o vôo do cisne

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José Luiz Tejon Megido o VÔO do CISNE A revolução dos diferentes o voo do cisne 21.01.05 18:06 Page 1

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José Luiz Tejon Megido

o VÔOdo CISNE

A revolução dos diferentes

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INTRODUÇÃO

Havia um novo patinho no grupo. Feio, horrível,desengonçado. Uma deformação da natureza. Amamãe pata morreu de dó daquela cria... Estava per-dido, coitado. Seria chacota de todo mundo. Os outrospatinhos, quando o viram, logo o batizaram de “pati-nho feio”. Gozavam, riam, faziam piadas.

Quando o patinho feio chegava para brincar com seusirmãozinhos, era imediatamente enxotado. “Sai, feiú-ra, vai brincar com a sua turma”, gritavam todos.

Mas o patinho feio fazia de tudo para ser um “patinhonormal”. Para ser um patinho que fazia “tudo igual”.Chorava escondido no mato por ser diferente. Por nãoser compreendido. Por ser rejeitado. Rebelava-se:“Por que sou assim, um excepcional?” Não tinha jeito.Bastava ser visto ou chegar perto dos outros e eraescorraçado.

Por fim, RESIGNOU-SE! Por mais que se esforçasse,não conseguiria nunca ser um patinho normal e fazertudo igual. Numa manhã, muito cedinho, antes de osol nascer, saiu de casa. Embrenhou-se no matagal

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após decidir que iria viver escondido do mundo. Só econsigo mesmo dali em diante. O patinho feio morriade vergonha e de medo da repulsa que causava nosdemais membros do seu grupo. “Prefiro os riscos daselva desconhecida à tortura dos meus amigos”, pen-sava ele.

Buscava refúgio e proteção na SOLIDÃO. Escondia-se do mundo, como fazem todos aqueles que aceitamo infortúnio do destino e abandonam sua vida, domi-nados pelas situações difíceis.

Passado algum tempo, o patinho feio aproximou-sede um lindo lago azul. Esse lago circundava ummajestoso palácio imperial. Nas águas cristalinas dolago, aves majestosas, absolutamente lindas, flutua-vam. A harmonia, a elegância e a imponência dessasaves deixaram o patinho feio totalmente deslumbrado.“Que seres lindos!”, reverenciou.

Quando já ia baixando o olhar, com tristeza pelo seuinfortúnio, viu refletida no espelho brilhante das águasclaras uma outra ave. Linda como aquelas que nada-vam majestosas no lago. Foi tomado de um tremendoespanto ao perceber que aquela linda ave era a suaprópria imagem refletida.

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Feliz, com o coração explodindo de alegria, entrou nolago e uniu-se aos seus. Ao seu legítimo bando.

Ele era um cisne, mas não sabia!

Nasceu cisne. Não tinha culpa de ter sido criadocomo um patinho feio.

Nascemos todos como cisnes. A grande maioria denós é educada como patinho feio. Perdemos a nossa“excepcionalidade” ainda no ninho, quando crianças.Vamos crescendo e nos esforçando para ser “nor-mais” e fazer tudo igual, como patinhos feios. Porém,ficamos angustiados e esperamos obter resultadosmágicos. Resultados de cisne, enquanto imitamospatos.

A definição de louco poderia ser a de uma pessoaque repete sempre a mesma fórmula esperando obterresultados diferentes.

Descobrir o CISNE que existe dentro de você signifi-ca abandonar a vida de patinho feio. Romper com anormalidade de ser apenas MAIS UM. Olhar no espe-lho limpo das águas do lago. Descobrir-se. E procu-rar sua turma. Sua turma de cisnes!

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INASCIA UM PATINHO FEIO

“Nada é tão difícil quanto não se enganar a si

próprio.”

LUDWIG WITTGENSTEIN

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Um clarão. Uma forte, intensa e quente luz.

Recordo-me de enxergar, por instantes, a rua atravésda porta aberta. Meus olhos, minha consciência, quetentavam resistir ao fogo que cobria meu rosto, tudoera um amarelão. Quase como se o sol estivessecolando nas minhas sobrancelhas.

Eu tinha 3 anos de idade. Uma mistura de cera comgasolina queimava minha face de forma total. Os teci-dos, derretidos. Destruídos. Por respirar aquela fuma-ça, meus pulmões também sofreram. “Viver, só pormilagre”, era o diagnóstico.

Anjo salvador, uma vizinha que saltava o muro conse-guiu abafar o fogo que teimava em não se consumir.Resistia ao desespero de minha mãe, que se queima-va junto, procurando fazer de suas próprias mãos ebraços um manto para extinguir o oxigênio daquelamistura inflamada.

Assim nascia o “meu patinho feio”. A viagem até o vôodo cisne e a conclusão sobre o poderoso prazer deser você mesmo são as humildes lições aprendidasna vida por alguém que cresceu obrigado a “ser dife-

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rente”. Estava na cara, para sempre, marcadamente,essa diferença.

Durante toda a infância fui realizando uma série decirurgias plásticas, com a tecnologia e o conhecimen-to existentes na década de 50. O rosto totalmenteenxertado com minha própria pele. Foi feito o que erapossível.

Da queimadura me salvei. O que faria com a vida? Oque aprenderia com ela...? Essa é uma questão queainda não terminou, mas com certeza já é possívelcompartilhar parte dessas experiências.

Fazer da aparente fraqueza a grande força em vez decultivar o medo do seu enfrentamento é a chama quevale a vida. E tudo, tudo é com você mesmo.

Não tem jeito. A vida é como um bumerangue quevocê joga e — sempre — volta para dentro de você.

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IINO COMEÇO, SOMENTE OS CISNES

“A vida não é só isso que se vê. É um

pouquinho mais, que os olhos não

conseguem perceber.”

PAULINHO DA VIOLA

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Em 1958, em Santos, eu iniciava o meu jardim deinfância. Escolinha Nossa Senhora de Lourdes, anexaà Santa Casa. Tinha 6 anos de idade. Essa escolinhareunia as crianças com “problemas” que estavaminternadas no hospital.

Éramos todos um time de crianças felizes, destemi-das, sem nada a perder e simplesmente vocaciona-das para viver. Não tínhamos consciência dos nossosproblemas. Não criávamos nem alimentávamosnenhum fantasma dentro de nós. Quase todos aliconheciam a vida a partir do interior do hospital. Nãoéramos estranhos no ninho. Não vivíamos nenhumasíndrome de patinhos feios. Nós nos achávamos “nor-mais”. Paralisia infantil, problemas mentais, paralíti-cos eternos com suas cadeiras de rodas, alguns sembraços, outros com doenças incuráveis e eu: queima-do. Estava ali havia três anos, mas chegara a hora decomeçar a estudar. Eu não tinha rosto — ou melhor,tinha um, “horrível”, mas não sabia. E os meus amigos“anormais” eram tão “normais” como eu. Cada umcom seu problema normal. Éramos crianças, apenascrianças. Nosso bando se respeitava e se amava.Somente cisnes. Sem patinhos feios. VOCACIONA-

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DOS PARA VIVER, correr, brincar, ficar alegre, cho-rar, reclamar.

Voávamos acima das montanhas e das nuvens doscomuns. Mergulhávamos nos lagos profundos, noencontro do silêncio e da linguagem das águas. Nosdivertíamos com a inocência de não saber o que ésofrer!

Pequenos cisnes!

Foi na Escolinha Nossa Senhora de Lourdes que eucomecei a aprender, e aprendi, as minhas primeiraslições sobre a importância de ser diferente, e não sim-plesmente mais um. Não podíamos ser normais, fazertudo igual! Fomos obrigados pela vida, desde a suaconsciência inicial, a aceitar a idéia de que tínhamosque ser excepcionais!

ACEITAR AS NOSSAS DIFERENÇAS... A REVOLU-ÇÃO DOS DIFERENTES

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IIIUM DIFERENTE NO NINHO.

COMEÇOU O JOGO: CISNES � PATINHOS FEIOS

“O medo é o mais tradicional espantalho quesempre usamos quando continuamos a fazer

como sempre fizemos. Na meia-luz dos nossos automatismos. Na meia-lucidez do nosso

sonambulismo crônico. É esse medo de ser, de se sentir ou de se ver diferente de todos ede si mesmo a primeira e a mais fundamental

das resistências psicológicas.”

JOSÉ ÂNGELO GAIARSA

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Todos nascemos únicos e DIFERENTES.

Trazemos no nascimento a nossa “semente” essen-cial. A diferença, as características exclusivas que nosfazem um ser incopiável, na conjunção da genética, daadaptabilidade ao meio ambiente, do comportamentoe do espírito. A clonagem poderá replicar seres gene-ticamente iguais, mas sem dúvida diferentes na consa-gração da mente e das almas. Os vegetais e os ani-mais já são clonados, são cópias exatas uns dos ou-tros. Como os eucaliptos, por exemplo. No ser huma-no essas cópias poderão ser biologicamente idênti-cas. O clone. Porém, na “química” e nas impressõesda programação da mente, como no código indecifrá-vel da alma, continuaremos a ser únicos, apesar deuma impressão digital possivelmente idêntica.

Nos primeiros anos de vida exercitamos essa “indivi-dualidade”. Estabelece-se uma luta entre a nossaexcepcionalidade, o nosso ser exclusivo, e as limita-ções sociais, econômicas, políticas, educacionais,culturais e de costumes. Pais, família, instituições, oambiente da rua e a mídia operam a imediata “instala-ção de softwares” na mente dos novos seres.

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Ficamos assustados com a clonagem genética,enquanto a clonagem de valores, de atitudes, de esti-lo de vida vem nos aprisionando e forjando escravoscerebrais ao longo de toda a História da humanidade.

Ficamos hipnotizados pelas capas de revista comgente famosa e quedamos paralisados!

Matamos o vôo livre do nosso filho ao não aceitar oseu prazer pelo skate, pelo dark, pelo “ser diferente”,como se não tivéssemos sido nós os diferentes apai-xonados pelos Beatles, por Marx e Woodstock nosanos 60!

Aniquilamos o nosso eu perseguindo uma infinidadede cirurgias plásticas e lipoaspirações para posarnuas, no papel de uma das milhares de barbies domundo.

Quanta desgraça por não aprender a voar e descobriro poderoso prazer de sermos nós mesmos!

É CLARO, O COVARDE NÃO SEDUZ NINGUÉM.NEM A SI MESMO

O que eu ia concluindo com a minha própria expe-riência era que, cada vez que me deixava dominarpela covardia do não-enfrentamento de um problema,

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pela fuga — por exemplo, ficar escondido, com ver-gonha de ser visto pelas pessoas —, isso gerava maiscovardia e menos amor-próprio, num ciclo crescentee destruidor. Rebelar-me contra esse sentimento foialgo decisivo para poder começar a voar para o pra-zer da minha diferença.

Quando permitimos que uma criança seja LIVRE eforte nos seus diferenciais até os 6, 7 anos, nós aimpregnamos com a força da sua EXCLUSIVIDADE.A canalização ética dessa força é a base do ser eter-namente excepcional. A canalização marginal, bandi-da, do desamor dessa força cria a fábrica de sujeitostambém diferentes, mas sem compaixão. Os cisnesdo mal!

ZEZÉ, A CORAGEM E O EXEMPLO DA FORÇADAS PEQUENAS VITÓRIAS

Na nossa escolinha de “excepcionais” da Santa Casade Santos, tínhamos uma bandinha de música.Tocávamos instrumentos simples: reco-recos, guizos,chocalhos, pratos, tambores – e a Zezé tocava triângu-lo. Ou pelo menos esse era o desafio. Zezé tinha 15anos, mas mentalmente era igual a uma criança de 3.Ela não conseguia segurar o triângulo, não conseguia

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bater no instrumento. Ria ou chorava a cada minuto,conforme experimentava o sentimento de alegria oude frustração.

Zezé nos dava medo. E se ela pusesse tudo a perderno dia do show? E Zezé também morria de medo! Naturbulência inconsistente de sua mente, seguia a von-tade de participar, de ser querida, mas tinha medo dofracasso. Nada claro, porém imensamente verdadei-ro. Muitos ensaios, a professora ao piano. Dia doshow. Todos nós e Zezé.

Na hora exata, cada um de nós concentrado no quedevia fazer. Esquecemos da Zezé. E na hora de otriângulo soar, ele soou... Eram como as batidas cris-talinas de uma alma pulsadas por um pequeno cora-çãozinho... Aquele som, aquele triângulo tinham aproporção de um megaespetáculo do Pink Floyd...Ele dizia: “Eu, Zezé, existo e toco triângulo!” Trêsanos mais tarde Zezé morria, mas o exemplo dapequena vitória vencendo nossos medos jamais meabandonaria. Não importa quão difícil seja o momen-to pelo qual estamos passando, Zezé sempre merelembra: “Eu existo e toco triângulo”. Você existe etoca as cordas da sua vida... a cada segundo.

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