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O terceiro numero da OLD esta especial. Temos um portfolio do grupo uaiPhone, que so fotografa com celular e o portfolio da Paula Davies, todo de Lomo. A entrevista e com Luli Radfahrer que fala de fotografia e tecnologia! Temos tambem dois convidados especiais, Joao Valadares e Philippe Machado. A OLD Nº 4 vai ser impressa e voce pode escolher o conteudo dela! e so votar aqui: https://spreadsheets.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dGhlbkdFR3ZKM3Y4a3VBeDN6TmM3cWc6MQ

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Primeira Foto Paula Hayasaki

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Revista Old Número 03 - Julho de 2011Equipe Editorial - Felipe Abreu e Paula HayasakiDireção de Arte - Isabella Nardini e Felipe AbreuTexto e Entrevista - Felipe AbreuSocial Media - Pedro TestolinoCapa - Philippe Machado

FotografiasPaula Hayasakiwww.flickr.com/paulahaysakiJoão [email protected] Machadowww.lomography.com.brPaula Davieswww.lomography.com/homes/pauladavies

EntrevistaLuli Radfahrer www.luli.com.br

Contato:[email protected]

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Chegamos à terceira edição da OLD e es-tamos começando os preparativos para a versão impressa da OLD, que chegará em Agosto, com uma coletânea dos melhores portfolios e entrevistas escolhidas por você na nossa pesquisa online.Nesse mês a OLD apresenta dois portfolios temáticos, o primeiro do coletivo uaiPhone, sobre fotografia com iphone. O segundo, de Paula Davies, sobre Lomography. Além das belíssimas fotos, as falas dos fotógrafos são ótimas criando um debate muito rico.Para reforçar o debate temos duas mini entrevistas com João Valadares e Philippe Machado. O primeiro, jornalista pernambucano que usa o Instagram como forma de denúncia fotográfica. O segundo, representante da Lomo no Brasil, com sede no Rio de Janeiro.Nessa edição entrevistamos Luli Radfahrer, professor de fotografia e design na USP, fa-lando de novas tendências para a fotografia

e tecnologia. Um papo muito completo e divertido.A grande novidade desse mês na OLD é o início da nossa parceria com o coletivo Fora do Eixo, uma rede de artistas espalhada pelo Brasil, com diversas atividades em todas as áreas da produção artística.Nesse primeiro mês o pessoal apresenta a Casa Fora do Eixo, sede da galera aqui em São Paulo, munidos de seus sempre presentes iPhones.Espero que vocês gostem da nossa terceira edição, mais recheada! Até Agosto, dessa vez com versão impressa e online!

Felipe Abreu

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Fora do Eixopelo iphone

O Fora do Eixo é o mais novo parceiro da OLD. Nesta edição eles apresentam a casa sede do movimento em São Paulo, através de seus sempre presentes iPhones.

Disparamos idéias, emoções, oportunidades, pessoas, situações inusitadas, ritmos e expressões em 140 caracteres, ou mais, dependendo do objeto focado.

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Multiplicamos isso a milhares, munidos de nossos iphones, registrando tudo o que se passa em nossas casas coletivas e na rede.

Transformamos as câmeras em seus olhos e deixamos você nos enxergar de perto. Formamos o Circuito Fora do Eixo, rede colaborativa que une mais de 70 pontos no Brasil e América Latina e trabalhamos conectados pela cultura independente e pela democratização do conhecimento. Somos mais de 2 mil pessoas, com seus diferentes sotaques, cores e origens, que mantêm uma rede online 24 horas por dia, debatendo ideias e planejando ações em trocas diárias de informação.

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João Valadaresfotojornalismo pelo celular

João Valadares é um jornalista pernam-bucano que utilizou o software de com-partilhamento de imagens Instagram para denunciar as enchentes que atingiram o estado neste ano.

Você acredita que a fotografia com celular irá substituir as câmeras SLR no fotojornalismo cotidiano?

Eu sou repórter. Meu negócio é escrever. Nunca fui fotógrafo. Não entendo nada de técnica fotográfica. Absolutamente nada. Hoje, a gente já tem repórter que vai para rua com um celular na mão. Muitas vezes,

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o que vale é a informação jornalística. Mesmo que a fotografia não seja um primor. Acredito que os celulares serão um comple-mento. Uma coisa não anula a outra.

Qual a importância do Instagram e de ou-tros aplicativos de distribuição de imagem via celular para o fotojornalismo?

Entendo como mais uma maneira de gritar-mos juntos. Representa mais um caminho de multiplicar indignação, de mostrar o que tá errado, de alertar autoridades e também de aplaudir os acertos. A velocidade de trans-missão das imagens é muito importante para o sucesso do resultado que queremos. Quem sofre tem urgência. Um dos personagens pede que eu avise, pelo amor de Deus, que eles estão sem água potável e sem comidanum abrigo improvisado. O aviso não precisa mais ser dado de maneira convencional, a-penas pelo jornal. Antes mesmo de retornar à redação, o assessor do governador, por

exemplo, já ficou sabendo onde a ferida é maior. O alerta, por meio de imagens, pode e deve ser dado também pelo twitter, facebook, instagram. É preciso ocupar e utilizar todos os meios disponíveis e da maneira mais rápida possível. A minha preocupação tam-bém é urgente. E, neste caso, o Instagram é perfeito.

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uaiPhoneprodução coletiva

O uaiPhone é um coletivo brasileiro com 22 membros que compartilham e divul-gam sua produção fotográfica feita com o iPhone. O grupo surgiu quando Bruno Figueiredo começou a fotografar Londres com o dito aparelho em 2010. Desde então foi só crescimento, chegando até cinco países.

O iPhone é determinante em sua produção ou é somente um equipamento?

Erica Kawamoto: Como fotógrafa por aci-dente que sou, o iPhone é determinante em

minha produção. O fato dele estar sempre comigo e à mão, de ser de fácil manuseio e de ter todos aqueles aplicativos para poder manipular a imagem e postar tudo ao mesmo tempo, são fatores que impulsionam e, de certa forma, determinam a minha produção. Ao ver a foto acontecendo é só tirar o iPhone da bolsa e a foto já está feita. Não tem mais aquele momento de “ah, se eu es-tivesse com a minha câmera aqui”. Tirar fotos é muito mais fácil e quase automático com um iPhone em mãos. Mas sei que apesar de todas essas facilidades, esse é um equipa-mento limitado. Por mais fotógrafa de

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iPhone que eu seja entendo que fotografia é mais que instantaneidade e que muitas vezes ele é apenas um simples equipamento.

Quanto do interesse da fotografia com iPhone está na pós produção e nos aplica-tivos para fotografia?

Tomás Arthuzzi: Eu diria que muito, não sei exatamente o quanto. O fato de editar rapida-mente e obter resultados bonitos e variados é uma das coisas que me desperta interesse em fotografar com o iPhone. Provavelmente, se tivesse que editar as fotos feitas a partir dele em outro momento, no computador, tudo seria diferente.

O fato de ter ali, na hora, várias possibili-dades faz com que você transmita algo que estava acontecendo no momento para a foto, coisa que não seria reproduzida em um momento posterior.

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Beni

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Como você lida com as limitações técni-cas do iPhone em sua produção?

T A: É tranquilo, afinal nunca usei nada produzido com ele para fins profissionais. Não por preconceito ou por achar que não vale, ou qualquer coisa neste sentido, mas sim pelo simples fato de nunca ter tido uma oportunidade. Se um dia tiver, com certeza não serão as limitações do iPhone que me trarão problemas. Sei os limites dele e até onde posso ir.

Quanto pesa a fotografia do cotidiano dentro da produção do uaiPhone?

Bruno Figueiredo: “A melhor câmera é aquela que está com você” e ter uma câmera sempre a mão faz com que o seu olhar fique muito mais atento a tudo o que acontece ao seu redor. O iPhone mudou minha rela-ção com a fotografia, fazendo com que ela

se tornasse mais frequente e espontânea. Essa experiência me remete muito à maneira como Cartier Bresson fotografava, sempre com uma câmera a tira-colo. Devido a isso, ele é considerado o pai da fotografia de rua e do novo fotojornalismo. Por todos esses motivos a fotografia do cotidiano foi

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Eric

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Bruno Figueiredo

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Brun

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fundamental para o nosso projeto. Entretan-to, já exploramos isso o suficiente e entramos no estágio de deixar de lado as fotos aleatórias e focar em uma produção coletiva. O objetivo é dar mais sentido e consistência ao conjunto da obra, e isso era um caminho inevitável visto que somos, na grande maioria, fotojornalistas bastante atuantes no mercado editorial. Estamos sempre discutindo e refletindo sobre o proje-to e já estamos planejando uma reformulação do site, a fim de facilitar a execução e compartilhamento dos futuros projetos. Parafraseando Glauber: Um celular na mão e uma idéia na cabeça.

O tamanho do equipamento é uma grande vantagem no registro documental?

André Americo: O tamanho do equipamento é fundamental, tanto para o conceito do UaiPhone quanto para a linguagem da

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César Tropia

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Netun LimaCésar Tropia

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fotografia com iphone. O celular cabe no bolso e está sempre à mão, não existe mais aquela história de “perdi a foto porque estava sem câmera”. Todo momento é momento de fotografar, aos poucos é possível enxer-gar uma foto, um enquadramento em tudo o que se vê, o celular ajuda a registrar essas visões. Outra vantagem é o fato de poder fotografar as pessoas sem ser visto, flagrar situações onde só se é possível com uma câmera pequena e discreta o suficiente para que o personagem não perceba que está sendo fotografado. Estou fazendo uma série de imagens de pessoas dormindo nos met-ros e trens de São Paulo (em breve estará no UaiPhone), esse trabalho não poderia ser feito com uma câmera tradicional. Primeiro porque as pessoas nunca ficam à vontade com um fotógrafo por perto, depois porque a câmera grande chama atenção tanto do fotografado como das pessoas em volta, que adotam uma posição mais defensiva em

relação ao fotógrafo, dessa forma não é pos-sível captar as pessoas em situações genuinamente espontâneas.

Você deseja que seu trabalho seja visto como “fotografia com iphone” ou você não deseja esse rótulo técnico?

A A: Não me preocupo com esse rótulo, ele é temporário. A fotografia com o celular ainda é vista como uma imagem low quality, mera-mente de registro. Isso está mudando, e o UaiPhone contribui muito para a mudança. Aos poucos as pessoas estão começando a enxergar a imagem com o iphone como uma forma legítima de fotografia. Isso acontece principalmente pela evolução das câmeras fotográficas de celular. Hoje, é possível con-seguir uma imagem de qualidade suficiente para impressão com o iphone. O papel do UaiPhone é mostrar que é possível criar imagens memoráveis com o aparelho

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celular. Dessa forma, a fotografia com iphone vai conquistando seu espaço como lingua-gem. Num futuro próximo, não vai existir “foto de iphone”, vai existir apenas foto. As câmeras de celular vão continuar evoluindo e, acredito, que a fotografia com o celular vai acabar ganhando o mercado das máquinas fotográficas portáteis.

As regras da Lomography podem ser apli-cadas à fotografia com iPhone?

E K: Acredito que se caso existissem,as re-gras do iPhone seriam muito semelhantes às da Lomography. Além de ser minha câmera, o iPhone também é o meu telefone, portanto é bem provável que estará comigo aonde eu for. Pronto para ser usado, tanto de dia quan-to de noite, sem interferir na minha vida. Na verdade, ele já faz parte dela de uma certa forma. Sem falar que é quase natural pegar o iPhone, o mais rápido possível, quando

uma foto aparece na minha frente. E depois, caso ela dure um pouco mais, é ótimo ficar testando todas as possibilidades (mais perto, mais longe, horizontal, vertical, diagonal...). E isso, só pelo prazer de clicar, sem ter quelevar nenhuma regra sério.

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Luli Radfahrerentrevista

Luli é professor de fotografia e design na USP e parceiro da OLD desde o número zero. Pesquisador e praticamente fundador da web no Brasil, Luli fala aqui justamente de fotografia e tecnologia.

O que muda pra fotografia com o crescimento de dispositivos móveis e da internet wi fi e 3G?

Primeiro, são duas coisas diferentes, eu acho que o dispositivo móvel é a ampliação daqui-lo que a fotografia digital já trouxe pra gente em termos de democratização. Antes do digital a fotografia era uma coisa que se dizia acessível, mas era uma coisa para ocasiões

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especiais. Do mesmo jeito que o impresso era uma coisa para ocasiões especiais. Então eu me arrumava para uma fotografia, eu sorria para a foto e a idéia de foto espontânea era uma coisa de fotógrafo profissional. Uma coisa de National Geographic ou de fotografia de moda, uma coisa de quem podia se dar ao luxo de fazer uma foto nesse estilo, usando várias técnicas de fotografia que jamais foram utilizadas pelo usuário comum, como por exemplo o motion blur, que hoje é muito comum, mas que era uma coisa de quem tinha muita técnica e muita prática. E você não vai apren-der motion blur fritando filme, então a primeira coisa é a foto digital, com grandes cartões de memória e câmeras de uma quali-dade mínima, quer dizer: quando se passou a ter boas objetivas, 5 mega pixels e cartões de memória com mais de 8gb, a coisa começou a melhorar mesmo e um monte de gente começou a fotografar.

A fotografia evolui e se multiplica quando ela passa de uma fotografia mais técnica para a fotografia instantânea, da Kodak, lá nos anos 60, com a câmera automática. Depois disso você tem a revelação de uma hora, que no fundo foi só um progressinho tecnológico. Surge a câmera digital, até ela ficar boa ela se multiplica e um monte de gente fotografa. Daí vem a internet e os grandes portais de fotografia, com eles a coisa muda mesmo. Porque você tinha um problema: você tirava um monte de fotos e elas ficavam armazena-das em algum lugar no seu computador. Agora, com esse novo cenário, você tem um monte de gente compartilhando um monte de foto. E por último você tem o telefone com foto e coisas como o Instagram que multiplica ainda mais [o diálogo entre fotógrafos].O que está acontecendo na verdade é uma enorme alfabetização visual das pessoas na prática, sem muita teoria, elas estão fotografando mais e portanto estão enxergando melhor e

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alfabetização.

Não sei se você se lembra, mas nós já conversamos sobre distribuição de imagens e sobre o Instagram e você disse que queria ver quando as pessoas iriam começar a usá-lo para obter informação jornalística. E isso já está acontecendo...

já conheceu a técnica até um certo limite e que à partir dali ele vai usar aquela técnica para transmitir uma mensagem. Agora, quem faz fotografia artística ou publicitária está sempre explorando o limite da técnica. Então a relação desses caras com o tempo é com-pletamente diferente. O Instagram começou como uma coisa nova, todo mundo virou

...Pois é, mas para pegar informação de lá você precisa ter muita naturalidade com a ferramenta. Você precisa passar da etapa “do efeito”. Eu acho que a primeira coisa que você quer quando pega uma ferramenta nova é explorá-la ao máximo. Acho que a principal diferença entre o fotojornalismo e a fotografia publicitária é que ele é feito por alguém que

também há uma enorme consciência da ima-gem que é uma coisa que não se tinha an-tes. Hoje quando você fala em semiótica ou consciência da imagem ou importância dela, são coisas que não fazem sentido só para o estudante de comunicação, elas fazem sen-tido para qualquer um. Então é muito bacana porque é no fundo um processo de

uma coisa impensável dez anos atrás, que você iria ter uma legião de pessoas usando fotos para se exprimir visualmente e sem texto.

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Acho que depende muito da definição de crise. Ela pode estar em crise se você pen-sar na fotografia tradicional e no jeito que o fotógrafo profissional era tratado e lidava com o mercado e agora você tem uma profusão de amadores. Sim ela está crise. Agora ela não está em crise se você pensar que, cada vez mais as pessoas estão entendendo que existe a fotografia e a importância que ela tem, coisa que antigamente um indivíduo

os tempos nunca estiveram tão negros para quem trabalha com fotografia em um modelo tradicional e nunca es-tiveram tão propícios para quem quer enxergar um novo modelo de fotografia.

artista, todo mundo foi explorar, alguns per-ceberam que “já aprendi o que precisava da ferramenta, agora vou me comunicar”. Vou me comunicar para, por exemplo, mostrar meu estado de humor, o que é uma coisa impensável dez anos atrás, que você iria ter uma legião de pessoas usando fotos para se exprimir visualmente e sem texto, ou com uma linha de texto. Isso é uma baita inteligência visual que não existia. Por outro lado vocês tem os caras que já aprenderam o que tinham que aprender e agora vão usar o aplicativo para transmitir uma mensagem, porque se não eu vou ficar que nem criança brincando com palavras quando tá aprenden-do a falar. Todo mundo já balbuciou bastante pelo Instagram e quem já tá lá faz um certo tempo já está se comunicando, seja com texto, seja com imagem.

Você acha que a fotografia está em crise?

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Luli

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Luli

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não entendia a diferença entre uma foto boa e uma ruim. Então, os tempos nunca estiveram tão negros para quem trabalha com fotografia em um modelo tradicional, e nunca estiveram tão propícios para quem quer enxergar, entender, um novo modelo de fotografia.

Como a imensa quantidade de conteúdo na web ajuda e prejudica na produção de imagens?

Ela ajuda por que ela dá para um indivíduo uma referência melhor do que é bom ou ruim. O problema é que quando você tem muito conteúdo na web a pessoa pensa: “porque é que eu vou pagar para alguém?”. Não existe mais a lei da oferta e procura. Se eu quiser eu pego de graça. Mas, ao mesmo tempo, se tem muito conteúdo na web, eu começo a ficar mais consciente em relação a o que é um bom conteúdo. Agora é uma época ruim,

porque ainda tem a história de ter “muito con-teúdo de graça” , mas está se tornando aos poucos uma época boa porque as pessoas estão tendo más experiências com o conteúdo gratuito que elas encontram na rede e todo mundo tá notando isso e elas es-tão recorrendo a um bom fotógrafo. Acho que facilita muito. Por exemplo, qualquer pessoa pode bater uma foto minha, então porque eu preciso de um profissional? Bate você mesmo e vê o que acontece, sabe? Não adianta. As pessoas precisam tentar e precisam errar. Isso é muito frustrante para o fotógrafo, mas eu acho que o fotógrafo que se dedicar a ensinar o seu cliente tem um mundo muito bacana pela frente. Eu acho que o fotógrafo tem uma postura muito ar-rogante em relação à web. Ele faz de conta que ela não existe e espera que o mundo reconheça o seu valor. Isso não vai aconte-cer. Ele tem que entender que a web existe e entender como usá-la para provar o seu

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valor. É a diferença da Madonna pra Lady Gaga, pô.

A fotografia está passando por um mo-mento de grande crescimento tecnológico e de nostalgia analógica, como você vê isso?

É engraçado. Antes pra você produzir uma fotografia boa você precisava de uma técnica muito boa, era quase uma vitória produzir uma fotografia boa. O erro era o normal. Então a fotografia tinha uma coisa de artes plásticas, de serigrafia, de gravura, que para eu acertar eu precisava errar muito. O com-putador começou resolvendo esse problema e o resolveu muito bem, tanto que hoje ele não erra. Tanto que hoje eu tenho auto foco, estabilizador, auto isso, auto aquilo, profundi-dade de campo gigantesca... Beleza. Eu não erro, mas o problema é que a imagem ficou perfeita demais, hoje eu quero, como pessoa

que está vendo uma foto, um registro mais humano, que tenha a garantia de que foi feito por uma pessoa e não por uma máquina. É por isso que é tão bem vinda essa onda enorme de nostalgia. Na verdade eu estou manipulando o erro digital. Então, é um erro, mas é um erro manipulado. Se eu quiser eu tenho a foto certinha, o que eu estou con-trolando é a expressão. Então, não é que é nostalgia ou erro, é uma forma diferente

hoje eu quero (...), um registro mais humano, que tenha a garantia de que foi feito por uma pessoa e não por uma máquina. É por isso que é tão bem vinda essa onda enorme de nostalgia.

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Luli

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iPhone fez alguns ajustes para o mercado do consumidor comum: câmera de 5mp, um monte de aplicativos visuais pra isso, ponto de foco no toque, quer dizer é muito para o público comum mesmo.

iPhone ou Lomography?

Difícil essa... Eu acho que os dois, por uma coisa muito simples: eles são para funções completamente diferentes. São formas com-pletamente diferentes de expressão. Você pode se exprimir através de um poema curto, de um soneto ou de um livro. As três coisas são sua expressão, nenhuma é maior do que a outra, mas uma demanda um grau de envolvimento muito maior do que as outras. Então, se é pra pegar a Lomo, é pra pegar a Lomo de verdade, ter um relacionamento sério com ela, fazer um planejamento, es-colher o dia certo, com a luz certa e revelar o filme. Então eu vou passar pelo processo todo e o processo vai me envolver. Se é o iPhone é um envolvimento muito mais curto, mas que não precisa ser menos intenso. Um é ficar, o outro namorar. Com a grande vantagem que nesse caso as relações podem e devem ser polígamas.

de expressão. Bater uma foto perfeita, todo mundo bate, o problema é fazer uma foto expressiva...

...é engraçado que até os aplicativos do iPhone buscam características lo-fi...

...sim e é proposital. Você percebe que o

não é que é nostalgia ou erro, é uma forma diferente de expressão.

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Philippe MachadoLomography

Philippe faz parte da equipe da Lomography no Brasil, com sede no Rio de Janeiro, e ele respondeu duas perguntas essenciais sobre a Lomo

Por que o futuro é analógico?

Por que o futuro não pode ser analógico? Brin-cadeiras à parte, o movimento analógico não tem a intenção de criticar o mundo digital e a sua natural necessidade de novidades, lança-mentos e upgrades. Mas a proposta é mostrar que existe outra maneira de ver as coisas e que o ato de fotografar pode ser divertido e libertário. Diariamente recebemos a visita de jovens que buscam algo novo, que possa sur-preender e que permita um contato maior com o processo, filmes, revelação. Apertar o botão

é só uma parte da brincadeira.

Quais as vantagens de uma produção lo-fi?

O prazer de fazer uma foto usando uma câmera sem recursos é incomparável. Pen-sar a luz, lembrar do foco, isso será determi-nante no resultado final da imagem que vai ser revelada e impressa. Ter esse controle, ou simplesmente por opção, não ter nenhum controle, é uma decisão que foi afastada das pessoas pela tecnologia. As câmeras “mod-ernas” e cheias de recursos tomam essas decisões por nós. A fotografia analógica, usando uma câmera simples devolve de uma maneira bem diverti-da, o resultado ao seu verdadeiro autor.

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Paula DaviesPortfolio

Paula é formada em Audiovisual pela USP e apresenta aqui na OLD um belo portfolio usando as técnicas da Lomography.

O que te atraiu na Lomography?

Um dia eu estava meio na pasmaceira fo-tográfica, cansada da mesmisse das fotos. Tinha juntado um dinheiro e queria comprar uma câmera nova pra dár um gás na vida. Aí pesquisando no google eu achei umas fotos feito com filme 35mm na Holga (aquelas que a foto ocupa toda a extensão do filme, inclu-sive os furinhos). Aí pronto, morri. Era aquilo que eu queria, era lindo, me dava frio na

barriga de tão lindo. A imagem que não cabia dentro do quadro, as cores desbalanceadas, a falta de nitidez, o grão, tudo isso juntou com o enjôo que eu tava da fotografia tradicional, nítida e com cores balanceadas. Isso na época transparecia todo o enjôo que eu estava da vida e do lirismo bem compor-tado (como diria o Manuel Bandeira), e eu me apaixonei. Aí saí caçando uma Holga (nessa época não tinha o Lomography Brasil, não era tão fácil conseguir uma toy camera), comprei uns filmes slides vencidos no Mer-cado Livre e me joguei.

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A Lomo tem diversas possibilidades de experimentações técnicas, como dupla exposição e fotografias sequenciais, como você lida com esse aspecto na sua produção?

Eu adoro. Na verdade eu já fazia vários ex-perimentos com uma SLR analógica que eu tenho, mas eram experimentos mais “caxias”, eu estudava bastante os filmes, as revela-ções, me preocupava em fazer tudo certo de acordo com o “manual”. Então eu já fazia dupla exposição, puxava uns pontos na reve-lação, mas sempre procurando o balanço. Aí com a Lomo eu desencanei de ser caxias e sai experimentando sem dó nem piedade, e no fim das contas foi o que eu mais gostei. Eu gosto bastante de fazer duplas exposições e fazer experimentações técnicas com os filmes: fotografar com o negativo no avesso pra fazer um redscale (as fotos saem em tons de vermelho), revelar negativo em

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química de positivo, coisas do tipo. O último que eu fiz foi revelar um positivo em química de negativo e puxar 2 pontos, deu um efeito de cor bacana, os claros ficaram bem claros e as cores ficaram bem saturadas.Com essas experimentações você acaba tendo uma idéia, mas não sabe exatamente como a foto vai sair. Então fica aquela an-siedade pra revelar o filme e ver o que que a química da revelação fez pela gente. É claro, nem todas as fotos saem ótimas, e quem fotografa com filme sabe, se a gente tira umas 4, 5 fotos bem boas de um rolo, é uma vitória.

Você segue as regras da Lomography? O que você acha delas?

Hahaha, não, não sigo. Eu encaro essas re-gras da Lomografia como uma piada interna, tanto que a última regra é “não leve a sério nenhuma regra”. É que tem tanta gente

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que vive de regra... A fotografia mesmo é uma regra atrás da outra, de fotometria, balanço de branco, regra dos 3 terços, que eu gosto de acreditar que fizeram um “manual do lomógrafo iníciante” só pra tirar um sarro. Afinal, não faz sentido regras para ensinar as pessoas a quebrarem regras, va-mos destruir tudo logo de vez, hehehe.

Seu trabalho tem um registro pessoal, do cotidiano, muito forte e interessante. Como é a sua dinâmica de produção? Que tema você mais gosta de abordar?

Eu gosto do cotidiano, da rotina, das coi-sas de sempre, o simples. Eu até saio para fotografar, do tipo “vamos no lugar X que é legal para tirar umas fotos”, mas a maioria das minhas fotos são feitas na minha casa, ao redor dela, ou no caminho que eu faço di-ariamente para ir trabalhar, naqueles lugares de sempre, velhos conhecidos da minha

memória. Eu acho que a fotografia é muito ligada a essa coisa da memória, tem intrínseca essa questão da recordação. En-tão em geral eu tento manter uma câmera na minha mochila, para “eventualidades”, e sem-pre sigo meus caminhos diários olhando e reolhando tudo ao redor. Eu gosto de pensar que as imagens são meu diário de vida, meio como “hoje eu estava passando na rua e vi uma placa de trânsito de um ângulo muito legal”. Eu procuro nas minhas fotos justamente a banalidade, não o especial. Mesmo que a banalidade seja numa ocasião especial, hehehe.

Você acha que a Lomo limita ou expande as possibilidades de um fotógrafo?

Eu acredito que expande. Mas é como uma lente, depende da situação que se vai fo-tografar para saber qual se vai usar, se é

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melhor usar uma Holga, uma LCA ou uma digital. Depende também da pegada do fo-tógrafo. Eu, mesmo fotografando com digital, gosto bastante de saturar as cores, a mesma questão do tema cotidiano e banal, não sou tão ligada a grandes produções e nem pro-curo aquela nitidez publicitária. Então se uma pessoa se propõe a fotografar com essas toy cameras, tem que ter na cabeça que não são os mesmos recursos de uma digital moderna, que muitas vezes o que você vê no visor não é exatamente o que vai sair na foto e que uma parte do processo não está mais nas mãos do fotógrafo, está no acaso: qual o comportamento daquele filme expirado com aquele tipo de luz, com aquela revelação, ampliação etc. Agora não rola você sair pra fotografar com uma toy câmera e se compor-tar como se ela fosse uma digital, não é. A gente tem que jogar nas regras dela, e elas em geral tem personalidades fortes.

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Mande seu portfolio para [email protected]

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