obrigações de meio e resultado

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Obrigações de Meio e Resultado Escrito por Yuri Alexieivig Mendes de Almeida INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo discutir acerca de duas modalidades de obrigações, polêmicas com relações a algumas profissões, e atos decorrentes de seu exercício. Tais modalidades, presentes no Direito das Obrigações, são as Obrigações de Meio e de Resultado. Serão apresentados alguns exemplos práticos com relação a áreas conhecidas, como a Medicina e o Direito. EXISTE DIFERENÇA ENTRE OBRIGAÇÃO DE MEIO E DE RESULTADO? A resposta é clara e objetiva: Sim. A diferença entre estas duas modalidades faz toda a diferença no momento em que se julga alguma ação de reparação de danos e processos do gênero. Para uma melhor análise, é necessário distinguir exatamente o que significa cada uma delas. Obrigação de Meio A obrigação de meio é aquela em que o profissional não se obriga a um objetivo específico e determinado. O que o contrato impõe ao devedor é apenas a realização de certa atividade, rumo a um fim, mas sem o compromisso de atingi-lo. O contratado se obriga a emprestar atenção, cuidado, diligência, lisura, dedicação e toda a técnica disponível sem garantir êxito. Nesta modalidade o objeto do contrato é a própria atividade do devedor, cabendo a este enveredar todos os esforços possíveis, bem como o uso diligente de todo seu conhecimento técnico para realizar o objeto do contrato, mas não estaria inserido aí assegurar um resultado que pode estar alheio ou além do alcance de seus esforços. Em se tratando de obrigação de meio, independente de ser a responsabilidade de origem delitual ou contratual, incumbe ao credor provar a culpa do devedor. Obrigação de Resultado Na obrigação de resultado há o compromisso do contratado com um resultado específico, que é o ápice da própria obrigação, sem o qual não haverá o cumprimento desta. O contratado compromete-se a atingir objetivo determinado, de forma que quando o fim

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Page 1: Obrigações de Meio e Resultado

Obrigações de Meio e Resultado

Escrito por Yuri Alexieivig Mendes de Almeida

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo discutir acerca de duas modalidades de obrigações, polêmicas com relações a algumas profissões, e atos decorrentes de seu exercício. Tais modalidades, presentes no Direito das Obrigações, são as Obrigações de Meio e de Resultado. Serão apresentados alguns exemplos práticos com relação a áreas conhecidas, como a Medicina e o Direito. EXISTE DIFERENÇA ENTRE OBRIGAÇÃO DE MEIO E DE RESULTADO? A resposta é clara e objetiva: Sim. A diferença entre estas duas modalidades faz toda a diferença no momento em que se julga alguma ação de reparação de danos e processos do gênero. Para uma melhor análise, é necessário distinguir exatamente o que significa cada uma delas.

Obrigação de Meio

A obrigação de meio é aquela em que o profissional não se obriga a um objetivo específico e determinado. O que o contrato impõe ao devedor é apenas a realização de certa atividade, rumo a um fim, mas sem o compromisso de atingi-lo. O contratado se obriga a emprestar atenção, cuidado, diligência, lisura, dedicação e toda a técnica disponível sem garantir êxito. Nesta modalidade o objeto do contrato é a própria atividade do devedor, cabendo a este enveredar todos os esforços possíveis, bem como o uso diligente de todo seu conhecimento técnico para realizar o objeto do contrato, mas não estaria inserido aí assegurar um resultado que pode estar alheio ou além do alcance de seus esforços. Em se tratando de obrigação de meio, independente de ser a responsabilidade de origem delitual ou contratual, incumbe ao credor provar a culpa do devedor.

Obrigação de Resultado

Na obrigação de resultado há o compromisso do contratado com um resultado específico, que é o ápice da própria obrigação, sem o qual não haverá o cumprimento desta. O contratado compromete-se a atingir objetivo determinado, de forma que quando o fim almejado não é alcançado ou é alcançado de forma parcial, tem-se a inexecução da obrigação. Nas obrigações de resultado há a presunção de culpa, com inversão do ônus da prova, cabendo ao acusado provar a inverdade do que lhe é imputado (Inversão do ônus da Prova). Segundo o Ministro Ruy Rosado de Aguiar Junior: "Sendo a obrigação de resultado, basta ao lesado demonstrar, além da existência do contrato, a não obtenção do objetivo prometido, pois isso basta para caracterizar o descumprimento do contrato, independente das suas razões, cabendo ao devedor provar o caso fortuito ou força maior, quando se exonerará da responsabilidade".

AS OBRIGAÇÕES DE MEIO E RESULTADO NO ÂMBITO PROFISSIONAL

Medicina – Cirurgia Plástica

Em geral, na área médica, é adotada a responsabilidade decorrente da Obrigação de Meio, ou seja, o médico não promete curar doenças, mas ele se compromete a utilizar todos os meios

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possíveis e lícitos para que isto aconteça. Não sendo alcançado a finalidade proposta na Obrigação, o médico só responde pela responsabilidade se o paciente provar que não houve a utilização de todos os meios para se chegar ao resultado. A cirurgia estética é uma das ramificações da Medicina que segue uma orientação diversa. Para entender a razão desta diferença, é necessário tomar conhecimento de que a cirurgia plástica pode ser divida em dois tipos, tendo em vista a finalidade a ser alcançada:

Cirurgia plástica reparadora: intervenção cirúrgica, ainda que promova melhoria estética, não tem neste seu objetivo principal, mas sim a resolução de problemas de natureza médica, como a correção de defeitos congênitos e outros traumas decorrentes de acidentes de qualquer natureza.

Cirurgia plástica puramente estética: tem seu objetivo limitado ao resultado puramente estético, visando unicamente aperfeiçoar o aspecto externo de uma parte do corpo. Neste tipo de cirurgia o paciente busca o cirurgião sem apresenta qualquer patologia, visa, apenas, o puro embelezamento.

As maiores divergências vêm do fato de existirem duas correntes que defendem cada umas das modalidades de Obrigações, presentes na Cirurgia puramente estética. A corrente que defende a obrigação de meio para este tipo de procedimento, tem como defensores os Ministros Rui Rosado Aguiar e Carlos Alberto Menezes Direito. Eles defendem que a cirurgia plástica é um ramo da cirurgia geral, estando sujeita aos mesmos imprevistos e insucessos daquela, de modo não ser possível punir mais severamente o cirurgião plástico do que o cirurgião geral, haja vista pertencerem à mesma área. Afirmam que o corpo humano possui características diferenciadas para cada tipo de pessoa, não sendo possível ao médico comprometer-se a resultados diante da diversidade de organismos, reações e complexidade da fisiologia humana. Condenam até mesmo os médicos que prometem resultados aos pacientes, uma vez que não poderiam ser responsabilizados por estes, porque não podem garantir elasticidade da pele, cicatrização, fatores hereditários, repouso, alimentação, pós-operatório, etc. Aduzem ainda que o que é diferente na cirurgia estética strictu sensu é o dever de informação que deve ser exaustivo e o consentimento informado do paciente que deve ser claramente manifestado. Para o Ministro do Superior Tribunal de Justiça Carlos Alberto Direito: “Não se pode generalizar, pois cada caso tem a sua especificidade. Em nenhum momento, o juiz pode trabalhar fora do problema em si mesmo, fora daquela situação em que ocorreu a lesão. Por isso, é que se pede ter sempre a consideração de que o médico não pode assumir, em nenhuma circunstância, a responsabilidade objetiva. Daí, ao meu ver, por exemplo, a impertinência de se identificar a cirurgia plástica embelezadora como de resultado, pois ela não é diferente de qualquer outro tipo de cirurgia, estando subordinada aos mesmos riscos e às mesmas patologias.” [1] Porém, também temos os juristas, e por sinal ainda são maiorias; que defendem arduamente a responsabilidade do médico na cirurgia estética não reparadora. Entre eles, o Ministro Humberto Gomes de Barros, do STJ. A seguir, reproduzidos alguns grifos, de diversos ministros, retirados do acórdão por ele proferido no Recurso Especial n° 618.630, STJ, publicado no DJU em 07.04.2005:

"Contratada a realização da cirurgia estética embelezadora, o

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cirurgião assume obrigação de resultado (Responsabilidade contratual

ou objetiva), devendo indenizar pelo não cumprimento da mesma,

decorrente de eventual deformidade ou de alguma irregularidade.

Cabível a inversão do ônus da prova" (REsp 81.101/Zveiter, grifei).

"O profissional que se propõe a realizar cirurgia, visando melhorar

a aparência física do paciente, assume o compromisso de que, no

mínimo, não lhe resultarão danos estéticos, cabendo ao cirurgião a

avaliação dos riscos. Responderá por tais danos, salvo culpa do

paciente ou a intervenção de fator imprevisível, o que lhe cabe

provar (AgRg no AG 37.060/Eduardo Ribeiro, grifei).

Atualmente há um verdadeiro "comércio" no ramo da cirurgia plástica, com o aumento desordenado da procura por corpos perfeitos e oferta de cirurgias por profissionais nem sempre habilitados. Isso é um dos fatores que levam a segunda corrente a apresentar um número maior de adeptos.

Medicina – Odontologia

A área odontológica, também apresenta o drama vivido pela estética, e da mesma maneira, apresenta duas correntes. E o funcionamento é semelhante, podendo-se tratar de forma análoga ambas as profissões. Abaixo, segue a opinião do advogado José França Conti, Advogado especialista em Responsabilidade Civil, Livre Docente – UFF e Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial: “Mesmo com o novo Código Civil, a responsabilidade do dentista e do médico continua sob a égide de responsabilidade subjetiva, em que não basta existir o dano, é preciso provar a culpa pelo dano”.O tratamento odontológico no âmbito das obrigações é uma obrigação de meio, e a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais é subjetiva, necessitando ser apurada mediante a verificação da culpa, conforme dispõe o art. 159 do Código Civil de 1916, que tem seu correspondente no art. 186 do Código Civil de 2002”.Por conseguinte, há de se apurar se o profissional liberal agiu com negligência, imprudência ou imperícia. Tratando-se de negligência ou imprudência, convém termos presente o que bem disse o filósofo espanhol Ortega Y Gasset: Eu sou eu e minhas circunstâncias. Aqui é oportuno registrar que os profissionais de saúde vêm sendo submetidos a um altíssimo nível de estresse, causado pelas péssimas condições de trabalho, baixíssima remuneração, gigantesca duração de jornada de trabalho diária e semanal, não-valorização da qualidade da assistência, mas sim da quantidade, e o pior, por terem se tornado os bodes expiatórios de todas as mazelas do sistema, é evidente que isto não os exime da culpa, mas deve mitigá-la” Sylvio Capanema leciona: A recolocação dos dentes não se trata de mera

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vaidade, mas de uma contribuição para a saúde psicológica do paciente. Este raciocínio aplica-se em relação ao dentista que coloca aparelhos. [2] Corroborando com Sylvio Capanema, o dentista, no caso da Odontologia Estética, como na Ortodontia, não está obrigado a obter um resultado, mas sim a empregar todas as técnicas e meios adequados, conforme o estado atual da ciência, para obter o melhor possível, sem prejuízo do equilíbrio funcional e estético.

CONCLUSÕES

Com tudo exposto, é possível enxergar que a área médica apresenta resultados diversos, e depende de cada paciente uma série de fatores pessoais, e até inerentes à própria saúde que interferem nos resultados. Assim, é possível entender a existência sempre fiel de duas correntes para defender cada um dos pontos de vista sob ótica favorável, claro. Porém, é necessário dar um voto a mais de credibilidade para que as questões estéticas, propriamente ditas, sejam julgadas com os princípios da Obrigação de Resultado, tendo em vista que a medicina no nosso país não tem seus profissionais submetidos à exames para avaliar a competência. Ressaltando que a estética é um mercado que está deixando de ser necessário, e está se tornando fútil. É bom também, mostrar que existem profissões que não tem como serem tratadas como Obrigações de Resultado, como por exemplo, a advocacia. O seu profissional assume que irá se utilizar todos os meios possíveis para defender a causa, mas infelizmente não pode garantir ao cliente o sucesso. “É bom ressaltar que nos julgamentos, tudo depende da corrente que o juiz adota, de acordo com sua conduta pessoal”.

BIBLIOGRAFIA

[1] DIREITO, Carlos Alberto. Fórum de responsabilidade civil e penal do médico. Jornal da CREMERJ, ano XV, n. 44, p. 33, set. 2002. [2] Anotações de palestra proferida na EMERJ no segundo semestre de 1999. PEREIRA, Caio Mário da. Responsabilidade Civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 169. KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil dos médicos. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 175. STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação judicial. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, p. 298.

Responsabilidade civil do médico-cirurgião plástico de cirurgia embelezadora:

obrigação de meio ou obrigação de resultado?

http://jus.uol.com.br/revista/texto/8493

Page 5: Obrigações de Meio e Resultado

Publicado em 06/2006

Elvis Donizeti Voltolin

A cirurgia plástica é tida como gênero a encapar duas espécies diferenciadas pela sua finalidade: a reparadora e a estética ou embelezadora. A primeira tenciona a correção de defeitos, congênitos ou adquiridos; a embelezadora, melhorar aquilo que "[...] é motivo de insatisfação para o paciente (o chamado hipocondríaco estético) [...]". [01]

Numa análise do tratamento jurídico dispensado à cirurgia plástica embelezadora, reportando-se a Caio Mário da Silva Pereira, Ricardo Pereira Lira [02] expõe três estágios evolutivos. Num primeiro momento, vê-se a sua completa rejeição, pois nada justificava o risco de uma cirurgia não direcionada à cura de qualquer mal. Mais tarde, com a análise parcimoniosa do caso, passou-se a admiti-la. Atualmente, o procedimento conta com ampla aceitação e esta terceira etapa parece ser a mais condizente com a definição de saúde colocada, inclusive, no âmbito internacional.

Em acertada lembrança, Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, quando proferia palestra no VII Radesp – Reunião Anual dos Dermatologistas do Estado de São Paulo, no dia 30 de novembro de 2002, consignou que o conceito de saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde, encampa não só o aspecto físico, mas o psíquico, o material e o moral. [03]

Se não justificável quanto ao estado físico, como se pretendia nos primórdios de seu desenvolvimento, a cirurgia embelezadora encontra respaldo seguro nos outros três, remediando, no mínimo, um estado de descontentamento.

O grande problema colocado na doutrina e na jurisprudência é, justamente, o referente ao conteúdo da obrigação do médico responsável pelo ato cirúrgico, isto é, utilizando-se da classificação proposta pelo francês René Demogue, se se trata de obrigação de meio ou de resultado. [04] O profissional se obriga, simplesmente a prestar um serviço ou, através da prestação de um serviço, atingir um resultado previamente determinado?

A doutrina e a jurisprudência majoritárias do Brasil, ortodoxamente, sempre se pautaram interpretando a obrigação do cirurgião plástico embelezador como sendo de resultado, pois o paciente só se submeteria à intervenção se fosse para alcançar o resultado pretendido e, muitas vezes, prometido.

Todavia, o posicionamento, aparentemente assentado, vem sofrendo críticas severas, de maneira especial, no campo da doutrina.

Hildegard Taggesel Giostri, ao definir a obrigação de resultado, coloca-a como aquela que se desenvolve em áreas onde não exista o fator álea. [05] Com efeito, diante do risco de não ser possível atingir o resultado pretendido, mesmo diante dos melhores esforços do profissional, a obrigação será de meio e nunca de resultado, ainda que este seja prometido.

A plástica embelezadora está afeita aos riscos inerentes a qualquer outra forma de intervenção cirúrgica. Também nela, previamente, não se pode determinar todas as possíveis reações fisiológicas do paciente ao ato a ser realizado. O médico, como pondera o mesmo

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autor, não pode se ver impingido ao alcance do resultado para ver cumprida a obrigação assumida perante o paciente.

Do mesmo posicionamento compartilha o Ministro do Superior Tribunal de Justiça Carlos Alberto Menezes Direito cujos argumentos são dignos de nota:

Pela própria natureza de ato cirúrgico, cientificamente igual, pouco importando a subespecialidade, a relação entre cirurgião e o paciente está subordinada a uma expectativa do melhor resultado possível, tal como em qualquer atuação terapêutica, muito embora haja possibilidade de bons ou não muito bons resultados; mesmo na ausência de imperícia, imprudência ou negligência, dependente de fatores alheios, assim, por exemplo, o próprio comportamento do paciente, a reação metabólica, ainda que cercado o ato cirúrgico de todas as cautelas possíveis, a saúde prévia do paciente, a sua vida pregressa, a sua atitude somatopsíquica em relação ao ato cirúrgico. Toda intervenção cirúrgica, qualquer que ela seja, pode apresentar resultados não esperados, mesmo na ausência de erro médico. E, ainda, há em certas técnicas conseqüências que podem ocorrer, independentemente da qualificação do profissional e da diligência, perícia e prudência com que realize o ato cirúrgico.

Anote-se, nesse passo, que a literatura médica, no âmbito da cirurgia plástica, indica, com claridade, que não é possível alcançar 100% de êxito. [06]

Como se não bastasse o comportamento fisiológico, também o psíquico pode vir a influenciar o paciente a dar por não cumprida a obrigação assumida. Como ressaltam Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka e Gustavo F. de Campos Mônaco [07], o ser humano é um grande descontente com seu perfil estético querendo, quando não mais, mudar a cor dos cabelos ou dos olhos, por exemplo.

A observação não passou desapercebida por Hildegard Taggesel Giostri, sendo de importância consignar suas palavras, in verbis:

[...] o trabalho daquele profissional se realiza sem seara onde o resultado final (buscado e avençado) pode ser alterado pelo fisiologismo orgânico, pelo psiquismo do próprio paciente e pela resposta individualista de cada ser, frente a um mesmo tratamento, seja clínico, seja cirúrgico, já que, tanto um quanto outro, se desenvolvem em seara povoada pelo fator álea. [08]

Ademais, conjecturar pela imposição de uma obrigação de resultado àqueles que realizam a cirurgia embelezadora seria violar o próprio fim social da aplicação da norma previsto no artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, pois o adimplemento da obrigação ficaria condicionado ao subjetivismo do paciente em aceitar como melhorada a sua aparência.

Por todos os argumentos expendidos e discordando do posicionamento defendido por Ricardo Pereira Lira, que tem na cirurgia estética um exemplo de obrigação de resultado, comungamos da orientação daqueles que a consideram um exemplo de obrigação de meio, haja vista a álea na qual se insere.

BIBLIOGRAFIA

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DIREITO, Carlos Alberto Meneses. A responsabilidade civil em cirurgia plástica. Revista de Direito Renovar, Rio de Janeiro, v. 7, p.11-19, jan./abr. 1997.

GIOSTRI, Hildegard Taggesel. Algumas reflexões sobre as obrigações de meio e de resultado na avaliação da responsabilidade médica. Revista Trimestral de Direito Civil, Rio de Janeiro: Padma, v. 5, p. 101-116, jan./mar. 2000.

LIRA, Ricardo Pereira. Obrigação de meios e obrigação de resultado a pretexto da responsabilidade médica. Análise dogmática. Revista de Direito Renovar, Rio de Janeiro, v. 6, p. 75-82, set./dez. 1996.

HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Cirurgia plástica e responsabilidade civil do médico: para uma análise jurídica da culpa do cirurgião plástico. Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Divisão Jurídica – Instituição Toledo de Ensino de Bauru, São Paulo, n. 39, p. 506, jan./abr. 2004. Disponível em: . Acesso em: 20 novembro 2004.

______. MÔNACO, Gustavo F. de Campos. Cadernos de Direito Civil – Direito das Obrigações, São Paulo: Revista dos Tribunais, no prelo.

Classificação das Obrigações

Quanto ao objeto, seus elementos, de meio e de resultado, civis e naturais, puras e simples, condicionais, a termo e modais, de execução instantânea, diferida, periódica, líquidas e ilíquidas, principais e acessórias, com cláusula penal e "propter rem".

06/set/2007

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Segundo Carlos Roberto Gonçalves, obrigação é "o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação".

É a relação de crédito e débito que se extingue com o cumprimento da mesma e que tem por objeto qualquer prestação economicamente aferível. As obrigações são classificadas de acordo com os seguintes critérios:

1. Classificadas quanto ao objeto

O objeto da obrigação pode ser mediato ou imediato.

- Imediato: a conduta humana de dar, fazer ou não fazer. Ex:. Dar a chave do imóvel ao novo proprietário. - Mediato: é a prestação em si. Ex:. O que é dado? A chave.

De acordo com essa classificação, podemos destacar:

Obrigações de dar, que se subdivide em dar coisa certa ou incerta; Ex:. Dar um documento a alguém.

Obrigação de fazer; Ex:. Fazer uma reforma em parede divisória entre terrenos.

Obrigação de não fazer; Ex:. Não fazer um muro elevado a certa altura.

2. Classificadas quanto aos seus elementos

A obrigação é composta por três elementos, que são:

- Elemento subjetivo, ou seja, os sujeitos da relação (ativo e passivo), - Elemento objetivo, que diz respeito ao objeto da relação jurídica, e - Vínculo Jurídico existente entre os sujeitos da relação.

Dividem-se, portanto, as obrigações em:

Simples: que apresenta todos os elementos no singular, ou seja, um sujeito ativo, um sujeito passivo e um objeto.

Composta ou Complexa: contrária a primeira, apresenta qualquer um dos elementos, ou todos, no plural. Por exemplo: 1 sujeito ativo, 1 sujeito passivo e 2 objetos. Esta, por sua vez, dividem-se em:

o Cumulativas: os objetos aparecem relacionados com a conjunção "e". Somando-se então, os dois objetos. Ex:. "A" deve dar a "B" um livro e um caderno.

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o Alternativas: os objetos aparecem relacionados com a conjunção "ou". Alternando então, a opção por um ou outro objeto. Ex:. "A" deve dar a "B" R$ 10.000,00 ou um carro.

As obrigações que possuem multiplicidade de sujeitos são classificadas como:

o Divisíveis: são as obrigações em que o objeto pode ser dividido entre os sujeitos. Ex:. Determinada quantia em dinheiro - R$ 1.000,00.

o Indivisíveis: são as obrigações em que o objeto não pode ser dividido entre os sujeitos. Ex:. Um animal, um veículo, etc.

o Solidárias: não depende da divisibilidade do objeto, pois decorre da lei ou até mesmo da vontade das partes. Pode ser solidariedade ativa ou passiva, de acordo com os sujeitos que se encontram em número plural dentro da relação.

Quando qualquer um deve responder pela dívida inteira, assim que demandado, tendo direito de regresso contra o sujeito que não realizou a prestação. EX:. "A" e "B" são sujeitos passivos de uma obrigação. "C", sujeito ativo, demanda o pagamento da dívida a "A" que cumpre a prestação sozinho e pode, posteriormente, cobrar de "B" a parte que pagou a mais.

3. Obrigações de Meio e de Resultado

- Obrigação de meio é aquela em que o devedor, ou seja, o sujeito passivo da obrigação utiliza os seus conhecimentos, meios e técnicas para alcançar o resultado pretendido sem, entretanto, se responsabilizar caso este não se produza. Como ocorre nos casos de contratos com advogados, os quais devem utilizar todos os meios para conseguir obter a sentença desejada por seu cliente, mas em nenhum momento será responsabilizado se não atingir este objetivo.

- Obrigação de resultado é aquela que o sujeito passivo não somente utiliza todos os seus meios, técnicas e conhecimentos necessários para a obtenção do resultado como também se responsabiliza caso este seja diverso do esperado. Sendo assim, o devedor (sujeito passivo) só ficará isento da obrigação quando alcançar o resultado almejado. Como exemplo para este caso temos os contratos de empresas de transportes, que têm por fim entregar tal material para o credor (sujeito ativo) e se, embora utilizado todos os meios, a transportadora não efetuar a entrega (obter o resultado), não estará exonerada da obrigação.

4. Obrigações Civis e Naturais

- Obrigação civil é a que permite que seu cumprimento seja exigido pelo próprio credor, mediante ação judicial.

Page 10: Obrigações de Meio e Resultado

Ex:. a obrigação da pessoa que vendeu um carro de entregar a documentação referente ao veículo.

- Obrigação natural permite que o devedor não a cumpra e não dá o direito ao credor de exigir sua prestação. Entretanto, se o devedor realizar o pagamento da obrigação, não terá o direito de requerê-la novamente, pois não cabe o pedido de restituição. Ex:. Arts. 814, 882 e 564, III do Código Civil. "Artigo 814 CC - As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito".

5. Obrigações Puras e Simples; Condicionais; a Termo e Modais

As obrigações possuem, além dos elementos naturais, os elementos acidentais, que acabam muitas vezes por caracterizá-las. Estes elementos são: a alteração da condição da obrigação, do termo e do encargo ou do modo.

- Obrigações puras e simples são aquelas que não se sujeitam a nenhuma condição, termo ou encargo. Ex: Obrigação de dar uma maçã sem por que, para que, por quanto e nem em que tempo.

- Obrigações condicionais são aquelas que se subordinam a ocorrência de um evento futuro e incerto para atingir seus efeitos. Ex:. Obrigação de dar uma viagem a alguém quando esta pessoa passar no vestibular (condição).

- Obrigações a termo submetem seus efeitos a acontecimentos futuros e certos, em data pré estabelecida. O termo pode ser final ou inicial, dependendo do acordo produzido. Ex:. Obrigação de dar um carro a alguém no dia em que completar 18 anos de idade.

- Obrigações modais em que o encargo não suspende a "aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva", de acordo com o artigo 136 do Código Civil. Ex:. Pode figurar na promessa de compra e venda ou também, mais comum, em doações.

6. Obrigações de Execução Instantânea; Diferida e Periódica

Esta classificação é dada de acordo com o momento em que a obrigação deve ser cumprida. Sendo classificadas, portanto, em:

- Obrigações momentâneas ou de execução instantânea que são concluídas em um só ato, ou seja, são sempre cumpridas imediatamente após sua constituição. Ex:. Compra e venda à vista, pela qual o devedor paga ao credor, que o entrega o objeto. "A" dá o dinheiro a "B" que o entrega a coisa.

- Obrigações de execução diferida também exigem o seu cumprimento em um só ato, mas diferentemente da anterior, sua execução deverá ser realizada em momento futuro.

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Ex:. Partes combinam de entregar o objeto em determinada data, assim como realizar o pagamento pelo mesmo.

- Obrigações de execução continuada ou de trato sucessivo (periódica) que se satisfazem por meio de atos continuados. Ex:. As prestações de serviço ou a compra e venda a prazo.

7. Obrigações Líquidas e Ilíquidas

- Obrigação líquida é aquela determinada quanto ao objeto e certa quanto à sua existência. Expressa por um algarismo ou algo que determine um número certo. Ex:. "A" deve dar a "B" R$ 500,00 ou 5 sacos de arroz.

- Obrigação ilíquida depende de prévia apuração, já que o montante da prestação apresenta-se incerto. Ex:. "A" deve dar vegetais a "B", não se sabe quanto e nem qual vegetal.

Diversos artigos do Código Civil estabelecem essa classificação. Citamos, então, os seguintes: arts. 397, 407, 369, 352, entre outros.

8. Obrigações Principais e Acessórias

- Obrigações principais são aquelas que existem por si só, ou seja, não dependem de nenhuma obrigação para ter sua real eficácia. Ex:. Entregar a coisa no contrato de compra e venda.

- Obrigações acessórias subordinam a sua existência a outra relação jurídica, sendo assim, dependem da obrigação principal. Ex:. Pagamento de juros por não ter realizado o pagamento do débito no momento oportuno.

É importante, portanto, ressaltar que caso a obrigação principal seja considerada nula, assim também será a acessória, que a segue.

9. Obrigações com Cláusula Penal

Acarretam multa ou pena, caso haja o inadimplemento ou o retardamento do acordo. A cláusula penal tem caráter acessório e, assim sendo, se considerada nula a obrigação principal, não haverá nenhuma multa ou pena à parte inadimplente. São divididas em:

Compensatórias: quando determinadas para o caso de total descumprimento da obrigação. Ex:. Se "A" não pagar R$ 500,00 à B, deverá reembolsá-lo no montante de R$ 800,00.

Moratórias: com a finalidade de garantir o cumprimento de alguma cláusula especial ou simplesmente poupar a mora. Ex:. Se "A" não pagar em determinada data, incorrerá em multa de R$ 1.000,00.

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10. Obrigações Propter Rem

Constituem um misto de direito real (das coisas) e de direito pessoal, sendo também classificadas como obrigações híbridas. Obrigação propter rem é aquela que recai sobre determinada pessoa por força de determinado direito real. Existe somente em decorrência da situação jurídica entre a pessoa e a coisa.

Por exemplo, as obrigações impostas aos vizinhos, no direito de vizinhança, por estarem figurando como possuidores do imóvel.

Referências bibliográficas

GONÇALVES, Carlos Roberto. Sinopses Jurídicas - Direito das Obrigações (Parte Geral). Volume 5. Editora Saraiva. 8ª Edição - 2007.

Obrigações de meio e obrigações de resultado

Page 13: Obrigações de Meio e Resultado

À responsabilidade civil sempre foi adotada a teoria de responsabilidade subjetiva. Acontece que, com a revolução industrial, as relações de consumo se acentuaram e o homem passou a não mais aceitar os prejuízos causados a si como anteriormente. As mudanças nas relações sociais foram tantas, que foi necessário uma alteração no âmbito da reparação de danos com o fim de atender aos anseios da população consumidora. Criou-se, assim, a responsabilidade objetiva.

Com tamanha mudança, as relações obrigacionais também careciam de modificação. Foi quando a doutrina, com o objetivo de melhor compreender as relações obrigacionais, previu uma nova instituição para as obrigações.

Portanto, segundo o conteúdo, as obrigações foram divididas em obrigações de meio e obrigações de resultado. Acentuando-se que a obrigação do devedor nem sempre é a mesma. A doutrina atribuiu a Demogue a responsabilidade de distinguir as duas novas formas de obrigação. Este, com muita sutileza, as distinguiu com base no ônus probandi em matérias de obrigações contratuais e delituais. As obrigações de meio, segundo ele, não se encontram vinculadas a um resultado certo e determinado a ser produzido pelo devedor. É exigida, neste caso, somente uma atividade diligente. As obrigações de resultado seriam aquelas que só eram exigidas com a efetiva produção do resultado, que seria sempre certo e determinado.

Ensina Caio Mário da Silva Pereira: “Nas obrigações de resultado a execução considera-se atingida quando o devedor cumpre objetivo final; nas de meio, a inexecução caracteriza-se pelo desvio de certa conduta ou omissão de certas precauções a que alguém se comprometeu, sem se cogitar do resultado final”. (Pereira, 1993, p. 214).

Partindo desta conceituação, constata-se que, na prática, o regime de responsabilidade é definido pelo tipo de obrigação assumida. Vejamos o exemplo do profissional liberal, caso o cliente se veja diante de uma obrigação de meio, deverá ser aplicado ao profissional liberal a responsabilidade subjetiva. Consequentemente, a necessidade de se provar previamente a culpa do profissional liberal para que haja ressarcimento é gerada pela impossibilidade de exigir do profissional contratado o resultado desejado.

De forma oposta, a responsabilidade objetiva é aplicada quando a obrigação assumida é de resultado.