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O Livro Maldito ® Gerson Machado de Avillez

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O Livro Maldito ®

Gerson Machado de Avillez

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O LIVRO MALDITO ®

Gerson Machado de Avillez

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Copyright © Gerson Machado de Avillez 2014

Todos os direitos reservados a Gerson Machado de Avillez

Twitter: www.twitter.com/GersonAvillez

E-mail: [email protected]

Blog: http://filoversismo.blogspot.com

Facebook: www.facebook.com/Filoversismo

Título Original

O Livro Maldito

Capa

Gerson Machado de Avillez

Revisão

Gerson Machado de Avillez

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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Prefacio

Os casos são fictícios, creio, mas o que presenciei e me levou

a estes livros e os conhecimentos nele proposto, não. Assim como

Roberta Sparrow concebe-se a dúvida ante a maravilhosa ficção ou a

terrível verdade, àqueles o qual a pergunta move e o destino aguarda

pela tênue linha divisória entre realidade e sonho, loucura e

sanidade.

O mesmo tempo a que inquerimos responderá, mas não sem

igualmente nós inquerir. Meus olhos estão focados na quarta

dimensão de onde todas as demais advêm em todas suas flutuações.

Sendo acertado o que diz o autor ao leitor que ler tais

palavras neste livro sofrerá perseguições iguais ao do autor. For

verdade o resultado confirmado será a perseguição, ameaça,

humilhação e marginalização por aqueles que tentarão anular a todo

custo para tentarem dominar o conhecimento proposto nestes livros.

Isto já está acontecendo comigo...

12 de fevereiro de 2014,

Gerson Machado de Avillez

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Índice

Omni Libri Ad Ventus – Pág.8

O Enigma 111 e a Página 37 – Pág.40

A Biblioteca Maldita e os Time Lords – Pág.64

O Guia de sobrevivência dimensional e temporal – Pág.88

A Mãe de todas conspirações – Pág.111

Vislumbres prévios – Pág.133

A Tempestade dos Séculos – Pág.157

De vento à polpa – Pág.179

Apêndices – Pág.196

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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I

Omni Libri Ad Ventus

"A literatura, pelo menos a boa, é uma ciência com sangue de arte."

O Jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafón

o levantar-me pela manhã a primeira coisa que faço é ir aos

sanitários para tirar a água do joelho, todavia ao sair pela

porta do sanitário vejo um corredor completamente

diferente do normal. Brinquedos de crianças largados ao chão quase

me fizeram tropeçar enquanto procurava meu chinelo e sentia um

cheiro forte de café vindo da cozinha ao lado do ruído de fritura do

dejejum. Após ouvir a voz de uma mulher atender um trote

telefônico o qual a ligação é identificada, esta coloca um walkman e

vai a cozinha fazer arroz com um coador de arroz quando liga o rádio

do walkman mas um balão elástico cai no quintal com uma

mensagem incomum. Intrigado, eu ouvi nisso um grito de criança que

em seguida riu e uma sombra que veio em direção ao ruído, lado o

oposto de uma Tv a cores daquelas de tubo do século XX onde

passava uma sequência de um coelho ao lado do personagem Donnie

Darko num cinema, num filme me mesmo nome, isso quando

tropecei num carrinho e escorreguei batendo de cabeça e apaguei

tão brevemente quanto despertei.

Quando despertei vi-me cercado por quatro olhos, dois pares

que me olhavam atentamente e sorriam. Por um breve momento

A

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pensei eu ser a simpática donzela que via atender o trote. Estava me

pós-graduando em filosofia e após um incidente anos atrás meu livro

se tornou best seller, minha vida social então deslanchou e prosperei

em todos os setores como se tivesse cruzado o caminho da felicidade

e prosperidade onde a paz e sucesso eram as vias adjacentes.

- Esqueceu-se da hora desta vez? – Disse uma voz, a senhora

minha mãe.

- Não fazes ideia que já são quase 11 horas? – Disse a outra

voz e de um amigo meu, Petrônio Fonseca.

- Não gosto de acordar deste modo. – Respondi emburrado.

- Mas parecia compenetrado em sonhos tenebrosos do além.

– Retrucou Petrônio.

- Apenas Gárgulas do passado, talvez... – respondi eu

erguendo-me contrariado como se o sono (e sonho) fossem

melhores.

- Pois temos novidades que o deixariam animado para o

dejejum. – Retrucou Petrônio. – Aparentemente o sistema

multidimensional de processamento é um hesito como predito. O

sistema que interpreta reatividades síncronas de gravitação de

eventos em sistemas complexos e dinâmicos, cuja probabilística

cruza da previsibilidade a predileção percentual espaço temporal no

caos. – Disse Petrônio empolgado tirando um jornal onde enunciava

na capa do caderno de ciências “A máquina de predileção do futuro”

e continuou - Tudo isso somente acontece por causa da informação

que relacionada ao caos e ao tempo dá tudo preciso sobre energia e

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matéria susceptível. Seu pensamento tem que ser essencialmente

multidimensional.

- A vidência assim não passa de informação pré-existente

num sistema dinâmico por padrões que favoreçam ao aderir. Na

realidade harmoniza todos os eventos multidimensionais a

convergirem harmonizadamente a um evento de destino.

Conseguiram replicar isso em laboratório? – Conclui perguntando

tendo um aceno de positivo de Petrônio.

- O Crocodilo tic-tac nunca para Gerson. Preza a lenda de

uma arma de reatividade síncrona seria de impossível incriminar.

Suponhamos uma arma de caos que cria eventos indiretos a atingir o

alvo aperfeiçoada em relação ao visto na Espanha, mas que apenas

faz um pombo defecar em sua vítima alvo, este escarnece, mas ao

debochar e apenas isto, ele tropeça ao limpar os olhos e cai de

cabeça morrendo. A culpa é de quem?

- Pensou escrever isso para contos surreais? – Indaguei eu. –

Mas diga-me duma vez, você não veio aqui somente para isto.

- Não mesmo. – Disse Petrônio revelando-se para mim. – um

incidente misterioso parece ter exposto alguns projetos negros que

parecem nutrir com um mítico projeto da marinha norte-americana.

Todos mortos, inclusive quatro crianças sem aparente porque.

- Como sempre o essencial não está na mídia. Seria um

remanescente do projeto Philaphelfia? – Concluí perguntando e

tendo um aceno positivo de Petrônio.

- Acho que ficaram alvoraçados com as possibilidades de que

a probabilidade não é coisa somente dessa dimensão, mas

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multidimensional. Diria, por fontes extraoficiais, que era um

experimento de transpassar dimensões. – Completou.

- Quero meu café bem quente hoje. – Disse eu lavando meu

rosto no banheiro percebendo que o dia apenas estava começando. –

As crianças foram identificadas? – Completei enquanto enxugava o

rosto na toalha.

- Um autista e três com Síndrome de Asperger.

- Típico. – Concluí – poderia figurar entre elas. Quais as

habilidades?

- Não tenho informação, mas acho deduzível.

Naquele momento fui a quarto novamente e abri um convite

que mostrei a ele, escrito ‘Clube dos Pioneiros’.

- Para que recordes? São para os superáveis, pois pioneiros

são inexpugnáveis. – Disse Petrônio com uma dose de ironia.

- O que conhece de fato sobre eles? – Perguntei.

- Homens e mulheres interessados no singular, no inédito e

insuperável.

- Singularidade está no vocábulo deles?

- Sim. Naturalmente, inclusive lei de Moore e essas coisas

todas mais. Descobridores do novo e visionários sempre são

convidados. Considere-se honrado.

- O que posso eu ter para eles e eles pra mim? – Perguntei.

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- O que? – Perguntou respondendo Petrônio com um riso. –

Essa gente tem acesso a livros malditos, coisas que deixariam o leigo

babando como mongoloides dopados. Num dos livros perspectivas

duma mesma história.

- Naturalmente isso é providência sua... – conclui eu.

- Não, mas estão sempre investigando nos arquivos do

Vaticano: Coppernio, Pitágoras, Newton, Faraday esse tal pessoal.

- Membros?

- Honorários, mas preza a lenda que o grupo está por ai

desde o épico de Gilgamesh fora escrito, defensores da verdade e

tudo mais.

- Os maus adoram contar essas histórias antes de nos fazer

domir.

- Não eles! Não estão interessados em posições para

dominação como algumas sociedades secretas, na realidade, estão

interessados em acumular todo conhecimento possível da verdade

para protege-lo de um cataclismo. Compreendem que boa parte da

história, principalmente a atual, é uma farsa.

- Não estou certo quanto a eles, os maçons, por exemplo, se

dizem defensores dos bons costumes mas parece que alguns têm

patrocínio em rasgarem ao meio sexualmente, e impunes com

louvor.

- Não são esotéricos ou místicos do ocultismo. Mas formado

por cientistas, pensadores, formadores de opinião como você. – Disse

Petrônio acompanhando-me até a cozinha onde coloquei meu café e

prontamente coloquei o dele também. - O Clube dos pioneiros são

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pesquisadores do improvável, imersos na verdadeira realidade da

história oficial, procuram os fatos antecedentes aos eventos

históricos como meta-historiadores duma kripto.história, procura o

antes do antes, e deduz o depois do despois, da com causa numa

quase metafísica histórica onde elementos científicos e filosóficos

encontram-se e em sua surpresa aparentemente pode romper o

linear ante fatos marginalizados de mundos igualmente marginais

não aos costumes, mas as leis físicas. Busca os primeiros, aqueles que

antes do descoberto oficial haviam o feito, e não somente dos

desbravadores do novo mundo, mas aqueles o qual desbravaram

mundos diferentes e tempos sem igual, os pioneiros, aqueles que

formam o seleto grupo invejado pelos incapazes, e formam um grupo

seleto e exclusivo, o clube dos pioneiros.

- Isso tudo é muito bonito, bonito mesmo, mas se aprendi

algo, é que quando a beleza aparente é demasiada, o interior não o

corresponde. – Respondi comendo um pedaço de pão francês com

queijo prato.

- Você mudará de ideia quando ver os livros que eles têm a

lhe mostrar, faz parecer Jacquer Bergier um menino do jardim de

infância. Mas um livro que os tem perturbado, ‘A Filosofia da Viagem

no Tempo’.

Algum lugar do deserto de Gobi, China, naquele mesmo momento

Uma caminhonete corta uma estrada empoeirada em meio ao

silêncio sendo igualmente irrompido pelo ronco do motor de seu

carro feroz como se tentasse rasgar o deserto ao meio em vão

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quando repentinamente um surto de energia fez o carro morrer e

lentamente diminuir a velocidade fazendo o chinês nele presente

ouvir apenas o murmúrio de cães que carregava à morte – para um

restaurante de consumo dos pobres animais – até que ele xingou

algo em sua língua intraduzível.

O carro acostou na estrada de terra quando ele colocou sua

cabeça sobre as mãos e, murmurou algo mais quando, então, ao abrir

a janela viu ao lado uma peça brilhosa com os poucos raios solares

que ainda havia naquele lugar. Olhou para seu relógio de pulso

digital, mas ele havia apagado.

Intrigado o homem abriu a porta e seguiu até o lugar e viu

peças sem qualquer conexão com aquele lugar. Pedaços novos de um

maquinário como de um laboratório e a inscrição QUANTANIC INC.

Ele cutucou a peça com os pés, mas nada aconteceu a não ser ao

virar o outro lado ver fundido a ela partes de uma mão junto ao

metal e o que parecia ser uma espada, sem quaisquer sinais de

queimado.

O homem deu para trás caindo de cócoras assustado.

Intrigado o homem recusou-se crer no que via e pegou novamente a

peça com certo nojo, pela ponta, quando notou que o dedo era de

carne realmente.

***

Caminhei por alguns minutos ao lado de meu amigo culto,

Petrônio que parecia demasiado animado para um homem de meia

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idade que nem ele. Por algum motivo parecia ter deixado o carro

estacionado longe de onde morava, talvez como um pretexto para

ter que caminhar um pouco ao ar livre até o seu veículo alugado pois

fazia pouco tempo que estava residindo no Brasil após o incidente

nas ruínas de uma cidade que acreditava-se ser a El Dorado.

Não sei porque, mas aquilo de algum modo me contagiou

pois sendo um homem integro e sincero, parecia exalar o que havia

de melhor no homem como seres perdidos após o desaparecimento

de seu Criador.

Abriu a porta após desativar o alarme, e adentrou o carro

notando que havia um dado pendurado no para-brisas, uma

brincadeira interna desde quando estudaram a hidrocriptografia

quântica sobre as probabilidades de sorte conforme mencionava sua

inspiração-mor, Albert Einstein.

O homem parecia realmente feliz quando deu partida em seu

carro e ligou o som quando colocou para tocar músicas antigas de

Cindy Lauper, Time after time. E ele cantarolou dando a impressão

surreal de que aquele coroa na realidade estava num sonho meu.

A viagem transcorreu tranquilamente por alguns minutos

após pegar trafego tranquilo na ponte Rio-Niterói e chegar até a

Biblioteca Nacional perto do Teatro municipal, no centro do Rio. Sem

dúvida não somente era uma companhia agradável como peculiar a

essa altura, pois o sujeito, sociável como era, parecia, no entanto,

buscar intrigas e conspirações inóspitas.

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- Quem vamos conhecer hoje é um ilustre desconhecido. –

Disse Petrônio abrindo a porta do carro permitindo que o ruído da

cidade invadisse o veículo após estacionar. – Teve alguns trabalhos

publicados, todavia seus mais importantes apenas como

pseudônimo. Sem dúvida um pioneiro visionário e como tal

perseguido por inaptos como da Ordo ad Chaos. – Completou

Petrônio.

- Suponho que tenha sido acolhido pelo Clube. – Disse eu

diante dele tendo um sorriso como resposta ao trancar a porta do

carro que era um astra.

- Você ficará surpreso. Ele resolveu se unir a nós após ouvir

falar de você e seu trabalho.

Petrônio seguiu em passos firmes até a escadaria da

biblioteca e subiu com um fôlego peculiar para sua idade quando vi

um senhor parado na porta da biblioteca nos dando um sorriso.

Pensando ser apenas um livreiro ou parte da segurança apenas sorri

de volta após dizer ‘bom dia’ quando para minha surpresa Petrônio

parou diante dele e disse.

- Gerson, esse Jones Skelton. Jones Skelton, esse é Gerson.

Duvidei que aquele fosse o nome verdadeiro do sujeito que

era mais velho que esperava e, alias, para minha surpresa se quer

havia cogitado que o fosse.

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- Me perdoe – disse eu sem jeito – pensei que fosse mais

jovem.

- Somente é bagaço, que um dia já foi muito chupado. – Disse

o homem em tom irônico tirando uma risada de Petrônio. – Fico

lisonjeado em conhece-lo.

- O prazer é meu. – Respondi com um sorriso sociável e

cordial no rosto quando ele acenou com a mão esquerda para

entrarmos.

- Nada mais adequado para apresentações sobre

conhecimentos perdidos que numa biblioteca. - Jones Skelton

colocando seu crachá no blusão e subindo, pois, era funcionário da

biblioteca. – Trabalho aqui a vinte cinco anos, e já ouvi de tudo, mas

no silêncio é que fiquei ciente de conspirações. E não tenha dúvidas,

são frações de ignorância, pois quando nunca querem que se

conheça a verdade, preza-se não somente a ignorância, mas a prisão.

Quem apaga uma origem dita que viemos do nada para o nada ir.

Ao subir o primeiro lance de escadas, na entrada principal,

fiquei impressionando com a beleza do lugar quando chegamos a um

elevador após ele cumprimentar um segurança, pois estávamos lá

entrando convidado dele.

- Pensei que vocês do clube tivessem uma sede. – Disse eu

intrigado.

- Sim, como não? Está nela. Nos reunimos todas as sextas-

feiras nesse monumento do conhecimento, preservando e

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protegendo o que mais importa, a verdade. – Respondeu ele

entrando dentro do elevador. – Mas o motivo de chama-lo até nós, é

que descobrimos o interesse de alguns, os mesmos que conspiram, a

fraudar alguns livros inclusive os seus.

- Mas eles não ficam aqui. – Respondi eu pra aquele senhor

entusiasta do incomum e singular. – Por que iriam...

- Por quê é o que move, Gerson. Busco porquês, pois, é o

porquê do que buscar. – Respondeu ele – enquanto conversamos

neste elevador, um caso incomum ocorreu no deserto de Gobi, na

China.

- A Oopart... – deduziu Petrônio tendo a concordância de

Jones.

O elevador parou então e a porta se abriu lentamente após

aquele habitual apito. Jones saiu e acompanhamos ele em silêncio

quando ele disse.

- Os senhores tem ideia o que tem incomum Leonardo Da

Vinci, Nostradamus e a nossa querida pioneira Roberta Sparrow?

Respondi que não com a cabeça.

- A apreciação pela água. Não porque eram nadadores, pois

não eram. Mas porque acreditavam ter nela propriedades incomuns.

– Disse ele entrando num saguão repleto de livros e continuou – Isso

não teria nada a ver com o tempo, todavia como compreendem

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sobre a hidrocriptografia ela pode ser reveladora sobre nosso

universo. Nostradamus realizava suas previsões observando as

ondulações das águas, Sparrow acreditava que era conduto

incomum, e Da Vinci, bom, um dos maiores pioneiros fora Leonardo

Da Vinci. Então você surgiu para completar o mosaico, com a peça

que restava.

Ao contemplar o lugar havia um espaço amplo para a leitura

e ao chegar na mureta pude contemplar os andares abaixo repletos

de fileiras de livros, mas o foco de Petrônio eram nos livros daquele

ponto específico, algumas raridades.

- Neste lugar não somente pesquisamos algumas

preciosidades como discutimos sobre o conhecimento perdido, algo

que remonta tempos imemoriáveis. Algumas coisas são descobertas

atualmente, ocasionalmente, noutras vezes a criam. – Disse Jones. –

Por que muito gênios e escritores queimaram seus trabalhos e

escritos jamais conhecidos como se temessem algo ou alguma

descoberta? Leonardo Da Vinci, por exemplo e tanto mais conheciam

algo aterrador de realidades alternativas e marginais na antiguidade,

trata-se disto O Clube dos Pioneiros.

- Como assim realidades alternativas? Reuniões secretas e

criptohistória?

- Esqueçam essa coisa de Sociedade Secretas, eles procuram

segredos para se fazerem importantes. – Respondeu Jones – eu digo

algo que tenha total significado a natureza de nosso próprio universo

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e que naturalmente era interesse de alguns deter em segredo para se

intitularem autoridades. O que eu digo é algo que transcende ao

nosso universo, uns viam como mundo espiritual, mas pessoas como

Sparrow compreendia que era algo real ainda que fora de nossa

realidade. As ideias de portais dimensionais do ocultismo e tanto o

mais vieram disto, um poder que sempre quiseram tocar, mas

raríssimos os momentos que quase o conseguiram.

Jones então parou diante de um livro antigo. Era Alice no Pais

das Maravilhas que ele pegou nas mãos, uma versão original

autografada pelo autor.

- Esta é minhas boas-vindas ao pais das maravilhas. A

maravilhosa realidade fora da nossa. – Disse ele entusiasmado

entregando o livro nas minhas mãos. - Lewis Carroll tinha um anseio

pelo vislumbre que teve de um futuro, mas não imaginativamente,

mas vívido e cognível ao transloucar-se por uma realidade

metaforicamente colocada como signo do buraco do coelho e o

espelho em algo aparentemente infantil, mas carregado de sua

'viagem dimensional'. Lewis era um pioneiro. Sem dúvidas.

Jones provavelmente tem uma identificação falsa, pois

mudou de nome ao fugir de seu país por perseguição ideológica. Com

uma cabeleira grisalha não conhecia a calvície apesar da idade, era

esguio como um adolescente mas a lentidão de seu corpo já

mostrava o peso invisível do tempo sobre a soma de sua idade onde

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gradualmente tudo a seus movimentos pareciam em camera lenta

com leves tremores. Porém, seus olhos grandes estavam cheios de

vida e brilhavam com o que comentava conosco de modo que seu

bigode branco parecia dançar de um lado a outro enquanto movia

seus lábios repletos de palavras eruditas.

Petrônio então pegou o livro em suas mãos intrigado e o

desfolhou lentamente quando espirrou com o cheiro das páginas

envelhecidas. Ele tinha asma, assim como eu.

- Deixe-me ver – disse Jones olhando para uma fileira de

livros pensando consigo mesmo como quem escolhesse algum livro

para pegar. - Diego Villas, autor de inúmeros livros malditos. – Disse

ele passando agora o dedo sobre os referidos livros.

- Quem é Scriberius? – Indaguei eu intrigado ao ver esse

nome num dos livros.

- Todos os membros do Clube dos Pioneiros usam

pseudonônimos. Scriberius é um deles, na verdade estes é do Seven

Circle. Raridade de uma seita de espionagem. Os inomináveis, assim

alguns pseudônimos são para proteger, outros são por injustiça e

noutro casos não dizemos os nomes para não atrai-los a nós como

quem evoca demônios. – Respondeu ele sem tirar os olhos dos livros

quando então disse. – Pronto, achei, este aqui!

Jones retirou o livro do lado de um misterioso título chamado

‘Personas de Porlock’ e ‘O Filho de Kairos’. E o livro era justamente o

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raro exemplar em português de ‘A Filosofia da Viagem no Tempo’ da

freira Roberta Sparrow.

- Eu mesmo traduzi há alguns anos. Os senhores

compreendem o termo ‘trabalho de casa’. – Disse ele entregando o

livro nas minhas mãos. – A senhorita sem dúvidas pertencia a Ordem

de Kairos, uma genuína filha de Kairós.

- E o que seria a Ordem de Kairós? – Perguntei enquanto

abria o livro sem o mesmo entusiasmo.

- Conhecimentos proféticos para os homens, conhecimento

dimensionais para os anjos. – Respondeu ele com um sorriso de

orgulho por ter aquela obra em suas mãos. – O livro fora escrito em

1944 e evidentemente ela era uma devota de sua fé.

- Roberta Ann Sparrow, certamente deveria ser uma boa irmã

pelas dedicatórias. – Respondeu eu enquanto Petrônio se debruçava

sobre meus ombros para ver o livro comigo.

- Mas assim como esses nomes, - disse Jones - os demais

nomes do livro não encontramos sinais da existência.

- Talvez sejam de outra dimensão – concluiu Petrônio como

uma pontada de ironia.

Meus olhos moveram-se velozmente entre as letras

procurando nelas os padrões de verbos que me transmitissem de

modo mais rápido o possível seus conhecimentos quando li o breve

prefácio que enunciava em tom de temor.

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O intento deste pequeno livro é ser usado como um guia

simples e direto em uma hora de grande perigo.

Eu rezo para que seja apenas uma obra de ficção.

Se não for, então eu rezo por você, leitor deste livro.

Se eu ainda estiver viva quando os eventos preditos nestas

páginas ocorrerem, eu espero que você me encontre antes que

seja tarde demais.

Roberta Ann Sparrow

Outubro, 1944

Aquilo parecia ser uma espécie de guia de sobrevivência

apocalíptica que faria Douglas Adams rolar de felicidade. Movi então

até o segundo capítulo notando que certamente ela deveria ser uma

candidata a ter rompido a dimensão conhecida ou ao menos ter

conhecimento disto para aqueles homens do Clube dos Pioneiros.

- Metais e água. – Disse Jones ao ver o título do livro. - Água

apenas é água, tal Sparrow referia-se as propriedades elementares e

não metafóricas pertinente a ondularidade do tempo. A freira fala da

água pois a água tem importância por sua representação das

ressonâncias análoga ao tempo como conduto de todas variáveis do

caos em sua função de onda, quando alteração as resultantes é

porque atingimos a natureza dimensional das ressonâncias, sobre a

natureza comum e por isso alguns interpretam como sobrenatural.

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- Compreendo, conforme a minha teoria. – Respondi agora

intrigado.

- Nostradamus realizava suas previsões intuitivamente

baseado nisso. Observávamos isto há anos até você, bom pioneiro

constante, revelar. Porém, como se observa o conhecimento vazou a

ingratos profanos e naturalmente na qualidade de injustos querem

surrupiar.

- Realmente intrigante. Os metais seriam como constantes no

fluído representado pela água? – Perguntou Petrônio. – Por que é um

livro raro?

- Não somente constantes, mas por que vibram. – Respondeu

Jones. – o que vibra cria ondulações. A mais pura analogia ideológica.

Mas estão aqui porque ela está em risco assim como sua aplicação.

Ainda que indícios alinhados denotam que algo aparenta transpassar

o tempo parcialmente, mas algo que escarra e soterra ao

esquecimento a fonte em que bebe. Afinal quem muito precisa de

tapete é por ter os pés imundos, quem muito precisa sacrificar é que

tem impurezas demais a purificar.

- Ordo ad Chaos. – Concluí eu perplexo quando o rosto de

Jones se iluminou com um sorriso de concordância.

Como esquecer da Ordo ab Chaos, por causa de tais quase fui

morto por um psicopata cruel e impiedoso a pouco tempo atrás e,

agora, eles pareciam estar de volta não menos arrogantes e

obstinados para com a injustiça. Não resistindo a deixa dada por

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Jones então resolvi concluir seu discurso por identificação própria

como vítima deles, não sem antes Petrônio confirmar.

- Gerson fora vítima deles.

- Eles te taxam pelo que desejam lhe fazer, - seguiu Jones - se

apenas fazem excrementos então para eles você é privada.

- São grandes inaptos e tem o único significado de vida tirar o

valor de quem não o é, pois acreditam que matar, roubar e destruir

lhes fazem melhores.

- Vaidade é lustrar a hipocrisia. Não conheço um só hipócrita

que não seja vaidoso. – Concluiu Jones de modo eloquente.

Não era todos os dias que havia um papo tão franco e aberto

sobre conhecimentos que seriam perdidos, assim como seus vilões e

perseguidores. Todavia ainda que já tivesse presenciado o

inominável, extraordinário e aparentemente sobrenatural era pouco

crível tais afirmações que Jones desferia como bofetadas ao

incrédulo. De modo que a busca dele por mim, assim como a fim de

completar esse conhecimento alegadamente perdido, para ele tinha

função de completar uma cosmovisão não somente cultural e

religiosa, mas científica.

O Conhecimento perdido tinha suas raízes no passado

longínquo e se perdia nas parcas nevoas do tempo ante ataques

sempre destes arquivilões da verdade que apagavam rastros e

evidências tanto de seus defensores como descobridores e criadores,

restando a pessoas como Jones Skelton deter fragmentos e peças

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desse mosaico o qual mesmo eu havia participado ao conceber, para

ele, uma das peças mais importantes para completa-lo.

Ao nos retirarmos, Skelton, no deixou o exemplar do livro ‘A

Filosofia da Viagem no Tempo’ para nossa humilde apreciação ainda

que mesmo Petrônio, com sua argúcia e ironia tivesse. Dado

lampejos de resistência a ideia de um multiverso literalmente. Assim

partimos ante um homem tão culto e cordial não poderíamos recusar

a oferta pois ainda assim tratava-se de um livro maldito que por seu

teor revolucionário havia feito frente a livros como ‘O universo numa

casca de noz’ muito antes do mesmo se publicado.

Quando toquei os pés em minha residência coloquei-me a

tomar um banho enquanto refletia sobre a imagem da água que

corria ralo a dentro. Imaginei como um portal naturalmente poderia

distorcer o tempo criando ondulações na sua malha que

naturalmente poderiam criar ondas de aleatoriedade impensáveis.

Petrônio bate um papo animado com a senhora minha mãe quando

adentrei a discussão deles como de escanteio.

- O batismo tem significado multifacetado como metáfora. –

Disse Petrônio a ela – Para os joanitas, seguidores originais de João

batista propusera uma compreensão exclusiva de um batismo na

quarta dimensão o qual o tempo purificava assim como o significado

dos 40, na bíblia.

- Quarenta dias ou anos, por Jesus no deserto, Noé na Arca e

Moisés e seu povo tem representação de abstinência. – Retrucou a

senhora minha mãe.

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- Há um conhecimento secreto passado apenas a herdeiros

do milenar conhecimento perdido dos Seth que sugere a expectativa

de atravessar dimensões com o sepultamento do antigo ser, o que

hoje se interpreta como o arrebatamento. – Retrucou ele cheio de

confiança. – Pois é a menção das águas do princípio dos tempos

conforme o começo do livro de gêneses coloca como análogo ao

tempo.

-Talvez Jones Skelton seja um neo-joanita. – Interrompi eu –

Pelo jeito como tem igual obstinação sobre o conceito de águas

análoga ao tempo. Isso são especulações.

- O que temos ciência hoje – continuou Petrônio após me

ouvir comentar – é que ouve um conflito inicial entre João e seu

primo Jesus pois ambos tinham numerosos seguidores, ainda que

João a seu modo se tornou o primeiro cristão. Evidente que haviam

diferenças de crenças.

- João, batista era um herdeiro de Seth? – Disse eu – Se assim

fosse Jesus sendo da mesma família poderia igualmente ser.

- Não necessariamente herdeiro, mas de seu conhecimento

instruído por estes assim como o rei Davi teria sido instruído,

segundo alguns, por 37 amigos. – Completou enquanto agora a

senhora minha mãe apenas observava confusa e então ela

interrompeu.

- Acho que o escrito na bíblia me é o bastante, isso são

apenas teorias.

- Concordo com ela. – Disse eu.

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- Naturalmente que não há muitos registros, porém, os

indícios são inegáveis com os padrões indicados na mesma bíblia. –

Completou Petrônio certo do que afirmava.

Naquele momento sentei-me e peguei em mãos o livro lendo

novamente o prefácio quando me deparei com as observações da

suposta autora do livro maldito, Roberta Sparrow.

"Eu gostaria de agradecer às irmãs da Capela São João em

Alexandria, Virgínia, pelo seu apoio em minha decisão.

Pela graça de Deus, elas são:

Irmã Eleance Lewis

Irmã Francesca Godard

Irmã Helen Davis

Irmã Catherine Arnold

Irmã Mary Lee Pond

Irmã Virginia Wessex"

- O que mais me impressiona – disse eu – não é que os

conhecimentos de Sparrow anteciparam, mesmo a despeito das

fantasias, Stephen Hawkings, mas que ela era da capela de João em

Alexandria.

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Naquele momento Petrônio parou de falar o olhou para o

livro em minhas mãos quando chegou a óbvia conclusão: ela era uma

joanita ou neo-joanita! Águas e tempo, viagem no tempo, tinham

tudo a ver.

- Isso explica o porquê de sua crença, conforme disse, no uso

das águas. – Completou ele agora entusiasmado.

Porém antes mesmo que dissesse algo em resposta ou

ousasse a seguir a linha de raciocínio de Petrônio o telefone tocou

interrompendo o súbito silêncio de alguns poucos segundos de

perplexidade. Levantei-me para pegar meu smartphhone quando

observei que era de um número desconhecido. Receoso atendi o

telefone olhando para os lados quando o toque se silenciou e ouvi

uma voz rouca de um homem.

- Senhor Gerson Avillez?

- Sim, quem fala? Porque liga sem identificar o número? –

Interrompi eu.

- Me perdoe a má impressão, mas devido as circunstâncias se

fez necessário. – Respondeu a voz do outro lado um pouco abaixo do

normal. – Dada as mesmas circunstâncias o qual o envolvem nas

moralmente duvidosas nevoas da conspiração ante o livro que tem

em posse assim como interpretações dele, sugiro lhe encontrar para

discutir sobre assuntos não somente de interesse, mas que podem

custar a vida também de seu amigo Petrônio.

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- Não marco encontro com suspeitos e pessoas que me ligam

sem número revelado. – Retruquei agora ruborizado pelo nervoso de

constatar que ele tinha conhecimento do que fazíamos sem ser como

por vias legais. Se quer sei seu nome!

- Pode me chamar de Informante, não tenho muito tempo

para lhe convencer, mas tenho informações que sem dúvidas vai

interessar, pertencia a Ordo Ad Chaos.

- Mas... – tentei interromper novamente em vão.

- Não haverá outra oportunidade, caso esteja interessado me

encontre aos pés do Cristo redentor com Petrônio, amanhã as 10:25.

– Disse a voz e então desligou o telefone o fazendo dar aquele bip de

ocupado.

Olhei para Petrônio e minha mãe para observa-los

igualmente me olhando apreensivos sobre quem seria então engoli

seco e lhes contei sobre o diálogo travado. Petrônio ao ficar ciente

daquilo fico não menos intrigado e topou ir, mas não sem antes

contatar os seus da Ordo Christianitas Ad Ventus e pedir suporte caso

algo acontecesse o que pelas coordenadas do encontro dificilmente

alguém da Ordo Ad Chaos se exporia para cometer qualquer dolo.

Li um pouco do livro enquanto tomava chocolate quente,

mas meu foco ficou nas palavras daquele homem de voz rouca como

quem fosse um fumante e ao dormir meus pensamentos pesaram

mais que minhas pálpebras sobre tudo que havia passado por causa

dessa nefasta seita de saqueadores do conhecimento alheio. Todavia

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adormeci não por contar carneiros pulando a cerca, mas por perder-

me em meus próprios pensamentos.

Pela manhã ao acordar observei que Petrônio, que lá havia

igualmente adormecido já se encontrava de pé entusiasmado com o

passeio que faríamos enquanto estava ao telefone conversando com

uma conhecida nossa dos tempos que fiz uma incursão a Europa,

Zaira.

- Então esse homem marcou esse encontro. – Respondeu ele

a ela na sua conversa. – Não, não... – continuou respondendo-a – Só

quero que consiga uma gravação da ligação feita por ele e uma

triangulação de onde veio o sinal de sua linha. – Ele bateu então em

sua perna e resmungou algo – Não, Zaira, é simples, apenas isso que

estamos indo lá daqui a pouco!

Petrônio desligou o telefone quando me viu pegando uma

caneca de café com leite e me atualizou sobre tudo que era realizado

por ele enquanto dormia como preparativos para nosso inusitado

encontro com o suposto informante anônimo.

Eram 7:46 e terminei meu café antes de partirmos

diretamente a ponto de encontro. Apreensivos, ao subir de carro

pelo Corcovado mal nos demos conta da paisagem a nosso redor e ao

encontrar a panorâmica enquanto caminhávamos subindo o restante

do trecho a pé notei que havia um mundo lindo ainda que a despeito

de tanta crueldade nos detalhes de suas entrelinhas, inclusive

histórica.

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Quando chegamos ao topo, Petrônio que apesar de em

forma transpirava com o suave sol da primavera naquela manhã

balbuciou algumas palavras de elogio a paisagem enquanto ofegava e

então virou-se para o outro lado a observar o Cristo Redentor

imponente de braços abertos. Naquele momento passou um

faxineiro assoviando por nós quando vimos um homem de terno

parando nos observando e igualmente assoviando.

Pensamos que fosse ele nosso suposto informante e nos

aproximamos quando ouvimos uma voz do outro lado nos

chamando.

- Deste lado Petrônio e Gerson.

- Como você conhece nossos nomes? – Indagou Petrônio

quando o faxineiro passou por nós assoviando diante da capela nos

pés do Cristo tornando do olhar o Informante ao homem o

acompanhando.

- Regra da conspiração: O que é assovio aqui, é armação

disfarçada. – Disse o homem em tom de paranoia – Eles não têm

ciência de nosso encontro, por isso não temos muito tempo.

- Me perdoe não ser tão cordial com quem se quer se

apresenta. – Respondeu Petrônio enquanto eu observava silencioso o

homem.

O homem era ruivo e tinha uma barba cerrada vermelha, era

levemente calvo e tinha uma postura elegante como se algum dia

tivesse sido modelo. Esbelto e aparentando ter uns 50 anos ele tinha

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um forte sotaque espanhol carregando o português do Brasil. Vestia

uma calça jeans e uma blusa preta e tinha em seu pescoço um

crucifixo de madeira com uns quatro centímetros, visível por seu

blusão com alguns botões desabotoados.

- Se esperam convencer a Ordo Ad Chaos de que estão

errados, esqueça, pois eu desisti. – Disse o homem e continuou

olhando para os lados paranoico. - Nunca são capazes de

compreender nada além da própria vontade. Talvez nem a própria

vontade sejam capazes de compreender. A definição plena de

veneno é o problema crítico de propor algo em que o próprio nunca

experimentará, como a síntese fariseu da hipocrisia. Mas como toda

mentira, a hipocrisia nunca é plena.

- Mas então qual o prémio que você tem por nos fazer subir

até os pés de Cristo. A salvação eterna? – Perguntou Petrônio em

tom irônico o interrompendo.

O homem jogou uma moeda de um real dentro da capela que

estava fechada, aquiesceu e sorriu quando disse em resposta.

- Conhecereis a verdade e ela vos libertará. Não é o que a

ordem o qual pertence diz?

Petrônio não achou graça e cruzou os braços a espera de algo

mais.

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- Certo, o motivo de lhes trazer até aqui é que no momento

em que nos falamos a Ordo Ad Chaos está perto de alcançar o

objetivo, abrir um vórtice. Um experimento malfadado o qual partes

surgiram no deserto de Gobi é apenas um trecho.

- Ouviram falarem, a Quantanic é patrocinada por eles? –

Disse Petrônio tendo um aceno do informante.

- Sutilmente, estão apenas observando os resultados da

pesquisa por cientistas éticos para depois aplica-la imoralmente. Na

verdade o que provocou o incidente no deserto de Gobi fora uma

deliberada influência deles. Um dos cientistas está como refém deles,

sua família fora sequestrada.

- O que é a Quantanic? – Indaguei eu falando pela primeira

vez com ele.

- Quantanic, - respondeu o homem olhando para mim - é um

laboratório de computação quântica que estuda os desdobramentos

da hidrocriptografia procurando estudar a natureza quântica das

probabilidades e das qualidades multidimensionais do tempo. Porém,

o que encontra-se de síncrono na aparente aleatoriedade é o código

do destino cifrado no caos. Que ao ser violado cria uma ruptura.

- Porque tal obstinação com isso? – Perguntou Petrônio.

- O vórtice é o objetivo principal da Ordo Ad Chaos, o que

buscava na El Dorado ao sistema da hidrocriptografia, o caos deles é

um dos modos que buscam para romper as dimensões conhecidas, e

para Steve David Hellson criar um novo futuro pois conhece o destino

pelas profecias.

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Steve David Hellson, era um bilionário que ao passo que

mantinha uma vida de aparente caridade com instituições tinha sua

vida envolta em conspirações discutidas na internet onde se sugeria

ser na realidade extremamente cruel. Altruísmo é a fachada para os

que não querem ser reconhecido por sua maldade.

- Steve David Hellson tem vínculos com a Ordo Ad Chaos? –

Perguntou Petrônio tendo um aceno do homem, novamente. – E

então agora vão criar a bala mágica para nos matar também?

- E também querem vingança por ter os detidos no incidente

em que Gerson esteve envolvido. Ele tem particular ódio contra você

por suas alegações com a linhagem de honestos que deseja

exterminar. – Continuou o homem.

- Os Herdeiros do destino. – Concluiu Petrônio olhando para

mim.

- Linha temporal tem relação com linhagem não meramente

casual. – Completou o homem. - A linhagem original de íntegros e

honestos é perseguida não somente por sê-lo, mas por seus

conhecimentos, conhecimentos perdidos, algo que era previsto em

seus portais num monumento muito antigo nos arredores de Éden,

um megalítico pai de todos outros, o megalítico do tempo.

- Conhecemos os mitos a cerca dele. – Disse eu agora

intrigado.

- O problema é que Gerson cruza duas famílias que suas

origens foram importantes. Uma família que por gerações busca

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revelar um mistério, a Machado. Que no passado tentou extirpar

uma linhagem cruel de homens o qual as lendas falam de tudo.

- A família Hellson. – Concluiu Petrônio.

Parecia um jogo de palavras, mas fazia sentido pois Machado

não por menos era uma ferramenta utilizada para cortar arvores.

- O ponto é que esse livro é apenas parte do enigma assim

como os conhecimentos desenvolvidos por Gerson – disse o

informante. - Há um livro que diz sobre segredos do tempo, há um

outro livro que diz que ele é, noutra dimensão, um livro escrito para

um filme de 2001 que é sobre uma terceira dimensão fora das três

conhecidas. Esses universos eventualmente são cruzados, mas ao

leigo não se distingue um do outro por serem muito semelhantes

tirando esses detalhes.

- Onde podemos encontrar esse livro? O que há nele? –

Perguntou Petrônio agora intrigado igualmente.

- No livro há um endereço para uma toda biblioteca de livros

malditos que faz parecer o Códice Vonych redação do Enem. Isso está

na página 37 dele, e há somente um exemplar desse livro conhecido

hoje.

- Onde está?

- Nas mãos de Deus. – Disse o homem.

- Não tenho tempo para brincadeiras. – Respondeu Petrônio.

- A história de um livro maldito mescla-se com a de seu autor

e as circunstâncias o qual fora escrito. – Disse o informante

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ignorando o que ele dizia - Há verdade na ficção, e ficção na

realidade.

- Não respondeu minha pergunta. – Disse Petrônio, mas o

Informante apenas sorriu

Subiu então uma família de chineses reboando sua língua de

modo entusiasmado ao ver a estatua enorme quanto eu olhei para o

alto e observei, a mão do Cristo Redentor. Então o informante

repentinamente ficou pálido olhando assustado para Petrônio e caiu

sobre ele. Estava com uma macha de sangue de um ferimento em

sua barriga. Petrônio o segurou pelos braços enquanto escorregava

pelo peito dele até a cintura vendo que alguém da multidão havia lhe

dado um tiro silencioso, ou talvez uma bala mágica.

O homem olhou para o Cristo e sorriu e então virou para a

vista do Rio de Janeiro e cambaleando caminhou até o muro e o

subiu.

- O que está fazendo, desce daí, precisamos te socorrer cara!

– Gritou Petrônio ao ver que todos agora olhavam, mas ao invés

disso o homem apenas disse em resposta.

- Bom de se estar encima do muro, é ter a melhor vista dos

dois lados, pois enquanto idiotas escolhem presidentes, os bons

escolhem seu povo. – Completou com um sorriso forçado.

Corri então e segurei a mão dele, mas ele começou a se

inclinar para o lado de fora da mureta de segurança quando ele disse.

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- Deus nunca vai ter 100% dos votos do mundo porque não

frauda eleição para sê-lo. – Completou sorrindo e então deixou-se

cair ao olhar um dos homens na multidão pois sabia que se fosse

capturado sofreria muito mais do que aquilo.

Petrônio e eu seguramos firme sua mão o deixando

dependurado pela mureta conosco debruçado sobre ela enquanto

um chinês vinha em nosso socorro puxando-o igualmente pelo braço.

- Estou na mão de homem – retrucou o moribundo

dependurado. – Me soltem, se me pegarem será pior! – Completou

enquanto o blusão de manga cumprida começava a ceder e rasgar e

agora completamente pálido escorreu e caiu uns quinze metros até

um estacionamento.

Corremos descendo as escadarias enquanto dois homens iam

de encontro ao homem que para nossa surpresa ainda estava vivo e

balbuciando sangue pelos lábios quanto eu o escorei colocando-o no

meu colo ensanguentado, mas com muita dificuldade apenas disse.

- O véu entre as realidades será rasgados. Busque o homem

do futuro.

Seus olhos mergulharam então no vazio enquanto suas

pupilas se dilatavam e o sangue se espalhava pelo chão ao lado de

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39

sua perna quebrada. Olhei para o alto e vi que a mão do Cristo, para

onde ele olhava estava exatamente sobre nós e ao vir médicos o

larguei levantando-me sem ação.

- O que foi isso? – Indagou Petrônio estarrecido.

- Não sei, mas sei o que ele quis dizer com estar nas mãos de

Deus. – Respondi eu olhando para o Cristo. – Acho que o livro está na

mão do Cristo redentor.

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40

II

O Enigma 111 e a Página 37 "Na sociedade de classes o conhecimento, que era comum a todos, foi

se transformando em segredo a ser transmitido só para aqueles que

pertenciam ao grupo dominante. Evidentemente, nem todos os

conhecimentos se tornaram secretos, mas somente aqueles que

serviamde maneira especial às expectativas e necessidades do

segmento dominante. (...) Ou seja, a descoberta de que a transmissão

e a assimilação dos conhecimentos era uma coisa importante para a

sociedade decorreu da própria experiência histórica da humanidade;

porém, foi os seguimento dominante quem se apropriou dessa

prática, exatamente por ela ser muito significativa para a

sobrevivência e o avanço."

A Filosofia da Educação - Cipriano Carlos Luckesi

o contrário do que comumente se pensava o Cristo redentor

não fora um presente da França ao Brasil. A ideia de construir

um monumento cristão surgiu muito antes como sugestão a

princesa Isabel pelo padre lazarista Pedro Maria Boss em 1859.

Porém, somente com a comemoração do centenário da

independência que sendo o Brasil um pais cristão a ideia decolou em

1921. Um concurso então fora feito depois que a pedra fundamental

fora colocada em 4 de abril de 1922 sendo executado em parte por

Paul Landowski sob o projeto de Heitor da Silva Costa e edificado por

doações de fiéis as arquidioceses e paroquias de todo Brasil. Feito em

concreto e coberto por pedra sabão somente as mãos e modelos

A

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41

menores vieram da França, feitos por Paul Landowski, levando a sua

inauguração em 12 de outubro de 1931.

Imaginar Petrônio então que um livro ou informações dele

estivesse de alguma forma guardado na mão do Cristo lhe provocava

calafrios pois ele tinha medo de altura, todavia Petrônio não negou

que como aparentava ser cristão aquele informante morto embebido

no próprio sangue deduzir que tal obra rara estaria nas mãos do filho

de Deus, ou melhor, Jesus Cristo como Deus, não seria de espantar.

Obviamente que poucos minutos depois o local estava repleto de

policiais e com a pequena multidão de curiosos que se formava ficava

difícil qualquer passo adiante quando interrogados pelas autoridades.

Eu e Petrônio apenas dissemos que o homem batia um papo sobre

curiosidades do Cristo Redentor. O que não era mentira, de certo

modo.

Porém, a primeira oportunidade que tivemos escapulimos

pela tangente e fomos até a entrada da capela que estava repleta de

ofertas em dinheiro, de notas e moedas de todo valor. Sem duvida

era adequado uma capela aos pés da imagem do Cristo de modo que

todos visitantes assim lhe prestavam tributo.

- Como vamos entrar neste lugar e verificar o livro? –

Indaguei eu.

- Conheço o responsável pelas missas nesta capela, uma

delas deverá começar tão logo, só que eu não vou subir lá. –

Retrucou Petrônio.

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42

Naquele momento percebi que a tarefa, caso conseguisse

liberação ficaria a meu encargo que lá também não era muito amigo

das alturas. Olhei para o alto, a mão direita do Cristo, nada parecia

haver dentro dela, mas tão logo chegou o padre e abriu a capela que

parecia surpreso e feliz de encontrar Petrônio, antigo amigo de

seminário a mais de uma década atrás. O homem de Deus então de

bom grado pegou um esquema que havia do Cristo guardado dentro

da capela e notamos que não havia acesso pelo interior do braço até

a mão do Cristo, mas o homem da capela disse que havia pedras

sabão sobressalentes na mão que poder-se-ia abrir como uma tampa.

Assim que o homem parou de comentar, após afirmar que

não era padrão permitir a entrada de quaisquer pessoas dentro da

estrutura do Cristo, Petrônio afastou-se até mim.

- A estátua fora praticamente toda construída no Brasil,

menos justamente as mãos. – Disse Petrônio.

- Intrigante. – Respondi.

- Talvez seu escultor, Paul Landowski, de fato tenha guardado

algum enigma incrustrado nela.

Aquilo realmente me intrigou, e movido por uma curiosidade

ímpar, a mesma que move cientistas e desbravadores superei meu

medo ao ver a oportunidade de ela subir. E assim fiz mais pensando

no seu enigma do que no medo que me entravava.

Petrônio subiu os primeiros metros comigo, por dentro da

barriga do Cristo, e ao peito encontrando seu coração onde estava os

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nomes dos que investiram em sua construção, e assim contemplamos

o interior de sua cabeça quando chegamos a uma portinhola no

começo de seu braço quase no seu ouvido. Haviam prendas e cordas

de segurança para eventuais manutenções e somente quando abri a

porta para cima, depois de preso, e me dei conta do medo que

espreitava entre a curiosidade e a vista esplêndida daquele lugar. Um

vento intenso entrou movendo os cabelos de Petrônio que naquele

momento notei seus lábios ficarem pálidos, mas disfarçando-se com

um sorriso amarelo no rosto. Sai engatinhando pela portinhola e

então observei como era imponente a visão daquela enorme estátua

em tributo ao cristianismo. Fiquei com medo de levantar-me e segui

engatinhando até o pulso dele quando somente então me perguntei

que loucura realizava naquele lugar. A mão havia sido reparada

recentemente de um estrago provocado por raios, mas a vista nada

parecia haver.

Quando parei sobre a mão direita olhei para trás e vi a

silhueta da cabeça de Petrônio, tremule, me observando, e percebi

que ele sentia medo por mim. Tratei de agarrar-me numa das

presilhas que havia e palpei a palma da mão do Cristo procurando

algo volumoso sem qualquer sucesso. Frustrado com aquilo e tenso

pela situação, olhei ao redor, vi Niterói, a Baia do Guanabara, a Lagoa

Rodrigo de Freitas como para me enganar com a beleza da visão e

palpei novamente a palma da mão. Cristo parecia não querem me

cumprimentar, quando então senti algo volumoso perto de seus

dedos, como uma alavanca. A puxei e senti algo grande o bastante se

desprender quando naquele momento balancei no alto de sua mão.

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Respirei e me equilibrei pensado comigo mesmo que estava

tudo tranquilo, pois mesmo se conseguisse a façanha de cair estava

tão amarrado que ficaria dependurado como certa vez ficou um

jovem de parapente, preso nas mãos do Cristo. Puxei a alavanca e

notei que a pedra se movia com certo atrito e abriu como uma porta.

Meu rosto se iluminou com um sorriso exitoso e observei a porta de

pedra com cerca de 30 centímetros. Me debrucei para ver o que nela

havia e nada encontrei, mas ao palpar o interior senti um bolo de

acetado preso em brochura e então entre o medo e curiosidade que

me impregnava retirei o livro de dentro da mão. Ao puxar de volta

para mim a primeira coisa que notei fora o título ‘Enigma 111’ de Jim

Cooper Chandler, um legitimo Senhor do Tempo. Não me contive e

mesmo diante daquela visão ímpar do rio de Janeiro arrisquei-me

esquecer o medo e abrir suas páginas notando que o livro estava

escrito em francês. Um genuíno livro maldito em minhas mãos,

daqueles o qual nunca tivera a oportunidade de ser publicado a seu

público alvo.

Movi, no entanto, suas páginas, e mesmo eu sendo parte de

seu público não compreendi as palavras pois não tinha bom francês.

Porém, parei na página 37 e observei que nela havia um endereço

com coordenadas de algo em Paris quando então voltei a reparar o

fato que estava lendo um livro na mão do Cristo Redentor.

Petrônio ao ver-me com o livro nas mãos colocava agora sua

cabeça para for observando-me quando esboçou um grito para que

retornasse, grito que com custo chegou até a mim devido ao vento

que soprava firme naquela altura. Recuei engatinhando tal como

retornei, de fato sentia-me uma criança com aquele presente.

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Adentrei a portinhola e entreguei o livro nas mãos de Petrônio e

fechamos a portinhola que dava aquele acesso privilegiado a uma das

sete maravilhados do mundo moderno.

Quando descemos o padre parecia intrigado com o que havia

que tanto interessava arriscar-se na mão do Cristo pois alegar que

queria apenas mostrar uma vista particular de Cristo para mim não

era o bastante. De fato, o interesse ímpar era muito mais que uma

vista igualmente ímpar, mas um conhecimento singular de um mito

que percorria apenas por boatos entre o exagero e o improvável.

Petrônio chegou a desfolhar o livro, mas ao perceber que o

padre subia o guardou dentro de sua calça e tratamos de descer.

Talvez teríamos um mistério que realmente importasse.

Agradecemos ao padre, rimos um pouco juntos apenas para estreitar

os laços de amizade e nós retiramos demonstrando o pesar da

misteriosa morte do turista que conhecíamos perfeitamente o

porquê.

Ao entrar no carro, nos trancamos lá dentro, mas ao invés de

dar partida mergulhamos no livro, pois para nossa felicidade Petrônio

era fluente em francês, ainda no seminário onde conhecera aquele

simpático padre. Petrônio, porém, ao invés de ler tudo abriu seu

laptop e pesquisou na internet o endereço no google maps

observando ser uma das entradas as catacumbas de Paris, um

enorme complexo subterrâneo envolvo em centenas de histórias

desde tempos antigos. Pesquisou então o nome do autor e percebeu

que de fato era datado da década de 20 do século XX, o período da

construção do Cristo.

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Jim Cooper Chandler, um norte-americano morador da

França. Morou e estudou lá com seus pais, católico devoto parecia

nutrir porém a estranha ideia de que o universo que vivia não era o

verdadeiro. Tão logo o jovem fora considerado louco mas faz

revelações incríveis de um multiverso antes mesmo da teoria em si

ser proposta, quer em ficção ou na ciência. Escritor malfadado

profissionalmente, era pobre. Um homem que todos os dias esperava

de terno alguém vir, segundo ele, de outra dimensão. A verdade, era

que aquele escritor teve sua vida arruinada em sua carreira

acadêmica, literária e social quando deveria ter ficado rico com suas

criações e descobertas, mas não só, o mestre do caos, da época,

conforme identificado por Petrônio, queria mais destruição em sua

vida, pura e simplesmente porque fora mais apto e realizar tais coisas

que o próprio. O homem, era conhecido da Ordo Ad Ventus e por isso

o endereço estava guardado na página 37, assim como ao logo do

livro haviam menções aos capítulos 37 de Gêneses, êxodo, Jô, e

Salmos. Sua obsessão com esse número parecia procurar padrões em

toda parte com esse, mas não era muito exitoso nisso ao contrário do

demais. Porém, o ponto, é que o então jovem tivera acesso nas

catacumbas onde teria encontrado o que ele chamava por Libris Sitis,

algo que iluministas procurava secretamente durante a revolução

espanhola.

Ao contrário de sociedades secretas nefastas como a Ordo

Ad Chaos a Ordo Ad Ventus tinha por objetivos realizar revelações

sobre a natureza do tempo e do universo respondendo perguntas

existencialistas básicas da humanidade. Na verdade, promovia o

diálogo e investimentos em pesquisas nas áreas que levassem ao

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progresso da humanidade a um futuro, que diziam proteger, o qual

não haveria doenças, miséria ou injustiças. Mas ao relacionarem

empresas patrocinando laboratórios como a Quantanic perceberam

haver algo suspeito, pois por de trás de cada boa ação relacionada a

eles haviam duas más ações malévolas. E com aquele livro nas mãos

que indicava algo, talvez por fim, Petrônio teria encontrado provas de

seu Santo Graal, algo que simplesmente respondessem perguntas

muitos antigas da humanidade e que as provas poderiam

revolucionar a visão não somente religiosa, mas cientifica e filosófica

do mundo.

Assim Petrônio relatou a Zaira seus avanços, mas não

querendo entrar em detalhes por temer estar sendo monitorado

pelos diabólicos opositores disse que precisaria viajar a França e com

um sorriso ele me convidou a uma aventura pouco convencional por

Paris, afinal, o não convencional era o percurso comum de pessoas

da Ordo Ad Ventus.

Contatamos Jones que igualmente se interessou muito, e

Petrônio o chamou igualmente por um passeio na Europa, em suas

raízes medievais. Ao irmos pega-lo o senhor estava com um suéter

marrom e armado com um cordial sorriso no rosto que desarmaria o

mais carrancudo dos homens. Simpático e culto como era não era

difícil cativar atenções e assim seguimos ao aeroporto do Galeão, já

com passagens em mão. E adentramos carregando nossas bagagens

improvisadas contagiados pelo entusiasmo de descobertas

relevantes.

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- Passamos toda vida procurando o receptor, mas nunca o

encontramos. – Disse Jones – Acredito que esse autor talvez fosse um

manipulado vivo. – Completou ele sentando-se na sessão de

embarque com o livro, envelhecido nas mãos.

Debrucei-me nos ombros de Jones e observei a leitura de

Petrônio igualmente debruçado, mas especificamente na página 37

onde dizia em francês:

J'ai vu les reflets dans l'eau, eu des contacts avec la

quatrième dimension. Le chaos dans le temps, l'espace

intrusion se produit dans la quatrième dimension, lorsqu'il

est mélangé comme le tourbillon de l'eau. Mais pourquoi

les eaux Libris Sitis sont entourés par l'ensemble de Paris.

Piège chaos. Réside dans les entrailles de la ville de secrets

ineffables lumière sur la nature de notre univers et vous

êtes seulement leurs témoins morts.

Olhando aquelas palavras que não fui capaz de interpretar,

de modo que soubesse seus significados Petrônio então leu em bom

e claro português.

- Vi reflexos na água, tive contatos com a quarta dimensão. O

caos, no tempo, ocorre por intrusão do espaço na quarta dimensão,

quando se mesclam como o turbilhão das águas. Mas por isso os

Libris Sitis estão cercados por todas águas de Paris. Armadilha do

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caos. Repousa nas entranhas da cidade das luzes segredos inefáveis

sobre a natureza de nosso universo e somente seus mortos lhe são

testemunhas.

O Complexo de catacumbas era mítico, inspiração a poetas e

escritores, e fonte de todo suspense. Esse complexo utilizava túneis e

cavernas para depositar corpos de cemitérios saturados na metade

do século XVIII, sendo esse esforço iniciado em 9 de novembro de

1785, pela idealização do General Alexandre Lenoir e executado pelo

"Service des carrières" que se tornou o gerenciador original dos

subterrâneos de Paris. E então os ossos foram organizados durante o

império francês de modo criativo criando imagens geométricas, onde

hoje há cerca de 6 milhões de mortos.

Quando um imóvel desabou sobre parte do complexo de

túneis subterrâneos de Paris, em tempos mais recentes, final do

século XX, alguns mitos surgiram sendo suplantados por uma

aparente desinformação do Service des Carrières, perceberam não

haver apenas corpos, mas livros. Então o IGC (Inspection General des

Carrières) é chamado e percebem se tratar de uma antiga biblioteca

de livros malditos lá sepultados durante a revolução francesa. A IGC,

"Inspetoria Geral dos Subterrâneos", fundada em 1777 bloqueia a

passagem tornando um homem como seu guardião, e ao se

pesquisar Petrônio percebe que um deles era o desiludido Jim

Cooper Chandler. Que teria protegido mesmo de alemães do III Reich

durante a invasão na II Grande Guerra Mundial.

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O que se soube é que os alemães procuravam suas entradas

durante a II Grande Guerra mas não se faz ideia do conteúdo dos

livros. Mas o que chama atenção é que depois de desaparecido,

perdido por dia no complexo em 2007, um 'Kataphiles' - nome dos

exploradores de catacumbas em Paris - fora encontrado em estado

de choque afirmado ter descoberto uma biblioteca e passou alegar,

delirante, que aquele mundo era falso.

"O labirinto de ossos" de Rick Riordan traz relatos sobre

viagens destes homens, mas o que se tem ciência efetivamente é que

o local serve a cultos satânicos, drogados, turistas a artistas ainda

que a maior parte esteja bloqueada ao acesso. Uma misteriosa

armadura nazista que mesclava aspectos templários fora encontrada

tendo uma tecnologia não conhecida, e seu paradeiro é um

incógnito.

Com aquela leitura onde Jim Cooper Chandler relatava parte

de sua vida até encontrar tal peculiar coleção de livros é que ele

protegia eles do que chamava de adversários dos livros, homens de

negro que perambulava buscado tomar o conhecimento detendo a

verdade em injustiça. Naquele momento Petrônio fez um adendo a

nós enquanto embarcava.

- Os homens de negro estariam presentes em tempos

imemoriáveis como na biblioteca de Alexandria onde se dizia que

tinham por intensão roubar livros com conhecimentos raros e se

tornar os únicos detentores do conhecimento, apagando mesmo o

nome de seus autores.

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- Todas bibliotecas têm suas traças. – Disse Jones em tom

irônico e prosseguiu. – Esses homens, num dos mitos, preza que a

lenda segundo alguns, que seria seres de outra dimensão, como

demônios, que ficaram presos neste mundo e desejam encontrar um

meio de adquirir poder sobre tal ciência. Uma raça corrupta de

degenerados criadores de males, o qual a origem na verdade é de

outra dimensão, e que buscam um meio não só de retornar, mas

abrir as portas para uma invasão enquanto para nós será selada e

proibida toda justiça.

- Nefelins?

- Um de seus nomes. – Concordou Jones – poder-se-ia

colocar os demônios como uma metáfora a seres de outra dimensão,

ultraterrestres.

Os adversários dos livros, isto é, os homens de negro, tinham

profundo ódio contra verdade e os livros que dela testificassem,

assim como seus autores, eram os que embebiam na maldição livros

revolucionários, e a tudo que odiava chamavam de cães como signo

do que deveria ser morto e anulado como se estivesse cumprindo

algo bíblico quando eram mentirosos, homicidas e feiticeiros

igualmente vetados no paraíso. Sobretudo eram correspondentes aos

Mestres do Caos, do qual um destes enfrentei para minha

infelicidade numa amarga tragédia. Era um psicopata grotesco que

quando escolhe sua vítima a persegue arbitrariamente para acabar

com ela, ainda que por motivos esdrúxulos. Ele vive em função de

suga-lo, aniquila-lo como todo parasita, mas porque na realidade

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tinha algo que ele não é capaz de ter ou produzir. Sobretudo parecia

nutrir um peculiar poder de tirar o equilíbrio. O poder de tirar o

estado natural do universo a um caos sem equilíbrio, os índios norte-

americanos o chamariam de Wendigo, aquele que tira o equilíbrio,

assim como nós do sério nos fazendo tropeçar. Por isso mestres do

caos, pois tirar o equilíbrio natural é uma tentativa de tomar o poder

no universo pelo caos.

Estes interrompiam vidas incompletas em suas realizações a

exemplo de Jim Cooper, pareciam, na verdade nutrir ódio contra

tudo que tivesse dons, consciência e fosse justo e honesto e sempre

que conseguiam lhes desferia todo tipo de crime na surdina de modo

impune para depois tentar atingir-lhe a reputação, os criminalizando

entre outras mentiras inverossímeis, o faziam. Extorquiam e como

reféns eram obrigados a afirmar que estava tudo bem, na realidade o

único modo de cair nas suas graças era ser psicopatas nefastos como

eles onde o curriculum de impunidade incluísse de torturas a

estupros. Só o refugo tinha valor para eles. Faltavam adjetivos

negativos para designa-los.

- Compreendemos porque usam a violência como expressão

e o medo como mando. – Disse Petrônio com visível erudição. - O

caos só responde ao medo.

- A maioria das religiões creem num tipo de anticristo que

virá promovendo violência e matanças, e este será um mestre do

caos a fazer a tempestade perfeita, enquanto tais crenças se unem

por uma moralidade comum, estes unem apenas todos corruptos,

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impunes, e degenerados de todos tipos. – Ecoei eu sobre as palavras

de Petrônio.

- Para que afundar embarcações para vender sua salvação

quando seus botes são furados e de nada servem? – Indagou Jones -

Os mesmos que matam para vender lenços em cemitérios, mas

nossas lágrimas valem mais! Nunca derrube algo caso não seja capaz

de edificar algo melhor.

Ainda que a última vez que construíram algo grandioso com

aflição, mortes e escravidão fora na realidade um grande túmulo, as

pirâmides do Egito, poderiam imaginar o que poderia ser edificado

por homens do tipo. Porém, voltados a desvendar mais um enigma,

este o livro ‘Enigma 111’ começamos a ler as orientações que

levavam inicialmente a entrada principal das catacumbas de Paris.

- Avenue du Colonel Henri Rol-Tanguy, 75014 Paris, França –

disse Petrônio sobre a página 37 e prosseguiu – As orientações diz

que temos que seguir o caminho do fêmur. Creio que seja porque

esse trecho das catacumbas esteja ornamentado com ossadas

humanas.

- Faz parecer o estilo gótico tema infantil com suas gárgulas.

– Retruquei e Jones riu.

- Temos que seguir até onde os habitantes do seol cessam e

então... – disse Petrônio quando ao virar a página viu que as palavras

formavam um desenho. – Isso é um mapa. Tem como pesquisar o

mapa conhecido das catacumbas? – Jones ficou sem reação, mas eu

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imediatamente cruzei os dados na internet do avião quando

encontrei.

Petrônio que era bom em decifrar enigmas e quebra-cabeças

observou silencioso os contornos do mapa no monitor e então pediu

para ampliar e colocou a página sobre o mapa notando que

determinadas palavras se alinhavam revelando, como num jogo de

cruzadas, palavras verticais naquele texto aparentemente sem nexo,

e inclusive de letras da página anterior, a página 37. O rosto de

Petrônio se iluminou num sorriso triunfante mas havia algo mais.

- Intrigante, o livro trata da quarta dimensão, mas o mapa dá

coordenadas nas dimensões espaciais. – Disse ele – Contraditório?

- Não. – Disse eu. – Parece que os tuneis seguiam orientações

de direções como a estrela dos ventos, porém, ela marca horários

como um relógio. – Concluiu fazendo com que Jones se debruçasse

sobre nós impressionando.

- Esse garoto é um bom investimento. – Disse ele notando ser

verídico tal afirmação, pois ao norte marcava 12 entre as palavras,

referindo-se, num trecho os doze anciões.

Petrônio parecia se divertir com tudo aquilo ainda que

soubéssemos que por haver degenerados tão servis poderiam nos

pegar e torturar seguidamente por morte assim como roubar os

conhecimentos do livro – e da biblioteca – e queimar o livro

buscando apagar a vida do autor inclusive. Porém, confesso que

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naquele momento procurava mais pensar no que o livro contava de

história e já que o voo seria longo, Petrônio resolveu narrar para nós

não somente o resumo da vida de Jim Cooper, mas seus relatos que

pareciam mesclar ficção com realidade naquele livro. E assim

começou a contar um relato sobre a misteriosa história de seu

personagem

Havia em tempos imemoráveis um judeu o qual a família

refugiou-se na Espanha. Não era homem de ostentações, todavia,

homem que tinha como troféu conhecimentos que alteariam a

compreensão do universo. Nobre erudito vivia apenas de suas

próprias obras honestas e discursava entre os seus sobre feitos de

homens nobres e heroicos de tempos remotos. Como sefardin

apenas tinha uma vida discreta e ao contrário de alguns judeus não

cobiçava riquezas materiais, mas as inefáveis riquezas do

conhecimento da verdade e sobre um longo percurso que tomaram

sobrevivendo de perseguições por gerações, assim como em anos

vindouros seriam até mesmo culpados, sem ser, pela peste negra

quando seus relatos indicavam peste similar como a de homens de

negro que surrupiavam conhecimentos alheios e tentava aniquilar

seus autores, protetores, descobridores.

Fora assim que justamente um desses misteriosos homens

teria cruzado sua vida buscando não somente inquerir seu legado

como toma-lo sorrateiro como a espreita com sorrisos tenebrosos à

sombra mesclando a ausência de alguns dentes igualmente aos

sinuosos trechos de trevas ritmados por assovios maldosos. Poderia

ficar rico com seu conhecimento, mas temia seu uso por mãos que

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tornariam ideias perigosas demais para serem seguidas. O homem

teria sido um dos fundadores da Ordem do Dragão o qual seu

descendente, Conde Dracul teria se tornando membro celebre por

sua peculiar crueldade que inspirou o mito dos vampiros e do próprio

rei dos vampiros, Conde Drácula. Aquilo era um fato tenebroso o qual

o então jovem Syon Jaffe tinha de viver pois agora se tornou visado

ante aquele tenebroso homem o qual não por menos sua tradição se

unia, tal como dizia o Jesus hebreu a herança de Caim.

Não demorou para que Syon Jaffe tornasse observável não

somente traços comuns de atitudes ao primeiro dos homicidas, mas

que o homem era contumaz em afirmar que seus descentes tinham

sangue azul. Syon Jaffe compreendia que aquele sangue o qual seus

escritos mencionavam referia-se a homens filhos de seres doutra

dimensão que vieram a este mundo para degenerar a raça humana

ainda que alguns pudessem se salvar do legado por sua metade

humana. Syon Jaffe identificava a ‘Linha do sangue azul’ como uma

espécie poderosa que procurou se mesclar com os primeiros nobres

e deu origem a uma linhagem de faraós cruéis assim como o próprio

Set. Os boatos sobre suas lendas pareciam se confirmar todos os dias

e não por menos o termo ‘sangue azul’ se tornou ditado proeminente

para designações de nobres daquela época.

- Seria uma derivação do Sang Real da suposta linhagem de

Cristo? – Indaguei eu intrigado, mas Petrônio respondeu.

- Não, está me parecia ser apenas o disfarce perfeito.

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Assim Petrônio prosseguiu a narrativa daquele livro maldito

por homens malditos que se tornava verossímil o porquê deles o

perseguirem.

Syon Jaffe então resolveu investigar detalhadamente os

‘porques’ daquela história pois compreendia que havia uma

miscigenação evidente não somente entre egípcios, mas povos de

toda Europa e parecia perdurar insistentemente por gerações se

esgueirando pelas sombras para tomar o poder dos homens de

supetão. E assim para sua surpresa ao pesquisar arvores genealógicas

haviam destes entre etíopes a judeus e seu sangue tornou-se

vermelho por mesclar-se cada vez mais aos homens e suas filhas de

modo que assim surgiram as primeiras doenças. Doenças pelo fato de

que estes possuíam vírus, bactérias e outros microrganismos que os

homens não possuíam e que se testificava que o livro dos herdeiros

de Seth em tempos remotos, no começo do tempo dos homens, não

haviam doenças ou pestes. De modo que Syon Jaffe seguiu as pistas

que o levassem a conhecimentos então proibidos de Libris Sitis, uma

coletânea de livros o qual referia-se que o primeiro vírus fora

passado por ‘filhos dos anjos’ assim como as primeiras doenças

sexualmente transmissíveis como suposta reprovação de Deus por

cruzamentos proibitivos entre anjos e homens.

Os anjos tinham sangue azul, e de fato eram nobres, os

primeiros como mensageiros reais, todavia com sua decadência ao

mesclar-se a imperfeição de homens pelo pecado os anjos

igualmente recaíram tornando-se impuros e ainda que os primeiros

anjos não se tornassem mortais como os homens, mas aquilo tornou

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ainda mais breve a vida dos homens sobre a face da Terra conforme

relatava o livro II Nefelins.

Haviam heróis entre eles, todavia, nefelins que não pediram

para nascer e carregando o enfado dos país se tornaram bastardos

humanos de sangue azul que lutavam para tentar impedir a

degeneração da raça humana enquanto um destes seguindo os

desígnios de seu pai agora condenado por Deus, tomar o poder dos

homens querendo lhes governar dando origem ao nome dos

primeiros reis sobre a face da Terra ainda que os reis de Israel assim

fossem eleitos por unção, não originalmente sangue.

Deles vieram todas as tradições do sangue ao solo, pois os

primeiros filhos dos anjos passaram aludir sua origem ao lugar onde

seus pais caíram como o ponto de cruzamento original. Mas que

ainda sendo minoria os que dentre eles resistiam, rapidamente os

nefelins se degeneraram dando origem a uma linha servil e senil

moralmente o qual a consciência humana não era presente e estes

então vendo que seu irmão mais velho tentou impedir que tomasse o

conhecimento de seus pais, levou os manuscritos dos nefelins a uma

terra distante e a nomeou por Olimpo, terra o qual homens os

associaram a lendas de sua debilitada compreensão de sua origem

enquanto essa linha cruel queria o conhecimento original que

permitisse a eles abrir as portas a dimensão de seus patriarcas, os

anjos caídos.

Aquele conhecimento tenebroso era apenas ecoado por

lendas aos ouvidos de Syon Jaffe onde primava por um mundo não

visível nas dimensões espaciais de nosso mundo, um mundo além das

estrelas, pois era uma dimensão fora de nossa dimensão e espaço,

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mas o qual as portas, prezava a lenda, poderia levar a qualquer canto

igualmente nosso universo e mundo. Assim Syon Jaffe seguiu agora

obstinado a procura desse conhecimento temendo que o cruel

perseguidor antes o tomasse e fizesse mal-uso liberando a existência

de potestades malignas que deram origem a sua linhagem a emergir

o inferno sobre a terra dos homens. Mas as referências de tais livros

o qual tinham estes segredos eram protegidos por uma linha de

homens que meditava ao vento e que por atitudes eram detentores

da herança de Seth, os puros.

Fora assim num improvável dia o qual Syon Jaffe ficou ciente

de que este nefasto Abdul Alhazared que derramava sangue inocente

e buscava nele poder da imortalidade fora abordado por um homem

misterioso, mas de sorriso cordial e amigável afirmando ter o vento

lhe soprado palavras de que ele queria proteger tais conhecimentos

que estariam em risco. O que Abdul Alhazared passou a referir-se

como Enigma 111.

O homem sem apresentar-se em seu nome e graça de sua

linha disse apenas terem pouco tempo até mover os livros para um

local seguro próximo a minas abandonada de homens nas mediações

de onde um dia seria Paris. O homem então pediu-lhe uma corda e

um machado, e com o machado foram derrubadas árvores para

construir uma porta que selasse a entrada a uma Libris Sitis o qual

era detentor e em troca Syon poderia morrer lendo seus livros como

seu guardião original.

Corruptos e cruelmente nefastos como era Abdul Alhazared,

enviou olheiros para observa eles e segui-los como salteadores e

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outros tipos de degenerados pela miséria em troca de dobrões de

ouro, e assim fizeram eles.

Syon Jaffe viajou então a terras distantes onde o mar fazia

pedras flutuarem e árido possuíam cavernas que mergulhavam num

deserto, pois nada tinha vida naquele lugar assim como aquele

conhecimento morto. O homem, virtuoso e enigmático lhe orientou

por estas cavernas e o levou até a coleção de livros, manuscritos que

relatavam histórias do começo dos tempos dos homens assim como

se debruçava ao futuro por um monumento que seu patriarca, Seth

teria reerguido baseado nos conhecimentos de Deus a ele passado.

Aqueles conhecimentos ensinavam não somente como abrir as

portas para outra dimensão como mostravam as lendas de onde

estaria num futuro, e trazia relatos sobre um passado nobre em que

havia justiça e sem doenças onde a verdade era proclamada e o bom

senso era líder, e todos viviam apenas dos próprios frutos e obras

pois não havia miséria. Syon vislumbrou-se e seus olhos brilharam ao

contemplar aquele formoso conhecimento de vidas de homens

íntegros, mas viajou de volta as terras da Europa e dirigiram-se até as

minas abandonadas.

Somente lá perceberam-se seguidos por funestos os quais os

dentes lhe faltavam quando por um destes fora atacado selvagem e

impiedosamente para que sua cabeça fosse tirada de seu corpo assim

como os conhecimentos de seus autores, pois eram os nefastos

responsáveis pela degeneração humana. Porém, Syon Jaffe sendo

hábil nas armas manuseou o machado libertando seu misterioso e

anônimo amigo e matando um dos salteadores quando uma

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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tempestade veio e com ele trouxe Abdul Alhazared entre raios e

clarões de trovoadas.

Os dois lutaram e o misterioso amigo fora ferido, mas após a

extenuante batalha Syon matou o cruel a base de machadadas.

Vendo isto, com as madeiras cortadas, o anônimo amigo disse para

sepultar aquele que seria patriarca de uma cruel linhagem, junto aos

livros, como lembrança de que os maus não poderiam dominar

aquele conhecimento, porque estando ele ciente do futuro, disse que

quando isso acontecesse seria o fim, revelou.

Syon Jaffe obedeceu vendo que era homem integro e justo,

mas ferido fatalmente pela batalha pereceu e igualmente por ele fora

sepultado, por ter seu sangue justo sido derramado antes do tempo,

e assim como epitáfio o anônimo herdeiro de Seth apenas pegou o

machado e lhe revelou que nos livros dele testificava pois batizaria,

num futuro próximo, sua linha posterior.

O choro de Syon fora intenso aquela noite, pois ele perdera

um nobre e misterioso mentor. Porém, Syon, temoroso selou a

passagem da Libris Sitis por dentro e após levar todos mantimentos e

dizer adeus a sua família com breves relatos sobre o incidente e lá se

cerrou até que os mantimentos igualmente cessarem, assim como os

conhecimentos e lá ser igualmente sepultado pois tudo que queria

era conhecer a verdade sobre os seus.

- Que história! – Disse Petrônio impressionado enquanto

Jones parecia introspectivo ouvindo aquilo.

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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– A origem de muitos mitos podem nela ser explicados. –

Disse Jones olhando pela janela do avião sobre as nuvens. – Sem

dúvidas um pioneiro.

- Mas o que relata mais o livro? – Perguntei eu intrigado e

insaciável com aquele conhecimento.

- Sim, sim, há muito mais. – Respondeu Petrônio virando as

páginas seguintes – Mais a frente narra como Jim Cooper encontrou

os livros que foram as fontes para este. São 222 páginas.

- Duas vezes 111. – Repercutiu Jones tendo nosso silêncio

como resposta.

- Lendo-o vemos que os mitos são apenas ecos distorcidos

pelo homem. Tudo há de ter uma origem, por isso temos de defender

o conhecimento das mãos dos nefastos adversários dos livros sejam

quem for.

- Podemos esconde-lo a vista de todos, publica-los! – Disse

eu com um sorriso irônico.

- Ao menos compreendemos a inspiração de Roberta

Sparrow. De fato, podemos vislumbrar que temos de fazer justiça a

estes nomes. – Repercutiu Jones.

O avião sobre aquelas nuvens finalmente começava a sair do

curso de cruzeiro descendo abaixo delas, pois já se encontrava sobre

território francês e assim vimos que as horas transcorreram com

aquela leitura sem que nos déssemos conta. Perplexo com aquilo

notei que se dúvidas era uma explicação plausível sobre a verdadeira

origem de meu sobrenome.

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A belíssima história de hombridade impar sem dúvida era

uma motivação extra a homens como Petrônio prosseguir em sua

busca sobre a verdade do qual aqueles homens nefastos queriam

destruir porque não era conforme sua vontade. Enquanto a linhagem

dos bons era repleta de bondade, a desses quando rastreado poder-

se-ia observar o qual eram de coisas obscenas e crueldades servis.

Ainda que as partes desses homens da Ordo Ad Chaos não fosse

sempre identificado quando o era isso era perfeitamente possível de

se rastrear ainda que para toda regra houvesse exceção.

Petrônio fechou as páginas do livro e olhou pela janela as

edificações da cidade da luz, pensou consigo mesmo sobre o

encontro de Jim Cooper com os livros e se os corpos dos que

moveram os livros até lá, estaria de fato lá sepultados, deu um

sorriso de fé, cordial como era, nobre como vivia.

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64

III

A Biblioteca Maldita e os Time Lords "O conhecimento serve para encantar as pessoas. Não para humilhá-

las."

Mário Sérgio Cortella

inda na sessão de desembarque Petrônio parecia mais se

importar com o conteúdo do livro em mãos do que com sua

bagagem. Ao verificarem o passaporte enquanto os olhos da

imigração, alfândega e a tanto mais grudavam os olhos no seu

passaporte enquanto Petrônio em seu livro, pois enquanto uma era

identidade de cidadãos do mundo o livro era identidade de um time

lord, Senhor do Tempo. Entretido teve certeza do que lia como fonte

incomum de tantos livros malditos tanto quanto de precursores da

ciência moderna como da hidrocriptografia que identificava o caos

como relacionado em algum grau com o tempo. Leu a lista de

enigmas relacionados ao Tempo e o qual o enigma número 111 era o

tratado pelo livro.

Mais adiante, intercalando, sua concentração com as

perguntas do guarda de fronteira Petrônio viu um trecho que

identificava perfeitamente os preceitos da Hidrocriptografia que

dizia:

O Metal vibra ao ritmo do tempo onde está embebido e a

água, assim como o próprio tempo ressoa como em suas

A

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resultantes de variáveis, alterar o tempo assim altera-se as

resultantes do caos de modo que é perceptivo no fluir de sua

função de onda, onde há tais alterações de modo patronizado

o caos se declina, mas quando o caos se torna extremado não

é resultante desses portais, mas segue o caminho inverso,

pode provoca-los. Esse método é atestado e infalível, mas

enquanto o primeiro é provocado por consequência de

alterações temporais, o segundo procura atingir o tempo

alterando o caos.

Quando foram liberados horas mais tarde, Petrônio já havia

devorado quase todo livro. E parecia pouco se importar com o

transcorrer do tempo linear que estudava naquele tipo singular de

literatura onde algo mágico parecia percorrer as vias. Aquele homem

passou provavelmente anos estudando e criando tais conjecturas o

que seria digno de nota mais do que nos roda pés de livros históricos.

Somente não era relacionado de todo a ciência, mas a filosofia pois

ele relacionava profecias bíblicas com aqueles conhecimentos onde

afirmava que alterar o caos poderia se alterar os tempos e de fato, os

Mestres do Caos tinha predileção particular por aberrações de todos

os tipos.

Sem perderem mais tempo, eles seguiram ao hotel onde

havia feito a reservas após atestarem ser nada mais do que turistas

escondendo suas reais intensões que era muito mais nobres,

enquanto eu visualizava a imponente a torre Effiel imaginando que a

maior parte dos segredos parisienses estavam abaixo dela. Sem

pestanejar então seguimos ao endereço pois com nossa viagem

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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dentro do fuso o sol parecia não se pôr e encontramos, para nossa

surpresa o lugar aberto.

- Sejamos discretos, alguns seriam capazes de acabar com o

planeta do que ver isso revelado, pois atinge seus fundamentos e

rudimentos ideológicos. – Disse Petrônio comprando um jornal da

região para disfarçar seu livro agora entre suas páginas.

Aquilo era razoável afirmar-se conhecendo o tipo de gente

cruel que perseguia igualmente tal conhecimento, pois não era difícil

imaginar que ao cobrir crimes com crimes facilmente, volta e meia

desencadeavam uma guerra algo historicamente atestado.

Caminhamos lado a lado em silêncio com turistas da região

enquanto um guia nos orientava entre corredores dominados de

fileiras de ossos, primeiro crânio e depois todo tipo fêmur. Petrônio

então abriu o livro e observou o mapa agora impresso das

catacumbas sobrepostos a página 37 e sorriu sozinho imaginando as

possibilidades como se fosse uma criança com um brinquedo novo,

quando viu os detalhes do lugar em páginas seguintes onde Jim

Cooper desbravava bravamente aquele mesmo lugar décadas antes.

***

O dia era lindo, o céu azul parecia demonstrar que o infinito

estava sobre sua cabeça quando um abalo fora sentido. Jim Cooper,

aturdido com aquilo, pois eram incomuns terremotos parisienses viu

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

67

seus objetos vibrarem a seu entorno numa dança ritmada os fazendo

caminharem diretamente ao chão. Cooper fez o mesmo, e lançou-se

de baixo da mesa como mandava a cartilha de sobreviventes de

abalos sísmicos. Mas de repente viu tudo a sua volta desabar e então

mergulha-lo num silêncio e nuvem de poeiras fúnebres. Quando

tomou coragem de erguer-se observou que nem mesmo a mesa fora

poupada algo parecia ter engolido o imóvel, mas somente aquele

onde estava.

Caminhou com dificuldade para fora do imóvel quando

observou a vizinhança se juntar a seu entorno como a nuvem de

poeira que se erguia quando um vento a levou entre murmúrios

sobre o que acontecia. Cooper inclinou para observar que havia

aberto uma cratera onde encanamento e água saiam de modo

abundante revelando corredores subterrâneos e alguns ossos ao

redor.

Estava de aluguel naquele lugar, e sendo um acadêmico

pobre não tinha muito a que ser tragado por aquele evento. Assim

ele ouviu uma voz de grito vindo de dentro da cratera,

provavelmente algum inquilino tragado pelos escombros. Caminhou

enquanto os demais vizinhos subiam o pequeno monte de

escombros, mas ele descia vindo a pisar num chão abaixo do chão.

Olhou para os lados e de um lado viu um quase infinito corredor a

perder-se no escuro e de outro uma curva fechada por escombros

quando ouviu novamente o grito de gemido de uma mulher. E aquele

grito o guiou silencioso por entre aquilo.

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68

***

Enquanto isso Petrônio, décadas mais tarde enquanto lia

aqueles relatos em primeira pessoa reconhecer uma das entradas

indicadas pelo mapa, a direita. Observando que o guia deixava os

visitantes entretidos este como um mágico aproveitou a distração e

puxou-me assim como Jones esquivando-se daquela fileira de turistas

quando nos vimos envolvidos pela escuridão.

Peguei meu celular para iluminar, mas o inútil aparelho não

somente não tinha relevância naquele país para ligações como sua

bateria havia descarregado. Mas Petrônio estava aparentemente

predestinado a ser o salvador do dia ao retirar uma lanterna do bolso

a acendendo e revelando formações geométricas com anatomia de

ossadas humanas e seguiu em frente.

Caminhamos vários metros em silêncio tendo apenas por

ritmo nossos passos ecoando pelo extenso corredor quando então

nos deparamos com o que parecia ser o fim da linha. Porém, Petrônio

ao invés de dar de ombros olhou para o livro iluminado pela lanterna

e refletindo seu rosto iluminado quando ele se abaixou.

- Onde todos restos mortais não vão. – Disse ele sorrindo ao

ler o livro.

Petrônio palpou algumas ossadas como se fosse um cego,

mas sua orientação na verdade permitia ver não com olhos, quando

achou uma pedra e a empurrou indo para o lado facilmente. O

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

69

homem parou e olhou para nós com um sorriso exitoso e então

começou a engatinhar para dentro sem nada falar enquanto o facho

de luz agora ia para dentro.

Eu e Jones, colocados para trás naquela escuridão nos

abaixamos juntos e vimos Petrônio caminhar como um bebê dentro

daquele túnel de dois metros quando vimos que após ele havia um

vão grande o bastante. Nada dissemos apenas seguimos seu

engatinhar tendo uma leve pontada claustrofóbica, mas ao menos

deixávamos o tributo a morte para trás.

Quando apareci do outro lado e levantei-me acompanhei o

facho de luz da lanterna de Petrônio, pois só restava vermos o que

ele via e notamos estar numa caverna. Petrônio caminhou em

silêncio após observar uma lamparina e a pegou para constatar, para

nossa surpresa, que ainda funcionava direito. Aquele aparelho de

pavio, fosse qual fosse o período que pertencia parecia melhor que

qualquer lanterna moderna e contemplamos toda extensão da

caverna assim como suas bifurcações, mas Petrônio, parou para

observar o mapa novamente e em seguida apontou para frente e

seguiu, e seguimos junto.

Quando chegou a uma bifurcação escorada por vigas nos

deparamos com um bloqueio de madeira tendo um desenho da

estrela dos ventos com uma espécie de graffit. Mesmo estando

escuro juro poder ter visto o rosto de Petrônio se iluminar com um

sorriso maravilho de desbravador revelando relíquias perdidas no

tempo.

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Puxamos as madeiras que estava apodrecida e a retiramos

sem dificuldade quando Jones, o mais velho do grupo observava

cantarolado uma música clássica. Estava ele se sentindo Indiana

Jones.

***

Jim Cooper viu em meio a escuridão um braço balançando ao

ritmo dos gritos e caminhou as pressas até ele sem pensar duas vezes

olhando para o lado. Começou a retirar os pedaços de pedra, tijolo e

concreto de cima revelando o rosto lindo de uma jovem ainda que

coberto pelo pó. Cooper a puxou para fora quando finalmente se deu

conta de que estava dentro de um lugar onde haviam três corpos de

mortos semi-mumificados. Ele a pegou no colo quando surgiu um

homem enorme oferecendo-se para leva-la e Cooper assim a

entregou nos braços dele voltando novamente seu foco até os

corpos.

Os homens mortos tinham roupas medievais. Cooper se

abaixou a notar que um deles tinha uma espécie de diário e os outros

dois estavam em posição de sepultamento. Pegou o diário e leu

identificando o homem, Syon Jaffe onde afirmava proteger tudo que

é de mais relevante. Cooper olhou para os lados, eram apenas eles

quatro naquele lugar agora. Mas o lugar, tenebroso e literalmente

cavernoso não tinha nenhum valor a não ser o que nele havia, uma

série de pergaminhos e manuscritos numa espécie de prateleira de

madeira. Cooper caminhou sobre as pedras do escombro em direção

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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a eles enquanto ouvia os gritos de vizinhos invadindo o lugar como

seus precursores. Sentiu que tinha que proteger aquilo, viu os nomes

de possíveis autores no começo de cada livro, pareciam estar em

grego, latim e talvez hebraico ou aramaico. Um pedaço do mar morto

abaixo de seu lar, pensou.

Naquele momento não teve dúvidas viu uma fenda na

parede e tratou de colocar os manuscritos um a um pela fresta a

bloqueando em seguida quando ouviu as vozes cada vez mais

próximas. Olhou para trás e puxou os corpos mumificados até um

canto e os colocou abaixo de uma pedra enorme e igualmente

bloqueou com mais pedras. Quando virou-se deu tempo apenas de

guardar o diário dentro de seu casaco e olhar para trás quando viu

aquele mesmo homem de dois metros diante dele perguntando se

estava tudo certo com ele. Cooper respondeu que sim, mas calou-se

diante o sobressalto em relação a tanto mais, subiu e perguntou

como estava a jovem por ele encontrado quando a rua já estava

repleta de curiosos e bombeiros.

Cooper e os demais sobreviventes do imóvel foram movidos

aquela noite para um abrigo, mas Cooper conhecendo as catacumbas

o qual se aventurou quando adolescente retornou lá a noite tendo

metalizado em sua mente o mapa que o seguia até aquele ponto

onde havia escondido os corpos e os manuscritos. Deu uma volta e os

puxou abrindo um bloqueio de madeira tal como encontrara Petrônio

muitas décadas mais tarde e começou a ver os escritos utilizando seu

conhecimento de latim e grego da faculdade. E nunca mais seu modo

de ver o mundo fora o mesmo.

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***

Petrônio comigo retirou pedra por pedra daquele bloqueio

quando finalmente vimos o outro lado. Encontramos um capacete

nazista no chão e Petrônio sorriu para mim de modo triunfante ao

pegar uma lunger que havia a seu lado. Levantou a lamparina que

iluminou todo o interior do local enquanto Jones se debruçava como

uma criança sobre nossos ombros, quando vimos a prateleira repleta

de pergaminhos e manuscritos.

- O livro sussurrou-me ao pé da letra que era a melhor

história jamais contata, palavras nunca ditas, poemas nunca sentidos.

– Disse.

Adentramos sob aquelas belas palavras emblemáticas do

erudito Petrônio a contemplar aquilo. E Petrônio que era

especialistas em línguas mortas como aramaico não pensou duas

vezes ao abrir os manuscritos de modo zeloso, um a um e ler eles em

voz alta.

- Primeiro Seth. – Disse ele – Algo que Flavio Josefo daria seu

sangue para ter.

Olhamos a volta para contemplar que havia também alguns

mais livros relativamente recentes em relação aqueles manuscritos,

livros em brochura, incluindo um exemplar de Enigma 111. O lugar

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era do tamanho de um quarto 4 x 4, mas a disposição de livros era o

bastante para arquivar inúmeros livros. Os manuscritos estavam

numerados com o que Petrônio dizia ser o número de cópia dos

escribas indicando ser pouquíssimos exemplares e provavelmente o

único ainda existente. Aqueles homens replicavam pensamentos e

conhecimentos dos antigos mas que curiosamente pareciam avançar

a frente de nosso tempo.

O Ato de escrever é mais que imprimir em tinta, no papel,

mas a alma do autor como uma guia pela mente do mesmo. Mas

confere ao arrogante, aquele o qual auto-entitulasse maior

autoridade sobre o que o autor criou, crer de igualmente que por

conhecer a bíblia tem mais conhecimento que o próprio Deus sendo

maior que Ele. Todavia a proposição demonstra a ineficácia moral do

início, pelo meio ao fim, a sua aplicação.

O Silêncio tomou conta quando vimos então os corpos

mumificados de Syon Jaffe e seu anônimo amigo, um escriba.

Petrônio iluminou seus rostos com uma fina pele sobre e apenas

interrompeu o silêncio para lhes dizer as respeitosas palavras.

- Histórias que não ouso contar a mim mesmo, melhor amigo

desses livros.

Abaixei-me sobre o corpo e vi o diário na posição em que

fora encontrado por Cooper décadas atrás em meio a coleção Libris

Sitis.

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Livros malditos na verdade são abençoados por ideias e

conhecimentos transloucados do tempo o qual é oriundo, mas que

por ser envolto em mistérios e dos atributos de seus conhecimentos

e origem leva ao caminho mais tortuoso de sua trajetória, maldito

porque lhe maldizem, mas alvo da maldição dos algozes malditos

com relação doentia entre deseja-lo e querer aniquila-lo por não

conseguirem domar seus conhecimentos e ser mais forte que suas

ideias em suas pálidas práticas. Concebe-se então que a ideia que

não possui força precisa de força física para prosseguir, e estes

mecanismos sempre são do medo e violência que leva a ocultar o

que não se domina ou lhe é embaraçoso. Materialistas precisam de

matéria, a que possuir e devorar, mas em suas mentes moralmente

fracas sucumbem a ideia e ao desejo que lhes apossam como

cavalheiros ao cavalo, tomados pelo impulso mesmo de tais ideias,

mas como tolos não são capazes de senti-las e querendo possuí-las

por elas são por ela possuídos. Maldito de ser maldizente pelos que

perseguem o conhecimento neles descritos.

Obra de arte é tudo o quanto é produzido pelo homem que

sintetize não somente um período e história, mas a alma e

sentimentos do autor e equivalentes momentos. Elas podem ser

móveis ou arquitetônicas mas tratando-se livros por serem

reprodutíveis apenas as obras de exemplares raros valem mais, e

mais do que isso apenas manuscritos manufaturados e artesanais

como pergaminhos e papiros, e o principal, pelo seu teor

revolucionário e(ou) original.

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- Na antiguidade alguns livros eram proibidos por serem

conhecidos por dar poderes ilimitados a seus possuidores. – Disse

Petrônio. – Acho que esses não são exceção a regra.

Petrônio pegou o outro exemplar de ‘Enigma 111’ mas viu

em sua contracapa escrito em inglês.

Sob sete-estrelo o qual vem os sete anjos que guardam os

sete destinos. Somos deuses de nossas criações, e senhores

de nossas escolhas.

Intrigado notou que haviam pontos que desenhavam a

formação original das plêiades, tinham eles material para meses de

estudo, isto se todos lessem aqueles livros o dia todo, por meses.

Petrônio imaginou o que ocultistas e fanáticos pensariam ao

encontrar aquilo.

- Alguns ocultistas matariam por isso. – Disse ele olhando os

livros quando Jones espirrou com o pó que lá havia repousado por

décadas. - Notável ao ler quaisquer materiais relacionados ao místico

ocultismo que parece quase sempre envolta em charlatanismo, não

bastando a reputação ao satânico numa lista de crimes hediondos a

este associados assim quanto todo nebuloso que parece favorecer

apenas ao egoísmo de poderosos num obscuro jogo que favorece

apenas intrigas e formas de chantagens pouco honestas, mas que

cruza conspirações e intrigas de mentiras. Mas eventualmente algum

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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material que parece exaltar o incomum e incógnito emerge como

signo de um quase sobrenatural, não meramente nos confundir e

incutir dúvidas nos tirando o de mais valioso, a humanidade.

Petrônio naquele momento pegou um manuscrito

datilografado escrito Tratactus Ad Tempus onde era numerado como

uma cópia. Petrônio ficou surpreso em ter ciência da existência de

outro exemplar daquele livro escrito séculos atrás por um homem de

origem misteriosa.

No ano de 1137 um homem misterioso surgiu como 'do nada'

falando um dialeto não conhecido em meio a Palestina, temerários

alguns cavalheiros da Ordem Empobrecida de Cristo os cercou e para

que não fosse violentamente morto o jovem que se identificou por

Heidrun Adail prometeu-lhes oferecer segredos para que

enriquecessem.

Estes homens, os templários, assim aceitaram ao ver que no

local onde fora encontrado havia até mesmo gelo longe do período e

local apropriados e assim em segredo Heidrun Adail ofereceu a ideia

do sistema bancário, mas se tornou um refém daqueles homens.

Isso até o dia em que um cavalheiro misterioso surgiu e após

uma batalha não relatada nos livros históricos uma aparição se deu e

assim junto com um Templário arrependido e outros mais fundaram

a Ordo Christianitas Ad Tempus que tinha por objetivo proteger

profecias do futuro.

O problema, é que essas ditas 'profecias' na verdade eram

conhecimentos desse homem que viera na realidade do futuro, e seu

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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nome verdadeiro era John Roberts o qual agora protegia os segredos

da viagem no tempo tornando a OCAV a mais secreta de todas as

ordens militares e católicas do tempo ainda que subordinada ao

Vaticano. Mas Preza a lenda que as bibliotecas do Vaticano até hoje

tem um manuscrito de autoria de Heidrun Adail. O Tratactus Ad

Tempus como se chama é a versão original com detalhes sobre o

futuro que teria inspirado até mesmo São Malaquias em suas

previsões sobre o papado...

- Tratactus Ad Tempus? – Indaguei eu intrigado enquanto

Jones enfiava a cara nos livros ignorando sua alergia ao pó reunido

pelo tempo.

- O mistério do livro alinha-se e cumpriria o designo do

último papa de acordo São Malaquias. – Respondeu Petrônio. – Isso

parece corroborar o verdadeiro segredo de uma facção católica

associada a seitas que busca ocultar o verdadeiro segredo de Fátima

com um massacre.

- Dissidentes da Ordo Ad Ventus? Ou com seu

conhecimento? – Perguntei eu com outro livro, este mais recente em

mãos. Seu nome era 'Ars ad Speculum'.

- Intrigante. – Respondeu Petrônio sem mover seus olhos do

livro – Diz no livro que esses dissidentes com tais conhecimentos

criaram uma divisão temporal. Assim como de agentes de outra

dimensão infiltrados. O livro faz esse contraponto mostrando

discrepância de datas nos calendários de séculos e milênios

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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- Esperem! – Disse Jones interrompendo – Ouçam isto: O

texto Voynich colidiu com nossa dimensão sob efeitos temporais do

experimento de Robert Sparrow por línguas inteligíveis.

- Seja como for isso faz valer uma literatura onde quantidade

não importa. – Disse eu sorrindo entre o facho de luz e continuei – Já

a literatura no Brasil é um contrassenso, só é boa quando há

qualidade, mas só dá certo quando vende quantidade.

- Com o perdão do trocadilho. – Disse Petrônio como uma

criança entre brinquedos - Acho que isso venderia como água, caso

publicado.

Todos eles riram daquilo sentindo os ecos de seus risos

ecoarem para fora da fresta aberta naquela caverna onde estavam

guardados os livros, na realidade, parecia ser uma emenda entre uma

estrutura de minas com o complexo de catacumbas propriamente

dito, pois aquilo se entrincheirava nas vísceras de Paris como um

formigueiro. Porém, mal perceberam eles que em meio a escuridão

alguém os seguia em silêncio, esgueirando-se na penumbra como se

enxergasse no escuro.

- A ideia do multiverso para alguns poderia responder até

mesmo o fenômeno OVNI – disse eu manuseando o livro ‘Ars Ad

Speculum’ nas mãos o qual ensinava como alterar realidades através

do coletivo. - O General Alfredo Moacyr de Mendonça Uchôa

publicou livros que atestam uma avançada ciência capaz de romper

dimensões a transcendendo.

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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Naquele momento, porém, ao fechar o livro nas mãos

observei que o nome para minha surpresa era eu mesmo. Aquilo me

deixou tonto e perplexo pois não me recordava de ter escrito esse

livro e recusando-me em acreditar o manuseei de trás para a frente

procurando algo que demonstrasse ser um engano quando disse.

- Isso é impossível, esse livro... – disse e então continuei

tentando cuspir as palavras engasgada de meus lábios – esse livro diz

que o autor sou eu!

Os dois ao ouvirem isso pararam de ler o que liam e

observando que o livro igualmente estava em português Petrônio

colocou o que tinha em mãos numa estante e dirigiu-se até mim

debruçando-se sobre meu braço para lê-lo. Petrônio cerrou a visão

intrigado e então praticamente tirou o livro de minhas mãos.

- Intrigante. Não acredito muito em tal coisa de outras

dimensões, mas um livro seu aqui antes de você mesmo nascer em

que diz sobre como criar desvios temporais realmente é notável.

- Talvez algum dia a frente ele ainda vai escrever o livro –

disse Jones juntando-se a nós.

- Sei, talvez agora eu plagie de mim mesmo. – Respondi de

modo seco e irônico.

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Naquele momento, porém, ouvi um estalo no lado de fora, o

barulho fez todos nós nos calarmos de súbito assustado com as

possibilidades. Primeiro pensei se tratar de algum rato grande a

vagar de modo errante naqueles subterrâneos, o que nós mais

queríamos acreditar, pois a outra possibilidade seria alguém a nos

seguir. Petrônio moveu-se em silêncio e colocou a lamparina num

campo de modo que a luz inicialmente não pegasse na fresta, pois se

fosse alguém estaria igualmente com alguma fonte de luz para lá

caminhar. Todavia, fosse o que fosse, aquele ser que se esgueirava

sorrateiro como a aplicar algum bote não possuía quaisquer fontes

de luz e então Petrônio pegou novamente a lamparina jogando sobre

a fresta quando ouviu algo mover-se veloz no ponto onde iluminou

para se esconder, nos fazendo abandonar instintivamente a hipótese

de ser um rato.

Meu sangue gelou imediatamente e Jones colocou as mãos

entre as pernas, em sua virilha, como se estivesse sentindo vontade

de ir ao banheiro o que era curiosamente comum naqueles casos.

Petrônio virou-se para nós e disse.

- Acho que não estamos sós. Vamos pegar o que podemos e

então vamos nos retirar daqui.

- Isso não seria roubo? – Indagou Jones.

- Lhe garanto que preservaremos melhor estes livros e suas

histórias do que quer que esteja vagando por ai. – Respondeu ele em

tom sério.

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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Petrônio procurou disfarçar, mas estava igualmente com

medo daquela situação, mas focado como era voltou-se a selecionar

os livros mais antigos os colocando numa pasta e pedindo para

fazermos o mesmo e assim fizemos em silêncio.

- Pelo que li, Jim Cooper colocou os documentos e

acrescentou outros mais a coleção do mesmo modo como se

encontrava originalmente. – Disse ele para interromper o silêncio

tenebroso.

- Coleção peculiar, tenho que ressaltar. – Disse Jones – Livros

que aparentemente são de outra dimensão, não parece ser algo

muito usual.

A possibilidade realmente me tentava na medida em que me

intrigava, conceber livros com meu nome, escritos supostamente

antes mesmo de eu nascer era algo incrível e no mínimo a prova do

incógnito que naturalmente decrépitos como os adversários dos

livros, os homens de negros, nutriam ímpar ranço. Porém, o medo

àquela altura, mesmo ante o silêncio falava mais alto que qualquer

ensurdecedor barulho, pois mesmo que não tomasse o nome deles

em nossos lábios a ideia de alguém nos seguindo até lá nos remetia

diretamente a eles. E como concebemos que encontros anteriores

com estes eram extremante lastimáveis pegamos o que podíamos e

nós retiramos na expectativa de retornar.

Aquela biblioteca tinha destilada o mais puro e

revolucionário conhecido e por isso alvo de inúmeras perseguições,

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incluindo contra seus autores, num batismo de maldições pelos

homens de negro, aqueles que turvavam toda verdade e

encarceiravam - quando não destruíam - livros potentes em suas

premissas. Aqueles impostores eram perigosos e armados da

maldade, com armadura da hipocrisia e retórica da mentira

insistente, pareciam nutrir profundo ódio contra a verdade contida

nos livros.

Fui o primeiro a retirar-me quando ao passar pela fresta mal

iluminada graças a minha própria sombra a bloquear o facho de luz

lançado pela lamparina de Petrônio vi um rosto surgir em meio as

trevas e me desferir um golpe certeiro no rosto me fazendo ir para

trás tonto quando senti algo quente escorrer de meu supercílio, era

sangue.

- Não pensem que seus nomes entrarão para a história. –

Disse a voz grossa de um homem que ecoou de modo medonho pelos

túneis. – Isso pertence a nós, saiam!

- Por que se consideram donos? – Disse Petrônio em tom de

desafio virando-se quando uma luz acendeu-se e o homem tirou o

óculos de visão noturna revelando uma arma na mão, era Steve

David Hellson.

- Porque tenho isso em minhas mãos – respondeu o homem

com um olhar frio e impassível ao demonstrar que tinha uma arma. A

mesma que havia me dado uma coronhada. - Esses livros não

deveriam sair daqui. - Disse ele em tom de autoridade, mas se quer

sendo autor de qualquer coisa lá presente.

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Naquele momento Petrônio pensou em pegar a Lunger que

tinha pego de algum nazista perdido, mesmo que pelo tempo não

pensava se quer que poderia estar funcionando corretamente. Assim

ele descartou a ideia tão rápido quando a teve.

Steve David Hellson era nome comum entre especulações de

crimes hediondos e conspirações de corporações poderosas, era um

colecionador implacável de livros, tinha tempo para adquiri-los a

qualquer preço – inclusive sangue -, não para lê-los.

- Vocês parecem clichês ambulantes. – Disse o homem de

modo impiedoso quando surgiram mais dois capangas atrás dele,

afinal um covarde nunca ataca só. – Por muitos anos esperamos

encontrar tais livros e vocês nos trouxeram até eles. Tive de ver com

os próprios olhos. Finalmente teremos controle sobre esses livros

malditos.

Aquele homem em seu discurso de quase ódio ao

conhecimento, remetia mais a um mero colecionador do que leitor,

certamente era do tipo que acreditava que livros raros eram como o

ouro, só tinham valor cerrado em cofres, ainda que é claro, a

popularidade flertasse frequentemente com o vulgo a exemplo de

literaturas como 'O Código Da Vinci'. Cobiçava ele o exemplar, não o

conhecimento do conteúdo como se desejasse apenas ostentar a

posse de palavras a ele desconhecidas, pois como amantes do

mistério amava mais perguntas do que respostas, ainda que toda

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pergunta a tivesse como seu par, mesmo sendo está uma negação.

Sua erudição limitada em si própria tendo uma verdade egoísta que

não aceitava rivais era estagnada como os livros que mantinha como

refém sem jamais se dar por conhecer seus conteúdos, ambos, em

todos os casos, eram apenas enfeites em prateleiras de presunçosos

egoístas.

Os demais homens que com ele esteva adentrando a um

sinal com o rosto dele e assim começaram a tirar os livros das

prateleiras e mesmo os que nós carregávamos enquanto David

Hellson nos apontava a arma num tom impassível. Porém, naquele

momento surgiu outro homem por de trás dele e diz diretamente ao

homem assustado.

- Senhor, sujou, a polícia nos descobriu.

- Como assim? Não deixamos rastros e ninguém nos viu

entrar? - Indagou David agora visivelmente contrariado e em seguida

nos olhou como se nos culpasse com os olhos.

- Nós também não fomos seguidos até onde soubemos. –

Disse Jones com as mãos na cabeça.

- Certo, peguem todos os livros que puderem e limpem as

evidências. – Disse David para os homens ao ficar ciente das

autoridades legais quando virou-se para mim e perguntou – vocês

viram o artefato de metal? Diga ou terão uma morte dolorosa!

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Ao ouvir aquilo fiquei na dúvida e apenas balancei a cabeça

em negação quando um tiro ecoou pelo túnel de saída e um grito se

ouviu, pediam para que os homens se rendessem.

- Acho que sua perseguição não valeu, enfim. – Disse

Petrônio que apesar de nervoso não deixava a ironia lhe escapar, mas

sim eles que fugiram antes de finalizar seu interrogatório cruel.

Os homens saíram correndo quando um destes fora atingido

e caindo no chão fora deixado para trás. David Hellson ignorou o

desafio de Petrônio somente não lhe desferindo um tiro por temer

ser pego enquanto matava-o, porém, quando os homens saíram

houve mais trocas de tiro e quando os oficiais da lei surgiram como

sombras no escuro percebi que a voz que ouvira no túnel era de

alguém que conhecia. Era nossa amiga Zaira Alonso Arango.

- Por Deus, vocês estão feridos?! – Disse ela a jogar luz sobre

nós.

- Como você soube que estaríamos exatamente aqui? –

Indagou Petrônio tirando as mãos da cabeça e notando que vários

livros foram jogados ao chão durante a fuga.

Petrônio Fonseca pensou ser o fim da linha, pois pelo que

sabia daquele homem ante as câmeras era um cavalheiro de

educação ímpar, mas longe delas sua grosseria precedia qualquer

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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monstro medieval como Conde Dracul, o empalador. Porém, seu

alivio e salvação interveio e lhe disse igualmente surpresa.

- Estávamos seguindo o lastro deles há semanas quando

percebemos que iam nas mesmas coordenadas que você nos disse.

Paris. – Disse ela sorrindo ofegante – Daí perceber que o caminho

eram as catacumbas foi um pulo.

- Quantos livros e itens levaram de valor? – Perguntou Jones

mais preocupado com o achado do que consigo mesmo. – e para

onde levaram?

- Temos a quem perguntar. – Disse Zaira Alonso virando-se

para trás vendo um dos capangas de David Hellson no chão caído.

Petrônio e eu nos levantamos e fomos em direção ao homem

que estava com uma mão na perna se remexendo de dor enquanto

Jones catava os livros e manuscritos caído pelo chão até ser

repreendido por um policial que disse se tratar de uma cena do

crime. Zaira pegou o homem pela gola enquanto outro policial

solicitava uma ambulância para o homem que havia tido uma artéria

principal atingida na perna e perdia sangue rápido.

- Para onde eles foram? – Perguntou Zaira, mas o homem

apenas deu um sorriso sádico como resposta.

- Que artefato querem? – Indaguei eu ao homem que parecia

dividir a aflição da morte iminente e o ódio que pareciam consumi-lo

como combustor restante de vida.

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- David Hellson e os seus nunca lhe dirão, eles têm um

apetite por violência insaciável e só lucram através da miséria alheia,

inclusive a sua! Somos os homens de negro! - Disse a vítima de seus

próprios atos encontrada empoçada no próprio sangue.

- Não nos respondeu, sujeito. Não pense que vai escapar

falecendo. – Disse Zaira enquanto um polícia ainda permanecia de pé

diante do homem empunhando uma arma enquanto ela lançava a luz

da lanterna na sua cara. – Podemos prologar sua vida só para passar

o resto dela respondendo por seus crimes.

- Não pensem que sobreviverão quando abrir as portas para

o inferno. – Disse o homem de modo impassível - O artefato é a única

coisa que nos falta para diminuir as distâncias entre as realidades, e

vocês estão no nosso caminho. – Concluiu ele escarrando na cara

dela e a chamando de “cadela” em espanhol.

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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IV

O Guia de sobrevivência dimensional e temporal "Conhecimento significa uma forma de entendimento da realdiade,

ou seja, uma forma de compreensão de alguma coisa, tanto no seu

modo de ser quanto no seu modo de operar com ela. O conhecimento

não e apenas uma forma de obter e reter informações. É muito mais

do que isso. É um forma de entender a realidade como ela é e no

funcionamento, a partir dos múltiplos elementos que a explicam. (...)

O Conhecimento é, portanto, um instrumento de vivência e de

sobrevivência. Não significa apenas uma 'ilustração da mente.'"

A Filosofia da Educação - Cipriano Carlos Luckesi

aira como era temperamental e conhecendo as atrocidades

que faziam aquele homens cerrou o punho e pensou em lhe

atacar porém, o policial responsável pela batida surgiu e lhe

fez sinal de negação quando veio o médico.

Aquela mulher que se via esmagada entre a submissão ante a

cama, ou ante o fogão, pois para ela ainda que de cepas diferentes

eram ambos tipos machistas, lutava por ser reconhecida não como

mera dona de casa ou objeto de prazer sexual. Ficava impressionada

como alguns que vendiam uma independência feminina costumasse

na realidade apenas reduzi-las a uma mera privada de amontoado de

seus desejos sexuais desordenados.

Porém, o que aquela mulher de meia idade já havia padecido

conosco anteriormente era freio o bastante para ser prudente e

Z

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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deixou que aquele psicopata falecesse diante de seus olhos enquanto

o médico lhe prestava os primeiros socorros. O Passado é uma

assombração.

Por fim ao passar o susto Petrônio a abraçou pressionando

seu corpo contra o seu como se a desejasse, talvez mesclasse seu

alivio ao desejo de afeto com pontadas freudianas de sexualidade

inconsciente. Em seguida me deu um beijo no rosto que soou como o

fim de mais uma sessão de tortura justificando como se a presença

dela, fosse por fim o prémio.

- Encontramos algumas coisas impensáveis dentro deste

recinto. – Disse Petrônio após apresentar Jones que estava

incomodado por ver os manuscritos jogados no chão. – Você não

acreditaria.

- Experimente. – Sugeriu ela, pois já havíamos visto coisas

inimagináveis juntos.

- Os livros. – Disse Jones ousando seguir diante dos oficiais da

lei – Aparentemente são de outra realidade.

- Submundo? – Sugeriu ela mas tendo um sorriso irônico de

minha parte.

- Não, outras dimensões. – Disse Petrônio – de alguma forma

Jim Cooper, que protegeu isso aqui parecia reunir evidências de

surgimento de peças de outras dimensões. Me parece sugerir mesmo

ideias da Cronospermia como reais.

- Cronospermia? – Perguntou ela estranhando o rumo do

papo.

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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- A Cronospermia propõe que a vida se originou em si mesma

por um paradoxo temporal onde se recriou. – Completou Jones. –

Explicações para de onde surgiram as mulheres dos filhos de Adão,

por exemplo.

- E aparentemente estes homens querem conseguir abrir um

portal para acessar dimensões e liberar seja lá o que for. – Disse eu

intrigado.

- Na verdade, a proposta supõe na probabilista do caos

multiversal que uma ocorrência aqui é uma não ocorrência

percentual noutra dimensão, - disse Petrônio sobre os conceitos da

hidrocriptografia completando o raciocínio mesmo para mim. - ou

seja, a premissa de desvios dimensionais supõe que podemos

interferir em dimensões paralelas com simples realizações nesta.

- Ou não realizações, - segui eu - poderia alguém interferir

nesta dimensão atuando noutra, principio previsto pelo

entrelaçamento quântico que propõe justamente ser uma relação

caótica invisível. A hidrocriptografia já previa isso tudo, pois a partir

de seus cálculos que deduzimos a existência de dimensões

ressoantes.

- Tudo há de acontecer, não sendo aqui, noutro mundo. –

Concluiu Petrônio.

Tudo que há de acontecer, acontecerá aqui ou noutro

mundo. Aquilo realmente me deixava perplexo assim como a

possibilidade de que numa outra dimensão talvez tivéssemos

terminados baleados no chão daqueles subterrâneos. Mas apesar de

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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nos abster da ideia de que aqueles livros eram do submundo, o que

fazia sentido no termo literal, tinha algo de raciocino muito mais

profundo, algo onde até mesmo eu teria escrito livros alternativos

que propunha intuitivamente modos de alterar a dita realidade em

suas diversas esferas, erámos Senhores do Tempo.

Jim Cooper, Syon Jaffe e eu parecíamos surgir cada qual em

seu tempo como Senhores do Tempo o qual o conhecimento era

capaz de criar desvios temporais resignados e destinados a serem

outras dimensões, pois nada se apagava na linha do tempo, apenas

se alterava seu curso. Assim, perplexos começamos a colher

informações e temendo que tudo aquilo explodisse na mídia

percebemos que alguns dos livros, assim como o livro ‘A Filosofia da

Viagem no Tempo’ fazia menções a um artefato que dava poderes de

alterar a realidade abrindo um vórtice, ou atalho através dele.

Para nossa surpresa Jim Cooper havia escrito um outro curto

livro que lá estava onde dava detalhes de como agir ante um

iminente apocalipse dimensional onde referia-se a seres

monstruosos que poderiam ser libertos do ‘abismo’, o manual, um

guia que chamava-se de ‘Protocolos da ciência Dimensional e

Temporal’ e nela havia a descrição do Artefato e como encontra-lo.

Porém, fomos obrigados a seguir para a delegacia onde

deporíamos inclusive sobre o porquê de ter entrado numa área

restrita das catacumbas assim como a ter assistência psicológica

sobre o acontecido por nós. Zaira, que estava elegante para o clima

local com um cachecol e com uma bota, nos acompanhou e

permaneceu no lugar conosco até sermos liberados.

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Como entendidos na disciplina e conhecedores dos

adversários que lidavam fomos orientados a ir para o hotel que no

dia seguinte teríamos um dia farto estudando os livros para tentar

determinar os próprios passos de David Hellson e os seus boçais

psicopatas de estimação que havia finalmente ultrapassado a linha

invisível entre crime e cidadania.

Zaira ficou temorosa a dormir conosco, pois éramos homens,

e então mudou seu quarto para o mesmo hotel e próximo ao nosso

quarto pois fazia já um dia que ela estava em Paris atrás de pistas dos

homens de Hellson como oficial influente da Ordem dos Ventos. Lá,

ela tomou um banho e voltou ao nosso quarto carregado uma garrafa

de uma bebida brasileira que gostava muito, Malibu.

Contou seus causos enquanto dividia a mistura de cachaça

com coco que era a bebida, e disse num acesso de tristeza que temia

ante um fim iminente por tantas coisas más que aconteciam pelo

mundo como sinais bíblicos do apocalipse.

- Poder finalmente provar as atrocidades desse homem creio

ser um alivio para muitos. – Disse ela em tom despojado sentado no

chão e encostada na parede. – e se conseguir pegar esse artefato

antes dos homens de Hellson quem sabe não deteremos algo ainda

mais cruel.

- Temos que ser realistas, não fazemos ideia até onde isso

vai. – Disse Petrônio Fonseca, o único sóbrio a essa altura.

- A toca do coelho vai fundo e em terreno pantanoso, Alice. –

Concluiu Jones – Mas fico feliz em fazer parte disto, os recursos do

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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Clube dos Pioneiros estão voltados a isto e eles adorarão estudar

esses novos livros. Morreremos lendo. – Completou ele com um

sorriso e olhando para o copo.

- O problema é que não sabemos haver do outro lado. – Disse

eu – e não parece ser o pais das maravilhas, garanto.

Petrônio tentou esboçar um riso para descontrair, porém, ao

invés de risos, o silêncio ritmou-se de modo quase constrangedor.

Fiquei, naquele momento a refletir se por acaso Lewis Carrol não

teria conhecimentos prévios de rompimentos dimensionais, pois

flertava frequentemente com ideias de ir a outra realidade, talvez

algo para Twilight Zone.

O papo rolou, então, sobre autores de livros do tipo e

quando nos demos conta Jones havia adormecido na cama pois eram

meia noite e cinco. Desejei então naquele momento ter em minhas

mãos alguns dos manuscritos, porém, eles haviam sido apreendidos

inicialmente pela polícia como parte da cena do crime. Teríamos que

conter nossa ansiedade até o dia seguinte quando poderíamos

manuseá-los.

No dia seguinte acordamos com Zaira a nossa porta ao lado

de um oficial de justiça o que havia feito algumas relações incomuns

com o acontecido no dia anterior. Levantei-me vagaroso pela ressaca

que me sobreveio e atendi a porta com a cara de poucos amigos.

Zaira adentrou e apresentou o homem, um esguio de cavanhaque

com óculos que chamava-se Morris Shane. O homem após um breve

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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formal sorriso nos cumprimentou e disse que tinha informações

perturbadoras sobre o que envolvia o caso, o homem era da Interpol.

- Senhores, me perdoem acorda-lo deste modo, mas temos

algumas informações que não se encaixam, lhes relatarei mas peço-

lhes sigilo pois são confidenciais. Percebemos no local onde foram

encontrados os livros algo relacionado a uma empresa chamada

Quantanic Inc. Os senhores já ouviram falar? – Disse Shane.

- Sim, ouvimos falar de um incidente peculiar no deserto de

Gobi. – Respondeu Petrônio.

- Pois então, apesar da empresa ter aparecido em notas de

jornais de ciência como a sucessora da investigação sobre a

hidrocriptografia, após o incidente nos demos conta que

aparentemente é uma empresa fantasma. – o homem então que

estava de pé foi servido um café a ele, recusou com uma das mãos –

procuramos seus escritórios e estavam vazios, teriam alguma

informação sobre isso?

Todos negamos espantados sobre o ocorrido, pois nos era

surpresa igualmente.

- Pois então, o que me levou a investigar isso fora o sumiço

súbito de algumas peças de relíquias medievais, como uma espada

que teria pertencido a Gengis Khan.

- Mas o que isso tem a ver com o caso? – Indagou Petrônio

sem perceber o óbvio.

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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- Porque não fora as únicas peças roubadas, mas que esta

espada fora encontrada igualmente no deserto de Gobi junto com

trechos de equipamentos que tinham o nome da empresa Quantanic.

– Disse Morris Shane como o pulo revelador do gato.

- Os artefatos. – Sugeriu Jones que era conhecedor da

filosofia do livro de Roberta Sparrow. – Creio que eles sejam

importantes por contém informações frequências das vibrações de

nossa dimensão.

- As implicações tecnológicas e cientificas não são minha

alçada, todavia – disse Shane seguindo o raciocínio – ao irmos

investigar igualmente onde ficariam os supostos laboratórios,

encontramos apenas dois cientistas mortos e alguns poucos

equipamentos, o que tornaria inviável as ocorrências e qualquer

efetivação uma vez consultando cientistas.

- Como se estes acontecimentos estivessem sendo na

realidade refletidos em nossa dimensão. – Ecoou Jones consigo

mesmo.

- Como assim? – Perguntou Shane intrigado ao cruzar os

braços.

- O que quero lhes informar é que aparentemente querem

transpassar a dimensão, mas não da nossa. – Completou Jones tendo

o olhar firme do agente da Interpol.

- Isso é implausível! – Respondeu o homem. – Pelos casos de

roubos indicam haver uma rede muito organizada e articulada

atuando em todo mundo. Foram roubadas peças em Bagdá,

instambul, China...

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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- Meu palpite é que estão tentando alinhar eventos,

sincronizar nas duas dimensões tornando a película entre elas mais

fina. – Disse Jones.

- O véu entre as realidades serão rasgados. Foram as últimas

palavras de nosso informante que era da Ordem do Caos. –

Repercutiu Petrônio. – Eles passaram anos coletando informações,

saqueando e agora parecem estar no seu estágio final.

- Caos. – Completei eu tendo a concordância de todos

presentes. – Acho que é sem dúvidas que algo está para acontecer.

Estes boçais diabólicos parecem controlar tudo com sua blindagem

de corrupção.

- Os senhores sugerem que isto é uma prova da atuação de

outros universos sobre o nosso? – Indagou Shane.

- Onde está a espada de Gengis Khan? – Perguntou Jones –

Talvez eles ainda não tenham encontrado o artefato certo.

- Está em posse da justiça. – Respondeu Shane.

- Precisamos estudar os livros da Sitir Libris, creio que há

informações neles. Há um livro que tem informações sobre artefatos.

– disse Jones tendo um aceno de autorização dele.

Eles tomaram seu dejejum, mas temorosos pois sentiam-se

observados por uma força nefasta que estagnava a presença deles.

Carros suspeitos eram vistos vagando pelas mediações e com o

histórico de que os membros secretos da Ordo Ab Chaos eram do

povo mais corrupto e agressivo conhecido era de dar medo.

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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Naturalmente que o trabalho deles assim era reunir o maior

número possível de provas e coloca-las em seguro pois o histórico

daqueles homens quando cruzavam o caminho de suas vítimas não

era diferente a de sintomas de uma doença. Assim seguiram eles até

o local onde os livros estavam sendo levados e foram lhes dado luvas

para manuseá-los, especificamente um livro de Jim Cooper que dava

orientações de como proceder em caso de incidentes e os indícios ao

ler este manuscrito pareciam identificar exatamente o

comportamento desses diabólicos retrógrados. O livro que era um

guia a maior parte do tempo, ensinava que aqueles indícios

apontavam a uma onda de caos apocalíptica iminente remetendo as

visões que tive tempos atrás sobre uma tempestade, mas a parte que

mais importava, por fim, dava a precisa descrição do suposto

artefato, uma lança que teria o poder, virtualmente, de perfurar o

tecido dimensional do tempo ao vibrar em múltiplas dimensões, uma

seta que era conhecida naquele mundo ditos por milagres.

O artefato chegou a ser identificado, séculos atrás, como

sendo a lança de são longuinho. Porém, suas formas indicavam que

era de outra civilização, uma civilização muito antiga e que fora

devastada pela colonização espanhola, os maias.

Conhecido por uma crueldade ímpar, aqueles homens,

segundo um dresdrem perdido teriam recebido aquela seta que fora

colocada numa lança de um deus que referiam-se por Serpente

Voadora e seu opositor Espelho Esfumaçado, Tezcatilpoca. Este

artefato tinha o suposto poder de evoca-lo e passou a ser utilizado

nos anos seguintes para sacrifícios humanos.

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Mesmo que evidente que os maias tivessem conhecimentos

astronômicos avançados, teoricamente passados por este suposto

‘deus’, era um povo bestialmente selvagem e agressivo o qual a

mortandade assolava aos milhares em tributo insaciável numa

intensão de permitir tornar mais um dia atrasando o apocalipse.

Segundo as lendas de um dos livros queimados pelos espanhóis,

prezada o mito de que esse deus chegou a seu mundo através de um

enorme caos e que apenas a seta poderia acalmar aquele caos

apocalíptico o que fora interpretado como signo de morte aquele

inculto povo.

- Os maias acreditavam que o tempo transcorria em seis

direções diferentes o que favorecia tempos tangentes. – Disse

Petrônio ao meu lado enquanto lia o livro. – Pelo que diz o livro, as

seta tinha o poder de direcionar o evocador a dimensão preterida e

mesmo alterar o rumo de seu mundo.

- Um artefato capaz de abrir portais? – Indagou eu intrigado

tendo o silêncio de Petrônio como resposta.

- O artefato mencionado, que era utilizado em rituais de

sacrifícios humanos estava nu museu no México, vamos alertar as

autoridades locais para aumentar a vigilância. – Disse Shane ao ouvir

nossas palavras.

- Talvez seja melhor enviar alguém até o local. – Sugeriu

Jones como se tivesse na verdade a sincera esperança de ser

convocado para isso, mas antes mesmo que algo assim dissesse

Petrônio disse.

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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- Temos aval para viajar em serviço da Ordem dos Ventos.

Ficamos subitamente empolgados com as possibilidades e

mesmo que aquela história secreta dos maias nunca tivesse sido

confirmada, os temores pareciam ser verdadeiros nos mergulhando

numa introspeção singular sobre o que mais os espanhóis teriam

queimado ou destruído do conhecimento daquele perigoso povo que

tinham traços de iniquidades incomum ao dos membros da Ordo Ad

Chaos.

Tivemos autorização de levar cópias feitas as pressas de

alguns dos manuscritos lá encontrados, sobretudo fora obrigado a

passar o resto da tarde respondendo perguntas de como um livro

com meu nome como autor estaria fazendo lá naquela biblioteca,

livro que dava dicas igualmente de como poder ser capaz de alterar

realidades e mesmo em alguns casos ser capaz de desvia-las.

Ao anoitecer fomos nós quatro ao aeroporto, pois Morris

Shane iria nos encontrar mais tarde no museu do México onde

estaria a dita peça. Passaríamos a noite num voo noturno com muitas

perguntas que ressoavam as respostas como se tivessem na ponta da

língua ainda que não fossemos ter certeza delas.

Ainda sentindo vestígios da ressaca, tentei adormecer, mas

com minha testa a latejar ante o suave ruído das turbinas quando um

homem ao lado sorriu para mim num tom malicioso.

Ignorei aquilo, pois àquela altura não poderia me deixar levar

pela paranoia, havíamos feito descobertas sem precedentes e meus

trabalhos haviam se tornado de suma importância mesmo quando eu

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se quer me lembrava de tê-lo feito, ou mesmo teria o feito antes

mesmo de nascer o que era uma improbabilidade incrível demais

para ser crível.

Quando o avião sobrevoou a cidade do México, via apenas as

luzes e imaginei em meu íntimo o que mais poderia haver naquele

lugar que as trevas ocultassem, ou mesmo séculos atrás quando

aquele povo cruel e devidamente sepultado por doenças saberia que

não tínhamos conhecimento, e conhecimento da realidade que nos

cercava é o que estava escasseado.

Ao aterrissar Petrônio acordou em seu acento assustado,

como se questionasse a própria realidade em que estava ou se ainda

estava sonhando, porém, seguimos ao setor de desembarque ainda

lentos pelo peso do sono quando o mesmo homem me olhou e

bocejou em tom de deboche e me apontou o dedo como se fosse

uma arma a atirar. Virei-me tenebroso para o lado como quem

questionasse se fosse para mim, porém, ao virar de volta o homem

havia sumido.

Eram 4:37 da manhã e os segredos que a madrugava

guardava nos fazia temer que o perigo estivesse a espreita, a cada

esquina com aqueles seres intelectual e espiritualmente mais

promíscuos que vadias do Vietnam. Aquilo me remeteu aos tempos o

qual uma vida social livre me concedia momentos agradáveis ao lado

de amigos e entes queridos, na realidade a relação era de fuga aquela

situação o qual uma força retrograda parecia, mesmo a despeito do

auxilio, nos lançar a marginalidade ao contrário dos diálogos travados

entre amigos que eram regidos por risos como lubrificantes naturais

as relações.

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101

Mas ao retornar encontramos outros tipos de risos, de

homens funestos que vagavam como se caminhassem sem dar

passos sob assovios insinuantes, e risos o qual transmitia a sensação

de escárnio por nossos esforços de deter monstros como Steve David

Hellson que parecia mais ser literalmente um filho do inferno o qual

o encontro decretava inevitavelmente a falência da vida social

concedendo aos sobreviventes de sua abiose uma vida reclusa e de

mera sobrevivência, algo que lutava contra a verdade e queria

sufocar vidas e memórias de vidas, as vezes a história por de trás de

um livro era tão fascinante quanto o livro, a história por de trás da

história.

Não nos deixamos atingir pelos silenciosos gritos do inferno e

sua espinhosa couraça, mas ao tocar o solo daquele país vimos a

oportunidade de livrar o mundo de suas crenças limitadoras e

tóxicas, a não ser aos próprios que nunca se submetiam a ela. Zaira

tinha em mãos, numa pasta, as provas de uma conspiração global a

fim de sabotar descobertas e roubar-lhe as prerrogativas de sua

aplicação. Conspiração significa operação não legitimada traços

furtivos e abordagens indiretas indicam sua clandestinidade e por

isso não se deve temer a vias legais, ao ser perseguido não corra,

correr indica um comportamento suspeito de sua parte.

- Estamos sendo observados. – Disse Petrônio ante o óbvio. –

Pelo que especulam eles têm relações com gente da pesada,

traficantes internacionais e fazem até mesmo famílias como reféns.

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- Isso é para me preocupar? – Disse Zaira num lampejo de

ironia ao olhar o riso de deboche daquele suspeito no aeroporto.

- A julgar que o algoritmo criado pela hidrocriptografia pode

quebrar bancas de cassinos por interpretar as variáveis da aleatória,

alguns mafiosos devem ficar preocupados. – Repercuti completando

a ironia anteriormente começada por Zaira.

- Não somente isto, a revolução cientifica que provocaria

mudaria o quadro geopolítico mesmo do petróleo pois novos

sistemas de propulsão podem ser criados como energia limpa e

barata. – Respondeu Petrônio com seriedade – temos em mão

conhecimentos que podem propulsionar a humanidade séculos a

frente de seu tempo, mas isso não interessa aos dominantes, não por

vias legais e éticas.

Petrônio estava totalmente correto, só um mapa do caos

comprovaria que ele se comporta de modo ondular em determinado

nível e que não estávamos sós não no universo, mas num multiverso.

Porém, tínhamos compromisso com a verdade sobre todas as coisas

e antes de irmos ao museu iriamos ir até um homem surdo que teria

descoberto coisas importantes sobre o suposto artefato. Na

realidade, preza a lenda, que ele sobreviveu porque não poderia dar

ouvidos as ameaças ainda que vivesse recluso após ter sido a única

vítima que sobreviveu a um encontro com seus nefastos homens,

encontro daqueles inesquecíveis e que lhe assombrava o resto da

vida como ecos de seus próprios gritos num abismo.

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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No entanto, o homem vivia sitiado pela seita que lhe

perseguia, frequentemente utilizavam de toda sua influência no

governo e entre autoridades para lhes proibir direitos, assim como

afastando a todos que tinham qualquer relação com ele.

Normalmente as abordagens eram impactantes, as ordens deles

eram dadas a estes apenas através da chantagem e do medo pois

apesar de serem os criminosos mais espinhentos eram poderosos

demais para serem presos e por isso a sociedade de onde estavam se

deteriorava pois eram livres para cometerem toda sorte de crimes

impunimente. Ao entramos na condução até o endereço fornecido

pelo próprio meses atrás via internet, me perguntei se essa escória

prepotente de criminosos queria erguer uma nova pirâmide as custas

da miséria alheia, mas respostas não se encontrariam fáceis,

principalmente quando não há ‘porque’ moral para atos tão

diabólicos e mesquinhos como os deles. Taliban, Al-quaeda, ISIS,

Boko Haram, Hamas, os fanáticos nunca estiveram tão em alta.

Permanecia o restante do trajeto introspectivo em mim

mesmo e novamente senti-me identificado com aquele personagem

mesmo antes de conheço, Petrônio Fonseca não costumava errar e

assim chegamos ao local, um bairro pobre para um homem rico em

seus feitos.

Ao descermos do carro nos perguntamos sem palavras o que

poderia nos ocorrer ao notar que o lugar não era dos mais seguros.

Porém, Zaira, destemida como era retirou de sua pasta a ficha com

seu endereço e procurou a residência número 46. Ao chegar diante

do imóvel parei diante dele e toquei a campainha até ser

repreendido por Jones.

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- Você espera que ele ouça a campainha como?

- Ele não é burro, só um pouco lerdo. – Repercutiu Zaira num

tom de deboche para estravazar.

Porém, antes mesmo que pensássemos em proceder de

outro modo surgiu um homem da porta, com meias e um agasalho

olhando desconfiado para os lados.

- Poderia falar com Raymon Maloney? – Disse Jones

arriscando ser outra pessoa, não o próprio.

Mas o homem aproximou-se lentamente e começou a

gesticular com as mãos sendo percebido como o próprio. Zaira então

abriu um sorriso receptivo e gesticulo de volta sinais de surdo para

nossa surpresa e o homem deu um sorriso tímido e abriu o portão

para nós.

- Então você conhece a linguagem de surdos? – Repercuti.

- Tio surdo. – Respondeu ela sorrindo – entrem, ele disse que

aqui fora não é seguro.

Raymon Maloney aparentava ser um homem comum, tirando

suas expressões corporais notadamente acentuadas para compensar

sua vida silenciosa. Eventualmente emitia alguns grunhidos como se

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105

tentasse imitar o movimento dos lábios e imitir vozes pois ele

conseguia lê-los. Porém, Zaira perplexa lhe perguntou como o

homem ouviu eles tocarem a campainha. O homem que parecia feliz

com a visita de sua amiga virtual e então lhe respondeu que a

campainha criava vibrações perceptíveis a sensibilidade maior dele,

um aparelho montado especialmente por ele, para que ecoasse

numa frequência que não poderia ouvir, mas sentir.

Sem perder mais tempo, o homem então pegou esquemas

que mostravam desenhos do museu e do artefato. Ele não estava em

exposição, mas enquanto estavam no voo houve uma tentativa de

invasão ao museu quando ele estava fechado. Fiquei a me perguntar

se gente tão escrota se limitaria a uma tentativa de invasão, pois

como se conhece apesar de moralistas e vaidosos em sua hipocrisia

mantida com zelo como fachada de um Titanic, eles eram

historicamente irresponsáveis e tinha apreço notável por

mortandades e crueldade. Mas quem não deixa viver não pode dar

sermão sobre a vida.

Raymon Maloney, tinha uma barba comprida, mas apesar

das vestes era mais jovem do que aparentava, usava óculos de

armação grossa e tinha os cabelos desgrenhados, cientista e

arqueólogo pesquisava peças e supostos Ooparts que trouxessem

indícios de tecnologia atual presente no passado ou até mesmo

tecnologia que se quer ainda existisse entre nós.

Com uma bermuda caqui e uma camisa do The Who tinha um

micro com um enorme monitor que deixou para nos pegar uma boa

dose de café expresso, e parecia querer nos contar muito ainda que

estivesse com as mãos ocupadas no momento. Assim que nos

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

106

entregou o café ele fez seu breve relato. Após ter proposto que um

tipo de tecnologia antiga seria capaz de alterar a vibração de alguns

objetos, algo que ele descobriu no punhal maia, teve a ideia copiada

por um canastrão que se dizia honesto, mas fora quando começou as

ameaças quando ele quis proteger os direitos de seu trabalho

penoso.

Trabalhava no museu e tinha boas verbas, mas apesar de

suas ideias serem populares entre visitantes não o era no meio

acadêmico, até aquele doutor lhe roubar as ideias. Então tudo

começou a encolher até o dia que fora pego por um dos homens de

David Hellman que lhe disse que iria pegar o que quisesse após

tortura-lo por longas horas. Os homens queriam pegar o que tivesse

aplicação prática, impedir o que pudesse atrapalhar seus negócios e

apagar o nome de Raymond de sua autoria. Estavam obstinados e

como bandidos do pior tipo não se limitaram a roubar-lhe, mas

também a dignidade.

Raymon Maloney, que perdeu dez anos de sua vida, sentou-

se de ombros caídos e seus olhos brilharam naquele momento como

se tivesse sido ontem. Então olhou para o vazio, pesaroso, e como se

visse um fantasma do passado saltando a sua frente. Perdeu sua

família, emprego, e agora vivia cercado por aquele dragão que ao

menor movimento lançava fumaça das narinas. Sua carreira e sua

vida foram roubadas e ainda teve que pagar pelo serviço.

- Compreensível porque estamos a beira do abismo. –

Repercutiu Petrônio quando Zaira lhe traduziu as palavras com as

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

107

ressalvas de que temia que por estarem ali agora eles também

sofreriam as consequências da bravura de ousarem ser justos ante

tamanha boçalidade.

Pobre Raumon, dignos de muito mais prémios do que caberia

em sua quitinete. Porém, ele num instante abriu a tela e nos mostrou

a imagem do punhal que parecia ser tão arcaico como qualquer outro

artefato antigo. Mas como as aparências enganam, no texto da tela

tecia sua teoria de que aquele artefato não vibrava na mesma

sinfonia de nosso mundo, pois era de outra dimensão. Os testes

preliminares indicavam que o material e os metais do artefato eram

comuns, porém, ao investigar com mais cuidado observou o metal

apesar de não ser magnetizado exercia um certo tipo de força

invisível e não se deteriorava normalmente como artefatos e mesmo

medições de carbono.

Intrigado, então, Raymon estreitou mais sua visão até as

moléculas a observar que não se comportavam com os modelos

físicos para as frequências atômicas determinadas pela ciência. Ele

então encaminhou o artefato para pesquisar suas características

quânticas e para sua surpresa parecia que sua força emanava

diretamente do vácuo quântico como se algo crepitasse de outra

dimensão através dele, ainda que imperceptível a olho nu, porque a

energia não vem, na verdade, do vácuo, mas doutras dimensões

vibrantes e por isso em frequências diferentes da nossa dando a

resposta definitiva sobre a energia escura.

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108

Quando ia publicar a descoberta fora quando ele foi

abordado por aqueles servis e senis seres travestidos de homens e

então acabaram com uma vida produtiva inteira, pois seus planos

anormais e inconstitucionais determinaram que ele não poderia

publicar aquilo, deixando claro que o objetivo deles era fraudar

trabalhos e descartar autores que odiavam - ainda que desejem sua

obra incontrolavelmente - pois são imorais e maus.

Assim Raymon seguiu e mostrou na tela de monólitos que

não tinham como ser movidos e disse que aquilo era possível com a

propulsão nova que estava desenvolvendo sobre o vácuo quântico,

vibrações. Moveu-se pelos discos de dropa, da China, o Pássaro de

Saqqara o qual a semelhança era enorme com um avião atual, a

bateria de Bagdá, o Sarcófago de Pacal e tantos mais. Para ele,

indícios claros de que conhecimentos que antigos não deveriam ter

em tese, mas tinham de alguma forma. Aquelas peças não tinham

uma explicação plausível e era coincidente demais para que fosse

acaso, mas denotava tecnologia ainda que teóricos e ufólogos

especulassem se tratar de evidências da interferência de

extraterrestres na Terra. Porém, mesmo isso evidenciava um poder

tecnológico tal que simplesmente permitia a tais objetos surgirem

como do nada, assim como a energia do suposto vácuo quântico,

porque na realidade ambos vinham de outra dimensão.

Assim Raymon lembrou que todo seu trabalho tinha suas

fontes explicitadas ainda pois ainda que sua teoria fosse original era

construída sob trabalhos anteriores sem contraria-los, mas antes

amarrando pontas. Assim como teorizava concordantemente com os

livros da biblioteca maldita que alguns, em alguns momentos da

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história humana encontraram tais evidências e despertaram a

consciência de visitas de outras dimensões como a exemplo de

Robert Grosseteste, que na antiguidade concebeu a ideia de

multiverso medieval, suas ideias antecipavam séculos a de cientistas

modernos ainda que com nuances não comprovadas ou

comprovadamente enganos.

A ideia era de que mesmo testes de carbono por terem

frequências diferentes em dimensões diferentes aumentavam a

margem de erro pois a taxa de deterioração era diferente a cada

suposta dimensão de modo que nos locais onde aconteciam os

rompimentos dimensionais tal discrepância era notável. Assim ele

remeteu a casos antigos onde pegadas humanas foram encontradas

fossilizadas num período que, de acordo, com o mesmo teste não

poderia ser possível ante a teoria da evolução, pois ao menos

supostamente o homem não teria milhões de anos de idade

evolucionária.

No ano de 1938, em Mount Vernon, nos Estados Unidos, o

geologista Wilbor G. Burroughs teria descoberto supostas pegadas

humanas perfeitas, fossilizadas, porém elas deveriam datar de 250

milhões de anos atrás o que era inviável a teoria da evolução a não

ser que todo teste de carbono fosse não somente impreciso, mas

enganoso. Descobertas semelhantes, porém, apesar de

desacreditadas e ignoradas, foram feitas em outros pontos dos

Estados Unidos, como em Jackson County, Antelope Springs, em

Paluxy, Texas, em Delta, Utah, esta em 3 de junho de 1968 por

William Meister e Francis Shape, em Carlson, Estados Unidos por

detentos dando seguimentos a descobertas semelhantes nas

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110

mediações. Porém, estas pegadas naturalmente não se limitavam aos

Estados Unidos, sendo descobertas no Lago Langebaan, África do Sul,

Antuérpia, Bélgica, em Gravelbourg , Saskatchewan, Canadá,

igualmente em Navalsaz, Soria, Espanha, na República do

Turcomenistão e tantos mais locais levando alguns conjecturarem

que ou a humanidade é muito mais antiga do que aparenta ou o

processo de fossilização conhecido está errado.

O que eles negavam era a disparidade temporal provocadas

por discrepâncias pois materiais posteriormente colhidos por

Raymon indicavam uma variação de vibrações quânticas como se o

tempo de alguma forma tivesse agido sutilmente diferente no

período. Uma das mais intrigantes ocorreram coincidentemente no

deserto de Gobi, na China onde ocorrera o misterioso incidente,

descoberto pela equipe do Dr. Tschu Myn Tschen em 1959, a pegada,

estimaram, teria 15 milhões de anos, período demasiadamente longo

para permanecer intacta, mas o detalhe era que curiosamente a dita

pegada era formada por um calçado de sola. Ao comparar amostras

do atual incidente na região com o achado arqueológico antigo,

apresentavam características físicas semelhantes com um

comportamento sutilmente diferente a nível atômico. Ou seja,

aberturas supostas de portais e outros tipos de anomalias

provocavam variações prescritas em campos similares ao do

Triangulo das Bermudas onde anomalias climáticas e temporais eram

observadas com coincidentes riquezas de detalhes por pessoas

idôneas.

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111

V

A Mãe de todas conspirações "A letra da canção é o que pensamos entender, mas o que faz com

que acreditemos, ou não, é a melodia."

O Jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafón

odo aquele relato era contundente ainda que não houvessem

provas maiores mas encaixando-se perfeitamente as recentes

descobertas feitas pelo sistema de hidrocriptografia concebido

por mim. Todavia o entrave aquele enorme pulo evolucional tinha o

enorme empecilho que justamente dava consistência dramática as

revelações o qual as peças demais colocadas por Raymon parecia

completar o mosaico. De acordo com os livros aqueles que tais

atrasos promoviam tinha ciência de outras dimensões, quer

espirituais ou físicas pois seus descentes de lá teriam vindo a tramar

contra a humanidade discretamente para domina-la furtivamente.

Assim a natureza de nossa história apenas apresentavam

traços de uma verdade ulterior que aparentemente era

insistentemente apagada e coberta por estes senhores retrógrados

que a vida seguia um curso onde o aparente era apenas uma fração

da verdade, quando não mentira, pois o essencial era invisível.

Aquela mentira se séculos acumulava-se numa edificação de

mentiras como numa criptocracia.

De modo que uma das coisas observáveis nessa criptocracia é

a vida que seguia nas entrelinhas era marginal a tudo que era

T

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

112

vigente, das leis à objetividade sendo tangente a estas como uma

realidade marginal a abertamente vista e por onde corria todo tipo

de ranço, discriminação, ódio, ameaças como uma corrente de

energia negativa o qual os resultados visíveis sempre eram curtos

que matavam. A criptocracia era uma quase recriação de realidade

paralela a gosto dos que dela eram oriundos, afinal estavam em tal

dimensão presos, pois o campo magnético da Terra era uma vedação

dimensional que "aprisiona" o mundo nesta dimensão.

Enquanto o problema do cristianismo estar na moda é ele se

tornar cultura, não religião, quando na verdade é uma filosofia de

vida, a criptocracia tornava-se como uma espécie de censura onde

suas palavras eram temíveis de serem ditas e seus resultados eram

crimes dos tipos mais violentos, ainda que alegadamente por outros

motivos. A criptocracia era como um sistema governamental

fantasma dominado por aqueles senhores descendentes de seres que

pareciam não ser de nossa dimensão. Naquele momento Alicia olhou

atentamente em silêncio o que dizia Raymon quando engoliu seco e

ao olhar para nós traduziu tudo o quanto ele queria dizer duma só

vez:

- Quando o Sistema Fantasma começa a funcionar a falha é

evidente, quando eles dominam como bug's num sistema, nada

funciona direito, não há oportunidades, espaço, direito ou justiça,

por melhor que você faça não conseguirá usufruir do que você

produz. Antes um clima negativo e pesado parece saturar os

convívios sociais e relacionamentos criando comportamentos

implausíveis e gradualmente o livre-arbítrio torna-se vão, a ordem

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

113

natural se rompe e interrompida coisas perdem a causa, há mortes

misteriosas e surgem coisas sem origem aparente e as pessoas

gradualmente não se lembram que eram, uns chama isto de

conspiração, mas falamos de algo que entrega as vísceras da

realidade a devorando por dentro fazendo com que as pessoas

apenas vaguem e até mesmo passem a desejar a morte. Eles são

ordenados por um homem no futuro, mas não o nosso futuro, o

futuro de outra dimensão.

Esse homem seria fruto do caos gerado em seu tempo, caos,

por isso ordenado por ele mesmo a fim de gerar a si próprio

enquanto esse homem tomava o poder de romper dimensões e

assim dar acesso, e poder, a estes batedores dele, levando a

revelação de que está numa dimensão divergente a criptocracia é

uma aberração, uma anomalia decorrente da falha.

Aquilo levava a mãe de todas as conspirações. O projeto

Filadelphia originado pelo Projeto Rainbow e que fora sucedido pelo

Projeto Fenix, utilizando inicialmente o U.S.S. Eldridge e

posteriormente projeto Montauk, fora na realidade iniciado como

uma iniciativa de engenharia reversa e aplicação prática para a

tecnologia de um UFO capturado em Roswell, em 1947 pelo mando

do grupo Majestic-12. Ao perceberem se tratar de uma tecnologia

dimensional e temporal para viagens no hiperespaço, somas altas de

cotia de dinheiro tentaram desvenda-la em vão pois faltava a

concepção teórica em si, de modo que os resultados dos projetos

derivados de Filadelphia foram um fracasso provocando incidentes. A

teoria abrange todo aspecto e se ramificando posteriormente em

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projetos menores o qual conseguiu-se decifrar a tecnologia, o qual a

Ordo Ab Chaos é subordinada e visa recolher todas informações

possíveis que consiga concluir o mosaico e enfim ter a chave para a

Porta Dimensional dos Tempos. O Incidente de Roswell não eram

seres oriundos do espaço, mas de outras dimensões, uma espécie

humanoide o qual alguns seriam descentes e que conspiradores

chamam por Reptilianos.

Após aquele longo dialogo travado com nosso amigo surdo e

mudo, percebemos que o que estávamos lidando era uma

descoberta muito mais antiga e colossal do que aparentava e que

aparentemente havíamos completado o mosaico. Mas apesar das

horas terem se avançado a madrugada naquele momento recebemos

uma notícia cruel de um vilarejo com descendentes maias que estava

dizimado naquele instante.

O lugar ficava não muito longe da grande cidade maia de

outrora grandiosa, mas aqueles homens empobrecidos apesar de não

terem herdados os costumes sanguinolentos de seu ápice e queda

seguiam uma vertente amena que considerava original antes de sua

degeneração moral. Os homens e mulheres daquele vilarejo

reuniram-se e buscavam unir os descendentes que ainda era unos

por sua cultura ancestral a espera de seu deus Kukulkán - versão

maia de Quetzalcóatl, senhor do vento - retornasse a seu mundo

cumprindo suas profecias, um homem alegadamente com traços

europeus responsável por lhe trazer inúmeros conhecimentos e que

viria doutra dimensão.

O fato do império maia posteriormente massacrar inúmeros

em rituais de sacrifícios humanos tratava-se, para eles de um

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afastamento das crenças originais numa mistificação distorcida de

seus preceitos que era de Espelho Esfumaçado. O fato era que

Raymon não considerava tal deus um deus, mas um homem com

domínio de conhecimento e tecnologia superiores, muito menos uma

alienígena por sua aparência humana, mas um homem de outra

dimensão ou tempo muito mais avançado ao deles, afinal

considerava-se o futuro outra dimensão em hipótese.

Mas o fato é que aqueles homens que não acreditavam que o

mundo acabaria em 2012, desde o princípio em sua ignóbil distorção

popular, estavam sendo massacrados supostamente porque um dos

responsáveis pela manutenção de seu conhecimento teria

descoberto uma cópia de um dos livros queimados pelos espanhóis

ou qual murmurava-se conhecer a ideia do multiverso e buscavam el

dorado.

Aqueles homens, impassíveis, ora possessos por uma raiva

irracional outra hora como gelados homens crentes de que com sua

maquinação tinham razão em sua injustiça alegavam que o segredo

de Fátima iria culminar no massacre deles quando na verdade

desejavam encobrir seus crimes e aproveitar-se disso para roubar os

conhecimentos restantes com o advento do artefato, como se matar,

roubar e destruir para eles fosse lei. A Ordo Ab Chaos estava

presente e envolvia o Vaticano como sua contraparte como se a

maldade fosse justificada pela bondade.

Todos eles viram que era hora de partir rumo ao lugar, pois

se a notícia se espalhara pelo contato de Raymon certamente as

autoridades já estavam igualmente cientes.

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- Não acredito na suposta lei de Murphy, nada cientifica.-

disse Zaira ao ver os comentários na internet do contato de Raymon -

A convergência de todas as probabilidades negativas é um buraco

negro de viabilidades. Isso não é coincidência.

- Coincidência é o anonimato do destino ou da

intencionalidade. – Retruquei eu pois concebia que a aleatória do

caos era residual doutra dimensão e vice-versa.

- Creio na segunda hipótese –completou ela intrigada com as

possibilidades – Os livros estavam certos, mesmo como ficções

teriam mais verdade que a realidade.

Naquele momento lamentei não os ter lidos todos, pois era

uma biblioteca de conhecimento peculiar e singular, realmente

único. Sobretudo aquilo remeteu igual mortandade como nos

tempos áureos ainda que decadentes da masmorra maia sob a sina

de que na verdade era o inchaço de sua civilização outrora nobre e

pura em seus conhecimentos e moral sem maculas, pois, estavam

sendo massacrados sumariamente como em igual ritual macabro.

Imaginei quantas histórias de vidas não conhecidas haviam para ser

contadas, quer nos livros da biblioteca maldita ou de escritos maias

perdidos, o Dresden tinha muitas faces e uma cultura como aquela

não poderia ser descartada assim como seus autores e

descobridores.

Raymon porém relutou ir temendo represarias de seus

adversários impassíveis que somente não deram cabo de sua vida o

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descartando por temer serem demasiados expostos, porém, ao

sairmos de sua residência nos vimos observados que àquela altura

carros de vidros escuros eram sinais de que estavam a nos cercar

talvez num ataque simultâneo.

Resolvemos tirar Raymon de sua residência e partimos em

direção a cidade ainda que o suposto contato dele afirmasse estar

conseguido proteger o achado anterior das mãos asquerosas

daqueles sanguinários boçais. Apesar de ter sido noutra cidade,

partimos com um carro alugado o quanto mais breve possível, na

realidade levou algumas horas e ao alvorecer junto com os primeiros

raios solares vimos as simples edificações vilarejo cercado de viaturas

policiais e mortos ao chão, não fora as mortes que permitiram

amanhecer como prima o distorcido conhecimento da época de sua

decadência.

Corpos espalhados ao chão, e colunas de fumaça se erguia

das casas, nem mesmo crianças e mulheres foram poupadas, menos

numa guerra aquilo era criem com traços genocidas. Para a surpresa

de Zaira, porém, vimos um padre caminhar entre os corpos tal como

a descrição da suposta profecia de Fátima o qual ela não tinha tanta

convicção, alguns poucos sobreviventes foram atendidos, mas apesar

da alegação oficial ter sido uma onda de saques e pilhagens por

traficantes não somente não os consideravam braços de Deus, mas

apenas serviçais do diabo, daqueles que fazem o grosso.

Fomos recebidos contato de Raymon que a despeito do

nome – era filho de um americano com uma descendente maia – era

entusiasta de seus descendentes, Doutor Russ DeGroat Burke, um

arqueólogo e antropólogo que estudava esse antigo povo

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relacionando achados com seu estado disperso atual. Aquele

homem, porém, tinha ares de que possuía maior conhecimento do

que aparentava ser limitado a cultura maia, mas de algo ulterior a ela

como precedente. Todavia o homem de uma cautela peculiar não por

menos aspirava a ser curador do museu ainda que no momento era

pesquisador e protetor da ala Maia no mesmo. Ele tinha um bigode

tipicamente mexicano e usava um blusão que, apesar dos traços,

aparentava ser um turista por ser florido e colorido.

- Não estou em boas condições psicológicas, perdi meu

amigo. Me perdoem. – Disse ele após nos cumprimentar. – Alguns

querem limitar a visão do México à essas coisas.

- Lamentamos muito por sua perda. – Disse Jones arrastando

um espanhol carregado no sotaque português. – Estamos aqui para

lhe ajudar.

- Por favor me acompanhem. – Seguiu ele dando as costas e

caminhando em convite para segui-lo. - Foram uma série de ataques

aparentemente coordenados. Primeiro no museu, ainda que com

outras alegações. – Completou ele indicando o traço criptocrata do

incidente quando seu telefone tocou.

O homem atendeu a ligação, porém, uma forte interferência

o fez repetir as palavras em voz firme e alto quando fora

interrompido, caindo.

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- Me perdoe, o sinal tem andado oscilante ultimamente.

Disseram ser global, mas não há traços de tempestades solares. –

deu seguimento com eles. – Acho que era hora de pegarmos o

artefato antes que eles o façam por nós.

Aquilo era óbvio demais, ainda que para as autoridades não

fosse relatado como uma relação clara por ausência de provas.

Porém, o passo seguinte nos levou a preciosidade que ele referia-se

recém descoberta, um fragmento não conhecido do Dresden maia o

qual tinha explicações das águas em relação ao tempo.

- Eles querem isto. – Disse o homem retirando do carro algo

envolto num tecido grosso – algumas tabuletas com desenhos

incrustrados. – Estou no fim da tradução mas o que tenho a lhes

informar é que o conhecimento disso é impressionantemente

coincidente com a hidrocriptografia e a maneira deles enxergar o

destino.

- A inconstância é uma inconsistência temporal. – Repercuti

impressionado com aquele achado.

- As previsões deles, enfim, não vinha apenas da meditação

climática e das estrelas, mas como Nostradamus, das águas! Ele

concebia previsões pelas variações em esboços até mesmo de

cálculos.

Nostradamus era lendário naquele meio, o qual especulava-

se ser até mesmo um membro da Ordo Christianistas Ad Ventus por

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suas práticas de meditação sobre as águas. Ele previu a noite de São

Bartolomeu, Napoleão, Hitler e tantos mais com notável precisão,

sua ciência não era uma mera hidromância, mas conseguia

contemplar o tempo pelas águas e o caos em seu estado mais puro.

Viu sobretudo mortes através das águas, pois vidas interrompidas são

as que mais criam ondulações.

- Sim, a proposta de que algumas das previsões deles não se

concretizaram era porque foram a outras dimensões de variáveis. –

Disse Petrônio e continuou – supõe-se que o gênio em suas quadras

eram interpretativas. – Completou quando viu Russ DeGroat retirar

um livro sobre ele que estava ao lado do achado arqueológico.

- As práticas não eram meramente coincidências, afirmações

de algo vir dos céus, por Nostradamus, identifica-se exatamente com

a de Kukulkán, vejam essa quadra. – Disse Russ abrindo o livro e lhes

mostrando a página e apontando a quadra em questão com o dedo

indicador.

De Salon, 27 de junho 1558

Michel Nostradamus”

X-72

Em 1999 e sete meses,

do céu virá um grande rei do terror.

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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Ressuscitará o grande rei D’ANGOLMOIS.

Antes que Marte reine pela felicidade.

Fiquei extasiado com aquilo, a possibilidade de quem o

mestre dos antigos maias retornassem encaixava-se perfeitamente

com aquela dita profecia, mas que por algum mistério não

aconteceu. Comumente alguns traduziam aquilo como se fosse a

possibilidade de um asteroide atingir a Terra no período, o que de

fato nunca concretizou-se porque na realidade não era um asteroide!

Mas isso não era tudo, dentre inúmeros materiais perdidos

de Nostradamus, assim como dos antigos maias, aquele livro que não

por menos era escrito por ele ao relacionar ele com os maias, trazia

algumas quadras recém descobertas após séculos perdidas ainda que

a autoria não fosse de todo confirmada. Assim eu li intrigado aquele

pequeno montante de palavras que indicavam algo que parecia

descrever nossos adversários.

Impostores marginais que marginalizarão pela discriminação,

Justificarão a injustiça pela mentira para o crime

Cruéis e saqueadores serão, e tentarão arrombar a porta dos

tempos

Até que o rei que viria, mas não veio dos céus, virá pela porta

do tempo.

- De quando é esta quadra? – Indagou Jones igualmente

intrigado.

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- Acho que se refere aos tempos atuais e encaixa-se

perfeitamente com a quadra anterior.

Respondemos aquilo com silêncio pois a introspecção se

tornou vital a compreensão diante de algo que nos deixava

estupefato.

Ainda que o ambiente não fosse dos mais adequados a

reflexão e teorização sobre tudo aquilo, pois ao olhar ao redor

relembramos estar numa cena de crime violento, seguimos ao carro

pois todo estrago que tivesse que ter ocorrido já tinha ocorrido e lá

entramos em direção ao museu.

O amanhecer não fosse aquela tragédia seria singularmente

belo e com o alvorecer o ar puro parecia cobrir a miséria da violência

como um lampejo de esperança sobre mentes que desejavam

procurar respostas que dessem significado a tudo aquilo.

As portas do museu estavam fechadas, mas um acesso de

funcionários pela lateral era permitido a DeGroat assim como nós

que o acompanhava. Fomos cumprimentados pelo guarda da noite

que pediu identificações e assinaturas e seguimos pela ala maia onde

inúmeros artefatos estavam dispostos em exposição ao lado de um

enorme soldado maia com sua armadura tradicional. Havia uma aura

retro naquilo que nos remetia não aos tempos mais sanguinários

daquele povo que se corrompeu, mas ao conhecimento que haviam

adquirido por vias não confirmadas até mesmo ao não leigo.

Adentramos uma parte o qual deu acesso ao acervo de

manutenção, onde peças em pesquisa e mais sensíveis eram

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guardadas. Vimos vasos de cerâmica antiga, pedaços de armadura,

ossadas, armas quando, por fim, chegamos a um canto onde havia

algo enrolado num pano. DeGroat colocou o trecho inédito do

Dresden ao lado e em seguida pegou o pequeno amontoado de pano

e o desenrolou revelando uma espécie de punhal que a vista nada

tinha de incomum.

DeGroat o pegou com cuidado como se fosse a peça mais

valiosa do universo quando sem devido conhecimento pouco daria

aquilo. E então olhou de perto e ao passar perto de um micro que

estava ligado notou-se uma interferência no monitor.

- O que é isso, está magnetizado? – Indagou Jones.

- Não, as vibrações do artefato são imperceptíveis no mundo

macro. É quântico. – Respondeu DeGroat igualmente intrigado.

Naquele momento ele curvou-se sobre uma mesa onde havia

uma enorme lente de aumento pois abriu o punhal em sua mão

como se estivesse sentindo uma sensação incomum e colocou o

punhal maia sob a lupa e observou.

- Por Deus! – Disse ele interrompendo o silêncio – Isso está

vibrando a olho nu.

Naquele momento todos tentaram competir por um espaço

ao lado da lupa, mas Alicia ocupou primeiro enquanto Jones, eu e

Petrônio sentíamos como crianças a espera de receber o doce. Alicia

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sorriu visivelmente emocionada e ambos deduzimos que se

levássemos aquilo a um laboratório de física descobriríamos algo não

menos singular. Porém, naquele momento faltou luz no laboratório

arqueológico.

- Faz tempo que isso não acontece, melhor contatar a

segurança, nunca se sabe se...

- Espere – disse Alicia ao observar o movimento de mãos de

Raymon que olhava o artefato. – Ele estava luminoso no escuro.

Era verdade, aquele punhal antiguíssimos estava como se

fosse similar em brasa com uma luz tênue mas perfeitamente visível

ainda que a temperatura do artefato mantivesse ambiente. O

telefone de Petrônio então tocou mas quando pegou perto do

artefato o telefone que era um smarthphone simplesmente surtou e

apagou.

- Será que isso seria capaz de provocar interferências em

maior escala? Celulares são inúteis perto dele!

- Não sei, mas de acordo com o mito maia o tempo que

transcorre em seis direções diferentes primava por uma seta, seta

que não tenho mais dúvidas ser personificado nesse punhal. Eles

sacrificavam pessoas com ele pois queriam também ter o portal de

volta, mas era crendice, não compreendiam como isso funcionava de

fato. – Disse Russ DeGroat

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- Metal e água como diz o livro de Roberta Sparrow, talvez

seja algo envolvendo isto para abrir um portal. – Respondeu Jones

perplexo.

- Mas algo me diz que isso são interferências de outro

universo. – Repercutiu Petrônio fascinando – que algo talvez esteja a

romper um portal para a nossa dimensão.

Porém, antes que guardassem o punhal para levarem a outro

lugar considerado mais seguro o segurança surgiu diante deles com

uma cara pálida de medo e lhes disse com espanto.

- Me perdoem senhores, fui rendido, e estes homens querem

ter com vocês – completou revelando-se vários homens por de trás

do segurança, completamente armados.

Aquela não era a adequada maré de sorte para nossos

amigos e ao contemplar o segurança com os olhos mareados de

pavor ele sorveu todo ar que pudesse a sua volta como se fosse um

suspiro desesperado e viu surgir de trás deles nada menos que David

Helson.

- Perderam, meus prezados, passe o artefato pra cá. – Disse

ele de modo impassível ao ser iluminado pelas luzes de emergência.

– Estamos esperando vocês nos levarem até o artefato.

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

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Petrônio sem reação ao lado de Russ DeGroat o viu

congelado em seus movimentos sem qualquer esboço de reação,

pois um lado lhe informava, como num alarido interno, que jamais

poderia entregar aquela peça, mas outro via que aquele monstro

seria capaz de qualquer crime para ter o que cobiçava. Mas Petrônio

tomou a frente e pegou a peça de suas mãos lentamente enquanto

os olhos enormes de pavor dele pareciam tremular. David Hellson

pegou e em seguida deu nas mãos de um dos homens dele.

- Guilherme, verifique se é a peça autêntica. – Completou

virando-se novamente para nós empunhando sua arma e nos disse. -

A seta pode ser colocada para indicar a direção dimensional

detectada, não somente espacial, como se fosse uma bussola que

capita a crepitação de ondas energéticas de outra dimensão. Casos

não tenham sido capazes de observar, não podemos abrir o portal

por este lado da dimensão, mas apenas apertar a campainha para

abrirem do outro lado.

- O que querem é arrombar as portas do tempo, mas nem

toda maré de sorte pode salva-lo. – Disse Jones Skelton num súbito

ataque de coragem ante aquele tirano.

- Caso não tenham notado, temos a chave de Kairos na mão.

– Completou ele e deu um riso diabólico em seguida como se

escarnecessem de nós ao mostrar que havia pego o punhal. – Ela iria

apontar perfeitamente onde acontecerá a ruptura dimensional que já

começou.

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Naquele momento ele viu que Alicia havia se abaixado por de

trás de uma bancada repleta de peças maias antigas. Aproveitando-

se da luz que não havia sido vista, mas não seus reflexos no material

metálico da outra bancada a frente. Ela estava com o celular em

mãos ligando para a policia, porém, o telefone estava dando um sinal

esquisito como nunca antes ouvido.

- Se a senhorita, - disse Hellson – acha que vai ligar para a

policia ai atrás abaixada, enganasse, a interferência pela ruptura

dimensional afeta todos instrumentos e comunicações. Levante-se. –

completou enquanto o homem dele verificava a autenticidade da

peça e lhe confirmava.

O homem estava certo nisso, a interferência sentida

anteriormente era um indicio de que a malha temporal estava mais

fina em dado ponto o que afetava as ondas magnéticas e mesmo

sinais por satélite como se fosse uma tempestade solar muito

agressiva. Sobretudo deu algumas informações que nosso grupo não

tinha ideia sobre o artefato que vibrava mais intensamente

denunciando o fluir de outra dimensão sobre a nossa.

- Nessa dimensão, a fonte mor de todas as fontes de energia

é o sol, porém, fora de nossas dimensões o poder imensurável que

por ele corta faz parecer o sol uma mera lâmpada de sala. – Disse o

homem debochando de nós como se pouco soubéssemos perto dele.

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- Senhor, - disse seu capataz e batedor, Guilherme – o

artefato aponta para o sul. Acho que coincide com os sinais do

satélite de que a abertura será nas mediações do Triangulo das

Bermudas, mas exatamente nas ilhas bikini.

- Ótimo, - respondeu Hellson – Levem eles para ver nosso

derradeiro triunfar na última viagem deles, podem também nos

servir como reféns de troca, caso algo de errado.

Se a criptocracia fosse um fato, David Hellson seria seu rei, e

gélido como um iceberg pediu para que seus homens se livrassem do

segurança que o fez de súbito com um tiro em sua nuca, sem o

menor esboço de afeição ou misericórdia como se nada refletisse

próximo a uma consciência a não ser sua cauterização absoluta. O

corpo que estava de joelhos fora empurrado por Guilherme caindo

de bruços mediante um grito abafado de Alicia ao se assustar com a

cena do crime no ato, quando pouco dando valor ao ato David

Hellson começou a discursar seguindo em frente, como quem tivesse

apenas descartado uma chapinha de garrafa de refrigerante.

- Esperamos muito tempo por isso. Em 2009 tentamos recriar

as condições que rompessem a dimensão num vórtice, mas fora um

fracasso, pois recriávamos eram seus efeitos, não causa.

- Golfo de Aden, em 9 de novembro. – Disse Petrônio num

semblante de repulsa e tendo o aceno de concordância de Hellson. -

Quando não aparece normalmente na mídia, cuidado, pois pode ser

mais importante e perigoso do que aparenta

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- Precisamos de algo que cortasse mais fundo da malha do

tempo, - disse ele olhando para o punhal – sobretudo porque

precisamos chamar atenção de quem está do outro lado.

- Seu louco, como tem ideia que há alguém do outro lado, na

outra dimensão? – Perguntou Alicia.

- Porque fora o mesmo que deixou isso. – Disse ele

mostrando o artefato – Como mesmo os senhores notam, a peça não

poderia ser originária deste mundo. Vocês podem se referir ao vento

do advento, pois quando o vórtice se abre cria um deslocamento de

vento e energia. Mas eu prefiro chamar de oportunidade de

conhecer nossa origem. – Completou referindo-se como se fosse

descendente dos caídos nesse mundo, um nefelins.

Quando há intensão, não há inocência, quando estando

ciente não é casual, pensei eu ao retirar-me do museu e contemplar

o céu tão límpido, mas com uma formação incomum em seu

horizonte, algo como nuvens brilhosas, similares a uma aurora

boreal.

Fomos colocados dentro de um carro e amordaçados como

se fossemos nós os cães raivosos, mas a medida que o carro

prosseguia refletia sobre o que poderia acontecer caso aquele

homem conseguisse hesito ao abrir o dito portal dimensional, algo

John Carter teria inspirações no conhecimento do autor de portais

reais, cria Jones Skelton.

Mesmo Hitler buscava atingir o vórtice abrindo para outra

dimensão através da Vrill, e sua tecnologia para construção de

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objetos experimentais que nunca chegaram a ser utilizados na guerra

teriam se derivado de contatos com outra dimensão. O carro seguiu

lentamente até chegar ao mais próximo aeroporto e sob pena de

sermos mortos ali mesmo, ficamos calados até sermos embarcados

onde a vaidade megalomaníaca de Hellson deu lugar e começou

novamente a discursar após a decolagem do avião.

- Karl Burger estava certo, - disse ele sobre um autor de livros

de realismo fantástico. - O DNA não humano de crânios alongados

indicavam que eles não eram dessa dimensão. O que não sabiam que

parte desse DNA não conhecido está presente em meu genoma, o

que faz de mim herdeiro de puro sangue dos conhecimentos que

vocês estudam. Mas assim como dois corpos não podem ocupar o

mesmo espaço, uma dimensão não pode ser ocupada pelos mesmos

corpos, e por isso venho ocupar meu lugar por direito. – Completou

enquanto era servido com uma dose de wiski por Guilherme em

comemoração.

- Se fosse você não comemoraria antes do tempo – disse

Alicia – aberrações caóticas tem uma declinação a tentar provar a lei

de Murphy.

- Recentemente descobrimos mais alguns desenhos sob a

mata Amazônica, - disse ele ignorando Alicia – a mesma onde havia a

cidade perdida que vocês acharam, e agora todo seu conhecimento

nos servirá e eu serei reconhecido como autor! – Completou

mostrando o copo como se oferecendo um brinde.

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Guilherme riu sadicamente deles enquanto Raymon os

olhava em silêncio em tom de reprovação e assim interrompendo o

silêncio funesto disse.

- E nosso cachorrinho surdo-mudo, não faz ideia do que

falamos. – Disse ironizando a condição do jovem tirando um riso de

Hellson.

- Talvez devamos sacrifica-lo diante da abertura do portal, e

amarramos ele com um bilhete a Roberta Sparrow. – Respondeu

Hellson em escárnio.

Naquele momento veio outro homem saindo da cabine da

tripulação em direção a eles e interrompendo de modo a indicar

alguma notícia de surpresa disse dirigindo-se a David Hellson.

- Senhor, temos relatos de diversos pontos de interferência

nos sinais de comunicação.

- Isso já sabemos, o que tem nisso.

- O problema é que junto a interferência vem sinais de

aparente transmissões nunca vistas em nosso mundo.

- Como assim? – Indagou Guilherme, o sádico.

- Sinais de áudio e vídeo, ora parecem como programas de

televisão e hora como uma mensagem para nós. – Respondeu e em

seguida acenou para outro homem que trouxe um laptop sintonizado

no sinal aparentemente digital e o homem continuou –

aparentemente decodificamos algo numa frequência muito parecida

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O Livro Maldito – Gerson Machado de Avillez

132

com a nossa que fortalece a interferência, a procedência é

confirmada como das ilhas bikini.

Hellson e Guilherme se inclinaram diante do monitor

colocado diante deles e em silêncio observaram uma imagem

inicialmente embaralhada, mas que gradualmente crepitava um

inglês truncado, como com um forte sotaque.

- Aproxima-se a tempestade dos séculos – disse a voz

mostrando um rosto rebuscado que tomava forma lentamente – os

que tentam abrir o portal rendam-se antes que seja tarde. Os

dominadores de seu mundo não terão vez.

Ao ver aquela imagem de relance quando tomou forma mais

nítida notei ser um rosto conhecido por mim, algo que havia visto

anos antes quando tomei um elixir milagroso escasseado pelos

tempos, era o homem que aparentemente estava no futuro.

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133

VI

Vislumbres Prévios "A insanidade é relativa. Quem estabelece a norma?"

Charles Bukowski

uando aquele sinal discrepante tornou ao normal mesmo

David Hellson parecia tentar disfarçar sua aparente

impotência ante aquele poder imensurável de outra

dimensão. Era tirano soberano em seu mundo e todos os crimes que

havia perpetuado até ali permaneceu impune. Carregava todas coisas

mais retrogradas em pleno século XXI, racismo, sexismo e machismo,

ele era um manancial de discriminação criminosa como poucos. Mas

aos poucos, ainda que sob forte interferência nos sinais de

comunicação, a programação da Tv voltava ao normal, na realidade

não tão ao normal pois agora jornalistas ao vivo transmitia com

imagens pautadas e kerniadas suas pautas sobre o que seria aquilo, o

sinal de outro mundo, dizia um repórter era uma prova contundente

de que não estávamos sós no universo?

Fosse o que fosse todos pareciam ratos num labirinto

tentando compreender sua totalidade como num mosaico, porém,

cego pela cobiça em sua impassividade David Hellson parecia alheio

aquilo e a possibilidade avassaladora de encontrar algo de poder

inominável mesmo aquele tirano e seus boçais insaciáveis de

violência e ganância.

Q

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- Talvez seu reinado esteja no fim, por fim. – Arrisquei

afirmar a ele para tentar sondar seu comportamento que fora frio.

- Pelo amor de Deus, passamos séculos estudando vocês de

perto, observando seus progressos, sua linha de baratas com seu

conhecimento. Vocês são meus ratinhos de laboratório que apenas

crio e descobriram tudo que é necessário para nós, agora chega a

hora de, com o fim de sua função, serem descartados. – Respondeu

ele com um sorriso sádico no rosto e continuou – nos infiltramos por

séculos em cada setor, no Vaticano e no governo e agora

encontraremos nossa origem, nada poderá nos deter.

- Estamos apenas adquirindo parcialmente capacidade de ver

através de realidades – disse Alicia – e como temos ciência de que

pela Hidrocriptografia o caos se faz necessário não uma, mas

inúmeras dimensões para ter seu poder, quem não garante que não

é a dimensão de que seu povo teria vindo?

- Cale a boca! – Respondeu ele após perceber que ela estava

tentando fazer um joguinho psicológico com ele – mulheres como

você deveriam ser úteis apenas na cama, pois nem pra lavar louça

serve. Enquanto não se sensibilizarem que pessoas como vocês

nasceram apenas para servir e serem pisadas, mais vão sofrer.

David Hellson estava encegueirado pela ganância e poder,

não cogitava, se quer que o observador que era poderia estar sendo

igualmente observado por algo inefavelmente mais poderoso do que

ele ousava pensar ser. Tinha convicções em sua maldade como

legitimidade ainda que não moral, talvez em fim, todos eles

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135

igualmente eram ratinhos em laboratório em sua pedante arrogância

que se colocava nas alturas naquele mundo.

Com o aproximar do voo ao aeroporto das Ilhas Bikini, no

Triangulo das Bermudas, o tempo estava com intensas correntes de

vento e com nevoas incomuns para o período, o que remetia aos

relatos de desaparecimentos e mesmo de pilotos que teriam

entrando em vórtices em meio as nuvens. Porém, a aeronave estava

operante pelos instrumentos ainda que eventualmente a bussola e

instrumentos de orientação e navegação parecesse confundir-se

sobre as rotas tomadas e mesmo a altitude informada. O temor

maior, para nós, no momento era de que estávamos nas garras de

um monstro cruel que nos mataria sem o menor pesar, como se

fossemos moscas, pois independente do que criamos e descobrimos

gratidão e pagamento não eram cogitações comuns a tamanho

imoral que eram aqueles grandes criminosos.

O avião pousou sem maiores transtornos, dando apenas uma

breve dançada na pista com o forte vento que vinha pela lateral,

porém, como hábil deveria ser o piloto rapidamente estabilizou o

bimotor e acertou seu prumo indo direto a sessão para nos

desembarcar.

Ao retirarem-se do avião a primeira coisa que viu fora o céu

com formações de nuvens peculiares que aos nativos do local não

indicava uma tempestade, ao menos comum, mas o que eles

chamavam de manifestação magnética peculiar, mas já visto

anteriormente por tais formações inusitadas.

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Caminhamos por alguns minutos até que vimos um carro que

nos aguardava e fomos colocados com as mãos amarradas para trás

dentro deles até ir a um local onde a telemetria indicava que

ocorreria o rompimento dimensional pelo vórtice. Os funcionários

nos viram amarrados, mas nada fizeram, todos na região eram

comprados pela poderosa quadrilha daquele homem.

Os carros dirigiram-se em meio a um forte vendaval pela

cidade quando chegamos a um lugar descampado o qual as arvores

dançavam ferozmente de um lado a outro pela intensidade dos

ventos quando raios sobre nós agora se viam roncando firmemente

como anuncio de algo. Fomos puxados para fora, obrigados a sair do

automóvel e encaminhados até uma equipe de aparente cientistas de

jaleco quando Guilherme entregou o punhal nas mãos daqueles

homens de ciência certa e moral errada. O alarido dos galhos de

arvores e folhagens eram tão intensos que eles precisavam gritar

para serem ouvidos.

- Está completo. – Disse o cientista ao pegar o punhal e um

outro homem a monitorar leituras do artefato. – Isto no lugar certo é

como a chave na fechadura certa. – Concluiu o homem com um

sorriso duvidoso quando um trovão brotou dos céus como se

informasse estar certo, naquilo.

David Hellson pegou o punhal e levantou-o no alto quando

ele pareceu estar levemente luminoso e perto de todos

equipamentos provocassem mal funcionamento técnico. O vento

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137

irrompeu entre ele balançando seu terno preto e seus cabelos

enquanto ele sorria como uma criança mimada com um brinquedo

caro recém adquirido e sentisse naquele momento que tinha todo

poder do universo em suas mãos.

Repentinamente, então, um outro trovão se ouviu rasgando

os céus quando as nuvens começaram a funilar como se formasse um

tornando, mas de seu interior uma luminosidade incomum crepitasse

fazendo a temperatura cair repentinamente e uma densa nevoa ao

redor se formar. O céu ficou de outra cor, algo entre um amarelado

esverdeado enquanto ele apenas ria embasbacado como se fosse o

responsável por criar tudo aquilo, quando vimos, de repente, o céu

literalmente se abrir como num túnel de luz que descia sobre nós, em

direção ao punhal nas mãos de Hellson enquanto Guilherme nos

apontava armas para não reagir e aproveitar o momento para tentar

praticar uma fuga.

A intensidade daquilo provocou um vento de tal intensidade

que mais remetia a uma onda de choque provocada por uma

explosão enquanto equipamentos detectava uma intensidade que

saia da escala comum com energias poucas vezes vistas, fazia parecer

relâmpagos meros choques de tomada. Os versos rasgam o véu entre

as vísceras do metafísico ante o real.

- A ti invoco Espelho Esfumaçado, Tezcatilpoca, deus dos

ventos não por menos! – Gritou David Hellson após quase cair com a

onda de vento. – Corte essa dimensão como as vestes de nossos

servos!

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Naquele momento ele virou-se para trás, me viu e pediu para

que Guilherme nos trouxesse até ele e então virando-se para nós

com os olhos mareados pelo poder que sentia correr mediante

aquela manifestação, nos apontou o punhal assim como a Raymon e

disse.

- Ofereço o sacrífico da vida deles assim como os maias o

fizeram! – Completou como se Kukulkán isso fosse responder o que

nunca fora feito nem mesmo durante o genocídio que realizavam

todos os dias para que o dia nascesse.

Empurrado por Guilherme, Raymon foi lançado a frente, mas

quando ele disse ‘acabou’ com um sorriso sádico e a voz sufocada

pela intensidade da tormenta um raio caiu sobre o punhal o lançando

longe.

Os cientistas correram até ele quando o túnel se alongou

mais e aproximou-se a uns quatro metros de nós, e saindo fumaça de

Hellson e do punhal o homem estava desacordado pelo raio que lhe

atingiu. Então o vento começou a ir no sentido oposto como se nos

sugasse para dentro do túnel onde a luz intensa e tremule vinha tão

intensa quando o sol.

Havia chovido na noite anterior e naquele momento observei

as ondulações das águas de uma poça mudar de direção como se

aquilo igualmente afetasse toda caótica comum. Alterações no caos

eram sentidas. Naquele momento um enorme clarão se ouviu e

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surgiu diante de nós a silhueta de um homem que lentamente tomou

forma enquanto os cientistas agachados protegiam o rosto com os

braços em vão.

O homem tinha um olhar severo e vestia uma espécie de

armadura dourada com equipamentos luminosos por todo corpo,

observou lentamente nós e olhou para seu pulso como se fizesse

algum tipo de leitura e então apontou para Guilherme e uma luz

intensa o cortou pela barriga o fazendo cair instantaneamente

morto.

Em seguia olhou para os cientistas e fez o mesmo, deixando o

único que não morreu cego com a intensidade do clarão, mas

aproveitando-se disso David Hellson fugiu. O homem então

aproximou-se de nós e olhou em silêncio, sob o intenso vendaval,

para nós e então parou diante de mim e olhou para o alto de onde o

vórtice se abria e me puxou pelo braço.

Me puxando silenciosamente sem nada dizer, viu ele o

punhal no chão e então parou apenas para pega-lo e em seguida

apertou algo em seu pulso e olhando para o algo um outro clarão

surgiu nos tragando e tudo perdeu-se numa brancura que engolia

todas as formas e o portal subitamente fechando. Aquele homem era

um guardião dimensional, uma espécie de porteiro para outras

dimensões físicas.

O fato é que meus sentidos ficaram tão aturdidos com aquilo

que tonteei e troquei as pernas quase desmaiando. Caí de joelhos

ante a maravilha daquilo que surgia nos céus, mas tomado pela

tontura que tirava toda orientação e quase a consciência quando

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então todo vento cessou e vi-me sob um chão branco totalmente liso

e sem junções.

Levantei o rosto lentamente e observei estar num lugar onde

as paredes, brancas, eram como o chão, sem aparentes portas ou

janelas. Me recobrei e levantei-me lentamente quando vi surgir o

desenho de uma porta atrás de mim. Virei-me e segui em direção a

luz que dela saia e caminhei lentamente como uma criança dando os

primeiros passos quando por ela atravessei e vi novamente o homem

que havia me capturado.

Ele estava de pé diante de outro homem com armaduras

douradas sentado numa espécie de trono, e para minha surpresa era

o mesmo homem que havia visto anos atrás numa visão provocada

por um elixir o qual se atribuía poderes milagrosos e proféticos.

- Você. – Disse eu perplexo – eu lhe vi antes. – Completei e

então o homem deu um esboço de sorriso. – Quem é você?

- Incrível, numa outra variável você havia sido morto cobaia

de um projeto negro. – Disse o homem com uma austeridade ímpar –

nós acompanhamos seus progressos sobre a compreensão da ciência

dimensional a anos e realmente teve progressos notáveis na teoria.

Naquele momento vi ao lado um corpo e ao me aproximar

intrigado contemplei sua face e para minha surpresa era eu mesmo.

- Sim, é você. – Disse o homem – resgatamos seu corpo após

o projeto negro ser concluído.

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- Eram apenas um, até o advento do desvio de dimensão

daquele evento, o incidente. Você é a versão da dimensão em que

sobreviveu. Existe uma diferença entre portal dimensional, desvio e

ruptura dimensional. E a cada fissura o caos se intensifica tornando a

mais dimensões ramificadas. – Disse ele movendo as mãos - A

tempestade criou diversas fraturas temporais em dimensões

tangentes ressoantes.

- Mas você não me disse ainda quem é em que ano estamos?

- Estamos no ano de 2037. Sou o resultado do que faço no

passado, sou seu filho! – Disse o homem me deixando confuso e

perplexo pois nunca tive um filho.

- Sou quem crio grilhões de destinos e os desfaço. -

Completou ele vestindo uma longa veste dourada ao levantar-se,

abaixo da armadura. - Sou o apogeu, a aurora de uma ciência

dimensional e temporal o qual tornará toda ciência moderna e

espacial, obsoleta! Agarraste a corda apenas para atraí-lo, e cá está

como um ratinho no labirinto.

- Impossível ser seu pai! – Retruquei.

- Sou resultado de um projeto que estudava as nuances

genéticas e sua influência no continuo multiverso pertinente a seus

genes, e como percebi que você nunca foi um bom pai, achei que

deveria morrer, servindo apenas ao designo de completar os eventos

o qual me elevam a onde estou. A eugenia fracassou, pois, somente a

aparente aleatória da miscigenação provou fortalecer a espécie,

nesse tempo o que enalteciam uma pureza, na verdade era fraqueza.

Você cumpriu seu papel.

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- Jamais tive a oportunidade de ser pai, não pode me culpar

pelo que não pude ser., Mas você me usar todo este tempo para

conseguir calcar postos até onde está é cruel. - Respondi sentando-

me numa cadeira transparente.

- Quero tocar os seres dourados, aqueles o qual são os

imperionautas. Mas agora você cumpriu seu papel e deve ser

finalizado, morto. - Completou ele acenando para um dos homens de

guarda. – Somente é um dentre variáveis.

- Espere tem que haver ainda algo de humano em você. Por

que me matar?

- Porque é assim que deve ser feito. – Concluiu o homem

dando de ombros e tentando demonstrar insensibilidade.

O modo como lidava com aquilo parecia apenas ser mais um

psicopata que encontrei ao fugir de outro, todavia vi que ainda

esboçava humanidade em seus olhos o qual de fato tinha algo de

mim. Seus olhos por um breve momento marearam ao me encontrar

e aproveitando-se disso disse.

- Não sei quanto o meu eu de outra dimensão, mas não sou

como você pensa que sou. Talvez tenha me corrompido, não sei. Mas

jamais seria mal com um filho meu.

- O que pretendes afinal além de não querer morrer? –

Perguntou o homem.

- Aqueles homens conseguiram despertar sua consciência

para romper as dimensões, e garanto que são mais cruéis do que

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imaginas. – Disse e o homem assentiu pedindo para prosseguir. – Eles

procuram sua dimensão de origem e não podemos permitir que a

alcance.

- Intrigante, temos ciência de qual dimensão vieram, são

muito poderosos em seu mundo de fato. Mas somos muito mais

avançados. O que você pode fazer para impedi-lo.

- Dê-me a oportunidade de provar meu valor e os impedirei.

O homem olhou para mim por alguns minutos em silêncio e

então cruzou os braços me olhando firme nos olhos e me fazendo

ficar intimidado até desviar os meus quando então disse.

- Você tem alguns dons, de fato. Afinal sou seu filho. –

Completou com certa rispidez. – Meu temor não são pelas amebas

éticas de seu mundo, mas dos que lhe geraram, são de uma

dimensão perigosa e caso retorne a sua dimensão.

- Coisas terríveis acontecerão. – concluí.

- Homem-esfumaçado. – Disse ele – Não por menos chamado

pelos incas de Espelho Esfumaçado. Pai dos reptilianos, uma

linhagem apta apenas as maiores moléstias que por séculos trouxe

problemas a humanidade.

- Pensava eu que ele fosse o mocinho. – Retruquei.

- Mal entre os seus. Sua linha de saqueadores malditos, não

por menos nos perseguem por séculos. Na verdade, um dos

primeiros a notar as divergências temporais e dimensionais fora um

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sefardi e sem ter ideia dos “porquês” criou os princípios da cabala,

algo que Roberta Sparrow procurou respostas em vão.

Os sefarditas eram judeus que se estabeleceram na Península

Ibérica durante as navegações fenícias, os ‘ladinos’, na língua litúrgica

eram judeus espanhóis do qual significa o termo serfardi do hebraico

para os que habitavam Portugal e Espanha. De tempos imemoráveis

habitaram estes locais onde se estabeleceram antes mesmo de Cristo

e resistindo a história e ao império romano, sobrevivendo até mesmo

a inquisição espanhola e se escondendo no norte da África e até

mesmo no chamado novo mundo, incluindo o Brasil dividindo-se nos

grupos ocidentais e orientais. Mas fora durante os primeiros séculos

após Cristo que uma tribo de sefardim encontrou seu destino na

Etiopia onde o qual tornaram-se protetores a antiga Arca da Aliança.

Teriam descoberto algo peculiar nas vísceras de um templo o

qual aproveitando-se de carona nas navegações fenícias o mistério

das bases da Ordo Christianitas Ad Ventus carregou até o novo

mundo onde teria sido cerrado dentro da cidade perdida encontrada

por uma equipe de pesquisadores recentemente, nas entranhas da

Amazônia e que teria inspirado mesmo a cabala e que a dita serpente

Esfumaçada procurou como motivo de sua vinda a tais terras

inexploradas pelo ocidente até então, seus rebentos malditos mesmo

mesclaram-se aos sefardim para tentar tomar suas prerrogativas.

Algo que levasse ao despertar natural da consciência em seu

encontro com uma realidade ulterior é como o sobrenatural, é o que

existe de mais puro, e assim como não existe padrão a compreensão

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da experiência espiritual pois ela é individual, como uma porta

apenas você pode abrir e mover-se entre ela, somente quem tem a

chave e a chave sempre será o 'porquê'.

- Mostrar o caminho é possível, - disse o homem do futuro -

mas atravessa-lo sempre será uma jornada particular. Posso levantar

a pergunta. Num conceito dialético crie a pergunta que o enigma

clama para ser revelado, mas o caminho pode ser misterioso, porem

o objetivo sempre será a revelação. A torre dos ventos é

indestrutível, e aniquiladora, mas sobretudo conduto a expandir a

consciência e como diz Einstein, uma vez expandida, jamais voltará

ao mesmo, e sua jornada será sua iniciação. Podem até devorar-me,

porém, minhas ideias lhes devorarão as entranhas da mente.

Despertei, e estou de pé, e minhas ideias são meus olhos que

fuzilarão vocês assim como sua peçonha faz com os inocentes, e elas

dominarão quando A Tempestade passar. – Completou sentando-se

novamente em seu trono lustroso.

- Um mundo sem paradigmas e axiomas comuns – repercuti

o que ele queria dizer e segui - Einstein dizia que a imaginação em

sua especulação é mais poderosa que o conhecimento, afinal é o

principal propulsor para a invenção buscada pela necessidade.

- A natureza do multiverso são espelhos e os modificamos

como por eles espelhamos, ou especulamos... – concluiu. – Você terá

o suporte, mas agora terá de ir e procurar o Mestre dos Ventos

Supremo de seu tempo e dimensão.

- Quem é ele? – Indaguei.

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- Um dos seus, procure-o e ele te acharás. Então conheça a

verdade e ela o libertará. – Respondeu – Vá. – Concluiu quando um

vórtice abriu-se atrás dele criando um vendaval.

- Espere, diga ao menos seu nome para conhecer quem é o

filho que jamais tive!

O homem apenas sorriu levemente e então fui como tragado

por um turbilhão de vento e caos que me puxou para dentro e tudo

então se apagou, ficou branco.

Quando despertei vi-me num lugar de vegetação rasteira.

Ergui-me como de soslaio mesmo a fauna, mas tonto cambaleei

como se o chão fugisse de meus pés. Olhei ao redor e tentei fixar a

visão num ponto só, mas vi tudo embaçado quando ouvi um barulho

incomum. Virei-me para trás, de onde via o ruído, e observei que não

estava só, duas crianças estavas congeladas lado a lado olhando para

mim como se fosse um fantasma. Uma então disse apenas em

espanhol ‘hombre estranho’ e saiu correndo sendo seguida pela

outra que quase chorou.

Caminhei alguns passos em direção as duas crianças e vi que

estava num lugar tropical e o céu abria-se rapidamente com seu

desnuviar de algum tipo de tempestade. Então, mais a frente, vi

construções rudimentares quando o som de sirenes interrompeu

minha quase concentração, eram carros de polícia que vieram

soando seu zunido indo até diante de mim e pararam freando

bruscamente.

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- Gerson Machado de Avillez – gritou um homem saindo de

um dos carros e, respondi, ainda que confuso, que sim com a cabeça.

– Estamos lhe procurando, quando já havíamos cessado buscas.

Fiquei parado ainda sem compreender o que acontecera e

calado meu silêncio soou como perguntas.

- Faz dois anos que você despareceu. – Repercutiu o homem

dando de ombros – onde você esteve?

- Onde estou? – Perguntei eu demonstrando que pouco sabia

e então naquele momento um policial olhou para outro perplexo e

disse.

- No sul das ilhas Bikini, exatamente a 46 quilômetros de

onde desapareceu num evento atmosférico não conhecido.

Fiquei calado e então um deles se aproximou de mim e

colocando a mão no meu ombro me orientou até a viatura onde

adentrei do mesmo modo em que fora encontrado.

Depois de horas de depoimento ao delegado que sugeriu até

mesmo tudo ter sido uma armação minha, meus amigos foram

contatados e então após ser levado a um hotel, horas depois, surgiu

Petrônio como a mesma cara de quem havia visto um morto das

crianças que me encontraram. O homem parecia ter ganho mais

alguns fios de cabelos brancos e demonstrou um misto de nostalgia e

preocupação.

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- Nós viramos o mundo do avesso te procurando, é verdade o

que diz sobre a viagem?

- A tal altura tenho dúvidas de minha sanidade. – Respondi.

- Ao menos as autoridades céticas legais assim justificam.

Mas você ter um filho que nunca teve soa um...

- ...um paradoxo – concluí.

– Mas quanto mais louco parecemos mais perto estamos da

verdade. – Disse Petrônio. - Pena não ter tido provas. Mas toda

localidade registrou um evento atmosférico incomum no dia em que

aconteceu e logo após as transmissões e comunicações voltaram ao

normal. Alegaram então ter sido um sinal pirata para simular um

engenhoso plano de marketing viral.

- O homem que era do futuro disse para procurar O Mestre

Supremo dos Ventos da Ordem dos Ventos, Petrônio. Sugeriu que eu

o conheça. – Repercuti interrompendo Petrônio e então levantei-me

até a janela do quarto no hotel quando vi que a impressa estava do

lado de fora. – Mas querem que faça vários exames psiquiátricos

após isso.

- Bom, poderia afirmar ser um choque de realidades. – Disse

Petrônio com certa ironia. – Isso provoca alguns problemas

psicológicos, creio. – Concluiu. – Mas apesar de nunca termos

encontrado O Mestre Supremo dos Ventos, ouvimos apenas rumores

de quem seja.

- Como assim vocês têm um superior que nunca viram? –

Indaguei.

- Na religião também é assim, quantos conheceram Deus?

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Respondi em silêncio, mas afinal o líder máximo da Ordo

Christianitas Ad Ventus ainda vivo não era um Deus, mas então uma

lenda. Alguém que conhece todos os segredos, mas que ninguém faz

ideia de quem seja. Porém, segui tudo o quanto mais julguei

relevante ser contato, na verdade até detalhes de como seria o dito

lugar onde o homem que se dizia meu filho se assentava.

Seguimos então até o psiquiatra onde uma bateria de

exames foram feitas sem detectar qualquer tipo de patologia

psíquica ou psiquiatria a não ser exatamente a desorientação e

choque por ter atravessado supostamente realidades. Porém,

crédulos, os médicos em questão conjecturam ser um punhado raro

de síndromes alucinatórias em decorrência do dito incidente como

de que mesmo tempestades magnéticas teria o poder de criar, em

raros casos, alucinações. Afinal as alegações extraordinárias exigiam

provas extraordinárias.

Mas aquilo correu as notícias principalmente da mídia

marrom onde se mencionou abduções de alienígenas e filhos por

inseminação artificial, todas ideias igualmente vagas de provas, afinal

o dito homem não estava presente para iguais testes. Aquilo então

passou a ser considerado um embuste deliberado ou não, pois

mesmo que não houvesse quaisquer registros de que tivesse ido a

algum lugar na Terra no período de dois anos a navalha de Ockam

apontava para o mais óbvio, um homem que após tomar um raio

alucinou e perdeu a memória vagando por casas da região.

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Porém, mesmo que Petrônio Fonseca tivesse relatado tudo

que aconteceu as autoridades na época, o caso que ficou registro de

como sequestro não prosseguiu deixando Steve David Hellson

impune de seus atos, alegadamente por ter comprado as autoridades

de todo litoral da América Central e do México. Assim partimos para

o Brasil e quando mesmo que passava acreditar que tudo se tratava

de uma alucinação minha, não diferente do misterioso Elixir

premonitório, ao chegar em casa tive uma surpresa, uma mulher,

Zaira, me esperava informando ter notícias do suposto Líder Supremo

de uma Ordem que por si só questionava-se a existência por alguns

dos próprios membros.

- Zaira Alonso Arango, estou surpreso em vê-la por estes

lados. – Disse, mas ela apenas me olhou sem esboçar qualquer

emoção aparente quando disse.

- Fico feliz em encontra-lo novamente, alguns especulam que

assim que a igreja seria arrebatada. – Disse ela finalmente sorrindo.

- Mas então o que lhe traz sua agradável presença a nós? –

Disse Petrônio parando ao nosso lado.

- Notícias do Mestre dos Ventos de nosso tempo. –

Respondeu ela sorrindo. - O Líder é perseguido por seus

conhecimentos sendo obrigado a viver anônimo e frequentemente se

escondendo quando não vivendo na clandestinidade.

Na hierarquia da Ordo Christianita Ad Ventus, ele estaria

acima até mesmo do Quarto Mestre de 8 Guardião Ametista ou

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Palatinus Ad Veritatis – ainda que ocupasse o cargo fora de toda

hierarquia. Apenas nos tempos medievais se ouvira falar de um

Mestre dos conhecimentos dimensionais e temporais da Ordem dos

Ventos, naturalmente morto. Há apenas um líder supremo sobre

qualquer designação e módulo, de modo que a única hierarquia é o

conhecimento filosófico da verdade. O Líder Supremo tem que ter

vocação, aptidão, mas sobretudo em sua jornada particular

conquistar seu conhecimento o construindo, enquanto os que os

perseguiam são avessos a ética e aos valores, o caminho é individual

e tem por vertente central os valores de um Ethos intemporal.

Protetores da verdade, que como os bons, que alteram o sistema de

dentro dele e através dele ao contrário dos maus que para isso

precisam destruir, não transformar. Constrói o seu conhecimento ao

contrário dos que apenas o destroem e furtam. Eram como o ciclo

acadêmico formavam formadores e criavam criadores do

conhecimento.

Zaira então adentrou e após oferecer-lhe café – que aceitou

prontamente – ajeitou-se ao ver Petrônio sentar-se numa poltrona e

então disse.

- O Clube dos Pioneiros na verdade é uma iniciativa de

estudos sobre livros dimensionais criada pela Ordem dos Ventos.

Fora criada para investigar quais foram os membros ilustres, ou não,

da Ordem dos Ventos, assim como de livros malditos como os

encontrados por nós nas catacumbas. Os mais importantes

produtores de conhecimento dentro das esferas temporais da ordem

mítica, não mística.

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- Como percebemos isso é um exercício difícil – disse

Petrônio – pois eles não deixaram, normalmente documentos assim

como a Ordem, pois é a ideia dela que move. Porém, suponho que o

Clube dos Pioneiros conseguiu alcançar seu objetivo. – Concluiu

tendo o aceno positivo dela.

- Artistas, poetas, filósofos, cientistas e escritores, quer os

que tenham se deparado com o mistério dos tempos ou tenham sido

convidados pela Ordem por seus atributos incomuns e por estarem

perto da verdade. – Disse ela – Alguns aludem o Priorato de Sião

como uma fachada e outros como um rival. Mas na verdade, a

Ordem dos Ventos se quer fez questão de existir de verdade, pois ela

é mais uma ideia do que um fato, pois ideias que geram o fato da

realidade, a ordem é um sopro de Deus a verdade. Seu compromisso

era não com ciências ocultas ainda que na época assim se

interpretasse mediante o fato de que lidávamos com coisas de outro

mundo não visto ou conhecido por vias sensoriais. Tinha por primazia

o poder de mudar o mundo pelas ideias, orientar a realidade a um

destino e proteger perseguidos pelos tempos, várias famílias que

sobreviveram a todo tipo de coisa e eram unidas exatamente por

isso, uma ideia, ou ideias.

- Pesquisadores e protetores de uma verdade perdida por

milhares de anos, o Mistério do Tempo e do Destino. – Concluiu

Petrônio – Verdade perdida desde a queda do homem no Éden.

Assim preza o mito.

- O Clube de Pioneiros assim era o mais perto de uma

organização existente de verdade, surgida no século XVII reunia um

grupo de pessoas, alguns ilustres, para assinar obras literárias, em

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parte por pseudônimos, que reivindicassem a ciência perdida de uma

verdade ancestral. – Disse Zaira.

- A Biblioteca Maldita. – Concluí eu intrigado sendo assentida

por ela.

– Colocou os principais homens que despertaram a

consciência a um mundo maior, mais amplo do que o visto e

conhecido, de seus propósitos, destinos e do que rege estes.

- Mas por que um livro está assinado por mim? – Indaguei

ainda perplexo.

- Porque alguns dos conhecimentos não eram desse mundo

assim como seus membros, eram de outras dimensões. – Concluiu

ela deixando Petrônio espantado. – O que você viu é que a Ordo

Christianistas Ad Ventus é apenas um nome de algo que opera em

inúmeras dimensões cada qual para proteger o destino e a verdade

das garras de retrógrados. Uns conhecem por mundos meta-

materiais ou espirituais, mas nós metafísico, pois é algo mítico, não

místico, metafórico não ambiguo.

- Por que você nunca nos contou isso antes? – Indagou

Petrônio quase a interrompendo. – Você fala em nome do Mestre

Secreto dos Tempos? – Ela acenou que sim com a cabeça.

- Ele, na verdade, veio de outra dimensão.

- Mas o que você tem ideia da Tempestade dos Séculos? –

Indaguei - o homem mencionou que...

- O homem conhecido pelo mito do Espelho Esfumaçado

retornará de outra dimensão e tempo e assolará essa dimensão. –

Concluiu ela. – E isso começará por aqui, pois ele agora tem ideia de

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onde está a cidade perdida que procurava e que fora fundada por

sefardim e fenícios séculos antes da descoberta oficial. Faz parte da

cepa de homens vis guiados pela ganância no caminho da raiva.

Conhecíamos aquela trama, pois a luta para perseguir aquele

conhecimento perdido secular era notória em proporção em que nos

tornavam igualmente perseguidos pelos cruéis homens que eram

diametralmente opostas as linhagens do conhecimento original do

Éden. Podemos ser deserdados, mas ainda assim a linha genética

prossegue, e são na realidade muitas mais famílias e por isso desejam

matarmos, pois veem romper o destino como um desafio a seu

poder, o qual querem apenas tentar e atentar como parte do projeto.

Tudo que há de mais diabólico e nefasto. A Ordo Ad Chaos não tinha

legitimidade de autoridade, e autoral e muito menos legal sobre o

que desejava usurpar ao contrário da Ordo ad Ventus que o

conhecimento era a corrente comum, conquistada, quer por herança

ou por aprendizado. Não se poderia estabelecer uma relação

simbiótica ou sociedade com um, mas com a Ordo Ad Ventus não era

parasitoide, quem descobrisse seu mistério a recompensa era ser

parte e o prémio a verdade. Quem é fino não precisa humilhar para

estar acima, pois no tempo não existe em cima ou embaixo, mas

antes e depois.

Ficamos ali traçando aquela linha de raciocínio por longas

horas até quando a televisão fora ligada a presenciar que efeitos

similares a da tempestade enfrentada por nós estava acontecendo

novamente, desta vez no Rio de Janeiro de modo a interferir na

comunicação. Naquela noite inúmeras pessoas tiveram supostos

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avistamentos de OVNIs e muitos começaram a se perguntar se as

histórias por mim relatadas de fato eram mentira ou engano.

Perplexo perguntamos se Zaira conhecia o dito homem respondendo

que sim e então perguntamos se nós igualmente o conhecia e com

um sorriso no rosto, cordial, respondeu apenas acenando que sim.

Naquele momento então o telefone interrompeu o silêncio

sugestivo a reflexão e fui atende-lo ficando paralisado de surpresa

com quem seria.

- Jones Skelton, o que houve? – Indaguei perplexo.

- Preciso que venham até a biblioteca, alguma coisa invadiu

isto para me pegar. – Disse ele do outro lado da linha deixando-me

sem reação até que Zaira pegou o telefone e disse.

- Jones, é Zaira, o que houve?

Ela ouviu tudo atentamente e então concordando apenas

levantou a manga de sua blusa e olhou para seu relógio de ponteiros

– que era tradição entre eles, ainda que um tipo especifico – e viu-se

claramente a pequena tatuagem que tinha de uma rosa dos ventos

que ela se referia como estrela dos ventos. Com olhar cerrado no

vazio ela estava vendo pelos ouvidos e ouvindo pelos olhos.

- Estou tomando providências, estaremos ai em meia hora

mais tardar. – Completou apenas informando para aguentar firme e

desligou. Então ela virou-se para nós e disse – Jones está em apuros.

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Sem pensar pegamos nossas coisas e fomos atrás deles

enquanto Zaira ligava para contatos que não conhecíamos

mencionando recados tenebrosos como: ‘A Tempestade dos Séculos

começou, a verdade está em risco assim como os autores’. Ainda não

tinha certeza sobre o que acontecia, mas temia que fosse pior do que

a imaginação pálida simule da realidade poderia nos conceber.

No exterior uma tormenta nos céus se formava com trovões

e raios, um vendaval intenso curvava arbustos e destelhava casas

quando vi nos céus um ponto luminoso como outrora havia visto na

infância. Ele cortou as nuvens em ziguezague e sua luz parecia

ilumina-las por dentro ao entardecer de modo que de suas vísceras

viam-se raios de luz branca cuja intensidade perdia-se nas demais.

A ligação de Zaira repentinamente caiu e vendo-se que

estávamos então incomunicáveis restava ao nosso grupo apenas

seguir ao local na esperança de que tudo o quanto ela solicitou fosse

recebido. Aguardamos apreensivos e ao atravessar a ponte Rio-

Niterói o vendaval fazia a ponte dançar de um lado a outro tornando

medos angustiosos a quem ousasse atravessa-lo. E nós erámos uns

deles.

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VII

A Tempestade dos Séculos "Só é possível converter o pecador, nunca um santo."

O Jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafón

ukulkán do mito maia onde conquistou um povo fornecendo

conhecimentos a realidade, parecia indicar que a realidade

era mais estranha que o mito ao conceber que seu rival,

Espelho Esfumaçado, ou seja, o que fosse estava ressurgindo do mito

secular a realidade contemporânea. Assim quando entramos na rua

da impressa, onde dava a Biblioteca Nacional, vimos uma coluna de

fumaça negra se erguendo do prédio o que nos alarmou. Seguimos

na guinada dos pneus, o tocando para contemplar mais adiante

escombros e vidro espalhados pelo chão e um pessoal nas ruas

assustado apontando para o alto do prédio.

Paramos o carro e ao descermos os comentários dos

populares indicavam que um dos pontos de luz no céu teria batido na

Biblioteca, mas não era tão simples como um bólido celeste a atingir

com sua aleatória um centro do conhecimento universal, pois

segundo nossas ideias visava atingir o centro do conhecimento

multiversal.

Descemos do carro e seguimos a passos largos até a entrada

para observar que estava fechada, um homem ao nosso lado

reclamava ao telefone por não conseguir ligar para os bombeiros pois

a interferência eletromagnética era intensa. Porém, caminhamos

K

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pela lateral e observamos uma porta de vidro quebrada e lá

entramos.

- Isso não é invasão? – Indaguei eu perplexo.

- Não, somos o socorro. – Respondeu Zaira decidida a

procurar seu amigo.

- Por que estão tão preocupados com Jones? Ele é velho mas

faz ideia de como se virar.

- Ele não é o que aparenta. – Respondeu Zaira subindo um

lance de escadas como se fosse uma colegial.

- Mas então o que afinal é Skelton? – Insisti.

- Esse não é nome dele, mas um pseudônimo. – Respondeu

Petrônio já bufando sem folego.

- Assim como você tem um filho perdido noutra dimensão,

Skelton é Jim Darko, filho perdido de Donald Darko.

Perguntei-me quem era este, mas então lembrei-me do livro

maldito da filosofia da viagem no tempo, aquele de Roberta Sparrow,

e então me veio todo mais em mente como num estalo, Darko era

um refugiado dimensional, estava escondido neste planeta ajuntando

o conhecimento dos livros malditos pelo Clube dos Pioneiros, o

tempo todo de nosso lado. Estava pasmo e então quando chegamos

numa porta vimos Jones gritar por nós quando vimos uma silhueta

tenebrosa vagar por entre as estantes.

Zaira então deu a volta para não quebrar a porta de vidro,

mas ao notar que havia outra, e trancada, ela não pensou duas vezes,

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pegou a primeira cadeira que viu na frente e a lançou com ferocidade

sobre a porta. Primeiramente a porta não se quebrou, mas após uma

segunda investida por Petrônio, após pega-la do chão, conseguiu

êxito. E entramos pisando sobre os cacos de vidro temperados

quando ouvimos novamente Skelton gritar do outro lado dos

aposentos onde ficavam os livros mais raros.

Não sei de onde, mas Zaira tirou uma arma e a empunhou

bravamente, caso não distinguisse sua aparência diria que era um

homem. Assim seguimos quando então vimos o rombo numa das

paredes, janela e tudo mais arrancado em meio a escombros e livros,

algo havia simplesmente rasgado as paredes como se fosse papel e

agora a fumaça que saia de um fogo de cor vermelha vinha sobre nós

quase nos cobrindo quando nos deparamos com Skelton, finalmente.

E o que vimos fora angustiante.

Jones estava encolhido num canto, acuado como um animal

indefeso ante um predador cruel, um homem com vestes longas que

caminhava em sua direção como se deseja-se traga-lo. Dava passos

firmes em sua direção como se estivesse decidido da cabo de sua

vida meramente por ter criado algo positivo que fizeste a diferença

como se fosse guiado por um cobiça ímpar.

Mas no momento em que o homem, impassível e impiedoso

desaenbanhava uma espada cuja lâmina parecia rasgar mesmo o

tecido da realidade de onde veio, lhe apontou como se sua morte

fosse quase um sacrifício ritual, mas naquele momento Zaira saiu das

nuvens de fumaça e empunhando a arma apenas disse.

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- Enfim nós encontramos homem esfumaçado por que não

procura alguém que possa se defender seu covarde?

O homem então parou e virou-se lentamente com um olhar

tenebroso e um sorriso macabro e respondeu abaixando a espada

enquando Jones rezava para não ser decapitado ali mesmo.

- Insolente! Nunca compreenderá que formas de vida

menores e inferiores devem ser acabadas. Para uma árvore crescer

as folhas atrofiadas devem ser cortadas.

- Não vejo inferioridade nele – respondeu ela – mas

moralmente em ti. Procure alguém de seu tamanho.

Hombridade, imparcialidade, equidade, fidelidade,

generosidade, sinceridade, pureza, retidão, cavalheirismo,

humildade, caridade. Diz o bom e o mal se ressentirá por ausência,

pois quando refere-se como bem, mente.

Naquele momento o homem esfumaçado olhou para o lado e

ouviu o barulho de sirenes, não somente do corpo de bombeiros,

mas da polícia e antes mesmo que Zaira atirasse nele para impedi-lo,

observou atentamente os ruídos e disse.

- A vitória nunca é definitiva. - Disse o homem esfumaçado ao

ver que não poderia matar Jones naquele momento. - Seus aliados

cairão no sono e nosso ódio e ganância vai dominar como se fosse

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seu amor e honestidades. Nós veremos novamente. – Concluiu ele

referindo-se a ela.

O homem então, tempestuoso de fúria correu para o buraco

na parede de onde irradiou uma profusão de luzes de seu exterior e

lançou-se sobre ele desaparecendo, era um vórtice, o mesmo de

onde veio. Corri então até Jones o acudindo e o notando

transpirando de nervoso e medo. Ele havia sido resgatado por nós.

- Ele quer matar os autores para saqueá-los, pois é o mal.

Uma força nefasta de um mal ímpar, cruel e impiedoso o qual nada

há de bom. – Disse Zaira – Apenas ganhamos tempo. Pois o homem

esfumaçado só vai parar quando acabar com Jones ou ser morto, é o

que ele faz, aniquila, acaba com quem muito produz e se possível as

pessoas que estes amam, pois é o supremo mal de uma dimensão

inferior, infernal. É um mercador de conhecimentos alheios, como

um caramujo oculta-se dentro de criações do qual nunca colaborou

ou foi autor.

- O homem esfumaçado na verdade é apenas um serviçal. O

inferno também tem seus frutos mas não são revelados ou o colhem.

– Repercutiu Petrônio. – Quando alguém incomoda eles, não tem

mais utilidade para eles ou deixam de gostar, eles simplesmente

descartam, acabam, matam.

Jones ainda sentindo um tremor nas pernas ergueu-se e de

pé cambaleou, seus livros não serviram de escudo ainda uma força

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que prima pela ignorância. Não adiantava, aquele pertencia a uma

potestade obstinada que sempre estaria a martelar incessantemente

a mesma coisa, acabar, terminar, aniquilar. Jones reuniu um pouco

de coragem se corando ante seu anterior empalidecer e disse.

- Colher o que planta não significa esperar que aquele que

trata por bicho lhe cumprimente e elogie como se fosse um homem.

Mesmo meus animais humanizo, ante os que animalizam homens na

esperança de condena-los.

Seria conveniente ao tolo aprender a praticar a justiça antes

de falar de paz, pois Jones não poderia ser o mais sábio dos homens,

mas certamente era mais dos que desejam lhe destruir para lhe

copiar tirando-lhe seus frutos. Não tão sábio que seja perfeito, não

tão tolo que seja tão mal. O tolo edifica sobre o alheio, humilhando, o

sábio sobre si mesmo, com humildade. Mas a maldade é uma loucura

racional, indefinível em plenitude pois é alternante, maquina

racionalmente a loucura moral, um ato sem porque ou proporção.

Ignorava a lógica ao procurar lógica na insanidade.

Mas naquele momento ouvimos o barulho dos homens

subindo as escadas, mal poderiam conceber que havíamos

enfrentado um ser que aspirava a ser deus ainda que agisse como

demônio. Zaira pegou Jones pelo braço e praticamente o arrastou

para outra parte da biblioteca em que não havia atingida, parecia

estar cumprindo um papel de protetora quase materna.

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- Renunciar ao seu sonho, é renunciar a autoria de sua vida. –

Disse ela para ele segurando-o firmemente com olhar severo, mas

ignorando o que ela dizia Jones apenas disse num devaneio

introspectivo.

- As origens são o fundamento da existência. Mas qual é a do

abismo?

Os bombeiros adentraram o local atingido pelo vórtice e

encontraram entulho e fogo sobre livros. Pegaram extintores e

começaram apaga-lo enquanto dois policiais percebendo ter sido a

biblioteca acometida por uma invasão pegaram as armas procurando

criminosos e vítimas. Naquele momento mesmo que novamente

correndo me perguntava se Jones era o dito Mestre do Tempo e

quais eram os motores que propulsionavam os desejos do Homem

esfumaçado, pois aqueles ansiosos por roubar a humanidade de

Jones os próprios perderam a deles, não sendo nem deus, nem

homem, mas um elo entre demônios e o abismo.

Jones mal poderia conter-se ou esconder o fato de fora

vítima, estava estampado no rosto ainda pálido por um medo

profundo que emanou daquele ser de outra dimensão como vindo do

inferno. Naquele momento percebi que um líder supremo da idônea

ordem dos ventos não poderia ser alguém que não estivesse disposto

a morrer por seus ideais. Ao ser encontrado pelas autoridades ao

nosso lado a situação expressou quem era quem sem quer qualquer

palavra fosse dita por nossos lábios ou os deles.

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Sobretudo haviam arranhões no braço e no rosto de Jones, a

janela havia explodido quase sobre ele lançando estilhaços e cacos

para todos os lados quando a película dimensional fora rompida

como um hímen de uma virgem, naturalmente como num ato

violento. Zaira então disse que ouviu os gritos de socorro dele

quando alguém aproveitou um raio que havia caído para invadir e

saquear, ainda que compreenderíamos que esse “raio” cairia

novamente no mesmo lugar.

Jones fora levado para a ambulância onde seus cortes foram

aparados com remendos em seu corpo, sua aparência envelhecida

parecia naquele momento reunir mais cicatrizes e marcas de

expressão para sua história seja qual fosse, pois era um homem que

teria vindo de outra dimensão. Quando fora liberado o incêndio já

havia sido controlado e seguimos até o humilde domicílio de Jones,

um apartamento simples num conjunto popular.

Exausto pelo terror imoral o homem sentou-se firmemente

em sua poltrona ao ser recebido em seguida por um gato amistoso,

deixou o peso que parecia carregar sobre os ombros em si próprio e

respirou fundo como de alivio ainda que momentâneo. Estava saindo

do choque traumático daquele encontro nefasto quando interrompi

o silêncio e disse.

- Como o Homem esfumaçado saberia que não vai encontrá-

la novamente? – Indaguei a Zaira.

- Ele tem conhecimento de variáveis dimensionais e

consequentemente do futuro. – Respondeu ela pegando num jarro

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um pouco de água e dando a Jones. - O homem serpente quer o

extermínio dos seth e provocar a tormenta perfeita para romper os

grilhões destino por isso é antinatural.

- Então ele – disse eu apontando para Jones – é na verdade

Jim Darko. – Completei tendo um aceno positivo de Zaira. – Não é o

líder supremo? – Segui perguntando mas ela negou com a cabeça.

Aquele homem parecia saído de um filme, parecia um viral

ambulante de propaganda de uma ideologia não expressa em sua

totalidade, apenas permaneceu inerte nos observando enquanto

discutíamos sobre ele.

- Jim Darko é um exilado dimensional. – Disse ela deixando

mesmo Petrônio intrigado. – Um dos sete sábios do tempo. Numa

dimensão há um filme sobre ele, lá apenas é um personagem da

ficção – disse ela inclinando-se sobre o corpo, em minha direção. -

Richard Kelly é o autor do livro 'A Filosofia da Viagem no Tempo', um

profeta adormecido, pois Roberta Sparrow é igualmente fictícia por

lá, ela só existe no mundo tangente onde o livro é real, a nossa

dimensão, o livro tem relação com o filme, um cult dos anos 1990

que traduz uma pequena fração da realidade do multiverso.

Aquilo remeteu não aos títulos de senhores do tempo, mas

aos sete sábios da antiga Grécia, pensadores filósofos que por

Plutarco eram definidos numa lista por Tales, Bias, Pítaco, Solon,

Quílon, Cleóbulo e Anacarses. Mas Zaira tão logo explicou que eram

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não somente produtores de conhecimento, mas homens com poder

de influência direta ou indireta no multiverso, posteriormente

instruídos, porém, de interação inata, pois viajar pelas dimensões é

estabelecer uma relação dialógica com o multiverso. Restava para

mim agora ter ideia de quem que era o líder supremo.

Assim Zaira sentou-se na poltrona pois não mais estava

diante de um mal inefável e começou a contar uma longa história

sobre uma crença maldita que levava apenas a síntese do inferno, um

mal supremo inominável e por isso de impossível definição, pois era

meramente interpretativo, não mensurável.

As horas alongaram-se noite a dentro enquanto o temor e

medo mesclavam-se numa profusão que remetia a de navegantes em

mar aberto a procurar de frutos do mar madrugada a fora. Porém,

quando Petrônio ia pegando no sono o telefone irrompe o quase

silêncio pontuado pela voz de Zaira e ele atende.

Zaira calou-se na expectativa do que seria e observou apenas

o semblante de preocupação de Petrônio que em silêncio

eventualmente apenas concordava com palavras como ‘sim’,

‘entendo’, ‘prossiga’.

Quando desligou o telefone a curiosidade era estampada nos

rostos de todos presentes que calados observavam atentamente o

que diria Petrônio sobre uma ligação recebida naquele horário. Ele

então respirou fundo como quem pegasse fôlego para um longo

discurso e disse, por fim.

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- Os hidrocriptografos notaram uma alteração incomum nos

padrões da hidrocriptografia.

- E... – Sugeriu Zaira intrigada.

- Desde a descoberta do código do caos cifrado com

comportamento fluídico nada nunca visto. – Seguiu Petrônio –

sugere-se a presença de algo que foge a assinatura comum de nosso

universo.

- A hidrocriptografia quântica sofre alterações com a

presença de eventos intensos fora do fluxo comum, é um modo de

detectar anomalias e quando eles estão chegando, pois afeta a

comunicação de informação no mundo. – Disse ela quase que como

respondendo Petrônio e o anseio de todos presentes. E concluiu –

Algo está atravessando para nossa dimensão.

- O que ela quer dizer? – Indaguei eu intrigado, não querendo

acreditar.

- Assim como a água gira num sentido num hemisfério – disse

Petrônio - e segue outra direção no hemisfério oposto, os padrões do

caos denotava um fluxo de sentido capaz de alterar a realidade, fluxo

que nem sempre era de nosso tempo, dimensão, ou lugar mas num

rearranjo de eventos síncronos que indicavam claramente não

apenas uma influência, mas algo predestinado fora do tempo do

'agora'. Para os hidrocriptografos isso chama-se de Código Fonte do

universo, mas o vulgo, meramente por destino. Todavia o sinal não

bate com o da presença o Homem esfumaçado, é mais intenso.

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O que seria fora a pergunta onipresente postulada pelo

silêncio tenebroso de nossa resposta naquele recinto? De modo que

poderíamos, naquele momento, apenas isso, especular, mergulhar

em ideias que segundo eu próprio eram capazes de alterar a natureza

da realidade. Imaginei o livro que levava meu nome mas nunca me

lembrara de ter escrito, se seria um desvairo mesmo do próprio

tempo como num lapso de sua linearidade, mas aquilo tão pouco

respondia nossas perguntas...

Aqueles homens que pareciam entre a ciência e a fé mal

dormiram naquela noite enquanto os demais cientistas estavam

fixados em sua busca para igualmente acompanhar os sinais a

procura não somente de patrões, mas respostas de sua origem, e o

essencial, para onde levaria aquele fluxo emergente de caos que

parecia cruzar o mundo num amontoado de ocorrências pouco

compreensíveis a nós. Restava-nos buscar as relações cruzadas entre

si, por mais indiretas que sejam, a fim de tentar montar um quebra-

cabeças com as peças que tínhamos em mãos...

Todos estamos numa supervia do tempo o qual se quer

conhecíamos qual seria a próxima estação.

O Código Fonte do universo, murmurei comigo mesmo

dentro de minha cabeça imaginando o que viria ser aquilo quando

então adormeci e me sobreveio uma profusão de imagens sem

aparente nexo quando então o turbilhão se fixou e tive um vislumbre

de mim mesmo sentando numa cadeira de plástico branca, numa

varanda sob a trilha sonora de uma música ritmada pelo vento que

fazia dois coqueiros se debater.

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Como fora de mim mesmo contemplando um outro eu, vi a

mim mesmo de fora e aproximei-me por de trás lentamente quando

notei que esse ‘eu’ escrevia justamente as palavras que descrevia

quando então ele escreveu que olhou para trás e riu.

Quando acordei daquele sonho os poucos minutos que havia

parecido transcorrer eram horas e então vi-me olhando para o teto,

olhando para o alto perguntando-me se o que vivia era realmente

real ou o próprio sonho. Talvez aquele outro eu fosse o verdadeiro eu

escrevendo sobre mim mesmo como um devaneio que ganhou vida

justamente por isso, pela especulação, o resultado de escolhas não

tomadas por mim mesmo num outro mundo símile ao nosso, mas

ainda assim com uma vertente completamente oposta.

Amanheceu e Jones Skelton, então ao nos ver sentarmos

para o dejejum pegou uma caneca de café com leite e sentou ao meu

lado e após nos olhar contemplativamente disse interrompendo o

silêncio.

- O fim aproxima-se. – disse isto e olhou para o liquido dentro

da caneca agitado por ele.

- Estamos aqui para te auxiliar, nada de mal vai acontecer. –

Disse Zaira.

- Não de mim que falo, mas o homem-serpente é prenuncio

do fim, um apocalipse prescrito no início dos tempos.

Fiquei assustado com aquilo, e então olhei para ele perplexo

quando ele deu um gole no café e seguiu.

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- Preza a lenda de um deus do multiverso que o homem-

serpente fora expulso de seu próprio universo após provocar seu

quase colapso. Tentou então alcançar o poder de criar não mundos,

mas universos como o mito de Deus. Na verdade na cepa de

universos antropocêntricos que visita está morrendo pois não adere

as leis e então refugiou-se num corpo humanoide.

- Como assim? – Indagou Petrônio.

- Há universos o qual são tão distantes que mesmo as leis

físicas são diferentes, a trama do universo é sua estrutura e leis. –

Disse ele e olhou novamente para o nada após olhar para Petrônio. -

A uma infinidade de universos antropocêntricos, todas variáveis das

mesmas leis, mas há universos descritos apenas os nomes num livro

chamado as 'As Mil Palavras', universos cronocêntricos, e universos

holocêntricos, Espelho esfumaçado, vem da cepa holocêntrica. Mas a

trama do tempo é no caos e ela é variavelmente a mesma em todo

multiverso.

- Não se tem notícia de qual universo antropocêntrico é 'As

Mil Palavras' só conhecemos o fato de que seria de um universo

chamado diamante. – Disse Zaira.

- Talvez Jones esteja sugerindo que exista um código fonte do

multiverso em si. – Disse Petrônio e então Jones esboçou um sorriso.

- O multiverso é a resposta estatística para o infinito. De

modo que o caos desse universo faz parte do mesmo e único código

fonte do multiverso, na realidade o desse universo é uma fração dele.

– Completou Jones e então tomou mais um gole de café com leite.

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- Talvez se os hidrocriptógrafos conseguissem por eliminação

perceber que... – Zaira mal pode completar o que dizia e então

Petrônio interrompeu.

- A parte de interferência no nosso código é do multiverso,

por isso eles não conseguem decoficar! – completou Petrônio o

insight de Zaira tendo o aceno positivo de Jones.

- É essencial revelar a parte do código pois ele traz em si não

apenas residuais probabilísticas, mas de universos holocêntricos,

estão cifrados pois as tramas dos universos estão se cruzando, por

isso o resultado pode ser cataclísmico. – Pegou uma cambuca de

biscoitos e seguiu - O universo é inatural pois está submetido a uma

trama e naturezas superiores de um universo, enquanto alguns

acreditavam num universo geométrico e meramente equacionado

por três famigeradas dimensões, o multiverso abriria possibilidades

infinitas a ressoar por múltiplos cosmos a um engenho onde a

inaturalidade serve a natureza de um Legislador.

O Sinal estava criptografado no próprio caos, como se o caos

fosse o mais complexo sinal de criptografia, inerente ao próprio

multiverso e que apenas víamos parte, a de nosso universo. Aquele

insight brilhante de Jones, provavelmente de seu conhecimento

anterior sobre viagens no tempo fomentavam a curiosidade e a

esperança de, ao conseguir decifrar e revelar o sinal criptografo,

poderíamos impedir o colapso entre universos tão diferentes.

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- Por que está falando isso apenas nesse momento? –

Indaguei eu perplexo com aquela informação.

- Pois isso tem relação não só com esse tempo presente, mas

o futuro de seu universo que poderá acarretar em conflitos com

outros universos, como um em que você escreve tal história. –

Respondeu após ficar ciente de meu sonho.

- Não temos que ter medo, mas agir. – Disse Petrônio

pegando seu telefone e ligando para seus amigos decodificadores da

hidrocriptografia.

- A curiosidade e o medo tem a mesma origem, a dúvida. –

Disse Jones pegando um biscoito de gotas de chocolate e comendo. –

Humm... muito bom esse biscoito. – Completou com um tom

destoante por completo do que falava.

Após fornecer os dados aos seus amigos de jornada,

Petrônio, que mal havia concluiu seu dejejum sentou-se novamente e

tentou conter seu entusiasmo e apreensividade e comer, mas ficou

igualmente perplexo com a tranquilidade aparente de Jones que um

dia atrás havia quase sido massacrado pelo homem-serpente.

Jones sobretudo revelou algo sobre o que parecia encaixar-se

perfeitamente com meu sonho, uma versão de mim mesmo

escrevendo uma história de ficção sobre mim, ao menos em seu

mundo. Isso explicava tudo, escrever é responder os anseios da alma,

acalentar um 'por que' ante um 'porque'. Zaira vendo que todos

estavam apreensivos tentou puxar assunto e começou a discutir

sobre a crença nefasta que guiava aqueles facínoras como Steve

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David Hellson. A crença maldita utilizada para destruir a família de

um dos autores dimensionais. Segundo Zaira haviam, no multiverso,

cinco tipos de conhecimentos de modo que a crença maldita é um

quinto, nem científico ou filosófico, mas uma crença baseada no ódio

e na ganância, por um conhecimento do desejo onde apenas tais

desejos demonstrariam a verdade, sempre ambígua e subjetiva e

assim inatingível. Perseguiram por anos os parentes dele, os

ameaçaram veladamente os torturando e submetendo a corrupções

diárias, lentamente... Uma busca insana por humilhação e

aniquilação enquanto a família desses Herdeiros de Caim, viviam uma

vida plena, com todos os luxos entorpecentes do bom senso e a

avidez latente.

Uma ideologia edificada para justificar uma superioridade

que não existe, uma fantasia prepotente e delirante para se

autonomear escolhidos simplesmente abolindo a consciência que

justamente os faziam como homens. Sem sinais, prodígios e

maravilhas luta, na verdade, contra a ciência, ética e Deus não tendo

quaisquer limites a não ser a hipocrisia. Os seguidores desse

"conhecimento" emocional são conhecidos pelo que se acham no

direito de cometer crimes impunes quando passam a não gostar da

pessoa. Nunca respeitam a lei e por isso sempre são criminosos

apesar de se venderem, em seu luxo, como o contrário. Os legítimos

herdeiros do homem-esfumaçado.

Naquele momento Jones pegou o jornal enquanto Zaira

contava sobre aquele conhecimento normalmente impronunciável

sem danos a integridade física e mental, de modo nauseante pois

mesmo ela havia sobrevivido ao tomar ciência de suas mentiras, de

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charlatões furiosos por não ter frutos que deles testificassem e então

Jones novamente interrompeu e resolveu nos contar uma história

sobre um dos autores.

- Houve um homem que havia despertado para a realidade

do multiverso, não por conhecimento como o que aproxima-se a

ciência hoje, mas por ter presenciado algo singular o qual não havia

explicação nem pela mais brilhante das mentes de seu tempo. Fora

numa noite o qual o negror do céu revelou algo mais do que

meramente as estrelas o tornando a compreender que o espaço é o

evidente retardado pelo tempo.

O homem era um camponês que fora agraciado por sua

idoneidade e imparcialidade, algo inusitado no século XVIII em plena

Europa. Poderia ter sido apenas um relés homem do interior

controlado ainda por resquícios do feudalismo e uma revolução em

andamento, porém, assim como Joana Darc ele passou jurar ter visto

coisas indescritíveis nos céus, e ter recebido um dom. O dom de um

conhecimento peculiar e amaldiçoado pela igreja assim como por

seitas que cobiçavam o poder na época e tramavam ocultamente nos

bastidores da história.

Assim ele começou a escrever, com sua educação simples

criou teorias complexas, e explicações para o que presenciou naquela

noite, até que fora encontrado por uma considerada inocuamente

existente Ordem dos Ventos. Fora abraçado por eles pois

compreendiam que era um avatar do conhecimento que deles

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testificavam e de tudo o qual haviam protegido por séculos. Mas

aqueles eram tempos de tempestade.

Ventos quando suaves refrigeram, alteram, quando fortes

criam tornados, furacões, tufões e ciclones e assim como nas zonas

mais inóspitas da Terra o equivalente disso ao tempo é criar portais

capazes de lançar homens e objetos em atalhos pelo multiverso.

Apesar de ter sido todas tais coisas explicadas ao homem, que o

compreendeu plenamente ainda que considerado uma ciência

deveras avançada para seu tempo, não compreendeu, no entanto,

que estava em risco, por olhares cobiçosos e ira e ganância.

O resultado é que numa certa noite sua mulher fora

violentada e morta, assim como seus animais e seus pertences

saqueados sob a trama da revolução. Seus livros foram levados e não

se soube se foram queimados ou absolvidos pela tenebrosa Crença

Maldita que apagou seu nome da história assim como ele que fora

morto covardemente, sem qualquer chance de defender-se. Os livros

estavam desaparecidos até o dia em que vocês encontraram os livros

naqueles subterrâneos.

- São monstros implacáveis e funestos. – Disse eu assustado.

- Na verdade o plano central da crença maldita e tornar esse

universo em semelhança do de onde veio, um lugar não menos

funesto que alguns interpretam como o inferno.

- O cataclismo é deliberado ele quer torcer a trama do nosso

universo ao cruzar o universo de origem dele. – Disse Petrônio

completamente focado.

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- Num grande vórtice. – Concluiu Jones. - O "homem-fumaça"

está os últimos anos perseguido de dimensão em dimensão cada qual

dos autores dimensionais e os destruindo e matando pois, sua

obstinação contra os seguidores do Legislador Do Multiverso e sua

resistência por querer unificar os universos. E seus seguidores são

avançadíssimos em tecnológica e economicamente, mas igualmente

extremamente atrasados moral, científica e ideologicamente.

- Por isso a grande tempestade. – Disse Zaira concluindo o

raciocínio dele.

- Mas como entra meu filho em tal história? – Indaguei ainda

com mais dúvidas do que respostas.

- Provavelmente o fator surpresa. – Disse Petrônio. – Uma

improbabilidade possível.

O Espelho Esfumaçado tinha aquele nome talvez por surgir

das nevoas dos vórtices que abria. Naquele momento o telefone

tocou, e Petrônio ao atender ficou em silêncio apenas concordando

com que era dito do outro lado da linha dizendo apenas coisas como

‘genial’, ‘muito bom’ e ‘vamos providenciar’. Ao desligar o telefone

todos estava calados observando ele e então o homem virou-se para

nós e disse com um sorriso amplo, mostrando todos os dentes.

- Decifraram o código! E realmente parece ser imanente as

tramas que sugerem leis não presentes em nosso universo. Está

afetando diretamente o caos como uma...

- Tempestade. – Disse Zaira.

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Havíamos matado a charada, o conhecimento da

hidrocriptografia para decifrar o caos e os segredos dos eventos do

tempo e de nosso universo estava aparentemente resolvidos a

contemplar o mosaico do multiverso como ninguém havia visto

desde então e assim restava apenas uma pergunta, será a última

descoberta da humanidade?

As tramas de universos alheios afetavam diretamente o

tempo e consequentemente o caos de modo que tudo parecia estar

se tornando mais imprevisível mesmo pelos modelos mais

detalhados da hidrocriptografia conseguia decifrar revelando.

Mesmo mutações biológicas puderam ser pressentidas o que levou a

uma reflexão de um “evolucionismo bio-quântico”. Dos diversos

elementos criados e descobertos todos pareciam encaixar-se

perfeitamente mas a convergir num lacerante e derradeiro fim para

nossa espécie ao menos como conhecida.

Petrônio fora solicitado a retornar aos laboratórios, porém,

mesmo que nos levasse temia o que poderia acontecer num mundo

assombrado por uma tormenta dimensional eminente.

Rumamos meio que as pressas para o aeroporto, pois ainda

que não tivéssemos passagem comprada tínhamos os tíquetes de

exclusividade dado pelo Vaticano a Petrônio, um jatinho a espera no

aeroporto, pronto para decolar. O surdo estava a par de tudo graças

as habilidades de comunicação pela língua não ditas por línguas.

O seguir do carro pela estrada fora veloz o bastante para

esperar que estaríamos em pouco tempo no aeroporto, porém, a

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previsão do tempo parecia previsto a formação de um furacão na

costa sudeste do litoral brasileiro, e o tempo climático dava todos

seus sinais de que não era um engano apesar de tempestades não

previstas no itinerário.

Fora naquele momento em que um raio sorrateiro rasgou o

céu e em meio um súbito granizo fez um carro a nossa frente colidir

com um caminhão e capotar. Um vento forte irrompeu movendo

tudo o quanto poderia mover a nossa frente e então vimos um clarão

no céu que não era raio, era algo mais, algo que todos nós havíamos

visto a tempos atrás e havia me tragado, um vórtice. E de um jeito ou

de outro aquele seria nosso confronto final.

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De Vento Em Popa "O ser humano acredita como respira, para sobreviver."

O Jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafón

verdadeira origem da crença maldita que por séculos vitimou

inúmeras pessoas que tiveram sua história e humanidades

furtadas, elas parecia agora descer do céu nebuloso o qual as

nuvens pareciam misturar-se num turbilhão. Porém, os clarões

atípicos que surgiam dentre elas não eram meros relâmpagos a não

ser seus precursores, era um manancial energético imanando de

outro mundo fora do nosso universo.

Calafrios tenebrosos me sobreveio e mesmo senti um arrepio

funesto na espinha quando vi com espanto que algo descia dos céus

numa espécie de capsula que flutuava praticamente imune a

tormenta que se formou a seu redor. O objeto aproximou-se como

que estivesse em queda livre, porém, um repentino movimento

lateral demonstrou que seu ocupante tinha mais que o domínio

pleno da inércia, mas sobre mesmo a aparente turbulência que

parecia enfrentar sem esforço.

O carro parou repentinamente diante do acidente, e uma

chuva de granizo começou a cair quando fora interrompida

subitamente do mesmo modo que começou. Naquele instante

lembrei-me do sonho em que vi a mim mesmo e tentei imaginar que

num outro mundo, quem sabe, aquilo seria apenas uma brisa num

brain storm de algum autor imaginativo que ambicionava ter um

veleiro a alçar jornadas transatlânticas.

A

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Porém, a realidade enfrentada era outra. O objeto quando

chegou a uns quatro metros do chão parece ter lançado uma

propulsão que repeliu os carros a sua volta como se fossem folhas de

papel freando sua queda súbita e estabilizando no ar repentinamente

até então tocar o chão lentamente em meio a tormenta.

Ficamos olhando perplexos pelo para-brisa. Uma semente de

outro mundo havia aterrissado em nosso planeta azul e como se

soubesse que estávamos lá, o ser que antes tentou matar Jones

surgiu de uma abertura da capsula caminhando com um capuz

tenebroso como os funestos magos da antiguidade. As pessoas a sua

volta não sabiam como reagir, umas gritavam e outras corriam

deixando seus veículos para trás, porém, o homem serpente parecia

impassível diante deles como se fossem pouco mais do que nada.

Caminhou assim por vários segundos quando percebemos que olhava

em nossa direção e então tirando uma adaga de seu manto vimos-

artefato que parecia luminoso – que era para nos atacar, mas como

num ritual macabro.

Zaira abriu a porta de tras do carro e puxou Jones para fora

que saiu cambaleando. Ainda sem reação vi pela cara de Petrônio

que deveríamos fazer o mesmo. Aquela coisa impassível parecia

diabólica em seu olhar, como uma materialização do inferno

emergido apenas para nos matar.

Fui para fora do carro e Zaira pegou uma arma calibre 22 que

costumava guardar em seus pertences, melhor spray de pimenta,

todavia aquele ser pouco parecia se importar e seguiu firme em seus

passos a nossa direção quando surgiu um homem em sua frente

clamando algo sobre seu veículo virado. Mas este simplesmente o

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empurrou e com uma força sobre humana o cidadão voou dois

metros caíndo inconsciente no asfalto.

Zaira deu o primeiro tiro. Não era uma mulher jovem, tinha

mais de 40 anos e com sua maturidade parecia ter pleno domínio de

seus medos mesmo naquele momento. Controlada, ela pediu para

que levasse o surdo e Jones para fora daquele lugar enquanto ela

tentaria atrasa-lo num missão aparentemente suicida.

Mas o homem-esfumaçado não parecia importar-se, estava

obstinado a fazer sua vítima após seu show de significado inútil nos

céus do Rio de Janeiro. Ela então atirou mais uma vez sem qualquer

efeito, como se as balas não penetrassem no ser, ele parecia ter um

campo de proteção invisível a seu redor. Naquele momento Zaira

notou algo que não havia imaginado ser fruto de sua percepção, o

ser, por uma fração de segundos parecia ter mais que três dimensões

numa imagem que mesclava-se, algo que ela tinha visto algo similar

apenas com seres do multiverso.

Então ela atirou mais uma vez, e outra, mas nada o deteve

quando então ele estava a um metro e a pegou com uma das mãos

com um sorriso sinistro no rosto. Apertou seu pescoço e a ergueu do

chão enquanto ela se debatia tentando acertar uma coronhada em

sua cabeça com as mãos.

- Maldito, por séculos suas ideias apenas deram motivações

para alguns se acharem justificados a cometer as maiores

atrocidades.

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- Relés ser de existência pífia. Ressurgi para iniciar a

tempestade dos séculos – disse ele, mas quando ia falar algo mais um

estrondo ecoou do outro lado da pista.

Esfumaçado paralisou e olhou para a direção de onde veio o

som. E quando Zaira se virou para tentar igualmente ver notou que

um outro vórtice havia sido aberto e dentro dele um homem

vestindo dourado surgiu ao lado de mais dois homens com

armaduras semelhantes. O homem do meio era, aquele que havia

dito ser meu filho.

- Basta, homem serpente, estamos cansados de seus saques

e misérias por onde quer que passe. Quantos mundos mais precisará

arruinar com sua arrogância achando-se impune em sua matança?

- Quem é você? – Perguntou o homem com uma voz

tenebrosa.

- Solte-a ou nem teremos tempo de nos apresentar.

- Eu quero o exilado dimensional e seu conhecimento! –

Retrucou o homem e em seguida lançou para o lado Zaira que bateu

num carro.

- Não apenas isso, maldito. Sei de seus planos sórdidos uma

vez sendo expulso de seu universo que tornar os demais a

semelhança dele. Isso não vai acontecer, entregue o que furtou e lhe

pouparemos de mais sofrimento.

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Tezcatilpoca ao invés disso riu zombando deles e mostrando

dentes apodrecidos nos lábios.

- Os humanos devem ser submetidos ao meu poder assim

como você, variável dos universos antropocêntricos. O sentido de

vocês é acabar, mas pode ser que faça alguns como animais de

estimação.

Naquele momento o misterioso que disse ser meu filho

mostrou um bastão que tinha em punho e ele abriu-se para os dois

lados soando um ruído metálico. O objeto tinha uma lâmina que de

perto parecia ter mais dimensões do que aparentava, pois na

realidade tinha propriedades de uma pedra dimensional de modo

que era capaz literalmente não apenas cortar carne e objetos, mas a

linha de horizonte de realidades, cortar dimensões.

Ao ver aquele aparato o homem ficou, por alguns segundos,

relutante pois aquela arma poderosa era criada para literalmente

pegar seres que provocassem transtornos em múltiplas dimensões.

Porém, ele tirou uma espécie de bola luminosa de seu manto, e

Tezcatilpoca, sorriu novamente.

- Uma bomba negra? – Perguntou o homem dourado com

resignação e certa ironia.

- Você diz que os homens de outras realidades são menos

reais que a sua realidade e por isso são descartáveis, vamos testar

sua hipótese. – Disse O Tezcatilpoca debochando dele.

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- Por inúmeras dimensões e fluxos temporais te procuramos

e não acabará com a gente. – Respondeu girando a lâmina no ar e

indo em direção a ele.

Num movimento só, o homem dourado fez um rasgo como

no ar, como se toda aquela realidade fosse apenas um véu diante de

nossos olhos e de dentro daquela fissura mais turbulência surgiu e o

homem-cobra esquivou-se e ao cair no chão levantou os braços com

a bomba em mãos e dela saiu um raio negro em sua direção. Parecia

remete a um embate entre magos, ainda que não fosse.

Um dos homens do líder daquele grupo fora atingido e caiu

no chão vendo um corte profundo no braço direito. Mas enquanto o

outro lhe auxiliava o homem dourado seguiu em frente e vendo que

o homem serpente lançou-se atrás de um dos carros este cortou o

veículo num só rasgo dimensional que o engoliu como num buraco

negro enquanto a outra fissura havia se fechado.

A lâmina ficou como que estivesse congelada mas brilhante

nos punhos dele que a segurava como uma espada. Havia um

mecanismo que ativava suas propriedades dimensionais no punho. O

homem então aproximou-se do homem-serpente e este jogou-se

sobre o homem dourado de modo que os dois tiveram um embate

corpo a corpo em meio ao vento. O vento era como a música que por

sua vez era conduto ao seu corpo que movia-se em seu ritmo, por ele

levado assim como as nuvens ante o vento. Será que algo poderia

deter os ventos do destino?

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Naquele momento, o telefone de Petrônio tocou enquanto

ele observava o embate entrincheirado atrás de um caminhão virado

com Zaira e os demais. O sinal tinha grande interferência pela

tempestade, mas fora o bastante para identificar que o sinal era dos

hidrocriptógrafos.

- Petrônio... temos captado... grande distorção caótica em

sua área... como estão? – Disse a voz cortada por um sinal difuso.

- Você não acreditaria se lhe contasse, o que descobriu? –

Respondeu Petrônio quase gritando.

- Nunca vi nada assim a intensidade de imprevisibilidade sai

da escala convencional como uma singularidade. Porém... outro

universo cortando... não é o caos e entropia desse mundo...

manifestações incomuns no céu... medo... – o sinal picotou de tal

modo nesse ponto que caiu.

Petrônio guardou o celular no bolso e olhou para cima

perplexo quando notou luzes amarelas e azuis oscilando em meio as

nuvens como se fossem trovões, mas, de algo peculiarmente jamais

visto. Então Zaira gritou focando novamente ao embate.

- Não acho boa ideia tentar ajuda-lo! – Disse eu perplexo

diante daquilo.

- Esse é o homem que você disse ter encontrado? – Gritou

Zaira novamente atrás da roda dianteira do caminhão.

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Apenas acenei que sim, quando vi que ele fora derrubado no

chão pelo homem-cobra. Aproximou-se então dele e pegou a esfera

que tinha com as duas mãos e apontou para ele. A lâmina do homem

dourado havia caído de suas mãos e nisso um de seus homens largou

o ferido e fora em sua direção. Jogou-se no chão puxando-o quando

um raio veio da esfera nas mãos do homem-cobra que gritou ao ver

que não atingiu.

Naquele momento o homem dourado notou que havia por

seus braços ao serem descobertos pelo capuz inúmeros plugs por

todo seu corpo emitindo um tipo de luz tênue que parecia refletir em

suas veias, era um tipo de campo para que o homem conseguisse

sobreviver num universo com leis diferentes a sua.

Mas algo estava errado com o equipamento do homem, as

luzes pareciam falhar gradualmente após levar um impacto dos

golpes do homem dourado que levanta-se e pegou a lâmina dourada

novamente que acendeu-se em suas mãos por algum tipo de

reconhecimento personalizado.

Enquanto isso vi que a capsula do homem-esfumaçado

estava aberta e após cutucar Petrônio lhe apontei e fui em sua

direção quando outro enorme clarão azul irrompeu nos céus. Ao

chegar perto notei que os painéis estavam escritos por uma língua eu

nunca havia visto e o objeto parecia em sua liga metálica ser feito de

algo igualmente inédito como se emitisse um brilho fluído onde as

dobras da abertura pareciam uma mistura de metal com orgânico.

Adentrei a porta mas senti um cheiro de enxofre em seu

interior, haviam gases que mesclavam-se com características de

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odores que nunca havia sentido. Mas naquele instante ouvi um grito

que me fez olhar para trás, era o homem-esfumaçado que parecia

bater em retirada para a capsula onde estava extenuado com tudo

aquilo.

O homem dourado então viu que o homem-esfumaçado num

último golpe contra sua vítima que impedia a destruição total

daquele nosso universo. Jones que passava na frente dele saindo de

trás do caminhão. Gritei então a Jones para sair daquele rumo pois o

homem-esfumaçado parecia tê-lo enxergando antes mesmo de sair

de trás do caminhão, através dele.

Assim então o homem dourado lançou a lâmina como se

fosse uma lança, e virando-se ao perceber o ato, O Esfumaçado,

levantou a mão enquanto segurava a esfera da bomba negra na

outra, mas não havia lhe dado tempo mesmo com sua percepção ele

estava obcecado pelo ódio por matar Jones e então a lâmina o

atingiu fatidicamente.

Ao contemplar aquilo vi a lâmina atravessa-lo como se fosse

pouco mais do que nada. Na realidade Tezcatilpocaficou inerte como

se nada o tivesse atingido, mas antes como se tivesse atravessado

um fantasma. A lâmina então diminuiu a intensidade do brilho por

estar longe das mãos de seu usuário e caiu no chão, em meio ao

asfalto. Parado Tezcatilpoca virou-se para Jones e olhou-o fixamente

com ódio mas então virou seu olhar para baixo, em seu peito quando

notamos um rasgo, mas não em seu corpo apenas, mas na dimensão

onde estava naquele espaço atingido.

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A micro fissura em meio a seu peito como um vazio expostos

de si próprio pareceu se abrir como um abismo onde não havia

coração, mas antes um oco de incomum negror parecia faze-lo agora

se contorcer quando sua mão sobre o peito adentrou sobre si própria

e um vento funesto começou a ser sugado para dentro de si. Ele

então gritou mas não mais dava sua voz, pois seus pulmões pareciam

estar sendo tragados pela fúria de um buraco dimensional aberto em

seu peito ausente de coração a não ser ódio. Ele então começou a

vibrar, tremer numa intensidade tenebrosa e dobrar-se sobre si

mesmo, primeiro seus braços entrando pelo peito por estarem

tentando protege-lo, depois seu corpo se curvou engolindo sua

cabeça e seu capuz sendo devorado inteiro. Em poucos segundos

então notamos que mesmo suas pernas pareciam ter sido engolidas

sobre si mesma como um pequeno buraco negro, restando apenas a

fissura suspensa no ar que diminuía seu tamanho até ela mesmo

fechar-se e nada sobrar a não ser a esfera da bomba negra que caíra

no chão rolando em nossa direção nos deixando pasmos entre o

assombro e o alivio, havia implodido como um oroboros.

O homem dourado veio em direção a nós sem falar qualquer

palavra e então pegou a lâmina no asfalto e a fechou sobre si mesma.

Olhou para mim e depois para os demais e caminhou mais alguns

passos em nossa direção quando viu Jones congelado ao lado da

capsula. Abaixou-se lentamente e pegou a esfera da bomba negra

que apagou-se, tecnologia de outras dimensões.

Um de seus homens veio em sua direção e então o homem

entregou a esfera em suas mãos falando um dialeto impronunciável.

Sem mais nada mencionar olhou para a capsula e apontou para ela

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quando um de seus homens apenas acenou concordando e nela

adentrou.

- Espere. – Disse eu perplexo quando ele ia dando as costas e

então virou-se para mim e disse. – Você é mesmo meu filho noutro

universo?

- Sim. – Disse ele arrastando nossa língua.

- Diga ao menos seu nome! – Gritei eu em meio a tormenta.

- Eliniel.

- Porque mudou de ideia e nos poupou?

Naquele momento o homem olhou para seu outro

companheiro e então caminhou em minha direção e nos olhou num

tom tenebroso nos fazendo sentir, por uma fração de segundos, que

aquele homem mudaria de ideia e nos erradicaria como bactérias ali

mesmo. Porém, para nossa surpresa olhou para mim e disse.

- Talvez tenha me equivocado quanto as realidades, vocês

são tão reais quanto eu.

- Lamento por não poder ter sido um pai melhor. – Respondi

aquilo sem compreender direito o porquê.

- Somos o somatório de escolhas tomadas, pois as não

tomadas estão noutra dimensão. – Respondeu ele com o vento

intenso em seu rosto.

- O que acontecerá então? – Perguntou Zaira gritando.

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- Leve Jones para um lugar seguro. – Disse Eliniel. – Temos

pouco tempo até adiar a tormenta, mas não o bastante em outras

dimensões.

- Como assim?

- São sete as variáveis atingidas, somente a de vocês estará a

salvo por hora. Mas basta do clamor a impunidade e corrupção da

crença maldita.

O homem sem mais nada falar então deu as costas quando a

capsula do homem-serpente fechou-se e ascendeu aos céus, era uma

tecnologia improvável de outro mundo. Algo que estava anos luz a

frente do conhecimento humano. Eliniel seguiu então caminhando

em meio ao vendaval como se nada ocorresse ao lado de seu outro

homem e entrou em seu veículo que igualmente fechou-se ascendeu

aos céus deixando um rastro luminoso como de fogo. O homem

parecia um anjo, mas era um viajante dimensional.

Ao sumir entre as nuvens um clarão se viu e em seguida um

estrondo se ouviu irrompendo os céus e ecoando-o de ponta a ponta

quando então de súbito o vento cessou. E as pessoas saiam de seus

veículos entre a curiosidade e o espanto sobre o que havia ocorrido.

Quando, então, nos demos conta, estávamos no centro de atenções

em meio ao asfalto com todos nos olhando e se aproximando de nós

como se fossemos os seres de outro mundo.

Os relatos sobre o que viram saíram nos telejornais onde

questionavam ser alguma tecnologia não conhecida da Rússia ou dos

Estados Unidos. Naquele instante, aquele nefasto que havia se

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proclamado ao abrir o vórtice surgiu na Tv falando que a tecnologia

era deles.

“Pedimos perdão pois houve uma pane no controle de nossa

nova aeronave espacial que nos levou invadir a fronteira durante a

tempestade. O protótipo estava em testes quando surgiu a tormenta

que deixou nossos cientistas assustados, novos incidentes não

voltarão acontecer.”

Aquelas palavras soaram enfadonhas dado o grau de mentira

em seu tom de voz. De certo praticamente rimos daquilo não fosse

trágico, um homem que para não admitir haver algo mais poderoso

do que ele resolveu literalmente inventar dizendo que os objetos

vistos no céu eram de sua posse. Aquilo acenava que teríamos ainda

muitos problemas enfrentar com aquele monstro magnata que

aproveitava o gancho de algo não ocorrido para se proclamar em seu

autoritarismo velado.

Fomos para o laboratório na Europa onde os

hidrocriptografos conseguiram revelar um manancial de informação

derivada de mais aquele advento com precursores vistos apenas em

alguns dos livros da biblioteca maldita que apesar de amaldiçoado

pelos seguidores da crença maldita tinha muito de revelador ao

contrário deles.

Certamente que o status daqueles hidrocriptografos subiu a

classe de hidronautas como se referiam pela condição fluídica do

caos que emanava de outros universos numa convergência incomum

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que poderia simplesmente arruinar e mesmo destruir as leis

conhecidas do nosso mundo. Ficamos a pesquisar a maior parte do

livro quando Jones após retirar-se da biblioteca decidiu seguir novos

rumos em seu exilio após o advento. Sem mencionar para onde iria

ele simplesmente desapareceu sem deixar rastros, um homem que

era nada mais do que ficção noutro mundo, naquele agora parecia

não se distinguir do mesmo.

Quando entraram em sua residência no Rio para averiguar se

havia quaisquer pistas apenas encontraram um exemplar do livro de

Roberta Sparrow onde havia um recado deixado por ele em sua

perplexidade o qual mencionava:

"Querida Roberta Sparrow,

Aproximei-me de si no seu livro e há tantas coisas que

preciso perguntar-lhe. Às vezes tenho medo do que possa

dizer-me. Às vezes tenho medo que me diga que isto não é

uma obra de ficção. Só posso esperar que as respostas

cheguem no meu sono. Espero que quando o mundo acabar,

eu possa respirar aliviado, porque haverá tanto porque

esperar…Nossa realidade é a ficção noutro mundo.”

Donnie Darko

Um dos membros do Clube de Pioneiros apenas sorriu

esperançoso na busca pessoal de Jones, mas ao virar-se encontrou a

porta de seu quarto entreaberta, mas emperrada. Quando tentou

abri-la mais notou que o material da porta estava de modo

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misterioso fundido ao chão. Ele virou-se para seu companheiro

perplexo ao notar que havia ocorrido uma fissura dimensional

naquele lugar, talvez Jones tenha conseguido um modo de

transpassar a outros universos antropocêntricos literalmente saindo

pela tangente daquele mundo.

- Como devemos proceder sobre isso? – Indagou um dos

homens.

- Vamos notificar a Mestre Secreta do Tempo, dos 37. –

Respondeu seu parceiro e então pegou o telefone.

Ao discar um número e iniciar a chamada os homens ficaram

em silêncio quando alguém do outro lado atendeu.

- Senhora, perdoe-me interromper. Jones saiu da tangente –

disse como código para o universo deles.

Um silêncio se fez e então o homem novamente respondeu.

- Sim. Compreendo, já era previsto, como procedemos? –

Perguntou o homem olhando para a porta fundida ao chão

parcialmente. – Correto, são segredos que importam, mas a verdade

e suas autorias estão seguras?

Arredores do Vaticano, laboratório secreto da Santa Sé.

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Havia um burburinho entre inúmeros cientistas que estavam

debruçados em computadores de hidrocriptografia, uns sobre os

outros como se estivesse assistando a final do super bown, porém, os

interesses eram muito mais importantes que uma mera partida de

futebol, mas segredos entrincheirados no caos como uma assinatura

do código fonte de parte do multiverso que carregava informações

das leis deles e mesmo de eventos ocorridos nos ditos universos. A

medida de intensidade de caos era a medida de interação com os

demais universos numa única troca padrão em todo multiverso, o

caos.

Estava observando com os demais quando Petrônio parecia

entusiasmado com tudo aquilo e o surdo sorria como uma criança

diante do maior doce do planeta. De repente dei-me conta que Zaira

não estava presente naquele importante momento e quando fui

procura-la vi ela ao telefone e aproximei-me.

- Zaira, vão expor os resultados nesse momento.

Ela apenas acenou com uma das mãos e disse ao telefone.

- Sim, todas autorias estão seguras, assim como nossa

identidade. No momento não há risco. Depois te ligo. - completou

desligando o telefone.

Quando ela desligou o telefone, sem qualquer impressão

deveria ter percebido que a identidade estava sendo protegida por

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ser não apenas uma mulher num mundo machista como aquele, mas

a simplesmente escolha dela aos segredos mais íntimos do

multiverso se dava pelo fato de que ela, justamente como mulher

estava acima de qualquer suspeita. Afinal quem poderia imaginar que

uma entusiasta seria a mentora não somente da mítica Ordem dos

Ventos o qual poucos foram os lideres, assim como a de seu ramo, o

Clube dos Pioneiros. Sem dúvida eram pessoas a frente de seu tempo

que esperava apenas o tempo certo para revelar todos os segredos

que morreram até mesmo para proteger em sua verdade, mas talvez

o mundo ainda não estivesse preparado para aquilo, afinal ainda

eram machistas.

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Appendix "Os seres humanos aprendem e absorvem ideias e conceitos através

de narrativas, de histórias, e não lições magistrais ou discursos

teóricos."

O Jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafón

screvo o que nunca li ou vi, mas gostaria de ler e ver, livros

escritos com lágrimas e sangue para superar-me a mim

mesmo. Sou escritor por hobby, mas portátil, em qualquer um

lugar posso escrever ao contrário de paquidermes que não saem do

lugar comum e para o qual dinheiro nasce como mato. Uns se acham

melhores sem ter feito, eu tenho certeza, pois eu fiz melhor. Cabe a

tais monstros ignóbeis da inaptidão tornar maldito meu

conhecimento, pois deles provém a maldição. Meu trabalho não

pode ser dado, pois não foi dado a mim, mas feito e conquistado,

autorias não se transferem, se fraudam.

O livro segue conhecimentos hipotéticos a este mundo de

uma dimensão alternada o qual apesar da maldade dominante teria

conseguido prosperar de acordo com minhas aptidões ao contrário

das sombras de uma ineptocracia idioticratizada e que favorece

apenas o sanguinário e corrupto. Todos os conceitos seguem

acontecimentos alternados sobre o que creio ser verdade e a crença

de um conhecimento perdido o qual fragmentos encontram-se na

bíblia e outros notáveis personagens designados por herdeiros da

Ordem de Kairos, muitas vertentes do tronco ideológico e moral dos

Seth. A idealização da Quantanic Inc é de uma empresa dos sonhos

E

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que fundaria caso tivesse recursos financeiros adequados e

oportunidades justas. As imagens presentes no começo do livro, em

meus sonhos, são de invenções brasileiras mescladas ao filme Donnie

Darko o qual é inspirado, por sua vez, no livro de Roberta Sparrow, ‘A

Filosofia da Viagem no Tempo’, qualquer semelhança com a

realidade não é mera coincidência.

A especulação é a essência de Ordo Christianistas Ad Ventus,

seu próprio corpo de conhecimento que é a própria ordem é em

grande parte especulativo. Entre tais especulações a estrela de Bélem

teria sido a inspiração da estrela dos ventos assim como na Ordem

dos Ventos.

Entre o panteão misterioso dos maias estaria Ehecoatl, a

seperte dos ventos que teria fundado a El Dorado retradada no

primeiro livro. Outros personagens era atribuída qualidades sobre os

ventos como Eolo, que era o deus grego do vento mas na visão pagã

nominava com personalidade o que não era capaz de compreender.

A exemplo da grega mesmo o qual atribuem entidades mesmo aos

ventos em suas direções como Bóreas ou Aquilão (vento do norte),

Zéfiro ou Favônio (vento do oeste), Nótus ou Áuster (vento do sul) e

Euro (vento do leste).

Por sua vez Tezcatilpoca, espelho esfumaçado era adversário

de Quetzalcoatl que é sugerido ser o fundador de El dorado e o

mesmo viracocha, mas ao contrário da serpente emplumada não

ensinava as artes civilizatórias, mas teria ganho um embate com ele.

O marco mais importante da história humana atual e ocidental é

Jesus Cristo, mas igualmente onipresente em relatos míticos está a

presença de um homem caucasiano barbudo de milhares de anos

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atrás. O que sucede não apenas a uma pré-história ou criptohistória,

mas uma proto-hitória que remete a uma civilização muito avançada

e possivelmente global.

Há Documentos do FBI sobre realidades paralelas,

Documento redigido em 08/07/1947 por um graduado.

Evidentemente que conceitos da ‘Ordo ad Chaos’ são fictícios

ainda que inspirado em conceitualizações reais de algumas seitas e

sociedades secretas que de acordo a teorias conspiratórias pregam a

dominação pelo caos. Obviamente nomes de uma ‘Ordo ab Chaos’

são ausentados por motivos óbvios, sendo o mais ilustrativo.

Querendo conhecer melhor as lendas de viagens no tempo, e fatos

históricos e arqueológicos verídicos leiam 'A história Linear do

Mundo".

"Se há um livro que você queira ler, mas ainda não foi escrito,

então você deve escrevê-lo."

Toni Morrison

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Vocabulário

Porteiro dimensional: Misterioso homem de idade não conhecida

que protege o local de travessia dimensional.

Quantanic Inc: Empresa internacional de computação quântica que

estuda os atributos de ondas multidimensionais atribuídos a

hidrocriptografia.

Ordem da Kairos: Concepção mítica não linear das profecias dada a

herdeiros de uma linhagem diretamente por anjos.

Filho de Kairos: suposto herdeiro de profecias angélicas sobre o

tempo, pertencente a Ordem de Kairos.

Conhecimento Perdido: Conjunto de conhecimentos antigos perdido

pela perseguição ideológica, sistema ideológico perfeito que reunia

elementos antropocêntricos a física e psicologia como ciência

temporal.

Herdeiros de Caim: Os que seguiam o designo da prosperidade ilícita

pelo dano a família alheia e matar, roubar e destruir.

Criptocracia: governo oculto que controla os governos.

Cronospermia: teoria que defende que o homem deu origem a si

mesmo no passado.

Hidronauta: Os investigadores da hidrocriptografia.

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Agradecimentos

inda que não tenha muitos a quem agradecer são inúmeros

os amigos não conhecidos pelo autor, esses, quer invisíveis

para mim ou não ao se compadecerem dos tantos infortúnios

que padeci por causa do maus e injustos fica meu tributo pois

o que me motiva não é apenas escrever o que gostaria mas a todos

que são fidedignos com a ética e verdades e sobretudo ao nosso

Senhor Jesus Cristo, o unigênito o qual é pai da Fé.

A