o processo de desenvolvimento de novos produtos em
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O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
DE NOVOS PRODUTOS EM EMPRESAS
NASCENTES: UM ESTUDO DE CASO
NUMA EMPRESA DO RAMO
ELÉCTRICO.
Leidy Carolina Mesa Gallego (UFJR )
Ricardo Manfredi Naveiro (UFRJ )
Francisco Jose de Castro Moura Duarte (UFJR )
O objetivo deste trabalho é contribuir para um melhor entendimento
sobre o processo de desenvolvimento de produtos (PDP) em empresas
nascentes, o qual deve ser encarado diferente do PDP definido para as
grandes empresas. Isto porque o iniciio de uma empresa se caracteriza
pela escassez de recursos, e a estratégia do negócio e evolução do
produto encontram-se num estágio inicial de formação. Este tema,
embora seja pouco explorado na literatura, é crucial para o sucesso
deste tipo de empreendimentos já que o PDP tem um papel estratégico
na estruturação do negócio das empresas nascentes. Além disso,
contribui de maneira fundamental para a sobrevivência delas. Para
ilustrar este processo, foi realizado um levantamento bibliográfico
sobre os temas: PDP, o método Technology Roadmapping (TRM) e a
técnica de State-Gate (SG). Estes últimos indicados para apoiar o PDP
especificamente nas empresas spin-offs, das quais, igualmente,
apresenta-se uma caraterização. Finalmente, é analisado um caso real,
liderado por um laboratório de pesquisa da UFRJ, de desenvolvimento
de um novo produto em uma empresa nascente.
Palavras-chaves: desenvolvimento de produtos, empresas nascentes,
spin-offs
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
A globalização dos mercados desafia às empresas a criar produtos que estejam na vanguarda
de seus concorrentes. Assim, desenvolver produtos se tornou numa vantagem. No processo de
planejamento de produtos são desenvolvidas as ideias que resultaram do planejamento
estratégico da empresa. Mas como realizar esse planejamento quando o produto e a empresa
nascem juntos? Isto acontece com as empresas nascentes (start-up) e nas spin-off acadêmicas.
As spin-offs são um tipo específico de start-up, sua particularidade se deve a que as primeiras
são criadas com a intenção de comercializar tecnologia desenvolvida em laboratórios de
pesquisa acadêmica. Estas empresas atraem a atenção dos governos ao redor do mundo por
ser o principal motor de mudança e crescimento econômico das regiões, isto se deve a que são
geradoras de emprego, promovem a comercialização de tecnologias desenvolvidas que
ficaram sub-exploradas por diferentes motivos e são um meio efetivo para envolver
pesquisadores na comercialização de tecnologias (BATHEL et al, 2010). Brasil não é
indiferente a este fenômeno, segundo o Renault (2010) nos últimos anos o governo e as
entidades envolvidas elaboraram políticas que estimulam a criação de empresas spin-offs, a
Lei da Inovação é a mais representativa para este fim.
Especificamente sobre o processo de desenvolvimento de produtos (PDP) Gómes e Salermo
(2010) afirmam que grande parte da literatura direciona-se para grandes empresas, que na
maioria dos casos, já possuem organização estabelecida, estratégia de negócio clara, recursos
e capacidade instalados, canais de distribuição, rotinas de trabalho, métodos e técnicas de
gestão constituídas, o que não acontece nas empresas nascentes. Rozenfeld et al. (2006) aclara
que o PDP não deve ser aplicado apenas nas grandes empresas, pelo contrário, o autor propõe
que se devem adotar os conceitos existentes no modelo de referencia e adaptá-los à
necessidade da empresa. Mas, mesmo assim, o modelo proposto por ele parte de uma
estratégia já definida pela empresa.
Cheng et al (2005) discutem que nas spin-offs acadêmicas o PDP é diferente do PDP das
empresas estabelecidas, pois as primeiras possuem arcabouço limitado de recursos tangíveis e
intangíveis e além disso, a estratégia do negócio encontra-se em um estágio muito inicial de
formação, conjuntamente com a evolução da concepção do produto. Ainda Cheng et al (2005)
asseguram que o PDP afeta a estratégia do negócio e o modelo de negócio afeta o
desenvolvimento do produto. Isto se da porque o desenvolvimento de produtos ocupa um
papel estratégico na estruturação do negócio e contribui de maneira fundamental para a
sobrevivência de uma empresa. Além disso, o primeiro produto é um marco importante na
história de uma nova firma, já que geralmente é responsável pelas primeiras receitas, pelo
primeiro teste efetivo da proposição de valor da firma emergente (GÓMES; SALERMO,
2010).
Levando em conta a importância do desenvolvimento dos primeiros produtos em empresas
nascentes, como acima descrito, se faz necessário um estudo que traga conhecimento sobre
como deve ser realizado um planejamento mais completo neste tipo de empresas. Mas, este
tema tem sido pouco explorado na literatura e as publicações da área de empreendedorismo
tecnológico ainda não apresentam trabalhos que contemplem a estruturação do processo de
planejamento tecnológico em uma sequencia lógica de etapas e atividades (CHENG ET AL,
2005; CHENG ET AL, 2007; GOMES; SALERMO, 2010).
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O objetivo deste trabalho é compreender como pode ser adaptado o desenvolvimento de
produtos tradicional às empresas nascentes. Para isto, se apresenta uma revisão bibliográfica
sobre os temas: PDP, o método Technology Roadmapping (TRM) e a técnica de State-Gate
(SG). Estes últimos indicados para apoiar o PDP nas empresas em fase de criação,
especificamente nas empresas spin-offs. Por este motivo é realizada também uma
caracterização deste tipo de empresas, junto com dois modelos de desenvolvimento de
produtos desdobrados a partir de experiências em empresas spin-offs acadêmicas. Por fim, se
apresenta um caso real de desenvolvimento de produto, este processo foi apoiado por um
laboratório de consultoria tecnológica da UFRJ. Com a descrição deste caso se pretende
analisar como é o processo de PDP realizado pelo laboratório e comparar este com os
modelos estudados. Uma discussão, com sugestões e recomendações, sobre o processo de
PDP em empresas em fase de criação que se espera faça mais ágil e eficaz as consultorias
realizadas pelos laboratórios concluem o presente texto.
2. O processo de desenvolvimento de produtos em empresas nascentes
Em sua pesquisa Cheng et al.(2005) asseguram que ao PDP tradicional deve-se acrescentar
alguns estágios iniciais para finalização da tecnologia e confirmação de seu potencial
comercial. A figura 1 mostra a ordem desses estágios segundo a literatura. Esses estágios são
um conjunto de recursos teóricos que apoiam a trajetória das tecnologias até a
comercialização, estas são: Technology Roadmapping (TRM), Technology Stage-Gate (TSG)
e o PDP tradicional. Aprofunda-se em cada um destes estágios nas seções seguintes.
Figura 1 - A sequência de aplicação dos métodos e técnicas na GDP
Fonte: Cheng et al (2005)
2.1. Processo de desenvolvimento de produtos - o PDP tradicional
Na atualidade, a concepção e a produção dos produtos não são mais realizadas de forma
rudimentar e simples, também não são realizados por uma pessoa ou um grupo delas dentro
de uma organização, como foi até finais do século XX. Atualmente o mercado globalizado
onde o cliente tem a última palavra, os produtos a fabricar e as tecnologias utilizadas se
tornaram mais complexos. Por este motivo o sucesso das empresas depende em grande
medida de como elas desenvolvem seus produtos.
Produzir projetos para produtos é um processo em si, que necessita ser projetado e gerenciado
como qualquer outro processo. Este processo conta com informações e recursos de entrada -
inputs, os quais irão ser transformados em produtos especificados – outputs (SLACK, 2009).
O processo de planejamento de produtos é, basicamente, levar novas ideias sobre um produto
até o mercado. Naveiro (2008) define o PDP como um processo em que é transformado um
conjunto de requisitos, em um conjunto de especificações suficientes para a manufatura do
produto. O mesmo autor descreve o PDP como uma atividade complexa que produz uma
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descrição de algo que ainda não existe, porém capaz de viabilizar a construção desse produto
em fase de criação. Rozendelf (2006) acrescenta que o conjunto de atividades do processo de
desenvolvimento de produto deve ser definido a partir das necessidades do mercado e das
possibilidades e restrições tecnológicas, e também, deve se considerar as estratégias
competitivas e de produto da empresa.
Back (2008) explica que surgiram diversas propostas de estruturas para o desenvolvimento de
produtos desde os anos 60. As primeiras iniciativas se caracterizavam por ser de tipo
sequencial, onde as fases desdobradas em atividades eram realizadas em serie. Estas, por sua
forma, recebem várias criticas, a principal delas é por causa da identificação tardia dos
problemas, atribuído ás revisões de cada fase programadas para o término de cada uma delas e
à falta de integração e transferência de informação entre as fases e seus integrantes. O mesmo
autor explica que estes problemas foram atenuados com a adoção de novos modelos que
surgiram desde os anos 90. Estes novos modelos adoptam metodologias de desenvolvimento
integrado e equipes multidisciplinares ou multifuncionais de trabalho.
O modelo unificado do PDP descrito por Rozendelf (2006), representado na figura 2, faz parte
dos modelos mais abrangentes propostos recentemente. Este é divido em três macrofases que
envolvem desde o planejamento estratégico dos produtos até a retirada do mercado dos
mesmos. Cada uma das fases a sua vez está dividida em fases mais específicas e cada uma
delas está delimitada pela entrega de um conjunto de resultados que determinam, a partir da
sua avaliação, a possibilidade de passar à fase seguinte do PDP.
Figura 2 - Processo de desenvolvimento de produtos
Fonte: Rozendelf (2006)
Cada uma das fases do modelo apresentado por Rozendelf (2006) se caracteriza por ter uma
revisão e aprovação formal dos produtos, o autor adotou o termo em inglês gates, nestes se
verifica o cumprimento das tarefas planejadas, se avalia a qualidade dos resultados obtidos na
fase e o valor do presente projeto.
Visto assim o modelo do PDP é fácil de entender e, como dito no inicio, este modelo deve ser
adaptado ao tamanho, aos recursos e, em geral, à realidade de cada empresa, mas como
adaptar este modelo às empresas nascentes? Ao respeito desta pergunta vários autores têm
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proposto novos modelos para o desenvolvimento de produtos para empresas de base
tecnológica. Estes modelos são o tecnhology roadmapping (TRM) e o stage-gate, os quais
serão descritos a continuação.
2.2. Planejamento tecnológico e technology roadmapping (TRM)
Cheng et al (2005) recomendam para as empresas de base tecnológico (EBT) de origem
acadêmico ou também chamadas de spin-offs, além do plano de negócio tradicional, realizem
um plano tecnológico - documento que explicitasse a caminhada das tecnologias até o
mercado. Os autores afirmam que o propósito desse planejamento é investigar mais a fundo as
diversas possibilidades de exploração industrial da tecnologia e, que, seu principal resultado
deveria ser o desenvolvimento das primeiras versões (protótipos) dos produtos, processos ou
serviços de valor agregado.
Cheng et al (2007) explicam que o planejamento tecnológico deve estimular a coleta e a
análise de informações referentes ao trinômio Tecnologia, Produto e Mercado (TPM)
importantes tanto na estruturação do negócio, quanto no desenvolvimento de seus primeiros
produtos, para isso os autores consideram necessário adotar a metodologia tecnhology
roadmapping (TRM).
A abordagem do TRM é uma ferramenta popular, desenvolvida pela Motorola na década de
70, é utilizada para gerenciar o futuro da tecnologia. Esta apresenta uma estrutura de trabalho
flexível que depende da abrangência desejada. O método prepara conceitualmente a entrada
dos projetos no processo de desenvolvimento de produtos tradicional (PDP) (CHENG ET AL,
2005; LOUREIRO ET AL, 2010).
Se traduzimos literalmente a expressão “road map” seria “o mapa do caminho”, deduzimos
que consistiria no desenho de formas ou percursos possíveis para chegar a um lugar
específico. No caso aplicado à tecnologia, os roadmapping fornecem uma representação
gráfica das tecnologias existentes, produtos e mercados (hoje em dia) e as que serão
construídas (no futuro), e como eles evoluem, ajudando os gestores de uma organização a
planejar e alinhar as estratégias de desenvolvimento com os objetivos do negócio
(LOUREIRO ET AL, 2010).
Ainda Loureiro et al. (2010) concluem que o roadmap pode ser entendido como uma visão
que a organização tem para alcançar um objetivo específico no tempo necessário. Seus
principais benefícios são: i) facilitar a visualização das lacunas no processo de planejamento,
alinhando metas futuras e atividades presentes na empresa; e ii) promover a integração entre
as áreas funcionais do negócio, através da comunicação, compartilhamento de informações e
visualização dos mapas estratégicos (roadmaps) (PHAAL ET AL, 2004 apud CHENG ET
AL, 2005)
Phaal (2005 apud Gómes; Salermo, 2010) adaptaram o TRM para empresas sem experiência
em um modelo mais simples que facilita sua aplicação, chamado de T-Plan, exibido na figura
3. Este consiste na realização de uma série de workshops cujo resultado é um documento do
processo mostrando como a tecnologia pode ser alinhada com o desenvolvimento de produtos
e serviços, estratégias de negócio e oportunidades de mercado (LOUREIRO ET AL.,2010).
Figura 3 - Processo de elaboração do TRM
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Fonte - Gómes e Salermo (2010)
Segundo Gomes e Salermo (2010) devido às incertezas em relação à tecnologia e ao mercado,
à complexidade e à ambiguidade das informações no processo de criação de uma spin-off, é
necessário um processo de elaboração do TRM diferente do T-Plan nestas empresas. Isto se
deve a que as informações e orientações estratégicas do T-Plan original vem de um
planejamento estratégico já definido pela empresa, o que não é possível nas spin-offs onde a
elaboração do TRM ocorre paralelamente ao planejamento da empresa.
2.3. O technology Stage-gate (TSG)
O Stage-gate é considerado um processo adequado para gerenciar os esforços iniciais de
desenvolvimento de produtos. O TSG ajuda a lidar às empresas com as incertezas inerentes ao
desenvolvimento de novas tecnologias.
Cooper e Kleinschmidt (2001) no artigo “Stage-gate process for new product sucess”
apresentam o STG como uma modelo que “quebra” o processo de inovação de um novo
produto em um determinado conjunto de etapas, cada uma consistindo de atividades
indicadas, multifuncionais e paralelas. A entrada para cada etapa consiste em uma porta de
decisão ou “gate” que é um ponto onde se verifica se continuar ou parar o processo de
inovação. A figura 4 ilustra este processo.
Figura 4 - Processo Stage-gate
Fonte: Cooper e Kleinschmidt (2001)
A ideia é que o projeto do novo produto passe através deste processo que se espera facilite sua
ideação, guiando o projeto eficientemente desde a ideia do produto até seu lançamento. Com
o SG se identificam tarefas para cada fase, se especificam claramente os pontos de decisão, e
se fornecem informações sobre os requerimentos de documentação e critérios de decisão. Por
fim com o SG se deve garantir que os projetos dos produtos insustentáveis sejam terminados.
3. As empresas spin-off acadêmicas
As empresas spin-offs são empresas start-up, ou nascentes, criadas com a finalidade de
explorar comercialmente uma nova tecnologia ou resultado de pesquisa desenvolvido dentro
de uma universidade. Além disso, os fundadores da empresa têm suas origens nas
universidades e a transferência de conhecimento da universidade para a empresa é direta.
(PIRNAY ET AL. 2003 APUD GEENHUIZEN, 2009).
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As spin-offs representam um importante mecanismo de transferência de tecnologia e se
tornaram na maioria de países uma das formas preferidas pelas instituições de pesquisa para
estimular sua orientação empreendedora (STEFFENSEN ET AL;1999). Entre os principais
benefícios atribuídos e este tipo de empreendimentos pode se mencionar que são o principal
motor da mudança e crescimento econômico das regiões (BATHEL ET AL; 2010). Por este
motivo, o governo e as entidades envolvidas, elaboraram politicas que estimularam a criação
de empresas spin-offs no Brasil. A Lei da Inovação é a que mais tem impulsionado este tipo
de empresas nos últimos anos. Segundo Renault (2010) esta lei marca o estágio de
amadurecimento e expansão do empreendedorismo acadêmico no país. Além disso, diversas
ações de incentivo ao empreendedorismo inovador oferecido pelas universidades, o governo e
programas de subvenção as quais aumentaram significativamente nos últimos cinco anos.
As empresas spin-offs acadêmicas tradicionalmente nascem em ambientes onde o
empreendedorismo de alta tecnologia é relativamente novo (CLARYSSE ET AL, 2005).
Devido a isto, estes empreendimentos enfrentam dificuldades específicas que devem ser
levadas em conta, Mustar et al (2007) menciona alguns: o reconhecimento de oportunidade,
ou seja, compreender o mercado ao qual poderia aplicar, compromisso empresarial de parte
dos empreendedores, estes geralmente tem que dividir seu tempo entre compromissos com as
instituições de pesquisa e o tempo da empresa nascente. Outro problema a enfrentar é a falta
de credibilidade por não contar com um histórico comercial, e por último, adquirir retornos
sustentáveis.
A estes problemas descritos acima, específicos das spin-offs, se adiciona as dificuldades
comuns das empresas nascentes e a complexidade inerente de levar as tecnologias
desenvolvidas até o mercado. A continuação serão apresentados dois modelos desenvolvidos
a partir da experiência de seus autores com o desenvolvimento de novos produtos que foram
resultado de pesquisa acadêmica.
3.1. O modelo 1
O primeiro modelo foi desenvolvido a partir de casos de empresas não consolidadas e com as
características de empresas spin-off. Isto é, uma equipe de pesquisadores universitários
contava com vários produtos desenvolvidos em seu laboratório com potencial comercial, mas
esta equipe experimentava as dificuldades típicas para levar essas tecnologias até o mercado.
Gheng et al (2005), tentando elucidar melhor o caminho desde os resultados de pesquisa até o
plano tecnológico e o desenvolvimento de protótipos, utilizaram vários métodos e técnicas: o
PDP tradicional, o Technology Stage-Gate (TSG) e o método Tecnhology Roadmappping
(TRM). Como resultado, desenvolveram um método que apoiara a estruturação do processo
do planejamento, em atividades, etapas e pontos de descrição da spin-off e ajudasse a
priorizar os possíveis produtos comercializáveis que iriam a ser protótipos, ver figura 5.
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Figura 5 - Processo de planejamento tecnológico da EBT
Fonte: Cheng et al. (2005)
As três etapas iniciais deste processo, o nível de análise estaria sempre oscilando entre o
operacional e o estratégico. Acrescentado ao anterior o TSG visa orientar a finalização das
tecnologias em laboratório e a avaliação de seu potencial comercial. Na etapa 3 do processo o
TRM visa facilitar a visualização da integração do trinômio tecnologia, produto e mercado
(TPM) para os produtos prioritários e possibilita a entradas destes, com maior certeza, em um
processo formal de PDP. A partir da definição dos produtos prioritários, o PDP facilitaria a
visualização da caminhada destes até o mercado (em nível operacional), o que seria
documentado, ao final, em um plano tecnológico.
Para finalizar, na etapa 5, os autores discutem que seu modelo não segue a ordem apontada
pela literatura da gestão de desenvolvimento de produtos, mas aclaram que esses métodos e
técnicas foram relevantes para preencher as lacunas existentes do planejamento dos primeiros
produtos das spin-offs, principalmente na redução das incertezas.
3.2. Modelo 2
O segundo modelo proposto integrando o PDP dos primeiros produtos de uma empresa
nascente é apresentado por Gomes e Salermo (2010), ilustrado na figura 6, adota a estrutura
de estágios e pontos de decisão. O modelo esta dividido em três grandes partes: A) PDP; B)
TRM; e C) planejamento estratégico sob incerteza. Desta forma os autores unificaram os três
conceitos.
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Este modelo, baseado em dois estudos de caso, procurava construir um modelo de PDP
integrado como o planejamento estratégico de empresas Spin-offs acadêmicas. O processo
proposto pelos autores se desenvolve de forma sequencial, mas não de forma lineal.
Uma das diferencias principais deste modelo é a falta das etapas de prototipagem e testes,
presentes em outros modelos, isto porque a tecnologia ou o novo produto devem ser testados
constantemente ao longo de todo o processo visando obter sempre novas informações e
facilitar o aprendizado. Veja-se também, que cada estágio acrescenta-se aos estágios
anteriores, isso significa que as atividades não se modificam, permanecendo assim em
constante revisão. Isto permite à equipe de empreendedores estarem envolvidos durante todo
o processo e conseguir realizar as mudanças necessárias baseados no conhecimento ganhado a
cada etapa.
Figura 6 - Modelo integrado do PDP com o planejamento estratégico
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Fonte: Gomes e Salermo (2010)
4. Estudo de caso
Nesta seção apresenta-se uma análise do processo de desenvolvimento de produtos praticado
no laboratório de pesquisa de empreendedorismo e nas micro, pequenas e médias empresas
(MPMEs) da UFRJ.
Na descrição do caso, são analisados todos os projetos que chegaram ao laboratório desde o
ano 2011. O numero total de projetos corresponde a 27, dos quais se identificaram 2 empresas
do setor de indústria e comercio com uma demanda de desenvolvimento de produto. Este
trabalho analisou detalhadamente o relatório de um dos casos, chamemos “empresa A” para
proteger sua identidade.
4.1. A Empresa
O projeto a realizar na empresa A tinha como objetivo desenvolver um plano de produto para
o sistema chamado de “Sistema Eléctrico Móvel Autoalimentável para veículos Eléctricos e
Correlatos”, o qual já tinha um pedido de patente desde o ano 2007. O objetivo do produto é
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suprir a necessidade de carregamentos periódicos das baterias de veículos elétricos. Isto
através de um sistema autoalimentável que impede o descarregamento da bateria, mantendo
assim o sistema ativo e em constante funcionamento, melhorando a autonomia do veículo.
Os consultores do laboratório definiram um plano de desenvolvimento do produto detalhado
como segue:
Figura 7. Modelo de desenvolvimento de produtos para a empresa A
Fonte
:
Labor
atório
UFRJ
Os
cons
ultores iniciaram o projeto a partir da primeira etapa de desenvolvimento. Além disso, os
consultores junto com os empreendedores definiram um PDP, delimitando a participação do
laboratório à fase da solução preliminar, pelas limitações no tempo de desenvolvimento do
projeto.
4.2. Discussão do caso
Se analisarmos o modelo adotado pelo laboratório para o desenvolvimento do novo produto,
vemos tem uma estrutura similar com o modelo de Rozenfeld (ver seção 2.1.). Além disso, o
modo como os consultores-empreendedores definiram os gates, temos também semelhanças
com o modelo 2 (ver seção 3.2.). Porem, ao comparar em fases mais detalhadas percebem-se
diferenças estruturais entre os modelos.
Observa-se que, a empresa A, não contava com uma estratégia definida, e muito menos com
recursos tangíveis e intangíveis. Por este motivo não seria possível entrar em um processo de
desenvolvimento de produtos tradicional.
Segundo a descrição dada para o produto da empresa em questão, poderia se dizer que o
desenvolvimento deste encontra-se nas primeiras fases, ideação ou a pesquisa preliminar, no
processo de stage-gate. Já nos modelos descritos, o desenvolvimento do novo produto
corresponde com a primeira etapa do modelo 1, que é “avaliação do potencial do resultado de
pesquisa”.
Na empresa A, não foram discutidos nem a estratégia, nem como o produto poderia estar
ligado com o modelo de negócio, nem os tipos de produtos que poderiam ser desenvolvidos,
nem foi previsto um possível mercado. Contrario ao recomendado pelos modelos estudados.
5. Conclusões As spin-offs acadêmicas dinamizam a indústria com produtos ou processos inovadores, mas
ainda seus processos são pouco conhecidos e tem pouca literatura sobre seu funcionamento.
Especificamente, sobre o desenvolvimento dos primeiros produtos.
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Comprova-se que o PDP tradicional em empresas em fase de criação, devem ter fases
adicionais antes de seu inicio. Já que neste tipo de empresas todo o planejamento estratégico
envolve o nascimento do negócio.
Os empreendedores tem dificuldade para planejar o nascimento da empresa. Por outro lado, os
consultores também enfrentam seus problemas, como restrições de tempo precisando de
soluções rápidas e econômicas.
Dado o número crescente de spin-off e dos incentivos para sua criação, seria interessante
estudar qual método de PDP é implementando no Brasil. Além disso, realizar pesquisas
acompanhando este processo. É pertinente realizar estudos que verifiquem a adequação dos
modelos de PDP disponíveis na literatura com pesquisas empíricas. Isto pode ser levado a
cabo com o acompanhamento dos projetos desenvolvidos pelo laboratório da UFRJ.
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