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Apresentamos na OLD Nº 58 os trabalhos de Gustavo Gomes, Yannis Karpouzis, Adelaide Ivánova, Xavier Sánchez, Camila Pastorelli e uma entrevista com José Diniz.

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equipe editorial

direção de arte

texto e entrevista

capa

fotografias

entrevista

email

facebook

twitter

tumblr

instagram

Felipe Abreu e Paula Hayasaki

Tábata Gerbasi

Angelo José da Silva, Felipe Abreu

e Paula Hayasaki

Gustavo Gomes

Adelaide Ivánova, Camila Pastorelli, Gustavo

Gomes, Xavier Sánchez e Yannis Karpouzis

José Diniz

[email protected]

www.facebook.com/revistaold

@revista_old

www.revistaold.tumblr.com

@revistaold

revista OLD#número 58

expediente

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64fórum latino-ameri-cano de fotografia

livros

gustavo gomes josé diniz

adelaide ivánova

yannis karpouzis xavier sánchez

camila pastorelli

reflexões

exposição

portfól io entrevista

portfól io

portfól io portfól io

portfól io

coluna

índice

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carta ao leitor

Este estranhamente frio mês de Ju-nho recebe a 58ª edição da OLD. No nosso sexto número do ano apresen-tamos trabalhos plurais, de rua, con-ceituais, documentais e mais.Gustavo Gomes volta às páginas da OLD e assina mais uma vez a nossa capa, agora com o ensaio Rodoviária. Seguem Yannis Karpouzis e Adelai-de Ivánova, com trabalhos que lidam com a crise na Grécia e com o não reconhecimento da sua cidade natal, respectivamente.Xavier Sánchez, fotógrafo barcelo-nês, apresenta a sua Aritmética Inte-rior, uma série que mistura as aflições da idade com uma série de metáforas visuais.O derradeiro ensaio desta edição é assinado por Camila Pastorelli, que

acompanha a tradicional festa juni-na de Pindamonhangaba, sua cidade natal. A entrevista do mês fica por conta de José Diniz, fotógrafo carioca lar-gamente reconhecido pelo seu livro Periscope. Conversamos com José sobre sua produção, sua poética e seus projetos futuros.Espero que você aproveite nossa nova edição e boa sorte para todos nós neste frio!

por Felipe Abreu

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Disponível no site da MACKvalor R$120184 páginas

A produção de Sofia Borges é – na minha opinião – uma das mais instigantes na fotografia contemporânea. Sua poética

busca destrinchar a imagem até o seu ponto mais básico, exibir todas as suas contradições e falsidades.Além de instigante, sua criação é mutante. Se adapta perfeitamente aos mais variados espa-ços: telas, paredes e páginas. Agora, sua obra, que não se divide em série precisas, toma a forma do livro The Swamp, publicado pela MACK, como vencedor do seu prêmio anual de fotolivros. Misturando imagens e texto, Sofia cria um complexo labirinto de questionamen-tos sobre os valores que associamos a imagem, em uma viagem até os seus mais profundos e essenciais aspectos.

livros

THE SWAMPde Sofia Borges

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Disponível em pré-venda no site da autoravalor R$16080 páginas

THE AFRONAUTSde Cristina de Middel

Muito se fala da do “boom” dos fotoli-vros nos últimos anos. Um dos possí-veis culpados é o livro The Afronauts,

publicado por Cristina de Middel. O livro caiu nas mãos certas, recebeu críticas positivas e ra-pidamente se esgotou e cada cópia passou a va-ler alguns milhares de dólares. Além de se tor-nar um dos marcos na nova geração de livros de fotografia, The Afronauts elevou a carreira de Cristina de forma meteórica e fez com que – até certo ponto – tudo que ela tocasse viras-se ouro.Agora, anos depois do lançamento da primeira edição de The Afronauts, de Middel apresenta a segunda edição do livro. A “nova” publicação será apresentada no festival de Ar-les deste ano e, por enquanto, sabemos que terá capa nova, agora com detalhes em azul.

livros

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exposição

André Penteado

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ção do protagonismo do autor.”Além destes eventos também estarão a Livraria Madalena e serão organi-zadas sessões de autógrafos com no-mes como Broomberg & Chanarin, Rosângela Rennó, entre outros. A intensa programação ocupará os dias e o início das noites de quinta até sá-bado, além da manhã do domingo.A exposição Arquivo Ex-Machina: Arquivo e Identidade na Améri-ca Latina acompanhará o Fórum e permanecerá aberta para visitação até o começo de Agosto. Estarão na mostra trabalhos de André Penteado (que acompanha este texto), Eustá-

Uma das funções primordiais da fotografia é ser suporte físico para a memória, ser-

vir de lembrança, de conexão com o passado. Além desse aspecto forma-tivo do meio, a fotografia contempo-rânea tem encontrado na memória e nos arquivos uma intensa potência expressiva.O IV Fórum Latino-Americano de Fotografia chega ao Itaú Cultural com suas atenções voltadas para este ponto produtivo. São workshops, pa-lestras e exposições que visam pro-por “uma reflexão sobre o conceito de arquivo num momento de dilui-

PENSAR A FOTOGRAFIA ATRAVÉS DE SUA MEMÓRIAO Fórum Latino-Americano de Fotografia chega à sua quarta edição e foca sua atenção na potência do arquivo e da memória na produção contemporânea em fotografia.

O Itaú Cultural fica na Av. Paulista, 149 e recebe

o Fórum entre os dias 16 e 19 de Junho. Você pode

conferir toda a programação no site da instituição.

quio Neves, Bernardo Oyarzún, Coco Laso, Javier Nuñez del Arco, Marcelo Brodsky e João Pina.Assim, com esta programação inten-sa, o Fórum se coloca mais uma vez como ponto para intensa discussão e aprendizado sobre os possíveis e instigantes caminhos que a fotografia contemporânea tem a seguir.

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GUSTAVO GOMESRodoviária

Gustavo Gomes - ou Minas - volta a estampar a capa da OLD depois de mais de três anos. Nesta edição, Gustavo apresenta seu novo trabalho, Rodoviária,

com seu marcante estilo, calcado na fotografia de rua e no jogo de luzes e sombras. Um trabalho direto, que busca em rostos e detalhes a construção da história de um lugar, a descoberta de uma nova cidade e seu ponto de chegada, influenciado pela mudança geográfica na vida do fotógrafo.

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Brasília é uma cidade em que as classes sociais têm seus lugares bem definidos, e a Rodoviária é o único local em que essa lógica é quebrada

Gustavo, você está voltando para a OLD depois de mais de três anos. O que mudou no seu trabalho durante este período?Teve o fato de ter vindo pra Brasília em agosto de 2014. Uma cidade bem diferente de qualquer outra em vá-rios sentidos, mas principalmente em relação ao espaço e à distância física das pessoas nas ruas - o que é um grande desafio no tipo de foto-grafia que eu faço. Há muitos poucos lugares com concentração de gente, não tem ruas, e há poucas regiões para se andar a pé. Por outro lado, é uma cidade que te deixa mais tran-quilo, contemplativo.No meu jeito de fotografar, acho que mudou pouca coisa, na real. Os te-mas que inconscientemente me atra-

em ainda são os mesmos, ainda te-nho essa fixação pela luz do fim do de tarde e do começo da manhã e por personagens isolados em lugares públicos.

Nos conte um pouco sobre o desenvol-vimento da série Rodoviária.A Rodoviária me chamou a atenção desde que cheguei aqui. Primeiro, por ser o único lugar com grande concentração de gente dentro do Plano Piloto. Também por ser um espaço caótico, dinâmico, bem ao lado da insipidez da Esplanada dos Ministérios. E ainda porque Brasí-lia é uma cidade em que as classes sociais têm seus lugares bem defini-dos, e a Rodoviária é o único local em que essa lógica é quebrada, ain-

da que temporariamente Sem contar que a luz ali é sensacional. Depois de quase dois anos fotografando ali, vi que tinha um material representativo das sensações que ela me causava, e então reuni essas fotos num ensaio. Mas não foi um projeto pensado de antemão.

Quais foram os desafios de desenvol-ver um trabalho em um espaço restri-to?Depois de algum tempo, o olho fica meio que acostumado com o lugar, e aí corre-se o risco de não se ver mais nada.

gustavo gomes

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O que te mantém inspirado na foto-grafia de rua?Mais do que as fotografias em si, a sensação física de andar e ver as coi-sas se desenrolando. A sensação de aventura, de ir parar em lugares a que eu não iria se não fosse pra fo-tografar. Faz muito bem pra cabeça.

Você tem uma estética bastante es-pecífica. Como foi o desenvolvimento dessa abordagem visual?O grande salto foi durante um cur-so que fiz com o Carlos Moreira, em 2009, quando conheci fotógrafos de cor como o Harry Gruyaert e o Ge-orgui Pinkhassov. Rolou uma identi-ficação grande com o trampo desses caras e eu vi que essa era mais ou menos a minha linha. Mas claro que, além de questões formais, toda expe-riência vai se somando e resultando no jeito como a gente vê e fotografa. Difícil definir.

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YANNIS KARPOUZISParallel Crisis

Yannis Karpouzis faz uso da fotografia para falar da intensa crise sofrida pela Grécia. Suas imagens de-sejam congelar a tensão e a imobilidade infligidas

sobre o povo grego nos últimos anos. São detalhes, retratos e objetos que mostram o sentimento de paralisia sofrido pela Grécia devido à intensa crise econômica enfrentada pelo país, uma visão poética sobre um delicado e importan-te assunto político e econômico.

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É uma forma do tempo imobilizado

em si mesmo, está puro, sem passa-

do, presente ou futuro.Yannis, como começou seu interesse pela fotografia?Começou quando fui buscar minha garota na cidade de Estocolmo e de-pois na minha estadia em Copenha-gue. Tudo no norte era tão diferente, o ar, a terra, o vento. O pôr-do-sol. Meu mundo estava muito dramati-camente graças às planícies escandi-navas, tudo parecia tão absurdo. Foi quando levantei a pequena Olympus que carregava e comecei a fotografar. Esse tempo-espaço reconheço agora como “heterotopias” e a fotografia era a única maneira de encará-los. Nos conte sobre a criação de Parallel Crisis.Parallel Crisis foi, também, minha

reação ao fenômeno do “tempo imo-bilizado” que a minha geração está experimentando. Se diz que com um futuro já gasto há pouco tempo de sobra no presente, como na fotogra-fia. Eles não têm futuro, eles só espe-ram, se segurando ao presente. Você quer que suas fotografias falem do passado, do presente ou do futuro?De nenhum deles. Elas falam da Fo-tografia como um substrato, como a potencialidade da crise financeira que ocorreu, na forma do tempo e isso já foi comprado por algum ban-co, Estado ou que seja e nós nunca iremos entender esse processo com-pletamente. É uma forma do tempo imobilizado em si mesmo, está puro,

sem condições como passado, pre-sente ou futuro. Como se deu o processo de organizar algo complexo, como uma crise econô-mica, em uma série de fotografias?O processo foi reconhecer o proces-so: ver as fotografias como um subs-trato de uma perturbação financeira, psicológica e temporal. Meus sujeitos estão imobilizados antes da câmera registrá-los assim. Ou o sujeito é uma situação fotografada ou um objeto estático e o resultado é praticamente o mesmo. Como fotografar uma fai-

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este estranho jogo entre o “referen-te”, o “meio” e a “caixa vazia”. Evans apenas nos mostrou a soluçãoimpossível.

xada, fazendo uma fotografia vertical em duas dimensões, sem deixar que o meio roube sua terceira dimensão. É a mesma ideia, mas em relação ao tempo. Quais são os papeis do tempo e da sus-pensão na produção desta série?Walker Evans mostrou essa cone-xão no primeiro livro de fotografia da modernidade, American Photo-graphs. Ele mostra que se você usa o meio fotográfico para falar da crise você considera a fotografia como um substrato da crise também. Ao menos da crise que é produzida em um livro. Eu realmente acredito que esta fór-mula pode ser usada ainda nos dias de hoje para apresentar a “grande depressão” contemporânea evitando excessos e denúncias impensadas. É

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ADELAIDE IVÁNOVAErste Lektionen in Hydrologie (und andere Bemerkungen)

Adelaide deixou de reconhecer sua própria cidade. Desse desencontro, nasce a série apresentada na OLD. Uma investigação afetiva de um espaço trans-

formado, estranho para a fotógrafa. Em Erste Lektionen in Hydrologie (und andere Bemerkungen) Adelaide vaga pela Recife contemporânea em busca de vestígios e espaços que a permitam reconhecer a sua cidade e seu pai, que assim como a capital pernambucana passou por diversas transfor-mações - visíveis e invisíveis - durante a vida da fotógrafa.

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Meu pai, assim como Recife, tem uma trajetória semelhante na cons-trução (e também na sabotagem) de sua auto-imagem.

Adelaide, como começou seu interesse pela fotografia?Quando eu tinha 17 anos. Eu era tão apaixonada pelo primeiro namorado, não sabia como articular tanto amor e comecei a tirar fotos dele. Isso foi antes de entrar na faculdade, sem ter nenhuma ideia de fotografia en-quanto linguagem. Fotografava com a Kodak Instamatic que mamãe ti-nha me dado quando eu tinha uns 9 anos, era uma câmera velhíssima, grandosa, que me dava um pouco de vergonha de usar mas era a única que eu tinha. Hoje em dia é uma câ-mera hipster, veja lá, as voltas que o mundo dá haha!

Nos conte sobre o desenvolvimento de Erste Lektionen in Hydrologie (und

andere Bemerkungen).O projeto nasceu da minha dificul-dade em reconhecer Recife, quan-do via fotos da cidade publicadas em jornais e revistas internacionais, em artigos sobre as cidades-sede da Copa. Eu olhava as fotos e ficava sem acreditar que aquilo era Recife.

No ensaio você fala da personalidade do Recife e do seu pai. Como se deu a busca por elementos que refletissem essa relação?Recife sempre foi uma cidade mui-to peculiar e meu pai também é uma pessoa muito peculiar e o que eles têm comum são as mudanças dramá-ticas em sua visualidade.Até os anos 80, Recife era um pon-to de (contra-) cultura, de resistência

à ditadura militar. Aliado a isso veio Chico Science e o mangue bit, que reviraram a identidade da cidade. Mas alguma aconteceu ali pelo fim dos ano 90 e a cidade foi se acoxi-nhando. Acho que esse movimento tem muito a ver com a nova oligar-quia política que se formou na cida-de. Antigamente o poder estava con-centrado nos senhores de engenho; hoje em dia, na cena política, profun-damente ligada às construtoras, que por sua vez são as donas da imprensa local, e juntos esses três elementos são responsáveis pelas violações ur-banísticas e afetivas feitas na cidade

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desde os anos 70. Ele se posicionou fortemente contra a ditadura militar e as oligarquias locais ao ponto de se exilar em Israel no começo dos anos 80. No último capítulo do livro, eu tentei deixar esse paralelo bem claro usan-do a metáfora da Rua Saudade, nº 89. Neste endereço, onde inclusive meus pais se conheceram, funcionava um restaurante vegetariano, de um sujei-to chamado Glauco, que era onde a contra-cultura de Recife se encontra-va. Meu pai lançou seu primeiro livro, o “Manifesto cínico-anarquista”, lá. Hoje em dia, nesse mesmo endereço, antes um local de resistência, funcio-na uma loja que só vende flores de plástico. Para mim é a metáfora per-feita do que aconteceu com Recife, com meu pai.

– que vão desde demolições ilegais de construções tombadas e patrimô-nios históricos (vide caso do Edifício Caiçara) a leilões criminosos, como é o Caso do Cais Estelita. Essa pro-miscuidade da política local com as construtoras fazem de Recife um feu-do e violam constantemente a paisa-gem da cidade. Quando a paisagem da cidade é constantemente violada, a relação que o indivíduo tem ou cria com a cidade se transforma – não somente os hábitos mudam, mudam também a memória e a construção de uma relação afetiva. Meu pai, assim como Recife, tem uma trajetória semelhante na construção (e também na sabotagem) de sua au-to-imagem. Meu pai foi da revolução ao mainstream em algumas décadas e documentou tudo em álbums com fotos de si mesmo, que ele coleciona

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Produzir este ensaio te deu uma visão mais complexa sobre a cidade? Como a sua relação com Recife mudou durante a produção da série?A relação com Recife não mudou em nada, mas me ajudou a espantar al-guns fantasmas, tipo perdoar a cida-de. A gente tende a estender à cidade as decepções que temos com a vida, e vi que Recife é uma pobre coitada, uma vítima de quando o espaço ur-bano deixa de ser para pessoas e vira mísero balcão de negócios, moeda de troca.

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JOSÉ DINIZOLD entrevista

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José Diniz tem uma forte trajetória na fotografia e, em 2014, alcançou reco-nhecimento internacional com o mui-tíssimo elogiado Periscope. Diniz pro-duz uma fotografia muito sensorial, que constrói um mundo fantástico, de forte relação com a água, especial-mente a do mar.

Você tem uma formação variada, que passa por marketing e tecnologia da internet. Como você decidiu seguir pelo caminho fotográfico?Desde criança dedico a fotografia. Meu avô me deu a primeira câmara, ele foi um dos fundadores da Socie-dade Fluminense de Fotografia, um fotoclube muito ativo até nos dias de hoje. O meu pai era professor de de-senho e geometria além de dedicar fortemente às artes plásticas. Jovem, também dediquei a área tecnológica de programação de computadores e

redes. Quando surgiu a Internet me interessava muito pela parte interati-va que com o conhecimento em fo-tografia foi uma grande possibilida-de de experimentação que me levou para o design gráfico. Desde então, resolvi mergulhar nas artes visuais fazendo o curso de pós-graduação em Fotografia da Universidade Can-dido Mendes e participando dos cur-sos práticos e teóricos do Ateliê da Imagem e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage onde pude estudar com professores como Fernando Co-chiaralle e Anna Bella Geiger.

Suas imagens tem uma estética bas-tante específica. Você pode nos contar como chegou a esta construção visual?Quando jovem vivia dentro do ate-liê do meu pai, que além de passar todo seu conhecimento, tinha dispo-nível todo o ferramental para pro-

entrevista

duzir qualquer tipo de trabalho em pintura, nanquim, aquarela, madeira, couro dentre outros materiais. Lá eu pude adquirir habilidades manuais, composição geométrica, desenho, etc. Também passei muitos anos fre-quentando o Museu de Arte Moderna do Rio numa época de muita eferves-cência dos anos 60. Enquanto meu pai estudava com a Ione Saldanha e a Fayga Ostrower frequentei durante 4 anos o curso de pintura infantil com o artista concretista Ivan Serpa. Mais recentemente fui estudar gravura e serigrafia no EAV Parque Lage onde tive a oportunidade de experimentar processos híbridos. Na fotografia es-tudei com professores como Marcos Bonisson e Claudia Tavares que mui-to me influenciaram na linguagem contemporânea.

Vejo também uma relação forte com a

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do ao redor do mundo. Você pode nos contar um pouco sobre o processo de criação deste trabalho?O Periscope quando foi definitiva-mente impresso numa gráfica, já es-tava com um arcabouço bem amadu-recido. Foi lançado em 2014 mas seu projeto foi iniciado em 2007. Desde então, criei vários protótipos inter-mediários que mostrava a editores e curadores buscando refinar a edição sem sair do contexto do projeto.

Como foi o processo de produção do li-vro? Quais os pontos mais marcantes nesta jornada?O Periscope foi fruto de uma com-petente e dedicada parceria com a Editora Madalena que teve a coorde-nação editorial de Iatã Cannabrava e design de Ekaterina Kholmogorova resultando num livro completamen-te aderente ao conceito do projeto.

ma Cerrado onde visito fazem alguns anos motivados pela literatura, músi-ca e questões ambientais.Portanto, meu trabalho gira em torno do “lugar onde vivo”, mar e sertão.

Como se dá o seu processo de edição e construção narrativa? Você constrói metas pré-estabelecidas ou busca o sentido entre as fotografias depois de elas já estarem criadas? Penso que meu trabalho gira em tor-no de um aprendizado e memória. Gosto muito de estudar sobre litera-tura brasileira, história da arte, visita às exposições, feiras e galerias e lei-turas sobre o mundo da arte contem-porânea. Isso dá uma base para expe-rimentação e criação subsidiando um planejamento para novos projetos.

Periscope me parece ser seu trabalho de maior alcance, sendo muito elogia-

água – especialmente o mar - em seu trabalho. Este é um dos temas centrais da sua produção? Como você decide os temas com os quais vai trabalhar?Realmente o mar sempre me fasci-nou. Sempre vivi com o pé na água, tanto em Niterói, onde morava perto do mar, quanto nas minhas férias em Barra de São João onde ficava o dia inteiro na beira rio em contato com os pescadores e suas canoas. Pegava emprestado aquelas minúsculas em-barcações e saia a navegar pelo Rio São João. Enquanto isso meu pai pintava ma-rinhas inspiradas naquele lugar. Isso também exerceu uma forte influência na minha obsessão pelo mar.Não obstante das paisagens maríti-mas, trabalho muito com temas urba-nos retratando as questões do “lugar onde vivo”, como também tenho uma grande dedicação aos temas do bio-

josé diniz

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Uma das exigências era a excelência da impressão da pele negra, pois era um requisito herdado dos prints em papel que já utilizava para exposi-ções. Foram, portanto, cumpridas as exigências resultando numa exce-lente impressão pela Gráfica Ípsis. Lançamos o livro em São Paulo, Rio , Paraty em Foco e no Paris Photo sen-do indicado como um dos melhores fotolivros de 2014 pelo ICP – Inter-national Center of Photography em Nova York, Maison Européenne de La Photographie em Paris, Lens Cul-ture em Amsterdã dentre outros.

Você tem uma relação forte com a pro-dução de livros de artista e fotolivros? O que mais te chama atenção neste universo?O livro de artista há alguns anos faz parte do meu processo de trabalho. É um lugar de experimentação onde

tenho a oportunidade tirar partido da mecânica de um livro para editar minhas fotografias. Isso pode resultar em diferentes dinâmicas da constru-ção de um objeto tridimensional a partir da bidimensionalidade da fo-tografia.Citando a frase de Christian Bol-tanski “O livro é um lugar assim como o museu é um lugar... “

Além da apresentação em livro, seus trabalhos já foram expostos em diver-sos momentos. Como você o processo de tradução do trabalho para a página do livro e para a parede da exposição? Quais as principais diferenças nestes processos?Como já falei, o livro de artista está presente constantemente no meu processo de trabalho. Enquanto es-tou desenvolvendo um projeto aquilo já vira um livro o um esboço de livro.

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josé diniz

É como um escritor. Aos poucos vou construindo um objeto-livro. Quase nunca penso em exposição. Exibir um trabalho numa parede é um pas-so lá na frente e deve ter coerência com o livro. A comunicação de um trabalho na parede é diferente, mas de qualquer forma tem de ser criativa e atrair a atenção do espectador.

Quais são seus projetos futuros? O que você está desenvolvendo atualmente?No dia 2 de julho, sábado, inaugu-ra exposição individual no Ateliê da Imagem, na Urca, no Rio, onde estarei exibindo meu trabalho “Sertão Cer-rado” que é justamente a conjunção de 5 livros de artista que fazem parte do projeto. Os livros são: “Travessia”, “Fogo Cerrado”, “Delicadeza Bruta”, “Vertentes” e “Terra Roxa”. Os es-pectadores terão a oportunidade de ver na parede o que foi originalmen-

te produzido num livro de artista. A curadoria é de Claudia Tavares.No mesmo dia acontecerá a Feira Urca II de publicações independen-tes, arte impressa e fotolivro. Tudo isso no calendário do FotoRio 2016.No dia 16 de julho estarei ministran-do o workshop “Experiência do livro de artista no processo de trabalho de um fotógrafo”.No dia 03 de agosto exposição “Ser-tão Cerrado” na Galeria Arcimboldo em Buenos Aires, dia 01 de setem-

bro exposição “Selected Works by José Diniz” na Blue Sky Gallery, em Portland e 09 de setembro “Perisco-pe” na Jack Fischer Gallery em San Francisco.

Penso que meu trabalho gira em torno de um aprendizado e

memória. Gosto muito de estudar sobre literatura brasileira,

história da arte, visita às exposições, feiras e galerias e lei-

turas sobre o mundo da arte contemporânea.

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XAVIER SÁNCHEZAritmética Interior

Aritmética Interior é um processo fotográfico de busca por emoções, uma tradução visual dos senti-mentos de seu autor. Suas imagens buscam a cons-

trução de metáforas visuais para uma série de sentimentos cotidianos. Através de um processo de edição muito cuida-doso, Xavier Sánchez chegou ao resultado visual desejado, uma narrativa delicada e convidativa para o espectador.

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São as emoções que explodem ao sair, como um gêiser, e se deve tomar consciência do processo para canali-zar esses sentimentos

Xavier, como começou seu interesse pela fotografia?Tinha 17 anos quando meu pai me deu de presente a sua velha Yashica Electro 35, que ainda tinha guarda-da. Neste época me interessei ex-clusivamente pelo preto e branco e me afiliei a um clube de fotografia apoiado pela prefeitura de Barcelo-na. Lá passava as manhãs e as tardes dos sábados aprendendo a técnica de revelação em preto e branco e a teoria fotográfica com o fotógrafo barcelonês Jordi Pol que me incen-tivou a experimentar e descobrir a técnica fotográfica de uma manei-ra muito autodidata. Depois destes anos apaixonantes de descobrimen-to e aprendizado tive alguns anos de estancamento na minha evolução

fotográfica até que me juntei a um grupo de amigos da universidade para discutir fotografia e propor ati-vidades. À partir daquele momento me dei conta do imenso universo de possibilidades narrativas que a foto-grafia possui e das minhas carências como fotógrafo e foi neste momento que me encontrei com a proposta de formação do El Observatorio, local onde desenvolvi Aritmética Interior, além de outros projetos e da inesti-mável colaboração de professores e companheiros.

Nos conte sobre a produção de Arti-mética InteriorFoi um processo longo e complexo já que foi meu primeiro projeto foto-gráfico de maior complexidade e não

tinha a experiência sobre como enca-rar este processo. A proposta inicial do projeto era algo completamente diferente, pretendia apresentar como é a vida aos 40, mas percebi que que-ria incluir coisas demais e a cada edi-ção os resultado eram desconexos e pouco convincentes, não refletiam os conflitos e as emoções da vida coti-diana. Foi na penúltima edição em que tive que escolher algumas poucas foto-grafias de algumas dezenas, as ima-gens escolhidas não tinham nada a ver com o tema que eu tinha busca-do nos últimos meses, mas me sen-

xavier sánchez

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fa fácil chegar a este ponto. A esco-lha das cores também foi importante para garantir que o fio narrativo e o que deveria ser transmitido não fosse perturbado por uma estética incoe-rente. Hoje penso que o processo de edição é o mais complicado quando não se tem experiência e são neces-sários outros pontos de vista e um bom critério fotográfico, algo que foi proporcionado por meus professores e pela colaboração dos meus colegas, que muito me ajudaram.

Quais os papeis do medo e da melan-colia neste trabalho?São emoções que podem afetar a todos em algum momento de suas vidas, a incerteza sobre o futuro e a sensação de perda. No meu caso aconteceu pelo falecimento de mi-nha avó enquanto produzia este tra-

tia profundamente identificado com elas, havia uma questão emocional e pessoal muito forte nelas.

Quais foram os principais desafios na edição deste projeto?O maior desafio foi o tempo, de certa forma. Eu tinha pouco mais de dois meses até a apresentação do projeto e duas sessões de edição. Eram pou-cas fotos, apesar de não ter sido tão difícil seguir este caminho pois tudo estava no meu interior e eu tinha des-coberto claramente para onde queria seguir. Foi um verão fotográfico mui-to intenso e nas últimas sessões de edição foi duro construir a sequência narrativa, mas aprendi muito. As fo-tografias escolhidas além de encaixa-rem bem entre elas como história e definir uma estética deviam também comunicar as emoções e não foi tare-

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balho sobre ter quarenta anos. Co-meçaram a sair fotografias que não tinham nada a ver com o tema inicial que eu havia proposto. Algo tem que ter acontecido quando de repente aparecem imagens como a da jarra quebrada e remendada ou a de um bosque sombrio entre as fotos coti-dianas que você fez de seus amigos. Isso é muito significativo já que eu me identificava mais com essas fotos do que com as que eu havia feito nos últimos meses. São as emoções que explodem ao sair, como um gêiser, e se deve tomar consciência do proces-so para canalizar esses sentimentos e, no meu caso, convertê-las em narra-ção fotográfica.

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CAMILA PASTORELLITrem da Música

Camila Pastorelli voltou a Pindamonhangaba, sua ci-dade de origem, para registrar a festa junina da cida-de e a importância de um pequeno trem de madeira

neste processo. Suas imagens fazem um caminho direto en-tre trajeto, chegada e festejo, nos contando a história desta festa. Das imagens se pode tirar a alegria e a importância da festa para todos os envolvidos no processo.

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A música uniu todos esses movimen-

tos o tempo todo e foi graças a ela,

que tudo foi possível.

Camila, como começou seu interesse pela fotografia?Eu tive uma infância e adolescên-cia bastante documentada em fotos e vídeos. Acredito que foi a sorte de ter uma família que gosta muito de registrar tudo a todo momento, mesmo em uma época “pré-digital”. Quando tinha uns 18 anos, descobri uma câmera Nikon FE guardada em casa, que era do meu pai. Ele então me deu de presente e passei a andar com ela para todo canto. Depois de um tempo, me mudei para São Pau-lo para estudar Jornalismo e pude aprender mais de fotografia e reve-lação, passei a pesquisar fotógrafos, ir a exposições e ganhar mais reper-tório.

Nos conte sobre a produção da série Trem da MúsicaA série surgiu por acaso quando pas-sei alguns dias em Pindamonhanga-ba, cidade onde morei antes de me mudar para São Paulo e onde atual-mente ainda moram meus pais e al-guns parentes. Em Pinda, existe um bondinho de madeira que serve como opção de transporte para as pessoas que vivem na zona rural da cidade. Quando estava por lá soube que, por causa da época junina, o bondinho iria sair da estação, bem no centro da cidade, todo enfeitado e com uma banda de músicos que iria levar as pessoas até o local onde a prefeitu-ra estava fazendo uma grande festa junina. Decidi então documentar, pois me pareceu algo bem diferente

e pensei que seria uma grande opor-tunidade para mostrar um pouco da tradição do interior para outros pú-blicos que não têm ideia que cenas como essa ainda acontecem no Bra-sil.Sempre adorei festas juninas, é mi-nha época favorita do ano, tanto pelo tempo que é mais fresco, como pelas músicas, danças e comidas que es-sas festas trazem. Para mim, foi um momento muito especial. As pessoas estava um pouco tímidas no começo, mas em poucos minutos, quando o movimento do bondinho embalou, começaram a dançar forró, cantaram

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de transporte ainda nos dias de hoje; o mesmo trem que leva músicos e público para uma festa no meio do mato; o público jovem que nunca ha-via entrado em um trem desses e os mais antigos que têm lembranças e histórias vividas ali.O ensaio foi feito nos primeiros dias do inverno, em um fim de tarde, en-tão o cenário não podia ser mais ci-nematográfico. Quis aproveitar as janelas, a paisagem e as pessoas que paravam do lado de fora para ver o bondinho passar.No começo, as pessoas no vagão no-tavam minha presença e faziam pose para a câmera, mas depois de um tempo, esqueceram que eu estava ali e foi quando pude explorar um pou-co melhor a alegria e a energia da via-gem.O ensaio termina na festa junina já

músicas de raiz e até ensaiaram uma quadrilha dentro do vagão. Como você buscou trabalhar o elemen-to sonoro nas suas imagens?Acho que mais que o elemento so-noro, tentei trazer o movimento. O movimento da viagem, da dança no vagão, dos músicos tocando seus ins-trumentos e da quadrilha na chega-da da festa. A música uniu todos es-ses movimentos o tempo todo e foi graças a ela, que tudo foi possível. A energia que ela trouxe facilitou todo o processo das imagens. Como você buscou construir a narrati-va com a sequência das imagens?Como disse na questão anterior, que-ria explorar o movimento. E também aproveitar todos os inusitados do ca-minho: o trem de madeira que serve

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montada, no bairro Piracuama, na zona rural da cidade. À noite, a pro-gramação tinha algumas quadrilhas, mas uma em particular me chamou a atenção: era formada por um grupo de idosos. Mais animados que mui-ta gente, eles dançaram, cantaram e se divertiram muito. Foram super aplaudidos. Fez muito sentido incluir essa parte no ensaio.

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Vilém Flusser nos diz que a repre-sentação do mundo feita pela huma-nidade, a cada grande salto, aumenta a distância que a separa do mundo vi-sível. O que não necessariamente sig-nifica uma aproximação com o mun-do invisível, mágico. Ou seja, Flusser se refere ao fato de que a imagem retira a dimensão da profundidade. A representação está no plano. Com a escrita, mais uma dimensão se vai e resta a linha. Essas abstrações exi-gem uma especialização daquele que

pretender entender o mundo a par-tir dessas formas de representação.Das primeiras imagens produzidas chegando na escrita linear. Depois da escrita para a fotografia do século XIX. Seguindo o caminho, da foto-grafia para a imagem digital ou, se preferirem, da fotografia analógica para a fotografia digital, mais ele-mentos removidos.Pensando a partir daí temos a ima-gem digital com um grau maior de abstração, o que significa uma nova janela por onde olhamos o mundo. Um grau maior de abstração não porque ela, imagem, abstraia dimen-sões da representação mas porque ela abstrai o papel, a parte física. Não porque ela não tenha um “suporte” físico uma vez que a tela do cinema

ou do computador ocupam esse lu-gar de sustentação. De alguma maneira ainda não mui-to bem compreendida essa mudança altera a escrita e a leitura da imagem. Apenas um dos sentidos, a visão, é responsável pela leitura da produção imagética digital. O cheiro dos quí-micos na fotografia analógica, o to-que no papel fotográfico com a ima-gem impressa quase desapareceram. Cada vez mais a imagem se mostra sem suporte físico. Sentidos como o olfato e o tato perdem lugar. A apreensão do mundo visível ape-nas pelo olhar já produz mudanças significativas nos ritmos de produção e consumo de imagens. E, como sem-pre acontece, muitas possibilidades de criação se abrem para todos nós.

Angelo José da Silva é professor de socio-

logia na Universidade Federal do Paraná e

fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes fo-

cam o espaço urbano e o grafite.

ABSTRAÇÕES E PER-DA DE SENTIDOS

reflexões

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reflexões

De alguma maneira ainda não muito bem compreendida essa mudança altera a escrita e a leitura da imagem. Apenas um dos sentidos, a visão, é responsável pela leitura

da produção imagética digital.

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Fotografia da série Sem Título, de Camila Domingues.Ensaio completo na OLD Nº 59.

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