“o levantamento de solos é o produto daqueles que leêm as terras” (boulaine, 1996)

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“O levantamento de solos é o produto daqueles que leêm as terras” (Boulaine, 1996)

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Page 1: “O levantamento de solos é o produto daqueles que leêm as terras” (Boulaine, 1996)

“O levantamento de solos é o produto daqueles que leêm as terras” (Boulaine,

1996)

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J'ai lu! Qu'est-ce que je lis? Oh, le grand grand livre! La Bible? Non! La Terre![Victor Hugo]

- Eu li! ...e, o que eu li? -Oh... o grande, grande livro!

- A Bíblia? -Não! ... a Terra!

Victor-Marie Hugo ( 1802-1885)

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É importante que os estudantes transportem para os seus estudos uma certa dose de irreverência descontraída; eles não estão aqui para adorar o que é conhecido, mas para questioná lo.

(J. Bronowski, 1973)

E isso é muito válido para aulas práticas de morfologia, gênese e levantamento de solos

e

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Não existem demarcações rígidas entre um corpo de solo e outro. Ao contrário, existe uma gradação de propriedades quando passamos de um indivíduo solo para outro que lhe é adjacente. Essas gradações, nas propriedades do solo, podem ser comparadas à gradação em comprimentos de ondas de luz quando sua vista capta uma cor do arco-íris. A passagem de uma cor para outra é gradual mas sua vista distingue bem onde está o vermelho o laranja o verde etc.

(Brady e Weil, 2013)

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Objetivos do levantamento de solos ( Legros, 2006)

- Entender a organização espacial dos solos no ambiente natural, a fim de estudá-lo por meio de uma abordagem que é, ao mesmo tempo,

específica e interdisciplinar.- O mapa é construído passo a passo, usando metodologia científica: observações, hipóteses, leis,validação e, depois, aplicação.

“Na elaboração de um mapa, é necessário ter em mente um modelo de organização espacial dos solos (modelo hierárquico solo-paisagem). Da mesma forma que um bom aluno pode fazer um bom exame depois de fazer um bom curso, somente um bom naturalista, que tenha entendido bem a estrutura do meio ambiente, poderá fazer dele um bom mapa .”

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- Um trabalho, que visa à compreensão e modelagem da natureza, só será social e economicamente justificado se os relatórios correspondentes puderem ser aplicados (ou seja, se incluirem interpretações para usos práticos).

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Modelos conceituais solo-paisagem usados para Modelos conceituais solo-paisagem usados para mapear séries de solos: mapear séries de solos: ((catena de drenagemcatena de drenagem))

Cecil -> Appling -> Helena -> Worshambem drenado->moderada/ drenado-> imperfeita/ drenado-> mal drenado

ApplingAppling

CecilCecil

HelenaHelena

WorshamWorsham

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DEFINIÇÕES DO MAPA DE SOLOS E SEUS COMPONENTES

-O mapa é a transposição de uma entidade natural relacionada à geografia dos solos. Isso impõe a essência da aparência do mapa.

-Contudo, o mapa não é uma representação verdadeira da realidade, pois de outra forma teria que ser tão complexo como o solo o é, e teria que ser apresentado em uma escala de 1:1

Na realidade, o mapa é um modelo reduzido: a realidade é simplificada em função de objetivos.

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“ O mapa cria um impacto que tem o poder de um quadro (ou pintura) e uma percepção momentânea

como se fosse uma revelação....... Ele comunica informações, transmite uma

mensagem, expressa similaridades, diferenças, tendências, direções...

...É uma ferramenta para trabalho, pesquisa e tomadas de decisões (Meunier e Hardy, 1986).

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-O pedólogo (operador de campo), tal como um pintor, tem o seu estilo. Sua experiência e “jeito

de desenhar”, mais ou menos adquiridos no campo, o levaram a produzir documentos que não

são idênticos aos mesmos produtos que seus colegas fariam nas mesmas condições (época,

área, etc). Afinal, quer gostemos ou não, existirá sempre um certo grau de subjetividade

relacionado aos operadores.

Picasso e Salvador Dali pintando um ôvo

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-Em qualquer disciplina, e em particular na ciência do solo, existem convenções para as representações cartográficas.- Por exemplo, os solos arenosos frequentemente são mostrados com “pontilhados”, lembrando grãos de areia.

- Portanto, o mapa tem uma parcela de contextos científicos, culturais,estéticos e até mesmo emocionais.

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O mapa é produto da interação de quatro fatores: (a) natureza ( meio ambiente) ; (b) mapeador ; (c) objetivos (d) convenções cartográficas

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OBJETIVOS E APLICAÇÕES DO MAPEAMENTO

- Conhecimento do meio físico- Pesquisa científica-Regionalização de problemas agronômicos- Planejamento do uso do solo ( agricultura e engenheria civil)- Sustentabilidade da agricultura-Planejamamento agrícola (drenagem, irrigação, limpeza e restauração dos solos, redistribuição de terras)- Proteção dos solos (erosão, desassalinização, controle da poluição química, etc.)

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CONTRIBUIÇÕES DA ESCOLA RUSSA DE CIÊNCIA DO SOLO AO MAPEAMENTO DE SOLOS (DOKUCHAEV E SEGUIDORES: JENNY, HUDSON, etc.)

Considerando o paradigma dos fatores de formação dos solos (Jenny, 1941)

Solo = f (clima, organismos vivos, material de origem, relevo, tempo)

E também o paradigma solo-paisagem decrito por Hudson (1992)

COM BASE NOS PARADIGMAS DESTES ‘GURUS” PODEMOS DEDUZIR QUE:

-Em uma determinada paisagem uniforme, os solos têm características comuns e estáveis; o manto do solo, portanto,

está espacialmante organizado em uma forma que “nada deve ao acaso”; podendo, assim, ser racionalmente

estudado.

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Nas paisagens em que todos os seus aspectos são comparáveis, os mesmos tipos de solos vão ser encontrados; isto implica dizer que a natureza do manto

de solos pode ser predita e, portanto, mapeada na base do que alguns pesquisadores chamam de “modelo do mapeamento do solo” (Hartung et al,

1991) - em outras palavras, um procedimento dedutivo é possível.

- Por último, se o solo observado não é aquele que foi previsto, uma

problemática científica é levantada. Dessa forma, um perfíl, dos mais

comuns encontrado no meio ambiente, pode provocar uma

profunda reflexão e deve ser motivo de uma pesquisa científica.

PODEMOS também DEDUZIR QUE:

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CONCEITOS IMPORTANTES

Quando mapeamos temos que distinguir:

(a) O "objeto solo" - que é uma entidade natural correspondente a algo que existe na natureza. Procuramos, então, representar os locais de sua existência por meio de delineamentos feitos nos mapas;

(b) A "imagem solo" - que vem a ser o solo tal como o apresentamos a nós mesmos depois de observá-lo no campo (no caso, somente as principais feições são observáveis, como na foto de um perfil com sua respectiva paisagem);

(c) O "conceito de solo" - que não tem existência real. É um indivíduo teórico, um táxon (ou uma classe) de um sistema de classificação (o qual representa aquilo que mais se aproxima da "imagem" do solo).

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Há que ter em mente tmabém um MODELO da organização do manto de solo.Alguns deles: modelo do “perfil de solo”;(b) modelo do “volume dos horizontes “( “análise estrutural”); (c) modelo dos “solos associados” ( catenas etc)(d) modelo “ land system” ( mpa morfopedológico).

Em levantamentos detalhados usa-se mais o “modelo perfil de solo ou pedon” que define uma “série de solo” ( ou, se não as tivermos- como no Brasil- “unidades mapeadas a nível de séries de solo”

Tal modelo implica que o solo é uniforme em áreas relativamente grandes o que muito raro.

Portanto, o conceito de séries admite uma unidademapeamento com “impurezas” que o USDA-NRCS denomina de “consorciação”.

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Segundo o USDA-NRCS, em uma consorciação, as áreas delineadas são dominadas por pedons semelhantes (um único táxon ou taxa muito semelhantes - taxadunts). Como regra geral, pelo menos, metade dos pedons em cada delineamento de uma consorciação de solo são os mesmos componentes do solo que fornecem o nome da unidade de mapeamento. A maior parte do restante do delineamento consiste em componentes semelhantes ao solo denominado com o nome da classe.

Desde que as principais interpretações não sejam afetadas de forma significativa, a quantidade total de inclusões (solos diferentes dos outros componentes de uma unidade de mapeamento) geralmente não deve exceder a cerca de 15 % de solos com fatores limitantes diferentes, e 25 % se são solos com mesmos fatores limitantes. Um único componente de inclusão, com fatores limitantes dissimilares geralmente não excede 10 %, se muito contrastante. 

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Na foto imagens de um solo orgânico (ou de um organossolo)de uma vereda da região dos Cerrados;

ele foi classificado como Organossolo no SiBCS e Histosol no Soil Taxonomy; sua representação em um

delineamento efetuado em um mapa recebeu o o nome de organossolo , apesar de apenas 70 % dos pedons da

área mapeada terem sido classificados na ordem dos Organossolos ou Histosols ( foto: John Kelley)

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Por exemplo:  - no campo, observamos a superfície e o perfil de um solo ( um latossolo) na parede de uma trincheira (OBJETO).  - Nós o fotografamos e o descrevemos (aparência externa, cor e textura dos horizontes, etc.) em um caderno (IMAGEM do latossolo).  - Em seguida, identificamos esse solo como sendo um Latossolo (CONCEITO do Latossolo).  

O vocábulo latossolo, no primeiro caso( objeto) é um substantivo concreto comum; no segundo,

latossolo é também um substantivo comum (imagem) mas, no terceiro, Latossolo ( conceito, sem existência

real) é um substantivo próprio abstrato (daí dever ser escrito

com inicias maiúsculas).  

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1Observação direta e sensoreamento indireto do manto dos solos

Um pedólogo mapeando na escala 1:100.000 consegue, em média, um rendimento de 700 ha por dia. Contudo, normalmente não consegue fazer mais do que 20 tradagens por dia. Considerando o tamanho do trado (7 cm diâmetro, área de 38.5 cm2), podemos calcular que ele examina diretamente apenas 1/108 da área. Portanto, o pedólogo consegue tirar vantagem dessa pequena área para deduzir quais solos existem em volta dela, e entre elas. E isso tem que ser feito se quiser fazer seu trabalho com um custo aceitável.

E existem muitas maneiras pelas quais isso pode ser feito:

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a) Observação indireta do solo (fotos aéreas, imagens de satélites)

b) Considerações acerca da pedogênese

c) Observação direta do solo

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Similaridade entre tipos de solo:

- Qualquer método de levantamentos se baseia na noção de similaridade entre solos. Mapear consiste em grupar pedons que são similares e separar os que não o são. A mente humana é excelente nessa tarefa: contudo, o processo é empírico e não codificado.- Definir similaridade entre pedons em uma mesma unidade é uma

maneira de mensurar a homogeneidade dessa unidade de mapeamento.

- A maior parte do trabalho de verificação da qualidade do mapeamento implica em retornar ao campo, numa área já mapeada, com a finalidade de verificar se o solo existente concorda com o indicado na legenda. Isso significa comparar o solo que aí existe com o solo de referência. Tal similaridade não pode ser respondida com um “sim” ou “não”: portanto, é necessário usar uma medida de similaridade.

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Um método simples de verificar similaridade entre pedons, usando o pedocomparador: no exemplo abaixo verificou-se que um delineamento deveria ser subdividido em dois outros compreendendo solos bem drenados ( parte superior da encosta) e moderadamente drenados ( parte inferior da encosta)

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"Elaborar um levantamento de solos é, ao mesmo tempo, uma ciência e uma arte. Com ele, muitos pedólogos transferem seu conhecimento sobre os solos e as paisagens para o mundo real. Mapear os solos não é apenas uma profissão; muitos diriam que é um estilo de vida.

Trabalhando sozinho, ao ar livre, em todos os tipos de terreno, e carregando todo o equipamento necessário, o pedólogo identifica as “verdades do campo” para serem integradas com os dados de satélites e de laboratórios.

Os mapas de solos, e as informações descritivas que resultam nos relatórios dos levantamentos pedológicos e nos bancos de dados, são usados de várias formas práticas tanto por pedólogos como por não pedólogos. O levantamento de solos, combinado com poderosos Sistemas de Informação Geográfica, permite que os planejadores do uso da terra tomem importantes decisões  sobre “onde as coisas devem ficar”.

O desafio dos estudiosos do solo, e dos cidadãos preocupados em desenvolver ideias e atitudes que possibilitem o melhor uso dos nossos valiosos solos, é preservá-los – sem permitir que sejam destruídos com a erosão, construção de “shopping centers” e aterros". ( Brady e Weil, 2013)

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'... He discovered the very special exhilaration of t he mapper. I advised hint t o fry. The pleasure is quite exquisite. When you report on a map your discoveries of the day, your heart throbs more strongly, a kind of pride seizes you, you are the absolute master of the streets drawn h you, of the places, the banks of the stream…

….the genius of space is yours....

…This passion for cartography has still not left me. The more I age, the more I see in it that fellow feeling of method that is the quality of a living thing, a very exalted science: a real physiology of places. (Found by P. Bonfils in Orsena, 1988, L'exposition Coloniale, Editions du Seuil, Paris, 555 pp.)

Do livro : Legros, J.P. Mapping the Soil (2006)

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