o processo de criação de uma coleção de moda a partir do estudo do mito do sebastianismo

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Iniciação - Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística Edição Temática: Cultura e Comportamento Vol. 4 no 1 – Abril de 2014, São Paulo: Centro Universitário Senac ISSN 2179-474X © 2014 todos os direitos reservados - reprodução total ou parcial permitida, desde que citada a fonte portal de revistas científicas do Centro Universitário Senac: http://www.revistas.sp.senac.br e-mail: [email protected] O processo de criação de uma coleção de moda a partir do estudo do mito do Sebastianismo The creation process of a fashion collection from the study of the myth of Sebastianism Giovanna Costa Gaba, Pedro Paulo Oliveira Andrade, Adriana Martinez, Eloize Navalon Universidade Anhembi Morumbi Escola de Arte, Arquitetura, Design e Moda - Bacharelado em Design de Moda {gabagiovanna, pedroandrade.peu}@gmail.com, [email protected], [email protected] Resumo. O presente artigo é decorrente do TCC desenvolvido em design de moda, o qual teve como objetivo realizar um projeto de produtos de moda. Os estudos partiram do tema Sebastianismo, percorrendo sua vinda ao Brasil e como ele se enraizou em regiões sertanejas, especificamente, no episódio da Pedra do Reino. A análise dessas ocorrências orientou a definição do conceito de criação “Desejos Encobertos”. Com base nesse conceito foi materializada a coleção de dezesseis looks orientados para um público-alvo feminino. Palavras-chave: design de moda, Sebastianismo, Pedra do Reino, desejos encobertos. Abstract. The present article is originated from the Course Conclusion Project developed in fashion design, which aimed to realize a fashion products project. The studies were based on the theme Sebastianism, covering its coming to Brazil and how it took root in backcountry regions, specifically on the Pedra do Reino episode. The analysis of these occurences guided the definition of the criation concept "Undercovered Desires". Based on the concept were materialized a sixteen looks collection directed towards a female target market. Key words: fashion design, Sebastianism, Kingdom Stone, hidden desires.

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Iniciação - Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística

Edição Temática: Cultura e Comportamento

Vol. 4 no 1 – Abril de 2014, São Paulo: Centro Universitário Senac

ISSN 2179-474X

© 2014 todos os direitos reservados - reprodução total ou parcial permitida, desde que

citada a fonte

portal de revistas científicas do Centro Universitário Senac:

http://www.revistas.sp.senac.br

e-mail: [email protected]

O processo de criação de uma coleção de moda a partir do estudo

do mito do Sebastianismo

The creation process of a fashion collection from the study of the myth of Sebastianism

Giovanna Costa Gaba, Pedro Paulo Oliveira Andrade, Adriana Martinez, Eloize Navalon

Universidade Anhembi Morumbi

Escola de Arte, Arquitetura, Design e Moda - Bacharelado em Design de Moda

{gabagiovanna, pedroandrade.peu}@gmail.com, [email protected],

[email protected]

Resumo. O presente artigo é decorrente do TCC desenvolvido em design de moda, o

qual teve como objetivo realizar um projeto de produtos de moda. Os estudos partiram

do tema Sebastianismo, percorrendo sua vinda ao Brasil e como ele se enraizou em

regiões sertanejas, especificamente, no episódio da Pedra do Reino. A análise dessas

ocorrências orientou a definição do conceito de criação “Desejos Encobertos”. Com base

nesse conceito foi materializada a coleção de dezesseis looks orientados para um

público-alvo feminino.

Palavras-chave: design de moda, Sebastianismo, Pedra do Reino, desejos encobertos.

Abstract. The present article is originated from the Course Conclusion Project developed

in fashion design, which aimed to realize a fashion products project. The studies were

based on the theme Sebastianism, covering its coming to Brazil and how it took root in

backcountry regions, specifically on the Pedra do Reino episode. The analysis of these

occurences guided the definition of the criation concept "Undercovered Desires". Based

on the concept were materialized a sixteen looks collection directed towards a female

target market.

Key words: fashion design, Sebastianism, Kingdom Stone, hidden desires.

Iniciação - Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística - Vol. 4 no 1 - Abril de 2014 Edição Temática: Cultura e comportamento

1. Introdução

Este artigo registra o processo de criação de uma coleção de moda a partir da pesquisa e

análise de um acontecimento esquecido e pouco divulgado da história nacional. A

intenção é criar um design de moda através do estudo de manifestações culturais

regionais e o posterior compartilhamento desse conhecimento para, dessa forma,

contribuir com o resgate da cultura brasileira.

Sua realização se deu por meio da metodologia interdisciplinar, que consiste no

cruzamento de diversas áreas do saber. O projeto é também uma constatação de que o

design não se limita ao simples dar forma ao objeto. De acordo com Couto (1999), o

design é ação de interação entre o designer, o usuário, o desejo, a forma e a cultura de

cada indivíduo. Tal ação explicita o caráter interdisciplinar do design, o qual se trata de

uma atividade formada a partir da interação, interlocução e parceria. Por isso, não é

possível limitar-se em torno de conceitos, teorias ou autores exclusivos. A natureza

interdisciplinar do design necessita que diversas áreas de conhecimento convirjam para

ampliar seus limites e assim atender as necessidades de um projeto de forma eficiente.

Quando iniciado, requisitou-se a escolha de um eixo temático para o desenvolvimento do

restante do projeto na busca por criar um design brasileiro autêntico entendeu-se que

uma atitude coerente é utilizar como referência para criação a cultura nacional. Portanto,

o eixo temático escolhido para esse projeto é O Design de Moda e a Cultura Brasileira.

Tal eixo possibilitou conduzir a pesquisa por referências encontradas nas abordagens

antropológicas, sociológicas e históricas que compõem a primeira parte deste artigo, na

qual se realizou um estudo embasado na formação do mito do Sebastianismo e como ele

chega ao Brasil se enraizando no Sertão nordestino, onde ganha características locais e

culmina num episódio pouco conhecido: Pedra do Reino. Já nesse momento, os

conhecimentos adquiridos foram cruzados para o conceito de criação ser embasado a

seguir.

A etapa seguinte é relativa ao desenvolvimento dos produtos de moda - a coleção. Nela,

interpretações subjetivas do conceito de criação foram unidas às informações técnicas,

resultando nos elementos formais projetuais da coleção e todos os estudos que a

permeiam juntamente com a pesquisa de público-alvo.

2. Pesquisa referencial teórica

A criação de um mito: o Sebastianismo

O mito não tem a função de separar o homem do mundo, tampouco se situa fora do real,

conforme afirma Gusdorf (1980). A consciência mítica tem a função de integrar o homem

a seu universo e é uma forma de estabelecimento do real. Desse modo, o Sebastianismo

é um mito que ultrapassou fronteiras e séculos, tornando o fantástico em justificativa da

realidade desde sua origem.

Segundo Godoy (2009), no início do século XVI Portugal vivia uma crise política externa

e interna. O infante dom João, nascido em 1537, tinha saúde muito frágil, o que levou o

rei dom João III, preocupado com a perpetuação de sua linhagem hereditária, a arranjar

o casamento às pressas de seu filho, aos 14 anos de idade, com dona Joana, filha de

Carlos V, imperador da Espanha.

Hermann (1998) assegura que os laços matrimoniais entre as realezas portuguesa e

espanhola e a debilitada saúde do infante dom João resultaram em um período de

apreensão nacional em torno do destino de Portugal. Portanto, fazia-se urgente a

geração de um herdeiro de dom João, criança que, antes mesmo de nascer, recebeu o

título de O Desejado.

Em 20 de janeiro de 1554, dia de São Sebastião, nasceu O Desejado, que foi batizado

com o nome do santo em sua homenagem. Dom João morrera vinte dias antes devido a

uma crise de diabetes. Dona Joana, pouco tempo depois do nascimento da criança,

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voltou definitivamente para Castela, deixando o bebê em Portugal aos cuidados e

interesses da corte.

Hermann (1998) explica que dom Sebastião representava a garantia da independência

portuguesa e o fim de um período de apreensão. Além disso, a corte viu nele a

possibilidade da retomada de um projeto de conquista de territórios e da expansão do

cristianismo iniciado pela dinastia de Avis, que havia sido abandonado por dom João III a

contragosto popular.

Godoy (2009) esclarece que, influenciado pelos valores de sua formação e preocupado

com os avanços territoriais promovidos pelo líder islâmico Muley Malik no norte da

África, dom Sebastião, em 1578, com grande apoio popular, decidiu fazer uma

empreitada contra os mouros no Marrocos, em 4 de agosto do mesmo ano, aconteceu a

batalha de Alcácer-Quibir. Lelli (2010) cita que com um exército mal equipado, número

de soldados inferior ao adversário e um comando inexperiente, Portugal foi derrotado,

tendo metade de suas tropas feita prisioneira e a outra parte morta. Junto dessa última,

estava dom Sebastião, cujo corpo nunca foi encontrado.

Com a derrota, Portugal mergulhou em uma atmosfera de desalento. Uma nação em luto

com a perda de familiares – naquele momento governada por Castela, presa a uma crise

socioeconômica e sem expectativa de reerguer-se – tornou-se o cenário ideal para o

surgimento de um misticismo que dominou o inconsciente coletivo: o Sebastianismo. Tal

mito é considerado por Lelli (2010) como um messianismo judaico-cristão

aportuguesado, em que a figura de dom Sebastião é confundida com a do messias que

regressará para redimir seu povo.

[...] o povo passou a acreditar que o “Desejado” havia sido

destemido e heroico, defendendo os interesses de Portugal e do

cristianismo; acreditava-se ainda que ele não havia morrido e,

portanto, retornaria para retomar o poder e salvar a pátria. O mito

se estabelece a partir destas interpretações oriundas do desejo

que acaba, por assim dizer, subvertendo o real. (LELLI, 2010, p.

195)

Conforme Godoy (2009) explica, essa crença foi intensificada por dom João de Castro,

um nobre português que lutava pela independência de seu país. Ele era um grande

defensor da crença do retorno de dom Sebastião. Ao encontrar uma justificativa para

sua crença em um discurso de caráter profético escrito por Gonçalo Annes Bandarra –

grande conhecedor da Bíblia e muito respeitado entre os judeus e cristãos de sua região,

Trancoso –, dom João de Castro o interpretou de maneira utópica e o publicou, criando o

que, mais tarde, seria a “bíblia do Sebastianismo”.

Hermann (1998) afirma que, em seus escritos, Bandarra enalteceu o cristianismo e

desqualificou o islamismo. Além disso, o estudioso garantia que se aproximava o tempo

em que um “Rei Encoberto”, figura lendária bastante difundida na Península desde a

Idade Média, voltaria para restaurar o reino cristão. O autor ainda profetizou

acontecimentos futuros, relacionando-os com os fatos recentemente ocorridos em seu

presente. Assim, atribuiu à sua composição maior concretude e proximidade no tempo-

espaço do profeta.

A obra de Bandarra não especificava quem seria esse “Rei Encoberto”, nem quando ou

onde ele retornaria. Godoy (2007) explica que a associação com dom Sebastião é

resultado da interpretação de dom João de Castro, que conferiu, dessa forma, potência

messiânica a’O Desejado, agora também Encoberto. Segundo a nova leitura, este

voltaria e implantaria em todo o mundo o Quinto Império Universal Cristão. Ao difundir

sua interpretação das Trovas do Bandarra, Castro contribuiu para a potencialização do

Sebastianismo e sua consequente propagação, atualização e perpetuação por gerações e

territórios com a finalidade de suprir as necessidades de grupos que ensaiariam a volta

d’O Encoberto, independentemente da nação em que se originou.

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Um mito viajante: o Sebastianismo no Brasil

Dentre os hábitos e conhecimentos introduzidos pela cultura portuguesa na colonização

do Brasil, os lusitanos trouxeram na bagagem a crença sebástica, que posteriormente

também foi absorvida pelo povo brasileiro.

Hermann (1998) narra que a Santa Inquisição da Igreja Católica julgou como hereges

alguns portugueses adeptos do Sebastianismo, que, como punição, foram degredados

para o território brasileiro. Nele, tais hereges puderam disseminar mais facilmente sua

crença devido à vasta dimensão territorial e à fraca vigilância da Igreja e do Estado

nesse assunto.

É curioso observar que, em um primeiro momento, o Sebastianismo chega ao Brasil

como heresia, contra os preceitos da Igreja Católica. Paradoxalmente, tempos depois,

um membro oficial dessa mesma Igreja viria a se tornar o principal disseminador do

Sebastianismo no país.

A primeira citação documentada de dom Sebastião no Brasil foi em 1634, pelo padre

Antonio Vieira, 56 anos após o desaparecimento d’O Desejado: “Vieira tinha 26 anos, em

1634, quando pronunciou este sermão, numa igreja em Acupe, na Bahia, no dia do

Santo homenageado” (GODOY, 2007, p. 24).

O padre construiu uma oração de fé em dom Sebastião, afirmando sua crença no retorno

d’O Encoberto, propagando, ao longo do sermão, a identidade mítica de dom Sebastião,

adotada pelos portugueses na esperança do retorno do rei, e agora santo.

Godoy (2007) aponta que em meados do século 18, após a disseminação da crença

sebástica pelo jesuíta, um fato aconteceria no Brasil, enraizando ainda mais a fé em dom

Sebastião pelos seguidores do padre: surgiram profecias sebastianistas mestiças, as

quais se distanciaram cada vez mais do viés nacionalista português e se fundiram às

características próprias da cultura brasileira, fincando raízes no sertão nordestino.

No sertão, a crença sebastianista sofreu adaptações relacionadas aos interesses

intrínsecos daqueles que viviam na região e tornou-se consolo de todos aqueles que

desejam a felicidade afastada da desigualdade e do infortúnio:

Ligadas à riqueza e à ascensão social, estão presentes ainda, nos

desejos das comunidades sertanejas, questões raciais e de

imortalidade. Além de ser preconizado que o pobre será rico com o

retorno de Dom Sebastião e seu exército, também há a promessa

de que o ‘preto se tonará branco e velhos ficarão jovens’.

(GODOY, 2007, p. 91)

Hermann (1998) explica que, devido à vasta extensão de terra e ao analfabetismo que

atingia grande parte da população, tais promessas de um “Rei Encoberto” propagavam-

se principalmente pela prática oral dos beatos. Isso contribuiu para o caráter mutável do

mito sebastianista, que ganhou aspectos regionais, fortalecendo ainda mais o

Sebastianismo como cultura nordestina. Uma crença direcionada para o sertão e

compartilhada pelos sertanejos.

Dessas derivações do Sebastianismo sertanejo, periodicamente surgiram anunciadores

da chegada d’O Encoberto, conseguindo reunir multidões pelo fanatismo religioso e

convencendo-os a jejuar, rezar e até mesmo flagelar-se com a finalidade de desobstruir

a volta do rei desaparecido, que traria consigo melhores condições de vida. As melhorias

prometidas variavam a depender do anunciador.

Por vezes, esse messianismo fanático tomou proporções trágicas, O fanatismo religioso

sertanejo somado à crença sebastianista resultou em um misticismo militante, violento e

com predisposição para o sacrifício em massa. Tal fato, que, apesar de haver começado

de uma maneira que Godoy (2007, p. 124) classifica como “início aparentemente

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ingênuo [...], desencadeou o mais desvairado acontecimento envolvendo a figura de

dom Sebastião no sertão nordestino”: o episódio da Pedra Bonita.

A Pedra do Reino

O principal registro sobre o episódio da Pedra do Reino data de 1875, 37 anos depois do

ocorrido, e é de autoria de Antônio Áttico de Souza Leite, na época membro do Instituto

Archeológico e Geográfico da Província de Pernambuco e natural da região onde ocorreu

a tragédia. Tal relato1 serve de referência para a maioria das obras e análises sobre o

assunto, inclusive para a presente.

Leite (1898) relata que o caso de Pedra Bonita teve início em 1836, quando um

mameluco, João Antônio, morador da comarca de Flores, no sertão pernambucano,

começou a abordar os habitantes da região munido de duas pedrinhas, as quais ele dizia

serem preciosas. João Antônio afirmava que as havia conseguido graças a dom

Sebastião, que o conduzia todos os dias a seu reino escondido, por encantamento,

próximo à casa dele. Ali, havia um lago que ocultava uma mina encantada, onde o

mameluco conseguira as tais pedrinhas. Perto do lago, via-se um complexo rochoso em

que se destacavam duas grandes pedras, cada uma com mais de 30 metros de altura, as

quais encobriam as torres da catedral do reino de dom Sebastião. O rei ainda teria

indicado a João Antônio que o desencanto e a revelação de seu reino estariam próximos

e, junto deles, seu retorno.

Para convencer a população local da veracidade do que dizia, João Antônio levava

consigo, além das duas pedrinhas, um folheto antigo que continha os fundamentos da

crença sebastianista. Nele, narrava-se o desaparecimento do rei dom Sebastião na

batalha de Alcácer-Quibir, além de sua esperada e certa ressurreição.

Fora isso, o visionário possuía a pretensão de se casar com Maria, uma jovem da região,

cuja mão sempre lhe fora negada. Para consegui-la, João utilizou um trecho do folheto

sebastianista em que se podia ler: “Quando João se casasse com Maria / Aquelle reino se

desencantaria...” (LEITE, 1898, p. 221).

Conseguindo elle, graças à ignorância da população, e à bem

conhecida tendência que o espírito humano teve em todas as

épocas para abraçar o maravilhoso e phantastico, não só poder

realizar o seu casamento com uma interessante rapariga de nome

Maria, que sempre lhe fôra negada, como mesmo obter por

empréstimo de muitos fazendeiros do lugar, cuja lista seria longo

referir, bois, cavallos, e dinheiro em porção não pequena, com a

honrosa condição de restituir-lhes em muitos dobros, logo que se

operasse o pretenso desencantamento do mysterioso reino.

(LEITE, 1898, p. 221)

Esse fato demonstra a perspicácia do falso profeta, que, como afirma Godoy (2007),

conhecendo o nível de esclarecimento de cada um de seus ouvintes, apropriou-se de

uma narrativa de convencimento daqueles que desejavam sair da miséria ou almejavam

ter ainda mais riquezas e soube utilizar da fé alheia para benefício próprio.

Com a ajuda de seus familiares, o discurso do visionário espalhou-se pela comarca de

Flores. Moradores de sítios vizinhos e trabalhadores sazonais começaram a aderir à

crença e a abandonar os latifúndios onde trabalhavam para unirem-se ao apostolado de

João Antônio e visitar o complexo rochoso “encantado” que dá nome à região, Pedra

Bonita. Com a popularidade, João Antônio passou de profeta a rei de Pedra Bonita, cargo

1 Memória sobre Pedra Bonita ou Reino Encantado na Comarca de Villa Bella, Província de Pernambuco, por

Antônio Áttico de Souza Leite, é um relato raro por não ter sido reeditado ou publicado desde 1898. Por essa razão, conserva o português da época.

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provisório enquanto dom Sebastião não despertava (GODOY, 2007). É nesse momento

que nota-se que, apesar de João Antônio ser perspicaz e capcioso, as pessoas já

estavam inclinadas a acreditar em palavras que lhes soassem bem e lhes trouxessem

esperança e em uma solução plausível para enriquecerem e progredirem de maneira

fácil e eficaz.

Souza Neto (2004) afirma que toda essa agitação chamou a atenção das autoridades

locais, tanto por provocar o esvaziamento da mão de obra na região quanto por

disseminar uma seita pagã, não católica. Para tentar findar a situação, acionaram o

padre Francisco José Correia, figura bastante respeitada, responsável por apaziguar os

ânimos da população em época de disputas políticas na região.

Após retratar-se ao padre e assumir publicamente sua farsa, João Antônio retirou-se

definitivamente da região. O que deveria ser o fim desse movimento sebastianista

possibilitou o início de um sebastianismo fanático e sangrento. Ao sair da cidade, João

Antônio deixou um sucessor em seu trono: João Ferreira tornou-se o segundo rei de

Pedra Bonita.

De acordo com Godoy (2007), o novo monarca foi o responsável por intensificar a crença

na região. Carismático, ele ganhou muita popularidade e conseguiu aumentar o número

de seus seguidores, os quais o chamavam de “sua santidade el-rei” e beijavam-lhe os

pés. Uma das medidas do novo rei foi estabelecer no complexo rochoso de Pedra Bonita

sua corte e os cenários de rituais de desencantamento. João Ferreira, num processo de

sacralização do espaço geográfico, definiu cada ambiente de seu reino por entre as

pedras. Esse processo de ressignificação do espaço natural cria uma atmosfera mística

no local, reforçando o mito, como atesta a análise de Godoy (2007, p. 133):

O modo de interagir no espaço, a maneira de ver, sentir e entrar

em ressonância com o espaço, efetivando-o em um regime de

signos que transformaram o local em uma espacialidade

específica, traz com essa ação, percepções e afetos diversos. [...]

A relação de homem e espaço, a depender de como se dá essa

interatividade, pode modificar também o tratamento dos mitos,

costumes e modos sociais e culturais etc.

Outra mudança ocorrida no novo reinado foram as condições para o desencantamento

de dom Sebastião. Enquanto seu antecessor se utilizava de um discurso sebastianista

aparentemente ingênuo, em que um casamento já possibilitaria o desencanto, João

Ferreira insufla a população com uma mensagem potencialmente perigosa:

Sempre que o rei João Ferreira pregava dizia: [...] que aquelle

reino era de muitas glórias e riquezas, mas, como tudo que era

encantando só se desencantava com sangue, era necessário

banhar-se as pedras e regar-se todo o campo vizinho com sangue

dos velhos, dos moços, das crianças e de irracionais; que isso,

além de necessário para Dom Sebastião poder vir logo trazer as

riquezas, era vantajoso para as pessoas que se prestavam a

soccorre-lo assim; porque, si eram pretas, voltavam alvas como a

lua, immortaes, ricas e poderosas; e si eram velhas vinham moças

e da mesma forma ricas, poderosas e immortaes com todos os

seus. (LEITE, 1898, p. 229)

Assim, ele congregou uma população que passou a viver no reino de Pedra Bonita em

uma dinâmica diária composta de rezas e cantorias e modo de viver sem preocupação

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com vestimentas ou higiene. Era uma rotina de celebrações e devoção à figura de dom

Sebastião, como afirma o depoimento de uma testemunha do episódio:

Em verdade encontrei muita gente ao pé da Pedra Bonita, e vi,

não os thesouros, mas o tal rei com uma grande corôa na cabeça,

trepado numa ponta da pedra, pregando, cantando e saltando

muito alegre. Quando findou a sua prática, o povo deu muitos

vivas a Dom Sebastião, batendo palmas [...] e seguimos todos

tocando, cantando e batendo palmas, para a Casa Santa [...]. Alí,

todos beberam um líquido dado pelo rei o qual chamavam vinho

encantado e fomos fumar em cachimbos para vermos as riquezas.

(LEITE, 1898, p. 228)

Tal vinho sagrado, como afirma Godoy (2007), era uma bebida alucinógena feita de

manacá e jurema, plantas locais com propriedades opiáceas. João Ferreira ministrava o

preparo aos seguidores em seus rituais para que, em estado de transe, pudessem entrar

em contato com o reino d’O Desejado. Tal ação potencializou o fanatismo dos fiéis, o que

levou ao início dos sacrifícios, momento descrito por uma testemunha:

Iam assim passando-se os tempos até que no dia 14 deste (Oh!

que dia infeliz e horroroso...) o rei, depois que deu muito vinho a

todos, declarou: “Que Dom Sebastião estava muito desgostoso e

triste com seu povo...”

“E por que?” Perguntaram os homens aflictos e as mulheres todas

muito chorosas...”

“Porque são incrédulos!... porque são fracos!... porque são

falsos... e finalmente porque o perseguem, não regando o campo

encantado e não lavando as duas torres da cathedral do seu reino

com o sangue necessário para quebrar de uma vez este cruel

encantamento [...]”

Ah! meu amo e senhores o que seguiu depois disso é horrível!

(LEITE, 1898, p. 230)

Esse pronunciamento de João Ferreira, o Execrável, culminou, no dia 14 de maio de

1838, em uma série de sacrifícios que durou três dias e dizimou quase toda a população

local: 30 crianças, 12 homens, 11 mulheres e 14 cães morreram em meio a um delírio

coletivo em prol do retorno de dom Sebastião. Apesar de a maioria dos sacrifícios serem

voluntários, as pessoas eram coisificadas a ponto de constituírem uma grande massa

fornecedora de sangue, tinta para a Pedra. As pessoas entregavam à morte suas vidas e

as de seus filhos para que ocorresse o desencanto, feitas cegas pela esperança.

De acordo com a análise de Godoy (2007, p. 136), “as ações ritualísticas no espaço nos

mostram que esta é a vontade maior dos membros das comunidades: a fome da

imortalidade”. Isso revela que as pessoas, ao se voluntariarem ao sacrifício, não o

encaravam somente como o fim de uma vida difícil no sertão, mas que era uma forma

de alcançar mais rápido a vida justa que elas tanto almejavam e que dom Sebastião

tornaria possível – era a valorização da vida pela morte.

Quem se recusava ao sacrifício era tido como infiel. Godoy (2007) explica que a

comunidade fanática dali entendia tal recusa como uma quebra na continuidade do ritual

do desencanto, o que poderia impedir a vinda do rei dom Sebastião e suas vantagens.

Logo, fazia-se necessário buscar e capturar aqueles que se negavam à morte por falta

de fé.

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Com os passar dos dias, os corpos amontoavam-se à medida que as pedras se cobriam

de sangue, em uma matança comandada pelo rei João Ferreira, que demonstrava cada

vez mais sede de sangue, não dando sinais que indicassem o fim dos sacrifícios. Aqui,

nota-se uma crescente insensibilidade em relação à presença de cadáveres por parte dos

sedentos de sangue. A renúncia do próprio corpo realizada por aqueles que se

sacrificaram revela uma confusão e fusão do limite entre os mundos físico e espiritual –

tudo visando à conclusão do desencantamento.

De acordo com Leite (1898), apenas no dia 17 de maio chegaria ao fim o reinado

comandado por João Ferreira, já que Pedro Antônio, irmão do primeiro rei, João Antônio,

indignado ao assistir o sacrifício de suas duas irmãs, apresentou motivos convincentes

para abominar e terminar o massacre.

Pedro Antônio anunciou que dom Sebastião lhe aparecera em uma visão dizendo-lhe que

só faltava o sangue do segundo rei para o desencantamento ser concluído, e os sedentos

de sangue, em busca de prosperidade, adotaram a alegação como verdadeira e o

executaram, em seguida, conforme Souza Neto (2004, p. 137), bradaram em uníssono:

“Viva el-Rei dom Sebastião! Viva nosso irmão Pedro Antônio!”.

A morte do segundo rei resultou na coroação de Pedro Antônio como terceiro monarca

de Pedra Bonita e na consequente isenção da sequência de sacrifícios.

Enquanto ocorria a transição entre o segundo e o terceiro reinado, em outro ambiente

era arquitetado o fim do episódio de Pedra Bonita. Isso devido a uma denúncia que

chegou ao conhecimento do major Manuel Pereira da Silva, quando este recebeu em sua

fazenda a visita de José Gomes, seu vaqueiro desaparecido. Souza Neto (2004) afirma

que, José Gomes, após conseguir fugir da cena dos arredores das Pedras, declarou que

os sebastianistas reunidos ali eram orientados por João Ferreira a começar os sacrifícios

a partir do dia 14 de maio.

Foi no momento do primeiro sacrifício que José Gomes conseguiu fugir em meio à

agitação. O fato de ele necessitar fugir, e não simplesmente ir embora, indica o poder e

o domínio do rei sobre seus súditos, pois, a princípio, todos estavam ali porque queriam,

mas não era permitido a ninguém se desvincular da matança, sob a premissa de não

interromper o ritual. Assim, conclui-se que era preciso debandar-se escondido.

No dia seguinte ao da denúncia, partiu rumo à Pedra Bonita um grupo armado de mais

de 26 homens, liderados pelo major e guiados pelo delator, José Gomes. O afastamento

dos citados em relação à Pedra do Reino facilita a interpretação deles para

consequências drásticas, por isso chocam-se com a notícia e a situação e buscam

mudança do destino dessa população envolta no sacrifício coletivo.

Após um dia de caminhada, durante o percurso da caravana e ainda distante de Pedra

Bonita, a jornada prossegue em seu desfecho:

No momento, porém, em que os dous irmãos Cypriano e

Alexandre Pereira e os poucos soldados, que os seguiam de perto,

se aproximavam das capoeiras, e se dirigiam a aquelles

umbuzeiros, acharam-se face á face com Pedro Antônio [...]

acompanhado de um séquito numeroso de mulheres, meninos, e

de homens [...] armados de facões e cacetes. (LEITE, 1898 p.

234)

Tal encontro era inesperado para ambos os grupos, principalmente para a tropa de

Manuel, já que se encontrava ainda distante da região de Pedra Bonita. Souza Neto

(2004) explica que o rei Pedro Antônio e seus seguidores também distavam das Pedras

porque “a fedentina dos cadáveres insepultos tornava inabitável aquele lugar”. Com o

ocasional encontro entre os dois grupos, o combate foi inevitável.

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O confronto resultou na morte de Pedro Antônio e 16 de seus seguidores, além de cinco

homens de Manuel Pereira, incluindo seus dois irmãos. Foi o fim do movimento

sebastianista de Pedra Bonita. A batalha derrubou as últimas gotas de sangue dos que

acreditavam com fé no derramamento de sangue para uma evolução cotidiana, bem

como derrubou aqueles que foram impedir que tal matança se prolongasse.

Ao analisar o episódio sob a óptica dos fanáticos, observa-se que, para salvarem a

própria vida da miséria, eles estavam dispostos a sacrificá-la, junto à de seus filhos e

netos, aguardando a imortalidade próspera, intento frustrado por causa do inesperado

desfecho, o que gerou uma angústia prorrogada. Apesar de a temática ser obscura e até

mesmo parecer irreal, a crença e a fé sebástica guiaram a mente e os desejos desses

indivíduos (tal guia presente desde a origem portuguesa), que, apoiados em uma

esperança eterna, alcançaram a abnegação de corpos justificada pelo desejo de uma

realidade venturosa. O esperado e inconcluso fim justificaria os meios.

3. Projeto de produto

Painel semântico da pesquisa

Figura 1: Painel semântico

O painel semântico foi construído com base na pesquisa teórica. É composto de forma a

delinear o trajeto – a viagem no tempo-espaço – do mito sebastianista, ilustrando desde

a origem em Portugal e a vinda para o Brasil até, finalmente, chegar ao município de

Flores do Pajeú, em Pernambuco, onde se deu o episódio de Pedra Bonita.

Este painel auxiliou no entendimento da mutação que o mito sofreu durante sua

trajetória devido às mudanças geográficas e sociais que o Sebastianismo atravessou.

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Após montar a narrativa com imagens e desenhos, foram escritas no painel as

impressões referentes a cada parte dessa trajetória, sempre tentando entender as

causas que permitiram a propagação, a mutação e a permanência do mito. Assim,

analisaram-se tais causas e foram cruzadas as informações em busca de um fator

comum que permeasse todo o percurso e que possibilitou a existência do Sebastianismo.

Ao encontrar esse fator, também foi definido o conceito de criação: Desejos Encobertos.

Conceito de criação: Desejos Encobertos

O mito se estabelece a partir destas interpretações oriundas do

desejo que acaba, por assim dizer, subvertendo o real. (LELLI,

2010, p. 195)

Em toda a trajetória do mito sebastianista analisada na pesquisa teórica, observam-se os

desejos encobertos como o elemento que proporciona a criação, a potencialização, a

mutação e a permanência do Sebastianismo.

Depois de entender a força desse mito, percebe-se como os desejos individuais,

encobertos por discursos aparentemente coerentes, aproveitam-se dos desejos coletivos

para alcançar outros objetivos. É esse desejo coletivo que transforma a realidade das

pessoas e as direciona para um processo criativo de reestruturação da sociedade,

almejando um reinado e a ressignificação de um espaço geográfico, no qual um

amontoado de pedras passou a ser um reino encantado.

O desejo de mudar de vida levou dezenas de seres a sacrificarem a si mesmos e a seus

familiares. A morte era vista não como algo negativo ou um fim, e sim como um

prolongamento desta vida para outra. Salvação, redenção – a maneira de alcançar mais

rápido a realidade ambicionada.

Uma análise geral da pesquisa teórica permite constatar que o mito do Sebastianismo,

mesmo atravessando as mudanças de tempo-espaço, manteve seu núcleo inicial, a

matriz de que um rei voltaria para redimir seu povo. A ele, acrescentaram-se nuances

derivadas da interpretação de pessoas que possuíam desejos de melhoria encobertos por

uma realidade insatisfatória e que, assim, adotaram o fantástico como nova realidade.

Entende-se que o termo “desejo” simboliza as expectativas e os sonhos, enquanto a

palavra “encoberto” mostra uma realidade que, ao mesmo tempo em que omite/oprime

o “desejo”, também o cria e o alimenta, ou seja, é inerente ao desejo a consequência de

ser encoberto. São os desejos encobertos que impulsionam esse povo a sonhar, pensar,

criar, existir e justificar sua existência, a ponto de redefinir o limite entre a vida e a

morte. Passou o tempo, mudou-se o espaço e se ressignificou um mito que nasceu e se

alimentou de desejos encobertos.

Público-alvo

No início da pesquisa foram delimitadas algumas características demográficas e

geográficas para ter um ponto de partida antes da saída de campo.

O público foi identificado no segmento feminino, cuja faixa etária transita entre os 30 e

50 anos, residente em metrópoles e com fácil acesso a eventos culturais, como a cidade

de São Paulo. Seu interesse é por temas e ambientes que proporcionam uma experiência

artística. Delineado o perfil, era necessário ir a campo para aprofundar as informações

acerca das usuárias: suas características, seus valores, seus hábitos sociais e,

consequentemente, seus hábitos de consumo.

Após a observação sem interação, foram pontuados alguns fatores que se repetem nesse

público. Quando não frequentam sozinhas esses lugares de lazer, as usuárias estão

acompanhadas de apenas outra pessoa, compartilhando a experiência de maneira mais

intimista, ou estão em museus e livrarias para agregar conhecimento, e não apenas para

a socialização. Também possuem aspectos de moda similares: optam por peças de roupa

que não deixam o corpo muito à mostra, e prezam pela funcionalidade antes da

aparência.

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Após a análise da observação, o método de questionário foi aplicado, e 35 mulheres

foram entrevistadas. Além de questões para conhecer os interesses do grupo, buscou-se

entender quais são as ambições dessa mulher e seus medos a fim de compreender o

universo em que ela se encontra. Somam-se, ainda, informações sobre o cotidiano –

como meio de transporte e hobbies – e fatores de consumo – marcas e critérios em

relação ao vestuário.

Durante as entrevistas, foram abordados temas que não estavam presentes no

questionário, como quais eram suas referências artísticas (e o porquê) e até mesmo

quais as necessidades de produtos e serviços que ainda não foram supridas. Desse

modo, ultrapassou-se a expectativa de informações coletadas, o que ampliou a bagagem

de conhecimento sobre o público.

Para registrar cada entrevista, foi utilizado um gravador de áudio com o intuito de criar

maior dinamismo durante o questionário com a usuária, o qual seria menor se fosse

anotada cada resposta.

Outro tipo de entrevista foi utilizado que possibilitou maior compreensão sobre os

desejos e valores da usuária. Seguindo esse tipo, ao encontrar uma mulher que se

encaixava no perfil do público-alvo, marcava-se um encontro em dia e local de

preferência dela. Nesse encontro, era desenvolvida uma conversa informal, sem utilizar o

método de questionário – seguia-se um roteiro mental com temas a serem conversados,

como sustentabilidade, moda, arte, lazer e trabalho, entre outros. Assim, foi possível

obter informações mais completas e espontâneas sobre o que essas mulheres pensam e

sentem e por quais assuntos elas de fato se interessam.

Depois de realizar doze encontros as informações obtidas passaram a se repetir, sinal de

que os autores poderiam parar de aplicar esse método e iniciar a fase de cruzar e

analisar as características percebidas para, enfim, traçar o perfil de usuária.

Ao analisar o material coletado, notou-se a forte relação e o interesse do público-alvo em

cultura. Muitas delas trabalham diretamente com arte e design e áreas afins. Estão

sempre buscando aumentar sua bagagem cultural e para alcançar isso utilizam também

seu momento de lazer.

Esse grupo declara-se não tão politizado quanto gostaria de ser, apesar de ter alguma

noção do assunto. Em contrapartida, esse público-alvo tem alta participação em projetos

sustentáveis, e não apenas conhecimento sobre o assunto sem engajamento: participam

de um ou mais projetos que visam à qualidade ambiental e social. Por esse motivo,

essas mulheres não possuem o hábito de consumo desenfreado – prezam por detalhes,

bom acabamento e qualidade de poucas e boas roupas, que, de preferência, não estejam

ligadas a nenhuma brand. Preferem investir em trabalhos autorais nos quais percebam

inovação nas peças a gastar o mesmo valor em marcas estrangeiras. Pagam pelo design

e pela particularidade, e não pelo status.

A maioria das mulheres entrevistadas mostrou-se interessada em ampliar seu

conhecimento. E é dessa maneira que elas se posicionam em relação ao presente

projeto: demonstram muito interesse e sentem-se instigadas para conseguir mais

informações sobre o mesmo. Dessa forma, nota-se que essas usuárias estão

inerentemente relacionadas à arte e que seus maiores investimentos são em cultura.

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Estudo de formas

Partindo do conceito Desejos Encobertos, buscou-se interpretá-lo e representá-lo

graficamente. De acordo com a análise realizada, o desejo encoberto inicia-se em um

fato, uma base – dela, a vontade vai se criando e expandindo até tomar forma própria e

se constituir como desejo.

Essa definição conduziu à figura do trapézio, de cuja base menor saem duas arestas

num movimento diagonal de expansão até concluírem em uma base maior. Entende-se

que devido a tal definição um triangulo invertido também seria uma forma de

representar, porém para este projeto, como forma de facilitar o entendimento optou-se

por usar o termo trapézio, representando o desejo.

Figura 2: Estudo de formas – representação do conceito de Desejos Encobertos

Ao aprofundar a análise na intenção de ampliar o estudo de formas, foram interpretados

os desejos encobertos coletivos, os quais estão constantemente presentes na pesquisa

referencial. Assim, entende-se que o desejo coletivo é formado por desejos semelhantes,

comuns a uma comunidade. Logo, na representação gráfica (Figura 3), um trapézio é

composto por outros trapézios menores de formas iguais, ilustrando, desse modo, os

desejos comuns a um grupo de pessoas que se encobrem e se resumem em um único

desejo coletivo.

Figura 3: Estudo de formas – representação dos desejos encobertos coletivos

Ao interpretar os desejos encobertos individuais, concluiu-se que eles possuem variações

de pessoa para pessoa. Logo, na representação gráfica (Figura 4), cada trapézio que

simboliza o desejo individual encoberto tem variações de formas e dimensões. Ao

contrário dos desejos coletivos, nos desejos individuais, a representação gráfica é

composta por diversos tipos de trapézio, utilizada no design de superfície que será

explicado mais a frente.

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Figura 4: Estudo de formas – representação dos desejos encobertos individuais

Estudo de silhuetas

Ao se aplicar o estudo de formas ao estudo de silhuetas, a silhueta da coleção foi

definida com base na manipulação do trapézio, figura que simboliza o conceito Desejos

Encobertos. Utilizou-se o desenho-base de um corpo humano e se realizou um exercício

de dispor, sobre ele, trapézios de diferentes formatos e em posições variadas com o

intuito de ilustrar uma silhueta formada por desejos-trapézios.

Figura 5: Estudo de silhuetas

Como esses desejos precisariam estar encobertos, as silhuetas alcançadas devem ser

escondidas, envolvidas, encobertas. Considerando que é inerente ao desejo a condição

de ser encoberto, percebeu-se que a camada que encobrirá a silhueta também deve

somar-se a ela formando uma só, solução alcançada por meio de moulage .

Para a composição das silhuetas através da disposição dos trapézios, houve um estudo

envolvendo proporção, linhas e equilíbrio nos looks da coleção. Em sua maioria a cintura

é delineada e a linha do quadril também é marcada alongando a parte do ventre da

mulher, e devido à cintura ser alta, cria-se a ilusão de que as pernas são mais longas. A

coleção possui peças volumosas que se distanciam do corpo, como forma de equilibrar o

volume e não engordar a mulher, esses volumes amplos foram compensados por outros

menores, mais próximos ao corpo, como, por exemplo, em peças que vistas de costas

são amplas e não se vê a forma do corpo da mulher, contudo, quando vistas de frente

são justas ao corpo, como se um volume maior encobrisse um menor. Em outros casos a

compensação ocorreu em peças superiores mais amplas com peças inferiores mais

justas, delineando o quadril e marcando a silhueta até a altura do joelho quando, a partir

daí, a peça ganha volume outra vez, ou seja, numa mesma silhueta alternaram-se

grandes volumes com outros menores para, dessa forma, valorizar as formas do corpo

da mulher.

O estudo de disposição de um trapézio sobre o corpo levou a definições de decote.

Dispondo um trapézio sobre o tórax com sua base menor logo abaixo do pescoço indicou

o uso do decote canoa na coleção.

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Design Têxtil

Para desenvolver o design de têxtil, com base no conceito Desejos Encobertos, foi

empregada uma parte do estudo de formas: experimentaram-se variações e

deformações das formas de mais de um trapézio, representando os desejos encobertos

individuais que variam de acordo com cada ser humano.

Dessa maneira, chegou-se a uma padronagem aplicada ao design têxtil, composto por

recortes de tecidos com formas derivadas do estudo descrito, que, quando costurados,

geram um todo, como desejos encobertos que se somam e criam uma nova realidade.

Lançou-se mão de uma solução sustentável para compor o design de têxtil ao escolher,

como matéria-prima, as sobras de tecidos resultantes da confecção das peças da

coleção-teste deste projeto, desenvolvida para avaliação prévia na metade do ano de

2013. Para unificar essas sobras, empregou-se a técnica de patchwork, a qual

possibilitou minimizar o descarte da produção com melhor aproveitamento do tecido. Os

moldes são pequenos e de fácil encaixe e se estipulou que não era necessário respeitar o

fio da trama do tecido para realizar a montagem, afinal, é pelo encontro de lados

diversos da trama que se criou a textura da composição.

Com o objetivo de manter uma postura sustentável, para realizar esta etapa do projeto

solicitou-se o trabalho de corte e costura à Cooperativa de Costureiras de Osasco. Ao

optar por esse tipo de sistema, incentiva-se um modelo de economia solidária, que visa

à sustentabilidade e o desenvolvimento econômico e social de seus integrantes e

consequentemente da comunidade em que estão inseridos. Como tais costureiras são

profissionais habituadas a trabalhar com peças de montagem simples e em grande

quantidade, como sacolas e camisetas promocionais, sentiu-se a necessidade de

capacitá-las para esse serviço que é mais minucioso. Assim, elaborou-se uma

metodologia de montagem para facilitar o trabalho e garantir um bom resultado.

Com base na técnica de patchwork chamada foundation, adaptou-se e desenvolveu-se

um procedimento específico para o presente projeto, que facilita a montagem e deixa a

costura mais exata. Assim, um gabarito foi criado para cada patchwork de forma que os

encaixes dos moldes formassem várias linhas principais no gabarito. Dessa forma,

estabeleceu-se uma ordem de costura que visou, primeiro, formar essas linhas principais

para, depois, serem costuradas umas nas outras. Para a costura ficar exata, costuraram-

se os recortes dos tecidos sobre o gabarito de papel, o qual, ao fim da montagem, foi

rasgado para se soltar do tecido.

Figura 6: Painel de montagem do patchwork na Cooperativa de Costureiras de Osasco

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Estudo de moulage

Na intenção de representar os Desejos Encobertos, compreendeu-se que o mesmo fator

(a realidade) gerador do desejo também o encobre. Dessa forma, no estudo de moulage

o mesmo tecido que parte de uma base para formar uma peça também deve encobri-la,

ocasionando assim voltas no tecido, representando que é inerente ao desejo a condição

de ser encoberto.

O estudo de moulage foi dividido em três fases. Na primeira, utilizaram-se um busto e

tecido – experimentaram-se as possibilidades de voltas que o pano poderia dar em volta

do busto. Isso serviu como um estudo prévio para facilitar a criação de peças cujos

tecidos dessem voltas e encobrissem outras.

Na segunda fase de moulage, depois de desenhar cada croqui, voltava-se para o busto

com o propósito de estudar e verificar se o raciocínio de construção da peça estava

correto e se aquele croqui era possível de ser confeccionado.

Na terceira fase, já com os croquis definidos, foi elaborado o raciocínio de construção

das peças. Para isso, desenvolveram-se moulages e modelagens em miniaturas para

uma boneca, resolvendo e validando os raciocínios de construção, o que possibilitou a

confecção dos itens em escala real.

Figuras 7: Estudo de moulage – fase 3

Materiais

Pensando mais uma vez em sustentabilidade, para a escolha de materiais, optou-se por

utilizar rolos de tecidos remanescentes e retalhos de coleções passadas fora de

fabricação, que estavam parados nos estoques das empresas. Entretanto, ao trabalhar

com produtos de ponta de estoque, por vezes os tecidos disponíveis não possuíam a

composição, o caimento ou a gramatura esperada.

Como forma de solucionar esse problema, buscou-se o conceito de criação para chegar a

uma solução. O raciocínio de Desejos Encobertos, aliado à pesquisa de técnicas para

alterar a gramatura do tecido, levou à técnica de dublagem, em que um tecido é colado

em outro de modo que um encobre o outro resultando num só material – assim como é

inerente ao desejo, para existir, a condição de ser encoberto. Dessa maneira,

alcançaram-se diferentes composições, caimentos e gramaturas.

Como citado anteriormente, ao empregar itens de ponta de estoque e restos de rolos de

tecidos, os produtos disponíveis para a compra possuíam diversos tipos de composição,

portanto na coleção há diversos tipos de tecidos, o que, ao se pensar no conceito de

criação, é uma representação dos desejos individuais que variam de pessoa para pessoa,

assim como a composição dos tecidos varia de tecido para tecido.

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Cartela de cores

A matiz segue a lógica de expressão do conceito. Assim, com base em estudos prévios

de teoria das cores, entendeu-se que os tons primários não se adequariam à proposta,

já que, essencialmente, não há, de fato, nenhuma cor encoberta ou cores que se

encobriram.

Portanto, o caminho seguido para o estudo da cartela foi o das secundárias e terciárias,

que se alinham à lógica desenvolvida: entende-se que cores primárias são encobertas

por outras, também primárias, para resultar as secundárias e, por sua vez, primárias

encobertas por secundárias geram terciárias.

Os estudos foram efetuados com base em pressupostos da estrela cromática de

Johannes Itten (Figura 8), criada em 1921 e “símbolo de sua didática da cor em

Bauhaus” (BARROS, 2009, p. 103). Dessa maneira, tendo em vista as cores primárias –

magenta, azul e amarelo –, os intervalos entre elas se dão pelas secundárias e

terciárias, das quais elegeram-se as cores para a cartela. A escolha exata dos tons

utilizados na coleção – que mostram a passagem entre vinhos, roxos, azuis, verdes e

marrons - está atrelada à questão sustentável supracitada, ao utilizar tecidos de ponta

de estoque, dentre as opções disponíveis, elegeram-se materiais com cores “encobertas”

presentes na estrela de Itten.

Figura 8: Estrela cromática de Johannes Itten

Outro aspecto relevante a se observar na estrela de Itten é o seu centro: o branco

configura o acúmulo da dessaturação de todas as cores. Aliado às cores secundárias e

terciárias frias, finaliza a cartela de cores aplicada (Figura 9).

Figura 9: Cartela de cores

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Coleção

A coleção procede de um desejo particular dos criadores, de compartilhar o

conhecimento sobre o Sebastianismo e do episódio da Pedra do Reino. A maneira em

como traduzir a história para uma coleção de moda foi encontrada a partir da análise da

pesquisa e na busca por um conceito de criação que representasse o elemento que

proporcionou e esteve presente em toda a trajetória desse mito: os Desejos Encobertos.

A partir daí, o conceito norteou todas as escolhas durante o processo de criação. A

coleção nasceu do estudo de silhuetas descrito anteriormente, de maneira que as peças

respeitassem ao máximo as possibilidades derivadas da forma do trapézio, do desejo.

Assim, o desenvolvimento das modelagens ocorreu com base na variação, na

sobreposição, na interferência e no encobrimento de trapézios. As formas alçadas foram

adaptadas ao corpo feminino, com a intenção de que o produto final se adequasse ao

público-alvo.

A reflexão de que é inerente ao desejo a condição de ser encoberto, levou a escolha do

uso de sobreposições que se relacionam e se complementam, de forma que, algumas

vezes, uma peça encobre outra e, outras vezes, uma de suas partes encobre outra,

gerando voltas no tecido e reforçando a sensação de encobrimento. Essa observação

também influenciou no uso de tecidos dublados, em que um é encoberto por outro

através do processo de colagem, resultando num só material.

Ademais, a coleção traz o patchwork como experimentação de design têxtil.

Representando a soma de desejos individuais, essa técnica aparece em parte da coleção

e é parcialmente encoberta por outra peça sobreposta para também reforçar o conceito.

A cor foi distribuída na coleção com a intenção de representar a passagem de tons

secundários e terciários, entendidos como encobertos do ciclo cromático, indo do vinho e

roxo ao azul, e do azul ao verde: uma maneira subjetiva de simbolizar cores como

desejos diferentes e individuais que se encobrem, formando outras. Os tons terrosos

foram utilizados em partes internas das roupas. Já o branco está presente em toda a

coleção denotando os desejos coletivos, comuns a todos.

O resultado é uma coleção de dezesseis looks, decorrentes de um exercício de aplicar o

conceito de criação de modo que a aparência final das peças remetesse, sutil e

subjetivamente, ao misticismo e à luta, tão recorrentes na pesquisa teórica referencial.

Tal exercício, pautado somente nas sensações obtidas durante a análise das

manifestações sebastianistas, e com a intenção de comunicar esse estudo por meio da

moda.

Figura 10: Coleção Completa Ilustrada

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Figura 11: Coleção Ilustrada

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Figura 12: Coleção Ilustrada

4. Considerações Finais

Desde o início desse projeto, os autores, como designers brasileiros, constataram a

importância da valorização das raízes nacionais, que seria tratada por meio do resgate

de um assunto pouco conhecido da cultura popular. A partir daí, as pesquisas foram

iniciadas e o ponto de partida do estudo escolhido foi o Sebatianismo e sua manifestação

no episódio sertanejo da Pedra do Reino.

O primeiro grande desafio foi coletar material bibliográfico sobre o fato histórico

pernambucano pouco estudado e difundido. Contudo, foi solucionado pelo acesso a um

documento raro de autoria de Antônio Áttico de Souza Leite, editado pela última vez no

século XIX. Dessa forma, o projeto ganhou viés de resgate histórico e cultural que,

posteriormente, seria compartilhado por meio da moda.

Até esse momento, o processo foi solucionado, mas outro desafio foi estabelecido: como

definir um conceito de criação que regeria toda a criação? Após estudos e brain

stormings sobre o material teórico, percebeu-se que o conceito, na verdade, já se

encontrava presente em toda a pesquisa: extraiu-se Desejos Encobertos, que eram as

expectativas de salvação veladas dos povos portugueses e sertanejos nordestinos.

A metodologia de construção do projeto, a partir de suas etapas, desde pesquisa de

público-alvo até a coleção, permitiu que os autores comunicassem um conceito e o

aplicassem de maneira contundente. No processo de construção da coleção atingiram-se

propostas ecologicamente e socialmente sustentáveis, através do uso de sobras de rolos

de tecidos e da utilização do serviço de cooperativas de costureiras e sua capacitação

para confecção do patchwork.

Sendo assim, a proposta do projeto alcançou resultados que vão além da simples criação

de vestíveis. É uma maneira de, através do design de moda, não se deixar esquecer a

história de um povo, que também pertence a todos os brasileiros.

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Referências

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GODOY, Marcio Honorio de. Dom Sebastião no Brasil. Das Oralidades Tradicionais à

Midia. Tese de Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e

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LELLI, Eleandra Aparecida. Influências do sebastianismo na cultura portuguesa.

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SOUZA NETO, Belarmino de. Flores do Pajeú: história e tradições. Biblioteca

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PIRES, Antonio Machado. Dom Sebastião e o Encoberto: Estudo e Antologia. Lisboa:

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