o grande cisma do ocidente

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IDADE MODERNA, 1 IDADE MODERNA, 1 Uma época de crise abriu-se com o choque entre o Papa Bonifácio VIII (1294-1303) a favor de uma teocracia pontifícia e o rei de França, Fi- lipe o Belo. [XVIII, 4] Século XIII: problemas dos Papas Gregório IX (1227-1241) e Ino- cêncio IV (1243-1254) com o Imperador Frederico II (+ 1250), cu- jos domínios rodeavam os Estados Pontifícios. Foi um conflito vio- lento que dividiu a Itália em dois bandos: os “guelfos” partidários do Papa e os “gibelinos” seguidores do Imperador. Estas lutas feriram de morte o regime da Cristiandade medieval. [XVIII, 1] Cume da crise: o conselheiro de Filipe, Guiller- me de Nogaret, fez prisioneiro, em Anagni, ao pontífice, que morreu passado um mês . [XVIII, 4] HI 35 de 71

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Page 1: O grande cisma do ocidente

IDADE MODERNA, 1IDADE MODERNA, 1

Uma época de crise abriu-se com o choque entreo Papa Bonifácio VIII (1294-1303) a favor deuma teocracia pontifícia e o rei de França, Fi-lipe o Belo. [XVIII, 4]

Século XIII: problemas dos Papas Gregório IX (1227-1241) e Ino-cêncio IV (1243-1254) com o Imperador Frederico II (+ 1250), cu-jos domínios rodeavam os Estados Pontifícios. Foi um conflito vio-lento que dividiu a Itália em dois bandos: os “guelfos” partidários doPapa e os “gibelinos” seguidores do Imperador. Estas lutas feriramde morte o regime da Cristiandade medieval. [XVIII, 1]

Cume da crise: o conselheiro de Filipe, Guiller-me de Nogaret, fez prisioneiro, em Anagni, ao pontífice, que morreu passado um mês . [XVIII, 4]

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Page 2: O grande cisma do ocidente

IDADE MODERNA, 2IDADE MODERNA, 2

Clemente V (1305-1314) transplanta oPapado para Avinhão: ficou sob o domínio francês. Foram franceses os sete papas que ali se sucederam e quase noventa por cento dos cardeais. [XVIII, 4 - 5]

Regresso do Papa a Roma: anseio dos melhoresespíritos da época, desde Santa Catarina deSena e Santa Brígida, a Petrarca. [XVIII, 8]

A pacificação dos Estados Pontifícios pelo carde-al Gil de Albornoz facilitava o regresso. Por fim, Gregório XI (1370-1378) abandonou Avinhão e fez a sua entrada em Roma em 1377. [XVIII, 8]

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IDADE MODERNA, 3IDADE MODERNA, 3

Cisma do Occidente, 1

Quando morreu Gregório XI, o povo romano desejavaardentemente a eleição de um papa italiano. Num climade paixão popular, o conclave (com grande maioria defranceses) elegeu no dia 8 de Abril de 1378 o italianoBartolomeu Prignano, que tomou o nome de Urbano VI(1378-1389). [XIX, 2]

A

Poucos meses mais tarde, a maioria francesa do SacroColégio abandonou Roma e denunciou como inválida a recente eleição papal. Em Setembro, designaram papa a um deles que tomou o nome de Clemente VII(1378-1394). Este instalou-se em Avinhão, os dois papas eleitos excomungaram-se um ao outro e o Cisma ficou aberto. [XIX, 2]

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IDADE MODERNA, 4IDADE MODERNA, 4

Em 1408, depois de 30 anos de Cisma, GregórioXII era Papa em Roma e Bento XIII (Pedrode Luna), encabeçava a obediência de Avinhão.Um grupo de cardeais romanos e outro de Cardeais de Avinhão resolveram celebrar um concílio para pôr fim ao Cisma. [XIX, 4]

Cisma do Ocidente, 2

O concílio, reunido em Pisa em 1409, declarou depostos os doispontífices e elegeu um novo Papa, Alexandre V. Mas os papas deRoma e Avinhão recusaram-se a abdicar, com o que a Cristandadeficou dividida em três obediências. [XIX, 4]

O Imperador alemão Segismundo obteve do “papa de Pisa” JoãoXXIII, sucessor de Alexandre V, a convocação do concílio ecu-ménico de Constança. [XIX, 4]

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IDADE MODERNA, 5IDADE MODERNA, 5

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Cisma do Ocidente, 3

Constança: votação não por cabeças, mas por nações:um voto por cada nação e outro mais do Colégio decardeais. [XIX, 5]

O Papa João XXIII, convidado a abdicar, recusou fazê-lo e fugiu de Constança. [XIX, 5]

O concílio fez a sua doutrina conciliarista, queafirmava a superioridade do concílio universalsobre o Papa. [XIX, 5-7]

Elegeu o Papa Martinho V (11.XI.1417), reconhecido por toda a cristandade: fim do cisma. Mas o Papa não confirmou os decretos conciliaristas. [XIX, 7-8]

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IDADE MODERNA, 6IDADE MODERNA, 6

As doutrinas conciliaristas enfrentaram o Papa Eugénio IV(1431-1447) no Concilio de Basileia, que se converteu poucoa pouco numa assembleia de clérigos, com uma percentagem mínima de bispos. [XIX, 8]

Os conciliares de Basileia chegaram à ruptura com o Papa, quedeclararam deposto, elegendo como antipapa o duque Amadeu de Saboia , que tomou o nome de Félix V. Eugénio IV condenou o «conventículo» e a doutrina conciliarista. Todos os reinos cristãos abandonaram o grupo cismático. A crise do concili-arismo terminou com uma clara reafirmação do Primadoromano. [XIX, 8]

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Page 7: O grande cisma do ocidente

IDADE MODERNA, 7IDADE MODERNA, 7

Várias circunstâncias prepararam a reforma de Lutero: [XXI, 2]

- as doutrinas conciliaristas, o democratismo eclesial, a filosofianominalista, o Cisma do Ocidente;- Na ordem política: os conflitos entre papas e imperadores, oauge dos nacionalismos eclesiásticos;- decadência moral do clero na Alemanha, em especial do episcopado (monopólio efectivo da nobreza);- a debilidade do poder soberano, num império fragmentadonum sem-fim de principados e cidades;- sobretudo o ressentimiento contra Roma (elenco de agravose querelas da nação alemã contra a Cúria romana).

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IDADE MODERNA, 8IDADE MODERNA, 8

Lutero (1483-1546) sentia uma angustiosa an-siedade por assegurar a sua salvação.Formou--se na teologia ockhamista, que ao mesmo tempo que proclamava o voluntarismo arbi-trário de Deus, sustentava que a vontade livre do homem bastava para cumprir a Lei divina e salvar-se. Mas ele considerava-se incapaz de superar a concupiscência apenas com as suas forças. [XXI, 3]

A meditação de Rom 1, 17Rom 1, 17 (“o justo vive da fé”) fez sair Lutero da sua profunda crise de angústia: acreditou entender que Deus misericordioso justificava o homem através da fé (fé fiducial).Sobre esta base construiu um sistema doutrinal em aberta contra-dição com a tradição da Igreja. [XXI, 3-4]

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IDADE MODERNA, 9IDADE MODERNA, 9

Para Lutero: [XXI, 4]

- a natureza humana ficou radicalmente corrompida pelo pecado;- a justificação (dimanando só da fé) não seria uma sanação interior do homem, mas uma declaração de Deus recobrindo-o graciosamente com os méritos da morte de Cristo;- as obras do homem de nada serviriam para a salvação;- nem o sacerdócio ministerial teria razão de ser, nem a maioria dos sacramentos, nem os votos monásticos, nem o Papado, invenção máxima do Anticristo.

A Igreja não seria depo-sitária nem intérprete daRevelação. Única fonteda Revelação: “só a Escritura”.

A interpretação daEscritura corresponde-ria a cada fiel em par-ticular, directamenteinspirado por Deus.

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IDADE MODERNA, 10IDADE MODERNA, 10

Processo histórico da Reforma na Alemanha, 1

A pregação pelos dominicanos de indulgências para obteresmolas destinadas às obras da basílica de S. Pedro suscitou a repulsa de Lutero, frade agostinho e professor em Wittenberg. Publica 97 teses contra a Teología escolástica (4.IX.1517) e envia ao arcebispo de Mogúncia, na véspera do dia de Todos os Santos 95 teses sobre as indulgências. [XXI, 7]

Recusou apresentar-se em Roma. Crescimento da sua fama.Apresenta-se nas dietas imperiais de Augsburgo (1518) e Leipzig (1519). [XXI, 7]

1519: Carlos V Imperador. Lutero publica em 1520 três es-critos que implicavam a ruptura aberta com a Igreja: “Ànobreza cristã da nação alemã”, “Do cativeiro de Babilónia da Igreja”, “Da liberdade do cristão”. [XXI, 7]

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IDADE MODERNA, 11IDADE MODERNA, 11

Processo histórico da Reforma na Alemanha, 2

Na dieta de Worms (1521), Carlos V e Luteroencontraram-se frente a frente. Lutero: “não possonem quero retratar-me”. [XXI, 8]

O luteranismo foi conquistando com rapidez prin-cipados e cidades. Na “Guerra dos camponeses”Lutero toma o partido dos senhores e exorta os príncipes a assumir o poder eclesiástico nos seus Estados. Em 1546 morre Lutero. [XXI, 9]

Vitória de Carlos V em Mühlberg (1547). Traição de Maurício da Saxónia obriga Carlos V a conceder a liberdade religiosa aos lutera-nos (tratado de Passau, 1552). Paz de Augsburgo (1555): igualdade de direitos (príncipes decidem a confissão no seu território). [XXI, 9]

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Na Suiça alemã, Zwinglio, pároco de Glaris (1484-1531), moveudesde 1518 a sua própria revolta religiosa. Lutero considerava-ocomo “um homem não cristão”, sobretudo pela sua doutrina dapresença meramente simbólica de Cristo na Eucaristia. [XXII, 2]

Calvino (1509-1564) levou até às últimasconsequências as premissas fundamentais da doutrina protestante. A corrupção insanável do homem e o voluntarismo divino absoluto conduziam à doutrina da predestinação. A verdadeira Igreja seria a congregação dos predestinados. Sinal de favor divino e indício de predestinação: a prosperidade nos negócios temporais. [XXII, 3]

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A Reforma católica é posterior no tempo à Reforma pro-testante. Um país ocidental surge como vanguarda na Reforma católica: a Espanha dos Reis Católicos. EmItália apareceu a figura dos clérigos regulares (vivem emcomunidade e emitem os três votos religiosos, mas não usamhábito nem assistem ao coro): ordem dos teatinos (1524), e ados barbanitas (1534), por exemplo. [XXIII, 1-2]

Fundação da Companhia de Jesus por Santo Inácio de Loyola (1499-1556). Em 1540, Paulo III aprovou-a como uma ordem de cléri-gos regulares, com a finalidade da propagaçãoda fé e o ensino da doutrina. Quarto voto. Rápido desenvolvimento. Serviços de grande importância ao Pontificado. [XXIII, 3]

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O impulso de renovação espiritual no sécu-lo XVI atingiu as antigas Ordens: Francisca-nos (São Pedro de Alcántara), Beneditinos (abade Garcia de Cisneros), Carmelo (Santa Teresa de Jesus). Na Itália nasceram os Capuchinhos, como um novo ramo do tronco franciscano. [XXIII, 4]

Acontecimento central da Reforma católica: o Concílio de Trento. O Papa Paulo III (1534-1549) desejava que se tratassem em pri-meiro lugar os temas doutrinais e Carlos V as questões discipli-nares de reforma eclesiástica. Trataram-se as duas matérias simul-taneamente. Durou de 1545 a 1563, em três etapas. [XXIII, 5-6]

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IDADE MODERNA, 15IDADE MODERNA, 15

AO imenso Império espanhol da América e Extremo Orientefoi campo privilegiado para a expansão cristã. [XXIV, 5]

O dinamismo tridentino impulsionou também: a constitui-ção, por iniciativa de São Pío V (1566-1572), da Liga Santa,que venceu os turcos em Lepanto; a reconquista religiosade uma porção considerável das populações do Centro daEuropa (Suiça francesa, Áustria, Baviera, Polónia, Boémia);o final das guerras de religião na França. [XXIV, 6]

A guerra dos Trinta Anos (1618-1648): Espanha e o Im-pério contra os príncipes protestantes. França interveio einclinou a balança a favor dos príncipes protestantes (apesarde ser governada por cardeais: Richelieu, + 1642; Mazzarino, + 1661). Tratados de Westfália. [XXIV, 7]

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IDADE MODERNA, 16IDADE MODERNA, 16

Século XVII: França sucede a Espanha co-mo primeira potência europeia. Guerras de religião acabaram num compromisso: Hen-rique IV converteu-se ao Catolicismo e os huguenotes receberam com o Édito de Nan-tes (1598) um estatuto de tolerância. [XXV, 1]

Época de esplendor religioso: São Francisco deSales (1567-1622), São Vicente de Paulo (1581-1660), São João Baptista de la Salle (1651-1719),reforma do Cister dá origem à Trapa. [XXV, 1]

Disputas teológicas: a controvérsia de auxiliis (Luís de Molina - Báñez): intervenção dePaulo V (1605-1621). [XXV, 3]

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Cornélio Jansénio, professor da Universidade de Lovaina edepois bispo de Ypres (+ 1638) expôs no seu tratado “Augus-tinus” uma doutrina sobre a Graça fundada nas mais rígidasteses de Santo Agostinho contra Pelágio: irresistível força daGraça nos predestinados e impotência do homem obter asalvação. Consequência: estrito rigorismo moral e sentimentode “temor e tremor” nas relações com Deus. [XXV, 4]

Século XVII: o quietismo de Miguel de Molinos (1628--1696); controvérsias sobre os ritos malabares e chineses; o processo de Galileu. [XXV, 7-8]

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Luís XIV (1638-1715) derrogou o Édito de Nan-tes, acabando assim com a anterior tolerância para com os huguenotes. Mas entrou em conflito com o Papa Inocêncio XI, ao pretender estender a todos os bispados e benefícios vagos os direi-tos de regalia a favor da coroa. O episcopado francês pôs-se ao lado do rei. [XXVI, 3]

Bossuet compôs os quatro “Artigos orgânicos” (1682), quinta essên-cia do Galicanismo. O Regalismo estendeu-se também aos países germânicos (“Febronianismo”: de Febrónio, pseudónimo usado pelo bispo auxiliar do bispo de Tréveris) e à Áustria (“Josefismo”: de José II da Áustria). Tentativa de estender o Josefismo ao Grão Ducado da Toscana: Sínodo de Pistoya. [XXVI, 3-7]

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1680-1715: grande mudança de ideias e de mentalidades que iluminou a Ilustração anticristã do século XVIII. Factores desencadeantes:

- Descartes (1596-1650) proclamava como princípio do discursohumano a dúvida metódica e a rejeição de tudo aquilo que não seimpusesse com evidente clareza ao julgamento da razão. Excluía dadúvida a verdade religiosa, mas o racionalismo posterior acabariapor negar valor ao conhecimento fundado na fé e na Revelação. Apa-rição dos “libertinos” (nada seguro, nada certo). [XXVII, 2-3]

- Crítica de Spinoza contra a Bíblia: põe em dúvida o valor histórico dos livros revelados, os milagres e a ordem sobrenatural. [XXVII, 4]

- Substituição da Religião revelada por uma mera religião natural(Deísmo). [XXVII, 4]

- Maçonaria fundada na Inglaterra: combatia a religião positiva (em especial o Cristianismo). Condenada por Clemente XII (1738). [XXVII, 4]

- Ódio ao Cristianismo: Voltaire (1694-1778) e os filósofos. [XXVII, 5]

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O ideário da Ilustração era também anti-cristão pela sua total rejeição da verdade dogmática, que considerava “a priori” como expressão de intolerância e fanatismo. [XXVII, 6]

Em França, instrumento decisivopara a “popularização” da ideologia“ilustrada” foi a “Enciclopédia”, projectada por Diderot e D’Alem-bert e levada a cabo entre 1751 e 1772 por uma equipa de redactores (os “enciclopedistas”). [XXVII, 7]

Enciclopédia: alegava a incompatibilidade do Cristianismo com as ciências experimentais ou as exigências da razão. Na Alemanha: movimento ilustrado (a “Aufklärung”); cristianismo “razoável”, sem dogmas nem milagres. [XXVII, 7-8]

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