obtenÇÃo e caracterizaÇÃo de carvÃo ativado...

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OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE CARVÃO ATIVADO OBTIDO DE RESÍDUO DE CARVÃO VEGETAL DE ACÁCIA NEGRA T. Schmitz 1 ; N. R. Marcilio 1 ; L. S. Machado 2 ; A. B. D. Moura 2 1-Departamento de Engenharia Química Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rua Engenheiro Luiz Englert CEP: 90040-040Porto Alegre - RS Brasil Telefone: (51) 3308-3315 Fax: (51) 3308-3277 Email: [email protected], [email protected] 2- Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas - ICET Universidade Feevale ERS 239, 2755 CEP: 93525-075 Novo Hamburgo- RS Brasil Telefone: (51) 3586-8800 Fax: (51) 3586-8800 Email: [email protected], [email protected] RESUMO: Carvão ativado foi produzido a partir de resíduos de carvão vegetal de acácia negra e suas características foram investigadas. Para tanto as amostras foram preparadas e submetidas a testes de ativação física com vapor d’água. O carvão vegetal e o carvão ativado obtido foram caracterizados pelas análises de área superficial total, distribuição de tamanho dos poros, microscopia eletrônica de varredura (MEV), teor de carbono, teor de cinzas e massa específica aparente. A capacidade de adsorção foi demostrada pelo número de iodo. O carvão ativado obtido atendeu a especificação da NBR 11834 (1991) e a ativação também foi confirmada pelas demais caracterizações. Além disso, o carvão ativado preparado apresentou boas características morfológicas e os resultados foram comparados com a literatura. As comparações mostraram que o carvão vegetal de acácia negra apresenta potencial para ser utilizado na obtenção de carvões ativados. PALAVRAS-CHAVE: carvão ativado; ativação física; adsorção. ABSTRACT: Activated carbon was produced from charcoal wastes of black wattle and its characteristics were investigated. Therefore, the samples were prepared and subjected to physical activation tests with steam. The charcoal and activated carbon were characterized by the total surface area analysis, pore size distribution, scanning electron microscopy (SEM), carbon content, ash content and apparent specific mass. Adsorption capacity was demonstrated by the iodine numbers. The activated carbon obtained met the specification of NBR 11834 (1991) and the activation was also confirmed by other characterizations. Furthermore, the activated carbon prepared showed good morphological characteristics and the results were compared with the literature. The comparisons showed that charcoal black wattle has the potential to be used to obtain activated carbons. KEYWORDS: activated charcoal; physical activation; adsorption. 1. INTRODUÇÃO No Estado do Rio Grande do Sul uma fonte de renda para muitos produtores rurais é a produção de carvão vegetal, utilizando a madeira de acácia negra (Acácia Mearnsii de Wild) como matéria prima. Na produção do carvão vegetal, por conta de sua fragilidade, ocorre uma considerável quebra do produto, gerando assim uma grande quantidade de finos de carvão. Durante a produção, transporte e manuseio do carvão vegetal são gerados cerca de 25% de finos, que se tornam um

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OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE CARVÃO ATIVADO OBTIDO DE

RESÍDUO DE CARVÃO VEGETAL DE ACÁCIA NEGRA

T. Schmitz1; N. R. Marcilio1; L. S. Machado2; A. B. D. Moura2

1-Departamento de Engenharia Química – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Rua Engenheiro Luiz Englert – CEP: 90040-040– Porto Alegre - RS – Brasil

Telefone: (51) 3308-3315 – Fax: (51) 3308-3277 – Email: [email protected],

[email protected]

2- Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas - ICET – Universidade Feevale

ERS 239, 2755 – CEP: 93525-075 – Novo Hamburgo- RS – Brasil

Telefone: (51) 3586-8800 – Fax: (51) 3586-8800 – Email: [email protected],

[email protected]

RESUMO: Carvão ativado foi produzido a partir de resíduos de carvão vegetal de acácia negra

e suas características foram investigadas. Para tanto as amostras foram preparadas e submetidas

a testes de ativação física com vapor d’água. O carvão vegetal e o carvão ativado obtido foram

caracterizados pelas análises de área superficial total, distribuição de tamanho dos poros,

microscopia eletrônica de varredura (MEV), teor de carbono, teor de cinzas e massa específica

aparente. A capacidade de adsorção foi demostrada pelo número de iodo. O carvão ativado

obtido atendeu a especificação da NBR 11834 (1991) e a ativação também foi confirmada pelas

demais caracterizações. Além disso, o carvão ativado preparado apresentou boas características

morfológicas e os resultados foram comparados com a literatura. As comparações mostraram

que o carvão vegetal de acácia negra apresenta potencial para ser utilizado na obtenção de

carvões ativados.

PALAVRAS-CHAVE: carvão ativado; ativação física; adsorção.

ABSTRACT: Activated carbon was produced from charcoal wastes of black wattle and its

characteristics were investigated. Therefore, the samples were prepared and subjected to

physical activation tests with steam. The charcoal and activated carbon were characterized by

the total surface area analysis, pore size distribution, scanning electron microscopy (SEM),

carbon content, ash content and apparent specific mass. Adsorption capacity was demonstrated

by the iodine numbers. The activated carbon obtained met the specification of NBR 11834

(1991) and the activation was also confirmed by other characterizations. Furthermore, the

activated carbon prepared showed good morphological characteristics and the results were

compared with the literature. The comparisons showed that charcoal black wattle has the

potential to be used to obtain activated carbons.

KEYWORDS: activated charcoal; physical activation; adsorption.

1. INTRODUÇÃO

No Estado do Rio Grande do Sul uma fonte

de renda para muitos produtores rurais é a

produção de carvão vegetal, utilizando a madeira

de acácia negra (Acácia Mearnsii de Wild) como

matéria prima. Na produção do carvão vegetal, por

conta de sua fragilidade, ocorre uma considerável

quebra do produto, gerando assim uma grande

quantidade de finos de carvão. Durante a produção,

transporte e manuseio do carvão vegetal são

gerados cerca de 25% de finos, que se tornam um

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resíduo, pois não possuem interesse comercial

(MARTINS et al., 2016; ROUSSET et al., 2011).

Pode-se, assim, obter um aumento no valor

agregado do carvão vegetal pela modificação da

sua estrutura através de uma oxidação controlada,

originando o carvão ativado. Desse modo, a

avaliação dos mecanismos de obtenção do carvão

vegetal e sua ativação são de grande importância

para os produtores de carvão vegetal, que podem

utilizar os resíduos da produção para obter um

produto de maior valor no mercado e de grande

importância ambiental.

O carvão ativado é um material carbonáceo

de estrutura porosa que possui alta capacidade de

adsorção e é aplicado para a separação de

compostos indesejáveis, purificação e remoção de

poluentes em líquidos e gases. Essas aplicações

fazem do carvão ativado um produto de grande

interesse para muitos setores econômicos nas mais

diversas áreas, destacando-se as aplicações devidas

ao aumento da preocupação em torno da poluição

ambiental, conservação da qualidade do ar e dos

recursos hídricos (GÜRSES et al., 2006;

BANSAL; GOYAL, 2005).

A busca pelo desenvolvimento tecnológico e

otimização da produção de carvão ativado tem

como objetivo diminuir a relação de

custo/benefício desses materiais. Além disso, a

procura por matérias primas alternativas e de baixo

custo para a produção do carvão ativado, como

resíduos agrícolas e industriais, tem grande

relevância para aumentar a acessibilidade deste

material, o que é de extrema importância

principalmente para o controle ambiental

(DEMIRBAS, 2010).

Os dois métodos mais utilizados para a

obtenção de carvão ativado são as ativações

química ou física. A vantagem da ativação física

sobre a química é que resulta em menor

degradação ao meio ambiente, haja vista que os

subprodutos deste tipo de ativação são gases como

dióxido de carbono e monóxido de carbono, em

baixos teores. Já na ativação química tem-se a

geração de efluentes com alta concentração de

produtos químicos (NOBRE, 2013) que devem ser

tratados antes do descarte final.

A partir do exposto, o presente trabalho teve

como objetivo geral a obtenção e caracterização de

carvão ativado a partir de resíduo de carvão vegetal

de acácia negra, através de ativação física, visando

fornecer subsídios para a indústria carvoeira, a fim

de aumentar o valor agregado do carvão.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Preparação do carvão ativado Carvão vegetal de acácia negra foi

utilizado como precursor para a obtenção de

carvão ativado pulverizado. As amostras foram

primeiramente trituradas em moinho de facas,

peneiradas (malha 100 mesh), secas em estufa a

100 °C por três horas e armazenadas em

dessecador.

A ativação física das amostras foi conduzida

em um reator cilíndrico de aço inox, inserido em

um forno elétrico tubular. A ativação foi realizada

em ambiente inerte de gás nitrogênio e com

utilização de vapor d’água como agente oxidante, a

uma temperatura de 900 °C durante 120 minutos.

Para cada ensaio de ativação foram inseridas

no centro do tubo do reator 20 g da amostra de

carvão vegetal, previamente preparada e pesada.

As amostras após o resfriamento lento dentro do

forno foram retiradas e armazenadas em

dessecador para posterior caracterização.

2.2 Caracterizações do carvão comercial e

do carvão ativado Os carvões foram submetidos à análise de

área superficial total e distribuição do tamanho dos

poros, através de isotermas de adsorção de

nitrogênio a 77 K, no analisador de área superficial

QuantaChrome-Inova 2200E. O teor de carbono

total, orgânico e inorgânico, dos finos de carvão

vegetal e do carvão ativado obtido foram

determinados em um analisador de carbono (Multi

N/C 3100-Analytikjena). As morfologias

superficiais dos materiais foram analisadas por

microscopia eletrônica de varredura (MEV), em

um aparelho JEOL JSM-6510LV.

A massa específica aparente do carvão

ativado foi determinada de acordo com o

procedimento da norma NBR 12076 (ABNT,

1991). O teor de umidade do carvão ativado foi

determinado de acordo com a norma ASTM

D2867-09 (ASTM, 2014). O teor de cinzas dos

finos de carvão vegetal e do carvão ativado foi

determinado segundo o procedimento da norma

ASTM D2866-11 (ASTM, 2014).

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O carvão ativado preparado foi caracterizado

pela sua capacidade de adsorção de iodo de acordo

com a norma NBR 12073 (ABNT, 1991). Este

método permite a estimativa da capacidade dos

adsorventes obtidos em remover substâncias cujas

moléculas possuem o tamanho próximo das

moléculas de iodo (1 nm).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Estrutura porosa A Tabela 1 a seguir apresenta os valores

obtidos para área superficial do carvão vegetal e do

carvão ativado.

Tabela 1. Área superficial do carvão vegetal e do

carvão ativado

Material Área BET (m2.g-1)

Carvão vegetal 53,9

Carvão ativado 942,1

É possível observar um aumento expressivo

na área superficial do material precursor após a

ativação, partindo de 53,9 m2.g-1 para 942,1 m2.g-1.

Este aumento significativo pode ser justificado

pela remoção do material carbonáceo que obstruía

os poros já existentes no carvão vegetal, e pela

formação de novos poros, conferindo a ele uma

maior área superficial para adsorção.

A literatura específica valores de área

superficial acima de 500 m2.g-1 como característica

básica de carvões ativados (YANG, 2003). Dessa

forma, o carvão ativado obtido está de acordo com

os dados da literatura.

A isoterma de adsorção de nitrogênio do

carvão ativado obtido está mostrada na Figura 1.

Figura 1. Isoterma de adsorção de N2 em CA.

Observa-se na isoterma obtida que o

aumento da pressão relativa é acompanhado por

um aumento gradual do volume de nitrogênio

adsorvido, sugerindo que este carvão apresenta

uma maior quantidade de mesoporos (HU et al.

2001). Pode-se inferir que a isoterma obtida para o

carvão ativado assemelha-se com as isotermas

classificadas como tipo I, que está associada com

materiais microporosos, e com a do tipo II, a qual

está associada com estruturas mesoporosas

(GREGG; SING, 1982).

A Figura 2 mostra a distribuição do tamanho

dos poros, segundo o método BJH, para o carvão

ativado produzido.

Figura 2. Distribuição do tamanho de poros.

Conforme observado na Figura 2, o carvão

ativado apresentou uma grande microporosidade,

uma vez que podem ser identificados picos com

diâmetro de poros menores que 20 Å,

característicos de microporos. Pode-se ainda

observar uma grande distribuição de poros na faixa

de 20 e 50 Å, o que indica a presença de uma

grande quantidade de mesoporos.

A presença de microporos no carvão

ativado possibilita uma grande capacidade de

adsorção de moléculas pequenas, como gases e

solventes comuns. Para a adsorção de moléculas

maiores, como de corantes, os mesoporos são mais

efetivos. Já os macroporos facilitam o transporte

rápido das moléculas de adsorvato para os poros

menores, que se encontram no interior da partícula

de carvão ativado. Para o carvão ativado ser

considerado um bom adsorvente, ele deve

apresentar uma distribuição bem equilibrada dos

três diferentes tipos de poros, conforme a aplicação

requerida (EL-HENDAWY et al. 2001). O carvão

ativado obtido neste trabalho, a partir dos finos de

0

100

200

300

400

500

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Vo

lum

e (c

m3 .

g-1)

Pressão relativa (P/Po)

Área superficial BET: 942,1m2.g-1

00,05

0,10,15

0,20,25

0,30,35

0,40,45

0,5

0 100 200 300 400 500 600 700 800

Vo

lum

e d

o p

oro

(cm

3 .g-1

)

Diâmetro do poro (Å)

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carvão vegetal de acácia negra, apresentou uma

distribuição equilibrada de micro, meso e

macroporos, e sendo assim, ele pode ser

classificado como bom adsorvente, de acordo com

El-Hendawy et al. (2001).

3.2 Microscopia eletrônica de varredura

(MEV) A morfologia dos resíduos de carvão

vegetal e do carvão ativado obtido foi avaliada e os

resultados são mostrados nas Figuras 3 e 4.

Figura 3. Micrografia do carvão vegetal

Figura 4. Micrografia do carvão ativado

Através da micrografia obtida para o

resíduo de carvão vegetal (Figura 3) é possível

verificar a presença de uma estrutura porosa no

material precursor, possivelmente desenvolvida na

carbonização da madeira de acácia negra na

obtenção do carvão vegetal.

A imagem do carvão ativado (Figura 4)

apresenta estruturas porosas com presença de poros

de diferentes tamanhos e formas. Percebe-se um

aumento da estrutura porosa com a ativação física

com vapor d’água.

3.3 Teor de carbono

Os resultados da análise do teor de carbono

do precursor e do carvão ativado obtido estão

apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Teor de carbono do carvão vegetal e do

carvão ativado

Material Teor de carbono (%)

Carvão vegetal 71,0

Carvão ativado 82,8

O teor de carbono total do carvão ativado

produzido foi de 82,8 %, estando dentro do teor

típico de carbono encontrado para carvões ativados

que é entre 80 e 95% (BANSAL; GOYAL, 2005).

Verificou-se um aumento do teor de carbono no

carvão ativado produzido quando comparado ao

material precursor que apresentou 71,0%.

Conforme Ramos et al. (2009), este fato ocorre

devido à liberação de compostos voláteis ricos em

hidrogênio e oxigênio, e ao consequente aumento

no grau de aromaticidade após o processo de

ativação.

3.4 Massa específica aparente, teor de

cinzas e teor de umidade

A Tabela 3 apresenta os resultados de

massa específica aparente, teor de umidade e teor

de cinzas para as análises realizadas do carvão

ativado obtido.

Tabela 3. Caracterizações dos carvões quanto à

massa específica aparente, teor de cinzas e teor de

umidade.

Material

Massa

específica

(g.cm-3)

Umidade

(%)

Cinzas

(%)

Carvão vegetal - - 2,03

Carvão ativado 0,22 2,55 1,78

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O resultado da massa específica aparente

encontrado para o carvão ativado pulverizado foi

de 0,22 g.cm-3, estando dentro da faixa de

especificação da norma NBR 11834, que é de 0,20

a 0,75 g.cm-3.

O teor de cinza do carvão ativado ficou em

1,78%, estando assim satisfatório segundo

Bautista-Toledo et al. (2005) e Moreno-Castilla

(2004). Deve ser destacado também o baixo teor de

cinzas para o carvão vegetal, 2,03%, que é uma

propriedade de grande importância na escolha de

um bom precursor para a obtenção de carvões

ativados, contribuindo para a produção de

materiais com boa capacidade de adsorção

(NOBRE, 2015).

Os resultados de teor de cinza também

mostraram que o processo de ativação reduz o teor

de cinzas do carvão vegetal inicial. A redução do

teor de cinzas pode ser atribuída à volatilização de

alguns constituintes inorgânicos à temperatura

mais elevada durante a ativação, o que pode

conduzir a redução das cinzas no carvão ativado

final obtido (YUSUFU et al. 2012).

O teor de umidade dos carvões ativados

influência na sua capacidade de adsorção. A

eficiência de adsorção diminui conforme a

umidade do carvão aumenta, em razão de alguns

poros estarem preenchidos com água, e desse

modo indisponíveis para realizar a adsorção de

outras moléculas. Assim, valores baixos de

umidade constituem uma característica

determinante para resultados adsortivos

satisfatórios (MIORANZA, 2015). O teor de

umidade máximo especificado pela norma NBR

11834 para carvões ativados é de 8%. O valor

encontrado para o carvão ativado se situou bem

abaixo deste valor estando em 2,55% de umidade.

3.5 Número de iodo O carvão ativado fisicamente apresentou

número de iodo de 966 mg.g-1. Para fins de

comparação, a Tabela 4 apresenta as capacidades

de adsorção de iodo de outros carvões ativados

obtidos a partir de diferentes resíduos agrícolas.

Em relação aos resultados obtidos para

esses outros materiais, pode-se inferir que o carvão

ativado de resíduos de carvão vegetal parece

altamente promissor para ser utilizado como

material adsorvente (NOWICKI et al., 2015;

PIETRZAK et al., 2014; GALIATSATOU et al.,

2002).

Tabela 4. Comparação da adsorção de iodo para

carvão ativado de carvão vegetal e dados da

literatura.

Material

precursor

Número de

iodo (mg.g-1) Referência

Carvão

vegetal 966 Este estudo

Caroço de

Azeitona 574

GALIATSATO

U et al., 2002

Semente de

cereja 996

PIETRZAK et

al., 2014

Casca de

pistache 705

NOWICKI et

al., 2015

4. CONCLUSÕES

Este trabalho mostrou o processo de

ativação física do carvão vegetal de acácia negra. A

utilização de resíduo de carvão vegetal de acácia

negra como precursor para a obtenção de carvões

ativados mostrou-se bastante satisfatória. Os

carvões ativados preparados apresentaram área

superficial de 942,1 mg.g-1, com isotermas típicas

de materiais microporosos, com mesoporos

associados. Pela análise do teor de carbono e teor de

cinzas, verificou-se que o carvão vegetal de acácia

negra é um precursor adequado para obtenção de

carvões ativados, que apresentam elevado teor de

carbono e baixo teor de cinzas. As micrografias

confirmaram a estrutura porosa dos carvões

ativados obtidos. As análises de teor de umidade e

massa específica aparente dos carvões ativados

apresentaram valores dentro do especificado pela

norma NBR 11834 para carvões ativados

pulverizados.

A partir das caracterizações realizadas para o

carvão ativado produzido concluiu-se que o

objetivo do trabalho foi atingido, e que o

procedimento de ativação física com vapor d’água

pode ser uma abordagem ambientalmente correta e

eficaz para a preparação de adsorventes à base de

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resíduos de carvão vegetal de acácia negra.

Portanto, o procedimento de ativação física é uma

abordagem viável e ecológica, sendo assim

referência para a produção comercial e industrial do

carvão ativado de acácia negra.

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AGRADECIMENTOS

À FAPERGS pelo apoio financeiro.