitro. A revisão sistemática de literatura científica será feita por meio

da PubMed, Ovid e Medline. Serão selecionados uma média de 40 artigos para

revisão, publicados entre 1977 e 2020, em português e inglês, incluindo apenas

estudos feitos em seres humanos, dos quais serão selecionados e revisados os

trabalhos mais relevantes para este estudo e com maior poder estatístico,

considerando e analisando também os dados epidemiológicos que serão

necessários para produção deste artigo.

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11

3. REFERENCIAL TEÓRICO

Cada um dos tipos de tratamento antineoplásico têm diferentes riscos de

infertilidade associados e variam de acordo com a dose usada, a duração do

tratamento e as características dos pacientes, sendo a idade um dos aspetos mais

relevantes (IMBERT, R. et al., 2014; KOVACS, P., 2014).

Os tratamentos oncológicos prejudicam a fertilidade não só pela remoção

cirúrgica de órgãos reprodutivos, como também por afetar, através da

quimioterapia/radioterapia, a capacidade dos órgãos reprodutores de produção ou

maturação das células em questão. As várias técnicas terapêuticas da doença

oncológica podem afetar a fertilidade por meio de um ou mais dos mecanismos:

Gonadotoxicidade Direta, quando ocorre lesão direta do ovário ou do epitélio

seminífero no testículo, no qual intervém o efeito dos agentes antineoplásicos

alquilantes ou da radioterapia pélvica; Gonadotoxicidade Indireta, quando ocorrem

alterações no funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, após radioterapia

craniana; alterações ao nível da função uterina na mulher e das funções erétil e

ejaculatória no homem, que podem ser causadas por irradiação pélvica ou por

alguns tipos de intervenções cirúrgicas ao nível dos aparelhos reprodutores feminino

e masculino. Os fármacos citotóxicos e a radiação ionizante podem inibir a divisão

celular e o funcionamento correto do DNA (Ácido Desoxirribonucleico) e provocar o

dano, muitas vezes irreversível, dos folículos (TOMÁS, C. et al., 2016; FERREIRA,

M.P.P., 2020).

A quimioterapia é um dos tratamentos mais usados em oncologia, pois atua

de forma sistêmica, ou seja, em todas as células do corpo. Assim, quando há

ocorrência de grandes tumores, metástase, recidivas, ou cânceres de alta

malignidade, a quimioterapia se faz essencial ao tratamento desses pacientes

(SPENCE, R.A.J., et al., 2001). A administração de quimioterápicos, necessária para

os tratamentos oncológicos, resulta em danos devastadores aos ovários (MEIROW,

D. et al., 2010). O impacto dos tratamentos anticâncer sobre a fertilidade feminina

está diretamente relacionado com a idade das pacientes, o tempo de tratamento, o

protocolo de quimioterapia e o total cumulativo da dose administrada (BEN-

AHARON, I. et al., 2010).

Os agentes mais conhecidos como promotores de infertilidade são os da

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12

classe alquilante (classe de antineoplásicos que causam alterações nas cadeias de

DNA, impedindo a replicação celular) e os seus principais efeitos secundários são a

fibrose ovárica e a depleção folicular e oocitária prematura, aceleradas pela

apoptose dos ovócitos e das células da granulosa (MALTARIS, T. et al., 2006;

OKTAY, K. et al., 2009). A dose terapêutica, a duração da exposição, a idade da

doente e a reserva folicular no início da terapia, no que respeita ao sexo feminino,

são fatores que determinam o grau de infertilidade que podem provocar (OKTAY, K.

et al., 2009; ROBERTS, J. et al., 2015).

Para Wallace e seus colaboradores (2005) e Meirow (2000), os agentes com

efeito mais degenerativo sobre a gametogênese feminina são os agentes alquilantes

(a ciclosfosfamida, ifosfamida, clometidina, melfalan, procarbazina e clorambucil)

(WALLACE, W.H.B. et al., 2005; MEIROW, D., 2000). A ciclosfosfamida é um

fármaco não específico usado para tratamento de câncer que apresenta um efeito

citotóxico significativo para os ovários, uma vez que pode lesar tanto as células em

multiplicação quanto em fase de latência (MEIROW, D., 2000).

Duas classes de quimioterápicos estão classicamente ligadas a maior risco

de infertilidade pós tratamento: são os agentes alquilantes (ciclofosfamida) e as

platinas (cisplatina e carboplatina), embora anti-metabólicos, alcalóides e os

inibidores da topoisomerase também podem ter efeito gonadotóxico direto atuando

como coadjuvantes da infertilidade, com efeitos variados dependendo da idade da

paciente assim como mostra a Figura 1 (MAXMAN, J. et al., 1983).

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13

Figura 1: Risco estimado para diferentes combinações de agentes quimioterápicos antineoplásicos de genotoxicidade

ovariana

Agentes

quimioterápicos

e antineoplásicos

Alto risco (amenorreia

permanente > 80% das

mulheres expostas)

Risco intermediário

(amenorreia permanente

em 20% a 80% das

mulheres expostas)

Baixo risco (amenorreia

permanente

< 20% das mulheres

expostas)

Risco ainda

não estimado

Agentes Isolados

Ciclofosfamida Antracíclicos Metotrexato

Busulfan Cisplatina Bleomicina Oxaliplatina

Melphalan Carboplatina 5-Fluorouracil Irinotecan

Clorambucil Ara-C (citarabina) Actinomicina-D Anticorpos

monoclonais

Dacarbazina Taxanos Alcaloides da Vinca Inibidores da

tirosinaquinase

Procarbazina Mercaptopurina

Ifosfamida Etoposide

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14

Thiotepa Fludarabina

Agentes

Combinados

Radioterapia

Mostarda nitrogenada CMF, CAF, CEF × 6 em

mulheres < 40 anos ABVD

Altas doses Ciclofosfamida/bu-

sulfan e transplante de células

hematopoiéticas

AC, EC × 4 em mulheres >

40 anos

FOLFOX em mulheres > 40

anos

CMF, CEF, CAF × 6 em

mulheres < 30 anos

MF FOLFOX em mulheres

< 40 anos

Irradiação ovariana CHOP, CVP

CMF, CAF, CEF × 6 em

mulheres > 40 anos

Protocolos para leucemia

mieloide e linfoide aguda

AC × 4 em mulheres < 40

anos

Legenda: AC= Doxorrubicina + Ciclofosfamida; CAF= Ciclofosfamida + Doxorrubicina + Fluorouracil; CEF= Ciclofosfamida + Epirrubicina + Fluorouracil;

CMF= Ciclofosfamida + Metotrexato + Fluorouracil; MF= Metotrexato + Fluorouracil; EC= Epirrubicina + Ciclofosfamida; CHOP= Ciclofosfamida +

Doxorrubicina + Vincristina + Prednisolona; FOLFOX= Fluorouracil + Leucovorina + Oxaliplatina. Fonte: Adaptado de BLUMENFELD et al., 1999; LEE et al.,

2006; PENTHEROUDAKIS et al., 2010; CHRISTINAT et al., 2012; CERCEK et al., 2013.

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15

3.1 Métodos de preservação da fertilidade em pessoas do sexo feminino

3.1.1 Crianças, adolescentes e adultos do sexo feminino

As mulheres, na 20ª semana de embriogênese, atingem o número máximo de

células germinativas, com aproximadamente 6 a 7 milhões de oócitos potenciais,

conhecidos como folículos primordiais. No entanto, apenas 1 milhão deles

permanecerá no nascimento e apenas cerca de 400.000 oócitos sobreviverão até a

puberdade. Esse número, conhecido como reserva ovariana, diminui, chegando a

1.000 ovócitos na época da menopausa, devido aos ciclos ovulatórios mensais,

processo durante o qual a maioria dos oócitos sofre atresia (degeneração e

reabsorção) (DONNEZ, J. et al., 2013).

Os agentes quimioterápicos têm uma função deletéria sobre o funcionamento

ovariana, pois atua essencialmente sobre os folículos ovarianos. Nas mulheres

adultas, a sua função reprodutiva requer o funcionamento do eixo hipotálamo-

hipófise-ovário, ovários e útero. Contudo, o seu potencial reprodutivo é

maioritariamente limitado pelo número de oócitos primordiais. Na criança, pela

abundância de folículos primordiais, ela se apresenta mais resistente à

gonadotoxicidade do que a mulher adulta, sendo mais tolerante as doses mais

elevadas de quimioterapia antes de manifestar a Falência Ovariana Prematura

(FOP) (KNOPMAN, J.M. et al., 2010; IMBERT, R. et al., 2014).

A radioterapia nas mulheres adultas, ao contrário da quimioterapia, já tem um

efeito danoso direto sobre os ovários e útero sendo feita ou não na zona pélvica.

Quando a irradiação não inclui a região pélvica, muitas vezes tenta-se estimar a

quantidade de radiação indireta que atingiu os ovários e útero e, é com base nesta

radiação que se estima qual o risco de infertilidade do tratamento oncológico

(SUDOUR, H. et al., 2010).

Em meninas não púberes, os tumores podem atingir os ovários, útero ou

trompas, quer estes sejam tumores primários ou secundários, exigindo uma

abordagem cirúrgica que muitas vezes pode levar à excisão de uma ou várias

destas estruturas, diminuindo assim a fertilidade das pacientes. Também nos

tumores cerebrais, a cirurgia pode levar a infertilidade, principalmente se estes se

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16

localizarem próximos ou na região hipotálamo-hipófise. A destruição desta estrutura

leva a alterações da secreção de hormônios gonadotróficos e posterior

hipogonadismo (FERREIRA, M.P.P., 2020).

As técnicas que estão disponíveis para as mulheres adultas e pré-púberes

que desejam preservar sua fertilidade antes ou durante a quimio e radioterapia são:

Criopreservação de Tecido Ovariano (CTO), Criopreservação de Embriões,

Criopreservação de Oócitos Imaturos ou Maduros e Transposição Ovariana

(Ooforopexia) (MARTINEZ, F. et al., 2017). Nesta revisão, focamos especificamente

nas técnicas citadas. Outras técnicas experimentais podem parecer promissoras,

embora mais pesquisas ainda sejam necessárias (MARTINEZ, F. et al., 2017).

Há várias estratégias que podem ser tomadas para preservar a fertilidade de

mulheres com câncer, cada uma, conforme Figura 2, será voltada para um risco de

envolvimento ovariano.

Figura 2: Algoritmo para Preservação da Fertilidade em Mulheres com Câncer

Legenda: Observa-se as sequências estratégicas de tratamentos que devem ser tomadas para

preservação da fertilidade em pacientes com câncer de acordo com o risco do envolvimento

ovariano. Fonte: CASTELLOTTI et al., 2008.

Page 18: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

17

3.1.2 Criopreservação de oócitos

Como alternativa à criopreservação de embriões, essa técnica é a opção

preferida para mulheres pós-púberes e adolescentes, mulheres sem parceiro estável

e para aquelas que não desejam usar um doador de sêmen. Supera as questões

éticas e religiosas que emergem da preservação do embrião. Os resultados clínicos

na estratégia de vitrificação do oócito são superiores ao congelamento e

descongelamento lento (DONNEZ, J. et al., 2013). Com a vitrificação do oócito, as

mulheres podem conceber no futuro e manter sua autonomia reprodutiva. No

entanto, não é apropriado para pacientes que precisam urgentemente de tratamento

ou pacientes com cânceres sensíveis a hormônios, pois o procedimento também

inclui EOC. Os oócitos podem ser criopreservados como óvulos maduros ou como

oócitos de vesículas germinais imaturas. A criopreservação de oócitos maduros é

realizada com os oócitos cujo desenvolvimento termina na metáfase II. Hoje em dia,

este é o método preferido para pacientes pós-púberes e para pacientes cuja

quimioterapia e radioterapia podem ser adiadas. Oócitos imaturos obtidos por

aspiração e seguidos de técnicas de Maturação in vitro (MIV) são uma opção

adequada para meninas pré-púberes e mulheres com cânceres sensíveis a

hormônios ou com Síndrome do Ovário Policístico (SOP), uma vez que EOC não é

necessária. Isso também permite a possibilidade de tratamento imediato do câncer.

Nesses casos os oócitos serão maturados in vitro, pois a criopreservação de oócitos

maduros gerou melhores resultados de sobrevivência do que os oócitos

criopreservados imaturos (LIM, J-H., et al., 2010). A recuperação de oócitos imaturos

também pode ser realizada durante um procedimento CTO (DONNEZ, J. et al.,

2013; LIM, J-H., et al., 2010).

3.1.3 Criopreservação de embriões

Segundo Cakmak e Rosen (2013), essa técnica é a que mais estabeleceu

taxas de sucesso e é um método amplamente utilizado e confiável. É como um

protocolo de Fertilização in vitro (FIV), que vem sendo executado há mais de 30

anos. As mulheres são submetidas a EOC com injeções de gonadotrofina para

promover o crescimento multifolicular. Após 10–14 dias, é realizada a retirada do

oócito de dentro do ovário, normalmente sob sedação consciente e com punção

aspirativa folicular transvaginal guiada por ultrassom (CAKMAK, H. et al., 2013). Os

Page 19: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

18

oócitos são então fertilizados em laboratório por via de FIV clássica ou Injeção

Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) e criopreservados na fase de

blastocisto (Dia 5 do desenvolvimento) para serem usados no futuro para a

transferência intra uterina, pós tratamento e cura.

As desvantagens dessa técnica são principalmente três: a necessidade de um

parceiro masculino estável ou sêmen de doação, questões éticas relacionadas à

disposição do embrião e o tempo necessário para a estimulação ovariana. A EOC

normalmente começa durante a fase folicular inicial. Quando uma paciente é

diagnosticada em sua fase folicular inicial, a estimulação ovariana com o antagonista

do hormônio liberador de Gonadotrofina (GnRH) começa imediatamente. Entretanto,

se o paciente estiver em qualquer outra fase, os protocolos padrão de FIV exigem

que o paciente espere até 3 semanas antes do início do processo. Segundo Cakmak

e Rosen (2013), esse método não é uma opção viável para mulheres cujo

tratamento agressivo do câncer é de alta prioridade, pois para seguir os protocolos

de FIV poderão ocorrer atrasos no tratamento oncológico (CAKMAK, H. et al., 2013).

Também não é recomendado para mulheres com cânceres sensíveis aos hormônios

e não é possível para meninas pré-púberes (FERREIRA, M.P.P., 2020; CAKMAK, H.

et al., 2013).

Foram desenvolvidas três técnicas de criopreservação de embriões:

congelamento lento, ultrarrápido e vitrificação. O congelamento lento no caso deste

tipo de preservação, hoje é quase extinto, o qual envolve uma diminuição

programada da temperatura, alcançando um equilíbrio de congelamento devido à

troca dos fluidos extra e intracelulares sem causar efeitos osmóticos e de

deformação celulares significativos (ABDELHAFEZ, F.F. et al., 2010). No entanto,

cristais de gelo podem se formar no interior das células, o que pode resultar em

efeitos extremamente prejudiciais (VALOJERDI, M.R. et al., 2009). O procedimento

é demorado (aproximadamente 1 ou 2 horas) e requer instrumentação cara e grande

quantidade de nitrogênio líquido, entre outros. A vitrificação, técnica mais utilizada e

padrão ouro para a criopreservação de embriões, converte a água em células

sólidas semelhantes a vidro, evitando a formação de cristais de gelo, tanto

intracelulares quanto extracelulares (VAJTA, G. et al., 2006). Apenas alguns minutos

são necessários, não sendo necessário instrumentação de alto custo. Além disso,

uma meta-análise em 2013 revelou que as taxas de sobrevivência, fertilização e

Page 20: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

19

implantação de oócitos foram maiores na vitrificação do que nos métodos de

congelamento lento (CIL, A.P. et al., 2013). Por essas razões, a vitrificação é hoje a

técnica padrão.

Os dados sobre gravidez e taxas de vida em pacientes com câncer após a

transferência de embriões congelados são limitados. As taxas de nascidos vivos em

pacientes não oncológicos com mais de 35 anos de idade chegam a 38,7% por

transferência de embrião congelada e a 34,8% (MAHAJAN, N., 2015).

3.1.4 Transposição ovariana (Ooforopexia)

Outra técnica que pode-se citar aderida em mulheres púberes é a

Ooforopexia, que consiste na transposição dos ovários para fora do campo onde a

determinada paciente receberia a irradiação por radioterapia pélvica localizada,

ocasionada por tumores de colo uterino. Nesse procedimento os ovários são fixados

na parede abdominal, via laparoscópica ou laparotômica e tem pedículos vasculares

preservados. As taxas de sucesso variam de 40% a 90%, já que depende da dose

de irradiação recebida e da idade da paciente. Alguns estudos demonstraram que

mulheres acima de 40 anos tem grandes chances de evolução para falência

ovariana, mesmo que os procedimentos tenham sido realizados previamente

(SILVA, A.C.J.S.R., 2006).

3.1.5 Criopreservação de Tecido Ovariano (CTO)

Uma técnica promissora, onde é retirado do paciente o tecido ovariano que

será congelado antes do início de um tratamento oncológico e, posteriormente, auto

transplantado. Atualmente é a única opção para pacientes pediátricos e para

pacientes com doenças hormônio-dependentes, por ser independente da

Estimulação Ovariana Controlada (EOC) e não retardar o tratamento oncológico.

Também não requer um parceiro masculino ou um doador de sêmen (DEL-POZO-

LÉRIDA, S. et al., 2019).

Ainda existem muitas dúvidas relacionadas a melhor técnica de

criopreservação disponível, como por exemplo a quantidade de tecido que irá

criopreservar, quanto aos riscos de transplantar células malignas, por quanto tempo

a função ovariana será mantida, quanto tempo o tecido pode permanecer

Page 21: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

20

criopreservado, qual a taxa de sucesso de se conseguir uma gestação (DONNEZ, J.

et al., 2013; MARINHO, R.M. et al., 2013). Porém, relatos estimam que 100

nascimentos ocorreram no mundo após o transplante do tecido congelado, apesar

de ainda não ter acontecido ainda nenhum no Brasil (MARINHO, R.M. et al., 2013).

CTO é um procedimento invasivo, pois requer anestesia geral para remover

cirurgicamente o tecido ovariano. Este tecido, com alto conteúdo folicular, é

criopreservado como mostra a Figura 3, e poderá, então, ser usado para os

seguintes procedimentos, segundo Meirow e colaboradores (2000):

i) Implantação ortotópica (reimplante na cavidade pélvica; por exemplo,

tecido ovariano remanescente ou peritônio) ou implantação

heterotópica fora dos ovários (por exemplo, reto, músculo peitoral,

parede abdominal e parede torácica);

ii) Isolamento de folículos do tecido descongelado para crescimento,

maturação e fertilização in vitro. Durante a CTO, é possível aspirar

oócitos imaturos dos folículos antrais do tecido ovariano. Oócitos

isolados podem ser criopreservados ou maturados in vitro para

posterior vitrificação (MEIROW, D., 2000).

O congelamento lento tem sido considerado padrão ouro na preservação de

tecidos ovarianos. A técnica é caracterizada pela redução gradativa da temperatura,

associados às baixas concentrações de crioprotetores, impedindo a formação de

cristais de gelo. Porém, mesmo assim não impede de ocorrer danos celulares

(ROBERTS, J. et al., 2015; DONNEZ, J. et al., 2013; MARINHO, R.M. et al., 2013).

Tanto a criopreservação do tecido cortical ovariano quanto a criopreservação

do ovário inteiro podem ser realizadas. Todos os folículos que contêm óvulos estão

na camada externa de um milímetro do ovário e, portanto, a remoção dessa camada

de tecido é suficiente para a criopreservação. A taxa de sucesso de nascidos vivos

após o reimplante é de aproximadamente 30% (MARINHO, R.M. et al., 2013).

Quando chega o momento desse tecido ser retransplantado, novas

preocupações surgem, principalmente pela possibilidade de ocorrer a reinserção de

células malignas de volta às pacientes após o tratamento oncológico. Entretanto,

Page 22: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

21

ainda não existe estudo na literatura que comprove a magnitude que isso pode

ocorrer. Por esse motivo, a ciência tem desenvolvido técnicas eficazes de identificar

células malignas nesses tecidos e minimizar a possibilidade disso ocorrer. Enquanto

isso, é considerado inviável o retransplante em pacientes com alta chances de

metástase ovariana (DEL-POZO-LÉRIDA, S. et al., 2019; MARINHO, R.M. et al.,

2013).

Figura 3: Criopreservação do Tecido Ovariano

Legenda: Ovário retirado completo; Separação de tecido; Tecido em placa pronto para ser

criopreservado. Após estarem congelados, os fragmentos de tecido ovariano podem permanecer

armazenados por tempo indeterminado. Fonte: DHMR, 2021.

3.2 Métodos de preservação da fertilidade em pessoas do sexo masculino

3.2.1 Crianças, adolescentes e adultos do sexo masculino

Nos homens, o início da produção de espermatozóides começa na puberdade

e é conhecido como espermarca. Diferentemente da mulher, a partir do momento da

espermarca, a espermatogênese é mantida durante toda a vida do homem, por

conta da espermatogônia tipo A, entre outros fatores (TOURNAYE, H. et al., 2014).

As células-tronco testiculares se diferenciam em espermatogônias, que

eventualmente se tornarão espermatozóides durante o processo de

espermatogênese. A espermatogônia nos testículos é extremamente sensível à

radiação, independentemente da idade. As células de Leydig, por outro lado, são

mais sensíveis à radiação antes do início da puberdade, enquanto na idade adulta

tornam-se mais resistentes à radiação. Consequentemente, os pacientes adultos

podem preservar a função das células de Leydig e a produção de testosterona após

Page 23: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

22

a radioterapia, apesar de serem azoospérmicos (espermatozóides ausentes na

ejaculação). Além disso, se uma população de Células-tronco Espermatogoniais

(SSCs) permanecer após o tratamento do câncer, como o efeito é dose-dependente,

a regeneração dos espermatozóides pode continuar por anos (RODRIGUEZ-

WALLBERG, K.A. et al., 2014). Aqueles com maior risco de desenvolver esterilidade

permanente são crianças e adolescentes com câncer testicular, leucemia e sarcoma

de Ewing (DEL-POZO-LÉRIDA, S. et al., 2019).

O efeito da quimioterapia na fertilidade do homem depende diretamente do

agente empregado no tratamento e na dosagem determinada (WAXMAN, J., 1983).

O epitélio germinativo é extremamente sensível a determinadas classes de

quimioterápicos, que levam a dano direto ao DNA e RNA (Ácido Ribonucleico),

assim como a indução de apoptose (HSIAO, W. et al., 2011). As células de Leydig

parecem ser menos sensíveis aos efeitos dos quimioterápicos, embora as elevações

de LH (Hormônio Luteinizante) sejam detectadas em até 90% dos homens com

linfoma de Hodgkin tratados com quimioterapia sistêmica (HEIKENS, J. et al., 1996;

BRÄMSWIG, J.H. et al., 1990).

A radioterapia em pacientes do sexo masculino, assim como é observado na

quimioterapia, as células da linha germinativa masculina, são bastante sensíveis aos

efeitos da radiação e os efeitos da radiação vão depender da dose, idade do

paciente e campo de irradiação (SUDOUR, H. et al., 2010; VALLA, J.S. et al., 2001).

Doses de radiação maiores do que 1,2 Gy podem levar a oligospermia transitória e

doses superiores a 4 Gy podem mesmo levar a alterações permanentes na

espermatogênese. Estas doses são consideradas pequenas, mas crianças recebem

doses muito superiores durante o tratamento oncológico que variam entre 12 Gy e

24 Gy (VALLA, J.S. et al., 2001).

A abordagem cirúrgica muitas vezes pode levar a infertilidade também,

principalmente quando falamos em tumores que envolvam a região gonadal ou

tumores cerebrais que lesem o eixo hipotálamo-hipófise. Nos tumores testiculares, o

tratamento na sua maioria consiste em orquiectomia condicionando a fertilidade

destas crianças (CHENG, B.S. et al., 1984). A excisão de tumores cerebrais que

envolvam a região hipofisária ou que estejam na sua proximidade, pode levar a

alterações da secreção hormonal de GnRH levando a um Hipogonadismo

Page 24: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

23

Iatrogénico. Outra possibilidade de induzir infertilidade de forma indireta são as

quimioterapias com potencial dano da função sexual, as quais apresentam

compostos cujas dose afetam a espermatogênese, como é o caso da Ciclofosfamida

7g/m2 Ifosfamida 42-60 mg g/m2 BCNU e CCNU 1mg/m2 e 500 mg/m2 Clorambucil

1,4 mg/m2 Busulfan 600mg/m2 Procarbazina 4g/m2 Cisplatina 500 mg/m2 5

ejaculação (por exemplo a linfadenectomia retroperitoneal para tratamento do tumor

do testículo) ou com a ereção (por exemplo as cirurgias da cavidade pélvica)

(FERREIRA, M.P.P., 2020; CHENG, B.S. et al., 1984).

3.2.2 Criopreservação do Sêmen

A criopreservação do sêmen ejaculado é a técnica de preservação da

fertilidade recomendada para homens adultos e meninos púberes produtores de

sêmen na ejaculação, que estão em tratamento gonadotóxico (FU, L.-L. et al., 2017).

Essa técnica tem demonstrado muita eficácia na preservação da fertilidade.

Para pacientes que recebem apenas radioterapia, a proteção gonadal pode

ser uma opção se a coleta de sêmen não for possível. Por meio de masturbação é

possível montar um banco de sêmen de jovens a partir dos 12 anos e adultos em

tratamento oncológico, para que futuras fertilizações possam vir a ser utilizadas em

tecnologia de reprodução assistida (CAVALCANTE, M.B. et al., 2006).

O procedimento inclui a coleta de pelo menos 3 amostras de sêmen, com um

período de abstinência de pelo menos 48 horas. Caso ocorra alguma falha, que não

apresentem material de qualidade durante a masturbação, como por exemplo a

ausência de espermatozóides, é possível utilizar outras técnicas de extração, como

a aspiração do esperma testicular por meio de agulha grossa dos túbulos

seminíferos, extração de espermatozóide testicular (TESE), eletro-ejaculação,

remoção de túbulos seminíferos com os espermatozoides em seu interior ou sua

extração direto no epidídimo, local onde ocorre sua maturação, a qual poderá ser

percutânea (PESA) ou através de microcirurgia (MESA) utilizando agulha fina

(BRÄMSWIG, J.H. et al., 1990; CHENG, B.S. et al., 1984; FU, L.-L. et al., 2017).

Após a obtenção do sêmen, elas vão para um banco onde são criopreservados. A

criopreservação tem como principal objetivo manter a integridade estrutural e a

viabilidade celular após submeter essas células a baixas temperaturas. Esse

Page 25: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

24

processo pode produzir danos celulares conhecidos como crioinjúrias, que afetam a

qualidade estrutural e funcional dos espermatozóides, por isso a velocidade e meios

de crioprotetores adicionados durante o resfriamento das amostras de sêmen

humano é um fator determinante na preservação da qualidade espermática (FU, L.-

L. et al., 2017; CAVALCANTE, M.B. et al., 2006).

3.2.3 Transposição testicular

Consiste em deslocar o testículo sadio, livre de células tumorais, para que o

paciente receba tratamento de radioterapia local. A técnica não é muito utilizada e

foi descrita pela primeira vez em paciente com Rabdomiossarcoma Paratesticular

Esquerdo, onde foi realizada a orquiectomia esquerda com posterior tratamento

com radiação. A fim de evitar danos ao testículo sadio, foi realizada a transposição

para a coxa direita. No fim de todo tratamento de radiação, esse testículo pôde ser

recolocado no escroto (PACEY, A.A., et al., 2011).

3.2.4 Criopreservação de Tecido Testicular

Meninos pré-púberes não podem se beneficiar dos bancos de sêmen. Por

isso, uma possível estratégia alternativa para preservar sua fertilidade envolve o

armazenamento de gametas imaturos e células-tronco gonadais, sendo nesse caso

indicada a criopreservação do tecido testicular. Isso porque o tipo de câncer mais

comum que ataca os testículos jovens é o tumor das células germinativas, que leva

à infertilidade.

Essa criopreservação também pode ser realizada de forma lenta por meio da

redução gradual de temperatura, associada a baixas concentrações de agentes

crioprotetores, o que apresenta a vantagem da baixa toxicidade de tais substâncias

(CAVALCANTE, M.B. et al., 2006; WYNS, C. et al., 2010). Contudo, sua capacidade

para prevenir a formação de cristais de gelo nestas concentrações nos tecidos torna-

se limitada, já a vitrificação lenta, devido à sua praticidade e baixo custo, é mais

indicada. Nela são utilizadas rápidas taxas de congelamento (20.000 a

40.000°C/min, associadas a altas concentrações de crioprotetores para promover o

aumento da viscosidade, visando inibir a união de moléculas de água que poderiam

formar os cristais de gelo. Assim, o estado vitrificado consiste em um sistema

Page 26: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

25

amorfo, que carece de estrutura organizada, mas possui as propriedades mecânicas

e físicas de um sólido. Porém, essa técnica tem sido experimental e ainda não

testada em tecidos testiculares humanos. Alguns relatos mencionam testes em

camundongos, gatos e cães. Após o descongelamento do seu tecido testicular, é

realizada a indução da espermatogênese in vitro, demonstrado sucesso somente em

camundongos neonatos (CAVALCANTE, M.B. et al., 2006; WYNS, C. et al., 2010;

ORWIG, K.E. et al., 2005; ZAVRAS, N. et al., 2016).

Figura 4: Risco de Infertilidade após Tratamento de Tumores Comuns na

Infância e na Adolescência

Legenda: Crianças e adolescentes correm riscos de infertilidade mesmo após tratamento

oncológico, isso porque grandes números de tumores estão associados aos altos riscos. Fonte:

Adaptado de WALLACE et al., 2005.

Page 27: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

26

3.3 Métodos para construção familiar alternativa de ambos os sexos

3.3.1 Doação de gametas reprodutivos

Devido aos avanços na criotecnologia e assistência reprodutiva em humanos,

os gametas podem ser armazenados por vários anos para preservar o potencial

reprodutivo para uso pessoal, uso futuro ou doado a terceiros.

3.3.2 Doação de óvulos

No caso de uma mulher não poder mais produzir óvulos ou não ter óvulos

viáveis, ela pode optar por usar oócitos doados por outra mulher. A doação de

oócitos começou por volta do início dos anos 80 e a primeira gravidez de óvulo

doado ocorreu em 1984 (GOLOMBOK, S. et al.,2012). Antes desta técnica, a

doação de embriões congelados era a única possível opção para uma mulher estéril

de engravidar. A seleção de uma doadora de oócitos é deixada principalmente para

o indivíduo, dupla ou casal que receberá o oócito. Desde o final dos anos 1980 e

continuando até hoje, a pesquisa sobre a seleção de doadores de oócitos enfatiza a

necessidade de consideração médica e psicossocial ao escolher um doador

(GOLOMBOK, S. et al.,2012; SCHENKER J.G., 1988).

Existem algumas preocupações éticas com o uso da doação de oócitos, como

a capacidade de anonimato das doadoras e a não comercialização dos oócitos pelas

doadoras com clínicas de Reprodução Humana Assistida (RHA). Em 1990, a

American Fertility Sociedade (AFS) negou explicitamente a remuneração às

doadoras, mas atualmente é oferecida compensação pela doação (SEIBEL, M.M. et

al., 1993). O Comitê de Ética da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana

(SBRH) tem diretrizes para que não haja remuneração para doadoras de oócitos,

bem como a cautela para doadoras repetitivas. Mas, sabe-se que em alguns locais

do Brasil a compra e venda de oócitos é praticada ilegalmente (ASRM, 2007).

3.3.3 Doação de Sêmen

Homens que são estéreis ou que têm um histórico de doenças deletérias ou

mutações genéticas e não desejam passar a condição genética para a futura prole

tem a opção de usar sêmen de um doador para a gestação de sua parceira. O

sêmen de doação pode ser utilizado em métodos de baixa e alta complexibilidade,

Page 28: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

27

sendo nesta ordem, a inseminação artificial, FIV Clássica e ICSI para conseguir a

gravidez.

O uso de doador de sêmen para suprir a infertilidade masculina ocorre desde

1884, após o primeiro uso de inseminação artificial pelo médico J. Marion Sims em

1866 (HOLLOWAY, A.D., 1957). A doação de sêmen possui várias vantagens, como

a capacidade de permitir que outros indivíduos tenham acesso a gametas para

superar um problema de infertilidade. Quando apresentado com limitações de tempo

e falta de privacidade, pacientes com câncer podem optar por usar sêmen doado de

um banco de sêmen.

3.3.4 Útero de Substituição (Barriga de Aluguel)

Útero de substituição, é quanto a mulher gesta uma criança que não é

geneticamente sua para um indivíduo ou casal que pretende ser os pais legais da

criança (ASRM, 2013). A doação temporária do útero, ou útero em substituição e

popularmente chamada de “barriga de aluguel” e é uma alternativa ideal para

pacientes com câncer do sexo feminino que se submeteram a histerectomias ou

radiação pélvica/abdominal, ou para qualquer mulher que não consiga carregar uma

gravidez. A gestação através do Útero de Substituição segue todo o passo de uma

FIV clássica e/ou ISCI, onde todo o processo ocorre fora do corpo, in vitro, para

posteriormente o embrião ser implantado no útero de substituição. A barriga de

aluguel levanta uma série de questões éticas para os direitos da genitora, incluindo o

pagamento pelo serviço, acesso a tratamento médico, psicológico, apoio e

consentimento informado.

3.3.5 Adoção de embrião

Adoção de embriões é o processo que pode ser feito individualmente ou em

casal usando um embrião excedente congelado de casais que não desejam mais ter

filhos; o embrião que seria então descartado é implantado no útero da mulher

receptora. Este processo também foi descrito como parto do seu filho adotivo.

Adoção de embriões pode ser do interesse dos sobreviventes do câncer que

querem a vivência da gravidez e do parto, mas são incapazes de conceber

tradicionalmente. Casais que possuem mutações genéticas deletérias também

Page 29: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

28

podem apresentar interesse na adoção de embriões, tendo em vista o histórico dos

pais biológicos não apresentarem mutações ou doenças recessivas. Existem alguns

benefícios para a adoção de embriões em relação à adoção tradicional: não há

perigo de que a mãe biológica mude de ideia, além das taxas altas e longos

períodos de espera associados à adoção internacional ou privada. Há

aproximadamente uma taxa de sucesso de 40% com a adoção de embriões para

produzir um nascimento vivo (GOEDEKE, S. et al., 2015). Pais adotivos em potencial

muitas vezes se preocupam que as crianças nascidas de embriões congelados

correm um risco maior de defeitos genéticos. Estudos têm mostrado que crianças

nascidas de criopreservação de embriões excedentes doados não apresentam

defeitos de nascença em qualquer ponto superior à taxa das crianças concebidas

naturalmente (KAWWASS, J.F et al., 2016).

3.3.6 Adoção tradicional

A adoção é uma alternativa para a paternidade para todos,

independentemente de um diagnóstico de câncer. Alguns indivíduos e casais

preferem a adoção tradicional a ter seu próprio filho genético, por uma série de

razões e esta tendência está em ascensão (BACCARA, M. et al., 2014).

A adoção é uma opção viável para sobreviventes do câncer que não têm a

oportunidade de preservar gametas ou são candidatos que a muito estão na fila de

espera para o tratamento pelo SUS e podem optar por adotar uma criança ao ter

que se submeter ao tratamento com procedimentos invasivos ou após tentativas

fracassadas de utilizar a Reprodução Assistida.

Um estudo recente de Quinn et al. avaliando um treinamento programa

nacional para enfermeiras oncológicas identificou que a adoção pode ser

desafiadora para sobreviventes de câncer e eles podem enfrentar obstáculos não

experimentados por aqueles sem histórico de câncer (QUINN, G.P. et al., 2015). Os

autores afirmam que não há evidências que sugiram que um sobrevivente de câncer

ou um pai com qualquer tipo de deficiência é menos capaz do que qualquer um

indivíduo sem uma condição de saúde incapacitante ou história de câncer para criar

os filhos de uma forma amorosa, cuidadosa e maneira de proteção (QUINN, G.P. et

al., 2015).

Page 30: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

29

3.4 Legislações aplicáveis aos métodos

No Brasil não existe uma legislação específica para cada tipo de método.

Entretanto, a Constituição Federal de 1988 menciona a adoção de filhos

relacionados ou não à relação de casamento, os quais terão os mesmos direitos e

qualificações dos filhos naturais (Constituição Federal, 1988). Todavia, há relativa

acessibilidade às práticas de RHA, e do consolidado avanço científico nacional

regulado por resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM), como, por

exemplo, as Resoluções 1.358/92, 1957/2010 e 2.013/13 (já revogadas) e a mais

atual, Resolução 2.121/2015. A Lei nº 11.105/2005, também conhecida como Lei de

Biossegurança, ainda que amplamente discutida quando se fala em manipulação

genética e ética científica, as situações onde ocorrem gratificações ou qualquer

incentivo que subsidie a realização de alguns dos métodos, como por exemplo o

útero em substituição, vem sendo praticados à margem da lei.

Page 31: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

30

4. DISCUSSÃO

A revisão da literatura realizada resultou no levantamento de diversas

técnicas que podem preservar a fertilidade dos homens ou das mulheres que foram

acometidos com câncer ou submetidos a tratamentos como a quimioterapia e a

radioterapia. Isso porque diversos fármacos utilizados nestes tratamentos, como os

da classe alquilante, são capazes de causar diversos danos nos tecidos reprodutivos

de forma secundária ao seu objetivo antineoplásico (MALTARIS, T. et al., 2006;

MEIROW, D., 2000). No caso da radioterapia, os níveis de radiação necessários

para atuar contra as células malignas são superiores aos níveis máximos suportados

pelas células reprodutivas, por isso, são capazes de gerar degeneração no material

genético das células envolvidas na produção dos componentes relacionados à

reprodução, sendo estes componentes células como os oócitos e espermatozóides

ou hormônios e substâncias que participam pro processo de geração e

desenvolvimento de um bebê, mesmo que estejam recebendo a radiação de forma

indireta, como nos casos de tratar órgãos próximos às gônadas ou o eixo

hipotálamo-hipófise (VALLA, J.S. et al., 2001; CHENG, B.S. et al., 1984). Além

disso, há um consenso entre os textos revisados de que o nível de lesão ou risco de

infertilidade após serem submetidos aos tratamentos possui grande variação de

acordo com o indivíduo, tal como sua idade ou do tipo de câncer, tipo e intensidade

do tratamento administrado, seja através de intervenção cirúrgica, quimioterapia ou

radioterapia, possibilidade de metástases, sensibilidade à alterações hormonais

além de diversos outros fatores (MAXMAN, J. et al., 1983; IMBERT, R. et al., 2014;

KOVACS, P., 2014). Essas diversas variáveis também são relevantes no momento

de escolher a técnica que melhor se aplica para a possibilidade do indivíduo ter um

filho.

Dentre as técnicas mencionadas, as diferentes criopreservações, tanto de

tecidos femininos quanto masculinos têm sido cada vez mais utilizadas e o método

de congelamento e extração varia de acordo com o material que está sendo

manipulado. Nas mulheres, o número limitado de oócitos primordiais e a dificuldade

de acesso às gônadas (por serem situadas internamente ao corpo) implica em

possibilidades diversas. Por exemplo, a criopreservação do oócito se apresenta

como uma técnica bastante comum uma vez que pode ser aspirado sem intervenção

cirúrgica ou remoção de órgãos, ao contrário da criopreservação do tecido ovariano

Page 32: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

31

que requer a retirada do ovário ou de parte dele para ser congelado antes do início

do tratamento oncológico. Enquanto a preservação do oócito requer aguardar o

período de maturação das células para que sejam aspirados materiais viáveis, a

retirada de tecido ovariano poderá ser feita de maneira instantânea e sem interferir

na dinâmica hormonal dos indivíduos, o que pode ser muito danoso nos casos de

doenças hormônio-dependentes (DONNEZ, J. et al., 201; DEL-POZO-LÉRIDA, S. et

al., 2019). Também podem ser realizadas as técnicas de criopreservação de

embriões ou de transposição ovariana no caso das mulheres, em que ambas as

técnicas apresentam suas peculiaridades em relação à indicações e

contraindicações, sendo que na criopreservação de embriões também ocorrem

variações hormonais para promover o crescimento multifolicular, necessitando de

um período até a data ideal para a extração do material e a transposição que, assim

como a preservação do tecido ovariano, pode ser feita de forma mais imediata, uma

vez que consiste em isolar ou proteger o ovário da região onde será realizada a

radioterapia localizada. Entretanto, é importante salientar que a idade das mulheres

tem importante papel na escolha da técnica, uma vez que podem ocorrer outras

situações, como por exemplo a alta chance das mulheres com mais de 40 anos

sofrerem falência ovariana após a transposição (CAKMAK, H. et al., 2013; SILVA,

A.C.J.S.R., 2006). Por isso é importante avaliar cada caso de forma isolada junto

aos profissionais que estiverem acompanhando o processo oncológico e de

fertilidade.

Nas gônadas dos homens, apesar de se tratar de tecidos e células totalmente

distintas das femininas, as técnicas podem se mostrar bastante similares com

métodos de extração distintos. Por exemplo, a criopreservação do sêmen, assim

como a criopreservação dos oócitos serão usados para a fertilização assistida in

vitro, cuja técnica prevê a importância de se manter a qualidade estrutural e

funcional do material. A criopreservação do tecido testicular é indicada para

preservar a fertilidade de meninos pré-púberes que ainda não é possível realizar a

coleta de sêmen. A transposição testicular também é recomendada para alguns

casos quando for realizado tratamento utilizando a radiação localizada, onde os

testículos são transpostos para a coxa do paciente (CHENG, B.S. et al., 1984;

CAVALCANTE, M.B. et al., 2006; PACEY, A.A., et al., 2011).

Page 33: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

32

Apesar de haver muitos estudos sobre as técnicas de preservação dos

oócitos e espermatozóides, quando ocorrem alguns tipos de cânceres que

acometem diretamente os órgãos responsáveis pela fertilidade ou quando há grande

risco de haver células malignas nos tecidos preservados, essas técnicas não são

viáveis. Por isso, levantamos também a possibilidade de construção familiar quando

existe infertilidade em ambos os sexos ou quando não é possível gerar o bebê

(Histerectomia ou síndromes que causam abortos espontâneos). Para isso, a

doação de gametas (feminino e masculino), adoção de embrião, utilização de útero

de substituição e a tradicional adoção de um filho concebido por outro casal são

opções viáveis (GOLOMBOK, S. et al.,2012; HOLLOWAY, A.D., 1957; KAWWASS,

J.F et al., 2016). Entretanto, as doações e adoções podem acabar originando

gratificações ou transações comerciais que ferem a ética. A ausência de legislações

específicas para essas técnicas possibilitam que tais práticas ocorram e, por isso,

apesar de haver legislações que aprovem a adoção e que trata da biossegurança, é

necessário que o CFM ou outros órgãos atualizem a Lei para a abordagem da

criopreservação e demais metodologias alternativas para manter a fertilidade dos

pacientes oncológicos ou possibilitar a geração de filhos saudáveis de forma a

assegurar os pais (biológicos ou não) e o embrião em respeito à vida e à saúde dos

envolvidos de forma ética e regulamentada.

Page 34: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

33

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O diagnóstico de câncer abala sobremaneira a qualidade de vida de quem o

recebe, ao adiar planos, alterar o cotidiano, comprometer a saúde, trazer consigo os

efeitos adversos do tratamento e, inevitavelmente, ameaçar a longevidade. O futuro

reprodutivo é comprometido em boa parte dos casos, por efeito deletério dos

quimioterápicos e da radiação sobre a função ovariana. Infelizmente, não existem

fórmulas para determinar individualmente a ocorrência ou o impacto da agressão de

determinado esquema terapêutico, ou mesmo se o dano eventual será transitório ou

definitivo. Mas é preciso levar ao conhecimento da paciente a possibilidade da

infertilidade iatrogênica e a existência de estratégias que possam permitir a

maternidade genética na sobrevida. Como foi sugerido na criação da disciplina

oncofertilidade, espera-se que ela assuma papel modificador da cultura médica no

futuro breve e que seja inovadora ao consolidar a perspectiva da procriação como

fator de qualidade da sobrevida ao câncer. Por fim, é imperativo registrar que a

preservação de fertilidade por motivo de saúde não está restrita aos indivíduos com

câncer; também pode ser indicada diante de situações cujos tratamentos possam

agredir irreversivelmente os órgão reprodutores, como as doenças autoimunes;

doenças de caráter progressivo, que podem reduzir o potencial reprodutivo com o

passar dos anos.

A qualidade de vida em longo prazo deve ser sempre considerada, pois cada

vez mais aumentam as taxas e o tempo de sobrevida destes pacientes,

evidenciando as repercussões tardias, que na maioria das vezes são relegadas a

um segundo plano no momento do diagnóstico da doença de base.

Atualmente, poucas são as técnicas que podem ser oferecidas de maneira

concreta para estes pacientes, porém mesmo as técnicas em fase de

experimentação devem estar disponíveis. O tecido ou célula congelado hoje,

somente terá sua utilidade depois de vários anos, após um período de segurança

livre da doença. Provavelmente durante este período irão ocorrer avanços na

qualidade técnica dos procedimentos, com aumento das taxas de sucesso.

Entretanto, se não houver material criopreservado e a falência da gônada já estiver

instituída, só será possível oferecer ou a reposição hormonal ou a doação de

gametas.

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É compreensível que o foco principal seja a terapia oncológica, mas a

possibilidade de oferecer uma opção preventiva de infertilidade futura precisa ser

lembrada, para que o paciente tenha a liberdade de escolher, sabendo quais são

seus riscos e suas opções. Por isso, é essencial que outros estudos sejam feitos de

forma a fornecer mais dados sobre o sucesso das técnicas, apresentando dados

estatísticos acerca da sobrevivência dos embriões de forma saudável, além de

possíveis aprimoramentos das técnicas para maximizar a segurança e a eficácia das

metodologias oferecidas aos interessados.

Page 36: ONCOFERTILIDADE: PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM …

35

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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