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PENSAMENTO COMUNICACIONAL BRASILEIRO O legado das ciências humanas

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pensamento comunicacional brasileiroO legado das ciências humanas

coleção comunicação

• Históriadopensamentocomunicacional–Cenáriosepersonagens,JoséMarquesdeMelo• Mídiaepodersimbólico–Umensaiosobrecomunicaçãoecamporeligioso,LuísMauroSáMartino• Aproduçãosocialdaloucura,CiroMarcondesFilho• Culturaseartesdopós-humano–Daculturadasmídiasàcibercultura,LuciaSantaella• Corpoecomunicação–Sintomadacultura,LuciaSantaella• Navegarnociberespaço–Operfilcognitivodoleitorimersivo,LuciaSantaella• Mídiacontrolada:AhistóriadacensuranoBrasilenomundo,SérgioMattos• ComunicaçãoeCulturadasminorias,RaquelPaiva/AlexandreBarbalho(orgs.)• Arealidadedosmeiosdecomunicação,NiklasLuhmann• Asociedadeenfrentasuamídia:Dispositivossociaisdecríticamidiática,JoséLuizBraga• Éprecisosalvaracomunicação,DominiqueWolton• Teoriadojornalismo:Identidadesbrasileiras,JoséMarquesdeMelo• Comunicaçãoesociedadedoespetáculo,ValdirJosédeCastro/CláudioNovaesCoelho• Osignodarelação,CremildaCelestedeAraújoMedina• Adromocraciacibercultural–Lógicadavidahumananacivilizaçãomediáticaavançada,EugênioTrivinho• Atelevisãobrasileiranaeradigital–Exclusão,esferapúblicaemovimentosestruturantes,CésarRicardoSiqueiraBolaño/Valério

CruzBrittos•Éticaecomunicaçãoorganizacional,ClóvisdeBarrosFilho(org.)• Políticasdecomunicação:Buscasteóricasepráticas,MuriloCésarRamos/SuzydosSantos(orgs.)•Mídiaemovimentossociais:Linguagemecoletivosemação,JairoFerreira/EduardoVizer(orgs.)• Linguagenslíquidasnaeradamobilidade,LuciaSantaella• Mídiaeculturapopular:História,taxionomiaemetodologiadaFolkcomunicação,JoséMarquesdeMelo• Comunicaçãoeinovação:Reflexõescontemporâneas,MônicaPegurerCaprino(org.)• Comunicaçãoedemocracia:Problemas&perspectivas,WilsonGomes/RousileyC.M.Maia• MidiatizaçãoeprocessossociaisnaAméricaLatina,AntônioFaustoNeto/PedroGilbertoGomes/JoséLuizBraga/JairoFerreira

(orgs.)• Observatóriosdemídia:Olharesdacidadania,RogérioChristofolettieLuizGonzagaMotta(orgs.)• Oescavadordesilêncios–Formasdeconstruirededesconstruirsentidosnacomunicação,CiroMarcondesFilho• Sistemaspúblicosdecomunicaçãonomundo,ColetivoBrasildeComunicaçãoSocial•Vestígiosdatravessia:Daimprensaàinternet–50anosdejornalismo,JoséMarquesdeMelo•Ser jornalista: A língua como barbárie e a notícia como mercadoria,CiroMarcondesFilho• Serjornalista:Odesafiodastecnologiaseofimdasilusões,CiroMarcondesFilho• Interessescruzados–Aproduçãodaculturanojornalismobrasileiro,SérgioLuizGadini• Asociedadetecidapelacomunicação:Técnicasdainformaçãoedacomunicaçãoentreinovaçãoeenraizamentosocial,Bernard

Miège• Aserpente,amaçãeoholograma,NorvalBaitelloJunior• Oscaminhoscruzadosdacomunicação–Política,economiaecultura,JoséMarquesdeMelo• Ofuturodainternet:Emdireçãoaumaciberdemocracia,AndréLemos/PierreLévy• Redessociaisdigitais:AcogniçãoconectivadoTwitter,LuciaSantaella/RenataLemos• Aecologiapluralistadacomunicação:Conectividade,mobilidadeeubiquidade,LuciaSantaella• Comunicaçãoeidentidade:Quemvocêpensaqueé?,LuísMauroSáMartino• Regulaçãodascomunicações:História,poderedireitos,VenícioArturdeLima• Oprincípioda razãodurante–comunicaçãoparaosantigos,a fenomenologiaeobergsonismo–Tomo I–Nova teoriada

comunicaçãoIII,CiroMarcondesFilho• Oprincípiodarazãodurante–daEscoladeFrankfurtàcríticaalemãcontemporânea–TomoII–NovaTeoriadaComunicação

III,CiroMarcondesFilho• Oprincípiodarazãodurante–Ocírculocibernético:oobservadoreasubjetividade–TomoIII–NovaTeoriadaComunicação

III,CiroMarcondesFilho• Oprincípiodarazãodurante–Diálogo,podereinterfacessociaisdacomunicação–TomoIV–NovaTeoriadaComunicaçãoIII,

CiroMarcondesFilho• Oprincípiodarazãodurante–Oconceitodecomunicaçãoeaepistemologiametapórica–TomoV–Novateoriadacomuni-

caçãoIII,CiroMarcondesFilho• Históriadojornalismo:Itineráriocrítico,mosaicocontextual,JoséMarquesdeMelo• Oexploradordeabismos:VilémFlussereopós-humanismo,ErickFelinto/LuciaSantaella• Orostoeamáquina:Ofenômenodacomunicaçãovistodosânguloshumano,medialetecnológico–NovaTeoriadaComuni-

caçãovol.1,CiroMarcondesFilho• Comunicaçãoubíqua:Repercussõesnaculturaenaeducação,LuciaSantaella• Mutaçõesnoespaçopúblicocontemporâneo,MauroWilton/ElizabethSaadCorrêa(orgs.)• Teoriaemetodologiadacomunicação–TendênciasparaoséculoXXI,JoséMarquesdeMelo•PensamentoComunicacionalBrasileiro:OlegadodasCiênciasHumanas–vol.I–Históriaesociedade,JoséMarquesdeMelo

/GuilhermeMoreiraFernandes•PensamentoComunicacionalBrasileiro:O legadodasCiênciasHumanas–vol. II–Culturaepoder, JoséMarquesdeMelo/

GuilhermeMoreiraFernandes•ComunicaçãoMediaçõesInterações,LucréciaD´AlessioFerrara•PensamentoComunicacionalBrasileiro:OlegadodasCiênciasHumanas–vol.III–Mídiaeconsumo,JoséMarquesdeMelo/

GuilhermeMoreiraFernandes

comunicação

pensamento comunicacional brasileiro

José marques de melo Guilherme moreira Fernandes

(orgs.)

o legado das ciências humanas

III – Mídia e consumo

© PauLuS – 2015

rua Francisco cruz, 22904117-091 – são paulo (brasil)tel.: (11) 5087-3700 – Fax: (11) [email protected]

isbn 978-85-349-4226-3

Direção editorial: claudiano avelino dos santoscoordenação editorial: Valdir José de castroassistente editorial: Jacqueline mendes FontesPreparação dos originais: claiton césar czizewski Élmano ricarte de azevêdo souza Guilherme moreira FernandesRevisão: caio pereira tarsila DonáDiagramação: Dirlene França nobre da silvacapa: marcelo campanhã impressão e acabamento: paulus

1ª edição, 2015

Dados internacionais de catalogação na publicação (cip)(câmara brasileira do livro, sp, brasil)

pensamento comunicacional brasileiro: o legado das ciências humanas iii: mídia e consumo / José marques de melo, Guilherme moreira Fer-nandes, (orgs.). – são paulo: paulus, 2015. – (coleção comunicação)

Vários autores.isbn 978-85-349-4226-3

1. ciências humanas 2. ciências sociais 3. comunicação 4. consumo 5. mídia i. melo, José marques de. ii. Fernandes, Guilherme moreira. iii. série.

15-06418 cDD-302.2

Índices para catálogo sistemático:1. ciências da comunicação: sociologia 302.2

comunicação

5Volume 3

Alexandre Luiz de Oliveira SerpaAline StrelowAna Regina RêgoAna Silvia Lopes Davi MédolaAntonio HohlfeldtCésar BolañoClaiton César CzizewskiCosette CastroElias MachadoÉlmano Ricarte de Azevêdo

Souza Fernanda Nalon SanglardGilmar HermesGraça CaldasGuilherme Moreira FernandesItamar de Morais NobreJanine Marques Passini LuchtJefferson Ferreira SaarJhonatan MataJosé Marques de MeloJuliana Gobbi Betti

Arthur RamosCândido MendesFernando Henrique CardosoFlorestan FernandesGabriel Cohn

Ingrid A. SartiLuiz Costa LimaMaria Isaura Pereira de QueirózOctavio EduardoSamuel Pfromm Netto

coautores

Júnia MartinsJúnior PinheiroKarina Janz WoitowiczLuís Francisco MunaroLuís Humberto MarcosLuís Mauro Sá MartinoLuitgarde Oliveira Cavalcanti

BarrosMagnolia Rejane Andrade dos

SantosMarcia Perencin TondatoMaria Cristina Castilho CostaMaria das Graças TarginoMarise Baesso TristãoMonica MartinezNelia Del BiancoOsvando J. de MoraisPedro Gilberto GomesRafael GrohmannRanielle Leal MouraRoseméri LaurindoSamantha Castelo Branco

comunicação

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sumário

Preâmbulo Luís Humberto Marcos ................................................................................ 15

APreSentAção Guilherme Moreira Fernandes ..................................................................... 19

Introdução José Marques de Melo ................................................................................ 27

Parte V

ComunICAção: fluxoS ComPortAmentAIS (ConSumo, PArtICIPAção e oPInIão PúblICA) .......................... 41

Para entender a comunicação como geradora de fluxos comportamentais Ranielle Leal Moura .................................................................................. 43

1. categorias sociais ...................................................................... 57

O domínio científico das categorias sociais segundo Gabriel Cohn Rafael Grohmann ..................................................................................... 59

A Sociologia e a Comunicação Gabriel Cohn ........................................................................................... 65

Uma reflexão do pensamento de Gabriel Cohn sobre o papel da sociologia na constituição de uma ciência da comunicação humana Jefferson Ferreira Saar .............................................................................. 73

pensamento comunicacional brasileiro

82. conceitos psicossociais ................................................................ 81

O manejo político de conceitos psicossociais segundo Arthur Ramos Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros .......................................................... 83

A opinião pública, a censura e a propaganda Arthur Ramos ........................................................................................... 103

Aspectos metodológicos do pensamento científico de Arthur Ramos Magnolia Rejane Andrade dos Santos ...................................................... 135

3. a esfera eclesial............................................................................... 145

Vozes frankfurtianas repercutem na esfera eclesial segundo Cândido Mendes Élmano Ricarte de Azevêdo Souza e Itamar de Morais Nobre ................... 147

A cultura popular Cândido Mendes ...................................................................................... 153

Para além das estruturas? A cultura popular numa sociedade em midiatização. Pedro Gilberto Gomes .............................................................................. 177

4. o interesse psicológico ................................................................ 183

Psicologia, Comunicação e Educação segundo Samuel Pfromm Netto Alexandre Luiz de Oliveira Serpa .............................................................. 185

Interesse psicológico pela comunicação de massa Samuel Pfromm Netto .............................................................................. 191

Psicologia e Comunicação de Massa na obra de Samuel Pfromm Netto Nelia Del Bianco .................................................................................... 211

5. DepenDência cultural ................................................................... 219

Revisionismo crítico de Faletto e Cardoso passa despercebido em bolsões dependentistas segundo Ingrid Sarti Cosette Castro ......................................................................................... 221

Comunicação e dependência cultural: um equívoco Ingrid A. Sarti ........................................................................................... 233

Reflexões sobre a noção de “dependência cultural” na América Latina Marise Baesso Tristão e Fernanda Nalon Sanglard .................................... 259

comunicação

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sumário

6. imperialismo cultural .................................................................. 271

Teoria do imperialismo cultural revisitada pelo pensador uspiano Octavio Ianni Jhonatan Mata ......................................................................................... 273

A cultura brasileira refletida por Octavio Ianni Gilmar Hermes ......................................................................................... 281

Ianni, cidadão do mundo, um scholar na vida Graça Caldas ............................................................................................ 289

contextualização teórica ............................................................ 297

Pensando sobre os fluxos comportamentais da Comunicação Roseméri Laurindo ...................................................................................... 299

reflexão peDagógica ......................................................................... 311

Revisitando as relações teóricas entre Ciências Sociais e Ciênciasda Comunicação – uma arqueologia Maria Cristina Castilho Costa ...................................................................... 313

Parte VI

comunicação: ciências sociais aplicaDas ........... 325

Para entender a Comunicação como campo de aplicação das teorias e metodologias das Ciências Sociais Juliana Gobbi Betti ................................................................................... 327

1. a base empírica ................................................................................. 343

Ideias germinais de um pioneiro da pesquisa empírica integrando o binômio universidade-empresa Janine Marques Passini Lucht ................................................................... 345

A aplicação das Ciências Sociais Octavio Eduardo ...................................................................................... 353

A aplicação das Ciências Sociais segundo Octavio da Costa Eduardo Marcia Perencin Tondato .......................................................................... 363

2. funcionalismo .................................................................................. 369

A análise funcionalista dos fenômenos sociais na perspectiva de Florestan Fernandes Monica Martinez ...................................................................................... 371

pensamento comunicacional brasileiro

10Funcionalismo e análise científica na moderna Sociologia Florestan Fernandes ................................................................................. 383

A atualidade do método funcionalista de interpretação sociológica Elias Machado .......................................................................................... 395

3. análise iDeológica ......................................................................... 409

Interdisciplinaridade e método híbrido para um objeto em transformação segundo Dante Moreira Leite Aline Strelow ........................................................................................... 411

Uma ideologia, uma história: o método de análise ideológica de Dante Moreira Leite Claiton César Czizewski e Guilherme Moreira Fernandes ......................... 419

Dante Moreira Leite e a busca da nação brasileira Luís Francisco Munaro .............................................................................. 425

4. análise De Documentos ............................................................... 437

Usos e abusos do gravador e outras tecnologias na pesquisa acadêmica segundo Maria Isaura Pereira de Queiróz Júnior Pinheiro e Júnia Martins ................................................................. 439

Análise de documentos em Ciências Sociais Maria Isaura Pereira de Queiróz ................................................................ 449

História oral como opção metodológica: aplicações, implicações e contribuições Samantha Castelo Branco ........................................................................ 473

5. cultura De massa ............................................................................ 483

Luiz Costa Lima: traços biográficos e bibliográficos Maria das Graças Targino ......................................................................... 485

Comunicação e Cultura de Massa Luiz Costa Lima ........................................................................................ 497

Pluralismo metodológico na pesquisa seminal sobre a cultura de massa segundo Costa Lima Ana Regina Rêgo ..................................................................................... 561

6. teoria Do curto-circuito ............................................................ 573

A teoria do curto-circuito fomentou a credibilidade da academia brasileira na comunidade internacional, segundo Fernando Henrique Cardoso Karina Janz Woitowicz ............................................................................. 575

comunicação

11

sumário

Comunicação para um novo mundo Fernando Henrique Cardoso..................................................................... 585

Notas sobre a atualidade da visão epistemológica de Fernando Henrique Cardoso sobre a “Comunicação para um novo mundo” Ana Silvia Lopes Davi Médola ................................................................... 595

contextualização teórica ............................................................ 603

Em busca de metodologias de pesquisa para compreender as Ciências Sociais como Ciência, aí compreendida a Ciência da Comunicação Antonio Hohlfeldt ....................................................................................... 605

reflexão peDagógica ......................................................................... 617

Matrizes das Ciências Sociais na Epistemologia da Comunicação Luís Mauro Sá Martino ............................................................................... 619

ePílogo César Bolaño ............................................................................................ 633

Sobre oS AutoreS .................................................................................. 637

Obra comemorativa aos 100 anos de fundaçãoda Família Paulina

comunicação

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preâmbulo

ousaDia que Fortalece espaço ibero-americano

Luís Humberto Marcos

Esta é uma obra gigantesca que só um espírito intranquilo, na procura constante de novos caminhos, poderia gerar. José Marques Melo contagia, estimulando atitudes que combatam

a rotina que, muitas vezes, invade o espírito do investigador. Trata-se, pois, do resultado de um ato de grande ousadia científica.

A novidade não estará na emersão da Comunicação a partir das “ciências humanas”, ou das “ciências sociais e humanas”, designação que suscita dúvidas epistemológicas. A novidade está na segmen-tação e sistematização dos mais variados campos da progressão científica brasileira, em articulação com as principais correntes do pensamento europeu (e não só), nos espaços da sociologia, da psi-cologia, da antropologia etc. A novidade está na riqueza de reflexões que se cruzam, criticamente, com diferentes olhares.

Registra-se a influência dos principais teóricos que servem de base às ciências da Comunicação, mas, sobretudo a forma como os especia-listas brasileiros foram integrando e elaborando novas perspectivas de abordagem dos fenômenos comunicacionais. São dezenas de autores cruzando linhas de debate crítico nos alicerces da Comunicação.

A divisão da obra está metodológica e pedagogicamente muito bem elaborada. Abrindo com a gênese da comunicação humana, vai desen-

pensamento comunicacional brasileiro

16cadeando uma linha de leitura que converge para o derradeiro setor da comunicação nas ciências sociais aplicadas. Ou seja, vão-se galgando os ramos do conhecimento, numa linha ascendente como se estivéssemos a subir uma árvore que se vai desbravando a partir de um pequeno tronco, alicerce da comunicação. Nesse sentido, constitui um utilíssi-mo instrumento didático para a imersão no campo comunicacional.

A ideia que gostaria de deixar sobre aquilo que me sugere esta obra de gigantes projeta-se numa imagem que representa duas árvores liga-das pelos ramos… Árvore com árvore invertida, em que os ramos de uma se misturam com os da outra, reforçando a base do conhecimento comunicacional, como sinapses que se fortalecem, abrindo-se a novas ramificações num processo vivo interminável… O tronco da segunda árvore é o do pensamento (pré)comunicacional brasileiro.

Em desenho surrealista, poder-se-ia representar assim: tronco pequeno da primeira árvore cuja base é a gênese de comunicação, ramos dos mais variados campos teóricos em que beberam os teóricos brasileiros; esses ramos conectam-se com novos ramos de aportações brasileiras que se vão adensando para entroncar numa base que configura o pensamento comunicacional brasileiro. Nos espaços escondidos estão raízes. Muitas delas comuns que se entre-laçam e se confundem. Autorregenerando-se.

Desenho de LHM ilustra as sinapses de cruzamentos científicos entre diferentes escolas.

comunicação

17Algumas das grandes escolas, mais clássicas ou mais modernas,

estão repercutidas no pensamento (pré)comunicacional brasileiro, e aqui se perspectiva a sua evolução…

Na “sociedade da ecranvidência” e do descartável em que esta-mos mergulhados, obras como esta ajudam-nos a pensar mais e melhor nas raízes do saber comunicacional e do processamento da comunicação. Em português.

O espaço ibero-americano precisa de obras como esta para se afirmar nos areópagos internacionais das ciências da comunicação. Sendo o Brasil a maior potência no contexto ibero-americano, pelo seu papel liderante na organização e dinamização de iniciativas de reflexão sobre a Comunicação, uma obra desta magnitude fortalece o espaço ibero-americano da comunicação. Fica sendo um manual indispensável a qualquer biblioteca, pessoal ou institucional, para quem sabe que a comunicação não é só um bem elementar à vida, mas que precisa ser, cada vez mais, investigada e aprendida. Sem limites, porque há sempre novos caminhos, novos horizontes, para quem se aventura nas vias da comunicação humana. Ou seja, esta obra é um gerador de novas pesquisas, novas descobertas. Um ponto de partida crítico para que o espírito intranquilo da sua gênese promulgue novas pistas sobre a Comunicação.

Porto, 8 de junho de 2014.

Prof. Dr. Luís Humberto MarcosSecretário Geral da AssIBERCOM - Associação Ibero-americana

de Comunicação e Diretor do Museu Nacional da Imprensa, Porto, Portugal.

preâmbulo

comunicação

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apresentação

apresentaçãoGuilherme Moreira Fernandes

Em dezembro de 2013, durante o VIII Simpósio Nacional de Ciências da Comunicação (Sinacom), fui a São Paulo para lançar minha primeira parceria editorial com o grande

mestre José Marques de Melo, o livro Metamorfose da folkcomu-nicação (Editae Cultural, 2013). À ocasião recebi o convite para trabalhar em mais uma “quase epopeia”, que acabou se tornando este livro que ora apresentamos ao leitor. Durante os meses daque-le dezembro e janeiro de 2014 foram várias as trocas de e-mail com o intuito de debater o melhor formato para o livro. Optamos por seguir uma estratégia similar à que fizemos no Metamorfose da folkcomunicação, ou seja, a cada “texto-base” seria acrescentado um “texto introdutório” e haveria um outro amarrando cada uma das seções. Após diversas discussões modificamos o formato, e a cada “texto-base” foram acrescentados dois outros textos. O primeiro, de natureza biobibliográfica, ressaltando a trajetória do autor e a importância do texto, e outro, de natureza metodológica, trazen-do novas contribuições ao texto. Dividimos a produção em dois momentos; assim, os autores das notas metodológicas tiveram acesso aos textos biobibliográficos, o que evitou possíveis repeti-ções desnecessárias.

pensamento comunicacional brasileiro

20Cada uma das seis seções presentes no conjunto da obra tiveram

outros três textos. O primeiro, denominado “introdução”, visa a apresentar o conjunto de textos em consonância com o título da seção. O segundo, que chamamos de “contextualização teórica”, publicado após os “textos-base” e suas respectivas notas, tem como objetivo amarrar os seis textos presentes da seção, visto que os auto-res são filiados a distintas áreas e não apresentam diálogos per se. Por fim, “reflexão pedagógica” é o texto de fecho e traz contribuições para a leitura reflexiva. Os exegetas da “contextualização teórica” tiveram acesso às notas biobibliográficas, e os convidados para redi-gir a “reflexão pedagógica”, por sua vez, tiveram conhecimento dos textos de “introdução”. Neste ponto aproveito para tornar públicos meus agradecimentos aos professores Claiton César Czizewski e Élmano Ricarte de Azevêdo Souza, que me ajudaram na preparação dos originais, e também a todos os autores, editoras, institutos e familiares que gentilmente cederam os direitos de reprodução dos textos. Mesmo com todos os esforços, não foi possível a publicação do texto original de Dante Moreira Leite e Octavio Ianni, o qual substituímos por uma resenha, prática já adotada nos outros volu-mes com os textos de Lévi-Strauss e Antônio Cândido (volume 1) e Darcy Ribeiro (volume 2).

A escolha dos exegetas não foi arbitrária. Procuramos pesquisa-dores que possuem afinidade com o autor ou com o tema refletido no texto. Conseguimos representantes de todos os Estados da federação. Do Rio Grande do Sul a Roraima, da Paraíba ao Acre. Mobilizamos 112 pesquisadores, além dos 30 pensadores que com-põem os “textos-base”, totalizando 142 autores.

No momento do copydesk, ao se aproximar das mil páginas e ainda estarmos na quarta seção do livro, a sapiência de Marques de Melo aconselhou dividirmos a obra em três volumes. O primeiro volume – “História e sociedade” – foca sobretudo os processos comunicativos axiológicos; o segundo – “Cultura e poder” – apre-senta aspectos e traços da comunicação; e o terceiro – “Mídia e con-sumo” – reúne textos com o propósito de refletir cognitivamente a aplicabilidade da comunicação e sua relação com as ciências sociais

comunicação

21

apresentação

e humanas. A divisão permite que os livros possam ser lidos em conjunto ou de forma separada, sem se ater à ordem dos volumes.

O livro está em consonância com as preocupações do professor Marques de Melo de resgatar e trazer à baila o estado da arte da comunicação. Ao contrário de outras publicações com vistas nos teóricos e pensadores da comunicação stricto sensu, este livro traz uma abertura e uma visão do processo comunicacional de forma lato. Todos os 35 pensadores reunidos nos “textos-base” não são oriundos do campo comunicacional, são reconhecidos por pares em outras esferas da grande área das ciências humanas e sociais. Contudo, suas diversas contribuições ao universo comunicacional os fazem autores-referências. O caráter que diferencia esta de tantas outras antologias é a presença dos intérpretes-leitores. Estes sim pesquisadores atuantes no campo comunicacional que direciona-ram seu olhar para a comunicação inscrita e circunscrita nestes 36 textos. Apesar dos nossos esforços, não conseguimos autorização para a reprodução de todos os textos que gostaríamos. Nesses casos, substituímos o “texto-base” por um comentário com as principais indicações comunicacionais presentes no texto que serviu de base para os exegetas, e que não estão presentes nesta antologia.

Também consonante com a perspectiva pedagógica do professor Marques de Melo, o livro apresenta visões das mais distintas gera-ções de pesquisadores, de mestrandos a renomados e prestigiados pesquisadores do campo comunicacional. As diversas orientações metodológicas e epistemológicas coexistem lado a lado. O resultado é um amplo mosaico da sociedade e da cultura brasileiras à luz das ciências da comunicação.

Este livro está divido em duas seções. A primeira (quinta, se levarmos em consideração os primeiros volumes da série), deno-minada “Comunicação: fluxos comportamentais (consumo, par-ticipação e opinião pública)”, apresenta o pensamento de Gabriel Cohn, Arthur Ramos, Cândido Mendes, Samuel Pfromm Netto, Ingrid Sarti e Octavio Ianni. Os textos e os autores aqui reunidos são fundamentais para a compreensão dos meandros que a comu-nicação envolve, como as categorias sociais, a psicologia, a cultura

pensamento comunicacional brasileiro

22popular e o imperialismo cultural. Os textos foram escritos em períodos variados, sendo o mais antigo de 1937 (Ramos) e o mais recente de 1984 (Ianni), e trazem objetos empíricos e proposições diferentes. A exemplo dos demais, não tratam especificamente do fenômeno comunicacional, mas a comunicação pode ser percebida no contexto.

O texto de Cohn, originalmente publicado em 1970, traz os pontos que foram desenvolvidos posteriormente da tese de dou-torado do autor, que foi publicada pela editora Pioneira em 1972, com o título “Sociologia da Comunicação: teoria e ideologia”, obra recentemente relançada pela Vozes (2014). Cohn baliza a categoria científica da comunicação como ciência autônoma ou como campo empírico do universo sociológico; “[...] adotar uma ou outra des-sas soluções não significa, contudo, pôr em causa a especificidade de uma ciência própria da Comunicação” (Cohn, 2011, p. 223). Debate esse que não admite uma única resposta ou solução, como bem expõe Braga (2010). Cohn então faz a defesa de que a ciência da comunicação não pode constituir-se sem o domínio das cate-gorias sociais. Concepção retomada por Cohn (2001) em debate promovido pela Compós no início deste século.

Os textos de Ramos e Pfromm Netto trazem contribuições para a reflexão da Psicologia da Comunicação. Pfromm Netto realiza ainda um amplo levantamento sobre as obras que tratam do assun-to e a influência dos meios de comunicação de massa no comporta-mento individual. Já Ramos traz o debate de três pontos: a opinião pública, a censura e a propaganda. Originalmente preparado na década de 1930, o texto permanece atual, mostrando sua força de clássico. O autor retoma as discussões de Tarde (expresso em A opinião e as Massas) e apresenta suas contribuições ao tema que está longe de um consenso, como já foi percebido por Marques de Melo

por isso mesmo, sociólogos, psicólogos, antropólogos, cientis-tas políticos têm se devotado ao seu estudo, numa tentativa de analisar as suas manifestações no bojo da sociedade, expli-cando causas e dimensionando efeitos. contudo, a aplicação

comunicação

23da instrumentalização científica ao estudo do fenômeno ainda não proporcionou uma convergência de posições normativas ou conceituais (marques de melo, 1977, p. 49).

Pensando especificamente no universo da Comunicação, Mar-ques de Melo propõe algumas definições do termo como “opinião pública é o juízo de valor formulado pelo povo em torno de um fato concreto” (Marques de Melo, 1977, p. 51), e constata que “a opinião pública é um fenômeno dialético, que resulta do choque entre opiniões divergentes, diante de um fato, logrando uma delas galvanizar as atenções e as preferências da maioria dos indivíduos” (Marques de Melo, 1977, p. 55). Já ciente dessa problemática da definição, Ramos parte de uma distinção entre público e multidão, sendo a multidão uma reunião de indivíduos em um mesmo espaço físico e o público uma multidão de caráter espacial. Já a censura e a propaganda são métodos especiais utilizados para conter o poder da opinião pública. Neste ponto, o autor também permeia o campo da participação e do consumo.

A relação entre opinião pública, participação e consumo tam-bém é refletida por Cândido Mendes ao retratar a cultura popular no âmbito da esquerda católica no Brasil. Já Sarti recupera o debate teórico em torno das teorias sobre a América Latina, com ênfase em ressaltar a importância dos fenômenos de natureza ideológica e os mecanismos de dominação, para questionar o ramo comunicacio-nal presente na literatura da “dependência cultural”, que esquece que a América Latina é capitalista e conhece diferentes articulações de classe em cada uma de suas nações. O imperialismo cultural apa-rece também nos escritos de Ianni, que questiona o caráter “único” da cultura brasileira, tomando como base da argumentação a noção de hegemonia e a luta de classes. Tais argumentos nos fazem recor-dar dos dizeres de Bordenave (1983), a respeito da participação: “[...] o povo participa mais e melhor quando o problema responde a seus interesses e não apenas aos da liderança ou das instituições externas” (Bordenave, 1983, p. 49). E de García Canclini (2008), mostrando que “hoje vemos os processos de consumo como algo

apresentação

pensamento comunicacional brasileiro

24mais complexo do que uma relação entre meios manipuladores e dóceis audiências” (García Canclini, 2008, p. 59).

A segunda parte deste livro (sexta da coleção) é denominada “Comunicação: ciências sociais aplicadas”, reunindo o pensamen-to dos seguintes autores: Octávio Eduardo, Florestan Fernandes, Dante Moreira Leite, Maria Isaura Pereira de Queiróz, Luiz Costa Lima e Fernando Henrique Cardoso. São apresentadas seis corren-tes de pensamentos que podem ser aplicadas nos estudos de comu-nicação. Octávio Eduardo traz reflexões sobre a base empírica das Ciências Sociais; Florestan Fernandes faz a defesa do funcionalismo como perspectiva epistemológica; Dante Moreira Leite apresenta o método de análise ideológica; Maria Isaura Pereira de Queiróz apre-senta a forma de análise metodológica de documentos; Luiz Costa Lima debate as relações entre a Comunicação e a Cultura de Massa; e Fernando Henrique Cardoso concebe a teoria do curto-circuito para pensar a Comunicação Social. O conjunto de textos não esgota o tema, mas retoma debates por vezes esquecidos em face de outras correntes como a Teoria Crítica e os Estudos Culturais ingleses, norte-americanos e latino-americanos, que, nas últimas décadas, se mostraram dominantes nos estudos comunicacionais.

O primeiro volume apresentou as seções “Comunicação Huma-na: Gênese e Evolução”, com o pensamento de Lévi-Strauss, Câmara Cascudo, Jarbas Maciel, Florestan Fernandes, Barbosa Lima Sobrinho e Virgilio Noya Pinto, e “Comunicação: processo social básico”, com as pesquisas de Emilio Willems, Alceu Maynard Araújo, Paulo Freire, Manuel Diégues Júnior, Antônio Cândido e Fernando de Azevedo. O segundo volume apresentou as seções “Comunicação: fenômeno cultural”, com o pensamento de Egon Schaden, Gilberto Freyre, Ruben Oliven, Alfredo Bosi, Darcy Ribeiro e Vamireh Chacon, e “Comunicação: sistema de poder”, com os escritos de Carlos Guilherme Mota, José Nilo Tavares, René Dreifuss, Ruth Cardoso, Juan Diaz Bordenave e Celso Furtado.

Deixamos as construções simbólicas a cargo dos leitores e dese-jamos uma proveitosa leitura.

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apresentação

RefeRênciaS

BORDENAVE, Juan E. D. O que é participação. São Paulo: Brasiliense, 1983.

BRAGA, José Luiz. “Disciplina ou campo? O desafio da consolidação dos estudos em Comunicação”. In: FERREIRA, Jairo; PIMENTA, Francisco J. P.; SIG-NATES, Luiz (orgs.). Estudos de Comunicação: transversalidades epistemológi-cas. São Leopoldo: Unisinos, 2010, p. 19-38.

COHN, Gabriel. “O campo da Comunicação”. In: FAUSTO NETO, Antônio; PRADO, José Luiz A.; PORTO, Sérgio D. (orgs.). Campo da Comunicação: caracterização, problematizações e perspectivas. João Pessoa: UFPB, 2001, p. 41-49.

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