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O Livro Maldito ®
Gerson Machado de Avillez
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
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O LIVRO MALDITO ®
Gerson Machado de Avillez
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
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Título Original
O Livro Maldito
Capa
Gerson Machado de Avillez
Revisão
Gerson Machado de Avillez
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
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Prefacio
Os casos são fictícios, creio, mas o que presenciei e me levou
a estes livros e os conhecimentos nele proposto, não. Assim como
Roberta Sparrow concebe-se a dúvida ante a maravilhosa ficção ou a
terrível verdade, àqueles o qual a pergunta move e o destino aguarda
pela tênue linha divisória entre realidade e sonho, loucura e
sanidade.
O mesmo tempo a que inquerimos responderá, mas não sem
igualmente nós inquerir. Meus olhos estão focados na quarta
dimensão de onde todas as demais advêm em todas suas flutuações.
Sendo acertado o que diz o autor ao leitor que ler tais
palavras neste livro sofrerá perseguições iguais ao do autor. For
verdade o resultado confirmado será a perseguição, ameaça,
humilhação e marginalização por aqueles que tentarão anular a todo
custo para tentarem dominar o conhecimento proposto nestes livros.
Isto já está acontecendo comigo...
12 de fevereiro de 2014,
Gerson Machado de Avillez
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Índice
Omni Libri Ad Ventus – Pág.8
O Enigma 111 e a Página 37 – Pág.40
A Biblioteca Maldita e os Time Lords – Pág.64
O Guia de sobrevivência dimensional e temporal – Pág.88
A Mãe de todas conspirações – Pág.111
Vislumbres prévios – Pág.133
A Tempestade dos Séculos – Pág.157
De vento à polpa – Pág.179
Apêndices – Pág.196
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I
Omni Libri Ad Ventus
"A literatura, pelo menos a boa, é uma ciência com sangue de arte."
O Jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafón
o levantar-me pela manhã a primeira coisa que faço é ir aos
sanitários para tirar a água do joelho, todavia ao sair pela
porta do sanitário vejo um corredor completamente
diferente do normal. Brinquedos de crianças largados ao chão quase
me fizeram tropeçar enquanto procurava meu chinelo e sentia um
cheiro forte de café vindo da cozinha ao lado do ruído de fritura do
dejejum. Após ouvir a voz de uma mulher atender um trote
telefônico o qual a ligação é identificada, esta coloca um walkman e
vai a cozinha fazer arroz com um coador de arroz quando liga o rádio
do walkman mas um balão elástico cai no quintal com uma
mensagem incomum. Intrigado, eu ouvi nisso um grito de criança que
em seguida riu e uma sombra que veio em direção ao ruído, lado o
oposto de uma Tv a cores daquelas de tubo do século XX onde
passava uma sequência de um coelho ao lado do personagem Donnie
Darko num cinema, num filme me mesmo nome, isso quando
tropecei num carrinho e escorreguei batendo de cabeça e apaguei
tão brevemente quanto despertei.
Quando despertei vi-me cercado por quatro olhos, dois pares
que me olhavam atentamente e sorriam. Por um breve momento
A
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pensei eu ser a simpática donzela que via atender o trote. Estava me
pós-graduando em filosofia e após um incidente anos atrás meu livro
se tornou best seller, minha vida social então deslanchou e prosperei
em todos os setores como se tivesse cruzado o caminho da felicidade
e prosperidade onde a paz e sucesso eram as vias adjacentes.
- Esqueceu-se da hora desta vez? – Disse uma voz, a senhora
minha mãe.
- Não fazes ideia que já são quase 11 horas? – Disse a outra
voz e de um amigo meu, Petrônio Fonseca.
- Não gosto de acordar deste modo. – Respondi emburrado.
- Mas parecia compenetrado em sonhos tenebrosos do além.
– Retrucou Petrônio.
- Apenas Gárgulas do passado, talvez... – respondi eu
erguendo-me contrariado como se o sono (e sonho) fossem
melhores.
- Pois temos novidades que o deixariam animado para o
dejejum. – Retrucou Petrônio. – Aparentemente o sistema
multidimensional de processamento é um hesito como predito. O
sistema que interpreta reatividades síncronas de gravitação de
eventos em sistemas complexos e dinâmicos, cuja probabilística
cruza da previsibilidade a predileção percentual espaço temporal no
caos. – Disse Petrônio empolgado tirando um jornal onde enunciava
na capa do caderno de ciências “A máquina de predileção do futuro”
e continuou - Tudo isso somente acontece por causa da informação
que relacionada ao caos e ao tempo dá tudo preciso sobre energia e
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matéria susceptível. Seu pensamento tem que ser essencialmente
multidimensional.
- A vidência assim não passa de informação pré-existente
num sistema dinâmico por padrões que favoreçam ao aderir. Na
realidade harmoniza todos os eventos multidimensionais a
convergirem harmonizadamente a um evento de destino.
Conseguiram replicar isso em laboratório? – Conclui perguntando
tendo um aceno de positivo de Petrônio.
- O Crocodilo tic-tac nunca para Gerson. Preza a lenda de
uma arma de reatividade síncrona seria de impossível incriminar.
Suponhamos uma arma de caos que cria eventos indiretos a atingir o
alvo aperfeiçoada em relação ao visto na Espanha, mas que apenas
faz um pombo defecar em sua vítima alvo, este escarnece, mas ao
debochar e apenas isto, ele tropeça ao limpar os olhos e cai de
cabeça morrendo. A culpa é de quem?
- Pensou escrever isso para contos surreais? – Indaguei eu. –
Mas diga-me duma vez, você não veio aqui somente para isto.
- Não mesmo. – Disse Petrônio revelando-se para mim. – um
incidente misterioso parece ter exposto alguns projetos negros que
parecem nutrir com um mítico projeto da marinha norte-americana.
Todos mortos, inclusive quatro crianças sem aparente porque.
- Como sempre o essencial não está na mídia. Seria um
remanescente do projeto Philaphelfia? – Concluí perguntando e
tendo um aceno positivo de Petrônio.
- Acho que ficaram alvoraçados com as possibilidades de que
a probabilidade não é coisa somente dessa dimensão, mas
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multidimensional. Diria, por fontes extraoficiais, que era um
experimento de transpassar dimensões. – Completou.
- Quero meu café bem quente hoje. – Disse eu lavando meu
rosto no banheiro percebendo que o dia apenas estava começando. –
As crianças foram identificadas? – Completei enquanto enxugava o
rosto na toalha.
- Um autista e três com Síndrome de Asperger.
- Típico. – Concluí – poderia figurar entre elas. Quais as
habilidades?
- Não tenho informação, mas acho deduzível.
Naquele momento fui a quarto novamente e abri um convite
que mostrei a ele, escrito ‘Clube dos Pioneiros’.
- Para que recordes? São para os superáveis, pois pioneiros
são inexpugnáveis. – Disse Petrônio com uma dose de ironia.
- O que conhece de fato sobre eles? – Perguntei.
- Homens e mulheres interessados no singular, no inédito e
insuperável.
- Singularidade está no vocábulo deles?
- Sim. Naturalmente, inclusive lei de Moore e essas coisas
todas mais. Descobridores do novo e visionários sempre são
convidados. Considere-se honrado.
- O que posso eu ter para eles e eles pra mim? – Perguntei.
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- O que? – Perguntou respondendo Petrônio com um riso. –
Essa gente tem acesso a livros malditos, coisas que deixariam o leigo
babando como mongoloides dopados. Num dos livros perspectivas
duma mesma história.
- Naturalmente isso é providência sua... – conclui eu.
- Não, mas estão sempre investigando nos arquivos do
Vaticano: Coppernio, Pitágoras, Newton, Faraday esse tal pessoal.
- Membros?
- Honorários, mas preza a lenda que o grupo está por ai
desde o épico de Gilgamesh fora escrito, defensores da verdade e
tudo mais.
- Os maus adoram contar essas histórias antes de nos fazer
domir.
- Não eles! Não estão interessados em posições para
dominação como algumas sociedades secretas, na realidade, estão
interessados em acumular todo conhecimento possível da verdade
para protege-lo de um cataclismo. Compreendem que boa parte da
história, principalmente a atual, é uma farsa.
- Não estou certo quanto a eles, os maçons, por exemplo, se
dizem defensores dos bons costumes mas parece que alguns têm
patrocínio em rasgarem ao meio sexualmente, e impunes com
louvor.
- Não são esotéricos ou místicos do ocultismo. Mas formado
por cientistas, pensadores, formadores de opinião como você. – Disse
Petrônio acompanhando-me até a cozinha onde coloquei meu café e
prontamente coloquei o dele também. - O Clube dos pioneiros são
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pesquisadores do improvável, imersos na verdadeira realidade da
história oficial, procuram os fatos antecedentes aos eventos
históricos como meta-historiadores duma kripto.história, procura o
antes do antes, e deduz o depois do despois, da com causa numa
quase metafísica histórica onde elementos científicos e filosóficos
encontram-se e em sua surpresa aparentemente pode romper o
linear ante fatos marginalizados de mundos igualmente marginais
não aos costumes, mas as leis físicas. Busca os primeiros, aqueles que
antes do descoberto oficial haviam o feito, e não somente dos
desbravadores do novo mundo, mas aqueles o qual desbravaram
mundos diferentes e tempos sem igual, os pioneiros, aqueles que
formam o seleto grupo invejado pelos incapazes, e formam um grupo
seleto e exclusivo, o clube dos pioneiros.
- Isso tudo é muito bonito, bonito mesmo, mas se aprendi
algo, é que quando a beleza aparente é demasiada, o interior não o
corresponde. – Respondi comendo um pedaço de pão francês com
queijo prato.
- Você mudará de ideia quando ver os livros que eles têm a
lhe mostrar, faz parecer Jacquer Bergier um menino do jardim de
infância. Mas um livro que os tem perturbado, ‘A Filosofia da Viagem
no Tempo’.
Algum lugar do deserto de Gobi, China, naquele mesmo momento
Uma caminhonete corta uma estrada empoeirada em meio ao
silêncio sendo igualmente irrompido pelo ronco do motor de seu
carro feroz como se tentasse rasgar o deserto ao meio em vão
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quando repentinamente um surto de energia fez o carro morrer e
lentamente diminuir a velocidade fazendo o chinês nele presente
ouvir apenas o murmúrio de cães que carregava à morte – para um
restaurante de consumo dos pobres animais – até que ele xingou
algo em sua língua intraduzível.
O carro acostou na estrada de terra quando ele colocou sua
cabeça sobre as mãos e, murmurou algo mais quando, então, ao abrir
a janela viu ao lado uma peça brilhosa com os poucos raios solares
que ainda havia naquele lugar. Olhou para seu relógio de pulso
digital, mas ele havia apagado.
Intrigado o homem abriu a porta e seguiu até o lugar e viu
peças sem qualquer conexão com aquele lugar. Pedaços novos de um
maquinário como de um laboratório e a inscrição QUANTANIC INC.
Ele cutucou a peça com os pés, mas nada aconteceu a não ser ao
virar o outro lado ver fundido a ela partes de uma mão junto ao
metal e o que parecia ser uma espada, sem quaisquer sinais de
queimado.
O homem deu para trás caindo de cócoras assustado.
Intrigado o homem recusou-se crer no que via e pegou novamente a
peça com certo nojo, pela ponta, quando notou que o dedo era de
carne realmente.
***
Caminhei por alguns minutos ao lado de meu amigo culto,
Petrônio que parecia demasiado animado para um homem de meia
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idade que nem ele. Por algum motivo parecia ter deixado o carro
estacionado longe de onde morava, talvez como um pretexto para
ter que caminhar um pouco ao ar livre até o seu veículo alugado pois
fazia pouco tempo que estava residindo no Brasil após o incidente
nas ruínas de uma cidade que acreditava-se ser a El Dorado.
Não sei porque, mas aquilo de algum modo me contagiou
pois sendo um homem integro e sincero, parecia exalar o que havia
de melhor no homem como seres perdidos após o desaparecimento
de seu Criador.
Abriu a porta após desativar o alarme, e adentrou o carro
notando que havia um dado pendurado no para-brisas, uma
brincadeira interna desde quando estudaram a hidrocriptografia
quântica sobre as probabilidades de sorte conforme mencionava sua
inspiração-mor, Albert Einstein.
O homem parecia realmente feliz quando deu partida em seu
carro e ligou o som quando colocou para tocar músicas antigas de
Cindy Lauper, Time after time. E ele cantarolou dando a impressão
surreal de que aquele coroa na realidade estava num sonho meu.
A viagem transcorreu tranquilamente por alguns minutos
após pegar trafego tranquilo na ponte Rio-Niterói e chegar até a
Biblioteca Nacional perto do Teatro municipal, no centro do Rio. Sem
dúvida não somente era uma companhia agradável como peculiar a
essa altura, pois o sujeito, sociável como era, parecia, no entanto,
buscar intrigas e conspirações inóspitas.
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- Quem vamos conhecer hoje é um ilustre desconhecido. –
Disse Petrônio abrindo a porta do carro permitindo que o ruído da
cidade invadisse o veículo após estacionar. – Teve alguns trabalhos
publicados, todavia seus mais importantes apenas como
pseudônimo. Sem dúvida um pioneiro visionário e como tal
perseguido por inaptos como da Ordo ad Chaos. – Completou
Petrônio.
- Suponho que tenha sido acolhido pelo Clube. – Disse eu
diante dele tendo um sorriso como resposta ao trancar a porta do
carro que era um astra.
- Você ficará surpreso. Ele resolveu se unir a nós após ouvir
falar de você e seu trabalho.
Petrônio seguiu em passos firmes até a escadaria da
biblioteca e subiu com um fôlego peculiar para sua idade quando vi
um senhor parado na porta da biblioteca nos dando um sorriso.
Pensando ser apenas um livreiro ou parte da segurança apenas sorri
de volta após dizer ‘bom dia’ quando para minha surpresa Petrônio
parou diante dele e disse.
- Gerson, esse Jones Skelton. Jones Skelton, esse é Gerson.
Duvidei que aquele fosse o nome verdadeiro do sujeito que
era mais velho que esperava e, alias, para minha surpresa se quer
havia cogitado que o fosse.
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- Me perdoe – disse eu sem jeito – pensei que fosse mais
jovem.
- Somente é bagaço, que um dia já foi muito chupado. – Disse
o homem em tom irônico tirando uma risada de Petrônio. – Fico
lisonjeado em conhece-lo.
- O prazer é meu. – Respondi com um sorriso sociável e
cordial no rosto quando ele acenou com a mão esquerda para
entrarmos.
- Nada mais adequado para apresentações sobre
conhecimentos perdidos que numa biblioteca. - Jones Skelton
colocando seu crachá no blusão e subindo, pois, era funcionário da
biblioteca. – Trabalho aqui a vinte cinco anos, e já ouvi de tudo, mas
no silêncio é que fiquei ciente de conspirações. E não tenha dúvidas,
são frações de ignorância, pois quando nunca querem que se
conheça a verdade, preza-se não somente a ignorância, mas a prisão.
Quem apaga uma origem dita que viemos do nada para o nada ir.
Ao subir o primeiro lance de escadas, na entrada principal,
fiquei impressionando com a beleza do lugar quando chegamos a um
elevador após ele cumprimentar um segurança, pois estávamos lá
entrando convidado dele.
- Pensei que vocês do clube tivessem uma sede. – Disse eu
intrigado.
- Sim, como não? Está nela. Nos reunimos todas as sextas-
feiras nesse monumento do conhecimento, preservando e
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protegendo o que mais importa, a verdade. – Respondeu ele
entrando dentro do elevador. – Mas o motivo de chama-lo até nós, é
que descobrimos o interesse de alguns, os mesmos que conspiram, a
fraudar alguns livros inclusive os seus.
- Mas eles não ficam aqui. – Respondi eu pra aquele senhor
entusiasta do incomum e singular. – Por que iriam...
- Por quê é o que move, Gerson. Busco porquês, pois, é o
porquê do que buscar. – Respondeu ele – enquanto conversamos
neste elevador, um caso incomum ocorreu no deserto de Gobi, na
China.
- A Oopart... – deduziu Petrônio tendo a concordância de
Jones.
O elevador parou então e a porta se abriu lentamente após
aquele habitual apito. Jones saiu e acompanhamos ele em silêncio
quando ele disse.
- Os senhores tem ideia o que tem incomum Leonardo Da
Vinci, Nostradamus e a nossa querida pioneira Roberta Sparrow?
Respondi que não com a cabeça.
- A apreciação pela água. Não porque eram nadadores, pois
não eram. Mas porque acreditavam ter nela propriedades incomuns.
– Disse ele entrando num saguão repleto de livros e continuou – Isso
não teria nada a ver com o tempo, todavia como compreendem
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sobre a hidrocriptografia ela pode ser reveladora sobre nosso
universo. Nostradamus realizava suas previsões observando as
ondulações das águas, Sparrow acreditava que era conduto
incomum, e Da Vinci, bom, um dos maiores pioneiros fora Leonardo
Da Vinci. Então você surgiu para completar o mosaico, com a peça
que restava.
Ao contemplar o lugar havia um espaço amplo para a leitura
e ao chegar na mureta pude contemplar os andares abaixo repletos
de fileiras de livros, mas o foco de Petrônio eram nos livros daquele
ponto específico, algumas raridades.
- Neste lugar não somente pesquisamos algumas
preciosidades como discutimos sobre o conhecimento perdido, algo
que remonta tempos imemoriáveis. Algumas coisas são descobertas
atualmente, ocasionalmente, noutras vezes a criam. – Disse Jones. –
Por que muito gênios e escritores queimaram seus trabalhos e
escritos jamais conhecidos como se temessem algo ou alguma
descoberta? Leonardo Da Vinci, por exemplo e tanto mais conheciam
algo aterrador de realidades alternativas e marginais na antiguidade,
trata-se disto O Clube dos Pioneiros.
- Como assim realidades alternativas? Reuniões secretas e
criptohistória?
- Esqueçam essa coisa de Sociedade Secretas, eles procuram
segredos para se fazerem importantes. – Respondeu Jones – eu digo
algo que tenha total significado a natureza de nosso próprio universo
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e que naturalmente era interesse de alguns deter em segredo para se
intitularem autoridades. O que eu digo é algo que transcende ao
nosso universo, uns viam como mundo espiritual, mas pessoas como
Sparrow compreendia que era algo real ainda que fora de nossa
realidade. As ideias de portais dimensionais do ocultismo e tanto o
mais vieram disto, um poder que sempre quiseram tocar, mas
raríssimos os momentos que quase o conseguiram.
Jones então parou diante de um livro antigo. Era Alice no Pais
das Maravilhas que ele pegou nas mãos, uma versão original
autografada pelo autor.
- Esta é minhas boas-vindas ao pais das maravilhas. A
maravilhosa realidade fora da nossa. – Disse ele entusiasmado
entregando o livro nas minhas mãos. - Lewis Carroll tinha um anseio
pelo vislumbre que teve de um futuro, mas não imaginativamente,
mas vívido e cognível ao transloucar-se por uma realidade
metaforicamente colocada como signo do buraco do coelho e o
espelho em algo aparentemente infantil, mas carregado de sua
'viagem dimensional'. Lewis era um pioneiro. Sem dúvidas.
Jones provavelmente tem uma identificação falsa, pois
mudou de nome ao fugir de seu país por perseguição ideológica. Com
uma cabeleira grisalha não conhecia a calvície apesar da idade, era
esguio como um adolescente mas a lentidão de seu corpo já
mostrava o peso invisível do tempo sobre a soma de sua idade onde
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gradualmente tudo a seus movimentos pareciam em camera lenta
com leves tremores. Porém, seus olhos grandes estavam cheios de
vida e brilhavam com o que comentava conosco de modo que seu
bigode branco parecia dançar de um lado a outro enquanto movia
seus lábios repletos de palavras eruditas.
Petrônio então pegou o livro em suas mãos intrigado e o
desfolhou lentamente quando espirrou com o cheiro das páginas
envelhecidas. Ele tinha asma, assim como eu.
- Deixe-me ver – disse Jones olhando para uma fileira de
livros pensando consigo mesmo como quem escolhesse algum livro
para pegar. - Diego Villas, autor de inúmeros livros malditos. – Disse
ele passando agora o dedo sobre os referidos livros.
- Quem é Scriberius? – Indaguei eu intrigado ao ver esse
nome num dos livros.
- Todos os membros do Clube dos Pioneiros usam
pseudonônimos. Scriberius é um deles, na verdade estes é do Seven
Circle. Raridade de uma seita de espionagem. Os inomináveis, assim
alguns pseudônimos são para proteger, outros são por injustiça e
noutro casos não dizemos os nomes para não atrai-los a nós como
quem evoca demônios. – Respondeu ele sem tirar os olhos dos livros
quando então disse. – Pronto, achei, este aqui!
Jones retirou o livro do lado de um misterioso título chamado
‘Personas de Porlock’ e ‘O Filho de Kairos’. E o livro era justamente o
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raro exemplar em português de ‘A Filosofia da Viagem no Tempo’ da
freira Roberta Sparrow.
- Eu mesmo traduzi há alguns anos. Os senhores
compreendem o termo ‘trabalho de casa’. – Disse ele entregando o
livro nas minhas mãos. – A senhorita sem dúvidas pertencia a Ordem
de Kairos, uma genuína filha de Kairós.
- E o que seria a Ordem de Kairós? – Perguntei enquanto
abria o livro sem o mesmo entusiasmo.
- Conhecimentos proféticos para os homens, conhecimento
dimensionais para os anjos. – Respondeu ele com um sorriso de
orgulho por ter aquela obra em suas mãos. – O livro fora escrito em
1944 e evidentemente ela era uma devota de sua fé.
- Roberta Ann Sparrow, certamente deveria ser uma boa irmã
pelas dedicatórias. – Respondeu eu enquanto Petrônio se debruçava
sobre meus ombros para ver o livro comigo.
- Mas assim como esses nomes, - disse Jones - os demais
nomes do livro não encontramos sinais da existência.
- Talvez sejam de outra dimensão – concluiu Petrônio como
uma pontada de ironia.
Meus olhos moveram-se velozmente entre as letras
procurando nelas os padrões de verbos que me transmitissem de
modo mais rápido o possível seus conhecimentos quando li o breve
prefácio que enunciava em tom de temor.
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O intento deste pequeno livro é ser usado como um guia
simples e direto em uma hora de grande perigo.
Eu rezo para que seja apenas uma obra de ficção.
Se não for, então eu rezo por você, leitor deste livro.
Se eu ainda estiver viva quando os eventos preditos nestas
páginas ocorrerem, eu espero que você me encontre antes que
seja tarde demais.
Roberta Ann Sparrow
Outubro, 1944
Aquilo parecia ser uma espécie de guia de sobrevivência
apocalíptica que faria Douglas Adams rolar de felicidade. Movi então
até o segundo capítulo notando que certamente ela deveria ser uma
candidata a ter rompido a dimensão conhecida ou ao menos ter
conhecimento disto para aqueles homens do Clube dos Pioneiros.
- Metais e água. – Disse Jones ao ver o título do livro. - Água
apenas é água, tal Sparrow referia-se as propriedades elementares e
não metafóricas pertinente a ondularidade do tempo. A freira fala da
água pois a água tem importância por sua representação das
ressonâncias análoga ao tempo como conduto de todas variáveis do
caos em sua função de onda, quando alteração as resultantes é
porque atingimos a natureza dimensional das ressonâncias, sobre a
natureza comum e por isso alguns interpretam como sobrenatural.
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- Compreendo, conforme a minha teoria. – Respondi agora
intrigado.
- Nostradamus realizava suas previsões intuitivamente
baseado nisso. Observávamos isto há anos até você, bom pioneiro
constante, revelar. Porém, como se observa o conhecimento vazou a
ingratos profanos e naturalmente na qualidade de injustos querem
surrupiar.
- Realmente intrigante. Os metais seriam como constantes no
fluído representado pela água? – Perguntou Petrônio. – Por que é um
livro raro?
- Não somente constantes, mas por que vibram. – Respondeu
Jones. – o que vibra cria ondulações. A mais pura analogia ideológica.
Mas estão aqui porque ela está em risco assim como sua aplicação.
Ainda que indícios alinhados denotam que algo aparenta transpassar
o tempo parcialmente, mas algo que escarra e soterra ao
esquecimento a fonte em que bebe. Afinal quem muito precisa de
tapete é por ter os pés imundos, quem muito precisa sacrificar é que
tem impurezas demais a purificar.
- Ordo ad Chaos. – Concluí eu perplexo quando o rosto de
Jones se iluminou com um sorriso de concordância.
Como esquecer da Ordo ab Chaos, por causa de tais quase fui
morto por um psicopata cruel e impiedoso a pouco tempo atrás e,
agora, eles pareciam estar de volta não menos arrogantes e
obstinados para com a injustiça. Não resistindo a deixa dada por
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Jones então resolvi concluir seu discurso por identificação própria
como vítima deles, não sem antes Petrônio confirmar.
- Gerson fora vítima deles.
- Eles te taxam pelo que desejam lhe fazer, - seguiu Jones - se
apenas fazem excrementos então para eles você é privada.
- São grandes inaptos e tem o único significado de vida tirar o
valor de quem não o é, pois acreditam que matar, roubar e destruir
lhes fazem melhores.
- Vaidade é lustrar a hipocrisia. Não conheço um só hipócrita
que não seja vaidoso. – Concluiu Jones de modo eloquente.
Não era todos os dias que havia um papo tão franco e aberto
sobre conhecimentos que seriam perdidos, assim como seus vilões e
perseguidores. Todavia ainda que já tivesse presenciado o
inominável, extraordinário e aparentemente sobrenatural era pouco
crível tais afirmações que Jones desferia como bofetadas ao
incrédulo. De modo que a busca dele por mim, assim como a fim de
completar esse conhecimento alegadamente perdido, para ele tinha
função de completar uma cosmovisão não somente cultural e
religiosa, mas científica.
O Conhecimento perdido tinha suas raízes no passado
longínquo e se perdia nas parcas nevoas do tempo ante ataques
sempre destes arquivilões da verdade que apagavam rastros e
evidências tanto de seus defensores como descobridores e criadores,
restando a pessoas como Jones Skelton deter fragmentos e peças
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desse mosaico o qual mesmo eu havia participado ao conceber, para
ele, uma das peças mais importantes para completa-lo.
Ao nos retirarmos, Skelton, no deixou o exemplar do livro ‘A
Filosofia da Viagem no Tempo’ para nossa humilde apreciação ainda
que mesmo Petrônio, com sua argúcia e ironia tivesse. Dado
lampejos de resistência a ideia de um multiverso literalmente. Assim
partimos ante um homem tão culto e cordial não poderíamos recusar
a oferta pois ainda assim tratava-se de um livro maldito que por seu
teor revolucionário havia feito frente a livros como ‘O universo numa
casca de noz’ muito antes do mesmo se publicado.
Quando toquei os pés em minha residência coloquei-me a
tomar um banho enquanto refletia sobre a imagem da água que
corria ralo a dentro. Imaginei como um portal naturalmente poderia
distorcer o tempo criando ondulações na sua malha que
naturalmente poderiam criar ondas de aleatoriedade impensáveis.
Petrônio bate um papo animado com a senhora minha mãe quando
adentrei a discussão deles como de escanteio.
- O batismo tem significado multifacetado como metáfora. –
Disse Petrônio a ela – Para os joanitas, seguidores originais de João
batista propusera uma compreensão exclusiva de um batismo na
quarta dimensão o qual o tempo purificava assim como o significado
dos 40, na bíblia.
- Quarenta dias ou anos, por Jesus no deserto, Noé na Arca e
Moisés e seu povo tem representação de abstinência. – Retrucou a
senhora minha mãe.
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- Há um conhecimento secreto passado apenas a herdeiros
do milenar conhecimento perdido dos Seth que sugere a expectativa
de atravessar dimensões com o sepultamento do antigo ser, o que
hoje se interpreta como o arrebatamento. – Retrucou ele cheio de
confiança. – Pois é a menção das águas do princípio dos tempos
conforme o começo do livro de gêneses coloca como análogo ao
tempo.
-Talvez Jones Skelton seja um neo-joanita. – Interrompi eu –
Pelo jeito como tem igual obstinação sobre o conceito de águas
análoga ao tempo. Isso são especulações.
- O que temos ciência hoje – continuou Petrônio após me
ouvir comentar – é que ouve um conflito inicial entre João e seu
primo Jesus pois ambos tinham numerosos seguidores, ainda que
João a seu modo se tornou o primeiro cristão. Evidente que haviam
diferenças de crenças.
- João, batista era um herdeiro de Seth? – Disse eu – Se assim
fosse Jesus sendo da mesma família poderia igualmente ser.
- Não necessariamente herdeiro, mas de seu conhecimento
instruído por estes assim como o rei Davi teria sido instruído,
segundo alguns, por 37 amigos. – Completou enquanto agora a
senhora minha mãe apenas observava confusa e então ela
interrompeu.
- Acho que o escrito na bíblia me é o bastante, isso são
apenas teorias.
- Concordo com ela. – Disse eu.
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- Naturalmente que não há muitos registros, porém, os
indícios são inegáveis com os padrões indicados na mesma bíblia. –
Completou Petrônio certo do que afirmava.
Naquele momento sentei-me e peguei em mãos o livro lendo
novamente o prefácio quando me deparei com as observações da
suposta autora do livro maldito, Roberta Sparrow.
"Eu gostaria de agradecer às irmãs da Capela São João em
Alexandria, Virgínia, pelo seu apoio em minha decisão.
Pela graça de Deus, elas são:
Irmã Eleance Lewis
Irmã Francesca Godard
Irmã Helen Davis
Irmã Catherine Arnold
Irmã Mary Lee Pond
Irmã Virginia Wessex"
- O que mais me impressiona – disse eu – não é que os
conhecimentos de Sparrow anteciparam, mesmo a despeito das
fantasias, Stephen Hawkings, mas que ela era da capela de João em
Alexandria.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
29
Naquele momento Petrônio parou de falar o olhou para o
livro em minhas mãos quando chegou a óbvia conclusão: ela era uma
joanita ou neo-joanita! Águas e tempo, viagem no tempo, tinham
tudo a ver.
- Isso explica o porquê de sua crença, conforme disse, no uso
das águas. – Completou ele agora entusiasmado.
Porém antes mesmo que dissesse algo em resposta ou
ousasse a seguir a linha de raciocínio de Petrônio o telefone tocou
interrompendo o súbito silêncio de alguns poucos segundos de
perplexidade. Levantei-me para pegar meu smartphhone quando
observei que era de um número desconhecido. Receoso atendi o
telefone olhando para os lados quando o toque se silenciou e ouvi
uma voz rouca de um homem.
- Senhor Gerson Avillez?
- Sim, quem fala? Porque liga sem identificar o número? –
Interrompi eu.
- Me perdoe a má impressão, mas devido as circunstâncias se
fez necessário. – Respondeu a voz do outro lado um pouco abaixo do
normal. – Dada as mesmas circunstâncias o qual o envolvem nas
moralmente duvidosas nevoas da conspiração ante o livro que tem
em posse assim como interpretações dele, sugiro lhe encontrar para
discutir sobre assuntos não somente de interesse, mas que podem
custar a vida também de seu amigo Petrônio.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
30
- Não marco encontro com suspeitos e pessoas que me ligam
sem número revelado. – Retruquei agora ruborizado pelo nervoso de
constatar que ele tinha conhecimento do que fazíamos sem ser como
por vias legais. Se quer sei seu nome!
- Pode me chamar de Informante, não tenho muito tempo
para lhe convencer, mas tenho informações que sem dúvidas vai
interessar, pertencia a Ordo Ad Chaos.
- Mas... – tentei interromper novamente em vão.
- Não haverá outra oportunidade, caso esteja interessado me
encontre aos pés do Cristo redentor com Petrônio, amanhã as 10:25.
– Disse a voz e então desligou o telefone o fazendo dar aquele bip de
ocupado.
Olhei para Petrônio e minha mãe para observa-los
igualmente me olhando apreensivos sobre quem seria então engoli
seco e lhes contei sobre o diálogo travado. Petrônio ao ficar ciente
daquilo fico não menos intrigado e topou ir, mas não sem antes
contatar os seus da Ordo Christianitas Ad Ventus e pedir suporte caso
algo acontecesse o que pelas coordenadas do encontro dificilmente
alguém da Ordo Ad Chaos se exporia para cometer qualquer dolo.
Li um pouco do livro enquanto tomava chocolate quente,
mas meu foco ficou nas palavras daquele homem de voz rouca como
quem fosse um fumante e ao dormir meus pensamentos pesaram
mais que minhas pálpebras sobre tudo que havia passado por causa
dessa nefasta seita de saqueadores do conhecimento alheio. Todavia
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
31
adormeci não por contar carneiros pulando a cerca, mas por perder-
me em meus próprios pensamentos.
Pela manhã ao acordar observei que Petrônio, que lá havia
igualmente adormecido já se encontrava de pé entusiasmado com o
passeio que faríamos enquanto estava ao telefone conversando com
uma conhecida nossa dos tempos que fiz uma incursão a Europa,
Zaira.
- Então esse homem marcou esse encontro. – Respondeu ele
a ela na sua conversa. – Não, não... – continuou respondendo-a – Só
quero que consiga uma gravação da ligação feita por ele e uma
triangulação de onde veio o sinal de sua linha. – Ele bateu então em
sua perna e resmungou algo – Não, Zaira, é simples, apenas isso que
estamos indo lá daqui a pouco!
Petrônio desligou o telefone quando me viu pegando uma
caneca de café com leite e me atualizou sobre tudo que era realizado
por ele enquanto dormia como preparativos para nosso inusitado
encontro com o suposto informante anônimo.
Eram 7:46 e terminei meu café antes de partirmos
diretamente a ponto de encontro. Apreensivos, ao subir de carro
pelo Corcovado mal nos demos conta da paisagem a nosso redor e ao
encontrar a panorâmica enquanto caminhávamos subindo o restante
do trecho a pé notei que havia um mundo lindo ainda que a despeito
de tanta crueldade nos detalhes de suas entrelinhas, inclusive
histórica.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
32
Quando chegamos ao topo, Petrônio que apesar de em
forma transpirava com o suave sol da primavera naquela manhã
balbuciou algumas palavras de elogio a paisagem enquanto ofegava e
então virou-se para o outro lado a observar o Cristo Redentor
imponente de braços abertos. Naquele momento passou um
faxineiro assoviando por nós quando vimos um homem de terno
parando nos observando e igualmente assoviando.
Pensamos que fosse ele nosso suposto informante e nos
aproximamos quando ouvimos uma voz do outro lado nos
chamando.
- Deste lado Petrônio e Gerson.
- Como você conhece nossos nomes? – Indagou Petrônio
quando o faxineiro passou por nós assoviando diante da capela nos
pés do Cristo tornando do olhar o Informante ao homem o
acompanhando.
- Regra da conspiração: O que é assovio aqui, é armação
disfarçada. – Disse o homem em tom de paranoia – Eles não têm
ciência de nosso encontro, por isso não temos muito tempo.
- Me perdoe não ser tão cordial com quem se quer se
apresenta. – Respondeu Petrônio enquanto eu observava silencioso o
homem.
O homem era ruivo e tinha uma barba cerrada vermelha, era
levemente calvo e tinha uma postura elegante como se algum dia
tivesse sido modelo. Esbelto e aparentando ter uns 50 anos ele tinha
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
33
um forte sotaque espanhol carregando o português do Brasil. Vestia
uma calça jeans e uma blusa preta e tinha em seu pescoço um
crucifixo de madeira com uns quatro centímetros, visível por seu
blusão com alguns botões desabotoados.
- Se esperam convencer a Ordo Ad Chaos de que estão
errados, esqueça, pois eu desisti. – Disse o homem e continuou
olhando para os lados paranoico. - Nunca são capazes de
compreender nada além da própria vontade. Talvez nem a própria
vontade sejam capazes de compreender. A definição plena de
veneno é o problema crítico de propor algo em que o próprio nunca
experimentará, como a síntese fariseu da hipocrisia. Mas como toda
mentira, a hipocrisia nunca é plena.
- Mas então qual o prémio que você tem por nos fazer subir
até os pés de Cristo. A salvação eterna? – Perguntou Petrônio em
tom irônico o interrompendo.
O homem jogou uma moeda de um real dentro da capela que
estava fechada, aquiesceu e sorriu quando disse em resposta.
- Conhecereis a verdade e ela vos libertará. Não é o que a
ordem o qual pertence diz?
Petrônio não achou graça e cruzou os braços a espera de algo
mais.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
34
- Certo, o motivo de lhes trazer até aqui é que no momento
em que nos falamos a Ordo Ad Chaos está perto de alcançar o
objetivo, abrir um vórtice. Um experimento malfadado o qual partes
surgiram no deserto de Gobi é apenas um trecho.
- Ouviram falarem, a Quantanic é patrocinada por eles? –
Disse Petrônio tendo um aceno do informante.
- Sutilmente, estão apenas observando os resultados da
pesquisa por cientistas éticos para depois aplica-la imoralmente. Na
verdade o que provocou o incidente no deserto de Gobi fora uma
deliberada influência deles. Um dos cientistas está como refém deles,
sua família fora sequestrada.
- O que é a Quantanic? – Indaguei eu falando pela primeira
vez com ele.
- Quantanic, - respondeu o homem olhando para mim - é um
laboratório de computação quântica que estuda os desdobramentos
da hidrocriptografia procurando estudar a natureza quântica das
probabilidades e das qualidades multidimensionais do tempo. Porém,
o que encontra-se de síncrono na aparente aleatoriedade é o código
do destino cifrado no caos. Que ao ser violado cria uma ruptura.
- Porque tal obstinação com isso? – Perguntou Petrônio.
- O vórtice é o objetivo principal da Ordo Ad Chaos, o que
buscava na El Dorado ao sistema da hidrocriptografia, o caos deles é
um dos modos que buscam para romper as dimensões conhecidas, e
para Steve David Hellson criar um novo futuro pois conhece o destino
pelas profecias.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
35
Steve David Hellson, era um bilionário que ao passo que
mantinha uma vida de aparente caridade com instituições tinha sua
vida envolta em conspirações discutidas na internet onde se sugeria
ser na realidade extremamente cruel. Altruísmo é a fachada para os
que não querem ser reconhecido por sua maldade.
- Steve David Hellson tem vínculos com a Ordo Ad Chaos? –
Perguntou Petrônio tendo um aceno do homem, novamente. – E
então agora vão criar a bala mágica para nos matar também?
- E também querem vingança por ter os detidos no incidente
em que Gerson esteve envolvido. Ele tem particular ódio contra você
por suas alegações com a linhagem de honestos que deseja
exterminar. – Continuou o homem.
- Os Herdeiros do destino. – Concluiu Petrônio olhando para
mim.
- Linha temporal tem relação com linhagem não meramente
casual. – Completou o homem. - A linhagem original de íntegros e
honestos é perseguida não somente por sê-lo, mas por seus
conhecimentos, conhecimentos perdidos, algo que era previsto em
seus portais num monumento muito antigo nos arredores de Éden,
um megalítico pai de todos outros, o megalítico do tempo.
- Conhecemos os mitos a cerca dele. – Disse eu agora
intrigado.
- O problema é que Gerson cruza duas famílias que suas
origens foram importantes. Uma família que por gerações busca
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
36
revelar um mistério, a Machado. Que no passado tentou extirpar
uma linhagem cruel de homens o qual as lendas falam de tudo.
- A família Hellson. – Concluiu Petrônio.
Parecia um jogo de palavras, mas fazia sentido pois Machado
não por menos era uma ferramenta utilizada para cortar arvores.
- O ponto é que esse livro é apenas parte do enigma assim
como os conhecimentos desenvolvidos por Gerson – disse o
informante. - Há um livro que diz sobre segredos do tempo, há um
outro livro que diz que ele é, noutra dimensão, um livro escrito para
um filme de 2001 que é sobre uma terceira dimensão fora das três
conhecidas. Esses universos eventualmente são cruzados, mas ao
leigo não se distingue um do outro por serem muito semelhantes
tirando esses detalhes.
- Onde podemos encontrar esse livro? O que há nele? –
Perguntou Petrônio agora intrigado igualmente.
- No livro há um endereço para uma toda biblioteca de livros
malditos que faz parecer o Códice Vonych redação do Enem. Isso está
na página 37 dele, e há somente um exemplar desse livro conhecido
hoje.
- Onde está?
- Nas mãos de Deus. – Disse o homem.
- Não tenho tempo para brincadeiras. – Respondeu Petrônio.
- A história de um livro maldito mescla-se com a de seu autor
e as circunstâncias o qual fora escrito. – Disse o informante
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
37
ignorando o que ele dizia - Há verdade na ficção, e ficção na
realidade.
- Não respondeu minha pergunta. – Disse Petrônio, mas o
Informante apenas sorriu
Subiu então uma família de chineses reboando sua língua de
modo entusiasmado ao ver a estatua enorme quanto eu olhei para o
alto e observei, a mão do Cristo Redentor. Então o informante
repentinamente ficou pálido olhando assustado para Petrônio e caiu
sobre ele. Estava com uma macha de sangue de um ferimento em
sua barriga. Petrônio o segurou pelos braços enquanto escorregava
pelo peito dele até a cintura vendo que alguém da multidão havia lhe
dado um tiro silencioso, ou talvez uma bala mágica.
O homem olhou para o Cristo e sorriu e então virou para a
vista do Rio de Janeiro e cambaleando caminhou até o muro e o
subiu.
- O que está fazendo, desce daí, precisamos te socorrer cara!
– Gritou Petrônio ao ver que todos agora olhavam, mas ao invés
disso o homem apenas disse em resposta.
- Bom de se estar encima do muro, é ter a melhor vista dos
dois lados, pois enquanto idiotas escolhem presidentes, os bons
escolhem seu povo. – Completou com um sorriso forçado.
Corri então e segurei a mão dele, mas ele começou a se
inclinar para o lado de fora da mureta de segurança quando ele disse.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
38
- Deus nunca vai ter 100% dos votos do mundo porque não
frauda eleição para sê-lo. – Completou sorrindo e então deixou-se
cair ao olhar um dos homens na multidão pois sabia que se fosse
capturado sofreria muito mais do que aquilo.
Petrônio e eu seguramos firme sua mão o deixando
dependurado pela mureta conosco debruçado sobre ela enquanto
um chinês vinha em nosso socorro puxando-o igualmente pelo braço.
- Estou na mão de homem – retrucou o moribundo
dependurado. – Me soltem, se me pegarem será pior! – Completou
enquanto o blusão de manga cumprida começava a ceder e rasgar e
agora completamente pálido escorreu e caiu uns quinze metros até
um estacionamento.
Corremos descendo as escadarias enquanto dois homens iam
de encontro ao homem que para nossa surpresa ainda estava vivo e
balbuciando sangue pelos lábios quanto eu o escorei colocando-o no
meu colo ensanguentado, mas com muita dificuldade apenas disse.
- O véu entre as realidades será rasgados. Busque o homem
do futuro.
Seus olhos mergulharam então no vazio enquanto suas
pupilas se dilatavam e o sangue se espalhava pelo chão ao lado de
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
39
sua perna quebrada. Olhei para o alto e vi que a mão do Cristo, para
onde ele olhava estava exatamente sobre nós e ao vir médicos o
larguei levantando-me sem ação.
- O que foi isso? – Indagou Petrônio estarrecido.
- Não sei, mas sei o que ele quis dizer com estar nas mãos de
Deus. – Respondi eu olhando para o Cristo. – Acho que o livro está na
mão do Cristo redentor.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
40
II
O Enigma 111 e a Página 37 "Na sociedade de classes o conhecimento, que era comum a todos, foi
se transformando em segredo a ser transmitido só para aqueles que
pertenciam ao grupo dominante. Evidentemente, nem todos os
conhecimentos se tornaram secretos, mas somente aqueles que
serviamde maneira especial às expectativas e necessidades do
segmento dominante. (...) Ou seja, a descoberta de que a transmissão
e a assimilação dos conhecimentos era uma coisa importante para a
sociedade decorreu da própria experiência histórica da humanidade;
porém, foi os seguimento dominante quem se apropriou dessa
prática, exatamente por ela ser muito significativa para a
sobrevivência e o avanço."
A Filosofia da Educação - Cipriano Carlos Luckesi
o contrário do que comumente se pensava o Cristo redentor
não fora um presente da França ao Brasil. A ideia de construir
um monumento cristão surgiu muito antes como sugestão a
princesa Isabel pelo padre lazarista Pedro Maria Boss em 1859.
Porém, somente com a comemoração do centenário da
independência que sendo o Brasil um pais cristão a ideia decolou em
1921. Um concurso então fora feito depois que a pedra fundamental
fora colocada em 4 de abril de 1922 sendo executado em parte por
Paul Landowski sob o projeto de Heitor da Silva Costa e edificado por
doações de fiéis as arquidioceses e paroquias de todo Brasil. Feito em
concreto e coberto por pedra sabão somente as mãos e modelos
A
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
41
menores vieram da França, feitos por Paul Landowski, levando a sua
inauguração em 12 de outubro de 1931.
Imaginar Petrônio então que um livro ou informações dele
estivesse de alguma forma guardado na mão do Cristo lhe provocava
calafrios pois ele tinha medo de altura, todavia Petrônio não negou
que como aparentava ser cristão aquele informante morto embebido
no próprio sangue deduzir que tal obra rara estaria nas mãos do filho
de Deus, ou melhor, Jesus Cristo como Deus, não seria de espantar.
Obviamente que poucos minutos depois o local estava repleto de
policiais e com a pequena multidão de curiosos que se formava ficava
difícil qualquer passo adiante quando interrogados pelas autoridades.
Eu e Petrônio apenas dissemos que o homem batia um papo sobre
curiosidades do Cristo Redentor. O que não era mentira, de certo
modo.
Porém, a primeira oportunidade que tivemos escapulimos
pela tangente e fomos até a entrada da capela que estava repleta de
ofertas em dinheiro, de notas e moedas de todo valor. Sem duvida
era adequado uma capela aos pés da imagem do Cristo de modo que
todos visitantes assim lhe prestavam tributo.
- Como vamos entrar neste lugar e verificar o livro? –
Indaguei eu.
- Conheço o responsável pelas missas nesta capela, uma
delas deverá começar tão logo, só que eu não vou subir lá. –
Retrucou Petrônio.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
42
Naquele momento percebi que a tarefa, caso conseguisse
liberação ficaria a meu encargo que lá também não era muito amigo
das alturas. Olhei para o alto, a mão direita do Cristo, nada parecia
haver dentro dela, mas tão logo chegou o padre e abriu a capela que
parecia surpreso e feliz de encontrar Petrônio, antigo amigo de
seminário a mais de uma década atrás. O homem de Deus então de
bom grado pegou um esquema que havia do Cristo guardado dentro
da capela e notamos que não havia acesso pelo interior do braço até
a mão do Cristo, mas o homem da capela disse que havia pedras
sabão sobressalentes na mão que poder-se-ia abrir como uma tampa.
Assim que o homem parou de comentar, após afirmar que
não era padrão permitir a entrada de quaisquer pessoas dentro da
estrutura do Cristo, Petrônio afastou-se até mim.
- A estátua fora praticamente toda construída no Brasil,
menos justamente as mãos. – Disse Petrônio.
- Intrigante. – Respondi.
- Talvez seu escultor, Paul Landowski, de fato tenha guardado
algum enigma incrustrado nela.
Aquilo realmente me intrigou, e movido por uma curiosidade
ímpar, a mesma que move cientistas e desbravadores superei meu
medo ao ver a oportunidade de ela subir. E assim fiz mais pensando
no seu enigma do que no medo que me entravava.
Petrônio subiu os primeiros metros comigo, por dentro da
barriga do Cristo, e ao peito encontrando seu coração onde estava os
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
43
nomes dos que investiram em sua construção, e assim contemplamos
o interior de sua cabeça quando chegamos a uma portinhola no
começo de seu braço quase no seu ouvido. Haviam prendas e cordas
de segurança para eventuais manutenções e somente quando abri a
porta para cima, depois de preso, e me dei conta do medo que
espreitava entre a curiosidade e a vista esplêndida daquele lugar. Um
vento intenso entrou movendo os cabelos de Petrônio que naquele
momento notei seus lábios ficarem pálidos, mas disfarçando-se com
um sorriso amarelo no rosto. Sai engatinhando pela portinhola e
então observei como era imponente a visão daquela enorme estátua
em tributo ao cristianismo. Fiquei com medo de levantar-me e segui
engatinhando até o pulso dele quando somente então me perguntei
que loucura realizava naquele lugar. A mão havia sido reparada
recentemente de um estrago provocado por raios, mas a vista nada
parecia haver.
Quando parei sobre a mão direita olhei para trás e vi a
silhueta da cabeça de Petrônio, tremule, me observando, e percebi
que ele sentia medo por mim. Tratei de agarrar-me numa das
presilhas que havia e palpei a palma da mão do Cristo procurando
algo volumoso sem qualquer sucesso. Frustrado com aquilo e tenso
pela situação, olhei ao redor, vi Niterói, a Baia do Guanabara, a Lagoa
Rodrigo de Freitas como para me enganar com a beleza da visão e
palpei novamente a palma da mão. Cristo parecia não querem me
cumprimentar, quando então senti algo volumoso perto de seus
dedos, como uma alavanca. A puxei e senti algo grande o bastante se
desprender quando naquele momento balancei no alto de sua mão.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
44
Respirei e me equilibrei pensado comigo mesmo que estava
tudo tranquilo, pois mesmo se conseguisse a façanha de cair estava
tão amarrado que ficaria dependurado como certa vez ficou um
jovem de parapente, preso nas mãos do Cristo. Puxei a alavanca e
notei que a pedra se movia com certo atrito e abriu como uma porta.
Meu rosto se iluminou com um sorriso exitoso e observei a porta de
pedra com cerca de 30 centímetros. Me debrucei para ver o que nela
havia e nada encontrei, mas ao palpar o interior senti um bolo de
acetado preso em brochura e então entre o medo e curiosidade que
me impregnava retirei o livro de dentro da mão. Ao puxar de volta
para mim a primeira coisa que notei fora o título ‘Enigma 111’ de Jim
Cooper Chandler, um legitimo Senhor do Tempo. Não me contive e
mesmo diante daquela visão ímpar do rio de Janeiro arrisquei-me
esquecer o medo e abrir suas páginas notando que o livro estava
escrito em francês. Um genuíno livro maldito em minhas mãos,
daqueles o qual nunca tivera a oportunidade de ser publicado a seu
público alvo.
Movi, no entanto, suas páginas, e mesmo eu sendo parte de
seu público não compreendi as palavras pois não tinha bom francês.
Porém, parei na página 37 e observei que nela havia um endereço
com coordenadas de algo em Paris quando então voltei a reparar o
fato que estava lendo um livro na mão do Cristo Redentor.
Petrônio ao ver-me com o livro nas mãos colocava agora sua
cabeça para for observando-me quando esboçou um grito para que
retornasse, grito que com custo chegou até a mim devido ao vento
que soprava firme naquela altura. Recuei engatinhando tal como
retornei, de fato sentia-me uma criança com aquele presente.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
45
Adentrei a portinhola e entreguei o livro nas mãos de Petrônio e
fechamos a portinhola que dava aquele acesso privilegiado a uma das
sete maravilhados do mundo moderno.
Quando descemos o padre parecia intrigado com o que havia
que tanto interessava arriscar-se na mão do Cristo pois alegar que
queria apenas mostrar uma vista particular de Cristo para mim não
era o bastante. De fato, o interesse ímpar era muito mais que uma
vista igualmente ímpar, mas um conhecimento singular de um mito
que percorria apenas por boatos entre o exagero e o improvável.
Petrônio chegou a desfolhar o livro, mas ao perceber que o
padre subia o guardou dentro de sua calça e tratamos de descer.
Talvez teríamos um mistério que realmente importasse.
Agradecemos ao padre, rimos um pouco juntos apenas para estreitar
os laços de amizade e nós retiramos demonstrando o pesar da
misteriosa morte do turista que conhecíamos perfeitamente o
porquê.
Ao entrar no carro, nos trancamos lá dentro, mas ao invés de
dar partida mergulhamos no livro, pois para nossa felicidade Petrônio
era fluente em francês, ainda no seminário onde conhecera aquele
simpático padre. Petrônio, porém, ao invés de ler tudo abriu seu
laptop e pesquisou na internet o endereço no google maps
observando ser uma das entradas as catacumbas de Paris, um
enorme complexo subterrâneo envolvo em centenas de histórias
desde tempos antigos. Pesquisou então o nome do autor e percebeu
que de fato era datado da década de 20 do século XX, o período da
construção do Cristo.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
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Jim Cooper Chandler, um norte-americano morador da
França. Morou e estudou lá com seus pais, católico devoto parecia
nutrir porém a estranha ideia de que o universo que vivia não era o
verdadeiro. Tão logo o jovem fora considerado louco mas faz
revelações incríveis de um multiverso antes mesmo da teoria em si
ser proposta, quer em ficção ou na ciência. Escritor malfadado
profissionalmente, era pobre. Um homem que todos os dias esperava
de terno alguém vir, segundo ele, de outra dimensão. A verdade, era
que aquele escritor teve sua vida arruinada em sua carreira
acadêmica, literária e social quando deveria ter ficado rico com suas
criações e descobertas, mas não só, o mestre do caos, da época,
conforme identificado por Petrônio, queria mais destruição em sua
vida, pura e simplesmente porque fora mais apto e realizar tais coisas
que o próprio. O homem, era conhecido da Ordo Ad Ventus e por isso
o endereço estava guardado na página 37, assim como ao logo do
livro haviam menções aos capítulos 37 de Gêneses, êxodo, Jô, e
Salmos. Sua obsessão com esse número parecia procurar padrões em
toda parte com esse, mas não era muito exitoso nisso ao contrário do
demais. Porém, o ponto, é que o então jovem tivera acesso nas
catacumbas onde teria encontrado o que ele chamava por Libris Sitis,
algo que iluministas procurava secretamente durante a revolução
espanhola.
Ao contrário de sociedades secretas nefastas como a Ordo
Ad Chaos a Ordo Ad Ventus tinha por objetivos realizar revelações
sobre a natureza do tempo e do universo respondendo perguntas
existencialistas básicas da humanidade. Na verdade, promovia o
diálogo e investimentos em pesquisas nas áreas que levassem ao
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
47
progresso da humanidade a um futuro, que diziam proteger, o qual
não haveria doenças, miséria ou injustiças. Mas ao relacionarem
empresas patrocinando laboratórios como a Quantanic perceberam
haver algo suspeito, pois por de trás de cada boa ação relacionada a
eles haviam duas más ações malévolas. E com aquele livro nas mãos
que indicava algo, talvez por fim, Petrônio teria encontrado provas de
seu Santo Graal, algo que simplesmente respondessem perguntas
muitos antigas da humanidade e que as provas poderiam
revolucionar a visão não somente religiosa, mas cientifica e filosófica
do mundo.
Assim Petrônio relatou a Zaira seus avanços, mas não
querendo entrar em detalhes por temer estar sendo monitorado
pelos diabólicos opositores disse que precisaria viajar a França e com
um sorriso ele me convidou a uma aventura pouco convencional por
Paris, afinal, o não convencional era o percurso comum de pessoas
da Ordo Ad Ventus.
Contatamos Jones que igualmente se interessou muito, e
Petrônio o chamou igualmente por um passeio na Europa, em suas
raízes medievais. Ao irmos pega-lo o senhor estava com um suéter
marrom e armado com um cordial sorriso no rosto que desarmaria o
mais carrancudo dos homens. Simpático e culto como era não era
difícil cativar atenções e assim seguimos ao aeroporto do Galeão, já
com passagens em mão. E adentramos carregando nossas bagagens
improvisadas contagiados pelo entusiasmo de descobertas
relevantes.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
48
- Passamos toda vida procurando o receptor, mas nunca o
encontramos. – Disse Jones – Acredito que esse autor talvez fosse um
manipulado vivo. – Completou ele sentando-se na sessão de
embarque com o livro, envelhecido nas mãos.
Debrucei-me nos ombros de Jones e observei a leitura de
Petrônio igualmente debruçado, mas especificamente na página 37
onde dizia em francês:
J'ai vu les reflets dans l'eau, eu des contacts avec la
quatrième dimension. Le chaos dans le temps, l'espace
intrusion se produit dans la quatrième dimension, lorsqu'il
est mélangé comme le tourbillon de l'eau. Mais pourquoi
les eaux Libris Sitis sont entourés par l'ensemble de Paris.
Piège chaos. Réside dans les entrailles de la ville de secrets
ineffables lumière sur la nature de notre univers et vous
êtes seulement leurs témoins morts.
Olhando aquelas palavras que não fui capaz de interpretar,
de modo que soubesse seus significados Petrônio então leu em bom
e claro português.
- Vi reflexos na água, tive contatos com a quarta dimensão. O
caos, no tempo, ocorre por intrusão do espaço na quarta dimensão,
quando se mesclam como o turbilhão das águas. Mas por isso os
Libris Sitis estão cercados por todas águas de Paris. Armadilha do
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
49
caos. Repousa nas entranhas da cidade das luzes segredos inefáveis
sobre a natureza de nosso universo e somente seus mortos lhe são
testemunhas.
O Complexo de catacumbas era mítico, inspiração a poetas e
escritores, e fonte de todo suspense. Esse complexo utilizava túneis e
cavernas para depositar corpos de cemitérios saturados na metade
do século XVIII, sendo esse esforço iniciado em 9 de novembro de
1785, pela idealização do General Alexandre Lenoir e executado pelo
"Service des carrières" que se tornou o gerenciador original dos
subterrâneos de Paris. E então os ossos foram organizados durante o
império francês de modo criativo criando imagens geométricas, onde
hoje há cerca de 6 milhões de mortos.
Quando um imóvel desabou sobre parte do complexo de
túneis subterrâneos de Paris, em tempos mais recentes, final do
século XX, alguns mitos surgiram sendo suplantados por uma
aparente desinformação do Service des Carrières, perceberam não
haver apenas corpos, mas livros. Então o IGC (Inspection General des
Carrières) é chamado e percebem se tratar de uma antiga biblioteca
de livros malditos lá sepultados durante a revolução francesa. A IGC,
"Inspetoria Geral dos Subterrâneos", fundada em 1777 bloqueia a
passagem tornando um homem como seu guardião, e ao se
pesquisar Petrônio percebe que um deles era o desiludido Jim
Cooper Chandler. Que teria protegido mesmo de alemães do III Reich
durante a invasão na II Grande Guerra Mundial.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
50
O que se soube é que os alemães procuravam suas entradas
durante a II Grande Guerra mas não se faz ideia do conteúdo dos
livros. Mas o que chama atenção é que depois de desaparecido,
perdido por dia no complexo em 2007, um 'Kataphiles' - nome dos
exploradores de catacumbas em Paris - fora encontrado em estado
de choque afirmado ter descoberto uma biblioteca e passou alegar,
delirante, que aquele mundo era falso.
"O labirinto de ossos" de Rick Riordan traz relatos sobre
viagens destes homens, mas o que se tem ciência efetivamente é que
o local serve a cultos satânicos, drogados, turistas a artistas ainda
que a maior parte esteja bloqueada ao acesso. Uma misteriosa
armadura nazista que mesclava aspectos templários fora encontrada
tendo uma tecnologia não conhecida, e seu paradeiro é um
incógnito.
Com aquela leitura onde Jim Cooper Chandler relatava parte
de sua vida até encontrar tal peculiar coleção de livros é que ele
protegia eles do que chamava de adversários dos livros, homens de
negro que perambulava buscado tomar o conhecimento detendo a
verdade em injustiça. Naquele momento Petrônio fez um adendo a
nós enquanto embarcava.
- Os homens de negro estariam presentes em tempos
imemoriáveis como na biblioteca de Alexandria onde se dizia que
tinham por intensão roubar livros com conhecimentos raros e se
tornar os únicos detentores do conhecimento, apagando mesmo o
nome de seus autores.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
51
- Todas bibliotecas têm suas traças. – Disse Jones em tom
irônico e prosseguiu. – Esses homens, num dos mitos, preza que a
lenda segundo alguns, que seria seres de outra dimensão, como
demônios, que ficaram presos neste mundo e desejam encontrar um
meio de adquirir poder sobre tal ciência. Uma raça corrupta de
degenerados criadores de males, o qual a origem na verdade é de
outra dimensão, e que buscam um meio não só de retornar, mas
abrir as portas para uma invasão enquanto para nós será selada e
proibida toda justiça.
- Nefelins?
- Um de seus nomes. – Concordou Jones – poder-se-ia
colocar os demônios como uma metáfora a seres de outra dimensão,
ultraterrestres.
Os adversários dos livros, isto é, os homens de negro, tinham
profundo ódio contra verdade e os livros que dela testificassem,
assim como seus autores, eram os que embebiam na maldição livros
revolucionários, e a tudo que odiava chamavam de cães como signo
do que deveria ser morto e anulado como se estivesse cumprindo
algo bíblico quando eram mentirosos, homicidas e feiticeiros
igualmente vetados no paraíso. Sobretudo eram correspondentes aos
Mestres do Caos, do qual um destes enfrentei para minha
infelicidade numa amarga tragédia. Era um psicopata grotesco que
quando escolhe sua vítima a persegue arbitrariamente para acabar
com ela, ainda que por motivos esdrúxulos. Ele vive em função de
suga-lo, aniquila-lo como todo parasita, mas porque na realidade
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
52
tinha algo que ele não é capaz de ter ou produzir. Sobretudo parecia
nutrir um peculiar poder de tirar o equilíbrio. O poder de tirar o
estado natural do universo a um caos sem equilíbrio, os índios norte-
americanos o chamariam de Wendigo, aquele que tira o equilíbrio,
assim como nós do sério nos fazendo tropeçar. Por isso mestres do
caos, pois tirar o equilíbrio natural é uma tentativa de tomar o poder
no universo pelo caos.
Estes interrompiam vidas incompletas em suas realizações a
exemplo de Jim Cooper, pareciam, na verdade nutrir ódio contra
tudo que tivesse dons, consciência e fosse justo e honesto e sempre
que conseguiam lhes desferia todo tipo de crime na surdina de modo
impune para depois tentar atingir-lhe a reputação, os criminalizando
entre outras mentiras inverossímeis, o faziam. Extorquiam e como
reféns eram obrigados a afirmar que estava tudo bem, na realidade o
único modo de cair nas suas graças era ser psicopatas nefastos como
eles onde o curriculum de impunidade incluísse de torturas a
estupros. Só o refugo tinha valor para eles. Faltavam adjetivos
negativos para designa-los.
- Compreendemos porque usam a violência como expressão
e o medo como mando. – Disse Petrônio com visível erudição. - O
caos só responde ao medo.
- A maioria das religiões creem num tipo de anticristo que
virá promovendo violência e matanças, e este será um mestre do
caos a fazer a tempestade perfeita, enquanto tais crenças se unem
por uma moralidade comum, estes unem apenas todos corruptos,
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
53
impunes, e degenerados de todos tipos. – Ecoei eu sobre as palavras
de Petrônio.
- Para que afundar embarcações para vender sua salvação
quando seus botes são furados e de nada servem? – Indagou Jones -
Os mesmos que matam para vender lenços em cemitérios, mas
nossas lágrimas valem mais! Nunca derrube algo caso não seja capaz
de edificar algo melhor.
Ainda que a última vez que construíram algo grandioso com
aflição, mortes e escravidão fora na realidade um grande túmulo, as
pirâmides do Egito, poderiam imaginar o que poderia ser edificado
por homens do tipo. Porém, voltados a desvendar mais um enigma,
este o livro ‘Enigma 111’ começamos a ler as orientações que
levavam inicialmente a entrada principal das catacumbas de Paris.
- Avenue du Colonel Henri Rol-Tanguy, 75014 Paris, França –
disse Petrônio sobre a página 37 e prosseguiu – As orientações diz
que temos que seguir o caminho do fêmur. Creio que seja porque
esse trecho das catacumbas esteja ornamentado com ossadas
humanas.
- Faz parecer o estilo gótico tema infantil com suas gárgulas.
– Retruquei e Jones riu.
- Temos que seguir até onde os habitantes do seol cessam e
então... – disse Petrônio quando ao virar a página viu que as palavras
formavam um desenho. – Isso é um mapa. Tem como pesquisar o
mapa conhecido das catacumbas? – Jones ficou sem reação, mas eu
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
54
imediatamente cruzei os dados na internet do avião quando
encontrei.
Petrônio que era bom em decifrar enigmas e quebra-cabeças
observou silencioso os contornos do mapa no monitor e então pediu
para ampliar e colocou a página sobre o mapa notando que
determinadas palavras se alinhavam revelando, como num jogo de
cruzadas, palavras verticais naquele texto aparentemente sem nexo,
e inclusive de letras da página anterior, a página 37. O rosto de
Petrônio se iluminou num sorriso triunfante mas havia algo mais.
- Intrigante, o livro trata da quarta dimensão, mas o mapa dá
coordenadas nas dimensões espaciais. – Disse ele – Contraditório?
- Não. – Disse eu. – Parece que os tuneis seguiam orientações
de direções como a estrela dos ventos, porém, ela marca horários
como um relógio. – Concluiu fazendo com que Jones se debruçasse
sobre nós impressionando.
- Esse garoto é um bom investimento. – Disse ele notando ser
verídico tal afirmação, pois ao norte marcava 12 entre as palavras,
referindo-se, num trecho os doze anciões.
Petrônio parecia se divertir com tudo aquilo ainda que
soubéssemos que por haver degenerados tão servis poderiam nos
pegar e torturar seguidamente por morte assim como roubar os
conhecimentos do livro – e da biblioteca – e queimar o livro
buscando apagar a vida do autor inclusive. Porém, confesso que
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
55
naquele momento procurava mais pensar no que o livro contava de
história e já que o voo seria longo, Petrônio resolveu narrar para nós
não somente o resumo da vida de Jim Cooper, mas seus relatos que
pareciam mesclar ficção com realidade naquele livro. E assim
começou a contar um relato sobre a misteriosa história de seu
personagem
Havia em tempos imemoráveis um judeu o qual a família
refugiou-se na Espanha. Não era homem de ostentações, todavia,
homem que tinha como troféu conhecimentos que alteariam a
compreensão do universo. Nobre erudito vivia apenas de suas
próprias obras honestas e discursava entre os seus sobre feitos de
homens nobres e heroicos de tempos remotos. Como sefardin
apenas tinha uma vida discreta e ao contrário de alguns judeus não
cobiçava riquezas materiais, mas as inefáveis riquezas do
conhecimento da verdade e sobre um longo percurso que tomaram
sobrevivendo de perseguições por gerações, assim como em anos
vindouros seriam até mesmo culpados, sem ser, pela peste negra
quando seus relatos indicavam peste similar como a de homens de
negro que surrupiavam conhecimentos alheios e tentava aniquilar
seus autores, protetores, descobridores.
Fora assim que justamente um desses misteriosos homens
teria cruzado sua vida buscando não somente inquerir seu legado
como toma-lo sorrateiro como a espreita com sorrisos tenebrosos à
sombra mesclando a ausência de alguns dentes igualmente aos
sinuosos trechos de trevas ritmados por assovios maldosos. Poderia
ficar rico com seu conhecimento, mas temia seu uso por mãos que
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
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tornariam ideias perigosas demais para serem seguidas. O homem
teria sido um dos fundadores da Ordem do Dragão o qual seu
descendente, Conde Dracul teria se tornando membro celebre por
sua peculiar crueldade que inspirou o mito dos vampiros e do próprio
rei dos vampiros, Conde Drácula. Aquilo era um fato tenebroso o qual
o então jovem Syon Jaffe tinha de viver pois agora se tornou visado
ante aquele tenebroso homem o qual não por menos sua tradição se
unia, tal como dizia o Jesus hebreu a herança de Caim.
Não demorou para que Syon Jaffe tornasse observável não
somente traços comuns de atitudes ao primeiro dos homicidas, mas
que o homem era contumaz em afirmar que seus descentes tinham
sangue azul. Syon Jaffe compreendia que aquele sangue o qual seus
escritos mencionavam referia-se a homens filhos de seres doutra
dimensão que vieram a este mundo para degenerar a raça humana
ainda que alguns pudessem se salvar do legado por sua metade
humana. Syon Jaffe identificava a ‘Linha do sangue azul’ como uma
espécie poderosa que procurou se mesclar com os primeiros nobres
e deu origem a uma linhagem de faraós cruéis assim como o próprio
Set. Os boatos sobre suas lendas pareciam se confirmar todos os dias
e não por menos o termo ‘sangue azul’ se tornou ditado proeminente
para designações de nobres daquela época.
- Seria uma derivação do Sang Real da suposta linhagem de
Cristo? – Indaguei eu intrigado, mas Petrônio respondeu.
- Não, está me parecia ser apenas o disfarce perfeito.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
57
Assim Petrônio prosseguiu a narrativa daquele livro maldito
por homens malditos que se tornava verossímil o porquê deles o
perseguirem.
Syon Jaffe então resolveu investigar detalhadamente os
‘porques’ daquela história pois compreendia que havia uma
miscigenação evidente não somente entre egípcios, mas povos de
toda Europa e parecia perdurar insistentemente por gerações se
esgueirando pelas sombras para tomar o poder dos homens de
supetão. E assim para sua surpresa ao pesquisar arvores genealógicas
haviam destes entre etíopes a judeus e seu sangue tornou-se
vermelho por mesclar-se cada vez mais aos homens e suas filhas de
modo que assim surgiram as primeiras doenças. Doenças pelo fato de
que estes possuíam vírus, bactérias e outros microrganismos que os
homens não possuíam e que se testificava que o livro dos herdeiros
de Seth em tempos remotos, no começo do tempo dos homens, não
haviam doenças ou pestes. De modo que Syon Jaffe seguiu as pistas
que o levassem a conhecimentos então proibidos de Libris Sitis, uma
coletânea de livros o qual referia-se que o primeiro vírus fora
passado por ‘filhos dos anjos’ assim como as primeiras doenças
sexualmente transmissíveis como suposta reprovação de Deus por
cruzamentos proibitivos entre anjos e homens.
Os anjos tinham sangue azul, e de fato eram nobres, os
primeiros como mensageiros reais, todavia com sua decadência ao
mesclar-se a imperfeição de homens pelo pecado os anjos
igualmente recaíram tornando-se impuros e ainda que os primeiros
anjos não se tornassem mortais como os homens, mas aquilo tornou
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
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ainda mais breve a vida dos homens sobre a face da Terra conforme
relatava o livro II Nefelins.
Haviam heróis entre eles, todavia, nefelins que não pediram
para nascer e carregando o enfado dos país se tornaram bastardos
humanos de sangue azul que lutavam para tentar impedir a
degeneração da raça humana enquanto um destes seguindo os
desígnios de seu pai agora condenado por Deus, tomar o poder dos
homens querendo lhes governar dando origem ao nome dos
primeiros reis sobre a face da Terra ainda que os reis de Israel assim
fossem eleitos por unção, não originalmente sangue.
Deles vieram todas as tradições do sangue ao solo, pois os
primeiros filhos dos anjos passaram aludir sua origem ao lugar onde
seus pais caíram como o ponto de cruzamento original. Mas que
ainda sendo minoria os que dentre eles resistiam, rapidamente os
nefelins se degeneraram dando origem a uma linha servil e senil
moralmente o qual a consciência humana não era presente e estes
então vendo que seu irmão mais velho tentou impedir que tomasse o
conhecimento de seus pais, levou os manuscritos dos nefelins a uma
terra distante e a nomeou por Olimpo, terra o qual homens os
associaram a lendas de sua debilitada compreensão de sua origem
enquanto essa linha cruel queria o conhecimento original que
permitisse a eles abrir as portas a dimensão de seus patriarcas, os
anjos caídos.
Aquele conhecimento tenebroso era apenas ecoado por
lendas aos ouvidos de Syon Jaffe onde primava por um mundo não
visível nas dimensões espaciais de nosso mundo, um mundo além das
estrelas, pois era uma dimensão fora de nossa dimensão e espaço,
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
59
mas o qual as portas, prezava a lenda, poderia levar a qualquer canto
igualmente nosso universo e mundo. Assim Syon Jaffe seguiu agora
obstinado a procura desse conhecimento temendo que o cruel
perseguidor antes o tomasse e fizesse mal-uso liberando a existência
de potestades malignas que deram origem a sua linhagem a emergir
o inferno sobre a terra dos homens. Mas as referências de tais livros
o qual tinham estes segredos eram protegidos por uma linha de
homens que meditava ao vento e que por atitudes eram detentores
da herança de Seth, os puros.
Fora assim num improvável dia o qual Syon Jaffe ficou ciente
de que este nefasto Abdul Alhazared que derramava sangue inocente
e buscava nele poder da imortalidade fora abordado por um homem
misterioso, mas de sorriso cordial e amigável afirmando ter o vento
lhe soprado palavras de que ele queria proteger tais conhecimentos
que estariam em risco. O que Abdul Alhazared passou a referir-se
como Enigma 111.
O homem sem apresentar-se em seu nome e graça de sua
linha disse apenas terem pouco tempo até mover os livros para um
local seguro próximo a minas abandonada de homens nas mediações
de onde um dia seria Paris. O homem então pediu-lhe uma corda e
um machado, e com o machado foram derrubadas árvores para
construir uma porta que selasse a entrada a uma Libris Sitis o qual
era detentor e em troca Syon poderia morrer lendo seus livros como
seu guardião original.
Corruptos e cruelmente nefastos como era Abdul Alhazared,
enviou olheiros para observa eles e segui-los como salteadores e
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
60
outros tipos de degenerados pela miséria em troca de dobrões de
ouro, e assim fizeram eles.
Syon Jaffe viajou então a terras distantes onde o mar fazia
pedras flutuarem e árido possuíam cavernas que mergulhavam num
deserto, pois nada tinha vida naquele lugar assim como aquele
conhecimento morto. O homem, virtuoso e enigmático lhe orientou
por estas cavernas e o levou até a coleção de livros, manuscritos que
relatavam histórias do começo dos tempos dos homens assim como
se debruçava ao futuro por um monumento que seu patriarca, Seth
teria reerguido baseado nos conhecimentos de Deus a ele passado.
Aqueles conhecimentos ensinavam não somente como abrir as
portas para outra dimensão como mostravam as lendas de onde
estaria num futuro, e trazia relatos sobre um passado nobre em que
havia justiça e sem doenças onde a verdade era proclamada e o bom
senso era líder, e todos viviam apenas dos próprios frutos e obras
pois não havia miséria. Syon vislumbrou-se e seus olhos brilharam ao
contemplar aquele formoso conhecimento de vidas de homens
íntegros, mas viajou de volta as terras da Europa e dirigiram-se até as
minas abandonadas.
Somente lá perceberam-se seguidos por funestos os quais os
dentes lhe faltavam quando por um destes fora atacado selvagem e
impiedosamente para que sua cabeça fosse tirada de seu corpo assim
como os conhecimentos de seus autores, pois eram os nefastos
responsáveis pela degeneração humana. Porém, Syon Jaffe sendo
hábil nas armas manuseou o machado libertando seu misterioso e
anônimo amigo e matando um dos salteadores quando uma
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
61
tempestade veio e com ele trouxe Abdul Alhazared entre raios e
clarões de trovoadas.
Os dois lutaram e o misterioso amigo fora ferido, mas após a
extenuante batalha Syon matou o cruel a base de machadadas.
Vendo isto, com as madeiras cortadas, o anônimo amigo disse para
sepultar aquele que seria patriarca de uma cruel linhagem, junto aos
livros, como lembrança de que os maus não poderiam dominar
aquele conhecimento, porque estando ele ciente do futuro, disse que
quando isso acontecesse seria o fim, revelou.
Syon Jaffe obedeceu vendo que era homem integro e justo,
mas ferido fatalmente pela batalha pereceu e igualmente por ele fora
sepultado, por ter seu sangue justo sido derramado antes do tempo,
e assim como epitáfio o anônimo herdeiro de Seth apenas pegou o
machado e lhe revelou que nos livros dele testificava pois batizaria,
num futuro próximo, sua linha posterior.
O choro de Syon fora intenso aquela noite, pois ele perdera
um nobre e misterioso mentor. Porém, Syon, temoroso selou a
passagem da Libris Sitis por dentro e após levar todos mantimentos e
dizer adeus a sua família com breves relatos sobre o incidente e lá se
cerrou até que os mantimentos igualmente cessarem, assim como os
conhecimentos e lá ser igualmente sepultado pois tudo que queria
era conhecer a verdade sobre os seus.
- Que história! – Disse Petrônio impressionado enquanto
Jones parecia introspectivo ouvindo aquilo.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
62
– A origem de muitos mitos podem nela ser explicados. –
Disse Jones olhando pela janela do avião sobre as nuvens. – Sem
dúvidas um pioneiro.
- Mas o que relata mais o livro? – Perguntei eu intrigado e
insaciável com aquele conhecimento.
- Sim, sim, há muito mais. – Respondeu Petrônio virando as
páginas seguintes – Mais a frente narra como Jim Cooper encontrou
os livros que foram as fontes para este. São 222 páginas.
- Duas vezes 111. – Repercutiu Jones tendo nosso silêncio
como resposta.
- Lendo-o vemos que os mitos são apenas ecos distorcidos
pelo homem. Tudo há de ter uma origem, por isso temos de defender
o conhecimento das mãos dos nefastos adversários dos livros sejam
quem for.
- Podemos esconde-lo a vista de todos, publica-los! – Disse
eu com um sorriso irônico.
- Ao menos compreendemos a inspiração de Roberta
Sparrow. De fato, podemos vislumbrar que temos de fazer justiça a
estes nomes. – Repercutiu Jones.
O avião sobre aquelas nuvens finalmente começava a sair do
curso de cruzeiro descendo abaixo delas, pois já se encontrava sobre
território francês e assim vimos que as horas transcorreram com
aquela leitura sem que nos déssemos conta. Perplexo com aquilo
notei que se dúvidas era uma explicação plausível sobre a verdadeira
origem de meu sobrenome.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
63
A belíssima história de hombridade impar sem dúvida era
uma motivação extra a homens como Petrônio prosseguir em sua
busca sobre a verdade do qual aqueles homens nefastos queriam
destruir porque não era conforme sua vontade. Enquanto a linhagem
dos bons era repleta de bondade, a desses quando rastreado poder-
se-ia observar o qual eram de coisas obscenas e crueldades servis.
Ainda que as partes desses homens da Ordo Ad Chaos não fosse
sempre identificado quando o era isso era perfeitamente possível de
se rastrear ainda que para toda regra houvesse exceção.
Petrônio fechou as páginas do livro e olhou pela janela as
edificações da cidade da luz, pensou consigo mesmo sobre o
encontro de Jim Cooper com os livros e se os corpos dos que
moveram os livros até lá, estaria de fato lá sepultados, deu um
sorriso de fé, cordial como era, nobre como vivia.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
64
III
A Biblioteca Maldita e os Time Lords "O conhecimento serve para encantar as pessoas. Não para humilhá-
las."
Mário Sérgio Cortella
inda na sessão de desembarque Petrônio parecia mais se
importar com o conteúdo do livro em mãos do que com sua
bagagem. Ao verificarem o passaporte enquanto os olhos da
imigração, alfândega e a tanto mais grudavam os olhos no seu
passaporte enquanto Petrônio em seu livro, pois enquanto uma era
identidade de cidadãos do mundo o livro era identidade de um time
lord, Senhor do Tempo. Entretido teve certeza do que lia como fonte
incomum de tantos livros malditos tanto quanto de precursores da
ciência moderna como da hidrocriptografia que identificava o caos
como relacionado em algum grau com o tempo. Leu a lista de
enigmas relacionados ao Tempo e o qual o enigma número 111 era o
tratado pelo livro.
Mais adiante, intercalando, sua concentração com as
perguntas do guarda de fronteira Petrônio viu um trecho que
identificava perfeitamente os preceitos da Hidrocriptografia que
dizia:
O Metal vibra ao ritmo do tempo onde está embebido e a
água, assim como o próprio tempo ressoa como em suas
A
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
65
resultantes de variáveis, alterar o tempo assim altera-se as
resultantes do caos de modo que é perceptivo no fluir de sua
função de onda, onde há tais alterações de modo patronizado
o caos se declina, mas quando o caos se torna extremado não
é resultante desses portais, mas segue o caminho inverso,
pode provoca-los. Esse método é atestado e infalível, mas
enquanto o primeiro é provocado por consequência de
alterações temporais, o segundo procura atingir o tempo
alterando o caos.
Quando foram liberados horas mais tarde, Petrônio já havia
devorado quase todo livro. E parecia pouco se importar com o
transcorrer do tempo linear que estudava naquele tipo singular de
literatura onde algo mágico parecia percorrer as vias. Aquele homem
passou provavelmente anos estudando e criando tais conjecturas o
que seria digno de nota mais do que nos roda pés de livros históricos.
Somente não era relacionado de todo a ciência, mas a filosofia pois
ele relacionava profecias bíblicas com aqueles conhecimentos onde
afirmava que alterar o caos poderia se alterar os tempos e de fato, os
Mestres do Caos tinha predileção particular por aberrações de todos
os tipos.
Sem perderem mais tempo, eles seguiram ao hotel onde
havia feito a reservas após atestarem ser nada mais do que turistas
escondendo suas reais intensões que era muito mais nobres,
enquanto eu visualizava a imponente a torre Effiel imaginando que a
maior parte dos segredos parisienses estavam abaixo dela. Sem
pestanejar então seguimos ao endereço pois com nossa viagem
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
66
dentro do fuso o sol parecia não se pôr e encontramos, para nossa
surpresa o lugar aberto.
- Sejamos discretos, alguns seriam capazes de acabar com o
planeta do que ver isso revelado, pois atinge seus fundamentos e
rudimentos ideológicos. – Disse Petrônio comprando um jornal da
região para disfarçar seu livro agora entre suas páginas.
Aquilo era razoável afirmar-se conhecendo o tipo de gente
cruel que perseguia igualmente tal conhecimento, pois não era difícil
imaginar que ao cobrir crimes com crimes facilmente, volta e meia
desencadeavam uma guerra algo historicamente atestado.
Caminhamos lado a lado em silêncio com turistas da região
enquanto um guia nos orientava entre corredores dominados de
fileiras de ossos, primeiro crânio e depois todo tipo fêmur. Petrônio
então abriu o livro e observou o mapa agora impresso das
catacumbas sobrepostos a página 37 e sorriu sozinho imaginando as
possibilidades como se fosse uma criança com um brinquedo novo,
quando viu os detalhes do lugar em páginas seguintes onde Jim
Cooper desbravava bravamente aquele mesmo lugar décadas antes.
***
O dia era lindo, o céu azul parecia demonstrar que o infinito
estava sobre sua cabeça quando um abalo fora sentido. Jim Cooper,
aturdido com aquilo, pois eram incomuns terremotos parisienses viu
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
67
seus objetos vibrarem a seu entorno numa dança ritmada os fazendo
caminharem diretamente ao chão. Cooper fez o mesmo, e lançou-se
de baixo da mesa como mandava a cartilha de sobreviventes de
abalos sísmicos. Mas de repente viu tudo a sua volta desabar e então
mergulha-lo num silêncio e nuvem de poeiras fúnebres. Quando
tomou coragem de erguer-se observou que nem mesmo a mesa fora
poupada algo parecia ter engolido o imóvel, mas somente aquele
onde estava.
Caminhou com dificuldade para fora do imóvel quando
observou a vizinhança se juntar a seu entorno como a nuvem de
poeira que se erguia quando um vento a levou entre murmúrios
sobre o que acontecia. Cooper inclinou para observar que havia
aberto uma cratera onde encanamento e água saiam de modo
abundante revelando corredores subterrâneos e alguns ossos ao
redor.
Estava de aluguel naquele lugar, e sendo um acadêmico
pobre não tinha muito a que ser tragado por aquele evento. Assim
ele ouviu uma voz de grito vindo de dentro da cratera,
provavelmente algum inquilino tragado pelos escombros. Caminhou
enquanto os demais vizinhos subiam o pequeno monte de
escombros, mas ele descia vindo a pisar num chão abaixo do chão.
Olhou para os lados e de um lado viu um quase infinito corredor a
perder-se no escuro e de outro uma curva fechada por escombros
quando ouviu novamente o grito de gemido de uma mulher. E aquele
grito o guiou silencioso por entre aquilo.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
68
***
Enquanto isso Petrônio, décadas mais tarde enquanto lia
aqueles relatos em primeira pessoa reconhecer uma das entradas
indicadas pelo mapa, a direita. Observando que o guia deixava os
visitantes entretidos este como um mágico aproveitou a distração e
puxou-me assim como Jones esquivando-se daquela fileira de turistas
quando nos vimos envolvidos pela escuridão.
Peguei meu celular para iluminar, mas o inútil aparelho não
somente não tinha relevância naquele país para ligações como sua
bateria havia descarregado. Mas Petrônio estava aparentemente
predestinado a ser o salvador do dia ao retirar uma lanterna do bolso
a acendendo e revelando formações geométricas com anatomia de
ossadas humanas e seguiu em frente.
Caminhamos vários metros em silêncio tendo apenas por
ritmo nossos passos ecoando pelo extenso corredor quando então
nos deparamos com o que parecia ser o fim da linha. Porém, Petrônio
ao invés de dar de ombros olhou para o livro iluminado pela lanterna
e refletindo seu rosto iluminado quando ele se abaixou.
- Onde todos restos mortais não vão. – Disse ele sorrindo ao
ler o livro.
Petrônio palpou algumas ossadas como se fosse um cego,
mas sua orientação na verdade permitia ver não com olhos, quando
achou uma pedra e a empurrou indo para o lado facilmente. O
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
69
homem parou e olhou para nós com um sorriso exitoso e então
começou a engatinhar para dentro sem nada falar enquanto o facho
de luz agora ia para dentro.
Eu e Jones, colocados para trás naquela escuridão nos
abaixamos juntos e vimos Petrônio caminhar como um bebê dentro
daquele túnel de dois metros quando vimos que após ele havia um
vão grande o bastante. Nada dissemos apenas seguimos seu
engatinhar tendo uma leve pontada claustrofóbica, mas ao menos
deixávamos o tributo a morte para trás.
Quando apareci do outro lado e levantei-me acompanhei o
facho de luz da lanterna de Petrônio, pois só restava vermos o que
ele via e notamos estar numa caverna. Petrônio caminhou em
silêncio após observar uma lamparina e a pegou para constatar, para
nossa surpresa, que ainda funcionava direito. Aquele aparelho de
pavio, fosse qual fosse o período que pertencia parecia melhor que
qualquer lanterna moderna e contemplamos toda extensão da
caverna assim como suas bifurcações, mas Petrônio, parou para
observar o mapa novamente e em seguida apontou para frente e
seguiu, e seguimos junto.
Quando chegou a uma bifurcação escorada por vigas nos
deparamos com um bloqueio de madeira tendo um desenho da
estrela dos ventos com uma espécie de graffit. Mesmo estando
escuro juro poder ter visto o rosto de Petrônio se iluminar com um
sorriso maravilho de desbravador revelando relíquias perdidas no
tempo.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
70
Puxamos as madeiras que estava apodrecida e a retiramos
sem dificuldade quando Jones, o mais velho do grupo observava
cantarolado uma música clássica. Estava ele se sentindo Indiana
Jones.
***
Jim Cooper viu em meio a escuridão um braço balançando ao
ritmo dos gritos e caminhou as pressas até ele sem pensar duas vezes
olhando para o lado. Começou a retirar os pedaços de pedra, tijolo e
concreto de cima revelando o rosto lindo de uma jovem ainda que
coberto pelo pó. Cooper a puxou para fora quando finalmente se deu
conta de que estava dentro de um lugar onde haviam três corpos de
mortos semi-mumificados. Ele a pegou no colo quando surgiu um
homem enorme oferecendo-se para leva-la e Cooper assim a
entregou nos braços dele voltando novamente seu foco até os
corpos.
Os homens mortos tinham roupas medievais. Cooper se
abaixou a notar que um deles tinha uma espécie de diário e os outros
dois estavam em posição de sepultamento. Pegou o diário e leu
identificando o homem, Syon Jaffe onde afirmava proteger tudo que
é de mais relevante. Cooper olhou para os lados, eram apenas eles
quatro naquele lugar agora. Mas o lugar, tenebroso e literalmente
cavernoso não tinha nenhum valor a não ser o que nele havia, uma
série de pergaminhos e manuscritos numa espécie de prateleira de
madeira. Cooper caminhou sobre as pedras do escombro em direção
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
71
a eles enquanto ouvia os gritos de vizinhos invadindo o lugar como
seus precursores. Sentiu que tinha que proteger aquilo, viu os nomes
de possíveis autores no começo de cada livro, pareciam estar em
grego, latim e talvez hebraico ou aramaico. Um pedaço do mar morto
abaixo de seu lar, pensou.
Naquele momento não teve dúvidas viu uma fenda na
parede e tratou de colocar os manuscritos um a um pela fresta a
bloqueando em seguida quando ouviu as vozes cada vez mais
próximas. Olhou para trás e puxou os corpos mumificados até um
canto e os colocou abaixo de uma pedra enorme e igualmente
bloqueou com mais pedras. Quando virou-se deu tempo apenas de
guardar o diário dentro de seu casaco e olhar para trás quando viu
aquele mesmo homem de dois metros diante dele perguntando se
estava tudo certo com ele. Cooper respondeu que sim, mas calou-se
diante o sobressalto em relação a tanto mais, subiu e perguntou
como estava a jovem por ele encontrado quando a rua já estava
repleta de curiosos e bombeiros.
Cooper e os demais sobreviventes do imóvel foram movidos
aquela noite para um abrigo, mas Cooper conhecendo as catacumbas
o qual se aventurou quando adolescente retornou lá a noite tendo
metalizado em sua mente o mapa que o seguia até aquele ponto
onde havia escondido os corpos e os manuscritos. Deu uma volta e os
puxou abrindo um bloqueio de madeira tal como encontrara Petrônio
muitas décadas mais tarde e começou a ver os escritos utilizando seu
conhecimento de latim e grego da faculdade. E nunca mais seu modo
de ver o mundo fora o mesmo.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
72
***
Petrônio comigo retirou pedra por pedra daquele bloqueio
quando finalmente vimos o outro lado. Encontramos um capacete
nazista no chão e Petrônio sorriu para mim de modo triunfante ao
pegar uma lunger que havia a seu lado. Levantou a lamparina que
iluminou todo o interior do local enquanto Jones se debruçava como
uma criança sobre nossos ombros, quando vimos a prateleira repleta
de pergaminhos e manuscritos.
- O livro sussurrou-me ao pé da letra que era a melhor
história jamais contata, palavras nunca ditas, poemas nunca sentidos.
– Disse.
Adentramos sob aquelas belas palavras emblemáticas do
erudito Petrônio a contemplar aquilo. E Petrônio que era
especialistas em línguas mortas como aramaico não pensou duas
vezes ao abrir os manuscritos de modo zeloso, um a um e ler eles em
voz alta.
- Primeiro Seth. – Disse ele – Algo que Flavio Josefo daria seu
sangue para ter.
Olhamos a volta para contemplar que havia também alguns
mais livros relativamente recentes em relação aqueles manuscritos,
livros em brochura, incluindo um exemplar de Enigma 111. O lugar
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
73
era do tamanho de um quarto 4 x 4, mas a disposição de livros era o
bastante para arquivar inúmeros livros. Os manuscritos estavam
numerados com o que Petrônio dizia ser o número de cópia dos
escribas indicando ser pouquíssimos exemplares e provavelmente o
único ainda existente. Aqueles homens replicavam pensamentos e
conhecimentos dos antigos mas que curiosamente pareciam avançar
a frente de nosso tempo.
O Ato de escrever é mais que imprimir em tinta, no papel,
mas a alma do autor como uma guia pela mente do mesmo. Mas
confere ao arrogante, aquele o qual auto-entitulasse maior
autoridade sobre o que o autor criou, crer de igualmente que por
conhecer a bíblia tem mais conhecimento que o próprio Deus sendo
maior que Ele. Todavia a proposição demonstra a ineficácia moral do
início, pelo meio ao fim, a sua aplicação.
O Silêncio tomou conta quando vimos então os corpos
mumificados de Syon Jaffe e seu anônimo amigo, um escriba.
Petrônio iluminou seus rostos com uma fina pele sobre e apenas
interrompeu o silêncio para lhes dizer as respeitosas palavras.
- Histórias que não ouso contar a mim mesmo, melhor amigo
desses livros.
Abaixei-me sobre o corpo e vi o diário na posição em que
fora encontrado por Cooper décadas atrás em meio a coleção Libris
Sitis.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
74
Livros malditos na verdade são abençoados por ideias e
conhecimentos transloucados do tempo o qual é oriundo, mas que
por ser envolto em mistérios e dos atributos de seus conhecimentos
e origem leva ao caminho mais tortuoso de sua trajetória, maldito
porque lhe maldizem, mas alvo da maldição dos algozes malditos
com relação doentia entre deseja-lo e querer aniquila-lo por não
conseguirem domar seus conhecimentos e ser mais forte que suas
ideias em suas pálidas práticas. Concebe-se então que a ideia que
não possui força precisa de força física para prosseguir, e estes
mecanismos sempre são do medo e violência que leva a ocultar o
que não se domina ou lhe é embaraçoso. Materialistas precisam de
matéria, a que possuir e devorar, mas em suas mentes moralmente
fracas sucumbem a ideia e ao desejo que lhes apossam como
cavalheiros ao cavalo, tomados pelo impulso mesmo de tais ideias,
mas como tolos não são capazes de senti-las e querendo possuí-las
por elas são por ela possuídos. Maldito de ser maldizente pelos que
perseguem o conhecimento neles descritos.
Obra de arte é tudo o quanto é produzido pelo homem que
sintetize não somente um período e história, mas a alma e
sentimentos do autor e equivalentes momentos. Elas podem ser
móveis ou arquitetônicas mas tratando-se livros por serem
reprodutíveis apenas as obras de exemplares raros valem mais, e
mais do que isso apenas manuscritos manufaturados e artesanais
como pergaminhos e papiros, e o principal, pelo seu teor
revolucionário e(ou) original.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
75
- Na antiguidade alguns livros eram proibidos por serem
conhecidos por dar poderes ilimitados a seus possuidores. – Disse
Petrônio. – Acho que esses não são exceção a regra.
Petrônio pegou o outro exemplar de ‘Enigma 111’ mas viu
em sua contracapa escrito em inglês.
Sob sete-estrelo o qual vem os sete anjos que guardam os
sete destinos. Somos deuses de nossas criações, e senhores
de nossas escolhas.
Intrigado notou que haviam pontos que desenhavam a
formação original das plêiades, tinham eles material para meses de
estudo, isto se todos lessem aqueles livros o dia todo, por meses.
Petrônio imaginou o que ocultistas e fanáticos pensariam ao
encontrar aquilo.
- Alguns ocultistas matariam por isso. – Disse ele olhando os
livros quando Jones espirrou com o pó que lá havia repousado por
décadas. - Notável ao ler quaisquer materiais relacionados ao místico
ocultismo que parece quase sempre envolta em charlatanismo, não
bastando a reputação ao satânico numa lista de crimes hediondos a
este associados assim quanto todo nebuloso que parece favorecer
apenas ao egoísmo de poderosos num obscuro jogo que favorece
apenas intrigas e formas de chantagens pouco honestas, mas que
cruza conspirações e intrigas de mentiras. Mas eventualmente algum
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
76
material que parece exaltar o incomum e incógnito emerge como
signo de um quase sobrenatural, não meramente nos confundir e
incutir dúvidas nos tirando o de mais valioso, a humanidade.
Petrônio naquele momento pegou um manuscrito
datilografado escrito Tratactus Ad Tempus onde era numerado como
uma cópia. Petrônio ficou surpreso em ter ciência da existência de
outro exemplar daquele livro escrito séculos atrás por um homem de
origem misteriosa.
No ano de 1137 um homem misterioso surgiu como 'do nada'
falando um dialeto não conhecido em meio a Palestina, temerários
alguns cavalheiros da Ordem Empobrecida de Cristo os cercou e para
que não fosse violentamente morto o jovem que se identificou por
Heidrun Adail prometeu-lhes oferecer segredos para que
enriquecessem.
Estes homens, os templários, assim aceitaram ao ver que no
local onde fora encontrado havia até mesmo gelo longe do período e
local apropriados e assim em segredo Heidrun Adail ofereceu a ideia
do sistema bancário, mas se tornou um refém daqueles homens.
Isso até o dia em que um cavalheiro misterioso surgiu e após
uma batalha não relatada nos livros históricos uma aparição se deu e
assim junto com um Templário arrependido e outros mais fundaram
a Ordo Christianitas Ad Tempus que tinha por objetivo proteger
profecias do futuro.
O problema, é que essas ditas 'profecias' na verdade eram
conhecimentos desse homem que viera na realidade do futuro, e seu
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
77
nome verdadeiro era John Roberts o qual agora protegia os segredos
da viagem no tempo tornando a OCAV a mais secreta de todas as
ordens militares e católicas do tempo ainda que subordinada ao
Vaticano. Mas Preza a lenda que as bibliotecas do Vaticano até hoje
tem um manuscrito de autoria de Heidrun Adail. O Tratactus Ad
Tempus como se chama é a versão original com detalhes sobre o
futuro que teria inspirado até mesmo São Malaquias em suas
previsões sobre o papado...
- Tratactus Ad Tempus? – Indaguei eu intrigado enquanto
Jones enfiava a cara nos livros ignorando sua alergia ao pó reunido
pelo tempo.
- O mistério do livro alinha-se e cumpriria o designo do
último papa de acordo São Malaquias. – Respondeu Petrônio. – Isso
parece corroborar o verdadeiro segredo de uma facção católica
associada a seitas que busca ocultar o verdadeiro segredo de Fátima
com um massacre.
- Dissidentes da Ordo Ad Ventus? Ou com seu
conhecimento? – Perguntei eu com outro livro, este mais recente em
mãos. Seu nome era 'Ars ad Speculum'.
- Intrigante. – Respondeu Petrônio sem mover seus olhos do
livro – Diz no livro que esses dissidentes com tais conhecimentos
criaram uma divisão temporal. Assim como de agentes de outra
dimensão infiltrados. O livro faz esse contraponto mostrando
discrepância de datas nos calendários de séculos e milênios
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
78
- Esperem! – Disse Jones interrompendo – Ouçam isto: O
texto Voynich colidiu com nossa dimensão sob efeitos temporais do
experimento de Robert Sparrow por línguas inteligíveis.
- Seja como for isso faz valer uma literatura onde quantidade
não importa. – Disse eu sorrindo entre o facho de luz e continuei – Já
a literatura no Brasil é um contrassenso, só é boa quando há
qualidade, mas só dá certo quando vende quantidade.
- Com o perdão do trocadilho. – Disse Petrônio como uma
criança entre brinquedos - Acho que isso venderia como água, caso
publicado.
Todos eles riram daquilo sentindo os ecos de seus risos
ecoarem para fora da fresta aberta naquela caverna onde estavam
guardados os livros, na realidade, parecia ser uma emenda entre uma
estrutura de minas com o complexo de catacumbas propriamente
dito, pois aquilo se entrincheirava nas vísceras de Paris como um
formigueiro. Porém, mal perceberam eles que em meio a escuridão
alguém os seguia em silêncio, esgueirando-se na penumbra como se
enxergasse no escuro.
- A ideia do multiverso para alguns poderia responder até
mesmo o fenômeno OVNI – disse eu manuseando o livro ‘Ars Ad
Speculum’ nas mãos o qual ensinava como alterar realidades através
do coletivo. - O General Alfredo Moacyr de Mendonça Uchôa
publicou livros que atestam uma avançada ciência capaz de romper
dimensões a transcendendo.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
79
Naquele momento, porém, ao fechar o livro nas mãos
observei que o nome para minha surpresa era eu mesmo. Aquilo me
deixou tonto e perplexo pois não me recordava de ter escrito esse
livro e recusando-me em acreditar o manuseei de trás para a frente
procurando algo que demonstrasse ser um engano quando disse.
- Isso é impossível, esse livro... – disse e então continuei
tentando cuspir as palavras engasgada de meus lábios – esse livro diz
que o autor sou eu!
Os dois ao ouvirem isso pararam de ler o que liam e
observando que o livro igualmente estava em português Petrônio
colocou o que tinha em mãos numa estante e dirigiu-se até mim
debruçando-se sobre meu braço para lê-lo. Petrônio cerrou a visão
intrigado e então praticamente tirou o livro de minhas mãos.
- Intrigante. Não acredito muito em tal coisa de outras
dimensões, mas um livro seu aqui antes de você mesmo nascer em
que diz sobre como criar desvios temporais realmente é notável.
- Talvez algum dia a frente ele ainda vai escrever o livro –
disse Jones juntando-se a nós.
- Sei, talvez agora eu plagie de mim mesmo. – Respondi de
modo seco e irônico.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
80
Naquele momento, porém, ouvi um estalo no lado de fora, o
barulho fez todos nós nos calarmos de súbito assustado com as
possibilidades. Primeiro pensei se tratar de algum rato grande a
vagar de modo errante naqueles subterrâneos, o que nós mais
queríamos acreditar, pois a outra possibilidade seria alguém a nos
seguir. Petrônio moveu-se em silêncio e colocou a lamparina num
campo de modo que a luz inicialmente não pegasse na fresta, pois se
fosse alguém estaria igualmente com alguma fonte de luz para lá
caminhar. Todavia, fosse o que fosse, aquele ser que se esgueirava
sorrateiro como a aplicar algum bote não possuía quaisquer fontes
de luz e então Petrônio pegou novamente a lamparina jogando sobre
a fresta quando ouviu algo mover-se veloz no ponto onde iluminou
para se esconder, nos fazendo abandonar instintivamente a hipótese
de ser um rato.
Meu sangue gelou imediatamente e Jones colocou as mãos
entre as pernas, em sua virilha, como se estivesse sentindo vontade
de ir ao banheiro o que era curiosamente comum naqueles casos.
Petrônio virou-se para nós e disse.
- Acho que não estamos sós. Vamos pegar o que podemos e
então vamos nos retirar daqui.
- Isso não seria roubo? – Indagou Jones.
- Lhe garanto que preservaremos melhor estes livros e suas
histórias do que quer que esteja vagando por ai. – Respondeu ele em
tom sério.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
81
Petrônio procurou disfarçar, mas estava igualmente com
medo daquela situação, mas focado como era voltou-se a selecionar
os livros mais antigos os colocando numa pasta e pedindo para
fazermos o mesmo e assim fizemos em silêncio.
- Pelo que li, Jim Cooper colocou os documentos e
acrescentou outros mais a coleção do mesmo modo como se
encontrava originalmente. – Disse ele para interromper o silêncio
tenebroso.
- Coleção peculiar, tenho que ressaltar. – Disse Jones – Livros
que aparentemente são de outra dimensão, não parece ser algo
muito usual.
A possibilidade realmente me tentava na medida em que me
intrigava, conceber livros com meu nome, escritos supostamente
antes mesmo de eu nascer era algo incrível e no mínimo a prova do
incógnito que naturalmente decrépitos como os adversários dos
livros, os homens de negros, nutriam ímpar ranço. Porém, o medo
àquela altura, mesmo ante o silêncio falava mais alto que qualquer
ensurdecedor barulho, pois mesmo que não tomasse o nome deles
em nossos lábios a ideia de alguém nos seguindo até lá nos remetia
diretamente a eles. E como concebemos que encontros anteriores
com estes eram extremante lastimáveis pegamos o que podíamos e
nós retiramos na expectativa de retornar.
Aquela biblioteca tinha destilada o mais puro e
revolucionário conhecido e por isso alvo de inúmeras perseguições,
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
82
incluindo contra seus autores, num batismo de maldições pelos
homens de negro, aqueles que turvavam toda verdade e
encarceiravam - quando não destruíam - livros potentes em suas
premissas. Aqueles impostores eram perigosos e armados da
maldade, com armadura da hipocrisia e retórica da mentira
insistente, pareciam nutrir profundo ódio contra a verdade contida
nos livros.
Fui o primeiro a retirar-me quando ao passar pela fresta mal
iluminada graças a minha própria sombra a bloquear o facho de luz
lançado pela lamparina de Petrônio vi um rosto surgir em meio as
trevas e me desferir um golpe certeiro no rosto me fazendo ir para
trás tonto quando senti algo quente escorrer de meu supercílio, era
sangue.
- Não pensem que seus nomes entrarão para a história. –
Disse a voz grossa de um homem que ecoou de modo medonho pelos
túneis. – Isso pertence a nós, saiam!
- Por que se consideram donos? – Disse Petrônio em tom de
desafio virando-se quando uma luz acendeu-se e o homem tirou o
óculos de visão noturna revelando uma arma na mão, era Steve
David Hellson.
- Porque tenho isso em minhas mãos – respondeu o homem
com um olhar frio e impassível ao demonstrar que tinha uma arma. A
mesma que havia me dado uma coronhada. - Esses livros não
deveriam sair daqui. - Disse ele em tom de autoridade, mas se quer
sendo autor de qualquer coisa lá presente.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
83
Naquele momento Petrônio pensou em pegar a Lunger que
tinha pego de algum nazista perdido, mesmo que pelo tempo não
pensava se quer que poderia estar funcionando corretamente. Assim
ele descartou a ideia tão rápido quando a teve.
Steve David Hellson era nome comum entre especulações de
crimes hediondos e conspirações de corporações poderosas, era um
colecionador implacável de livros, tinha tempo para adquiri-los a
qualquer preço – inclusive sangue -, não para lê-los.
- Vocês parecem clichês ambulantes. – Disse o homem de
modo impiedoso quando surgiram mais dois capangas atrás dele,
afinal um covarde nunca ataca só. – Por muitos anos esperamos
encontrar tais livros e vocês nos trouxeram até eles. Tive de ver com
os próprios olhos. Finalmente teremos controle sobre esses livros
malditos.
Aquele homem em seu discurso de quase ódio ao
conhecimento, remetia mais a um mero colecionador do que leitor,
certamente era do tipo que acreditava que livros raros eram como o
ouro, só tinham valor cerrado em cofres, ainda que é claro, a
popularidade flertasse frequentemente com o vulgo a exemplo de
literaturas como 'O Código Da Vinci'. Cobiçava ele o exemplar, não o
conhecimento do conteúdo como se desejasse apenas ostentar a
posse de palavras a ele desconhecidas, pois como amantes do
mistério amava mais perguntas do que respostas, ainda que toda
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
84
pergunta a tivesse como seu par, mesmo sendo está uma negação.
Sua erudição limitada em si própria tendo uma verdade egoísta que
não aceitava rivais era estagnada como os livros que mantinha como
refém sem jamais se dar por conhecer seus conteúdos, ambos, em
todos os casos, eram apenas enfeites em prateleiras de presunçosos
egoístas.
Os demais homens que com ele esteva adentrando a um
sinal com o rosto dele e assim começaram a tirar os livros das
prateleiras e mesmo os que nós carregávamos enquanto David
Hellson nos apontava a arma num tom impassível. Porém, naquele
momento surgiu outro homem por de trás dele e diz diretamente ao
homem assustado.
- Senhor, sujou, a polícia nos descobriu.
- Como assim? Não deixamos rastros e ninguém nos viu
entrar? - Indagou David agora visivelmente contrariado e em seguida
nos olhou como se nos culpasse com os olhos.
- Nós também não fomos seguidos até onde soubemos. –
Disse Jones com as mãos na cabeça.
- Certo, peguem todos os livros que puderem e limpem as
evidências. – Disse David para os homens ao ficar ciente das
autoridades legais quando virou-se para mim e perguntou – vocês
viram o artefato de metal? Diga ou terão uma morte dolorosa!
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
85
Ao ouvir aquilo fiquei na dúvida e apenas balancei a cabeça
em negação quando um tiro ecoou pelo túnel de saída e um grito se
ouviu, pediam para que os homens se rendessem.
- Acho que sua perseguição não valeu, enfim. – Disse
Petrônio que apesar de nervoso não deixava a ironia lhe escapar, mas
sim eles que fugiram antes de finalizar seu interrogatório cruel.
Os homens saíram correndo quando um destes fora atingido
e caindo no chão fora deixado para trás. David Hellson ignorou o
desafio de Petrônio somente não lhe desferindo um tiro por temer
ser pego enquanto matava-o, porém, quando os homens saíram
houve mais trocas de tiro e quando os oficiais da lei surgiram como
sombras no escuro percebi que a voz que ouvira no túnel era de
alguém que conhecia. Era nossa amiga Zaira Alonso Arango.
- Por Deus, vocês estão feridos?! – Disse ela a jogar luz sobre
nós.
- Como você soube que estaríamos exatamente aqui? –
Indagou Petrônio tirando as mãos da cabeça e notando que vários
livros foram jogados ao chão durante a fuga.
Petrônio Fonseca pensou ser o fim da linha, pois pelo que
sabia daquele homem ante as câmeras era um cavalheiro de
educação ímpar, mas longe delas sua grosseria precedia qualquer
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
86
monstro medieval como Conde Dracul, o empalador. Porém, seu
alivio e salvação interveio e lhe disse igualmente surpresa.
- Estávamos seguindo o lastro deles há semanas quando
percebemos que iam nas mesmas coordenadas que você nos disse.
Paris. – Disse ela sorrindo ofegante – Daí perceber que o caminho
eram as catacumbas foi um pulo.
- Quantos livros e itens levaram de valor? – Perguntou Jones
mais preocupado com o achado do que consigo mesmo. – e para
onde levaram?
- Temos a quem perguntar. – Disse Zaira Alonso virando-se
para trás vendo um dos capangas de David Hellson no chão caído.
Petrônio e eu nos levantamos e fomos em direção ao homem
que estava com uma mão na perna se remexendo de dor enquanto
Jones catava os livros e manuscritos caído pelo chão até ser
repreendido por um policial que disse se tratar de uma cena do
crime. Zaira pegou o homem pela gola enquanto outro policial
solicitava uma ambulância para o homem que havia tido uma artéria
principal atingida na perna e perdia sangue rápido.
- Para onde eles foram? – Perguntou Zaira, mas o homem
apenas deu um sorriso sádico como resposta.
- Que artefato querem? – Indaguei eu ao homem que parecia
dividir a aflição da morte iminente e o ódio que pareciam consumi-lo
como combustor restante de vida.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
87
- David Hellson e os seus nunca lhe dirão, eles têm um
apetite por violência insaciável e só lucram através da miséria alheia,
inclusive a sua! Somos os homens de negro! - Disse a vítima de seus
próprios atos encontrada empoçada no próprio sangue.
- Não nos respondeu, sujeito. Não pense que vai escapar
falecendo. – Disse Zaira enquanto um polícia ainda permanecia de pé
diante do homem empunhando uma arma enquanto ela lançava a luz
da lanterna na sua cara. – Podemos prologar sua vida só para passar
o resto dela respondendo por seus crimes.
- Não pensem que sobreviverão quando abrir as portas para
o inferno. – Disse o homem de modo impassível - O artefato é a única
coisa que nos falta para diminuir as distâncias entre as realidades, e
vocês estão no nosso caminho. – Concluiu ele escarrando na cara
dela e a chamando de “cadela” em espanhol.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
88
IV
O Guia de sobrevivência dimensional e temporal "Conhecimento significa uma forma de entendimento da realdiade,
ou seja, uma forma de compreensão de alguma coisa, tanto no seu
modo de ser quanto no seu modo de operar com ela. O conhecimento
não e apenas uma forma de obter e reter informações. É muito mais
do que isso. É um forma de entender a realidade como ela é e no
funcionamento, a partir dos múltiplos elementos que a explicam. (...)
O Conhecimento é, portanto, um instrumento de vivência e de
sobrevivência. Não significa apenas uma 'ilustração da mente.'"
A Filosofia da Educação - Cipriano Carlos Luckesi
aira como era temperamental e conhecendo as atrocidades
que faziam aquele homens cerrou o punho e pensou em lhe
atacar porém, o policial responsável pela batida surgiu e lhe
fez sinal de negação quando veio o médico.
Aquela mulher que se via esmagada entre a submissão ante a
cama, ou ante o fogão, pois para ela ainda que de cepas diferentes
eram ambos tipos machistas, lutava por ser reconhecida não como
mera dona de casa ou objeto de prazer sexual. Ficava impressionada
como alguns que vendiam uma independência feminina costumasse
na realidade apenas reduzi-las a uma mera privada de amontoado de
seus desejos sexuais desordenados.
Porém, o que aquela mulher de meia idade já havia padecido
conosco anteriormente era freio o bastante para ser prudente e
Z
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
89
deixou que aquele psicopata falecesse diante de seus olhos enquanto
o médico lhe prestava os primeiros socorros. O Passado é uma
assombração.
Por fim ao passar o susto Petrônio a abraçou pressionando
seu corpo contra o seu como se a desejasse, talvez mesclasse seu
alivio ao desejo de afeto com pontadas freudianas de sexualidade
inconsciente. Em seguida me deu um beijo no rosto que soou como o
fim de mais uma sessão de tortura justificando como se a presença
dela, fosse por fim o prémio.
- Encontramos algumas coisas impensáveis dentro deste
recinto. – Disse Petrônio após apresentar Jones que estava
incomodado por ver os manuscritos jogados no chão. – Você não
acreditaria.
- Experimente. – Sugeriu ela, pois já havíamos visto coisas
inimagináveis juntos.
- Os livros. – Disse Jones ousando seguir diante dos oficiais da
lei – Aparentemente são de outra realidade.
- Submundo? – Sugeriu ela mas tendo um sorriso irônico de
minha parte.
- Não, outras dimensões. – Disse Petrônio – de alguma forma
Jim Cooper, que protegeu isso aqui parecia reunir evidências de
surgimento de peças de outras dimensões. Me parece sugerir mesmo
ideias da Cronospermia como reais.
- Cronospermia? – Perguntou ela estranhando o rumo do
papo.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
90
- A Cronospermia propõe que a vida se originou em si mesma
por um paradoxo temporal onde se recriou. – Completou Jones. –
Explicações para de onde surgiram as mulheres dos filhos de Adão,
por exemplo.
- E aparentemente estes homens querem conseguir abrir um
portal para acessar dimensões e liberar seja lá o que for. – Disse eu
intrigado.
- Na verdade, a proposta supõe na probabilista do caos
multiversal que uma ocorrência aqui é uma não ocorrência
percentual noutra dimensão, - disse Petrônio sobre os conceitos da
hidrocriptografia completando o raciocínio mesmo para mim. - ou
seja, a premissa de desvios dimensionais supõe que podemos
interferir em dimensões paralelas com simples realizações nesta.
- Ou não realizações, - segui eu - poderia alguém interferir
nesta dimensão atuando noutra, principio previsto pelo
entrelaçamento quântico que propõe justamente ser uma relação
caótica invisível. A hidrocriptografia já previa isso tudo, pois a partir
de seus cálculos que deduzimos a existência de dimensões
ressoantes.
- Tudo há de acontecer, não sendo aqui, noutro mundo. –
Concluiu Petrônio.
Tudo que há de acontecer, acontecerá aqui ou noutro
mundo. Aquilo realmente me deixava perplexo assim como a
possibilidade de que numa outra dimensão talvez tivéssemos
terminados baleados no chão daqueles subterrâneos. Mas apesar de
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
91
nos abster da ideia de que aqueles livros eram do submundo, o que
fazia sentido no termo literal, tinha algo de raciocino muito mais
profundo, algo onde até mesmo eu teria escrito livros alternativos
que propunha intuitivamente modos de alterar a dita realidade em
suas diversas esferas, erámos Senhores do Tempo.
Jim Cooper, Syon Jaffe e eu parecíamos surgir cada qual em
seu tempo como Senhores do Tempo o qual o conhecimento era
capaz de criar desvios temporais resignados e destinados a serem
outras dimensões, pois nada se apagava na linha do tempo, apenas
se alterava seu curso. Assim, perplexos começamos a colher
informações e temendo que tudo aquilo explodisse na mídia
percebemos que alguns dos livros, assim como o livro ‘A Filosofia da
Viagem no Tempo’ fazia menções a um artefato que dava poderes de
alterar a realidade abrindo um vórtice, ou atalho através dele.
Para nossa surpresa Jim Cooper havia escrito um outro curto
livro que lá estava onde dava detalhes de como agir ante um
iminente apocalipse dimensional onde referia-se a seres
monstruosos que poderiam ser libertos do ‘abismo’, o manual, um
guia que chamava-se de ‘Protocolos da ciência Dimensional e
Temporal’ e nela havia a descrição do Artefato e como encontra-lo.
Porém, fomos obrigados a seguir para a delegacia onde
deporíamos inclusive sobre o porquê de ter entrado numa área
restrita das catacumbas assim como a ter assistência psicológica
sobre o acontecido por nós. Zaira, que estava elegante para o clima
local com um cachecol e com uma bota, nos acompanhou e
permaneceu no lugar conosco até sermos liberados.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
92
Como entendidos na disciplina e conhecedores dos
adversários que lidavam fomos orientados a ir para o hotel que no
dia seguinte teríamos um dia farto estudando os livros para tentar
determinar os próprios passos de David Hellson e os seus boçais
psicopatas de estimação que havia finalmente ultrapassado a linha
invisível entre crime e cidadania.
Zaira ficou temorosa a dormir conosco, pois éramos homens,
e então mudou seu quarto para o mesmo hotel e próximo ao nosso
quarto pois fazia já um dia que ela estava em Paris atrás de pistas dos
homens de Hellson como oficial influente da Ordem dos Ventos. Lá,
ela tomou um banho e voltou ao nosso quarto carregado uma garrafa
de uma bebida brasileira que gostava muito, Malibu.
Contou seus causos enquanto dividia a mistura de cachaça
com coco que era a bebida, e disse num acesso de tristeza que temia
ante um fim iminente por tantas coisas más que aconteciam pelo
mundo como sinais bíblicos do apocalipse.
- Poder finalmente provar as atrocidades desse homem creio
ser um alivio para muitos. – Disse ela em tom despojado sentado no
chão e encostada na parede. – e se conseguir pegar esse artefato
antes dos homens de Hellson quem sabe não deteremos algo ainda
mais cruel.
- Temos que ser realistas, não fazemos ideia até onde isso
vai. – Disse Petrônio Fonseca, o único sóbrio a essa altura.
- A toca do coelho vai fundo e em terreno pantanoso, Alice. –
Concluiu Jones – Mas fico feliz em fazer parte disto, os recursos do
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
93
Clube dos Pioneiros estão voltados a isto e eles adorarão estudar
esses novos livros. Morreremos lendo. – Completou ele com um
sorriso e olhando para o copo.
- O problema é que não sabemos haver do outro lado. – Disse
eu – e não parece ser o pais das maravilhas, garanto.
Petrônio tentou esboçar um riso para descontrair, porém, ao
invés de risos, o silêncio ritmou-se de modo quase constrangedor.
Fiquei, naquele momento a refletir se por acaso Lewis Carrol não
teria conhecimentos prévios de rompimentos dimensionais, pois
flertava frequentemente com ideias de ir a outra realidade, talvez
algo para Twilight Zone.
O papo rolou, então, sobre autores de livros do tipo e
quando nos demos conta Jones havia adormecido na cama pois eram
meia noite e cinco. Desejei então naquele momento ter em minhas
mãos alguns dos manuscritos, porém, eles haviam sido apreendidos
inicialmente pela polícia como parte da cena do crime. Teríamos que
conter nossa ansiedade até o dia seguinte quando poderíamos
manuseá-los.
No dia seguinte acordamos com Zaira a nossa porta ao lado
de um oficial de justiça o que havia feito algumas relações incomuns
com o acontecido no dia anterior. Levantei-me vagaroso pela ressaca
que me sobreveio e atendi a porta com a cara de poucos amigos.
Zaira adentrou e apresentou o homem, um esguio de cavanhaque
com óculos que chamava-se Morris Shane. O homem após um breve
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
94
formal sorriso nos cumprimentou e disse que tinha informações
perturbadoras sobre o que envolvia o caso, o homem era da Interpol.
- Senhores, me perdoem acorda-lo deste modo, mas temos
algumas informações que não se encaixam, lhes relatarei mas peço-
lhes sigilo pois são confidenciais. Percebemos no local onde foram
encontrados os livros algo relacionado a uma empresa chamada
Quantanic Inc. Os senhores já ouviram falar? – Disse Shane.
- Sim, ouvimos falar de um incidente peculiar no deserto de
Gobi. – Respondeu Petrônio.
- Pois então, apesar da empresa ter aparecido em notas de
jornais de ciência como a sucessora da investigação sobre a
hidrocriptografia, após o incidente nos demos conta que
aparentemente é uma empresa fantasma. – o homem então que
estava de pé foi servido um café a ele, recusou com uma das mãos –
procuramos seus escritórios e estavam vazios, teriam alguma
informação sobre isso?
Todos negamos espantados sobre o ocorrido, pois nos era
surpresa igualmente.
- Pois então, o que me levou a investigar isso fora o sumiço
súbito de algumas peças de relíquias medievais, como uma espada
que teria pertencido a Gengis Khan.
- Mas o que isso tem a ver com o caso? – Indagou Petrônio
sem perceber o óbvio.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
95
- Porque não fora as únicas peças roubadas, mas que esta
espada fora encontrada igualmente no deserto de Gobi junto com
trechos de equipamentos que tinham o nome da empresa Quantanic.
– Disse Morris Shane como o pulo revelador do gato.
- Os artefatos. – Sugeriu Jones que era conhecedor da
filosofia do livro de Roberta Sparrow. – Creio que eles sejam
importantes por contém informações frequências das vibrações de
nossa dimensão.
- As implicações tecnológicas e cientificas não são minha
alçada, todavia – disse Shane seguindo o raciocínio – ao irmos
investigar igualmente onde ficariam os supostos laboratórios,
encontramos apenas dois cientistas mortos e alguns poucos
equipamentos, o que tornaria inviável as ocorrências e qualquer
efetivação uma vez consultando cientistas.
- Como se estes acontecimentos estivessem sendo na
realidade refletidos em nossa dimensão. – Ecoou Jones consigo
mesmo.
- Como assim? – Perguntou Shane intrigado ao cruzar os
braços.
- O que quero lhes informar é que aparentemente querem
transpassar a dimensão, mas não da nossa. – Completou Jones tendo
o olhar firme do agente da Interpol.
- Isso é implausível! – Respondeu o homem. – Pelos casos de
roubos indicam haver uma rede muito organizada e articulada
atuando em todo mundo. Foram roubadas peças em Bagdá,
instambul, China...
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
96
- Meu palpite é que estão tentando alinhar eventos,
sincronizar nas duas dimensões tornando a película entre elas mais
fina. – Disse Jones.
- O véu entre as realidades serão rasgados. Foram as últimas
palavras de nosso informante que era da Ordem do Caos. –
Repercutiu Petrônio. – Eles passaram anos coletando informações,
saqueando e agora parecem estar no seu estágio final.
- Caos. – Completei eu tendo a concordância de todos
presentes. – Acho que é sem dúvidas que algo está para acontecer.
Estes boçais diabólicos parecem controlar tudo com sua blindagem
de corrupção.
- Os senhores sugerem que isto é uma prova da atuação de
outros universos sobre o nosso? – Indagou Shane.
- Onde está a espada de Gengis Khan? – Perguntou Jones –
Talvez eles ainda não tenham encontrado o artefato certo.
- Está em posse da justiça. – Respondeu Shane.
- Precisamos estudar os livros da Sitir Libris, creio que há
informações neles. Há um livro que tem informações sobre artefatos.
– disse Jones tendo um aceno de autorização dele.
Eles tomaram seu dejejum, mas temorosos pois sentiam-se
observados por uma força nefasta que estagnava a presença deles.
Carros suspeitos eram vistos vagando pelas mediações e com o
histórico de que os membros secretos da Ordo Ab Chaos eram do
povo mais corrupto e agressivo conhecido era de dar medo.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
97
Naturalmente que o trabalho deles assim era reunir o maior
número possível de provas e coloca-las em seguro pois o histórico
daqueles homens quando cruzavam o caminho de suas vítimas não
era diferente a de sintomas de uma doença. Assim seguiram eles até
o local onde os livros estavam sendo levados e foram lhes dado luvas
para manuseá-los, especificamente um livro de Jim Cooper que dava
orientações de como proceder em caso de incidentes e os indícios ao
ler este manuscrito pareciam identificar exatamente o
comportamento desses diabólicos retrógrados. O livro que era um
guia a maior parte do tempo, ensinava que aqueles indícios
apontavam a uma onda de caos apocalíptica iminente remetendo as
visões que tive tempos atrás sobre uma tempestade, mas a parte que
mais importava, por fim, dava a precisa descrição do suposto
artefato, uma lança que teria o poder, virtualmente, de perfurar o
tecido dimensional do tempo ao vibrar em múltiplas dimensões, uma
seta que era conhecida naquele mundo ditos por milagres.
O artefato chegou a ser identificado, séculos atrás, como
sendo a lança de são longuinho. Porém, suas formas indicavam que
era de outra civilização, uma civilização muito antiga e que fora
devastada pela colonização espanhola, os maias.
Conhecido por uma crueldade ímpar, aqueles homens,
segundo um dresdrem perdido teriam recebido aquela seta que fora
colocada numa lança de um deus que referiam-se por Serpente
Voadora e seu opositor Espelho Esfumaçado, Tezcatilpoca. Este
artefato tinha o suposto poder de evoca-lo e passou a ser utilizado
nos anos seguintes para sacrifícios humanos.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
98
Mesmo que evidente que os maias tivessem conhecimentos
astronômicos avançados, teoricamente passados por este suposto
‘deus’, era um povo bestialmente selvagem e agressivo o qual a
mortandade assolava aos milhares em tributo insaciável numa
intensão de permitir tornar mais um dia atrasando o apocalipse.
Segundo as lendas de um dos livros queimados pelos espanhóis,
prezada o mito de que esse deus chegou a seu mundo através de um
enorme caos e que apenas a seta poderia acalmar aquele caos
apocalíptico o que fora interpretado como signo de morte aquele
inculto povo.
- Os maias acreditavam que o tempo transcorria em seis
direções diferentes o que favorecia tempos tangentes. – Disse
Petrônio ao meu lado enquanto lia o livro. – Pelo que diz o livro, as
seta tinha o poder de direcionar o evocador a dimensão preterida e
mesmo alterar o rumo de seu mundo.
- Um artefato capaz de abrir portais? – Indagou eu intrigado
tendo o silêncio de Petrônio como resposta.
- O artefato mencionado, que era utilizado em rituais de
sacrifícios humanos estava nu museu no México, vamos alertar as
autoridades locais para aumentar a vigilância. – Disse Shane ao ouvir
nossas palavras.
- Talvez seja melhor enviar alguém até o local. – Sugeriu
Jones como se tivesse na verdade a sincera esperança de ser
convocado para isso, mas antes mesmo que algo assim dissesse
Petrônio disse.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
99
- Temos aval para viajar em serviço da Ordem dos Ventos.
Ficamos subitamente empolgados com as possibilidades e
mesmo que aquela história secreta dos maias nunca tivesse sido
confirmada, os temores pareciam ser verdadeiros nos mergulhando
numa introspeção singular sobre o que mais os espanhóis teriam
queimado ou destruído do conhecimento daquele perigoso povo que
tinham traços de iniquidades incomum ao dos membros da Ordo Ad
Chaos.
Tivemos autorização de levar cópias feitas as pressas de
alguns dos manuscritos lá encontrados, sobretudo fora obrigado a
passar o resto da tarde respondendo perguntas de como um livro
com meu nome como autor estaria fazendo lá naquela biblioteca,
livro que dava dicas igualmente de como poder ser capaz de alterar
realidades e mesmo em alguns casos ser capaz de desvia-las.
Ao anoitecer fomos nós quatro ao aeroporto, pois Morris
Shane iria nos encontrar mais tarde no museu do México onde
estaria a dita peça. Passaríamos a noite num voo noturno com muitas
perguntas que ressoavam as respostas como se tivessem na ponta da
língua ainda que não fossemos ter certeza delas.
Ainda sentindo vestígios da ressaca, tentei adormecer, mas
com minha testa a latejar ante o suave ruído das turbinas quando um
homem ao lado sorriu para mim num tom malicioso.
Ignorei aquilo, pois àquela altura não poderia me deixar levar
pela paranoia, havíamos feito descobertas sem precedentes e meus
trabalhos haviam se tornado de suma importância mesmo quando eu
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
100
se quer me lembrava de tê-lo feito, ou mesmo teria o feito antes
mesmo de nascer o que era uma improbabilidade incrível demais
para ser crível.
Quando o avião sobrevoou a cidade do México, via apenas as
luzes e imaginei em meu íntimo o que mais poderia haver naquele
lugar que as trevas ocultassem, ou mesmo séculos atrás quando
aquele povo cruel e devidamente sepultado por doenças saberia que
não tínhamos conhecimento, e conhecimento da realidade que nos
cercava é o que estava escasseado.
Ao aterrissar Petrônio acordou em seu acento assustado,
como se questionasse a própria realidade em que estava ou se ainda
estava sonhando, porém, seguimos ao setor de desembarque ainda
lentos pelo peso do sono quando o mesmo homem me olhou e
bocejou em tom de deboche e me apontou o dedo como se fosse
uma arma a atirar. Virei-me tenebroso para o lado como quem
questionasse se fosse para mim, porém, ao virar de volta o homem
havia sumido.
Eram 4:37 da manhã e os segredos que a madrugava
guardava nos fazia temer que o perigo estivesse a espreita, a cada
esquina com aqueles seres intelectual e espiritualmente mais
promíscuos que vadias do Vietnam. Aquilo me remeteu aos tempos o
qual uma vida social livre me concedia momentos agradáveis ao lado
de amigos e entes queridos, na realidade a relação era de fuga aquela
situação o qual uma força retrograda parecia, mesmo a despeito do
auxilio, nos lançar a marginalidade ao contrário dos diálogos travados
entre amigos que eram regidos por risos como lubrificantes naturais
as relações.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
101
Mas ao retornar encontramos outros tipos de risos, de
homens funestos que vagavam como se caminhassem sem dar
passos sob assovios insinuantes, e risos o qual transmitia a sensação
de escárnio por nossos esforços de deter monstros como Steve David
Hellson que parecia mais ser literalmente um filho do inferno o qual
o encontro decretava inevitavelmente a falência da vida social
concedendo aos sobreviventes de sua abiose uma vida reclusa e de
mera sobrevivência, algo que lutava contra a verdade e queria
sufocar vidas e memórias de vidas, as vezes a história por de trás de
um livro era tão fascinante quanto o livro, a história por de trás da
história.
Não nos deixamos atingir pelos silenciosos gritos do inferno e
sua espinhosa couraça, mas ao tocar o solo daquele país vimos a
oportunidade de livrar o mundo de suas crenças limitadoras e
tóxicas, a não ser aos próprios que nunca se submetiam a ela. Zaira
tinha em mãos, numa pasta, as provas de uma conspiração global a
fim de sabotar descobertas e roubar-lhe as prerrogativas de sua
aplicação. Conspiração significa operação não legitimada traços
furtivos e abordagens indiretas indicam sua clandestinidade e por
isso não se deve temer a vias legais, ao ser perseguido não corra,
correr indica um comportamento suspeito de sua parte.
- Estamos sendo observados. – Disse Petrônio ante o óbvio. –
Pelo que especulam eles têm relações com gente da pesada,
traficantes internacionais e fazem até mesmo famílias como reféns.
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102
- Isso é para me preocupar? – Disse Zaira num lampejo de
ironia ao olhar o riso de deboche daquele suspeito no aeroporto.
- A julgar que o algoritmo criado pela hidrocriptografia pode
quebrar bancas de cassinos por interpretar as variáveis da aleatória,
alguns mafiosos devem ficar preocupados. – Repercuti completando
a ironia anteriormente começada por Zaira.
- Não somente isto, a revolução cientifica que provocaria
mudaria o quadro geopolítico mesmo do petróleo pois novos
sistemas de propulsão podem ser criados como energia limpa e
barata. – Respondeu Petrônio com seriedade – temos em mão
conhecimentos que podem propulsionar a humanidade séculos a
frente de seu tempo, mas isso não interessa aos dominantes, não por
vias legais e éticas.
Petrônio estava totalmente correto, só um mapa do caos
comprovaria que ele se comporta de modo ondular em determinado
nível e que não estávamos sós não no universo, mas num multiverso.
Porém, tínhamos compromisso com a verdade sobre todas as coisas
e antes de irmos ao museu iriamos ir até um homem surdo que teria
descoberto coisas importantes sobre o suposto artefato. Na
realidade, preza a lenda, que ele sobreviveu porque não poderia dar
ouvidos as ameaças ainda que vivesse recluso após ter sido a única
vítima que sobreviveu a um encontro com seus nefastos homens,
encontro daqueles inesquecíveis e que lhe assombrava o resto da
vida como ecos de seus próprios gritos num abismo.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
103
No entanto, o homem vivia sitiado pela seita que lhe
perseguia, frequentemente utilizavam de toda sua influência no
governo e entre autoridades para lhes proibir direitos, assim como
afastando a todos que tinham qualquer relação com ele.
Normalmente as abordagens eram impactantes, as ordens deles
eram dadas a estes apenas através da chantagem e do medo pois
apesar de serem os criminosos mais espinhentos eram poderosos
demais para serem presos e por isso a sociedade de onde estavam se
deteriorava pois eram livres para cometerem toda sorte de crimes
impunimente. Ao entramos na condução até o endereço fornecido
pelo próprio meses atrás via internet, me perguntei se essa escória
prepotente de criminosos queria erguer uma nova pirâmide as custas
da miséria alheia, mas respostas não se encontrariam fáceis,
principalmente quando não há ‘porque’ moral para atos tão
diabólicos e mesquinhos como os deles. Taliban, Al-quaeda, ISIS,
Boko Haram, Hamas, os fanáticos nunca estiveram tão em alta.
Permanecia o restante do trajeto introspectivo em mim
mesmo e novamente senti-me identificado com aquele personagem
mesmo antes de conheço, Petrônio Fonseca não costumava errar e
assim chegamos ao local, um bairro pobre para um homem rico em
seus feitos.
Ao descermos do carro nos perguntamos sem palavras o que
poderia nos ocorrer ao notar que o lugar não era dos mais seguros.
Porém, Zaira, destemida como era retirou de sua pasta a ficha com
seu endereço e procurou a residência número 46. Ao chegar diante
do imóvel parei diante dele e toquei a campainha até ser
repreendido por Jones.
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104
- Você espera que ele ouça a campainha como?
- Ele não é burro, só um pouco lerdo. – Repercutiu Zaira num
tom de deboche para estravazar.
Porém, antes mesmo que pensássemos em proceder de
outro modo surgiu um homem da porta, com meias e um agasalho
olhando desconfiado para os lados.
- Poderia falar com Raymon Maloney? – Disse Jones
arriscando ser outra pessoa, não o próprio.
Mas o homem aproximou-se lentamente e começou a
gesticular com as mãos sendo percebido como o próprio. Zaira então
abriu um sorriso receptivo e gesticulo de volta sinais de surdo para
nossa surpresa e o homem deu um sorriso tímido e abriu o portão
para nós.
- Então você conhece a linguagem de surdos? – Repercuti.
- Tio surdo. – Respondeu ela sorrindo – entrem, ele disse que
aqui fora não é seguro.
Raymon Maloney aparentava ser um homem comum, tirando
suas expressões corporais notadamente acentuadas para compensar
sua vida silenciosa. Eventualmente emitia alguns grunhidos como se
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
105
tentasse imitar o movimento dos lábios e imitir vozes pois ele
conseguia lê-los. Porém, Zaira perplexa lhe perguntou como o
homem ouviu eles tocarem a campainha. O homem que parecia feliz
com a visita de sua amiga virtual e então lhe respondeu que a
campainha criava vibrações perceptíveis a sensibilidade maior dele,
um aparelho montado especialmente por ele, para que ecoasse
numa frequência que não poderia ouvir, mas sentir.
Sem perder mais tempo, o homem então pegou esquemas
que mostravam desenhos do museu e do artefato. Ele não estava em
exposição, mas enquanto estavam no voo houve uma tentativa de
invasão ao museu quando ele estava fechado. Fiquei a me perguntar
se gente tão escrota se limitaria a uma tentativa de invasão, pois
como se conhece apesar de moralistas e vaidosos em sua hipocrisia
mantida com zelo como fachada de um Titanic, eles eram
historicamente irresponsáveis e tinha apreço notável por
mortandades e crueldade. Mas quem não deixa viver não pode dar
sermão sobre a vida.
Raymon Maloney, tinha uma barba comprida, mas apesar
das vestes era mais jovem do que aparentava, usava óculos de
armação grossa e tinha os cabelos desgrenhados, cientista e
arqueólogo pesquisava peças e supostos Ooparts que trouxessem
indícios de tecnologia atual presente no passado ou até mesmo
tecnologia que se quer ainda existisse entre nós.
Com uma bermuda caqui e uma camisa do The Who tinha um
micro com um enorme monitor que deixou para nos pegar uma boa
dose de café expresso, e parecia querer nos contar muito ainda que
estivesse com as mãos ocupadas no momento. Assim que nos
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106
entregou o café ele fez seu breve relato. Após ter proposto que um
tipo de tecnologia antiga seria capaz de alterar a vibração de alguns
objetos, algo que ele descobriu no punhal maia, teve a ideia copiada
por um canastrão que se dizia honesto, mas fora quando começou as
ameaças quando ele quis proteger os direitos de seu trabalho
penoso.
Trabalhava no museu e tinha boas verbas, mas apesar de
suas ideias serem populares entre visitantes não o era no meio
acadêmico, até aquele doutor lhe roubar as ideias. Então tudo
começou a encolher até o dia que fora pego por um dos homens de
David Hellman que lhe disse que iria pegar o que quisesse após
tortura-lo por longas horas. Os homens queriam pegar o que tivesse
aplicação prática, impedir o que pudesse atrapalhar seus negócios e
apagar o nome de Raymond de sua autoria. Estavam obstinados e
como bandidos do pior tipo não se limitaram a roubar-lhe, mas
também a dignidade.
Raymon Maloney, que perdeu dez anos de sua vida, sentou-
se de ombros caídos e seus olhos brilharam naquele momento como
se tivesse sido ontem. Então olhou para o vazio, pesaroso, e como se
visse um fantasma do passado saltando a sua frente. Perdeu sua
família, emprego, e agora vivia cercado por aquele dragão que ao
menor movimento lançava fumaça das narinas. Sua carreira e sua
vida foram roubadas e ainda teve que pagar pelo serviço.
- Compreensível porque estamos a beira do abismo. –
Repercutiu Petrônio quando Zaira lhe traduziu as palavras com as
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107
ressalvas de que temia que por estarem ali agora eles também
sofreriam as consequências da bravura de ousarem ser justos ante
tamanha boçalidade.
Pobre Raumon, dignos de muito mais prémios do que caberia
em sua quitinete. Porém, ele num instante abriu a tela e nos mostrou
a imagem do punhal que parecia ser tão arcaico como qualquer outro
artefato antigo. Mas como as aparências enganam, no texto da tela
tecia sua teoria de que aquele artefato não vibrava na mesma
sinfonia de nosso mundo, pois era de outra dimensão. Os testes
preliminares indicavam que o material e os metais do artefato eram
comuns, porém, ao investigar com mais cuidado observou o metal
apesar de não ser magnetizado exercia um certo tipo de força
invisível e não se deteriorava normalmente como artefatos e mesmo
medições de carbono.
Intrigado, então, Raymon estreitou mais sua visão até as
moléculas a observar que não se comportavam com os modelos
físicos para as frequências atômicas determinadas pela ciência. Ele
então encaminhou o artefato para pesquisar suas características
quânticas e para sua surpresa parecia que sua força emanava
diretamente do vácuo quântico como se algo crepitasse de outra
dimensão através dele, ainda que imperceptível a olho nu, porque a
energia não vem, na verdade, do vácuo, mas doutras dimensões
vibrantes e por isso em frequências diferentes da nossa dando a
resposta definitiva sobre a energia escura.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
108
Quando ia publicar a descoberta fora quando ele foi
abordado por aqueles servis e senis seres travestidos de homens e
então acabaram com uma vida produtiva inteira, pois seus planos
anormais e inconstitucionais determinaram que ele não poderia
publicar aquilo, deixando claro que o objetivo deles era fraudar
trabalhos e descartar autores que odiavam - ainda que desejem sua
obra incontrolavelmente - pois são imorais e maus.
Assim Raymon seguiu e mostrou na tela de monólitos que
não tinham como ser movidos e disse que aquilo era possível com a
propulsão nova que estava desenvolvendo sobre o vácuo quântico,
vibrações. Moveu-se pelos discos de dropa, da China, o Pássaro de
Saqqara o qual a semelhança era enorme com um avião atual, a
bateria de Bagdá, o Sarcófago de Pacal e tantos mais. Para ele,
indícios claros de que conhecimentos que antigos não deveriam ter
em tese, mas tinham de alguma forma. Aquelas peças não tinham
uma explicação plausível e era coincidente demais para que fosse
acaso, mas denotava tecnologia ainda que teóricos e ufólogos
especulassem se tratar de evidências da interferência de
extraterrestres na Terra. Porém, mesmo isso evidenciava um poder
tecnológico tal que simplesmente permitia a tais objetos surgirem
como do nada, assim como a energia do suposto vácuo quântico,
porque na realidade ambos vinham de outra dimensão.
Assim Raymon lembrou que todo seu trabalho tinha suas
fontes explicitadas ainda pois ainda que sua teoria fosse original era
construída sob trabalhos anteriores sem contraria-los, mas antes
amarrando pontas. Assim como teorizava concordantemente com os
livros da biblioteca maldita que alguns, em alguns momentos da
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109
história humana encontraram tais evidências e despertaram a
consciência de visitas de outras dimensões como a exemplo de
Robert Grosseteste, que na antiguidade concebeu a ideia de
multiverso medieval, suas ideias antecipavam séculos a de cientistas
modernos ainda que com nuances não comprovadas ou
comprovadamente enganos.
A ideia era de que mesmo testes de carbono por terem
frequências diferentes em dimensões diferentes aumentavam a
margem de erro pois a taxa de deterioração era diferente a cada
suposta dimensão de modo que nos locais onde aconteciam os
rompimentos dimensionais tal discrepância era notável. Assim ele
remeteu a casos antigos onde pegadas humanas foram encontradas
fossilizadas num período que, de acordo, com o mesmo teste não
poderia ser possível ante a teoria da evolução, pois ao menos
supostamente o homem não teria milhões de anos de idade
evolucionária.
No ano de 1938, em Mount Vernon, nos Estados Unidos, o
geologista Wilbor G. Burroughs teria descoberto supostas pegadas
humanas perfeitas, fossilizadas, porém elas deveriam datar de 250
milhões de anos atrás o que era inviável a teoria da evolução a não
ser que todo teste de carbono fosse não somente impreciso, mas
enganoso. Descobertas semelhantes, porém, apesar de
desacreditadas e ignoradas, foram feitas em outros pontos dos
Estados Unidos, como em Jackson County, Antelope Springs, em
Paluxy, Texas, em Delta, Utah, esta em 3 de junho de 1968 por
William Meister e Francis Shape, em Carlson, Estados Unidos por
detentos dando seguimentos a descobertas semelhantes nas
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
110
mediações. Porém, estas pegadas naturalmente não se limitavam aos
Estados Unidos, sendo descobertas no Lago Langebaan, África do Sul,
Antuérpia, Bélgica, em Gravelbourg , Saskatchewan, Canadá,
igualmente em Navalsaz, Soria, Espanha, na República do
Turcomenistão e tantos mais locais levando alguns conjecturarem
que ou a humanidade é muito mais antiga do que aparenta ou o
processo de fossilização conhecido está errado.
O que eles negavam era a disparidade temporal provocadas
por discrepâncias pois materiais posteriormente colhidos por
Raymon indicavam uma variação de vibrações quânticas como se o
tempo de alguma forma tivesse agido sutilmente diferente no
período. Uma das mais intrigantes ocorreram coincidentemente no
deserto de Gobi, na China onde ocorrera o misterioso incidente,
descoberto pela equipe do Dr. Tschu Myn Tschen em 1959, a pegada,
estimaram, teria 15 milhões de anos, período demasiadamente longo
para permanecer intacta, mas o detalhe era que curiosamente a dita
pegada era formada por um calçado de sola. Ao comparar amostras
do atual incidente na região com o achado arqueológico antigo,
apresentavam características físicas semelhantes com um
comportamento sutilmente diferente a nível atômico. Ou seja,
aberturas supostas de portais e outros tipos de anomalias
provocavam variações prescritas em campos similares ao do
Triangulo das Bermudas onde anomalias climáticas e temporais eram
observadas com coincidentes riquezas de detalhes por pessoas
idôneas.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
111
V
A Mãe de todas conspirações "A letra da canção é o que pensamos entender, mas o que faz com
que acreditemos, ou não, é a melodia."
O Jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafón
odo aquele relato era contundente ainda que não houvessem
provas maiores mas encaixando-se perfeitamente as recentes
descobertas feitas pelo sistema de hidrocriptografia concebido
por mim. Todavia o entrave aquele enorme pulo evolucional tinha o
enorme empecilho que justamente dava consistência dramática as
revelações o qual as peças demais colocadas por Raymon parecia
completar o mosaico. De acordo com os livros aqueles que tais
atrasos promoviam tinha ciência de outras dimensões, quer
espirituais ou físicas pois seus descentes de lá teriam vindo a tramar
contra a humanidade discretamente para domina-la furtivamente.
Assim a natureza de nossa história apenas apresentavam
traços de uma verdade ulterior que aparentemente era
insistentemente apagada e coberta por estes senhores retrógrados
que a vida seguia um curso onde o aparente era apenas uma fração
da verdade, quando não mentira, pois o essencial era invisível.
Aquela mentira se séculos acumulava-se numa edificação de
mentiras como numa criptocracia.
De modo que uma das coisas observáveis nessa criptocracia é
a vida que seguia nas entrelinhas era marginal a tudo que era
T
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
112
vigente, das leis à objetividade sendo tangente a estas como uma
realidade marginal a abertamente vista e por onde corria todo tipo
de ranço, discriminação, ódio, ameaças como uma corrente de
energia negativa o qual os resultados visíveis sempre eram curtos
que matavam. A criptocracia era uma quase recriação de realidade
paralela a gosto dos que dela eram oriundos, afinal estavam em tal
dimensão presos, pois o campo magnético da Terra era uma vedação
dimensional que "aprisiona" o mundo nesta dimensão.
Enquanto o problema do cristianismo estar na moda é ele se
tornar cultura, não religião, quando na verdade é uma filosofia de
vida, a criptocracia tornava-se como uma espécie de censura onde
suas palavras eram temíveis de serem ditas e seus resultados eram
crimes dos tipos mais violentos, ainda que alegadamente por outros
motivos. A criptocracia era como um sistema governamental
fantasma dominado por aqueles senhores descendentes de seres que
pareciam não ser de nossa dimensão. Naquele momento Alicia olhou
atentamente em silêncio o que dizia Raymon quando engoliu seco e
ao olhar para nós traduziu tudo o quanto ele queria dizer duma só
vez:
- Quando o Sistema Fantasma começa a funcionar a falha é
evidente, quando eles dominam como bug's num sistema, nada
funciona direito, não há oportunidades, espaço, direito ou justiça,
por melhor que você faça não conseguirá usufruir do que você
produz. Antes um clima negativo e pesado parece saturar os
convívios sociais e relacionamentos criando comportamentos
implausíveis e gradualmente o livre-arbítrio torna-se vão, a ordem
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
113
natural se rompe e interrompida coisas perdem a causa, há mortes
misteriosas e surgem coisas sem origem aparente e as pessoas
gradualmente não se lembram que eram, uns chama isto de
conspiração, mas falamos de algo que entrega as vísceras da
realidade a devorando por dentro fazendo com que as pessoas
apenas vaguem e até mesmo passem a desejar a morte. Eles são
ordenados por um homem no futuro, mas não o nosso futuro, o
futuro de outra dimensão.
Esse homem seria fruto do caos gerado em seu tempo, caos,
por isso ordenado por ele mesmo a fim de gerar a si próprio
enquanto esse homem tomava o poder de romper dimensões e
assim dar acesso, e poder, a estes batedores dele, levando a
revelação de que está numa dimensão divergente a criptocracia é
uma aberração, uma anomalia decorrente da falha.
Aquilo levava a mãe de todas as conspirações. O projeto
Filadelphia originado pelo Projeto Rainbow e que fora sucedido pelo
Projeto Fenix, utilizando inicialmente o U.S.S. Eldridge e
posteriormente projeto Montauk, fora na realidade iniciado como
uma iniciativa de engenharia reversa e aplicação prática para a
tecnologia de um UFO capturado em Roswell, em 1947 pelo mando
do grupo Majestic-12. Ao perceberem se tratar de uma tecnologia
dimensional e temporal para viagens no hiperespaço, somas altas de
cotia de dinheiro tentaram desvenda-la em vão pois faltava a
concepção teórica em si, de modo que os resultados dos projetos
derivados de Filadelphia foram um fracasso provocando incidentes. A
teoria abrange todo aspecto e se ramificando posteriormente em
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
114
projetos menores o qual conseguiu-se decifrar a tecnologia, o qual a
Ordo Ab Chaos é subordinada e visa recolher todas informações
possíveis que consiga concluir o mosaico e enfim ter a chave para a
Porta Dimensional dos Tempos. O Incidente de Roswell não eram
seres oriundos do espaço, mas de outras dimensões, uma espécie
humanoide o qual alguns seriam descentes e que conspiradores
chamam por Reptilianos.
Após aquele longo dialogo travado com nosso amigo surdo e
mudo, percebemos que o que estávamos lidando era uma
descoberta muito mais antiga e colossal do que aparentava e que
aparentemente havíamos completado o mosaico. Mas apesar das
horas terem se avançado a madrugada naquele momento recebemos
uma notícia cruel de um vilarejo com descendentes maias que estava
dizimado naquele instante.
O lugar ficava não muito longe da grande cidade maia de
outrora grandiosa, mas aqueles homens empobrecidos apesar de não
terem herdados os costumes sanguinolentos de seu ápice e queda
seguiam uma vertente amena que considerava original antes de sua
degeneração moral. Os homens e mulheres daquele vilarejo
reuniram-se e buscavam unir os descendentes que ainda era unos
por sua cultura ancestral a espera de seu deus Kukulkán - versão
maia de Quetzalcóatl, senhor do vento - retornasse a seu mundo
cumprindo suas profecias, um homem alegadamente com traços
europeus responsável por lhe trazer inúmeros conhecimentos e que
viria doutra dimensão.
O fato do império maia posteriormente massacrar inúmeros
em rituais de sacrifícios humanos tratava-se, para eles de um
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
115
afastamento das crenças originais numa mistificação distorcida de
seus preceitos que era de Espelho Esfumaçado. O fato era que
Raymon não considerava tal deus um deus, mas um homem com
domínio de conhecimento e tecnologia superiores, muito menos uma
alienígena por sua aparência humana, mas um homem de outra
dimensão ou tempo muito mais avançado ao deles, afinal
considerava-se o futuro outra dimensão em hipótese.
Mas o fato é que aqueles homens que não acreditavam que o
mundo acabaria em 2012, desde o princípio em sua ignóbil distorção
popular, estavam sendo massacrados supostamente porque um dos
responsáveis pela manutenção de seu conhecimento teria
descoberto uma cópia de um dos livros queimados pelos espanhóis
ou qual murmurava-se conhecer a ideia do multiverso e buscavam el
dorado.
Aqueles homens, impassíveis, ora possessos por uma raiva
irracional outra hora como gelados homens crentes de que com sua
maquinação tinham razão em sua injustiça alegavam que o segredo
de Fátima iria culminar no massacre deles quando na verdade
desejavam encobrir seus crimes e aproveitar-se disso para roubar os
conhecimentos restantes com o advento do artefato, como se matar,
roubar e destruir para eles fosse lei. A Ordo Ab Chaos estava
presente e envolvia o Vaticano como sua contraparte como se a
maldade fosse justificada pela bondade.
Todos eles viram que era hora de partir rumo ao lugar, pois
se a notícia se espalhara pelo contato de Raymon certamente as
autoridades já estavam igualmente cientes.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
116
- Não acredito na suposta lei de Murphy, nada cientifica.-
disse Zaira ao ver os comentários na internet do contato de Raymon -
A convergência de todas as probabilidades negativas é um buraco
negro de viabilidades. Isso não é coincidência.
- Coincidência é o anonimato do destino ou da
intencionalidade. – Retruquei eu pois concebia que a aleatória do
caos era residual doutra dimensão e vice-versa.
- Creio na segunda hipótese –completou ela intrigada com as
possibilidades – Os livros estavam certos, mesmo como ficções
teriam mais verdade que a realidade.
Naquele momento lamentei não os ter lidos todos, pois era
uma biblioteca de conhecimento peculiar e singular, realmente
único. Sobretudo aquilo remeteu igual mortandade como nos
tempos áureos ainda que decadentes da masmorra maia sob a sina
de que na verdade era o inchaço de sua civilização outrora nobre e
pura em seus conhecimentos e moral sem maculas, pois, estavam
sendo massacrados sumariamente como em igual ritual macabro.
Imaginei quantas histórias de vidas não conhecidas haviam para ser
contadas, quer nos livros da biblioteca maldita ou de escritos maias
perdidos, o Dresden tinha muitas faces e uma cultura como aquela
não poderia ser descartada assim como seus autores e
descobridores.
Raymon porém relutou ir temendo represarias de seus
adversários impassíveis que somente não deram cabo de sua vida o
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
117
descartando por temer serem demasiados expostos, porém, ao
sairmos de sua residência nos vimos observados que àquela altura
carros de vidros escuros eram sinais de que estavam a nos cercar
talvez num ataque simultâneo.
Resolvemos tirar Raymon de sua residência e partimos em
direção a cidade ainda que o suposto contato dele afirmasse estar
conseguido proteger o achado anterior das mãos asquerosas
daqueles sanguinários boçais. Apesar de ter sido noutra cidade,
partimos com um carro alugado o quanto mais breve possível, na
realidade levou algumas horas e ao alvorecer junto com os primeiros
raios solares vimos as simples edificações vilarejo cercado de viaturas
policiais e mortos ao chão, não fora as mortes que permitiram
amanhecer como prima o distorcido conhecimento da época de sua
decadência.
Corpos espalhados ao chão, e colunas de fumaça se erguia
das casas, nem mesmo crianças e mulheres foram poupadas, menos
numa guerra aquilo era criem com traços genocidas. Para a surpresa
de Zaira, porém, vimos um padre caminhar entre os corpos tal como
a descrição da suposta profecia de Fátima o qual ela não tinha tanta
convicção, alguns poucos sobreviventes foram atendidos, mas apesar
da alegação oficial ter sido uma onda de saques e pilhagens por
traficantes não somente não os consideravam braços de Deus, mas
apenas serviçais do diabo, daqueles que fazem o grosso.
Fomos recebidos contato de Raymon que a despeito do
nome – era filho de um americano com uma descendente maia – era
entusiasta de seus descendentes, Doutor Russ DeGroat Burke, um
arqueólogo e antropólogo que estudava esse antigo povo
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
118
relacionando achados com seu estado disperso atual. Aquele
homem, porém, tinha ares de que possuía maior conhecimento do
que aparentava ser limitado a cultura maia, mas de algo ulterior a ela
como precedente. Todavia o homem de uma cautela peculiar não por
menos aspirava a ser curador do museu ainda que no momento era
pesquisador e protetor da ala Maia no mesmo. Ele tinha um bigode
tipicamente mexicano e usava um blusão que, apesar dos traços,
aparentava ser um turista por ser florido e colorido.
- Não estou em boas condições psicológicas, perdi meu
amigo. Me perdoem. – Disse ele após nos cumprimentar. – Alguns
querem limitar a visão do México à essas coisas.
- Lamentamos muito por sua perda. – Disse Jones arrastando
um espanhol carregado no sotaque português. – Estamos aqui para
lhe ajudar.
- Por favor me acompanhem. – Seguiu ele dando as costas e
caminhando em convite para segui-lo. - Foram uma série de ataques
aparentemente coordenados. Primeiro no museu, ainda que com
outras alegações. – Completou ele indicando o traço criptocrata do
incidente quando seu telefone tocou.
O homem atendeu a ligação, porém, uma forte interferência
o fez repetir as palavras em voz firme e alto quando fora
interrompido, caindo.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
119
- Me perdoe, o sinal tem andado oscilante ultimamente.
Disseram ser global, mas não há traços de tempestades solares. –
deu seguimento com eles. – Acho que era hora de pegarmos o
artefato antes que eles o façam por nós.
Aquilo era óbvio demais, ainda que para as autoridades não
fosse relatado como uma relação clara por ausência de provas.
Porém, o passo seguinte nos levou a preciosidade que ele referia-se
recém descoberta, um fragmento não conhecido do Dresden maia o
qual tinha explicações das águas em relação ao tempo.
- Eles querem isto. – Disse o homem retirando do carro algo
envolto num tecido grosso – algumas tabuletas com desenhos
incrustrados. – Estou no fim da tradução mas o que tenho a lhes
informar é que o conhecimento disso é impressionantemente
coincidente com a hidrocriptografia e a maneira deles enxergar o
destino.
- A inconstância é uma inconsistência temporal. – Repercuti
impressionado com aquele achado.
- As previsões deles, enfim, não vinha apenas da meditação
climática e das estrelas, mas como Nostradamus, das águas! Ele
concebia previsões pelas variações em esboços até mesmo de
cálculos.
Nostradamus era lendário naquele meio, o qual especulava-
se ser até mesmo um membro da Ordo Christianistas Ad Ventus por
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
120
suas práticas de meditação sobre as águas. Ele previu a noite de São
Bartolomeu, Napoleão, Hitler e tantos mais com notável precisão,
sua ciência não era uma mera hidromância, mas conseguia
contemplar o tempo pelas águas e o caos em seu estado mais puro.
Viu sobretudo mortes através das águas, pois vidas interrompidas são
as que mais criam ondulações.
- Sim, a proposta de que algumas das previsões deles não se
concretizaram era porque foram a outras dimensões de variáveis. –
Disse Petrônio e continuou – supõe-se que o gênio em suas quadras
eram interpretativas. – Completou quando viu Russ DeGroat retirar
um livro sobre ele que estava ao lado do achado arqueológico.
- As práticas não eram meramente coincidências, afirmações
de algo vir dos céus, por Nostradamus, identifica-se exatamente com
a de Kukulkán, vejam essa quadra. – Disse Russ abrindo o livro e lhes
mostrando a página e apontando a quadra em questão com o dedo
indicador.
De Salon, 27 de junho 1558
Michel Nostradamus”
X-72
Em 1999 e sete meses,
do céu virá um grande rei do terror.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
121
Ressuscitará o grande rei D’ANGOLMOIS.
Antes que Marte reine pela felicidade.
Fiquei extasiado com aquilo, a possibilidade de quem o
mestre dos antigos maias retornassem encaixava-se perfeitamente
com aquela dita profecia, mas que por algum mistério não
aconteceu. Comumente alguns traduziam aquilo como se fosse a
possibilidade de um asteroide atingir a Terra no período, o que de
fato nunca concretizou-se porque na realidade não era um asteroide!
Mas isso não era tudo, dentre inúmeros materiais perdidos
de Nostradamus, assim como dos antigos maias, aquele livro que não
por menos era escrito por ele ao relacionar ele com os maias, trazia
algumas quadras recém descobertas após séculos perdidas ainda que
a autoria não fosse de todo confirmada. Assim eu li intrigado aquele
pequeno montante de palavras que indicavam algo que parecia
descrever nossos adversários.
Impostores marginais que marginalizarão pela discriminação,
Justificarão a injustiça pela mentira para o crime
Cruéis e saqueadores serão, e tentarão arrombar a porta dos
tempos
Até que o rei que viria, mas não veio dos céus, virá pela porta
do tempo.
- De quando é esta quadra? – Indagou Jones igualmente
intrigado.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
122
- Acho que se refere aos tempos atuais e encaixa-se
perfeitamente com a quadra anterior.
Respondemos aquilo com silêncio pois a introspecção se
tornou vital a compreensão diante de algo que nos deixava
estupefato.
Ainda que o ambiente não fosse dos mais adequados a
reflexão e teorização sobre tudo aquilo, pois ao olhar ao redor
relembramos estar numa cena de crime violento, seguimos ao carro
pois todo estrago que tivesse que ter ocorrido já tinha ocorrido e lá
entramos em direção ao museu.
O amanhecer não fosse aquela tragédia seria singularmente
belo e com o alvorecer o ar puro parecia cobrir a miséria da violência
como um lampejo de esperança sobre mentes que desejavam
procurar respostas que dessem significado a tudo aquilo.
As portas do museu estavam fechadas, mas um acesso de
funcionários pela lateral era permitido a DeGroat assim como nós
que o acompanhava. Fomos cumprimentados pelo guarda da noite
que pediu identificações e assinaturas e seguimos pela ala maia onde
inúmeros artefatos estavam dispostos em exposição ao lado de um
enorme soldado maia com sua armadura tradicional. Havia uma aura
retro naquilo que nos remetia não aos tempos mais sanguinários
daquele povo que se corrompeu, mas ao conhecimento que haviam
adquirido por vias não confirmadas até mesmo ao não leigo.
Adentramos uma parte o qual deu acesso ao acervo de
manutenção, onde peças em pesquisa e mais sensíveis eram
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
123
guardadas. Vimos vasos de cerâmica antiga, pedaços de armadura,
ossadas, armas quando, por fim, chegamos a um canto onde havia
algo enrolado num pano. DeGroat colocou o trecho inédito do
Dresden ao lado e em seguida pegou o pequeno amontoado de pano
e o desenrolou revelando uma espécie de punhal que a vista nada
tinha de incomum.
DeGroat o pegou com cuidado como se fosse a peça mais
valiosa do universo quando sem devido conhecimento pouco daria
aquilo. E então olhou de perto e ao passar perto de um micro que
estava ligado notou-se uma interferência no monitor.
- O que é isso, está magnetizado? – Indagou Jones.
- Não, as vibrações do artefato são imperceptíveis no mundo
macro. É quântico. – Respondeu DeGroat igualmente intrigado.
Naquele momento ele curvou-se sobre uma mesa onde havia
uma enorme lente de aumento pois abriu o punhal em sua mão
como se estivesse sentindo uma sensação incomum e colocou o
punhal maia sob a lupa e observou.
- Por Deus! – Disse ele interrompendo o silêncio – Isso está
vibrando a olho nu.
Naquele momento todos tentaram competir por um espaço
ao lado da lupa, mas Alicia ocupou primeiro enquanto Jones, eu e
Petrônio sentíamos como crianças a espera de receber o doce. Alicia
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
124
sorriu visivelmente emocionada e ambos deduzimos que se
levássemos aquilo a um laboratório de física descobriríamos algo não
menos singular. Porém, naquele momento faltou luz no laboratório
arqueológico.
- Faz tempo que isso não acontece, melhor contatar a
segurança, nunca se sabe se...
- Espere – disse Alicia ao observar o movimento de mãos de
Raymon que olhava o artefato. – Ele estava luminoso no escuro.
Era verdade, aquele punhal antiguíssimos estava como se
fosse similar em brasa com uma luz tênue mas perfeitamente visível
ainda que a temperatura do artefato mantivesse ambiente. O
telefone de Petrônio então tocou mas quando pegou perto do
artefato o telefone que era um smarthphone simplesmente surtou e
apagou.
- Será que isso seria capaz de provocar interferências em
maior escala? Celulares são inúteis perto dele!
- Não sei, mas de acordo com o mito maia o tempo que
transcorre em seis direções diferentes primava por uma seta, seta
que não tenho mais dúvidas ser personificado nesse punhal. Eles
sacrificavam pessoas com ele pois queriam também ter o portal de
volta, mas era crendice, não compreendiam como isso funcionava de
fato. – Disse Russ DeGroat
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
125
- Metal e água como diz o livro de Roberta Sparrow, talvez
seja algo envolvendo isto para abrir um portal. – Respondeu Jones
perplexo.
- Mas algo me diz que isso são interferências de outro
universo. – Repercutiu Petrônio fascinando – que algo talvez esteja a
romper um portal para a nossa dimensão.
Porém, antes que guardassem o punhal para levarem a outro
lugar considerado mais seguro o segurança surgiu diante deles com
uma cara pálida de medo e lhes disse com espanto.
- Me perdoem senhores, fui rendido, e estes homens querem
ter com vocês – completou revelando-se vários homens por de trás
do segurança, completamente armados.
Aquela não era a adequada maré de sorte para nossos
amigos e ao contemplar o segurança com os olhos mareados de
pavor ele sorveu todo ar que pudesse a sua volta como se fosse um
suspiro desesperado e viu surgir de trás deles nada menos que David
Helson.
- Perderam, meus prezados, passe o artefato pra cá. – Disse
ele de modo impassível ao ser iluminado pelas luzes de emergência.
– Estamos esperando vocês nos levarem até o artefato.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
126
Petrônio sem reação ao lado de Russ DeGroat o viu
congelado em seus movimentos sem qualquer esboço de reação,
pois um lado lhe informava, como num alarido interno, que jamais
poderia entregar aquela peça, mas outro via que aquele monstro
seria capaz de qualquer crime para ter o que cobiçava. Mas Petrônio
tomou a frente e pegou a peça de suas mãos lentamente enquanto
os olhos enormes de pavor dele pareciam tremular. David Hellson
pegou e em seguida deu nas mãos de um dos homens dele.
- Guilherme, verifique se é a peça autêntica. – Completou
virando-se novamente para nós empunhando sua arma e nos disse. -
A seta pode ser colocada para indicar a direção dimensional
detectada, não somente espacial, como se fosse uma bussola que
capita a crepitação de ondas energéticas de outra dimensão. Casos
não tenham sido capazes de observar, não podemos abrir o portal
por este lado da dimensão, mas apenas apertar a campainha para
abrirem do outro lado.
- O que querem é arrombar as portas do tempo, mas nem
toda maré de sorte pode salva-lo. – Disse Jones Skelton num súbito
ataque de coragem ante aquele tirano.
- Caso não tenham notado, temos a chave de Kairos na mão.
– Completou ele e deu um riso diabólico em seguida como se
escarnecessem de nós ao mostrar que havia pego o punhal. – Ela iria
apontar perfeitamente onde acontecerá a ruptura dimensional que já
começou.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
127
Naquele momento ele viu que Alicia havia se abaixado por de
trás de uma bancada repleta de peças maias antigas. Aproveitando-
se da luz que não havia sido vista, mas não seus reflexos no material
metálico da outra bancada a frente. Ela estava com o celular em
mãos ligando para a policia, porém, o telefone estava dando um sinal
esquisito como nunca antes ouvido.
- Se a senhorita, - disse Hellson – acha que vai ligar para a
policia ai atrás abaixada, enganasse, a interferência pela ruptura
dimensional afeta todos instrumentos e comunicações. Levante-se. –
completou enquanto o homem dele verificava a autenticidade da
peça e lhe confirmava.
O homem estava certo nisso, a interferência sentida
anteriormente era um indicio de que a malha temporal estava mais
fina em dado ponto o que afetava as ondas magnéticas e mesmo
sinais por satélite como se fosse uma tempestade solar muito
agressiva. Sobretudo deu algumas informações que nosso grupo não
tinha ideia sobre o artefato que vibrava mais intensamente
denunciando o fluir de outra dimensão sobre a nossa.
- Nessa dimensão, a fonte mor de todas as fontes de energia
é o sol, porém, fora de nossas dimensões o poder imensurável que
por ele corta faz parecer o sol uma mera lâmpada de sala. – Disse o
homem debochando de nós como se pouco soubéssemos perto dele.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
128
- Senhor, - disse seu capataz e batedor, Guilherme – o
artefato aponta para o sul. Acho que coincide com os sinais do
satélite de que a abertura será nas mediações do Triangulo das
Bermudas, mas exatamente nas ilhas bikini.
- Ótimo, - respondeu Hellson – Levem eles para ver nosso
derradeiro triunfar na última viagem deles, podem também nos
servir como reféns de troca, caso algo de errado.
Se a criptocracia fosse um fato, David Hellson seria seu rei, e
gélido como um iceberg pediu para que seus homens se livrassem do
segurança que o fez de súbito com um tiro em sua nuca, sem o
menor esboço de afeição ou misericórdia como se nada refletisse
próximo a uma consciência a não ser sua cauterização absoluta. O
corpo que estava de joelhos fora empurrado por Guilherme caindo
de bruços mediante um grito abafado de Alicia ao se assustar com a
cena do crime no ato, quando pouco dando valor ao ato David
Hellson começou a discursar seguindo em frente, como quem tivesse
apenas descartado uma chapinha de garrafa de refrigerante.
- Esperamos muito tempo por isso. Em 2009 tentamos recriar
as condições que rompessem a dimensão num vórtice, mas fora um
fracasso, pois recriávamos eram seus efeitos, não causa.
- Golfo de Aden, em 9 de novembro. – Disse Petrônio num
semblante de repulsa e tendo o aceno de concordância de Hellson. -
Quando não aparece normalmente na mídia, cuidado, pois pode ser
mais importante e perigoso do que aparenta
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
129
- Precisamos de algo que cortasse mais fundo da malha do
tempo, - disse ele olhando para o punhal – sobretudo porque
precisamos chamar atenção de quem está do outro lado.
- Seu louco, como tem ideia que há alguém do outro lado, na
outra dimensão? – Perguntou Alicia.
- Porque fora o mesmo que deixou isso. – Disse ele
mostrando o artefato – Como mesmo os senhores notam, a peça não
poderia ser originária deste mundo. Vocês podem se referir ao vento
do advento, pois quando o vórtice se abre cria um deslocamento de
vento e energia. Mas eu prefiro chamar de oportunidade de
conhecer nossa origem. – Completou referindo-se como se fosse
descendente dos caídos nesse mundo, um nefelins.
Quando há intensão, não há inocência, quando estando
ciente não é casual, pensei eu ao retirar-me do museu e contemplar
o céu tão límpido, mas com uma formação incomum em seu
horizonte, algo como nuvens brilhosas, similares a uma aurora
boreal.
Fomos colocados dentro de um carro e amordaçados como
se fossemos nós os cães raivosos, mas a medida que o carro
prosseguia refletia sobre o que poderia acontecer caso aquele
homem conseguisse hesito ao abrir o dito portal dimensional, algo
John Carter teria inspirações no conhecimento do autor de portais
reais, cria Jones Skelton.
Mesmo Hitler buscava atingir o vórtice abrindo para outra
dimensão através da Vrill, e sua tecnologia para construção de
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
130
objetos experimentais que nunca chegaram a ser utilizados na guerra
teriam se derivado de contatos com outra dimensão. O carro seguiu
lentamente até chegar ao mais próximo aeroporto e sob pena de
sermos mortos ali mesmo, ficamos calados até sermos embarcados
onde a vaidade megalomaníaca de Hellson deu lugar e começou
novamente a discursar após a decolagem do avião.
- Karl Burger estava certo, - disse ele sobre um autor de livros
de realismo fantástico. - O DNA não humano de crânios alongados
indicavam que eles não eram dessa dimensão. O que não sabiam que
parte desse DNA não conhecido está presente em meu genoma, o
que faz de mim herdeiro de puro sangue dos conhecimentos que
vocês estudam. Mas assim como dois corpos não podem ocupar o
mesmo espaço, uma dimensão não pode ser ocupada pelos mesmos
corpos, e por isso venho ocupar meu lugar por direito. – Completou
enquanto era servido com uma dose de wiski por Guilherme em
comemoração.
- Se fosse você não comemoraria antes do tempo – disse
Alicia – aberrações caóticas tem uma declinação a tentar provar a lei
de Murphy.
- Recentemente descobrimos mais alguns desenhos sob a
mata Amazônica, - disse ele ignorando Alicia – a mesma onde havia a
cidade perdida que vocês acharam, e agora todo seu conhecimento
nos servirá e eu serei reconhecido como autor! – Completou
mostrando o copo como se oferecendo um brinde.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
131
Guilherme riu sadicamente deles enquanto Raymon os
olhava em silêncio em tom de reprovação e assim interrompendo o
silêncio funesto disse.
- E nosso cachorrinho surdo-mudo, não faz ideia do que
falamos. – Disse ironizando a condição do jovem tirando um riso de
Hellson.
- Talvez devamos sacrifica-lo diante da abertura do portal, e
amarramos ele com um bilhete a Roberta Sparrow. – Respondeu
Hellson em escárnio.
Naquele momento veio outro homem saindo da cabine da
tripulação em direção a eles e interrompendo de modo a indicar
alguma notícia de surpresa disse dirigindo-se a David Hellson.
- Senhor, temos relatos de diversos pontos de interferência
nos sinais de comunicação.
- Isso já sabemos, o que tem nisso.
- O problema é que junto a interferência vem sinais de
aparente transmissões nunca vistas em nosso mundo.
- Como assim? – Indagou Guilherme, o sádico.
- Sinais de áudio e vídeo, ora parecem como programas de
televisão e hora como uma mensagem para nós. – Respondeu e em
seguida acenou para outro homem que trouxe um laptop sintonizado
no sinal aparentemente digital e o homem continuou –
aparentemente decodificamos algo numa frequência muito parecida
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
132
com a nossa que fortalece a interferência, a procedência é
confirmada como das ilhas bikini.
Hellson e Guilherme se inclinaram diante do monitor
colocado diante deles e em silêncio observaram uma imagem
inicialmente embaralhada, mas que gradualmente crepitava um
inglês truncado, como com um forte sotaque.
- Aproxima-se a tempestade dos séculos – disse a voz
mostrando um rosto rebuscado que tomava forma lentamente – os
que tentam abrir o portal rendam-se antes que seja tarde. Os
dominadores de seu mundo não terão vez.
Ao ver aquela imagem de relance quando tomou forma mais
nítida notei ser um rosto conhecido por mim, algo que havia visto
anos antes quando tomei um elixir milagroso escasseado pelos
tempos, era o homem que aparentemente estava no futuro.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
133
VI
Vislumbres Prévios "A insanidade é relativa. Quem estabelece a norma?"
Charles Bukowski
uando aquele sinal discrepante tornou ao normal mesmo
David Hellson parecia tentar disfarçar sua aparente
impotência ante aquele poder imensurável de outra
dimensão. Era tirano soberano em seu mundo e todos os crimes que
havia perpetuado até ali permaneceu impune. Carregava todas coisas
mais retrogradas em pleno século XXI, racismo, sexismo e machismo,
ele era um manancial de discriminação criminosa como poucos. Mas
aos poucos, ainda que sob forte interferência nos sinais de
comunicação, a programação da Tv voltava ao normal, na realidade
não tão ao normal pois agora jornalistas ao vivo transmitia com
imagens pautadas e kerniadas suas pautas sobre o que seria aquilo, o
sinal de outro mundo, dizia um repórter era uma prova contundente
de que não estávamos sós no universo?
Fosse o que fosse todos pareciam ratos num labirinto
tentando compreender sua totalidade como num mosaico, porém,
cego pela cobiça em sua impassividade David Hellson parecia alheio
aquilo e a possibilidade avassaladora de encontrar algo de poder
inominável mesmo aquele tirano e seus boçais insaciáveis de
violência e ganância.
Q
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
134
- Talvez seu reinado esteja no fim, por fim. – Arrisquei
afirmar a ele para tentar sondar seu comportamento que fora frio.
- Pelo amor de Deus, passamos séculos estudando vocês de
perto, observando seus progressos, sua linha de baratas com seu
conhecimento. Vocês são meus ratinhos de laboratório que apenas
crio e descobriram tudo que é necessário para nós, agora chega a
hora de, com o fim de sua função, serem descartados. – Respondeu
ele com um sorriso sádico no rosto e continuou – nos infiltramos por
séculos em cada setor, no Vaticano e no governo e agora
encontraremos nossa origem, nada poderá nos deter.
- Estamos apenas adquirindo parcialmente capacidade de ver
através de realidades – disse Alicia – e como temos ciência de que
pela Hidrocriptografia o caos se faz necessário não uma, mas
inúmeras dimensões para ter seu poder, quem não garante que não
é a dimensão de que seu povo teria vindo?
- Cale a boca! – Respondeu ele após perceber que ela estava
tentando fazer um joguinho psicológico com ele – mulheres como
você deveriam ser úteis apenas na cama, pois nem pra lavar louça
serve. Enquanto não se sensibilizarem que pessoas como vocês
nasceram apenas para servir e serem pisadas, mais vão sofrer.
David Hellson estava encegueirado pela ganância e poder,
não cogitava, se quer que o observador que era poderia estar sendo
igualmente observado por algo inefavelmente mais poderoso do que
ele ousava pensar ser. Tinha convicções em sua maldade como
legitimidade ainda que não moral, talvez em fim, todos eles
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
135
igualmente eram ratinhos em laboratório em sua pedante arrogância
que se colocava nas alturas naquele mundo.
Com o aproximar do voo ao aeroporto das Ilhas Bikini, no
Triangulo das Bermudas, o tempo estava com intensas correntes de
vento e com nevoas incomuns para o período, o que remetia aos
relatos de desaparecimentos e mesmo de pilotos que teriam
entrando em vórtices em meio as nuvens. Porém, a aeronave estava
operante pelos instrumentos ainda que eventualmente a bussola e
instrumentos de orientação e navegação parecesse confundir-se
sobre as rotas tomadas e mesmo a altitude informada. O temor
maior, para nós, no momento era de que estávamos nas garras de
um monstro cruel que nos mataria sem o menor pesar, como se
fossemos moscas, pois independente do que criamos e descobrimos
gratidão e pagamento não eram cogitações comuns a tamanho
imoral que eram aqueles grandes criminosos.
O avião pousou sem maiores transtornos, dando apenas uma
breve dançada na pista com o forte vento que vinha pela lateral,
porém, como hábil deveria ser o piloto rapidamente estabilizou o
bimotor e acertou seu prumo indo direto a sessão para nos
desembarcar.
Ao retirarem-se do avião a primeira coisa que viu fora o céu
com formações de nuvens peculiares que aos nativos do local não
indicava uma tempestade, ao menos comum, mas o que eles
chamavam de manifestação magnética peculiar, mas já visto
anteriormente por tais formações inusitadas.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
136
Caminhamos por alguns minutos até que vimos um carro que
nos aguardava e fomos colocados com as mãos amarradas para trás
dentro deles até ir a um local onde a telemetria indicava que
ocorreria o rompimento dimensional pelo vórtice. Os funcionários
nos viram amarrados, mas nada fizeram, todos na região eram
comprados pela poderosa quadrilha daquele homem.
Os carros dirigiram-se em meio a um forte vendaval pela
cidade quando chegamos a um lugar descampado o qual as arvores
dançavam ferozmente de um lado a outro pela intensidade dos
ventos quando raios sobre nós agora se viam roncando firmemente
como anuncio de algo. Fomos puxados para fora, obrigados a sair do
automóvel e encaminhados até uma equipe de aparente cientistas de
jaleco quando Guilherme entregou o punhal nas mãos daqueles
homens de ciência certa e moral errada. O alarido dos galhos de
arvores e folhagens eram tão intensos que eles precisavam gritar
para serem ouvidos.
- Está completo. – Disse o cientista ao pegar o punhal e um
outro homem a monitorar leituras do artefato. – Isto no lugar certo é
como a chave na fechadura certa. – Concluiu o homem com um
sorriso duvidoso quando um trovão brotou dos céus como se
informasse estar certo, naquilo.
David Hellson pegou o punhal e levantou-o no alto quando
ele pareceu estar levemente luminoso e perto de todos
equipamentos provocassem mal funcionamento técnico. O vento
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
137
irrompeu entre ele balançando seu terno preto e seus cabelos
enquanto ele sorria como uma criança mimada com um brinquedo
caro recém adquirido e sentisse naquele momento que tinha todo
poder do universo em suas mãos.
Repentinamente, então, um outro trovão se ouviu rasgando
os céus quando as nuvens começaram a funilar como se formasse um
tornando, mas de seu interior uma luminosidade incomum crepitasse
fazendo a temperatura cair repentinamente e uma densa nevoa ao
redor se formar. O céu ficou de outra cor, algo entre um amarelado
esverdeado enquanto ele apenas ria embasbacado como se fosse o
responsável por criar tudo aquilo, quando vimos, de repente, o céu
literalmente se abrir como num túnel de luz que descia sobre nós, em
direção ao punhal nas mãos de Hellson enquanto Guilherme nos
apontava armas para não reagir e aproveitar o momento para tentar
praticar uma fuga.
A intensidade daquilo provocou um vento de tal intensidade
que mais remetia a uma onda de choque provocada por uma
explosão enquanto equipamentos detectava uma intensidade que
saia da escala comum com energias poucas vezes vistas, fazia parecer
relâmpagos meros choques de tomada. Os versos rasgam o véu entre
as vísceras do metafísico ante o real.
- A ti invoco Espelho Esfumaçado, Tezcatilpoca, deus dos
ventos não por menos! – Gritou David Hellson após quase cair com a
onda de vento. – Corte essa dimensão como as vestes de nossos
servos!
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
138
Naquele momento ele virou-se para trás, me viu e pediu para
que Guilherme nos trouxesse até ele e então virando-se para nós
com os olhos mareados pelo poder que sentia correr mediante
aquela manifestação, nos apontou o punhal assim como a Raymon e
disse.
- Ofereço o sacrífico da vida deles assim como os maias o
fizeram! – Completou como se Kukulkán isso fosse responder o que
nunca fora feito nem mesmo durante o genocídio que realizavam
todos os dias para que o dia nascesse.
Empurrado por Guilherme, Raymon foi lançado a frente, mas
quando ele disse ‘acabou’ com um sorriso sádico e a voz sufocada
pela intensidade da tormenta um raio caiu sobre o punhal o lançando
longe.
Os cientistas correram até ele quando o túnel se alongou
mais e aproximou-se a uns quatro metros de nós, e saindo fumaça de
Hellson e do punhal o homem estava desacordado pelo raio que lhe
atingiu. Então o vento começou a ir no sentido oposto como se nos
sugasse para dentro do túnel onde a luz intensa e tremule vinha tão
intensa quando o sol.
Havia chovido na noite anterior e naquele momento observei
as ondulações das águas de uma poça mudar de direção como se
aquilo igualmente afetasse toda caótica comum. Alterações no caos
eram sentidas. Naquele momento um enorme clarão se ouviu e
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
139
surgiu diante de nós a silhueta de um homem que lentamente tomou
forma enquanto os cientistas agachados protegiam o rosto com os
braços em vão.
O homem tinha um olhar severo e vestia uma espécie de
armadura dourada com equipamentos luminosos por todo corpo,
observou lentamente nós e olhou para seu pulso como se fizesse
algum tipo de leitura e então apontou para Guilherme e uma luz
intensa o cortou pela barriga o fazendo cair instantaneamente
morto.
Em seguia olhou para os cientistas e fez o mesmo, deixando o
único que não morreu cego com a intensidade do clarão, mas
aproveitando-se disso David Hellson fugiu. O homem então
aproximou-se de nós e olhou em silêncio, sob o intenso vendaval,
para nós e então parou diante de mim e olhou para o alto de onde o
vórtice se abria e me puxou pelo braço.
Me puxando silenciosamente sem nada dizer, viu ele o
punhal no chão e então parou apenas para pega-lo e em seguida
apertou algo em seu pulso e olhando para o algo um outro clarão
surgiu nos tragando e tudo perdeu-se numa brancura que engolia
todas as formas e o portal subitamente fechando. Aquele homem era
um guardião dimensional, uma espécie de porteiro para outras
dimensões físicas.
O fato é que meus sentidos ficaram tão aturdidos com aquilo
que tonteei e troquei as pernas quase desmaiando. Caí de joelhos
ante a maravilha daquilo que surgia nos céus, mas tomado pela
tontura que tirava toda orientação e quase a consciência quando
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
140
então todo vento cessou e vi-me sob um chão branco totalmente liso
e sem junções.
Levantei o rosto lentamente e observei estar num lugar onde
as paredes, brancas, eram como o chão, sem aparentes portas ou
janelas. Me recobrei e levantei-me lentamente quando vi surgir o
desenho de uma porta atrás de mim. Virei-me e segui em direção a
luz que dela saia e caminhei lentamente como uma criança dando os
primeiros passos quando por ela atravessei e vi novamente o homem
que havia me capturado.
Ele estava de pé diante de outro homem com armaduras
douradas sentado numa espécie de trono, e para minha surpresa era
o mesmo homem que havia visto anos atrás numa visão provocada
por um elixir o qual se atribuía poderes milagrosos e proféticos.
- Você. – Disse eu perplexo – eu lhe vi antes. – Completei e
então o homem deu um esboço de sorriso. – Quem é você?
- Incrível, numa outra variável você havia sido morto cobaia
de um projeto negro. – Disse o homem com uma austeridade ímpar –
nós acompanhamos seus progressos sobre a compreensão da ciência
dimensional a anos e realmente teve progressos notáveis na teoria.
Naquele momento vi ao lado um corpo e ao me aproximar
intrigado contemplei sua face e para minha surpresa era eu mesmo.
- Sim, é você. – Disse o homem – resgatamos seu corpo após
o projeto negro ser concluído.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
141
- Eram apenas um, até o advento do desvio de dimensão
daquele evento, o incidente. Você é a versão da dimensão em que
sobreviveu. Existe uma diferença entre portal dimensional, desvio e
ruptura dimensional. E a cada fissura o caos se intensifica tornando a
mais dimensões ramificadas. – Disse ele movendo as mãos - A
tempestade criou diversas fraturas temporais em dimensões
tangentes ressoantes.
- Mas você não me disse ainda quem é em que ano estamos?
- Estamos no ano de 2037. Sou o resultado do que faço no
passado, sou seu filho! – Disse o homem me deixando confuso e
perplexo pois nunca tive um filho.
- Sou quem crio grilhões de destinos e os desfaço. -
Completou ele vestindo uma longa veste dourada ao levantar-se,
abaixo da armadura. - Sou o apogeu, a aurora de uma ciência
dimensional e temporal o qual tornará toda ciência moderna e
espacial, obsoleta! Agarraste a corda apenas para atraí-lo, e cá está
como um ratinho no labirinto.
- Impossível ser seu pai! – Retruquei.
- Sou resultado de um projeto que estudava as nuances
genéticas e sua influência no continuo multiverso pertinente a seus
genes, e como percebi que você nunca foi um bom pai, achei que
deveria morrer, servindo apenas ao designo de completar os eventos
o qual me elevam a onde estou. A eugenia fracassou, pois, somente a
aparente aleatória da miscigenação provou fortalecer a espécie,
nesse tempo o que enalteciam uma pureza, na verdade era fraqueza.
Você cumpriu seu papel.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
142
- Jamais tive a oportunidade de ser pai, não pode me culpar
pelo que não pude ser., Mas você me usar todo este tempo para
conseguir calcar postos até onde está é cruel. - Respondi sentando-
me numa cadeira transparente.
- Quero tocar os seres dourados, aqueles o qual são os
imperionautas. Mas agora você cumpriu seu papel e deve ser
finalizado, morto. - Completou ele acenando para um dos homens de
guarda. – Somente é um dentre variáveis.
- Espere tem que haver ainda algo de humano em você. Por
que me matar?
- Porque é assim que deve ser feito. – Concluiu o homem
dando de ombros e tentando demonstrar insensibilidade.
O modo como lidava com aquilo parecia apenas ser mais um
psicopata que encontrei ao fugir de outro, todavia vi que ainda
esboçava humanidade em seus olhos o qual de fato tinha algo de
mim. Seus olhos por um breve momento marearam ao me encontrar
e aproveitando-se disso disse.
- Não sei quanto o meu eu de outra dimensão, mas não sou
como você pensa que sou. Talvez tenha me corrompido, não sei. Mas
jamais seria mal com um filho meu.
- O que pretendes afinal além de não querer morrer? –
Perguntou o homem.
- Aqueles homens conseguiram despertar sua consciência
para romper as dimensões, e garanto que são mais cruéis do que
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
143
imaginas. – Disse e o homem assentiu pedindo para prosseguir. – Eles
procuram sua dimensão de origem e não podemos permitir que a
alcance.
- Intrigante, temos ciência de qual dimensão vieram, são
muito poderosos em seu mundo de fato. Mas somos muito mais
avançados. O que você pode fazer para impedi-lo.
- Dê-me a oportunidade de provar meu valor e os impedirei.
O homem olhou para mim por alguns minutos em silêncio e
então cruzou os braços me olhando firme nos olhos e me fazendo
ficar intimidado até desviar os meus quando então disse.
- Você tem alguns dons, de fato. Afinal sou seu filho. –
Completou com certa rispidez. – Meu temor não são pelas amebas
éticas de seu mundo, mas dos que lhe geraram, são de uma
dimensão perigosa e caso retorne a sua dimensão.
- Coisas terríveis acontecerão. – concluí.
- Homem-esfumaçado. – Disse ele – Não por menos chamado
pelos incas de Espelho Esfumaçado. Pai dos reptilianos, uma
linhagem apta apenas as maiores moléstias que por séculos trouxe
problemas a humanidade.
- Pensava eu que ele fosse o mocinho. – Retruquei.
- Mal entre os seus. Sua linha de saqueadores malditos, não
por menos nos perseguem por séculos. Na verdade, um dos
primeiros a notar as divergências temporais e dimensionais fora um
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
144
sefardi e sem ter ideia dos “porquês” criou os princípios da cabala,
algo que Roberta Sparrow procurou respostas em vão.
Os sefarditas eram judeus que se estabeleceram na Península
Ibérica durante as navegações fenícias, os ‘ladinos’, na língua litúrgica
eram judeus espanhóis do qual significa o termo serfardi do hebraico
para os que habitavam Portugal e Espanha. De tempos imemoráveis
habitaram estes locais onde se estabeleceram antes mesmo de Cristo
e resistindo a história e ao império romano, sobrevivendo até mesmo
a inquisição espanhola e se escondendo no norte da África e até
mesmo no chamado novo mundo, incluindo o Brasil dividindo-se nos
grupos ocidentais e orientais. Mas fora durante os primeiros séculos
após Cristo que uma tribo de sefardim encontrou seu destino na
Etiopia onde o qual tornaram-se protetores a antiga Arca da Aliança.
Teriam descoberto algo peculiar nas vísceras de um templo o
qual aproveitando-se de carona nas navegações fenícias o mistério
das bases da Ordo Christianitas Ad Ventus carregou até o novo
mundo onde teria sido cerrado dentro da cidade perdida encontrada
por uma equipe de pesquisadores recentemente, nas entranhas da
Amazônia e que teria inspirado mesmo a cabala e que a dita serpente
Esfumaçada procurou como motivo de sua vinda a tais terras
inexploradas pelo ocidente até então, seus rebentos malditos mesmo
mesclaram-se aos sefardim para tentar tomar suas prerrogativas.
Algo que levasse ao despertar natural da consciência em seu
encontro com uma realidade ulterior é como o sobrenatural, é o que
existe de mais puro, e assim como não existe padrão a compreensão
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
145
da experiência espiritual pois ela é individual, como uma porta
apenas você pode abrir e mover-se entre ela, somente quem tem a
chave e a chave sempre será o 'porquê'.
- Mostrar o caminho é possível, - disse o homem do futuro -
mas atravessa-lo sempre será uma jornada particular. Posso levantar
a pergunta. Num conceito dialético crie a pergunta que o enigma
clama para ser revelado, mas o caminho pode ser misterioso, porem
o objetivo sempre será a revelação. A torre dos ventos é
indestrutível, e aniquiladora, mas sobretudo conduto a expandir a
consciência e como diz Einstein, uma vez expandida, jamais voltará
ao mesmo, e sua jornada será sua iniciação. Podem até devorar-me,
porém, minhas ideias lhes devorarão as entranhas da mente.
Despertei, e estou de pé, e minhas ideias são meus olhos que
fuzilarão vocês assim como sua peçonha faz com os inocentes, e elas
dominarão quando A Tempestade passar. – Completou sentando-se
novamente em seu trono lustroso.
- Um mundo sem paradigmas e axiomas comuns – repercuti
o que ele queria dizer e segui - Einstein dizia que a imaginação em
sua especulação é mais poderosa que o conhecimento, afinal é o
principal propulsor para a invenção buscada pela necessidade.
- A natureza do multiverso são espelhos e os modificamos
como por eles espelhamos, ou especulamos... – concluiu. – Você terá
o suporte, mas agora terá de ir e procurar o Mestre dos Ventos
Supremo de seu tempo e dimensão.
- Quem é ele? – Indaguei.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
146
- Um dos seus, procure-o e ele te acharás. Então conheça a
verdade e ela o libertará. – Respondeu – Vá. – Concluiu quando um
vórtice abriu-se atrás dele criando um vendaval.
- Espere, diga ao menos seu nome para conhecer quem é o
filho que jamais tive!
O homem apenas sorriu levemente e então fui como tragado
por um turbilhão de vento e caos que me puxou para dentro e tudo
então se apagou, ficou branco.
Quando despertei vi-me num lugar de vegetação rasteira.
Ergui-me como de soslaio mesmo a fauna, mas tonto cambaleei
como se o chão fugisse de meus pés. Olhei ao redor e tentei fixar a
visão num ponto só, mas vi tudo embaçado quando ouvi um barulho
incomum. Virei-me para trás, de onde via o ruído, e observei que não
estava só, duas crianças estavas congeladas lado a lado olhando para
mim como se fosse um fantasma. Uma então disse apenas em
espanhol ‘hombre estranho’ e saiu correndo sendo seguida pela
outra que quase chorou.
Caminhei alguns passos em direção as duas crianças e vi que
estava num lugar tropical e o céu abria-se rapidamente com seu
desnuviar de algum tipo de tempestade. Então, mais a frente, vi
construções rudimentares quando o som de sirenes interrompeu
minha quase concentração, eram carros de polícia que vieram
soando seu zunido indo até diante de mim e pararam freando
bruscamente.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
147
- Gerson Machado de Avillez – gritou um homem saindo de
um dos carros e, respondi, ainda que confuso, que sim com a cabeça.
– Estamos lhe procurando, quando já havíamos cessado buscas.
Fiquei parado ainda sem compreender o que acontecera e
calado meu silêncio soou como perguntas.
- Faz dois anos que você despareceu. – Repercutiu o homem
dando de ombros – onde você esteve?
- Onde estou? – Perguntei eu demonstrando que pouco sabia
e então naquele momento um policial olhou para outro perplexo e
disse.
- No sul das ilhas Bikini, exatamente a 46 quilômetros de
onde desapareceu num evento atmosférico não conhecido.
Fiquei calado e então um deles se aproximou de mim e
colocando a mão no meu ombro me orientou até a viatura onde
adentrei do mesmo modo em que fora encontrado.
Depois de horas de depoimento ao delegado que sugeriu até
mesmo tudo ter sido uma armação minha, meus amigos foram
contatados e então após ser levado a um hotel, horas depois, surgiu
Petrônio como a mesma cara de quem havia visto um morto das
crianças que me encontraram. O homem parecia ter ganho mais
alguns fios de cabelos brancos e demonstrou um misto de nostalgia e
preocupação.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
148
- Nós viramos o mundo do avesso te procurando, é verdade o
que diz sobre a viagem?
- A tal altura tenho dúvidas de minha sanidade. – Respondi.
- Ao menos as autoridades céticas legais assim justificam.
Mas você ter um filho que nunca teve soa um...
- ...um paradoxo – concluí.
– Mas quanto mais louco parecemos mais perto estamos da
verdade. – Disse Petrônio. - Pena não ter tido provas. Mas toda
localidade registrou um evento atmosférico incomum no dia em que
aconteceu e logo após as transmissões e comunicações voltaram ao
normal. Alegaram então ter sido um sinal pirata para simular um
engenhoso plano de marketing viral.
- O homem que era do futuro disse para procurar O Mestre
Supremo dos Ventos da Ordem dos Ventos, Petrônio. Sugeriu que eu
o conheça. – Repercuti interrompendo Petrônio e então levantei-me
até a janela do quarto no hotel quando vi que a impressa estava do
lado de fora. – Mas querem que faça vários exames psiquiátricos
após isso.
- Bom, poderia afirmar ser um choque de realidades. – Disse
Petrônio com certa ironia. – Isso provoca alguns problemas
psicológicos, creio. – Concluiu. – Mas apesar de nunca termos
encontrado O Mestre Supremo dos Ventos, ouvimos apenas rumores
de quem seja.
- Como assim vocês têm um superior que nunca viram? –
Indaguei.
- Na religião também é assim, quantos conheceram Deus?
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
149
Respondi em silêncio, mas afinal o líder máximo da Ordo
Christianitas Ad Ventus ainda vivo não era um Deus, mas então uma
lenda. Alguém que conhece todos os segredos, mas que ninguém faz
ideia de quem seja. Porém, segui tudo o quanto mais julguei
relevante ser contato, na verdade até detalhes de como seria o dito
lugar onde o homem que se dizia meu filho se assentava.
Seguimos então até o psiquiatra onde uma bateria de
exames foram feitas sem detectar qualquer tipo de patologia
psíquica ou psiquiatria a não ser exatamente a desorientação e
choque por ter atravessado supostamente realidades. Porém,
crédulos, os médicos em questão conjecturam ser um punhado raro
de síndromes alucinatórias em decorrência do dito incidente como
de que mesmo tempestades magnéticas teria o poder de criar, em
raros casos, alucinações. Afinal as alegações extraordinárias exigiam
provas extraordinárias.
Mas aquilo correu as notícias principalmente da mídia
marrom onde se mencionou abduções de alienígenas e filhos por
inseminação artificial, todas ideias igualmente vagas de provas, afinal
o dito homem não estava presente para iguais testes. Aquilo então
passou a ser considerado um embuste deliberado ou não, pois
mesmo que não houvesse quaisquer registros de que tivesse ido a
algum lugar na Terra no período de dois anos a navalha de Ockam
apontava para o mais óbvio, um homem que após tomar um raio
alucinou e perdeu a memória vagando por casas da região.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
150
Porém, mesmo que Petrônio Fonseca tivesse relatado tudo
que aconteceu as autoridades na época, o caso que ficou registro de
como sequestro não prosseguiu deixando Steve David Hellson
impune de seus atos, alegadamente por ter comprado as autoridades
de todo litoral da América Central e do México. Assim partimos para
o Brasil e quando mesmo que passava acreditar que tudo se tratava
de uma alucinação minha, não diferente do misterioso Elixir
premonitório, ao chegar em casa tive uma surpresa, uma mulher,
Zaira, me esperava informando ter notícias do suposto Líder Supremo
de uma Ordem que por si só questionava-se a existência por alguns
dos próprios membros.
- Zaira Alonso Arango, estou surpreso em vê-la por estes
lados. – Disse, mas ela apenas me olhou sem esboçar qualquer
emoção aparente quando disse.
- Fico feliz em encontra-lo novamente, alguns especulam que
assim que a igreja seria arrebatada. – Disse ela finalmente sorrindo.
- Mas então o que lhe traz sua agradável presença a nós? –
Disse Petrônio parando ao nosso lado.
- Notícias do Mestre dos Ventos de nosso tempo. –
Respondeu ela sorrindo. - O Líder é perseguido por seus
conhecimentos sendo obrigado a viver anônimo e frequentemente se
escondendo quando não vivendo na clandestinidade.
Na hierarquia da Ordo Christianita Ad Ventus, ele estaria
acima até mesmo do Quarto Mestre de 8 Guardião Ametista ou
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
151
Palatinus Ad Veritatis – ainda que ocupasse o cargo fora de toda
hierarquia. Apenas nos tempos medievais se ouvira falar de um
Mestre dos conhecimentos dimensionais e temporais da Ordem dos
Ventos, naturalmente morto. Há apenas um líder supremo sobre
qualquer designação e módulo, de modo que a única hierarquia é o
conhecimento filosófico da verdade. O Líder Supremo tem que ter
vocação, aptidão, mas sobretudo em sua jornada particular
conquistar seu conhecimento o construindo, enquanto os que os
perseguiam são avessos a ética e aos valores, o caminho é individual
e tem por vertente central os valores de um Ethos intemporal.
Protetores da verdade, que como os bons, que alteram o sistema de
dentro dele e através dele ao contrário dos maus que para isso
precisam destruir, não transformar. Constrói o seu conhecimento ao
contrário dos que apenas o destroem e furtam. Eram como o ciclo
acadêmico formavam formadores e criavam criadores do
conhecimento.
Zaira então adentrou e após oferecer-lhe café – que aceitou
prontamente – ajeitou-se ao ver Petrônio sentar-se numa poltrona e
então disse.
- O Clube dos Pioneiros na verdade é uma iniciativa de
estudos sobre livros dimensionais criada pela Ordem dos Ventos.
Fora criada para investigar quais foram os membros ilustres, ou não,
da Ordem dos Ventos, assim como de livros malditos como os
encontrados por nós nas catacumbas. Os mais importantes
produtores de conhecimento dentro das esferas temporais da ordem
mítica, não mística.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
152
- Como percebemos isso é um exercício difícil – disse
Petrônio – pois eles não deixaram, normalmente documentos assim
como a Ordem, pois é a ideia dela que move. Porém, suponho que o
Clube dos Pioneiros conseguiu alcançar seu objetivo. – Concluiu
tendo o aceno positivo dela.
- Artistas, poetas, filósofos, cientistas e escritores, quer os
que tenham se deparado com o mistério dos tempos ou tenham sido
convidados pela Ordem por seus atributos incomuns e por estarem
perto da verdade. – Disse ela – Alguns aludem o Priorato de Sião
como uma fachada e outros como um rival. Mas na verdade, a
Ordem dos Ventos se quer fez questão de existir de verdade, pois ela
é mais uma ideia do que um fato, pois ideias que geram o fato da
realidade, a ordem é um sopro de Deus a verdade. Seu compromisso
era não com ciências ocultas ainda que na época assim se
interpretasse mediante o fato de que lidávamos com coisas de outro
mundo não visto ou conhecido por vias sensoriais. Tinha por primazia
o poder de mudar o mundo pelas ideias, orientar a realidade a um
destino e proteger perseguidos pelos tempos, várias famílias que
sobreviveram a todo tipo de coisa e eram unidas exatamente por
isso, uma ideia, ou ideias.
- Pesquisadores e protetores de uma verdade perdida por
milhares de anos, o Mistério do Tempo e do Destino. – Concluiu
Petrônio – Verdade perdida desde a queda do homem no Éden.
Assim preza o mito.
- O Clube de Pioneiros assim era o mais perto de uma
organização existente de verdade, surgida no século XVII reunia um
grupo de pessoas, alguns ilustres, para assinar obras literárias, em
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
153
parte por pseudônimos, que reivindicassem a ciência perdida de uma
verdade ancestral. – Disse Zaira.
- A Biblioteca Maldita. – Concluí eu intrigado sendo assentida
por ela.
– Colocou os principais homens que despertaram a
consciência a um mundo maior, mais amplo do que o visto e
conhecido, de seus propósitos, destinos e do que rege estes.
- Mas por que um livro está assinado por mim? – Indaguei
ainda perplexo.
- Porque alguns dos conhecimentos não eram desse mundo
assim como seus membros, eram de outras dimensões. – Concluiu
ela deixando Petrônio espantado. – O que você viu é que a Ordo
Christianistas Ad Ventus é apenas um nome de algo que opera em
inúmeras dimensões cada qual para proteger o destino e a verdade
das garras de retrógrados. Uns conhecem por mundos meta-
materiais ou espirituais, mas nós metafísico, pois é algo mítico, não
místico, metafórico não ambiguo.
- Por que você nunca nos contou isso antes? – Indagou
Petrônio quase a interrompendo. – Você fala em nome do Mestre
Secreto dos Tempos? – Ela acenou que sim com a cabeça.
- Ele, na verdade, veio de outra dimensão.
- Mas o que você tem ideia da Tempestade dos Séculos? –
Indaguei - o homem mencionou que...
- O homem conhecido pelo mito do Espelho Esfumaçado
retornará de outra dimensão e tempo e assolará essa dimensão. –
Concluiu ela. – E isso começará por aqui, pois ele agora tem ideia de
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
154
onde está a cidade perdida que procurava e que fora fundada por
sefardim e fenícios séculos antes da descoberta oficial. Faz parte da
cepa de homens vis guiados pela ganância no caminho da raiva.
Conhecíamos aquela trama, pois a luta para perseguir aquele
conhecimento perdido secular era notória em proporção em que nos
tornavam igualmente perseguidos pelos cruéis homens que eram
diametralmente opostas as linhagens do conhecimento original do
Éden. Podemos ser deserdados, mas ainda assim a linha genética
prossegue, e são na realidade muitas mais famílias e por isso desejam
matarmos, pois veem romper o destino como um desafio a seu
poder, o qual querem apenas tentar e atentar como parte do projeto.
Tudo que há de mais diabólico e nefasto. A Ordo Ad Chaos não tinha
legitimidade de autoridade, e autoral e muito menos legal sobre o
que desejava usurpar ao contrário da Ordo ad Ventus que o
conhecimento era a corrente comum, conquistada, quer por herança
ou por aprendizado. Não se poderia estabelecer uma relação
simbiótica ou sociedade com um, mas com a Ordo Ad Ventus não era
parasitoide, quem descobrisse seu mistério a recompensa era ser
parte e o prémio a verdade. Quem é fino não precisa humilhar para
estar acima, pois no tempo não existe em cima ou embaixo, mas
antes e depois.
Ficamos ali traçando aquela linha de raciocínio por longas
horas até quando a televisão fora ligada a presenciar que efeitos
similares a da tempestade enfrentada por nós estava acontecendo
novamente, desta vez no Rio de Janeiro de modo a interferir na
comunicação. Naquela noite inúmeras pessoas tiveram supostos
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
155
avistamentos de OVNIs e muitos começaram a se perguntar se as
histórias por mim relatadas de fato eram mentira ou engano.
Perplexo perguntamos se Zaira conhecia o dito homem respondendo
que sim e então perguntamos se nós igualmente o conhecia e com
um sorriso no rosto, cordial, respondeu apenas acenando que sim.
Naquele momento então o telefone interrompeu o silêncio
sugestivo a reflexão e fui atende-lo ficando paralisado de surpresa
com quem seria.
- Jones Skelton, o que houve? – Indaguei perplexo.
- Preciso que venham até a biblioteca, alguma coisa invadiu
isto para me pegar. – Disse ele do outro lado da linha deixando-me
sem reação até que Zaira pegou o telefone e disse.
- Jones, é Zaira, o que houve?
Ela ouviu tudo atentamente e então concordando apenas
levantou a manga de sua blusa e olhou para seu relógio de ponteiros
– que era tradição entre eles, ainda que um tipo especifico – e viu-se
claramente a pequena tatuagem que tinha de uma rosa dos ventos
que ela se referia como estrela dos ventos. Com olhar cerrado no
vazio ela estava vendo pelos ouvidos e ouvindo pelos olhos.
- Estou tomando providências, estaremos ai em meia hora
mais tardar. – Completou apenas informando para aguentar firme e
desligou. Então ela virou-se para nós e disse – Jones está em apuros.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
156
Sem pensar pegamos nossas coisas e fomos atrás deles
enquanto Zaira ligava para contatos que não conhecíamos
mencionando recados tenebrosos como: ‘A Tempestade dos Séculos
começou, a verdade está em risco assim como os autores’. Ainda não
tinha certeza sobre o que acontecia, mas temia que fosse pior do que
a imaginação pálida simule da realidade poderia nos conceber.
No exterior uma tormenta nos céus se formava com trovões
e raios, um vendaval intenso curvava arbustos e destelhava casas
quando vi nos céus um ponto luminoso como outrora havia visto na
infância. Ele cortou as nuvens em ziguezague e sua luz parecia
ilumina-las por dentro ao entardecer de modo que de suas vísceras
viam-se raios de luz branca cuja intensidade perdia-se nas demais.
A ligação de Zaira repentinamente caiu e vendo-se que
estávamos então incomunicáveis restava ao nosso grupo apenas
seguir ao local na esperança de que tudo o quanto ela solicitou fosse
recebido. Aguardamos apreensivos e ao atravessar a ponte Rio-
Niterói o vendaval fazia a ponte dançar de um lado a outro tornando
medos angustiosos a quem ousasse atravessa-lo. E nós erámos uns
deles.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
157
VII
A Tempestade dos Séculos "Só é possível converter o pecador, nunca um santo."
O Jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafón
ukulkán do mito maia onde conquistou um povo fornecendo
conhecimentos a realidade, parecia indicar que a realidade
era mais estranha que o mito ao conceber que seu rival,
Espelho Esfumaçado, ou seja, o que fosse estava ressurgindo do mito
secular a realidade contemporânea. Assim quando entramos na rua
da impressa, onde dava a Biblioteca Nacional, vimos uma coluna de
fumaça negra se erguendo do prédio o que nos alarmou. Seguimos
na guinada dos pneus, o tocando para contemplar mais adiante
escombros e vidro espalhados pelo chão e um pessoal nas ruas
assustado apontando para o alto do prédio.
Paramos o carro e ao descermos os comentários dos
populares indicavam que um dos pontos de luz no céu teria batido na
Biblioteca, mas não era tão simples como um bólido celeste a atingir
com sua aleatória um centro do conhecimento universal, pois
segundo nossas ideias visava atingir o centro do conhecimento
multiversal.
Descemos do carro e seguimos a passos largos até a entrada
para observar que estava fechada, um homem ao nosso lado
reclamava ao telefone por não conseguir ligar para os bombeiros pois
a interferência eletromagnética era intensa. Porém, caminhamos
K
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
158
pela lateral e observamos uma porta de vidro quebrada e lá
entramos.
- Isso não é invasão? – Indaguei eu perplexo.
- Não, somos o socorro. – Respondeu Zaira decidida a
procurar seu amigo.
- Por que estão tão preocupados com Jones? Ele é velho mas
faz ideia de como se virar.
- Ele não é o que aparenta. – Respondeu Zaira subindo um
lance de escadas como se fosse uma colegial.
- Mas então o que afinal é Skelton? – Insisti.
- Esse não é nome dele, mas um pseudônimo. – Respondeu
Petrônio já bufando sem folego.
- Assim como você tem um filho perdido noutra dimensão,
Skelton é Jim Darko, filho perdido de Donald Darko.
Perguntei-me quem era este, mas então lembrei-me do livro
maldito da filosofia da viagem no tempo, aquele de Roberta Sparrow,
e então me veio todo mais em mente como num estalo, Darko era
um refugiado dimensional, estava escondido neste planeta ajuntando
o conhecimento dos livros malditos pelo Clube dos Pioneiros, o
tempo todo de nosso lado. Estava pasmo e então quando chegamos
numa porta vimos Jones gritar por nós quando vimos uma silhueta
tenebrosa vagar por entre as estantes.
Zaira então deu a volta para não quebrar a porta de vidro,
mas ao notar que havia outra, e trancada, ela não pensou duas vezes,
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
159
pegou a primeira cadeira que viu na frente e a lançou com ferocidade
sobre a porta. Primeiramente a porta não se quebrou, mas após uma
segunda investida por Petrônio, após pega-la do chão, conseguiu
êxito. E entramos pisando sobre os cacos de vidro temperados
quando ouvimos novamente Skelton gritar do outro lado dos
aposentos onde ficavam os livros mais raros.
Não sei de onde, mas Zaira tirou uma arma e a empunhou
bravamente, caso não distinguisse sua aparência diria que era um
homem. Assim seguimos quando então vimos o rombo numa das
paredes, janela e tudo mais arrancado em meio a escombros e livros,
algo havia simplesmente rasgado as paredes como se fosse papel e
agora a fumaça que saia de um fogo de cor vermelha vinha sobre nós
quase nos cobrindo quando nos deparamos com Skelton, finalmente.
E o que vimos fora angustiante.
Jones estava encolhido num canto, acuado como um animal
indefeso ante um predador cruel, um homem com vestes longas que
caminhava em sua direção como se deseja-se traga-lo. Dava passos
firmes em sua direção como se estivesse decidido da cabo de sua
vida meramente por ter criado algo positivo que fizeste a diferença
como se fosse guiado por um cobiça ímpar.
Mas no momento em que o homem, impassível e impiedoso
desaenbanhava uma espada cuja lâmina parecia rasgar mesmo o
tecido da realidade de onde veio, lhe apontou como se sua morte
fosse quase um sacrifício ritual, mas naquele momento Zaira saiu das
nuvens de fumaça e empunhando a arma apenas disse.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
160
- Enfim nós encontramos homem esfumaçado por que não
procura alguém que possa se defender seu covarde?
O homem então parou e virou-se lentamente com um olhar
tenebroso e um sorriso macabro e respondeu abaixando a espada
enquando Jones rezava para não ser decapitado ali mesmo.
- Insolente! Nunca compreenderá que formas de vida
menores e inferiores devem ser acabadas. Para uma árvore crescer
as folhas atrofiadas devem ser cortadas.
- Não vejo inferioridade nele – respondeu ela – mas
moralmente em ti. Procure alguém de seu tamanho.
Hombridade, imparcialidade, equidade, fidelidade,
generosidade, sinceridade, pureza, retidão, cavalheirismo,
humildade, caridade. Diz o bom e o mal se ressentirá por ausência,
pois quando refere-se como bem, mente.
Naquele momento o homem esfumaçado olhou para o lado e
ouviu o barulho de sirenes, não somente do corpo de bombeiros,
mas da polícia e antes mesmo que Zaira atirasse nele para impedi-lo,
observou atentamente os ruídos e disse.
- A vitória nunca é definitiva. - Disse o homem esfumaçado ao
ver que não poderia matar Jones naquele momento. - Seus aliados
cairão no sono e nosso ódio e ganância vai dominar como se fosse
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
161
seu amor e honestidades. Nós veremos novamente. – Concluiu ele
referindo-se a ela.
O homem então, tempestuoso de fúria correu para o buraco
na parede de onde irradiou uma profusão de luzes de seu exterior e
lançou-se sobre ele desaparecendo, era um vórtice, o mesmo de
onde veio. Corri então até Jones o acudindo e o notando
transpirando de nervoso e medo. Ele havia sido resgatado por nós.
- Ele quer matar os autores para saqueá-los, pois é o mal.
Uma força nefasta de um mal ímpar, cruel e impiedoso o qual nada
há de bom. – Disse Zaira – Apenas ganhamos tempo. Pois o homem
esfumaçado só vai parar quando acabar com Jones ou ser morto, é o
que ele faz, aniquila, acaba com quem muito produz e se possível as
pessoas que estes amam, pois é o supremo mal de uma dimensão
inferior, infernal. É um mercador de conhecimentos alheios, como
um caramujo oculta-se dentro de criações do qual nunca colaborou
ou foi autor.
- O homem esfumaçado na verdade é apenas um serviçal. O
inferno também tem seus frutos mas não são revelados ou o colhem.
– Repercutiu Petrônio. – Quando alguém incomoda eles, não tem
mais utilidade para eles ou deixam de gostar, eles simplesmente
descartam, acabam, matam.
Jones ainda sentindo um tremor nas pernas ergueu-se e de
pé cambaleou, seus livros não serviram de escudo ainda uma força
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
162
que prima pela ignorância. Não adiantava, aquele pertencia a uma
potestade obstinada que sempre estaria a martelar incessantemente
a mesma coisa, acabar, terminar, aniquilar. Jones reuniu um pouco
de coragem se corando ante seu anterior empalidecer e disse.
- Colher o que planta não significa esperar que aquele que
trata por bicho lhe cumprimente e elogie como se fosse um homem.
Mesmo meus animais humanizo, ante os que animalizam homens na
esperança de condena-los.
Seria conveniente ao tolo aprender a praticar a justiça antes
de falar de paz, pois Jones não poderia ser o mais sábio dos homens,
mas certamente era mais dos que desejam lhe destruir para lhe
copiar tirando-lhe seus frutos. Não tão sábio que seja perfeito, não
tão tolo que seja tão mal. O tolo edifica sobre o alheio, humilhando, o
sábio sobre si mesmo, com humildade. Mas a maldade é uma loucura
racional, indefinível em plenitude pois é alternante, maquina
racionalmente a loucura moral, um ato sem porque ou proporção.
Ignorava a lógica ao procurar lógica na insanidade.
Mas naquele momento ouvimos o barulho dos homens
subindo as escadas, mal poderiam conceber que havíamos
enfrentado um ser que aspirava a ser deus ainda que agisse como
demônio. Zaira pegou Jones pelo braço e praticamente o arrastou
para outra parte da biblioteca em que não havia atingida, parecia
estar cumprindo um papel de protetora quase materna.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
163
- Renunciar ao seu sonho, é renunciar a autoria de sua vida. –
Disse ela para ele segurando-o firmemente com olhar severo, mas
ignorando o que ela dizia Jones apenas disse num devaneio
introspectivo.
- As origens são o fundamento da existência. Mas qual é a do
abismo?
Os bombeiros adentraram o local atingido pelo vórtice e
encontraram entulho e fogo sobre livros. Pegaram extintores e
começaram apaga-lo enquanto dois policiais percebendo ter sido a
biblioteca acometida por uma invasão pegaram as armas procurando
criminosos e vítimas. Naquele momento mesmo que novamente
correndo me perguntava se Jones era o dito Mestre do Tempo e
quais eram os motores que propulsionavam os desejos do Homem
esfumaçado, pois aqueles ansiosos por roubar a humanidade de
Jones os próprios perderam a deles, não sendo nem deus, nem
homem, mas um elo entre demônios e o abismo.
Jones mal poderia conter-se ou esconder o fato de fora
vítima, estava estampado no rosto ainda pálido por um medo
profundo que emanou daquele ser de outra dimensão como vindo do
inferno. Naquele momento percebi que um líder supremo da idônea
ordem dos ventos não poderia ser alguém que não estivesse disposto
a morrer por seus ideais. Ao ser encontrado pelas autoridades ao
nosso lado a situação expressou quem era quem sem quer qualquer
palavra fosse dita por nossos lábios ou os deles.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
164
Sobretudo haviam arranhões no braço e no rosto de Jones, a
janela havia explodido quase sobre ele lançando estilhaços e cacos
para todos os lados quando a película dimensional fora rompida
como um hímen de uma virgem, naturalmente como num ato
violento. Zaira então disse que ouviu os gritos de socorro dele
quando alguém aproveitou um raio que havia caído para invadir e
saquear, ainda que compreenderíamos que esse “raio” cairia
novamente no mesmo lugar.
Jones fora levado para a ambulância onde seus cortes foram
aparados com remendos em seu corpo, sua aparência envelhecida
parecia naquele momento reunir mais cicatrizes e marcas de
expressão para sua história seja qual fosse, pois era um homem que
teria vindo de outra dimensão. Quando fora liberado o incêndio já
havia sido controlado e seguimos até o humilde domicílio de Jones,
um apartamento simples num conjunto popular.
Exausto pelo terror imoral o homem sentou-se firmemente
em sua poltrona ao ser recebido em seguida por um gato amistoso,
deixou o peso que parecia carregar sobre os ombros em si próprio e
respirou fundo como de alivio ainda que momentâneo. Estava saindo
do choque traumático daquele encontro nefasto quando interrompi
o silêncio e disse.
- Como o Homem esfumaçado saberia que não vai encontrá-
la novamente? – Indaguei a Zaira.
- Ele tem conhecimento de variáveis dimensionais e
consequentemente do futuro. – Respondeu ela pegando num jarro
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
165
um pouco de água e dando a Jones. - O homem serpente quer o
extermínio dos seth e provocar a tormenta perfeita para romper os
grilhões destino por isso é antinatural.
- Então ele – disse eu apontando para Jones – é na verdade
Jim Darko. – Completei tendo um aceno positivo de Zaira. – Não é o
líder supremo? – Segui perguntando mas ela negou com a cabeça.
Aquele homem parecia saído de um filme, parecia um viral
ambulante de propaganda de uma ideologia não expressa em sua
totalidade, apenas permaneceu inerte nos observando enquanto
discutíamos sobre ele.
- Jim Darko é um exilado dimensional. – Disse ela deixando
mesmo Petrônio intrigado. – Um dos sete sábios do tempo. Numa
dimensão há um filme sobre ele, lá apenas é um personagem da
ficção – disse ela inclinando-se sobre o corpo, em minha direção. -
Richard Kelly é o autor do livro 'A Filosofia da Viagem no Tempo', um
profeta adormecido, pois Roberta Sparrow é igualmente fictícia por
lá, ela só existe no mundo tangente onde o livro é real, a nossa
dimensão, o livro tem relação com o filme, um cult dos anos 1990
que traduz uma pequena fração da realidade do multiverso.
Aquilo remeteu não aos títulos de senhores do tempo, mas
aos sete sábios da antiga Grécia, pensadores filósofos que por
Plutarco eram definidos numa lista por Tales, Bias, Pítaco, Solon,
Quílon, Cleóbulo e Anacarses. Mas Zaira tão logo explicou que eram
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
166
não somente produtores de conhecimento, mas homens com poder
de influência direta ou indireta no multiverso, posteriormente
instruídos, porém, de interação inata, pois viajar pelas dimensões é
estabelecer uma relação dialógica com o multiverso. Restava para
mim agora ter ideia de quem que era o líder supremo.
Assim Zaira sentou-se na poltrona pois não mais estava
diante de um mal inefável e começou a contar uma longa história
sobre uma crença maldita que levava apenas a síntese do inferno, um
mal supremo inominável e por isso de impossível definição, pois era
meramente interpretativo, não mensurável.
As horas alongaram-se noite a dentro enquanto o temor e
medo mesclavam-se numa profusão que remetia a de navegantes em
mar aberto a procurar de frutos do mar madrugada a fora. Porém,
quando Petrônio ia pegando no sono o telefone irrompe o quase
silêncio pontuado pela voz de Zaira e ele atende.
Zaira calou-se na expectativa do que seria e observou apenas
o semblante de preocupação de Petrônio que em silêncio
eventualmente apenas concordava com palavras como ‘sim’,
‘entendo’, ‘prossiga’.
Quando desligou o telefone a curiosidade era estampada nos
rostos de todos presentes que calados observavam atentamente o
que diria Petrônio sobre uma ligação recebida naquele horário. Ele
então respirou fundo como quem pegasse fôlego para um longo
discurso e disse, por fim.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
167
- Os hidrocriptografos notaram uma alteração incomum nos
padrões da hidrocriptografia.
- E... – Sugeriu Zaira intrigada.
- Desde a descoberta do código do caos cifrado com
comportamento fluídico nada nunca visto. – Seguiu Petrônio –
sugere-se a presença de algo que foge a assinatura comum de nosso
universo.
- A hidrocriptografia quântica sofre alterações com a
presença de eventos intensos fora do fluxo comum, é um modo de
detectar anomalias e quando eles estão chegando, pois afeta a
comunicação de informação no mundo. – Disse ela quase que como
respondendo Petrônio e o anseio de todos presentes. E concluiu –
Algo está atravessando para nossa dimensão.
- O que ela quer dizer? – Indaguei eu intrigado, não querendo
acreditar.
- Assim como a água gira num sentido num hemisfério – disse
Petrônio - e segue outra direção no hemisfério oposto, os padrões do
caos denotava um fluxo de sentido capaz de alterar a realidade, fluxo
que nem sempre era de nosso tempo, dimensão, ou lugar mas num
rearranjo de eventos síncronos que indicavam claramente não
apenas uma influência, mas algo predestinado fora do tempo do
'agora'. Para os hidrocriptografos isso chama-se de Código Fonte do
universo, mas o vulgo, meramente por destino. Todavia o sinal não
bate com o da presença o Homem esfumaçado, é mais intenso.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
168
O que seria fora a pergunta onipresente postulada pelo
silêncio tenebroso de nossa resposta naquele recinto? De modo que
poderíamos, naquele momento, apenas isso, especular, mergulhar
em ideias que segundo eu próprio eram capazes de alterar a natureza
da realidade. Imaginei o livro que levava meu nome mas nunca me
lembrara de ter escrito, se seria um desvairo mesmo do próprio
tempo como num lapso de sua linearidade, mas aquilo tão pouco
respondia nossas perguntas...
Aqueles homens que pareciam entre a ciência e a fé mal
dormiram naquela noite enquanto os demais cientistas estavam
fixados em sua busca para igualmente acompanhar os sinais a
procura não somente de patrões, mas respostas de sua origem, e o
essencial, para onde levaria aquele fluxo emergente de caos que
parecia cruzar o mundo num amontoado de ocorrências pouco
compreensíveis a nós. Restava-nos buscar as relações cruzadas entre
si, por mais indiretas que sejam, a fim de tentar montar um quebra-
cabeças com as peças que tínhamos em mãos...
Todos estamos numa supervia do tempo o qual se quer
conhecíamos qual seria a próxima estação.
O Código Fonte do universo, murmurei comigo mesmo
dentro de minha cabeça imaginando o que viria ser aquilo quando
então adormeci e me sobreveio uma profusão de imagens sem
aparente nexo quando então o turbilhão se fixou e tive um vislumbre
de mim mesmo sentando numa cadeira de plástico branca, numa
varanda sob a trilha sonora de uma música ritmada pelo vento que
fazia dois coqueiros se debater.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
169
Como fora de mim mesmo contemplando um outro eu, vi a
mim mesmo de fora e aproximei-me por de trás lentamente quando
notei que esse ‘eu’ escrevia justamente as palavras que descrevia
quando então ele escreveu que olhou para trás e riu.
Quando acordei daquele sonho os poucos minutos que havia
parecido transcorrer eram horas e então vi-me olhando para o teto,
olhando para o alto perguntando-me se o que vivia era realmente
real ou o próprio sonho. Talvez aquele outro eu fosse o verdadeiro eu
escrevendo sobre mim mesmo como um devaneio que ganhou vida
justamente por isso, pela especulação, o resultado de escolhas não
tomadas por mim mesmo num outro mundo símile ao nosso, mas
ainda assim com uma vertente completamente oposta.
Amanheceu e Jones Skelton, então ao nos ver sentarmos
para o dejejum pegou uma caneca de café com leite e sentou ao meu
lado e após nos olhar contemplativamente disse interrompendo o
silêncio.
- O fim aproxima-se. – disse isto e olhou para o liquido dentro
da caneca agitado por ele.
- Estamos aqui para te auxiliar, nada de mal vai acontecer. –
Disse Zaira.
- Não de mim que falo, mas o homem-serpente é prenuncio
do fim, um apocalipse prescrito no início dos tempos.
Fiquei assustado com aquilo, e então olhei para ele perplexo
quando ele deu um gole no café e seguiu.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
170
- Preza a lenda de um deus do multiverso que o homem-
serpente fora expulso de seu próprio universo após provocar seu
quase colapso. Tentou então alcançar o poder de criar não mundos,
mas universos como o mito de Deus. Na verdade na cepa de
universos antropocêntricos que visita está morrendo pois não adere
as leis e então refugiou-se num corpo humanoide.
- Como assim? – Indagou Petrônio.
- Há universos o qual são tão distantes que mesmo as leis
físicas são diferentes, a trama do universo é sua estrutura e leis. –
Disse ele e olhou novamente para o nada após olhar para Petrônio. -
A uma infinidade de universos antropocêntricos, todas variáveis das
mesmas leis, mas há universos descritos apenas os nomes num livro
chamado as 'As Mil Palavras', universos cronocêntricos, e universos
holocêntricos, Espelho esfumaçado, vem da cepa holocêntrica. Mas a
trama do tempo é no caos e ela é variavelmente a mesma em todo
multiverso.
- Não se tem notícia de qual universo antropocêntrico é 'As
Mil Palavras' só conhecemos o fato de que seria de um universo
chamado diamante. – Disse Zaira.
- Talvez Jones esteja sugerindo que exista um código fonte do
multiverso em si. – Disse Petrônio e então Jones esboçou um sorriso.
- O multiverso é a resposta estatística para o infinito. De
modo que o caos desse universo faz parte do mesmo e único código
fonte do multiverso, na realidade o desse universo é uma fração dele.
– Completou Jones e então tomou mais um gole de café com leite.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
171
- Talvez se os hidrocriptógrafos conseguissem por eliminação
perceber que... – Zaira mal pode completar o que dizia e então
Petrônio interrompeu.
- A parte de interferência no nosso código é do multiverso,
por isso eles não conseguem decoficar! – completou Petrônio o
insight de Zaira tendo o aceno positivo de Jones.
- É essencial revelar a parte do código pois ele traz em si não
apenas residuais probabilísticas, mas de universos holocêntricos,
estão cifrados pois as tramas dos universos estão se cruzando, por
isso o resultado pode ser cataclísmico. – Pegou uma cambuca de
biscoitos e seguiu - O universo é inatural pois está submetido a uma
trama e naturezas superiores de um universo, enquanto alguns
acreditavam num universo geométrico e meramente equacionado
por três famigeradas dimensões, o multiverso abriria possibilidades
infinitas a ressoar por múltiplos cosmos a um engenho onde a
inaturalidade serve a natureza de um Legislador.
O Sinal estava criptografado no próprio caos, como se o caos
fosse o mais complexo sinal de criptografia, inerente ao próprio
multiverso e que apenas víamos parte, a de nosso universo. Aquele
insight brilhante de Jones, provavelmente de seu conhecimento
anterior sobre viagens no tempo fomentavam a curiosidade e a
esperança de, ao conseguir decifrar e revelar o sinal criptografo,
poderíamos impedir o colapso entre universos tão diferentes.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
172
- Por que está falando isso apenas nesse momento? –
Indaguei eu perplexo com aquela informação.
- Pois isso tem relação não só com esse tempo presente, mas
o futuro de seu universo que poderá acarretar em conflitos com
outros universos, como um em que você escreve tal história. –
Respondeu após ficar ciente de meu sonho.
- Não temos que ter medo, mas agir. – Disse Petrônio
pegando seu telefone e ligando para seus amigos decodificadores da
hidrocriptografia.
- A curiosidade e o medo tem a mesma origem, a dúvida. –
Disse Jones pegando um biscoito de gotas de chocolate e comendo. –
Humm... muito bom esse biscoito. – Completou com um tom
destoante por completo do que falava.
Após fornecer os dados aos seus amigos de jornada,
Petrônio, que mal havia concluiu seu dejejum sentou-se novamente e
tentou conter seu entusiasmo e apreensividade e comer, mas ficou
igualmente perplexo com a tranquilidade aparente de Jones que um
dia atrás havia quase sido massacrado pelo homem-serpente.
Jones sobretudo revelou algo sobre o que parecia encaixar-se
perfeitamente com meu sonho, uma versão de mim mesmo
escrevendo uma história de ficção sobre mim, ao menos em seu
mundo. Isso explicava tudo, escrever é responder os anseios da alma,
acalentar um 'por que' ante um 'porque'. Zaira vendo que todos
estavam apreensivos tentou puxar assunto e começou a discutir
sobre a crença nefasta que guiava aqueles facínoras como Steve
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
173
David Hellson. A crença maldita utilizada para destruir a família de
um dos autores dimensionais. Segundo Zaira haviam, no multiverso,
cinco tipos de conhecimentos de modo que a crença maldita é um
quinto, nem científico ou filosófico, mas uma crença baseada no ódio
e na ganância, por um conhecimento do desejo onde apenas tais
desejos demonstrariam a verdade, sempre ambígua e subjetiva e
assim inatingível. Perseguiram por anos os parentes dele, os
ameaçaram veladamente os torturando e submetendo a corrupções
diárias, lentamente... Uma busca insana por humilhação e
aniquilação enquanto a família desses Herdeiros de Caim, viviam uma
vida plena, com todos os luxos entorpecentes do bom senso e a
avidez latente.
Uma ideologia edificada para justificar uma superioridade
que não existe, uma fantasia prepotente e delirante para se
autonomear escolhidos simplesmente abolindo a consciência que
justamente os faziam como homens. Sem sinais, prodígios e
maravilhas luta, na verdade, contra a ciência, ética e Deus não tendo
quaisquer limites a não ser a hipocrisia. Os seguidores desse
"conhecimento" emocional são conhecidos pelo que se acham no
direito de cometer crimes impunes quando passam a não gostar da
pessoa. Nunca respeitam a lei e por isso sempre são criminosos
apesar de se venderem, em seu luxo, como o contrário. Os legítimos
herdeiros do homem-esfumaçado.
Naquele momento Jones pegou o jornal enquanto Zaira
contava sobre aquele conhecimento normalmente impronunciável
sem danos a integridade física e mental, de modo nauseante pois
mesmo ela havia sobrevivido ao tomar ciência de suas mentiras, de
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
174
charlatões furiosos por não ter frutos que deles testificassem e então
Jones novamente interrompeu e resolveu nos contar uma história
sobre um dos autores.
- Houve um homem que havia despertado para a realidade
do multiverso, não por conhecimento como o que aproxima-se a
ciência hoje, mas por ter presenciado algo singular o qual não havia
explicação nem pela mais brilhante das mentes de seu tempo. Fora
numa noite o qual o negror do céu revelou algo mais do que
meramente as estrelas o tornando a compreender que o espaço é o
evidente retardado pelo tempo.
O homem era um camponês que fora agraciado por sua
idoneidade e imparcialidade, algo inusitado no século XVIII em plena
Europa. Poderia ter sido apenas um relés homem do interior
controlado ainda por resquícios do feudalismo e uma revolução em
andamento, porém, assim como Joana Darc ele passou jurar ter visto
coisas indescritíveis nos céus, e ter recebido um dom. O dom de um
conhecimento peculiar e amaldiçoado pela igreja assim como por
seitas que cobiçavam o poder na época e tramavam ocultamente nos
bastidores da história.
Assim ele começou a escrever, com sua educação simples
criou teorias complexas, e explicações para o que presenciou naquela
noite, até que fora encontrado por uma considerada inocuamente
existente Ordem dos Ventos. Fora abraçado por eles pois
compreendiam que era um avatar do conhecimento que deles
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
175
testificavam e de tudo o qual haviam protegido por séculos. Mas
aqueles eram tempos de tempestade.
Ventos quando suaves refrigeram, alteram, quando fortes
criam tornados, furacões, tufões e ciclones e assim como nas zonas
mais inóspitas da Terra o equivalente disso ao tempo é criar portais
capazes de lançar homens e objetos em atalhos pelo multiverso.
Apesar de ter sido todas tais coisas explicadas ao homem, que o
compreendeu plenamente ainda que considerado uma ciência
deveras avançada para seu tempo, não compreendeu, no entanto,
que estava em risco, por olhares cobiçosos e ira e ganância.
O resultado é que numa certa noite sua mulher fora
violentada e morta, assim como seus animais e seus pertences
saqueados sob a trama da revolução. Seus livros foram levados e não
se soube se foram queimados ou absolvidos pela tenebrosa Crença
Maldita que apagou seu nome da história assim como ele que fora
morto covardemente, sem qualquer chance de defender-se. Os livros
estavam desaparecidos até o dia em que vocês encontraram os livros
naqueles subterrâneos.
- São monstros implacáveis e funestos. – Disse eu assustado.
- Na verdade o plano central da crença maldita e tornar esse
universo em semelhança do de onde veio, um lugar não menos
funesto que alguns interpretam como o inferno.
- O cataclismo é deliberado ele quer torcer a trama do nosso
universo ao cruzar o universo de origem dele. – Disse Petrônio
completamente focado.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
176
- Num grande vórtice. – Concluiu Jones. - O "homem-fumaça"
está os últimos anos perseguido de dimensão em dimensão cada qual
dos autores dimensionais e os destruindo e matando pois, sua
obstinação contra os seguidores do Legislador Do Multiverso e sua
resistência por querer unificar os universos. E seus seguidores são
avançadíssimos em tecnológica e economicamente, mas igualmente
extremamente atrasados moral, científica e ideologicamente.
- Por isso a grande tempestade. – Disse Zaira concluindo o
raciocínio dele.
- Mas como entra meu filho em tal história? – Indaguei ainda
com mais dúvidas do que respostas.
- Provavelmente o fator surpresa. – Disse Petrônio. – Uma
improbabilidade possível.
O Espelho Esfumaçado tinha aquele nome talvez por surgir
das nevoas dos vórtices que abria. Naquele momento o telefone
tocou, e Petrônio ao atender ficou em silêncio apenas concordando
com que era dito do outro lado da linha dizendo apenas coisas como
‘genial’, ‘muito bom’ e ‘vamos providenciar’. Ao desligar o telefone
todos estava calados observando ele e então o homem virou-se para
nós e disse com um sorriso amplo, mostrando todos os dentes.
- Decifraram o código! E realmente parece ser imanente as
tramas que sugerem leis não presentes em nosso universo. Está
afetando diretamente o caos como uma...
- Tempestade. – Disse Zaira.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
177
Havíamos matado a charada, o conhecimento da
hidrocriptografia para decifrar o caos e os segredos dos eventos do
tempo e de nosso universo estava aparentemente resolvidos a
contemplar o mosaico do multiverso como ninguém havia visto
desde então e assim restava apenas uma pergunta, será a última
descoberta da humanidade?
As tramas de universos alheios afetavam diretamente o
tempo e consequentemente o caos de modo que tudo parecia estar
se tornando mais imprevisível mesmo pelos modelos mais
detalhados da hidrocriptografia conseguia decifrar revelando.
Mesmo mutações biológicas puderam ser pressentidas o que levou a
uma reflexão de um “evolucionismo bio-quântico”. Dos diversos
elementos criados e descobertos todos pareciam encaixar-se
perfeitamente mas a convergir num lacerante e derradeiro fim para
nossa espécie ao menos como conhecida.
Petrônio fora solicitado a retornar aos laboratórios, porém,
mesmo que nos levasse temia o que poderia acontecer num mundo
assombrado por uma tormenta dimensional eminente.
Rumamos meio que as pressas para o aeroporto, pois ainda
que não tivéssemos passagem comprada tínhamos os tíquetes de
exclusividade dado pelo Vaticano a Petrônio, um jatinho a espera no
aeroporto, pronto para decolar. O surdo estava a par de tudo graças
as habilidades de comunicação pela língua não ditas por línguas.
O seguir do carro pela estrada fora veloz o bastante para
esperar que estaríamos em pouco tempo no aeroporto, porém, a
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
178
previsão do tempo parecia previsto a formação de um furacão na
costa sudeste do litoral brasileiro, e o tempo climático dava todos
seus sinais de que não era um engano apesar de tempestades não
previstas no itinerário.
Fora naquele momento em que um raio sorrateiro rasgou o
céu e em meio um súbito granizo fez um carro a nossa frente colidir
com um caminhão e capotar. Um vento forte irrompeu movendo
tudo o quanto poderia mover a nossa frente e então vimos um clarão
no céu que não era raio, era algo mais, algo que todos nós havíamos
visto a tempos atrás e havia me tragado, um vórtice. E de um jeito ou
de outro aquele seria nosso confronto final.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
179
De Vento Em Popa "O ser humano acredita como respira, para sobreviver."
O Jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafón
verdadeira origem da crença maldita que por séculos vitimou
inúmeras pessoas que tiveram sua história e humanidades
furtadas, elas parecia agora descer do céu nebuloso o qual as
nuvens pareciam misturar-se num turbilhão. Porém, os clarões
atípicos que surgiam dentre elas não eram meros relâmpagos a não
ser seus precursores, era um manancial energético imanando de
outro mundo fora do nosso universo.
Calafrios tenebrosos me sobreveio e mesmo senti um arrepio
funesto na espinha quando vi com espanto que algo descia dos céus
numa espécie de capsula que flutuava praticamente imune a
tormenta que se formou a seu redor. O objeto aproximou-se como
que estivesse em queda livre, porém, um repentino movimento
lateral demonstrou que seu ocupante tinha mais que o domínio
pleno da inércia, mas sobre mesmo a aparente turbulência que
parecia enfrentar sem esforço.
O carro parou repentinamente diante do acidente, e uma
chuva de granizo começou a cair quando fora interrompida
subitamente do mesmo modo que começou. Naquele instante
lembrei-me do sonho em que vi a mim mesmo e tentei imaginar que
num outro mundo, quem sabe, aquilo seria apenas uma brisa num
brain storm de algum autor imaginativo que ambicionava ter um
veleiro a alçar jornadas transatlânticas.
A
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
180
Porém, a realidade enfrentada era outra. O objeto quando
chegou a uns quatro metros do chão parece ter lançado uma
propulsão que repeliu os carros a sua volta como se fossem folhas de
papel freando sua queda súbita e estabilizando no ar repentinamente
até então tocar o chão lentamente em meio a tormenta.
Ficamos olhando perplexos pelo para-brisa. Uma semente de
outro mundo havia aterrissado em nosso planeta azul e como se
soubesse que estávamos lá, o ser que antes tentou matar Jones
surgiu de uma abertura da capsula caminhando com um capuz
tenebroso como os funestos magos da antiguidade. As pessoas a sua
volta não sabiam como reagir, umas gritavam e outras corriam
deixando seus veículos para trás, porém, o homem serpente parecia
impassível diante deles como se fossem pouco mais do que nada.
Caminhou assim por vários segundos quando percebemos que olhava
em nossa direção e então tirando uma adaga de seu manto vimos-
artefato que parecia luminoso – que era para nos atacar, mas como
num ritual macabro.
Zaira abriu a porta de tras do carro e puxou Jones para fora
que saiu cambaleando. Ainda sem reação vi pela cara de Petrônio
que deveríamos fazer o mesmo. Aquela coisa impassível parecia
diabólica em seu olhar, como uma materialização do inferno
emergido apenas para nos matar.
Fui para fora do carro e Zaira pegou uma arma calibre 22 que
costumava guardar em seus pertences, melhor spray de pimenta,
todavia aquele ser pouco parecia se importar e seguiu firme em seus
passos a nossa direção quando surgiu um homem em sua frente
clamando algo sobre seu veículo virado. Mas este simplesmente o
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
181
empurrou e com uma força sobre humana o cidadão voou dois
metros caíndo inconsciente no asfalto.
Zaira deu o primeiro tiro. Não era uma mulher jovem, tinha
mais de 40 anos e com sua maturidade parecia ter pleno domínio de
seus medos mesmo naquele momento. Controlada, ela pediu para
que levasse o surdo e Jones para fora daquele lugar enquanto ela
tentaria atrasa-lo num missão aparentemente suicida.
Mas o homem-esfumaçado não parecia importar-se, estava
obstinado a fazer sua vítima após seu show de significado inútil nos
céus do Rio de Janeiro. Ela então atirou mais uma vez sem qualquer
efeito, como se as balas não penetrassem no ser, ele parecia ter um
campo de proteção invisível a seu redor. Naquele momento Zaira
notou algo que não havia imaginado ser fruto de sua percepção, o
ser, por uma fração de segundos parecia ter mais que três dimensões
numa imagem que mesclava-se, algo que ela tinha visto algo similar
apenas com seres do multiverso.
Então ela atirou mais uma vez, e outra, mas nada o deteve
quando então ele estava a um metro e a pegou com uma das mãos
com um sorriso sinistro no rosto. Apertou seu pescoço e a ergueu do
chão enquanto ela se debatia tentando acertar uma coronhada em
sua cabeça com as mãos.
- Maldito, por séculos suas ideias apenas deram motivações
para alguns se acharem justificados a cometer as maiores
atrocidades.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
182
- Relés ser de existência pífia. Ressurgi para iniciar a
tempestade dos séculos – disse ele, mas quando ia falar algo mais um
estrondo ecoou do outro lado da pista.
Esfumaçado paralisou e olhou para a direção de onde veio o
som. E quando Zaira se virou para tentar igualmente ver notou que
um outro vórtice havia sido aberto e dentro dele um homem
vestindo dourado surgiu ao lado de mais dois homens com
armaduras semelhantes. O homem do meio era, aquele que havia
dito ser meu filho.
- Basta, homem serpente, estamos cansados de seus saques
e misérias por onde quer que passe. Quantos mundos mais precisará
arruinar com sua arrogância achando-se impune em sua matança?
- Quem é você? – Perguntou o homem com uma voz
tenebrosa.
- Solte-a ou nem teremos tempo de nos apresentar.
- Eu quero o exilado dimensional e seu conhecimento! –
Retrucou o homem e em seguida lançou para o lado Zaira que bateu
num carro.
- Não apenas isso, maldito. Sei de seus planos sórdidos uma
vez sendo expulso de seu universo que tornar os demais a
semelhança dele. Isso não vai acontecer, entregue o que furtou e lhe
pouparemos de mais sofrimento.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
183
Tezcatilpoca ao invés disso riu zombando deles e mostrando
dentes apodrecidos nos lábios.
- Os humanos devem ser submetidos ao meu poder assim
como você, variável dos universos antropocêntricos. O sentido de
vocês é acabar, mas pode ser que faça alguns como animais de
estimação.
Naquele momento o misterioso que disse ser meu filho
mostrou um bastão que tinha em punho e ele abriu-se para os dois
lados soando um ruído metálico. O objeto tinha uma lâmina que de
perto parecia ter mais dimensões do que aparentava, pois na
realidade tinha propriedades de uma pedra dimensional de modo
que era capaz literalmente não apenas cortar carne e objetos, mas a
linha de horizonte de realidades, cortar dimensões.
Ao ver aquele aparato o homem ficou, por alguns segundos,
relutante pois aquela arma poderosa era criada para literalmente
pegar seres que provocassem transtornos em múltiplas dimensões.
Porém, ele tirou uma espécie de bola luminosa de seu manto, e
Tezcatilpoca, sorriu novamente.
- Uma bomba negra? – Perguntou o homem dourado com
resignação e certa ironia.
- Você diz que os homens de outras realidades são menos
reais que a sua realidade e por isso são descartáveis, vamos testar
sua hipótese. – Disse O Tezcatilpoca debochando dele.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
184
- Por inúmeras dimensões e fluxos temporais te procuramos
e não acabará com a gente. – Respondeu girando a lâmina no ar e
indo em direção a ele.
Num movimento só, o homem dourado fez um rasgo como
no ar, como se toda aquela realidade fosse apenas um véu diante de
nossos olhos e de dentro daquela fissura mais turbulência surgiu e o
homem-cobra esquivou-se e ao cair no chão levantou os braços com
a bomba em mãos e dela saiu um raio negro em sua direção. Parecia
remete a um embate entre magos, ainda que não fosse.
Um dos homens do líder daquele grupo fora atingido e caiu
no chão vendo um corte profundo no braço direito. Mas enquanto o
outro lhe auxiliava o homem dourado seguiu em frente e vendo que
o homem serpente lançou-se atrás de um dos carros este cortou o
veículo num só rasgo dimensional que o engoliu como num buraco
negro enquanto a outra fissura havia se fechado.
A lâmina ficou como que estivesse congelada mas brilhante
nos punhos dele que a segurava como uma espada. Havia um
mecanismo que ativava suas propriedades dimensionais no punho. O
homem então aproximou-se do homem-serpente e este jogou-se
sobre o homem dourado de modo que os dois tiveram um embate
corpo a corpo em meio ao vento. O vento era como a música que por
sua vez era conduto ao seu corpo que movia-se em seu ritmo, por ele
levado assim como as nuvens ante o vento. Será que algo poderia
deter os ventos do destino?
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
185
Naquele momento, o telefone de Petrônio tocou enquanto
ele observava o embate entrincheirado atrás de um caminhão virado
com Zaira e os demais. O sinal tinha grande interferência pela
tempestade, mas fora o bastante para identificar que o sinal era dos
hidrocriptógrafos.
- Petrônio... temos captado... grande distorção caótica em
sua área... como estão? – Disse a voz cortada por um sinal difuso.
- Você não acreditaria se lhe contasse, o que descobriu? –
Respondeu Petrônio quase gritando.
- Nunca vi nada assim a intensidade de imprevisibilidade sai
da escala convencional como uma singularidade. Porém... outro
universo cortando... não é o caos e entropia desse mundo...
manifestações incomuns no céu... medo... – o sinal picotou de tal
modo nesse ponto que caiu.
Petrônio guardou o celular no bolso e olhou para cima
perplexo quando notou luzes amarelas e azuis oscilando em meio as
nuvens como se fossem trovões, mas, de algo peculiarmente jamais
visto. Então Zaira gritou focando novamente ao embate.
- Não acho boa ideia tentar ajuda-lo! – Disse eu perplexo
diante daquilo.
- Esse é o homem que você disse ter encontrado? – Gritou
Zaira novamente atrás da roda dianteira do caminhão.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
186
Apenas acenei que sim, quando vi que ele fora derrubado no
chão pelo homem-cobra. Aproximou-se então dele e pegou a esfera
que tinha com as duas mãos e apontou para ele. A lâmina do homem
dourado havia caído de suas mãos e nisso um de seus homens largou
o ferido e fora em sua direção. Jogou-se no chão puxando-o quando
um raio veio da esfera nas mãos do homem-cobra que gritou ao ver
que não atingiu.
Naquele momento o homem dourado notou que havia por
seus braços ao serem descobertos pelo capuz inúmeros plugs por
todo seu corpo emitindo um tipo de luz tênue que parecia refletir em
suas veias, era um tipo de campo para que o homem conseguisse
sobreviver num universo com leis diferentes a sua.
Mas algo estava errado com o equipamento do homem, as
luzes pareciam falhar gradualmente após levar um impacto dos
golpes do homem dourado que levanta-se e pegou a lâmina dourada
novamente que acendeu-se em suas mãos por algum tipo de
reconhecimento personalizado.
Enquanto isso vi que a capsula do homem-esfumaçado
estava aberta e após cutucar Petrônio lhe apontei e fui em sua
direção quando outro enorme clarão azul irrompeu nos céus. Ao
chegar perto notei que os painéis estavam escritos por uma língua eu
nunca havia visto e o objeto parecia em sua liga metálica ser feito de
algo igualmente inédito como se emitisse um brilho fluído onde as
dobras da abertura pareciam uma mistura de metal com orgânico.
Adentrei a porta mas senti um cheiro de enxofre em seu
interior, haviam gases que mesclavam-se com características de
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
187
odores que nunca havia sentido. Mas naquele instante ouvi um grito
que me fez olhar para trás, era o homem-esfumaçado que parecia
bater em retirada para a capsula onde estava extenuado com tudo
aquilo.
O homem dourado então viu que o homem-esfumaçado num
último golpe contra sua vítima que impedia a destruição total
daquele nosso universo. Jones que passava na frente dele saindo de
trás do caminhão. Gritei então a Jones para sair daquele rumo pois o
homem-esfumaçado parecia tê-lo enxergando antes mesmo de sair
de trás do caminhão, através dele.
Assim então o homem dourado lançou a lâmina como se
fosse uma lança, e virando-se ao perceber o ato, O Esfumaçado,
levantou a mão enquanto segurava a esfera da bomba negra na
outra, mas não havia lhe dado tempo mesmo com sua percepção ele
estava obcecado pelo ódio por matar Jones e então a lâmina o
atingiu fatidicamente.
Ao contemplar aquilo vi a lâmina atravessa-lo como se fosse
pouco mais do que nada. Na realidade Tezcatilpocaficou inerte como
se nada o tivesse atingido, mas antes como se tivesse atravessado
um fantasma. A lâmina então diminuiu a intensidade do brilho por
estar longe das mãos de seu usuário e caiu no chão, em meio ao
asfalto. Parado Tezcatilpoca virou-se para Jones e olhou-o fixamente
com ódio mas então virou seu olhar para baixo, em seu peito quando
notamos um rasgo, mas não em seu corpo apenas, mas na dimensão
onde estava naquele espaço atingido.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
188
A micro fissura em meio a seu peito como um vazio expostos
de si próprio pareceu se abrir como um abismo onde não havia
coração, mas antes um oco de incomum negror parecia faze-lo agora
se contorcer quando sua mão sobre o peito adentrou sobre si própria
e um vento funesto começou a ser sugado para dentro de si. Ele
então gritou mas não mais dava sua voz, pois seus pulmões pareciam
estar sendo tragados pela fúria de um buraco dimensional aberto em
seu peito ausente de coração a não ser ódio. Ele então começou a
vibrar, tremer numa intensidade tenebrosa e dobrar-se sobre si
mesmo, primeiro seus braços entrando pelo peito por estarem
tentando protege-lo, depois seu corpo se curvou engolindo sua
cabeça e seu capuz sendo devorado inteiro. Em poucos segundos
então notamos que mesmo suas pernas pareciam ter sido engolidas
sobre si mesma como um pequeno buraco negro, restando apenas a
fissura suspensa no ar que diminuía seu tamanho até ela mesmo
fechar-se e nada sobrar a não ser a esfera da bomba negra que caíra
no chão rolando em nossa direção nos deixando pasmos entre o
assombro e o alivio, havia implodido como um oroboros.
O homem dourado veio em direção a nós sem falar qualquer
palavra e então pegou a lâmina no asfalto e a fechou sobre si mesma.
Olhou para mim e depois para os demais e caminhou mais alguns
passos em nossa direção quando viu Jones congelado ao lado da
capsula. Abaixou-se lentamente e pegou a esfera da bomba negra
que apagou-se, tecnologia de outras dimensões.
Um de seus homens veio em sua direção e então o homem
entregou a esfera em suas mãos falando um dialeto impronunciável.
Sem mais nada mencionar olhou para a capsula e apontou para ela
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
189
quando um de seus homens apenas acenou concordando e nela
adentrou.
- Espere. – Disse eu perplexo quando ele ia dando as costas e
então virou-se para mim e disse. – Você é mesmo meu filho noutro
universo?
- Sim. – Disse ele arrastando nossa língua.
- Diga ao menos seu nome! – Gritei eu em meio a tormenta.
- Eliniel.
- Porque mudou de ideia e nos poupou?
Naquele momento o homem olhou para seu outro
companheiro e então caminhou em minha direção e nos olhou num
tom tenebroso nos fazendo sentir, por uma fração de segundos, que
aquele homem mudaria de ideia e nos erradicaria como bactérias ali
mesmo. Porém, para nossa surpresa olhou para mim e disse.
- Talvez tenha me equivocado quanto as realidades, vocês
são tão reais quanto eu.
- Lamento por não poder ter sido um pai melhor. – Respondi
aquilo sem compreender direito o porquê.
- Somos o somatório de escolhas tomadas, pois as não
tomadas estão noutra dimensão. – Respondeu ele com o vento
intenso em seu rosto.
- O que acontecerá então? – Perguntou Zaira gritando.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
190
- Leve Jones para um lugar seguro. – Disse Eliniel. – Temos
pouco tempo até adiar a tormenta, mas não o bastante em outras
dimensões.
- Como assim?
- São sete as variáveis atingidas, somente a de vocês estará a
salvo por hora. Mas basta do clamor a impunidade e corrupção da
crença maldita.
O homem sem mais nada falar então deu as costas quando a
capsula do homem-serpente fechou-se e ascendeu aos céus, era uma
tecnologia improvável de outro mundo. Algo que estava anos luz a
frente do conhecimento humano. Eliniel seguiu então caminhando
em meio ao vendaval como se nada ocorresse ao lado de seu outro
homem e entrou em seu veículo que igualmente fechou-se ascendeu
aos céus deixando um rastro luminoso como de fogo. O homem
parecia um anjo, mas era um viajante dimensional.
Ao sumir entre as nuvens um clarão se viu e em seguida um
estrondo se ouviu irrompendo os céus e ecoando-o de ponta a ponta
quando então de súbito o vento cessou. E as pessoas saiam de seus
veículos entre a curiosidade e o espanto sobre o que havia ocorrido.
Quando, então, nos demos conta, estávamos no centro de atenções
em meio ao asfalto com todos nos olhando e se aproximando de nós
como se fossemos os seres de outro mundo.
Os relatos sobre o que viram saíram nos telejornais onde
questionavam ser alguma tecnologia não conhecida da Rússia ou dos
Estados Unidos. Naquele instante, aquele nefasto que havia se
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
191
proclamado ao abrir o vórtice surgiu na Tv falando que a tecnologia
era deles.
“Pedimos perdão pois houve uma pane no controle de nossa
nova aeronave espacial que nos levou invadir a fronteira durante a
tempestade. O protótipo estava em testes quando surgiu a tormenta
que deixou nossos cientistas assustados, novos incidentes não
voltarão acontecer.”
Aquelas palavras soaram enfadonhas dado o grau de mentira
em seu tom de voz. De certo praticamente rimos daquilo não fosse
trágico, um homem que para não admitir haver algo mais poderoso
do que ele resolveu literalmente inventar dizendo que os objetos
vistos no céu eram de sua posse. Aquilo acenava que teríamos ainda
muitos problemas enfrentar com aquele monstro magnata que
aproveitava o gancho de algo não ocorrido para se proclamar em seu
autoritarismo velado.
Fomos para o laboratório na Europa onde os
hidrocriptografos conseguiram revelar um manancial de informação
derivada de mais aquele advento com precursores vistos apenas em
alguns dos livros da biblioteca maldita que apesar de amaldiçoado
pelos seguidores da crença maldita tinha muito de revelador ao
contrário deles.
Certamente que o status daqueles hidrocriptografos subiu a
classe de hidronautas como se referiam pela condição fluídica do
caos que emanava de outros universos numa convergência incomum
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
192
que poderia simplesmente arruinar e mesmo destruir as leis
conhecidas do nosso mundo. Ficamos a pesquisar a maior parte do
livro quando Jones após retirar-se da biblioteca decidiu seguir novos
rumos em seu exilio após o advento. Sem mencionar para onde iria
ele simplesmente desapareceu sem deixar rastros, um homem que
era nada mais do que ficção noutro mundo, naquele agora parecia
não se distinguir do mesmo.
Quando entraram em sua residência no Rio para averiguar se
havia quaisquer pistas apenas encontraram um exemplar do livro de
Roberta Sparrow onde havia um recado deixado por ele em sua
perplexidade o qual mencionava:
"Querida Roberta Sparrow,
Aproximei-me de si no seu livro e há tantas coisas que
preciso perguntar-lhe. Às vezes tenho medo do que possa
dizer-me. Às vezes tenho medo que me diga que isto não é
uma obra de ficção. Só posso esperar que as respostas
cheguem no meu sono. Espero que quando o mundo acabar,
eu possa respirar aliviado, porque haverá tanto porque
esperar…Nossa realidade é a ficção noutro mundo.”
Donnie Darko
Um dos membros do Clube de Pioneiros apenas sorriu
esperançoso na busca pessoal de Jones, mas ao virar-se encontrou a
porta de seu quarto entreaberta, mas emperrada. Quando tentou
abri-la mais notou que o material da porta estava de modo
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
193
misterioso fundido ao chão. Ele virou-se para seu companheiro
perplexo ao notar que havia ocorrido uma fissura dimensional
naquele lugar, talvez Jones tenha conseguido um modo de
transpassar a outros universos antropocêntricos literalmente saindo
pela tangente daquele mundo.
- Como devemos proceder sobre isso? – Indagou um dos
homens.
- Vamos notificar a Mestre Secreta do Tempo, dos 37. –
Respondeu seu parceiro e então pegou o telefone.
Ao discar um número e iniciar a chamada os homens ficaram
em silêncio quando alguém do outro lado atendeu.
- Senhora, perdoe-me interromper. Jones saiu da tangente –
disse como código para o universo deles.
Um silêncio se fez e então o homem novamente respondeu.
- Sim. Compreendo, já era previsto, como procedemos? –
Perguntou o homem olhando para a porta fundida ao chão
parcialmente. – Correto, são segredos que importam, mas a verdade
e suas autorias estão seguras?
Arredores do Vaticano, laboratório secreto da Santa Sé.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
194
Havia um burburinho entre inúmeros cientistas que estavam
debruçados em computadores de hidrocriptografia, uns sobre os
outros como se estivesse assistando a final do super bown, porém, os
interesses eram muito mais importantes que uma mera partida de
futebol, mas segredos entrincheirados no caos como uma assinatura
do código fonte de parte do multiverso que carregava informações
das leis deles e mesmo de eventos ocorridos nos ditos universos. A
medida de intensidade de caos era a medida de interação com os
demais universos numa única troca padrão em todo multiverso, o
caos.
Estava observando com os demais quando Petrônio parecia
entusiasmado com tudo aquilo e o surdo sorria como uma criança
diante do maior doce do planeta. De repente dei-me conta que Zaira
não estava presente naquele importante momento e quando fui
procura-la vi ela ao telefone e aproximei-me.
- Zaira, vão expor os resultados nesse momento.
Ela apenas acenou com uma das mãos e disse ao telefone.
- Sim, todas autorias estão seguras, assim como nossa
identidade. No momento não há risco. Depois te ligo. - completou
desligando o telefone.
Quando ela desligou o telefone, sem qualquer impressão
deveria ter percebido que a identidade estava sendo protegida por
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
195
ser não apenas uma mulher num mundo machista como aquele, mas
a simplesmente escolha dela aos segredos mais íntimos do
multiverso se dava pelo fato de que ela, justamente como mulher
estava acima de qualquer suspeita. Afinal quem poderia imaginar que
uma entusiasta seria a mentora não somente da mítica Ordem dos
Ventos o qual poucos foram os lideres, assim como a de seu ramo, o
Clube dos Pioneiros. Sem dúvida eram pessoas a frente de seu tempo
que esperava apenas o tempo certo para revelar todos os segredos
que morreram até mesmo para proteger em sua verdade, mas talvez
o mundo ainda não estivesse preparado para aquilo, afinal ainda
eram machistas.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
196
Appendix "Os seres humanos aprendem e absorvem ideias e conceitos através
de narrativas, de histórias, e não lições magistrais ou discursos
teóricos."
O Jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafón
screvo o que nunca li ou vi, mas gostaria de ler e ver, livros
escritos com lágrimas e sangue para superar-me a mim
mesmo. Sou escritor por hobby, mas portátil, em qualquer um
lugar posso escrever ao contrário de paquidermes que não saem do
lugar comum e para o qual dinheiro nasce como mato. Uns se acham
melhores sem ter feito, eu tenho certeza, pois eu fiz melhor. Cabe a
tais monstros ignóbeis da inaptidão tornar maldito meu
conhecimento, pois deles provém a maldição. Meu trabalho não
pode ser dado, pois não foi dado a mim, mas feito e conquistado,
autorias não se transferem, se fraudam.
O livro segue conhecimentos hipotéticos a este mundo de
uma dimensão alternada o qual apesar da maldade dominante teria
conseguido prosperar de acordo com minhas aptidões ao contrário
das sombras de uma ineptocracia idioticratizada e que favorece
apenas o sanguinário e corrupto. Todos os conceitos seguem
acontecimentos alternados sobre o que creio ser verdade e a crença
de um conhecimento perdido o qual fragmentos encontram-se na
bíblia e outros notáveis personagens designados por herdeiros da
Ordem de Kairos, muitas vertentes do tronco ideológico e moral dos
Seth. A idealização da Quantanic Inc é de uma empresa dos sonhos
E
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
197
que fundaria caso tivesse recursos financeiros adequados e
oportunidades justas. As imagens presentes no começo do livro, em
meus sonhos, são de invenções brasileiras mescladas ao filme Donnie
Darko o qual é inspirado, por sua vez, no livro de Roberta Sparrow, ‘A
Filosofia da Viagem no Tempo’, qualquer semelhança com a
realidade não é mera coincidência.
A especulação é a essência de Ordo Christianistas Ad Ventus,
seu próprio corpo de conhecimento que é a própria ordem é em
grande parte especulativo. Entre tais especulações a estrela de Bélem
teria sido a inspiração da estrela dos ventos assim como na Ordem
dos Ventos.
Entre o panteão misterioso dos maias estaria Ehecoatl, a
seperte dos ventos que teria fundado a El Dorado retradada no
primeiro livro. Outros personagens era atribuída qualidades sobre os
ventos como Eolo, que era o deus grego do vento mas na visão pagã
nominava com personalidade o que não era capaz de compreender.
A exemplo da grega mesmo o qual atribuem entidades mesmo aos
ventos em suas direções como Bóreas ou Aquilão (vento do norte),
Zéfiro ou Favônio (vento do oeste), Nótus ou Áuster (vento do sul) e
Euro (vento do leste).
Por sua vez Tezcatilpoca, espelho esfumaçado era adversário
de Quetzalcoatl que é sugerido ser o fundador de El dorado e o
mesmo viracocha, mas ao contrário da serpente emplumada não
ensinava as artes civilizatórias, mas teria ganho um embate com ele.
O marco mais importante da história humana atual e ocidental é
Jesus Cristo, mas igualmente onipresente em relatos míticos está a
presença de um homem caucasiano barbudo de milhares de anos
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
198
atrás. O que sucede não apenas a uma pré-história ou criptohistória,
mas uma proto-hitória que remete a uma civilização muito avançada
e possivelmente global.
Há Documentos do FBI sobre realidades paralelas,
Documento redigido em 08/07/1947 por um graduado.
Evidentemente que conceitos da ‘Ordo ad Chaos’ são fictícios
ainda que inspirado em conceitualizações reais de algumas seitas e
sociedades secretas que de acordo a teorias conspiratórias pregam a
dominação pelo caos. Obviamente nomes de uma ‘Ordo ab Chaos’
são ausentados por motivos óbvios, sendo o mais ilustrativo.
Querendo conhecer melhor as lendas de viagens no tempo, e fatos
históricos e arqueológicos verídicos leiam 'A história Linear do
Mundo".
"Se há um livro que você queira ler, mas ainda não foi escrito,
então você deve escrevê-lo."
Toni Morrison
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
199
Vocabulário
Porteiro dimensional: Misterioso homem de idade não conhecida
que protege o local de travessia dimensional.
Quantanic Inc: Empresa internacional de computação quântica que
estuda os atributos de ondas multidimensionais atribuídos a
hidrocriptografia.
Ordem da Kairos: Concepção mítica não linear das profecias dada a
herdeiros de uma linhagem diretamente por anjos.
Filho de Kairos: suposto herdeiro de profecias angélicas sobre o
tempo, pertencente a Ordem de Kairos.
Conhecimento Perdido: Conjunto de conhecimentos antigos perdido
pela perseguição ideológica, sistema ideológico perfeito que reunia
elementos antropocêntricos a física e psicologia como ciência
temporal.
Herdeiros de Caim: Os que seguiam o designo da prosperidade ilícita
pelo dano a família alheia e matar, roubar e destruir.
Criptocracia: governo oculto que controla os governos.
Cronospermia: teoria que defende que o homem deu origem a si
mesmo no passado.
Hidronauta: Os investigadores da hidrocriptografia.
O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez
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Agradecimentos
inda que não tenha muitos a quem agradecer são inúmeros
os amigos não conhecidos pelo autor, esses, quer invisíveis
para mim ou não ao se compadecerem dos tantos infortúnios
que padeci por causa do maus e injustos fica meu tributo pois
o que me motiva não é apenas escrever o que gostaria mas a todos
que são fidedignos com a ética e verdades e sobretudo ao nosso
Senhor Jesus Cristo, o unigênito o qual é pai da Fé.
A