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AFINIDADE METÁLICA DE COMPOSTOS LAMELARES (HDL) SUPORTADOS EM BIOCARVÃO DE OSSO BOVINO COM DIFERENTES RAZÕES DE Mg/Al PARA REMOÇÃO DE METAIS TÓXICOS. T. L Silva 1 ; P. V. S. Lins 2 ; J. I. Soletti 2 ; L. Meili 2 ; M. G. C. Silva 1 ; M. G. A. Vieira 1 1 - Faculdade de Engenharia QuímicaUniversidade Estadual de Campinas Av. Albert Einstein, 500 - Cidade Universitária, CEP 13083-852 Campinas SP Brasil. Telefone: (19) 3521-3909 Fax: (19) 3521-3910 E-mail: [email protected] 2 - Laboratório de Sistemas de Separação e Otimização de Processos, Centro de Tecnologia (CTEC) Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Av. Lourival Melo Mota, s/n - Tabuleiro do Martins, CEP: 57072-900 Maceió AL Brasil. Telefone: (82) 3215-1271 E-mail: [email protected] RESUMO: Neste estudo hidróxidos duplos lamelares (HDL) foram sintetizados suportados em osso bovino com diferentes proporções molares de magnésio e alumínio (2:1; 3:1 e 4:1). Realizou- se o estudo de especiação dos compostos metálicos em função do pH, a avaliação do pH de carga zero (pHPCZ), a investigação da afinidade metálica dos adsorventes produzidos pelos metais tóxicos níquel, cobre, chumbo, cromo, zinco e cádmio e a determinação da densidade real dos compósitos. Os resultados indicaram que o pH limite para realização dos ensaios de adsorção é 4,7. Os valores de pHPCZ dos adsorventes foram próximos a 9, indicando que o mecanismo de adsorção não é resultado da atração eletrostática entre o adsorvente e adsorvato. A avaliação da afinidade metálica indicou que os adsorventes apresentaram resultados promissores para serem utilizados em processos adsortivos de cromo, níquel, cobre e chumbo, com um máximo de 95 % de remoção de cromo pelo compósito 3:1 Mg:Al. PALAVRAS-CHAVE: adsorção, metais tóxicos, hidróxidos duplos lamelares, biocarvão de osso, ponto de carga zero. ABSTRACT: In this study double lamellar hydroxides (LDH) were synthesized supported on bovine bone with different molar proportions of magnesium and aluminum (2:1, 3:1 and 4:1). It was investigated the chemical equilibrium as a function of pH using the Hydra/Medusa Software, the metallic affinity of the adsorbents produced for the toxic metals: nickel, copper, lead, chromium, zinc, and cadmium, the determination of the pH of zero charge (pHZPC) and the density of the materials. The results indicated that the pH limit for adsorption experiments was 4.7. The pHZPC values of the adsorbents were close to 9, indicating that the adsorption mechanism is not due the electrostatic attraction between adsorbent and adsorbate. The adsorbents presented promising results to be used in chromium, nickel, copper and lead adsorption processes, with a maximum of 95% removal of chromium by the 3:1 Mg:Al composite. KEYWORDS: adsorption, heavy metal, layered double hydroxides, bone biochar, point of zero charge. 1. INTRODUÇÃO. A contaminação dos recursos hídricos por metais tóxicos é de grande preocupação devido a toxicidade que estes poluentes apresentam, podendo prejudicar a atividade fisiológica e pôr em risco a

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AFINIDADE METÁLICA DE COMPOSTOS LAMELARES (HDL)

SUPORTADOS EM BIOCARVÃO DE OSSO BOVINO COM DIFERENTES

RAZÕES DE Mg/Al PARA REMOÇÃO DE METAIS TÓXICOS.

T. L Silva1; P. V. S. Lins2; J. I. Soletti2; L. Meili2; M. G. C. Silva1; M. G. A. Vieira1

1 - Faculdade de Engenharia Química–Universidade Estadual de Campinas – Av. Albert Einstein, 500 -

Cidade Universitária, CEP 13083-852 – Campinas – SP – Brasil.

Telefone: (19) 3521-3909 – Fax: (19) 3521-3910 – E-mail: [email protected]

2 - Laboratório de Sistemas de Separação e Otimização de Processos, Centro de Tecnologia (CTEC) –

Universidade Federal de Alagoas (UFAL) – Av. Lourival Melo Mota, s/n - Tabuleiro do Martins, CEP:

57072-900 – Maceió – AL – Brasil.

Telefone: (82) 3215-1271 – E-mail: [email protected]

RESUMO: Neste estudo hidróxidos duplos lamelares (HDL) foram sintetizados suportados em

osso bovino com diferentes proporções molares de magnésio e alumínio (2:1; 3:1 e 4:1). Realizou-

se o estudo de especiação dos compostos metálicos em função do pH, a avaliação do pH de carga

zero (pHPCZ), a investigação da afinidade metálica dos adsorventes produzidos pelos metais

tóxicos níquel, cobre, chumbo, cromo, zinco e cádmio e a determinação da densidade real dos

compósitos. Os resultados indicaram que o pH limite para realização dos ensaios de adsorção é

4,7. Os valores de pHPCZ dos adsorventes foram próximos a 9, indicando que o mecanismo de

adsorção não é resultado da atração eletrostática entre o adsorvente e adsorvato. A avaliação da

afinidade metálica indicou que os adsorventes apresentaram resultados promissores para serem

utilizados em processos adsortivos de cromo, níquel, cobre e chumbo, com um máximo de 95 %

de remoção de cromo pelo compósito 3:1 Mg:Al.

PALAVRAS-CHAVE: adsorção, metais tóxicos, hidróxidos duplos lamelares, biocarvão de osso,

ponto de carga zero.

ABSTRACT: In this study double lamellar hydroxides (LDH) were synthesized supported on

bovine bone with different molar proportions of magnesium and aluminum (2:1, 3:1 and 4:1). It

was investigated the chemical equilibrium as a function of pH using the Hydra/Medusa Software,

the metallic affinity of the adsorbents produced for the toxic metals: nickel, copper, lead,

chromium, zinc, and cadmium, the determination of the pH of zero charge (pHZPC) and the density

of the materials. The results indicated that the pH limit for adsorption experiments was 4.7. The

pHZPC values of the adsorbents were close to 9, indicating that the adsorption mechanism is not

due the electrostatic attraction between adsorbent and adsorbate. The adsorbents presented

promising results to be used in chromium, nickel, copper and lead adsorption processes, with a

maximum of 95% removal of chromium by the 3:1 Mg:Al composite.

KEYWORDS: adsorption, heavy metal, layered double hydroxides, bone biochar, point of zero

charge.

1. INTRODUÇÃO. A contaminação dos recursos hídricos por

metais tóxicos é de grande preocupação devido a

toxicidade que estes poluentes apresentam, podendo

prejudicar a atividade fisiológica e pôr em risco a

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vida dos seres vivos expostos a esses contaminantes

(Wang e Chen, 2006).

As características prejudiciais dos metais

tóxicos estão relacionadas: a persistência desses

compostos na natureza e, em consequência, a

persistência de sua toxicidade no meio; a

possibilidade dessas espécies se transformarem em

formas mais tóxicas, dependendo das variações que

podem ocorrer no meio; a bioacumulação nos seres

vivos e seu aumento da concentração nos níveis

tróficos da cadeia alimentar; a impossibilidade de

serem degradados, podendo ser transformados

apenas de um estado de oxidação (ou valência) ou

de um complexo orgânico para outro; e por fim, a

sua alta toxicidade mesmo em baixas concentrações

de cerca de 1,0 a 10 mg.L-1 para a maioria dos

metais (Gautam et al., 2013, Wang e Chen, 2006,

Alkorta et al., 2004). Metais como o mercúrio e

cádmio exercem efeitos prejudiciais em faixa de

concentração ainda menores, na ordem de 0,001 a

0,1 mg.L-1 (Gautam et al, 2013).

A principal fonte de contaminação

antropogênica é o despejo incorreto, sem o devido

tratamento, de águas residuárias industriais em

corpos receptores, fato este que tem crescido

significativamente principalmente em países em

desenvolvimento (Wang e Chen, 2006). Dentre os

métodos utilizados para remoção de metais, a

adsorção, utilizando materiais alternativos, tem se

tornado uma alternativa atrativa devido aos baixos

requisitos em produtos químicos e energia, baixo

custo e eficiência (Ungureanu et al., 2017; Silva et

al., 2016). Adsorventes alternativos são usualmente

obtidos a partir de resíduos agrícolas, resíduos e

subprodutos industriais, resíduos de alimentos,

argilas, solos, biocarvões e seus produtos

modificados (Silva et al., 2016; Lim e Aris, 2014).

O grande interesse no desenvolvimento de

pesquisas nessa área se devem ao fato de que para

tornar viável e aumentar o interesse das indústrias

por processos alternativos é necessário que as

vantagens sejam superiores; tanto economicamente

quanto tecnicamente, àquelas admitidas para os

processos convencionais, caso contrário, a

aplicabilidade da adsorção utilizando-se materiais

alternativos será restrita (Vieira e Silva, 2012).

Biochar são carvões produzidos pela

termoconversão de biomassa como madeiras, ossos

e estrume de animais, lodos, folhas, dentre outros

resíduos; em carvão num ambiente com pouco ou

nenhum oxigênio (Lehmann e Joseph, 2009). São

considerados sustentáveis, por serem produzidos a

partir de matérias-primas renováveis, e podem ser

utilizados para remoção de uma ampla quantidade

de contaminantes de água e efluentes (Xue et al.,

2016). Além disso, no processo de carbonização

termoquímica, além do biochar produzido, os

biomateriais são convertidos em gás de síntese e

bio-óleo (Cha et al., 2016), outros produtos de

interesse industrial.

O uso de biocarvões (biochar) como

adsorvente tem atraído muita atenção devido à alta

capacidade adsortiva que esses materiais têm

apresentado, devido às suas estruturas aromáticas e

porosas, além de outras importantes propriedades

necessárias à adsorção, como, alta área superficial,

grau de porosidade, matriz de carbono estável, alto

conteúdo mineral, dentre outras características (Li

et al., 2016; Cha et al., 2016; Devi e Saroha, 2014).

Além disso, biocarvões produzidos a partir de

biomassa apresentam em sua superfície e em sua

matriz agrupamentos funcionais que incluem

grupos fenólicos, carboxílicos e hidroxílicos, que

conferem a esses materiais a habilidade de

interagirem com um amplo espectro de

contaminantes (Li et al., 2016).

Atualmente, hidróxidos duplos lamelares

(HDLs) são considerados os adsorventes

inorgânicos mais promissores para a troca de

ânions, utilizados principalmente na remoção de

poluentes aniônicos presentes em água poluídas

(Xue et al., 2016). Esses materiais são produzidos

por técnicas de coprecipitação, síntese de sol-gel,

reação de óxido de sal, crescimento hidrotérmico,

síntese eletroquímica, dentre outros (Bravo-Suárez

et al., 2004). Os materiais adsorventes HDL

consistem em folhas (lamelas) de hidróxido

metálico carregadas positivamente, com ânions e

moléculas de água intercalados, que possuem

grande mobilidade com poluentes aniônicos. Assim,

a modificação ou funcionalização de biochar com o

intuito de melhorar a afinidade desses materiais por

poluentes tornou-se uma prática importante para

expandir a aplicação da tecnologia de biochar (Li et

al., 2016).

O objetivo deste trabalho é avaliar a afinidade

de compósitos lamelares por metais tóxicos em

processos de adsorção. Os compósitos foram

produzidos suportados em biocarvão de osso

bovino, utilizando-se diferentes proporções molares

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de Mg:Al. Os estudos de especiação metálica em

função do pH, a determinação do pH de carga zero,

importantes para se determinar as condições de

realização do processo de adsorção e a análise de

densidade real de cada compósito lamelar foram

realizados e são apresentados neste trabalho.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O biocarvão de osso bovino utilizado no

preparo dos compósitos lamelares foi gentilmente

cedido pela empresa Bonechar Carvão do Brasil

LTDA, localizada em Maringá-PR-BR. A

granulometria do biocarvão foi selecionada pelo

peneiramento em mesa vibratória entre as peneiras

de 28 e 32 mesh. Todos os reagentes utilizados

foram padrão analítico e a utilizada era deionizada.

No presente trabalho, foram avaliados três

compósitos diferentes, preparados com proporção

molares de Mg:Al de 2:1, 3:1 e 4:1.

2.1. Preparo dos compósitos lamelares

suportados em osso de bovino – MgAl/HDL-

biocarvão Os compósitos lamelares MgAl/HDL foram

preparados pelo método de copreciptação, de

acordo com a metodologia descrita por Zhang et al.

(2013) e Li et al. (2016).

Para o preparo do compósito 2:1 Mg:Al, em

20 mL de água deionizada foram solubilizados 6,09

g de cloreto de magnésio hexahidratado

(MgCl2.6H2O) e 3,62 g de cloreto de alumínio

hexahidratado (AlCl2.6H2O). As massas foram

calculadas de modo que a proporção molar entre os

sais fosse 2:1 (2 mols de cloreto de magnésio para 1

mol de cloreto de cloreto de alumínio). A solução

salina obtida foi vertida sobre 1 g de biocarvão em

um béquer de 500 mL, no qual, sob agitação

constante, solução de hidróxido de sódio 3 mol.L-1

foi gotejada até que o pH do meio atingisse o valor

de 10. A solução obtida foi mantida sob agitação por

2 horas.

Em seguida, a mistura, distribuída em tubos

plásticos, foi centrifugada por 5 min a 3000 rpm

(Centrífuga Petrotest, 6-15H). O sobrenadante foi

então descartado e o material sedimentado foi

lavado com água deionizada. Esse procedimento foi

repetido por 6 vezes. O sólido obtido foi levado a

estufa (FANEM, modelo ORION 515) e seco por 16

h a 60 °C. O sólido seco foi macerado e peneirado

até que granulometria inferior a 35 mesh.

O procedimento descrito para a síntese do

compósito 2:1 (Mg:Al), foi repetido utilizando-se

proporções molares de 3:1 e 4:1 Mg:Al no preparo

da solução salina vertida sobre o carvão.

2.2. Especiação Metálica Os diagramas químicos de equilíbrio

(diagramas de especiação) para os metais níquel,

cobre, zinco, cádmio e chumbo foram simulados

utilizando-se o programa Hydra/Medusa Chemical

Equilibrium Database and Plotting Software

(Puigdomenech, 2010). Para o metal cromo,

utilizou-se o programa Visual MINTEQ 3.1. Para a

determinação das espécies químicas presentes no

meio líquido em função do pH foram consideradas

as proporções estequiométricas entre os cátions e

ânions dos sais utilizados para o preparo da solução

metálica utilizada nos ensaios de afinidade metálica.

2.3. pH de carga zero (pHPCZ) Para a determinação do pHPCZ foi utilizada a

metodologia dos 11 pontos, descrita por Regalbuto

e Robles (2004) e Deolin et al. (2011). Nesse

procedimento 50 mg de adsorvente foram

acondicionados em Erlenmeyers e 50 mL de

solução eletrolítica em diferentes pH (pH: 1, 2, 3, 4,

5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12) foram acondicionadas nos

respectivos recipientes. Apesar do nome indicar 11

pontos de análise, pontos adicionais tornam o

procedimento mais preciso. Os frascos com os

compósitos e as soluções com diferentes pH foram

agitados em incubadora (Incubated Shaker, SI

600R, Lab Companion Jeio Tech, Korea) por 24 h

(25 °C, 200 rpm). Após esse período o pH final foi

determinado com pHmetro (Gehaka, PG1800)

calibrado com padrões de pH 4, 7 e 10. Ao plotar os

valores de pH inicial e pH final o pHPCZ corresponde

à faixa na qual o pH final se mantém constante,

independentemente do pH inicial. Nesse pH

constante de equilíbrio a superfície comporta-se

como um tampão (Deolin et al., 2013).

A solução eletrolítica utilizada foi NaCl com

concentração de 0,1 mol.L-1. Parte da solução foi

acidificada até pH 1 e outra parte até pH 12. Essas

soluções foram distribuídas em béqueres e diluídas

com solução eletrolítica de modo a se obter todas as

soluções necessárias. As soluções ácida (HCl) e

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básica (NaOH) foram preparadas utilizando-se

solução eletrolítica como solvente.

2.4. Afinidade metálica Para o teste de afinidade (Silva et al., 2016),

0,5 g de adsorvente (compósito lamelar - Mg:Al

HDL) foram imersos em 50 mL de solução metálica

monocomposto (1 mmol.L-1) em Erlenmeyer de 125

mL. Avaliou-se a afinidade dos compósitos por

Cr3+, Ni2+, Cu2+, Zn2+, Cd2+ e Pb2+. Os sais utilizados

para o preparo das soluções foram Cr(NO3)3.9H2O,

Ni(NO3)2.6H2O, Cu(NO3)2.3H2O, Zn(NO3)2.6H2O,

Cd(NO3)2.4H2O e Pb(NO3)2. Os Erlenmeyers foram

acondicionados em incubadora por 24 h (25 °C, 150

rpm) e ácido nítrico concentrado foi utilizado para o

controle do pH nas primeiras 12 h do experimento

(pH de 3,6 ~ 4,5). Após o equilíbrio do processo de

adsorção as amostras foram centrifugadas (4000

rpm, 10 min) e o sobrenadante filtrado em filtros

seringa milex (0,45 µm). As concentrações iniciais

e após o processo de adsorção (equilíbrio) foram

determinadas no espectrofotômetro de absorção

atômica (AAS – 7000AA – Shimadzu, Japan), de

acordo com as instruções do equipamento.

2.5. Densidade Real A análise de picnometria a gás hélio foi

utilizada para se determinar a densidade real dos

compósitos. O equipamento utilizado foi

Picnômetro Accupyc II 1330 (Gas Pycnometer,

Micromeritics, USA) com pressão de operação de 2

psia.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na Figura 1 são apresentados os diagramas

de equilíbrio das espécies químicas em função do

pH.

Os diagramas indicam as frações das

espécies químicas que são formadas no meio aquoso

em diferentes pH. Observa-se que para a metal

níquel, Figura 1A, até o pH de 6,7, a fração de níquel

iônico é de 1, ou seja, 100% do metal se encontra

em forma solúvel (Ni2+). A partir do pH 6,7 a fração

do metal iônico diminui até que, após o pH 8,5, a

única espécie química presente é o hidróxido de

níquel precipitável Ni(OH)2. Para se avaliar o

processo de adsorção, é necessário que as espécies

químicas desse metal se encontrem em sua forma

solúvel, de modo que a redução da concentração se

deva exclusivamente ao processo de adsorção e não

a outros fenômenos, como a precipitação química

desse metal. Dessa forma, para o metal níquel, o pH

nos ensaios de adsorção não deve ser superior a 6,7.

Análise semelhante para os outros metais indicam o

pH 5,2 para o cobre, 5,4 para o chumbo; 7,1 para o

zinco e 8,3 para o cádmio. Com relação ao cromo, o

diagrama F, Figura 1F, indica que em valores baixos

de pH ocorre a presença de compostos iônicos no

meio líquido. A partir do pH 4,6 a forma

precipitável Cr(OH)3 começa a ser formada, sendo

portanto, este o pH limite para realização do

experimento com cromo. Como forma de comparar

os resultados de afinidade dos compósitos pelos

metais, todos os ensaios de adsorção foram

realizados no mesmo pH. A análise dos diagramas

de especiação indica que o pH limite para realização

dos experimentos é 4,7 (pH limite para o cromo).

Nos experimentos de afinidade metálica, o pH foi

controlado para que seu valor não ultrapassasse o

valor de 3,7, pH esse uma unidade menor ao pH

limite determinado pela simulação da especiação,

para se ter segurança de não ocorrer a precipitação

das espécies no meio líquido. Esse valor foi

controlado durante as 12 primeiras horas dos

experimentos.

Processos de adsorção, principalmente de

espécies iônicas como é o caso das espécies

químicas metálicas, são fortemente dependentes do

pH do meio. O pH do meio, além de influenciar a

ionização das espécies químicas (adsorvato), como

evidenciado nas simulações apresentadas nos

diagramas de equilíbrio (Figura 1), afeta também a

carga superficial do adsorvente. O pH do ponto de

carga zero é o pH no qual o valor de cargas líquidas

na superfície do material é zero, ou seja, a

quantidade de cargas totais positivas é igual a

quantidade de cargas totais negativas no adsorvente

(Cristiano et al., 2011). Quando pH do meio líquido

é menor que o pHPCZ do adsorvente a superfície do

sólido adquire densidade elétrica positiva e quando

o pH do meio é maior que o pHPCZ a superfície será

carregada negativamente (Deolin et al. 2013, Silva

et al, 2010), neste último caso, ocorre o

favorecimento da adsorção de espécies químicas

positivas, como é caso dos metais.

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A) Níquel B) Cobre

C) Chumbo

D) Zinco

E) Cádmio

F) Cromo

Figura 1. Diagramas das espécies químicas metálicas em meio aquoso em função do pH, simulados pelo

programas Hydra/Medusa (a - e) e Visual MINTEQ (f).

Na Figura 2 são apresentados os resultados

obtidos na determinação do pH de carga zero dos

adsorventes Mg:Al-HDL biocarvões. Observa-se

que o pHPCZ foi bastante similar nos três

compósitos lamelares. O pHPCZ foi de 9,03 para o

compósito 2:1 (Mg:Al), 9,13 para o compósito 3:1

(Mg:Al) e 9,23 para o compósito 4:1 (Mg:Al). O

preparo dos adsorventes lamelares com diferentes

proporções de Mg:Al não afetou de maneira

expressiva o valor do pHPCZ dos adsorventes.

Deolin et al. (2013) avaliando carvão de osso

bovino da Bonechar encontrou o pHPCZ de 7,3, o

Fra

ção

Fra

ção

Fra

ção

Fra

ção

Fra

ção

Po

rcen

tagem

(%

)

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que demonstra que o processo de síntese do

compósito lamelar (Mg:Al – HDL) promove o

aumento do valor do ponto de carga zero,

aumentando assim, as propriedades catiônicas do

adsorvente.

Figura 2. pH de carga zero dos compósitos

lamelares 2:1, 3:1 e 4:1 (Mg:Al).

A análise do ponto de carga zero indicou

que as superfícies dos adsorventes apresentam carga

negativa apenas em pH acima de aproximadamente

9. Porém, acima desse valor de pH em meio líquido,

as espécies químicas se encontram em sua forma

precipitada, como indicado pelos diagramas de

especiação. Como os experimentos não podem ser

realizados acima desse valor de pH, o processo de

adsorção devido as forças eletrostáticas resultantes

entre as densidades elétricas do adsorvente e

adsorvato não será possível. Em pH menor que 9 a

superfície do adsorvente é carregada positivamente

e, como o adsorvato apresenta caráter catiônico, é

esperado forças resultantes repulsivas. Os

mecanismos associados a remoção dos metais por

adsorção, em pH menor que 4,7, podem ser

explicados por outros mecanismos, como: interação

do adsorvato pelos grupos funcionais presentes na

matriz do adsorvente e pela troca iônica entre o

adsorvato e os constituintes metálicos (Mg, Al)

presentes entre as lamelas dos compósitos.

Na Tabela 1 são apresentados os resultados

de remoção metálica (%) alcançados nos ensaios de

afinidade após o estado de equilíbrio ser atingido. A

concentração inicial das soluções de metais foi de 1

mmol.L-1.

Tabela 1. Remoção metálica (%) de metais tóxicos

após o processo de adsorção pelos compósitos

lamelares (Mg:Al-HDL).

Metal Proporção Mg:Al

no compósito Redução (%)

Cromo

2:1 86,57 (±0,82)

3:1 95,01 (±0,48)

4:1 85,09 (±0,43)

Níquel

2:1 62,61 (±1,07)

3:1 79,03 (±1,05)

4:1 82,06 (±0,55)

Cobre

2:1 54,74 (±0,74)

3:1 52,86 (±1,17)

4:1 50,77 (±0,54)

Zinco

2:1 10,50 (±4,75)

3:1 28,13 (±1,67)

4:1 25,20 (±1,16)

Cádmio

2:1 15,30 (±0,74)

3:1 21,57 (±0,68)

4:1 21,54 (±2,57)

Chumbo

2:1 70,41 (±2,20)

3:1 68,08 (±0,65)

4:1 65,53 (±1,01)

Observa-se que o processo de adsorção dos

metais tóxicos cromo, níquel, cobre e chumbo

apresentaram resultados satisfatórios de

porcentagem de redução. Comparativamente, os

melhores resultados foram obtidos na adsorção do

cromo, cuja porcentagem de remoção alcançou 95

% quando o compósito 3:1 foi utilizado. A faixa de

0

2

4

6

8

10

12

0 2 4 6 8 10 12

pH

Fin

al

pH Inicial

2:1 (Mg/Al)

3:1 (Mg:Al)

4:1 (Mg:Al)

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remoção obtida para o níquel: 62,61 ~ 82,06%; para

o cobre: 50,77 ~ 52,86 % e para o chumbo: 65,53 ~

70,41 % indicam que os compósitos lamelares

apresentam potencial para serem aplicados em

processos de adsorção desses metais. Com relação

ao zinco e cádmio os resultados alcançados indicam

que o processo de adsorção utilizando esses

compósitos não são viáveis, devido à baixa remoção

obtida.

A densidade real, determinada em

picnômetro a gás hélio, foi de 2,1907 (± 0,0068)

para o compósito 2:1; 2,0583 (± 0,0041) para o

compósito 3:1 e 2,0387 (±0,0032) para o compósito

4:1. Os valores indicam que o processo de síntese

dos HDL com diferentes proporções molares de

Mg:Al não promoveu diferenças expressivas na

densidade dos materiais produzidos.

4. CONCLUSÕES

Os resultados indicaram que os mecanismos

associados ao processo de adsorção não ocorrem

devido às forças eletrostáticas entre o adsorvente e

adsorvato. Como o experimento foi realizado em pH

inferior a 4,5 e o pHPCZ do sólido é em torno de 9, a

densidade de carga superficiais é positiva o que,

eletrostaticamente, promove uma repulsão entre as

espécies metálicas e a superfície do sólido. O

processo de adsorção nessas condições é resultado

da afinidade dos metais por grupos funcionais

presentes nos compósitos e da troca iônica com os

constituintes do HDL-biocarvão.

Os ensaios de afinidade metálica

apresentaram resultados promissores, indicando que

os compósitos lamelares produzidos a partir de

carvão de osso bovino apresentam potencialidade

para serem aplicados em processos de adsorção dos

metais cromo, níquel, cobre e chumbo.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPQ e CAPES

pelo suporte financeiro concedido a pesquisa

(PROCESSO N° 8881068503/2014-1) e a empresa

Bonechar pela doação do carvão de osso bovino

utilizado no preparo dos HDL.

6. REFERÊNCIAS

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