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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão Região Sul 1 O TANGRAM como objeto de aprendizagem interdisciplinar no ensino da Língua Portuguesa, utilizando os recursos tecnológicos da mídia impressa Luciane Demiquei Gonzatti Universidade Federal de Pelotas - [email protected] Janice de Freitas Pires Universidade Federal de Pelotas - [email protected] Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade Resumo A escola atualmente se depara com a facilidade de acesso as informações, proporcionada pelos avanços das tecnologias de informação as quais os usuários ficam expostos, gerando desafios aos gestores e docentes estar atentos a este novo processo de comunicação. Neste contexto, leitura e escrita continuam primordiais na formação do ser humano, ao ingressar no mercado de trabalho, no entanto, observam-se os desvios na construção da linguagem motivados pelo uso excessivo de linguagem abreviada, reduzida, e até mesmo errada possibilitada pela comunicação online, constatada também pelo precário nível de leitura. Com o objetivo de enfrentar os problemas gerados a partir desta realidade, propõem-se um trabalho interdisciplinar, através do uso de um objeto de aprendizagem, o Tangram composto por sete peças, para trabalhar habilidades em Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Matemática e Artes. Apoiando-se no conceito de objetos de aprendizagem a proposta buscou estimular a compreensão dos docentes sobre como reutilizar tais materiais adaptando-os ao seu contexto e objetivos de aprendizagem. Os resultados apontaram que o projeto TANGRAM promoveu o interesse, rendimento, envolvimento, dedicação, emoção e satisfação dos estudantes por terem aprendido amplamente os temas tratados por diferentes maneiras, ou seja, metodologias usadas em cada disciplina, embora usando o mesmo objeto de estudo. Na Língua Portuguesa, através da produção individual e um trabalho de autoria com a confecção de um livro de histórias por cada estudante, foram intensificados essencialmente os processos de aprendizagem de produção e escrita de textos. Palavras-chave: Tangram, Leitura, Escrita, Autoria e Tecnologia. 1. Introdução A escola atualmente vive um período de adaptação devido à chegada das tecnologias de informação e comunicação (TICs) que cada vez mais influenciam na interação/comunicação dos estudantes. Os profissionais da educação nas escolas passam a buscar conhecer tais tecnologias, para receber essa nova geração de estudantes, poder acompanhá-los, e assim orientá-los sobre o seu uso mais adequado. Neste contexto, a leitura e escrita continuam sendo primordiais na formação de todo ser humano, no momento em

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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

1

O TANGRAM como objeto de aprendizagem interdisciplinar no ensino da Língua

Portuguesa, utilizando os recursos tecnológicos da mídia impressa

Luciane Demiquei Gonzatti Universidade Federal de Pelotas - [email protected]

Janice de Freitas Pires Universidade Federal de Pelotas - [email protected]

Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade

Resumo

A escola atualmente se depara com a facilidade de acesso as informações, proporcionada pelos avanços das

tecnologias de informação as quais os usuários ficam expostos, gerando desafios aos gestores e docentes

estar atentos a este novo processo de comunicação. Neste contexto, leitura e escrita continuam primordiais

na formação do ser humano, ao ingressar no mercado de trabalho, no entanto, observam-se os desvios na

construção da linguagem motivados pelo uso excessivo de linguagem abreviada, reduzida, e até mesmo

errada possibilitada pela comunicação online, constatada também pelo precário nível de leitura. Com o

objetivo de enfrentar os problemas gerados a partir desta realidade, propõem-se um trabalho interdisciplinar,

através do uso de um objeto de aprendizagem, o Tangram composto por sete peças, para trabalhar

habilidades em Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Matemática e Artes. Apoiando-se no conceito de objetos

de aprendizagem a proposta buscou estimular a compreensão dos docentes sobre como reutilizar tais

materiais adaptando-os ao seu contexto e objetivos de aprendizagem. Os resultados apontaram que o projeto

TANGRAM promoveu o interesse, rendimento, envolvimento, dedicação, emoção e satisfação dos

estudantes por terem aprendido amplamente os temas tratados por diferentes maneiras, ou seja,

metodologias usadas em cada disciplina, embora usando o mesmo objeto de estudo. Na Língua Portuguesa,

através da produção individual e um trabalho de autoria com a confecção de um livro de histórias por cada

estudante, foram intensificados essencialmente os processos de aprendizagem de produção e escrita de

textos.

Palavras-chave: Tangram, Leitura, Escrita, Autoria e Tecnologia.

1. Introdução

A escola atualmente vive um período de adaptação devido à chegada das tecnologias de informação e

comunicação (TICs) que cada vez mais influenciam na interação/comunicação dos estudantes. Os

profissionais da educação nas escolas passam a buscar conhecer tais tecnologias, para receber essa nova

geração de estudantes, poder acompanhá-los, e assim orientá-los sobre o seu uso mais adequado. Neste

contexto, a leitura e escrita continuam sendo primordiais na formação de todo ser humano, no momento em

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que o mercado de trabalho se caracteriza muito mais por atividades que exigem conhecimento. De acordo

com um novo conceito de leitura e escrita, Almeida (in: Folha online, 2009) se refere:

“Ler, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência. A leitura é antes de tudo uma interpretação do

mundo em que se vive. Mas não só ler. É também representá-lo pela linguagem escrita. Falar sobre

ele, interpretá-lo, escrevê-lo. Ler e escrever, dentro desta perspectiva, é também libertar-se. Leitura e

escrita como prática de liberdade.”

Dessa maneira, no processo de aprendizagem da leitura, o estudante deve ser visto como um sujeito

agente do processo de aprendizagem, motivado a ler e escrever, como autor de suas criações, e sentindo-se

livre para produzir, inventar.

O professor ainda tem um papel importante de nortear, direcionar, orientar seus estudantes sobre a

influência de tais tecnologias, ou seja, permitindo que se adquiram certos vícios de escritas e uso incorreto

da língua, desprezando-se a formalidade da língua escrita e promovendo o acesso livre aos mais diversos

sites com todo tipo de conteúdo e informação. Rorig e Backes (2008) afirmam que o professor deva ser um

mediador, um facilitador do processo de ensino aprendizagem como também é importante que seja um bom

pesquisador para assumir o compromisso de ampliar a socialização do conhecimento. Já para Silva (2008)

além de pesquisador é necessário também ser um bom transmissor de conhecimentos. Berlitz (2005-1)

destaca que para Vygotsky (1994) o professor tem a função de agente mediador, que, por meio da linguagem

intervém e auxilia na construção e reelaboração do conhecimento do aluno, contribuindo para o

desenvolvimento deste. Por sua teoria, o conhecimento é sempre mediado, ou seja, a interação com o meio

está diretamente relacionada com a aquisição de conhecimento. Conforme Martins (1989, p. 111-112):

A organização do trabalho docente nesta perspectiva é diferente a partir do momento em que estamos

apontando que é possível construir relações válidas e importantes em sala de aula; cada um tem o seu

lugar neste processo, e o aluno é alguém com quem o professor pode e deve contar, resgatando a sua

autoestima e capacidade de aprender. Valores e desejos estão sempre permeando as relações entre as

pessoas; ao conseguirmos não marcar as relações com preconceitos que mascaram todas as

possibilidades de conhecimento real, estaremos abrindo um campo interativo entre nosso aluno e todo

o grupo que o rodeia.

Neste trabalho buscou-se compreender de que maneira o professor pode ter um papel de agente

motivador e transformador, mediador no ensino e aprendizagem dos estudantes, em um contexto de ensino

de Língua Portuguesa do 6º ano do ensino fundamental. A leitura e a escrita correta foram pauta de um

processo motivacional para produção de textos atrelados ao aspecto visual do Tangram, um tipo de quebra-

cabeça que serviu de material didático para a realização de um projeto da leitura e escrita correta.

Este tipo de quebra cabeça foi encontrado em um repositório de materiais didáticos disponibilizado

no laboratório virtual – Estação Ciência da USP (http://www.ideiasnacaixa.com/laboratoriovirtual/), e

analisado sob o conceito de objetos de aprendizagem (Polsani, 2003, e Willey, 2000), em um processo de

formação, no curso Mídias em Educação, da Universidade Federal de Pelotas. O encantamento por este

objeto de aprendizagem ser trabalhado na Língua Portuguesa foi pela possibilidade de usar a criatividade, o

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pensamento, o discernimento, os sentimentos, a emoção e imaginação, junto ao aspecto lúdico e também

associada à produção textual, ao raciocínio e a escrita.

De acordo com Delors (2000, p. 100)

Mais do que preparar as crianças para uma dada sociedade, o problema será, então, fornecer-

lhes constantemente forças e referências intelectuais que lhe permitam compreender o mundo que as

rodeia e comportarem-se nele como atores responsáveis e justos. Mais do que nunca a educação

parece ter, como papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento,

discernimento, sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e

permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio destino.

No ambiente escolar é importante a parceria entre todos os membros que o compõem, porém é

imprescindível a cooperação entre direção, professores e estudantes pois é mais fácil alcançar resultados

positivos quando há apoio mútuo. A proposta foi de desenvolver um trabalho interdisciplinar, envolvendo os

professores de português, matemática, arte e inglês, oportunizando aos discentes momentos de estudos e

aprendizagem utilizando um mesmo objeto de estudo, o Tangram. Durante as aulas de língua portuguesa fui

percebendo a gravidade dos erros ortográficos, linguagem simplificada, codificada como, por exemplo,

“que” escrito apenas com a letra “k”, palavras abreviadas, com sinais gráficos, símbolos indicando

interpretação, tais como, ( :) ) cara feliz, com animações , como também, “casa” escrita “kza”, “demais”

indicado por “d+”, exemplos que configuram uma linguagem verbal, não-verbal, e mista. A linguagem

verbal é a escrita, ou a falada, para esta não é o caso. A linguagem-não verbal é representada por desenhos, e

a mista é quando ocorre a mistura da linguagem verbal e não verbal, nesse caso é a utilizada pelos estudantes

internautas nas redes sociais. Dessa maneira, surgiu a necessidade de trabalhar a leitura e linguagem escrita

formal explorando recursos adicionais aos materiais didáticos usados tradicionalmente. Neste cenário,

identificou-se que o objeto de aprendizagem TANGRAM poderia apoiar atividades didáticas para o

desenvolvimento da leitura e escrita da Língua Portuguesa.

Neste processo, a indagação permanente foi como despertar no estudante o gosto pela leitura e escrita

correta, tirando partido de uma mídia digital?

A comunicação escrita é uma maneira que o ser humano tem para se comunicar com o mundo,

consigo mesmo e com o seu redor, permitindo assim a linguagem de códigos símbolos e signos linguísticos

ao entendimento, à interpretação e comunicação entre os indivíduos. Nas palavras de Jakobson (2003, p.37),

“falar implica a seleção de certas entidades linguísticas e sua combinação em unidades linguísticas de

mais alto grau de complexidade. Isto se evidencia imediatamente ao nível lexical; quem fala seleciona

palavras e as combina em frases, de acordo com o sistema sintático da língua que utiliza; as frases, por sua vez, são combinadas em enunciados. Mas o que fala não é de modo algum um agente

completamente livre na sua escolha de palavras: a seleção (exceto nos raros casos de efetivo

neologismo) deve ser feita a partir do repertório lexical que ele próprio e o destinatário da mensagem

possuem em comum”.

A linguagem escrita é um conhecimento linguístico que exige muita atenção e cuidado no momento

de sua execução. Em virtude disso, o aluno sofre reveses no momento de produção textual ao por em prática

a escrita, pois se ele não for bem motivado à leitura diariamente, não vai desenvolver com facilidade o gosto

de ler e interpretar, tão pouco escrever correto. Não conseguirá ser muito criativo, pois uma produção textual

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de qualidade é consequência de processos intensivos de leitura. Quem lê sabe, conhece, escreve bem e

consegue organizar melhor as ideias. Tem facilidade e interpreta com propriedade qualquer situação

aparente e conflituosa.

Dessa maneira, buscou-se com o uso de um objeto de aprendizagem, o Tangram, na disciplina de

Língua Portuguesa, na Escola Perpétuo Socorro, Encantado, RS, motivar os estudantes a despertarem mais o

gosto pela leitura e produção de textos atraídos pelo aspecto estético e visual das formas geométricas deste

quebra cabeça.

Com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, desenvolveram-se novas formas de

comunicação, que não excluíram as já existentes no meio social. Percebe-se que ainda há sintonia entre as

mesmas, especificamente quando se referem às mídias impressas. Certamente as TICs chegaram para

facilitar em todos os aspectos a vida social e profissional das pessoas. Na escola, portanto, não foi diferente

com a chegada das mídias digitais. O professor tem importante papel de mediar e propagar conhecimentos

utilizando as tecnologias que estiverem a sua disposição com objetivo de contribuir em sua prática

pedagógica. Isso deve envolver um repensar sobre suas práticas.

Na atualidade, educadores têm disponíveis ambientes online (repositórios de objetos de

aprendizagem) que permitem acessar materiais didáticos em formato digital, facilitando o compartilhamento

dos mesmos. Segundo Willey (2000) estes materiais podem ser reusados em novos contextos e situações

didáticas. A motivação desse trabalho foi de usar tal tipo de material didático digital como recurso de

aprendizagem. Moran (2000, página xx) destaca:

Na sociedade da informação, todos estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar;

reaprendendo a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social. É

importante conectar sempre o ensino com a vida do aluno. Chegar ao aluno por todos os caminhos

possíveis: pela experiência, pela imagem, pelo som, pela representação (dramatizações, simulações),

pela multimídia, pela interação on line e off line.

Considera-se, frente ao exposto, a importância do papel do professor para selecionar, reestruturar e

reutilizar materiais didáticos visando ao processo de ensino aprendizagem. O professor deve ser dessa

maneira um mediador e nortear entre o conhecimento do aluno e o uso adequado da tecnologia, o que é

proposto nesse trabalho.

Este trabalho tem o objetivo de trabalhar habilidades de leitura e produção de escrita através de uma

proposta lúdica, que desperte o gosto pela leitura e explore a criatividade na produção escrita. Com esta

prática didática têm-se o propósito de: inserir atividades de produção de textos com o TANGRAM, que

estimulem para o processo de ensino aprendizagem da Língua Portuguesa; Oportunizar ao educando a

produção escrita colocando-o na posição de um ser pensante no processo de ensino aprendizagem do próprio

conhecimento; Tornar a prática pedagógica mais enriquecedora explorando os conhecimentos

interdisciplinares.

O estudo se insere no tema pedagogia e interdisciplinaridade, considerando-se o tipo de abordagem

didático-pedagógica a ser adotada, tal como previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a

Educação Básica. O trabalho busca ampliar a discussão sobre a associação entre metodologia e prática da

interdisciplinaridade, como estratégia didática.

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2. O TANGRAM como jogo didático

Como anteriormente referido, ao identificar-se o Tangram como um objeto de aprendizagem, e

analisar-se este jogo sob os pressupostos da aprendizagem da língua portuguesa, o que chamou atenção foi a

quantidade de objetos que poderiam ser representados com apenas sete pedaços de papel recortados em linha

reta. Poderiam se gerar gravuras em movimento ou também estáticas. Causando assim uma impressão de

mobilidade ao observar e montar as imagens, possibilitando a inclusão das mesmas no mundo real e em

perfeita harmonia com a natureza e em sintonia com a vida. Este jogo poderia assim instigar os estudantes a

transformar o Tangram de uma linguagem completamente não-verbal para uma linguagem verbal. O

Tangram foi visto como uma forma de linguagem para representar, registrar, documentar intenções, e de

acordo com o que se refere o autor espanhol Argan (apud BARROS, 2012, p. 316) ”... um projeto cujo

desenho é, antes de tudo, uma síntese de ideia e coisa.” Segundo este autor, “quem projeta, utiliza linguagem

para representar, documentar”, ainda diria registrar suas intenções. A representação visual tem no desenho

seu principal meio de comunicação”. Neste trabalho o Tangram foi uma forma de transformar os desenhos

em uma forma de comunicação que servisse como instrumento interpretativo conforme a impressão de cada

estudante. Ainda o autor reforça que um desenho pode mostrar um determinado conteúdo sem

necessariamente utilizar outra forma de comunicação como as palavras. Cita como exemplo o Tangram.

Barros (2012) conta a história “A lenda do Tangram” usando as sete peças do jogo através de uma

dinâmica de adição das palavras-figuras mostrando buscar semelhanças e diferenças na interpretação das

imagens geradas com as peças do Tangram. Ainda fala da importância da história criada e os resultados

obtidos pela associação a palavra-figura, que permitem a autora afirmar que o desenho vale mais do que mil

palavras.

O Tangram é um quebra cabeça composto por sete peças, cinco triângulos, um quadrado e um

paralelogramo (figura 1). Surgiu na China, sendo mais utilizado nos estudos da matemática, por desenvolver

o raciocínio lógico, na geometria, por praticar as relações espaciais e as estratégias de resolução de

problemas, e na arte, pela percepção à forma e à sensibilidade.

Figura 1: O TANGRAM e as figuras que podem ser montadas com suas sete peças.

Fonte: http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/como-construir-tangram.htm;

http://portalcrescer.blogspot.com.br/2011/02/tangram.html

Quanto ao uso deste objeto de aprendizagem na língua portuguesa visualizou-se uma forma didática e

pedagógica de seu uso nas aulas desta disciplina, do ponto de vista do desenvolvimento da criatividade, do

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estudo da arte e literatura. Sob o olhar da criatividade levaria o estudante a pensar, utilizando sua

inteligência para a capacidade e habilidade conforme ”(PONTY, 1963, p. 120) “mistério da aparição de

alguém na natureza, renovando a cada vez que olhamos” causando a possibilidade de explorar o poder de

discernir, raciocinar sobre o quebra-cabeça sobrepondo-os a indagações, questionamentos associados aos

trabalhos exigidos na língua portuguesa. Aos olhos da arte observariam as formas, movimentos, cores,

linhas, assim submeteriam os estudantes a colocar as imagens dentro de um contexto social e cultural, porém

real. Quanto ao olhar da literatura exploraria a capacidade de ler e bem escrever, a fim de perceberam a

importância do tempo, do conhecimento, do pensar até elaborar o trabalho, portanto esse envolvimento

possibilitaria a valorização de todo fazer pedagógico, percebendo a importância do aprendizado e passando

por um processo de construção no qual eles seriam os protagonistas, os escritores, os autores de suas

próprias criações.

3. Metodologia

3.1 Proposição do Projeto TANGRAM

A proposta considerou a possibilidade de estimular a criatividade, o pensamento, o discernimento, os

sentimentos, a emoção e imaginação, o aspecto lúdico, associados à produção textual, ao raciocínio e a

escrita. Identificou-se a riqueza do jogo e a possibilidade de um desafio a ser trabalhado

interdisciplinarmente, com a intenção de atrair os estudantes e envolvê-los em um jogo essencialmente

matemático.

A partir desta identificação do jogo TANGRAM como objeto de aprendizagem para uma experiência

interdisciplinar, buscou-se inicialmente solicitar uma reunião com demais professores da instituição de

ensino o qual está inserido este estudo, e a direção da escola, para expor a proposta do projeto Tangram e

convidar os mesmos a participarem, a fim de desenvolver trabalhos interdisciplinares com uma turma da 6º

série de ensino. Nesta reunião descreveu-se aos demais docentes como o projeto Tangram seria trabalhado

interdisciplinarmente nas disciplinas de Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Arte e Matemática. Foi exposto

que tal projeto foi pensado a partir de um processo de formação realizado pela autora deste estudo, o curso

de Pós-graduação em Mídias na Educação, o qual, através de uma disciplina, possibilitou o contato e

conhecimento sobre o objeto de aprendizagem ou jogo TANGRAM. Logo, foram apresentados os motivos

de desenvolver um projeto e o porquê da escolha dessa turma, devido a um contato inicial com um docente,

da disciplina de Matemática, o qual considerou a importância desta ideia, especificamente para o estudo dos

polígonos, definindo de imediato pelo início do projeto para abordar tal conteúdo. Como a proposta exigiria

buscar referências através da Internet, a escolha da turma deu-se pelo fato de ser a menor da escola, já que

há limitação no número de computadores no laboratório de informática e pela capacidade limitada dos

mesmos para as pesquisas. A ideia de desenvolver um projeto, tomando como objeto de aprendizagem o

TANGRAM surgiu após trabalhar uma disciplina sobre Objeto de Aprendizagem: Questões Pedagógicas,

Metodológicas e Tecnológicas, onde foi elaborado um pré-projeto sobre a utilidade deste jogo nos estudos

da língua portuguesa. Percebeu-se a riqueza do jogo e a possibilidade de um desafio a ser trabalhado

explorando a criatividade, o imaginário, levando o aluno pensar mais sobre o fazer pedagógico. A intenção

foi de atrair os estudantes pela emoção e envolvê-los com um jogo essencialmente matemático, para as aulas

de português, mas com amplo potencial pedagógico, na tentativa de encantá-los pelo diferente, pelo aspecto

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visual e pelas formas do quebra-cabeça com possibilidades múltiplas de montar imagens, conforme ilustrado

anteriormente na figura 1. Considerando-se, assim, a possibilidade de fazer os estudantes pensar e refletir

quanto à produção de textos, principalmente no momento de criar as histórias e seus personagens.

Foi também explanada a ideia de desenvolver um trabalho de autoria através da produção de um livro

para registrar as histórias produzidas pelos estudantes. Nesta proposta, para cada obra produzida, o estudante

seria o autor e o ilustrador de suas criações e as histórias deveriam ser inéditas e embasadas em outras obras

já publicadas.

3.2 A caracterização da metodologia adotada em cada disciplina

A partir da reunião entre os professores envolvidos no projeto ficaram estabelecidas as diretrizes a

serem traçadas para a experimentação em cada disciplina.

Foram caracterizados os conteúdos, elementos e habilidades a serem trabalhados em cada disciplina,

tais como:

- Em Artes, os elementos básicos da linguagem visual, tais como cor, forma, ponto, luz e contraste,

os quais permitem estabelecer relações de composição; A metodologia proposta foi de abordar a leitura de

imagens de forma contextualizada, percebendo relações na produção artística usando o Tangram e suas

condições de produções poéticas. A partir da seleção de imagens do pontilhismo, deve ser realizada uma

leitura das mesmas e iniciada a prática. A proposta de utilização de tinta têmpera constitui-se como meio

para representar e estabelecer relações com a vida, considerando que a imagem torne-se algo real, uma arte

viva.

- Em Língua Estrangeira, a produção escrita, a criatividade do desenho de formas geométricas, e os

conhecimentos vocabulares associados a estas, através da escrita e oralidade pela pronúncia correta;

- Na Matemática o reconhecimento das figuras geométricas, e processos compositivos entre estas

figuras, considerando-se a valorização do uso de estratégias pessoais e de conhecimentos prévios como meio

de resolução aos problemas apresentados. A competência considerada nesta atividade é a de resolução de

problemas.

- Na Língua Portuguesa a criação de textos, considerando à ortografia e coerência das ideias, com o

propósito de fazer o estudante pensar nas obras que irão escrever, pois a exigência não é de apenas criar um

texto, mas acima de tudo criar com a intenção de que sua produção seja uma arte.

3.3 O desenvolvimento do Projeto TANGRAM interdisciplinarmente

A primeira etapa foi de pesquisa na internet sobre a história do TANGRAM, a sua origem e seus

usos e aplicações. Logo, foram desenvolvidas as propostas traçadas em cada disciplina. Em relação ao

trabalho coletivo foi possível verificar diversas maneiras de resolver um mesmo problema e de validar tais

formas de resolução e seus resultados. Na disciplina de Língua Portuguesa, os estudantes selecionaram os

autores que tomariam como referencial para suas histórias, produzindo-as e os próprios TANGRANS.

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A prática foi desenvolvida abarcando em torno de dois meses de aula. Durante a prática proposta na

disciplina de Língua Portuguesa, buscou-se responder as dúvidas que surgiram e oferecer uma orientação

individual na medida em que surgiam as problematizações. Muitas vezes solicitou-se que os textos fossem

refeitos por não estarem com a escrita adequada, ou seja, por conter muitos erros ortográficos, apresentarem

fuga do assunto e pela ausência de uma sequência cronológica. Durante o processo ocorria o

acompanhamento individual, em que a professora efetuava a correção dos textos.

Observou-se que os estudantes já conheciam o Tangram. Sabiam que este jogo era utilizado na

matemática, mas não sabiam que poderia ser utilizado em outras disciplinas, principalmente na língua

portuguesa. Para eles, essa seria uma primeira experiência. Os estudantes pesquisaram na internet a história

do Tangram, a sua origem e como se dão seus usos e aplicações. Acessaram sites de jogos interativos

informados pela página do Google e tiveram a oportunidade de interagir com mais de mil imagens formadas

com as sete peças do jogo. Cada aluno escolhia as imagens que desejassem e iam formando encaixes entre

as peças, até gerar tal imagem. A partir disso orientava-se para que observassem as imagens e visualizassem-

nas como parte de uma história.

Para isso foi necessário à utilização de vários recursos, através da internet como fonte para obter o

conhecimento da história do mesmo, conforme ilustrado na figura 2. Foi assim reconhecida a prática do jogo

utilizando as peças para a montagem e desmontagem de imagens de pessoas (ao centro e à direita da figura

2), objetos, animais, números, letras e diversas figuras.

Figura 2: Etapa de reconhecimento do jogo TANGRAM, através da Internet.

Fonte: Autora, 2012.

Na quinta aula, foram disponibilizados livros de leitura e literatura infantil para que os estudantes

manuseassem e escolhessem um autor(a) que tomariam como referencial para suas histórias (à esquerda da

figura 3). Isso ocorreu em vários momentos, pois ao ler se davam conta de que não gostavam e trocavam por

outro até estarem satisfeitos com a escolha.

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Figura 3: Etapa de produção das histórias, a partir de referenciais e através do TANGRAM.

Fonte: Autora, 2012.

Quanto à seleção do gênero ficou a livre escolha respeitando a habilidade e preferência de cada

estudante. A maioria decidiu entre o narrativo e o poético.

A etapa mais demorada, mais difícil e que levou mais tempo foi a produção das histórias (ao centro

da figura 3), a qual era necessária atenção especial ao aluno devido às dúvidas que surgiam durante a

produção ou porque diziam estar sem ideias.

Muitas vezes era solicitado para que refizessem e repensassem sobre a produção, isso então

provocava certos conflitos. Aos poucos foram entendendo e desenvolvendo com mais ânimo. Este processo

exigiu dos estudantes muita disciplina, e paciência. A turma por ser heterogênica, possuía, por um lado,

alunos compreensivos, prestativos e muito dedicados e completamente envolvidos com essa atividade. Por

outro, estudantes com dificuldades de aprendizagem que se dispersavam com conversas e atitudes

comportamentais impróprias, interferindo muitas vezes no andamento das aulas. Alguns estudantes

considerados especiais, segundo laudos médicos, exigiam atenção redobrada. Embora dificuldades e certas

limitações, todos produziram suas obras.

Para a confecção do livro de histórias, a grande maioria produziu os Tangrans (à direita da figura 3),

necessários para montar na sequência os seus personagens. Representavam o traçado do quadrado, usando o

papel quadriculado, pintavam com lápis de cor ou canetinhas hidrocor e em seguida recortavam as peças e

deixavam reservadas para representar as personagens. Esta fase se desenvolveu em várias aulas. Para os

alunos com mais dificuldades foi oferecido cópias impressas do Tangram.

Cada aluno foi autor e ilustrador de seu livrinho (à esquerda da Figura 4). Todos trabalharam com

folhas de desenho e montaram os livros parte a parte, folha a folha, como ilustrado ao centro da figura 4.

Cada livro foi composto por uma parte escrita e outra ilustrada (á direita da figura 4). Nem todos

aguardavam pela orientação e iam produzindo a sua maneira, de forma intuitiva. Devido a isso, muitas vezes

o processo precisou ser repetido, mas foi importante terem a iniciativa, considerando-se que, quando

necessário, refaziam as páginas do livro.

Figura 4: Etapa de produção de um livro por cada estudante, que registra a história criada com o TANGRAM.

Fonte: Elaboração da autora, 2012.

Um fato inesperado e inusitado aconteceu durante a prática das atividades. Antes de dar início à

confecção do livrinho, as histórias ainda nem estavam bem elaboradas, porém alguns estudantes já tinham

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em mente o que iam desenvolver. Estes estavam tomados pela emoção e entusiasmo em produzir a sua

própria obra, e assim preferiram começar pela capa do livro. Por instantes buscou-se reestabelecer a

proposta traçada para a atividade, na qual, pela sequência lógica dos fatos, não deveria iniciar pela

confecção da capa. Houve dessa maneira a preocupação de que os estudantes estariam dando maior

importância à aparência do trabalho e menos valorização ao conteúdo. Frente a este fato, foi concedida

autorização a esta solicitação. Avaliou-se por manter, naquele momento, a motivação, a harmonia e

desenvolver o devido acompanhamento. Em duplas, ou pequenos grupos, cada um estava envolvido com o

trabalho. Observavam os cuidados com a escolha dos tipos de papéis, tais como de dobradura, camurça,

crepom, as canetinhas hidrocor, cola brilho, folhas de desenho e demais materiais utilizados para a

confecção da capa. Para que não houvesse ruptura com a proposta traçada, nem divergências quanto ao

andamento da prática, considerou-se a dinâmica estabelecida naquele momento e deixou-se a imaginação

fluir, porém intervindo nos momentos necessários.

Todos atingiram os objetivos propostos, levando-se em consideração as características pessoais e a

limitação de cada estudante.

Segundo o relato da professora de língua estrangeira, em suas aulas, no projeto com o Tangram,

trabalhou-se basicamente a produção escrita, a criatividade ao desenhar as formas geométricas, a utilização

das cores para colorir os objetos desenhados como os polígonos, conforme ilustrado à esquerda e ao centro

da figura 5.

À direita da figura 5 é ilustrado o trabalho de reconhecimento das cores e formas geométricas

explorando a língua estrangeira através da escrita, tais como os polígonos (triângulo, quadrado,

paralelogramo), entre outros termos.

Figura 5: Reconhecimento do vocabulário relativo aos polígonos na Língua Inglesa.

Fonte: Elaboração da autora, 2012.

De acordo com o relato da professora de Matemática, as habilidades consideradas neste projeto,

foram distinguir que diferentes figuras geométricas regulares podem ser unidas até formarem outras figuras

irregulares. Também foi considerada a valorização do uso de estratégias pessoais e de conhecimentos

prévios como forma de alcançar resultados e de elaborar estratégias de resolução de problemas. Já no

trabalho coletivo foi possível verificar diversas maneiras de resolver um mesmo problema e de validar tais

formas de resolução e seus resultados. A competência considerada nesta atividade diz respeito à resolução

de problemas.

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3.4 Avaliação da prática

Para avaliar a proposta didática, foram realizadas entrevistas com questões do tipo aberta, as quais

visaram registrar as percepções dos estudantes, e aplicado um questionário, o qual se caracterizou por

questões fechadas, neste caso admitindo como respostas „sim‟ ou „não‟, assinando respostas objetivas a

respeito do trabalho desenvolvido sobre este projeto, e ainda, solicitando-se comentários adicionais quanto à

questão.

4. Resultados e Discussão

Durante a prática percebeu-se o interesse e encantamento dos estudantes por vivenciarem outras

técnicas juntamente com o Tangram.

No desenvolvimento das atividades, observou-se que houve o empenho, a dedicação, a criatividade, a

emoção, a alegria ao desenvolver as atividades, principalmente, com a produção textual associada com a

ilustração das imagens através das sete peças do Tangram, utilizando-as para representar. Cada estudante

tornou-se um autor de sua própria criação, finalizando com a confecção do livrinho anteriormente referido.

Trabalharam o conteúdo compartilhando o conhecimento adquirido.

Quanto ao trabalho coletivo foi possível verificar diversas maneiras de resolver um mesmo problema

e de validar tais formas de resolução e seus resultados. O interesse e empenho dos alunos estimulou o

processo de criatividade nos mesmos.

Através da análise sobre respostas obtidas em entrevista e questionário aplicado aos estudantes,

avaliaram-se os resultados da investigação sobre a questão problema que teve como objetivo a aplicação de

uma prática didática de produção de textos através de atividades com o Tangram, visando estimular para o

processo de ensino aprendizagem da Língua Portuguesa. Como resposta a primeira questão relativa a

importância do uso do Tangram na interdisciplinaridade, todos responderam positivamente destacando a

importância do trabalho desenvolvido entre várias disciplinas, língua portuguesa, inglês, arte e matemática,

usando o Tangram. Os estudantes questionados destacaram que aprenderam mais em comparação as aulas

dadas de maneira tradicional e os conteúdos se tornaram mais significativos, o que possibilitou memorizá-

los com mais facilidade através da produção realizada com o jogo, recortando as peças, observando o

formato e tamanho de cada uma delas, colorindo-as e montando as figuras conforme as instruções de cada

professor dentro de sua disciplina. Os estudantes contaram que esse aprendizado interdisciplinar

possibilitou o conhecimento sobre o estudo dos polígonos nas aulas de matemática (a esquerda da figura 6)

para o aprendizado de geometria, os quais eram construídos a cada aula. Em seguida, passaram a representar

letras e posteriormente figuras mais elaboradas, ou seja, de imagens humanas, (ao centro da figura 6),

animais (a direita da figura 6) e de outros objetos mais complexos. Foi estimulado o uso do raciocínio lógico

e a percepção quanto às formas e possibilidades de construir diferentes tipos de figuras.

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Figura 6: Representação de polígonos, imagens humanas e animais.

Fonte: Autora, 2012.

Quanto ao ensino da língua inglesa os estudantes apontaram que foi possível aprender como escrever

e ler os nomes dos polígonos e de linhas curvas, sinuosas, retas e etc., das cores e das imagens explorando os

conhecimentos da língua estrangeira.

A importância deste trabalho foi levar o estudante perceber a importância de ler e utilizar a escrita

correta quando se trata da linguagem formal e a importância que deve ser dada no ato de escrever. Através

deste conhecimento interagiram se envolvendo no trabalho de forma que se sentiram autores protagonizando

a própria obra de arte.

O Tangram no ensino da língua portuguesa foi visto como um recurso envolvente para que servisse

como apoio didático, lúdico e pedagógico para inspirar o discente quanto à criatividade e liberdade do

imaginário na elaboração dos textos (figura 7, à esquerda), na ilustração das personagens (figura 7, ao

centro) e montagem do livrinho (figura 7, à direita).

Figura 7: Elaboração de textos, ilustração de personagens e montagem dos livros.

Fonte: Autora, 2012.

O jogo TANGRAM e a proposta didática foram vistos pelos estudantes como um recurso

pedagógico para a construção do conhecimento de maneira lúdica e interativa, desenvolvendo assim o

raciocínio lógico, a percepção e o equilíbrio. Observou-se que os estudantes estiveram concentrados e ativos

durante todo o processo e a cada instante deste.

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5. Considerações finais

A proposta deste trabalho foi de utilização das sete peças do Tangram como objeto de estudo para a

produção de textos na Língua Portuguesa e aquisição de conhecimentos interdisciplinares. Em relação às

situações didáticas propostas com o jogo, destacam-se, principalmente a diversidade e possibilidades que

são proporcionadas na montagem das imagens, formando figuras ilustrativas e tecendo formas concretas.

Tornando possível a personificação das personagens dos textos produzidos pelos estudantes.

As atividades aplicadas à turma do 6º ano, ao utilizar o quebra-cabeça Tangram como objeto de

aprendizagem aos estudos interdisciplinares do português, arte, inglês e matemática, envolveram os

professores dessas disciplinas em uma proposta didática que exigiu ampliar o conhecimento sobre o jogo e

como poderia ser utilizado, para que fosse possível estruturar situações didáticas em cada área de

conhecimento integrante do projeto.

O projeto TANGRAM promoveu o interesse, rendimento, envolvimento, dedicação, emoção e

satisfação dos estudantes por terem aprendido amplamente os temas tratados por diferentes maneiras, ou

seja, metodologias usadas em cada disciplina, embora usando o mesmo objeto de estudo. Na disciplina de

língua portuguesa foi proposta uma prática envolvendo a leitura e escrita correta, sugerindo como objetivo a

produção e confecção de um livrinho de história, em que os estudantes usaram as peças do Tangram para

fazerem a representação das imagens e dos personagens de suas histórias. Possibilitando ao discente assumir

o papel de autoria, pensando, escrevendo, organizando e produzindo sua obra de arte. Intensificando-se,

dessa maneira, os processos de aprendizagem de produção de textos.

Agradecimentos

Agradecemos à Direção da Escola Perpétuo Socorro, RS, por não medir esforços, dando total apoio

para que as atividades se concretizassem com sucesso.

Todos os colegas professores que de alguma forma também contribuíram para a realização deste

trabalho. Em especial às professoras Naídes, Maria Luisa e Claudia pela parceria, cooperação e

compreensão durante todo processo de aplicação, pois foram imprescindíveis no desenvolvimento dos

trabalhos nesta nova experiência. Aos alunos do 6º ano por aceitarem um novo desafio encarando tudo com

carinho e atenção oportunizando a aplicação desta pesquisa de formação no curso de Mídias na Educação.

Ao reitor, coordenadores, orientadores, coorientadores e professores da Universidade Federal de

Pelotas, RS, pelo carinho, atenção, paciência e sabedoria ao conduzirem todas as atividades, tornando

possível o desenvolvimento deste estudo e formação em nível de especialização.

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