o uso de um criminoso como testemunha: um problema especial - stephen s. trott

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68 Revista CEJ, Brasília, Ano XI, n. 37, p. 68-93, abr./jun. 2007 DIREITO PROCESSUAL PENAL Tati Rivoire O USO DE UM CRIMINOSO COMO TESTEMUNHA: um problema especial Stephen S. T rott* RESUMO Trata da utilização um criminoso como testemunha, nos Estados Unidos, abor- dando vários pontos atinentes ao tema e à jurisprudência norte-americana sobre os problemas envolvidos. Segundo o autor, a questão apropriada não é a de se criminosos devem realmente ser uti- lizados como testemunhas de acusação, mas quando e como. Entende que criminosos colaboradores são perigosos, pois quase sempr e pos- suem uma mentalidade que não carrega os princípios que animam a lei, além de serem motivados por interesses próprios, o que pode levar à traição. Alega que um promotor desatento a essas verdades poderá transformar-se eventualmente em objeto de investiga- ção, e por isso, disponibiliza exemplos de casos concretos relacionados ao assunto e orientações para lidar com o problema de modo efetivo. PALAVRAS-CHAVE Direito Processual Penal norte-americano; jurisprudência norte-americana; delação; criminoso; testemunha; defesa; acusação.  T radução: Sérgio Fernando Moro**

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8/20/2019 O uso de um criminoso como testemunha: um problema especial - Stephen S. Trott

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Revista CEJ, Brasília, Ano XI, n. 37, p. 68-93, abr./jun. 2007

DIR EITO PROCESSUAL PENAL

Tati Rivoire

O USO DE UMCRIMINOSOCOMO

TESTEMUNHA:um problemaespecialStephen S. Trott*

RESUMO

Trata da utilização um criminoso comotestemunha, nos Estados Unidos, abor-dando vários pontos atinentes ao temae à jurisprudência norte-americana sobreos problemas envolvidos. Segundo oautor, a questão apropriada não é a dese criminosos devem realmente ser uti-lizados como testemunhas de acusação,mas quando e como.Entende que criminosos colaboradoressão perigosos, pois quase sempre pos-suem uma mentalidade que não carregaos princípios que animam a lei, além deserem motivados por interesses próprios,o que pode levar à traição.Alega que um promotor desatento aessas verdades poderá transformar-seeventualmente em objeto de investiga-ção, e por isso, disponibiliza exemplos decasos concretos relacionados ao assuntoe orientações para lidar com o problemade modo efetivo.

PALAVRAS-CHAVEDireito Processual Penal norte-americano;jurisprudência norte-americana; delação;criminoso; testemunha; defesa; acusação. Tradução: Sérgio Fernando Moro**

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1 O USO DE UM CRIMINOSOCOMO TESTEMUNHA: UM

PROBLEMA ESPECIAL1

O informante é parte vital da ar- madura de defesa da sociedade 2.

 Esta Corte reconheceu há tempoas “questões sérias de credibilidade”que os informantes colocam... Nós, por isso , permi timos aos acusados “gran-de abertura para testar a credibilidade [dos informantes] pelo exame cruza-do” e aconselhamos a submissão da

questão da credibilidade ao júri “com inst ruções cuidadosas”  3 . 

Um promotor que não for sensí-vel aos perigos de utilizar criminosos recompensados como testemunhasarrisca comprometer a missão de busca de verdade em nosso sistemade justiça criminal. Porque a acusa-ção decide se e quando utilizar essastestemunhas e o quê, se alguma coi- sa, dar a elas pelos seus serv iços, aacusação encontra-se posicionada de manei ra única para proteger contraa perfídia. Por sua ação, a acusação pode tanto contribuir para o problemacomo pode eliminá-lo. Em decorrên-cia, nós esperamos que promotores e investigadores tomem todas as medi-das razoáveis para proteger o sistemacontra a traição4,5.

2 PREFÁCIO

Nas mãos de um experiente médi-co, o bisturi é um instrumento maravi-lhoso. Ele tanto pode remover um tu-mor mortal como reparar um coraçãodoente. O sucesso desses procedimen-tos, por certo, depende da habilidadedo cirurgião porque o mesmo bisturi,em mãos inexperientes ou sem cuida-do, pode fatalmente cortar uma artériasaudável, lesionar um nervo não vistoou mesmo realizar uma operação nojoelho esquerdo quando o problemaestá no direito.

Um criminoso colaborador utili-zado como testemunha contra outroscriminosos é muito parecido com umbisturi. Jimmy, o Doninha Fratianno,

pode ser usado para derrubar a Máfiada Costa Oeste; Sammy, o Touro Gra-vano, para remover o chefe John Gotti;e Michael Fortier para proporcionarum depoimento destruidor e explosi-vo para Timothy McVeigh no caso dabomba no Prédio Federal em Oklaho-ma. De fato, uma das mais úteis, im-portantes e, de certo, indispensáveisarmas na constante luta da civilizaçãocontra criminosos, foras-da-lei e ter-roristas é a informação que vem dos

associados deles. Mas, como no casodo bisturi, a utilização sem cuidado,sem habilidade ou sem preparação, decriminosos colaboradores como teste-munhas, tem a capacidade de gerar, demaneira tão severa, o efeito contráriodo pretendido; assim um caso que, deoutra forma, seria sólido, pode ser irre-paravelmente prejudicado e os efeitoscolaterais podem às vezes não só arrui-nar o caso, mas até mesmo manchar areputação ou a carreira do promotor.

mante, mesmo aparentemente engajadoem colaborar com o caso, pode cometerperjúrio, obstruir a justiça, produzir provafalsa e recrutar outras testemunhas paracorroborar suas histórias falsas. Depoisde 40 anos em nosso sistema judicial,concluí que a mais grave ameaça à in-tegridade deste e a sua missão de buscada verdade – e ainda, aos próprios pro-motores – vem de informantes mal esco-lhidos para seus papéis, manuseados etrabalhados sem cuidado.

Por outro lado, alguns dos maioressucessos em nossas cortes criminais po-deriam não ter sido alcançados sem autilização experiente e habilidosa dessetipo de testemunha. Vicent Bugliosi usoudestramente membros da Família Mansonpara derrubar seu confiante líder, o pró-prio Charles Manson. Um conjunto semfim de promotores habilitados utilizou ma-fiosos para derrubar seus líderes e destruirseus impérios. Até mesmo o PresidenteNixon foi retirado do mais elevado posto

(...) um informante (...) pode cometer perjúrio, obstruir a justiça, produzir prova falsa e recrutar outras

testemunhas para corroborar suas histórias falsas.

Um criminoso colaborador é muitomais perigoso do que um bisturi porqueum informante tem mente própria e, qua-se sempre, é uma mente que não carregaos valores e os princípios que animam anossa lei e a nossa Constituição. Um in-formante é geralmente motivado por in-teresse próprio, este freqüentemente denatureza sociopata, e que ele coloca emprimeiro lugar. Mudará em um instantesempre que perceber que o seu interesseserá melhor atendido de outra maneira.Por definição, informantes-testemunhasnão são só foras-da-lei, mas tambémvira-casacas. Eles são traidores, e umpromotor desatento a essas verdadesdesagradáveis anda sem patins em gelo

escorregadio. Em um momento, um pro-motor pode efetivamente transformar-seno objeto de uma investigação, com du-ras conseqüências. Ademais, um infor-

da nação com a ajuda do depoimento deseus mais próximos confidentes. A lista desucessos é comprida e impressionante.Como a Suprema Corte disse em Kastigarv. United States, nossas leis de imunidadea testemunhas refletem a importância da prova testemunhal e o fato de que muitoscrimes são do tipo de que as únicas pes- soas aptas a dar depoimentos úteis sãoaquelas neles implicadas6.

Mas como um promotor torna-seadequadamente treinado e habilitadonessa área peculiar de sua arte? O currí-culo requerido não pode comumente serencontrado na sala de aula de nossas es-colas de Direito, mas apenas nas ruas, nascadeias e nos fóruns de nossas cidades.

Aqui, o conhecimento vem das trincheiras,dos veteranos, das escolas dos nocautesduros, e espera-se que venha antes queerros problemáticos sejam cometidos.

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O presente resumo não tem objetivo de habilitar alguém aganhar um caso específico, mas é tentativa de irradiar luz sobreum problema recorrente e que freqüentemente faz o sistemajudicial perder seu ancoradouro e virar de cabeça para baixo.Como diz o ditado do Departamento de Justiça dos EstadosUnidos: A acusação sempre ganha quando a justiça é feita.

 A. No começo da carreira de um promotor, a maior parte

das testemunhas da acusação é composta por cidadãos normaisque, em virtude de algum infortúnio ou de outra causa, foramou vítima ou a testemunha de um ato criminal. O Sr. Jones, porexemplo, é chamado a testemunhar ter sido privado de suaseconomias de vida. O Sr. Wilson relata ao júri sobre seu carroroubado. A Sra. Johnson identifica o cadáver de seu filho, mortoem um assalto. E o agente Bond conta que descobriu cocaínana bagagem do acusado no aeroporto.

Com este tipo de testemunha, caráter, credibilidade e in-tegridade não são usualmente questões críticas, seja durantea investigação do caso ou na Corte. O mais esperado do outrolado da mesa é uma defesa baseada na afirmação de que esta

testemunha – apesar de ser uma boa pessoa – está enganadasobre o que ela acredita ter visto ou ouvido.

Cedo ou tarde, no entanto, outro tipo não tão confiávelde testemunha começará a aparecer ocasionalmente na listade intimações, e o promotor começará a aventurar-se em ummar totalmente diferente e no qual ele está freqüentemente malpreparado para navegar: as águas e o domínio traiçoeiro docúmplice, do co-conspirador, do delator e do informante. Apóso depoimento do Sr. Jones como vítima de uma fraude, umdos estelionatários é chamado a depor em uma tentativa decondenar o mentor que planejou o esquema e que escondeutodo o seu saque em contas em bancos estrangeiros. Após oSr. Wilson lamentar o desaparecimento de sua Mercedes, o la-drão de carro é chamado à perseguição do grande chefe que,movido pelos lucros, leva carros alemães até o México. Após amãe do balconista identificar o seu filho morto, o colega de celado acusado é chamado para relatar uma confissão na cadeia. Edepois que o agente Bond identifica a cocaína, a mula aponta odedo de culpa para o cérebro da organização.

perseguir um homem inocente. Alan Dershowitz, em seu livroThe Best Defense, assim descreve essa tática de defesa:

 Na defesa de acusados criminosos – especialmente deculpados – é usualmente necessário colocar a ofensa contraa Acusação; colocar a Acusação em julgamento por sua máconduta. No Direito como nos esportes, a melhor defesa éusual mente um bom ataque.

Nesse mundo perigoso, “caráter”, “preconceito” e “credibi-lidade” não são apenas temas interessantes em um livro sobreprovas – elas se tornam os elementos centrais da vitória ou daderrota no processo da acusação, do começo ao final. O modocomo se trabalha com essas testemunhas e o modo como essestemas são abordados e tratados quando eles surgem – espe-cialmente na fase de abertura de provas – podem determinar osucesso ou o fracasso do caso.

Existem duas razões principais pelas quais tal tipo de ofen-siva frontal pode ser dirigido contra essa espécie de testemu-nha. Infelizmente, as duas razões e as suas ramificações legais etáticas não são totalmente aprendidas por um promotor ou um

investigador até que ele tenha permanecido tempo suficientena profissão, para observar de primeira mão um caso ou umainvestigação ficarem monumentalmente estragados devido auma testemunha traiçoeira. Trabalhar com os Jones, os Wilsons,os Johnsons e os  Bonds do mundo confere ao promotor ima-turo um falso senso de segurança com todas as testemunhas.As duas razões aparentam ser suficientemente óbvias no papel,mas, a não ser que estejam em primeiro plano e em todo tem-po na consciência do promotor ou do investigador ao trataremcom criminosos como testemunhas, erros sérios e irremediáveisde avaliação podem ocorrer.

A primeira das duas razões está relacionada à naturezageral de uma pessoa/testemunha predisposta à criminalidade.Leia e grave a seguinte mensagem na memória:

1. Criminosos estão dispostos a dizer e a fazer qualquercoisa para obterem o que querem, especialmente quando oque eles desejam é livrar-se de seu problema com a lei. Estedesejo de fazer qualquer coisa inclui não-somente espalhar ossegredos dos amigos e parentes, mas também mentir, come-ter perjúrio, fabricar provas, solicitar a outros que corroboremsuas mentiras com mais mentiras e trair qualquer um que tivercontato com eles, incluindo o promotor. Um viciado em dro-gas pode vender sua mãe para obter um acordo, e assaltantes,piratas, homicidas e ladrões não estão longe. Criminosos sãonotadamente manipuladores e mentirosos habilidosos. Muitossão verdadeiros sociopatas sem consciência e para os quais a“verdade” é um conceito sem sentido. Para alguns, “manipular”pessoas é uma forma de vida.

Outros são basicamente pessoas instáveis. Um “informanteconfiável” em um dia pode tornar-se um prevaricador completono próximo.

Caso haja quaisquer dúvidas sobre a observação de quecriminosos são capazes de mentiras impenetráveis sob jura-mento, cabe como exemplo este ar tigo essencialmente acuradoe extraído da primeira página do Los Angeles Times:

 Denver – a história de Marion Albert Pruett é apavorante mas obrigatória. Mantido em prisão federal, ele negociou seu caminho para

a liberdade concordando em testemunhar contra um prisioneiro

Criminosos estão dispostos a dizer e a fazerqualquer coisa para obterem o que querem,especialmente quando o que eles desejam é

livrar-se de seu problema com a lei.

A defesa usual contra este tipo de testemunha envolvida nocrime não é nunca uma afirmação educada de que ela está enga-nada. Não é surpreendente o fato de ser comum a réplica conteracusações elevadas, indignadas e algumas vezes raivosas de quea testemunha está mentindo por razões que deveriam ser paten-temente óbvias para cada pessoa decente dentro da corte.

Nessa linha, o promotor, surpreso, vai descobrir que, emalgumas ocasiões, sua própria integridade pessoal está em jogo.Essa mudança inesperada de eventos não é um assunto en-

graçado. Nem é útil para o caso da acusação ou pessoalmenteconfortável que a defesa alegue, de forma persuasiva, perante aCorte e perante o júri, por exemplo, que você, como um idiotacolossal, tenha dado imunidade ao verdadeiro homicida para

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acusado de matar o seu colega de cela(que também estava arrolado comotestemunha pela Acusação). Em troca, o governo norte-americano colocou-o no seu programa secreto de segurança paratestemunhas, dando-lhe nova identidadee um novo começo de vida.

 Por volta do último outubro e por sua própria conta, no entanto, Pruett ha-via cometido uma seqüência de roubosa banco e havia matado dois balconis-tas de lojas de conveniência, um pertode Denver, outro em Fort Smith, Arkan- sas, e um empregado de empréstimosem Jackson, Mississippi. Agora, de voltaà cadeia, Pruett recontou o depoimentoque levou a sua liberdade e declarouque ele, Marion Pruett, é que havia de fato assassinado seu colega de cela. 

Se Pruett, o cachorro louco, não odeixou de “cabelo em pé”, o que dizer dahistória de Willie Kemp, que, em troca dedinheiro, inventou casos criminais contratrinta e duas pessoas inocentes? O  Na-tional Law Journal  contou a história em27/02/1995, sob esta manchete:

 Agentes postais marcados pelo es-cândalo:

 Fraude exposta Por quinze meses, Willie Kemp e ou-

tros se infiltraram no correio de Cleveland,ostensivamente procurando provas contrausuários e vendedores de drogas. Providosde dinheiro do governo, eles alcançaramo topo, alugando carros de luxo, vivendoem condomínios de preço elevado, vestin-do roupas caras e realizando festas.

“Os inspetores haviam arranjado para que eles fossem contratados comotrabalhadores do correio, assim estavam recebendo pagamentos regulares”, disseo Sr. Maloney (o ex-promotor). “Mas tam- bém recebiam cerca de cem dólares ex-tras por transação e, acima de tudo, guar-davam o dinheiro que os inspetores lhes forneciam para a aquisição de drogas”.

Os promotores e os advogadosde defesa acreditam que os inspetores haviam obtido os nomes dos emprega-dos do correio que haviam se inscrito para receber conselhos sobre o abusode substâncias proibidas. No começo da investigação, aparentemente, os inspeto- res deram aos informantes uma lista de

empregados que podiam ser alvos. Mui-tos deles estavam recebendo aconselha- mento pelo uso de drogas, um fato quedeveria ser confidencial.

Os inspetores postais comunica- ram seus informantes e os mandaramcom milhares de dólares em dinheiro para compra de drogas. Os inspetores nunca viram os alvos e somente ouvi- ram f itas pouco audíveis de informan-tes mantendo conversas e descreven-

do os negócios. Então, os informantes retornavam

aos inspetores com as drogas que elesalegadamente haviam comprado.

“Se eles tivessem revistado os in- formantes, os inspetores teriam desco- berto que eles própr ios traziam as dro- gas e que escondiam em suas meias odinheiro da compra após o negócio”,disse o Sr. Maloney.

O Sr. Gallagher disse que uma in-vestigação acerca da conduta dos inspe-tores está em andamento.

Os informantes condenados.“Todos os informantes envolvidos

 foram condenados por perjúrio e por falsificarem provas e estão presos”, dis-

 se o Sr. Gallagher. “O foco agora é os inspetores postais. Sabiam eles o queestava acontecendo? Cometeram elesvoluntariamente algum crime?” 

Os dois inspetores encarregados da investigação – Timothy Marshall e Da- niel Kuack – foram demitidos. Ambos re-cusaram convites para entrevistas e seusadvogados não retornaram as ligaçõesdo jornal.

O mais perigoso dos informantes é o delator da cadeiaque alega que outro prisioneiro confessou a ele, e odelator agora aparece pronto para testemunhar em trocade alguma consideração em seu caso.

 As outras vozes nas fitas, disse ele,eram “amigos pagos por Willie Kemp e pelos outros informantes para fazer o papel dos empregados do correio”. Asdrogas também eram falsas. Sacolas de pó branco, que eles diziam ser cocaínaadquirida dos empregados do correio,era em verdade recheio para bolo.

Quando o Sr. Moore foi preso, umdefensor público recomendou que ele sedeclarasse culpado. Insistindo que era inocente, ele exigiu um julgamento. “Euestava certo que assim que os agentese informantes me vissem na corte, eles iriam reconhecer que eu era a pessoaerrada e que me deixariam imediata- mente ir”, ele disse ao jornal.

 Ao invés disso, no julgamento, o Juiz Richard J. McMonagle acreditou nos informantes e considerou o Sr. Mooreculpado em dezembro de 1992 pelastrês acusações de tráfico de drogas. Em fevereiro de 1993, assim que o esquemacomeçou a ser elucidado, o juiz revogoua condenação.

 Em novembro, Leroy Lumpkin tor- nou-se o último dos trinta e dois traba- lhadores do correio indiciados que teveo caso dispensado, de acordo com o Sr. Maloney e o Assistente de Promotor do

Condado de Cuyahoga, Sean Gallagher,que tomou conta da investigação quan-do o Sr. Maloney foi dedicar-se à ativida-de privada no último ano.

Os dezenove trabalhadores do cor- reio despedidos após serem presos em setembro de 1992 foram readmitidos em seus empregos.

Sombras da operação Corkscrewapareceram em Cleveland no início dosanos 1980. Nesse embaraçoso caso quese liquefez, um informante disfarçado,que prometeu produzir casos contra juí-zes alegadamente desonestos, embolsouo dinheiro destinado a propina e entãofabricou gravações adulteradas das su-postas propinas. Nas gravações, o infor-mante fingia ser um juiz desonesto quehavia acabado de receber o dinheiro. Oinformante e dois outros impostores, quetambém fingiram falsamente a parte dosjuízes, terminaram na cadeia.

E houve Mark Whitacre, cuja sagaassustadora transformou-se em um li-vro chamado The Informer , escrito porKurt Eichenwald. Esta história verdadeirade jogo duplo, falso e perigoso é leituraobrigatória para todos os promotores einvestigadores.

Finalmente, leia Commonwealth v. Bowie7, que narra a saga de uma teste-munha colaboradora (“T.C.”) pega emflagrante tentando “influenciar” o tes-temunho de outras T.C.s em seu favor

e contra um co-acusado. O fracasso dopromotor em responder apropriadamen-te a essa informação resultou na revisãode uma condenação.

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A segunda das duas razões pelas quais criminosos conver-tidos terminam sob fogo pesado decorre da disposição geraldas pessoas que se tornam jurados em relação a informantes.Para um promotor, é tão importante como a primeira. Gravena memória:

2. Pessoas comuns e decentes estão predispostas a nãogostar, a não confiar e freqüentemente a desprezar criminosos

que se vendem e que se tornam testemunhas da acusação.Os jurados suspeitam dos seus motivos desde o primeiro mo-mento em que ouvem sobre eles no caso e freqüentementeconsideram seus depoimentos como um todo como sendoaltamente não confiáveis e não verdadeiros, abertamente ex-pressando seu desgosto com a acusação por fazer acordos comessa “escória”.

Nós achamos um exemplo claro dessa atitude hostil emuma reportagem de jornal acerca de uma persecução federal deonze membros do grupo  Hell’s Angels. O fracasso do caso foiacuradamente reportado no jornal, como se segue:

 Depois de dois julgamentos sem conclusão e um custo de

 milhões, a acusação jogou fora a quarta-feira tentando con-denar a notória gangue da motocicleta dos Hell’s Angels porconspiração e acusações de crime organizado...

Os promotores federais tentaram provar que a rebelde e freqüentemente violenta gangue da motocicleta envolveu-se emtempo integral em atividade criminosa durante parte da décadade 1960 e estava profundamente envolvida em uma ampla ope- ração de drogas e narcóticos no Norte da Califórnia e em outros lugares, utilizando armas ilegais, homicídio, ameaças e assaltos para alimentar sua empreitada.

 Mas um segundo julgamento, que começou no últimooutubro, terminou com o júri de nove homens e três mulheresalertando Orrick de que o caso estava encerrado e sem esperan-ças. Um julgamento anterior, que começou em 1979 e que foiconcluído em 1980, também terminou em um júri sem resultado para a maior parte dos acusados. (O resto foi absolvido).

Um jurado do último júri disse aos repórteres que a vota-ção foi de 9 a 3 pela absolvição e descreveu as testemunhaschaves da Acusação, incluindo um antigo membro do Hell’s Angel que admitiu ter recebido USD 30.000, 00 em troca de seu depoimento, como uma “afronta desprezível e indigna” .

 fazer isso contra DeLorean, ele pode fazer isso contra qualquerum”. O argumento de Kerns não deve ser confundido com umargumento mais amplo contra armadilhas ou operações enco- bertas8 : “Eu sou favorável a ir atrás das pessoas se o governo sabe ou tem razão para acreditar que elas estão lidando com narcóticos. Aí qualquer coisa vale. Qualquer truque que o Go-verno possa inventar. Mas aqui havia só a palavra de Hoffman.

 E nós nunca vimos DeLorean nas gravações participando efe-tivamente da conspiração”.

O promotor Walsh levou Hoffman a contar a históriade como ele havia se tornado amigo de DeLorean porque seu filho e o dele brincaram juntos quando ambos eram vi- zinhos perto de San Diego em 1980. Hoffman explicou que foi a amizade de seu filho – e não uma intenção de tentaratrair DeLorean em uma armadilha de negociação de drogas – que levou Hoffman a chamar DeLorean dois anos depois(em 29/06/1982) – na época que Hoffman coincidentemente havia se tornado um informante do Governo. “Esse é o paido ano”, o jurado Holladay ficou dizendo para si mesmo. “Ele

está usando seu próprio filho para inventar uma história paraconseguir dinheiro como informante”.

 Por que as conversas de Hoffmann com DeLorean não foram gravadas, uma vez que DeLorean fez suas supostas pro- postas de negociações de drogas? Porque o equipamento nãoestava disponível ou falhou, disse Hoffman.

 Se DeLorean tivesse realmente perguntado em trinta de junho se Hoffmann ainda tinha suas “conexões com o Orien-te” que eram necessárias para a negociação de drogas, e se Hoffman tivesse respondido que sim, por que DeLorean, de- sesperado como estava, esperou até onze de julho para vir aCalifórnia para encontrar-se com Hoffman? E por que, pergun-tou Weitzman repetidamente, esse encontro não foi gravado? Hoffman disse que não sabia que DeLorean havia esperadoe que o encontro não foi gravado porque os agentes federais não acharam que era importante o suficiente para ser gravadoem um domingo.

“Eu ainda imagino se eu estava certo de que DeLoreanestava em uma conspiração com Hetrick depois do depoimen-to de Hoffman”, disse Hal Graves, “mas eu sabia de uma coisacom certeza: Hoffman é um mentiroso deplorável e psicopáti-co – o tipo que acredita no que diz, mas não consegue dizera verdade. Eu conheço pessoas como essas. Meu próprio paicostumava contar histórias e elas mudavam com os anos, masainda assim ele acreditava nelas. Era assim o sujeito”.

Todos os jurados, com exceção de Wolfe, utilizaram pala-vras e frases como “completamente não-confiável” (a descri-ção de Jackie Caldwell) ao referirem-se a Hoffman, ou, comodisse Wolfe, “ele estava provavelmente mentindo bastante”. Para alguns, como Andersen, Sutton, Kerns, Dowell, Lahr e Holladay – jurados que nunca iriam ver os elementos comple-tos da conspiração – isso não era importante como era paraoutros, como Graves, Caldwell, Gelbart e Hoover. Mais tarde, sua visão do caso – de que DeLorean tinha de fato conspiradode alguma forma com Hetrick, mas que Hoffman não podia

 ser considerado como tendo falado a verdade sobre seu conta-to inicial com DeLorean – seria o cerne da decisão dos jurados pela existência de uma armadilha inválida.

Um terceiro exemplo desse problema sempre presente

É devastador, na frente de um júri, descobrir

que a primeira coisa que a testemunha fez foi mentir ao promotor ou ao agente do caso! 

Outro exemplo de reações desfavoráveis de jurados a umatestemunha informante pode ser encontrado no caso DeLore-an. O que segue é um trecho do American Lawyer sobre umadas principais testemunhas da acusação: “Testemunho de um“verme” Ruthe Sutton lembra-se quando James Timothy Ho- ffman, uma pessoa com mandíbula saliente, com quarenta etrês anos e 102 kg de peso, em um terno marrom comprado pela acusação, permaneceu em pé como a primeira testemu-

 nha contra John DeLorean: “Ele nunca olhou ninguém nosolhos. Ele não era crível desde o primeiro minuto que falou”.“‘Eu não acredito em nada que Hoffman falou”, disse Jo Ann Kerns. “E eu fiquei pensando comigo mesmo, se Hoffman pode

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com jurados ocorreu em um grandecaso federal de corrupção/fraude em LosAngeles em 1985. Seguem a manchete eparte do texto do Los Angeles Times:

 Los Angeles – júri absolve agente bancário no Caso da Fraude de Moriarty 

Um júri federal de Los Angeles

absolveu o antigo agente bancário doCondado de Orange, Nelson Halliday,da conspiração com o confesso políticocorrupto W. Patrick Moriarty em um ale- gado esquema de lavagem de dinheiro.(...) O veredicto abalou os promotores e levantou sugestão de que a acusação pode ter problemas em sua investigaçãoem andamento acerca de corrupção po- lítica devido à falta de credibilidade de Moriarty como testemunha.(...)  “Eles não acreditaram no homem’ disse o

advogado de Halliday sobre o veredictodo júri da tarde de segunda e ainda “eu gostaria de defender qualquer um com Moriarty como testemunha pelo recla- mante”. (...) Charles Williamson, 49, deGarden Grove, um jurado que disse queacreditava que Halliday era culpado detodas as acusações, confirmou que os jurados simplesmente não acreditaram no depoimento de Moriarty. “Se ele nãotivesse prestado o depoimento talveza prova tivesse sido suficiente” . Consi-dere esta declaração de um jurado nãoconvencido no julgamento de 2001 de Joseph “Skinny Joe” Merlino na Filadél-fia, “Skinny Joe” sendo o chefe local daquadrilha:  A acusação deixou algumas pessoas bem torpes de fora. Deve haverum limite a esse tipo de coisa.

Tendo presente o anteriormenteexposto, deixe-me dar uma perspectivadiferente para essa questão e confrontá-lo com algumas seguintes observaçõesque colorem a resposta à questão inicial,de usar ou não usar um cúmplice ou umtraidor como uma testemunha no julga-mento de qualquer caso em particular:1. Chamar para depor uma testemunhapresencial do crime e que conhece os cri-minosos e seus álibis – normalmente éuma testemunha devastadadora – podeter o efeito contrário do pretendido.Mesmo se ela estiver dizendo a verdade,pode ter o efeito não-intencionado depiorar o seu caso ao invés de melhorá-lo

– se a testemunha é um escroque quenegociou alguma espécie de benefícioem troca de seu depoimento.

2. Prova próxima a uma completa

confissão – normalmente o fim das chan-ces do acusado em um júri – pode ter oefeito não esperado de fazer o seu casomais fraco do que mais forte, se a teste-munha na qual o júri tiver de acreditar foralguém no qual eles não vão confiar.

 pensamos que teria sido assustador se aacusação tivesse apresentado o caso emtrês ou quatro semanas, fundada emum punhado de suas testemunhas prin-cipais, e tivesse trabalhado com essastestemunhas, colocando-as para depor,

 A defesa tem o direito de conhecer tudo que tenha reflexo na credibilidade da testemunha – talvez mesmoas suas (de um promotor) notas “de trabalho” a respeitodas “declarações de uma testemunha de acusação”.

Por quê? Porque nas mãos de umdefensor habilidoso e estrategista, todasas responsabilidades e a bagagem inse-parável que esse tipo de testemunha trazpara o seu caso, junto com a “confissão”ou as revelações, tornam-se os elemen-

tos de uma dúvida razoável que a defesaestará procurando e a tinta pela qual oresto de seu caso será então manchado.Pode ter o efeito de desviar o caso do as-sunto, o tema da culpa do acusado podeser deixado de lado – como ocorreu nocaso Moriarty/Halliday – passando o pro-motor a ter de tentar defender-se das for-tes afirmações de fraude e má condutapor parte das testemunhas de acusação.Se o promotor perder o controle e co-meçar em desespero defender mais doque acusar, o desastre estará logo apósa esquina. A defesa irá contra essas tes-temunhas com tudo que puder encon-trar, na esperança de fazer delas o elovulnerável da ligação de suas correntes.(Lembre-se do livro The Best Defense isa Good Ofense)

Um caminho certo para aumentaro problema é chamar mais informantespara depor do que o necessário. Assimcomo ocorre com as testemunhas paraum álibi, se uma cai, todas elas caem jun-tas e possivelmente o seu caso também.Ouça a descrição feita por Roy Black em1996 da alegria de um triunfante advoga-do de defesa em um caso muito repletode testemunhas vulneráveis:

 Miami News Times – “A vitória im- possível” por Jim DeFede.

O julgamento de Willy Falcon e Sal Magluta será mais lembrado pelos vintee sete informantes chamados pelos pro- motores para depor, cada um dos quais

 foi então dizimado pela abordagem deexame cruzado realizada pela equipeda defesa. “Antes que o julgamentocomeçasse”, Black reconheceu, “nós

e depois apresentado qualquer provade corroboração que dispusessem”. “Seassim agissem, nós achamos que teria sido um caso difícil. Agradecemos por isso não ter acontecido”.

 Ao invés disso, dizem Black e seus

companheiros de defesa, a acusaçãochamou informante após informante – cada um mais desprezível que o úl-timo – todos os quais testemunharamcontra Falcon e Magluta na esperançade ter as suas penas de prisão reduzi-das. “O que aconteceu nesse caso é queas piores testemunhas deles cuspiram eenvenenaram as melhores. Nós fomoscapazes não só de criar dúvida razoável, mas provar também perjúrio. E quandovocê prova perjúrio sobre a testemunha A, B e C, então o júri automaticamentedesconfia das testemunhas D, E e F”.

“Al Krieger concorda: Algumas dastestemunhas eram tão ruins que contami- naram aquelas que não eram tão más”.

O primeiro jurado declarou, de-pois do veredicto a favor da defesa,que os jurados desconfiaram das tes-temunhas cooperantes porque elastinham muito a ganhar por seus de-poimentos.  Ninguém quis acreditar nessas vinte e sete pessoas que foramtrazidas aqui , ele disse.  A acusaçãoapresentou tantas testemunhas que nós fomos inundados de provas , mas não era boa prova.

Pós-escrito: Depois foi revelado queum dos jurados teria sido corrompido,o que ajuda a explicar a aludida “vitóriaimpossível” da manchete. Em 3/3/2000,o jurado Miguel Moya foi sentenciado adezessete anos de prisão por aceitar U$D500.000,00 de propina para votar pela

absolvição. Além disso, Falcon e Maglutaforam acusados de ordenar o homicídiode três testemunhas do julgamento. Es-ses acusados jogavam pesado.

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Em 1991, o  Miami Herald  dedicou muito de sua primeirapágina e de sua primeira seção para uma série negativa de his-tórias acerca de informantes. O artigo principal demonstra comosomos ambivalentes em relação à utilização de criminosos comotestemunhas e como o seu mau uso pode criar o caos:

Criminosos privilegiados – mentir, fraudar e roubar para os Estados Unidos da América – infestam as Cortes do mundo.

 A Acusação os denomina de CIs ou informantes confiden-ciais e eles constituem uma indústria em expansão que se de- senvolve em segredo e sem quase nenhum controle público.

 Alguns ficam ricos. Alguns corrompem policiais. Alguns fa- bricam depoimentos. Alguns armam armadilhas para pessoas inocentes. Alguns se livram – se não de homicídio – de assalto, roubo e tráfico de cocaína.

 Alguns CIs são extremamente eficientes e orgulhosos doque fazem. “Eu sou um magneto para vermes”, diz Alex Spie- gel, 41, bebericando Amstel Light na Pousada RJ no litoral.

Gregários e charmosos, Spiegel e sua classe poderiamchamar facilmente sua empresa sombria de Rats R Us9.

 Enrolados nos bancos pelos crescentes confiscos, pelascobranças de impostos e fundos descobertos, CIs compram leniência para eles e manobram com destreza um sistema de justiça criminal algumas vezes incauto.

 Agentes da lei alegam enfaticamente que precisam de ratos para pegar ratos. A Polícia simplesmente não pode des-cobrir grandes casos de drogas e de corrupção sem CIs. “Elas,as testemunhas, não combinam de encontrar com você na Ca-tedral Nacional”, diz Thomas V. Cash, agente especial encarre- gado do Escritório de Combate às Drogas de Miami.

Como a Acusação alista mais e mais informantes, quasecomo um viciado, questões acerca de custos, correção e efetivi-dade se intensificam. Assim como reclamações.

“Se Benedict Arnold estivesse vivo hoje, o governo iria dara ele um “ID”, uma Mercedes e chamá-lo de herói’, diz Fred Haddad. “Há uma obsessão em combater o tráfico de drogas. Ninguém dá a mínima para o que é necessário para pará-lo.”

o crime consiste em preparar para outro crime, é usualmente necessário confiar neles ou em cúmplices porque os criminosos irão quase certamente agir às escondidas.

Como estabelecido pela Suprema Corte: A sociedade não pode dar-se ao luxo de jogar fora a pro-

va produzida pelos decaídos, ciumentos e dissidentes daquelesque vivem da violação da lei 11.

Nossa Justiça requer que uma pessoa que vá testemunharna Corte tenha conhecimento do caso. É um fato singelo que,freqüentemente, as únicas pessoas que se qualificam comotestemunhas para crimes sérios são os próprios criminosos.Células de terroristas e de clãs são difíceis de penetrar. Líderesda Máfia usam subordinados para fazer seu trabalho sujo. Elespermanecem em seus quartos luxuosos e enviam soldados paramatar, mutilar, extorquir, vender drogas e corromper agentespúblicos. Para dar um basta nisso, prender os chefes e arruinarsuas organizações, é necessário fazer com que os subordinadosse virem contra os do topo. Sem isso, o grande peixe permane-ce livre e só o que você consegue são bagrinhos. Há bagrinhos

criminosos com certeza, mas uma de suas funções é a de assis-tir os grandes tubarões para evitar processos.

Delatores, informantes, co-conspiradores e cúmplices são,então, armas indispensáveis na batalha do promotor para pro-teger a comunidade contra criminosos. Para cada fracasso comoos acima mencionados, há marcas de trunfos sensacionais emcasos nos quais a pior escória foi chamada a depor pela acusa-ção. Os processos do famoso Estrangulador de Hillside, a Vovóda Máfia, o grupo de espionagem de Walker-Whitworth, o últi-mo processo contra John Gotti, o primeiro caso de bomba doWorld Trade Center , e o caso da bomba do Prédio Federal dacidade de Oklahoma, são alguns dos milhares de exemplos decasos em que esse tipo de testemunha foi efetivamente utiliza-da e com surpreendente sucesso.

Essa perspectiva de fundo não tem a intenção de assustá-lovocê ou de fazê-lo evitar o uso das armas disponíveis, mas, aocontrário, de reconhecer a validade da máxima de que “estarprecavido é estar preparado”. Se você sabe onde estão as arma-dilhas, será capaz de evitá-las com sucesso.

 A questão apropriada, então, não é se criminosos devem realmente ser utilizados como testemunhas de acusação, masquando e como12 ? O material explorado a seguir em minhaapresentação destina-se a nada mais do que cumprir os doisprincipais objetivos do promotor e do investigador:

1 – Descobrir a verdade, toda a verdade e nada além daverdade; e

2 – Apresentar, de forma persuasiva e adequada, o quevocê descobriu para um júri e convencê-lo a confiar na apresen-tação para atingir um veredicto justo.

B. Aja com cuidado. A esse respeito, existem algumas im-portantes regras de manual que devem ser normalmente ob-servadas:

1 – O Departamento de Justiça e mais provavelmente oseu próprio escritório de promotoria mantém todo o tempodiretrizes a respeito do uso de informantes confidenciais. Co-

nheça bem essas diretrizes.2 – Faça acordos com “peixes pequenos” para pegar “pei- xes grandes”. Um júri irá compreender essa estratégia, maspoderá rejeitar qualquer coisa que pareça a concessão de um

Se informar insuficientemente os juradosacerca da extensão da bagagem negativa

da testemunha, um advogado de defesaesperto pode acusá-lo de ocultar informação

 relevante ou de “dourar a pílula”.O que este artigo ensina, acima de tudo, é como a mídia irá

rapidamente contra você se algo der errado.Apesar disso e a despeito de todos os problemas que

acompanham a utilização de criminosos como testemunhas, oimportante é que policiais e promotores não podem agir semeles, periodicamente. Usualmente, eles dizem a pura verdade eocasionalmente devem ser usados na corte. Se fosse adotadauma política de nunca lidar com criminosos como testemunhasde acusação, muitos processos importantes – especialmente naárea de crime organizado ou de conspiração – nunca poderiam

ser levados às Cortes. Nas palavras do Juiz Learned Hand, emUnited States v. Dennis10: As cortes têm apoiado o uso de informantes desde tempos

 imemoriais; em casos de conspiração ou em casos nos quais

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acordo generoso com um “peixe grande”para pegar um “peixe pequeno”. Isso vaiofender a noção deles de justiça e vai serexplorado nas mãos da defesa. Em umcaso desastroso e conhecido da costaleste, um chefe de polícia foi deixado delado de maneira relativamente fácil para

processar subordinados. Furiosos comessa inversão de prioridades, os juradosabsolveram todos os subordinados. Tam-bém é caso de que, às vezes, ainda quevocê tenha um peixe maior em mente,aquele que você já tem na rede é sim-plesmente muito grande para concederalguma coisa substancial em retorno porsua cooperação. Não continue quando osriscos não são mais favoráveis. Você deveestar preparado em termos muito fortespara defender e para justificar o acordo

feito com o júri em seu argumento finale depois que ele tiver sido atacado peladefesa.  Por que você deu imunidade aesta testemunha?” Porque é inaceitável pegar só o homem da mala e deixar o senador desonesto livre, esse é o motivo. A integridade da lei – aliás nosso modode vida – exige isso!

3. Não abra mão de mais do queprecisa para fazer um acordo. Essa éuma tentação a qual muitos promotoressucumbem. Se você tiver que desistir dealguma coisa, ofereça, em troca de umaconfissão, um número menor de acusa-ções ou uma redução do grau de seve-ridade de um crime ou do número deanos que um cúmplice irá servir. Isso seráfreqüentemente suficiente para induzirum cúmplice a testemunhar. Soa melhorpara os jurados quando eles descobremque ambos os peixes ainda estão narede. Imunidade total de acusações deveser usada somente como último recurso.Condene-os e faça-os então testemunharperante o Grande Júri. Recorra ao uso deimunidade após a condenação se neces-sário. Algumas vezes, se o peixe menorestiver preso firmemente na rede, tudoo que você tem a lhe dar é uma opor-tunidade para ajudar a si mesmo  nasentença. Faça isso sem piscar. Diga-lheque a escolha é dele. Tudo o que você vaifazer é alertar o juiz da cooperação deleou da falta dela, dependendo do caso.Isso freqüentemente funciona porque o

criminoso não tem outras opções paraconseguir o que deseja.A Seção 9-27.610 do Manual dos

Procuradores dos Estados Unidos deixa

claro, como uma questão de política cri-minal, que, se possível, a um criminosodeve ser exigido que incorra... em algu- ma responsabilidade por sua condutacriminosa. Acordos de não-persecuçãodevem ser usados somente como um úl-timo recurso e devem ser evitados a não

ser que não haja nenhum outro caminhoque leve ao objetivo pretendido13.

material Brady 16. Se eles não cooperaremcom você, livre-se deles!

5. O mais perigoso dos informantesé o delator da cadeia que alega que outroprisioneiro confessou-lhe e agora apare-ce pronto para testemunhar em trocade alguma consideração em seu caso.

Algumas vezes, esses delatores dizem averdade, mas, freqüentemente, inventam

Não desperdice a oportunidade de transformar emvantagem o resultado de um agressivo exame cruzadoque fez sua testemunha parecer uma pessoa horrível.Em outras palavras, vire a mesa.

É uma boa idéia lembrar ao advo-gado do acusado, de uma maneira não-ameaçadora, de que, em uma sentença,

pode ser apropriadamente consideradaa recusa do acusado em cooperar coma investigação de uma conspiração cri-minosa relacionada. E isso quando seusdireitos previstos na Quinta Emenda14 jánão estão mais em consideração. Robertsv. United States15. Ele pode ficar na frentedo juiz como uma pessoa que ajudou oucomo alguém que não ajudou. A opçãoé dele. Você vai se surpreender quão fre-qüentemente isso será tudo o que vocêprecisa. Aceitar a responsabilidade torna-se um prêmio na sentença. Seja esperto.O criminoso irá respeitá-lo. Deve parecerque ele precisa de você e não vice-versa.

4. Você deve sempre estar no contro-le e não a testemunha! No momento emque sentir que a testemunha está ditandotermos e ganhando controle da situação,você estará com problemas sérios e deve-rá reverter o ocorrido, pois você é quemdeve estar no controle e não seus infor-mantes. Não anule suas multas de esta-cionamentos, não atenue seus débitos delocação de automóveis ou intervenha emtodos os seus problemas com a lei semesperar repercussões mais tarde. Promo-tores e investigadores inexperientes ten-dem a afagar esse tipo de testemunha pormedo de perder seu depoimento. Essemedo decorre da falta de entendimentoacerca do que os guia. Um acordo básicoé tudo o que você precisa para mantê-losa bordo. Quanto ao resto, eles estão ape-nas usando-o e você perdeu o controle.

Seja firme. Recuse qualquer pedido nãoapropriado, mas lembre-se de que umamera solicitação de testemunha informan-te por qualquer forma de consideração é

depoimento do ar e erram detalhes. Esseé o motivo pelo qual os advogados deO. J. Simpson pediram para que ele fi-casse em cela individual enquanto estavana Prisão do Condado de Los Angeles.Eles sabiam que qualquer prisioneiroque ficasse perto dele poderia inventardeclarações incriminadoras.

Possivelmente, o mais infame episó-dio de perfídia de delator de cadeia en-volveu Leslie Vernon White, que trouxe àluz os desencorajadores slogans da vidana prisão: não use a caneta – mande umamigo e  por que gastar tempo – jogueuma moeda17. Isso é somente parte desua história preocupante:

 New York Times – A Califórnia aba- lada por um informante.

 No mundo desagradável dos in- formantes da cadeia, traição tem sido há tempos o seu credo e favores doscarcereiros sua recompensa. Agora ad-vogados e promotores devem ponde- rar se a ficção era o seu método. Essaé a implicação infeliz atrás da crise naaplicação da lei que foi revelada no Sul

da Califórnia desde que um prisioneiro, Leslie Vernon White, que testemunhouvários casos de grande publicidade, de- monstrou em outubro (1988) como ele podia fabricar as confissões de outros presos sem sequer ter falado com eles. Ele disse posteriormente ter mentido emum número significativo de casos crimi- nais. Advogados de defesa compilaramuma lista de 225 pessoas condenadas por homicídio ou outros crimes graves,alguns dos quais sentenciados a morte,

em casos nos quais o Sr. White e outros informantes prisioneiros testemunha- ram nos últimos dez anos no Condadode Los Angeles.

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A regra de precaução contra a sujeira por parte de umaconfissão na prisão oferecida por outro prisioneiro é a de queela é falsa até que o contrário seja provado acima de qualquerdúvida razoável. Se você não sabe como Leslie Vernon Whitefoi capaz de forjar confissões com credibilidade sem sequerfalar com o alegado confesso sobre o crime, deve descobrir.Usando o telefone e fingindo ser outra pessoa, ele era capaz

de coletar de fontes oficiais informação privilegiada suficienteacerca de um crime, a fim de convencer investigadores de queele teria ouvido isso diretamente do suspeito. Uma leitura clarae instrutiva, que você deve experimentar, é  Key Witness, de J. F.Freedman. É um romance, mas um que irá abrir-lhe os olhos.Poderia um delator em potencial, procurando informação sobreum acusado para trocar com a polícia, a fim de obter benefícios,invadir os arquivos de computador de um advogado de defesa?Pense a esse respeito.

6. Não chame criminosos para depor como testemunhas anão ser que, segundo sua avaliação mais cuidadosa, esse mo-vimento signifique um avanço em sua habilidade de vencer o

caso. Lembre-se, essa é uma área na qual menos pode ser mais!Quando você chama um informante, esteja preparado paraguerra. A introdução de uma testemunha suja em seu própriocaso concede tremenda munição para a defesa, munição quefreqüentemente é mais poderosa do que o benefício que vocêespera. Aqui, por exemplo, está uma lista da Associação Nacio-nal dos Advogados de Defesa Criminal sobre o t ipo de fraquezaque seu oponente estará procurando:

 Se o informante era viciado em drogas ou álcool duranteo período relacionado ao depoimento, testemunhas e arquivos médicos demonstrando esses vícios devem ser apresentados. Se o informante falhou no teste de urina enquanto estava em liberdade provisória e enquanto ‘cooperava’ com a Acusação,os arquivos dos serviços de acompanhamento da liberdade provisória, demonstrando a continuidade do uso de drogasantes do julgamento, devem ser apresentados. Se você podedocumentar inconsistências ou omissões críticas entre o que o informante declarou em uma inquirição ou perante o grande júri e o que ele disse em outras, isso deve ser cuidadosamentedemonstrado durante a oitiva. Similarmente, qualquer provaque você tiver sobre outros depoimentos falsos feitos pelo infor- mante, particularmente aqueles feitos com a ameaça da san-ção para o perjúrio (como falsas declarações feitas em pedidosde empréstimos, devolução de impostos, licença de motorista, formulários do INS etc.), deve ser apresentada. Condenações prévias do informante (admissíveis para questionar a credibili-dade pela Regra 609) ou prova acerca de opinião ou reputaçãodemonstrando que o informante não é pessoa com credibilida-de (admissível pela Regra 608) deve ser colocada nos autos. Se você tiver prova tendente a demonstrar que o informantetinha motivos para mentir sobre seu cliente ou qualquer provade preconceito, ela deve ser apresentada. E, claro, você deve es-tabelecer qual sentença o informante estava enfrentando, quala pena mínima e os critérios de fixação da pena apropriados sem a cooperação e quais outros benefícios (como imunidade

 para parentes) o informante irá obter como retorno para a suacooperação. Todos esses fatores são indícios de falta de credibi- lidade do declarante e, por conseguinte, são indícios da falta deconfiança que merecem suas declarações.

Os jurados esperam que os promotores sejam homens emulheres de integridade. Se você não demonstrar a apropria-da distância entre você e a testemunha na corte e se não tivertrabalhado com sua testemunha corretamente antes disso, suaprópria credibilidade na corte pode ser igualmente perdida.Você deve sempre perguntar não somente o que a testemunhatem a dizer, mas o que o júri irá pensar não só dele como pes-

soa, mas de você em virtude de como lidou com a situação.Não tente fazer adivinhações sozinho. Chame para acon-

selhá-lo um promotor experiente que não esteja envolvido noseu caso. Tente isso com um amigo que não seja advogado. Areação de seu amigo pode surpreendê-lo e informá-lo para atomada de sua decisão.

Se eu fosse responsável por dirigir um escritório da Promo-toria, requereria que todos os assistentes submetessem essasdecisões a um supervisor experiente e que não estivesse en-volvido no caso antes de eles irem adiante. Promotores a frentedo caso estão tão pertos da ação que algumas vezes perdem aperspectiva nesses assuntos.

7. Se você decidir chamar um informante como testemunha,irá acabar perdendo muito tempo preparando-o para o depoi-mento. Nem todas as testemunhas desse tipo são criminosos derua pesados, alguns deles são afáveis e tentarão cair em suas boasgraças. Permaneça cortês, mas não baixe a guarda e não com-partilhe com eles o tipo de informação que você compartilhariacom um amigo ou colega. Hoje, ele pode estar testemunhandopara você, mas, como o membro de gangue, Henry Harris, fez noCaso El Rukns em Chicago, nos anos noventa, amanhã ele podedecidir voltar-se contra você. Então, nunca diga qualquer coisapara uma testemunha – ou para qualquer um incluindo pessoasde sua equipe sobre o assunto – que você não repetiria na cortenem gostaria de ver na primeira página do Washington Post  ouno jornal de sua cidade. A última testemunha de defesa no CasoDeLorean era um ex-agente da DEA que testemunhou que umdos promotores orgulhou-se em ver a equipe de investigadoresna capa da revista Times. O agente declarou que a investigaçãoera dirigida com “zelo cego” para obter celebridade. Apesar detal declaração ser falsa, ela foi danosa à tentativa da acusação emrebater a alegação de entrapment. 

Então, claro, houve os depoimentos, durante o julgamentode O.J. Simpson, prestados por C.Anthony “O Animal” Fiato, umassassino da Máfia protegido pelos federais, e por seu irmãoLarry. Segundo esses depoimentos, o detetive Philip Vanatterteria supostamente feito declarações para os irmãos Fiato queeram inconsistentes com o seu depoimento a respeito do moti-vo pelo qual ele teria ido à casa dos Simpsons depois da esposade Simpson ter sido encontrada morta. Essas declarações dosFiatos foram utilizadas pela defesa para sustentar uma vigorosareclamação de que Vanatter era um mentiroso. O que quer queVanatter tenha ou não dito aos Fiatos, ambos os quais foramchamados a depor pela defesa, é certo que ele aprendeu (oureaprendeu) que não se deve falar com informantes sobre as-suntos relacionados a casos sensíveis, e que criminosos estãotão propensos a depor para você assim como estão dispostos

a testemunhar contra você: tudo depende onde eles vêem amelhor manteiga para o seu pão.8. Tenha presente sempre – especialmente quando você

estiver ao telefone – que você está sendo gravado. Se pretender

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ler uma história assustadora de um infor-mante que secretamente gravou as afir-mações impróprias de um investigadortentando fazê-lo cooperar, leia o capítulointitulado The Boro Park Connection, dolivro The Best Defense, de Alan Dersho-witz. Quando o investigador descobriu,

pela primeira vez durante o depoimentoda testemunha, que ele havia sido gra-vado, sua cadeira transformou-se em umassento verdadeiramente quente. Masleia o livro e não leve em conta apenasa minha palavra a respeito.

Lembre-se, informantes não sãoseus amigos. Mantenha a saudável dis-tância entre você e esse tipo de teste-munha. Na mesma linha, deixe-os foradas discussões estratégicas a respeito docaso. Se a testemunha passar a acreditar

que é um do time ou um  junior G-man,ela pode sentir-se tentada a ajudá-lo fa-bricando prova que não existe.

9. Agentes policiais, ao trataremcom informantes podem desproposita-damente causar problemas significativos.Os agentes simplesmente não apreciama corte e as implicações de credibilidadedecorrentes do fato de ficarem tão próxi-mos das testemunhas informantes. Oca-sionalmente, eles ficam muito próximosda testemunha estrela. No processo de1995 contra o advogado Patrick Hallinan,em Reno, Nevada, por exemplo, os agen-tes ficaram tão amigos de sua testemu-nha Ciro Mancuso, que estava sendo uti-lizada contra o ex-empregador Hallinan,que permitiram que Mancuso preparassee digitasse os seus relatórios policiais(DEA 6s). Além disso, os agentes permi-tiram que ele, sem supervisão, colhesseprova que a defesa, no julgamento, de-monstrou com sucesso ser fraudulenta.Ademais, os agentes permitiram que elemantivesse USD 2.000.000,00 a mais doque os USD 5.000.000,00 providencia-dos pelo acordo de colaboração, tudoisso sem impostos. De forma notável, osagentes ainda permitiram que Mancusomantivesse uma arma mesmo sendo eleum criminoso condenado. Todos esseserros desnecessários revelam uma faltade controle sobre a testemunha e foramcom sucesso explorados, durante o julga-mento, pela defesa no ataque contra os

motivos e a credibilidade de Mancuso emanchando a boa-fé da acusação. A liçãoaqui é a de que os seus agentes devemestar tão alertas quanto você acerca da

necessidade de lidar apropriadamente ecom cuidado com informantes, ou seja,com pessoas de caráter questionável eque estão lucrando com sua cooperação.Você deve encontrar-se com os agentesno início da investigação para discutir oproblema e para estabelecer regras bási-

cas apropriadas.Qualquer promotor que lide com

agências federais que tenham programasbem desenvolvidos para informantes fa-ria bem em ler Deadly Alliance, por Ral-ph Ranalli, que narra a história de comoas coisas foram mal com o Programa doFBI para Informantes do Alto Escalão emBoston. Algumas vezes, há coisas quevocê precisa saber, mas a agência estárelutante em dizê-las a você. Cuidado18!

10. Nunca se esqueça de que a

Defesa pode tentar provar que a sua tes-temunha fez o que ela diz ter sido feitopelo acusado. O argumento para o júrié assim: Claro que ele tem conhecimen-to profundo dos fatos do crime. Ele é a pessoa que o cometeu, esse é o motivo! Agora, senhoras e senhores, ele está mentindo para salvar sua própria pele,encorajado pelo perturbador acordodado a ele pelo promotor sem cuidadoe inepto.

C. O contato inicial.1. Seu primeiro obstáculo envolve

considerações éticas. A testemunha empotencial está representada por um ad-vogado? Foi ela indiciada? Se positivo, éexigido que você trabalhe por intermé-dio do advogado, mesmo quando vocêsuspeita da integridade dele? A RegraModelo 4.2 de Conduta Profissional da American Bar Association – ABA19  e aRegra Disciplinar 7-104(A)(1), por exem-plo, proíbem o contato com uma pessoarepresentada por um advogado sobre oassunto em questão, sem que o conta-to seja feito mediante advogado. AlgunsEstados também têm esses parâmetroséticos para advogados. Além disso, o Standard   4.1(b) dos Parâmetros Míni-mos para a Justiça Criminal da ABA esta-belece, em parte, como se segue:

 É uma conduta anti-ética para um promotor engajar-se em discussões sobre acordo diretamente com umacusado que é representado por um

advogado, exceto com a aprovação doadvogado...Se a testemunha em potencial estiver

indiciada e ela chamar a pessoa e disser

que pretende cooperar, mas que não querque o seu advogado saiba disso, deve-seser cuidadoso. Essa é uma situação quedeve ser lidada com muito cuidado. Have-rá confrontação não só com a questão darenúncia dos direitos da Quinta Emenda,mas também com a da renúncia dos di-

reitos da Sexta Emenda20, o que tambémexige um elevado ônus de prova. E, lem-bre-se, um acusado pode renunciar aosdireitos dele, mas ele não pode renunciaràs suas obrigações éticas.

A conduta dos promotores federaisnesta área é atualmente regulada pelo28 U.S.C. § 530(B), denominada de “AtoMcDade”, seguindo o congressista queo defendeu. O Ato McDade, que entrouem vigor em abril de 1999, exige de to-dos os promotores federais que respei-

tem as leis e regras estaduais e as regras locais das cortes federais que regulam aconduta dos advogados em cada Estado no qual os advogados atuam com açõescomo advogado, na mesma extensão eda mesma maneira do que os outrosadvogados no Estado. Para orientação,os promotores federais devem contataro Escritório de Conselho para Responsa-bilidade Profissional da Justiça para obterinformações sobre as últimas regras epolíticas, que vêm mudando anualmentedesde 1985. O Décimo Circuito Federaldecidiu que o Ato McDade deve ser inter-pretado em seu sentido literal21.

O caso Lopez  irá mostrar quão pro-blemático esse procedimento pode ser.O promotor em Lopez , que arrumou umencontro entre acusado e juiz, culminoupor ser representado pelo advogado doacusado no  Arizona State Bar . Apesarde o promotor ter sido, um ano depois,exonerado de qualquer responsabilida-de, segue aqui o seu conselho:  Apesardas políticas e regulamentos do Depar-tamento, nunca se comunique com uma pessoa representada sem a permissãodo advogado; o risco profissional nãocompensa. A linguagem do Nono Circui-to Federal no caso Lopez dá razão ao seuconselho:  Estamos confiantes de que,quando não há nenhuma demonstraçãode prejuízo substancial para o acusado, sanções mais leves (do que a dispensado indiciamento), como sancionar o

 promotor por afronta à corte ou remetera questão ao órgão estadual dos advo- gados para procedimentos disciplinares, podem ser adequadas para disciplinar e

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 punir promotores da acusação que tentam contornar os parâ- metros de conduta de sua profissão.

Verifique a lei de sua própria jurisdição sobre esse assun-to e, se você trabalha para o Departamento de Justiça, tenhacerteza de que dispõe de uma cópia dos últimos regulamentosdo Departamento sobre a área. Para ser protegido por essesregulamentos, sua conduta deve estar conforme a deles.

2. Uma segunda complicação que poderá enfrentar nessecontexto é a situação na qual a testemunha, em algum pontodurante o seu relato, começa a contar sobre novos crimes emandamento ou iminentes em acréscimo aqueles que já acon-teceram. Para uma visão geral acerca do problema em lidarcom crimes novos ou em andamento que surgem durante apreparação de um caso, leia Maine v. Moulton22, e verifique osregulamentos do Departamento sobre o assunto.

Este assunto pode tornar-se sensível de forma incomumquando a testemunha com a qual você trata é um advogadoque está, ele mesmo, sob suspeita de conduta criminal, e derepente, oferece seu próprio cliente em relação a ofensas no-

vas ou em andamento em troca de leniência ou imunidade.Essa situação rara, mas real, deve imediatamente soar sinos dealarme em sua mente analítica, levantando questões acerca doprivilégio, direitos da Quinta Emenda, direitos da Sexta Emen-da, conflito de interesses e regras disciplinares, especialmentese for sugerido que o advogado utilize um gravador e trabalhecom seus clientes acerca dos crimes em andamento. Se vocênão for extremamente cauteloso, pode ser bem sucedido emcondenar os clientes do advogado, mas ao custo de sua próprialicença para praticar o Direito, ou seja, uma vitória com efeitoscolaterais.

O caso United States v. Ofshe23contém um exemplo descri-tivo dos problemas escondidos nesta situação. Leia quanto aosfatos, mas o fundamental para o promotor pode ser encontradona nota de rodapé de número seis da opinião, a seguir:

 Enquanto não consideramos a conduta da acusação [utilizando o advogado Glass para preparar um caso contra seu cliente Ofshe] suficientemente ultrajante para garantir a rejeição do indiciamento, acreditamos que a conduta [doadvogado e do promotor federal assistente] foi repreensível.Como o juiz distrital tem mais familiaridade com a condutado advogado, presumimos que ele irá remeter o assunto paraa Comissão de Registro e de Disciplina dos Advogados, comendereço na 203, North Wabash, Suite 1900, Chicago, Illinois606601, para uma ação apropriada.

Ofshe era um caso de tráfico de entorpecentes no qual ne-nhuma vida estava diretamente em risco. Seria a análise diferentese o advogado ardiloso viesse a você e relatasse que seu clientecontratou os serviços de um assassino desconhecido para ma-tar uma testemunha, ou um promotor ou juiz? Provavelmentesim, baseado nos elementos do teste da conduta ultrajante daacusação, que exige um exame da totalidade das circunstâncias,mas isso remanesce sendo uma área que deve ser tratada comgrande cautela.

3. No relato de qualquer co-acusado recrutado para ser

utilizado contra seus cúmplices, tome grande cuidado a fim deevitar de  invadir o campo usual da defesa. Se a testemunha,sem nenhum aviso, começar a contar-lhe os detalhes do en-contro no qual a estratégia da defesa foi discutida e na qual ele

esteve com os co-acusados e seus advogados, você tem umproblema. Essa armadilha é facilmente evitável mediante avisopor escrito à testemunha para que não fale sobre qualquer en-contro dessa espécie24.

D. Quem começa, você ou a testemunha?1. O primeiro problema que usualmente aparece é a si-

tuação denominada de Catch 2225, na qual se pretende sa-

ber exatamente o que a testemunha tem a oferecer antes decomprometer-se com um “acordo”, mas a testemunha, mes-mo desejando cooperar, está receosa de falar, por ter medode auto-incriminar-se, a não ser que lhe seja prometido algoprimeiro. Quando você estiver nessa situação difícil, nunca“compre um porco dentro de um saco”! Se conceder primeiroa um criminoso imunidade absoluta em relação ao processoou comprometer-se irremediavelmente com um acordo ge-neroso, e só então perguntar a ele o que sabe, provavelmen-te você não vai conseguir nada, salvo ar quente. Remova o

incentivo para a testemunha cooperar e você vai perder

 todos os peixes, o grande e o pequeno. Nunca se esqueça

que quase sempre eles estão cooperando porque você os tembem amarrados. Abra a porta muito cedo e o desejo dele decooperar vai evaporar.

A resposta para esse dilema aparente é muito simples. Peçauma amostra! Prometa à testemunha por escrito que você nãovai usar o que ela lhe disser nesse estágio do processo contraela, mas deixe igualmente claro que a sua decisão de fazer ounão um acordo e do que o acordo irá ou não conter não seráfeita antes que você tenha oportunidade de verificar o valor ea credibilidade da informação. Diga-lhe:  É uma oportunidadeque você tem para se ajudar, aceite-a ou deixe-a. Se eles nãoconfiam em você o suficiente para dar o primeiro passo – comovocê poderá confiar neles? Você pode falar de possibilidades,mas é tudo! E lembre-se, uma vez que se comprometeu a algo,sua palavra deve ser tão boa quanto ouro em relação ao quefará se eles cumprirem a sua parte e ao que fará se eles não acumprirem! Advirta-o: Se ele afirmar depois algo diferente doque disse na amostra, há implicações do precedente Brady .

2. Tenha certeza de que todo o entendimento preliminarestá escrito e assinado pelas partes. Tente antecipar todos os problemas com os quais você pode ser confrontado durante ocaminho. Considere adicionar uma “provisão Mezzanatto” pormeio da qual o informante concorda que qualquer declaraçãoque ele fizer durante os encontros ou negociações pode serutilizada para questionar e contraditar a credibilidade de seu de-poimento em seu julgamento caso o acordo não seja celebrado.Em United States v. Mezzanatto26, a Suprema Corte decidiu queesse tipo de provisão é uma renúncia válida da Regra Federalde Evidência n. 410 e da Regra Federal de Processo Criminal n.11(e)(6).

3. Lembre-se, o documento pode voltar para assombrá-lose ele for mal redigido. Tenha certeza de examiná-lo como umdocumento de provável exibição na Corte e tente evitar redigi-lode forma que possa ser utilizado contra você ou de forma quevocê não possa usá-lo. Não se esqueça de que seu lado do

acordo – imunidade ou o que quer que seja – será usadona Corte pela Defesa como “o motivo pelo qual a testemu-

nha está mentindo”. A Defesa irá caracterizá-lo como “troca”,“propina” etc. Não cause a si mesmo problemas desnecessários

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abrindo mão de muito.4. Investigue acerca da existência

de “acordos-paralelos” e secretos com apolícia. Se eles existirem, e podem existir,revele-os. A defesa tem o direito de sabertudo o que a testemunha, seus parentese seus amigos receberam como promes-

sa em retorno pela cooperação. Se o júridescobrir só no exame cruzado que o in-vestigador-chefe do caso estava pagandocem dólares por semana à testemunhadurante o julgamento ou resolvendosuas multas de estacionamento, você es-tará com um grande problema.

E.  Extraindo informação da teste-munha.

1. Um promotor nunca deve con-duzir uma entrevista sem a presença deum investigador. E lembre-se, nunca diga

nada a um criminoso que você não querque seja repetido na corte. Ele pode estargravando você!

2. Assim que um entendimentopreliminar for atingido e a testemunhaestiver preparada para dizer a você o queela sabe sobre o caso, o suspeito etc., de-vem ser tomadas precauções para que atestemunha diga toda a verdade e nãoapenas parte dela.

3. Sua primeira linha de defesaaqui é o advogado da testemunha.Convença-o da exigência de absolutahonestidade e total abertura de infor-mações e solicite a ele que tenha umaconversa privativa com a testemunhapara tentar colocar isso na mente dela.Essas testemunhas invariavelmente

escondem informações que possam

fazê-las parecer más.  É devastador,na frente de um júri, descobrir que aprimeira coisa que a testemunha fezfoi mentir ao promotor ou ao agentedo caso! Omissões deliberadas são tãoruins como mentiras, e elas podem serdescobertas. Não comece a inquiriçãoaté que o advogado assegure a vocêde que ele acredita que seu cliente estápronto para vir completamente aberto.

De fato, você pode exigir ao acu-sado que renuncie por escrito ao seudireito a sigilo em suas conversas como advogado, para ter certeza de que elenão contou ao advogado uma históriadiferente. Não se espera do advogado de

defesa permanecer indiferente e permitirque seu cliente obstrua a Justiça e co-meta perjúrio, mas alguns advogados dedefesa podem sentir-se de mãos atadas

pelo sigilo profissional, o que ocorreu em Murdoch v. Castro27. A falha do promo-tor deste caso, em usar seu poder parachegar ao fundo do problema antes dojulgamento, resultou em litígio e revisãocolateral sem fim e desnecessários. Sesua testemunha criminal recusar-se a re-

nunciar o direito ao sigilo, então ela estáno controle e não você, e a recusa develevantar uma grande bandeira vermelhade cautela. Suas próximas palavras paraesse informante relutante devem ser“bom, o acordo está encerrado e a con-versa está acabada”.

4. Quando você começar a inqui-rição, repita a necessidade de completahonestidade e total abertura de infor-mações. Discuta sobre o perjúrio e aresponsabilidade da testemunha por

falsificar provas etc. O objetivo é “obter averdade” e não “pegar o suspeito”. Deixea testemunha saber que, se ela chegar àCorte, a verdade irá certamente surgir noexame cruzado. Diga a ela que, o acusa-do não vai sentar ali e assisti-lo enfeitaros fatos. Você quer ouvir tudo agora enão depois. Um problema freqüenteaqui encontrado é o de que a testemu-nha irá falsamente minimizar seu papelno esquema. Advirta-a para não fazerisso e fique alerta quanto a provas deque é isso que ela faz, o que aparecerá,se você procurar.

5. Um erro incrível cometido emmais de uma ocasião – especialmen-te por agentes – é o de ouvir a históriado informante e então dizer a ele, “issonão é suficiente, você vai ter que vir commais”. O ímpeto para essa declaraçãovem do conhecimento dos agentes deque os informantes guardam materialconsigo, mas esse tipo de “abridor delata” não deve ser usado por duas ra-zões. Primeiro, o informante pode reagirfabricando “coisa melhor”, uma even-tualidade pela qual você não quer serresponsável. Segundo, quando os jura-dos ficarem cientes desta tática, eles vãoquerer muito acreditar que você e seusagentes solicitaram informação falsa.Esse erro teve um papel significativo noprocesso malsucedido contra o advoga-do Patrick Hallinan em Reno, Nevada, em1995. Quando os jurados descobriram

que o informante colaborador não haviaacusado seu próprio advogado Hallinanantes dos agentes terem lhe dito que eledeveria vir com mais elementos, a força

do caso da acusação foi embora. Se vocêtiver feito seu trabalho corretamente an-tes de iniciar a inquirição acerca do que atestemunha sabe, esta meia bagunça nãodeve ocorrer.

6. Não forneça à testemunha infor-mação-chave. Primeiro, deixe-a contar a

história completa por sua conta. Então,pergunte quaisquer questões necessáriaspara preencher as lacunas etc. Um dosseus melhores argumentos para o júri éde que a testemunha deve ter estado nolocal (ou conversado em confidência como acusado) porque ela sabia detalhes quesomente alguém que tivesse estado nolocal iria saber! Não o perca, por ser fontede informação crucial. Tenha certeza deque todo mundo em sua equipe enten-de isso e não deixe o “gato fora da cesta”.

Os investigadores devem procurar poresse tipo de prova durante a inquiriçãoe fazer boas anotações. Lembre-se, podeser necessário revelar todas as anotaçõesna Corte, como as relativas a declaraçõesinconsistentes, mentiras, negações falsas einsinceros “eu não me lembro”.

7. O acusado sabe mais sobre o in-formante do que você! Essa vantagempode habilitar o acusado a montar umataque no exame cruzado etc., baseadoem fatos ou circunstâncias que você nãoconhece e que não foram reveladas peloinformante. Para evitar ser pego despre-parado, pergunte ao informante o que oacusado poderia revelar para desacredi-tá-lo ou para desacreditar o depoimentodele. Dedique tempo a isso porque vocêestará sondando informação que a teste-munha pode não querer revelar a você.Mais uma vez, uma história de um jul-gamento real é o melhor exemplo paraesse problema:

“ A Vitória Impossível”. Especialistasdizem ser raro que procuradores encon-trem advogados de defesa que saibam mais sobre as testemunhas da acusaçãodo que a própria acusação. Mas é issoexatamente o que aconteceu no casode Willy e Sal. Além do gasto de um número não revelado de milhões comadvogados, Falcon e Magluta tambémcontrataram um grupo de investigado- res particulares que correram pelos Es-tados Unidos e pela América Latina para

obter informação incriminadora sobreas testemunhas de acusação. “O que feza diferença foi o fato de que Sal Maglutae Willy Falcon estavam querendo lutar e

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 patrocinaram uma investigação que poderia expor todas essascoisas”, disse Black, que atribui a vitória a um fio crescentede sucessos, incluindo sua representação de William Kennedy Smith e do antigo oficial de polícia de Miami William Lozano.“Quantas pessoas podem custear uma busca de informaçõesda espécie? Você sabe quantas testemunhas investigamos an-tes do julgamento? Eles chamaram cerca de trinta cúmplices

como testemunhas, mas eles haviam avisado uma lista de tes-temunhas de oitenta e uma e acrescentaram quatro ou cincoantes do julgamento”.

 Entre as muitas testemunhas de acusação, Nestor Gale-ano provou ser a favorita da equipe da Defesa. Seu depoi- mento, eles acreditam, foi o ponto de virada do caso. Antesdo início do julgamento, os advogados de Defesa obtiveramvárias cartas escritas por Galeano na prisão para um amigo naColômbia, o companheiro de contrabando de cocaína chama-do Manuel Garces. Nessas cartas, Galeano, eloqüentemente,explicou sua crença de que o sistema de Justiça norte-america- no era corrupto e o único meio de lidar com ele era jogar com

ele, fazer o que fosse necessário para sair da prisão, inclusive,afirmaram os advogados de defesa, mentir como testemunha para favorecer promotores. “Essas cartas foram um embaraço gigantesco para a acusação”, disse Krieger. “Ou pelo menosdeveriam ser”.

 Pós-escrito: Como apontado antes, um dos jurados foi cor-rompido no caso, o que ajuda a explicar o veredicto. De qual-quer modo, é uma boa lição do que a defesa pode descobrir deuma testemunha de acusação.

8. Não tenha medo de submeter a história e a testemu-nha a intenso escrutínio e exame cruzado. Não tenha medo deque a testemunha vá desmoronar. Se isso acontecer, é melhorque ocorra em seu escritório do que na Corte. Promotores semmuita experiência tendem a tratar essas testemunhas muito do-cilmente com medo de que elas não se sustentem ou de queparem de cooperar. Isso é errado. Vá com tudo contra ela!

 9. Fique alerta para qualquer sugestão indicada de queo informante é realmente a pessoa que cometeu o crime sobinvestigação e de que ele está falsamente colocando a culpa emoutra pessoa para salvar a própria pele. Veja Commonwealth v. Bowie28. Se ele sabe tanta informação sobre o crime, a defesapode alegar que ele apreendeu isso não do acusado, mas por-que ele foi o autor! Para entender as dimensões e ramificaçõesdesse tipo de defesa, leia Kyles v. Whitley 29.

F. Teste a história da testemunha:1. Desconfie de tudo que um informante contar. Seja ativa-

mente desconfiado. Procure corroboração em tudo o que puder;siga todas as indicações de que ele possa estar inventando.

2. Obtenha informação sobre o passado da testemunha.a. Problemas mentais.b. Relatórios de períodos de probation30.c. Relatórios policiais pretéritos.d. Informações de promotores que tenham processado

a testemunha ou a utilizado na corte. O que eles acham desua credibilidade? Como os jurados reagiram a ela? Foi ela uma

testemunha que ajudou ou ela trouxe mais problemas do quevantagens?e. Arquivos de memorandos de sentença apresentados pe-

los promotores em casos pretéritos.

f. Registros de comportamento prisional da testemunha.3. Acesse os motivos da testemunha. Por que ela decidiu

mudar de lado? Você deve entender por que ela mudou a

fim de mantê-la do seu lado. Essa compreensão vai afas-tá-lo de erros causados por achar que tem de ser amigávele generoso para mantê-la no seu time. Normalmente, elavai ficar com você até conseguir o que pretende, ou seja, o

benefício prometido.Você realmente entende pessoas que cometem crimes?

Por que pessoas realizam roubos armados, trapaceiam o gover-no, vendem drogas, enganam idosos, atacam Nancy Kerrigan?

O que os faz dispararem? Como pensam?E quando eles são pegos, por que correm como lemingues

para o escritório do promotor para tornar-se delatores contraseus amigos, parentes, associados e colegas?

Por que Sammy, o Touro Gravano, testemunhou contra John Gotti? Por que Jimmy, o Doninha, voltou-se contra aMáfia? Carlos Lehderer, contra Manuel Noriega? John Dean,contra o Presidente Nixon? Jeff Gilooly, contra Tonya Harding,

sua ex-esposa?Você sabe o que é um sociopata? Do que um sociopata

é capaz?Sabe como criminosos se comportam quando captura-

dos e o que os motiva? Você pode separar a verdade de suasmentiras? Você sabe como controlar Sammy, o Touro? Jimmy,a Doninha? Carlos Lehderer? Jeff Gilooly? Ou eles é que irãocontrolar e dirigir você?

A não ser que você entenda os criminosos e consiga contro-lar seu comportamento traiçoeiro, poderá ser a próxima vítima.

Ocasionalmente, você vai encontrar uma testemunha queestá realmente e verdadeiramente arrependida do que fez. Traba-lhe com isso por tudo o que v ale perante o júri – mas primeirotenha certeza de que o sentimento é real. Usualmente, é falso.

4. Tome cuidado com viciados em drogas. Considere umexame médico e descubra de um médico o efeito das drogasdas quais sua testemunha abusa na capacidade dela de depor.Valium arruína sua memória? Você pode querer chamar o médi-co durante seu caso.

5. Se a sua testemunha estiver “emprestada” de um go-verno estrangeiro no qual o devido processo não é uma altaprioridade, certifique-se de que a testemunha não recebeu umamissão por escrito. Xiao v. Reno31, relata a história de um promo-tor federal assistente pego em um incidente fatal provocado poruma testemunha informante. Ela depôs pela acusação, mentiu esubseqüentemente revelou sua mentira, explicando que estavasob pressão do Governo da República da China para incriminarfalsamente o acusado. Agora a testemunha está buscando asiloem nosso país porque teme que será morta se retornar à Chinae o AUSA está sob investigação por supostamente mentir à Cor-te e por cometer outras violações éticas enquanto essa bagunçaé revelada.

6. A chave para aceitação pelo júri de um testemunho deum criminoso é a extensão na qual o depoimento é corroborado.A regra que permite a condenação de um acusado baseado em

um depoimento não corroborado de um cúmplice pode protegervocê da regra 29, mas será de pouca ajuda com os jurados.O New York Times em sua discussão do caso de corrupção

de Friedman32, colocou a questão dessa forma:

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 A maior força da acusação no casoera igualmente sua maior fraqueza: O Sr. Lindenauer. Sua força estava no seuconhecimento próximo do esquema decorrupção e extorsão que se espalhou no Park Bureau  e na sua habilidade para descrevê-lo cumpridamente e em

detalhes como testemunha. Sua fraque- za era o fato de que ele teria feito partedo esquema e ganhado perto de USD 250.000,00 com ele, trabalhando emconjunto com o Sr. Manes.

O Sr. Lindenauer declarou-se cul- pado no último março em relação aacusações federais de racketeering33  e fraude, reduzidas de um indiciamentode trinta e nove acusações como partede um acordo com a acusação por seudepoimento. Ele enfrenta uma pena de

até vinte e cinco anos e USD 500.000,00em multas, mas não se espera que seja sentenciado até que termine sua funçãoem outros julgamentos relacionados aoescândalo municipal.

O Sr. Lindenauer tem uma longa história de mentira e de outros compor-tamentos fraudulentos, que os advoga-dos de defesa forçaram-no a admitirdurante o exame cruzado e exploraramenquanto procuraram eliminar sua cre-dibilidade. Mas peça por peça, porçõesde seu depoimento foram corroboradas por outras testemunhas da acusação. No final, o júri de sete mulheres e cinco homens concordou com o Sr. Giuliani e retornou com um veredicto de culpado para uma série de acusações contra osquatro acusados.

Verifique tudo o que sua testemu-nha disser. Procure por prova documen-tal, testemunhas de corroboração, decla-rações pretéritas consistentes – tudo. Seele diz que fez uma ligação importantepor telefone, traga os registros da com-panhia telefônica. Se que estava emLas Vegas, prove independentemente,com atendentes ou registros de hotéis.Em um caso de espionagem bem di-vulgado em Los Angeles, a pessoa quepassou documentos secretos ao espiãotestemunhou que recebia dinheiro emtroca e que o colocava em sua conta debanco. O promotor corroborou o fatocom extratos bancários, demonstrando

conclusivamente que ele colocava maisdinheiro em sua conta enquanto estavaespionando do que poderia ganhar como salário. O excesso coincidiu com suas

declarações para o FBI e seu depoimen-to com o montante de pagamentos. EmUnited States v. Martinez 34, ao promotorfoi permitido provar que outras pessoasacusadas pela testemunha haviam sedeclarado culpadas, isso para rebater oataque de Martinez contra os motivos e

a credibilidade da testemunha. O caso Martinez  estabelece que quando a defe-sa ataca a credibilidade da testemunha,prova que não seria admissível direta-mente pode ser trazida indiretamentepara defender a testemunha.

7. Nunca negligencie a oportunida-de apropriada para utilizar o contato desua testemunha com o suspeito, a fim detentar extrair dele declarações incrimina-doras – gravadas, é claro. Isso é dinamitese você conseguir. Seu investigador vai

ajudar você e a testemunha a montarum cenário plausível para esse encontro.Mas não se precipite35.

8. De fato, a fraqueza inerente à provaproduzida pelo depoimento do informantepode ser utilizada para satisfazer “a exigên-cia de necessidade” para uma gravaçãofederal prevista no 18 U.S.C. § 2518(1)(c)e (3)(c). ( A função de busca da verdade real de nossas Cortes é atingida grandio- samente quando a prova utilizada não écontaminada pela fonte imediata do infor- mante e foi purificada da bagagem que sempre carregam com eles36.

9. Considere o polígrafo, mas não outilize apenas porque está à disposição.A máquina é falível! É um instrumento,não uma garantia. Muitos promotores ex-perientes irão aconselhá-lo a não usá-locomo uma aposta. Esse grupo de suspei-tos (criminosos cooperantes) é notóriopor ser submetido a testes de polígrafos.Em um caso grande contra um grupo ul-tra-direitista de terroristas, os promotorescondicionaram “o acordo” ao sucesso datestemunha no polígrafo. Apesar de ospromotores ficarem convictos de que atestemunha estava falando a verdade, elanão passou no teste. A defesa fez umabatalha disso no exame cruzado e agoraos promotores referem-se ao condicio-namento como um erro.

a. Converse com o operador do po-lígrafo sobre sua eficácia;

b. Não se refira a ele na Corte se for

utilizá-lo apenas como um instrumentode investigação.c. A última decisão da Suprema Cor-

te acerca de resultados do polígrafo e do

precedente  Brady   é Wood v. Bartholo- mew 37. Os resultados do teste do polígra-fo, por si sós, não são material Brady .

10. A melhor maneira de antecipara derrocada de uma testemunha é co-locar-se no papel do advogado de de-fesa de seu suspeito. Se você estivesse

defendendo o seu alvo, como atacariaessa testemunha e o seu depoimento?Contrate-se a si mesmo, como se vocêfosse assumir a defesa do outro lado docaso. Faça o tipo de investigação que umbom advogado de defesa faria a respeitodessas coisas colaterais que jogam luzsobre a credibilidade da testemunha.Uma tática favorita de um advogadocompetente é a de obter fitas de prisõesfederais feitas de diálogos de prisioneirosao telefone com pessoas de fora. Se sua

testemunha cooperante estiver na prisão,você e a Justiça serão melhor servidas sevocê revisar, por si próprio, as fitas paraverificar se elas contém declarações queafetem o seu caso e a credibilidade datestemunha. Além disso, se tiverem sidofeitas, durante a investigação, intercepta-ções telefônicas de sua testemunha coo-perante, tenha certeza de revisá-las. Aquiestá uma declaração de um insuspeitochefe de quadrilha e testemunha coope-rante de acusação, Ralh Natale, feita aosseus companheiros durante uma discus-são sobre dois criminosos faladores quese tornaram informantes da acusação: É uma vergonha. Você sabe, se vocêcometer um crime e se for pego, vocêdeve ir à cadeia. Mas agora esses garo-tos mudaram e tornaram-se mentirosose tentam repassar seu tempo de prisão para alguma outra pessoa. Isso será otema do advogado de defesa, e aqui eleestá, vindo da boca de sua testemunha.

O que isso parece daquele lado dalinha? Então volte ao seu lado e pergun-te: Pode tal fraqueza ser explicada? Gastemuito tempo nesse exercício. Chame umamigo para ajudá-lo. Todo minuto irá va-ler a pena. Ele o habilitará a determinarcomo manter-se de pé antes mesmo quea defesa o atinja. Não perca nenhumaoportunidade que você possa encontrarpara assistir advogados de defesa exa-minando criminosos cooperantes. Entãovocê será capaz de antecipar e de se pre-

parar para o matadouro.G. Se estiver convencido, negocieum acordo final, mas não abra mão demuito, e não abra mão muito cedo!

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1. Coloque o acordo inteiro por escrito, mas antes que ofaça, leia United States v. Dailey 38.Esse caso contém uma discus-são educativa sobre o que um acordo de colaboração pode e nãopode dizer. Recompensas e pagamentos constituem uma situa-ção delicada. Dinheiro para uma testemunha será um problemase não manuseado abertamente e com as mãos limpas. Não exis-te nenhuma proibição legal contra recompensas e, de fato, elas

foram aprovadas com o fundamento de que servem ao interessepúblico por trazer as testemunhas e as suas informações39. Paga-mentos a um informante em uma base contingente, no entanto,podem ser vistos como um induzimento para uma armadilha40.Se uma testemunha pede algum tipo de “filão” ou “percentagem”ou “recompensa”, essa requisição vai ter de ser revelada mesmoque seja rejeitada. Como exemplo, considere esta cobertura docaso DeLorean feita pelo New York Times:

 LOS ANGELES, Julho, 26 - O Juiz Federal Distrital Robert M. Takasugi caracterizou hoje James Timothy Hoffman, o in- formante da Acusação e a testemunha estrela no julgamentode John Z. DeLorean por acusação por tráfico de drogas, como

“uma arma contratada”. Ele disse que achou “bastante ofensivo” que a acusação

tenha deixado de revelar antes que o Sr. Hoffman havia “solici-tado” uma parte de qualquer dinheiro apreendido no caso.

O Sr. Hoffman instigou a investigação do Sr. DeLoreanquando ele disse a uma autoridade pública em 1982 que o Sr. DeLorean havia pedido a ele ajuda para arrumar um negóciode drogas.

Os advogados do Sr. DeLorean, o Sr. Weitzman e Donald M. Re, reclamaram que a acusação teria impropriamente guar-dado documentos que os levaram a descobrir na última sema- na que o Sr. Hoffman teria solicitado mais de dez por cento dequaisquer bens seqüestrados como resultado da investigaçãodo Sr. DeLorean. O Sr. Hoffman fez a exigência em 3 de setem- bro de 1982 e ela foi rejeitada.

 A acusação tinha esperança de seqüestrar muitos mi- lhões de dólares em espécie e em propriedades pertencentesa William Morgan Hetrick, um traficante de cocaína confesso eque foi acusado com o Sr. DeLorean como um cúmplice, e dois milhões de dólares que foram investidos pelo Sr. DeLorean, segundo a versão da acusação acerca do afirmado esquemade drogas.

O Juiz Takasugi, afirmando que estava apresentando otema em termos do “mundo real”, caracterizou a demandado Sr. Hoffman como “uma percentagem do confisco” e disseque a achou “bastante ofensiva”, particularmente porque o Sr. Hoffman havia testemunhado que ele “estava motivado em parte pela boa vontade de providenciar informação”. 

“Se houver alguma coisa como uma “arma fumegante” emtermos de credibilidade do Sr. Hoffman”, disse o juiz, “era, então,a solicitação do Sr. Hoffman”.

Mas, ainda que uma recompensa ou uma indução a di-nheiro não desqualifiquem automaticamente o beneficiáriocomo uma testemunha competente, o júri deve ser avisado doarranjo. A questão não é de competência, mas de credibilidade,

e é uma questão que deve ser avaliada pelo júri. Em minhaopinião, os jurados ficam desconfiados em relação a qualquerarranjo no qual uma testemunha da acusação seja beneficiadafinanceiramente pelo seu depoimento. E igualmente, assim fi-

cam alguns juízes. Leia o que o Juiz Wiggins teve a dizer acercade dinheiro e informantes em United States v. Cardenas41  .

Tenha certeza de que o acordo será compreendido pelo júrise ele for apresentado como prova, mas esteja atento quanto àlei que regula como um acordo de reconhecimento de respon-sabilidade criminal ( plea agreements) pode ou não ser usado.Eles não são automaticamente admissíveis em sua totalidade

como prova42! Considere adicionar um parágrafo prevendo que,se a testemunha voltar atrás, tudo o que ela tiver dito durante asnegociações pode ser usado contra ela43.

2. Cuidado! Evite qualquer tentação de tentar purificar atestemunha mediante a celebração com seu advogado de umacordo secreto e desconhecido por ela. O simples fato de a teste-munha não ter conhecimento de um acordo favorável em trocade seu depoimento não permite que você a chame para deporperante o júri e sob juramento de que ela está fazendo isso semesperar obter nada em troca de sua cooperação. Esta trama foicensurada pelo Nono Circuito Federal em Hayes v. Brown44.

Igualmente fatal foi uma decisão secreta de um promotor

de remover um exame psiquiátrico de uma testemunha cúmpli-ce a fim de tentar evitar a criação de uma informação que teriaque ser revelada e que iria prejudicaria a credibilidade dela. Em Silva v. Brown45, o advogado da testemunha alertou o promotorque ele temia que o seu cliente fosse insano. Reconhecendoque um exame de sanidade mental iria “providenciar muniçãopara a defesa”, o promotor obteve um acordo com a testemu-nha: nada de exame mental e as acusações de homicídio seriamretiradas em troca de seu depoimento. Ao garantir ao acusadoum novo julgamento neste caso de pena capital, o Nono Cir-cuito estipulou: Quando promotores traem suas obrigações solenes e abusam do imenso poder que possuem, a correçãode todo nosso sistema de justiça é colocada em dúvida e aconfiança do público nela é minada. Id. at 991.

3. Não limite a testemunha a um roteiro específico de de-poimento no qual as regras fundamentais violem os direitos dosacusados à confrontação. Se você exigir de uma testemunhaque se mantenha fiel em sua versão originalmente apresentadapara obter um “acordo”, isso efetivamente a tornará imune aoexame cruzado! Mas esse tipo de acordo produziu revisões emgrau de apelo. Tudo o que você pode substantivamente exigir éque a testemunha fale a verdade46.

4. Enumere à testemunha todas as regras básicas:a. O que ela vai ter que fazer em termos de depoimento;

isto é, Grande Júri, dois julgamentos, ou o que for.b. Quanto tempo isso vai levar. Não subestime!c. Ela não terá cartão de crédito para sair por aí cometendo

outros crimes enquanto você a estiver utilizando como testemu-nha. Diga a ela para não chamá-lo se conseguir um bilhete de en-trada (para a prisão). Não deixe isso entregue à imaginação dela.

d. Precauções de segurança devem estar em ordem. Deci-da o que é necessário, o que está disponível. Se a testemunhavai entrar no programa de proteção, tenha certeza de que vocêe ela entendem exatamente o que isso significa. Obtenha umacópia do memorando de entendimento da testemunha com o

serviço dos agentes federais e leia-o.5. Guarde alguma informação com você.a. A testemunha deve revelar o que sabe antes. Se você

der-lhe tudo o que ela tem “direito” antes que testemunhe,

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você pode ser desagradavelmente sur-preendido quando ela se descontrolarao depor. Prefiro, se possível, que a teste-munha reconheça sua responsabilidadecriminal antes de testemunhar e que sejasentenciada depois. Se a motivação datestemunha em cooperar for removida,

você estará perdido. Não confie no sensode honra dela47!

6. Obtenha do acusado uma decla-ração juramentada e assinada a respeitodo que sabe e que possa ser usada casoele altere sua disposição durante o julga-mento ou depois. Isso ficará disponívelcomo uma admissível declaração preté-rita e inconsistente caso ele mude o seudepoimento e como proteção para vocêe para o caso, depois da condenação,se ele decidir mudar o seu tom quan-

do confrontado por outros prisioneiros,como um “delator” na prisão. Adote umapolítica de cautela. Esteja familiarizadocom as regras para questionar a credibili-dade de sua própria testemunha, préviasdeclarações inconsistentes, prévias decla-rações consistentes etc. Um caso sobreesse tema que deve ser lido por todosos promotores que tenham a intençãode utilizar um vira-casaca como testemu-nha é United States v. DiCaro48, um dosprecedentes sobre casos de testemunhasque são “atingidas por amnésia” quandovão depor. A última palavra da SupremaCorte sobre a tentativa de utilizar a decla-ração de um cúmplice como uma decla-ração contra o interesse da persecuçãopode ser encontrada em Williamson v.United States49, estabelecendo que con-fissões de cúmplices presos podem seradmitidas sob a Regra 804 (b)(3) se elas são verdadeiramente auto-incriminado- ras e não meras tentativas de transferira responsabilidade penal ou de obter favores. A Suprema Corte também usoua mesma abordagem a respeito de decla-rações pretéritas consistentes: elas serãoadmissíveis somente se tiverem sido fei-tas antes do surgimento do motivo ale-gado para inventar uma história ou parainfluenciar de maneira imprópria50.

H.  É o seu caso mais forte semchamar o informante para depor comotestemunha?

1. O meio mais efetivo (e mais

seguro) de utilizar um cúmplice coo-perante é possivelmente o de usar ainformação obtida dele para desenvol-ver outras provas da culpa de seu alvo,

prova independente, forte o suficientepara livrá-lo da necessidade de chamara testemunha para depor. De fato, estedeve ser seu objetivo tático: construir umcaso que não dependa do depoimentodo cúmplice. Use-o para ajudá-lo a fazerisso. Pergunte se ele sabe de algum meio

independente para corroborar o que elelhe diz. Ele pode ser útil para identificaroutras testemunhas excelentes que pos-sam confirmar o que ele lhe disse.

Para um plano de como usar a con-versa gravada entre um informante eum suspeito sem chamar o informantepara depor, leia esses casos51: (1) United States v. Davis, e (2) United States v. Mc-Clain. Em ambos, a tática da acusaçãoem manter um informante notório semdepor sobreviveu a objeções baseadas

na Sexta Emenda e na Regra Federal deProva 607 e 806.

2. Lembre-se, contudo, de que essetipo de abordagem não deve ser usadacom desonestidade, para extrair infor-mação útil de uma testemunha e entãoinjustamente jogá-la, sem consideração,no lixo da história. A integridade de seuescritório exige que jogue limpo, mesmocom criminosos. Uma testemunha quevocê decidir não chamar para deporpode, não obstante, ter dado a você as-sistência suficiente para construir o seucaso, fazendo jus a consideração subs-tancial.

I. Controle o ambiente da testemu-nha.

Esteja atento acerca do destino datestemunha depois de tomar seu depoi-mento e de assegurar sua cooperação.Se ela voltar à prisão, problemas sériospodem ocorrer a não ser que você tomeprecauções para afastá-la de outros cau-sadores de problemas em potencial. Seela retornar para o meio da “populaçãocarcerária em geral”, há chances de queoutros internos descubram ser ela de-latora e confrontá-la como um inimigo.Quando isso acontecer, não é incomumque a testemunha minta para seu acusa-dor e negue tudo, ou pior, alegue quefoi forçada a mentir para você ou parapolícia. Você então terá uma testemunhaassustada que pode retratar-se de tudo, eterá uma testemunha de defesa que dirá

ao júri que sua testemunha alegou terinventado tudo para “obter um acordo”etc. De forma inquietante, essas pessoastambém podem tornar-se, inesperada-

mente, a base para um writ of error co- ram nobis ou para uma moção por umnovo julgamento. Uma solução para esseproblema, com certeza, é utilizar o Pro-grama Federal de Proteção à Testemu-nha, que tem medidas muito efetivas deproteção dentro e fora das grades.

2. Você deve manter a testemunhalonge de caminhos perigosos. Alerte-apara não dizer nada a ninguém e espe-cialmente para outros prisioneiros, e façacom que seu investigador a contate fre-qüentemente para manter as chamas dacooperação acesas. Se você negligenciaros cuidados de babá desse negócio, vocêserá queimado, e se obtiver acesso aoprograma de segurança de testemunha,saiba o que ele pode fazer por você, comoopera, e o que ele não pode fazer. Então

use-o! Se não tiver um disponível, come-ce-o. Ele é um ingrediente essencial paraa luta contra o crime organizado. Anote:se você fracassar em proteger sua teste-munha e ela for morta ou lesionada porestar cooperando, você poderá tornar-seréu em uma ação cível. Para entender asua exposição a esse risco, leia  Miller v.United States; Galanti v. United States; eWallace v. City of Los Angeles52.

Por favor, tome um momento pararefletir a esse respeito com o trágico esério destino de Collier Vale, assim rela-tado, em 05/11/1990, pelo  Los AngelesTimes:

  Monterey – Homicídio de informan-te leva promotor ao suicídio. Collier Valeera um dos mais respeitados advogadosdo Escritório do Promotor do Condadode Monterey, um promotor compulsivoque obteve numerosas condenações emcasos relevantes e era um candidato de primeira classe para a magistratura.

 Mas, depois de dez anos como promotor, onde ele freqüentementetrabalhava sessenta a setenta horas por semana e vagarosamente subiu na hie- rarquia do escritório, Vale sentiu que umúnico caso havia arruinado sua reputa-ção e destruído sua carreira.

 Em uma quinta-feira à noite do mês passado, após ter dito aos amigos queestava cansado de defender-se de acu- sações intermináveis, Vale colocou uma pistola em sua boca e puxou o gatilho.

O caso que, segundo os amigos, le-vou ao suicídio de Vale envolveu a mortede um informante confidencial em umade suas investigações de homicídio. Ele

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 foi injustamente culpado pela morte da mulher, seus colegasafirmaram, e foi assombrado pelo caso.

 Sua provação ilumina as pressões e as responsabilidadesenfrentadas pelos promotores quando lidam com o mundo sombrio dos informantes confidenciais. É um mundo no qualo promotor tenta proteger pessoas que algumas vezes não po-dem ser protegidas, no qual a responsabilidade é rapidamente

atribuída quando os interesses das testemunhas e dos suspeitos subitamente colidem.

O caso de Collier era um “pesadelo de promotor”, disse Ann Hill, uma representante do Promotor distrital que traba- lhou com Vale. O que torna isso tão assustador é que algo parecido poderia acontecer a qualquer um de nós, não impor-tando o quanto cauteloso somos (...) e Collier era talvez o maiscauteloso de todos nós.

O informante de Vale foi morto em um tiroteio, depois de sua identidade ter sido revelada inadvertidamente. A imprensa local apareceu para culpar Vale pela confusão e o caso eventual- mente recebeu atenção nacional no show de tablóide televisivo,

“Um caso corrente”. Vale ficou extremamente abatido, disseramos amigos, quando a controvérsia tornou-se um grande tema nacampanha eleitoral de junho para promotor distrital.

Quando a família do informante assassinado propôs umaação por morte contra o Condado e o Departamento de Polícia local, Vale soube que ele iria em breve enfrentar uma sériede depoimentos hostis e possivelmente embaraçosos em um julgamento altamente exposto na mídia.

Vale, 39, era um homem orgulhoso, disseram os amigos,e ele não podia mais suportar a indignidade de ser constante- mente responsabilizado pela morte de uma testemunha.

“Collier via toda essa coisa como humilhação e fracasso”,disse sua namorada Melinda Young. Seus olhos encheram-sede lágrimas e ela vagarosamente balançou sua cabeça. “Ele simplesmente não conseguia deixar isso para trás” .

J. A fase da revelação de provas ( Discovery )53: Um verda-deiro campo minado para o desavisado.

1. A defesa tem o direito de conhecer tudo que tenha refle- xo na credibilidade da testemunha – talvez mesmo as suas (deum promotor) notas “de trabalho” a respeito das “declaraçõesde uma testemunha de acusação”. Goldberg v. United States54 sustenta que as notas de um promotor tomadas durante a entre-vista de uma testemunha podem bem ser declarações sob o Ato Jencks. Veja ainda United States v. Ogbuehi  55, se você colocar algono papel, esteja ciente de que isso pode ter que ser revelado. Sefor, você não ficará embaraçado. Se não for, então que seja assim.Não se esqueça de United States v. Harris56, exigindo que o FBIpreserve notas de rascunho de entrevistas de testemunhas57. Sehouver qualquer dúvida acerca de uma parte da prova, o simplesfato dessa dúvida deve fazer com que você busque da Corte umaregra Brady  antes do julgamento, sem a parte e  in camera (ouseja, reservadamente com o juiz) se possível58.

2. Em 19/04/1995, a Suprema Corte decidiu um caso mui-to importante discutindo o dever  Brady  de um promotor emrevelar “prova favorável” à defesa. Se você é um promotor e

não leu este caso, você deve fazê-lo imediatamente porque eleestabelece certos deveres comissivos de revelação por parte deum promotor e que se forem negligenciados podem destruir oseu trabalho.

 Kyles v. Whitley 59 é o caso. Ele envolve a omissão do pro-motor, na hipótese de homicídio, de revelar à defesa prova quequestionaria a credibilidade de testemunhas-chave e declara-ções inconsistentes feitas por um informante, Beanie, que nun-ca foi chamado para depor, mas quem a defesa alegou ter sidoo real assassino da alegada vítima do acusado Kyles. Como cin-co juízes decidiram que se essa prova tivesse sido revelada para

a Defesa um resultado diferente seria razoavelmente provável, acondenação de Kyles à pena de morte foi reformada.

Na apresentação de sua decisão, a Corte sustentou queum promotor tem dever comissivo e imediato de inquirir e con-sultar todas as agências envolvidas no caso acerca da existênciade uma prova favorável à defesa. O Juiz Souter descreveu estedever como se segue:

 Enquanto a definição da materialidade no caso Bagley emtermos de efeito cumulativo da supressão deve ser vista comodeixando a acusação com um certo grau de discricionariedade,ela deve também ser vista como impondo um ônus correspon-dente. Por um lado, demonstrar que a acusação sabia de um

 item de prova favorável para o acusado e desconhecido peladefensoria não representa, sem que haja algo a mais, umaviolação ao precedente do caso Brady. Mas à acusação, já que só ela pode saber o que não foi revelado, deve ser atribuídaa conseqüente responsabilidade de avaliar o provável efeitode todo esse tipo de prova e de revelá-la quando o ponto de“probabilidade razoável” for atingido. Isso, em contrapartida, significa que o promotor tem um dever de descobrir qualquer prova favorável ao acusado que seja conhecida por outros queestejam atuando pela acusação no caso, inclusive pela polícia. Mas, independentemente de o promotor ser bem sucedido ou falhar em cumprir tal dever (ou seja, independentemente da falha na revelação da prova for de boa-fé ou de má-fé), (vejao caso Brady, 373 U.S., at 87), é inevitável a responsabilidadedo promotor por omitir prova conhecida e favorável ao acusa-do e com um nível substancial de importância. (Id at 1567.)

 Isso significa, naturalmente, que um promotor ansioso poragir o mais próximo da linha de suas atribuições vai revelaruma parte favorável da prova. Veja o caso Agurs, (O promotor prudente vai resolver questões duvidosas em favor da revela-ção da prova). Isso é como deve ser. Tal tipo de revelação de prova irá servir para justificar a confiança no promotor como o representante (...) de uma soberania (...) cujo interesse (...) emum processo criminal não é o de que ele deve ganhar o caso, mas de que a justiça deve ser feita. Berger v. U.S., 295 U.S. 78, 88 (1935). E isso tende a preservar o julgamento criminal comoalgo distinto das deliberações privadas do promotor, como o foro escolhido para a descoberta da verdade sobre acusaçõescriminais (...) A prudência do promotor cauteloso não deve ser,então, desencorajada. (Id. at  1568-69.)

Veja também Banks v. Dretke60: Uma regra que estabeleçaque o promotor pode esconder, o acusado deve procurar nãoé sustentável em um sistema constitucionalmente vinculado para garantir o devido processo ao acusado.

 Kyles não é o primeiro caso no qual foi imposto um dever

comissivo aos promotores de pesquisar informação comprome-tedora de credibilidade de testemunhas informantes. Em United States v. Osorio61, a Corte estabeleceu que um promotor, tendoobrigações de revelação de prova, não pode evitar descobrir o

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que “a Acusação sabe” (sobre a testemu- nha) simplesmente declinando de reali- zar uma pesquisa razoável com aqueles na posição de ter algum conhecimento relevante... A acusação, representada por seus promotores na corte, está submetidaa um dever de buscar informação relati-

va ao passado criminoso de suas teste- munhas cooperantes... O caso Osório foialém ao castigar a acusação pelo que de-nominou de “prática malfeita”. Leia o casopara uma discussão do efeito de revelaçãoatrasada para a de prova concernente àcredibilidade da testemunha.

O Nono Circuito Federal sustentouque os casos Brady  e Kyles exigem que aacusação – quando ela decidir fiar-se emdepoimento de testemunhas com regis-tros criminais significativos – obtenha e

 reveja os arquivos do Departamento deCorreção [sobre a testemunha] e trate seu conteúdo de acordo com as exigên-cias dos casos Brady e Giglio62.

Igualmente importante na decisãoda Suprema Corte em  Kyles é a aprova-ção pela corte de um ataque da defesaacerca do calibre da investigação condu-zida pela polícia como um meio para der-rotar a legitimidade do caso da Acusação.Em particular, a omissão da polícia eminvestigar se o informante Bernie era ohomicida efetivo é identificada pelo JuizSouter como um procedimento injusto.Id. At 1570, n. 14; at 1572, n.15. Isso signi-fica que um investigador prudente ou umpromotor irão conduzir uma investigaçãoda possível cumplicidade e duplicidadedo informante em qualquer situação naqual possa ser antecipado que uma dasteses da defesa será (como no caso Kyles) que “foi o informante que fez”.Esse tipo de investigação não é somenteum excelente meio de tornar certo quevocê tem o acusado correto, mas irápoupá-lo, mesmo quando tiver o acusa-do correto, do destino dos promotoresdo caso  Kyles.  Kyles, a propósito, é ummanual de como não se deve conduzir ocaso. Dizer que a investigação se deu umtiro na cabeça é ser generoso.

3. No sistema prisional federal, asligações dos prisioneiros para fora sãogravadas. Em United States v. Merlino63,a Corte de Apelações estabeleceu: que

 Kyles v. Whitley   não pode ser lida como impondo um dever do escritório do promotor em investigar informação de posse de outras agências governamen-

tais que não tem envolvimento na inves-tigação ou na acusação em questão64 eque a Defesa teria falhado em demons-trar que as fitas gravadas do Bureau dasPrisões, contendo mais de duas mil cha-madas envolvendo testemunhas coope-rantes do Programa de Proteção às Tes-

temunhas, continham material do caso Brady . E a Corte de Apelações confirmoua recusa da Corte Distrital de concederum mandado ( subpoena) para obten-ção das fitas. Não obstante, fique alertapara esse terreno fértil como uma fontede informação que pode causar danos àcredibilidade de testemunhas presas.

4. Se você deliberadamente dei- xar de fornecer à defesa informação àqual ela tem direito, você estará em umgrande problema. Leia United States v.

 Kojayan65, para obter um exemplo decomo esse problema pode ser terrível.Não somente o promotor assistente tevedificuldades no caso, mas também todoo seu escritório foi censurado. Pode seresperado, implacavelmente, que qual-quer advogado de defesa competentenos Estados Unidos irá procurar por algoque você “tenha suprimido ou deixadode revelar”. Cometa um erro e nuncaesquecerá o apuro no qual você vai seencontrar66.

5. Veja United States v. Hickey 67,um caso no qual foi denegado à defesaacesso aos arquivos de uma testemunhajunto ao Programa de Proteção à Teste-munha, com o fundamento de que essatestemunha estaria em perigo. A Corteestabeleceu que, sob essas circunstân-cias, um breve resumo do acordo coma testemunha era tudo o que o acusadotinha direito de saber.

K.  Reconhecimento de responsa-bilidade criminal (Guilty Pleas): A basefática

A Suprema Corte sustentou, emUnited States v. Ruiz 68, que a Constituiçãonão exige que a acusação revele provaquestionadora da credibilidade de infor-mantes ou de outras testemunhas antesde celebrar um acordo de cooperaçãocom um acusado criminal. Não obstante,você pode esperar de um acusado, queposteriormente descubrir sujeira de uminformante, a tentativa de desfazer um

reconhecimento de responsabilidade cri-minal alegando “inocência atual”. Mas ocaso Ruiz  não dá a opção a um promotorde responder falsamente a moções para

revelação de prova. Depois de ler  Ruiz ,leia Banks v. Dretke69.

A melhor maneira de tentar prevenirlitigância pós-julgamento desnecessária éexigir, ao tempo do reconhecimento daresponsabilidade criminal, que o acusa-do explique em detalhes exaustivos e

sob juramento exatamente o que ele feze que constitui cada elemento do crimecuja responsabilidade está sendo reco-nhecida. Você não pode fazer isso porcima. Não seja tímido. Exija que o acu-sado confesse tudo, com suas própriaspalavras. Não descreva o que aconteceue simplesmente exija que o acusado con-corde. Faça-o descrever a conduta e oseu estado mental, e ainda sob juramen-to. Dessa forma, qualquer dúvida margi-nal sobre a responsabilidade do acusado

é erradicada e qualquer nova informaçãoacerca da credibilidade da testemunha-informante torna-se irrelevante: o acu-sado admitiu a acusação. Faça o mesmocom o cúmplice dele.

L. Táticas de julgamento.1. Moções liminares para limitar o

exame cruzado e alegações iniciais.Apesar de a fase de abertura de

provas ser virtualmente ilimitada, quan-do ela chega a fatores que pesam na cre-dibilidade de um criminoso cooperante,considerações cautelosas devem ser to-madas para realizar uma moção liminara fim de impedir a Defesa de ingressarem áreas inflamatórias no exame cruza-do e que sejam em realidade um ataquegeral ao caráter e não à credibilidade datestemunha.

A chave para uma moção dessaespécie é, com certeza, a Regra 403 dasRegras Federais de Provas, que dispõe:

 Apesar de relevante, a prova pode ser exluída se o seu valor probatório é substancialmente sobrepujado pelo ris-co de preconceito injusto, de confusãodo objeto do processo, ou de confundiro júri, ou por considerações de atraso indevido, perda de tempo ou apresenta-ção desnecessária de prova cumulativa.

A Regra 403 tem sido interpretada emnumerosas ocasiões para limitar o examecruzado de testemunhas da Acusação70.

A esse respeito, deve ser argumen-tado (quando apropriado) que permitir

à defesa explorar informação estranha ealtamente inflamatória diante da Regra403 e, assim agindo, provocar prejuízosà acusação, significa levar indevidamente

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o foco do júri para elementos do caráter da testemunha e quenão são relevantes para a credibilidade.

Isso, no entanto, é um tema que o promotor deve tratarcom cuidado. O direito de confrontar e de examinar uma tes-temunha é uma garantia de dimensão constitucional, e umamoção liminar bem-sucedida nessa área pode trazer prejuízo nafase de apelo, a não ser que seja moldada com cuidado, para

não privar o acusado de muita coisa. United States v. Mayer 71 deve ser lida e compilada quando você estiver pensando emerigir uma barreira protetora sobre uma testemunha crimino-sa. O caso  Mayer   estabelece a esse respeito que:  Ao examecruzado de uma testemunha em assuntos pertinentes à cre-dibilidade deve ser conferida a extensão mais larga possível.(...) Isso é especialmente verdadeiro quando uma testemunhada Acusação teve negociações pretéritas com o promotor ououtros agentes da lei, então existindo a possibilidade de que seu depoimento tenha sido motivado por um desejo de agra-dar a acusação em troca da ação do promotor em retirar al- gumas das acusações contra a testemunha, ou em assegurar

 imunidade contra a acusação, ou em tentar assegurar que atestemunha receba tratamento leniente na sentença.

O Nono Circuito concorda com o Quinto. Em United Statesv. Brooke72:

Temos salientado previamente que, quando o caso con-tra o acusado volta-se sobre a credibilidade da testemunha, oacusado tem amplos direitos no exame cruzado, United Statesv. Ray, 731 F.2d 1361, 1364 (9th Cir. 1984). Nós não podemosdeixar de enfatizar a importância em permitir profundo e justoexame cruzado das testemunhas da acusação cujo depoimen-to seja importante para o resultado do caso. Devido à necessi-dade, a acusação freqüentemente confia em testemunhas que se engajaram, elas mesmas, em atividade criminosa, e cujos registros de confiabilidade estão longe de ser exemplares.

 Essas testemunhas usualmente têm um grande interesse pessoal em sua disputa de credibilidade com o acusado. A to-tal revelação de todas as informações relevantes concernentesao seu passado e atividades por meio do exame cruzado oude outros meios é sem dúvida de interesse da Justiça. Ordi- nariamente, essas inquirições não exigem o gasto de tempoexcepcional e as Cortes não devem relutar em investir os recur- sos judiciais mínimos e necessários para assegurar que o júri receba tanta informação relevante quanto for possível. Não sedeve ter receios injustificados em provocar confusão no júri. É improvável que jurados federais, dos quais se espera queacompanhem depoimentos complexos e ainda mais intrinca-das instruções judiciais que são apresentadas em muitos dos nossos casos criminais, como em acusações por conspirações múltiplas, se confundam com uma inquirição feita pela defesa sobre o preconceito e a credibilidade de uma testemunha cha-ve da acusação. No novo julgamento, a Corte Distrital deve ga- rantir a Brooke uma ampla e justa oportunidade de questionar Kearney acerca de qualquer de suas atividades pretéritas e queconstituem provas da credibilidade de seu depoimento bemcomo de qualquer preconceito que possa estar por trás dele.

Se esse tipo de moção for feita e for bem-sucedida, elaobviamente tem ramificações a res peito das alegações iniciais edo que o advogado pode ou não pode dizer.

2. O exame dos jurados.

 Deixe o júri saber, sem fazer alarde disso, que você vai chamaruma testemunha que irá receber algo em troca de seu depoi-mento. Pergunte se os jurados vão rejeitar este tipo de teste-munha ou se eles vão ouvir com imparcialidade o que ela tema dizer. Adote desde cedo uma atitude no sentido de que vocênão está totalmente feliz em ter que fazer isso, mas crimes nãosão cometidos no céu, então nem todas as testemunhas são

anjos etc. Antecipe-se à defesa. Se um juiz estiver relutante emperguntar essas questões, saliente que elas não são totalmentediferentes do que perguntar a um possível jurado se ele irá darindevida credibilidade a um oficial de polícia apenas porque eleé um oficial de polícia etc.

3. Alegações iniciais. Apresente como uma questão de fato e com brevidade

todas as “coisas ruins” incluídas no acordo, mas não se demo-re nele. Em seguida às coisas ruins, faça referência a questõesque corroboram o que diz a testemunha. Isso é denominado,algumas vezes, de “doutrina da inoculação”. Mas não coloquetodos os ovos na cesta do cúmplice. O caso se sustenta em seus

próprios dois pés. Refira-se a tantas questões de fato quantopossível. O objetivo aqui é controlar a maneira mediante a qualo júri irá ouvir pela primeira vez acerca da “sujeira”. Se você nãofizer isso e, ao invés, deixar a oportunidade para a defesa “reve-lar a lavanderia suja da acusação”, você vai ficar com problemastáticos profundos.

Uma armadilha espera por você, a não ser que seja cuida-doso. Se informar insuficientemente os jurados acerca da ex-tensão da bagagem negativa da testemunha, um advogado dedefesa esperto pode acusá-lo de ocultar informação relevanteou de “dourar a pílula”. No processo contra Robert Wallach,por exemplo, a acusação referiu-se brevemente, nas alegaçõesiniciais, ao fato de que sua testemunha principal era um cri-minoso múltiplo. A defesa imediatamente contou em detalhesreveladores que a testemunha havia cometido cento e trezecrimes, todos os quais, salvo um, resultaram sem sentença emvirtude de sua cooperação com a acusação. Ao júri foi entãoindagado, por qual motivo esses fatos não foram apresentados pela Acusação? Por que motivo a acusação não é honesta comvocês sobre os fatos? ” Para evitar essa armadilha, seja completoe clínico em sua apresentação.

4. Instruções para o júri.a. Em  Banks. v. Dretke73, a Suprema Corte, por unanimi-

dade, determinou instruções de cautela para o júri a respeitoda credibilidade do depoimento de um informante, instruçõespara o júri do Primeiro, Quinto, Sexto, Sétimo, Oitavo, Nono eDécimo Primeiro Circuito sobre cautela especial apropriada naavaliação de depoimento de informante74. Você deve estar fami-liarizado com as instruções que abrangem cúmplices, corrobo-ração, perjúrio, viciados em drogas, imunidade, condenaçõesprévias, o programa de segurança de testemunha, etc. Semprerevise-as com cuidado bem antes da seleção dos jurados. Issovai levá-lo a procurar meios efetivos para enfrentar as admoni-ções de cautela que sempre aparecem quando um cúmplice ouum informante ingressa no caso. Elabore seus argumentos de

júri tão cedo quanto possível.b. O que se segue é extraído de instruções de júri favorá-veis sobre a credibilidade de cúmplices e que foram dadas nocaso United States v. Stanley Friedman75, um caso processado

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com sucesso em 1987 em Connecticute envolvendo políticos corruptos da ci-dade de Nova York. Uma característicasignificativa da instrução é que ela ad-verte o júri para não reavaliar a decisãodo promotor de realizar um acordo. Elatambém adverte o júri de que antipatia

por uma testemunha não é fundamentosuficiente para, por si só, justificar a des-consideração de seu depoimento.

INSTRUÇÃO

Volto agora à questão dos cúmpli-ces. Quase todas as testemunhas impor-tantes no caso são cúmplices de um tipoou de outro. Um cúmplice é uma pessoaque é culpada e que poderia ser proces- sada por qualquer crime ou crimes dosquais o acusado está sendo processado.

 A lei traça diversas regras para a Acu- sação lidar com testemunhas cúmplices. Em primeiro lugar, não é da sua contaou minha porque a Acusação escolheu não indiciar certa pessoa ou se ela a in-diciou, porque ela decidiu tratá-la com leniência. A decisão de que pessoasdevem ser processadas e quais reco- nhecimentos de culpa serão aceitos de pessoas que são indiciadas são assuntosque a Constituição e as leis dos EstadosUnidos delegaram ao procurador-geraldos Estados Unidos, quem, por sua vez,delegou-os aos procuradores dos Esta-dos Unidos e seus distritos judiciais. Éuma responsabilidade impressionante, mas a Constituição e as leis não dãoa vocês ou a mim qualquer autoridade para supervisionar o exercício dela.

 Além disso, como eu acredito quedisse a vocês quando estavam come-çando a ser selecionados, se vocês che- garam à conclusão de que a testemunhacúmplice prestou um depoimento confi-ável, é exigido que ajam em relação aele como vocês agiriam em relação aqualquer outro depoimento que vocês reputassem confiável, mesmo que não gostem da testemunha que o prestou.

 No entanto, a lei impõe-lhes exi- gências rigorosas de como avaliar estetipo de depoimento antes de concluirque ele é confiável. Obviamente, é mui-to mais agradável ser uma testemunhado que um acusado. A lei exige que

vocês escrupulosamente examinem os motivos do cúmplice para persuadir a Acusação de aceitá-lo como testemunhaao invés de processá-lo como acusado.

 Então, você pode ter certeza de que ele não está inventando uma história para incriminar alguém ou colorindo os fatosde uma história verdadeira para fazeralguém parecer mais culpado do que realmente é.

 Discutirei com vocês em alguns

detalhes o depoimento da testemunha Lindenauer, não porque ache que seudepoimento é mais importante do que dequalquer outra testemunha – essa é umaquestão que é de responsabilidade devocês determinarem – mas simplesmente porque todos os advogados do caso gas-taram tanto tempo neste aspecto particu- lar de seu depoimento que isso leva, por si mesmo, a ilustrar os princípios envolvidos.

 Em primeiro lugar, Lindenauer dissea vocês que ele teve uma vida caracte-

 rizada por más ações, muitas das quaisenvolviam fraudes. Isso é um fator óbvioque devem considerar na determinaçãoda credibilidade de seu depoimento.

 Em segundo lugar, ele foi capaz de negociar um acordo que consideravel- mente reduziu o alcance total da sen-tença que poderia ter sido imposta a elecaso fosse condenado por todas as suas más ações.

 E, finalmente, ele espera, como es- pecificamente reconheceu, que o depoi- mento que ele der neste caso vá induzir o juiz perante o qual ele declarou-se culpa-do a ser leniente ao impor a sentença.  

 Essas circunstâncias podem ter afe-tado Lindenauer de três maneiras possí-veis. Elas podem tê-lo induzido a inventar fatos imaginários para incriminar algumou todos os acusados, ou elas podemtê-lo levado a enfeitar os fatos existentes para fazê-los parecer mais incriminado- res do que de fato são. Ou, por outro lado, elas podem tê-lo feito concluir que suas melhores esperanças de salvaçãoeram a de ser capaz de convencer o juizque irá sentenciá-lo de que ele foi es-crupulosamente honesto em seu depoi- mento perante vocês. Vocês devem ter isso em consideração e qualquer outra possibilidade que possa lhes ocorrer naavaliação de seu depoimento.

Os princípios que se seguem apli-cam-se em graus variados a todas asassim denominadas “testemunhas cúm-

 plices”. Algumas enfrentam sentençase algumas depõem sob garantias devários tipos de imunidade, o que reduz grandemente a possibilidade de que se-

 jam alguma vez processadas. Elas pode- riam, de um jeito ou de outro, concebera colaboração como sendo o melhor para eles alcançarem e reterem a boavontade da acusação.

 Agora, nessa linha, o que vocês es-tão preocupados é com a percepção da

testemunha acerca da situação. E muito foi argumentado acerca do risco de elacometer perjúrio se testemunhasse fal- samente. Nessa situação, vocês devemolhar para a percepção dela acerca doque aconteceria com ela e pode ser bemargumentado que a percepção dela se- ria a de que a melhor maneira de evitaressas coisas seria obter o favor da única pessoa que poderia processá-la por per- júrio, nomeadamente, a acusação.

 Por outro lado, pode ser um re-

 sultado lógico de tal pensamento quea melhor maneira de evitar isso é a de igualmente evitar o cometimento de perjúrio. É a percepção dela que vocêsdevem focar, o que vocês pensam queela pensa, como vocês imaginam que isso iria influenciar o depoimento dela.

Com certeza, isso não é a única coi- sa que vocês devem considerar. Vocêsdevem considerar todos os elementosde credibilidade ao avaliar a testemu- nha, como seu depoimento se encaixacom as outras provas do caso e todas asoutras coisas que mencionei a vocês.

5. Exame direto76.a. Faça-o com firmeza, e, às vezes,

faça-o soar ao júri como um exame cru-zado. Você não é o campeão da testemu-nha. Você é uma pessoa encarregada deobter a verdade e você não está embara-çado por ter que chamar para depor umcriminoso para chegar a ela.

b. Traga a tona todos os problemas,como todo benefício concedido à teste-munha em consideração ao depoimentodela, declarações prévias inconsistentesetc, e confronte a testemunha com eles.Não espere pela defesa. Você deve con-trolar a maneira pela qual o júri vai ouvirprimeiro a sujeira ou a sujeira vai acabarem cima de você. Parta para a ofensiva.A Seção 607 das Regras Federais sobreProvas permite que você faça isso. Vejaainda United States v. Winter ; United States v. Hedman; United States v. Craig,

United States v. Necoechea77

, para aproposição de que este tipo de anteci-pação é apropriado no exame direto. Ojúri deve confiar em você para chegar à

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verdade! Se uma testemunha mentir para alguém, você deverevelar isso. Pergunte à testemunha se ela mentiu e então digaa ela para explicar o motivo de ter feito isso. Teste sua atitudeacerca de prestar testemunho. Freqüentemente, pode ser con-vincente – se for cândida. Se houver muito desse tipo de coisa,apresente isso vagarosamente (...) melhor do que dar ao júrimuito para engolir em uma só mordida.

Seu objetivo a esse respeito é roubar cada pedaço do tro-vão legítimo que a Defesa pode ser capaz de reunir no examecruzado. Vacine os jurados controlando a maneira pela qual elesserão expostos aos problemas. Se o júri já ouviu-os de você,eles perdem muito de seu ferrão. Coloque-os em uma pers-pectiva diferente, a melhor defesa que você pode providenciara uma testemunha contra um exame cruzado rigoroso é revelaros problemas você mesmo aos jurados durante as alegaçõesiniciais e então no exame direto. Se o júri ouvir de você primei-ro sobre esses temas problemáticos e danosos, a defesa serádesarmada e você vai construir sua própria credibilidade. Pormeio de seu questionamento habilidoso, você pode apresen-

tar esses assuntos de forma estéril, minimizando seu impactodramático e amortecê-lo com uma explicação apropriada.Exemplos desse tipo de problemas são condenações pretéri-tas, garantias de imunidade ou leniência, acordos, promessas,recompensas, perjúrio, erros, inconsistências etc. Veja United States v. Henderson; Winter, Hedman, Craig, United States v.Oxman, et al., 740; e United States v. McNeill 78. Em  People v.Gordon79, a Suprema Corte da Califórnia foi longe ao ponto depermitir o alerta feito por um procurador ao júri, em alegaçõesiniciais, de que uma de suas próprias testemunhas poderia nãoser completamente confiável. A corte afirmou que a parte nãotem necessariamente livre escolha de suas testemunhas, masdeve convocar aquelas que sabem os fatos e, portanto, não pode responsabilizar-se por ela.

Como discutido antes, coloque-se temporariamente nopapel do advogado de Defesa e imagine como você realizariao exame cruzado de sua própria testemunha. Faça uma listade áreas que iria atacar e então procure meios para prevenir oataque, neutralizando a área antes que o advogado de defesatenha uma chance.

Se a testemunha estiver no programa federal de proteçãoàs testemunhas e estiver recebendo pagamentos para subsis-tência, aborde isso no exame direto. Do contrário, a Defesa,no exame cruzado, irá perguntar “quanto você está recebendopor seu depoimento” e a resposta pode acabar com seu caso80.Tenha um plano de jogo para sustentar qualquer aspecto doprograma se ele for atacado como um método para comprarum depoimento. O que você vai dizer nas alegações finais?

Caso antecipe uma defesa baseada no argumento de queo informante/testemunha é realmente o autor do crime, você,depois do caso  Kyles, tem, provavelmente, a opção de utilizaro exame direto para apresentar a prova, na forma de “um tra-balho policial consciencioso81” de que a polícia investigou essapossibilidade e concluiu que ela não era verdadeira. Ou vocêpode querer esperar até o reexame direto para mostrar essas

armas. A questão é ter um plano obrigatório para enfrentar essacontingência antes do início do julgamento. Mas, cuidado coma regra contrária à possibilidade de você responsabilizar-se pes-soalmente por uma testemunha82.

Se você gosta de escrever as questões que pretende per-guntar a uma testemunha junto com as respostas que ela disserque irá apresentar, tenha cuidado para não ser acusado de terredigido falsamente o depoimento da testemunha. O que querque você faça, não dê uma cópia desse documento para o trapa-ceiro. Se o fizer, isso pode voltar para assombrá-lo se o trapaceirodecidir retornar para o submundo com o “roteiro” em sua posse.

Esse tipo de “roteiro” foi usado (sem sucesso) para acusar umprocurador federal em Oklahoma de fabricar provas.

6. Corroboração.a. Como já mencionei, quando avaliar sua prova e planejar seu

caso, sempre comece pela regra provada pela experiência de queo júri não vai aceitar a palavra de um criminoso a não ser que sejacorroborada por outra prova confiável (e você também não deve). Jurados vão também selecionar e escolher, aceitando a parte dodepoimento do delator que é corroborada e rejeitando a parte quenão é. Não posso enfatizar esse ponto mais fortemente. Se vocêtiver de confiar na palavra de um cúmplice sem corroboração oucom corroboração fraca, volte ao campo de investigação e retorne

ao trabalho. Corroboração é para o depoimento de um cúmplice oque a gasolina é para um carro: sem isso você não chega a lugarnenhum. A melhor coisa que pode acontecer-lhe é que as pistasfornecidas pela testemunha revelem tantas outras provas que vocênão vai ter que chamá-la para o julgamento! Decidir não usar ocúmplice, no entanto, pode ser uma decisão difícil, especialmentequando a prova por ela providenciada é muito convincente. Oca-sionalmente, você pode não ter de tomar essa decisão até a partefinal do julgamento, quando terá uma melhor noção de como ascoisas estão indo, do que antes de o julgamento começar. Para retera opção de chamá-lo, simplesmente não se refira a sua identidadedurante as suas declarações de abertura. Simplesmente diga “e nósiremos provar que o acusado tomou pessoalmente a decisão deexecutar seu rival” sem mencionar como você pretende fazê-lo.Então, se você decidir, no final de seu caso, que necessita o depoi-mento do cúmplice, pode usá-lo sem medo de reclamações de seuadversário de ter sido enganado ou surpreendido – desde que vocêtenha revelado completamente suas provas e cientificado à cortede que retém a possibilidade de apresentação dessa prova comouma opção. Não surpreenda o juiz. Alguns podem denegar essaoportunidade se você assim agir.

Correndo o risco de ser repetitivo, deixe-me dar um ou-tro exemplo deste princípio importante: a série de casos deespionagem denominados de “Walker/Whitworth” . Devido àevidente fraqueza do caso Whitworth, o próprio John Walker foichamado como testemunha contra seu cúmplice. Esta tática foibem-sucedida, mas as observações dos jurados relatadas peloWashington Post  foram bem educativas:

Os jurados expressaram considerável simpatia por Whi-tworth e antipatia extrema por Walker, a testemunha principalcontra o antigo colega da marinha que ele recrutou para o grupo de espionagem.

 Na primeira tarde de deliberações, quando eles tiveram finalmente permissão de expressar suas opiniões acerca do longo julgamento, os jurados “liberaram seus sentimentos pes-

 soais”, disse Young, e houve uma efusão de hostilidade contraWalker.“O homem deu um novo sentido para a palavra baixo”,

disse a jurada Minda Amsbaugh, uma bancária.

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 Neumann, o primeiro jurado, cha- mou Walter “da pessoa mais perversaque já havia visto” e acrescentou, “eu pessoalmente sentiria que não é justoque Walker seja solto da prisão antesque Whitworth” .

“John Walker era claramente um

verme, claramente uma pessoa des- prezível”, disse Young. “Havia um senti- mento de que era muito ruim que outra pessoa não estivesse em julgamento”,ele acrescentou, referindo-se a Walker.“Walker parece ter obtido o melhor de seu acordo e Jerry foi deixado com o problema”.

 Mas, ele disse, o júri acreditou queWalker estava “essencialmente dizendoa verdade em seu depoimento sobre a participação de Whitworth no grupo.

Walker concordou em declarar-seculpado de espionagem e será senten-ciado à prisão perpétua em troca de umtratamento mais leniente para seu filho,o marinheiro Michael Lance Walker, quetambém declarou-se culpado e será sen-tenciado a vinte e cinco anos.

“Nós todos temos as mentiras fa-voritas que pensamos ter detectado nodepoimento de Walker”, disse Browne,“mas no final não fazia diferença por-que havia suficiente prova testemunhalde corroboração a respeito de todos osassuntos principais”. Ele disse que as ta- belas de pagamento apreendidas na re- sidência de ambos foram “especialmen-te lesivas à Defesa”, um fator tambémcitado por Neumann.

 b. Prova material é a melhor. Corro-bore tudo o que puder. Prove a culpa datestemunha assim como a culpa do acu-sado. Corroboração é o que os juradosquerem e o que procuram, torne-a visí-vel. Prepare mapas, apresente fotos etc.

c. Ao escolher a ordem das testemu-nhas, quando isso fizer sentido cronoló-gico, considere apresentar a prova dacorroboração antes de colocar o delatorpara depor; isto é, faça o dono da lojaidentificá-lo primeiro como o ladrão queestava junto do acusado, para então cha-má-lo para identificar o cúmplice homici-da. Você está autorizado a provar a culpade sua testemunha para estabelecer averacidade da alegação dela de conhecer

o crime em primeira mão. O fato de eleter-se declarado culpado é igualmenteadmissível, mas uma instrução limita-dora dirigida ao júri na consideração de

tal prova é igualmente exigida83. Essedepoimento é uma situação delicada edeve ser tratado com grande cautela. Adeclaração de culpa da testemunha nãoé admitida para provar diretamente a cul-pa do acusado, mas apenas para refletirna credibilidade da testemunha, em seu

conhecimento de primeira mão sobre ocrime, ou para abafar as reclamações deque a testemunha foi deixada livre porsua cooperação. Leia United States v.Gaev , e United States v. Johnson84 paraboas discussões sobre esse tema. O quequer que você faça, não diga “e nossatestemunha vira-casaca George Bultacovai dizer a vocês que se declarou culpadopelo mesmo crime pelo qual o acusadoestá sob julgamento”.

Se ele vai testemunhar sobre sua

prisão, coloque o agente que efetuoua prisão antes para dizer ao júri o queaconteceu. Se os jurados tiverem ouvidoantes de outra pessoa, é mais facilmenteaceitável por eles a mesma coisa quandovier do delator.

7. Preparação da testemunha para oexame cruzado.

a. Prepare a testemunha para o exa-me cruzado, mas seja cuidadoso paranão criar uma testemunha orientada quepode ser desmascarada como tal pelaDefesa. Sua testemunha deve ser capazde sobreviver a um vigoroso exame cru-zado a fim de que mantenha um valorsubstancial para os olhos dos jurados.A orientação de uma testemunha é umprocesso que pode ter de ser revelado nafase da abertura de provas, especialmen-te se existir uma transcrição ou gravaçãoda sessão. Se você tentar remodelar umahistória confusa de uma testemunhaantes de ela se tornar um depoimento,você estará cavando uma cova para si epara ela, especialmente se a testemunhaentão declarar sob juramento que nãofoi orientada. Leia Banks v. Dretke85, pararelembrar essa armadilha.

b. A idéia principal que deve ser co-locada na cabeça da testemunha é a deque ela não deve brincar de jogos com oadvogado de defesa ou permitir-se ficaralterada. As únicas instruções que sem-pre lhes dei referem-se a lembrá-las deque testemunhar não tem por objetivo

“pegar alguém” ou proteger a si mesmo,é um momento de dizer “a verdade sobretudo não importa quem faz as perguntas– eu, a defesa ou o juiz”. Se o advogado

de defesa questionar a testemunha sobreo que eu havia lhe instruído para dizersob juramento, a respostar será “o pro-motor disse-me para responder todas asperguntas com veracidade, não importaquem as fizesse, o promotor, você (re-ferindo-se ao advogado de defesa), ou o

juiz”. Além disso, a testemunha não devebrincar com os jurados olhando paraeles, pois não gostam disso.

8. Perjúrio e falso testemunho.a. Em  Mooney v. Holoh an86, a Su-

prema Corte estabeleceu que o abusoconsciente por um promotor do perjúrioconstitui uma violação do devido proces-so legal. Em  Alcorta v. Texas87, a Cortecondenou a conduta de um promotorque disse a uma testemunha de acusa-ção para que não apresentasse, volunta-

riamente, certa informação obviamentefavorável ao acusado, mas que, se fosseespecificamente indagado, dissesse averdade. A testemunha mentiu, deixandoa informação conhecida pelo promotorfora de seu depoimento. O promotornão tomou qualquer providência paracorrigir o depoimento da testemunha, ea Corte concluiu que ao peticionário foidenegado o devido processo legal.

O Segundo Circuito estendeu o al-cance desse entendimento a um caso noqual o informante mentiu no exame dire-to quanto a ter parado de jogar compulsi-vamente. De fato, a acusação denunciousua testemunha depois do julgamentopor perjúrio e ela foi condenada pelocrime. A Acusação alegou, no entanto,que só descobriu que o informante haviamentido após o julgamento.

O Segundo Circuito não ficou im-pressionado e revisou a condenação ori-ginal do alvo, estabelecendo, com basenos fatos, que a Acusação deveria saberque sua testemunha estava mentindo88.Isso significa que um promotor deveestar vigilante durante o depoimento deum informante para eliminar qualquerdeclaração surpreendente que não sejaverdadeira e para identificar isso tambémpara a defesa.

Ainda, um promotor, tendo moti-vo para acreditar que uma testemunhacooperante pode estar se preparandopara cometer perjúrio ou que ela tenha

solicitado a outros para fazer o mesmo,tem a obrigação constitucional do devidoprocesso de investigar e evitar essa pos-sibilidade. Um promotor não pode deixar

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de agir diante dessas circunstâncias89.No entanto, isso não significa que um promotor está im-

pedido de chamar uma testemunha para depor e que tem aintenção de mentir, mas cujas mentiras servirão como pretextopara a introdução de declarações inconsistentes pretéritas oucoisa semelhante. A chave é a total revelação das provas para aCorte e para o advogado de defesa.

9. Alegações finais.a. Dê ênfase à corroboração. Rebata a defesa, dizendo ao

júri, “nós sabemos disso”. Eu disse a vocês tudo isso durantemeus argumentos iniciais e ainda de novo durante o examedireto! A questão nesse caso não é se Terry Miller é um canalhacom uma condenação criminal prévia e que teria mentido àpolícia depois de sua prisão. A questão que vocês devem decidiré se ele disse a verdade sob juramento aqui na corte sobre seuparceiro de crime (aponte o acusado), Alfred Mason, o acusado.E com isso em mente, vamos falar da prova que corrobora seudepoimento e que “prova independentemente e conclusiva-mente que Alfred Mason matou David Kernan”.

Uma tática excelente é reconhecer o valor das instruçõesde cautela ao júri e então sugerir aos jurados que deixem delado, quando forem deliberar, o depoimento do cúmplice, como propósito de testar o caso com base no resto da prova. Ojúri fará isso de qualquer jeito e essa abordagem lhe habilita aargumentar que o caso é “sólido” sem a prova do delator, masque, com seu depoimento para corroborar, toda dúvida foi eli-minada. Você chamou essa testemunha obviamente imprópriapara não deixar nenhuma pedra não-remexida para provar oque aconteceu.

“Vamos supor que Terry Miller (a testemunha cúmplice),ela mesma, foi morta durante o tiroteio e nunca tenha entradonesta corte”, disse aos jurados, “e vamos ver o que o resto dasprovas mostra”. Adotei então uma abordagem do tipo “Sher-lock Holmes” para solucionar o caso, e os jurados usualmenteadoram isso. Eles desejam ser detetives e não apenas jurados.Convide-os a solucionar o caso com você. Trabalhe com a forçadas provas circunstanciais. Então depois de ter descrito um casobem provado contra o acusado, disse aos jurados para acres-centar o depoimento do cúmplice na mistura, e a culpa do acu-sado é provada não apenas além de uma dúvida razoável, mascom absoluta certeza. “O depoimento de Terry Miller é apenasenfeite no bolo; ele não é a testemunha-chave da acusação,como a defesa quis que vocês acreditassem”, ele foi a escolhade Mason para cúmplice.

Ao fazer esse argumento, você pode moldar a prova cir-cunstancial e corroboradora em uma teia que aponte na direçãodo acusado e o enrede. Se você trabalhar por esse argumentodesde o começo da preparação de seu caso, ele vai freqüente-mente se encaixar fácil no seu lugar. Seu propósito, entre outrascoisas, é dar ao júri um instrumento para alterar o foco, pas-sando do passado de sua testemunha para o acusado e para aprova incriminadora e de corroboração. Não compre a tese dadefesa quanto ao conteúdo do caso.

b. Não desperdice a oportunidade de transformar em van-

tagem o resultado de um agressivo exame cruzado que fez suatestemunha parecer uma pessoa horrível. Em outras palavras,vire a mesa. Quanto pior a defesa fizer parecer o antigo melhoramigo e parceiro do acusado com crimes, uso de drogas, sone-

gação fiscal, mentiras, e coisas similares, mais você será capazde contra-atacar, apontando – provavelmente como argumen-to final e depois que sua testemunha tiver sido explorada comselvageria – que o escolheram como um parceiro para passaro tempo e não a acusação. Se a testemunha é tão horrorosa ecorrupta, o que dizer de seus companheiros, os acusados, queformavam um bando de gente da mesma laia?

Se os próprios fatos levam a esta réplica, você poderá dei- xar o trabalho de base para o exame direto de sua testemunha.Além disso, se o acusado for depor, você terá uma oportunida-de de ouro para desenvolver em grandes detalhes a extensãoda relação entre a testemunha e o acusado.

Esse argumento também serve para tirar o holofote de suatestemunha e focá-lo no lugar ao qual pertence – nos acusados.A Força de Combate ao Crime Organizado usou essa tática comgrande vantagem com sua testemunha mafiosa cooperante Hen-ry Hill. Quanto pior os acusados fizeram Hill parecer, tanto pior osacusados pareceram. Além disso, quem sabe mais sobre crimesdo que criminosos? Vo cê espera que testemunhas em casos de

homicídio/drogas/terrorismo venham de freiras de caridade?c. Durante sua réplica, esteja preparado para justificar e de-

fender qualquer acordo que tenha feito, mas não se responsa-bilize pela testemunha! Leia United States v. Rudberg90, para vero que você pode ou não dizer a um júri a esse respeito. Salienteque criminosos normalmente não cometem seus crimes emvídeo e deixam cópias espalhadas para serem vistas por todomundo. Argumente ainda de que não podemos ir a agência deempregos para selecionar nossas testemunhas. Temos de ir àspessoas que sabem algo sobre o crime e infelizmente algumasdelas serão criminosas. Você não as escolheu, o acusado as es-colheu, recrutando-as para dentro do esquema. Elas não sãoamigos da acusação, são os amigos do acusado!

Você não está inteiramente feliz de ter tido que fazer oacordo, mas também não está se desculpando por ele. “A in-tegridade da acusação assim exige. Não é aceitável condenarsomente o carregador da mala e deixar o político desonesto defora. Se nós nunca fizermos acordo com os peixes pequenos, ogrande peixe esperto vai sempre escapar. É isso que você querque aconteça?” Mais uma vez, tire o holofote de sua testemu-nha e redirecione para o verdadeiro canalha.

Essa é também uma boa hora para espalhar o experimen-tado e verdadeiro argumento de que, quando um advogadode defesa tem a lei ao seu lado, ele fala da lei, quando tem osfatos, ele fala dos fatos, mas quando não tem nada, ele ataca opromotor e a acusação. Alguns advogados de defesa chamamisso de “a tática de Mark Furman”.

d. Um aspecto da testemunha que você pode enfatizar é omotivo dela em dizer a verdade. Argumente que ela só pode termotivos para dizer a verdade porque isso permitirá que consigao que deseja. Mentiras vão somente destruir o acordo e gerarprocessos por perjúrio. “Ele deseja ficar fora da cadeia. Tudoo que tem de fazer para ficar fora é dizer a verdade e não amentira. Mentiras irão colocá-lo onde ele não deseja estar, naprisão. Seu motivo, baseado nas provas e nos registros, só pode

ser dizer a verdade!” A isso você pode acrescentar que “por terido adiante e contado a verdade acerca do que sabe, ele fez desi mesmo publicamente um informante, um delator”. Você acre-dita que uma pessoa faça isso alegremente? Com certeza, não.

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Isso não é uma coisa que uma pessoairia desejar fazer se quisesse que acredi-tassem nela.

e. Seja muito cuidadoso em comousar o acordo de colaboração. De novo,você não deve responsabilizar-se pelatestemunha. Em um número de casos

significativos em diferentes circuitos, pro-motores foram criticados severamentepelo mau uso de termos de um acordode colaboração, referindo-se ao polígrafoetc. Para uma visão compreensiva dosproblemas nesta área, leia United Statesv. Brown; United States v. Kerr ; United States v. Smith; United States v. Perez 91,opinião revisada em parte.

PÓS-ESCRITO

Em 1883, há mais de um século, o

promotor William H. Wallace assumiu atarefa de processar criminalmente o infa-me Frank James, irmão de Jesse, por ho-micídio. Para fazê-lo, Wallace convocouum membro da gangue de James paradepor, um tal de Dick Liddil. Liddil era umladrão de cavalo condenado, um acusa-do de homicídio, um traidor do bando eestava tentando escapar da punição queos crimes mereciam. Como poderia serantecipado, a credibilidade e o caráter deLiddil foram submetidos a ataque rigoro-so pela defesa, assim como o Estado, por“sua má conduta” em realizar um acordoprofano contra ele. Aqui está a réplica dopromotor Wallace ao júri. Apesar de par-te dele ser certamente inapropriada aosparâmetros de hoje, você pode achar amaior parte dele útil:

 Dick Liddil era um membro de umaquadrilha de assaltantes de trens, co- nhecida como a gangue de James. Isso ninguém nega. Se ele não fosse, ele não poderia ter fornecido ao Estado o vas-to benefício que forneceu. Quando ho- mens estão para cometer um crime, eles não tocam um trompete. Eles fazem o seu trabalho em segredo e na escuridão.Quando estão formando bandos para saquear ou matar, também não selecio- nam cidadãos honestos e conscienciosos para o complô. Um homem, planejandoum homicídio, não diria “venham, Sr.Gilbrath ou Sr. Nance (ambos jurados), juntem-se a mim na minha tarefa diabó-

 lica. Seu trabalho é realizado enquanto homens honestos, respeitadores da lei,estão adormecidos, e “as bestas saem para arrepiar”. Por essa razão, quando o

 Estado vai quebrar um bando de crimi- nosos, ele depende da assistência de umde seus pares no crime para fazê-lo. Por isso, é um costume, tão velho quanto a lei, selecionar, de um bando desespera-do, um de seus membros e usá-lo comoum guia para abater os outros. Nenhum

 homem honesto, respeitador da lei, temobjeções a isso. Quando os homens sãoapanhados, quando isso é feito, gritan-do “perfídia”, “traidor”, “traição”, você pode derrubá-los como os inimigos do bom governo ou então afundar no pre-conceito de que eles não sabem nadado que fazem. Liddil, o menos depra-vado no mais secreto e desesperado bando que o mundo jamais tinha visto, foi então usado. E o Estado escolheutambém chamá-lo como testemunha

 no caso. Montanhas de abuso foramamontoadas sobre ele. A língua inglesa foi vasculhada por termos de vilificação. Na época, quando ele era um assaltantede trem, foi um esplêndido companhei- ro, esplêndido o suficiente para ser o bondoso companheiro de um homemtão puro e grandioso como Frank Ja- mes. Você se lembra de que o acusado,ele mesmo, declarou que Liddil, usandoum cognome, foi seu convidado, comeu na sua mesa e dormiu sob o seu telha-do. Liddil era um dos heróis sobre osquais ouvimos tanto. Mas subitamenteele mudou. Ele deixou as sombras docrime e veio para a luz da lei e da or-dem. E, de súbito, é estranho dizer, ele foi transformado em víbora, um “vilão”,um “patife”, um “demônio”, ou uma“forma execrável”, como o advogado de seu antigo tutor pôde denominá-lo. Masdeixe o advogado de defesa prosseguircom seu abuso. É parte de seu trabalho. Eu não vou retaliar chamando o acusa-do de víbora, “perjurador”, “demônio” ecoisas assim(...)

 É dito que Dick Liddil rendeu-se e barganhou com o Governador do Es-tado e (o comissário de Polícia) Craige [o Xerife] Timberlake para condenar Frank James, culpado ou inocente, a fim de obter imunidade para si mesmo. Eu nego isso. Não há nenhuma provaa respeito, e eu tenho o direito, na res- posta, de enfaticamente e positivamente

 negá-lo. O único contrato com Liddil foiaquele sempre feito com as pessoas que se transformam em prova do Estado,como nós os chamamos, nominalmen-

te. Foi feito acordo por meio do qual eledeve dizer toda a verdade e nada alémda verdade e que se ele disser uma mentira, o faz a seu risco e o contratoé encerrado92 .

Peço desculpas por relatar o finaldesta história: Frank James foi absolvido.

Por quê? Porque a única prova ligando-oao homicídio veio de Dick Liddil. Então,não há nada de novo para a minha afir-mação de que a falta de corroboraçãoserá fatal para o seu caso93.

Finalmente, e eu repito, nunca, emtempo algum, perca o controle sobre atestemunha. Ela vai tentar manipulá-lose ela quiser, pensando que você precisadela e não vice-versa. Esteja preparadopara dizer “não” a pedidos bizarros e dei- xe-a saber, todo o tempo, que você está

no controle. Isso pode ser feito educada-mente, mas deve ser feito com firmeza,e, acredite ou não, ela usualmente vairespeitá-lo por isso. Ela deve confiar emvocê até certo grau, mas não irá machu-cá-la ter um elemento de medo fundadoem confiança e respeito. Você não querdeixá-la pensar que pode passar por cimade você e abandoná-lo com isso. Se elacometer perjúrio, processe-a por isso. É oseu dever. A verdade é a sua mercadoriade troca!

NOTAS E REFERÊNCIAS1 Nota do tradutor: Publicado originariamente

com o título The use of a criminal as a witness:a special problem  no U.S. Department of

 Justice’s Manual for Federal Prosecutors  eno  Hastings Law Journal , vol. 47, July/August1996, no. 5/6.

2  McCray v. Illinois, 386 U.S 300, 307 (1967).3  Banks v. Dretke, 540 U.S. 668, 701-02 (2004).4 United States v. Bernal-Obeso, 989 F.2d 331,

333-34 (9th Cir. 1993).5 Nota do tradutor: Optou-se por manter as refe-

rências aos precedentes em inglês sem qualquertradução. Expressões como 9th Cir. ou mais adiante2nd Cir. referem-se aos julgados da Corte de Ape-lação do Nono Circuito Federal ou do SegundoCircuito Federal e assim por diante. Nos EstadosUnidos, o sistema judicial federal é dividido emnoventa e quatro cortes federais distritais (districtcourts – o equivalente no Brasil à Justiça Federalde primeira instância) e que estão organizadasem doze circuitos regionais, incluindo a Corte deApelação Federal do Distrito de Columbia. Alémdisso, há ainda a United States Court of Appeals

 for the Federal Circuit  cuja competência é definidapor matéria e não por território. Para o tema, videMEADOR, Daniel John. Os Tribunais nos EstadosUnidos. Trad. de Ellen G. Northfleet. Brasília: Serviço

de Divulgação e Relações Culturais dos EUA - USIS,1996, especialmente p. 25-35.

6  Kastigar V. US United State, 406 US 441, 446(1972).

8/20/2019 O uso de um criminoso como testemunha: um problema especial - Stephen S. Trott

http://slidepdf.com/reader/full/o-uso-de-um-criminoso-como-testemunha-um-problema-especial-stephen-s-trott 25/26

92

Revista CEJ, Brasília, Ano XI, n. 37, p. 68-93, abr./jun. 2007

7  Commonwealth v. Bowie, 243 F.3d 1109 (9th Cir. 2001).

8 Nota do tradutor: Nos Estados Unidos, é comuma realização das assim denominadas “undercoveroperations” , ou operações encobertas, nainvestigação de crimes, especialmente tráficode drogas. Assim, por exemplo, agentes policiaisdisfarçados podem envolver-se na negociaçãode drogas, fingindo ser traficantes, para colher

provas de crimes de tráfico praticados por outraspessoas ou organizações criminosas. O que nãoé admitido é que agentes policiais incentivem ouinduzam à prática de crimes, o que é consideradocomo entrapment , ou seja, uma armadilhainválida. Em geral, tem-se entendido que não háentrapment   quando existe um prévio esquemaou predisposição criminosa, cf. jurisprudência daSuprema Corte norte-americana, v.g.  Sorrel, v. USA,287 U.S. 435, 53 S.Ct. 210, 77 L. Ed. 413 (1932).Repetindo esta no caso  Sherman V. USA, 356U.S. 39, 372, 78 S.Ct. 819, 2 L.Ed.2d 848 (1958),trata-se de traçar uma linha entre a armadilha

 para um inocente incauto e a armadilha paraum criminoso incauto. A Suprema Corte norte-

americana, em USA v. Russel , 411 U.S. 423, 93S.Ct. 1637, 36 Led.2d 366 (1973), inclusive admitiua possibilidade da autoridade policial sob disfarcefornecer apoio material à atividade de tráficoa fim de granjear credibilidade da organizaçãocriminosa:  A produção ilícita de entorpecentes

 não é um incidente esporádico ou isolado, masuma contínua, apesar de ilegal, empresa de

 negócios. Para obter condenações pelo tráfico ilícito, a colheita de prova de conduta ilegal pretérita freqüentemente se mostra como umatarefa impossível. Então em crimes de drogas,os agentes da lei recorreram a um dos poucos

 meios praticáveis de detecção: a infiltração no grupo criminoso e a participação limitada em suas práticas ilegais presentes. Essa infiltração

é um meio de investigação reconhecido e permitido; se isso é correto, então fornecer um item de valor que o grupo criminoso precisa,como regra geral, deve ser permitido. Porqueum agente não terá confiança dos empresárioscriminosos se não tiver algo de valor a oferecer.Táticas de investigação como essa não podem

 ser consideradas como violadoras da “integridade fundamental” (do sistema de justiça criminal) oucomo “chocantes ao senso universal de justiça”. O padrão internacional, considerando, porexemplo e a contrario sensu, o caso Teixeira deCastro v. Portugal , 09/06/1998, Reports  1998-IV,1451, (1999) 28 EHRR 101, da Corte Européiade Direitos Humanos, aparenta seguir a mesma

linha, no sentido da admissibilidade de operaçõesencobertas ou disfarçadas desde que o objetivoseja revelar o crime e não criá-lo. Tal distinção,entre uma operação encoberta e uma armadilhainválida, pode, com algumas aproximações,ser assemelhada à diferenciação que se faz noBrasil entre “flagrante esperado” e “flagrantepreparado”, existindo, apesar da Súmula 145do Supremo Tribunal Federal (“Não há crime,quando a preparação do flagrante pela políciatorna impossível a sua consumação”), algunsprecedentes desta mesma Corte admitindo avalidade de operações disfarçadas para revelarcrimes de tráfico (v.g.: HC 69.476/SP, 2. Turmado STF, Rel.: Min. Néri da Silveira, DJU de12/03/1993.). No entendimento do tradutor, não

há que se falar em crime impossível em relaçãoà atividade de tráfico de drogas, pois a própriaposse da droga – antes mesmo da tentativa devenda – já é suficiente para caracterizar o crime.

De todo modo, afigura-se pertinente tambémaqui o repúdio à atividade policial que, a pretextode combater o crime, incentive a sua prática.Tudo depende então das circunstâncias do caso.Operações disfarçadas serão legítimas desde queseu objetivo seja, como já foi dito, revelar o crime enão criá-lo.

9 Nota do tradutor: “Ratos somos nós”.10 Em United States v. Dennis, 183 F.2d 201 (2nd Cir.

1950) aff´d, 341 U.S. 494 (1951):11 On Lee v. United States, 343 U.S. 747, 756 1952.12 O grifo é do tradutor.13 Veja 9-27.610 et seq. para as políticas e o

procedimento do Departamento de Justiçanessa área.

14 Nota do tradutor: Refere-se o autor ao direito aosilêncio previsto na Quinta Emenda da Constituiçãonorte-americana.

15  Roberts v. United States, 445 U.S. 552, 556(1980).

16 Nota do tradutor: No caso  Brady v. Maryland ,373 U.S.83 S.Ct 1194, 10 L.Ed.2d 215 (1963), aSuprema Corte norte-americana decidiu que a

 supressão pela Acusação de prova favorável

a um acusado viola o devido processo quandoa prova é material relativo à culpa ou punição.Sempre que o autor se refere no texto a material

 Brady , quer referir-se a prova ou informação que aAcusação tem obrigação de revelar à Defesa.

17 Veja Robert M. Bloom, Ratting: The use and abuseof informants in the American Justice System 63-66 (Praeger 2002).

18 Os casos oficiais que surgiram deste colapso sãoUnited States v. Salemme, 91 F. Supp. 141 (D.Mass., Sept. 15, 1999) e United States v. Flemmi ,225, F.3d 78 (1st Cir. 2000).

19 Nota do tradutor: A ABA é, com as devidasadaptações, o equivalente norte-americano daOAB nacional.

20 Nota do tradutor: Refere-se o autor ao direito ao

silêncio previsto na Quinta Emenda e ao direitoa assistência por um advogado previsto na SextaEmenda da Constituição norte-americana.

21 United States v. Colorado Supreme Court , 189F.3d 1281, 1287-89 (10th  Cir. 1999). Para umrestrospecto e história deste tema, você gostaráde ler United States ex rel. O’Keefe v. McDonnel

 Douglas, 132 F.3d 1252 (8th Cir. 1998); United States v. Lopez , 4 F.3d 1455, 1464 (9th Cir. 1993); e In re Hanes, 940 P.2d 159 (N.M. 1997).

22  Maine v. Moulton, 474 U.S. 159 (1988).23 United States v. Ofshe, 817 F. 2d 1508 (11th Cir.

1987).24 Para orientação adicional, veja Weatherford v.

 Bursey , 429 U.S. 545 (1977), United States v.

 Brugman, 655 F.2d 540 (4th

  Cir. 1981), United States v. Rosner , 485 F.2d 1213 (2d Cir. 1973), eUnited States v. Mastroianni , 749 F.2d 900 (1st Cir.1984).

25 Nota do tradutor: metáfora para situação semsaída.

26 United States v. Mezzanatto, 115 S. Ct. 797(1995).

27  Murdoch v. Castro, 365 F. 3d 699 (9th Cir. 2004).28 Commonwealth v. Bowie, 243 F. 3d 1109 (9th Cir.

2001).29  Kyles v. Whitley , 115 S. Ct. 1555 (1995).30  Probation, ou período de prova, seria o equivalente,

no Brasil, a suspensão condicional da pena oumesmo livramento condicional.

31  Xiao v. Reno, 873 F. Supp 1506 (N.D. Cal 1993),

aff´d 81 F.3d 808 (9th Cir. 1996).32 (Processado pelo atual Prefeito Rudy Giuliani), 854

F.2d. 535 (2nd Cir. 1988).33 Nota do tradutor: O crime de  racketeering  está

descrito no capítulo 95 do Título 18 do CódigoPenal Federal norte-americano (US Code) ecompreende uma gama significativa de atividadescriminosas.

34 United States v. Martinez , 775 F 2d 31 (2nd Cir.1985).

35  Massiah v. United States, 377 U.S. 201 (1964), ou Henry v. United States, 361 U.S. 98 (1959).

36 United States v. Gomez and Fregoso, 358 F.3d

1221 (9th Cir. 2004).37 Wood v. Bartholomew  116 S. Ct. 7 (1995).38 United States v. Dailey , 759 F.2d 192 (1st Cir.

1985)39 Veja: 18 U.S.C. §§ 1012, 1751, 3056, 3059, 3059A.

United States v. Murphy , 41 U.S. (16 Pet) 203(1842); United States v. Walker , 720 F.2d 1527(11th Cir. 1983); United States v. Valle-Ferrer , 739F.2d 545 (11th Cir. 1984); United States v. Cuellar ,96 F.3d 1179 (9th Cir. 1996).

40 United States v. Civella, 666 F.2d 1122 (8th  Cir.1981).

41  United States v. Cardenas Cuellar , 96 F.3d 1179(9th Cir. 1996)

42 Veja United States v. Edwards, 631 F.2d 1049 (2nd 

Cir. 1980); United States v. Spriggs, 996 F.2d 320(D.C. Cir. 1993).43 Veja United States v. Stirling, 571 F.2d 708 (2nd Cir.

1978); United States v. Mezzanatto, 115 S. Ct. 797(1995).

44  Hayes v. Brown, 399 F.3d 792 (9th Cir. 2005) (enbanc).

45 Em Silva v. Brown, 416 F.3d 980 (9th Cir. 2005)46 Veja  People v. Medina, 41 Cal. App. 3d 438

(1974).47 Veja United States v. Insana, 423 F.2d 1165 (2d Cir.

1970) e Darden v. United States, 405 F.2d 1054(9th Cir. 1969), que aprovam essa abordagem.

48 United States v. DiCaro, 772 F.2d 1314 (7th  Cir.1985)

49 Williamson v. United States, 114 S. Ct. 2423

(1994),50 Tome v. United States, 115 S. Ct. 696 (1995).51 (1) United States v. Davis, 890 F.2d 1373, 1379 (7th 

Cir. 1989); e (2) United States v. McClain, 934 F.2d822, 832 (7th Cir. 1991).

52  Miller v. United States, 561 F. Supp. 1129 (1983),aff’d 729 F.2d 1448 (3rd Cir. 1984); Galanti v. United

 States, 709 F.2d 706 (11th Cir. 1983); e Wallace v.City of Los Angeles, 16 Cal. Rptr. 2d 113 (Janeiro,1993).

53 Nota do tradutor: Na fase processual da Discovery ,as partes têm, antes do julgamento, de revelar asprovas de que dispõem relativamente ao caso. A

 Discovery   é regulada, no processo federal, pela Rule 16 da Federal Rules of Criminal Procedure.

Para uma abordagem sobre tal fase processual,vide RAMOS, João Gualberto Garcez. Curso de Processo Penal norte-americano. São Paulo: RT,2006, p. 184-188.

54 Goldberg v. United States, 425 U.S. 94 (1976)55 Veja ainda United States v. Ogbuehi , 18 F.3d 807,

810-811 (9th Cir. 1994).56  United States v. Harris, 543 F.2d 1247 (9th  Cir.

1976)57 Veja ainda United States v. Riley , 189 F.3d 802 (9th 

Cir. 1999).58 Se você não leu Giglio v. United States, 405 U.S.

160 (1972) ainda, você pode querer fazê-lo.59  Kyles v. Whitley , 115 S. Ct. 1555 (1995).60  Banks v. Dretke, 540 US 668 (2004) – 427 U.S., at

108 .

61  United States v. Osorio, 929 F.2d 753, 761-62 (1st Cir. 1991).

62 Carriger v. Stewart , 132 F.3d 463 (9th  Cir. 1997)(em reunião).

8/20/2019 O uso de um criminoso como testemunha: um problema especial - Stephen S. Trott

http://slidepdf.com/reader/full/o-uso-de-um-criminoso-como-testemunha-um-problema-especial-stephen-s-trott 26/26

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63 United States v. Merlino, 349 F.3d 144, (3rd Cir.2003).

64  Merlino, 349 F.3d at 15465 United States v. Kojayan, 8 F. 3d 1315 (9th 

Cir.1993)66 Veja também Silva v. Brown, 416 F.3d 980 (9th Cir.

2005).67 Veja United States v. Hickey , 767 F.2d 705 (10th Cir.

1995)

68 United States v. Ruiz , 536 U.S. 622 (2002)69  Banks v. Dretke, 540 U.S. 668 (2004).70 A Regra 403 tem sido interpretada em

numerosas ocasiões para limitar o examecruzado de testemunhas da Acusação. Veja:United States v. Bari , 750 F.2d 1169 (2nd Cir. 1984), proibindo exame cruzado sobrea história psiquiátrica de uma testemunhade acusação; United States v. Nuccio. 373F.2d 168 (2nd  Cir. 1967), proibindo o examecruzado sobre homossexualidade; United

 States v. Rabinowitz , 578 F.2d 910 (2nd Cir. 1978), mantendo a recusa do juiz empermitir exame cruzado sobre ato pretéritode sodomia da testemunha da acusação e

o seguido exame psiquiátrico; United Statesv. Glover , 588 F.2d 876 (2nd  Cir 1978),proibindo o exame cruzado sobre a históriapsiquiátrica depois de revisão  in camera, ouseja, sem o júri, dos registros psiquiátricos;United States v. Singh, 628 F.2d 758 (2nd Cir.1980), limitando exame cruzado baseado emassuntos privados; United States v. Burke, 700F. 2d 70 (2nd  Cir. 1983), permitindo examecruzado sobre o envolvimento da testemunhaem um roubo significativo, mas proibindo oexame sobre os detalhes.

71 United States v. Mayer , 556 F. 2d 245 (5 th Cir.1977).

72 United States v. Brooke, 4. F.3d 1480, 1489 (9th Cir. 1993).

73  Banks v. Dretke, 540 U.S. 668 (2004).74 I AK. O’Malley, J Grenig & W. Lee, Federal Jury

 Practice and Instructions, Criminal par. 15.02 (5thed. 2000) .

75 United States v. Stanley Friedman, 854 F.2d535 (2nd Cir. 1988).

76 Nota do tradutor: O exame direto é o exame datestemunha pela parte que a arrolou. O examecruzado é o exame da testemunha arroladapela outra parte.

77 Veja ainda United States v. Winter, 663 F.2d1120, 1133 (1st Cir. 1981); United States v.

 Hedman, 630 F.2d 1184, 1198-99 (7 th  Cir.1980); United States v. Craig, 573 F.2d 513,519 (7th Cir. 1978); United States v. Necoechea,

986 F.2d 1273, 1280, n.4 (9th

 Cir. 1993)78 Veja United States v. Henderson, 717 F.2d 135(4th Cir. 1983); Winter, Hedman, Craig, United

 States v. Oxman, et al., 740 F.2d 1298 (3 rd Cir.1984); e United States v. McNeill , 728 F.2d 5(1st Cir. 1984).

79  People v. Gordon, 10 Cal. 3d 460 (1973)80 Veja United States v. Partin 601 F.2d 1000 (9th 

Cir. 1979).81  Kyles, 115 S. Ct. at 1572, n. 15.82 Veja United States v. Weatherspoon, 410 F.3d

1142 (9th Cir. 2005).83 Veja United States v. Halbert 640 F.2d 1000 (9th

Cir. 1981).84 Leia United States v. Gaev , 24 F.3d 473, 476

(3rd Cir. 1994) e United States v. Johnson, 26

F.3d 669, 675-678 (7th Cir. 1994).85 Leia Banks v. Dretke, 540 U.S 668 (2004).86  Mooney v. Holohan, 294 U.S. 103 (1935).87 Em Alcorta v. Texas, 335 U.S 28 (1957).

88 United States v. Wallach, 935 F.2d 445 (2nd Cir. 1991).

89 Commonwealth v. Bowie, 243 F.3d 1109 (9th Cir. 2001);  Banks v. Dretke, 540 U.S. 668(2004).

90 United States v. Rudberg, 122 F.3d 1199 (9th Cir. 1997).

91 United States v. Brown, 720 F.2d 1059 (9 th Cir.1983); United States v. Kerr , 981 F.2d 1050 (9th 

Cir. 1992); United States v. Smith, 962 F.2d 923(9th Cir.1992); United States v. Perez , 67 F.3d1371 (9th Cir. 1995), opinião revisada em parte,116 F.3d 840 (9th Cir. 1997).

92 (Para as alegações finais do Promotor WilliamH. Wallace,  State v. Frank James, Homicídio,Gallatin, Condado de Daviess, MissouriSetembro, 1883).

93 Veja William A. Settle, Jr; Jesse James was his Name, 129-144 (1966).

Recebido em 2/4/2007.

ABSTRACTThe author comments on the use

of a criminal as a witness, in the UnitedStates, and refers to several issues relatedto the theme and to the Americancase law about the problems involved.According to him, the adequate questionis not whether criminals should really beused as witnesses for the prosecution,but when and how.

In his understanding, criminalinformants are dangerous, for their

minds almost always lack law-abidingprinciples, besides the fact that they aremotivated by self interests, which maylead to betrayal.

He states that a prosecutor whooverlooks these truths may eventuallybecome an object of investigation;therefore he sets out examples ofconcrete cases related to the matter athand as well as guidelines for helping toeffectively cope with the problem.

KEYWORDS

North American Criminal ProceduralLaw; North American case law; accusation,criminal; witness; defense; prosecution.

* Stephen S. Trott é Juiz Senior da Cortede Apelações do Nono Circuito Federaldos Estados Unidos da América.

** Sérgio Fernando Moro é Juiz Federal

da 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba,especializada em crimes financeiros e delavagem dedinheiro