o mundo grego micênicos: grécia continental democracia, o

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O MUNDO GREGO A civilização grega tem grande importância na formação cultural e política do Ocidente. Os gregos foram os primeiros a falar em DEMOCRACIA, o “governo do povo”. ORIGENS DA CIVILIZAÇÃO GREGA 2.1 A CIVILIZAÇÃO CRETO-MICENICA As origens do Mundo Grego remontam os tempos da Civilização Cretense, uma fascinante sociedade desenvolvida a partir da Ilha de Creta - a maior ilha do Mar Egeu - por volta do ano 2000 a.C. Os cretenses possuíam uma grande habilidade para a navegação e para o comércio, tendo estabelecido contatos com a Mesopotâmia e o Egito, dentre outras sociedades da antiguidade oriental, tal experiência influenciou bastante no aprimoramento das artes em geral na Ilha, outra de suas grandes características. Até o século XV a.C., os cretenses exerceram uma completa hegemonia na região do Mar Egeu, construindo um sistema de saneamento complexo e um património cultural bastante apreciável, contudo, no que diz respeito a defesa ou a capacidade bélica de Creta, estas seria insuficientes, tornando-se vulnerável a invasão de inimigos exteriores, como ocorreria nos séculos seguintes. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA Concentrou-se ao sul da Península Balcânica, nas ilhas do Mar Egeu e no litoral da Ásia Menor. 1 CARACTERÍSTICAS GERAIS: Território acidentado; Desenvolvimento do comércio e navegação; Descentralização política (Cidade-Estado); Modo de produção escravista; Contribuições nas artes, ciências e filosofia (formadores da CULTURA OCIDENTAL). 2 FASES DA HISTÓRIA: Período Pré-Homérico (2800 1100 a.C.) povoamento da Grécia. Período Homérico (1100 800 a.C) poemas Ilíada e Odisséia. Período Arcaico (800 500 a.C) formação da pólis (cidade-Estado). Período Clássico (500 336 a.C) auge da pólis. Período Helenístico (336 146 a.C) decadência da pólis/ domínio Macedônico. 3 PERÍODO PRÉ-HOMÉRICO: Civilização Creto-Micênica (cretenses + aqueus); Cretenses: comércio marítimo, talassocracia (poder nas mãos de elite comerciante), escrita silábica (Linear A e Linear B), destaque para as mulheres; Micênicos: Grécia Continental aqueus. Conquistaram os cretenses, porém assimilaram alguns de seus valores culturais; Instalação dos vários povos que formaram a Civilização Grega: Aqueus, Eólios, Jônios e Dórios (violência); 1ª Diáspora (Ilhas do Mar Egeu e Ásia Menor) formação de colônias. AS MIGRAÇÔES DOS INDO-EUROPEUS Grupos nómades oriundos das regiões centrais da Europa iniciaram sucessivas levas migratórias rumo à Península Balcânica, contribuindo para a colonização da área e fundando algumas das mais importantes cidades do que mais tarde seria chamado de Grécia. Vejamos os principais grupos indo-europeus: AQUEUS: Estes são reconhecidamente considerados o primeiro dos grupos indo-europeus a chegar na região balcânico, em algumas obras chegamos a ver a utilização deste nome como sinónimo de gregos, foram os responsáveis pela fundação da cidade de Micenas, de onde estabeleceram um intercâmbio com os cretenses e assimilaram boa parte de suas características e valores. Era o apogeu da Civilização Creto-Micênica. JÔNIOS E EÓLIOS: Estes dois grupos chegaram por volta de 1700 a.C., foram responsáveis pela colonização de grande parte do litoral do Mar Egeu chegando até a Ásia Menor. Dentre os feitos atribuídos a eles, merecem destaque à fundação de Atenas pêlos primeiros e a fundação de Tebas pêlos últimos. DÓRIOS: Estes foram os migrantes que causaram as mais expressivas transformações para o período. De natureza guerreira e dominando perfeitamente as técnicas de metalurgia, o que lhes permitia possuir armas de ferro, os dórios impuseram sua vontade aos cretenses provocando a 1a Diaspora. 4 - PERÍODO HOMÉRICO Período em que narra a saga dos grandes heróis gregos, das grandes batalhas e dos grandes fatos. Esses fatos são narrados pelo poeta e filosofo Homéro. Fontes: Ilíada (Guerra de Tróia) e Odisséia (retorno de Ulisses ao reino de Ítaca). Poemas atribuídos ao poeta Homero.

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O MUNDO GREGO A civilização grega tem grande importância na formação cultural e política do Ocidente. Os gregos foram os primeiros a falar em DEMOCRACIA, o “governo do povo”. ORIGENS DA CIVILIZAÇÃO GREGA 2.1 A CIVILIZAÇÃO CRETO-MICENICA As origens do Mundo Grego remontam os tempos da Civilização Cretense, uma fascinante sociedade desenvolvida a partir da Ilha de Creta - a maior ilha do Mar Egeu - por volta do ano 2000 a.C. Os cretenses possuíam uma grande habilidade para a navegação e para o comércio, tendo estabelecido contatos com a Mesopotâmia e o Egito, dentre outras sociedades da antiguidade oriental, tal experiência influenciou bastante no aprimoramento das artes em geral na Ilha, outra de suas grandes características. Até o século XV a.C., os cretenses exerceram uma completa hegemonia na região do Mar Egeu, construindo um sistema de saneamento complexo e um património cultural bastante apreciável, contudo, no que diz respeito a defesa ou a capacidade bélica de Creta, estas seria insuficientes, tornando-se vulnerável a invasão de inimigos exteriores, como ocorreria nos séculos seguintes. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA Concentrou-se ao sul da Península Balcânica, nas ilhas do Mar Egeu e no litoral da Ásia Menor.

1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS: Território acidentado; Desenvolvimento do comércio e navegação; Descentralização política (Cidade-Estado); Modo de produção escravista; Contribuições nas artes, ciências e filosofia (formadores da CULTURA OCIDENTAL). 2 – FASES DA HISTÓRIA: Período Pré-Homérico (2800 – 1100 a.C.) –

povoamento da Grécia. Período Homérico (1100 – 800 a.C) – poemas Ilíada e

Odisséia. Período Arcaico (800 – 500 a.C) – formação da pólis

(cidade-Estado). Período Clássico (500 – 336 a.C) – auge da pólis. Período Helenístico (336 – 146 a.C) – decadência da

pólis/ domínio Macedônico.

3 – PERÍODO PRÉ-HOMÉRICO: Civilização Creto-Micênica (cretenses + aqueus); Cretenses: comércio marítimo, talassocracia (poder nas

mãos de elite comerciante), escrita silábica (Linear A e Linear B), destaque para as mulheres; Micênicos: Grécia Continental – aqueus. Conquistaram os cretenses, porém assimilaram alguns de seus valores culturais; Instalação dos vários povos que formaram a Civilização Grega: Aqueus, Eólios, Jônios e Dórios (violência); 1ª Diáspora (Ilhas do Mar Egeu e Ásia Menor) – formação de colônias. AS MIGRAÇÔES DOS INDO-EUROPEUS Grupos nómades oriundos das regiões centrais da Europa iniciaram sucessivas levas migratórias rumo à Península Balcânica, contribuindo para a colonização da área e fundando algumas das mais importantes cidades do que mais tarde seria chamado de Grécia. Vejamos os principais grupos indo-europeus: • AQUEUS: Estes são reconhecidamente considerados o primeiro dos grupos indo-europeus a chegar na região balcânico, em algumas obras chegamos a ver a utilização deste nome como sinónimo de gregos, foram os responsáveis pela fundação da cidade de Micenas, de onde estabeleceram um intercâmbio com os cretenses e assimilaram boa parte de suas características e valores. Era o apogeu da Civilização Creto-Micênica. • JÔNIOS E EÓLIOS: Estes dois grupos chegaram por volta de 1700 a.C., foram responsáveis pela colonização de grande parte do litoral do Mar Egeu chegando até a Ásia Menor. Dentre os feitos atribuídos a eles, merecem destaque à fundação de Atenas pêlos primeiros e a fundação de Tebas pêlos últimos. • DÓRIOS: Estes foram os migrantes que causaram as mais expressivas transformações para o período. De natureza guerreira e dominando perfeitamente as técnicas de metalurgia, o que lhes permitia possuir armas de ferro, os dórios impuseram sua vontade aos cretenses provocando a 1a Diaspora. 4 - PERÍODO HOMÉRICO Período em que narra a saga dos grandes heróis gregos, das grandes batalhas e dos grandes fatos. Esses fatos são narrados pelo poeta e filosofo Homéro. Fontes: Ilíada (Guerra de Tróia) e Odisséia (retorno de Ulisses ao reino de Ítaca). Poemas atribuídos ao poeta Homero.

Os refugiados da primeira diáspora grega fundaram pequenas unidades auto-suficientes baseadas no coletivismo – os genos, ou comunidades gentílicas.

Essas unidades eram compostas de membros de uma mesma família, sob a chefia do pater.

Por volta do ano 800 a.C., as disputas por terras cultiváveis e o crescimento populacional acabaram com o sistema gentílico.

Alguns paters se apropriaram das melhores terras, originando a propriedade privada, e muitas outras famílias se dispersaram para o sul da Itália e para outras regiões, ocasionando a segunda diáspora grega.

A desintegração dos genos provocou a formação das pólis e a colonização da região correspondente ao sul da Itália e à ilha da Sicília,área denominada Magna Grécia. Com as mudanças foram reforçadas as diferenças sociais.

5 - PERÍODO ARCAICO

Com o surgimento da propriedade privada,iniciaram os conflitos entre os grupos, e, para lidar com as constantes crises, os proprietários de terra passaram a formar associações, as fatrias, que formaram as tribos, que, por sua vez, se organizaram em demos.

Os demos deram origem às cidades-Estados, ou pólis – a principal transformação do período Arcaico

Cidades-Estados ou PÓLIS

Cada cidade-Estado grega era um centro político, social e religioso autônomo, com uma classe dominante, deuses e um sistema de vida próprios.

INTRODUÇÃO: A Antiguidade Clássica expressão

usada para designar as impressionantes civilizações Grega e Romana, é indubitavelmente um campo de estudo e interpretação nas mais diversas áreas do conhecimento humano. Compreendendo um longo

período Cronológico (1000 aC - 500 AD) A cultura clássica é a base da cultura ocidental. A

filosofia e a arte, assim como a arquitetura e o direito romano são exemplos que demonstram a relevante contribuição histórica destas sociedades.

Com relação ao “mundo do trabalho”, a antiguidade clássica foi cenária, de uma multiplicidade de formas de organização do trabalho, que incluía desde relações assalariadas até a massificação do escravismo.

Foi, contudo, o notório desprezo pelo trabalho o aspecto mais distintivo destas sociedades históricas. Como apropriadamente analisou Paul Veyne a respeito da sociedade romana - fato que se aplica perfeitamente bem a sociedade grega: “... o trabalhador era não apenas socialmente inferior, mas também ignóbil. (...) só é homem por inteiro quem vive no ócio...”

(História da Vida Privada do Império Romano ao Ano Mil. Cia Das Letras. P. 124).

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA: Localizada na região do Peloponeso, no vale da

Lacônia, nas margens do rio Eurotas. Foi fundada pelos invasores dórios que submeteram parte dos aqueus que lá viviam, transformando-os em escravos.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL: A sociedade era rígida e dividia-se em: Espartanos ou Esparciatas – descendentes dos

conquistadores dórios, eram os únicos detentores da cidadania e, portanto, com direitos políticos. Formavam uma classe privilegiada que monopolizava o poder militar e, por decorrência, político e religioso.

Periecos – habitavam os arredores da cidade, eram, provavelmente, descendentes da população nativa que se submeteram pacificamente aos dórios. Eram livres, mas não desfrutavam de direitos políticos. Dedicavam-se ao comércio e ao artesanato, tarefas desprezadas pelos espartanos.

Hilotas – servos pertencentes ao Estado, formados pelos prováveis descendentes da população conquistada pelos dórios. Eram cedidos aos espartanos juntamente com a terra, na qual trabalhavam e, por constituírem a maioria, eram mantidos em obediência pelo terror (kriptia).

A exploração dos hilotas tomou-se fundamental para a sobrevivência do Estado espartano, pode-se, portanto, definir o modelo de produção de Esparta como HILOTISMO - tratava-se de um tipo de escravidão, visto que o hilota não possuía valor de troca (comercial), somente de uso (pelo trabalho realizado). Tendo o trabalho como o grande determinador das suas condições de vida e tratamento. Esse modelo representava uma peculiaridade na organização social espartana, os próprios espartanos e seus contemporâneos da Época Clássica atribuíam à constituição espartana - resumida num documento conhecido como “Graende Retra” organizado por um legislador mítico inspirado pelo Deus

Apolo Licurgo.

ESTRUTURA POLÍTICA:

Politicamente, Esparta organizava-se sob uma diarquia (monarquia composta por dois reis), que exerciam funções militares e religiosas. As funções executivas eram exercidas pelo eforato, composto por cinco membros eleitos anualmente, indicados pela gerúsia e aprovados pela Apela (Conselho formado pelos cidadãos de mais de trinta anos e em pleno gozo dos direitos, reunia-se ao ar livre, elegia os gerontes e os éforos e votavam por aclamação as propostas que lhe fossem submetidas pelo eforato ou pela Gerúsia), administravam os negócios públicos (educação) e fiscalizavam a vida dos cidadãos.

A Gerúsia (Conselho dos Anciãos) era composta por 28 membros aristocratas com idade superior a sessenta anos mais os dois reis. Detinham funções legislativas e de corte suprema, possuindo um caráter consultivo. Na base das estruturas políticas, encontrava-se a Apela (Assembléia Popular), formada por todos os cidadãos maiores de trinta anos. Coam funções de votar as leis e escolher os gerontes.

A EDUCAÇÃO espartana visava a formação de

grandes guerreiros. A disciplina era severa. As crianças defeituosas eram atiradas do alto do monte Taigeto (eugenia). As crianças saudáveis permaneciam em companhia da mãe até a idade de sete anos. Aprendiam a dizer a verdade, a respeitar os mais velhos e a não ter medo. O aprendizado militar ministrado pelo Estado começava aos sete anos e se prolongava até aos dezoito, quando entravam para o exército. Os jovens eram submetidos a exercícios físicos, castigos corporais e privações.

Além desses artifícios uma outra característica notável era o ostracismo que dentro da politica espartana era uma sintesi valida uma vez que os espartanos pouco investiam em educação e se fechavam a eventos que vinham de fora.

A Sissitia: o caldo negro (tocinho, sal, vinagre e sangue) consistia numa forma rígida de alimentação a qual consistia a base da educação espartana e os soldados espartanos eram submetidos.

O roubo o soldado espartano era autorizado a roubar para sobreviver contento que ele não fosse pego roubando, uma vez que, não era o crime de roubo que era levado em consideração mas sim a ineficiência do soldado que não serviria para a guerra.

As resistências ao Hilotismo, podem ser inferidas

também pela prática da Kriptéia. Um terrível costume caracterizado pela eliminação de hilotas. As kriptias se apresentavam como um ritual de passagem, uma espécie de “teste pedagógico”. A educação espartana atendia a necessidade de se preparar bons soldados, em especial para perpetuar a dominação sobre a massa de hilotas. “…A partir dos sete anos, as crianças do sexo masculino eram entregues ao Estado para sua educação: da gramática, só aprendiam para as necessidades correntes (ler e escrever); todo o resto da instrução tendia a que fossem obedientes, resistentes à fadiga e vencedores nos combates…” (PLUTARCO, A vida de Licurgo).

A preocupação excessiva com a atividade militar além de se constituir numa forte herança social – a história de Esparta era marcada por guerras de conquista – foi reforçada por uma “razão de Estado” garantir que a minoria espartana mantivesse o domínio opressivo sobre a maioria hilota. Nesse sentido a Kriptéia era um eficiente mecanismo de controle demográfico.

Não esqueça! A mulher espartana vai ter pouca valorização a ela vai ser ensinada artes marciais além de suas tarefas normais.

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA:

Fundada na Ática, península do mar Egeu, pelos jônios que ali se estabeleceram de forma pacífica, ao lado dos eólios e aqueus, antigos habitantes da região.

ESTRUTURA POLÍTICA:

No início, seus habitantes viviam da agricultura e da criação de gado. Onde o poder político estava sob o controle dos eupátridas, donos das terras mais produtivas. Tendo como soberano o basileu comandando

a guerra, a justiça e a religião (período da Monarquia). Sendo assistido pelo Areópago, uma espécie de conselho que limitava o poder do rei.

Com o tempo a monarquia enfraqueceu sendo substituído pelo Arcontado, composto por nove arcontes com mandato anual cuidando do exército, religião, assuntos internos, legislação, etc. Contudo, por volta do séc. VII - VI a.C., Atenas se transformou em um importante centro comercial aumentando assim, o número de comerciantes e artesãos enriquecidos que passaram a contestar os domínios dos eupátridas. Diante da enorme pressão, estes, viram-se forçados a fazerem concessões, através da escolha de legisladores, entre os integrantes da aristocracia.

Dentre esses legisladores destacou-se Dracom, que, em 621 a.C. organizou e registrou por escrito as leis que, até então, baseavam-se na tradição oral - Código de Dracom. No entanto, além de ser extremamente severa, manteve os privilégios sociais e políticos existentes.

Em 549 a.C., Sólon, outro legislador deu início a reformas ambiciosas: suprimiu a escravidão e a hipoteca por dívidas; dividiu a sociedade censitariamente, ou seja, de acordo com o padrão de renda dos indivíduos, determinando assim, seus privilégios; criou a Bule (Conselho dos Quatrocentos), onde participavam os elementos das quatro tribos em que estava dividida a Ática; criou a Assembléia Popular - Eclésia - a qual aprovava as medidas da Bule; e o Helieu, tribunal de justiça aberto a todos os cidadãos.

Contudo, as reformas de Sólon desagradaram a aristocracia, devido a redução de seus privilégios, e ao povo, que. esperavam reformas mais extensas e profundas. Dessa forma, as conturbações políticas criaram as condições para o surgimento dos tiranos, governantes que exerciam o poder à força. O primeiro foi Pisistrato, que governou de 561 a 527 a.C., procurando amenizar os confrontos sociais através da construção de obras públicas e reforma agrária. Após sua morte, foi sucedido por seus filhos Hiparco e Hípias, que não deram seguimento à política de Pisistrato, perdendo o apoio popular. Através de um golpe da aristocracia, mataram Hiparco e forçaram Hípias a tomar atitudes drásticas, que resultou na sua expulsão.

Em 510 a.C. Clístenes assume o poder e inaugura a democracia escravista ateniense. Sendo assim, considerado o “Pai da Democracia”. Dentre suas reformas redividiu Atenas em 10 tribos e ampliou a participação dos membros da Bule para quinhentos (cinqüenta por tribo); criou os Estrategos, formados por um membro de cada tribo, com funções militares; ampliou o poder de decisão da Eclésia; e criou o OSTRACISMO - exílio por dez anos a todos aqueles que representassem uma ameaça à democracia.

É importante lembrar que a democracia instituída pela reforma de Clístenes e consolidada no governo de Péricles por assalariar os cidadãos ativos. Era um sistema político do qual participavam todos os cidadãos atenienses, adultos, filhos de pai e mãe atenienses. Estes, entretanto, constituíam uma minoria da qual estavam excluídos os estrangeiros (Metecos), os escravos e as mulheres.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL:

A sociedade ateniense estava dividida basicamente em três classes sociais: CIDADÃOS - pessoas nascidas de pai e mãe

ateniense, os que gozavam de completa liberdade e participavam das decisões políticas. Eupátridas (bem-nascidos). Aristocratas, proprietários de terras que acabaram monopolizando o poder político.

GEORGÓIS (pequenos proprietários) DEMIURGOS (comerciantes) THETAS (camponeses sem terra) THECNAYS (thetas que viviam do artesanato) METECOS - eram os estrangeiros que obtinham

permissão para se fixar na Ática. Não tinham privilégios políticos, mas podiam exercer qualquer atividade social e intelectual.

ESCRAVOS - constituíam a grande parcela da sociedade ateniense. Eram provenientes, geralmente, das dívidas, da guerra e do nascimento. Possuindo valor de uso e troca.

A EDUCAÇÃO ATENIENSE era diferente do

sistema educacional de Esparta e visava a formação de bons cidadãos, aptos para a vida política. Os meninos começavam a freqüentar escola desde os sete anos, acompanhados de um escravo chamado pedagogo, isto é, “condutor de criança”. No início aprendiam a ler, escrever e contar. Depois estudavam música e literatura. Terminando o serviço militar, dos 18 aos 20 anos, os jovens eram considerados cidadãos.

AS CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO DOS

ESCRAVOS NO MUNDO GREGO

É nos difícil precisar as condições gerais de vida e trabalho do escravo urbano que, sem lugar e dúvidas, variavam muito. Apesar do tecer e moer serem, respectivamente, tarefas fatigantes e pesadas, os escravos domésticos, dada a própria natureza de suas funções - trabalho variado e restrito às necessidades familiares - podiam conhecer existência sofrível. Mais ainda se trabalhassem para um senhor abonado. Talvez não se pudesse dizer o mesmo para um doméstico de uma família de parcos recursos. Podiam igualmente variar a “qualidade de vida” dos escravos-artesões.

As condições de vida e trabalho do escravo urbano dependiam mais do contexto em que trabalhavam e das funções que exerciam do que de seu status jurídico. Um escravo do Estado empregado em importante função burocrática vivia existência aprazível. Um cativo exercendo tarefas diretas e pesadas como o transporte de mercadorias ou moagem de grãos podia vegetar execravelmente. No geral a vida do escravo urbano parece ter sido suportável, segundo os padrões da época.

Os cativos empregados na indústria artesanal urbana eram um importantíssimo segmento da população escrava. Por diversos motivos, acredita-se que as suas condições gerais de existência e trabalho não tenham sido degradantes. As oficinas artesanais gregas eram unidades econômicas pequenas ou médias: a grande

manufatura de escudos de Kefalos, verdadeira exceção, empregava 120 homens. Outra característica marcante desta atividade era seu caráter misto.

Cativos e homens livres trabalhavam lado a lado sem exclusivismo de tarefas. Nesta pequena produção, quase sem máquinas, onde a habilidade, a destra e a colaboração dominavam, dificilmente se podia estabelecer condições de trabalho diferenciadas para homens livres e cativos.

Na Grécia Antiga, os escravos mineradores conheceram os mais variados padrões de trabalho e existência. A importante produção argentífera ateniense do Laúrio sustentou-se essencialmente sobre o trabalho escravizado, ainda que ali labutasse em menor número de homens livres. Acredita-se que em meados do século IV aproximadamente 30.000 cativos eram ocupados na extração, triagem; fundição e transporte daquele mineral. As reservas argentíferas, de propriedade estatal, eram arrendadas a concessionários privados que as exploravam com equipes de trabalho poucas vezes ultrapassando algumas dezenas de homens, mulheres e crianças.

No Láurio, o trabalho parecia ser pesadíssimo, o repouso escasso, a comida pouca. Acredita-se ter sido comum e os escravos trabalharem acorrentados e receberem castigos físicos. A população servil dormia em “senzalas” estreitas, insalubres e estritamente vigiadas. A fuga de cativos mineradores era fato corriqueiro e, quando da invasão da Ática pelos espartanos, na última década da Guerra do Peloponeso, milhares de escravos desertaram destas minas.

O grego dos tempos clássicos vivia comedidamente: vestia-se com simplicidade e comia frugalmente. Os hábItos alimentares ou as vestimentas de um cativo não se diferenciavam muito do de um cidadão pobre. Temos notícias de escravos rurais calçados, algo quase inimaginável, dois mil anos mais tarde, no Brasil escravista. O mundo dos cidadãos e o dos escravos, porém, eram universos, a bem dizer, sem trânsito. Um escravo podia obter a liberdade, jamais a cidadania. Quando ocorria a manumissão, geralmente através da compra de sua liberdade, ascendia ao Status de “estrangeiro”, isto é, meteco. Não podia, conseqüentemente, possuir bens, imóveis ou participar da vida política da polis. Foram infinitos os casos em que se deu - por merecimento ou serviços excepcionais - a cidadania a um meteco. Por outro lado, o liberto não ficava totalmente descomprometido de deveres para com seu ex-senhor. Se casasse com pessoa detentora dos “direitos de cidade”, seus descendentes não os herdavam. Com o tempo, o próprio casamento de metecos cidadão foi proibido. Como meteco, o liberto era obrigado ao pagamento das taxas pertinentes à categoria e a servir o exército, como hoplita ou infante ligeiro, ou na marinha, como remador.

O escravo grego – tido corno bem móvel não constituía uma categoria social desprovida totalmente de direitos. Na família senhorial, recebia um nome e era associado ao culto doméstico. Tinha geralmente, como já vimos, direitos de propriedade - o pecúlio. Quando manumitido, só voltava à situação anterior por decisão judicial. Mesmo corno escravo, podia pleitear, representado pelo senhor, seus direitos na Justiça. E mais, ao amo era proibido, ao menos segundo a lei, injuriar gravemente, aleijar ou matar seu cativo. O escravo injustamente seviciado podia até mesmo procurar refúgio junto a templos específicos e pedir aos sacerdotes que se pronunciassem pela sua venda a um outro senhor. Em Atenas, o castigo físico “normal” dos cativos não

podiam exceder 50 chibatadas”.(Maestri Filho e Mário José, O Escravismo Antigo.

Discutindo a História. Págs.: 23-29)

Atenas, e nas demais cidades gregas com o mesmo

modelo político em quase todas as atividades coexistiam o trabalho livre e o escravo, poucas ocupações eram privativas dos homens livres. Assim, no comércio, no pastoreio, na agricultura e mesmo nos serviços públicos, as tarefas eram executadas tanto por homens livres quanto por escravos. A única exceção era o trabalho na extração mineral, que, pelo desgaste e riscos apresentados, tornara-se uma exclusividade dos cativos.

As resistências ao escravismo em Atenas é

evidenciada pela preocupação da camada dominante em não permitir o mínimo de consideração pessoal com o escravo, Platão afirmava que “…toda a palavra, ou quase, dirigida ao escravo, deve ser uma ordem… e que não se deve, acima de tudo, mostrar os dentes aos escravos…”

As formas de resistências iam desde a mais natural àquilo que hoje chamaríamos de “operação tartaruga” ou como expressou Homero no Canto XVII da Odisséia “…É costume dos criados, quando os patrões ausentes ou são fracos e sem autoridade, relaxarem-se e não pensarem mais em cumprir o seu dever”; passando pela fuga e deserção, até formas tipicamente gregas como o asilo nos templos e altares. Relativamente a revoltas e rebeliões há uma limitada documentação sobre outras cidades gregas (Córcira, Egina, Esparta…), e nenhum registro substancial desta forma de resistência em Atenas. As razoes deste “vazio” de informação podem ser o reduzido números de revoltas, talvez pelo fato das fugas serem a forma mais usada de resistência ou então a predominância das revoltas sociais das camadas livres

excluídas tenham obscurecido as revoltas escravistas.

6 - PERÍODO CLÁSSICO Esse período foi marcado por violentas lutas dos gregos contra os povos invasores (persas) e entre si. Foi considerado o apogeu da antiga civilização grega, concentrando suas maiores realizações culturais. A primeira das grandes guerras de gregos contra persas ficou conhecida como Guerras Médicas.(por causa dos Medos que habitavam o Império Persa). Guerras Médicas Gregos X Persas. Causas: imperialismo persa (expansão persa na Ásia Menor). Batalha em Maratona: vitória grega. Desfiladeiro de Termópilas: o exército espartano comandado por Leônidas é derrotado por Xerxes. Batalha Naval de Salamina: os persas são derrotados. Batalha de Platéia: Xerxes é derrotado. Paz de Címon ou Calias: os persas se comprometiam a abandonar o mar Egeu.

LIGA DE DELOS

GUERRA DO PELOPONESO A hegemonia ateniense, com a expansão de sua influência política, foi combatida por Esparta, que não desejava que o império de Atenas colocasse em risco as alianças de Esparta com outras cidades. A formação da Liga do Peloponeso inseriu-se nesse contexto.

Foram 28 anos de lutas, que terminaram com a derrota ateniense. A supremacia espartana teve curta duração, sendo seguida pelo predomínio de Tebas e por um período de perturbações generalizadas. As principais cidades gregas estavam esgotadas por décadas de guerra. Eram alvos fáceis para um inimigo exterior: a Macedônia. 7 - PERÍODO HELENÍSTICO Período caracterizado pela invasão da Grécia pelos macedônios comandados por Filipe II (Batalha de Queronéia). A política expansionista iniciada por Filipe II teve continuidade com seu filho e sucessor Alexandre Magno, que consolidou a dominação da Grécia e conquistou a Pérsia, o Egito e a Mesopotâmia. Alexandre respeitou as instituições políticas e religiosas dos povos vencidos e promoveu casamentos entre seus oficiais e jovens das populações locais; ele próprio desposou uma princesa persa. A fusão dos valores gregos com as tradições das várias regiões asiáticas conquistadas deu origem a uma nova manifestação cultural, o helenismo. HELENISMO Fusão dos elementos gregos com as culturas locais. Recebeu este nome pois os gregos chamavam a si mesmos de helenos

O IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE

ORIGENS DE ROMA Há duas explicações sobre as origens de Roma:

a lendária e a histórica. Sua origem histórica é um assunto polêmico. Pela lenda, Roma foi fundada em 753 a.C., por Rômulo e Remo. Para os historiadores, Roma foi formada por povos pastores arianos que se estabeleceram na região do Lácio, na parte centro-ocidental da península da Itália. Constantemente atacados pelos etruscos, um povo estabelecido ao norte do Lácio, os pastores construíram uma fortaleza entre “sete colinas”. Essa cidadela militar latina passou a dominar uma passagem estreita pela qual principalmente os mercadores cruzavam o rio Tibre, ao transportar o sal do litoral até a Etrúria (“Rota do Sal”).

As classes sociais na Roma primitiva se

estruturaram a partir da posse ou não da terra. Os mais antigos habitantes monopolizaram as melhores terras cultiváveis, constituindo grandes propriedades. Eram os patrícios, enquanto os pequenos proprietários, artesãos e estrangeiros formavam a plebe.

ROMA MONÁRQUICA Só os patrícios tinham direitos políticos.

Administravam a cidade por meio dos chefes das famílias (gens ou clãs), que se reuniam no Conselho dos Anciãos ou Senado e aprovavam leis aplicadas pelo rei. A tradição se refere a sete reis, mas provavelmente os primeiros nunca tenham existido: Rômulo, Numa Pompílio, Túlio Ostílio, Anco Márcio, Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio, o Soberbo, sendo os três últimos de origem etrusca, pois Roma, a partir de 640 a.C., foi dominada por esse povo. Tarquínio, o último rei, fez construir grandes obras públicas com o objetivo de ter o apoio dos plebeus e diminuir o poder dos patrícios. Estes reagiram e expulsaram-no da cidade pondo fim à monarquia e ao domínio etrusco, em 509 a.C.

ROMA REPUBLICANA Em 509 a.C. uma revolta dos patrícios põe fim ao

período de dominação dos reis etruscos sobre Roma. Sendo instituído então a República (aquilo que é do povo), uma forma de governo que a princípio foi comandada exclusivamente pelos seus implantadores através do Senado e das magistraturas.

Os patrícios instituíram a República, totalmente controlada por eles. Portanto, era uma República aristocrática (dos “bens nascidos”). O Senado era o órgão máximo, decidia pela paz e guerra, controlava a arrecadação e as despesas do Estado, elaborava as leis e as fazia executar por meio de magistrados, como os dois cônsules, eleitos por um ano. Enquanto um tratava dos assuntos internos, o outro se encarregava das guerras e das relações com outros povos. Os demais magistrados da República romana eram os:

a) Questores: encarregados da cobrança dos impostos e da administração das finanças. b) Pretores: eram juízes, portanto encarregados de aplicar a justiça. c) Censores: faziam o recenseamento da população e zelavam pelos “bons costumes”. d) Edis: administravam a área urbana, tendo como principais funções: zelar pelo policiamento para manter a ordem pública, fiscalizar o comércio, determinar os pesos e medidas, organizar o abastecimento etc.

Em época de crise ou quando a guerra estava sendo desfavorável aos romanos, os dois cônsules escolhiam um ditador para substituí-los por um período máximo de seis meses, dotado de grande poder (dictatus). Quando o fator que determinava a necessidade da ditadura deixava de existir, o poder voltava aos cônsules. Portanto, na Roma antiga a ditadura era uma instituição legal. A reunião geral dos romanos ocorria na Assembléia Centuriata. Todos os homens, equipados para lutar, se reuniam no Campo de Marte para referendar as decisões do Senado. Como as centúrias dos patrícios eram melhor equipadas e mais numerosas (98 contra 95), eles dominavam as decisões da Assembléia. A plebe, sentindo-se prejudicada, passou a reivindicar direitos, pois lutava nas guerras em que Roma se envolvia. Foi o longo período de lutas sociais na Roma antiga.

Nos seus dois primeiros séculos de existência a República romana passou por significativas transformações decorrendo das suas lutas sociais internas que viabilizaram a valorização política, social e jurídica dos Plebeus e, de seu impressionante expansionismo externo que tornaria Roma o centro da história do ocidente por no mínimo sete séculos (século II a.C. ao século V d.C.).

Dentre os fatos que marcaram existência da república romana, um dos mais relevantes foi a consolidação do modo de produção escravista, como resultado das conquistas geográficas de suas eficientes legiões. Incontáveis e diversos, os escravos ocupavam praticamente todos os setores produtivos daquela sociedade, sem, contudo, se constituírem mão de obra exclusiva.

Na sociedade romana, semelhantemente ao mundo grego, as condições de vida de um escravo, em regra, dependiam fundamentalmente das suas condições de trabalho. Devido a impressionante diversidade de trabalho e de atividades que um escravo poderia exercer (agricultura, pecuária, artesanato, comércio, administração, finanças, luta etc…) as variações das condições de vida poderiam ir da miséria ao luxo, da penúria ao fausto.

Na sociedade escravista romana provavelmente as condições de vida mais degradantes eram dadas aos escravos das galés, geralmente uma função reservada aos criminosos ou àqueles mais resistentes ao escravismo; e aos escravos do circo – o gladiador, em face da inquietante expectativa de vida.

“O poder militar estava mais estreitamente

ligado ao crescimento econômico do que

talvez em qualquer modo de produção,

antes ou depois, porque a principal fonte de

trabalho escravo era normalmente os

prisioneiros de guerra capturados”.

LUTAS PELA CIDADANIA NA REPÚBLICA

ROMANA E REVOLTAS DE ESCRAVOS.

A grande parcela da sociedade romana, durante a República, era constituída pelos plebeus, que viviam marginalizados politicamente, mesmo que enriquecessem através do comércio. Quando um plebeu, por exemplo, tornava-se insolvente, sem condições de pagar suas dívidas, tinha de se submeter ao nexum, - instituição que colocava o devedor subordinado ao credor até a total extinção da dívida, criando-se uma servidão que chegava a durar toda uma vida. A marginalização e o descontentamento, do início do período republicano, levaram ao agravamento das lutas de classe em Roma.

Em 494 a.C., os plebeus, em sinal de protesto, retiraram-se para o monte Sagrado, exigindo representação política (direito a cidadania). Como sua participação na economia e no exército de Roma era de extrema importância, os patrícios concordaram em atender aos plebeus, que ganharam representação através de dois tribunos da plebe (em 471 a.C.). Os tribunos podiam ser considerados intocáveis (imunidade). Os tribunos podiam ser procurados por qualquer pessoa que se julgasse injustiçada, aí suas casas ficarem abertas dia e noite.

Em 450 a.C., após outras revoltas plebéias, os patrícios convocaram os decênviros, dez juristas nomeados para redigir um código de leis. O resultado foi à elaboração da Lei das Doze Tábuas, primeira complicação escrita das leis romanas, possibilitando uma igualdade jurídica entre patrícios e plebeus.

Em 367 a.C., foram adotadas as Leis Licínias, que possibilitaram aos plebeus partilhar as terras conquistadas, além de estabelecer que um dos cônsules seria sempre um plebeu. A Lei Canuléia também favoreceu os plebeus, pois permitiu o casamento entre estes e os patrícios. Acabaram-se as distinções sociais tradicionais, mas mantinha-se a distinção econômico-militar, entre ricos e pobres, altas patentes e simples soldados. Um dos fatores que permitiram manter essa situação foi o nacionalismo surgido com a guerra e a expansão territorial.

No século IV AD o imperador Caracala, concedeu direito de cidadania romana a todo homem livre. Apesar da preocupação manifestada pelos grandes proprietários romanos, nos séculos II e I a.C., ocorreram várias revoltas de escravos. Entre 138 e 132 a.C., e 104 e 101

a.C., verificaram-se grandes rebeliões de escravos na Sicília e na Ásia Menor. No final da década de 70 a.C., na Sicília, milhares de escravos rebelaram-se, liderados por Espártaco, e durante longo tempo resistiram aos ataques dos exércitos de Roma, denotando-os repetidas vezes, mas sendo, finalmente, dizimados. Espártaco foi crucificado às portas de Roma, com 6 mil outros escravos, cujos corpos foram pendurados em postes ao longo das estradas.

RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE NA

ANTIGUIDADE CLÁSSICA

a) Mitologia e História

“A religião, em todos os seus aspectos, diz respeito ao universo sagrado, ou seja, aquele que ultrapassa os poderes e as virtudes humanas, que as transcende e que contém verdades absolutas. Os conteúdos deste universo sagrado são as divindades e seus poderes, os mitos e lendas. Para que o universo profano (não sagrado) entre em contato com o sagrado é preciso realizar uma série de ações significativas, os rituais praticados segundo o conhecimento da tradição religiosa. Transmitido por pessoas que tiveram a incumbência de guardá-lo e ensiná-lo as gerações seguintes”.

Teresa Van Acker

A antiguidade clássica – greco-romana – deixou como herança religiosa, um conjunto de crenças e devoções que ainda hoje são objetos de muito interesse e estudo. Especialmente a inestimável mitologia grega, que além de ser uma valiosa fonte histórica, é um retrato psicológico daquela sociedade. Visto que, através do mito se percebe as lutas, angústias e inquietações de homens e mulheres que criaram e adotaram um número incontável de deuses e divindades na tentativa de responder as questões existenciais mais básicas (quem sou eu? De onde vim? E para onde vou?).

A prática e o conteúdo da religião grega e romana eram bastante semelhantes, ainda que, se possa identificar pequenas, porém significativas diferenças de concepção religiosas. Um exemplo deste aspecto é o fato dos gregos serem mais sentimentais e emotivos que os romanos no trato como os deuses, para os romanos o importante era o formalismo, o ritualismo, já para os gregos, importava muito acreditar nas divindades como seres que se relacionavam com os seres humanos.

O antropomorfismo da religião grega é sem dúvida o principal diferencial em relação a religião romana já que estes se contentavam apenas, “em cumprir como toda exatidão os ritos tradicionalmente prescritos. (…) a índole prática dos romanos manifestou-se também na política de conquistas, ao incorpora ao próprio panteão os deuses dos povos vencidos” (Enciclopédia BARSA, Vol 1 2, p. 446). Já para os gregos os deuses possuíam caracteres físicos e psíquicos tipicamente humanos, não eram perfeitos ou puros pelo contrário eram suscetíveis aos mesmos erros e falhas dos homens.

Relativamente ao diferencial da religião romana em relação a grega, destaca-se a ausência entre estes últimos de uma função predominantemente política. Já para os romanos a religião era um forte instrumento a serviço do poder político seja no âmbito familiar e privado ou no âmbito público e estatal. Um exemplo claro desta relação foi o estabelecimento do Culto aos Princeps

durante o império.

AS CARACTERÍSTICAS GERAIS DA RELIGIÃO

CLÁSSICA:

Politeísmo – a crença num número incontáveis de

deuses que servia tanto para explicar a origem e a manutenção da existência, quanto, para lidar com o dia-a-dia de cada indivíduo.

Pragmática – A religião era um forte e vínculo de

unidade cultural entre os gregos e um forte mecanismo de poder político para os romanos (o culto ao Imperador), além de ser útil para dar uma explicação para a vida, existências e infortúnios.

“Assim sendo, do mesmo modo que Numa (Rei

romano) havia instituído práticas religiosas para a paz Anca Márcio resolveu instituí-las para a guerra. Não bastava declarar guerra, mas era necessário fazer a declaração de acordo como um rito”.

(Tito Livro – História de Roma)

Idealista – Os deuses eram concebidos como seres imortais e poderosos. Viviam uma vida cheia de prazer (especialmente os que moravam no Olimpo) e ociosidade (com raras exceções como é o caso de Hefaísto/Vulcano que era ferreiro). Era, portanto, uma reprodução da vida que cada grego sonhava para si.

Fatalista – Para gregos e romanos a vida era algo que os deuses determinavam e que o ser humano não podia alterar. Devido a seu aspecto sentimental a visão fatalista dos gregos produziu um comportamento social de resignação e subordinação a “vontade” dos deuses. Já os romanos encaravam este aspecto com o seu típico formalismo, sem nenhum envolvimento sentimental.

A Religião clássica possuía uma variedade de formas de manifestações, ou seja, de religiosidade. Começava como os altares domésticos que atendiam as exigências do culto aos ancestrais (para os romanos deuses dos Lares). Fora da casa as manifestações aconteciam nos Templos, geralmente onde ocorria a prática dos sacrifícios – uma das formas públicas mais enaltecidas pela sociedade das oferendas, das libações e outros ritos. As manifestações coletivas ocorriam de forma grandiosa nas festas que eram constantes e bastante envolvente. Como exemplo, podemos citar as Panatenéias e os jogos olímpicos no mundo grego, e as festas ao deus Baco em Roma.

As consultas aos oráculos e aos adivinhos eram manifestações de uma religiosidade muito preocupada em ter respostas práticas para os acontecimentos da vida.

As diásporas gregas e o expansionismo romano foram responsáveis por um sincretismo religioso, bastante setorizado em relação aos gregos (absorção dos ritos cretenses e da região do Egeu) e, incrivelmente ecléticos em relação aos romanos (ritos egípcios, asiáticos, gregos, etc).

Mito e História. A religião grega com suas divindades e deuses não é mais objeto de crença por nenhuma sociedade contemporânea, entretanto ainda hoje seu conteúdo inspira poetas, escritores e artistas. Expressões como “bancar o cupido”, “trabalho de Hércules”, “presente de grego”, “calcanhar de Aquiles” são utilizadas e exploradas em textos ou discursos.

O mito é uma forma especial de narrativa, possuiu um conteúdo histórico que pode ser encoberto pelos elementos fabulosos, precisando ser percebido em meio

aos detalhes sobrenaturais. Contudo o enredo narrativo por si só já nos fornece preciosas informações. As canções dos Aedos (poetas gregos) e dos literatos latinos eram ricas em detalhes sobre a vida, os medos, os desejos e o cotidiano da sociedade clássica.

O mito de Teseu e o minotauro – O mito narra a construção do Labirinto pelo Rei de Creta, objetivando deter o minotauro. Trata também da triste sorte de Atenas obrigada a oferecer seus jovens em sacrifício ao minotauro a fim de aplacar a ira do rei de Creta e finalmente fala de Teseu filho do rei de Atenas que se oferece para livrar a cidade daquela maldição, com ajuda de Ariadne filha do rei cretense que lhe fornece um novelo de lã e uma adaga o herói mata o monstro e escapa do labirinto. A história certamente aponta para as impressionantes construções cretenses (labirintos), para a hegemonia político-econômica de Creta (Minotauro) e da libertação das pólis gregas do domínio de Creta (Teseu).

A Guerra de Tróia – Narrada por Homero na Ilíada, fala do concurso de beleza entre as deusas promovido pela deusa discórdia e decidido pelo príncipe troiano Páris, ó raptor de Helena, a mulher mais bela do mundo grego e esposa do rei de Esparta Menelau. As cidades-estado se reúnem e atacam Tróia para se vingar do ultraje. A guerra dura dez anos e os gregos só vencem graças a esperteza de Odisseu (Ulisses) idealizador do Cavalo de Tróia. Em termos históricos a obra mitológica de Homero é uma narrativa da expansão do povo grego para a Ásia Menor e da afirmação de suas bases comerciais no mar negro.

Rômulo e Remo – segundo a narrativa mitológica o fundador de Roma, Rômulo, era descendente de Marte, o deus da guerra, numa visível tentativa de explicar as conquistas e o poderio romano como uma conseqüência natural de sua origem divina.

O Antigo Egito foi uma civilização da Antiguidade oriental do Norte de África, concentrada ao longo ao curso inferior do rio Nilo, no que é hoje o país moderno do Egito. Era parte de um complexo de civilizações, as "Civilizações do Vale do Nilo", do qual também faziam parte as regiões ao sul do Egito, atualmente no Sudão, Eritreia, Etiópia e Somália. Tinha como fronteiras o Mar Mediterrâneo, a norte, o Deserto da Líbia, a oeste, o Deserto Oriental Africano a leste, e a primeira catarata do Nilo a sul. O Antigo Egito foi umas das primeiras grandes civilizações da Antiguidade e manteve durante a sua existência uma continuidade nas suas formas políticas, artísticas, literárias e religiosas, explicável em parte devido aos condicionalismos geográficos, embora as influências culturais e contactos com o estrangeiro tenham sido também uma realidade.

A civilização egípcia se aglutinou em torno de 3 150 a.C. com a unificação política do Alto e Baixo Egito, sob o primeiro faraó (Narmer), e se desenvolveu ao longo dos três milênios seguintes. Sua história desenvolveu-se ao longo de três grandes reinos marcados pela estabilidade política, prosperidade económica e florescimento artístico, separados por períodos de relativa instabilidade conhecidos como Períodos Intermediários. O Antigo Egito atingiu o seu auge durante o Império Novo (1 550–1 070 a.C.), uma era cosmopolita durante a qual, graças às campanhas militares do faraó Tutmés III, o Egito dominou, uma área que se estendia desde a Núbia, entre a quarta e quinta cataratas do rio Nilo, até ao rio Eufrates, tendo após esta fase entrado em um período de lento declínio. O Egito foi conquistado por uma sucessão de potências estrangeiras neste período final. O governo dos faraós terminou oficialmente em 31 a.C., quando o Egito caiu sob o domínio do Império Romano e se tornou uma província romana, após a derrota da rainha Cleópatra VII na Batalha de Ácio.

O sucesso da antiga civilização egípcia deve-se em parte à sua capacidade de se adaptar às condições do Vale do Nilo. A inundação previsível e a irrigação controlada do vale fértil produziam colheitas excedentárias, o que alimentou o desenvolvimento social e cultural. Com recursos excedentários, o governo patrocinou a exploração mineral do vale e nas regiões do deserto ao redor, o desenvolvimento inicial de um sistema de escrita independente, a organização de construções coletivas e projetos de agricultura, o comércio com regiões vizinhas, e campanhas militares para derrotar os inimigos estrangeiros e afirmar o domínio egípcio. Motivar e organizar estas atividades foi uma tarefa burocrática dos escribas de elite, dos líderes religiosos, e dos administradores sob o controle de um faraó que garantiu a cooperação e a unidade do povo egípcio, no âmbito de um elaborado sistema de crenças religiosas.

As muitas realizações dos antigos egípcios incluem o desenvolvimento de técnicas de extração mineira, topografia e construção que permitiram a edificação de monumentais pirâmides, templos e obeliscos; um sistema de matemática, um sistema prático e eficaz de medicina, sistemas de irrigação e técnicas de produção agrícola, os primeiros navios conhecidos, faiança e tecnologia com vidro, novas formas de literatura e o mais antigo tratado de paz conhecido, o chamado Tratado de Kadesh. O Egito deixou um legado duradouro. Sua arte e arquitetura foram amplamente copiadas e suas antiguidades levadas para os mais diversos cantos do mundo. Suas ruínas monumentais inspiraram a imaginação dos viajantes e escritores ao longo de séculos. O fascínio por antiguidades e escavações no início do Idade Contemporânea esteve na origem da investigação científica da civilização egípcia e levou a uma maior valorização do seu legado cultural.

Nas épocas de cheias do rio Nilo, a atividade agrícola era suspensa. Assim, os trabalhadores do campo eram requisitados para outro tipo de trabalho. Construíam as chamadas obras públicas: diques, canais de irrigação, templos, palácios etc.

No Egito havia a crença em diversos deuses, ou seja, tratava-se de um politeísmo. O imaginário egípcio estava povoado por uma centena de deuses. Alguns assumiam a forma de animais ou meio animais, meio humanos. De todas as divindades egípcias, destacava-se Amon-Rá, Íris, Osíris, Set, Hórus, Anúbis e Ápis. Por volta do século XIV a.C. o faraó Amenotep IV realizou uma reforma religiosa monoteísta e instaurou o culto ao deus Áton. O politeísmo foi reinstaurado no Egito após a morte de Amenotep IV. O imaginário egípcio era povoado por crenças, inclusive com a possibilidade de uma vida da alma após a morte. É por esse motivo, por exemplo, que se desenvolveu a mumificação dos corpos. Acreditavam que um corpo preservado conservaria uma energia chamada Ká e que é responsável pela manutenção da alma no paraíso. A mumificação, a prática de embalsamar, bem como dissecar cadáveres foi de extrema importância para o conhecimento a respeito da anatomia humana e desenvolvimento da medicina. Até a Grécia, representada na figura de Hipócrates, foi herdeira dos diversos ensinamentos médicos desenvolvidos pelos egípcios. A arquitetura e a engenharia também foram desenvolvidas no Egito e esses conhecimentos estão expressos nas obras hidráulicas, nos canais de irrigação, nas pirâmides e templos construídos pelos egípcios. A escrita egípcia também se desenvolveu consideravelmente. Havia três tipos de escrita: a hieroglífica, a hierática e a demótica. As duas primeiras formadas por sinais sofisticados e a última mais popular. A escrita egípcia, até o século XIX, não tinha sido decifrada. Foi graças ao trabalho de decifração das letras contidas na pedra de Roseta, feita por um francês chamado Champollion, que se pode aprofundar os conhecimentos a respeito da história do Egito. Os egípcios e os outros povos Ao longo dos séculos, diversos povos invadiram o território egípcio. Um deles pode influenciar, em parte, o desenvolvimento do conhecimento e da cultura: os hicsos. Estes levaram aos egípcios armas de ferro, o cavalo e o carro de guerra. O Egito também foi invadido pelos persas e, posteriormente, pelos macedônicos sob o comando de Alexandre.

ANTIGOS IMPÉRIOS AFRICANOS

Na apresentação das grandes civilizações

africanas, em 1000 a.C., povos semitas da Arábia

emigram para a atual Etiópia. Depois, em 715 a.C.

o Rei de Cush, funda no Egito a 25ª dinastia. Em

533 a.C. transfere sua capital de Napata para

Meroé, onde, cerca de cinquenta anos depois, já

se encontra uma metalurgia do ferro, altamente

desenvolvida. Por volta do ano 100 a.C.

desabrocha, na Etiópia, o Reino de Axum.

O tempo que se passou até a chegada dos árabes

à África Ocidental foi, durante muitos séculos,

considerado um tempo obscuro, face à absoluta

ausência de relatos escritos, que só apareceram

nos séculos XVI e XVII, com o “Tarik-Al-Fattah” e

o “Tarik-Es-Sudam”, redigidos, respectivamente,

por Muhammad Kati e Abderrahman As Saadi,

ambos nascidos em Tombuctu. Mas o trabalho de

arqueólogos do século XX, aliado aos relatos da

tradição oral, conseguiu resgatar boa parte desse

passado.

O mais antigo desses reinos foi o da Etiópia. Entre

os séculos III e VII, a Etiópia teve como vizinhos

outros reinos cristãos: o Egito e a Núbia, contudo,

com a expansão do islamismo essas duas últimas

regiões caíram sob o domínio árabe e a Etiópia

persistiu como único grande reino cristão da

África. Antes do efetivo início do processo de

islamização do continente africano, a África

Ocidental vai conhecer um padrão de

desenvolvimento bastante alto. E, os antigos

Estados de Gana, do Mali, do Songai, do Iorubá e

Benin, são excelentes exemplos de pujança das

civilizações pré-islâmicas.

Império do Gana

A população de Gana, rodeada de hortas, pepinos,

palmeirais e figueiras, vivia em uma espécie de

oásis na fronteira sul do deserto do Saara. A

capital de Gana era chamada Kumbi Saleh Foi

fundada no século III No século XI , tinha uma

população de cerca de 30.000 habitantes Tinha

duas zonas diferenciadas: Ao norte viviam os

comerciantes muçulmanos que construíram doze

mesquitas Ao sul estava o palácio real rodeado por

jardins e os edifícios administrativos. Conhecida

como a Al-Ghana

Mesquita de djane

O Antigo Império Gana teve seu apogeu entre os

anos 700 e 1200 d.C. Acredita-se que o

florescimento desse império remonte ao século IV.

Fundado por povos berberes, segundo uns, e por

outros, por negros mandeus, mandês ou

mandingas, do grupo soninkê. O antigo nome

desse império era Uagadu, que ocupava uma área

tão vasta quanto à da moderna Nigéria e, incluía

os territórios que hoje constituem o Mali ocidental

e o sudeste da Mauritânia.

Kumbi Saleh foi uma das suas últimas capitais.

Segundo relatos históricos, o Antigo Império de

Gana era tão rico em ouro, que seu imperador,

adepto da religião tradicional africana, tal como

seus súditos, eram denominados “o senhor de

ouro”. Com a concorrência de outras potências no

comércio do ouro, o Antigo Império Gana começou

a declinar. Até que, por volta de 1076 d.C., em

nome de uma fé islâmica ortodoxa, os berberes da

dinastia dos almorávidas, vindos do Magrebe,

atacam e conquista Kumbi Saleh, capital do

Império de Gana.

O Império do Mali

A queda do Império de Gana abriu um vácuo de poder. A grande questão era: quem tomaria agora o controle das rotas comerciais próximas das fontes auríferas? Os almorávidas fracassaram em sua tentativa de monopolizar o tráfico. O reino que parecia mais próximo de conseguir esse intento era o reino sosso dos

Kantés, ao sul de Gana. Os fundados do Antigo

Mali teriam sido caçadores reunidos em confrarias

ligadas pelos mesmos ritos e celebrações da

religião tradicional. O fervor com que praticavam a

religião de seus ancestrais veio até bem depois do

advento do Islã. Conquistando o que restara do

Antigo Gana, em 1240, Sundiata Keita, expandiu

seu império, que já era oficialmente muçulmano

desde o século anterior. E, o Mali se torna

legendário, principalmente sob o mansa (rei)

Kanku Mussá, que, em 1324, empreendeu a

peregrinação a Meca com a intenção evidente de

maravilhar os soberanos árabes.

Império Songai

A organização do Songai era mais elaborada ainda

que a do Mali. O Império Songai teria suas origens

num antepassado lendário, o gigante comilão

Faran Makan Botê, do clã dos pescadores sorkôs.

Por volta de 500 d.C., diz ainda a tradição, que

guerreiros berberes, chefiados por Diá Aliamen

teriam chegado à curva norte do Níger, tomando o

poder dos sorkôs. A partir daí, a dinastia dos Diá

reina em Kukya, uma ilha perto do Níger, até

1009, quando o reino se converte oficialmente ao

islamismo e transfere a capital para Goa, onde a

dinastia reina até 1335. Nesse ano, o povo songai

se liberta do Antigo Mali, de quem se tornara

vassalo em 1275 e, começa a conquistar as

regiões vizinhas.

Império Kanem-Bornu

Outro grande Estado da África Negra, florescido

por essa época, no norte da atual Nigéria, foi

Kanem-Bornu, em torno do ano 800 d.C. As

cidades-estados haussás, situadas entre o Níger e

o Chade que se encontram em uma grande

encruzilhada. Constituíram-se por volta do século

XII, em redor das vias comerciais que ligavam

Trípolis e o Egito à floresta tropical, por um lado,

e, por outro lado, o Níger ao alto vale do Nilo pelo

Darfur. Os haussás ou a classe dirigente são

negros que habitavam muito mais ao norte e a

leste do que hoje. Junto com o Mali e o Songai,

um dos mais vastos impérios dos grandes séculos

africanos foi o Kanem-Bornu. A sua influência, no

seu período de maior esplendor, estendia-se da

Tripolitânia e do Egito até ao Norte dos Camarões

atuais e do Níger ao Nilo. Nas origens do Kanem

encontra-se a conjunção dos nômades e dos

sedentários.

Império Iorubá

A sudeste da atual Nigéria constituíra-se o

poderoso e dinâmico grupo Ibo. Possuía uma

estrutura ultrademocrática que favorecia a

iniciativa individual. A unidade sociopolítica era a

aldeia. No sudoeste, desenvolveram-se os

principados iorubás e aparentados, entre os

séculos VI e XI. As suas origens, mergulhadas na

mitologia dos deuses e semideuses, não nos

fornecem, do ponto de vista cronológico,

informações suficientes. O grande passado de

todos estes príncipes é Odudua. Seria ele próprio

filho de Olodumaré, que para muitos seria o

Nimrod de que fala a Bíblia, ou segundo a piedosa

tradição islâmica, de Lamurudu, rei de Meca. O

seu filho Okanbi, teria tido sete filhos que vieram a

ser todos “cabeças coroadas”, a reinar em Owu,

Sabé, Popo. Benin, Olé, Ketu e Oyó. Por volta do

século XII, Ifé era uma cidade-estado cujo

soberano o Oni, era reconhecido como chefe

religioso pelas outras cidades iorubás. É que Ifé,

fora o lugar a partir de onde as terras se teriam

espalhado sobre as águas originais para, segundo

a tradição, fazerem nascer o mundo. Os iorubás

foram expulsos da antiga Oyó pelos Nupês (Tapas)

estabelecendo-se no que é a Oyó de hoje.

Império do Benin

Famoso por sua arte, o Benin, situado à sudeste

de Ifé, foi fundado, segundo a tradição, também

por Oranian, pai de Xangô, sendo então,

intimamente aparentado com Oyó e Ifé. A primeira

dinastia a reinar teve, segundo mitos, primeiro

doze Obas (reis) e terminou por uma revolta,

quando se constituiu em reino. Seu apogeu

ocorreu no século XIV, com a capital Edo, que

perdura até hoje.

A cultura nagô, evidenciada nesta pesquisa, tem

procedência no grupo dos escravos sudaneses do

império iorubá, acima citado, em suas origens. Na

verdade a denominação “nagô” foi dada, no Brasil,

a língua iorubá que foi, na Bahia, a “língua geral”

dos escravos, tendo dominado as línguas faladas

pelos escravos de outras nações. O iorubá

compreende vários subgrupos e dialetos, entre os

quais o Egbá, que inclui o grupo Ketu e Ijexá, das

tribos do mesmo nome, cujos rituais foram

adotados, principalmente o Ketu, pelos

candomblés mais conservadores. Do ewe “anago”,

nome dado pelos daomeanos aos povos que

falavam o iorubá, tanto na Nigéria como no Daomé

(atual Benin), Togo e arredores, e que os

franceses chamavam apenas nagô.

* Fonte do texto: KI-ZERBO, Joseph. História da

África. V. 1. Portugal: Publicações Europa-

América, 1999. Este texto foi produzido a partir do capítulo: A África antes do

Islã. In: Bantos, malês e identidade negra.

Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1988. p. 16-25.

INTRODUÇÃO:

Tradicionalmente denominou-se Idade Média o período compreendido entre a queda do Império Romano do Ocidente, no séc. V, e a invasão de Constantino pelos Turcos Otomano, no séc. XV. Denominação que foi criada no período da renascença (séc. XIV - XV), possuindo uma carga de preconceito, Idade Média seria um período de trevas – “idade das trevas”.

Nesse -intervalo de tempo, a Europa viveu o desenvolvimento e a dissolução do FEUDALISMO: forma de organização da sociedade caracterizada por Tradicionalmente denominou-se Idade Média o período compreendido, ter uma estrutura social passada na dependência pessoal (momento que um homem está ligado a um outro através de um juramento e compromissos, organizando uma hierarquia), e uma economia essencialmente agrária voltada para a subsistência, quase totalmente amonetária. E poder político estava concentrado pelos senhores feudais, por isso, descentralizado em relação ao rei.

A Idade Média é basicamente dividida em duas fases: Alta Idade Media (séc. V-XII) período que compreende o processo de ruína da civilização romana; formação de um novo período histórico - o mundo feudal; e sua consolidação. Baixa Idade Média (séc. XII -XV), momento da sua dissolução e o desenvolvimento de relações econômicas e sociais que possibilitaram, posteriormente, o surgimento do capitalismo.

A CRISE DO SÉCULO III No séc. III de nossa era, a imponente e dominadora

civilização viveu um lento, porém irreversível processo de crise, na qual podemos destacar a crise do escravismo, tendo em vista que o Estado Imperial Romano se sustentava das guerras expansionistas que alimentavam a economia de sua mão-de-obra essencial, o escravo. A estagnação dessas guerras devido a uma conjuntura de fatores (a resistência bárbara; o desestímulo social; o aumento da corrupção; o pacifismo cristão, etc), provocou uma seqüência de reações negativas, que culminou no desaparecimento do Império Romano.

A ruralização da sociedade está associada à instalação de uma longa que os habitantes do espaço urbano se viram incapazes de resolver. O aumento demográfico, as invasões bárbaras e o aumento do banditismo, assim como a diminuição do comércio e do artesanato, forçou seus habitantes a procurar alternativas que dessem maior segurança.

As famílias mais ricas se deslocaram para o campo e se instalaram em grandes propriedades rurais denominadas villae. A figura masculina dessas famílias é que vai dar origem ao senhor feudal, um rico fazendeiro detentor de grande poder sobre suas terras, assim como sobre seus habitantes.

“Para os marginalizados sem bens ou ocupação, e

mesmo para os camponeses livres, trabalhar nas terras

de um grande proprietário significava casa, comida e

proteção naquela época de dificuldades e incertezas.

Para os escravos, receber um lote de terra era uma

considerável melhoria de sua condição. Para seu

proprietário, era uma forma de aumentar a produtividade

daquela mão-de-obra e ao mesmo tempo baixar seu

custo de manutenção, pois os estabelecidos num lote de

terra... deixavam de ser alimentados e vestidos por seu

amo”.

(FRANCO JÚNIOR, Hilário. Feudalismo: uma

sociedade religiosa, guerreira e camponesa.

São Paulo: Ed. Moderna, p. 7 e 8).

De forma geral, o feudalismo foi fruto da lenta

integração dos elementos germanos com os dos

romanos, no período histórico compreendido entre os séc.

V e IX. Tendo como principais estruturas romanas: as

Villaes - grandes latifúndios que tendera a tomar-se auto-

suficientes; o Colonato - sistema de trabalho em que o

camponês aparece vinculado ao lote por ele ocupado,

não podendo jamais abandoná-lo nem dele ser privado

por interesse do proprietário; Descentralização do Poder

Político; Comitatus - relação estabelecida entre o

guerreiro e seu chefe, quando os primeiros prestavam

juramento de fidelidade em troca de liderança à

participação nos saques.

SISTEMA DE PRODUÇÃO FEUDAL

No modelo de feudalismo estudado, a essencial da

atividade econômica provinha da agricultura voltada para

a subsistência. A Europa Ocidental estava dividida entre

grandes latifúndios - os feudos, cujas terras eram

repartidas da seguinte forma:

RESERVA DO SENHOR (manso senhorial),

terras reservadas ao senhor feudal, onde sua produção

era destinada ao consumo dos senhores e seus

familiares. Tendo como base de produção o trabalho

servil obrigatório (corvéia);

MANSO SERVIL - terras divididas em lotes

entre os camponeses. Cada família camponesa cultivava

seu lote retirando seu sustento e o necessário para pagar

todos os tributos e as obrigações devidos aos senhores e

à igreja;

MANSO DE RESERVA (terras comunais) –

compostos pelos bosques, pastagens, pradarias, terrenos

baldios, utilizados tanto pelos senhores quanto pelos

camponeses;

CASTELOS – fortificação do senhor feudal,

erguido em saliências naturais ou artificiais. Defendido

pelo senhor e seus cavaleiros, tornou-se símbolo do

poder regional, à medida que o poder dos reis foi

desaparecendo.

Os campenses estavam ligados a terra não podendo

deixá-la por sua livre e espontânea vontade, sendo

chamados de servos. Eram trabalhadores típicos do

feudalismo que ocupavam e cultivavam suas pequenas

parcelas de terras sem serem proprietários, mas

possuíam outros meios de produção essenciais ao

trabalho agrícola como animais da tração, carretas e

ferramentas. No entanto deviam uma série de obrigações

e taxas, pagas geralmente em espécie, como:

CENSO - também chamado de foro, espécie de

renda paga pelo uso da terra. Geralmente direcionados

aos vilões.

CAPITAÇÃO - imposto pago por cabeça. Este

mais direcionado aos servos.

CORVÉIA - trabalho compulsório nas terras do

senhor feudal.

TALHA - obrigação do servo em entregar parte da

produção anual das tenências (manso serviçal).

BANALIDADE - tributo cobrado pelo uso dos

instrumentos ou bens do senhor, como moinho, ponte,

celeiro, forno, etc.

CONSÓRCIO - necessidade de permissão do

senhor para contrair matrimônio.

TAXA DE JUSTIÇA - cobrado pelo senhor

quando o servo cometia uma infração e requeria

julgamento presidido pelo senhor ou seu representante.

PRESTAÇÃO - hospitalidade forçada que servos

e vilões deveriam oferecer aos grandes barões locais por

ocasião das suas viagens, fornecendo alojamento e

alimento para toda a comitiva.

MÃO MORTA - tributo cobrado na transferência

do lote de um servo falecido para seu herdeiro.

PRIMEIRA (1ª) NOITE - obrigação do servo em

ceder sua noiva ao senhor feudal, logo após o

casamento.

TOSTÃO DE PEDRO - contribuição à igreja para

custear as despesas de viagens do Papa.

DÍZIMO - obrigação do camponês em repassar a

décima parte da produção para a igreja.

As igrejas e suas terras incrustadas nos feudos

recebiam imunidades e isenções, não pagavam taxas

nem estavam submetidos à autoridade dos senhores e

seus agentes. Os pátios das igrejas eram considerados

locais de asilo, onde viviam da caridade religiosa servos

fugitivos, pobres, miseráveis, mendigos e toda sorte de

infelizes e rejeitados. A mentalidade religiosa medieval

protegia com direito de hospitalidade o pobre, o louco e o

doente, porque Cristo havia santificado a pobreza e,

portanto, o pobre .podia ser um enviado de Deus.

AS RELAÇÕES SOCIAIS

“A sociedade dos fiéis formam um só corpo, mas o

Estado tem três corpos; com efeito, os nobres e os servos

se regem pelo mesmo estatuto. (...), uns são guerreiros,

protetores da igreja, são os defensores do povo, tanto dos

grandes quanto dos pequenos. (...) A outra classe é a dos

servos, esta desgraçada raça nada possui senão à custa

de sofrimento. Dinheiro, vestuário, alimento, tudo os

servos fornecem a toda gente; nem um só homem livre

poderia subsistir sem os servos (...) O senhor é

alimentado pelo servo, ele que pretende alimentá-lo (…)”.

“A casa de Deus, que cremos ser uma, está, pois,

dividida em três: uns oram, outros combatem, e outros,

enfim trabalham. (...) os servos prestados por uma das

partes são a condição da obra das outras duas; e cada

uma, por sua vez, se encarrega de aliviar o todo (...). É

assim que a lei tem podido triunfar e que o mundo tem

podido gozar da paz”.

(Bispo Adalbéron de Leo, séc. XI, apnd. LE-

GOFF, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval.

Lisboa; Editorial Estampa, 1984, v. 11. p. 45-46).

Essa formulação reflete claramente a hierarquia da

sociedade feudal, dividida em estamentos: “uns rezam”

(clero, oratores, carneiros), “outros combatem”

(cavaleiros, bellatores, cães) e “outros trabalham”

(servos, laboratores, bois). No entanto, podemos reunir

essas classes em dois grupos, os senhores (1aico e

eclesiástico) e os servos (camponeses). Essa ordem,

segundo aqueles que a defendia, era fruto da

determinação divina, isto é, cada indivíduo tinha que

aceitar incondicionalmente a sua situação, onde as

possibilidades de alterá-la praticamente não existia.

a) CLERO: os que oram - encarregados de

proteger a sociedade dos demônios e de salvar as almas.

b) NOBREZA: ao que combatem - cavaleiros,

responsáveis pela proteção da igreja e dos pobres.

Inicialmente, o título de cavaleiro era aberto a todos que

pudessem armar-se. Posteriormente, somente os filhos

de cavaleiros poderiam ser guerreiros.

c) SERVOS: os que trabalhavam para sustentar os

que oravam e os que combatiam. Camponeses presos a

terra, por isso eram conhecidos como servos da gleba.

Eram desprovidos de liberdade, contudo não eram

escravos, pois tinham suas condições humanas

reconhecidas, não poderiam ser vendidos sem a terra e

nem a terra sem os servos.

d) VILÕES: eram camponeses livres que poderiam

ter sua própria faixa de terra ou viver de caridade,

Vagando pelos relidos em busca de trabalho.

Podemos caracterizar a relação de suserania e

vassalagem da seguinte forma: o SUSERANO doa

benefício (terra) e proteção ao VASSALO em troca de

fidelidade, ajuda militar e ajuda material.

AS CIDADES NA IDADE MÉDIA

Sua organização econômica era formada pelas

Corporações de ofícios e Associações de

Mercadores. As corporações de ofício eram o

agrupamento de oficinas de um mesmo ramo de

produção (oficio) e de uma mesma cidade, cuja finalidade

era impedir a concorrência entre os artesãos, tanto a nível

local quanto de outras cidades, e adequar a produção

local. Tendo em vista que o comércio era insignificante, já

que a auto-suficiência dos feudos era grande. Os

senhores e os camponeses satisfaziam suas

necessidades dentro do próprio domínio senhorial, e

principalmente, no caso do camponês, no âmbito

doméstico, depois de pagar os dízimos da igreja e os

tributos devidos ao senhor.

Nas corporações podemos identificar três

categorias: o MESTRE, dono da oficina e conhecedor da

profissão (responsável pela produção, salário, etc);

JORNALEIRO, assalariado; e o APRENDIZ, que, em

troca de casa e comida, aprendia o ofício.

Os comerciantes também procuravam evitar a

concorrência, por isso fundaram as associações de

mercadores, na Itália denominadas de Guilda e no norte

da Europa de Ransas (comunidades de mercadores).

Nesse período o mercado existia em níveis locais.

Pois, além da falta de um mercado consumidor forte

devido à auto-suficiência dos feudos, os comerciantes

eram marginalizados por proibições religiosas, que viam o

comércio como algo pecaminoso. Tendo nos judeus os

mais eficientes mercadores. Apenas na Baixa Idade

Media que irá ocorrer o grande comércio de longa

distância voltando a ligar entre si as diferentes regiões.

Fato este que ficou conhecido como Renascimento

Comercial e Urbano.

MENTALIDADE E IGREJA CATÓLICA

O Cristianismo é num sentido histórico uma ruptura

do Judaísmo. Jesus de Nazaré, o Cristo, nascido na

Palestina nos dias de César Augusto (séc. I), amplia os

valores e princípios do judaísmo re institui uma religião

centrada na fé monoteísta, no amor fraterno e na

esperança futura. Após sua morte e ressurreição seus

apóstolos se encarregam de espalhar pelos confins da

terra os ensinamentos e vida de Cristo. Pelo menos três

fatores históricos contribuíram para a rápida expansão da

fé cristã: a centralização territorial e política do império

romano (as cidades constituíam-se num excelente centro

de divulgação da nova religião); a universalidade cultural

(a expansão do helenismo possibilitou que grande parte

do mundo Mediterrâneo falasse o grego); e a diáspora

dos judeus, a dispersão do povo judeu resultou na criação

das sinagogas onde se anunciava a vinda do Messias, e

os cristãos afirmavam que o Messias era Cristo.

Os três primeiros séculos do cristianismo foram

marcados por um conflito com o Estado imperial romano,

que não aceitou a nova religião, tanto pelo fato dela colidir

com seus valores - poder e violência - quanto pela recusa

dos cristãos de reconhecerem César como deus. Milhares

de cristãos sofreram o martírio, em especial nos circos

romanos. Somente em 313 é que o imperador

Constantino, visando o apoio das massas cristãs na luta

pelo poder, baixa um edito dando liberdade de culto para

o cristianismo (edito de Milão). Posteriormente o

imperador Teodósio, entre 380 e 391, baixa uma série de

editos que transformaram o cristianismo em religião oficial

do império. Com a queda do Estado romano no Ocidente,

o papel político da Igreja vai somar-se a seu papel

espiritual, pois a igreja vai defender a idéia de que ela se

tornou a única herdeira legítima do Império

Romano.

Na época medieval era a mais poderosa instituição

controladora do saber e detentora do excepcional controle

ideológico.

“Igreja era a maior detentora de terras naquelas

sociedades essencialmente agrária, (...) Ela controlava as

manifestações mais íntimas da vida dos indivíduos: sua

consciência através da confissão, sua vida sexual através

do casamento, seu tempo através do calendário litúrgico,

seu conhecimento através do controle sobre as artes,

festas, o pensamento, seu domínio sobre a própria vida e

a própria morte através dos sacramentos (só se nasce

verdadeiramente com o batismo, só se tem o descanso

eterno no solo sagrado do cemitério). Ela legitimava as

relações horizontais sacralizando o contrato feudo-

vassálico, e as verticais justificando a dependência servi”.

(Hilário Franco Júnior. Idade Média. Nascimento

do Ocidente. Brasiliense. P 71).

Na Idade Média, o sentimento que dominou o

homem dessa época, foi o da insegurança do medo.

Acossado pela fome, epidemia, guerras e pela morte

sempre próxima, o homem medieval tinha uma

preocupação fundamental com a salvação da alma, com

o pecado, com o inferno, o purgatório e o paraíso. Ele

temia a noite que imaginava ser um símbolo das trevas,

onde se encontravam todos os seres demoníacos, que

poderiam tentar levá-lo à perdição da alma. Vinha daí o

receio de certos animais como a coruja, os morcegos, os

gatos, etc.

A mentalidade religiosa também desprezava o corpo

humano, visto como símbolo do pecado, objeto das

tentações demoníacas. O sexo era considerado pecado

grave, provocado pelo demônio, com objetivo de ganhar

as almas dos amantes para o inferno.

É nesse contexto, que a Igreja Católica Romana

teve um papel fundamental na sociedade feudal, não só

por ser a grande proprietária de terras, mas também por

ter modelado toda a concepção de mundo e a

mentalidade das diversas camadas sociais. Isso se deu,

principalmente, porque propunha uma vida melhor após a

morte, servindo assim, de consolo para esses homens.

Perante isso, a igreja fornecia as justificativas religiosas

para as desigualdades sociais, servidão e a vassalagem,

ao considerar a sociedade como manifestação da

vontade de Deus. Ela condenava a rebeldia dos servos, a

quem ensinava que a humildade e o conformismo eram

maneiras de cumprir as ordens divinas. Pois, o orgulho e

a revolta, eram obras satânicas que afastavam a alma da

salvação.

No entanto, a partir do séc. XII, tornaram-se comuns

às revoltas camponesas e os movimentos heréticos de

cunho popular. As HERESIAS eram movimentos cristãos

que se opuseram aos ensinamentos e a hierarquia da

igreja romana. Teve caráter urbano, tanto na sua

expansão quanto em seu combate.

Esses movimentos, inicialmente espontâneos,

acabaram por organizar seus fiéis em igrejas próprias,

intensamente perseguidas e violentamente massacradas.

A luta contra os hereges levou à criação do Tribunal da

Santa Inquisição, que julgava e condenava os acusados

de crimes religiosos.

POVOS PRÉ-COLOMBIANOS

As sociedades da Mesoamérica Por Mesoamérica – conceito criado na década de

1940 – entende-se a região onde se desenvolveram as primeiras sociedades complexas do continente americano. Ela engloba territórios da América Central e também do extremo sul da América do Norte. Para os estudiosos, porém, a importância da Mesoamérica está ligada mais aos aspectos histórico-culturais do que aos geográficos

Período pré-clássico ou formativo (1500 a.C.-250 da era cristã) Os maias organizaram-se inicialmente em pequenos núcleos sedentários baseados no cultivo do milho, feijão e abóbora. Construíram centros cerimoniais que, por volta do ano 200 da era cristã, evoluíram para cidades com

templos, pirâmides, palácios e mercados. Também desenvolveram um sistema de escrita hieroglífica, um calendário e uma astronomia altamente sofisticados. Sabiam fazer papel a partir da casca de fícus e com ele produziam livros.

Período clássico ou antigo império (séculos III-IX) Em seu auge, a civilização maia abrangia mais de

quarenta cidades e acredita-se que a população tenha alcançado dois milhões de habitantes, a maioria dos quais ocupava as planícies da região onde hoje é a Guatemala.

As principais cidades eram Tikal, Uaxactún, Copán, Bonampak, Palenque e Río Bec. A população vivia fora dos grandes centros e as classes altas em bairros próximos. Disperso em aldeias dedicadas à agricultura, o povo deslocava-se até os núcleos urbanos apenas para celebrar rituais religiosos e fazer negócios.

A expansão territorial empreendida no final do século IV para o oeste e o sudeste fez surgir os centros populacionais de Palenque, Piedras Negras e Copán. Impulsionados provavelmente pelo aumento populacional que resultou de um período de excedentes agrícolas, os maias prosseguiram rumo ao norte até controlarem toda a península de Yucatán.

O apogeu cultural -- de que dão testemunho as ruínas dos templos de Palenque, Tikal e Copán, as numerosas estelas com relevos hieroglíficos e a rica cerâmica policromada e figurativa -- ocorreu na segunda metade do século VIII. Acredita-se que nesse período as cidades-estado maias formavam uma espécie de federação de caráter teocrático e estritamente hierarquizada em diferentes classes sociais.

Seguiu-se a esse período pacífico uma fase de decadência cujas causas são desconhecidas. Possivelmente uma catástrofe, uma invasão estrangeira inesperada ou uma epidemia, justifique a abrupta mudança de rumos.

Uma revolta dos camponeses contra os sacerdotes e o empobrecimento do solo são, no entanto, os motivos mais plausíveis que teriam levado os maias a abandonarem os núcleos urbanos e arredores para se instalarem ao norte de Yucatán, onde começou a reorganização do estado que originou o novo império.

Período pós-clássico ou novo império (séculos X-XVI)

Depois que a grande civilização maia da região central entrou em decadência, a da porção setentrional da península de Yucatán atingiu seu apogeu. O novo império ou período pós-clássico sofreu forte influência mexicana, como atestam o militarismo e o culto a Kukulcán (Quetzalcóatl, para os toltecas), simbolizado pela figura da serpente emplumada. Os núcleos principais desse período eram Chichén Itzá, Uxmal e Mayapán.

No final do século XII, a cidade de Mayapán passou a dominar toda a península e organizou um império que durou até meados do século XV, quando líderes de outras cidades rebelaram-se contra essa hegemonia. Mayapán foi arrasada, e iniciou-se um novo e longo período de anarquia e desintegração da civilização maia.

Ao caos resultante das lutas entre diversas cidades independentes pela primazia somaram-se desgraças naturais como o furacão de 1464 e a peste de 1480. Centros outrora esplendorosos foram abandonados e os maias voltaram a Petén, na região central.

Os espanhóis, que chegaram à costa de Yucatán em 1511, tiveram sua tarefa de conquista facilitada pela decadência maia e sua fragmentação interna. No final da

década de 1520, todos os territórios de influência maia haviam sido dominados.

Pedro de Alvarado conquistou a Guatemala em 1525, e Francisco de Montejo ocupou em 1527 o Yucatán, cuja conquista foi consolidada por seu filho e homônimo em 1536. Apenas a região central, sob controle dos itzás, permaneceu independente até 1697, quando foi ocupada por Martín de Ursúa.

Localização geográfica Ao maias ocupavam a península de Iucatán um

território de cerca de 900 km. Formado por montanhas e planícies. Uma tensa

selva tropical cobre essa terra úmida. Corresponde ao sul do atual México, Guatemala,

Belize e Honduras.

Estima-se que, no final do século XV, viviam na América cerca 50 milhões de pessoas. Elas estavam distribuídas em sociedades muito diversas entre si, do ponto de vista cultural, político, econômico e social. Organização política Os maias viviam em Cidades-Estado governadas por chefes cujo poder era hereditário. O chefe de cada cidade exercia funções políticas e religiosas, auxiliados por um conselho de líder tribais.

Os maias adoravam vários deuses que puderam ser identificados em códices do período pós-clássico e em muitos monumentos. Na maioria estavam associados à natureza, como os deuses da chuva, do solo, o deus Sol, a deusa Lua e um deus do milho. Para fazer pactos com esses deuses, o povo sacrificava animais e até seres humanos, em escala reduzida, e oferecia o próprio sangue. A partir do século X, passaram a adorar Kukulcán.

O desenvolvimento da aritmética permitiu cálculos astronômicos de notável exatidão. Os maias conheciam o movimento do Sol, da Lua e de Vênus, e provavelmente de outros planetas. Inventores do conceito de abstração matemática, os maias criaram um número equivalente a

zero -- conceito até então desenvolvido apenas por uma civilização hindu primitiva -- e estabeleceram o valor relativo dos algarismos de acordo com sua posição. Seu sistema de numeração de base vinte era simbolizado por pontos e barras.

Graças a estudos minuciosos do movimento celeste em observatórios construídos para essa finalidade, os astrônomos maias foram capazes de determinar o ano solar de 365 dias. No calendário maia, havia um ano sagrado (de 260 dias) e um laico (de 365 dias), composto de 18 meses de vinte dias, seguidos de cinco dias considerados nefastos para a realização de qualquer empreendimento. Também adotavam um dia extra a cada quatro anos, como ocorre no atual ano bissexto.

Os dois calendários eram sobrepostos para formar a chamada roda ou calendário circular. Para situar os acontecimentos em ordem cronológica usava-se o método da "conta longa", a partir do ano zero, correspondente a 3114 a.C.. A inscrição da data registrava o número de ciclos -- kin (dia), uinal (mês), tun (ano), katun (vinte anos), baktun (400 anos) e alautun (64 milhões de anos) -- decorridos até a data considerada. Acrescentavam-se informações sobre a fase da Lua e aplicava-se uma fórmula de correção de calendário que harmonizava a data convencional com a verdadeira posição do dia no ano solar.

OS INCAS História A palavra inca significa "chefe", "príncipe". Os conquistadores espanhóis chamaram os nativos de "povo dos incas" e ignora-se o nome que davam a si mesmos. Os incas não possuíam sistema de escrita, nem deixaram registros históricos. Seu passado foi reconstruído por meio das lendas transmitidas por tradição oral. Os fatos mais antigos referem-se ao vulto lendário do primeiro soberano, Manco Cápac I, que se estabeleceu com a família no vale de Cuzco e dominou os povos que ali habitavam, no fim do século XII. Manco Cápac foi sucedido por Sinchi Roca, Lhoque Yupanqui e Mayta Cápac. Com o último, no século IV, na época da grande seca que assolou os Andes centrais, iniciou-se a anexação dos vales vizinhos às terras incas. As conquistas consolidaram-se com os feitos militares dos soberanos Cápac Yupanqui, Inca Roca, Yahuar Huacac e, principalmente, Viracocha. Os territórios ocupados passaram a ser controlados por guarnições militares e funcionários incas. O império organizou-se politicamente com a unificação dos antigos povos autônomos, que continuaram desfrutando de relativa liberdade. Mantiveram-se usos e costumes locais, mas foram impostos elementos de coesão, como a língua, a religião (culto ao Sol) e tributos. O império inca histórico teve início com Pachacútec Inca Yupanqui, que ocupou o trono a partir de 1438. A ele atribuem-se os projetos de Cuzco, a construção do templo do Sol e a adoção do sistema de cultivo em terraços. Em seu governo, o império expandiu-se para o sul, até o lago Titicaca, e para o norte, até a região de Huánuco. O exército era formado, em sua maioria, por guerreiros recrutados entre os povos dominados. Pachacútec iniciou a prática do mitmac, sistema pelo qual vários grupos de habitantes das regiões conquistadas eram deportados para outras regiões e substituídos por colonos já pacificados, para prevenir possíveis rebeliões.

No governo de Túpac Inca Yupanqui, filho e sucessor de Pachacútec, o império atingiu o apogeu. Entre 1471 e 1493, os incas conquistaram todo o planalto andino e os territórios setentrionais do Chile e Argentina atuais. Uma série de rebeliões, sufocadas com dificuldade, irrompeu no governo seguinte, de Huayna Cápac. Com ele, o império alcançou sua maior extensão geográfica, mas, depois de sua morte, foi dividido entre seus filhos, Huáscar e Atahualpa. A luta pelo poder levou-os a uma guerra civil no momento da chegada dos espanhóis, que tiveram a conquista do território favorecida pelo progressivo enfraquecimento do império. Francisco Pizarro chegou ao território inca em 1531. No ano seguinte conseguiu capturar Atahualpa, e em 1533, no mesmo ano da morte deste, os espanhóis ocuparam Cuzco e reconheceram Manco Cápac II como imperador. Aos poucos, entretanto, os conquistadores saquearam e destruíram palácios e cidades e escravizaram a população. A cultura inca desapareceu gradualmente, apesar de alguns núcleos de resistência, como o do último imperador, Manco Inca, decapitado em 1572. Economia Dirigida pelo estado, a economia inca era acima de tudo agrária e baseada no plantio de batata e milho. As técnicas eram muito rudimentares, pois não se conhecia o arado. Os incas, no entanto, desenvolveram um sistema de irrigação com canais e aquedutos. As terras pertenciam ao estado e eram repartidas, a cada ano, entre os vários estamentos sociais. Não existia, portanto, a propriedade privada. A aristocracia recebia as melhores terras, cultivadas pelas classes mais baixas. Na pecuária, também importante, destacavam-se os rebanhos de lhamas, alpacas e vicunhas, que forneciam carne, leite e lã, além de serem usadas no transporte. O comércio não era importante e não existia moeda. Os incas desconheciam a roda, mas construíram uma excelente rede de estradas que ligava Cuzco a todo o resto do império. Cultura Os incas desconheciam a escrita, mas sua tradição oral foi registrada pelos conquistadores espanhóis. Possuíam um sistema peculiar de registro, provavelmente utilizado apenas para números, chamado quipus (cordéis de cores variadas, com nós em determinadas posições), utilizados para avivar a memória. Seu idioma, o quíchua, foi elemento importante de unidade nacional.São notáveis os trabalhos de arquitetura e engenharia inca. As monumentais construções de pedra eram de grande simplicidade e beleza, embora não se utilizassem o arco, a coluna e a abóbada. Os principais monumentos são o templo de Coricancha, em Cuzco, as fortalezas de Sacsahuamán, Pukara e Paramonga e as ruínas de Machu Picchu. Os artesãos incas eram peritos na lavra de ornamentos de ouro e prata e deixaram peças admiráveis feitas nesses metais, em cobre e cerâmica. Excelentes tecelões, decoravam tecidos de vicunha e algodão com penas coloridas. Organização Política No momento da chegada dos espanhóis, o Império Inca se extendia desde o norte do Equador até o centro do Chile, comprendendo a serra do Equador e Peru, o altiplano boliviano e o noroeste da Argentina. A superfície aproximada do território era um milhão e meio de quilômetros quadrados, com uma povoação estimada entre os quatro e seis milhões de habitantes. Sua capital

se chamava Cuzco, que na língua quechua significa “umbigo do mundo”. No momento de maior expansão, o Tahuatisuyu estava dividido em quatro partes: o Collasuyu, no Sul, que era a mais extensa; o Cuntisuyu, segunda parte do império, que englobava as regiões situadas ao oeste e sudoeste do Cuzco; o Chinchasuyu, que ocupava o território do Equador e o sul da Colômbia e o Antisuyu, que se extendia até o Leste, onde estavam as ladeiras orientais da cordilheira e o começo das selvas amazônicas. A política de estado era dirigida a integrar as povoações dominadas numa economia capaz de sustentar um império expansionista, estabalecendo uma combinação entre a utilização da terra e do trabalho. Dividiram a administração em setores de dez, cem, mil e dez mil habitantes, cada um deles a cargo de pessoas nomeadas pelo Inca. Isto comprova que os Incas conheceram e aplicaram o sistema decimal desde o século XI da era cristã. Dentro de cada comunidade eram separadas extensões de terra que constituíam propriedades do Estado, que eram trabalhadas pela população como cumprimento de suas obrigações tributárias. Outra forma de posse de terras eram os “enclaves” estatais de produção (destianados a agricultura intensiva) e os centros administrativos (encarregados do controle de pessoas e tributo das regiões). Os imperadores incas puderam manter e desenvolver seu extenso domínio, devido a preocupação com o bem estar e a felicidade de seus súditos; não conheciam a fome nem as injustiças agudas, num império denominado “paternalista”, bem organizado. Religião

Com inteligente visão política, os incas incorporaram deuses e crenças dos povos conquistados, num sincretismo religioso que explica a coexistência da religião oficial e de vários cultos e rituais derivados do ciclo agrícola.

Ao deus Sol, Inti, considerado pai da nobreza inca, eram consagrados os principais templos. A reforma religiosa do imperador Pachacútec substituiu o culto de Inti pelo de Viracocha. Segundo historiadores, Viracocha tinha sido o deus supremo de civilizações pré-incaicas e era visto como herói civilizador, criador da Terra, dos homens e dos animais.

Apu Illapu, senhor dos raios e da chuva, era o protetor dos guerreiros e camponeses. Em tempos de seca, a ele ofereciam-se sacrifícios (às vezes humanos). Entre as divindades femininas, Mamaquilla era a Lua, esposa do Sol, em torno da qual se organizava o calendário das festas agrícolas e religiosas. Pacha Mama, designação da mãe-terra, protegia os rebanhos de lhamas. Seu equivalente masculino, Pachacámac, era cultuado sobretudo na região litorânea. O mar e as estrelas também representavam manifestações divinas.

As cerimônias se realizavam ao ar livre. Os templos tinham em geral um só recinto e habitações anexas para os sacerdotes. Construíram-se grandes templos em localidades importantes, como Cuzco e Vilcas-Huamán, considerado o centro geográfico do império. Junto ao templo de Cuzco, dedicado a Inti, ficavam as "casas do saber" -- onde se formavam contadores, cronistas e outros sábios -- e a "casa das virgens do Sol", que deviam permanecer castas e dedicadas ao culto de Inti, salvo se escolhidas como concubinas pelo imperador ou por ele oferecidas a favoritos.

A casta sacerdotal, vinculada à nobreza, detinha grande poder e possuía terras. Os sacerdotes eram considerados funcionários imperiais e deviam obediência ao sumo-sacerdote -- o huillac humu, de linhagem nobre --, radicado no templo de Cuzco.

Os sacrifícios constituíam parte essencial da religião dos incas. Nas ocasiões importantes, exigiam-se sacrifícios de animais ou pessoas, mas o comum eram as oferendas de flores, bebidas, folhas de coca e vestes, lançadas ao fogo sagrado.

As diversas festividades, em que se realizavam procissões e danças rituais, eram estabelecidas de acordo com os ciclos agrícolas. Atribuíam-se as calamidades públicas à inobservância de algum preceito ou ritual, que devia ser confessada e expiada para acalmar a cólera divina.

Os sacerdotes desempenhavam a função de curandeiros, praticavam exorcismo e faziam previsões antes de qualquer acontecimento público ou privado importante. Nos pontos mais altos dos Andes erguiam-se montes de pedras, aos quais o viajante acrescentava a sua para pedir uma boa travessia.

Construíam-se grandes túmulos e monumentos funerários, pois os incas acreditavam na sobrevivência da alma depois da morte: os que tinham obedecido às ordens do imperador sobreviviam confortados pelo Sol, enquanto os insubordinados permaneciam eternamente sob a terra. Os Astecas

História Asteca Os astecas, também chamados mexicas ou tenochcas, chegaram ao vale do México no início do século XII da era cristã, procedentes de Chicomoztoc ("sete grutas"), situada em algum ponto desconhecido do noroeste do México. Outros povos de língua náuatle, como os chichimecas, acolhuas, tepanecas, culhuas, toltecas e pipiles haviam chegado anteriormente à região. As sete tribos astecas, guiadas por vários sacerdotes e caudilhos, e seguindo os desígnios do deus Huitzilopochtli, assentaram-se sucessivamente no lago Pátzcuaro e em Coatepec antes de chegar ao vale. Depois de passar pela antiga cidade de Tula, por Zumpango, por Cuauhtitlan e por Ecatépec; em 1276 os astecas, governados por Hutzilihuitl o Velho, estabeleceram-se em Chapultepec, onde ficaram famosos pela agressividade e pela prática de cruéis sacrifícios. Em 1319 foram derrotados pelos culhuas e outros povos do lago Texcoco e acabaram confinados em Tizapán. Posteriormente se aliaram aos culhuas, mas depois do sacrifício de Achitometl, filha do senhor de Culhuacan, Coxcoxtli, tiveram que fugir pelo lago de Texcoco. Numa das ilhas do lago, a visão de uma águia que comia uma serpente lhes indicou o lugar onde deveriam construir sua nova capital, Tenochtitlan, fundada em 1325. Durante os anos seguintes, os astecas e os tlatelolcas, grupo mexícatl estabelecido numa ilha próxima, passaram a pagar tributos aos tepanecas de Azcapotzalco. Em 1376, o príncipe culhua Acamapichtli proclamou-se tlatoani (rei) dos astecas, com o consentimento de Tezozómoc, soberano tepaneca. Huitzilihuitl sucedeu Acamapichtli em 1396 e, depois de casar com uma filha de Tezozómoc, conseguiu reduzir os tributos pagos a Azcapotzalco. Durante o reinado de Chimalpopoca (1417-1427), neto de Tezozómoc, os astecas ajudaram os tepanecas a conquistar a cidade de Texcoco e aboliram o pagamento de tributos. Depois da morte de seu avô, Chimalpopoca foi preso e morto pelo

novo rei tepaneca, Maztla.

Tríplice Aliança A atitude agressiva de Azcapotzalco provocou a união entre Tenochtitlan, Texcoco e outro pequeno estado, Tlacopan. Os aliados venceram os tepanecas e iniciaram um período de expansão territorial. A confederação das três cidades tinha um caráter predominantemente militar, tanto ofensivo como defensivo. Durante o reinado de Izcóatl, a Tríplice Aliança estendeu seus domínios pela zona ocidental do vale do México. Entre 1440 e 1469 reinou em Tenochtitlan Montezuma I Ilhuicamina, que consolidou as conquistas anteriores e empreendeu outras. Nessa época se iniciou o período áureo de Tenochtitlan, tanto no aspecto econômico como no artístico, e organizaram-se as "guerras floridas", campanhas militares anuais contra as cidades independentes de Tlaxcala e Huejotzingo com a finalidade de fazer prisioneiros para sacrifícios religiosos. Axayácatl sucedeu Montezuma I em 1469. Durante seu reinado, os astecas conquistaram a cidade de Tlatelolco e as regiões do vale de Toluca, ocupadas pelos matlatzimas, otomis e mazahuas. Entretanto, os tarascos de Michoacán, armados com espadas de cobre (os astecas usavam armas de pedra e madeira), conseguiram conter o ímpeto conquistador da Tríplice Aliança. Entre 1481 e 1486 reinou Tizoc, que morreu assassinado por uma conspiração palaciana. Seu sucessor, Ahuízotl, ampliou ao máximo as fronteiras do império asteca, impondo seu poderio sobre Oaxaca, Tehuantepec e parte da Guatemala. Artesãos e comerciantes prosperaram durante seu reinado, e Tenochtitlan viveu um período de grande desenvolvimento artístico e arquitetônico. Em 1502, depois da morte de Ahuízotl, seu sobrinho Montezuma II Xocoyotzin, eleito tlatoani, continuou a política imperialista de seus precursores e fortaleceu o poder monárquico. Durante seu reinado cresceu o descontentamento entre os povos submetidos pela Tríplice Aliança e houve o primeiro contato com os conquistadores espanhóis, em 1519. Naquela época, o império asteca se estendia por uma superfície de mais de 200.000km2 e tinha uma população de cinco a seis milhões de habitantes.

Destruição do império asteca Montezuma acolheu amistosamente os estrangeiros brancos, acreditando que Hernán Cortés era a encarnação do deus Quetzalcóatl, cuja chegada havia sido anunciada por profecias. Algumas centenas de espanhóis, apoiados por tribos indígenas inimigas dos astecas, chegaram a Tenochtitlan, onde foram recebidos como hóspedes. Um ataque asteca ao enclave espanhol de Vera Cruz, na costa do golfo do México, serviu de pretexto a Cortés para aprisionar Montezuma em sua própria corte. Finalmente, em 30 de junho de 1520, os guerreiros de Tenochtitlan, dirigidos por Cuitláhuac, irmão de Montezuma, obrigaram os espanhóis e seus aliados a abandonar a cidade. Uma epidemia de varíola, trazida do Velho Mundo pelos espanhóis dizimou, durante os meses seguintes, a população de Tenochtitlan. Enquanto isso, Cortés se dedicou a reorganizar e reforçar seu exército e a preparar a invasão à capital asteca. Em abril de 1521, os espanhóis iniciaram o sítio de Tenochtitlan. Os astecas, sem água e alimentos, resistiram durante quatro meses. Em 13 de agosto houve o assalto final, durante o qual os astecas defenderam valorosamente sua cidade até os últimos momentos. Cuauhtémoc, o último tlatoani, foi

preso pelos conquistadores quando tentava escapar numa canoa com a intenção de se refugiar nas províncias e reorganizar as forças astecas.A queda da capital, a prisão do rei e a dispersão do exército asteca favoreceram a conquista do resto do império pelos espanhóis. Da capital reconstruída, Cortés organizou diversas expedições pelo território mexicano e centro-americano, que em 1534 foi convertido no vice-reino da Nova Espanha ou do México. Modelo de sociedade IMPERADOR: o poder do imperador era de origem divina, SACERDOTES: São servidores do templo dos deuses controlavam cultos religiosos, rituais e sacrifícios guardavam livros e tinham direito de votar na escolha do imperador. TECUHTHL: eram dignitários do grande conselho governadores juízes poderiam participar na escolha do imperador. POCHTECA: eram os negociantes comerciantes TOLTECAS: Artesãos estavam livres da corvéia pagavam impostos. CAPULLI: Chefe do povo era quem distribuía terra e moradias. MACEUALLI: Povo tem que pagar tributos, compor o exercito tinham direito a casamento. TIATLACATION: Escravos base da riqueza da terra que era um bem coletivo, trabalho servil.

Viviam de maneira Primitiva de com um modo

econômico de subsistência Ocupação há 45 mil

anos (Guidon, N.)

Com uma enorme Diferença Tribal eram

Politeístas Naturais onde possuíam uma divisão

do trabalho

• Mulher : agricultura, casa e filhos Homem : caça, armas, mato Caçadores e Coletores

Produção de subsistência

Organizações familiares – matrilineares /

patrilineares

Casamentos - Poligâmicos- Poliândricos e até

monogâmicos

Características do índios do brasil pré cabralico

Caça, pesca e coleta de frutas e raízes,

pouca agricultura

Comércio na forma de escambo – troca

ritual

Existência de ampla solidariedade entre as

aldeias

Guerras rituais – renovação genética e

complementação populacional

Parentesco – Patrilinear – linha paterna

Matrilinear – linha materna

A CHEGADA DOS EUROPEUS AO NOVO MUNDO

O MERCANTILISMO:

1. Histórico:

Convencionou-se denominar “mercantilismo” ao conjunto das teorias e das práticas de intervenção estatal na economia, que se desenvolveram na Europa entre a metade do século XV e a segunda metade do século XVI. É importante que se lembre, que em fins do século XV os países europeus vivem um processo de centralização monárquica, que determinará o surgimento dos Estados Modernos. Dessa forma, tornava-se necessário organizar a vida econômica de toda a nação, experiência nova para os homens da época.

Navios comerciantes.

Tornou-se imprescindível, pois, uma economia nacional, planificada, dirigida, que viabilizasse um Estado rico, próspero e poderoso, a exemplo da Espanha do século XVI. Quando os homens da época se perguntavam a respeito das razoes do poderio espanhol, a resposta vinha curta, simples e pronta – a prosperidade espanhola estava relacionada diretamente com a quantidade de metais preciosos que a nação possuía. Esta convicção se generaliza à medida em que o ouro e a prata passam a ser vistos como o “mais perfeito instrumento de aquisição da riqueza”. Confundiram, portanto, riqueza com dinheiro. É o que se conhece como “idéia metalista” ou metalismo, característica essencial do Mercantilismo.

O pensamento mercantilista não foi o mesmo nos diversos Estados europeus. Adaptou-se às condições particulares de cada um deles, mas, sempre com a idéia metalista presente, e em primeiro plano, pelo menos nos séculos XVI e XVII.

A intervenção do Estado na economia visava o engrandecimento e a prosperidade da nação. Assim o intervencionismo e o nacionalismo destacam-se como característica do Mercantilismo. E uma vez realizado o expansionismo marítimo, impunha-se a natural colonização das terras conquistadas, o que se faz sob o signo do Mercantilismo e do Absolutismo.

Mercantilismo e colonialismo são atividades paralelas na Idade Moderna, inter-relacionadas, que não podem ser explicadas por si mesmas, senão observando influências recíprocas. É dentro desse prisma que se realiza a árdua tarefa de colonização das áreas conquistadas e recém-incorporadas ao domínio europeu.

2. Características Gerais do Mercantilismo:

a) Busca de superávit comercial; b) Intervencionismo estatal; c) Metalismo; e d) Colonialismo.

3. O colonialismo: as colônias eram mercados exclusivos das suas respectivas metrópoles, e o papel das mesmas na divisão do trabalho internacional estabelecida com a constituição de uma economia de dimensões mundiais, era o de produzir gêneros tropicais e metais preciosos, e de serem mercados consumidores dos manufaturados comercializados pelas metrópoles européias, constituindo-se assim o pacto colonial.

Dentro do contesto mercantilista europeu ocorre a expedição portuguesa de conquista e ocupação do comércio das Índias, comandada por Pedro Álvares Cabral, em 1500. Marca também a chegada dos europeus no Brasil. Inaugurando assim o processo migratório para estas terras.

Inicialmente, o contato foi limitado pelo desinteresse econômico da Coroa com a região descoberta desprovida de metais preciosos e de mercado consumido.

1500 – 1530 → Fase caracterizada como pré-colonial,

devido Portugal auferir enormes lucros decorrente do comércio com as Índias e da exploração do litoral africano, torna-se desinteressante transferir recursos, homens e navios para ocupação da nova terra, cujo retorno imediato era dado apenas por madeira tintorial, papagaios e pimenta.

Esta fase caracteriza-se pela relação aparentemente amistosa entre os portugueses e os indígenas em uma relação baseada no escambo (troca de mercadorias).

1530 → devido à crise do comércio com as Índias e as constantes ameaças de invasão do Brasil, os portugueses iniciam a colonização, empregando a proposta mercantilista, baseada no plantation (produção agrícola), voltada ao mercado externo, escravista e monocultor.

Para garantir o sucesso da empresa colonizadora os colonos locais passaram a forçar os índios aos penosos trabalhos agrícolas: como não aceitavam a escravidão, constituiu-se rapidamente o mito da incompatibilidade do gentio com a agricultura e da “preguiça da raça”.

Na verdade os índios – como qualquer população não envolvida em circuitos mercantis – não entendiam a necessidade de se trabalhar duro para além das necessidades da subsistência.

As guerras cruéis e exterminadoras, forma conseqüência direta da implantação da agricultura colonial.

A partir de 1530 com o início da colonização, intensificam-se os processos migratórios para o Brasil, iniciado com a expedição de Martim Afonso de Sousa que trouxe em seus navios cerca de 400 homens para usar como força de trabalho nas terras do Novo Mundo.

Os europeus chegaram como conquistadores, impondo seus costumes, cultura e dominação sobre a população nativa. Agindo de forma etnocêntrica, tudo que fazia parte da cultura e costumes locais foram considerados bárbaros e primitivos, devidamente passível de mudança ou extermínio. Os imigrantes que vieram para o Brasil neste momento para garantir o sucesso da colonização eram brancos pobres, degredados e comerciantes cristãos novos e vinham em busca de riqueza, liberdade e do desconhecido.

Complementando o processo migratório, principalmente a partir de 1549 (com a chegada do Governo Geral), desenvolveu-se de forma crescente o tráfico negreiro.

O tráfico negreiro e a conseqüente generalização do

trabalho compulsório no Brasil, relaciona-se diretamente com o processo de acumulação de capital na metrópole portuguesa, visto que a grande lavoura colonial não se preocupava em prover o sustento dos produtores, mas em produzir para o mercado.

A presença pluriétnica e multicultural no Brasil colonial, determinou um conflito, permitindo que negros e índios fossem subordinados e aviltados pelas conquistas, e utilizados como força de trabalho compulsória e conseqüentemente percebidos como “inferiores” pelos europeus conquistadores. Com o tempo num processo heterogêneo, variando em seus ritmos e alcances de região para região, deu-se a transferência desta percepção de “inferioridade” do índio vencido e do negro escravizado às etnias indígenas e africanas.

O sistema de estratificação sócio-étnicas resultante dessa percepção de “inferioridade”, ao adquirir base legal, tornou-se importante instrumento de justificação ideológica do trabalho forçado e da perpetuação da ordem social em vigor – em especial barrando o acesso a índios, negros e mestiços de certas profissões, vantagens sociais e regalias. Este fator mostra-se presente na própria constituição dos trabalhadores brasileiros, onde negros e mestiços encontram-se nas funções consideradas inferiorizadas e de menor remuneração.

Nesse processo de colonização a metrópole desenvolveu uma especialização por área, de acordo com a “vocação” natural de cada região. Assim, no litoral do Nordeste foi estabelecida a estrutura do plantation açucareiro, na Amazônia desenvolveu-se o extrativismo das drogas do sertão e posteriormente, a mineração no Centro-Oeste, formando assim, diferentes mercados de trabalho e diversos contextos sociais.

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NAS TERRAS PRÉ-

COLOMBIANAS: BRASIL

OS NATIVOS DO BRASIL CARACTERÍSTICAS SÓCIO-CULTURAIS:

Vários grupos tribais etnicamente distintos

habitavam o Brasil no período da conquista européia. No entanto, apenas tribos pertencentes ao estoque lingüístico tupi foram descritas de forma relativamente extensa e precisa. A razão desse fato é simples: os tupis entraram em contato com os portugueses em quase todas as regiões que estes tentaram ocupar e explorar colonialmente. E foram, ao mesmo tempo, a principal fonte de resistência organizada aos desígnios dos colonizadores e o melhor ponto de apoio entre as populações nativas.

Família de chefe Camacã.

Os tupis habitavam o litoral nas regiões dos atuais estados do Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão e Pará.

Praticavam a horticultura, a coleta, a caça e a pesca, possuindo equipamento material que permitia a realização dessas atividades econômicas. Essas atividades eram desenvolvidas sem nenhuma tentativa de preservação ou restabelecimento do equilíbrio da natureza. Por isso, a exaustão das áreas ocupadas exigia tanto o deslocamento periódico, dentro de mesma região, quanto o abandono dela a invasão de outras áreas, consideradas mais férteis e ricas de recursos naturais. O que quer dizer que a migração era utilizada como uma técnica de controle indireto da natureza pelo homem.

Quando se rompia o equilíbrio entre as necessidades alimentares e os recursos proporcionados pelo meio naturais circundantes, as populações se deslocavam de um modo ou outro. Em suma, a terra constituía o seu maior bem. O grau de domesticação do meio natural circundante, assegurado pelos artefatos e técnicas culturais de que dispunham, fazia com que a sua sobrevivência dependesse do meio intenso e direto do domínio ocasional ou permanente do espaço que ocupassem.

Esse domínio era exercido em termos do poder de uma unidade complexa que chamaremos de “tribo”, que abrangia certo número de unidades menores, as “aldeias” ou grupos locais, distanciados no espaço, mas unidas entre si por laços de parentesco e pelos interesses comuns que eles pressupunham, nas relações com a natureza. Na vida cotidiana, os indivíduos podiam agir, largamente, como membros da ordem existencial criada pelo grupo local. Mas, em assuntos relacionados com o deslocamento da tribo de uma região para outra, a circulação das mulheres entre as parentelas, a realização de uma expedição guerreira, os sacrifícios de inimigos etc., as ações eram reguladas pela preferida teia de interesses comuns.

Os grupos locais compunham-se, em média, de quatro a sete malocas ou de habitações coletivas. Estas eram dispostas no solo de modo a deixar uma área quadrangular livre, terreiro, bastante amplo para realização de cerimônias como reuniões do conselho de chefes, o massacre e a ingestão das vítimas, as atividades religiosas lideradas pelos pajés, as festas tribais etc., as quais muitas vezes também envolviam a participação dos membros dos grupos locais vizinhos.

As malocas teriam uma largura constante, variando seu comprimento de acordo com o número de moradores. Nela, viviam, segundo as estimativas mais baixas, de cinqüenta a duzentos indivíduos, agrupadas nas subdivisões internas, reservadas aos lares polígonos, de vinte a quarenta em cada maloca.

Em virtude da importância da natureza na economia tribal, a localização do grupo local na porção de território, dominado pela tribo que lhe era destinada, constituía um problema de ordem vital. Dela dependia o provimento fácil e contínuo de água potável, de lenha para cozinhar ou fornecer calor à noite, de mantimentos que precisavam ser obtidos em condições de segurança (por exemplo, pela proximidade de rios piscosos e da costa marítima, de terrenos férteis para a plantação, de bosques ricos de caça, etc.).

De acordo com informações de Gandavo, confirmadas por outras fontes, “em cada casa desta vivem todos muito conformes, sem haver nunca entre eles nenhuma diferença: antes são tão amigos uns dos outros, que o que é de um é de todos, e sempre de qualquer coisa que um coma, por pequena que seja todos os circundantes hão de participar dela”. O mesmo padrão

básico de cooperação vicinal aplicava-se às relações dos membros das malocas que faziam parte de um grupo local. Os produtos de caça, da pesca, da coleta e das atividades agrícolas pertenciam à parentela que os conseguisse. Não obstante, se houvesse escassez de mantimentos ou se fosse imperativo retribuir a presentes anteriores, eles eram divididos com os membros de outras parentelas, ou distribuídos entre os componentes de todo grupo local. Como escreve Léry, de acordo com outros autores da época, “mostram os selvagens sua caridade natural presenteando-se diariamente uns aos outros com veações, peixes, frutas e outros bens; e prezam de tal forma essa virtude, que morreriam de vergonha ao ver um vizinho sofrer falta do que possuem”.

A divisão do trabalho, nos grupos locais, obedecia a prescrições baseadas no sexo e na idade. As mulheres ocupavam-se com trabalhos agrícolas (desde o plantio e a semeadura até a conservação e a colheita) e com as atividades de coleta colaboravam nas pescarias, indo buscar o peixe flechado pelos homens, transportavam os produtos das caçadas, aprisionavam as formigas voadoras, fabricavam as farinhas, preparavam as raízes e o milho para a produção do cauim, incumbindo-se de salivação do milho, fabricavam o azeite de coco, fiavam o algodão e teciam as redes, traçavam os cestos e cuidavam de cerâmica, cuidavam dos animais domésticos, realizavam todos os serviços domésticos e dedicavam-se a outras tarefas como depilação e tatuagem dos homens pertencentes ao seu lar o catamento do piolho deles ou das mulheres do grupo doméstico, a preparação do corpo das vítimas humanas para a cerimônia de execução e para o repasto coletivo etc.

Os homens ocupavam-se com a derrubada e preparação da terra para a horticultura, praticavam a caça e a pesca, fabricavam as canoas, os arcos, as flechas, os tacapes e os adornos, obtinham o fogo por processo rudimentar, construíam as malocas, cofiavam a lenha, fabricavam redes lavradas e, como manifestação de carinho, podiam tatuar a mulher, auxiliá-la no parto etc. É claro que a proteção das mulheres, crianças e velhos era atividade masculina, bem como a realização de expedições guerreiras e o sacrifício de inimigos. As atividades xamanísticas também constituíam prerrogativas masculinas, embora existam referências esporádicas à participação das mulheres nestas atividades, bem como nas guerreiras. A mulher suportava uma carga extremamente pesada no sistema de ocupação. Mas prevalecia a interdependência de trabalhos e serviços, de modo que eles se completavam e amparavam mutuamente. (HOLANDA, Sérgio Buarque de. In.: História Geral da Civilização Brasileira)

O índio só tinha propriedade pessoal de suas armas e enfeites que partilhava todo o resto, principalmente os produtos da caça, pesca e coleta. Essa generosidade abrangia todos os que estivessem sob seu teto, mesmo seus inimigos, Léry acrescenta que seus inimigos preferiam as pessoas alegres, falantes e generosas e detestavam as tristes, de pouca conversa e avarentos.

AS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

ANTES E DEPOIS DO CONTATO COM OS

EUROPEUS NAS SOCIEDADES INDÍGENAS DO

ESPAÇO AMAZÔNICO.

As sociedades indígenas no espaço amazônico:

Dez a quinze mil anos antes de Francisco Caldeira Castelo Branco, as terras que margeiam o grande rio Amazonas já eram habitadas pelos silvícolas. E segundo Von Den Steinen, os indígenas brasileiros eram divididos em: Tupi-guarani, Gê, Caribe e Nu-aruak.

É certo que todas essas grandes famílias indígenas que habitavam terras brasileiras tinham seus representantes em terras da imensa planície amazônica.

Vejamos, inicialmente, os índios da grande família Tupi, seguindo estudos procedidos por Rivet e enriquecidos por Arthur Ramos, Acreditam esses estudiosos que os tupis tenham se originado entre o médio Paraná e o alto Paraguai, daí se irradiando para o norte e para o leste. Trataremos aqui apenas dos ramos que se localizaram no Baixo-Amazonas e que, mais de perto, têm relação com a formação histórica do Pará.

Das tribos Ge, apnas os timbiras viveram em terras do que mais tarde seria o Grão-Pará. Na realidade, os elementos dessa grande família indígena brasileira localizavam-se mais no grande planalto central e no sul do país.

Quanto aos Caribe, que se estendiam mais para o norte, nas Guianas e na América Central, apenas algumas tribos habitavam o Brasil e, entre estas, em terras paraenses os apicás e os pariris.

Os Nu-aruak tiveram grande importância na formação paraense, embora não tanto quanto os Tupinambás. Contudo, deixavam vestígios extraordinários de sua arte e de seu folclore. Ocupando grande extensão da parte norte do continente sul-americano, tiveram como seus representantes no Pará, principalmente na ilha do Marajó, os aruan.

Entre todas as tribos citadas, cabe um registro especial aos tupinambás. Pode-se mesmo dizer, sem sobra de dúvida, que é difícil encontrar-se um paraense, de pelo menos quatro gerações, que não tenha sangue tupinambá correndo em suas veias.

Foram eles os primeiros habitantes encontrados por franceses, espanhóis, ingleses, holandeses e portugueses em terras paraenses.

E não só os primeiros a ser encontrados, como também os primeiros a oferecer resistência aos invasores.

Transportemo-nos no tempo, para uma aldeia tupinambá às margens do Tocantins, ali pelos meados do século XVI.

Dispostas em grupos de quatro a sete, estavam ali as ocas, de forma retangular. No centro, a ocara, ou praça, onde eram realizados todos os atos sociais ou religiosos da aldeia, ou taba.

Entremos numa dessas malocas, curvando-nos ao passar por uma das portas inexplicavelmente baixas. Lá dentro, nenhuma divisão. Várias famílias acomodadas, numa extensão de cinqüenta a oitenta membros, junto às pilastras ou esteios que sustentavam a cobertura das folhas de palmeiras. Uns estão deitados em redes, outros de cócoras. Diversos também sentados em bancos de madeiras ou tamboretes, ou passeando ao pé de uma fogueira acesa, armada no centro da oca. Nota-se, também, pelos cantos, alguns objetos de cerâmica.

Voltemos para o lado de fora. Percorramos a ocara, ou praça, onde algumas redes também estão estendidas, amarradas em estacas.

Tribos quietas, trabalhadoras, que viviam da caça, da pesca, da cultura da mandioca, também por vezes se exacerbavam e mostravam seu talento guerreiro. Pelo que eram, justamente, temidas.

Cercando a aldeia, ou taba, havia uma dupla paliçada. Enormes troncos de árvore eram enterrados ao solo, a pequena distância uns dos outros. Mal o inimigo aproximava-se e os valentes da tribo tomavam posição atrás dos troncos, de onde mandavam a morte, através de certeiras flechadas.

Os homens da tribo eram de mediana estatura. Alguns andavam de tanga, outros nus, ou quase inteiramente nus, com simples enfeites de penas. Nisto, aliás, eram inigualáveis os tupinambás. Enormes penas de arara vermelha ou de garça e canindé adornavam-lhe as cabeças, enquanto penas menores, também vermelhas, de guarás, serviam de braceletes e colares vistosos. No corpo, a maioria untava resina ou mel, onde colocavam penugem de alguns pássaros.

Famosos, também, entre os estrangeiros e colonizadores que os vendiam a preços altíssimos na Europa, foram os mantos de pena dos tupinambás. Tão grandes que desciam até o joelho. Quase uma túnica. Eram feitos, em geral, de penas de Íbis Rubra, e usados nas cerimônias e festas pelos chefes guerreiros ou os pajés.

Mas as mulheres tupinambás não se enfeitavam tanto. Dispensavam os mantos e até os diademas e braceletes. Limitavam-se a colocar penas diretamente no corpo e a tratarem dos cabelos, em geral muito compridos, penteando-os com as cascas de certos frutos, untando-os com óleo de coco e urucu.

Quanto a organização social a forma era patrilinear. O pai dava nome ao grupo e, bem assim, a todos os filhos de seus parentes, que eram também seus filhos.

Por outro lado, a distribuição dos poderes, em que pese o destaque pela força, coragem e destreza, era feita, comumente, entre os tupinambás, pela idade. Assim, os homens dividiam-se em seis classes, conforme a idade, sendo a primeira a da infância e a última a da velhice, formada pelo Conselho de Pajés.

Quanto às mulheres, que não tinham muitos direitos, senão deveres, eram divididas também em classes, desde as que faziam trabalhos domésticos ou se ocupavam da agricultura, até aquelas que fabricavam cauim ou faziam os ritos antropofágicos. Estas últimas eram as mais velhas da tribo, consideradas, portanto, em primeiro plano na ordem de importância.

Praticavam, assim, os tupinambás, uma espécie de comunismo primitivo, e a divisão do trabalho baseava-se em sexo e idade. O trabalho só atendia as necessidades de subsistência.

Por outro lado, era crença na tribo, que a criança se formava no seio paterno, e à mãe, cabia apenas a responsabilidade de conservá-la no ventre por algum tempo. Por isso, os homens guardavam resguardo numa rede após o nascimento, e eram visitados e cumprimentados. Enquanto isto, as mulheres logo após o parto, entregavam-se aos misteres domésticos e aos deveres para com a tribo.

Expressivos, também, eram os ritos para festejar a puberdade feminina, bem como as cerimônias do noivado e do casamento entre eles.

Contudo, os laços do casamento eram muito fracos e os tupinambás viviam em poligamia, embora a primeira mulher fosse sempre considerada a primeira esposa, à qual as outras deviam obediência.

Praticavam, também, os nossos antepassados, um processo democrático na escolha dos seus dirigentes. Assim é que o chefe da tribo, o tuchaua, era escolhido por um conselho de chefes de família, procedendo-se a

escolha dentro da maior seriedade e sem qualquer influência da força. (Texto extraído do livro Grão-pará: Resenha Histórica, QUINTHJANO, Ailton)

2 ano A CRISE DO FEUDALISMO

Com o renascimento comercial que deslocou

parte da população para os centros urbanos e as

cruzadas (guerras contra a expansão muçulmana que

conquistou Jerusalém e o Santo Sepulcro -

argumentos utilizados pela igreja católica para

justificar as guerras de reconquistas, já que ela tinha

grandes interesses, políticos e religiosos). No início,

houve um desenvolvimento na produção, com base na

incorporação dessas novas terras conquistadas. Que,

devido ao seu desmatamento, gerou mudanças

climáticas, implicando assim, na diminuição da

produção e o encarecimento dos produtos. Além da

Peste Negra que matou cerca de 30% da população

da Europa provocando a escassez de mão-de-obra e

a conseqüente mudança na relação entre senhores e

servos, em que aqueles passaram a empregar os

trabalhadores, assalariando-os. Transformando a

prestação de serviços e as obrigações em espécie, em

tributações em dinheiro, o que permitiu que alguns

camponeses comprassem sua liberdade. Em muitos

casos, os servos fugiram para as Cidades.

Em algumas regiões, os senhores tentaram reagir

congelando os salários e aumentando o valor dos tributos

devido pelos servos, o que provocou inúmeras revoltas

camponesas (Jacqueries) como na França e Inglaterra.

Essas revoltas não só enfraqueceram a nobreza como

contribuiu para a centralização do poder (absolutismo

monárquico).

As JACQUERIES eram movimentos de

camponeses e aldeões, de caráter violento, onde

invadiam feudos matando senhores e clérigos, devido a

péssimas condições impostas por estes, que, além de

não defenderem os camponeses da guerra, ainda os

sobrecarregavam com novos impostos.

A Reforma Religiosa As transformações ocorridas na Europa, na

passagem da Idade Média para a Moderna, atingiram os princípios e os valores religiosos tradicionais. Os “grandes males” do século XIV revelavam que a vida valia muito pouco, que era preciso pensar mais na alma, na vida após a morte, preparar-se para o dia do Juízo Final. Porém, os princípios da Igreja, como a proibição da usura, que limitava os lucros, não se encaixavam nos ideais e objetivos da burguesia. Além disso, os reis e a nobreza cobiçavam os bens da Igreja, especialmente suas terras.

Agravava a crise o fato de que leitura da Bíblia e dos textos básicos do Cristianismo contradiziam muitas atitudes e condições da Igreja. Observa-se que havia um descompasso entre a doutrina e a realidade. As riquezas oriundas das rendas das terras eclesiásticas, da venda de indulgências, da cobrança do dízimo embelezavam os palácios episcopais e corrompiam o alto clero.

Era uma Igreja que pregava a simplicidade, para os outros. E politicamente havia, dentro dela, uma disputa pela ampliação de poder entre o papado e a Cúria Romana, seu mais alto órgão colegiado. Como a possibilidade da Igreja se reformar de dentro para fora não se concretizou, ela aconteceu de fora para dentro.

O desencadeamento da Reforma na

Alemanha A situação da Alemanha estimulou o movimento

reformista. Nela, a Igreja, além de possuir boa parte das terras, possuía um alto clero aristocrático, sem vocação, corrupto e com má formação intelectual, embora o povo fosse profundamente religioso.

A venda das indulgências foi o fator que precipitou a Reforma. Eram títulos comprados para abonar os pecados cometidos ou a ser cometidos. Um “passaporte para o Paraíso”, que beneficiava os ricos Para concluir as obras da basílica de São Pedro, a Igreja escolheu a obediente Alemanha para a venda de indulgências. A casa bancária dos Fuggers foi a encarregada da venda, adiantando o dinheiro à Igreja. Contra essa comercialização da fé, colocou-se o monge agostiniano Lutero, que afixou suas 95 teses na porta da catedral de Wittenberg, em 1517. Pretendia purificar a religião, e não criar uma divisão dentro da Igreja. Porém, uma das teses afirmava que só a fé assegurava a salvação, negando portanto o livre arbítrio, um dos princípios oficiais da Igreja.

Em 1520, o papa Leão X, por meio de uma bula, exigiu sua retratação. Lutero respondeu com a queima da bula papal. Foi excomungado. No ano seguinte, o imperador Carlos V convocou uma assembléia, a Dieta de Worms, para encontrar uma solução. Condenado, Lutero obteve o apoio do duque da Saxônia, que o abrigou em seu castelo.

A ação de Lutero teve o apoio entusiasmado da pequena nobreza, que pretendia se apossar das terras clericais e dos camponeses, que se aproveitaram da anarquia gerada pela nobreza, atacando as propriedades feudais. A revolta mais importante foi a dos anabatistas (contrários à forma batismo realizada pela Igreja); liderados por Tomaz Münzer, criticavam o acúmulo de riquezas e o comportamento do clero. A revolução social estourou na Alemanha. Diante da terrível situação, Lutero se aliou à nobreza que reprimiu com violência a revolta camponesa.

A Reforma permitiu aos príncipes alemães se

apoderarem dos bens patrimoniais da Igreja. Outros estenderam essa posse ao domínio espiritual.

Assim, até a consciência religiosa dos súditos ficava submetida aos príncipes. Afinal, o movimento de Lutero se encaixava nos interesses dos governantes, ou seja, a submissão da Igreja ao poder político. A centralização do poder só se completaria com os governantes controlando, também, a hierarquia eclesiástica.

A Igreja luterana adquiriu características nacionais. O próprio Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, e o latim foi substituído pelo alemão na celebração do culto, estimulando o interesse do povo.

O luteranismo manteve a idéia da presença

espiritual de Cristo na eucaristia (consubstanciação), mas rejeitou a transubstanciação (transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo). Outras mudanças estabelecidas pela Reforma luterana foram: a) Salvação da alma apenas pela fé; livre leitura e interpretação da Bíblia. Lutero, que traduziu a Bíblia para o idioma alemão. b) Conservação apenas do batismo e da eucaristia. c) Abolição do celibato clerical. d) Rejeição da hierarquia eclesiástica católica e da autoridade papal. e) Rejeição do culto dos santos e da adoração das imagens.

O Imperador ainda tentou controlar a crise, convocando uma assembléia (Dieta de Spira), em 1529. O Imperador respeitaria o luteranismo onde ele já havia sido implantado. As demais regiões do império continuariam católicas. A resposta de muitos príncipes valeu a eles o nome de protestantes.

Os príncipes protestantes formaram a Liga de Smalkalde para combater Carlos V. A guerra durou quase vinte anos. No final, as partes concordaram em assinar a Paz de Augsburgo, em 1555. Carlos V abdicou ao trono imperial e seu sucessor, Fernando I, convocou a Dieta de

Augsburgo, em 1559, em que determinou que cada príncipe decidiria a religião que queria adotar. Mas a religião do príncipe deveria ser obrigatoriamente seguida pela população. Portanto, não havia tolerância religiosa. Os soberanos impunham ao povo a sua religião.

A Reforma na Suíça: o calvinismo Na Suíça, a Reforma foi bem mais radical. Ulrich

Zwinglio foi o introdutor das idéias da Reforma na região. Apoiado no humanismo de Erasmo de Roterdã, combateu todos os sacramentos e a própria hierarquia clerical. Suas idéias se propagaram por vários cantões (províncias) suíços, mas os católicos reagiram eclodindo a guerra civil, na qual morreu Zwinglio, em 1531.

CALVINO

A obra reformista teve prosseguimento com o teólogo francês Jean Calvino que criticava duramente a ação da Igreja na França. Perseguido, refugiou-se em Genebra, na Suíça, onde conquistou rapidamente o poder e pôs em prática suas idéias. Estabeleceu uma verdadeira ditadura teocrática, com os princípios religiosos confundindo-se com a administração pública. Era até mesmo favorável à pena de morte para quem não fosse adepto de sua religião. Uma das mais famosas vítimas foi o médico espanhol Miguel de Servet que, tendo escapado da Inquisição católica, foi julgado, condenado e queimado vivo em Genebra.

O calvinismo pregava a predestinação e reforçava a rigidez doutrinária e moral. Do catolicismo conservou apenas o batismo e a eucaristia. A salvação se dava pela fé, que é outorgada por Deus às pessoas. O culto foi extremamente simplificado. Suas idéias se difundiram pela França, Inglaterra, Escócia e Holanda.

Os calvinistas franceses, denominados huguenotes, estabeleceram-se temporariamente no Rio de Janeiro e no Maranhão nos primeiros séculos da colonização.

Os valores éticos do calvinismo foram adotados pela burguesia capitalista. Estimulava a acumulação de capitais e a prática da usura. Segundo o calvinismo, o ser humano deve lutar pelo seu progresso. Assim, o calvinismo valorizava o trabalho, como forma de justificar a obra criadora de Deus. Portanto, das religiões reformadas, o calvinismo era a que mais de ajustava aos interesses da burguesia.

A Reforma católica ou Contra-Reforma Os avanços do protestantismo ameaçavam

seriamente a supremacia da Igreja Católica. Com exceção de Portugal e Espanha, todo o resto da Europa ocidental conhecia movimentos reformistas, o que forçou a Reforma Católica, também conhecida como Contra-Reforma. A Igreja não só se armou contra o protestantismo, como também reformou-se internamente.

O Concílio de Trento iniciou a Reforma Católica. De 1544 a 1563, com intervalos, os conciliares discutiram as medidas a serem adotadas. Decidiram manter o monopólio do clero na interpretação dos dogmas, reforçar a autoridade papal e a disciplina eclesiástica. Outras medidas foram: a) Formação obrigatória e ordenação dos padres em seminários. b) Confirmação do celibato clerical. c) Proibição da venda de indulgências e relíquias. d) Manutenção do direito canônico. e) Edição oficial da Bíblia e do catecismo. O espanhol Inácio de Loiola fundou a Companhia de Jesus, em 1534, ordem religiosa com características militares, exigindo dos seus membros completa obediência. Dirigida contra o espírito de independência do humanismo, combateu a razão com suas próprias armas e organizou sua ação a partir do ensino.

Os jesuítas foram bem-sucedidos em regiões da Alemanha, Polônia e Suíça. Colaboraram na restauração da disciplina clerical, devolvendo-lhe a pureza. Lutaram pela supremacia da autoridade papal. Participaram ativamente das colonizações portuguesa e espanhola. Desembarcaram na Ásia e na África para difundir o catolicismo. No Brasil, os jesuítas destacaram-se por sua ação catequética.

Imagem da época do Concílio de Trento.

O Concílio de Trento decidiu pelo fortalecimento dos tribunais de inquisição para combater o protestantismo. Os dogmas católicos foram defendidos pela política do terror e da delação dos suspeitos de heresia. Em 1564, o papa Paulo IV, antigo grande inquisidor, investiu até contra as obras científicas que contrariassem os princípios e dogmas católicos. Foi criada a Congregação do índex, um órgão com a função de elaborar a “relação dos livros proibidos”, ou seja os livros que os católicos não poderiam ler. A Contra-reforma tomava, assim, aspectos de uma verdadeira contra-renascença. Muitos livros e suspeitos de heresia foram condenados à fogueira.

O IMAGINÁRIO CRISTÃO NO NOVO MUNDO:

TROCAS SIMBÓLICAS E CULTURAIS

Segundo Gramsei a palavra religião, no seu sentido

mais amplo demonstra uma relação de dependência que liga o homem a um ou mais poderes superiores, dos quais ele sente que depende e aos quais tributa atos de culto tanto individuais como coletivos.

Durante a Idade Média a Igreja Católica controlava toda sociedade ocidental européia (apesar das heresias), através do verdadeiro monopólio que exerceu sobre as estruturas ideológicas como, por exemplo, a escola, e as instruções em geral, a administração de justiça da

beneficência, da assistência. Também controla a elaboração da filosofia e da ciência da época, transformando a sociedade civil em sociedade religiosa.

O catolicismo neste momento tornou-se monopolista e é considerado universal: qualquer ação ou atitude que não esteja de acordo com a concepção de vida e de mundo dos católicos é considerada heresia e merecedora de punição, além de carecer da imediata ação dos catequisadores no sentido de libertar o agente do pecado.

No Brasil, a forma de vida indígena foi considerada pecaminosa pelos portugueses que efetivavam as grandes navegações.

Na realidade a forma de viver a religião e interpretar o mundo se distanciavam. Para os índios a natureza e tudo que ela apresentava e o índio não conseguia explicar, era por ele endeusado: o Sol, a Lua, a chuva, o trovão…. Para o europeu, Deus é uma força invisível, onipresente que se faz visível através da natureza e através da fé.

O GRANDE APELO DO DESCONHECIDO As origens dos mitos que cercavam o homem

moderno, ligado ao movimento ultramarino dos séculos XV e XVI, se encontravam na mentalidade medieval, que fundia a maravilha e a busca do paraíso com motivos religiosos e a procura de riquezas. Os relatos dos viajantes medievais que percorreram a Ásia e a região do Índico favoreceram a criação de fantasias referentes à descoberta de novas terras, nas quais haveria a possibilidade de serem encontrados riquezas e “monstros”. Esta tradição mitológica medieval foi fertilizada na modernidade pelos complexos modos de ver e de sentir a aventura do além-mar.

No imaginário europeu em relação ao descobrimento da América, existia uma dualidade que perpassava pelo confronto entre o bem, simbolizado por Deus e pela busca do paraíso, e o mar, que retratava o diabo e o inferno. A idéia da conquista vinha acompanhada pelo desejo de levar para as possíveis criaturas demonizadas do Novo Mundo a palavra de Deus por meio da catequese. A idéia da existência de uma “humanidade inviável” nas terras ultramarinas, sustentada pelas considerações imprecisas de alguns viajantes, ratificava a lógica da identificação desses povos com o Demônio. É sintomático o espanto de um padre europeu em contato com os índios no Brasil.

Quais os pecados? Vícios da carne – o insesto com lugar de destaque, além da poligamia e dos concubinatos – nudez, preguiça, cobiça, paganismo, canibalismo. Havia muitas mulheres para um só homem e alguns têm por mulheres a própria filha, (…) a mais preguiçosa gente que se pode achar, porque desde a manhã até a noite, e toda a vida não tem ocupação alguma. Humanidade esquisita, anti-humana meio monstruosa, diferente, pecadora. Seriam homens mesmo? Poderiam ser convertidos, receber a palavra divina? MELLO E SOUZA, Laura de. O diabo e a Terra Santa Cruz. São Paulo.

Companhia das Letras. 1996.

Em torno deste tema articulou-se uma sucessão de

representações fantásticas que se transformaram em perfeitas epopéias. O pensamento cristão havia se adaptado à política expansionista e a propagação da fé vinculava-se à empresa marítima. O próprio “descobrimento” do Brasil recebeu uma explicação teológica. Consideravam os religiosos portugueses que,

entre as diversas nações do planeta. Portugal teria sido escolhido por Deus para concretizar tal realização. Afirmava o jesuíta Padre Vieira que: “Os outros homens, por instituição divina, têm só obrigação de ser católicos e de ser apostólicos. Os outros cristãos têm obrigação de crer a fé: português tem a obrigação de a crer e mais a propagar”. Para propagá-la, lançaram-se ao mar.

AS TROCAS SIMBÓLICAS E CULTURAIS E O

OLHAR DOS VENCIDOS As conquistas ultramarinas produziram grandes

transformações tanto na Europa como nas Américas. No final do século XVII, tais modificações eram sensíveis. A base geográfica da Europa Ocidental foi ampliada. O comércio tornou-se mundial, deslocando o eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico. Os italianos perderam definitivamente o monopólio comercial, e o declínio das repúblicas italianas acentuou-se. Portugal, Espanha, Inglaterra e França assaram a ocupar papéis de destaque na economia da modernidade. O grande fluxo de metais provenientes das colônias americanas que chegavam à Europa causava uma verdadeira revolução nos preços dos produtos.

Os europeus introduziram na América uma série de animais e plantas até então desconhecidos pelos nativos: galinhas, cavalos, cabras, pombos, patos, ovelhas, centeio, arroz, laranjeira, limoeiro, vinha. Técnicas européias baseadas em movimentos circulares, muito utilizadas na moagem do açúcar brasileiro, também foram importadas da Europa. As instituições políticas e a religião católica igualmente acompanharam os conquistadores pelo Novo Mundo.

Os índios, entre outros produtos cultivados ou por eles conhecidos têm-se, o abacaxi, bananas, caju, aipim, batata doce, feijão, milho, cará, abóbora, ervilha e especialmente a mandioca.

Até certo ponto, a introdução desses elementos familiares vinha “europeizar” uma paisagem perturbadora, tão diferente da que os descobridores e colonizadores conheciam. Nativos que devoraram os prisioneiros de guerra, animais exóticos, a própria exuberância da flora tropical geravam espanto e temor. O que havia sido encontrado afinal, o jardim do paraíso ou as portas do inferno? Todavia, o choque e o medo foram ainda maiores entre os nativos do Novo Mundo. Aos olhos dos indígenas, os conquistadores assemelhavam-se a figuras monstruosas montadas em outros monstros, os cavalos, também desconhecidos, que usando sua superioridade bélica, destruíram e escravizam da maneira bárbara e selvagem as sociedades locais.

O ENGENHO AÇUCAREIRO

A integração do Brasil ao sistema econômico

mundial foi estabelecida, ainda no século XVI, com a instauração da produção de açúcar, então uma das mais apreciadas especiarias no mercado europeu. O açúcar produzido como mercadoria era exportado para a metrópole em caráter exclusivo, segundo o estatuto colonial e distribuído naquele mercado. O Brasil possuía condições de solo e clima favoráveis à cultura da cana-de-açúcar. Os portugueses contavam já com experiências exitosas da produção do açúcar em larga escala nas ilhas do Atlântico.

Em combinação com isso, tinham desenvolvido uma indústria de produção de equipamentos para os engenhos açucareiros. A experiência anterior também tinha sido importante do ponto de vista comercial. Tudo indica que o açúcar português penetrou, de início, nos canais controlados pelos comerciantes italianos, mas depois, ele passou a ser remetido em proporções consideráveis para Flandres. Desde meados do século XVI, a produção do açúcar português foi convertendo-se crescentemente numa empresa realizada em conjunção com os flamengos, primeiramente ligada aos interesses de Antuérpia, e, mais tarde, da Amsterdã.

A combinação de todos esses fatores foi extremamente propícia para a implantação da produção açucareira no Brasil. O problema crítico para a expansão da produção do açúcar em larga escala foi a escassez da força de trabalho necessária. O recurso à escravidão apresentou-se, desde logo, como o único meio de proporcionar uma produção de açúcar a baixo custo, nas condições históricas da colônia, e capaz, portanto, de gerar lucros para a metrópole.

Na colônia portuguesa, a tentativa de submeter os indígenas à escravidão revelou-se uma solução precária na escala da grande produção açucareira, em virtude principalmente da obstinada resistência oferecida pelos silvícolas. Nas primeiras fases da colonização, o trabalho dos índios chegou a ter um papel significativo: mas, de fato, essa mão-de-obra, que sempre foi considerada como de segunda classe, somente chegou a ter certa importância relativa para os pequenos núcleos populacionais dispersos pelo país, como foi o caso da capitania de São Vicente. No tocante à mão-de-obra para a empresa açucareira, os portugueses acabaram apelando definitivamente para o emprego de escravos africanos. Admite-se que, já no século XVII, os africanos representavam o maior contingente da população escravizada. Posto que, via de regra, o escravo não se reproduz no cativeiro em virtude da superexploração a que é submetido, a continuidade da força de trabalho na empresa açucareira ficava dependendo de um tráfico negreiro regular a partir dos mercados fornecedores africanos.

Desembarque de escravos. (Rugendas)

Em virtude do baixo nível das forças produtivas na empresa açucareira, a produção somente poderia apresentar-se reatável se conduzida em larga escala. O conjunto das atividades nas grandes unidades de produção – o desflorestamento e a preparação do solo, a plantação e o corte da cana e, principalmente a fabricação do açúcar – implicam o esforço coordenado de um número considerável de trabalhadores. Também os investimentos na compra de equipamentos importados eram outro fator a exigir uma produção de açúcar em escala para ser rentável. Em suma, a produção do açúcar requeria grandes unidades – os engenhos de produção.

Depois de superadas as dificuldades da etapa preliminar de sua instalação, a empresa açucareira progrediu aceleradamente. A expansão da produção de açúcar foi particularmente acentuada no ultimo quartel do século XVI. O montante dos capitais investidos nos engenhos e o número de escravos nestes ocupados eram já então consideráveis. O capital investido na mão-de-obra escrava representava cerca de 20% do capital fixo da empresa; e uma parte substancial do capital fixo estava constituído por equipamentos importados. A renda gerada na colônia se concentrava fortemente nas mãos dos proprietários de engenho. Uma parte ínfima da renda correspondia a pagamento por serviços prestados fora dos engenhos, em transporte e armazenamento. Os engenhos também mantinham alguns trabalhadores assalariados, ocupados em ofícios diversos e como supervisores do trabalho escravo. E, por fim, o engenho arcava com gastos monetários na compra de animais de tração, de lenha, etc. Assim, a base econômica da formação social açucareira é o escravismo; a grande lavoura é uma unidade de produção que se caracteriza pela enorme extensão de terra e pelo uso da mão-de-obra escrava.

Obs.: O engenho era a unidade de produção onde se localizavam os canaviais, as plantações de subsistência, a fábrica do açúcar – com sua moenda, a casa das caldeiras e a casa de purgar -, a casa-grande, a senzala, a capela, a escola e as habitações dos trabalhadores livres – como o feitor, o mestre do açúcar, os lavradores contratados, etc.

Havia alguns engenhos que produziam exclusivamente cachaça, um dos produtos utilizados no escambo de negros africanos. Em outros engenhos produtores de açúcar as destilarias de cachaça funcionavam como atividades secundárias.

Engenho de açúcar, ilustração de um mapa de 1640

Na moenda a cana era prensada para a extração da garapa. Na casa das caldeiras fazia-se a apuração e a purificação do caldo. Na casa de purgar, o caldo era colocado em formas especiais de barro para esfriar, até o mestre “dá o ponto”. Depois desse processo, o açúcar era encaixotado e transportado para metrópole. Daí, segui para a Holanda, onde era refinado.

E como afirma Gilberto Freire em sua obra Casa-Grande & Senzala, a casa-grande, que era a representação do poder do senhor de engenho, não foi nenhuma reprodução das casas portuguesas, mas uma expressão nova, correspondendo ao nosso ambiente físico e a uma fase surpreendente, inesperada, do imperialismo português: sua atividade agrária e sedentária nos trópicos: seu patriarcalismo rural e escravocrata, fundador de uma nova ordem econômica e social.

A casa-grande, completada pela senzala, representa todo um sistema econômico, social e político de produção: a monocultura latifundiária de trabalho escravo.

Pesagem e encaixotamento de açúcar, Rio de Janeiro. (Jean-Victor Frond)

Embora os senhores tratassem de obter, através de um trabalho ideológico pertinaz, o consentimento do escravo à sua condição de bem móvel, a coerção física, praticada pelos meios mais violentos e cruéis, é que impunha, em última instância, o estatuto da escravidão. Os escravos eram confinados em senzalas, tinham de conviver misturados a grupos étnicos diferentes, sofriam castigos corporais que podiam chegar à pena de morte, e eram passiveis de venda sem consideração de quaisquer laços afetivos ou de família.

Todavia, os escravos não trabalham só na produção de mercadorias. O trabalho escravo também pode ser usado no interior da grande lavoura para a obtenção de produtos agrícolas de subsistência, destinados a alimentar a população da unidade produtiva; essa produção de subsistência é intensificada quando a demanda da produção para o mercado enfraquece e diminui ou chega mesmo a anular-se, quando aumenta a

demanda do produto principal do mercado. Os escravos também se ocupam com outras atividades produtivas voltadas para o consumo dentro da fazenda da grande lavoura; produção de algodão e lã para a fiação e tecelagem, curtume, confecção de artigos de couro, produção de lenha e carvão, carpintaria, marcenaria, etc.

Havia um ditado popular em Portugal que afirmava que o Brasil era “um inferno para os negros, um purgatório para os brancos e um paraíso para os mulatos”. No que se refere aos brancos e mulatos, podemos deixar a interpretação por conta da religiosidade dogmática do catolicismo europeu. Entretanto, não há dúvidas de que para os negros, a vida nos trópicos brasileiros se constituía num verdadeiro inferno; as formas de resistência opostas pelos escravos à opressão que a escravidão lhes impunha, ia desde o descaso pelo trabalho e a danificação dos meios de produção, até a morte de seus algozes e a fuga para as matas em busca de liberdade. É certo que, desde o século XVI, houve fugas e a formação de comunidades de escravos ou quilombos, mas as condições de escravidão eram tais que se tornava de todo impensável um plano de revolta geral da massa escrava.

TEXTOS (I) Engenhosas

Muitas vezes, ligada ao engenho ao produtor de

cana-de-açúcar, havia as destilarias de aguardentes, funcionando como atividade subsidiária. Alguns exemplos, denominados engenhocas ou molinetes, produziam exclusivamente cachaça. A aguardente era utilizada como elemento de troca no escambo de escravos, tendo uma importância econômica relativamente grande.

(II) O Trabalho no Engenho

Aqui, nada de apatia; tudo é trabalho, atividade;

nenhum movimento é inútil, não se perde uma só gota de suor. Os edifícios ficam em um grande pátio; o engenho e uma extensa construção ao rés do chão, tendo em frente a senzala dos negros, deserta durante as horas de trabalho. Vejo ao longe negros e negras curvados para a terra, e excitados a trabalhar por um feitor armado dum chicote que pune o menor repouso. Negros vigorosos cortam as canas que raparigas enfeixam. Os carros, atrelados de quatro bois, vão e vem dos canaviais ao engenho; outros carros chegam da mata carregados de lenha para as fornalhas. Tudo é movimento. O engenho está sobre um terraço; cavalos, estimulados pelos gritos de moleques, fazem-no girar. Raparigas negras empurram a cana para os cilindros da moenda. Alguns negros descarregam as canas e as colocam ao alcance das mulheres; outros as transportam em grandes cestos e espalham no terreiro o bagaço inútil da cana, que não é usado como combustível. O edifício da moenda contém igualmente a importante dependência das caldeiras, onde é cozido o caldo de que se forma o açúcar. O mestre-de-açúcar é um homem livre que tem às suas ordens negros que agitam o mel com grandes colheres. O fogo das fornalhas é alimentado dia e

noite e é mantido durante os cinco meses que dura a safra. Negros transportam as fôrmas para a casa de purgar que é dirigida por um mulato livre. Este tem sob suas ordens homens para a refinação e para escorrer o mel que vai se ajuntar num reservatório. Esta dependência comunica-se com aquela onde se despejam as fôrmas contendo o açúcar acabado. Ali os pães cristalizados e purgados são quebrados; separam-se as qualidades e espalha-se o açúcar, para secar.

O ESTADO ABSOLUTISTA DO OCIDENTE

APRESENTAÇÃO: A história das relações de poder no ocidente tem, no

surgimento dos estados absolutistas, um dos seus momentos mais significativos. Sendo resultado na centralização e fortalecimento do poder real que vinha se processando de forma variada em diferentes partes da Europa ocidental desde o século XI.

O estado nacional se consolida num contexto histórico bastante conturbado, a crise do mundo feudal nos séculos XIV e XV. Contestado tanto pelo particularismo da nobreza, quanto pelo supra-nacionalismo do papado, o poder real vai se afirmar e se impor a partir do enfraquecimento destas esferas de poder.

A natureza do estado absolutista é um assunto que já desencadeou muita polêmica entre várias correntes de historiadores. A discussão quanto a sua identidade capitalista ou feudal tem na tese do historiador Perry Anderson (Linhagens do Estado Absolutista) uma das interpretações mais aceita pela grande maioria dos estudiosos do assunto. Segundo o autor, o absolutismo era:

“Essencialmente um aparelho de dominação feudal recolocado e reforçado destinado a sujeitar as massas camponesas à sua posição social tradicional. (…) em outras palavras, O Estado absolutista nunca foi um árbitro entre a aristocracia e a burguesia, e menos ainda um instrumento da burguesia nascente contra a aristocracia: Ele era a nova carapaça política de uma nobreza atemorizada…”.

O Estado Nacional significou a centralização da Justiça, finanças, defesa, e num certo sentido até mesmo na religião nas mãos do rei.

FATORES QUE VIABILIZARAM A FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS ABSOLUTISTAS

O ENFRAQUECIMENTO DA NOBREZA Até o século XI, os senhores feudais

monopolizavam todos os principais mecanismos de poder da sociedade feudal. A figura real, com raras exceções, era desprovida de poder e autoridade. A eclosão das cruzadas – expedições militares de caráter religioso, realizadas pela cristandade ocidental entre os séculos XI e XIII, objetivando libertar a “terra Santa” do domínio mulçumano – contribuiu de maneira muito direta para uma mudança radical nas estruturas políticas do mundo feudal.

Durante as cruzadas a liderança militar dos reis era a única forma de garantir a unidade dos exércitos que se dirigiam ao oriente. O desaparecimento e o enfraquecimento de muitas famílias de nobres favoreceu decisivamente no processo de centralização da autoridade real.

O ENFRAQUECIMENTO DO PAPADO Na baixa Idade Média, o papado atingiu um

poder extraordinário, sua interferência política não possuía fronteiras, para o desconforto dos reis europeus. No século XIV, o papado foi atingido por uma sucessão de golpes que contribuíram para limitar a sua influência no campo político.

O primeiro golpe foi o “Cativeiro de Avignon” (1309-1377), período da história da igreja católica em que a sede do papado foi transferida de Roma para Avignon (França) sob a tutela da coroa francesa. O notório controle do papado pelo rei francês contribuiu para abalar a autonomia desta instituição.

Outro golpe sofrido pelo papado foi o “Cisma do Ocidente” (1378-1417), fase de verdadeira anarquia papal, visto que, a cristandade ocidental se dividia na obediência a dois, e posteriormente (1409-1417) a três papas simultaneamente.

Em ambos os casos a autoridade e o poder do papa foram alvo de contestação e descrédito, favorecendo a esfera do poder nacional.

A “ALIANÇA” REI-BURGUESIA: É inquestionável o papel da burguesia no

processo de consolidação do Estado Moderno, a discussão que se faz é qual o lugar da burguesia no Estado Moderno. A falta de percepção quanto a esta diferenciação tem sido a causa de uma visão radical que rejeita até a expressão “aliança” sem levar em conta o atrelamento econômico direto (empréstimos) e indireto (impostos, tributos, acumulação interna de capital) entre o Estado e este segmento da sociedade. À burguesia o fortalecimento do rei resultaria na supressão dos obstáculos à expansão do comércio impostos pelo particularismo da nobreza feudal como seus infindáveis tributos, impostos, taxas e moedas.

AS REVOLTAS CAMPONESAS No século XIV a drástica redução demográfica

provocada pela Fome, Guerra do Cem anos e pela Peste Negra, resultaram num processo de superexploração da mão-de-obra que agravou ainda mais as condições de vida e trabalho das massas camponesas. Em resistência a esta situação desencadeou-se uma série de revoltas, destacando-se àquelas ocorridas na Franca (Jacquerie) e na Inglaterra.

Constituindo-se na prática de um movimento anti-feudal, as revoltas colocavam em xeque a própria existência da nobreza. Diante deste quadro, o fortalecimento político-militar do rei, tornou-se mais do

que necessário para evitar a subversão do “Status Quo”. Como bem definiu Perry Anderson “…os estados monárquicos da renascença foram em primeiro lugar e acima de tudo instrumentos modernizados para a manutenção do domínio da nobreza sobre as massas rurais”. (Linhagens do Estado Absolutista. p. 20).

AS TEORIAS DO ESTADO MODERNO

MAQUIAVEL (1469-1527)

Com sua obra “O Príncipe” justificou o Absolutismo diante da indispensabilidade deste para a existência da Nação. A obra de Maquiavel é incompreensível sem um enquadramento do autor em seu tempo e contexto histórico.

Maquiavel era um baixo funcionário de burocratas que conhecia muito bem, os execráveis bastidores do poder numa “Itália” dividida e em constante conflito entre as suas dezenas de repúblicas. Como filho de sua época procura nos clássicos, respostas para sua inquietante busca – A Unificação da Itália.

“É preciso que a Itália, após uma longa expectativa, veja aparecer enfim o seu redentor. E não posso dizer com que amor seria ele acolhido em todas as províncias que sofreram as invasões estrangeiras, com que sede de vingança, com que fé obstinada, com que piedade, com que lágrimas. Que porta encontraria fechada? Que povo lhe recusaria obediência? Que rivalidade encontraria? Que italiano lhe recusaria respeito? Todos têm horror o domínio bárbaro”.

MAQUIAVEL

É sua fonte clássica (A Roma de Augusto) que ele produz a sua obra prima. Como ele próprio declara: “Compus um opúsculo, DE PRINCIPATIBUS, no qual mergulho, tanto quanto possível, nas profundezas de meu tema, investigando qual a essência dos principados, de quantas espécies podem ser, como são conquistados, conservados e por que se perdem (…) e sobretudo o que deve convir a um príncipe e em especial a um príncipe novo”. Um exemplo clássico da argumentação de Maquiavel é a famosa questão “Mais vale ser amado que temido, ou temido que amado”. Ele nos leva a concluir que as pessoas respeitam mais a quem temem do que a quem amam.

JEAN BODIN (1530-1596)

Com a sua obra “República”, legitimou o absolutismo estabelecendo de forma pioneira os fundamentos da “Teoria do Direito Divino dos Reis”.

Jean Bodin era um “rigoroso jurista fértil em arrazoados, rígido moralista de severidades bíblicas, elevada consciência preocupada com o problema religioso e o soberano bem do Estado”. (CHEVALIER. As Grandes Obras Políticas. p. 50.). Sua obra é uma apologia do poder político absoluto. A República, ou seja, a “coisa pública” (não uma forma de governo) é naturalmente soberana, visto que, para Bodin, sem soberania a república é como um navio sem quilha (sustentação).

A soberania que é própria da República, segundo Bodin é Perpétua, indivisível e Absoluta “…É necessário que os soberanos não estejam, de forma alguma sujeitos às ordens de outros”. Quanto à forma tomada pela “coisa pública”, Bodin obviamente prefere a monarquia, ou seja, a soberania de um só, o Rei. Entre outras razoes porque ela é forma mais “natural” de governo (a família tem um só chefe, o céu tem um só sol, o mundo tem um só Deus); É a forma mais lógica “havendo dois, três ou mais, nenhum é soberano” e finalmente porque ela é sagrada:

“Nada havendo de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes para governar os outros homens, é necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes reverenciar-lhes a majestade com toda a obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a honra, pois quem despreza seu príncipe soberano despreza a Deus do qual é a imagem na terra”.

JEAN BODIN

THOMAS HOBBES (1588-1679) Autor de “O leviatã” legitimou o absolutismo, a

partir da teoria do Contrato social, visando o fim da anarquia e a garantia dos direitos naturais. A iconografia do Leviatã no início deste texto é devidamente elucidada na obra de Hobbes. O Homem artificial surge devido a desordem e o caos desencadeados pelos homens naturais “Homo Homini Lupus”, o homem é um lobo para o homem, neste estado a vida era “solitária, pobre, grosseira, animalizada e breve”.

A única saída para esta ameaça de auto-extinção é o homem abandonar este estado. “…Concordai, portanto, em renunciar ao direito absoluto sobre todas as coisas, direito que cada um de vós, igual aos outros possui no estado de natureza e tende a vontade de observar esse acordo de renúncia”. Para quem são transferidos os direitos naturais renunciados? Para o ser artificial (Estado-leviatã) que surge para com seu imenso poder acabar com a ameaça de extinção da sociedade humana.

“Tal é a origem desse grande Leviatã, ou melhor, desse deus mortal a que devemos, com auxílio do Deus imortal, nossa paz e nossa proteção. Porque armado do direito de representar cada um dos membros da comunidade, é detentor, por isso mesmo, de tanto poder e força que se torna capaz, graças ao terror que inspira, de dirigir as vontades de todos à

paz no interior e ao auxílio mútuo contra os inimigos do exterior”.

THOMAS HOBBIES

JACQUES BOSSUET (1627-1704) Bispo Francês, foi preceptor do Delfin da França

(futuro Luís XIV) de 1670 a 1679. Com sua obra “Política extraída das Sagradas Escrituras” deu corpo e forma a teoria do Direito dos Reis, dando ao soberano o caráter de um “Predestinado de Deus”.

A obra de Bossuet tem a pretensão de ser uma interpretação dos decretos divinos sobre política, como bem colocou Chevallier no seu clássico, “mais do que a voz de Bossuet, é a do próprio Deus que o Delfim vai escutar ao ler a Política, já que é extraída das próprias palavras da Escritura”.

Concordando com Bodin, também para o bispo Bossuet “A Monarquia é a mais comum, a mais antiga e também a mais natural forma de governo”. E, principalmente, A Monarquia é sagrada “Dá-se aos reis o título de cristo; são chamados os cristos ou os ungidos do Senhor”.

O ABSOLUTISMO NA FRANÇA

O Absolutismo na França foi marcado por avanços e recuos: Após a Guerra dos Cem anos a centralização do poder Real, foi retomada pelos Valois, até ser freada durante as Guerras de Religião.

A doutrina Calvinista resultou na França, no surgimento de uma comunidade de protestantes denominados de Huguenotes, que tinham em Henrique de Bourbon o seu principal líder. Constituindo a maioria, os católicos, liderados por Henrique de Guise procuravam exterminar os “hereges” com o apoio do Rei Henrique Valois.

A guerra dos Três Henriques (1562-1598), como

ficou conhecida, foi um fator de limitação da autoridade real. O enfraquecimento do Partido Huguenote, após o Massacre da noite de São Bartolomeu e o conseqüente fortalecimento do partido católico e de seu líder Henrique de Guise, abalou ainda mais a frágil figura real. Nem o assassinato de Henrique de Guise trouxe a estabilidade, o próprio Henrique Valois acabou também por ser

assassinado. O trono, por direito pertence a Henrique de Bourbon, esposo de Margot Valois.

Com Henrique IV, inicia-se a Era dos Bourbon. Apesar, de Abjurar o protestantismo (Paris bem vale uma missa) garantiu à estes, pelo Edito de Nantes – 1598: liberdade de culto, autonomia militar e direitos civis.

Henrique IV foi também assassinado e devido a menoridade do futuro Luís XIII, o poder na França esteve nas mãos de Richelieu, responsável pela consolidação do Absolutismo e pela Projeção política da França, efetuando para tal, o Edito de Graça de Alaís – tirando dos huguenostes s cidades fortificadas e envolvendo a França na Guerra dos 30 anos contra a poderosa e católica Casa D’ Austria (Habsburgos).

O Reinado de Luís XIII foi marcado pela guerra dos trinta anos, sua morte prematura, e a menoridade do Delfim, possibilitaram a ação política do cardeal Mazarino, que se tornou impopular devido a política fiscal. Durante este período foi que aconteceu a última tentativa da nobreza de conter o absolutismo dos reis. A Guerra das Frondas (1648-1652) o seu fracasso fortaleceu definitivamente o poder real na França. Com a morte de Mazarino em 1661, inicia-se o reinado pessoal de Luís XIV.

Com Luís XIV, o absolutismo vive seu maior brilho. O Rei Sol centralizou a religião, revogando o Edito de Nantes com o Edito de Fontainebleau; desenvolveu momentaneamente a economia graças a genialidade de Colbert. Contudo, sua desastrosa política externa – A França foi derrotada em várias guerras externas como por exemplo, a Guerra de Sucessão da Espanha e a Guerra da Liga de Augsburgo – determinou o início da decadência do Estado Moderno na França.

d) O ABSOLUTISMO NA INGLATERRA Apogeu e crise

O estabelecimento do absolutismo atingiu o apogeu a partir da ascensão ao trono de Henrique VIII (1509-1553). Para fortalecer seu poder político, rompeu com a Igreja Católica, criando uma igreja nacional, da qual se tornou chefe (Ato de Supremacia). Afastavase a influência de Roma nos assuntos internos da Inglaterra. Porém, o governo de seus herdeiros foi envolvido por questões religiosas que quebraram temporariamente a precária estabilidade interna.

Seu filho Eduardo VI, herdeiro com apenas nove anos, foi totalmente dominado por seus preceptores calvinistas. Faleceu cinco anos depois, sendo sucedido pela sua irmã, Maria I (1553-1558), que tentou à força impor o catolicismo. As perseguições lhe valeram o apelido de “Maria, a sanguinária”. Casou-se com Felipe II, futuro rei da Espanha e católico; envolveu-se numa guerra contra a França, e perdeu o porto de Calais, último baluarte britânico em território francês, desde o fim da Guerra dos Cem Anos.

Com sua morte, sem herdeiros diretos, o poder passou para sua irmã, Elizabete I (1558-1603), que revelou toda a autoridade do pai, assumindo as rédeas do poder. Restabeleceu o anglicanismo e se tornou chefe da Igreja Anglicana. Com ela, o país conheceu o “absolutismo disfarçado”, pois, embora a rainha convocasse o Parlamento, ele, de fato, fazia o que ela desejava.

A rainha perseguiu os adversários do anglicanismo, acusando-os de desobediência ao Estado, o que acarretou o aumento da emigração para a América. Mas a rainha também incentivou a fundação de colônias na América do Norte, como a Virgínia. Por outro lado, a

produção da cultura inglesa se expandiu, destacando-se intelectuais como William Shakespeare e Francis Bacon.

O governo estimulou ataques de corsários aos galeões e colônias da Espanha na América, ficando com uma parte do saque conseguido. Os ataques, além da rivalidade religiosa entre um país protestante e o outro católico, geraram a tentativa espanhola de invadir a Inglaterra, com a “Invencível Armada”, de Felipe II, em1588. Constituída de 130 navios, foi atacada por navios ingleses e tentou se refugiar em Calais. Porém, um violento temporal dispersou a frota, que voltou para a Espanha sem efetivamente combater. Foi o fim da hegemonia espanhola.

Com a morte de Elizabete, sem herdeiros diretos, o trono passou para seu primo Jaime I (1603-1625), rei da Escócia, da dinastia Stuart. Iniciava-se a história do Reino Unido da Grã-Bretanha, que congrega Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda (do Norte), ainda hoje. Sendo o rei escocês ligado aos grandes proprietários de terras, houve a formação de uma frente nacionalista no Parlamento inglês contra ele, liderada pela burguesia.

As perseguições religiosas se intensificaram, com a imposição forçada do anglicanismo, redundando na grande emigração de ingleses. Muitos puritanos partiram para a América a bordo do Mayflower; católicos se envolveram na “Conspiração da Pólvora” para matar o rei, mas descobertos foram executados, o que motivou a expulsão dos jesuítas da Inglaterra. Com dificuldades, o rei se impôs ao Parlamento.

Filho de Jaime I, Carlos I (1625-1649) tentou ampliar seu poder absolutista, contra os direitos do Parlamento. Necessitando de recursos financeiros para custear as guerras externas, assinou a Petição dos Direitos (Bill of Rights) em 1628, que limitava seus poderes e ampliava os do Parlamento. Confirmou-se, então, o princípio pelo qual um imposto só seria legal se aprovado pelo Parlamento.

AS REVOLUÇÕES INGLESAS NO SÉCULO

XVII

O rei, desesperado, convocou o Parlamento em busca de apoio político e de aprovação de novas taxas e impostos. Seu desejo, no entanto, foi negado. Nova dissolução do Parlamento, e a crise se agravavam. Em 1640 ocorreu uma nova convocação. Iniciou-se, então, a reação parlamentar: dissolução dos tribunais reais, supressão dos tributos ilegais, convocação obrigatória do Parlamento, pelo menos uma vez a cada três anos. Novo cerco militar do Parlamento. Porém, os políticos, a burguesia e a população de Londres recorreram às armas, tendo início, em 1642, a guerra civil, com o Parlamento opondo-se ao absolutismo real.

De um lado, o exército real, constituído pelos grandes proprietários de terras (cavaleiros) e seus mercenários, anglicanos majoritariamente; e, de outro, a burguesia, os artesãos e os camponeses, conhecidos como os “cabeças-redondas”, pela forma arredondada do seu corte de cabelo. Seu comandante era Oliver Cromwell, radical puritano.

A guerra favorecia o Parlamento, por causa do apoio financeiro da burguesia e pelas reformas militares introduzidas por Cromwell.

Em situação difícil, o rei fugiu para a Escócia, em busca de apoio. Porém, Carlos I foi preso e, posteriormente, vendido ao Parlamento inglês. Julgado, condenado, foi decapitado.

O poder era disputado pelo Parlamento e pelo Exército. Cromwell, apoiando-se nos seus soldados, realizou um grande expurgo no Parlamento, afastando os presbiterianos monarquistas que temiam a radicalização das reformas propostas pelos puritanos.

Cromwell, chefe militar puritano, detinha de fato o

poder; mas era preciso legalizá-lo. A Câmara dos Lordes, uma das casas do Parlamento, foi dissolvida, substituída por um conselho puritano. Cromwell representava a burguesia inglesa e os interesses econômicos dessa classe. Em 1651, editou o Ato de Navegação e a riqueza da nação se expandiu.

Oliver Cromwell implantou, então, uma ditadura pessoal com o apoio do exército e da burguesia comercial. A república foi proclamada, e Cromwell recebeu o título de Lorde Protetor da Inglaterra. A sua ditadura estimulou o crescimento econômico e dela se aproveitou. O mercantilismo proporcionou grandes lucros e o acúmulo de capitais que futuramente propiciariam a Revolução Industrial. Sua morte, em 1658, reabriu a luta pelo poder entre o Parlamento e o Exército. O Parlamento, em 1660, decidiu reconduzir ao trono um Stuart, com a condição de obedecer aos direitos parlamentares.

Porém, Carlos II, filho de Carlos I, decidiu enfrentar o Parlamento, optando pelo absolutismo. Agravando a situação, o rei simpatizava com o catolicismo. O Parlamento reagiu e aprovou uma lei que obrigava todos os funcionários reais a prestar juramento ao anglicanismo, em 1679. Era o Ato de Exclusão. Assim, um católico não poderia ser soberano da Inglaterra.

Em 1685, o rei morreu sem ter herdeiros diretos. O trono passou para seu irmão, o Duque de York, Jaime II, possivelmente convertido ao catolicismo. Havia, portanto, o perigo da volta da influência papal nos assuntos internos do país.

Perante a impossibilidade de arranjo entre a posição do rei e os interesses britânicos, iniciou-se o processo de seu afastamento. O Parlamento, reaberto em 1688, convocou Guilherme de Orange, príncipe holandês protestante, casado com a filha do rei, Maria Stuart, para assumir o trono. Enquanto Guilherme entrava em Londres, o rei Jaime II se refugiava na França.

O novo rei jurou a Declaração de Direitos em 1689. Por esse documento a autoridade real foi drasticamente reduzida, tornando-se o Parlamento o verdadeiro governo do país. A chamada “Revolução Gloriosa” fazia triunfar a monarquia parlamentar.

O ILUMINISMO E O PENSAMENTO

LIBERAL

O Antigo Regime apresentava três características básicas: o absolutismo político, a sociedade estamental e a economia mercantilista. Contra esta estrutura se colocaram muitos pensadores na segunda metade do século XVIII. Almejavam liberdade, segurança e participação na resolução dos problemas comuns. Seu pensamento correspondia às novas necessidades e objetivos da burguesia industrial e financeira que começavam a se organizar.

Esse amplo movimento filosófico, o Iluminismo, analisava a sociedade a partir de uma perspectiva racional. Ele teve origem no racionalismo europeu do século XVII, embora já esboçada desde o Renascimento. O filósofo francês René Descartes (1596-1650) teve enorme influência. Elaborou uma nova metodologia, partindo do princípio de que tudo deve ser compreendido pela razão e pela experiência (método experimental). Sua influência foi tão grande que, após Descartes, não se podia mais pensar cientificamente sem usar o seu método. Segundo o filósofo, o pensamento humano deve considerar todas as manifestações da natureza por meio de uma compreensão racional, e o que não pode ser reconhecido pela racionalidade do espírito humano deve ser desprezado. Famosa a sua frase: “Penso, logo existo”. O racionalismo cartesiano foi o método utilizado pelos iluministas interessados no estudo da sociedade.

O cientista inglês Isaac Newton (1642-1727) contribuiu para o racionalismo através dos estudos da Física, Matemática e Astronomia. Formulou as leis naturais, isto é, aquelas que ocorrem na natureza, independentes da vontade humana, como os princípios da gravidade. Criou a mecânica celeste, revolucionando a física.

Os iluministas, influenciados pelo racionalismo, criticaram o Antigo Regime. Para eles, não era racional que somente o rei governasse. A teoria da origem divina do poder era contestada, pois não era racional. Seria racional o povo não só escolher seus governantes, como também de lhes exigir prestações de contas de sua ação.

A própria existência de Deus também deveria ser compreendida racionalmente. Deus estaria em todos os lugares, manifestando-se na Natureza. Por essa razão, os iluministas combatiam o monopólio religioso da Igreja Católica. Para encontrar Deus não havia necessidade de se dirigir à Igreja, pois Ele poderia ser encontrado dentro do coração do próprio homem.

A partir do pensamento de Descartes, os filósofos estruturaram uma nova visão de mundo: o liberalismo. Esse movimento nasceu na Inglaterra, mas alcançou enorme desenvolvimento na França do século XVIII. Os principais expoentes do liberalismo foram: a) John Locke (1632-1704): criticou as idéias de Hobbes, pois acreditava que no estado natural não havia o caos. Mas o ser humano, dotado de capacidade racional, delegou seus direitos a um soberano, seu representante. O indivíduo não existe em função do Estado, e sim o contrário. A função fundamental do governo é garantir a propriedade, a liberdade e a segurança dos indivíduos. Assim, os cidadãos têm o direito de se rebelar contra um governo que não cumpre com as suas obrigações. Defendia a existência do poder legislativo (Parlamento) e a liberdade religiosa. Apoiou a Revolução Gloriosa, de 1688, e ajudou na redação do Bill of Rights. Seu pensamento inspirou os colonos americanos a lutar pela sua independência. Principal obra: Tratado do Governo Civil. b) Montesquieu (1689-1755) propôs a divisão do poder em executivo, legislativo e judiciário, cada qual com suas

atribuições, independentes, mas harmônicos entre si. Era a forma ideal para evitar o despotismo. Principais obras: O Espírito das Leis e Cartas Persas. c) Voltaire (1694-1778) notabilizou-se pelos ataques à Igreja, mas não era ateu, e sim, deísta, isto é, acreditava que Deus se manifestava na Natureza e que podia ser entendido pela razão. Satirizou a nobreza e o clero, atacou o absolutismo e a Igreja, defendeu as liberdades individuais de expressão, a igualdade jurídica. Suas idéias lhe custaram perseguições e exílios. Principais obras: Cartas Inglesas, Cândido.

d) Rousseau (1712-1778) destacou-se por lutar pelo princípio democrático, pois o liberalismo propunha um governo baseado na lei, mas não necessariamente democrático. Dizia que os seres humanos viviam felizes no estado natural, afirmando que o homem nascia bom, mas a sociedade o corrompia. Assim, a sociedade não produzia a felicidade, pois esta estaria no estado natural.

Para Rousseau, a desigualdade entre os homens seria a causa dos conflitos sociais. As diferenças de força, inteligência, constituição seriam inevitáveis, pois são naturais. Contudo as desigualdades artificiais seriam geradas pelas condições sociais. Essas podiam ser combatidas e atenuadas. Para Rousseau, a propriedade privada gerava a desigualdade social e destruía a liberdade social. Pregava a volta a uma vida simples, cheia de sentimentos e de solidariedade. Sonhava com uma sociedade em que os conflitos sociais seriam resolvidos racionalmente.

No Contrato Social, seu livro mais importante, defendia o Estado democrático. Para eliminar os conflitos causados pelo aparecimento da propriedade privada, os homens teriam assinado um contrato social. Foi a origem da sociedade civil. Nela, a função do Estado seria regular as relações entres os cidadãos. O Estado deve sempre representar a maioria dos cidadãos, devendo ser, portanto, democrático.

As obras dos iluministas eram debatidas nos salões literários, clubes sociais, cafés e universidades. Um grupo de intelectuais, do qual faziam parte Diderot e D’Alembert, ficou conhecido como enciclopedista, por escrever a Enciclopédia, um dicionário universal, uma síntese do conhecimento na época.

A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS

UNIDOS

O IMAGINÁRIO DA REVOLUÇÃO No contexto do século XVII as contradições do

chamado Antigo Regime provocaram um intenso desejo de mudanças. As idéias iluministas, centradas na razão e no progresso contestavam a velha ordem absolutista,

mercantilista e estamental e propunham uma sociedade democrática, liberal e igualitária. Uma nova ordem que seria resultado de um processo revolucionário.

REVOLUÇÃO AMERICANA DE 1776

A designação Revolução é bastante criticável, pois não houve mudanças radicais na infra-estrutura e superestrutura. Na realidade representou uma luta entre interesses comerciais da Inglaterra e da América.

A COLONIZAÇÃO DIFERENCIADA DAS 13

COLÔNIAS: A Colonização da Parte Norte: Baseava-se na Negligência Salutar, pois foi mínima a interferência inglesa na administração local. O clima temperado das colônias do Norte impedia a produção baseada no plantation e as guerras e problemas internos na Inglaterra contribuíram para a formação de uma colônia baseada na poli cultura, pequena propriedade, trabalho livre, produção voltada ao mercado interno. OBS: Nesta região forma-se uma classe burguesa comercial e industrial, além de pequenos camponeses. A Colonização da Parte Sul: Com um clima mais propício ao plantation (sub-tropical), foi desenvolvida nesta região uma grande produção algodoeira baseada no latifúndio, escravidão, monocultura e agro-exportação. OBS: Nesta região forma-se uma aristocracia rural latifundiária e escravista, em oposição havia a força de trabalho escravo.

MUDANÇAS DA POLÍTICA COLONIAL INGLESA E

SEUS EFEITOS:

No século XVII e parte do século XVIII, a característica colonial inglesa baseava-se na Negligência Salutar, no entanto, na Segunda metade do século XVIII, a partir da Revolução Industrial, a Inglaterra, modifica sua forma de colonização e passa a aumentar. o controle sobre as 13 colônias, no sentido de transformá-las em mercado consumidor de produto fabril. Desta forma passa a fechar indústrias coloniais e procura eliminar o comércio dos colonos com as Antilhas, tido como contrabando. Essas medidas provocaram a reação da burguesia colonial, sobretudo na parte Norte das colônias.

Essas mudanças fizeram-se necessárias devido às guerras que a Inglaterra enfrentou na Europa e nas colônias (como a Guerra dos sete anos contra a França 1756-1763) e também devido o déficit do tesouro Inglês.

NOVA LEGISLAÇÃO FISCAL DA INGLATERRA

1764 - Lei do açúcar 1765 - Lei do selo 1767 - Lei Townshend: impunha altos impostos de importação sobre o chá, papel, vidro e tintas corantes. Esta nova legislação foi duramente combatida pelos colonos que exigiam a presença de seus representantes no Parlamento, no momento da votação das leis. Realizavam desde negociações a boicotes aos produtos ingleses; a Inglaterra suspende os impostos, exceto sobre o chá cuja distribuição pertencia à Cia de Comércio das Índias Orientais. DOCUMENTO O povo, revoltado, seguindo os radicais, impunha castigos aos que denunciavam reuniões ou quaisquer outras atividades revolucionárias. Os delatores que eram descobertos tinham de desfilar pelas ruas com a pele coberta de alcatrão e enfeitados com penas. Os populares xingavam-nos e até lhes atiravam pedras. 1773 – “Boston Tea Party”: É a represália dos colonos à manutenção do imposto sobre o chá. 1774 - Leis Intoleráveis ou coercitivas: Reação da metrópole que: fecha o porto de Boston, até o ressarcimento dos prejuízos do chá. Massachusetts foi ocupada por militares, à assembléia local foi dissolvida, e um general nomeado governador da colônia. 1774 – 1° Congresso de Filadélfia: exigência de respeito aos colonos. 1775/76 – 2° Congresso de Filadélfia: promulgação da Declaração de Independência, redigida por Thomas Jefferson, inspirada nas obras de John Locke e dos iluministas. Os congressos de Filadélfia foram

influenciados pelo panfleto “Common Sense”, de Thomas Paine. Em sua abertura, a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América defendia que todos os homens foram criados iguais e que Deus os dotou de direito de rebelião. Essa foi a base da filosofia política, essencialmente iluminista, que orientou a Independência. Seu redator, Thomas Jefferson, era juiz de paz, lingüista, cientista, educador, urbanista e arquiteto, posteriormente eleito por duas vezes presidente do país. No Estatuto da Liberdade Religiosa de Virgínia, ele reassegurou: “se meu vizinho afirma que há vinte deuses ou apenas um, isso não me causa nenhum dano”. Sua visão pluralista, no entanto, não se estendia aos negros. Ele odiava a escravidão, não só por considerá-la errada, mas também porque ela trazia negros à América. Convencido de que os negros eram estranhos, inferiores e perigosos, exigia que eles fossem não apenas emancipados, mas também expulsos do país.

A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA: (1776-1781)

Apesar dos colonos sofrerem algumas derrotas, logo recebem a ajuda francesa, que foi decisiva para a posterior vitória norte-americana. A guerra durou até 1781 quando os ingleses renderam-se na Batalha de Yorktown às tropas comandadas por George Washington. ISOLAMENTO INGLÊS:

França e Espanha aliam-se às treze colônias - pacto de família. 1780 - Liga de Neutralidade Armada: queria garantir a liberdade dos mares e resistir às buscas realizadas pelos navios ingleses idealizada pela Rússia e acatada por Dinamarca, Prússia, Suécia e Holanda. 1783 - O Tratado de Paris - reconhecimento de independência dos Estados Unidos da América do Norte.

A França não teve as recompensas pretendidas, pois recebeu apenas o Senegal e uma das Antilhas.

A FORMAÇÃO DO GOVERNO NORTE-AMERICANO

Optou-se pelo Presidencialismo e Federalismo (União Indissolúvel de Estados autônomos. O primeiro presidente eleito foi George Washington - 1789).

É importante lembrar que as colônias do sul continuaram nas mãos de aristocratas latifundiários e a escravidão não foi aboli da neste momento.

A Revolução Industrial

O pioneirismo da Inglaterra

A primeira nação a se industrializar foi a Inglaterra. Reunindo condições favoráveis, utilizou os capitais acumulados durante a Revolução Comercial como investimentos no setor de transformação.

Os grandes proprietários também colaboraram, pois ao cercarem suas terras (enclosure), inclusive as comunais (de uso comum), arruinaram os pequenos proprietários; ao substituírem a lavoura pela pecuária (criação de ovelhas) liberaram mão-deobra, cujo

excedente deslocou-se para as cidades, e iriam se constituir nos futuros trabalhadores fabris.

Por outro lado, devido ao crescimento populacional em escala mundial, houve um aumento da procura de mercadorias para atender às necessidades de consumo, estimulando assim a produção e a produtividade. A solução foi a invenção e o uso de máquinas, tanto na lavoura como nas manufaturas. Certamente as invenções industriais não surgiram por acaso, mas da necessidade de se aumentar a produção e diminuir os custos, proporcionando maiores lucros ao empresário.

Os principais inventores, que contribuíram para a industrialização têxtil, foram: a) John Kay: inventou a lançadeira volante em 1735, instrumento que, adaptado aos antigos teares manuais, aumentou a capacidade de produção das tecelagens. b) James Hargreaves: inventou a “spinning jenny”, em 1767, que revolucionou a fiação, pois produzia até 80 fios simultaneamente, operada por um só trabalhador.

A máquina de fiação “Spinning Jenny”.

c) Richard Arkwright: inventou a “water frame” em 1769, máquina movida a água e que produzia fios grossos. d) Samuel Crompton: inventou a “mule jenny”, em 1779, que produzia fios finos mas resistentes. e) Edmond Cartwright: inventou o tear mecânico, em 1785.

O desenvolvimento da máquina a vapor por James Watt, em 1768, possibilitou superar o obstáculo da força motriz. Tradicionalmente eram utilizadas a energia humana, a animal, a eólica e a hidráulica. Nenhuma delas porém era tão adaptável e eficiente como a energia a vapor, que podia ser utilizada nas fábricas, e estas podiam ser construídas próximas às fontes fornecedoras de matérias-primas.

As máquinas primitivas de madeira foram substituídas pelas de ferro. A fabricação de ferro fundido ganhou grande impulso a partir da substituição do carvão vegetal pelo mineral, transformado em coque e com maior poder calorífico. Todas essas transformações arruinaram as pequenas oficinas artesanais e os artesãos foram transformados em operários.

Porém, apesar de todo o progresso econômico, as condições de trabalho, na primeira fase da Revolução Industrial (1760 a 1860) eram desumanas. Não havia legislação trabalhista nem proteção do Estado à classe trabalhadora. Assim, o trabalho na fábricas era realizado em ambientes úmidos e insalubres, e as jornadas atingiam dezesseis horas por dia, seis dias por semana.

Camponês artesão.

O salário meramente mantinha o trabalhador vivo.

Nos bairros operários, as moradias eram péssimas, sem rede de água e esgoto, e muitos se entregavam ao alcoolismo. Não havia contrato de trabalho, aposentadoria, férias, nem pensão para as viúvas. As crianças órfãs eram encaminhadas aos orfanatos e a prostituição era a opção para muitas mulheres.

Em muitas fábricas era comum o emprego de mulheres e crianças, por ser uma mão-de-obra mais barata. Muitas crianças, retiradas dos orfanatos, moravam na própria fábrica, sujeitas à fome, frio, excesso de trabalho e acidentes com máquinas. Havia crianças, com menos de seis anos, trabalhando em fábricas de fiação e tecelagem.

Essas condições geraram protestos dos trabalhadores, mas como a lei inglesa proibia greves e associações operárias, a polícia reprimia-os com violência.

Fábricas foram destruídas pelos artesãos que temiam as concorrências, porém inutilmente.

A máquina a vapor também revolucionou o setor de transportes.

Barco a vapor. A invenção do navio a vapor por Robert Fulton,

em 1808, e a locomotiva, desenvolvida por Stephenson, em 1825, foram os principais avanços. A estrada de ferro revolucionou os transportes terrestres a tal ponto que o século XIX é chamado de “o século das ferrovias”. Em 1830 foi construída a primeira estrada de ferro comercialmente rentável na Inglaterra, ligando Manchester (centro têxtil) a Liverpool (porto marítimo).

Na verdade, a industrialização, sinônimo de desenvolvimento, foi o que a Inglaterra mais exportou. Nas primeiras décadas do século XIX, ela se difundiu pela Bélgica, França, Alemanha, Itália e Estados Unidos.

Os meios financeiros ganharam extraordinária importância. O comércio e a indústria necessitavam de créditos para transforma-los em capital de giro. Os bancos financiavam os empreendimentos, criando uma dependência das indústrias, do comércio e até mesmo

dos governos. Os financistas se transformavam na aristocracia burguesa. Iniciava-se a era do “capitalismo financeiro”, ainda hoje dominante.

As pesquisas, o desenvolvimento tecnológico e as transformações sociais continuavam aceleradamente, apesar das crises cíclicas, típicas do capitalismo. A segunda fase da revolução, a partir de 1860, caracteriza-se pela produção do aço, pela invenção do motor à explosão interna, energia elétrica e exploração do petróleo. Bessemer conseguiu, em 1856, produzir aço a partir da injeção de ar comprimido. A invenção do dínamo por Faraday possibilitou a utilização da energia elétrica em larga escala.

Multiplicaram-se os métodos produtivos, objetivando baixar o custo de produção. Uma maior quantidade de pessoas podia adquirir esses produtos, transformando os hábitos sociais.

A urbanização era crescente. As cidades da Europa e dos Estados Unidos ganhavam iluminação a gás, rede de água e esgoto, jornais, comunicação telegráfica, áreas de lazer etc. Mas havia muito contraste entre os bairros ricos e os bairros pobres.

Algumas grandes empresas passaram a absorver as pequenas, dominando desde a produção de matéria-prima até a venda final dos produtos, formando os trustes. A associação de várias empresas do mesmo ramo, controlando e garantindo os preços de mercado, mas mantendo sua independência jurídica, constituíam os cartéis. Grupos financeiros poderosos passaram a controlar as bolsas de valores e o mercado acionário, comprando ações de empresas de capital aberto, detendo seu controle empresarial. Constituíam-se nos holdings.

Fábrica do século XIX.

O papel-moeda, com lastro no ouro, substituiu a

circulação de moedas metálicas. Iniciava-se a época do “padrão ouro” e que durou até a década de 1930.

1ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL:

Características e Conseqüências

A industrialização inglesa no século XVIII teve a

seguinte caracterização: Utilização do ferro como material industrial básico; do vapor como fonte energética; da produção de têxteis (lã e algodão) e da consolidação do capitalismo competitivo (livre-concorrencial).

A produção feita em larga escala e impressionante velocidade, era realizada por trabalhadores completamente expropriados dos meios de produção e obrigados, para sobreviver a venderem a sua força de trabalho, O PROLETÁRIO:

Sujeito a uma intensa e rígida disciplina de trabalho o operário é submetido a péssimas e miseráveis condições de vida e de trabalho.

DOCUMENTO TEXTUAL: As condições de vida e trabalho do nascente proletariado

“A Revolução Industrial teve conseqüências dramáticas para todos os grupos de trabalhadores. Os operários nas fábricas, os mineiros nas minas de carvão, os artífices nas suas oficinas, e os camponeses na terra, tinham de se ajustar a um modo de vida inteiramente novo.

Muitos operários das primeiras fábricas ficavam em completa dependência dos seus novos patrões… Era-lhes proibido juntarem-se em sindicatos obreiro, fazer greve ou emigrar. (…) O novo sistema industrial arruinou a saúde de muitos trabalhadores. Quase todas as indústrias tinham as suas doenças características e as suas deformidades físicas. Os oleiros, os pintores e os cortadores de arame sofriam de envenenamento pelo chumbo; os mineiros, de tuberculose, de anemia, de vista, e de deformações na espinha; Os afiadores, de asma; os fiandeiros, de perturbações brônquicas; os fabricantes de fósforo, de envenenamento.

Uma das mais infelizes conseqüências sociais do primeiro sistema fabril foi a exploração de mulheres e crianças… Nassau Sênior escreveu que um relatório parlamentar de 1842 sobre o trabalho infantil na Inglaterra demonstrou “o mais terrível quadro de avareza, egoísmo e crueldade da parte dos patrões e dos pais, de desgraça juvenil e infantil, de degradação e destruição já alguma vez presenciado”.

As queixas mais séries dos operários das fábricas e das minas referiam-se a excessivas horas de trabalho, salários baixos, multas, e ao sistema de permuta segundo o qual os patrões pagavam em gênero e não em dinheiro. Os homens, as mulheres e as crianças trabalhavam doze horas ou mais por dia e estavam geralmente exaustos quando chegavam em casa. O número de dias de trabalho no ano aumentava. Por vezes o domingo era dia de trabalho também… E além disso, após a Revolução Industrial, um operário tinha às vezes de percorrer uma considerável distância a pé para chegar à fábrica”. (HENDERSON, W. O. A Revolução Industrial. São Paulo, Verbo/Ed. da Universidade de São Paulo, 1979, pp 122-128).

Tal situação era grave, principalmente porque a Revolução Industrial impôs enormes sacrifícios aos trabalhadores: longas jornadas de trabalho (de 14 a 16 horas diárias), insalubridade extrema nos locais de trabalho, exploração intensa de mão-de-obra feminina e infantil. As fábricas, particularmente na Inglaterra, transformaram-se em verdadeiros cárceres, razão pela qual eram chama-das de "Bastilhas" pelos operários, em alusão à famosa prisão cuja conquista desencadeou a revolução na França, em 1789. Devido a essa situação, na Inglaterra, na França e um pouco em toda a Europa, os anos 30 e 40 do século passado foram marcados por grandes agitações operárias. Elas partiam da luta contra as condições de trabalho, a verdadeira servidão que imperava nas fábricas, e, muitas vezes, contra a tirania das máquinas nas quais os trabalhadores freqüentemente identificavam seus inimigos. Mas estas lutas desembocaram rapidamente em movimentos de reivindicações políticas, em particular, de reforma do sistema político.

As primeiras formas de resistência contra a exploração dos operários das cidades industriais nasceram dentro de associações de auxílio mútuo, ou mútuo socorro. Preocupadas inicialmente em ajudar trabalhadores desempregados ou em dificuldades, essas

associações logo evoluíram no sentido de organizar protestos e lutas contra o excesso de exploração.

Os primeiros protestos operários que, embora não apresentassem organização definida, foram muito significativos no sentido de demonstrar a insatisfação e o repúdio a extenuante forma de exploração, foi o Ludismo. Quebrando máquinas e colocando em risco a acumulação do capitalista, o movimento foi importante no sentido de gerar um certo temor nos donos dos meios de produção de apertar ainda mais o então já arrochado processo de trabalho.

Com a primeira forma de manifestação da classe operária através do Ludismo, o Estado, tentando conter essas ondas de manifestações, amplia a participação política por meio da reforma eleitoral em 1832. Contudo, essa reforma não alcança os operários.

A reforma de 1832 foi acompanhada de alguns atos parlamentares, como o que confirmou, em 1834, A LEI DOS POBRES, que garantia assistência pública aos doentes e velhos, além de determinar que os pobres – se fossem fisicamente capazes _ teriam que trabalhar nos asilos para ganhar seu sustento.

Depois, os trabalhadores ingleses avançam no sentido de organizar suas reivindicações no Cartismo, que se desenvolveu na Inglaterra. O movimento deve seu nome à Carta do Povo (People’s Charter), documento publicado em 1838, após um ano de elaboração, contendo suas reivindicações. As origens do Cartismo remonta a 1831, quando a União Nacional das Classes Trabalhadoras, fundada por William Lovett, defendeu a adoção do sufrágio universal, afirmando que por meio da democracia política a classe trabalhadora poderia alcançar a democracia social. A carta continha seis reivindicações:

1. sufrágio universal (mas apenas para homens livres)

2. voto secreto 3. elegibilidade para os não proprietários 4. salários para assegurar a sobrevivência dos

parlamentares operários 5. distritos eleitorais iguais 6. eleição para o Parlamento todos os anos.

Nos anos de 1842 e 1848 houve a segunda e terceira

convenções cartistas e apesar de milhares de adesões o Parlamento Inglês rejeita os documentos, levando a novas ondas de agitações, duramente reprimidas pelo governo de Londres, finalmente algumas reivindicações foram aceitas.

Os governos burgueses reagiram com a criação de vários dispositivos legais proibindo organizações operÚrias. No entanto, os movimentos grevistas reivindicatórios logo passaram a fazer parte do cotidiano do mundo industrializado.

A organização dos trabalhadores evoluiu, principalmente na segunda metade do século XIX, para a forma de sindicatos ou associações, chamadas na Inglaterra de trade-unions. As reivindicações, como redução da jornada de trabalho, proibição ao trabalho do menor, licença para as trabalhadoras grávidas, entre muitas outras, passaram a ser uma bandeira cotidiana dos líderes sindicais.

A proposta política da burguesia era de preservar ou estabelecer na Europa ocidental o regime liberal onde, teoricamente, todo o cidadão teria direito a representação através do voto, o problema é que só os proprietários de terra, indústria ou outros bens eram considerados cidadãos já que o voto era censitário. Daí a luta do Movimento Cartista pelo sufrágio universal.

Nas áreas rurais, a resistência contra o avanço burguês foi representada pelo “Movimento Swing”. Destruindo máquinas rurais, incendiando os campos e praticando a caça ilegal os seguidores do capital Swing resistiam ao agravamento das suas condições de existência.

Apesar da luta do operariado “Era necessário: tempo e experiência para o trabalhador aprender a distinguir a maquinaria de sua aplicação capitalista e atacar não os meios materiais de produção, mas a forma social como são explorados”. (MARX, O Capital, p. 491). No alvorecer da segunda metade do século XIX, a população urbana inglesa havia superado em número a rural, o que significa que os governantes não podiam continuar ignorando as aspirações políticas das classes operárias. Na década de 1860, a competição entre os liberais e os conservadores, que disputavam entre si a liderança política do país, resultou em algumas reformas que favoreceram as classes trabalhadoras. Uma nova reforma eleitoral instituiu, em 1867, o sufrágio (voto) universal masculino e, pouco mais tarde, a classe operária inglesa conquistou o direito de greve e a legitimação dos seus sindicatos que, em 1906, elegeram cinqüenta operários para o Parlamento. Embora o comando político não tivesse sido alterado, já que permanecia nas mãos dos burgueses e aristocratas, crescia na Inglaterra e fora dela, as possibilidades de o operariado ter acesso a uma maior representação política. Vale lembrar que, com suas lutas e reivindicações, a classe operária de modo geral contribuiu, em larga escala para a consolidação das democracias contemporâneas.

A REVOLUÇÃO FRANCESA A França Pré-Revolucionária:

Presença do absolutismo monárquico com explicação do poder do Rei baseado na tese do direito divino.

Presença do modelo mercantilista marcado por grande intervenção do Estado na economia.

Déficit do tesouro nacional em função dos gastos com o parasitismo do clero e da nobreza e envolvimento da França em guerras disperdiosas (ex.: A guerra dos sete anos contra a Inglaterra e a guerra da independência americana).

Crise econômica em função da elevação dos impostos e más colheitas (a agricultura sofria com enchentes, secas, geadas…).

Sociedade aristocratizada que privilegiava os nascidos no seio da nobreza e com a seguinte estrutura:

1° Estado (alto clero) e o 2° Estado gozavam de inúmeros privilégios: não pagavam impostos, possuíam privilégios de caça, de pesca, recebiam pensões pecuniárias, cobravam pedágios e alfândegas em suas propriedades, cobravam dízimos e outras obrigações servis. (…).

Porém estas classes sociais não eram uniforme em função da seguinte divisão:

O clero – dividia-se em: alto clero (filhos da nobreza) e baixo clero (elementos do 3° Estado).

A nobreza – dividia-se em: nobreza provincial (senhores feudais), nobreza palaciana e nobreza togada (burgueses que compravam títulos de nobreza).

O 3° Estado – o resto da sociedade: os camponeses, os operários, os burgueses e (…).

O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO: 1ª FASE:

A formação da Assembléia Nacional Constituinte (agosto de 1789 – setembro 1791); nesta fase foram abolidos os privilégios feudais, aprovou-se a Constituição civil do clero, transformando os clérigos em funcionários do governo, além da aprovação da Declaração dos direitos do homem e do cidadão (26 de agosto de 1789). Ela proclamava o direito à liberdade pessoal, de pensamento e a igualdade de tratamento perante a lei, declarava também que o governo não pertencia a nenhum governante, mas ao povo, e que seu objetivo era a preservação dos direitos naturais do indivíduo.

Em setembro de 1791 foi promulgada a 1ª

Constituição francesa que ainda determinava o voto censitário, a lei Chapelier (que proibia qualquer organização operária) e a limitação do poder do Rei. 2ª FASE:

A Convenção. A constituição não atendia aos interesses da maioria e a França começou a sofrer invasões estrangeiras. O povo então toma as rédeas da Revolução através dos Jacobinos (pequena burguesia que tinha o apoio popular). Decisões desta fase: – Sufrágio universal masculino. – Abolição da escravidão nas colônias e por dívida. – Educação pública gratuita. – Lei do Máximo – que previa estabelecer preços máximo no gênero de 1ª necessidade. – Reforma agrária.

– Criação do Comitê de salvação pública e da lei dos suspeitos que institui o TERROR sob a liderança de RobesPierre (cerca de 40 mil pessoas foram mortas). Os jacobinos perderam a unidade após a condenação à guilhotina de Danton e Hebert feita por Robespierre que enfraquece e perde o poder. Também acaba na guilhotina após sofrer o golpe do 9 termidor, quando a alta burguesia voltou a poder e instituiu o diretório. 3ª FASE: O DIRETÓRIO Determinação: – Fim do sufrágio universal. – Perseguição aos Jacobinos. – Fim da lei do máximo. – Eliminou o tribunal de salvação pública. – Proibiu organizações populares. Com o agravamento das tensões, geradas pela inflação e corrupção, a burguesia não conseguia controlar a situação nem o povo, preferindo entregar o governo aos militares através do golpe de 18 Brumário que marcou a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder.

AS RELAÇÕES DE TRABALHO RURAL E URBANO

NAS MINAS GERAIS DO SÉC. XVIII

Nos últimos anos do século XVII, o ouro foi

descoberto em Minas Gerais. Pouco depois se descobriu o metal também em Goiás e Mato Grosso.

As descobertas foram resultado de uma ação das bandeiras paulistas, expedições compostas por brancos, índio e negro que viajavam pelos sertões desconhecidos à procura de metais preciosos. As Bandeiras contavam com incentivo da Coroa Portuguesa que, naquele momento, tinha um interesse ainda maior na descoberta do ouro. Portugal enfrentava graves problemas econômicos e financeiros. Como resultados da União Ibérica, havia perdido grande parte de seus entrepostos comerciais e o monopólio do açúcar. Com a expulsão dos holandeses do Brasil (1654) e abertura pelos flamengos de uma área produtora nas Antilhas, o preço do açúcar ficou reduzido à metade.

O CONTROLE PORTUGUÊS NAS MINAS Portugal, interessado nas riquezas das Minas de

Cataguazes, iniciou uma política fiscal para tentar manter um controle do escoamento dos metais preciosos da região, criando assim uma série de mecanismos de controle, atais como:

O QUINTO: imposto sobre a atividade mineradora, criado em 1700. o Quinto representava a quinta parte do metal extraído nas minas e devia ser pago pelos mineradores.

O REGIMENTO DOS SUPERITENDENTES, GUARDAS-MORES e mais oficiais deputados para as minas de ouro: criado em 1702, o qual estabelecia regras para a exploração do metal.

O SISTEMA DE DATAS: a unidade da exploração do ouro, assim como as sesmarias havia sido a de exploração do ouro. O tamanho das datas variava de acordo com o número de escravos que cada minerador possuísse.

A INTENDÊNCIA DAS MINAS: Órgão subordinado diretamente a Lisboa para cuidar da supervisão das minas e garantir a arrecadação do ouro.

A EXTRAÇÃO DO DIAMANTE Dois anos após a descoberta oficial dos diamantes (1729) no Distrito de Diamantina na Comarca do Serro do Frio. Sua sede era o arraial do Tijuco, hoje Diamantina. A administração nessa área foi muito rígida, buscando limitar o volume de diamantes. Para manter os preços estáveis no mercado holandês, para onde eram exportados, os volumes de diamantes extraídos tinha de ser constantemente controlado.

Extração de Diamantes no Brasil

OURO: SONHO E PESADELO

A exploração do ouro nas áreas coloniais brasileiras empregou técnicas primitivas de extração que rapidamente esgotavam os depósitos de metal. Na região das minas, a grande possibilidade de encontrar ouro quase na superfície permitiu que a exploração fosse realizada sem métodos sofisticados, com instrumentos muito simples.

Nas Minas, o ouro foi explorado nos leitos dos rios e nos lugares onde a mineração era aberta a todos pelos faiscadores, homens pobres que exerciam uma atividade itinerante, e nas lavras, unidade de produção de grandes mineradoras nas quais trabalhavam um grande número de escravos. Interessante é o fato de muitas vezes escavarem as ruas das vilas à procura de ouro. A tal ponto chegou esta prática que o Senado da Câmara tiveram que proibir a mineração nas ruas para conserva-las transitáveis.

Os depósitos de ouro dividiam-se em duas categorias principais: os veios e os leitos dos rios. Nas Minas dos Cataguazes predominou dos leitos. Os mais fáceis de minerar eram aqueles nos quais as partículas de ouro se encontravam misturadas com o cascalho a cerca de um metro de profundidade.

O processo de minerar mais generalizado utilizava a bateia. Os primeiros bandeirantes faiscavam com gamelas (pratos de madeira normalmente usados para preparar e servir alimentos) que foram substituídos por bateias feitas de madeira ou estanho. A técnica era simples: o cascalho era colocado na bateia que era rodada dentro da água. A areia e os seixos, mais leves, eram lançados para fora

do recipiente com água, o ouro, mais pesado, depositava-se no fundo da bateia.

Todos os processos, mais ou menos sofisticados, realizavam sua última etapa com a bateia. Quando os depósitos eram mais profundos, tornava-se necessário represar a água do córrego, que podam ser feitos com o trabalho manual dos escravos ou com uma roda d’água, denominada rosário, que aumentava a eficiência do processo. Nos morros, a exploração se fazia com escavações chamadas cata e o cascalho era trabalhado por pressão hidráulica. O material removido passava por uma série de comportas e cada uma delas retinha partículas de ouro. Os escravos finalmente usavam a bateia para resgata-las. Este era o processo que apresentava os melhores resultados mas, em contrapartida, exigia maior investimento inicial.

Eram muitos os tipos de ouro extraídos dos depósitos: ouro preto, ouro podre, ouro branco, entre outros. Os critérios essenciais para sua avaliação basearam-se na sua cor, forma e toque.

Os escravos preferidos para atuarem na mineração foram os de Benim, ou Costa da Mina, considerados melhores trabalhadores, mais resistentes às doenças e mais forte do que os demais. Estes requisitos eram importantes na empresa mineradora, que exigia muito dos que nela se aventuravam.

Os escravos trabalhavam imersos na água até a cintura em córregos frios, enquanto o resto do corpo ficava exposto ao sol. Insolação, diarréias agidas, pneumonia, febres constantes e malária eram comuns. As mortes eram causadas ainda por quedas nas catas. A mortalidade dos escravos era muito alta.

ALGUMAS REVOLTAS E TAXAÇÕES:

O MOTIM DO MORRO VERMELHO

Os moradores de Morro Vermelho, localidade próxima à Caeté, os de Sabará, os de Vila do Campo (hoje Mariana) e os de Vila Rica (atual Ouro Preto) fizeram uma rebelião contra o pagamento da taxa. O governador assustado com a desordem, suspende a cobrança da taxa por bateias e voltou a cobrar as trintas arrobas anuais. A6té 1717, manteve-se essa forma de arrecadação do quinto, com a concordância do Rei. O soberano concedeu o perdão aos revoltosos em Carta Régia de quatro de maio de 1716.

Omo se pode ver, nem sempre a vontade da Coroa prevaleceu. Muitas vezes, quando os moradores se revoltaram contra as mudanças na forma de arrecadação dos impostos a que estavam acostumados, o rei teve que voltar atrás. Isto aconteceu, por exemplo, na revolta liderada por Felipe dos Santos, ocorrida em Vila Rica, em 1720.

A REVOLTA DE 1720 Em 1718, já no governo de D. Pedro de Almeida,

Conde de Assumar, ficou combinado que o pagamento do quinto seria de 25 arrobas por ano. Além das 25 arrobas, as Câmaras deveriam entregar

para a Coroa o rendimento das entradas, que até então as Câmaras haviam administrado. Os impostos pagos nas entradas eram extremamente lucrativos. Referiam-se às taxas cobradas sobre todas as mercadorias que entravam e saíam da região das minas.

Estas taxas eram cobradas nos registros, postos fiscais (como as atuais alfândegas), colocados em lugares estratégicos dos caminhos para as áreas mineradoras. A entrega da renda das entradas para a Coroa para Portugal uma quantidade de ouro muito significativo. O lucro das entradas, foi às vezes, até mais rentável que a arrecadação do quinto do ouro.

Mesmo assim, o rei não se3 dava por satisfeito. Em fevereiro de 1719, o soberano ordenou que fossem estabelecidas as casas de fundição nas minas. Com esta medida, a metrópole procurava evitar o contrabando de ouro em pó com a fundição do metal em barras e fazer a cobrança do quinto nas próprias casas de fundição.

A ameaça de alteração da forma de cobrança do quinto do ouro e o controle que as fundições passariam a exercer sobre os mineradores foram motivos importantes para a eclosão do movimento em Vila Rica. Esta revolta adiou a implantação das casas de fundição, que só foram abertas a partir de 1724.

As casas de fundição não foram estabelecidas e em 1720, mas novamente a Capitania foi dividida para que a metrópole pudesse exercer um controle maior sobre os mineradores. Em 1721, foi criada a Capitania de Minas Gerais, desmembrada de São Paulo. O seu primeiro governador foi D. Lourenço de Almeida que conseguiu, finalmente, estabelecer as casas de fundição. Em 1724, foi aberta a Casa da Moeda e de fundição em Vila Rica e, em 1734, as fundições de Sabará e São João Del Rei.

A SEDIÇÃO DE 1736 Na terceira década do século XVIII, o rei novamente não está satisfeito com o volume de ouro arrecadado na colônia. O soberano consultou os ministros e decidiu estabelecer uma taxa de captação sobre o ouro. Este sistema foi adotado a partir de 1736. essa taxa significava cobrar o imposto (o quinto do ouro) de toda a população das minas, mesmo daqueles que não se ocupavam da mineração.

Assim. Além de ter pago os dízimos reais, mistos e pessoais, que insidiam sobre as outras atividades desenvolvidas na Capitania, as pessoas que não se dedicavam à extração do ouro ainda tinha que arcar com a taxa de captação, estimada em 1/8 de ouro por cabeça.

Este novo sistema foi muito mal recebido nas minas. As populações de várias localidades da Capitania se revoltaram. O conflito mais violento contra o sistema da captação ocorreu no noroeste de Minas (o Sertão do Rio São Francisco), uma área agro-pastoril, que até então não tinha pago o quinto do ouro. Também se revoltaram contra os moradores da Vila de Pitangui, Vila do Carmo e Sabará.

DERRAMA

A cobrança da taxa de captação permaneceu até 1750, quando foram reabertas as casas de fundição e retornou-se ao sistema de fintas, pagamento das quantias combinadas de arrobas manuais. Mas, em 1750, as minas já estavam decadentes e a arrecadação do ouro foi diminuindo cada vez mais. A ameaça de Portugal de cobrar da população da Capitania os impostos atrasados a chamada DERRAMA – foi um dos fatores da eclosão da revolta mais famosa ocorrida em Minas Gerais, a Inconfidência Mineira (1789).

O CONTRABANDO A metrópole sempre procurou impedir o

contrabando do ouro. Proibiu a utilização dos caminhos que não fosse os oficiais, instalou registros (postos fiscais em pontos estratégicos dos caminhos que entravam e saíam das minas) para evitar a sonegação dos tributos, controlou severamente a abertura de picadas.

Contudo, a população das áreas mineradora era muito mais esperta do que as autoridades portuguesas. Várias eram as estratégias utilizadas para contrabandear o ouro. A mais famosa delas dúvida foi a utilização dos chamados “santos-do-pau-oco”, imagens oca de madeira, dentro das quais se escondia o metal. O ouro em pó era também contrabandeado nas carapinas dos negros, em estrutura de metal revestidas de materiais menos nobres e nas batinas dos padres. Até uma fábrica de moedas falsas foi fechada pelas autoridades portuguesas, em 1723, na Capitania de Minas Gerais.

A SOCIEDADE MINEIRA COLONIAL

Pelas características muito especiais da região mineradora, a sociedade de Minas no século XVIII foi também peculiar. O desenvolvimento de atividades agrícolas, comerciais e artesanais e manufatureiras. O processo de urbanização foi muito mais intenso do que em qualquer outra área da colônia.

Nas Minas, os povoados formaram-se espontaneamente às margens dos rios e nas encostas das montanhas, locais onde geralmente se explorava o ouro. Estes povoados foram centros administrativos, locais de intensa atividade comercial, palco de manifestações artísticas e culturais, de movimentada vida social e de realização de festas religiosas e profanas

A população da região mineradora cresceu com muita rapidez nas primeiras décadas do séc. XVIII e, em conseqüência, os centros urbanos também se desenvolveram muito rapidamente.

Com o passar dos anos, os ranchos que proliferavam nos primeiros tempos dos arraiais, foram substituídos pelas casas térreas e sobrados, residências de dois andares, construções bem mais elaboradas. Os moradores mais pobres das vilasresidiam nas casas térreas, construções mais simples, muitas vezes feitas de pau-a-pique. Os sobrados, símbolos de status, eram habitadas pelos ricos fazendeiros, comerciantes e mineradores da Capitania.

Nos sobrados, os moradores utilizavam apenas o andar superior. O térreo era utilizado como senzala (moradia dos escravos), depósito ou abrigo de

animais. Muitas vezes este andar era também usado como loja ou venda, hábito importado de Portugal.

As chácaras eram também muito comuns na região mineradora. Situadas nos arredores das vilas, era casa mais espaçosa do que as construídas nos centros urbanos e se caracterizavam pelas enormes varandas que as circundavam. Nestas chácaras, criavam-se animais e cultivavam-se hortas e pomares.

Uma outra característica da urbanização da área mineradora foi a de os povoados formarem-se próximos a uma capela. Assim, cada povoado tinha seu próprio templo. Estes templos, além de serem os locais das práticas religiosas, tornou-se o centro da vida social. Foi em torno destas igrejas que as populações de cada um dos povoados uniram-se em associações leigas, a irmandade. Estas foram responsáveis, portanto, pela vida religiosa e social dos centros urbanos mineiros.

OS ESCRAVOS NAS MINAS “O escravo era uma mercadoria imprescindível

para os mineradores. Se na zona dos engenhos o escravo era (...) os pés e as mãos do senhor do engenho, na região aurífera o escravo significava muito mais. Não era apenas os pés e as mãos do senhor, mas representava a posse das minas, sendo, portanto, a verdadeira riqueza econômica de seus donos.

O Regimento das Minas, de 1702, determinava (...) que não receberia data aurífera aquele que não tivesse escravos para explora-la. Além do mais, se o minerador deixasse de estabelecer os serviços de exploração ou os paralisasse, por haver perdido seus negros, perdia também seus direitos à posse da mina (...)

Soldados da Província de Curitiba conduzindo prisioneiros indígenas

Os primeiros escravos que entraram nas minas eram indígenas levados pelos paulistas, em conseqüência da descoberta do ouro na Minas Gerais, ficaram quase totalmente desfalcados de seus índios. (...)

A contribuição do negro para a mineração não foi apenas material, como instrumento de trabalho. Houve também uma participação intelectual pois os africanos trouxeram, de seu continente, conhecimentos técnicos que os brancos adotaram e aperfeiçoaram.

Os negros trabalhavam arduamente nas faisqueiras, tabuleiros e grupiaras. Manejavam a bateia, o alvião e o almocrafe. Escavavam as canoas, faziam os desmontes, as perfurações e as galerias.

Trabalhavam horas e horas com o corpo mergulhado na água fria dos ribeiros. Outras vezes permaneciam a maior parte do dia em galerias profundas, sem iluminação e sem dispositivos para renovação do ar (...)

Além do trabalho de extração aurífera, o negro era o carregador do serviço das roças, das tarefas domésticas, funcionava como máquina de transporte e exercia ofícios de sapateiro, alfaiate, pedreiro, etc.

(ZEMELLA, Mafalda. O Abastecimento da Capitania de Minas Gerais no

séc. XVIII. São Paulo:HUCITEC, 1990. pp. 184-185)

Irmandades Religiosas no Brasil As irmandades são instituições religiosas compostas por leigos que tinham como objetivo ajudar os seus membros e a comunidade. As irmandades obedeciam a regras sancionadas pela Igreja e tinham as suas contas verificadas anualmente por um dignitário religioso. Estas instituições, que existiam na Europa desde a Idade Média, aparecem no Brasil a partir do século XVIII, em especial na região de Minas Gerais. A corrida ao ouro levara inúmeros aventureiros em busca de fortuna, mas o estabelecimento das populações não foi acompanhado pela construção de igrejas ou conventos que pudessem dar assistência religiosa às populações. As irmandades e confrarias religiosas surgiram para colmatar esta falha e são um fenómeno tipicamente urbano. Em 1711 existiam já dez irmandades em Minas Gerais. As diversas irmandades eram compostas por membros muito heterogéneos já que qualquer pessoa podia ser membro de uma dessas associações, homens livres ou escravos, ricos ou pobres, homens ou mulheres de todas as raças. Para se ser membro tinha que se ter uma conduta moralmente aceite, cumprir os seus deveres para com a Igreja e contribuir financeiramente para a irmandade. As irmandades atuavam como catalizadores dos interesses dos diversos grupos sociais, já que cada irmandade defendia os interesses dos seus membros. Era possível pertencer a mais de uma irmandade ao mesmo tempo e estas nasciam consoante as necessidades da comunidade pois não havia restrições sobre o número. Os irmãos recebiam não só assistência na doença e na morte como, no caso dos escravos podiam contar com ajuda na obtenção da carta de alforria. As irmandades dedicadas à Senhora do Rosário, a São Benedito ou a Santa Efigénia eram geralmente compostas por irmãos negros e mulatos pobres. Neste contexto, não só encontravam assistência material e espiritual, como dispunham de um espaço de socialização para troca de

experiências e reforço da sua identidade cultural. Os escravos podiam, deste modo, manter vivas as suas tradições africanas, embora adaptadas à religião cristã. O financiamento das irmandades e confrarias religiosas era conseguido através das cotas de inscrição, anuidades e esmolas deixadas em testamento pelos seus membros. Mas possuíam ainda um património imobiliário como terrenos, casas, igrejas e hospitais, que representava a principal fonte de rendimentos destas instituições. As movimentações financeiras eram registadas por um tesoureiro que depois submetia estes registos à apreciação de um visitador eclesiástico. Este controlo servia para garantir que o orçamento contemplava as despesas com as missas e enterros e que o dinheiro não era todo gasto em festividades, o que acontecia muitas das vezes. As festas religiosas eram cruciais para as irmandades. A sua organização era algo a que os irmãos se dedicavam com afinco. As decorações, a música, os cantares, a escolha dos percursos e dos patronos, era tudo cuidadosamente elaborado com vista a fazer melhor que as outras congéneres. Por vezes os excessos de manifestações profanas nestas festas religiosas, por parte das populações negras e mestiças, levaram a Igreja a repreender as irmandades responsáveis. As irmandades brasileiras tiveram um papel social de relevo ao prestar assistência às populações, mas o seu contributo para o enriquecimento do espaço urbano, não pode ser negligenciado. A construção de capelas e igrejas ajudou a demarcar o espaço urbano, a criar espaços para a comunidade e introduziu as correntes artísticas da época, como o Barroco, tanto na arquitetura como na escultura e pintura. As Irmandades religiosas no Brasil eram associações do meio urbano, organizadas por leigos católicos, fiéis que se dedicavam ao culto a um padroeiro, podendo ser um santo ou uma invocação à Virgem e a Jesus. Possuíam objetivos de ajuda mútua e praticavam obras de caridade. Os leigos que formavam as irmandades eram pessoas não ligadas ao clero, por exemplo, não eram jesuítas. As irmandades construíam suas próprias igrejas ou dividiam espaço em altares laterais com outras irmandades. O maior compromisso das irmandades com seus sócios era oferecer um funeral digno. As irmandades davam importância as categorias raciais e sociais, e tinham um caráter étnico. Existiam irmandades só dos homens

brancos de elite, como a do Santíssimo Sacramento, e havia aquelas só de escravos, como a Irmandade Nossa Senhora do Rosário. Os principais hospitais eram construídos e administrados pela importante irmandade branca: Santa Casa de Misericórdia.

As irmandades religiosas ofereciam às pessoas que fosses seus membros benefícios espirituais e materiais. Os benefícios espirituais eram as missas e rezas pelos irmãos mortos e vivos, missas para a salvação das almas, “proteção” do santo padroeiro, acompanhamento em grande estilo ao enterro, procissões, etc. Os benefícios materiais eram o auxílio para a doença ou enterro (caixão, mortalha), atendimento médico e remédios, oferecimento de catacumbas, auxílio para educação de órfãos, ajuda aos que caíssem na miséria ou mesmo na prisão, etc. Os escravos e os pobres associavam-se à irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Com isso os escravos e forros conseguiam um status social, apesar da escravidão. Os negros buscavam proteção contra os rigores da escravidão. Muitas vezes, as irmandades do Rosário, juntavam dinheiro e ajudavam os escravos a conseguir a liberdade, embora existam poucos casos registrados. Todos os anos, as irmandades organizavam festividades ao santo de devoção. Nessas festas, as irmandades promoviam procissões, quermesses, badaladas de sinos, decoração das ruas e igrejas. Saíam pelas ruas das cidades acompanhadas de seus membros, muitas vezes com bandas de música, tochas e muitos fogos de artifício. Homens e mulheres, alegres, faziam suas preces. Era um carnaval de fé. As festividades das irmandades revelavam a riqueza da sociedade, mas também as

desigualdades. O luxo das igrejas contrastava com a extrema pobreza das casas do povo, que preferia doar tudo para a irmandade ou para a igreja. Para os escravos, a festa era um dia de interrupção do trabalho forçado. Permitia aliviar os sofrimentos do cativeiro e encontrar seus semelhantes. Os escravos aproveitavam para expressar sua cultura, promovendo batuques e danças de tradição africana.

AS DOUTRINAS SOCIAIS DO FINAL DO SÉC.

XIX E INÍCIO DO XX

O SOCIALISMO UTÓPICO Sensibilizados com as questões que a sua época Ihes colocava, alguns empresários propuseram reformas que mantinham o sistema de produção capitalista, mas buscando atender melhor os trabalhadores. Dentre os principais destacam-se: – Charles Fourier - propunha a organização da sociedade em “falanstérios”, onde se uniriam todos os segmentos sociais: proprietários, operários e até mesmo capitalistas, que colocaram suas propriedades e força de trabalho em posse comum, recebendo ações proporcionais ao valor de sua contribuição. Essa “comunidade-modelo”, verdadeiro hotel de veraneio repleto de oficinas de passatempo, não chegou sequer a sair do papel. Fourier, que não foi levado a sério sequer no seu tempo, não encontrou ninguém disposto a financiar o primeiro “falanstério”. – Robert Owen - capitalista, dono de várias fábricas, mas sinceramente preocupado com os problemas sociais, tomou atitudes que o inserem n.a lista dos utópicos: construção de casas para seus funcionários; participação nos lucros de suas empresas; redução dajornada de trabalho para 10,5 horas por dia (em outros locais era 13,14 horas/ dia); fundação de escolas para os filhos de seus empregados. Propôs, além disso, a organização da sociedade em cooperativas de operários. Chegou, inclusive, a tentar aplicar suas idéias implantando uma colônia em Indiana, Estados Unidos, denominada “New Harmony”, não conseguindo êxito, entretanto. Destacou-se muito mais, segundo alguns autores, como um “patrão esclarecido” do que propriamente como um socialista utópico. – Louis Blanc - defendia a interferência do Estado para modificar a economia e a sociedade. imaginava a criação de “Ateliês” ou “Oficinas Nacionais”, que associariam trabalhadores que dedicavam-se às mesmas atividades, onde, com o apoio do Estado, a produção não enfrentaria a concorrência de grandes empresas. – Saint-Simon - preocupado com o problema da direção moral da sociedade, o conde de Saint-Simon desejava a planificação da economia, visando sobretudo beneficiar as classes trabalhadoras. A indústria, afirmava ele, deveria voltar-se para atender aos interesses da maioria, notadamente dos mais pobres.

Em síntese, o “socialismo utópico” pode ser definido como um conjunto de idéias que se caracterizaram pela crítica ao capitalismo, muitas vezes ingênua e inconsistente, buscando, ao mesmo tempo, a igualdade entre os indivíduos. Em linhas gerais, combate-

se a propriedade privada dos meios de produção como única alternativa para se atingir tal fim. A ausência de fundamentação científica é o traço determinante dessas idéias. Pode-se dizer que seus autores, preocupados com os problemas de justiça social e igualdade, deixavam-se levar por sonhos. Não foi por acaso que Karl Marx denominou aos socialistas utópicos de “românticos”.

Karl Marx em seu escritório.

Os princípios básicos do socialismo utópico podem ser resumidos assim:

Crítica ao liberalismo econômico, sobretudo à livre concorrência;

Formação de comunidades auto-suficientes, onde os homens, através da livre cooperação, teriam suas necessidades satisfeitas;

Organização, em escala nacional, de um sistema de cooperativas de trabalhadores que negociariam, entre si, a troca de bens e de serviços;

Atuação do Estado que, através da centralização da economia, evitaria os abusos típicos do capitalismo.

O SOCIALISMO CIENTÍFICO

Em meio a discussões e lutas operárias, em 1848 os revolucionários alemães Karl Marx e Friedrich Engels apresentaram uma nova visão de socialismo oposta aos utópicos, através do Manifesto Comunista.

Neste trabalho, Marx e Engels ressaltaram a importância da luta de classe como motor da história, pois os antagonismos existentes entre os interesses dos exploradores e dos explorados levam a superação de um modo de produção por outro (é a dialética materialista que teve por base a dialética de Hegel tese, antítese e síntese). A dialética desenvolvida pelo filósofo alemão Hegel, afirma que “cada conceito possui em si o seu contrário, cada afirmação, a sua negação. O mundo não é um conjunto de coisas prontas e acabadas, mas sim o resultado do movimento gerado pelo choque de antagonismos e dessas contradições. A afirmação traz em si o germe de sua própria negação; depois de se

Karl Max: um dos mais originais pensadores do século XIX, criador do socialismo científico. Fonte: CÁRCERES, Florival, História Geral. Ed. Moderna.

desenvolver, essa negação entra em choque com a afirmação e este choque vai gerar um terceiro elemento mais evoluído, que Hegel chamou de ‘síntese’ ou ‘negação da negação’”. (SPINDEL. Arnaldo. O que é Socialismo. São Paulo, Brasiliense, 1981. pp. 31-31).

Para Marx a origem da desigualdade consiste na existência da propriedade privada dos meios de produção; somente com a coletivização destes meios seria superada a desigualdade social.

Para conseguir a coletivização dos meios de produção, o socialismo científico defendia a via revolucionária e a implantação da ditadura do proletariado, que é uma etapa provisória e necessária durante a qual seriam realizadas as reformas necessárias para eliminar a propriedade privada e coletivizar os meios de produção. Realizadas essas transformações, a sociedade entraria no Comunismo, que é a sociedade sem classes, porque estariam eliminados todos os fatores que promovem as diferenças entre as classes sociais.

Os princípios básicos que fundamentam o socialismo marxista podem ser sintetizados em quatro teorias centrais: a teoria da mais-valia, onde se demonstra a maneira pela qual o trabalhador é explorado na produção capitalista; a teoria do materialismo histórico, onde se evidencia que os acontecimentos históricos são determinados pelas condições materiais (econômicas) da sociedade; a teoria da luta de classes, onde se afirma que a história da sociedade humana é a história da luta de classes; ou do conflito permanente entre exploradores e explorados; a teoria do materialismo dialético, onde se pode perceber o método utilizado por Marx e Engels para compreender a dinâmica das transformações históricas. Assim como, por exemplo, a morte é a negação da vida e está contida na própria vida, toda formação social (escravismo, feudalismo, capitalismo) encerra em si os germes de sua própria destruição. Fonte: RICARDO, ADEMAR e FLÁVIO. História 2 - Ed. Lê

OS SOCIALISTAS LIBERTÁRIOS: O ANARQUISMO

A palavra anarquia, de origem grega, significa ausência ou falta de necessidade de governo, e foi neste sentido que os teóricos anarquistas definiram suas doutrinas. Para os anarquistas o Estado acumulou muito poder durante a história e tolhe a liberdade do homem e os anarquistas colocam-se como amantes extremados da liberdade dos indivíduos e das comunidades que, segundo eles deve ter todo o direito de decidir sobre suas vidas sem a ingerência de qualquer autoridade. Em linhas terais os anarquistas defendiam:

Supressão de toda e qualquer forma de governo e do próprio Estado; Abolição da propriedade privada; Instalação de uma sociedade sem classes; Extinção das desigualdades sociais; Instauração de uma sociedade onde não existissem nem opressores nem oprimidos; Superação do capitalismo e instalação imediata da sociedade comunista.

Embora os anarquistas concordem que a finalização do movimento operário seja a destruição do Estado existem discordâncias entre eles quanto aos métodos para atingi-lo. Daí por que existem várias correntes.

O COMUNISMO ANÁRQUICO

Para estes anarquistas, seguidores de Piotr Kroptkin (1842-1921) de origem russa, o trabalho deveria ser agradável e jamais imposto. Viam ná igualdade a base para a liberdade: desaconselhavam o uso da violência, acreditavam que a evolução para a anarquia viria com o amadurecimento da opinião pública.

OS ANARQUISTAS MUTUALISTAS

Inspiravam-se nas ideologias do francês Proudlhon, um socialista que amava a liberdade e abominava a burocracia estatal.

Eram anti-clericais e contrários à violência; acreditavam no surgimento de uma sociedade livre, justa e com indivíduos independentes que organizariam acordosentre si para controlarem diretamente a produção das comunas autônomas resumidas por uma federação.

OS ANARCO-SINDICALISTAS Supervalorizam o sindicato como a principal força

dos trabalhadores e como base de uma nova sociedade que seria formada a partir de uma greve geral revolucionária. Negavam a -idéia de pátria, por isso foram chamados de internacionalistas. Acreditavam que através de greves e boicotes econômicos abrir-se-ia o caminho para a criação da nova sociedade, sem Estado e sem patrão.

OS ANARQUISTAS CRISTÃOS

Inspiravam-se no exemplo de vida do escritor Leon Tolstoi (1829-1910), que se dizia um seguidor do evangelho. Eram pacifistas, e negavam a propriedade e o Estado; acreditavam na força do exemplo e que o amor e a solidariedade poderiam mudar o mundo. Alguns historiadores não os admitem como anarquistas.

As idéias socialistas, nos século XIX, manifestam-se não somente no campo da teoria. A prática desta ideologia encontra-se presente nos congressos da Associação Internacional dos Trabalhadores, conhecidas como “Internacionais”. Em 1864, os trabalhadores europeus fundaram em Londres a I Internacional, com objetivo de coordenar mundialmente os movimentos operários.

Algumas dificuldades foram visíveis na Internacional como, por exemplo, a pequena representatividade dos grupos operários e as acaloradas

“Proletários de

todos os países, uni-vos!”, é o

que diz esse

estandarte sindical suíço do

final do século

XIX. Fonte: PETTA.

Nicolina Luzia

de e outro. História uma

abordagem

integrada. Ed. Moderna.

discussões entre comunistas (Karl Marx) e os anarquistas (tendo como representante Michail Bakunin).

A polêmica entre marxistas e anarquistas tem por base uma série de fatores, destacando-se: 1. A concepção marxista de revolução admite que a classe capaz de destruir o capitalismo era a dos operários industriais e, até chegar ao comunismo onde o Estado seria superado, os operários deveriam passar por um processo socialista onde haveria a ditadura do proletari-ado com o Estado concentrando toda a propriedade e todo o poder. Os anarquistas discordam da necessidade de passar por esta fase, pois concebem o Estado como um poder sempre corruptor e originário das desigualdades, mesmo que controlado por trabalhadores, o Estado vai gerar desigualdade, vai agir em benefício de um pequeno grupo em detrimento do restante da sociedade. Para os anarquistas o Estado deve ser superado imediatamente e a sociedade deve ser organizada em pequenos grupos sob o regime de auto-gestão, onde as pessoas que formam o grupo criam suas próprias leis, em substituição às leis gerais que desapa-recem junto com o Estado. 2. Outro ponto controverso é a questão do voto. Os anarquistas opunham-se à participação nas eleições em função de duas rejeições básicas: em primeiro lugar por que eleição faz parte do organismo estatal; em segundo lugar eles criticam a idéia de representação e participação que as eleições implicam. Já os comunistas defendiam a idéia do sufrágio universal, e a ação parlamentar como uma forma de viabilizar o processo revolucionário, através da eleição de representantes dos partidos socialistas. 3. Outro ponto é a existência de partidos políticos, que representam a forma de viabilizar a ação parlamentar socialista e os anarquistas são contrários, acreditam que a forma pela qual os operários deveriam enfrentar a burguesia era a ação direta, viabilizada pela greve, que é o anúncio da revolução, além de boicotes, paralisações e sabotagens.

Os anarquistas entendem cidadania como liberdade, queriam que suas convenções fossem respeitadas pelos empresários e são contrários à legislação trabalhista que é a legitimação do Estado, já os comunistas admitem a democracia participativa e cidadania relaciona-se com obter direitos sociais com uma legislação trabalhista organizada pelo Estado.

Para os comunistas a origem das desigualdades repousa na propriedade privada enquanto que os anarquistas admitem o Estado como fator gerador de desigualdade. A COMUNA DE PARIS (1871)

Outro exemplo de prática dos movimentos operários no século XIX foi a Comuna de Paris de 1871.

Durante a guerra contra a Prússia, que concluirá a unificação Alemã, os operários parisienses não concordavam em entregar a cidade aos alemães e resistem ao lado da Guarda Nacional em 18 de março de 1841. Porém outros fatores contribuíram para esta resistência. Crise econômica devido às péssimas colheitas; O desemprego causado com a industrialização; Baixos salários e alto custo dos alimentos; Forte organização operaria em câmaras federais; Falência de artesões e pequenos burgueses.

Não possuíam unidade ideológica, pois o pensamento socialista ainda se desenvolvia em Paris.

Porém acreditavam na importância da revolução política e no assalto ao poder. A falta de um programa econômico e as prolongadas discussões, já que nem um grupo político conseguia impor seus pontos de vista; a participação de pequenos burgueses que defendiam a negociação com o governo de Versalhes, acabam enfraquecendo o movimento. As elites francesas com apoio dos próprios prussianos eliminam o movimento que tem como resultado 30 mil parisienses mortos e milhares de prisões daqueles considerados simpatizantes, entre os quais muitos foram fuzilados sumariamente. Mesmo com a derrota, a Comuna de Paris é um exemplo supervalorizado na luta socialista operária por cidadania, democracia e liberdade.

A II INTERNACIONAL

Em 1899, em Paris, os operários europeus realizavam a II Internacional; neste encontro, o centro da discussão gerou em torno do aparecimento da social-democracia que negava pontos básicos do pensamento marxista. Devido a isto, na II Internacional haveria uma divisão do movimento em 3 grupos distintos. o grupo revisionista, de Bernstein, que discordava da maiorparte das idéias marxistas.

Negavam a luta de classes, discordavam da idéia marxista de que o capitalismo estava em crise, admitiam somente a via eleitoral para o estabelecimento do socialismo.

O grupo moderado, liderado por Karl Kautsky, que discordava essencialmente dos revisionistas, defendendo Marx e Engels;

O grupo radical ou marxista-revolucionário, liderado por Lênin e Rosa Luxemburgo, que advogava uma renovação dentro do próprio marxismo, mas de caráter revolucionário.

O fim da II Internacional, em 1914, está diretamente relacionado à postura dos socialistas em relação à eclosão da Primeira Guerra Mundial. Apesar de terem denunciado, desde os primeiros momentos do século, que esta guerra viria e de relacioná-la com as necessidades de expansão do capitalismo, definindo que os socialistas não dariam apoio algum aos governos, quando a guerra teve início, os partidos socialistas, num primeiro momento, colaboraram com os pedidos de créditos feitos pelos governos envolvidos. O nacionalismo falou mais alto que o socialismo.