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O PAPEL DO DIREITO INTERNACIONAL NA CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA DE ACESSO À JUSTIÇA NO BRASIL Ademar Pozzatti Junior 1 y Jânia Maria Lopes Saldanha 2 Introdução No vasto plano dos diálogos judiciais, há um processo contínuo de atribuição de capacidades e competências soberanas dos Estados para o plano internacional. Em teoria, não se trata de perda da soberania, porque os Estados continuam a determinar o direito aplicável a cada tema exercendo o monopólio mesmo do tratamento jurídico sobre determinados temas. Na prática, porém, o processo é muitas vezes irreversível pela pressão da política, da economia e de outros sistemas sociais resultando em uma verdadeira internacionalização do direito. 3 Historicamente impulsionados pela universalização dos direitos humanos, de um lado, e pela globalização econômica, do outro, o direito cada vez mais tem se internacionalizado. Esse movimento se dá a partir da maior interação entre os diferentes direitos nacionais, da expansão do direito internacional, da abertura a novos atores para participarem da formulação, implementação e controle das normas jurídicas internacionais através da criação de instâncias judiciárias. Essa rede de produção e aplicação jurídica dá o caráter cosmopolita ao direito contemporâneo. 4 Ora, profecia kantiana 5 de que a infração do direito em um lugar da Terra é sentido em todos, parece ter encorajado o surgimento de uma das expressões contemporâneas da cosmopolitização da justiça que é a crise da territorialidade. Assim, a deslocalização do direito se dá de muitas maneiras, desde a desterritorialização em relação ao local dos fatos e a aplicação do direito, até mesmo as instâncias múltiplas de pertencimentos políticos múltiplos que geram muitas instâncias normativas. Dessa forma, as redes internacionais de juristas, organizações internacionais e organizações não governamentais ligadas à proteção dos direitos humanos têm sido chamados a um intenso diálogo. Processos judiciais que tramitam em jurisdições nacionais ou não nacionais apresentam, cada vez mais acentuadamente, questões geralmente complexas e de repercussão para além das fronteiras nacionais. A referência pelos sistemas de justiça a

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O PAPEL DO DIREITO INTERNACIONAL NA CONSTRUÇÃO DE UMA

CULTURA DE ACESSO À JUSTIÇA NO BRASIL

Ademar Pozzatti Junior1 y Jânia Maria Lopes Saldanha2

Introdução

No vasto plano dos diálogos judiciais, há um processo contínuo de atribuição de

capacidades e competências soberanas dos Estados para o plano internacional. Em

teoria, não se trata de perda da soberania, porque os Estados continuam a determinar o

direito aplicável a cada tema exercendo o monopólio mesmo do tratamento jurídico

sobre determinados temas. Na prática, porém, o processo é muitas vezes irreversível

pela pressão da política, da economia e de outros sistemas sociais resultando em uma

verdadeira internacionalização do direito.3

Historicamente impulsionados pela universalização dos direitos humanos, de um

lado, e pela globalização econômica, do outro, o direito cada vez mais tem se

internacionalizado. Esse movimento se dá a partir da maior interação entre os diferentes

direitos nacionais, da expansão do direito internacional, da abertura a novos atores para

participarem da formulação, implementação e controle das normas jurídicas

internacionais através da criação de instâncias judiciárias. Essa rede de produção e

aplicação jurídica dá o caráter cosmopolita ao direito contemporâneo.4

Ora, profecia kantiana5 de que a infração do direito em um lugar da Terra é

sentido em todos, parece ter encorajado o surgimento de uma das expressões

contemporâneas da cosmopolitização da justiça que é a crise da territorialidade. Assim,

a deslocalização do direito se dá de muitas maneiras, desde a desterritorialização em

relação ao local dos fatos e a aplicação do direito, até mesmo as instâncias múltiplas de

pertencimentos políticos múltiplos que geram muitas instâncias normativas. Dessa

forma, as redes internacionais de juristas, organizações internacionais e organizações

não governamentais ligadas à proteção dos direitos humanos têm sido chamados a um

intenso diálogo.

Processos judiciais que tramitam em jurisdições nacionais ou não nacionais

apresentam, cada vez mais acentuadamente, questões geralmente complexas e de

repercussão para além das fronteiras nacionais. A referência pelos sistemas de justiça a

normas não nacionais –regionais, supranacionais e internacionais–, reciprocamente,

indica a forte influência de sistemas e culturas jurídicas entre si, exercício que ocorre

por meio do diálogo judicial e que faz emergir o princípio da comparação, símbolo de

um papel relativamente novo exercido pelos juízes, fruto de duas vertentes: a do

pluralismo jurídico e a da interdependência entre direitos e sistemas de justiça.

O exercício do diálogo transjurisdicional marca um comprometimento com o

ideal de superação do debate entre universalistas e soberanistas e demarca uma busca de

resposta –efetiva, eficaz e legítima– aos perigos ou às demandas que podem ser

identificado(a)s como planetário(a)s.

Muito frequentemente, os diálogos judiciais se iniciam na esfera normativa,

podendo ter origem nas convenções internacionais sobre direitos humanos, e

prosseguem até a assunção de responsabilidade internacional por parte dos Estados.

Ora, ao ratificarem e internalizarem as Convenções e descumprirem esses

compromissos, os Estados podem ser condenados como autores de violações de

obrigações que eles, no exercício de soberania, comprometeram-se respeitar. E, assim, a

partir de um diálogo inofensivo, a responsabilidade logo lhes foi imposta.6

As jurisdições de alguns Estados da América Latina têm dado bons exemplos

desse diálogo exercido para enfrentar importantes questões de

“transconstitucionalismo”7 e de convencionalidade. As relações entre a Corte

Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e as jurisdições nacionais indicam ter esse

diálogo de dupla face (fertilização normativa e responsabilização jurídica)

experimentado intensificação e evolução. Das estatísticas da CIDH colhe-se ter ocorrido

uma inflação de demandas contra os Estados a partir do fim dos regimes autoritários.

Para responder a pergunta qual o papel do direito internacional na construção de

uma cultura de acesso à justiça no Brasil, esse artigo recorre ao fenômeno dos diálogos

judiciais. Para tanto, esse paper está divido em duas partes. Na primeira parte abordar-

se-á a ideia do diálogo judicial como fertilização normativa, onde será investigado como

se tutela internacionalmente o acesso à justiça e, mais especificamente, a razoável

duração do processo (1). Na segunda parte será desenvolvida a ideia de diálogo judicial

como responsabilização internacional do Estado, especificamente será abordado a

processualística da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização dos

Estados Americanos (OEA) (2). Na terceira parte será investigado o resultado desse

diálogo, abordando dois casos de responsabilização do Estado brasileiro pela demora na

prestação judicial (3).

Diálogo judiciais como fertilização normativa: o caso da tutela internacional da

razoável duração do processo

Quando se fala em reconhecer o diálogo entre as esferas jurídicas internacionais

não se trata de corroborar as teses universalistas, dentro da lógica de um direito único

global imposto a partir dos juízes internacionais, mas talvez de um cosmopolitismo de

legisladores (fertilização normativa) e magistrados (responsabilização internacional) ou

mesmo da criação de uma comunidade jurídica transnacional.8

O instituto da responsabilidade internacional dos Estados é tema de grande

relevância entre os estudiosos do direito internacional. De fato, a constatação de que o

Estado pode ser sujeito passivo de deveres perante a comunidade internacional é algo

que gera polêmicas discussões e debates tanto no mundo jurídico quanto no das relações

internacional.9 Todavia, antes de adentrar no assunto específico da responsabilidade

internacional, faz-se necessário verificar os instrumentos internacionais que tutelam o

direito à duração razoável do processo, para após analisar a responsabilidade pela não

observância a esse direito.

O direito a duração razoável do processo pode ser enquadrado na segunda

geração de direitos fundamentais da qual se refere Norberto Bobbio. Esta seria a

geração ou dimensão dos direitos sociais, calcada no princípio da igualdade, exigindo-se

do Estado uma ação positiva para a sua observância, de modo que este intervenha de

maneira à proporcionar esses direitos. Tais direitos surgiram através de uma nova

concepção do Estado, o qual deixou de ser absoluto, passando a ser limitado, não mais

sendo um fim em si mesmo, mas um meio para alcançar os fins que transcendem a sua

própria existência, marcando o nascimento do Estado de Bem-Estar Social (Bobbio,

1996, p. 6-30).

Por outro lado, ainda no plano dos direitos fundamentais, o acesso à justiça (por

ser mais amplo que a ideia de razoável duração do processo) pode ser considerado de

terceira dimensões, porque vinculado a ideia de direito social umbilicalmente atrelado à

hospitalidade e à solidariedade. No plano externo trata-se, seguramente, de um direito

humano, mas com uma característica a mais: um direito humano que integra o jus

gentium em face de seu reconhecimento universalizado10 dada a extensão de sua

aplicação e reconhecimento pelos tribunais não nacionais.

Neste contexto da tutela jurídica do acesso à justiça, identificam-se diferentes

processos de diálogo: a construção de uma gramática jurídica comum, a confluência

normativa, sobretudo em nível constitucional, a fertilização cruzada entre juízes e a

construção de redes normativas privadas com pretensão de autonomia em relação ao

sistema jurídico estatal.11

Numa primeiro momento, o diálogo judicial permite conhecer o direito do outro,

diminuir distâncias, eventualmente contribui para a criação de uma gramática jurídica

comum. Neste caso, reforça-se o processo da construção de um direito mundial

pluralista, onde se conhece o outro, ainda que se mantenha a diferença. Em um segundo

estágio, aproxima os direitos nacionais, gerando interpretações.12 Esse fenômeno

começa justamente com a fertilização normativa entre as diversas esferas de produção

do direito.

O protagonismo13 dos sistemas de Justiça, em sentido particular, tornou-se

pressuposto de realização dos direitos, agasalhados e acalentados pelo Estado

Democrático de Direito e presentes em suas Constituições. Por essa razão, o fenômeno

da judicialização da política existente em países de modernidade tardia, como é o caso

do Brasil e de muitos Estados da América Latina, experimentou um crescimento

exponencial. Por isso, na condição de um caminho de passagem para a consolidação dos

direitos humanos, foi preciso, juntamente com a afirmação e respeito das Constituições,

dotar a garantia de acesso à justiça da nota de fundamentalidade e essencialidade.

Se o princípio do acesso à justiça conquista lugar de imprescindibilidade no

contexto das obrigações estatais, regionais, supranacionais e internacionais para com os

indivíduos, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, a restauração do papel do

sujeito tornou-se um objetivo não apenas humanista ou caritativo mas, antes, um

objetivo político. Isto porque o sujeito de direito não é, como refere Antoine Garapon,14

apenas “uma condição de intervenção social, mas constitui igualmente seu objetivo

último”, razão pela qual o princípio do acesso à justiça trata de ser basilar das

democracias contemporâneas cuja essencialidade está radicada no respeito à dignidade

humana.

Há uma base jurídica constitucional e convencional para o acesso à justiça. A

Constituição Federal de 1988 em seu art. 5ª, § 2º estabelece que “os direitos e garantias

expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios

por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do

Brasil seja parte”. Entende-se que a Carta de 1988 se constitui no marco jurídico da

transformação democrática e da institucionalização dos Direitos Humanos no Brasil,

sendo que os direitos constantes nos tratados internacionais integram e complementam o

catálogo de direitos previstos constitucionalmente, estendendo-se a esses direitos o

mesmo regime constitucional atribuído aos demais direitos e garantias fundamentais.15

Mas a tutela do acesso à justiça não se encontra apenas nesses tratados

internacionais. A própria Constituição Federal no artigo 5º, inciso XXXV, é a fonte

primária da garantia de acesso à justiça. Assegura que “a lei não excluirá da apreciação

do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Duas outras garantias –a do juiz

natural e a do devido processo legal– são, nessa linha, consideradas como expressão do

princípio do acesso. Com efeito, a juridicidade de um princípio somente poderá ser

determinada no momento de sua interpretação, que é o da decisão em um caso concreto.

A tutela do acesso à justiça e da razoável duração do processo também acontece

no âmbito dos tratados internacionais. No âmbito da ONU, a duração razoável do

processo está prevista no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, adotado

pela resolução 2.200-A (XXI) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 16 de

dezembro de 1966, aprovado no Brasil pelo Decreto Legislativo n. 226 de 12 de

dezembro de 1991, e promulgado pelo Decreto n. 592 de 6 de julho de 1992.16 O Pacto

prevê expressamente a duração razoável do processo, em seu artigo 9º, 3, in verbis:

Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal

deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra

autoridade habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de

ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão

preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a

regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que

assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os

atos do processo e, se necessário for, para a execução da sentença.

Importante observar que o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos

desenvolve uma sistemática específica de monitoramento e implementação

internacional desses direitos, oferecendo um suporte institucional aos preceitos nele

consagrados, impondo obrigações aos Estados-partes, tais como encaminhar relatórios

sobre as medidas adotadas para a implementação dos direitos anunciados pelo pacto.

Através desses relatórios os Estados-partes esclarecem como estão conferindo

cumprimento às obrigações internacionais assumidas.17

Portanto, os Estados assumindo esse arsenal de obrigações, sujeitam-se a

responsabilidade internacional quando da não observância das obrigações pactuadas.

Dessa forma a responsabilidade internacional é um tema de relevância significativa, em

razão da necessidade dos Estados respeitarem seus compromissos internacionais,

obrigando-se a um conjunto de medidas caso haja violação de direitos.18

A tutela do acesso à justiça e da razoável duração do processo também acontece

no âmbito da OEA. Nessa perspectivas, o Pacto de São José da Costa Rica, de 22 de

novembro de 1969, que foi subscrito pelo Brasil e integrado à ordem jurídica pelo

Decreto nº 678, de novembro de 1992 e alçou à categoria de direitos inalienável a

razoável duração do processo. O Pacto prevê a duração razoável do processo, dentre as

garantias judiciais, em seu artigo 8º, item 1, veja-se:

Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e

dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente,

independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração

de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de

seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer

outra natureza.

O Pacto, também chamado de Convenção Americana sobre Direitos Humanos

possui status de supralegalidade, ou seja, assim como os demais tratados pactuados

anteriormente a vigência da EC nº 45/2004 que acrescentou o § 3º ao artigo 5º da

CF/88, não tem caráter de emenda constitucional mas torna-se imune a alterações

futuras por leis ordinárias, Portanto, não há como negar que a Convenção Americana de

Direitos Humanos, faz com que o Estado Brasileiro, por intermédio do Poder Judiciário,

obrigatoriamente, manifeste-se nos processos judiciais dentro de um prazo razoável

A Convenção Americana de Direitos Humanos é considerada o instrumento de

maior importância no sistema interamericano de direitos humanos. A Convenção não

enuncia especificamente qualquer direito social, cultural ou econômico, mas determina

aos Estados que alcancem de forma progressiva a plena realização de todos esses

direitos, por meio de adoção de medidas apropriadas que os concretizem. Diante do

catálogo de direitos previstos na Convenção Americana, os Estados-partes assumem a

obrigação de respeitar e assegurar o exercício desses direitos e liberdades, sem que haja

discriminação.19

Observe-se que, em que pese a previsão legal dessa garantia, ter direitos é não

apenas contar com a atitude do legislador em prevê-los e afirmá-los, senão ter o direito

de participar do debate sobre o direito, quanto também de ser o protagonista na defesa

do próprio direito. A possibilidade de intervenção judicial, por meio do acesso à justiça,

marca a dignidade do sujeito de direito e reafirma sua soberania pessoal, dignidade essa

que se põe “a favor” e “acerca”20 do sujeito e que se traduz em objetivo e valor

universal da comunidade humana como está expresso no art. 1º da Declaração Universal

dos Direitos do Homem, firmada no âmbito da ONU em 1948.

A garantia de acesso é pressuposto básico para a realização do Estado

Democrático de Direito que, resta enfraquecido e deslegitimado sempre que não

conseguir –voluntariamente ou não– assegurar o exercício desse direito com vistas à

proteção do ser humano. Faz parte da natureza do Estado Democrático de Direito ser,

essencialmente, um modelo garantidor que tem como pedra fundamental a “proteção

judiciária”.

Desenhando-se uma linha temporal, é possível afirmar que a construção da base

normativa da garantia de acesso à justiça acompanhou a própria evolução doutrinária da

Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). O reconhecimento do dever estatal

de garantir direitos, previsto no artigo 1º, I, da Convenção Americana de Direitos

Humanos (CADH), foi tomado pela CIDH para reconhecer que a ele correspondiam os

artigos 8º, 25 e 2º e que esses três dispositivos é que estabelecem a substancialidade

daquela garantia. Assim, a base da normatividade do acesso à justiça derivaria da

hermenêutica conjunta desses dispositivos.

Contudo, é necessário dizer que essa compreensão não se fez sem derivas, como

é muito próprio da tarefa hermenêutica. Houve momento em que a CIDH entendia dever

associar a compreensão da garantia de acesso a da disponibilização pelos Estados de

recursos, sem precisar qual seria a natureza desses. Discussão nesse sentido esteve

presente em vários casos julgados pela Corte.

No caso Comerciantes vs. Colômbia, o voto dissidente da juíza Cecília Quiroga,

suscitou que a satisfação plena do acesso à justiça pressuporia a existência, no plano

interno, de recursos judiciais com características básicas para proteger os direitos

humanos e não apenas um recurso qualquer, como o de amparo, comum ao todo o

continente americano, ante o cabimento restrito desse às situações que apresentassem o

elemento urgência. Com isso, ele não seria sempre o recurso adequado no plano interno

quando, por exemplo, a demanda exigisse tempo maior para seu procedimento e nela

estivesse envolvida matéria de violação dos direitos humanos. Essa impossibilidade

consistiria, segundo a juíza, em violação ao princípio do acesso à justiça, razão pela

qual insistiu em que a interpretação dos artigos 8º e 25º era distinta. O primeiro

dispositivo estabelece as chamadas “garantias judiciais” e prevê no item 1 o direito de

toda pessoa ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um

juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por

lei, na apuração de acusação. E sobre ele refere que:

Este artículo establece, como puede observarse de su lectura, el

derecho de acceso a la justicia respecto de toda acusación penal y de todo

litigio civil, laboral, fiscal o de cualquier otro carácter. La amplitud de esta

formulación permite efectivamente que la determinación de cualquier tipo

de derecho requiera que se cumpla con el debido processo.21

O segundo dispositivo –artigo 25– refere sobre a “Proteção Judicial” e preceitua

que toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso

efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes que a proteja contra atos que violem

os seus direitos fundamentais reconhecidos não só pela Convenção Americana como

por Constituição e leis do direito interno do Estado membro.

No ano seguinte, ao julgar o caso Castillo Petruzzi vs Perú a CIDH não só

reconhece a violação do artigo 8º da Convenção em quase toda a sua inteireza quanto

diz, fundando-se no artigo 25, que o Estado negou às vítimas, por aplicação de sua

legislação interna, “la posibilidad de interponer acciones de garantía en su favor. De

esta manera, el Estado violó lo dispuesto en los artículos 25 y 7.6 de la Convención”.22

Reconheceu, do mesmo modo, que o “direito de toda pessoa a um recurso simples e

rápido ou a qualquer outro recurso efetivo ante os juízes ou tribunais competentes que a

amparem contra atos que violem seus direitos fundamentais, constitui um dos pilares

básicos, não só da Convenção Americana, senão também do próprio Estado de Direito

em uma sociedade democrática no sentido da Convenção. Sinalizou a CIDH o dever de

os Estados garantirem não apenas o recurso rápido mas todo outro recurso que

garantisse a defesa dos direitos fundamentais violados.

Quando a Corte associa, neste julgamento, o direito de ser ouvido ao acesso à

justiça, remete essa fundamentação a outro caso julgado no ano de 2008. Trata-se de

Bayarri vs. Argentina, processo cujo objeto litigioso versava sobre o longo tempo de

tramitação de processo penal em que houve prisão da vítima, sem que tenha havido

julgamento no plano interno. Destacou a Corte que a Argentina consentiu com a demora

processual. Por isso, fundamentou que além da violação do prazo razoável, houve a

“denegação do acesso à justiça”. Aqui, para o Tribunal, a negativa de acesso à justiça

está relacionada com a (in)efetividade dos recursos pelo direito processual estatal, no

sentido dado pelo art. 25 que preconiza a proteção judicial.23 A hermenêutica dessa

proteção, extraída do caso concreto, é que ela compreende não só o acesso do ofendido

aos processos penais na condição de parte, senão que o de obter uma decisão definitiva

mediante mecanismos efetivos de justiça. Para a Corte, então, a demora do julgamento

sem a devida proteção judicial de conhecer os fatos apresentados pelo Estado argentino,

consistiram em violação dos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção Americana.24

Finalmente, por ocasião do julgamento do caso Suárez Peralta vs Equador,

julgado em maio de 2013, a Corte volta a dizer que a o descumprimento pelo Estado do

Equador do prazo razoável do processo, as omissões em investigar os fatos e o não

cumprimento da tutela jurisdicional efetiva, representou violação dos direitos previstos

no artigo 8.1. e 25.1 em relação ao artigo 1.1. da Convenção Americana de Direitos

Humanos. Ainda que a CIDH não tenha feito referência explícita à garantia do acesso à

justiça, é possível relacionar o conteúdo desse julgamento com todos os anteriores

referidos, para compreender que esse Tribunal, ao afirmar terem sido violados aqueles

dispositivos reconhece, mesmo que implicitamente, a violação da garantia de acesso à

justiça.25

Nesse diapasão, o diálogo judicial se estabeleceu através da posição das

jurisdições nacionais da América Latina em responder às exigências dos artigos 1º e 2º

da Convenção Americana de Direitos Humanos. Também há que se referir que um

grupo expressivo de Constituições de Estados latino-americanos teve reservado em seu

texto um lugar específico26 aos tratados de direitos humanos, obrigando-se a integrar o

direito convencional aos parâmetros de controle judicial da constitucionalidade, como

restou assentado no caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras.27

Sabendo então, que o direito à razoável duração do processo foi consagrado

como um dos direitos humanos, o Estado que violar esse compromisso poderá ser

responsabilizado? Esse é o tema do próximo item.

Diálogo como reponsabilização: a responsabilidade internacional do estado

Tradicionalmente, a relação entre o direito nacional e internacional não era

ameaçadora. O direito internacional não ameaçavam as práticas jurídicas ou não

implicavam questionamentos das posições adotadas internamente. Atualmente, nota-se

um processo que transcende a fertilização normativa em direção à juridicização de tais

posturas, inclusive havendo a responsabilização dos atores estatais quando os mesmos

não levam a cabo os compromissos assumidos em foros internacionais.28

A verdadeira consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos surgiu

na metade do século XX, no segundo pós-guerra. Ali nasceu a certeza de que a proteção

dos direitos humanos não deve se reduzir ao âmbito reservado de um Estado, porque

revela tema de legítimo interesse internacional. Sob esse prisma, a violação dos direitos

humanos não pode ser concebida como questão doméstica do Estado, e sim como

problema de relevância internacional, como legítima preocupação da comunidade

internacional.29

Os direitos humanos passaram a ser uma legítima preocupação internacional

após a Segunda Guerra Mundial, primeiramente com a criação das Nações Unidas e

após passaram a ganhar espaço na agenda das instituições internacionais como a OEA.

Os indivíduos tornaram-se foco da atenção internacional, e a estrutura do atual Direito

Internacional dos Direitos Humanos começou a se consolidar. Por conseguinte, “não

mais poder-se-ia afirmar, no fim do século XX, que o Estado pode tratar de seus

cidadãos da forma que quiser, não sofrendo qualquer responsabilização na arena

Internacional”.30

A partir dessa problemática, a Comissão de Direito Internacional (CDI) da

Organização das Nações Unidas começou a discutir propostas de regulamentação do

instituto da responsabilidade internacional dos Estados. O resultado final desse longo

processo, intitulado “Projeto de Artigos sobre a Responsabilidade dos Estados por Atos

Internacionalmente Ilícitos”, representa uma combinação de “codificação e

desenvolvimento progressivo”, tendo sido citado inúmeras vezes pela Corte

Internacional de Justiça (CIJ) sendo geralmente bem recebido por outras instancias

internacionais.31

O texto final do projeto de artigos foi aprovado pela CDI em agosto de 2001,

concluindo uma dos estudos maios longos e mais controversos da Comissão. Em 12 de

Dezembro de 2001, a Assembleia Geral da ONU adotou a resolução 56/83, que

recomendou que o projeto fosse objeto de consideração de Governos, sem prejuízo de

sua futura adoção ou de qualquer outra medida considerada adequada.32

Segundo James Crawford a resolução 56/83 estabelece dois elementos

implicados na responsabilidade internacional do Estado: o ato internacional ilícito e a

sua imputabilidade. A responsabilidade internacional do Estado resultaria,

necessariamente, de uma conduta ilícita, tomando-se o Direito Internacional como

referência. O ato ilícito é a conduta que infringe uma obrigação estabelecida pela ordem

jurídica, o que acarreta consequências jurídicas para o Estado violador, dentre as quais a

mais comum é a obrigação de reparar o dano.33

Elementos para a responsabilização internacional do Estado

O diálogo judicial34 é fonte importante para a construção de uma teoria dos

valores comuns. Desse modo, qualquer tentativa de estabelecimento de bens comuns

internacionais não pode abdicar de reivindicar um quadro normativo capaz de

responsabilizar os atores por sua efetivação e por sua violação.

Como se observou no que foi exposto acima, o acesso à justiça a e duração

razoável do processo está prevista internacionalmente em institutos universais e

regionais de proteção aos direitos humanos. Entendido desta forma, o seu

descumprimento gera uma responsabilidade internacional do Estado específica, qual

seja, por violação a direitos humanos.

Entende-se que as normas internacionais detêm certa generalidade e abstração,

emanam de uma autoridade conjunta, que é composta por atores internacionais e contêm

diversos meios de resposta pelo descumprimento de seus preceitos. Tal resposta que o

Direito Internacional dá aos Estados infratores é o que representa basicamente o

instituto da responsabilidade internacional. Esse instituto ainda tem uma existência

precária, pois a sociedade internacional é descentralizada, faltando poder central

vinculante ou mecanismos mais eficazes de coação estatal.35 Contudo, não restam

dúvidas de que essa responsabilidade constitui-se como princípio fundamental do

Direito Internacional Público, sendo efeito da igualdade soberana dos Estados na órbita

internacional.36

Nas relações do Estado com as pessoas que estão sujeitas à sua jurisdição, o

instituto da responsabilidade internacional é aplicado, principalmente no que se refere a

violações estatais de direitos humanos.37 Esta responsabilização é “essencial para

reafirmar a juridicidade deste conjunto de normas voltado para a proteção dos

indivíduos e para a afirmação da dignidade humana”.38 Além do mais, a

responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos humanos, apesar de

ter como antecedente a responsabilidade internacional por danos causados a

estrangeiros, diferencia-se desta exatamente por ter o foco direcionado ao indivíduo e

não no Estado.39 Nesta seara, Flávia Piovesan assevera:

O reconhecimento de que os seres humanos tem direitos sob o plano

internacional implica a noção de que a negação desses mesmos direitos impõe, como

resposta, a responsabilização internacional do Estado violador. Isto é, emerge a

necessidade de delinear limites à noção tradicional de soberania estatal, introduzindo

formas de responsabilização do Estado na arena internacional, quando as instituições

nacionais se mostram omissas ou falhas na tarefa de proteger os direitos humanos

internacionalmente assegurados.40

A noção de soberania exclusiva e absoluta dos Estados deve ser repensada, pois

o reconhecimento dos direitos dos indivíduos e dos povos implica numa dimensão de

soberania universal, presente em toda a humanidade, permitindo aos povos se envolver

legitimamente nas questões que afetam o mundo como um todo. Dessa forma, percebe-

se que com a violação de uma obrigação internacional pelo Estado, haverá

responsabilização internacional, seja em razão de ação ou omissão.41

Da mesma forma que há no direito interno a responsabilidade subjetiva e

objetiva, no direito internacional não é diferente. A responsabilidade objetiva

internacional também é caracterizada pela desnecessidade de comprovação da culpa,

bastando a comprovação do nexo causal, da conduta e do dano. Os tratados de direitos

humanos, quando versam sobre o dever do Estado de garantir os direitos estabelecidos,

não fazem referência ao elemento ‘culpa’ para a caracterização da responsabilidade

internacional.42 No mesmo sentido, Mazzuoli assevera:

Em relação à proteção dos direitos humanos, tem-se entendido que os Estados

têm a obrigação de controlar seus órgãos e agentes internos a fim de evitar violações

sucessivas às obrigações contraídas em sede convencional, sob pena de

responsabilidade internacional, o que contribui para dar mais efetividade (effet utile) aos

tratados de proteção dos direitos humanos e aos seus propósitos. Na responsabilidade

objetiva não há que se cogitar de culpa, ou seja, não se perquire a existência de qualquer

elemento psíquico ou volitivo, bastando a comprovação do nexo causal entre ocorrência

do fato e existência do dano.43

Ademais, a jurisprudência internacional de proteção aos direitos humanos é farta

em admitir o predomínio da teoria objetiva da responsabilidade internacional dos

Estados. O argumento está na necessidade de interpretação dos dispositivos

internacionais de direitos humanos em benefício do indivíduo, como efeito da natureza

objetiva dessas normas. Dessa forma, os tratados que tratam sobre direitos humanos,

não admitem que eventual ausência de culpa ou dolo possa servir de justificativas para

falhas no cumprimento dos deveres assumidos.44

Em relação a organização interna dos Estados, tem-se que a sociedade

internacional a recebe como um fato, e a qualifica juridicamente segundo as próprias

normas internacionais. Desta forma, os atos do Poder Executivo, Legislativo e

Judiciário emanados no exercício de suas funções, são vistos como atos do Estado e

caracterizam a responsabilização deste.45

Segundo André de Carvalho Ramos, o Estado “responde pelos atos de seus

órgãos, já que é uno e indivisível diante da comunidade internacional”.46 Tem-se então

que o os atos do Poder Executivo, Legislativo e Judicial, emanados no exercício de suas

funções, são atos do Estado e caracterizam a responsabilização deste. No que tange a

responsabilidade do Estado por violação de direitos humanos, em decorrência de ato

judicial, pode ocorrer nas hipóteses de decisões tardias ou inexistente (quando ausente

remédio judicial) e ainda quando a decisão judicial é violadora de um direito protegido

Sobre as decisões tardias, há que se observar que:

a delonga impede que a prestação jurisdicional seja útil e eficaz. A doutrina

consagrou o termo denegação de justiça (ou “déni de justice”) que engloba tanto a

inexistência do remédio judicial (recusa de acesso ao Judiciário), ou deficiências do

mesmo, o que ocorre, por exemplo, na delonga na prolação do provimento judicial

devido ou mesmo na inexistência de tribunais. No caso do Direito Internacional dos

Direitos Humanos, os principais diplomas normativos vigentes estipulam o direito de

todos a um devido processo legal para combater pretensa lesão a seus direitos, remédio

este que deve ser útil e eficaz.47

Sobre os elementos necessários à caracterização da responsabilidade

internacional, é importante assinalar que a realização do dano é mera lesão ao Direito

Internacional, pois o dano é inerente ao fato internacionalmente ilícito. Sendo assim, no

campo dos direitos humanos, basta a violação à norma jurídica para que o dano esteja

caracterizado, ensejando responsabilidade de repará-lo. Quanto ao nexo causal, frisa-se

que este se encontra numa relação ininterrupta de causa e efeito, e não importa se tão

longa seja essa relação, desde que contínua. O Estado responderá pela conduta ilícita,

mesmo que não imediata, desde que seja comprovado o nexo, com base em uma

relação.48

Em suma, a incorporação de novos direitos à categoria de direitos humanos,

dentre eles o da razoável duração do processo, reflete-se na responsabilidade

internacional do Estado como forma de efetiva implementação dos mesmos, sendo que

a preocupação internacional está em responsabilizar os Estados, pela violação de todo e

qualquer tipo de direito fundamental da pessoa humana.

Após essas notas gerais, faz-se necessário analisar a responsabilidade perante os

organismos internacionais de proteção aos direitos humanos, especificamente perante a

Organização dos Estados Americanos (OEA) bem como perante a Organização das

Nações Unidas (ONU), a fim de verificar como se dá a apuração da responsabilidade,

para ao final analisar os casos em que o Brasil já foi condenado por violação à duração

razoável do processo.

Após a Segunda Guerra Mundial, fatores relevantes contribuíram para o

fortalecimento do processo de internacionalização dos direitos humanos, sendo o mais

importante, a expansão das organizações internacionais com os objetivos de cooperação

internacional. Com efeito, a criação das Nações Unidas marcou o nascimento de uma

nova ordem internacional, instaurando-se um novo modelo de conduta nas relações

internacionais, com diversas preocupações, dentre elas a proteção dos direitos

humanos.49

A responsabilidade internacional por violação de direitos humanos firmada no

âmbito da Organização das Nações Unidas é dividida nas áreas convencional e

extraconvencional. A convencional é originada através de acordos internacionais,

subscritos pelos Estados, sob a égide da ONU. A área extraconvencional por sua vez,

origina-se das resoluções da ONU e de seus órgãos, elaboradas com base na Carta da

ONU e suas disposições referentes à proteção dos direitos humanos.

O sistema convencional é composto por três grandes áreas: a ‘não-contenciosa’,

elaborada a partir de técnicas de solução de controvérsias como a conciliação. A ‘quase-

judicial’ criada após a Segunda Guerra Mundial, possuindo a responsabilização que se

inicia por petições dos Estados, bem como de petições de particulares contra os Estados.

Por fim, existe também o ‘sistema judicial ou contencioso’, pelo qual a responsabilidade

do Estado por violação de direitos humanos se estabelece por meio de um processo

judicial perante uma Corte Internacional. Diferentemente deste, o sistema

extraconvencional compõe-se de procedimentos especiais no âmbito de órgãos da ONU,

os quais são embasados no dever de cooperação internacional dos Estados no que

concerne a direitos humanos, reconhecido na Carta da ONU de 1945.50

Assim como no direito interno, o direito internacional possui mecanismos

judiciais para declarar a responsabilidade internacional do Estado por violações de

direitos humanos. No plano universal, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) é o órgão

judicial da ONU, tendo reconhecida sua competência para todos os litígios que as partes

lhe submetem, em especial os temas previstos na Carta das Nações unidas e nos tratados

e convenções internacionais vigentes.

Entretanto, a CIJ possui um papel modesto no que se refere à aferição da

responsabilidade internacional por violação de direitos humanos, possuindo dois

limitadores. O primeiro seria a questão da legitimidade ativa e passiva nos processos

submetidos à Corte, pois a jurisdição contenciosa, de acordo com o art. 34.1 do Estatuto

da Corte, só admite como partes os Estados, limitando o acesso dos indivíduos à Corte.

O segundo diz respeito ao caráter facultativo da Corte, pois conforme o art. 36.2 de seu

Estatuto, a competência da corte depende da adesão facultativa dos Estados,

possibilitando somente uma tímida atuação da Corte, que depende do impulso inicial

dos Estados.51

A cláusula facultativa de jurisdição obrigatória permite ao Estado que seja

membro das Nações Unidas e parte do Estatuto, preferindo, entretanto não se submeter

à jurisdição da Corte. Os signatários que se obrigam antecipadamente à aceitação da

jurisdição da Corte colocam-se em face dela, na mesma posição que os indivíduos se

colocam perante os tribunais internos de cada país. Hoje sessenta e seis Estados estão

comprometidos pela cláusula, todavia o Brasil, em que pese já ter se vinculado à

cláusula em períodos passados, preferiu não continuar, retomando sua preferência pelos

meios diplomáticos e pela arbitragem para a solução de litígios internacionais, não

podendo dessa forma, sofrer condenações perante a Corte.52

Verifica-se então, que a CIJ não é uma corte de Direitos Humanos, reduzindo

dessa forma sua contribuição para esta temática, sendo interessante estender

determinados direitos, com o objetivo de incrementar o papel da Corte na proteção dos

Direitos Humanos. Além do mais, é imprescindível a submissão do Brasil à jurisdição

obrigatória da Corte Internacional de Justiça, já que é membro das Nações Unidas desde

1945, e signatário de diversos tratados elaborados sob a égide da ONU, dentre eles o

Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o qual prevê expressamente o direito à

razoável duração do processo.53

Vale ressaltar que em relação ao Pacto Internacional de Direitos Civis e

Políticos, o Brasil ratificou em 25 de setembro de 2009 o Protocolo Facultativo,

habilitando o Comitê de Direitos Humanos54 a receber a apreciar comunicações

individuais sobre denúncias de violação de direitos previstos no Pacto. Contudo, pela

plena vigência dos tratados de direitos humanos, faz-se necessária a adoção de

providências adicionais pelo Brasil, no sentido de revisar determinadas reservas ou

declarações restritivas, em relação à ratificação de Convenções que tratam sobre a

proteção aos direitos humanos.55

Além do sistema universal de proteção dos direitos humanos existem os sistemas

regionais de proteção, que buscam a internacionalização dos direitos humanos no plano

regional, sendo exemplos deles o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, o

Sistema Europeu de Direitos Humanos e o Sistema Africano de Direitos Humanos.

Quanto ao sistema interamericano, a Convenção Americana de Direitos

Humanos designa como órgãos competentes para o conhecimento de assuntos relativos

ao cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados signatários, a Comissão

Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

O artigo 1.1 da Convenção Americana de Direitos Humanos é de fundamental

importância, em razão de sua determinação de que a violação do rol de direitos

protegidos seja capaz de gerar responsabilidade internacional do Estado. Tal artigo

estabelece que o Estado deve zelar pelo respeito dos direitos humanos e garantir seu

exercício à todos os indivíduos sujeitos à sua jurisdição. Esta obrigação de respeito

traduz-se no primeiro elemento para a futura responsabilização do Estado, consistindo

numa obrigação de não fazer, a qual limita o poder público em face dos direitos do

indivíduo. Por outro lado, a obrigação de garantia consiste numa obrigação de fazer,

determinando-se ao Estado que organize estruturas de prevenção, investigação e

punição de violação aos direitos fundamentais da pessoa humana.56

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos possui duplo tratamento

normativo: o primeiro perante a Carta da OEA e segundo perante a Convenção

Americana de Direitos Humanos. Contudo, trata-se do mesmo órgão, o que varia são

suas atribuições quando age como órgão da OEA ou como órgão da Convenção

Americana de Direitos Humanos. Dessa forma, aliando-se os poderes outorgados pela

Carta da OEA e pela Convenção Americana, a Comissão pode iniciar em qualquer

Estado membro da OEA, procedimentos de estudos geográficos, bem como elaborar

relatórios nos quais menciona violação de direitos humanos, que ensejará

responsabilidade do Estado a ser apreciada ainda, pela Assembléia Geral da OEA.

A Comissão é integrada por sete membros, que podem ser nacionais de qualquer

Estado-membro da OEA, eleitos pela Assembléia Geral para atuar por um período de

quatro anos, admitindo-se apenas uma vez sua reeleição. A principal função da

Comissão é promover a observância, bem como a proteção dos direitos humanos na

América, cabendo a ela fazer recomendações aos Estados-partes, para que adotem

medidas adequadas à proteção desses direitos; elaborar estudos e relatórios; solicitar

informações aos governos sobre as medidas adotadas para a efetivação da Convenção; e

submeter relatórios anuais à Assembléia Geral da OEA. Ressalta-se que qualquer pessoa

pode apresentar denúncia sobre violação das normas consagradas na Convenção.

Segundo Francisco Rezek, a Comissão atua como instância preliminar à jurisdição da

Corte. É amplo seu poder para requisitar informações e formular recomendações aos

governos dos Estados pactuantes. O verdadeiro ofício pré-jurisdicional da Comissão de

pode instaurar, contra um Estado-parte, por denúncia ou queixa –atinente à violação de

regra expressa na área substantiva do Pacto– formulada (a) por qualquer pessoa ou

grupo de pessoas, (b) por entidade não governamental em funcionamento regular, e (c)

por outro Estado-parte; neste caso, porém, sob a condição de que o Estado denunciado

haja reconhecido a competência da Comissão para equacionar essa forma original de

confronto, com ou sem exigência de reciprocidade.57

No que se refere à duração razoável do processo, previsto no art. 8º, 1 e no art.

7º, 5 da Convenção Americana, se houver violação a esses preceitos, o prejudicado

poderá buscar proteção internacional, através de petição destinada a Comissão

Interamericana de Direitos Humanos. Sendo assim, os operadores do direito devem

buscar o cumprimento desses direitos perante a Comissão Interamericana, pois tendo o

Brasil ratificado o Pacto de San José da Costa Rica, suas normas tem aplicação

imediata, consoante dispões o art. 5º, § 2º da Constituição Federal.

A Convenção Americana de Direitos Humanos prescreve requisitos de

admissibilidade das queixas, destacando-se o prévio esgotamento dos recursos

oferecidos pela jurisdição interna. Seguindo na lógica dos diálogos judiciais, o processo

perante a Comissão permite que a mesma solicite informações ao Estado que está sendo

acusado, além de várias investigações que conduzem por fim a lavratura de um

relatório. Sendo ineficazes suas proposições e recomendações, e esgotados os prazos

razoáveis, a comissão pode publicar suas conclusões sobre o caso concreto, bem como,

alternativamente, submeter a matéria à apreciação da Corte Interamericana de Direitos

Humanos.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos é órgão jurisdicional do sistema

regional, composta por sete juízes nacionais de Estados membros da OEA, eleitos pelos

Estados partes da Convenção Americana de Direitos Humanos, possuindo competência

consultiva e contenciosa. No plano consultivo, qualquer membro da OEA pode solicitar

interpretação sobre a Convenção ou de outros tratados relativos a direitos humanos no

âmbito dos Estados Americanos, podendo ainda opinar sobre a compatibilidade de

preceitos da legislação interna dos Estados em face dos instrumentos internacionais,

efetuando o controle de convencionalidade das leis.58

Já no plano contencioso, a competência da Corte para o julgamento de casos é

limitada aos Estados-partes da Convenção que declarem expressamente a

obrigatoriedade da jurisdição da Corte, conforme estabelece o art. 62 da Convenção.

Esse dispositivo se constitui numa visão ultrapassada, devendo ser superada, no sentido

de reconhecer que o Estado sendo parte da Convenção, já reconhecesse

obrigatoriamente a jurisdição da Corte, sem necessidade de convenção especial.59

Diferentemente do que acontece em relação à Corte Internacional de Justiça, no âmbito

da ONU, em que o Brasil não reconhece sua jurisdição, a Jurisdição da Corte

Interamericana de Direitos é por ele reconhecida expressamente, através do Decreto

Legislativo nº 89 de 03 de dezembro de 1998.60 Francisco Rezek ao apontar

sinteticamente as características da corte aduz que:

A Corte não é acessível a pessoas ou a instituições privadas. Exauridas, sem

sucesso, as potencialidades da Comissão, pode esta transferir o caso ao conhecimento

do colégio judiciário. Debaixo de igual reserva, pode também fazê-lo outro Estado

pactuante, mas desde que o país sob a acusação tenha, a qualquer momento,

reconhecido a competência da Corte para atuar em tal contexto –o do confronto

interestatal à conta dos direitos humanos–, impondo ou não a condição de reciprocidade.

Órgão judiciário que é, a Corte não relata, nem propõe, nem recomenda, mas profere

sentenças, que o Pacto aponta como definitivas e inapeláveis. Declarando, na

fundamentação do aresto, a ocorrência da violação de direito protegido pelo tratado, a

Corte determina seja tal direito de pronto restaurado, e ordena, se for o caso, o

pagamento de indenização justa à parte lesada.61

Importante frisar que apenas a Comissão Interamericana e os Estados-partes

podem submeter um caso à Corte, não sendo prevista a legitimidade do indivíduo,

segundo o art. 61 da Convenção Americana de Direitos Humanos. Contudo em 2001 a

Corte revisou suas Regras de procedimento, com o intuito de assegurar de forma mais

efetiva, a representação das vítimas perante a Corte. Assim, mesmo os indivíduos e

ONGs não tendo acesso direto à Corte, a Comissão pode submeter o caso perante a

Corte e as vítimas, seus familiares e representantes podem submeter seus argumentos de

forma autônoma perante a Corte.62

Salienta-se que as decisões da Corte possuem força jurídica vinculante e

obrigatória, sendo que o Estado deve dar à decisão cumprimento imediato. Assim, a

Corte Interamericana, ao fixar uma compensação à vítima, sua decisão passa a valer

como título executivo, em consonância com os procedimentos internos em relação à

execução de sentença desfavorável ao Estado.

Está claro que o desenvolvimento da internacionalização do direito parece ter

chegado a sua máxima potência. O diálogo entre as diversas ordens jurídicas normativas

perdeu o seu caráter de mero “enunciador de direitos” para levar esse diálogo mais a

sério, envolvendo a responsabilização do interlocutor quando esse ofende aos

compromissos firmados. Visto isso, passa-se a verificar os casos de efetiva

responsabilização do Brasil, em que houve menção ao descumprimento do direito de

acesso à justiça e mais especificamente, à razoável duração do processo.

Os casos de responsabilização internacional do Brasil pela demora na prestação

jurisdicional

Nesse quadro de cosmopolitização do direito, com muitos diálogos horizontais e

verticais, são muitos os casos em que o Brasil foi responsabilizado internacionalmente

pelos mais diversos tribunais internacionais, sendo que em muitos desses casos o fato

gerador da responsabilização foi a ofensa do acesso à justiça e mais especificamente, da

razoável duração do processo.

Como o Brasil não ratificou a cláusula facultativa de jurisdição obrigatória da

Corte Internacional de Justiça, não pode sofrer condenações perante a Corte no âmbito

da ONU. Por essa razão, não existe casos de condenação do Brasil no âmbito da CIJ. Já

em relação à jurisdição da Corte Interamericana de Direitos, na esfera da OEA, a mesma

foi reconhecida expressamente pelo Brasil, através do Decreto Legislativo nº 89 de 03

de dezembro de 1998. Nesse contexto, o Brasil já sofreu responsabilização, perante a

OEA, por descumprir o direito humano à razoável duração do processo, merecendo

destaque o caso Maria da Penha e o caso Damião Ximenes Lopes.

No longo percurso de atuação da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a

sua jurisprudência foi buscando na dimensão histórica da afirmação do princípio do

acesso à justiça o fundamento para sua aplicação. Como visto no ítem anterior desse

artigo, a jurisprudência mais recente recorreu à dimensão prática com o propósito de

encontrar a seiva para nutri-lo e cultivá-lo. Menos lapidar a teoria e mais compreender o

seu construto histórico e as questões nacionais que envolveram sua criação –e sua

aplicação– é o esforço que pode ser percebido da jurisprudência daquele Tribunal.

Nesse contexto é que ocorreram as responsabilizações do Brasil perante essa corte.

Em 20 de agosto de 1998, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos

(CmDIH) recebeu uma denúncia apresentada por Maria da Penha Maia Fernandes, pelos

peticionários Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL) e pelo Comitê

Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM). A denúncia alegou a

tolerância do Estado brasileiro para com a violência cometida durante os anos de

convivência matrimonial, que culminou numa tentativa de homicídio, pelo até então

esposo de Maria da Penha, o Sr. Marco Antônio Heredia Viveiros.63

O Brasil foi denunciado por não haver tomado por mais de 15 anos as medidas

necessárias para processar e punir o agressor, apesar dele ter sido denunciado por

diversas vezes. Dentre outras violações aos preceitos contidos na Convenção Americana

de Direitos Humanos, o Estado foi denunciado por violar o art. 8º que trata das garantias

judiciais. A Comissão fez passar a petição pelos trâmites regulamentares, requerendo ao

Brasil que apresentasse comentários sobre ela. Ante a falta de resposta do Estado, os

peticionários requereram que se presumissem verdadeiros os fatos descritos da

petição.64

Segundo a denúncia, em 29 de maio de 1983 a vítima em seu domicílio, sofreu

uma tentativa de homicídio pelo seu esposo, que disparou um revólver enquanto ela

dormia. Duas semanas depois, a vítima teria sofrido novo atentado contra sua vida, por

parte do seu esposo que tentou eletrocutá-la enquanto tomava banho. A partir daí,

decidiu separar-se judicialmente. Os peticionários alegam que após terem sido colhidas

diversas provas, durante a investigação judicial iniciada dias depois da segunda

agressão, o Ministério Público apresentou denúncia contra o Sr. Heredia Viveiros, em

28 de setembro de 1984. Os peticionários ponderaram que, apesar da contundência da

acusação e das provas, o caso demorou oito anos a ter uma decisão do Júri, em 4 de

maio de 1991, que condenou o acusado em 15 anos de prisão, reduzindo este tempo

para 10 anos, por não ter condenações anteriores.

A defesa apelou da decisão, e após três anos, em 4 de maio de 1995 o Tribunal

de Alçada decidiu anular a decisão do Júri, acatando os argumentos da defesa de que

houve vícios na formulação de perguntas aos jurados. Os peticionários sustentam a

ineficácia e a demora em ministrar a justiça, sendo que dois anos após a sentença do

primeiro júri ter sido anulada, em 15 de março de 1996, em novo julgamento pelo Júri,

o Sr. Viveiros foi condenado a 10 ano e 6 meses de prisão. Novamente o Tribunal

aceitou uma segunda apelação da defesa, e desde 22 de abril de 1997, o processo se

encontrava à espera da decisão de segunda instância, e até a data da apresentação da

petição perante a Comissão, não havia sido julgado. Os peticionários alegam ainda que:

na data da petição, a justiça brasileira havia tardado mais de 15 anos

sem chegar à condenação definitiva do ex-esposo da Senhora Fernandes,

que se mantivera em liberdade durante todo esse tempo, apesar da

gravidade da acusação e das numerosas provas contra ele e apesar da

gravidade dos delitos cometidos contra a Senhora Fernandes. Desse modo,

o Poder Judiciário do Ceará e o Estado brasileiro agiram de maneira

ineficaz deixando de conduzir o processo judicial de maneira rápida e

eficiente, com isso criando alto risco de impunidade, uma vez que a

punição neste caso prescreve depois de transcorridos 20 anos do fato, o que

não demora a ocorrer. Sustentam que o Estado brasileiro devia ter tido por

principal objetivo a reparação das violações sofridas por Maria da Penha,

assegurando-lhe um processo justo num prazo razoável.65

Em relação ao esgotamento prévio dos recursos da jurisdição interna foi aplicado

o artigo 46 (2) (c) o qual estabelece que quando houve atraso injustificado na decisão

dos recursos internos, a disposição contida no artigo 46(1)(a) da Convenção

(esgotamento dos recursos da jurisdição interna para admissibilidade de uma petição

perante à Comissão), não se aplicará. A Comissão considerou que houve atraso

injustificado na tramitação do processo, que se agrava pelo fato de que pode haver a

prescrição do delito, e em conseqüência disso, a impunidade do agressor, e

impossibilidade de ressarcimento da vítima, podendo então, ser aplicada ao caso, a

exceção prevista no art. 46(20)(c) da Convenção.66

Ao analisar o mérito da causa, em relação às garantias judiciais (art. 8 da

Convenção), a Comissão aduziu que se passaram mais de 17 anos desde o início das

investigações das agressões, e até a apreciação do caso pela Comissão, ainda não havia

se chegado a uma sentença definitiva, nem reparadas as consequências do delito de

tentativa de homicídio. A CmDIH fez menção aos parâmetros estabelecidos em

julgamentos anteriores pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, sobre o prazo

razoável, entendendo que este não é um conceito de simples definição, valendo-se de

decisões da Corte Europeia de Direitos Humanos67 para precisá-lo, o que denota mais

uma vez o diálogo entre jurisdições. Tais decisões estabelecem que para determinar a

razoabilidade do prazo, deve-se levar em conta no processo a complexidade do assunto,

a atividade processual do interessado, bem como a conduta das autoridades judiciais.68

Analisando o caso, a Comissão concluiu com fundamento nos fatos não

controvertidos apresentados, que o Brasil é responsável pela violação aos direitos das

garantias judiciais e da proteção judicial, previstos nos artigos 8 e 25 da Convenção

Americana, em consonância com a obrigação constante no artigo 1 “1’ do referido

instrumento, que trata da obrigação geral de respeitar e garantir os direitos, pela dilação

injustificada na tramitação do caso.69

A Comissão fez recomendações ao Brasil para que completasse rápida e

efetivamente o processamento penal do responsável pelos crimes cometidos contra a

Srs. Maria da Penha. Recomendou que o Estado Brasileiro procedesse uma investigação

a fim de determinar a responsabilidade pelas irregularidades e atrasos injustificados no

processo, bem como tomar as medidas administrativas, legislativas e judiciárias

correspondentes. Recomendou ainda a adoção de medidas necessárias a assegurar a

vítima, a reparação simbólica e material adequada, pelas violações mencionadas, em

especial pela falha em oferecer um recurso rápido e efetivo, por manter a impunidade

para o caso por mais de quinze anos, e por impedir com esse atraso, oportuna ação de

reparação e indenização civil.70

Diante disso, em 2001 a CmDIH, declarou o Estado Brasileiro responsável por

omissão e negligência, principalmente com relação aos artigos 1.1, 8 e 25 da Convenção

Americana, somados à tolerância da violência doméstica contra mulheres. Além do

mais, a determinação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos contribuiu para

que em 2002 o agressor fosse finalmente preso, pouco antes da prescrição do crime.

Importante salientar que a efetividade dos direitos garantidos pelas convenções

internacionais, avança no momento em que o Estado segue as recomendações da

CmDIH com eixo de mobilização própria, o que inclusive, seria sua obrigação em todos

os casos, mas que nem sempre acontece. Atualmente, a CmIDH considera as

recomendações do Caso Maria da Penha, parcialmente cumpridas pelo Estado

Brasileiro, e que continuará a supervisionar suas pendências, tendo solicitado ao Brasil,

entre outros aspectos, buscar a efetiva implementação da Lei Maria da penha em todo o

território nacional.71

O segundo caso de responsabilização do Brasil pela morosidade processual diz

respeito a denúncia feita pelos familiares do Sr. Damião Ximenes Lopes, o qual foi

internado em uma casa de repouso e acabou falecendo devido a violência sofrida por

parte dos funcionários do local, após três dias de internação. O caso foi levado a Corte

Interamericana, e esta considerou o Estado brasileiro responsável pela demora no

trâmite da investigação, e nas ações criminal e de reparação civil propostas em âmbito

interno. O caso e o posicionamento firmado pela Corte são resumidamente dispostos a

seguir.

No dia 1º de outubro de 2004 a Comissão Interamericana de Direitos Humanos

submeteu à Corte uma demanda contra o Estado Brasileiro, originada de uma denúncia

recebida pela Comissão em 22 de novembro de 1999. A Comissão apresentou a

demanda objetivando decisão da Corte, sobre a responsabilização do Estado pela

violação de diversos direitos consagrados pela Convenção Americana, dentre eles os

direitos previstos no art. 8º (Garantias Judiciais) e art. 25 (Proteção Judicial) pela

suposta falta de investigação e garantias judiciais no seu caso mantendo-o na

impunidade.72

O Sr. Damião Ximenes Lopes foi internado em 1º de outubro de 1999 para

tratamento psiquiátrico na Casa de Repouso Guararapes, um centro de atendimento

privado, que operava no âmbito do Sistema Único de Saúde, no Município de Sobral,

Estado do Ceará, vindo a falecer em 4 de outubro de 1999 na Casa de Repouso, três dias

após a internação. A Comissão ainda ponderou que os fatos são agravados pela situação

de vulnerabilidade das pessoas portadoras de deficiência mental, como também da

obrigação do Estado de oferecer proteção às pessoas que estão sob o cuidado do Sistema

Único de Saúde. A Comissão então solicitou a Corte que se pronunciasse, no sentido de

ordenar ao Estado a adoção de medidas de reparação e ressarcimento pelos danos

causados.

Em ralação à violação dos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção, a Comissão

Interamericana alegou que:

No caso sub judice a falta de efetividade do processo interno pode ser

demonstrada de duas maneiras: pelas omissões das autoridades que

deixaram de realizar ações e investigações fundamentais para recolher

todas as provas possíveis a fim de determinar a verdade dos fatos e pelas

deficiências e falhas nas ações efetuadas; [...] a noticia criminis sobre a

morte da suposta vítima chegou ao conhecimento das autoridades policiais

no mesmo dia, por intermédio da família. O Delegado de Polícia de Sobral,

no entanto, não instaurou imediatamente a investigação policial, mas

somente 35 dias depois, em 9 de novembro de 1999.73

A Comissão ainda ponderou que a atividade dos familiares da vítima

não é relevante para se analisar o prazo razoável, pois as alegações do

Estado Brasileiro de que as deficiências na investigação poderiam ter sido

supridas pela mãe da vítima, não tem fundamento. O caso também não

pode ser considerado complexo, pelo suposto número de depoimentos,

sendo que a conduta negligente e injustificada das autoridades estatais foi o

que resultou na demora do processo em âmbito interno. Em seus

argumentos, a Comissão assinalou que:

As autoridades dedicaram-se a emitir meros autos interlocutórios sem

motivação e por meses não se procedeu à execução de nenhuma diligência

ou decisão. O volume de trabalho da Terceira vara da Comarca da

Secretaria de Sobral não pode servir de desculpa para a demora e os lapsos

de inércia estatal; [...] a inexistência de uma sentença de primeira instância

depois de seis anos da morte violenta do senhor Damião Ximenes Lopes e

a situação atual do processo penal interno, ainda em fase de intrução,

mostram que os familiares da suposta vítima se encontram em situação de

denegação de justiça por parte das autoridades estatais.74

Ao analisar o prazo razoável, nos termos no artigo 8.1 da Convenção, a Corte

levou em consideração três elementos, quais sejam, a complexidade do assunto; a

atividade processual do interessado e a conduta das autoridades judiciais. Em relação à

complexidade a Corte entendeu que o caso não é complexo, existe uma única vítima,

claramente identificada e que morreu em uma instituição hospitalar, o que possibilita a

identificação e localização dos responsáveis de maneira simples. Sobre a atividade

processual do interessado, a Corte aduziu que a família da vítima cooperou na

tramitação processual, com a finalidade de se apurar a verdade e estabelecer as devidas

responsabilidades. Por fim, apontou que a demora do processo se deu unicamente

devido à conduta das autoridades judiciais.75

Sendo assim, o prazo em que se desenvolveu o procedimento judicial não foi

considerado razoável, já que após mais de seis anos de iniciado, não se obteve uma

sentença definitiva, sem que houvesse razões para justificar tal demora. A Corte

considerou que “este período excede em muito aquele a que se refere o princípio de

prazo razoável consagrado na Convenção Americana e constitui uma violação ao devido

processo”, e que o Estado não dispôs de recurso efetivo para, dentro de um prazo

razoável, garantir o direito de acesso à justiça dos familiares da vítima.76

A Corte por unanimidade reconheceu a responsabilidade internacional do estado

brasileiro, e declarou que este é responsável pela violação de diversos dispositivos da

Convenção Americana, dentre eles, os direitos às garantias judiciais e à proteção

judicial estabelecidos nos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção, dispondo ainda que o Estado

deve garantir, em um prazo razoável, que o processo interno de investigação e apuração

dos responsáveis pelo caso, surta seus devidos efeitos e ainda que o Estado deve pagar

em dinheiro à família da vítima, uma indenização por danos materiais e imateriais.77

Vistos os casos de responsabilização internacional do Brasil pelo

descumprimento do direito ao prazo razoável nos processo, observa-se que a

responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos humanos assume uma

maior relevância a cada dia. O direito humano à duração razoável do processo passa a

ser reconhecido no Brasil e no cenário internacional como um verdadeiro dever do

Estado, e não como mera retórica de perfil humanista.

De fato, as demandas levadas às decisões dos juízes veiculam, nas mais distintas

jurisdições, a problemática dos direitos humanos. A responsabilização internacional

aprofunda o diálogo judicial e efetiva o elo argumentativo entre os distintos sistemas de

justiça de modo que a “unidade do valor” passa a ser o fio condutor de um processo

político jurídico cosmopolitizado.

Considerações finais

Faz parte de uma cultura jurídica verdadeiramente cosmopolita o

reconhecimento das diversas formas de diálogos judiciais, que resultam desde a

fertilização normativa até a responsabilização judicial. Esse diálogo acontece das mais

diversas formas e para várias direções, entre juízes nacionais de diferentes jurisdições,

entre juízes nacionais e internacionais e entre juízes internacionais de diferentes

tribunais. Não se trata aqui de adubar o florescimento de um direito único, formatado

piramidal, mas de experimentar uma novo modus operandi do direito em rede, com

múltiplas interações normativas e possibilidades de responsabilização jurídica.78

A abertura, então, às trocas legais e jurisprudenciais em nome da garantia de

acesso à justiça é representação da hospitalidade ao que é estrangeiro, mas também

significa a medida da diferença entre ficar restrito ao nacional ou reconhecer haver uma

noção de “integridade do direito” mais abrangente e mais dinâmica do que as

construções do direito restritas ao Estado-Nação. Aqui, está a potência maior do direito

internacional e aqui reside a sua possibilidade de atuação em um mundo complexo,

constituído por diversas formas de pertencimento e participação política. Trata-se de um

diálogo entre o interno e internacional para que sejam reconstruídas muitas das

categorias de direito, de modo a responder às demandas e vicissitudes da complexidade

que o Século XXI apresenta.

A ideia de acesso à justiça, entendida como um direito fundamental quando

prevista nas Constituições dos Estados, e um direito humano, quando presente em textos

internacionais, é não só um limite ao exercício do poder, senão também uma finalidade

de ação que deve ser controlada pelos sistemas de justiça. Essa é uma percepção

inegável que se extrai da jurisprudência da Corte e que tem muito a contribuir com o

sistema de justiça brasileiro.

O diálogo judicial que permite a fertilização normativa é o mesmo diálogo que

responsabiliza o interlocutor. Não se trata aqui de um antagonismo entre o interno e o

internacional, mas do reconhecimento que a desterritorialização da política cria essas

diversas instâncias normativas que tem muito a contribuir com a governança global. E a

responsabilização jurídica internacional do Estado aparece como possibilidade de

efetivação e consolidação dessas relações múltiplas.

Fica, então, evidente que a garantia do acesso à justiça e do direito à razoável

duração do processo sai fortalecida desses diálogos entre o interno e o internacional.

Ora, é justamente nesse diálogo que vai até a responsabilização que o direito

internacional tem contribuído para a construção de uma cultura de acesso à justiça no

Brasil.

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2012, Porto Alegre. Texto. Belo Horizonte: Forum, 2013.

Notas 1 Mestre e Doutorando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina

(UFSC). Visiting student no Institut d’Édtudes Politiques de Paris (Sciences Po) 2 Doutora em Direito. Realiza estudos de pós-doutorado junto ao IHEJ – Institut

des Hautes Études sur la Justice, em Paris. Bolsista CAPES Proc-Bex 2417146.

Professora Associada do PPG em Direito da UFSM. Advogada 3 Benvenisti, E; Downs, G. W. Court cooperation, executive accountability, and

global governance. In: International Law and Politics, v. 41, p. 931-932. 4 Koskenniemi, M. Constitutionalism as mindset: reflections on kantian themes

about international law and globalization In: Theoretical inquires in Law, v. 8, n.1,

2007, p. 36. 5 Kant, I. À paz perpétua, op. cit., p. 46. 6 Crawford, James. State responsibility: the general part. Cambridge : University

Press , 2014, p. 12.

7 Diz Marcelo Neves que “um problema transconstitucional implica uma questão

que poderá envolver tribunais estatais, internacionais, supranacionais e transnacionais”.

Neves, Marcelo, Transconstitucionalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009, p. XXII. 8 Berman, P. S., Judges as cosmopolitan transnational actors. In: University of

Connecticut School of Law, Articles and working papers, paper 38, 2004, p. 6. 9 Crawford, James. State responsibility: the general part. Cambridge : University

Press , 2014, p. 12. 10 Frydman, Benoit. L´hospitalité judiciaire, p. 17. 11 Varella, Marcelo Dias. Internacionalização do Direito: Globalização, Direito

Internacional e Complexidade. Brasília: UniCEUB, 2013, p. 261. 12 Varella, Marcelo Dias. Internacionalização do Direito: Globalização, Direito

Internacional e Complexidade. Brasília: UniCEUB, 2013. P. 279. 13 Tal protagonismo deu origem à expressão “governo dos juízes”. Rios de tintas

já foram escritos sobre o tema, com tons críticos. O fato é que esse fenômeno deriva, em

grande parte, da opacidade crescente dos processos de decisões políticas e da fragilidade

da própria responsabilidade política, contrários à concepção de accountability. Porém,

as propriedades do ato de julgar também não estão isentas de reflexão. Veja-se:

Rosanvallon, Pierre. La contre-démocratie. La politique à l’âge de la défiance. Paris:

Seuil, 2006, p. 231-250. 14 Garapon, Antoine. O guardador de promessas. Justiça e Democracia. Lisboa:

Piaget, s/a, p. 214. 15 Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 87. 16 Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 473. 17 Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 238. 18 Ramos, André de Carvalho. Responsabilidade internacional por violação de

direitos humanos: seus elementos, a reparação devida e sanções possíveis: teoria e

política do direito internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 14. 19 Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 231. 20 Garapon, Antoine. O guardador de promessas. Justiça e Democracia, op. cit.,

p. 224.

21 Item 7. Disponível em: [http://www.corteidh.or.cr/index.php/jurisprudência].

Acesso em 10 de julho de 2013. 22 Item 188. Disponível em:

[http://www.corteidh.or.cr/index.php/jurisprudencia]. 23 Disse a CIDH: 109. La denegación del acceso a la justicia se relaciona con la

efectividad de los recursos, en el sentido del artículo 25 de la Convención Americana,

ya que no es posible afirmar que un proceso penal en el cual el esclarecimiento de los

hechos y la determinación de la responsabilidad penal imputada se hace imposible por

una demora injustificada en el mismo, pueda ser considerado como un recurso judicial

efectivo. El derecho a la tutela judicial efectiva exige a los jueces que dirijan el proceso

en forma que eviten dilaciones y entorpecimientos indebidos que conduzcan a la

impunidad, frustrando así la debida protección judicial de los derechos humanos. 24 Item 110. Disponível em:

[http://www.corteidh.or.cr/index.php/jurisprudencia#]. 25 Disse a Corte: 122. En conclusión, la Corte considera que, en el presente caso,

las falencias, retrasos y omisiones en la investigación penal demuestran que las

autoridades estatales no actuaron con la debida diligencia ni con arreglo a las

obligaciones de investigar y de cumplir con una tutela judicial efectiva dentro de un

plazo razonable, en función de garantizar a la señora Melba Suárez Peralta una

reparación con la que podría acceder al tratamiento médico necesario para su problema

de salud. Por todo lo anterior, el Estado violó los derechos previstos en los artículos 8.1

y 25.1 de la Convención, en relación con el artículo 1.1 de la misma, en perjuicio de

Melba Suárez Peralta y Melba Peralta Mendoza. 26 O bloco de constitucionalidade pode ser visto, por exemplo, nas Constituições:

Argentina: art. 75, n. 22; Bolívia: art. 13, IV e art. 410; Brasil: art. 5º, § 3º; Chile: art. 5º,

2º; Colômbia: art. 9; Costa Rica: art. 48; Equador: art. 11, n.3 e 417; Guatemala: art. 46;

Venezuela: art. 23. 27 Item 166. Disponível em:

[http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_04_esp.pdf]. Acesso em 20 de

setembro de 2012. 28 Crawford, James. State responsibility: the general part. Cambridge :

University Press , 2014, p. 25. 29 Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 191.

30 Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 235. 31 Crawford, James. The International Law Commission’s Articles on State

Responsibility: introduction, text and commentaries. New York: Cambridge University

Press, 2003, p. 130. 32 Crawford, James. The International Law Commission’s Articles on State

Responsibility: introduction, text and commentaries. New York: Cambridge University

Press, 2003, p. 30. 33 Crawford, James. The International Law Commission’s Articles on State

Responsibility: introduction, text and commentaries. New York: Cambridge University

Press, 2003, p. 27. 34 A expressão é de Alard, J.; Garapon, A. Os juízes na mundialização. A nova

revolução do direito. Lisboa: Piaget, 2006, p. 9. 35 Dupuy, Pierre Marie. Droit international public, 9 ed. Paris: Dalloz, 2008, p.

41. 36 Crawford, James; Pellet, Alain; Olleson, Simon. The law of international

responsibility. New York: Oxford University Press, 2010, p. 19. 37 Crawford, James; Pellet, Alain; Olleson, Simon. The law of international

responsibility. New York: Oxford University Press, 2010, p. 33. 38 Ramos, André de Carvalho. Responsabilidade internacional por violação de

direitos humanos: seus elementos, a reparação devida e sanções possíveis: teoria e

política do direito internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 19. 39 Ramos, André de Carvalho. Responsabilidade internacional por violação de

direitos humanos: seus elementos, a reparação devida e sanções possíveis: teoria e

política do direito internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 48. 40 Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 70. 41 Crawford, James; Pellet, Alain; Olleson, Simon. The law of international

responsibility. New York: Oxford University Press, 2010, p. 189. 42 Ramos, André de Carvalho. Responsabilidade internacional por violação de

direitos humanos: seus elementos, a reparação devida e sanções possíveis: teoria e

política do direito internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 90-91. 43 Mazzuoli, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 7ª ed.

rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 599.

44 Ramos, André de Carvalho. Responsabilidade internacional por violação de

direitos humanos: seus elementos, a reparação devida e sanções possíveis: teoria e

política do direito internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 92. 45 Ramos, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos:

análise dos sistemas de apuração de violações de direitos humanos e implementação das

decisões no Brasil. Rio de janeiro: Renovar, 2002, p. 154-156. 46 Ramos, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos:

análise dos sistemas de apuração de violações de direitos humanos e implementação das

decisões no Brasil. Rio de janeiro: Renovar, 2002, p. 156. 47 Ramos, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos:

análise dos sistemas de apuração de violações de direitos humanos e implementação das

decisões no Brasil. Rio de janeiro: Renovar, 2002, p. 176. 48 Crawford, James; Pellet, Alain; Olleson, Simon. The law of international

responsibility. New York: Oxford University Press, 2010, p. 90. 49 Crawford, James; Pellet, Alain; Olleson, Simon. The law of international

responsibility. New York: Oxford University Press, 2010, p. 34. 50 Ramos, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos:

análise dos sistemas de apuração de violações de direitos humanos e implementação das

decisões no Brasil. Rio de janeiro: Renovar, 2002, p. 120. 51 Ramos, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos:

análise dos sistemas de apuração de violações de direitos humanos e implementação das

decisões no Brasil. Rio de janeiro: Renovar, 2002, p. 137-139. 52 Rezek, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 14. ed.

São Paulo: Saraiva, 2013, p. 412. 53 Ramos, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos:

análise dos sistemas de apuração de violações de direitos humanos e implementação das

decisões no Brasil. Rio de janeiro: Renovar, 2002, p. 121. 54 O Comitê de Direitos Humanos é órgão supervisor do Pacto Internacional de

Direitos Humanos, composto por dezoito especialistas independentes e eleitos por

quatro anos. O Comitê deve receber relatórios dos Estados sobre providências adotadas

no sentido de dar efetividade aos direitos previstos no Pacto. Com base nesses

relatórios, que são analisados pelo Comitê e discutidos entre os representantes dos

estados, o Comitê elabora seus comentários e observações finais, salientando os aspetos

positivos e negativos, e contendo ainda recomendações para os problemas encontrados.

As interpretações fornecidas pelo Comitê representam um avanço na proteção dos

direitos humanos, pois os Estados, ao acatar as recomendações, transferem uma função

interpretativa importantíssima a um órgão internacional, fortalecendo dessa forma, a

responsabilização internacional dos Estados. (Ramos, 2002, p. 122-126) 55 Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 380. 56 Ramos, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos:

análise dos sistemas de apuração de violações de direitos humanos e implementação das

decisões no Brasil. Rio de janeiro: Renovar, 2002, p. 124. 57 Rezek, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 14. ed.

São Paulo: Saraiva, 2013, p. 412. 58 Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 342. 59 Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 346. 60 Ramos, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos:

análise dos sistemas de apuração de violações de direitos humanos e implementação das

decisões no Brasil. Rio de janeiro: Renovar, 2002, p. 228. 61 Rezek, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 14. ed.

São Paulo: Saraiva, 2013, p. 264.. 62 Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 347. 63 Comissão Interamericana De Direitos Humanos. Caso 12.051. Maria da

Penha Maia Fernandes. Relatório Anual 2000. Relatório nº 54 de 04 de abril de 2001. 64 Comissão Interamericana De Direitos Humanos. Caso 12.051. Maria da

Penha Maia Fernandes. Relatório Anual 2000. Relatório nº 54 de 04 de abril de 2001. 65 Comissão Interamericana De Direitos Humanos. Caso 12.051. Maria da

Penha Maia Fernandes. Relatório Anual 2000. Relatório nº 54 de 04 de abril de 2001. 66 Comissão Interamericana De Direitos Humanos. Caso 12.051. Maria da

Penha Maia Fernandes. Relatório Anual 2000. Relatório nº 54 de 04 de abril de 2001. 67 A Convenção Européia de Direitos Humanos foi elaborada sob a égide do

Conselho Europeu, criado em 05 de maio de 1949, após a Segunda Guerra Mundial,

com o intuito de unificar o continente europeu. A Convenção Européia prevê em seu art.

6º,§ 1º que qualquer pessoa tem direito a um exame dentro de um prazo razoável de sua

causa, perante um Tribunal, tanto em matéria cível como penal. Havendo violação a

esse direito, os cidadãos podem reivindicá-lo perante a Corte Européia. Sobre o assunto,

a Corte Européia firmou posicionamento entendendo que é impossível descrever um

período particular como razoável, ou descrever o não razoável em abstrato, deixando

claro em várias ocasiões que a razoabilidade do período deve ser determinada no caso

concreto. Entretanto, estabelece alguns critérios para analisar a razoabilidade, a saber, a

complexidade da causa, o comportamento das partes e o modo como as autoridades

dirigiram o processo. 68 Comissão Interamericana De Direitos Humanos. Caso 12.051. Maria da

Penha Maia Fernandes. Relatório Anual 2000. Relatório nº 54 de 04 de abril de 2001 69 Comissão Interamericana De Direitos Humanos. Caso 12.051. Maria da

Penha Maia Fernandes. Relatório Anual 2000. Relatório nº 54 de 04 de abril de 2001. 70 Ventura, Deysi; Cetra Ortiz Raísa. O Brasil e o Sistema Interamericano de

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“Limites e Possibilidades da Justiça de Transição – Impunidade, direitos e democracia”.

2012, Porto Alegre. Texto. Belo Horizonte: Forum, 2013, p.15. 71 Ventura, Deysi; Cetra Ortiz Raísa. O Brasil e o Sistema Interamericano de

Direitos Humanos: de Maria da Penha à Belo Monte. In. Seminário Internacional

“Limites e Possibilidades da Justiça de Transição – Impunidade, direitos e democracia”.

2012, Porto Alegre. Texto. Belo Horizonte: Forum, 2013, p.15. 72 Corte Interamericana De Direitos Humanos. Caso Ximenes Lopes versus

Brasil. Sentença de 4 de julho de 2006. 73 Corte Interamericana De Direitos Humanos. Caso Ximenes Lopes versus

Brasil. Sentença de 4 de julho de 2006. 74 Corte Interamericana De Direitos Humanos. Caso Ximenes Lopes versus

Brasil. Sentença de 4 de julho de 2006. 75 Corte Interamericana De Direitos Humanos. Caso Ximenes Lopes versus

Brasil. Sentença de 4 de julho de 2006. 76 Corte Interamericana De Direitos Humanos. Caso Ximenes Lopes versus

Brasil. Sentença de 4 de julho de 2006. 77 Corte Interamericana De Direitos Humanos. Caso Ximenes Lopes versus

Brasil. Sentença de 4 de julho de 2006. 78 Baudenbacher, C., Judicial globalization: new development or old wine in

new bottles. In: Texas International Law Journal, v. 38, p. 506.