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Revista Científica do UniRios 2021.1 |11 O GÊNERO ATA: Uma descrição de elementos enunciativos no ensino de espanhol para fins específicos Andréia C. Roder Carmona Ramires Doutora em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina Universidade Estadual do Paraná - Campus Apucarana Centro de Ciências Sociais Aplicadas GPEL: Grupo de Pesquisa Estudos do Léxico: Descrição e Ensino E-mail: [email protected] Viviane Cristina Poletto Lugli Doutora em Letras pela Universidade Estadual de Maringá Professora de língua espanhola no Curso de Secretariado Executivo Trilíngue Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Letras Modernas E-mail: [email protected] RESUMO O objetivo deste artigo foi demonstrar dados referentes aos mecanismos enunciativos encontrados no gênero Ata, considerado um modelo de referência para o ensino/aprendizagem de espanhol em cursos de Secretariado Executivo. Fundamentado na teoria do interacionismo sociodiscursivo (BRONCKART,1999; DOLZ & SCHNEUWLY, 2004; DOLZ, 2009), este trabalho identificou o tipo de discurso que materializa o gênero e as sequências textuais, assim como as funções dos verbos “creer” e “deber”, considerados mecanismos enunciativos, marcadores de modalizações. Metodologicamente, a pesquisa se caracteriza como diagnóstica. Os resultados demostram que o verbo “creer”, ao expressar-se com a forma “creo que”, funciona como uma modalização pragmática no gênero, e o verbo “deberapresenta um número maior de ocorrências com o sentido de modalizador deôntico, refletindo uma imposição de ações a serem cumpridas. Por meio desses dados, observamos que há uma padronização semântica no uso desses mecanismos enunciativos, a qual está vinculada à situação comunicativa que motiva o uso desses elementos textuais no gênero. Palavras-chave: Gênero. Modalizadores. Efeitos de sentido. RESUMEN EL GÉNERO ACTA: Una descripción de elementos enunciativos en la enseñanza de español para fines específicos Este estudio tiene como objetivo demostrar datos referentes a los mecanismos enunciativos dispuestos en el género Acta, considerado un modelo de referencia para la enseñanza/aprendizaje de español en carreras de Secretariado Ejecutivo. Basado en la teoría del interaccionismo sociodiscursivo (BRONCKART, 1999; DOLZ & SCHNEUWLY, 2004; DOLZ, 2009), esta investigación identificó el tipo de discurso que constituye el género, las secuencias textuales y las funciones del verbo “creery “deber”, considerados mecanismos enunciativos, marcadores de modalizaciones. Metodológicamente, la investigación se caracteriza como diagnóstica. Los resultados demuestran que el verbo “creer”, al expresarse con la

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O GÊNERO ATA: Uma descrição de elementos enunciativos no ensino de espanhol para

fins específicos

Andréia C. Roder Carmona Ramires

Doutora em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina

Universidade Estadual do Paraná - Campus Apucarana

Centro de Ciências Sociais Aplicadas

GPEL: Grupo de Pesquisa Estudos do Léxico: Descrição e Ensino

E-mail: [email protected]

Viviane Cristina Poletto Lugli Doutora em Letras pela Universidade Estadual de Maringá

Professora de língua espanhola no Curso de Secretariado Executivo Trilíngue

Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Letras Modernas

E-mail: [email protected]

RESUMO

O objetivo deste artigo foi demonstrar dados referentes aos mecanismos

enunciativos encontrados no gênero Ata, considerado um modelo de referência

para o ensino/aprendizagem de espanhol em cursos de Secretariado Executivo.

Fundamentado na teoria do interacionismo sociodiscursivo (BRONCKART,1999;

DOLZ & SCHNEUWLY, 2004; DOLZ, 2009), este trabalho identificou o tipo de

discurso que materializa o gênero e as sequências textuais, assim como as funções

dos verbos “creer” e “deber”, considerados mecanismos enunciativos, marcadores

de modalizações. Metodologicamente, a pesquisa se caracteriza como diagnóstica.

Os resultados demostram que o verbo “creer”, ao expressar-se com a forma “creo

que”, funciona como uma modalização pragmática no gênero, e o verbo “deber”

apresenta um número maior de ocorrências com o sentido de modalizador

deôntico, refletindo uma imposição de ações a serem cumpridas. Por meio desses

dados, observamos que há uma padronização semântica no uso desses

mecanismos enunciativos, a qual está vinculada à situação comunicativa que

motiva o uso desses elementos textuais no gênero.

Palavras-chave: Gênero. Modalizadores. Efeitos de sentido.

RESUMEN

EL GÉNERO ACTA: Una descripción de elementos enunciativos en la

enseñanza de español para fines específicos

Este estudio tiene como objetivo demostrar datos referentes a los mecanismos

enunciativos dispuestos en el género Acta, considerado un modelo de referencia

para la enseñanza/aprendizaje de español en carreras de Secretariado Ejecutivo.

Basado en la teoría del interaccionismo sociodiscursivo (BRONCKART, 1999;

DOLZ & SCHNEUWLY, 2004; DOLZ, 2009), esta investigación identificó el

tipo de discurso que constituye el género, las secuencias textuales y las funciones

del verbo “creer” y “deber”, considerados mecanismos enunciativos, marcadores

de modalizaciones. Metodológicamente, la investigación se caracteriza como

diagnóstica. Los resultados demuestran que el verbo “creer”, al expresarse con la

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formma “creo que”, funciona como una modalización pragmática en el género y

el verbo “deber” presenta un número más grande de ocurrencias con el sentido de

modalizador deóntico, reflejando una imposición de acciones a cumplirse. Por

medio de los datos, observamos que hay una estandarización del proceso

semántico en el uso de esos mecanismos enunciativos, la cual está relacionada a la

situación comunicativa que fomenta el uso de esos elementos textuales en el

género.

Palabras clave: Género. Modalizadores. Efectos de sentido.

1 INTRODUÇÃO

As razões que justificam o estudo de gêneros textuais empíricos para repensar o ensino em

cursos de Secretariado Executivo são várias. Primeiramente porque o ensino da língua

espanhola adquire uma importância crucial no contexto de internacionalização em que

vivemos e, em segundo lugar, os materiais didáticos utilizados no ensino de Secretariado

trabalham ainda com o sistema frástico de ensino da língua. Os textos presentes nem sempre

são transcritos na íntegra e, quando o são, quase não exploram os efeitos de sentido presentes

em seus mecanismos linguístico-discursivos. Esse fato nos leva a repensar a importância de

reavaliar o nosso trabalho didático no ensino da língua espanhola.

Como afirma Dolz (2009), o professor necessita atualizar-se constantemente sobre os saberes

e os processos envolvidos com a transposição destes em suas aulas. É esse atualizar-se,

portanto, que motiva o professor a debruçar-se sobre conteúdos ainda não estudados em

gêneros como práticas de referência, para definir o que há de ensinar. Nesse contexto, insere-

se este artigo, o qual tem como objetivo demonstrar dados referentes à composição

organizacional da Ata, com foco no verbo creer e no modal deber, uma vez que consideramos

essencial, no ensino de espanhol para Secretariado, a inter-relação desses elementos com os

gêneros textuais.

Trata-se de um trabalho que analisará a singularidade do gênero Ata em um contexto sócio-

histórico panamenho, cuja motivação foi o fato de termos observado a carência de estudos

sobre o tema no âmbito para fins específicos. Assim, olhamos para o gênero partindo do

desafio sugerido por Dolz (2009, p.1), que é a criação e a adaptação de dispositivos didáticos,

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de acordo com o ambiente, as capacidades e necessidades dos alunos, de forma a regular as

interações, garantir a aprendizagem e avaliá-la1.

Para tanto, ao mapearmos os elementos ensináveis no gênero para o planejamento do ensino

em Secretariado, estabelecemos uma relação entre os aportes teóricos que, ao serem somados

aos resultados do estudo, subsidiarão uma forma posterior de ação didática com o gênero.

Tomando por base a perspectiva do interacionismo sociodiscursivo (BRONCKART, 1999;

2008; BULEA E BRONCKART, 2008; DOLZ, 2009; DOLZ e SCHNEUWLY, 2004;

BAJTÍN, 2005), elaboramos as seguintes perguntas que orientam este trabalho: i) como se

caracteriza o gênero Ata, no tangente a tipo de discurso e sequências textuais?; ii) em que

sequências textuais emerge o uso da forma verbal creo que e qual é a sua funcionalidade?; iii)

como se comporta o verbo deber no gênero textual?

Desse modo, a partir deste estudo, vislumbraremos um caminho para repensarmos o modo

como os conteúdos poderão ser transpostos didaticamente no curso de Secretariado, conforme

as competências profissionais necessárias a um secretário executivo.

2 O GÊNERO ATA: A RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Partimos do pressuposto de que os estudantes de língua espanhola dispõem de diversos

modelos de gêneros depositados no intertexto pelas gerações anteriores, os quais podem ser

utilizados nas diferentes situações de uso da linguagem. Esses modelos são essenciais para a

comunicação bem-sucedida, pois, como afirma Bronckart (1999), o sujeito enunciador

precisa apoiar-se em modelos textuais existentes, a fim de aprender as regras de seu

funcionamento. Nesse contexto, segundo o autor, a instituição escolar deve “conduzir os

aprendizes a um domínio das regras-padrão em uso”. (p.216). Bronckart aconselha que:

o procedimento científico deve incidir, primeiramente, sobre as características estruturais e

funcionais do conjunto das ações humanas e isso implica um exame das relações que essas ações

mantêm com os parâmetros do mundo social em que se inscrevem. (BRONCKART, 1999, p. 66)

Por essa razão e crendo que a atividade docente deve cumprir o seu papel de mediadora,

situamos os gêneros empíricos como um objeto de ensino, o que o configura como

1 Neste artigo, devido à sua extensão, não avaliaremos o resultado. Dedicar-nos-emos, portanto, somente à

apresentação dos resultados referentes ao mapeamento dos verbos que são nosso objeto de pesquisa.

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instrumento (SCHNEUWLY, 2004), indispensável, a nosso ver, aos estudos para fins

específicos, pois é a partir do gênero que concretizamos o nosso agir comunicativo nas

diversas atividades coletivas ou individuais.

As atividades coletivas realizam-se atendendo às necessidades de suas esferas cujos textos

que delas procedem demandam uma certa formulação linguageira (BRONCKART, 2008),

nos quais o tema é estruturável segundo uma ou outra organização discursiva disponibilizada

pela língua. Nesse sentido, os gêneros do discurso são, segundo Bajtín (2005, p.248), “tipos

relativamente estáveis de enunciados” e, por isso, precisam ser trabalhados formalmente no

ensino, de modo a levar o aluno da língua estrangeira a comunicar-se eficientemente na

língua-alvo de estudo.

A definição de relativamente estável se comprova ao compararmos os dados da Ata que

selecionamos para este estudo com outras disponibilizadas na web. Lugli (2017) realizou um

estudo sobre o gênero, no contexto mercosulino, e verificou diferenças significativas quanto à

organização discursiva das Atas de seu corpus de estudo em relação à que aqui analisamos. A

autora demonstra, em sua pesquisa, tratar-se de um gênero perpassado pelo filtro cognitivo de

seu redator, quando é o secretário da reunião.

A Ata, segundo Lugli (2017), situa-se entre os gêneros que Bajtín (2005) considera como de

caráter estandardizado, ou seja, a criatividade está praticamente ausente, pois há um discurso

disjunto, no qual um secretário relata os acontecimentos da reunião e manifesta as ações

verbais que ocorrem por meio de verbos de dizer, tais como, afirma que, plantea que,

informa, etc. Esses verbos são considerados marcadores evidenciais por demonstrarem a

fonte das informações transmitidas na Ata e procederem de uma terceira pessoa,

caracterizando, assim, o discurso reportado como predominante. Por meio desses verbos, que

se manifestam em sequências2 textuais da ordem do expor e do argumentar, a autora observa

também que ocorre a progressão temática dada ao gênero.

Trata-se, portanto, de uma constituição organizacional diferente da selecionada para o nosso

corpus, que mostra a relevância do estudo do gênero para o curso de Secretariado e,

igualmente, motivou-nos a empreender este estudo.

2 Unidades textuais compostas por enunciados que se unem com mais complexidade do que os períodos.

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2.1 Aspectos da composição estrutural do Gênero Ata

Conceber o gênero como um instrumento semiótico (SCHNEUWLY, 2004) para o ensino

impõe aos professores-investigadores, dedicados ao ensino de línguas em contexto

profissional, um estudo que compreende o “enunciado relativamente estável” (BAJTÍN,

2005, p. 248), entrelaçado a outros conceitos: contextos sócio-histórico e ideológico de

produção, dêixis, tipos de discurso e de sequência, vozes, etc. Trata-se de um trabalho que

torna a linguagem uma prática significativa para além do ensino gramatical, promovendo,

desse modo, reflexos no ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira.

Nessa perspectiva de ensino/aprendizagem, demonstramos como o contexto se reflete nos

gêneros, determinando, ao mesmo tempo, seus estilos característicos e o vínculo da

linguagem com a vida. Demonstramos, outrossim, que o sujeito, como propõe Bajtín (2005),

é um ser social que constrói o texto e espelha em seus enunciados marcas do sistema

ideológico com o sistema linguístico.

Logo, o gênero Ata, documento pertencente à família de documentação, cujo significado é

“ato”, de acordo com o DLE3, permite-nos observar a polifonia em que se manifestam a

posição dos diferentes sujeitos e as diferentes vozes dos assistentes da Sessão Plenária em

relação ao conteúdo temático discutido, em nosso corpus, de criação da Secretaria da mulher.

Esse olhar nos faz entender a mobilidade4 do signo (BAJTÍN, 2005) que atende e reflete a

realidade social na qual se manifesta. Podemos observar, ainda, que o discurso, ao ser

formatado no gênero, é delimitado pela alternância dos representantes dos partidos políticos e

organizações não governamentais, na sessão ordinária, ao exporem suas palavras e

transferirem a palavra para o outro a quem suscitam uma atitude responsiva (BAJTÍN, 2005).

É um gênero portanto, no qual se manifesta um discurso implicado, conjunto, pois apresenta-

se o “eu” nas marcas verbais que iniciam as sequências dialogais e as da ordem do expor-

argumentativo, constitutivas do gênero. Tais dados encontram-se na infraestrutura geral do

gênero, considerados, de acordo com os pressupostos teórico-metodológicos do

3 Diccionario de La Lengua Española. 4 Queremos dizer que o signo é móvel, dinâmico, pois a Ata, nosso objeto de pesquisa, apresenta, por meio do

uso dos signos, um tipo de discurso e uma organização discursiva diferente de outras, como explicamos

anteriormente.

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interacionismo sociodiscursivo (ISD), o primeiro nível da arquitetura textual, o qual convém

fazer parte da análise de textos.

É importante salientar que, nessa infraestrutura, embora tenhamos verificamos o caráter

estandardizado nas fases de abertura da composição estrutural, encontramos uma

singularidade na estrutura interna do texto. A singularidade se manifesta na interação,

reproduzida sem marcas de enunciação de uma terceira pessoa intermediadora da reprodução

das vozes no contexto espaço-temporal da reunião. Essa seria uma característica prototípica

do gênero Ata.

No entanto, o que encontramos na Ata panamenha são marcas de primeira pessoa. Isso

significa que, na infraestrutura textual da Ata, segundo a teoria de Bronckart (1999), não se

observa disjunção entre as coordenadas temporais das situações de ação dos enunciadores

presentes no gênero, mas sim uma conjunção e um discurso interativo, pois os enunciados são

textualizados no tempo verbal presente, com a simultaneidade de suas ações verbais e os

acontecimentos na reunião. Desse modo, o discurso indireto que geralmente emerge no início

e no desenvolvimento do gênero não é uma estratégia discursiva utilizada em nosso objeto de

estudo. A estratégia utilizada é a apresentação do nome do assistente e, na sequência, a sua

fala. Assim, manifestam-se as vozes do secretário, do presidente, do representante do partido

político, das instituições não governamentais, etc.

Nessa feitura, o gênero é constituído por vozes heterogêneas, caracterizando-se como

polifônico, o que justifica o estudo desse tipo de organização textual, visto ser relevante no

ensino de espanhol para Secretariado, sobretudo, por estudarmos a categoria verbal do verbo

creer, que integra a composição das sequências textuais que configuram o gênero.

2.2 A forma verbal “creo que” nas sequências textuais

A forma verbal creo que é classificada neste estudo como um verbo de opinião, por refletir

um efeito de sentido que não é o de “ter algo como provável”, como em casos do tipo “Creo

que va a caer una tormenta”. É um mecanismo enunciativo que, conforme os exemplos

explicitados na apresentação de dados, pode ser considerado como o reflexo de uma

modalização pragmática, pois, conforme Bronckart (1999), ao ser mobilizado, contribui para a

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explicitação de responsabilidade enunciativa, no qual estão presentes intenções e razões para

mobilizá-lo.

A forma verbal creo que emerge 38 vezes no gênero analisado e, portanto, é considerada

significativa para este estudo, pois, ao não pertencer a uma forma de relato produzido por um

único enunciador — o secretário da reunião —, manifesta-se por meio das vozes de cada

participante da plenária que teve direito a pronunciar-se, revelando, assim, uma decisão

consciente de cada enunciador ao empregá-la.

Cabe explicar, neste momento, que, embora haja diferentes modos de compreender o verbo

creer em suas diferentes situações de uso, haja vista poder ser considerado um verbo de

opinião, conforme Gonzáles-Ruiz (2015), ou como um evidencial, segundo Saeger (2015), em

nosso corpus, concebemo-lo como um reflexo das vozes avaliadoras reguladas pelos

actantes5, com um efeito modalizador, em meio às práticas sociais de membros de um grupo

que representa os direitos de uma população e luta pela igualdade no Panamá, refletindo, por

conseguinte, o funcionamento dos dizeres em meio a uma estrutura social, de acordo com Van

Dijk (1992).

Gonzáles-Ruiz (2015) explica que alguns verbos de opinião podem comportar-se como

operadores modais quando aparecem em posições disjuntas, parentéticas, mediais ou finais;

ou desgrarrados, inclusive, da matriz proposicional e incidindo sobre toda a cláusula. O autor

pesquisa o verbo creer como verbo de opinião em usos parentéticos e de força fraca, e, em seu

trabalho, demonstra que outros autores ainda revelam diferentes pontos de vista sobre sua

função, podendo ser considerados como evidenciais6 — resultantes de uma informação

advinda de uma inferência — ou como um verbo que indica uma modalidade epistêmica, ou

seja, relacionado ao eixo do conhecimento/crença e da conduta, como herança dos estudos dos

lógicos, segundo Neves (2000). Tais estudos, no entanto, não tiveram o gênero Ata como

objeto de análise e, ao entendermos que os gêneros propiciam determinados usos e sentidos

dos elementos textuais, o olhar sobre a forma verbal “creo que”, no gênero Ata, torna-se

instigante.

5 De acordo com Bronckart (2008, p. 121), “qualquer pessoa implicada no agir”. 6 Os evidenciais são entendidos aqui de acordo com a classificação de Willett (1988), que os subdivide em

formas direta (verbos que demonstram terem as informações sido obtidas pelos sentidos, visão) e forma indireta

(informações relatadas).

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Assim, diante das diferentes óticas sobre a sua função, buscamos respaldo em Bronckart

(1999) para a análise do verbo “creer”, manifestado em nosso corpus, pois, em suas

classificações de modalizações, encontramos correspondência da modalização pragmática

com os usos emergentes em nosso objeto de estudo, dado que essa modalização, de acordo

com Bronckart (1999, p. 332), refere-se à explicitação de aspectos da responsabilidade de

uma entidade do conteúdo temático. Portanto, os dados que aqui apresentamos com a forma

verbal “creo que” expressos na Ata atendem tanto a esse critério, quanto ao de Gonzáles-Ruiz

(2015), como um verbo de opinião, pois se realiza em situações nas quais os participantes da

plenária pedem a voz e lhes são concedidas a palavra, como no exemplo a seguir:

(1) “Oyendo todo lo que se ha dado hasta ahora y pareciera que voy a estar fuera de orden, pero

no lo estoy, yo creo que hay que tomar muy en cuenta que dentro de esta Comisión, se encuentran

algunas personas: mujeres y hombres que son muy conocedores del término género, pero también

hay otras y otros que no están muy conocedores del mismo y yo estoy sugiriendo, viendo esto, que

se tome en cuenta un curso de género empezando desde el Tribunal Electoral a nivel de los

Magistrados hacia abajo.”

A sequência textual expressa pela cláusula (1) demonstra uma das intervenções na reunião

em que a voz é cedida para a representante do Partido Revolucionário Democrático. A porta-

voz do partido manifesta sua opinião por meio dessa sequência textual dialogal da ordem do

expor-argumentar, conforme a classificação de sequências textuais exposta por Bronckart

(1999). É o tipo de sequência que caracteriza esta Ata por emergir ao longo do texto.

Podemos ver, no excerto (1), as marcas dêiticas quando a enunciadora expõe a sua

justificativa. Visualizamos isso, primeiramente, ao afirmar que a motivação para ela se expor

é o modo como o assunto estava sendo tratado na reunião “Oyendo todo lo que se ha dado en

la reunión” e, na sequência, quando a enunciadora se posiciona como uma agente de

transformação por meio de sua fala, na qual se move a sequência da ordem do argumentar “yo

creo que hay que tomar muy en cuenta...”.

A enunciadora, no exemplo citado, marca a sua atorialidade7 com a intenção8 de convencer a

plenária de que os seus integrantes precisam de um curso de gênero. Esse argumento se

intensifica ao somar-se aos outros elementos coadjuvantes de sua fala, como “pareciera”,

“pero”, “estoy sugiriendo”, inclusive pela perífrase verbal deôntica “hay que tomar”, a qual

indica, segundo o ponto de vista da enunciadora, ser uma necessidade dos integrantes da

7 Bulea e Bronckart (2008) definem atorialidade como o papel desempenhado. 8 As intenções/razões são elementos que caracterizam a modalização pragmática, segundo a classificação de

Bronckart (1999).

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assembleia. Tal necessidade se expressa como resultado de uma avaliação do conteúdo

temático feito pela representante do partido. A necessidade de estudo sobre gênero é

compreendida de acordo com sua opinião e os valores referentes às regras constitutivas do

mundo social (BRONCKART, 1999).

O mundo social, nesse caso, caracteriza-se por um contexto no qual ainda existem piadas em

relação ao papel da mulher. Nesse tópico, discute-se sobre a necessidade de incluir — no

texto, objeto de aprovação na reunião — a representação da Secretaria da Mulher nos

diferentes níveis de decisão do partido. Contudo, alguns integrantes da Comissão fazem chiste

com relação a esse assunto e não demonstram seriedade para com o requerido pelas mulheres

representantes na Plenária. Um exemplo dessa desconsideração se manifesta nas sequências

(2) e (3) aqui exemplificadas:

(2) “Aquí conversando con el Magistrado [...], acaba de hacer una inclusión adicional. Me

gustaría que la pusieran. Luego de donde dice “a todos los niveles” añadir la frase “de

decisión”. Lo que garantiza que sea tanto estructural, administrativa y que tengan participación

en los niveles de decisión. No hay nada más aburrido que hacer una reunión de puros hombres,

así que si hay una mujer ahí, por lo menos alegra la discusión.”

A sequência textual (2) demonstra o mesmo tipo de composição estrutural da cláusula (1), ou

seja, sequência dialogal da ordem do expor-argumentar, visto que o presidente da sessão

expõe, primeiramente, que, ao conversar com um outro participante, decidem fazer uma

inclusão adicional de informação e, na sequência, argumenta que a presença da mulher, pelo

menos, alegra a discussão. Nesse sentido, a brincadeira feita pelo presidente demonstrou uma

desconsideração com a função da mulher, um reducionismo do papel feminino em situações

decisórias. Isso provocou uma atitude responsiva, uma resposta ativa, no sentido de Bajtín

(2005), da plenarista, que o critica, dizendo que ele é muito machista, como é possível

visualizar na sequência (3), exposta a seguir:

(3) “Su comentario es machista, ese comentario es machista, muy machista.”

Logo, a sequência (3) é uma sequência argumentativa, carregada de intencionalidade e

razões, como resultado de uma decisão firme da enunciadora sobre a sequência de falas

expressas na reunião que diminuem a função da mulher em atividades deliberativas.

Esses tipos de sequências dialogais da ordem do expor-argumentar que ocorrem em todo

gênero, fazendo parte da negociação conversacional, permitem-nos ver que ora se manifesta

uma responsabilidade coletiva referente aos temas tratados, quando a voz da mulher

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representa as demais mulheres da plenária, ora se manifestam responsabilidades individuais,

quando as vozes são atribuídas a cada representante que faz uso da palavra. Ao manifestarem-

se essas vozes particulares, causa-se um efeito de maior legitimidade e

implicação/envolvimento do enunciador, que se reflete no enunciado e nos permite considerá-

lo expositivo-argumentativo.

Desse modo, ao debruçarmo-nos sobre a infraestrutura geral do texto, um dos níveis9 mais

profundos da análise da arquitetura textual proposta pelo ISD para o estudo de textos, na qual

se examinam as organizações temática e discursiva, observamos que o eixo temporalidade da

Ata marca a conjunção com o momento enunciativo o qual, em conjunto com a atorialidade10

dos representantes dos partidos e dos demais órgãos presentes na reunião, promove um

discurso interativo dialogado, da ordem do expor e argumentar, pois há implicação11 dos

enunciados no eixo da instância de agentividade12.

Para demonstrar, citamos mais um exemplo no qual consta o verbo crer em uma negociação

conversacional:

(4): Entonces, creo que no vería en términos de la aprobación si ese concepto quedaría claro de

esa manera, porque estamos hablando de decisión, no solamente en los ámbitos de la estructura.

A cláusula (4) demonstra que uma das participantes da sessão expõe, como autora de seu

discurso, a sua opinião sobre a interpretação que poderia gerar a proposta das mulheres no

tocante à implantação da Secretaria da Mulher, tema discutido na reunião. A enunciadora, ao

utilizar a forma verbal “creo que”, atenua sua fala, preservando a sua face, caso alguém

discorde de sua opinião. Assim, a forma verbal performativa, conforme Gonzáles-Ruiz

(2015), “creo que” demonstra, na verdade, que, em sua opinião, é necessário alterar a redação

concernente à criação da Secretaria da Mulher, incluindo no texto o conceito de tomada de

9 Há 3 níveis propostos pela teoria: i) o nível da infraestrutura textual; ii) o nível da textualização, que se refere

aos mecanismos de conexão e coesão nominal; iii) os mecanismos enunciativos que envolvem os processos de

responsabilização enunciativa e as modalizações. 10 Características de ator que possui intenções e é responsável pelo que afirma. A atorialidade é uma caraterística

do ator, ou seja, do actante que assume a responsabilidade enunciativa no curso do agir, “quando as

configurações textuais constroem o actante como sendo fonte de um processo, dotando-o de capacidades,

motivos e intenções” (BRONCKART, 2008, p.121). 11 Implicado porque faz referência explícita ao momento da interação. Exemplo de implicação: i) quando o

secretário, ao dirigir-se ao juiz, diz “Todo está en el portal, Señor presidente!”; ii) uma representante de um

partido agradece “Gracias, Presidente! 12 Referimo-nos às vozes dos participantes da plenária.

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decisão, o qual deve ser aprovado junto com a proposta e não apenas a proposta de uma

estrutura para a Secretaria.

Desse modo, “creo que”, na cláusula (4), significa que a enunciadora argumenta,

considerando como algo certo; no entanto, sem poder comprová-lo, porque a ação do conceito

“ficar claro”, por meio da proposição “creo que no vería en términos de la aprobación si ese

concepto quedaría claro de esa manera” é uma ação posterior ao momento de referência,

isto é, a enunciadora, de maneira indireta, afirma ser essa uma necessidade.

Por essa razão, atestamos que o elemento “creo que” deixa de significar apenas uma crença,

razão pela qual não poderíamos considerá-lo como um tipo de modalidade epistêmica13 ou um

evidencial, tal qual ocorre em outros estudos, mas sim, torna-se, nesse gênero, um argumento

repleto de intencionalidades de alcançar o objetivo da defesa dos direitos das mulheres como

representantes na Secretaria da Mulher.

Observamos, nesse sentido, haver um entrelaçamento entre as sequências textuais e o uso de

elementos linguístico-discursivos e enunciativos próprios dessas sequências, porquanto, se o

objetivo é argumentar, tornando a fala mais branda, de um modo modalizado, o enunciador

pode recorrer a elementos como “creo que”.

3 AS MODALIZAÇÕES

Em primeiro lugar, entendemos que as modalizações neste trabalho indicam o modo de

envolvimento dos participantes da reunião com o conteúdo em pauta. A fonte do dizer nas

Atas demonstra ser próprio indivíduo que tem a palavra.

Conforme Neves (2006), o conceito de modalidade advém de noções da lógica. Ao

verificarmos a literatura especializada sobre o tema, entendemos que o conceito pode estar

associado aos estudos semânticos referentes aos modo e tempo verbais; ao modo de o falante

posicionar-se em um enunciado, refletindo opiniões e atitudes no discurso; e ao uso de

elementos linguísticos diversos, tais como, adjetivos, advérbios, etc. Na constituição do

13 A modalidade epistêmica, de acordo com Ridruejo (2000), refere-se ao eixo do conhecimento e da crença.

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quadro referente aos elementos formais e noções em que se enquadra a categoria, delineiam-

se diferentes propostas teóricas para caracterizar a modalidade.

Assim, são várias as perspectivas a abordar o conceito: a perspectiva tipológica de

modalidades (PALMER, 1986; DE HAAN, 2005), a perspectiva semântica (PORTNER,

2009), a perspectiva comunicativo-pragmática (NEVES, 2006) e a perspectiva do

interacionismo sociodiscursivo (BRONCKART, 1999). Em cada uma dessas perspectivas, no

entanto, estão propostas, também, diferentes subdivisões da categoria linguística, o que

reveste o termo modalidade de complexidade e de uma ausência de consenso sobre sua

definição e sua tipologia.

Ridruejo (2000) sugere aproveitar, para a análise da língua espanhola, a distinção entre

modalidade epistêmica e modalidade deôntica. O autor utiliza a definição de Lyons (1980)

para explicar que a modalidade epistêmica está vinculada às noções de conhecimento e

crença, e ao grau de compromisso que o falante assume com relação à verdade da proposição

contida em um enunciado. Já a modalidade deôntica está associada a atos diretivos. É,

portanto, uma definição similar à de Neves (2006) e à de Bronckart (1999).

Desse modo, o que se observa como ótica similar entre os autores é a manifestação da

presença do falante no enunciado. Por outro lado, há discrepâncias entre o aporte fornecido

pelos autores, devido à subdivisão que estabelecem para as modalidades. Enquanto Ridruejo

(2000), por exemplo, fundamenta sua classificação nas modalidades epistêmicas e deônticas,

Bronckart (1999) as classifica em quatro tipos, a saber: i) as modalizações lógicas

(relacionadas ao mundo objetivo, apresentam elementos do conteúdo do ponto de vista de

suas condições de verdade, como fatos atestados14, possíveis, prováveis, eventuais,

necessários, etc.); ii) as modalizações deônticas (relacionadas ao mundo social, referem-se a

valores, opiniões, apresentando os elementos do conteúdo como sendo do domínio do direito,

da obrigação social e de acordo com as normas); iii) as modalizações apreciativas (procedem

do mundo subjetivo, relacionam-se com um ponto de vista avaliativo, cujas marcas mais

recorrentes em seu estudo seriam advérbios); iv) as modalizações pragmáticas (ajudam a

14 Para estudar esses fatos com mais profundidade e separadamente dos demais elementos citados por Bronckart

(1999), que fazem parte das modalizações lógicas, podemos utilizar a teoria da evidencialidade, segundo Willett

(1998) e Aikhenvald (2002).

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estabelecer a responsabilidade da enunciação a um agente, atribuindo-lhe intenções, razões,

etc.).

Neves (2006, p.160), por sua vez, classifica as modalidades do seguinte modo: i) modalidade

epistêmica (relacionada com a necessidade e a possibilidade); b) modalidade deôntica

(vinculada com obrigações e permissões); c) modalidade bulomaica ou volitiva (atrelada aos

desejos do falante15); d) modalidade disposicional ou habilitativa (associada às disposição,

habilitação e capacitação, uma possibilidade deôntica).

Observamos que os elementos do ponto de vista do necessário e do possível fazem parte da

modalidade epistêmica para Neves (2006) e Ridruejo (2000), enquanto, para Bronckart

(1999), fazem parte das modalizações lógicas. Portanto, o que precisamos considerar para a

análise das modalidades é a língua para a qual as classificações dos diferentes autores se

aplicam.

Neves (2006) define as modalidades fundamentada na língua portuguesa, Bronckart (1999),

no idioma francês e Ridruejo (2000), na língua espanhola. Portanto, para este nosso estudo,

cujo corpus está em língua espanhola, dialogaremos com as definições de modalidades de

Ridruejo (2000), no tocante às modalidades deônticas e epistêmicas, e com a definição de

Bronckart (1999), referente ao uso de verbo “creer” nos enunciados, visto que a forma verbal

“creo que” reflete um tipo de modalização pragmática, mais condizente com a classificação

bronckartiana quando vislumbramos o nosso corpus16. Isso porque as línguas apresentam

suas particularidades, o que justifica a ausência de consenso entre todas as classificações já

feitas por uma única teoria em uma análise de um gênero textual empírico.

Devido a esse estado da questão, na qual coexistem diferentes modos de compreender e situar

a categoria modalidade, Palmer (1986) demonstra haver uma imprecisão na descrição de tipos

de modalidades:

To begin with, the definitions are, in practice, vague and difficult to apply with any degree of

precision, and do not lead to clearly distinct categories. The real problem with modality,

moreover, is not just that there is great variation in meaning across languages, but that there is no

15 Segundo Neves (2006), ela é, no fundo, uma necessidade deôntica. 16 O verbo creer, em nosso corpus, não significa crença, mas um elemento mitigador do discurso com a

finalidade de convencer a plenária.

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clear basic feature. The notion of ‘prototipically’ is difficult, if not impossible, to apply.17

(PALMER, 1986, p. 4)

Essa imprecisão se deve, igualmente, em parte, a dois aspectos: i) ao fato de as diferentes

línguas portarem diferentes recursos para se referir à modalidade; ii) à noção de que se refere

à atitude do falante.

Com base nessas definições, reconhece-se que atitude do falante ou “modos de

posicionamento do falante” é um termo bastante amplo para caracterizar a modalidade, porém

é a conceituação que mais se sobrepõe às demais, entre os diferentes pesquisadores, pois

esses modos podem ser compreendidos como uma afirmação (NEVES, 2000, 2002;

PALMER, 1986), uma injunção (NEVES, 2000,2002; PALMER, 1986), uma informação

reportada (DALL’AGLIO-HATTNHER; HENGEVELD, 2015) ou uma avaliação (PALMER,

1986).

Na modalidade epistêmica, para Palmer (1986), por exemplo, incluem-se os julgamentos que

incidem sobre toda a predicação, por exemplo, graus de certeza, probabilidade, possibilidade,

as evidências, a asserção, a declarativa (conhecimento, crença) e a interrogativa. Já na

modalidade deôntica, Palmer (1986) inclui cinco subtipos: i) a diretiva (dever social); ii) a

comissiva (promessas, ameaças); iii) a volitiva, que reflete matizes de sentimentos (desejos e

esperanças); iv) a avaliação; e v) a imperativa.

Para Bronckart (1999), as modalidades deônticas estão relacionadas às regras do mundo social

e apresentam os elementos do conteúdo como da ordem da obrigação, tal qual para Ridruejo

(2000), que propõe estar a modalidade deôntica associada às normas e obrigações a serem

respeitadas. Logo, há semelhanças com a definição de Palmer (1986), porém este (op.cit)

acrescenta outros subtipos.

O enunciado (5), extraído da Acta número 15, analisada neste estudo, apresenta um exemplo

de modalidade deôntica, no sentido de Bronckart (1999) e de Ridruejo (2000), que

consideramos para este trabalho, e também do subtipo i) de Palmer (1986):

17 Tradução nossa: Para começar, as definições são, na prática, vagas e difíceis de aplicar com um grau de

precisão e não apresentam claramente a distinção de categorias. Além disso, o verdadeiro problema não é o fato

de haver uma grande variação no significado através da linguagem, mas os recursos básicos não estarem claros.

A noção de prototipicidade é difícil, senão impossível, de ser aplicada.

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(5)“El Tribunal Electoral esto lo está reglamentando por vía de decreto, lo hace obligatorio, para

esta vuelta del manejo post-electoral, del 25% que deben los partidos destinar a capacitación, el

10% por lo menos debe ser destinado a capacitación sobre temas femeninos y lo que estamos

reglamentando, y queremos elevarlo a ley para que no sea discrecionalidad de los Magistrados,

que por ley la Secretaría de la Mujer sea la que tenga que manejar ese 10%.”

Como podemos observar no exemplo, a expressão “deben los partidos destinar”, assim como

a expressão “debe ser destinado”, diz respeito a uma ação a ser realizada pelos partidos. Por

conseguinte, trata-se de uma modalização deôntica, segundo a classificação de Bronckart

(1999), pois se refere a uma ação situada no eixo da ordem, da obrigação e da conduta,

conforme a conceituação de Ridruejo (2000). Apresenta, outrossim, sentido de

obrigatoriedade, conforme a classificação de modalidades expostas por Neves (2006). Por

conseguinte, é também um tipo de diretiva, de acordo com os subtipos de modalidade

deôntica expostos por Palmer (1986). É, portanto, diferente do exemplo (6), que apresentamos

a seguir:

(6) “La creación y conformación de la Secretaría Femenina como organismo del partido, a todos

los niveles”. De esta manera garantizamos que a nivel local, a nivel distrital, circuita, deba haber

una representante de la Secretaría Femenina, y eso después va a ser importante para los efectos

del próximo artículo que vamos a ver.”

A expressão “deba haber”, na cláusula (6), expressa necessidade, visto que a criação da

Secretaria Feminina como organismo do partido garante a necessidade de existir uma

representante dessa secretaria. Esse tipo de modalização manifestada pela expressão “deba

haber” é considerada um ato assertivo que faz parte da modalidade epistêmica, de acordo com

as classificações Neves (2006) e Ridruejo (2000), e da modalização lógica, segundo

Bronckart (1999), pois, para o autor, a expressão de necessidade faz parte da modalização

lógica.

Assim, para demonstrarmos como se organiza o gênero Ata que constitui o corpus deste

estudo, passamos ao tópico de apresentação e discussão de dados, no qual comprovaremos os

efeitos de sentido das formas verbais “creo que” e do verbo “deber”, conforme os aportes de

Bronckart (1999) e Ridruejo (2000).

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE DADOS

O gênero selecionado é representativo para este estudo por constituir-se como um gênero

secundário, emergente nas práticas sociais, e conter 13.515 palavras na língua espanhola, de

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acordo com o Voyant-tools18. Consideramos um número suficiente de palavras para

procedermos à análise textual, com vistas à aplicação didática posterior em cursos de

Secretariado Executivo, dado que os materiais didáticos não exploram os mecanismos

enunciativos aqui tratados por meio de gêneros dessa extensão.

É importante esclarecer que a forma verbal “creo que” manifestou-se 38 vezes no gênero e o

verbo “deber”, 27 vezes. No entanto, com o objetivo de delimitar a extensão deste artigo,

optamos por trazer três exemplos de usos do verbo “creer” e três exemplos de uso com o

verbo auxiliar “deber”, organizados nos quadros a seguir, nos quais demonstramos o modo

como os verbos ocorrem:

Quadro 1 - Verbo creer

Uso do verbo creer Elementos linguísticos característicos de sequências

dialogais da ordem do expor-argumentar e

modalização pragmática

(7) Sí, definitivamente. No solamente en los ámbitos

de estructura administrativa, sino incluso, en niveles

de decisión porque adelante tenemos otras

propuestas que tienden a fortalecer la participación

de la mujer en las elecciones, y yo creo que vamos a

ir evolucionando con la bendición de la Comisión a

una propuesta realmente inclusiva que permita y

haga materializable una mayor representación de las

mujeres en los ámbitos de decisión.

Sí, definitivamente.

No solamente…. sino …

… porque adelante…

y yo creo que (modalização pragmática)

Fonte: Elaboração própria.

A cláusula (7) demonstra o uso de “creo que” acompanhado do intensificador “yo”. A

conjugação desses dois elementos linguístico-discursivos produz um efeito de sentido de

assunção de responsabilidade, no qual a voz e a opinião da enunciadora se manifestam. O

emprego dos mesmos elementos, no entanto, pode ser considerado uma marca formal de uma

voz com nuance de dúvida, insegurança com relação ao conteúdo proposicional, pois a

concretização da maior representação da mulher somente poderá ser materializada com a

aprovação da Comissão. Assim, quando a enunciadora utiliza a forma verbal “creo que”,

manifesta também que conta com a aprovação da comissão, ou seja, há, de certa forma, por

meio da forma verbal, uma tentativa de convencimento para a comissão aprovar a proposta de

representação das mulheres no âmbito de decisão. Por tal razão, entendemos que “creo que” é

mobilizado para atender a finalidade comunicativa de persuasão.

18 Programa disponível na web que permite contar palavras, ver o número de ocorrências de palavras e seu

contexto de uso.

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Quadro 2 - Verbo creer

Uso do verbo creer Elementos característicos de sequências dialogais da

ordem do expor-argumentar e modalização

pragmática

(8) Entonces, en esas formas de representación creo

que entiendo que se trata de que se pueda tener una

representación de la Secretaría Femenina para que

en los momentos que se toman decisiones, también

haya una voz que represente los intereses de esa

membresía, de esas adherentes de los partidos que

están ahí, y que es interesante saber en estos

momentos la composición, la relación

“hombre/mujer” en los partidos políticos cómo está,

porque estamos en espera de que concluya la

verificación por parte del Censo para constatar que

definitivamente las mujeres en este país vamos a ser

más del 50% de la población con intereses muy

particulares y específicos, y queremos y sabemos que

es así el interés del Tribunal Electoral de dejar una

norma clara, de tal manera que sea efectiva la

democracia en todos los partidos y en nuestra

nación.

Entonces […] (mecanismo de conexão e

progressão temática que dá sequência a uma

informação anterior)

Creo que entiendo que se trata de que se

pueda tener (modalização pragmática para

causar um efeito de fala branda)

y que es interesante (efeito de progressão

temática e de seu argumento)

porque estamos en espera (justifica seu

argumento)

y queremos y sabemos que es así el interés

del Tribunal Electoral de dejar una norma

clara… (efeito de acréscimo de informação

e progressão ao seu argumento)

Fonte: Elaboração própria

A cláusula (8) demonstra o modo cauteloso como uma das participantes da reunião se expõe

por meio da expressão “creo que entiendo”. Logo após utilizar a expressão, emprega a

modalização lógica, com elementos da ordem do possível, como em “se pueda tener”. O

emprego de tal elemento reflete uma possibilidade e reforça o caráter atenuante, de

preservação de sua imagem diante da plenária, para não parecer autoritária em seus

argumentos. No entanto, a união dos elementos “creo que entiendo” e “se pueda tener” nos

permite ver a sua intenção, como representante das mulheres, de que seja feita a democracia

nos partidos. Por essa razão, a forma verbal “creo que” apresenta um efeito de sentido de

negociação conversacional, no qual se tenta convencer os ouvintes sobre a sua opinião, e

caracteriza-se como uma modalização pragmática.

Quadro 3 - Verbo creer

Uso do verbo creer Elementos característicos de sequências dialogais da

ordem do expor-argumentar e modalização

pragmática

(9) Y para nosotras es importante creo también como

partidos políticos, tener claridad de cómo la

interpreta el Tribunal Electoral, porque el Tribunal

Electoral es la última instancia, es el llamado a

hacer que se cumpla y a reglamentar estas normas

legales.

Y para nosotras... (efeito de progressão

temática e de seu argumento)

Creo también como partidos políticos…

(efeito de argumento por sua função social

de representar um partido político)

Porque el Tribunal es la última instancia

(efeito de progressão temática por meio de

justificativa e de seu argumento)

Fonte: Elaboração própria.

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A cláusula (9) apresenta a voz da assistente da plenária como representante de um grupo

político feminino e, ao mesmo tempo, de mulheres da nação que precisam ser representadas

em suas decisões por esse grupo. Logo, a expressão “creo” não somente expõe a sua opinião,

mas revela uma postura consciente da enunciadora de convencer a plenária sobre a

necessidade de saber como ocorre a interpretação do Tribunal Eleitoral, para repensarem a

escrita do texto está em pauta para aprovação. A forma verbal “creo” é caracterizada,

novamente, como uma modalização pragmática, já que contém em si intenções e razões.

Embora os exemplos expostos neste trabalho sejam apenas excertos representativos do tipo de

ocorrências da forma verbal “creo que” na Ata analisada, ao analisarmos o gênero na íntegra,

constatamos que o comportamento da forma verbal em questão não corresponde a um tipo de

marca de modalização epistêmica, segundo Ridruejo (2000), pois não interpretamos o seu

sentido como o de uma crença, mas sim como um elemento linguístico-discursivo atenuante,

um mitigador, no qual, por meio dele, os assistentes em representação dos partidos políticos

presentes na reunião manifestam a sua opinião, de modo a impor ações, agindo sobre os

demais participantes da reunião, de uma forma branda, contudo. Por essa razão, são

mobilizados como uma espécie de elemento linguístico-discursivo de preservação de face,

pois o agente enunciador, ao empregá-lo, possui as suas intenções e razões para fazê-lo.

Tampouco podemos considerá-lo como um elemento do conteúdo que se refere a um fato

possível, mas sim, como certo. Assim, ao estudarmos esse elemento, estamos olhando para os

efeitos de sentido de mecanismos linguístico-discursivos que vão assumindo diferentes

valores, conforme o contexto sócio-histórico, para atender a situação comunicativa.

Debruçamo-nos, desse modo, não apenas sobre o conteúdo verbal, mas sobre o seu

comportamento, ou seja, a sua funcionalidade.

Quadro 4 - O verbo auxiliar modal “deberán” e a classificação do tipo de modalidade

Excerto Tipo de modalidade

(10) Para ese tipo de capacitación se destinará un

25%, de este aporte anual en base a los votos

deberán garantizar un porcentaje mínimo de 10%

para el desarrollo de actividades exclusivas de

capacitación de las mujeres.”

Modalidade deôntica com valor de obrigatoriedade,

apoiada nas regras do mundo social, segundo a

classificação de Bronckart (1999).

Fonte: Elaboração própria.

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A cláusula (10), por meio da perífrase “deberán garantizar”, apresenta um sentido de norma

imposta, que visa garantir uma porcentagem mínima de 10% para o desenvolvimento de

atividades exclusivas à capacitação das mulheres. Por essa razão, o efeito de sentido é de

imposição, é uma diretiva, de acordo com a definição de Ridruejo (2000); há elementos que se

apoiam nas regras do mundo social, no sentido de Bronckart (1999), e impõem uma ação a

ser realizada, ou seja, uma modalidade deôntica.

Quadro 5 - O verbo auxiliar modal “debemos” e classificação do tipo de modalidade

Excerto Tipo de modalidade

(11) Después de haber escuchado todas las

discusiones al respecto, el partido PRD, nosotras

queremos pensar que sí, que debemos seguir nuestro

reglamento y nuestros estatutos.

Modalidade lógica que apresenta elementos do ponto

de vista de suas condições de verdade, como um fato

necessário. É necessário seguir o regulamento e os

estatutos.

Fonte: Elaboração própria.

A cláusula (11) demonstra que a representante do partido concebe como necessário,

conveniente, seguir o regulamento. Por incluir-se na ação, manifesta uma necessidade e não a

imposição de uma ação para apenas outras pessoas cumprirem, como no caso de modalidades

deônticas.

Quadro 6 - O verbo auxiliar modal “deben” e classificação do tipo de modalidade

Excerto Tipo de modalidade

(12) En lo relativo a la capacitación de las mujeres,

los planes deben ser elaborados por la Secretaría de

la Mujer o su equivalente en cada partido.

Modalidade deóntica

Fonte: Elaboração própria.

Na cláusula (12), a expressão “deben ser elaborados” demonstra existir uma norma a ser

respeitada e cumprida, ou seja, os planos de capacitação precisam ser elaborados pela

Secretaria de Mulher. Por isso, há uma ação de mais controle apresentada no enunciado, o que

caracteriza a expressão como uma modalidade deôntica, por tratar-se de uma norma, de

acordo com a classificação de Ridruejo (2000) e de Bronckart (1999).

Para demonstrar mais especificamente a funcionalidade do verbo “deber”, expomos, no

quadro (7), mais dez exemplos de usos, acompanhados de seus efeitos de sentido no gênero

textual.

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Quadro 7 - Com dez exemplos de usos do verbo auxiliar “deber” e seus efeitos de sentido

Exemplos Tipo de modalização e

efeito de sentido

1.[…] se deben incluir la verificación de la cuota de participación […]19 Deôntica com efeito de

obrigatoriedade

2.[…] creo que el PRD tiene, los demás partidos deben ser iguales […]20 Deôntica com efeito de

obrigatoriedade

3. Los estatutos del partido deben contener.21 Deôntica com efeito de

obrigatoriedade

4. […] del 25% que deben los partidos destinar a capacitación […]22 Deôntica com efeito de

obrigatoriedade

5. […]del papel que deben jugar las autoridades elegidas […]23 Deôntica com efeito de

obrigatoriedade

6.[…] “La suma del financiamiento público electoral destinada para la

capacitación exclusiva de las mujeres deberá ser aprobada por la Secretaría de

la Mujer o su equivalente en cada partido político”.

Deôntica com efeito de

obrigatoriedade

7.[…] debe haber una representación de la Secretaría de la Mujer […]24 Deôntica com efeito de

obrigatoriedade

8. […]porque el Tribunal Electoral hace incluir así como sus funciones, entre

las que se debe incluir la verificación de la cuota de participación […]25

Deôntica com efeito de

obrigatoriedade

9. […] el 10% por lo menos debe ser destinado a capacitación sobre temas

femeninos […]26

Deôntica com efeito de

obrigatoriedade

19 La creación y conformación de la Secretaría Femenina como organismo del partido, así como sus funciones,

entre las que se deben incluir la verificación de la cuota de participación que le corresponde de conformidad

con el Artículo 239 de este Código. 20 Nosotros tenemos, por ejemplo, los que son los sectoriales, y dentro de estos sectoriales, creo que el PRD

tiene, los demás partidos deben ser iguales, tienen los profesionales, los trabajadores, las mujeres. 21 Los estatutos del partido deben contener. 1. El nombre del partido. 2. La descripción del símbolo distintivo. 3.

El nombre de los organismos del partido, sus facultades, deberes y responsabilidades. 22 El Tribunal Electoral esto lo está reglamentando por vía de decreto, lo hace obligatorio, para esta vuelta del

manejo post-electoral, del 25% que deben los partidos destinar a capacitación, el 10% por lo menos debe ser

destinado a capacitación sobre temas femeninos y lo que estamos reglamentando, y queremos elevarlo a ley

para que no sea discrecionalidad de los Magistrados, que por ley la Secretaría de la Mujer sea la que tenga que

manejar ese 10%. 23 “La educación cívico-política con énfasis en enseñanza de la democracia, la importancia del Estado de

derecho, del papel que deben jugar las autoridades elegidas, 22 de los principios y programas de gobierno de

cada partido, los aspectos económicos, políticos, sociales y culturales de la nación. 24 Ah, sí, pareciera que la del Foro de Mujeres está intentando por ley, obligar a que en los niveles de decisión

del partido, debe haber una representación de la Secretaría de la Mujer. 25 A mí también me llama la atención en esta propuesta del Tribunal Electoral, porque el Tribunal Electoral

hace incluir así como sus funciones, entre las que se debe incluir la verificación de la cuota de participación que

le corresponde de conformidad con el Artículo 239 de este Código, ahí está haciendo énfasis en esa función

específica, “así como sus funciones”. 26 El Tribunal Electoral esto lo está reglamentando por vía de decreto, lo hace obligatorio, para esta vuelta del

manejo post-electoral, del 25% que deben los partidos destinar a capacitación, el 10% por lo menos debe ser

destinado a capacitación sobre temas femeninos y lo que estamos reglamentando, y queremos elevarlo a ley

para que no sea discrecionalidad de los Magistrados, que por ley la Secretaría de la Mujer sea la que tenga que

manejar ese 10%.

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10. […] el Partido Panameñista por lo que entendí, debe destinar un 12.5%

para la capacitación de las mujeres […]27

Deôntica com efeito de

obrigatoriedade

Fonte: Elaboração própria.

Podemos observar que as ocorrências do verbo auxiliar “deber” no gênero Ata são

significativas no tocante à construção do significado das ações linguageiras realizadas na

reunião. Isso porque as ações estão todas relacionadas às normas e obrigatoriedade,

submetidas a controles, como podemos ver no quadro (7).

Somando-se aos exemplos expostos no quadro (7), temos ainda o uso da forma verbal

“deberá”, que emerge mais sete vezes na Ata, totalizando oito ocorrências ao somar-se ao

exemplo ilustrado no quadro (7); o verbo auxiliar “deberán”, que aparece duas vezes;

“debería”, que se expressa uma vez; e “debemos” que se manifesta três vezes.

Apenas o uso de “debemos” e de “debería”, conforme apresentamos nos excertos (13) e (14),

selecionados como modelos representativos, apresentam o significado de necessidade, sendo,

portanto, considerada uma modalização lógica, em consonância com a classificação proposta

por Bronckart (1999) para análise de textos.

(13) Lo importante del comentario, en lo que atañe a lo que estamos discutiendo, es que debemos

nosotros exaltar las virtudes de las mujeres independientemente de las ideologías que tengan, yo

creo que ambos comentarios valen la pena en el sentido de promover las virtudes de las mujeres.

(14) Magistrado, nosotros sí creemos en el fortalecimiento de los partidos políticos y yo creo que

más adelante eso habría que ver en qué norma se debería incorporar, es el tema del

fortalecimiento de las unidades de capacitación que creo que ha sido la discrepancia que ha

habido aquí entre las compañeras mujeres.

Desse modo, podemos observar que os exemplos expostos demonstram o significado

comportamental do verbo auxiliar “deber” a partir da consideração de fatores de ordem

funcional e pragmática, totalmente relacionados com o gênero textual em que se manifestam.

Por essa razão, torna-se essencial o estudo, em cursos de Secretariado Executivo, desses

mecanismos enunciativos que determinam os efeitos pragmáticos em uma situação

comunicativa de sua esfera profissional.

27 Entonces, no es cónsono interpretar que la norma lo que hace es restringir, digamos, el Partido Panameñista

por lo que entendí, debe destinar un 12.5% para la capacitación de las mujeres, no sería cónsono decir que

porque el artículo éste se refiere a un 10%, éste es un 10% mínimo, así que se interpreta de manera mínima.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudar os gêneros textuais é debruçar-se sobre o movimento inesgotável da linguagem, que

se renova de acordo com as necessidades específicas de cada esfera de uso. Os exemplos

apresentados demonstram modos de realização e significação de elementos linguísticos da

língua espanhola em um contexto de esfera profissional condizente com a atuação do

profissional de Secretariado Executivo. Ao consideramos que cada esfera elabora os seus

tipos de textos, como afirma Bajtín (2005), utilizando o estilo mais adequado e mobilizando

arranjos textuais funcionais, torna-se sine qua non o olhar para o gênero Ata no contexto

secretarial.

No referente ao uso de “creo que”, trata-se de um exemplo do proposto por Neves (2006): de

que a gramática de uma língua determina os efeitos pragmáticos. Isso porque essa forma

verbal apresenta um significado contextualizado, de estratégia de convencimento, para que os

participantes da reunião se convençam sobre algo reivindicado.

O estudo demonstrou que está explícita a combinação entre opinião e tentativa de persuasão,

argumentação por meio do elemento “creo que”. Por haver opinião e, ao mesmo tempo, tal

opinião expressar-se por meio de uma forma verbal, cujo significado demonstra intenção de

persuasão, ainda que de um modo atenuante, na tentativa de evitar uma discordância, seu uso

pode ser considerado marcador de modalização pragmática, de acordo com a definição de

Bronckart (1999), no corpus analisado.

O uso do verbo “deber”, por sua vez, pode ser considerado um mecanismo enunciativo

empregado no gênero, com o fim de apresentar, em maior medida, traços lexicais de controle,

indicando imposição para a realização de determinada ação.

Por meio desses dados, observamos existir uma padronização semântica em uso da forma

verbal “creo que” e das diferentes formas verbais com o verbo “deber”, padronização que não

pode ser dissociada do gênero, pois, em outros gêneros, pode haver uma diferença nos efeitos

de sentido desses elementos.

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Portanto, consideramos que o estudo desses elementos contribuem para o estudo dos gêneros,

uma vez que as escolhas referentes aos planos linguístico e enunciativo de um texto estão

condicionadas a um contexto sócio-histórico e são controladas por estruturas de poder (VAN

DIJK, 2008), tornando, assim, relevante a investigação a respeito da relação entre linguagem,

gênero textual e modalizações.

Por essa razão, defendemos esse tipo de estudo, de modo a repensar ações didáticas para o

ensino/aprendizagem de Secretariado Executivo Trilíngue, porque, assim, é possível prover a

reflexão sobre o uso da linguagem embasada na manifestação da língua na esfera secretarial e

conhecer a relação entre língua e sociedade.

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