o grande fluxo de informaÇÃo e a nova era tecnolÓgica: mudanÇas ocasionadas na comunicaÇÃo
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Artigo sobre o grande fluxo de informação que caracteriza o século XXI e seus efeitos na sociedade. O presente trabalho também aborda o jornalismo online, o excesso de publicidade, a interatividade da comunicação social via redes sociais e as mudanças que estes causam no cotidiano das massas.TRANSCRIPT
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SULFACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIALDISCIPLINA DE JORNALISMO ONLINE II
DEBORAH CATTANI GERSON
O GRANDE FLUXO DE INFORMAÇÃO E A NOVA ERA TECNOLÓGICA: MUDANÇAS OCASIONADAS NA COMUNICAÇÃO
Porto Alegre2010
O GRANDE FLUXO DE INFORMAÇÃO E A NOVA ERA TECNOLÓGICA: MUDANÇAS OCASIONADAS NA COMUNICAÇÃO
Deborah Cattani1
RESUMO
Artigo sobre o grande fluxo de informação que caracteriza o século XXI e seus
efeitos na sociedade. O presente trabalho também aborda o jornalismo online, o
excesso de publicidade, a interatividade da comunicação social via redes sociais e as
mudanças que estes causam no cotidiano das massas.
Palavras-chave: Jornalismo online; Redes Sociais; Fluxo de informação;
Analfabetismo.
ABSTRACT
Article about the flood of information, that characterizes the twenty-first century, and
its effects on society. This paper also approaches online journalism, excess
advertising, interactive media through social networks and the changes they have
caused in the people’s daily lives.
Keywords: Online Journalism; Social Networking; Information flow; Illiteracy.
1 Acadêmica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) do curso de Comunicação Social, bacharelado em Jornalismo.
2
Em tempos de tecnologia e agilidade no fluxo de informações, surgem muitas
questões quanto à qualidade do conteúdo. Porém, será que é o conteúdo que perdeu
sua habitual propriedade, ou é o ser humano que tem sua capacidade de assimilação
confundida e ludibriada pela enorme quantidade de acontecimentos?
Antigamente, a comunicação era restrita às pessoas que tinham o poder do
conhecimento. Mas, a informação era fabricada com longos intervalos de tempo. À
medida que a tecnologia aumentou, o número de leitores cresceu e as mídias se
difundiram ganhando importância no cotidiano das pessoas, a quantidade de
informações triplicou. A aldeia global de Marshall McLuhan deixou de ser uma utopia
e exemplificou o sistema moderno.
Contudo, Júnior (2001, p. 53) acredita que o jornalismo televisivo tem muitos
obstáculos a enfrentar, pois o que se fixa na memória do telespectador são apenas
flashes. Em 1954, quando as primeiras televisões coloridas começaram a ser
introduzidas no mercado, a programação era escassa e não chegava a dez horas de
duração.
Hoje em dia, são milhares de bytes por segundo, colorindo as telas de
computadores, celulares e outros aparelhos conectados à internet. O ganho
tecnológico, nos últimos 50 anos, foi tão grande que causou uma divisão entre os
seres humanos: os nativos da era pós-internet afrontam aqueles que viram o meio
digital engatinhar.
O sistema de codificação mudou, a base mudou e, conseqüentemente, a
linguagem também sofreu modificações. Porém,
É a linguagem que condiciona o homem, sua forma de agir e de se relacionar com o mundo e com os outros homens – com a cultura, enfim, aqui entendida em seu sentido mais amplo, como o ambiente construído pelos homens segundo seus próprios códigos, linguagens que agem sobre os corpos e delimitam o seu campo de percepção. (JÚNIOR, 2001, p. 85)
A educação e a alfabetização não acompanharam essa evolução. Em 2000,
33% da população brasileira continuava analfabeta.2 Outro estudo, feito pela 2 Mapa do Analfabetismo no Brasil, pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) em 2001. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/estatisticas/analfabetismo/>.
3
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)3, envolveu 32
países visando medir a capacidade de leitura em 256mil estudantes. A pesquisa
mostrou que os alunos brasileiros foram capazes de identificar letras, palavras e
frases, mas não de compreender o sentido do que leram.
A inclusão digital não se trata apenas da disseminação do acesso. Como toda
ferramenta nova, necessita de treinamento, qualificação. Mesmo aqueles que têm
facilidades econômicas para ingressar na vida digital precisam conhecer a distinção
entre informação e entretenimento.
Carr (2010) afirma que os indivíduos não absorvem conhecimento enquanto
conectados, muitas vezes por causa do excesso de hyperlinks e interatividade,
outras pela dificuldade de se encontrar a informação pura. Em seu último livro ele
explica que:
Quando transportados para o reino do intelecto, o ideal de eficiência industrial coloca, como Hawthorne compreendia, uma ameaça potencialmente mortal para o ideal pastoral do pensamento contemplativo. Isso não significa que a promoção da descoberta rápida e recuperação de informação é ruim. Não é. O desenvolvimento de uma mente bem-arredondada exige uma capacidade de localizar e analisar rapidamente uma ampla gama de informações e uma competência de reflexão em aberto. É preciso haver tempo para a coleta de dados eficiente e tempo para a contemplação ineficiente, tempo para operar a máquina e tempo para ficar parado no jardim. Precisamos trabalhar no "mundo dos números" do Google, mas também precisamos ser capazes de nos retirarmos para Sleepy Hollow. O problema hoje, é que nós estamos perdendo a nossa capacidade de encontrar um equilíbrio entre esses dois estados de espírito muito diferentes. Mentalmente, estamos em locomoção perpétua.4 (CARR, 2010)
A internet é um mundo atrativo, recheado de entretenimento e distrações. As
pessoas entram em busca de informação e acabam se perdendo em tantas páginas
e cliques. Por causa disso, o tempo médio gasto com a leitura online aumentou. Uma
amostra feita na University of California, nos Estados Unidos (EUA), pela Global
Último acesso em 26 set. 2010.3 Pesquisa publicada no jornal do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. Disponível em: <http://www.braudel.org.br>. Último acesso em 26 set. 2010.4 Tradução da autora.
4
Information Industry Center aponta que os americanos passam 11,8h por dia se
atualizando5.
Carr (2008) questiona os sistemas de busca da internet. Na visão dele, esses
sites fazem com que as pessoas se esforcem menos na busca pelos dados. O autor
diz que:
[...] a internet está se tornando um meio universal, a canalização para a maioria da informação que flui através dos meus olhos, ouvidos e minha mente. As vantagens de ter acesso imediato a tal loja incrivelmente rica de informações são muitas, e elas têm sido amplamente descritas e devidamente aplaudidas. [...] Mas essa vantagem tem um preço. Como o teórico de mídia Marshall McLuhan apontou na década de 1960, a mídia não são apenas canais passivos de informação. Eles fornecem o material do pensamento, mas também moldam o processo. E o que a internet parece estar fazendo vem corroendo a minha capacidade de concentração e contemplação. Minha mente agora espera absorver informação da maneira como a internet vem distribuindo: em um fluxo de partículas que se deslocam rapidamente. Antes eu era um mergulhador no mar das palavras. Agora eu me sinto ao longo da superfície, como um cara em um jet ski. (CARR, 2008)6
A utilização das redes sociais pela mídia contribuiu para o paradigma. O
jornalismo se misturou a publicidade. O lançamento de informações em redes
sociais, minuto a minuto, por veículos de comunicação nada mais é do que a
promoção destes. Quando duas linguagens diferentes se assemelham o que
acontece com o indivíduo que deve processá-las?
O jornalismo sofreu inúmeras reformas ao longo do século XX, com a
finalidade de se adequar às novas plataformas que iam surgindo. Esses reparos
melhoraram muitos aspectos da comunicação. Entretanto, causaram a fusão de
linguagens antes muito distintas.
O cérebro humano teve que se adaptar a todas essas mudanças, que não
foram poucas. O estranhamento causado pelos novos símbolos e códigos foi
tamanho que até hoje existe uma resistência – pessoas que não conseguem migrar e
continuam utilizando antigas ferramentas.5 Pesquisa realizada em 2008, disponível em: <http://hmi.ucsd.edu/howmuchinfo_research_report_consum.php>. Último acesso em 26 set. 2010.6 Tradução da autora.
5
Pinker (2010) defende que a internet e seu crescimento não causam nenhum
efeito colateral direto no ser humano. Segundo ele, as pessoas têm que conhecer os
seus próprios limites e a partir disso respeitá-los. O autor exemplifica citando outras
tecnologias discriminadas:
[...] os pânicos são muitas vezes incapazes de por em cheque a realidade básica. Quando os quadrinhos foram acusados de transformarem adolescentes em delinquentes juvenis em 1950, o crime caiu para níveis recordes, assim como as denúncias contra videogames na década de 1990 coincidiram com o grande declínio da criminalidade americana. As décadas de televisão, rádios e vídeos de rock também foram décadas em que o QI do ser humano aumentou continuamente.7
Para o autor, o fluxo constante de informação pode ser uma distração ou um
vício, principalmente para as pessoas com déficit de atenção. Todavia, ele acredita
que: “[...] a distração não é um fenômeno novo. A solução não é banalizar a
tecnologia, mas desenvolver estratégias de autocontrole, como fazemos com todas
as outras tentações da vida.”8
O jornalismo ainda se encontra em fase de adaptação, assim como as
pessoas, nessa nova plataforma. Agora as atenções estão voltadas para o paradoxo
do crescimento desenfreado versus a estagnação da pobreza, que aos poucos
começa a se tornar um ponto forte nessa mudança. Todos precisam fazer parte da
novo meio, para que este se estabeleça completamente. Huassen (1993) esclarece
que:
A identidade cultural duma comunidade é a forma específica com a qual a comunidade – através de seus símbolos, instrumentos, normas, regras, expressões artísticas, vida e etilos de trabalho e padrões de interação social – se adapta a um dado ambiente. Para todas as comunidades, o meio ambiente muda constantemente: o que é apropriado num devido tempo torna-se totalmente inapropriado se ocorrer mudança. (HAUSSEN, 1993, p. 7)
7 Tradução da autora.8 Tradução da autora.
6
A fusão de linguagens no passado se mostrou efetiva. A evolução tecnológica
ao longo do século XX trouxe um patamar excelente para o jornalismo. As coberturas
de guerras e eventos violentos causaram mudanças comportamentais e permitiram
ao mundo evitar novos conflitos. A aproximação prevista por McLuhan fez com que
as pessoas conhecessem melhor o mundo a sua volta.
Mas, o jornalismo tem como responsabilidade reportar eventos diários. E com
o avanço da internet e a queda do meio impresso, a questão da comunicação
ganhou um ponto de vista econômico: se promover passou a ser questão de
sobrevivência. Uma página de jornal cheia de anúncios é facilmente reconhecida.
Porém a publicidade e a divulgação online ganham novos formatos dificultando a
percepção do navegador entre aquilo que é entretenimento e o que é informação.
A educação entra com um papel importante para o futuro, pois é ela que
estabelecerá aos novos nativos como se utiliza corretamente a ferramenta. A
adaptação do jornalismo impresso para o digital também deverá ser cautelosa e
ampla, afinal ainda há um grande contingente de indivíduos que se alimentam da
informação mais acessível, mais barata.
O custo da implementação da nova base e a própria adaptação da sociedade
será um movimento que lidará com diversas diretrizes da sociedade em si. Não é
apenas uma questão de comunicação e educação. A modificação exige uma nova
forma de pensamento. Muitas profissões vão morrer. Muitas novas profissões vão
surgir.
O próprio jornalismo sofrerá uma mutação na sua linguagem, uma vez que a
internet demanda agilidade. Aos poucos, textos longos e cansativos serão cada vez
mais escassos. Vídeos curtos com pequenas reportagens se alastrarão. Até a
publicidade terá de se apropriar para driblar a monotonia e os eventuais hackers.
Será como a transição do rádio para a televisão, talvez não tão lenta, já que hoje em
dia algumas outras tecnologias também evolucionaram.
O importante é estar sempre em busca de um equilíbrio entre os nativos e
aqueles que estão aprendendo a lidar com a internet agora. O jornalismo deve tentar
ser sempre uma ferramenta social, ao alcance de todos.
7
REFERÊNCIAS
BOHN, Roger E.; SHORT, James E.. How Much Information? 2009 Report on American Consumers. Global Information Industry Center University of California, San Diego: 2008. Disponível em: <http://hmi.ucsd.edu/howmuchinfo_research_report_consum.php >, último acesso em 26 set. 2010.
BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
CARR, Nicholas. Is Google making us stupid?. The Atlantic, Washington, jul./ago. 2008. Disponível em: <http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2008/07/is-google-making-us-stupid/6868/>, último acesso em: 26 set. 2010.
CARR, Nicholas. The shallows: what the internet is doing to ours brains?. New York: W. W. Norton & Company, 2010.
HAUSSEN, Dóris Fagundes. Sistemas de comunicação e identidades da América Latina. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1993.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Mapa do Analfabetismo no Brasil. Brasília: 2001. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/estatisticas/analfabetismo/>, último acesso em 26 set. 2010.
LITTLEJOHN, Stephen W.. Fundamentos teóricos da comunicação humana. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
JÚNIOR, José Arbex. Showrnalismo: a notícia como espetáculo. São Paulo: Casa Amarela, 2001.
PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005.
PINKER, Steven. Mind over mass media. The New York Times, New York, jun. 2010. Disponível em: <http://pinker.wjh.harvard.edu/articles/media/Mind%20over%20Mass%20Media%20NY%20Times%20Op%20Ed%202010.html>, último acesso em: 27 set. 2010.
SANTOS, Roberto E. dos. As teorias da comunicação. São Paulo: Paulinas, 2008.