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i UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS E A RELAÇÃO DE TRABALHO ANA CAROLINA BARROS FRANCO Itajaí/SC, Junho/2007

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i

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS E A RELAÇÃO DE TRABALHO

ANA CAROLINA BARROS FRANCO

Itajaí/SC, Junho/2007

ii

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS E A RELAÇÃO DE TRABALHO

ANA CAROLINA BARROS FRANCO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Dr. Ricardo José Engel

Itajaí/SC, Junho/2007

iii

AGRADECIMENTO

Ao meu orientador Professor Dr. Ricardo José Engel pelo incentivo, presteza e dedicação no

auxílio às atividades e discussões sobre o andamento e normatização desta Monografia de

Conclusão de curso.

Aos demais professores, aos coordenadores e aos funcionários da Universidade do Vale do Itajaí, pelo carinho, dedicação e entusiasmo

demonstrado ao longo do curso.

Às minhas grandes amigas Sini e Érica, pela espontaneidade e alegria na troca de informações e materiais, numa rara demonstração de amizade

e solidariedade.

Ao Fabiano, meu companheiro de tantos anos, pelo apoio e pela paciência em tolerar a ausência

que o estudo impõe.

E, finalmente, à DEUS pela oportunidade à vida e pelo privilégio que me foi dado em compartilhar

tamanha experiência, e, ao freqüentar este curso, perceber a significativa relevância de temas tão

intimamente ligados à dignidade humana.

iv

DEDICATÓRIA

À minha amada e dedicada mãe Liliana, à minha adorável irmã Fernanda, ao meu compreensivo e

admirável pai César, e, à razão da minha vida, meu filho Pedro Henrique, enviados de Deus que

iluminam a minha existência hoje e sempre.

Anjos que me impulsionaram em buscar uma vida nova a cada dia.Agradeço pela sua incansável

tolerância, sempre prontos a se privar de minha companhia pelos estudos, concedendo-me a

oportunidade de realizar-me ainda mais.

v

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí , 2007

Ana Carolina Barros Franco Graduando

vi

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduando Ana Carolina Barros Franco, sob o

título o, foi submetida em __ de __________ de 2007 à banca examinadora

composta pelos seguintes professores: Dr. Ricardo José Engel (presidente),

__________________________ (examinador) e _________________________

(examinador), e aprovada com a nota ____ (___________________).

Itajaí , 2007

Prof. Dr. Ricardo José Engel Orientador e Presidente da Banca

Prof. MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

vii

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil/1988

PAD Processo Administrativo Disciplinar

STF Supremo Tribunal Federal

TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina

REsp. Recurso Especial

Ap. Cív. Apelação Cível

CC Código Civil

CPC Código de Processo Civil

CP Código Penal

CPP Código de Processo Penal

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

viii

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Deficiência

Toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica

ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do

padrão considerado normal para o ser humano.1

Deficiência Auditiva

Deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis

(dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ,

2.000Hz e 3.000Hz.2

Deficiência Física

Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano,

acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma

de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia,

triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de

membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou

adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades

para o desempenho de funções.3

Deficiência Mental

Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação

antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de

habilidades adaptativas.4

Deficiência Permanente

1 Art. 3º., I do DECRETO Nº 3.298, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1999. 2 Art. 4º., II do DECRETO Nº 3.298, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1999. 3 Art. 4º., I do DECRETO Nº 3.298, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1999. 4 Art. 4º., IV do DECRETO Nº 3.298, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1999.

ix

Aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente

para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de

novos tratamentos.5

Deficiência Visual

Cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho,

com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre

0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a

somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que

60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.6

Incapacidade

Uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com

necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para

que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações

necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a

ser exercida.7

Portadores de Necessidades Especiais

Conceito mais abrangente, pois, além dos portadores de deficiência, inclui os

portadores de superdotação, as pessoas em condições sociais, físicas,

emocionais, sensoriais e intelectuais diferenciadas, aqueles com dificuldades de

aprendizagem, os portadores de condutas típicas (ex.: hiperativos) e abrange

também os desfavorecidos e marginalizados.8

5 Art. 3º., II do DECRETO Nº 3.298, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1999. 6 Art. 4º., III do DECRETO Nº 3.298, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1999. 7 Art. 3º., III do DECRETO Nº 3.298, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1999. 8 Declaração de Salamanca sobre Princípios , Política e Prática em Educação Especial, 1994, Espanha.

x

SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................... XIII

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 4

A PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA.................................... 4 1.1 NOÇÕES PRELIMINARES...............................................................................4 1.2 ASPECTOS HISTÓRICOS ...............................................................................8 1.3 CONCEITO .....................................................................................................13 1.4 ESPÉCIES DE DEFICIÊNCIA ........................................................................17 1.4.1 A DEFICIÊNCIA MENTAL ..................................................................................21 1.4.2 A DEFICIÊNCIA FÍSICA.....................................................................................22 1.4.3 A DEFICIÊNCIA SENSORIAL..............................................................................22 1.4.4 AS DEFICIÊNCIAS NÃO APARENTES..................................................................23

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 26

A PROTEÇÃO LEGAL AO TRABALHO DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. 26 2.1 A TUTELA CONSTITUCIONAL .....................................................................26 2.2 AS GARANTIAS FUNDAMENTAIS DO DIREITO AO TRABALHO DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA .........................................................27 2.3 A PROTEÇÃO INFRACONSTITUCIONAL ....................................................29 2.4 AS NORMAS DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO ......30

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 48

O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IGUALDADE E AS MEDIDAS POSITIVAS DE INTEGRAÇÃO AO MERCADO DE TRABALHO.... 48 3.1 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IGUALDADE.....................................48 3.2 O DÚPLICE ENFOQUE DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE: MATERIAL E FORMAL...............................................................................................................57 3.3 MEDIDAS POSITIVAS DESTINADAS À ELIMINAÇÃO DE BARREIRAS AO TRABALHO DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA E SEU ENGAJAMENTO NO MERCADO DE TRABALHO .............................................61 3.3.1 HABILITAÇÃO E REABILITAÇÃO ........................................................................61 3.3.2 EDUCAÇÃO ....................................................................................................62 3.3.3 POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS ....................................................................57 3.4 A EDUCAÇÃO NO MEIO-AMBIENTE DO TRABALHO ................................63

xi

3.5 A EFETIVIDADE DO ACESSO AO TRABALHO DAS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA.......................................................................64

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 74

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 77

xii

RESUMO

Este trabalho aborda o tema inclusão do portador de

necessidades especiais no mercado de trabalho brasileiro, fundamentado em

garantias constitucionais e demais legislações que regulam à matéria, acrescido

de estudos periódicos desenvolvidos acerca do tema por doutrinadores, juristas e

amantes da ciência jurídica. É uma pesquisa desenvolvida através da consulta a

algumas correntes doutrinárias acerca do tema e desenvolvida, basicamente,

através do método de pesquisa bibliográfica. A pessoa portadora de alguma

deficiência convive socialmente com sua família, porém este convívio não se

estende ao trabalho, à escola, ao clube, à igreja e às outras áreas da sociedade

porque é colocada como um ser diferente. Para que haja inclusão social é

necessário reconhecer as diferenças no caminho da integração e, principalmente,

se espera que a proteção assegurada por lei seja observada. O direito do trabalho

é, indubitavelmente, um dos conjuntos normativos norteadores das relações

sociais no mundo contemporâneo, tendo em vista a sua grande relevância e

influência. Ao longo da história há relatos que comprovam a discriminação de um

determinado indivíduo ou até mesmo de seu grupo devido as características

peculiares concernentes a eles, sejam elas a cor, a idade, o sexo, a religião ou

até mesmo a deficiência em algum membro, havendo assim a necessidade de

mecanismos que legislativos que propiciem a proteção ao indivíduo discriminado,

em especial nesta pesquisa, o portador de necessidades especiais. Cumpre

ressaltar que há muitas espécies de deficiência que não foram elencadas pelo

dispositivo infraconstitucional, se fazendo necessário que a pessoa portadora de

necessidades especiais se enquadre nas divisões estabelecidas. A Constituição

Federal de 1988 por sua vez, estendeu a aplicação do princípio da igualdade,

expressamente às pessoas portadoras de deficiência. Em seu artigo 5º XIII

assegura o “livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão”. Em vista

destes argumentos inúmeras instituições têm apresentado diversas ações e

iniciativas de conscientização para criação de estruturas possibilitadoras do

acesso das pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho. É no

mínimo intrigante saber a despeito de todas estas normas que regem o trabalho

xiii

do portador de necessidades especiais, e ver a prática tão dissonante de todo

este aparato jurisdicional. Deveríamos ter uma conscientização mais trabalhada

no âmbito-social para que a sociedade pudesse administrar estes fatores de

maneira a assegurar à todos, sem exceções, os direitos constitucionais.

1

INTRODUÇÃO

Durante muito tempo e ainda hoje, as pessoas portadoras de

necessidades especiais foram mantidas à margem da sociedade, algumas vezes

isoladas em hospitais, clínicas e outras instituições. Eram amplamente

discriminadas, consideradas como pessoas diferentes, taxadas de "anormais".

Em tempos passados era comum o entendimento de que as

pessoas portadoras de necessidades especiais, por serem "anormais", deveriam

se adaptar à sociedade. O portador de necessidades especiais é que, não

obstante a sua limitação, necessitava de ajustes à sociedade em que vivia, a qual

em nada deveria ser modificada. Aqueles deveriam ir além de seus limites para

poder desfrutar um convívio social mais amplo e justo.

Contudo, com a gradual conscientização da sociedade, essa

discriminação vem se amenizando (amenizando, apenas, por ainda ser facilmente

presenciada). Porém, apesar da discriminação não ter sido eliminada por

completo, a sociedade despertou para as necessidades daquelas pessoas que de

alguma forma possuem limitações, sejam elas físicas, biológicas ou mentais,

buscando cada vez mais a inclusão social delas.

Na atualidade, em conseqüência da evolução cultural e

social, predomina o pensamento de que a sociedade e as pessoas portadoras de

necessidades especiais devem buscar juntas a integração social destas. Foi

abandonado aquele pensamento retrógrado e individualista de que apenas os

portadores de deficiência deveriam lutar por sua inclusão.

Conforme o preâmbulo da nossa Constituição Federal, a

igualdade é um dos valores supremos da sociedade brasileira que, apesar de

bastante ignorado em tempos pretéritos, possui significativo respeito na

atualidade.

2

O amplo questionamento desse e de muitos outros temas no

campo Constitucional é saber por que os Institutos Constitucionais são tão pouco

respeitados no dia-a-dia, pois os mesmos são Garantias Constitucionais.

Como objeto de estudo, estão os princípios constitucionais a

serem respeitados, as normas a serem justapostas e ainda a atitude tanto da

sociedade, quanto a do poder público.

Observa-se ainda no presente trabalho, os seus objetivos

principais como sendo o institucional e o investigativo. O institucional resume-se

em produzir uma Monografia como trabalho de conclusão de curso, para

obtenção do grau de bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI. O investigatório refere-se ao estudo dos problemas e das hipóteses a

seguir:

a)

b)

O primeiro capítulo procura trazer além de noções

preliminares, as definições e conceitos operacionais para categorias que

concernem às características específicas das pessoas portadoras de

necessidades especiais, assimila sobre a evolução e o desenvolvimento histórico

da legislação pátria e mundial acerca do tema. Disserta sobre as espécies de

deficiências, traz conceitos doutrinários inerentes ao tema.

O segundo capítulo aborda a proteção legal ao trabalho da

pessoa portadora de necessidade especial no ordenamento jurídico brasileiro,

analisando a tutela constitucional, as garantias fundamentais e a proteção

infraconstitucional, de forma a estabelecer um comparativo entre a legislação

pátria e as normas internacionais de proteção ao portador de necessidades

especiais.

3

O terceiro capítulo apresenta de forma pormenorizada, o

princípio constitucional da igualdade e as medidas positivas de integração ao

mercado de trabalho, bem como as medidas positivas utilizadas para garantir a

efetividade do acesso ao trabalho, das pessoas portadoras de necessidades

especiais.

Além daquelas categorias e respectivos conceitos

operacionais, apresentados no rol das categorias, outras constam no decorrer da

monografia.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que na fase

de investigação foi utilizado o método indutivo, na fase de tratamento de dados o

método cartesiano, e o relatório dos resultados expresso na presente monografia

é composto na base lógica indutiva.

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as

técnicas do referente, da categoria, do conceito operacional e da pesquisa

bibliográfica.

4

CAPÍTULO 1

A PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA

1.1 NOÇÕES PRELIMINARES

O principal efeito da força do hábito reside em que se apodera de nós a tal ponto que já quase não está em nós recuperarmo-nos e refletirmos sobre os atos a que nos impele. Em verdade, como ingerimos com o primeiro leite hábitos e costumes, e o mundo nos aparece sob certo aspecto quando o percebemos pela primeira vez, parece-nos não termos nascido senão com a condição de submetermo-nos também aos costumes; e imaginamos que as idéias aceitas em torno de nós por nossos pais são absolutas e ditadas pela natureza. Dai pensarmos que o que está fora dos costumes está igualmente fora da razão (MONTAIGNE).

O direito do trabalho é, indubitavelmente, um dos conjuntos

normativos norteadores das relações sociais no mundo contemporâneo, tendo em

vista a grande relevância e influência que este ramo especializado do saber

jurídico possui para a organização das relações empregado/empregador.

Arendt,9 relata que a condição do ser humano, ao apresentar

os conceitos do que considera as três atividades humanas fundamentais, destaca

o labor como a atividade diretamente relacionada à própria vida, que assegura a

sobrevivência do indivíduo e a vida da espécie.

A propósito, importa observar que o labor é imprescindível

para a subsistência humana, pois é da procedência deste que advém todos os

meios para uma vida cuja condição básica é preceito para o suprimento de

necessidades básicas e primárias.

O processo de evolução das relações humanas veio se

aprimorando ao longo dos séculos de maneira gradativa e reconheceu o ápice

9 ARENDT, Hanna. A condição humana. São Paulo; Forense Universitária, 1991, p.57.

5

nos dois últimos séculos; a conquista da cidadania participativa e a dignidade da

pessoa caracterizam a base da relação lei/cidadão.

Todavia, é mister reconhecer que as distinções reais entre

as pessoas pode questionar a finalidade protetiva da lei e sua efetiva aplicação,

pois na atribuição do direito á esta forma de efetivação legal, ocorrem

determinados favorecimentos em razão de grupos sociais específicos.

Ao longo da história há relatos que comprovam a

discriminação de um determinado indivíduo ou até mesmo de seu grupo devido as

características peculiares concernentes a eles, sejam elas a cor, a idade, o sexo,

a religião ou até mesmo a deficiência em algum membro.

Melo,10 leciona que entre tais grupos sobreleva-se aquele

formado pelas chamadas pessoas portadoras de deficiência, que apesar de,

segundo a Organização das Nações Unidas, representar cerca de 10% da

população mundial, tem sofrido, historicamente mais do que qualquer outro grupo

minoritário, a discriminação quanto ao exercício do direito fundamental ao

trabalho.

Há quem pense que o portador de necessidades especiais é

incapacitado para toda e qualquer atividade no mercado de trabalho. É bem

verdade que para algumas funções o trabalho dos portadores de necessidades

especiais é bastante difícil ou quase impossível, todavia com adaptações

ambientais e psicológicas é possível a inserção dos deficientes físicos na maioria

das atividades laborais.

Melo11 relata que a própria história mostra que é um

equívoco atribuir-se à pessoa portadora de deficiência a pecha de incapaz.

Destaque-se, como marco da cultura cristã, a liderança de um homem com

severos problemas de comunicação que se tornou o libertador de mais de um

milhão de hebreus do jugo egípcio. As composições de um músico alemão,

10 MELO, Sandro Nahmias. O Direito ao Trabalho da Pessoa Portadora de Deficiência, São Paulo, 2004,ed. LTr, p.23. 11 MELO, Sandro Nahmias. O Direito ao Trabalho da Pessoa.Portadora de Deficiência, p.24.

6

produzidas depois que adquiriu grave deficiência auditiva, são um marco da

cultura ocidental. Um homem atingido pela poliomelite aos 39 anos, forjou a

nação, hoje reconhecida como a mais poderosa do mundo, presidindo-a na pior

crise econômica verificada ao longo de sua história. Ao final do século XX, a

produção científica de um portador de deficiência sensorial e locomotora

revoluciona a física quântica. No Brasil, um artista, com os dedos da mão

perdidos ou imobilizados, esculpiu suas fantásticas obras barrocas em Minas

Gerais.

È imprescindível, portanto que se efetive definitivamente a

inclusão dos portadores de necessidades especiais o direito ao trabalho, premissa

essa essencial a dignidade de qualquer indivíduo. Não bastam propagandas e

incentivos aos portadores de necessidades especiais às atividades laborais sem

que estas se correlacionem aos demais fatores envolvidos nestes quadros:

adequação ergonômica, treinamentos para a área a ser adequada, colaboração

do coletivo e não esquecer de respeitar os limites que pessoas especiais

possuem na execução de suas funções.

1.2 ASPECTOS HISTÓRICOS

Desde os primórdios, os portadores de necessidades

especiais vêm sendo rechaçados ao convívio na sociedade, pois sempre

estiveram presentes à segregação, inclusive no âmbito familiar.

Fonseca12 destaca que os povos primitivos tratavam-nas das

mais diversas formas: muitos, simplesmente, eliminavam-nas, como empecilhos

que representavam para a caça e para a marcha natural entre os nômades;

outros, ao contrário, protegiam-nas, sustentando-as, no afã de conquistar a

simpatia dos deuses, ou como medida de recompensa por mutilações sofridas

durante a caça ou durante a guerra. Os balineses (nativos da Indonésia), são

impedidos de manter contato amoroso com pessoas que fujam do padrão

estético ou comportamental em vigor. Sabe-se, que os astecas, de acordo com

12 FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. O Trabalho protegido do portador de deficiência. Suplemento Trabalhista da revista LTr, n.151/99, São Paulo, 1999, p..

7

determinação expressa de Montezuma, confinavam as pessoas com deficiência

em campos semelhantes a zoológicos para exposição e para escárnio público. Os

hebreus proibiam as pessoas com deficiência de atuarem em atividades

religiosas, por considerá-los pecadores atávicos punidos por Deus. A Lei das XII

Tábuas previa, expressamente, autorização para que os pater famílias

eliminassem os filhos com deficiência, o mesmo ocorrendo em Esparta, onde as

crianças portadoras de alguma deficiência eram projetadas, em cerimônia

religiosa, do alto do Taigeto (abismo de mais de 2400 metros de profundidade,

próximo de Esparta).

Maranhão13 assevera que aos cidadãos atenienses,

entretanto, eram protegidos por leis que ordenavam que os filhos tivessem a

obrigação de cuidar de seus pais, fosse devido à velhice ou deficiências físicas.

É possível, portanto, extrair a ilação de que cada povo tinha

sua maneira de lidar com os portadores de necessidades especiais nas mais

variadas situações. Alguns povos demonstravam atitudes de desprezo, abandono

e aniquilação, enquanto outros apenas assimilavam ou aceitavam a condição já

existente.

Entre os séculos V e XV, período histórico denominado

Idade Média, iniciou a doutrina do cristianismo que pregava a igualdade entre

todos, sem distinção de raça, cor ou estereotipo. Entretanto, propagava o

sentimento de amor ao próximo e ressaltava as virtudes, não deixando que a

aparência fosse causa de discriminação.

Sobressaltam, contudo, nesta época os ensinamentos de

Jesus que eram expostos através de pregações, as quais enfatizavam a prática

da caridade perante os mais necessitados. Diante desses fatores, iniciaram-se

gradativas mudanças quanto á forma de tratar o próximo.

13 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, ed.LTr, São Paulo, 2005, p.24.

8

Segundo Maranhão14 ressalta com o Renascimento aquela

visão assistencialista da Idade Média cedeu lugar ”à postura profissionalizante e

integrativa das pessoas portadoras de deficiência. A ótica científica do

pensamento dominante daquela época derrubou o estigma social piegas que

influenciava o tratamento para com as pessoas portadoras de deficiência, e a

busca racional da sua integração se fez por várias leis que passaram a ser

promulgadas”.

Conforme magistério de Fonseca15 na Idade Moderna, a

partir de 1789, vários inventos se forjaram com o intuito de propiciar meios de

trabalho e de locomoção às pessoas com deficiência, tais como as cadeiras de

rodas, bengalas, bastões, muletas, coletes, próteses, macas, veículos adaptados,

camas móveis e outros. O sistema braille, criado por Louis Braille, propiciou a

perfeita integração das pessoas com deficiência visuais ao mundo da linguagem

escrita.

É importante ressaltar, que durante os séculos XVI e XVII,

período moderno, ainda sob forte influência do renascimento, corrente histórica

que valorizava o homem em oposição às doutrinas anteriormente apregoadas as

quais colocava Deus como centro do universo, a ciência voltava a atenção aos

seres humanos com mais intensidade.

Com o cuidado dirigido ao bem estar da sociedade,

começaram a surgir hospitais e instituições beneficentes que se voltaram com o

propósito único de despender atenção aos grupos que de alguma maneira eram

posto a par do convívio social, a exemplo: os deficientes.16

Com os fatores determinantes na variação do tempo, surge

uma relevante mudança no âmbito das pessoas que portavam quaisquer indícios

de deficiência: passou-se a cuidar do assunto com muito mais preocupação e

14 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.26. 15 FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. O Trabalho protegido do portador de deficiência, p.73. 16 Idem.

9

afeto, as pessoas ao redor não olhavam mais o portador de deficiência como

empecilho, mas sim como um ser que necessitava de ajuda.

Vem de Maranhão17 a lição de que a previsão de direitos e

garantias fundamentais, só apareceu com as Constituições escritas, dos Estados

Unidos, de 1787, e da França, de 1791, que consagraram a igualdade como base

do princípio no qual repousa o respeito à dignidade humana.

Nesse mesmo sentido tem-se Aristóteles a título de

exemplo, que defendia a igualdade entre os cidadãos, o que implicava na defesa

das pessoas por mais diferentes que fossem em razão de sua origem, aparência,

classe ou função. O referido filósofo sustentava que: entre semelhantes, a

honestidade e a justiça consistem em que cada um tenha sua vez. Apenas isto

conserva a igualdade. A desigualdade entre os iguais e as distinções entre

semelhantes são contra a natureza e, por conseguinte, contra a honestidade.

Entre semelhantes por natureza, o direito, dizem eles, e a posição social devem

ser os mesmos. 18

1.3 CONCEITO

Pode-se observar que é constante a mudança nos termos e

nas expressões quando se trata do tema relacionado aos portadores de

necessidade especiais. Isso se explica pelo cuidado dispensado a tais pessoas,

no sentido de que não sejam utilizados termos cuja suas conotações sejam

negativas ou até mesmo palavras demasiado pejorativas, que, no entanto sirvam

a fomentar o estigma criado desde a remota antiguidade.

Na esteira do pensamento de Gonçalves19, esta pretendeu

traçar uma diretriz sobre a legislação de proteção aos portadores de deficiência,

destaca a utilização de várias expressões para designar as pessoas portadores

de deficiência, tais como “indivíduos de capacidade limitada”, “minorados”,

17 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p 28. 18 MELO, Sandro Nahmias, o direito ao Trabalho da Pessoa Portadora de Deficiência, p.30. 19 GONÇALVES, Nair Lemos, o Estado de direito do Excepcional, 1979, IX- Congresso Nacional de Federação das APE´S, sem contar editor, p.20.

10

“impedidos”, “descapacitados”, “excepcionais”, “minusválidos”, “invalido”, além de

“deficiente”.

Consoante lição de Araújo20, o termo que vem sendo

utilizado universalmente é a palavra excepcional, porém Otto Marques da Silva

disciplina “é um termo abominado no mundo das pessoas com deficiência físicas

e sensoriais, que não admitem ser nem reconhecidas nem adjetivadas como tal. E

quem duvidar desta informação, poderá fazer sua própria experiência e sentir a

reação que o levara a nunca mais repeti-la. No entanto, ninguém pode acreditar

que pessoas que trabalhem com os assim chamados excepcionais (termo

lamentável) usem a palavra de má-fé. Seria até injusto fazer tal afirmação. O

termo tem sido praticamente utilizado por todas elas, sem qualquer análise e sem

mesmo parar pra pensar.raramente ocorre uma autocrítica”.

No âmbito social a diretriz dos portadores de necessidades

especiais aponta inevitavelmente na direção dos relacionamentos, sejam eles

familiares, profissionais, sociais ou até mesmo os sentimentais. A barreira a

transpor com o mundo ao seu redor leva os portadores de necessidades

especiais a travar uma batalha diária com eles próprios e com os desafios para a

inclusão social, potencializando o tratamento adequado a eles. Desta forma se

correlacionam profissionais de campos diversos de maneira a minimizar os

preconceitos.

Neste sentido, Araújo destaca:21 ”O que difere a pessoa

portadora de deficiência não é a falta de um membro nem a visão ou audição

reduzidas. O que caracteriza a pessoa portadora de deficiência é a dificuldade de

se relacionar, de se integrar na sociedade. O grau de dificuldade para a

integração social é que definirá quem é ou não portador de deficiência.”

De igual forma Pastore leciona22 “(...) as ferramentas da

medicina e da psicologia não são suficientes para remover os problemas destas

20 ARAUJO, Luiz Alberto David, A proteção Constitucional da s Pessoas Portadoras de Deficiência, Brasília, Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 1994,p.20. 21 ARAUJO, Luiz Alberto David, A proteção Constitucional da s Pessoas Portadoras de Deficiência,p.22. 22 PASTORE, José, Oportunidades de Trabalho para Portadores de deficiência, São Paulo, LTr, 2001, p.22.

11

deficiências , pois grande parte delas é criada pelo meio social. A sociedade que

não provê os necessários ajustamentos acaba aprisionando os portadores de

deficiência dentro do próprio corpo.”

Há de se evidenciar o ser humano propriamente dito, sua

capacidade intelectual, sua força de expressão, seus medos e anseios, sendo

seus atributos físicos qualificados em segundo plano. Até mesmo porque o

sistema tem gerado pessoas deficientes em todas as áreas.

Melo23 ressalta ainda que “(...) a expressão proposta não

tem a pretensão de se impor como prevalente, devendo ser acolhida de bom

grado toda terminologia que não ressalte a dependência da pessoa dom

deficiência, mas evidenciando as mesmas como seres humanos, detentores de

direitos, com o reconhecimento mais de suas ‘diferenças’ do que de suas

‘deficiências’. O adjetivo utilizado não pode se sobrepor jamais ao substantivo

básico identificador da condição humana:pessoa !”

Pastore24 exemplifica: “É isso que acontece quando as

pessoas se referem ao paralítico, ao cego, ao surdo etc. Elas se destacam em

primeiro lugar, o atributo – e não o ser humano. Com base nisso, passam a

imputar ao portador daquela limitação um conjunto de imperfeições que ele não

tem. É assim que se forma o estigma. Quem tem estigma é tratado, pelos

preconceituosos, como um ser não inteiramente humano. O estigma se agrava

quando, por exemplo, se juntam numa só pessoa o fato de ser deficiente, mulher

e negra. Neste caso, fala-se em ‘opressão simultânea’. É a sociedade que

transforma muitas pessoas em deficientes”.

Adotando, com base no Decreto 3.298/99, alguns conceitos

legais necessários à maior compreensão do tema e aplicabilidade da lei, de

maneira a eliminar qualquer dúvida quanto ao significado das palavras básicas,

tem-se o seguinte:

23 MELO, Sandro Nahmias, o direito ao trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.42-43. 24 PASTORE, José, Oportunidades de Trabalho para Portadores de deficiência, p.22-23.

12

Deficiência: “toda perda ou anormalidade de uma estrutura

ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o

desempenho da atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser

humano”.

Deficiência Permanente: “aquela que ocorreu ou se

estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação

ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos”.

Incapacidade: “uma redução efetiva e acentuada da

capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações,

meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa

receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem estar pessoal e aos eu

desempenho de função ao atividade a ser exercida”.

Impende ressaltar que a deficiência ou outra denominação

que aprouver, está intrinsecamente associada com atitudes de preconceito por

parte da sociedade, o que é reprovável. Há uma necessidade urgente de se rever

conceitos pré-concebidos e se oferecer ao diferente uma demonstração de que

somos seres humanos que buscam um mesmo ideal: a convivência digna que

possibilite a nossa realização como pessoa humana, seja ela em qual área for.

Santos25 discorre sobre o tema “O universalismo que

queremos hoje é aquele que tenha com ponto em comum a dignidade humana. A

partir daí, surgem muitas diferenças que devem ser respeitadas. Temos direito de

ser iguais quando a diferença nos inferioriza e direito de ser diferente quando a

igualdade nos descaracteriza”

1.4 ESPÉCIES DE DEFICIÊNCIA

Pinheiro26 discorre “Na natureza, todas as criaturas vivas

possuem a mesma estrutura de código genético – o DNA. Num certo ponto do

25 SANTOS, Boaventura de Souza, Estatuto da pessoa com deficiência, diversidade e deficiência no novo milênio, Brasília, 2004. 26 PINHEIRO, Humberto Lipo, Estatuto da pessoa com deficiência, diversidade e deficiência no novo milênio, Brasília, 2004.

13

processo, os códigos começam a se diferenciar, trazendo identidade peculiar a

cada espécie, a cada ser. Uma das belezas da vida está no fato de que o mesmo

DNA, responsável por tantas semelhanças entre os seres vivos é também aquele

que torna tão diferentes e individuais”.

Cumpre ressaltar que há muitas espécies de deficiência que

não foram elencadas pelo dispositivo infraconstitucional, a exemplo, os

superdotados, que devido ao DNA modificado apresentam dificuldades na

integração social.

Maranhão27 leciona que:

para o Direito do Trabalho, o que importa é o impacto que estas

deficiências têm sobre a capacidade de trabalho do indivíduo e de

que forma elas podem interferir em sua integração sócia;

entretanto, o medico, ao emitir um atestado, deverá enquadrar a

deficiência descrita no rol restritivo do art.70, do Decreto n. 5.296

de 2.12.04, que alterou a redação do art.4º do Decreto n. 3.298 de

20.12.99, que determina:

I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais

segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da

função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia,

paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia,

triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação

ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros

com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades

estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho

de funções;

II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de

quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas

freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz;

27 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, o portador de deficiência e o direito do trabalho, p.41-42.

14

III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual

ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica;

a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no

melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a

somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for

igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer

das condições anteriores;

IV – deficiência mental- funcionamento intelectual

significativamente inferior à média, com manifestação antes dos

dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de

habilidades adaptativas, tais como:

a) comunicação;

b) cuidado pessoal;

c)habilidades sociais;

d)utilização dos recursos da comunidade;

e)saúde e segurança;

f)habilidades acadêmicas

g)lazer;

h)trabalho;

V – deficiência múltipla – associação de duas ou mais

deficiências.

Portanto, para que se proceda a tutela constitucional, se faz

necessário que a pessoa portadora de necessidades especiais se enquadre em

uma das divisões acima estabelecidas.

Ribas28, descreve que “existem três tipos de deficiência,

sendo que um deles divide-se em dois. Existem as deficiências físicas (de origem

28 RIBAS, João Batista Cintra, O que são pessoas defecientes?, p.27.

15

motora: amputações, malformações, ou seqüelas de vários tipos etc), as

deficiências sensoriais, que se dividem em deficiências auditivas (surdez total ou

parcial) e visuais (cegueira, também total ou parcial), e as deficiências mentais

(de vários graus, de origem pré, peri,ou pós natal)”.

A deficiência, contudo, é uma situação e não um estado

definitivo, determinado apenas pelas incapacidades do individuo, é uma situação

criada pela interação entre a limitação física, sensorial, mental ou comportamental

e o obstáculo social que impede ou dificulta a participação nas atividades da vida

cotidiana.29

O Brasil tem toda sua legislação amparada num dos

precípuos princípios tratados na Constituição/88, o principio da igualdade. Este

principio, vem nortear toda a dignidade humana, entretanto ao se falar em

pessoas portadoras de necessidades especiais a desproporção destes direitos

invocados à eles, por vezes tem-se que buscar a tutela do estado, visando uma

melhor proteção legal aos seus interesses.

As exceções que a Constituição estabelece como direitos

dos portadores de deficiência não devem ser interpretadas como um tratamento

desigual, de cunho beneficente, mas considerado o universo a que se dirigem, às

peculiariedades do grupo em questão, pois a igualdade abstrata perante a lei

desiguala. E somente a lei pode desigualar e, quando o faz, objetiva igualar os

desiguais, oferecendo-lhes as condições necessárias ao pleno exercício de sua

cidadania, visto que tanto se viola o princípio da igualdade quando em situações

semelhantes recebe o cidadão tratamento diferenciado, como quando pessoas

em situações diversas recebem tratamento igual.30

1.4.1 A Deficiência Mental

29 PINHEIRO, Humberto Lipo, Diversidade e deficiência no novo milênio, P.33, 5ºed, 2004. 30Acesso no site http://200.156.28.7/Nucleus/media/common/Nossos_Meios_RBC_RevSet1999_Artigo3.rtf, na data de 12 de março de 2007.

16

A associação Americana de Deficiência Mental31 a define

como” todos aos graus de defeito mental devidos ou que levam a um

desenvolvimento mental insuficiente, dando como resultante que o individuo e

incapaz de competir, em termos de igualdade, com os companheiros normais, ou

é incapaz de cuidar de si mesmo ou de seus negócios com prudência normal.”

A Organização Mundial da Saúde divide a deficiência mental

em quatro níveis:

I – Profunda – Q.I. abaixo de 20;

II – Severa – Q.I. entre 20 e 35;

III – Moderada – Q.I. entre 36 e 52;

IV – Leve – Q.I. entre 53 e 70.

Disciplina Krynski32:” que os deficientes mentais profundos

são todos aqueles incapazes de se beneficiarem de qualquer tipo de treinamento

ou educação.Necessitam assistência por toda a vida.Poucas são as famílias que

podem prover esta assistência. Torna-se, por isso, hóspede permanente do

Estado. Os deficientes mentais severos estão um pouco abaixo da escala da

gravidade, necessitando também, em sua maioria, assistência permanente. Os

deficientes mentais moderados são aqueles capazes de aproveitar os programas

de treinamento sistematizado. Apresentam, em grande número problemas

neurológicos( cegueira, surdez, distúrbios motores). A deficiência mental leve

costitui o grande volume. Cerca de 85% dos deficientes estão neste plano, o que

exige uma assistência adequada, médica e psicopedagógica e social.

Melo33 elucida que há três causas principais, são elas:

a) as causas Pré –Natais:

31 GERALD, M. Fenichel, Neurologia Pediátrica: Sinais e Sintomas, 2ºed, Porto Alegre:Artes Medicas, 1995, p.16. 32 Deficincia Mental, Rio de Janeiro, Livraria Atheneu, 1969, p.14. 33 MELO, Sandro Nahmias, O Direito ao Trabalho da Pessoa Portadora de Deficiência, p.57.

17

- Aberrações cromossômicas;34

- Causas gênicas35;

- Malformação cerebral;

- Ambientais: infecciosas (toxoplasmose,36 sífilis,37 rubéola,38

CMV39, listeriose40)

34 As aberrações cromossômicas podem ser numéricas ou estruturais, as numéricas são quanto a alteração no números de cromossomos que compõem a estrutura do ser humano, uma das causas mais conhecidas é a síndrome de down; e quanto as estruturais trata-se da delação 9 perda de um segmento do cromossomo) ou duplicação do cromossomo,leva há vários níveis de retardamento mental, entre outros. http://www.assis.unesp.br/egalhard/Estruturais.htm, acesso na data de 13 de maio de 2007. 35 Doenças causadas por mapeamento humano alterado. Há um gene defeituoso especifico, causando muitas doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer, e a esquizofrenia. http://lincx.com.br/lincx/saude_a_z/genetica/mapeamento_genoma.asp. acesso na data de 13 de Maio de 2007. 36 Também conhecida como doença do gato, ela pode vir a se manifestar depôs de adulta, mas geralmente se contrai ainda enquanto feto, devido a imunidade baixa. http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?417. acesso na data de 13 de Maio de 2007.

37 Esta doença é contraída pela relação sexual e pode vir a afetar todos os órgãos do corpo humano. Se em gestação, o feto pode vir com sífilis congênita, devido a transmissão pela placenta. http://www.brasilescola.com/doencas/sifilis.htm, acesso na data de 13 de Maio de 2007.

38 Doença ocasionada por vírus, causando febre e manchas pelo corpo, se acometidas em gestantes pode ocasionar má-formação no feto, principalmente no primeiro trimestre. http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?372, acesso na data de 13 de Maio de 2007. 39 Citomegalovírus. O CMV, no entanto, pode infectar o corpo inteiro e pode, também, provocar doenças nos pulmões, garganta, cérebro, rins, bexiga, fígado e outros órgãos. A infecção congênita pode levar a lesões cerebrais (retardamento, paralisia cerebral, epilepsia), oculares (cegueira), hepato-esplênicas com diferentes graus de gravidade (forma aguda e subaguda), surdez, No neonato pode ocorrer durante o parto por contaminação no trajeto vaginal ou ainda pelo leite durante o período de amamentação. http://www.soropositivo.org/doencas_oportunistas/CMV.htm, acesso na data de 13 de Maio de 2007.

40 A Listeria encontra-se em todo o mundo, tanto no meio ambiente como nos intestinos dos pássaros, das aranhas, dos crustáceos e dos mamíferos não humanos. No ser humano, a listeriose pode afectar quase qualquer órgão do corpo. Os recém-nascidos, as pessoas com mais de 70 anos e aqueles que têm um sistema imunitário suprimido ou deficiente são mais susceptíveis à doença. As infecções verificam-se, geralmente, entre Julho e Agosto. Em regra a listeriose contrai-se consumindo produtos lácteos contaminados ou verduras cruas. A listeriose é uma infecção causada pela bactéria Listeria, que pode contrair-se a partir da mãe antes ou durante o parto, ou depois do nascimento na maternidade. Embora a listeriose possa causar uma doença parecida com a gripe com ausência de sintomas na mãe, pode ser mortal para um feto ou um bebé. O líquido amniótico pode infectar-se e é frequente que se produzam nascimentos prematuros, que o bebé nasça morto ou que se desenvolva uma infecção no fluxo sanguíneo do recém-nascido. http://www.manualmerck.net/?url=/artigos/%3Fid%3D279%26cn%3D1467, acesso na data de 13 de Maio de 2007.

18

- Drogas teratógenas41;

- Outras condições ( desnutrição intra-uterina, radiações)

b) Causas Perinatais:

- Anoxia42 ou hipoxia43 (asfixia, trauma de parto,

encefalopatia hipóxico-isquêmica44)

- Prematuridade45;

- Baixo-Peso;

- Infecções ( HSV46, estreptococos beta hemolítico47, listeria)

c) Causas Pós-Natais:

41 São aquelas conhecida como gerador de dependência química e psíquica como o álcool, o cigarro e a as drogas. http://www.clinicaangels.com.br/, acesso na data de 13 de Maio de 2007. 42 Anoxia, uma palavra utilizada para vários eventos médicos, significa a diminuição ou insuficiência de oxigenação do sangue para suprir as exigências metabólicas de um organismo humano vivo, especialmente no cérebro. Apesar de acontecer por diversas razões, as mais comuns são, tanto em adultos ou crianças, decorrentes de problemas respiratórios, cardíacos ou cerebrais. Apresenta uma importância relevante entre os casos existentes: a anoxia perinatal ou asfixia perinatal, a qual ocorre com o feto durante o parto. http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=3830&ReturnCatID=1784, acesso na data de 13 de Maio de 2007. 43 É um estado de baixo teor de oxigênio nos tecidos orgânicos que pode ocorrer por diversos fatores. Um desses fatores é a mudança repentina para ambiente com ar rarefeito (locais de grande altitude).

Portanto, Hipoxia é uma deficiência de oxigênio nos tecidos orgânicos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3xia_cerebral, acesso na data de 13 de Maio de 2007.

44 Asfixia perinatal é um evento grave que acomete o feto ou o recém nascido. http://www.scielo.br/pdf/jped/v79n4/v79n4a02.pdf, acesso na data de 13 de Maio de 2007. 45 É um processo que afeta o desenvolvimento do bebe, antes de completado as 37 semanas, ocasionando inúmeros problemas, inclusive o de morte após o parto, por ainda não haver completado todos os órgãos do “feto”. http://www.manualmerck.net/?url=/artigos/%3Fid%3D278%26cn%3D1400, acesso na data e 13 de Maio de 2007.

46 É uma espécie de herpes genital, que quando acometidas em gestantes o bebe corre um grande risco de infecção. http://www.cdc.gov/std/Herpes/STDFact-Herpes.htm, acesso na data de 13 de Maio de 2007. 47 É a febre reumática diagnosticada por um quadro inflamatório que pode afetar primariamente as articulações, o coração, o sistema nervoso central e tecidos cutâneo e subcutâneo , evoluindo em cerca de 1/3 dos casos para lesões cardíacas crônicas. http://www.saude.rj.gov.br/Acoes/Inf_tecnicas.shtml, acesso na data de 13 de Maio de 2007.

19

- Infecções ( meningencefalites48 e encefalites49 )

- Desnutrição proteínocalórica e privação econômica-sócio-

afetivo-cultural;

- Traumas cranianos;

- Intoxicações exógenas50;

- Radiações

- Convulsões e outras.

Cabe-nos ressaltar em relação á atividade laboral que “não

se avalia mais a deficiência, e sim a capacidade. Avalia-los por sua incapacidade

é como se você pegasse uma pessoa normal e mostrasse apenas seus

defeitos.”51

É interessante mencionar o caso da criança superdotada,

pois ela apresenta dificuldade análoga aos demais deficientes, embora possua o

coeficiente de inteligência acima da média. Melo,52 nesse sentido:” Entretanto, é

justamente esta diferença que dificulta, muitas vezes sua integração ao meio

social.Assim sendo, como já mencionado podemos rejeitar a concepção de que a

pessoa portadora de deficiência tem sua “ausência de alguma coisa”.

48É a alteração no líquido cafalorraquiano, alterando a formação cerebral. http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=1750&indexSearch=ID, acesso na data de 13 de Maio de 2007.

49 É um vírus que atua dentro do sistema nervoso central, e que pode ocasionar vários padrões de doenças neurológicas. http://www.praticahospitalar.com.br/pratica%2040/pgs/materia%2008-40.h, acesso na data de 13 de Maio de 2007. 50 Intoxicação ocasionada por agentes externos como, raticidas, pesticidas agrícolas. http://www.fmrp.usp.br/revista/2003/36n2e4/39_intoxicacoes_exogenas_clinica_medica.pdf, acesso na dat de 13 de Maio de 2007. 51 Gomes, Marcel, Neurocirurgião do Centro Médico da APAE-SP., Folha de São Paulo de 04.4.01, p.7-1. 52MELO, Sandro Nahmias O direito ao trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.59.

20

Araújo53 discorre sobre a dificuldade do superdotado por

não receber assistência e educação adequada:”para mim, o superdotado não é

uma criança problemática, uma vez que não vejo drama nenhum na

superdotação. Entretanto, a criança com tal característica deve ser estimulada

adequadamente. Uma pessoa não deve ser vista como problemática pelo que ela

é, mas pelo que não é. Quando não lhe são apontados os meios de perceber-se e

comunicar-se, quando não adquire segurança o suficiente para trabalhar

habilidades e quando não tem a oportunidade de ser tão livre quanto possa, e não

quanto deva sê-lo aos olhos alheios, então ela se torna problemática.”

O portador de deficiência mental portanto, tem que ser

avaliado pela sua capacidade, podendo ser reinserido no âmbito social, nas

atividades laborais, dependendo de seu coeficiente de inteligência. Não obstante,

o profícuo tratamento dispensado diariamente aos portadores de deficiência

mental, com todo o acompanhamento necessário.

1.4.2 A Deficiência Física

Conforme Silva,54 :” A deficiência fisica refere-se ao

comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema ósteo-

articular, o sistema muscular e o sistema nervoso. As doenças ou lesões que

afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir

quadros de limitações físicas de grau e gravidade variáveis, segundo os

segmentos corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida. Um procedimento

comum é referir-se ás pessoas portadoras de qualquer tipo de deficiência como

deficientes físicos, ó que é um equivoco, uma vez que não leva em consideração

as especificidades das pessoas com deficiência sensorial ou mental.”

53 A Proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, p.36. 54 SILVA, Clelma Cristina, A Formação Profissional do Portador de Deficiência e suas oportunidades no mercado de trabalho, 2ooo, dissertação de Mestrado em Administração. São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.p.15.

21

Melo, dispõe que:”55Nos termos do Decreto n.3298/99,

deficiência física é a alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do

coro humano, acarretando o comprometimento de função física, apresentando-se

sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia,

tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência

de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou

adquirida, exceto deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades

para o desempenho de funções, a seguir a definição de cada uma delas:

- Paraplegia: perda total das funções motoras dos membros

inferiores;

- Paraparesia: perda parcial das funções motoras dos

membros inferiores;

- Monoplegia: perda total das funções motoras de um só

membro ( podendo ser membro inferior ou superior);

- Tetraplegia: perda total das funções dos membros

inferiores e superiores;

- Tetraparesia: perda parcial das funções motoras dos

membros inferiores e superiores;

- Triplegia: perda total das funções motoras em três

membros;

- Triparesia: perda parcial das funções motoras em três

membros;

- Hemiplegia: perda total das funções motoras de um

hemisfério do corpo ( direito ou esquerdo);

- Hemiparesia: perda parcial das funções motoras de um

hemisfério do corpo;

55 MELO, Sandro Nahmais, O Direito ao Trabalho da Pessoa Portadora de Deficiência, p.61.

22

- Amputação: perda total de um determinado segmento de

um membro ( superior ou inferior);

- Paralisia cerebral: lesão de uma ou mais áreas do sistema

nervoso central tendo como conseqüência alteraçãoes psicomotoras, podendo ou

não causar deficiência mental.

Melo56, em sua obra Meio Ambiente Do Trabalho: Direito

Fundamenta salienta que:” Na maioria dos casos, após singelas adaptações no

local de trabalho, a pessoa portadora de deficiência física esta apta pra

desenvolver uma função com igual diligencia á exercida por um trabalhador não

portador de deficiência”

Diante de todo o exposto o deficiente físico possui a mesma

capacidade intelectual de qualquer outro trabalhador dito como “normal”,

entrementes é preciso mencionar que, em certas ocasiões, com muito mais garra,

vontade e determinação, se destaca o portador de deficiência física, devido há

tantos obstáculos já vencidos. Temos de ter em mente o fato inexorável de todos

sermos iguais, apesar das tantas diferenças que nos tornam únicos.

1.4.3 A Deficiência Sensorial

A deficiência sensorial pode ser dividida em dois grandes

grupos: a deficiência auditiva e a deficiência visual. Analisaremos primeiramente a

deficiência auditiva, e após, a deficiência visual.

Conforme Melo:”A deficiencia auditiva consiste na perda

parcial ou total das possibilidades auditivas sonora, variando de graus e

níveis57....A deficiência auditiva inclui as diacusias leves, moeradas, severas e

profundas, implicam em:58

56 MELO, Sandro Nahmais, O Direito ao Trabalho da Pessoa Portadora de Deficiência, p .94. 57Inc. II, art.4º do Decreto n.3298/99.

58 Silva, Clelma Cristina. A Formação profissional do portador de deficiência e suas oportunidades no mercado de trabalho, p.20.

23

- Perda Moderada (25-50 Db): demanda uso de prótese

auditiva para dificuldade de audição funcional;

- Perda Severa (51-90 Db): uso de prótese auditiva para

pequenas alterações na fala;

- Perda Profunda (acima de 91 Db): resíduos auditivos não

funcionais para audição;não há indicação de prótese auditiva, alterações maiores

na linguagem e fala.

Há quatro tipos de deficiências auditivas:59

Deficiência auditiva condutiva: Qualquer interferência na

transmissão do som desde o conduto auditivo externo até a orelha interna

(cóclea). A orelha interna tem capacidade de funcionamento normal mas não é

estimulada pela vibração sonora. Esta estimulação poderá ocorrer com o aumento

da intensidade do estímulo sonoro. A grande maioria das deficiências auditivas

condutivas pode ser corrigida através de tratamento clínico ou cirúrgico.

Deficiência auditiva sensório-neural: Ocorre quando há uma

impossibilidade de recepção do som por lesão das células ciliadas da cóclea ou

do nervo auditivo. Os limiares por condução óssea e por condução aérea,

alterados, são aproximadamente iguais. A diferenciação entre as lesões das

células ciliadas da cóclea e do nervo auditivo só pode ser feita através de

métodos especiais de avaliação auditiva. Este tipo de deficiência auditiva é

irreversível.

Deficiência auditiva mista: Ocorre quando há uma alteração

na condução do som até o órgão terminal sensorial associada à lesão do órgão

sensorial ou do nervo auditivo. O audiograma mostra geralmente limiares de

condução óssea abaixo dos níveis normais, embora com comprometimento

menos intenso do que nos limiares de condução aérea.

59 http://www.entreamigos.com.br/textos/defaud/infdefaud.htm, acesso na data de 13 de Maio de 2007.

24

Deficiência auditiva central, disfunção auditiva central ou

surdez central: Este tipo de deficiência auditiva não é, necessariamente,

acompanhado de diminuição da sensitividade auditiva, mas manifesta-se por

diferentes graus de dificuldade na compreensão das informações sonoras.

Decorre de alterações nos mecanismos de processamento da informação sonora

no tronco cerebral (Sistema Nervoso Central).

O ser humano é o animal com maior facilidade de adaptação

nos diversos fatores novos que surgem no decorrer da vivência, aos deficientes

auditivos não é diferente, pois a falta de audição, aguça com mais precisão, os

demais sentidos, gerando uma nova percepção do mundo que os norteiam, por

vezes, bem menos complicado, já que nos é transmitido milhões de informações à

todo instante, que na maioria das vezes, nos é descartável.

A deficiência visual consiste, segundo Araujo60 na perda ou

redução da capacidade visual em ambos os olhos em caráter definitivo e que não

possa ser melhorada ou corrigida com uso de lentes e tratamento clinico ou

cirúrgico.

Há vários tipos de classificação. De acordo com a

intensidade da deficiência, temos a deficiência visual leve, moderada, profunda,

severa e perda total da visão. De acordo com comprometimento de campo visual,

temos o comprometimento central, periférico e sem alteração. De acordo com a

idade de início, a deficiência pode ser congênita ou adquirida61.

Segundo a OMS-Organização Mundial de Saúde, cerca de

1% da população mundial apresenta algum grau de deficiência visual. Mais de

90% encontram-se nos países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, a

população com deficiência visual é composta por cerca de 5% de crianças,

60ARAUJO, Alberto Luiz David, Acesso ao emprego-discriminação em razão da deficiência-acesso ao emprego e a proteção processual em defesa da igualdade. P.79. 61 Sandro Nahmais Melo, o direito da pessoa portadora de deficiência, p.63.

25

enquanto os idosos são 75% desse contingente. Dados oficiais de cada país não

estão disponíveis.62

Hoje, dispõem em todo o mercado, algumas ferramentas

para inserção do deficiente visual no mercado de trabalho, como adaptações em

computadores, como o método de braille em áudio, nos computadores, e

acoplados em aparelhos de televisão.63Por isso, se faz necessária a inclusão

emergente para uma melhor qualidade de vida dos deficientes, oportunizando

uma sociedade mais harmoniosa, sabendo como lidar com as diferenças do

próximo.

1.4.4 As Deficiências não Aparentes

As deficiências não aparentes são aquelas que não podem

ser identificadas a uma primeira impressão, pois elas não são visíveis e tampouco

percebidas pelo estereotipo.

Segundo Ortega64 apresenta como exemplos, indivíduos

com insuficiência cardíaca e portadores de diabetes, explicando:

Tais pessoas, portanto, são deficientes, mas, também, são

plenamente capazes de desempenhar diversas atividades,

embora não dentro do padrão considerado normal pelo ser

humano, visto estarem sujeitos a constantes acompanhamentos

médicos, muitas vezes com período de internação hospitalar,

além de dependerem de medicações específicas e controladas,

de exercícios físicos e dietas alimentares rígidas. Tais sujeições,

contudo, não lhes retira a capacidade laborativa, mas apenas,

limita seu grau de produtividade, gerando discriminação social.

Um outro estudioso do tema, Araújo65, discorre: “O deficiente

de audição ou de locomoção é logo notado, enquanto, por exemplo, uma pessoa 62 http://www.entreamigos.com.br/textos/defvisu/inbadev.htm, acesso na data de 13 de Maio de 2007. 63 http://200.156.28.7/Nucleus/media/common/Nossos_Meios_RBC_RevDez1996_Artigo3.doc, acesso na data de 13 de Maio de 2007. 64 ORTEGA, Maria Lucia, Jordão, Amplitude do conceito de “deficiente”. Revista trimestral de Direito

Público, n.17.São Paulo:Malheiros, 1997, p.179.

26

portadora de deficiência de metabolismo não pode, sequer, ser identificada ”. São

exemplos de deficiências não visíveis: fenilcetonúria66, o hipotireoidismo

congênito67, a doença do xarope de bordo68, esclerose múltipla69, a insuficiência

renal crônica70.”

Como desfecho tem-se a contribuição de Ribas71, que

elucida sobre o tema: “Deficiência é um processo transitório ou permanente.

Doença é algo que está em constante progressão. Deficiência é algo imutável na

sua limitação.”

65 ARAÚJO, Luis Alberto. A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DAS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA. Disponível em http://www.mp.rs.gov.br/dirhum/doutrina/id248.htm. Acesso na data de 16 de Maio de 2007.. 66 Trata-se de uma doença hereditária de herança autossômica recessiva, gerada pela ausência ou diminuição da atividade de uma enzima do fígado impedindo a metabolização do aminoácido fenilalanina presente nas proteínas ingeridas na alimentação. Aumento excessivo da fenilalanina no corpo da criança poderá causar sua debilidade irreversível. Ibidem p.45.

67 Caracteriza-se pela produção deficiente ou pela falta do hormônio tireoidiano denominado T4, necessário para o desenvolvimento do organismo como um todo, inclusive do cérebro. A falta desse hormônio provoca, além da deficiência mental, sério prejuízo ao crescimento físico. O tratamento consiste na reposição do hormônio através de rigoroso controle médico, causando a dificuldade de integração, pois que o tratamento é longo e incomodo para as crianças portadoras do mal. Ibidem, p.46. 68 Trata-se de um erro inato do metabolismo, no qual há alteração no metabolismo dos aminoácidos de cadeia ramificada, com aumento dos níveis plasmáticos de certas substâncias. Identifica-se por uma manifestação neurológica grave e pela produção de urina com cheiro de xarope de bordo (açúcar queimado). Ibidem, p.47. 69 Os sintomas das doenças são,em regra, enfraquecimento dos membros, perda visual unilateral, falta de coordenação, incontinência ou retenção urinária, perda de audição, dores nos braços, nas pernas e troncos. 70 Os sintomas da doença já visualizam a dificuldade de integração social de seus portadores: urina freqüente e, em fase adiantada, redução e espaçamento maior entre as idas ao banheiro, pressão alta, palidez, inchaço nas pálpebras e pernas. Ibidem, p.48. 71RIBAS, João Batista Cintra, O que são pessoas deficientes, p.23.

27

CAPÍTULO 2

A PROTEÇÃO LEGAL AO TRABALHO DA PESSOA PORTADORA

DE DEFICIÊNCIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

2.1 A TUTELA CONSTITUCIONAL

Segundo Maranhão72 houve uma evolução normativa do

estudo relativo as normas aplicáveis as pessoas portadoras de deficiência física.

Farei um breve resumo do histórico.

Em 25 de março de 1824 foi jurada a primeira constituição

política do Império, constando em seu artigo 179 inciso XIII o direito à igualdade.

Porém, quanto a proteção específica ao trabalho das pessoas portadoras de

deficiência física não foi especificada em seu conteúdo de maneira incisiva.

Segundo Silva73, surgiu na data de agosto de 1835 a primeira tentativa de ajuda

as pessoas portadoras de deficiências físicas por meio de um projeto de lei,

porém a idéia não foi concretizada devido a motivos políticos. Até então

resolviam-se os problemas dos portadores de necessidades especiais através de

medidas assistencialistas.74

Por conseguinte a Constituição Republicana promulgada em

24 de fevereiro de 1891 garantindo da mesma forma o direito a igualdade, porém

inseriu um dispositivo relacionado com a aposentadoria de funcionários públicos

por motivos de invalidez.75

72 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.76. 73 SILVA, Otto Marques da, A epopéia ignorada:a pessoa deficienta na historia do mundode ontem e hoje. São Paulo:Centro São Camilo de Desenvolvimento em Administração da Saúde ( CEDAS), 1986.p.283. 74 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.76. 75 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.77.

28

Por sua vez pode-se dizer que a nascente do conteúdo do

direito constitucional da integração social da pessoa deficiente foi com a

Constituição de 1934 76.

A Constituição de 1934 da mesma forma que a anterior

limitou-se a proteger a igualdade e a repetir a idéia em relação aos trabalhadores

incapacitados. No entanto, trouxe uma novidade quando estendeu a proteção ao

trabalho aos menores e às mulheres77 e trouxe também um dispositivo que de

forma explícita garantiu a proteção aos funcionários78 públicos acometidos de

invalidez.79

Já a Constituição de 1946 não trouxe em relação aos

incapacitados para o trabalho nenhuma novidade expressiva. Por conseguinte a

Constituição de 1967, como sua Emenda de n.1, de 17.10 1969, foram omissas

76 Incumbe a União, aos estados e aos municípios, nos termos das leis respectivas:

a) Assegurar amparo aos desvalidos, criando serviços especializados e animando os serviços sociais, cuja orientação procuraram coordenar;

b) Estimular a criação eugênica;

e) Proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra o abandono psico, moral e intelectual;

f) Adotar medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir mortalidade e a mobilidade infantis; e de higiene social, que impeçam a propagação de doenças transmissíveis;

g) Cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os venenos sociais .” 77 Art. 137. A Legislação do trabalho observará, além de outros, os seguintes preceitos:

k) Proibição de trabalho a menores de catorze anos, de trabalho noturno a menos de dezesseis, e, em indústrias insalubres, a menores de dezoito anos, e a mulheres;

l) Assistência médica e higiênica ao trabalhador e à gestante , assegurando a esta, sem prejuízo do salário um período de repouso antes e depois do parto;

m) A instituição de seguros de velhice, de invalidez, de vida e para os acidentes do trabalho. 78 Art.156. O Poder Legislativo organizará o Instatuto dos Funcionários Públicos, obedecendo aos seguintes preceitos desde já em vigor:

e) A invalidez para o exercício do cargo ou posto determinará a aposentadoria ou reforma, que será concedida com vencimentos integrais, se contar o funcionário mais de trinta anos de serviço efetivo; o prazo para a concessão da aposentadoria ou reforma com vencimentos integrais , por invalidez, poderá ser excepcionalmente reduzido nos casos que a lei determinar;

f) O funcionário invalidado em conseqüência de acidente ocorrido no serviço será aposentado com vencimento integrais seja qual for seu tempo de serviço. 79 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.78.

29

em relação ao direito dos portadores deficientes, porém a Emenda80 trouxe uma

grande inovação à proteção dos portadores de deficiência81.

É imprescindível contemplar-se o princípio da igualdade nos

sábios ensinos do mestre Hans Kelsen: a igualdade dos direitos na ordenação

jurídica, garantida pela Constituição, não significa que estes devem ser tratados

de maneira idêntica nas normas em particular nas leis expedidas com base na

Constituição. A igualdade assim entendida não é concebível: seria um absurdo

impor a todos os indivíduos as mesmas obrigações ou lhes conferir exatamente

os mesmos direitos sem fazer distinção alguma entre eles, como, por exemplo,

entre crianças e adultos, indivíduos mentalmente sadios e alienados, homens e

mulheres.82

Nesse mesmo sentido tem-se Araújo83: “Se adotarmos a

concepção tão difundida de que se deve tratar igualmente os iguais e

desigualmente os desiguais estaremos perpetuando as diferenças. Pode-se dizer,

é verdade, que esse princípio constitucional impede a discriminação odiosa,

porém não garante efetivamente a igualdade de oportunidades, ou seja, impede a

injustiça quanto aos iguais, mas não promove a aproximação possível dos

desiguais.”

Deve-se ter intrinsecamente a distinção de tratamentos com

pessoas de distintas condições físicas e psicológicas, sabendo como dispensar

tratamentos adequados a cada nova situação apresentada.

Em consonância a Constituição Federal de 1988 por sua

vez, estendeu a aplicação desse princípio expressamente às pessoas portadoras

de deficiência. Em seu artigo 5º XIII assegura o “livre exercício de qualquer

trabalho, ofício ou profissão” 80 Art.175. A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos poderes públicos.

§ 4º. Lei especial disporá sobre a assistência à maternidade, a infância e à adolescência e sobre a educação de excepcionais. 81 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.79. 82MELO, Celso Antonio Bandeira de, Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. Malheiros editores, São Paulo, 2003, p. 09. 83 ARAUJO, Luiz Alberto David, A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, p.52.

30

Nesse sentido discorre Silva84: “O princípio significa que a

liberdade de exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão reconhecida no

artigo 5º, XIII, da Constituição, pertine a qualquer pessoa em igual condição.

Assim, o acesso tanto ao emprego privado como aos cargos, funções e empregos

públicos, a de ser igual para homens e mulheres que demonstrem igualdade de

condição.

O principio da igualdade, como já visto, é a base de todas as

garantias, privilégios e proteção contra quaisquer forma de discriminação, que

desfrutam as pessoas portadoras de deficiência, amparado no art. 5º da

Constituição, motivo pelo qual, o primeiro dispositivo constitucional citado.

O art.1º85da Constituição regulamenta acerca da dignidade

da pessoa humana. Junior86 comenta com propriedade sobre o tema: ”O ser

humano, o homem, seja de qual origem for, sem discriminação de raça, sexo,

religião, convicção política, ou filosófica, tem direito a ser tratado pelos

semelhantes como pessoa humana, fundando-se, o atual Estado de direito, em

vários atributos, entre os quais se inclui a dignidade do homem, repelido, assim,

como aviltante e merecedor de combate qualquer tipo que atente contra este

apanágio do homem.

Em seu art.3º87 a Constituição, baniu de todas as formas de

discriminação, dirigida às pessoas portadoras de necessidades especiais. Mais

adiante ver-se-á que os portadores de necessidades especiais ainda sofrem

84 SILVA, José Afonso da, Curso de direito constitucional positivo, 12ºed.,São Paulo:Malheiros, 1996, p.165. 85 Art.1º A Republica Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:

III- a dignidade da pessoa humana;

IV- os valores sociais do trabalho e da livra iniciativa (....) 86 CRETELLA JUNIOR, José. Comentários à Constituição de 1988, vols.I e II..3ºed., Rio de Janeiro:Forense, 1994, p.139. 87 Art.3º Constituem objetivos fundamentais da Republica Federativa do Brasil:

(...)

IV- promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, sexo, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

31

discriminações, fator gerador de um dos maiores problemas enfrentados pelos

portadores de necessidades especiais.

O art 23º 88e 24º89da Constituição zela de forma a prever

todas as hipóteses der omissão legislativa. No caso de omissão federal, os

Estados poderão legislar plenamente; obviamente, a superveniência da lei federal

suspenderá a eficácia da lei estadual, para que não ocorra o conflito de normas.

Não esquecendo que, caso haja lacuna na lei federal, o Estado-Membro tem

competência suplementar.

É no artigo 3790 da Constituição um dos dispositivos mais

significativos para os portadores de necessidades especiais, pois regulamenta a

obrigatoriedade de uma reserva de percentual de cargos e empregos públicos

para busca da igualdade dos desiguais.

Melo91 discorre:”A tutela do trabalho da pessoa portadora de

deficiência, prevista na CRFB/88, também ocorre através de políticas

governamentais para reinserção ou inserção dom portador de deficiência no

mercado de trabalho e na sociedade como um todo. Tais políticas compreendem

um conjunto de ações, que tem como objeto não só a oportunidade de trabalho,

mas , principalmente, a adaptação ao local de trabalho – ao meio ambiente do

trabalho – o transporte, o treinamento, etc.

88 Art.23º É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

(...)

II- cuidar da saúde e assistência publica, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência. 89 Art.24º Compete a União, aos Estados, e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

(...)

XIV- proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência. 90 Art. 37º A administração publica direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, e eficiência e, também, ao seguinte:

(...)

VIII- a lei reservara percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios da sua admissão. 91 MELO, Sandro Nahmias, O direito ao trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.71.

32

Araújo92 melhor doutrina sobre o art 19693da Constituição:” A

pessoa portadora de deficiência, ipso facto, portanto, tem o direito de tornar-se

saudável ou, no mínimo, menos doente. É dever do Estado, por óbvio, fornecer-

lhe meios de proteção de sua saúde, com tratamentos, reabilitação, habilitação

etc. Trata-se de norma classificada como de integração, da subespécie

completável, produzindo efeitos reduzidos, até que surja a norma integradora. No

entanto, essa espécie de norma constitucional, como já visto, traz em si uma

eficácia inibidora da legislação infraconstitucional, que não pode ferir o principio

garantido. Nesse sentido, torna-se inconstitucional qualquer medida legislativa ou

produzida pela Administração Publica no sentido de inviabilizar o direito à saúde

ou reduzindo a situação existente.

No que diz respeito à assistência social, Araújo94, comente o

art.20395 e 20896 da Constituição: “(...) A assistência é bem mais ampla, portanto,

os destinatários da assistência, porém, são distintos dos destinatários da

previdência. Nesse grupo, encontram-se pessoas necessitadas, crianças e

adolescentes , tendo a Constituição Federal escolhido os alvos da assistência:

proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice, a

promoção e integração no mercado de trabalho, além da habilitação e

92 ARAUJO, Luiz Alberto David. A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência. Brasília : CORDE- Coordenadoria Nacional pra Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 1994, p.50. 93 Art.196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário as ações e serviços para sua proteção e recuperação. 94 ARAUJO, Luiz Alberto David. A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, p.51. 95 A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

(...)

IV- a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiências e a promoção de sua integração à vida comunitária.

V- a garantia de um salário mínimo de beneficio mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção, ou de tê-la provida por sua família, conforme a lei dispuser. 96 Art.208º O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de :

(...)

III- atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.

33

reabilitação, assim, como promoção da interação na vida comunitária das

pessoas portadoras de deficiência.

Melo97 dispõem que o art.22798 e art.24499 da Constituição

Federal tem, altíssima relevância para efetivação do direito ao trabalho das

pessoas portadoras de deficiência, uma vez que possuem relação estreita com o

meio ambiente de trabalho destas. Só com a remoção de barreiras físicas, alem

das barreiras sociais, é que, a titulo ilustrativo, os portadores de deficiência

locomotora podem ter acesso, com dignidade, ao seu local de trabalho.

Portanto há de se eliminar qualquer obstáculo arquitetônico

que, possa causar ao portador de necessidades especiais, situações o expõem à

dificuldades.

Fonseca100 em consonância,:” As pessoas com deficiência

visual, em seu turno, vêm reivindicando o direito de se utilizar de cães-guias e têm

sido fixado pela doutrina, manifesta nas palavras de Eugênia Fávero101que o cão-

guia, desde que devidamente habilitado por entidade idônea, e cadastrado em

órgão publico, o qual verifique a vacinação e teste a habilitação do animal, a ser

portada pelo usuário, deve ser admitido em qualquer recinto, quer publico, quer

privado, em logradouro ou em meio transporte. Acabe de ser editada, nesse

sentido, a Lei n.11.126, de 27 de Junho de 2005, que assegura às pessoas

portadoras de deficiência visual o “direito de ingressar e permanecer com o

animal nos veículos e nos estabelecimentos públicos e privados de uso coletivo,

97 MELO, Sandro Nahmias, O direito ao trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.73. 98 Art.227º É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar á criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, á cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, alem de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

(...)

§2º A lei disporá sobre normas de construção de logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado ás pessoas portadoras de deficiência. 99 Ar.244ºA lei disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existentes a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência, conforme o disposto no art.227, § 2º. 100 FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da, O trabalho protegido do portador de deficiência, p.253. 101 FÁVERO. Eugênia Augusta Gonzaga.Direitos da pessoa com deficiência:garantia de igualdade na diversidade, p.173-175.

34

desde que observadas as condições impostas pos esta Lei” (art.1º). As condições

evidenciam-se prestes a serem disciplinadas por decreto, mas a lei já garante o

livre acesso dos cães-guias apenando com interdição e multa os locais que o

proibir(art.3º). No Brasil, os cegos preferem as bengalas táteis, cuja utilização

garanta-lhes total autonomia, sendo necessário apenas treinamento prévio para o

aprendizado da técnica correta. Os maiores obstáculos são a ausência de

semáforos com sinais sonoros e de equipamentos telefônicos públicos,

conhecidos como orelhões, cujo desenho não possibilita que os cegos se desviem

apenas com o uso das bengalas. Recomenda-se, por isso, que se faça uma

proteção no piso dos orelhões, consistente em uma pequena elevação, muito

menor que um degrau, ou algum sinal tátil que possa alertar o deficiente visual.

2.2 AS GARANTIAS FUNDAMENTAIS DO DIREITO AO TRABALHO DA

PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA

“O problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico mas político. “ ( Norberto Bobbio)

Há um espaço entre a efetivação da lei e a realidade diária

da sociedade A cada esquina, deparamo-nos com a triste realidade de portadores

de necessidades especiais com dificuldades, muitas vezes, intransponíveis,

devido à preconceitos até a arquitetura das cidades.

Bastos102 vai além quando afirma que: ”os direitos fundamentais

tornar-se-iam letra morta se não fossem acompanhados de ações judiciais que pudessem

conferir-lhes uma eficácia compatível com a própria relevância dos direitos segurados.

Pontua também que as garantias constitucionais, nada obstante também se constituírem

em direitos, são direitos de ordem processual, são direitos de ingressar em juízo para

obter uma medida judicial com força especifica ou com celeridade não encontrável nas

ações ordinárias. Para o autor, a Constituição de 1988 elenca as seguintes garantias

constitucionais: o habeas corpus; o Mandado de Segurança Individual e Coletivo; o

Mandado de Injunção, a Ação Popular, o habeas data e a Ação Civil Pública.”

102 BASTOS Ribeiro Celso, Curso de Direito Constitucional, p.210

35

Segue-se, com base no dicionário jurídico referência a cada

instrumento jurídico acima mencionado, para entender-se a atuação do Ministério

Publico do Trabalho, que atua com tanto afinco pelas proteção ao portador de

necessidades especiais:

a) Habeas Corpus - é o remédio jurídico que tem por objetivo

proteger o direito de ir, vir ou permanecer,isto é, o direito de locomoção contra a

ação ilegal de autoridade.Pode ser preventivo,quando o paciente se encontra na

iminência de sofrer a coação, e liberativo, quando o paciente já sofreu a

coação103.

b) Mandado de Segurança Individual e Coletiva - é a

garantia constitucional para a proteção de um direito liquido e certo para a

segurança individual ás pessoas jurídicas; e coletivo, objetiva a tutela portanto de

direitos coletivos, poderá ser impetrado por a)partido político como representação

no Congresso Nacional, b)Organização sindical entidade de classe ou associação

legalmente constituída em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa

dos interesses de seus membros ou associados104.

c) Mandado de Injunção - garantia constitucional do

exercício de um direito ainda não regulamentado em lei complementar ou

ordinária.Graças a sua implantação, o direito subjetivo ainda não regulamentado

em lei pode ser exercido,até porque as normas definidoras dos direitos e

garantias têm aplicação imediata105 .

d) Ação Popular - o titular desta ação é o cidadão do pleno

uso dos seus direitos políticos. A ação é uma garantia individual e destina-se a

obter a anulação ou a declaração de nulidade de atos ou contratos lesivos ao

patrimônios da União, dos Estados,do Distrito Federal,dos Municípios, de

empresas publicas, de autarquias e das fundações106

103 Dicionário jurídico, ed. Rideel,2003, p.79 104 Idem, p.101. 105 Idem, 106 Idem, p.17.

36

e) Habeas Data - é a garantia constitucional aos direitos á

intimidade, á vida privada, á honra, e á imagem da pessoa. Tutela a prestação de

informações que se encontram no banco de dados das entidades públicas.107

e) Ação Civil Pública - são entes legitimados para a

propositura da ação civil publica,O Ministério Publico, a União,os Estados, os

Municípios,as autarquias as empresas publicas as fundações, as sociedades de

economia mista e as associações civis 108.

Cumpre salientar que a ação civil pública tem sido utilizada

como meio de proteção do direito ao trabalho das pessoas portadoras de

deficiências. Nesse sentido destaca-se a opinião de Ferreira Filho109 :”assim

como a ação popular, não e verdadeiramente uma garantia constitucional, mas

faz ás vezes na hipótese consagrada no art.129,III; para a proteção do patrimônio

publico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivo”.

Há muitos pontos controversos a respeito da importância da

ação civil publica, que podem ser assim sintetizados, com base nas lições de

Melo:110

a) O Ministério Publico do Trabalho é parte legitima para

propor ação civil publica em defesa do direito ao trabalho das pessoas portadoras

da deficiência;

b)A Justiça do Trabalho é competente para conhecer e julgar

a ação civil publica versando sobre preceito que cuida da acessibilidade ao

mercado de trabalho de trabalhadores portadores de deficiências;

c) A competência funcional para apreciação de ação civil

publica é dar Vara do Trabalho e não do Tribunal Regional do Trabalho.

107 Idem, p.79. 108 Idem,p.11. 109 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves,Direitos humanos fundamentais, p.154. 110 MELO, Sandro Nahmias, O direito ao trabalho da pessoa portadora de deficiência.p.164.

37

O Ministério Publico do Trabalho tem realizado, no país

inteiro, inúmeras reuniões de conscientização para criação de estruturas

possibilitadoras do acesso das pessoas portadoras de deficiência no mercado de

trabalho. Tais eventos têm reunido o empresariado e as entidades representativas

de pessoas portadoras de deficiências com o objetivo de discutir estratégias para

facilitara contratação de pessoas portadoras de deficiências 111.

112Melo113,discorre juntamente:” Empresas também são

convocadas a comparecer perante o Ministério Publico do Trabalho com o fito de

comprovar o cumprimento dos percentuais previstos em lei. Para as que estão em

desconformidade com a lei, o MPT, via de regra, propõe que seja firmado termo

de compromisso, par que, em tempo razoável se atenda à legislação pertinente. A

empresa se compromete perante o Ministério Publico do Trabalho, basicamente,

a assumir as obrigações previstas.

Atua o MPT, no âmbito de sua especifica atribuição e na

defesa dos interesses difusos, em regra, observando as seguintes etapas

procedimentais de rotina administrativa interna, sem necessidade de cumprimento

sequêncial obrigatório delas, que vão culminar com a propositura da ação civil

publica, se amigavelmente não for resolvido o litígio:114

a) instaura um procedimento preparatório;

b) convoca a empresa para participar de audiência publica;

c) solicita da empresa relatório de providencias já adotadas

e por adotar em favor do deficiente;

111 Os resultados de tais reuniões são divulgados através do site www.pgt.mpt.gov.br

113 MELO, Sandro Nahmias, O direito ao trabalhador da pessoa portadora de deficiência, p.166. 114 KALUME, Pedro de Alcântara, Deficientes Ainda um Desafio para o Governo e a Sociedade, ed.LTr,p.105.

38

d) Promove a adoção do Termo de Compromisso de

Ajustamento de Conduta às exigências legais( § 6º do art.5º da Lei n. 7347/85. c/c

art. 7º da Lei n. 7853/89);

e) expede a notificação recomendatória;

f) se após essas tentativas (querendo) de solução

extrajudicial, promove o ajuizamento da ação publica.

Maranhão115 inclui em sua obra o principio da não-

discriminação como proteção ao portador de necessidades especiais; nesse

sentido manifesta-se o Cardeal Evaristo116:”discriminar é excluir, é negar

cidadanias e a própria democracia. Não se trata de eliminar as diferenças, mas de

obter a igualdade, identificando as origens da desigualdade, para que a primeira

possa ser garantida a todos”.

Delgado117, também defende o principio da não

discriminação afirmando que esta: ”é a conduta pela qual nega-se á pessoa

tratamento compatível com o padrão jurídico assentado para a situação concreta

por ela vivenciada.

Desta forma para se manter à luz dos dispositivos

constitucionais são necessárias duas diferentes ações:

a) uma sob o controle imediato do poder publico, que

estabeleceu competências explicitas,com substanciadas no envolvimento direto

de vários órgãos da administração publica federal que passaram a ter, a

respeito,uma atuação formal e institucionalizada, e que devem ser seguidos e

completados pelos estados e pelos municípios, na medida em que lhes atribui

certo nível definido de responsabilidade,inclusive a de habilitar e reabilitar o

deficiente;

115MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.114. 116 ARNS, Paulo Evaristo, Para que todos tenham vida. In VIANA, Marcio Túlio. São Paulo,LTr,2000, p.13. 117 DELGADO, Mauricio Godinho. Proteções contra discriminação na relação de emprego, In VIANA, Macio Túlio. Op.cit,p.96.

39

b) a outra envolve o setor privado, criando uma reserva de

mercado de trabalho em favor de deficiente, com participação diretas das

empresas que passaram a ser obrigadas a contratar deficientes118 .

Portanto, percebe-se que há muitas formas de amparar o

portador de necessidades especiais através de dispositivos e até mesmo do

atuante Ministério Publico do Trabalho. Primeiramente há urgente necessidade da

conscientização coletiva da sociedade para as questões do “diferente”, pois de

nada valerão leis disciplinando os direitos dos portadores de necessidades

especiais se a nação não se mobilizar para auxiliar a inclusão efetiva desta classe

no âmbito social, seja na rotina mais habitual como ir ao supermercado, farmácia

etc, como fazer parte do mudo do trabalho.

2.3 A PROTEÇÃO INFRACONSTITUCIONAL

Melo, é sucinto ao discorrer sobre o tema119: ” Não se fará

um elenco exaustivo de Leis, Decretos, e Portarias, dada a profusão de

regulamentos existentes no ordenamento jurídico pátrio. Um elenco extenso

fugiria á verdadeira pretensão deste trabalho, em particular, deste item, de indicar

apenas as diretrizes legais mais relevantes quando em questão o trabalho da

pessoa portadora de deficiência”.

Cabe ressaltar que somente foi dispensada atenção

merecida, ou seja, elaborada uma proteção infraconstitucional especifica aos

portadores de necessidades especiais, inclusive tutelando o trabalho, após a

promulgação da Constituição de 88.

Rosanne de Oliveira Maranhão120 ensina:” Lei n. 7853/89, é

a primeira lei, editada após a Constituição de 1988, que veio, de forma especial,

dispor sobre o apoio as pessoas portadoras de deficiência e sua integração sócia,

instituindo a CORDE – Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa

Portadora de Deficiência – que integra a Secretaria de Direitos Humanos do 118 KALUME,Pedro de Alcântara,Deficientes ainda um desafio para o governo e para a sociedade, p.34. 119 MELO, Sandro Nahmias de ,O direito ao trabalhador da pessoa portadora de deficiência, p.77. 120 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, O Portador de Deficiência e o Direito do Trabalho. P.96.

40

Ministério da Justiça, que tem suas atribuições estabelecidas nos art.10 e 12 da

referida lei.121

Foi com o art. 2º da Lei n.7853/89, que foram traçadas as

diretrizes para o amparo dão portador de necessidades especiais no mercado de

trabalho, nos setores públicos e privados, bem como em seu inciso II, previu a

promulgação de outra lei, com a finalidade de criai e assegurar esta inserção no

mercado, in verbis:

Art. 2º Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.

121 Art. 10. A coordenação superior dos assuntos, ações governamentais e medidas, referentes a pessoas portadoras de deficiência, incumbirá à Coordenadoria Nacional para a Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), órgão autônomo do Ministério da Ação Social, ao qual serão destinados recursos orçamentários específicos.

Art. 12. Compete à CORDE

I - coordenar as ações governamentais e medidas que se refiram às pessoas portadoras de deficiência;

II - elaborar os planos, programas e projetos subsumidos na Política Nacional para a Integração de Pessoa Portadora de Deficiência, bem como propor as providências necessárias a sua completa implantação e seu adequado desenvolvimento, inclusive as pertinentes a recursos e as de caráter legislativo;

III - acompanhar e orientar a execução, pela Administração Pública Federal, dos planos, programas e projetos mencionados no inciso anterior;

IV - manifestar-se sobre a adequação à Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência dos projetos federais a ela conexos, antes da liberação dos recursos respectivos;

V - manter, com os Estados, Municípios, Territórios, o Distrito Federal, e o Ministério Público, estreito relacionamento, objetivando a concorrência de ações destinadas à integração social das pessoas portadoras de deficiência;

VI - provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil de que esta Lei, e indicando-lhe os elementos de convicção;

VII - emitir opinião sobre os acordos, contratos ou convênios firmados pelos demais órgãos da Administração Pública Federal, no âmbito da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência;

VIII - promover e incentivar a divulgação e o debate das questões concernentes à pessoa portadora de deficiência, visando à conscientização da sociedade.

Parágrafo único. Na elaboração dos planos, programas e projetos a seu cargo, deverá a Corde recolher, sempre que possível, a opinião das pessoas e entidades interessadas, bem como considerar a necessidade de efetivo apoio aos entes particulares voltados para a integração social das pessoas portadoras de deficiência.

41

Parágrafo único. Para o fim estabelecido no caput deste artigo, os órgãos e entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência e finalidade, aos assuntos objetos esta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:

I – (...)

II - na área da saúde:

a) a promoção de ações preventivas, como as referentes ao planejamento familiar, ao aconselhamento genético, ao acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, à nutrição da mulher e da criança, à identificação e ao controle da gestante e do feto de alto risco, à imunização, às doenças do metabolismo e seu diagnóstico e ao encaminhamento precoce de outras doenças causadoras de deficiência;

b) o desenvolvimento de programas especiais de prevenção de acidente do trabalho e de trânsito, e de tratamento adequado a suas vítimas;

c) a criação de uma rede de serviços especializados em reabilitação e habilitação;

d) a garantia de acesso das pessoas portadoras de deficiência aos estabelecimentos de saúde públicos e privados, e de seu adequado tratamento neles, sob normas técnicas e padrões de conduta apropriados;

e) a garantia de atendimento domiciliar de saúde ao deficiente grave não internado;

f) o desenvolvimento de programas de saúde voltados para as pessoas portadoras de deficiência, desenvolvidos com a participação da sociedade e que lhes ensejem a integração social;

Maria Aparecida Gugel122 ao comentar a Lei n. 7853/89:”

Positivamente no Brasil instituiu-se a política de ampliação de oportunidade,

reconhecendo que as desigualdades existem. A reserva legal de postos de

trabalho é uma ação afirmativa que visa atingir a igualdade de oportunidades,

oferecendo meios institucionais diferenciados para o acesso das pessoas

portadoras de deficiência a bens e serviços e, portanto, a viabilizar-lhes o gozo e

122 GUGEL, Maria Aparecida. Mudanças e inovações nomundo dotrabalho que interferem na vida profissional da pessoa portadora de deficiência. Disponivel em www.pgt.mpt.gov.br. Acesso na data de 27 de Maio de 2007.

42

o exercício de direitos fundamentais, sobretudo no que concerne ao direito de ser

tratada como igual”

O Decreto n. 3298/99, veio a regulamentar a Lei n.7853/89,

que permanece em vigor.Consoante as disposições de seu art.35, a inserção do

portador de necessidades especiais dar-se-á mediante três diferentes

modalidades, In verbis:

Art. 35. São modalidades de inserção laboral da pessoa portadora de deficiência:

I - colocação competitiva: processo de contratação regular, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, que independe da adoção de procedimentos especiais para sua concretização, não sendo excluída a possibilidade de utilização de apoios especiais;

II - colocação seletiva: processo de contratação regular, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, que depende da adoção de procedimentos e apoios especiais para sua concretização; e

III - promoção do trabalho por conta própria: processo de fomento da ação de uma oumais pessoas, mediante trabalho autônomo, cooperativado ou em regime de economia familiar, com vista à emancipação econômica e pessoal.

Melo123, disserta acerca do §1º do art. 35:” ... estabelece

que as entidades beneficentes de assistência social poderão intermediar a

modalidade de inserção laboral das pessoas portadoras de deficiência nas

hipóteses de colocação seletiva e promoção de trabalho por conta própria.Esta

intermediação ocorrera apenas na contratação pra prestação de serviços, por

entidade publica ou privada, ou na comercialização de bens e serviços

decorrentes de programas de habilitação profissional de adolescente e adulto

portador de deficiência em oficina protegida de produção ou terapêutica.

No ordenamento jurídico brasileiro, o sistema de cotas está

vinculado ao conceito de habilitação. O art. 36 do Decreto 3298/99 ratifica o

sistema de cotas, sendo aplicável aos beneficiários da Previdência Social

123 MELO, Sandro Nahmias , O Direito Da Pessoa Portadora De Deficiência , p.82.

43

“reabilitados” ou a “pessoas portadoras de necessidades especiais habilitadas”.

Fica mantida o mesmo percentual de cotas previsto na Lei n. 8213/91.

Cumpre salientar que o conceito de habilitação pode ser

encontrado na Ordem de Serviço n. 90, dos Ministérios da Saúde e Previdência,

na Lei 8213/01 nos arts.89 à 92, e nos §§ 2º e 3º do art.36, do Decreto n.

3298/99, in verbis:

§ 2o Considera-se pessoa portadora de deficiência habilitada aquela que concluiu curso de educação profissional de nível básico, técnico ou tecnológico, ou curso superior, com certificação ou diplomação expedida por instituição pública ou privada, legalmente credenciada pelo Ministério da Educação ou órgão equivalente, ou aquela com certificado de conclusão de processo de habilitação ou reabilitação profissional fornecido pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS.

§ 3o Considera-se, também, pessoa portadora de deficiência habilitada aquela que, não tendo se submetido a processo de habilitação ou reabilitação, esteja capacitada para o exercício da função.

Pode-se mencionar Melo124,onde reitera: ”a restrição relativa

à substituição prevista no § 1º, art. 93 da Lei n.8213/91. Todo empregado portador

de deficiência dispensado só pode ser substituído por outro, igualmente habilitado

para a função.”

Em consonância, Maranhão:”125 No âmbito do setor privado,

a Lei n. 8213/91 vem dispor sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social.

Em seu art.93, prescreve que, in verbis:

Art. 93. A empresa com 100 ou mais empregados está obrigada a preencher 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:

I- até 200 empregados.............. 2%

II- de 201 a 500.......................... 3%

III- de 501 a 1000..........................4%

124 Idem, p.83. 125 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira. O portador de Deficiência e o Direito do Trabalho, p.99.

44

IV- de 1001 em diante...................5%

§ 1º A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final do contrato por prazo determinado de mais de 90 dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante.

§ 2º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social devera gerar estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por reabilitados e deficientes habilitados, fornecendo-as, quando solicitadas, aos sindicatos ou entidades representativas dos empregados.

Aborda com pertinência ao assunto, Rosanne de Oliveira

Maranhão126: ”Observa-se que, às empresas públicas e sociedade de economia

mista, apesar de terem seus trabalhadores contratados segundo a égide da CLT,

por terem a obrigação de realizar concurso publico, não deve ser aplicada a quota

disposta no art. 93, da Lei n.8213/91, mas sim a reserva prevista no art.37 da

Constituição, que foi instrumentalizada, no âmbito Federal, através da Lei n.

8112/90, art.5º, §2º, da seguinte forma:

Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se

inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas

atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são

portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte

por cento) das vagas oferecidas no concurso.

Gonçalves127 lembra que, quando trabalhava no

Departamento Estadual de Administração, presenciou: “...uma candidata surda

prestando prova de habilitação para a função de desenhista. Nesse momento se

ouviu um barulho inusitado na rua – era um desfile, uma banda que tocava, ou

coisa parecida. Funcionários que se encontravam na sala, interessados, foram á

janela procurando informar-se do que acontecia, ao passo que a examinada,

entregue ao seu trabalho, graças á sua deficiência física, continuou com a mesma

tranqüilidade anterior a tarefa que realizava”.

126 Idem, p.100. 127GONÇALVES, Nair Lemos, As condições de sanidade nas relações entre o funcionário e o estado, p.223.

45

É impressionante como tudo o que é novo salta aos olhos

com uma tremenda sensação de desconforto, gerando situações inusitadas de

preconceito e discriminação. Todo ser humano, seja ele portador de necessidades

especiais ou não possui as mesmas carências, incumbindo a este, em alguns

momentos, certas limitações. Citou-se este caso, pois, o que importa é moldar o

trabalho à pessoa portadora de necessidades especiais, suscitando até o

destaque profissional na determinada função, e conseqüente elevação de sua

auto-estima em todos os outros fatores intrínsecos á vida.

2.4 AS NORMAS DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

Maranhão128,disciplina:” que o Direito

Internacional do Trabalho é o responsável pela produção das normas

internacionais que dizem respeito ao trabalho. Apesar de não fazer parte do

Direito do Trabalho, compreendendo somente um segmento do Direito

Internacional, é importante estuda-lo, para compreendermos os preceitos que

abrangem o trabalho.

Sussekin129, em consonância, discorre que o Direito

Internacional do Trabalho tem a finalidade de:” universalizar os princípios de

justiça social e, na medida do possível, uniformizar as correspondentes normas

jurídicas; estudar as questões conexas, das quais depende a consecução desses

ideais; incrementar a cooperação internacional visando à melhoria das condições

de vida do trabalhador e à harmonia entre o desenvolvimento técnico-econômico

e o progresso social.

A OIT, já em 1923, demonstrava preocupação com a

questão do trabalho dos portadores de deficiência, recomendando a aprovação de

leis que obrigavam as entidades públicas e privadas a empregar um determinado

número de portadores de deficiência causada pela guerra. Não obstante, foi a

Recomendação n.99, da OIT, de 25.06.55, a primeira norma internacional a tratar

128 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, o portador de deficiências e o direito do Trabalho, p.45. 129 SUSSEKIND, Arnaldo, Direito Internacional do Trabalho, 3ºed. atualizada e com novos textos, São Paulo:LTr,2000, p.17.

46

da reabilitação profissional das pessoas portadoras de deficiência, abordando

princípios, métodos de orientação vocacional e treinamento profissional, meios de

aumentar oportunidades de emprego para os portadores de deficiência,emprego

protegido, disposições especiais para crianças e jovens portadores de deficiência,

além de ter conceituado o termo “deficiente”.130

No tocante à discriminação, em função laboral, foi adotada a

Convenção n.111, em 1958, na 42º Conferencia Internacional do Trabalho,

realizada em Genebra.Esta Convenção foi aprovada pelo Decreto Legislativo

n.104, de 24.11.64 e ratificada em 26 de Novembro de 1965, entrando em vigor

um ano após, em 26 de Novembro 1965(?). A Convenção n. 111 foi promulgada

pelo Decreto n. 62150/68, sendo, como já exposto, extremamente relevante, uma

vez que versa sobre a proibição de uma das práticas mais odiosas existentes no

mundo do trabalho, notadamente a discriminação.131

Sussekind:132” alega que esta Convenção consagrou de

forma ampla, o principio da não discriminação em matéria de emprego e

profissão, in verbis o art.1.1 da Convenção n.111:

Art.1.1. Pra os fins da presente convenção o termo

“discriminação” compreende:

a)toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça,

cor, sexo, religião, opinião publica, ascendência nacional ou origem social, que

tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidade ou de tratamento

em matéria de emprego ou profissão.

b)Qualquer outra distinção, exclusão ou preferência que

tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou tratamento

em matéria de emprego ou profissão que poderá ser especificada pelo Membro

interessado depois de consultadas as organizações representativas de

130 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do Trabalho, p.45. 131 MELO, Sandro Nahmias de , o direito ao trablho da pessoa portadora de deficiência, p.93 132 SUSSEKIND,Arnaldo, Direito Internacional do Trabalho, p.359.

47

empregadores e trabalhadores, quando estas existam, e outros organismos

adequados.

Barros,133destaca a influência desta Convenção no

ordenamento jurídico:” É notória a influência da Convenção n.111 na legislação

brasileira, evidenciada no teto da Lei n.5473/68,que regula o provimento de

cargos e dá outras providencias; esta lei considera nula as disposições e

providencias que, direta ou indiretamente, criem discriminações entre brasileiros

de ambos os sexos para o provimento de cargos sujeitos à seleção, nas

empresas privadas como nos quadros do funcionalismo publico federal, estadual

ou municipal, e , ainda, no serviço autárquico de sociedade de economia mista e

de empresas concessionárias de serviço publico. Em seu art. 1º, parágrafo único,

essa lei prevê prisão simples de três meses a um ano, alem de multa pecuniária,

a quem, de qualquer forma, obstar ou tentar obstar o cumprimento de suas

determinações.”

Importantes instrumentos relacionados ás pessoas

portadoras de deficiência também foram sancionadas pela ONU, coma resolução

n.2856/71, bem como a Resolução n.XXX/3447, aprovada em 09.12.75, que

proclamou a Declaração das Nações Unidas dos Direitos das Pessoas Portadoras

de Deficiência, cujo art.3º importa:134

“Às pessoas portadoras de deficiência, assiste o direito,

inerente a todo e qualquer ser humano, de ser respeitado, sejam quais forem

seus antecedentes, natureza e severidade de sua deficiência. Elas têm os

mesmos direitos que os outros indivíduos na mesma idade, fato que implica

desfrutar de vida decente, tão normal quanto possível”.

E ainda estabeleceu em seu art.8º:

133 BARROS, Alice Monteiro de, Discriminação no emprego por motivo de sexo, obra coletiva coordenado por Márcio Túlio Viana e Luiz Otavio Linhares Renault, pp.55-56. 134 MARANHÃO, Rosanne de Oliveira, o portador de deficiência e o Direito do Trabalho, p.47.

48

“As pessoas portadoras de deficiência têm o direito de que

suas necessidades especiais sejam levadas em consideração, em todas as fases

do planejamento econômico-social do país e de suas instituições.”

Há, ainda a Convenção de n.159 da OIT, sancionada , no

Brasil, pelo Decreto n.51 de 25.08.89 e ratificada pelo Decreto n.129/91, versando

sobre a “reabilitação profissional e empregos de pessoas deficientes”135

Destaca-se o art.4º que disciplina oportunidades de trabalho

pautadas no principio da igualdade , através de medidas estatais positivas136, in

verbis: “ Essa política devera ter como base o principio da igualdade de

oportunidades entre os trabalhadores deficientes e dos trabalhadores em

geral.Dever-se-á respeitar a igualdade de oportunidades e de tratamento para as

trabalhadoras deficientes. As medidas positivas especiais com a finalidade de

atingir a igualdade efetiva de oportunidades de tratamento entre os trabalhadores

deficientes e os demais trabalhadores, não devem ser vistas como

discriminatórias em relação a este últimos.

E estabelece, ainda em seu art. 9º:

“Todo País-Membro deverá esforçar-se para assegurar a

formação e a disponibilidade de assessores em matéria de reabilitação e outro

tipo de pessoal qualificado que se ocupe da orientação profissional, da formação

profissional, da colocação e o emprego de pessoas deficientes.”

Melo137, discorre, neste sentido que:”Fica claro, então que as

praticas positivas, de incentivo, oriundas do Poder Estatal não constituem

discriminação, e sim são necessárias ´para atingir a igualdade efetiva de

oportunidades de tratamento entre os trabalhadores deficientes, para que seja

respeitado o principio constitucional da igualdade.”

135 MELO, Sandro Nahmias de, O direito ao trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.92. 136 Idem, p.93. 137Idem. P.93.

49

É no mínimo intrigante saber a despeito de todas estas

normas que regem o trabalho do portador de necessidades especiais, e ver a

prática tão dissonante de todo este aparato jurisdicional. Deveríamos ter uma

conscientização mais trabalhada no âmbito-social para que a sociedade pudesse

administrar estes fatores de maneira “natural”, como se fosse quaisquer outro

individuo da mesma idade.

50

CAPÍTULO 3

O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IGUALDADE E AS MEDIDAS

POSITIVAS DE INTEGRAÇÃO AO MERCADO DE TRABALHO

3.1 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IGUALDADE

“A igualdade entre os seres humanos é um pressuposto e ao

mesmo tempo um dos mais relevantes direitos humanos,

porque ela é a base de tais direitos.” ( Celso Antonio Bandeira

de Mello)

A palavra igualdade deriva da raiz grega isos que significa

igual, mesmo, correspondente, justo138. Desse prefixo deriva, por exemplo, o

termo isonomia, que significa tratamento igual de situações ou de pessoas em

face da lei. A palavra “isotimia” significa por sua vez, direitos iguais de cidadãos a

ocupar cargos públicos. A base do conceito de igualdade repousa na concepção

filosófica de Platão e Aristóteles. Segundo aquele, a igualdade assume duas

feições, em que a primeira avalia peso, medida, quantidade, tamanho, e a

segunda contempla os desiguais como forma de compensação sócia; confere-se,

assim a justa medida a cada um. Fala, então, de igualdade aritmética e da

igualdade geométrica, sendo a primeira aquela referente à matemática e à

geometria; a segunda a concernente à distribuição social de tarefas e riquezas,

para que se atribua a cada um o que cada um pode suportar, na perspectiva tanto

dos deveres quanto dos direitos.139

138 ROMITA, Arion Sayão. O acesso ao trabalho das pessoas deficientes perante o principio da igualdade. Revista Genises, n.15 (86), Fevereiro de 2000, p.184. 139 FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da, O trabalho da pessoa com deficiência, p.147.

51

A idéia e a preocupação com a igualdade já existia entre os

homens primitivos, porém, a consagração da igualdade como principio de direito

ocorreu com a Declaração de Direitos de Virginia, de 1776, que estabeleceu140:

”Todos os homens são, por natureza igualmente livres e

independentes e têm certos direitos inatos de que, quando entram no estado de

sociedade, não podem, por nenhuma forma, privar ou despojar a sua porteridade,

nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir

a propriedade e procurar e obter felicidade e segurança”; no entanto, como direito

fundamental, o principio da igualdade só foi formalizado após a 2º Guerra

Mundial141.

O principio da igualdade, indubitavelmente, é o centro

medular do Estado social e de todos os direitos de sua ordem jurídica. Com efeito,

materializa ele a liberdade da herança clássica. Como esta compõem um eixo ao

redor do qual gira toda a concepção estrutural do Estado democrático

contemporâneo.142

Todavia, como lembra, com acuidade, Costa143, :”O mundo

jurídico vive em descompasso coma realidade social:ou porque há situações que

ainda não são regulamentadas pelo direito escrito ou porque, havendo a Lei

disposto a respeito de certas relações, não chegou ela, ainda, a se impor a todos

os quadrantes da sociedade”

A constitucionalista Rocha144 esclarece que a alteração

significativa produzida no conteúdo do principio da igualdade tem sua origem no

pronunciamento do Presidente Lyndon B. Johnosn, quando, em 4 de Junho de

1965, na Howard University, pronunciou-se indagando se todos ali eram livres

para competir com os demais membros da sociedade em igualdade de condições:

140 MARANHÃO Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.115. 141 ROCHA, Carmem Lúcia Antunes, Ação afirmativa: o conteúdo democrático do princípio da igualdade jurídica, Brasília:Revista de Informação Legislativa, v.33, n.131, 1996. p.284. 142 BONAVIDES, Paulo, Curso de direito constitucional. 11ºed, São Paulo:Malheiros, 2001, p.340-341. 143 COSTA, Orlando Teixeira da,O direito da trabalho na sociedade moderna, São Paulo: LTr,1998, p.28. 144 ROCHA, Carmem Lúcia Antunes, Ação afirmativa: o conteúdo democrático do princípio da igualdade jurídica, p.285.

52

“Coube, então, a partir daquele momento, àquela autoridade

norte-americana inflamar o movimento que ficou conhecido e foi, posteriormente,

adotado, especialmente pela Suprema Corte norte-americana,como a “affirmative

action”, que comprometeu organizações publicas e privadas numa nova pratica do

principio constitucional da igualdade no direito.A expressão ação

afirmativa,utilizada pela primeira vez numa ordem executiva federal norte

americana do mesmo ano de 1965,passou a significar,desde então,a exigência de

favorecimento de algumas minorias socialmente inferiorizadas,vale

dizer,juridicamente desigualadas,por preconceitos arraigados culturalmente e que

precisavam ser superados para que se atingisse a eficácia da igualdade

preconizada e assegurada constitucionalmente na principiologia dos direitos

fundamentais.Naquela ordem se determinava que as empresas empreiteiras

contratadas pelas entidades publicas ficavam obrigadas a uma ação afirmativa

para aumentar a contratação dos grupos ditos da minorias,desigualados social

e,por extensão,juridicamente.

A mutação produzida no conteúdo daquele princípio, a partir

da adoção da ação afirmativa, determinou a implantação de planos e programas

governamentais e particulares pelos quais as denominadas minorias sociais

passavam a ter, necessariamente, percentuais de oportunidades, de empregos,de

cargos,de espaços sociais,políticos,econômicos, enfim, nas entidades publicas e

privadas.”

Ação afirmativa significa145, portanto, medidas especiais que,

por meio de providencias efetivas, visam eliminar os desequilíbrios existentes

entre determinadas categorias sociais que se encontram em posição de

desvantagens. E ainda, podemos também dizer que ela tem por finalidade dar

cumprimento a uma igualdade real que a isonomia não consegue proporcionar.

Segundo ainda, Paulo Lucena de Menezes146, a ação afirmativa representa a

terceira etapa no combate à discriminação. A primeira e a segunda foram,

respectivamente, a isonomia e a criminalização das práticas discriminatórias.

145 MARANHÃO Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.119. 146 MENEZES Paulo Lucena de, A ação afirmativa ( affirmative action) no direito norte americano.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p.26.

53

A nossa Constituição de 1988 não autoriza expressamente a

pratica da ação afirmativa. Entretanto, ela este inserida no principio da igualdade

jurídica,consagrado no artigo 5º,caput, em termos amplos,o que nos leva a

concluir que o constituinte por meio deste fixou critérios para,com base no

princípios fundamentais construir uma sociedade livre,justa e igualitária,afastando

qualquer forma de discriminação,147in verbis:

“art. 5º todos são iguais perante a lei,sem distinção de

qualquer natureza,garantindo-se as brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Pais a inviolabilidade do direito à vida,à liberdade,igualdade nos termos

seguintes:(...)”

Portanto, é inegável que a igualdade constitui princípio

sempre presente em qualquer interpretação do texto constitucional148. Fica claro,

então, que todo texto constitucional devera ser interpretado tendo como base o

principio da igualdade, que funcionará como regra matriz de toda a hermenêutica

constitucional e infraconstitucional149.

Importante destacar que estas iniciativas levam a um outro

debate - que é a constitucionalidade destas leis. Alguns defendem sua

inconstitucionalidade, por ferir o principio da igualdade constitucional ou isonomia,

que, como principio estaria acima de qualquer outro dispositivo de ação isolada.

Porem, outros sustentam, que, é exatamente com base neste principio que toda e

qualquer lei que vise compensar uma desigualdade fática, merece ser

reconhecida como constitucional. Entretanto, como infere Menezes, a

constitucionalidade de questões envolvendo a matéria terá de ser,

necessariamente investigada em cada situação concreta, segundo o método de

averiguação do principio da igualdade jurídica consagrado entre nós150.

Seguindo a esteira da conscientização do problema que

enfrentam os portados de necessidades especiais em relação ao trabalho, o Papa

147 MARANHÃO Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.120.. 148 MELO Sandro Nahmias, O direito ao trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.101. 149 ARAUJO Luiz Alberto David, A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, p.84. 150 MENEZES Paulo Lucena de, A ação afirmativa ( affirmative action) no direito norte americano, p.152.

54

João Paulo II, ao publicar, em 14/09/1981 a Encíclica Laborem Exercens, dedicou

o item 22 aos portadores de deficiências151:

“A pessoa deficiente é uma de nos e participa plenamente da mesma humanidade que nos. Seria algo radicalmente indigno do homem e seria uma negação da humanidade comum admitir á vida da sociedade, e portanto ao trabalhado, só os membros na plena posse das funções do seu ser, porque, procedendo desse modo, recair-se-ia numa forma grave de discriminação, a dos fortes e sãos contra os fracos e doentes.”152

Contudo, nota-se que a efetivação quanto aos direitos do

portador de necessidades especiais e a vinculação com o trabalho, no tocante á

discriminação preocupa a todos que estão inseridos na sociedade e obviamente,

anseiam ver medidas que resultem a uma proteção contra o preconceito.

Destarte, a efetiva realização de todas estas medidas disciplinadas em nossa

legislação, que conta com a atuação do Ministério Público no que discerne á

proteção dos portadores de necessidades especiais.

3.1 O DÚPLICE ENFOQUE DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE: MATERIAL E

FORMAL

Precipuamente, discorreremos acerca da igualdade formal

no principio da igualdade:”trata-se tão somente da igualdade perante a lei, á

aplicação do direito do direito com relação á coletividade sem qualquer tipo de

distinção”153

151 MARANHÃO Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.122. 152 Encíclica Laborem Exercens.Disponivel em www.universocatolico.com.br/contents. 153 MELO Sandro Nahmias, O direito ao trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.108.

55

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Castro154 pondera que:

” a regra de que todos são iguais perante a lei, ou de que todos merecem a mesma proteção de lei, entre outros enunciados expressivos da isonomia puramente formal e jurídica, traduz, em sua origem mais genuína, a exigência de simples igualdade entre os sujeitos de direito perante a ordem normativa, impedindo que se crie tratamento diverso para idênticas ou assemelhadas situações de fato. Impede, em suma, que o legislador trate desigualmente os iguais.”

Melllo155 assevera sobre o tema:

”A lei não deve ser fonte de privilégios ou perseguições, mas instrumento regulador da vida social que necessita tratar equitativamente todos os cidadãos. Este é o conteúdo político-ideológico absorvido pelo principio da isonomia e juridicizado pelos textos constitucionais em geral, ou de todo o modo assimilado pelos sistemas normativos vigente. Em suma:dúvida não padece que, ao se cumprir uma lei, todos os abrangidos por ela hão de receber tratamento parificado, sendo certo, ainda, que ao próprio ditame legal é interdito deferir disciplinas diversas para situações equivalentes.”

Araújo156, ao tratar do tema observa que:” na realidade o

principio democrático da igualdade significa que a aplicação do direito deve ser

idêntica diante da lei e do ato normativo. O juiz, o administrador, o particular não

podem discriminar diante da aplicação da lei.”

Sobressalta que importa a aplicação da igualdade formal

perante uma pós-lesão do direito, é como se atuasse como uma intervenção de

natureza reparatória. Neste sentido Borges157 define:

”A igualdade perante a lei nada mais significa senão a simples comodidade, em todas as situações que lhe forem subsumidas, da

154 CASTRO Carlos Roberto Siqueira, O principio da isonomia e a igualdade da mulher no direito constitucional, p.35-36. 155 MELLO Antonio Bandeira, Conteúdo jurídico do principio da igualdade, 3ºed., 5º tiragem, São Paulo: Malheiros, 1998, p.10. 156 ARAUJO Luiz Alberto David, A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, p.85. 157 BORGES José Souto Maior, Principio da isonomia e sua significação na Constituição de 1988, pp.35-36.

56

conduta humana á norma de conduta. Com efeito, a chamada igualdade perante a lei não significa qualquer outra coisa que não seja a aplicação legal, isto é, correta, da lei, qualquer que seja o conteúdo que esta lei possa ter, mesmo que ela não prescreva um tratamento igualitário, mas um tratamento desigual.”

A igualdade jurídica, formalmente considerada, com relação

á tutela do direito ao trabalho das pessoas portadoras de deficiência, em uma

analise estrutural, pode ser comparada ao principio da não discriminação no

emprego.158

Como já defendido em outra oportunidade, antes de

qualquer digressão é impreterível distinguir: uma coisa é deficiência a outra é a

incapacidade total para o trabalho. As pessoas portadoras de deficiência possuem

limitações em determinadas áreas, mas não para todas as atividades. Para

determinadas funções, a pessoa portadora de deficiência, apresenta, inclusive,

maior capacidade de concentração e eficiência, podendo desenvolver

determinadas atividades de forma mais eficiente do que faria uma pessoa não

portadora de deficiência.”159

Assim sendo, apesar de relevante o principio da igualdade

formal como óbice ás praticas discriminatórias, entendemos que seu campo de

ação é insuficiente para resguardar, de maneira completa, o direito da pessoa

portadora de deficiência. A necessidade de uma conduta passiva do Estado é

essencial.160

Neste mesmo sentido Araújo161 dispõem:

” ...respeitada a situação de habilitação, a pessoa portadora de deficiência não pode sofrer qualquer discriminação, quer quanto á admissão, quer quanto aos salários. Não só, porém. Em realidade não pode sofrer discriminação em relação a nenhum aspecto do

158 RODRIGUEZ Américo Plá, Princípios do direito do trabalho, 3ºed., São Paulo: LTr, 2000, p.445. 159 ARAUJO Luiz Alberto David, A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, pp.82-83. 160 MELO Sandro Nahmias, O direito do trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.116. 161ARAUJO Luiz Alberto David, A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, p.87.

57

contrato de trabalho ( local de trabalho, condições de salubridade e periculosidade, horário, jornada, etc). A Constituição Federal, por entender que as violações do principio poderiam ser mais freqüentes na área de admissão e do salário, frisou estes dos aspectos do contrato laboral. Nenhuma lei, portanto, poderá ser produzida ferindo esse principio, assim como nenhum empregador poderá discriminar a pessoa portadora de deficiência, inclusive quanto aos salários e critério de admissão. Repetimos: a pessoa portadora de deficiência, no entanto, deve estar habilitada para o emprego ou função de modo que possa se fazer incidir a regra isonômica.”

Após findado o assunto sobre a igualdade formal, falaremos

sobre a igualdade material: “trata-se portanto, da igualdade na lei, é aquela que

assegura o tratamento uniforme de todos os homens, resultando em igualdade

real e efetiva de todos perante, todos os bens da vida”162.

A igualdade material tem intima relação com a maior eficácia

do principio da igualdade. Para tanto, há necessidade de uma conduta Estatal

positiva e não meramente contemplativa.163 Sob este enfoque, Ana Prata164:”

...Igualdade material é a remoção dos obstáculos ou fornecimento de

instrumentos adequados ao ultrapassar das real desigualdade entre os cidadãos.

Neste sentido, torne-se, pois, como um dado jurídico a situação factual e/ou

jurídica de desigualdade e comete-se ao Estado a função de a supera,

nomeadamente pela transformação do modelo econômico-social existente.”

Conclui Araujo165:” A igualdade material vem determinada

por uma serie de providencias impostas pelo Estado ou direitos reconhecidos aos

indivíduos ou grupos para que, de alguma forma, superem uma dificuldade que

apresentariam.”

162 MELO Sandro Nahmias, O direito do trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.118. 163 MELO Sandro Nahmias, O direito do trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.119. 164 PRATA Ana, A tutela constitucional da autonomia privada, pp.93-94. 165 ARAUJO Luiz Alberto David, A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, p.89.

58

Com relação á proteção especial destinada aos portadores

de necessidades especiais, Araujo166 assevera que:” ao zelar por estes grupos ou

interesses, o constituinte originário quis, na realidade, dar as mesmas condições

das pessoas não portadoras de deficiência. A igualdade material ( vista sob o

ângulo de proteção de certos grupos sociais) nada mais é do que a explicitação

de princípios consoantes nos fundamentos e objetivos do Estado Brasileiro.”

A igualdade material surge no texto constitucional,

principalmente,167 através das vagas reservadas no serviço público168e das

garantias de habilitação e reabilitação.169

Ferreira170 ensina que:”A Constituição Federal teve especial

empenho em amparar os deficientes. Às pessoas portadoras de deficiência foi

reservado um porcentual de empregos públicos, devendo a lei definir os critérios

de admissão. Busca-se assim a integração dos deficientes tanto no serviço

publico como nas empresas particulares.”

Portanto, tem-se que a igualdade formal é a igualdade

perante a lei, enquanto a igualdade material é a igualdade na lei.

Borges171 detalha a questão sobre os dois primas da

igualdade jurídica:”Há duas formas distintas – nitidamente distintas, posto em

166 Idem, p.88. 167 MELO Sandro Nahmias, O direito do trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.120. 168 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;

169 Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente

de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;

170 FERREIRA Pinto, Comentário á Constituição Brasileira, vol.2, São Paulo:Saraiva,1990, p.374. 171 BORGES Souto Maior, Principio da isonomia e sua significação na Constituição de 1988, pp.34-40.

59

geral inapercebidas – de positivação da igualdade jurídica. A primeira delas é a

igualdade diante da lei. Esta pode existir até mesmo quando a igualdade não

corresponda ao conteúdo da lei(...)Não é essa contudo a única igualdade a que

se refere o art. 5º da Constituição Federal. Porque esse dispositivo trata da

igualdade não só ante a lei mas também como um conteúdo da legislação que lhe

é integrativa. Vincula-o, numa relação sintática de supra e subordinação, isto é, o

próprio âmbito material de validade normal. De tal sorte que, se desconsiderado o

preceito constitucional, o ato legislativo ou administrativo da sua aplicação

incorrerá em inconstitucionalidade. A igualdade na lei é igualdade material;

somente existe quando a lei prescreve, ela própria, um tratamento igualitário.

Será a igualdade, em tais condições, matéria de ato legislativo.”

Verifica-se, então que a constituição ao mesmo tempo que

veda a discriminação, cuida para elaborar normas a fim de cuidar e proteger

determinados grupos de pessoas, dos quais necessitam de uma tutela especifica.

Os portadores de necessidades especiais é uma classe de indivíduos que se

diferenciam em algumas situações, motivo pelo qual têm a igualdade efetivada,

com a proteção estatal.

3.2 MEDIDAS POSITIVAS DESTINADAS À ELIMINAÇÃO DE BARREIRAS

AO TRABALHO DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA E SEU

ENGAJAMENTO NO MERCADO DE TRABALHO

“A pluralidade é a condição da ação humana pelo fato de

sermos todos os mesmos, isto é, humanos, sem que ninguém seja exatamente

igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir.”172

172 ARENDT Hannah, A condição humana, p.16.

60

A década de 90 ficou conhecida, mundialmente, como a

década do desemprego. O Brasil neste período, produziu um desemprego a cada

68 segundos. O Brasil perdeu, de 1990 a junho de 1996, mais de 2 milhões de

empregos formais, contra o surgimento de quase 10 milhões de pessoas aptas ao

trabalho, o que acabou provocando o crescimento no mercado informal. No início

do ano de 1999, o IBGE, registrava desemprego médio recorde 7,59% da

População Economicamente Ativa (PEA) em 1998, prevendo um índice próximo

dos 10% para o ano de 1999,previsão esta que vem se confirmando nos meios de

comunicação e institutos oficiais de pesquisa que divulgam taxas de desemprego

cada vez mais elevada.173

Assim, a realidade inexorável é que grande maioria das

pessoas portadoras de deficiência no Brasil, independentemente do regime de

cotas, não se encontra apta para participar do mercado de trabalho174.

Pastore175ao pesquisar sobre o numero total de portadores

de deficiência no Brasil trabalhando,esclarece que:” se formos considerar como

trabalho a atividade laboral que é exercida de forma legal, com registro em

carteira de trabalho ou de forma autônoma mas com as devidas proteções de

seguridade sócia, é bem provável que essa proporção fique em torno de 2% do

total de portadores de deficiência em idade de trabalhar do Brasil – 180 mil

pessoas, destaca ainda que, há 2 milhões de portadores com limitações severas,

7 milhões possuem limitações que, com acomodações razoáveis do ambiente do

trabalho, da arquitetura e do transporte, teriam condições de trabalhar de forma

produtiva.

A seguir exporemos os fatores mais graves para o acesso

do portador de necessidades especiais para o mercado de trabalho.

173Folha de São Paulo. São Paulo, ed de 1º de Maio de 1998. 174 MELO Sandro Nahmias, O direito do trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.145. 175 PASTORE José, Oportunidades de trabalho para os portadores de deficiência, p.73.

61

3.2.1 Habilitação e Reabilitação

A habilitação e a reabilitação profissional dizem respeito à

adoção de medidas para habilitar ou restaurar uma capacidade produtiva no

portador de deficiência com vistas a integrá-lo ou reintegrá-lo no trabalho, na

definição de Cavalcante176 observa-se:.

O sistema de habilitação e reabilitação é carente e não tem estrutura para atender a todos os casos, permitindo o ingresso e o reingresso do portador de deficiência física ou mental no mercado de trabalho.

No país inteiro, são aproximadamente trinta centros de reabilitação, com poucos núcleos de reabilitação profissional, atingindo apenas 10% das cidades, se considerarmos as instituições filantrópicas e particulares.

Sem dúvida, o custo da reabilitação é alto, mas ainda é mais baixo do que manter pessoas acidentadas afastadas, com a recebendo benefícios da Previdência Social por anos seguidos.

A reabilitação é a atenção prestada aos portadores de

deficiência, em geral, após um acidente, enquanto a habilitação é o conjunto de

atividades voltadas para quem traz uma limitação de nascença e ainda para os

que precisam se qualificar para desempenhar determinadas funções no mundo do

trabalho. O dispositivo legal mais recente que regula esta matéria é o Decreto

3048/99, que dispõem177:

176 CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa; JORGE NETO, Francisco Ferreira. O portador de deficiência no mercado formal de trabalho . Jus NavigandiJus NavigandiJus NavigandiJus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 51, out. 2001. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2132>. Acesso em: 15 maio 2007.

177 MELO Sandro Nahmias, O direito do trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.150.

62

Art.137. O processo de habilitação e de reabilitação

profissional do beneficiário será desenvolvido por meio das funções básicas de:

I - avaliação do potencial laborativo

II - orientação e acompanhamento da programação

profissional;

III - articulação com a comunidade, inclusive mediante a

celebração de convênio para reabilitação física restrita a segurados que

cumpriram os pressupostos de elegibilidade ao programa de reabilitação

profissional, com vistas ao reingresso no mercado de trabalho; e

IV - acompanhamento e pesquisa da fixação no mercado de

trabalho.

Em consonância:

Art.140. Concluído o processo de reabilitação profissional, o

Instituto Nacional do Seguro Social emitirá certificado individual indicando a

função para a qual o reabilitando foi capacitado profissionalmente, sem prejuízo

do exercício de outra para a qual se julgue capacitado.

Desta forma tem-se no Brasil um sistema de reabilitação

carente, que não dá condições ao reingresso do portador de necessidades

especiais no mercado de trabalho, essa carência se deve ao numero reduzido

estabelecimentos, além do alto custo.

3.2.2 Educação

63

No Brasil, o atendimento aos portadores de deficiência no

campo da educação é reconhecidamente precário. O Ministério da Educação

estima que atualmente há 6 milhões de crianças e jovens de até 19 anos com

algum tipo de deficiência física ou mental no pais. Apenas 5% deles estariam

recebendo algum tipo de atendimento especializado na área educacional. O

restante está em casa, sem estudar ou então esta em alguma instituição para

deficientes.178

Esta barreira quanto o acesso aos estudos, quase sempre

condena o portador de deficiências á uma vida sem perspectivas, e para acirrar a

complexidade do tema, há um debate que vem se travando quanto a educação

inclusiva dos portadores de deficiência. Alega-se que é inviável o estudo á parte

para o portador de deficiência, pois não o estariam preparando para uma possível

inserção no mercado de trabalho.179

Neste sentido Barbosa180:” defende que educar indivíduos

em salas de educação especial significa negar-lhes o acesso a formas mais ricas

e estimulantes de socialização.

Portanto, esta proposta de educação inclusiva do Estado

traduz em uma medida para incentivar aos portadores de necessidades especiais,

até para auxiliar na maneira de como enfrentar, futuramente, o mercado de

trabalho, que certamente não irá se apresentar como “especial”.

3.2.3 Política de Incentivos Fiscais

178 MELO Sandro Nahmias, O direito do trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.147. 179 Ibidem. 180 BARBHOSA Heloisa, Por que inclusão?, p.02.

64

Esta política nada mais é do que uma forma do Estado de

poder estimular a contratação dos portadores de necessidades especiais,

importando ao empregador, incentivos atraentes para assegurar o acesso das

pessoas portadoras de necessidades especiais no mercado de trabalho.

Um exemplo é a redução das contribuições sociais na

contratação de uma pessoa portadora de deficiência, ou mesmo a isenção das

parcelas devidas pelo empregador. Em outro enfoque muitos empregadores

hesitam em contratar pessoas portadoras de deficiência sob o argumento de são

elevados os custos atinentes ás adaptações necessárias no local de trabalho.

Estes custos, por sua vez, poderiam ser deduzidos do imposto de renda ou

mesmo integralmente subsidiados pelo Estado181.

Estas medidas são simples e fáceis de pôr em pratica, e

resulta em benefícios de ordem praticas ás empresas:

Primeiramente, em relação á imagem que estas atitudes

podem refletir no consumidor e, em segundo lugar, no próprio ambiente de

trabalho. A presença de pessoas com deficiência reforça o espírito de equipe e

humaniza o ambiente, levando, desta forma, a um melhor desempenho dos

empregados e, por conseqüência, maior produtividade182.

3.3 A EDUCAÇÃO NO MEIO-AMBIENTE DO TRABALHO

O meio ambiente do trabalho, constitui um dos aspectos que

compõem o meio ambiente geral, preconizado no caput do art.225 da

Constituição Federal de 1988, o qual dispõe que:” o meio ambiente

ecologicamente equilibrado é bem de uso comum do povo e essencial á sadia

181 MELO Sandro Nahmias, O direito do trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.153. 182 MARANHÃO Rosanne de Oliveira, O portador de deficiência e o direito do trabalho, p.130.

65

qualidade de vida”. O meio ambiente, no referido dispositivo constitucional, é

considerado em todos seus aspectos, inclusive o do meio ambiente do

trabalho.183

Neste diapasão, é possível concluir-se que o bem maior a

ser tutelado é a vida saudável e, considerando esta premissa, assim como os

aspectos do meio ambiente ressaltados na própria Carta Constitucional (natural,

cultural, trabalho e artificial ).184

A pessoa portadora de deficiência necessita de meio

ambiente de trabalho especial, adequado à sua deficiência (rampas para

paraplégicos; marcações em braile, em maquinas e ferramentas de trabalho, para

deficientes visuais etc), para que o seu labor se dê em condições de igualdade

com os demais trabalhadores.185

A despeito deste tema, João Paulo II, enfatiza:

“ Uma grande atenção devera ser dedicada, como para todos os outros trabalhadores, às condições físicas e psicológicas do trabalho dos deficientes, á sua justa remuneração, à sua possibilidade de promoção e à eliminação dos diversos obstáculos. Sem querer esconder que se trata de uma tarefa complexa e não fácil, é de se desejar que uma concepção exata do trabalho no sentido subjetivo permita chegar-se a uma situação que dê à pessoa deficiente a possibilidade de sentir-se não já à margem do mundo e do trabalho de pleno direito, útil, respeitado na sua dignidade humana e chamado a contribuir para o progresso e para o bem da sua família e da comunidade, segundo as próprias capacidades”.186

É extremamente significativo para os portadores de

necessidades especiais a adequação quanto ao seu meio ambiente de trabalho,

esta importância torna-se tão significativa que, pode eliminar as limitações que o

portador de deficiência apresentava para o trabalho.

183 MELO Sandro Nahmias, O direito do trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.154.. 184 Idem, p.155. 185 Idem, p.156. 186 Encíclica Laborem Exercens, p.142.

66

Pastore187 disciplina quanto à este assunto:

“Entretanto, muitos problemas que afligem a vida dos portadores de deficiência têm origem na sociedade. Uma parte da redução da capacidade de andar, pensar, aprender, falar ou ver está ligada às limitações que possuem, é verdade. Mas em boa parte decorre das barreiras que lhe são impostas pelo meio social. Isso é fácil de ser observado Basta atentarpara o fato de que, em muitos casos, a pessoa deixa de ser deficiente no momento em que a sociedade proporciona condições adequadas. É o que acontece co quem usa cadeira de rodas para se locomover e encontra ma escola e no trabalho providencias no transporte e na arquitetura – muitas vezes uma simples rampa de acesso.

Na pratica, essa pessoa sai da categoria de portadores de deficiência, o que significa dizer que a sociedade e a cultura desempenham um importante papel na própria definição, assim como na interpretação e superação das dificuldades dos portadores de deficiência. Com o avanço dos equipamentos auxiliares, muitas pessoas outrora definidas como portadoras de deficiência deixaram de sê-lo, e desempenham hoje atividades produtivas no mercado de trabalho regular.”

A revolução quanto ás adaptações para o portador de

necessidades especiais em seu meio ambiente de trabalho vem se moldando

conforme os avanços tecnológicos vão se multiplicando, e o avanço da

informática traz esperanças para ao aumento da taxa de emprego para este grupo

até então, tão desfavorecido.

Outra questão a ser enfocada, é a da eliminação das

barreiras arquitetônicas, pois o sair de casa ao portador de necessidades

especiais pode, muitas vezes ser o maior empecilho para locomoção ao trabalho

ou até mesmo ao lazer.

Fonseca188 leciona em consonância com o tema aludido:

“A tradição arquitetônica nas cidades valoriza escadarias, soleiras altas, e o transporte público, por sua vez, atende muito mal,

187PASTORE, José. Oportunidades de Trabalho para Portadores de deficiência, pp.13-14. 188 FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. O Trabalho protegido do portador de deficiência, pp.252-253.

67

inclusive a quem não é deficiente, eis que a lei da oferta e da procura leva á lógica da redução do numero d ônibus. Ao quais estão sempre lotados e premidos por horários quase inexeqüíveis, ante as vias publicas congestionadas. Desse modo, a implantação de rampas, de elevadores ou de calçadas sem buracos ou degraus, edifícios privados e públicos acessiveis, será uma empreitada onerosa, lenta e, contra a qual, já que o instrumental jurídico completou-se com a edição do Decreto n. 5296/04. Competirá, assim, á sociedade civil mobilizar-se para que, diante da provocação do Ministério Publico e do Judiciário, as prefeituras recalcitrantes implementem as alterações necessárias.”

Uma proposta de intervenção positiva neste aspecto, entre

muitas outras possíveis, seria a oferta de transporte coletivo especial para as

pessoas portadores de deficiência com conforto e segurança, mediante

cadastramento por bairro em função da demanda existente.189

Conclui-se que o Estado, portanto, têm uma participação

totalmente decisiva no controle aos portadores de deficiência, que influência, á

sua vida em todos os aspectos relativos ao seu meio ambiente, e assiste por vias

judiciais e normas constitucionais a plena defesa de seus direitos.

3.4 A EFETIVIDADE DO ACESSO AO TRABALHO DAS PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA

“O problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protege-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas político.”( Norberto Bobbio)

189 MELO Sandro Nahmias, O direito do trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.161.

68

O direito ao trabalho para os portadores de necessidades

especiais é direito imprescindível para uma boa qualidade de vida , se ferido este

direito, certamente a sociedade ajudará a custear a Previdência Social,

mantenedora de benefícios auferidos aos ditos “discriminados”.

Resta evidente na realidade brasileira, que é necessário

medidas imediatas para efetivação dos direitos fundamentais direcionados aos

portadores de necessidades especiais em forma das garantias fundamentais

previstas constitucionalmente.190 Fonseca191cita: o direito á igualdade, à

habilitação e reabilitação, o direito ao trabalho, á educação, á eliminação de

barreiras arquitetônicas e acesso ao transporte, o direito á livre expressão, á

saúde, à aposentadoria, ao lazer, e á assistência social.

190 MELO Sandro Nahmias, O direito do trabalho da pessoa portadora de deficiência, p.162. 191 FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. O Trabalho protegido do portador de deficiência, p.14.

69

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após essas considerações, observa-se em nosso

ordenamento jurídico, dispositivos legais apropriados a extinguir, ou pelo menos

abrandar, as barreiras impostas aos portadores de necessidades especiais com

relação ao ingresso no mercado de trabalho, contanto que haja o engajamento de

todos os segmentos da sociedade, através de um conjunto de medidas positivas,

que nada mais almejam senão garantir os direitos fundamentais sedimentados no

texto constitucional. Entrementes, em decorrência da falta de conscientização, a

garantia constitucional por vezes é desrespeitada, carecendo, assim, de eficácia.

Para que as normas tenham uma maior abrangência e, por

conseguinte, o alcance esperado, atinando assim o seu fim social, mister se faz

que a sociedade tenha consciência que o portador de necessidade especial

possui capacidade limitada para exercer algumas atividades, possuindo plenas

condições de desenvolver outras, sem que com isso deixe de ser deficiente, mas

possuindo plena capacidade de utilizada no mercado de trabalho, independente

da sua condição especial.

70

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deficiência. Ministério Público do Rio Grande do Sul Disponível em

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