o impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: caso petrobras

30
1 Fundação Instituto de Administração - FIA THIAGO GONÇALVES DIAS ARBULU O IMPACTO DO CAPITALISMO DE ESTADO NO DESEMPENHO FINANCEIRO DE EMPRESAS ESTATAIS: CASO PETROBRAS Monografia apresentada como parte dos requisitos para a conclusão da Pós Graduação em Gestão de Negócios e Finanças, turma Berrini II, sob a orientação do Prof. Marco Antônio Couto. São Paulo Novembro 2014

Upload: thiago-arbulu

Post on 17-Jul-2015

271 views

Category:

Economy & Finance


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

1

Fundação Instituto de Administração - FIA

THIAGO GONÇALVES DIAS ARBULU

O IMPACTO DO CAPITALISMO DE ESTADO NO DESEMPENHO FINANCEIRO

DE EMPRESAS ESTATAIS: CASO PETROBRAS

Monografia apresentada como parte dos

requisitos para a conclusão da Pós Graduação

em Gestão de Negócios e Finanças, turma

Berrini II, sob a orientação do Prof. Marco

Antônio Couto.

São Paulo

Novembro – 2014

Page 2: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

2

RESUMO

O nível de intervenção do Estado sobre a economia varia conforme o momento histórico do

país, a situação econômica internacional e a filosofia de gestão no comando. Dessa forma, à

medida que a economia planificada foi descartada pelo Socialismo para formação da

sociedade igualitária e o Estado seguiu com o anseio de manter o máximo de controle sobre

os agentes sociais e econômicos, encontraram-se no capitalismo de estado as ferramentas

necessárias para aliar o desenvolvimento econômico e social à promoção política em território

nacional e especialmente internacional. De maneira híbrida e heterogênea, o Estado divide

com a iniciativa privada o controle das empresas pertencentes a setores estratégicos mantendo

o poder de influência necessário para conduzir as decisões de acordo com seus interesses.

Com isso, o objetivo deste trabalho é identificar quais são os impactos que a intervenção do

Estado pode causar no desempenho econômico de uma empresa estatal. Por meio da análise

dos principais índices econômicos aliado aos levantamentos históricos pertinentes, os

resultados revelaram quais parâmetros foram mais afetados.

Page 3: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

3

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 4

1.1 Problema de pesquisa ......................................................................................................... 5

1.2 Objetivo do Trabalho ......................................................................................................... 5

1.3 Justificativa de Estudo ....................................................................................................... 5

2 CAPITALISMO DE ESTADO ............................................................................................ 6

2.1 Ferramentas do capitalismo de estado.............................................................................. 7

2.1.1 Corporações nacionais de petróleo e gás (NOCs) ............................................................. 8

2.1.2 Líderes Nacionais Privadas ............................................................................................... 8

2.1.3 Fundos Soberanos (SWFs) ................................................................................................ 9

2.2 Impacto do capitalismo de estado nas SOEs .................................................................. 10

2.3 História do capitalismo de estado ................................................................................... 11

3 CAPITALISMO DE ESTADO NO BRASIL .................................................................... 15

3.1 Intervenções na Petrobras ............................................................................................... 19

4 ANÁLISE FINANCEIRA ................................................................................................... 20

4.1 Índice de liquidez .............................................................................................................. 20

4.2 Índice de estrutura ........................................................................................................... 20

4.3 Índice de rentabilidade ..................................................................................................... 21

5 METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................................... 22

5.1 Abordagem e estratégia da pesquisa ............................................................................... 22

5.2 Coleta e análise de dados ................................................................................................. 22

5.3 Objeto de Estudo .............................................................................................................. 23

6 ANÁLISE DESCRITIVA DOS RESULTADOS .............................................................. 25

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 28

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 29

Page 4: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

4

1 INTRODUÇÃO

Habitualmente a intervenção estatal é adotada como critério base para distinguir os

economistas conservadores (neoliberais, neoclássicos, monetaristas e defensores do mercado

livre) dos progressistas (keynesianos, “liberais” no sentido norte-americano, estruturalista e

neomarxista). Os conservadores são contra a intervenção do Estado por temerem o

Socialismo, já os Socialistas em sua essência acreditavam que a nacionalização e planificação

da economia seria a base do socialismo (PEREIRA, 1989. p. 115).

Entretanto os acontecimentos históricos, especialmente as guerras e crises econômicas

mundiais, além das condições de cada país, interferem diretamente no modelo e no nível de

intervenção do Estado. Nesse sentido, será possível observar nesse trabalho que a partir do

início do século XIX, que o papel econômico do Estado deve ser encarado como uma fase do

caráter cíclico da intervenção estatal, e que, além disso, cada ciclo ou momento histórico a

intervenção do Estado muda (PEREIRA, 1989. p. 116).

Em determinado momento da história as empresas estatais dominaram os mercados,

sendo os principais responsáveis pelo desenvolvimento, em termos econômicos e sociais. Em

outros momentos devido às alterações de mercado, as estatais se tornaram passivos

financeiros causando déficit fiscal e prejudicando a condução da economia das nações. A

definição do modelo econômico capitalista estatal se torna fundamental para compreensão

dessas variáveis intervencionista.

Dessa maneira, segundo Gobetti (2010. p. 30), grande parte do desenvolvimento

econômico brasileiro deve-se as empresas estatais. Sendo as responsáveis pelo desempenho

da economia durante a ditadura militar na década de 70. Entretanto, tal desempenho e rápido

desenvolvimento, sustentando pelo alto nível de endividamento, deixou a economia

vulnerável, causando desequilíbrio na balança comercial, redução da oferta de crédito,

aumento da inflação aos maiores níveis histórica, entre outros.

Aparentemente a intervenção do Estado foi reduzida nos anos seguintes a crise, com a

privatização e abertura de capital das empresas de diversos setores da economia brasileira. No

entanto, o governo tem diversificado a maneira de influenciar a economia por meio de bancos

de desenvolvimento, bancos nacionais e fundos de pensão, ou seja, o governo de fato

aumentou a centralidade na economia (LAZZARINI, 2011).

Dentro desse contexto de influência política sobre a estratégia da empresa,

especificamente a Petrobras, e com consequente impacto sobre os seus resultados, a análise de

sua atividade por meio do desempenho econômico-financeiro através das demonstrações

contábeis tem como finalidade relatar a posição atual, as causas que determinam a evolução

Page 5: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

5

apresentada e as tendências futuras (ASSAF NETO, 2010). Ou seja, auxilia a compreender

qual o real impacto da influência estatal no âmbito operacional e financeiro da empresa.

1.1 Problema de pesquisa

Quais são os impactos no desempenho financeiro na empresa estatal Petrobras, quando

há interferência direta do Governo Federal?

1.2 Objetivo do Trabalho

Este trabalho tem por objetivo analisar quais são os impactos das políticas econômicas

intervencionistas do Governo Federal Brasileiro no desempenho econômico, financeiro e

operacional da empresa nacional Petróleo Brasileiro S. A, Petrobras, através do estudo de

períodos marcantes nem sua história.

Como objetivos específicos têm-se:

a) comparar os principais indicadores operacionais da organização;

b) comparar os principais indicadores financeiros da organização;

c) analisar a situação política e econômica de cada momento para compreender quais

são impactos no desempenho da empresa.

1.3 Justificativa de Estudo

O petróleo e o gás natural são as principais fontes de energia em todo o mundo,

representando 53,1% de todas as fontes de energia e com perspectiva de até 2035 continuar na

liderança entre as fontes com 52,3% (OPEC, 2013). Dessa maneira, a Petrobras figura-se

como a maior e a principal empresa para o Brasil, tanto no papel de suprir a demanda local

dos derivados do petróleo, mas também como principal agente econômico externo brasileiro.

Com toda a relevância da Petrobras para o Brasil e também para o mundo, os

formuladores das políticas econômicas dos últimos anos adotaram uma política industrial

mais atuante, interferindo diretamente nas diretrizes operacionais da estatal, com o intuito de

sustentar a popularidade do governo e controle da economia.

Page 6: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

6

2 CAPITALISMO DE ESTADO

Bremmer (2011. p. 53), define capitalismo de estado como um sistema em que o

Estado domina os mercados com intuito de ganhos políticos. Contudo não existe uma maneira

bem definida quanto à divisão entre os modelos econômicos de livre mercado e de Estado, ou

seja, não existe alguma característica básica que possa determinar o modelo adotado de forma

clara. Dessa maneira, nenhuma nação é puramente praticante do livre mercado ou capitalista

estatal. Além disso, a intervenção do governo de cada país varia conforme o período, e as

circunstâncias.

A ilustração a seguir auxilia na contextualização e entendimento do capitalismo de

estado e suas variações. Trata-se de uma adaptação das obras base desse trabalho que além de

apresentar a concepção de Bremmer (2011. p. 54), a qual o capitalismo de estado é um

modelo geral do capitalismo, justaposto com uma forma idealizada de economia liberal de

mercado em que o governo não intervém na gestão de empresas ou na atribuição de crédito,

inclui também as variações do capitalismo de estado proposta por Lazzarini e Musacchio

(2014), em que o nível de influência, as maneiras de intervenções do governo e as ferramentas

variam de acordo com momento econômico.

Figura 1 – Espectro de mercado e variações do capitalismo de estado.

Fonte: Autor “adaptado de” Bremmer (2011. p. 54) e Lazzarini e Musacchio (2014).

O extremo esquerdo da Figura 1 apresenta o modelo econômico sem qualquer

atividade de livre mercado. Nesse cenário, o governo tem controle total sobre os movimentos

de mercado. Contudo segundo Bremmer (2011. p. 54), esse extremo nunca existiu, mesmo

por que até o Estado sujeito ao mais rigoroso controle, sofre com a geração de oferta do

mercado negro. O exemplo mais próximo desse extremo seria Cuba. Já no outro extremo está

Page 7: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

7

o Libertarianismo utópico, onde não existiria governo, tampouco qualquer autoridade

reguladora. Os Estados Unidos seriam a nação mais próxima desse extremo. Porém nem Cuba

e nem Estados Unidos e nenhuma outra nação atendem 100% aos critérios para afirmar seu

posicionamento econômico nos extremos do espectro.

Entre os extremos estão às diversas formas de capitalismo de estado, as quais não

podem ser consideradas estáticas uma vez que uma nação pode ocupar determinado estágio de

acordo com o seu momento político e econômico, além de variar em determinados setores e

determinadas empresas. Seguindo o espectro da esquerda para direita, inicia-se com o modelo

que o Estado controla totalmente as organizações estatais, limitando sua autonomia e

transparência. Já na posição de investidor majoritário, as empresas são parcialmente

privatizadas, havendo variação na governança de cada empresa. Essas empresas contam com

certo grau de autonomia e transparência, em alguns casos o Estado controla por meio de

Conglomerados.

Outra maneira do Estado influenciar a economia de maneira indireta é como acionista

minoritário. Dessa maneira, as intervenções são minimizadas, contudo o governo por meio de

suporte financeiro consegue determinado grau de intervenção. E por fim, quando não há

participação do governo, não há interferência direta, porém não é possível descartar as

possibilidades de influência do Estado (LAZZARINI; MUSACCHIO, 2014).

A diferença básica, entre o capitalista de livre mercado e o capitalista de estado, está

no fato de que os criadores de políticas públicas não adotam o capitalismo estatal de forma

temporária para reconstrução econômica, e também no fato de que os capitalistas de estado

veem os mercados como ferramenta para atender aos interesses nacionais ou ao menos da

elite dominante, de modo que amplia a alavancagem econômica e política, no âmbito social e

internacional (BREMMER, 2011. p. 61).

2.1 Ferramentas do capitalismo de estado

Para garantir a gestão estatal do capitalismo, o Estado conta com diversas ferramentas

e instituições intermediadoras: as grandes corporações de petróleo e gás (NOCs, sigla em

inglês), outras empresas estatais (SOE, sigla em inglês), as grandes empresas privadas

nacionais (campeãs) e os fundos soberanos (SWFs, sigla em inglês) (BREMMER, 2011. p.

64). Fundos de pensão e bancos nacionais de desenvolvimento devem ser incluídos na mesma

categoria dos SWFs. (LAZZARINI; MUSACCHIO, 2014).

Page 8: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

8

2.1.1 Corporações nacionais de petróleo e gás (NOCs)

Por mais que as nações tenham investido no desenvolvimento de fontes de energia

renovável, o petróleo e o gás ainda correspondem a 53,1% de toda a fonte de energia do

mundo, e até o ano de 2035 serão responsáveis por 52,3% (OPEC, 2013). Segundo a agência

americana de administração da informação de energia, EIA (2014), atualmente o mundo conta

com uma reserva comprovada de 1,65 trilhões de barris de petróleo e o consumo médio diário

é de 90,4 milhões de barris, ou seja, com esse nível de consumo as atuais reservas serão

extintas dentro de 50 anos. Isso é prova concreta que o petróleo e justaposto o gás natural

serão bens extremamente preciosos.

Toda a importância desses bens naturais esta canalizada nas grandes petrolíferas, às

quais 77% das reservas pertencem as 10 principais empresas nacionais do setor mundial,

liderados por Irã, Arábia Saudita, Venezuela e Qatar (PETROSTRATEGIES, 2010). Dessa

maneira, por deterem grandes influências sobre a economia interna são utilizadas pelos

governos com intuito de atender a suas necessidades de programas sociais e manutenção da

popularidade. Além de serem integrantes fundamentais no processo produtivo e representarem

supremacia nos números da economia nacional, como é o caso da PDVSA da Venezuela,

responsável por 1/3 do PIB nacional e 80% das exportações, (BREMMER, 2011. p. 69).

O autor afirma que o fato de existir uma empresa nacional petrolífera, não indica que o

governo tenha aderido ao capitalismo de estado, mas sim o nível de intervenção do Estado e o

quanto a NOC é utilizada para promover a popularidade do governo. Exemplo maior é a

empresa nacional da Noruega que, apesar de ser estatal, conta com autonomia necessária para

gerir a sua operação como uma empresa privada.

Em contrapartida, nações adeptas ao capitalismo de estado utilizam esse tesouro para

fins políticos de três maneiras: a primeira seria o desvio dos lucros para benefício da elite

dominante; a segunda é a utilização das estatais como negócios lucrativos que suportariam o

desenvolvimento político, econômico e principalmente social da nação; por último, como

arma política internacional para estabelecer influência sobre outros países.

Posto isto, a vulnerabilidade dos governos ao preço do barril de petróleo fica evidente,

desfrutando de grandes lucros nos períodos de alta e amargando grandes perdas e dificuldades

nos períodos de baixa.

2.1.2 Líderes Nacionais Privadas

Segundo Bremmer (2011. p. 64), as líderes nacionais são empresas que estão sob

comando privado, embora o governo possa obter alguma participação minoritária, elas

Page 9: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

9

dependem de agressivo apoio governamental, por meio de linhas de crédito subsidiada de

bancos estatais, reduções fiscais dos governos central e local, controle quase que

monopolístico de setores da economia, além de se beneficiarem de licitações públicas.

Por razões políticas, essas empresas foram “criadas” pelos capitalistas de estado, para

obter não somente liderança nacional, mas principalmente para ocupar lugar de destaque na

economia mundial. Essa prática não é nova, e esteve presente na recuperação econômica da

Coreia do Sul e Japão, com a criação dos Chaebol e dos Keiretsu respectivamente. Esses

Conglomerados integravam todos os estágios de fabricação de produtos individuais ou de

vários tipos diferentes operados por subsidiárias e controlados pela mesma tutela. Em troca,

esses grupos receberam contratos, créditos e garantias do governo, que ajudaram a manter sua

dominância no mercado interno e posteriormente no mercado externo.

2.1.3 Fundos Soberanos (SWFs)

Apesar de não serem novidade no cenário econômico mundial, recentemente após

aumento do preço do petróleo, globalização financeira e os desequilíbrios globais, os fundos

desenvolveram-se rapidamente, especialmente nas nações exportadoras de petróleo (FMI,

2008).

São fundos de excedente de caixa gerenciados pelo Estado que podem utilizar os lucros

por eles gerados para fins políticos, podendo utilizar também os próprios fundos para adquirir

participação em empresas e instituições de valor estratégico, basicamente no exterior

(BREMMER, 2011, p 78).

O capital para os SWFs provem basicamente de três fontes principais. A primeira,

moeda estrangeira proveniente da exportação, em particular petróleo e gás natural. A segunda,

é o caixa residual de uma balança comercial positiva, especialmente originária dos lucros

gerados pelas estatais, impostos recolhidos pelos governos ou por meio de transferências dos

planos de pensão administrados pelo governo. A terceira, os fundos podem ser eventualmente

financiados por transferências diretas avulsas de reservas cambiais ou orçamento federal

(FMI, 2008).

Segundo Bremmer (2011. p. 78), os fundos não são contas com rentabilidade modesta,

que ajudam o governo a poupar para qualquer eventualidade, na realidade são veículos de

investimento que assumem riscos significativos para maximizar as taxas de retorno. Além

disso, são independentes dos bancos centrais avessos ao risco, trabalhando com perspectiva de

longo prazo e extremamente arrojados, e com valores líquidos muito superiores à sua liquidez.

Page 10: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

10

2.2 Impacto do capitalismo de estado nas SOEs

Cada modelo de capitalismo de estado apresentado neste capítulo e ilustrado na figura

1 gera um determinado nível de impacto na empresa e no país em três principais dimensões:

social, política e da própria empresa. Lazzarini e Musacchio (2014), desenvolveram a teoria

da ineficiência das SOEs direcionados pelo grau de atuação e influência do estado como

principal acionista ou com menor participação. A tabela 1 resume os principais aspectos para

cada nível de envolvimento e influência do governo.

Tabela 1 - Teoria da Eficiência e Ineficiência das SOEs.

Teoria da

Ineficiência Governo com controle total

Governo como investidor

Majoritário

Governo como investidor

Minoritário

Perspectiva

Social

Além do lucro a empresa tem

aspirações sociais, como por

exemplo, baixa inflação, alta

taxa de emprego.

A maximização do valor ao

acionista esta sujeito as

interferência políticas, caso a

empresa não esteja isolada.

Enquanto acionistas minoritários

procuram incrementar o lucro, o

governo procura atender metas

políticas e sociais.

Maximização do valor ao

acionista. Minimização da

intervenção do governo para

atender metas sociais. (exceção

para casos onde o governo tem

habilidade residual para intervir).

Horizonte de longo prazo, o

Estado tolera perda em

contrapartida de benefícios

sociais e políticos.

Horizonte mais curto, o mercado

não é tão tolerante as perdas,

além disso, as diretrizes de

mercado podem prevenir dos

impactos de ciclos políticos.

Horizonte de curto prazo, para

atender o mercado, analistas e

investidores.

Perspectiva

Política

A seleção do CEO vai além de

critérios de meritocracia.

(Exemplo: conexões políticas).

Os profissionais de gestão são

selecionados pelo Conselho

Administrativo da empresa. O

Governo tem forte poder de

influência na seleção.

Os profissionais de gestão são

selecionados pelo Conselho

Administrativo da empresa. A

opinião do governo importa

quando é um importante

acionista ou quando esta

associado com algum outro

acionista.

O Governo utiliza as SOEs para

minimizar impactos de ciclos

econômicos. (Exemplo: contratar

mais ou demitir menos do que

necessário)

Os efeitos são reduzidos caso a

empresa esteja isolada de

intervenção política.

Pouca intervenção política, a

exceção está em indústrias onde

o governo tem "tentação" de

intervir. (Exemplo: Setores de

recursos naturais)

Poucas restrições orçamentárias.

Grandes possibilidades de

subsídio ou recuperação por

parte do governo em caso de

perda financeira.

Poucas restrições orçamentárias.

Grandes possibilidades de

subsídio ou recuperação por

parte do governo em caso de

perda financeira.

Restrições orçamentárias

moderadas ao menos que a

empresa seja selecionada como

uma Líder Nacional (Campeã).

Grandes possibilidades de

subsídio ou recuperação por

parte do governo, já que a

empresa é muito grande ou

importante para falir.

Fonte: Autor adaptado e traduzido de Lazzarini, Musacchio (2014).

Page 11: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

11

Continuação tabela 2 - Teoria da Eficiência e Ineficiência das SOEs.

Teoria da

Ineficiência Governo com controle total

Governo como investidor

Majoritário

Governo como investidor

Minoritário

Perspectiva

da Empresa

Os gestores têm poucos

incentivos.

Há maiores possibilidades de

haver contratos com clausulas de

desempenho, bônus, e opções de

ações. Apesar disso, os

incentivos podem não ser tão

atrativos como em empresas

privadas.

Altos níveis de incentivo.

Difícil de mensuração o

desempenho (desempenho

financeiro não é suficiente e

metas políticas e sociais são

difíceis).

Há algumas métricas

comumente utilizadas como,

valor das ações, desempenho

financeiro, assim como,

satisfação dos clientes para

medir nível de qualidade dos

produtos/serviços.

Valor de ação e desempenho

financeiro são métricas chaves

de desempenho.

Pobre monitoramento: não há

Conselho Administrativo, o

ministro é responsável por

regular a empresa, baixo nível

de acompanhamento de

monitoração.

Conselho Administrativo com

alguns membros independentes

e algumas indicações do

governo.

Conselho Administrativo acima

do CEO (monitoração e

cobrança de resultado).

Não há nenhum tipo de punição

para baixo desempenho.

O Conselho pode demitir em

caso de baixo desempenho.

O Conselho pode demitir em

caso de baixo desempenho.

Não há transparência:

informações financeiras são

incompletas.

Maior transparência, normas de

contabilidade internacionais,

GAAP e IFRS.

Maior transparência, normas de

contabilidade internacionais,

GAAP e IFRS.

Fonte: Autor adaptado e traduzido de Lazzarini, Musacchio (2014).

Apesar da classificação acima, os mercados não são tão alinhados e definidos a ponto

de não haver qualquer tipo de variação. Um dos principais veículos de interferência e

participação minoritária do Estado são os bancos de desenvolvimento nacional, instituições

relativamente autônomas constituídas para oferecer crédito de longo prazo, muitas vezes

subsidiados para promover projetos de industrialização e infraestrutura (Armendáriz de

Aghion 1999 apud LAZZARINI; MASACCHIO, 2014).

2.3 História do capitalismo de estado

Ao longo dos anos a evolução do capitalismo de estado tem sido impulsionada por

diversas razões, contudo podem-se destacar três principais motivos que conduziram a

expansão do modelo entre o final do século XIX e início do século XX (TONINELLI, 2008.

p. 678).

O primeiro motivo foi político e ideológico com respeito a diversos setores da

economia como transporte, telecomunicação e energia, em alguns casos esse processo foi

marcado por concessões a empresas privadas, amparadas pelo governo (TONINELLI 2008. p.

678). Nesse período os governos agiam como seguradoras, garantindo rentabilidade às

empresas. Contudo, com a instauração da Primeira grande Guerra Mundial e em seguida pela

Page 12: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

12

grande depressão, os governos foram obrigados a “socorrer” as empresas, assumindo as suas

operações (LAZZARINI; MUSACCHIO, 2014).

O segundo motivo foi social, o desejo de garantir pleno emprego, melhores condições

de trabalho e uma relação mais justa entre empresa e empregado. Esse apelo social pôde ser

identificado na Europa, América Latina e especialmente na União Soviética, fruto da forte

influência dos movimentos sociais (TONINELLI, 2008. p. 678). Este último, como destaque

pelo fato de ter sido liderada pelo Partido Comunista que conduziu para que 90% do PIB

fosse proveniente de SOEs.

O terceiro motivo foi econômico, para corrigir falhas de mercado, muito encontrado

nos países em desenvolvimento, onde as SOEs poderiam tomar decisões considerando o

longo prazo, que não somente a rentabilidade operacional do negócio (Kaldor 1980 apud

TONELINNI, 2008. p. 679).

O momento áureo do capitalismo de estado foi na década de 70, quando as SOEs

representavam 10% do PIB mundial e cerca de 16% do PIB dos países em desenvolvimento,

esse fato foi sustentado pelo processo de nacionalização de empresas que ocorreu

especialmente na Europa (LAZZARINI; MUSACCHIO, 2014).

Existiram diversos motivos para o crescente processo de estatização deste período.

Entre eles, estão a relutância em acreditar nos investimentos estrangeiros, especialmente nos

países que a pouco haviam conquistado a independência, e a força do socialismo sobre o

eminente fracasso do capitalismo na grande depressão mundial de 1929. Além disso, nos

países em desenvolvimento o mercado de capitais interno era muito subdesenvolvido para

liderar grandes investimentos de longo prazo na indústria e em infraestrutura (GÓMEZ-

IBAÑEZ, 2007. p. 1).

Segundo o autor, os anos seguintes ao boom das nacionalizações foram constituídos

por inúmeras tentativas de aperfeiçoamento dos modelos de gestão e eficiência das estatais,

reforma na governança das estatais além de treinamento para os gestores das empresas.

Contudo o período seguinte à nacionalização foi inundado de crises e pessimismo econômico

com destaque para a crise do preço do petróleo e a redução do crédito no mercado, após

declaração de moratória da dívida externa do México no ano de 1982 (FRIEDEN, 1991. p.

427).

Consequentemente as SOEs que até então eram empresas propulsoras do

desenvolvimento econômico e social, passaram a sofrer altos prejuízos que se transformaram

em déficits nas contas públicas, ou seja, nesse período o custo político de privatizar as SOEs

já não era uma das maiores preocupações (LAZZARINI; MUSACCHIO, 2014).

Page 13: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

13

Os autores elencaram cinco principais razões que conduziram os governos a privatizar

as SOEs no início da década de 90. Primeiro motivo foi a inclusão da privatização nos planos

de reforma estrutural, como é o caso dos países da Europa Ocidental que se comprometeram a

atrelar às políticas que promoviam a integração ao bloco econômico europeu. Segundo motivo

foi a forte rejeição as SOEs e sua associação a crise econômica das principais nações (Kalyvas

1994, 335 apud LAZZARINI; MUSACCHIO, 2014). Terceiro motivo foi a crença da

importância da responsabilidade fiscal e do superávit primário para estabilizar a economia e

obter crédito no mercado externo. A quarta razão foi o acordo, durante a rodada de

negociações do Uruguai, entre as nações para abertura da economia com o intuito de tornar a

economia mais eficiente, para aumentar a competitividade internacional. Este acordo estava

baseado na exclusão ao controle de preço e às tarifas de proteção a empresas públicas e

privadas. O quinto motivo foi a forte corrente anti-intervenção do governo que rondava o

mundo acadêmico e político.

O processo de privatização nesse período pode ser dividido em duas partes, a primeira

na década de 90, a qual foi caracterizada pelos inúmeros planos de reforma estrutural e

também pelo fato de que mais de 50% das transações envolviam a transferência de controle

do público para o privado. E a outra parte a partir do ano de 2003, caracterizado pela

privatização de empresas na China, nesse período o modelo de estatização foi

predominantemente liderado pelas concessões e venda de participação minoritária para os

investidores privados (LAZZARINI; MUSACCHIO, 2014). A figura 2 a seguir, ilustra os

montantes movimentados em transações relacionadas à privatização em todo o mundo.

Figura 2: Receita mundial proveniente das privatizações (Bilhões de dólares).

Fonte: Lazzarini; Musacchio (2014).

Contudo mesmo quando todo o cotrole da empresa é destinado ao setor privado, é

comum que o Estado continue inserido na estrutura societária, por meio dos fundos de pensão,

0

50

100

150

200

Page 14: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

14

investimento público, banco de desenvolvimento nacional, bancos estatais e conglomerados

estatais (LAZZARINI; MUSACCHIO, 2014).

Porém apesar do forte movimento de privatização, o ano de 2008 foi marcado pela

grande crise do sistema financeiro mundial e especialmente o americano. Dessa maneira, de

acordo com Bremmer (2011. p. 58), o choque econômico foi o suficiente para reacender toda

a desconfiança sobre o sistema de livre mercado e assim reinserir o capitalismo de estado na

agenda econômica das nações, até mesmo de países como Japão, Austrália e Estados Unidos,

se viram, “obrigados” a intervir de maneira ativa na economia para socorrer corporações

privadas da falência, recuperar economias destruídas e minimizar o impacto social causado

pela crise.

Page 15: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

15

3 CAPITALISMO DE ESTADO NO BRASIL

No Brasil no início do século XX, surgiram os primeiros indícios do capitalismo de

estado, naquele período o governo atuava como uma seguradora, oferecendo subsídio para as

empresas e se necessário atuaria como dono residual, ou seja, de qualquer maneira a empresa

estaria amparada em qualquer circunstância. Seu foco de atuação era em determinados setores

da economia, como bancos, estaleiro, portos e ferrovias (LAZZARINI; MUSACCHIO, 2014).

Todo suporte do governo veio a ser utilizado ao longo dos anos, como ilustra a figura 3, no

ano 1990 o governo controlava 20% de extensão da ferroviária, porém 53 anos depois,

controlava mais do que 90%.

Figura 3: Porcentagem de distancia de ferrovia controlada pelo governo do Brasil.

Fonte: Lazzarini; Musacchio (2014).

No ano de 1937 o então presidente-ditador Getúlio Vargas, após ter um início de

mandato aberto ao mercado internacional, tornou-se protecionista durante o período da

Segunda Guerra Mundial. Nesse período instaurou uma espécie de banco de desenvolvimento

nacional, chamado de Carteira de Crédito Agrícola e Industrial ligado ao Banco do Brasil,

com o objetivo de oferecer crédito de longo prazo a indústria local (LAZZARINI;

MUSACCHIO, 2014).

Os anos seguintes foram marcados pela forte intervenção do Estado na economia, com

a criação de empresas de diversos setores. Esse movimento foi impulsionado pela promoção

do plano de substituição da importação pela indústria local, além disso, o cenário externo não

estava favorável ao investimento, pela falta de liquidez no mercado e pelos altos índices de

inflação da economia brasileira. Entre as empresas criadas estão a Vale do Rio Doce,

Companhia Nacional Siderúrgica, Fábrica Nacional de Motores, entre outras (Musacchio

2009 apud LAZZARINI; MUSACCHIO, 2014).

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1870 1880 1890 1900 1910 1929 1932 1935 1945 1953

Page 16: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

16

A década de 50, foi marcada pela segunda onda de criação de corporações de grande

porte, especificamente no ano de 1953 foi criada Petrobras, responsável pelo monopólio de

exploração, extração, refino e transporte do petróleo e produtos refinados (Lei 2004 de

Outubro de 1953 apud LAZZARINI; MASACCHIO, 2014).

Nesse mesmo período, foi criado o banco nacional de desenvolvimento, BNDE

(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), anos mais tarde tornar-se-ia BNDES,

assumindo missão social sob sua responsabilidade. O principal propósito era oferecer crédito

de longo prazo para setores chave da economia, como energia e transporte. Ao longo dos

anos, tem se tornado um dos agentes mais importantes para o desenvolvimento econômico do

Brasil, já que além de promover o desenvolvimento por meio de crédito, tem sido

fundamental no financiamento de maquinário, banco garantidor de crédito para operações

internacionais, financiando diversas empresas, e a partir da década de 70 investindo

diretamente nas empresas através da BNDESPAR (BNDES Participações), braço de

investimento do banco (LAZZARINI; MASACCHIO, 2014).

De acordo com os autores, o período da história no qual o capitalismo de estado esteve

mais presente, foi durante a ditadura militar, fato que pode ser comprovado com os números

da figura 4. Nela pode-se perceber que a criação de SOEs atingiu seu pico na década de 70.

De acordo com Trebat (1983 apud Lazzarini; Masacchio, 2014) algumas SOEs nessa época

tinha, autonomia similares a de empresas privadas, e a intervenção do governo era baseada

pela rentabilidade do negócio, quanto mais rentável menor influência.

Figura 4: Número de novas SOEs por ano.

Fonte: Lazzarini; Masacchio (2014).

Esse grande movimento culminou na grande dependência do país sobre o desempenho

das SOEs, sendo responsável à época por 40% da formação do capital bruno nacional (Kohli

Page 17: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

17

2004 apud LAZZARINI; MASACCHIO, 2014). Além disso, poucas empresas privadas

integravam o seleto ranking das 100 maiores empresas no Brasil.

Os anos seguintes ao grande período de estatização foram marcados por uma das

maiores crises financeiras da história mundial, a qual causou maior impacto na economia do

Brasil. Com aumento repentino do preço do barril do petróleo, o país não pôde compensar

com aumento das exportações para amenizar o impacto da balança comercial, portanto a

alternativa era captar recursos no mercado internacional.

Contudo, a crise foi acentuada pelo fato de que a oferta de crédito internacional foi

drasticamente reduzida pelo fato de que o governo americano reduziu a liquidez da moeda

para combater a inflação local e também pelo pedido moratória para pagamento da divida em

moeda estrangeira do governo mexicano (LAZZARINI; MASACCHIO, 2014).

Como já mencionado, os impactos econômicos foram demasiados, aponto de

caracterizar esse período como a década perdida, especialmente pelo fato do governo perder

controle da economia devido às inúmeras necessidades de suporte às SOEs, além das altas

taxas de inflação, que indexavam a dívida pública e atingiram patamares de hiperinflação na

casa dos três dígitos mensais.

De acordo com Lazzarini e Masacchio (2014), tecnicamente as estatais estavam

falidas. Por esse motivo, durante a campanha eleitoral de 1989 a necessidade de privatização

foi profundamente discutida.

Os autores explicam que os anseios a desestatização estava fundamentado em três

princípios. O primeiro era a necessidade de aumentar o controle econômico, que havia sido

perdido pela política de controle de preço e controle dos gastos das SOEs, os quais geraram

perdas contínuas às estatais. O segundo foi o custo de oportunidade de manter investimento

em SOEs que não compensava financeiramente devido à instabilidade financeira,

hiperinflação e déficits orçamentários. O terceiro foi a liberação do mercado, dessa maneira,

privatização significava aumento da eficiência e aumento da confiança do capital externo de

que a intervenção do governo seria minimizada. Por exemplo, liberação no controle de preço.

Apesar de ocorrer algumas poucas privatizações durante a década de 80, em que cerca

de vinte pequenas SOEs foram privatizadas, esse movimento ganhou força durante a década

de 90 quando o Programa Nacional de Desestatização – PND foi implementado pelo então

Presidente Fernando Collor de Melo, e continuado pelos Presidentes Itamar Franco, que

assumiu após processo de Impeachment, e Fernando Henrique Cardoso. Foram privatizadas

empresas de minas e energia, telecomunicação, bancos nacionais, portos e empresas de

Page 18: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

18

utilidade pública com intuito de melhorar o serviço. Durante o último estágio de privatização

foram arrecadados cerca 78 bilhões de dólares (LAZZARINI; MASACCHIO, 2014).

Segundo os autores, o BNDES foi agente fundamental no processo de desestatização,

atuando diretamente na formação dos consórcios para aquisição das SOEs, disponibilizando

financiamento aos grupos privados interessados e adquirindo participação minoritária por

meio do BNDESPAR. De acordo com Lazzarini (2011), esses consórcios representaram 53%

das compras e normamente eram formados por grupos nacionais, investidores estrangeiros e

entidades públicas como BNDES e fundos de pensão de SOEs.

A formação desses grupos de controle foi a maneira encontrada pelo Governo para

viabilizar politicamente o processo de desestatização. A figura 5 ilustra a composição de

controle da Embraer e da Vale. Como se pode observar, há presença dos grupos privados

nacionais (Bradesco e Bozano), grupos estrangeiros (Mitsui e Oppenheimer) e as entidades

públicas (BNDES e Fundo de Pensão Previ).

Figura 5 – Relação entre empresa e proprietário Vale e Embraer 2009.

Fonte: Lazzarini (2011).

Lazzarini (2011) define a relação entre os agentes econômicos e políticos brasileiros

como capitalismo de laço, sendo “o emaranhado de contatos, alianças e estratégias de apoio

gravitando em torno de interesses políticos e econômicos. Trata-se de um modelo assentado

no uso das relações para explorar oportunidades de mercado ou para influenciar determinadas

decisões de interesse”.

Apesar do processo generalizado de privatizações, o Estado manteve-se no controle de

importantes SOEs, destacando-se a Petrobras. Até o ano de 2009, o governo brasileiro

controlava 115 estatais, incluindo as subsidiárias, com valor patrimonial de 757 bilhões de

dólares (LAZZARINI; MASACCHIO, 2014).

Page 19: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

19

Lazzarini (2011) destaca que no governo Lula (2002 até 2010), o BNDES e os fundos

de pensões das estatais tiveram sua atuação potencializada, aumentando ainda mais a área de

influência do governo sobre a economia.

Esta forte influência, direta ou indiretamente, culmina na forte interferência do Estado

no dia-a-dia das empresas, especialmente das estatais. Dessa maneira, até os dias de hoje

processos de corrupção e benefício político são constantemente denunciados e investigados no

Brasil. Ainda que no primeiro mandato da atual presidente Dilma Rousseff ter nomeado

tecnocratas para comandar alguns setores da economia, os escândalos continuam a aflorar e a

prejudicar o desempenho das empresas.

3.1 Intervenções na Petrobras

Ainda que a Petrobras seja uma SOE, listada na Bolsa de Valores de São Paulo

(BOVESPA) e de Nova York, não é o suficiente para blindar a empresa das intervenções do

Estado. A seguir alguns fatos relevantes mais recentes.

No ano de 2010, foi aprovado pelo conselho da empresa um investimento de 224

bilhões de dólares até 2014, sem a necessidade de financiamento. Montante acima do valor de

mercado da empresa de 158 bilhões de dólares naquela época. Conhecida por ter sido a maior

captação no mercado mundial, contou com a participação de diversas instituições. Entretanto,

foi “manipulada” pelo acionista majoritário, o governo, de modo que não diluísse sua

participação na empresa e que consequentemente diluiu a participação dos investidores

minoritários.

Em 2012, mesmo com a nomeação de Maria das Graças Foster para Presidente da

Petrobras, conhecida por ser de origem técnica e carreira longa na empresa, as intervenções

implícitas do governo no controle de preços foram inevitáveis, com objetivo de controle da

inflação. Afetando diretamente a rentabilidade da empresa e prejudicando o fluxo de caixa

necessário para futuros investimentos.

Além desses casos, as políticas de compra da empresa a obrigam a contratar empresas

ou adquirir equipamentos que tenham determinado nível mínimo de nacionalização, para que

de alguma maneira possa contribuir para o desenvolvimento da indústria nacional.

Normalmente, devido à falta de tecnologia e preparo, os custos associados a esta ação são

maiores e menos eficientes quando comparados com fornecedores estrangeiros (LAZZARINI;

MASACCHIO, 2014).

Page 20: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

20

4 ANÁLISE FINANCEIRA

Segundo Iudícibus (2008) a análise de balanços, baseada em índices padrões, com o

objetivo de extrair tendências e compará-los com padrões pré-estabelecidos retrata o que

aconteceu no passado e fornece bases para inferir o que poderá acontecer no futuro.

Por meio desses índices, Matarazzo (2010) afirma ser possível chegar a uma avaliação

global da empresa, sendo de extrema importância nas decisões de crédito. Não somente

relacionado ao crédito, a análise dos índices subsidia informações necessárias para tomada de

decisão em todos os aspectos relacionados ao desempenho operacional e financeiro da

empresa.

4.1 Índice de liquidez

Assaf Neto (2010) afirma que os indicadores de liquidez demonstram a situação

financeira da empresa em relação aos diversos compromissos financeiros assumidos. Os

valores do balanço patrimonial são a base para o cálculo dos índices apresentados na tabela 2.

Tabela 3 – Índices de Liquidez.

Indicador Cálculo Definição

Liquidez Geral (LG)

Utilizada como uma medida de

segurança de longo prazo. Revela a

capacidade da empresa de saldar todas

as dívidas.

Liquidez Corrente (LC)

Indica o quanto de ativo circulante

existe para cada 1 $ de dívida de curto

prazo.

Liquidez Seca (LS)

Representa o percentual da dívida de

curto prazo a ser saldada mediante a

utilização de itens de maior liquidez.

Liquidez Imediata (LI)

Representa quanto a empresa dispõe

para saldar as dívidas de curto prazo.

Fonte: Autor adaptado de Rezende et al (2010).

4.2 Índice de estrutura

Segundo Perez e Begalli (2009b apud Rezende et. al, 2010), os índices de estrutura

demonstram a participação de capital de terceiros na atividade da empresa. Servem de base

para tomada de decisão em relação à obtenção e retenção de recursos.

Page 21: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

21

Tabela 4 – Índices de Estrutura.

Indicador Cálculo Definição

Capital de Terceiros

sobre Ativo Total

Indica o montante de recursos de

terceiros que está sendo utilizado

para gerar lucro.

Composição do

Endividamento (CE)

Volume de dívidas de curto prazo

com relação ao volume de dívidas

totais.

Imobilização do

Patrimônio Líquido

(IPL)

Indica quanto do Imobilizado é

financiado pelo Patrimônio Líquido.

Assim, se há dependência do aporte

de recursos de terceiros.

Endividamento de curto

prazo (ECP)

Indica a proporção de dívidas no

curto prazo em relação ao capital

próprio.

Alavancagem

Identifica se o nível de alavancagem

é prejudicial ou não a empresa,

estabelece relação com o ROA.

Fonte: Autor adaptado de Rezende et al (2010).

4.3 Índice de rentabilidade

De acordo com Iudícibus (2008), a análise da rentabilidade em termos absolutos, tem

utilidade bastante reduzida, por isso é importante estabelecer relação com outras informações

com intuito de avaliar a real rentabilidade da empresa.

Tabela 5 – Índices de Rentabilidade.

Indicador Cálculo Definição

Margem Bruta (MB)

Indica o quanto a empresa gera de

lucro bruto para cada 1$ de receita

líquida.

Margem Operacional

(MO)

Representa a capacidade da empresa

de gerar resultados com as vendas.

Margem Líquida (ML)

Índice que indica a proporção de

lucro líquido gerado.

Rentabilidade do Ativo

Total (RAT ou ROA)

Indicador que mede a eficiência

geral da gestão do lucro da empresa.

Retorno do Patrimônio

Líquido (RsPL ou ROE)

Representa a remuneração do capital

próprio, importante indicador da

saúde financeira.

Fonte: Autor adaptado de Rezende et al (2010).

Page 22: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

22

5 METODOLOGIA DE PESQUISA

5.1 Abordagem e estratégia da pesquisa

Segundo Beuren e Raupp (2006), a tipologia de pesquisa deste trabalho tem um papel

significativo no trabalho científico, no sentido de articular plano e estrutura a fim de obter

respostas para o problema de estudo. Dessa maneira, pode ser dividido em três categorias: (I)

quanto ao seu objetivo; (II) procedimento, maneira pela qual se obtêm os dados e (III)

abordagem do problema.

Quanto ao seu objetivo, a pesquisa tem caráter descritivo, pois o pesquisador não

interfere nos fatos. Sendo assim, os fenômenos serão registrados, analisados, classificados e

por fim interpretados (Andrade, 2002 apud BEUREN; RAUPP, 2006). Triviños (1987 apud

BEUREN; RAUPP, 2006) complementa que a população e a amostra devem ser limitadas,

assim como os objetivos, as variáveis, as hipóteses e as questões de pesquisa.

Com relação ao procedimento, por meio da revisão bibliográfica, Gil (1999, apud

RAUPP; BEURE, 2006) afirma que este tipo de pesquisa é desenvolvida mediante material já

elaborado, principalmente livros e artigos científicos. E busca compilar conhecimentos

prévios acerca de um problema que se procura resposta ou de uma hipótese que deseja

experimentar.

Além desse método, será desenvolvido um estudo de caso, para maior aprofundamento

da teoria desenvolvida e identificação na prática da revisão teórica. Gil (1999, apud

BEUREN; RAUPP, 2006) define, como sendo o “estudo profundo e exaustivo de um ou de

poucos objetos, de maneira a permitir conhecimentos amplos e detalhados do mesmo...”.

Quanto à forma de abordagem do problema, como pesquisa qualitativa, aquela que

tem como objetivo estudar um fenômeno em profundidade por meio de descrições,

comparações e interpretações. Assim sendo, neste trabalho procura-se analisar os momentos

da empresa Petrobras e os resultados financeiros e operacionais, de modo que possa

identificar qual é o impacto da intervenção do governo no desempenho da estatal.

5.2 Coleta e análise de dados

A coleta dos dados foi realizada através das demonstrações contábeis consolidadas:

balanço patrimonial e demonstrativo de resultados do exercício (DRE), publicados nos site da

Petrobras.

Com o objetivo de acompanhar o desenrolar operacional, financeiro e econômico da

empresa, optou-se pela coleta e análise dos dados disponíveis no site de relacionamento com

Page 23: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

23

investidor da Petrobras, os quais são desde o ano de 2006 até segundo trimestre de 2014. Para

análise deste último período foi considerado a sazonalidade das operações desde o ano de

2006 e projetado o resultado futuro da companhia para o ano de 2014, mesmo por que a

divulgação dos dados da companhia foi prejudicada pela investigação de casos de corrupção

dentro da empresa que envolve, partidos políticos, empreiteiras fornecedoras e a Petrobras.

Com isso, serão considerados com moderação os dados referentes ao ano de 2014

quanto à demonstração de resultado, uma vez que se admite que possa haver ajustes nos

resultados pelo fato de que os valores (ainda desconhecido) desviados tem potencial suficiente

para alterar o desempenho da empresa.

A partir dos dados coletados foi possível por meio dos cálculos, apresentados na

revisão bibliográfica, estabelecer análise para a situação financeira (índice de estrutura e

liquidez) e situação econômica (índice de rentabilidade). A seguir, o quadro apresenta de

forma simplificada os dados que serão utilizados.

Tabela 6 – Principais indicadores para análise de desempenho da Petrobras.

Grupo dos principais indicadores

Situação Financeira

Índices de Liquidez

a) Liquidez Geral;

b) Liquidez Corrente;

c) Liquidez Seca;

d) Liquidez Imediata.

Índice de Estrutura

a) Capital de Terceiros sobre Ativo Total; b) Composição do Endividamento;

c) Imobilização do Patrimônio Líquido;

d) Endividamento de Curto Prazo;

e) Alavancagem.

Situação Econômica Índices de

Rentabilidade

a) Margem Bruta;

b) Margem Operacional;

c) Margem Líquida;

d) Retorno do Patrimônio Líquido;

e) Rentabilidade do Ativo;

Fonte: Autor.

5.3 Objeto de Estudo

Como objeto de estudo, optou-se pelo desenvolvimento da pesquisa na empresa

Petrobras, Petróleo Brasileiro S.A, uma empresa de economia mista, sob controle da União

com prazo de duração indeterminado. A importância desse estudo já fora mencionada,

contudo é relevante salientar o prestígio desta empresa para economia brasileira, sendo a que

tem maior valor de mercado no país com R$ 218 bilhões (PETROBRAS, 2014).

A companhia, segundo seu Estatuto Social (2014), “tem como objetivo a pesquisa, a

lavra, a refinação, o processamento, o comércio e o transporte de petróleo proveniente de

poço, de xisto, ou de outras rochas, de seus derivados, de gás natural e de outros

Page 24: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

24

hidrocarbonetos.”. A partir do ano de 1997, a empresa realiza suas atividades em caráter de

livre comércio, contudo o Estado garante participação mínima de 30% sobre a exploração em

áreas do pré-sal e outras áreas estratégicas (BRASIL, Lei n 12.351, 22 de Dezembro de 2010).

Seu capital social é composto de acordo com o quadro a seguir. Observa-se que a

União tem controle total, se considerar que tanto o BNDES quanto o BNDESPAR são

instituições ligados ao governo federal.

Tabela 7 – Capital Social Petrobras.

Ações Ordinárias 7.442.454.142,00 100%

União Federal 3.740.470.811,00 50%

ADR Nível 3 1.470.896.452,00 20%

BNDES 734.202.699,00 10%

Estrangeiros (Resolução nº 2.689 C.M.N) 711.851.310,00 10%

Demais pessoas físicas e jurídicas (1) 620.935.829,00 8%

FMP - FGTS Petrobras 146.396.649,00 2%

BNDESPar 11.700.392,00 0%

Fundo de Participação Social - FPS 6.000.000,00 0% Fonte: Petrobras (2014).

Page 25: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

25

6 ANÁLISE DESCRITIVA DOS RESULTADOS

Apesar de o mundo ter enfrentado grande recessão entre os anos de 2008 e 2009, e que

ainda países da Europa e os Estados Unidos estão se recuperando dos impactos sofridos, a

Petrobras durante esse período obteve de modo geral excelente desempenho. Contudo, nos

últimos anos, muito em função do alto nível de endividamento e da produção insuficiente para

atender a demanda local, dado que as importações correspondem a 30% da produção

(PETROBRAS, 2014).

Além disso, segundo a consultoria PFC (2014), especializada no ramo de energia, a

empresa hoje ocupa a nona posição entre as maiores empresas petrolíferas no mundo,

entretanto no ano de 2010 ocupou a terceira posição. Esta avaliação considera o valor das

ações operadas em bolsa e neste período as ações ordinárias da Petrobras, PETR3, caíram de

R$38,30 em 30 de Novembro de 2010 para R$13,59 em 21 de Novembro de 2014 (EXAME,

2014).

Nesse sentido, inicia-se pela análise da situação financeira da empresa, por meio dos

indicadores de liquidez e estrutura que identificam a capacidade que a empresa tem de

cumprir com os compromissos nos respectivos vencimentos.

Tabela 8 – Índices de Liquidez da Petrobras de 2006 a 2014.

Indicador 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Liquidez Geral 0,776 0,513 0,428 0,560 0,630 0,645 0,547 0,452 0,424

Liquidez Corrente 1,404 0,758 0,626 1,163 1,596 1,822 1,736 1,587 1,696

Liquidez Seca 1,078 0,408 0,285 0,820 1,237 1,436 1,314 1,173 1,248

Liquidez Imediata 0,300 0,310 0,263 0,371 0,515 0,528 0,460 0,426 0,604

Fonte: Autor com base nos demonstrativos de 2006 a 2014 (segundo trimestre).

Como se pode observar no índice de liquidez geral, a Petrobras atingiu seu nível mais

baixo dos últimos anos. Isso indica a capacidade da empresa de pagar as dívidas adquiridas no

curto e no longo prazo, ou seja, a empresa ao longo dos anos vem perdendo a capacidade de

cumprir com esses compromissos, todavia não indica inadimplência da mesma. Apesar disso,

no curto prazo a empresa tem apresentado liquidez, o que demonstra que maior parte de seu

endividamento é de longo prazo, a liquidez corrente, comprova essa observação.

O índice de liquidez seca exclui os estoques, e como se pode observar, a empresa

continua com condições de cumprir com os compromissos de curto prazo. Contudo, quando

considera somente o caixa e equivalentes no índice de liquidez imediata, o fato de estar

abaixo de um (1) indica que para os ativos de liquidez garantida, a empresa não poderia

cumprir com os passivos de curto prazo, entretanto essa análise seria muito conservadora.

Page 26: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

26

Com exceção da liquidez geral, a empresa obteve índices superiores aos anos

anteriores ou em mesmo nível.

Tabela 9 – Índices de Estrutura da Petrobras de 2006 a 2014.

Indicador 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Capital de 3° sobre Ativo 52% 49% 50% 53% 46% 43% 47% 51% 54%

Comp. do Endividamento 45% 44% 42% 36% 29% 26% 23% 21% 19%

Imobilização do Pat. Líquido 1,277 1,258 1,353 1,443 1,279 1,230 1,364 1,540 1,638

Endividamento de curto

51% 45% 43% 40% 24% 19% 20% 22% 22%

Alavancagem 2,235 2,095 2,057 2,111 1,837 1,742 1,884 2,059 2,183

Fonte: Autor com base nos demonstrativos de 2006 a 2014 (segundo trimestre).

Em se tratando dos índices de estrutura de capitais, que auxiliam os gestores na

tomada de decisão quanto à obtenção ou aplicação de recursos, quanto menor o índice, melhor

os indicadores. Pois caso contrário, a empresa pode correr risco e comprometer seu

patrimônio.

A proporção de capital de terceiros sobre o ativo atingiu maior nível desde 2006, com

54%. Fato que reforça o que havia sido revelado pela liquidez geral (LG). Isso significa que

quanto maior essa relação, menor a liberdade de tomada de decisões da empresa.

Sobre a dívida de curto prazo, a composição de endividamento indica o menor nível,

somente 19%, sendo 22% refere-se a terceiros. Sendo assim, como custo do capital próprio

normalmente é mais alto, a dívida de curto prazo da Petrobras deve ter um custo maior.

Nos últimos anos a aplicação do patrimônio líquido atingiu o maior nível do período

analisado. Matarazzo (2010) afirma que quanto mais a empresa investir nesses subgrupos,

menos recursos próprios sobrarão para o ativo circulante. Entretanto, como a empresa em

análise está no ramo petroquímico que exige altos investimentos em plataformas, refinarias,

gasodutos, oleodutos, entre outros, o aumento para 1,638 do índice representa o aumento dos

investimentos já reportados pela companhia, comprovado pela alavancagem de 2,183, maior

nível desde 2010.

Tabela 10 – Índices de Rentabilidade da Petrobras de 2006 a 2014.

Indicador 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Margem Bruta 40% 39% 34% 41% 36% 32% 25% 23% 19%

Margem Operacional 26% 21% 22% 24% 23% 18% 10% 9% 7%

Margem Líquida 16% 13% 15% 18% 17% 14% 7% 8% 6%

Rentabilidade do Ativo Total

21% 16% 18% 14% 11% 8% 4% 4% 3%

Retorno do Patrimônio Líquido 29% 20% 26% 22% 15% 10% 6% 7% 6%

Fonte: Autor com base nos demonstrativos de 2006 a 2014 (segundo trimestre).

Page 27: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

27

Com exceção do ano de 2009, a qual a empresa conseguiu obter desempenho positivo

em todos os índices de rentabilidade, desde então a Petrobras tem alcançado níveis muito

abaixo do que no ano de 2006. Nessa análise, considerou-se somente o ano de 2013, já que o

ano de 2014 está sujeito às variáveis já mencionadas que poderão impactar a sua operação.

Mesmo assim, observa-se queda dos indicadores.

Dessa maneira, apesar das vendas terem crescido em uma média de 10% ao ano, a

margem bruta tem caído, o que indica que o valor de venda não está acompanhando o custo

de produto, que cresceu em média 14% ao ano. Pode-se assumir que a intervenção do governo

em manter o preço da gasolina tenha influenciado esse indicador.

Além disso, a margem operacional atingiu o nível de 9% e a margem líquida o nível

de 8%, o impacto nesse último caso é o fato de a empresa ter se endividado para atender aos

altos níveis de investimentos estabelecidos no ano de 2010. Na época, ação tomada com o

objetivo de promover a prosperidade da nação internamente e especialmente

internacionalmente.

Se tratando da rentabilidade do patrimônio líquido, o potencial de geração de lucro em

relação ao patrimônio próprio tem caído, ou seja, no ano de 2013 para cada 100R$ investido a

empresa gerou 7R$ de lucro para os acionistas. Comparando com a taxa SELIC (taxa básica

de juros do Brasil) do mesmo ano, de 10% ao ano (EXAME, 2014), o investimento na

Petrobras era menos atrativo.

Por fim, analisando a eficiência da aplicação dos ativos na conversão de lucro, índice

de rentabilidade dos ativos, para o ano de 2013 indica somente 4%, o qual pode ser justificado

pela queda no lucro e investimento em ativos que estão operando abaixo de sua capacidade ou

ainda não iniciaram a sua operação. A operação do pré-sal representa somente 20% de toda

produção da Petrobras, a meta é que seja de 50% até 2018 (PETROBRAS, 2014).

Page 28: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

28

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a complexidade em determinar com exatidão o impacto da influência do

Estado sobre os resultados da Petrobras, devido às variáveis na operação da empresa, dos

inúmeros mercados de atuação, à sua exposição à variação cambial e especialmente às

movimentações do mercado nacional e internacional, foram analisados todos os dados

associados aos fatos ocorridos em cada período.

Contudo, como mencionado pelo autor Lazzarini (2011), durante o governo Lula a

intervenção do Estado foi potencializada e de acordo com mesmo autor e Musacchio (2014),

foi intensificado durante o primeiro mandato de Dilma Rouseff.

Dessa maneira, os períodos analisados figuram exatamente os momentos de liderança

do partido centro-esquerda e como sua intervenção impactou nos resultados. Com o controle

dos preços da gasolina para estabilização da inflação houve impacto direto na queda da

margem bruta de 40% em 2006 para 23% em 2013. Além disso, o nível de endividamento da

empresa para cumprir as agressivas metas de investimento de exploração dos campos do pré-

sal fizeram com que aumentasse para 54% o capital de terceiros.

Com relação à rentabilidade da empresa, no ano de 2013 ela atingiu 7% nível inferior

à taxa básica de juros (SELIC), que no mesmo ano era de 10%. Isso por que o lucro por ação

que em 2006 era de 5,91R$, em 2013 foi de somente 1,81R$. Além disso, devido à

ineficiência dos investimentos, o índice que mede o retorno sobre os ativos atingiu a marca de

4% em 2013, os altos investimentos ainda não produziram o retorno planejado, devido às

dificuldades de exploração do pré-sal.

Portanto, os impactos sofridos pela empresa são heterogêneos e complexos, porém é

claro que a prática do capitalismo de estado, prioriza outros aspectos, como nesse caso a

inflação e a promoção política do país perante a sociedade internacional, ao invés do lucro e

do desempenho operacional. Contudo, essa influência sobre a Petrobras sofre resistência da

comunidade internacional, por ser uma companhia de capital aberto tanto no Brasil quanto

nos Estados Unidos. Este trabalho encerra-se em meio de uma investigação sobre um dos

maiores casos de corrupção dentro da estatal, não se sabe qual será seu desfecho e impacto

sobre a empresa no futuro.

Page 29: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

29

REFERÊNCIAS

ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico financeiro. 9

ed. São Paulo: Atlas, 2010.

BEUREN, M; RAUPP, M. Metodologia da pesquisa aplicável às ciências sociais. In:

BEUREN, M et al (Coord). Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade:

teoria e prática. São Paulo. Atlas. 2006. pp 76-97.

BRASIL, Lei n 12.351, 22 de Dezembro de 2010. Dispõe sobre a exploração e a produção de

petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos, sob o regime de partilha de

produção, em áreas do pré-sal e em áreas estratégicas. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12351.htm>. Acesso: 07

ago. 2014.

BREMMER, I. O Fim do Livre Mercado: Quem vence a Guerra entre Estado e corporações?

São Paulo: Saraiva, 2011.

EIA, 2014. Energy Information Administration. Disponível em: <

http://www.eia.gov/cfapps/ipdbproject/IEDIndex3.cfm?tid=3&pid=3&aid=6>. Acesso em: 08

nov. 2014.

ESTATUTO SOCIAL, 2014. Estatuto Social Petrobras 2014 . Disponível em: <

https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CB8QFj

AA&url=http%3A%2F%2Fwww.petrobras.com.br%2Flumis%2Fportal%2Ffile%2FfileDown

load.jsp%3FfileId%3D8AF6052E40C1D95B0140D01F442D30CD&ei=ZxByVO-

5CMKagwTVnIKwAw&usg=AFQjCNFTxc0XI4J5qStlLDEPsR2wm-

3dBA&sig2=5v0nomznsUGO0YnF0DpR_Q>. Acesso em: 01 nov. 2014.

EXAME, 2014. Gráfico Interativo da ação PETR3. Disponível em: <

http://exame.abril.com.br/mercados/cotacoes-bovespa/acoes/PETR3/grafico>. Acesso em: 23

nov. 2014.

FMI, 2008. Sovereign Wealth Funds - A Work Agenda. International Monetary Fund

Disponível em: < http://www.imf.org/external/np/pp/eng/2008/022908.pdf>. Acesso em: 10

ago. 2014.

FREEDOM HOUSE. 2014 Freedom in the World. Disponível em: <

https://freedomhouse.org/report-types/freedom-world#.VF4zzTR4pcR>. Acesso em: 08 nov.

2014.

FRIEDEN 1991. Invested Interests: The Politics of National Economic Policies in a World of

Global Finance. International Organization. Disponível em: <

http://bev.berkeley.edu/ipe/readings/Frieden%20Invested%20Interests.pdf>. Acesso em: 13 ago

2014.

FUKUYAMA, F. The End of History? Community.uaf.edu, 1989 Disponível em:<

http://ps321.community.uaf.edu/files/2012/10/Fukuyama-End-of-history-article.pdf>. Acesso

em: 11 mai. 2014.

Page 30: O impacto do capitalismo de estado no desempenho financeiro de empresas estatais: Caso Petrobras

30

GOBETTI, S. Estatais e ajuste fiscal: uma análise da contribuição das empresas federais para

o equilíbrio macroeconômico. Economia e Sociedade, 2010 Disponível em:<

http://www.scielo.br/pdf/ecos/v19n1/a02v19n1 >. Acesso em: 18 abr. 2014.

GÓMEZ-IBAÑEZ, J. Alternatives to Infrastructure Privatization Revisited: Public Enterprise

Reform from the 1960s to the 1980s. World Bank Policy Research Working Paper

WPS4391, 2007 Disponível em: < http://www.hks.harvard.edu/about/faculty-staff-

directory/jose-gomez-ibanez>. Acesso em: 03 nov. 2014.

IUDÍCIBUS, S. Análise de balanços. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2008.

LAZZARINI, S.; MUSACCHIO, A. Reinventing State Capitalism: Leviathan in Business,

Brazil and Beyond. Londres, Inglaterra: Harvard University Press, 2014.

__________. Capitalismo de Laços: Os donos do Brasil e suas conexões. Rio de Janeiro:

Elsevier, ed. 3, 2011.

MATARAZZO, Dante Carmine. Análise financeira de balanços: abordagem básica e

gerencial. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MORAIS, M. Sobre a Evolução do Estado. Jus.com.br, 2011 Disponível em:<

http://jus.com.br/artigos/18831/sobre-a-evolucao-do-estado>. Acesso em: 15 set. 2014.

OPEC. 2013 World Oil Outlook. Opec.org, 2013 Disponível em:< http://www.opec.org/

opec_web/static_files_project/media/downloads/publications/WOO_2013.pdf>. Acesso em:

15 set. 2014.

PEREIRA, L. O caráter cíclico da intervenção estatal. Revista de Economia Política, 1989

Disponível em:< http://www.rep.org.br/pdf/35-7.pdf >. Acesso em: 23 jul. 2014.

PETROBRAS, 2014. Informações Trimestrais Petrobras: Segundo trimestre de 2014

Disponível em: < http://www.investidorpetrobras.com.br/pt/central-de-resultados/2t14.htm>.

Acesso em: 15 nov. 2014.

PETROSTRATEGIES, 2010. World's Largest Oil and Gas Companies Disponível em: <

http://www.petrostrategies.org/Links/worlds_largest_oil_and_gas_companies.htm>. Acesso

em: 30 ago. 2014.

PFC, 2014. HIS Energy 50: The definitive annual ranking of the world’s largest listed energy

firms. Disponível em: < http://cdn.ihs.com/www/energy50/IHS-Energy-50-Final-2014.pdf>.

Acesso em: 20 nov. 2014.

REZENDE, I; DUARTE, J; SILVA, P; SILVA, G. Análise da performance empresarial da

PETROBRAS: um estudo sob o enfoque dos indicadores econômico-financeiros. Revista

Ambiente Contábil, 2010. Disponível em:< http://periodicos.ufrn.br/ambiente/article/view

/1333>. Acesso em: 20 Nov. 2014.

TONINELLI, P. From private to public to private again: a long-term perspective on

nationalization, 2008 Disponível em: <http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/122840003

2F8jKF5eg6Rl17HK3.pdf>. Acesso em: 09 nov. 2014.