o futuro do trabalho: impactos e desafios para as

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO JORGE CABRAL BAPTISTA O FUTURO DO TRABALHO: IMPACTOS E DESAFIOS PARA AS ORGANIZAÇÕES EM ANGOLA SÃO PAULO 2016

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

JORGE CABRAL BAPTISTA

O FUTURO DO TRABALHO: IMPACTOS E DESAFIOS

PARA AS ORGANIZAÇÕES EM ANGOLA

SÃO PAULO

2016

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

JORGE CABRAL BAPTISTA

O FUTURO DO TRABALHO: IMPACTOS E DESAFIOS

PARA AS ORGANIZAÇÕES EM ANGOLA

Tese apresentada à Escola de

Administração de Empresas de São Paulo

da Fundação Getúlio Vargas, como

requisito parcial para a obtenção do título

de Doutor em Administração de

Empresas.

Campo de conhecimento:

Estudos Organizacionais

Orientadora:

Profa. Dra. Maria José Tonelli

SÃO PAULO

2016

Baptista, Jorge Cabral.

O futuro do trabalho: impactos e desafios para as organizações em Angola /

Jorge Cabral Baptista. - 2016.

161 f.

Orientador: Maria José Tonelli

Tese (doutorado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo.

1. Mercado de trabalho - Angola. 2. Angola – Condições econômicas. 3.

Desenvolvimento organizacional. 4. Mão-de-obra – Angola. 5. Profissionais. I.

Tonelli, Maria José. II. Tese (doutorado) - Escola de Administração de Empresas

de São Paulo. III. Título.

CDU 331(679)

JORGE CABRAL BAPTISTA

O FUTURO DO TRABALHO: IMPACTOS E DESAFIOS

PARA AS ORGANIZAÇÕES EM ANGOLA

Tese apresentada à Escola de Administração

de Empresas de São Paulo da Fundação

Getúlio Vargas, como requisito parcial para

a obtenção do título de Doutor em

Administração de Empresas.

Campo de conhecimento:

Estudos Organizacionais

Orientadora:

Profa. Dra. Maria José Tonelli

Data de aprovação:

______/______/______

Banca Examinadora:

Profa. Dra Maria José Tonelli

(Orientadora – FGV-EAESP)

________________________________

Prof. Dr. Leonardo Trevisan

PUC – SÃO PAULO

_________________________________

Prof. Dr. Ely Paiva

FGV – EAESP

_______________________________

Profa Dra Andrea Oltramari

UFRGS – RIO GRANDE DO SUL

______________________________

Prof. Dr. André Luís Silva

FGV – EAESP

Aos meus Pais, Maria e Baptista, in memoriam.

A minha esposa Bebiana Baptista; ao meu filho

David Baptista, com muito amor e carinho.

SENHOR é o meu pastor, nada me

faltará.

Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me

mansamente a águas tranquilas.

Refrigera a minha alma; guia-me pelas

veredas da justiça, por amor do seu nome.

Ainda que eu andasse pelo vale da

sombra da morte, não temeria mal algum,

porque tu estás comigo; a tua vara e o teu

cajado me consolam.

Preparas uma mesa perante mim na

presença dos meus inimigos, unges a minha

cabeça com óleo, o meu cálice transborda.

Certamente que a bondade e a

misericórdia me seguirão todos os dias da

minha vida; e habitarei na casa do Senhor

por longos dias.

Salmos 23:1-6

AGRADECIMENTO

Primeiramente agradecer a Deus pai todo poderoso pela vida e proteção e por ter

permitido que este proposito fosse concluído ao longo destes quatro anos transformadores

da minha vida. Trabalhos desta natureza, não se cinge apenas ao orientando e o

orientador, mais também com as demais pessoas que direta ou indiretamente contribuíram

para que este trabalho fosse possível.

Agradeço a minha família que ao longo destes anos sempre estiveram comigo

dando-me amor, força e incentivo para que este estudo fosse concluído. Minhas irmãs e

irmãos Rita António Baptista, Filomena Baptista do Amaral, António Baptista Junior,

Francisco Janota Baptista, Mateus Baptista, Conceição Baptista, Boneca Baptista e Maria

Baptista. Aos meus sogros, Domingos Cassua e Rosa Albino, meus cunhados e cunhadas,

sobrinhos e sobrinhas pela força e coragem, sem vocês muita coisa na minha vida não

teria sentido e muito obrigado por vocês existirem.

Agradecimento especial vai para Suas Excelências Ministro do Ensino Superior de

Angola Doutor Adão do Nascimento, Generais Geraldo Sachipengo Nunda Chefe do

Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas, Francisco Afonso Gonçalves

Comandante da Forças Aérea Nacional e ao Instituto Nacional de Gestão de Bolsa de

Estudo de Angola, pelo apoio prestado a minha formação.

Aos Tenentes Generais Cristóvão Miguel Júnior, Domingos Adriano da Silva Neto,

António Francisco Catembo, Domingos Hélder Diógenes, Massaque Neto, Justino da

Glória; aos Brigadeiros Adão Francisco Clemente, Casimiro Titino Franque, Domingos

Neto, Vieira Dias; aos Coronéis Pedro da Silva Quinhentos, Costa Silva e Sousa, João

Lunga, Manuel Santana, Beto Sampaio, Osvaldinho da Conceição, Regardino, Tenente

Coronel Beto Nunda, Major Brice e tantos outros colegas de farda, o meu muito obrigado

pelo incentivo.

Aos Professores Doutores Alves da Rocha, Agatangelo, Kianvu Tamu, Pedro João,

pelo apoio e confiança prestada.

Aos meus colegas da Universidade Técnica de Angola e do Instituto Metropolitano

de Angola e aos meus alunos do último semestre de 2015. Aos meus amigos Professores

mestres Domingos Carlos Alberto e Natalio Vicente, Francisco da Cruz, e aqueles cambas

do peito, pelo companheirismo, carinho e apreço dedicado.

Ao Centro de Estudos de Investigação Cientifica da Universidade Católica de

Angola e aos funcionários do Instituto Nacional de Estatística, pelo apoio.

A minha orientadora Professora Doutora Maria José Tonelli, a quem considero

amiga e conselheira, uma verdadeira mãe, confesso que não sei como lhe retribui por tudo

que fez para que este trabalho se tornasse uma realidade. Obrigado pela sabia orientação

e pela forma e humilde como me tratou ao longo destes quatro anos. Agradeço a Deus

todos os dias por tê-la colocado na trajetória da minha vida.

Aos Professores Doutores das linhas de pesquisa de Estudos Organizacionais e

Estratégia, com realce para os professores Rafael Alcadipani, Rodrigo de Melo, Maria

Ester, Maria Fleury, Bertero, Ely Paiva, André Luís Silva pela inspiração acadêmica e

exemplo a seguir. Agradecimento especial também para a Professora Marta Farah do

curso de Administração Pública e ao Professor Diógenes Bido da Universidade

Presbiteriana Mackenzie, pelo apoio e prontidão na transmissão dos seus conhecimentos.

A todos os colegas do doutorado e do mestrado que ao longo dos quatro anos

partilhamos momentos de estudos, de alegria, de convivência e de angustias; Luciana

Iwashita, Marcos Salusse, Lorena, Miriam, Thales, Edvalter Holz, Douglas Feitosa,

Debora Pessoa, Genésio Vasconcelos, Vanessa Capellos, Carminha Meirelles Toledo

Cruz, Catherine, Diana, Raquel e tantos outros, o meu muito obrigado.

Aos meus amigos doutorandos e mestrandos da comunidade Moçambicana em

especial o meu amigo do peito Doutor Raimundo Alfandega Mateço, pelo apoio e

companheirismo.

Aos funcionários da Livraria da FGV São Paulo e da Secretária de Registos da

FGV; Luiz Roberto Prada, Décio Esteves, Vinicius de Castro Gonçalves, Tereza, Pamela

em especial Valdeci Araujo Souza e os demais funcionários, o meu obrigado pelo

acolhimento, companheirismo e apoio dado ao longo destes quatro anos de convivência.

A EAESP/FGV por se tornar na minha segunda casa, oferecendo uma estrutura

condigna para que eu pudesse estudar à vontade ao longo de várias horas e poder

concretizar este sonho.

RESUMO

O futuro do trabalho na atualidade tornou-se uma preocupação não só para os

estudiosos na área, mas também para a sociedade no geral, tendo em conta as mudanças

registradas quer em ambiente de negócio como sociais devido às profundas

transformações que hoje conhecemos. Todavia, vivenciam-se hoje novas maneiras de

realização do trabalho, alterações no perfil profissional das pessoas bem como nas

relações com as organizações, proporcionando desafios, mormente de adaptações a estas

mudanças. A presente tese tem como objetivo primordial, a compreensão sobre como a

evolução do trabalho no mundo tem afetado as organizações Angolanas, quais os desafios

e implicações que estas enfrentam, principalmente nas relações com os profissionais. O

referencial teórico foi baseado na literatura que retrata o tema em estudo, um assunto atual

e de interesse para as várias áreas de conhecimento como sociologia, economia, estudos

organizacionais, antropologia e outros, o que possibilitou a compreensão de como o

mercado de trabalho reage a estas transformações face as mudanças que lhe são impostas.

O tipo de pesquisa adoptada foi o descritivo e exploratório numa abordagem qualitativa.

Para a recolha dos dados foi utilizado o método survey com a aplicação de 181

questionários dirigida aos gestores das empresas Angolanas e os dados foram tratados a

partir da técnica de estatística descritiva (frequência absoluta, frequência relativa, média,

mediana e moda). Para a análise dos dados, foram levantadas três dimensões surgidas a

partir dos dados teórico-empírico que possibilitou a discussão dos dados. A pesquisa

conclui que apesar de Angola estar a atravessar uma economia em recessão, o impacto e

desafio sobre o futuro do trabalho poderá trazer várias mudanças no mercado de trabalho

com destaque para a flexibilização das condições de trabalho, o surgimento de novos

modelos de gestão e prováveis mudanças sociais que poderá originar a diminuição do

trabalho formal e proporcionar contratos flexíveis.

Palavras chaves: Angola, trabalho, futuro, organizações, desafios, impactos.

ABSTRACT

The future of work today has become a concern not only for scholars in the field,

but also for society in general, taking into account the changes recorded both in business

environment as social because of the profound changes that we know today. However,

they are now experiencing new ways to do their work, changes in the professional profile

of the people and in relations with organizations, providing challenges, in particular

adaptations to these changes. This thesis has as its primary goal, the understanding of how

the progress of work in the world has affected the Angolan organizations, what are the

challenges and implications they face, especially in relations with professionals. The

theoretical framework was based on literature that portrays the subject under study, a

current topic of interest to the various areas of knowledge such as sociology, economics,

organizational studies, anthropology and others, which allowed the understanding of how

the labor market reacts these changes face the changes that are imposed. The kind of

adopted research was descriptive and exploratory a qualitative approach. For data

collection was used the survey method with the application of 181 questionnaires

addressed to managers of Angolan companies and the data were treated from the

descriptive statistical technique (absolute frequency, relative frequency, mean, median

and mode). To analyze the data, we raised three dimensions arising from the theoretical

and empirical data that enabled the discussion of the data. The research concludes that

although Angola is experiencing an economy in recession, the impact and challenge of

the future of work can bring several changes in emphasis to labor market for flexible

working conditions, the emergence of new models of management and likely social

changes that could lead to the reduction of formal work and provide flexible contracts.

Key words: Angola, work, future, organizations, challenges, impacts.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 01 Mudanças tecnológicas consideradas profundas que ocorrerão no mercado de

trabalho..............................................................................................................

34

Quadro 02 Forças para mudança......................................................................................... 43

Quadro 03 Pressões por mudanças na organização............................................................. 44

Figura 01 Etapas de mudanças segundo Kurt Lewin......................................................... 44

Figura 02 Mudanças do processo contínuo da mudança organizacional........................... 45

Quadro 04 Fontes organizacionais e individuais de resistência.......................................... 47

Figura 03 Mapa de Angola referente a situação geográfica............................................... 49

Gráfico 01 As três etapas do crescimento de Angola.......................................................... 58

Gráfico 02 Taxa de crescimento por grandes setores de atividade...................................... 58

Quadro 05 Evolução do índice de desemprego de 2000/2014............................................ 80

Gráfico 03 Angola: efetivo total da população nos diversos censos da época colonial...... 82

Figura 04 Universidades e instituto da região acadêmica 1 – Luanda/Bengo................... 89

Quadro 06 Universidades e instituto da região acadêmica 2 – Benguela/K. Sul................ 90

Quadro 07 Universidades e instituto da região acadêmica 3 – Cabinda/Zaire................... 90

Quadro 08 Universidades e instituto da região acadêmica 4 – L. Norte; L. Sul e

Malange.............................................................................................................

91

Quadro 09 Universidades e instituto da região acadêmica 5 – Huambo, Bié e Moxico...... 92

Quadro 10 Universidades e instituto da região acadêmica 6 – Huila, C. Cubango e

Cunene..............................................................................................................

92

Quadro 11 Universidades e instituto da região acadêmica 1 – Uige e K. Norte................. 93

Quadro 12 Evolução do número de instituições de ensino superior público e privado no

período de 2002/2014........................................................................................

94

Quadro 13 Indicadores nacionais do ano acadêmico 2014.................................................. 95

Figura 05 Evolução do número de estudantes matriculados no período 2002/2014.......... 95

Quadro 14 Indicadores nacionais de estudantes do ano acadêmico 2014........................... 97

Gráfico 04 Empresas registradas no período de 2012/2015................................................ 104

Gráfico 05 Distribuição percentual de empresas registradas por situação de atividade no

período de 2012/2015........................................................................................

105

Gráfico 06 Distribuição percentual de empresas em atividade em 2015 por ano de início

de atividade.......................................................................................................

105

Gráfico 07 Distribuição de empresas em atividade por província em 2015........................ 106

Gráfico 08 Distribuição de empresas por atividade por seção da CAE Rev2 em 2015....... 106

Gráfico 09 Distribuição percentual das empresas em atividade por forma jurídica em

2015...................................................................................................................

107

Gráfico 10 Distribuição percentual de empresas em atividade por setores institucionais

em 2015.............................................................................................................

107

Gráfico 11 Participantes da pesquisa por setor de atividade................................................ 114

Gráfico 12 Faturamento das organizações participantes..................................................... 114

Gráfico 13 Tempo de atuação das organizações em Angola............................................... 115

Gráfico 14 Faixa etária da força de trabalho das organizações participantes...................... 115

Gráfico 15 Funcionários contratados pelas organizações participantes.............................. 116

Gráfico 16 Percentual de profissionais mulheres das organizações participantes............... 116

Gráfico 17 Tendências impactantes para o negócio............................................................. 117

Gráfico 18 Que mudanças farias na LGT............................................................................. 123

Gráfico 19 Situação que gostaria de viabilizar mais existem fatores impeditivos na

LGT...................................................................................................................

125

Gráfico 20 Novos modos de trabalho.................................................................................. 127

Gráfico 21 Profissionais de hoje e do futuro....................................................................... 128

Gráfico 22 Principais estratégica para as empresas se manterem competitivas em novos

cenários de trabalho...........................................................................................

130

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Programa de emprego em Angola entre 2002/2015............................... 76

Tabela 02 Estrutura setorial do emprego................................................................ 77

Tabela 03 Estrutura etária da população por sexo em 2014.................................... 84

Tabela 04 População residente com 15 ou mais anos de idade por área de

residência segundo a situação perante a atividade econômica, 2014......

99

Tabela 05 Taxa de atividade por sexo..................................................................... 100

Tabela 06 Taxa de emprego segundo sexo............................................................. 101

Tabela 07 Taxa de desemprego por sexo................................................................ 101

Tabela 08 Participação das mulheres nos órgãos de decisão da administração

pública de 2011/2012.............................................................................

102

Tabela 09 Modelos flexíveis do trabalho................................................................ 120

Tabela 10 Grau de concordância das modificações da LGT................................... 124

Tabela 11 Mudanças na organização e na gestão de pessoas.................................. 129

LISTA DE SIGLAS

AKZ – Kwanza (Denominação da Moeda Angolana)

AFDB (BAD) – Banco Africano de Desenvolvimento

ANDA – Associação Nacional dos Deficientes de Angola

ANGOP (ANAP) – Agência Nacional Angola Press (Agência Oficial de Notícias de

Angola)

ANIP – Agência Nacional de Investimento Privado

AOA – Código da moeda Angolana o Kwanza

CEIC – Centro de Estudos de Investigação Cientifica

CIA – Agência Central de Inteligência

CPLP – Comunidade dos Países da Língua Portuguesa

EAESP – Escola de Administração de Empresas de São Paulo

EUA – Estados Unidos da América

ESPA – Escola Superior Politécnica de Angola

ELNA – Exército de Libertação Nacional de Angola

FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola

FAPLA – Forças Armadas Popular de Libertação de Angola

FALA – Forças Armadas de Libertação de Angola

FGV – Fundação Getúlio Vargas

FMI – Fundo Monetário Internacional

GNL – Gás Natural Liquefeito

GTME – Grupo Técnico Multissetorial para o tratamento de dados numéricos do Mercado

de Emprego

INE – Instituto Nacional de Estatísticas

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

MPLA-PT – Movimento Popular de Libertação de Angola – Partido do Trabalho

MAPESS – Ministério da Administração Pública Emprego e Segurança Social

OECD – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OGE – Orçamento Geral do Estado

ONU – Organização das Nações Unidas

O&S – Organização e Sociedade

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento

PIB – Produto Interno Bruto

RAC: Elet - Revista de Administração Contemporânea Eletrônica

RAE – Revista de Administração de Empresas

RAS – Revista Angolana de sociologia

RAUSP – Revista de Administração da Universidade de São Paulo

REA – Revista Econômica de Angola

RTP – Rádio Televisão Portuguesa

SADC – Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral

SPELL – Scientific Periodicals Eletronic Library

UAN – Universidade Agostinho Neto

UNDP – Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas

UNECA – Comissão Económica das Nações Unidas para a África

UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola

UPA – União dos Povos de Angola

USAID - Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional

USP – Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................... 19

CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA DA PESQUISA.................................. 19

1 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................... 24

1.1 Discussões contemporâneas................................................................................... 24

1.2 Progressão tecnológica e trabalho........................................................................... 30

1.3 Flexibilização do trabalho...................................................................................... 35

1.4 Mudanças organizacionais e do perfil dos profissionais......................................... 42

1.5 O trabalho em Angola............................................................................................. 48

1.5.1 Realidade do país.................................................................................................... 48

1.5.1.1 A guerra civil.......................................................................................................... 51

1.5.1.2 A reconstrução e o crescimento econômico de Angola........................................... 56

1.6 A questão do trabalho em Angola........................................................................... 63

1.6.1 Da sua descoberta a colonização............................................................................. 63

1.6.2 Da conquista da independência a guerra civil......................................................... 67

1.6.3 Da mudança de regime aos dias de hoje.................................................................. 70

1.6.4 Privatização............................................................................................................ 70

1.6.5 Situação do emprego e desemprego........................................................................ 71

1.6.5.1 Emprego................................................................................................................. 72

1.6.5.2 Desemprego........................................................................................................... 78

1.6.5.3 Mão de obra estrangeira.......................................................................................... 80

1.6.6 Crescimento demográfico....................................................................................... 82

1.6.7 Ensino superior em Angola..................................................................................... 85

1.6.7.1 Breve historial........................................................................................................ 85

1.6.7.2 O ensino superior do período pós-independência até os dias de hoje...................... 88

1.7 Trabalho e gênero................................................................................................... 98

1.8 Descrição das empresas em Angola........................................................................ 104

2 ABORDAGEM TEÓRICO METODOLÓGICO................................................... 108

2.1 Natureza do estudo e perspectiva da pesquisa......................................................... 108

2.2 Instrumento de colheita de dados............................................................................ 108

2.2.1 Método survey (levantamento de dados) ................................................................ 109

2.3 Tratamento das informações e tratamento dos dados.............................................. 111

3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS............................................... 112

3.1 Dados demográficos............................................................................................... 114

3.2 Dimensão tendências transformadoras................................................................... 117

3.3 Dimensão flexibilidade........................................................................................... 119

3.3.1 Modelos flexíveis de trabalho................................................................................. 120

3.3.2 Modificações da LGT............................................................................................. 122

3.3.3 Grau de concordância das modificações da LGT.................................................... 124

3.3.4 Fatores impeditivos da LGT................................................................................... 125

3.4 Dimensão mudanças organizacionais e da expetativa do trabalhador..................... 126

3.5 CONCLUSÃO....................................................................................................... 131

3.5.1 Ligação do estudo com a questão da educação........................................................ 131

3.5.2 Ligação do estudo com a questão do gênero.......................................................... 133

3.5.3 Utilidade da pesquisa para Angola......................................................................... 134

3.5.4 Limitação do trabalho............................................................................................ 134

3.5.5 Impacto e desafios para as organizações em Angola.............................................. 135

3.5.6 Principais conclusões............................................................................................ 136

3.5.7 Sugestões para pesquisas futuras........................................................................... 138

3.5.8 REFERENCIAS.................................................................................................... 140

APÊNDICE

19

INTRODUÇÃO

CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO DA PESQUISA

Este estudo tem como proposta a análise do futuro do trabalho em Angola, seus

impactos e os desafios para as organizações. A temática sobre o trabalho tem sido muito

discutida, quer na sociedade, em geral, quer na academia, em particular, fruto da

evolução tecnológica, das questões sobre a pós-modernidade e sobre o consumo, que,

grosso modo, têm tido implicações no cotidiano do trabalhador. Vários são os

questionamentos feitos por analistas sobre o futuro do trabalho, seus impactos e desafios

para as organizações e para as pessoas que, em grande medida, são diretamente afetadas.

A problemática do trabalho é um dos aspectos que mais desencadeia elevadas

discussões, pois está diretamente ligada ao homem e à sua sobrevivência, de modo geral,

datando desde os primórdios da humanidade. Essa problemática possui uma história que

merece reflexão, ao olharmos de onde viemos, onde estamos e aonde vamos, além do

que pretendemos para a construção de um mundo socialmente menos desigual, menos

pobre, menos violento, menos corrupto. Será isso possível? A preocupação com o mundo

em que vivemos é premente, principalmente pelas transformações a que estamos sujeitos,

levando a mudanças sobre o modus vivendi e o modus operandi de cada um – e estas

mudanças começam com aquilo que mexe com o cotidiano das pessoas: o trabalho.

Historicamente, a palavra trabalho está adstrita à perda de liberdade, cujo

significado pode mesclar-se com o de infortúnio ou sofrimento, agregado à falta de

independência e de liberdade, se tornando num peso social; integram-se ao entendimento

da palavra trabalho, as noções de maldição e punição do pecado original (perpetrado por

Adão e Eva), como se pode depreender nos escritos da bíblia no antigo testamento

(Gêneses 3,19): “comerás o pão com o suor do teu rosto...” – passagem que ilustra o

trabalho como sendo uma necessidade considerada fatigante que resulta de uma maldição

(VATIN, 2002).

Segundo Silva (2014), a palavra “trabalho” tem sua origem no vocábulo latino

tripalium, tripálio, instrumento de tortura formado por três (tri) paus (paliu) –

literalmente: três paus. Assim, “trabalhar” significaria ser torturado no tripalium1,

análogo a um tripé, formado por três estacas cravadas no chão, no qual eram supliciados

os escravos e deixados até a sua morte.

1 Sobre esta questão, veja-se Japiassú e Marcondes (2006); Barbosa (2010) e Silva (2014).

20

À palavra tripalium liga-se o verbo (do latim vulgar) tripaliare, que significa

torturar; ou seja, suplício que substituiu o da cruz, instrumento de tortura no mundo

cristão (VATIN, 2002). Estudos de Vatin (2002) referem ainda que, da ideia inicial de

sofrer, passou-se à de esforçar-se, lutar e, por fim, a de trabalhar, que esteve adicionada

a palavras como: experiência dolorosa, padecimento, cativeiro e castigo, sobretudo

relacionadas às atividades físicas ou braçais exercidas por camponeses, artesãos,

agricultores, pedreiros etc. – que eram considerados cidadãos de segunda classe; as

atividades consideradas não físicas, como a política, o estudo, a poesia, a filosofia, eram

atribuídas a cidadãos de primeira classe, conforme atestam estudos de Offe (1984) e

Albornoz (2008). Essa concepção ainda se faz sentir atualmente.

O trabalho constitui um tema central das sociedades. Talvez, seja por essa razão

que os sociológicos o denominam como a categoria chave da sociologia, conforme frisa

Offe (1984). O desaparecimento do entendimento do trabalho, segundo o qual o trabalho,

a família e o lazer eram semelhantes, começa no século XIX, com o surgimento da

Revolução Industrial e acaba a ligação até então existente, trazendo outro conceito: “o

trabalho livre” ou, mesmo, como o denomina Webber2, o “açoite da fome” – quando a

subsistência passou a ser o foco das sociedades (OFFE, 1984:168).

Talvez seja por esta razão, sugere Pochmann (2006), que existam duas visões sobre

o trabalho desde a antiga Grécia: a visão sublime e a visão pejorativa, sendo que muitas

discussões sobre trabalho partem, sobretudo, dessas duas visões. Assim, vários são os

significados apresentados por estudiosos desta temática, que recaem numa ou noutra

visão e espelham bem as discussões em torno dela, visível a partir de questionamentos –

quer negativos, quer positivos – que nos levam a crer que trabalhar é tortura, é

sofrimento, é sobrevivência, é um ato prazeroso, é digno, é merecedor de valor.

A palavra trabalho tem vários significados na linguagem cotidiana e mais de um

significado em todas as línguas europeias, apresentando uma dualidade de conceitos,

trabalho/labor, ponos/ergon, labor/opus, labor/work e mühe/werk (ver, por exemplo,

OFFE, 1984; ALBORNOZ, 2008; ARENDT, 2016). Trata-se de um conceito

considerado polissêmico. Ferreira (2004:1134)3, ao se referir ao conceito do trabalho,

sustenta que é a “aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um

determinado fim”; é ainda considerado como uma “atividade coordenada, de caráter

2 Citado por Offe (1984:169). 3 Novo Dicionário Aurélio, tomado como preferência, já que os demais dicionários também trazem

significados polissêmicos

21

físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou

empreendimento, podendo ser especializado ou de responsabilidade”.

Sem ressentimento da sua história, o trabalho conhece uma discussão central na

modernidade, na qual a sua concepção é visível nos vários campos do saber, com realce

para a economia, a sociologia, a psicologia, a filosofia e a antropologia. As discussões se

centram no trabalho como mediação entre o homem e a natureza, na produção e seu valor,

na precariedade, na economia do trabalho, na alienação do trabalho.

Todavia, a presente pesquisa se situa no campo dos estudos organizacionais, que

vem ganhando espaço, observável ao longo do tempo, com o aumento de pesquisas sobre

o trabalho nos mais variados campos contemporâneos. Das consultas registradas, de 2000

a 2016, nos Encontros de Estudos Organizacionais da Anpad (EnEO), constatou-se que,

nesse período, foram publicados 255 artigos com a palavra-chave “trabalho” em diversos

periódicos, tais como Scientific Periodicals Eletronic Library (SPELL) – 149; Revista de

Administração de Empresas (RAE) – 42; Revista de Administração da USP (RAUSP) –

25; Revista de Administração Contemporânea (RAC) – 24; Organização & Sociedade

(O&S) – 14; Revista de Administração Contemporânea Eletrônica (RAC-Elect) – 1; e

FGV/EAESP em parceria com a PwC Brasil – 1. Embora o número de artigos publicados

demostre a preocupação com o tema, verificamos que apenas a pesquisa elaborada pela

FGV/EAESP e pela PwC Brasil, com o título “O futuro do trabalho no Brasil”, se

assemelha às caraterísticas desta tese.

Estudos sobre o trabalho em Angola são escassos. Dos poucos existentes, o

destaque vai para os do CEIC, que, normalmente, no seu relatório anual, dedica alguma

atenção sobre o emprego e a produtividade, e para a Revista Angolana de Sociologia

(RAS), que publicou, de 2000 a 2016, seis artigos com a palavras-chave “trabalho”.

Destas pesquisas, nenhuma foi direcionada para o tema “o futuro do trabalho”.

Essa descrição nos leva ao entendimento de que os estudos organizacionais não

chamaram para si a centralidade de pesquisas sobre o futuro do trabalho, o que demonstra

uma preocupação, tendo em vista que as mudanças registradas no mercado de trabalho

surpreendem o nosso quotidiano. Atendendo às características do mercado de trabalho

de Angola e à situação econômica que vive no momento, o registro de pesquisa sobre o

trabalho, quer seja de discussão global ou direcionada, é pertinente, considerando-se a

lacuna de estudos neste sentido e, provavelmente, a ausência de uma área de estudos

organizacionais.

22

Os vários argumentos desenvolvidos por cientistas sociais, grosso modo,

demonstram que o mundo do trabalho vem se transformando a cada dia e exige mudanças

tanto das organizações quanto das pessoas. Nesse sentido, vários questionamentos

surgem como preocupação para o futuro. Inquietações, como: “Trabalhar para que? ”,

“Trabalhar é uma opção ou uma necessidade? ”, “O trabalho está cada vez mais precário”

e “Trabalhamos que nem cão nos dias de hoje”. Esses e outros questionamentos são

comuns na atualidade (ver, por exemplo: ANTUNES, 2009; RIVERO, 2009; GRINT,

2002; ARENDT, 2013).

Diante dessas e de outras discussões em torno do tema, concordamos com o que

defende Morin (2001), segundo o qual é necessário compreender os sentidos do trabalho;

sendo que essa compreensão se torna um desafio para os administradores, acatando as

múltiplas mudanças que o mundo do trabalho vem conhecendo. Por essa razão, o trabalho

deve merecer um sentido para as pessoas que o realizam, em detrimento das várias facetas

impostas, tornando as sociedades cada vez mais consumistas e capitalistas.

Em linhas gerais, a crise do trabalho, embora seja genérica, tem sido mais caótica

em países em via de desenvolvimento, que enfrentam problemas de mão de obra

qualificada, com destaque para o uso das novas tecnologias, tornando mais impactante

as transformações do mundo do trabalho. Angola como um país em vias de

desenvolvimento, passa por esta realidade, no entanto, o mercado de trabalho passa por

dificuldades fruto da maior crise econômica e financeira registrada nos últimos catorze

anos. Paralelo a isso, a guerra civil sofrida ao longo dos 27 anos tem sido uma outra

influência devido a destruição de infraestruturas em quase todos os setores de atividade.

Como consequência, existe um número considerável de mão de obra desqualificada,

desemprego em alta (26%), escassez de vagas e de oportunidades de emprego, aumento

das exigências aos candidatos e maior rigor nos processos seletivos, bem como, ofertas

salariais baixas. No entanto, apesar das estatísticas demonstrarem um aumento no

número de técnicos superiores no país, verifica-se que em termos de qualidade a

qualificação do trabalhador não é acompanhada, bem como, estes se debatem com a

questão da inserção do mercado de trabalho por escassez de oferta, fazendo com que o

primeiro emprego seja um sonho de muitos Angolanos.

O futuro do trabalho está adstrito às inovações tecnológicas que, de certa forma,

influenciam tanto o mercado de trabalho como as pessoas, que se veem na obrigação de

adaptar-se às novas transformações estruturais nessas relações de trabalho. Nesse

contexto e partindo dessas considerações, este estudo pretende responder a seguinte

23

questão de pesquisa: Quais as implicações e os desafios enfrentados pelas organizações

angolanas para atender a evolução das características do trabalho?

O objetivo geral foi compreender: a evolução do futuro do trabalho no mundo e

como essa evolução tem afetado as organizações angolanas; compreendendo, também,

os desafios que essas organizações enfrentam nas relações com seus trabalhadores. De

forma específica, objetiva-se: (i) descrever a situação do trabalho nas organizações

angolanas; (ii) analisar se o investimento em tecnologia existente atualmente permite a

adoção de novas práticas de gestão; e (iii) compreender como essas mudanças geram

desafios de adaptação para as organizações e para os trabalhadores.

Com vista a dar resposta tanto à pergunta de partida, como aos objetivos, adotou-

se a análise qualitativa. O tipo de pesquisa é descritivo (estatística descritiva). Importa

salientar que os dados foram obtidos através de um levantamento survey com aplicação

de 181 questionários.

A estrutura desta tese comporta três capítulos. O Capítulo I se dedica ao referencial

teórico, no qual abordei as mais diversas discussões contemporâneas existentes sobre o

trabalho. Nele, são destacados os seguintes assuntos: progressão tecnológica e trabalho;

flexibilização no trabalho; mudanças organizacionais e o perfil dos profissionais; o

trabalho em Angola; crescimento e evolução da economia; empresas em Angola;

emprego e desemprego em Angola; trabalho e gênero e a questão das empresas em

Angola. O Capítulo II é destinado à pesquisa empírica. Nele, são abordados aspectos

relacionados à coleta dos dados. O Capítulo III trata da apresentação e da discussão dos

resultados. Na parte derradeira da tese, apresento as conclusões da pesquisa e as

referências que serviram de sustentação teórica desta tese.

24

CAPÍTULO 1 – REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 Discussões contemporâneas

As discussões contemporâneas sobre o trabalho demonstram que a revolução

tecnológica impôs determinadas mudanças relacionadas com a forma de execução do

trabalho, através de novos modelos de trabalho e da sua gestão, fazendo com que as

capacidades, as habilidades e as competências se adéquem a estas alterações – o que traz

um repensar sobre as novas configurações do trabalho.

Castells (2016:91) ao citar Mokyr (1990:82)4 realça que ao longo do tempo,

assistimos mudanças consideráveis, especialmente relacionadas com as “transformações

tecnológicas, rápidas e sem precedentes – quando comparadas com modelos históricos”,

como aqueles surgidos nos campos da indústria, da agropecuária e das comunicações.

Neste sentido, Castells (2016) considera que:

A descontinuidade histórica fundamental irreversível foi introduzida na base

material da espécie humana em um processo dependente do percurso, cuja

lógica interna e sequencial [...], foram, de fato, “revoluções” no sentido de que

um grande aumento repentino e inesperado de aplicações tecnológicas

transformou os processos de produção e distribuição, criou uma enxurrada de

novos produtos e mudou de maneira decisiva a localização das riquezas e do

poder no mundo, que, de repente, ficaram ao alcance dos países e elites capazes

de comandar o novo sistema tecnológico (CASTELLS, 2016:91).

Esta descontinuidade histórica mudou a cultura de trabalho, nas sociedades, de

maneira drástica. Percebe-se, que, atualmente, o tratamento da informação é o que mais

se evidencia como atividade laboral propriamente dita, em detrimento da transformação

da matéria, já que estamos perante a mudança da sociedade industrial para a sociedade

pós-industrial ou, como muitos a chamam, para sociedade da informação, da turbulência

ou da 4ª revolução industrial – pressupostos de uma nova ordem econômica.

Esses impactos, ocorridos de forma diferenciada, exigem o repensar tanto das

empresas como dos trabalhadores, que devem atuar de forma veloz e ágil, face as

transformações que lhes são impostas. A título de exemplo, observa Castells (2016),

desde a crise econômica da década de 1970, a reestruturação do capitalismo tem sido um

fato, carregando abordagens diferenciadas de vários analistas que, de certo modo,

sustentam a flexibilização nas estratégias organizacionais como forma de lidar com o

4 Mokyr, Joel. The Lever of Riches: Technological Creativity and Economic Progress, Nova York: Oxford

University Press. 1990

25

momento, como é o caso “da transformação da produção em massa à produção flexível”.

Estas transformações só foram possíveis com o envolvimento da tecnologia, que

consentiu na modificação das grandes linhas de montagens, consideradas típicas de

grandes empresas, para unidades de produção facilitada, através de programação

tecnológica, visando atender variações do mercado (flexibilização do produto) e das

transformações tecnológicas (flexibilidade do processo).

Neste sentido, fica bem claro que a maneira como o trabalho se constituiu começa

a ser redimensionada, através da prática de novos métodos de trabalho, proporcionada

pelas TIC, que acatam ao exercício da atividade econômica, separado do padrão

tradicional de produção, centrada em máquinas e pessoas em amplas organizações fabris,

a trabalhar diretamente sob vigilância do empregador (MAGANO, 1999).

Atendendo às novas formas de trabalho e à forma de realização (onde pode ser feito,

isto é, qualquer lugar e a qualquer hora), a descentralização do processo produtivo deixa

de ser entendida como trabalho domiciliar clássico e passa a ser vista de uma outra forma,

com preponderância do trabalho intelectual sobre o manual, sem o mando direto da

entidade empregadora.

O franco desenvolvimento do mercado do trabalho e as suas transformações, bem

como a forma como as teorias da indústria cultural, da reificação, do fetichismo da

mercadoria e da racionalidade instrumental, verificada atualmente no mundo, têm

contribuído no deslocamento da atenção da produção para o consumo e os processos de

mudanças culturais (FEATHERSTONE, 2007). Como consequência, nos arrastamos de

um sistema fundamentado na indústria de bens materiais para outro associado (e mais

essencial) com a informação (GIDDENS, 1991).

Estudos de Baumam (2008b) atestam que estamos diante a uma sociedade cada vez

mais “plugada”, na qual os hábitos são altamente mutáveis. As redes sociais se tornaram

no sucesso do momento e deixaram de ser consideradas o próximo sucesso. O

imediatismo cercou o ser humano, tornando-o uma mercadoria atraente e desejável – ao

contrário de outrora, quando a posse de grandes quantidades de bens duráveis era

sinônimo de segurança (e que se tornou maior posse dos grandes produtores, ou seja, nada

era imediato). Segundo Featherstone (2007), a expressão “estilo de vida” está atualmente

na moda. Prossegue, dizendo que:

No âmbito da cultura de consumo contemporânea ela conota individualidade,

autoexpressão e uma consciência de si estilizada. O corpo, as roupas, o

discurso, os entretenimentos de lazer, as preferências de comida e bebida, a

casa, o carro, a opção de férias, etc., de uma pessoa são vistos como indicadores

26

da individualidade do gosto e o senso de estilo do proprietário/consumidor

(FEATHERSTONE, 2007).

Esse conceito, segundo o autor, difere da noção de consumo que se tinha na década

de 1950, conhecida como a era do conformismo cinzento e do consumo em massa. O

estudo sobre o consumo e a cultura esteve sempre em segundo plano, ou seja, um tema

secundário, periférico e feminino, ao contrário da centralidade relativa à produção e à

economia, temas mais masculinos. O despertar para discussões desses temas ganhou

notória importância no julgamento das afinidades sociais e dos aspectos culturais a partir

da década de 1970, devido ao surgimento da era pós-industrial (FEATHERSTONE,

2007). Depreende-se, no entanto, que o tema consumo ganha proporções com o

desenvolvimento da tecnologia. A figura do consumidor moderno se impõe (BAUMAN,

2008b). Contudo, nessa perspectiva, o sentido do trabalho se torna questionável, pois o

trabalhador se torna um consumista e sofre as consequências que daí advêm.

Bauman (2008b) refere que somos ao mesmo tempo os promotores da mercadoria

e as mercadorias que promovemos. Independentemente do nicho no qual cada um se

encontra, todos somos habitantes do mesmo espaço social – conhecido como mercado.

As tendências recentes da cultura do consumo trouxeram, nos dias de hoje, novas formas

exacerbadas de consumo, sem regras, sem escolhas e sem segurança. Nesse aspecto,

Bauman (2008b) discute a importância de uma estrutura de segurança das posses voltadas

à era do não imediato, ou seja, à sociedade produtora. Ademais, o ambiente confiável,

ordenado, regular e transparente se caracterizava nessa estrutura de segurança; pois, como

refere:

A sociedade de produtores, principal modelo societário da fase sólida da

modernidade, foi basicamente orientada para a segurança. Nesta busca,

apostou no desejo humano de um ambiente confiável, ordenado, regular,

transparente e, como prova disso, duradouro, resistente ao tempo e seguro.

Esse desejo era de fato uma matéria-prima bastante conveniente para que

fossem construídos os tipos de estratégias de vida e padrões comportamentais

indispensáveis para atender à era do “tamanho é poder” e do grande é lindo:

uma era de fábricas e exércitos de massa, de regras obrigatórias e conformidade

ás mesmas, assim como de estratégias burocráticas e panópticas de dominação

que, em seu esforço para evocar disciplina e subordinação, basearam-se na

padronização e rotinização do comportamento individual (BAUMAN, 2008b

p.42).

Considerada também como sendo uma era sólida e moderna (sociedade de

produtores), nela, residia a satisfação, tendo o comprometimento na segurança de longo

prazo e não no desfrute de prazeres imediatistas. Não obstante a descrita importância da

sociedade de produtores, ao longo dos tempos, esta foi dando passagem para o surgimento

27

da sociedade de consumidores. Lipovetsky (2005) e Bauman (2008b) defendem que essa

passagem foi gradual, saindo da opção de não escolher para a opção de múltiplas escolhas,

em função das suas necessidades, dando a primazia de o indivíduo assumir características

líquidas, conforme denomina Bauman (2008b).

Paralelamente a estes quesitos, uma nova modalidade de trabalho em rede surge.

Atestam Boltanski e Chiapello (2009), nos seus estudos, que, a crise estrutural do

capitalismo a partir da década de 1970, começa a conhecer uma nova direção, adstrita à

perda de influência do protótipo de produção usual, originária da hipergênese financeira

vinculada ao novo processo de internacionalização do capital, devido à concorrência

intercapitalista e da desregulação dos mercados, bem como da força de trabalho5.

Começa, assim, a nova ordem da força de trabalho, cuja proliferação do trabalho

em rede ganha corpo, proporcionando mudanças entre o capital e as propriedades. O

mundo conexionista, como chamam Boltanski e Chiapello (2009), provocou uma

mudança no plano moral do capitalismo. Esses autores (2009) referem que, num mundo

conexionista, a poupança, embora não desapareça, proporciona outro tipo de bem, no qual

a raridade (pelo menos nas categorias não confrontadas como necessidade imediata) não

diferencia as possessões materiais, mas sim o tempo. Neste pensar, estamos aprisionados

ao tempo, sendo que a sua gestão pressupõe manter e estabelecer conexões mais

lucrativas, abstendo-se dos considerados desperdícios como os de ordem afetiva. Grosso

modo, o apego ao capital (dinheiro e propriedade) se afasta dos hábitos burgueses

tradicionais. Como dizem Boltanski e Chiapello (2009), “os modos de atividades mais

bem ajustados a um mundo conexionista marcam de fato uma guinada na história do

capitalismo, porque contribuem para pôr em ação a definição ocidental da propriedade”.

Atendo-se a estes ideais, o mundo do trabalho tem conhecido mudanças

permanentes, sendo um fato a sua adaptabilidade às constantes mudanças. A implantação

deste novo “vivendi e operandi” do trabalho muda expressivamente a maneira como a

empresa organiza suas funções, seu controle e sua infraestrutura, assim como produz

alterações na eficácia do indivíduo na sua forma de autodomínio na sociedade. No

entanto, o próprio progresso, que veio dar oportunidades de empregos diretos e indiretos,

arrecadação de tributos e tantos outros benefícios, também trouxe grandes problemas,

como as dificuldades de acesso ao local de serviço, número excessivo de veículos,

poluição ambiental, êxodo rural para os grandes centros, falta de segurança, carência de

5 Sobre esta questão, veja-se, com mais detalhes: ALVES, Giovani. Trabalho e subjetividade: o espírito

do toyotismo na era do capital manipulatório. Boitempo, 2011.

28

residências, elevados custos dos aluguéis de residências e tantos outros, o que obriga as

pessoas a residirem em bairros ou em municípios vizinhos do seu local de trabalho, ou

mesmo proporcionar uma representatividade conexionada, onde o local de trabalho não

constitui um apego.

Solucionado um problema, surgem outros, como a dificuldade de acesso rodoviário

e de transporte e a poluição ambiental em decorrência dos gases poluentes expelidos pelos

meios de transporte e, concomitantemente, os congestionamentos, trazendo imensos

problemas às populações, como estresse, gastos de combustíveis desnecessários, perigos

de acidentes e de assalto, perda de tempo etc. – situações registradas nas grandes cidades,

que impulsionam uma diferente forma de trabalho: o trabalho descentralizado.

No entendimento de Harvey (2012), existem duas formas evidentes de narrar as

transformações verificadas no final do século passado, concomitantemente às saídas

neofordista e pós-fordista. Na neofordista, que se constitui uma continuidade fordista,

percebeu-se uma rotura; ao passo que, na pós-fordista, que se considera como uma saída,

denotou-se o inverso, sendo a inovação a tônica dominante para uma nova configuração

fordista. Uma terceira opção (a que o autor mais se afinca) estaria relacionada às

“tecnologias e às formas organizacionais flexíveis que, entretanto, não se mostrou

hegemônica” em relação ao fordismo precedente, como defende Harvey.

Todas essas mudanças no sistema capitalista de produção contribuíram, em grande

medida, na transformação dos modelos de negócio, bem como no trabalho e no perfil do

trabalhador, conforme acima narrado. Não obstante, a partir da década de 1990, começam

a emergir as tecnologias de informação e comunicação em rede reconfigurando os

negócios, com o surgimento de transformações práticas das empresas de diferentes portes,

ramos de atividade, bem como nas relações entre os stakeholders e os shareholders, além

de outros tipos de relações advindas.

Nos seus estudos, Castells (2003) considera a existência de várias características de

empresas emergentes em redes, como: escalabilidade, interatividade, flexibilidade (com

destaque na sua administração), marca e customização. Um dos setores que considera

existir um dos modelos de empresa em rede em todo espectro é o de vestuário. Castells

aponta sua flexibilidade administrativa e de produção como a garantia da comercialização

em grande escala global. O mercado mundial, nos dias de hoje, está suportado por

conexões (redes), cujo atendimento de um determinado produto, por exemplo, comprado

no Brasil, pode ser feito por um espanhol ou vice-versa. Neste prisma, defende o autor, o

perfil do trabalhador passa por mudanças, tornando-o capaz de satisfazer essa nova

29

exigência de perfil, adequando-se as novas modalidades oferecidas pelo mercado de

trabalho e não só, pois, como afirma Castells (2003, p. 77), “se a avaliação do mercado

financeiro indica o resultado final do desempenho da companhia, é o trabalho que

continua sendo a fonte de informação e competitividade”. O autor prossegue, dizendo

que, “além disso, o trabalho é mais importante que uma economia que depende da

capacidade de descobrir, processar e aplicar informação cada vez mais em rede”. Não

obstante, o trabalho nunca foi tão valorizado.

De modo geral, pode-se depreender que a tecnologia e a agência no processo de

inovação não são um problema simples de explorar, como o contexto social de

tecnologias de influências de uso que são construídas socialmente em um contexto de

fomentador e vice-versa.

Pesquisas de Badham (2006) consideram que, a pesquisa sobre a construção social

e dinâmica da ciência e da tecnologia ao longo das últimas décadas, tem influenciado

fortemente as investigações da tecnologia e da transformação do trabalho, sendo a

tecnologia tida como uma influência exógena, na qual o impacto discernido

cientificamente pode ser adaptado. Badham (2006), ao citar McLoughlin (1999), discorre

que os estudiosos consideram, cada vez mais, o termo mudança tecnológica como um

processo social, em que a agência social na forma da cultura de trabalho, estrutura, e na

forma de políticas de como a tecnologia é projetada, implementada e utilizada. Os debates

adstritos ao tema têm produzido reconhecimento e especulações sobre o futuro do mundo

do trabalho face ao impacto da nova geração tecnológica. O argumento apresentado pelo

autor tem a ver com o valor de adotar uma abordagem integrativa multidimensional para

explorar mudanças tecnológicas no trabalho.

Badham (2006) defende que as análises tradicionais do impacto da tecnologia, bem

como explorações mais recentes do papel da agência social na definição de tecnologia,

não são necessariamente uma competição, mas que ambos tratam de questões duradouras

e de suma importância no estudo da tecnologia e da transformação do trabalho.

No entanto, apesar do seu valor e da sua relevância permanente, as versões mais

fortes destas abordagens permanecem restritas a uma abordagem unidimensional ao local

de trabalho e sua transformação, atendendo ao efeito da técnica sobre o social e vice-

versa. Numa abordagem mais complexa, reconhece-se a influência entre o técnico e o

social, ou seja, a abordagem bidimensional que precisa ser integrada com o explorar de

uma terceira dimensão – a esfera emergente do sociotécnico, uma realidade sui generis,

com características, dinâmicas e efeitos que não são redutíveis a seus componentes sociais

30

e técnicos. Essa terceira dimensão é composta de complexas combinações entrelaçadas

de elementos humanos e não-humanos (pessoas e coisas). Este argumento não pode ser

entendido como a superioridade da abordagem tridimensional, mas, sim, como a

importância de integrar as três dimensões de análise. Badham (2006) defende, ainda, que

a questão não é se a tecnologia traz mudança social ou se as mudanças sociais causam o

surgimento da tecnologia; a questão é o que muda e em quais circunstâncias.

1.2 Progressão tecnológica e trabalho

O século XX é apontado como o início da revolução industrial e,

concomitantemente, das grandes transformações registradas no sistema capitalista. Essas

transformações tiveram grande impacto no mundo do trabalho e se arrastam até a

atualidade, trazendo incertezas para o futuro do trabalho. Por essa razão, vários

questionamentos surgem neste sentido: a centralidade do trabalho (OFFE, 1989); a era do

acesso e o fim do emprego (RIFKIN, 2001; 2004); o trabalho como opção ou necessidade

(RIVERO, 2009); o adeus ao trabalho e a sua precariedade (ANTUNES, 2011). Todavia,

o futuro do trabalho é da incerteza, fruto da progressão tecnológica que, cotidianamente,

invade o mundo do trabalho, impondo mudanças para as empresas e para as pessoas que,

sucessivamente, estão sujeitas às mudanças. Por conta disto, maiores incertezas estão na

economia, com uma balança que varia entre a recessão e o boom econômico, impondo

uma “nova ordem econômica”, como observa Pochmann (2002); mas também na

identificação de atividades econômicas associadas a novas tecnologias que impactam o

mundo do trabalho.

Nas suas pesquisas, Pochmann (2002) defende existir três características

fundamentais que marcam a história do capitalismo através dos principais agentes

econômicos: (i) o profundo princípio da incerteza das ações capitalistas; (ii) o crescimento

da insegurança no mundo do trabalho; e (iii) a ampla instabilidade governamental. Em

tese, a incerteza defendida pelo autor está patente na existência da concorrência

desregulada das empresas, onde se identifica a expansão da concentração e da

centralização do capital, que poderão derivar na imprecisão de quais são os grupos

econômicos que continuarão dominantes. Esta incerteza torna-se mais forte com o avanço

das tecnologias – o que poderá se estabilizar, como fruto de uma nova regulação da

concorrência e da estabilidade tecnológica. No segundo momento, a insegurança está nos

direitos da estabilidade do trabalhador, que vê as suas ocupações serem trocadas por

31

segundas categorias, o que proporciona o abandono do pleno emprego e,

substancialmente, a recaída para a precariedade de parte da sua ocupação; e o terceiro

momento da insegurança é visível na instabilidade governamental e dos representantes

sociais. Este último aspecto é muito defendido pela literatura, que tem demonstrado a

incapacidade dos governos em garantir a estabilidade do emprego, o que torna o

trabalhador mais frágil na luta por uma estabilidade no mundo do trabalho. Talvez seja

por essa razão que Rifkin (2004), ao defender a sua tese sobre o desemprego no mundo,

chame a atenção para a existência da necessidade de maior assistência social dos governos

na forma do que denomina de “salário social”, assim como inputs para o desenvolvimento

do terceiro setor – das organizações sem fins lucrativos.

As modificações do trabalho, que datam desde o início da revolução industrial,

enfatizam as discussões relativas às mudanças impostas no que se referem às novas

oportunidades de emprego e às qualidades decorrentes, propondo grandes desafios para

os trabalhadores. Nesse sentido, a invasão tecnológica, no mundo do trabalho, contribuiu

para as desigualdades sociais em todos os sentidos. Ao citar a tese de Tosel (1995)6,

Antunes (2011) discorre que:

É a própria centralidade do trabalho abstrato que produz a não centralidade do

trabalho presente da massa dos excluídos do trabalho vivo que uma vez (des)

socializados e (des) individualizados pela expulsão do trabalho, procuram

desesperadamente encontrar formas de individuação e de socialização nas

esferas isoladas do não – trabalho (atividade de formação de benevolência e de

serviço), Antunes (2011:175).

Neste sentido, como frisa o autor, a ciência está se convertendo na principal força

produtiva em substituição do “valor-trabalho” – o que desconsidera, na visão do autor, a

interação entre o trabalho vivo e o avanço tecnocientífico em razão do desenvolvimento

capitalista.

Nos seus estudos, Kotler (2015) chama a atenção sobre o desenvolvimento da

tecnologia que, no seu entender, desde o início da revolução industrial, tem vindo a causar

desemprego massivo e a representar grande desafio para as indústrias que, rapidamente,

têm que se automatizar, sob pena de extinção. A rápida progressão tecnológica traz

consigo incertezas que tornam o ser humano um trabalhador do conhecimento que, no seu

cotidiano, tem de lidar com as mudanças impostas. Nesta linha de entendimento;

6 TOSEL, André. Centralité et non-centralité du travail ou la passion des hommes superflus. In: BIDET,

Jacques. La crise du travail: actuel Marx confrontation. Paris: PUF, 1995.

32

O computador pessoal, a internet, os novos materiais a substituírem os antigos,

a biotecnologia, entre tantos outros novos descobrimentos técnico-científico,

cria perspectivas de conformação dos novos parâmetros capazes de

fundamentar a sociedade do conhecimento. Tudo isso, é claro, direcionado às

perspectivas que são abertas na primeira década do século 21, (POCHMANN,

2002:11).

Em contraponto, estes avanços tecnológicos propiciam a desigualdade em termos

de desenvolvimento, que se arrasta desde a primeira e a segunda revoluções industriais,

afetando em demasia os países subdesenvolvidos e com renda per capita baixa, o que

dificulta o desenvolvimento tecnológico e o acesso da população. Defende Pochmann

(2012) que o sucesso tecnológico deve estar alinhado às condições sociais, políticas,

econômicas e culturais internas e externas. Nesse sentido, a macroeconomia é

fundamental para o combate às desigualdades, no que tange à remuneração e às condições

de trabalho. A existência de assimetrias relativas à progressão tecnológica distancia os

países desenvolvidos dos países emergentes e subdesenvolvidos (com realce para os

países pobres da África), onde o acesso à tecnologia de informação é ainda considerado

extremamente restrito – esse acesso reduz-se às famílias consideradas abastadas. No caso

de Angola, os dados do INE, em 2014, referem que 37,5% da população com 5 ou mais

anos têm acesso a telefone celular, 9,9% têm acesso a computador e 10,2% têm acesso à

internet, o que espelha bem a situação dos países subdesenvolvidos.

Essas mudanças serão mais drásticas para o mundo do trabalho com o advento da

quarta geração industrial, conforme denominou Schwab (2016:18), que defende que

estamos diante de uma nova ciência da vida, sob a forma da biotecnologia e da

nanotecnologia, pois, como afirma:

A escala e o escopo da mudança explicam por que as rupturas e as inovações

atuais são tão significativas. A velocidade da inovação, em termos de

desenvolvimento e rupturas, está mais rápida do que nunca. Os atuais

disruptores – Airbnb, Uber, Alibaba e afins – que hoje já são nomes bem

familiares eram relativamente desconhecidos a poucos anos (Schwab,

2016:18).

Para vários autores, o mundo caminha para o mais rápido desenvolvimento

tecnológico da sua história sem que, contudo, estejamos preparados para enfrentá-lo ou

mesmo preparados para o risco de uma guerra biológica ou química ou preparados, por

fim, para a sobrevivência da própria vida humana após um holocausto nuclear. Como

defende Schwab (2016), o que difere a terceira revolução industrial – a era dos microchips

33

– da quarta revolução industrial – a era da nanotecnologia – é o uso das tecnologias de

informação, que se liga à internet das coisas – que permite a conexão virtual e os

elementos físicos reais.

Estas tendências afetarão em demasia o mundo do trabalho, que poderá assistir o

desmoronar de várias indústrias que, por fatores econômicos, não poderão acompanhar

as mudanças relativas ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, tendo, como

consequência, número elevado de desempregados. Segundo Kotler (2015),

Queremos avaliar não apenas o bem-estar do trabalhador hoje em dia, mas

também qual será a perspectiva para o bem-estar dele no futuro, examinado

especificamente se o capitalismo poderá gerar empregos suficientes para as

pessoas em um futuro marcado pela crescente automatização. A Organização

Internacional do Trabalho, uma agência das Nações Unidas, estima que o

número de pessoas desempregadas no mundo hoje é superior a 200 milhões, e

a situação provavelmente ficará pior (KOTLER, 2015:110)7.

A necessidade de mudança imposta em razão do desenvolvimento e da progressão

tecnológica faz com que o trabalhador se adapte a esta nova realidade, mormente no

aumento dos seus conhecimentos técnico profissionais, sob pena de cair no desemprego.

Nesse sentido, as relações duradouras entre trabalhador e empresa deixam de ser uma

tendência vigente do passado, quando a manutenção das pessoas na organização era vista

como uma estratégia. O surgimento da quarta revolução industrial impõe mais mudanças

para as organizações e para os trabalhadores, o que permitirá flexibilização nas mais

variadas formas de trabalho, que constituirá estratégias para a junção entre organização e

o trabalhador. Nos seus estudos sobre a presença da revolução industrial, Schwab (2016)

apresenta algumas mudanças profundas à sociedade em função da conectividade digital

de software, sendo que a escala do impacto e a velocidade das mudanças diferenciam-se

das revoluções tecnológicas anteriores. O autor apresenta 21 mudanças tecnológicas e

duas adicionais8, conforme se segue:

7 Citação retirada por Kotler (2015) em http://www.pbs.org/newshour/rundown/more-than-200-million-

people-were-unemployed-in-the-world-in-2013/. 8 O impacto sobre estas mudanças profundas referidas pelo autor foi extraído do relatório de 2015 referente

à pesquisa sobre mudanças profundas – pontos de inflexão tecnológicos e impactos sociais do Conselho da

Agenda Global do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do software e da sociedade, como resultado

de uma pesquisa feita com 800 executivos, do qual, como resultado, foram extraídas 21 mudanças

tecnológicas e duas adicionais.

34

Quadro 1: 21 mudanças tecnológicas consideradas profundas que ocorrerão no mercado de trabalho

MUDANÇA 1: TECNOLOGIA IMPLANTÁVEIS

O ponto de inflexão: o primeiro telefone celular implantável e disponível comercialmente.

Até 2025: 82% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 2: NOSSA PRESENÇA DIGITAL

O ponto de inflexão: 80% das pessoas com presença digital na internet.

Até 2025: 84% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 3: A VISÃO COMO UMA ANÁLISE DE INTERFACE

O ponto de inflexão:10% de óculos de leitura conectados à internet.

Até 2025: 86% dos entrevistados esperam que este ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 4: TECNOLOGIA VESTÍVEL

O ponto de inflexão: 10% das pessoas com roupas conectadas à internet

Até 2025: 91% dos entrevistados esperam que este ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 5: COMPUTAÇÃO UBÍQUA

O ponto de inflexão: 90% da população com acesso regular à internet.

Até 2025: 79% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 6: UM SUPERCOMPUTADOR NO SEU BOLSO

O ponto de inflexão: 90% da população com smartphones.

Até 2025: 81% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 7: ARMAZENAMENTO PARA TODOS

O ponto de inflexão: 90% das pessoas com armazenamento ilimitado e gratuito (financiado por

propagandas publicitárias).

Até 2025: 91% dos entrevistados esperam que este ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 8: A INTERNET DAS COISAS E PARA AS COISAS

O ponto de inflexão: 1 milhão de sensores conectados à internet.

Até 2025: 89% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 9: CASA CONECTADA

O ponto de inflexão: mais de 50% do tráfego da internet consumido nas casas para os aparelhos e

dispositivos (não para o entretenimento ou a comunicação).

Até 2025: 70% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 10: CIDADES INTELIGENTES

O ponto de inflexão: a primeira cidade com mais de 5 mil pessoas e sem semáforos.

Até 2025: 64% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 11: BIG DATA E AS DECISÕES

O ponto de inflexão: o primeiro governo substituído por fontes de big data

Até 2025: 83% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 12: CARROS SEM MOTORISTAS O ponto de inflexão: Carros sem motoristas chegarão a 10% de todos os automóveis em uso no EUA.

Até 2025: 79% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 13: A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E A TOMADA DE DECISÕES

O ponto de inflexão: a primeira máquina com IA a fazer parte de um conselho de administração.

Até 2025: 45% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 14: A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E AS FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS

O ponto de inflexão: 30% das auditorias corporativas realizadas por IA.

Até 2025: 75% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 15: ROBÓTICA E SERVIÇOS

O ponto de inflexão: o primeiro farmacêutico robótico dos EUA.

Até 2025: 86% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 16: BITCOIN E BLOCKCHAIN

O ponto de inflexão: 10% do produto interno bruto mundial (PIB) armazenado pela tecnologia

blockchain.

Até 2025: 58% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 17: ECONOMIA COMPARTILHADA

O ponto de inflexão: globalmente, mais viagens/trajetos por meio de compartilhamento do que em

carros particulares.

Até 2025: 67% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 18: OS GOVERNOS E O BLOCKCHAIN

O ponto de inflexão: primeira arrecadação de impostos através de um blockchain

Até 2025: 73% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 19: IMPRESSÃO EM 3D E FABRICAÇÃO

35

O ponto de inflexão: produção do primeiro carro impresso 3D.

Até 2025: 84% dos entrevistados esperam que este ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 20: IMPRESSÃO EM 3D E SAÚDE HUMANA

O ponto de inflexão: o primeiro transplante de um fígado impresso em 3D.

Até 2025: 76% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 21: IMPRESSÃO EM 3D E PRODUTOS DE CONSUMO

O ponto de inflexão: 5% dos produtos aos consumidores impressos em 3D.

Até 2025: 81% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 22: SERES PROJETADOS

O ponto de inflexão: nascimento do primeiro ser humano cujo genoma humano inteiro foi direto e

deliberadamente editado.

MUDANÇA 23: NEUROTECNOLOGIAS

O ponto de inflexão: o primeiro humano com memória totalmente artificial implantada no cérebro.

Fonte: Adaptado de Schwab (2016:115-159)

Com o começo da 4ª revolução industrial, o mundo do trabalho tem conhecido e

conhecerá mudanças profundas devido os avanços desenvolvidos com as tecnologias de

informação em todos os setores de atividade humana. Essas mudanças poderão trazer, por

um lado, alienação e, por outro, sofrimento. Por esta razão, a flexibilização pode-se tornar

uma ferramenta prática de inovação visando o alcance da subjetividade humana,

atendendo os interesses e as necessidades reinantes ante o capital, pressupostos existentes

no modo de produção capitalista.

Ao nos atermos nestas prováveis mudanças, ocorrerá, de certa forma, a

flexibilização entre as organizações e os trabalhadores, tendo em conta que muitas destas

inovações só serão possíveis com a existência do trabalho em sistema de nuvem,

dispensando a presença física do trabalhador, os problemas de mobilidade geográfica e

funcional e outros. A flexibilidade incentiva a qualidade e a inovação organizacional,

bem como melhora as relações de trabalho entre a organização e o trabalhador em várias

frentes de atuação sem, contudo, as partes se desvirtuarem das leis trabalhistas. Esses

aspectos serão tratados no ponto seguinte.

1.3 Flexibilização do trabalho

Conforme as discussões já elencadas, o mundo do trabalho e do consumo está

adstrito à nova faceta do capitalismo, bem como às transformações tecnológicas que, a

todo tempo, vêm mudando o modus vivendi e o modus operandi das sociedades, desde as

consideradas mais modernas até as consideradas em desenvolvimento ou em vias de

desenvolvimento. A flexibilização do trabalho surge com a revolução industrial, embora

alguns autores defendam o seu surgimento antes, de forma amiúde. Pastore (1994)

36

defende que a flexibilização pressupõe a perda dos direitos adquiridos, quer seja por

negociação com entidade empregadora ou pela flexibilização exposta por lei trabalhista,

o que pode causar a diminuição da proteção do trabalhador, além de outros benefícios. A

flexibilização pode ser adotada por vários motivos, entre os quais situações econômicas

e evolução tecnológica. O surgimento de uma nova tecnologia pode dar lugar à adaptação

de novas normas flexíveis que podem ser negociadas com o objetivo de salvaguardar a

manutenção do emprego.

Nas suas pesquisas, Gonçalves (2007:115) fundamenta esta tese com base na visão

da economia do mercado. Segundo o autor, “a flexibilização se fundamenta

ideologicamente na economia de mercado e na saúde financeira das empresas”, portanto,

a flexibilização, em parte, contribui para o número elevado de empregados excluídos do

emprego formal que, ao ingressarem no desemprego, perdem a sua dignidade. Para

Kovács (2014), a flexibilidade é sinônimo de liberdade e autonomia individual, de

empreendedorismo e empregabilidade. Em termos de definição, é “a capacidade das

empresas de se adaptarem as variações de atividade conjuntural ou estrutural, decorrentes

de flutuações dos mercados, produtos, tecnologia ou de clientela” (GUELAUD e

LANCIANO, 1991, apud KOVÁCS, 2014:34). Segundo Kovács, é um mito a afirmação

segundo o qual as pessoas estão sujeitas a levar uma vida de insegurança e a aprender a

desejá-la, quando falamos de flexibilização. Kovács defende a tese de que a flexibilidade

de trabalho e do emprego pode conter riscos9, mas pode ser entendida como uma

oportunidade10. Todavia, a autora defende que a flexibilidade do mercado de trabalho

deve ser vista como promotora do crescimento da economia e do emprego. Apesar de esta

ser uma realidade, contraria os defensores de uma perspectiva pessimista, que defendem

que a flexibilização desregula o mercado de trabalho, liberaliza a privatização, promove

o desemprego, aumenta o emprego precário e deteriora as condições de vida e de trabalho

(KOVÁCS, 2016).

Dificilmente, o mundo ficará dissociado das tecnologias de informação e da forma

como a cultura do consumo invade a vida de qualquer cidadão. É notória a forma oculta

como é imposta à sociedade o uso das novas tecnologias e que, por conta disso, verificam-

9 “Precariedade de emprego, remunerações baixas e irregulares, ocupações pouco qualificadas, ausência ou

escassez de oportunidades de formação, conflitos com a vida familiar e agravamento da segregação sexual

e das desigualdades sociais” (KOVÁCS, 2016:34). 10 “Possibilidade de uma participação laboral mais adequada às necessidades e aspirações individuais,

alargamento das qualificações, acesso a empregos bem remunerados, maior autonomia, melhor articulação

com a esfera familiar e pessoal, e melhoria da qualidade de vida” (KOVÁCS, 2016:34).

37

se mudanças nas condições de trabalho em todas as esferas sociais, econômicas e

ambientais. A alienação, imposta ao trabalhador de forma crescente e tendenciosa, se

caracteriza cada vez mais em grande escala global (ANTUNES, 2011).

É nesta perspectiva que Antunes et al. (2009) apresentam duas facetas de polaridade

da classe trabalhadora, nomeadamente os operadores de telemarketing, de um lado, cujos

trabalhadores majoritariamente são do sexo feminino, setor no qual a precariedade é

acentuada e atrelada ao resplandecente, porém inatingível, mundo do consumo. E, do

outro extremo, o cibertrabalhador, o qual envolve as tecnologias de informação que deve

ser considerada tecnologia tanto de produção como de consumo. Os cibertrabalhadores

possuem uma certa autonomia, razão pela qual são considerados menos prisioneiros da

própria individualidade e tidos como empreendedores. A par destas, há outras facetas do

trabalho, surgidas à luz dos avanços tecnológicos, que, apesar da autonomia e de outros

aspectos favoráveis ou não, põem em causa a relação entre organização e trabalhador, o

que requer uma certa flexibilização, tendo em conta que passam a ser uma nova forma de

trabalho imposta pelas mudanças do mundo do trabalho e que devem ter o olhar da lei

trabalhista.

No nosso entender, as novas formas de trabalho exigem mais do trabalhador, que

deve ser trabalhador do conhecimento (imposição capitalista), visando que este se torne

num parceiro da organização, cujos valor, raridade, imitabilidade e organização lhe são

exigidos. Em tese, a realização de trabalho emergente tem conhecido aumento contínuo

relativo ao conteúdo intelectual do trabalho, que requer flexibilização de jornadas de

trabalho, contratos de trabalho e carga horária, além de flexibilização no trabalho da

mulher, na aposentadoria e providência social, na rotatividade e outras. Estes aspectos

podem afetar as relações entre a organização e o trabalhador, uma vez que, direta ou

indiretamente, estimulam a inovação e, acima de tudo, novos modelos de gestão que

podem ser introduzidos como estratégias de negócios e aumento da competitividade.

No entendimento de Holzmann e Piccinini (2011), a flexibilização foi construída e

consolidada como resultado do registro de um forte movimento de trabalhadores e de

implementação de políticas públicas de bem-estar social ocorridas ao longo do século

XX. Como referem os autores:

A flexibilização relativa ao mundo do trabalho é o conjunto de processos e de

medidas que visam alterar as regulamentações concernentes ao mercado de

trabalho e às relações de trabalho, buscando torna-las menos ordenadas e

possibilitando arranjos considerados inovadores diante de uma forte tradição

de controle legal das relações laborais, [...] O significado de flexibilização no

38

contexto contemporâneo evidencia-se na comparação com o padrão de

relações laborais vigentes após a II Guerra mundial, particularmente nos países

onde se constituiu o estado do bem es social (HOLZMANN E PICCININI,

2011:196).

Para algumas profissões assalariadas, é coisa do passado a existência do contrato

de trabalho por tempo indeterminado, as jornadas de trabalho pleno, o adeus ao velho

slogan “crescer, viver e morrer na organização”, a proteção dos direitos trabalhistas e

outros que, fruto da dinâmica do mundo do trabalho, deixaram de fazer parte da vida de

muitos profissionais que sobrevivem através de um contrato determinado e com um

sindicato de mãos atadas para defendê-lo em determinado momento.

Cada vez mais crescente é o número de profissionais que, fruto da flexibilização,

são admitidos em prol de outros modelos contratuais. Holzmann e Piccinini (2011:196-

197) citam Beynon (1999)11, que denominou de trabalhadores hifenizados aqueles que

possuem “contratos determinado (casual-workers); que possuem contratos temporários

(temporary-workers); contratos em tempo parcial (part-time-workers) e os trabalhadores

por conta própria (self-employed-workers)”. Refere ainda o autor que aqueles que

defendem a flexibilização destes tipos de contratos alegam que esses trazem benefícios

legais quanto à mobilidade da força do trabalho e a sua contratação. Contrariamente à

essa visão, Antunes (2011) defende que a flexibilização promove a precariedade do

trabalho, trazendo mais prejuízos ao trabalhador do que benefícios.

Nos seus estudos, Boyer (1987)12, citado por Holzmann e Piccinini (2011:196-197),

disserta que a flexibilização do trabalho reage em função das perturbações registradas no

meio ambiente através de três modalidades diferenciadas. A primeira modalidade “diz

respeito às escolhas tecnológicas e organizacionais feitas no momento da concepção da

unidade de produção, as quais condicionam as possibilidades de adaptação àquelas

perturbações”. No segundo momento, “a modalidade é dada pela aptidão de os

trabalhadores executarem tarefas em diversos postos de trabalho e dominar segmentos

distintos de um mesmo processo produtivo” e, na terceira modalidade, “a forma é relativa

às leis que regem os contratos de trabalho e incide na variação da duração da jornada de

trabalho e dos fatores que tornam possível a modalidade dos assalariados entre empresas,

ofícios e regiões, segundo o volume de produtos demandado pelo mercado”. A

implantação de cada uma das modalidades pode incidir uma na outra, constituindo-se

11 BEYNON, H. As práticas do trabalho em mutação. In: ANTUNES, Ricardo et al. Neoliberalismo,

trabalho e sindicatos. 3. ed. São Paulo: Boitempo, 1999. 12 BOYER, R. (Org.). La flexibilité du travail en Europe. Paris: La Decouverte, 1987.

39

numa dificuldade extra (BOYER,1987, apud HOLZMANN e PICCININI, 2011:196-

197).

Os estudos de Kovács (2014:155) nos levam a refletir sobre o entendimento da

flexibilização do trabalho que, em muitos casos, se confunde com a precariedade do

trabalho. Para a autora, não se deve confundir flexibilidade com precariedade, pois ambos

não são sinônimos. Neste sentido, a precariedade pode ser entendida sob dois focos

principais, que são a dimensão objetiva (precariedade do emprego) e a dimensão subjetiva

(precariedade do trabalho). A “precariedade do emprego significa instabilidade,

insegurança, incapacidade de prever o futuro profissional, forte vulnerabilidade

econômica e restrição dos direitos sociais (baseados no emprego estável), ameaça do

desemprego e falta de perspectiva de evolução profissional”. Do outro lado, “a

precariedade do trabalho significa um trabalho sem sentido, mal pago e pouco

reconhecido e que provoca um sentimento de inutilidade”. O cruzamento de situações

objetivas e subjetivas da precariedade pode surgir quando:

Situações em que se cruzam o emprego instável e o trabalho interessante; o

emprego estável e o trabalho sem interesse e pouco reconhecido. Pode ainda

existir uma situação precária total, quando o trabalho sem interesse, mal pago

e pouco reconhecido se cruza com o emprego com o emprego instável, com

direitos sociais nulos ou reduzidos. Pode haver satisfação com o trabalho,

apesar do emprego instável, e o emprego estável pode estar associado a uma

insatisfação com o conteúdo e com as condições de trabalho; ou ainda pode

existir a combinação do emprego instável com a insatisfação derivada do pobre

conteúdo más condições de trabalho (PAUGAM, 200013, apud KOVÁCS,

2014:155).

A flexibilização do trabalho pode ser entendida sob duas lógicas: de via baixa (low

road) ajustamento quantitativo e via alta (high road) ajustamento qualitativo (KOVÁCS,

2014). Verifica-se o ajustamento quantitativo quando se processa através de um

enquadramento institucional do fator trabalho considerado contrário ao trabalho. A autora

cita Pyke e Segenberger (1992)14 e Castillo (2005)15, que consideram a lógica da via baixa

como a melhoria da competitividade estável em baixos custos salariais e na

desregulamentação do mercado de trabalho. Neste sentido, a flexibilidade, vista através

da via baixa, torna-se sinônimo de precariedade e insegurança. A “difusão das formas

13 PAUGAM S. La salarié de la precarité. Les nouvelles formes de l’integration profissionelle, Paris, PUF,

2000. 14 PYKE, F. e SEGENBERGER, W. (Orgs). Industrial Districts and local economic regeneration, Genebra,

ILO Studies. 15 CASTILLO, J.J. Contra os estragos da subcontratação no trabalho: o trabalho docente. In: KOVÁCS I.

(Org.), Flexibilidade de emprego: Riscos e oportunidades, Oeiras, Celta 2005.

40

precárias está ligada à procura da flexibilização quantitativa e da redução de custos do

trabalho através do recurso a vínculos contratuais instáveis e através da subsistência de

contratos de trabalho regulados por contratos comerciais”, afirma (KOVÁCS, 2014:157).

O ajustamento qualitativo refere-se à organização e às pessoas. É evidenciada a

capacidade de adaptação rápida do indivíduo ou grupo, unidades e organização da

empresa, relativa a novas exigências e oportunidades. Como explica Kovács, o conjunto

de mudanças visa a melhoria da competitividade, através de novas formas de organização

do trabalho, que são promovidas pela flexibilidade qualitativa – que tem o seu foco na

qualificação, na valorização salarial e no diálogo social.

Por outro lado, a flexibilização, no entendimento de Pastore (1994), demonstra que

o mercado de trabalho, nas principais economias do mundo, sofreu grandes alterações

com a revolução tecnológica, trazendo grande impacto para as organizações e para os

trabalhadores. Pastore enfatiza, nos seus estudos, como o desemprego afetou aqueles com

a mão de obra não qualificada e também os qualificados, inclusive os de educação

universitária, nos Estados Unidos e na Europa. Para o autor,

A revolução tecnológica – em particular o uso da informática e da robótica –

mudou inteiramente os processos produtivos. Eles saíram da produção seriada

e passaram para a produção individualizada. As empresas passaram a atender

às necessidades de seus clientes, diversificando produtos, melhorando a

assistência técnica e elevando a qualidade.

Estas novas formas de produzir exigem trabalhadores mais qualificados e,

sobretudo, que dialogam continuamente com seus superiores no local de

trabalho. As hierarquias se simplificaram. Cada um responde por várias tarefas.

O controle da qualidade é responsabilidade de todos. O processo de inovação,

igualmente é compartilhado por administradores e seus subordinados. A

empresa transforma-se em um verdadeiro laboratório. As fábricas assemelham

às escolas. Tudo é feito com muita agilidade. A produção está em permanente

mudança. [...]. Toda esta revolução no mercado de trabalho está sendo feita

com base em mudanças na legislação e transformações dos contratos de

trabalho. Os contratos centralizados a nível nacional, dão lugar aos contratos

locais e a nível de empresa. O período de contratação diminui. As empresas já

não toleram um engessamento prolongado – seja por legislação ou por

contratação. No fundo, a defesa do emprego e da empresa está sendo feita

através da flexibilização das regras que presidem as relações de trabalho

(PASTORE, 1994:41-42).

Com o contínuo avanço da revolução industrial, a flexibilização se tornou

irreversível e é uma das causas do elevado índice de desemprego no mercado de trabalho

mundial, se tornando um dos grandes desafios das sociedades. A competitividade a que

as empresas estão sujeitas também contribui nesse sentido, devido os avanços

41

tecnológicos que, para o seu uso na produção, necessitam de trabalhadores altamente

qualificados.

Todavia, a flexibilização deve obedecer às normas legais sobre o trabalho, para

preservar tanto o trabalhador como o empregador. Por exemplo, refere Roesler (2014)

que a “flexibilização é o conjunto de medidas destinadas a adotar o direito do trabalho de

novos mecanismos capazes de compatibilizá-los com as mutações decorrentes de fatores

das mais variadas ordens, como econômico, tecnológico ou sociais”. Em muitos países

– como é o caso de Angola – a legislação trabalhista não prevê normas que salvaguardem

várias condições de trabalho consideradas flexíveis, como é o caso do trabalho a distância

e outras atividades que decorrem em função de acordos formais ou informais entre as

partes. Em tese, uma vez salvaguardado estes acordos podem por vezes trazer melhores

condições de vida e trabalho para determinadas pessoas, como é o caso de um

determinado trabalho que possibilita um bom equilíbrio entre as atividades profissionais

e o tempo destinado à família e ao lazer.

A flexibilização promove impacto tanto no indivíduo, quanto na empresa e na

sociedade. Como exemplo impactante, nos referimos ao teletrabalho, uma modalidade de

trabalho surgida com a revolução industrial, década de 1970. Para Banov (2013), nos seus

estudos, é uma atividade que pode ser também denominada de telecomunicação, trabalho

remoto e teleatividade. Banov (2013) cita Sobratt (2012)16 que define teletrabalho como

sendo “todo e qualquer trabalho realizado a distância (tele), [...], com a utilização da

tecnologia de informação e comunicação, [...] e toda tecnologia que permita trabalhar em

qualquer lugar e receber e transmitir informações, arquivos de texto, imagens ou sons

relacionados a atividade laboral”.

É uma atividade flexível, que traz vantagens e desvantagens, tanto para o

teletrabalhador quanto para a empresa contratante; um dos quesitos mais impactante na

implantação deste tipo de atividade é a resistência à mudança por parte de gestores, que

sentem a perda de poder sobre os teletrabalhadores.

De acordo com Pagés (1987), as organizações que geralmente optam por este tipo

de profissionais são as hipermodernas. Pagés as define como “empresa que une a mais

alta tecnologia com as mais sofisticadas técnicas de gestão”, definição complementada

por Wood Jr (2000): “e que seja um lugar autônomo de produção simbólica”, que os

caracteriza como “organizações de simbolismo intensivo”.

16 SOBRATT. Associação Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades. Disponível em: www.sobratt.org.br.

42

Isto naturalmente exige uma mudança de perspectiva da centralidade no “tempo de

trabalho” como instrumento de supervisão e controle para a centralidade nos “resultados

do trabalho”. Portanto, o tipo de cultura ideal para a implantação e o desenvolvimento do

teletrabalho é a “cultura de visão e identidade compartilhadas” (AKTOUF e CHANLAT,

1993: 265), que é aquela em que se estabelece uma visão coletiva baseada na

convergência e no consenso, em que a descentralização pode chegar ao ponto máximo,

dando liberdade e autonomia de ação aos trabalhadores, pois a confiança está na base das

relações e, com isso, necessita-se do mínimo de supervisão e controle, porque a

participação é o termo central.

1.4 Mudanças organizacionais e do perfil dos profissionais

Com a dinâmica atual do mercado de trabalho, as organizações veem-se na

obrigação de se adequarem às exigências que lhes são impostas pelo meio ambiente

externo. Essas imposições relativas às mudanças deixaram de ser entendidas como

esporádicas e se tornaram uma preocupação de âmbito estratégico, com equipes criadas

para gerirem as prováveis mudanças em obediência aos ambientes interno e externo de

cada organização. Contudo, não afetam só as organizações, mas também o perfil dos

profissionais – que se veem na obrigação de se adaptarem às novas realidades,

especialmente naquelas profissões de âmbito técnico e tecnológico. As causas relativas

às mudanças podem ser diversas, tais como: surgimento de nova tecnologia no mercado,

busca por processos eficientes, falta de competitividade, atribuição de melhores

condições de trabalho, novas estratégias, entrada de um novo produto ou joint-venture.

Neste sentido, o sucesso ou o fracasso da implementação de mudanças está em função

de como a organização vai gerir ou até que ponto a organização pode ser maleável a essas

mudanças.

O desenvolvimento organizacional é uma tendência de caráter natural das

organizações, face os fatores de origem interna ou externa que podem ocorrer de forma

lenta e gradativa, com vista a se tornarem mais competitiva. Robbins (2005:422), nos

seus ensinamentos, refere que “as organizações de hoje enfrentam um ambiente cada vez

mais dinâmico e mutável. Isso exige que elas se adaptem às novas condições”.

O autor apresenta seis forças que incentivam a mudança (quadro 2) e ilustra

expressando o seguinte exemplo:

43

Quase todas as organizações hoje têm de se ajustar a um ambiente

multicultural. As políticas e práticas de recursos humanos tiveram de mudar

para conseguir atrair e reter essa força de trabalho mais diversa. Várias

empresas hoje estão precisando investir muito em treinamento para melhorar

a leitura, cálculo, computação e outras habilidades de seus funcionários

(ROBBINS, 2005:422).

Quadro 2: Forças para mudança

Força Exemplo

Natureza da força do trabalho Maior diversidade cultural

Envelhecimento da população

Muitos recém-contratados com habilidades inadequadas

Tecnologia Computadores mais rápidos, mais baratos e portáteis

Compartilhamento de músicas online

Pesquisas na área de genética humana

Choques econômicos Ascenção e queda das empresas “ponto-com”

Colapso no mercado de ações em 2000-2002

Taxas de juros historicamente baixas

Competição Concorrência globalizada

Fusões e consolidações

Crescimento do comercio eletrônico

Tendências sociais Salas de bate-papo na internet

Aposentadoria da geração dos Baby Boomers

Expansão das grandes redes varejistas

Política internacional Invasão do Iraque

Abertura de mercados na China

Guerra ao terrorismo após a tragédia de 11 de setembro

Fonte: Robbins (2005:423)

As tendências ou forças para as mudanças são dinâmicas, podendo ser adaptáveis

numa determinada época e não em outra. Todavia, o futuro é imprescindível, o mundo

está vivendo uma era considerada de “descontinuidade”, comparativamente com o

passado, quando o futuro era aceitável e o amanhã era a extensão das tendências de

ontem. Essa realidade já não faz parte dos dias de hoje.

Todavia, as mudanças podem ser consideradas como planejada ou como

decorrência da realidade do meio ambiente. A mudança planejada surge em função do

desenvolvimento organizacional. Nos seus estudos, Griffin e Moorhead (2015)

explicitam que qualquer organização está sujeita à pressão para a mudança, proveniente

de várias fontes e com maiores probabilidades nesta era, devido à complexidade dos

acontecimentos; acrescentam que as grandes categorias, que possam ser consideradas

como pressões de mudanças organizacionais, devem ser discutidas. Os autores

apresentam quatro categorias que consideram como as de maior relevância,

44

nomeadamente: pessoal, tecnologia, processamento de informação e comunicação e

concorrência.

Quadro 3: Pressões por mudanças na organização

Categoria Exemplos Tipos de pressão

Pessoal Gerações X, Y, do milênio

Suprimentos globais de trabalho

Cidadãos idosos

Diversidade da força do trabalho

Demandas por diferentes

formações, regimes de trabalho e

sistemas de compensação.

Tecnologia Mudança no espaço

Internet

Equipes globais de design

Mais educação e formação nos

funcionários em todos os níveis,

mais novos produtos, produtos vão

rápidos para o mercado.

Processamento de

informação e

comunicação

Computador, comunicação por

satélite

Fornecimento global

Videoconferência

Redes sociais

Reações mais rápidas, respostas

imediatas a questões, novos

produtos, diferentes arranjos de

escritórios, teletrabalho, marketing,

publicidade, recrutamento em sites

de redes sociais.

Concorrência Mercados globais

Acordos comerciais internacionais

Países emergentes

Competição global, mais produtos

concorrentes com mais recursos e

opções, custos mais baixos, maior

qualidade.

Fonte: Griffin e Moorhead (2015:517)

A mudança não surge apenas a partir de uma pressão externa ou interna, ela pode

ser planejada, como já atrás se frisou. No entanto, a mudança é considerada como uma

transição de uma situação para a outra e implica vários acontecimentos, como

interrupções, rupturas e outros (LACOMBE e HEILBORN, 2008; GRIFFIN e

MOORHEAD, 2015). Segundo esses autores, a mudança planejada leva a organização

ao desenvolvimento. Para ilustrar esse fato, os autores se baseiam em dois modelos: o

modelo de Kurt Lewin, que apresenta três etapas: descongelamento, mudança e

recongelamento (figura 1), e o modelo do processo contínuo de mudança organizacional

(figura 2).

Figura1: Etapas de mudança segundo Kurt Lewin

Estado

anterior

Descongelamento

(Consciência da

necessidade da

mudança)

Mudança

(Movimento do

estado anterior

para o estado

atual)

Recongelamento

(Garantia da

mudança

permanente)

Estado

Atual

Fonte: Griffin e Moorhead (2015:522)

45

O modelo de Lewin visa desde a preparação do individual para a mudança até a

realização da mudança. Na fase de descongelamento, os funcionários interiorizam a

necessidade da mudança e são incentivadas as mudanças de comportamentos e atitudes.

A importância desta etapa se fundamenta em levar a compreensão e a importância da

mudança aos funcionários e como esta afetará os cargos ou os postos de trabalho dentro

da organização. No processo da mudança, ocorre um novo aprendizado, face à aplicação

dos novos comportamentos e atitudes que se esperam dos funcionários. Nesse sentido, o

executivo e os agentes da mudança exercem papel fundamental, consubstanciado na ajuda

aos funcionários para encararem a nova fase na organização. Ocorrem treinamentos face

aos novos modelos, benchmarking e outros aspectos implementados; é incentivado o

reconhecimento das dificuldades do passado e das incertezas do futuro. A etapa do

recongelamento visa tornar os novos comportamentos adquiridos como permanentes e

pressuposto à resistência na mudança e na manutenção da estabilidade da mudança.

O modelo de processo contínuo é implementado para a obtenção do

desenvolvimento organizacional; por esta razão, se enquadra nas mudanças planejadas e

espelha o modo como a organização muda e evolui. Abarca várias áreas, como o pessoal,

a tecnologia e outras. Ao longo da sua implementação, podem ocorrer mudanças

profundas na área de pessoal, tais como: transferências, promoção, treinamentos em

vários níveis, demissão, aposentadoria, aprendizagem etc. De forma profunda, ocorre na

sua estrutura e nos processos de gestão.

Implementação

da mudança

Reconhecimento

e definição do

problema

Processo de

resolução do

problema

Agente da

mudança

Medição

avaliação e

controle

Gestão da

transição

Forças que

impulsionam

as mudanças

Figura 2: Modelo do processo contínuo da mudança organizacional

Fonte: Griffin e Moorhead (2015:524)

46

O surgimento de mudanças é inevitável, especialmente naqueles ambientes de

tarefa considerados dinâmicos e mutáveis. A resistência à mudança está aliada à sua

implementação, o que, para muitos autores, é um paradoxo. Referem Griffin e Moorhead

(2015):

“Como agente de mudança, a organização solicita que seus clientes ou

potenciais clientes mudem seus hábitos atuais de compra e passem a adquirir

produtos ou serviços dessa empresa, pede aos clientes atuas para mudar atuais

para mudar, aumentando o volume de suas compra e para seus fornecedores

para reduzir os custos das matérias primas. A organização resiste ao passo que

sua estrutura e sistemas de controlo protegem as tarefas diárias de produção de

um produto ou serviço de incertezas ambientais. A organização deve ter alguns

elementos de permanência para evitar o reflexo da instabilidade do ambiente,

além disso, deve reagir a mudanças externas com a mudança interna, para

manter o curso e a relevância no mercado (GRIFFIN e MOORHEAD,

2015:534).

A literatura gerencial atribui, como vilãs da resistência à mudança, tanto as pessoas

quanto as organizações que, normalmente, reagem de forma positiva ou negativa a uma

mudança registrada, podendo trazer conflitos de âmbito funcional, dificultando ou pondo

em causa os fins que deram origem à mudança. Fatores comportamentais, emocionais,

motivacionais, de percepção e outros de âmbito psicológico normalmente estão presentes

no reconhecimento da mudança.

Para Robbins (2005), não existe um padrão ideal de resistência à mudança, que, em

muitos casos, inicialmente, pode ser aceita e, posteriormente, surgir uma reação negativa

à mudança, denotando-se certa resistência especialmente nos executores. A resistência

pode ser pública, implícita, imediata ou adiada, sendo mais fácil lidar com a mudança

pública ou imediata (ROBBINS, 2005). Essa atitude ou esse comportamento do indivíduo

pode ser entendido como uma defesa dos efeitos reais da mudança, que pode despertar

em si o medo de encarar o futuro ou mesmo otimismo em decorrência da reação que

apresentar. Por outro lado, embora muitos autores defendam que a mudança normalmente

pressupõe mudança de paradigma, objetivando a competitividade e as melhores práticas

de gestão, a resistência acarreta consigo uma influência que pode provocar instabilidade

quer para a organização como para o trabalhador.

Griffin e Moorhead (2015) citam Daniel Katz e Robert Kahn, que apresentam seis

fontes de resistência à mudança (quadro 3), que variam de organização para organização,

dependendo do grau de resistência existente, e podem ser sobrepostas entre o indivíduo e

a organização (ROBBINS, 2005:425).

47

Quadro 4: Fontes organizacionais e individuais de resistência

Fontes organizacionais Exemplos

Excessiva determinação Sistema de emprego, descrição do cargo, avaliação e sistema de

recompensa, cultura organizacional

Foco estreito na mudança Alteração da estrutura sem preocupação com outros aspectos (por

exemplo, cargos, pessoas)

Inércia do grupo Normas do grupo

Competência ameaçada Pessoas se movem para fora da área de especialização

Poder ameaçado Tomada de decisão descentralizada

Alocação de recursos Utilização crescente da ajuda em tempo parcial

Fontes individuais Exemplos

Hábitos Tarefas alteradas

Segurança Tarefas ou relações de subordinação alteradas

Fatores econômicos Remuneração e benefícios alterados

Medo do desconhecido Novo cargo, novo chefe

Falta de conhecimento Grupos isolados não atentos a aviso

Fatores sociais Normas do grupo

Fonte: Griffin e Moorhead (2015:535)

Por se tratar de uma tese que aborda o trabalho em Angola, a seguir far-se-á uma

discussão sobre o trabalho em Angola, a realidade deste país e outros itens que pensamos

serem interessantes abordar nesta análise.

Embora não é objeto desta tese, abordaremos as questões sobre a educação e do

gênero. Estes temas que exercem influência nas discussões sobre trabalho. Em países em

via de desenvolvimento como é o caso de Angola, a análise sobre a educação é essencial

por ser considerado como um vetor de desenvolvimento de qualquer país e um indicador

importante para a qualificação da mão de obra existente.

A questão do gênero é um outro item a ser analisado, tendo em atenção, que a maior

população de Angola é do sexo feminino e nota-se uma maior inserção feminina no

mercado de trabalho.

48

1.5 O trabalho em Angola

1.5.1 Realidade do país

Angola está localizada na costa ocidental da África austral, a sul do Equador,

estando a maior parte do território compreendido entre os paralelos 5º 22" e 18º 02"

latitudes sul e os meridianos 12º 41º e 24º 05” longitudes a leste de Greenwich. Tem uma

superfície de 1.247.700 km2, possui uma extensão de 800mn (cerca de 1.650 Km) linha

da costa marítima e 4.837 km de cumprimento de fronteira terrestre. No sentido norte-

sul, o território tem cumprimento máximo de 1. 277 Km; no sentido oeste-leste, largura

máxima de 1.236 km (DOMINGUES, 2013). O país possui 18 províncias, 162

municípios e 559 comunas17.

É o quinto país do mundo com maiores recursos hídricos, segundo maior produtor

de petróleo e exportador de diamantes da África subsaariana, a quinta maior economia

de África, a terceira da África subsaariana e a segunda da SADC18. Abriga uma

população de 25.789.024 habitantes, na qual 62,6% (o equivalente a 16.153.987

habitantes) residem em áreas urbanas e 37,4% (o equivalente a 9.635.037 habitantes)

vivem em áreas rurais. Destes números, 12.499.041 são masculinos e 13.289.983 são

femininos. A capital angolana é Luanda, sendo, ao mesmo tempo, a maior cidade do país

e a mais populosa19.

Angola faz fronteira com cinco países: ao norte, a República Democrática do

Congo e a República do Congo; ao leste, a Zâmbia e o Zimbábue; e ao sul, a Namíbia,

além do rio Cunene. No oeste, de norte a sul, está o oceano Atlântico.

17 Cf. dados do INE no último censo, de 2014. 18 Cf. dados do CEIC, 2014. 19 Ibidem

49

Figura 3. Mapa de Angola, referente à situação geográfica.

Fonte: http://www.mapadeafrica.net

A língua oficial é o português e as línguas de raiz bantu são: quicongo, quimbundo,

tchokwe, umbundo, mbunda e kwanyama. As principais etnias são os ovimbundos, com

37%, os quimbundos, com 25%, os bakongos, com 13%, e outras etnias, com 25%. A

maioria da população angolana professa a religião católica (75%), além da religião

protestante (15%) e outras religiões (10%). Em 2014, a taxa de natalidade era de 38,97%,

a de mortalidade 11,67%, a taxa de fecundidade 5,7, a taxa de crescimento 2,7%, a

esperança de vida de 60,220 e a renda per capita era avaliada em USD 6.532,521.

A moeda oficial é o Kwanza (AOA) e a taxa de câmbio é de 1 USD=165.065

AOA22. O país possui um PIB de 14.218,1 (bilhões de Kwanzas) e prevê uma taxa de

crescimento do PIB de 3,3%, com taxa de inflação acumulada de 26,66%, tendo, nos

últimos 12 meses, aumentado para taxa de inflação de 35,30%23. O Orçamento Geral do

Estado para 2016 prevê receitas e despesas no valor de 6.429.287.906.777,00 de

Kwanzas. As despesas são distribuídas do seguinte modo: Setor Social, 43,2%; Serviços

20 Cf. Dados do INE e CIA World Factbook. http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=26&c=ao&l=pt. Por

outro, segundo o CEIC, o relatório do INE sobre o censo 2014 afirma que a expetativa de vida dos angolanos

é de 60,2 anos, o que é contrário aos dados do relatório An Aging World 2015 do United States Census

Bureau, que afirma que a expetativa de vida dos angolanos é de 55,6 anos. 21 Relatório Econômico de Angola, 2014. 22 Cf. Banco Nacional de Angola http://www.bna.ao/ 23 Cf. O BNA, a inflação nos últimos 12 meses registrou uma subida de 35,30%, contra a taxa prevista no

OGE de 11%. Neste sentido, devido à crise, o Kwanza vem sofrendo uma desvalorização em queda em

relação ao dólar, com destaque para os meses de janeiro a abril, quando sofreu cerca de 4 desvalorizações,

tendo o preço oficial do dólar aumentado 6,6% em relação ao Kwanza

50

Públicos Gerais, 22,9%; Defesa, Segurança e Ordem Pública, 20,2% e Setor Econômico,

13,7%24.

Os principais rios no país são Kwanza, Zaire, Cunene e Cubango, com cerca de

12% dos lençóis aquáticos da África. As suas praias, na maior parte, estão inexploradas.

Apresenta temperaturas que variam entre 20ºC e 30ºC. As suas terras são aráveis (cerca

de 7,4 milhões de hectares) dos quais 3% estão cultivados, índice influenciado pela

existência de minas não identificadas em vários campos de cultivo. Existem variedades

de minérios, muitos dos quais não explorados: diamantes, ferro, ouro, fosfatos,

manganês, cobre, chumbo, zinco, volfrâmio, tungstênio, titânio, cromo, mármore,

granito e urânio. A sua gastronomia é muita rica e variada, com influência das

gastronomias portuguesa e brasileira.

Devido à desaceleração da produção petrolífera e da exportação do petróleo, o

OGE de 2016 foi recentemente revisto e aprovado pelo parlamento angolano25. Entre os

anos de 2002 e 2008, Angola foi uma referência econômica, fruto do alcance de taxa de

crescimento elevado, que rondava 10,1% do PIB, devido ao valor elevado do petróleo

comercializado na época, cerca de USD 90/100 o preço do barril. Nos anos seguintes

(entre 2009 e 2015), o ritmo de crescimento econômico médio anual conheceu baixa de

3,6%26, enfrentando, atualmente, uma recessão econômica.

O “atual território de Angola foi habitado por tribos que praticavam a agricultura

itinerante e a criação de animais” (ZENGO e SABONETE, 2010:33). Os portugueses

começaram o seu domínio a partir do século XV. Fruto das disputas internas com os

nativos, fundaram Luanda em 1576 e Benguela em 1617 e iniciaram o comércio de

escravos (DOMINGUES, 2013; ZENGO e SABONETE, 2010).

Ressalta Domingues (2013) que o reatamento de comércio de escravos entre Brasil

e Angola só foi possível após a expulsão dos holandeses pelas tropas luso-brasileiras

24 Cf. Dados do Banco Nacional de Angola (BNA); Dados do Orçamento Geral do Estado de 2016 (OGE

2016) e Instituto Nacional de Estatística (INE) 25 Cf. O relatório de revisão da fundamentação do OGE refere que nas projeções fiscais inicialmente

previstas, o preço médio do barril do petróleo era cotado em USD 45,00 e uma produção petrolífera de

1.888,8Mbbls/dia, com uma receita fiscal prevista de Kz 3.514,5 bilhões. No entanto, as novas estimativas

preveem que para o final do ano de 2016 o preço do barril do petróleo cotará em USD 40,90, com uma

produção de 1.793,4Mbbls/dia. Neste contexto, o ajustamento da receita fiscal foi para Kz 3.484,6 bilhões,

sendo Kz 1.535,5 bilhões correspondente à receita petrolífera. O OGE 2016, revisto e atualizado, prevê

despesa fiscal de Kz 4.626,3 bilhões contra Kz 4.295,7 bilhões anterior. O déficit previsto foi de 5,5% do

PIB e, de acordo as novas projeções fiscais, o déficit está cotado para 6,8% do PIB. Todavia, as receitas

fiscais excluem desembolsos de financiamento e venda de ativos, assim como, as despesas fiscais excluem

amortização da dívida e constituição de ativos. 26 Relatório Econômico de Angola, 2015, p. 80.

51

em 1648. Este reatamento permitiu a continuidade do tráfico de escravo para outras

colônias portuguesas no continente americano. Para tanto, Angola era tida como uma

reserva de escravos até finais do século XVIII.

A pretensão de ocupação de Angola por outros países europeus era uma realidade.

Ao narrar extratos sobre a história de Angola, o site do Projeto África refere que “a

colonização efetiva do interior de Angola só se inicia no século XIX, após

a independência do Brasil (1822) e o fim do tráfico de escravos (1836-42), mas não da

escravatura”. Refere ainda o site que, neste sentido, vários foram os acordos com vista

ao estabelecimento dos territórios adstritos a cada um destes países colonizadores, por

forma a se evitarem conflitos. Estima-se que dez mil africanos eram exportados

anualmente só de Angola e que, entre os séculos XVI e XIX, foram enviados ao Brasil

cerca de 3 milhões de africanos (DOMINGUES, 2013).

Conforme atestam Zengo e Sabonete (2010), a ocupação de Angola foi efetivada

de forma faseada, iniciando-se no litoral e, posterirormente, no interior.

A ação dos portugueses, por quase cinco séculos, resultou na

configuração atual do território de Angola. Inicialmente, a

presença lusitana esteve situada no litoral. Com o acirramento das

disputas pelo continente africano, eles passaram a ocupar o

interior, visando assegurar o seu domínio. Na Conferência de

Berlim, em 1884-1885, foi realizada a partilha da África entre as

nações europeias, sendo definidas as fronteiras oficiais de Angola

(ZENGO E SABONETE, 2010:33).

Angola torna-se província ultramarina de Portugal a partir de 1951 e, por conta de

suas potencialidades econômicas e das riquezas que possui, foi das colônias Portuguesas

que teve o processo de descolonização mais longo. De 1961 a 1974, registra-se uma

revolta popular, que teve como consequência a assinatura do acordo de Alvor.

1.5.1.1 A Guerra Civil

Conhecida como uma luta hostil e armada entre pessoas de um mesmo país ou

conflitos armados dentro do mesmo estado, a guerra civil27 é tida como a resolução de

27 Ao longo da história da humanidade, a guerra civil desempenhou um papel excepcionalmente

importante. Segundo Enzensberger (1995:10), a guerra civil é uma exceção à regra, uma forma irregular

de conflitos. Ignorada completamente no manual da arte de guerra de Clausewitz, até aos dias de hoje, se

desconhece qualquer teoria útil sobre a guerra civil, segundo Enzensberger.

52

controvérsias pela força. Nos dizeres de Enzensberger (1995:10), não é um vírus

adquirido, mas um processo endógeno, sempre desencadeado por uma minoria, visto sob

três perspectivas: deve ser uma guerra tida como luta armada; o conflito deve ser civil,

podendo as forças armadas do país em conflito fazer parte dela, com forte envolvimento

da população no conflito dentro do mesmo território; e o objetivo do conflito se revê

geralmente na manutenção ou no exercício da autoridade nacional.

Assim, a guerra civil em Angola não fugiu em regra o que a literatura descreve. É

considerada como uma das guerras mais sangrentas do período da Guerra Fria e uma das

mais longas guerras civis no mundo. Ela começa (primeira fase) com a luta de libertação

nacional, de 1961 a 25 de abril de 1974 (queda da ditadura em Portugal), contra o regime

colonial, que culminou com a assinatura dos acordos de Alvor, em 15 de janeiro de 1975,

trazendo novas perspectivas para a independência de Angola.

Estavam envolvidas as Forças Armadas de Portugal (colonialista) e as forças

independentistas de Angola, nomeadamente a FNLA, o MPLA e a UNITA. O acordo foi

assinado pelos três movimentos de libertação de Angola e por Portugal, tendo a data de

15 de janeiro de 1975 sido estabelecida como a independência de Angola, ato

concretizado a 11 de novembro de 1975, quando é proclamada a independência e a

passagem da soberania de Angola.

Os conflitos armados em Angola iniciam-se em 1961, através da União dos Povos

de Angola (UPA), que veem os seus direitos fundamentais violados e decidem partir para

clandestinidade. Como bem observam Zengo e Sabonete (2010) e Visentini et al (2013),

os desentendimentos, especialmente étnicos, dão lugar a três grupos anticoloniais que

lutavam para a libertação de Angola: o Movimento Popular de Libertação de Angola –

MPLA, chefiado por António Agostinho Neto; a Frente Nacional para a Libertação de

Angola – FNLA, chefiada por Holden Roberto; e a União Nacional para a Independência

Total de Angola – UNITA, chefiada por Jonas Malheiro Savimbi.

Segundo estes autores, o MPLA apresentava tendência marxista e era apoiado por

União Soviética e Cuba, de base urbana e inter-étnica e constituído majoritariamente pela

etnia quimbundo e ovimbundo da região central e litorânea. A FNLA, dominada pela

etnia bacongo (norte), era anticomunista (pró-ocidentais) e apresentava ligações com os

Neste sentido, Trotsky (1977) refere que é um tema de estudos carente nas acadêmicas, tanto na concepção

científica da guerra civil, como de suas fases, seus aspectos e seus métodos, denotando-se lacunas na

simples descrição dos acontecimentos surgidos ao longo da última década.

53

EUA, a China e o antigo Zaire. Já a UNITA, formada predominantemente pelas etnias

umbundo, lunda, ambó e nganguela, também era anticomunista e contava com o apoio

da África do Sul, da China e dos portugueses.

O governo português, em abril de 1974, fruto da queda do fascismo português,

anuncia um plano de descolonização. Em janeiro de 1975, os três movimentos iniciam

as conversações para criação de um governo de transição, que veio a conhecer o seu

fracasso devido os desentendimentos existentes entre estes partidos, por influência

estrangeira.

Seguindo este raciocínio, advoga Visentine et al (2013) que:

Enquanto era negociada a formação de um governo transitório de

coalizão, e se aproximava a hora da independência, a FNLA,

apoiada por mercenários e tropas do Zaire, avançava do Norte

para atacar Luanda, onde o MPLA era dominante (VISENTINE,

2013:135).

Portugal sai formalmente de Angola em 11 de novembro de 1975, data em que

Agostinho Neto, do MPLA, proclama, perante a África e o mundo, Angola como um

estado independente e se torna presidente da República Popular de Angola. Fruto das

alianças com russos e cubanos, o país adota o regime socialista e é reconhecido

formalmente por Portugal e pela comunidade internacional. Em 6 de novembro de 1975,

o Brasil se torna o primeiro país a estabelecer relações diplomáticas com Angola e

reconhece Agostinho Neto como legítimo presidente (ZENGO e SABONETE, 2010).

Os desentendimentos étnicos eram visíveis no seio destes movimentos de

libertação nacional, pois, conforme afirma Bernardino (2013), nesta mesma data, a

UNITA proclamava a independência da República Democrática de Angola no Huambo

(província ao sul do país) e a FNLA proclamava a independência da República Popular

e Democrática de Angola no Ambriz (norte de Angola), pretensões não reconhecidas

pela comunidade internacional. Bridgland (1988) citado por Bernardino (2013:319)

refere que a FNLA e a UNITA passaram a “partidos da oposição”, que seriam portadores

da lei da espada.

No prosseguimento das ações militares, a FNLA, apoiada por mercenários e tropas

do Zaire, avançou ao norte de Luanda para atacar a capital, onde se encontrava o MPLA,

ação impedida a partir de Kifangondo (município de Luanda), pelas forças do MPLA

apoiadas por tropas cubanas que começavam a chegar ao país. A batalha de Kifangondo

54

é tida como histórica; a FNLA foi destruída, bem como a pretensão do Zaire de Mobutu,

de anexar a província de Cabinda (região rica em petróleo e madeira), não surtiu efeito

(VISENTINI et al., 2013). Fruto desta derrota, no “final dos anos de 1970, a FNLA

extingue-se enquanto movimento armado e alguns de seus membros são exilados”

(ZENGO e SABONETE, 2010).

Se, por um lado, a FNLA se extinguia enquanto movimento armado, por outro lado,

a UNITA, com o apoio dos seus aliados, se armava e permanecia combatendo o MPLA,

impondo uma guerrilha étnica no sul de Angola (VISENTINE et al., 2003). Contudo,

tropas invadem o sul de Angola e o MPLA, com o apoio dos cubanos, derrota as tropas

sul-africanas e mantém o controle de Angola. Daí por diante, passa a combater a UNITA,

que se transforma numa força militar de guerrilha.

A guerra com as tropas sul-africanas continua até a celebração de um acordo entre

África do Sul, Angola e Cuba, para a cessação das hostilidades, bem como a

independência da Namíbia e a retirada gradativa dos cubanos de Angola, num período

de 3 anos (BERNARDINO, 2013).

Em 10 de setembro de 1979, morre em Moscou, vítima de doença, António

Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola e do MPLA, sendo sucedido por José

Eduardo dos Santos, então Ministro do Planeamento. Em abril de 1990, é anunciado o

reinício das negociações entre o MPLA e a UNITA, com vista ao alcance de um cessar-

fogo que culminou com um acordo de paz.

Na consequência destas conversações, em 11 de maio de 1991, em consequência

dos acontecimentos registrados na então União Soviética, verificam-se mudanças, com

destaque para a lei que autoriza a entrada, no cenário político angolano, de novos partidos

políticos, tendo o MPLA deixado de ser o único partido, passando o país ao

multipartidarismo e adotando o estado democrático e de direito.

O fim da guerra civil em Angola começa a ser desenhado ao longo das

conversações em Bicesse (Estoril), de onde sai um acordo firmado entre as partes, na

presença de observadores da União Soviética, dos EUA, da ONU e de Portugal. Nesta

direção, as primeiras eleições livres em Angola são marcadas e realizam-se de 29 a 30

de setembro – na presença de observadores internacionais.

Com a realização das eleições, os angolanos começavam a desenhar o cenário de

paz tão almejado ao longo dos anos em que o país esteve mergulhado em guerra. As

eleições, consideradas livres e justas pela comunidade internacional, foram ganhas pelo

MPLA e José Eduardo dos Santos se consagra presidente de Angola. Contra todas as

55

expectativas, Jonas Savimbi não aceita os resultados eleitorais e retorna para as matas,

recomeçando a guerra civil. O eclodir deste novo cenário, fez com que os EUA deixassem

de apoiar a UNITA e reconhecessem o governo de Angola saído das eleições.

Não obstante este novo cenário, o Conselho de Segurança da ONU cria a terceira

Missão de Observação do Processo de Paz, conforme atestam Zengo e Sabonete (2010):

No ano de 1994, um novo acordo de paz é celebrado entre MPLA e UNITA.

O Conselho de Segurança da ONU cria a III Missão de Observação do

Processo de Paz, com o objetivo de monitorar a transição e a desmobilização

das tropas. A dificuldade em desarmar os soldados da UNITA faz com que o

mandato da missão seja renovado no início de 1996 (ZENGO E SABONETE,

2010:35).

Apesar do clima de instabilidade que se instala, a unificação do exército único

(tropas da UNITA e do MPLA) se torna um fato, bem como a constituição de um governo

de unidade nacional, no qual Jonas Savimbi fora convidado para exercer a vice-

presidência, o que não veio a se consumar, por este ter se negado e se refugiado no

interior do país, com homens armados, onde seguiu com a guerra de guerrilha até 22 de

fevereiro de 2002, quando da sua morte em combate.

Com a sua morte, uma série de contatos foram encetados tanto em nível dos

políticos como dos militares para um cessar-fogo entre as partes conflitantes. Como

resultado destes contatos, em 4 de abril de 2002, foi assinado o memorando de

entendimento, como um complemento dos acordos de Lusaka, que culminou com a paz

em Angola. Este entendimento foi assinado entre o general Armando da Cruz Neto, então

Chefe do Estado Maior das Forças Armadas angolanas, e o general Geraldo Abreu

Muendo “Kamorteiro”, então chefe do Alto Comando das Forças Militares da União

Nacional para a Independência Total de Angola.

Em 2008, realizam-se as segundas eleições, com a vitória de o MPLA, com 81,76%

dos votos, e José Eduardo dos Santos mantém-se no poder. Em 2012, realizam-se as

terceiras eleições, vencendo o MPLA, com 71,84% dos votos, e novamente José Eduardo

dos Santos mantém-se no poder.

A guerra em Angola causou várias consequências, tais como desintegração social

e econômica, campos minados, deslocados de guerra, refugiados, mutilados. Segundo

Santos (2003)28, “só nos últimos trinta anos de guerra tivemos cerca de um milhão de

28 Pronunciado feito pelo presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, no seu discurso na conferência

sobre “Cultura de paz” em Luanda, em 26 de março de 2013.

56

mortos, duzentos mil mutilados e estropiados, mais de cinquenta mil crianças órfãs, cerca

de quatro milhões e meio de deslocados e mais de seiscentos mil refugiados”. O portal

emangola (2010) refere que, segundo a ONU, a questão das minas continua a ser uma

das grandes preocupações deste órgão. Depois de Afeganistão, Egito e Moçambique,

Angola é o país com mais minas no mundo. Cerca de 8% do território angolano possuem

entre 5 a 10 milhões de minas não detonadas e cerca de 2.617 campos de minas

registrados, com destaque para as províncias de Bié e de Moxico.

A diversidade étnica e a divergência de interesses se prolongam há vários anos,

tornando-se um entrave para a construção do Estado-Nação.

De acordo com Bresser (2012), uma nação e um estado não surgem

espontaneamente, não são o resultado do acaso, mas de uma construção social e política,

de um esforço deliberado, mas pouco coerente de todos os seus membros.... É essa

construção social, cuja existência é questionável por diversos atores angolanos e não só.

1.5.1.2 A reconstrução e o crescimento econômico de Angola

A democracia angolana é pioneira, interrompida a sua adoção por uma guerra civil,

que se arrastou por 27 anos. No momento, os desafios da sociedade civil se pautam na

projeção de uma nação democrática, onde a sua participação na vida política e da gestão

pública deve ser um fato, bem como na construção e na reconstrução de infraestrutura de

base, destruída durante a guerra, especialmente nos setores de águas e saneamento

básico, energia, transporte e telecomunicações e áreas sociais, preponderantes para o

crescimento e o desenvolvimento econômico de um país.

De 2002 a 2008, consequência do aumento do preço do petróleo, os investimentos

na reconstrução da infraestrutura cresceram consideravelmente. Segundo Rocha

(2014:5), foram “despendidos cerca de 80 bilhões de dólares em estradas, pontes,

aeroportos, portos, estradas de ferro, escola, hospitais e outras obras de infraestrutura”.

O exponencial crescimento econômico das receitas, vindas do petróleo, propiciou que as

autoridades de Angola se acautelassem com as previsões do futuro econômico do país.

Com o abrandamento da economia e com o crescimento do PIB, desde 2014, como

consequência da baixa do petróleo, o compromisso do governo com a reconstrução do

país sofreu certo abrandamento. Alegações do governo sustentam a ideia de que os

57

compromissos para o desenvolvimento de Angola, constante no PND 2013/2017,

mantém-se, apesar da crise que se verifica desde finais de 2014.

Para vários analistas, os desafios de Angola são enormes em todas as frentes

(reconstrução da infraestrutura, redução da pobreza, diversificação da economia e

outros). Para tanto, o governo não soube aproveitar o progresso econômico substancial

que conheceu nos anos anteriores, com destaque para 2002-2013, altura em que foram

alcançados níveis de crescimento econômico satisfatórios. Com a atual crise do petróleo,

registrada desde 2014, e com as previsões pouco abonatórias que se conhecem sobre a

subida do preço do petróleo no curto prazo (até então, única fonte de receitas do governo),

as previsões deixaram de ser otimistas. Com a recessão econômica e a falta de moeda

estrangeira (USD) em Angola, a reconstrução do país abrandou. A diversificação da

economia tornou-se uma aposta do governo, cujas metas a atingir são de longo prazo,

continuando o país a depender das receitas do petróleo.

Nas suas pesquisas, Rocha (2014) defende que o governo terá imensas dificuldades

de recuperar a sua economia no curto prazo e isto comprometerá a reconstrução do país

e as metas estratégicas do PND 2013-2017. Para o autor, o crescimento de Angola terá

dificuldades e, de acordo com a variação da taxa do crescimento do PIB, melhorias

poderão surgir para além de 2020. Como refere:

As previsões de médio prazo apresentadas por diferentes instituições e

agências internacionais coincidem numa taxa média anual de variação do PIB

nacional entre 5,5% e 6% até 2020. Aliás, o Plano Nacional de

Desenvolvimento 2013-2017 também admite uma menor intensidade de

crescimento até 2017, com 4,3% de variação neste último ano.

A taxa média anual de crescimento do PIB entre 2013 e 2019 rondará 5,5% a

6%, insuficiente para a realização de alguns dos objetivos de Desenvolvimento

do Milênio subscritos por Angola, entre os quais a redução sustentada dos

índices de pobreza. Entre o crescimento e a redução da pobreza estabelece-se

uma relação teórica concreta – mais crescimento e menos pobreza – mas

dependente do modelo de repartição dos resultados desse crescimento. Quando

este modelo favorece a acumulação assimptótica do rendimento, mais

crescimento pode até gerar mais pobreza. Para uma taxa média anual de

variação do PIB de 5,5% e uma elasticidade rendimento-pobreza de -0,8, a taxa

de pobreza em 2019 poderá ser de 46,3%. Por isto, é que publicamente tenho

defendido que uma melhor distribuição da renda nacional tem de,

necessariamente, passar por uma alteração profunda do atual processo de

acesso às rendas do petróleo, baseado no tráfico de influências e no

favorecimento de grupos e famílias relacionadas com o poder político instalado

(ROCHA, 2014:13).

58

Defende o autor que o crescimento da economia angolana pode ser compreendido

em três etapas, a contar da obtenção da paz. O gráfico 2 espelha a visão do autor em

relação à perspectiva econômica de Angola, vista em três etapas.

Gráfico 1: As três etapas do crescimento de Angola

FONTE: International Monetary Fund – Angola 201429, apud Rocha (2016:14)

Por conta dos dados do Gráfico 2, Rocha (2014) defende a ideia de que algumas

das oportunidades tidas pelo governo nos anos anteriores deveriam ter sido melhor

preservadas, evitando que a situação de crise tivesse grandes impactos no futuro.

Gráfico 2: Taxa de crescimento por grandes setores de atividade (%)

FONTE: International Monetary Fund – Angola 201430 apud Rocha (2014:14)

29 International Monetary Fund – Angola 2014. Article IV consultation, September 2014 30 Ibidem.

59

O relatório conjunto das associações AFDB, OECD, UNDP, UNECA, que

perspectivam a situação econômica na África (2012/2013), espelha bem como foi a

economia de Angola antes da crise. O relatório diz que:

Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, depois da Nigéria,

produzindo mais de 1,9 milhões de barris por dia (bpd). Na sequência dos

choques provocados pela desaceleração econômica mundial e pela forte queda

do preço do petróleo, que provocou desequilíbrios orçamentais e na balança de

pagamentos, o país tem vindo gradualmente a recuperar.

O crescimento do PIB registrou um ligeiro aumento de 3,4% em 2010, para

um valor estimado de 3,5% em 2011, impulsionado principalmente pelos

preços do petróleo e pelo forte crescimento do setor não petrolífero de 7,7%, o

que ajudou a compensar os problemas de produção no setor petrolífero. O país

deverá registrar taxas de crescimento do PIB de 8,2% e 7,1% em 2012 e 2013,

respectivamente. Tal crescimento será impulsionado principalmente pelo

início do projeto de Gás Natural Liquefeito (GNL), orçado em 9 bilhões de

dólares, que irá permitir o aumento da produção de petróleo para mais de 2

milhões de barris por dia (bpd). As pressões inflacionárias mantiveram-se

elevadas em 14,5%, em 2010, e 13,5% (estimada), em 2011, principalmente

em resultado do forte crescimento da procura interna. No entanto, estas caíram

para 10,0% e 9,4% em 2012 e 2013, respectivamente, mantendo uma

estabilidade face ao dólar (2012:2).

Segundo a Heritage Fundation (2014), Angola ocupa o 160º lugar nos índices de

liberdade econômica, possuindo uma economia tida como repressiva. Até 2014, teve

maior crescimento da sua economia no mundo, fruto das receitas geradas pelo petróleo,

diamante e gás; e que devido a este impacto, era esperada melhoria nas condições de vida

das populações, e na gestão do erário – o que não se verificou. É um dos países mais

pobres do mundo, ocupando o 149º lugar no ranking de IDH, no que tange aos progressos

de desenvolvimento com saúde, educação e igualdade de oportunidades31, com um índice

de desenvolvimento baixo (0,532). Em relação ao IDH, está na sexta posição entre os

países da CPLP (num total de 8) e na sexta posição entre os países da SADC (num total

de 14). Não obstante, esta foi considerada a maior subida do IDH de Angola que, em

2000, possuía IDH de 0,375; em 2012, IDH de 0,508. Em 2013, o IDH passa para 0,532

e, em 2014, para 0,532, uma cifra ainda considerada abaixo da média mundial – que é de

(0,680).

Também foi notória a subida da expetativa de vida dos angolanos, de 47 anos, em

2001, para 60,2 anos, em 201432. Para alguns analistas, esta subida ainda não se reflete

em melhorias das condições de vida dos habitantes, fruto da má distribuição da riqueza.

31 Cf. Relatório sobre o Índice do Desenvolvimento Humano de 2014. 32 Cf. Dados do INE, PNUD, Relatório do IDH 2014.

60

Comparativamente aos anos anteriores, o índice de pobreza e extrema pobreza baixou de

68,2%, em 2008/9, para 36,8%, em 201433, número considerado ainda alto. O governo

de Angola estima reduzir os níveis de pobreza de 36,6 para 28%34 até 2017, o que é

contrário à visão de vários analistas, que prognosticam uma subida destes números, tendo

com conta a recessão econômica que o país atravessa. A incidência da pobreza é maior

em zonas rurais, afetando 58,3% da população, contra 18,7% da população em zonas

urbanas. Não obstante, 42% de crianças de famílias pobres participam no trabalho

familiar35.

O relatório econômico de Angola de 2014 apresenta três cenários prováveis para

que a estimativa do governa surta efeito:

A taxa média de crescimento do PIB entre 2014 e 2017 ser de 11% ao

ano.

Melhora dos canais de redistribuição do rendimento, através dos impostos

e das prestações sociais, a que poderá corresponder uma elasticidade

rendimento-pobreza de 1,85.

A taxa de crescimento demográfico se manter em 3,2%. A diminuição

deste valor pode poupar tempo na obtenção desta meta ou diminuir a

exigência na melhoria do padrão de distribuição do rendimento nacional

do país (REA 2014, p.38-39)

Estes pressupostos, de acordo o relatório, dificilmente poderão ser atingidos pelo

governo até 2017, devido o que considera a existência de “contornos injustos,

desequilibrados, desestruturantes e assimétricos” que caracterizam o atual processo de

acumulação primitiva de capital, que deve ser substituído por um modelo de “distribuição

do rendimento mais centrado no emprego, nas remunerações do trabalho e no incremento

da produtividade. O crescimento do PIB é um fator essencial para a redução da pobreza,

mas é também a alteração do modelo de concentração do rendimento e da riqueza

vigente”36.

Outrossim, o setor da saúde constitui um dos vetores extraordinários de serviços

básicos oferecidos à população e também o que maior preocupação tem trazido para os

angolanos, tendo em conta os índices elevados de mortalidade registrados nos últimos.

Angola é um dos países no mundo que mantêm os índices de incidência de mortalidade

infantojuvenil mais altos, registrando 165 mortes por cada 1.000 nascidos. Está entre os

33 Cf. Dados do INE, 2015 p.43. 34 Cf. Dados do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, p.40. 35 Cf. Dados do INE, 2015 p. 43. 36 Ibidem, p. 39

61

três países no mundo (Serra Leoa, Angola e Chade) com piores taxas de mortalidade do

0 aos 5 anos. O quadro epistemológico de 2014 registrou a malária, as doenças

respiratórias agudas e as doenças diarreicas como as mais preocupantes, com o total de

55,8% de casos notificados, correspondentes a 4.456.445 pacientes; destes, registraram-

se 11.014 óbitos37.

Este quadro poderá melhorar se corresponder bem à grande aposta que o governo

vem fazendo na formação de médicos, bem como na contratação de médicos expatriados.

Entretanto, houve um relativo aumento de número de médicos (entre 2008-2010)38,

passando para a média de pelo menos um médico por município. Na atualidade, existem

registrados, em todo país, entre nacionais e estrangeiros, cerca de 3.541 médicos, 34.301

enfermeiros e 6.415 profissionais de apoio hospitalar. O número de parteiras passou a ser

de 1 para 5 mil habitantes e o número de técnicos para 4 em 10 mil habitantes. Não

obstante, 70% destes profissionais (médicos e enfermeiros) encontram-se radicados em

Luanda39.

Os gastos com saúde em Angola são considerados insignificantes, se comparados

com outros países. Nesta senda, segundo o OGE revisto de 201640, a despesa do estado

com o setor social prevê o total de 28%, dos quais cerca 4% destinados à saúde, o que,

comparativamente aos países desenvolvidos e da Comunidade de Desenvolvimento da

África Austral (SADC), é considerado baixo, representando pouco investimento neste

setor. Não obstante, e de acordo com o Relatório da USAID (2010), ao longo do pós-

guerra, Angola não tem tido sucesso no desenvolvimento de um sistema de saúde eficaz.

Deve-se a este fato a falta de infraestrutura e a urbanização acelerada, o que lhe torna

incapaz a promoção de programas que abordem as necessidades básicas da população

com a saúde.

Embora se reconheçam melhorias nesta direção, concomitantemente no acréscimo

de médicos, o aumento de infraestrutura hospitalar, os efeitos da guerra ainda se fazem

sentir e têm se tornado num dos problemas fundamentais na reversão desta situação. Uma

das situações tem a ver com escassez de recursos humanos especializados no país, por

37 Cf. Relatório Econômico de Angola 2014 p.135 38 Em 2008 havia 0,8 médicos para 10 mil habitantes e em 2010 este número aumentou de 2 médicos para

10 mil habitantes 39 Cf. Dados do portal de notícias Angop. Órgão oficial de notícias de Angola. 40 Cf. Relatório revisto de Fundamentação do OGE para 2016 pag. 35 do Ministério das Finanças de

Angola

62

conta da guerra, que dizimou boa parte da população, trazendo, como consequência, a

falta de quadros no setor.

À semelhança de outros países recentemente saídos de uma guerra civil, os desafios

para a reconstrução do país são imensos. A busca de apoio internacional foi uma das

estratégias adotadas pelo governo no pós-guerra. Coincidindo com a política de expansão

chinesa, na busca de novos mercados, por empresas privadas e estatais, Angola consegue

um parceiro importante e a China um lugar de destaque na sua economia. Outros

parceiros importantes, como Portugal, EUA, África do Sul, China, Brasil, Reino Unido,

França, Alemanha, Espanha e Argentina, têm contribuído na reconstrução angolana.

O relatório de perspectivas econômicas na África, de 2012, refere que o grande

problema enfrentado pelos angolanos, na conquista de apoio internacional, tem sido a

falta de transparência da gestão das receitas do petróleo, as despesas extraorçamentárias,

os empréstimos comerciais garantidos pelo petróleo e o consequente peso da dívida

externa.

Com o apoio dos seus parceiros econômicos, com destaque para a China, a

reconstrução de Angola teve avanços satisfatórios até o primeiro semestre de 2014.

Angola construiu muito da infraestrutura destruída ao longo da guerra, entre hospitais,

escolas, habitação, estradas, pontes, barragens hidroelétricas, estradas de ferro e outros.

Estas obras possibilitaram a ligação do país em quase toda sua extensão por via terrestre

(a rede rodoviária angolana é de cerca de 175.000 km, sendo 7.955 km de estrada

asfaltada e 7.870 km de estrada pavimentada)41, além da importante ligação ferroviária

com a República da Zâmbia.

Para acelerar o desenvolvimento da economia e permitir a sua diversificação, o

governo tem construído infraestrutura básica com objetivo de atração de investimentos

privados destinados à indústria de transformação. Neste sentido, o país apostou na

construção de polos de desenvolvimento industrial, nas províncias de Luanda-Bengo,

Benguela (nestas, já com algumas indústrias em funcionamento), Cabinda, Cuanza Norte

e Cuanza Sul (em fases de conclusão). Problemas, como falta de água e energia elétrica,

têm dificultado o normal funcionamento das indústrias, que precisam utilizar geradores

para permitir o seu funcionamento, o que elevam os custos operacionais. A disseminação

de micro, pequena e média empresas, bem como a criação de centros de inovação de

excelência, têm sido outra estratégia do governo.

41 Dados do INE 2009, apud Rocha (2011)

63

Joaquim Silvestre, do Ministério do Urbanismo e da Habitação de Angola, citado

pela Angop42, realçou que foram construídas, e ainda estão em obras, 9 novas

centralidades/urbanizações, tendo já erguidas cerca de 44.723 casas, faltando por

construir cerca de 120 mil residências. Estas urbanizações possibilitaram a minimização

gritante de habitação que se fazia sentir no país, possibilitando que milhares de pessoas

vivam dignamente.

Apesar dos avanços registrados na reconstrução do país, o alcance dos objetivos do

milênio, plasmado pelas Nações Unidas, ainda está longe de se atingir. A transparência

na gestão dos gastos públicos tem sido um dos calcanhares de Aquiles do governo, pois

Angola figura na lista dos países menos transparentes do mundo, encontrando-se na

posição 153, do total de 175 países.

1.6 A questão do trabalho em Angola

Ao se fazer uma análise da questão do trabalho em Angola, três momentos devem

ser tidos em conta: da sua descoberta à colonização; da conquista da independência à

guerra civil e da mudança de regime aos dias de hoje.

Estes três momentos influenciaram, na atualidade, o modus vivendi e o modus

operandi dos angolanos e, ao longo da sua história, tiveram certa instabilidade, na qual a

questão do trabalho foi e é um dos assuntos mais questionáveis e emblemáticos que a

sociedade angolana enfrenta.

1.6.1 Da sua descoberta à colonização

Habitado por povos de origem bantus, o território, conhecido atualmente como

Angola (anteriormente denominado N’gola), foi descoberto pelo português Diogo Cão

entre 1482 e 1486, a partir da foz do rio Zaire, vindo a culminar em dois momentos

históricos importantes para os portugueses:

A primeira vaga longínqua a expansão marítima e territorial em termos

científicos.

42 Considerações proferidas ao logo do balanço do programa nacional do urbanismo e habitação (PNUH)

em 2013.

64

E o impulsionar do negócio escravo na África.

No entanto, a descoberta de Angola relaciona-se com o envolvimento dos países

europeus, submerso no movimento de expansão ultramarina, visando a conquista da

exploração de novas terras e produtos, cujo objetivo era o desenvolvimento mercantilista

através da escravatura. O fim da escravatura trouxe consequências negativas, como o

fraco desenvolvimento mercantilista. Os portugueses começam a apostar na exploração

do recurso do solo empregando a mão de obra indígena. O trabalho no cultivo da terra se

tornara livre no início do século XX.

Com o trabalho escravo em Angola tendo sua abolição em 1899, surge, em sua

substituição, outra forma de escravidão, que é o trabalho corretivo, visando a manutenção

do trabalho forçado, através de mão de obra barata nas plantações de café e outros que

permaneceram até o fim da colonização (1575-1975), tal como refere Domingues

(2013:189), que “o início da relação colonizador versus colonizado começa com a

descoberta de Angola e só termina após o período colonial”.

Por isso, segundo Boahen (2011:188), “o colonialismo foi imposto ao povo africano

de modo violento na maior parte dos casos, ainda que às vezes a violência afivelasse a

máscara da lei e do direito”, o que levou a reorganização da vida política e econômica da

população de forma submissa.

Neste sentido, a escravidão era perpetrada pelos grandes proprietários de fazenda

de cafezais e outros que praticavam cada vez mais o trabalho escravo e forçado, fazendo

reféns famílias que ficavam sob sua custódia, sem que tivessem liberdade total para a

reivindicação dos seus direitos (como, por exemplo, contratuais). Da privação dos direitos

políticos e da imposição de trabalhos forçados, originaram-se reações violentas por parte

de alguns dos escravos, enquanto outros, tementes às represálias, aceitaram as mudanças

(BOAHEN, 2011).

As exigências internacionais consubstanciadas no desenvolvimento de um sistema

urbano, com construções de grandes cidades, bem como o povoamento destas e,

especialmente, com a independência do Brasil (anterior bastião do comércio de escravo),

levaram Portugal a efetivar a sua colonização em Angola nos finais do século XIX.

Assim, Portugal viu-se na obrigação de transportar para Angola seus compatriotas,

a fim de povoar este território, com destaque para o seu interior. À semelhança de outros

países, como Moçambique e Brasil, foram criados colonatos em Angola, sendo um dos

65

objetivos a manutenção da hegemonia portuguesa na região, assim como a solução da

diminuição da pobreza e do desemprego que se faziam sentir em Portugal.

A abertura de colonatos teve, inicialmente, uma integração social precária dos

colonos, que foram obrigados a criar condições para instalação de fazendas agrícolas, de

comércio de bens de consumo e outros. Em contrapartida, os nativos sentiram-se

marginalizados e revoltados, por se verem obrigados a trabalhar para estes colonos.

Começava-se a verificar a implementação de um contrato no qual muitos dos nativos, que

trabalhavam para os colonos, eram obrigados a ficar reféns destes, com as respectivas

famílias, como se fosse uma hipoteca, tendo em vista que, em muitas famílias, esta

situação passava-se de geração em geração. Inicialmente, surgem dois colonatos, sendo

um na Matala (sul de Angola) e outro na Cela (centro de Angola).

O projeto de expansão de colonatos continua e, na década de 1960, surgem outros

colonatos: colonatos de negros, colonatos de soldados e colonatos de cabo-verdianos.

Estes colonatos foram cedidos a pessoas consideradas assimiladas e civilizadas, que

possuíam como padrão regras sociais europeias (tinham de saber ler e escrever

português). O aumento populacional, com destaque nas zonas urbanas, começa a ser um

fato e a estratificação era visível, sendo que o europeu detinha mais privilégios em relação

aos mestiços africanos e os negros assimilados.

O registro do trabalho nestas colônias era considerado de trabalho escravo,

inclusive, muitas crianças foram obrigadas a ajudar os familiares na prática do trabalho

forçado, visando o aumento do seu sustento. Denotavam-se, em algumas situações,

experiências revoltantes contra tamanha exploração, fazendo com que muitas famílias

fugissem destes locais e procurassem trabalho no campo para poderem sobreviver.

O trabalho forçado implementado pelos colonizadores tornava-se um sufoco para

os angolanos, sendo que muitos eram exportados para trabalhar em implantações de cacau

noutras colônias, como foi o caso de milhares de angolanos que foram parar nas

plantações da África do Sul, de São Tomé e do Brasil, deixando as famílias entregues à

própria sorte.

Este tipo de coerção não livrara os camponeses rurais que, em muitos casos, viam-

se obrigados por lei a trabalharem várias semanas, sem remuneração, em obras públicas,

bem como a vender ou trocar seus produtos por míseros valores (muito abaixo dos valores

comercializados), sob pena de prisão imediata (BOAHEN, 2011).

O surgimento de reinvindicações contra a opressão colonial começa em toda

Angola, especialmente em favor de direitos, sendo efetuadas de várias maneiras, como

66

doenças simuladas, greves, trabalho lento, fugas para outros locais, sabotagem (quer por

ação ou omissão), roubos, etc.

Ao longo do tempo, estas e outras reivindicações (com destaque as de influência

externa), fizeram com que Angola se tornasse uma colônia e, em 1951, uma província

ultramarina de Portugal. Entre 1950 e 1970, Angola começa a se desenvolver e atinge

níveis de progresso superiores aos da metrópole. Nesta altura, a luta por melhor inserção

social, bem como por qualificação da mão de obra, consubstanciada numa educação

aceitável, fez com que Portugal prestasse melhor atenção às suas colônias, com destaque

para Angola e Moçambique.

A abordagem sobre os problemas da educação, trabalho obrigatório, descriminação,

entre outros, começou a surgir. É assim que, entre 1920 e 1930, surgiu o Liceu Salvador

Correia, em Luanda, de onde saíram alguns dos intelectuais angolanos, como Agostinho

Neto, Viriato da Cruz e outros.

Para Boahen (2011), as reivindicações rurais começaram a se alastrar para as zonas

urbanas, onde, através de negros e mulatos nativos, instruídos, começaram a tomar outros

rumos, através da criação de movimentos sociais, bem como de publicações em editoriais

de jornais por estes produzidos, nos quais manifestavam os seus descontentamentos e

exigiam o fim da exploração dos africanos.

O surgimento de infraestrutura, através do investimento estrangeiro (por exemplo:

o Plano Marshall), começa desde que Angola se torna uma província ultramarina. Foram

dinamizadas obras públicas, estradas de ferros, portos e transporte marítimos, estradas e

telégrafos, pontes, aeroportos, urbanização, águas e saneamentos, bem como escolas nas

cidades, indústrias têxteis, de fomento, pecuária e outras. O desenvolvimento em

infraestrutura permitiu o crescimento do PIB e dos setores transformadores e extrativistas

(açúcar, café, diamantes, petróleo, ferro e outros) (DOMINGUES, 2013).

Não obstante, os problemas sociais continuaram e surgem várias revoltas dos

trabalhadores, que se sentem insatisfeitos com os métodos de trabalho utilizado. É assim

que surgem as revoltas e greves dos trabalhadores da Baixa de Cassange (nas plantações

e algodoeiras), dos trabalhadores contratados no norte de Angola e outras. Estas revoltas

surgem como protesto ao cultivo obrigatório de algodão, de abuso relativo ao atraso

excessivo de salários e outros. Estas revoltas tiveram como consequência um dos maiores

massacres registrados na história de Angola contra trabalhadores indefesos, que lutavam

contra a cessação dos abusos e as ilegalidades sofridas, bem como se davam os sinais da

luta de libertação contra a opressão colonial, registrada na baixa de Cassange.

67

1.6.2. Da conquista da independência à guerra civil

Como frisado, a guerra civil em Angola teve duração de 27 anos (1975-2002) e o

desenvolvimento socioeconômico, que havia sido atingido, conheceu momentos

amargos, com a sua destruição ao longo da guerra, denotando-se sérias mudanças, tanto

em termos de infraestrutura (quase toda destruída) como na sociedade, que se viu

mergulhada na guerra.

A defesa do país era a prioridade do momento. Por esta razão e de acordo com as

suas convicções políticas, os jovens foram obrigados a fazer parte de uma determinada

força política. Assim, uns enquadraram-se nas Forças Armadas Populares de Libertação

de Angola (FAPLA), formada pelo MPLA. Outros, para as Forças Armadas de Libertação

de Angola (FALA), formada pela UNITA, e outros para o Exército de Libertação

Nacional de Angola (ELNA), formado pela FNLA.

O enquadramento a estes grupos teve, para muitos, o incentivo tribal e, para outros,

os motivos raciais. No entendimento de Filho (2013), “diferentes concepções de

construção da nacionalidade se alinharam junto aos diferentes grupos em conflito, assim

como os diferentes agrupamentos etnolinguísticos. Negros, mestiços e brancos também

se dividiram nessa luta, que assumiu conotações também raciais”.

Agostinho Neto, presidente do MPLA e de Angola, institucionaliza as FAPLA

como exército nacional, o que caracterizou as demais forças armadas como ilegítimas e

inimigas. Nestes termos, a juventude angolana estava comprometida com a defesa da

pátria, tendo, a maioria, abandonado os seus locais de trabalho para o ingresso na tropa.

Com o início da guerra civil, os portugueses abandonam o país e deixaram todos os

pertences (móveis e imóveis). O estado confisca estes bens, incluindo infraestrutura. As

empresas e as áreas agrícolas abandonadas tiveram o mesmo destino. O êxodo

populacional nestas áreas é notório, devido à instabilidade reinante; estima-se que cerca

de 800 colonos portugueses abandonaram Angola.

O MPLA adota a sigla PT (Partido do Trabalho) como consequência do vínculo ao

regime marxista leninista e a responsabilidade do estado e se transforma no partido das

massas (o MPLA é o povo e o povo é o MPLA). O soar deste slogan se substancia na

política de exclusão e na implementação de partido único, como garantidor e salvaguarda

do poder revolucionário representado pelas organizações de massa.

Visando a mobilização e a organização dos trabalhadores no apoio político e

material à luta armada, a União Nacional dos Trabalhadores de Angola (UNTA), criada

68

em 16 de abril de 1960 por um grupo de sindicalistas angolanos no exílio, filia-se ao

MPLA-PT e passa a ser a voz representativa do sindicato dos trabalhadores em Angola.

Com a guerra instalada, o papel da UNTA na defesa dos trabalhadores estava vinculado

aos interesses do governo do MPLA-PT, cujo papel era considerado, por muitos atores,

como classista.

Por outro lado, fruto da guerra e a instabilidade reinante nas zonas rurais, as zonas

urbanas começam a ser o refúgio das populações em busca de segurança. O trabalho

agrícola, que era o sustento destas populações, é abandonado e as terras se tornam campos

de mina. A situação destes refugiados complica-se; muitos ficam no desemprego e sob

dependência do estado, que se vê impossibilitado de prestar-lhes ajuda.

A luta pela sobrevivência estava implantada. Sem trabalho e com o aumento

quotidiano do êxodo populacional nas zonas urbanas, a vida se tornara complexa. O

estado estava sem resposta para empregar as pessoas e o desemprego se tornava cada vez

mais gritante. Nestes termos, a formação de um setor informal começa a surgir como

alternativa que, mais tarde, vem a se desencadear num setor privado endógeno,

contrapondo os ideais de direitos iguais defendidos pelo MPLA.

A situação social degradava-se com a guerra e o mercado informal tornava-se o

maior empregador dos angolanos. O setor informal estava formado por cerca de 70% dos

trabalhadores (na maioria, mulheres e órfãos da guerra). Muitos dos trabalhadores

funcionários públicos recorriam ao mercado informal para a prestação de horas extras,

como ambulantes ou outro tipo de trabalho, devido aos baixos salários auferidos.

Como atesta Antunes (2011), a barbárie sobre o desemprego estava se instalando

em Angola, denotando-se uma precarização estrutural do trabalho. O mercado de trabalho

apresentava escassez de oportunidade de emprego, devido a indisponibilidade de

profissionais qualificados, o que torna as pessoas fáceis e abundantes, sem o mínimo de

cuidados especiais quando empregados e sem direito à reclamação, com medo de voltar

ao exército de desempregados.

A procura e a necessidade de um emprego faziam com que homens e mulheres

encontrassem menos emprego, ficando no subemprego à espera de oportunidades para

trabalhar. Estas e outras situações propiciavam a emigração ou a imigração (quer para

outros países ou para outras cidades de Angola).

Por outro lado, a onda de pequenas empresas e o mercado informal alastram-se.

Começam-se a assistir numerosas pessoas, como vendedores ambulantes, nas ruas das

principais cidades, com destaque em Luanda, assim como a entrada, no mercado de

69

trabalho, de empresas de prestação de serviço e/ou de terceirização. Como atesta Trevisan

(2001), as relações de trabalho, nestes casos, são bastante precárias, sendo que, muitas

vezes, o direito dos trabalhadores é constantemente violado.

No caso de Angola, a situação tornava-se ainda muito mais complicada para o

trabalhador pela falta de regulação que se fazia sentir, com sindicatos bastante

fragilizados e incapazes de agir a favor do trabalhador.

É fato também que políticas públicas tanto de trabalho como da educação não se

faziam sentir. A guerra era a prioridade e, como consequência, a fragilidade do estado na

melhoria das condições sociais. O binômio educação e trabalho estava longe de um

acasalamento, embora se constate certa preocupação no combate ao analfabetismo, que

era implementado nas igrejas, nos mercados, nos locais de trabalho e nas organizações

filiadas ao partido. A falta de professores e de infraestrutura fez com que muitas crianças

se encontrassem fora do sistema de ensino. Ademais, muitas delas foram obrigadas a

pegar em armas tanto de forma voluntária quanto forçada.

Porém, embora em pouca escala, o estado investia na formação de técnicos médios

e superiores que eram enviados para Cuba. A falta de políticas de enquadramento dos

recém-formados fez com que muitos, chegados ao país, recorressem ao mercado informal

e que outros imigrassem. A imigração era uma prática frequente, especialmente de jovens,

devido a fuga ao cumprimento militar obrigatório.

Segundo Trevisan (2001), as políticas relativas à educação e ao trabalho visam

promover a mão de obra qualificada, que é a garantia de desenvolvimento de qualquer

país. Neste sentido, as iniciativas implementadas pelo governo de Angola não surtiram

efeito, face à instabilidade vivida que, para muitos atores da política angolana, não

passava de capa da incapacidade gerencial do estado. Percebe-se esse reconhecimento no

discurso de abertura do SEF (1.04.87), proferido pelo presidente Eduardo dos Santos, ao

realçar que:

A degradação do poder de compra, a redução a produtividade do trabalho, a

insuficiência do setor do estado e das empresas [nomeadamente públicas] o

déficit do orçamento geral do estado, a incapacidade do setor bancário de

remunerar os capitais estrangeiros, o endividamento exterior crescente... não

são apenas imputáveis à guerra mas que “as causas da estagnação” são

provenientes em boa parte do sistema de economia, da excessiva centralização,

da burocratização subsequente, da desorganização e má gestão das empresas,

da indisciplina e da corrupção galopante, da pilhagem da propriedade social

(SANTOS, José Eduardo dos, Discurso de abertura do SEF, 1/04/1987).

70

Não obstante os fatores de desenvolvimento sociais, econômicos e outros,

nomeadamente o trabalho, o capital bem como a progressão tecnológica foram afetados

neste período de guerra, cujo resultado é até hoje repercutido. A falta de mão de obra

qualificada em todos os níveis é um fato, o que levou a sua expatriação. A reversão deste

quadro é urgente, para proporcionar ao país trabalhadores capazes de promover o seu

desenvolvimento.

1.6.3 Da mudança de regime aos dias de hoje

Em 1990, como decorrência das conversações para a paz, o MPLA adere ao sistema

democrático e multipartidário e à economia de mercado. Era o fim do partido único e,

com ele, do modelo socialista. A FNLA e a UNITA transformam-se em partidos políticos

e concorrem as eleições. Durante o primeiro momento pós-eleitoral, os angolanos vivem

momentos de paz e de esperança num futuro melhor. Porém, contra todas as expectativas,

Jonas Savimbi, líder da UNITA, não aceita os resultados eleitorais e a guerra novamente

eclode – com maior agressividade nas zonas urbanas.

Com a morte de Jonas Savimbi, em 2002, a UNITA decide abandonar as armas e

seus militares integram o exército único (FAA). Como partido na oposição, passa a fazer

parte da vida política do país, à semelhança de outras agremiações políticas. Os momentos

de paz começam a ser vividos e, de imediato, a reconstrução do país.

A reconstrução do país conhece largos avanços, consequência das receitas do

petróleo, que outrora suportara os encargos da guerra e, na atualidade, sustenta os

compromissos do governo. Em nível econômico, o crescimento torna-se forte. Em

contrapartida, a sociedade civil, muito fragilizada, ainda sente os horrores da guerra, das

desigualdades sociais e da extrema pobreza.

Ao longo deste período, foram registrados acontecimentos importantes, que

afetaram em demasia a questão do trabalho, como a seguir se analisa.

1.6.4 Privatização

A política de nacionalização e confisco em Angola começa com o governo do

MPLA, pautado na ideia de que só com a centralização da economia o estado se tornaria

forte – pressuposto visível numa sociedade socialista, à semelhança da ex-URSS e de

Cuba, principais aliados do governo na época. Assim, a nacionalização e o confisco, pelo

71

estado, de empresas pertencentes aos colonos, foram o início da implementação desta

política.

Com a liberalização do mercado, um quadro perspectivo surge no desenvolvimento

da economia. Neste sentido, o grande impacto registrado foi o processo de privatização.

Para muitos analistas econômicos, este processo surtiu efeitos negativos para a economia

e, como consequência, para a força de trabalho e para a estrutura produtiva em si. Para

muitos trabalhadores, afetou as suas perspectivas profissionais, pois ficaram

desempregados.

O processo de privatização, com destaque para as empresas, não obedeceu a um

determinado planejamento ou cronograma que satisfizesse os interesses econômicos, mas

sim atendeu aos interesses políticos e pessoais. As empresas foram entregues a pessoas,

na maioria, relacionadas ao MPLA, sem capitalização para a sua gestão. Muitos

recorreram a empréstimos bancários (prática muito realizada na época) e, em pouco

tempo, decretaram falência, pondo no desemprego milhares de pessoas. Ressaltando-se

que muitos destes empréstimos não foram devolvidos ao estado.

Enormes casos de privatizações de imóveis encontram-se na justiça, fruto da má

condução do processo. Estão, neste caso, os imóveis que outrora pertenceram aos colonos

e foram confiscados pelo estado ou invadidos pelos populares. A má gestão do processo

de privatização conhece até hoje dissabores e um silenciar do próprio estado.

1.6.5 Situação do emprego e do desemprego

A necessidade de mão de obra qualificada se faz sentir nos mais variados setores de

trabalho, com realce para os setores de engenharia e tecnologia de informação, áreas que,

nos últimos anos, têm conhecido forte evolução. Apesar de o problema de falta de mão

de obra qualificada não ser uma exclusividade angolana, o que chama atenção é o fato de

se constatar uma taxa elevadíssima de desemprego, sem resposta aparente do estado. O

déficit de especialistas nas várias áreas afins é preocupante, exigindo mudanças urgentes.

Logo, o direito ao emprego, como consta na Constituição angolana, está longe de

ser uma realidade. O emprego tem sido uma das temáticas difíceis e complexas para o

estado43. Apesar do desenvolvimento econômico que conheceu, Angola se encontra entre

os países que mais desempregados tem no mundo. Uma das causas tem sido a elevada

43 Em 2008, durante a campanha eleitoral do MPLA, este, prometeu aos seus eleitores um milhão de novos

postos de trabalho a ser gerado ao longo dos 4 anos, o que não veio a acontecer.

72

taxa de mão de obra desqualificada e, para muitos, faltam políticas para a melhoria desta

questão. Por exemplo, dados do INE atestam que os setores de agricultura e pesca são as

atividades econômicas mais representativas, com 70% de atividade, enquanto o comércio

tem 10%, a atividade administrativa e dos serviços de apoio têm 8%, transporte e

construção têm 7% e armazém e comunicação estão com 6%.

Por outro lado, o setor privado conheceu alguma melhoria em termos de

crescimento, embora tenha sido abrandado com a crise econômica existente. Destacam-

se os setores de serviço, comércio, transporte, construção e financeiro. Neste sentido, o

setor público realizou concursos públicos para emprego, com destaque para os setores da

educação, saúde, órgãos de justiça. Todavia, segundo a Lei 17/90, que rege o

funcionalismo público, só são admitidos para a função pública os cidadãos que possuem

de 18 a 35 anos de idade. Segundo alguns autores, esta lei contrapõe-se à realidade, já que

o país esteve muitos anos em guerra e muitos angolanos qualificados com mais de 35

anos e que estudaram fora do país estão regressando e necessitam de emprego. Muitos

são obrigados a darem aulas como alternativa, por não conseguirem emprego na sua área

de formação.

1.6.5.1 Emprego

Segundo estimativas da OIT44, se fosse seguida a tendência pré-crise, teríamos 61

milhões de empregos a mais em 2014. O emprego global cresceu na média de 1,7% ao

ano, entre 1991 e 2007, mas somente 1,2%, de 2007 a 2014.

O emprego é uma abordagem muito discutida na literatura; é, acima de tudo, uma

categoria ou condição de pessoas que trabalham como assalariadas, que têm negócio

próprio ou mesmo aqueles que trabalham sem receber salário em negócio de família, quer

em carácter temporário ou permanente em qualquer tipo de atividade econômica

remunerada ou não. Podem ser incluídas nesta categoria aquelas pessoas que trabalham

em meio período ou estão temporariamente afastadas do trabalho em decorrência de

férias, doença, mau tempo (MANKIW, 2013). Normalmente, os empregos são oferecidos

numa determinada época da produção da economia, ou seja, quando se considera que a

economia se encontra estável e com probabilidade de gerar emprego.

44 OIT: Relatório sobre tendências globais do emprego em 2015.

73

Várias são as discussões sobre esta temática, por sociólogos, economistas,

acadêmicos e outras especialidades, que, com o seu saber, têm contribuído com

determinadas abordagens a este respeito.

Todavia, o conceito de emprego surgiu a partir do conceito de trabalho. Neste

sentido, as noções de emprego e de trabalho, na atualidade, são consideradas sobrepostas,

pelo fato de o termo trabalho estar associado à noção de emprego, assim como a noção

de emprego está associada ao trabalho remunerado. Para Santos et al. (1998), o trabalho

pode ser remunerado ou não; por esta razão, ele considera o emprego como o trabalho

remunerado. Kovács et al. (2006:7) consideram que o “emprego constitui o habitat social

dos indivíduos”. Neste sentido, o indivíduo empregado exerce um papel social, onde

ocupa uma posição na sociedade, com direito a recompensa material e simbólica.

A partir da revolução industrial, surge o conceito de emprego, que relaciona o

indivíduo e a sociedade, dando ênfase a personalidade do indivíduo perante a sociedade

e a sua relação com esta. Assim, o indivíduo começa a se sentir valorizado, tanto no seio

social como familiar. Nos seus estudos, Cachapa (2007) defende que o emprego tem duas

dimensões subjacentes: pessoal e social. Na dimensão pessoal, o indivíduo atinge os seus

objetivos e garante a sua subsistência. Na dimensão social, o indivíduo sai do seu

ambiente familiar e junta-se num grupo profissional, constitui relações e promove a

influência mútua com a sociedade. O emprego torna o indivíduo um agente ativo da

sociedade, com determinado status social. Na visão econômica, o emprego tem muito a

ver com os aspectos do mercado do trabalho relacionado com a oferta, a procura e o

equilíbrio. Quando o mercado está em equilíbrio, o emprego é proporcionado pelo

mercado do trabalho, logo, o pleno emprego só acontece em função do equilíbrio

registrado entre a procura e a oferta no mercado do trabalho.

Defende Santos (2013) que a questão do emprego está fundamentalmente ligada à

formação e à educação, atendendo o fato de que o mundo do trabalho está cada vez mais

desafiador, proporcionando grandes mudanças, tendo em conta a evolução tecnológica.

A problemática “das relações trinomiais educação/formação/emprego escreve-se no

prolongamento das preocupações dos sociólogos e dos economistas, sobre as conexões

entre a educação, a economia e as estruturas das profissões” (SANTOS, 2013:25).

O entendimento de que o emprego está sujeito a vários fatores, entre os quais o

comportamento do mercado do trabalho, relacionado com a oferta, a procura e o

equilíbrio, é uma abordagem que é tida como grande preocupação mundial, uma vez que

o pleno emprego proporciona desenvolvimento na economia, evitando determinados

74

males que proveem do desemprego, tais como criminalidade, pobreza e outros que criam

instabilidades sociais, através de comportamentos contraproducentes.

A Organização Internacional de Trabalho (OIT), através de várias políticas, luta por

um mundo desigual, pela promoção de melhores oportunidades para as pessoas. Neste

sentido, seu relatório sobre tendências globais de emprego, de 2015, refere cláusulas

internacionais do trabalho, visando a implementação do pleno emprego produtivo e o

trabalho digno no cerne das políticas econômicas e sociais, baseados em quatro grandes

objetivos estratégicos, nomeadamente: emprego, proteção social, diálogo social e direito

de trabalho. Neste sentido, a “OIT, enquanto organização tripartida, trabalha com os

governos e organizações patronais e de trabalhadores promovendo a percepção destes

objetivos”. Apesar destas iniciativas formais, Pastore (1998) defende que estas têm pouco

impacto nas pessoas que diariamente vão à procura de emprego.

Por outro lado, o setor dos serviços de automação tem sido aquele que tem gerado

emprego, face à crescente evolução das tecnologias de informação. Neste sentido, os

estudos de Kotler (2015) atestam “que na década de 1870, 70% a 80% da população dos

Estados Unidos trabalhavam na agricultura. Hoje, o percentual da população empregada

nesta área é inferior a 2%”. O declínio desde setor é salvaguardado pelo aumento da

indústria, que passou a fornecer emprego suficiente. Todavia, o setor industrial que, em

1973, era o responsável por 22% do PIB norte-americano, hoje apenas contribui com 9%

do PIB. A diminuição destes dois setores provoca a necessidade de criação de mais

empregos pelo setor de serviços, o que se torna uma questão, na visão de Kotler (2015),

em saber se este poderá criar empregos com salários suficientes.

Como já se frisou anteriormente, o mercado de trabalho vem conhecendo várias

mudanças em função das transformações tecnológicas, provocando uma alteração no

modus vivendi e no modus operandi dos indivíduos que são obrigados a se adaptarem a

estas mudanças, sob o risco de estarem no desemprego. Assim, um indivíduo empregado

pode tornar-se um desempregado. Neste contexto, um novo fenômeno surge, que é a

questão da precariedade do emprego e desemprego, que constitui uma grande

preocupação não só social e pessoal, mas também dos governos – que têm de criar

políticas públicas de emprego para a diminuição do desemprego. Esta situação leva os

indivíduos a deixaram de perspectivar um emprego para a vida (como era antigamente),

tendo em vista que os sistemas de emprego são cada vez mais precários e instáveis

(ANTUNES, 2010).

75

No caso de Angola, a situação do emprego tem sido uma preocupação do estado,

na adoção de políticas de emprego, como se pode notar no PND/2013-2017, que visa o

aumento do emprego através da diversificação da economia. No entanto, os dados

estatísticos sobre a criação de emprego em Angola, expostos pelo MAPTSS e pelo INE,

se contradizem sem, no entanto, se saber com certeza quais os dados reais sobre o

emprego. O relatório econômico de Angola (REA) 201445 refere que:

a criação de emprego em qualquer país depende de vários fatores: crescimento

da economia, modelo de organização e funcionamento do mercado de trabalho

(quanto menos transparente e rígido, menor quantidade de emprego se gera,

pelo menos na óptica neoclássica), natureza dos processos técnicos de

produção (quanto mais intensivos em capital e tecnologia, menores as

possibilidades de criação de quantidades relevantes de emprego), pratica do

salário mínimo (que pode falsear as regras de mercado e introduzir elementos

de distorção), investimento público e privado, tipo de emprego oferecido pelas

famílias (qualificado ou indiferenciado, que também depende do estádio de

desenvolvimento da economia – estádios mais atrasados apelam, em princípio

a uma maior proporção de força de trabalho indiferenciada), políticas públicas

adrede dirigidas a criação de emprego, práticas de subsídios de emprego (que

ao aumentar o custo empresarial da mão – de – obra, retrai a procura de

empregados por parte do sector privado empresarial), mobilidade setorial e

territorial da mão – de – obra dentro do espaço nacional (quanto mais

obstáculos existirem a esta transferência de força de trabalho, menores serão

as oportunidades de trabalho), saturação dum determinado sector de atividade,

etc., etc., etc. o estudo sobre o emprego é um dos mais aliciantes para os

macroeconomistas é uma das peças centrais da compreensão e do

estabelecimento de modelos e políticas de distribuição do rendimento nacional

(REA, 2014:225).

Embora a perspectiva governamental seja ambiciosa, em termos de planos, vários

autores nacionais estão céticos quanto à criação de emprego. Basta nos atermos ao fato

de que o crescimento econômico é um dos indicadores para a geração de emprego, que

não acontece no momento, tendo em conta que, com a crise econômica que se verifica no

mundo, devido à baixa do petróleo (uma das receitas relevantes para a economia

angolana), a economia angolana conheceu uma desaceleração em relação ao primeiro

trimestre do ano de 2014, estando numa recessão econômica. Não obstante, o governo,

através do GTME, na voz do seu coordenador, Leonel Bernardo46, referiu que, até o

próximo ano, o governo atingirá a cifra de 726.667 novos postos de trabalho. De 2013 a

2014, foi registrado o aumento na criação de emprego de 93%, através dos setores de

45 Relatório Econômico de Angola 2014, produzido pelo Centro de Estudos e Investigação Científica da

Universidade Católica de Angola. 46 Leonel Bernardo é diretor Nacional do Emprego do MAPTSS e coordenador do GTME. Estas

declarações foram proferidas ao Jornal de Angola, Ano 41 N°13919, de sábado, 23 de janeiro de 2016,

quando falava à imprensa durante a reunião do GTME.

76

comércio, energia e águas e transportes. Em 2015, foram criados no país 261.099 postos

de trabalho, com destaque para os setores dos transportes, com 31%, energia e água, com

26%, e comércio com 20%.

Apesar da divulgação dos dados acima pelo GTME, o REA (2015:292) refere que,

com a crise de petróleo, registrada a partir do segundo semestre de 2014, “o governo não

conseguirá criar um volume expressivo de emprego e, assim, garantir a sua

sustentabilidade, conforme o projetado no PND/2013-2017”, como se demonstra na

tabela 6, sobre o programa de emprego. Segundo o REA (2015),

A capacidade de geração de novos postos de trabalho depende das respectivas

performances produtivas, as quais, por sua vez, estão em intima conexão com

a agricultura, a indústria (latu sensu), as pescas, a construção, etc. quando estas

atividades não crescem ou crescem pouco, a montante e a jusante, o emprego

ressente-se (REA, 2015:292-293).

O emprego é um caminho que visa a promoção da progressão na repartição

funcional do rendimento, bem como os benefícios na repartição pessoal do rendimento,

embora estes aspectos requeiram outras nuances políticas e ajustadas, dependentes do

estado e do padrão de ajuntamento de riquezas prevalecentes.

Tabela 1: Programa do emprego em Angola entre 2002 e 2015

Setores de

atividade

2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2015

Agricultura,

pecuária e

floresta

2.231.434 2.369.037 2.510.897 2.621.107 2.621.107 2.913.360 2.932.763 2.959269

Pescas 26.868 28.440 30.233 33.447 33.447 40.626 43.234 44.761

Petróleo e gás 14.223 14.996 15.394 64.559 64.559 92.241 92.241 92.241

Diamantes e

outros

10.577 32.483 36.157 22.904 22.904 20.142 41.079 41.983

Indústria

transformadora

56.255 53.745 56.017 59.419 59.419 72.976 80.135 100.810

Eletricidade 2.389 7.871 8.852 11.646 11.646 7.079 103.737 153.801

Construção 169.722 216.104 271.086 320.191 320.191 410.661 424.197 427.941

Comércio 796.139 852.508 909.051 949.645 949.645 1.061.862 1.170.836 1.218.598

Transporte e

armazenagem

68.329 72.641 76.886 81.377 81.377 96.359 157.715 228.174

Correios e

telecomunicações

2.476 3.175 4.339 4.574 4.574 12.167 0 0

Bancos e seguros 5.072 5.722 7.074 14.138 14.138 23.357 0 0

Estado 326.709 346.856 367.626 420.832 420.832 431.610 438.137 438.137

Serviços

imobiliários

334 320 356 424 424 562 0 0

Outros serviços 332.760 356.211 410.455 438.841 438.841 525.078 653.462 693.784

77

Fonte: CEIC, arquivo estudos sobre produtividade e emprego, com base nas Contas Nacionais

e Documentos oficiais diversos, REA (2015:293).

A tabele 7 demonstra os setores que mais emprego ofereceram ao logo dos anos

2008 a 2015. A agricultura, a pecuária e a floresta (com destaque para a familiar), foi o

segmento que ofereceu mais emprego, apesar de se ter registrado uma quebra significativa

em 2014 e 2015, fruto da recessão econômica que Angola passa no momento. Seguem-

se o comércio e, posteriormente, a construção e obras públicas. O REA 2015 refere que,

mesmo com a recessão econômica, foi possível a economia absolver o acréscimo de

262.000 novos postos de trabalho.

Tabela 2: Estrutura setorial do emprego

Fonte: CEIC, arquivo estudos sobre produtividade e emprego, com base nas Contas

Nacionais e documentos oficiais diversos, REA (2015:294).

Com base no acima exposto, o emprego terá de ser sacrificado, tendo em conta os

limites previsíveis sobre a capacidade nacional de crescimento econômico, o que implica

a não criação de emprego líquido relevante e, consequentemente, distribuir pela via

funcional rendimentos ao fator trabalho. Assim e com base neste cenário, a taxa de

desemprego poderá ultrapassar 26,2% da população economicamente ativa em 2020,

REA (2015). No entanto, como bem referiu Rocha (2011), o desemprego conhecerá níveis

Angola 4.043.287 4.360.109 4.704.423 5.043.104 5.043.104 5.708.080 6.137.536 6.399.499

Incremento 0 171.924 181.729 144.898 200.798 163.075 283.320 261.963

Setores de atividade 2008 2010 2012 2014 2015

Agricultura, pecuária e floresta 52,0 51,0 51,0 47,8 46,2

Pescas 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7

Petróleo e gás 1,3 1,5 1,5 1,5 1,4

Diamantes e outros 0,5 0,4 0,4 0,7 0,7

Indústria transformadora 1,2 1,2 1,3 1,3 1,6

Eletricidade 0,2 0,2 0,1 1,7 2,4

Construção 6,3 6,8 7,2 6,9 6,7

Comércio 18,8 18,5 18,6 19,1 19,0

Transporte e armazenagem 1,6 1,6 1,7 2,6 3,6

Estado 8,3 8,7 7,6 7,3 7,3

Outros serviços 9,1 9,4 9,8 10,5 10,4

78

altos nas economias onde existem carências no acesso à educação, com destaque ao

conhecimento da evolução tecnológica e da informação, tendência que se mantém.

1.6.5.2 Desemprego

A situação do desemprego continua sendo caraterizada como preocupante, embora

possa variar de país para país. Esta situação deve-se às grandes transformações do mundo

de trabalho, devido a evolução da ciência e tecnologia, que crescem num ritmo acelerado.

Como resultado, percebe-se que o número de pessoas que trabalham em condições de

emprego fixo diminuiu consideravelmente e que a proporção de indivíduos que trabalham

em tempo parcial, por prazo determinado, por projeto, subcontratada ou sob condições de

teletrabalho aumentou consideravelmente (PASTORE, 1998). Pastore afirma que, em

1998, se encontravam no subemprego ou no desempregado cerca de 1 milhão de pessoas,

sem perspectivas de poderem voltar a trabalhar; isto desde o início do século XXI. Para

o autor,

Certos países conseguiram oferecer trabalho para quase toda sua população,

mantendo baixas taxas de desemprego. Os Estados Unidos firmaram-se como

uma verdadeira fábrica de emprego, gerando cerca de 300 mil novos postos de

trabalho por mês, com uma taxa de desemprego ligeiramente superior a 4% em

1998. O Japão, apesar de todas as dificuldades pelas quais passou depois da

crise no final de 1997, tem uma taxa de desemprego acima de 4%. A Inglaterra,

que também passou por fortes crises, terminou o século XX com menos de 5%

de desemprego. O mesmo ocorreu com a Holanda, a Nova Zelândia que

também amargou taxas de desocupação bem acima dos 10%, e chegam ao

século XXI com cerca de 6% de desemprego. Já a Alemanha vem sendo

afectada por uma taxa de desemprego de 12% ao longo de quinze anos. A

França com mais de 12% de desempregados, e a Espanha 20%. Os países,

citados acima, chegam ao final deste século com taxas de crescimento bastante

parecidas (entre 3% e 4% ao ano) e, no entanto, apresentam enormes

disparidades nas taxas de desemprego (PASTORE, 1998:3).

Por exemplo, nos estudos de Samuelson (2012), o desemprego mexe com a

economia e, concomitantemente, com a sociedade. O número das pessoas consideradas

potencialmente ativas para a força de trabalho aumentou. As políticas públicas sobre a

criação de emprego são tidas como pouco incentivadoras, o que demonstra, em alguns

países, a fragilidade dos governos na criação de emprego; por esta razão, já defendia o

autor que a criação de emprego deve ter maior participação de entidades privadas, com

potencialidades para criação de empregos. Estes argumentos mantem-se válidos até os

dias de hoje, tendo em vista os números alarmantes de desemprego que a OIT tem

relatado.

79

Segundo a OIT47, o desemprego, com destaque para os jovens, continua

aumentando. Relatório da entidade frisa que, “em 2013, 74,5 milhões de pessoas entre 15

e 24 anos estavam sem trabalho – quase 1 milhão a mais do que no ano anterior, o que

perfaz uma taxa de desemprego juvenil de 13,1%, mais do que o dobro da taxa de

desemprego geral, de 6%”.

Todavia, na previsão da OIT, o número dos desempregados crescerá em 2,3 milhões

de pessoas em todo mundo, em 2016, e em 1,1 milhão de pessoas, em 2017, totalizando

3,4 milhões de pessoas durante estes dois anos. As causas relativas a estas projeções de

desemprego recaem na desaceleração econômica global, registrada em 2015, causando

grande impacto sobre o mercado de trabalho em 2016. Segundo o relatório, 27,2% dos

jovens estão sem trabalho no Oriente Médio e o desemprego juvenil ronda quase 30% no

norte da África. 18,3% dos jovens estão desempregados nos países onde a economia é

considerada desenvolvida e na União Europeia. O número de pessoas que estão

desempregados e sem estudarem, até 29 anos, aumentou em 30 dos 40 países pesquisados.

As taxas de jovens sem trabalhar ou estudar continuam altas na Turquia e na Macedônia,

com 34,6% e 32,1%, respectivamente.

Percebe-se no mundo um elevado número de jovens que não trabalham e nem

estudam. A formulação de políticas públicas para criação de emprego tem sido deficiente,

o que fará com que, nos próximos cinco anos, o desemprego aumente, com previsão de 212

milhões de pessoas até 2019, consubstanciada na combinação entre baixo crescimento e

desigualdade existente no mundo.

Autores, como, por exemplo, Pastore (1994; 1998), Bridge (1995), Rifkin (2001;

2004), Pochmann (2002; 2008), Rivero (2009), Off (1989; 2011), Antunes (2011), Kotler

92015), nos seus estudos, fazem referência ao aumento do desemprego estrutural, fruto

do desenvolvimento tecnológico imposto no mundo do trabalho, sem que, no curto prazo,

se encontre uma solução, deixando as sociedades mais desiguais, com aumento dos

índices de pobreza, de famílias desprotegidas e outros.

No caso concreto de Angola, o REA 201448 defende que a relação entre educação,

migração e redistribuição forma o trinômio-chave para uma solução global e sustentável

do desemprego. Segundo o relatório, a taxa global de desemprego do setor formal em

Angola, calculada com base nas contas nacionais, ronda os 21,6% sem, no entanto, ter-se

47 Relatório Tendências Mundiais de Emprego 2014, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) 48 Relatório Econômico de Angola de 2014, do Centro de Estudo e Investigação Científica da Universidade

Católica de Angola.

80

em conta os dados do censo de 2014. “Utilizando a Lei de Okun49, e prevendo uma taxa

de crescimento tendencial da economia de 7% e uma taxa de crescimento real do PIB em

2014 de cerca de 4,4 – estimativa do governo – a taxa de desemprego é de 26%” (REA

2014 p.234). Contrariamente a estes dados, o INE, através do censo de 2014, estima que

o desemprego em Angola é de 24,2%, sendo 23,6% homens e 24,9% mulheres.

Fica explicito nesta colocação do REA (2013:225) que “o desemprego é um problema

econômico (potencialidade de crescimento não concretizado) e uma questão social séria que

promove a pobreza, a miséria e a exclusão”. Com a recessão econômica que Angola atravessa

e com a falta de divulgação dos dados oficiais sobre o desemprego pelos órgãos competentes,

prevê-se que este número seja superior se se tiver em conta que estes dados se referem apenas

ao setor formal sem, no entanto, se incluir o setor informal.

Quadro 5: Evolução do índice de desemprego de 2000 a 2014 com base na Lei de Okun

1.6.5.3 A mão de obra estrangeira

Como elencado atrás, a falta de mão de obra qualificada é um problema crônico em

Angola e, para vários analistas, ainda vai se arrastar por muito tempo. Com uma economia

do mercado em recessão e a necessidade de se reconstruir o país, os angolanos se veem

incapacitados de participar nesta tarefa sem ajuda externa. Várias são as promessas do

governo, de reverter o quadro, mas sem grandes êxitos. O governo pretendia, até 2008,

criar 71 mil empregos, em setores como construção civil, e outros 271 mil empregos no

setor da pesca. Estas estimativas estatísticas não passaram de meros discursos; ademais,

tais postos de trabalho seriam de cargos baixos (REA, 2014).

Para a solução da reconstrução do país, Angola tem recorrido à mão de obra

estrangeira. Empresas angolanas e estrangeiras, de carácter tanto público quanto privado,

recrutam trabalhadores estrangeiros, de níveis médio e superior, para os mais variados

49 Segundo a Lei de Okun, para cada 2% de quebra do PIB, relativamente ao PIB potencial, a taxa de

desemprego aumenta 1 ponto percentual.

ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

% DESEMP. 28 28 27 27 27 25 25 24 24 24 25 25 25 26 26

Fonte: Adaptado do REA (2014 p.234)

81

setores do mercado angolano. Portugueses, brasileiros, chineses e cubanos são os

estrangeiros que mais recorriam ao mercado angolano. Estima-se que vivam em Angola

cerca de 586.480 estrangeiros, sendo que 328.896 são do sexo masculino e 257.584 são

do sexo feminino. Porém, com a entrada da economia em recessão, desde finais de 2014,

e com a falta de divisas (dólares), Angola deixou de ser um país atrativo para os

estrangeiros.

A atração de mão de obra estrangeira estava relacionada com o fato de que Angola

possuía uma economia em crescimento e que, desde 2002, passa por certa estabilidade

política. Este quadro fez com muitos estrangeiros fossem atraídos para trabalhar em

Angola, caracterizando o mercado de trabalho como uma grande oportunidade. A

necessidade de quadros nos mais variados setores se faz sentir atendendo à multiplicidade

de oportunidades para que empreendedores se insiram neste mercado interno que, até

então, era considerado dinâmico e em crescimento incomparável.

Numa das entrevistas à Rádio e Televisão Portuguesa (RTP), o presidente José

Eduardo dos Santos admitiu existir falta de quadros qualificados, razão pela qual os

angolanos, por si só, estariam incapacitados de contribuírem no desenvolvimento do seu

país, e que os quadros estrangeiros constituem uma mais valia para o desenvolvimento

nacional. Para vários analistas, a falta de políticas na reversão deste quadro é a grande

questão, estando o governo incapacitado na sua resolução.

Por outro lado, as multinacionais que operam em Angola têm, na sua maioria,

trabalhadores expatriados. A criação de emprego que, a priori é uma das obrigações, tem

sido em pouca escala. Uma das grandes preocupações é que muitas destas empresas não

formam os trabalhadores nacionais e mantêm, por muito tempo, os trabalhadores

expatriados, embora, a legislação que regula a contratação de trabalhadores estrangeiros

faça referência sobre a obrigação destas empresas de promover a mão de obra local,

formar e qualificar o trabalhador para posterior substituição da mão de obra estrangeira,

o que na prática não ocorre, sendo a falta de fiscalização outro elemento de referência.

A evolução tecnológica é outra causa de preferência para a contratação de mão de

obra estrangeira. Um grande descompasso nesta área é verificado no ensino em Angola,

onde a falta de laboratórios e outros mecanismos de ensino se faz sentir em grande escala.

82

1.6.6 Crescimento demográfico

Ao longo da ocupação colonial em Angola, foram realizados 18 recenseamentos

administrativos, entre 1900 e 1939. A partir de 1940, realiza-se o primeiro censo e este

processo foi se repetindo nos anos subsequentes até 1970 (CARVALHO, 1973).

Gráfico 3: Angola: Efetivo total da população nos diversos censos da época colonial

Fonte: Adaptado de Carvalho (1979)

Com a independência de Angola, o governo realizou, em 1983, um recenseamento

administrativo da população da província de Luanda e, nos anos de 1984/85, nas

províncias de Cabinda, Namibe e Zaire; em 1986/87, foi realizado nas demais

províncias50. A falta da realização de censo populacional esteve adstrita à guerra, sendo

que várias localidades estavam sob controle da UNITA. Com o alcance da paz, em 2014,

foi possível a realização do primeiro censo pós-independência.

Angola situa-se entre os dez países da África que mais cresceram em termos de

população nos últimos 10 anos, com crescimento que varia de 2,7% a 3,3%. O controle

populacional, verificado principalmente através de realização de censos, disponibiliza

dados determinantes para a criação de políticas sociais por parte de quem governa, bem

como, basilar para o desenvolvimento econômico de qualquer país. Dados os números

demográficos angolanos, a média da densidade populacional por km2 é de 20,7 habitantes

50 Cf. Dados do INE, 1992.

2506

3738

4145

4830

5620

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

1930

1940

1950

1960

1970

Efetivos em mil

An

os

83

residentes. Em Luanda se encontra concentrado mais ou menos ¼, correspondente a 27%

da população do país, com densidade populacional de 368 habitantes por km2. Seguem-

se as províncias de Benguela e Huambo, com média de densidade populacional de 70 e

59 habitantes por km2. As províncias do Cuando Cubango e Moxico são as que possuem

menor densidade populacional51. Em várias localidades de Angola, verifica-se enorme

dispersão da população e, de acordo a literatura demográfica, quando assim acontece,

estamos diante de má distribuição de espaço para a população e, concomitantemente,

diante de uma desigualdade social.

Os dados coletados pelo Censo de 2014 possibilitaram fazer algumas ilações

relativas ao crescimento populacional, com alguma precisão entre 2002 e 2014, período

em que se conheceu um crescimento exponencial da população. Os dados existentes não

são muitos confiáveis e convincentes, devido às disparidades de fontes não oficiais, por

isso, nos baseamos nos dados da CIA Word Factbook, segundo os quais, em 2001, a

população de Angola era estimada em 10.366.031 habitantes. Comparativamente aos

dados do Censo de 2014, que estima a população em 25.789.024 habitantes, percebe-se

existir um grande crescimento populacional em 13 anos de paz efetiva. Devido ao êxodo

rural em função da guerra, a maioria da população está concentrada em zonas urbanas,

num total de 16.153.987 habitantes – o equivalente a 62,6% da população – contra

9.635.037 habitantes, o equivalente a 37,4%, nas zonas rurais.

A estrutura etária da população – conforme tabela 8 – é bastante jovem, de acordo

com os dados do Censo 2014. Neste contexto, a população com idade entre 0 e 14 anos

é de 12.196.496 indivíduos, correspondente a 47% da população geral. A população

economicamente ativa (com idade para trabalhar) entre 15 e 64 anos é de 12.980.098

indivíduos, o que corresponde a 50% da população de Angola. A população com 65 ou

mais anos é de 612.430 indivíduos, o que corresponde a 2% da população no seu todo.

A idade média da população é de 21 anos, com mediana de 16 anos, sendo que a média

de idade para as mulheres é de 21 anos e a dos homens de 20 anos.

51 Cf. Dados do INE – Censo 2014.

84

Tabela 3: Estrutura etária da população por sexo, 2014

Faixa etária Total Homens Mulher

N. N. N. N. N. N.

Angola 25789024 100 12499041 100 13289983 100

0-14 anos 12196496 47,3 6051650 48,4 6144846 46,2

15-24 anos 4684938 18,2 2243399 17,9 2441539 18,4

25-64 anos 8295160 32,2 3938886 31,5 4356274 32,8

65 ou mais anos 612430 2,4 265106 2,1 347325 2,6

Fonte: INE. Luanda, Angola – 2016

A população idosa é representada, nas províncias de Cabinda e Luanda, com menos

de 2% da população, tendo as províncias de Cunene e Bengo os valores mais altos em

relação às demais províncias. O índice de envelhecimento em Angola é de 5%, o que

significa que para cada 100 indivíduos com 0-14 anos existiam, em 2014, 5 indivíduos

com 65 ou mais anos de idade. Quanto ao índice de longevidade e de rejuvenescimento,

os dados do INE demonstram existir um índice de longevidade de 34%, relativo ao

número da população idosa, demonstrando que grande parte da população idosa tem mais

de 75 anos de idade, sendo o Cunene com índice de 44% e a Lunda Norte com o índice

mais baixo, que ronda os 29%. Quanto ao índice de rejuvenescimento da população ativa,

os dados demonstram que entre a população com 20-29 e a população com 55-64, o

índice era de 457% em 2014, o que nos dá a entender que em cada 100 indivíduos que

entram no mercado de trabalho é significativamente maior o número de indivíduos que

saem.

Os dados sobre o crescimento populacional exigirão do governo maior

preocupação no melhoramento do sistema de ensino, bem como para a força de trabalho

jovem, podendo constituir mais valia no desenvolvimento da economia nos próximos

anos. A taxa de crescimento da população jovem mantém-se inalterada desde 2002, o

que explica este crescimento exponencial. As previsões da taxa de crescimento poderão

se manter ou aumentar em função da taxa de fecundidade, que é de 5,7.

O desenvolvimento econômico, registrado nos últimos anos, permitiu a atração de

imigrantes estrangeiros qualificados, com destaque para os de países europeus, tendo este

ritmo de imigração diminuído desde 2014, devido à crise do petróleo e da falta de moeda

estrangeira que se faz sentir em Angola. O maior número de imigrantes tem sido de

Portugal e da China, assim como o país tem sido atraente para várias empresas

multinacionais interessadas em investir no seu território.

85

Angola é um dos países com índice baixos em todos os rankings mundiais,

conforme já frisado atrás. Todavia, o índice de pobreza, o índice de desenvolvimento

humano, o índice de transparência, o índice de saúde e outros, quando elevado ou mesmo

considerado médio, pressupõem a diminuição das desigualdades principalmente na

distribuição da renda. Neste sentido, o país deve fazer esforços em investir no capital

humano, por ser considerado um importante fator de sucesso para o crescimento e a

diversificação no desenvolvimento da sua economia. Portanto, a educação é um dos

amplos vetores para o desenvolvimento de um país em todas as vertentes. Assim,

estratégias de longo prazo nesta direção são necessárias, incluindo o emprego e a

qualificação da mão de obra, fatores que garantem a sustentabilidade do crescimento,

possibilitando uma subida progressiva do rendimento da população, acompanhada de

ganhos de produtividade.

1.6.7 Ensino superior em Angola

O ensino superior em Angola teve várias fases de desenvolvimento, desde a era

colonial até os dias de hoje. Far-se-á uma descrição histórica para nos situar no tempo e

no seu desenvolvimento.

1.6.7.1. Breve histórico

A educação é um dos setores que permite a correção das desigualdades existentes,

através da repartição da renda, sendo um veículo para a diminuição da pobreza, bem

como prognostica indicadores de desenvolvimento econômico e humano. A aposta no

desenvolvimento humano permite melhor inclusão social, mesmo para aqueles que

possuem rendimentos baixos, permitindo-lhes participar na vida pública, no mercado de

trabalho e no melhoramento da sua condição de vida. A concretização destes aspectos só

é possível através do acesso de todos os cidadãos a um ensino de qualidade, a ser feito

através de investimentos públicos dirigidos a várias áreas do saber, com destaque para a

tecnologia. No caso de Angola, a aposta rigorosa no ensino e na educação é urgente, se

nos atermos ao fato de que a sua afirmação na arena internacional necessita de padrões

altos de escolaridade. Nos dizeres de Trevisan (2001), padrões de escolaridades baixos

são incompatíveis com as sociedades expostas a competições internacionais.

86

O governo de Angola terá de reverter as suas políticas no campo da educação para

permitir que a sociedade participe no seu desenvolvimento com quadros capazes para

competir na arena internacional – com destaque na África. A educação como garantia do

homem do amanhã, constitui uma das políticas primordiais de países como Angola, que

vem de uma guerra civil de muitos anos e que destruiu quase toda a infraestrutura do

país.

O saber fazer é urgente, com vista a reverter o quadro em que se encontra o país,

iniciando na melhoria da mão de obra qualificada. Até 1998, em Angola existia uma

única universidade pública e nenhuma privada, com ensino de base deficiente. Com o

surgimento, em 1999, de duas universidades privadas, o quadro começou a se reverter.

Era o início de uma nova era, em que as pessoas começavam a encontrar alternativas para

a educação. Com os primeiros sinais de paz no país, outras universidades começam a

surgir e, a partir de 2003 em diante, assiste-se ao boom das universidades.

Percebe-se que o governo, consciente do problema que o país enfrentava,

direcionou as políticas para a educação como forma de dar a oportunidade aos angolanos

de possuir o saber fazer, visando a qualificação da sua mão de obra, como garantia da

empregabilidade. É neste momento que se cria o Ministério do Ensino Superior, que

outrora era uma Secretaria de Estado. Porém, outro quadro de dificuldades começa a

surgir. Assiste-se no mercado de trabalho a número elevado de licenciados à procura do

primeiro emprego e que começa a enfrentar a questão da procura e da oferta que apresenta

um descompasso enorme. Outrossim, as empresas questionavam a qualidade do ensino

em Angola, tendo em vista o quadro de docentes que estas universidades possuíam

(maioria com nível de licenciatura).

A qualidade de ensino fazia com que muitas empresas tivessem preferências por

empregar licenciados provenientes de universidades privadas de renome no país e com

notas altas. Embora amiúde, este quadro se arrasta até ao momento. Maiores vagas de

emprego começam a surgir em outras capitais de províncias, que enfrentam escassez de

pessoal qualificado, pois, por falta de vários incentivos, as pessoas não aceitam sair de

Luanda.

Para muitos atores angolanos, as políticas de ensino como garantia do homem do

amanhã devem ser bem planificadas e o seu cumprimento rigoroso, o que não acontece.

Países como Angola necessitam da associação entre educação e trabalho com objetivo de

conquistar o que mais falta ao país, que é a mão de obra qualificada. No seu livro sobre

educação e trabalho, Trevisan deixa bem claro que só com políticas públicas de educação

87

bem direcionadas é que qualquer sociedade poderá obter quadros qualificados capazes de

competirem internacionalmente e contribuírem no desenvolvimento em todos os níveis

do seu país. Neste sentido, políticas de educação, quando bem geradas, proporcionam

mão de obra qualificada, a exemplo de países como Inglaterra, que evoluíram graças à

associação entre educação e trabalho (Trevisan, 2001). Defende o autor que modelos

bem-sucedidos devem ser transportados para realidades cuja necessidade assim o exija.

Ressaltando um pouco da sua história, o ensino superior foi implementado na era

colonial, nos anos 1960, como uma preocupação ao crescimento da população juvenil

colonial e assimilados, assim como visava resolver uma das reclamações, como o direito

para se formarem em Angola (licenciatura) ao invés de se deslocarem para Portugal

(Teta, 20??).

Neste sentido, os primeiros passos para a concretização deste objetivo (criação de

uma universidade em Angola), foram dados em finais de 1961, quando foi apresentado

um projeto pioneiro para a criação da Escola Superior Politécnica de Angola – ESPA, ao

então Ministro do Ultramar, Prof. Adriano Moreira.

A concretização deste objetivo surge em 1962, com a aprovação do projeto de

Diploma Legislativo nº 3.235, em sessão extraordinária realizada pelo Conselho

Legislativo de Angola, que cria o Centro de Estudo Universitário de Luanda. Neste

mesmo ano, através das Portarias nº 12.196 e nº 12.201, foram criados outros centros de

estudos universitários nas províncias de Lubango e Huambo, perfazendo um total de

cinco, conforme seguem:

a. Centro de Estudos anexo ao Instituto de Investigação Agronômica.

b. Centro de Estudos anexo ao Instituto de Investigação Médica.

c. Centro de Estudos de Ciências Econômicas.

d. Centro de Estudos de Ciências Pedagógicas.

e. Centro de Estudos de Engenharia.

Não obstante a sua criação, estes centros não chegam a funcionar, por serem

considerados inconstitucionais pelo então Ministério do Ultramar, que, através do

Decreto nº 44.472, anula o Diploma Legislativo Nº 3.235, bem como as Portarias nº

12.196 e nº 12.201, respectivamente.

Para o efeito, através do Decreto-Lei Nº 44.530, foram criados, nas províncias de

Angola e de Moçambique, os Estudos Gerais Universitários, integrados na Universidade

88

Portuguesa (KAJIBANGA, 2000). Os cursos a lecionar foram designados através do

Decreto-Lei Nº 45.180, nomeadamente:

a. Agronomia, Silvicultura e Medicina veterinária.

b. Ciências Pedagógicas.

c. Engenharia Civil.

d. Engenharia de Minas.

e. Engenharia Eletrotécnica.

f. Engenharia Mecânica.

g. Engenharia Químico Industrial.

h. Médico-Cirúrgico.

Em 11 de dezembro de 1968, através da promulgação do Decreto-Lei Nº 48.790,

os Estudos Gerais Universitários passam a designar-se de Universidade de Luanda.

1.6.7.2 O ensino superior do período pós-independência até os dias de hoje.

Após a independência de Angola, em 1976, a Universidade de Luanda passa a

denominar-se Universidade de Angola e, em 1985, Universidade Agostinho Neto.

Até 2009, a Universidade Agostinho Neto foi a única universidade estatal no país

e, através de polos universitários, funcionava nas províncias de Benguela, Cabinda,

Dundo, Huambo, Lubango e Uíge. Neste mesmo ano, o Conselho de Ministros de

Angola, através do Decreto Lei Nº 5/09, cria sete Regiões Acadêmicas, subdivididas da

seguinte forma: Universidade Agostinho Neto, que abarca as províncias de Luanda e

Bengo, Universidade 11 de Novembro (Cabinda e Zaire), Universidade José Eduardo

dos Santos (Huambo, Bié e Moxico), Universidade Mandume Ya Ndemofayo (Huíla,

Namibe, Cuando Cubango e Cunene), Universidade Kimpa Vita (Uíge e Cuanza Norte),

Universidade Lueji A Nkonda (Luanda Norte, Lunda Sul e Malanje) e Universidade

Katiavala Buila (Benguela e Cuanza Sul).

89

Figura 4 – Universidades e Institutos da Região Acadêmica 1 - Luanda e Bengo

Fonte: Ministério do Ensino Superior de Angola/2014

A Região Acadêmica 1 compreende as províncias de Luanda e Bengo e é

considerada a região com a maior quantidade de instituições de ensino, num total de 33

NATUREZA Universidades e Institutos Estatais

1 Pública Universidade Agostinho Neto

2 Pública Instituto Superior de Ciências de Educação

3 Pública Instituto Superior de Serviço Social

4 Pública Instituto Superior de Tecnologia de Informação e Comunicação

5 Pública Instituto Superior de Educação Física e Desporto

6 Pública Instituto Superior de Artes

7 Pública Instituto Superior de Ciências da Comunicação

8 Pública Escola Superior Pedagógica do Bengo

Universidades e Institutos Privados

1 Privada Universidade Católica de Angola

2 Privada Universidade Jean Piaget de Angola

3 Privada Universidade Lusíadas de Angola

4 Privada Universidade Independente de Angola

5 Privada Universidade Privada de Angola

6 Privada Universidade de Belas

7 Privada Universidade Gregório Semedo

8 Privada Universidade Metodista de Angola

9 Privada Universidade Óscar Ribas

10 Privada Universidade Técnica de Angola

11 Privada Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais

12 Privada Instituto Superior Técnico de Angola

13 Privada Instituto Superior de Ciências de Administração e Humanas

14 Privada Instituto Superior de Angola

15 Privada Instituto Superior Politécnico Metropolitano

16 Privada Instituto Superior Politécnico de Tecnologias e Ciências

17 Privada Instituto Superior Politécnico do Cazenga

18 Privada Instituto Superior Politécnico de Ciência e Tecnologia

19 Privada Instituto Superior Politécnico Katangoji

20 Privada Instituto Superior Politécnico Atlântida

21 Privada Instituto Superior Politécnico Alvorecer da Juventude

22 Privada Instituto Superior Politécnico Internacional de Angola

23 Privada Instituto Superior Politécnico Kalandula de Angola

24 Privada Instituto Superior Politécnico Deolinda Rodrigues

25 Privada Instituto Superior Politécnico Kangonjo

TOTAL NA REGIÃO = 33

1; 12%

6; 75%

1; 13%

Instituições Públicas

Universidade

Instituto

Escola Superior

37%

63%

Instituições Privadas

Universidade

Instituto

90

instituições, sendo 8 públicas (1 universidade; 6 institutos e 1 escola) e 25 privadas (9

universidades e 15 institutos).

Quadro 6 – Universidade e Institutos da Região Acadêmica 2 – Benguela e Kwanza Sul.

1 Pública Universidade Katiavala Buila - Benguela

2 Pública Instituto Superior Politécnico do Kwanza Sul

3 Privada Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela

4 Privada Instituto Superior politécnico de Benguela

5 Privada Instituto Superior politécnico do Porto Amboim

6 Privada Instituto Superior Politécnico Lusíada de Benguela

7 Privada Instituto Superior Politécnico Católico de Benguela

8 Privada Instituto Superior Politécnico de Maravilha

TOTAL NA REGIÃO = 8

Fonte: Ministério do Ensino Superior de Angola/2014

A Região Acadêmica 2 compreende as províncias de Benguela e Kwanza Sul, com

8 instituições de ensino, sendo 1 universidade e 1 instituto superior, perfazendo 2

instituições públicas. Possui, igualmente, 6 institutos superiores privados. Em termos de

números, é a região acadêmica que vem depois da região acadêmica 1.

Quadro 7 – Universidade e Instituto da Região Acadêmica 3 – Cabinda e Zaire

1 Pública Universidade Onze de Novembro – Cabinda

2 Privada Instituto Superior Politécnico de Cabinda

3 Privada Instituto Superior Politécnico Lusíada de Cabinda

Série10

1

Universidade

Instituto

Série1 1 1

Instituições Públicas

0246

Universidad

e

Instituto

Série1 0 5

Instituições Privadas

Série1

91

Fonte: Ministério do Ensino Superior de Angola/2014

A Região Acadêmica 3 compreende as províncias de Cabinda e Zaire. No entanto,

as instituições de ensino superior, estatal privada, no total de 3, estão todas concentradas

na província de Cabinda. Segundo o Ministério do Ensino Superior, o governo está

envidando esforços para abertura de mais estabelecimentos de ensino superior, com

destaque para a província do Zaire.

Quadro 8 – Universidade e Instituto da Região Acadêmica 4 – Lunda Norte, Lunda Sul

e Malange

1 Pública Universidade Lueji A Nkonda - Lunda Norte

2 Pública Instituto Superior Politécnico de Malange

3 Pública Escola Superior Politécnico de Malange

4 Privada Instituto Superior Politécnico Lusíada da Lunda Sul

TOTAL NA REGIÃO = 4

Fonte: Ministério do Ensino Superior de Angola/2014

Esta região acadêmica possui 4 estabelecimentos de ensino, dos quais 3 instituições

públicas e 1 instituição privada.

92

Quadro 9 – Universidade e Instituto da Região Acadêmica 5 – Huambo, Bié e Moxico

1 Pública Universidade José Eduardo dos Santos - Huambo

2 Pública Instituto Superior de Ciências de Educação Huambo

3 Pública Escola Superior Pedagógica do Bié

4 Privada Instituto Superior Politécnico de Humanidades e Tecnologias-Ekuikui II

5 Privada Instituto Superior Politécnico Sol Nascente

6 Privada Instituto Superior Politécnico Lusíada do Huambo

TOTAL NA REGIÃO = 6

Fonte: Ministério do Ensino Superior de Angola/2014

Esta região acadêmica comporta 6 instituições, sendo 3 instituições de ensino

público e 3 privados. Considera-se beneficiada, por ser a terceira maior região acadêmica

existente

Quadro 10 – Universidade e Instituto da Região Acadêmica 6 – Huila Cuando Cubango, Cunene

1 Pública Universidade Mandume Ya Ndemofayo – Huila

2 Pública Instituto Superior de Ciências de Educação Huila

3 Privada Instituto Superior Politécnico de Tundavala

4 Privada Instituto Superior Politécnico Independente

5 Privada Instituto Superior Politécnico Gregório Semedo

TOTAL NA REGIÃO = 5

34%

33%

33%

Instituição Pública

Universidade

Instituto

EscolaSuperior Universi

dadeInstituto

EscolaSuperior

Série1 0 3 0

0

3

00

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

Instituições Privadas

Série1

93

Fonte: Ministério do Ensino Superior de Angola/2014

A Região Acadêmica 6 está situada no centro do país e é composta por 5

instituições de ensino, sendo 2 públicas e 3 privadas.

Quadro 11 – Universidade e Instituto da Região Acadêmica 7 – Uige e Kwanza Norte

1 Pública Universidade Kimpa Vita - Uige

2 Pública Instituto Superior de Ciências de Educação do Uige

3 Pública Escola Superior Pedagógica do Kwanza Norte

Fonte: Ministério do Ensino Superior de Angola/2014

A Região Acadêmica 7 está situada ao norte do país e comporta 3 instituições de

ensino – todas públicas.

0%

50%

100%

Universidade Instituto EscolaSuperior

Série1 1 1 1

Instituições Públicas

94

Quadro 12 – Evolução do número de instituições de ensino superior público e privado no

período 2002 a 2014

Fonte: Ministério do Ensino Superior de Angola/2014

O ensino privado em Angola surge como parceiro do governo a partir de 1992,

através da Universidade Católica de Angola, que começa o seu funcionamento em 1999,

ao lado de mais duas universidades, nomeadamente: a Universidade Lusíada de Angola

e a Universidade Jean Piaget de Angola. Posteriormente, e em função da grande procura

registrada nos anos subsequentes, surgiram várias universidades privadas que, ao lado do

governo, contribuem para o desenvolvimento do ensino em Angola.

Até 2014, segundo o Ministério do Ensino Superior, estavam inscritas e legalizadas

em Angola 71 instituições de ensino, das quais 26 de ensino público, correspondente a

36,6%, dos quais 1 academia, 7 universidades, 11 institutos superiores e 5 escolas

superiores. Quarenta e cinco instituições de ensino privadas, correspondente a 63,4%,

sendo 10 universidades, 34 institutos superiores e 1 escola superior.

Na atualidade, estão em funcionamento 62 instituições do ensino superior, das

quais 22 públicas, correspondente a 35,5%, sendo 7 universidades, 11 institutos

superiores e 4 escolas superiores. Quarenta instituições privadas, corresponde a 64,5%,

das quais 10 universidades e 30 institutos de ensino superior.

A província de Luanda possui o maior número de instituições de ensino, com 34

instituições, correspondente a 51,6%. As províncias de Bengo, Bié, Cuanza Norte, Lunda

Norte e Lunda Sul têm apenas 1 instituição de ensino superior cada, correspondente a

1,61%.

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

PÚBLICA 1 2 2 2 2 3 3 17 17 17 17 19 22

PRIVADA 2 4 4 4 4 13 13 13 13 13 13 40 40

TOTAL 3 6 6 6 6 16 16 30 30 30 30 59 62

NATUREZAANOS

95

Quadro 13: Indicadores nacionais do ano acadêmico 2014

Instituições de ensino superior no ano acadêmico 2014 71

Instituições de ensino superior público 26

Instituições de ensino superior privado 45

Instituições de ensino superior em funcionamento no ano acadêmico 2014 62

Instituições de ensino superior público 22

Instituições de ensino superior privado 40

Universidades 17

Instituições superiores Ativos 41

Não ativos 6

Escolas superiores Ativos 4

Não ativos 2

Academias Não ativos 1

Número de unidades orgânicas 218

Fonte: Anuário estatístico de 2014, MES-Angola

Pode-se aferir que, neste sentido, o crescimento das universidades não foi só visível

na infraestrutura como também no aumento de números de alunos. A pretensão no

aumento dos conhecimentos e na obtenção de uma qualificação profissional sempre

esteve nas aspirações do homem. Devido o momento conturbado que o país vivia nos

âmbitos político, econômico e social, bem como o recrudescimento da guerra civil, o

setor da educação sempre foi posto em segundo plano, com prioridade para o combate

ao analfabetismo e o desenvolvimento dos ensinos de base e médio.

Uma vez em paz, as pretensões do aumento dos conhecimentos se fazem sentir e

os números de alunos a ingressarem nas universidades e institutos de ensino superior

foram aumentando nos anos subsequentes.

Figura 5 – Evolução do número de estudantes matriculados no período 2002/2014

Fonte: Anuário estatístico de 2014, MES-Angola

Pode-se aferir que a Universidade Agostinho Neto continua a ser a instituição com

maior número de cursos, maior número de alunos e a de maior dimensão em termos de

estrutura. As dez universidades que maior número de estudantes teve, até 2014, são:

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

13.861 27.023 36.113 46.675 53.990 68.630 85.876 101.741 117.605 143.367 161.197 218.678 146.001

* ASB * ASB * ASB * ASB * ASB * ASB 3.000 3.000 * ASB 3.600 7.389 6.464 ** D.P

* ASB * ASB * ASB * ASB * ASB * ASB 3.000 6.000 6.000 9.600 16.989 23.453 23.453

184 43 71 176 297 356 535 489 620 908 1.129 951 77

184 227 298 474 771 1.127 1.662 2.151 2.771 3.679 4.808 5759 5.836

NÚMERO DE BOLSAS EXTERNAS ATRIBUÍDAS

NÚMERO DE BOLSAS EXTERNAS ACUMULADAS

* Anos sem bolsa

**Dados em processamento

INDICADORESANOS

NÚMERO DE ESTUDANTES MATRICULADOS

NÚMERO DE BOLSAS INTERNAS ATRIBUÍDAS

NÚMERO DE BOLSAS INTERNAS ACUMULADAS

96

1. Universidade Agostinho Neto, com 19.553 estudantes

2. Universidade Técnica de Angola, com 13.850 estudantes

3. Universidade Metropolitana de Angola, com 8.818 estudantes

4. Universidade Lueji-a-Nkonda, com 8.254 estudantes

5. Universidade José Eduardo dos Santos, com 7.670 estudantes

6. Universidade Mandume ya Ndemofayo, com 7.253 estudantes

7. Universidade Independente de Angola, com 7,083 estudantes

8. Instituto Superior de Ciências de Educação do Uige, com 6.854 estudantes

9. Jean Piaget de Angola, com 6.845 estudantes

10. Universidade 11 de novembro, com 6.421 estudantes

O crescimento e o desenvolvimento das universidades só foram possíveis graças à

paz que perdura até os dias de hoje. Não obstante, o número de universidades existente

ainda não reflete a procura dos estudantes que pretendem ingressar no ensino superior do

país.

A maior procura é verificada nas universidades estatais, mas, por conta da escassez

de vagas, muitos estudantes ficam de fora. Outros procuram as universidades privadas,

que vem suprindo o sonho de muitos em frequentar o ensino superior. Este sonho, muitas

vezes, não é realizado, devido os preços praticados, o que faz com que muitos desistam

de estudar por falta de dinheiro para continuar a suportar os custos com os estudos.

Os dados estatísticos do Ministério do Ensino Superior demonstram que a procura

para ingresso na faculdade continua a ser surpreendente. A província de Luanda tem

50.858 de estudantes matriculados, enquanto que as demais 17 províncias detêm 95.143.

O maior número de estudantes em Luanda pode se justificar por: (i) ser a província com

maior quantidade de instituições de ensino, (ii) possuir a maior população do país, (iii)

concentrar o maior número de jovens na faixa etária entre 18 e 22 anos de idade, (iv)

maior oferta em termos de cursos.

Neste sentido, o Ministério do Ensino Superior deve criar políticas no sentido de

aumentar a oferta do número de cursos nas demais províncias, evitando a migração de

jovens para Luanda. Por outro lado, devem ser criadas políticas de contemplem várias

modalidades de oferta de bolsas. Até então, existe uma única modalidade de bolsa, que

é oferecida na licenciatura e na pós-graduação, denominada bolsa completa, com todos

os subsídios incluídos, tanto no país como no exterior. Os critérios de concessão da bolsa

97

deixam muito a desejar, ou seja, não existe transparência e há falhas no pagamento

mensal dos bolsistas, tanto no interior do país como no exterior.

Por outro lado, a taxa bruta de escolarização, em 2014, baixou para 6,8% em

relação aos 10,5% do ano de 2013, considerada a menor desde 2009. A taxa líquida de

1,8% é considerada irrisória, se nos atermos ao fato de que dos 129.001 candidatos

inscritos em 2014, somente um número muito baixo, que deve rondar entre 2.650 e 2.700,

possuí a idade média para cursar o ensino superior. O maior número de estudantes

matriculados se encontra na faixa etária entre 30 e 34, com 22.669 inscritos.

Quadro 14: Indicadores nacionais de estudantes do ano acadêmico 2014

Número de cursos 214

Estudantes matriculados no ensino superior 146.001

Matriculados no período regular 88.450

Matriculados no período pós-laboral 57.551

Matriculados no ensino superior por sexo

Masculino 82.871

Feminino 63.130

Taxa bruta de escolaridade 4,3%

Taxa liquida de escolaridade 1,8%

Matrícula do ensino superior em Luanda 50.858

Matrícula do ensino superior em outras províncias 95.143

Candidatos inscritos para exame de acesso ao ensino superior 129.758

Período regular 77.032

Período pós-laboral 52.726

Candidatos inscritos por sexo

Masculino 60.521

Feminino 69.237

Candidatos admitidos no ensino superior 55.235

Período regular 31.856

Período pós-laboral 23.379

Candidatos inscritos e não admitidos no ensino superior 74.523

Graduados no ano acadêmico 2013 13.547

Período regular 8.587

Período pós-laboral 4.960

Graduados por sexo

Masculino 7.039

Feminino 6.508

Graduados por nível

Bacharelato 443

Licenciatura 12.866

Licenciatura bietápica 238

Fonte: Anuário estatístico de 2014, MES-Angola

98

1.7 Trabalho e gênero

Este ponto tratará de questões de trabalho e gênero no mercado de trabalho,

consubstanciadas nas desigualdades e nas oportunidades de trabalho existentes entre

homens e mulheres.

As discussões sobre trabalho e gênero têm merecido grande destaque na literatura

contemporânea, por esse tema se tratar de uma questão presente e com destaque nas

sociedades. Diz respeito às desigualdades existentes entre homem e mulher, no que tange

a oportunidades em todas as esferas sociais, mormente quando a questão em foco é o

trabalho. A sensibilidade desta temática enfatizou a Organização das Nações Unidas a

traçar estratégias de desenvolvimento humano, através de quatro eixos prioritários

relacionados com as questões: pobreza e fome, população e meio ambiente,

desenvolvimento institucional e recursos humanos. Nesse prisma, discussões em torno do

tema têm ganhado consciência global, fazendo com que questões como pobreza, emprego

e desemprego, quando persistentes numa região, possam repercutir noutra região,

ocasionando situações como emigração, imigração, migração, instabilidade econômica e

outros.

A partir das décadas de 1960-1970, começa a emergir no mercado de trabalho a

denominada “nova força de trabalho”, composta pela mão de obra feminina, que originou

uma nova ordem nas relações de trabalho entre homens e mulheres, tendo se verificado,

na mulher, uma mudança na forma de agir, de estar e de pensar, de ser submissa ao homem

e lutar pela igualdade com ele (SANTOS, 2012). Todavia, a inserção da mulher

economicamente ativa no mercado de trabalho, em nível global, vem aumentando

circunstancialmente, bem como se percebe aumento no nível de escolaridade da mulher,

o que lhe permite maior inclusão no mercado de trabalho e disputa em igualdade de

circunstâncias em cargos executivos. Dados da OIT (2016)52 referem que, de 1995 a 2015,

a taxa de atividade feminina, em nível global, baixou de 52,4% para 49,6%, enquanto

que, para os homens, foi de 79,9% para 76,1, sendo que a taxa de oportunidades da

inserção da mulher no mercado de trabalho manteve-se, neste período, em 27%, o que

espelha bem a assimetria existente nesse segmento.

52 Mulheres no trabalho: tendências 2016. Disponível em http://www.ilo.org/

99

Esta tendência é defendida por Bruschini et al. (2008), que consideram que, apesar

do aumento da inserção da mulher no mercado de trabalho, existem progressos e

retrocessos. Nas palavras dos autores:

O elevado desemprego das mulheres e a má qualidade do emprego feminino;

de um lado, a conquista de bons postos e o acesso a carreira e profissões de

prestigio por parte de mulheres escolarizadas, de outro, o predomínio do

trabalho feminino em atividades precárias e informais.

O perfil das trabalhadoras mostra que hoje elas são mais velhas, casadas e mães

– o que revela uma nova identidade feminina, voltada tanto para o trabalho

quanto para a família – mas, ao mesmo tempo, ainda permanecem responsáveis

pelas atividades domesticas e pelos cuidados com os filhos – o que indica a

continuidade de modelos familiares tradicionais e uma sobrecarga para as

novas trabalhadoras, sobretudo para mães de filhos pequenos (BRUSCHINI

et al., 2008:15).

À semelhança do que ocorre no mundo, Angola não é uma exceção, apesar do

aumento das mulheres economicamente ativas no mercado de trabalho, o domínio nesta

esfera social continua a ser dos homens. Permanece a luta pela igualdade de direito do

gênero, pela eliminação das várias formas de discriminação, com realce para a submissão

e a exclusão social. O relatório da OIT, de 2015, sobre a igualdade do gênero53, posiciona

Angola em 126º lugar entre 145 países, estando entre os países com a menor igualdade

do gênero, tendo caído no ranking 5 posições já que, em 2014, a posição de Angola era

de 121º no ranking mundial.

Dados do INE demonstram que, em 2014, a taxa de atividade era de 52,8, dos quais

61,1 para os homens e 45,4 para as mulheres, o que demonstra haver grande assimetria,

num país onde a maioria da população é constituída por mulheres, 52% do total, enquanto

que os homens correspondem a 48%. As tabelas 1 e 2 demonstram os dados acima

referidos.

Tabela 04 - População residente com 15 ou mais anos de idade por área de

residência segundo a situação perante a atividade econômica, 2014

País e área

de

residência

População em

idade ativa

População

economicamente

ativa

População

empregada

População

desempregada

Nº % Nº % Nº % Nº %

Angola 13 592 528

100,0 7 182 631 100,0 5 442 685 100,0 1 739 946 100,0

Urbana 8 706 581 64,1 4 330 895 60,3 2 997 548 55,1 1 333 347 76,6

Rural 4 885 947 35,9 2 851 736 39,7 2 445 137 44,9 406 599 23,4

Fonte: INE. Luanda, Angola, 2016

53 Relatório da OIT sobre igualdade de gênero 2015. Disponível http://www.ilo.org/

100

Tabela 05 - Taxa de atividade por sexo

Total Homens Mulheres

Angola 52,8 61,1 45,4

Fonte: INE. Luanda, Angola, 2016

Dados recentes da OIT54 referem que, apesar do registro de alguns avanços na luta

pela igualdade do gênero, os desafios ainda são enormes, com destaque para os países em

via de desenvolvimento. Esses avanços não se traduziram em melhorias na educação e no

trabalho, verificando-se ainda grandes disparidades de gênero. Com o aumento do

trabalho tecnológico, com destaque em países desenvolvidos e emergentes, constatou-se

elevada distribuição ocupacional entre homens e mulheres entre 1995 e 2015, calculada

em 382 milhões para os homens, contra 191 milhões para as mulheres55, o que indica que,

mesmo com esse aumento, o progresso na qualidade de emprego para as mulheres ainda

está estancado; as horas de trabalho ainda são maiores em relação aos homens; registram-

se ainda menores números de mulheres executivas em cargos de tomada de decisão.

Entretanto, o relatório56 frisa que as mulheres trabalham mais do que os homens. Nesse

sentido, em países desenvolvidos e emergentes, em média, são 4 horas e 20 minutos que

as mulheres dedicam ao trabalho não remunerado por dia, enquanto os homens dedicam

2 horas e 20 minutos. Nos países subdesenvolvidos, 4h e 30 minutos são dedicados pelas

mulheres e 1 hora e 20 minutos pelos homens.

Estas constatações foram igualmente apresentadas por Santos (2012:214), que, nas

suas pesquisas, realça que “apesar de todo o avanço alcançado, ainda se percebe a

presença da dominação masculina em quase todos os campos das relações sociais”.

Em Angola, maiores chances de inserção no mercado de trabalho recaem para as

mulheres com maior nível de escolaridade. Nesse sentido, denota-se que, segundo o INE

(2016), a proporção da população com 24 ou mais anos de idade, com formação superior,

representa 2,5%. Desses, 3,2% são homens e 1,9% são mulheres. Os dados do INE

demonstram existir assimetria entre homens e mulheres que sabem ler e escrever, sendo

que 80% são homens e 53% são mulheres, isto em zonas urbanas, e 79% homens e 41%

mulheres em zonas rurais. Igual assimetria é visível nas taxas da população fora do

sistema de ensino, onde 22% da população com idade entre 5 e 18 anos encontravam-se

fora do sistema de ensino, em 2014, sendo que 19% são homens e 30% são mulheres.

54 Relatório da OIT sobre Mulheres em ação: tendências 2016. Disponível http://www.ilo.org/ 55 Ibidem 56 Ibidem

101

As tabelas 3 e 4, referentes às taxas de emprego e desemprego, demonstram que o

mercado de trabalho formal é dominado pelos homens. Em número não especificado, em

zonas consideradas urbanas, o mercado informal é composto majoritariamente por

mulheres que exercem atividades como trabalhadoras domésticas (remuneradas e não

remuneradas), em mercados (praças de comércio livre) e na rua (vulgo kinguilas). Em

zonas rurais, a maioria da população exerce a atividade agrícola, com destaque para as

mulheres. Devido a isso, a maioria das mulheres ingressa no ensino primário

(fundamental) tardiamente, por conta da sua contribuição nas tarefas domiciliares e, em

muitos casos, na ajuda ao sustento familiar.

Conforme atrás elencado, embora haja aumento no número de mulheres inseridas

no mercado de trabalho, as assimetrias existentes entre homens e mulheres ainda são

elevadas, conforme mostram as estatísticas. Vários são os problemas que se podem

levantar relativamente a este aspecto. Maior realce recai para a recente guerra civil

registrada em Angola, bem como aspectos culturais, submissão ao homem, a existência

de número elevado de mulheres exercendo duplo papel no lar (viúvas de guerra e, em

grande número, devido a fuga a paternidade57). O acesso à água potável e ao saneamento

básico, os serviços primários de saúde e o êxodo rural são alguns dos quesitos que tornam

a mulher mais frágil e desigual em relação ao homem em todas as vertentes.

Nesse sentido, as autoridades angolanas, através do seu Plano Nacional de

Desenvolvimento 2012-2017, assumiram o compromisso de tudo fazerem para a

diminuição das desigualdades existentes, em cumprimento aos desafios mundiais sobre o

desenvolvimento humano, bem como proteção constitucional contra qualquer forma de

discriminação.

Independentemente da sua fragilidade na qualidade profissional, as mulheres com

nível de escolaridade alto continuam a competir com os homens em cargos de liderança

e de executivos, embora estejam ainda longe desta conquista. No caso da área política,

dos 220 deputados da Assembleia Nacional de Angola, 80 parlamentares são mulheres.

Em 1995, as mulheres com assento parlamentar eram 9,5% e, em 2015, passaram para

57 Sem disposição legal

Tabela 06 - Taxa de emprego segundo sexo

Total Homens Mulheres

Angola 40 46,6 34,1

Fonte: INE. Luanda, Angola - 2016

Tabela 07 - Taxa de desemprego por sexo

Total Homens Mulheres

Angola 24,2 23,6 24,9

Fonte: INE. Luanda, Angola - 2016

102

36,8%, aumento de 27,3%. Nos cargos de decisão da administração pública, 8 mulheres

são ministras e 7 vice-ministras ou secretárias de estado, conforme a tabela 5, que

demonstra a participação das mulheres nos órgãos de decisão da administração pública

até 2012 (fazendo de Angola um dos poucos países que possuem números elevados de

mulheres parlamentares e governantes).

A Federação das Mulheres Empreendedoras em Angola (FMEA)58, em relatório

publicado em 2015, informa que mais de 40% das mulheres em Angola exercem o

empreendedorismo. Esse número representa crescimento na ordem de 9,4% em relação

aos 30,6% registrados em 2012, que, em termos comparativos, é ainda inferior aos

homens, que foi de 34% no mesmo ano. Nesse segmento, a maioria dessas mulheres é

proprietária de empresas ou gere empresas familiares de micro e pequeno portes.

58 Relatório de 2015, FMEA. Disponível em http://www.angola.fmea.com/

Tabela 08 - Participação das mulheres nos órgãos de decisão da administração pública,

2011 - 2012

Órgãos de decisão

2011 2012

Homem Mulher Total Homem Mulher Total

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Administração Pública

Nacional

Total 507 70,3 214 29,7 721 100 521 70,6 217 29,4 738 100

Ministros 23 3,2 8 1,1 31 4,3 27 3,7 8 1,1 35 4,7

V. Ministro/S. Estado 31 4,3 7 1,0 38 5,3 41 5,6 10 1,4 51 6,9

Secretário geral 10 1,4 5 0,7 15 2,1 10 1,4 5 0,7 15 2

Diretores Nacionais 151 20,9 50 6,9 201 27,9 151 20,5 50 6,8 201 27,2

Chefes de Departamentos 292 40,5 144 20,0 436 60,5 292 39,6 144 19,5 436 59,1

Governo Local

Total 1714 91,4 162 8,6 1876 100 1705 91,5 158 8,5 1863 100

Governadores 15 0,8 2 0,1 17 0,9 16 0,9 2 0,1 18 1,0

V. Governadores 43 2,3 12 0,6 55 2,9 33 1,8 8 0,4 41 2,2

Diretores Provinciais 336 17,9 73 3,9 409 21,8 336 18,0 73 3,9 409 22

Diretores P. Adjuntos 8 0,4 3 0,2 11 0,6 8 0,4 3 0,2 11 0,6

Administradores Municipais 142 7,6 21 1,1 163 8,7 142 7,6 21 1,1 163 8,7

Administradores Adjuntos 150 8,0 13 0,7 163 8,7 150 8,1 13 0,7 163 8,7

Administradores Comunais 512 27,3 17 0,9 529 28,2 512 27,5 17 0,9 529 28,4

Administradores Adjuntos 508 27,1 21 1,1 529 28,2 508 27,3 21 1,1 529 28,4

Fonte: Ministério da família e promoção da mulher, relatório estatístico, 2011-2012, Apud

INE, 2015.

103

Por outro lado, evidências apontam que a vida familiar e o trabalho assalariado são

um dos conflitos enfrentados pela mulher na atualidade, que afetam a família no seu todo.

Esta tendência é vista por Gama (2014) como sendo uma nova roupagem que espelha a

existência de desigualdade entre o homem e a mulher, no que diz respeito às tarefas

domésticas. Contudo, por força do seu papel no lar, a mulher vê o seu esforço redobrar

em detrimento da manutenção familiar. De acordo com os dados acima referenciados, o

trabalho doméstico e as responsabilidades familiares continuam sendo considerados uma

sobrecarga às mulheres assalariadas, razão pela qual o número de horas de trabalho

continua sendo superior à dos homens, o que, segundo Gama (2014:107), afeta e limita

condicionalmente as mulheres de domicílios mais pobres quanto as suas trajetórias

ocupacionais. Nesse sentido, nas palavras de Cisne (2015:119), está-se perante a uma

exploração da divisão sexual do trabalho. A autora cita Engels (1979:29)59, que defende

que “a primeira divisão do trabalho foi entre a mulher e o homem para a procriação,

seguido da mulher na monogamia e o primeiro antagonismo de classe que apareceu na

história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher na

monogamia e a primeira opressão de classe coincide com a opressão do sexo feminino

pelo masculino”. Necessária se torna, portanto, a análise da divisão social do trabalho

para se compreenderem as condições do trabalho da mulher, defende a autora.

Nesse sentido, Gama (2014) refere que a preocupação com a noção de

responsabilidade familiar surge a partir da década de 1960, sendo rebatida em 1981,

através da Convenção da OIT n. 15660 e da Recomendação da OIT n. 16561 sobre

trabalhadores com responsabilidade familiares, que, em suma, promove a noção de

benefícios para homens e mulheres. Todavia, as discussões sobre o tema em questão

apontam direções, tais como: (i) a existência contínua da discriminação e desigualdades

entre homens e mulheres; (ii) a divisão sexual do trabalho vista como uma exploração da

mulher; (iii) a submissão da mulher ao homem nas várias vertentes; (iv) a sobrecarga da

responsabilidade familiar da mulher assalariada; (v) a poligamia como subterfúgio

cultural; (vi) a pobreza; (vii) a fragilidade na contaminação do HIV e outras infecções de

transmissão sexual; (viii) a promiscuidade promovida como meio de subsistência; (ix) o

59 Engels, Frederico. A origem da família, da propriedade privada e do estado. São Paulo. Civilização

Brasileira, 1977. 60 OFICINA INTERNACIONAL DEL TRABAJO (OIT). Promoviendo la igualdad del género. Convenios

de la OIT y los derechos laborales. Santiago: OIT 2006. 61 OFICINA INTERNACIONAL DEL TRABAJO (OIT). La maternidade em el trabajo: examen de la

legislación nacional. 2. ed. Genebra: OIT, 2010

104

excessivo uso de bebidas alcoólicas(x) a diferença salarial existente entre homens e

mulheres; (xi) as desigualdades existentes no exercício de cargos executivos e outros.

1.8 Descrição das empresas em Angola

O desenvolvimento econômico de Angola depende, em grande parte, do tecido

empresarial que vem crescendo, mesmo com a recessão econômica, com destaque para

Luanda, onde se encontram mais de 50% das empresas. A tendência do crescimento

médio das empresas, segundo o INE, manteve-se no período de 2012/2015. Foi possível,

ao longo deste período, inserir no arquivo de unidades estatístico-empresarial o total de

139.980 empresas, dos quais 41.507 encontravam-se em atividade em 2015, contra

39.884 em 201462.

Gráfico 4: Empresas registradas no período de 2012-2015

62 Cf. Dados da estatística do ficheiro de unidades empresariais (FUE) 2012-2015. INE. Luanda, Angola -

2016

Fonte: FUE/INE. Luanda – Angola, 2016

105

Gráfico 5: Distribuição percentual de empresas registradas por situação de atividade no

período de 2012-2015

Iniciaram a sua atividade empresarial, no período que vai de 2006 a 2015, 33% das

empresas, número baixo, em relação ao período anterior, de 1996 a 2005, que foi de

52,3%. Vários fatores fizeram com que determinadas empresas cessassem a sua atividade,

como falência decretada, joint-venture, recessão econômica e outros motivos.

Gráfico 6: Distribuição percentual de empresas em atividade em 2015 por ano de início de

atividade

Em 2015, Luanda foi a província com maior número de empresas em atividade,

com 55,2%, seguida das províncias de Benguela, com 8,8%, Cuanza Sul, 5,2%, Huila

4,5%, Huambo, 3,9%, e Cabinda, com 3,6%, respectivamente.

Fonte: FUE/INE. Luanda – Angola, 2016

Fonte: FUE/INE. Luanda – Angola, 2016

106

Gráfico 7: Distribuição de empresas em atividade por províncias em 2015

Na distribuição de empresas por ramos de atividade, consideradas por seção da

CAE Rev2, o comércio a grosso e a retalho e a atividade de reparação de veículos

automóveis e motociclos, com 51,3%, foi a que mais se destacou, seguida da atividade de

alojamento e restauração (restaurantes e similares) com 9,7%; construção, com 5,6%;

agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca, com 4,4%; atividades de consultoria,

científicas, técnicas e similares, com 4,3%; e indústria transformadora, com 3,9%,

respectivamente.

Gráfico 8: Distribuição de empresas por atividade por seção da CAE Rev2 em 2015

As empresas em atividade durante o período de 2012 a 2015, registradas através

da forma jurídica, também tiveram certo crescimento, com destaque para as empresas

Fonte: FUE/INE. Luanda – Angola, 2016

Fonte: FUE/INE. Luanda – Angola, 2016

107

em forma de sociedade por quota com 55% e as empresas em nomes individuais com

41,5%, respectivamente.

Gráfico 9: Distribuição percentual das empresas em atividade por forma jurídica em 2015

Conforme o gráfico 10, verifica-se maior tendência de concentração de empresas

nos setores das sociedades não financeiras privadas nacionais, com 57,5%, e de empresas

em nomes individuais, com 41,8%, respectivamente. Em relação ao período anterior,

registrou-se ligeira queda das empresas em nomes individuais, que detinham 52,1% – o

que se justifica, tendo em vista a recessão econômica.

Gráfico 10: Distribuição percentual de empresas em atividade por setores institucionais em 2015

Fonte: FUE/INE. Luanda – Angola, 2016

Fonte: FUE/INE. Luanda – Angola, 2016

108

CAPÍTULO II – PESQUISA EMPIRICA

2.1 Natureza do estudo e perspectiva da pesquisa

Para a estratégia de investigação escolhida para este estudo, optamos pela pesquisa

do tipo descritiva e exploratória, por ser um tema pouco estudado, especialmente em

Angola, e porque pensamos estar dentro das pretensões em função dos objetivos traçados.

Gil (2008) refere que o tipo de pesquisa descritivo objetiva a descrição das

características de determinada população ou fenômeno. Vilelas (2009:120) refere que “os

estudos descritivos procuram conhecer as características de determinada

população/fenômeno ou estabelecer relações entre variáveis”. No que tange à pesquisa

exploratória, Hair Jr et al. (2005) explicitam que este tipo de pesquisa é realizado quando

se tem pouca informação em relação ao fenômeno estudado, ou seja, são pesquisas

orientadas para descobertas e o pesquisador não tem a intenção de testar hipóteses

específicas. O fenômeno ora estudado nos levou a entender como os vários gestores de

empresas em Angola pensam em relação ao futuro do trabalho e sobre a análise das

prováveis tendências e desafios no futuro.

2.2 Instrumento de coleta de dados

Os dados foram coletados através do método survey, e através da observação

participativa do pesquisador com a aplicação de 181 questionários63 dirigidos aos gestores

de empresas angolanas nos mais variados ramos de atividade. O questionário foi

composto de quinze perguntas entre alternadas e de escala Likert e tratou-se de uma

réplica já aplicada no Brasil, em estudo efetuado nas empresas brasileiras levada a cabo

pela Escola de Administração de Empresa de São Paulo (EAESP-FGV), em parceria com

a PwC, em 201364. O questionário foi validado para o contexto angolano, a partir de um

pré-teste enviado a 10 empresas, bem como foram realizadas 5 entrevistas com o mesmo

objetivo.

A partir dos dados iniciais, foi possível elaborar o questionário com base na

realidade angolana, com destaque para as questões relacionadas com a nova lei geral de

trabalho de Angola, a flexibilização entre a organização e os trabalhadores. Optou-se por

63 Em apêndice. 64 Ver detalhes da pesquisa em https://www.pwc.com.br/pt/publicacoes/servicos/assets/consultoria-

negocios/futuro-trabalho-14e.pdf

109

direcionar as questões mais de âmbito da empresa, mormente aquelas que dizem respeito

às mudanças influenciadas pelo marcado de trabalho. Os questionários foram apenas

aplicados na província de Luanda, que possui maior número de empresas em Angola.

2.2.1 Método survey (levantamento de dados)

Para a nossa pesquisa empírica, adotamos o método survey que é uma técnica

aplicada em estudos quantitativos, o que não se descarta a sua utilização em estudos

qualitativos. Nos seus estudos, Freitas et al. (2000:105) citam Pinsonneault & Kraemer

(1993)65, que definem que “a pesquisa survey pode ser descrita como a obtenção de dados

ou informações sobre caraterísticas, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas,

indicado como representante de uma população-alvo, por meio de um instrumento de

pesquisa, normalmente um questionário”. Hair Jr. et al. (2005:160) defendem que “as

surveys por questionário geralmente são criadas para obter grandes quantidades de dados,

normalmente em forma de números”. Barbie (1999) defende que a aplicação deste método

está em função dos objetivos da pesquisa, podendo ser considerado mais vantajoso ou

desvantajoso para uma ou outra pesquisa. Freitas et al. (2000), nos seus estudos sobre este

pressuposto, destacam que não há obrigatoriedade na escolha de um método como

instrumento de colheita de dados, pois, dependendo do desenho de pesquisa, inicialmente

proposto, pode-se, inclusive, se utilizar da combinação de métodos. A pesquisa survey

pode ser classificada, quanto ao seu propósito, como explanatória, exploratória e

descritiva (FREITAS et al., 2000). Quanto ao propósito descritivo, referem os autores

que:

Busca identificar quais situações, eventos, atitudes ou opiniões estão

manifestos em uma população; descreve a distribuição de algum fenômeno na

população ou entre os subgrupos da população ou ainda, faz uma comparação

entre essas distribuições. Neste tipo de survey a hipótese não é causal, mas tem

o propósito de verificar se a percepção dos fatos está ou não de acordo a

realidade (FREITAS et al., 2000:106).

A escolha do método survey partiu de uma sugestão de um dos membros da banca

de qualificação, realizada em 10 de abril de 2015, que propôs este método tendo em vista

a obtenção de informação em número suficiente que possibilitassem a análise dos dados

com maior consistência, em função do número de empresas existentes na província de

65 PINSONNEAULT, A. & KRAEMER, K.L. (1993). Survey research in management information

systems: an assessement. Journal of Management Information System.

110

Luanda, que foi o nosso foco da pesquisa, bem como as dificuldades encontradas para a

realização das 25 entrevistas pretendidas inicialmente. Este método foi adotado, tendo em

vista as dificuldades que deveríamos encontrar no campo. Essa dificuldade seria maior

ainda se a opção fosse a realização de entrevistas, tendo em vista que a cultura da pesquisa

científica e a aplicação dos seus métodos ainda não é bem acolhida em Angola, onde a

rejeição de participação nas empresas (e também das pessoas) é elevada.

Uma das opções viáveis seria o envio do questionário por e-mail ou mesmo por

telefone. Esta opção foi descartada, porque, dos 25 e-mails enviados às empresas, no

prazo de trinta dias, foram recebidos de volta apenas 3 questionários. Questões como falta

de energia, acesso à internet e outros foram evocadas como sendo as causas.

Relativamente ao pesquisador, foi uma experiência ímpar, por estar habituado com

outros métodos de coleta de dados, com destaque para entrevista. Neste sentido, devido

às dificuldades encontradas para a aplicação dos questionários, foi sugerido, pelo Centro

de Investigação Científica, na pessoa do seu chefe, Doutor Alves da Rocha, o contato

com entidades ligadas à investigação científica e, assim, através do Ministério do

Planejamento e Desenvolvimento Territorial de Angola66, foi possível contatar o Instituto

Nacional de Estatística de Angola, que se predispôs a colaborar, através dos seus

inquiridores e com minha participação direta.

Neste sentido, foram constituídas quatro equipes, compostas por duas pessoas em

cada equipe. Antes de começarmos, foi feito um plano de como seriam realizados os

trabalhos, no qual se explicou a forma de como seriam preenchidos os questionários.

Atendendo a dimensão da cidade de Luanda, as equipes foram divididas em zonas, que

denominamos Norte, Sul, Leste e Oeste. Esta distribuição ficou facilitada, tendo em vista

o controle das empresas angolanas pelo INE, através do Ficheiro Único de Empresas

(FUE).

Os questionários foram entregues e preenchidos na presença dos inquiridores, o que

ajudou a esclarecer algumas dúvidas surgidas. Maior dificuldade foi encontrada na

pergunta número 1, sobre o faturamento da empresa, e, por esta razão, esta passou a ser a

pergunta número 6. Em três meses, foi possível aplicar 181 questionários, através de uma

amostra aleatória simples por acessibilidade, número aquém da meta prevista, que era de

250 questionários. As chuvas e a falta de transporte foram algumas das imensas

66 Órgão que supervisiona o Instituto de Estatística Nacional

111

dificuldades encontradas ao longo da coleta dos dados, tendo, muitas vezes, que se

recorrer ao aluguel de motocicletas para facilitar os deslocamentos.

2.3 Tratamento das informações e interpretação dos dados

Os dados foram tratados, inicialmente, através da técnica de estatística descritiva

com ajuda do programa Excel 2016. Ao citar Reis (1996), Vilelas (2009:309) refere que

“a estatística descritiva consiste na coleta e na exposição de dados numéricos através da

criação de instrumentos adequados: quadros, gráficos e indicadores numéricos”. Na

estatística descritiva, analisamos medidas como: as frequências absolutas (números

absolutos de cada valor) e as frequências relativas (as proporções em percentegens); a

média, a mediana e a moda (VILELAS, 2009).

A partir dos dados levantados no nosso referencial teórico, foi possível fazer um

recorte de quatro principias dimensões que possibilitarão a análise dos dados empíricos.

Estas dimensões foram levantadas com objetivo de resumir as sobreposições e as

dissensões surgidas a partir dos dados, como forma encontrada para direcionar as

discussões do presente trabalho.

112

CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O capítulo em referência é destinado à análise de dados empíricos.

Os dados foram tratados com base na técnica de estatística descritiva, com auxílio

do programa Excel 2016, no que tange ao valor percentual, à média e ao somatório das

respostas. A interpretação e a discussão dos dados foram realizadas com o auxílio da

técnica de análise de conteúdo, por ser uma técnica combinada de procedimentos

ordenados que possibilitam o levantamento de indicadores, sejam quantitativos ou não.

Com vista à melhor compreensão do estudo, as categorias levantadas emergiram com

base nas abordagens do referencial teórico-empírico, o que possibilitou o levantamento

de dimensões empíricas com amplitudes similares aos dados levantados a partir dos

achados. Este pormenor ajudou a entender o objeto de estudo. Das convergências

verificadas, identificamos as dimensões empíricas “tendências transformadoras com

recalque para a progressão tecnológicas”, “flexibilização” e “mudanças organizacionais

e dos trabalhadores”. Estas dimensões nos ajudaram a organizar melhor a interpretação

e a discussão dos dados.

No total, 181 organizações aceitaram participar desta pesquisa, constituindo uma

amostra aleatória simples por acessibilidade. Das questões demográficas perguntadas aos

participantes, podemos constatar que, quanto ao faturamento das organizações, a maioria

das empresas participantes da pesquisa é de pequeno porte, o que comprovam os dados

constantes na caraterização das empresas, segundo os quais, em Angola, 41,3% das

empresas são familiares. Das empresas participantes, maior número recai no setor do

comércio, com a maioria destas empresas atuando há mais de 16 anos. Essas empresas

possuem força de trabalho maioritariamente jovem, com funcionários com idade entre

18 e 35 anos.

Pelo fato de a pesquisa estar direcionada ao futuro das organizações, perguntamos

às participantes quais as tendências que mais impactos trarão no futuro. Algumas das

tendências, como bem evoca a literatura, são homogêneas e se despontam de forma

diferente, dependendo do mercado ou do ramo de atividade específico. Todavia, as

questões mais relevantes, constatadas nesta pesquisa, foram a evolução tecnológica, as

mudanças demográficas, as dificuldades de profissionais qualificados, as mudanças

climáticas e os custos com programas de qualificação. Outras perguntas, nesta linha das

tendências, foram para saber o que se pensa sobre os novos modos de trabalho e como

os profissionais de hoje e do futuro se comportam e se comportarão face às mudanças

113

que lhes são impostas e como estas estimulam novos métodos de gestão e afetam as

relações entre organização e trabalhadores.

Com o aumento do trabalho intelectual, os profissionais são obrigados a se

adaptarem às novas formas de efetivação do trabalho que lhes são impostas. Neste

sentido, as questões mais relevantes foram a valorização do equilíbrio entre a vida

pessoal e profissional; a busca de flexibilização tanto nas jornadas de trabalho como nos

contratos; e a mobilidade relacionada com as decisões das suas carreiras. Outras questões

se prendem às responsabilidades assumidas para se manter na carreira, à contribuição do

trabalhador no zelo da reputação da empresa e à valorização da capacidade dos

funcionários em liderar equipes.

Nas perguntas relacionadas com as dimensões flexibilização e mudanças

organizacionais e dos indivíduos, procuramos saber, das organizações participantes,

como a flexibilização se tornou um fator de entendimento entre as organizações e os

trabalhadores, dando a possibilidade de se buscarem novos métodos de trabalho que

ajudem a ambos, especialmente no momento em que começou a vigorar a nova lei de

trabalho (setembro de 2015) em Angola; como será este relacionamento no futuro, bem

como entender o que deveria ser mudado na legislação na visão das empresas. Por outro

lado, procuramos entender como as mudanças, em termos de gestão de pessoas, através

de adoção de várias estratégias, e as mudanças organizacionais, principalmente nos

modelos de gestão, podem tornar as organizações mais competitivas diante dos vários

cenários impostos nos ambientes interno e externo.

Com vista à melhor compreensão dos resultados, apresentamos os dados de acordo

com as dimensões levantadas. Neste prisma, inicialmente, apresentaremos os dados

demográficos da pesquisa e, em seguida, apresentaremos a discussão com base nas

categorias levantadas.

114

3.1 Dados demográficos

Gráfico 11: Participantes da pesquisa por setor de atividade

Fonte: Dados da pesquisa.

Participaram desta pesquisa 181 empresas, de vários setores de atividade, que

compõem o mercado de trabalho de Luanda (Angola). Neste contexto, 29% das empresas

pertencem ao setor do comércio, 13% ao setor de restaurantes, 11% à indústria

transformadora e apenas 1% aos setores de pesca, finanças e outros.

Gráfico 12: Faturamento em AKZ67 das organizações participantes

Fonte: Dados da pesquisa.

67 1 USD=165.065 AKZ

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%

OUTROS

PESCA

FINANCEIRA

VEÍCULOS

IMOBILIÁRIAS

ELETRICIDADE/ÁGUA/GÁS

AGRICULTURA

SERVIÇOS COLETIVOS

SÁUDE

EDUCAÇÃO

INDÚSTRIAS EXTRATIVAS

TRANSPORTES

CONSTRUÇÃO

INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS

RESTAURANTES

COMÉRCIO

1%

1%

1%

2%

2%

2%

3%

4%

4%

4%

6%

8%

9%

11%

13%

29%

Setores participantes da pesuisa por

atividade

0% 10% 20% 30% 40% 50%

ENTRE 500 E 1 AKZ BILHÃO

MAIOR QUE 5 AKZ BILHÕES

ENTRE 1 E 5 AKZ BILHÕES

ENTRE 25 E 100 AKZ MILHÕES

ENTRE 100 E 500 AKZ MILHÕES

ENTRE 5 E 25 MILHÕES AKZ

ATÉ AKZ 5 MILHÕES

3%

3%

4%

8%

11%

28%

43%

115

Os dados da pesquisa demonstram que, em termos de faturamento, 43% das

empresas participantes são de pequeno porte, 8% a 11% são de médio porte e 3% são de

grande porte.

Gráfico 13: Tempo de atuação das organizações em Angola

Fonte: Dados da pesquisa.

Verifica-se, nos dados acima, que 38% das empresas participantes exercem a sua

atividade no mercado de trabalho de Angola há mais de 16 anos e apenas 12% exercem

a sua atividade entre 3 e 6 anos.

Gráfico 14: Faixa etária da força de trabalho das organizações participantes

Fonte: Dados da pesquisa.

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%

ENTRE TRÊS E SEIS ANOS

ENTRE DEZ E QUINZE ANOS

ATÉ TRÊS ANOS

ENTRE SEIS E DEZ ANOS

ACIMA DE DEZESSEIS ANOS

12%

16%

16%

18%

38%

41%

25%

12%

5%

7%

10%

De 18 a 30 anos

De 31 a 35 anos

De 36 a 40 anos

De 41 a 45 anos

De 46 a 55 anos

Acima de 55 anos

116

A faixa etária dos trabalhadores nas organizações participantes da pesquisa é

considerada jovem. 66% da faixa etária da força de trabalho variam entre 18 e 45 anos,

enquanto 10% estão acima dos 55 anos de idade.

Gráfico 15: Funcionários contratados nas organizações participantes

Fonte: Dados da pesquisa.

Os dados do gráfico 10 demonstram que 66% dos funcionários, das organizações

participantes de pequeno porte, são contratados, enquanto que apenas 7% dos

funcionários de empresas de grande porte são contratados.

Gráfico 16: % de profissionais mulheres das organizações participantes

Fonte: Dados da pesquisa.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

ATÉ 50 51 À 200 201 À 500 ACIMA DE 500

66%

21%

6% 7%

0% 10% 20% 30% 40% 50%

ACIMA DE 56%

ENTRE 41% E 55%

ENTRE 26% E 40%

ENTRE 11% E 25%

ATÉ 10%

7%

8%

13%

30%

42%

117

O maior valor percentual das mulheres profissionais das organizações participantes

situa-se na faixa de 10% da força de trabalho, enquanto que o menor valor percentual da

força de trabalho está acima de 50%.

3.2 Dimensão tendências transformadoras

Atendendo as grandes transformações que o mercado de trabalho vem conhecendo

e com objetivo de compreender como poderá evolucionar e de que forma afetará as

organizações angolanas, pretendemos saber das empresas participantes quais as grandes

tendências que, com maior impacto, poderão ocorrer no futuro.

Gráfico 17: Tendências impactantes para o negócio

Fonte: Dados da pesquisa

Os participantes da pesquisa apontaram cinco principais tendências impactantes

que poderão ocorrer no futuro das organizações, no que diz respeito a sua evolução e

como o desenvolvimento os afetará, nomeadamente: a tecnologia; as mudanças

demográficas; as dificuldades na obtenção de profissionais qualificados; as mudanças

climáticas e os custos com programas de qualificação. Estas tendências já exercem

impacto no mercado de trabalho angolano e continuarão a exercer, tendo em vista as

dificuldades do acompanhamento dos avanços da tecnologia de informação e

comunicação que se verifica no mundo, as mudanças demográficas decorrentes nos

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

OUTROS

AUMENTO DAS MULHERES

AUMENTO DA IMPORTÂNCIA

SURGIMENTO DE NOVAS EXPECTATIVAS

CUSTO DO PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

DIFICULDADE OBTER P. QUALIFICADOS

MUDANÇAS DEMOGRAFICAS

IMPACTO DA TECNOLOGIA

10%

19%

25%

26%

28%

28%

32%

44%

48%

118

últimos anos e a escassez de mão de obra qualificada que proporciona a ausência de

profissionais com competências para ajudar as organizações na execução das suas

estratégias e torná-las mais competitivas. Estas tendências têm tido discussões correntes

em Angola.

Conforme já evocamos, o fato de as tendências tecnológicas serem apontadas como

uma das mais impactantes corrobora os estudos de Kotler (2015), que chamam atenção

para o desenvolvimento de tecnologia que, no seu entender, desde a revolução industrial,

tem causado desemprego massivo e se tornado um grande desafio para as indústrias, que

rapidamente têm que se automatizar, sob pena extinção. A rápida progressão tecnológica

traz consigo incertezas que tornam o ser humano um trabalhador do conhecimento que,

no seu cotidiano, tem de lidar com as mudanças impostas. Nesta linha de entendimento,

com “o computador pessoal, a internet, os novos materiais a substituírem os antigos, a

biotecnologia, entre tantos outros novos descobrimentos técnico-científicos, cria-se

perspectivas de conformação dos novos parâmetros capazes de fundamentar a sociedade

do conhecimento. Tudo isso, é claro, direcionado às perspectivas que são abertas na

primeira década do século 21” (POCHMANN, 2002:11).

Este impacto poderá se constituir numa preocupação, caso Angola não melhore os

seus índices de desenvolvimento tecnológico no futuro. Atualmente, o índice de

desenvolvimento tecnológico em Angola ainda é considerado baixo, posicionando o país

em 141º. lugar num total de 173 países. Em nível da SADC e dos PALOP, também o

índice é considerado baixo. Os dados do INE (2016:16) referem que 37,5% da população

têm acesso a telefone móvel, 9,9% da população têm acesso a computador e 10,2% da

população têm acesso à internet. Todavia, desde 2002, estes números vêm evoluindo e

poderão conhecer melhorias a partir de 2017, momento em que Angola terá o seu satélite.

Os grandes desafios sobre o desenvolvimento econômico passam pela superação

destes índices. Não obstante, e como constatado no referencial teórico, as tendências

transformadoras, como fenômenos relacionados ao desenvolvimento econômico digital

e industrial, nanotecnologia, big data, tecnologias implantáveis e vestíveis, dispositivos

móveis e outros, são prováveis mudanças futuras presentes no mundo do trabalho, para

as quais as sociedades devem direcionar o seu desenvolvimento, como forma de estar

globalmente conectadas (SCHWAB, 2016). Quanto aos países em desenvolvimento

(com realce para os países considerados pobres) e com economia fragilizada, as

assimetrias existentes os separam ainda mais dos países desenvolvidos, pois o acesso à

119

tecnologia de informação é considerado extremamente restrito e recai para as famílias

consideradas abastardas (POCHMANN, 2012).

A falta de profissionais qualificados é outra tendência impactante. Os dados

demonstram que o mercado de recursos humanos deve dar uma resposta no sentido de

dispor de profissionais qualificados capazes de tornarem as organizações mais

competitivas. A falta de mão de obra qualificada é uma das características que tem sido

muito discutida em Angola, principalmente quando deparados com o índice elevado de

desemprego e o baixo índice de emprego. Embora seja uma tendência global, face ao

desenvolvimento de novas habilidades requeridas, devido a evolução tecnológica, esta é

uma tendência que pode ser associada ao fator educação. Nos seus estudos, Trevisan

(2001) exemplifica que países, como Inglaterra, evoluíram em consequência da

combinação entre educação e trabalho. Neste sentido, políticas de educação, quando bem

geradas, proporcionam a mão de obra qualificada – refere o autor.

Embora as políticas de geração de emprego e de educação sejam uma aposta do

governo, as estratégias para o ensino superior devem estar direcionadas para a qualidade

de ensino, visando à preparação qualitativa dos formandos, com objetivo de melhor

enfrentarem, no futuro, o mercado de trabalho e ajudarem o desenvolvimento do país em

todas as vertentes. Um outro segmento está relacionado com as exigências das

capacidades profissionais de um determinado mercado que têm sido supridas com

profissionais qualificados expatriados que embora, amiúde, tem respondido as

necessidades das grandes empresas existentes, como, por exemplo, as petrolíferas. Neste

sentido, pensamos que a falta de profissionais qualificados poderia ser colmatada com

políticas de emigração direcionadas, tendo em vista a estabilidade de paz que se vive a

cerca de 15 anos.

3.3 Dimensão flexibilidade

A dimensão flexibilidade é composta por 4 subcategorias, nomeadamente: os

modelos flexíveis de trabalho, as modificações da Lei Geral do Trabalho, o grau de

concordância das modificações da Lei Geral do Trabalho e os fatores impeditivos na Lei

Geral do Trabalho.

120

3.3.1 Modelos flexíveis de trabalho

A utilização de modelos de trabalho mais flexível tem sido uma das opções da

atualidade que, quando empregada de forma estratégica, torna-se uma alternativa tanto

organizacional quanto para os funcionários. O nosso estudo visou compreender se a

utilização dos modelos flexíveis tem tido impacto nas organizações angolanas ou se

poderá ter futuramente, tendo em vista que o mercado de trabalho se encontra em fase de

crescimento e as exigências de profissionais qualificados se torna um desafio. As

empresas participantes, no seu todo, discordam e defendem que os modelos de

flexibilidade de trabalho não trarão impactos no futuro. A tabela 7 nos ajuda a entender

as respostas neste sentido.

Tabela 9: Modelos flexíveis de trabalho

Alternativas Discordo

totalmente Discordo Concordo

Concordo

totalmente

Não temos sistemas ou ferramentas

para administrar o trabalho realizado

à distância, teríamos que confiar nos

funcionários.

27% 45% 21% 7%

Os custos em recursos humanos

aumentam, pois será preciso

compensar o trabalho de

funcionários que possuem horários

flexíveis (mais pessoas para fazerem

o mesmo trabalho).

24% 52% 19% 5%

Acredito que existe preconceito dos

próprios funcionários a respeito de

que trabalhar menos horas (mesmo

recebendo menos) ou trabalhar a

distância signifique produzir menos

ou em pior qualidade.

23% 40% 30% 7%

Haverá necessidade de

investimentos em tecnologia para

viabilização de modelos home

office.

18% 48% 25% 9%

Fonte: Dados da pesquisa.

Das empresas respondentes da nossa pesquisa, quando perguntadas se os custos em

recursos humanos aumentam devido aos horários flexíveis, 76% discordaram e 24%

concordaram, o que significa que, para elas, os custos com recursos humanos não

aumentam e nem é necessária a compensação do trabalho dos funcionários que possuem

horários flexíveis, com o aumento de mais trabalhadores para exerceram a mesma tarefa.

121

Estes dados corroboram o que defendem os estudiosos neste sentido. Se, por um lado, a

implementação de modelos de trabalho flexíveis é considerada positiva devido as

transformações do mercado de trabalho, por outro, é considerada negativa por se avaliar,

como o resultado de um acordo que, em muitos casos, é entendido como “o possível”

para salvaguardar o emprego dos funcionários. Antunes (2011) defende que a

flexibilização promove a precariedade do trabalho, trazendo mais prejuízos ao

trabalhador do que benefícios. Na mesma linha, Pastore (1994) já defendia que a

flexibilidade pressupõe a perda dos direitos adquiridos, quer seja por negociação com a

entidade empregadora quer seja na forma imposta por lei trabalhista, e pode causar a

diminuição da proteção do trabalhador prevista por lei, além da perda de outros

benefícios.

Contrariamente a esta visão, os estudos de Holzmann e Piccinini (2011:196-197),

que citam Beynon (1999)68, referem ser crescente o número de profissionais que, fruto da

flexibilização, são admitidos em prol de outros modelos contratuais (casual-workers;

temporary-workers; part-time-workers; e self-employed-workers). A flexibilização destes

tipos de contratos traz benefícios legais quanto à mobilidade da força do trabalho e à sua

contratação. Neste sentido, a literatura nos leva a entender que a figura do trabalhador é

a mais prejudicada, pois deve optar entre aceitar o emprego ou ficar no desemprego,

principalmente quando se tratam de trabalhadores com pouca qualificação.

A outra pergunta recaí para o trabalho a distância, que é um modelo de gestão

flexível muito utilizado na atualidade, tendo em conta o uso de aplicação de mecanismos

de controle que possibilitam, a qualquer momento, a interação entre a entidade

empregadora e o funcionário. Neste sentido, perguntamos às empresas participantes se

têm ferramentas administrativas que possibilitam a interação ou o controle dos trabalhos

realizados a distância. 72% responderam que discordam desta afirmação e 28%

concordam, o que significa dizer que a maioria das empresas participantes não tem

ferramentas de controle do trabalho a distância.

Os dados demográficos deste estudo demonstraram que a maioria das empresas

participantes é de pequeno porte, o que também vem confirmar os dados do INE, segundo

os quais, 41,3% das empresas em Angola são de âmbito familiar. Olhando para a

literatura, através do nosso referencial teórico, podemos constatar que as empresas que

adotam a implementação de trabalhos a distância são as de grande porte ou as

68 BEYNON, H. As práticas do trabalho em mutação. In: ANTUNES, Ricardo et al. Neoliberalismo,

trabalho e sindicatos. 3. ed. São Paulo: Boitempo, 1999.

122

denominadas de hipermodernas, como demonstram, por exemplo, nos seus estudos, Pagês

(1987) e Wood JR (2000). São organizações que possuem alta tecnologia e que adotam

vários modelos de descentralização – através da contratação de profissionais bem

qualificados e que prestam o seu serviço à organização de forma descentralizada,

rompendo as tradicionais barreiras do conceito de cargo, muito enraizado ainda nas

pequenas e médias empresas.

O modelo de flexibilização home office associa-se a uma questão de custo-

benefício, dado o grande investimento que normalmente se faz em tecnologia e, ao mesmo

tempo, em recursos humanos. Neste sentido, 66% das empresas participantes discordam

e 34% concordam. Os estudos de Banov (2013) demonstram que as empresas que mais

investem neste modelo são as denominadas “hipermodernas”, que descentralizam

determinadas tarefas, através da contratação de teletrabalhadores ou de consultores

externos, visando atender contextos de trabalhos dinâmicos. O ponto de vista de Banov

(2013) leva-nos a entender que as pequenas e médias empresas investem pouco nesta

direção, em função das suas estratégias de competitividade no mercado, bem como pelo

fato de muitas estarem direcionados ao setor de serviços.

3.3.2 Modificações da Lei Geral do Trabalho

As transformações inegáveis que o mundo de trabalho vem passando exigem

mudanças, mas, desde 2000, a LGT não conheceu evolução ou alterações em função da

evolução do mercado de trabalho. A atual Lei Geral de Trabalho (LGT) de Angola, que

passou a vigorar desde setembro de 2015, é fruto de uma reforma trabalhista em

obediência à adaptação do mercado de trabalho, visando colmatar aspectos não previstos

na lei anterior, tais como: flexibilização do relacionamento de trabalho, ajustes

remuneratórios, prevenção do absentismo e outros fatores que visam incentivar a

produtividade organizacional. Em atenção a estes preceitos, perguntamos às organizações

participantes da pesquisa quais modificações fariam na nova LGT. O gráfico 13, a tabela

8 e o gráfico 14 mostram como as organizações participantes responderam as questões

que lhes foram formuladas.

123

Gráfico 18: Que mudanças faria na LGT

Fonte: Dados da pesquisa.

As respostas às perguntas feitas às organizações participantes, sobre quais os principais

itens que mudariam na LGT, trouxeram alguma surpresa. O item mais citado foi relativo

ao incentivo à qualificação (45%), seguido dos itens: simplificação da contratação (33%),

flexibilização da carga horária (24%), flexibilização da jornada de trabalho (23%),

simplificação de dispensa (22%), redução dos custos de demissão e flexibilização do

local de trabalho (20%).

O incentivo à qualificação do trabalhador é, na atualidade, uma prática

recomendada na literatura visando à preparação do trabalhador para enfrentar o mercado

de trabalho – que tem sido mais exigente na qualificação profissional do trabalhador.

Conforme fizemos menção, no referencial teórico, o mercado de trabalho de Angola

encontra-se à procura de profissionais qualificados e o incentivo à qualificação é

recomendável para suprir esta demanda do mercado. Os outros itens, como a

simplificação da dispensa e a redução de demissão, se justificam, tendo em consideração

o alto índice de desemprego existente.

Poucos participantes concordam com mudanças nos seguintes itens: redução dos

benefícios diretos (2%), extinção do 13º salário (2%), redução dos encargos sociais (4%),

flexibilização de férias (12%) e estabelecimento de cotas (15%). Os baixos percentuais

destes itens demonstram que as empresas não pretendem caminhar para estas

alternativas, o que poderia afetar a produtividade dos trabalhadores. Por outro lado, esta

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45%

OUTROS

EXTINGUIR 13º SALÁRIO

REDUZIR BENEFÍCIOS DIRETOS

REDUZIR ENCARGOS SOCIAIS

FLEXIBILIZAR FÉRIAS

ESTABELECER COTAS

REDUZIR CUSTOS DE DEMISSÃO

FLEXIBILIZAR LOCAL DE TRABALHO

SIMPLIFICAR DISPENSA

FLEXIBILIZAR JORNADA DE TRABALHO

FLEXIBILIZAR CARGA HORÁRIA

SIMPLIFICAR CONTRATAÇÃO

INCENTIVAR QUALIFICAÇÃO

1%

2%

2%

4%

12%

15%

20%

20%

22%

23%

24%

33%

45%

124

pretensão pode ser justificada pelo fato de o mercado de trabalho angolano se demonstrar

frágil em relação a temáticas como o emprego e o desemprego, bem como o elevado

custo de vida no país. Como já fizemos referência, Angola é considerado um dos países

mais pobres do mundo e é o mais caro para se viver, onde o poder de compra do cidadão

é bastante baixo. A implementação da nova LGT recebeu inúmeras críticas de

profissionais de direito, que defendem que a aprovação da lei deixa os trabalhadores mais

frágeis e sem defesa. A professora do Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da

Universidade Agostinho Neto, Josefa Webba69, teceu várias críticas sobre a referida lei,

alegando que sua implementação favorece em demasia a entidade empregadora.

3.3.3 Grau de concordância das modificações da Lei Geral do Trabalho

Tabela 10: Grau de concordância das modificações da LGT

Alternativas Discordo

totalmente Discordo Concordo

Concordo

totalmente

A regulamentação do trabalho

em Angola tende a ser

simplificada nos próximos

anos.

20% 45% 24% 11%

A flexibilização da Lei Geral

do Trabalho em Angola tende

a ser uma tendência nos

próximos anos.

16% 40% 34% 10%

A Lei Geral do Trabalho

contribui para a perda de

produtividade ou

competitividade da empresa.

18% 41% 32% 9%

As mudanças da Lei Geral do

Trabalho em Angola

apresentam grande risco de

perda de direitos e proteção do

trabalhador.

12% 29% 46% 13%

Os sindicatos exercem papel

central no cumprimento da

LGT em Angola.

12% 30% 38% 20%

As empresas de grande porte

em Angola possuem maior

possibilidades para o

cumprimento da LGT.

21% 31% 42% 6%

As empresas em Angola

podem se adaptar aos novos

desafios do ambiente de

negócio mesmo com a

regulamentação de trabalho

atual.

22% 29% 42% 7%

Fonte: Dados da pesquisa

69 Pronunciamento feito ao club-k.com portal de notícias imparciais de Angola em 05.09.2013.

125

A nova LGT traz determinadas diferenças em relação à lei anterior, relativas à

forma e à duração do contrato, às restrições de liberdade ao trabalhador, aos processos e

às medidas disciplinares e outros. Para entender estes e outros constrangimentos da lei,

pedimos às organizações participantes que indicassem qual o grau de concordância sobre

a perspectiva das modificações da lei: 65% discordam que a regulamentação do trabalho,

em Angola, pode ser simplificada nos próximos anos; 59% discordam igualmente que a

LGT contribui para a perda da produtividade ou da competitividade da empresa. Por

outro lado, 59% concordam que as mudanças da LGT apresentam grande risco de perda

de direitos e proteção do trabalhador e 58% concordam que os sindicatos exercem papel

central no cumprimento da LGT.

3.3.4 Fatores impeditivos na Lei Geral do Trabalho

Gráfico 19: Situação que gostaria de viabilizar mas existem fatores impeditivos na LGT

Fonte: Dados da pesquisa

Questionados sobre quais as situações que gostariam de ver viabilizadas e que são

impedidas na LGT, 41% responderam que a busca de equilíbrio entre a vida pessoal e a

profissional é a que mais gostariam de ver viabilizada na lei. Este resultado demonstra o

desconhecimento da atual lei, que não impede questões como estas, mas sim, tem

mecanismos legais que viabilizam, como é o caso dos contratos de trabalhos, das normas

de jornadas de trabalho e das intrajornadas e outros. 30% viabilizariam a criação de

possibilidades de aposentados. O pacote legislativo do INSS também não impede a

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45%

TRABALHADORES QUALIFICADOS BUSCAM EXTERIOR…

TRABALHADORES BUSCAM HORÁRIOS FLEXÍVEIS

MULHERES BUSCAM ALINHAR PROFISSÃO E FAMÍLIA…

CRIAR POSSIBILIDADES PARA APOSENTADOS

TRABALHADORES BUSCAM EQUILIBRIO VIDA PESSOAL X PROFISSIONAL…

21%

22%

24%

30%

41%

126

criação de novas possibilidades de aposentados, conforme confere o artigo 17º. do

Decreto 40/08, do Conselho de Ministros de Angola, que incentiva os aposentados a

continuarem a prestar seus serviços, caso as suas condições de saúde o permitirem,

podendo exercer as mesmas funções anteriores, com recebimento do salário-base, sem,

contudo, sofrerem descontos.

O item que menos gostariam de ver viabilizado, com 21%, é o relacionado com os

trabalhadores qualificados que buscam o exterior.

A recente paz conquistada pelos angolanos deixou o país muito fragilizado, com

problemas como a extrema pobreza, a corrupção, uma economia dependente do petróleo,

e sem infraestrutura. A questão do trabalho foi altamente afetada pela guerra, quando a

defesa do país foi uma questão prioritária. Faltas, como, de infraestrutura industrial, de

incentivo ao investimento privado, de diversificação da economia, de políticas públicas

de emprego e educação, entre outros, são fatores que mexem com o mercado de trabalho

de Angola que, amiúde, começa a despontar para a competitividade do mercado

internacional. A Lei Geral do Trabalho é uma porta de entrada não para a competitividade

das empresas, mas para a atração de profissionais qualificados, tendo em vista que o

mercado de trabalho de Angola é de oportunidades e de abertura para o crescimento, o

que só é possível com leis flexíveis e atrativas.

3.4 Dimensão mudança organizacional e da expectativa do trabalhador

As mudanças, verificadas no mercado de trabalho, ocorrem desde o início da

revolução industrial, com a introdução de métodos destinados ao aumento da

produtividade em detrimento da mão de obra, através do surgimento da administração

científica, cujo percursor foi Frederick Taylor, que notabilizou a ideia, segundo a qual,

na medida em que a produtividade aumenta, se deve registrar a diminuição de

trabalhadores (KOTLER, 2015).

Nos dias de hoje, estes pressupostos são mais evidenciados, pois as formas de

execução do trabalho surpreendem o quotidiano do trabalhador, que se vê na obrigação

de compreender o mundo e lidar com conceitos como criatividade, competitividade,

competência, habilidade e outros, desencadeando alterações profundas na sua estrutura

social. Neste sentido, novas habilidades começam a ser exigidas, como forma de

responder aos novos modelos de gestão perpetrados pelas organizações. Estas e outras

exigências fazem com que os trabalhadores sejam produtores de conhecimento,

127

empreendedores, como nova denominação visando atingir qualificações à altura das

exigências de organizações proativas e hipermodernas (SCHWAB, 2016).

O impacto destas mudanças no mercado de trabalho, embora date do início da

revolução industrial, pode ser considerado como novo no mercado de trabalho de Angola,

que vem se desenvolvendo muito, face à aceleração das mudanças, sobretudo, nas formas

de execução do trabalho. As expetativas que mais se evidenciam no gráfico 15

demonstram esta tendência.

Gráfico 20: Novos modos de trabalho

Fonte: dados da pesquisa

Estas expetativas ficam mais claras quando olharmos para o gráfico 16, no qual se

destacam diversas características relacionadas com os profissionais de hoje e do futuro,

vistas como propulsoras de uma certa autonomia e de crescimento, desenvolvimento do

trabalhador que visa o aumento das suas capacidades, afim de se tornarem competitivos

para as exigências atuais do mercado.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

EXISTEM MAIORES OPORTUNIDADE PARA O INDIVIDUO MANIFESTAR AS SUAS CAPACIDADES

O MERCADO DE TRABALHO DISPERSA MAIORCOMPETITIVIDADE ENTRE AS PESSOAS

HÁ MAIOR EXPOSIÇÃO DOS PROFISSIONAIS AO STRESS

HÁ MAIOR DIFULDADE DE ESTABELECER LIMITES ENRE A VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL

OS PROFISSIONAIS PERMITEM MAIOR REALIZAÇÃO NO TRABALHO

O TRABALHADOR DEDICA-SE À EMPRESAACIMA DO ESPERADO

AS EMPRESAS ATUALMENTE FAVORECEM UM AMBIENTEDE TRABALHO COLABORATIVO

EXISTEM MAIORES OPORTUNIDADES E APRENDIZADO

AS PROPOSTAS PROFISSIONAIS PARA MUDANÇAS DECARREIRA SURGEM COM MAIOR FACILIDADE

AS FORMAS DE SE COMUNICAR COM COLEGASDE TRABALHO MUDARÃO

AS HIERARQUIAS ORGANIZACIONAIS CONTINUAMFORMAIS E FORTALECIDAS

A CAPACIDADE DE LIDERAR EQUIPES É MAISVALORIZADA ATUALMENTE

O TRABALHADOR CONTRIBUI PARA ZELAR PELA REPUTAÇÃO DA EMPRESA

O TRABALHADOR ASSUME A RESPONSABILIDADE POR MANTER SUA CARREIA

21%

22%

23%

25%

26%

28%

30%

30%

30%

33%

38%

39%

60%

69%

128

Pode-se também constatar, nos gráficos abaixo, que algumas das tendências e

expectativas que mais se sobressaem são características de trabalhadores do

conhecimento, o que demonstra estarem em sintonia com o futuro do trabalho em

Angola. Esta tipologia de profissionais ainda é bastante restrita, com probabilidade de

aumento no futuro.

Gráfico 21: Profissionais de hoje e do futuro...

Fonte: Dados da pesquisa

A pesquisa nos oferece estes dados, mas, ao os compararmos com os dados

constantes no nosso referencial teórico, relativo à situação de Angola, estes dados são

contrariados, a julgar pelos fatores negativos existente, tais como: (i) número elevado de

desempregos, (ii) políticas públicas de emprego fragilizada, (iii) modelo de organização

e funcionamento do mercado de trabalho (considerado menos transparente e rígido), (iv)

economia em recessão, (v) falta de quadros qualificados, (vi) índice elevado de pobreza,

(vii) qualidade de ensino (viii) baixos índices em todos os rankings de desenvolvimento

e outros.

7

8

8

9

12

13

13

15

15

16

18

19

21

24

17

39

35

27

33

58

22

42

16

25

18

43

48

57

39

32

50

45

23

44

35

51

45

55

30

21

17

18

25

11

9

6

19

8

17

12

8

6

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

BUSCAM UMA REMUNERAÇÃO COMPETITIVA NO MERCADO

VALORIZAM O EQUILÍBRIO ENTRE A VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL

PREFEREM CARREIRAS QUE PERMITEM MUDANÇAS DE ÁREA, DE TIPO DE TRABALHO E/OU LOCALIDADE

PREFEREM OCUPAÇÕES DE TRABALHO ONDE POSSAM LIDERAR AS ATIVIDADES E SEREM RESPONSÁVEIS PELO RESULTADO

QUEREM MOBILIDADE NO QUE DIZ RESPEITO A DECISÕES RELATIVAS ÀS SUAS CARREIRAS

BUSCAM PRAZER NAS ACTIVIDADES RELATIVAS AO TRABALHO

VALORIZAM A MERITOCRACIA

BUSCAM QUALIFICAÇÃO PARA APERFEIÇOAR AS SUAS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS

VALORIZAM VÍNCULOS FORMAIS DE TRABALHO EM GRANDES ORGANIZAÇÕES

PREFEREM TRABALHAR EM ORGANIZAÇÕES CUJO AMBIENTE DE TRABALHO É COLABORATIVO

PREFEREM TRABALHAR EM EMPRESAS MULTINACIONAIS

BUSCAM FLEXIBILIDADE TANTO NAS JORNADAS QUANTO NOS CONTRATOS DE TRABALHO

VALORIZAM AS FORMAS ALTERNATIVAS DE REALIZAR AS ATIVIDADES QUOTIDIANAS DE TRABALHO, TAIS COMO TELE-TRABALHO, …

Discordo totalmente Discordo Concordo Concordo totalmente

129

Por outro lado, com os ganhos de desenvolvimento, alcançados de 2002 até os dias

atuais, a democracia existente e as caraterísticas da riqueza que o país possui, existe

grande esperança num futuro melhor.

Tabela 11: Mudanças na organização e na gestão de pessoas

Fonte: Dados da pesquisa

Atualmente, as mudanças registradas nas relações de trabalho entre entidade

empregadora e os indivíduos são um fato. As estratégias de gestão dos recursos humanos,

para melhoria de relacionamentos flexíveis, têm sido adotadas pelas empresas como

forma de melhor se organizarem para eventuais mudanças, quer sejam planejadas ou

emergentes. É com este espírito que perguntamos às participantes em que estágio a

empresa está para realizar mudanças de posicionamento estratégico na gestão de recursos

Estratégia de recrutamento e

selecção23% 8% 6% 20% 43%

Estratégia de remuneração 17% 9% 7% 13% 54%

Estratégia de equiparação

de oportunidades para

homens e mulheres,

incluindo remuneração

22% 10% 11% 42% 15%

Estratégia de flexibilidade

de carga horária e local de

trabalho

46% 8% 10% 43% 13%

Estratégias que contribuam

para a qualificação dos

profissionais

41% 10% 15% 23% 11%

Estratégias de benefícios

flexíveis.48% 15% 15% 19% 3%

Estratégias que contemplam

o equilíbrio entre vida

pessoal e profissional dos

trabalhadores

49% 6% 9% 18% 18%

Estratégias que contemplam

o cuidado com a saúde dos

trabalhadores

18% 10% 7% 29% 36%

Estratégias de integração e

valorização das diferentes

gerações no ambiente de

trabalho

40% 6% 11% 31% 12%

Estratégias voltadas à

implementação de políticas

de diversidade no ambiente

de trabalho

38% 10% 12% 30% 10%

AlternativasReconhece a

necessidade de mudança

Estratégia de mudança

em desenvolvimento

Mudança em

andamento

Mudança

realizada

Planos concretos

para a mudança

130

humanos. Das respostas obtidas, ressalta-se o fato de algumas empresas reconhecerem a

necessidade de implementação de estratégias visando a provocação de mudanças.

Neste âmbito, destaques recaem para a necessidade de implementação de

estratégias, tais como: (i) estratégia que contemple o equilíbrio entre a vida pessoal e

profissional dos trabalhadores – 49% reconhecem a necessidade de mudança e 18% já

realizam estas mudanças; (ii) estratégias de benefícios flexíveis – 48% reconhecem a

necessidade de mudança e apenas 3% realizam estas mudanças; (iii) estratégias de

flexibilidade de carga horária e local de trabalho – 46% reconhecem a necessidade de

mudança e 13% apenas mudaram estas estratégias; (iv) estratégia que contribuem para a

qualificação dos profissionais – 41% reconhecem a necessidade de mudança e 11%

mudaram estas estratégias; (v) estratégias de integração e valorização das diferentes

gerações no âmbito do trabalho – 40% reconhecem a necessidade de mudança e 12%

apenas mudaram estas estratégias.

Estas mudanças, quando comparadas com as principais estratégias constantes no

gráfico 17, podem ser entendidas como caracterizadas pela importância que lhes são

dadas pelas organizações participantes. É o caso, por exemplo, da estratégia de

recrutamento e seleção, remuneração, cuidados com a saúde – que aparecem como

mudanças realizadas em maior percentagem e como principais estratégias competitivas.

Gráfico 22: Principais estratégias para as empresas se manterem competitivas em novos

cenários de trabalho

Fonte: Dados da pesquisa

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

VALORIZAÇÃO DAS GERAÇÕES

PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE

BENEFÍCIOS FLEXÍVEIS

RETENÇÃO DOS TRABALHADORES

PLANOS DE CARREIRA

QUALIFICAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO

FLEXIBILIDADE DO HORÁRIO E AMBIENTE DE …

REMUNERAÇÃO DIFERENCIADA

EQUILÍBRIO VIDA PESSOAL X PROFISSIONAL

CUIDADO COM A SAÚDE

RECRUTAMENTO E SELEÇÃO

18%

27%

32%

36%

40%

43%

43%

43%

50%

55%

72%

131

CONCLUSÕES

Esta pesquisa foi desenvolvida visando responder a seguinte questão: Quais as

implicações e os desafios enfrentados pelas organizações angolanas para atender a

evolução das características do trabalho? Para responder a esta questão, foi estabelecido

o objetivo geral, que foi o de compreender a evolução do futuro do trabalho no mundo e

como tem afetado as organizações angolanas e os desafios que essas organizações

enfrentam nas relações com seus trabalhadores. A pesquisa empírica contou com 181

questionários dirigidos às empresas de Angola, que foram analisados através da

estatística descritiva e, posteriormente, pela análise de conteúdo.

Para operacionalizar a apresentação das conclusões, a seguir são indicadas as

contribuições elencadas para este trabalho, conforme seguem: (i) ligação do estudo com

a questão da educação; (ii) ligação do estudo com a questão de gênero; (iii) utilidade da

pesquisa para Angola; (iv) limitação do trabalho; (v) impacto e desafios para as

organizações em Angola; (vi) principais conclusões e (vii) sugestões para pesquisas

futuras.

i. Ligação do estudo com questões de educação

Ao ligarmos a questão da educação a este estudo, tivemos em consideração que

todo e qualquer país evolui a partir de desenvolvimento de modelos e que a educação,

como um modelo, é um dos vetores de desenvolvimento de qualquer país e uma das

formas de correção das desigualdades, presentes na partição de rendimento, que permite

a elevação do índice de desenvolvimento humano de qualquer sociedade. Logo, melhorar

as condições de vida e de participar ativamente no mercado de trabalho e no espaço

público só é possível através da educação.

Angola é um país independente há 40 anos, 27 anos dos quais envolvidos em uma

guerra civil que afetou toda sua infraestrutura. O renascimento de um país livre da guerra

e em paz tem possibilitado amiúde o seu desenvolvimento e este passa pela educação. A

guerra, como um dos principais fatores desfavoráveis, fez com que o país se tornasse um

dos mais pobres do mundo, com uma das principais guerras para romper o ciclo

132

intergeracional da pobreza70 que enfrenta atualmente. Neste sentido, uma das opções é a

aposta na formação e na educação como formas de combater este desiderato e permitir

que as famílias em situação vulnerável tenham opções de escolha, acesso ao ensino de

qualidade, com mais justiça social, principalmente quanto à melhoria da capacidade de

mão de obra qualificada para responder o desenvolvimento do país.

Embora não seja um tema central do nosso estudo, a conjunção entre políticas de

educação e trabalho deve ser o mais adequado para países como Angola, como forma de

poder desenvolver-se em todas as vertentes. É neste sentido que não se pode falar de

desenvolvimento sem se falar de educação, realçando o fato de que maioria da população

de Angola constitui-se em mão de obra desqualificada. Enfatizamos aqui que muitos

autores chamam atenção para o fato de que nenhum país se desenvolve sem educação,

como é o exemplo de Trevisan (2001:57), que, nos estudos, enfatiza o caso da Inglaterra,

que demonstra que “padrões baixos de escolaridade são incompatíveis com sociedades

expostas à competitividade internacional”.

É neste sentido que pensamos que o desenvolvimento do mercado de trabalho em

Angola está em dependência do desenvolvimento do sistema educacional, que deve dar

uma resposta aos desafios do desenvolvimento do país. Os dados expostos demonstram

que a população angolana é jovem e que o governo, com vistas a erradicar o analfabetismo

e a promover a inserção, no sistema de ensino, de todas as crianças em idade escolar,

demonstra certa preocupação neste sentido. Para tanto, promoveu a reforma de ensino

visando o desenvolvimento deste setor, como forma de responder, no longo prazo, à falta

de mão de obra qualificada. No ensino superior, registrou-se o aumento substancial do

número de universidades e institutos superiores de ensino, tanto públicos como privados.

Até 1998, existia em Angola uma única universidade pública. Em 1999, surgiram duas

universidades privadas, perfazendo três instituições no país. De 2002 até a data presente,

registrou-se o acréscimo considerável de 62 instituições de ensino superior, sendo 26

instituições públicas e 45 instituições privadas. O número de alunos igualmente

aumentou, de 13.861 alunos, em 2002, para 146.001 alunos, em 2014. Estes números

ainda são considerados insignificantes para suprir a necessidade de profissionais

qualificados o que, de modo geral, demonstra a necessidade de vincular a educação ao

trabalho.

70 Conceito implementado pela Assembleia Geral da ONU desde 17.10.1992, data proclamada inicialmente

como o dia internacional do combate à pobreza.

133

Ao nos atermos ao fato de que o saber fazer é urgente para reverter o quadro na

melhoria da mão de obra qualificada, compreendemos que o sistema de educação tem

determinada responsabilidade, nesta vertente, em formar o homem do amanhã.

Corroboramos as abordagens segundo as quais o ensino exerce grande influência no

desenvolvimento do homem profissionalmente e não só. As políticas de ensino, quando

bem direcionadas, contribuem para o desenvolvimento de qualquer país. Não se pode

falar em trabalho sem antes se falar em ensino e, por esta razão, a necessidade de

evocarmos o ensino como um vetor de desenvolvimento do homem.

ii. Ligação dos dados com o gênero

A questão do gênero, embora não seja um dos temas centrais do nosso estudo,

presentificou-se face à influência que exerce em qualquer mercado de trabalho. Como

demonstrado nos dados, a maioria da população angolana é do sexo feminino e, ao nos

depararmos com os dados do INE, verificamos haver grande assimetria tanto na taxa de

atividade como na taxa de emprego e desemprego, o que demonstra existir mais

oportunidades de inserção no mercado de trabalho para homens do que para mulheres. À

semelhança de outros países, há aumento da mão de obra feminina e os grandes desafios

não estão só no aumento da inserção da mulher no mercado de trabalho, mas, também, na

qualidade dos cargos ocupados.

É bem conhecido que a existência da desigualdade de gênero é um tema central da

atualidade, com destaque para as mulheres assalariadas e que lutam para se firmarem

profissionalmente. A nova identidade da mulher (como muitos autores o chamam), não

só enfrenta as assimetrias do gênero no trabalho, mas também na sociedade e na família.

Tratam-se de mulheres mais velhas, casadas e mães, voltadas ao trabalho doméstico e ao

cuidado familiar. No caso de Angola, várias questões associam-se à temática do gênero.

Para além da luta pela inserção no mercado de trabalho, a mulher angolana luta contra o

analfabetismo, a poligamia, a pobreza, o desemprego, a fuga à paternidade e outros.

Acreditamos que as questões do gênero se ligam fortemente a temas como o

trabalho e é no mercado de trabalho onde se percebem grandes desigualdades entre

homens e mulheres na sua inserção, nas desigualdades salariais, nas desigualdades no

desempenho de determinados cargos. Estas e outras questões, discutidas neste trabalho,

levaram-nos a reportar a questão do gênero e, como já o frisamos no item sete,

direcionaremos pesquisas futuras neste sentido.

134

iii. Utilidade da pesquisa para Angola

Com o desenvolvimento desta pesquisa, a sua utilidade vai no sentido de chamar

atenção para um fato de extrema importância, que poderá atrair o empenho dos demais

pesquisadores no estudo sobre o trabalho, por ser uma temática central tanto no estudo

sobre administração como sobre ciências sociais. A conscientização para discussões

sobre o trabalho – com destaque para a academia – poderá ajudar na criação de políticas

públicas mais acertadas sobre emprego e desemprego, bem como dirimir o trabalho

informal e infantil.

Por outro, a pesquisa científica, de modo geral, visa o processamento de

conhecimentos sobre uma determinada questão, cujos resultados poderão ser benéficos

para a sociedade e para o país como um todo. Como conjunto de ações, a pesquisa tem

como objetivo o descobrimento de novos conhecimentos, numa área do saber, e o seu

resultado poderá contribuir para o desenvolvimento social ou para a produção de

conhecimento sobre um determinado tema. É neste sentido que pensamos que esta

pesquisa poderá obter utilidade e produção de conhecimento sobre o tema estudado.

iv. Limitação do trabalho

Acreditamos que toda pesquisa desta natureza possa apresentar limitações

mormente com a questão do método, o que geralmente não invalida a sua realização.

Neste sentido, as limitações que apresentamos no presente estudo se prendem com:

Por se tratar de um estudo exploratório, o referencial teórico foi limitado,

por não se registrarem estudos sobre o tema em questão em Angola, o que

impossibilitou a comparação dos resultados com outros trabalhos.

Embora o estudo seja referente às organizações que atuam em Angola, a

pesquisa foi realizada apenas em Luanda, o que poderá comprometer a

representatividade da amostra, embora Luanda seja a maior praça

empresarial de Angola.

O uso da tecnologia, como um dos métodos utilizados em surveys, limitou

a realização do estudo apenas em Luanda, dado as grandes dificuldades

existentes, como falha de energia constante, limitações no uso de internet

(custo elevado) e outros.

135

v. Impacto e desafios para as organizações em Angola

Angola é um país que está passando por uma das piores crises econômicas dos

últimos trinta anos. Com uma economia em recessão, analistas nacionais e estrangeiros

acreditam que Angola poderá começar a recuperar a sua economia a partir de 2020 e

também acreditam que o país deve deixar de depender apenas do petróleo e partir para a

diversificação da economia. Neste sentido, o mercado de trabalho tem sido

consideravelmente afetado. Angola possui população jovem. Através de políticas

públicas direcionadas ao trabalho e à educação, o quadro atual poderá ser revertido,

especialmente com as mudanças tecnológicas que poderão ocorrer com a entrada em

funcionamento, a partir de 2017, do satélite de Angola. A entrada em vigor da nova Lei

Geral de Trabalho pode ser considerada como uma tendência para a mudança, com

destaque para as condições flexíveis do trabalho e as relações entre empregador e

empregado. Paralelamente a isso, a pesquisa nos direcionou para os prováveis impactos

que as organizações angolanas poderão enfrentar no futuro, sendo que sinais visíveis

foram constatados, como o aumento do setor de serviços e da terceirização. Os impactos

e desafios mais visíveis poderão ser:

Esperadas mudanças sociais de grande impacto no mercado de trabalho

poderão surgir, como a diminuição do trabalho formal e a mudança dos

contratos de trabalho. Com a nova LGT, os contratos indeterminados darão

lugar a outros tipos de contrato, previstos na Lei, em obediência a acordos

nas novas relações de trabalho.

O surgimento de novos modelos de gestão poderá ocasionar impactos e

desafios no recrutamento de funcionários qualificados e no aumento do

custo de programas de qualificação dos funcionários.

Tendências cada vez mais fortes no aumento do uso das tecnologias. Como

consequência, poderá aumentar a figura do home office ou do

teletrabalhador, como alternativas de trabalho.

Com aumento do uso da tecnologia, uma outra tendência poderá surgir, que

é o aumento do desemprego, tendo em vista a existência de número elevado

de mão de obra desqualificada.

O surgimento de outras profissões, face às prováveis mudanças do mercado

de trabalho, poderá ser outra tendência impactante e se tornará um desafio

136

para os trabalhadores que devem aumentar as suas capacidades e

habilidades, assim como para as empresas, que deverão adotar estratégias

de recrutamento visando a captação de profissionais qualificados.

A diminuição do emprego é outra tendência, especialmente com o

desenvolvimento dos polos industriais, que direcionarão os seus

investimentos em tecnologias, como a automação e a robótica, em

detrimento da criação de emprego em massa em linhas de produção,

priorizando áreas tecnológicas.

A criação de políticas públicas de emprego e de trabalho é um dos desafios

para dirimir a mão de obra não qualificada.

vi. Principais conclusões

Foram igualmente apresentados os principais resultados, com base nas três

principais dimensões/categorias levantadas a partir do referencial teórico-empírico. Os

dados colhidos foram articulados e confrontados com a literatura, sobre o futuro do

trabalho.

Inicialmente, foi feita uma exploração da literatura, relacionada com o tema

trabalho, nas mais variadas revistas de publicações, tendo nos revelado uma certa

dificuldade em encontrar temas relacionados com o nosso estudo, principalmente em

Angola, o que nos revelou existir um gap de pesquisa direcionado ao estudo de como

será o futuro do trabalho e o seu relacionamento com o trabalhador, atendendo as

mudanças verificadas na execução das tarefas e nos modelos de gestão aplicados. A partir

desta revisão da literatura, foram possíveis a contextualização e a justificativa sobre a

importância deste estudo.

Foram levantados três objetivos específicos, com vistas a compreendermos

detalhadamente quais impactos e desafios terão no futuro as empresas em Angola. O

primeiro objetivo foi (i) descrever a situação do trabalho nas organizações angolanas; foi

alcançado, na medida em que descrevemos, na seção sobre o trabalho em Angola, onde

discorremos sobre como o trabalho evoluiu em Angola desde a era colonial, Angola

independente e durante o tempo que o país vem vivendo a paz. Esta descrição nos remete

ao entendimento de como o mercado de trabalho de Angola ainda é considerado frágil,

no qual as questões relacionadas com a economia e o desenvolvimento do país em muito

137

têm afetado a evolução do trabalho. A par disto, com o alcance deste objetivo, foi

possível também identificar outras questões que em muito influenciam na evolução do

trabalho, tais como o elevado índice de desempregados, a falta de infraestrutura para o

desenvolvimento da indústria (extrativa e transformadora), o índice elevado de pobreza,

a falta de mão de obra qualificada e outros aspectos levados em conta quando se analisam

questões como estas. Foi igualmente possível constatar que o futuro do trabalho nas

organizações em Angola é promissor, tendo em vista que, com estratégias

governamentais, direcionadas a dirimir as questões, principalmente econômicas, o país

poderá alcançar níveis de desenvolvimento econômicos aceitáveis, como os vividos entre

os anos de 2002 a 2014, em que a economia deu avanços significativos. A diversificação

da economia é uma direção para se deixar de depender do único fator de receitas que é o

petróleo. Podemos também constatar que Angola é um país rico, sendo o segundo maior

produtor de petróleo da África subsaariana e o quinto explorador de diamante do mundo.

Estes pontos fortes, que o país detém, poderão ajudar, no futuro, o desenvolvimento das

organizações em Angola, principalmente na criação de políticas para o investimento

estrangeiro, visando ajudar o desenvolvimento do país no seu todo.

O nosso segundo objetivo foi o de (ii) analisar se o investimento em tecnologia

existente atualmente permite adoção de novas práticas de gestão. Através da análise dos

dados empíricos, este objetivo também foi alcançado. Os dados nos revelam que as

empresas reconhecem que a adoção de novas práticas levará a mudanças e, dentre estas,

está a adoção de estratégias que poderão as tornar cada vez mais competitivas. Estas

estratégias se prendem, como referem os dados, a recrutamento e seleção, remuneração,

flexibilização da carga horária e local de trabalho, cuidados com a saúde e qualificação

profissional. Isto demonstra que as empresas angolanas se veem nas mudanças de âmbito

estrutural registradas no ambiente de negócio e que têm estado presentes nas

transformações do trabalho e nas expetativas dos trabalhadores, embora as organizações

tenham reconhecido dificuldades na sua implementação, principalmente nas empresas de

pequeno e médio portes, como revelam os dados.

O terceiro objetivo visava (iii) compreender como essas mudanças geram desafios

de adaptação tanto para a organização quanto para os trabalhadores. A resposta a esse

objetivo pode ser constatada nos gráficos 15 e 16.

138

vii. Sugestões para pesquisas futuras

Conforme se pode perceber neste estudo, verifica-se um gap de pesquisa

direcionada ao futuro do trabalho ao longo dos últimos 16 anos, especialmente em

Angola, onde se verifica a inexistência de discussões sobre o tema trabalho em todas as

suas vertentes. As abordagens discutidas ao longo deste estudo poderão fortalecer o

surgimento de correntes de investigação sobre o tema, tendo em vista as características

de mudanças que se verificam no mercado de trabalho, bem como as relações cada vez

mais flexíveis que se registram, relacionadas com as condições de trabalho. A

centralidade do tema trabalho vem ganhando proporções na área de administração, com

destaque para os estudos organizacionais. O surgimento de esforços coletivos,

direcionados para discussões do tema, poderá incentivar futuras pesquisa. É neste sentido

que se indicam algumas direções de estudos futuros, visando suprir as lacunas existentes.

Primeiro, realização de estudos de caso com análises mais aprofundadas sobre o

tema, com destaque para a flexibilização do trabalho e para as mudanças decorrentes da

evolução tecnológica, que vêm impondo uma nova cultura de trabalho e novas relações

entre as entidades empregadoras e os trabalhadores. Com o surgimento da nova lei

trabalhista em Angola, a flexibilização dos contratos de trabalho começa a ser uma

preocupação de profissionais, já que o contrato de trabalho indeterminado ganha força

nesta nova lei. Neste caso, estudo direcionados e com enfoque nesses aspectos seriam

interessantes. Segundo, a realização de estudos mais detalhados sobre o mercado de

trabalho angolano e como este mercado sente a carência de profissionais qualificados.

Este tipo de recorte seria direcionado no sentido de se analisar como o mercado angolano

tem reagido face a esta carência de profissionais qualificados, atendendo o fato de que

todo e qualquer mercado de trabalho só se torna competitivo com profissionais

qualificados. Terceiro, direcionar pesquisas futuras que visem aprofundar, a partir de

dados empíricos, a utilização do método survey (utilizado neste estudo) como forma de

identificar prováveis ajustes e azos, visando o aperfeiçoamento de conhecimento sobre

estudos do gênero. Quarto, a realização mais centrada de futuras pesquisas, inspiradas

nos resultados desse estudo, que possibilitem o aprofundamento do tema, com destaque

para o estudo de novos modelos de trabalho que possam surgir em função de prováveis

mudanças, como é o caso do teletrabalho, uma modalidade pouco ou quase nada

implementada em Angola. Quinto, com o surgimento na referencial teórico de discussões

139

sobre gênero e educação, direcionaremos pesquisas futuras sobre estas discussões, já que

se ligam com o tema em estudo.

Acreditamos que estudos futuros poderão contribuir para o desenvolvimento e o

conhecimento sobre o trabalho em Angola. Por outro lado, poderão ser um incentivo para

discussões sobre fenômenos em causa, com destaque para a área de administração,

contribuindo para abertura da linha de estudos organizacionais e, de modo geral,

incentivar outros pesquisadores a realizarem estudos sobre o tema, visando colmatar as

lacunas existente neste sentido.

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153

APÊNDICE 1

Questionário

“O Futuro do Trabalho: Impacto e Desafios para as Organizações em Angola”

Prezado (a) Gestor (a),

Atualmente, a sua atuação profissional ocorre dentro de organizações atuantes em

Angola. Esse facto nos leva a lhe perguntar: você gostaria de conhecer alguns dos

impactos e desafios para as organizações em Angola?

Se existe esse interesse, permita-me apresentar-me: sou Jorge Cabral Baptista,

doutorando em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP/FGV

– Brasil), e desenvolvo a minha pesquisa de tese com o objectivo de identificar as

prioridades de mudanças existente no mundo do trabalho e em particular em Angola, a

partir da perspectiva de gestores de empresas e de recursos humanos atuantes no país.

Por esse motivo, lhe convidamos a participar de nosso estudo respondendo – de

modo totalmente anônimo - ao questionário de nossa investigação. A sua participação

será de grande valor para a pesquisa, pois reconhecemos que as percepções dos

profissionais de diversas áreas da organização nos indicarão maneiras mais apropriadas

para se compreender direções possíveis para o “Futuro do Trabalho em Angola”.

O questionário, a seguir, não levará mais do que 15 minutos para ser respondido.

As questões abrangem alguns dados demográficos da organização; aspectos do ambiente

socioeconômico Angolano; aspectos da legislação do trabalho; tendências dos novos

modelos de trabalho; e características contemporâneas da gestão de pessoas nas

organizações.

Reforçamos que as informações coletadas serão tratadas com total

confidencialidade. Nenhuma informação será disponibilizada de maneira individualizada,

pois preservaremos o anonimato dos participantes de nosso estudo. Mesmo assim, ao final

do questionário, existe um espaço opcional para identificação do respondente, caso você

tenha interesse em ter acesso ao relatório de pesquisa a ser gerado com a conclusão de

nosso trabalho.

Desde já agradecemos a sua colaboração no preenchimento deste questionário.

154

1. Qual o faturamento aproximado da empresa em que trabalha?

o Menor ou igual a Akz 5 milhões

o Maior que 5 milhões e menor ou igual a Akz 25 milhões

o Maior que Akz 25 milhões e menor ou igual a 100 milhões

o Maior que Akz 100 milhões e menor ou igual a Akz 500 milhões

o Maior que Akz 500 milhões e menor ou igual a Akz 1 Bilhão

o Maior que Akz 1 bilhão e menor ou igual a Akz 5 bilhões

o Maior que Akz 5 bilhões

2. Em que sector pertence à empresa?

o Agricultura, Produção Animal e Silvicultura

o Pesca

o Indústrias Extrativas

o Indústrias Transformadoras

o Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e de Água

o Construção

o Comércio a Grosso e a Retalho

o Reparação de Veículos Automóveis, Motociclos e de Bens de Uso Pessoal e

Doméstico

o Alojamento e Restauração (Restaurantes e Similares)

o Transportes, Armazenagem e Comunicações

o Atividades Financeiras

o Atividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às Empresas

o Educação

o Saúde e Ação social

o Atividades de Serviços Coletivos, Sociais e Pessoais

o Outros (As)

_______________________________________________________________

3. Há quanto tempo a organização em que trabalha actua em Angola?

o Até três anos

o De três a seis anos

o De seis a dez anos

o De dez a quinze anos

o Acima de dezesseis anos

4. Qual a faixa etária dos trabalhadores que trabalham na organização em que você

trabalha?

155

o De 18 a 30 anos

o De 31 a 35 anos

o De 36 a 40 anos

o De 41 a 45 anos

o De 46 a 55 anos

o Acima de 55 anos

5. Qual a quantidade de funcionários que possuem contratos de trabalho na organização

em que você trabalha?

o Até 50

o 51 à 200

o 201 à 500

o Acima de 500

6. Qual a faixa percentual de profissionais mulheres contratadas na empresa?

o Até 10% da força de trabalho

o Entre 11% e 25% da força de trabalho

o Entre 26% e 40% da força de trabalho

o Entre 41% e 55% da força de trabalho

o Acima de 56% da força de trabalho

156

7. Considerando as seguintes grandes tendências, assinale as três opções que mais impacto

trazem para o negócio da sua organização.

o Mudanças demográficas (novas gerações no ambiente de trabalho,

envelhecimento da força de trabalho).

o Aumento da importância dos países emergentes na economia global.

o Mudanças climáticas e escassez de recursos.

o Impacto da tecnologia e da comunicação.

o Aumento da participação das Mulheres nos negócios.

o Dificuldade de obter profissionais qualificados para as necessidades de sua

empresa.

o O surgimento de novas expectativas e valores em relação ao trabalho e carreira na

sociedade.

o Custo do programa de qualificação da força de trabalho.

o Outras__________________________________________________________

8. Em sua opinião os profissionais de hoje ...

Discordo

totalmente

Discordo Concordo Concordo

totalmente

Buscam flexibilidade tanto nas

jornadas quanto nos contratos de

trabalho

Querem mobilidade no que diz

respeito a decisões relativas às

suas carreiras

Buscam prazer nas atividades

relativas ao trabalho

Valorizam as formas alternativas

de realizar as atividades

quotidianas de trabalho, tais

como tele-trabalho, trabalho ao

domicilio, flexibilidade do horário,

etc.

Valorizam o equilíbrio entre a vida

pessoal e profissional

Valorizam a meritocracia

Preferem ocupações de trabalho

onde possam liderar as atividades

e serem responsáveis pelo

resultado

157

Buscam uma remuneração

competitiva no mercado

Buscam qualificação para

aperfeiçoar as suas competências

profissionais

Preferem carreiras que permitem

mudanças de área, de tipo de

trabalho e/ou localidade

Valorizam vínculos formais de

trabalho em grandes organizações

Preferem trabalhar em empresas

multinacionais

Preferem trabalhar em

organizações cujo ambiente de

trabalho é colaborativo

9. Assinale as cinco características que considera mais pertinentes dos novos modos de

trabalho.

o O trabalhador assume a responsabilidade por manter sua carreira

o O trabalhador dedica-se à empresa acima do esperado.

o O trabalhador contribui para zelar pela reputação da empresa.

o As formas de se comunicar com colegas de trabalho mudarão.

o As propostas profissionais para mudanças de carreira surgem com maior

facilidade.

o A capacidade de liderar equipes é mais valorizada atualmente.

o As hierarquias organizacionais continuam formais e fortalecidas.

o Os profissionais permitem maior realização no trabalho.

o Existem maiores oportunidades e aprendizado.

o À maior dificuldade de estabelecer limites entre a vida pessoal e profissional

o À maior exposição dos profissionais ao stress

o Existem maiores oportunidades para o indivíduo manifestar as suas capacidades.

o O mercado de trabalho dispersa maior competitividade entre as pessoas.

o As empresas atualmente favorecem um ambiente de trabalho colaborativo.

158

10. Em que estágio a empresa em que trabalha está a fazer mudanças de posicionamento

estratégico na gestão de pessoas?

Reconhece a

necessidade de

mudança

Estratégia de

mudança em

desenvolvimento

Planos

concretos

para a

mudança

Mudança em

andamento

Mudança

realizada

Estratégia de recrutamento e

selecção

Estratégia de remuneração

Estratégia de equiparação de

oportunidades para homens e

mulheres, incluindo

remuneração

Estratégia de flexibilidade de

carga horária e local de trabalho

Estratégias que contribuam

para a qualificação dos

profissionais

Estratégias de benefícios

flexíveis.

Estratégias que contemplam o

equilíbrio entre vida pessoal e

profissional dos trabalhadores

Estratégias que contemplam o

cuidado com a saúde dos

trabalhadores

Estratégias de integração e

valorização das diferentes

gerações no ambiente de

trabalho

Estratégias voltadas à

implementação de políticas de

diversidade no ambiente de

trabalho

159

11. Indique as cinco principais estratégias para as empresas se manterem competitivas

dentro dos novos cenários de trabalho.

o Estratégias de recrutamento e seleção.

o Estratégias de remuneração diferenciada.

o Estratégias de flexibilidade de carga horária e ambiente de trabalho.

o Estratégias de planos de carreira qualificadas no ambiente de trabalho.

o Estratégias de benefícios flexíveis.

o Estratégias de retenção dos trabalhadores.

o Estratégias que contemplem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional dos

trabalhadores.

o Estratégias que comtemplem o cuidado com a saúde dos trabalhadores

o Estratégias de valorização das diferentes gerações no ambiente de trabalho

o Estratégias de promoção da diversidade no ambiente de trabalho.

o Estratégias da qualificação da força de trabalho.

12. Na empresa onde trabalha, de que maneira são vistos os modelos flexíveis de trabalho?

Discordo

totalmente

Discordo Concordo Concordo

totalmente

Acredito que existe preconceito

dos próprios funcionários a

respeito de que trabalhar menos

horas (mesmo recebendo menos)

significa produzir menos ou em

pior qualidade

Haverá necessidade de

investimentos em tecnologia para

viabilização de modelos home

office.

Não temos sistemas ou

ferramentas para administrar o

trabalho realizado à distância,

teríamos que confiar nos

funcionários

Os custos em recursos humanos

aumentam, pois será preciso

compensar o trabalho de

funcionários que possuem

horários flexíveis (mais pessoas

para fazerem o mesmo trabalho.

160

13. Acerca das perspectivas de modificação da Lei Geral de Trabalho, indique o seu grau de

concordância.

Discordo

totalmente

Discordo Concordo Concordo

totalmente

A regulamentação do trabalho em

Angola tende a ser simplificada nos

próximos anos.

A flexibilização da Lei Geral do

Trabalho em Angola, tende a ser

uma tendência nos próximos anos.

A Lei Geral do Trabalho contribui

para a perda de produtividade ou

competitividade da empresa.

As mudanças da Lei Geral do

Trambalho em Angola,

apresentam um grande risco de

perda de direitos e proteção do

trabalhador.

Os sindicatos exercem um papel

central no cumprimento da LGT

em Angola.

As empresas de grande porte em

Angola, possuem maior

possibilidades para o cumprimento

da LGT.

As empresas em Angola, podem se

adaptar aos novos desafios do

ambiente de negócio mesmo com

a regulamentação de trabalho

atual.

14. Se você tivesse o poder de mudar algo na LGT de Angola, quais são os principais pontos

que alteraria?

o Simplificaria o procedimento de contratação de empregados

o Simplificaria o procedimento de dispensa de empregados

o Reduziria os custos para a demissão de funcionários

o Criaria mecanismos flexíveis para a organização da jornada de trabalho

o Criaria mecanismos flexíveis para a organização da carga horária de trabalho

o Criaria mecanismos flexíveis para a organização do local de trabalho

o Reduziria os encargos sociais

161

o Reduziria os benefícios diretos aos trabalhadores

o Flexibilizaria o procedimento de aquisição e gozo do direito de férias

o Extinguiria o décimo terceiro salário

o Estabeleceria algum tipo de cotas (Sociais, necessidades especiais, etc.)

o Incentivar a qualificação dos profissionais locais o Outros. Quais?

15. Que tipo de situações você gostaria de viabilizar na empresa em que trabalha, mais

existem factores impeditivos na LGT.

o Trabalhadores que buscam maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

o Trabalhadores que buscam horários e locais flexíveis de trabalho.

o Mulheres que buscam alinhar atividades do trabalho e atividades familiares.

o Criar novas possibilidades para profissionais maduros e/ou aposentados

o Trabalhadores bem qualificados que buscam construir suas carreiras no exterior.

Dados para identificação opcional:

Nome:

Cargo na organização:

Telefone:

E-mail: