o método estatístico de determinação de limites de crédito

20
1 O Método Estatístico de Determinação de Limites de Crédito por Carlos Alexandre Sá Tanto o método discricionário quanto o método contábil têm sido muito criticados quando se trata do estabelecimento de limites de crédito em empresas que já são ou que estão se tornando intensivas de transações. O método caso a caso, embora possa ser eficaz, é ineficiente, ou seja, não tem a capacidade de digerir o número de informações geradas por estas empresas. O método contábil, além de apresentar o mesmo problema de ineficiência, baseia-se em demonstrativos contábeis que nem sempre retratam com fidelidade a realidade financeira e patrimonial das empresas que os fornecem. Ou seja, além de ineficiente, é ineficaz. É neste contexto que surge o método estatístico como uma alternativa viável para o estabelecimento de limites de crédito. Este método procura definir a melhor combinação entre risco e retorno, no caso, representados pela probabilidade de um cliente fazer uma determinada compra mensal e a probabilidade de esta compra não ser paga. Em se tratando de um método estatístico, depende de uma série histórica para tirar suas conclusões. Esta série histórica é representada pelas compras mensais feitas pelo cliente junto à empresa vendedora ao longo de um determinado período de tempo. Aí temos uma limitação do método contábil: este método só se aplica à determinação de limites de crédito de clientes habituais. O primeiro limite de crédito para clientes novos ou inativos tem que ser estabelecido pelos métodos tradicionais. Depois, à medida que estes clientes vão se tornando clientes habituais, passam a ser tratados pelo método estatístico. Além da confiabilidade conferida pela estatística, o método proposto possui ainda a vantagem de poder ser programado em computador. A ideia subjacente ao método contábil é o desenvolvimento de um algoritmo que permita que o limite de crédito de clientes habituais seja definido e atualizado automaticamente via sistema. Uma vez implantado, o sistema passa a aprovar automaticamente os pedidos que não apresentem problemas de tal forma que a direção da empresa só é chamada a atuar em casos que apresentem características de excepcionalidade. Além disto, à medida que o cliente vai comprando mais ou menos, o sistema vai reajustando automaticamente seu limite de crédito. Tudo isto a custo baixíssimo. Vejamos como isto é feito. 10.1 Conceitos Fundamentais Suponhamos uma série histórica composta pela compra mensal de um determinado ciente ao longo dos últimos 24 meses, conforme a figura a seguir. Esta série histórica é caracterizada por dois parâmetros. O primeiro é a média. Sabemos o que é a média e o conceito que encerra. A média de uma série histórica é o valor para o qual tende o resultado quando o número de informações tende ao infinito. Em uma distribuição normal, é o valor acima ou abaixo do qual a probabilidade de ocorrência é 50%. A média (neste caso conhecida como média aritmética) é calculada somando-se os valores de todas as ocorrências e dividindo-se o resultado pelo número de ocorrências.

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Artigo do Prof. Carlos Alexandre de Sá. Mestre em Finanças pela Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV.

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Page 1: O método estatístico de determinação de limites de crédito

1

O Método Estatístico de Determinação de Limites de Crédito

por Carlos Alexandre Sá

Tanto o método discricionário quanto o método contábil têm sido muito criticados

quando se trata do estabelecimento de limites de crédito em empresas que já são ou que

estão se tornando intensivas de transações. O método caso a caso, embora possa ser

eficaz, é ineficiente, ou seja, não tem a capacidade de digerir o número de informações

geradas por estas empresas. O método contábil, além de apresentar o mesmo problema

de ineficiência, baseia-se em demonstrativos contábeis que nem sempre retratam com

fidelidade a realidade financeira e patrimonial das empresas que os fornecem. Ou seja,

além de ineficiente, é ineficaz. É neste contexto que surge o método estatístico como

uma alternativa viável para o estabelecimento de limites de crédito.

Este método procura definir a melhor combinação entre risco e retorno, no caso,

representados pela probabilidade de um cliente fazer uma determinada compra mensal e

a probabilidade de esta compra não ser paga. Em se tratando de um método estatístico,

depende de uma série histórica para tirar suas conclusões. Esta série histórica é

representada pelas compras mensais feitas pelo cliente junto à empresa vendedora ao

longo de um determinado período de tempo. Aí temos uma limitação do método

contábil: este método só se aplica à determinação de limites de crédito de clientes

habituais. O primeiro limite de crédito para clientes novos ou inativos tem que ser

estabelecido pelos métodos tradicionais. Depois, à medida que estes clientes vão se

tornando clientes habituais, passam a ser tratados pelo método estatístico.

Além da confiabilidade conferida pela estatística, o método proposto possui ainda a

vantagem de poder ser programado em computador. A ideia subjacente ao método

contábil é o desenvolvimento de um algoritmo que permita que o limite de crédito de

clientes habituais seja definido e atualizado automaticamente via sistema. Uma vez

implantado, o sistema passa a aprovar automaticamente os pedidos que não apresentem

problemas de tal forma que a direção da empresa só é chamada a atuar em casos que

apresentem características de excepcionalidade. Além disto, à medida que o cliente vai

comprando mais ou menos, o sistema vai reajustando automaticamente seu limite de

crédito. Tudo isto a custo baixíssimo. Vejamos como isto é feito.

10.1 Conceitos Fundamentais

Suponhamos uma série histórica composta pela compra mensal de um determinado

ciente ao longo dos últimos 24 meses, conforme a figura a seguir. Esta série histórica é

caracterizada por dois parâmetros. O primeiro é a média. Sabemos o que é a média e o

conceito que encerra. A média de uma série histórica é o valor para o qual tende o

resultado quando o número de informações tende ao infinito. Em uma distribuição

normal, é o valor acima ou abaixo do qual a probabilidade de ocorrência é 50%. A

média (neste caso conhecida como média aritmética) é calculada somando-se os valores

de todas as ocorrências e dividindo-se o resultado pelo número de ocorrências.

Page 2: O método estatístico de determinação de limites de crédito

2

Figura 1 - Série histórica de compras mensais

No entanto não basta a média para caracterizar uma série histórica. O Prof. Mário

Henrique Simonsen - um dos maiores economistas que já tivemos - dizia que a média é

perigosa. E exemplificava: suponha um indivíduo que esteja com a cabeça no forno e os

pés na geladeira. Na média, sua temperatura é confortável!

Repare agora no gráfico da figura 2. Nele apresentamos duas séries históricas

representando as compras mensais de dois clientes. Veja que, embora os dois clientes

apresentem comportamentos bem diferentes, eles possuem a mesma média! No entanto

os valores do cliente claro apresentam uma dispersão em torno da média bem menor do

que os do cliente escuro. O índice que mede a dispersão de valores em torno da média é

chamado de desvio padrão. Por enquanto não vamos nos preocupar com fórmulas. Basta

que compreendamos o conceito.

Figura 2 - A dispersão de valores

Resumindo: toda série histórica pode caracterizada por sua média e por seu desvio

padrão1.

1 Distribuições que não sejam normais necessitam de outros parâmetros para serem caracterizadas, tais como

a assimetria e a curtose, mas estes detalhes fogem ao escopo deste trabalho.

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

Média

Page 3: O método estatístico de determinação de limites de crédito

3

10.1.1 O Cálculo da Média Como dissemos, a média aritmética de uma série histórica é igual à divisão da soma das

observações pelo número de observações havidas no período. Como em nosso caso estamos

interessados na capacidade de compra mensal do cliente, na determinação da média

aritmética das compras mensais somente devemos considerar os meses nos quais tenha

havido faturamento, não importando se os meses sem faturamento sejam contínuos ou não.

Exemplos:

1. Suponhamos que um cliente tenha começado a comprar em janeiro de um determinado

ano e que tenha havido, desde então, faturamento contra este cliente todos os meses.

Neste caso, se estivermos em julho do ano seguinte, o faturamento médio mensal será a

soma dos faturamentos havidos de janeiro de um ano a julho do ano seguinte dividido

por 19.

2. Suponhamos agora que, no exemplo anterior, o cliente tenha começado a comprar em

janeiro de um determinado ano, mas que não tenha havido faturamento contra ele nos

meses de abril e junho deste mesmo ano. Neste caso, o faturamento médio mensal é a

soma dos faturamentos havidos de janeiro de um ano a julho do ano seguinte dividido

por 17.

3. Caso somente tenha havido faturamento contra o cliente em um determinado mês, o

faturamento médio mensal será igual ao faturamento havido naquele mês.

Quando o mercado evoluir rapidamente, os dados do cliente podem ficar desatualizados

em pouco tempo. Para evitar que isto aconteça, ao calcular a média de compras mensais

de um cliente, deve-se usar sempre o conceito de médiamóvel dos últimos 24 meses.

Isto quer dizer que, na medida que um novo mês seja incluído na base de dados,

eliminar-se-á o mês mais antigo de tal forma que a série histórica compreenda sempre

os últimos 24.

10.1.2 O Cálculo do Desvio Padrão O desvio padrão é o elemento que mede a dispersão dos valores de uma série histórica em

torno da média e é dado pela equação:

1

1

2

n

xx

s

n _

n_

Onde:

s_

= desvio padrão da amostra

xn = variável da série histórica

x_

= média aritmética dos valores da série histórica

n = número de valores apresentados na série histórica considerada

Page 4: O método estatístico de determinação de limites de crédito

4

Se você ficou intimidado com a complexidade da fórmula acima, não se preocupe. O

desvio padrão pode ser facilmente calculado na planilha Excel ou na calculadora HP-

12C. No Excel, use a função DESVPADA; na HP-12C, proceda conforme as instruções

a seguir.

10.1.3 Usando a calculadora HP – 12C Evidentemente ninguém mais calcularia a média ou o desvio padrão da forma descrita

acima, a menos que não dispusesse de outro meio para fazê-lo. Este outro meio pode ser

a planilha eletrônica ou uma calculadora que possua funções estatísticas do tipo HP-12C

ou similar.

Para usar a calculadora, siga os seguintes passos:

1. Limpe todos os registros da máquina pressionando as teclas “f” e, em seguida,

“CLX”;

2. Entre com o primeiro valor da série histórica e pressione a tecla +. No visor de

cristal líquido aparecerá o número 1 indicando que se trata da primeira entrada.

Repita esta operação para todos os dados da série histórica. Se esta série tiver 100

ocorrências, quando terminar de entrar com o último valor, o visor líquido exibirá o

número 100.

3. Para calcular a média, pressione a tecla “g” e, em seguida, “0”. Note que abaixo da

tecla “0” (zero) está o símbolo azul “_

x ”. Este é o símbolo da média aritmética.

4. Para calcular o desvio padrão, pressione a tecla “f” e, em seguida, “.” (ponto). Note

que abaixo da tecla “.” (ponto) está o símbolo azul “s”. Este é o símbolo do desvio

padrão.

Para excluir um valor e calcular a média e o desvio padrão da nova série histórica sem

os valores excluídos não há a necessidade de digitar todos os valores novamente. Basta

entrar com o valor a ser excluído e pressionar a tecla “g” e, em seguida, a tecla +. Note

que abaixo da tecla + está o símbolo azul -. Ao pressionar esta tecla o visor exibirá o

número de entradas da série histórica, menos um, indicando que um tem foi excluído.

10.1.4 Cálculo de Probabilidades A esta altura você deve estar se perguntando onde é que estamos querendo chegar com

todos estes cálculos de médias e desvios padrão. É o seguinte: observe a figura a seguir.

Nela está representada a série histórica das compras mensais de um cliente e sua média

aritmética. É intuitivo perceber que quanto mais distante da média se situar um valor,

menor sua probabilidade de ocorrência. Exemplificando: considerando que a média

desta série histórica seja $180.000, a probabilidade de este cliente colocar em um mês

um pedido de $270.000 ou mais é muito menor do que a probabilidade de este mesmo

cliente colocar um pedido de $200.000 ou mais.

Page 5: O método estatístico de determinação de limites de crédito

5

Figura 1 - Probabilidade de ocorrência

`

A estatística possui ferramentas que permitem solucionar dois tipos de problemas. São

eles:

1. Qual a compra mensal cuja probabilidade de ocorrência seja x %?

2. Qual a probabilidade de o cliente comprar em um mês “y” reais ou mais?

Vamos ver como se resolve o primeiro problema. A partir daí, fica fácil resolver o

segundo. Dada uma série histórica, para se descobrir qual o valor cuja probabilidade de

ocorrência seja x %, usamos a fórmula:

Valor Procurado = Média + (“z” x Desvio Padrão)

A média e o desvio, já sabemos calcular. Fica faltando “z” que é um valor tabulado e

que varia de acordo com a probabilidade de ocorrência com que se esteja trabalhando.

Os valores de “z” estão tabulados no Anexo 1.

Exemplo:

O quadro abaixo representa a série histórica das compras mensais de um cliente nos

últimos 24 meses:

Data Valor Data Valor Data Valor

out-00 187.000 jun/01 81.399 fev/02 164.683

fev-00 164.555 jul/01 192.309 mar/02 256.499

dez-00 265.379 ago/01 170.902 abr/02 227.682

jan-01 191.110 set/01 186.798 mai/02 75.921

fev-01 121.412 out/01 262.105 jun/02 426.812

mar-01 205.902 fev/01 147.282 jul/02 118.972

abr-01 282.371 dez/01 261.371 ago/02 163.169

mai-01 231.437 jan/02 174.737 set/02 386.622

Qual a compra mensal cuja probabilidade de ocorrência seja 1 vez a cada cinco anos?

Solução:

1 – Calculando a média e o desvio padrão, encontramos os seguintes valores:

Média – R$ 206.101

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

Média

Page 6: O método estatístico de determinação de limites de crédito

6

Desvio – R$ 83.367

2 – Encontrando o valor de “z”:

Como estamos trabalhando com compras mensais, vejamos qual a probabilidade

que corresponde uma compra a cada 60 meses (=5 anos x 12 meses). Assim temos

que 1 60 = 0,0167 ou 1,67%. Procurando na tabela da curva normal no final

desse artigo, não encontramos o valor 1,67 %, mas encontramos 1,66%. Este valor

está no cruzamento da linha 2,1 com a coluna 3. Isto significa que para uma

probabilidade de 1,66%, o valor de “z” é 2,13. É com este valor que vamos

trabalhar.

3 – Calculando o valor da compra mensal procurado

Agora basta aplicar a fórmula para encontrarmos o valor procurado. Assim, temos

que:

Valor Procurado = 206.101 + (2,13 x 83.367) = 383.672

Veja bem que o fato de a probabilidade de o cliente em questão fazer uma compra

mensal de $383.672 ou mais ser de 1,67 % (uma vez a cada 60 meses) não quer dizer

que tenhamos de esperar 60 meses para que esta compra ocorra. Pode ser que esta

compra ocorra no primeiro mês!

A Lógica do Método Estatístico

Repare no gráfico da figura abaixo. É intuitivo perceber que, para uma mesma empresa,

quanto maior for o valor de um pedido, maior é o risco de que ele não seja pago. O risco

de uma empresa de porte médio não honrar um pagamento de $10 é muito menor do

que o risco de esta mesma empresa não pagar um pedido de $500.000. A curva que

representa este risco apresenta, portanto, uma inclinação positiva.

Por outro lado, em uma mesma empresa, quanto maior for o valor de um pedido, menor

é a probabilidade de ele ocorrer. Isto significa que a probabilidade de uma empresa

colocar um pedido de $ 1.000 ou mais é maior do que a probabilidade de esta mesma

empresa colocar um pedido de $ 100.000 ou mais. A curva que representa a

probabilidade de uma empresa colocar um pedido em função do valor deste pedido tem,

assim, uma inclinação negativa.

Chamemos de “P” o ponto em que estas duas curvas se cruzam.

Page 7: O método estatístico de determinação de limites de crédito

7

Figura 3- O Limite de Crédito

Se o limite de crédito for estabelecido à direita de P, em P’, o risco de inadimplência é

maior do que o risco de o cliente colocar aquele pedido. Logo está havendo um excesso

de limite de crédito. Por outro lado, se o limite de crédito for estabelecido à esquerda de

P, em P”, o risco de inadimplência será menor do que a probabilidade de o cliente

colocar um pedido com aquele valor. A empresa neste caso pode estar perdendo vendas

e, portanto, limitando seus lucros. O ponto P representa portando a melhor combinação

entre risco e retorno para aquele cliente.

Vimos na seção anterior que a estatística nos fornece instrumentos que nos permitem,

com base na média e no desvio padrão de um determinado cliente, traçar a curva de que

relaciona o valor de uma compra mensal com a probabilidade de esta compra ocorrer.

No entanto, nós não conhecemos a curva que relaciona o tamanho da compra com a

probabilidade de ela não ser paga. Que fazer então?

As empresas de classificação de risco informam qual o risco de inadimplência da

empresa consultada. O SERASA , por exemplo, classifica os clientes para os quais se

está analisando os créditos em cinco categorias de acordo com sua estrutura de capital:

small, small plus, middle, middle plus e corporate. Cada uma destas categorias é por sua

vez dividida em 22 classes de risco com uma probabilidade de inadimplência associada

a ela, conforme a tabela a seguir.

Classes Probabilidade Probabilidade

de Risco de Inadimplência %

Média %

1 0,00 a 0,10 0,05

2 0,10 a 0,20 0,15

3 0,20 a 0,30 0,25

4 0,30 a 0,40 0,35

5 0,40 a 0,50 0,45

6 0,50 a 0,75 0,62

7 0,75 a 1,00 0,87

8 1,00 a 1,25 1,12

9 1,25 a 1,50 1,37

10 1,50 a 2,00 1,75

11 2,00 a 3,00 2,50

12 3,00 a 4,00 3,50

Pedido

Risco

Pro

babili

dade

L.C.

P

P P’ P”

Valor

Page 8: O método estatístico de determinação de limites de crédito

8

13 4,00 a 5,00 4,50

14 5,00 a 8,00 6,50

15 8,00 a 10,00 9,00

16 10,00 a 15,00 12,50

17 15,00 a 30,00 22,50

18 30,00 a 50,00 40,00

19 50,00 a 99,99 75,00

20 Default

21 Recuperação Judicial

22 Falência

As probabilidades indicadas nos quadros acima representam as probabilidades de

inadimplência das empresas situadas em uma determinada classe de risco nos próximos

12 meses. Trazendo estes dados para o nosso problema, isto quer dizer que, embora o

SERASA não nos dê a curva de inadimplência de um cliente, ele informa dentro de que

limites esta curva se situa!. O gráfico abaixo ilustra o problema.

Figura 4 - Probabilidade de Inadimplência

Uma vez determinada estatisticamente a equação da curva de distribuição das

probabilidades de ocorrência de um pedido, vamos encontrar qual o valor do pedido

cuja probabilidade de ocorrência seja dada pelo ponto médio dos limites superior e

inferior fornecidos pela empresa de classificação de risco.

Exemplo:

O quadro abaixo representa a série histórica das compras mensais de um cliente nos

últimos 24 meses. Qual o limite de crédito determinado pelo método estatístico que

deve ser dado a este cliente, sabendo-se que se trata de um cliente classificado pelo

SERASA como sendo uma empresa Corporate nível 14?

Data Valor Data Valor Data Valor

jan-01 187.000 jun-01 81.399 fev-02 164.683

fev-01 164.555 jul-01 192.309 mar-02 256.499

dez-00 265.379 ago-01 170.902 abr-02 227.682

jan-01 191.110 set-01 186.798 mai-02 75.921

fev-01 121.412 out-01 262.105 jun-02

mar-01 205.902 nov-01 147.282 jul-02 118.972

VALOR

Pedido

Pro

bab

ilid

ade

L.C.

P Limite Superior

Limite Inferior

P

Page 9: O método estatístico de determinação de limites de crédito

9

abr-01 282.371 dez-01 261.371 ago-02 163.169

mai-01 231.437 jan-02 174.737 set-02

Solução:

1 – Calculando a média e o desvio padrão, encontramos os seguintes valores:

Média – R$ 187.863

Desvio – R$ 58.241

2 – Encontrando o valor de “z”:

Entrando na tabela do SERASA, observamos que a probabilidade de o cliente

apresentar uma inadimplência nos próximos 12 meses está situada entre 5% e 8%.

Tomando o ponto médio, temos 6,5%. Procurando na tabela da curva normal do

anexo 1 , não encontramos o valor 6,5 %, mas encontramos 6,55%. Este valor está

no cruzamento da linha 1,5 com a coluna 1. Isto significa que para uma

probabilidade de 6,55%, o valor de “z” é 1,51. É com este valor que vamos

trabalhar.

3 – Calculando o valor da compra mensal procurado

Agora basta aplicar a fórmula para encontrarmos o valor procurado. Assim, temos

que:

Valor Procurado = 187.863 + (1,51 x 58.241) = 275.807

É importante notar que o limite de crédito é função não somente da capacidade de

compra e da classificação do cliente quanto ao seu risco de crédito, mas também é

afetado pelo prazo concedido ao cliente para liquidar os seus títulos. Daí que um

modelo abrangente de determinação de limite de crédito deve contemplar este detalhe.

Este problema é discutido adiante.

A Dispersão de Valores

A fórmula utilizada em nosso modelo estatístico, cuja conceituação encontra-se

explicada no Apêndice I deste trabalho, pressupõe que a amostra apresente uma curva

de frequência normal, ou seja, simétrica. Quanto maior a assimetria da curva de

distribuição, maior será a distorção dos resultados obtidos por este método.

NormalAssimétrica

Figura 5 - Curvas de distribuição simétrica e assimétrica

Page 10: O método estatístico de determinação de limites de crédito

10

Na prática, a hipótese da curva normal quase nunca é confirmada. A solução então é

trabalhar com os logaritmos na base 10 dos números que compõem a base de dados. As

curvas de distribuição geralmente aproximam-se muito de uma curva de distribuição

normal. São as chamadas curvas de distribuição lognormal, cuja conceituação técnica

encontra-se justificada no Apêndice II deste trabalho. Ao final do cálculo retorna-se ao

antilogarítimo dos valores encontrados para se determinar o valor do limite de crédito.

Exemplo:

Transformando os valores da série histórica do exercício anterior em uma série

histórica composta pelos logaritmos das compras mensais, encontramos:

Média: 5,250136

Desvio: 0,154982

Aplicando a fórmula, temos:

Log10 do valor procurado=5,250136 + (1,51 x 0,154982) = 5,484159

Para encontrarmos o antilogarítimo deste valor, basta elevar o número 10 a5,484159

. Assim, temos que:

10 5,484159

= 304.901 $305.000

Observe que se tivéssemos atribuído a este cliente o limite de crédito acima, em nenhum

dos meses do período observado o sistema teria bloqueado qualquer pedido.

Valores Atípicos

À medida que um cliente vai comprando, ele vai se revelando. Assim é que uma série

histórica fornece informações sobre a política de reposição de estoque do cliente que

serão utilizadas pelo método estatístico na determinação de um limite de crédito para

este cliente. O fato de um valor destoar dos demais não é motivo suficiente para

considera-lo como atípico.É preciso que a causa que deu origem a este pedido seja

atípica. Se um cliente faz um pedido de valor muito elevado porque está estocando para

enfrentar um período de muitas vendas, isto, por si só, não caracteriza um evento

atípico. No entanto se um cliente coloca um pedido muito grande porque está compondo

o estoque de uma nova loja que pretende inaugurar, isto pode ser tratado como um

evento atípico. Afinal, novas lojas não são inauguradas todos os dias.

O problema dos valores atípicos é que podem distorcer os resultados e conduzir a

decisões equivocadas. Assim, caso um evento seja caracterizado como atípico, deve ser

eliminado da série histórica para que possamos determinar corretamente o limite de

crédito de um cliente.

Exemplo:

Suponhamos que um determinado cliente apresentou, no período de julho de um

determinado ano a agosto do ano seguinte as seguintes compras mensais

Page 11: O método estatístico de determinação de limites de crédito

11

Período Compras

out /ano 1 38.320

nov /ano 1 32.071

dez /ano 1 14.096

jan /ano 2 37.933

fev /ano 2 48.900

mar /ano 2 11.768

abr /ano 2 25.297

mai /ano 2 279.256

jun /ano 2 46.800

jul /ano 2 46.022

ago /ano 2 20.302

A média e o desvio padrão da série histórica acima são $54.65 e $73.813,

respectivamente. Caso seja bem caracterizado que as compras de maio do ano 2 sejam

atípicas, este valor deverá ser eliminado e uma nova média e um novo desvio padrão,

calculados. Os novos valores serão então $32.150 e $16.210, respectivamente. Neste

caso, se o valor atípico não fosse eliminado, a média e o desvio padrão distorcidos

conduziriam a um limite de crédito indevidamente elevado.

Montando o Algoritmo

Ao analista e ao programador que vão desenvolver o sistema informatizado de

determinação de limite de crédito, é importante ter em mente a seqüência de operações

deste processo da forma que se segue:

1. Ao receber um pedido, o sistema verifica se a empresa é um cliente antigo;

2. Levanta a série histórica das compras nos últimos 24 meses;

3. Calcula o logaritmo destes valores. É com esta nova série histórica constituída dos

logaritmos na base 10 das compras mensais que o sistema vai trabalhar deste ponto em

diante;

4. Elimina os valores da série que forem atípicos

5. Calcula a nova média e o novo desvio padrão da série histórica expurgada dos valores

atípicos

6. Busca a probabilidade de inadimplência do cliente fornecida pelas empresas de

classificação de risco;

7. Calcula o logaritmo do limite de crédito

8. O limite de crédito é o antilogaritmo do valor encontrado acima;

Ao ser imputado um novo pedido o sistema deverá:

1. Verificar se o pedido é inferior ao limite de crédito disponível do cliente.

Page 12: O método estatístico de determinação de limites de crédito

12

2. Verifica se existe alguma duplicata sacada contra o cliente que já esteja vencida e ainda

não tenha sido paga;

3. Se alguma das condições acima não for satisfeita o pedido é bloqueado.

O fato de um pedido ser bloqueado pelo sistema não quer dizer que não venha a ser

aprovado. Quer dizer apenas que deverá ser submetido a quem tiver limite de alçada

para aprova-lo, ou não.

Precificação

A Teoria dos Jogos trouxe uma enorme contribuição para o problema da determinação

dos limites de crédito. Na perspectiva da Teoria dos Jogos, o comprador e o vendedor

são comparados a dois jogadores. O jogo no qual estão envolvidos é a operação de

compra e venda que estão prestes a concluir. Este jogo é jogado em apenas uma rodada

e os jogadores possuem informações assimétricas, ou seja, um dos jogadores (o

comprador, no nosso caso) possui mais informações do que o outro (o vendedor). Isto

porque o comprador sabe de antemão, e com relativo grau de precisão, se a

probabilidade de ter condições de pagar ao vendedor é alta ou baixa. Já o vendedor,

tudo o que ele sabe é a classe de risco do comprador. No entanto, em quase todas as

classes de risco existem bons e maus pagadores e o vendedor não sabe com certeza em

que categoria se enquadra o comprador.

Consideremos que o vendedor possua uma venda pulverizada para clientes da mesma

classe de risco do comprador. Isto quer dizer que, embora ele jogue poucas vezes com

um único comprador, ele joga muitas vezes com a mesma classe de compradores. Neste

caso a “lei dos grandes números” entra em ação e pode-se adotar uma solução estatística

que faça com que o vendedor, no longo prazo, saia ganhando.

Suponhamos que o produto que o vendedor comercialize possua a seguinte composição

de custos quando vendida para um cliente cujo risco de inadimplência seja próximo de

zero:

Preço de Venda $ 10

Custo ($ 9)

Margem $ 1

Isto quer dizer que, quando o vendedor vende e o comprador paga, ele ganha $ 1 (ou

seja, 10% de margem). Quando o comprador não paga, o vendedor perde R$ 9. A

pergunta que se faz é a seguinte: supondo que a inadimplência média deste segmento

seja, digamos, 5 %, qual deveria ser a margem para que o vendedor, no longo prazo,

tivesse o mesmo retorno sobre vendas do que o obtido junto a clientes cujo risco de

calote seja próximo de zero? A equação abaixo ilustra a questão.

[(X% x 95%) – ((1-0,10) x 5%)] = 10%

Vamos analisar cada termo desta equação. A expressão - (X% x 95%) – exprime o

quanto o vendedor ganha quando 95% dos clientes pagam. A expressão - ((1-0,10) x

5%) – exprime o quanto o vendedor perde quando 5% dos clientes não pagam.

Resolvendo esta equação, encontramos X = 15,26%. A interpretação deste resultado é

que, para que o vendedor fosse indiferente entre vender para um cliente livre de risco e

vender para um cliente cuja probabilidade de inadimplência seja 5%, seria preciso que a

margem do produto fosse 15,26% em vez de apenas 10%. Esta seria a melhor resposta

do vendedor para entrar no jogo que se lhe apresenta.

Page 13: O método estatístico de determinação de limites de crédito

13

Generalizando, podemos dizer que a margem que torna indiferente ao vendedor vender

para qualquer cliente é dada pela equação:

INC) - (1

INC x MCLR) - (1 MCLR NMC

Onde:

NMC – nova margem de contribuição

MCLR – margem de contribuição para clientes livre de risco

INC – porcentagem de incobráveis no segmento que se está analisando.

Exemplo:

A empresa Alfa vende para seus clientes livres de risco com uma margem de 10%. Qual

a margem que deveria praticar quando vendesse para clientes que apresentem uma

taxa de incobráveis de 2%?

Resposta:

MCLR = 0,10

INC = 0,02

% 12,04ou 0,1204 0,02 - 1

0,02 x 0,90 0,10 NMC

Existe, porém, nesta política um perigo para o qual a empresa deve estar atenta e que é o

seguinte. Quando a nova margem de contribuição é muito elevada, os clientes que,

embora pertencendo a uma classe de risco cuja probabilidade de calote seja muito

elevada, são bons pagadores, podem não aceitar os novos preços propostos e, em

conseqüência, buscar novas opções de fornecimento. Já os clientes que são maus

pagadores, como sabem que, em caso de calote, o custo da inadimplência será, no todo

ou em grande parte, transferido para o vendedor, não se importarão de aceitar um preço

mais elevado. Isto provoca uma deterioração gradual da carteira de clientes. Este

fenômeno é conhecido como “seleção adversa”. Neste caso, do ponto de vista

puramente financeiro, ou seja, sem levar em consideração nenhum tipo de interesse

político ou comercial, a melhor resposta para a empresa vendedora é não atuar neste

segmento de mercado.

Para que o sistema de precificação diferenciada seja efetivo, ou seja, para que a empresa

vendedora, mesmo perdendo em algumas vendas, saia ganhando no final, é preciso que

as vendas sejam pulverizadas. Isto porque o resultado observado somente se aproxima

da previsão estatística quando o número de observações cresce muito2. Se as vendas

forem concentradas, isto é, se a empresa vender muito para poucos clientes, pode

acontecer de o resultado das vendas bem sucedidas não serem suficientes para

compensar as perdas havidas com as vendas mal sucedidas.

O Prazo de Pagamento

2 No jargão técnico, diz-se que o resultado observado tende para a previsão estatística à medida em que o

número de observações tende ao infinito.

Page 14: O método estatístico de determinação de limites de crédito

14

Imagine um cliente que compre $1.000 todos os meses e a quem seja concedido um

prazo de pagamento de 30 dias. Suponha agora que a empresa vendedora aumente seu

limite de crédito para $1.500 e seu prazo de pagamento para 60 dias. Neste caso, a

empresa vendedora estaria fazendo um bem ou um mal a seu cliente?

Para responder a esta pergunta, repare no quadro abaixo. As duplicatas agora possuem

uma “vida” de 60 dias. Suponha que o cliente coloque um pedido de $1.000 no primeiro

dia do mês 1. Esta duplicata só vai vencer no último dia do mês 2. Como este cliente

compra todos os meses, ele vai querer colocar um novo pedido no início do mês 2.

Acontece que $1.000 de seu limite de crédito já estão sendo usados e o limite de crédito

disponível será de apenas $500!

mês 1 mês 2 mês 3 mês 4 mês 5

mês 1 1.000 1.000

mês 2 1.000 1.000

mês 3 1.000 1.000

mês 4 1.000 1.000

mês 5 1.000

Figura 6 - O prazo de pagamento

Isto mostra que o limite de crédito também é afetado pelo prazo concedido ao cliente

para liquidar os seus títulos, ou seja, se o limite de crédito não for ajustado em função

do prazo de pagamento, todas as vezes que a empresa der mais prazo para um

determinado cliente liquidar suas duplicatas ela estará, automaticamente, limitando sua

capacidade de compras mensais. É preciso portanto criar uma fórmula que reajuste o

limite de crédito em função do prazo de pagamento concedido ao cliente. Isto é feito

pela equação abaixo:

Limite Disponível = Limite concedido – Limite utilizado + Duplicatas ativas com mais

de 30 dias

Nesta fórmula as seguintes expressões possuem os seguintes significados:

Duplicatas ativas - são duplicatas em aberto que não estejam vencidas.

Duplicatas com mais de 30 dias - são duplicatas cujo prazo compreendido entre a data

de sua emissão e a data do novo pedido seja igual ou superior a 30 dias.

Exemplo:

No exemplo acima, quando o cliente fosse colocar o pedido no início do mês 2, o

sistema faria o seguinte cálculo:

Limite concedido - $1.500

Limite utilizado - $ 1.000

Duplicatas ativas com mais de 30 dias - $1.000

Limite de Crédito Disponível= 1.500 – 1.000 + 1000 = 1.500

Page 15: O método estatístico de determinação de limites de crédito

15

Resumindo: os limites de crédito calculados, independente do método pelo qual foram

calculados, se referem a vendas faturadas a 30 dias. Para quaisquer outros prazos de

pagamento, o limite de crédito calculado deverá ser ajustado.

Limites de Alçada

Todo negócio apresenta três tipos de risco. São eles:

1. O risco do negócio, quando existe a possibilidade de uma determinada fatura não

ser paga no vencimento mas não existe a possibilidade iminente de falência do

cliente e nem o cliente representa uma parcela importante dos recebíveis do

fornecedor. Seria o caso, por exemplo, de um cliente contra o qual não existam

restrições reportadas nem pelo mercado nem por empresas de informações

cadastrais e cujo pedido, embora esteja contido no limite de crédito disponível, não

tenha sido aprovado pelo sistema porque existem duplicatas sacadas contra este

cliente e que estão vencidas e em aberto. Este caso seria considerado como um risco

do negócio porque tudo indica que a duplicata vá ser paga mas que, provavelmente,

o será com atraso;

2. O risco do cliente,quando existe a possibilidade de falência ou concordata de um

cliente mas, no entanto, isto não afetaria a estabilidade financeira da empresa

fornecedora . Seria o caso, por exemplo, de um cliente contra o qual existam

restrições reportadas pelo mercado e por empresas de informações cadastrais e cujo

pedido não tenha sido aprovado pelo sistema. Este caso seria considerado como um

risco do cliente porque pode ser que o cliente se inviabilize financeiramente e que

este pedido, se atendido, não venha nunca a ser pago ou então, somente seja

recebido por via judicial;

3. Finalmente existe o risco da carteira, quando a inviabilidade financeira de um

cliente põe em risco a estabilidade da própria empresa vendedora. Uma excessiva

concentração de títulos sacados contra um único cliente pode ser um fator de

insegurança que deve ser analisado nos níveis hierárquicos superiores da empresa

vendedora

O método estatístico de determinação do limite de crédito apenas fornece um algoritmo

que será introduzido nos sistemas de Faturamento e de Contas a Receber de forma a

alertar a empresa no caso de um determinado pedido representar um risco incompatível

com aquele risco máximo que a empresa está disposta a correr. O grande mérito do

sistema está justamente em permitir uma gestão por exceções, onde apenas os casos

excepcionais são tratados caso a caso. Isto significa que o fato de um determinado

pedido ser rejeitado do sistema não quer dizer que ele não será atendido. Significa

apenas que o caso será estudado para que seja mais bem compreendido e, se necessário,

seja cercado de garantias adicionais.

Cada empresa deve definir seus próprios critérios dentro dos quais um caso excepcional

seja considerado como risco do negócio, do cliente ou da carteira. O importante é ter

presente que, dependendo do caso, o problema deverá ser levado a um nível hierárquico

diferente dentro da empresa. Assim , é sempre recomendável estabelecer limites de

alçadas que definam quem na estrutura da empresa será responsável pelo risco do

cliente , pelo risco do negócio e pelo risco da carteira.

Exemplo:

Page 16: O método estatístico de determinação de limites de crédito

16

Risco do Negócio Supervisor de Crédito e Cobrança

Risco do Cliente Gerente Financeiro

Risco da Carteira Diretor Financeiro

Clientes Novos

Como foi dito no início deste capítulo o método estatístico, por depender

fundamentalmente de uma série histórica de compras de um determinado cliente, não se

aplica a clientes novos, eventuais ou inativos. Assim, toda vez que um cliente novo

colocar um pedido, compete ao Crédito e Cobrança definir para este cliente um limite

de crédito. São considerados clientes novos:

as empresas que nunca tenham comprado antes;

as empresas que, embora já tenham comprado antes , não o tenham feito, digamos, nos

últimos 6 (seis) meses;

as empresas para as quais o sistema, por qualquer motivo, não tenha determinado o

limite de crédito.

Além dos motivos enumerados acima, todas as vezes que se julgar que o limite de

crédito calculado pelo computador for inadequado para um determinado cliente, este

limite pode ser revisto como se este cliente fosse novo.

Em se tratando de clientes novos, na impossibilidade de se aplicar o método estatístico,

o recomendável seria utilizar um dos métodos tradicionais só que de maneira mais

racional. O fato é que estabelecer limites de crédito tem um custo. Dependendo do

potencial de compra do cliente pode ser que não compense gastar muito no processo de

estabelecimento de limite de crédito, ou gastar pouco ou então, caso a empresa possua

um grande potencial de compras, gastar muito para ter uma avaliação mais precisa da

classe de risco do cliente. Uma das maneiras de se fazer esta avaliação é traçar uma

curva de freqüência acumulada dos pedidos da empresa vendedora.

Observe a curva de freqüência acumulada abaixo. Estudando esta curva, podemos

observar que, neste exemplo:

Cerca de 40% dos pedidos têm um valor inferior a $2.000;

Cerca de 45% dos pedidos têm m valor compreendido entre $2.000 e $22.000;

Somente cerca de 5% dos pedidos têm valor superior a $22.000.

Caso os pedidos cujo valor seja inferior a $2.000 sejam pulverizados, a solução que

apresenta o melhor custo-benefício seria a aprovação automática de um limite de crédito

até este valor, condicionada apenas à apresentação por parte destes clientes dos

seguintes documentos:

1- Firma individual:

CNPJ,

Declaração de firma individual e

Alterações, se houver, arquivada na JCDF ;

Page 17: O método estatístico de determinação de limites de crédito

17

2 - LTDA:

CNPJ;

Inscrição estadual ou municipal;

Contrato Social;

Alterações posteriores se houver ou alteração consolidada arquivada na JCDF;

3 - S/A:

CNPJ;

Inscrição estadual ou municipal;

Estatuto arquivado no Cartório de Títulos e Documentos

Atas: de Criação, aprovação do estatuto; eleição da Atual Diretoria e Termo de

posse; Último aumento de capital;

Relação dos 10 maiores acionistas;

4 - Condomínios:

CNPJ;

Inscrição estadual ou municipal;

Convenção, registrada no cartório de imóveis;

Ata da eleição do síndico;

5 - Entidades sem fins lucrativos:

CNPJ;

Inscrição estadual ou municipal;

Ata de constituição;

Estatuto;

Ata de eleição;

Termo de posse, todos registrados no cartório de títulos e documentos.

Neste caso os preços de venda seriam determinados com base na inadimplência

esperada para esta classe de clientes.

Para clientes com potencial de compra situado entre $2.000 e $22.000, poderia ser

solicitada a uma empresa de classificação de crédito uma ficha cadastral resumida e o

limite de crédito seria determinado com base no acúmulo médio informado.

Para clientes com potencial de compra acima de $22.000, poderia ser solicitada a uma

empresa de classificação de crédito uma ficha cadastral completa e o limite de crédito

seria determinado com base no acúmulo médio informado.

Page 18: O método estatístico de determinação de limites de crédito

18

Figura 2 - Curva de freqüência

Figura 7 - Curva de frequência acumulada

Veja bem que o que se propõe é que o primeiro limite de crédito a ser estabelecido para

um cliente novo seja baseado na média do mercado, isto é, no acúmulo médio

informado3. Isto quer dizer que o limite definido pela empresa vendedora tanto pode

estar acima quanto abaixo da média do mercado. A proporção da média do mercado que

será adotada pela empresa vendedora vai depender do grau de aversão ao risco de seus

dirigentes.

Caso estes dirigentes sejam pouco avessos ao risco4tenderão a estabelecer limites

superiores à média do mercado (digamos, 120% do acúmulo médio informado). Caso

sejam mais avessos ao risco, tenderão a adotar uma atitude mais conservadora e

provavelmente estabelecerão limites de crédito que sejam inferiores à média de mercado

(digamos, 80% do acúmulo médio).

Carlos Alexandre Sá é professor e consultor

3 O conceito de “acúmulo médio” está explicado no capítulo que trata do método caso a caso.

4 Alguns autores se referem aos agentes pouco avessos ao risco como amantes do risco ou propensos ao risco.

Curva de Frequência Acumulada

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

120,00%

< 2.

000

12.0

00

22.0

00

32.0

00

42.0

00

52.0

00

62.0

00

72.0

00

82.0

00

92.0

00

102.

000

112.

000

122.

000

132.

000

142.

000

>150

.000

Faturamento Médio Mensal

Fre

qu

ên

cia

Acu

mu

lad

a

Page 19: O método estatístico de determinação de limites de crédito

19

"z" 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

0 50,00% 49,60% 49,20% 48,80% 48,40% 48,01% 47,61% 47,21% 46,81% 46,41%

1 46,02% 45,62% 45,22% 44,83% 44,43% 44,04% 43,64% 43,25% 42,86% 42,47%

2 42,07% 41,68% 41,29% 40,90% 40,52% 40,13% 39,74% 39,36% 38,97% 38,59%

3 38,21% 37,83% 37,45% 37,07% 36,69% 36,32% 35,94% 35,57% 35,20% 34,83%

4 34,46% 34,09% 33,72% 33,36% 33,00% 32,64% 32,28% 31,92% 31,56% 31,21%

5 30,85% 30,50% 30,15% 29,81% 29,46% 29,12% 28,77% 28,43% 28,10% 27,76%

6 27,43% 27,09% 26,76% 26,43% 26,11% 25,78% 25,46% 25,14% 24,83% 24,51%

7 24,20% 23,89% 23,58% 23,27% 22,96% 22,66% 22,36% 22,06% 21,77% 21,48%

8 21,19% 20,90% 20,61% 20,33% 20,05% 19,77% 19,49% 19,21% 18,94% 18,67%

9 18,41% 18,14% 17,88% 17,62% 17,36% 17,11% 16,85% 16,60% 16,35% 16,11%

1,0 15,87% 15,62% 15,39% 15,15% 14,92% 14,69% 14,46% 14,23% 14,01% 13,79%

1,1 13,57% 13,35% 13,14% 12,92% 12,71% 12,51% 12,30% 12,10% 11,90% 11,70%

1,2 11,51% 11,31% 11,12% 10,93% 10,75% 10,56% 10,38% 10,20% 10,03% 9,85%

1,3 9,68% 9,51% 9,34% 9,18% 9,01% 8,85% 8,69% 8,53% 8,38% 8,23%

1,4 8,08% 7,93% 7,78% 7,64% 7,49% 7,35% 7,21% 7,08% 6,94% 6,81%

1,5 6,68% 6,55% 6,43% 6,30% 6,18% 6,06% 5,94% 5,82% 5,71% 5,59%

1,6 5,48% 5,37% 5,26% 5,16% 5,05% 4,95% 4,85% 4,75% 4,65% 4,55%

1,7 4,46% 4,36% 4,27% 4,18% 4,09% 4,01% 3,92% 3,84% 3,75% 3,67%

1,8 3,59% 3,51% 3,44% 3,36% 3,29% 3,22% 3,22% 3,14% 3,07% 3,00%

1,9 2,87% 2,81% 2,74% 2,68% 2,62% 2,56% 2,50% 2,44% 2,39% 2,33%

2,0 2,27% 2,22% 2,17% 2,12% 2,07% 2,02% 1,97% 1,92% 1,88% 1,83%

2,1 1,79% 1,74% 1,70% 1,66% 1,62% 1,58% 1,54% 1,50% 1,46% 1,43%

2,2 1,39% 1,36% 1,32% 1,29% 1,25% 1,22% 1,19% 1,16% 1,13% 1,10%

2,3 1,07% 1,04% 1,02% 0,99% 0,96% 0,94% 0,91% 0,89% 0,87% 0,84%

2,4 0,82% 0,80% 0,78% 0,75% 0,73% 0,71% 0,69% 0,68% 0,66% 0,64%

2,5 0,62% 0,60% 0,59% 0,57% 0,55% 0,54% 0,54% 0,52% 0,51% 0,49%

2,6 0,47% 0,45% 0,44% 0,43% 0,41% 0,40% 0,39% 0,38% 0,37% 0,36%

2,7 0,35% 0,34% 0,33% 0,32% 0,31% 0,30% 0,29% 0,28% 0,27% 0,26%

2,8 0,26% 0,25% 0,24% 0,23% 0,23% 0,21% 0,21% 0,20% 0,19% 0,19%

2,9 0,19% 0,18% 0,18% 0,17% 0,16% 0,16% 0,15% 0,15% 0,14% 0,14%

3 0,13% 0,13% 0,13% 0,12% 0,12% 0,11% 0,11% 0,11% 0,10% 0,10%

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