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O PAPEL DA CULTURA ORGANIZACIONAL: MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA CULTURA DE INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Larissa Farias Almeida (UFRN ) [email protected] Fernan Martins Vidal Fernandes Irber (UFRN ) [email protected] Livia Juliana Silva Solino de Souza (UFRN ) [email protected] O tema de cultura organizacional vem obtendo destaque tanto na literatura acadêmica como dentro da organização, principalmente nos últimos anos, marcados pela consolidação da tendência de globalização. Os motivos e a forma de implantação dee inovação dentro das organizações é algo amplamente discutido e pesquisado, do mesmo modo como a utilização de métodos que identifiquem os principais processos para impulsionar a cultura organizacional voltada para a inovação. Tendo como metodologia a pesquisa bibliográfica, este artigo tem como objetivo identificar os principais métodos de pesquisa utilizados em artigos de periódicos que tratam sobre o papel e a influência da cultura organizacional no processo de inovação. Os resultados encontrados demonstram que a maioria dos métodos utilizados são do tipo teórico conceitual e que isso pode ser um indicativo de que o tema está em estágio embrionário. Ao término do trabalho conclui-se que o objetivo proposto foi alcançado e que, embora não sejam realizadas de forma sistemática, as inovações são impulsionadas pela percepção em atender as necessidades dos clientes para a sobrevivência no mercado. A percepção dos líderes no que eles consideram uma cultura organizacional ideal aproxima-se de elementos culturais favoráveis a cultura do tipo inovadora, capaz de adaptar-se mais facilmente as mudanças necessárias. O que comprova a relevância do presente artigo, promovendo avanço no conhecimento, apresentando como se encontra a pesquisa a cerca do tema proposto. Palavras-chaves: cultura organizacional; Inovação, líderes. XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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O PAPEL DA CULTURA

ORGANIZACIONAL: MÉTODOS DE

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA

CULTURA DE INOVAÇÃO NAS

ORGANIZAÇÕES

Larissa Farias Almeida (UFRN )

[email protected]

Fernan Martins Vidal Fernandes Irber (UFRN )

[email protected]

Livia Juliana Silva Solino de Souza (UFRN )

[email protected]

O tema de cultura organizacional vem obtendo destaque tanto na

literatura acadêmica como dentro da organização, principalmente nos

últimos anos, marcados pela consolidação da tendência de

globalização. Os motivos e a forma de implantação dee inovação

dentro das organizações é algo amplamente discutido e pesquisado, do

mesmo modo como a utilização de métodos que identifiquem os

principais processos para impulsionar a cultura organizacional

voltada para a inovação. Tendo como metodologia a pesquisa

bibliográfica, este artigo tem como objetivo identificar os principais

métodos de pesquisa utilizados em artigos de periódicos que tratam

sobre o papel e a influência da cultura organizacional no processo de

inovação. Os resultados encontrados demonstram que a maioria dos

métodos utilizados são do tipo teórico conceitual e que isso pode ser

um indicativo de que o tema está em estágio embrionário. Ao término

do trabalho conclui-se que o objetivo proposto foi alcançado e que,

embora não sejam realizadas de forma sistemática, as inovações são

impulsionadas pela percepção em atender as necessidades dos clientes

para a sobrevivência no mercado. A percepção dos líderes no que eles

consideram uma cultura organizacional ideal aproxima-se de

elementos culturais favoráveis a cultura do tipo inovadora, capaz de

adaptar-se mais facilmente as mudanças necessárias. O que comprova

a relevância do presente artigo, promovendo avanço no conhecimento,

apresentando como se encontra a pesquisa a cerca do tema proposto.

Palavras-chaves: cultura organizacional; Inovação, líderes.

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1. Introdução

No atual cenário mercadológico, onde a substituição de novos produtos ocorre de forma muito

rápida, a inovação tem um papel-chave permeando todas as áreas de atividade das

organizações. Não se trata mais de um instrumento de competitividade, mas de um pré-

requisito para a sobrevivência das empresas (TORKOMIAN, 1996).

Para que as empresas obtenham sucesso no processo de inovação, é fundamental um ambiente

favorável à geração de inovação, levando-se em consideração que a cultura organizacional

impacta diretamente no potencial inovador da empresa (SCHERER E CARLOMAGNO,

2009).

Diante deste cenário e desta nova e mais ampla visão do processo de inovação, os ativos

intangíveis passam a ser entendidos como fontes de vantagens competitivas e impulsionadores

do crescimento econômico e do desenvolvimento. Não apenas as metas, mas também a

cultura organizacional são exemplos de alguns dos capitais mais importantes ou ativos

intangíveis que não se depreciam com o passar dos anos.

Em que pesem as diferenças em relação a tecnologias, empresas e indústrias, a pressão

competitiva atual sobre a estrutura produtiva brasileira impõe a utilização consciente de

métodos que sejam capazes de identificar ou quantificar quais fatores são mais relevantes no

gerenciamento da inovação dentro da organização. Como observado, o cenário competitivo no

qual as empresas estão inseridas reforça o desafio de construção de espaços de reflexão e de

desenvolvimento de métodos de interpretação e aplicação da inovação compatível com a

realidade das empresas. Assim, gera-se a questão problema: quais os principais métodos que

estão sendo utilizados para identificar o papel da cultura organizacional na facilitação da

geração de inovação dentro da organização?

Dentro deste contexto, este estudo propõe-se identificar os principais métodos de pesquisa

utilizados em artigos de periódicos que tratam sobre o papel e a influência da cultura

organizacional no processo de inovação. A partir de pesquisa bibliográfica, constrói-se o

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referencial teórico e discorre-se sobre inovação, destacando-se a ligação existente entre os três

principais pilares: empresa, governo e universidade que formam os sistemas de inovação.

Espera-se que os métodos apresentados possam contribuir para gerar novos trabalhos teóricos

e empíricos, bem como instigar a propagação do conceito de cultura organizacional da

inovação.

2. Fundamentação teórica

2.1. Gestão da inovação

Ao longo do século que passou, muito foi discutido sobre inovação com o intuito de

compreender de uma forma mais abrangente o papel da mesma, frente ao desenvolvimento

econômico. Não há como tratar de inovação no âmbito da economia sem citar Joseph

Schumpeter, por ser um dos maiores difundores do processo de inovação. Foi ele quem deu

ênfase à importância das inovações no desenvolvimento de empresas. Segundo Schumpeter

(1942), a inovação é compreendida como a adoção de um novo método de produção, de um

novo produto, de uma nova forma de organização ou a conquista de um novo mercado.

Neste contexto, uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou

significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um

novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou

nas relações externas (OCDE, 2005, p. 55). Esse conjunto de inovações são implementadas

quando efetivamente utilizadas nas operações das empresas e introduzidas no mercado.

A inovação, para Scherer e Carlomagno (2009), é algo que traz resultados para a empresa, que

pode ser associada não só ao desenvolvimento de um novo produto, mas também a novos

modelos de negócio, mercados e serviços, novas formas de gestão, adoção de novas

tecnologias, ou mesmo o desenvolvimento de uma marca.

Ao analisar a evolução do capitalismo percebe-se que a força motriz do mercado é a inovação,

sejam em forma de introdução de novos bens ou técnicas de produção, ou mesmo através do

surgimento de novos mercados, fontes de ofertas de matérias-primas, ou composições

industriais (SCHUMPETER, 1982).

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Nas ondas de inovação e mudanças econômicas sugeridas por Schumpeter (1942), nota-se que

as inovações tendem a concentrar-se em setores específicos da economia, e que seu processo

de difusão é desigual. Além disso, as empresas com maior probabilidade de inovar procurarão

manter-se na dianteira do progresso técnico, introduzindo novas inovações a fim de não se

tornarem vítimas desse processo inovativo (MOREIRA, 1989).

West e Farr (1990) define inovação como a introdução proposital de ideias, produtos,

processos ou novos métodos em uma organização ou grupo, para gerar um benefício

individual (ao indivíduo) ou coletivo (ao grupo, organização ou a sociedade). Já Dosi (1988)

afirma que o processo de inovação está relacionado à descoberta, à experimentação, ao

desenvolvimento, à imitação e a adoção de novos produtos, novos processos de produção e

novos arranjos organizacionais.

Ainda sobre inovação, Barbieri (1997) evidencia que, dependendo da área de estudo, a

inovação apresenta diferentes significados. Para a área mercadológica, a inovação é

considerada como qualquer modificação percebida pelo usuário. Na área produtiva, é a

introdução de novidades materializadas em produtos, processos e serviços.

2.2. Tríplice helix

Promover novas formas de comunicação e cooperação entre universidade e empresa tem se

tornado temas chaves no desenvolvimento de políticas de inovação.

Para caracterizar os modelos de cooperação universidade-empresa, a literatura apresenta

modelos estáticos e modelos dinâmicos para representar a interação entre esse ambiente

(LEYDESDORFF, 2000; ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; DELBEM, 2002; ZHAO;

GAO, 2008). Os modelos estáticos são classificados pelo triângulo de Sábato, Triple Helix I e

II. Já os modelos dinâmicos podem ser representados pela Triple Helix III em que surgem

com novas relações entre os agentes institucionais.

O triângulo de Sábato é definido como uma figura geométrica para representar os três

elementos (governo, universidade e estrutura produtiva), conforme a Figura 1. Cada vértice

pode ser analisado como pontos isolados e sem conexão, nos países em desenvolvimento.

Figura 1 – Modelo estático da universidade- indústria- governo

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Fonte: Adaptado de Etzkowitz; Leydesdorff (2000)

De acordo com Delbem (2002), foi possível identificar melhores relações entre as três esferas

institucionais (universidade, empresa e governo) no final da década de 80 e no início dos anos

90 do cenário paulista. Logo, modelos surgem para retratar a realidade simultaneamente entre

esses agentes.

Com a evolução dos sistemas de inovação, a Triple Helix (Hélice Tripla) reflete um arranjo

institucional entre universidade, indústria e governo (LEYDESDORFF, 2000), os quais

podem ser envolvidos por meio das redes de comunicação (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF,

2000) com uma dinâmica complexa que pode refletir em diferentes arranjos institucionais

entre universidade/indústria/governo, os quais podem variar em cada país.

As transferências dos conhecimentos são implementadas em movimentos externo/interno os

quais visam capacitar a empresa e a universidade por meio de registros em termos de

publicação e patentes. Nesse caso, as instituições recebem diferentes forças impulsionadoras

para capacitar a inovação, sendo possível analisar que a universidade exerce um importante

papel no desenvolvimento da inovação no âmbito nacional e regional (MOWERY; SAMPAT,

2005).

Além disso, a Triple Helix não apenas denota o relacionamento entre a universidade, indústria

e governo, mas também as transformações dentro de cada uma dessas esferas (ETZKOWITZ;

LEYDESDORFF, 2000, p. 118).

A Tripla Helix I é representada por uma configuração em que o Estado circunda relações

entre a academia e a indústria (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000), sendo caracterizada

por modelos estáticos o qual pode ser visualizada como modelos falhos de desenvolvimento

porque existe pouco relacionamento entre os agentes institucionais. Esses autores citam o

exemplo de fortes relações desse modelo com a União Soviética e países do leste europeu

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com a existência do socialismo; com fracas relações, pode-se analisar muitos países da

América Latina e algumas extensões dos países europeus como é o caso da Noruega.

O segundo modelo é intitulado por Triple Helix II. Esse modelo consiste em separar as esferas

institucionais com fortes fronteiras dividindo-as e que são altamente delineadas pelo Estado, a

Academia e a Indústria, com o papel definido para cada esfera pela política do laissez-faire,

conforme Figura 2.

Figura 2 – As relações entre universidade- indústria- governo pelo “laissez-faire”

Fonte: Adaptado de Etzkowitz; Leydesdorff (2000)

A Figura 3 representa a Triple Helix III tem gerado uma infra-estrutura de conhecimento em

termos de sobreposição entre as esferas institucionais, com cada organização emergindo

interfaces híbridas (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000), sem limites entre essas esferas

institucionais. Esse modelo descreve uma variedade de arranjos institucionais e modelos

políticos os quais explicam a dinâmica. Essa dinâmica é caracterizada como um sistema não-

linear por diferentes regiões, em níveis e perspectivas distintas.

Figura 3 – As relações do modelo de hélice-tripla III

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Fonte: Adaptado de Etzkowitz; Leydesdorff (2000)

A Tabela 1 apresenta uma sistematização das características, funções e estrutura para cada

forma da Hélice Tripla.

TABELA 1 - Caracterização das diferentes formas de organização entre os tipos de Helix

tripla

Fonte: Elaboração própria

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Esse sistema tem como função aumentar a base de conhecimento das inovações na sociedade

por meio de iniciativas para o desenvolvimento do conhecimento com alianças estratégicas

entre pequenas e grandes empresas, laboratórios governamentais e grupos de pesquisadores

acadêmicos (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000).

De acordo com as inspirações, Audretsch e Lehmann (2005) realizam uma pesquisa para

avaliar o impacto do crescimento da firma por meio dos conhecimentos obtidos pelas

universidades. Esse impacto é determinado pelas Leis de crescimento Gibrat´s, em que os

determinantes são: tamanho, idade e período de conhecimento para um conjunto de 281

firmas na Alemanha. Para realizar essa avaliação, inicialmente, foi coletado um conjunto de

dados com 73 universidades públicas e verificou-se a distância geográfica média entre as

empresas e as universidades. Cabe ressaltar que as distâncias geográficas das universidades da

Alemanha são mais concentradas que dos Estados Unidos. Para determinar a distância entre

universidades e empresas, foi coletado em um banco de dados que o raio médio é no mínimo

1 km a 177 km no máximo. Utilizaram-se, assim, os modelos dos mínimos quadrados para

explicar o crescimento da firma com o impacto das universidades mediante diferentes

modelos matemáticos.

Para finalizar, esses pesquisadores alemães (AUDRETSCH; LEHMANN, 2005) afirmam que

o crescimento da firma depende de outros fatores externos, além dos observados, a saber,

tamanho, idade, período de conhecimento e posição geográfica em relação às universidades.

2.3. Cultura organizacional

A cultura organizacional tem forte influência na gestão de uma organização. Estudos recentes

evidenciam a influência da cultura organizacional no processo de inovação (KHAZANCHI

ET. AL., 2007; GODOY, 2009; VALENCIA ET. AL., 2011; BOCK ET. AL., 2012).

Um fator importante a ser levado em consideração é o fato de que a empresa não inova

sozinha, pois o processo é interativo e social, contando com a contribuição de vários agentes

econômicos e sociais. Sendo a empresa o ponto mais importante deste processo de inovação, a

cultura inovadora acaba por influenciar de maneira positiva ou negativa, o processo de

inovação. Para Schumpeter (1982), a relação – função empresarial – inovação revoluciona a

estrutura econômica a partir de dentro.

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Schein (2001) considera a cultura organizacional como uma propriedade de grupos que pode

ser pensada como um aprendizado acumulado adquirido em sua história e construído a partir

dos pressupostos básicos que este grupo inventou, descobriu ou desenvolveu, ao lidar com os

problemas de adaptação externa e integração interna.

A cultura inovadora pode ser incentivada tanto em grandes como em pequenas e médias

empresas. Para Rothwell e Dodgson (1993), enquanto as grandes empresas têm vantagens

materiais para gerar e adotar inovações comportamentais relacionadas à sua maior

flexibilidade e capacidade de adaptação a mudanças no mercado. Nas PMEs, a aversão as

risco é menos do que no caso das grandes empresas, e os empregados são mais motivados

(Julien, 1993 e OECD, 1995). Ao comparar as organizações, Yin e Zuscovitch (1998)

mostram que as grandes empresas investem mais em inovações por processo, enquanto que as

pequenas empresas investem mais em pesquisas para o desenvolvimento de novos produtos.

Neste contexto, a cultura organizacional subdivide-se em três níveis interligados. No primeiro

nível estão os artefatos visíveis, que correspondem àquilo que pode ser observado pelo

ambiente externo, o modo como as pessoas se comunicam e se vestem, o ambiente físico de

trabalho, a estrutura hierárquica, símbolos, mitos e histórias sobre a organização, rituais e

cerimônias.

O segundo nível refere-se aos valores que são compartilhados pela organização, que ajudam a

transformar as atividades de rotina em ações efetivas que caracterizam a organização. O

último nível trata dos pressupostos básicos que corresponde ao que está mais interno na

organização, por isso são mais difíceis de serem observados, como crenças profundas e

inquestionáveis, compartilhadas pelas pessoas da empresa, e que dificulta a transformação da

cultura.

A Figura 4 representa os níveis da cultura organizacional em um iceberg (HORTA;

RENATO, 2008; SCHERER; CARLOMAGNO, 2009), onde os artefatos são a parte visível,

mais superficial. Abaixo da linha da água estão os valores compartilhados, e mais ao fundo

estão localizados os pressupostos básicos (SCHEIN, 1992).

Figura 5: Iceberg da Cultura Organizacional

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Fonte: Horta; Renato (2008)

3. Procedimentos metodológicos

A pesquisa bibliográfica desenvolvida no presente estudo é conceituada por Vergara (2000)

como um estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros,

revistas, jornais e redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral.

Para a identificação e localização das fontes utilizadas para este estudo, a análise bibliográfica

foi o primeiro momento de identificação e localização das fontes, sendo realizada a partir da

consulta aos periódicos científicos do Portal da Capes. Os periódicos constituem o meio mais

importante para a comunicação científica. Graças a eles é que vem-se tornando possível a

comunicação formal dos resultados de pesquisas originais e a manutenção do padrão de

qualidade na investigação (GIL, 2002).

Desta forma, a presente pesquisa bibliográfica compreendeu oito fases distintas.

Para elaboração deste estudo, a escolha do tema foi determinada a partir da relevância e

importância que o tema tem dentro da organização, que é a identificação dos principais

métodos para mensurar a cultura organizacional de inovação; na etapa seguinte, elaborou-se o

plano de trabalho onde os objetivos e o método de pesquisa a ser utilizado foram delimitados.

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Para identificação e localização dos dados, utilizou-se a base de dados Scopus e para

compilação dos dados, realizou-se um refinamento dos principais artigos encontrados,

utilizando uma amostra final dos 10 artigos, sendo os critérios de escolhas descritos no tópico

seguinte. Na etapa do fichamento, esquematizou-se os artigos em uma tabela, com os

respectivos títulos dos artigos, autores, ano de publicação e número de vezes em que o mesmo

foi citado. A etapa seguinte foi a de análise e interpretação dos dados e por fim a redação das

informações obtidas, a fim de balizar e auxiliar os pesquisadores a identificar os principais

trabalhos a cerca do tema proposto.

4. Resultado dos trabalhos de identificação dos métodos

A pesquisa se utilizou das ferramentas de busca da base de dados da SCOPUS da Elservier.

Para a reunião de textos que abordassem sobre o tema discutido neste artigo, primeiramente

foram escolhidas as seguintes palavras-chave: “organizational culture” (cultura

organizacional); e “innovation” (inovação).

Refinando a busca, limitou-se às áreas do conhecimento que estivessem relacionadas à:

ciências exatas e sociais. Foi determinado também que seria somente usado os resultados das

buscas que fossem artigos de revistas.

Assim totalizou-se 569 resultados. Desses artigos de revistas foram escolhidos dentre os 100

primeiros os primeiros 10 artigos mais citados que envolvessem o tema proposto pelo artigo e

que não houvesse restrição de consulta, ou seja, foram utilizados os artigos com acesso pelo

portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) que foram mais citados e envolvesse o tema. Assim, obteve-se a seguinte Tabela 2

com os artigos a serem analisados.

Tabela 2 – Autores e Títulos por ano e número de citações

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Fonte: Autoria Própria

Tendo em vista a delimitação do tema, o procedimento utilizado e reunido os artigos, o

trabalho, como foi proposto, se ateve a identificar quais os métodos utilizados em cada um

dos artigos.

Visando identificar quais os métodos mais utilizados no estado da arte, que no caso relaciona

a cultura organizacional e inovação. Em outras palavras, esses artigos utilizavam métodos

para mensurar a influência da cultura organizacional de inovação contribuindo para o

desenvolvimento das organizações. A Tabela 3 identifica os métodos utilizados pelos artigos

selecionados.

Tabela 3 – Título e Métodos

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Fonte: Autoria Própria

O método teórico conceitual foi o que se encontrou com a maior frequência, três artigos,

seguidos do survey e estudo de caso cada um com dois artigos e por fim a modelagem e o

método estatístico cada um com um artigo. Sendo assim, os resultados demonstram que o

volume de estudos teórico-conceituais pode revelar que a maioria dos trabalhos publicados

reflete estágios iniciais de pesquisas, onde os autores estão ainda delimitando o objeto, as

variáveis e o alcance da pesquisa de campo (BERTO; NAKANO, 2000). De acordo com o

mesmo autor isso acontece pelo baixo número de trabalhos de estudos de campo. Mas o

pressuposto do autor pode ser evidenciado com a baixa utilização dos métodos estatístico e de

modelagem, sendo evidenciado os modelos que ainda estão no plano das ideias e que ainda

não foram postos em prática.

5. Considerações finais

Ao término do trabalho conclui-se que o objetivo proposto, que era de identificar em cada

artigo analisado quais os principais métodos utilizados nas organizações para mensurar a

influência da cultura organizacional de inovação no desenvolvimento das mesmas, foi

alcançado. A partir da análise dos resultados identificou-se que o método mais utilizado foi o

teórico conceitual e de acordo com Berto e Nakano (2000) a pesquisa relacionada ao tema se

encontra em estágios embrionários. Observa-se que há um número maior do método Survey e

estudos de caso do que métodos estatísticos e modelagem.

Bastic e Leskovar-Spacapan (2006) afirmam que a influência da cultura organizacional no

processo de inovação depende dos valores envolvidos. Para os autores, a inovação acontece

em uma cultura organizacional que tem como valor elementos da cultura inovadora, o que

facilita o desenvolvimento de vantagem competitiva. Uma cultura de inovação bem

desenvolvida requer lideranças que sejam bem comprometidas com a inovação

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(GUDMUNDSON; TOWER; HATMAN, 2003; SCHERER; CARLOMAGNO, 2009). O que

comprova a relevância do presente artigo, que embora seja de base conceitual, avança no

conhecimento, apresentando como se encontra a pesquisa a cerca do tema proposto.

Entende-se também que, embora não sejam realizadas de forma sistemática, as inovações são

impulsionadas pela percepção em atender as necessidades dos clientes para a sobrevivência

no mercado. A percepção dos líderes no que eles consideram uma cultura organizacional ideal

aproxima-se de elementos culturais favoráveis a cultura do tipo inovadora, capaz de adaptar-

se mais facilmente as mudanças necessárias.

Desta forma, o trabalho apresentado pode ser considerado como estudo inicial do assunto,

podendo ser expandido, tendo em vista que os artigos usados foram limitados ao acesso

permitido pela CAPES. Essa limitação pode ser refletida no resultado encontrado sobre

cultura organizacional e inovação, e também pode variar de assunto para outro.

REFERÊNCIAS

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