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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS Escola do Legislativo PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Educação Continuada O PODER LEGISLATIVO E O PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE: Análise da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais Edelves Medeiros Correa da Cunha Juliana Gama Gondim Dantas Sérgio Cantini Nunes Belo Horizonte 2007

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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS Escola do Legislativo

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Educação Continuada

O PODER LEGISLATIVO E O PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE: Análise da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais

Edelves Medeiros Correa da Cunha

Juliana Gama Gondim Dantas

Sérgio Cantini Nunes

Belo Horizonte 2007

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Edelves Medeiros Correa da Cunha

Juliana Gama Gondim Dantas

Sérgio Cantini Nunes

O PODER LEGISLATIVO E O PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE: Análise da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, em parceria com a Escola do Legislativo da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Poder Legislativo.

Orientadora: Profa. Natália de Miranda Freire

Belo Horizonte 2007

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Edelves Medeiros Correa da Cunha Juliana Gama Gondim Dantas Sérgio Cantini Nunes

O PODER LEGISLATIVO E O PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE: Análise da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, em parceria com a Escola do Legislativo da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Poder Legislativo.

Belo Horizonte, 2007.

_______________________________________________

Natália de Miranda Freire (Orientadora)

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RESUMO

Esta monografia trata das relações entre o Poder Legislativo e o princípio constitucional da

publicidade, que impõe ao administrador público o dever de manter total transparência em

suas ações, de forma a permitir o controle e a fiscalização por parte da sociedade. O

Legislativo, como espaço privilegiado de debate, é o Poder com maior potencial de abertura à

participação política do cidadão, que, para participar de fato, precisa estar bem informado.

Como conseqüência, cabe ao Poder Legislativo estabelecer mecanismos institucionais de

produção e disseminação de informações, possibilitando à sociedade, bem informada, influir

nas decisões do parlamento. Em nossa análise das relações entre Legislativo e publicidade,

descrevemos os mecanismos institucionais de abertura à sociedade adotados pela Assembléia

Legislativa do Estado de Minas Gerais, procurando demonstrar como o Legislativo pode, de

muitas formas, equipar-se para atuar com transparência. No entanto, apesar dos esforços da

instituição, é fácil perceber que a maioria da população permanece distante e desinformada

acerca do que ocorre na Assembléia. O Legislativo e os políticos continuam sendo vistos de

uma forma muito negativa, o que pôde ser comprovado pelos resultados obtidos na pesquisa

de opinião que empreendemos para subsidiar este trabalho, na qual foram entrevistadas, por

meio de questionário, 30 pessoas de perfil variado. Esses resultados coincidem com os de uma

pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi em 1993. Portanto, passados 14 anos, vemos que

pouco evoluiu o relacionamento entre Legislativo e sociedade. O cidadão continua

desinformado e descrente. Essa constatação aponta tanto para a necessidade de tornar mais

conhecidos os mecanismos de que o Legislativo já dispõe para dar visibilidade ao trabalho

dos parlamentares (que abordamos exaustivamente nesta monografia) quanto para a criação

de outros, mais acessíveis ao cidadão comum, conforme as muitas sugestões dos

entrevistados. Ressalte-se ainda que somente quando esses mecanismos alcançarem uma

parcela considerável da sociedade poderemos considerar o princípio da publicidade uma

norma tão eficiente quanto eficaz.

Palavras-chave: Poder Legislativo; princípio da publicidade; transparência; informação;

participação popular.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Matérias de deliberação por voto secreto e respectivos tipos de reunião, segundo os arts. 40 e 261 do Regimento Interno da ALMG......................

30

QUADRO 2 Áreas de atuação da Escola do Legislativo da ALMG............................... 37 QUADRO 3 Descrição dos programas desenvolvidos pela Escola do Legislativo da

ALMG........................................................................................................ 38

QUADRO 4 Principais programas exibidos pela TV Assembléia.................................. 41 QUADRO 5 Conteúdo da página da ALMG na internet (www.almg.gov.br)................ 42 QUADRO 6 Relatórios e demonstrativos de prestação de contas divulgados pela

ALMG em sua página na internet.............................................................. 47

QUADRO 7 Principais eventos institucionais realizados pela ALMG na 15ª Legislatura (primeiro biênio).....................................................................

50

QUADRO 8 Principais eventos institucionais realizados pela ALMG na 15ª Legislatura (segundo biênio)......................................................................

51

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Layout da página da ALMG na internet (www.almg.gov.br).................... 43 FIGURA 2 Resultados da pesquisa............................................................................... 58

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Balanço das atividades das comissões da ALMG na 15ª Legislatura........ 48 TABELA 2 A confiança nas instituições, segundo a pesquisa do Vox Populi (1993).. 55

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LISTA DE SIGLAS

ALMG – Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais

CAC – Centro de Atendimento ao Cidadão

Ceac – Centro de Apoio às Câmaras

PMDI – Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado

PPAG – Plano Plurianual de Ação Governamental

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 08 2 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.................................................................................................................

11

2.1 O princípio da legalidade.................................................................................. 13 2.2 O princípio da impessoalidade......................................................................... 13 2.3 O princípio da moralidade............................................................................... 14 2.4 O princípio da publicidade............................................................................... 15 2.5 O princípio da eficiência................................................................................... 18 2.6 O princípio da razoabilidade............................................................................ 18 3 O PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE E O PODER LEGISLATIVO............... 20 3.1 A redação das leis.............................................................................................. 21 3.2 O voto secreto no Legislativo............................................................................ 23 4 O PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE E A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS......................................................................

27

4.1 A publicação no “Minas Gerais”..................................................................... 27 4.2 As garantias de acesso e os instrumentos de participação do cidadão......... 29 4.3 O Ceac e a Escola do Legislativo...................................................................... 35 4.4 Os meios de comunicação do Legislativo........................................................ 39 4.5 O princípio da publicidade na prática: análise da 15ª Legislatura.............. 47 5 O QUE PENSA O CIDADÃO............................................................................. 54 5.1 A pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi em 1993............................... 54 5.2 A nossa pesquisa................................................................................................ 56 6 CONCLUSÃO...................................................................................................... 61 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 66 APÊNDICES............................................................................................................ 69

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1 INTRODUÇÃO

Previsto no caput do art. 37 da Constituição Federal, o princípio da publicidade

consagra o dever do administrador público de manter plena transparência1 em suas ações. Não

se admite em um Estado Democrático de Direito, onde o poder é exercido em nome do povo,

que este fique privado das informações pertinentes à administração pública. Quem atua e

decide na qualidade de representante do povo tem o dever de dar satisfação dos seus atos.

O princípio da publicidade possibilita, assim, mostrar a toda a sociedade, aos

administrados, os atos praticados pelos administradores públicos, de modo a permitir que

estes possam ser fiscalizados e controlados.

Para Diogo de Figueiredo Moreira Neto (2001), é fundamental a participação política

do cidadão para dar legitimidade ao exercício do poder pelos governantes, e essa participação

se dá pela atuação de indivíduos ou grupos na ação do Estado. Segundo o autor, esse processo

só é possível por meio da publicidade ampla dos atos públicos que afetem os cidadãos,

publicidade antecedente à edição do ato, para que os cidadãos afetados possam se manifestar.

Odete Medauar (2006) vê uma relação íntima entre democracia e publicidade,

assinalando que “o tema da transparência e visibilidade, também tratado como publicidade da

atuação administrativa, encontra-se associado à reivindicação geral da democracia

administrativa”.

Ao discorrer sobre democracia e poder invisível, Norberto Bobbio (2000) caracteriza a

democracia, sob tal prisma, como o “governo do poder público em público”, atribuindo a este

último vocábulo o sentido de “manifesto”, “visível”. Um dos grandes desafios do Poder

Legislativo é justamente ser o articulador da transformação da nossa democracia nesse

exercício do poder público em público, uma vez que temos assistido a um excesso de aparatos

burocráticos por parte dos dirigentes públicos, que acabam por restringir o modelo

representativo e a participação popular. No geral, há pouca divulgação do lado dos

governantes, e muita passividade do lado da população. Há um poder que o princípio da

publicidade torna visível por definição; mas o governo oculto é uma realidade.

É imprescindível incentivar o cidadão a tomar conhecimento, por exemplo, das

políticas públicas, das parcerias, dos instrumentos estatais de planejamento. O cidadão não

pode continuar dando as costas aos problemas da sociedade, por desinformação, e se afundar

1 A noção de transparência expressa o direito do cidadão à informação e o dever do Estado de informar (PRATA, 2007).

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no comodismo que só lhe permite exercer a cidadania de quatro em quatro anos, no momento

do voto. Para Cármen Lúcia Antunes Rocha (1994), “não se pretende mais aceitar, como

legítima, a democracia da ignorância, aquela em que todos são iguais no desconhecimento do

que se passa no exercício do poder usurpado e silenciosamente desempenhado”. Rousseau

adivinhou cedo as dificuldades de realização do regime democrático, que sintetizou ao dizer

que “mais que um governo para homens, a democracia é um governo para deuses”.

Aplicável a todos os Poderes, em todos os níveis de governo, o princípio da

publicidade será abordado neste trabalho sob a ótica de suas relações com um dos Poderes em

especial, o Legislativo, que, como espaço privilegiado de debate, é certamente o que possui

maior potencial de abertura à participação política do cidadão. Nesse contexto, a informação

adquire relevância, na medida em que é um dos pressupostos para que essa participação

ocorra de fato. Portanto, em um regime democrático, o Legislativo deve estabelecer

mecanismos institucionais de produção e disseminação de informações, como forma de

ampliar a participação do cidadão e, conseqüentemente, o controle social sobre a

administração pública.

Analisaremos um Legislativo em especial, a Assembléia Legislativa do Estado de

Minas Gerais – ALMG –, buscando reconhecer seus diversos mecanismos institucionais de

participação popular e de produção e disseminação de informações. Nosso objetivo é procurar

demonstrar como o Legislativo pode efetivamente agir em consonância com o princípio da

publicidade, criando instrumentos que garantam a participação da sociedade e a transparência

na administração pública. Complementando essa análise, abordaremos um período

determinado da história da instituição, a 15ª Legislatura (fevereiro de 2003 a janeiro de 2007),

enumerando o que se fez em prol do princípio da publicidade nesses quatro anos.

Ocorre que, apesar de a ALMG ter criado nos últimos anos todo um aparato

institucional de abertura à sociedade, é fácil perceber a grande distância existente hoje entre o

Poder Legislativo e a população, que, em sua maior parte desinformada, desconhecendo a

importância dos trabalhos que na Assembléia Legislativa se realizam, não se sente motivada a

acompanhar as atividades parlamentares.

Este trabalho pretende analisar as causas desse desinteresse, buscando conhecer o

conceito que o cidadão tem do trabalho realizado por seus representantes. Para tanto, será

entrevistado, por meio de questionário, um grupo de 30 pessoas, de ambos os sexos,

especialmente representantes da classe média e da classe média baixa, na faixa etária de 20 a

70 anos, com diferentes níveis de escolaridade e diferentes graus de exposição a informações

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sobre as atividades da ALMG. A análise dos resultados será feita por processo analítico, com

extração de conclusões e de sugestões.

Os resultados obtidos serão comparados com as conclusões de uma pesquisa realizada

pelo Instituto Vox Populi, há 14 anos, sob encomenda da ALMG. Essa pesquisa mostrou que

a maioria das pessoas avaliam de forma muito negativa o Legislativo e os políticos, mesmo

conhecendo pouco as atribuições parlamentares e os mecanismos de funcionamento desse

Poder; por outro lado, tendem a avaliá-los melhor quando dispõem de mais informações e

conhecem o trabalho que se realiza na Assembléia. Será possível, comparando-se as

conclusões das duas pesquisas, avaliar se a opinião da população em relação ao Legislativo

mudou nesse intervalo de 14 anos, período em que a ALMG implantou e aperfeiçoou diversos

mecanismos institucionais de participação popular e de produção e disseminação de

informações.

Para a consecução dos objetivos almejados, a metodologia a ser utilizada envolverá,

além das entrevistas mencionadas anteriormente, pesquisa bibliográfica e documental. Após

esta Introdução, abordaremos, no capítulo 2, os princípios constitucionais da administração

pública, analisando mais detidamente o princípio da publicidade. No capítulo 3, trataremos

das relações entre o princípio da publicidade e o Poder Legislativo, enfatizando, no item 3.1, a

redação das leis e, no item 3.2, a polêmica que envolve a utilização do voto secreto nas casas

legislativas.

No capítulo 4, analisaremos a Assembléia de Minas. Os diversos mecanismos

institucionais de participação popular e de produção e disseminação de informações adotados

na ALMG serão apresentados em quatro categorias: a publicação no jornal “Minas Gerais”

(item 4.1); as garantias de acesso e os instrumentos de participação do cidadão (item 4.2);

Ceac e Escola do Legislativo (item 4.3) e os meios de comunicação do Legislativo (item 4.4).

No item 4.5, abordaremos a 15ª Legislatura, enumerando o que se fez em prol do princípio da

publicidade nesse período.

A opinião do cidadão em relação à ALMG será objeto do capítulo 5. No item 5.1,

trataremos da pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi em 1993. A seguir, no item 5.2,

analisaremos as respostas obtidas na nossa pesquisa.

Finalmente, na Conclusão, compararemos os resultados das duas pesquisas e

apresentaremos nossas constatações e considerações finais.

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2 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A excelência de um regime se prova pela consistência de seus princípios. Esquecidos

os princípios, ou substituídos estes por similares, perecem os ideais e os fatos desvinculam-se

dos motivos que lhes deram origem.

Os princípios que regem a administração pública no Brasil estão evidenciados no

caput do art. 37 da Constituição Federal, que estabelece que a administração pública direta e

indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência.

Já o caput do art. 13 da Constituição do Estado de Minas Gerais prevê que a atividade

de administração pública dos Poderes do Estado e a de entidade descentralizada se sujeitarão

aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência e

razoabilidade. Portanto, a Constituição mineira explicita, além dos cinco princípios

constantes do caput do art. 37 da Constituição Federal, a razoabilidade como um dos

princípios a serem obedecidos pela administração pública do Estado.

Não há hierarquia entre os princípios, que devem ser igualmente observados na ação

estatal. É nesses princípios que se fundamenta a validade da atuação da administração

pública; as normas legais que deles decorrem não podem contrariá-los e, uma vez

estabelecidas, não podem ser descumpridas. Se na administração privada é lícito fazer tudo o

que a lei não proíbe, na administração pública só é permitido fazer o que a lei autoriza.

Celso Antônio Bandeira de Mello (2006) ensina que

violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio violado, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.

Miguel Reale (2000), abordando os princípios, afirma que “são verdades ou juízos

fundamentais, que servem de alicerce ou de garantia de certeza a um conjunto de juízos,

ordenados em um sistema de conceitos relativos a dada porção da realidade”.

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Agustín Gordillo (1998), por sua vez, considera que os princípios são a base de uma

sociedade livre e republicana, sendo os elementos fundamentais e necessários da sociedade e

de todos os atos de seus componentes.

Para Cármen Lúcia Antunes Rocha (1994), “no princípio repousa a essência de uma

ordem, seus parâmetros fundamentais e direcionadores do sistema ordenado”. Ainda segundo

o seu entendimento, transportados para o ramo da ciência jurídica, os princípios constituem os

valores formulados e aplicados no meio social, absorvidos pelo direito, como base do sistema,

devendo ser observados dentro da estrutura do Estado. Tem-se, assim, que os valores

superiores da sociedade, encarnados nos princípios dotados de normatividade e eficácia plena,

são as raízes do sistema jurídico.

Nos princípios estão o espírito e os fins do sistema jurídico, que demonstram a sua

tendência ideológica (ROCHA, 1994). Eles exigem que tanto a lei como os atos

administrativos respeitem seus limites e tenham o seu mesmo conteúdo, sigam sua mesma

direção e realizem o seu espírito (GORDILLO, 1966).

Os princípios não são meras declarações de sentimentos ou intenções ou, ainda, meros

postulados de um discurso moral. Em verdade, são normas dotadas de positividade que têm o

condão de determinar condutas ou impedir comportamentos com eles incompatíveis

(FERRAZ; DALLARI, 2001). O princípio jurídico deve estar provido de obrigatoriedade e

aplicabilidade, pois, caso contrário, seria apenas instrumento de retórica, inútil para realização

do ideal de justiça. Dessa forma, os princípios, ao lado das regras jurídicas, revestem-se de

normatividade imperativa, mesmo quando não são explicitamente estabelecidos.

Compreende-se que os princípios constituem os mandamentos normativos estruturais

do sistema jurídico. Assim, orientam e direcionam a elaboração das regras jurídicas, podendo,

também, regular um caso concreto. Diante da nossa realidade legislativa – principalmente no

âmbito municipal –, os princípios garantem a sociedade contra regras jurídicas violadoras do

sistema jurídico, destinadas ao atendimento de interesses de grupos políticos e econômicos, na

maioria das vezes desvinculadas dos interesses coletivos.

A Constituição Federal de 1988 inovou, ao explicitar no caput de seu art. 37 alguns

dos princípios a serem obedecidos pela administração pública direta e indireta de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Ressalte-se porém que,

além desses, existem outros princípios a serem acatados no âmbito da administração pública:

alguns estão expressos ao longo do texto constitucional; outros, implícitos no ordenamento

jurídico.

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2.1 O princípio da legalidade

Segundo o princípio da legalidade, o administrador público somente poderá fazer o

que estiver expressamente autorizado em lei, inexistindo incidência de sua vontade subjetiva,

uma vez que na administração pública só é permitido fazer o que a lei autoriza,

diferentemente da esfera particular, onde se permite realizar tudo que a lei não proíbe. Esse

princípio coaduna-se com a necessidade de se preservar a ordem jurídica e com a própria

função administrativa, de executor do direito, que atua sem finalidade própria, mas sim em

respeito à finalidade imposta pela lei.

Hely Lopes Meirelles (2004) considera que

a legalidade, como princípio da administração, significa que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum e dele não pode se afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.

O princípio da finalidade, que não foi citado no caput do art. 37 da Constituição

Federal2, pode ser entendido como um aspecto da legalidade, na medida em que o ato

administrativo só é válido quando atende o seu fim legal, ou seja, o fim submetido à lei.

Entretanto, Hely Lopes Meirelles (2004) destaca-o do princípio da legalidade, para lhe

dar consideração especial, para mostrar que ele “impõe ao administrador público que só

pratique o ato para o seu fim legal”, que a finalidade é inafastável do interesse público, de

sorte que o administrador tem que praticar o ato com finalidade pública, sob pena de desvio

de finalidade, uma das mais insidiosas modalidades de abuso de poder.

2.2 O princípio da impessoalidade

O direito administrativo tem como parâmetro o postulado da supremacia do interesse

público sobre o particular. Como conseqüência, o princípio da impessoalidade determina que

a finalidade do ato administrativo seja a satisfação do interesse coletivo e nunca o

favorecimento de pretensões particulares. Além disso, impede que se estabeleçam

discriminações no atendimento à comunidade.

2 Ao que tudo indica, o princípio da finalidade não foi explicitado pelo legislador constituinte porque este o entendeu como manifestação do princípio da legalidade.

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O princípio da impessoalidade da administração pública significa que os atos e

provimentos administrativos são imputáveis não ao funcionário que os pratica, mas ao órgão

ou entidade administrativa em nome do qual age o funcionário. Este é um mero agente da

administração pública, de sorte que não é ele o autor institucional do ato. Ele é apenas o órgão

que formalmente manifesta a vontade estatal. É que a primeira regra do estilo administrativo é

a objetividade, que está em estreita relação com a impessoalidade. Logo, as realizações

administrativo-governamentais não são do funcionário ou autoridade, mas da entidade pública

em nome de quem as produziu. A própria Constituição dá uma conseqüência expressa a essa

regra, quando, no § 1º do art. 37, proíbe que constem nomes, símbolos ou imagens que

caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos em publicidade de atos,

programas, obras, serviços e campanhas de órgãos públicos.

Conforme dissemos no item 2.1 deste trabalho, Hely Lopes Meirelles (2004) dá

consideração especial ao princípio da finalidade, destacando-o do princípio da legalidade.

Afirma porém que o princípio da impessoalidade nada mais é que o próprio princípio da

finalidade, o qual “impõe ao administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal.

E o fim legal é unicamente aquele que a norma de direito indica expressa ou virtualmente

como objetivo do ato, de forma impessoal”.

2.3 O princípio da moralidade

No que tange ao princípio da moralidade, pressupõe-se que os administradores

públicos se pautem, em suas ações, pela ética, pela moral, pelo razoável, pelo justo, pelo

lícito. Além da observação das normas jurídicas, espera-se deles o respeito aos costumes e à

moral comum.

Portanto, não basta ao administrador o estrito cumprimento da legalidade, devendo ele,

no exercício de sua função pública, respeitar os princípios éticos de razoabilidade e justiça,

pois a moralidade constitui, a partir da Constituição de 1988, pressuposto de validade de todo

ato da administração pública, como ressalta Hely Lopes Meirelles (2004).

Maria Sylvia Zanella di Pietro (2004) é especialmente esclarecedora quanto à questão

da moralidade na administração pública, ao afirmar que não é preciso levar em conta a

intenção do agente quando determinado ato contraria o senso comum de honestidade,

equilíbrio, justiça e respeito à dignidade do ser humano, pois a imoralidade resulta do ato em

si, de seu objeto, de seu conteúdo. Segundo a autora, “a moralidade exige proporcionalidade

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entre os meios e os fins a atingir, entre os sacrifícios impostos à coletividade e os benefícios

por ela auferidos, entre as vantagens usufruídas pelas autoridades públicas e os encargos

impostos à maioria dos cidadãos”. E ressalta que a imoralidade salta aos olhos quando a

administração pública é pródiga em despesas legais, porém inúteis, como propaganda e

mordomias, mas não atende as necessidades básicas da população.

A conduta do administrador público em desrespeito ao princípio da moralidade

enquadra-se nos denominados atos de improbidade administrativa, previstos no art. 37, § 4º,

da Constituição Federal, que estabelece como punição a suspensão dos direitos políticos, a

perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e

gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível, permitindo ao Ministério

Público a propositura de ação civil pública por ato de improbidade, com base na Lei Federal

nº 8.429, de 1992, para que o Poder Judiciário exerça o controle jurisdicional sobre lesão ou

ameaça ao patrimônio público.

A probidade administrativa consiste no dever de o funcionário servir à administração

pública com honestidade, sem tirar proveito, no exercício de suas funções, dos poderes ou

facilidades delas decorrentes para obter vantagem pessoal ou favorecer alguém. O desrespeito

a esse dever é que caracteriza a improbidade administrativa.

2.4 O princípio da publicidade

Objeto de análise deste trabalho, pela ótica de suas relações com o Poder Legislativo,

o princípio da publicidade é descrito na fala de Hely Lopes Meirelles (2004) como

a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos. Daí porque as leis, atos e contratos administrativos, que produzem conseqüências jurídicas fora dos órgãos que os emitem, exigem publicidade para adquirirem validade universal, ou seja, perante as partes e terceiros.

O autor, ao desenvolver seu raciocínio, amplia esse conceito e enfatiza que a

“publicidade, como princípio da administração pública, abrange toda a atuação estatal, não só

sob o aspecto da divulgação oficial de seus atos, como também de propiciação de

conhecimento da conduta interna de seus agentes”. Ressalta ainda que a publicidade, além de

assegurar os efeitos externos dos atos e contratos administrativos, propicia seu conhecimento

e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral, através dos meios constitucionais:

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mandado de segurança, direito de petição, ação popular, habeas-data e suspensão dos direitos

políticos por improbidade administrativa.

Hely Lopes Meirelles (2004) também chama a atenção para o fato de que a publicação

que produz efeitos jurídicos é a do órgão oficial da administração, e não a divulgação pela

imprensa, pela televisão ou pelo rádio, ainda que em horário oficial. Por órgão oficial,

entendem-se não só o diário oficial das entidades públicas como também os jornais

contratados para as publicações oficiais. Segundo o autor, vale ainda como publicação oficial

a afixação dos atos e leis municipais na sede da Prefeitura ou da Câmara, onde não houver

órgão oficial, em conformidade com o disposto na Lei Orgânica do Município.

José Afonso da Silva (2004) ensina que

a publicidade sempre foi tida como um princípio administrativo, porque se entende que o poder público, por ser público, deve agir com a maior transparência possível, a fim de que os administrados tenham, a toda hora, conhecimento do que os administradores estão fazendo. Especialmente exige-se que se publiquem atos que devam surtir efeitos externos, fora dos órgãos da administração.

Para Celso Antônio Bandeira de Mello (2006), no princípio da publicidade consagra-

se o dever do administrador público de manter plena transparência em suas ações. Nessa

linha, o autor argumenta que não se admite em um Estado Democrático de Direito, onde o

poder é exercido em nome do povo, que este fique privado das informações quanto à gestão

da coisa pública. A administração não pode ocultar dos administrados os assuntos que a todos

interessam, muito menos dos sujeitos individualmente afetados por alguma medida. Quem

atua e decide na qualidade de representante do povo tem o dever de dar satisfação dos seus

atos (FERRAZ; DALLARI, 2001).

Portanto, um dos principais objetivos do princípio da publicidade é mostrar a toda a

sociedade, aos administrados, os atos praticados pelos administradores públicos, de modo a

permitir que estes possam ser fiscalizados e controlados.

Além de expresso no caput do art. 37 da Carta Magna, o princípio da publicidade é

confirmado por outros dispositivos constitucionais, que reforçam o dever do administrador de

dar transparência a seus atos. Como exemplos podem ser citados os seguintes incisos do art.

5º da Constituição Federal:

XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu

interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

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XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra

ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e

esclarecimento de situações de interesse pessoal; [...] LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e

certo, não amparado por habeas-corpus ou habeas-data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

[...] LXXII – conceder-se-á habeas-data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do

impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; (BRASIL, 2007, grifos nossos).

No entanto, assim como há dispositivos constitucionais que confirmam e reforçam o

princípio da publicidade, há os que o restringem, principalmente quando estiver em jogo o

interesse social e a segurança da sociedade e do Estado. Exemplos de restrição ao princípio da

publicidade podem ser encontrados em alguns incisos do art. 5º da Constituição Federal:

o inciso XIV assegura a todos o acesso à informação, resguardado o sigilo da fonte,

quando necessário ao exercício profissional;

o inciso XXXIII determina que todos têm direito a receber dos órgãos públicos

informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão

prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo

sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

o inciso LX estabelece que a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais

quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem. Como a

administração tutela interesses públicos, não se justifica o sigilo de seus atos

processuais, a não ser que o próprio interesse público assim determine ou que o

assunto, se divulgado, possa ofender a intimidade de determinada pessoa.

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2.5 O princípio da eficiência

Seguindo os passos de algumas legislações estrangeiras e buscando garantir maior

qualidade na prestação dos serviços públicos, a Emenda Constitucional nº 19, de 1998,

acrescentou expressamente aos princípios constitucionais da administração pública, previstos

no caput do art. 37, o princípio da eficiência, findando com as discussões doutrinárias e com

as jurisprudências sobre sua existência implícita na Constituição Federal e sua aplicabilidade

integral. O princípio da eficiência orienta a atividade administrativa com vistas a alcançar

melhores resultados com meios escassos e menor custo, o que significa o maior benefício com

o menor custo possível, tendo, portanto, como conteúdo a relação entre meios e resultados.

Segundo José Afonso da Silva (2004), a eficiência administrativa se obtém pelo

melhor emprego de recursos e meios para melhor satisfazer as necessidades coletivas em um

regime de igualdade dos usuários. Logo, segundo o autor, “o princípio da eficiência

administrativa consiste na organização racional dos meios e recursos humanos, materiais e

institucionais para a prestação de serviços públicos de qualidade em condições econômicas de

igualdade dos consumidores”.

A própria Emenda Constitucional nº 19 estabeleceu mecanismos tendentes a promover

o cumprimento do princípio da eficiência, como a participação do usuário na administração

pública e a possibilidade de ampliação da autonomia gerencial, orçamentária e financeira de

órgãos e entidades da administração direta e indireta.

2.6 O princípio da razoabilidade

Conforme dissemos no início do capítulo 2 deste trabalho, o caput do art. 13 da

Constituição do Estado de Minas Gerais prevê que a atividade de administração pública dos

Poderes do Estado e a de entidade descentralizada se sujeitarão aos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência e razoabilidade. Dessa forma, a

Constituição mineira explicita, além dos cinco princípios constantes do caput do art. 37 da

Constituição Federal, a razoabilidade como um dos princípios a serem obedecidos pela

administração pública do Estado.

O princípio da razoabilidade consiste basicamente em buscar o espírito da lei

conforme a razão, considerada como a faculdade da mente que deverá munir-se de elementos

que possam embasar os juízos emitidos, para que sejam justos, moderados, equânimes e

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transigentes. Importante é reconhecer que todo juízo é passível de ser modificado caso novos

elementos passem a compor determinado quadro delineado, pois até as resoluções largamente

amadurecidas podem apresentar variantes no curso de sua execução.

O princípio da razoabilidade guarda estreita relação com o princípio da moralidade,

que determina, conforme enfatizamos no item 2.3, que os administradores públicos pautem

suas ações pela ética, pela moral, pelo razoável, pelo justo, pelo lícito. Segundo Maria Sylvia

Zanella di Pietro (2004), “na aferição da imoralidade administrativa, é essencial o princípio da

razoabilidade”. Hely Lopes Meirelles (2004), abordando o princípio da moralidade,

argumenta que não basta ao administrador o estrito cumprimento da legalidade, devendo ele,

no exercício de sua função pública, respeitar os princípios éticos de razoabilidade e justiça.

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3 O PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE E O PODER LEGISLATIVO

No capítulo 2, abordamos os princípios constitucionais da administração pública, que

são aplicáveis a todos os Poderes, em todos os níveis de governo. Analisamos mais

detidamente um princípio em especial, o da publicidade, que é o objeto de análise deste

trabalho.

Neste capítulo, trataremos das relações entre o princípio da publicidade e um dos

Poderes em especial, o Legislativo, certamente o mais suscetível aos efeitos da opinião

pública, no qual muito do que se diz e do que se faz é condicionado pelas preferências

demonstradas pela sociedade nele representada.

Essas preferências constituem importante subsídio à atuação parlamentar, pois

refletem a pluralidade de interesses e problemas que afetam a vida do cidadão e sobre os quais

os representantes devem decidir. Espaço natural e obrigatório para a produção de consensos e

para a definição de regras legais nas democracias representativas, o Legislativo é sem dúvida

o Poder com maior potencial de abertura à participação política do cidadão (PRATA, 2007).

E a informação é um dos pressupostos para que essa participação ocorra de fato. Em

um regime democrático, o Poder Legislativo deve estabelecer mecanismos institucionais de

interlocução com a sociedade, canais que, além de receberem informações sobre as demandas

e preferências da sociedade, possam também fornecer ao cidadão informações sobre o que

ocorre no parlamento. Por certo, esses instrumentos de produção e disseminação de

informações contribuem para ampliar os níveis de controle da sociedade sobre a

administração pública.

Há diversas maneiras de tornar disponíveis ao cidadão as informações relacionadas ao

parlamento, desde a implantação de mecanismos que permitam a ele participar e intervir no

trabalho legislativo, até a manutenção de uma página na internet3.

Todavia, no Brasil, os Legislativos apresentam estruturas variadas no que diz respeito

ao fornecimento de informações à sociedade. Se de um lado alguns adotam audiências

públicas, projetos de participação popular, escolas do Legislativo e canais diretos com o

cidadão, outros nem sequer têm uma página na internet. A oferta de serviços e procedimentos

relacionados com o acesso às informações é um problema relativamente complexo da agenda

política do Legislativo, especialmente quanto às políticas públicas, em função do grau de

3 O capítulo 4 deste trabalho, que trata dos mecanismos institucionais adotados pela ALMG, demonstra como esses instrumentos podem ser numerosos e variados.

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complexidade da estrutura administrativa, do custo elevado das tecnologias e do grande

volume de informações com o qual o cidadão tem de lidar (MELLO; COHEN; OLIVEIRA,

2003). Essas dificuldades acabam por reduzir as chances de provimento efetivo do direito à

informação (e, portanto, do princípio da publicidade) e somente poderão ser superadas se

houver mobilização de setores da sociedade.

Abordaremos, a seguir, dois importantes tópicos pertinentes às relações entre o

princípio da publicidade e o Poder Legislativo: primeiro, a redação das leis; depois, a

utilização do voto secreto nas casas legislativas. Complementando a análise feita neste

capítulo, trataremos, no próximo, da Assembléia de Minas, buscando reconhecer seus

mecanismos institucionais de participação popular e de produção e disseminação de

informações, que podem servir de exemplo para outros Legislativos estaduais.

3.1 A redação das leis

Mais que estabelecer a divulgação oficial das normas aprovadas, para que sejam

conhecidas e obedecidas, o princípio da publicidade aplica-se à própria redação das leis. O

legislador deve atuar com transparência, redigindo regras claras e precisas, de forma a

evidenciar o conteúdo e o alcance que pretende dar à norma. Assim, torna-se possível ao

cidadão conhecer e entender as leis que afetarão direta ou indiretamente sua vida.

No âmbito federal, a Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, que dispõe

sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, estabelece em seu art 11:

Art. 11 – As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e

ordem lógica, observadas, para esse propósito, as seguintes normas: I – para a obtenção de clareza: a) usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando a

norma versar sobre assunto técnico, hipótese em que se empregará a nomenclatura própria da área em que se esteja legislando;

b) usar frases curtas e concisas; c) construir as orações na ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e

adjetivações dispensáveis; d) buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o texto das normas legais,

dando preferência ao tempo presente ou ao futuro simples do presente; e) usar os recursos de pontuação de forma judiciosa, evitando os abusos de

caráter estilístico; II – para a obtenção de precisão: a) articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar perfeita

compreensão do objetivo da lei e a permitir que seu texto evidencie com clareza o conteúdo e o alcance que o legislador pretende dar à norma;

b) expressar a idéia, quando repetida no texto, por meio das mesmas palavras, evitando o emprego de sinonímia com propósito meramente estilístico;

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c) evitar o emprego de expressão ou palavra que confira duplo sentido ao texto; d) escolher termos que tenham o mesmo sentido e significado na maior parte do

território nacional, evitando o uso de expressões locais ou regionais; e) usar apenas siglas consagradas pelo uso, observado o princípio de que a

primeira referência no texto seja acompanhada de explicitação de seu significado; f) grafar por extenso quaisquer referências a números e percentuais, exceto data,

número de lei e nos casos em que houver prejuízo para a compreensão do texto; g) indicar expressamente o dispositivo objeto de remissão, em vez de usar as

expressões “anterior”, “seguinte” ou equivalentes; III – para a obtenção de ordem lógica: a) reunir sob as categorias de agregação – subseção, seção, capítulo, título e

livro – apenas as disposições relacionadas com o objeto da lei; b) restringir o conteúdo de cada artigo da lei a um único assunto ou princípio; c) expressar por meio dos parágrafos os aspectos complementares à norma

enunciada no “caput” do artigo e as exceções à regra por este estabelecida; d) promover as discriminações e enumerações por meio dos incisos, alíneas e

itens.

Na mesma linha, em Minas Gerais, a Lei Complementar n° 78, de 9 de julho de 2004,

que dispõe sobre a elaboração, a alteração e a consolidação das leis do Estado, prevê em seus

arts. 8º e 9º:

Art. 8° – A redação do texto legal buscará a clareza e a precisão. Art. 9° – São atributos do texto legal a concisão, a simplicidade, a uniformidade

e a imperatividade, devendo-se observar, para sua obtenção, as seguintes diretrizes: I – no que se refere à concisão: a) usar frases e períodos sucintos, evitando construções explicativas,

justificativas ou exemplificativas; b) evitar o emprego de adjetivos e advérbios dispensáveis; II – no que se refere à simplicidade: a) dar preferência às orações na ordem direta; b) dar preferência às orações e expressões na forma positiva; c) usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando for

necessário o emprego de nomenclatura técnica própria da área em que se esteja legislando;

III – no que se refere à uniformidade: a) expressar a mesma idéia, quando repetida no texto, por meio das mesmas

palavras, evitando o emprego de sinônimos; b) empregar palavras e expressões que tenham o mesmo sentido na maior parte

do território estadual, evitando o uso de termos locais ou regionais; c) buscar a uniformidade do tempo e do modo verbais; d) buscar o paralelismo entre as disposições dos incisos, das alíneas e dos itens

constantes da mesma enumeração; e) evitar o emprego de palavra, expressão ou construção que confira

ambigüidade ao texto; IV – no que se refere à imperatividade: a) dar preferência ao futuro do presente do indicativo e ao presente do

indicativo; b) evitar o uso meramente enfático de expressão que denote obrigatoriedade.

O Manual de redação parlamentar da ALMG (MINAS GERAIS, 2007b) enfatiza que

a redação de documentos parlamentares deve observar, de modo geral, os princípios que

orientam a administração pública e servem de referência para a redação de textos oficiais nos

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órgãos públicos. A abertura a diferentes tipos de discursos e perspectivas é uma marca típica

dos parlamentos e tem impacto direto sobre a forma como os documentos parlamentares são

redigidos.

Além disso, chama a atenção para a relação existente entre o princípio da publicidade

e a redação do texto legal, argumentando que

Um dos mais importantes princípios da administração pública, o da publicidade,

implica [...] a necessidade de que o texto possa ser lido e compreendido pelo maior número possível de pessoas. É por isso que se buscam a clareza e a precisão da forma, e é por isso que a simplicidade e a concisão devem ser tomadas como marcas da linguagem parlamentar. (MINAS GERAIS, 2007b).

3.2 O voto secreto no Legislativo

Adilson Abreu Dallari (2000) enfatiza que, diferentemente dos particulares, os agentes

públicos devem dar satisfação de seus atos, devem estar sujeitos ao acompanhamento e

controle de suas decisões. No exercício de função pública, estão submetidos ao princípio da

publicidade. Segundo o autor, isso se aplica aos agentes públicos em geral, mas com maior

intensidade aos titulares de mandatos legislativos, pois estes devem atuar, decidir e votar

exclusivamente na qualidade de representantes do povo.

Em consonância com o princípio da publicidade, a Constituição Federal estabelece,

como regra geral, que as deliberações nas casas legislativas, federais, estaduais ou municipais,

devem ser por voto aberto, exatamente para que o eleitorado possa acompanhar a atuação de

seus representantes, e para que possa, legitimamente, exercer a pressão necessária para o

correto funcionamento do regime democrático.

Em certos casos, no entanto, é impossível prescindir do voto secreto, como forma de

evitar outros tipos de pressão, espúria, sobre a atuação dos parlamentares. Somente nesses

casos, para evitar constrangimentos e assegurar a livre manifestação da vontade é que,

expressamente, taxativamente, a Constituição Federal prevê o uso de votação secreta. Quando

não houver previsão constitucional expressa, deverá ser observado o princípio da publicidade,

utilizando-se o voto aberto (DALLARI, 2000).

Entre as hipóteses constitucionalmente previstas de utilização do voto secreto,

podemos citar: o julgamento, por seus pares, de Deputados e Senadores, do qual pode resultar

a perda do mandato parlamentar; a aprovação da escolha de magistrados, nos casos

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estabelecidos na Constituição, e de titulares de determinados cargos públicos; a apreciação de

veto presidencial.

Atualmente, tanto o Congresso Nacional como as Assembléias Legislativas dos vários

Estados – e até muitas Câmaras de Vereadores – têm sido palco de campanhas que

preconizam a extinção do voto secreto no Legislativo. A tese defendida pelos que fazem tais

campanhas, e que ganhou a simpatia da opinião pública, fundamenta-se no direito de o eleitor

conhecer o voto de seu representante, não se justificando, portanto, o voto secreto.

Conforme lembra Fernando Machado da Silva Lima (2001), o noticiário político dos

últimos anos deixou a nítida impressão de que a utilização do voto secreto, no Legislativo, é

algo espúrio, ou de certa forma menos digno, que serve apenas para a concretização de

manobras escusas e ilegalidades diversas. Muitos passaram a acreditar que o voto secreto é,

em qualquer situação, uma imoralidade, já que o povo tem o direito de saber como votam os

seus representantes.

Sem dúvida, parece tratar-se de uma tese válida, mas apenas até certo ponto.

Conforme dissemos anteriormente, o voto aberto, em respeito ao princípio constitucional da

publicidade, deve prevalecer como regra geral, mas há de comportar exceções, pois em certos

casos o voto secreto é exatamente a garantia concedida ao povo de que o seu representante

terá condições de votar livremente, sem o constrangimento de pressões espúrias.

Nas palavras de Hugo de Brito Machado (2002), “o voto aberto permite o controle do

eleitor, mas deixa o membro do Congresso Nacional exposto ao controle por parte do Poder

Executivo, geralmente interessado nas decisões por motivos alheios aos interesses do povo.

Controle que é muito mais efetivo que o controle popular”.

Para reforçar seu argumento de que o voto secreto pode ser, em certos casos, uma

salvaguarda da democracia, Hugo de Brito Machado (2002) compara as Constituições

brasileiras de 1934 e 1937. Segundo o autor, a Constituição de 1934, considerada uma das

mais democráticas, previa o voto secreto nas deliberações sobre vetos e contas do Presidente

da República (art. 38) e para aprovação da escolha dos titulares de determinados cargos

públicos (art. 90). Em contraposição, a Constituição de 1937 (a Carta de Vargas), sabidamente

a mais antidemocrática, não permitia em nenhuma hipótese o voto secreto, sendo relevante

notar-se que em se tratando da rejeição de veto presidencial exigia votação nominal.

Na mesma linha, Fernando Machado da Silva Lima (2001) compara as Constituições

de 1967 e 1988. A Constituição de 1967, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº

1, de 1969, estabelecia no § 3º do art. 59:

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§ 3º – Comunicado o veto ao Presidente do Senado Federal, este convocará as duas Câmaras para, em sessão conjunta, dele conhecerem, considerando-se aprovado o projeto que, dentro de quarenta e cinco dias, em votação pública, obtiver o voto de dois terços dos membros de cada uma das Casas. Nesse caso, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República (grifo nosso).

Segundo o autor, é evidente que essa norma, outorgada pelo regime militar, ao impor a

votação pública para apreciação do veto presidencial, destinava-se a impedir que o Poder

Legislativo exercesse de fato a sua prerrogativa de rejeitar o veto, o que seria normal em um

regime democrático, caracterizado pela independência e harmonia dos Poderes e pelo sistema

de freios e contrapesos. Seguramente, naquele contexto histórico, sendo a votação pública,

nenhum congressista se atreveria a derrubar um veto do General-Presidente.

A Constituição atual, promulgada em 1988, trata dessa matéria no § 4º do art. 66,

estabelecendo que “o veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de

seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e

Senadores, em escrutínio secreto” (grifo nosso). Na análise do autor, a Constituição de 1988

impõe o voto secreto para apreciação do veto presidencial, ao contrário do que ocorria sob a

vigência das normas autoritárias do regime de 1964, exatamente para garantir que os

congressistas possam decidir de acordo com sua consciência, sem temer represálias por parte

do Executivo. Essa norma existe, portanto, para garantir o funcionamento do sistema de freios

e contrapesos, indispensável para a manutenção do equilíbrio entre os Poderes.

Dessa forma, com base no que foi aqui abordado, parece-nos razoável concluir que,

em determinados casos (apreciação de veto presidencial e aprovação da escolha de titulares de

determinados cargos públicos), o voto secreto pode, sim, contribuir positivamente para o

funcionamento do regime democrático, ao permitir maior distanciamento do parlamentar das

pressões exercidas pelo Poder Executivo.

Por outro lado, também é certo que o voto secreto deve ser utilizado unicamente nas

hipóteses expressamente previstas na Constituição Federal, pois do contrário estaríamos

atentando contra o princípio da publicidade. A enumeração constitucional dos casos de

votação secreta é taxativa, não podendo ser ampliada por nenhuma norma infraconstitucional.

Admitir que essa enumeração pudesse ser livremente ampliada poderia levar ao absurdo da

adoção generalizada do voto secreto nas deliberações de nossas casas legislativas, o que seria

uma ameaça ao funcionamento do regime democrático. Da mesma forma, norma

infraconstitucional não tem o poder de suprimir qualquer das hipóteses constitucionalmente

previstas de uso do voto secreto, muito menos de suprimir todas elas, abolindo a votação

secreta no Legislativo, conforme defendido por muitos (LIMA, 2001).

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Na verdade, trata-se de questão polêmica e complexa, ainda mais quando nos

propomos a analisar suas implicações para os Estados e os Municípios. Enquanto alguns

autores defendem que as normas pertinentes ao voto secreto constantes na Constituição

Federal são obrigatórias para Estados e Municípios, que não poderiam ampliar ou reduzir as

hipóteses de uso desse tipo de votação, seja por meio das Constituições estaduais e Leis

Orgânicas, seja por meio de disposições regimentais, outros autores defendem o contrário,

afirmando que Estados e Municípios, por serem caracterizados pela Constituição Federal

como entes federativos, no mesmo nível da União, têm autonomia para processar alterações

quanto ao uso do voto secreto nos respectivos Legislativos, até mesmo aboli-lo, mesmo que a

Constituição Federal ainda não o tenha feito.

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4 O PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE E A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO

ESTADO DE MINAS GERAIS

No capítulo 3 deste trabalho, tratamos das relações entre o princípio da publicidade e o

Legislativo, assinalando que esse Poder deve estabelecer mecanismos institucionais de

produção e disseminação de informações, uma vez que a informação é um dos pressupostos

para a participação do cidadão, contribuindo assim para ampliar os níveis de controle da

sociedade sobre a administração pública.

Neste capítulo, analisaremos um Legislativo em especial, a ALMG, buscando

reconhecer seus mecanismos institucionais de participação popular e de produção e

disseminação de informações. Nosso objetivo é procurar demonstrar como o Legislativo pode

efetivamente agir em consonância com o princípio da publicidade, criando instrumentos que

garantam a participação da sociedade e a transparência na administração pública. Nos itens

4.1, 4.2, 4.3 e 4.4, apresentaremos os diferentes mecanismos institucionais adotados

atualmente na ALMG. No item 4.5, abordaremos um período em especial da história da

ALMG, a 15ª Legislatura (fevereiro de 2003 a janeiro de 2007), enumerando o que se fez em

prol do princípio da publicidade nesses quatro anos.

4.1 A publicação no “Minas Gerais”

Em observância ao princípio da publicidade, todos os documentos do processo

legislativo (proposições e documentos de ordenação) e os principais atos administrativos da

ALMG (nomeação de servidores, avisos de licitação, termos de contrato) são publicados no

“Minas Gerais”, órgão oficial dos Poderes do Estado, na parte intitulada Diário do

Legislativo. Na página da ALMG na internet é possível consultar, na íntegra, as edições do

Diário do Legislativo desde janeiro de 1994. Está disponível, ainda, a pesquisa por palavra ou

assunto.

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As proposições do processo legislativo

Discutidas e votadas pelos parlamentares, as proposições constituem o objeto do

processo legislativo e são obrigatoriamente publicadas no Diário do Legislativo. A proposição

pode consistir em um projeto de legislação (proposta de emenda à Constituição, projeto de lei

complementar, ordinária ou delegada, projeto de resolução), um veto do Chefe do Executivo

ou outro documento a ser apreciado pelos Deputados (emenda, requerimento, recurso,

parecer, relatório de comissão, representação popular, proposta de ação legislativa, mensagem

governamental).

Os documentos de ordenação do processo legislativo

Também são publicados os documentos que se destinam a registrar e a ordenar os

procedimentos e atos parlamentares relativos às reuniões de Plenário e de comissões.

Chamados de documentos de ordenação do processo legislativo, os principais são: a ata, a

ordem do dia e o edital de convocação.

A ata é o documento que tem por finalidade o registro escrito dos fatos transcorridos

em uma reunião. Cada reunião de Plenário é registrada em duas atas: a minuciosa, publicada

no Diário do Legislativo, conhecida como ata de imprensa; e a sucinta, lida, aprovada e

assinada na reunião seguinte. As reuniões das comissões são registradas apenas em ata

sucinta, a qual, após leitura e aprovação, é publicada no Diário do Legislativo.

A ata minuciosa é o mais importante documento de ordenação do processo legislativo

e instrumento imprescindível à publicidade da atuação parlamentar, pois registra a

correspondência recebida, as proposições, o processo e o resultado das votações, as decisões

da Presidência, as questões de ordem, as declarações de voto, os pronunciamentos.

A ordem do dia, ou pauta, contém a relação das matérias que serão apreciadas na

reunião. A expressão “ordem do dia” também é usada para designar a parte da reunião em que

se apreciam as proposições. Por exigência regimental, para que haja deliberação, a ordem do

dia da reunião ordinária deve ser publicada no Diário do Legislativo.

O edital é o instrumento pelo qual o Presidente da Assembléia ou de comissão

convoca os Deputados para reunião a ser realizada em horário ou dia diverso do fixado para

as reuniões ordinárias. É imprescindível a publicação do edital de convocação para que a

reunião extraordinária, especial ou solene seja realizada.

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Algumas restrições previstas no Regimento Interno

O Regimento Interno da ALMG prevê normas específicas para a publicação de

proposições e documentos de ordenação do processo legislativo em determinadas situações:

não será autorizada a publicação de pronunciamento que contiver violação a direito

constitucional ou a norma regimental;

na tramitação sob regime de urgência, dispensa-se a prévia publicação dos pareceres e

demais proposições acessórias;

os projetos de lei do Plano Plurianual de Ação Governamental, do Plano Mineiro de

Desenvolvimento Integrado, de Diretrizes Orçamentárias, do Orçamento Anual e de

Crédito Adicional são publicados apenas em sua essencialidade;

no processo de prestação de contas do Governador do Estado, o balanço geral das

contas e os documentos que o instruem também são publicados apenas em sua

essencialidade.

4.2 As garantias de acesso e os instrumentos de participação do cidadão

Acesso garantido ao cidadão

De acordo com o art. 93 do Regimento Interno, qualquer pessoa decentemente trajada

pode ingressar e permanecer nas dependências da Assembléia Legislativa, salvo nos recintos

de uso privativo, e assistir às reuniões do Plenário e das comissões.

Ainda segundo o Regimento, o Presidente fará sair das dependências da Assembléia

Legislativa apenas a pessoa cujo traje estiver em desacordo com o disposto no artigo citado ou

que perturbar a ordem.

Reuniões públicas e voto aberto

O Regimento Interno da ALMG estabelece, como regra geral, que as reuniões de

Plenário e de comissões são públicas, podendo ser secretas, nos casos previstos no próprio

Regimento (ver Quadro 1, na página seguinte).

Da mesma forma, prevê a adoção do voto simbólico (que é uma modalidade de voto

aberto) como regra geral, utilizando-se outro processo de votação (nominal ou secreta)

somente nos casos previstos no Regimento ou quando houver requerimento aprovado nesse

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sentido. Emprega-se o voto nominal (que também é uma modalidade de voto aberto) em

deliberações sobre matérias que exigem quorum qualificado para sua aprovação (maioria

absoluta, 2/3 ou 3/5), ao passo que o voto secreto somente é adotado em determinadas

situações previstas regimentalmente.

Portanto, em consonância com o princípio da publicidade, a ALMG adota como regra

geral reuniões públicas e voto aberto, e como exceção reuniões secretas e voto secreto.

O Quadro 1, a seguir, apresenta as matérias cuja deliberação se dá por voto secreto.

Como se pode observar, para algumas delas exige-se que, além da votação, também a reunião

seja secreta.

MATÉRIAS DE DELIBERAÇÃO POR VOTO SECRETO TIPO DE REUNIÃO

Eleições e escolhas de competência da ALMG previstas na Constituição do Estado, ou quando a lei o exigir. pública

Perda de mandato de Deputado. secreta

Concessão de licença para instauração de processo criminal contra Deputado, nos termos do § 1º do art. 56 da Constituição do Estado. secreta

Decisão sobre prisão de Deputado em caso de flagrante de crime inafiançável e autorização de formação de culpa, nos termos do § 3º do art. 47 do Regimento Interno.

secreta

Autorização para instauração de processo contra o Governador e o Vice-Governador do Estado, nos crimes de responsabilidade, e contra Secretário de Estado, nos crimes de responsabilidade conexos com aqueles.

secreta

Autorização para instauração de processo contra Secretário de Estado em crimes de responsabilidade não conexos com os do Governador, desde que solicitada pelo Tribunal de Justiça.

secreta

Pedido de intervenção federal, para efeito do disposto no inciso I do art. 36 da Constituição Federal. pública

Interesse pessoal de Deputado. secreta

Julgamento das contas do Governador do Estado e do Tribunal de Contas pública

Apreciação de veto a proposição de lei. pública

Suspensão de imunidades constitucionais dos Deputados. pública

Quadro 1: Matérias de deliberação por voto secreto e respectivos tipos de reunião, segundo os arts. 40 e 261 do Regimento Interno da ALMG Fonte: Elaborado pelos autores.

Os documentos resultantes de reunião secreta podem ser classificados como sigilosos,

assim considerados aqueles cuja divulgação ponha em risco a segurança da sociedade e do

Estado e a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas.

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O § 7º do art. 40 do Regimento Interno estabelece os prazos para acesso aos

documentos sigilosos, observadas as categorias estabelecidas pela legislação federal aplicável.

A Comissão de Ética e Decoro Parlamentar

A Comissão de Ética e Decoro Parlamentar auxilia o Presidente da ALMG na

manutenção do decoro, da ordem e da disciplina no âmbito do Legislativo mineiro. É

composta de sete membros titulares e igual número de suplentes, designados para mandato de

dois anos, coincidente com o da Mesa da Assembléia.

Entre suas competências, podemos destacar:

apresentar projeto de lei, projeto de resolução ou outra proposição atinente à matéria

de sua competência;

instruir processo contra Deputado e elaborar projeto de resolução que importe sanção

ética que deva ser submetida ao Plenário;

observar o cumprimento da proibição de porte de arma nas dependências da ALMG,

tendo poder para revistar e desarmar.

A Ouvidoria Parlamentar

A Ouvidoria Parlamentar é composta por um Ouvidor-Geral e um Ouvidor Substituto,

designados dentre os Deputados pelo Presidente da ALMG para mandato de dois anos,

coincidente com o da Mesa da Assembléia. Qualquer cidadão, entidade representativa ou

empresa pode apresentar suas solicitações, cabendo à Ouvidoria Parlamentar:

garantir que o cidadão seja ouvido e respeitado;

receber e encaminhar as contribuições do cidadão para o funcionamento do trabalho

parlamentar, sejam elas sugestões, questionamentos, reclamações ou denúncias;

garantir a transparência das atividades da ALMG;

prestar informações sobre o trabalho dos Deputados e sobre as leis aprovadas na

Assembléia, quando solicitada;

encaminhar à Mesa da Assembléia sugestões e denúncias, bem como propor medidas

necessárias à melhoria dos trabalhos;

realizar audiências públicas com segmentos da sociedade civil;

garantir que cidadãos e entidades sejam respondidos quanto às suas dúvidas, sugestões

e denúncias.

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O Centro de Atendimento ao Cidadão – CAC

Localizado no andar térreo do edifício da ALMG, o CAC é uma central de

atendimento e orientação, onde qualquer interessado pode obter informações sobre as

atividades institucionais da Assembléia Legislativa, as matérias em tramitação, bem como

sobre legislação e jurisprudência. Oferece ainda o serviço Fale com as Comissões, que recebe

sugestões e denúncias, que são encaminhadas para análise das comissões da Assembléia. O

Centro de Atendimento ao Cidadão, segundo dados de 2006, atende em média 16 mil pessoas

por mês.

Os mecanismos institucionais de participação previstos no Regimento Interno

Abrangendo os arts. 288 a 297, o Título VIII do Regimento Interno da ALMG,

intitulado Da Participação da Sociedade Civil, é inteiramente dedicado aos mecanismos

institucionais de participação da sociedade no processo legislativo: iniciativa popular,

proposta de ação legislativa, representação popular, audiência pública e eventos institucionais.

A iniciativa popular

De acordo com o Regimento, poderá haver iniciativa popular na apresentação de

projetos à Assembléia, salvo nas hipóteses de iniciativa privativa e de matéria indelegável. A

iniciativa popular é exercida pela apresentação, à Assembléia Legislativa, de projeto de lei

subscrito por, no mínimo, 10 mil eleitores do Estado, dos quais no máximo 25% sejam

eleitores alistados na Capital, em lista organizada por entidade associativa legalmente

constituída.

A proposta de ação legislativa

Qualquer entidade ou organização da sociedade civil, com exceção de partido político

com representação na ALMG, poderá apresentar proposta de projeto de lei ou de emenda a

projeto de lei em tramitação, requerer informações oficiais a órgãos e autoridades públicos,

solicitar consulta popular acerca de determinado assunto, apresentar pedido de audiência

pública para debater tema de seu interesse, entre outras ações legislativas.

Recebidas pela Comissão de Participação Popular, as propostas populares são

transformadas em propostas de ação legislativa, momento em que serão distribuídas a um

membro da Comissão, a fim de receber parecer por seu acolhimento ou rejeição, que será

debatido e apreciado pela Comissão, na presença de seus autores, em reunião pública. Caso a

proposta de ação legislativa seja acatada pela Comissão, ela é transformada em uma

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proposição legislativa (projeto de lei, emenda a projeto de lei, requerimento, entre outras), e

passa a tramitar na ALMG como sendo de autoria da Comissão de Participação Popular,

seguindo, dessa forma, o rito normal do processo legislativo.

A representação popular

A sociedade pode manifestar-se contra ato ou omissão de autoridade ou entidade

pública. Nos termos do Regimento Interno, a representação popular de pessoa física ou

jurídica contra ato ou omissão de autoridade ou entidade pública ou contra ato imputado a

membro da Assembléia Legislativa será examinada pelas comissões ou pela Mesa, desde que

seja matéria de competência da Assembléia Legislativa e encaminhada por escrito e assinada.

A representação popular equipara-se a uma proposição do processo legislativo,

ficando sujeita às normas de tramitação estabelecidas pelo Regimento.

A audiência pública

Segundo o Regimento Interno, as comissões poderão realizar reunião de audiência

pública com cidadãos, órgãos e entidades públicas ou civis, para instruir matéria legislativa

em trâmite, bem como para tratar de assunto de interesse público relevante atinente à sua área

de atuação, mediante proposta de qualquer membro ou a pedido da entidade interessada. Na

proposta ou no pedido, constará indicação da matéria a ser examinada e das pessoas a serem

ouvidas.

Podendo ocorrer fora da Assembléia, em qualquer região do Estado, as audiências

públicas têm se mostrado um espaço privilegiado de debate e de troca de informações,

trazendo importantes subsídios para o processo legislativo.

Os eventos institucionais

O Regimento Interno prevê que, para subsidiar a elaboração legislativa, a Assembléia

poderá promover, por iniciativa da Mesa, eventos que possibilitem a discussão de temas de

competência do Legislativo estadual, em parceria com entidades da sociedade civil

organizada.

Os eventos institucionais podem ser classificados em três tipos principais: ciclos de

debates, fóruns técnicos e seminários legislativos. Os dois últimos estão previstos

expressamente no Regimento, que estabelece que os objetivos e a dinâmica de cada evento

serão definidos pela Mesa da Assembléia, em regulamento próprio.

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Os ciclos de debates têm como objetivo propiciar a reflexão sobre temas de relevância

na conjuntura estadual e nacional, levando à Assembléia especialistas e autoridades de

diferentes setores envolvidos com o tema a ser discutido.

Os fóruns técnicos tratam de temas mais técnicos, cujo grau de complexidade requer a

participação de especialistas, de representantes de entidades civis e de órgãos públicos que

lidam diretamente com o assunto. Sua diferença principal em relação aos ciclos de debates

reside no fato de que, ao final do processo de discussão, é gerado um documento com

propostas para subsidiar a elaboração legislativa.

Os seminários legislativos são eventos de grande porte que objetivam aprofundar, por

meio de discussões entre as diversas correntes de opinião existentes na sociedade, a reflexão

sobre grandes temas de interesse da população. Constituem atualmente a principal e mais

completa forma de interlocução entre a ALMG e a sociedade. Sua realização tem como

premissa fundamental a elaboração, a partir das discussões entre os participantes, de um

documento de subsídio à atividade parlamentar, que ajude a estabelecer macrodiretrizes para o

desenvolvimento social e político do Estado e não ações legislativas localizadas.

Antes da etapa final, realizada na ALMG, em Belo Horizonte, ocorrem encontros

regionais em cidades-pólo das diferentes regiões de Minas Gerais, de forma a viabilizar maior

participação dos cidadãos do interior do Estado nos seminários legislativos. A etapa final

constitui o auge do evento, o momento em que os participantes enfrentam o desafio de

consolidar, por deliberação política, as preferências manifestadas nas etapas anteriores.

Encerrando a etapa final, promove-se, no Plenário da ALMG, a sessão plenária final,

que se destina à discussão e aprovação do documento final do evento e à eleição de sua

comissão de representação, a qual é responsável pelo acompanhamento e avaliação, junto à

Assembléia Legislativa e a outros órgãos do Estado, da implementação institucional das

propostas finais aprovadas pelos participantes.

Às proposições resultantes de eventos institucionais aplicam-se as normas de

tramitação estabelecidas pelo Regimento Interno, observados alguns procedimentos especiais,

previstos em seu art. 297.

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4.3 O Ceac e a Escola do Legislativo

O Centro de Apoio às Câmaras – Ceac

Criado em novembro de 2006, o Centro de Apoio às Câmaras – Ceac – é um espaço

inteiramente voltado para o relacionamento institucional entre a ALMG e as câmaras

municipais de todo o Estado. O Ceac atende as demandas4 de Vereadores e assessores e

permite o intercâmbio de informações e experiências, gerando subsídios às ações da

Assembléia no interior de Minas Gerais.

O Centro conta com instalações próprias, onde são realizados atendimentos

presenciais, e com uma seção específica na página da ALMG na internet, que reúne

informações e serviços de interesse do Legislativo municipal, dentre os quais podemos

destacar:

Inovações Democráticas: visando à multiplicação das experiências positivas, esse

projeto divulga iniciativas exemplares (maior interação com a sociedade, transparência

e melhor aplicação dos recursos públicos, socialização do conhecimento e da

informação, aperfeiçoamento das funções legislativa e fiscalizadora) adotadas pelas

câmaras;

Legislação Básica: listagem da legislação mais relevante para as questões municipais

(Estatuto das Cidades, finanças públicas, responsabilidade política, consórcios e

convênios, criação de distritos e alterações de topônimos, entre outras) e das

proposições em tramitação relacionadas a essas questões;

Banco de Jurisprudência: reúne decisões judiciais – principalmente do Tribunal de

Justiça de Minas Gerais e do Supremo Tribunal Federal – de interesse das câmaras

municipais, envolvendo a apreciação tanto do conteúdo de leis municipais quanto do

processo legislativo e da organização e funcionamento das câmaras;

4 As demandas – que versam sobre o processo legislativo, a estrutura e o funcionamento da ALMG e o exercício das funções do Poder Legislativo – são atendidas por correio eletrônico, por telefone ou pessoalmente. As respostas aos questionamentos são sempre dadas “em tese”.

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Perguntas e Respostas: atualizado permanentemente, com base nas demandas

processadas pelo Ceac, esse item apresenta, de modo didático, esclarecimentos sobre o

funcionamento do Legislativo municipal, o papel dos Vereadores, o processo

legislativo, além de respostas às dúvidas mais freqüentes;

Publicações: nesse item podem ser consultados artigos e estudos sobre temas de

interesse das câmaras municipais, produzidos pelo corpo técnico da ALMG, por

especialistas e por entidades parceiras do Ceac.

A Escola do Legislativo

A Escola do Legislativo foi criada em julho de 1992, para promover as ações de

capacitação e atualização dos membros e servidores da ALMG. Desde então, ampliou e

diversificou sua atuação, contribuindo para a formação técnica e política de agentes públicos,

especialmente dos Legislativos municipais, das lideranças comunitárias e de entidades

profissionais e empresariais, representantes de segmentos organizados da sociedade, bem

como de todos os cidadãos interessados em conhecer o Poder Legislativo.

Desde a sua fundação, a Escola do Legislativo promoveu cerca de 3 mil atividades,

com uma carga horária total de 30.700 horas e quase 44 mil participantes. Nesse período,

mais de 500 Municípios mineiros já foram atendidos com alguma ação da Escola5.

Tendo em vista as suas várias áreas de atuação, a Escola do Legislativo representa

hoje um dos mais importantes mecanismos institucionais de produção e disseminação de

informações6 da ALMG, contribuindo de forma relevante para a formação de cidadãos mais

conscientes e participativos, e portanto mais aptos a fiscalizar e controlar o trabalho dos

administradores públicos.

O Quadro 2, apresentado a seguir, mostra as áreas de atuação da Escola do

Legislativo, com seus respectivos programas.

5 Dados divulgados no Boletim Eletrônico da Escola do Legislativo. Disponível em: <http://www.almg.gov.br/ ESCOLA/Boletim/ELE21%2009%2007%20ampliação%20ELE.asp>. Acesso em: 26 set. 2007. 6 Conforme já dissemos neste trabalho, produzir e disseminar informações, em observância ao princípio da publicidade, são pressupostos básicos para que o Poder Legislativo atue com transparência.

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ÁREAS DE ATUAÇÃO PROGRAMAS

Capacitação Interna

Apoio ao Parlamentar Formação Continuada Formação Acadêmica Formação Gerencial Formação Escolar Desenvolvimento Psicofuncional

Capacitação Externa

Apoio aos Municípios Apoio Interinstitucional Educação a Distância Formação Política

Educação para a Cidadania Visitas Orientadas Conexão Assembléia Parlamento Jovem

Pesquisa e Reflexão Estudo e Pesquisa Pensando em Minas Gestão do Conhecimento

Quadro 2: Áreas de atuação da Escola do Legislativo da ALMG Fonte: Elaborado pelos autores, com base nas informações disponíveis em <http://www.almg.gov.br/escola/ relatorioescola2006.pdf>. Acesso em:17 set. 2007.

A Capacitação Interna corresponde às ações de capacitação dos membros e servidores

do Poder Legislativo mineiro, geradas a partir de demandas dos setores e da identificação de

oportunidades de capacitação que contribuam para o aprimoramento do exercício profissional

dos servidores e do próprio funcionamento da ALMG.

A Capacitação Externa envolve os cursos, palestras e conferências oferecidos pela

Escola do Legislativo, em áreas temáticas de interesse e atuação do Poder Legislativo,

dirigidos a segmentos específicos da sociedade ou abertos ao público em geral.

A Educação para a Cidadania tem como objetivos promover maior aproximação

entre a ALMG e a sociedade e contribuir para a formação política do cidadão.

A área de Pesquisa e Reflexão diz respeito ao fomento, apoio e divulgação de

iniciativas dos servidores da ALMG nas áreas de estudo e pesquisa sobre o Poder Legislativo.

O Quadro 3, a seguir, contém uma breve descrição dos programas que compõem cada

área de atuação da Escola do Legislativo.

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PROGRAMAS DESCRIÇÃO

Apoio ao Parlamentar Informação e atualização dos parlamentares, abordando conteúdos das diversas áreas de conhecimento relacionadas ao Poder Legislativo, e desenvolvimento de atividades que contribuam para o aprimoramento da prática político-parlamentar. Inclui ainda uma programação específica de recepção aos Deputados no início de novas legislaturas.

Formação Continuada Qualificação e atualização técnico-administrativa dos servidores do quadro permanente e das assessorias parlamentares.

Formação Acadêmica Programa desenvolvido em parceria com instituições mineiras de ensino superior, de caráter acadêmico-profissional, em nível de pós-graduação, destinado à especialização de servidores da instituição e de públicos externos, direta ou indiretamente ligados à realidade do poder público, principalmente do Poder Legislativo.

Formação Gerencial Capacitação e aprimoramento técnico-comportamental de servidores que ocupam cargos e funções de direção e assessoramento.

Formação Escolar Atendimento às demandas de escolarização básica de servidores, nos níveis fundamental e médio, por meio da oferta de Telecurso, em parceria com o Sistema Fiemg.

Desenvolvimento Psicofuncional Preparação dos servidores para o desenvolvimento de competências comportamentais que reflitam no seu aprimoramento individual e na melhoria das relações interpessoais.

Apoio aos Municípios Qualificação e atualização de agentes políticos e técnicos de Câmaras Municipais e Prefeituras nas áreas de conhecimento relacionadas ao Poder Legislativo. As atividades são desenvolvidas na Capital ou nos próprios Municípios, em parceria com órgãos e organizações locais da sociedade.

Apoio Interinstitucional Apoio à capacitação de servidores e técnicos de outras instituições públicas nas áreas temáticas de atuação do Poder Legislativo. O atendimento é feito a partir de demandas e em parceria com as instituições solicitantes.

Educação a Distância Atividades de ensino e reflexão a distância, utilizando as novas tecnologias educacionais. Além de iniciativas próprias, a Escola do Legislativo mantém, nessa área, parceria com o programa Interlegis, desenvolvido pelo Senado Federal, em vários projetos, como cursos a distância, videoconferências e outros eventos.

Formação Política Atividades e eventos abertos ao público em geral ou direcionados a determinados segmentos da sociedade, com o objetivo de transmitir informações e estimular a reflexão acerca de questões relacionadas à atuação do poder público, em especial do Poder Legislativo, bem como sobre as formas de organização e participação política da sociedade.

Visitas Orientadas A Escola do Legislativo coordena o programa de visitas orientadas à ALMG para estudantes de escolas públicas e particulares, além de grupos de terceira idade e alunos com necessidades especiais. As visitas são agendadas de acordo com o perfil do grupo, e o agendamento é formalizado por professor ou responsável pela turma visitante.

Conexão Assembléia Parceria com instituições mineiras de ensino superior em projetos e ações de educação para a cidadania e formação política.

Parlamento Jovem Fruto da parceria entre a Escola do Legislativo e o curso de Ciências Sociais da PUC Minas São Gabriel, propicia a estudantes universitários e do Ensino Médio um espaço para reflexão sobre o papel do Poder Legislativo estadual e a importância da participação política em uma sociedade democrática.

Estudo e Pesquisa O Núcleo de Estudos e Pesquisas da Escola do Legislativo – Nepel –, instituído pela Portaria nº 12/2002, destina-se a estimular a produção, a sistematização, o registro e a divulgação de conhecimentos relevantes para o aprimoramento das ações do Poder Legislativo.

Pensando em Minas Programa de palestras destinadas à divulgação, apresentação e debate de teses, dissertações, pesquisas e trabalhos técnicos feitos por servidores da ALMG, além de produções acadêmicas sobre o Poder Legislativo ou a política, elaboradas em cursos de pós-graduação de universidades mineiras.

Gestão do Conhecimento Programa voltado para a identificação, registro, organização e disponibilização de informações sobre competências, conhecimentos e produção técnica de servidores da ALMG, especialmente por meio do Banco de Conhecimento e da edição de publicações.

Quadro 3: Descrição dos programas desenvolvidos pela Escola do Legislativo da ALMG Fonte: Elaborado pelos autores, com base nas informações disponíveis em <http://www.almg.gov.br/escola/ relatorioescola2006.pdf>. Acesso em:17 set. 2007.

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4.4 Os meios de comunicação do Legislativo

As publicações

Dar publicidade aos trabalhos realizados pela Assembléia Legislativa, discutir temas

ligados ao Poder Legislativo e ao desenvolvimento social, político e econômico de Minas

Gerais, orientar Prefeitos e Vereadores e estimular a participação da sociedade são alguns dos

objetivos das diversas publicações da Assembléia Legislativa, que incluem cartilhas e

manuais, obras de referência e publicações periódicas, como os Cadernos da Escola do

Legislativo e a Revista do Legislativo.

Essas publicações podem ser adquiridas na Livraria do Legislativo, localizada ao lado

do Centro de Atendimento ao Cidadão, devendo-se ressaltar que algumas estão disponíveis

para consulta e download na página da ALMG na internet.

O trabalho da Gerência-Geral de Imprensa e Divulgação

A Gerência-Geral de Imprensa e Divulgação acompanha as atividades relacionadas ao

processo legislativo e os eventos realizados pela Assembléia, tanto em Belo Horizonte quanto

no interior do Estado, divulgando-os por meio de notícias publicadas na página da ALMG na

internet, que é constantemente atualizada ao longo do dia. Além disso, é responsável pelos

produtos de comunicação que circulam diariamente no interior do Legislativo: o Assembléia

Informa, noticiário destinado ao público interno e aos visitantes, e o Boletim da Secretaria,

destinado aos servidores, no qual são publicados, além de notícias, os atos administrativos

internos.

A Rádio Assembléia

Destinado ao cidadão e às emissoras de rádio do Estado, esse serviço torna

disponíveis, para consulta e download, na página da ALMG na internet, noticiários e

entrevistas produzidos nos últimos dois meses sobre as votações em Plenário, projetos em

tramitação, eventos institucionais e atividades das comissões, bem como informativos sobre o

funcionamento do Poder Legislativo municipal e estadual, dicas para o consumidor, serviço e

utilidade pública. Esses produtos, em formato MP3, podem ser usados na programação das

emissoras, gratuitamente, desde que citada a fonte durante a transmissão.

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O boletim de notícias também é transmitido, diariamente, ao vivo, para rádios de todo

o Estado, além de ser distribuído por correio eletrônico, nos formatos MP3 e texto, para

emissoras cadastradas.

A TV Assembléia

Criada para facilitar o acompanhamento dos trabalhos do Legislativo pelos cidadãos, a

TV Assembléia foi a primeira emissora legislativa criada após a publicação da Lei Federal nº

8.977, de 6/1/95, que regulamenta o serviço de TV a cabo no Brasil. Em 30/11/95, entra em

operação o canal 40, em Belo Horizonte, hoje canal 11. Eram duas horas e meia de

programação, contendo basicamente reprises de reuniões do Plenário da Assembléia.

A partir de 1996, a TV Assembléia experimenta um grande crescimento, atingindo 12

horas de programação, apresentando os primeiros programas gravados e editados. Essa

tendência se confirma em 1997, quando passa a ter uma grade básica de programas, muitos

dos quais produzidos em estúdio, como os debates e entrevistas especiais.

Em 1998, a TV Assembléia começa a utilizar os serviços do satélite Brasilsat B3, o

que lhe permite alcançar todas as regiões do Estado, com 17 horas de programação, incluindo

documentários e programas de política, direito e cultura. Naquele ano, faz sua primeira grande

cobertura das eleições, iniciando um projeto que a transformaria em referência no jornalismo

político. Em 1999, diversifica ainda mais a sua grade de programas, agora com 18 horas

diárias, e consolida o processo de expansão para o interior do Estado.

A partir de 2000, a TV Assembléia se firma como a emissora do Legislativo, da

política e das eleições. Faz uma cobertura histórica do pleito municipal daquele ano e, em

seguida, das eleições de 2002. Hoje, está presente em mais de 200 Municípios mineiros,

apresentando 18 horas diárias de programação, com cobertura ao vivo das reuniões de

Plenário, noticiários, debates, mesas-redondas e a transmissão de eventos institucionais, como

seminários legislativos, fóruns técnicos e ciclos de debates, além das atividades culturais

promovidas pela ALMG. Devemos ressaltar, no entanto, que em Belo Horizonte7 a TV

Assembléia somente pode ser assistida pelos assinantes do serviço de TV a cabo.

O Quadro 4, a seguir, apresenta uma breve descrição dos principais programas

exibidos atualmente pela TV Assembléia.

7 E também nas cidades de Araxá, Caratinga, Contagem, Divinópolis, Governador Valadares, Itajubá, Itaúna, Ituiutaba, Ribeirão das Neves, Uberlândia, Unaí e Viçosa.

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NOME DO PROGRAMA HORÁRIO DE EXIBIÇÃO DESCRIÇÃO

Repórter Assembléia

De segunda a sexta, com duas edições ao vivo, às 13h45min e às 19h30min. Aos sábados e domingos, a edição gravada apresenta um resumo da semana (resenha).

Telejornal de 30 minutos, que retrata todo o trabalho parlamentar nas Comissões e no Plenário, além das audiências públicas pelo interior do Estado. Traz, ainda, os destaques da política no Estado e no País.

Panorama De terça a quinta, ao vivo, às 8h30min.

Revista eletrônica, que debate temas específicos em pauta na Assembléia, com convidados em estúdio e reportagens especiais.

Mundo Político De segunda a sexta, às 22h30min. Às sextas, apresenta um resumo semanal.

Programa diário de entrevistas e comentários sobre política e eleições, que discute os principais fatos do dia e antecipa as manchetes dos jornais do dia seguinte.

Assembléia Debate Quarta, às 21 horas. Programa de debates com políticos e especialistas sobre os grandes temas de interesse do Estado e do cidadão.

Sala de Imprensa Quinta, às 21 horas. Programa de entrevistas em que uma autoridade ou especialista é sabatinado por jornalistas.

Visão Parlamentar De terça a quinta, ao vivo, às 14 horas.

Programa de entrevistas com Deputados, sempre antes do início de cada reunião ordinária de Plenário ou nos seus intervalos. Aborda com os parlamentares os principais temas em discussão no Legislativo.

Memória e Poder Sábado, às 20 horas.

Coleção de depoimentos de personalidades de destaque na sociedade, política e cultura do País. Enfatiza a trajetória pessoal e profissional do entrevistado, relacionando-a com as estruturas de poder da época.

Via Justiça Sexta, às 23 horas.

Debate semanal, com a participação de Juízes, juristas e parlamentares, sobre a Justiça e os direitos do cidadão. Esclarece as principais dúvidas e aponta as mais recentes decisões nas diferentes áreas do direito.

Quadro 4: Principais programas exibidos pela TV Assembléia Fonte: Elaborado pelos autores, com base nas informações disponíveis em <http://www.almg.gov.br/ index.asp?diretorio=tvalmg&arquivo=tv_programas>. Acesso em: 17 set. 2007.

A página da ALMG na internet (www.almg.gov.br)

Um dos mais importantes instrumentos de disseminação de informações da ALMG, a

página que a instituição mantém na internet é, de longe, a mais completa entre todos os

Legislativos estaduais (MELLO; COHEN; OLIVEIRA, 2003).

O Quadro 5, a seguir, sintetiza o conteúdo da página, ressaltando-se que cada um dos

itens da coluna da direita pode ainda desdobrar-se em outros, oferecendo muito mais opções

que o mostrado no quadro.

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SEÇÕES ITENS

A Assembléia

História Os Deputados Representação Partidária A Mesa Ouvidoria Lideranças Legislaturas Anteriores

Atividade Parlamentar

Plenário Comissões Tramitação de Projetos Pronunciamentos Diário do Legislativo

Comunicação

Acontece Hoje Eventos Agenda Cultural Últimas Notícias Assessoria de Imprensa TV Assembléia Rádio Assembléia Receba Notícias

Legislação

Constituição Federal Constituição Estadual Legislação Mineira Código de Saúde Regimento Interno Estatuto do Servidor

A Administração Estrutura Organizacional Concurso Público Prestação de Contas Licitações

Centro de Apoio às Câmaras Ceac

Boletim Eletrônico Inovações Democráticas Câmaras Municipais Legislação Básica Banco de Jurisprudência Perguntas e Respostas Publicações Links Relacionados Fale com o Ceac

Serviços

Centro de Atendimento ao Cidadão – CAC Procon Assembléia Biblioteca e Arquivo Publicações Livraria do Legislativo Instituições de Interesse

Escola do Legislativo

Calendário de Atividades Boletim Eletrônico Educação para a Cidadania Estudos e Pesquisa Fale com a Escola

O Estado

Municípios Mineiros Macro e Microrregiões Denominações Urbanas Instituições Governamentais Eleições

Fale com a Assembléia Lista Telefônica Deputados Administração

Quadro 5: Conteúdo da página da ALMG na internet (www.almg.gov.br) Fonte: Elaborado pelos autores, com base nas informações disponíveis em: <http://www.almg.gov.br/index.asp>. Acesso em: 4 out. 2007.

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A Figura 1, que apresentamos abaixo, mostra o layout da página da ALMG na

internet. Como se pode observar, o menu de seções localiza-se no alto à esquerda. No lado

direito, há atalhos para os itens mais importantes, permitindo acesso direto a esses serviços,

sem necessidade de passar pelo menu de seções. Abaixo, à esquerda, há informações que

possibilitam ao cidadão comunicar-se com o CAC, a Ouvidoria Parlamentar e a Comissão de

Participação Popular.

Figura 1: Layout da página da ALMG na internet (www.almg.gov.br) Fonte: Tela capturada de <http://www.almg.gov.br>. Acesso em: 9 out. 2007.

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De forma a demonstrar a grande variedade de informações e serviços disponíveis na

página da ALMG na internet, abordaremos, a seguir, o conteúdo de algumas de suas seções,

com seus respectivos itens.

A Assembléia

Essa seção traz informações sobre a história da instituição, os partidos políticos com

representação na ALMG, a composição da Mesa, os Líderes (da Maioria, da Minoria, do

governo, de bancadas e de blocos parlamentares) e o perfil detalhado dos parlamentares das

duas legislaturas anteriores.

Além disso, no item Os Deputados, é possível consultar o perfil detalhado de cada

parlamentar da legislatura atual, contendo:

os principais fatos da vida profissional e política;

filiação partidária no exercício do mandato;

as legislaturas de que participou;

as proposições de sua autoria, na legislatura atual e nas anteriores;

os pronunciamentos (discursos, questões de ordem e declarações de voto) feitos em

Plenário, na legislatura atual e nas anteriores;

participação em comissões, como efetivo e como suplente;

votação obtida na eleição, por Município, por microrregião e por macrorregião;

informações para contato com o parlamentar.

No item Ouvidoria, há informações sobre como o cidadão pode entrar em contato com

a Ouvidoria Parlamentar: endereço, telefone (ligação gratuita) e formulário estruturado para

envio de mensagens.

Atividade Parlamentar

Essa seção concentra as informações diretamente relacionadas ao processo legislativo.

No item Plenário, é possível consultar a ordem do dia (pauta), os editais de

convocação das reuniões extraordinárias e especiais, assim como os resultados das reuniões

de Plenário. Há que se ressaltar, no entanto, que nos resultados das reuniões não há

discriminação da posição adotada por cada Deputado nas votações nominais, divulgando-se

somente o resultado da votação. Seguramente, essa omissão contraria o princípio da

publicidade, dificultando o acompanhamento da atuação parlamentar. O cidadão que quiser

obter essa informação deverá consultar a ata da reunião, publicada no Diário do Legislativo.

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Com os recursos tecnológicos de que a ALMG dispõe, o mais indicado, em favor da

transparência, seria possibilitar ao cidadão obter essa informação em uma base de dados

pesquisável, que permitisse cruzamentos de informações, de forma a mostrar

instantaneamente como cada Deputado votou em uma determinada matéria ou como um

determinado Deputado votou em cada matéria. Obviamente esse raciocínio vale somente para

as votações nominais.

No item Comissões, há informações sobre a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar

e as 17 comissões permanentes, além das comissões temporárias, que são divididas em

comissões parlamentares de inquérito (CPIs) e comissões especiais (temáticas e de análise de

vetos e propostas de emenda à Constituição). Para todas elas é possível consultar a

composição e as competências, bem como a pauta e o resultado das reuniões e informações

sobre visitas.

No item Tramitação de Projetos, é possível pesquisar e obter informações sobre todas

as proposições que estão tramitando ou que foram apreciadas pela ALMG desde 1963. Da

mesma forma, no item Pronunciamentos, o cidadão pode pesquisar e obter informações sobre

os pronunciamentos feitos nas reuniões de Plenário. Estão disponíveis dados referenciais

desde 1988 e textos integrais a partir de 2001.

Em Diário do Legislativo, é possível consultar, na íntegra, as edições do Diário do

Legislativo desde janeiro de 1994. Está disponível, ainda, a pesquisa por palavra ou assunto.

Comunicação

Os eventos planejados para os próximos meses são listados no item Eventos, que

permite ainda consultar a programação dos eventos institucionais (seminários legislativos,

fóruns técnicos e ciclos de debates) promovidos pela ALMG nos últimos anos. Os arquivos

com apresentações feitas pelos palestrantes estão disponíveis para download.

No item Últimas Notícias são publicadas as notícias mais recentes produzidas pela

Gerência-Geral de Imprensa e Divulgação, a partir da cobertura jornalística de todos os

eventos da agenda do Legislativo mineiro. Também está disponível a pesquisa das notícias

por assunto, a partir de setembro de 1996.

No item Assessoria de Imprensa, é possível consultar:

o Assembléia Informa, noticiário de circulação diária;

o Clipping, que traz as notícias publicadas pela imprensa em que a ALMG ou os

Deputados são citados ou com assuntos de interesse dos parlamentares;

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o banco de fotos, que permite pesquisar as fotos digitais produzidas na ALMG, a partir

de dezembro de 1999;

respostas às dúvidas mais freqüentes da imprensa sobre processo legislativo e

organização administrativa da Assembléia.

O item TV Assembléia traz informações detalhadas sobre esse importante meio de

comunicação da ALMG: a história, as maneiras de receber o sinal, a programação do dia e da

semana, a descrição dos programas veiculados.

No item Rádio Assembléia, estão disponíveis, para consulta e download, em formato

MP3, os noticiários e entrevistas produzidos nos últimos dois meses.

Finalmente, em Receba Notícias, o cidadão pode se cadastrar para receber, por correio

eletrônico, notícias sobre a ALMG.

Legislação

Nessa seção, é possível fazer o download ou pesquisar, por artigo ou assunto, o texto

atualizado da Constituição Federal, da Constituição Estadual, do Código de Saúde do Estado,

do Regimento Interno da ALMG e do Estatuto do Servidor de Minas Gerais. O item

Legislação Mineira permite pesquisar e obter informações sobre a legislação estadual desde

1947, inclusive as antigas Constituições de Minas Gerais.

A Administração

Nessa seção, o cidadão encontra informações sobre a estrutura organizacional da

ALMG, com o organograma da Secretaria da Assembléia e as atribuições das unidades

administrativas, além dos dados para contato com cada uma delas. Estão disponíveis também

informações (notícias, editais e resultados) sobre o concurso público mais recente realizado

pela ALMG.

O item Licitações mostra as licitações em andamento na ALMG, em suas diversas

modalidades. Em cada subitem (convite, tomada de preços, concorrência, pregão, leilão), o

interessado pode obter informações sobre o objeto licitado e o aviso de edital. Traz, ainda, a

relação de licitações encerradas.

No item Prestação de Contas, a ALMG divulga relatórios e demonstrativos. O Quadro

6, a seguir, detalha esses instrumentos de prestação de contas.

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Relatórios de gestão fiscal

A cada quatro meses, demonstrativo da despesa com pessoal em relação à receita corrente líquida.

No último quadrimestre do ano, demonstrativo de restos a pagar e demonstrativo de disponibilidade de caixa.

Despesa com pessoal Publicada a cada quatro meses, conforme determina a Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Remuneração dos Deputados e Custeio da atividade

parlamentar

Remuneração dos Deputados – composta por subsídio mensal; auxílio-moradia mensal; ajuda de custo, no início e no encerramento de cada sessão legislativa; parcela paga em dezembro proporcionalmente ao exercício do mandato no ano; e gratificação por comparecimento a reuniões extraordinárias.

Custeio da atividade parlamentar – verba indenizatória por despesas realizadas, mediante requerimento e comprovação, limitada mensalmente a R$ 20.000,00 por Deputado.

Execução orçamentária

Demonstração da execução orçamentária da despesa por atividades – tabela com a discriminação da despesa por atividades da ALMG, com os valores dos créditos autorizados no orçamento, as despesas empenhadas no mês e até o mês e o saldo dos créditos orçamentários disponíveis.

Demonstração da execução orçamentária da despesa por grupo de despesa – agrupamento das informações discriminadas na tabela anterior, em quatro itens: Pessoal e encargos; Outras despesas correntes; Investimentos; e Inversões financeiras.

Relatório de atividades Ao final de cada sessão legislativa, a ALMG divulga seu relatório de atividades relativo ao respectivo ano, conforme determina o art. 79, III, do Regimento Interno.

Quadro 6: Relatórios e demonstrativos de prestação de contas divulgados pela ALMG em sua página na internet Fonte: Elaborado pelos autores, com base nas informações disponíveis em <http://www.almg.gov.br/index.asp? grupo=administracao&diretorio=lrf&arquivo=prestacao_contas>. Acesso em: 27 set. 2007.

4.5 O princípio da publicidade na prática: análise da 15ª Legislatura

A 15ª Legislatura (fevereiro de 2003 a janeiro de 2007) foi um período especialmente

importante para a ALMG no que diz respeito à observância do princípio da publicidade.

Nesses quatro anos, foram criados importantes mecanismos institucionais de participação do

cidadão e de produção e disseminação de informações. Além disso, muito do que já existia foi

aperfeiçoado e ampliado.

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O trabalho das comissões

Na 15ª Legislatura, as comissões da ALMG foram responsáveis por nada menos que

3.668 atividades (incluindo reuniões ordinárias, especiais, extraordinárias, visitas e audiências

públicas), intensificando o contato do Legislativo com o interior do Estado, que recebeu 263

das 3.515 reuniões realizadas. Das 153 visitas feitas no mesmo período, muitas ocorreram

fora da Capital.

Nesses quatro anos, as 17 comissões permanentes, além das temporárias, receberam

9.431 convidados, demonstrando a consolidação dessas instâncias como importantes espaços

de debate de temas de interesse da sociedade. É nas comissões que a participação popular no

processo legislativo se torna efetiva, uma vez que o cidadão tem oportunidade concreta de

discutir com seus representantes, autoridades governamentais e especialistas os projetos e os

temas de seu interesse.

A Tabela 1, a seguir, apresenta um balanço, ano a ano, das atividades (reuniões e

visitas) promovidas pelas comissões da ALMG na 15ª Legislatura.

TABELA 1 Balanço das atividades das comissões da ALMG na 15ª Legislatura

ANO Atividades das comissões (reuniões e visitas)

Convidados Reuniões Reuniões no

interior (*) Visitas Total de atividades

2003 1.128 54 40 1.168 2.455

2004 820 46 36 856 2.057

2005 811 88 55 866 2.433

2006 756 75 22 778 2.486

TOTAL 3.515 263 153 3.668 9.431

(*) Estão incluídas no número total de reuniões mostrado na coluna anterior. Fonte: Tabela adaptada do Quadro VI – Balanço das atividades das comissões (OLIVEIRA, 2006, p. 44).

A criação da Comissão de Participação Popular

A participação popular no processo legislativo, já incentivada por meio das audiências

públicas de comissões na Capital e no interior do Estado, foi reforçada com a criação, na 15ª

Legislatura, da Comissão de Participação Popular, permitindo, conforme dissemos no item

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4.2, a apresentação de proposta de ação legislativa por entidade ou organização da sociedade

civil, exceto partido político com representação na ALMG.

Instalada oficialmente em 11/6/2003, a Comissão de Participação Popular tem se

mostrado como a principal inovação institucional direcionada à incorporação e ao

atendimento das demandas da população pela Assembléia Legislativa. Um dos destaques foi a

série de audiências públicas de discussão e revisão do Plano Plurianual de Ação

Governamental8, promovidas pela Comissão em 2004, 2005 e 2006 e destinadas à

apresentação de propostas de emenda aos programas e projetos que compõem essa peça de

planejamento estatal.

A criação da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar e da Ouvidoria Parlamentar

Também em 11/6/2003 foi oficialmente instalada a Comissão de Ética e Decoro

Parlamentar. Outra iniciativa relacionada à valorização da ética, da transparência e da abertura

à participação da sociedade foi a instalação da Ouvidoria Parlamentar. A composição e as

competências da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar e da Ouvidoria Parlamentar foram

abordadas no item 4.2 deste trabalho.

A aprovação da Lei Complementar nº 78, de 9 de julho de 2004

Em 2004, a ALMG deu um passo significativo para o aperfeiçoamento de toda a

legislação mineira com a aprovação da Lei Complementar nº 78, que estabelece regras para

elaboração, alteração e consolidação das normas jurídicas. Conforme salientamos no item 3.1,

o legislador deve atuar com transparência, redigindo regras claras e precisas, de forma a

evidenciar o conteúdo e o alcance que pretende dar à norma. Pelo princípio da publicidade, ao

cidadão deve ser possível não somente conhecer, mas também entender as leis, que sempre

afetam de alguma forma a sua vida.

Os eventos institucionais

Na 15ª Legislatura, a realização de nada menos que 91 eventos institucionais, sempre

em parceria com o setor público e segmentos da sociedade civil, permitiu discussões sobre

diversos aspectos da realidade brasileira e mineira. Além das audiências públicas de revisão

anual do PPAG, foram debatidos temas como reforma política, meio ambiente, saúde, direitos 8 O Plano Plurianual de Ação Governamental – PPAG – é uma lei que contém as diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública para os quatro anos seguintes à sua edição, com a previsão dos gastos de duração continuada e de custeio deles decorrentes. O PPAG vigora do segundo ano de um governo até o primeiro ano do governo seguinte.

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humanos, educação e cultura, entre muitos outros. Conferências estaduais, precedendo

conferências do governo federal, seminários legislativos, fóruns técnicos e ciclos de debates

movimentaram a ALMG nesses quatro anos.

Os Quadros 7 e 8, a seguir, apresentam, ano a ano, os principais eventos institucionais

realizados pela ALMG na 15ª Legislatura.

ANO TIPO NOME DO EVENTO

2003

seminário legislativo Minas na Reforma Tributária. Regiões Metropolitanas.

fórum técnico A Reforma da Previdência Social. Reforma Agrária em Minas: Impasses e Perspectivas.

ciclo de debates

PPA Brasil em Minas Gerais. O Brasil na Alca. Em Defesa dos Municípios. A Outra Economia Possível: a Economia Solidária. Revitalização e Transposição do Rio São Francisco.

outros I Conferência das Cidades de Minas Gerais. Audiências públicas, no Plenário da ALMG e no interior do Estado, sobre o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado – PMDI – e o Plano Plurianual de Ação Governamental – PPAG.

2004

seminário legislativo Saneamento Ambiental: Demandas e Intervenções Necessárias (precedido de quatro encontros regionais).

fórum técnico Cerrado Mineiro: Desafios e Perspectivas. Cultura: Política e Financiamento.

ciclo de debates

Em Defesa do Rio São Francisco. O Eucalipto. Gás Natural para o Desenvolvimento. Resistir Sempre – 64 Nunca Mais. 10 Anos do Plano Real.

outros

I Conferência Estadual de Políticas para as Mulheres. II Conferência Estadual de Direitos Humanos. Conferência Regional de Minas Gerais do Estatuto do Desporto. Debate público Fortalecimento da Proteção e Defesa do Consumidor – Um Desafio para o Século XXI. Debate público O Poder Legislativo e a Defesa dos Direitos Humanos. Debate público Participação Popular no Poder Legislativo. Audiência pública de revisão do PPAG 2004-2007 (exercício 2005).

Quadro 7: Principais eventos institucionais realizados pela ALMG na 15ª Legislatura (primeiro biênio) Fonte: Elaborado pelos autores, com base nas informações disponíveis em <http://www.almg.gov.br/LRF/ atividades/atividade200312.htm> e <http://www.almg.gov.br/LRF/atividades/atividade200412.htm> Acesso em: 14 set. 2007.

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ANO TIPO NOME DO EVENTO

2005

seminário legislativo Lixo e Cidadania: Políticas Públicas para uma Sociedade Sustentável (precedido de 11 encontros regionais).

fórum técnico A Educação Superior em Minas Gerais: Conjuntura Atual e Perspectivas. Reforma Política e Eleitoral: Como Viabilizá-la.

ciclo de debates

Poder Legislativo Mineiro e Sociedade – 170 Anos. Educação em Direitos Humanos. Sistema Único de Assistência Social: Estratégias e Metas de Implantação. Dia Mundial em Defesa da Saúde. Política Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional. Biocombustíveis: Álcool e Biodiesel. Agenda 21 em Minas Gerais. Transposição do Rio São Francisco.

outros

Treze encontros regionais Desafios da Gestão Municipal 2005. Seminário Regional sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb. Seminário Cultura da Paz – 4º Fórum das Águas para o Desenvolvimento de Minas Gerais. I Conferência Estadual de Cultura – Estado e Sociedade Construindo as Políticas Públicas de Cultura. II Conferência das Cidades de Minas Gerais. I Conferência Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. I Conferência Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência. V Conferência Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente. Debate público A Medida Provisória nº 232. Debate público Em Defesa da Vida (foram discutidos aspectos relativos à biotecnologia e à bioética). Debate público Referendo Popular: O Comércio de Armas de Fogo e Munição Deve Ser Proibido no Brasil? Audiência pública de revisão do PPAG 2004-2007 (exercício 2006).

2006

seminário legislativo Segurança para Todos: Propostas para uma Sociedade mais Segura (precedido de seis encontros regionais).

fórum técnico Obesidade: Desafios e Perspectivas. Educação Ambiental: Conjuntura Atual e Perspectivas. Políticas Públicas para as Mulheres.

ciclo de debates

Política Nacional de Resíduos Sólidos. Luta Contra as Drogas. Regularização Fundiária das Unidades de Conservação do Estado de Minas Gerais.

outros

Cinco encontros regionais Implantação do Sistema Único de Assistência Social: Desafios e Perspectivas. 5° Fórum das Águas para o Desenvolvimento de Minas Gerais. I Conferência Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa. Seminário da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional – Região Sudeste. Debate público Participação Popular no Legislativo. Debate público Transporte Contratado de Passageiros: Visões Intermunicipal e Interestadual. Debate público Planejando a Região Metropolitana de Belo Horizonte: Estrutura, Desenvolvimento Econômico e Transporte. Debate público Construção do Plano de Gerenciamento de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Doce. Audiência pública de revisão do PPAG 2004-2007 (exercício 2007).

Quadro 8: Principais eventos institucionais realizados pela ALMG na 15ª Legislatura (segundo biênio) Fonte: Elaborado pelos autores, com base nas informações disponíveis em <http://www.almg.gov.br/LRF/ atividades/atividade200512.htm> e <http://www.almg.gov.br/LRF/atividades/atividade200612.htm> Acesso em: 14 set. 2007.

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Prestação de contas e redução de gastos

Em 2003, a Assembléia passou a apresentar, em sua página na internet, as despesas

com remuneração de Deputados e o custeio da atividade parlamentar. Além de dar

publicidade aos demonstrativos mensais da execução orçamentária do Poder Legislativo, por

atividade e por grupo de despesa, a ALMG formalizou o acesso do Tribunal de Contas do

Estado ao Siafi-Assembléia, de forma a permitir que aquele órgão acompanhe todas as

despesas realizadas pelo Legislativo.

Outra medida que contribuiu para dar mais transparência ao uso do dinheiro público,

além de permitir economia de recursos financeiros e de tempo, foi a adoção do pregão

eletrônico como modalidade de licitação. No pregão, os participantes cobrem, pela internet, as

propostas de preço uns dos outros, sendo usado principalmente para a compra de materiais

comuns, como suprimentos de escritório, mobiliário, combustível e serviços utilizados no dia-

a-dia da instituição. Também merece destaque a adoção de programas de computador

gratuitos (software livre), em substituição àqueles que representam custos com licenciamento

e atualização.

A criação do Ceac

Na 15ª Legislatura, a ALMG intensificou e consolidou as ações visando à capacitação

de agentes públicos e ao fortalecimento das câmaras municipais. O apoio aos Municípios, que

sempre foi um braço de atuação da Escola do Legislativo, ganhou mais força com a criação,

em novembro de 2006, do Centro de Apoio às Câmaras – Ceac –, fruto das demandas e

atendimentos prestados pela ALMG aos 853 Legislativos municipais (ver item 4.3).

A atuação da Escola do Legislativo

A Escola do Legislativo se consolidou, na 15ª Legislatura, como órgão de ensino,

pesquisa e extensão no âmbito do Parlamento mineiro. Merecem destaque o programa de

visitas orientadas do Educação para a Cidadania, que atendeu quase 16 mil estudantes nesse

período, e o fortalecimento das ações de capacitação no interior do Estado. Foram criados, em

2003, o Conexão Assembléia, programa de parcerias com universidades mineiras, o Banco do

Conhecimento e o Corredor Cultural da Escola do Legislativo. Em 2004, houve a expansão

do Educação para a Cidadania para novos públicos e o lançamento do Parlamento Jovem,

programa de formação política e simulação de reuniões para estudantes do Ensino Médio e do

curso de Ciências Sociais. As áreas de atuação da Escola do Legislativo e seus respectivos

programas foram abordados no item 4.3 deste trabalho.

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A ampliação do serviço de rádio

Na 15ª Legislatura, a ALMG passou a tornar disponíveis para download, em sua

página na internet, o boletim e as notícias produzidos pela rádio. São informações sobre o

processo legislativo, eventos institucionais, prestação de serviço e utilidade pública. O

boletim também é transmitido, diariamente, ao vivo, para 205 rádios de Minas Gerais e

distribuído por correio eletrônico para 350 emissoras cadastradas, nos formatos MP3 e texto.

Em 2003, eram 180 emissoras.

A expansão da TV Assembléia

A 15ª Legislatura registrou um incremento das atividades da TV Assembléia. Em

2003, a emissora chegava a 164 Municípios; no final de 2006, atingia 211 cidades. Portanto,

nesses quatro anos, 47 novos Municípios passaram a receber a programação. No entanto,

conforme salientamos no item 4.4, em Belo Horizonte e em algumas cidades do interior do

Estado a TV Assembléia somente pode ser assistida pelos assinantes do serviço de TV a cabo,

dificultando sobremaneira o acesso do cidadão de menor nível de renda à sua programação –

uma afronta inequívoca ao princípio constitucional da publicidade.

A reformulação da página da ALMG na internet (www.almg.gov.br)

Na 15ª Legislatura, foi intensificado o uso da internet para divulgar o trabalho do

Legislativo. Em 2005, a página da ALMG foi reformulada, facilitando a navegação e o acesso

às informações. Também foram oferecidos novos serviços, como o boletim eletrônico e o

acompanhamento de proposições. No primeiro caso, o cidadão pode escolher entre 32

assuntos os de seu interesse, para receber por correio eletrônico, gratuitamente, as notícias

produzidas pela Gerência-Geral de Imprensa e Divulgação. Quanto ao acompanhamento de

proposições, são enviadas, também por correio eletrônico, informações sobre as proposições

de interesse dos cidadãos cadastrados.

A média mensal de consultas externas à página da ALMG cresceu 207% ao longo da

15ª Legislatura, passando de 176 mil, em 2003, para 540 mil, em 2006. Em outubro de 2006,

no período das eleições, o volume de acessos cresceu consideravelmente e chegou a

1.250.000, correspondendo portanto a mais do dobro da média mensal registrada em 2006.

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5 O QUE PENSA O CIDADÃO

5.1 A pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi em 1993

Em 1993, a ALMG encomendou ao Instituto Vox Populi uma pesquisa para conhecer

a opinião dos mineiros sobre a instituição, de forma a poder nortear as suas ações para o ano

seguinte. Foram realizadas mais de mil entrevistas, em várias cidades, com estratificação por

sexo, idade, escolaridade, renda familiar e região de residência. Os resultados, divulgados na

Revista do Legislativo9, sob o título Desinformação alimenta descrença, mostram que as

pessoas avaliam de forma muito negativa o Legislativo e os políticos, mesmo conhecendo

pouco as atribuições parlamentares e os mecanismos de funcionamento desse Poder. Ficou

claro, nessa pesquisa, que a desinformação alimenta a descrença e explica, em parte, a pouca

confiança que a população deposita nas instituições.

A pesquisa demonstrou que, independentemente de classe social e níveis de renda, a

maioria dos entrevistados (77%) manifestou confiar mais na Igreja Católica; em seguida,

aparecem as Forças Armadas, com 60% de aprovação, jornais e revistas com 48%, TV com

45%, sindicatos com 40% e Justiça com 39%. A Assembléia Legislativa, com 25% de

aprovação, perde também para as Igrejas Evangélicas (33%). A Tabela 2, apresentada na

página seguinte, mostra os resultados alcançados pelas 12 instituições pesquisadas.

Para muitos entrevistados, “política é cabide de emprego” e “políticos só se interessam

por dinheiro”. E nota-se que há, na percepção dos entrevistados, uma espécie de

contaminação do Legislativo mineiro no que respeita ao envolvimento de parlamentares da

Câmara dos Deputados e do Senado em atividades que não são nem sequer aventadas no

Legislativo estadual. As pessoas tendem a generalizar para outros Poderes o que ouvem falar

de ruim de um deles.

Vê-se, claramente, o quanto a desinformação tem colaborado para que a sociedade

transforme seus próprios representantes em inimigos potenciais. A pesquisa em questão

demonstrou que a desinformação gera desinteresse, que, por sua vez, gera mais

desinformação. Registrou-se que nada menos que 97% dos entrevistados não sabiam o nome

do Presidente da Assembléia, à época. Muitos têm uma idéia equivocada das atribuições

parlamentares. Para a grande maioria, o papel dos Deputados seria, primordialmente, “fazer

9 Revista do Legislativo, Belo Horizonte, n. 5, p.10-13, out./dez. 1993.

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doações para instituições”, “doar dinheiro a necessitados”, “arranjar emprego”, “financiar

time de futebol”, entre outras atividades. Mais da metade dos entrevistados confessaram

ignorar que é função do Legislativo votar leis, discutir e aprovar o Orçamento, representar os

interesses regionais e fiscalizar os atos do governo estadual. Os verbos “dar” e “fazer” foram

largamente utilizados. A maioria vincula a aprovação do Deputado ao fato de ele fazer alguma

coisa concreta: dar tijolo, cestas, cimento ou “o que a gente precisa”.

Por outro lado, a pesquisa indica que quando são oferecidas informações, a maioria

dos que conhecem de perto o trabalho da Assembléia a avaliam de forma muito mais positiva,

como, por exemplo, representantes da sociedade civil que participaram de fóruns técnicos e

seminários promovidos pelo Poder Legislativo.

TABELA 2 A confiança nas instituições, segundo a pesquisa do Vox Populi (1993)

Posição Instituição Percentual de entrevistados que confiam na instituição(*)

1º Igreja Católica 77%

2º Forças Armadas 60%

3º Jornais e revistas 48%

4º TV 45%

5º Sindicatos 40%

6º Justiça 39%

7º Igrejas Evangélicas 33%

8º ALMG 25%

9º Empresários 24%

10º Governo federal 23%

11º Congresso Nacional 19%

12º Partidos políticos 17%

(*) Percentual dos 1.153 entrevistados na pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi, em 1993, que responderam confiar sempre, ou na maior parte das vezes, em cada uma das instituições pesquisadas. Fonte: Tabela adaptada do quadro Avaliação Quantificada (DESINFORMAÇÃO, 1993, p. 11).

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5.2 A nossa pesquisa

Para subsidiar esta monografia, foi entrevistado, por meio de questionário10, um grupo

de 30 cidadãos, de ambos os sexos, especialmente representantes da classe média e da classe

média baixa, na faixa etária de 20 a 70 anos, com diferentes níveis de escolaridade e

diferentes graus de exposição a informações sobre as atividades da ALMG. Contam-se entre

os entrevistados 3 professores universitários, 1 professor de Ensino Médio, 3 estudantes

universitários, 1 estudante de Ensino Médio, 1 jornalista, 1 médico, 1 dentista, 1 engenheiro

civil, 1 consultor jurídico de Prefeituras e Câmaras Municipais de cidades de pequeno porte, 1

gerente administrativo, 1 técnico de laboratório, 2 policiais militares, 1 trabalhador de

supermercado, 1 vendedor de loja de roupas, 4 porteiros, 3 auxiliares de serviços gerais, 1

faxineira, 1 empregada doméstica, 1 passadeira e 1 eleitor aposentado.

Percebe-se, pela análise das respostas, que entre os entrevistados que acompanham os

trabalhos da ALMG a imagem do Legislativo mineiro chega a ser bastante positiva,

aparecendo como um Poder voltado para a interlocução com a sociedade e como a instância

de representação da sociedade civil na esfera estadual. Uma estudante universitária ressaltou

ser o Poder Legislativo uma instituição importante para o Estado Democrático de Direito, por

ser no âmbito do Legislativo “que as discussões sobre os rumos das políticas governamentais

que têm impacto direto na vida do cidadão acontecem”.

Entretanto, a maioria dos entrevistados têm pouco ou nenhum contato com o

Legislativo, recebendo grande parte das informações acerca do que ocorre na Assembléia

pelos meios de comunicação (televisão, rádio e jornais), em conversas com amigos ou

conhecidos e por meio de pessoas ligadas a algum movimento comunitário.

Quanto à imagem que os entrevistados têm do Poder Legislativo, a participação

política ativa, a prática cidadã e o interesse pelo assunto são apontados por uma pequena parte

dos entrevistados como razões que os levam a formar uma imagem positiva da ALMG. Entre

os cidadãos que têm menos interesse pelo assunto ou recebem pouca informação, a grande

maioria tem uma imagem muito negativa do Legislativo, poucos sendo aqueles que disseram

ter uma imagem positiva. Entre estes últimos, contam-se as opiniões de dois entrevistados,

para um, a Assembléia é a casa onde se discutem questões de interesse da sociedade; para

outro, é onde os Deputados fazem leis que não atendem a população; mas, paradoxalmente,

reconhece que elas são necessárias.

10 No Apêndice A, apresentamos o questionário utilizado na pesquisa. As respostas dadas pelos entrevistados são apresentadas, na íntegra, no Apêndice B.

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Os motivos de as opiniões serem na maioria tão negativas dizem respeito

principalmente à constatação – pessoal ou decorrente das informações veiculadas pelos meios

de comunicação – do caos em que se encontra nosso país, o que, segundo alguns

entrevistados, é produto da morosidade e da falta de interesse dos parlamentares, que muitas

vezes aprovam projetos inúteis ou para benefício próprio ou de grupos, e poucas vezes para

beneficiar o povo. Também contaram as notícias sobre corrupção e escândalos. Ficou claro

que a mídia é, no caso, a maior formadora de opiniões, pois a grande maioria dos

entrevistados não acompanha diretamente o trabalho dos Deputados.

A maioria dos entrevistados (73,3% do total) disse saber que é possível acompanhar

diariamente os trabalhos da Assembléia, no Plenário e nas Comissões, mas alguns ressaltaram

não saber como fazer isso na prática. Vale destacar a opinião de uma pessoa que acredita na

possibilidade de serem somente as reuniões menos importantes acompanhadas pelo povo;

para ela, as grandes decisões são tomadas em sigilo.

Quanto ao trabalho desenvolvido pelos Deputados no Plenário e nas Comissões, 6

entrevistados (20%) disseram já ter acompanhado uma reunião do Plenário e 7 (23,3%)

afirmaram já ter acompanhado reuniões das Comissões.

Dezesseis entrevistados (53,3%) disseram saber que existem canais de interlocução da

Assembléia com a sociedade; para alguns, cabe a ressalva de que não é possível saber como

esses canais funcionam de fato.

Somente 8 entrevistados (26,6%) disseram assistir à TV Assembléia e alguns

manifestaram o desejo de fazer isso mais vezes; e 11 (36,6%) disseram já ter lido, mesmo que

poucas vezes, o Diário do Legislativo, no “Minas Gerais”. Quanto ao trabalho desenvolvido

pela Escola do Legislativo, 7 entrevistados (23,3%), entre os quais 6 pertencem ao grupo

“classe média”, disseram conhecê-lo. A Figura 2, apresentada na página seguinte, sintetiza os

resultados obtidos na pesquisa.

A falta de cultura, de educação política e de informação, o enfoque quase sempre

negativo dado pelos meios de comunicação, as notícias sobre corrupção e a conseqüente

descrença em relação aos parlamentares, que, para uma boa maioria, enxergam a política

somente como uma troca de favores, defendendo projetos que não atendem a sociedade como

um todo, e o argumento de que os afazeres do dia-a-dia são mais importantes e urgentes do

que o que ocorre na Assembléia parecem ser os motivos pelos quais o cidadão, de modo geral,

não se interessa pelo que acontece no Poder Legislativo. Para uma professora universitária, a

nossa cultura política não é democrática, existe uma história de representação das elites,

lentidão dos processos, desesperança. Entretanto, uma estudante de Direito considera que não

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se pode generalizar esse estado de coisas. “Sempre há pessoas que participam e cada vez mais

os cidadãos estão conscientes do que está errado no governo, tanto no Executivo quanto no

Legislativo. Ao mesmo tempo em que há pessoas apáticas, vejo muita gente, ao contrário, se

interessando. Falta a estes cidadãos a descoberta de estratégias para agir.”

Já foi informado de que pode acompanhar diariamente os trabalhos da ALMG

73,3% Sabe que a ALMG criou canais de interlocução com a sociedade

53,3% Já leu o Diário do Legislativo, no jornal “Minas Gerais”

36,6% Assiste à TV Assembléia

26,6% Conhece o trabalho da Escola do Legislativo

23,3% Já acompanhou reunião de Comissão

23,3% Já acompanhou reunião de Plenário

20%

Figura 2: Resultados da pesquisa Fonte: Elaborado pelos autores, com base nos resultados obtidos em pesquisa realizada nos meses de julho a setembro de 2007, na qual foram entrevistadas, por meio de questionário, 30 pessoas de perfil variado. Os números se referem ao percentual de entrevistados que se encaixam em cada uma das situações apresentadas.

Como formas de tornar mais conhecido do cidadão o trabalho que se realiza no

Legislativo, os entrevistados sugeriram a votação de projetos de interesse da população, a

divulgação em meios de comunicação mais populares e não tão específicos, a realização dos

eventos institucionais em locais mais acessíveis à sociedade, a criação de disciplinas

específicas nas escolas, a participação da comunidade junto ao Deputado de sua região e uma

maior proximidade do parlamentar em relação ao cidadão, de forma a conquistar sua

confiança. Quatro sugeriram que a TV Assembléia se torne uma TV aberta, para permitir o

acompanhamento dos trabalhos por todos os cidadãos, e não somente por aqueles que

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possuem o sistema a cabo11. Uma entrevistada sugeriu a distribuição, pela Assembléia, de

jornais populares, como o “Jornal do Ônibus”, e panfletos; dois outros disseram que isso

deveria ser feito por uma pessoa da comunidade, que tivesse mais acesso aos acontecimentos

e que levasse os assuntos relevantes ao conhecimento de todos; e outros dois entrevistados

disseram que é necessário haver mais transparência nos trabalhos e também maior eficácia das

decisões, para que o povo possa confiar e ter vontade de participar. A divulgação deve ser

feita em uma linguagem que o cidadão entenda.

Por outro lado, para atender a outro grupo de pessoas, foi sugerido melhorar a forma

como a ALMG divulga a legislação mineira. Para uma entrevistada, “o sistema de busca da

legislação federal no site ‘planalto.gov’ é melhor que o disponível no site da ALMG, pois as

alterações legislativas são exibidas nas próprias leis alteradas. Até mesmo o layout do

‘planalto.gov’ é melhor”.

Visitas monitoradas, também sugeridas, já acontecem, mas uma sugestão importante,

que pode vir a ser aproveitada, é a inclusão do tema como disciplina nas escolas, desde o

Ensino Fundamental.

Conclui-se que a comunicação entre o aparato estatal e o cidadão, para ser eficaz,

demanda que a publicidade, além de acessível ao cidadão, se paute na clareza, na precisão e

na coerência do que se pretende fazer conhecer.

Apesar de conhecer muito pouco da Assembléia de Minas e do Poder Legislativo, o

cidadão, de modo geral, tem uma impressão muito ruim desse Poder, pois considera os

políticos pessoas não confiáveis e distantes da população. Determinados entrevistados

disseram que o povo não tem acesso aos Deputados, e alguns ficaram surpresos ao saber que

poderiam acompanhar os trabalhos da Assembléia diariamente. Predomina a impressão de que

os Deputados só trabalham em benefício próprio, e muitos acreditam que eles nem trabalham.

Em determinadas respostas, apesar de o questionário concentrar-se na atuação da

Assembléia Legislativa, alguns entrevistados utilizaram expressões como “população

brasileira” e “ações em benefício do País”, talvez revelando a pouca visibilidade do

Legislativo estadual em comparação com o federal, presente todos os dias nos meios de

comunicação. Assim, para o cidadão comum, quando se fala em Legislativo, Plenário,

Deputado, política, lei, o que vem à mente é a Câmara dos Deputados, que é objeto do

noticiário diariamente. Muitos podem nem saber que existem Legislativos municipais e

estaduais.

11 Conforme salientamos no item 4.4, em Belo Horizonte e em algumas cidades do interior do Estado a TV Assembléia somente pode ser assistida pelos assinantes do serviço de TV a cabo.

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Também chama a atenção o fato de dois entrevistados terem feito menção ao

relacionamento Executivo-Legislativo em suas respostas. Um deles afirmou que o Legislativo

não é um Poder independente como deveria ser, ao passo que o outro, equivocadamente, disse

que o papel do Deputado é nos representar perante o Governador, em prol da sociedade,

dando ao Chefe do Executivo ares de um gigante todo-poderoso, senhor absoluto de recursos

e meios, a exigir representantes para que a sociedade possa se relacionar com ele.

Seguramente, esse tipo de resposta revela a avassaladora preponderância do Executivo em

nosso sistema político, o que é facilmente percebido pelo cidadão comum.

Outra constatação é que, além do pouco conhecimento acerca de Legislativos

municipais e estaduais, muitos entrevistados não conhecem a divisão de Poderes, a separação

entre Legislativo, Executivo e Judiciário; não sabem o papel de cada um deles e a maioria não

distingue as esferas municipal, estadual e federal. Em algumas respostas, os entrevistados se

referiram erroneamente ao Legislativo usando as palavras “Justiça” e “Judiciário”.

Como a televisão aberta é o meio de comunicação de maior alcance e uma vez que as

pessoas confundem os Poderes e as esferas de atuação municipal, estadual e federal, qualquer

notícia negativa na mídia que envolva os políticos ou algum dos Poderes gera a impressão

generalizada de que todos são ruins, corruptos e inoperantes. A desinformação tende a causar

uma impressão apenas negativa.

Ficou claro, com base nesta pesquisa, que o princípio da publicidade, apesar do

aparato institucional implantado pela ALMG, está sendo pouco atendido, uma vez que uma

parcela importante dos entrevistados tem pouco ou nenhum conhecimento do que acontece no

Poder Legislativo e não utiliza os canais de interlocução criados pela instituição para se

aproximar da sociedade, ouvi-la e atender as suas demandas.

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6 CONCLUSÃO

A análise comparativa entre o resultado aferido por meio da nossa pesquisa e o

apurado pela pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi em 1993 demonstra que pouco

evoluiu a relação entre cidadãos e Poder Legislativo nesses 14 anos. Essa constatação aponta

tanto para a necessidade de tornar mais conhecidos os mecanismos de que o Legislativo já

dispõe para dar visibilidade ao trabalho dos parlamentares (que abordamos exaustivamente no

capítulo 4) quanto para a criação de outros, mais acessíveis ao cidadão comum, conforme as

muitas sugestões dos entrevistados (que apresentamos no item 5.2). Ressalte-se ainda que

somente quando esses mecanismos alcançarem uma parcela considerável da sociedade

poderemos considerar o princípio da publicidade uma norma tão eficiente quanto eficaz.

Fica patente, a partir dos resultados das duas pesquisas, que a desinformação alimenta

a descrença do cidadão em relação ao Legislativo, descrença que vem acompanhada de

revolta e desesperança. A maioria tem uma idéia equivocada das atribuições parlamentares, e

mesmo conhecendo pouco ou quase nada do Poder Legislativo, muitos o enxergam de forma

negativa. Fica patente também que a informação parcial e muitas vezes tendenciosa dos meios

de comunicação contribui para o tão propalado divórcio entre Poder Legislativo e sociedade.

Em compensação, conforme indicado pelas duas pesquisas, a maioria dos que

conhecem de perto o trabalho da Assembléia a avaliam de forma muito mais positiva. A

constatação de que a informação pode favorecer o interesse é alentadora, visto que o

Legislativo tem intensificado a criação de instrumentos de aproximação entre o cidadão e seus

representantes e facilitado o acesso do eleitor à informação. De fato, para que haja o resgate

da confiança da sociedade em suas instituições, parece ser esse o melhor caminho a trilhar.

Resta perguntar, então, por que o relacionamento entre Poder Legislativo e sociedade

tem mudado pouco nos últimos anos, apesar do esforço que se faz, de um lado, para dar tanta

publicidade quanto possível aos atos do Legislativo e, de outro, para tornar a sociedade

interessada nessa visibilidade.

Parece-nos que a resposta deve ser buscada na própria conformação de nosso sistema

político, na maneira como as relações entre os Poderes – e destes com a sociedade – foram se

estabelecendo ao longo de nossa história, conduzindo ao que assistimos hoje: protagonismo

do Executivo, clientelismo no Legislativo e inércia do cidadão.

Na verdade, ainda não perdemos, no Brasil, a esperança em um rei que nos governe,

distribuindo riquezas a mancheias. Um rei que não seja simplesmente dotado do poder divino,

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mas o próprio divino; aquele que faz descer o maná dos céus para que ninguém precise se

esforçar nem ao menos para buscar o que comer. E já que não temos um, fazemos de todo

governante uma majestade. O eleitor vive à espera do Messias, crença renovada a cada quatro

anos, quando são oferecidas aos incautos promessas de respostas e soluções para os males que

afligem a população.

Esse conceito religioso de redenção vem permeando há séculos as nossas relações com

o poder. D. Pedro I, que com dez assessores redigiu uma Constituição que vigorou por 65

anos – e onde se lia que “a pessoa do Imperador é inviolável e sagrada: ele não está sujeito a

responsabilidade alguma” –, exercia seu autoritarismo sob a proteção que se chamou “Poder

Moderador”. Apesar disso, durante muito tempo, nos livros de História, nas músicas e na

imaginação popular, a independência do Brasil aconteceu graças à coragem e ação decisiva do

heróico príncipe D. Pedro. Ou seja, do nosso primeiro “Messias”, o nosso salvador.

Desnecessário dizer que muitos outros viriam depois.

Essa parceria tradicionalmente praticada vai de encontro aos próprios anseios dessa

sociedade, de uma participação legítima e ativa nas decisões que tão diretamente lhe dizem

respeito. Estamos aqui diante de um paradoxo criado, por um lado, pelo desejo de

concentração de uns; por outro lado, pelo comodismo da farta maioria, que, dividida em dois

grupos (um que pretende fartas benesses e outro que se contenta com o pão de cada dia), cada

um, a seu modo, contribui para a manutenção da prática do clientelismo, dificultando cada vez

mais uma legítima aproximação entre o Legislativo e a sociedade.

Frei Caneca registra que o Poder Moderador é a chave mestra da opressão da nação

brasileira e o garrote mais forte da liberdade dos povos. Os liberais tradicionais do século XIX

consideravam que o direito do voto não deveria ser estendido à população mais pobre, pois

isso significaria estimular o governo da ignorância. O voto universal, de acordo com esses

liberais tradicionais, resultaria na completa desordem social.

Na esteira dessa herança, tendo sido tão amplamente contaminado pela cultura da

crença no homem sábio, porque divino, não é fácil ao cidadão de hoje ser levado a participar

da vida política do País. Mergulhados na inércia, tornamo-nos todos analfabetos políticos,

nutrimos de ilusões nossas aspirações e confiamos ao acaso nossas conquistas. Séculos de

apatia e subserviência esculpiram o cidadão que não se obriga ao mínimo esforço para fazer

render a própria capacidade, e considera normal entregar a condução do seu destino a quem

supõe poder pensar e decidir melhor que ele.

O voto universal foi uma conquista, mas não basta como exercício de cidadania. É

preciso criar uma consciência maior do que significa ser cidadão. Nossa cidadania não pode

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ser exercida apenas no momento do voto, permanecendo, nos anos seguintes, engavetada com

nosso título de eleitor e o último comprovante. Agindo dessa forma, teremos poucas chances

de ver nossos interesses de fato representados. A maioria dos eleitores estará presa, ainda por

muito tempo, ao aspecto clientelista da atuação dos parlamentares, buscando eleger antes um

representante para resolver situações pessoais, que um legislador que vise, de fato, à

universalidade de sua atuação.

Tal como as cabeças da Hidra de Lerna – que se multiplicavam cada vez que eram

cortadas –, as práticas clientelistas proliferam no Legislativo, malgrado algum esforço que se

faça na tentativa de eliminá-las. Dificilmente serão vencidas, pois ainda vigora entre nós o

sentido do “feudo”, os famosos “currais eleitorais”, expressão que nos poupa de qualquer

trabalho interpretativo, conhecida a tradição política de nossa sociedade. Certamente, essa

situação só interessa àqueles que utilizam a desinformação como garantia de permanência no

poder.

Lutar contra o clientelismo é um desafio a ser enfrentado tanto pelo Poder Legislativo

quanto pela sociedade. O compromisso do parlamentar é com todos os cidadãos, não apenas

com os que o elegeram. A sociedade precisa estar presente no dia-a-dia do parlamento, e estar

tão bem informada quanto seus representantes. Para tanto, o Legislativo deve ser um locus de

formação de opinião pública, construindo um novo conceito de poder, de cidadania, de

representatividade, em que se coloque em evidência uma representação renovada,

aperfeiçoada pela adoção de mecanismos institucionais de participação da sociedade. A

democracia representativa é a única forma de exercer a democracia em sociedades complexas,

diversificadas e heterogêneas. Para defendê-la, torna-se fundamental que o Legislativo se

preste a esse papel de mentor da renovação; do contrário, a representatividade se esvazia.

Urge tentar reconstituir a legitimidade, a credibilidade de nossos representantes. Devemos

lutar para nos reconhecermos naqueles que nos representam. Discute-se muito a

preponderância e o protagonismo do Executivo, mas a questão central é a da transparência das

atividades parlamentares. E não só das atividades parlamentares: em sua função fiscalizadora,

o Legislativo deverá dar conta também das ações elaboradas no Executivo, no Judiciário, no

Tribunal de Contas, no Ministério Público.

Para superar tantos obstáculos que interferem e tornam doloroso seu relacionamento

com a sociedade, a saída para o Poder Legislativo é empenhar-se para se tornar cada vez mais

visível, uma vez que o desconhecimento daquilo que se faz no parlamento é a causa primeira

do desinteresse da sociedade. Apenas o voto – ou o ato de votar – não legitima poder

democrático. Exige-se que o Legislativo seja dotado de instrumentos para ouvir a sociedade

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nas suas demandas e que lhe dêem transparência e legitimidade. O cidadão deve ser colocado

no centro da vida política, participar dela, sair de seu comodismo de séculos, aceitar que o rei,

se existiu, já morreu. E que não haverá outro. Essa consciência tem que ser trabalhada pelo

Legislativo, que deve ser o Poder mediador justamente por estar mais próximo dos cidadãos;

mas não pode ser apenas isso: embora a soberania seja dividida entre os Poderes, deve ter a

soberania para legislar, uma vez que é o Poder legiferante por excelência.

Parece-nos que é chegado o momento de o Poder Legislativo trabalhar para tirar a

democracia de sua condição fragilizada; despertá-la do letargo que lhe foi imposto ao longo

de uma história de autoritarismo, em que ela não foi mais que uma miragem. Que a incipiente

e inovadora participação popular implementada por meio de instrumentos que aproximam o

cidadão do Poder Legislativo e estimulada pela publicidade cada vez mais intensa dada aos

atos desse Poder, fazendo compreensíveis suas atividades e permitindo a esse cidadão

entender e, conseqüentemente, se interessar pelo que se passa na esfera legislativa, possa fazer

a democracia respirar.

A história da humanidade está escrita nas diversas manifestações artísticas que

formam seu acervo cultural. A linha do tempo de nossa história é bem marcada pelo

teocentrismo da Idade Média, o antropocentrismo do Renascimento, a luta entre o medo do

pecado e os desejos materialistas e mundanos que dilacerava a alma do homem representado

pelo artista barroco, em seu eterno conflito entre o bem e o mal. Pois bem, fica entendido que,

da mesma forma, o político não só representa, mas retrata, no geral, o bem e o mal que

permeiam a sociedade que o designou seu representante. Portanto, se se quer mudar a face

dessa representação, que sob alguns aspectos nos envergonha, é preciso começar por mudar o

indivíduo.

Mesmo nos países democráticos, é comum os governantes se aproveitarem da carência

de consciência de cidadania das camadas econômica e culturalmente desprestigiadas. A

capacidade de o ser humano elaborar compreensões foi duramente atingida por um

condicionamento milenar, que se foi acentuando progressivamente na linha do tempo da

história da humanidade. Impossível será, então, modificar por leis e decretos o quadro que

tanto desgosto nos causa. Somos sua parte petrificada, convidados de pedra para um banquete

do qual não nos é dado participar.

Cabe, então, perguntar: existe saída ou estamos condenados eternamente ao suplício

de Tântalo?

A salvação passará, necessariamente, pela libertação do indivíduo do encantamento

que exerce sobre ele o administrador, sua Sereia, e pelo crescimento do papel do Legislativo

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na sociedade, esse Legislativo que acaba sendo o representante de todas as nossas mazelas e

nossas deficiências, formatado que foi numa cultura patriarcal tão antiga quanto a história da

humanidade.

Pelo menos 4 mil anos de condicionamentos nos espreitam e modelam nossa conduta.

Com isso, o cidadão, mesmo aquele nascido em berço privilegiado, perdeu a lucidez e a

capacidade de decidir com acerto.

Por outro lado, no que tange ao Legislativo, também esse Poder sofre as mazelas do

condicionamento à figura patriarcal do Executivo, que se acomoda prazerosamente no seu

papel de protagonista e centralizador de decisões.

As mudanças necessárias fazem parte de um processo que, uma vez desencadeado, se

cumprirá lentamente, como os que se cumprem na natureza, que não dá saltos. A

compreensão de que os parlamentares são tão semelhantes a nós mesmos, apenas atuando em

contexto diferente, deverá conduzir o cidadão a colaborar, participando, cobrando,

fiscalizando.

Impõe-se o nascimento de uma nova cultura, onde não haja espaço para messias; uma

cultura onde Hércules ponha fim ao apetite da Hidra e Orfeu possa cantar mais alto que as

Sereias.

E quem sabe assim, livres do milenar condicionamento, poderemos presenciar o

Acontecimento, conforme Vinícius:

Haverá na face de todos um profundo assombro E na face de alguns risos sutis cheios de reserva Muitos se reunirão em lugares desertos E falarão em voz baixa em novos possíveis milagres Como se o milagre tivesse realmente se realizado Muitos sentirão alegria Porque deles é o primeiro milagre ................................................................................. Só a alegria de alguns compreenderem bastará Porque tudo aconteceu para que eles compreendessem Que as águas mais turvas contêm às vezes as pérolas mais belas.

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APÊNDICE A – Questionário da pesquisa

Nome: Profissão: Escola ou local de trabalho: 1) Que imagem você tem do Poder Legislativo? 2) O que o levou a formar essa opinião? 3) Você já foi informado de que pode acompanhar diariamente os trabalhos da Assembléia Legislativa, tanto no Plenário quanto nas Comissões? 4) Você conhece o trabalho dos Deputados em Plenário? Já acompanhou alguma reunião de Plenário? 5) Você conhece o trabalho das Comissões? Já acompanhou alguma reunião de Comissão? 6) Você conhece a produção legislativa? Sabia que a Assembléia criou canais de interlocução com a sociedade, como fóruns, seminários, ciclos de debates, audiências públicas, entre outras atividades? 7) Você assiste à TV Assembléia? 8) Você lê ou já leu alguma vez, no jornal “Minas Gerais”, o Diário do Legislativo? 9) Você conhece o trabalho desenvolvido pela Escola do Legislativo? 10) Na sua opinião, por que o cidadão, de modo geral, não se interessa pelo que acontece no Poder Legislativo? 11) Como tornar mais conhecido do cidadão o trabalho que se realiza na Assembléia Legislativa?

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APÊNDICE B – Respostas dos entrevistados ENTREVISTA 1 D.C. Professora universitária (PUC Minas) 1) A de um Poder voltado para a interlocução com a sociedade. 2) Minha experiência profissional e minha prática cidadã. 3) Sim. 4) Sim. 5) Sim. 6) Sim. 7) Sim. 8) Sim. 9) Sim. 10) Por falta de informação e formação, porque a grande mídia enfoca apenas o lado nefasto de alguns Deputados. Isso gera uma opinião negativa generalizada sobre o Legislativo. 11) Tornar a TV Assembléia uma TV aberta e também veicular na grande mídia o trabalho da Assembléia.

* * * ENTREVISTA 2 M.E.M. Professora universitária (PUC Minas) 1) O Poder Legislativo é a instância de representação da sociedade civil na esfera estadual. É o Poder que mais de perto representa a vontade diversificada do cidadão. 2) Participação política ativa e o fato de ser professora de política. 3) Sim. Conheço a Constituição e o Regimento Interno da Assembléia. 4) Sim, conheço e acompanho pesquisas sobre o Legislativo e já acompanhei reuniões em diversas ocasiões de mobilização política. 5) Sim, e já acompanhei, em especial, reuniões da Comissão de Educação. 6) Sim. O bom é que isso já está instituído em lei. Participo de seminários, em especial daqueles que tratam do tema juventude e infância. 7) Pouco, em algumas ocasiões especiais. 8) Sim, quando da necessidade de pesquisa. Normalmente não leio. 9) Sim. Desenvolvo trabalho de formação política em parceria com o Estado e a PUC. 10) Os Poderes do Estado, no Brasil, são distantes da sociedade; têm uma história de representação das elites, em especial econômica. A cultura política em nosso país não é democrática. 11) Pelo uso de canais de participação, promoção de debates e da implantação de uma TV aberta.

* * *

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ENTREVISTA 3 A.A.R.B. Professor universitário (Fabrai) 1) Sobretudo nos dias atuais, o Poder Legislativo está, com poucas exceções, amplamente deformado e corrompido, desviado de seus fins originais, que é o de aprovar leis de interesse do povo. Leis que deveriam ser simples, sem brechas para proteger quem quer que seja, em especial os próprios políticos que as criam. 2) Minha opinião tem origem nos incontáveis fatos que presenciamos ao longo dos últimos anos, os quais nos induzem a uma forte associação entre políticos e falcatruas, entre política e corrupção, enganação. Assim, o político deixa de ser confiável. Ele passa a ser sempre suspeito, mesmo que o bom senso nos diga que nem todos os políticos são corruptos. 3) Que me recorde, informado não fui. Através de noticiários, tinha uma consciência vaga dessa possibilidade. 4) Não. 5) Sim. 6) Não conheço a produção legislativa. No entanto, já participei de audiências públicas relativas à situação dos autistas e dos portadores de deficiência mental. 7) Não. 8) Não. 9) Não. 10) Em primeiro lugar, por descrença. O sentimento de que os políticos vão acabar produzindo aquilo que mais lhes convém. Outro fator é a lentidão dos processos. 11) Sugiro a produção de um resumo objetivo, em linguagem simples, das principais atividades da Assembléia, para ser divulgado na mídia oficial, na TV, no rádio e na internet, bem como nos jornais de grande circulação.

* * * ENTREVISTA 4 K.R.F.T. Professora de escola pública municipal (Contagem) 1) Tenho uma péssima imagem, acho que poderiam fazer muito mais do que fazem, principalmente para as pessoas que realmente precisam. 2) Não os vejo fazendo projetos, leis, etc. que beneficiem o povo, estão sempre pensando somente em se beneficiar. 3) Sim. 4) Não. 5) Não. 6) Não. 7) Não. 8) Não. 9) Não. 10) O cidadão já perdeu as esperanças de que possam fazer algo que realmente seja para benefício da população brasileira. 11) Estar mais próximo do cidadão, demonstrar mais interesse e mostrar um trabalho pelo qual realmente valha a pena se interessar.

* * *

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ENTREVISTA 5 L.M.B. Estudante universitária (Direito – UFMG) 1) Acredito que o Poder Legislativo é uma instituição muito importante para o Estado Democrático de Direito, pois, em tese, é no âmbito do Legislativo, composto pelos representantes do povo, que as discussões sobre os rumos das políticas governamentais que têm impacto direto na vida do cidadão acontecem. Contudo, no Brasil, o Poder Legislativo não corresponde a essa expectativa; ao contrário, prevalecem os interesses dos Deputados, Senadores, Vereadores e das elites que os elegeram. A principal função do Legislativo, que é elaborar as leis, não é devidamente executada, pois os representantes, que detêm o mandato político e a legitimidade para decidir sobre as propostas, são impulsionados a legislar no interesse de alguns (é o que acontece com o lobby), ou mesmo para responder a estímulos da mídia e da opinião pública, sem indagar se aquele projeto de lei é necessário, oportuno, se será obedecido e se atingirá o resultado pretendido – o que é o mais importante. Às vezes tenho a impressão de que muitos projetos de lei são feitos e votados às pressas, mais para “mostrar serviço”. Nos últimos tempos, contudo, estou me dando conta de que a deturpação é ainda maior. Achei um escândalo os Deputados da ALMG aprovarem uma lei que impede que eles sejam investigados pelo Ministério Público. É uma afronta aos cidadãos, e tudo é feito tão às claras, por isso causa indignação. Por fim, quanto à função de fiscalização que cabe ao Legislativo, penso que essas CPIs não resolvem nada. São todas uma grande piada. Os parlamentares não têm preparo para investigar. E com o fato de serem televisionados, parecem estar em um teatro. Por outro lado, acredito que a existência de um corpo técnico que atue diretamente na redação dos projetos de lei é algo muito positivo. Isso porque as leis precisam ser pensadas no seguinte sentido: são necessárias? Irão atingir os objetivos? Os cidadãos irão compreender a norma extraída do texto da lei? Dentre outras questões. O difícil, creio eu, é fazer os parlamentares acatarem os argumentos desses especialistas.

2) Quando estava no segundo período da faculdade entrei para um grupo de estudos em Teoria da Legislação, chamado Observatório para a Qualidade da Lei. Dentro desse grupo, comecei a refletir sobre essas questões. E mesmo nas outras matérias da faculdade somos chamados a pensar sobre isso, visto que o direito guarda uma relação muito estreita com a política.

3) Sim, mas nunca fui, mesmo fazendo parte do grupo de estudos. Mas pretendo fazê-lo em breve, pois acredito que seria uma experiência enriquecedora para os meus estudos no Observatório.

4) Não.

5) Não.

6) Sei disso sim, inclusive já fui à ALMG acompanhando o Observatório, quando o trabalho da ALMG foi exposto a dois professores que vieram da Europa trazidos pela Faculdade de Direito da UFMG. Também já ouvi falar, pelos jornais, das audiências públicas realizadas no interior de Minas.

7) Não, só assisti poucas vezes, por acaso.

8) Não.

9) Já fui à Escola do Legislativo mais de uma vez e já ouvi falar muito sobre os cursos oferecidos. Aliás, vou participar do Congresso Internacional de Legística. Mas nunca

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participei de outra atividade. Acredito sinceramente que a existência da Escola traz à ALMG um pensamento mais avançado, colocando-a à frente de outras assembléias legislativas no país.

10) Porque os cidadãos não são acostumados a participar. É uma questão cultural: desde que o Brasil era uma colônia, o povo não participa das decisões políticas importantes. As pessoas se acomodam. E mesmo aquelas que têm mais acesso ao conhecimento, no meio acadêmico, também se acostumam a não participar. Mas acho que nunca se pode generalizar. Sempre há pessoas que participam e cada vez mais os cidadãos estão conscientes do que está errado no governo, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Ao mesmo tempo em que há pessoas apáticas, vejo muita gente, ao contrário, se interessando. Falta a estes cidadãos a descoberta de estratégias para agir.

11) Acho que já existem muitos meios: a TV Assembléia, os jornais de circulação em todo o Estado, as outras emissoras de TV e rádio, a página na internet. O que pode melhorar, e muito, é a forma como a ALMG divulga a legislação mineira. O sistema de busca da legislação federal no site “planalto.gov” é melhor que o disponível no site da ALMG, pois as alterações legislativas são exibidas nas próprias leis alteradas. Até mesmo o layout do “planalto.gov” é melhor. No que concerne à elaboração de projetos de lei em que se deseja a participação de determinados segmentos da sociedade, vale convidá-los, entrando em contato direto, por telefone ou correspondência, com seus representantes. Por outro lado, a comunicação entre o aparato estatal e o cidadão, para ser eficaz, demanda clareza da legislação vigente. E o cidadão só conhece a legislação vigente se não houver ab-rogações tácitas, expressões imprecisas e incoerências nos textos legais. Para tanto, é necessário que haja no início de cada ano um planejamento legislativo e também que se faça periodicamente um trabalho de consolidação e codificação das leis e dos demais atos normativos. Em síntese, os cidadãos precisam saber, sem dificuldade e sem dispêndio excessivo de tempo e energia: os projetos de lei que estão tramitando (quais são as inclinações políticas, as prioridades daquela legislatura) e as leis vigentes acerca de um determinado assunto.

* * * ENTREVISTA 6 C.G.F. Estudante universitário (Direito – Faculdade Universo) 1) Não corresponde aos anseios da sociedade; muitos projetos interessam a determinados grupos influentes. 2) Muitos dos projetos aprovados são de interesse de grupos particulares, que não representam a sociedade como um todo. 3) No Plenário sim, mas nas Comissões não. 4) Tenho noções de como funciona o trabalho, mas não acompanhei nenhuma reunião. 5) Não conheço o trabalho das Comissões e nunca acompanhei nenhuma reunião. 6) Sim, tenho algum conhecimento da produção. Em relação aos canais de interlocução, sei que existem, mas não sei como funcionam. 7) Não. 8) Apenas duas vezes até hoje. 9) Não conheço. 10) Pela falta de projetos que atendam a sociedade como um todo.

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11) Tornando a sociedade mais ativa através dos canais de interlocução, levando-os para locais mais acessíveis à sociedade.

* * * ENTREVISTA 7 L.Q.P. Estudante universitária (Fabrai) 1) Uma ordem voltada para a formulação de leis e projetos em benefício da população, principalmente a mais carente. Em geral, essa ordem tem maior participação da população por meio de representantes de bairro que se elegeram Vereadores, por exemplo. 2) Reportagens, revistas, o que sai constantemente na mídia mostrando a atuação do Poder Legislativo. 3) Sim. 4) Sim, conheço o trabalho de alguns, nos quais votei na última eleição, mas nunca fui a reuniões no Plenário. 5) Não. 6) Conheço somente a TV Assembléia, que exibe constantemente debates, discussões de CPIs. Também sei que a população pode acompanhar audiências. 7) Não. 8) Não. 9) Não. 10) Acho que o desinteresse decorre da complexidade do Legislativo. O cidadão leigo não acha enriquecedor aprender ou acompanhar os projetos, pois não entende como eles funcionam. Tudo está voltado para os ricos, nada é feito numa linguagem mais popular, para que todos entendam. Também é importante ressaltar que a população brasileira, em geral, não sabe reivindicar seus direitos, e isso também contribui para a falta de interesse. 11) Divulgando mais os projetos para a população, nas escolas, nas faculdades e nas empresas, de forma a conscientizar o cidadão de que é importante participar. Promovendo palestras criativas, com uma linguagem mais popular, e passeios que mostrem o local onde o Poder Legislativo funciona.

* * * ENTREVISTA 8 B.L.P.F. Estudante de Ensino Médio (Colégio Imaco) 1) É o Poder que influencia nossa vida fortemente, pois está ligado às leis, que é algo que define nossas ações em sociedade, no dia-a-dia. 2) Acho que a escola e os profissionais da área, em conjunto. 3) Sim. 4) Não, nunca acompanhei uma reunião, mas me interesso muito pelo assunto. 5) Não. 6) Sim, sei de algumas coisas por alto. 7) Não. 8) Já. 9) Alguma coisa. Estou me inteirando do assunto agora.

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10) Eu acho que isso é uma questão de cultura, pois esse é um assunto que influencia diretamente nosso cotidiano. Poderíamos dizer que é por falta de tempo, cansaço, estresse por excesso de trabalho, entre inúmeros outros fatores. Mas penso que se o brasileiro se interessasse pelo assunto a metade do que se interessa por futebol, novela e carnaval, estaríamos muitos passos à frente nessa caminhada. 11) Eu acho que tem que ser na base da repetição, por todos os meios de comunicação, pela inclusão do tema nas escolas desde cedo, tornar o assunto comum nas conversas.

* * * ENTREVISTA 9 R.P.M.F. Jornalista (Belo Horizonte) 1) Um Poder muito importante e necessário para o Brasil, mas que poderia ser bem mais organizado e eficiente. 2) Minha opinião foi formada tendo em vista os outros dois Poderes (Executivo e Judiciário) e a distância existente entre criar as leis e colocá-las em prática, levando à vergonhosa expressão “essa lei pegou, mas esta não”. 3) Sim, já fui. 4) Já acompanhei parcialmente. Gostaria de acompanhar outras vezes, de uma maneira mais efetiva e didática. 5) Não conheço e nunca acompanhei. 6) Conheço muito pouco. Eu sabia, mas tenho pouco conhecimento a respeito. 7) Muito raramente. 8) Não. 9) Muito pouco, quase nada. 10) Porque ele tem preguiça e um pouco de medo de se envolver, de se engajar mais na política do País. O cidadão comum e a política parecem duas peças muito distantes dentro de um mesmo jogo. Se as partes ficassem mais próximas, com certeza o Brasil seria bem mais organizado e haveria menos corrupção. 11) Desenvolvendo ações que façam o cidadão e a Assembléia ficarem mais próximos. Ações estas nas escolas, universidades; campanhas educativas que estimulem o cidadão a ficar mais familiarizado com o dia-a-dia da Assembléia e de como ele pode ajudar o Poder Legislativo.

* * * ENTREVISTA 10 A.P.A.F. Médica (Belo Horizonte) 1) Que as leis são feitas para os outros cumprirem (os outros somos nós). 2) Os últimos governos. Principalmente o do Lula (e olha que sempre votei no Lula, mas desta última vez quase anulei o meu voto; justifiquei o não-comparecimento à eleição por estar em trânsito na ocasião). 3) Já sabia disso. 4) Não conheço e nunca acompanhei nenhuma. 5) Não conheço e nunca acompanhei nenhuma. 6) Já ouvi falar disso, mas nunca participei de nenhum debate.

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7) Nunca assisti. Na realidade, não tenho tempo. Escuto a CBN todos os dias e é como me mantenho informada atualmente, visto que não consigo nem ler a revista Época, que assino desde 1999. 8) Não. Não tenho o hábito de ler jornal. 9) Não. 10) Acredito que a maioria acha que não teria voz ativa para mudar alguma coisa. Não adianta nada lutarmos para mudar uma lei aqui quando lançam uma nova medida provisória ali. 11) Não sei. Acho que se fosse para ser divulgado, já teria sido; não sei se querem realmente isso. A mídia está aí. Talvez se fosse divulgado na novela das oito...

* * * ENTREVISTA 11 J.F. Dentista (Belo Horizonte) 1) Sua função é elaborar as leis. Não acompanho política, por isso não tenho argumentos sólidos, mas, como dizem, “onde houver dois discutindo sobre algo, ali está se fazendo política”. 2) O dia-a-dia. 3) Sim. 4) Não. 5) Não. 6) Não. 7) Não. 8) Não. 9) Não. 10) Pela falta de credibilidade dos nossos representantes. 11) Se os nossos representantes fossem pessoas sérias, talvez nos tornássemos mais presentes na política. Creio que a nossa geração não verá isso, mas esse processo tem que começar algum dia.

* * * ENTREVISTA 12 H.A.M.C.G. Consultora Jurídica de Prefeituras e Câmaras Municipais de cidades de pequeno porte (máximo de 25 mil habitantes)

1) Do Poder Legislativo de Minas Gerais, tenho uma imagem muito ruim.

2) A atuação dos Deputados em relação aos grandes temas sociais e a defesa inconteste de interesses pessoais acima do interesse público. Além disso, a recente questão da mordaça imposta ao Ministério Público, extrapolando o poder atribuído pela Constituição a esta Casa Legislativa, para dificultar prováveis investigações envolvendo Deputados e outras autoridades.

3) Sim, e já estive várias vezes no Plenário.

4) Sim, discussões orçamentárias, LDO e outras.

5) Sim. Da Comissão de Constituição e Justiça.

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6) Sim. No entanto, algumas vezes a ALMG oferece serviços aos cidadãos mas seus servidores não atendem, como enviar e-mails de leis já publicadas.

7) Sim. Os seminários legislativos e os cursos voltados para os servidores da ALMG, transmitidos pela TV, são bons. Além disso, alguns programas culturais são bons.

8) Sim.

9) Sim. Os cursos são de bom nível e atingem o Legislativo municipal.

10) Porque não é motivado a comparecer. O que o Deputado realmente faz é contrário às necessidades reais do povo: educação de qualidade e saúde. O Legislativo não é um Poder fiscalizador e sim um Poder de barganha com o Executivo e de projeção social do Deputado, que só quer o ganho pessoal. O povo percebe isso; só não tem meios de reagir em conjunto. O que realmente o Deputado faz por sua base no interior do Estado? Quase nada. A fiscalização é pífia, e tudo deteriora no interior. Mas na época da eleição, lá está o Deputado, sorridente, a pedir e cumprimentar, e o povo, alienado e pobre, a votar. Por que não acabar com a remuneração do Deputado e de toda a classe política? Remuneração é pelo trabalho. Infinitas são as razões que afastam o povo da Assembléia Legislativa.

11) Primeiro, mudando o tipo de trabalho que se faz lá. Deixando de lado o toma-lá-dá-cá entre autoridades e pensando na defesa do interesse público, ou melhor, dos interesses do povo. É preciso realizar uma reforma político-partidária, para dar chance a políticos mais novos e com melhores propostas, de cunho social, tendo em vista a pobreza que impera neste Brasil de exclusão social.

* * *

ENTREVISTA 13 J.M.O. Gerente administrativo de distribuidora de bebidas (Divinópolis) 1) Que legislam somente em causa própria ou sobre assuntos que lhes trarão benefícios materiais. 2) Pelos fatos que acontecem e pelas leis que eles aprovam. 3) Sim. 4) Não. 5) Não. 6) Sim. 7) Raramente. 8) Somente quando trabalhava na MinasCaixa. 9) Não. 10) Por descrença. O cidadão não acredita que pode mudar as coisas apenas com o seu voto. As escolas deveriam formar cidadãos conscientes. 11) A educação vem do berço. Dizem que em 16 anos podemos educar um povo. A educação nas escolas públicas está uma merda. Muitas escolas particulares são de políticos, que não têm interesse em melhorar nada. No meu tempo, havia Educação Moral e Cívica nas escolas. Na faculdade, havia Estudos de Problemas Brasileiros. Temos que dar dignidade ao povo brasileiro, para que se interesse pela política. Sem trabalho, o homem não vale nada e não se interessa por nada.

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ENTREVISTA 14 F.A.C. Profissional liberal da área de engenharia civil (Belo Horizonte) 1) Péssima. 2) O noticiário, a mídia. 3) Sim. 4) Não. 5) Desconheço o trabalho e nunca acompanhei nenhuma reunião de comissão. 6) Se existe alguma produção que seja do interesse da população, me é completamente desconhecida. Como temos de trabalhar muito para manter a Assembléia funcionando, com os altos salários que recebem, o tempo para participar desses devaneios inexiste para a população produtiva. 7) Não. 8) Não. 9) Não. 10) O cidadão, que recebe por hora trabalhada ou por produção, não tem a profissão de político; a única forma de se agregar ao Legislativo é recebendo ou sendo parente de político. 11) Abrindo mão de lobistas e fazendo aparecer na mídia, em vez de falcatruas, os assuntos em pauta. Como alguém que trabalha de 10 a 12 horas por dia pode se manifestar? Em seu tempo de descanso? É uma questão de credibilidade, eu não vou perder meu tempo com um assunto que é discutido em um palco, para depois ver que a decisão foi comprada por algum grande empresário ou corporação sem nenhum respeito ao trabalhador.

* * * ENTREVISTA 15 W.M.P. Técnico de laboratório (Belo Horizonte) 1) Tenho uma boa imagem, pois eles estão nesse Poder porque nós os elegemos, para que nos representem perante o Governador, em prol da sociedade. 2) A vivência na comunidade. 3) Sim. 4) Não. 5) Não. 6) Sim. 7) Não. 8) Sim. 9) Não. 10) Falta de informação. 11) A participação da comunidade junto ao Deputado de sua região.

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ENTREVISTA 16 A.J.A. Policial militar (Contagem) 1) De quem aprova leis que muitas vezes não atendem a população, mas que são necessárias. Não é um Poder independente, como deveria ser. 2) Pelo acompanhamento do dia-a-dia dos acontecimentos políticos. 3) Sim. 4) Sim. 5) Não. 6) Sim. 7) Não. 8) Sim. 9) Não. 10) A política no Brasil é vista pelos membros do Poder Legislativo como uma troca de favores: você aprova o meu projeto de lei e eu aprovo o seu. 11) Votando projetos de interesse da população.

* * * ENTREVISTA 17 E.A.R. Policial militar (Contagem) 1) A pior possível. Acredito que o povo está sem representatividade, pois os “representantes do povo” só agem em benefício próprio, os interesses pessoais se sobrepõem ao interesse coletivo. 2) As mazelas sociais, a corrupção desenfreada, a impunidade, a morosidade das ações em benefício do País. 3) Sim. 4) Não. E sei que também sou um dos culpados pelo caos no País, afinal pouco cobro. 5) Não. 6) Sim. 7) Sim. 8) Não. 9) Não. 10) Cultura, educação, entre outros valores que nos faltam. E também pela falta de fé na Justiça. 11) Ações como a briga pelo foro privilegiado só contribuem para que a população crie mais antipatia em relação aos parlamentares. É preciso que o cidadão veja trabalhos que sejam benéficos para a população, o que não temos visto atualmente.

* * * ENTREVISTA 18 P.W.S.S. Trabalhador de supermercado (Belo Horizonte) 1) Uma imagem de descrença, devido às leis absurdas que às vezes são votadas, ao passo que leis que deveriam ser mudadas por serem consideradas obsoletas continuam vigorando.

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2) As reportagens veiculadas na mídia em geral ou, às vezes, por sentirmos na própria pele. 3) Sim. 4) Nunca. 5) Nunca. 6) Não tinha conhecimento dessas informações. 7) Não. 8) Não, por não ter acesso a esse tipo de mídia. 9) Não. 10) Como já foi dito, pela descrença geral da população em relação ao Judiciário, como também em relação aos demais Poderes. 11) Na minha opinião, algo deveria ser feito para conquistar a confiança da população, que já está farta de tanta corrupção, nepotismo e outras falcatruas.

* * * ENTREVISTA 19 P.N.I. Vendedora de loja de roupas (Contagem) 1) Infelizmente não demonstra credibilidade alguma, pois é omisso quanto às necessidades reais de toda a sociedade e extremamente lento, principalmente quando é para beneficiar o povo de alguma forma. 2) O caos em que se encontra o nosso país no que se refere à saúde, à educação e principalmente à segurança. São criados projetos sem a menor necessidade, enquanto a população sofre diante de suas carências insatisfeitas. 3) Não diretamente, ou seja, sei que é possível, mas não sei como. 4) Não, infelizmente ainda não. 5) Não. 6) Também não. 7) Não. 8) Sim. 9) Não. 10) Acredito que seja pela falta de interesse em se informar, pelas necessidades diárias de cada um, por julgarem mais importantes outros afazeres. Eu, em particular, por não acreditar que posso fazer algo para melhorar. 11) Divulgando em meios de comunicação mais populares e não tão específicos; nas escolas, através de disciplinas específicas, como a extinta OSPB (Organização Social e Política Brasileira); além de vários outros meios possíveis.

* * * ENTREVISTA 20 L.L.S. Porteiro (Belo Horizonte) 1) A imagem que tenho é mais ou menos. Em Minas, acho que é até bom, mas, em âmbito federal, é péssimo, é o pior de todos. 2) As informações que recebemos e as reportagens que vemos. 3) Não. 4) Não.

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5) Não. 6) Não. Os fóruns que conheço são os de julgamentos, na Justiça. 7) Não. 8) Não. 9) Não. 10) O cidadão não se interessa porque não conhece o papel da Assembléia e dos Deputados. 11) O trabalho seria mais conhecido se houvesse um canal na TV aberta.

* * * ENTREVISTA 21 C.J.C.J. Porteiro (Belo Horizonte) 1) Tenho uma péssima imagem. 2) As ações dos Deputados. 3) Sim, pela TV e também pessoalmente. 4) Não. 5) Sim. 6) Sim. 7) Não. 8) Não. 9) Não. 10) O cidadão não se interessa porque não tem confiança nos políticos; ninguém confia neles. 11) Deveria haver mais transparência e eficácia. Sem transparência, não há como conhecer o trabalho realizado.

* * * ENTREVISTA 22 R.S.V. Porteiro (Belo Horizonte) 1) Não tenho uma imagem muito boa. 2) A corrupção dos políticos foi o fator responsável por me causar essa opinião. 3) Não. 4) Não. 5) Não. 6) Não. 7) Atualmente não, mas já assisti. 8) Não. 9) Não. 10) O cidadão não se interessa porque falta divulgação, e as pessoas nem sabem como acompanhar os trabalhos legislativos. 11) O trabalho seria mais conhecido se houvesse divulgação na TV aberta e no rádio. Já deveria existir esse canal na TV aberta há muito tempo. Até gosto de assistir às reuniões e o faria se fosse possível.

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ENTREVISTA 23 M.M.M. Porteiro (Belo Horizonte) 1) A imagem que tenho é positiva. Sei da importância da Assembléia, pois é lá que se discutem as questões de interesse da sociedade. 2) Minha opinião é em razão do que ouço e também dos jornais e reportagens que vejo. A Assembléia é de grande interesse no Estado. Os Deputados decidem questões de interesse de toda a sociedade. 3) Não. 4) Não. 5) Não. 6) Sim, conheço pelo que a imprensa divulga, mas nunca participei destes eventos. 7) Não. 8) Não. 9) Não. 10) O cidadão não se interessa porque falta uma divulgação maior, que atinja a todos e não fique limitada apenas a um público restrito. Isso é importante, até para as pessoas saberem o que ocorre lá. 11) Deve haver mais divulgação na imprensa, de forma mais aberta, de uma maneira geral, principalmente na TV aberta, para que o cidadão tenha mais conhecimento e interesse. Poderia, por exemplo, haver um espaço na TV aberta, no intervalo de outras programações, para divulgar pelo menos alguns assuntos de interesse da população.

* * * ENTREVISTA 24 E.S.S. Auxiliar de serviços gerais (Belo Horizonte) 1) Vejo muita corrupção, como no caso do Renan Calheiros. Eles fazem muita coisa errada e não fazem o que devem fazer. 2) Os jornais a que assisto, a TV, as reportagens. Um exemplo do que me levou a formar esta opinião foi o caso do Renan Calheiros, em que eles tinham as provas em mãos, mas fizeram vista grossa. 3) Não. 4) Não. 5) Sim. Já acompanhei uma reunião de comissão de Vereadores, em Contagem, sobre a saúde pública. 6) Já ouvi falar de algumas coisas. 7) De vez em quando, sempre que posso, assisto às reuniões de Plenário. Gosto de assistir e de ficar informada do que acontece. 8) Sim, uma vez. 9) Sim, já fui convidada a participar. 10) O cidadão não se interessa porque há muita corrupção, e o povo fica sem fé, não tem esperança. 11) Deveria haver mais divulgação, em jornais populares, como o Jornal do Ônibus, que sempre leio, e panfletos distribuídos.

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ENTREVISTA 25 A.P.R. Auxiliar de serviços gerais (Belo Horizonte) 1) Tenho uma imagem normal. 2) Sei que os políticos trabalham e fazem suas coisas, mas também sei que há coisas ruins; há os políticos honestos e os desonestos. 3) Não. 4) Não. 5) Não. 6) Não. 7) Não. 8) Não. 9) Não. 10) O cidadão não se interessa porque há muita coisa errada lá dentro. São feitas muitas promessas que depois não são cumpridas. Na época das eleições, só querem garantir seus votos, mas depois não recebem mais o povo nem para conversar. 11) Deveria haver uma pessoa responsável por fazer isso lá dentro.

* * * ENTREVISTA 26 R.S. Auxiliar de serviços gerais, autônomo (Belo Horizonte) 1) A imagem que tenho é ruim. 2) A atuação dos representantes do governo. 3) Não. 4) Não. 5) Também não. 6) Também não. 7) De vez em quando. 8) Não. 9) Não. 10) O cidadão não se interessa porque não tem vontade, há falta de interesse mesmo. 11) Um canal na TV aberta ajudaria a divulgar melhor o trabalho legislativo.

* * * ENTREVISTA 27 S.F.B. Faxineira, diarista, em casas de família (Belo Horizonte) 1) Tenho uma péssima imagem. 2) Pelo que vemos, pela maneira que os políticos trabalham. 3) Pelo que sei, apenas as autoridades podem acompanhar as reuniões importantes. O povo em geral não pode. As decisões importantes sempre são feitas em sigilo. 4) Não. 5) Não. 6) Não.

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7) Não. 8) Não. 9) Não. 10) O cidadão não se interessa porque a maioria das coisas que acontecem lá é mentira, e não vale a pena ocupar tempo com algo que é apenas mentira. 11) O povo não tem oportunidade lá dentro, apenas uma minoria. Deveria haver uma mobilização para mostrar para o povo o que acontece lá. Mas, para quem trabalha o dia inteiro, é difícil participar, pois as pessoas não têm tempo e não podem ficar por conta disso.

* * * ENTREVISTA 28 A.F.D.S. Empregada doméstica (Belo Horizonte) 1) A imagem que tenho é muito ruim. Não me ajudam em muita coisa e só sabem roubar. 2) O que se fala na TV. 3) Sim. 4) Não. 5) Não. 6) Não, é muito pouco divulgado. 7) Não. 8) Não. 9) Também não, nem sabia que existia essa Escola do Legislativo. 10) O cidadão não se interessa por falta de informação. 11) O trabalho seria mais conhecido se houvesse divulgação na TV e no rádio, principalmente no rádio, porque é o que mais escuto diariamente.

* * * ENTREVISTA 29 T.B.V. Passadeira (Belo Horizonte) 1) Pelo que sei, pelo que escuto as pessoas falarem, não está bom. 2) As informações que recebo, o que as pessoas falam e os casos de que tenho conhecimento, como, por exemplo, o de Renan Calheiros. 3) Sim, já sabia por meio de uma pessoa da comunidade, que fala sobre esses assuntos nas reuniões da Igreja. 4) Não. 5) Não. 6) Não. 7) Não. Não assisto muito à TV; prefiro escutar o rádio. 8) Não. 9) Não. 10) O cidadão não se interessa por esses assuntos porque não tem vontade, não quer saber. 11) O trabalho deveria ser mais divulgado. Seria necessário que uma pessoa da comunidade procurasse se informar e levasse os assuntos importantes ao conhecimento dos demais.

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ENTREVISTA 30 C.S. Aposentado 1) Uma instituição falida, sem credibilidade. 2) A corrupção. 3) Sim. 4) Acompanho costumeiramente pela TV. 5) Também assisto pela TV. 6) Sim. Mas nos bastidores os nossos legisladores em sua grande maioria trabalham em benefício próprio. 7) Sim. 8) Não. 9) Não. 10) Quem não gosta de política ou não tem espírito de cidadania prefere ficar longe ou considera tudo uma “balela”. 11) Primeiramente a instituição teria que passar credibilidade ao cidadão. Acreditando em quem está lá, o cidadão passaria a ter mais interesse pelo que se discute lá dentro.

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