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MARILENA MENOLLI TRABALHO INFANTIL NO BRASIL ATRAVÉS DE IMAGENS (SÉCULOS XX E XXI) LONDRINA 2009

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MARILENA MENOLLI

TRABALHO INFANTIL NO BRASIL ATRAVÉS DE IMAGENS

(SÉCULOS XX E XXI)

LONDRINA 2009

2

O TRABALHO INFANTIL NO BRASIL ATRAVÉS DE IMAGENS

(SÉCULOS XX E XXI) 1

Marilena Menolli 2

Prof. Dr. Alberto Gawryszewski 3

Resumo: Este artigo demonstra como a questão social Trabalho Infantil, vista nos

livros didáticos no conteúdo da Revolução Industrial no Século XVIII e ainda atual no

Brasil, pôde ser apresentada a alunos da 7ª Série do Ensino Fundamental com uso

de imagens fotográficas, recurso usado para o estudo e o ensino da História

propostos pela corrente historiográfica Nova História Cultural. A Produção Didática –

Caderno Pedagógico – propõe análises de fotografias do tema na história de

Londrina-PR. O conhecimento de fontes históricas e atividades pertinentes à

compreensão da imagem e às leis trabalhistas tem o propósito de refletir as ações

contra o trabalho de crianças e adolescentes, estimulando o aluno para a produção

do conhecimento histórico.

Palavras-chave: Trabalho Infantil. Fontes históricas. Fotografias. Abstract: This article demonstrates as the social issue, child labor, seen in the text

books in the content of the Industrial Revolution in the century XVIII and current still

in Brazil, it can be introduced to students of the 7th grade elementary schools with

use photographic images. Before the New Cultural History, the Didactic Production –

Pedagogic Notebook – proposed, one of their units, analyze of pictures of the theme

in the history of Londrina – Pr. The knowledge about historical sources and pertinent

activities the understanding of the image and labor laws have reflection purpose

about actions against the children’s work and adolescents, stimulating the student for

the production on the historical knowledge.

Key-Words: Work Infantile. Pedagogic Notebook. Pictures.

_____________ 1 Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, Área de História, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED, com orientação do Prof. Dr. Alberto Gawryszewski. IES vinculada: Universidade Estadual de Londrina – UEL. 2 Professora de História da Rede Pública do Estado do Paraná. Especialista em Supervisão Escolar pelo Centro de Estudos Superiores de Londrina – CESULON. 3 Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo – USP. Docente da UEL.

3

1 INTRODUÇÃO

No ensino da História, várias abordagens pedagógicas contribuem para o

conhecimento histórico na formação do aluno. Sabemos que os documentos escritos

sempre auxiliaram o professor em sua prática de ensino. A experiência realizada

com alunos da 7ª série do Ensino Fundamental do Colégio Benjamim Constant,

localizado na área central da cidade de Londrina-PR, demonstra como um

determinado conteúdo – neste trabalho, a Revolução Industrial do século XVIII – e o

uso de documentos visuais possibilitam a reflexão e a aprendizagem de temas e

questões sociais ainda permanentes nos dias atuais.

Algumas características desse conteúdo histórico são marcantes, como o

desenvolvimento tecnológico; outras são inevitavelmente vistas, como a exploração

do trabalho, seja ele adulto ou infantil. Desde então, crianças e adolescentes

trabalham, independentemente de uma legislação específica que limite a idade para

o trabalho e o turno.

O histórico dessa questão, até meados do século XIX, foi revelado

principalmente por documentos escritos e figuras que mostram a exploração de

crianças em trabalhos e ambientes insalubres, perigosos e com excesso de horas.

São imagens, desenhos e, posteriormente, fotografias que vão sempre estar

presentes nos escritos históricos sobre trabalho infantil, entre outros temas.

Portanto, para o conhecimento histórico desta temática encontramos, nas

Diretrizes Curriculares para o Ensino da História (PARANÁ, 2008), correntes

historiográficas que contribuem para um novo modo de investigação da história: a

utilização de imagens fotográficas que permitem análise e reflexão sobre tempo e

espaço; semelhanças e diferenças dessa questão social ainda tão presente.

As imagens têm um papel cultural fundamental, pois servem de instrumentos

de pesquisa, análise e interpretação da vida histórica, importantes como documentos

histórico e social (KOSSOY, 2007).

Assim, como podemos ler, interpretar imagens fotográficas de crianças

trabalhando? Quais análises podem ser feitas dessas imagens, explícita e

implicitamente? Usando essas imagens, quais atividades didático-pedagógicas,

poderíamos proporcionar a nossos alunos para melhor reflexão do tema, de forma

4

que compreendam a importância dessa fonte histórica para o ensino da disciplina de

História?

Ao estudarmos as fotografias, podemos analisá-las num contexto histórico-

sociocultural, proporcionando aos alunos a percepção das questões sociais

permanentes e de mudanças que permeiam a história na tentativa de entender que,

mesmo com legislação específica, crianças ficam excluídas da escola, limitadas em

seu desenvolvimento emocional, psicológico e educacional, entre outros.

Para essa compreensão, elaboramos atividades pedagógicas com imagens

fotográficas de crianças e adolescentes trabalhando em uma indústria em São Paulo

(1920) e em Londrina, mostrando a história local, no período aproximado de 1930 a

1960. Além desse material, utilizamos ilustração e texto jornalístico, imagens

fotográficas veiculadas atualmente na internet, para que os alunos tenham noções

de temporalidade e entendam o processo da construção e evolução da história.

2 HISTORIOGRAFIA: A IMAGEM COMO FONTE HISTÓRICA

A disciplina de História tem, em seus conteúdos e nos livros didáticos,

contextos lidos e vistos através de documentos, fontes com indícios de situações

passadas, já vividas e passíveis de observação e análises do historiador.

Em seu ensino sempre se utilizaram de documentos escritos, recurso

imprescindível do historiador do século XIX, período em que os livros didáticos

tinham nestes documentos a prova da realidade servindo de narrativa da história,

numa visão historiográfica tradicional (SCHMIDT; CAINELLI, 2004).

No século XX, com a renovação historiográfica, acontece uma nova

concepção de documento histórico, afinal, na produção cultural do homem surgem,

além da escrita, outras formas de fontes: orais, materiais e visuais. Entre estas

temos a fotografia como recurso didático pertencente à Nova História Cultural, que

propõe a construção de uma nova racionalidade não linear de pensamento histórico.

Para Burke (2004), as fotografias se tornaram evidências de autenticidade e

são valiosas enquanto comprovação de cultura material do passado, pois podem ser

vistas explicitamente, nos levando a conhecer momentos, situações que permitem

5

comparações com o presente, podendo a imaginação ‘vivenciar’ algo não

presenciado. É a Nova História Cultural quem possibilita novas perspectivas para

que historiadores culturais adotem conceitos como práticas culturais,

descontinuidades, rupturas, dialogismo, representações e valoriza a diversificação

de documentos como imagens, canções, objetos arqueológicos, entre outros, para a

construção do processo e do conhecimento histórico (PARANÁ, 2008).

Assim, junto à fotografia estão incluídas outras imagens como as da

televisão, do cinema e da internet, que trazem novas formas de trabalhar a didática e

o método de ensino ou, pelo menos, iniciando, já há algum tempo, um novo desafio:

o de conhecer e aplicar estes recursos na sala de aula.

3 PRODUÇÃO DIDÁTICA: UMA TAREFA DO OLHAR À PERCEPÇÃO DA IMAGEM FOTOGRÁFICA COM TEMA ESPECÍFICO

Desde meados do século XIX vemos imagens nos livros didáticos. São

litogravuras e mapas históricos que acrescentam informações para o ensino da

História, indicando que há tempos a imagem vem sendo contemplada como recurso

pedagógico (BITTENCOURT, 2003).

Gravuras, pinturas e fotografia são documentos culturais. As imagens

fotográficas permitem o ato do registro em um momento específico, seja ele no

contexto econômico, social, político e religioso, entre outros (KOSSOY, 1989).

Essas informações proporcionam um novo pensar sobre a forma de atuação

do professor em seu cotidiano. A Produção Didática – Caderno Pedagógico –

proposta, com três Unidades, possibilita aos alunos uma maneira de entendimento e

compreensão da construção histórica.

A Unidade I, elaborada com texto e atividades para o conhecimento das

fontes primárias e suas contribuições à História, serve de avaliação diagnóstica dos

alunos sobre os diversos documentos, incluindo os visuais, principalmente a

fotografia.

Na Unidade II, fotografias possibilitam que o aluno veja e entenda

características da imagem além do explícito, observando mudanças ocorridas com o

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tempo. E é à questão do tempo que devemos dar especial atenção, para que o

estudante conheça e descreva seu entendimento sobre essa nova produção

didática, colocada de forma que atenda e justifique determinado tema dentro de uma

temporalidade, motivando-o, já que a imagem se faz presente em todo espaço

midiático.

Essa forma de motivação de alunos atende às Diretrizes Curriculares, pois

propõe o estudo de questões sociais atuais com o uso de documentos sob

problematizações, definindo períodos que viabilizem interpretações baseadas nas

relações humanas e culturais, partindo de imagens fotográficas de crianças e

adolescentes trabalhando, conforme o tema e as atividades pedagógicas aqui

propostas. (PARANÁ, 2008).

Para a seleção das fotografias, foram vistas cerca de 200 imagens, desde as

de reportagens jornalísticas e livros, até buscas em material fotográfico do

Museu Histórico de Londrina, e optamos por quatro fotografias de domínio público:

uma de 1920, da Indústria Nacional da Seda / SP, presente no livro didático de

Cabrini, Montellato e Catelli Junior (2004); as demais são da cidade, das décadas

de 1930 a 1960, período áureo da produção cafeeira da região norte paranaense,

imagens fotográficas retiradas do CD-Rom produzido em comemoração aos 50 anos

do Colégio Marista (2005) e cedido pelo Centro de Documentação e Pesquisa

Histórica (CDPH) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) (anexo A).

Apresentamos aqui duas dessas imagens, que mostram o trabalho infantil

em dois momentos e dois espaços diferentes: na área rural, em uma lavoura do

café, final da década de 1930 e início da década de 1940; e na área urbana, década

de 1960, aproximadamente. A inserção das imagens se deu para demonstrar que,

independente do setor econômico, a história nos revela que o trabalho de crianças e

adolescentes pode estar em todos os lugares.

O uso desse material surgiu pelas possibilidades do aluno perceber nas

imagens, diante do referido tema:

a) o que se vê imanente, explícito: o local, ambiente aberto ou fechado,

trabalho na área urbana ou rural, vestimentas, máquinas, objetos,

posição em que se encontram as pessoas, etc..

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b) buscar na imagem o

que é implícito: tudo o que puder

ser questionado sem

necessariamente estar no olhar de

quem vê; perceber através dos

outros sentidos que possuímos,

como o barulho das máquinas, o

cansaço de quem trabalha,

excesso de horas trabalhadas,

ritmo de trabalho acelerado, danos

à saúde, tanto no trabalho na roça

quanto nas indústrias, entre outras

questões possíveis, conforme as

imagens selecionadas.

Assim, foi possível unir o

tema a ser observado e a

curiosidade pelas imagens

apresentadas, pois os lugares, as

construções, as formas de trabalho

se referem a algumas

particularidades da história da

cidade de Londrina, local de

moradia dos alunos.

Dessa maneira, vemos,

nessas imagens fotográficas, parte

da história local, estratégia

pedagógica que privilegia e

estimula o aprendizado, já que não

o distancia de seu conhecimento e

experiências ligadas à sua vida

cotidiana. (SCHMIDT; CAINELLI,

2004).

Figura 1: Nesta imagem, área rural, vemos explicitamente: desmatamento ao fundo, pés de café, o trabalho com adultos, crianças e adolescentes, indicando a colheita, objetos da lavoura, a presença do cachorro. Implicitamente: as pessoas ficam expostas ao sol e chuva, cansaço, crianças provavelmente sem escolas, etc. Foto: Colheita de café, fim da década de 1930, início de 1940. Londrina. Fotógrafo: Ohara Haruo. In: Colégio Marista em Londrina, 2005.

Figura 2: Área Urbana. Explicitamente: ônibus, prédios, lanternas, árvores, dois meninos com caixas de engraxates fazendo pose para a foto. Implicitamente: trabalham como engraxates, as caixas podem ser pesadas, ficam ao sol, às vezes sem escola, entre outras observações. Foto: Centro de Londrina, aproximadamente 1960. Fotógrafo: José Juliani. In: Colégio Marista em Londrina, 2005.

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Para isto, foi fundamental o auxílio do Prof. Dr. Paulo Alves, ministrante de

Elementos, técnicas de interpretação da fotografia, Curso de Extensão promovido

pelo Laboratório de Estudos dos Domínios da Imagem na História (LEDI), da UEL,

em outubro de 2008. Foram elaboradas duas fichas, de forma que os alunos

pudessem verificar nas imagens, aspectos visíveis e não visíveis. Na ficha 1, os

dados explícitos da imagem: pessoas retratadas, tipo de roupa, o local, os objetos

entre outros. Já a ficha 2 ganha uma dimensão não percebida anteriormente, como

as atitudes culturais das pessoas, pois a imagem faz parte de um todo,

possibilitando ver algo que não está visível (anexo B).

As fichas são recursos do aluno na compreensão de que a fotografia traz

informações múltiplas, sejam as modificações da cidade ou a permanência do

trabalho infantil.

Tendo o conhecimento sobre as Fontes Históricas e dos dados e análises

das fotografias, compreensão de leitura das imagens para um determinado tema, a

Unidade III verifica como uma imagem fotográfica serve de instrumento para

lembrar, reviver situações do passado.

Ao ver uma das fotografias (figura 1), D. Euna Cardoso dos Santos,

moradora de Cambé-PR, recordou-se de sua história. Após uma conversa, ela nos

concedeu uma entrevista, devidamente gravada em MP3 e, depois, em CD-Rom,

entrevista esta que auxiliou com a História Local. Com sua autorização, trechos de

seu depoimento fazem parte desta Unidade.

As fotografias, que demonstram o desenvolvimento da cidade, valorizaram o

olhar e os sentimentos da entrevistada que, com suas lembranças, pôde contar

como veio da Bahia, quando criança, com a família de seus tios e que trabalhou na

lavoura de café dos 10 aos 23 anos, nas décadas de 1960 e 1970, na Região Norte

do Paraná. Para a entrevista, bastou um momento espontâneo, em que o olhar

serviu de base para memória para que houvesse um depoimento cheio de detalhes,

com questões significativas e emocionais.

Com essa atividade como exemplo, foi proposto aos alunos que

entrevistassem algum adulto da família que tenha trabalhado quando criança.

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4 APLICAÇÃO E RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES DA PRODUÇÃO DIDÁTICA

Alguns pontos são importantes para descrevermos a forma, o tempo

utilizado e o percurso das atividades pedagógicas descritas. Para complementação

das atividades do Caderno Pedagógico, fizemos atividades intermediárias, que

completaram o raciocínio e a compreensão de fontes históricas, a história da

fotografia, invento das primeiras décadas do século XIX, e seu uso como documento

visual no ensino da história.

Os conteúdos acontecem conforme as Diretrizes Curriculares do Estado e

Plano de Trabalho Docente – PTD (PARANÁ, 2008), que definem uma seqüência

programática e, por isso, o Trabalho Infantil, recorte feito a partir da Revolução

Industrial, só foi possível em abril, final do primeiro bimestre.

Porém, para esclarecermos sobre a intenção deste projeto, houve, desde o

início do ano letivo, em todos os conteúdos, um incentivo para que os alunos

buscassem informações sobre as figuras que acompanham os temas do livro

didático, tendo um olhar maior para as gravuras, pinturas e imagens dos textos do

livro didático de Braick e Mota (2006).

Citaremos dois exemplos: no conteúdo

Revolução Gloriosa, a pintura da Rainha

Elizabeth I, filha do Rei Henrique VIII (BRAICK;

MOTA, 2006, p. 23) foi analisada e

explicitamente encontramos: “uma mulher clara,

cabelos loiros enrolados, magra, com roupas

volumosas do século XVII, com bastante jóias

etc.” Implicitamente a leitura da figura ficou

sendo de significados, a Rainha e sua posição

de poder “em sua pose para a pintura que

sugere o glamour, a riqueza, a realeza, a

autoridade do Estado Nacional, a Monarquia

Inglesa entre outras observações”.

Ao estudarmos sobre crianças e

adolescentes trabalhando no período da

Figura 3 – Na passagem do século XVI para o XVII, a Inglaterra foi governada por Elizabeth I. Fonte: BRAICK; MOTA, 2006, p. 23.

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Revolução Industrial, fizemos uso da leitura e

análise de uma gravura de 1871, “crianças

carregando o barro em olaria inglesa”. (p.55).

De acordo com o conhecimento prévio

sobre a fotografia, uma das perguntas à turma

foi:

– A imagem, que é uma gravura do registro

histórico de crianças trabalhando nesta olaria,

poderia ser uma fotografia?

Algumas respostas obtidas:

– Não, porque não havia tanta máquina fotográfica naquele tempo.

– Era muito cara.

– Seu uso não era comercial.

– O que poderemos encontrar nesta imagem explicitamente?

– [...] são crianças carregando barro na cabeça.

– [...] algumas com calçados, outras estão descalças.

– O lugar é escuro.

– Tem um adulto junto com eles e as roupas são velhas e rasgadas.

E implicitamente?

– São muito pequenas.

– Professora, eles não tinham que estar na escola?

– Eles estão sérios, tristes, cansados.

Figura 4 – Crianças carregando o barro em olaria inglesa, em gravura de 1871. Fonte: BRAICK; MOTA, 2006, p. 55.

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Assim, após esclarecer as intenções de análises das imagens, os alunos

fizeram anotações no caderno sobre o Programa de Desenvolvimento Educacional –

PDE, SEED-PR, base para o projeto e a referida produção didática.

A seguir, utilizando o Data Show, para melhor visualização, houve a

apresentação de slides fotográficos mostrando aspectos da história da cidade: as

primeiras casas, ruas, o início do comércio, a igreja matriz, vista áreas das lavouras

de café, grande marco do desenvolvimento econômico da cidade entre 1940 e 1970,

entre outras imagens.

Com estes elementos, os alunos iniciaram as atividades da UNIDADE I –

Fontes Históricas e sua importância, com a leitura de um texto simples sobre os

registros históricos. Os alunos conheceram quais são os documentos escritos, visuais, materiais e orais, e descreveram exemplos usando o senso comum. Nove

alunos escreveram sobre as contribuições que esses documentos trazem para a

História; 14 escreveram algo como “ajuda o aluno”, e outros 9 não responderam.

Do total em sala, algumas respostas possibilitaram a base para o início de

outras atividades como forma de avaliação diagnóstica, do conhecimento prévio dos

alunos sobre o exercício.

Documentos escritos – [...] sem os documentos nós não saberíamos as coisas dos séculos passados.

– [...] pesquisas que ajudam a criar outros livros com temas especificados.

Mesmo explicando a importância das imagens com o próprio conteúdo do

livro didático, poucos responderam a respeito; na verdade, muitos copiaram dos

colegas. Porém, algumas respostas surpreenderam e, dando continuidade às

atividades, procuramos mais informações para aqueles que ainda não tinham

compreendido a importância das fontes históricas.

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Documentos visuais

– [...] com as imagens, podemos entender coisas que não estão escritas.

– [...] imagens que quando você vê, decifram o que já aconteceu.

– [...] os desenhos auxiliam no modo de pensar.

– [...] nos ajuda a ver a situação da época e o lugar, com isso nós descobrimos novas coisas.

– [...] para as pessoas que não sabem ler, eles entendem vendo desenhos, pinturas, etc.

– [...] antigamente os homens sapiens e outros antepassados desenhavam nas paredes das cavernas e com esse ‘documentos’ os historiadores ficaram sabendo o que ocorreu naquela época, hoje imagine quanta coisa eles podem descobrir ainda.

– [...] nos ajuda a ver a situação da época e ver o lugar, com isso descobrimos novas coisas com a visualização.

– [...] desenhos auxiliam a ver o passado.

No caso de Documento Oral; os alunos lembraram bem das tecnologias e

dos meios de comunicação atuais, como TV.

Documentos Orais

– [...] entrevistas, porque a memória da pessoa vai ajudar.

– Jornal da TV = informa notícias, traz conhecimentos.

– [...] entrevista com pessoas que entendem do tema [...] que você procura.

– [...] com as entrevistas que os escritores fazem, nós podemos entender melhor as coisas.

– As pessoas analfabetas que não lêem, por isso os jornais da televisão contribuem com essas pessoas.

Para a realização das próximas atividades da Produção Didática,

aproveitamos para que os alunos fizessem análises de imagens dentro do tema em

três momentos. Primeiro: a observação das quatro figuras específicas de criança e

adolescentes trabalhando (anexo A), já descritas anteriormente. Segundo: leitura de

uma reportagem jornalística com imagem da Folha de Londrina (2005), sobre essa

temática no Brasil; e, terceiro, imagens de exploração, denúncia e o papel dos

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órgãos governamentais e não-governamentais nos programas de erradicação do

trabalho infantil veiculadas pela internet, com o uso da TV Multimídia (TVs instaladas

nas salas de aula para uso didático-pedagógico).

No primeiro momento, os 32 alunos preencheram as Fichas 1 e 2 da

Unidade II (anexo B). Foram formados oito grupos com quatro alunos; cada dois

grupos ficaram com uma imagem fotográfica para análise e, após preencherem as

fichas, os alunos releram suas respostas, acrescentando novas informações. Houve

sorteio para definir com quais grupos ficariam cada figura.

Descrevemos, a seguir, algumas respostas de observações implícitas,

conforme questões da Ficha 2 (anexo B), analisando como os alunos se expressam

por meio da narrativa, conforme seus conhecimentos sócio-históricos, vivenciados

no dia-a-dia por suas relações pessoais e meios de comunicação.

Aproveitamos a inserção das Figuras 1 e 2 (p. 7 deste artigo) para

demonstração desses resultados.

Figura 1 – Lavoura de café, colheita.

– [...] como era difícil a vida do trabalhador rural [...] crianças trabalhavam para ajudar suas famílias.

– Antigamente existia leis, mas os empresários não respeitavam as leis.

– [...] ainda hoje há o trabalho infantil e baixa remuneração dos trabalhadores;

– O trabalho infantil é crime e na época não.

– O desmatamento de florestas para o cultivo de culturas, o trabalho infantil permanece e o café é a bebida dos brasileiros.

Os alunos desses grupos lembraram e se posicionaram, demonstrando que

o tema é um fato social conhecido por todos, que podem “ver” no passado

elementos do contexto histórico-social e que estão atentos quanto às leis e

transformações ocorridas com o passar do tempo.

14

Na releitura das atividades, entre os grupos, concordaram que as respostas

não precisariam de alterações “[...] porque é o mesmo tema e o foco é igual”,

trabalho rural e infantil.

A imagem observada também trouxe reflexões sobre outros assuntos, como

desmatamento e lavoura do café, atividade econômica que trouxe desenvolvimento

e mudanças no cenário urbano e rural.

– [...] no lugar dos paralelepípedos hoje [...] temos asfalto, prédios altos, marcas do passado glorioso da cidade [...] chamada de ‘Capital Mundial do Café’ [...] retratadas no Museu da História de Londrina.

Esta resposta possibilitou, aos alunos, trazer à memória conhecimentos

históricos adquiridos anteriormente, tornando-os participantes ativos da

aprendizagem.

Figura 2: Meninos engraxates

– Os menores da cidade eram mais liberados para trabalhar, mas hoje em dia tá proibido o trabalho.

– Até hoje tem menor trabalhando nas ruas de engraxate para trazer dinheiro para sua casa.

– Hoje somente algumas crianças trabalham.

– Eles não vão ter infância, por ficar trabalhando podem ficar doentes.

Sendo a imagem fotográfica de décadas atrás, os alunos entenderam que o

motivo de as crianças trabalharem é porque precisavam ajudar os pais. Também na

leitura dos alunos, a lei permitia. Hoje, sabem que crianças e adolescentes, apesar

de em menor número, continuam trabalhando para auxiliar em casa, mas, em uma

15

perspectiva histórica, percebem que há leis que limitam a idade para o trabalho, que

podem trazer conseqüências para a saúde e a perda da infância, indicando reflexão

e senso crítico sobre essa questão social.

Sobre seu aprendizado, na produção de texto, escreveram:

– Este trabalho ajudou-nos a aprender que por uma simples imagem podemos descobrir coisas inimagináveis e até conhecer o passado, a história de uma pessoa e até de uma cidade.

A ilustração do texto jornalístico para a

próxima atividade foi de um artigo escrito por

Janaína Lage e publicado no jornal Folha de

Londrina de 25 de fevereiro de 2005, que

apresenta a fotografia de um menino com um

facão trabalhando no corte da cana; tem cerca

de 12 anos e a imagem de seu rosto não está

nítida, preservando sua identidade.

Após as análises das figuras pelos grupos, no segundo momento, foi feita

leitura e exercícios de interpretação da reportagem, na qual a autora utiliza dados de

2003, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para

demonstrar a situação do menor com relação a trabalho.

Conforme a matéria, o trabalho infantil é responsável pela grande evasão

escolar e atinge cerca de 5,1 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos no

país. As informações incluem dados das várias regiões do Brasil, mostrando que a

região Nordeste concentra 42% de menores de 17 anos que trabalham no país e,

destes, 64,8% de 10 a 15 anos trabalham sem receber salário (IBGE, 2003 apud

LAGE, 2005).

A reportagem pondera que é a necessidade da família que faz com que

crianças trabalhem desde muito cedo; quase metade das crianças ocupadas vivem

em famílias com rendimento familiar de até meio salário mínimo por pessoa. Com

Figura 5 – Imagem do artigo de Lage, na Folha de Londrina (2005) Fonte: LAGE, 2005.

16

idade entre 10 e 17 anos, esses trabalhadores contribuem com cerca de 17% do

rendimento familiar total. Na área rural, a contribuição sobe para 21,5%, trazendo,

como conseqüência, a evasão e a defasagem escolar para cerca de 67% de

estudantes dessa faixa etária ocupados com seu trabalho.

A pesquisa apontou, ainda, queda de um ponto percentual no número de

crianças ocupadas na faixa etária de 5 a 9 anos. O resultado, segundo o IBGE (2003

apud LAGE, 2005), pode ser reflexo da política e dos programas de combate ao

trabalho infantil e de incentivo à freqüência escolar pública.

Conversando com a turma, eles lembraram que a “imagem é explícita” e “o

rosto do garoto está sem identificação por causa do Estatuto da Criança e do

Adolescente”. Em Liberati (2008, p. 21), encontramos o artigo 17º do referido

Estatuto que considera:

O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias, crenças, dos espaços e objetos pessoais.

Com essas informações foram elaboradas questões que atendessem o

conhecimento já adquirido pelos alunos: autor da fotografia da matéria jornalística,

tipo de fonte histórica, reportagem apenas informativa ou de denúncia, entre outras.

Nas respostas para as questões e visualização da ilustração, os alunos estavam

mais inteirados do tema. Tanto que, na questão “Descreva quais conseqüências

sociais e físicas podem ter crianças e adolescentes que trabalham”, obtivemos:

– [...] não vão estudar.

– Dificuldade de arrumar um emprego bom por falta de escolaridade, dores consecutivas, riscos de doenças, etc.

– Eles saem da escola e [...] podem ter machucados devido ao seu trabalho [...] com o facão.

– Não tem estudo e nem educação.

– Envelhecimento precoce, câncer de pele por estar exposto ao sol e sérios riscos à saúde. E não ter educação apropriada por não estudar.

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– As crianças vão ter fortes dores e não [...] pode estudar devido a ocupação no campo.

– Tanto no campo como na cidade [...] vários problemas sociais: falta de dinheiro e moradia; física: doenças, picadas de animais venenosos, etc.

Aqui, além das informações explícitas do texto, houve uma análise que

pressupõe leitura das entrelinhas e procedimento de reflexão. Os alunos relacionam

a situação das crianças trabalhadoras com o contexto histórico e econômico,

lembrando que não importa o local em que acontece o trabalho infantil, mas ele é

necessário pela falta de dinheiro, de moradia, e que conseqüências físicas e sociais,

como falta de escolaridade, surgem pelo excesso de cansaço e esforço,

prejudicando o desenvolvimento desses pequenos trabalhadores.

Os alunos perceberam que as imagens servem para evidenciar textos

jornalísticos ou qualquer outro tipo de texto, dando ênfase tanto ao documento

escrito quanto ao documento visual.

Vale lembrar que essas atividades foram feitas concomitantemente com

outros conteúdos programados para o segundo bimestre, incluindo as avaliações.

Essa atividade, por exemplo, foi feita na segunda quinzena de junho.

Ainda em junho, para o terceiro momento, contamos com a TV Multimídia

para apresentação de imagens fotográficas de

crianças, veiculadas pela internet, em

diferentes partes do Brasil e em diversos tipos

de ocupação, bem como imagens de

organizações governamental e não-

governamental sobre exploração e denúncia do

trabalho de crianças e adolescentes e incentivo

à sua erradicação, demonstrando que,

diferente das imagens vistas nas fotografias da

história da cidade, cada imagem tem seu

propósito. Ao verem as imagens, os alunos

escreveram:

Figura 6 – Crianças quebrando pedras. Fonte: BRASIL, 2009.

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– [...] elas [as crianças] são muito pequenas.

– [...] são fotografias atuais, do século XXI e são [...] para conscientização da população para a proibição do trabalho infantil.

– [...] mostram fotos atuais fazendo propagandas contra o trabalho infantil, todas mostram riscos com a saúde e a educação por não estudarem por motivo do trabalho.

Além da observação da imagem de maneira explícita e implícita, houve

elaboração e articulação de conhecimento,

colocando-os não apenas como meros receptores

de informação, mas como participantes do

contexto social.

Para a realização da Unidade III, no início

de julho, antes das férias, portanto, fizemos a

leitura da entrevista com D. Euna. Em seu

depoimento, ela descreve todo o procedimento da

colheita do café, que acontecia no período entre

maio e agosto, onde todos os parentes, tios e

primos trabalhavam. Contou que as maiores

dificuldades no trabalho eram: excesso de

esforço, cansaço, exposição ao sol, chuva, dores

de cabeça e, principalmente, perigos com cobras

e escorpiões escondidos em baixo dos galhos.

Quanto aos estudos, fez um ano de escola regular quando ainda morava na Bahia,

na década de 1960. Com sua vinda para o norte do Paraná, pelo trabalho e porque a

“escola era muito longe”, só voltou a estudar com 16 anos, à noite.

Aproveitando as informações da leitura, os alunos deveriam, durante as

férias, procurar na família por adultos que trabalharam quando criança e entrevistá-

los, conforme roteiro pré-estabelecido, com entrevista aberta e, de preferência, com

alguma fotografia, caso houvesse.

No final de julho, foram suspensos alguns dias de aulas, por causa da

GRIPE A (H1N1), inviabilizando, de certa forma, o compromisso dos alunos com as

Figura 7 – Criança exercendo atividade doméstica. Fonte: BRASIL, 2008.

19

entrevistas solicitadas, dificultando outras possibilidades de levantamento de

informações e de tabulação dos novos dados, para melhor analisar resultados,

objetivos e avaliações sobre o tema e o recurso pedagógico.

Assim, após a volta às aulas, em meados de agosto, nove alunos tinham

feito as entrevistas, as quais foram repassadas oralmente para a classe. Foram

coletados os seguintes dados: a idade dos entrevistados oscila entre 37 a 76 anos,

tanto homens quanto mulheres, que trabalharam dos 6 aos 12 anos de idade.

Apenas três entrevistados recebiam salário, os demais ajudavam nas terras da

família. Do total de entrevistados, oito tiveram sua ocupação nas lavouras e na

criação de animais, sendo que apenas um trabalhou como engraxate e vendedor de

frutas.

Com as entrevistas os alunos reconhecem, na História Local, a

predominância da agricultura na região desde o início da história da cidade,

precisando de diversos tipos de mão-de-obra para seu desenvolvimento econômico

e social. Alguns disseram que seus entrevistados se sentiram privilegiados e

orgulhosos em saber que o projeto despertou um maior interesse pela história da

família.

Posteriormente, para que os alunos conhecessem melhor um pouco das

questões legais trabalhistas no país, foi feita a leitura de um texto sobre a legislação

no Brasil sobre o menor trabalhador (CUSTÓDIO, 2002), evidenciando informações

sobre a idade mínima para o trabalho, limite de horas trabalhadas, regulamentos

sobre locais de trabalho perigosos e insalubres e tipos de trabalho autorizados por

juízes para menores abaixo da idade permitida.

As informações de Custódio (2002) se encontram em ordem cronológica,

desde a década de 1920 até nossos dias, conforme o histórico do país nos aspectos

econômicos e políticos, em assuntos que dizem respeito não só à regulamentação

do trabalho do menor, mas ao trabalho de forma geral, junto aos movimentos

trabalhistas nacionais e internacionais.

Leitura feita, esclarecemos aos alunos que, a partir da década de 1980,

houve a abertura dos Movimentos Sociais, período de democratização do país,

quando acontece uma maior participação política. Surgiram as ONGs, as lutas por

20

novos direitos individuais e coletivos, contribuindo para a construção do Estatuto da

Criança e do Adolescente, em 1990.

Atualmente, a legislação proíbe o trabalho de menores de 16 anos, a não ser

a partir dos 14 anos na condição de aprendiz, e proíbe menores de 18 anos de

trabalhar em ambientes perigosos ou insalubres.

Ações governamentais buscam melhoria da qualidade de vida em áreas de

pobreza para que crianças e adolescentes não precisem trabalhar e possam

continuar freqüentando a escola, evitando evasão ou repetência. É o caso do

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), do Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Além disto, as ações não-governamentais reforçam essa idéia, com

programas socioeducativos no período complementar à jornada escolar.

Com essas informações, no início de setembro, em uma das avaliações,

duas questões foram importantes para a conclusão dessa trajetória pedagógica.

Uma delas, finalizando as atividades, sobre a temática observada pelos alunos, foi:

“O Trabalho Infantil através das imagens (séculos XX e XXI) auxiliou nos seus

conhecimentos na disciplina de História? Por quê?”

– [...] ficou mais fácil de aprender, com a foto a gente não esquece o que foi explicado.

– Porque aprendemos avaliar as fotos, os textos melhor [...] nos identificarmos, pela foto já dá pra adivinhar o que pode acontecer no texto.

– [...] mostrou as diferenças das leis daquele tempo para as de hoje [...] o desenvolvimento e como a história é importante não só para o passado, mas [...] para o presente.

Esses são exemplos de respostas de 26 alunos que se familiarizaram com

as formas de representação das realidades do passado e do presente. Cinco alunos

escreveram que “deu para entender mais sobre crianças trabalhando e os riscos que

elas corriam” e apenas um não respondeu.

21

A outra pergunta foi: “Existe relação do conteúdo Revolução Industrial e o

Trabalho Infantil (no passado e presente)?”

– Sem legislação trabalhista e agora tem, cresceu muito o desenvolvimento tecnológico e [...] as pessoas tem carteira de trabalho e antes não tinham.

– Muita coisa porque na Revolução Industrial vimos que cada vez mais as indústrias foram crescendo e no trabalho infantil foram se criando novas leis.

– Sim, eu aprendi muito com estes séculos e vi como as crianças sofriam para ajudar sua família, como eles ficavam cansados [...] aprendi muita coisa mesmo e eu também concordo que as crianças tem o direito de estudar.

– Naquela época o trabalho infantil ajudou a aquecer a produção industrial [...] ajudou a ver as imagens com outros olhos.

Diante das respostas, verificamos que, no entendimento dos acontecimentos

históricos, é necessário fazer com que os alunos entendam numerosas relações que

os fazem observar e refletir, descobrindo conteúdos através dos documentos

fornecidos pelo professor. Usando a imagem como ponto de partida, há o

desenvolvimento do senso crítico, muitas vezes sem muita intervenção do educador,

diminuindo o espaço entre o ensino e a aprendizagem de História.

Portanto, para a compreensão dos conteúdos, temos nas imagens

fotográficas: (i) a relação do tema com a questão tempo/espaço; (ii) possibilidades

de que, mesmo sem intenção específica, se tornem estratégia de motivação para o

educando; (iii) permitir a reflexão para o que está implícito; (iv) trazer lembranças de

momentos individuais e coletivos; (v) no caso de tema específico, elemento de

alerta, de denúncia e de modificação, dependendo do contexto sociocultural.

Quanto ao percurso percorrido para a proposta didática, sua aplicação e as

análises das respostas exigiram um tempo além do que normalmente se dá na

atuação do educador em sala de aula. O processo todo demanda intervenções

didáticas com atividades avaliativas a cada leitura, observação de imagens,

preenchimento das fichas, pesquisas, elaboração de textos, entre outros. O

professor precisa otimizar seu tempo, conhecer o perfil da turma em que quer propor

este tipo de recurso pedagógico.

22

Em sala de aula, foi preciso administrar uma forma diferente de conduzir as

aulas. Por exemplo: para não precisar usar os recursos tecnológicos da escola a

todo o momento, muitas figuras foram impressas e eram coladas no quadro quando

necessário. Apesar de um maior interesse, o fato de trabalharem em grupos

favorece uma maior dispersão dos alunos.

Mesmo sendo um ano letivo atípico, foi muito importante ter a oportunidade

de preparar um novo modo de ensinar, de ver nos alunos indagações sobre a sua

realidade, seu momento e, talvez, sem as imagens e informações estudadas, não

fosse possível a visualização e reflexão sobre a importância das fontes históricas e

questões sociais permanentes.

Essas informações proporcionaram ao aluno uma nova maneira de ler e

interpretar imagens, que sempre o acompanhará. A frase de um aluno – “–

Professora, eu já não vejo as imagens como via antigamente” – significa que, na

escola e em diversas disciplinas, ele poderá potencializar sua capacidade de

observação e análise de qualquer outra imagem, desde desenhos, histórias em

quadrinhos, charges, fotografias, entre outros. Esses recursos pedagógicos se

tornam imprescindíveis no momento em que inovações tecnológicas fazem parte do

dia-a-dia de todos. São imagens, fixas ou não, que, muitas vezes, passam pelo

nosso olhar despercebidas, mas que estão por aí, prontas para serem decifradas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A imagem comunica, informa sobre o processo cultural da sociedade,

permite, entre cores ou ausência delas, observações, análise de contextos

históricos. Sua função pedagógica pôde ser percebida nesse projeto didático, em

que aguçou a curiosidade dos alunos, levando-os à reflexão sobre si enquanto

adolescentes estudantes e sobre seus pares enquanto adolescentes trabalhadores,

estes, porém, muitas vezes sem condições de se tornarem adultos plenos em seu

viver social.

Pelas respostas obtidas, percebemos que é o aluno quem deve explorar

informações nos documentos, não importando se escritos, materiais ou visuais. Essa

estratégia desenvolve a capacidade de observação, de análise da realidade

23

histórica. Com confrontação de diversos tipos de documentos, há a contribuição para

a argumentação histórica, acontece a associação e a relação de informações,

fazendo com que percebam a localização histórica.

O papel do professor é estimular o aluno instigando-o, a partir de

documentos, a construir seu próprio pensar histórico e rever representações já

existentes. Ao deparar com um documento que ressalta uma problemática social,

possibilita levantar novas questões, novas problemáticas existentes.

Partindo de imagens fotográficas, principalmente da história local,

diversificou-se o uso de documentos históricos em sala de aula, tornando o ensino

ligado à expectativa e cultura do aluno.

Esse recurso didático-pedagógico requer compromisso do professor,

propondo ao aluno situações em que consiga construir seu saber, com objetivo de

fazer o conhecimento de forma que se sinta participante do processo histórico em

seu tempo e espaço.

REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003.

BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação. Portal do Professor. 2009. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=6724>. Acesso em: 13 dez. 2009.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Com o trabalho infantil, a infância desaparece. 2008. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/servicos/publicidade/material-impresso/campanha-contra-o-trabalho-infantil/folder_final.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2009.

______. ______. Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Disponível em: <http://www.mds.gov.br/programas/rede-suas/protecao-social-especial/programa-de-erradicacao-do-trabalho-infantil-peti>.

BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru: EDUSC, 2004.

24

CABRINI, Conceição; MONTELLATO, Andrea; CATELLI JUNIOR, Roberto. História temática: o mundo dos cidadãos. São Paulo: Scipione, 2004.

COLÉGIO MARISTA DE LONDRINA. 50 anos do Colégio Marista em Londrina. 2005. 1 CD-Rom.

CUSTÓDIO, André Viana. O trabalho da criança e do adolescente: uma análise de sua dimensão sócio-jurídica. 2002. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

KOSSOY, Boris. Fotografia e História. São Paulo: Ática, 1989.

_______. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. Cotia: Ateliê, 2007.

LAGE, Janaína. 38% das crianças que trabalham não têm salário. Folha de Londrina, Londrina, 25 fev. 2005. Folha Geral, p. 8.

LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação básica. História. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação, 2008.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2004.

25

ANEXO A

Fotos

Fonte: CABRINI; MONTELLATO; CATELLI JUNIOR, 2004.

Foto 1 – Indústria Nacional da Seda, São Paulo. Anos 20

Fonte: Foto de Ohara Haruo. In: 50 anos do Colégio Marista em Londrina, 2005.

Foto 2 – Lavoura de Café. Londrina. Final da década de 30, início de 40

26

Fonte: Foto de José Juliani. In: 50 anos do Colégio Marista em Londrina, 2005.

Foto 3 – Av. Paraná, Londrina. Década de 40

Fonte: Foto de José Juliani. In: 50 anos do Colégio Marista em Londrina, 2005.

Foto 4 – Centro de Londrina. Aproximadamente década de 60

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ANEXO B

Fichas

FICHA 1

Observe a figura e preencha os dados:

Local retratado:_______________________________________ Data: ___________

Fotógrafo:___________________________________________________________

1. Fonte Histórica: ___________________________________________________

( ) é avulsa ( ) é parte de um acervo ( ) particular ( ) pública

2. Dados da imagem fotográfica:

Tema Central: ________________________________________________________

Pessoas retratadas: ___________________________________________________

Paisagens retratadas:

( ) vida urbana ( ) vida rural ( ) ambiente aberto ( ) ambiente fechado

Descreva:

A paisagem _________________________________________________________

___________________________________________________________________

Expressão facial: _____________________________________________________

As roupas que estão usando: ____________________________________________

O local: _____________________________________________________________

Os objetos: __________________________________________________________

Outros dados: ________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3. Contextualização histórica.

Existe uma ligação entre as pessoas e o fotógrafo que registrou a cena?

( ) Sim ( ) Não ( ) Talvez

Justifique a resposta: __________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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A fotografia se refere a um contexto social? Qual? __________________________

Verifique os elementos da fotografia que revelam:

Aspectos Culturais: ___________________________________________________

___________________________________________________________________

Aspectos Políticos: ____________________________________________________

___________________________________________________________________

Aspectos Econômicos: _________________________________________________

___________________________________________________________________

FICHA 2

Com os dados já observados na Ficha 1 na atividade a seguir:

1. Descreva:

As idéias e mensagens significativas reveladas na fotografia.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2. Elementos/idéias que não estão reveladas na fotografia, mas que trazem

lembranças.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3. Quais elementos históricos percebidos com nossos dias:

Semelhanças ________________________________________________________

___________________________________________________________________

Diferenças __________________________________________________________

___________________________________________________________________

Mudanças ___________________________________________________________

___________________________________________________________________

Permanências________________________________________________________

___________________________________________________________________

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Causas _____________________________________________________________

___________________________________________________________________

Conseqüências _______________________________________________________

___________________________________________________________________

4) Com base nos dados e análises das fotografias, em grupo, faça uma produção de

texto com título, sobre as atividades.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Fonte: Fichas adaptadas de modelos fornecidas pelo Prof. Dr. Paulo Alves, na aula tema –

Elementos, técnicas de interpretação da fotografia, Curso de Extensão – promovido pelo Laboratório de Estudos dos Domínios da Imagem na História – LEDI, Depto. de História – UEL – Out/2008.