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DANIEL NAZARENO DE ANDRADE A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA COMO MEIO DE PROVA NO ÂMBITO DA POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ, SEUS PARADIGMAS LEGAIS E ESTRUTURAIS E OS DESAFIOS DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO CURITIBA 2014

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DANIEL NAZARENO DE ANDRADE

A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA COMO MEIO DE PROVA NO ÂMBITO DA POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ, SEUS PARADIGMAS LEGAIS E ESTRUTURAIS E OS DESAFIOS DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO

CURITIBA 2014

DANIEL NAZARENO DE ANDRADE

A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA COMO MEIO DE PROVA NO ÂMBITO DA POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ, SEUS PARADIGMAS LEGAIS E ESTRUTURAIS E OS DESAFIOS DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO

Artigo científico apresentado à disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica como requisito parcial para a conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu – Especialização em Direito Militar Contemporâneo do Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná.

Orientador: Prof. Esp. João Carlos Toledo Junior.

CURITIBA 2014

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A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA COMO MEIO DE PROVA NO ÂMBITO DA POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ, SEUS PARADIGMAS LEGAIS E ESTRUTURAIS

E OS DESAFIOS DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO

Daniel Nazareno de Andrade1

RESUMO

A interceptação telefônica tem sido muito usada nas investigações atuais, com isso, cogita-se o uso dessa ferramenta perante à justiça militar estadual, o que apresenta muitos conflitos e dúvidas quanto à sua aplicação, tendo em vista que a Lei 9.296/96 não prevê expressamente o seu uso na justiça castrense. Outro ponto importante também são os requisitos legais e doutrinários, além das dúvidas práticas quanto à formulação do pedido ao judiciário, especialmente em casos de transgressão disciplinar e a impossibilidade de utilização de interceptação telefônica para esse tipo de investigação. Por último, levantam-se dados importantes que podem ser conseguidos em conjunto com os pedidos de interceptação telefônica, podendo inclusive localizar o aparelho e cruzar informações importantes para a investigação.

Palavras-chave: Interceptação telefônica. Direito Militar. Transgressão disciplinar. Intimidade.

1 Terceiro Sargento da Polícia Militar do Paraná, Bacharel em Direito pelas Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil, 2005-2009. Especialista em Gestão Pública pela UFPR, 2012-2014.

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TRAPPING TELEPHONE AS EVIDENCE MEDIA UNDER THE MILITARY POLICE OF PARANA, ITS PARADIGMS LEGAL AND STRUCTURAL AND JUDICIAL

POLICE MILITARY CHALLENGES FOR ITS IMPLEMENTATION

ABSTRACT

The phone tapping has been widely used in the current investigation, with so if considering using this tool in the state military justice system, which features many conflicts and doubts about its appropriateness, given that the Law 9,296 / 96 does not expressly provide your application. Another important point also are the legal and doctrinal requirements, in addition to practical questions regarding the completion of the application to the judiciary, especially in cases of disciplinary transgression and the impossibility of use of telephone interception for such research. Finally, get up important data that can be achieved together with the applications for telephone interception, and may even find your phone and cross important information for research.

Key-words: Telephone interception. Military Law. Disciplinary transgression. intimacy.

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SUMÁRIO

1  INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 6 2  FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 9 

2.1  REQUISITOS LEGAIS E DOUTRINÁRIOS ................................................... 9 2.2  CABIMENTO DO PEDIDO DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA NA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL ............................................................................. 11 2.3  PEDIDO AO JUDICIÁRIO ............................................................................ 16 2.4  ALGO ALÉM DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA .................................... 21 

3  METODOLOGIA ................................................................................................. 25 4  CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 27 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 28 

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1 INTRODUÇÃO

A intimidade e a vida pessoal, e muitas vezes secreta das pessoas, são

temas de muitas discussões, chegando ao ponto de serem questionadas até que

limite essa intimidade pode interferir na vida da sociedade em geral, tal ponderação

entre os direitos à privacidade, intimidade e o direito à segurança e liberdade de

imprensa sempre são temas atuais.

É perceptível a sensação de insegurança e a total falta de resposta

adequada do Estado para garantir a paz social, muitas críticas e apontamentos são

dirigidos à polícia como única causadora da falta de segurança, em especial, à

Policia Militar são apontados os principais motivos de tanta insegurança, entretanto,

a criminalidade está cada vez maior e a legislação brasileira não dá conta dos

desafios criados pela falta de segurança, e a principal causadora de todos os

problemas ainda continua sendo apontada pela imprensa e diversos estudiosos e

entendidos de segurança pública como a PM. Portanto, é interessante apontar que a

PM é responsável pela manutenção da ordem pública e pelo policiamento preventivo

e ostensivo, não cabendo a ela a investigação de crimes e muito menos o

julgamento, custódia e ressocialização de presos, estes que na maioria das vezes

retornam para a sociedade em condições piores das que quando entraram no

sistema carcerário.

Ainda no tema sobre a PM e sua responsabilidade quanto à segurança

pública, essa responsabilidade passa a ser, além do seu papel constitucional de

manutenção da ordem pública e patrulhamento preventivo e ostensivo, de repressão

imediata da criminalidade que se dá quando o crime está acontecendo, mas não se

pode imputar a uma Instituição apenas todos os problemas de uma nação. São

diversos os pontos a serem questionados, tais como legislação inadequada e

atrasada, deficiência na ressocialização de detentos, má distribuição de renda,

cultura popular de vida desregrada e inversão de valores, comportamento violento

de uma sociedade que costuma resolver seus conflitos usando como primeira opção

a violência, justiça lenta e de alto custo que afasta o cidadão comum da prestação

jurisdicional não relacionada ao crime, excesso de consumismo, entre diversos

outros temas ligados à segurança pública que não dizem respeito à Polícia Militar

que é tratada como único algoz da paz social.

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Não é correto então apontar essa instituição centenária como única culpada

pelos problemas com a paz social, mas é justo aceitar a parcela que cabe a ela, em

seus pontos de maior vulnerabilidade, seus integrantes, deles é possível esperar

condutas ilibadas e escorreitas, quando isso não acontece é perceptível o choque

com os valores morais e éticos que são quebrados imediatamente. É ainda mais

gritante quando essas condutas chegam à sociedade de uma forma ampla e latente,

despojando toda uma Corporação de seus pilares maiores, trazendo à baila os seus

problemas e suas barreiras para manter a ordem e a paz social, com isso, a

autonomia de diretores em conduzirem investigações para manter os corretos em

suas fileiras e extirpar os que escolhem os caminhos tortuosos do mundo do crime,

é muito abrangente, todavia, quando se deparam com direitos e garantias

fundamentais, sendo, conforme Lenza (2011), os direitos prescritos em lei, enquanto

as garantias são as ferramentas para se consertar os direitos violados, essa

autonomia enfrenta desafios.

Tem-se uma verdadeira barreira ao se deparar com alguns diretos e

garantias fundamentais quando se está investigando o comportamento

possivelmente criminoso de um indivíduo, e mesmo sendo o suspeito militar, no

trabalho em tela, mais especificamente estadual, seus direitos e garantias

permanecem, portanto, o direito à intimidade previsto na Constituição Federal em

seu art. 5º inciso X, sendo ele: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra

e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou

moral decorrente de sua violação”, e das comunicações, como se prevê o inciso XII

do mesmo artigo da Carta Magna:

“é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. (BRASIL, 1988)

Esses direitos fundamentais são instrumentos que mantém a privacidade

dos indivíduos, mas não podem eles serem usados como cobertura intransponível

para o cometimento de crimes que colocam a sociedade em perigo, então, é o caso

de ponderação de direitos e garantias fundamentais que está em jogo. Quando

esses direitos e garantias podem ser colocados de lado a fim de se prestar

segurança pública adequada ao cidadão de bem que espera do Estado tal serviço?

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Buscando essa ponderação e quais as ferramentas corretas para uma

obtenção da prestação jurisdicional e a superação dos melindres existentes entre o

que se pedir e como pedir é que este estudo pretende indicar apontamentos,

caminhos e temas relevantes ao profissional de segurança pública atuante como

autoridade policial militar delegada. Trata-se de um estudo exploratório realizado por

um levantamento bibliográfico, sendo trazidos como espeque também, a prática

profissional e a pesquisa em jurisprudências dominantes sobre o tema pesquisado,

com a singela pretensão de aprofundamento no assunto que é de tão importância e

relevância nos dias atuais, pois qual pessoa, profissional de segurança pública ou

não, que não possui um aparelho de telefone celular?

Toda e qualquer investigação de grande peso nos dias atuais acaba tendo

grande importância a interceptação telefônica, pois, mesmo sabendo que podem

estar sendo monitorados, criminosos tendem a relaxarem com o tempo e acabam

entregando situações preciosas para eles, que no final das contas ajudam a

desmantelar toda a organização criminosa.

Hoje em dia, é muito comum que grande parte das investigações seja levada a efeito através da chamada interceptação de comunicações telefônicas. A necessidade de se comunicar leva o criminoso a contar fatos que, de uma forma ou de outra, ajudarão nas conclusões das investigações, pois, como diz o ditado popular, o “peixe morre pela boca”.(GRECO, 2012, p. 73)

Na investigação, quando está atrelada a crime militar, pode ser conduzida a

interceptação telefônica pela polícia militar, quando for o caso de crime comum será

incompetente o juízo da Justiça Militar Estadual para deferir a interceptação

telefônica de civil ou mesmo sendo militar estadual, cabendo neste caso à polícia

civil a investigação e consequente monitoramento telefônico, como ressalta

Andreucci (2011).

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 REQUISITOS LEGAIS E DOUTRINÁRIOS

O direito à intimidade que tem sua viga constitucional prevista no art. 5º,

inciso X na CF/88, neste sentido não se está ainda se referindo ao sigilo telefônico,

neste ponto sim, está a quebra de sigilo bancário segundo o entendimento de Lenza

(2011). Tendo em vista que o sigilo bancário é albergado por tal inciso, não se pode

simplesmente através de um pedido administrativo solicitar dados bancários, pois

isso afeta diretamente a intimidade das pessoas físicas e jurídicas, já nesse ponto é

necessária a prestação jurisdicional, diferentemente dos dados cadastrais apenas,

que segundo entendimento da jurisprudência dominante pode ser requisitado

diretamente pela autoridade policial às empresas e órgãos que detém tais dados e

ainda é possível a autoridade policial obter os dados diretamente de computadores e

aparelhos celulares e eletrônicos apreendidos como se vê na decisão a seguir:

HABEAS CORPUS. NULIDADES: (1) INÉPCIA DA DENÚNCIA; (2) ILICITUDE DA PROVA PRODUZIDA DURANTE O INQUÉRITO POLICIAL; VIOLAÇÃO DE REGISTROS TELEFÔNICOS DO CORRÉU, EXECUTOR DO CRIME, SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL; (3) ILICITUDE DA PROVA DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS DE CONVERSAS DOS ACUSADOS COM ADVOGADOS, PORQUANTO ESSAS GRAVAÇÕES OFENDERIAM O DISPOSTO NO ART. 7º, II, DA LEI 8.906/96, QUE GARANTE O SIGILO DESSAS CONVERSAS. VÍCIOS NÃO CARACTERIZADOS. ORDEM DENEGADA. 1. Inépcia da denúncia. Improcedência. Preenchimento dos requisitos do art. 41 do CPP. A denúncia narra, de forma pormenorizada, os fatos e as circunstâncias. Pretensas omissões – nomes completos de outras vítimas, relacionadas a fatos que não constituem objeto da imputação –- não importam em prejuízo à defesa. 2. Ilicitude da prova produzida durante o inquérito policial - violação de registros telefônicos de corréu, executor do crime, sem autorização judicial. 2.1 Suposta ilegalidade decorrente do fato de os policiais, após a prisão em flagrante do corréu, terem realizado a análise dos últimos registros telefônicos dos dois aparelhos celulares apreendidos. Não ocorrência. 2.2 Não se confundem comunicação telefônica e registros telefônicos, que recebem, inclusive, proteção jurídica distinta. Não se pode interpretar a cláusula do artigo 5º, XII, da CF, no sentido de proteção aos dados enquanto registro, depósito registral. A proteção constitucional é da comunicação de dados e não dos dados. 2.3 Art. 6º do CPP: dever da

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autoridade policial de proceder à coleta do material comprobatório da prática da infração penal. Ao proceder à pesquisa na agenda eletrônica dos aparelhos devidamente apreendidos, meio material indireto de prova, a autoridade policial, cumprindo o seu mister, buscou, unicamente, colher elementos de informação hábeis a esclarecer a autoria e a materialidade do delito (dessa análise logrou encontrar ligações entre o executor do homicídio e o ora paciente). Verificação que permitiu a orientação inicial da linha investigatória a ser adotada, bem como possibilitou concluir que os aparelhos seriam relevantes para a investigação. 2.4 À guisa de mera argumentação, mesmo que se pudesse reputar a prova produzida como ilícita e as demais, ilícitas por derivação, nos termos da teoria dos frutos da árvore venenosa (fruit of the poisonous tree), é certo que, ainda assim, melhor sorte não assistiria à defesa. É que, na hipótese, não há que se falar em prova ilícita por derivação. Nos termos da teoria da descoberta inevitável, construída pela Suprema Corte norte-americana no caso Nix x Williams (1984), o curso normal das investigações conduziria a elementos informativos que vinculariam os pacientes ao fato investigado. Bases desse entendimento que parecem ter encontrado guarida no ordenamento jurídico pátrio com o advento da Lei 11.690/2008, que deu nova redação ao art. 157 do CPP, em especial o seu § 2º. 3. Ilicitude da prova das interceptações telefônicas de conversas dos acusados com advogados, ao argumento de que essas gravações ofenderiam o disposto no art. 7º, II, da Lei n. 8.906/96, que garante o sigilo dessas conversas. 3.1 Nos termos do art. 7º, II, da Lei 8.906/94, o Estatuto da Advocacia garante ao advogado a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia. 3.2 Na hipótese, o magistrado de primeiro grau, por reputar necessária a realização da prova, determinou, de forma fundamentada, a interceptação telefônica direcionada às pessoas investigadas, não tendo, em momento algum, ordenado a devassa das linhas telefônicas dos advogados dos pacientes. Mitigação que pode, eventualmente, burlar a proteção jurídica. 3.3 Sucede que, no curso da execução da medida, os diálogos travados entre o paciente e o advogado do corréu acabaram, de maneira automática, interceptados, aliás, como qualquer outra conversa direcionada ao ramal do paciente. Inexistência, no caso, de relação jurídica cliente-advogado. 3.4 Não cabe aos policiais executores da medida proceder a uma espécie de filtragem das escutas interceptadas. A impossibilidade desse filtro atua, inclusive, como verdadeira garantia ao cidadão, porquanto retira da esfera de arbítrio da polícia escolher o que é ou não conveniente ser interceptado e gravado. Valoração, e eventual exclusão, que cabe ao magistrado a quem a prova é dirigida. 4. Ordem denegada. (HC 91867, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 24/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 19-09-2012 PUBLIC 20-09-2012).

Já nos casos em que é necessária a interceptação da comunicação

telefônica e de dados, essa sim, é imprescindível que o pedido seja formulado ao

magistrado competente para o julgamento dos alvos a serem interceptados, em caso

de militar estadual, o magistrado atuante junto à Vara da Auditoria da Justiça Militar

Estadual.

Existem, portanto, várias formas de pedidos a serem apresentados à Vara

da Auditoria da Justiça Militar Estadual, tais como, para obtenção de dados

cadastrais, interceptação telefônica, quebra de sigilo de dados e/ou telefônicos, são

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portanto, informações e solicitações diferentes, e que se faz necessário explicar

cada uma delas, na lição de Andreucci (2011, p. 439):

Interceptação telefônica: pode ser conceituada como sendo a captação de conversas telefônicas por terceiros e ocorre quando, em momento algum, os interlocutores têm ciência da gravação da conversa. Escuta telefônica: ocorre quando um dos interlocutores tem ciência da gravação realizada por terceiro. Gravação telefônica: é realizada por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro. Gravação da conversa por um dos interlocutores: é considerada prova lícita. Neste sentido, STJ: RHT 19136/MG, Rel. Min Felix Fischer, j. 20-03-2007. Interceptação, escuta e gravação ambiental: seguem as mesmas regras da escuta telefônica, sendo entretanto pessoal e não por meio telefônico.

É importante esclarecer que são regidas pela Lei Federal 9.296/96 apenas

as regras para interceptação telefônica, não sendo disciplinada pela Lei citada

portanto, qualquer outra forma de violação das comunicações do investigado, tais

como correspondência, escuta ambiental, etc., visto que a referida Lei trata da parte

final do inciso XII do art. 5º da Constituição Federal, ou seja, apenas interceptação

das comunicações telefônicas, ressalvando que no parágrafo único do art. 1º da Lei

9.696/96, “O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações

em sistemas de informática e telemática”, inovou quando trata do assunto de

comunicação por informática, tendo em vista que a Constituição Federal não aborda

esse tema explicitamente, sendo possível, portanto, a interceptação de

comunicações eletrônicas como e-mail, redes sociais, entre outros muito atuais

como o WhatsApp, porém, este não é o tema debruçado neste artigo, mas muito há

o que se abordar sobre este último, um aplicativo para celular, extremamente usado

nos dias atuais para o bem ou para o mal, será tratada aqui apenas a interceptação

telefônica.

2.2 CABIMENTO DO PEDIDO DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA NA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

Se questiona a aplicação da Lei 9.296/96 na Justiça Militar, seja Federal ou

Estadual, em diversas pesquisas realizadas foi possível encontrar decisões que

indeferiram pedidos de interceptações telefônicas apresentados perante à Justiça

Militar Estadual, principalmente no Estado de Minas Gerais, entretanto, no ano de

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2013 foi editada súmula pelo Tribunal de Justiça Militar naquele Estado que pacifica

a dúvida quanto ao cabimento da Lei 9.296/96 na Justiça Militar Estadual lá, como

segue:

O Pleno do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais, na sessão de 3 de abril de 2013, aprovou, visando a unificação do entendimento acerca da aplicação do instituto de interceptação telefônica no âmbito da Justiça Militar, o seguinte enunciado de súmula: SÚMULA 7 O instituto da interceptação telefônica, previsto na Lei n. 9.296/96, é aplicável no âmbito da Justiça Militar. Referência legislativa: Lei n. 9.296/96 e art. 5º, XII, da Constituição Federal de 1988. Precedente: Incidente de Uniformização de Jurisprudência – Processo n. 0000272-22-2013.9.13.00002

Além disso, após longas buscas por jurisprudências no Superior Tribunal de

Justiça, é possível estabelecer o entendimento de que é competente sim a Justiça

Militar para deferir interceptação telefônica para investigação de crimes militares, e a

decretação de interceptação telefônica por juízo comum, aí sim, invalida a produção

da prova, sendo portanto competente o juízo da Vara da Justiça Militar Estadual

para a o deferimento de pedido de quebra de sigilo telefônico para investigação de

crimes militares como se vê na jurisprudência a seguir:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIMES MILITARES. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA DECRETADA PELA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. INCOMPETÊNCIA. NULIDADE DA PROVA COLHIDA. 1. Somente o juiz natural da causa, a teor do disposto no art. 1.º, Lei n.º 9.296/96, pode, sob segredo de justiça, decretar a interceptação de comunicações telefônicas 2. Na hipótese, a diligência foi deferida pela justiça comum estadual, durante a realização do inquérito policial militar, que apurava a prática de crime propriamente militar (subtração de armas e munições da corporação, conservadas em estabelecimento militar). Deve-se, portanto, em razão da incompetência do juízo, declarar a nulidade da prova ilicitamente colhida. 3. Ordem concedida. (HC 49.179/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 05/09/2006, DJ 30/10/2006, p. 341)

Bem como, se a decretação de interceptação telefônica for dada por juízo

que de início seria competente e no curso das investigações se verificou a sua

incompetência, é perfeitamente possível o declínio da competência para o juízo

2 Notícia veiculada no sítio do Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Disponível em: http://www.tjm.mg.gov.br/noticias-do-tjmmg/3728-publicada-sumula-que-autoriza-a-interceptacao-telefonica-na-jm. Acesso em: 09.12.14.

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adequado, contudo, se for iniciada interceptação telefônica em juízo comum e for

verificada a prática de crime militar, é sim cabível o deslocamento do pedido ao juízo

castrense, como se vê no entendimento ocorrido no caso de crimes comuns

identificados em interceptação telefônica realizada perante à justiça militar em que

há declínio de competência e pode ser aproveitada nas investigações realizadas

pela justiça comum:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA AUTORIZADA PELA JUSTIÇA MILITAR. DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA PARA O JUÍZO ESTADUAL. NÃO-INVALIDAÇÃO DA PROVA COLHIDA. ALEGADA AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA. CIRCUNSTÂNCIA NÃO EVIDENCIADA DE PLANO. TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. Posterior declinação de competência do Juízo Militar para o Juízo Estadual não tem o condão de, por si só, invalidar a prova colhida mediante interceptação telefônica, deferida por Autoridade Judicial competente até então, de maneira fundamentada e em observância às exigência(sic) legais. 2. O trancamento de inquérito policial pela via estreita do habeas corpus é medida de exceção, só admissível quando emerge dos autos, de forma inequívoca e sem a necessidade de valoração probatória, a inocência do acusado, a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade, circunstâncias essas, na hipótese, não evidenciadas. 3. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e desta Corte Superior. 4. Ordem denegada. (HC 148.908/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 14/04/2011, DJe 04/05/2011)

Já em situação inversa, de início se a investigação apontava apenas para

civis, é possível que no curso das interceptações se for identificado policial militar no

cometimento de crimes militares, a justiça comum pode, e deve, se declarar

incompetente e remeter os autos de interceptação telefônica à justiça militar sob o

risco de que os trabalhos sejam perdidos e a interceptação possa ser decretada

nula, como se vê na jurisprudência a seguir:

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO. DESDOBRAMENTO DAS INVESTIGAÇÕES. IDENTIFICAÇÃO, NO CURSO DAS DILIGÊNCIAS, DE POLICIAL MILITAR COMO SUPOSTO AUTOR DO DELITO APURADO. DESLOCAMENTO DA PERSECUÇÃO PARA A JUSTIÇA MILITAR. VALIDADE DA INTERCEPTAÇÃO DEFERIDA PELO JUÍZO ESTADUAL COMUM. ORDEM DENEGADA. 1. Não é ilícita a prova obtida mediante interceptação telefônica autorizada por juízo competente. O posterior reconhecimento da incompetência do juízo que deferiu a diligência não implica, necessariamente, a invalidação da prova legalmente produzida. A não ser que "o motivo da incompetência declarada [fosse] contemporâneo da decisão judicial de que se cuida" (HC nº 81.260, da relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence). 2. Não há por que impedir que

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o resultado das diligências encetadas por autoridade judiciária até então competente seja utilizado para auxiliar nas apurações que se destinam a cumprir um poder-dever que decola diretamente da Constituição Federal (incisos XXXIX, LIII e LIV do art. 5º, inciso I do art. 129 e art. 144 da CF). Isso, é claro, com as ressalvas da jurisprudência do STF quanto aos limites da chamada prova emprestada. 3. Os elementos informativos de uma investigação criminal, ou as provas colhidas no bojo de instrução processual penal, desde que obtidos mediante interceptação telefônica devidamente autorizada por juízo competente, admitem compartilhamento para fins de instruir procedimento criminal ou mesmo procedimento administrativo disciplinar contra os investigados. Possibilidade jurisprudencial que foi ampliada, na segunda questão de ordem no Inquérito nº 2.424 (da relatoria do Ministro Cezar Peluso), para também autorizar o uso dessas mesmas informações contra outros agentes. 4. Habeas corpus denegado. (STF; HC 102.293; RS; 2ª T.; Rel. Min. Ayres Britto; DJE 19/12/2011; p. 58)

Pelas apresentações das jurisprudências, não há o que se falar em

incompetência do juízo castrense estadual para o deferimento de interceptação

telefônica, muito menos da competência da justiça comum estadual para o

deferimento de interceptação telefônica em caso de crimes militares, como visto,

gera nulidade da prova obtida tendo em vista a incompetência do juízo. Desta

Forma, o órgão judicial competente para apreciação de pedido de quebra de sigilo

telefônico no Estado do Paraná para apuração de crimes militares é a Vara da

Justiça Militar Estadual, localizada na Capital Paranaense, para apurar crimes

militares ocorridos, ou a suspeita destes, em todo o Estado do Paraná, sejam

cometidos por Policiais ou Bombeiros Militares, conforme prevê a Constituição

Federal em seus artigos 124 e, mais especificamente, no art. 125, § 4º, como se vê:

Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar. Art.125... § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

Cabendo ainda relembrar o art. 9º do Código Penal Militar, no qual carrega a

competência da Justiça Militar com a definição dos crimes militares em tempo de

paz, ou seja, se a competência da justiça militar estadual é a de julgar policiais e

bombeiros militares, e de forma alguma civis, este artigo do CPM apresenta, como

se verifica, se o crime é militar ou não, para o fim de delimitar a competência do juízo

castrense, como se vê:

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Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996) d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 8.8.1996) III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior. Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011)

Não se enquadrando em um dos incisos ou alíneas do art. 9º do CPPM,

portanto, não há competência da justiça militar para deferir pedido de quebra de

sigilo telefônico de militar estadual apontado como autor do crime, e cabe salientar

ainda que se o crime for comum e praticado por policial militar se houver

necessidade de pedido de quebra de sigilo telefônico, este deverá ser realizado

junto à Justiça Comum.

16

2.3 PEDIDO AO JUDICIÁRIO

Importante ressaltar quais as autoridades competentes para a realização do

pedido de interceptação telefônica ao Poder Judiciário, tendo em vista que a Lei

9.296/96 apresenta que o próprio Juiz, de ofício, pode determinar a interceptação

telefônica, o representante do Ministério Público e a Autoridade Policial podem

requerer esta na investigação criminal e aquela, tanto na investigação criminal

quanto na instrução processual penal, conforme previsão do art. 3º da referida Lei.

Cabe, portanto, para o foco principal que se trata da interceptação telefônica

nos crimes militares, e especificamente, no âmbito da Justiça Militar Estadual, e

focando o Estado do Paraná, se questionar sobre a autoridade policial militar, quem

é e como se dá essa delegação?

Prevista no art. 7º do Código de Processo Penal Militar a Polícia Judiciária

Militar pode ser exercida por oficial que recebe a delegação de autoridade

competente: Art. 7º A polícia judiciária militar é exercida nos têrmos do art. 8º, pelas seguintes autoridades, conforme as respectivas jurisdições: a) pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em todo o território nacional e fora dêle, em relação às fôrças e órgãos que constituem seus Ministérios, bem como a militares que, neste caráter, desempenhem missão oficial, permanente ou transitória, em país estrangeiro; b) pelo chefe do Estado-Maior das Fôrças Armadas, em relação a entidades que, por disposição legal, estejam sob sua jurisdição; c) pelos chefes de Estado-Maior e pelo secretário-geral da Marinha, nos órgãos, fôrças e unidades que lhes são subordinados; d) pelos comandantes de Exército e pelo comandante-chefe da Esquadra, nos órgãos, fôrças e unidades compreendidos no âmbito da respectiva ação de comando; e) pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou Zona Aérea, nos órgãos e unidades dos respectivos territórios; f) pelo secretário do Ministério do Exército e pelo chefe de Gabinete do Ministério da Aeronáutica, nos órgãos e serviços que lhes são subordinados; g) pelos diretores e chefes de órgãos, repartições, estabelecimentos ou serviços previstos nas leis de organização básica da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; h) pelos comandantes de fôrças, unidades ou navios; Delegação do exercício 1º Obedecidas as normas regulamentares de jurisdição, hierarquia e comando, as atribuições enumeradas neste artigo poderão ser delegadas a oficiais da ativa, para fins especificados e por tempo limitado. 2º Em se tratando de delegação para instauração de inquérito policial militar, deverá aquela recair em oficial de pôsto superior ao do indiciado, seja êste oficial da ativa, da reserva, remunerada ou não, ou reformado. 3º Não sendo possível a designação de oficial de pôsto superior ao do indiciado, poderá ser feita a de oficial do mesmo pôsto, desde que mais antigo. 4º Se o indiciado é oficial da reserva ou reformado, não prevalece, para a delegação, a antiguidade de pôsto.

17

Designação de delegado e avocamento de inquérito pelo ministro 5º Se o pôsto e a antiguidade de oficial da ativa excluírem, de modo absoluto, a existência de outro oficial da ativa nas condições do § 3º, caberá ao ministro competente a designação de oficial da reserva de pôsto mais elevado para a instauração do inquérito policial militar; e, se êste estiver iniciado, avocá-lo, para tomar essa providência.

Portanto, a autoridade de Polícia Judiciária Militar delega seu poder ao

Oficial Encarregado do IPM que, por tempo determinado, exerce todas as

prerrogativas daquela autoridade, podendo então este requerer ao juiz de direito

atuante na Vara da Justiça Militar Estadual o pedido de quebra de sigilo de dados e/

ou telefônico, nomenclatura esta usada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

como classe processual com codificação específica, nº 310 da tabela de classes, em

que serão sempre autuados em apartado e em segredo de justiça. É possível

verificar na tabela de classes do CNJ que a aplicação de tal pedido é perfeitamente

cabível na Justiça Militar Estadual, além de outras competências que a própria Lei

9.296/96 não especifica, mas já é rotineira a sua aplicação em diversas

competências e graus de jurisdição, sendo importante apresentar a tabela abaixo

para uma melhor visualização do enquadramento do pedido no Poder Judiciário:

TABELA 1 – Tabela de Classes

Justiça Estadual

1º Grau 2º Grau Juizado Especial Turmas Recursais

Juizado Especial da Fazenda Pública

Turma Estadual de Uniformização

Competência Militar

1º Grau 2º Grau

Justiça Federal

1º Grau 2º Grau Juizado Especial Turmas Recursais

Turma regional de unifor. Turma nacional de unifor. CJF

Justiça da Trabalho

1º Grau 2º Grau TST CSJT

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Justiça Militar da União

1º Grau STM

Justiça Militar Estadual

1º Grau TJM

Justiça Eleitoral

Zonas Eleitorais TRE TSE

Outras Justiças

STF STJ CNJ

Natureza: Cautelar

Norma: Lei 9696/96

Artigo: 1º e SS.

QuebSigSigla:

Polo Ativo:

Requerente

Polo Passivo:

Acusado

Com numeração própria:

Glossário:

Pode ser antes de cadastrar inquérito ou ação penal. É dependente desses processos. Sempre autuado em apartado (art. 8º). Cadastrar como sigiloso Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática.

FONTE: Conselho Nacional de Justiça 3

Antes de se cogitar a possibilidade de se conseguir diversas informações

além do pedido de interceptação telefônica, é importante ressaltar uma das

situações mais recorrentes nos pedidos de quebra de sigilo telefônico apresentados

junta à Vara da Justiça Militar do Paraná, a primeira situação recorrente é quando o

3 Sistema de Gestão de Tabelas Processuais Unificadas, consulta pública de classes. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/sgt/consulta_publica_classes.php. Acesso em 02.12.2014.

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pedido se encaixa em uma das previsões de proibição do art. 2º da Lei 9.296/96,

tendo em vista que essa medida é excepcional e requer uma atenção e esmero da

autoridade de polícia judiciária militar antes de recorrer à medida tão grave, ou seja,

não pode ser a primeira alternativa, sendo importante trazer as proibições legais

para a interceptação telefônica:

Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.

Deste modo, não há possibilidade, de se requerer interceptação telefônica

em caso de transgressão disciplinar, como prevê a proibição do inciso I do art. 2º,

entretanto, é recorrente os pedidos de quebra de sigilo telefônico com intuito de

apurar transgressões à disciplina militar, sendo estes fatalmente rejeitados por

imposição legal.

Outro ponto importante é a falta de demonstração de que não há outra forma

de se produzir a prova que não seja pela interceptação telefônica, quanto a este

quesito normalmente não se enquadram os indeferimentos de pedidos de quebras

de sigilo telefônicos, pois normalmente há um esforço por parte dos Encarregados

de se conseguir a prova de maneira diversa da interceptação telefônica.

Já quanto ao quesito de pena mínima de 2 (dois) anos de reclusão, em

certas investigações é normal que a infração apurada seja punida com detenção em

grau máximo, o que impossibilita o pedido de interceptação telefônica, como é o

caso do crime de difamação, que a pena é de detenção de três meses a um ano, o

que impossibilita legalmente o pedido.

Já outro empecilho legal que se esbarram os pedidos de quebra de sigilo

telefônico é a previsão do parágrafo único do art. 2º da Lei 9.296/96, como se vê

“Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação

objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados,

salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.” Nesse ponto, portanto,

está um enorme gargalo nas requisições apresentadas perante à Vara da Justiça

20

Militar Estadual, em que muitos pedidos são apresentados sem a menor instrução

probatória, sem a comprovação e que há crime a ser investigado e quais os

suspeitos e suas qualificações, o que gera a intimação do requerente para que

proceda melhor instrução do pedido, normalmente com a portaria de instauração do

inquérito policial militar e as inquirições de testemunhas que apontam a prática do

crime investigado e os indícios que levam aos suspeitos.

Normalmente esse pedido de complementação vem do representante do

Ministério Público que, no caso da Vara da Justiça Militar Estadual do Paraná, é

ouvido sempre nos pedidos de quebra de sigilo telefônico, apesar de não ser

obrigatória a manifestação do parquet, se ele for ouvido o prazo de 24 (vinte quatro)

horas para decisão não é alterado, como se vê na manifestação de Fernando Capez

(2008, p. 525): Intervenção do Ministério Público: A Lei não exige a oitiva do Ministério Público antes do deferimento, ou não, da medida cautelar de interceptação telefônica; contudo, nada impede que o órgão ministerial seja ouvido, na medida em que é o titular da ação penal, bem como exerce a função de fiscal da lei. Obviamente que o juiz, ao optar em ouvir o Ministério Público, ainda assim não poderá ultrapassar o prazo máximo de 24 horas para decidir o pedido.

Capez(2008), relembra ainda que o controle da legalidade é realizado pelo

juiz da causa principal, e que o pedido é realizado perante o juízo provisório, mesmo

que fisicamente seja o mesmo juiz, como é o caso da Vara da Justiça Militar

Estadual do Paraná, que atuando como juízo principal fará analise da prova e de

seus requisitos para que seja utilizada sob a ampla defesa e o contraditório, sendo

que estas garantias não são verificadas no momento do requerimento inicial,

obviamente, pois frustraria a obtenção da prova pretendida.

É de grande importância e de indispensável estudo por parte da autoridade

de polícia judiciária militar, tendo em vista que os pedidos de interceptação

telefônica não fazem parte de suas rotinas de trabalho, se atentar para os preceitos

elencados na Resolução nº 59, de 09 de setembro de 2008, do Conselho Nacional

de Justiça, sendo a uniformização dos pedidos de interceptação telefônicas ao

Poder Judiciário o assunto dessa Resolução, que regula o procedimento desde o

pedido inicial ao pedido de prorrogação, com procedimentos de retirada dos autos

do Poder Judiciário e acessos de funcionários ao assunto principal. Um dos pontos

mais importantes é o pedido que não deve ser aberto e sim lacrado com envelope

duplo que só pode ser aberto pelo escrivão ou funcionário designado pelo juiz para o

21

cadastro do pedido, além do pedido de prorrogação das interceptações telefônicas

que devem ser instruídos com CD/DVDs dos autos captados e relatório com

transcrições das principais conversas que serão protocolados da mesma forma que

o pedido inicial e abertos somente por funcionário autorizado ou pelo escrivão.

Lembrando ainda, que a Lei 9.2.96/96 prevê que a autoridade de polícia

judiciária deve apensar aos autos de IPM aos autos de interceptação telefônica

antes do relatório final, conforme ressalta Cabette (2009), há exigência legal que

muitas vezes é descumprida na prática.

2.4 ALGO ALÉM DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

É possível requerer ao juiz competente, junto com o pedido de interceptação

telefônica, que sejam fornecidos dados das ERBs (Estações Rádio Base) nas quais

os terminais de telefonia celular alvos da investigação estão se conectando, essas

ERBs nada mais são do que as chamadas antenas de telefonia celular, que

funcionam como um elo entre o terminal de telefonia celular e as CCCs( Centrais de

Comutação e Controle), e estas fazem a comunicação com outras ERBs e/ou a rede

fixa de telefonia, o que possibilita a comunicação entre telefones celulares e entre

estes e telefones fixos.4

Mas para o que serve saber qual a ERB utilizada pelo alvo? É simples!

Muitas vezes os alvos evitam mencionar seus locais de encontro ou de cometimento

de crimes, com tal acesso é possível saber a localização aproximada da área

coberta pela ERB pela qual foi realizada a ligação telefônica e com isso sanar

eventual dúvida se o alvo estava no local do fato. Ainda é possível estabelecer se há

relações entre pessoas investigadas que afirmam não se conhecer, entre outros

inúmeros usos para tal informação que hoje em dia é primordial nas investigações.

Ferro Junior (2007) alerta sobre a importância de se ter acesso imediato aos

dados cadastrais ERBs, e ao número de série eletrônico (Eletronic Serial Number -

ESN) que cada aparelho de telefonia celular possui, possibilitando assim, a

identificação imediata e possível localização de acusado de estar cometendo crimes,

como os tão conhecidos “saidinha de banco” e “golpe do sequestro”, sendo o

primeiro tipificado atualmente como extorsão qualificada pela restrição da liberdade

e o segundo, que na verdade é um estelionato, pois não há ninguém sequestrado e 4 Mapa de ERBs Brasil (antenas). Disponível em: http://www.telebrasil.org.br/panorama-do-setor/mapa-de-erbs-antenas. Acesso em: 12.12.2014.

22

a vítima é levada ao engano por um interlocutor que simula a voz de um ente

próximo e lhe é exigido dinheiro para que não seja feito algum mal. O autor citado

revela profundo descaso das operadoras de telefonia que não fornecem o acesso

aos dados sem que haja ordem judicial, no entanto, as operadoras de telefonia

alegam que há uma severa invasão na intimidade dos seus clientes se esses dados

ficarem disponíveis, como se vê no caso concreto em que houve pedido de

autoridade policial para que fosse liberado acesso a todos os clientes de uma

operadora de telefonia, com a finalidade de localizar os suspeitos no momento em

que fosse preciso. Seria um sonho para qualquer investigador possuir um poder

desses, que muitas vezes é apresentado em filmes Norte-Americanos como se a

polícia detivesse tal poder instantâneo, o que acaba provocando o ideal de muitos

investigadores e autoridades policiais, como se vê, algo assim já foi tentado no

Estado do Paraná, entretanto, sem sucesso:

HABEAS CORPUS PREVENTIVO. DECISÃO JUDICIAL QUE ORDENA À CONCESSIONÁRIA DE TELEFONIA QUE FRANQUEIE A INVESTIGADORES POLICIAIS - SEM QUALQUER CONTROLE JUDICIAL PRÉVIO - O ACESSO IMEDIATO DE POSICIONAMENTOS DE ESTAÇÕES RÁDIO-BASE (ERB'S), BILHETAGEM E DADOS CADASTRAIS DE TELEFONES FIXOS E CELULARES. ORDEM GENÉRICA QUE ABRANGE, EM TESE, TODOS OS USUÁRIOS DA CONCESSIONÁRIA DE TELEFONIA. ART. 5º, INC. XII DA CF/88. DIREITO DE SIGILO GARANTIDO CONSTITUCIONALMENTE QUE NÃO ALCANÇA APENAS O CONTEÚDO DA LIGAÇÃO TELEFÔNICA, MAS TAMBÉM OS NÚMEROS E IDENTIFICAÇÃO DOS DESTINATÁRIOS, HORÁRIOS DAS CHAMADAS E DURAÇÃO DE CADA UMA DELAS. GARANTIA QUE NÃO É ABSOLUTA MAS QUE, PARA SER AFASTADA, REQUER FUNDAMENTAÇÃO E INDIVIDUALIZAÇÃO DO CIDADÃO CUJO SIGILO FOI AFASTADO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENTE. INTERESSE PROCESSUAL DA PACIENTE EM OBTER A ORDEM, PARA EVITAR EVENTUAL E FUTURA RESPONSABILIZAÇÃO POR CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA, COM EXTENSÃO AOS DEMAIS DESTINATÁRIOS DA MESMA DECISÃO DE INTERCEPTAÇÃO. 1. Há interesse processual de paciente em postular ordem de habeas corpus quando evidenciado o potencial perigo de, na hipótese de não atender de imediato à ordem judicial cuja legalidade questiona, possa ser responsabilizada criminalmente pelo crime de desobediência. 2. O acesso ao posicionamento das ERBs (Estações Rádio Base) permite ao detentor da senha e login concedidos pela concessionária de telefonia identificar a localização geográfica aproximada do usuário do telefone celular. 3. De posse da bilhetagem e dos dados cadastrais, o agente é informado: (a) para quem o usuário telefonou; (b) quem telefonou para o usuário; (c) a data, horário e duração de cada uma destas chamadas. 4. O direito de sigilo não se restringe ao teor das conversas telefônicas mas também aos números para os quais o usuário ligou, os horários e duração das chamadas. 5. O direito de sigilo não é absoluto. A própria Constituição Federal ressalva a possibilidade de ser afastado por ordem judicial para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. O direito de sigilo não deve se prestar ao acobertamento de práticas delituosas que devem ser apuradas

23

pela autoridade competente. Contudo, tal situação, conveniência e necessidade devem ser demonstradas previamente. 6. A regra é a manutenção das garantias constitucionais do cidadão - dentre as quais o direito de sigilo - e o afastamento de tais garantias constitui-se na exceção. Por isso, o afastamento do sigilo de dados deve ser devidamente fundamentado no pronunciamento judicial que o defere. (TJPR - 2ª C.Criminal - HCC - 468639-9 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Lilian Romero - Unânime - - J. 27.03.2008)

Respaldado por ordem judicial, aí sim esses recursos podem ser utilizados,

e juntamente com a interceptação telefônica podem ser ferramentas

importantíssimas para aliar os investigadores no combate diário ao crime que se

torna cada vez mais moderno e dinâmico, que cada dia evolui e essa evolução

normalmente é mais rápida e não tem as barreiras legais e burocráticas que os

agentes da lei têm que enfrentar.

Além das ERBs que são fontes preciosas de informações sobre a localidade

da chamada e posicionamento geográfico do alvo, outro dado importante a ser

lembrado além da interceptação telefônica, é o número de série do aparelho de

telefonia celular, IMEI:

IMEI é a sigla para International Mobile Equipment Identity, que em português significa “Identificação Internacional de Equipamento Móvel”. Em outras palavras, é um número único que identificada(sic) cada aparelho de telefone celular. O número IMEI é normalmente colado em um adesivo no compartimento da bateria. Outra forma de se obter o IMEI é digitar direto no aparelho o código: *#06# (funciona para celulares Nokia e em algumas outras marcas). Com a digitação deste código, não é necessário abrir ou desligar o celular para descobrir o IMEI.5

Para cada aparelho celular no mundo inteiro se tem um número de IMEI

diferente, portanto, esse número é importante para que a autoridade policial possa

pedir, também, a interceptação do número IMEI do celular ao invés de requisitar

apenas a interceptação do SIM CARD (Subscriber Identity Module), conhecidos

como chips, que carregam identificação de usuários e dados do cadastro e número

do terminal telefônico móvel, neste caso, quando a tecnologia usada é a GSM

(ABLESON; COLLINS; SEN, 2012). O pedido de quebra de sigilo telefônico que visa

a interceptação telefônica do IMEI, além do chip do celular, é mais abrangente, pois

a tecnologia GSM permite a troca de um chip para outro aparelho e do mesmo

5 O que é IMEI do celular. Disponível em: http://www.palpitedigital.com/o-que-e-o-imei-do-celular/. Acesso em: 13.12.2014.

24

aparelho para outro chip, até mesmo de outra operadora de telefonia, sendo assim

se for pedido apenas a interceptação do número telefônico, corre-se o risco de se

perder conversas importantes se for usado outro SIM CARD no mesmo aparelho, e

se for pedida apenas a interceptação de um IMEI, corre-se o risco de ser usado

outro aparelho para conversas telefônicas realizadas pelo mesmo chip do alvo em

um terceiro equipamento.

Há também a possibilidade de interceptação de comunicações por rádio,

como o caso da tecnologia usada pela empresa Nextel, no entanto, o foco deste

trabalho está voltado mais para os entraves e digressões jurídicas em torno das

interceptações telefônicas, e o assunto tecnológico, apesar de muito interessante,

tomaria enorme espaço precioso neste, sendo então de suma importância que a

autoridade policial envolvida na investigação de cada caso concreto se atente para a

tecnologia usada e as ferramentas adequadas para o seu enfrentamento.

25

3 METODOLOGIA

Como base para as pesquisas realizadas neste trabalho foi alvo a pesquisa

bibliográfica, que se deu com a leitura e pesquisa em livros de autores renomados

que trazem muita contribuição para o tema, além de teses, dissertações, artigos

científicos e matérias jornalísticas. Alia-se a isso, a experiência prática do autor que

exerce diariamente função cartorária na Secretaria Criminal da Vara da Justiça

Militar Estadual, VAJME, sendo esta a 70ª Vara Criminal do Foro Central da

Comarca de Curitiba-PR, situada na Rua Máximo João Kopp, nº 274, Bairro Santa

Cândida, Curitiba/PR.

Esta pesquisa foi realizada com abordagem qualitativa do assunto, sempre

buscando trazer questões atuais e presentes e os entraves legais e doutrinários

enfrentados pelas autoridades de polícia judiciária militar na apuração de crimes

militares e a ânsia que se tem de solucioná-los, e ainda com temas novos que estão

em pleno desenvolvimento no mundo acadêmico, que, por sinal, enfrentarão muitos

duelos judiciais, tendo em vista que a comunicação é dinâmica e suas formas se

modificam a cada dia.

Portanto, a pesquisa bibliográfica aqui usada pode ser exemplificada

conforme o entendimento de PADUA (2004, p. 55), dizendo que “A pesquisa

bibliográfica é fundamentada nos conhecimentos de biblioteconomia, documentação

e bibliografia; sua finalidade é colocar o pesquisador em contato com o que já se

produziu e registrou a respeito do seu tema de pesquisa.”

26

Para ser realizada uma pesquisa em qualquer área se faz necessária ao

menos inicialmente um levantamento bibliográfico, como no caso em tela, pois os

livros são referências e caminhos que já foram traçados para alcançar objetivos:

Qualquer espécie de pesquisa, em qualquer área, supõe e exige uma pesquisa bibliográfica prévia, quer para o levantamento da situação da questão, quer para fundamentação teórica, ou ainda para justificar os limites e contribuições da própria pesquisa. (RAMPAZZO. 2005, p. 53)

Quanto à natureza da metodologia deste trabalho, buscou-se o

conhecimento científico, sempre tentando se afastar do conhecimento empírico que

tanto vêm à tona, especialmente quando se fala em tecnologia e atualidades em que

o conhecimento é algo virtual e latente que se modifica mais rápido do que a

impressão dos livros, mas o que move o conhecimento é a dúvida, é a conversa e a

curiosidade para solucionar os problemas atuais. O conhecimento científico vem,

como assevera CIRIBELLI (2003, p. 35), da necessidade que o homem tem de

buscar, de investigar, um tema a partir de conhecimentos vulgares.

Não se trouxe neste trabalho um conhecimento quantitativo mais específico,

em virtude da condição de segredo de justiça das interceptações telefônicas, e a

dúvida deste autor em poder ou não apresentar as quantidades de pedidos

formulados à Vara da Justiça Militar, pois são apresentados relatórios mensais sobre

a quantidade das interceptações em andamento, com as quantidades de telefones e

alvos monitorados, entretanto, por imposição da lei esses dados não podem ser

divulgados, por pura análise da legislação federal e da resolução do CNJ que tratam

do tema.

27

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda haverá muito o que se dizer sobre o tema, nessas poucas palavras

não foi possível tratar nem perto da quantidade de digressões possíveis sobre

interceptações telefônicas, vale ressaltar que seria um dos objetivos do autor bater

na tecla de que a Justiça Militar Estadual é competente para julgar pedidos de

interceptações telefônicas que envolvem crimes militares, e um dos objetivos ainda

era a questão dos pedidos formulados constantemente perante à Justiça Militar

Estadual, buscando quebra de sigilo de dados /ou telefônicos para apurar

transgressões disciplinares, e nesses pontos ao menos foi possível realizar pesquisa

em legislação, jurisprudência e doutrina, entretanto, há dúvidas claras sobre a

renovação indefinida de interceptações telefônicas, se é possível que a autoridade

de polícia judiciária militar obtenha dados cadastrais apenas diretamente das

operadoras de telefonia, são temas que ficaram na curiosidade do autor desta

pesquisa mas que ainda estão latentes nas doutrinas e jurisprudências sobre sigilo

telefônico.

A tecnologia é algo muito dinâmico que muda a todo momento, as

discussões sobre interceptações telefônicas de hoje podem ser obsoletas amanhã,

com a alternância e modismos das tecnologias, dos equipamentos eletrônicos, como

o aplicativo para celular WhatsApp que já é um dos mais usados no mundo,

tornando até mesmo a interceptação de mensagens SMS obsoletas, mas a

28

tecnologia para o monitoramento deste aplicativo ainda vai render muitos problemas

a serem resolvidos.

O crime organizado anda nesta mesma sintonia da rapidez da informação, o

que faz com que o poder público não possa parar no tempo e ficar com seus

entraves legais e burocráticos para poder dar a resposta adequada a essas

progressões tecnológicas, no entanto, o Estado não pode jamais se afastar dos

ditames legais, se assim não for, pode o agente transgredir disciplinar e

criminalmente, como prevê a Lei Federal nº 9.296/96 para os casos de interceptação

ilegal.

Apesar da lentidão da legislação em se atualizar e se equipar para lidar com

a dinâmica da criminalidade e dos equipamentos eletrônicos, os agentes da lei estão

sempre buscando se porem a par dos temas e apresentando problemas para que as

autoridades competentes e, principalmente, os legisladores possam adequar as leis,

que são as ferramentas de trabalho do Estado, para atuar contra o crime e poder

assim dar a reposta adequada e profissional a cada caso concreto.

REFERÊNCIAS

ABLESSON, W. Frank; COLLINS, Charlie; SEM, Robi; tradução Kraszczuk. Android em ação. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação penal especial. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. CABETTE, Eduardo Luiz Santos. O momento da apensação dos autos de interceptação telefônica. Alterações promovidas no Código de Processo Penal pelas Leis nº 11.689 e 11.719/08. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2029, 20 jan. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/12217>. Acesso em: 27 nov. 2014. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 4: legislação penal especial. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2008. CIRIBELLI, Marilda Corrêa. Como elaborar uma dissertação de mestrado através da pesquisa científica. – Rio de Janeiro: 7Letras, 2003. FERRO JÚNIOR, Celso Moreira. Telefone celular, instrumento do crime. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1442, 13 jun. 2007. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/10001>. Acesso em: 12 dez. 2014.

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GRECO, Rogério. Atividade policial: aspectos penais, processuais penais, administrativos e constitucionais. 4. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2012. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini de. Metodologia da pesquisa: Abordagem teórico-prática. 10. ed. rev. e atual. – Campinas, SP: Papirus, 2004. RAMPAZZO, Lino. Metodologia científica: para alunos dos cursos de graduação e pós-graduação. 3. ed. – São Paulo: Edições Loyola, 2005.