o trabalho infantil no brasil

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Universidade Federal da Bahia - UFBA Instituto de Psicologia Disciplina: Psicologia do Desenvolvimento I Laís Flores Carneiro Santos Trabalho Infantil no Brasil Docentes: Adriana Balaguer Karina Salvador,

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Diz a introdução da OIT, de acordo com a legislação existente, que "trabalho infantil é aquele exercido por qualquer pessoa abaixo de 16 anos de idade”. A legislação brasileira - de acordo com a Emenda Constitucional n. 20 aprovada em 16 de dezembro de 1998 - proíbe o trabalho a crianças e adolescentes menores de 16 anos, permitindo, no entanto, o trabalho a partir dos 14 anos de idade, desde que na condição de aprendiz. Aos adolescentes de 16 a 18 anos está proibida a realização de trabalhos em atividades insalubres, perigosas ou penosas, trabalho noturno, trabalhos que envolvam cargas pesadas, jornadas longas, e ainda trabalhos em locais ou serviços que lhes prejudiquem o bom desenvolvimento psíquico, moral e social.

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Universidade Federal da Bahia - UFBAInstituto de PsicologiaDisciplina: Psicologia do Desenvolvimento I

Las Flores Carneiro Santos

Trabalho Infantil no Brasil

Docentes: Adriana Balaguer Karina

Salvador,Junho 2011

INTRODUO

Diz a introduo da OIT, de acordo com a legislao existente, que "trabalho infantil aquele exercido por qualquer pessoa abaixo de 16 anos de idade. A legislao brasileira - de acordo com a Emenda Constitucional n. 20 aprovada em 16 de dezembro de 1998 - probe o trabalho a crianas e adolescentes menores de 16 anos, permitindo, no entanto, o trabalho a partir dos 14 anos de idade, desde que na condio de aprendiz. Aos adolescentes de 16 a 18 anos est proibida a realizao de trabalhos em atividades insalubres, perigosas ou penosas, trabalho noturno, trabalhos que envolvam cargas pesadas, jornadas longas, e ainda trabalhos em locais ou servios que lhes prejudiquem o bom desenvolvimento psquico, moral e social.Fragilizadas e indefesas, as crianas transformam-se prematuramente em adultos e enfrentam condies marcadas pela precariedade ocupacional, jornadas prolongadas, ganhos reduzidos ou inexistentes e a negao do direito a uma formao educacional e profissional que possa lhes propiciar melhores oportunidades de insero futura.As polticas pblicas de amparo s crianas trabalhadoras eram centradas na criao de instituies especializadas na "proteo" ou na "recuperao" dos denominados "menores", privilegiando o seu internamento em instituies totais e a sua posterior insero no mundo do trabalho, para transform-las em "indivduos teis sociedade" e em futuros bons cidados. (Carvalho, 2008). Acreditava-se que se estas atitudes no fossem tomadas, estas crianas se tornariam violadores da lei porque viviam em um ambiente propcio corrupo do carter. Leis que garantiam a proteo de crianas trabalhadoras eram comumente questionadas e burladas e, alm disso, sua proteo praticamente no se estendeu ao meio rural, onde at hoje uma grande parcela de mo-de-obra infanto-juvenil permanece ocupada em diversos setores, principalmente como parte integrante da fora de trabalho familiar. Na rea rural, o trabalho de crianas de pouca idade e em condies penosas, no despertou o interesse por parte de mdicos, juristas e higienistas - como ocorreu nas reas urbanas -, e continuou a ser visto como natural e at saudvel, principalmente porque na maioria dos casos ele se desenvolvia e se desenvolve entre os membros da unidade familiar (Dourado; Dabat; Arajo, 2007).Com o tempo, ainda que lentamente, os valores e disposies do Estatuto comearam a ser socialmente assimilados e cobrados. Os antigos "menores" passaram a ser percebidos como crianas cujo lugar na escola, no na produo, desnaturalizando e deslegitimando o seu trabalho.

PERFIL DA CRIANA TRABALHADORA NO BRASILComo veremos, a insero ocupacional precoce obedece a padres que se diferenciam conforme a faixa de idade, o sexo, a residncia rural ou urbana e as regies.Algumas mudanas e iniciativas contriburam para uma reduo expressiva do trabalho precoce no Brasil. Conforme srie histrica produzida pelo IBGE (divulgada pela Folha de So Paulo de 29 mar. 2008), em 1992, o percentual de meninos e meninas entre 5 e 17 anos que trabalhavam chegava a 19,6% no Brasil. Esse nmero decresceu para 12,6% em 2002. O ncleo duro dessa ocupao continuou a ser a pequena produo familiar rural ou urbana, uma vez que 48% das crianas e adolescentes ocupados trabalhavam como no remunerados, 22% como empregados, 6% como trabalhadores domiciliares, 9% na produo para o autoconsumo (agricultura familiar), 7% como empregados domsticos (Ministrio do Trabalho e Emprego, 2005).Os dados mais recentes, disponveis, coletados pela PNAD de 2009, o nvel de ocupao infantil est em declnio. Havia 5,3 milhes de trabalhadores de 5 a 17 anos de idade em 2004, 4,5 milhes em 2008 e 4,3 milhes em 2009. Cerca de 123 mil deles eram crianas de 5 a 9 anos de idade, 785 mil tinham de 10 a 13 anos de idade e 3,3 milhes de 14 a 17 anos de idade. A regio Nordeste apresentava a maior proporo de pessoas de 5 a 17 anos de idade ocupadas (11,7 %) e a Sudeste, a menor (7,6 %). Das pessoas de 5 a 17 anos de idade ocupadas, 34,6% estavam em atividade agrcola e 9,4% produziam para o prprio consumo ou na construo para uso prprio. O rendimento mdio mensal de todos os trabalhos das pessoas de 5 a 17 anos de idade ocupadas aumentou de R$ 262, em 2007, para R$ 269, em 2008 e R$ 278 em 2009. A ocupao precoce persistia relativamente mais elevada no Nordeste e no Sul do pas, assim como em estados onde a agropecuria tem um maior peso econmico, como Maranho, Piau, Cear, Paraba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em nmeros absolutos, porm, destacavam-se o Nordeste (onde a populao entre 5 e 17 anos, que vivia em famlias com renda per capita inferior a meio salrio mnimo, chegava a 61,2% nas reas urbanas, 85,9% nas reas rurais e 69,1% no conjunto da regio) e o Sudeste (Carvalho, 2008).Embora as crianas pequenas tendam a ser poupadas, sua atividade laboral pode comear antes dos 10 anos, principalmente nas reas rurais do Norte, Nordeste e Sul do Brasil. A partir dessa idade, ela se amplia, chegando a 25,4% na faixa dos 10 a 13 anos nas reas rurais do Nordeste, 28,4% do Norte e 30,0% do Sul. Continuando a avanar com o tempo, torna-se ainda bem mais significativa a partir dos 14 anos, quando j se encontravam ocupados 22,1% dos que residiam nas cidades, 46,9% no campo e 26,9% no pas como um todo, com diferenas regionais apresentadas a seguir (Carvalho,2008).A ocupao dos meninos normalmente superior das meninas, o que consistente com a diviso sexual do trabalho, com a maior dedicao das mulheres aos afazeres domsticos. Entre os 16 e 17 anos, porm, a ocupao feminina passa de 103 mil para 636 mil adolescentes no meio rural e de 411 mil para 1,2 milhes no meio urbano, chegando a representar 34,4% do contingente de mulheres com 17 anos que residem nas cidades, contra 31,3% verificados entre os jovens do sexo masculino.At os 9 anos, as crianas esto ocupadas fundamentalmente em atividades agrcolas, como auxiliares no remunerados de membros da unidade domiciliar ou trabalhadores para o prprio consumo, notadamente no Nordeste e no Sul do Brasil, onde a produo agropecuria e as pequenas propriedades de carter familiar tm uma maior expresso. (Carvalho, 2008).Crianas e adolescentes ocupados encontram no trabalho um significativo obstculo ao ingresso, permanncia e ao sucesso no sistema educacional. Pelo menos nas reas urbanas, a maioria absoluta dessas crianas e adolescentes frequenta a escola. Essa frequncia decai nas reas rurais porque isso se deve tanto s exigncias da ocupao quanto carncia de vagas e a outras caractersticas do referido sistema, uma vez que as matrculas se reduzem tanto para os ocupados como para o conjunto de menores de 18 anos que residem nessas reas.Estes dados costumam ser interpretados em funo do impacto do trabalho sobre a educao, mas bastante provvel que haja tambm um efeito inverso, sobretudo para os grupos de menor idade, ou seja: que seja a ausncia escola que leve ao trabalho, e no o contrrio. De fato, apesar de o acesso escola estar praticamente generalizado no Brasil de hoje, a situao da oferta educacional ainda precria nas regies rurais, sobretudo a partir da quinta srie do ensino fundamental. Mesmo quando existe escola para adolescentes de 14 a 17 anos, bastante freqente, nas reas rurais e nas periferias urbanas, que estas escolas funcionem de forma precria, com todos os alunos reunidos em uma nica sala de aula,com professores desmotivados e despreparados, transmitindo conhecimentos que fazem pouco ou nenhum sentido para os estudantes. O fato que um grande nmero de adolescentes abandona a escola ao redor dos 14 anos, e a partir da o trabalho passa a ser uma alternativa de ocupao razovel, que traz benefcios monet-rios imediatos e evita a ociosidade. medida que isto ocorre, possvel argumentar que no faz sentido coibir o trabalho de crianas e adolescentes, sem assegurar que eles tenham condies efetivas de freqentar uma escola que o motive e o interesse.Por outra parte, possvel argumentar tambm que se primeiro esperarmos que surjam as condi-es efetivas de freqncia a uma boa escola, para depois coibirmos o trabalho infantil, corremos o duplo risco de que as condies no se dem nunca, e que, mesmo que as escolas deixem a desejar em termos de qualidade do ensino e de infra-estrutura, importante assegurar o acesso escola de maneira a provocar sua melhora por meio da presso da comunidade escolar. Por outro lado, tambm preciso levar em conta que a experincia histrica, a cultura e o autoritarismo social brasileiro condensaram uma malha de mltiplos preconceitos, estigmas e discriminaes que atingem o trabalhador desqualificado, de ocupao incerta e precria, assim como os desempregados, atravs de uma associao determinista e reducionista entre pobreza e delinqncia, considerando aqueles por ela afetados como agentes da desordem, da ameaa e da violncia, e reclamando sobre eles a ao repressiva e punitiva do Estado. Nessas circunstncias, o valor do trabalho ultrapassa a lgica do clculo econmico e se articula tambm com o mundo da ordem e com a moral do provedor, chefe de famlia, na medida em que a honra, entre os pobres, no estando associada posio social, vincula-se virtude moral, sendo o trabalho um dos instrumentos fundamentais para afirmao pessoal e social (Sarti, 1996, p. 68).A partir desses valores e representaes, as famlias procuram zelar pela integridade moral dos filhos ensinando-os a respeitar os outros, a no roubar, a valorizar o trabalho e a vida familiar, preparando-os desde cedo para ocupar o seu lugar em uma sociedade bastante estratificada, onde lhes so reservadas as funes mais subalternas (Fausto; Cervini, 1991; Zaluar, 1994). Mas no fcil transmitir tais disposies, notadamente quando pais e mes se afastam frequentemente de casa para trabalhar, as redes tradicionais de controle e socializao das crianas se desmantelam e a carncia ou falncia dos servios pblicos no prov a sua substituio. Alm disso, a partir da observao de vida dos pais e da sua prpria experincia, os adolescentes podem questionar esse projeto de vida estruturado em torno da famlia e do trabalho, na medida em que esse ltimo lhes aparece como uma forma de servido. Por isso, as famlias temem a seduo das ruas, do dinheiro fcil, mas perigoso, e do envolvimento com a criminalidade, que tem levado priso e morte milhares de jovens no Brasil, mas que, muitas vezes, lhes aparecem como a nica via para uma vida melhor, em uma fase em que eles testam a construo da sua autonomia frente aos pais. Preocupadas em esconjurar esses riscos, as famlias tendem a encarar a ocupao precoce como uma forma de organizar o tempo dos filhos e coloc-los no "bom caminho", mantendo-os longe das ruas, das ms companhias, da droga e da delinqncia e desenvolvendo a sua disciplina, responsabilidade e tica do trabalho. Expressando esses valores e a diviso do trabalho, que organiza a interdependncia entre os membros das famlias pobres, onde todos, desde cedo, devem colaborar para a subsistncia do grupo domstico, a ocupao precoce acaba sendo considerada como algo virtuoso (Carvalho, 2008). Ainda,para os adolescentes, alm de ser parte de suas obrigaes como filho, o trabalho tambm visto como afirmao de sua individualidade, abrindo a possibilidade de conquistar um espao de liberdade e ter acesso a padres de consumo e comportamentos que definem a prpria identidade de jovem na nossa sociedade, como tnis, roupa "de marca" e som. Alm disso, enquanto completar a escolaridade lhes parece algo distante e mais difcil (em decorrncia da defasagem idade-srie e do atraso acumulado), a insero ocupacional constitui uma perspectiva mais concreta e imediata. (Carvalho, 2008)O tipo de famlia, por si mesmo, no tem impacto significativo do trabalho dos filhos viver com os dois pais ou s com a me no parece alterar o trabalho infantil de forma mais significativa. As atividades econmicas do pai e da me, por outro lado, tm um efeito bem definido: uma variao acima de 10 pontos percentuais nos dois casos, mas no sentido inverso ao que se poderia esperar. Quando o pai, e sobretudo a me, trabalham, existe maior tendncia para que os filhos tambm trabalhem. Isto pode ser interpretado como significando que o trabalho infantil antes uma atividade comple-mentar ao trabalho dos pais do que uma compensao pela ausncia de trabalho destes (Carvalho, 2008).As diferenas mais importantes ocorrem em funo da natureza da ocupao dos pais, principalmente da ocupao das mes. Quando as mes se dedicam ao trabalho agrcola, 66% dos filhos entre 15 e 17 anos tambm o fazem. O segundo grande grupo o das ocupaes de produo de bens e servios e reparao e manuteno, 48,5%; e tambm o de vendedores e prestadores de servio do comrcio, acima de 40%. na regio Sul que a atividade agrcola dos pais determina mais fortemente a atividade dos filhos, apesar de que a renda familiar mdia dos pais do setor agrcola o dobro da regio Sul em comparao com a regio do Nordeste (714,34 vs 246,83 reais). Este dado confirma a idia de que o trabalho de crianas e adolescentes nas reas agrcolas do Sul est associado a uma tradio especfica de trabalho familiar, com razes provveis na cultura de imigrantes de origem italiana, alem e japonesa, entre outros, e no a necessidades econmicas prementes ou condies de explorao extremas (Carvalho, 2008).A renda familiar afeta o trabalho de crianas entre 10 e 14 anos de idade; entre os mais velhos, o trabalho parece no depender da renda familiar, j que muitas das crianas no so remuneradas, ou so muito mal pagas, exceto para o segmento de renda mais alta, que ainda assim tem cerca de 30% dos jovens trabalhando. A relao entre a educao da me e trabalho infantil bastante forte, e no sentido esperado, de reduzir o trabalho na medida em que a educao da me aumenta. Finalmente, em relao a cor ou etnia, os grupos majoritrios de brancos, pretos e pardos mostram nveis semelhantes de trabalho infantil. O trabalho de crianas e adolescentes se d nos grupos de idade acima dos 14 anos, e muda de caracterstica conforme a idade. As crianas e adolescentes de 10 a 14 anos trabalham em atividades agrcolas na rea rural. Na medida em que a idade aumenta, o trabalho agrcola diminui em termos relativos, e as atividades de servios, predominantemente urbanas, passam a predominar. (Carvalho, 2008).Quase todo o trabalho de crianas e adolescentes de tipo informal. Na rea rural, 77% dos que trabalham, produzem ou trabalham em atividades de construo para o prprio consumo. Nas reas metropolitanas, ao contrrio, o trabalho para prprio consumo ou uso prximo dos 15%. Existem importantes diferenas por gnero. Cerca de 30% das mulheres trabalham em servios domsticos, ou seja, como empregadas domsticas, quase sempre sem carteira de trabalho.A grande maioria dos meninos que trabalha no meio rural no recebe pagamento pelo trabalho (78% no remunerado e 11% para consumo prprio). As principais ocupaes desempenhadas pelos meninos na rea urbana nordestina so ambulante, ajudante de pedreiro, cozinheiro e garom, mecnico e acondicionador. Nas reas metropolitanas predominam as atividades de emprego domstico, trabalho em restaurantes, na construo civil, no comrcio ambulante e em oficinas de assistncia tcnica a veculos. Nas reas rurais diminui a importncia do emprego domstico, e se sobressaem as atividades agrcolas tradicionais. (Carvalho, 2008).A relao entre idade e rendimento extremamente forte. Em 2002, 88% das crianas de 10 anos que trabalham no recebiam nada e a mdia dos ganhos de quem recebia era abaixo de 50 reais. Aos 17 anos, a proporo de pessoas trabalhando sem rendimento caa para 25%, e a renda chegava a 175 reais.A percentagem dos que trabalham em situao que poderia ser considerada regular no chega a 8%, e menos de 7% declaram que esto em alguma atividade formal de formao profissional, embora 17% digam participar de algum programa social voltado para a educao. O auxlio mais recebido o auxlio alimentao, que no chega a 18% do total. No h muita insatisfao declarada com o trabalho, e a grande maioria diz que trabalha porque quer e no porque os pais ou responsveis querem; mas a proporo dos que declaram que o trabalho implica risco de sade de mais de 50%, e s 18% declaram fazer uso de equipamento de proteo. (Carvalho, 2008).Alves-Mazzotti (1998), realizou uma pesquisa sobre a representao social do trabalho infanto-juvenil, para os meninos trabalhadores, seus pais, professores e empregadores. Neste sentido, a autora afirma que os meninos que vem suas famlias como solidrias tm uma representao positiva do trabalho, considerando-o como uma necessidade ligada ao prprio sustento e ajuda da famlia. Isto se reflete favoravelmente em sua auto-imagem, fazendo que se sintam competentes e teis e capazes de enfrentar o futuro. Outro grupo de trabalhadores que v suas famlias como desunidas e exploradores, tem sobre o trabalho uma representao negativa, encarando-o como algo cansativo e penoso. Para eles, o trabalho fica associado a frustraes e humilhaes, o que contribui para uma viso negativa de si mesmos e do futuro. As crianas entrevistadas foram trabalhadoras que cursam escolas pblicas e moram na periferia do Rio de Janeiro, Niteri e Juiz de Fora. Elas alegam que o motivo mais forte para procurarem emprego foi a possibilidade de consumo (certa independncia financeira) e ocupao do tempo ocioso. Declararam gostar do trabalho e alegam que ele tornou sua vida melhor. Com relao escola, falam que sua contribuio limitada, se restringindo ao ensino da leitura, escrita e clculos simples. Estas crianas percebem a escola como muito distanciada de suas prprias vidas, indiferente ao seu cotidiano. Elas apontam que s esto ali devido ao diploma, que valorizado no mercado de trabalho. Em uma pesquisa feita pelo PNAD em 2000, 81% das crianas da rea urbana que responderam ao questionrio declararam-se satisfeitas com seu trabalho, e na rea rural essa porcentagem foi de 79%. Entre os motivos da insatisfao estavam os itens: trabalho cansativo; no ter tempo para estudar; salrio baixo; mau relacionamento com o empregador; no gostar de trabalhar; pagamento atrasado. Quanto s famlias, muitas relatam que tambm comearam a trabalhar muito cedo e tem certo orgulho disso; se dizem satisfeitos pelos filhos estarem trabalhando. O trabalho infantil, nas palavras da autora, visto como uma necessidade decorrente de sua situao econmica e, principalmente, como uma forma de proteo contra os perigos da rua. Para eles, o trabalho de seus filhos visto como uma forma de as crianas poderem usufruir de coisas que desejam, mas que eles no podem dar. Tambm, vem mudanas positivas em seus filhos decorrentes do trabalho, como aumento da responsabilidade, da disciplina, da motivao, da alegria, da confiana. Alm disso, andam mais arrumados, sabem se dirigir s pessoas, cuidar do dinheiro, no ser explorado etc. Acreditam que o trabalho no interfere no rendimento escolar, pois o tempo ocioso que teriam estaria voltado para a rua e no para os estudosPor todas essas razes, pode-se concluir que o trabalho precoce e em condies adversas no poder ser erradicado enquanto permanecerem intocadas as suas maiores determinaes, como a concentrao da propriedade da terra e a subordinao econmica, que afetam os pequenos produtores, a carncia de polticas sociais que possam apoiar melhor a reproduo social dos trabalhadores e, principalmente, as condies de mercado de trabalho que permitem uma perversa constituio das relaes de trabalho e uma extrema explorao da mo-de-obra, tanto dos adultos como das crianas.

TRABALHO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL

A presena de crianas e adolescentes em ambientes de trabalho contribui para que eles sejam expostos a variadas situaes de risco, violncia e explorao, entre outros aspectos, pela sua insero precoce no mundo do trabalho.Segundo Campos, Dimenstein e Francischini (2001) o trabalho infanto-juvenil seria uma dupla violao: da condio de homicidade, cujas atividades partilham a vala comum das mercadorias, sujeitas s regras da oferta e da procura imposta pelo mercado como qualquer outra mercadoria; e das condies e do estado de desenvolvimento que faz dos adolescentes e crianas seres especiais, em face do mundo dos adultos.Seja pela necessidade de contribuir para o oramento familiar ou, em alguns casos, suprir a prpria subsistncia, meninos e meninas so obrigados a reprimir energias, sentimentos e comportamentos que caracterizam a infncia e adolescncia nas sociedades modernas (ries, 1978, citao de Carvalho, 2008), distanciando-se de oportunidades de melhoria de vida. Somente com estudos mais especficos voltados para o desenvolvimento infantil que houve uma preocupao maior com a proibio do trabalho infantil e a legalizao do trabalho juvenil em condies especficas. Entendendo o desenvolvimento infantil saudvel como resultado de vrias experincias que a criana naturalmente exposta pelo convvio com outras crianas e adultos e nos diversos ambientes prprios idade infantil; assim como devendo ser enxergado nos seus diversos mbitos: fsico, psquico, moral e social; o trabalho infantil acarreta muitos dficits para o desenvolvimento saudvel do infante, que aborta uma etapa fundamental para que ele se d de forma saudvel. No somente pela fraqueza do seu organismo fsico, que ainda est em desenvolvimento e no possui a fora necessria para realizar determinados movimentos repetitivos ou carregar certas quantidades de peso, mas tambm porque o tempo dispensado s atividades relacionadas ao trabalho impede que a criana disponha de tempo livre para participar de outras atividades que seriam fundamentais para o seu desenvolvimento, entre elas: interao livre com outros pares, brincadeiras, freqncia regular escola etc. que justifica-se a inadequao de atividades dessa natureza nesse perodo de desenvolvimento.Em geral, as conseqncias negativas desses esforos sobre o organismos so mais acentuadas entre os adolescentes, entre elas: as chamadas doenas relacionadas ao trabalho infeces respiratrias, hipertenso arterial, vcios de refrao, atopias (dermatites, rinites etc.) ; os acidentes laceraes, contuses, fraturas, amputaes, queimaduras, choques, eletrocuo ; e os traumas cumulativos Leses por Esforos Repetitivos (L.E.R.) e inclui os problemas de coluna, tendinites, bursites, tenosinovites, Sndrome do Tnel Carpeano, epicondilites e a Sndrome tensional do pescoo . Segundo a Organizao Internacional do Trabalho, as crianas trabalhadoras fazem parte do grupo de crianas em circunstncias especialmente difceis. Elas possuem certas qualidades e habilidades que os adultos precisam ou buscam, como a rapidez e a agilidade, e o destemor frente ao perigo, ao mesmo tempo em que esto em desvantagem nas relaes de fora no trabalho, sendo sujeitas a inadequadas condies de trabalho e a regras disciplinares prprias desse sistema. (Asmus, Barker, Ruzany, Meirelles, 1996, p. 205)Os agentes psicolgicos so representados pelo pouco tempo que a criana dispe para seu lazer, vida em famlia e educao, em funo do trabalho, diminuindo tambm a oportunidade de estabelecer relaes de convivncia com as demais pessoas da comunidade e com seus pares. Elas tambm experimentam um papel conflitante dentro da famlia, no local de trabalho e na comunidade, pois pela sua condio de trabalhadores, as crianas e adolescentes so forados a agir como adultos, mas, contudo, no escapam tambm da sua natural condio infantil. Pela submisso a cargas horrias de trabalho cansativas e de alta grande responsabilidade at mesmo para adultos, h um comprometimento da organizao psicolgica das crianas, de modo que o adulto que sero no ter, muito provavelmente, o equilbrio emocional suficiente para fazer frente s novas demandas que lhe sero postas. (Campos e Francischini, 2003, p. 123). Provavelmente isso se d tambm pela falta de experincias em outras reas e com seus pares, fundamental para o desenvolvimento psicolgico saudvel das crianas e adolescentes. Esses fatores so uma fonte de estresse emocional que terminam afetando o desenvolvimento mental e fsico em um estgio crtico da vida.Pelas condies adversas do exerccio do trabalho e sua extrema explorao, o trabalho infantil acarreta conseqncias sobre a educao dos seus pequenos executores. Adolescentes e crianas ocupados encontram no trabalho um significativo obstculo ao ingresso, permanncia e ao sucesso no sistema educacional. (Carvalho, 2008).Pertencendo a famlias pobres e com baixo capital cultural e tendo acesso a um ensino pblico de m qualidade, que no atende s suas necessidades e expectativas, os pequenos trabalhadores, muitas vezes, chegam escola j cansados, ou no conseguem freqent-la regularmente em decorrncia de suas responsabilidades laborais (como ocorre, por exemplo, nas fases de colheita), o que prejudica a aprendizagem e contribui para aumentar as reprovaes. Com o tempo e o seu acmulo ocorre uma defasagem escolar significativa, que se soma ao cansao, ao desestmulo e a um maior envolvimento com o mercado do trabalho e com a ampliao das jornadas, levando muitos a abandonarem o sistema educacional precocemente, com baixos nveis de escolaridade. (Carvalho, 2008.)A falta de escolaridade alm de impedir, ou ao menos dificultar, uma mudana na sua atividade ocupacional, impede tambm o desenvolvimento de importantes aspectos psicomotores e cognitivos na criana em formao.Alm da debilidade da condio fsica da criana, h um estado de fadiga e falta de disposio (e tempo) para engajamento em outras atividades, dficit de ateno e de concentrao e restries s possibilidades de relaes sociais (Campos e Francischini, 2003, p. 123). Em consequencia disso, as crianas ficam privadas de brin-car, portanto, de uma das atividades que mais contribuem para o desenvolvimento saudvel de aspectos fsicos, cognitivos e sociais. Segundo Vygotsky (1984), no exerccio de atividades ldicas a criana faz o que mais gosta de fazer, porque o brinquedo est unido ao prazer (Campos e Francischini, 2003, p. 123). Ainda segundo Vygotsky, citado por esse autores,o brincar teria dois aspectos importantes para o desenvolvimento infantil: favorece a maturao de necessidades da criana, estando diretamente ligado ao desenvolvimento e possibilita criana em idade pr-escolar a efetivao de desejos no realizveis no mundo real. O trabalho infantil, portanto, acarretaria mais esse prejuzo na criana, por distanci-lo das atividades ldicas naturais sua fase de vida.No entanto, a OIT no probe toda espcie de trabalho infantil, no considerando o trabalho no mbito familiar, em geral, como indesejvel. O que os instrumentos da OIT probem impor s crianas e adolescentes trabalhos que demandem recursos fsicos e mentais acima de sua capacidade ou que interfiram em seu desenvolvimento educacional.Delegar pequenas tarefas dentro do lar, dentro da capacidade da criana, ajudaria inclusive a desenvolver um senso de cooperao e responsabilidade na criana. Porm, como as atividades domsticas encontram-se protegidas da fiscalizao do Ministrio do Trabalho, possibilitam que os pais imponham s crianas jornadas de trabalho proibidas at mesmo para adultos, em condies de trabalho muito prejudiciais. Assim: Com o entendimento que a infncia e a adolescncia devem representar um perodo ldico, preservado de maiores responsabilidades e voltado para o desenvolvimento e a preparao para a idade adulta, o Estatuto [ECA] proibiu qualquer trabalho a menores de 14 anos e procurou assegurar o direito profissionalizao e proteger a ocupao de aprendizes e demais adolescentes. Para isso, definiu a condio de aprendiz como uma situao de formao tcnico-profissional conduzida de acordo com as diretrizes e bases da legislao educacional em vigor e exigiu que essa ocupao seja sempre compatvel com a freqncia escolar e lhes oferea certas garantias, vedando o seu exerccio em horrios noturnos, condies insalubres e penosas ou locais que prejudiquem o desenvolvimento fsico, psquico, moral e social dos seus executores.Preservando, desta forma, os direitos da criana e do adolescente de se desenvolver de forma saudvel e plena, exercendo atividades ocupacionais dentro dos seus limites e possibilidades.

LEGISLAO E TRABALHO INFANTILDurante a Revoluo Industrial a mo-de-obra da mulher e da criana conhecida como meia-fora - surgiu como alternativa para aproveitar ao mximo a capacidade de produo das mquinas. As crianas eram submetidas a 19 horas de trabalho, as rfs dormiam na prpria fbrica A partir dos movimentos operrios franceses, estabeleceu-se a carga horria dos menores para no mximo 12 horas e a proibio do trabalho noturno. Em 1870, publicou-se o Ato da Educao Elementar, no qual as crianas eram obrigadas a freqentar as escolas. Essa exigncia erradicou o trabalho infantil na Inglaterra. No Brasil esse processo foi mais lento. Na constituio de 1824, esse assunto no mencionado. Na de 1891 h um decreto que definiu que menores do sexo feminino com idade entre 12 e 15 anos teriam uma jornada diria de 7 horas e fixou uma jornada de 9 para meninos de 14 e 15 anos de idade. Com a aprovao do Cdigo de Menores em 1927, primeiro Cdigo de Menores da Amrica Latina, criou-se a Doutrina do Direito do Menor, orientando ento a organizao da magistratura brasileira com a criao do Juizado Privativo de Menores. Ele trouxe leis para regularizar os cuidados que as famlias davam s suas crianas e adolescentes e vedava o trabalho infantil at os 12 anos de idade e proibia o trabalho noturno aos menores de 18 anos. Em 1934, a nova Constituio proibiu o trabalho infantil para os menores de 14 anos, salvo permisso judicial.Na dcada de 40, a Consolidao das Leis do Trabalho tratou da matria de forma abrangente e trouxe a previso que os trabalhadores entre 14 e 18 anos deveriam receber metade do salrio mnimo. J em 1967, a Constituio reduziu a idade mnima para os 12 anos, j que o Estado s fornecia a escola at aos 11 anos. O Cdigo de Menores de 1979 estava filiado situao irregular do trabalho infantil e possibilitou a criao de programas como o do Bom Menino, dispondo sobre a admisso de menores entre 12 e 18 anos que freqentem a escola, como assistidos, para trabalhos em jornada de quatro horas dirias sem qualquer vinculao com a previdncia social. Um Decreto-lei obrigava todas as empresas com mais de cinco empregados a admitir menores assistidos, em efetivo de 5% de seus empregados, norma tpica de Direito do Trabalho. A Constituio Federal de l988 trouxe vrios dispositivos que enunciam a obrigatoriedade de proteger os direitos da criana e do adolescente, destacando-se o artigo 227, que define: " dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar criana e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignida-de, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso". O mesmo disposi-tivo determinou a idade mnima de l4 anos para a admisso ao trabalho que probe "o trabalho notur-no, perigoso ou insalubre aos menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de quatorze anos, salvo na condio de aprendiz". Entre l2 e 14 anos, portanto, o trabalho s aceitvel dentro de um processo pr-profissionalizante, excludos todos os trabalhos que se realizam nas oficinas industriais. O Estatuto da Criana e do Adolescente, promulgado pela Lei n 8.069, de 13 de julho de 1990, regula as conquistas consubstanciadas na Constituio Federal em favor da infncia e da juventude. O Estatuto introduz inovaes importantes no tratamento dessa questo, sintetizando mudanas de contedo, de mtodo e de gesto. Ele tambm regula o direito profissionalizao e proteo ao trabalho. O captulo V, reiterando dispositivo previsto na Constituio Federal, probe qualquer trabalho a menores de 14 anos de idade, "salvo na condio de aprendiz." O estmulo aprendizagem, em termos de formao tcnico-profissional, subordina-se garantia de acesso e freqncia obrigatria ao ensino regular por parte do adolescente. Ademais, o Congresso Nacional est avaliando a regulamentao do instituto do trabalho educativo previsto no ECA e destinado ao adolescente entre 14 e 18 anos, de modo que se conciliem as atividades educativas com a insero desse grupo no mercado de trabalho.Em relao ao trabalho infantil artstico a discusso bem delicada. conveniente lembrar que a criana e o adolescente, embora possuam talento e aptido para as artes, no devem ser transformadas em fonte de renda da famlia. Sua prioridade estudar e brincar, realizar atividades que se compatibilizem com seu estado de formao. Pode-se permitir o trabalho artstico a criana, visto que se trata de um trabalho com caractersticas singulares, e que normalmente no envolve situaes penosas ou de risco. Contudo, considerando a caracterstica de pessoa em desenvolvimento da criana e do adolescente, mesmo o trabalho artstico deve ocorrer com fiel observncia ao Princpio da Proteo Integral

PLANOS DE COMBATE OU ERRADICAOUm marco importante para esta luta foi a instituio da Comisso Nacional de Erradicao do Trabalho Infantil (CONAETI) criada em 2002 para atender a exigncia da OIT num acordo firmado nas Convenes Internacionais do Trabalho 138 e 182. O objetivo principal da CONAETI foi a elaborao do Plano Nacional de Erradicao do Trabalho Infantil. Este Plano coordena diversas intervenes e introduz novas, sempre direcionadas a assegurar a eliminao do trabalho infantil. Existem vrios rgos, comisses e projetos de natureza pblica e privada que lutam contra o trabalho infantil. Estes atuam no sentido no apenas de combater a explorao infantil, mas na reverso de algumas conseqncias, a exemplo da evaso escolar. oportunizado a crianas e adolescentes direitos bsicos, cidadania e possibilidades de incluso. Aqui destacamos alguns destes programas. Em 1992, o Brasil passou a fazer parte do Programa Internacional para a Erradicao do Trabalho Infantil - IPEC, da Organizao Internacional do Trabalho. Em 1994, foi criado e instalado o Frum Nacional de Preveno e Erradicao do Trabalho Infantil, sob a coordenao do Ministrio do Trabalho. No segundo semestre de 1996, o Frum Nacional lanou um Programa de Aes Integradas, que traou o caminho para a implantao do Programa de Erradicao e Preveno do Trabalho Infantil PETI - no pas, orientado para o combate s chamadas "piores formas" desse trabalho, ou seja, quelas consideradas perigosas, penosas, insalubres ou degradantes.O Programa priorizou o atendimento s famlias com renda per capita de at meio salrio mnimo, ou seja, aquelas que viviam em situao de extrema pobreza. O PETI passou a oferecer a essas famlias uma compensao financeira para a retirada das crianas do trabalho, condicionada sua freqncia regular escola, assim como "Jornada Ampliada" no turno complementar. Alm do almoo e da merenda reforados, a Jornada deveria propiciar reforo escolar, atividades culturais, esportivas e de lazer s crianas atendidas, contribuindo para a melhoria do seu desempenho escolar, a ampliao dos seus horizontes e o desenvolvimento de suas potencialidades.Em 2000, o Programa sofreu algumas redefinies e experimentou uma significativa expanso, passando de cerca de 140.000 para 810.769 beneficirios em 2002, estendendo-se s reas urbanas e metropolitanas e contemplando um maior elenco de atividades que utilizam o trabalho precoce em condies adversas. O PETI propiciou a retirada imediata de milhares de crianas e adolescentes de ocupaes penosas e degradantes, sua permanncia na escola e uma melhoria nas suas condies de subsistncia (ainda que reduzida e temporria), resgatando sua dignidade e sua infncia.O Programa articula um conjunto de aes visando retirar crianas e adolescentes com idade inferior a 16 anos da prtica do trabalho precoce, exceto na condio de aprendiz a partir de 14 anos. Trata-se de transferncia de renda s famlias com situao de trabalho infantil e oferta do Servio de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos s crianas e adolescentes retirados do trabalho. Tais servios tem por objetivo ampliar trocas culturais e de vivncia, desenvolver o sentimento de pertena e de identidade, fortalecer vnculos familiares e incentivar a socializao e a convivncia comunitria. Possui carter preventivo e proativo, pautado na defesa e afirmao dos direitos e no desenvolvimento de capacidades e potencialidades, com vista ao alcance de alternativas emancipatrias para o enfrentamento da vulnerabilidade social. Atravs deste programa crianas e adolescentes podem ter acesso a escola formal, sade, alimentao, esporte, lazer, cultura, profissionalizao.O Projovem Adolescente, uma das quatro modalidades do Programa Nacional de Incluso de Jovens (Projovem), atende exclusivamente a faixa etria de 15 a 17 anos. Este projeto visa complementar a proteo social bsica famlia, criando mecanismos para garantir a convivncia familiar e comunitria e criar condies para a insero, reinsero e permanncia do jovem no sistema educacional. Os jovens so organizados em grupos de 15 a 30 integrantes, denominados coletivos, sob a responsabilidade de um orientador social. O servio ofertado no Centro de Referncia de Assistncia Social (CRAS). O tcnico de referncia do CRAS responsvel por assessorar o orientador social e por realizar o acompanhamento das famlias dos jovens do Projovem Adolescente por meio do Programa de Ateno Integral Famlia (PAIF). Os encontros so espaos de pesquisa, estudo, reflexo, debates, ao e experimentao, a partir de temas transversais como direitos humanos e socioassistenciais, trabalho, cultura, meio ambiente, sade, esporte e lazer. Em se tratando de iniciativa privada, podemos citar o Projeto Cabra Escola, promovido pela Pfizer em parceria com a organizao da sociedade civil Movimento de Organizao Comunitria (MOC). A proposta aumentar a renda das famlias carentes de seis municpios da regio do semi-rido da Bahia atravs da caprinocultura, combater a desnutrio e o trabalho infantil, alm de promover a reinsero das crianas na escola. No projeto, cada famlia de pequenos agricultores que tira seus filhos das lavouras e os traz s escolas recebe um ncleo de caprinos (trs cabras e um bode), alm de toda a infra-estrutura necessria para comear a criao e incrementar a renda da famlia. Os beneficiados tambm so orientados atravs de cursos de capacitao sobre a alimentao escolha dos caprinos, at a comercializao do leite e dos filhotes. Assim, alm de aumentar a renda familiar, o leite das cabras contribui na nutrio das crianas, que podem se dedicar aos estudos e ter melhores perspectivas que as de seus pais.

O TRABALHO DO PSICLOGOO trabalho infantil e as demais mazelas que assolam o povo brasileiro e a populao mundial como um todo, nos levam a refletir quanto aos motivos de chegarmos a tal situao, a razo que nos mantm nela e a crtica ao sistema vigente, o acusado por tais problemticas. No entanto, diante da gravidade dos problemas e suas profundas razes, o sentimento de impotncia pode nos levar inrcia e ao conformismo. O que antes era insuportvel, inadmissvel, com o tempo passa a ser normal, imperceptvel e, principalmente, imutvel.A prtica do psiclogo passa pela busca dos direitos da liberdade, da igualdade, da soli-dariedade. Nossa posio requer de ns compromisso e esta tambm uma expectativa da sociedade. A conquista de direitos, de uma posio cidad para as crianas, deveu-se a uma dedicao de inmeros atores que se debruaram sobre a questo e defenderam a infncia trazendo olhares para esta temtica atravs da produo documental, articulao poltica, formao de opinio, formulao de estratgias e realizao de aes concretas. Neste contexto de lutas e conquistas, a produo acadmica foi de fundamental importncia, visto que o ambiente acadmico um dos mais propcios reflexo, discusso e formao de pensamento. Entretanto, a elaborao acadmica possui uma defasagem temporal e encontra obstculos poltico-institucionais que dificulta o processo. Necessita-se de diagnsticos mais sintonizados com a realidade para que o alcance das aes para preveno e combate ao trabalho infantil potencializados. A experincia mostra que preciso redesenhar os processos de investigao buscando apreen-der aspectos mais sutis em cada uma das numerosas realidades locais/regionais, com o propsito de absorver e compreender aspectos especficos, muitas vezes exclusivo, com determinantes pouco visveis, mas necessrios de serem apreendidos, sob pena de, uma vez deixados de fora ou no compreendidos, tornarem-se obstculos importantes nas aes de combate ao trabalho precoce. Prope-se a incorporao de reas de conhecimento ainda no envolvidas ou, envolvidas de forma incipiente na pesquisa sobre trabalho precoce, com interveno de especialistas em cada um dos campos, abrindo frentes de investigao inovadoras para compreenso no apenas dos determinantes, mas tambm dos desfechos produzidos pela insero precoce no trabalho. Existe carncia de referncias mais atualizadas sobre o significado da infncia e da adolescn-cia, produzindo aes ainda impregnadas ou orientadas, antes de tudo, de um sentido disciplinador, com forte acento autoritrio e moralizante. Gestores pblicos e tcnicos de programas e polticas carregam muitos preconceitos e com eles atuam em sua prtica pedaggica. Acolhimento, proteo e compreenso so os marcos desejveis da ao institucional nas reas de educao, assistncia social e justia. No entanto,h muito conhecimento a produzir para adequar medidas que sejam libertadoras, promotoras de cidadania e propulsoras de autonomia social aos milhares de micro-espaos do pas. Espera-se a substituio das estratgias aniquiladoras da cidadania por instrumentos de construo de autonomia social o que significa politizar o tema do trabalho infantil, impregnando a reflexo e as aes para seu combate, do sentido conflituoso que ele possui na raiz: evit-lo e combater as formas existentes exige mobilizao social intensa em que os atingidos necessitam compreender os motivos das mudanas necessrias, evitando novas formas de manipulao e construo de novas subalternidades. Tratando-se especificamente da psicologia, h a necessidade de pesquisas sobre o desenvolvi-mento fsico-mental e emocional das crianas, com foco sobre aspectos do desenvolvimento cogniti-vo, desenvolvimento da linguagem, aprendizado escolar, entre outros recortes; estudos scio-antropo-lgicos ou psicossociais com o objetivo de captar/apreender aspectos referentes esfera dos diversos nveis de interao familiar, grupal e societria mais ampla e sociabilidade, revelando caractersticas de suas vivncias, desejos, interesses, sonhos e expectativas so tambm desejveis.As subjetividades apreendidas como representaes sociais de grupos e comunidades podem tambm ser articuladas s formas de ocupao do espao trabalhadas pelos gegrafos, aos estudos de movimentos de popula-o, sinalizando para os modelos de ocupao da terra e os conflitos entre foras locais e regionais,de modo a evidenciar as linhas de fora que configuraram os desenhos societrios atuais e os principais fatores de subjugao em jogo. Alm disso, estudos dos grupos familiares e comunitrios com laos mediados pela prtica do trabalho infantil merecem estudos qualitativos que apreendam o conjunto de razes de natureza local que chancelam a tomada de deciso de responsveis pela entrada de crianas no trabalho. Muitas so as implicaes do psiclogo no mbito do trabalho infantil. Alm da pesquisa, devemos nos engajar na criao de projetos de ao focados na temtica, a comear da universidade - no ensino, na pesquisa e na extenso; pode-se participar de Organizaes No-governamentais, trabalhos voluntrios e em grandes projetos nacionais visando a erradicao do trabalho precoce e a promoo da cidadania; podemos migrar dos redutos prprios da cincia psicolgica ganhando maior notoriedade social nas discusses nacionais e na imprensa de massa e influenciar a prpria disciplina para que esta prepare um profissional comprometido com os grandes desafios sociais rompendo com os limites em busca de atuaes emergentes, inovadoras e relevantes no cenrio scio-poltico.