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O IMPACTO DAS CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO, DA OPERAÇÃO E DA DEMANDA SOBRE O TIPO DE ORGANIZAÇÃO DO FLUXO DE PRODUTOS: PESQUISA DE CAMPO EM SEIS SETORES DO RANKING EXAME MELHORES E MAIORES 01/12/2002/em Artigos /por Peter Wanke É crescente na literatura especializada de operações e serviços a importância atribuída à logística integrada como elemento fundamental ao gerenciamento eficiente e eficaz de cadeias de suprimentos. Por gerenciamento de cadeia de suprimentos normalmente se depreende a gestão dos fluxos correlatos de produtos, informações e recursos financeiros que vão desde o fornecedor inicial ao consumidor final, tendo como contrapartida os fluxos financeiros. A logística integrada, tendo como premissa principal a minimização do custo total para um determinado conceito de serviço preestabelecido, apresenta-se como importante processo ao gerenciamento da cadeia de suprimentos, permitindo não apenas a consecução e acondicionamento destes fluxos, mas também sua caracterização ao longo do tempo entre os diversos estágios da cadeia (BOWERSOX et al., 1996). Atualmente, existem diversos motivadores que levam a uma crescente busca pela integração de diferentes sistemas de atividades e cadeias de valor, no âmbito da cadeia de suprimentos. 1. Pressão para reduzir os níveis de estoque, em função dos elevados custos de oportunidade de manter estoques. 2. Pressão para agilizar o atendimento ao cliente, reduzindo o prazo de entrega e aumentando a disponibilidade, tendo em vista a crescente exigência dos clientes nos últimos anos. 3. Pressão para customizar em massa, ou seja, oferecer para uma grande variedade de clientes produtos desenhados exclusivamente para atender suas necessidades específicas, ainda como reflexo das crescentes exigências nos últimos anos. Para que a logística integrada assuma um papel relevante na criação de vantagem competitiva sustentável, suas principais decisões deveriam ser articuladas de modo a se reforçarem mutuamente ao longo do tempo, permitindo que sejam criados padrões de decisão coerentes com o conceito do serviço e com as características do produto e do mercado para o qual se destina este serviço. A articulação ao longo tempo de um processo decisório com os principais elementos que conformam o ambiente externo e o ambiente externo, visando a criação e manutenção de posições competitivas sustentáveis, é uma questão amplamente estudada pela área de estratégia empresarial. Segundo PORTER (1980), esta questão estratégica poderia ser avaliada nos níveis transversal e longitudinal. O primeiro, trataria da ligação das características internas e externas à empresa

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O IMPACTO DAS CARACTERÍSTICAS

DO PRODUTO, DA OPERAÇÃO E DA

DEMANDA SOBRE O TIPO DE

ORGANIZAÇÃO DO FLUXO DE

PRODUTOS: PESQUISA DE CAMPO EM

SEIS SETORES DO RANKING EXAME

MELHORES E MAIORES

01/12/2002/em Artigos /por Peter Wanke

É crescente na literatura especializada de operações e serviços a importância atribuída à

logística integrada como elemento fundamental ao gerenciamento eficiente e eficaz de cadeias

de suprimentos. Por gerenciamento de cadeia de suprimentos normalmente se depreende a

gestão dos fluxos correlatos de produtos, informações e recursos financeiros que vão desde o

fornecedor inicial ao consumidor final, tendo como contrapartida os fluxos financeiros. A

logística integrada, tendo como premissa principal a minimização do custo total para um

determinado conceito de serviço preestabelecido, apresenta-se como importante processo ao

gerenciamento da cadeia de suprimentos, permitindo não apenas a consecução e

acondicionamento destes fluxos, mas também sua caracterização ao longo do tempo entre os

diversos estágios da cadeia (BOWERSOX et al., 1996). Atualmente, existem diversos

motivadores que levam a uma crescente busca pela integração de diferentes sistemas de

atividades e cadeias de valor, no âmbito da cadeia de suprimentos.

1. Pressão para reduzir os níveis de estoque, em função dos elevados custos de

oportunidade de manter estoques.

2. Pressão para agilizar o atendimento ao cliente, reduzindo o prazo de entrega e

aumentando a disponibilidade, tendo em vista a crescente exigência dos clientes nos

últimos anos.

3. Pressão para customizar em massa, ou seja, oferecer para uma grande variedade de

clientes produtos desenhados exclusivamente para atender suas necessidades

específicas, ainda como reflexo das crescentes exigências nos últimos anos.

Para que a logística integrada assuma um papel relevante na criação de vantagem competitiva

sustentável, suas principais decisões deveriam ser articuladas de modo a se reforçarem

mutuamente ao longo do tempo, permitindo que sejam criados padrões de decisão coerentes

com o conceito do serviço e com as características do produto e do mercado para o qual se

destina este serviço. A articulação ao longo tempo de um processo decisório com os principais

elementos que conformam o ambiente externo e o ambiente externo, visando a criação e

manutenção de posições competitivas sustentáveis, é uma questão amplamente estudada pela

área de estratégia empresarial.

Segundo PORTER (1980), esta questão estratégica poderia ser avaliada nos níveis transversal e

longitudinal. O primeiro, trataria da ligação das características internas e externas à empresa

(produto, operação, mercado etc) ao seu desempenho (lucratividade e retorno) num

determinado momento do tempo. Esta ligação ajudaria definir o ajuste estratégico entre as

decisões da cadeia/sistema de valor e as características intrínsecas ao negócio. O segundo,

trataria do por quê certas empresas conseguiram (ou não) chegar a posições de vantagem e

sustentá-las (ou não), além do que as permitiu assegurar as vantagens no futuro. O autor aponta

que a análise do nível transversal seria prioritária, pois sem uma compreensão específica sobre

o que sustenta uma posição desejável seria extremamente complexo lidar de forma analítica

com o nível longitudinal.

Com relação à análise transversal da logística integrada como meio para criação de posições

competitivas, a literatura especializada em operações e serviços registra, de forma dispersa e

difusa, que determinados padrões de decisórios seriam mais aderentes/apropriados e/ou seriam

verificados com maior freqüência para um determinado conjunto de características de produto,

operação e demanda. Por exemplo, as características do produto englobariam o custo

adicionado , a densidade de custos , o grau de obsolescência e o grau de perecibilidade .

Características relevantes da operação logística envolveriam o valor do frete, o giro dos

estoques , a visibilidade da demanda , a razão entre prazos e o tempo combinado dos ciclos de

suprimento e distribuição . Finalmente, as características da demanda envolveriam a amplitude

de vendas, ou o quanto a demanda máxima é superior à demanda mínima, podendo ser um

consistente indicador do grau de previsibilidade das operações.

A pesquisa de campo direcionou seus esforços no entendimento de como as características do

produto, da operação e da demanda poderiam conformar as principais decisões relativas à

organização do fluxo de produtos em empresas fabricantes de bens de consumo, que vendem

não exclusivamente, mas necessariamente, ao varejo. Especificamente, foram consideradas as

seguintes áreas de decisão em logística integrada como relevantes para a definição e

compreensão do tipo de organização do fluxo de produtos em seu nível mais genérico ou

amplo: localização física ou alocação dos estoques, coordenação da reposição ou do fluxo de

produtos, e base para acionamento do fluxo de produtos (gestão de estoques); número de

estágios e quantidade de instalações (dimensionamento da rede de instalações) e escolha do

modal e procedimentos para consolidação de carregamentos (política de transportes).

2. REFERENCIAL TEÓRICO: COMO AS CARACTERÍSTICAS AFETAM O

TIPO DE ORGANIZAÇÃO DO FLUXO DE PRODUTOS

Nesta seção são apresentadas as razões teórico-conceituais, além de evidências empíricas

encontradas na literatura especializada, sobre como e por que determinadas características do

produto, da operação e da demanda, favoreceriam determinados tipos de organização do fluxo

de produtos, definidos com base em decisões tático-estratégicas de gestão de estoques,

dimensionamento da rede de instalações e política de transportes.

2.1.Gestão de Estoques

Alocação de Estoques. Englobaria a decisão acerca da localização física dos estoques na rede

de instalações, estando fortemente associada ao posicionamento físico dos seus componentes de

ciclo e de segurança. A centralização dos estoques numa única instalação implicaria na

postergação no espaço do fluxo de produtos, ao passo que sua descentralização por duas ou

mais instalações significaria a antecipação do fluxo de produtos no espaço. A literatura

especializada indica que são três os fatores que determinariam um maior ou menor grau de

centralização dos estoques numa rede de instalações: as características do produto, as

características da demanda e da operação e as decisões em políticas de transporte referentes à

contratação de transporte premium ou à exploração de economias de escala decorrentes da

consolidação dos carregamentos.

Corroborando o anteriormente exposto, as características do produto abrangeriam as seguintes

dimensões: custo dos produtos vendidos, densidade de custos agregados e o grau de

obsolescência. De maneira geral, poderia se afirmar que quanto maior forem o CPV, a

densidade de custos agregados e o grau de obsolescência dos produtos, maior seria a tendência

para centralização dos estoques (SILVER et al. (1985), BALLOU (1992) e CHISTOPHER

(1997)).

Por outro lado, as características da demanda e da operação abrangeriam, respectivamente, a

amplitude da demanda e o giro. Quanto maiores forem estes fatores, maior seria a propensão

para descentralização dos estoques, basicamente por que são minimizados os riscos associados

à obsolescência, perda ou encalhe de produtos. Normalmente, produtos com ciclos de vida mais

longos, e pequeno número de substitutos apresentam um perfil de demanda mais previsível

(SILVER et al. (1985), MENTZER et al. (1998) e WATERS (1992)).

Outros fatores relevantes à decisão de alocação dos estoques são a contratação de transporte

premium e a criação de economias de escala no transporte. A contratação de transporte

premium pode contribuir favoravelmente à centralização dos estoques, na medida que rompe

com a premissa da presença local (BOWERSOX et al., 1996). A existência de fortes economias

de escala no transporte, por outro lado, criam um ambiente favorável à descentralização dos

estoques, pois torna relativamente menos onerosa a distribuição de produtos na cadeia de

suprimentos (BALLOU, 1992).

Base para Acionamento do Fluxo de Produtos. Envolveria a integração e a articulação coerente

da gestão de estoques com as políticas de produção e distribuição. Por exemplo, sob esta

perspectiva, a decisão de produzir para estoque (antecipar a produção no tempo com base em

previsões de vendas) ou produzir contra-pedido (postergar a produção no tempo até a

concretização da demanda real) é de fundamental importância para o desenho dos sistemas

logísticos (BOWERSOX et al. (1996) e CLOSS et al. (1998)). Alguns fatores normalmente

observados na literatura com relação a esta decisão são: o CPV, o grau de obsolescência e a

estrutura de custos fixos/variáveis do processo produtivo.

O grau de flexibilidade do processo de fabricação poderia favorecer produção contra pedido

(usando a demanda real como base para acionamento do fluxo), na medida em que fosse

economicamente viável adiar a execução de determinados estágios até a colocação do pedido

pelo cliente. Sob determinadas circunstâncias, operações finais de mistura, montagem e

embalagem seriam postergadas até que houvesse uma definição a respeito de quais SKUs

(stock keeping units) seriam vendidos, eliminando, com isto, os riscos associado à incerteza da

demanda futura (ZINN et al., 1988).

O perfil de custos agregados ao produto em cada etapa da produção, indicaria quando e de

quanto o produto aumenta de custo agregado. Quanto maior fosse a proporção de custos

agregados nas etapas finais, maior seria o benefício associado à postergação destas atividades

no tempo (PAGH et al., 1998). Finalmente, na medida que fosse possível reconfigurar as

operações de manufatura, tornando-as mais flexíveis (implicando numa maior proporção de

custos variáveis) e menos dependentes de economias de escala (implicando numa menor

proporção de custos fixos), tornar-se-iam viáveis economicamente as políticas de produção

contra pedido.

Coordenação do Fluxo de Produtos. Englobaria a decisão acerca da lógica de acionamento do

fluxo de produtos, se puxada ou empurrada. A noção (perspectiva) de puxar ou empurrar o

fluxo de produtos estaria diretamente relacionada ao estágio da cadeia responsável pela decisão

de ressuprimento dos estoques, ou seja, para um determinado elo, se seria o estágio posterior

(mais próximo do cliente ou consumidor final) ou se seria o estágio anterior (mais próximo do

fornecedor inicial). Um fluxo de produto puxado teria seu início no estágio posterior, através da

transmissão de uma informação para o estágio anterior apontando para a necessidade de

ressuprimento. Por outro lado, um fluxo empurrado teria seu início no estágio anterior, através

da estimativa, mediante técnicas de previsão ou outros métodos de planejamento, das

necessidades futuras de consumo do material. Evidências empíricas apontadas por diversos

autores (STALK (1988), INMAN (1999) e CHRISTOPHER (2000)) indicam dois fatores

básicos que deveriam ser obser

vados com relação a esta decisão: tempo total dos ciclos de suprimento e distribuição em cada

estágio e a visibilidade da demanda.

Tempos de ciclos de suprimento e distribuição mais curtos que o exigido pelo cliente final

favoreceriam que a coordenação do fluxo de produtos fosse puxada, ou seja, controlada pelo

estágio mais próximo do consumidor final. Contrariamente, tempos de ciclos de suprimento e

distribuição mais longos que o exigido pelo cliente final exigiriam que o fluxo de produtos

fosse empurrado em antecipação à demanda, ou seja, controlado pelo estágio mais afastado do

consumidor final.

Um dos principais problemas relativos à coordenação do fluxo de produtos é a visibilidade

limitada com relação à demanda do consumidor final. O ponto até o qual a demanda real

penetra na cadeia de suprimentos em direção ao fornecedor inicial é conhecido como ponto de

desacoplamento (decoupling point), segundo CHRISTOPHER (2000) ou ponto de penetração

do pedido (order penetration point), conforme SHARMAN (1984). O conceito implícito no

ponto de desacoplamento ou ponto de penetração do pedido é mudança na forma de coordenar

os fluxos de produtos. Na realidade, a questão principal não é o quão distante do consumidor

final está sendo colocado um pedido, mas se a demanda real (do consumidor final) é visível ou

não para um determinado estágio da cadeia. A não visibilidade da demanda levaria ao

acionamento empurrado do fluxo de produtos, ao passo que a visibilidade da demanda

permitiria que o fluxo de produtos fosse puxado.

2.2. Política de Transportes

Dependendo das características do modal escolhido, os níveis de estoque de segurança, de ciclo

e em trânsito poderiam ser maiores ou menores. Análises preliminares das características do

produto, com vistas à seleção do modal de transporte, deveriam transcender suas dimensões de

peso e/ou volume e o CPV. Segundo a literatura, um fator determinante para a escolha do

modal de transporte é a densidade de custos, ou seja, a razão entre o custo agregado do produto

e seu peso. As implicações de um produto com baixa densidade de custos ($/kg) na escolha do

modal de transporte seriam relevantes, uma vez que para ser projetada a operação com menor

custo logístico total, deveria ser escolhido o modal de transporte cujo custo unitário fosse

compatível com a densidade de custo do produto.

Outro fator que deveria ser observado na escolha do modal de transporte é a variabilidade da

demanda dos produtos a serem transportados. As implicações de um produto com elevada

variabilidade da demanda na escolha do modal de transporte mais apropriado também não

seriam desprezíveis. A operação de menor custo logístico total seria obtida através de um

modal de transporte que fornecesse flexibilidade suficiente para acompanhar as variações na

demanda, minimizando as chances de decisões equivocadas, como mandar quantidades erradas,

do produto errado, para o local errado. Neste caso, modais de transporte mais rápidos e de

menor capacidade, permitindo que fossem consolidados carregamentos em menor espaço de

tempo, como o rodoviário, gerariam a flexibilidade necessária para que as operações

acompanhassem as flutuações da demanda.

2.3. Dimensionamento de Rede de Instalações

Envolveria a definição do número de estágios da rede, a quantidade de instalações em cada um

dos estágios, a localização e a missão (produtos e mercados atendidos) de cada uma das

instalações. Estas decisões são umbilicalmente associadas à definição do padrão de decisão em

alocação de estoques e à formalização da política de transportes.

3. TIPOLOGIA PROPOSTA PARA O ENTENDIMENTO DA ORGANIZAÇÃO

DO FLUXO DE PRODUTOS

Uma vez apresentadas as decisões referentes à Política de Transportes, à Gestão de Estoques e

ao Dimensionamento da Rede de Instalações como relevantes para a definição e caracterização

do fluxo de produtos, uma consideração adicional com relação a sua natureza deve ser feita

para melhor compreensão da tipologia para a organização do fluxo de produtos adotada na

pesquisa de campo. Ainda que estas três decisões ao nível estratégico sejam principais e

primordiais para a criação de vantagem competitiva através da logística integrada ; são as áreas

de decisão de gestão de estoques caracterizam e definem o fluxo de produtos e de informações

em suas dimensões principais: razão entre suas quantidades físicas e os tempos de

processamento, freqüência média entre acionamentos consecutivos, distância/tempo entre os

pontos de origem e destino, previsibilidade da(s) demanda/vendas/operações e definição da

responsabilidade por seu acionamento.

Neste sentido, é apresentada na Tabela 1 uma tipologia para classificação dos fluxos de

produtos em suas três dimensões principais: coordenação, alocação no espaço e base para

acionamento no tempo. Ainda que envolva certo grau de arbitrariedade por englobar apenas

três decisões para caracterizar o fluxo de produtos e desconsiderar tantas outras possíveis, na

tipologia para classificação do fluxo de produtos foram incorporadas as decisões de caráter

mais amplo encontradas na literatura especializada, segundo as quais uma política para a

organização do fluxo de produtos seria passível de definição no seu sentido mais amplo:

empurrar/puxar, antecipar/postergar no espaço e antecipar/postergar no tempo. Os demais

recursos/atividades ou dimensões estruturais/infraestruturais presentes na política de transportes

ou no dimensionamento da rede de instalações seriam, a princípio, definidos de acordo e

coerentemente com o padrão escolhido do fluxo de produtos e informações, por sua vez,

reflexo das características do p

roduto, da operação e da demanda.

Percebe-se que teoricamente existiriam pelo menos oito maneiras/tipos/padrões diferentes para

uma empresa organizar seu fluxo de produtos . Por exemplo, existem fluxos puxados,

acionados pela demanda e centralizados, como o caso da Dell e do Consórcio Modular da VW

em Resende, e fluxos empurrados, acionados por previsão de vendas e descentralizados, como

é o caso da indústria de alimentos e do petróleo. Entretanto, são passíveis de comprovação

apenas seis destes oito fluxos, pois fluxos empurrados só podem ser acionados através de

previsão de vendas, e não contra a demanda real.

4. OBJETIVOS E METODOLOGIA DA PESQUISA

Tomando como ponto de partida o referencial teórico, e considerando a perspectiva de uma

empresa fabricante de bens de consumo, a pergunta principal que a pesquisa de campo se

propõe a responder sobre o enfoque estático da criação de posições competitivas com base na

logística integrada é:

“QUAIS CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO, DA OPERAÇÃO E DA DEMANDA

ESTÃO RELACIONADAS SIGNIFICATIVAMENTE COM OS TIPOS DE

ORGANIZAÇÃO DO FLUXO DE PRODUTOS?”

Mais especificamente, e para fins de orientação da pesquisa, esta pergunta geral se desdobra

nas seguintes perguntas específicas, passíveis de falseamento a partir de testes de hipóteses .

(1) Quais características do produto, da operação e da demanda estão relacionadas

significativamente com a tomada de decisão relativa (a) a alocação dos estoques, (b) a

coordenação do fluxo de produtos, (c) a base para acionamento do fluxo de produtos, (d) a

política de transportes e (e) ao dimensionamento da rede de instalações?

(2) Quais características do produto, da operação e da demanda influenciam significativamente

a definição de uma política para organização do fluxo de produtos no seu sentido mais amplo?

(3) Quais são as características do produto, da operação e da demanda e quais são as decisões

que apresentam comportamento significativamente diferente, quando a amostra é estratificada

por tipo de setor da economia?

A resposta a estas questões permitirá refinar e propor uma unificação para o referencial teórico,

atualmente difuso, sob os enfoques estáticos da criação de posições competitivas a partir das

decisões em logística integrada. Esta unificação permitirá/viabilizará a apresentação de um

instrumento conceitual/normativo para avaliação do atual padrão decisório com relação à

organização do fluxo de produtos, pelo menos nos limites passíveis de generalização a partir da

amostra utilizada.

A população considerada como ponto de partida para a presente pesquisa é a definida pelo

conjunto de 500 empresas que compõem a lista da publicação Exame Melhores e Maiores

Edição 2000. A população em questão é composta por 22 diferentes setores da economia (sub-

populações), abrangendo atividades de cunho extrativo, industrial e de serviços. Em função da

delimitação da abrangência da pesquisa aos reconhecidos setores industriais de bens de

consumo duráveis e não-duráveis que vendem necessariamente, mas não exclusivamente, para

o varejo, foram descartadas as sub-populações relacionadas aos setores primários e terciários da

economia, além das sub-populações dos setores secundários não enquadradas nesta restrição.

Além disto, condicionantes de tempos e prazos impuseram restrições à pesquisa das seis

maiores sub-populações do setor secundário de bens de consumo com venda ao varejo.

Desta forma, as sub-populações (tamanhos) endereçadas pela pesquisa de campo são as

compostas pelo setor Químico e Petroquímico (46), Alimentício (40), Automotivo (31),

Tecnologia e Computação (26), Eletro-eletrônico (21) e Farmacêutico (17). O tamanho total

destas sub-populações perfaz 181 empresas, ou 36,2% da população total de 500 empresas.

Entretanto, se for considerado para efeito de definição populacional o conjunto de setores

industriais de bens de consumo duráveis e não-duráveis que vendem necessariamente, mas não

exclusivamente, para o varejo relacionados na Revista Exame, o tamanho da população é de

254 empresas. As 6 sub-populações endereçadas pela pesquisa perfazem 71,3% deste total.

Para cada uma das seis sub-populações definidas acima foram coletadas seis amostras

obedecendo a um processo quase-aleatório (quasi-random) com repetição. O processo foi

quase-aleatório, pois, apesar da amostra de cada sub-população ter sido gerada aleatoriamente,

com base na relação de empresas presente na Revista Exame, parte das empresas inicialmente

contatadas recusou-se a participar da pesquisa de campo, levando a sua substituição por outras

do mesmo setor/sub-população que se dispusessem a participar da pesquisa (amostragem por

conveniência). O processo foi com repetição, pois de cada empresa foram coletadas

informações referentes a um SKU classe A em faturamento e a um SKU classe E em

faturamento. A determinação do tamanho amostral para cada sub-população teve como pano de

fundo o entendimento e a interconexão das seguintes questões: aproximação pela distribuição

normal, escolha do método estatístico e estratificação da amostra, observando-se os seguintes

aspectos.

Não existe um tamanho amostral mínimo necessário para confirmar a validade da

aproximação pela normal em cada sub-população, por dois motivos básicos: além das

sub-populações (setores) serem finitas e pequenas, relatos históricos indicam o caráter

assimétrico de variáveis setoriais;

Os testes não-paramétricos não exigem que os tamanhos da amostras das seis sub-

populações (setores) pesquisadas sejam iguais, devendo ser empregados quando não é

válida a premissa da aproximação pela normal nas sub-populações;

Como a estimação de parâmetros populacionais não é o objetivo principal da pesquisa,

mas sim a identificação da correlação entre variáveis e o controle de efeitos espúrios por

entre as sub-populações (ou setores da economia), as frações amostrais de cada estrato

não precisam ser necessariamente iguais à fração de cada sub-população (estratificação

proporcional), podendo ser igual o tamanho amostral dos seis estratos pesquisados para

efeitos de simplificação e conveniência (estratificação desproporcional). Os efeitos da

estratificação desproporcional foram considerados quando da estimação de parâmetros

populacionais, sendo o peso cada estrato no cômputo total corrigido pela relação entre a

fração amostral coletada e a fração populacional.

Observados estes pontos, optou-se, por questões de simplificação, sem, no entanto, afetar a

confiabilidade dos resultados da pesquisa e sem prejuízo aos seus objetivos, coletar

inicialmente amostras de tamanho igual a 5, em cada um dos seis setores definidos na pesquisa.

Entretanto, algumas empresas selecionadas inicialmente recusaram-se a participar da pesquisa,

configurando o quadro final de tamanhos amostrais e frações amostrais coletadas na tabela 2.

O questionário construído para atender aos objetivos da pesquisa de campo é composto em sua

totalidade questões factuais ministradas por outros dois pesquisadores, além do autor deste

trabalho, ao longo do segundo semestre de 2001. Questões de caráter factual simplificam

consideravelmente o projeto do questionário, pois aspectos como a elaboração de diferentes

maneiras alternativas para uma mesma pergunta, são minimizados, ao passo que em aspectos

como a possibilidade do entrevistador interagir com o entrevistado para assegurar o correto

entendimento e resposta da questão, há maior flexibilidade que em questões opinativas

(MOSER et al., 1971). Além destes aspectos, merece menção o fato do questionário ter sido

concebido para ser respondido no tempo médio de uma hora e no tempo máximo de uma hora e

meia.

Cabe ressaltar que as questões factuais contidas no questionário apresentado ao final desta

seção reportam-se a eventos presentes e são familiares aos respondentes. Responderam por

cada empresa gerentes ou supervisores de nível hierárquico médio, responsáveis pela área de

logística (armazenagem, processamento de pedidos, estoques e distribuição). Em alguns casos,

os gerentes entrevistados também possuíam em seu alcance de controle decisões relativas à

compra de suprimentos, à programação de produção e à exportação/importação, fato verificado

exclusivamente nos setores automobilístico, farmacêutico e de tecnologia e computação. Além

disto, em circunstâncias nas quais os respondentes desconheciam as variáveis inquiridas,

responderam funcionários de outros setores com domínio específico sobre o tema.

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES

A amostra pesquisada, em função de seu tamanho e heterogeneidade, não apresentou aderência

às condições de simetria e normalidade exigidas para que sejam aplicadas satisfatoriamente as

técnicas de Análise de Variância (ANOVA) e cálculo do Coeficiente de Correlação Linear de

Pearson. Desta forma foram utilizados testes Não-Paramétricos para testar as hipóteses de

diferenças de médias entre os setores e a significância da correlação entre as decisões em

estratégia e as características do produto, da demanda e da operação. Especificamente, foi

utilizado o teste de Kruskal-Wallis para identificação de diferenças entre as médias setorais,

tanto para as decisões quanto para as características e o Coeficiente de Correlação Tau-b de

Kendall (G) para a identificação de relações significativas entre as variáveis (CONOVER,

1971). Todas as análises que se seguem tiveram como critério o nível de significância de 95%

(p=0.05) para testar as hipóteses nulas de igualdade entre médias setoriais e de não haver

correlação entre as variáveis.

Ainda que não tivesse sido verificada aderência total dos resultados encontrados à revisão da

literatura sobre quais características do produto, da demanda e da operação conformariam as

decisões em estratégia de serviços logísticos, foi possível confirmar várias relações

estatisticamente significativas em empresas brasileiras, além de identificar outras que não

haviam sido consideradas. Em resumo, poderiam ser feitas as seguintes afirmações,

considerando uma perspectiva estática do ambiente competitivo que permeia os diferentes

setores pesquisados.

A coordenação do fluxo de produtos não apresentou correlações significativas com a

visibilidade da demanda e o tempo de ciclo de suprimento e distribuição, conforme apontava a

revisão da literatura. Outras variáveis como o grau de obsolescência, grau de perecibilidade,

CPV e valor do frete, além da razão entre prazos, que é uma variante do tempo de ciclo de

suprimento e de distribuição, apresentaram impactos significativos.Uma possível interpretação

para estes resultados seria afirmar que a decisão de coordenação do fluxo de produtos pode ser

conformada por quatro fatores principais, conforme ilustra a figura 1.

(a) A Flexibilidade Intrínseca de Resposta do Sistema, indicada pela razão entre o

prazo de entrega do produto acabado para o cliente e o prazo de entrega do insumo mais

demorado (RP). Quanto maior esta razão, mais flexível e de menor custo será a capacidade de

resposta da empresa ao cliente, levando à organização de fluxos puxados.

(b) A Natureza do Processo de Envelhecimento dos Estoques, indicada pelo grau de

obsolescência (GO) e de perecibilidade dos produtos (GP). Na amostra pesquisada estas

variáveis apresentaram-se negativamente correlacionadas (G=-0,678; p<0,001), sugerindo que

na maior parte das vezes o elemento direcionador do envelhecimento dos produtos é

exclusivamente a obsolescência (ciclo de vida) ou a perecibilidade (prazo de validade). Quanto

maior o grau de obsolescência, maior a propensão aos fluxos de produtos puxados, ao passo

que quanto maior o grau de perecibilidade, maior a propensão aos fluxos de produtos

empurrados. Provavelmente isto seja explicado pela necessidade dos fabricantes de bens de

consumo não-duráveis (perecíveis) articularem o ritmo de produção e distribuição com o shelf

life ou a vida útil do produto na prateleira do varejista ou do canal de distribuição. Por outro

lado, o grau de perecibilidade e o CPV são negativamente correlacionados (G=-0,372; p=0,001)

implicando num menor comprometimento de capital de giro para colocar uma unidade de

produto a mais em estoque; contrariamente ao grau de obsolescência, positivamente

correlacionado ao CPV (G=0,58; p=0,001).

(c) A Necessidade de Capital de Giro para financiar uma unidade a mais de produto em

estoque, representada pelo CPV. Quanto menor esta necessidade, maior a propensão aos fluxos

de produtos empurrados.

(d) Os Gastos por kg com Distribuição, representados pelo valor do frete de

distribuição por kg. Quanto maiores forem estes gastos, maior será a propensão para fluxos de

produtos puxados.

O cálculo das estatísticas descritivas para cada um dos fatores acima considerados é

extremamente relevante para quantificar sob quais circunstâncias deveria ser o fluxo de

produtos puxado ou empurrado. Em outras palavras, conhecer a média, a mediana, o mínimo, o

máximo e o desvio-padrão de variáveis como o CPV, o grau de obsolescência, o grau de

perecibilidade, a razão entre prazos e o valor do frete, com relação aos conjuntos de casos

pesquisados nos quais foram verificados fluxos puxados e empurrados, pode auxiliar a tomada

de decisão gerencial no que diz respeito à coordenação do fluxo de produtos. Desta forma, seria

possível responder as seguintes questões: qual a magnitude típica de um elevado CPV? A partir

de qual patamar poderia um produto ser considerado com baixo grau de perecibilidade? Qual a

ordem de grandeza de um elevado valor do frete por kg?

Figura 1 – Fatores que Influenciam a Decisão de Coordenação do Fluxo de Produtos

A tabela 3 constitui um instrumento para apoio à tomada de decisão, apresentando a mediana

dos fatores significativamente correlacionados com a decisão de coordenação do fluxo de

produtos. Segundo esta tabela deveriam ser empurrados produtos com CPV inferior a $6,50,

sem grau de obsolescência, com grau de perecibilidade superior a 0,04 (equivalente a um prazo

de validade de 25 meses), com prazo de resposta exigido pelo cliente inferior ao equivalente a

3% do prazo de entrega do insumo mais crítico e valor de frete inferior a $ 0,07 /kg. Por outro

lado, deveriam ser puxados produtos com CPV superior a $ 680, com grau de obsolescência

superior a 0,04 (equivalente a um ciclo de vida de 25 meses), sem grau de perecibilidade, com

prazo de resposta exigido pelo cliente superior ao equivalente a 11% do prazo de entrega do

insumo mais crítico e valor do frete superior a $ 0,14 /kg.

A alocação dos produtos é influenciada significativamente pela densidade de custos, pela

amplitude de vendas, pelo giro dos produtos e pela contratação de transporte premium.

Variáveis como o CPV e o grau de obsolescência, ao contrário do que apontava a revisão da

literatura, não apresentaram correlações significativas com a decisão de alocação. Uma possível

interpretação para estes resultados seria afirmar que a alocação dos estoques pode ser

conformada, de modo geral, por quatro fatores descritos a seguir, conforme ilustra a figura 2.

(a) O Risco de Manter Estoques de Segurança, representado pela amplitude de vendas

(AV). Quanto maior a amplitude de vendas, maior a sua variabilidade, normalmente calculada

pelo desvio-padrão das vendas, implicando em estoques centralizados.

(b) A Necessidade de Criar e Explorar Economias de Escala no Transporte,

representada pela densidade de custos adicionados (DC). Produtos com baixa densidade de

custos adicionados por kg ou m3 normalmente implicam políticas de transporte de baixo custo

unitário por kg ou m3, como uma forma de assegurar a competitividade. Não obstante, a

densidade de custos e o valor do frete apresentaram-se positivamente correlacionados

(G=0,547; p<0,001).

Figura 2 – Fatores que Influenciam a Decisão de Alocação dos Estoques

(c) A Aderência da Política de Reposição dos Estoques aos níveis de venda,

representada pelo giro dos estoques (G). Um elevado giro de produto normalmente resulta de

políticas de reposição de estoques que acompanham sistematicamente os níveis de venda ou de

níveis de venda relativamente superiores aos tamanhos médios de lotes de produção e

distribuição dos produtos. Estes fatores favorecem a descentralização física dos estoques, já que

é menor o risco associado a sua pulverização. Interessante notar que o giro dos estoques

apresentou-se negativamente correlacionado à densidade de custos do produto na amostra

pesquisada (G=-0,329; p=0,005). Isto corrobora a tese levantada nos itens anteriores: se, por

um lado, produtos com baixa densidade de custos adicionados necessitariam gerar e explorar

economias de escala no transporte para manterem-se competitivos, provavelmente através da

consolidação de carregamentos por longas distâncias, por outro lado, o nível médio de vendas

entre dois ressuprimentos consecutivos deveria ser suficientemente alto para assegurar um

razoável giro de estoques.

(d) O Tempo e a Variabilidade da Resposta do Transporte, representado pela

contratação do transporte premium (TP). Quanto mais rápido e confiável o tempo de resposta

do transporte, maior a tendência à centralização, superando-se o paradigma da presença local.

A Tabela 4 apresenta as medianas das variáveis significativamente relevantes para a decisão de

alocação dos estoques, considerando as decisões de centralização e de descentralização. Esta

tabela também constitui um instrumento para tomada de decisão com relação à alocação dos

produtos, permitindo identificar questões como: qual a magnitude típica de um produto com

elevado giro? A partir de qual patamar um produto poderia ser considerado de baixa densidade

de custos? Qual ordem de grandeza de uma elevada amplitude de vendas?

A adoção da base para acionamento, conforme o esperado pela literatura, seja com base em

previsões de vendas ou em reposta à demanda real, é influenciada significativamente pelo CPV

e pelo grau de obsolescência. Além destas variáveis, também influenciam o grau de

perecibilidade, o valor do frete e a razão entre prazos. Os quatro fatores que influenciam a

determinação da base para planejamento são os mesmos que afetam a decisão de coordenação

do fluxo de produtos. Não obstante, estas duas áreas de decisão apresentaram-se fortemente

correlacionadas na amostra pesquisada (G=-0,822; p<0,001), indicando que fluxos de produtos

empurrados dependem necessariamente de previsão de vendas para seu acionamento, e fluxos

de produtos puxados são em grande maioria estimulados pela demanda real.

Figura 3 – Fatores que Influenciam a Definição da Base para Acionamento do Fluxo de

Produtos

A Tabela 5 apresenta a mediana das variáveis significativamente relevantes para a definição da

base de acionamento, sendo também um instrumento de apoio para a tomada de decisão.

Além destas conclusões, análises feitas entre estes seis setores pesquisados revelaram que

existem diferenças significativas em seus padrões de decisão de coordenação do fluxo de

produtos, alocação dos estoques, definição da política de produção e escolha do modal de

transporte. Diferenças significativas foram verificadas não apenas nestas decisões, mas também

com relação a algumas características do produto, demanda e operação.

Alimentício, eletro-eletrônico, farmacêutico e químico e petroquímico são setores onde

predominam fluxos empurrados de produtos, ao passo que automotivo e tecnologia e

computação são setores onde predominam fluxos puxados de produtos.

Farmacêutico e tecnologia e computação são setores onde predominam estoques

centralizados numa única instalação, ao passo que alimentício, automobilístico, eletro-

eletrônico e químico e petroquímico são setores onde predominam estoques

descentralizados.

Automobilístico e tecnologia e computação são setores onde predominam a demanda

real como base para acionamento do fluxo de produtos, ao passo que alimentício, eletro-

eletrônico, farmacêutico e químico e petroquímico são setores onde predominam

previsões de vendas como base para acionamento. A tabela 6 apresenta estes resultados.

Com relação aos tipos de organização do fluxo de produtos a pesquisa de campo aponta as

seguintes conclusões conforme indica a Tabela 7. (1) 69,2% dos casos pesquisados têm seus

fluxos de produtos empurrados com base em previsões de vendas, ou seja, antecipam-se às

vendas futuras (Tipos 1 e 3); (2) 23,1% dos casos pesquisados têm seus fluxos puxados em

resposta à demanda real, ou seja, são postergados até que as vendas reais se concretizem (Tipos

2b e 4b); (3) os casos restantes (7,7%) têm seus fluxos puxados por estágios mais próximos do

consumidor final, mas mesmo assim utilizam previsões de vendas para seu acionamento (Tipo

2a e 4a); (4) descentralizar os estoques por várias instalações é uma prática dominante (61,6%

dos casos pesquisados) em diversos setores brasileiros; (5) empurrar o fluxo de produtos

significa sempre utilizar previsões de vendas para antecipar acontecimentos futuros na

produção e na distribuição e (6) puxar o fluxo de produtos significa, na maior parte das vezes

(75 % dos casos), utilizar a demanda real para postergar operações de produção e distribuição

até que a demanda se concretize.

A seguir são apresentadas as conclusões com relação ao tipo de organização do fluxo de

produtos para cada um dos seis setores pesquisados.

(a) No setor alimentício, 70% dos fluxos de produtos pesquisados são empurrados,

descentralizados e planejados por previsão (Tipo 1), ao passo que os outros 30% são puxados,

descentralizados e planejados por previsão (Tipo 2a). O setor alimentício caracteriza-se por

produtos com baixo CPV, baixa densidade de custos, por um certo grau de perecibilidade,

baixo valor de frete, visibilidade da demanda apenas nos programas ECR e pequena amplitude

de vendas; enquadrando-se no Tipo 1 os alimentos não perecíveis e no Tipo 2a os alimentos

perecíveis.

(b) No setor farmacêutico, 80% dos fluxos de produtos são empurrados, centralizados e

planejados por previsão (Tipo 3), ao passo que os outros 20% são empurrados, descentralizados

e planejados por previsão (Tipo 1). O setor farmacêutico caracteriza-se, sobretudo, por uma

elevada densidade de custos, baixíssima obsolescência, pois os ciclos de vida são longos

(processos proprietários e patenteados) e por pequena perecibilidade. No Tipo 1, enquadram-se

medicamentos de baixo CPV e no Tipo 3, medicamentos de alto CPV.

(c) No setor químico e petroquímico, 40% dos fluxos são empurrados, descentralizados

e planejados por previsão (Tipo 1), 40% dos fluxos são empurrados, centralizados e planejados

por previsão (Tipo 3) e apenas 20% puxados, descentralizados e planejados pela demanda

(Tipo 2b). No tipo 1 enquadram-se os combustíveis, no Tipo 3 os lubrificantes e no Tipo 2b,

alguns insumos químicos de mais alto CPV e baixo giro.

(d) No setor eletro-eletrônico, 50% dos fluxos de produtos são empurrados,

descentralizados e planejados por previsão (Tipo 1), 25% são empurrados, centralizados e

planejados por previsão (Tipo 3) e 25% são puxados, descentralizados e planejados pela

demanda (Tipo 2b). No tipo 1 enquadram-se importados de baixo CPV, no tipo 3 enquadram-se

importados de alto CPV e no Tipo 2b produtos eletro-eletrônicos de fabricação nacional com

baixo CPV.

(e) Finalmente, no setor automobilístico 33 1/3 % dos fluxos são empurrados,

descentralizados e planejados por previsão (Tipo 1), 33% são puxados, descentralizados e

planejados pela demanda (Tipo 2b) e os últimos 33% são puxados, centralizados e planejados

pela demanda (Tipo 4b). O setor de tecnologia e computação, em função do elevado percentual

de itens importados e das barreiras alfandegárias brasileiras, não apresenta um padrão definido

de organização do fluxo de produtos.

6. NOTAS

Podendo ser aproximado pelo CPV – Custo dos Produtos Vendidos – indicador financeiro-

contábil.

Razão entre o custo adicionado e o peso ou volume do produto, visando responder o quanto

custaria o produto por kg ou m3.

Inverso da duração do ciclo de vida; produtos com ciclos de vida mais longos apresentariam

menor grau de obsolescência.

Inverso da duração do prazo de validade; produtos com maior prazo de validade apresentariam

menor grau de perecibilidade.

Razão entre as vendas e o nível de estoque médio.

Indica se a empresa acessaria ou não a demanda do consumidor final em tempo real.

Mede o quanto o prazo exigido pelo cliente é superior ao prazo de entrega oferecido pela

empresa; quanto maior esta razão, mais flexível e de menor custo será a capacidade de resposta

da empresa ao cliente.

Calculado como a soma do prazo de entrega para recebimento do insumo mais crítico com o

prazo de entrega oferecido pela empresa..

Uma vez que englobam desde o comprometimento de recursos e estruturas físicas associadas à

viabilização, consecução e acondicionamento do fluxo de produtos no espaço e no tempo, até

sua caracterização, através do estabelecimento de rotinas e procedimentos para seu

acionamento.

Resultante de todas as combinações possíveis com relação às decisões de puxar/empurrar;

antecipar/postergar no tempo e antecipar/postergar no espaço 2 x 2 x 2 = 8.

Convencionalmente, os testes de hipóteses testam a congruência teoria-fato na direção dos

dados empíricos validarem a teoria (CASTRO, 1978). Um exemplo neste sentido seria a

centralização dos estoques de produtos com alto custo adicionado (fato). A justificativa teórica

para tal decisão seria o benefício obtido com a redução dos níveis de estoque de segurança na

rede logística, e a conseqüente desmobilização de capital de giro empatado. Caso se verifique

uma correlação significativa (teste de hipótese) entre as variáveis custo adicionado

(independente ou explicativa) e centralização dos estoques (dependente), poder-se-ia deduzir

com base no arcabouço teórico que esta decisão relaciona-se com o desejo de reduzir os custos

de oportunidade de manter estoques, materializados pelo nível de custo adicionado.

Definida, com base no referencial teórico, como conseqüência da articulação das decisões de

alocação, base para acionamento do fluxo de produtos e coordenação do fluxo de produtos.

7. BIBLIOGRAFIA

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