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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DE BARREIRAS - BAHIA. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, por seu órgão infra firmado, com atribuições nesta comarca, à vista dos autos das Notícias Crimes nºs 747/2013, 751/2013, oriundas da INFIP, constantes do Inquérito Policial nº 172/2009, vem, com base neles, à presença de V. Exa., propor AÇÃO PENAL PÚBLICA pelo oferecimento da presente DENÚNCIA contra: MARCOS DOS SANTOS VELOSO, brasileiro, maior, inscrito sob o CPF nº 673.482.899-91; ou 110.823.846-74; ou 109.879.586- 58, residente na Rua São Francisco, nº 2249, Casa, Centro, Luís Eduardo Magalhães /BA – CEP 47.850-000; ou Rua Eudo Castro, 07, Bairro Renato Gonçalves, Barreiras/BA – CEP 1

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA

VARA CRIMINAL DE BARREIRAS - BAHIA.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, por

seu órgão infra firmado, com atribuições nesta comarca, à

vista dos autos das Notícias Crimes nºs 747/2013, 751/2013,

oriundas da INFIP, constantes do Inquérito Policial nº

172/2009, vem, com base neles, à presença de V. Exa.,

propor

AÇÃO PENAL PÚBLICA

pelo oferecimento da presente DENÚNCIA contra:

MARCOS DOS SANTOS VELOSO, brasileiro, maior, inscrito sob o

CPF nº 673.482.899-91; ou 110.823.846-74; ou 109.879.586-

58, residente na Rua São Francisco, nº 2249, Casa, Centro,

Luís Eduardo Magalhães /BA – CEP 47.850-000; ou Rua Eudo

Castro, 07, Bairro Renato Gonçalves, Barreiras/BA – CEP

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47.800-000;ou Conjunto D, Casa 12, Taguatinga, Brasília/DF

– CEP 72.150-602;

THIAGO FELIPE ALVES VELOSO, brasileiro, maior, inscrito sob

o CPF nº 035.179.545-60, residente na Rua São Francisco, nº

2263, Quadra 149, Lote 07, Mimoso I, Luís Eduardo Magalhães

– BA;

JAILTON FLORZINDO DOS SANTOS (“capitão” ou “capitão do

milho”), brasileiro, maior, inscrito sob o CPF nº

028.381.144-76, residente na Rua São João, nº 1331,

Caetetus, Arapiraca – AL;

VALMIR PARPINELLI, brasileiro, maior, inscrito sob o CPF nº

325.558.309-87, residente na Rua Josafá Marinho, nº 26,

Morada da Lua, Barreiras – BA, CEP. 47.800-000;

ÉRICA CORREA DE OLIVEIRA, brasileira, maior, inscrita no

CPF sob o nº 928.434.091-87, residente na Rua Piauí, Quadra

43, Lote 53, Mimoso, Luis Eduardo Magalhães/BA – CEP 47850-

000;

ADELINO GELLER, brasileiro, maior, inscrito no CPF sob o nº

394.672.287-34, residente na Rua Independência, 148,

Cruzeiro do Sul, Cariacica/ES – CEP 29.144-060;

IOMAR EVANGELISTA DE MORAIS SOBRINHO, brasileiro, maior,

inscrito no CPF sob o nº 953.809.731-91, residente na Rua

Paraná, quadra 69, 2º andar, Centro, Luis Eduardo

Magalhães/Ba - CEP 47.850-000, pelas razões a seguir

expostas;

Inicialmente, insta consignar que o Inquérito

Policial nº 172/2009 fora instaurado, mediante Portaria, a

partir de denúncias originadas no município de Ibotirama-

BA. O referido procedimento investigativo deu origem à

operação Grãos do Oeste, que apurou a existência de um

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grupo criminoso organizado atuante na região de Barreiras-

BA, especificamente nos municípios de Barreiras, Luiz

Eduardo Magalhães e Ibotirama, com o objetivo de obter,

direta ou indiretamente, benefícios econômicos e/ou

materiais, com a consequente lesão ao erário baiano.

O grupo criminoso identificado pela operação Grãos

do Oeste utiliza-se de um esquema de fraude na

comercialização de grãos com documentos fiscais e de

Arrecadação Estadual DAE`s falsificados, “clonados” ou

emitidos em nome de empresas fictícias, constituídas

fraudulentamente com simulação dolosa do quadro societário

e inserção de pessoas sem capacidade econômico-financeira,

na condição de “laranjas” ou “testas de ferro”.

As investigações empreendidas nos autos apontam

MARCOS VELOSO como o mentor principal do grupo, sócio da

empresa AGROVITTA AGROINDUSTRIAL LTDA., por meio do qual,

em conluio com diversas pessoas, familiares e outras

empresas, a serem mencionadas posteriormente, traça todo o

planejamento tributário fraudulento, criado com o fito

principal de sonegar tributos.

O referido grupo criminoso atua de forma

concatenada, através de sociedades (empresas) fraudulentas,

estruturadas em um esquema de falsidade ideológica,

formação de quadrilha e sonegação fiscal. Verificou-se que,

agindo diretamente com a empresa AGROVITTA AGROINDUSTRIAL

LTDA encontram-se as sociedades: Prima Grãos Indústria,

Comércio, Importação e Exportação de Cereais Ltda; Jailton

Florzindo dos Santos ME; nome fantasia Cerealista JF dos

Santos;e Adelino Gueller & Cia Ltda, nome fantasia Brasil

Cargas.

Essas sociedades têm como atividade principal o

comércio por atacado de cereais e leguminosas beneficiadas,

a preparação e fiação de fibras de algodão ou o transporte

de referidos bens. O esquema funcionava com a falsificação 3

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das notas fiscais em nome de empresas de terceiros, como

também na falsificação dos CTRC’s, não recolhendo o ICMS

relativo aos transportes da localidade de origem para a

destinatária das mercadorias.

Nesse sentido, a comercialização dos grãos se dá

mediante a circulação das respectivas cargas com a

utilização de notas fiscais falsas (inidôneas), sendo os

responsáveis pelas mencionadas falsificações, além do

mentor intelectual do grupo MARCOS VELOSO, a pessoa de nome

IOMAR EVANGELISTA DE MORAES SOBRINHO ou “GAÚCHO”. A

falsificação de notas fiscais praticada faz com que

diversas cargas de grãos circulem pelo Estado da Bahia sem

o devido pagamento do ICMS, com a consequente lesão ao

fisco.

Deste modo, através dos vínculos de endereços e

parentescos existentes na formação societária das empresas

envolvidas nas fraudes que se apresentam, fica

caracterizada a engrenagem utilizada pelo grupo criminoso,

com o fito de lesar o erário baiano.

Convém ressaltar, que em 2003 a Secretaria da

Fazenda do Estado da Bahia realizou procedimento fiscal

originado na execução do Mandado Judicial de Busca e

Apreensão nº 173/02, expedido pelo Juiz de Direito Antônio

Luiz Cunha, Titular da Vara Crime da Comarca de Barreiras,

concluindo que os documentos fiscais apreendidos no

escritório do investigado Marcos Veloso tratam-se de

“clonagem” dos documentos verdadeiros emitidos pela SEFAZ.

Tais documentos foram utilizados em operações tributadas a

fim de burlar o fisco deixando de recolher o ICMS devido

nas respectivas operações.

Nesse sentido, convêm trazer à tona a origem e os

meandros criminosos percorridos pelo mentor e líder da

organização criminosa ora investigada, bem como dos demais

denunciados: 4

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MARCOS VELOSO

Fora constado que o investigado Marcos Veloso é

conhecido como intermediário nas transações envolvendo

grãos, atuante com habitualidade, tendo este sido autuado

pela prática de sonegação de impostos com a emissão dos

documentos fiscais falsos apreendidos, ensejando a

lavratura do Auto de Infração nº 000.896.548-0, renumerado

para o nº 000089.654/00-7, devidamente inscrito em Dívida

Ativa sob o nº 05195-19-1924-04, em 28/07/04. O referido

auto de infração deu origem à Notícia-Crime nº 747/2013,

conforme fls. 02-05, constantes do procedimento tombado sob

o SIMP nº 003.0.164238/2013, recebidos neste GAESF em

26/08/2013.

Marcos Veloso é a peça principal da estrutura

criminosa. Todas as relações entre as empresas pertencentes

ao esquema fraudulento têm participação direta do

denunciado, conforme se extrai do quanto apurado no

referido inquérito policial (Operação Grãos do Oeste).

Veja-se.

I) De acordo com o Informe de Inteligência

nº 184/2010, fl. 32 e Relatório de Inteligência nº

3956, fls. 185-190, Marcos Veloso possui três CPFs;

II) Cumprido o Mandado de Busca e Apreensão

no escritório de Marcos Veloso, verificou-se que este

mantinha um verdadeiro “escritório” fraudulento da

Secretaria da Fazenda da Bahia, na medida em que foram

apreendidos carimbos de uso exclusivo da SEFAZ, de

cartórios dos municípios de Luís Eduardo Magalhães e

de Barreiras, vide Informe de Inteligência Fiscal nº

184/2010, fl. 35;

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III) Às fls. 162-165, anexo VI do Informe de

Inteligência nº 184/2010, constam DAE`s apreendidos em

nome de Carlos de Mello, CPF nº 015.465-98, inscrito

como produtor IE 078.588.766, o qual é representado

por Marcos de Souza Veloso, mediante procuração

registrada. Convém salientar, que o referido produtor

é falecido;

IV) Às fls. 77-78 dos autos do processo

0000816-18.2011.805.0022 constam trechos de diálogo

entre Júnior e Iomar (Gaúcho), diálogo em que abordam

a apreensão de cinco caminhões no Posto Fiscal e

apontam Marcos Veloso como responsável pelo produtor

Carlos de Mello. Convém salientar, que o referido

produtor é falecido;

V) À fl.80 dos autos do processo 0000816-

18.2011.805.0022 consta trecho de diálogo entre RUBEM

NOVATO PESSOA JÚNIOR, conhecido como “JÚNIOR”,

(funcionário de Flávio Fernandes – empresa All

Business), IOMAR EVANGELISTA DE MORAES SOBRINHO,

conhecido como “GAÚCHO” (funcionário de Marcos Veloso

– empresa Agrovitta) e Marcos Veloso, acerca da

liberação dos caminhões apreendidos no Posto Fiscal,

oportunidade em que Marcos Veloso aborda a confecção

de um carimbo falsificado, com o CPF do produtor

Carlos Mello, para que ele, Marcos Veloso, venha

assinar e conseguir a liberação dos caminhões no Posto

Fiscal;

VI) Às fls. 53/54 e 130/132 dos autos do

processo 0000816-18.2011.805.0022 constam trechos de

conversa entre Marcos Veloso e seu filho, Thiago

Veloso, diálogo em que, para a efetivação de mais uma

transação comercial, Marcos Veloso orienta Thiago a

falsificar a assinatura de Carlos de Mello (falecido);

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VII) Às fls. 25-180 dos autos do processo

0000816-18.2011.805.0022, Informe de Inteligência

Fiscal nº 184/2010, verifica-se que Carlos de Mello

teve seu nome envolvido em fatos que configuram crime

de falsidade em Contrato de Arrendamento de Imóvel

Rural e DAE.

VIII) No antigo endereço da empresa

Agrovitta, Marcos Veloso, através da utilização de

crackers, invadiu contas bancárias de clientes do

Banco do Brasil e realizou, com recursos destas,

pagamentos de tributos de responsabilidade das

empresas AGRONORTE AGROINDUSTRIAL LTDA e AGROPECUÁRIA

CACHEADO LTDA, a exemplo da correntista Damiana Silva

Cardoso (fls. 949/952), que teve subtraída da sua

conta corrente a importância de R$ 4.813,81, conforme

notitia criminis apresentada pelo Banco do Brasil, no

volume IV do IP 172/2009 às fls. 953/959.

IX) Além da prática acima narrada, Marco

Veloso atua ainda efetuando a clonagem e autenticação

de documentos fiscais, vide Informe de Inteligência

Fiscal nº 184/2010, fl. 34, interceptação telefônica

às fls. 107-112, e RIF nº 726/2013, e notícias

criminais oriundas do Banco do Brasil constantes dos

autos.

X) No termo de deslacração da Agrovitta

proveniente da DECECAP, vide informe de inteligência

nº 570/2012 juntado ao IP 172/2009, consta em seu item

14 uma procuração da empresa JV Comércio e

Representações Ltda nomeando o denunciado como seu

bastante procurador. Curiosamente, a empresa JV possui

uma inscrição em dívida ativa (nº 651.519.248.003)

pela prática da mesma conduta delituosa alvo da

presente denúncia, qual seja, a inserção de elementos

inexatos em documento fiscal, realizando operações de

circulação de mercadorias sem recolher ICMS, conforme

fl. 801 do IP 172/2009.

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XI) À fl. 18 dos autos do processo nº

0000816-18.2011.805.0022 consta registro de diálogo

entre um suposto preposto da empresa All Business,

identificado apenas como “Di Paula” e Marcos Veloso,

capturado por meio de interceptação telefônica, de

terminal telefônico cadastrado em nome da empresa All

Business, acerca de pedido de talões de notas fiscais

de produtor rural e de troca de notas fiscais.

Consta do procedimento tombado sob o SIMP nº

003.0.164238/2013 supra, que por ocasião de fiscalização

realizada por prepostos da Secretaria de Estado da Fazenda

(SEFAZ/BA) no escritório comercial de propriedade de Marcos

Veloso, inscrito no CPF nº 673.482.899-91, situado na Rua

Bom Jesus da Lapa, nº 04, Centro, Luís Eduardo

Magalhães/BA, CEP 47.850-000, foram constatadas

irregularidades que implicaram em um débito fiscal,

acrescido de multa, no importe de R$ 678.042,26 (seiscentos

e setenta e oito mil, quarenta e dois reais e vinte e seis

centavos), valor esse devidamente inscrito em Dívida Ativa

(inscrição nº 05195-19-1924-04), em 28/07/04, após

tramitação de Procedimento Administrativo Fiscal (PAF).

Com efeito, evidenciou-se que Marcos Veloso fraudou

a fiscalização tributária ao utilizar documentação fiscal

inidônea, “notas fiscais clonadas”, em operações

tributadas, conforme documentos a seguir listados: Auto de

Infração nº 000.896.548-0 renumerado para 000089.6548/00-7

à fl. 06, Termo de Apreensão de Mercadorias e Documentos

às fls. 08-11, relação de Notas Fiscais avulsas “clonadas”

apreendidas no estabelecimento às fls. 12-14, Notas fiscais

falsas “clonadas” às fls. 15-74, Notas fiscais verdadeiras

às fls. 75-129, demonstrativo de débito às fls. 135-136,

Demonstrativo do Sistema de Crédito Tributário/Certidão da

Dívida Ativa às fls. 139-143, Certidão da Dívida Ativa

atualizada às fls. 159-161.

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Com esse procedimento houve a supressão do imposto

ICMS, apurado com base na auditoria realizada no valor

histórico de R$ 166.603,34 (cento e sessenta e seis mil,

seiscentos e três reais e trinta e quatro centavos) –

infração de código 53.01.11, segundo os artigos 197; 198, §

2º, 200; 209, II; 911 e 913 do Regulamento do ICMS do

Estado da Bahia, aprovado pelo Decreto Estadual nº

6.284/1997.

Em face de tais condutas, as irregularidades

fiscais perpetradas pelo ora denunciado resultaram no

débito fiscal indicado no parágrafo supra, nos seguintes

termos:

Nº DA INFRAÇÃO NO AI

VALOR PRINCIPAL

ACRÉSCIMO MORATÓRIO MULTA TOTAL

53.01.11 166.603,34 231.828,54 166.603,3

4 565.035,22

Honorários PGE 113.007,04

TOTAL 678.042,26

THIAGO FELIPE ALVES VELOSO

Sócio da empresa Agrovitta, filho do mentor e

líder da organização criminosa, Marcos Veloso, atuava em

conjunto e sob a sua orientação, podendo ser confirmado

pelos elementos a seguir:

I) À fl. 35 dos autos do processo 0000816-

18.2011.805.0022, do Informe de Inteligência Fiscal nº

184/2010, consta que Thiago Veloso também se utilizava

dos carimbos e documentos falsos da SEFAZ e de

cartórios da região, bem como os armazenava em seu

escritório;

II) Às fls. 48-54 e 126-132 dos autos do

processo 0000816-18.2011.805.0022 constam trechos de

diálogo entre Thiago Veloso e Marcos Veloso, captado

em interceptação telefônica, revelando que Marcos

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passava orientações ao filho quanto às transações

comerciais envolvendo a empresa Agrovitta. Falaram

também, sobre a rotina do escritório e funcionamento

da empresa, restando claro que ambos atuavam em

conjunto e que Thiago seguia as orientações do pai

para a execução das práticas delituosas;

III) Às fls. 53-54 dos autos do processo

0000816-18.2011.805.0022, consta diálogo entre Thiago

Veloso e Marcos Veloso, captado em interceptação

telefônica, oportunidade em que Marcos orientou seu

filho Thiago a falsificar assinatura do produtor

Carlos de Mello para a efetivação de mais uma

transação comercial;

IV) À fl. 97 dos autos dos autos do processo

0000816-18.2011.805.0022, consta novamente diálogo

entre Thiago e Marcos, onde se trava mais uma

oportunidade comercial, envolvendo o “Capitão do

Milho”. Thiago recebe ordens de seu pai para a emissão

de nota fiscal a partir de um arquivo salvo em seu

computador, o que evidencia a parceria entre os dois;

V) Às fls. 14-15 dos autos do processo

0000816-18.2011.805.0022, consta a informação que

Thiago falsificou documentos emitidos em nome da

Cooperativa dos Produtores de Commodities Agrícolas

(Coopercas), vide anexo IV do Informe de Inteligência

Fiscal nº 184/2010. Os documentos falsificados

autorizavam o produtor rural Valter Mikio Morinaga a

emitir notas fiscais de cargas de algodão. Registre-se

que, foram apreendidos jogos de notas fiscais,

inclusive primeiras vias, emitidas em nome do produtor

rural supracitado, referentes à comercialização de

milho, no endereço de Thiago Felipe Alves Veloso.

Convém salientar que outros blocos de notas fiscais

também foram apreendidos em nome de diversos

produtores rurais (TD itens 01, 02 e 04); 10

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PRIMA GRÃOS INDÚSTRIA, COMÉRCIO, IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE

CEREAIS LTDA.

Convém registrar que a lavratura do Auto de

Infração nº 206851.0061/03-6, devidamente inscrito em

Dívida Ativa sob o nº 01669-19-0767-04, em 20/04/04 deu

origem a Notícia-Crime nº 751/2013, conforme fls. 02-05,

constantes do procedimento tombado sob o SIMP nº

003.0.176054/2013, recebidos neste GAESF em 10/09/2013.

Consta dos referidos autos, que por ocasião de

fiscalização realizada por prepostos da Secretaria de

Estado da Fazenda (SEFAZ/BA) na empresa Prima Grãos

Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Cereais

Ltda., CNPJ 02.276.647/0001-76, IE 052.948.598, com sede na

Fazenda Prima Grãos, s/n, BR 135, km 80, Bairro Sede –

Riachão das Neves – BA, CEP nº 47.970-000, gerida pelos

sócios Marcos Veloso e Valmir Parpinelli, foram constatadas

irregularidades que implicaram em um débito fiscal,

acrescido de multa, no importe de R$ 293.171,34 (duzentos e

noventa e três mil, cento e setenta e um reais e trinta e

quatro centavos), valor esse devidamente inscrito em Dívida

Ativa (inscrição nº 01669-19-0767-04) em 20/04/04, após

tramitação de Procedimento Administrativo Fiscal (PAF).

Assim, evidenciou-se que os sócios Marcos Veloso e

Valmir Parpinelli fraudaram a fiscalização tributária ao

emitirem notas fiscais com saídas de milho a granel sem

destaque do imposto, dos exercícios de 2000 e 2001, e

também ao deixarem de recolher nos prazos regulamentares o

ICMS referente a operações não escrituradas nos livros

fiscais próprios, considerando que o contribuinte

apresentou documentos de arrecadação, como prova de

pagamentos das operações, cujas autenticações não foram

identificadas pela rede bancária.

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Os ilícitos praticados pelos sócios gestores da

empresa Prima Grãos foram demonstrados pelos documentos a

seguir listados: Auto de Infração nº 206.851.0061/03-6 às

fls. 06-10 constantes do procedimento tombado sob o SIMP

supramencionado, demonstrativos de débito à fl. 14,

demonstrativo das notas fiscais com saídas de milho em

grãos, com isenção do ICMS, não recebidas pelo destinatário

Avipal Nordeste S/A, às fls. 16-23, demonstrativo das notas

fiscais emitidas, cujos DAE’s do ICMS apresentados como

pagamentos, não foram identificados pelo Banco nas

autenticações à fl. 24, declaração prestada pela empresa

Avipal Nordeste à fl. 26, relação das notas fiscais

apreendidas no escritório de Marcos Veloso, emitidas pela

Prima Grãos Ltda. tendo como destinatário a Avipal Nordeste

às fls. 27-37, notas fiscais emitidas pela Prima Grãos

Ltda. tendo como destinatário a Avipal Nordeste às fls. 38-

173, livro de registro de entradas nº 003 da Avipal

Nordeste às fls. 174-199, ofício resposta do Banco Bradesco

confirmando o não recebimento o não recebimento de valores

pelo banco à fl. 201, DAE’s com autenticações falsas às

fls. 204-206, certidão da Dívida Ativa às fls. 214-2019, 4ª

e 5ª Alterações contratuais às fls. 220-223.

Com o primeiro procedimento acima relatado, houve a

supressão do imposto ICMS, apurado com base na auditoria

realizada no valor histórico de R$ 70.582,37 (setenta mil,

quinhentos e oitenta e dois reais e trinta e sete centavos)

– infração de código 02.01.03, segundo os artigos 20,

inciso X e 341, inciso XI do Regulamento do ICMS do Estado

da Bahia, aprovado pelo Decreto Estadual nº 6.284/1997.

No que tange ao segundo procedimento adotado pelos

sócios, houve a supressão do imposto no valor histórico de

R$ 2.454,12 (dois mil quatrocentos e cinquenta e quatro

reais e doze centavos) – infração de código 02.01.02,

segundo os arts. 348, § 2º, inciso I-a; 50; 124, inciso I e

323 do Regulamento do ICMS do Estado da Bahia, aprovado

pelo Decreto Estadual nº 6.284/1997.

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Em face de tais condutas, as irregularidades

fiscais perpetradas pelos ora denunciados resultaram no

débito fiscal indicado no parágrafo supra, nos seguintes

termos:

Nº DA INFRAÇÃO NO AI

VALOR PRINCIPAL

ACRÉSCIMO MORATÓRIO MULTA TOTAL

02.01.03 70.582,37 123.201,16 42.349,34 236.132,87

02.01.02 2.454,12 4.004,63 1.717,88 8.176,63

Honorários PGE 48.861,84

TOTAL 293.171,34

AGROVITTA AGROINDUSTRIAL LTDA.

A AGROVITTA AGROINDUSTRIAL LTDA., CNPJ

07.654.032/0001-50, IE 067.420.167, com endereço comercial

na Rua Paraná, quadra 69, nº 08, Edifício Magazan, 2º

andar, Centro, Luís Eduardo Magalhães – BA na Rua B, s/n,

Centro Industrial do Cerrado, Luís Eduardo Magalhães – BA.

A razão social atual da empresa é AGRONITTA AGROINDUSTRIAL

LTDA, permanecendo com o nome fantasia AGROVITTA.

A referida empresa tem como sócios Thiago Felipe

Alves Veloso, inscrito sob o CPF nº 035.179.545-60, sócio

administrador da empresa, e Érica Correa de Oliveira,

inscrita sob o CPF nº 928.434.091-87, conforme extrato de

dados cadastrais da INFIP à fl. 915 dos autos do IP

172/2009. A empresa iniciou as suas atividades em outubro

de 2005, conforme fls. 659.

Convém registrar, a lavratura do Auto de Infração

nº 278905.0901/12-2, vide documentos às fls. 806-809 do IP

172/2009, referente à empresa Agrovitta, devidamente

inscrito em Dívida Ativa sob o nº 00437-19-0000-13, em

02/04/13, conforme documentos constantes às fls. 925-928

deste inquérito policial.

Consta dos referidos autos, que por ocasião de

fiscalização realizada por prepostos da Secretaria de

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Estado da Fazenda (SEFAZ/BA) na empresa Agrovitta, dos

sócios Thiago Veloso e Érica, gerida de fato por Marcos

Veloso, com o auxílio de seu filho Thiago Veloso, foram

constatadas irregularidades que implicaram em um débito

fiscal, acrescido de multa, e atualizado no importe de R$

39.617.635,09 (trinta e nove milhões, seiscentos e

dezessete mil, seiscentos e trinta e cinco reais e nove

centavos), valor esse devidamente inscrito em Dívida Ativa

(inscrição nº 00437-19-0000-13,) em 02/04/13, após

tramitação de Procedimento Administrativo Fiscal (PAF).

Com efeito, evidenciou-se que os sócios da empresa Thiago

Veloso e Érica Correa de Oliveira, bem como Marcos Veloso,

gerente de fato, fraudaram a fiscalização tributária na

medida em não efetuaram os recolhimentos do ICMS

substituído por diferimento, no exercício de 2011 a 2012,

deixando de recolher, nos prazos regulamentares, o ICMS

referente a operações comerciais realizadas, considerando a

existência de planilhas contendo notas fiscais eletrônicas

referentes às operações interestaduais de venda de

mercadorias, enquadradas no regime do diferimento sem

recolhimento do ICMS.

Os ilícitos praticados pelos sócios e o gestor de

fato da empresa Agrovitta foram demonstrados pelos

documentos a seguir listados: Auto de Infração nº

278905.090/12-2, Demonstrativo de Débito, Planilhas

contendo falta de recolhimento do ICMS diferido, Dados

Cadastrais da empresa Agrovitta, Termo de Inscrição em

Dívida Ativa e Demonstrativo de débito atualizado no

montante de R$ 39.617.635,09 (trinta e nove milhões,

seiscentos e dezessete mil, seiscentos e trinta e cinco

reais e nove centavos), vide documento constante à fl. 930

dos autos do IP 172/2009.

Ocorre que, mesmo não contando com a participação

de Marcos Veloso no seu quadro societário, ele respondia

pela gerência da empresa, comprovando-se pelos atos

descritos abaixo:

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I) As investigações preliminares,

empreendidas na Operação em apreço, apontam Marcos

Veloso como administrador de fato da referida empresa,

conforme trecho de diálogo entre Marcos Veloso e

Jailton Florzindo dos Santos, conhecido como “Capitão

do Milho”, oportunidade em ambos definem uma transação

comercial vide fls. 96-97 e fls. 102-103 dos autos do

processo 0000816-18.2011.805.0022;

II) Consta do relatório IP 172/2009, à

fl.785, que o próprio Jailton Florzindo dos Santos,

em depoimento prestado à DECECAP, admitiu manter

relações comerciais com Marcos Veloso e seu filho

Thiago Veloso, apontando o primeiro como proprietário

da empresa Agrovitta, e o nome de Iomar Evangelista de

Morais Sobrinho como funcionário de Marcos Veloso na

referida empresa.

III) A INFIP atestou por meio do Informe de

Inteligência nº 4.017/2009, constante às fls. 46-53

dos autos do Inquérito Policial em análise, a

participação da empresa Agrovitta na falsificação das

notas fiscais tendo utilizado os dados cadastrais do

produtor rural Anésio Horácio Ferreira, vide fls. 17-

18, 24-25, 33-35, apreendidas com os motoristas

contratados pela própria Agrovitta, conforme termos de

declaração acostados às fls. 05-08 do IP 172/2009, bem

como a falsificação de um número de autorização, para

a confecção de documentos fiscais concedido pela SEFAZ

(AIDF) a esse produtor rural, assim confeccionando as

notas fiscais apreendidas, para a realização de

transporte de carga de algodão em pluma, objeto de

ação fiscal no Posto Fiscal Roberval Santos, no

município de Muquém do São Francisco, vide anexo I,

anexo II e anexo III, fls. 54-110 do IP 172/2009;

IV) Foram apreendidos documentos, no

estabelecimento da Agrovitta, dentre eles:

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a) As primeiras vias de notas fiscais

emitidas pela empresa Strobel e destinados à

empresa Maxigrãos (TD item 09, anexo Informe de

Inteligência nº 570/2012 constante do IP

172/2009), bem como as primeiras vias de notas

fiscais do produtor rural Nelson Luiz Roso

destinados à empresa Maxigrãos (TD itens 09 e

12, anexo Informe de Inteligência nº 570/2012

constante do IP 172/2009).

Todas estas notas eram destinadas a dar

trânsito a mercadorias, de modo que estas não ficavam

em poder dos adquirentes para sua escrituração em

livros fiscais próprios, permitindo assim a utilização

de créditos fiscais, se devidos. Deste modo, as

referidas notas fiscais, ao estarem de posse da

Agrovitta, denotam que a referida empresa atuava na

comercialização de mercadorias utilizando-se do nome

de terceiros, de acordo com Informe de Inteligência

Fiscal nº 570/2012, e anexo V do Informe de

Inteligência nº 184/2010, fls. 156-160 constante do IP

172/2009;

b) DAEs referentes ao pagamento do ICMS de

notas fiscais em nome de Carlos de Mello (TD

item 13, anexo Informe de Inteligência nº

570/2012 constante do IP 172/2009), já

falecido. Este também inscrito como produtor

rural, contudo representado por Marcos Veloso

mediante procuração registrada no Livro 81-P,

fls. 02/022, do Tabelionato de Notas da Comarca

de Peabiru/PR, de 06/08/08. Vale registrar, que

Carlos Mello (falecido) possui seu nome

envolvido em fatos que configuram crime de

falsidade em Contrato de Arrendamento de Imóvel

Rural e DAE, conforme Informe de Inteligência

Fiscal nº 184/2010 constante do IP 172/2009;

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c) Procuração tendo como outorgante a

empresa JV Comécio e Representações Ltda

nomeando Marcos Veloso como seu bastante

procurador (TD item 14, anexo Informe de

Inteligência nº 570/2012 constante do IP

172/2009);

IV) Embora Érica Correa de Oliveira figure

no Contrato Social da empresa Agrovitta como sócia, a

análise do produto das interceptações telefônicas

deferidas por este Juízo, assim como os demais

elementos informativos apresentados pelas Autoridades

Fazendária e Policial demonstram tratar-se de evidente

caso de interposição fictícia de pessoa (“laranja”),

conforme Informe de Inteligência Fiscal nº 184/2010,à

fl. 32;

IV) À fl. 96 dos autos do processo nº

0000816-18.2011.805.0022 consta trecho de diálogo

entre Marcos Veloso e Jailton Florzindo dos Santos,

“Capitão do Milho”, no qual se trava conversa acerca

de transação comercial, oportunidade em que Jailton é

aconselhado a fazer contato com Thiago Veloso, através

de terminal telefônico cadastrado em nome da

Agrovitta, para deliberar sobre o aludido acordo

comercial, revelando que o poder de gerenciamento que

Marcos exerce nas relações comerciais em nome da

referida empresa;

V) Às fls. 538-540 dos autos do IP 172/2009,

consta depoimento de Iomar Evangelista de Morais

Sobrinho, o qual afirma que antes trabalhava para

Flávio Fernandes na empresa All Busines e que

posteriormente Marcos Veloso lhe ofereceu emprego,

para trabalhar na empresa Agrovitta, tendo ele

aceitado a proposta, restando confirmado mais uma vez

o poder de gerência e administração do Marcos Veloso;

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VI) Às fls. 543-545 dos autos do IP

172/2009, consta depoimento de Jailton Florzindo dos

Santos, “Capitão do Milho”, onde ele afirma que travou

relações comerciais com Marcos Veloso e Thiago Veloso,

demonstrando que os dois são os proprietários de fato

da Agrovitta;

JAILTON FLORZINDO DOS SANTOS

Sócio da empresa JAILTON FLORZINDO DOS SANTOS ME,

conhecido como “Capitão do Milho” mantém relações

comerciais com Marcos Veloso e incorria nas mesmas práticas

delituosas que este, a seguir demonstradas:

I) Restou comprovada a vinculação entre

Jailton Florzindo dos Santos e Marcos Veloso, tendo em

vista a apreensão de Ordens de carregamento da empresa

Agrovitta no endereço de Jailton, vide TD itens 02-04;

II) Às fls. 48-54 dos autos, consta diálogo

entre Marcos Veloso e Thiago Veloso, captado mediante

interceptação telefônica, onde se trava um acerto de

reaproveitamento de notas fiscais, de modo que as

mercadorias são entregues em diversos locais

utilizando-se do mesmo documento, restando evidente

que tal prática também é utilizada por Jailton;

III) À fl. 96 dos autos, consta diálogo

entre Jailton e Marcos Veloso, captado mediante

interceptação telefônica, oportunidade em que eles

travam uma transação comercial, demonstrando a atuação

criminosa de ambos;

IV) À fl. 97 dos autos, consta diálogo entre

Marcos Veloso e Thiago Veloso, captado mediante

interceptação telefônica, momento em que Thiago

celebrava mais uma transação comercial no escritório

do “Capitão” envolvendo notas fiscais;

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V) À fl. 99 dos autos, registra diálogo

entre Jailton e Marcos Veloso, capturada mediante

interceptação telefônica, acerca de uma combinação

entre os dois para a liberação de cargas com excesso

de peso objetivando a realização de mais uma transação

comercial ilícita.

VI) Às fls. 543-545 dos autos, consta

depoimento de Jailton Florzindo dos Santos, no qual

ele confirma que conhece Marcos e Thiago Veloso, com

os quais mantém relação comercial, negociando a compra

de grãos de milho. Ele informa ainda, que paga a

Agrovitta, de propriedade de Marcos Veloso, todos os

recolhimentos fiscais dos produtos;

VII) Jailton, em seu depoimento, indica o

nome de Iomar e que este trabalha juntamente com

Marcos Veloso para a efetivação das transações

comerciais, vide fl. 544 dos autos;

ADELINO GELLER

Consta do quadro societário da empresa Adelino

Gueller & Cia Ltda., nome fantasia da empresa Brasil

Cargas. Responsável pela contratação dos transportadores,

realizando entrega de notas fiscais aos motoristas e

informando-os sobre a forma de passar pelo posto fiscal sem

que seja fiscalizado o caminhão. Atuava para as empresas de

Marcos, Agrovitta e Prima, e Flávio, All Business, sempre

recebendo comissões pelas cargas enviadas.

Também recebia os blocos de notas fiscais falsas

encaminhadas por Marcos e Flávio, conforme diálogo

transcrito de interceptação telefônica à fl. 88 dos autos

do processo 0000816-18.20118050022. Abaixo outras

informações que corroboram a participação do denunciado no

esquema criminoso:

I) Termo de deslacração da DECECAP, vide Informe

de Inteligência constante do IP 172/2009, no seu item

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02 revela que foram apreendidos talões de ordem de

carregamento em nome da Agrovitta, demonstrando a

ligação de Adelino com Marcos.

II) Consta no mesmo termo de deslacração

apreensão de talonário de Ordem de Carregamento

referente à Agrovitta, no endereço de Adelino Geller,

comprovando que as notas fiscais da Agropecuária

Cajueiro Ltda., também apreendidas, serviam para dar

trânsito às mercadorias da Agrovitta, sem que a

empresa pagasse o ICMS e, consequentemente, burlando o

Fisco. (TD 01-02).

IOMAR EVANGELISTA DE MORAIS SOBRINHO

Ex-funcionário de Flávio Fernandes na All

Business,desempenhou funções no setor de faturamento. Após

sua saída da referida empresa, foi empregado de Marcos

Veloso. Participou ativamente nas duas empresas, como um

dos principais responsáveis pela movimentação comercial,

negociando fretes, emitindo notas fiscais, intermediando

contatos de motoristas de cargas e seus contratadores; além

de atuar paralelamente na comercialização de talões de

notas fiscais falsas e constituição de empresas fictícias.

Seguem abaixo outras informações que corroboram com a

participação do denunciado no esquema fraudulento:

I) Às fls. 77/78 dos autos do processo

0000816-18.2011.805.0022 constam trechos de diálogo

entre Júnior e Iomar (Gaúcho), diálogo em que abordam

a apreensão de cinco caminhões no Posto Fiscal e

apontam Marcos Veloso como responsável pelo produtor

Carlos de Mello (falecido).

II) À fl. 80 dos autos do processo 0000816-

18.2011.805.0022 consta trecho de diálogo entre Rubem

Novato Pessoa Júnior (funcionário de Flávio Fernandes

– empresa All Business), Iomar Evangelista

(funcionário de Marcos Veloso – empresa Agrovitta) e

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Marcos Veloso, acerca da liberação dos caminhões

apreendidos no Posto Fiscal, oportunidade em que

Marcos Veloso aborda a confecção de um carimbo

falsificado, com o CPF do produtor Carlos Mello, para

que ele, Marcos Veloso, venha assinar e conseguir a

liberação dos caminhões no Posto Fiscal;

Desta forma, encontrando-se os denunciados Marcos

dos Santos Veloso, Thiago Felipe Alves Veloso, Jailton

Florzindo dos Santos, Valmir Parpinelli, Érica Correa de

Oliveira, Adelino Geller e Iomar Evangelista de Morais

Sobrinho incursos nas penas do artigo 1º, incisos I, II e V

da Lei 8.137/90, combinado com o artigos 29 (co-autoria),

69 (concurso material) e 288 do Código Penal, estando ainda

o primeiro incurso no 155, § 4º do Código Penal, requeremos

seja a presente denúncia recebida e autuada, e que em

seguida sejam os citados para, querendo, apresentarem a

defesa que tiverem e, enfim, para se verem processar até

final sentença quando espera sejam condenados, tudo nos

termos dos artigos 394 e seguintes do Código de Processo

Penal (CPP).

Requer, também, que se digne V. Ex.ª de

condenar os Denunciados ao pagamento de valor mínimo para

reparação dos danos causados pela infração cometida contra

o Estado da Bahia, nos termos do art. 63, parágrafo único e

art. 387, inciso IV, ambos do Código de Processo Penal

Brasileiro, bem como seja procedida a intimação do ofendido

(Estado da Bahia), por intermédio da Procuradoria do

Estado, para, querendo, acompanhar a presente ação, na

condição de assistente de acusação.

Salvador, 21 de novembro de 2013.

Luís Alberto Vasconcelos Pereira Promotor de Justiça/GAESF

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Vanezza de Oliveira Bastos Rossi Promotora de Justiça/GAESF

Manoel da Costa Filho Promotor de Justiça

Márcio do Carmo Guedes Promotor de Justiça

Pedro Maia Souza Marques Promotor de Justiça - Coordenador do GAESF

Rol de Testemunhas:

1 - Carlos Augusto Barbosa Nogueira, brasileiro, maior, fazendário,

podendo ser encontrado na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia,

situada na 2ª avenida, nº 260, Centro Administrativo da Bahia (CAB),

Salvador/BA, CEP 41.745-003;

2 - Miguel Medrado Oliveira Neto, brasileiro, maior, fazendário,

podendo ser encontrado na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia,

situada na 2ª avenida, nº 260, Centro Administrativo da Bahia (CAB),

Salvador/BA, CEP 41.745-003;

3 - Sandor Cordeiro Fahel, brasileiro, maior, fazendário, podendo ser

encontrado na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, situada na 2ª

avenida, nº 260, Centro Administrativo da Bahia (CAB), Salvador/BA,

CEP 41.745-003;

4 - Alex Sandro D Amico, brasileiro, maior, motorista, residente na

Rua Acre, nº 2585, Bairro Custódio Pereira, Uberlândia/MG;

5 - Valério Banoski, brasileiro, maior, motorista, residente à Rua 31

de março, nº 658, Buritis, Centro/MG;

6 - Airton José Zimmgrmann, brasileiro, maior, motorista, residente à

Rua Paulo Shertner, nº 94, Jardim Itália/PR;

7 – Naelton Aparecido Nogueira Silva, brasileiro, maior, bancário,

podendo ser encontrado na Rua Marques de Paranagua, nº 112, Centro,

Ilhéus/BA, CEP 45.653-000;

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8 – Adervan Pereira Nascimento, brasileiro, maior, bancário, podendo

ser encontrado na Rua Marques de Paranagua, nº 112, Centro, Ilhéus/BA,

CEP 45.653-000;

9 - Damiana Silva Cardoso, brasileira, maior, empresária, residente na

Rua Bela Vista, nº 346, Banco Raso, Itabuna/BA.

INQUÉRITO POLICIAL Nº 172/2009 - REF. NOTÍCIAS CRIMES N°S

747/2013, 751/2013 / INFIP - SEFAZ

INDICIADOS: MARCOS DOS SANTOS VELOSO/ THIAGO FELIPE ALVES

VELOSO/ JAILTON FLORZINDO DOS SANTOS/ VALMIR PARPINELLI,

ÉRICA CORREA DE OLIVEIRA/ ADELINO GELLER / IOMAR

EVANGELISTA DE MORAIS SOBRINHO.

INCIDÊNCIA DELITUOSA: infringiram os denunciados Marcos dos Santos Veloso, Thiago Felipe Alves Veloso, Jailton Florzindo dos Santos, Valmir Parpinelli, Érica Correa de Oliveira, Adelino Geller e Iomar Evangelista de Morais Sobrinho o disposto nos arts. 288 do Código Penal e 1º, incisos I, II e V da Lei 8.137/90, combinado com o arts. 29

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(co-autoria) e 69 (concurso material), do Código Penal, o primeiro indiciado está ainda incurso no 155, § 4º do Código Penal.

MM. Juiz(a):

1. Oferecemos denúncia em 23 (vinte e três) laudas,

impressas apenas no anverso.

2. Requeremos, nesta oportunidade, o seguinte:

a) que seja oficiado à Secretaria de Segurança Pública para

informar os antecedentes policiais dos acusados;

b) que seja certificado pelo Cartório desta Comarca acerca

da existência de eventuais processos criminais contra os

denunciados;

c) que seja oficiado ao Fórum Distribuidor da Justiça

Federal em Salvador para informar sobre eventuais

processos, findos ou em andamento, existentes contra os

denunciados;

d) que seja oficiado à Superintendência Regional da Polícia

Federal em Salvador para informar sobre os antecedentes

policiais dos denunciados. 3. Neste momento, o Ministério Público

requer a prisão preventiva de Marcos dos Santos Veloso,

Thiago Felipe Alves Veloso e Jailton Florzindo dos Santos,

porque estão presentes a materialidade delitiva e os

indícios de autoria, com o fulcro de assegurar a futura

aplicação da lei penal e a ordem pública administrativa e

econômica.

A materialidade do delito está muito bem

demonstrada, seja através de auditorias realizadas, seja

dos demais documentos constantes dos autos, bem como os

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indícios de autoria, em face da gestão criminosa que os

denunciados praticam nas suas empresas, cometendo as

diversas condutas criminosas descritas na denúncia. Há nos autos prova de que os ora

denunciados foram autores dos delitos, causando expressivo

prejuízo à Fazenda Pública no valor de R$40.588.848,69

(quarenta milhões, quinhentos e oitenta e oito mil,

oitocentos e quarenta e oito reais e sessenta e nove

centavos), sendo necessário assegurar a futura aplicação da

lei penal e a ordem pública administrativa e econômica.

Frise-se, podem os réus, ainda, evadirem-se do país, já que

dispõem de grandes recursos financeiros.

De acordo com o professor Eduardo Frederico

Andrade de Carvalho, em sua obra “Direito Tributário”:

“a prática reiterada e permanente de crimes de

colarinho branco - no caso, sonegação fiscal -

com grave repercussão financeira negativa ao

erário, representa uma ameaça permanente à

ordem pública, representando uma periculosidade

silenciosa, maligna, amorfa e sub-reptícia

alarmante que merece, por parte do Judiciário,

uma enérgica e corajosa tomada de atitude para

coibir, quando chamado a atuar dentro do devido

processo legal, a prática desses delitos

causadores da falência da Nação. Esse objetivo

pertinaz de lesar os cofres públicos atenta,

sem sombra de dúvida, contra os princípios

básicos da Constituição Federal, contra os

direitos e garantias fundamentais, contra os

direitos sociais e até da organização dos

poderes do Estado.” 1

Sendo assim, não devemos entender os

tributos apenas como mero interesse fazendário, posto que,

o verdadeiro prejudicado é a população brasileira, mais

1 Citado por EISELE, Andreas. Crimes Contra a Ordem Tributária. São Paulo: Dialética, 2002, p.267.

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especificadamente, no presente caso, o povo baiano, haja

vista que com a sonegação de R$40.588.848,69 (quarenta

milhões, quinhentos e oitenta e oito mil, oitocentos e

quarenta e oito reais e sessenta e nove centavos) deixa o

Estado de desenvolver políticas públicas e de atender o

interesse público primário, prejudicando a execução de

serviços públicos essenciais e inviabilizando a fruição dos

direitos individuais e fundamentais dos cidadãos baianos.

A Jurisprudência do STJ é nesse sentido,

como revelam as seguintes ementas:

“HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO. LAVAGEM DE DINHEIRO. QUADRILHA. OPERAÇÃO "FAROL DA COLINA". MAGNITUDE DA LESÃO. AUTORIA E INDÍCIOS DEMONSTRADOS. PRETENSÃO DE REVOGAÇÃO. REQUISITOS DA CUSTÓDIA ATENDIDOS. PROTEÇÃO DA ORDEM PÚBLICA E ECONÔMICA E DA INSTRUÇÃO. A prisão se mostra justificada quando o julgador demonstra os indícios e a autoria, bem assim, a necessidade de proteção da ordem pública e econômica, tendo em vista a magnitude da lesão ao sistema financeiro. O temor relativo à fuga deve receber, em certos casos que envolvem pessoas de considerável poder econômico, influência não só da ação direta do acusado, mas da experiência de outros casos e, principalmente, das dificuldades presentes em se fazer cumprir uma ordem de prisão em situações de grande vulto. Ordem denegada.”2 (grifos nossos). “HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. QUADRILHA. PRISÃO PREVENTIVA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA.INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. Uma vez demonstrada a necessidade da prisão, atendendo-se aos termos do art. 312 do Código de Processo Penal, não se vislumbra ilegalidade na decisão que indefere o pedido de revogação da custódia cautelar. O fato de o crime pressupor a aplicação de pena sujeita a regime aberto, por si só, não confere à constrição ares de ilegalidade, já

2 HC 40818/RJ, Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, data do julgamento: 17/03/2005, DJ 11.04.2005 p. 350.

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que presentes os requisitos da conveniência da instrução e da aplicação da lei penal. Ordem denegada.” 3

“HABEAS CORPUS. ART. 159, § 1º, C/C ART. 29, CAPUT,E ART. 157, § 2º, I E II, C/C O ART. 29, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. I - Tendo restado evidenciadas as circunstâncias concretas ensejadoras da prisão preventiva do paciente, na sua periculosidade, concretamente demonstrada através do modus operandi que o delito atribuído a esta foi perpetrado, bem como para se evitar a prática de novos delitos, já que o paciente, foragido, além de figurar como procurado, ostenta condenação em crime de quadrilha, resta suficientemente demonstrada a necessidade da manutenção de sua custódia cautelar, com base na garantia da ordem pública. (Precedentes.) II - Condições pessoais favoráveis não têm o condão de por si só, ensejar a revogação da liberdade provisória, se há outros fundamentos nos autos que recomendam a manutenção da custódia cautelar. (Precedentes). Ordem denegada” 4 .

Trata-se de uma organização criminosa,

atuante na Região Oeste deste Estado, cometendo, em caráter

permanente, os crimes de quadrilha ou bando, sonegação

fiscal, falsificação de documentos e fraude eletrônica

contra a ordem administrativa tributária.

Notícia crime proveniente do Banco do

Brasil, juntada aos autos às fls. 953/959 do IP 172/2009,

relata que crackers utilizaram programas espiões para

furtar credenciais de acesso as contas de clientes do

banco, mediante violação dos canais de auto atendimento.

Com o acesso as contas dos clientes, os crackers

realizaram transações fraudulentas, tais como

transferências bancárias, pagamento de boletos, quitação

3 HC 38550/PR (2004/0136944-0). DJ: 06/12/2004, pg. 352. Relator: Min. José Arnaldo da Fonseca. Data da Decisão: 09/11/2004. Quinta Turma, in stj.gov.br . 4 HC 37343/ SP (2004/0108767-6). DJ : 06/12/2004, pg 348. Relator: Min. Félix Fisher. Data da decisão: 16/11/2004. Quinta Turma, in stj.gov.br.

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de tributos e emissão de DOC/TED, o que configura a

fraude eletrônica. Dentre as ocorrências identificadas

pelo banco, foram realizados pagamentos de

responsabilidade da empresa Agronorte Agroindustrial

Ltda. Na referida empresa consta, atualmente, em seu

quadro societário Carlos de Mello, já falecido, e,

durante o período verificado pelo banco, o denunciado

Marcos Veloso. Cabe destacar ainda, que Marcos Veloso

possui uma procuração outorgada por Carlos de Mello

conferindo-lhe amplos poderes de gerência, conforme fl.

161 dos auto do processo 0000816-18.2011.805.0022.

Parte das ações criminosas ocorre no

ciberespaço, revelando a nova faceta da micro e da

macrocriminalidade hodierna, o que nos conduz a um

repensar dos institutos penais, que necessitam se adequar

a essa modalidade.

Relatório de inteligência da SEFAZ, às

fls. 933/940, relata que informações passadas por

clientes do banco dão conta que os denunciados captam

pessoas para comprar produção de soja de forma mais

barata, pagando os impostos dessa compra com origem na

fraude aplicada a clientes do banco, na condição de

intermediários.

O poderio econômico dos denunciados

facilita a continuidade da prática delitiva sem peias,

vulnerando a ordem pública tributária, bem como atingindo

a própria ordem econômica em geral, por afetar a

concorrência, haja vista que, com a sonegação fiscal,

podem os denunciados praticar preços comerciais menores

que seus concorrentes. É uma concorrência desleal,

vulneradora da ordem econômica, posto que ofende os

dispositivos constitucionais que a protegem.

Com a utilização generalizada da

informática nas organizações públicas e privadas, o crime

sofisticou-se, exigindo uma estrutura empresarial, com

divisão de tarefas.

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Essas características estão presentes nos

crimes tributários cometidos contra a Fazenda Estadual,

causando danos elevados à coisa pública.

Ora, essa organização criminosa tem a

suspeita de participação de agentes públicos na realização

das infrações penais e na proteção dos criminosos. Somente

esta quadrilha promoveu uma sonegação fiscal superior a 40

(quarenta) milhões de reais, prejudicando, obviamente, os

serviços públicos essenciais, haja vista que aquilo que foi

sonegado por essa quadrilha, faltará na saúde, na educação,

nas estradas, na segurança e no serviço público em geral.

Este tipo de criminalidade é difusa, porque

não tem uma vítima direta, na maioria das situações,

atingindo, sobretudo, a coletividade como um todo, e

causando enormes prejuízos ao erário, como acentuou MAURO

ZAQUE DE JESUS, in verbis:

“Nesse diapasão, desnecessário salientar que

o prejuízo financeiro causado por tais organizações criminosas é altíssimo, ressaltando-se, por oportuno, que não obstante serem elevados os danos, estes não são visualizados em um primeiro momento, ou seja, apesar de enormes os danos, permanecem invisíveis por considerável período. Isto em face de que a atuação criminosa, com apoio de pessoas que a deveriam estar combatendo, inexistindo vítimas diretas que sentiriam e acusariam o prejuízo, ocorre em áreas específicas, contando com alto grau de operacionalidade e cobertura necessária para maquiar a atividade criminosa e, quando é descoberta, o prejuízo já se faz monstruoso e a reparação quase sempre impossível.

Exemplos da dificuldade de visualizar os danos causados são os casos de organizações voltadas à sonegação fiscal, de organizações voltadas a lesar a previdência social, onde se desvia muito dinheiro, sem que ninguém perceba, e quando se descobre o prejuízo é enorme. E, diga-se, prejuízo não somente financeiro, mas também decorrente do desgaste institucional, da desconfiança e descrédito da sociedade nos órgãos estatais, que deveriam combater tais crimes. Ainda, os crimes fiscais, provocam indisposição geral com relação ao pagamento dos impostos, alegando os empresários ser impossível competir com a concorrência que sonega, atribuindo-lhes, como se direito adquirido, a faculdade de também sonegar e

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aderir à ação de organizações criminosas formadas por fiscais.”5

A ordem pública está sendo violada, assim,

por essa organização criminosa. A doutrina e a

jurisprudência entendem que havendo ofensa às normas

jurídicas, haverá ofensa à ordem pública. A lição de

TOURINHO FILHO bem ilustra tal doutrina, in verbis:

“(...). Ordem pública é a paz, a tranqüilidade no meio social. Assim, se o indiciado ou réu estiver cometendo novas infrações penais, ou se ele já vinha cometendo outras, sem que a Polícia lograsse prende-lo em flagrante; se estiver fazendo apologia do crime, ou incitando ao crime, ou se reunindo em quadrilha ou bando, haverá perturbação da ordem pública. (...)6. (grifos nossos).

Esse entendimento também do STJ, in verbis: “HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. LAVAGEM DE DINHEIRO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA. PRISÃO PREVENTIVA. DECRETO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO. ART. 312 DO CPP. Tendo o decreto de custódia cautelar se fundado em indícios suficientes de autoria e prova da existência do delito, a que se acresce a necessidade de manter-se a ordem pública, descogita-se, no caso, de constrangimento ilegal. Primariedade, bons antecedentes e ocupação lícita. Circunstâncias que, isoladamente, não inviabilizam a custódia preventiva, quando fundada nos requisitos do artigo 312 do CPP. Ordem denegada.” 7 (grifos nossos).

Muito oportuno o apanhado da doutrina e da

jurisprudência feito pelo Ministro FELIX FISCHER, no Habeas

Corpus nº 7343, nos seguintes termos:

Convém destacar, ainda, que a segregação ainda teve como objetivo impossibilitar ao acusado a prática de novos delitos, inclusive constando

5 6 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL COMENTADO, Saraiva, 2001, 6ª edição, p. 577. 7 HC 37307/MG (2004/0107966-3). DJ : 25/10/2004, pg. 373. Relator Min. José Arnaldo da Fonseca. Data da Decisão: 28/09/2004. Quinta Turma, in stj.gov.br.

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que o paciente também figurava como procurado, ostentando condenação por quadrilha. Destarte, é bem de ver, como diz J. L. da Gama Malcher (in "Manual de Processo Penal", 2ª ed., Freitas Bastos Editora, págs. 120⁄121), que a prisão cautelar "é medida destinada a sempre assegurar uma de suas finalidades, pois tem um destino certo, determinado por Lei: visa garantir a ordem pública quando, diante de um acusado perigoso, serve para evitar a prática de novos crimes, ou então quando a ordem pública esteja ameaçada pelo próprio fato, em virtude de medidas que devam ser tomadas no curso da própria investigação ou de garantias do processo; a conveniência de instrução criminal é considerada na prisão preventiva evitando-se que a colheita de provas seja perturbada, ameaçada, desvirtuada pelo acusado; e finalmente, visa a prisão provisória assegurar a aplicação da lei penal, mantendo o acusado no distrito da culpa, evitando sua fuga e a posterior frustração da pena a ser aplicada." (grifei). Doutrina Basileu Garcia in "Comentários ao Código de Processo Penal" (Forense, vol. III, págs. 169⁄170) que "para a garantia da ordem pública, visará o magistrado, ao decretar a prisão preventiva, evitar que o delinqüente volte a cometer delitos, ou porque é acentuadamente propenso à práticas delituosas, ou porque, em liberdade encontraria os mesmos estímulos relacionados com a infração cometida. Trata-se, por vezes, de criminosos habituais, indivíduos cuja vida é uma sucessão interminável de ofensas à lei penal: contumazes assaltantes da propriedade, por exemplo. Quando outros motivos não ocorressem, o intuito de impedir novas violações determinaria a providência". Segundo Paulo Rangel in "Direito Processual Penal" (7ª Edição, Ed. Lumen Juris, Rio de Janeiro, p. 616), "por ordem pública, deve-se entender a paz e a tranqüilidade social, que deve existir no seio da comunidade, com todas as pessoas vivendo em perfeita harmonia, sem que haja qualquer comportamento divorciado do modus vivendi em sociedade. Assim, se o indiciado ou o acusado em liberdade continuar a praticar ilícitos penais, haverá pertubação da ordem pública, e a medida extrema é necessária se estiverem presentes os demais requisitos legais". Assim também é o entendimento de Fernando Capez: “Garantia da ordem pública: a prisão cautelar é decretada com a finalidade de impedir que o agente, solto, continue a delinqüir, ou de acautelar o meio social, garantindo a

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credibilidade da justiça, em crimes que provoquem grande clamor popular. No primeiro caso, há evidente perigo social decorrente da demora em se aguardar o provimento definitivo, porque até o trânsito em julgado da decisão condenatória o sujeito já terá cometido inúmeros delitos. Os maus antecedentes ou a reincidência são circunstâncias que evidenciam a provável prática de novos delitos, e, portanto, autorizam a decretação da prisão preventiva com base nessa hipótese" (in Curso de Processo Penal, 7ª Edição, Revista e Ampliada, Editora Saraiva, São Paulo, 2001, p. 234). Nesse sentido destaco os seguintes precedentes proferidos por esta Corte Superior de Justiça: "CRIMINAL. HC. ROUBO DE GADO. FORMAÇÃO DE QUADRILHA. RECEPTAÇÃO DE FURTO. PRISÃO PREVENTIVA. DECRETO FUNDAMENTADO. NECESSIDADE DA CUSTÓDIA DEMONSTRADA. RÉU FORAGIDO GARANTIA À APLICAÇÃO DA LEI PENAL. REITERAÇÃO DELITUOSA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA. ORDEM DENEGADA.

I. Não se vislumbra ilegalidade na decisão que decretou a custódia cautelar dos pacientes, se demonstrada a necessidade das prisões, atendendo-se aos termos do art. 312 do CPP e da jurisprudência dominante.

II. A evasão do réu pode ser suficiente para motivar a segregação provisória a fim de garantir a aplicação da lei penal. Precedente.

III. A reiteração delituosa do agente pode motivar a segregação cautelar para garantia da ordem pública. Precedente.

IV. Condições pessoais favoráveis não são garantidoras de eventual direito à liberdade provisória, se a manutenção da custódia é recomendada por outros elementos dos autos.

Ordem denegada". (HC 29268⁄PA, 5ª Turma, rel. Min. Gilson Dipp, DJ de 28⁄10⁄2003). "PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. I – Relaxada a prisão em flagrante, não há óbice a que se mantenha preso o réu, desta feita por força de decreto de prisão preventiva adequadamente motivado. II – A decisão que motiva a medida constritiva para garantia da ordem pública e

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aplicação da lei penal, considerando a real possibilidade da prática de novos delitos, mostra-se devidamente fundamentada. (Precedentes.) Ordem denegada". (HC 20784⁄SC, 5ª Turma, DJU de 03⁄06⁄2002). "PROCESSUAL PENAL – HOMICÍDIO QUALIFICADO – AUSÊNCIA DE PROVAS DE AUTORIA – EXAME DE PROVAS - INVIABILIDADE – PRISÃO PREVENTIVA – NECESSIDADE . - A via estreita do writ não comporta o exame de alegações concernentes à ausência de provas de autoria do delito, em razão de demandarem a profunda análise probatória. - Por outro lado, no que tange à sustentada ausência de fundamentação do decreto de prisão preventiva, observo que, ao contrário do alegado pelo recorrente, o decisum encontra-se fundamentado. O magistrado local lastreou-se em circunstâncias concretas e suficientes para a manutenção do paciente sob custódia. A materialidade e indícios de autoria restaram comprovados. Além disso, salientou o decisum a necessidade da medida constritiva para que fosse evitada eventual fuga e preservada a conveniência da instrução criminal e garantia da ordem pública, já que o acusado além de coagir testemunhas, prosseguiu na reiteração de crimes de mesma natureza. - Recurso desprovido." (RHC 11768⁄MS, 5ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU de 02⁄09⁄2002). "HABEAS CORPUS. ROUBO DUPLAMENTE QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA PELO TRIBUNAL A QUO EM SEDE DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PERICULOSIDADE CONCRETA DO RÉU. Prisão preventiva que está devidamente fundamentada, tendo em vista a gravidade do delito, a forma como o mesmo foi perpetrado (grave ameaça, uso de arma de fogo) e o fato de o paciente responder a outro feito de mesma natureza, de forma a resguardar a ordem pública e prevenir a prática de novos delitos. Ordem denegada". (HC 31361⁄SP, 5ª Turma, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJU de 02⁄09⁄2002). "PROCESSO PENAL – NEGATIVA DE AUTORIA - INVIABILIDADE DE APRECIAÇÃO - RECEPTAÇÃO – PRISÃO PREVENTIVA – NECESSIDADE. - A via estreita do habeas corpus não comporta o amplo exame de provas. Assim sendo, torna-se inviável eventual discussão acerca da autoria do delito - De outro lado, se a segregação cautelar, preenchendo os requisitos legais, apresenta

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convincente fundamentação, não há que se falar em constrangimento ilegal, mormente quando o paciente, processado por crime de receptação, ao obter sua liberdade provisória, comete novos delitos de mesma natureza. - Ordem denegada." (HC 15209⁄SP, 5ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU de 26⁄08⁄2002). "HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. INÉPCIA. EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA. PRISÃO PREVENTIVA. FORMA DE IMPEDIR A PRÁTICA DE NOVOS CRIMES. 1. Não se apresenta como inepta denúncia que, dadas as circunstâncias da prática criminosa, não particulariza detalhadamente a efetiva e concreta atuação de cada um dos participantes, sem, contudo, impedir o livre e amplo exercício do direito de defesa, respeitados, por outro lado, os ditames do art. 41 do Código de Processo Penal. 2. Subsiste decreto de prisão preventiva lançado como garantia o impedimento da prática de novos delitos, haja vista responderem os pacientes a outros processos criminais. 3. Ordem denegada". (HC 15196⁄AL, 6ª Turma, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU de 06⁄05⁄2002). "HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. REITERAÇÃO DELITUOSA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. CRIME EQUIPARADO A HEDIONDO. INSUSCETIBILIDADE DE LIBERDADE PROVISÓRIA. NULIDADE DE AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA DEFENSORA PARA AUDIÊNCIA. DESIGNAÇÃO DE DEFENSORA DATIVA. INDEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO. EXCESSO DE PRAZO. ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO. 1. Fundamentado à saciedade o decreto de prisão preventiva (artigo 312 do Código de Processo Penal), sobretudo na garantia da ordem pública, que se encontra em sobressalto em face da reiteração delituosa do agente, não há falar em sua revogação. 2. É de se manter o decreto segregatório na hipótese de a ré ser pessoa propensa às práticas delituosas de natureza gravíssima, já tendo, inclusive, condenação por outro delito de tráfico. 3. Para que produza nulidade da ação penal, a colidência de defesas deve ser considerada não apenas formalmente, mas, sobretudo, materialmente, requisitando, por conseguinte, tal apreciação, o reexame de todo o conjunto da prova, incompatível com a via angusta do habeas corpus. 4. "Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento por

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excesso de prazo." (Súmula do STJ, Enunciado nº 52). 5. Habeas corpus denegado". (HC 16004⁄CE, 6ª Turma, rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ de 29⁄10⁄2001). Registre-se, ainda, que o paciente encontra-se foragido. Nestas circunstâncias, a jurisprudência desta Corte, bem como a do Pretório E, é consagrada no sentido de que a fuga é motivo suficiente para embasar a custódia cautelar. Por fim, cumpre ressalvar que circunstâncias pessoais favoráveis, tais como bons antecedentes, endereço fixo e certo, emprego lícito, dentre outros, não têm o condão de por si só, garantir às recorrentes a liberdade provisória, se restam evidenciados nos autos outros fatores que recomendam a manutenção da custódia cautelar. Nesse sentido: RHC 10.556⁄SP, 5ª Turma, Relator Min. Gilson Dipp, DJU de 23⁄04⁄2001; RHC 10.304⁄PR, 5ª Turma, Relator Min. Edson Vidigal, DJU de 05⁄03⁄2001; RHC 10.121⁄SP, 5ª Turma, Relator Min. José Arnaldo da Fonseca, DJU de 05⁄03⁄2001; HC 12.640⁄MT, 5ª Turma, do qual fui relator, DJU de 14⁄08⁄2000; RHC 10.657⁄PB, 6ª Turma, Relator Min. Hamilton Carvalhido, DJU de 19⁄02⁄2001.”

A Jurisprudência do STF também segue esse

posicionamento, conforme ementas abaixo colacionadas:

“HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL. POSSIBILIDADE CONCRETA DE FUGA DA PACIENTE. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PERICULOSIDADE. RISCO DE REITERAÇÃO DELITIVA. DECRETO DE PRISÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. No que se refere à garantia da aplicação da lei penal, deve-se levar em conta que a paciente é acusada de integrar quadrilha de tráfico internacional de órgãos cujo líder é de nacionalidade israelense, com ligações também com a África do Sul. Tais circunstâncias indicam a grande probabilidade de evasão da paciente, caso posta em liberdade. A garantia da ordem pública, por sua vez, visa, entre outras coisas, a evitar a reiteração delitiva, assim resguardando a sociedade de maiores danos. Sendo a paciente, segundo afirma a acusação, um dos principais membros da quadrilha, teme-se que, em liberdade, continue a comandar esse esquema criminoso, restabelecendo o elo com os integrantes que se encontram em outros países ou foragidos.

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Ao contrário do que se alega na petição inicial, existem nos autos elementos concretos, e não meras conjecturas, que apontam a paciente como importante integrante da organização criminosa em comento. Mais ainda, a periculosidade dela e o risco de reiteração criminosa e de evasão do distrito da culpa são suficientes para a manutenção da segregação cautelar. Ordem denegada.” 8

“HABEAS-CORPUS. AUSÊNCIA DE AUTORIA. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS. NÃO-CONFIGURAÇÃO DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. Crimes de receptação qualificada, adulteração de sinal identificador de veículo automotor e formação de quadrilha. Pretensão de que fosse reconhecida a ausência de autoria, por ter o paciente, antes dos fatos delituosos, arrendado o estabelecimento comercial onde se deu o flagrante. Inviabilidade do writ para o reexame de provas. 2. Prisão preventiva. Decreto que se encontra suficientemente fundamentado na garantia da ordem pública, por ser o acusado dono de outros "desmanches", havendo, inclusive, receio de que se permanecesse solto continuaria a delinqüir. Ordem denegada.” 9

Visando, então, a garantia da ordem pública

econômica e a futura aplicação da lei penal, em razão da

existência de grupo criminoso organizado (quadrilha) e dos

crimes contra a ordem administrativa tributária, deve ser

decretada a prisão cautelar dos denunciados, com fundamento

nos arts. 311 e seguintes do CPP.

Isto posto, requer o Ministério Público a

decretação da prisão preventiva de Marcos dos Santos

Veloso, Thiago Felipe Alves Veloso, Jailton Florzindo dos

Santos, por ter respaldo no CPP, art. 312 e seguintes.

É a promoção.

Salvador, Bahia, 21 de novembro de 2013.

8 HC 84658/PE. DJ : 03/06/2005, pg.00048. Relator Min.Joaquim Barbosa. Data da Decisão: 15/02/2005. Segunda Turma, in stf.gov.br. 9 HC 82684/SP. DJ : 01/08/2003, pg.00141. Relator Min.Maurício Côrrea. Data da Decisão: 29/04/2003. Segunda Turma, in stf.gov.br.

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Luís Alberto Vasconcelos Pereira Promotor de Justiça/GAESF

Vanezza de Oliveira Bastos Rossi Promotora de Justiça/GAESF

Manoel da Costa Filho Promotor de Justiça

Márcio do Carmo Guedes Promotor de Justiça

Pedro Maia Souza Marques Promotor de Justiça - Coordenador do GAESF

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