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O poder das cores no design e na arquitetura de interiores Julho/2016 1 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 O poder das cores no design e na arquitetura de interiores Renny Faria e Silva [email protected] Pós-Graduação em Máster em Arquitetura e Iluminação Instituto de Pós-Graduação - IPOG São Paulo, SP, 15 de julho de 2015 Resumo O presente artigo corrobora a influência que a presença de cores exerce no design, na arquitetura de interiores e nas reações dos usuários. Este trabalho pretende mostrar como podemos usar o planejamento cromático nos ambientes para evitar a fadiga do usuário, trazendo conforto, equilíbrio, saúde, vitalidade, atendendo bem o objetivo do projeto arquitetônico e do design de interiores. Partindo do referencial teórico de vários pesquisadores, análises e apontamentos feitos em vários locais (residências, hospitais, casas de repouso, bares, restaurantes, lojas, shoppings centers e instituições educacionais), percebe-se que a maioria dos ambientes destes recintos não atendem individualmente às diferentes necessidades, assim como, não há uma preocupação em fazer um planejamento cromático para cada uma destas necessidades; faz-se somente um estudo geral e não por ambientes, tratando-os de forma única. Este artigo alerta os arquitetos, designers e decoradores para elaboração de um bom projeto de interiores observando as características de cada cor e a influência que ela exerce sobre os ambientes e seus usuários. Palavras-chave: Cor. Psicologia das cores. Cores e design de interiores. Percepção da cor. 1. Introdução Estudos, pesquisas e observações sobre percepção da cor têm encantado diversos pesquisadores através dos tempos. Cientistas, filósofos, pintores, escritores e estudiosos de um modo geral da arte da cor, sustentam a ideia que as cores têm uma forte influência no comportamento dos seres humanos. Farina (1990) afirma que “[...] A cor é vista: impressiona a retina. É sentida: provoca uma emoção. É construtiva, pois, tendo um significado próprio, tem valor de símbolo e capacidade, portanto, de construir uma linguagem que comunique uma ideia”. Marsala, Pantone 18-1438 TCX foi nomeada como a cor do ano de 2015, segundo Eiseman (2014) Marsala enriquece a nossa mente, corpo e alma, exalando confiança e a estabilidade. Marsala é um tom sutilmente sedutor, que nos atrai para o seu calor, abraçando.” Podemos fazer esta afirmação sobre uma cor que está sendo sugerida a ser utilizada nos 365 dias do ano e em qualquer ambiente? É muito complicada tal sugestão sobre uma tonalidade, há muitos detalhes a serem considerados. Por exemplo, em que ambientes podemos usá-la, pede-se movimento ou não? Precisa ser quente ou frio, sofisticado ou despojado, criativo ou tranquilo, equilibrado ou energético? Qual a faixa etária dos usuários? Como as cores podem influenciar nos ambientes e nas pessoas? O que o planejamento cromático quer induzir e transmitir aos indivíduos? São muitas as variáveis para elaborar um planejamento cromático bem resolvido, que atenda aos anseios dos clientes e dos usuários. Gurgel (apud CALÇA, 2012) considera

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O poder das cores no design e na arquitetura de interiores Julho/2016

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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016

O poder das cores no design e na arquitetura de interiores

Renny Faria e Silva – [email protected]

Pós-Graduação em Máster em Arquitetura e Iluminação

Instituto de Pós-Graduação - IPOG

São Paulo, SP, 15 de julho de 2015

Resumo

O presente artigo corrobora a influência que a presença de cores exerce no design, na

arquitetura de interiores e nas reações dos usuários. Este trabalho pretende mostrar como

podemos usar o planejamento cromático nos ambientes para evitar a fadiga do usuário,

trazendo conforto, equilíbrio, saúde, vitalidade, atendendo bem o objetivo do projeto

arquitetônico e do design de interiores. Partindo do referencial teórico de vários

pesquisadores, análises e apontamentos feitos em vários locais (residências, hospitais, casas

de repouso, bares, restaurantes, lojas, shoppings centers e instituições educacionais),

percebe-se que a maioria dos ambientes destes recintos não atendem individualmente às

diferentes necessidades, assim como, não há uma preocupação em fazer um planejamento

cromático para cada uma destas necessidades; faz-se somente um estudo geral e não por

ambientes, tratando-os de forma única. Este artigo alerta os arquitetos, designers e

decoradores para elaboração de um bom projeto de interiores observando as características

de cada cor e a influência que ela exerce sobre os ambientes e seus usuários.

Palavras-chave: Cor. Psicologia das cores. Cores e design de interiores. Percepção da cor.

1. Introdução

Estudos, pesquisas e observações sobre percepção da cor têm encantado diversos

pesquisadores através dos tempos. Cientistas, filósofos, pintores, escritores e estudiosos de

um modo geral da arte da cor, sustentam a ideia que as cores têm uma forte influência no

comportamento dos seres humanos. Farina (1990) afirma que “[...] A cor é vista: impressiona

a retina. É sentida: provoca uma emoção. É construtiva, pois, tendo um significado próprio,

tem valor de símbolo e capacidade, portanto, de construir uma linguagem que comunique uma

ideia”.

Marsala, Pantone 18-1438 TCX foi nomeada como a cor do ano de 2015, segundo Eiseman

(2014) “Marsala enriquece a nossa mente, corpo e alma, exalando confiança e a estabilidade.

Marsala é um tom sutilmente sedutor, que nos atrai para o seu calor, abraçando.” Podemos

fazer esta afirmação sobre uma cor que está sendo sugerida a ser utilizada nos 365 dias do ano

e em qualquer ambiente? É muito complicada tal sugestão sobre uma tonalidade, há muitos

detalhes a serem considerados. Por exemplo, em que ambientes podemos usá-la, pede-se

movimento ou não? Precisa ser quente ou frio, sofisticado ou despojado, criativo ou tranquilo,

equilibrado ou energético? Qual a faixa etária dos usuários? Como as cores podem influenciar

nos ambientes e nas pessoas? O que o planejamento cromático quer induzir e transmitir aos

indivíduos? São muitas as variáveis para elaborar um planejamento cromático bem resolvido,

que atenda aos anseios dos clientes e dos usuários. Gurgel (apud CALÇA, 2012) considera

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que “entender as cores e suas características é fundamental para o sucesso de um projeto de

interiores. Usar as cores a favor dos usuários, e não contra eles, deve ser o alvo de qualquer

projeto”. Gislene (2004:95) entende que “a cor atua de forma diferenciada sobre os usuários,

pela faixa etária, estrutura psicológica e condicionantes culturais do indivíduo”. A partir

destes questionamentos e dúvidas, surgiu a necessidade desta pesquisa para este artigo e o

interesse pelo tema.

A Teoria da Cor de Johann Wolfgang Von Goethe, escritor alemão e pensador, publicada em

1810, mostrou um novo enfoque ao uso e ao entendimento das cores, diferente da teoria da

cor de Newton. Até a teoria de Goethe todos se baseavam na teoria de Newton, que a cor era

considerada como uma disciplina puramente física. Goethe contesta essa perspectiva,

propondo que a ótica de Newton é cega para as cores e afirma que as sensações de cores que

surgem em nossa mente são também moldadas pela nossa percepção, ou seja, pelos

mecanismos da visão e pela maneira como nosso cérebro processa tais informações. Goethe

complementou a teoria de Newton, para ele o fenômeno não é somente físico, mas também

fisiológico e psicológico. Goethe (1996) entende que “a cor revela ao homem sua essência

tanto para o olho como para o espírito”. Barros (2006) segue a mesma linha de Goethe e

completa que “a cor é manipulada pelo ser humano desde as primeiras manifestações da

atividade humana sendo utilizada como canal de comunicação e de projeção dos

conhecimentos e sentimentos, [...] uma ferramenta que transmite ideias, promove a atenção e

demonstra emoções”.

A cor é uma percepção visual, primeiramente iniciada por um estímulo, que é percebida pelo

órgão da visão e decodificada pelo cérebro. Escolher qual cor usar num projeto não é um

trabalho simples, é necessário observar o aspecto estético, funcional, identidade visual de um

projeto e levar em conta a influência que a cor exerce sobre os usuários e quais seus efeitos

emocionais e psicológicos. Pádua (2010) considera que “[...] as cores influenciam

psicologicamente o ser humano, conforme o tom, matiz, saturação ou luminosidade, de

diferentes formas”. Chalela (apud PÁDUA, 2010) afirma que “[...] a luz de diversas cores,

que entra pelos olhos, pode afetar diretamente o centro das emoções. Cada um de nós

responde à cor de uma forma particular. As pessoas tendem também a ser atraídas por certas

cores, em virtude de alguns fatores determinantes”.

Quem nunca falou ou ouviu falar nas expressões: “verde de fome”, “roxo de frio” ou “branco

de susto”? Qual seria a cor do onze de setembro, do Rock and Roll ou mesmo da raiva? As

cores estão atreladas ao cotidiano e como o cérebro processa tais informações, fazendo o

indivíduo relacionar certas emoções com determinadas cores. Essas cores podem estar

interligadas a um sentimento, a um acontecimento, ao ambiente sociocultural, ao passado, ao

condicionamento psicológico, pode influenciar na percepção do mundo e pode despertar

sentimentos mais íntimos.

Este estudo tem o objetivo de analisar os efeitos psicológicos, emocionais e fisiológicos da

cor nos espaços, pesquisar sobre as características das cores e avaliar qual influência exerce

sobre o usuário, a presença de cores nos variados tipos de ambientes, e com esses dados

auxiliar o profissional na área da arquitetura e design de interiores a executar um

planejamento cromático que atinja sua finalidade.

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2. Entendendo as cores

Na Teoria de Newton, publicada em 1672, a luz solar seria formada de uma mistura de raios

de diferentes refratabilidade. Em sua teoria, corpos coloridos não transformam as cores da luz

que recebem; eles agem como filtros permitindo apenas que algumas cores sejam refletidas e

outras absorvidas. Goethe defende em sua Teoria das Cores que o olhar é sempre crítico,

apenas olhar não seria um estímulo, um estímulo é uma experiência que vai além do observar,

cria um vínculo teórico e leva o observador a tirar suas próprias conclusões. Cor é um

elemento de estímulo imediato, assimilada pela visão provoca diversas reações positivas ou

negativas em seus observadores. Ela é primordial para proporcionar estilo a um interior,

sugerir uma atmosfera, evocar uma tendência, transmitir uma sensação e criar um ambiente.

Aplicada numa superfície lisa e brilhante, se torna preciosa, combinada a uma textura fosca,

se torna reconfortante. Segundo Bucci (apud GURGEL, 2004) “não podemos imaginar uma

arquitetura sem cores: o volume, o conteúdo, sempre possuirá uma cor, não importa se

amarela ou preta, azul ou branca [...]”. As cores nos envolvem despertando sentimentos,

facilitando o acesso à informação, ajudando a nos orientar e demarcando bem os espaços. A

noção de tempo é ligada ao espaço, então um ambiente onde o tempo de permanência do

usuário é grande, as cores devem ser suaves para não causar fadiga ao usuário, no entanto em

locais onde o tempo de permanência é menor e se o local e o tipo de atividade permitir; as

cores fortes podem ser mais estimulantes.

Há uma variedade de materiais e revestimentos para acabamento em geral, tais como,

laminado, madeira, vidro, sintéticos, tinta, papel de parede, cerâmica, pedra, ferro, aço,

tecidos e muitos outros. Alguns ainda possuem várias opções de cores e texturas. A cor é

muito mais que um item isolado num projeto, ela é mais um componente arquitetônico, Bucci

(apud GURGEL, 2004:245) considera que “para nós a cor é um elemento estrutural: existem

materiais como pedra, madeira e materiais como o vermelho e o amarelo [...]”, devemos tratá-

la com atenção. Analise bem as características e propriedades de cada uma das cores e faça

uma escolha consciente com soluções criativas e funcionais, não se esquecendo de considerar

as dificuldades na manutenção. Gurgel (2004) assegura que “o branco mostra bem a sujeira, o

preto realça a poeira. Tons mesclados e mais escuros exigem menos manutenção. As

superfícies lisas refletem mais a cor e a luz. São de fácil manutenção, porém mais

escorregadias e mostram mais riscos e imperfeições”.

Gurgel (2005:61) afirma que cor e luz não podem e não devem ser pensadas separadamente.

Quando pensamos em cor, temos que levar em conta o fator luz e textura. Uma cor pode ser

alterada conforme o tipo de iluminação incidente sobre ela; a textura é outro ponto a se

considerar num planejamento cromático, dependendo da textura a cor também sofre

variações, pois altera sua intensidade. Tem cores que absorvem a luz e outras que a refletem,

deve-se usar deste recurso quando se quer contrabalançar a falta ou o excesso de luz num

determinado ambiente. As cores claras ampliam o ambiente, distanciam os objetos e iluminam

mais os espaços por reflexão luminosa, ao passo que, as cores escuras diminuem as distâncias

aproximam os objetos e escurecem os ambientes por absorver mais a luz. Kandinsky (apud

GUIMARÃES, 2002:82) entende que a cor quente sobre a superfície tende a aproximar o

objeto do espectador, ao passo que a fria distancia. Se pintarmos um ambiente pequeno com

cores quentes ele parecerá menor ainda, já se pintarmos o mesmo ambiente com cores frias,

ele parecerá maior. Costi (2002:129) comenta que “muitos teóricos afirmam que há uma

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espécie de lei sob o ponto de vista sensorial dependendo das cores, as superfícies dão a

sensação de recuo ou de avanço”. Por exemplo, um teto escuro parecerá mais baixo do que

um claro.

As cores atraem nossa atenção, são percebidas inconscientemente e provocam emoções, por

este motivo podemos usá-las para minimizar problemas na arquitetura. Podem transformar um

ambiente mais produtivo, incentivar o consumo de comida, criar um ambiente mais

aconchegante, ampliar ou diminuir a sensação espacial, esconder ou deixar em evidência um

objeto ou um elemento estrutural, aquecer ou esfriar um local, corrigir imperfeições

arquitetônicas, aproximar uma parede, alargar um corredor, diminuir ou aumentar o pé direito,

valorizar e gerar centros de interesse, ser indicador de direção e criar diferentes atmosferas.

Bucci (apud GURGEL, 2004:245) comenta que “mesmo quando a cor assume o papel de

indicador, ela não perde seu componente estrutural [...] a cor estabelece a relação dos volumes

na arquitetura, ditando ou deformando as massas, ou mesmo alterando a relação entre o

interior e o exterior”.

3.Propriedades da cor

A Colorimetria, ciência que estuda a aferição das cores e todo conjunto de métodos e

tecnologias envolvidos na percepção das cores, dá a cor três propriedades que possibilitam

obter o tom exato mediante as correspondentes misturas: o tom, a saturação e a intensidade.

Segundo Gurgel (2005:62) “As cores apresentam três atributos ou dimensões visuais: matiz,

valor tonal e saturação”.

Tom da cor: chamado de matiz ou tonalidade (figura 1) é a cor pura, sem adição de branco

ou preto. O branco, o preto e as variações de cinza não são considerados cor. O branco é luz

isenta de cor, o preto é a ausência de cor e os tons cinza são a mistura do branco com o preto.

Figura 1 – À esquerda paleta de matizes e à direita exemplo de saturação, intensidade e valor tonal

Fonte: Adaptado de http://udidacnecropsias.wikispaces.com/2+ T%C3%A9cnicas+necr%C3%B3psicas

e de http://design.blog.br/geral/teoria-basica-do-design-cor

Saturação da cor: também conhecido como croma ou pureza da cor (figura 1). Refere-se à

palidez ou vivacidade da cor, é a quantidade de cinza adicionada em um matiz. Mostra se a

cor é natural ou pigmentada artificialmente, quanto mais cinza se adiciona num matiz, mais

neutro ele se torna. As cores puras do espectro estão completamente saturadas, pois quanto

mais pura a cor, mais saturada ela será.

Intensidade da cor: também conhecida como luminosidade ou claridade (figura 1),

caracteriza a força da cor, o atributo segundo o qual uma área aparenta emitir mais luz

(acrescentando branco à cor) ou menos luz (adicionando preto à cor), ou seja, faz com que a

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matiz apareça mais clara ou mais escura independente de sua saturação. Podemos enfraquecer

uma cor adicionando preto ou branco a ela, ou neutralizá-la adicionando cinza.

Valor tonal: é o grau de intensidade de uma cor, depende do escurecimento e do

clareamento, mas não da saturação ou do matiz. É o grau de claridade ou obscuridade

refletida. Numa escala monocromática (figura 4 - lado direto), aumentamos o valor tonal de

uma cor quando lhe acrescentamos branco; ou o diminuímos, acrescentando-lhe preto. Uma

imagem colorida perde seu matiz ao ser convertida para preto e branco, mas não perde suas

características tonais.

4.Classificação da cor

As cores são divididas em primárias, secundárias, terciárias e neutras. A Teoria das três cores

primárias (figura 2), vermelho, amarelo e azul, foi proposta pelo francês Jean C. Le Blon um

século depois da Teoria de Newton, que testou diversos pigmentos até chegar aos três

pigmentos básicos necessários para uma impressão a cores, desde então se tornou a base para

qualquer trabalho envolvendo pigmentos coloridos.

Cores Primárias: são cores puras, vermelho, amarelo e azul. Não podem ser geradas a partir

de outros matizes, mas todas as cores são geradas por elas. Na figura 2, lado direito, o piso

cinza, as paredes brancas com pé direito alto e o sofá azul esfriam o ambiente que está sendo

aquecido pelo vermelho e o amarelo dos sofás e dos objetos da decoração.

Cores secundárias: são formadas, figura 2, em proporções iguais pela mistura de duas cores

primárias: verde (azul+amarelo), violeta (azul+vermelho) e laranja (vermelho+amarelo).

Cores terciárias: resultam da mistura em partes iguais, (figura 2 - lado esquerdo), de uma cor

primária com uma secundária.

Figura 2 – À esquerda cores complementares ou opostas e à direita Tríade de cores primárias

Fonte: Adaptado de http://cp2artessetimoano2013.blogspot.com.br/2013/04/cores-analogas-e-

complementares.html e de https://casadaidea.wordpress.com/tag/complementares/

Temperatura das cores: a classificação de uma cor quanto à temperatura, resultante da

mistura de um matiz de cor quente com um de cor fria, está proporcionalmente relacionada

com a quantidade de cor fria ou quente este matiz possui. Pedrosa (apud RIBEIRO, 2004:95)

classifica as cores em quentes ou frias. Vermelhos, laranjas e amarelos (figura 3) são

considerados cores quentes ou ativas, são mais vibrantes e parecem trazer uma sensação de

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vivacidade e intimidade ao espaço. Em contraste, roxos, azuis e a maioria dos verdes são

cores frias e podem ser usadas para acalmar uma sala e trazer uma sensação mais relaxante.

Figura 3– À esquerda cores quentes na decoração e à direita cores frias na decoração

Fonte: Adaptado de http://www.mundodastribos.com/saiba-como-escolher-as-cores-para-a-decoracao-de-

casamento.html e de http://tainarehder.com.br/blog/index.php/ambientes-decorados-cores-frias/

5.Esquemas de cores

Antes de conhecer os esquemas de cores precisamos entender melhor o que são cores

harmônicas e as escalas acromática e monocromática.

Escala Acromática: é uma escala sem cor com variações tonais entre o branco e o preto

(figura 4 - lado esquerdo), ou seja, branco, tons de cinza e preto.

Escala Monocromática: escala com variações de tonalidade de uma única cor (figura 4).

Figura 4 – À esquerda escala acromática e à direita escala monocromática de tons azuis

Fonte: Adaptado de http://primeroesosantacruz.blogspot.com.br/ 2012/12/la-interaccion-de-los-

colores.html

Cores harmônicas: é o resultado do equilíbrio das cores usadas num projeto, lembrando que

cada cor tem sua dosagem ideal. Na figura 5 temos a paleta de cores harmônicas do Marsala.

Figura 5 – Paleta de cores harmônicas

Fonte: http://www.asarquitetasonline.

com.br/marsala

Figura 6– Ambiente A

Fonte: https://www.pinterest.com/

vermar/colors/

Figura 7 – Ambiente B

Fonte: http://jornaloretrato.com.br

/net/marsala-e-a-cor-do-ano-de-2015

Analisando os ambientes A e B das figuras 6 e 7, decorados com a cor Marsala e com cores

análogas, observa-se que essa cor é mais rosada e o tom mais delicado e menos impactante

que o vermelho, mas não menos envolvente. É um tom com pouca luminosidade, usado em

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excesso (figura 6) pode deixar o ambiente carregado, pesado e opressivo. Visualmente o

ambiente se torna menor, por isso necessita-se laborar uma composição com grandes áreas

neutras (branca, tons de bege ou off white) e com variações de creme na decoração (figuras 7)

para ajudar na reflexão da luz, na percepção espacial e na harmonia cromática. Existem vários

esquemas de cor para ajudar em uma harmonia cromática, os mais conhecidos são:

Esquema monocromático: para uma harmonia monocromática utilizam-se vários tons da

mesma cor, variando somente a saturação e a intensidade da cor. Para compor este esquema,

pode ou não fazer uso de cores neutras, preto, branco e cinza. A figura 8, lado esquerdo, é um

exemplo de ambiente monocromático com variações do tom azul. Para complementar o

ambiente e dar movimento foi utilizado o preto, o branco e o cinza em detalhes. A cor azul

acalma e deixa um ambiente mais tranquilo, mas em excesso pode deixá-lo melancólico. Na

figura 8, lado direito, temos outro ambiente monocromático com cores somente neutras, o

espaço fica mais elegante, fino e amplo.

Figura 8 – À esquerda harmonia monocromática azul e à direita harmonia monocromática neutra

Fonte: Adaptado de https://interlinea.com.br/ambientes-monocromaticos-sao-sofisticados-e-aconchegantes/

e de http://www.volfarquitetura.com.br/estudo-cores

Esquema acromático: utilizam-se cores preta, branca e tons de cinza. É, portanto um

esquema sem cor, por este motivo o nome acromático. Esta harmonia acromática, figura 9,

cria uma atmosfera sofisticada e contemporânea, se o uso do branco for em excesso o

ambiente se torna bem iluminado, mas muito frio, desestimulante, triste e exaustivo. Já se

utilizarmos muita cor preta ele pode transmitir autoritarismo, frieza e arrogância. Deve-se

fazer uso dos tons de cinza para ajudar equilibrar a harmonia. Este esquema é muito utilizado

em projetos mais contemporâneos, pode ser usado em lojas e galerias onde se quer chamar

atenção para os produtos e objetos expostos.

Figura 9 – À esquerda harmonia acromática e à direita harmonia com cores neutras

Fonte: Adaptado de http://decoracaopracasa.com/quarto-de-casal-10-esquemas-de-cores-perfeitos-para-decorar/ e

de http://www.mulhertendencias.com/banheiro-planejado-preto-e-branco-lindo-e-harmonioso.html

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Esquema neutro: esquema de cores neutras (figura 9 - lado direito). Usam-se estas cores

para complementar uma cor desejada, normalmente têm pouco reflexo e são classificadas

quanto à temperatura, segundo Gurgel (2005) como nem quentes e nem frias. Elas deixam

uma atmosfera elegante e refinada, este esquema de cor neutro é muito usado em espaços

onde se quer criar um centro de interesse e em ambientes sofisticados, tais como, restaurantes,

hall, lobby, galerias de artes e lojas onde os produtos vendidos são de cores vibrantes. Entre

as cores neutras podemos citar as variações do tom marrom, creme, bege; as tonalidades

pastel e podemos compor com o preto, o branco e tons de cinza. Alguns profissionais

consideram acromático este esquema de cor.

Esquema complementar: usam-se as cores complementares ou opostas entre si (figura 10)

no círculo cromático. É a combinação de uma cor fria com uma cor quente, por este motivo

são muito equilibradas e contrastantes. Como exemplos, o vermelho é complementar do

verde, assim como, o amarelo é complementar do violeta. O esquema de cor complementar é

um dos mais difíceis de trabalhar. Para fazer um projeto com uma composição equilibrada,

escolha uma cor dominante e faça o contraste com a cor complementar em menor proporção.

No ambiente da figura 10, o matiz azul foi usado como cor dominante (cama, cabeceira, sofá

e carpete) na decoração, e sua complementar laranja usada nos detalhes. A parede marrom

com o teto e esquadrias brancas neutralizam e suavizam o contraste equilibrando a harmonia.

Figura 10 – À esquerda cores complementares e à direita harmonia complementar

Fonte: Adaptado de http://cp2artessetimoano2013.blogspot.com.br/2013/04/cores-analogas-e-

complementares.html e de http://www.volfarquitetura.com.br/estudo-cores/

Esquema análogo: faz-se o uso de cores análogas, são as cores dispostas lado a lado no

círculo cromático (figura 11). São análogas porque há nelas uma mesma cor básica.

Exemplificando, o vermelho é cor análoga do vermelho-laranja e do vermelho-violeta, pois

elas têm em comum a cor vermelha. O esquema de cor análogo é interessante para ambientes

pequenos. Escolha uma cor para ser a dominante, outra que complemente essa escolha e uma

terceira mais vibrante. Na figura 11 o ambiente foi decorado com cores análogas do vermelho,

o ambiente se torna bem interessante e agradável, o cinza na parede como é neutro, ajuda a

realçar as cores e ao mesmo tempo ameniza o calor dos tons quentes.

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Figura 11 – À esquerda Cores análogas e à direita Harmonia análoga

Fonte: Adaptado de http://cp2artessetimoano2013.blogspot.com.br/2013/04/cores-analogas-e-

complementares.html e de http://www.volfarquitetura.com.br/estudo-cores/

Esquema triádicos: usam-se as cores tríades que são resultantes de três cores equidistantes

no círculo cromático (figura 12) ou as três cores primárias (figura 2) num mesmo ambiente.

Usar o esquema de cores triádico num projeto deve-se tomar alguns cuidados, pois pode

deixar o ambiente confuso e muito vibrante. O uso em academias de ginástica, escolas e

creches são mais indicados. Usando tonalidades pastel ou tons menos saturados, será mais

fácil conseguir um resultado mais sofisticado. Na figura 12, o dormitório foi decorado com

uma tríade laranja, verde e roxo. Se o tom dos matizes estivesse menos saturado o contraste

ficaria mais suave, visto que, os dormitórios infantis pedem cores mais delicadas e menos

contrastantes para que as crianças fiquem menos agitadas e tenham uma noite de sono serena.

Figura 12 – À esquerda Cores Tríades e à direita Harmonia tríade

Fonte: Adaptado de http://gosteieagora.com//wp-content/uploads/2011/08/trc3adade.jpg e de

http://www.limaonagua.com.br/decoracao/cores-na-decoracao-regras-que-todo-mundo-deveria-saber/

Pensar no esquema de cor, desde o projeto, facilita chegar num resultado final mais

harmonioso e evita erros comuns na hora de escolher cores e objetos de decoração.

6. Círculo cromático

Newton foi o primeiro a organizar as cores em um círculo (figura 13), seu círculo possuía sete

cores principais: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. Depois de Newton o

primeiro círculo de cor (figura 13 - lado direito) equidistante foi inventado em 1776, pelo

escritor Moses Harris denominado Sistema Natural de Cores e continha dezoito cores básicas.

Harris foi quem acabou por definir o círculo cromático, adicionando não somente os matizes,

mas também as tonalidades.

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Figura 13 – À esquerda - círculo cromático de Newton e à direita círculo cromático de Harris

Fonte: https://cristianacastro8.wordpress.com/2010/12

Mais tarde Goethe criou o seu círculo cromático (figura 14), com as três cores primárias

juntamente com suas cores complementares diametralmente opostas no círculo. No espectro

de Goethe, as cores principais seriam ciano, amarelo e púrpura. Da interação delas surgiram

as seis cores base do círculo. Em seguida muitos estudiosos continuaram esta tarefa, Albert

Henry Munsell por volta de 1905 patenteou a primeira esfera cromática (figura 14 – lado

direito), adotou as cores luzes primárias como fundamentais, tal como são visíveis na

natureza. O círculo tem dez cores, sendo cinco principais e cinco intermediárias e é

considerado o melhor de todos os sistemas baseados em princípios perceptuais.

Figura 14 – À esquerda Círculo cromático de Goethe e à direita Escala de Munsell

Fonte: Adaptado de Alvarado, Ivette Noemí (2011) e de http://udidacnecropsias.wikispaces.com/2

+T%C3%A9cnicas+necr%C3%B3psicas

Johannes Itten e Paul Klee, dois professores de Goethe da Bauhaus, criaram cada qual o seu

círculo cromático. Itten criou a primeira estrela de cor (figura 15) com base na polaridade de

cores apresentado por Goethe, desenvolveu então a roda de cor que permite descobrir

combinações harmoniosas de cores (os sete contrastes de cor). Klee, inspirado no Sistema

Esférico de Philipp Otto Runge, cria sua estrela de cor (figura 15 - lado direito) baseada no

espectro visível e formada por 12 cores, entre elas as cores primárias que são muito próximas

às cores primárias da teoria subtrativa.

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Figura 15 – À esquerda - Estrelas de cor de Itten e à direita Círculo cromático de Klee

Fonte: Adaptado de http://www.idemdesign.net/pt/artes-graficas/densitometria-colorimetria/

216-historia-sistema-cor.html? showall=1 e de Barros, Lilian Ried Miller (2009)

Para Itten é na formação do círculo cromático que se entendem e se classificam as cores e,

ainda adverte sobre a necessidade da pureza das três cores primárias.

7. Contexto cultural da cor

A percepção da cor está fortemente ligada a influências culturais. Gurgel (2004) entende que

“as cores têm diferentes significados e influenciam diretamente as pessoas, de acordo com as

diversas culturas”. Diferentes culturas respondem de maneiras distintas, fisicamente e

psicologicamente às cores, formas e texturas empregadas num ambiente. Segundo Goethe

(1996) “povos calorosos, como os franceses, amam cores intensas, em especial as do lado

ativo; já povos moderados, como os ingleses e alemães, usam amarelo palha ou cor de couro,

combinando-o com azul escuro [...]”. Segue alguns exemplos de percepção de cor conforme a

origem cultural:

Vermelho: no Ocidente é símbolo do partido comunista, da masculinidade, da morte, do

amor, paixão e excitamento, mas também do perigo e do poder (religião). Nos Países

Asiáticos e Orientais é usado para trazer sorte, boa fortuna e prosperidade. Significa

também celebração, felicidade, pureza e vida, mas também perigo e raiva. Na América

Latina associa-se com morte e agressão, mas também com vitalidade e boa sorte. No

Oriente Médio é símbolo do destino e da boa sorte, mas também do perigo e de cuidado.

Na Oceania e Sul do Pacífico associa-se com terras ou posses, nobreza e divindade.

Laranja: no Ocidente assume vários significados, pode simbolizar o protestantismo, o

outono, a colheita, a força e, a realeza. Países Asiáticos e Orientais representa a coragem

e também ao sagrado. Na América Latina está ligado ao calor, ao sol, e as terras por ser

a cor do solo. No Oriente Médio está associada com lamentação, perda e luto.

Amarelo: as variações douradas associam-se com dinheiro, qualidade e sucesso. No

Ocidente vincula-se à atenção, transporte, alegria, esperança, calor, verão, hospitalidade,

benevolência, fraqueza, riscos e inveja. Nos Países Asiáticos e Orientais representa o

sagrado, o imperial, a realeza, o comércio e a coragem. Na América Latina significa

luto, morte e lamentação. Na África, associa-se à perda, ao luto e à saúde. No Oriente

Médio vincula-se à força, felicidade, prosperidade e ao luto.

Verde: no ocidente é o símbolo do catolicismo, do dinheiro, boa sorte, natureza, meio

ambiente e primavera, mas pode significar inveja. Nos Países Asiáticos e Orientais é a

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cor do islamismo, da natureza, fertilidade, vida nova, juventude e alta tecnologia.

Associa-se também ao exorcismo, a infidelidade e a traição. Na África simboliza

natureza e corrupção. No Oriente Médio está ligada ao sagrado, à fertilidade, à sorte e à

riqueza. Na Oceania e Sul do Pacífico é uma cor proibida e está associado ao perigo.

Azul: é considerada uma cor positiva e segura. No ocidente é uma cor calmante e

reconfortante, está relacionada com confiança, limpeza, boa saúde e ao nascimento de

um menino. Nos Países Asiáticos e Orientais o azul é uma cor feminina, representa a

imortalidade, está associado ao Krishna e é símbolo de força. Na América Latina é a cor

do sabão, dos mantos e lenços usados por santos em imagens, por isso está relacionada

com limpeza e religião, é a cor da serenidade. Na África, significa muita positividade e

felicidade. No Oriente Médio azul é segurança e proteção, representa o paraíso, a

imortalidade, a espiritualidade e o sagrado.

Violeta / Roxo e Lilás: é a cor da reclusão e da penitência na Igreja e na realeza. No

ocidente relaciona-se à realeza, a riqueza, a fama e a honra, símbolo do modernismo e

do progresso. Nos Países Asiáticos e Orientais, simboliza a nobreza, luto, lamentação e

ideia de ressurreição. Na América Latina roxo é a cor da morte do luto e da amargura.

No Oriente Médio o roxo é sinônimo de riqueza e da virtude.

Rosa: no ocidente representa o feminino, a doçura, a infância e a diversão. Nos Países

Asiáticos e Orientais está ligada ao casamento e à confiança, no Japão é uma cor

popular tanto com homens quanto mulheres. Na América Latina é uma cor feminina. Na

África relaciona-se a pobreza. Oriente Médio não tem nenhum significado importante.

Preto: associa-se com a magia e o desconhecido em quase todas as culturas. No

ocidente é um tom “pesado”, pois representa luto, morte, funerais, formalidade, controle

força e poder. Nos países Asiáticos e Orientais, o preto está ligado ao mal e a má sorte,

mas também a confiança, a riqueza, a saúde, a prosperidade e à masculinidade. Na

América Latina é uma cor máscula, preferida para roupas masculinas, representa o luto e

a lamentação. Na África relaciona-se à impureza, ao desagradável e a algo ameaçador.

No Oriente Médio representa a morte e o nascimento, também o mal e o mistério.

Branco: é um símbolo universal de trégua. No ocidente é estéril, representam hospitais,

santidade, paz, pureza, o casamento e é usado em funerais. Nos Países Asiáticos e

Orientais vincula-se à morte, funeral, esterilidade, lamentação, tristeza e má sorte. Na

América Latina associa-se com pureza e paz. Na África relaciona-se à bondade, boa

sorte, paz, pureza e às doenças. No Oriente Médio representa pureza, lamentação,

santidade, paz e status. Oceania e Sul do Pacífico significa prosperidade.

O profissional responsável pelo planejamento cromático, antes de escolher um esquema de

cores, precisa estar atento aos detalhes de cada cultura e aos seus valores para saber utilizá-los

de maneira correta e não criar uma situação embaraçosa. Deste mesmo modo, no design

corporativo precisa-se tomar cuidado ao sugerir um esquema de cores, pois a identidade

visual de uma empresa está totalmente relacionada com a cor ou por uma combinação de

cores, a cor faz parte da cultura visual da corporação e a influencia diretamente.

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8. Efeitos psicológicos da cor

Segundo Gurgel (2005:70) “as cores exercem grande influência em nosso estado de espírito e,

consequentemente, em nosso comportamento”. As cores e os significados que atribuem a elas

afetam as emoções e o humor, pois atuam no subconsciente fazendo com que lembranças de

determinadas sensações influenciem no comportamento dos indivíduos. Um exemplo é a cor

amarela que é associada à sensação de estar energizado e feliz pela maioria dos indivíduos.

Uma pessoa, dependendo da sua cultura, poderia associá-la com a dor da perda de um ente

querido. Roveri (apud BATTISTELLA, 2003:22) considera que “[...] As sensações sobre as

cores se baseiam em associações ou experiências agradáveis ou desagradáveis”. Por atuar de

forma estática, direta e intensamente sobre os usuários, sem possibilitar a diluição dos seus

efeitos, o uso da cor no design de interiores requer atenção. Diferentes atividades humanas

são influenciadas pelas cores, o uso adequado da cor pode melhorar a experiência do usuário

de qualquer projeto cromático. A cor dos alimentos influencia sua aceitação, a maneira de se

vestir é uma forma de influenciar o ambiente ao seu redor. As roupas como os objetos de

decoração de acordo com as cores, podem passar sentimentos de alegria ou tristeza,

tranquilidade ou agressividade, paz ou agitação e outros. No entender de Roveri (apud

BATTISTELLA, 2003) “a reação dos indivíduos às cores se manifesta de forma particular e

subjetiva, relacionada a vários fatores. Elas são estímulos psicológicos que influenciam no

fato de gostar ou não de algo, negar ou afirmar, se abster ou agir [...]”, Bontempo (1994)

considera que “o estímulo colorido, depois de captado pelos olhos, é conduzido ao cérebro e

ali são produzidas transformações bioquímicas que resultam em sensações psíquicas e

somáticas. Assim surgiriam sensações como a leveza do branco, a suavidade e a alegria do

amarelo [...]”. Existem cores que se apresentam como estimulantes e alegres e outras que

agem de forma negativa na vida dos usuários, pois as cores afetam o sistema nervoso. Um

exemplo são os vermelhos brilhantes que estimulam o sistema nervoso simpático, resultando

em mudanças fisiológicas, tais como um aumento da frequência cardíaca. Em contraste, azuis

suaves e os verdes criam o efeito fisiológico contrario, atuam no ramo parassimpático do

sistema neurovegetativo que é ativado durante os estados de repouso e serve para conservar os

recursos do corpo e ajudam a relaxar. Karr (2013) afirma que “a cor pode aumentar a

memorização, recordação e reconhecimento. Em projetos interativos, a cor pode sugerir

categorias e dão identidade aos pedaços de informação [...]”. A seguir os efeitos psicológicos

de algumas cores:

Amarelo: intenso, violento e agudo, é a mais expansiva das cores por isso realça as formas de

objetos e móveis. Associada à luz solar, é uma cor de grande energia, calor e claridade. Ativa

a comunicação e a mente a abrir novas ideias, ajuda na aprendizagem, mas aumenta a ira.

Estimula o cérebro, criando o estado de alerta e energia, influenciando a personalidade dos

usuários deixando-os benevolentes, alegres, ordenados e gloriosos. Bontempo (COSTI, 2002)

entende que “psicologicamente, está ligado à liberação da carga de responsabilidade

excessiva, à redução dos complexos, à diminuição da inquietação, da ansiedade e das

preocupações”. Deve-se precaver quanto ao uso do amarelo em consultórios médicos, pois

pode ter reflexão da cor na pele, interferindo deste modo no diagnóstico de doenças de pele

por exemplo. Use com moderação os tons de amarelo escuro, em excesso, exerce um efeito

negativo como o pessimismo. Na decoração, figura 16, tem um efeito positivo e deixa o

ambiente mais espaçoso e brilhante, mas não é aconselhado em dormitórios de crianças da

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primeira idade, pois aumenta a irritabilidade nas crianças desta faixa etária. Pode ser usado

em halls, corredores, escritórios, salas de estudo e lugares de pouca iluminação. O amarelo e

o branco juntos devem ser usados com moderação, pois podem causar uma sensação de

insegurança e instabilidade. Em detalhes compondo ambientes com cores neutras e escuras

como o preto, tons de cinza e marrom, o amarelo quebra a frieza do cinza e a prepotência do

preto, deixando o ambiente mais alegre, descontraído e iluminado.

Figura 16 – À esquerda amarelo na decoração e à direita laranja na decoração

Fonte: Adaptado de http://euamoarquitetura.com/category/home/page/20/ e de

http://www.torange-pt.com/Interior/Design-of-interiors/Bar-Red-183.html

Laranja: muito quente, acolhedor, expressivo, aconchegante e vivo. Ajuda o usuário a

despertar seu potencial, defender seu próprio ponto de vista e ser mais confiante. Costi (2002)

considera que “efeitos do matiz: excitação (laranja vivo); vibrante (laranja suave). [...]

Aumenta a emotividade e acelera as pulsações ligeiramente. Dá sensação de bem-estar e

alegria. Favorece a digestão por isso é recomendada em refeitórios. [...]”. Os tons mais

pálidos desta cor estimulam a comunicação das pessoas, bem como, a descoberta e o

desenvolvimento da criatividade. É uma cor de grande vitalidade, excelente para ambientes

comerciais, tais como lojas despojadas, lanchonetes, restaurantes, etc. O laranja escuro deve

ser usado com moderação, pois pode causar impressão de desamparo e insegurança. O laranja

claro proporciona uma sensação de conforto, alegria e expressividade. De acordo com Freitas

(2007) “o vermelho-alaranjado (figura 16 – lado direito) significa desejo, todas as formas de

ânsia e apetite insaciável. Seu conteúdo emocional é o desejo e sua percepção sensorial é o

apetite. É uma cor ativa”. É indicado para áreas de convívio social, como salas de estar, salas

de jogos e varandas, locais onde a família realiza suas festas e reuniões. Para Rosso (2014)

“[...] Os laranjas estimulam o apetite, podendo ser usados na copa, na cozinha e na sala de

jantar. Terracota, canela caramelo e mel são cores exóticas e quentes [...]”.

Vermelho: é a cor do sucesso e tem muita energia, ela produz um efeito físico, uma vez que,

no entender de Costi (2002:247) aumenta a tensão muscular, pressão sanguínea e o ritmo

respiratório, deixando as pessoas agitadas, agressivas, dinâmicas, corajosas, motivadas,

ousadas, fortes e irritadas. Barros (2006) explica que “o vermelho atua no plano racional das

pessoas deixando-as mais objetivas e, por isso, se aplica aos cômodos para a socialização.

Também estimula o apetite e, dessa forma, pode ser usado em cozinhas, copas e salas de

jantar.” Vermelho vivo é excitante, pois aumenta a libido. O vermelho é estimulante e os tons

mais rosados tornam-se uma cor mais feminina, gentil e submissa. Usado com equilíbrio, seu

efeito é muito positivo, devemos compor o espaço com cores frias para o ambiente não ficar

tão aquecido e agitado. Colocado no piso dá sinal alerta, nas paredes o ambiente fica mais

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agressivo e tem o efeito de aproximação, no forro torna-se pesado e dá sensação de pavor.

Devido à agressividade deve empregá-lo somente no piso, tapetes, passadeiras e nos objetos

de decoração. Só se usa nas paredes quando se quer dar um toque de violência e alarde ao

ambiente. Utilizar somente em tetos e paredes de lojas, casas comerciais e de espetáculos.

Locais como teatro, restaurante, bares e cassinos podem ser deliberadamente decorados com

vermelho, pois o vermelho estimula o apetite e faz perder a noção de tempo, por isso é

indicado também, mas em menor proporção, para salas de jantar e cozinhas. Na decoração,

figura 17, contrai os espaços, excita e deixa o ambiente mais ousado, em móveis e objetos, o

vermelho possui o poder de realçar formas. Em salas pode ser combinado com outros tons

neutros, como os brancos, beges e cinzas. Nos navios (figura 17 - lado direito), cassinos e

casas de espetáculo podem ser usados com os amarelos dourados contrapesando com os tons

neutros para criar uma atmosfera mais glamorosa e aconchegante. A neutralidade dos tons de

bege e marrom diminui a agressividade do vermelho equilibrando o ambiente.

Figura 17 – À esquerda - vermelho/cinza na decoração e à direita - vermelho / dourado na decoração

Fonte: Adaptado de http://www.i-decoracao.com/p/51 e de http://www.i-decoracao.com/p/51

Turquesa: cor bem fria, brilhante, extremamente repousante e relaxante, mas deve ser usada

sempre acompanhada de uma cor quente (figura 18 – lado esquerdo). Na cromoterapia é

usada como meio de acalmar o sistema nervoso, pois irradia bem-estar e produz uma vibração

constante que não sufoca ou perturba. Em composição com o preto cria-se um ambiente high

tech. Tem um efeito refrescante, ácido, limpo e uma aura de vivacidade e percepção, que

confere mais clareza de expressão estimulando o talento para as artes, pois ajuda o usuário ser

mais comunicativo, sensível e criativo. É uma cor muito receptiva, seu frescor oferece a

oportunidade de mudança e de transformação. Colocado em detalhes em um ambiente neutro

traz alegria a esse espaço. Uma combinação harmônica muito alegre, ao contrário do que a

frieza do azul indicaria, misturando verdes e azuis próximos traz paz e tranquilidade. O

banheiro é um excelente ambiente para brincar com o turquesa.

Figura 18 – À esquerda - turquesa na decoração e à direita violeta na decoração

Fonte: Adaptado de http://designinfantil.com/2014/02/18/azul-para-os-pequenos/

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e de http://revista.casavogue.globo.com/interiores/ decor-do-dia-quando-a-cor-purpura-domina/

Violeta e Púrpura: realeza, luxúria, sofisticação, sensualidade, criatividade, imaginação,

concentração, beleza, inspiração, espiritualidade, estimula o lado artístico e musical. Remete

para o mistério e para a meditação, pode também induzir os usuários a ficarem mais

arrogantes, ambiciosos e extravagantes. Exprime proteção e luxo, uma boa escolha para a sala

de estar ou para a parede do dormitório atrás da cabeceira da cama. Afeta muito as pessoas,

portanto devemos usá-la com critério. Exposição excessiva a essa cor denota inquietude

afetiva, induz o mau humor e faz com que os usuários não sintam à vontade no ambiente.

Dependendo da tonalidade podem-se criar ambientes calmos e serenos. Na figura 18, lado

direito, todas as paredes foram pintadas de violeta e os detalhes da arquitetura em branco,

com o pé-direito altíssimo, a iluminação que entra pela imensa janela lateral e a composição

com as cores neutras permite o uso abundante da cor. Quando empregada com o amarelo

incita a introspecção, com o verde estimula a generosidade e caridade. O púrpura claro, muito

utilizado nos dormitórios das pré-adolescentes, pois é a cor preferida delas. Púrpura escuro

em excesso pode deixar o ambiente melancólico e triste. A cor violeta+azul é uma cor

mística, indicada para ambientes esotéricos ou num canto zen. Púrpura+vermelho é usado

quando se quer criar uma atmosfera mais sensual. No entender de Lüscher (apud FREITAS,

2007) “o violeta tenta unificar a impulsividade do vermelho com a delicadeza do azul. Busca,

neste caso, identificação, podendo significar união íntima ou erótica. Em geral pessoas

imaturas emocional e mentalmente, bem como homossexuais tem preferência por essa cor”.

Verde: é a mais repousante das cores, muito usada em dormitórios, hospitais e clínicas.

Tranquilizante e sedativa é a cor do equilíbrio e da harmonia, segundo Costi (2002) “tem

efeito calmante, dilatando os capilares e abaixando a pressão sanguínea. É indicado para

pessoas idosas, com fadiga ou insônia”. Não deve ser usado sozinho, pois pode deixar o

ambiente estático. O verde-escuro proporciona uma sensação de força e estabilidade. O verde-

claro é ótimo para crianças, ele afeta a área do coração e ajuda o indivíduo ser mais afetuoso.

O verde-maçã indica que é um local onde se dá valor às crianças, à família e aos animais. O

verde usado nas cores mais claras irradia uma energia de relaxamento e paz, Rosso (2014)

considera que “em tonalidades pastel são indicados para áreas de relaxamento, salas de

espera, quartos de estudo e salas de reunião”, pode usá-lo também em ambientes de repouso,

sala de estar, sanatório, gabinete de pesquisa, sala de aula, escritórios, loja e fábrica. Está

ligado à autoestima, harmonia, compreensão, proteção e liberdade. Na decoração deixa o

ambiente repousante e neutralizante, Costi (2002) considera que o verde é adequado para

locais onde necessita de alta concentração e meditação. Empregado no forro dá a sensação de

proteção, mas pode ser desagradável se refletir na pele dos usuários. Nas paredes é frio,

seguro, calmo e passivo, mas se for brilhante torna-se irritante. Na figura 19, lado direito, o

verde em composição com o tom de palha (paredes, almofadas e abajur) e o marrom (madeira

do piso e do criado), cria uma atmosfera refrescante e ao mesmo tempo aconchegante.

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Figura 19 – À esquerda - azul escuro na decoração e à direita verde na decoração

Fonte: Adaptado de http://designinfantil.com/2014/02/18/azul-para-os-pequenos/

e de http://blogs.atribuna.com.br/designdecor/2012/09/decoracao-em-verde/

Azul: repousante, expansivo e refrescante, é uma cor terapêutica, relaxa, acalma, esfria e evita

a insônia. Costi (2002) compreende que “diminui o ritmo respiratório em virtude de baixar a

tensão muscular e a pressão sanguínea”. Pode ser associado à lealdade, integridade, beleza,

nobreza, tranquilidade, respeito, responsabilidade e autoridade, mas em excesso, torna o

ambiente frio, depressivo e melancólico, induzindo à indiferença, retração e ao sono.

Bontempo (apud COSTI, 2002) considera que “favorece a criação e a manutenção de um

clima ou ambiente calmo e organizado”. O azul claro relaxa e libera as tensões; o índigo pode

trazer a tona antigos medos. Segundo Rosso (2014) “em tonalidades pastel, os azuis

aumentam a sensação espacial e ajudam a acalmar, sendo recomendados para dormitórios”. O

azul escuro e profundo é uma cor que remete a integridade e honestidade, porém a exposição

prolongada destes tons fortes despertam distanciamento, melancolia e introversão. Compondo

com amarelo (figura 19 – lado esquerdo) ativa a mente e a intuição, com o vermelho

manifesta as emoções, com o rosa traz a tona o lado afetuoso e com o pêssego estimula a

criatividade. Na decoração, acalma e tranquiliza ambiente, mas depois de algum tempo pode

ser deprimente. Indicado para locais quentes tais como casa de caldeiras, tratamentos

térmicos, cozinhas e outros. Lüsher (FREITAS, 2007) entende que “o azul é indicativo de

plena calma; um indivíduo que se encontra doente e que deseja recuperar-se rapidamente

escolhe esta cor; mas o mesmo também se torna sensível e tende a magoar-se”. Borrowski

(apud GUSMÃO; BROTHERHOOD, 2010) considera que o azul “atua na corrente sanguínea

e é coagulante. É uma cor elétrica, fria e adstringente. Funciona como anestésico e chega a

causar total insensibilidade. Estimula os sentidos e a intuição”.

Magenta e tons de Rosa: luxúria, sofisticação, sensualidade, feminilidade e desejo. Cor

excitante, viva e dramática, envolve o usuário dando-o a sensação de proteção, estimula-o a

tomar decisões, o induz a ser mais complacente e transmuda desejo em seus equivalentes

físicos (figura 20 – lado esquerdo). Em prédios comerciais usar tons pink e magenta, ao

menos nos detalhes, pois eleva as vibrações e estimula as pessoas. Nas residências deixa o

ambiente com ar ousado e sofisticado quando em composição com mobiliário moderno.

Grande harmonia quando combinado com o verde e com o preto, traz glamour à composição.

Borrowski (apud GUSMÃO, 2010) afirma que “esta cor fortifica a aura e as radio- emanações

do corpo químico. Leva à consciência espiritual, auxilia como equilibradora emocional e é

estimulante suprarrenal”. Tons de rosa são considerados estritamente femininos e delicados,

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proporcionam calor, afeto e podem ser relaxantes. O tom róseo mais quente tem efeito

positivo, pois tornam as pessoas mais ativas, vigorosas e desejosas de progresso, ideal para

serem colocadas em casa ou asilos de pessoas idosas. Rosas amarelados, “rosa antigo”,

entram na categoria de tons pastéis (figura 20 – lado direito) e figuram muito bem ao lado de

tons escuros e pesados, como o azul marinho ou marrom café. Se combinado com o verde

cítrico, traz um ar de alegria e frescor. Graças as descobertas de novas combinações e usos, os

tons rosa, pink e magenta ganharam forças no design. Os rosados expressam delicadeza,

afetividade, calor e energia. Para não deixar o ambiente infantilizado, por estar associado ao

feminino e ao amor, deve-se usar com parcimônia os tons de rosa.

Figura 20 – À esquerda - magenta na decoração e à direita - rosa na decoração

Fonte: Adaptado de http://ndicas-decoracao.blogspot.com.br/ 2011/06/quartos-e-cores-interiores-e-

decoracao.html e de http://partilho.com.br/design-de-interiores/cores-sensacoes-design-interiores/

Cinza: apesar de ser uma cor de neutralidade, seu efeito não passa despercebido. Deve-se ter

cuidado ao usá-la, para não dar um aspecto negativo ao ambiente, pois pode ser associada ao

medo e a negatividade, portanto, devemos usar seus tons mais claros e sempre acompanhados

com cores quentes. Quando usado sozinho transmite tristeza, angústia, incerteza e desânimo;

porém em composição com cores fortes e vibrantes (figura 21 - lado esquerdo) remetem a

sabedoria, requinte e sensatez. O cinza realça as outras cores, é o equilíbrio entre o branco e o

preto, não emite estímulo psicológico e, não produz nem tensão nem relaxamento. É neutro

em qualquer de suas tonalidades. Segundo Lüscher (apud FREITAS, 2007) “O cinza é uma

sensação acromática que em termos de compensação parece querer dividir o mundo. Ele gosta

de isolamento, e não quer envolvimento”. Demonstra o conformismo e o passivismo diante

dos acontecimentos, indica o terror e simboliza o egoísmo. O cinza, como uma neutralidade,

dá sensação de equilíbrio e estabilidade.

Figura 21 – À esquerda cinza na decoração e à direita branco na decoração

Fonte: Adaptado de http://decorambientearomas.com.br/cinza-cor-de-dia-nublado-e-na-decoracao-como-usar/

e de http://decorassentos.com.br/blog/author/ admin/page/25//

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Branco: reflete paz, pureza, calma, inocência e dignidade. Para Farina (apud GUSMÃO,

2010) “o branco é sempre positivo e afirmativo. É a soma de todas as cores e o símbolo do

absoluto. A cor que apresenta maior sensibilidade na presença da luz. Está associada à ordem,

estabilidade, paz e harmonia [...]”. É uma cor suave, e tem o poder de tornar um ambiente

pequeno visualmente maior, realça todas as cores e aumenta a iluminação de um ambiente,

pois reflete bem a luz. Permite um maior conforto, pois absorve pouca luz e transmite pouco

calor ao ambiente interno. Um ambiente todo branco (figura 21 - lado direito) pode dar a

sensação de falta de força e profundidade. Caso não queira abrir mão do branco, mas esteja

enfrentando um problema de ofuscamento ou claridade em excesso, os off white (branco com

um leve toque de outros pigmentos) podem ser a solução, esta tendência ultimamente está em

alta para quem deseja inovar , mas tem medo de ousar. No design de interiores, a cor branca

compõe ambientes sofisticados, iluminados e vivos. Uma vantagem observada em relação ao

off white é que esse tipo de tonalidade branca controla significativamente a claridade dos

ambientes e tira a sensação de falta de força e profundidade.

Marrom e tons de Bege: quando usada no seu estado natural (madeira) é a cor do aconchego

e da estabilidade, nos induz a sensação de que tudo é constantemente sólido e seguro,

transmite energia positiva. Na visão de Farina (apud GUSMÃO, 2010), o marrom está

relacionado ao pesar, à melancolia e ao desconforto, Borrowski (apud GUSMÃO, 2010)

considera que é a cor da integração e do oferecimento, ele associa o marrom ao outono,

doenças, terra, melancolia e orações. No entender de Lüscher (apud FREITAS, 2007) “o

marrom faz com que o indivíduo se sinta sensitivo, destituído, sensual, não vendo

perspectivas. Sua preferência denota às vezes mal-estar e desconforto no indivíduo. Induz a

uma atitude negativa perante a vida, cor passivamente receptiva”. Costi (2002) diz que

“quando escuro, é opressivo; fecha o ambiente. A cor marrom é uma espécie de vermelho

escurecido, possui a vitalidade e a força impulsora do vermelho que aquece, mas é atenuada

pelo efeito do preto [...]”. O marrom contrasta bem com cores opostas e contrastantes,

deixando o ambiente mais equilibrado. Os tons claros ou pastéis criam uma atmosfera

aconchegante e suave, por isso são muito utilizados em salas e corredores. No forro, se

escuro, deixa o ambiente pesado e opressivo. As paredes se revestidas com madeira (figura 22

- lado esquerdo), torna o espaço seguro e firme, se pintadas no tom escuro, o local fica mais

melancólico, agora se pintada nas tonalidades claras o ambiente torna-se delicado, fino e

aconchegante. No piso cria uma atmosfera firme e estável. A grande vantagem dos tons

neutros é que dificilmente se enjoa, além de deixar o ambiente mais sofisticado.

Figura 22 – À esquerda marrom na decoração e à direita preto na decoração

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Fonte: http://www.decoraambientes.com/2012/12/38-decoracao-Efeito-optico-em-Design-de-Interiores.html e de

http://casadaidea.com.br/cores-na-decoracao/preto-madeira-e-vermelho-em-ape-masculino-e-sofisticado/

Preto: é ideal para compor ambientes nobres, luxuosos e clássicos se utilizado de forma

coerente, do contrário, torna-os frios e opressivos. Combinado corretamente com outras cores

pode realçá-las e dependendo da composição, criam atmosferas mais alegres e expressivas.

Em ambientes de trabalho comerciais e residenciais, quando contemporâneos e sofisticados, o

preto corresponde muito bem. Segundo Borrowski (apud GUSMÃO, 2010) “[...] funciona

como um isolante e atrai todas as vibrações para si. É a cor da autonegação [...]”. Lacy (apud

GUSMÃO, 2010) diz que “é considerada uma cor impotente, quando usada com outra cor, do

contrário pode provocar inacessibilidade, prepotência e indiferença”. Lüscher (apud

FREITAS, 2007) entende que “o preto, assim como o cinza e o marrom, é indicador,

geralmente, de uma atitude negativa perante a vida. A preferência por essa cor denota revolta

do indivíduo contra o destino, e ação insensata e precipitada. Obstinadamente ele quer

renunciar a tudo”. O preto na arquitetura de interiores remete a poder, responsabilidade e

imponência, associado à elegância e sofisticação, ele dá o toque final aos elementos da

decoração. Projetos modernos e ousados sugerem a pintura de uma parede ou até de um

ambiente inteiro (figura 22) com esta cor, em dormitórios, copas e salas.

9. Efeitos fisiológicos da cor

Manthey (apud COSTI, 2002:132) considera que “as cores quentes formam imagens fortes

atrás da retina, isso as faz mais visíveis, enquanto cores frias como azul e verde, permanecem

na frente da retina e parecem mais suaves”. A percepção da cor está relacionada não só com

os olhos e com a retina, mas também com a informação presente no cérebro e ela é muito

importante para a compreensão de um ambiente. Através de estímulos recebidos, a cor

provoca reações nos usuários de forma individual, pois é distinto o funcionamento do órgão

da visão (olho) e do cérebro em cada indivíduo.

Lopes (2003:05) entende que “[...] Na retina existem células sensíveis à luz, os bastonetes e

os cones, que transformam os fotões que absorvem em impulsos nervosos. Estes impulsos são

comunicados ao cérebro através do nervo óptico. O cérebro recebe estes impulsos e processa-

os [...]”. O olho humano é capaz de perceber a cor através dos cones, segundo Barthem (2005)

“Existem três tipos de cones em nosso olho: vermelho, verde e azul. Os cones vermelhos

correspondem a 64% de todos os cones, os verdes cerca de 34% e por fim, os cones azuis

correspondem a apenas 2% dos cones”. Ondas longas, médias e curtas respectivamente.

Como temos mais cones vermelhos que azuis, percebemos a cor vermelha com mais

intensidade que a cor azul. Os bastonetes são células fotorreceptoras da retina e não têm o

mesmo poder de resolução visual que os cones, mas são cem vezes mais sensíveis à luz e

responsáveis pela visão periférica e acromática. Quando há pouca luminosidade, a visão passa

a depender exclusivamente dos bastonetes, são responsáveis pela visão noturna. A imagem

fornecida pelos cones é mais nítida, mais rica em detalhes e são as células capazes de

distinguir cores. Franklin (apud FREITAS, 2007:3) comenta que a visão da cor é um processo

de evolução do homem primitivo, que só distinguia o branco, o preto e o cinza.

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Pedrosa (2003) considera que “a cor não tem existência material. Ela é tão somente, uma

sensação provocada pela ação da luz sobre o órgão da visão.” Podemos enxergar os objetos

devido ao fato do olho humano possuir células sensíveis à luz e o cérebro decodificar as

informações recebidas por estas células, por isso uma pessoa mesmo dormindo é capaz de

sentir a luz.

Farina (1990) entende que cor é uma sensação resultante de um estímulo da retina por ondas

luminosas. As cores vermelhas, azuis e verdes são as três cores que os olhos captam, também

chamadas de RGB. Todas as outras cores que vemos são formadas a partir dessas três cores,

por esse motivo são consideradas as cores primárias da visão. O RGB (Red, Green, Blue) é o

padrão de cores usado em computadores e monitores de vídeo, este é o de sistema aditivo de

cores, em contraposição ao sistema subtrativo, o CMYK (Cyan, Magenta, Yellow e Black -

Key) que é empregado por imprensas, impressoras e fotocopiadoras para reproduzir a maioria

das cores do espectro visível, e é conhecido como quadricromia.

Freitas (2007) defende que a idade é outro fator que influencia na percepção das cores, a

manifestação de uma pessoa por determinada cor muda dependendo da idade. O cristalino do

olho humano vai gradativamente se tornando amarelo com o passar dos anos, exemplificado

uma criança absorve 10% da luz azul, em contrapartida um idoso absorve cerca de 57%,

portanto os mais idosos dão preferência a produtos contidos em embalagens em que o azul é a

cor dominante. Bamz (FREITAS, 2007) entende que o fator idade versus preferência na

manifestação de uma pessoa por determinada cor é da seguinte forma:

Vermelho de 01 a 10 anos; laranja de 10 a 20 anos; amarelo de 20 a 30 anos; verde de

30 a 40 anos; azul de 40 a 50 anos; lilás de 50 a 60 anos; e roxo 60 anos em diante.

10. Conclusão

Através das análises acima, podemos concluir que as cores fazem parte da mente e da vida

passada, atual e futura de todo ser humano. Seu surgir e sentir é influenciado por muitos

fatores como influências culturais, físicas, fisiológicas, deficiências pessoais, tipo de

iluminação e de textura e faixa etária. O uso da cor deve atender soluções específicas para

diferentes ambientes, tendo em vista condições estéticas, conforto e que estabeleça a

integração com os diversos espaços, que devem ser analisados com critério, levando-se em

conta o ser humano e suas fragilidades. A cor é percebida de forma diferente entre as pessoas

e cabe ao arquiteto, designer de interiores ou decorador tentar utilizar a cor mais apropriada

para o seu público-alvo.

As cores são sensações sofridas por nossa mente ao interpretar a informação recebida através

da retina, cuja informação é influenciada pelos fatores citados neste artigo. Qualquer ambiente

é seguramente mais estimulante se por toda a parte as cores estiverem adequadamente

distribuídas conforme a necessidade. O profissional responsável deve utilizar sua experiência

alinhada ao conhecimento sobre cor, explorar a percepção visual da cor e entender como se

processa esta percepção, pois ela é primordial para um resultado final satisfatório. O uso de

cores apropriadas para cada ambiente pode intensificar ações desejadas para cada um dos

espaços. O projeto cromático precisa estar agregado ao de interiores e, estruturando-o,

constrói-se a identidade de um ambiente através da cor. Um esquema de cor bem elaborado,

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induzindo o usuário a sensações e estímulos que atendam o objetivo do projeto proposto, pode

conduzir ao sucesso deste projeto.

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