preservação da fertilidade - estado da arte · medicina, em termos de diagnóstico ... também...

40
1 Mestrado Integrado em Medicina 2014/2015 Preservação da Fertilidade - estado da arte Artigo de Revisão Bibliográfica Virgínia Patrícia Pestana Henriques

Upload: hakiet

Post on 06-Oct-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

Mestrado Integrado em Medicina

2014/2015

Preservação da Fertilidade -

estado da arte

Artigo de Revisão Bibliográfica

Virgínia Patrícia Pestana Henriques

2

Mestrado Integrado em Medicina

2014/2015

Preservação da Fertilidade -

estado da arte

Artigo de Revisão Bibliográfica

Virgínia Patrícia Pestana Henriques

Aluna do Mestrado Integrado em Medicina | 6º Ano Profissionalizante

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar | Universidade do Porto

Rua de Jorge Viterbo Ferreira n.o 228, 4050-313 Porto, Portugal

Dra. Cláudia Sofia Macário Lourenço

Professora Auxiliar da Unidade Curricular de Ginecologia do Instituto de Ciências Biomédicas

Abel Salazar

Assistente Hospitalar de Ginecologia/Obstetrícia

Centro Hospitalar do Porto | Centro Materno-Infantil do Norte

Largo do Professor Abel Salazar, 4099-001 Porto, Portugal

3

4

Agradecimentos

À minha orientadora, Dra. Cláudia Lourenço, pela sua colaboração e

compreensão.

À minha família, pelo seu apoio incondicional, em especial ao meu irmão,

Sérgio Henriques, pela ajuda na revisão deste trabalho.

A todos, um muito obrigada, pois sem a vossa colaboração a realização desta

tese de mestrado não seria possível.

5

Resumo

Introdução: A preservação da fertilidade consiste na utilização de determinadas

técnicas que possibilitam a manutenção da saúde reprodutiva, nos pacientes que

apresentam risco de declínio da fertilidade. Verifica-se um desenvolvimento crescente

nesta área, devido ao aumento da necessidade, em consequência do aumento da

incidência de neoplasias em jovens adultos e à necessidade de iniciar tratamentos

gonadotóxicos. A preservação da fertilidade apresenta grande importância para estes

pacientes.

Objetivo: Realizar uma revisão do estado da arte da preservação da fertilidade feminina

e masculina. Pretende-se focar nas recomendações existentes atualmente, em termos de

aconselhamento e opções disponíveis para os doentes, mostrando a importância desta

área na prática clínica.

Métodos: Elaboração de um artigo de revisão bibliográfica baseado na literatura

existente, presente no arquivo científico biomédico - pubmed.

Desenvolvimento: Várias condições causam declínio da fertilidade, no entanto, a

preservação da fertilidade está apenas indicada para pacientes com doença oncológica

e/ou que vão realizar tratamentos gonadotóxicos (quimioterapia, radioterapia, cirurgias)

e para doentes com determinados síndromes genéticos. Os procedimentos disponíveis

para as mulheres são: criopreservação de embriões, ovócitos e tecido ovárico;

ooforopexia; supressão da função ovárica e cirurgia ginecológica conservadora. Para os

homens, os procedimentos possíveis são: criopreservação de esperma e cirurgia

conservadora. Para crianças pré-púberes, as únicas opções são a criopreservação de

tecido ovárico e de tecido testicular.

Conclusão: As opções para preservação da fertilidade feminina, bem estabelecidas na

prática clínica, são a criopreservação de embriões e de ovócitos. Para preservação da

fertilidade masculina, a única técnica bem estabelecida é a criopreservação de esperma.

Para crianças pré-púberes não existem procedimentos bem estabelecidos, sendo que as

únicas técnicas disponíveis são a criopreservação de tecido ovárico e a criopreservação

de tecido testicular, que apresentam natureza experimental. É necessário continuar a

investigação nesta área, de forma a aumentar o sucesso das técnicas existentes e investir

nas técnicas promissoras.

6

Palavras-chave: preservação da fertilidade; declínio da fertilidade; criopreservação de

ovócitos; criopreservação de embriões; criopreservação de espermatozoides;

criopreservação de tecido ovárico; criopreservação de tecido testicular; tratamentos

gonadotóxicos; cancro e fertilidade.

7

Abstract

Introduction: Fertility preservation is the use of certain techniques that enable the

maintenance of reproductive health in patients who are at risk of fertility decline. There

is a growing development in this area due to the increased need as a result of increased

incidence of cancer in young adults and the need to start gonadotoxic treatments.

Preserving fertility has great importance for these patients.

Ojective: To review the state of the art of preserving male and female fertility. It is

intended to focus on the latest existing recommendations, in terms of advice and options

available to patients, showing the importance of this area in clinical practice.

Methods: Elaboration of a literature review article based on existing literature, obtained

from the scientific biomedical archive - pubmed.

Discussion: Several conditions can cause fertility decline, however, fertility

preservation is only indicated for patients with oncological disease and/or will perform

gonadotoxic treatments (chemotherapy, radiotherapy, surgery) and patients with certain

genetic syndromes. The procedures available to women are: cryopreservation of

embryos, oocytes and ovarian tissue; ooforopexia; suppression of ovarian function and

conservative gynecological surgery. For men, the available procedures are: sperm

cryopreservation and conservative surgery. For prepubertal children the only options are

the cryopreservation of ovarian and testicular tissue.

Conclusion: The established options in clinical practice for preserving female fertility

are the cryopreservation of embryos and oocytes. To preserve male fertility, the only

well-established technique is sperm cryopreservation. For prepubertal children there are

no established procedures, except experimental techniques like the cryopreservation of

ovarian tissue and cryopreservation of testicular tissue. It is necessary to continue

research in this area in order to increase the success of existing techniques and investing

in promising techniques.

Keywords: fertility preservation; fertility decline; oocyte cryopreservation; embryo

cryopreservation; sperm cryopreservation; ovarian tissue preservation; testicular tissue

cryopreservation; gonadotoxic therapies; cancer and fertility.

8

ÍNDICE

Lista de abreviaturas ..................................................................................................................... 9

Introdução ................................................................................................................................... 10

Métodos ....................................................................................................................................... 12

Condições que resultam em declínio da função reprodutiva ....................................................... 13

Doença oncológica e tratamentos gonadotóxicos ....................................................................... 13

Efeitos da quimioterapia no sistema reprodutivo feminino ..................................................... 13

Efeitos da quimioterapia no sistema reprodutivo masculino ................................................... 14

Efeitos da radioterapia no sistema reprodutivo feminino ........................................................ 14

Efeitos da radioterapia no sistema reprodutivo masculino ...................................................... 15

Tratamento cirúrgico ............................................................................................................... 15

Doenças autoimunitárias e síndromes genéticos ......................................................................... 16

Declínio da fertilidade relacionado com a idade ......................................................................... 16

Aconselhamento para preservação da fertilidade ........................................................................ 18

Opções para preservação da fertilidade feminina ........................................................................ 20

Criopreservação de embriões .................................................................................................. 20

Criopreservação de ovócitos ................................................................................................... 21

Transposição ovárica (ooforopexia) ........................................................................................ 23

Supressão da função ovárica ................................................................................................... 24

Cirurgia ginecológica conservadora ........................................................................................ 25

Criopreservação de tecido ovárico .......................................................................................... 26

Criopreservação de tecido cortical ovárico ......................................................................... 26

Criopreservação do ovário inteiro ....................................................................................... 27

Opções para preservação da fertilidade masculina ...................................................................... 28

Criopreservação de esperma.................................................................................................... 28

Supressão hormonal testicular ................................................................................................. 29

Cirurgia conservadora ............................................................................................................. 29

Opções para crianças pré-púberes ............................................................................................... 31

Conclusão .................................................................................................................................... 32

Referências bibliográficas ........................................................................................................... 33

9

Lista de abreviaturas

ADN - Ácido desoxirribonucleico

ASCO - American Society of Clinical Oncoloy

ASRM - American Society for Reproductive Medicine

CMT - Contagem de motilidade total

COI - Criopreservação do ovário inteiro

CTCO - Criopreservação de tecido cortical ovárico

EOC - Estimulação ovárica controlada

ESMO - European Society of Medical Oncology

EUA - Estados Unidos da América

FIV - Fertilização in vitro

FOP - Falência ovárica prematura

FSH - Hormona folículo-estimulante

GnRHa - Agonistas da hormona libertadora de gonadotrofinas

HCG - Gonadotrofina coriónica humana

ICSI - Injeção intracitoplasmática de espermatozoides

IUI - Inseminação intra-uterina

MIV - Maturação in vitro

NCCN - National Comprehensive Cancer Network

10

Introdução

A preservação da fertilidade é definida como a utilização de determinadas

técnicas que possibilitam que homens, mulheres e crianças mantenham a sua saúde

reprodutiva, em situações em que existe risco de diminuição da fertilidade (4).

A preservação da fertilidade está indicada para pacientes que apresentam

condições clínicas que acarretam risco de declínio da fertilidade e estão publicadas

várias guidelines com recomendações nesse sentido (2,6,7,19,20). Os pacientes com

doença oncológica, que recebem tratamento com efeito gonadotóxico, constituem a

grande maioria que beneficia destas técnicas e por isso esta população terá uma maior

abordagem neste trabalho. Os pacientes com doenças auto-imunitárias e síndromes

genéticos em que se verifique um declínio da função reprodutiva, também têm

indicação para realizar preservação da fertilidade (1,2,4,5,6). Apesar das técnicas terem

sido desenvolvidas para doentes em risco de infertilidade, atualmente tem surgido

interesse por parte das pacientes que apresentam declínio da fertilidade relacionado com

a idade (4,5).

Atualmente, existem vários métodos de preservação da fertilidade bem

estabelecidos na prática clínica e outros que ainda são experimentais, sendo esta uma

área em constante investigação nos centros especializados em reprodução medicamente

assistida (1,2,6,7). Nos últimos anos tem-se verificado um desenvolvimento crescente

nas técnicas utilizadas, visto que a necessidade de preservar a fertilidade tem

aumentado. O aumento da incidência de neoplasias em jovens adultos em idade

reprodutiva e a necessidade de iniciar tratamentos com efeito gonadotóxico, como

quimioterapia e radioterapia, são as principais causas do crescente desenvolvimento

destas técnicas (4,5). Só nos EUA, 100.000 indivíduos com idade inferior a 45 anos são

diagnosticados, anualmente, com neoplasia maligna (6). Com os avanços na

medicina, em termos de diagnóstico e tratamento de neoplasias, houve um aumento

considerável na sobrevivência destes doentes, o que expandiu o interesse em

desenvolver opções para melhorar a sua qualidade de vida a nível da saúde reprodutiva

(1,2,4,5,6). Estima-se que 70 a 75% dos jovens adultos que sobreviveram a uma

neoplasia, e que se encontram impossibilitados de constituir família, devido aos

tratamentos tóxicos a que se submeteram, revelaram que gostariam de ter sido

aconselhados quanto às opções disponíveis para a preservação da fertilidade (6,11).

11

Portanto, a questão da preservação da fertilidade é um assunto que, segundo a evidência

corrente, tem todo o interesse em ser discutido com estes doentes (2,4,5,11).

O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica da literatura

existente, no âmbito do estado da arte da preservação da fertilidade feminina e

masculina. Pretende-se mostrar qual é a importância da preservação da fertilidade na

prática clínica, caraterizando quais as condições clínicas dos pacientes que têm

indicação para a realizar. Propõe-se focar nas recomendações que existem atualmente,

em termos de aconselhamento e em termos de opções para preservação da fertilidade

disponíveis, dando a conhecer os métodos bem estabelecidos na prática clínica e

também aqueles de caráter experimental, mas que são promissores.

12

Métodos

Com base no arquivo científico biomédico - Pubmed foram investigados artigos

de estudos primários, revisões sistemáticas e metaanálises, utilizando os seguintes

conceitos chave: "fertility preservation", "guidelines fertility preservation", "oocyte

cryopreservation", "embryo cryopreservation", "sperm cryopreservation", "ovarian

tissue preservation", "testicular tissue cryopreservation", "gonadotoxic therapies",

"cancer and fertility", "fertility preservation in cancer patients" e "fertility decline".

Da literatura encontrada foram triadas as publicações escritas na língua

portuguesa e inglesa. Após leitura integral de alguns artigos e de alguns resumos foram

escolhidas as publicações com maior interesse. Foi incluida bibliografia adicional

conforme necessidade de estudar os artigos primários referidos nas revisões e nas

metaanálises, num total de 90 referências bibliográficas.

13

Condições que resultam em declínio da

função reprodutiva

Doença oncológica e tratamentos gonadotóxicos

A principal causa da diminuição da fertilidade nos jovens adultos em idade

reprodutiva é iatrogénica, sendo os principais responsáveis os tratamentos

gonadotóxicos realizados em pacientes com doença oncológica (4,16). A neoplasia, bem

como os tratamentos associados- quimioterapia e radioterapia- resultam numa

diminuição da função reprodutiva no sexo feminino e masculino (1,2,4-6). A neoplasia,

por si só, raramente é causa direta de infertilidade. A quimioterapia, a radioterapia e a

remoção cirúrgica de órgãos reprodutivos são os fatores mais determinantes de

infertilidade nos pacientes que sobrevivem a um cancro. A infertilidade pode afetar até

80% destes indivíduos, como resultado dos tratamentos gonadotóxicos (11).

Efeitos da quimioterapia no sistema reprodutivo feminino

A maioria dos agentes quimioterápicos atuam afetando o ciclo de divisão celular

e dessa forma, são afetados os ovócitos que entram na fase de maturação. Este

mecanismo explica a cessação da menstruação nas mulheres pós-púberes durante e logo

após a quimioterapia, e também a disrupção nos níveis das hormonas reprodutivas (12).

Os agentes alquilantes são os fármacos de maior toxicidade para os ovários,

tendo um risco alto de menopausa precoce e infertilidade devido à FOP (1,5,11,12). O

seu mecanismo de ação não é completamente conhecido, mas podem lesar os ovócitos

em fase de maturação assim como os ovócitos quiescentes imaturos, causando depleção

do pool de folículos ováricos (12,13). De entre os agentes alquilantes, a ciclofosfamida

é o que apresenta maior toxicidade (1,5,12,13).

A extensão dos danos depende do fármaco utilizado, da dose, da idade da

paciente e da reserva ovárica (número de folículos primordiais existentes), e também da

duração do tratamento (1,6,12,13,14). A idade é um fator de risco de infertilidade

importante e bem conhecido, sendo que a reserva ovárica diminui com o avançar da

idade e o risco de FOP é maior (1,5,12,14). Mulheres com menos de 40 anos expostas a

14

quimioterapia têm um risco de FOP de 61%, aumentando para 95% numa mulher com

mais de 40 anos (4).

De um modo geral, estima-se que 1/3 das mulheres expostas a quimioterapia irão

desenvolver FOP (1).

Efeitos da quimioterapia no sistema reprodutivo masculino

A quimioterapia apresenta um efeito citotóxico, na medida em que prejudica o

processo de espermatogénese ao causar depleção do número de espermatogónias

(16,17). Nos meses que se seguem ao início da terapêutica, ocorre uma diminuição

progressiva na contagem de espermatozoides. Existe um risco aumentado de

oligospermia, que pode ser temporário, com recuperação posterior à interrupção da

quimioterapia, ou pode resultar em azoospermia causando infertilidade (15,16,17,18).

As células de Leydig, ao contrário das células germinativas produtoras de

espermatozoides, são mais resistentes aos fármacos gonadotóxicos (1,4,11,15). Assim, o

comprometimento da função sexual e do desenvolvimento pubertário é infrequente após

a quimioterapia, visto que continua a ser produzida testosterona (11,15,18).

Outro efeito da quimioterapia é a lesão do ADN dos espermatozoides, o que

pode aumentar o risco de infertilidade por diminuir a sua integridade (4,16). A

extensão do dano na espermatogénese e a possibilidade de recuperação dependem da

dose cumulativa e do tipo de fármaco utilizado, existindo uma relação direta dose-efeito

citotóxico. A idade do paciente, na altura do tratamento, não é prognóstica de

fertilidade. Uma criança pré-púbere não apresenta ainda espermatogénese, no entanto, a

quimioterapia tem, igualmente, um efeito negativo nas células germinativas (16). Os

agentes alquilantes são os fármacos de maior risco, sendo a ciclofosfamida o mais

tóxico (1,15,16,17).

Atualmente, a maioria dos regimes de quimioterapia são compostos por

múltiplos fármacos, aumentando a toxicidade através de um efeito sinérgico, mesmo

com doses baixas (15). Oligospermia e azoospermia ocorrem frequentemente nos 6

meses após o inicio da quimioterapia. É possível ocorrer recuperação para uma

contagem normal de espermatozoides, no entanto é necessário um período de 1 a 5 anos

após o término da terapêutica e depende do fármaco e da dose utilizada (16,17).

Efeitos da radioterapia no sistema reprodutivo feminino

A irradiação do abdómen e da cavidade pélvica aumentam o risco de FOP por

causarem depleção dos folículos ováricos. O grau de lesão depende da dose da radiação,

15

do campo de irradiação, da idade da paciente e da sua reserva ovárica (4,5,6,11,19). A

irradiação total do corpo e a irradiação direta dos ovários apresentam um risco maior em

relação a outros campos de irradiação. A dose total de radiação necessária para causar

esterilização é 18,4Gy aos 10 anos, 16,5Gy aos 20 anos e 14,3Gy aos 30 anos

(1,12,13,14). No entanto, estima-se que uma dose de 2Gy pode reduzir o pool de

ovócitos para metade, visto estes serem extremamente sensíveis à radiação (1,5,12,14).

Doses elevadas de radiação, além de diminuírem a reserva ovárica, causam

também lesões na musculatura uterina e estruturas vasculares, o que limita a capacidade

do útero de levar uma gravidez a termo (11,12,14,19).

A irradiação do crânio com doses elevadas também aumenta o risco de

infertilidade, visto que afeta o eixo hipotálamo-hipófise-ovários, o que aumenta o risco

de infertilidade por um mecanismo gonadotóxico indireto (1,4,11,12).

Efeitos da radioterapia no sistema reprodutivo masculino

A espermatogénese é prejudicada através da irradiação direta dos testículos,

sendo as espermatogónias as células mais sensíveis, destruídas por apoptose (16,17,18).

A radioterapia, mesmo em doses baixas fracionadas, causa depleção na contagem dos

espermatozoides, um processo que decorre 10 semanas após o início da terapia, sendo

que a azoospermia não ocorre, normalmente, antes das 18 semanas (17). O efeito tóxico

sobre os testículos depende da dose de radiação e do campo de irradiação, existindo um

risco elevado de infertilidade na irradiação corporal total (4,17,19).

A recuperação para níveis normais de espermatozoides pode ocorrer nas

situações em que a dose de radiação administrada é baixa (4,16,17,18). Para uma dose

única de 1Gy a recuperação demora cerca de 2 anos e se as doses forem superiores

necessitará de mais tempo. A azoospermia permanente ocorre com a utilização de altas

doses de radioterapia, sendo que, perante uma irradiação única de 10Gy, apenas 15%

dos pacientes recupera a fertilidade (17). A gonadotoxicidade é mais elevada num

regime combinado de quimioterapia e radioterapia (1,4,6,17).

A irradiação do crânio com altas doses também aumenta o risco de infertilidade,

visto que altera o eixo hipotálamo-hipófise, causando mudanças nos níveis das

gonadotropinas (1,4,19).

Tratamento cirúrgico

A cirurgia é atualmente o tratamento mais eficaz para o doente com neoplasia,

visto que torna possível a recuperação através da remoção completa do tumor. No

16

entanto, a cirurgia oncológica pode ter um impacto negativo em termos de fertilidade

caso sejam removidos os órgãos reprodutivos ou sejam lesadas estruturas necessárias

para a reprodução (18).

Nas mulheres, para tratar uma lesão pré-maligna no colo do útero, mesmo em

estadio precoce, é necessário realizar uma conização. Esta intervenção pode diminuir a

fertilidade da paciente na medida em que afeta o normal funcionamento do colo do

útero (14,18).

No caso dos homens, a cirurgia para tratar neoplasia na próstata, bexiga ou cólon

pode lesar os respetivos nervos, afetando assim a ejaculação (18). A orquiectomia

unilateral, no cancro do testículo, reduz a concentração de espermatozoides no esperma,

diminuído assim a fertilidade. Doentes com cancro da próstata e que realizam

prostatectomia radical sofrem de disfunção erétil, que irá prejudicar a sua saúde

reprodutiva (4).

Doenças autoimunitárias e síndromes genéticos

Algumas doenças autoimunitárias e síndromes genéticas podem causar

diminuição da fertilidade.

Nas mulheres, a FOP ocorre na Síndrome de Turner, na Trissomia X e na

Síndrome do X frágil. Também verifica-se que 20% das pacientes com FOP apresenta

uma doença autoimunitária associada, como disfunção tiroideia, Síndrome de Addison,

Miastenia Gravis, Doença de Crohn, Lúpus Eritematoso Sistémico ou Artrite

Reumatoide (1,4,5,13).

Nos homens, a Síndrome de Klinefelter carateriza-se por hipogonadismo e

fertilidade reduzida, que tem início in útero e continua na infância e adolescência

(1,4,5,16).

A quimioterapia é também utilizada em pacientes com lúpus eritematoso

sistémico, síndromes mielodisplásicos e algumas doenças hematológicas, o que acarreta

um risco elevado de infertilidade (4,6).

Declínio da fertilidade relacionado com a idade

A idade é um risco de infertilidade bem reconhecido, tanto para a mulher como

para o homem.

17

Nas últimas 4 décadas, tem-se verificado uma tendência crescente, nos países

desenvolvidos, para adiar o nascimento do primeiro filho (3,4,21). Com o avançar da

idade, as mulheres apresentam um declínio na fertilidade, que principia após os 35 anos,

altura em que muitas decidem iniciar a maternidade (21). O efeito do envelhecimento

sobre a função reprodutiva reflete-se na perda progressiva do pool de folículos ováricos

e com o declínio da qualidade dos ovócitos, resultando por fim na menopausa (4,5,21).

Nos homens, a espermatogénese inicia-se a partir da puberdade e mantém-se ao

longo de toda a vida. No entanto, o avançar da idade também está associado a uma

redução na fertilidade, embora não tão marcada (4,5,16). Verifica-se uma depleção

gradual das células germinativas dos testículos, bem como, uma diminuição da

qualidade dos espermatozoides produzidos (5,16).

18

Aconselhamento para preservação da

fertilidade

O aconselhamento sobre preservação da fertilidade aos pacientes com doença

oncológica deve ocorrer o mais cedo possível, logo após o diagnóstico da neoplasia e

antes de iniciar qualquer tratamento com potencial efeito gonadotóxico (2,6,7,19,20).

Todos os pacientes devem ser informados, acerca do risco de infertilidade a que são

submetidos, ao realizar determinados tratamentos e que existem várias opções que

permitem preservar a fertilidade. Deve ser dado a conhecer as técnicas disponíveis, a

evidência científica existente, os potenciais riscos e benefício e deve ser tida em

consideração a preferência do paciente, de forma a ocorrer uma decisão informada e

partilhada. Os que manifestam interesse devem ser prontamente referenciados para um

médico especialista em medicina reprodutiva (2,6,7,19,20).

É requerida uma abordagem multidisciplinar, visto que cada caso clinico

apresenta variações no tipo de neoplasia, tempo disponível para adiar o tratamento

oncológico, tipo de tratamento gonadotóxico a realizar, bem como as caraterísticas

individuais do estado de saúde e da função reprodutiva de cada paciente (2,6,7,19,20).

Segundo as mais recentes guidelines da ASCO (2), o responsável pelo

aconselhamento é o prestador de cuidados de saúde, termo que engloba oncologistas,

ginecologistas, urologistas, hematologistas, oncologistas pediátricos, cirurgiões, bem

como enfermeiras, assistentes sociais e psicólogos.

No caso de crianças ou menores de idade, a questão do aconselhamento da

preservação da fertilidade segue os moldes atrás descritos, mas deve ser discutida

também com os pais ou com os responsáveis pela guarda legal e só poderá ser realizada

com o consentimento destes. Segundo as normas éticas e legais, pode ser realizada

preservação da fertilidade em menores de idade, desde que sirva os seus melhores

interesses (2,6,7,19,20).

Pacientes com síndromes genéticos que causam declínio da função reprodutiva e

pacientes com condições clinicas não oncológicas mas que irão receber tratamento

gonadotóxico, também têm indicação para receberem aconselhamento (1,4,5,6).

Para as pacientes com declínio da fertilidade relacionada com a idade não

existem, atualmente, recomendações específicas publicadas (2,10).

19

Por fim, é importante informar o paciente de que nenhum dos métodos

estabelecidos na prática clínica assegura, a 100%, a preservação da fertilidade. No

entanto, as opções disponíveis nesta área permitem que, no futuro, um paciente possa

beneficiar da possibilidade de construir uma família.

20

Opções para preservação da fertilidade

feminina

Criopreservação de embriões

A criopreservação de embriões é o método mais bem estabelecido na prática

clínica e o que apresenta maior taxa de sucesso, sendo a primeira opção recomendada

para mulheres pós-púberes (2,6,7,19,20).

A criopreservação consiste num arrefecimento das células e tecidos a

temperaturas abaixo dos 0ºC de modo a cessar toda a atividade biológica, permitindo

assim a sua preservação. Já é um processo utilizado por rotina, na preservação dos

embriões excedentes após FIV nos tratamentos de infertilidade, e tem sido um método

fiável desde 1984 (13,30). Esta técnica requer, tipicamente, um período de duas

semanas de EOC com injeções diárias de FSH, a partir do início da menstruação. O

desenvolvimento dos folículos é monitorizado através de ecografias seriadas e análises

sanguíneas, e na altura apropriada é administrada uma injeção de HCG para iniciar a

cascata ovulatória. Subsequentemente, os ovócitos são coletados por punção aspirativa

guiada por ecografia transvaginal, sob sedação endovenosa. É realizada a FIV e

posteriormente os embriões são, crio preservados para mais tarde serem implantados,

quando a mulher desejar engravidar (22).

A desvantagem é que este procedimento causa um atraso de 2 a 4 semanas para a

doente iniciar tratamentos gonadotóxicos, visto que a EOC necessita de 2 semanas e só

é principiada no início do ciclo menstrual (2).

Este procedimento está indicado para as pacientes com parceiro ou que não se

oponham à utilização de esperma de um dador, e que disponham de tempo para a

realizar antes de se submeterem a tratamentos com efeito gonadotóxico, visto que

algumas neoplasias necessitam de tratamento imediato (2,6,7,19,20). É de salientar que,

segundo a legislação, em Portugal não é permitida a utilização de esperma de dador para

a realização desta técnica (88,89).

A EOC tem como objetivo obter mais do que um oócito por ciclo e é um

componente chave para o sucesso da FIV, pois a taxa de nados-vivos após a

criopreservação de embriões depende, não só da idade da paciente, como também do

número total de embriões crio preservados (18,20,22). A informação disponível acerca

21

de taxas de sucesso desta técnica na população de pacientes com neoplasia é limitada,

sendo que para o aconselhamento é utilizada a informação disponível dos estudos

realizados na área da infertilidade em jovens saudáveis. A criopreservação de embriões

apresenta uma taxa de nados-vivos por transferência de um embrião de 38,7%, para

mulheres com idade inferior a 35 anos, e diminui a taxa de sucesso nas mulheres com

idades superiores (20).

Recentemente surgiram várias modificações no regime standard de EOC de

modo a que este seja mais adequado às doentes com neoplasia. Novos dados indicam

que, embora seja ideal estimular os ovários no prazo de 3 dias a contar do início do ciclo

menstrual, a EOC realizada em qualquer fase do ciclo menstrual também pode ser bem-

sucedida (2,20,24,25). Este é um avanço de grande importância, pois diminui o período

de tempo para a realização desta técnica e permite iniciar rapidamente os tratamentos

gonadotóxicos necessários.

Existem também novos regimes de EOC para as mulheres com cancro hormono-

sensível. Nestes casos é preocupante realizar o regime standard devido ao aumento do

nível de estradiol sérico que se verifica, visto que a exposição a níveis elevados de

estrogénio pode elevar o risco de agravamento do cancro (2,7,11,18). Têm sido

propostos protocolos alternativos, como a utilização de letrozol ou tamoxifeno,

concomitantemente com gonadotropinas, que pode ser tão eficaz como o método

standard, e é utilizado para preservação da fertilidade nos últimos onze anos, sendo

potencialmente seguro. Está indicado para pacientes com cancro com recetores de

estrogénios positivos, e deve ser proposto mediante uma discussão interdisciplinar do

caso clínico (2,7). Este regime alternativo mantém o nível de estradiol sérico próximo

do valor fisiológico e tem sido associado a uma produção de embriões adequada, sendo

que a taxa de sucesso é semelhante à de uma abordagem tradicional (26,27,28,29).

O follow-up a curto prazo de doentes com cancro da mama com recetores de

estrogénios positivos indica que não há impacto na taxa de sobrevida livre de cancro,

não se tendo verificado aumento nas taxas de recorrência nos primeiros 2 anos (26,29).

No entanto, é necessário um follow-up a longo termo de um número significativo de

pacientes de modo a confirmar a segurança deste procedimento.

Criopreservação de ovócitos

A criopreservação de ovócitos maduros é atualmente uma técnica bem

estabelecida na prática clínica, não sendo considerada experimental pela ASRM desde

22

2013 (6,20,30) e é também aconselhada nas guidelines publicadas pela ASCO, ESMO e

NCCN (2,7,19).

Este processo necessita, à semelhança da criopreservação de embriões, de EOC

para posterior recolha dos ovócitos maduros, através de uma punção aspirativa guiada

por ecografia transvaginal, que serão depois crio preservados. Quando a mulher o

pretender, os gâmetas preservados são descongelados e fecundados com recurso a

FIV/ICSI e os embriões obtidos são então transferidos para o útero (30,89).

Está indicado para mulheres pós-púberes que não têm parceiro ou que não

desejam utilizar esperma de um dador para fertilização dos oócitos e que não

apresentam contraindicações para a realização de EOC. Os regimes alternativos de EOC

descritos para a criopreservação de embriões também se aplicam aqui (2,6,7,19,20,89).

O primeiro método de criopreservação de ovócitos que surgiu foi o chamado

congelamento lento (slow-freeze), que ocorre a uma velocidade suficientemente lenta

para permitir uma desidratação celular suficiente, de modo a minimizar a formação de

gelo intracelular (30).

Têm surgido várias modificações, ao longo dos últimos anos, nos métodos de

criopreservação, de forma a melhorar a sobrevida dos ovócitos maduros. Atualmente, é

muito utilizado o método da vitrificação, que consiste num arrefecimento ultrarrápido,

deixando as células num estado vítreo sem que ocorra formação de gelo (30). A maioria

dos estudos recentes sugere que a vitrificação melhora significativamente a

sobrevivência do ovócito e as taxas de gravidez, sendo que as taxas de sobrevivência

pós-descongelamento de ovócitos vitrificados são superiores em relação aos ovócitos

submetidos ao congelamento lento (31,32,33).

As taxas de sucesso desta técnica são extrapoladas a partir de populações de

mulheres saudáveis que são dadoras de ovócitos, visto que os dados disponíveis na

população de pacientes com neoplasia são escassos (13,20,30). Quatro ensaios clínicos

randomizados e uma meta-análise recente (38), que comparam a vitrificação de ovócitos

com a utilização de ovócitos em estado fresco, indicam que as taxas de implantação e de

gravidez resultantes de ambas as técnicas não apresentam diferenças significativas. A

taxa de sobrevivência de ovócitos vitrificados após o descongelamento oscila entre 90-

97%; a taxa de implantação é de 17%-41% e a taxa de gravidez por transferência é de

36-61%, sendo que, por cada ovócito vitrificado a taxa de gravidez é de 4,5-12%

(34,35,36,37).

23

Vários estudos retrospetivos mostram que existe um impacto da idade materna

em relação às taxas de sucesso, verificando-se que, mulheres com mais de 38 anos

apresentam menores taxas de implantação e de gravidez, seja com a utilização da

técnica slow-freeze ou com vitrificação (39,40,41). Dado o número limitado de ensaios

clínicos randomizados, não é claro que estes dados sejam generalizáveis a todos os

centros de reprodução medicamente assistida. Assim, as pacientes devem ser

informadas, quando possível, acerca das taxas de sucesso de determinadas clínicas

(20,30).

Em relação à segurança, vários estudos, incluindo uma meta-análise de 900

crianças nascidas a partir de oócitos crio preservados, não têm mostrado um aumento de

anomalias congénitas em comparação à população geral (42,43).

Apesar de esta técnica ser muito promissora, ainda é necessária mais informação

nesta área para que seja recomendada em primeiro lugar, em detrimento da

criopreservação de embriões (2,6,7,19,20,30).

Recentemente, tem-se desenvolvido a MIV de ovócitos imaturos, uma técnica

ainda experimental. Consiste em retirar ovócitos imaturos de ovários pós-púberes, sem

necessitar de prévia EOC, realizar MIV, e posteriormente efetuar vitrificação de

ovócitos maduros ou de embriões (6,20,44,48). Este procedimento é de grande

importância para as pacientes com cancro com recetores de estrogénios positivos e para

aquelas que necessitam de realizar urgentemente um tratamento gonadotóxico, pois é

realizado em menos tempo e sem os efeitos da EOC (20,44,48).

A MIV apresenta uma taxa de sucesso de aproximadamente 60% (45,46). Já

foram reportados 5 nascimentos de crianças saudáveis, de pacientes saudáveis, através

da MIV de ovócitos que depois foram vitrificados e descongelados (45,47).

Recentemente, foi publicado um caso de uma paciente com neoplasia do ovário que teve

o primeiro filho, com a utilização desta técnica (49). A MIV é um procedimento

experimental e como tal, só pode ser recomendada em centros especializados, no âmbito

de estudos clínicos, e se não existir outra opção para preservar a fertilidade, visto que, a

eficácia e os riscos ainda não são conhecidos (2,7,19,20,30,48).

Transposição ovárica (ooforopexia)

Ooforopexia é a técnica que consiste em mover, cirurgicamente, os ovários para

um local fora do campo de irradiação da radioterapia, através de laparoscopia ou

laparotomia (50). O local exato de transposição ovárica depende do tratamento planeado

24

e da área de irradiação. Locais comuns de transposição são a parede abdominal lateral,

lateralmente ao músculo psoas, e em posição medial, com ligação ao ligamento útero-

sagrado (44).

Está recomendada para pacientes que irão realizar radioterapia pélvica, de modo

a preservar a função ovárica, sendo um método bem estabelecido na prática clínica

(2,6,7,19,20).

A taxa de sucesso, definida pela presença de ciclos menstruais após o

procedimento, é de aproximadamente 50% (18,22). As principais razões do fracasso

desta técnica parecem ser a ocorrência de dispersão da radiação e a lesão dos vasos que

irrigam os ovários (14,18,22). O reposicionamento ovárico nem sempre é necessário

para restaurar a fertilidade, visto que já foram reportadas gravidezes espontâneas em

mulheres com ováricos translocados (51).

É importante salientar que este método não é eficaz, quando é necessário realizar

quimioterapia ou irradiação corporal total (11).

Supressão da função ovárica

A supressão da função ovárica através da administração de GnRHa, durante a

quimioterapia, tem como objetivo preservar a função ovárica. A hipótese que se coloca

é que os GnRHa induzem um estado hormonal pré-pubertário, mantendo os folículos

ováricos em fase quiescente com diminuição da perfusão ovárica, bloqueio do eixo

hipotálamo-hipófise-ovário e interrupção da secreção de FSH, e que dessa forma é

possível prevenir a destruição do pool ovárico durante a quimioterapia (14,18,52).

Este método é classificado como experimental e a sua utilização é controversa,

visto que os ensaios clínicos realizados têm resultados contraditórios. Atualmente não é

considerado eficaz para preservação da fertilidade nas guidelines da ASCO, ASRM,

ESMO e NCCN (2,6,7,19,20).

Vários estudos randomizados mostram benefícios da terapêutica com GnRHa a

nível da preservação da função ovárica em jovens com cancro da mama, linfoma de

Hodgkin e carcinoma do ovário, em que observam a ocorrência de ciclos menstruais

regulares após a quimioterapia (53,54,55). Estes ensaios utilizam a ocorrência de ciclos

menstruais regulares como critério para avaliar a função ovárica. No entanto, sabe-se

que a presença da menstruação não é um marcador fiável de reserva ovárica, pois várias

mulheres podem menstruar após o tratamento e no entanto, apresentam redução

marcada da fertilidade (18,52,56).

25

Outros estudos, em mulheres com cancro da mama e linfoma de Hodgkin,

reportam que esta terapêutica não protege a função gonadal, não existindo diferenças

entre o grupo de controlo e o grupo que recebeu GnRHa, a nível de ocorrência de ciclos

menstruais regulares (57,58,59,60,61). Uma recente revisão de 12 ensaios,

randomizados e não-randomizados, em mulheres com cancro da mama, demostrou que

o benefício do tratamento com GnRHa continua incerto (62).

Uma das questões que se coloca é a de que a maioria dos ensaios realizados não

reporta um aumento nas taxas de gravidez, não sendo este critério incluído, muitas

vezes, nos objetivos dos estudos. O facto de serem utilizadas populações com diferentes

neoplasias e diferentes critérios de FOP, tais como ausência de menstruação ao fim de 8

(54) e 24 meses (61) após a quimioterapia ou níveis pós-menopáusicos de FSH aos 12

meses após quimioterapia (57), não permite chegar a uma conclusão quanto ao papel

protetor dos GnRHa (62).

Ainda é necessária mais informação em termos de follow-up a longo prazo das

pacientes, bem como ensaios clínicos randomizados com uma amostra significativa e

mais homogenia em termos de população de doentes e critérios de FOP utilizados, de

modo a avaliar a eficácia desta técnica (2,7,19,20,62).

Cirurgia ginecológica conservadora

As doentes com neoplasia do colo do útero e ovário, em determinadas

circunstâncias, podem ser candidatas a procedimentos cirúrgicos conservadores, sem

compromisso da taxa de sobrevivência. As intervenções cirúrgicas com intuito de

preservar a fertilidade são relativamente recentes e em constante evolução. O objetivo é

realizar menos cirurgias radicais e utilizar doses mais baixas de quimioterapia, de modo

a poupar os órgãos reprodutivos, o mais possível (18,52).

Estas opções de tratamento são reconhecidas e fazem parte da prática clínica e

devem ser discutidas, para cada paciente, por uma equipa multidisciplinar, com

ginecologista, oncologista e cirurgião (2,6,5,20,22).

A traquelectomia radical, remoção cirúrgica do colo do útero com preservação

do útero, é um procedimento bem estabelecido e pode ser indicado para pacientes com

cancro do colo do útero em estadio precoce. É um método relativamente seguro e não

afeta a taxa de recorrência do cancro (18,22,52,64).

Para pacientes com neoplasia maligna do ovário em estadio precoce, a

ooforectomia unilateral não afeta substancialmente o risco de recorrência de neoplasia,

26

sendo que o resultado oncológico é semelhante ao do procedimento standard

(18,22,52,63,64).

Em ambas as opções cirúrgicas, já foram reportadas gravidezes com desfecho

obstétrico favorável (52,64).

Criopreservação de tecido ovárico

A criopreservação de tecido ovárico é considerada uma técnica experimental,

cuja eficácia é desconhecida, não sendo recomendada por rotina. É indicada apenas

quando não é possível utilizar outro método para preservação da fertilidade, em centros

especializados, e no âmbito de ensaios clínicos controlados (2,6,7,19,20,65,89).

É uma opção possível para as doentes que requerem tratamento gonadotóxico

imediato, quando não têm tempo para realizar um ciclo de EOC que permita

criopreservar embriões ou ovócitos, e é a única estratégia disponível para preservação

da fertilidade em crianças pré-púberes (2,6,20,65,89). Pacientes com doenças

hematológicas benignas que necessitem de transplante de medula óssea, ou com

doenças autoimunitárias, também têm indicação. Esta técnica não está recomendada

para as mulheres saudáveis que decidem adiar a maternidade (65).

Criopreservação de tecido cortical ovárico

Consiste em obter tiras de tecido do córtex ovárico, por laparoscopia, que são

crio preservadas para posteriormente ser realizado autotransplante, quando a mulher

desejar engravidar (6,20,65). A técnica de criopreservação clássica é o congelamento

lento (65). No entanto, foi realizado um estudo que compara o método standard com a

vitrificação e os resultados, em termos de integridade do tecido ovárico, são

semelhantes com ambas as técnicas (66,67). Em termos de transplante, este pode ser

ortotópico ou heterotópico.

A transplantação ortotópica consiste em colocar tiras de tecido cortical ovárico,

previamente descongelado, na porção medular do ovário remanescente ou no peritoneu

na fosseta ovárica. As vantagens desta técnica incluem a possibilidade de ocorrer

conceção natural, tendo em conta a proximidade do tecido ovárico à trompa de Falópio,

e o ambiente favorável para o desenvolvimento folicular (65). Nos estudos realizados, o

retorno dos ciclos menstruais ovulatórios ocorre dentro de 4-9 meses após o transplante.

Quanto à sobrevivência do tecido transplantado, têm sido reportados períodos de tempo

27

variáveis, de vários meses até 7 anos (tempo máximo reportado), dependendo da idade

da paciente em questão (44,20,65,68).

Um recente estudo de revisão indicou um total de 24 nascimentos através deste

procedimento (69). No entanto, é difícil determinar a taxa de sucesso da CTCO

ortotópica, visto que em vários casos as pacientes mantinham os ovários nativos e o

local da ovulação não foi confirmado, podendo a gravidez não ter resultado de uma

ovulação no tecido ovárico transplantado (65,69).

A transplantação heterotópica consiste na colocação de tecido ovárico, crio

preservado numa região extra-pélvica. Já foi realizada no antebraço, parede abdominal e

na parede torácica, tendo sido reportada restauração da função ovárica com

desenvolvimento folicular (70,71,72). Após o autotransplante heterotópico é necessário

recolher ovócitos maduros para posterior FIV. Apesar de já ter sido reportada recolha de

ovócitos e fertilização com sucesso, ainda não foram documentados nascimentos através

da utilização desta técnica (20,65,71).

Criopreservação do ovário inteiro

A COI consiste na remoção de um ovário, juntamente com o pedículo vascular,

através de laparoscopia ou laparotomia, que será crio preservado e posteriormente

transplantado (20,44,65). São utilizadas ambas as técnicas de criopreservação: o

congelamento lento e a vitrificação. A potencial vantagem desta técnica é que promove

uma melhor vascularização do ovário aquando o seu transplante, visto que ao preservar

o pedículo vascular aumenta a taxa de sucesso do procedimento. No entanto, ainda não

foram reportados autotransplantes bem-sucedidos em humanos. As limitações da COI

incluem dificuldades na criopreservação e dificuldades em manter a sobrevivência do

enxerto após o transplante (20,65,73,74).

Em termos de segurança, ambas as técnicas CTCO e COI apresentam risco de

reintrodução de células malignas após o autotransplante, em pacientes com neoplasia.

Existe um risco significativo de metástases para os ovários, nas pacientes com leucemia,

reportado num estudo de revisão recente (75), e apesar da magnitude do risco ser

desconhecida, estas técnicas não são recomendadas nestes casos, bem como para

pacientes com predisposição genética para neoplasia do ovário (2,6,19,20,65).

28

Opções para preservação da fertilidade

masculina

Criopreservação de esperma

A criopreservação de amostras de sémen foi introduzida na década de 60 e

atualmente é a opção mais bem estabelecida nos centros de reprodução medicamente

assistida, a nível mundial (4,87). Está indicada para a preservação da fertilidade de

homens pós-púberes, que vão ser submetidos a regimes de quimioterapia ou

radioterapia com potencial gonadotóxico, ou que apresentem síndromes genéticos que

causam declínio da fertilidade (2,6,16,19,20,90).

O armazenamento do sémen deverá ser feito antes dos tratamentos

gonadotóxicos, sendo que, quando tal não é possível, dever-se-á informar acerca do

risco aumentado de dano genético, no esperma colhido. Idealmente, devem ser obtidas 2

a 3 amostras de esperma, de modo a providenciar uma quantidade adequada de

espermatozoides para produzir vários frascos para criopreservação (20).

A técnica de criopreservação que parece ser mais eficiente é a vitrificação. As

taxas de sobrevivência dos espermatozoides, após a criopreservação, permitem que se

obtenham taxas de gravidez comparáveis àquelas em que se utilizam espermatozoides

em estado fresco (87).

A qualidade do esperma obtido dependerá de vários fatores, tais como, a saúde

do doente, o período de abstinência entre as colheitas de esperma e o tipo de neoplasia.

Consequentemente, isto terá implicações na quantidade de frascos de esperma a obter -

menor qualidade de esperma pressupõe maior quantidade de frascos (16,22,81). Foi

demonstrado que os parâmetros avaliados no esperma dos doentes oncológicos são

piores que nos dadores saudáveis, sendo a motilidade dos espermatozoides o parâmetro

mais afetado – avaliado pela CMT. No entanto, diferenças consideráveis nas CMT de

diferentes cancros foram demonstradas, apontando-se o cancro da próstata como o que

possui melhor CMT e a leucemia linfoide o cancro com pior CMT (2,6,81).

Os processos de obtenção de esperma poderão apresentar um desafio,

nomeadamente nos homens com limitações fisiológicas, anatómicas, psicológicas ou

constitucionais. Nos casos em que a obtenção de esperma por ejaculação (após

masturbação) não é possível, outros métodos invasivos poderão ser discutidos:

29

estimulação vibratória e/ou eletroejaculação, e microcirurgia de aspiração de esperma

do epidídimo, poderão ser considerados (90). Face a impossibilidade de serem

submetidos a anestesia geral, existem outras técnicas dependentes de anestesia local,

como a aspiração percutânea de esperma do epidídimo, extração testicular de esperma

por punção com agulha, aspiração testicular de esperma. O cancro do testículo é a única

exceção em que a colheita de esperma poderá ser efetuada do testículo ressecado

cirurgicamente (16,20,81).

Posteriormente, o sémen criopreservado é descongelado e recorre-se às técnicas

de reprodução medicamente assistida quando o paciente desejar ter filhos, tais como

IUI, FIV e ICSI. Verificou-se, num estudo recente que compara estas técnicas entre si,

recorrendo à utilização de sémen criopreservado, que as taxas de gravidez foram as

seguintes: IUI (12%), FIV (28%), ICSI (32%) (16,82).

Supressão hormonal testicular

A hipótese que se tem colocado é que a supressão hormonal testicular, que

consiste na administração de GnRHa durante o tratamento com quimioterapia, pode

proteger o epitélio germinativo de efeitos gonadotóxicos, através da supressão do eixo

hipotálamo-hipófise-testículo (20,85).

No entanto, sabe-se que a idade jovem e o estado pré-pubertário não

providenciam proteção contra os agentes citóxicos (16,18). Os estudos realizados neste

âmbito falharam em demonstrar o papel protetor dos GnRHa, mostrando ineficácia

quando administrado em pacientes a realizar quimioterapia de alto risco esterilizante

(18,85).

Atualmente, esta terapêutica não é considerada eficaz na preservação da

fertilidade masculina e não é recomendada pela ASCO, ESMO, ASRM e NCCN

(2,7,22,19,20).

Cirurgia conservadora

Nos doentes com neoplasia do testículo, a realização de orquiectomia parcial, em

determinados casos selecionados, tem revelado resultados positivos (18,52). Este

procedimento permite preservar a secreção de hormonas e a produção de

espermatozoides pelo testículo.

De uma forma simplificada, é uma opção a considerar para tumores em estadio

precoce e de pequenas dimensões. Um estudo reportou uma taxa de sobrevida livre de

30

doença de 98,6% no 7º ano de follow-up de 73 doentes, que realizaram orquiectomia

parcial em tumores com dimensão inferior a 2cm (86). No entanto, os benefícios e o

risco de recorrência do tumor devem ser pesados para cada doente, sendo importante

uma avaliação multidisciplinar, com urologista, oncologista e cirurgião. É aconselhável

efetuar criopreservação de esperma antes da cirurgia, de modo a aumentar a taxa de

sucesso da preservação da fertilidade (52).

31

Opções para crianças pré-púberes

Atualmente, não existem procedimentos standard disponíveis para crianças pré-

púberes que necessitam de realizar tratamentos gonadotóxicos ou que apresentam

doenças genéticas ou autoimunitárias que causam declínio da fertilidade. Devido à

imaturidade sexual, a criopreservação de gâmetas maduros não é possível em crianças

que ainda não atingiram a puberdade. Os métodos de preservação da fertilidade que

podem ser recomendados são de natureza experimental e como tal, devem apenas ser

efetuados no âmbito de ensaios clínicos controlados, em centros especializados de

reprodução medicamente assistida (2,6,7,20).

Em meninas pré-púberes, a criopreservação de tecido ovárico não é dependente

da produção de ovócitos maduros, logo este procedimento é o único que pode ser

recomendado (76,89). Têm sido publicados estudos controlados com realização de

CTCO em meninas pré-púberes, mas até à data não foram ainda reportados nascimentos

a partir desta técnica, principalmente devido à idade muito jovem das participantes

(77,78). Outra opção a considerar é a recolha de ovócitos imaturos em associação com

CTCO, com posterior MIV e criopreservação (78,79).

Nos meninos pré-púberes, a criopreservação do tecido testicular é a única opção

possível, visto que nesta faixa etária ainda não decorreu produção de espermatozoides

(2,20,76,80,90). Esta técnica consiste em obter pequenas amostras de tecido testicular

através de uma biópsia e consequentemente realizar criopreservação, no entanto,

atualmente ainda está em estudo qual o método mais eficaz para preservar o tecido

(80,83,84). O objetivo é que, no futuro, se possa descongelar o tecido testicular e

realizar espermatogénese in vitro ou efetuar um transplante para o testículo

remanescente (1,6,18,20,84). Já foi efetuada criopreservação de tecido testicular em

meninos pré-púberes, mas não foi ainda reportado transplantação de tecido testicular

com sucesso (2,16,76,80).

Ainda são necessários mais estudos prospetivos de longo-termo, com adequado

follow-up e amostras de maiores dimensões, para que se possa determinar a segurança

destes procedimentos em crianças, bem como a sua taxa de sucesso (6,20,76,84).

32

Conclusão

Na prática clínica está bem estabelecido que a doença oncológica e os

tratamentos associados, quimioterapia, radioterapia e cirurgia, têm um efeito

gonadotóxico em homens e mulheres, sendo muitas vezes irreversível. Síndromes

genéticos, como a Síndrome de Turner e a Síndrome de Klinefelter, também têm

comprovado o declínio da fertilidade.

Estão publicadas várias guidelines, nos EUA e na Europa, no sentido do

aconselhamento para a preservação da fertilidade nos pacientes com as condições

supracitadas, em adultos bem como em crianças. Para as mulheres com declínio da

fertilidade relacionado com a idade, não existem, atualmente, recomendações

específicas publicadas.

As opções disponíveis para preservação da fertilidade feminina, que estão bem

estabelecidas na prática clínica e com melhores taxas de sucesso, são a criopreservação

de embriões e a vitrificação de ovócitos, indicadas para mulheres pós-púberes. Em todas

as guidelines publicadas, a opção de primeira-linha e aquela que tem maior taxa de

sucesso é a criopreservação de embriões.

Para preservação da fertilidade masculina, a única técnica bem estabelecida e

com boa taxa de sucesso é a criopreservação de esperma, indicada para homens pós-

púberes.

Para crianças pré-púberes não existem procedimentos bem estabelecidos, sendo

que as únicas técnicas disponíveis são a criopreservação de tecido ovárico e a

criopreservação de tecido testicular, que apresentam natureza experimental e só poderão

ser realizadas no âmbito de ensaios clínicos controlados, em centros especializados de

reprodução medicamente assistida.

A preservação da fertilidade é, portanto, uma área emergente, na qual se tem

observado um grande desenvolvimento nos últimos anos, e que apresenta importância

comprovada para os doentes. Os procedimentos disponíveis não são 100% eficazes, mas

permitem que, no futuro, um paciente tenha a possibilidade de construir uma família.

Desta forma, é fundamental que se continue a realizar investigação neste âmbito, de

modo a elevar a taxa de sucesso das técnicas existentes e investir nas técnicas

promissoras que são ainda experimentais, como a criopreservação de tecido ovárico e de

tecido testicular e a MIV de ovócitos imaturos.

33

Referências bibliográficas

(1) 5th

Reproductive Medicine Portuguese Congress: FertilityPreservation. A

multidisciplinaryapproach. October 3rd

, 2013, Figueira da Foz, Portugal.

(2) Loren AW, Mangu PB, Beck LN,et al. Fertility Preservation for Patients With

Cancer: American Society of Clinical Oncology Clinical Practice Guideline Update. J

Clin Oncol 2013; 31(19):2500-10.

(3) Matthews TJ, Hamilton BE. Delayed childbearing: more woman are having their

first child later in life. NCHS Data Brief 2009; 1-8.

(4) González C, Boada M, Devesa M, et al. Concise Review: FertilityPreservation: An

Update. Stem Cells Translational Medicine 2012; 1:668-672.

(5) Mintziori G, Lambrinoudaki I, Ceausu I,et al. EMAS position statement: Fertility

preservation. Maturitas 2013; 77:85-89.

(6) The Ethics Committee of the American Society for Reproductive Medicine. Fertility

preservation and reproduction in patients facing gonadotoxic therapies: a committee

opinion. FertilSteril 2013; 100(5):1224-31.

(7) Peccatori F A, Azim Jr. H A., Orecchia R, et al. Cancer, pregnancy and fertility:

ESMO Clinical Practice Guidelines for diagnosis, treatment and follow-up. Annals of

Oncology 2013; 00: 1-11.

(8) Cardoso F, Loibl S, Pagani O, et al. The European Society of Breast Cancer

Specialists recommendations for the management of young women with breast cancer.

(9) Metzger ML, Meacham LR, Patterson B, et al. Female reproductive health after

childhood, adolescent, and young adult cancers: guidelines for the assessment and

management of female reproductive complications. J Clin Oncol 2013; 31(9):1239-47.

(10) Dondorp W, de Wert G, Pennings G, et al. Oocyte cryopreservation for age-related

fertility loss. Hum Reprod 2012;27(5):1231-7.

(11) Linkeviciute A, Boniolo G, Chiavari L, et al. Fertility preservation in cancer

patients: The global framework. Cancer treatment reviews 2014;40:1019-1027.

(12) Levine J. Gonadotoxicity of cancer therapies in pediatric and reproductive-age

females. In: Gracia C, Woodruff TK, editors. Oncofertility medical practice: clinical

issues and implementation. New York: Springer; 2012. P.3-14.

(13) De Vos M, Smitz J, Woodruff TK.Fertility preservation 2. Fertility preservation in

women with cancer. Lancet 2014; 384:1302-10.

34

(14) Ross L, Chung K, Macdonald H. Fertility preservation in the female cancer patient.

J SurgOncol 2014; 110:907-911.

(15) Ginsberg JP. Gonadotoxicity of cancer therapies in pediatric and reproductive-age

males. In: Gracia C, Woodruff TK, editors. Oncofertility medical practice: clinical

issues and implementation. New York: Springer 2012; p.15-23.

(16) Tournaye H, Dohle GR, Barratt CLR. Fertility preservation 1. Fertility preservation

in men with cancer. Lancet 2014; 384:1295-301.

(17) Meistrich ML. Effects of chemotherapy and radiotherapy on spermatogenesis in

humans. FertilSteril 2013; 100(5):1180-6.

(18) Rodriguez-Wallberg KA. Impact of cancer treatment on reproductive health and

options for fertility preservation. In: Cancer treatment –Conventional and innovative

approaches. InTech 2013; p.519-537.

(19) Coccia PF, Pappo AS, Altman J, et al. Adolescent and young adult oncology,

version 2.2014. J Natl Compr Canc Netw 2014; 12(1): 21-32.

(20) The practice committee of the American Society for Reproductive Medicine.

Fertility preservation in patients undergoing gonadotoxic therapy or gonadectomy: a

committee opinion. FertilSteril 2013; 100(5):1214-23.

(21) Stoop D, CoboA, Silber S. Fertility preservation 3. Fertility preservation for age-

related fertility decline. Lancet 2014; 384:1311-19.

(22) Lee SJ, Schover LR, Partridge AH, et al. American Society of Clinical Oncology

recommendations on fertility preservation in cancer patients. J ClinOncol 2006;

24:2917-2931.

(23) Maltaris T, Seufert R, Fischl F, et al. The effect of cancer treatment on female

fertility and strategies for preserving fertility. Eur J ObstetGynecolReprodBiol 2007;

130:148-155.

(24) Sonmezer M, Turkçuoglu I, Coskun U, et al. Random-start controlled ovarian

hyperstimulation for emergency fertility preservation in letrozole cycles. Fertil Steril

2011; 95: 2125.e9-2125.e11.

(25) Bedoschi GM, de Albuquerque FO, Ferriani RA, et al. Ovarian stimulation during

the luteal phase for fertility preservation of cancer patients: case reports and review of

the literature. J Assist Reprod Genet 2010; 27: 491-4.

(26) Azim AA, Constantini-Ferrando M, Oktay K. Safety of fertility preservation by

ovarian stimulation with letrozole and gonadotropins in patients with breast cancer: a

prospective controlled study. J Clin Oncol 2008; 26:2630-2635.

35

(27) Oktay K, Buyuk E, Libertella N, et al. Fertility preservation in breast cancer

patients: a prospective controlled comparison of ovarian stimulation with tamoxifen and

letrozole for embryo cryopreservation. J Clin Oncol 2005; 23: 4347-4353.

(28) Oktay K, Hourvitz A, Sahin G, et al. Letrozole reduces estrogen and gonadotropin

exposure in women with breast cancer undergoing ovarian stimulation before

chemotherapy. J Clin Endocrinol Metab 2006; 91: 3885-3890.

(29) Lee S, Oktay K. Does higher starting dose of FSH stimulation with letrozole

improve fertility preservation outcomes in women with breast cancer? Fertil Steril 2012;

98: 961.e1-964.e1.

(30) The Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine and

the Society for Assisted Reproductive Technology. Mature oocyte cryopreservation: a

guideline. Fertil Steril 2013; 99:37-43.

(31) Oktay K, Cil AP, Bang H. Efficiency of oocyte cryopreservation: a meta-analysis.

Fertil Steril 2006; 86:70-80.

(32) Gook DA, Edgar DH. Human oocyte cryopreservation. Human Reprod Update

2007; 13: 591-605.

(33) Smith GD, Serafini PC, Fioravanti J, et al. Prospective randomized comparison of

human oocyte cryopreservation with slow-rate freezing or vitrification. Fertil Steril

2010; 94: 2088-95.

(34) Cobo A, Kuwayama M, Perez S, et al. Comparison of concomitant outcome

achieved with fresh and cryopreserved donor oocytes vitrified by the Cryotop method.

Fertil Steril 2008; 89:1657-1664.

(35) Cobo A, Meseguer M, Remohi J, Pellicer A. Use of cryo‑banked oocytes in an

ovum donation programme: a prospective, randomized, controlled, clinical trial. Hum

Reprod 2010; 25:2239-2246.

(36) Rienzi L, Romano S, Albricci L, et al. Embryo development of fresh ‘versus’

vitrified metaphase II oocytes after ICSI: a prospective randomized sibling‑oocyte

study. Hum Reprod 2010; 25:66-73.

(37) Parmegiani L, Cognigni GE, Bernardi S, et al. Efficiency of aseptic open

vitrification and hermetical cryostorage of human oocytes. Reprod Biomed Online

2011; 23: 505-12.

(38) Cobo A, Diaz C. Clinical application of oocyte vitrification: a systematic review

and meta‑analysis of randomized controlled trials. Fertil Steril 2011; 96:277-285.

36

(39) Borini A, Levi Setti PE, Anserini P, et al. Multicenter observational study on slow-

cooling oocyte cryopreservation: clinical outcome. Fertil Steril 2010; 94:1662-8.

(40) Bianchi V, Lappi M, Bonu MA, et al. Oocyte slow freezing using a 0.2-0.3 M

sucrose concentration protocol: is it really the time to trash the cryopreservation

machine? Fertil Steril 2012; 97: 1101-7.

(41) Rienzi L, Cobo A, Paffoni A, et al. Consistent and predictable delivery rates after

oocyte vitrification: an observational longitudinal cohort multicentric study. Hum

Reprod 2012; 27:1606-12.

(42) Noyes N, Porcu E, Borini A. Over 900 oocyte cryopreservation babies born with

no apparent increase in congenital anomalies. Reprod Biomed Online 2009; 18:769-76.

(43) Wennerholm UB, Soderstrom-Anttila V, Berhg C, et al. Children born after

cryopreservation of embryos or oocytes: a systematic review of outcome data. Hum

Reprod 2009; 24:2158-72.

(44) McLaren JF, Bates GW. Fertility preservation in women of reproductive age with

cancer. Am J of Obstet & Gynecol 2012; 207:455-62.

(45) Chian RC, Huang JY, Gilbert L, et al. Obstetric outcomes following vitrification of

in vitro and in vivo matured oocytes. Fertil Steril 2009; 91:2391-8.

(46) Shalom-Paz E, Almog B, Shehata F, et al. Fertility preservation for breast-cancer

patients using IVM followed by oocyte or embryo vitrification. Reprod Biomed Online

2010; 21:566-71.

(47) Chian RC, Gilbert L, Huang JYJ, et al. Live birth after vitrification of in vitro

matured human oocytes. Fertil Steril 2009; 91: 372-6.

(48) Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine. In vitro

maturation: a committee opinion. Fertil Steril 2013; 99: 663-6.

(49) Prasath EB, Chan MLH, Wong WHW, et al. First pregnancy and live birth

resulting from cryopreserved embryos obtained from in vitro matured oocytes after

oophorectomy in an ovarian cancer patient. Hum Reprod 2014; 29:276-78.

(50) Terenziani M, Piva L, Meazza C, et al. Oophoropexy: a relevant role in

preservation of ovarian function after pelvic irradiation. Fertil Steril 2009; 91: 935.e15-

935.e16.

(51) Morice P, Thiam-Ba R, Castaigne D, et al. Fertility results after ovarian

transposition for pelvic malignancies treated by external irradiation or brachytherapy.

Hum Reprod 1998; 13:660-663.

37

(52) Rodriguez-Wallberg KA, Oktay K. Fertility preservation during cancer treatment:

clinical guidelines. Cancer Manag Res 2014; 6:105-117.

(53) Blumenfeld Z, Avivi I, Eckman A, et al. Gonadotropin-releasing hormone agonist

decreases chemotherapy-induced gonadotoxicity and premature ovarian failure in young

female patients with Hodgkin lymphoma. Fertil Steril 2008;89:166 – 173.

(54) Badawy A, Elnashar A, El-Ashry M, Shahat M. Gonadotropin-releasing hormone

agonists for prevention of chemotherapy-induced ovarian damage: prospective

randomized study. Fertil Steril 2009;91:694 – 697.

(55) Del Mastro L, Boni L, Michelotti A, et al. Effect of the gonadotropin-releasing

hormone analogue triptorelin on the occurrence of chemotherapy-induced early

menopause in premenopausal women with breast cancer: a randomized trial. JAMA

2011;306:269 – 276.

(56) Partridge AH, Ruddy KJ, Gelber S, et al. Ovarian reserve in women who remain

premenopausal after chemotherapy for early stage breast cancer. Fertil Steril 2010;

94:638-644.

(57) Behringer K, Wildt L, Mueller H, et al. No protection of the ovarian follicle pool

with the use of GnRH-analogues or oral contraceptives in young women treated with

escalated BEACOPP for advanced-stage Hodgkin lymphoma. Final results of a phase II

trial from the German Hodgkin Study Group. Ann Oncol 2010;21:2052 – 2060.

(58) Gerber B, von Minckwitz G, Stehle H, et al. Effect of luteinizing hormone-

releasing hormone agonist on ovarian function after modern adjuvant breast cancer

chemotherapy: the GBG 37 ZORO study. J Clin Oncol 2011;29:2334 – 2341.

(59) Demeestere I, Brice P, Peccatori FA, et al. Gonadotropin-releasing hormone

agonist for the prevention of chemotherapy-induced ovarian failure in patients with

lymphoma: 1-year follow-up of a prospective randomized trial. J Clin Oncol

2013;31:903 – 909.

(60) Elgindy EA, El-Haieg DO, Khorshid OM, et al. Gonadatrophin suppression to

prevent chemotherapy-induced ovarian damage: a randomized controlled trial. Obstet

Gynecol 2013;121:78 – 86.

(61) Munster PN, Moore AP, Ismail-Khan R et al. Randomized trial using gonadotropin

releasing hormone agonist triptorelin for the preservation of ovarian function during

(neo)adjuvant chemotherapy for breast cancer. J Clin Oncol 2012; 30:533– 538.

38

(62) Turner NH, Partridge A, Sanna G, et al. Utility of gonadotropin-releasing hormone

agonists for fertility preservation in young breast cancer patients: the benefit remains

uncertain. Ann Oncol 2013; 24(9): 2224-2235.

(63) Zanetta G, Bonazzi C, Cantu M, et al: Survival and reproductive function after

treatment of malignant germ cell ovarian tumors. J Clin Oncol 2001;19:1015-1020.

(64) Wallberg KA, Keros V, Hovatta O. Clinical aspects of fertility preservation in

female patients. Pediatr Blood Cancer 2009; 53(2): 254-260

(65) The Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine.

Ovarian tissue cryopreservation: a committee opinion. Fertil Steril 2014; 101:1237-43.

(66) Keros V, Xella S, Hultenby K, et al. Vitrification versus controlled-rate freezing in

cryopreservation of human ovarian tissue. Hum Reprod 2009; 24:1670-83.

(67) Herraiz S, Novella-Maestre E, Rodriguez B, et al. Improving ovarian tissue

cryopreservation for oncologic patients: slow-freezing versus vitrification, effect on

different procedures and devices. Fertil Steril 2014; 101:775-784.

(68) Donnez J, Jadoul P, Squifflet J,et al. Ovarian tissue cryopreservation and

transplantation in cancer patients. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol 2010; 24: 87-

100

(69) Donnez J, Dolmans MM, Pellicer A, et al. Restoration of ovarian activity and

pregnancy after transplantation of cryopreserved ovarian tissue: a review of 60 cases of

reimplantation. Fertil Steril 2013;99:1503-13.

(70) Kim SS, Lee WS, Chung MK, et al. Long-term ovarian function and fertility after

heterotopic autotransplantation of cryobanked human ovarian tissue: 8-year experience

in cancer patients. Fertil Steril 2009;91:2349.

(71) Kim SS. Assessment of long-term endocrine function after ovarian transplantation

of frozen-thawed human ovarian tissue to the heterothopic site: 10-year longitudinal

follow-up study. J Assist Reprod Genet 2012;29:489-93.

(72) Oktay K, Buyuk E, Veeck L, et al. Embryo development after heterotopic

transplantation of cryopreserved ovarian tissue. Lancet 2004;363:837-40.

(73) Courbiere B, Caquant L, Mazoyer C. Difficulties improving ovarian functional

recovery by microvascular transplantation and whole ovary vitrification. Fertil Steril

2009; 91:2697-706.

(74) Kim SS. Time to rethink: ovarian tissue transplantation versus whole ovary

transplantation. Reprod Biomed Online 2010; 20:171-4.

39

(75) Bastings L, Beerendonk CC, Westphal JR, et al. Autotransplantation of

cryopreserved ovarian tissue in cancer survivors and the risk of reintroducing

malignancy: a systematic review. Hum Reprod Update 2013;19:483-506.

(76) Babayev S, Arslan E, Kogan S, et al. Evaluation of ovarian and testicular tissue

cryopreservation in children undergoing gonadotoxic therapies. J Assist Reprod Genet

2013;30:3-9.

(77) Anderson RA, Wallace WH, Baird DT. Ovarian cryopreservation for fertility

preservation: Indications and outcomes. Reproduction 2008;136:681-689.

(78) Jadoul P, Dolmans MM, Donnez J. Fertility preservation in girls during childhood:

Is it feasible, efficient and safe and to whom should it be proposed? Hum Reprod

Update 2010;16(3):617-630.

(79) Revel A, Revel-Vilk S, Aizenman E, et al. At what age can human oocytes be

obtained? Fertil Steril 2009;92:458-463.

(80) Goossens E, Van Saen D, Tournaye H. Spermatogonial stem cell preservation and

transplantation: from research to clinic. Hum Reprod 2013; 28:897-907.

(81) Nangia AK, Krieg S, Kim SS. Clinical guidelines for sperm cryopreservation in

cancer patients. Fertil Steril 2013;100 (5):1203-1209.

(82) Bizet P, Saias-Magnan J, Jouve E, et al. Sperm cryopreservation before cancer

treatment: A 15-year monocentric experience. Reprod Biomed Online 2012;24 (3):321-

330.

(83) Keros V, Hultenby K, Borgstrom B, et al. Methods of cryopreservation of testicular

tissue with viable spermatogonia in pre-pubertal boys undergoing gonadotoxic cancer

treatment. Human Reprod 2007;22 (5):1384-1395.

(84) Wyns C, Curaba M, Vanabelle B, et al. Options for fertility preservation in

prebubertal boys. Hum Reprod Update 2010;16 (3):312-328.

(85) Meistrich ML, Shetty G. Hormonal suppression for fertility preservation in males

and females. Reproduction 2008;136:691-701.

(86) Heidenreich A, Weissbach L, Holtl W, et al. Organ sparing surgery for malignant

germ cell tumor of the testis. J Urol 2001;166 (6):2161-2165.

(87) Di Santo M, Tarozzi N, Nadalini M, et al. Human sperm cryopreservation: Update

on techniques, effect on DNA integrity, and implications for ART. Adv Urol 2012;

2012:854837.

(88) Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução. Atividades. Legislação e

Diretivas. Procriação Medicamente Assistida Lei 32.2006. (Consult.28-04-2015).

40

Disponível em:

http://www.spmr.pt/bo/abrir_legislacao_diretiva.php?id_legislacao_diretivas=31

(89) Centro de Preservação da Fertilidade. Profissionais de saúde. Preservação da

fertilidade em doentes oncológicos. Técnicas de preservação da fertilidade na mulher.

(Consult.28-04-2015).

Dispinivel em: http://www.centropreservacaofertilidade.pt/profissionais-de-

saude/preservacao-da-fertilidade-em-doentes-oncologicos/tecnicas-de-preservacao-da-

fertilidade-na-mulher/

(90) Centro de Preservação da Fertilidade. Profissionais de saúde. Preservação da

fertilidade em doentes oncológicos. Técnicas de preservação da fertilidade no homem.

(Consult.28-04-2015).

Disponível em: http://www.centropreservacaofertilidade.pt/profissionais-de-

saude/preservacao-da-fertilidade-em-doentes-oncologicos/tecnicas-de-preservacao-da-

fertilidade-no-homem/