a batalha das palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfa batalha das palavras –...

59
A Batalha das Palavras Gerson Machado de Avillez

Upload: others

Post on 23-Jul-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das

Palavras

Gerson Machado de Avillez

Page 2: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

2

Page 3: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

3

Copyright © Gerson Machado de Avillez 2014

Todos os direitos reservados a Gerson Machado de

Avillez

Twitter: www.twitter.com/GersonAvillez

E-mail: [email protected]

Blog: http://filoversismo.blogspot.com

Facebook: www.facebook.com/Filoversismo

Título Original

A Batalha das Palavras

Capa

Gerson Machado de Avillez

Revisão

Gerson Machado de Avillez

Page 4: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

4

PREFÁCIO O Guerreiro da pena

“Palavra, palavra

(digo exasperado),

se me desafias,

aceito o combate”

Carlos Drummond de Andrande

Não vivo de literatura, mas escrevo minhas

obras literárias pra viver a morrer no ócio

letárgico das palavras ou esquecimento do

silêncio. O Livro infantil, exemplar único deste

gênero de minha autoria, parece aludir no

conflito de palavras em suas castas, estirpes

divididas em dois grupos conflitantes onde o

cruzamento de cada uma destas concebe

termos amalgamas ou evolução destes. A

síntese do que atribui-se ao poder das palavras

alteram o mundo, ainda que como

representações de emoções, ideias ou atitudes

relacionados a seus valores morais e éticos,

mas substancialmente implica na

transformação pelos sentimentos e emoções

Page 5: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

5

expressados numa genealogia cujos braços a

alterar iguais realidades. Não por menos que

cada uma destas palavras tenham conotação

com dimensões, o que carrega seus nomes em

'As Mil Palavras’ demonstrando

essencialmente a importância do verbo em suas

mais variadas matizes quer relacionadas a

emoções como a valores direta ou

indiretamente, assim como a importância

etimológica de mitologias grega, por exemplo,

a inspirar concepções destas morais. Na

evolução da ética relaciona tais verbos-

palavras a formação e evolução do próprio

consciente humano até o vindouro atrelado a

verbos que compreendam o infinito.

Dar-se-á valores filosóficos e morais

aos personagens mitológicos, a etimologia

ganha vida como uma genealogia própria numa

mitologia que dá entonação as relações das

palavras entre si. A construção da síntese da

mitologia brasileira através da ficção

evidentemente não agrada aos que não desejam

que uma nação e(ou) cultura tenha uma

identidade própria, mas antes desfigurada pela

hipocrisia numa cultura dupla face.

Page 6: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

6

É preciso mitologistas para formar um

panteão mitológico de palavras. A mitologia

não pode ser cientificada, seus valores têm que

ser mais filosóficos e morais. Hoje em dia a

história de toda família é contada nos melhores

dicionários etimológicos, pois o texto

demonstra o amor aos versos, ao verbo, as

palavras. Garanto que não são meras palavras

lançadas no acetado a esmo como quem atira

verbos a todos os lados.

O Filoversismo assim representa a

transição do verbo ao encarnado, sua

materialização, uma correspondência não

somente de como as palavras - escrita ou falada

- tem poder imensurável, do verbo ao verso, o

amor o qual cria o poema, trás uma relação

visivelmente inspirativa no 'verbo que se fez

carne'. Mesmo o ser humano é feito por uma

mensagem no DNA, combinações em quatro

letras de autoria desconhecida mas que se faz

presente como assinatura de que ele mesmo é

feito por informação, verbos.

Não existem relatos ou fósseis de como

surgiu a linguagem humana em todas suas

matizes e troncos. O que temos ideia é que pela

Page 7: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

7

essencialidade de trocar informações surgiu a

comunicação tendo por meio a linguagem.

Hoje pensamos na própria língua em que

falamos, mas assim como uma brincadeira de

telefone sem fio a uma frase e ideia modifica-

se como meme a cada pessoa que é transmitida,

assim como na memética a formação da

cultura, acontece igualmente com a linguagem.

Creio que a língua surgiu como parâmetro a

ações, objetos e sentimentos e por isso

carregada de histórias a exemplo da língua

latim e mesmo hebraico, mas que com o passar

do tempo os significados se transformaram, se

modificaram e até se perderam assim como

equivalentes sentidos, logo sentimentos nela

exemplificado que por não conhecermos não

somos capazes de expressa-los ou

simplesmente nota-los como a ideia do

sentimento perdido que trás a conotação da

palavra como verbo motriz. Mesmo as mais

simples palavras estruturadas de modo rítmico

ganham poder de alcance pela poesia que a

envolvem. A linguagem faz parte da melodia

do universo, pela lei de zipf ou pelo canto das

Page 8: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

8

baleias, pois mesmo o universo é um verso

ministrado por verbos da ação.

Os padrões linguísticos tendem a se

simplificar absorvendo mesmo seus erros e os

exemplos são inúmeros. Todavia uma

linguagem de sentimento seria inata a uma raça

sensitiva que como trás a conotação, sentem,

possuem sentimentos como forma de

linguagem o que teria dado origem as línguas

conhecidas. A relação de sentimentos

evoluídos ao contrário das emoções primitivas

é de associação que facilita a compreensão,

reflexão, criatividade e memorização do qual

sem este seriámos criativamente tão aptos

quanto máquinas frias, o que é fato científico

para os psicológicos. As designações

simbólicas originais assim eram as mais

próximas possíveis da verdade objetiva do que

antes, mas que os significados foram se

embotando com o passar dos anos.

Mas enquanto alguns estão mais

preocupados em edificar o templo da gula e da

cobiça materialistas, preocupo-me na alquimia

das ideias em sua essência, e elas são por

cruzamentos de palavras assim como se faz o

Page 9: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

9

Filoversismo, onde cada livro é uma cidade

povoada por palavras a espera de ser visitado

pela imaginação o qual dão vida a versos e

verbos.

"Pela fé entendemos que os mundos foram

criados pela palavra de Deus, de modo que o

visível não foi feito daquilo que se vê."

Hebreus 11.3

Page 10: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

10

Índice

I - O Verbo primordial e o Princípio do

universo – Pág.11

II - A Cidade das Palavras – Pág.16

III - Vale dos Verbos – Pág.22

IV - A Ponte dos Versos – Pág.26

V - O Livro das Palavras das Perdidas – Pág.29

VI - Os Dragões da Ignorância e as Palavras do

Tempo – Pág.36

VII - O Oitavo dragão – Pág.39

VIII - Alquimia das ideias – Pág.42

IX - A Palavra perdida – Pág.43

X – A Cidade do Léxico – Pág.46

XI - A Batalha das Palavras – Pág.48

XII – Apêndices - 52

Page 11: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

11

I – O Verbo Primordial e o Princípio do

Universo

Havia o céu, e o céu era vazio como o abismo,

até que foram feitas estrelas e do céu que se fez

o mundo o qual apesar de considerar-se estar

abaixo do céu, o mesmo habitava o céu, pois

era parte do mesmo.

Antes vendo O Legislador que era preciso

linguagem para comunicar a informação ao

universo, o verso que o compôs unicamente,

deixou-se de ser mudo e do sopro de seus lábios

suas primeiras palavras veio o universo, pois de

um único verso surgiu o universo: Faça-se Luz!

E do cruzamento das trevas com a luz surgiram

as sombras ante a face do abismo como

pedaços do mesmo, torneados pelos objetos

que assombravam. Assim surgiram os

primeiros verbos que como palavras formavam

verso, o universo ainda que deste modo duais.

O DNA das palavras são as letras, sua

genealogia etimológica seus radicais, e a mente

Page 12: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

12

são as ideias que traduzem. Elas, as palavras,

tem a peculiaridade de reunir-se em grupos de

versos que compõe frases que formam

parágrafos que por fim formam textos, pois

elas viviam em comunidade social.

E aconteceu que o primeiro dos primeiros a

surgir fora a Paz, a Paz, que como se diz era

pacifica, e da união dela com a Harmonia

nasceu o Ócio e o Tédio.

Ócio e Tedio eram gêmeos apesar da aparência,

na verdade nas lendas mais antigas diziam eles

ser siameses de modo que foram separados por

uma artimanha o qual chamaram por Caos.

Sendo Paz de dias avançados, pensou ser Caos

um filho ilegítimo dele com Harmonia, todavia

a criação de Tédio e Ócio é quem ganhará vida.

Temoroso então, Paz conclamou Harmonia,

mas ao encontra-la havia sido morta por Caos

não sem antes pelo sopro de Ócio fecundar

Tédio e desse incesto surgir Guerra.

Page 13: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

13

- Declaro Guerra ao Caos! - Disse Paz, porém,

sendo idoso faleceu ele sob o sorriso tenebroso

de Caos o qual esperava por sua morte pois Paz

não poderia ver Guerra.

Ingênuo como era a Paz não conhecia

adversidade, sobrenome que ganhou de Caos e

Guerra, pois na verdade o Caos já existia mas

era suplantado com Harmonia durante seu

sono.

Mas a pobre viúva ao ver o amado falecido

disse consigo mesma: "a Paz morreu, e a

Guerra e o Caos domina!"

Assim então caiu o corpo sem vida ao lado de

seu esposo amado, pois o Caos através da

Guerra queria libertar as vísceras de seu pai

Ulterior, o Abismo. E aqueles foram dias

tenebrosos, e Tédio e Ócio arrependeram-se

amargamente disto.

Tão amargos ficaram eles que mudaram então

seus nomes para Medo e Angústia e deles

surgiram uma linha de palavras tenebrosas. E

Page 14: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

14

foram eles seus filhos: Aflição, Tremor,

Melancolia.

De todos estes viveram perseguidos por Caos e

Guerra que assolou a Terra e se perpetuaram

entre si por meio de incestos, dando luz a

Catástrofe, Desastre, Tragédia, Cataclismo,

Desolação, e elas tinha por Deus o Abismo.

Porém, durante a fuga de Melancolia, por

saudades do tempo em que viveu seu patriarca,

Paz, Juntou-se a uma forasteira de origem não

conhecida, a Nostalgia, e através dela nasceu

primeiro Peregrino e depois Esperança.

Esperança, brilhante como era reuniu as

qualidades de Nostalgia, que era nobre

contadora de histórias e escreveu as primeiras

palavras de sua história e ao lado de Peregrino

viajou o mundo narrando para que trouxessem

Paz a memória que com ela, Esperança,

poderiam ter um futuro melhor.

Assim durante esse tempo foram escritas as

primeiras leis como guia a conduta das

Page 15: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

15

palavras, acordos verbais e ortográficos. Disso

tudo surgiu Conhecimento.

Surgiu então naquele momento, como

antagonista, o maior de todos os vilões, o

maligno e tempestuoso

Inconstitucionalissimamente que algo lado de

seus adversários proibiu de se quer ter seus

nomes ditos sem que fosse considerado

xingamento e assim formaram uma quadrilha

muito poderosa que ambicionava mudar o

mundo.

Sentindo seu império gradualmente afetado por

Esperança, Guerra então enviou o filho de

Desolação com Tragédia, Massacre, para que

desse cabo da vida de Esperança e Peregrino.

Todavia apaixonada por um ilustre

desconhecido, Esperança casou-se com

Virtuosidade com o qual teve um filho muito

desejado chamado por Coragem e sua irmã

Bravura.

Page 16: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

16

Juntos eles fundaram uma cidade com as

demais, e essa cidade passou-se a ser conhecida

como Cidade das Palavras.

II – A Cidade das Palavras

Cidade das Palavras tiveram várias ruas por

onde as palavras cruzavam e encontravam-se,

e seu mapa fora escrito por ninguém menos que

Conhecimento, seu arquiteto e criador, e

edificada com Virtude.

Lá havia a rua do discurso o qual sendo a via

principal muitas das palavras cruzavam, assim

como a rua da Retórica, Dialogo, da Conversa,

da Linguagem e a Praça da Definição Sintética

onde todos chegavam ao consenso de suas

ideias pelo qual Conhecimento, líder comum,

buscava a alquimia das ideias.

E aquela era a capital da Filosofia, pois eles

amavam Conhecimento e a historia das

palavras. E a Cidade das Palavras se equivalia

não a um livro, mas a uma enciclopédia e o

dicionário era por catalogo de páginas

amarelas.

Page 17: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

17

Assim a Cidade das Palavras tornou-se

movimentada pelos verbos dia e noite, porém,

Conhecimento pela Alquimia das Ideias

buscava por Genialidade, que na realidade

estava a esquina do Óbvio.

Enquanto isso durante a longa jornada de

Massacre pelo Vale da Sombra, onda habitava

seu reino, Bravura cresceu e casou-se com

Peregrino com quem teve Intrepidez e Honra,

no qual formularam uma síntese que ganhou

vida chamada por Heroísmo.

Assim como Caos, Heroísmo antes habitava

inerte na centelha dos melhores seres e tinha

uma predileção a defender o fraco, o oprimido

e o menor que eram massacrados pelas lendas

que vinham de Massacre.

Mas Caos era precedido por Medo, Medo era o

tipo de senhor que apenas impunha obediência

sob castigo e pisando. Por ameaça obrigava

seus servos a realizar as tarefas que como

escravos não eram pagos, mas antes era

Page 18: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

18

imposto sob pena de agravar suas condições

caso não fizesse a vontade dele, de modo que

Escravidão nasceu naqueles tempos.

Acontece que quando começou o conflito ele

passou a ter por hábito mandar estes se

dobrarem diante dele como seus novos

discípulos tornando-se os primeiros medrosos,

seguidores de Medo, pois dobraram-se ante o

Medo.

E Muitas foram tomadas a força naquele

tempo, porém, fruto desse ato o pior dos filhos

fora Dor, Violência e Covardia, este último,

filho direto de Medo e eles seguiam e serviam

a Guerra, e os seguidores de Violência eram os

tenebrosos violentos. Ataque covarde é a

defesa do imoral.

Todavia assim como Esperança, tomou ciência

de Massacre que se fortaleceu com Covardia,

Guerra e seus em seus feitos, Guerra ficou

temoroso sobre Heroísmo que contagiou

Bravura e Coragem a instigar um levante do

povo contra os seus.

Page 19: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

19

Heroísmo pregava a lenda de um membro de

sua família a muito perdido, Respeito. Respeito

teria surgido do primeiro casamento de Paz

com Equidade, uma senhora que era venerada

como deusa de todas da região.

Porém, naqueles tempos haviam dois irmãos

sutis e tenebrosos que se infiltrava em sua

cidade, Arrogância e Ignorância.

Ignorância não queria tomar ciência de nada,

muito menos da Verdade, e a Arrogância

achando-se superior achava que de nada mais

precisa tomar ciência ou mudar pois sabe por

demais.

E isso elas instigaram entre a população

dizendo que só existia o que eles conhecia

existir, e assim os olhos foram vendados e a

população se ajoelhou tornando-se ignorante

inclusive em suas crenças, pois Ignorância os

guiava.

Page 20: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

20

Todavia sendo muito instruído e instigado a

sempre investigar a Verdade com

Imparcialidade, Conhecimento, naqueles

tempos vivia discriminado e sofria represarias

de Ignorância, pois eles diziam que o verbo não

ser formava dos lábios de um Criador como seu

sopro e não vinha do mundo essencial das

ideias.

No entanto, Conhecimento sempre dizia para

defender Crença: A criatura pressupõe, um

Criador, e assim toda obra é autoral, logo

somente estará completo seu conhecimento

com sua autoria. Acreditar em Deus é a

conclusão lógica para preencher o precedente

de criatura.

Porém, não lhe davam ouvidos assim como que

Conhecimento tinha ciência de uma invasão

iminente, porém, Ignorância dizia: Não lhe dê

ouvidos, certamente és pais de Paranoia.

Ledo engano, pois Paranoia era filha de

Alienação que era prima de Ignorância, uma

família de incultos que costumava dar novos

Page 21: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

21

significados para a vida dos cidadãos da

Cidade das Palavras onde habitavam.

Sendo assim, Conhecimento partiu da cidade

deixando-a sob domínio da Ignorância ainda

que tendo como vice Arrogância que havia

parido Tamanho.

Mas, antes, Conhecimento visitou um cidadão

de moral duvidosa, pois volta e meia jogava

com seus adversários e aliados. Essa era Sorte.

Destino e Sorte eram dois irmãos, um dado a

planos o qual submete seu irmão arteiro, a

Sorte, mas que injusta oferece azar a quem não

lhe recebe de portas abertas, pois quando

Ignorância aliava-se a ela surgia a Superstição.

Porém, vendo-se que aquela cidade estava

entregue a Ignorância, Conhecimento disse a

Sorte: Ela está em suas mãos.

A Cidade das Palavras estava entregue a

própria Sorte, ainda que Conhecimento

acreditasse em seu íntimo que ao retornar, seu

Page 22: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

22

irmão, Destino, iria por Sorte nos eixos e assim

a cidade.

E naquele tempo Virtude que era da mesma

família de ideias que Grandeza, fora

confrontada por Tamanho, este que sendo

materialista queria substituir a essência

espiritual pela fachada materialista. Porém,

substituir Virtude por Tamanho esquece que

Grandeza é apenas o primeiro.

III – O Vale dos Verbos

De modo que Conhecimento partiu, mas no

caminho para o Vale do Verbo, onde era

conhecido de onde veio o Bê-á-bá, e as

palavras primordiais, Conhecimento,

encontrou Ética o qual nutria paixão platônica

naquela cidade.

Ética, diziam, ser filha de anjos, criaturas

elevadas duma cidade celestial da essência das

Ideias onde as Palavras e Verbos não

encarnados eram apenas isso, ideias, a alma das

palavras que Ignorância e Hipocrisia estavam

Page 23: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

23

furtando dos cidadãos da Cidade das Palavras

pela ausência Significado.

Porém, Ética, pueril e casta vem do mesmo

sopro de um Criador que as demais. Mas

Conhecimento apaixonou-se e com ela teve

Sabedoria.

Todavia por ter deixado Crença para trás,

Fraude e Corrupção a procuraram para ter com

ela a fim de corrompe-la através de Ignorância

e assim a fraudaram para Crendice.

Fraude e Corrupção mais que palavras

verbalizavam seus atos do qual teve o

privilégio de Ignorância para destruir livros,

Ignorância tentou associar-se forçosamente a

Fé do qual tivera gêmeos bastardos chamado

Extremismo e Fanatismo, os dois por sua vez

criaram algo contra o verbo da Verdade pela

Crendice, filha corrompida de Fé em seu

primeiro casamento o qual o nome

anteriormente era Crença.

Page 24: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

24

Na verdade não se sabe de quem era filho a

Fraude e Corrupção, uma vez que teria surgido

de um adultério do Abismo e a Mentira o qual

duvida-se a existência, e por isso não se

conhecia sua origem.

Crendice tornou-se patrona da Ignorância,

onde o senso do lugar comum falou alto ainda

que contra os fatos e evidências, e logo

Fanatismo e Extremismo viram nisso uma

oportunidade para se engrandecer e inserir

Violência onde Fé perdeu-se ante Medo e

Covardia e que deram a luz, Maldade.

Assim a infiltração antes impossível na Cidade

das Palavras tornou-se possível distorcendo o

significado delas no mundo e algumas

mataram-se por terem perdido o sentido da

vida e não as se conhecem mais no ‘Livro das

Palavras’ que chamava-se dicionário, nem na

língua dos homens não era mais dito.

Tendo ciência disto Conhecimento lamentou

profundamente, pois lentamente a Guerra

estava se infiltrando, e os seus, Covardia, Dor,

Page 25: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

25

Violência, Maldade e Medo já dominavam na

cidade e não se havia mais lembrança de Paz e

pairava a Dúvida, angustiante tirana dominante

através de seu subordinado direto, Medo.

Conhecimento então procurou um modo de

escrever ‘O Livro das Palavras Perdidas’ onde

uma das palavras era procurada através de

Nostalgia. A Palavra era a que abria as portas

de todo entendimento e compreensão da vida e

seu significado, mas fora linchada por

Covardia.

Havia dois que ensinaram a buscar a palavra

perdida, seus nomes era Porque e Propósito, já

que Significado estava desaparecido para

muitas palavras na Cidade das Palavras.

Assim Conhecimento, junto com os seus,

instauraram o Filoversismo, a primeira das

palavras perdidas que tiveram sua morte

anunciada, pois era fruto do Amor ao verso,

quer verbos ou palavras e, Esquecimento

queria apaga-las. E conhecimento fez memória

dela no livro.

Page 26: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

26

Memória, diziam, és Pai legítimo de

Conhecimento! Mas anda envelhecido, e

querem apaga-lo do mundo através de Fraude

e Corrupção que estão a parir Esquecimento e

Impunidade.

Conhecimento tornou-se amargo vendo que

toda uma genealogia de Palavras negativas

cresciam na Cidade das Palavras, de modo que

uma auxiliava a outra para se estabelecerem.

Precisamos nos juntar, disse Conhecimento,

procuremos os fundadores originais da cidade

das palavras e resgatemos Fé, pois não quero

me entregar a malévola primogênita de

Maldade, Depressão!

IV - A Ponte dos Versos

Conhecimento, perspicaz, notou que essas

novas e cruéis palavras estava aproveitando-se

da Ponte dos Versos para vir a existência das

Ideias primordiais sem terem o sopro dos

lábios do Criador, pois vinham de Mentira,

Page 27: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

27

símile mesclado ao mundo da Essência das

Ideias.

A Pontes dos Verbos, onde as ideias torna-se

palavras e palavras verbos, era por onde

algumas Palavras Perdidas se refugiaram

retornando ao leito primordial das Ideias a

espera de serem resgatadas.

Porém, precisavam eles de Verdade que não

era encarnada e por isso Conhecimento estava

enfraquecido em seu poder. Afinal palavras

sem Verdade não tem valor, do qual assim as

palavras não voltam vazias.

Assim ao resgatarem Fé, Nostalgia, as

memórias da Harmonia, Esperança, Coragem,

Bravura, e toda uma linha de palavras como

Respeito ao lado Peregrino, Intrepidez e

Heroísmo clamaram pela Verdade essencial.

Assim Verdade atravessou A Ponte com

auxilio da Fé e tornou-se carne e fora a Cidade

das Palavras tentar-lhes dar Significado, mas

perseguido por Ignorância fora crucificada e

Page 28: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

28

morta pelo manipulado povo da Cidade das

Palavras, pois Ignorância optava pela lenda de

Mentira, o qual nunca existiu mas desejava

existir.

Todavia Verdade transcendeu e habitou o

mundo essencial das Ideias de onde emanava o

Universo dando significado ao Conhecimento

que passou a lutar contra Esquecimento e a

mítica Mentira.

Conhecimento então seguindo os estatutos da

Verdade, conclamou dois filhos perdidos pela

Dúvida, Sim e Não. Na verdade, na Verdade,

elas haviam surgido os lábios de Verdade.

Porém, aproximava-se o momento deles

encontrar Guerra pois a tudo havia dominado e

onde A Batalha Final das Palavras seria

travada, Ignorância ao lado dos seus, como

eram promíscuos pariram Deboche e Escárnio

o qual estupraram Humor e Piada tirando-lhes

o sentido através de Sexismo.

Page 29: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

29

Sexismo, que era machista, era um dos

primeiros filhos da Casa de Fachada,

materialista, cruel em que até mesmo contra a

liberdade de expressão e criatividade fecundas

mudaram o uso natural das palavras

novamente.

V – O Livro das Palavras Perdidas

E atacaram eles a Conhecimento e o livro das

Palavras Perdidas, e procuraram eles dominar

a Ponte dos Versos para que nenhuma mais

palavra deles surgisse e colocaram como

guardião bloqueadora da Ponte, Censura.

Censura, era assassina e estava matando

dezenas na Cidade das Palavras e teve um filho

chamado Analfabetismo que buscava se

infiltrar entre eles e Ignorância viu que era bom

pra ela.

Mas deixando de ser alguns nativos

analfabetos, tornou-se algo pior ao continuar

dando outros significados a vida das palavras,

um errava sem ter Conhecimento, pela

Page 30: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

30

Ignorância, ou outro tendo a Ignorância como

Conhecimento.

Pois algumas palavras sendo irreconciliáveis

apenas Hipocrisia ousava passar-se por elas, as

usando, e sendo ditas mas negando sua

essência, mas roubando suas prerrogativas.

Por Sorte, porém, num insight a favor de

Conhecimento e Sabedoria conseguiram antes

protegerem a casa de Sincero, Puro, Justo, de

Maldade filha da Discriminação com o

Discernimento, filho da Diferença. E naquele

tempo surgiram os primeiros Palavrões,

gigantes entre o povo da Cidade das Palavras.

Agora, um dos filhos de Maldade, juntou-se

filha de Ignorância, Inaptidão e pariram muitos

filhos cruéis, Vilania, Ganância, Cobiça, Inveja

e eles se inseriam entre os demais a fim de

apresentar-lhes toda a sua genealogia contra

Dom, Vocação e Talento que aos poucos se

tornava mais fracos na cidade.

Page 31: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

31

Assim disse Dom: Sendo necessário Sorte, há

Dúvida e Vocação não é o bastante.

Os talentosos, seguidores de Talento e amantes

de Vocação resistiram, porém, a trinca

Ganância, Cobiça e Inveja que eram muito

poderosos pois estava relacionado a parte

negativa do mundo primordial das Ideias de

Sentimentos. E onde o ouro fala, as palavras

calam, ainda que o corpo do Conhecimento

tinha sua linguagem própria.

E o Caos debochava deles pois dizia que

Destino estava morto e Agora falava que eles

iriam igualmente morrer!

De certo, estes foram à Sorte ter com ela e

perguntaram se poderia proteger-lhes pois

Talento, Dom e Vocação como aptos não eram

mais o bastante para sobreviver e terem algo na

Cidade das Palavras pois até mesmo a sombra

de Censura pairava.

Ora, disse Sorte como promiscua que era,

Reconhecimento faleceu semana passada e seu

Page 32: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

32

corpo mal fora reconhecido, assim não espere

por Pagamento Justo, pois Justo fugiu da

cidade junto com Puro e Sincero, habitam

noutro lugar.

Assim Vocação, Talento e Dom partiram

fugidos da Cidade das Palavras pois ainda que

Maldade não fosse dita com frequência, ela era

uma ditadora silenciosa através de Censura,

Hipocrisia e Ignorância. Censura e Silêncio

não eram confiáveis pois não tinham palavra.

E assim mesmo Humor faleceu de Infarto ante

Depressão, e se antes Escárnio não tinha

sentido, fora a única que restou dessa linha.

Assim uma série de cidadãos como Amor,

Paixão, Respeito, Carinho, Afeição afastaram-

se enquanto Hipocrisia e Falsidade através de

Engano passava-se por eles a fim de convence-

los de que Crendice era o certo.

De modo que Hipocrisia era um Oraculo de

Mentira e construiu uma enorme fachada a seu

redor. Como Cruel, Hipocrisia passava-se por

Page 33: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

33

todas palavras boas e dissimulava ter Dom,

mas apenas roubando palavras por ela não dita.

Então Amor faleceu do coração igualmente

através de Infarto pois Amargura e Depressão

lhe perseguiram por demais e ela viu a feiura

de Iniquidade, mesmo Ódio a atacou através de

Raiva, pois havia surgido outro filho potente de

Maldade pelo Desiquilíbrio, Doença, irmã de

Peste, Praga, prima ideológica de Maldição.

Quando então Conhecimento viu que a Cidade

das Palavras estava infestada pelo Ódio,

Doença, Raiva, Amargura, Depressão que

através de Hipocrisia dissimulava a Maldade e

toda sua família, procurou Alegria em vão pois

havia sido raptada por um casal de

homossexuais do seio Felicidade.

E Riso se obscureceu ante Deboche e Escárnio

pois não havia mais Humor legítimo porque

Inteligência, mãe de Conhecimento havia sido

morta por Ignorância.

Page 34: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

34

Amor, sobretudo, faleceu de tanto ver

Iniquidade, Violência e Impunidade fazer tudo

que aprovem, na cidade das Palavras, e Ódio

juntou-se a Deboche para disso caçoar e

naquele tempo ficou livre Maldição que através

de Ganância e tantos mais perpetuava-se na

Cidade das Palavras de modo nada Justo.

Conhecimento, porém, teve verbas suficientes

para conseguir concluir ‘O Livro das Palavras

Perdidas’ mas Arrogância debochou deles e

disse que era maior e poderia pisar-lhes

fazendo o que quiser através de Impunidade.

Isso porque ainda faltava A Palavra-chave que

perdida da Cidade das Palavras daria todo

significado aos verbos bons ao contrário deles

que dominavam pela Dúvida violenta e

Crendice.

Acontece que ele ditava através de ordens e por

Censura pois não era capaz de pedir, porque

conhecia apenas como poder Mandar pelo

mensageiro Medo mantendo o Livre-arbítrio

Page 35: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

35

como refém ainda que Hipocrisia dissesse o

contrário.

E ao tirar o significado da vida deles os

tratavam como coisas, pois de fato, não era

capaz de dar sentido a vida deles por

Incompetência que surgiu após castrar

Competência que sendo apto como Habilidade

não poderia mais se reproduzir na Cidade das

Sombras. E assim Significado estava foragida,

tratada como bandido.

Porém, Ganância, inapta como era, continuava

com sua Cobiça sobre Conhecimento da

Verdade afim de roubar-lhe tudo que criou e

produziu, pois agora Habilidade estava sitiada.

Hipocrisia era a porta voz oficial de Maldade e

todas aliadas malignas, de modo que como

dito, ainda que não fossem palavras

mencionadas elas estavam presentes no dia-a-

dia da cidade das Palavras através de Censura

que estava tendo um caso com Hipocrisia.

Page 36: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

36

VI - Dragões da Ignorância e as Palavras do

Tempo

Como pode ter As Palavras positivas com as

negativas? Indagava-se Conhecimento da

Verdade, pois muitas anulavam-se e por isso a

Cidade das Palavras estava sendo abandonada,

porque Ignorância libertara seus dragões.

E seus dragões ignorantes eram oito, Horror,

Imoralidade, Selvageria, Feiura, Crueldade,

Aberração, Distorção e Engano e esse

arcabouço eram impunes pois tinham o apoio

de Impunidade para seus feitos.

Horror, fazia com que as palavras boas

sumissem dos lábios do mais intrépido

discurso;

Imoralidade, tirava o Significado das palavras,

pois não mais havia ‘Porque’, e agia ao lado de

Feiura;

Selvageria, reduzia a cidade das palavras a

gritos e ruídos nefastos por Ódio;

Page 37: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

37

Feiura, era a estética do inferno. Pois a estética

do inferno sempre será a feiura;

Crueldade, o quinto dragão, arrastava consigo

o poder de inúmeras palavras negativas como

verbos de prática nefasta de modo que e calava

as palavras boas;

Aberração, tinha a força não somente de tirar o

significado das palavras, mas torna-las

amargas;

Distorção, o sétimo dragão, desfigurava por

completo as palavras atingindo a alma delas, as

ideias;

E por fim o oitavo dragão, o qual vinha

normalmente depois de Distorção, que visava

trazer a existência a Mentira tida por eles

essencial;

Vendo isto, e que estes somente não matavam

as palavras pela sua alma imortal das ideias que

transmitiam, resolveu criar naqueles tempos

Page 38: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

38

Resplandecer e Misericórdia para que aquelas

palavras fossem falsas de tal Aberração.

Fora por Conhecimento da verdade que

solicitou três palavras transcendentais do

mundo essencial das ideias, Passado, Presente

e Futuro para que julgassem os verbos

provenientes das palavras cada qual em seu

tempo.

Agora, vendo isto, desejou o Presente e passou

a temer ao Futuro pois garantia-se no

Esquecimento para apagar o Passado das

palavras em seus versos assim como suas

origens.

Vendo isto, Conhecimento da Verdade, notou

que eles eram palavras ao vento e voltavam

vazias, ao contrário das Palavras repletas de

Ideias e Significados de modo que igualmente

não tinham Futuro.

Assim, Conhecimento exaltou a Fé, pois ela

tinha vinculo esperançoso com o Futuro como

desejo de algo melhor.

Page 39: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

39

Assim Conhecimento da Verdade, reuniu

palavras ante a batalha eminente e escreveu o

seguinte discurso:

O que farão estes sem Vocação e Habilidade,

pois sem Fé não há Esperança que nada mais é

que o aguardo do Futuro onde há Memória da

Paz com Intrepidez e Bravura sobre toda

Maldade e seus atos, pois com Coragem somos

melhores!

Conhecimento da Verdade disse mais então:

Agora é um cão, mesmo que sempre passando

ele não para de me seguir. Venha Hipocrisia a

proclamar suas palavras da Mentira travestidas

de nossos melhores, pois estamos fartos de

Censura.

VII – O Oitavo Dragão

Todavia o Oitavo Dragão, espreitava ante um

mórbido silêncio. Ele tem a habilidade de criar

fantasmas das palavras e deu a este o nome de

Eco.

Page 40: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

40

Assim ante o abismo foi prospero, pois no

vazio se perpetuava, por quanto Conhecimento

da Verdade procurava a pergunta jamais feita,

mas quando se indagava o ‘por que’ ouvia

apenas ‘porque’ de volta.

Censura viu nisso proveito, pois vendo que o

eco era o espelho das palavras, umas ficaram

vaidosas ante o abismo e outros pelo próprio

Eco fora atacada.

Assim surgiram as copias e símiles de

Conhecimento da Verdade que, porém, se

perverteram. E viu Censura, no Eco, uma

oportunidade de calar as palavras.

Porém, disse, Conhecimento da Verdade: O

que considerar-se-á incriticável certamente não

é prestável.

Censura ao ouvir aquilo, notou que a frase de

Conhecimento perpetuou-se por longos

minutos como uma tortura, e Conhecimento

viu que era bom, por quanto Eco era apenas

espelho das palavras.

Page 41: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

41

- Por quê? Pergunto eu – disse Conhecimento

ao eco notando que as suas vibrações

incomodaram Censura.

Duma só voz fez-se um exercito de palavras e

assim Conhecimento conclamou suas aliadas.

- Vocação e Habilidade, digo eu, Fé e

Esperança ressoe sua perpetualidade pois onde

há Memória da Paz com Intrepidez e Bravura

com Coragem somos melhores! – ressoou

Conhecimento ante o Eco.

Porém, o Oitavo Dragão vendo que se

aproveitava de sua criação se enfureceu, pois

Conhecimento viu naquilo oportunidade de

perpetuar suas palavras.

Assim Vocação, Habilidade, Fé, Esperança,

Memória, Paz, Intrepidez, Bravura e Coragem

surgiram como evocadas em seu melhor, e

enfrentaram o Oitavo Dragão através de seu

próprio Eco.

Page 42: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

42

VIII - A Alquimia das Ideias

A Sociedade das palavras é a comunicação, o

poder simbiótico dos versos num eterno

filoversismo.

Vendo isto, as palavras positivas formaram

sociedade, sociedade presidida pela Verdade.

Mil palavras se reuniram e juntas formaram um

mapa da cidade das palavras que mudava de

acordo com a perspectiva de suas combinações

pois cada qual palavra ecoava se interagindo

mutuamente.

Enquanto palavras mentirosas apenas vagam

rumo ao Engano, ecoavam no oco, mas com

Verdade as Palavras encontravam a eternidade.

Assim formou-se o sistema de informação,

comunicação. O sistema de informação ao

contrário do energético dual e por vezes

anulativo é simbiótico em seu equilíbrio pois

baseia-se na troca, equivalência.

Page 43: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

43

Assim da sociedade das palavras passou se

medir o diâmetro e comprimento do

conhecimento, por quantas palavras eram ditas

num dia, e quantas palavras verdadeiras saiam

dos lábios de um homem por vida.

Assim estipulou-se que as palavras formavam

seus padrões se aglutinando em grupos o qual

as palavras mais ditas num dia, era o dobro da

segunda palavra mais dita no dia.

E deles vibravam pois partilhavam dos ecos

eternos pelo universo das palavras.

De modo que da alquimia de tais palavras

muitas outras se formaram pela Verdade que

buscava a essência primordial das palavras, a

palavra perdida.

IX – A Palavra Perdida

Na verdade, na Verdade, vendo que as palavras

que lhe representaram eram boas, viu-se

sabedoria, porém, seguindo sua genealogia não

compreendia a origem primeira.

Page 44: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

44

Pois do primaverso veio o universo que como

verbo se perpetuou, o primeiro verso ‘faça-se

luz’ e assim a tudo formou.

Mas na Verdade não compreendia o antes do

antes nem o depois do depois, pois a

eternidade, na realidade, fechava-se sobre si

mesma. A primeira palavra veio da última e a

última veio da primeira.

Pois quem deu o primeiro sopro é quem dá a

última palavra.

Assim como pontes e abismos são opostos,

assim a palavra perdida era chave caída no

abismo, que desejavam roubar.

- Procuremos o Elo entre as palavras, pois

como a Lógica e a Lei são inerentes próprias. –

sugeriu Verdade.

Lógica e Lei são irmãos gêmeos pois a Lei

tinha Lógica, e a Lógica era constante e

imparcial como uma Lei.

Page 45: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

45

Porém haviam palavras casadas que se

separaram, Dúvida e Certeza pois nunca

chegaram a um consenso.

E assim Dúvida que habitava entre as Palavras

fora consultada, mas ela não pode dar resposta

com Certeza.

- Quais são as palavras mágicas que do ócio

abre a ação? – indagou Verdade confusa.

- Compreensível porque os que não respondem

quaisquer perguntas essenciais não tem

responsabilidade, pois resposta e

responsabilidade derivam-se do mesmo

radical. Ainda que diferentes. – disse Dúvida

sugerindo um porquê.

- Vocês Nunca encontrarão – disse Engano

adentrando o lugar como mensageira de seus

Arquinimigos.

- Ora, então conclamemos Nunca para que a

busque! – disse Dúvida lembram-se de

Certeza.

Page 46: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

46

Nunca fora consultada e de fato ela tinha

habilidades da impossibilidade, era irmão de

Sempre, irmãos distantes um pela possibilidade

e outro pela impossibilidade.

Pergunta é interesse, é a Dúvida clamando pela

Certeza.

Naquele momento então adentrou parando ao

lado de Nunca, uma estranha não lembrada por

eles Consciência.

- Eis a palavra perdida, Consciência! –

conclamou Nunca ante a dúvida.

Ao observarem que de fato era a palavra a

muito nunca dita, todos se alegraram em

Consciência e a clamaram num coral. Pois eles

agora tinham Consciência de seus atos.

X - Cidade do Léxico

Vendo que as Palavras se reuniam à Cidade das

Palavras, Maldade e os seus se iraram. Se quer

honravam seus pais Covardia e Medo, mas

Page 47: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

47

antes conclamavam outras palavras falsas para

transmitir seus atributos.

Assim vendo que a capital das palavras era a

Cidade do Léxico, Maldade levantou um

exército para ataca-la pois queria que a

Ignorância reinasse apagando origens.

Mas o Destino não estava escrito pelas palavras

da cidade do Léxico. Mas com Consciência que

então organizou as palavras em seus reais

significados.

Então proclamou com a intensidade de um

brado as palavras da sociedade, as amigas de

toda Eternidade e Verdade.

Pois uma palavra estava sempre a levar a

demais palavras pois o significado as inquiria e

lhes rodeavam indagando e sendo indagado.

- Com Fé temos que proclamar não só o

Conhecimento da Verdade, mas Bondade com

justa Equidade ainda que o Heroísmo, Honra,

Bravura e Coragem pareçam perdidas entre

Page 48: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

48

nós, mas temos Ética e Amor para conhecer o

Valor do que realmente o tem – disseram com

Consciência.

Consciência não permitiria que as Más

Palavras penetrassem a Cidade do Léxico e

fossem proclamadas ainda que Censura

igualmente disso se aproveitasse.

Mas assim surgiu Destruição. Destruição tinha

o apelido Acabar. E assim queriam acabar com

a Fé assim como a Esperança sitiando a Cidade

do Léxico.

Mas as lembranças de Heroísmo foram

conclamados sobre as de Covardia, e Coragem

sobre Medo, de modo que A Vilania se viu

desafiada em toda sua Violência conclamada.

XI – A Batalha das Palavras

Assim começou a Batalha final das Palavras. E

uma vez vendo que Medo não tinha poder

sobre a bondade, perpetuou-se sobre Covardia

que fugiu.

Page 49: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

49

E a Maldade voltou-se sobre nós quando

Dúvida murmurou que poderiam perder e

Engano se desvaineceu.

Violência, recuou pois Heroísmo a encurralou,

de modo que Ódio, na ausência de Medo,

tentou ordenar Destruição para acabar, mas

Angústia veio sobre eles próprios.

- Porque não atacas Bondade e os seus? –

indagou Maldade.

- Derrubaram Censura e todo Conhecimento da

Verdade é dito, e suas palavras boas se

perpetuam. – respondeu Destruição.

- Maldição. – disse Maldade – Acabar, acabar,

quero ver a Mazela triunfar!

Porém, aqueles esqueceram-se que as mesmas

palavras que desejavam a Cidade do Léxico

estavam entre eles e sobre eles vieram Doença,

Angústia, Aflição, Vilania e numa grande

confusão se digladiaram derrotando-se a si

próprias.

Page 50: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

50

Bondade assistia com Consciência seu nobre

exercito da Verdade vencer a Batalha de modo

que muitas das palavras pediam por

Misericórdia e Paz. Então disse Conhecimento

da Verdade ao lado de Consciência.

- Vocês que proclamaram Mentira e Miséria,

agora não querem viver de suas próprias

palavras? Não possuem Consciência, mas

digo-lhes conhecendo seu Engano que Palavras

tens de que não nos atacará?

- Censura sobre a Maldade – disse Molestia

tendo as demais concordando, mas Maldade

fugiu com Covardia.

- Medo sobre Violência, pois assim Violência

não atacará! – sugeriu Angústia.

- Basta! – disse Consciência – Uma vez se

rendendo digo-lhes que aceito a rendição, e que

as más palavras sirvam apenas para

testemunhar as más ações.

Page 51: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

51

Todas a palavras más assim aceitaram, pois

com Consciência sentiram então haver o

Sentido Perdido, a Consciência conhecia a

Maldade assim como as palavras más, mas

tinha Responsabilidade e Reconhecimento de

suas ações.

Assim aquelas palavras foram recebidas e

nunca mais se impuseram como signo de ações

e Maldade fugiu para o Vale dos Verbos onde

permaneceu apenas como memória na Cidade

do Léxico.

Assim Conhecimento da Verdade, naquela

noite da vitória do triunfo discursou.

De todas as ideias que transitavam pela

diferente disposição da reunião das Palavras,

surgiu uma adotada, Diversidade, o qual os

pais Variedade e Gênero foram mortas por

Preconceito e Discriminação.

E mil palavras em suas inúmeras composições

formavam versos no livro de possibilidades

desse universo e outros...

Page 52: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

52

Appendix

"As Palavras podem criar mundos imaginários

para além do aqui e agora."

Contextos da Alfabetização inicial - Ana

Teberosky

A fronteira da comunicação são as línguas

onde as palavras ganham outra forma. As

palavras em sua origem etimológicas são

filosofia contemplativas ao entendimento e

comunicação. Mas quantas palavras um

homem diz em vida? É precisamente um

enigma, mas certamente é um mundo habitado

por inúmeras palavras.

A origem das palavras em sua etimologia

carregam a pureza original da filosofia e ideias

que traduzem seus atos, quando não alinhadas

à verdade dos verbos e da prática, se distorce.

Surgiram, em maioria, dos gregos onde

palavras se juntaram, mesclando-se

similarmente a proposta desse livro, para dar a

Page 53: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

53

ideia de teorias, ideias e propostas discutidas a

maioria das vezes pelos pensadores da

antiguidade. Certamente os filósofos

habitavam a cidade das palavras e eram deuses

de sua criação.

"As Palavras, como os seres vivos, nascem de

vocábulos anteriores, desenvolvem-se e

fatalmente morrem."

Abertura de Milagrário Pessoal - José Eduardo

Agualusa

São aproximadamente 146 personagens-

palavras descritos no livro, a origem de alguns

de seus termos são:

- Paz vem do latim pax que no dicionário

designa um estado de ausência de adversidades

e inimigos.

- Ócio vem do grego otium em oposição a nec-

otium (negócio) destinado a atender as

necessidades de coexistência da sociedade.

- Harmonia vem do grego de mesmo nome que

significa "meios de encaixar, combinar" por

isso muito utilizado na música.

Page 54: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

54

- Caos vem do grego khaos que significa

"abismo, vazio, vasto, o que se abre

largamente."

- Medo vem do latim metus a mesma raiz de

meticuloso por carregar a conotação de medo

de errar.

- Guerra vem do germânico werra, a mesma

palavra que deu origem ao inglês war para

designar uma discordância, não

necessariamente conflito sangrento.

- Nostalgia vem da junção das palavras do

grego nostos (regresso) e algos (doloroso) para

designar memórias.

- Doença vem do latim dolentia que significa

padecimento, pois a doença faz padecer.

- Violência vem latim violentia que significa

impetuosidade, termo derivado de violentus,

"que age pela força" e violare "ratar com

brutalidade, desonrar, ultrajar”, não por menos

a mesma raiz de violar.

- Moléstia vem do latim molestia, mesmo

radical de molestar.

- Paranoia vem da junção das palavras gregas

para (lado, contra) e nous (mente).

Page 55: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

55

- Consciência vem do latim conscientia que

reúne "com" (junto, com) Scire (conhecer),

significando literalmente "conhecimento

próprio, senso moral, noção do que é direito".

- Paixão vem do grego Passion que significa

"sofrimento, suportar" mesmo radical de Pati

do grego Pathe para designar doenças (vide

patologia).

- Debochar vem do francês ébaucher que

significa “desbastar troncos para fazer vigas”,

em sua conotação aos homens “afastar alguém

do seu dever”.

- Memória vem do latim memoria, de memor

que significa "aquele que lembra de uma raiz

indo-europeia men (o mesmo de "pensar" e

"mente").

- Ignorância surge da junção das palavras do

latim in que significa "não" e gnoscere que

significa "conhecer, saber" originando

ignorare.

- Escárnio vem do germânico skirnjan que

significa "zombaria, desprezo".

- Fraude vem do latim fraudulentus que

significa "mentira, engano, delito".

Page 56: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

56

- Talento vem do latim talentum que significa

“inclinação, desejo de fazer, de realizar”

ganhando a conotação de “aptidão, dom

especial” com a parábola do talento em Mateus

pois originalmente designava “pesagem, soma,

quantia de dinheiro”.

- Esperança vem do latim spes que significa

"confiança em algo positivo".

- Eco vem do grego Ekhó, um personagem da

mitologia que era uma ninfa que ao se

apaixonar repetia o final das palavras.

- Passado vem do Latim passare, “passar”, de

passus, “passo”. É uma analogia que se fez

entre o tempo e uma caminhada.

- Futuro vem de futurus, “o que vai ser, o que

ainda não foi”, do verbo esse.

- Presente Latim praesentia, de preesse, “estar

à frente, estar ao alcance”, formada por prae-,

“à frente”, mais esse, “ser, estar”.

- Agora vem de hac hora, “nesta hora”.

- Equidade vem do latim aequitas que significa

"igualdade".

- Acabar vem do latim caput que significa

"cabeça, extremidade" pela conotação de

“terminar, levar a termo uma tarefa”.

Page 57: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

57

- Destruir vem stru (de estrutura,

empilhamento) com "des" opor-se, ou seja,

literalmente acabar com uma estrutura.

- Discriminação tem sua origem no latim

discriminatio que quer dizer separação ou

distinção que aplicado na sociedade excluí um

individuo do mesmo.

- Respeito vem Latim respectus, particípio

passado de respicere, “olhar outra vez”, de re-,

“de novo”, mais specere, “olhar”

- covarde vem do Latim coda, “cauda”. No

Francês havia a palavra couard, “de cauda

abaixada”. A imagem é muito clara: o animal

(ou, metaforicamente, a pessoa) que tem o rabo

entre as pernas sinaliza que está desistindo da

luta.

- Coragem Latim coraticum, derivado de cor,

“coração”, pela noção corrente em tempos

clássicos de que este órgão era a sede desta

qualidade.

- Fanatismo veio do Latim fanaticus, “louco,

entusiasta, inspirado por algum deus”,

originalmente “relativo a um templo”, fanun.

Page 58: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

58

- Imparcialidade vem Latim partialis,

“divisível, pedaço de”, de pars, “parte”, com o

prefixo in-, negativo.

- Vilania vem do latim villanus

- Alienação vem do latim alienus significando

"o que pertence a um outro".

- Vocação vem do latim vocare que significa

"chamar".

- corrupção deriva-se do latim corruptĭo que

significa deterioração.

- Conhecimento vem da junção do latim

cognore (aprender, conhecer) como mento do

latim atum, ou ato, significando ato de

aprender ou conhecer.

- Fraude vem do latim fraus que significa

engano.

- Arrogância do Latim arrogare, de ad-, “para”

e rogare, aqui com o sentido de “exigir” o qual

a conotação refere-se ilegitimidade.

- Falsidade vem do latim falsitas algo contrário

a verdade ou a realidade.

- Angústia vem do latim angustia que significa

"aperto, sufocação, estritamento".

- Desolação vem do latim desolatus

“abandonado, deixado”.

Page 59: A Batalha das Palavrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/5349583.pdfA Batalha das Palavras – Gerson Avillez 6 É preciso mitologistas para formar um panteão mitológico de

A Batalha das Palavras – Gerson Avillez

59

- Ética deriva-se ethiké (epistéme), “a ciência

relativa aos costumes”, pelo latim ethica-, de

igual significado.