o terrorismo e a inalienabilidade dos direitos fundamentais

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450 Revista Jurídica LEX N" 63 — Maio-Jun/2013 Portanto, acompetência da justiça castrense está alçada ao nível constitucional, de modo que somente naquela hipótese excepcionalíssima pode haver ojulgamento pela justiça comum. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Consideramos, portanto, que Io do art. 492 do Código de Processo Penal não se aplica nas hipóteses em que o conselho de sentença desclassifica a impulaçao de crimes dolosos contra a vida, negando a existência do animus necandi, quando praticado por militar no exercício das suas funções. Em hipótese de tal ocorrência, incondicionalmente, deve ojuiz-presidente do Tribunal do Júri determinar a redistribuição dos autos ã justiça castrense, obede cendo, assim, aos limites constitucionais para a entrega da prestação jurisdicional. 6. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA Jr., João Mendes de. Processo criminal hrazileiro. Rio de Janeiro: Batista de Souza, 1920. v. 2. ASSIS MOURA, Maria Thereza Rocha de (Coord.). As reformas no processo penal: as novas leis de 2008 e os projetos de reforma. São Paulo: RI", 2008. CANOTILHOJ.J. Gomes. Direito constitucional. Coimbra: Almedina, 1993. GRINOVER, Ada Pellegrini et ai. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: RT, 1997. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Trad. João Baptista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 2000. MARQUES, José Frederico. Da competência em matéria penal. São Paulo: Saraiva, 1953. MENDES, Gilmar Ferreira et ai. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. O TERRORISMO EA INALIENABILIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS: REFLEXOS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA EM ELABORAÇÃO Cario Velho Masi Advogado Criminal em Porto Alegre/RS; Mestrando em Ciências Criminais pela PUCRS; Especialista em Direito Penal e Política Criminal pela UFRGS; Membro do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), Instituto Brasileiro de Direito Processual Penal (IBRASPP) e Instituto Brasileiro de Direito Penal Econômico (IBDPE). RESUMO Em face da globalização, o terrorismo configura hoje um dos fenômenos de maior preocupação mundial em matéria de segurança pública. O presente artigo visa examinar os principais delineamentos dessa espécie de criminalidade, buscando seus contornos conceituais e origens recentes, a fim de examinar sua repercussão na atualidade. Ademais, busca entender quais os expedientes que vêm sendo utilizados para oseu enfrentamento e em que medida suas implementações afrontam conquistas constitucionais históricas iundamentais do Estado Democrático de Direito. Por fim, a pesquisa orienta-se a analisar quais as repercussões do tema no direito brasileiro e que reflexos elas acarretam para a elaboração de novas legislações penais, especial mente um novo Código Penal. Palavras-Chavc: Terrorismo. Globalização. Direitos Fundamentais. Novo Código Penal. TITLE: Terrorism and the inalienability of fundamental rights: reflections on the developing Brazilian legislation. ABSTRACT Due to the globalization, terrorism is today one oj the largcst global concerns regarding public safety. This article aims to examine the main outlines of this kind of criminality, scehing its conceptual contours and recent origins, in order to examine t/s impact today. Moreover, seehs to understand which measuresare being used in its pre- vention and ifthey can ajjront constitutional fundamental historical achievements ofthe democratic rule of law. Finally, the research is oriented to analyze the implications of the issue in the Brazilian law and which consequences they might entail regarding the drafting of new criminal laws, especially a ncw Penal Code. Keywords: Terrorism. Globalization. Fundamental RigJiís. New Criminal Code. SUMÁRIO I- Introdução. II - Definições, Origem e Situação Presente. III- Características Elementares. IV - Forma de Combate. V- Situação no Brasil. VI - Considerações de Ordem Histórica e Constitucional. Reíerências. < <..••-. LU u O < : U I Ou. o .-.: D

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Em face da globalização, o terrorismo configura hoje um dos fenômenos de maior preocupação mundial em matéria de segurança pública. O presente artigo visa examinar os principais delineamentos dessa espécie de criminalidade, buscando seus contornos conceituais e origens recentes, a fim de examinar sua repercussão na atualidade. Ademais, busca entender quais os expedientes que vêm sendo utilizados para o seu enfrentamento e em que medida suas implementações afrontam conquistas constitucionais históricas fundamentais do Estado Democrático de Direito. Por fim, a pesquisa orienta-se a analisar quais as repercussões do tema no direito brasileiro e que reflexos elas acarretam para a elaboração de novas legislações penais, especialmente um novo Código Penal.

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Page 1: O Terrorismo e a Inalienabilidade dos Direitos Fundamentais

450Revista Jurídica LEX N" 63 — Maio-Jun/2013

Portanto, acompetência da justiça castrense está alçada ao nível constitucional,de modo que somente naquela hipótese excepcionalíssima pode haver ojulgamentopela justiça comum.

5. CONSIDERAÇÕES FINAISConsideramos, portanto, que o§ Io do art. 492 do Código de Processo Penal

não se aplica nas hipóteses em que oconselho de sentença desclassifica aimpulaçaode crimes dolosos contra a vida, negando a existência do animus necandi, quandopraticado por militar no exercício dassuas funções.

Em hipótese de tal ocorrência, incondicionalmente, deve ojuiz-presidente doTribunal do Júri determinar a redistribuição dos autos ã justiça castrense, obedecendo, assim, aos limites constitucionais para a entrega da prestação jurisdicional.

6. BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA Jr., João Mendes de. Processo criminal hrazileiro. Rio de Janeiro: Batistade Souza, 1920. v. 2.

ASSIS MOURA, Maria Thereza Rocha de (Coord.). As reformas no processo penal: asnovas leis de 2008 e os projetos de reforma. São Paulo: RI", 2008.

CANOTILHOJ.J. Gomes. Direito constitucional. Coimbra: Almedina, 1993.GRINOVER, Ada Pellegrini et ai. Juizados especiais criminais: comentários à Lei

9.099,de 26.09.1995. 2. ed. rev. e atual. SãoPaulo: RT, 1997.KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Trad. João Baptista Machado. São Paulo:

Martins Fontes, 2000.

MARQUES, José Frederico. Da competência em matéria penal. São Paulo: Saraiva,1953.

MENDES, Gilmar Ferreira et ai. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo:Saraiva, 2010.

O TERRORISMO EA INALIENABILIDADE DOS

DIREITOS FUNDAMENTAIS: REFLEXOS NA

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA EM ELABORAÇÃO

Cario Velho Masi

Advogado Criminal em Porto Alegre/RS; Mestrando em Ciências Criminais pela PUCRS;Especialista em Direito Penal e Política Criminal pela UFRGS; Membro do Instituto

Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), Instituto Brasileiro de Direito ProcessualPenal (IBRASPP) e Instituto Brasileiro de Direito Penal Econômico (IBDPE).

RESUMO

Em face da globalização, o terrorismo configura hoje um dos fenômenos demaior preocupação mundial em matéria de segurança pública. O presente artigovisa examinar os principais delineamentos dessa espécie de criminalidade, buscandoseus contornos conceituais e origens recentes, a fim de examinar sua repercussão naatualidade. Ademais, busca entender quais os expedientes que vêm sendo utilizadospara o seu enfrentamento e em que medida suas implementações afrontam conquistasconstitucionais históricas iundamentais do Estado Democrático de Direito. Por fim,

a pesquisa orienta-se a analisar quais as repercussões do tema no direito brasileiro eque reflexos elas acarretam para a elaboração de novas legislações penais, especialmente um novo Código Penal.

Palavras-Chavc: Terrorismo. Globalização. Direitos Fundamentais. Novo

Código Penal.

TITLE: Terrorism and the inalienability of fundamental rights: reflections on thedeveloping Brazilian legislation.

ABSTRACT

Due to the globalization, terrorism is today one oj the largcst global concernsregarding public safety. This article aims to examine the main outlines of this kind ofcriminality, scehing its conceptual contours and recent origins, in order to examine t/simpact today. Moreover, seehs to understand which measures are being used in its pre-vention and ifthey can ajjront constitutionalfundamental historical achievements ofthedemocratic rule of law. Finally, the research is oriented to analyze the implications ofthe issue in the Brazilian law and which consequences they might entail regarding thedrafting of new criminal laws, especially a ncw Penal Code.

Keywords: Terrorism. Globalization. Fundamental RigJiís. New Criminal Code.

SUMÁRIO

I - Introdução. II - Definições, Origem e Situação Presente. III - CaracterísticasElementares. IV - Forma de Combate. V - Situação no Brasil. VI - Considerações

de Ordem Histórica e Constitucional. Reíerências.

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I - INTRODUÇÃOO terrorismo é hoje a principal espécie de criminalidade organizada respon

sável, emnível mundial, pela sensação de insegurança coletiva. Como ameaça maisvisível à estabilidade do Estado c da sociedade, é um crime que ganha dimensãosupranacional por meio da europeização e internacionalização da prevenção e repressão criminal dos atos criminososdesterritorializados.

Da mesma forma, apresenta peculiaridades próprias quedificultam sobremaneira o seu combate porparte dasautoridades, o que leva à necessidade de reestruturação dopróprio sistema legal dospaíses, pressionados por tratados econvençõesinternacionais.

Constitui-se, pois, em um tema de alta relevância na agenda de segurança dequalquer Estado na era da globalização.

II - DEFINIÇÕES, ORIGEM ESITUAÇÃO PRESENTíEm uma linguagem simplificada, terrorismo pode ser definido como aprática do

terror como ação política, procurando alcançar, pelo usodaviolência, objetivos quepoderiam ou não ser estabelecidos em função do exercício legal da vontade política.

Suas propriedades mais destacadas são: aindeterminação do número de vítimas;a generalização da violência contra pessoas e coisas; a liquidação, desativação ouretração da vontade decombater o inimigo predeterminado; aparalisação davontadedereação da população; e osentimento deinsegurança transmitido principalmentepelos meios de comunicação*1».

Suas origens até podem ser remotas, mas não convém que façamos um retrospecto tão longo»», pois interessa-nos o seu desenvolvimento nos séculos XX einício do XXI, já que, em nenhum outro momento histórico, sua presença foi tãoconstante e ameaçadora.

"Embora repugne â inteligência a violência, cumpre observar que, assumindo formas variadas, ela sempre esteve presente entre as pessoas e ospovos. Abra-se qualquer página da História eos atos violentos sucedem-se comimplacável regularidade. Do Abel da Bíblia ao Martin Luther King dos direitoscivis, do belicoso César ao pacifista Gandhi, do Coliseu romano aos naviosnegreiros, aviolência, que ignora alei eos direitos àvida, tem alcançado todos

<» DOTTl, René Aricl. Terrorismo edevido processo legal. Revista Centro de EstudosJudiciários, ConselhodeJustiça Federal,Brasília, n. 18,p. 27-30, jul./set. 2002, p. 28.(2> Pode-se afirmar que todas as civilizações, de uma forma ou de outra, sofreram com os efeitos do terrorismo. Em sua versão moderna, esse flagelo se liga àRevolução Francesa para designar apolítica dosJacobinos,parcela mais radical da burguesia, que almejava expulsar da cena política seus adversários, os Realistas eosGirondinos. Apalavra -terror" une-se. desde então, à noção de "virtude". Estando asociedade, por viada evolução das artes e dastécnicas, bem como doexcesso de luxoe riqueza, imersa nacorrupção, caberesgatá-la, inclusive á força, se necessário. Se o povo não sente propensão para seguir as lições da virtude,c preciso educá-lo. Para os Jacobinos, essa pedagogia ê o terror. Na síntese de Robespicrre. "o terrorismonãoé senão justiça, imediata, severa c inflexível; é. pois. umaemanação da virtude".

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os períodos históricos e todos os territórios. Nenhuma outra época, todavia,conseguiu atingir paroxismo equivalente ao dos séculos XX e XXI, nos quaisapenas um ato de violência consegue eliminar centenas de milhares de vidasem segundos.""»

Como realidade cambiante, o terrorismo enfrentou diversas configurações namodernidade^-". No século XIX, o termo se ligava àquelas ações revolucionárias quequestionavam crescentemente a subordinação popular a governantes que acreditavam ocupar posição preeminente em virtude de direito divino, ou a dependênciade povos inteiros a dinastias estrangeiras, ou, ainda, as más condições de trabalhoda classe operária.

Nas décadas de 1920 e 1930, passou a designar a atitude de certos Estadostotalitários, fascistas ou comunistas, em relação aos seus opositores individuais oua camadas da população consideradas perigosas para a estabilidade do Estado.

Após a 2a Guerra Mundial, em razão do surgimento dos movimentos anticolo-niais, foi assimilado às chamadas "lutas de libertação nacional" que, nas três décadasseguintes ao fim do conflito, ocuparam a cena internacional.

No período entre a década de 1970 e o desaparecimento da União Soviética, foitambém empregado para designar iniciativas mais amplas e menos claras, componentes de uma suposta conspiração global do Pacto de Varsóvia contra o Ocidente.

Contemporancamente, fala-se em um terrorismo pós-moderno,cujas principaisformas são o narcoterrorismo<-5>, os chamadosJenômcnos de área cinzenta^e. o ciberter-rorismo™, cuja marca distintiva é a posse das chamadas armas de destruição em massa(químicas, biológicas ou nucleares), o que acrescenta um elevado grau de pcriculo-sidade às ações desses grupos e causa ainda mais incerteza à cena internacional(H>.

III - CARACTERÍSTICAS ELEMENTARES

O terrorismo pode ser praticado por indivíduos ou grupos isolados ou atémesmo por determinados Estados contra sua própria população ou a população deoutros Estados (v.g., ataques do Estado Palestino contra Israel).

(,) NAVES, Nilson. Terrorismo e violência: segurança do estado - direitose liberdadesindividuais.RevisteiCentro deEstudosJudiciários, ConselbodeJustiça Federal, Brasília, n. 18, p. 6-9. jul./set. 2002, p. 7.l-" CARDOSO. AlbertoMendes. Terrorismo esegurançaem um estadosocialdemocráticode direito. RevistaCentro deEstudosJudiciários, Conselho deJustiça Federal, Brasília, n. 18. p. 47-53. jul/sct. 2002, p. 49.'5) Tome-se como exemplos as alianças entre o Scndero Luminosoou as ForçasArmadas RevolucionáriasdaColômbia e os barões da cocaína, e entre os Talibãsafegãosc os traficantesde heroína da ÁsiaCentral.Tais movimentos protegeriam as atividades dos narcotraficantes que, em troca, proporcionar-lhes-iam osmeios financeiros para se expandirem.(6' Conllitos não enquadtados nasnormas tradicionalmente aceitasde guerra entreas forças armadasdedois ou mais Estados, mas que, ao contrário, abrangem forças irregulares de um ou mais dos envolvidos.(7) Ataques de hackers e crackers, ou piratos in/ormóticos, a sites e portais das mais diversas corporaçõesestatais ou não. Por sua novidade, esses grupos escapam com facilidade aos estritos controles estatais.(8) CARDOSO,Alberto Mendes.Terrorismo e segurança em um estado social democrático de direito. RevistoCentrode lístudosJudiciários, Conselho de Justiça Federal, Brasília, n. 18, p. 47-53. jul./set. 2002. p. 49.

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Essa forma de violência chama atenção pela premeditação e por seu objetivode criar uma atmosfera de medo e de terror intensos. Há de se considerar, mais

além, que os atos terroristas se dirigem a uma platéia mais ampla do que a atingidadiretamente por eles.

Segundo Cottee e Hayward, o engajamento no terrorismo é provocado por trêsdesejos elementares: o desejo por excitação, o desejo por um sentido existencial eo desejo por glória.

Inegavelmente, o terrorismo é uma atividade política e um fenômeno coletivo,primordialmente praticado por indivíduos agindo no contexto de um grupo. Segundoos criminólogos ingleses, está tomando o status de clichê a afirmação de que, aocontrário do que reporta a mídia, o terrorista é uma pessoa perfeitamente normal,e não um louco ou um psicopata.

O que atrai o indivíduo ao terrorismo é muito mais uma questão cultural epessoal. O que o atrai é o sentimento de cessação da consciência, nos momentos desobrevivência, de intensidade animal e violência, quando não há múltiplos níveisde pensamento e cogitação e o presente é absoluto. O que importa é viver aquelemomento.

A violência é uma das experiências mais intensas e, para alguns, mais prazerosas que o ser humano pode experimentar. Não se sente mais o peso do corpo, ossentidos ficam extremamente aguçados, tudo é percebido em câmera lenta e comdetalhes impressionantes. A euforia e a adrenalina atingem o grau máximo. É comoexperimentar um entorpecente. E a realidade daquele instante que os move, que osfaz sentirem-se mais vivos do que nunca'".

Os atentados de 11 de setembro de 2001 são, talvez, seus mais emblemáticos

exemplos, uma vez que tiveram uma preparação razoavelmente longa e atingiramos centros militar e econômico de uma superpotência, transmitindo a mensagem deque seus autores intelectuais eram capazes de mobilizar meios materiais e humanospara perpetrar atos de violência em qualquer lugar, valendo-se da surpresa.

Suas vítimas nem sempre são civis inocentes escolhidos aleatoriamente oualvos simbólicos, mas podem ser até mesmo forças de segurança (v.g., ataques doIRA contra o exército do Reino Unido). Na realidade, o foco principal do terrorismoé o Estado como um todo, seja ele democrático ou não. Dessa característica surgeo sentimento de injustiça, sintetizado na constatação de que foram golpeados segmentos da população ou instituições que nada têm a ver com o processo em que oterrorismo se desenvolve.

Inúmeros atentados terroristas adquirem índole separatista, revolucionáriaanarquista ou religiosa e são pensados, decididos e executados de forma pontualcom alvos específicos: militares, polícias, políticos, dissidentes, clérigos e turistasde um determinado Estado. Porém, apenas mais recentemente eles se voltaram,

(y) COITP.E. Simon; HAYWARD, Keilh. Terrorisi (e)motives: the existential attractions of terrorism.Studies in Conjlict &• Terrorism, London, Routledge, v. 34,n. 12, p. 963-986. 2011.

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também, para a idéia de vítima indeterminada e invisível e, por isso, adquiriramum potencial de gerar "terror germinador de uma insegurança pública cognitivaesquizofrênica e paneónica""0'.

O terrorismo não precisa atingir uma escala global para ser assim considerado, bem pode constituir-se de uma ação localizada (v.g., rebelião Sendero Luminosocontra o governo peruano). A propósito, a maior preocupação estatal nessa seara,hoje, não é com o terrorismo internacional, mas, sobretudo, com aquele que nãoultrapassa as fronteiras nacionais"1*.

Seus objetivos geralmente serão a desestabilização e o enfraquecimento dasautoridades de um Estado constituído, porém, a intenção pode ser mobilizar oapoio público contra um aparato de Estado opressivo ou corrupto (v.g., RevoluçãoCubana). O importante é causar um sentimento de afronta generalizado, que tenhacomo conseqüência a ira. A raiva c o ódio que os atentados buscam provocar naopinião pública podem ser considerados desencadeadoresde uma repressãoestataldesproporcionada, que pode eventualmente redundar em benefício dos próprioscriminosos, transformados em vítimas dos excessos da reação.

As atividades terroristas tomam formas diversas quanto ao tipo de arma utilizadapara infundir o pânico e a insegurança, sejam bombas, aviões seqüestrados, vírusletais e, por que não, o próprio capital'1». Aviolência usa instrumentos diversos decoerção, mas todos têm, na base, o mesmo desprezo aos meios legítimos de promovera mudança ou a manutenção da conjuntura sociopolítica'13'.

O propósito do paradigma terrorista pode ser o apoio a um projeto ideológico- no caso dos governos terroristas, normalmente invoca-se a segurança nacionalcomo mantra ideológico -, embora isso nem sempre ocorra (v.g., os rebeldes deSerra Leoa queriam simplesmente "poder"). Asações terroristas são utilizadas parainfluenciar,de alguma maneira, o comportamento político,seja para forçar opositoresa concederem, no todo ou cm parte, o que seus autores querem (v.g., a libertaçãode companheiros presos), seja para provocar reação desproporcionada, que servirácomo catalizador de um conflito mais intenso (v.g., os atentados de 11 de setembroque causaram a invasão do Afeganistão), seja para alavancar uma causa política oureligiosa (v.g., as ações do ETA, visando à independência do paísBasco, na Espanha);ou, ainda, para solapar governos ou instituições designados como inimigos pelosterroristas (v.g., toda a ação do Scndero Luminoso, nas décadas de 1980 e de 1990,

"°>VALENTE. Manuel Monteiro Guedes. Cooperação judiciária cm matéria penal no âmbito do terrorismo. Sistema Penal &• Violência. Porto Alegre, PUCRS, v.5, n. 1, p. 73-92, jan./jun. 2013. p. 85.'"> Recordemos que tudo o que ê global possui uma referência local. Há sempre um dado localizadonaquilo que se globalizou e, por sua vez, aquilo que se globalizou quando tomadoem comparação determina o caráter localdo que estáem torno (SANTOS, Boaventura de Sousa [Org.].Aglobalização c asciêncios sociais. 3. ed. São Paulo: Cortcz, 2005)."2>1lá notícia, por exemplo, de que bancos estrangeiros aconselharam investidores a não negociar papéisbrasileiros com base na perspectiva da primeira eleição do presidente Luis Inácio Lula da Silva,(i.i) NAVES, Nilson. Terrorismo e violência: segurança do estado - direitos e liherdadcs individuais. RevistoCentrode EstudosJudiciários, Conselho de Justiça Federal, Brasília, u. 18, p. 6-9, jul./set. 2002, p. 8.

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destinava-se a desmoralizar e derrubar o governo peruano e substituí-lo por outrode recorte marxista)"-".

Na América, há uma tendência a descrever como terrorismo os atos mais brutais

do crime organizado, especialmente o dos traficantes de drogas, cujo propósito é,principalmente, proteger seus próprios interesses econômicos"5'.

A par do fenômeno da criminalidade organizada transnacional, o terrorismoé um fenômeno veloz na ação e no resultado e exige um elevado financiamentoemergente da criminalidade de massa e da criminalidade altamente organizada eespecializada.

Em grande medida, o terrorismo tem muito em comum com graves violaçõesdos direitos humanos, porém, via de regra, não obedece a qualquer regra de direitointernacional concernente ao conflito armado, já que seus praticantes consideramque nenhuma atrocidade será chocante demais em face de seu propósito. Entretanto, há grupos que anuem como o direito humanitário internacional a respeito dolevantamento de armas, o que não impede que sejam considerados terroristas"*''.

"Aqueles que têm estudado o fenômeno do terrorismo - ou talvez eudevesse usar o plural 'fenômenos', desde que o conceito seja empregado paraocultar tantos tipos de comportamento aparentemente diferentes - reconhecerão imediatamente que todas essas incertezas sobre os elementos possíveisde terrorismo são, no fundo, as dificuldades que têm tradicionalmente buscado qualquer tentativa para encontrar uma definição de terrorismo aceitauniversalmente.""7'

IV - FORMA DE COMBATE

Um dos grandes problemas em relação ao terrorismo é a forma de combatê-lo.Haverá quem entenda que, para enfrentar o terrorismo, é preciso tratar o terroristacomo inimigo do Estado ou como nãopessoa, de modo que não tenha ele as mesmas garantias que um cidadão (pessoa) possui. Não faltam tratados internacionaisque hoje estruturam os direitos humanos de modo a permitir restrições em que fornecessário à manutenção de certos valores, como a segurança nacional e a ordem

"•" CARDOSO, Alberto Mendes. Terrorismo e segurança cm um estado social democrático de direito.Revisto Centrode Estudos Judiciários,Conselho de Justiça Eederal, Brasília, n. 18, p. 47-53, jul./set. 2002,p. 49."5) RODLEY, Nigel Simon. Terrorismo: segurançado estado- direitose liberdades individuais. TraduçãoErlanda S. Chaves. Revisto Ccnlio de EstudosJudiciários, Conselho de Justiça Eederal, Brasília, n. 18, p.16-22, jul./set. 2002, p. 17."6) RODLEY, NigelSimon. Terrorismo: segurança do estado - direitos e liberdades individuais. TraduçãoErlanda S. Chaves. Revisto Centro de EstudosJudiciários, Conselho de Justiça Eederal, Brasília, n. 18, p.16-22. jul./set. 2002. p. 18."7>RODLEY, Nigel Simon. Terrorismo: segurança do estado - diieitos e liberdades individuais. TraduçãoErlanda S. Chaves. Revista Centro de Estudos judiciários. Conselho de Justiça Eederal, Brasília, n. 18, p.16-22, jul./set. 2007, p. 18.

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pública"8'. Nesses casos,a legislação internacional dos direitos humanos reconhecea supremacia dos valores públicos sobre a autonomia individual"9'.

Tudo isso vem acompanhado da criação de um direito penal ultramilitar, dainvenção de um sistema penitenciário sumaríssimo sediado em Guantánamo eda recuperação, inclusive legislativa, da autorização para matar à margem de umprocesso'20'.

Outros, entretanto, entendem que não é possível combater o terror com maisterror. Que, embora o terrorismo deva ser combatido com vigor máximo, isso nãopode ocorrer a qualquer custo. Nessa segunda linha,épreciso vencer a ameaça pelosmeios legítimos, único modode salvaguardar as liberdades que se têm comoideais.É nesse escopo que determinados tratados adotam o "princípio da inalienabilida-dc" de determinados direitos fundamentais do indivíduo'2". Trata-se de direitos

não derrogáveis que um Estado poderiaser tentado a ignorarno enfrentamento desérias ameaças, como o terrorismo'22'. Mesmo as suspensões de direitos humanosestarão sempre sujeitas a prévia comunicação aos órgãos responsáveis e à supervisãojudicial. Além disso, a posição do Tribunal lnteramericanode Direitos Humanos éde que "remédios judiciais", tais como habeas corpus e mandado de segurança, emnenhuma hipótese podem ser suspensos.

Há países que aceitam a tortura e há países que repudiam veementemente suaprática, inclusive negando a deportação de suspeitos, caso não haja o compromissode eme os deportados sejam tratados com dignidade. Não é incomum, ainda, quepaíses adotem medidas de controle que visam claramente a parcelas da populaçãoou a determinadas nacionalidades.

"8) o art. 27 da ConvençãoAmericana sobre os Direitos Humanos (Pacto de SãoJosé da Costa Rica)admite asuspensão dealgumas das garantias nela previstas "em caso deguerra, deperigo publico, oudeoutra emergência queameace a independência ousegurança do Estado-parlc". Já o Pacto Internacionalsobre Direitos Civise Políticos, emseu art. 4", permitea suspensãode certasobrigações deledecorrentescm "situações excepcionais [que] ameacem a existência da nação"."*» RODLEY, Nigel Simon. Terrorismo: segurança doestado - direitos e liberdades individuais. TraduçãoErlanda S. Chaves. Revisto Centro de Estudos Judiciários, Conselho de Justiça Federal. Brasília, n. 18. p.16-22. jul./set. 2002. p. 19.'20'ZAPATERO, Luis Arroyo. Prcscntación. In: ; NEUMANN, Ulfrid; MARTIN, Adán Nieto(Coord.). Critica yjustificaciõn dei derecho penal cn eicambio de siglo: eianálisis crítico de Ia Escuela deFrankfurt. Cuenca: Universidad de Castilla-La Mancha, 2003. p. 17-21, p. 21.<2" No que diz respeito aodireito ã vida, deve-se distinguir entre privação davida e violação dodireitoà vida. Um Estado pode utilizar de força letal sem violar o direito à vida. Exemplilicativamente, pode-se esperar legitimamente que um policial mate um criminoso eme ameace matar alguém, caso este sejao único modo de impedir tal morte. Permite-se, então, o uso de força letal sempre que ela for a únicaresposta possível a uma ameaça iminente àsvidas deoutros, mas semedidas menos extremas puderematingir o mesmo objetivo, estas deverão ser utilizadas, docontrário, tem-se um desrespeito ao direito àvida.<22> RODLEY, Nigel Simon. Terrorismo: segurança doestado- direitos c liberdades individuais. TraduçãoErlanda S. Chaves. Revisto Centro de Estudos Judiciários, Conselho deJustiça Federal, Brasília, n. 18, p.16-22. jul./set. 2002, p. 20.

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V - SITUAÇÃO NO BRASIL

No Brasil, o repúdio ao terrorismo é um dos princípios que regem as relaçõesinternacionais do país de acordo com a Constituição da República (art. 4o, VIII).Além disso, a Carta Fundamental da nação considera o terrorismo crime inafiançávele insuscetível de graça ou anistia, respondendo por ele os mandantes, os executorese os que, podendo evitá-lo, se omitirem (art. 5o, XLI11). Em seu art. 5o, XL1V, a Constituição considera "crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados,civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático".

Em nível infraconstitucional, o terrorismo integra o rol de crimes hediondos daLei n° 8.072/90 e sua prática caracteriza o delito do art. 20 da Lei n° 7.170/83 (Leide Segurança Nacional), cuja pena é de reclusão de 3 a 10 anos.

Entrementes, não há em nenhuma lei a tipificação isolada do crimedeterrorismo,tampouco uma definiçãojurídica precisa, embora o Brasilseja firmatário de diversostratados internacionais em prol de seu combate, dos quais destaca-se a ConvençãoInteramericana Contra o Terrorismo'23'.

Emfunçãodo "mandadoconstitucionale supralegalde criminalização" do terrorismo,a Comissão deJuristas encarregada peloSenadoFederalda elaboração do anteprojeto de novo Código Penal Brasileiro'2-" fez incluir no Título VIII ("Crimes contra a PazPública") um capítulo exclusivamente destinado ao crimede terrorismo (art. 239'25>), no

<23> Aprovada pelo Decreto Legislativo n" 890, de 1"de setembro de 2005.e Promulgada pelo DecretoPresidencial n° 5.639. de 26 de dezembro de 2005.

<24' SENADO FEDERAL. Rclotório/ino/ da comissão de juristas para a elaboração de anteprojeto de CódigoPenal. Disponível em: <http-y/www.seuado.gov.br/aiividade/materia/getPDEasp?t=l 10-B4&tp=l>. Acessoem: 14 abr. 2013, p. 108 e ss.(25' "Ari. 239. Causar terror na população mediante as condutas descritas nos parágrafos deste artigo,quando:

I- tiverem por fim forçar autoridadespúblicas, nacionaisou estrangeiras,ou pessoasque ajam em nomedelas, a fazer o que a lei não exige ou deixar de fazer o que a lei não proíbe;II- tiverem por fim obter recursos paraa manutençãode organizações políticasou grupos armados,civisou militares, que atuem contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; ouIII —forem motivadas por preconceito de raça, cor, etnia, religião, nacionalidade, sexo, identidade ouorientação sexual, ou por razões políticas, ideológicas, filosóficas ou religiosas.§ 1" Seqüestrar ou manter alguém em cárcere privado;§ 2"Usarou ameaçarusar,transportar, guardar, portar ou trazer consigoexplosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicosou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa;§ 3" Incendiar, depredar, saquear, explodir ou invadir qualquerbem público ou privado;§ 4o Interferir, sabotar ou danificar sistemas de informática e bancos de dados; ou§ 5oSabotaro funcionamento ou apoderar-se, com grave ameaça ou violência a pessoas, do controle,total ou parcial, aindaque de modo temporário, de meios de comunicação ou de transporte, de portos,aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos,instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração outransmissão de energiae instalações militares:Pena- prisão, de oito a quinze anos. além das sanções correspondentes ü ameaça, violência, dano. lesãocorporal ou morte, tentadas ou consumadas.Lorma qualificada

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qual se tipifica também as condutas de "Financiamento do terrorismo" (art. 240'26')e "Favorecimento pessoal no terrorismo" (art. 241C27)).

"(...) não pode nosso país imaginar-se, para sempre, 'deitado em berçoesplêndido', protegido ad eternum de condutas de intolerância política e humanitária, capazes de valer-se de indizível violência para o prevalecimentode seu ideário. A constante inserção do país no quadro econômico, social emilitar internacional não permite esse grau de ingenuidade. Urge, portanto,trazer uma definição de terrorismo compatível com o regime de liberdadesconstitucionais, destinada a protegê-las."'28'

É dignode nota que as ações dos "movimentos sociais" (v.g., Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra) foram incluídas no anteprojeto como causa de exclusão da ilicitude, "desde que os objetivose meios sejam compatíveis e adequadosà sua finalidade" (art. 239, § 7o). Ademais, as penas dos crimes relacionados com oterrorismo poderãoser aumentadasaté a metade "se as condutas forem praticadasdurante ou por ocasião de grandeseventosesportivos, culturais,educacionais, religiosos, de lazer ou políticos, nacionais ou internacionais" (art. 242).

VI - CONSIDERAÇÕES DE ORDEM HISTÓRICA ECONSTITUCIONAL

Pois bem, por óbvio, a atribuição da autoria dos atos terroristas a um determinado segmento da população, etnia, nacionalidade ou religião emnada contribuipara o aperfeiçoamento do Estado Social e Democrático de Direito.

Ahistóriaé pródiga em demonstrarque ambientes desprovidos do reconhecimento das garantias individuais têmsido campo fértil para o terror do Estado, comseqüelas que se estendem por gerações.A essa altura do desenvolvimentosociopo-

§ 6o Sc a conduta é praticada pela utilização de armade destruição cm massa ou outro meio capaz decausar grandes danos:Pena - prisão, de doze a vinte anos, além das penas correspondentes à ameaça, violência, dano, lesãocorporal ou morte, tentadas ou consumadas.Exclusão de crime

§ 7" Não constitui crime de terrorismo a conduta individual ou coletiva de pessoas movidas por propósitossociais ou reivindicatórios. desde queosobjetivos e meios sejam compatíveis eadequados àsuafinalidade."(26) "Art. 240. Oferecer ou receber, obter, guardar, manterem depósito, investir ou de qualquer modocontribuir para a obtenção de ativos, bens e recursos financeiros com a finalidade de financiar, custearou promover a prática de terrorismo, ainda que os atos relativos a estenão venham a ocorrer:Pena - prisão, de oito a quinze anos."<27' "Art. 241. Dar abrigo ou guarida a pessoa de quem se saiba ou se tenha fortes motivos para saber.que tenha praticado ou esteja por praticar crime de terrorismo:Pena - prisão, de quatro a dez anos.Escusa Absolutória

Parágrafo único. Não haverá penaseo agente forascendente ou descendente emprimeiro grau.cônjuge,companheiro estável ou irmão da pessoa abrigada ou recebida. Esta escusa nãoalcança os participes quenão ostentem idêntica condição."<•'«) SENADO 1-EDERAL. Relatório final da comissão dejuristas para a elaboração de anteprojeto deCódigoPenal. Disponível em:<htip://www.senado.gov.nr/atividadc/maieria/getPDf:.asp?t=l 10444&tp= I>. Acessoem 14 abr. 2013. p. 351.

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lítico dos povos, só há uma maneira legítima de dar segurança aos governos e aosindivíduos: o caminho da lei. A democracia e a estabilidade econômica são duas das

principais "armas" para combater o terrorismo'29'.

Qualquer possibilidadediferente desta significaria utilizar a mesma violênciaque se quer eliminar, um contrassenso a ser evitado. Somente o primadoda ordemlegal, constitucional, pode fornecer meios legítimos para adefesa daintegridade dosindivíduos e dos Estados'30'.

Assim, se os efeitos negativos do terrorismo nos revelam que a idéia de segurança é um bem escasso, a liberdade não pode ser sacrificada a qualquer custo sobpena de não vivermos como cidadãos, mas como escravos da nossa cognitividadesecuritária'3".

Naturalmente, há de se dotar o Estado de instrumentos normativos para suadefesa, sem, no entanto, causar dano às garantias individuais. Cabe à sociedade definir em que medida pode a lei, na defesa dasegurança estatal, suspender o direitodos cidadãos, sem que issose torne uma ameaça à defesa do próprio cidadão'32'.

O sucesso do combate ao terrorismo inscreve-se, assim,na arregimentação dasociedadee sua participaçãoconsciente e ativa em sua própria defesa e na do EstadoSocial e Democrático de Direito'33'.

Entendemos, dessa forma, que o terrorismo é um tema que merece aprofundamento no cenário jurídico nacional, pois, embora o Brasil não esteja direta ouoficialmente na linha de tiro de organizações terroristas internacionais, o fenômenodeve ser explorado também nos níveis internos e regionais (Mercosul), a fim dedelimitar-se a efetiva necessidade da tipificação dessa conduta ou verificar se não setratam de influências supranacionais que aqui se afiguram despropositadas.

De toda sorte, o tema levanta a controversa questão da flexibilização de determinadas garantias fundamentais para fins de conferir maior eficácia à persecuçãopenal da criminalidade organizada, o que deve sempre ser visto com reservas, soba ótica da Constituição vigente e a égide do Estado de Direito.

-9) CARDOSO, Alberto Mendes. Terrorismo e segurança em um estado social democrático de direito.Revista Centro de EstudosJudiciários, Conselho deJustiça Eederal, Brasília, n. 18. p. 47-53 jul/set 2002p. 52.

-°» NAVES, Nilson.Terrorismo e violência: segurança do estado - direitose liberdadesindividuais. RevistaCentro de EstudosJudiciários. Conselho deJustiça Federal, Brasília, n. 18, p.6-9, jul./set. 2002. p.8.'3" VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Cooperação judiciária em matéria penal noâmbito do terrorismo. Sistema Penal &Violência, Porto Alegre, PUCRS. v. 5. n. 1. p. 73-92. jan./jun. 2013. p.83.132) NAVES, Nilson. Terrorismo eviolência: segurança doestado-direitos e liberdades individuais. RevistaCentro de EstudosJudiciários, Conselho deJustiça Eederal. Brasília, n. 18. p.6-9. jul./set. 2002, p.8.'33' CARDOSO, Alberto Mendes. Terrorismo e segurança em um estado social democrático de direito.Revista Centro de EstudosJudiciários, Conselho deJustiça Eederal, Brasília, n. 18. p.47-53, jul./set. 2002.p. 53.

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