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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO CENTRO DE EDUCAO

    DEPARTAMENTO DE EDUCAO, POLTICA E SOCIEDADE

    JOO ALEXANDRE FERREIRA FERNANDO LUCAS BRAVIM

    RMULO NASCIMENTO

    O PROGRAMA MAIS EDUCAO NO ENSINO FUNDAMENTAL II: LIMITES, PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES NA VISO DA COMUNIDADE ESCOLAR DA EMEF MARTIM LUTERO - CARIACICA-ES.

    VITRIA, ES. 2014

  • JOO ALEXANDRE FERREIRA FERNANDO LUCAS BRAVIM

    RMULO NASCIMENTO

    O PROGRAMA MAIS EDUCAO NO ENSINO FUNDAMENTAL II: LIMITES, PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES NA VISO DA COMUNIDADE ESCOLAR DA EMEF MARTIM LUTERO - CARIACICA-ES.

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Departamento de Educao, Poltica e Sociedade da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito final para obteno do grau licenciado em Geografia.

    Orientao: Prof. Dr. Vilmar Jos Borges

    VITRIA 2014

  • JOO ALEXANDRE FERREIRA

    FERNANDO LUCAS BRAVIM RMULO NASCIMENTO

    O PROGRAMA MAIS EDUCAO NO ENSINO FUNDAMENTAL II: LIMITES, PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES NA VISO DA COMUNIDADE ESCOLAR DA EMEF MARTIM LUTERO - CARIACICA-ES.

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao

    Departamento de Educao, Poltica e Sociedade, da

    Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito parcial

    para obteno do grau de licenciado em Geografia.

    Apresentado em 24 de Julho de 2014.

    ____________________________________

    Prof. Dr. Vilmar Jos Borges

    Universidade Federal do Esprito Santo

    Orientador

    ____________________________________

    Prof. Dr. Jos Amrico Cararo

    Universidade Federal do Esprito Santo

    ____________________________________

    Profa. Dra. Patrcia Gomes Rufino Andrade

    Prefeitura Municipal de Cariacica

  • GRADECIMENTOS

    Ao senhor nosso Deus, por mais uma conquista.

    Aos nossos familiares, pais, irmos e avs, por todos os esforos que fizeram

    para que pudssemos chegar at aqui.

    Ao nosso orientador Prof. Dr. Vilmar Jos Borges, pelo incentivo, pacincia,

    cobrana e confiana.

    A todos os amigos prximos que diretamente e indiretamente fizeram parte

    desse trabalho. No sendo necessrio citar nenhum nome, nos abstemos para

    no cometer o erro de esquecer algum.

    Aos colaborados da EMEF "Martim Lutero" , pela recepo calorosa e

    prestativa colaborao, que sem a qual este trabalho no seria viabilizado.

    Aos professores do Departamento de Geografia que contriburam para a nossa

    formao.

  • RESUMO

    O presente trabalho aborda a viso da comunidade escolar sobre a aplicao

    do Programa Mais Educao do Governo Federal na EMEF "Martim Lutero",

    uma das escolas da rede municipal de ensino de Cariacica-ES, municpio da

    Regio Metropolitana de Vitria-ES.

    No decorrer do trabalho procurou-se: apontar referenciais tericos a respeito

    do tema, que nos revelasse alguma essncia e nos permitisse aprofundar na

    temtica; apresentar as opinies, expectativas e decepes dos profissionais

    envolvidos e dos pais dos alunos; e levantar aes positivas que possam ser

    aproveitadas ou readaptadas dentro do ambiente escolar, na tentativa de

    romper as dificuldades encontrar no cotidiano escolar.

    Palavras-chave: Cariacica, Programa Mais Educao e Comunidade Escolar.

  • LISTA DE FIGURAS

    Imagem 01 Localizao da Escola Pesquisada --------------------------------------14

    Imagem 02 Auditrio da Escola Martin Lutero ---------------------------------------34

    Imagem 03: Alunos da EMEF Elzira Vivacqua jogando vlei na praia,

    uniformizados -----------------------------------------------------------------------------------58

    Imagem 04: Final do campeonato de vlei-----------------------------------------------59

    Imagem 05: Interior do Museu de Minerais e Rochas do Parque Pedra da

    Cebola --------------------------------------------------------------------------------------------63

    Imagem 06: Parte do acervo de minerais -----------------------------------------------63

    Imagem 07: Atendimento aos grupos visitantes do Museu -------------------------64

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 01 Influncia do Programa Mais Educao na Escolha dos

    pais/responsveis. -----------------------------------------------------------------------------46

    Grfico 02 Nota dos Pais/responsveis ao Programa Mais Educao --------47

    Grfico 03 - Melhora no desempenho do aluno na viso dos pais aps

    ingressar no Programa Mais Educao --------------------------------------------- ----48

    Grfico 04 Satisfao dos Pais/Responsveis --------------------------------------48

    Grfico 05 Alunos que contribuam/contribuem na renda familiar -------------49

    Grfico 06 Pais/Responsveis que puderam efetuar outras atividades -------50

    Grfico 07 Atividades puderam exercer com o filho aps o filho ingressar no

    Programa Mais Educao -------------------------------------------------------------------50

    Grfico 08 Quantidade de filhos integrados no Programa Mais Educao -- 51

    Grfico 09 Atividades puderam exercer com o filho aps o filho ingressar no

    Programa Mais Educao -------------------------------------------------------------------51

    Grfico 10 Preferncias dos pais a respeito das modalidades de ensino-----52

  • SUMRIO

    PALAVRAS INICIAIS------------------------------------------------------------------------- 09

    CAPTULO I ------------------------------------------------------------------------------------ 16

    PROGRAMA MAIS EDUCAO: CONCEITOS E ABORDAGENS.

    1.1 POLTICAS PBLICAS -------------------------------------------------------------16

    1.2 POLTICAS PBLICAS EDUCACIONAIS ------------------------------------18

    1.3 O PAPEL DA COMUNIDADE ESCOLAR ------------------------------------ 20

    1.4 O PROGRMA MAIS EDUCAO ---------------------------------------------- 24

    1.5 EDUCAO INTEGRAL ---------------------------------------------------------- 29

    CAPTULO II ----------------------------------------------------------------------------------- 32

    O DESENVOVIMENTO DO PROGRAMA MAIS EDUCAO:

    PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS, AES E DIFICULDADES.

    2.1 A ESTRUTURA ESCOLAR E A IMPLANTAO DO PROGRAMA MAIS

    EDUCAO ES ------------------------------------------------------------------------- 32

    2.2 AGENTES COLABORADORES PARA O PROGRAMA MAIS

    EDUCAO ------------------------------------------------------------------------------ 34

    2.3 OFICINAS ---------------------------------------------------------------------------- 37

    2.4 O PROGRAMA E A ESCOLA --------------------------------------------------- 38

    2.5 ENVOLVIMENTO DE PAIS/ RESPONSVEIS ---------------------------- 41

    2.6 O PROGRAMA NA VISO DOS MONITORES ---------------------------- 42

    2.5 AVALIAES DOS RESPONSVEIS ---------------------------------------- 44

    CAPTULO III ---------------------------------------------------------------------------------- 52

    AES E REFLEXES: VISUALIZANDO ALTERNATIVAS POSSVEIS...

    3.1 O CENTRO DE EDUCAO AMBIENTAL DO PARQUE MATA DA

    PRAIA: ESTUDOS DE RESDUOS SLIDOS ----------------------------------- 52

    3.2 PARCERIAS COM EMPRESAS PBLICO/PRIVADAS ---------------- 55

    3.3 PARQUES MUNICIPAIS DE VITRIA E MUSEU DE ROCHAS E

    MINERAIS DO PARQUE PEDRA DA CEBOLA: EXEMPLOS POSSVEIS

    DE ESPAOS PARA VISITAO -------------------------------------------------- 60

    3.4 O PROJETO MANGUEANDO NA EDUCAO E SUAS

    POSSIBILIDADES PARA A EMEF MARTIM LUTERO------------------------ 63

  • 3.5 PROPOSTA DE ELABORAO DE MAPA MENTAL: OUTRA

    ALTERNATIVA PARA SE ESTUDAR E COMPRRENDER O ESPAO

    VIVIDO ------------------------------------------------------------------------------------- 65

    CONSIDERAES FINAIS ---------------------------------------------------------------- 68

    REFERNCIAS-------------------------------------------------------------------------------- 71

    ANEXO ------------------------------------------------------------------------------------------ 74

  • 9

    PALAVRAS INICIAIS...

    O Programa Mais Educao, institudo pela Portaria Interministerial n 17/2007 e regulamentado pelo Decreto 7.083/10, constitui-se como estratgia do Ministrio da Educao para induzir a ampliao da jornada escolar e a organizao

    curricular na perspectiva da Educao Integral.

    O Programa Mais Educao (PME), foi institudo pelo Ministrio da Educao,

    com o principal intuito de ampliar a jornada escolar e a organizao curricular

    propondo a implantao da educao em regime de tempo integral, se pautando,

    principalmente, na justificativa/objetivo de se caracterizar como uma estratgia de

    se diminuir as desigualdades educacionais e promover a valorizao da

    diversidade cultural brasileira. Criado no ano de 2007, por meio da Portaria

    Interministerial n 17/2007 e regulamentado pelo Decreto 7083/2010, o referido

    programa faz parte do Plano de Desenvolvimento da Educao PDE.

    No obstante tratar-se de um programa relativamente recente, observa-se, uma

    grande diferena de mtodos utilizados em sua implantao nas diferentes

    unidades escolares, quando comparado aos mtodos empregados, via de regra,

    pela educao do turno nico. Por se tratar de um Programa recente e, em fase

    de implantao, podemos especular que sua implantao poder provocar

    impactos positivos e tambm negativos, no somente na comunidade escolar

    como tambm na comunidade do entorno da escola. Isso, principalmente, se

    considerarmos que a estratgia principal promover a ampliao do tempo,

    espao e oportunidades educativas diversas e interdisciplinares. Assim,

    justificam-se, conforme bem salienta Schneckenberg (2000), esforos no sentido

    de traar um contraponto entre o que prescrito e aquilo que , realmente,

    executado, tendo em vista que,

    As polticas educacionais permeiam os processos, no sendo consideradas propostas amplas e preestabelecidas s aes, pois uma coisa o que se estabelece e outra o que se consegue realizar. a partir de tais proposies iniciais que as polticas educacionais se reconstroem no cotidiano escolar (SCHNECKENBERG, 2000, p. 113).

    A implantao do Programa, por si s, j causa grandes mudanas na dinmica

    do ambiente escolar, tais como o aumento do numero de profissionais envolvidos,

    da diversidade de contedos, da interdisciplinaridade, da oferta de merenda

    escolar entre outras. Esses fatores podem ser cruciais para um bom

  • 10

    desenvolvimento educacional. Algumas aes, por exemplo o aumento da oferta

    de merenda escolar, podem causar impacto no apenas ao indivduo que recebe

    a alimentao, mas tambm sua famlia, portanto, um fator com grande

    capacidade de transformao social. Assim, ao se propor analisar os impactos e

    alcances da implantao deste tipo de Programa na Educao, mister se faz

    considerar, tambm, o cotidiano escolar, haja visto que,

    Torna-se necessrio compreender a relao da gesto escolar com o estabelecimento das polticas educacionais, considerando que tais polticas se estabelecem, em ltima instncia, no cotidiano da gesto escolar. A realidade educacional configura-se e transforma-se atravs de formas de gesto cotidiana. (SCHNECKENBERG, 2000, p. 114).

    Embora o Programa tenha sido proposto pelo Ministrio da Educao desde o

    ano de 2007, o mesmo foi regulamentado no ano de 2010. Assim, no municpio

    de Cariacica a implementao do Programa teve incio j a partir do ano de 2010.

    No entanto, ainda so incgnitas as contribuies para a comunidade escolar e o

    desenvolvimento educacional dos alunos inseridos. Portanto, as mudanas

    causadas pelo Programa so ainda especulativas, o que refora a importncia e

    necessidade de pesquisas que visem revelar e dar visibilidade aos impactos

    positivos e/ou negativos que permeiam essa nova forma de conceber o ambiente

    escolar.

    Nesse sentido, objetivo deste trabalho investigar e apontar as principais

    alteraes decorrentes da implantao do Programa Mais Educao no

    desenvolvimento do aluno e na comunidade escolar, assim como as suas efetivas

    contribuies e falhas, tomando como ponto de referncia as opinies e

    percepes dos participantes diretos de sua implantao em uma unidade escolar

    da rede municipal de ensino de Cariacica-ES.

    Na perseguio de tal objetivo e como ferramentas e caminho metodolgico

    percorrido no desenvolvimento da investigao, foi rastreado o referencial terico

    que forneceu a base norteadora para anlise e reflexes propiciadas com este

    trabalho. Para proceder ao levantamento dos impactos positivos e negativos

    ocorridos aps a implantao do projeto na viso da comunidade escolar,

  • 11

    elegemos como universo da pesquisa emprica os seguintes sujeitos, atuantes na

    unidade escolar pesquisada e, direta e indiretamente envolvidos com o Programa:

    diretores, pedagogos, professores, pais e/ou responsveis por alunos e demais

    colaboradores, tais como os monitores do Programa. Do dilogo entre o

    referencial terico e os dados empricos coletados, via aplicao de questionrios,

    foi possvel, em um terceiro momento, apresentar propostas alternativas de

    possveis atividades a serem aplicadas no Programa Mais Educao, tomando,

    como base, experincias desenvolvidas em projetos diversos, j aplicados e

    validados em outras oportunidades de ensino.

    Conforme afirmado anteriormente, o Programa Mais Educao se refere uma

    proposta relativamente recente, portanto, seus impactos ainda so pouco

    conhecidos. Nesse sentido, foi necessrio fazer uma busca de referencial terico

    que tratasse do assunto, com nfase em se conhecer e angariar trabalhos

    similares recentes. A busca por referencial apontou uma carncia de estudos

    sobre o assunto e sobre a situao da educao do municpio de Cariacica.

    Grande parte dos trabalhos encontrados se refere a outros estados. No entanto,

    nada que pudesse atrapalhar o desenvolvimento da pesquisa, pois, buscou-se ao

    mximo, selecionar e trabalhar as referncias que mais se aproximavam da

    realidade do municpio de Cariacica e da escola adotada.

    Assim, na busca por conhecer a opinio da comunidade escolar diretamente

    envolvida com o Programa e, consequentemente, desvelar os impactos da

    implantao do Programa, seguimos orientaes de Schneckengerg (2000), na

    definio dos sujeitos a serem pesquisados. Para tanto, os instrumentos de coleta

    de dados empricos foram empregados em trs diferentes nveis: entrevistas orais

    gravadas, aplicao de questionrios semifechado e, ainda, aplicao de

    questionrios fechados.

    Pesquisar as questes referentes gesto escolar, no processo de implementao de polticas educacionais, requer a observncia da interpretao que os atores sociais diretor, supervisor escolar, orientador educacional, professor, pais, alunos, membros da comunidade - fazem sobre os fatos ou propostas expostas. (SCHNECKENBERG, 2000, p. 114)

  • 12

    No primeiro nvel buscamos as vozes e falas dos gestores, diretores,

    coordenadores e colaboradores, apoiados na realizao de entrevistas gravadas.

    As entrevistas foram direcionadas por um roteiro pr-estabelecido. No entanto, e

    embora apoiados no roteiro de entrevista, cuidou-se para que o dilogo no fosse

    conduzido de maneira engessada, possibilitando ao profissional entrevistado falar

    e se posicionar abertamente sobre suas expectativas, dificuldades e decepes.

    J no segundo nvel, nos apoiamos na estratgia do questionrio semifechado,

    que foi aplicado aos professores/monitores. O grande nmero de

    professores/monitores, agregado a grande demanda de trabalho executado

    acarreta um diminuto contato entre entrevistador e entrevistado. Logo, a opo

    por esse tipo de instrumento de coleta de dados se pautou no fato de

    considerarmos como essencial a alternativa de permitir que, em algum momento,

    o sujeito ouvido possa contribuir com sua opinio de maneira livre. Assim, na

    estruturao de nosso instrumento de questionrio, 70% (setenta por cento) de

    suas perguntas foram fechadas, enquanto que o restante de 30% (trinta por

    cento), foram abertas, conforme instrumento em anexo.

    O terceiro nvel se refere ao instrumento de coleta de dados empricos,

    direcionado ao ambiente familiar e, para tanto, optamos pelo questionrio

    fechado. Embora a famlia possa ser vista como um dos pilares educacionais,

    sabe-se que um fator de dificuldade, na coleta de dados desse universo, diz

    respeito ao nvel de escolaridade que deve ser observado. No entanto, embora

    considerando que essa constatao no seja um fator determinista, podendo

    ocorrer oscilaes entre os nveis, optamos, aqui, pelo questionrio fechado. E,

    ainda, consideramos que este instrumento deve ser breve, simples e sem a

    necessidade de escrita. A distncia entre o pesquisador e os pais e/ou

    responsveis pelos alunos, na aplicao e recolhimento dos respectivos

    instrumentos, foi mitigada com apoio e participao dos professores, que foi

    fundamental para que o questionrio chegasse aos pais e/ou responsveis pelos

    alunos e, ainda, que nos retornassem devidamente respondidos.

    Vale aqui registrar, ainda, que foi utilizado tambm da estratgia de observao

    em campo, para coleta de dados. Embora essa observao tenha acontecido em

  • 13

    praticamente todos os momentos, a mesma aparece de maneira mais branda no

    texto. Isto, porque optamos pela intencionalidade de chegar o mais prximo

    possvel da opinio dos integrantes da comunidade escolar estudada.

    Buscando garantir a privacidade dos sujeitos participantes da presente pesquisa,

    optamos pelos critrios de invisibilidade, adotado pseudnimos ao nos referirmos

    s falas, narrativas e excertos de suas posies.

    Ressaltamos, de imediato, o fato que de alguma maneira pode ter influenciado no

    alcance dos resultados da pesquisa, se refere ao tempo reduzido para sua

    realizao, que foi atropelado por feriados e recessos festivos devido ao perodo

    de Copa do Mundo no Brasil. Assim, a visita inicial escola campo aconteceu na

    segunda semana do ms de junho de 2014, ocasionalmente a semana que

    ocorreu a cerimnia de abertura dos jogos. Nesta visita j foram realizadas as

    entrevistas gravadas com os gestores. Do mesmo modo, foram entregues os

    questionrios a serem aplicados aos professores/monitores e, tambm, aos

    pais/responsveis. No entanto, o perodo conturbado com muitas pausas dentro

    do calendrio escolar impossibilitou o rpido acesso aos questionrios

    respondidos, no somente isso, tambm dificultou ampliar o nmero de

    entrevistas a pessoas envolvidas com o Programa Mais Educao.

    A seleo da unidade escolar a ser pesquisada, se deu aps os primeiros estudos

    sobre o Programa Mais Educao, quando encontramos as diretrizes bsicas

    para implementao nas escolas. Segundo as orientaes e propostas constantes

    do Programa Mais Educao, as escolas que podem ser contempladas devem

    estar inseridas em reas carentes e com vulnerabilidade social. No municpio de

    Cariacica-ES, segundo a Coordenao do Programa Mais Educao da

    Secretaria Municipal de Educao daquele municpio, entre todas as unidades

    escolares daquela rede de ensino, apenas 40 (quarenta) escolas foram

    contempladas com a implantao do Programa. Essa informao tambm pode

    ser observada no site do Ministrio da Educao.

    Portanto, os critrios para seleo da unidade escolar a ser pesquisada seguiram

    uma lgica pr-estabelecida. Primeiramente foram selecionadas as escolas

  • 14

    presentes nas reas mais carentes do municpio. Depois as escolas que esto

    com o Programa Mais educao em pleno funcionamento, e por fim, as escolas

    onde o Programa esta em funcionamento h mais tempo.

    A partir de tais critrios chegamos a EMEF Martim Lutero, localizada no bairro

    Flexal II que tambm atende aos bairros vizinhos, Flexal I, Vila Prudncio e Nova

    Cana. A EMEF Martim Lutero passou nos ltimos anos por reformas em suas

    dependncias e conta com espaos novos e melhorados.

    O bairro Flexal II, considerado um dos bairros mais carentes do municpio de

    Cariacica-ES, est localizado prximo rodovia federal BR-262, e tambm

    prximo foz do Rio Bub (Rio Cariacica). Possui aparente grau de urbanizao

    considerado abaixo do ideal, com poucas reas de recreao. Trata-se de um dos

    bairros com os maiores ndices de homicdios1 de Cariacica e segundo a Revista

    Cariacica em Dados de 2011 tem a populao de 6.820 mil habitantes.

    Figura 01 Localizao da Escola Pesquisada

    Elaborao: Rmulo Nascimento Fonte: CIT/SEMDUR-PMC

    1 Mapeamento presente em no texto Segurana Publica e Cidadania; Diagnostico e Construo de Cenrios, Cariacica, 2012.

  • 15

    Assim, com o desenvolvimento da pesquisa, seguindo os critrios acima

    definidos, procedemos redao do presente relatrio, que ficou estruturado em

    trs captulos, alm de sua parte introdutria e das consideraes finais.

    No primeiro captulo, intitulado Programa Mais Educao: Conceitos e

    Abordagens, apresentamos o levantamento bibliogrfico a respeito das temticas

    envolvidas, e que nos deram aporte terico para a anlise dos dados e

    proposies possveis. A inteno foi a de abarcar diversos conceitos e

    entendimentos presente no meio acadmico e no Programa Mais Educao.

    O segundo captulo, O Desenvolvimento do Programa Mais Educao:

    Profissionais Envolvidos, Aes e Dificuldades, se encarrega de trazer as vozes,

    vises, percepes e opinies da comunidade escolar pesquisada, direta e

    indiretamente envolvida com a implantao do Programa Mais Educao. Vozes

    de gestores escolares, pais/responsveis, coordenadores, monitores e demais

    colaboradores a respeito da aplicao do Programa mais Educao.

    No terceiro e ltimo captulo, Aes e Reflexes: Visualizando Alternativas

    Possveis, pautados no dilogo entre o referencial terico e os dados empricos,

    apresentamos algumas propostas pedaggicas alternativas e possveis

    adaptaes que possibilitem um melhor aproveitamento da estrutura da escola e

    do entorno da comunidade, com a inteno de diminuir as mazelas causadas

    pelas deficincias na implantao do programa.

  • 16

    CAPTULO I

    PROGRAMA MAIS EDUCAO: CONCEITOS E ABORDAGENS

    1.1. - POLTICAS PBLICAS

    Conforme explicitado acima, a busca por compreender os impactos do Programa

    Mais Educao, com nfase em suas repercusses no processo de ensino-

    aprendizagem, na viso e percepo de gestores, professores e pais de alunos

    do Ensino Fundamental II, em uma unidade de ensino do municpio de Cariacica-

    ES, exige, em um primeiro momento, nos atermos na poltica pblica que prope

    e normatiza o Programa. De imediato, depara-se com a questo: como podemos

    definir Polticas Pblicas?

    Segundo Oliveira (2012), depois de uma busca na origem das palavras que

    compem este termo que etnologicamente significa o povo tomando as decises

    sobre a gesto do territrio. No entanto, conforme salienta o referido autor, a

    participao efetiva sobre as decises do territrio tomaram formas distintas. Uma

    dessas formas se refere participao que advm na escolha de um

    representante legal para as tomadas de decises.

    Podemos dizer que, as polticas pblicas esto diretamente ligadas existncia

    do Estado, e podem ser de significado poltico, econmico e cultural, podendo

    emergir de varias esferas ligadas gesto do territrio (Federal, Estadual e

    Municipal).

    Depreende-se da que o Estado o responsvel pelas propostas e

    implementao das polticas pblicas, uma vez que o Estado, conforme explicita o

    Dicionrio Houaiss2, o conjunto das instituies (governo, foras armadas,

    funcionalismo pblico etc) que controlam e administram uma nao

    Especificamente no caso do Brasil, conforme salienta Oliveira (2012), essa

    resposta torna-se satisfatria, considerando que o Estado brasileiro gerido e

    administrado por representantes escolhidos e indicados pela populao. 2 O Grande Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa um dicionrio de lngua portuguesa

    elaborado pelo lexicgrafo brasileiro Antnio Houaiss. A primeira edio foi lanada em 2001, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Antnio Houaiss. Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dicion%C3%A1rio_Houaiss. Acesso em maio de 2014.

  • 17

    Para Oliveira, (2012), as estruturaes e reestruturaes de polticas pblicas,

    esto ligadas ao que ele chama de governabilidade.

    Entende-se por governabilidade as condies adequadas para que os governos se mantenham estveis. So essas condies adequadas, enquanto atitudes de governos (sejam eles de mbito nacional, regional/estadual ou municipal), que caracterizam as polticas pblicas3 (OLIVEIRA, 2012, p. 1)

    Pela definio de governabilidade apresentada por Oliveira (2012), percebe-se a

    existncia de uma relao ntima entre a necessidade do Estado de se manter no

    poder, com o uso de polticas pblicas. No entanto, a busca pela governabilidade

    no retira a capacidade do povo fazer poltica, pressupondo, que, todo o tempo

    nas tomadas de decises do cotidiano, somos aptos a fazermos escolhas de

    carter poltico.

    O que distingue poltica pblica da poltica, de um modo geral, que esta tambm praticada pela sociedade civil, e no apenas pelo governo. Isso quer dizer que poltica pblica condio exclusiva do governo, no que se refere a toda a sua extenso (formulao, deliberao, implementao e monitoramento). (OLIVEIRA, 2012, p. 8)

    Chegamos ento definio do que para ns seriam as eventuais polticas

    pblicas. Estas, no esto ligadas diretamente aos interesses da populao. No

    entanto, elas acontecem quando ocorre uma instabilidade social, que impede a

    possibilidade plena de se governar e a manuteno do poder por parte de grupos

    dominantes. Logo, podem possuir ou no, interesses de uma classe minoritria

    dominante, servindo como uma espcie de batuta4 na gesto e direcionamento da

    sociedade.

    Em Souza (2013), encontramos uma definio para o processo de formulao de

    poltica pblica sobre o qual buscamos erigir a presente investigao, ou seja, o

    processo de formulao de poltica pblica aquele atravs do qual os governos

    3 Originalmente na obra aparece polticas polticas. A correo ocorreu por meio de entendimento entre os autores do presente trabalho, concebendo a expresso polticas polticas como equvoco de diagramao na edio.. 4 No dicionrio: Pequena vareta, fina, utilizada pelo maestro para reger orquestras, coros, etc; Muitas vezes substitui figurativamente o termo "regncia".

  • 18

    traduzem seus propsitos em programas e aes, que produziro resultados ou

    as mudanas desejadas no mundo real. (SOUZA, 2013, p. 13).

    Conforme buscamos explicitar anteriormente, as polticas pblicas so propostas

    e implementadas pelo Estado nas suas diferentes esferas e reas de atuao,

    visando alcanar e manter a governabilidade. Pressupe-se, portanto que so

    inmeras as reas e as polticas pblicas. Assim, por questes de delimitao do

    nosso universo de pesquisa, buscar-se- enfatizar as polticas pblicas voltadas

    para a Educao.

    1.2. - POLTICAS PBLICAS EDUCACIONAIS

    Sabendo que as polticas pblicas podem trazer significados que se traduzem no

    interesse do Estado, h que se buscar entender e explicitar quais so os reais

    interesses do Estado no que se refere s polticas educacionais. Para tanto,

    questiona-se: como se da ento a concepo de Polticas Pblicas Educacionais?

    Segundo Schneckenberg, (2000, p. 115).

    As reformas educacionais indicam, em primeiro lugar, os projetos polticos, econmicos e culturais de um determinado grupo social. Representam uma desestabilizao no funcionamento normal do sistema.

    Seguindo por essa ideia, podemos entender que h, de fato interesses nem

    sempre explcitos, dentro das medidas adotadas por meio de uma poltica pblica.

    Nessa direo, Santos, (2012) atravs de seus estudos bibliogrficos, vm

    demonstrando a evoluo das polticas pblicas educacionais e o papel ao qual

    elas assumem na sociedade. Segundo o referido autor, as polticas educacionais

    brasileiras, desde o perodo colonial at os dias de hoje, servem como

    instrumento de interveno social aos interesses de uma classe dominante.

    A primeira vez que aparece o prenncio da necessidade de uma poltica pblica

    voltada para a educao, permeia os anos 1930, onde o art. 149 da Constituio

    de 1934 prescreve.

  • 19

    A educao direito de todos e deve ser ministrada, pela famlia e pelos Poderes Pblicos, cumprindo a estes proporcion-la a brasileiros e a estrangeiros domiciliados no Pas, de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral e econmica da Nao, e desenvolva num esprito brasileiro a conscincia da solidariedade humana (BRASIL, 1934)

    Depreende-se deste Artigo da Constituio de 1934, uma explcita tentativa de

    democratizar o acesso educao formal. No entanto, segundo Santos, (2012).

    [...]a democratizao do acesso educao formal, estava fortemente vinculada aos ideais de modernizao e neste sentido que passa a ser pensada como forma de qualificar a mo-de-obra (p.5)

    Importante salientar que a afirmao acima de Santos (2012), se refere ao

    perodo histrico brasileiro de 1930 e 1950 em que aconteceu uma abertura

    econmica para o capital externo. O referido autor salienta, que nos anos 1960 e

    1970 houve um grande tendenciosismo ao ensino tcnico e profissionalizante

    empurrado devido s tendncias econmicas do perodo.

    Segundo Santos (2012), vai acontecer, a partir da dcada de 1980, uma grande

    mudana na conduo das polticas educacionais, quando o carter

    profissionalizante perde fora e j se discutia a criao de uma Lei de Diretrizes e

    Bases para Educao Nacional.

    A partir deste perodo ento, as polticas educacionais, de forma geral, caracterizaram-se pelo sentido de democratizao da Educao, voltando-se para ampliao do acesso a educao bsica, sendo que, no entanto, at a dcada de 90 apenas uma pequena parcela da populao possua acesso aos graus mais elevados de ensino. Nesta mesma dcada surgem as polticas de educao para todos que se estendem at os dias atuais. (SANTOS, 2012, p. 7).

    Santos, tambm aponta que:

    [...]ao longo da histria da educao brasileira, as polticas educacionais estiveram intimamente relacionadas ao contexto social, poltico e econmico de cada poca, procurando adequar o sistema de ensino estrutura social vigente ou em emergncia. (SANTOS, 2012, p. 7).

  • 20

    Portanto, a busca por compreender as polticas pblicas educacionais, bem como

    os seus resultados e impactos na efetivao do processo de melhoria da

    qualidade do ensino e da educao, requer que se considere a sempre atual lio

    de Saviani (2007, p. 176) ao afirmar que:

    Para se compreender o real significado da legislao no basta ater-se letra da lei; preciso captar o seu esprito. No suficiente analisar o texto; preciso analisar o contexto. No basta ler nas linhas; preciso ler nas entrelinhas.

    Nesse contexto, vlida a definio de Oliveira, (2012, p.8), que entende ...por

    polticas pblicas educacionais aquelas que regulam e orientam os sistemas de

    ensino, instituindo a educao escolar. Portanto, as polticas pblicas podem

    existir como uma forma de universalizao do acesso educao, mas tambm

    podem aparecer de forma s impostas, quando nessa forma servem para atingir

    as expectativas do Estado.

    No caso da imposio, a gesto da poltica educacional apresentar certamente um perfil antidemocrtico, j que guarda para si o monoplio para a deciso dos rumos da educao. (SCHNECKENBERG, 2000, p. 117)

    As polticas pblicas devem ser observadas de duas formas. Primeira, nocivas,

    quando ocorrem a partir de uma manobra do Estado para garantir uma estratgia

    poltica ou econmica, desvinculada aos interesses reais da sociedade. Segunda,

    positivas, quando surge como forma de reparao social ou de horizontalidade

    da igualdade no acesso a educao de qualidade.

    Nesse cenrio, ganha destaque a importncia de participao e envolvimento da

    comunidade escolar, que pode tornar-se fator preponderante para qual das

    formas as polticas pblicas educacionais, se positivas ou negativas, iro imperar

    na educao pblica.

    1.3. - O PAPEL DA COMUNIDADE ESCOLAR

    Dentro da contextualizao de Poltica Pblica e principalmente no que respeita

    Poltica Pblica Educacional, podemos apontar a comunidade escolar como

  • 21

    crucial para a boa ou m implementao de programas estatais, tais como o

    Programa Mais Educao. Nesse contexto h que se considerar que no obstante

    as intencionalidades constantes das propostas de polticas pblicas educacionais,

    so os gestores e demais sujeitos que atuam nas respectivas unidades escolares

    que, via de regra, desenvolvem as atividades de implementao das mesmas.

    Assim, as aes tomadas pelos gestores escolares ditam como se dar a

    aplicao dos programas em execuo, e, por conseguinte, podem direcionar ao

    seu xito ou sua mera e indiferente aplicao funcional, conforme bem salienta

    Schneckenberg:

    Pode-se afirmar que o interior das unidades escolares constituem importante segmento poltico na implementao de polticas educacionais. De suas aes e entendimentos depender o xito

    da implantao das propostas (2000, p. 114)

    O referido xito pode estar ligado forma como so concebidos e implementados

    os programa educacionais nas respectivas unidades escolares. Conforme destaca

    Paro (1992), as Polticas Educacionais geralmente so elaboradas de maneira

    genrica, algumas vezes por interesse do prprio Estado, parecendo haver

    pouca probabilidade de o Estado empregar esforos significativos no sentido da

    democratizao do saber, sem que a isso seja compelido pela sociedade civil (p.

    256). Com isso, no raro encontrarmos denncias de que determinadas

    polticas pblicas educacionais no conseguem contemplar as singularidades de

    cada comunidade. No que se concerne ao processo de melhoria da qualidade do

    ensino pblico, essa ineficincia tem acarretado em um rendimento escolar

    inferior ao esperado pelas referidas polticas.

    Nesse sentido, Paro (1992), ainda afirma:

    No mbito da unidade escolar, esta constatao aponta para a necessidade de a comunidade participar efetivamente da gesto da escola de modo a que esta ganhe autonomia em relao aos interesses dominantes representados pelo Estado. (PARO, 1992, p. 256).

    Assim, chega-se concluso de que deve existir uma abertura para que a

    comunidade, ou seja, para que a populao de modo geral, tenha a oportunidade

  • 22

    de traar as formas de aplicao e implementao das polticas educacionais, a

    fim, de garantir que essas diretrizes realmente faam sentido no ambiente que

    sero empregadas. No entanto, a simples abertura para a participao no a

    garantia de sucesso. Existe o que Paro, (1992), define como condicionantes

    ideolgicos. Estes, esto ligados diretamente singularidade no pensamento.

    Condicionantes ideolgicos imediatos da participao, estamos entendendo todas as concepes e crenas sedimentadas historicamente na personalidade de cada pessoa e que movem suas prticas e comportamentos no relacionamento com os outros. (PARO, 1992, p. 10).

    Ressalta-se, de imediato, a essncia da presente proposta investigativa, ou seja,

    a crena de que no basta a existncia de uma poltica pblica educacional,

    assim como tambm no suficiente a adeso de uma determinada unidade

    escolar referida poltica. Faz-se necessrio ouvir e dar vozes aos sujeitos

    diretamente envolvidos, tanto aqueles responsveis pela aplicao das propostas

    constantes da poltica, como tambm aqueles aos quais se direcionam

    diretamente as referidas polticas: os alunos representados por seus

    responsveis, no que se refere aos impactos que tais polticas causam na

    qualidade do ensino. Em outras palavras: necessrio envolver e ouvir a

    comunidade qual se direciona a poltica pblica.

    Nessa direo, encontramos em Paro (1992), contribuies que apontam para a

    necessidade de participao da comunidade nas decises sobre a gesto escolar,

    transformando-a em uma gesto mais democrtica. A inteno, de tal

    participao, segundo o referido autor, diminuir os reflexos negativos causados

    pela implementao de Polticas Pblicas Educacionais tendenciosas ao interesse

    do Estado. Entretanto, Paro (1992) salienta e aponta o fato de que a abertura

    para a participao da comunidade deve ser feita de forma a minimizar os

    problemas causados por ideologias e significados, que esto presentes em cada

    individuo. Multiplicidade de pensamento do mesmo modo que pode ser benfico

    para a gesto escolar, tambm pode ser nociva quando existe o choque torrencial

    de ideias.

  • 23

    Paro (1992), aponta, ainda, para outros inmeros problemas, destacando entre

    eles, falta de estrutura nas redes pblicas de ensino. De certa forma, esse

    problema pode ser remediado ou mitigado dependendo da ao tomada pelos

    gestores.

    A necessidade de envolvimento e participao popular na implementao das

    polticas pblicas educacionais nos coloca diante do questionamento de como

    assegurar tal na gesto escolar. Nessa direo, encontramos contribuies de

    Brazolino (2012), que faz uma reflexo luz da legislao brasileira, e chega a

    concluso que:

    Um dos pontos fundamentais deste processo a gesto escolar, pois vale ressaltar que a organizao federativa garante que cada sistema de ensino competente e livre para construir uma gesto democrtica e participativa com a respectiva comunidade escolar, como tambm responsvel por cumprir de forma tica e responsvel dos programas criados pelo governo [...](BRAZOLINO, 2012, p.4).

    Podemos ento, entender que devemos seguir a partir do pressuposto que a

    comunidade escolar tem papel fundamental para execuo das polticas

    pblicas educacionais. As aes dos vrios agentes envolvidos (Professores,

    Pedagogos, Diretores, pais e demais colaboradores) podem contribuir para o

    preenchimento das lacunas existentes dentro dos programas educacionais, do

    mesmo modo, amenizar o carter estatal direcionador.

    Diante do exposto e considerando a proposta de ouvir sujeitos diretamente

    envolvidos com a implementao de determinada poltica pblica educacional e

    seus impactos no processo de qualidade do ensino, a nfase de nossa reflexo

    recair mais especificamente sobre a proposta e implementao do Programa

    Mais Educao, em uma unidade escolar de ensino fundamental II, da rede

    municipal de Cariacica-ES.

    Vale destacar que em conformidade com nossas bases tericas, percebe-se a

    existncia de dualidades entre os termos gestores escolares e comunidade

  • 24

    participativa. Embora as tomemos com o mesmo significado, ressaltamos que em

    algumas escalas de discusso existam diferenas entre os termos. No entanto,

    para este trabalho, entendemos que comunidade escolar, se resume no grupo de

    indivduos que convivem, conhecem e podem ter participao direta nas tomadas

    de decises sobre a gesto escolar.

    Assim, buscando melhor delinear e delimitar nosso universo de investigao,

    desenvolveremos, a seguir, uma reflexo acerca do Programa Mais Educao,

    com nfase em sua proposta e objetivos implcitos.

    1.4. - O PROGRAMA MAIS EDUCAO

    Assim, para uma melhor compreenso do alcance e resultados da implementao

    de tal poltica, mister se faz compreender, inicialmente, a origem, proposta,

    objetivos e perspectivas da mesma. Nesse sentido, o nosso desafio agora gravita

    em torno de explicitar tais princpios.

    Criado desde 2007, por meio da Portaria Interministerial n 17/2007 e pelo

    Decreto Presidencial 7083/2010, o Programa Mais Educao, em tese, surge

    como uma Poltica Pblica que visa melhoria da aprendizagem, atravs da

    interao da escola com a comunidade possibilitando a construo de diversos

    territrios educativos.

    No cerne de sua proposta, destaca-se como principal caracterstica a proposta de

    ampliao da jornada escolar, conforme explicitado no artigo primeiro do Decreto

    de sua criao:

    O Programa Mais Educao tem por finalidade contribuir para a melhoria da aprendizagem por meio da ampliao do tempo de permanncia de crianas, adolescentes e jovens matriculados em escola pblica, mediante oferta de educao bsica em tempo integral. (BRASIL, 2010).

    Vale aqui destacar que, conforme previsto no pargrafo primeiro do Artigo

    primeiro do referido Decreto, a jornada escolar diria da educao bsica em

    tempo integral deve ter uma durao igual ou superior a sete horas, ao longo de

  • 25

    todo o perodo letivo. Essa jornada diria, segundo o referido preceito,

    compreende o tempo total em que o aluno permanece na escola ou em atividades

    escolares em outros espaos educacionais.

    No obstante a proposta de educao em tempo integral, constante do Programa

    Mais Educao, h que se considerar, conforme bem salienta Cavaliere (2009),

    que historicamente, a escola fundamental brasileira, especialmente aquela

    voltada para as classes populares, sempre foi uma escola minimalista, isto , de

    poucas horas dirias, pouco espao e poucos profissionais. (p.51). Justifica-se,

    assim, de imediato, esforos para compreender tais propsitos, bem como os

    impactos da implantao do referido Programa, em unidades escolares do

    municpio de Cariacica-ES.

    O Programa Mais Educao faz parte das idealizaes previstas pelo Plano de

    Desenvolvimento da Educao PDE, apresentadas por meio do Decreto

    Presidencial 6094/2007, que institui o Plano de Metas Compromisso de Todos

    Pela Educao, em que fica bastante explicitado que a implementao dos

    programas federais deve emergir entre a parceria de todos os entes federativos.

    Em sua essncia e em consonncia com a definio do que vem a ser educao

    em tempo integral, o Programa Mais Educao tambm busca a ampliao do

    tempo e do espao educativo dos estudantes, conforme salienta Nunes (2011)

    O Programa Mais Educao est inserido em uma das aes do PDE Plano de Desenvolvimento da Educao que tem como prioridade o incentivo a educao bsica, como iniciativas que buscam o sucesso e a permanncia do aluno na escola. Essa poltica pblica proporciona o desenvolvimento de aes educacionais sistematizadas que tem como proposta de ampliao do tempo e do espao educativo dos estudantes em escolas pblicas. ( p. 2).

    Vale aqui destacar, portanto, que a implementao do Programa Mais Educao

    aparece como tentativas e esforos de cumprimento do estabelecido na Lei de

    Diretrizes e Bases da Educao Nacional 9.394/96, em seu artigo 87, que

    prescreve:

  • 26

    1 A Unio, no prazo de um ano a partir da publicao desta Lei, encaminhar, ao Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educao, com diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a Declarao Mundial sobre Educao para Todos. (BRASIL, 1996).

    E, ainda, no pargrafo quinto do mesmo artigo 87 est previsto a aplicao do

    tempo integral de ensino de forma gradativa.

    5. Sero conjugados todos os esforos objetivando a progresso das redes escolares pblicas urbanas de ensino fundamental para o regime de escolas de tempo integral.

    Assim, ao considerarmos, conforme prescrito na Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional, que a aplicao do Programa deve ser feita de forma

    gradativa e com interesse de diminuir a desigualdade ao acesso da educao

    bsica de qualidade, compreensvel que o Programa busque atender,

    principalmente, as escolas que esto localizadas em reas de baixo IDEB (ndice

    Desenvolvimento da Educao bsica) e que esto inerentes a fatores de risco

    social.

    Ressalta-se, no entanto, que conforme previsto no Programa, inicialmente, a

    inteno de atender reas presentes em municpios com mais de 90000 hab.

    (Noventa mil Habitantes), para posteriormente ser ampliado para as demais reas

    do territrio nacional.

    Conforme explicita em seu texto legal, o Projeto Mais Educao surge com a

    proposta de ampliar a jornada escolar e a organizao curricular atravs dos

    princpios da educao integral, objetivando, assim, diminuir as desigualdades

    educacionais e promover a valorizao da diversidade cultural brasileira.

    Exatamente no que tange proposta de valorizao da diversidade cultural

    brasileira, encontramos em Nunes (2011), a afirmao de que

    O entorno da escola envolve processos de reconhecimento e valorizao do espao de acordo com a disponibilidade de cada lugar. Esta opo, envolve a abertura fsica e cultural dos portes das escolas para o bairro, o entorno e as comunidades, adotando prticas pedaggicas adequadas a realidade e contexto sociocultural dos estudantes. (NUNES, 2011, p. 4).

  • 27

    Segundo o que nos aponta Nunes (2011), essa abertura fsica e cultural dos

    portes das escolas pode ser o canal que vai possibilitar o envolvimento da

    comunidade com as atividades do ensino. Em suma vai contribuir para a

    ampliao do territrio educativo com a diversificao da oferta de atividades

    formativas.

    Visando otimizar a aplicao e monitoramento das suas respectivas atividades

    formativas, o Programa Mais Educao apresenta-as, divididas em dez

    macrocampos5 a saber:

    1. Acompanhamento Pedaggico 2. Educao Ambiental 3. Esporte e Lazer 4. Direitos Humanos em Educao 5. Cultura e Artes 6. Cultura Digital 7. Promoo da Sade 8. Comunicao e Uso de Mdias; 9. Investigao no Campo das Cincias da Natureza 10. Educao Econmica. (BRASIL, 2011)

    No obstante a explicitao das intencionalidades educacionais constantes do

    Programa Mais Educao, encontramos, tambm, em Rosa, (2012) uma grande

    preocupao concernente ao que o referido autor chama de

    desresponsabilizao por parte do Estado. Segundo o mesmo, preocupante o

    fato de que a abertura do ambiente escolar para a comunidade possa vir a

    acarretar uma possvel desarticulao entre os agentes envolvidos. Em suas

    palavras:

    [...]O [Programa] Mais Educao tambm expressa, de forma implcita, um processo de desresponsabilizao do Estado pela educao; uma tendncia de descentralizao das polticas sociais; uma possvel desarticulao entre o turno curricular e o turno de atividades diferenciadas previstas nos nove macrocampos do programa; a ampliao das funes da escola e, consequentemente do/a professor/a; a mudana na centralidade da escola como nico espao educativo. (ROSA, 2012, p. 13).

    5 Programa Mais Educao Passo a Passo. Ministrio da Educao. 2011.

  • 28

    Essa preocupao com a desresponsabilizao tambm sinalizada por

    Nbrega et al (2013), ao afirmarem que:

    O Mais Educao uma ao verticalizada por diversas ferramentas gerenciais, atreladas ao financiamento, utiliza a contratao de mo-de-obra barata, uma ao prevista desde seu marco legal, onde so Todos pela Educao, mas a participao da Unio mnima o Estado e de carter regulatrio (p.15).

    No entanto, necessrio considerar que o Mais Educao, se refere um

    programa relativamente novo, que em sua essncia traz uma proposta que

    implica em grande diferena de metodologias e abordagens do ensino,

    destacando-se a a proposta de educao em tempo integral.

    Depreende-se da que a mudana, principalmente com a ampliao do tempo de

    permanncia dos estudantes na escola impactar nas relaes estabelecidas na

    unidade escolar, tanto nas relaes interpessoais, quanto de aprendizagens. Tais

    impactos podem ser tanto positivos, quanto negativos, atingindo no somente a

    comunidade escolar como tambm a comunidade do entorno da escola, tendo em

    vista a estratgia principal promover a ampliao do tempo, espao e

    oportunidades educativas diversas e interdisciplinares.

    Assim, a implantao do Programa causa grandes mudanas na dinmica do

    ambiente escolar: aumento do nmero de profissionais envolvidos, da diversidade

    de contedos, da interdisciplinaridade, da oferta de merenda escolar entre outras.

    Esses fatores podem ser cruciais para um bom desenvolvimento educacional.

    Portanto, so inmeros os aspectos a serem considerados ao se propor uma

    anlise do referido Programa. Assim, sem querer esgotar as discusses e no

    intuito de contribuir com as mesmas, nos adequando ao tempoespao disponvel

    para a realizao da presente reflexo, optamos por focar nossa investigao na

    questo relacionada Educao integral, com nfase, principalmente, no que se

    refere oferta da merenda escolar.

    Tal opo se justifica pelo fato de considerarmos que algumas aes, por

    exemplo, o aumento da oferta de merenda escolar pode causar impacto no

    apenas ao individuo que recebe a alimentao, mas tambm sua famlia,

  • 29

    portanto, um fator com grande capacidade de transformao social, que por sua

    vez, repercutir nas relaes de ensino-aprendizagem.

    1.5. - EDUCAO INTEGRAL

    Conforme explicita em seu artigo primeiro, o Decreto 7083, de 27 de janeiro de

    2010, concebe por Educao Integral, a ampliao do tempo de permanncia do

    estudante em atividades oferecidas, coordenadas e acompanhadas pela unidade

    escolar, para um mnimo de sete horas dirias. Vale ressaltar que essas

    atividades, nem sempre, necessitam ocorrer no prprio espao da unidade

    escolar, como se observa abaixo:

    Art. 1o O Programa Mais Educao tem por finalidade contribuir para a melhoria da aprendizagem por meio da ampliao do tempo de permanncia de crianas, adolescentes e jovens matriculados em escola pblica, mediante oferta de educao bsica em tempo integral. 1o Para os fins deste Decreto, considera-se educao bsica em tempo integral a jornada escolar com durao igual ou superior a sete horas dirias, durante todo o perodo letivo, compreendendo o tempo total em que o aluno permanece na escola ou em atividades escolares em outros espaos educacionais. 2o A jornada escolar diria ser ampliada com o desenvolvimento das atividades de acompanhamento pedaggico, experimentao e investigao cientfica, cultura e artes, esporte e lazer, cultura digital, educao econmica, comunicao e uso de mdias, meio ambiente, direitos humanos, prticas de preveno aos agravos sade, promoo da sade e da alimentao saudvel, entre outras atividades. 3o As atividades podero ser desenvolvidas dentro do espao escolar, de acordo com a disponibilidade da escola, ou fora dele sob orientao pedaggica da escola, mediante o uso dos equipamentos pblicos e do estabelecimento de parcerias com rgos ou instituies locais. (BRASIL, 2010).

    Existe, portanto, de maneira bastante evidenciada a intencionalidade de

    ampliao do tempo de ensino. No entanto, considerando a realidade, inclusive

    de infra-estrutura da grande maioria das unidades escolares pblicas brasileiras,

    para objetivar o alcance de suas intencionalidades, a diretriz do Programa

    extrapola os limites impostos do currculo. Isso ao propor e sugerir atividades de

    acompanhamento pedaggico, ocasionalmente junto a preposio de atividades

  • 30

    diversas, quando se pode encontrar o desprendimento do ambiente escolar como

    nico lugar passvel de aprendizagem. Assim, fica proposto e sugerido a

    utilizao de diversos equipamentos e espaos pblicos, bem como de ambientes

    privados que sirvam de alguma forma como territrio de aprendizagem.

    Essa constatao fica ainda mais evidenciada quando consideramos o que prescreve o artigo 2 do referido Decreto 7083, ao se referir aos princpios da Educao Integral:

    Art. 2o So princpios da educao integral, no mbito do Programa Mais Educao: I - a articulao das disciplinas curriculares com diferentes campos de conhecimento e prticas socioculturais citadas no 2o do art. 1o; (BRASIL, 2010).

    A legislao que institui o Programa da Educao em Tempo Integral trata,

    portanto da preocupao da integrao das atividades pedaggicas. Propondo

    que as mesmas sejam aplicadas de forma a complementar as disciplinas

    curriculares, proporcionando ao aluno, atravs das prticas socioculturais,

    assimilar o contedo apresentado em sala de aula. Essa simbiose entre as

    atividades e o currculo comum a tentativa de proporcionar ao aluno uma forma

    de assimilao de conhecimento atravs da experimentao do contedo

    estudado por meio do cotidiano, atendendo ao que pressupe Moll,

    Educao Integral pressupe escola pblica, de qualidade e para todos em articulao com espaos/polticas/atores que possibilitem a construo de novos territrios fsicos e simblicos de educao pblica (MOLL, 2008, p.11).

    A ideia de uma educao integral vem a partir do entendimento que a educao

    precisa passar por um processo de democratizao, tendo em vista que

    historicamente a escola foi capaz de segregar as classes mais baixas da

    sociedade. A democratizao do ensino e a busca por uma equidade nas

    condies de acesso social, acontece quando essas desigualdades de acesso,

    permanncia e concluso do percurso educacional so eliminadas, visto que,

    conforme assevera Moll;

  • 31

    [...]a no aprendizagem ou a sada extempornea dos alunos especialmente jovens de classes populares, o adoecimento e licenciamento expressivo dos professores de suas funes docentes, a altura dos muros que separam a escola da comunidade, a ausncia de dilogo entre pais e professores, entre outros. O isolamento de qualquer um destes aspectos conduz a uma espcie de cegueira que induz percepo de incapacidades e impossibilidades no lugar de possibilidades e oportunidades (MOLL, 2008, p.11).

    Dempreende-se da que a implantao da educao integral, na perspectiva

    apontada pelas iniciativas governamentais, pode contribuir para que algumas das

    algumas barreiras apontadas por Moll, (2008) possam ser quebradas. Existe uma

    expectativa que a educao integral, possibilite uma maior interao entre

    professores e pais e, nesse sentido, que se rompa com os limites impostos pelos

    muros das escolas.

    Um aspecto bastante relevante que deve ser observado e que se faz presente

    tantos nos textos legais, quanto nas reflexes e proposies dos estudiosos

    envolvidos com o tema, se refere relao aprendizado e cotidiano. comum

    nesses textos, observar recomendaes de esforos rumo tentativa de

    aproximao do aluno com a vida cotidiana, ampliando o territrio escolar e

    quebrando as barreiras existentes entre o contedo estudado e aplicado em sala

    de aula e as vrias informaes encontradas na comunidade.

    No reencontro com a vida coloca-se a perspectiva de um projeto educativo que, ancorado na instituio escolar, possa recriar seu sentido na relao com outros interlocutores, outros espaos, outras polticas e equipamentos pblicos (MOLL, 2008, p.12).

    Pode se entender que o interesse de se efetivar a educao integral no se

    prende somente proposta pura e simplesmente de ampliao do tempo de

    permanncia do aluno na escola. Portanto, a objetivao da Proposta de

    Educao Integral deve visar, tambm, a busca por ampliar as possibilidades

    educacionais, contribuindo para diminuio das desigualdades educacionais

    existentes, instruindo e subsidiando o aluno no somente no que se refere ao

    contedo prescrito dos currculos escolares, mas tambm para o convvio social.

    Portanto, a escola passa a ser o ponto central de articulao para formao de

    uma sociedade.

  • 32

    CAPTULO II

    O DESENVOVIMENTO DO PROGRAMA MAIS EDUCAO: PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS, AES E DIFICULDADES

    Assim, na perseguio de tal intuito, foram efetuadas entrevistas com gestores,

    pedagogos, professores e pais e/ou responsveis por alunos, de uma Escola da

    Rede Municipal de Cariacica, que adotou o programa, estando em fase de

    implantao do mesmo. A tabulao dos dados empricos apontou a incidncia de

    alguns posicionamentos e avaliaes. Tal incidncia ser alvo de reflexes a

    seguir.

    2.1. - A ESTRUTURA ESCOLAR E A IMPLANTAO DO PROGRAMA MAIS

    EDUCAO

    O ano de 2010 foi o marco inicial de implantao de atividades do Programa Mais

    Educao na escola Martim Lutero, estando, atualmente, completando seu quarto

    ano de atividades. No obstante esse tempo, para alguns integrantes da referida

    unidade escolar, a atividade ainda apresenta uma caracterstica experimental,

    passando todo o tempo por adaptaes.

    Segundo os profissionais envolvidos, desde a adeso ao Programa as

    dificuldades e desafios fazem parte do cotidiano escolar, sendo que um dos

    fatores de tais dificuldades, mais mencionados nas entrevistas a respeito da

    execuo, est ligado estrutura fsica da escola. Segundo os depoimentos dos

    entrevistados, por se tratar de um edifcio construdo para atender ao ensino

    regular, o mesmo no possui espao fsico ideal para conduzir as atividades com

    os alunos integrados no Programa, o que caracteriza um constante desafio para a

    implantao do Programa em questo. Afirmam ainda, que a falta de uma

    estrutura adequada, tem possibilitado trabalhar apenas quatro oficinas: Educao

    Patrimonial, Educao Solidria, Orientao aos Estudos e a Leitura e Promoo

    de Sade, que segundo os mesmos, no so suficientes para a obteno dos

    propsitos do Programa. Via de regra, as oficinas so ministradas no Auditrio da

    Escola (Foto 01).

  • 33

    Figura 02 Auditrio da Escola Martin Lutero

    Foto: Rmulo Nascimento

    Conforme pode-se observar pela foto acima visvel a falta de estrutura presente

    na fala dos participantes entrevistados. Assim, segundo os mesmos, atualmente

    as atividades do Programa tem sido efetuadas em um espao provisrio, pois se

    trata do auditrio da escola. E, conforme ficou implcito nas vozes dos

    entrevistados, a utilizao do referido espao, pode ser interrompida quando um

    professor do ensino regular ou outro profissional da escola solicita a sala

    (auditrio) para alguma outra atividade.

    Assim, embora haja um certo consenso quanto s possibilidades do Programa

    propiciar melhorias no desenvolvimento e processo de aprendizagem dos alunos,

    ainda existe tambm, segundo os profissionais envolvidos, um alto grau de

    insatisfao no que diz respeito estrutura reservada ao Programa. Para eles

    essa falta de estrutura fsica da escola um dos principais obstculos que se

    interpem otimizao da capacidade do Programa Mais Educao.

    Como alternativa para contornar tais obstculos, os profissionais entrevistados

    salientam que deveria ser aumentado o espao fsico da escola, pois diante de

    uma estrutura fsica limitada, fica difcil o trabalho e constantemente necessitam

    improvisar, alm de necessitar dividir os espaos e equipamentos com outros

    profissionais, conforme narrativa abaixo:

  • 34

    [...] aqui ns no temos estrutura suficiente para isso. Aqui as crianas ficam em auditrios, em outras salas... nosso espao fsico muito precrio... ai ns revezamos as turmas, enquanto uma fica no auditrio, a outra vai para sala de informtica... no tem uma sala especfica. (BRANDO, 2014,)

    No obstante as intencionalidades explcitas do Programa Mais Educao, que

    giram em torno da busca de alternativas que visem, em ltima anlise, reverter a

    situao do aluno que se encontra em situao de risco, melhorando seu

    rendimento escolar, tirando-o da rua e trazendo-o para a escola, o que se percebe

    a permanncia de muitas falhas e obstculos que prejudicam o alcance de tais

    propsitos. No caso especfico da Unidade Escolar Municipal pesquisada,

    percebemos que para os profissionais envolvidos o Programa apresenta como

    principais falhas em sua execuo, a no exigncia de que as escolas

    interessadas criem e ofeream condies estruturais mnimas para o seu

    desenvolvimento pleno.

    Apesar da ausncia de condies estruturais adequadas, esforos tem sido

    empreendidos, conforme narrativa abaixo:

    A gente vai disputando espao na escola, na verdade uma disputa de lugar na escola... As escolas no esto preparadas para receber educao integral. (Arajo, 2014)

    De uma maneira geral, ficou bastante evidenciado nas vozes dos profissionais

    envolvidos com a implantao do Programa, na unidade escolar pesquisada, que

    a estrutura fsica da escola est bastante aqum das necessidades mnimas para

    executar um programa educacional com alta complexidade e importncia como

    Mais Educao. Em sntese, os gestores e profissionais da educao envolvidos,

    no encontram condies adequadas ao desenvolvimento de seu trabalho.

    2.2. - AGENTES COLABORADORES PARA O PROGRAMA MAIS EDUCAO

    Ampliar o cenrio educativo e estimular o desenvolvimento cognitivo e social do

    aluno uma das metas que justificam a adeso da Escola Municipal Martim

  • 35

    Lutero ao Programa Mais Educao. Nesta perspectiva, a escola, segundo

    depoimentos de seus gestores, vem trabalhando as atividades didtico-

    pedaggicas sugeridas pelo Programa por meio de oficinas, com o intuito de

    implementar a Educao Integral.

    A proposta de Educao Integral, enquanto currculo e projeto poltico e

    pedaggico apresenta uma viso capaz de levar a escola contempornea uma

    ampliao das necessidades formativas do sujeito, contemplando as dimenses

    afetiva, tica, esttica, social, cultural, poltica e cognitiva. (Brasil, 2013)

    No entanto, atualmente apenas quatro oficinas pedaggicas esto sendo

    oferecidas aos alunos envolvidos: Educao Patrimonial; Educao Solidria,

    Orientao aos Estudos e a Leitura e Promoo de Sade. As oficinas so

    ministradas por quatro monitores contratados pela escola e remunerados atravs

    de recursos recebidos atravs do PME (Programa Mais Educao). Segundo o

    Manual Operacional de Educao Integral, o trabalho de monitoria dever ser

    desempenhado, preferencialmente, por estudantes universitrios de formao

    especfica nas reas de desenvolvimento das atividades ou pessoas da

    comunidade com habilidades apropriadas. (Brasil, 2012) Esses monitores tm

    como nica funo coordenar as atividades de desenvolvimento das oficinas. Os

    mesmos no pertencem ao quadro de servidores responsveis pelo ensino

    regular de turno e no so considerados professores. Segundo informaes

    obtidas junto administrao da Escola, a contratao dos monitores de

    responsabilidade da administrao municipal, e normalmente ocorre atravs de

    cargos em designao temporria, no sendo exigido que os mesmos possuam

    algum tipo de formao pedaggica ou qualquer outra especializao, podendo

    ser moradores ou no da comunidade.

    Embora, seja relacionado como monitor, o Orientador de Estudos se difere em

    suas atividades dos demais monitores, sendo-lhe atribudo, conforme mencionado

    acima, a funo de acompanhar o desenvolvimento e implementao das

    oficinas, como tambm o desenvolvimento dos alunos.

    Segundo informaes dos entrevistados, a remunerao dos monitores

    calculada com base nas oficinas trabalhadas. Cada monitor recebe em mdia

  • 36

    quatrocentos reais, por oficina ministrada. No h, segundo os entrevistados,

    proibio de aplicao de mais de uma oficina, desde que no venha a ocorrer

    conflitos de horrios.

    J para o monitor, considerado Orientador de Estudos, a remunerao gira em

    torno de setecentos e trinta reais por oficina. A diferena no valor da bolsa por

    oficina pode ser justificada, conforme implcito nas falas dos entrevistados, pelo

    fato de o Orientador de Estudos ser portador de diploma de curso superior.

    H que se registrar que a forma de contratao e remunerao dos monitores

    acaba por provocar uma rotatividade dos mesmos, no se estabelecendo um

    vnculo com a Escola e, consequentemente, contribuindo para que os mesmos

    no se sintam devidamente compromissados e envolvidos com o trabalho. Essa

    percepo fica bastante evidenciada nas narrativas abaixo:

    [...]os trabalhadores (oficineiros, coordenadores..) so contratados parte e pelo que eles recebem para trabalhar nessas oficinas muito pouco. Por conta disso, h uma oscilao de oficineiros, a rotatividade alta, no h uma segmentao. E no querendo desqualific-los, mas muitos no tem uma formao. Eu vejo isso uma grande dificuldade[...] (NEVES, 2014)

    [...]contrata uma pessoa para trabalhar, desempenha um trabalho e chega no final do ano o contrato acaba, no h prosseguimento, a contrata uma outra pessoa que tem que comear tudo de novo[...] (NEVES, 2014)

    Fica bastante evidenciado nas falas dos entrevistados, que os mesmos

    consideram os valores e remuneraes dos monitores bem abaixo do ideal.

    Segundo destacam e reforam, este problema acarreta uma relativa rotatividade,

    que consequentemente atrapalha a continuidade dos trabalhos devido ao fato que

    a oficina ofertada estar diretamente ligada ao monitor atravs de suas

    perspectivas e experincias de vida, conforme explicita o texto abaixo;

    [...]tem uma oficina chamada Patrimnio. uma oficina que depende do conhecimento do profissional no qual vai desenvolver esta oficina que vai trabalhar numa dimenso local, numa forma mais ampla, fazendo reconhecimento de patrimnio material e imaterial do municpio. S que ns no tivemos profissionais que venham dominar isto[...] (NEVES, 2014)

  • 37

    2.3. - OFICINAS

    Conforme mencionado anteriormente, as escolas parceiras que optarem por

    implantar o Programa Mais Educao, necessitam atender alguns requisitos.

    Entre esses requisitos, destaca-se a promoo do desenvolvimento de atividades

    inseridas em dez macrocampos6 prescritos no referido Programa.

    Entre os dez macrocampos elencados pelo Programa Mais Educao, o Manual

    Operacional de Educao Integral (2013) destaca o macrocampo

    Acompanhamento Pedaggico, como sendo obrigatrio. Esse macrocampo

    passou a contar, no ano de 2012, como uma nica atividade, com a funo de

    complementar as diferentes reas do conhecimento que fazem parte do currculo

    formal de ensino (alfabetizao, matemtica, histria, cincias, geografia e

    lnguas estrangeiras entre outras). Assim, essa atividade passa a ser

    denominada, Orientao de Estudos e Leitura, tendo por objetivo a articulao

    entre o currculo estabelecido da escola e as atividades pedaggicas propostas

    pelo Programa Mais Educao (BRASIL, 2013).

    Nessa perspectiva e no que se refere especificamente realidade da Escola

    Municipal Martim Lutero, respeitando suas limitaes espaciais, e visando

    atender parte do conjunto dos macrocampos do Programa Mais Educao, optou

    por realizar quatro oficinas. Cuidou-se, segundo informaes dos gestores da

    Escola, que as quatro oficinas no fossem totalmente dependentes da estrutura

    fsica escolar. Tal cuidado se justifica pela inteno de limitar os problemas que

    venham prejudicar os trabalhos. Nesse sentido, as oficinas so livres quanto ao

    seu local de execuo, podendo acontecer em qualquer uma das salas existentes

    nas dependncias da escola, dependendo exclusivamente do material humano

    (monitores).

    Depreende-se das intencionalidades explicitadas pelas oficinas em

    desenvolvimento, que o Programa Mais Educao, no obstante as limitaes e

    dificuldades de ser totalmente implementado na Escola pesquisada, tem um papel 6 A relao dos dez macrocampos foi disponibilizada no Captulo I do presente relatrio.

  • 38

    de relevante importncia no resgate e estmulo do desenvolvimento cognitivo e

    social do aluno.

    No entanto, os nossos entrevistados so unnimes em reconhecerem que o

    nmero de oficinas trabalhadas no o suficiente para um bom aproveitamento

    dos alunos. A baixa oferta de espao fsico apontada como a principal causa do

    pouco nmero de oficinas e de atividades implementadas, conforme afirmam:

    [...] em funo desse espao ns temos que implantar oficinas que no dependessem no apenas desse local[...] (NEVES, 2014) [...] Como voc vai ensinar voleibol se voc no tem uma quadra e sim um campinho? (ARAJO, 2014)

    Assim, evidenciando a relevncia e boas perspectivas do Programa Mais

    Educao, nossos entrevistados anseiam e projetam para os prximos anos o

    aumento de nmero de oficinas, destacando, entre elas as que encontram-se

    inseridas no macrocampo Esporte e Lazer.

    Justifica-se, assim, uma reflexo preliminar acerca do processo de

    implementao do Programa Mais Educao na Escola Municipal Martinho

    Lutero. Esse o nosso desafio a seguir, compreender o seu processo de

    implantao, execuo e os resultados obtidos, na perspectiva escolar e social

    dos alunos, no entendimento dos pais/ responsveis e os profissionais envolvidos.

    2.4. - O PROGRAMA E A ESCOLA

    Observa-se, de imediato, um obstculo que pode prejudicar a obteno dos

    propsitos e objetivos do Programa, na escola em questo. Esse obstculo se

    refere constatao, in loco, de que no obstante o Programa estar em

    funcionamento na unidade escolar, utilizando-se dos poucos recursos de

    infraestrutura da mesma, e, portanto, se inserindo no cotidiano e nas

    dependncias da escola, os participantes do Programa Mais Educao

    (monitores, coordenadores), no se veem e nem se sentem pertencentes ao

  • 39

    ambiente escolar. Segundo depoimentos dos mesmos, em sua maioria, os

    mesmos no conseguem visualizar uma integrao entre PME e a escola

    Martinho Lutero.

    Assim, apesar de explicitarem uma leitura e concepo da situao do Programa,

    segundo a qual o mesmo deve agir de forma a complementar o ensino regular,

    ampliando o territrio escolar para alm das predefinies do currculo estipulado.

    No entanto, segundo os mesmos, essa complementao no acontece

    atualmente. As oficinas mencionadas anteriormente, so trabalhadas durante os

    contraturnos e, ao que tudo sinaliza, so concebidas e implementadas de

    forma independente, haja vista que no fica explcito ou mesmo implcito

    nenhuma referncia que sinalize o entendimento sobre a existncia de uma

    comunicao entre os professores do turno regular e os monitores e responsveis

    pelas mencionadas oficinas. Isto, para alguns profissionais, no caracteriza de

    fato a educao integral.

    Conforme j mencionado anteriormente, o Programa Mais Educao, na Escola

    Municipal Martim Lutero apontado em sua fase de adaptao e vem sendo

    executado de forma improvisada, conforme explicita as falas da totalidade dos

    entrevistados.

    Outro fator que tambm pode ser apontado como obstculo para a efetivao de

    seus objetivos se refere ao fato do Programa, na unidade escolar em questo,

    segregar - quando o principal intuito deve ser o de incluir os alunos. Essa

    segregao se efetiva quando ocorre a contemplao de apenas determinados

    perfis, excluindo aqueles que embora demonstrem interesse em participar, mas

    no se enquadram no perfil exigido. Nesse sentido, vale aqui destacar que a

    vulnerabilidade social e o baixo rendimento escolar esto previsto no texto que

    regulamenta o Programa Mais Educao e, portanto, so tomados como critrios

    para definio do perfil a ser exigido dos alunos participantes do Programa.

    Entretanto, alguns profissionais do ambiente que estudamos no concordam de

    forma plena com esses critrios.

  • 40

    Mister considerar, conforme apontam os profissionais entrevistados, que os

    critrios adotados para seleo de alunos participantes do Programa, torna-se

    perigoso e capaz de gerar segregao. Corre-se o risco de promover uma

    espcie de punio aos alunos que possuem bom desempenho e no se

    encaixam no quesito vulnerabilidade social, e que, apesar de interessados em

    participar do Programa, so excludos. Isso caracterizao uma espcie de

    segregao, principalmente se considerarmos a situao precariedade de

    equipamentos e servios pblicos voltados para o laser da comunidade. Nesse

    sentido, sabe-se que a escola acaba sendo um dos poucos locais que

    possibilitam ao aluno a interao social, portanto, justificando o interesse de

    vrios alunos em permanecer no ambiente escolar.

    Pautada nos argumentos acima, a grande maioria dos nossos os entrevistados se

    manifestaram contrrios e apreensivos ideia de selecionar alunos com

    caractersticas especficas e apontam que essa estratgia progride contra a ideia

    de educao integral, conforme excerto abaixo:

    Na minha cabea o programa no seria apenas voltado para um pblico especfico, mas sim, toda comunidade.. a sim seria uma educao integrada[...] (ARAJO, 2014)

    Fica bastante evidenciada a unanimidade, nas falas da grande maioria dos

    nossos entrevistados, da concepo de que um Programa que foi pensado e

    concebido com o intuito de oferecer melhores condies de aprendizado e,

    consequentemente, uma melhor condio de vida aos seus alunos, no pode

    deixar uma parcela desse alunado merc de seus benefcios. Principalmente se

    considerarmos que essa parcela excluda se situa na mesma comunidade escolar

    e no mesmo bairro, logo, essa seleo exclusiva o mesmo que punir o aluno por

    apresentar um bom desempenho escolar e por se distanciar da criminalidade.

    Assim, essa seleo pode se caracterizar, como demonstra a narrativa abaixo

    em:

    [...]uma faca de dois gumes. A comear pelos critrios que foi instituda nessa clientela que recebemos. Bem, o programa direciona vulnerabilidade social e isso traduzido para escola que aquele aluno, por exemplo, que indisciplinado ele propenso a vulnerabilidade social. Se o aluno for envolvido (ou suspeito de estar) com drogas, ele candidato ao PME etc. Ocorre que h

  • 41

    alunos que querem participar do Programa. Porm este aluno, se ele for disciplinado, tira notas boas, faz tudo certo etc.. ento para participar do Programa vou ter que ser indisciplinado? (suposto pensamento do aluno) isso pode criar um preconceito e uma confuso no olhar deles mesmo, no aluno.(NEVES, 2014)

    Outra questo que ficou bastante evidenciada, nas falas de nossos entrevistados,

    se refere aos conceitos que norteiam a ideia de Vulnerabilidade Social. O que

    encontramos na fala de um dos entrevistados, seria que a vulnerabilidade social

    para ele, est diretamente refletida na ausncia de uma referncia familiar que

    possibilitasse um crescimento social sadio e instrudo.

    Apesar de atender escolas situadas em zonas de vulnerabilidade social, e ter

    como um dos principais objetivos retirar o jovem da situao de vulnerabilidade

    social, o Programa Mais Educao no caracteriza o termo em seu texto.

    Entretanto, segundo os Aspectos Conceituais de Vulnerabilidade Social, o termo

    faz referncia a situaes de risco, situaes sociais limites, de pobreza e ou

    marginalidade. (Brasil, 2007)

    2.5. - ENVOLVIMENTO DE PAIS/ RESPONSVEIS

    Por se tratar de um programa que no atende a todos os alunos matriculados na

    escola e sim uma parcela deles, aos que atendem os critrios estabelecidos

    anteriormente explicados, alguns pais solicitam junto a coordenao da escola

    equipe para que seus filhos, no contemplados, possam fazer parte do Programa

    Mais Educao.

    [...] eles at pedem para botar as crianas no Mais Educao. (BRANDO, 2014)

    Os entrevistados afirmam que o programa tem contribudo de forma positiva no

    s aos interesses educativos e sociais dos alunos, mas tambm diretamente no

    desenvolvimento econmico dos pais. Constatamos relatos que alguns

    responsveis passaram a desenvolver atividades econmicas devido ao fato do

    dependente permanecer mais tempo em ambiente escolar, utilizando o tempo que

    era atribudo aos cuidados dos mesmos para desenvolvimento de atividades que

    complementassem financeiramente a renda domiciliar, salientando a importncia

  • 42

    que o programa no s educativo do aluno e sim em uma escala muito mais

    ampla.

    [...] tem mes que fazem po e vendem... umas tem q trabalhar e no tinham onde deixar os filhos, o projeto bom por causa disso[...] (BRANDO, 2014)

    Apesar do interesse de alguns responsveis em que seus dependentes possam

    ser includos no Programa, o mesmo no se percebe no que se refere a presena

    dos mesmos em conselhos e reunies de classes.

    [...] quando se faz constituio de conselho de escola, que representada em vrios segmentos: segmento dos responsveis, segmento de comunidade, do magistrio e do alunado. Mas no se apropriaram desse conhecimento... a maior dificuldade da prestao de conta fica aqui, se voc me perguntar quem que, que pai de aluno que vem pra ver isso? Nem o magistrio!.. se eu chamar a todos para uma prestao de contas chato.. no se tem essa mentalidade.. A escola, nada mais , se tem CNPJ uma empresa que trabalhada numa maneira contraditria. (NEVES, 2014)

    Os entrevistados afirmam que na elaborao do projeto pedaggico escolar, o

    interesse e o envolvimento tanto dos responsveis quanto dos funcionrios de

    uma forma geral deixam a desejar.

    preciso que haja um maior envolvimento tanto dos gestores, educadores e

    principalmente dos pais, para que haja uma obteno positiva de resultados,

    chegando o mais prximo possvel do desejado.

    2.6. - O PROGRAMA NA VISO DOS MONITORES

    Em sua maioria, os profissionais responsveis por aplicar as oficinas na escola

    Martinho Lutero, esto trabalhando no Programa Mais Educao pela primeira

    vez, muitos ainda esto por completar seu primeiro ano de exerccio na escola.

    Apesar de estarem em seu primeiro ano de atividades no programa, eles afirmam

    no encontrar dificuldades em se adaptar ao novo estilo.

  • 43

    Os entrevistados afirmam perceber melhorias no desenvolvimento dos alunos e

    sugerem alternativas a serem adotadas para uma maior obteno de resultados

    por parte dos alunos. Em sua totalidade avaliam o programa como suficiente,

    sempre ressaltando o fato do aluno permanecer mais tempo no ambiente escolar

    e consequentemente afastado da rua e dos problemas que ela possa lhe oferecer,

    como um fator de suma importncia para o desenvolvimento dos mesmos.

    Quando eles vieram pro Mais Educao acharam que seria s para brincadeiras e perceberam que muito mais, eles gostam de aprender coisas novas. (MENDES, 2014) As atividades diferenciadas traz um maior conhecimento para as suas vivncias, ficar mais tempo dentro da escola ajuda a tirar eles das ruas, mantendo eles fora dos problemas vividos no bairro. (MEDES, 2014) As atividades diferenciadas proporcionam conhecimentos diferentes. (OLIVEIRA, 2014) Principalmente o comportamento deles vem mudando desde o incio do programa. possvel perceber uma leve mudana, mas o projeto iniciou a pouco tempo e tem um bom tempo pela frente. (OLIVEIRA, 2014)

    Constatamos diante dos relatos dos monitores que, a leitura, escrita e o

    comportamento dos alunos esto entre as melhorias observadas por eles.

    Apesar de ser visto de uma maneira positiva, os monitores tambm elencam

    algumas melhorias que poderiam ser adotadas para um maior aproveitamento e

    desenvolvimento das oficinas trabalhadas.

    Dentre as melhorias propostas pelos monitores, o aumento do espao fsico

    algo primordial e sempre frisado por eles e por todos os profissionais envolvidos

    no programa e na administrao escolar. O aumento do nmero de oficinas

    ofertadas, e de oficinas menos tericas que utilizem mais o ambiente externo

    sala de aula e da prpria escola, seriam essenciais para um maior aproveitamento

    e satisfao dos prprios alunos.

  • 44

    Uma maior destinao de verba para a realizao de aulas de campos e

    atividades culturais e esportivas, tambm esto entre as prioridades apontadas

    pelos monitores, como forma de potencializar o desenvolvimento e o resultados

    obtidos pelos alunos.

    O nico defeito do programa a falta de espao que as escolas tem. Seria necessrio ter uma sala especfica para o programa. (OLIVEIRA, 2014) Acho que algumas matrias poderiam ser mudadas e a melhoria do espao que infelizmente no tem na escola. (MENDES, 2014) Colocar mais oficinas e menos tempo de trabalho para os monitores, os alunos ficam cansativos e entediados, ou seja, mais passeios e atividades esportivas, gincanas etc. (CARVALHO, 2014) [...] a contribuio do dinheiro para o programa que muito pouco, para com gastos dos alunos em passeios e alimentos[...] (CARVALHO, 2014)

    O aumento da oferta da merenda escolar, que passou de uma refeio no ensino

    regular, para trs refeies dirias no ensino integral (desjejum, almoo e lanche

    da tarde) foi apontado pelos entrevistados como fator contribuinte a um maior

    aproveitamento dos alunos.

    Considerando os dados obtidos pelos monitores durante a entrevista e os

    objetivos proposto pelo Programa Mais Educao, que so: garantir o direito de

    aprender, incidindo-se na diminuio das desigualdades educacionais por meio

    da ampliao da jornada escolar na perspectiva de educao integral (Brasil,

    2013) e da retirada do aluno de uma situao de vulnerabilidade social, podemos

    concluir, que na viso dos entrevistados, o Programa Mais Educao vem

    atendendo o seu objetivo de maneira satisfatria.

    2.7. - AVALIAES DOS RESPONSVEIS

    Na presente etapa analisaremos pais e responsveis em relao a sua

    observao e avaliao do Programa Mais Educao no desenvolvimento de

  • 45

    seus filhos e dependentes, e de que maneira a participao dos mesmos no

    programa os influencia de forma direta e indireta.

    Antes de levantarmos os ndices de satisfao diante do Programa Mais

    Educao por parte dos pais e responsveis, precisamos compreender que o fato

    da referida unidade escolar participar do Programa Mais Educao e

    consequentemente oferecer educao de regime integral, foi fator determinante

    para oitenta e oito por cento (88%) dos entrevistados, os outros doze por cento

    (12%) se iguala ao mesmo nmero de pais/ responsveis que desconhecia

    informaes a respeito do programa.

    Grfico 01 Influncia do Programa Mais Educao na Escolha dos

    pais/responsveis.

    Fonte: Questionrios Pais/Responsveis

    Apesar do Programa Mais Educao est completando seu quarto ano de

    atividade na Escola Martim Lutero, constatamos que oitenta e oito por cento

    (88%) dos pais/ responsveis, que aceitaram responder e participar da pesquisa,

    tem seus filhos/ dependentes completando seu primeiro ano inserido no Programa

    Mais Educao.

    A partir de ento comearemos analisar o nvel de satisfao dos pais/

    responsveis em relao ao Programa, analisando possveis avanos no

    desenvolvimento dos alunos a partir do momento em que estes foram inseridos

    no Programa Mais Educao.

    88%

    12%

    Sim

    No

  • 46

    Buscando medir o grau de satisfao dos pais/ responsveis perante o programa,

    estabelecemos uma escala de zero a dez, tendo seis como a nota de satisfao

    mais baixa e dez como nota mxima de satisfao. Estabelecemos um campo

    abaixo de cinco para indicar um nvel mximo de insatisfao. Diante disso,

    constatamos que sessenta e trs por cento (63%) classificaram como nota 10 o

    Programa Mais Educao, e apenas seis por cento (6%) deram nota seis (nota

    mais baixa no grau de satisfao). (nenhum entrevistado deu nota abaixo de cinco

    para o programa).

    Grfico 02 Nota dos Pais/responsveis ao Programa Mais Educao.

    Fonte: Questionrios Pais/Responsveis

    Quando questionados a respeito do avano do desempenho escolar de seus

    filhos e/ou responsveis, oitenta e oito por cento (88%) dos entrevistados afirmam

    que os mesmos, apresentaram melhorias no desenvolvimento escolar logo aps

    serem inseridos no regime de educao integral, e apenas doze por cento (12%)

    afirmam no ter observado quaisquer tipos de avano por parte dos alunos

    quanto ao desempenho escolar.

    7%7%

    4%

    19%63%

    Nota 6

    Nota 7

    Nota 8

    Nota 9

    Nota 10

  • 47

    Grfico 03 - Melhora no desempenho do aluno na viso dos pais aps ingressar

    no Programa Mais Educao.

    Fonte: Questionrios Pais/Responsveis

    Quanto ao grau de satisfao de desempenho obtido pelos alunos inseridos no

    Programa Mais Educao, estabelecemos as classificaes razovel, timo e

    excelente para podermos analisar o quanto satisfatrio est se dando o

    desenvolvimento escolar dos alunos na viso dos pais e/ou responsveis.

    Conclumos, que quarenta por cento (40%) dos entrevistados classificam o

    desempenho como razovel, vinte e sete por cento (27%) como timo e trinta e

    trs por cento (33%) como excelente. Um nmero bastante otimista para uma

    escola de estrutura fsica precria e em fase experimental, como foi classificada

    pelos profissionais envolvidos.

    Grfico 04 Satisfao dos Pais/Responsveis

    Fonte: Questionrios Pais/Responsveis

    88%

    12%

    Melhorou o desempenho

    No Melhorou

    Razoavel

    40%

    timo

    27%

    Execelent

    e

    33%

  • 48

    Na tentativa de ampliarmos os resultados obtidos pela insero dos alunos no

    regime de educao integral, analisaremos a influncia que o mesmo tem

    desempenhado de forma direta na vida dos pais e/ ou responsveis dos alunos.

    Para conseguirmos obter tal resultado, elaboramos perguntas atravs de um

    questionrio onde pais/ responsveis classificariam de forma positiva ou no os

    impactos apresentados.

    Antes, portanto, vale ressaltar que vinte por cento (20%) dos alunos em questo,

    contribua de alguma forma na renda familiar, os outros oitenta por cento (80%)

    no possuem participao direta.

    Grfico 05 Alunos que contribuam/contribuem na renda familiar.

    Fonte: Questionrios Pais/Responsveis

    Tal levantamento nos possibilitou observar que a implementao da educao

    integral na comunidade escolar, possibilitou a pais e responsveis uma maior

    disponibilidade de tempo e consequentemente uma maio