trabalho infantil

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Combate ao trabalho infantil.

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  • nova Economia_Belo Horizonte_17 (2)_323-350_maio_agosto de 2007

    O que conhecemos sobre o trabalho infantil?

    Ana Lcia KassoufProfessora titular do Departamento de Economia, ESALQ/USP

    Resumo

    O interesse em pesquisas e anlises econmi-cas sobre o trabalho infantil ressurge por vol-ta de 1995, principalmente graas crescentenfase na reduo da pobreza e na acumula-o de capital humano para se obter desen-volvimento, que faz com que o trabalho decrianas seja visto como um impedimento aoprogresso econmico. As anlises empricasvisando obter as causas, conseqncias e so-lues para o trabalho infantil esto agorasendo facilitadas pelo aumento da disponibili-dade de microdados e pelas facilidades com-putacionais disponveis. A pobreza, a escola-ridade dos pais, o tamanho e a estrutura dafamlia, o sexo do chefe, idade em que os paiscomearam a trabalhar e o local de residnciaso os determinantes mais analisados e dosmais importantes para explicar a alocao dotempo da criana para o trabalho. As princi-pais conseqncias socioeconmicas do tra-balho de crianas e de adolescentes so sobrea educao, o salrio e a sade dos indivduos.Este estudo tem como objetivo apresentar, deforma resumida, o que se conhece na literatu-ra econmica sobre trabalho infantil e indicardirees para futuros estudos.

    Abstract

    Interest in research and economic analysisrelated to child labor reappears in the literaturearound 1995, mainly due to a growingemphasis on the reduction of poverty and theaccumulation of human capital to obtaineconomic development, which means that childlabor is seen as an impediment to economicprogress. Empirical analysis to find the causes,consequences and solutions for child labor arenow being facilitated by the increase in theavailability of high quality microdata and easeof obtaining computational data. Poverty,parents education, family composition,gender of the head of the household, age parentsstarted working and the household location arethe most analyzed and important determinantsto explain the allocation of the childs time towork. The most important social-economicconsequences of child labor are related to thereduction in years of education, schoolperformance, wages and health status.The objective of this study is to present asummary of what is known in the economicliterature related to child labor and to indicatedirections for future research.

    Palavras-chave

    trabalho infantil, causas,conseqncias.

    Classificao JEL J22.

    Key words

    child labor, causes, consequences.

    JEL Classification J22.

  • 1_ Introduo

    O tema trabalho infantil, assim como otratamento analtico dado, no so torecentes na literatura. Apesar de no terse iniciado na Revoluo Industrial, mui-tos historiadores apontam para um agra-vamento da utilizao de mo-de-obrainfantil nessa poca. J em 1861 o censoda Inglaterra mostrava que quase 37%dos meninos e 21% das meninas de 10 a14 anos trabalhavam. Pesquisa recentefeita por Tuttle (1999) mostra que crian-as e jovens com menos de 18 anos re-presentavam mais de um tero dos traba-lhadores nas indstrias txteis da Ingla-terra no incio do sculo XIX e mais deum quarto nas minas de carvo. Apesarda excepcional intensidade do trabalhoinfantil na Inglaterra, outros pases tam-bm apresentavam taxas altas de crianastrabalhando por volta de 1830 e 1840,como Frana, Blgica e Estados Unidos.

    Os primeiros relatos do trabalhoinfantil no Brasil ocorrem na poca daescravido, que perdurou por quase qua-tro sculos no Pas. Os filhos de escravosacompanhavam seus pais nas mais diver-sas atividades em que se empregava mo-de-obra escrava e exerciam tarefas queexigiam esforos muito superiores s su-as possibilidades fsicas. O incio do pro-cesso de industrializao, no final do s-

    culo XIX, no foi muito diferente de ou-tros pases no tocante ao trabalho infan-til. Em 1890, do total de empregadosem estabelecimentos industriais de SoPaulo, 15% era formado por crianas eadolescentes. Nesse mesmo ano, o De-partamento de Estatstica e Arquivo doEstado de So Paulo registrava que umquarto da mo-de-obra empregada nosetor txtil da capital paulista era formadapor crianas e adolescentes. Vinte anos de-pois, esse equivalente j era de 30%. Jem 1919, segundo dados do Departa-mento Estadual do Trabalho, 37% do to-tal de trabalhadores do setor txtil eramcrianas e jovens e, na capital paulista, es-se ndice chegava a 40% (OrganizaoInternacional do Trabalho OIT, 2001).

    Basu (1999) destaca que a origemdos modelos matemticos e de constru-es tericas relacionados problemti-ca do trabalho de crianas pode ser en-contrada em relatos de escritores comoKarl Marx, Alfred Marshall e Arthur Pi-gou, entre outros. Marx, em 1867, j des-crevia algumas das causas do trabalho in-fantil. Segundo ele, com o advento dasmquinas, reduz-se a necessidade da foramuscular, permitindo agora o emprego detrabalhadores fracos ou com desenvolvi-mento fsico incompleto, mas com mem-bros mais flexveis. Assim, emprega-se o

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  • trabalho das mulheres e das crianas. Marxobserva que o fato de a mquina reduzir otempo necessrio de trabalho, faz com queo empregador, detendo os meios de pro-duo, acabe reduzindo o salrio dos tra-balhadores e, conseqentemente, o meiode sobrevivncia das famlias. A reduodos salrios acaba, muitas vezes, foran-do o trabalhador homem adulto a inserirtoda a famlia no mercado de trabalhopara compensar a perda de renda. DizMarx que

    [...] de poderoso meio de substituir traba-

    lho e trabalhadores, a maquinaria trans-

    formou-se imediatamente em meio de au-

    mentar o nmero de assalariados, colocan-

    do todos os membros da famlia do traba-

    lhador, sem distino do sexo e de idade,

    sob o domnio direto do capital... (1968, li-

    vro I, v. 2, p. 449).

    Marshall (1920), escrevendo em1980 sobre o crescimento da livre inds-tria e da empresa, descreve que jornadaslongas de trabalho de crianas j ocorri-am no sculo XVII, isto , antes da Revo-luo Industrial. Entretanto, foi no inciodo sculo XIX, principalmente nas in-dstrias txteis, onde a misria e a enfer-midade fsica e moral causada pelo traba-lho excessivo em ms condies atinge oapogeu. Marshall tambm mostra a im-portncia de se investir em capital huma-

    no e o papel dos pais e da escola para for-mar jovens para um futuro melhor. Se-gundo ele,

    There is no extravagance more pre-judicial to the growth of nationalwealth than that wasteful negligen-ce which allows genius that hap-pens to be born of lowly parentageto expend itself in lowly work. Nochange would conduce so much to arapid increase of material wealth asan improvement in our schools, andespecially those of the middle gra-des, provided it be combined withan extensive system of scholarships,which will enable the clever sonof a working man to rise graduallyfrom school to school till he hasthe best theoretical and practicaleducation which the age can give(Marshall, 1920, livro 4, cap. 6).

    Pigou (1932) defendia a erradicaodo trabalho infantil, mas estava ciente deque impedir as crianas de trabalhar pode-ria levar algumas famlias pobres a nveisinferiores ao de subsistncia. Ciente disso,ele associava a eliminao do trabalho in-fantil com polticas pblicas de assistncias famlias necessitadas. Segundo ele,

    There is no defense for the policy ofgiving poor widows and incapablefathers permission to keep theirchildren out of school and take their

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  • earnings. Rather, the Committee onthe Employment of Children Actare wholly right when they declare:We feel, moreover, that the cases ofwidows and others, who are nowtoo often economically dependenton child labor, should be met, nolonger by the sacrifice of the futureto the present, but, rather, by morescientific, and possibly by more ge-nerous, methods of public assistan-ce (Pigou, 1932, parte 4, cap. 13).

    Aps o trabalho infantil ser larga-mente discutido entre escritores e pensa-dores do sculo XIX, o tema passa a sernegligenciado por economistas durantemuito tempo.1 O interesse em pesquisase anlises econmicas sobre o assunto sressurge por volta de 1995. Dado quevem ocorrendo um declnio da incidn-cia global de trabalho infantil por vriasdcadas, questiona-se ento qual seria ofator responsvel pelo aumento de inte-resse recente em pesquisas sobre o assun-to. Basu e Tzannatos (2003a) destacamcomo principal fator a crescente nfasena reduo da pobreza e na acumulaode capital humano para obter desenvol-vimento, que faz com que o trabalho in-fantil seja visto como um impedimentoao progresso econmico.

    O recente interesse acadmico co-incide com a elevao do nmero de po-

    lticas nacionais e internacionais voltadaspara a reduo do trabalho infantil. Asprincipais convenes internacionais en-globam: a das Naes Unidas para o Dire-ito das Crianas, em 1989, a Conveno182 da OIT para eliminao das pioresformas de trabalho infantil, em 1999, e aDeclarao do Milnio com nfase na re-duo da pobreza e na educao universal,estabelecida em 2000.

    No Brasil, a partir de dezembro de1998, com a aprovao da Emenda Cons-titucional nmero 20, a idade mnima de14 anos, que havia sido estabelecida naConstituio de 1988, passa para 16 anos,salvo na condio de aprendiz entre 14 e16 anos de idade. Ainda a respeito da le-gislao brasileira, estabeleceu-se a idademnima de 18 anos para aqueles envolvi-dos em trabalhos que possam causar da-nos sade e, especificamente, probequalquer produo ou trabalho de mani-pulao de material pornogrfico, diver-timento (clubes noturnos, bares, cassi-nos, circo, apostas) e comrcio nas ruas.Ademais, probe trabalhos em minas, es-tivagem, ou qualquer trabalho subterr-neo para aqueles abaixo de 21 anos.

    As anlises empricas visando ob-ter as causas, conseqncias e soluespara o trabalho infantil esto agora sendofacilitadas pelo aumento da disponibilida-de de microdados e pelas facilidades com-

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    1 O declnio do trabalhoinfantil, que ocorreu no finaldo sculo XIX nos paseseuropeus e nos EstadosUnidos, atribudo aodesenvolvimento econmico,ao aumento da riqueza, assimcomo criao de leis, tantoregulamentando e/ouimpedindo o trabalho infantil,como tornando a educaobsica compulsria, o queacabou dificultando s crianasconciliarem trabalho e estudo.

  • putacionais disponveis, tanto de hardwarecomo de software, que permitem analisar etestar proposies e polticas alternativasde interveno. Isso resulta em maior en-tendimento dos mecanismos de alocaode tempo dentro do domiclio, suas inte-raes com as foras de mercado e o efei-to dessas interaes no trabalho infantil.

    No Brasil, a principal pesquisa uti-lizada para analisar o trabalho infantil aPesquisa Nacional por Amostra de Do-miclios (PNAD). Outras trazem tam-bm informaes importantes sobre otrabalho das crianas, como a PesquisaMensal de Emprego (PME), dados doSistema Nacional de Avaliao da Edu-cao Bsica (SAEB), censo demogrfi-co e outras.

    Este estudo tem como objetivoapresentar, de forma resumida, o que seconhece na literatura econmica sobretrabalho infantil e indicar direes parafuturos estudos. Inicialmente, apresen-tam-se idias e dados sobre o trabalho decrianas na poca da Revoluo Industri-al e como o tema ressurge nos anos 90.Em seguida, so apresentados alguns mo-delos tericos e economtricos utilizadosmais recentemente para modelar o traba-lho infantil, assim como os fatores quelevam a criana a trabalhar e as conse-qncias do trabalho precoce. Para fina-

    lizar, so apresentadas e discutidas algu-mas polticas pblicas de combate ao tra-balho infantil.

    2_ Dados e definiesdo trabalho infantil

    Apesar de a incidncia de trabalho infantilestar diminuindo, um grande nmero decrianas continua trabalhando e por umperodo longo de horas. O Departamentode Estatstica da Organizao Internaci-onal do Trabalho estimou em 2000 que,mundialmente, existiam em torno de 211milhes de crianas entre cinco e 14 anostrabalhando. As maiores porcentagens eramobservadas na sia, na frica e na AmricaLatina. Enquanto a sia tinha a maioriados trabalhadores infantis em termos ab-solutos, a frica ocupava o primeiro lugarem termos relativos (Ilo, 2002).

    No Brasil, dados da PNAD de2005 mostram que ainda existem quasetrs milhes de crianas e jovens de cincoa 15 anos trabalhando ou 7,8% do totalnessa faixa etria, apesar de ter havidoum declnio acentuado, principalmente,a partir da metade da dcada de 90.Em 1992, por exemplo, havia quase cin-co milhes e meio de crianas trabalhan-do, correspondendo a 14,6% da popula-o entre cinco e 15 anos. Sabe-se que a

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  • proporo de meninos trabalhando maior do que a de meninas, exceto noemprego domstico, onde a maioria dostrabalhadores mulher. Ademais, a por-centagem de trabalho infantil nas reasrurais bem mais elevada do que nas re-as urbanas do Brasil.

    As estatsticas sobre o trabalho in-fantil levantadas em diversos pases de-vem ser analisadas com cuidado, j queos valores podem estar subestimados ousuperestimados. Os levantamentos de da-dos realizados, geralmente, contabilizamo trabalho efetuado por crianas na se-mana anterior pesquisa. Entretanto, Le-vison et al. (2002) apontam que, se consi-derado o trabalho no ano, o nmero detrabalhadores infantis bem maior. Issoocorre, segundo os autores, pelo fato deuma parte do trabalho de menores ser sa-zonal e intermitente.

    Existe ainda o problema de no seconsiderar o trabalho dentro do domic-lio, largamente realizado por meninas, oque pode ser a explicao para o fato dehaver maior porcentagem de meninostrabalhando. Em muitos pases, como nandia, o trabalho realizado por meninasdentro do domiclio to rduo que atas impede de estudar (Burra, 1997).

    Alm de problemas de subestima-o, existe tambm o de superestimao,que ocorre ao se considerar como traba-

    lhador aquele que exerce atividades poruma hora ou mais na semana. Com essadefinio, so consideradas economica-mente ativas muitas crianas que traba-lham ainda que um nmero reduzido dehoras por semana, o que acaba nivelandoo trabalho de risco exercido por menoresdurante longas jornadas, como o corte dacana-de-acar ou sisal, com uma sim-ples ordenha de leite ou coleta de ovos nafazenda por alguns minutos por dia. Di-ante disso, a OIT diferencia o trabalho demenores e denomina de child laborertodas as crianas com menos de 12 anosexercendo qualquer trabalho e todas asde 12 a 14 anos que trabalham em ativi-dades que no so de risco por 14 horasou mais na semana ou uma hora ou maisna semana quando a atividade de risco.

    Para exemplificar as sub e superes-timaes mencionadas, utilizaremos os da-dos do Brasil da Pesquisa Nacional porAmostra de Domiclios (PNAD) de 2005.Considerando trabalho remunerado ouno, 2.934.724 crianas entre 5 e 15 anostrabalham uma hora ou mais na semanaanterior pesquisa, no incluindo as cri-anas procurando emprego ou exercen-do atividades domsticas. Se considerar-mos apenas aquelas exercendo atividadespor 14 horas ou mais na semana, o n-mero cai para 1.897.877. Se contabilizar-mos o nmero de crianas trabalhando

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  • por uma hora ou mais na semana emqualquer trabalho que tenha tido no anoanterior pesquisa, o nmero de crianaspassa de 2.934.724 para 3.495.870. Se in-cluirmos as que trabalharam no ano e asprocurando emprego tem-se 3.625.490.Se definirmos o trabalho como aqueleexercido por mais de 13 horas por sema-na em atividades domsticas ou no, semdupla contagem, teramos 4.713.439 me-nores, enquanto 18.059.327 trabalham ouexercem atividades domsticas por 1 ho-ra ou mais na semana (Tabela 1).

    Diante do exposto, fica evidenteque no existe uma nica definio detrabalho infantil. A maioria dos estudos,principalmente pela disponibilidade dedados, considera o trabalho de crianas

    por uma hora ou mais na semana. Entre-tanto, em pesquisas mais especficas soutilizadas informaes sobre o trabalhodomstico ou a populao economica-mente ativa de crianas, isto , as traba-lhando e procurando emprego.

    Outro ponto importante a pr-pria definio de criana, que difere deum pas para outro. Enquanto em algu-mas reas a infncia relacionada ida-de cronolgica, em outras, fatores sociaise culturais tambm so considerados.Nos estudos sobre o trabalho infantil,geralmente, estabelece-se a faixa etriaa ser analisada de acordo com a legisla-o vigente no local de estudo, que tam-bm difere significativamente de um paspara outro.

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    Tabela 1_ Nmero e porcentagem de crianas trabalhando

    Crianas de 5 a 15 anos Nmero %

    Trabalhando 14 horas ou mais na semana 1.897.877 5,0

    Trabalhando 1 hora ou mais na semana 2.934.724 7,8

    Trabalhando 1 hora ou mais na semana em qualquer trabalhoque tenha tido no ano anterior pesquisa 3.495.870 9,3

    Trabalhando no ano e procurando emprego 3.625.490 9,6

    Trabalhando ou exercendo atividades domsticas por 14 horasou mais na semana

    4.713.439 12,5

    Trabalhando ou exercendo atividades domsticas por 1 horaou mais na semana 18.059.327 48,0

    Fonte: PNAD (2005).

  • A legislao brasileira uma dasmais rgidas em relao idade mnima deingresso no mercado de trabalho, equipa-rando-se aos Estados Unidos e Frana.Na Inglaterra, por exemplo, a idade mni-ma de 13 anos, na Blgica e na maioriados pases da Amrica Latina de 14 eem pases como Sua, Alemanha, Itlia eChile a idade mnima 15 anos (Ilo, 1998).

    3_ Modelos tericos explicativosdo trabalho infantil

    Como descrito anteriormente, a origemdos modelos matemticos e de constru-es tericas relacionados ao fato de a cri-ana trabalhar pode ser encontrada em re-latos de escritores como Karl Marx, AlfredMarshall, Arthur Pigou e outros. Nesta se-o, objetivando mostrar o desenvolvimen-to de pesquisas sobre o trabalho infantil,sero apresentados alguns estudos mais re-centes que utilizaram modelos tericos.

    Rosenzweig (1981) emprega a teo-ria econmica bsica de deciso familiarpara explicar a alocao de tempo entretrabalho, escolaridade e lazer de crianasna ndia. Essa teoria, proposta por GaryBecker, considera que o tempo distri-budo entre trabalho, lazer e escola. Pres-supe que a famlia deriva utilidade a par-tir do consumo de bens, de servios e delazer, e que lazer prefervel ao trabalho.

    Os indivduos desejam o mximo de bensque podem obter. Entretanto, defrontam-se com restries de tempo e de renda. Odesejo de consumir sempre mais bens eas restries de tempo e renda criam regi-mes de trocas, uma vez que mais tempogasto em uma determinada tarefa signi-fica menos tempo despendido em outra.Ento, a escolha de trabalhar ocorre, ape-sar de lazer ser prefervel a trabalho, poislazer implica menos renda para consumirbens de mercado.

    A escola vista, nesse modelo, co-mo um investimento, com custos presen-tes e benefcios futuros. A troca, nessecaso, est relacionada quantidade debens de consumo e benefcios a que sedeve renunciar no presente, uma vez quea criana no trabalha e tem custos comeducao (taxas escolares, uniforme, ma-terial, transporte, etc.), com relao ao ga-nho adicional obtido no futuro por termaior nvel de instruo. Assim, o traba-lho infantil e o tempo na escola so de-terminados pela alocao do tempo dosmembros do domiclio em diversas ativi-dades e o desejo por benefcios futuros,educao e consumo corrente. Qualquerfato que altere os benefcios ou custos daeducao ou as restries enfrentadas pelafamlia poder afetar a quantidade de edu-cao que a criana recebe e a quantidadede tempo gasta com trabalho.

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  • Trabalho infantil uma atividadeque gera benefcios imediatos na forma derenda, mas tambm gera custos por no es-tudar e/ou por reduzir o tempo de lazer.2

    Assim sendo, fatores que afetam os benef-cios do trabalho (salrio) ou os custos (re-tornos educao) tambm afetaro a de-ciso com relao ao trabalho infantil.

    Mais formalmente, no modelo deRosenzweig (1981) pressupe-se que afamlia maximiza uma funo utilidade(U ) contnua, estritamente crescente, qua-se-cncava e diferencivel, a qual fun-o de bens comprados e consumidos(X ), do tempo de lazer da me (l mo ) e dopai (l fa ), do tempo de lazer da criana(l ch ), e do nvel de escolaridade da criana(Sch ), ou seja

    U = U(X, l mo, l fa, l ch, Sch ) (1)

    Para simplificar a notao, conside-ra-se o caso de uma famlia com pai, me euma criana.3 Generalizaes podem serobservadas em Rosenzweig (1981). Pres-supe-se que o nvel de escolaridade dacriana requer tempo (t sch ) e bens (Xs ),como material escolar, taxas escolares,transporte, etc., tal como

    Sch = s(t sch , X s ) (2)

    A famlia tambm se defronta comuma restrio de renda total (F ) dada por:

    F = V + TmoWmo + TfaWfa + Tch Wch =

    = P xX + Wmo l mo + Wfa l fa +

    + P sX s + Wch (l ch + t sch )(3)

    onde V a renda no-salarial; Tmo , Tfa e Tchso o tempo total disponvel da me, pai ecriana; Wmo , Wfa e Wch so os salrios dame, pai e criana, e Px e Ps so os preosde X e Xs .

    Da restrio de renda total, pos-svel se verificar que o rendimento total

    da criana Wch(Tch l ch t sch ). Os custosdiretos da escolaridade so PsXs e o custodo tempo de escolaridade Wch t sch .

    A maximizao da funo utilida-de sujeita restrio de renda total pro-duz um conjunto de equaes de deman-da para as variveis endgenas l mo, l fa, l ch,t sch, X, Xs em funo das variveis exge-nas Wmo , Wfa , Wch , Px , Ps , isto ,

    D = fD(Wmo , Wfa , Wch , Px , Ps , V ) (4)

    onde D lmo , lfa , lch , tsch , X , Xs.

    Tomando como base as formas re-duzidas das equaes de demanda, poss-vel analisar o efeito de uma varivel exge-na sobre as endgenas. Por exemplo, umamudana no salrio da criana Wch e no sa-lrio da me Wmo sobre o tempo de traba-

    lho da criana twch= Tch l ch t sch e sobre o

    tempo de trabalho da me twmo = Tmo l mopodem ser decompostos nos efeitos preo(utilidade constante) e renda, tais como:

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    2 Estas atividades noprecisam estar em conflito,dependendo do tempo gastocom cada uma delas.3 Alguns estudos consideramo nmero de crianas oufecundidade como decisesendgenas Harman (1970),Da Vanzo (1972), Rosenzweig(1981). Becker e Lewis (1973)discutem a existncia de trocaentre qualidade e quantidadede crianas. Entretanto, nestemodelo, nmero de crianas considerado exgeno,seguindo, por exemplo,Jensen e Nielsen (1997) eGrootaert e Patrinos (1998).

  • t

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    ( )(7)

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    ( )(8)

    Das equaes (5) a (8), possvelprever o sinal positivo para o primeiro ter-mo do lado direito dessas. Ademais, sabe-se que os primeiros termos das equaes(6) e (7) devem ser iguais graas condiode simetria. A simetria mostra que qual-quer mudana no salrio da criana ter umefeito sobre o tempo de trabalho da meigual ao efeito de uma mudana no salrioda me sobre o tempo de trabalho da crian-a, mantido constante o nvel de utilidade.Rosenzweig (1981) afirma que

    como conseqncia da interdependncia (efei-

    to salrio cruzado) do comportamento da

    oferta de trabalho dentro do domiclio, uma

    mudana exgena nas condies do mercado

    de trabalho de mulheres adultas pode ter efe-

    itos importantes no emprego das crianas e

    vice-versa, sem considerar o quanto crianas

    e mulheres adultas so vistas pelos emprega-

    dores como substitutas.

    As equaes de demanda na for-ma-reduzida tambm tm grande impor-tncia pelo fato de polticas poderem serrecomendadas baseadas nas anlises dasrelaes entre variveis. Como um exem-plo, possvel observar o efeito de umamudana no tempo de trabalho da crianana oferta de trabalho do pai (t wfa ), isto ,

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    wfa

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    ch u u

    que significa que o efeito de uma restrioimposta oferta de trabalho da criana so-bre o nvel de oferta de trabalho dos pais te-r o mesmo sinal dado pelo efeito do salrioda criana sobre a oferta de trabalho do pai,uma vez que t wch /Wch positivo. Se aquantidade de tempo dedicada pela crianaao trabalho for pequena, ento a equao,

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    ser uma boa aproximao do efeito salrio(preo) com utilidade constante.

    O tempo de trabalho da crianapode ser realocado para lazer, escola, ati-vidades domiciliares ou trabalho. A alo-cao do tempo das crianas pela famlia feita com base na capacidade de produ-o da criana e dos pais no domiclio e

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    O que conhecemos sobre o trabalho infantil?332

  • no mercado de trabalho e no grau desubstituio da fora de trabalho entre ascrianas e os seus pais. Enquanto as ativi-dades domiciliares realizadas pelas crian-as podem permitir que mes ou irmosmais velhos entrem no mercado de traba-lho, as atividades de mercado realizadaspelas crianas permitem a elas contribu-rem para o aumento da renda familiar.

    Os modelos de deciso familiartentam explicar simultaneamente as deci-ses de consumo e trabalho infantil e, svezes tambm, freqncia escola e fecun-didade. As especificaes so mantidasbastante simples para permitir generali-zao e testes empricos. Esses modelosso caracterizados por uma deciso nicano domiclio, que s ocorre se existe umditador ou se todos os membros tm amesma funo utilidade. Entretanto, hevidncias de que esses modelos estocada vez mais distantes da realidade, aqual mostra que, dentro do domiclio,no h um ditador, mas o que ocorre uma barganha entre as pessoas, e o poderde barganha est relacionado com os re-cursos (salrios) de cada indivduo da fam-lia. Modelos envolvendo barganhas (mo-delos coletivos) foram ento utilizadospara explicar o trabalho infantil e o bem-estar das crianas. Se a barganha ocorredentro da famlia, isto , entre os pais e acriana, a funo utilidade da famlia re-

    presentada por uma mdia ponderadadas utilidades, em que os pesos depen-dem da renda dos pais e das crianas.

    Basu (1999) apresenta uma versosimplificada do modelo coletivo envol-vendo trabalho infantil, em que a famlia composta por um adulto (pai ou me) euma criana, sendo esses os agentes 1 e 2,respectivamente. Pressupe-se que existesomente um bem na economia, e x i aquantidade consumida do bem x peloagente i. Se o preo da unidade do bem es-colhido for 1 e considerarmos que cadaagente na famlia se interessa pelo consu-mo de todos os membros da famlia, tem-se que a funo utilidade da famlia umamdia ponderada das utilidades de cadaagente 1 e 2, isto u 1 e u 2 , sendo que opeso que multiplica a utilidade do pai ouda me depende da renda dele ou dela e darenda da criana, denotadas, respectiva-mente, por y 1 e y 2. Em outras palavras,quem recebe mais ou menos peso na fun-o utilidade da famlia quem traz maisou menos renda para a famlia. Assim, oproblema de deciso da famlia o de ma-ximizar a funo utilidade dada por,

    ( y 1, y 2 )u 1(x 1, x 2 ) +

    + [1 ( y 1, y 2 )]u 2(x 1, x 2 )

    sujeita a

    x 1 + x 2 y 1 + y 2

    pressupondo-se que

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  • Moehling (2003) estima um mo-delo muito semelhante a esse, utilizan-do dados de uma pesquisa de oramen-tos familiares de americanos vivendo narea urbana no perodo 1917-1919. Elaobserva que os gastos com a criana somaiores na famlia quanto maior a fra-o de renda vinda dessa criana.

    Recentemente, Basu e Van (1998)construram um modelo com base emduas pressuposies: o axioma da luxriae o axioma da substituio. No primeiro,considera-se que a pobreza o que levaas famlias a colocarem seus filhos paratrabalhar. Em outras palavras, o tempoda criana, que no alocado com o tra-balho (escola e lazer), um bem de luxo,no podendo ser adquirido por pais combaixo nvel de renda. Assim sendo, paiscom renda muito baixa no conseguemretirar os filhos do trabalho. Somentequando a renda aumenta, os pais retiramas crianas do trabalho. Implcita nessapressuposio a viso altrusta dos pais,que colocam seus filhos para trabalharsomente se levados pela necessidade.

    Considera-se, com base no axio-ma da substituio, que o trabalho doadulto e da criana so substitutos, sujei-

    to a uma correo de adulto-equivaln-cia. Mais especificamente, significa queas crianas podem fazer o trabalho dosadultos e vice-versa. Havia uma crenade que as crianas tinham habilidades in-substituveis, por exemplo, os chamadosnimble fingers, que significa que somentecrianas com seus pequenos dedos eramcapazes de amarrar os ns adequadamen-te dos tapetes, ou que somente meninospequenos eram capazes de entrar e rastejarem pequenos tneis das minas. Entretanto,um estudo sobre tecnologia de produoenvolvendo crianas da ndia, realizadopor Levison et al. (1998), mostrou que osadultos so to bons quanto as crianasna confeco manual de tapetes, dandosuporte assim ao axioma da substituio.

    Para explicar o modelo de Basue Van (1998), Basu e Tzannatos (2003b)consideram, por simplicidade, que a eco-nomia consiste de N famlias e que cadafamlia tem um adulto e m crianas. Aproduo ocorre utilizando-se somentetrabalho. Cada adulto oferta uma unida-de de trabalho, enquanto que a crianaoferta y (0 < y < 1) ao realizar um dia detrabalho em tempo integral, o que for-maliza o axioma da substituio. Consi-

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    O que conhecemos sobre o trabalho infantil?334

    y y

    u

    x

    u

    x

    u

    x

    u

    x1 2

    1

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    2

    2

    1

    2

    2

    0 0 0 0 0 , , , , , 0 0 1e

  • deram ainda que o salrio de um dia detrabalho realizado por um adulto w e oda criana w c, tal que, w c = yw.

    A famlia decide qual deve ser oseu consumo mnimo tolervel, denomi-nado de consumo de subsistncia s. So-mente se os adultos trabalham tempo in-tegral e a renda familiar cai abaixo donvel de consumo de subsistncia queas crianas so colocadas para trabalhar,refletindo o axioma da luxria.

    Na Figura 1, o salrio dos adultos representado no eixo vertical. Se essesalrio maior do que s, somente adultosofertam trabalho (N ). O segmento AB

    parte da oferta de trabalho, pressupondo-se, por simplicidade, ser perfeitamenteinelstica. No momento em que w cai abai-xo do nvel s, os pais fazem as crianas tra-balhar para recuperar o nvel mnimo derenda aceitvel, aumentando a oferta detrabalho. O segmento BC pode ser umahiprbole retangular sob a pressuposiode que a famlia utiliza o trabalho infantilpara atingir exatamente o nvel s. A entra-da das crianas no mercado de trabalhocontinua at que no haja mais trabalhoa ser ofertado (N +mN ), resultando naforma ABCF da curva de oferta.

    Ana Lcia Kassouf 335

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    N

    s

    N + mN

    oferta

    demanda

    E 2

    E 1

    trabalho

    wA

    B

    C

    F

    Figura 1_ Efeito do consumo de subsistncia no trabalho infantil

    Fonte: Basu e Tzannatos (2003b).

  • Considerando uma curva de de-manda de trabalho negativamente incli-nada, obtm-se o ponto de equilbrio E 1,no qual os salrios so altos e no existetrabalho infantil e o ponto de equilbrioE 2, no qual os salrios so baixos e h al-ta incidncia de trabalho infantil.

    Observa-se, ento, que os autoresgeram uma situao de equilbrio mlti-plo em que a proibio do trabalho in-fantil pode mover uma economia de umequilbrio com baixos salrios em quecrianas trabalham, para outro equilbriocom altos salrios em que crianas notrabalham. Assim, de acordo com o mo-delo, a eliminao do trabalho infantilpoderia resultar em uma situao em quetodos se beneficiariam, com salrios au-mentando a um ponto tal que famliaspobres poderiam ter um aumento na ren-da aps a eliminao do trabalho infantil.

    Entretanto, Basu e Van (1998) en-fatizam que a interveno legal para ba-nir o trabalho infantil no sempre apro-priada. Em economias muito pobres, possvel que a demanda por trabalho sejato baixa que a nica interseco da cur-va de demanda com a de oferta ocorra nosegmento CF. Nesse caso, eliminar o tra-balho infantil pode levar as crianas e se-us pais a uma condio de maior pobrezae com risco de inanio.

    Ranjan (1999) desenvolve um mo-delo terico para uma economia em de-senvolvimento, mostrando que o traba-lho infantil surge graas pobreza e simperfeies no mercado de crdito. Oautor mostra que se a famlia pobre tives-se acesso ao crdito, na presena de altosretornos educao, ela estaria propensaa colocar o filho na escola em vez de co-loc-lo no trabalho. Ademais, mostra quea proibio do trabalho infantil reduz obem-estar de famlias que tinham a inten-o de fazer seus filhos trabalharem. Eledestaca que a proibio, que s pode serimposta ou cumprida no setor formal daeconomia, pode piorar a situao das crian-as forando-as a trabalhar no setor infor-mal, sob piores condies de trabalho.

    Baland e Robinson (2000), assimcomo Basu e Van (1998), associam o tra-balho infantil a pobreza, mas mostramque socialmente ineficiente quando utili-zado por pais como uma transferncia derenda das crianas para eles ou quando himperfeies no mercado de capitais.

    Ranjan (2001) estuda a relao en-tre desigualdade da distribuio de rendae incidncia de trabalho infantil na pre-sena de restries de crdito. Uma desuas concluses que redistribuir rendados ricos para os pobres pode reduzir aincidncia de trabalho infantil.

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    O que conhecemos sobre o trabalho infantil?336

  • 4_ Anlises empricas

    4.1_ Modelos economtricos

    A maioria dos estudos que tentou estimaros determinantes do trabalho infantil utili-zou modelos prbite, prbite bivariado oulgite multinomial. As estruturas dos mo-delos so apresentadas a seguir.

    Chamarbagwala (2004) na ndia,Kassouf (2002) no Brasil, Jensen e Niel-sen (1997) em Zmbia, entre outros, uti-lizaram modelos prbite. Nesse caso, avarivel dependente assume valor 1 se acriana trabalha e 0 se no trabalha.

    A deciso dos pais de colocar acriana na escola e/ou no trabalho resul-ta de uma deciso de alocao de tempoentre atividades que so interdependen-tes, competindo entre si com relao aotempo disponvel da criana. Essa inter-dependncia levada em consideraoao se estimar o modelo prbite bivariado,em que duas equaes, uma de trabalhodas crianas e outra de freqncia esco-la, so estimadas, permitindo a existnciade correlao entre os erros. Alguns estu-dos que utilizaram esse mtodo foram:Kim (2004) para o Camboja e Duryeae Kuenning (2003) e Emerson e Souza(2002b) para o Brasil.

    Em muitos pases comum ob-servar crianas que estudam e trabalham

    concomitantemente, assim como muitasno esto inseridas no mercado de traba-lho e tambm no freqentam a escola.4

    Se as diferentes categorias em que a crian-a est inserida trabalha e estuda, s tra-balha, s estuda, no trabalha nem estu-da so consideradas na anlise, o mode-lo lgite multinomial o mais comumenteutilizado nas anlises empricas (Nkamleue Gockowski, 2004; Chamarbagwala, 2004;Kassouf, 2002; Grootaert, 1998).

    A principal caracterstica do mode-lo lgite multinomial a existncia de umanica deciso entre duas ou mais alternati-vas. Lembre-se de que, no modelo prbitebivariado, tanto a deciso de trabalhar co-mo a de estudar ocorria entre duas alter-nativas. Na verdade, o modelo lgite mul-tinomial uma generalizao do modelolgite, que no foi descrito anteriormente,mas muito semelhante ao prbite, sque a funo de distribuio considerada a logstica em vez de normal.

    Outro modelo alternativo utilizadona literatura, mas com menor freqncia, o modelo prbite seqencial. Grootaerte Patrinos (1998) usaram o modelo se-qencial para analisar dados da Costa doMarfim, da Colmbia, da Bolvia e das Fi-lipinas. Os autores pressupem que ini-cialmente os pais decidem se a criana es-tuda ou no e ento se vai para o mercado

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    4 No Brasil, dados da PNADde 2003 mostram que 88,2%das crianas de 7 a 15 anoss estudam, 8,1% trabalhame estudam, 0,8% s trabalhame 2,9% no trabalhamnem estudam.

  • de trabalho ou no e ento se vai exerceratividades no remuneradas ou no. Essemodelo, apesar de no ter a limitao im-posta pela independncia das alternativasirrelevantes que ocorre no lgite multino-mial, exige pressuposies fortes quanto seqncia de decises, que nem semprerepresenta a realidade.

    As estimativas dos parmetros detodos os modelos apresentados so fei-tas pelo mtodo de mxima verossimi-lhana. Como as estimaes envolvemfunes no-lineares, o efeito marginalde uma varivel explanatria sobre a va-

    rivel dependente no o coeficiente ,como no modelo linear, e deve ser cal-culado para cada caso.

    Alguns poucos estudos estimarama funo de oferta de trabalho de crianas,tendo como varivel dependente o nme-ro de horas de trabalho. Como muitas cri-anas no trabalham, estimar equaesde salrio ou horas de trabalho somentepara crianas que trabalham, por mni-mos quadrados, leva a estimativas incon-sistentes devido a seletividade amostral.Ray (2000) e Bhalotra e Heady (2003) es-timam equaes de horas de trabalho decrianas, utilizando o modelo tbite, en-quanto Bhalotra (2004) utiliza o procedi-mento de Heckman.

    A caracterstica do modelo tbite a varivel dependente ser censurada. Na

    amostra censurada, algumas observaesda varivel dependente, correspondentesa valores conhecidos das variveis exge-nas, no so observveis. Nesse caso, osvalores dentro de certo intervalo so to-dos transformados em um nico valor.Por exemplo, podemos ter dados de vari-veis exgenas de pessoas que no traba-lham e de pessoas que trabalham, porms observamos o nmero de horas de tra-balho de quem trabalha, atribuindo zeroaos demais valores.

    Nos modelos de seleo amostral,em que o procedimento de Heckman uma alternativa ao mtodo de mximaverossimilhana, consideram-se duas equa-es, uma equao de seletividade amos-tral (participao no mercado de traba-lho) e a equao sendo estimada (equa-o de horas de trabalho). O problemaocorre quando consideramos a equaoque descreve o nmero desejado de ho-ras de trabalho, mas esse nmero s ob-servado se o indivduo trabalha, isto , seo salrio de mercado maior do que o sa-lrio reserva. Segundo Kennedy (2003),utilizar o modelo tbite para estimaroferta de trabalho no apropriado, poisnesse modelo a equao de seletividadeamostral a mesma da equao sendo es-timada, com um limite fixo determinan-do quais observaes entram na amostra.Na estimao do nmero de horas de tra-

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    O que conhecemos sobre o trabalho infantil?338

  • balho, no existe um limite fixo j quea deciso de trabalhar est relacionadaao salrio reserva, que especfico paracada indivduo.

    O mtodo de Heckman consisteem estimar a primeira equao (modeloprbite de participao no mercado detrabalho) por mxima verossimilhana eobter as estimativas dos parmetros. Paracada observao, estima-se a razo inver-sa de Mill e ento se gera a regresso pormnimos quadrados de horas de trabalhoem funo das variveis exgenas e davarivel razo inversa de Mill para obterestimativas consistentes dos parmetros.

    4.2_ Causas do trabalho infantil

    Nos ltimos dez anos, graas disponibili-dade de microdados de pesquisas domici-liares levantadas em diversos pases e deanlises economtricas voltadas ao tematrabalho infantil, economistas comeam aentender melhor o que leva as crianas atrabalhar. A pobreza, a escolaridade dospais, o tamanho e a estrutura da famlia, osexo do chefe, idade em que os pais come-aram a trabalhar, local de residncia, entreoutros so os determinantes mais analisa-dos e dos mais importantes para explicar aalocao do tempo da criana para o traba-lho (ver Kassouf, 2001a, para um resumo

    dos principais estudos empricos sobre tra-balho infantil no Brasil).

    Apesar de ser o mais esperado,pobreza o determinante mais contro-verso dentro da literatura sobre trabalhoinfantil. Basu e Tzannatos (2003b) ressal-tam que filhos de advogados, mdicos,professores e, em geral, da populao declasse mdia alta no trabalham na infn-cia. Vrios estudos mostram que o au-mento da renda familiar reduz a probabi-lidade de a criana trabalhar e aumenta ade ela estudar (Nagaraj, 2002; Edmonds,2001; Kassouf, 2002). Em nvel mais ma-croeconmico, observa-se que as naesque se tornaram mais ricas apresentaramuma reduo no trabalho infantil. Tantona China, como na Tailndia e na ndia, ocrescimento do produto interno brutofoi acompanhado pelo declnio do traba-lho infantil. Dados em painel, coletadosno Vietnam, mostram que, de 1993 a1998, houve um crescimento per capitado PIB de 6,5% ao ano, e o trabalho decrianas de 5 a 15 anos, nesse perodo, ca-iu 26%. Por outro lado, h estudos emp-ricos que falharam em encontrar uma re-lao entre renda e trabalho infantil (Ray,2000; Barros et al., 1994). Bhalotra e He-ady (2003), utilizando dados da rea ruralde Gana e do Paquisto, mostraram quefamlias que so proprietrias de maiores

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  • reas de terra onde trabalham tendem afazer seus filhos trabalharem mais. Comoa posse de reas maiores de terras tipica-mente associada a uma maior riqueza,os autores sugerem que maior nvel depobreza no est relacionado ao aumen-to do trabalho infantil. A principal razopara esse resultado que indivduos composse maior de terra tm oportunidadede usar de forma mais produtiva a mo-de-obra familiar. Portanto, no significaque pobreza no um determinante dotrabalho infantil, mas, sim, que o traba-lho infantil responde a incentivos e opor-tunidades que surgem com as imperfei-es no mercado de trabalho.

    A maioria das pesquisas realizadasinclui a escolaridade dos pais nas equa-es de trabalho das crianas, tratandomes e pais separadamente. Entretanto,h um nmero grande de estudos que in-clui somente o nvel de escolaridade dochefe da famlia. Ao interpretar os coefi-cientes de educao dos pais, impor-tante saber quais as variveis includas naregresso. Em particular, se a renda dafamlia no for controlada, qualquer efei-to da educao dos pais tender a incluiro efeito renda, uma vez que pais maiseducados tendem a ganhar mais e ser ma-is ricos. Se for observado que crianas depais mais educados so menos propen-

    sos a trabalhar e a renda estiver mantidaconstante, ento uma interpretao plau-svel para o efeito da educao em ter-mos de aspirao para o futuro da crian-a e grau de subjetividade para a prefe-rncia na alocao do tempo.

    Muitos estudos mostram um efeitonegativo da escolaridade dos pais sobre otrabalho das crianas, sendo o tamanhodo efeito da escolaridade da me superiorcom relao ao observado para a escolari-dade do pai. Entretanto, h uma variaoconsidervel em relao a esse resultado.Bhalotra e Heady (2003) encontram efeitonegativo somente para a escolaridade dame sobre o trabalho de crianas da rearural de Gana, assim como Rosati e Tzan-natos (2000) no Vietnam e Cigno e Rosati(2002) na ndia. Tunali (1997) no en-contra efeito da escolaridade dos pais naTurquia, enquanto Kassouf (2002) obtmefeito negativo e altamente significativopara me e pai no Brasil.

    A composio familiar outro im-portante determinante do trabalho infan-til. Apesar de alguns autores Harman(1970), Da Vanzo (1972) e Rosenzweig(1981) considerarem-na como varivelendgena e parte da deciso familiar en-volvendo a troca entre quantidade e qua-lidade, muitos estudos incluem o nme-ro de irmos mais novos e mais velhos

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    O que conhecemos sobre o trabalho infantil?340

  • como variveis exgenas na equao detrabalho das crianas. Muitas crianas tra-balham mais quanto maior o nmero deirmos, principalmente mais novos. Estu-do realizado nas Filipinas mostrou que apresena do irmo mais velho diminua aprobabilidade de a criana trabalhar.5 Napesquisa realizada por Kassouf (2002),essa varivel ou no apresentou signifi-cncia estatstica ou teve o mesmo com-portamento da varivel irmos mais no-vos, ou seja, de forma geral, o aumento dotamanho da famlia levou a um aumentoda participao das crianas na fora detrabalho. Apesar de muitos estudos inclu-rem indicadores de composio familiarnas equaes de trabalho de crianas,poucos consideram os efeitos da ordemde nascimento. Exceo a isso o estudode Emerson e Souza (2002a) que, utili-zando a PNAD de 1998, estabelecemuma relao sistemtica entre a ordem denascimento e a propenso de a crianatrabalhar ou estudar. O ltimo a nascerteve menor probabilidade de trabalhardo que seu irmo mais velho, isto , algu-mas crianas trabalham para permitir queoutras estudem. Esse fenmeno apareceamplamente em famlias moderadamen-te pobres, pois nas famlias ricas todasas crianas estaro na escola e fora do tra-balho e nas extremamente pobres o in-verso ocorrer.

    Praticamente todos os estudos queincluram como varivel exgena o sexodo responsvel pela famlia concluramque crianas de famlia chefiada por mu-lher tm maior probabilidade de traba-lhar. Suportam essa hiptese os estudosde Patrinos e Psacharapoulos (1994) parao Paraguai, Grootaert (1998) para a Cos-ta do Marfim e Bhalotra e Heady (2003)para o Paquisto. No Brasil, quase 30%das famlias tm esse perfil. Barros, Fox eMendona (1997), com base na PNADde 1984, analisaram dados das RegiesMetropolitanas de Recife, So Paulo ePorto Alegre para identificar os efeitosque as famlias nas quais a me chefeexercem sobre o bem-estar das crianas(porcentagem freqentando escola e notrabalhando), isolando o efeito da pobre-za. O fato de haver aumento do trabalhoinfantil nas famlias chefiadas por mulhe-res, pode estar mostrando um grau devulnerabilidade da famlia que no estsendo captado pela renda, podendo estarrelacionado habilidade de emprestar di-nheiro, a de lidar com crises e a de per-cepo quanto disponibilidade de dife-rentes alternativas de trabalho, entre ou-tros fatores.

    A rea rural abriga uma porcenta-gem maior de trabalhadores infantis. Aincluso de uma varivel binria repre-sentando as reas urbana e rural do pas

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    5 De Graff et al. citado porGrootaert e Kanbur (1995).

  • tende a ser significativa nas equaes departicipao da criana no trabalho, mes-mo mantendo a renda da famlia e outrosfatores constantes. Esse fato sugere queo nvel de pobreza das famlias da zonarural no o nico fator que leva as cri-anas a trabalhar. Razes adicionais in-cluem a infra-estrutura escolar mais fracae menor taxa de inovao tecnolgica narea rural que podem desencorajar a fre-qncia escolar, alm da maior facilida-de de a criana ser absorvida em ativi-dades informais e a prevalncia de traba-lhos agrcolas familiares e que exigemmenor qualificao.

    O efeito da idade da criana sobrea probabilidade de ela trabalhar semprepositivo ou no significativo. O trminodo ensino compulsrio e a maior ofertade trabalho disponvel s crianas maio-res contribuem para o aumento do traba-lho numa faixa etria mais avanada.

    Outro importante determinante dotrabalho infantil, discutido na literaturacomo associado ao ciclo da pobreza, aentrada precoce dos pais no mercado detrabalho. H estudos mostrando que cri-anas de pais que foram trabalhadores nainfncia tm maior probabilidade de tra-balhar, levando ao fenmeno denomina-do de dynastic poverty traps. Wahba(2002), utilizando dados do Egito, mos-tra que a probabilidade de a criana tra-

    balhar aumenta em 10% quando a metrabalhou na infncia e em 5% quando opai trabalhou. Emerson e Souza (2003)chegam a concluso parecida, analisan-do dados do Brasil, e atribuem o fen-meno s normas sociais, isto , pais quetrabalharam quando crianas enxergamcom mais naturalidade o trabalho infantile so mais propensos a colocar os filhospara trabalhar.

    Finalmente, podemos citar outrosdeterminantes do trabalho infantil, tam-bm importantes, mas no to utilizadosna literatura existente, como salrio, idadee ocupao dos pais, tamanho da proprie-dade agrcola onde as crianas trabalham,custos relacionados escola, medidas dequalidade do estabelecimento de ensinoonde a criana est inserida, alm de me-didas que reflitam a infra-estrutura da co-munidade, como disponibilidade de trans-porte pblico, rodovias, eletrificao, etc.

    4.3_ Conseqncias do trabalho infantil

    Apesar de haver extensa literatura sobre osdeterminantes do trabalho infantil, alm demuitas iniciativas e recomendaes visan-do combat-lo, h poucos estudos anali-sando as conseqncias socioeconmicasdo trabalho de crianas e adolescentes. Osprincipais danos, apontados em discussessobre o tema, so sobre a educao, o sal-rio e a sade dos indivduos.

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  • Alguns pesquisadores, na reali-dade, admitem a possibilidade de o tra-balho permitir que as crianas estudem,uma vez que sero capazes de cobrir oscustos de sua educao, o que seria im-possvel para uma famlia de baixa renda(Myers, 1989). Outros defendem que otrabalho exercido pela criana pode ele-var seu nvel de capital humano, por meiodo aprendizado adquirido com esse tra-balho (French, 2002). Entretanto, a maio-ria da literatura parece concordar com aviso de que o trabalho exercido durantea infncia impede a aquisio de educa-o e capital humano. No estudo realiza-do por Kassouf (1999), Ilahi et al. (2000)e por Emerson e Souza (2003), todos uti-lizando dados da PNAD para o Brasil, fi-ca claro que, quanto mais jovem o indiv-duo comea a trabalhar, menor o seusalrio na fase adulta da vida e essa redu-o atribuda, em grande parte, a perdados anos de escolaridade em razo dotrabalho na infncia.

    Como em muitos pases h umnmero expressivo de crianas e ado-lescentes que trabalham e estudam, tor-na-se primordial que se analise no sse o trabalho responsvel pela baixafreqncia das crianas na escola, mastambm se o trabalho infantil reduz odesempenho escolar. Bezerra, Kassouf e

    Kuenning (2007) utilizaram os dados doSistema Nacional de Avaliao da Edu-cao Bsica (SAEB) de 2003, que possuiinformaes de testes padres de lnguaportuguesa e de matemtica aplicadosaos alunos da 4 e 8 srie do ensino fun-damental e da 3 srie do ensino mdio,em escolas pblicas e privadas do Brasil econcluiu que o trabalho infantil, princi-palmente fora do domiclio e durantelongas horas, reduz o desempenho esco-lar em at 20%.

    Heady (2003), em estudo realizadoem Gana, revelou que o trabalho pratica-do por crianas tinha um efeito negativosobre a aprendizagem em reas chaves,como leitura e matemtica. Gunnarsson,Orazem e Snchez (2004) realizaram umapesquisa em onze pases da Amrica La-tina e concluram que os estudantes quetrabalhavam obtinham 7,5% menos pon-tos nos testes de matemtica e 7% menosnos testes de idioma do que os alunosque somente estudavam.

    Cavalieri (2000) analisou como te-ria sido o desempenho escolar de crian-as de 10 a 14 anos que trabalhavam, ca-so tivessem sido efetivamente proibidasde trabalhar. Para tal, utilizou uma amos-tra retirada da PME de 1984 a 1993, sele-cionando crianas que eram filhos, quena primeira entrevista estudavam, no

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  • trabalhavam nem procuravam emprego,nem haviam trabalhado anteriormente.Dessa amostra escolheu dois grupos, umcomposto por crianas que comearam atrabalhar em um dos trs meses consecu-tivos, continuaram trabalhando nos me-ses em que foram entrevistadas nessemesmo ano, e permaneceram trabalhan-do no ano seguinte, i. e., na quinta entre-vista (tratamento); e outro constitudopor crianas que no trabalharam em ne-nhum dos perodos (controle). A proba-bilidade de aprovao foi estimada emfuno da idade, sexo, escolaridade, re-gio de residncia, composio familiar,renda, sexo, condio e atividade do che-fe, e educao dos pais. Construiu-se, en-to, um grupo de controle mediante oprocedimento matching, uma vez que impossvel observar crianas que traba-lham na condio de no-trabalho. Os re-sultados mostraram que o trabalho pos-sui efeito negativo sobre o desempenhoescolar das crianas.

    Todos os estudos citados acimatentam minimizar ou eliminar os proble-mas de endogeneidade que pode ocorrerentre as variveis de desempenho escolare trabalho infantil. Os autores mencio-nam a dificuldade em se determinar overdadeiro impacto do trabalho precocesobre a performance escolar, visto que

    fatores que encorajam o trabalho so pa-recidos com aqueles que desestimulama freqncia escola. Assim, ser que o fato de a criana trabalhar que reduzseu desempenho escolar ou a baixaqualidade das escolas e a desmotivaodo aluno pelo baixo desempenho nosestudos que faz com que ele/ela entre nomercado de trabalho?

    A baixa escolaridade e o pior de-sempenho escolar, causados pelo traba-lho infantil, tm o efeito de limitar asoportunidades de emprego a postos queno exigem qualificao e que do baixaremunerao, mantendo o jovem dentrode um ciclo repetitivo de pobreza j ex-perimentado pelos pais.

    Outra conseqncia do trabalhorealizado na infncia a de piorar o esta-do de sade da pessoa, tanto na fase inici-al da vida, quanto na fase adulta. Os efei-tos malficos do trabalho infantil sobrea sade foram constatados em alguns es-tudos, apesar de a literatura que abrangeesse tpico ser bastante escassa pela fal-ta de dados.

    Forastieri (1997) coloca que os lo-cais de trabalho, equipamentos, mveis,utenslios e mtodos no so projetadospara utilizao por crianas, mas, sim,por adultos. Portanto, pode haver pro-blemas ergonmicos, fadiga e maior ris-

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  • co de acidentes. O autor argumenta queas crianas no esto cientes do perigoenvolvido em algumas atividades e, emcaso de acidentes, geralmente no sabemcomo reagir. Por causa das diferenas f-sicas, biolgicas e anatmicas das crian-as, quando comparadas aos adultos, elasso menos tolerantes a calor, barulho,produtos qumicos, radiaes, etc., isto ,menos tolerantes a ocupaes de risco,que podem trazer problemas de sade edanos irreversveis.

    Kassouf et al. (2001b), utilizandodados do Brasil, mostram que, quantomais cedo o indivduo comea a traba-lhar, pior o seu estado de sade em umafase adulta da vida, mesmo controlando arenda, a escolaridade e outros fatores.ODonnell et al. (2003), ao analisaremo trabalho rural de crianas vietnamitas,concluem que as atividades realizadas du-rante a infncia aumentam o risco de do-enas em uma fase posterior da vida.

    5_ Implicaes de polticas parareduzir o trabalho infantil

    Partindo da pressuposio de que os paisso altrustas, qualquer poltica que melhoreo funcionamento do mercado, de formaa aumentar a renda dos trabalhadores adul-tos e a diminuir o desemprego, sempre

    desejvel para reduzir o trabalho infantil.Espera-se que os pais tendo renda suficienteretiraro os filhos do trabalho, colocando-os na escola. Entretanto, existe o risco de opai, com o aumento da renda, aumentar seupatrimnio, comprando mais terra ou abrin-do seu prprio negcio, o que poderia atelevar o trabalho infantil, resultante da cria-o de um ambiente de produo que em-prega crianas com mais facilidade.

    Polticas que tm sido largamenteanalisadas e elogiadas pela eficincia ematingir o objetivo de reduzir o trabalhoinfantil e aumentar a freqncia escolarso as que premiam as famlias pobresque colocam os filhos na escola e no oscolocam no trabalho ou os retiram dele.O programa Bolsa-Escola e Programa deErradicao do Trabalho Infantil (PETI)no Brasil,6 Progresa ou Oportunidad no M-xico, Red de Proteccin Social na Nicargua,Food for Education em Bangladesh, Mid-dayMeal Schemes na ndia, School Construction eBack to School na Indonsia, so algunsexemplos de programas discutidos e ana-lisados na literatura emprica.

    Ravaillon e Wodon (2000) anali-sam o programa Food for Education na rearural de Bangladesh e concluem que obenefcio recebido pelas famlias resul-tou em elevao significativa da freqn-cia escolar, mas a reduo do trabalhoinfantil no foi to expressiva.

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    6 Em 2003 o ProgramaBolsa-Escola foi incorporadoao Programa Bolsa-Famlia.

  • Ferro e Kassouf (2005) avalia-ram o impacto dos programas de Bolsa-Escola sobre o trabalho infantil no Bra-sil, utilizando os microdados da PNAD2001, e concluram que o programa efi-ciente na reduo do nmero de horasmensais de trabalho das crianas, mas osresultados no foram conclusivos em re-lao deciso da famlia de inserir suascrianas no mercado de trabalho.

    Bourguignon et al. (2002) propema utilizao de um mtodo de microssi-mulao para avaliar, ex-ante, os impac-tos do Bolsa-Escola federal tanto na es-colha ocupacional das crianas quanto napobreza e desigualdade correntes. Os au-tores estimaram um modelo lgite mul-tinomial para as decises ocupacionais(estudar e trabalhar, s estudar, s traba-lhar, no estudar nem trabalhar), utilizan-do os dados da PNAD de 1999. Com osparmetros obtidos, fizeram simulaesque possibilitaram prever a escolha ocu-pacional das crianas sob diferentes hi-pteses, relacionadas basicamente ao va-lor das transferncias, e o nvel de ren-da domiciliar crtico para a seleo docandidato. Os resultados mostram que aresposta para a educao considervel,porm, a proporo de crianas que es-colheria trabalhar e estudar no cairia.7

    Cardoso e Souza (2003) utilizaramos microdados do Censo 2000 para ava-

    liar, ex-post, o impacto das transfernciasde renda vinculadas educao na inci-dncia de trabalho infantil e no engaja-mento escolar entre os indivduos de 10 a15 anos. Concluem que os programas derenda mnima e Bolsa-Escola tm algumimpacto na escolaridade e que esse im-pacto positivo e significativo, contudono inibem o trabalho das crianas.

    Ao contrrio das anlises positivase quase que unnimes com relao s po-lticas de incentivos freqncia escolare reduo ou eliminao do trabalho in-fantil, as polticas coercivas que punemo empregador ou impem sanes co-merciais ao pas que produz mercadoriasutilizando trabalho infantil so bastantespolmicas quanto a sua eficcia. H estu-dos mostrando que as sanes comerciaisaos produtos de exportao que utili-zam trabalho infantil, mais prejudicam acriana do que a ajudam. Primeiramente,porque podem ser usadas como medidasprotecionistas pelos pases industrializadose tambm porque podem exacerbar a po-breza nas famlias ao banir o trabalho decrianas que buscam obter renda para so-breviver. Estudo realizado pelo UNICEF(1995) mostra que grande parte das me-ninas que foram demitidas do trabalhonas indstrias de exportao de tapetesno Nepal acabou se prostituindo.

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    7 Os autores argumentamque essa proporo deveat apresentar um aumentomarginal.

  • Sabe-se hoje que no existe umanica poltica para eliminar o trabalho in-fantil e a sua persistncia por dois sculos uma evidncia clara de que no h umasoluo fcil. Entretanto, hoje temosmaior e melhor entendimento das causase conseqncias do trabalho infantil, oque nos permite avaliar e sugerir polticaspara reduzi-lo ou erradic-lo com maiorsegurana. No h dvidas de que o tra-balho que envolve risco s crianas deveser banido, assim como os investimentosna qualidade e disponibilidade de esco-las devem ser incentivados, associan-do-os aos programas de transferncia derenda s famlias pobres.

    6_ Recomendaes para futuraspesquisas

    Apesar dos avanos em pesquisas obser-vados, ainda preciso investir no levanta-mento e na qualidade dos dados a ser anali-sados, com nfase para a obteno de da-dos em painel, de dados de crianas de rua,de atividades ilcitas e de informaes maisprecisas quanto alocao do tempo dascrianas. Ademais, os dados devem ser co-letados de forma a permitir um delinea-mento experimental com grupos controlee tratamento para possibilitar uma avalia-o mais correta dos programas sociais.

    A maioria das pesquisas trata otrabalho de crianas como homogneo.No entanto, diferenas de gnero, entreatividades nas reas rural e urbana, de ris-co ou no, tempo integral ou parcial, noramo agrcola, comercial, industrial, etc.devem ser analisadas separadamente, jque suas peculiaridades exigem polticasde combate diferenciadas. Alm disso, osdiversos fatores envolvidos com a deci-so de alocao do tempo da criana parao trabalho precisam ser diferenciados. Asabordagens para se tratar de aspectosculturais e de tradio familiar so distin-tas das de aspectos econmicos, envol-vendo pobreza e das de aspectos sociais,envolvendo baixo nvel educacional dospais e falta de viso de longo prazo, porexemplo. Quase a totalidade dos estudosaborda o lado da oferta do trabalho in-fantil, mas preciso analisar tambm olado da demanda. Entender as razes pe-las quais as crianas so contratadas e seusefeitos na estrutura e no lucro das empre-sas e nos salrios e nvel de emprego dotrabalhador adulto primordial.

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    E-mail de contato da autora:

    [email protected]

    Artigo recebido em outubro de 2006;

    aprovado em abril de 2007.