o imaginário em mafalda numa prospecção pós-moderna

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  • 7/31/2019 O imaginrio em Mafalda numa prospeco ps-moderna

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    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Uerj 5 a 9 de setembro de 2005

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    O imaginrio em Mafalda numa prospeco ps-moderna1

    Maria Beatriz Furtado Rahde2

    Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul-Brasil

    Andr Fagundes Pase3

    Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul-Brasil

    Resumo

    As histrias em quadrinhos de Mafalda, criadas pelo desenhista argentino Quino foram

    um instrumento de crtica contra a ditadura que regia seu Pas e enquanto a ps-

    modernidade eclodia, o regime moderno militar era criticado por essa produo

    imagstica e assim, utilizando-se de personagens mirins, Quino prope ensinamentos

    nas falas da turma de Mafalda, que procuramos contextualizar, retratando como

    possvel pensar o surgimento da ps-modernidade, seus processos imaginrios e a sua

    aplicao na criao da personagem.

    Palavras-chave: Histrias em Quadrinhos; Moderno; Imaginrio; Ps-moderno.

    O universo imaginrio em Mafalda

    Na modernidade, em pleno sculo XX, a fonte dos grandes heris da comunicao

    visual surgiu nas histrias quadrinizadas da dcada de 30. Na maioria das vezes

    ignorada pela Histria da Arte, a histria em quadrinhos, popular meio de comunicao,

    nasceu como imagem narrativa, desde o incio das primeiras manifestaes pictricas.

    Apresentando-se com formas artsticas buscou reforo nas correntes das artes plsticas,

    ganhando espao como arte visual de comunicao por meio de diversos artistas: Burne

    Hogarth, de tendncia barroca; Alex Raymond, com seu trao clssico; Harold Foster,pintor paisagista; Chester Gould, com sua viso expressionista (Rahde, 2000).

    1 Trabalho apresentado no NP n 16 Histrias em Quadrinhos no XXVIII Congresso Brasileiro de Cincias daComunicao INTERCOM.2 Maria Beatriz Furtado Rahde professora, doutora e pesquisadora do Programa de Ps-Graduao emComunicao Social da FAMECOS/PUCRS Linha de Pesquisa: Cultura miditica e tecnologias do [email protected]

    Andr F. Pase professor mestre nos Cursos de Graduao da FAMECOS/PUCRS douronando em ComunicaoSocial do Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social da Famecos/PUCRS. [email protected]

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    Muito oportunamente Gombrich (1986) definiu os quadrinhos como "o sonho

    manufaturado", cuja linguagem como meio de comunicao visual extremamente

    narrativa e cnica. Sua compreenso requer experincia e cultura significativas, uma vez

    que os emissores da mensagem, o desenhista e o roteirista, procuram manter uma

    interao com o receptor no momento em que evocam imagens do imaginrio de

    ambos: comunicador e leitor. Esta preocupao perpassou a modernidade que buscava o

    caracterstico e o inusitado para que os heris se tornassem homens daquela poca, sem

    deixar de manter as qualidades fundamentais do deus olmpico, vencedor, oriundo da

    Antigidade clssica.

    Se na modernidade o individualismo do heri popular mtico tudo vencia, na ps-

    modernidade este individualismo cedeu lugar ao coletivo. assim que podemos

    observar que os heris da modernidade foram derrotados pela fora do grupo. Este fato

    foi extremamente marcante durante e aps a 2 Grande Guerra Mundial. Nenhum heri

    solitrio surgiu para salvar a humanidade das atrocidades cometidas, mas hericos

    grupos de indivduos que lutaram em conjunto para a libertao humana, quando a obra

    visual e o poder da comunicao comungaram do mesmo ideal.

    Desta forma foi aps a 2 Grande Guerra, que os criadores dos meios visuais de

    comunicao perceberam a necessidade de mudana nas imagens quadrinizadas, uma

    vez que a desiluso fazia parte do ex-combatente e do leitor desse perodo. Rompendo

    com o mito do heri surgiu Pogo, em 1949, criao de Walt Kelly, um ex desenhista dos

    estdios Disney. Com crticas poltica dos homens, animais moradores do Pntano de

    Okefenokee discutem questes racionalistas e questes humansticas e, maneira de

    Esopo, Pogo, Albert e os demais personagens do pntano se constituem em personagens

    de uma fbula, que aparentam ter como objetivo ensinar e instruir os homens nas suasirracionalidades. Essa foi a primeira grande ruptura da imagem quadrinizada e seu

    processo de comunicao visual repercutiu de forma positiva na mdia. Pogo foi seguido

    de Peanuts, criao de Charles Schulz,no incio dos anos cinquenta, desta vez com

    personagens crianas, cuja figura principal, Charlie Brown, o anti-heri, representante

    do homem comum que, na maioria das vezes, enfrenta grandes fracassos. Charlie

    Brown ao fazer um lanamento errado no beisebol, no conseguindo empinar uma

    pandorga com sucesso cria uma intimidade com o leitor, que tambm no heri, umsujeito falvel com alegrias e tristezas. A essas duas primeiras histrias, surgidas no ps-

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    guerra, acontece o fenmeno Latino -Americano dos anos sessenta, que se chamou

    Mafalda, personagem de uma ps-modernidade ainda emergente na Amrica Latina,

    criada e desenhada por Quino, pseudnimo do argentino Joaquin Lavado. Mafalda

    apareceu pela primeira vez no semanrio Primera Plana, como pgina semanal, em

    setembro de 1964, passando depois para o jornal El Mundo, como tiras dirias, em

    1965. Seu sucesso foi tal que passaram a ser manufaturados e comercializados bonecos,

    brinquedos, brindes. Quino foi, sem dvida, o precursor da comunicao ps-moderna

    na Amrica Latina, um pensador prospectivo do contemporneo, num perodo de

    grandes problemas scio-polticos que a Argentina enfrentava e numa poca em que

    ainda no se falava em ps-modernismo nos pases Sul-Americanos. O autor

    considerado

    x.um pessimista com a poltica. Mas sua personagem a Amrica Latina. Com suasxxxxxxxxqualidades e defeitos. Por isso perene. O constante questionamento de Mafaldaxxxxxxxxmostra sua recusa em ser integrada no mundo adulto que condena. Por outro lado, suaxxxxxxxxprecocidade permite compreender, melhor que os mais velhos, o mundo presente.xxxxxxxx(Moya, 1993, p. 185)

    Esse ilustrador intelectual que transfere suas idias polticas, sociais e culturais para a

    menina Mafalda, deixa de lado sua habitual timidez para expressar sua ideologia nas

    falas de seus personagens.

    Apesar de analfabeta nas primeiras histrias, Mafalda tem sede de conhecimento, deseja

    estudar muito, falar diversos idiomas, fazer cursos de ps-graduao e ser intrprete na

    ONU. Mafalda critica o governo e critica certas futilidades femininas, que so

    representadas por sua amiga de bairro, Suzanita, cujo maior desejo frequentar a alta

    sociedade argentina, casar-se com um mdico muito rico e possuir muitos filhos. A

    turma, liderada por Mafalda, constituda por "filsofos", como, Libertad, Miguelito eFelipe, todos eles preocupados com o bem estar social e cultural, mas toleram um

    aspirante ao alto mundo das finanas, personificado por Manolito, cujos planos para ser

    o grande proprietrio de uma cadeia de supermercados representa e encarna em si, um

    exagerado capitalista, sempre preocupado em tornar-se muito rico. Neste universo

    infantil a crtica e o imaginrio esto presentes, frente s condies sociais precrias que

    a Amrica Latina enfrentava em relao aos pases considerados de primeiro mundo.

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    Com seus desenhos de traos caricatos Quino, com sua origem sulamericana, traz a

    essa srie mundialmente conhecida um calor todo particular (Pillegand, 1996, p. 91).

    O calor particular de que fala Pillegand em sua obra 100 ans de Bande Dessines,

    refletido na stira, na ambigidade, nas angstias de Mafalda e sua turma, que so, j,

    traos da condio ps-moderna, sem as caractersticas hericas da modernidade. E este

    o ponto de quebra e de apresentao de novos elementos paradigmticos na narrativa

    iconogrfica, uma outra esfera de visualidades em que as relaes interculturais esto

    presentes.

    Para melhor caracterizar essas mudanas que esto ocorrendo em nossa visualidade

    contempornea preciso verificar rupturas, desestruturas visuais e textuais, novas

    tecnologias, hibridaes, que a comunicao visual da contemporaneidade est

    vivenciando.

    Distanciando-se da racionalidade de certas tendncias modernistas, a condio ps-

    moderna vem conferindo maiores possibilidades ao homem de despreender-se de um

    pequeno mundo para um universo mais amplo, permitindo estas hibridaes entre tempo

    e espao, entre decantadas verdades imutveis com as incertezas contidas nas poticas

    imaginrias deste outro universo visual e textual, no qual podemos interiorizar e

    partilhar significados.

    O imaginrio de Mafalda atesta essas reflexes, nas suas propostas de uma cultura

    comunitria, da importncia que a personagem confere coletividade.

    Referindo que h uma ntima proximidade entre a cultura e o imaginrio, Maffesoli(2001) confirma que esta nova cultura, que vem perpassando a contemporaneidade,

    coletiva, vinculando-se aos grupos humanos e servindo de alimento aos sonhos

    construdos por estes grupos, que se identificam com os novos heris do cotidiano.

    Se o heri mtico da modernidade, ser nico e solitrio foi marcado pela objetividade e

    o positivismo, pela moralidade, pela busca da emancipao, por uma esttica visual

    autnoma, em oposio s tiranias poltico-sociais, na ps-modernidade diversosmovimentos contraculturais exploraram os domnios individualistas modernos numa

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    profunda mudana na estrutura do sentimento(Harvey, 1992, p. 45), de fragmentaes

    e efemeridades, em que a utopia pela busca de mundos melhores, preconizada pela

    modernidade, d lugar a um status ps-utpico e no qual o imaginrio atua de forma

    coletiva, grupal, no mais pregando o individualismo.

    Os heris ps-modernos, constituem-se em anti-heris, como nas historietas de

    Mafalda: lutam com as incertezas, no so mais os seres invencveis, mas so marcados

    por desconstrues visuais e textuais, demonstrando suas fraquezas ou seu interior

    sensvel.

    A menina Mafalda tornou-se o smbolo do imaginrio mtico de uma Latino Amrica

    que ansiava por liberdade de expresso, por liberdade de escolhas sociais e culturais,

    pela emancipao feminina. A cultura latinoamericana, ainda mantinha, poca, alguns

    padres previamente determinados e destinados mulher: dona de casa, me,

    cumpridora de tarefas domsticas, como grandes e nicas responsabilidades a serem

    cumpridas. A mulher precisava manter o mito da perfeio em relao beleza e ao lar.

    Mafalda questiona esses padres estabelecidos, sem os desprezar, mas, ao mesmo

    tempo, propondo novos caminhos, novos comportamentos. Sem abandonar o modelo

    feminino determinado, a menina explicita que a mulher pode, tambm, ir ao encontro de

    sua prpria identidade, de suas possibilidades intelectuais e culturais. Na dcada de

    sessenta, Quino j apresentava o pensamento ps-moderno com esses questionamentos.

    assim, diz Lyotard (1994), que a condio ps-moderna designa o estado da cultura

    depois das transformaes que afetaram as regras do jogo da cincia, da literatura e das

    artes a partir do sculo XIX ( p. 9), e estas transformaes relacionam-se tambm com

    a crise dos grandes relatos: o valor da verdade era considerado correto se estivesseinscrito na perspectiva de uma unanimidade possvel dos espritos racionais, diz ainda

    Lyotard, e prossegue:

    ...este era o relato das Luzes, onde o heri do saber trabalha para para uma boaxxxxxxxxfinalidade pica-poltica, a paz universal. Neste caso v-se que, ao legitimar o saberxxxxxxxxpor meio de um metarrelato que implica uma filosofia da histria, questiona-se axxxxxxxxvalidez das instituies que regem o lao social: tambm elas exigem serxxxxxxxxlegitimadas....Tm-se por ps-moderna, a incredulidade com respeito aosxxxxxxxxmetarrelatos... [pois] no formamos combinaes lingsticas... estveis... axxxxxxxxheterogeneidade dos elementos. (Lyotard, 1994, p.10).

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    A ponderao de Lyotard sobre a fragmentao e a instabilidade da linguagem na

    condio ps-moderna, esta viso de intuio sobre as grandes verdades institudas no

    modernismo, fortifica o imaginrio dos grupos, na construo mtica que vem se

    manifestando na contemporaneidade.

    Em nome da complexidade e da desconstruo, o ps-moderno explora as mais amplas

    polissemias da percepo e do imaginrio humanos. A busca da liberdade na construo

    e criao das imagens, no segue uma obedincia cega s leis e razo -o valor

    simblico convencional da imagem codificada por regras e normas da escola

    considerada-, como aconteceu na modernidade, mas caminha noutras direes, numa

    unio entre conhecimento e imaginrio que traduz, reinterpreta e, por isso mesmo,

    transforma conceitos estticos em novas formulaes imagsticas.

    Neste contexto hbrido do ps-moderno imagstico-textual-temporal pertinente

    considerar a metamorfose ocorrida nas idias, nas aes, nas reaes do indivduo. H

    um retorno ao humanstico, o reforo de nossas evocaes e prospeces,estabelecendo

    um jogo de distncias e proximidades, de novos efeitos, de novas estticas, de possveis

    memrias imaginrias, unindo transcendncia com imanncia, numa outra visualidade.

    Nesta perspectiva de complexidade e de desconstruo, a condio ps-moderna nos

    leva a conceber, assim, as mais amplas polivalncias da percepo e do imaginrio

    (Rahde, 2001).

    Pouco a pouco estamos conhecendo o universo de maneira mais complexa, uma vez que

    somos no apenas constitudos de conhecimentos, mas tambm de sentimentos;

    possumos crenas, construmos mitos, rituais, fantasias, sonhos, que perpassam o

    imaginrio do mundo tecnolgico em que vivemos e este pensamento complexo, dizMorin (2000), busca distinguir e ligar. No h mais certezas, afirma ainda o autor, desde

    que o dogma de um determinismo universal desmoronou, quando a lgica revelou

    incertezas e impossibilidades.

    Se na modernidade a excluso era uma de suas caractersticas, no contemporneo

    estabeleceu-se a incluso de estilos, mitos, fantasias, que perpassam o pensamento

    complexo, como diz Morin (2000). H uma distino e uma ligao, prossegue o autor.

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    Ao efetuar um levantamento das narrativas imagsticas contemporneas, nelas

    encontramos maior crtica, maiores questionamentos das grandes verdades determinadas

    pelo modernismo, aparecendo mais a ambigidade, a heterogeneidade, o pastiche, entre

    outras, que vm tipificando a representao visual ps-modernista.

    Em Mafalda encontramos quase todos esses traos referidos pelos diversos autores

    citados. Suas caractersticas marcantes diz Luyten (1984) so formadas pelo aspecto

    poltico e pela existencialidade. Sua capacidade de penetrao nos mundos imaginrios

    conferem personagem um ser no mundo real e imaginal, ao qual refere Maffesoli

    (1995), num movimento constante de ser criana e ter, ao mesmo tempo, a capacidade

    de elaborar pensamentos filosficos, tornando-se assim uma hibridizao da condio

    humana: uma criana com o intelecto extremamente desenvolvido para sua existncia

    infantil, perpassada por heterogeneidades, ironias, angstias, alegrias, revelando, ao

    mesmo tempo, sua alta erudio, quando prope ensinamentos aos seus companheiros

    de bairro.

    Nesta direo podemos afirmar que Mafalda e seus amigos so crticos frente ao

    contexto socio-poltico-cultural; satirizam e socializam com seu grupo, o contexto da

    Amrica Latina, frente aos padres imperialistas; os dilogos dos personagens de Quino

    so inteligentes e questionadores, sem as caractersticas individualistas do modernismo;

    no contexto das historietas h inmeras referncias ao imaginrio, s novas tecnologias,

    numa prospeco ao momento contemporneo e esses personagens so ambguos,

    heterogneos, numpastiche da sociedade em que se inserem.

    Por meio das falas desse grupo, Quino prope discusses claras sobre problemas

    sindicais, greves, desemprego, leis de aposentadoria, numa perspectiva de participaoe de interatividade, tudo isto mesclado com humor e ironia, que fazem parte da

    linguagem da comunicao ps-moderna. A autonomia se faz presente pelo

    compartilhamento social do imaginrio de Mafalda com seu grupo e com o qual

    participa ativamente no contexto sociocultural.

    Essas caractersticas de Mafalda merecem ser refletidas e estudadas como j uma

    representante da condio ps-modernista na Amrica Latina, talvez uma das primeirasmanifestaes da nova comunicao intercultural de que se tem notcia e que, por ser

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    composta de tiras quadrinizadas, ainda no recebeu a devida importncia, apesar de sua

    repercusso e reconhecimento mundial.

    Consideraes finais

    As referncias de Joaquin Lavado, o Quino criador de Mafalda, remetem ao momento

    vivido pelo autor, falando por meio de seus personagens caricatos e com os quais

    recriou o processo visual da comunicao, liberto das convenes determinadas pelas

    grandes narrativas da modernidade.

    Os anos de chumbo da Amrica do Sul, no resistiram fora da liberdade, que surgiu

    na forma de crises e das lutas populares como as Mes da Praa de Maio em Buenos

    Aires, que resistem at hoje para exigir justia para os crimes cometidos nessa Idade

    Mdia latina - e definharam enquanto a ps-modernidade ganhava as suas. A Braslia

    dos generais foi a mesma dos jovens quie se reuniam em turmas para a fgormao de

    bandas de punk rock e, enquanto o Congresso Nacional brasileiro escolhia Tancredo

    Neves para presidente, o Batman ps-moderno de Frank Miller provocava uma

    revoluo nas chamadas revistas de super-heris das bancas.

    Foram-se os generais, seqelas graves permaneceram e a crtica arquitetada com humor

    por Quino perduram at hoje. A mscara do heri moderno usada pelos homens dos

    tanques e farda verde caiu e revelou um vilo ps-moderno, como j estava colocado

    nas tiras.

    Mafalda, a herona ou anti-herona - j apresentando caractersticas do contemporneo

    ps-moderno lida at hoje, com reedies de suas historietas. Se a ditadura, sejaargentina ou brasileira, por exemplo, ficou marcada negativamente, as histrias em

    quadrinhos desse perodo so cultuadas. A crtica no mais a mesma, o contexto

    diferente, mas a condio ps-moderna permite que o leitor ainda entenda a mensagem

    e se emocione com os desenhos e as tiras de Quino.

    A liberdade desenhada foi mais forte que os regimes militares. Uma simples criana,

    armada com a crtica feroz uma das armas mais letais j criadas pelo homem at

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    hoje permanece o smbolo da democracia e serve como lastro para que as trevas no

    voltem mais.

    Referncias Bibliogrficas

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