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O Funcionamento Psíquico na Gênese dos Acidentes de Trabalho
Ludmila de Fátima Drumond Pinto
Psicóloga atuante na área de recursos humanos
Os atuais métodos de análise dos acidentes de trabalho e as tentativas de reduzi-los
não tem sido muito eficazes, uma vez que estes ainda ocorrem com certa freqüência. No
mundo atual, apesar do discurso das empresas se basear no desenvolvimento de talentos
humanos, existe cada vez mais competitividade, pressão para produzir com qualidade num
espaço curto de tempo. Os ambulatórios estão cheios de trabalhadores estressados, com
problemas de saúde, mas quando estes são profundamente investigados, descobrem-se causas
psíquicas que são encobertas por seqüelas físicas.
Os acidentes de trabalho precisam ser relacionados também às causas subjetivas, que
se originam dos fatores psicológicos, determinantes da participação consciente ou
inconsciente do indivíduo. As Organizações desenvolvem programas internos de segurança
que proporcionam um alívio imediato aos trabalhadores, mas não podem arrancar as marcas, a
história trazida por cada trabalhador, suas questões pessoais e as pressões “do mundo” fora da
empresa.
Este trabalho foi realizado no período de fevereiro a junho de 2003, buscando refletir
sobre a dinâmica psíquica do trabalhador que antecede o comportamento que leva ao acidente.
Tem como objetivos: estudar a vivência subjetiva do trabalhador frente aos acidentes, discutir,
a partir da leitura teórica, os estudos de saúde mental e relações de trabalho e apontar aspectos
específicos da vivência dos acidentes de trabalho.
Foi dada ênfase à contextualização da Saúde Mental e trabalho que levantará questões
psíquicas que envolvem toda a trama de sofrimento, prazer do trabalhador para que se
compreenda o movimento psíquico do adoecer no trabalho e conseqüentemente, a ocorrência
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dos acidentes.
Para que se inicie o estudo do qual se pretende com o presente trabalho é
indispensável à busca pela definição conceitual e histórica do elemento principal que permeia
os sistemas de segurança e saúde do trabalhador: os acidentes de trabalho.
Fazendo-se um breve histórico do desenvolvimento da legislação de acidentes de
trabalho nota-se que na Antiguidade não se encontram vestígios em relação a nenhuma lei
referente ao assunto. Porém, no século XIII, nas leis das Índias, já começam a aparecer
instruções e normas quanto a acidentes ocorridos com os trabalhadores marítimos, entre os
quais era obrigatoriedade do capitão fornecer vinho à tripulação, para amenizar o frio, já
sendo apontados aqui, aspectos preventivos do acidente de trabalho. (Oliveira, 2003).
Com o passar do tempo, as normas sobre acidentes de trabalho foram se
desenvolvendo, sobretudo na Espanha, e principalmente com a Revolução Industrial, o
assunto passou a ser preocupação também em outros países. Assim, pouco a pouco, foi se
impondo um direito novo, reparador do dano que o acidente do trabalho poderia causar.
(Oliveira, 2003)
A primeira dificuldade encontrada é a de se atingir uma perfeita conceituação do que
constitua acidente de trabalho. Tanto que em alguns países da Europa é dos Tribunais a tarefa
de defini-lo, determinando se aquele fato submetido a julgamento se enquadra como acidente
de trabalho.
Isso pode causar injustiças, pois pelo entendimento do Tribunal, que atua fora do
ambiente de trabalho, a ocorrência de determinado fato pode apresentar dificuldades para sua
conceituação como um acidente de trabalho.
O Brasil, tomando outra posição, define o que seja o acidente de trabalho em todas as
suas leis acidentárias, construindo o conceito pouco a pouco, equiparando os acidentes de
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trabalho às moléstias profissionais, para os fins de reparação do dano sofrido.
O projeto que gerou a primeira lei acidentária no Brasil foi destacado em 1918 1, e
estabelecia a adoção de normas sistemáticas sobre o Direito do Trabalho. Não foi tarefa fácil
estabelecer o fundamento jurídico para justificar a indenização decorrente do acidente de
trabalho, uma vez que, a indenização inicialmente era baseada na prova da culpa do
empregador, cabendo ao empregado o ônus da prova. Também não ocorria a indenização por
culpa do operário e nem mesmo quando a ocorrência do acidente se verificava em relação ao
uso da máquina, caso em que a doutrina vigente inculpava tanto o empregado como o
empregador.
Mais tarde é o empregador que deverá responder por todos os riscos derivados da
atividade da empresa, entre eles, os de acidentes, não importando saber se houve culpa e nem
mesmo de quem. Essa lei abandona as causas pessoais preexistentes, considerando doença
profissional apenas o que for contraído pelo exercício do trabalho e que só por si poderia
causá-la.
As futuras leis já viriam por citar às perturbações funcionais, dando um novo sentido
ao conceito de acidente do trabalho, abandonando a causa voluntária e levando em conta
outros aspectos.
Hoje, segundo a Constituição Brasileira de 1988:
Acidente de Trabalho é aquele que ocorre durante o exercício do trabalho, que provoca lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, perda ou redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. Considera-se igualmente os casos ocorridos no percurso da residência e do local da refeição para o trabalho ou deste para aquele (Brasil (1991), apud Mendes, 2002, p.329).
Contudo, mesmo como uma definição mais precisa do que venha a ser considerado
como acidente, mesmo que este tenha ocorrido no local do trabalho, não aparecendo às
exigências citadas anteriormente, não tem razão de ser enquadrado como tal. O trabalhador
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pode ter sofrido um acidente com perdas materiais consideráveis, ter escoriações, mas se ele
foi devidamente encaminhado para outras funções e não faltou ao trabalho no dia seguinte,
isso não será considerado e registrado como acidente.
Nota-se aqui um descaso das Organizações (entendida como estruturas, normas,
procedimentos, chefia, divisão hierárquica, relações de trabalho e de poder), por não registrar
um acidente apenas porque segundo os escritos da lei todo evento que foge a determinadas
exigências não deve ser considerado acidente. Deixa-se de lado que o mais importante é
preservar a saúde física e moral do trabalhador e fica cada vez mais claro que as estatísticas de
acidentes não são plenamente confiáveis.
Outro ponto que prejudica a saúde física e moral da classe trabalhadora são as
conseqüências geradas pelos determinantes da miséria, da devastação e da exclusão social que
acontecem no momento atual. No dia-a-dia emergem questões que são pautadas nos efeitos
das mudanças tecnológicas com suas conseqüências sobre o trabalho, na instabilidade de
emprego e mercado, na mudança da estrutura familiar.
Ainda nas legislações e na visão das Organizações não fica claro a respeito do que o
indivíduo carrega de marcas da sua história. Não se evidencia que os fatores externos e as
pressões e cultura organizacionais sejam levadas em consideração na ocorrência de um
acidente.
As doenças ocupacionais, os acidentes e a morte no trabalho não são episódios
isolados, que só podem ocorrer por fatores determinados apenas pelo local de trabalho. Existe
uma relação entre os fatos, condições e conseqüências, devendo-se perceber que a dinâmica
das relações no ambiente de trabalho não ocorrem entre iguais. Ressalta-se, que tudo o que
diz respeito aos trabalhadores acaba por tornar-se um jogo de esconder a realidade vivida por
eles, que são responsabilizados também, pelo seu próprio acidente.
1 http:// www.fimperj.org.br/artigos/acide/aa01.htm
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A legislação brasileira da Previdência Social (Brasil (1997), apud Mendes, 2002),
mesmo com conceitos atualizados presentes na nova Constituição ainda oculta um número
grande de acidentes através de mecanismos reguladores próprios. Não combina com as
empresas que tem alta lucratividade, que precisam manter a produtividade, um índice alto de
acidentes, fazendo com que aqueles que forem considerados menos graves, não sejam
registrados. Outra prática adotada é o remanejamento de função até que o trabalhador
recupere sua saúde.
Mas o que, atualmente, vem a ser considerada a palavra saúde? Será que o conceito
real é o mesmo entendido pela Organização?
A Constituição Federal de 1988 (Brasil apud Mendes, 2002, p.327), passa a entender a
saúde como resultante das condições de alimentação, educação, salário, meio ambiente,
trabalho, transporte, emprego, lazer e liberdade, acesso à propriedade privada da terra e
acesso aos serviços de Saúde.
O que se percebe aqui é a complexidade do assunto e a importância de se apreender o
processo em sua totalidade. Como a Organização só entende a recuperação da saúde como um
simples remanejamento de função cabe alternativas de intervenção que contemplam as
diversas formas da complexa relação de saúde-doença-trabalho.
É necessário pensar a Saúde do Trabalhador desde a sua organização na sociedade e
no trabalho, compreendendo-se essa realidade sob uma perspectiva de sujeitos coletivos,
conhecendo-os e reconhecendo-se historicamente. (Mendes, 2002, p. 326).
Compreendendo-se a dinâmica da produção, as condições de trabalho e o modo de
vida de cada trabalhador, é possível entender os processos de saúde, adoecimento e acidentes
no ambiente de trabalho.
A saúde e a doença envolvem uma complexa interação entre os aspectos físicos, psicológicos, sociais e ambientais da condição humana e de atribuição de significados. Pois a saúde e doença exprimem
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agora e sempre uma relação que perpassa o corpo individual e social, confrontando com as turbulências do ser humano enquanto ser total (Mendes, 2002, p. 327).
Não há como separar a história do indivíduo de seu trabalho. A Organização “bate de
frente” com as questões individuais, o que tem acarretado um aumento exacerbado de doenças
geradas pelo trabalho. Continua-se tratando o acidente apenas como descuido,
desconhecimento das normas de segurança e até, mesmo, como imprudência do trabalhador.
Não se dá conta, ainda, dos processos psíquicos que antecedem o comportamento. Os
acidentes nunca cessarão de acontecer, porém, a partir do momento em que a Organização for
capaz de compreender o ser humano em sua totalidade, estes possam diminuir suas
ocorrências.
Analisando-se as profundas transformações que vêm ocorrendo no trabalho, observa-
se o crescente número de estudiosos a buscar o entendimento desses complexos processos que
cerceiam as relações de trabalho e indivíduo, portador de crenças e desejos, e seus reflexos no
processo de adoecer e se acidentar no trabalho.
No começo do século XX, nota-se o início de estudos profundos a respeito das
relações de trabalho com os processos psíquicos. A crescente industrialização, a prolongada
jornada de trabalho, causou efeitos físicos e psíquicos nos trabalhadores. Estes não
participavam do processo produtivo, uma vez que suas tarefas eram divididas, o que gerava o
desconhecimento sobre a totalidade do processo. (Dejours, 1988).
Apesar de todos os esforços para se estudar o funcionamento psíquico, não foi ele
quem apareceu como primeira “vítima” das empresas, mas foi o corpo, dócil e domesticado
entregue a estrutura da Organização. Corpo fragilizado e privado de seu próprio aparelho
mental, domesticado e explorado pelo sistema de trabalho. (Dejours, 1988, p. 21).
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Com a exploração crescente, e com um agravamento do estado de saúde de vários
operários, começam a surgir os movimentos por parte da classe trabalhadora, em busca de
melhorias nas condições de trabalho e saúde.
Após a Segunda Guerra Mundial, os movimentos operários começam a ganhar mais
força para desenvolver ações que visavam as melhorias das condições de trabalho.
Defenderam a criação de atitudes de prevenção a acidentes, lutaram contra as doenças geradas
pelo trabalho, revelaram, de certa forma, o corpo. O corpo se tornou evidência; evidência da
exploração, o que faz surgir um questionamento de todas as ciências e a criação de leis que
iniciaram a modificação na estrutura de trabalho. (Dejours, 1988).
Mas será que realmente houve mudanças a respeito do trabalho? Será que a redução da
jornada de trabalho, os direitos adquiridos contribuíram para uma mudança no cenário atual?
Talvez o que tenha mudado, sejam os conceitos que antes eram permitidos em relação ao
trabalho: obediência, produtividade, exploração... hoje se exalta a criatividade, o talento, mas
realmente a Organização não mudou. Ainda que de uma maneira mais camuflada, continua
entrando em choque com os ideais de trabalho, ou então, por que haveria os ambulatórios de
estar lotados de “doentes” ocupacionais e o índice de afastamento por lesões geradas pelo
trabalho estaria tão alto?
Porém, o que se pode notar, de todo o avanço alcançado pelos movimentos operários,
foi a tese de que para que a exploração se evidenciasse era necessário marcas visíveis ao
corpo. Somente mais tarde, se começa a revelar os fatores psíquicos, que não são visíveis,
mas são participantes ativos nas relações de trabalho e saúde.
O estudo das repercussões da Organização sobre o aparelho psíquico será evidenciado
por Christophe Dejours, com a publicação de seu livro, intitulado: A Loucura do Trabalho:
Estudo de Psicopatologia do Trabalho, lançado em 1980, na França.
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Dejours (1988) levantou a importância de não se reduzir o trabalho somente às
pressões físicas, químicas e biológicas do posto de trabalho, que são denominadas por
condições de trabalho. Era necessário, e ainda é, estudar o trabalho por uma dimensão
organizacional, isto é, considerar a divisão de tarefas e a dinâmica das relações.
As relações humanas, materializam-se na divisão dos homens. Os trabalhadores são
divididos hierarquicamente pela Organização do trabalho, sendo comandados e
supervisionados, tendo suas relações definidas e reguladas pelo modelo desta Organização.
A Organização do trabalho exerce sobre o homem uma ação específica, cujo impacto é o aparelho psíquico. Em certas condições emerge um sofrimento que pode ser atribuído ao choque entre uma história individual, portadora de projetos, de esperanças e de desejos e uma Organização do Trabalho que os ignora (Dejours, 1988, p.56).
É do choque entre a história individual e os preceitos da Organização que nasce o
sofrimento, que se traduz em insatisfação, medo, angústia, doenças ocupacionais e acidentes.
É a partir desta descoberta que nasce a Psicopatologia do Trabalho, que propõe uma visão,
ainda que limitada, inovadora a respeito do trabalhador.
Uma vez descoberto o sofrimento psíquico, essa nova ciência de dedica a estudar,
também, o modo como determinados indivíduos conseguem se manter sadios num ambiente
que aparentemente só pode causar danos à saúde.
A Psicopatologia do Trabalho tem como finalidade fazer a análise dinâmica dos
processos psíquicos mobilizados pela confrontação do sujeito com a realidade do trabalho
(Dejours, Abdoucheli, 1994, p.120). A investigação tomará como ponto principal, os conflitos
que possam surgir do encontro entre um indivíduo, portador de uma história exclusiva, que já
existia antes da atividade profissional e, uma Organização, que já vem sendo construída
independente da vontade desse indivíduo.
O termo Psicopatologia não foi empregado para designar apenas a doença, mas
também para estudar a normalidade. Quais os recursos internos que determinados indivíduos
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se permitem utilizar para se manterem saudáveis num ambiente pouco saudável. Entre as
pressões do trabalho revela-se um indivíduo capaz de compreender sua situação e, além de
tudo, ser capaz de reagir e se defender. Porém, essas defesas são intimamente ligadas ao que
cada sujeito é em sua vida psíquica, por isso não se encontra um modelo de estratégias
defensivas*.
É o homem que fracassa nas suas defesas, que não consegue mais burlar o sofrimento
e, conseqüentemente, adoece e se acidenta, o objeto de estudo do presente trabalho. E, desta
forma, não há como se fugir de toda a história da saúde mental para que se possa compreender
toda a complexidade das relações que envolvem o homem e seu trabalho.
O que vem a ser considerado sofrimento?
O sofrimento designa então, em uma primeira abordagem, o campo que separa a doença da saúde [...]. Entre o homem e a Organização prescrita para a realização do trabalho, existe às vezes, um espaço de liberdade que autoriza uma negociação, invenções e ações de modulação do modo operatório, isto é, uma invenção de operador sobre a própria organização do trabalho, para adapta-la à suas necessidades, e mesmo para torna-la mais congruente com seu desejo. Logo que esta negociação é conduzida a seu último limite, e que a relação homem-organização do trabalho fica bloqueada, começa o domínio do sofrimento – e da luta contra o sofrimento (Dejours apud Silva, 1994, p.15).
Estas estratégias tomam forma quando observamos o uso de bebidas alcoólicas, em
certos segmentos profissionais, a fadiga, os altos índices de doenças ocupacionais. A noção de
que o trabalho pode causar sofrimento parece bastante evidente: é como se fosse possível
enxergar o sofrimento no rosto (Jaques, Codo, 2002, p.19).
É nesse âmbito que se inscreve a psicopatologia do trabalho: o sofrimento está no
centro da relação psíquica do homem com o trabalho. Não se trata de eliminar esse sofrimento
da situação de trabalho, nem tão pouco eliminar o trabalho. Dentre outras diretrizes, tal
ciência trata das conseqüências mentais do trabalho, mesmo na ausência de patologias.
Especificamente, trata do impacto da Organização sobre a saúde mental do trabalhador.
* São os esforços que o trabalhador faz para adequar o trabalho às necessidades de sua estrutura mental.
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Cada indivíduo reage de forma particular frente às situações de trabalho e já chegam a
este “carregando” sua história de vida pessoal. De um lado, se está alguém com a necessidade
de encontrar prazer e de outro, a Organização, que tende a instituir um modelo automático e
ao enquadramento, mesmo que de forma sutil, do trabalhador a um certo modelo.
O estudo desta sistemática pode ser encontrado já nos escritos de Freud (1930) sobre o
Mal estar na civilização. Para Freud, a atividade do homem caminha em duas direções: busca
de ausência de sofrimento e desprazer e, de experiência de prazer (Mendes, 1995, p.35).
[...] Não é possível, dentro dos limites de um levantamento sucinto, examinar adequadamente a significação do trabalho para a economia da libido. Nenhuma outra técnica para a conduta da vida prende o indivíduo tão firmemente à realidade quanto a ênfase concedida ao trabalho, pois este, pelo menos, fornece-lhe um lugar seguro numa parte da realidade, na comunidade humana. A possibilidade que esta técnica oferece de deslocar uma grande quantidade de componentes libidinais, sejam eles necessários, agressivos ou mesmo eróticos, para o trabalho profissional, e para os relacionamentos humanos a ele vinculados, empresta-lhe um valor que de maneira alguma está em segundo plano quanto ao do que goza como algo indispensável à preservação e justificação da existência em sociedade. A atividade profissional constitui fonte de satisfação especial, se for livremente escolhida, isto é, se por meio de sublimação, tornar possível o uso de inclinações existentes, de impulsos instintivos persistentes ou constitucionalmente reforçados. No entanto, como caminho para a felicidade, o trabalho não é altamente prezado pelos homens. Não se esforçam em relação a ele como o fazem em relação a outras possibilidades de satisfação. A grande maioria das pessoas só trabalha sob pressão da necessidade, e essa natural aversão humana ao trabalho suscita problemas sociais extremamente difíceis. (Freud, 1974, v. XXI, p.99)..
O prazer relaciona-se à satisfação de necessidades, o sofrimento caracteriza-se por
sensações desagradáveis, devido a não satisfação de necessidades. Estas sensações são de
ordem inconsciente relacionadas a desejos profundos, revelados, em grande parte, em forma
de projetos de vida (Mendes, 1995).
O trabalho faz parte da realidade exterior, e pode causar prazer ou sofrimento, desde
que os desejos inconscientes possam ser atendidos pelas condições externas.
Submetidos a excitações vindas do exterior (informações visuais, auditivas, táteis, etc) ou do interior (excitações instintuais ou pulsinonais, inveja, desejo), o trabalhador retém energia. A excitação quando se acumula, torna-se a origem de uma tensão nervosa. Para liberar esta energia, o trabalhador dispõe de muitas vias de descargas que são, esquematicamente: via psíquica, via motórica e via visceral (Dejours, 1988, p.64).
Não se que dizer que os homens apenas sofrem no trabalho, pois isso não é verdade. O
que se defende é a idéia de que se determinado trabalho não tem nenhum sentido para aquela
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pessoa, ela vai sofrer, ainda que de forma inconsciente. E para dar conta de sua insatisfação
precisará encontrar formas de se aliviar. As Organizações atuais, ainda que uma minoria, já
está se “preocupando” com a qualidade de vida no trabalho. Porém, mesmo que proponham
programas de segurança, de qualidade de vida, com o objetivo de aliviar as tensões geradas
pela ocorrência de acidentes, o que conseguem é apenas trazer a sensação de frescor ao
trabalhador. Não acabam com o sofrimento, com as marcas que cada um carrega dentro de si
e daí, a ocorrência de acidentes e doenças ocupacionais, mesmo que haja todo um movimento
de prevenção por parte da Organização.
Na relação do homem com o trabalho, não somente se “ganha” como também se
constrói a vida, estabelecendo-se um status social que não se restringe ao ambiente de
trabalho. Pelo contrário, a atividade profissional, é parte intimamente ligada ao universo
individual e social de cada um, podendo ser traduzida tanto como meio de equilíbrio e de
desenvolvimento quanto como fator diretamente responsável por dano à saúde.
A conexão entre a instância psíquica e os vários âmbitos das esferas sociais, é assim
sintetizada por Seligmann-Silva2 (1992): Há uma interação dinâmica e contínua entre
instância psíquica (individual) e experiência laboral (coletivo e social). As dinâmicas que se
processam articulam vivências individuais que, pela via da instersubjetividade, atingem a
instância coletiva.
Em qualquer circunstância ou situação o trabalhador não será nunca considerado um
indivíduo isolado. Ele é sempre parte ativa das relações. Relação com os colegas de trabalho;
relação com a Organização; com a comunidade; ele pertence a um coletivo. Ele é um ser que
carrega desejos e projetos de vida.
E é nesse ponto, que Dejours (1988) enfatiza que a Organização do trabalho é
geradora de conflito na medida que opõe o desejo do trabalhador à realidade limitada do
2 http:// www.nutline.ufop.br/ artigoX.htm
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trabalho. A destruição desse desejo** se dá em função de dois pontos cruciais, o conteúdo das
tarefas, que separa o homem do processo produtivo, e as relações humanas.
Fica bem claro, que não é o ato de trabalhar que pode trazer prejuízos a saúde mental
do indivíduo, pois o trabalho é uma das fontes de prazer do homem, ele trás reconhecimento,
faz com que o homem se sinta útil, valorizado. O que pode trazer sofrimento é o modo como a
Organização do trabalho estrutura o trabalho; é a forma como ela trata as tarefas e os
indivíduos. Ela continua a tratar o trabalhador como uma simples máquina, cuja função é
apenas produzir; produzir muito, com qualidade e em pouco tempo. E é por isso que ele sofre;
por não gostar de trabalhar em determinada função, mas precisa continuar para que possa dar
o sustento a família; não conhece bem o processo produtivo de toda a empresa, por ter sua
função tão especializada e ter que se ater só a ela que nem pode conversar sobre o que a
fábrica produz; entre outros motivos, estes são os pontos em que o sofrimento aparece, e é a
Organização quem contribui para que isso se agrave ou não, pois é ela quem dita as regras.
Sob o domínio do modelo taylorista de produção (alta jornada de trabalho, salários
baixos, produtividade acima do possível), o trabalhador foi submetido a um tipo de trabalho
repetitivo e sob pressão, no qual não sobra lugar para a atividade fantasiosa, que vem do
universo dos desejos. Como conseqüência, acumula-se a energia psíquica, transformada em
fonte de tensão, fraqueza orgânica, além de acidentes e patologias graves. (Dejours, 1988).
E parece se tratar aqui de um passado muito distante. Mas se a situação dos
trabalhadores atuais for analisada profundamente, se constatará que o modelo taylorista ainda
esta lá, escondido sob as vestimentas de um novo modelo de gestão. Não há como separar os
acidentes de trabalho de toda a trama de sofrimento embasada nas estruturas da Organização.
O indivíduo não suporta mais, ainda que inconscientemente, a situação em que se encontra;
** Entendido, aqui, como conceito da psicanálise, ligado ao inconsciente, se refere ao não atual, a um lugar simbólico, se inscreve no individual e no subjetivo.
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esgota todas as suas fontes de defesas e estratégias, e se coloca em uma situação de risco, às
vezes, até mesmo, com a intenção de se auto punir por não ter sido capaz de se defender da
situação dolorosa em que se encontrava; ele fica debilitado, desatento, vulnerável as situações
de risco e o inevitável ocorre – ele se acidenta.
O que aconteceu desde sempre na história do trabalho, é que a grande maioria das
pessoas, não se dedica ao trabalho como se dedicam a outras formas de obtenção de prazer.
Encaram-no apenas como necessidade de sobrevivência. O trabalhador busca o prazer na sua
atividade laboral, nas relações de trabalho, porém, o que vem encontrando, principalmente na
atualidade, são condições contrárias à satisfação. Ainda são minoria aqueles que podem se
gabar de trabalhar porque gostam e se sentem realizados com a atividade profissional que
exercem. Está-se vivendo na “lei das Selvas”, onde o mais forte é quem sobrevive. As pessoas
não podem se dar ao luxo de escolher no que querem trabalhar; precisam é de trabalho,
aceitando as condições mais adversas e salários baixíssimos, apenas com a finalidade de
conseguir sobreviver. Os sintomas específicos desta falta de prazer, pois trabalhar para
sobreviver não significa também trabalhar com prazer, são o crescimento das doenças
ocupacionais e dos próprios acidentes de trabalho.
O que agrava o sofrimento psíquico é que este não é visível ao corpo como é, o
sofrimento físico. Ele é vivido de forma muito particular, pois cada indivíduo é um ser único
carregado de sua história de vida. É uma falta de consideração com a empresa, com os amigos
de trabalho, considerar a hipótese de que se está doente, ou que se acidentou, devido às
insatisfações com o emprego. As pessoas sofrem caladas, e o silêncio se transforma em
tensão; tensão esta que atinge a atividade psíquica, e como esta é “a sala de comando” para
todas as relações com o exterior, conseqüentemente, os prejuízos serão sentidos pelos
familiares, pelos amigos. Mas não é possível admitir que o trabalho causou qualquer
problema na saúde, pois mais vale o emprego do que o desabafo de qualquer trabalhador
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desempregado.
De um lado está a Organização, caracterizada pela rigidez e por se constituir um
sistema de imposições e restrições. De outro lado, o funcionamento psíquico, caracterizado
pela liberdade de imaginação e expressão dos desejos inconscientes do trabalhador (Mendes,
1995, p.35).
Apenas para se apontar à complexidade do assunto que envolve o sofrimento psíquico
e, conseqüentemente, o foco central deste trabalho, que são os acidentes, ressalta-se aspectos
importantes do mundo interior do indivíduo.
Cada um é constituído de uma individualidade exclusiva, condicionada por valores
sociais comuns, mas que são percebidos e interpretados de forma bastante particular. Existem
os elementos emocionais que não são conscientizados, que orientam, que distorcem,
originando interpretações diversas para uma mesma verdade; verdade aquela, concebida pelo
sujeito.
Conta, ainda o indivíduo, com a hereditariedade, os elementos geneticamente
transmitidos, que nem sempre constituem uma herança desejável e sadia.
Ainda se não bastasse, o indivíduo é afetado pela cultura, pressões externas,
desenvolvimento tecnológico, realidade econômica, uma gama de situações e novos valores
para os quais o indivíduo não foi preparado e aos quais deve-se acomodar imediatamente, o
que não significa que estará integrado a esse novo momento. Não há como separar o
indivíduo do momento econômico e social que está vivendo. O mundo está em crise, a
ameaça do desemprego assombra todos os lares, a incerteza quanto ao futuro está presente, os
baixos salários, a violência crescente... a miséria... não dá pra separar o homem no trabalho do
mundo lá fora, ele está inserido nesse contexto, é agente participativo do momento da história.
Cabe então, que a análise do trabalho e, principalmente do trabalhador, se faça dentro
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dessa sistemática, uma vez que, o indivíduo é no trabalho o mesmo indivíduo fora dele. É
necessário enxergar o Ser Humano em toda sua complexidade.
Apesar da complexa “teia” que envolve a formação do Ser Humano e suas relações
com o trabalho nota-se que este último também faz parte da satisfação dos desejos mais
internos.
O trabalho não é um lugar que causa apenas prazer ou apenas sofrimento, mas se
origina da dinâmica interna das situações e da Organização do trabalho, é produto de tal
dinâmica, das relações subjetivas, do modo de agir e reagir dos trabalhadores, permitidos pela
Organização.
Tanto o modelo de Organização, como as relações subjetivas dos trabalhadores com o
trabalho, tem papel fundamental na determinação de vivências de prazer, com conseqüências
para a produtividade. (Mendes, 1995).
Se o homem trabalha feliz, satisfeito, vai produzir melhor, com mais qualidade; se
pode criar em cima de sua tarefa, o produto certamente terá um resultado muito melhor do que
quando a realiza sem a menor motivação, sem estar satisfeito com o que faz. Da mesma
forma em que é evidente o sofrimento no rosto do trabalhador que sofre, também é evidente a
satisfação, a alegria de se trabalhar em algo prazeroso, que trás, além de sobrevivência,
realização pessoal.
Os estudos de Dejours vieram contribuir, também, sobre esse aspecto, uma vez que dá
enfoque a relação com o prazer que pode existir entre o trabalhador e seu trabalho. Na
realidade concreta e na vivência individual do trabalho, não se encontra apenas sofrimento,
mutilações ou, até mesmo, mortes. É necessário, também, que se compreendam as fontes de
prazer sofrimento, para se tentar um maior aprofundamento nas relações de trabalho e saúde.
Dejours (1988), destaca o sofrimento no trabalho, porém, observou que a maior parte
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dos trabalhadores dá conta de manter um satisfatório e saudável estado de funcionamento
mental, defendeu a necessidade de enfatizar os mecanismos de enfrentamento de tal
sofrimento, para que se compreenda melhor os recursos usados pelos trabalhadores “contra” a
estrutura da Organização.
Na realidade, será que é mesmo só uma minoria que sofre com o trabalho, ou melhor,
com a estrutura da Organização? Com este mundo moderno, acelerado, instável, será que as
estratégias defensivas também não estariam gerando um acúmulo de tensão e isso também
resultaria em reações inadequadas? Volta a pergunta que não quer calar: Por que então há um
número tão grande de profissionais estressados, afastados do trabalho e, até mesmo, se
acidentando?
Ressalta-se mais uma vez, toda a complexa dinâmica em que o homem está envolvido
e a importância dos estudos sobre saúde mental e trabalho.
Faz-se necessário, apontar, uma crítica feita a Dejours, por Wanderley Codo (2003)3,
estudioso das relações entre saúde mental e trabalho, no Brasil. Para ele, as relações de
trabalho são mais difíceis de detectar do que se poderia supor a teoria dejouriana.
Na sua visão, o trabalho e seus efeitos são difíceis de detectar devido a onipresença do
primeiro. Suas definições fundamentais são encobertas pelo modo como o trabalho se
organiza na sociedade. Além disso, as relações entre saúde mental e trabalho se manifestam
num plano individual estrito, apesar de determinados pela estrutura social.
Como já ressaltado anteriormente, o trabalho tem uma conotação muito forte de
sobrevivência, e valor, independente do trabalho que exerça. Quem fica falando mal do
emprego está “ferindo a honra” da empresa e de toda a sociedade, pois com tantos
desempregados, ninguém deveria reclamar se está trabalhando; deveria se dar por satisfeito e
3 http: www.nutline.ufop.br / artigoX.htm
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assim levar a vida, pois o que importa é o dinheiro no final do mês, ainda que pouco, mas que
permita a sobrevivência e a “honra de ser um assalariado”.
Para Codo (2003, p.4)4, uma das poucas coisas que se sabe sobre saúde mental e
trabalho é o fato de que a consciência do risco é fator ansiogênico que potencia o próprio
risco.
O que não se pode, é dar somente evidências de que o trabalhador sofre, pois isso
poderia desencadear um mal estar geral, mas sim, estudar profundamente a dinâmica do
trabalho, mas tomando como peça fundamental, o trabalhador, que muitas vezes é esquecido.
É preciso que as próprias Organizações, assim como Dejours já apontava, se flexibilizem, de
modo a conceder maior liberdade de operação ao trabalhador, o qual passaria a atender, ainda
que parcialmente, seus desejos, as necessidades do seu corpo e as variações de seu estado de
espírito.
A Saúde mental deve vir, não para destacar o sofrimento, mas proporcionar que a
própria Organização se questione: Quais estratégias organizacionais podem ser eficazes na
promoção da saúde dos indivíduos?
Essa é uma realidade, ainda um pouco distante, uma vez que, são tomadas medidas
que agem como paliativo ao sofrimento dos trabalhadores. Desta forma, o sofrimento fica
mascarado, e só pode ser revelado através de uma sintomatologia, que tem características
próprias de cada profissão. É mais fácil à consciência, e à Organização, aceitar uma
enxaqueca, uma dor muscular, o próprio stress, do que assumir o medo ou a insatisfação
diante do trabalho.
O que se nota diante de todo o desenvolvimento da estrutura do trabalho e nos novos
modelos de gestão, é a tentativa de melhoria nas condições de trabalho, afim de “solucionar”
4 http:// www.nutline.ufop.br/ artigoX.htm
20
os motivos que levam o indivíduo a estar insatisfeito com seu trabalho. É a chamada, e tão
falada, Ergonomia.
Modificando o ambiente de trabalho, acredita-se estar diretamente atingindo a
vivência subjetiva do trabalhador, mas isso não seria possível, pois para se alcançar a
significação profunda da vivência subjetiva de cada indivíduo só através de técnicas ligadas
ao discurso individual, como a psicanálise, por exemplo, o que não é o objetivo do estudo
entre saúde mental e trabalho. O que se visualiza diante das práticas de ergonomia, é uma
apreciação global dos efeitos da intervenção ergonômica que vai direto ao objetivo (Dejours,
1988, p.55).
É certo que, num primeiro momento, a intervenção ergonômica trará um grande
benefício para os trabalhadores: melhoria na postura, diminuição das dores “na coluna”,
melhoria no local de trabalho, entre outras mudanças; entretanto, com o passar do tempo, toda
a sensação de alívio vai se desfazendo, pois vão se revelando outros prejuízos, que estavam,
anteriormente, escondidos, o fato de que no fundo nada mudou (Dejours, 1988, p.55).
Não se pode esquecer que cada indivíduo vai vivenciar a situação do trabalho de sua
forma particular, e é isso que a Organização deveria “enxergar”. Não há como adequar toda a
estrutura organizacional ao modo subjetivo de cada trabalhador, mas o que se quer apontar é
que apenas práticas que atinjam o objetivo, não vão amenizar o que o trabalhador carrega
dentro de si, que talvez nem ele próprio, tenha consciência. Precisa-se dar conta, de que o
indivíduo tem uma vida interior, que engloba trabalho, cultura, história de vida; ele não é só
mais uma máquina produtiva.
No centro da relação saúde-trabalho, a vivência do trabalhador ocupa um lugar particular que lhe é conferido pela posição privilegiada do aparelho psíquico na economia psicossomática. O aparelho psíquico seria, de alguma maneira encarregado de representar e de fazer triunfar as aspirações do sujeito, num arranjo da realidade suscetível de produzir, simultaneamente, satisfações concretas (proteção de vida, saúde do corpo) e simbólicas (significação do trabalho nas suas relações com o desejo) (Dejours, 1988, p.62).
21
Seria muito bom, se realmente a realidade externa estivesse de acordo com que o
indivíduo idealiza na sua vida psíquica. Mas isso será impossível, pois é necessário ao
desenvolvimento biológico e psíquico, o sofrimento, para que o indivíduo aprenda a tolerar
frustrações e desprazeres. Resta ao trabalhador, ou melhor, a todos os homens, aprender a se
defender e viver de maneira satisfatória, ou pelo menos tentar se permitir viver de forma mais
satisfatória possível, já que inseridos em uma cultura, em um certo momento econômico (que
na atualidade é o capitalismo globalizado), fica difícil ir em busca daquilo que se deseja. Este
seria um privilégio de poucos.
Uma vez constatada a existência da relação entre vida psíquica e sofrimento no
trabalho, é necessário relacionar os acidentes de trabalho às causas subjetivas, que se originam
de fatores psicológicos, determinantes da participação consciente ou inconsciente do
indivíduo na ocorrência dos acidentes.
O acidente desvela-se como a expressão máxima do fracasso das estratégias de
resistência adotadas pelos trabalhadores. (Mendes, 2002, p.239).
E isso é bem verdade quando pensamos sobre como é capaz de se acidentar alguém
que domina o processo e detém todo um saber sobre as regras de segurança de determinada
atividade? Os acidentes, em sua maioria, quando analisados, acabam sendo sofridos por
pessoas extremamente envolvidas no processo de segurança. Mas é aí que entra a questão:
será que realmente estes trabalhadores estão satisfeitos diante da estrutura da Organização? E
o “mundo” fora da empresa, como está?
É necessário, na dinâmica dessas relações, confrontar e reconhecer os possíveis
ângulos obscuros que contribuem para a construção social da invisibilidade dos acidentes de
trabalho.
22
Uma das vivências dos trabalhadores, ainda muito ignorada é a questão do medo. Ele
está presente em todos os tipos de trabalho. Muitas atividades estão expostas a riscos
relacionados à integridade física, ao acidente de trabalho. O risco é exterior, inerente ao
trabalho, independe da vontade do trabalhador. (Dejours, 1988).
Na grande maioria das vezes, às Organizações, propõe aos trabalhadores apenas
medidas preventivas individuais, que podem ter caráter material (equipamentos de proteção)
ou psicológico (regras de segurança).
Os equipamentos de segurança podem denunciar aquilo que o ser humano mais teme:
a constatação de que não são invencíveis e que são suscetíveis a se acidentar. Como não são
trabalhados os medos, as necessidades, os desejos, estes equipamentos só fazem denunciar a
impotência frente às situações reais de risco.
A partir de pesquisas realizadas com trabalhadores de indústrias químicas, Dejours
(1988) concluiu que a questão principal é a ansiedade, em relação à qual se estrutura tudo que
diz respeito ao sofrimento mental dos trabalhadores.
Na empresa tudo lembra a possibilidade de ocorrência de um acidente ou incidente: cartazes, palestras, sinais luminosos, alarmes sonoros e visuais, presença de capacetes, luvas, destinados principalmente, a estimular a atenção – provocando medo, justamente - mais do que construir uma verdadeira proteção.(Dejours, 1988, p.75)
Isso pode ser notado no setor da construção civil. Quem nunca presenciou operários
sem capacetes, “pendurados” a uma altura enorme sem nenhuma proteção? O uso de
equipamentos de segurança pode representar para estes trabalhadores, sua fragilidade frente
ao alto grau de perigo que sua atividade oferece. No Brasil, 25% dos casos de acidentes de
trabalho são provenientes da construção civil.
São vários os motivos que podem levar a tal estatística; instabilidade da produção na
construção civil, perfil inadequado dos trabalhadores, pouca qualificação, insatisfação com o
trabalho por não ser tão bem remunerado. O mais importante é que, segundo pesquisa
23
realizada por Izabel Borsoi (2002) com trabalhadores deste ramo de atividade, não há
identificação de aspirações pessoais com o trabalho, mas este seria apenas visto como fonte
de sobrevivência.
Além de todo o problema econômico que envolve estes trabalhadores, ainda se destaca
a questão do desejo, incompatível com a estrutura da Organização. A alta taxa de acidentes
neste setor não é por acaso, e não somente pela insegurança que ronda os trabalhadores, pois
uma das maiores preocupações das empresas hoje, é com segurança, uma vez que a imagem é
mais cara do que a reparação do dano sofrido. Manter a boa imagem, ficar longe de ser uma
empresa que lidera as estatísticas de acidentes, é a meta de qualquer empresa que deseja “estar
de bem” com o mercado. Mas se elas investem tanto, por que os acidentes não cessam?
É neste ponto que gira toda a problemática do tema proposto, pois o que se vê, são
soluções que visam melhorar o exterior, o dano físico, não são soluções que vão de encontro
com que o indivíduo tem de mais íntimo dentro de si. Mais uma vez se está deixando fora,
aquele que é o personagem principal de toda a questão: o trabalhador; aquele composto por
sonhos, desejos, cultura, genética, economia, individualidade...
A questão dos acidentes vai muito além de se investigar o local de trabalho ou de se
atribuir à falha humana pura e simples. Trata-se de algo muito complexo, devido a
imprevisibilidade e riqueza do Ser Humano.
O trabalhador precisa estar perfeitamente ajustado à função e totalmente integrado a
seu meio de trabalho. Daí se notam vários benefícios: melhor produtividade, se encontra a
possibilidade de realização profissional e pessoal, a satisfação na atividade exercida,
integração homem-ambiente de trabalho; tudo isso fará com que o trabalhador sinta-se
valorizado, o que irá refletir na sua auto-estima e nas suas relações fora do ambiente de
trabalho. Desta forma ele se torna mais cuidadoso, mais eficiente, passa a respeitar-se mais
frente aos perigos oferecidos pela tarefa que realiza.
24
A importância dada pela Organização para a relação do homem com seu trabalho, no
aspecto da saúde mental, ainda é muito pouca. É muito cômodo e fácil, na análise do acidente
se dizer: “O operário distraiu-se”; “Ele esqueceu de colocar o equipamento de proteção”.
Simplesmente não se questiona o por quê do operário ter agido daquela forma e se acidentar.
Nas próprias literaturas sobre Segurança no trabalho, não se encontram autores que
destacam a importância de outros aspectos na produção de acidentes. Não se dão conta da
relevância de fatores sociais, econômicos, em oposição a fatores individuais, como sendo
participantes da dinâmica que envolve os acidentes de trabalho.
O enfoque da prevenção dos acidentes é, geralmente, nas tentativas de se mudarem
máquinas ou comportamentos dos trabalhadores. Como centro da análise e de mudança,
deveriam se incluir, também, as relações homem-organização-trabalho.
E a questão dos acidentes vai muito além de se enfatizar a relevância das relações de
trabalho e da Organização. Existe um ponto que só faz demonstrar o quanto este assunto
merece destaque.
Os acidentes de trabalho são encobertos da visão social através de vários mecanismos
que incluem segmentos distintos da sociedade. A legislação previdenciária e trabalhista,
excluem a maioria dos casos relacionados a acidentes. O que mais impressiona, são os
registros do INSS (Borsoi, 2002): os acidentados seriam fantasmas. Não se fornecem dados,
não sabem quem são ou quantos são os acidentados.
As empresas que negam o vínculo empregatício estão dificultando a investigação das
causas que resultaram no acidente. O próprio Poder Judiciário, com sua demora de
julgamento nas situações trabalhistas ligadas aos acidentes. Os acidentes se afundam numa
névoa. Estão obscuros, suas causas camufladas e bem escondidas.
25
Observa-se o quanto às relações que envolvem poder, trabalho, desejo são encobertas
e trazem consigo um certo “bloqueio” em serem estudadas, ou a melhor palavra seria,
descobertas?
Estudar o verso e o anverso dos acidentes e mortes relacionados ao trabalho significou procurar-se dar visibilidade a essas histórias através do anticlímax da vida, reconstruindo a história de vida e de morte no trabalho de pessoas pertencentes a parcelas da sociedade que ficaram à margem das informações oficiais, buscando-se através das lembranças dos familiares das vítimas, conhecer essas histórias por inteiro. (Mendes, 2002, p.331). Faz-se necessário estudar as relações do homem com seu trabalho quando este ainda,
em vida possa falar. Devido a negligência das informações a respeito dos índices de acidentes
e sobre quem são e onde estão os acidentados, a família é, muitas das vezes, a única fonte de
informações para aqueles que pretendem se aprofundar no tema acidente de trabalho. As
empresas não falam, escondem números, fazem altos investimentos em segurança. Mais uma
vez, esquecem que o ser humano não é uma máquina; ele sofre, se alegra, tem desejos, pensa,
sente as conseqüências do mundo. Ele deve ser “enxergado” também em seu mundo interior,
e não somente em seu mundo orgânico.
E por ser enxergado só como um ser orgânico, é que entende seu trabalho, desde muito
cedo, como algo que exige força, disposição física, esforço. Foi este o sentido que aprendeu
desde pequeno, principalmente em classes de baixa renda. Sendo o trabalho entendido apenas
como fonte de sobrevivência, de sustento à família, e não também de prazer, deve ser
enfrentado e jamais temido, seja qual for a tarefa proposta, ou em muitos casos, imposta. O
homem está condenado ao trabalho.
Crescendo com esta visão, o indivíduo inicia-se na atividade laboral de forma a pensar
apenas no seu sustento. Está disposto a qualquer serviço, então começa sua caminhada em
busca de crescimento. Trabalha aqui, ali... e quando para e pensa, nota que realmente só
consegue o dinheiro para não morrer de fome. Trabalha, mas não tem direito à diversão, não
tem uma casa digna de seus sonhos, não pode dar aquele presente tão sonhado ao filho...
então, começa o sofrimento também em relação ao trabalho, pois a culpa é dele que não
26
oferece o dinheiro necessário. E assim, surgem as bebidas, as dores de cabeça, a insatisfação
constante.
Nenhuma profissão ou ocupação é menor do que outra. O valor dado pela sociedade é
que as tornam diferentes. Existem varredores de rua felizes, satisfeitos com seu trabalho,
orgulhosos daquilo que conseguiram e existem médicos, com carros importados, casas
maravilhosas que são extremamente infelizes. Para cada um, o trabalho tem um sentido. E é
isso que deveria ser levado em consideração: o sentido que o trabalho tem para o sujeito, com
base na sua historia de vida.
E seu o sujeito não consegue entender o sentido que o trabalho tem para si, além da
sobrevivência, ele sofre, e como já foi dito anteriormente, para dar conta de seu sofrimento ele
o controla através de estratégias defensivas para impedir que sua insatisfação venha à tona.
Quando há uma deficiência nesses sistemas defensivos aparecem, então, os sintomas
orgânicos, desencadeando uma queda no processo produtivo. O fracasso total das estratégias
defensivas viria, então, por aparecer, nos acidentes de trabalho, que passa a ser percebido
como punição.
É como se o sofrimento e o cansaço fossem aspectos proibidos no trabalho. Só a
doença de fato, é admissível e, dessa forma, a consulta médica disfarça o sofrimento mental
que é aliviado com medicamentos. Dessa forma, tenta-se deslocar o conflito homem-trabalho
para um terreno mais neutro e com a medicalização desqualifica-se o sofrimento.
(Borsonello, Santos, Schimdt, 2002, p.33).
Apesar do sofrimento se disfarçar por outros tipos de doenças, há muito se sabe, que
uma quantidade considerável dos acidentes de trabalho ocorridos em qualquer parte do
mundo, tem suas origens no comportamento das vítimas. O que muitas das vezes, é
compreendido de maneira errônea, é porquê as pessoas se expõem, de maneira passiva, a uma
27
condição de risco que pode levá-las as e acidentar, ou até mesmo a morrer, sem as devidas
precauções.
A inclusão do comportamento dos trabalhadores no conjunto de fatores causais dos
acidentes de trabalho, de forma alguma significa a culpa pelos acidentes e, conseqüentemente,
pelos danos deles decorrentes, nos trabalhadores. No processo de prevenir acidentes, o
comportamento do trabalhador, que foi expresso em si no ato do acidente não é relevante. O
que deve ser levado em conta e valorizado são os determinantes do comportamento, ou seja, o
que o motivou. O que havia de “errado” no ambiente, nas relações de trabalho e ainda na vida
do trabalhador que interferiam, consciente ou inconscientemente, no seu relacionamento com
o trabalho, é que deve ser tomado como ponto fundamental.
O “ato inseguro”, que é a atitude do trabalhador frente a uma situação real de perigo,
serviu e continua servindo para responsabilizar e, até mesmo, para culpar os trabalhadores
pelos acidentes sofridos. Ele vem ocultar, os agravos à saúde do trabalhador e os desarranjos
da Organização do trabalho. É claro que o erro na execução do trabalho, embora não
desejável, é possível de ocorrer, e todos nele podem incorrer. Mas para quem lida com a
prevenção de acidentes, não pode ser o erro por ele próprio motivo de atenção, mas sim as
causas do erro.
A abordagem da segurança do trabalho a partir do raciocínio de que o trabalhador erra ao executar suas tarefas porque é indisciplinado, displicente, negligente, imperito ou, simplesmente, imprudente [...] é tão nociva às práticas prevencionistas quanto à crença de que o trabalhador por conta e risco nunca erra, e quando erra é porque foi induzido ao erro por motivos totalmente alheios à sua condição de humano. Essa forma de conceber a relação do trabalhador com o trabalho além dos erros de concepção, culmina no desvio do eixo das atenções do ambiente e da organização do trabalho para a figura do trabalhador, criando, com isso, mais dificuldades no enfrentamento dos riscos de trabalho. (Oliveira, 2002, p.59).
O trabalhador que se acidenta acaba por ser caracterizado como sendo alguém que não
cumpriu as regras de segurança do trabalho, portanto, irresponsável. De outro lado, termina
duplamente vitimado. Vitimado em relação aos impactos do acidente e, principalmente, em
relação às suas causas, das quais, ele, na condição de cidadão e de sujeito nas relações de
trabalho tem pouco ou nenhum envolvimento. (Oliveira, 2002, p.59).
28
É preciso, então, que as empresas se preocupem com o que cada um carrega dentro de
si. O ser humano é dotado de frustrações, medos, desejos, complexos, que não são fixos e
nem previsíveis. É necessário que se marque a existência de alguém que pense e que precisa
criar. Não é dar atenção a problemas individuais, uma vez que isso seria impossível em
empresas com alto número de funcionários, mas é criar mecanismos que valorizem o grupo de
trabalhadores, é ouvi-los, treiná-los, para que eles possam se sentir satisfeitos e para permitir
que eles construam um sentido pessoal para seu trabalho.
O estudo da sistemática entre saúde mental e trabalho pode trazer algumas
contribuições para a empresa, como o questionamento do modelo prescrito e sua influência na
produção, demonstrando que a gestão coletiva da Organização do trabalho permite a
transformação do sofrimento ou do prazer e possibilita o engajamento do trabalhador na
atividade sem maiores prejuízos a saúde mental.
E é dessa forma, que a abordagem dejouriana e sua psicopatologia do trabalho, vêm
contribuir para aqueles que se ocupam em estudar as relações de trabalho. A partir de Dejours,
foi construída a hipótese de que a Organização do trabalho exerce, sobre o homem, uma ação
específica, cujo impacto é o aparelho psíquico. Em certas condições, emerge um sofrimento
que pode ser atribuído ao choque entre uma história individual, portadora de projetos, de
esperanças e de desejos, e uma Organização do trabalho que os ignora. Esse sofrimento, de
natureza mental, começa quando o homem, no trabalho, já não pode fazer nenhuma
modificação na sua atividade e no sentido de torná-la mais conforme às suas necessidades
fisiológicas e a seus desejos psicológicos – isto é, quando a relação homem-trabalho é
bloqueada.
Dejours lança a hipótese, e outros pesquisadores continuam a estudar as relações de
trabalho. Hoje, não é mais hipótese a questão do sofrimento no trabalho. O crescente número
29
de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho vem revelar o que está por trás das relações
homem e trabalho.
Os acidentes denunciam o esgotamento das forças do trabalhador, que lutou contra
toda sua insatisfação diante da tarefa exercida. Seu trabalho não tinha sentido para si, era
apenas visto como fonte de sobrevivência.
Não se quer dizer que o trabalhador se acidenta porque quer, mas diante de todo seu
conflito gerado pela estrutura da Organização, que os ignora enquanto pessoas que se
relacionam dentro e fora do trabalho, ele faz todo um movimento que acaba levando ao
acidente. E é este comportamento que antecede o acidente que merece atenção. O que motiva
alguém a agir de determinada maneira merece papel de destaque nas políticas de gestão e de
prevenção de acidentes.
Mas isso ainda não é possível. Seja pelas relações de poder, de cultura, não importa. O
que é importante é a relação entre o sujeito e a Organização do trabalho. Entretanto, o
problema não é criar novos homens, mas encontrar soluções que permitam por fim a
desestruturação de um certo número deles pelo trabalho.
Os estudos entre saúde mental e trabalho são de fundamental importância para o
entendimento do funcionamento psíquico do trabalhador. Os estudos que vem surgindo, estão
permitindo revelar dimensões do trabalho ainda pouco visíveis.
Freud tinha razão quando apontou que é quando o cristal se quebra que
compreendemos sua estrutura (Freud apud Codo, 2002, p.26). Foi quando o trabalhador
inventou o sofrimento que sua lógica pode ser entendida.
Entender o sofrimento diante do trabalho é tarefa árdua para aqueles que se dispões a
estudá-lo. Mas acima de tudo, é uma tarefa promotora de cidadania, na medida em que
transformaria os estudos sobre saúde mental e trabalho em um instrumento de recuperação da
dignidade do trabalho (Codo, 2002).
30
Faz-se necessário pensar os acidentes de trabalho pela vertente do sofrimento psíquico.
Se os acidentes não tivessem sua origem também no funcionamento psíquico, os treinamentos
de segurança e os equipamentos de prevenção bastariam para reduzir o número de
ocorrências.
Este não seria um raciocínio apenas para os profissionais da saúde, mas também para
os de outros campos tradicionalmente fechados sobre si mesmos. O desafio é imenso e difícil
de ser absorvido.
Evidentemente, o médico do trabalho não precisará tornar-se psicanalista. Do mesmo
modo como os engenheiros e supervisores de produção, ao descobrirem a importância da
subjetividade, percebem que ela tem que ser considerada no planejamento da produção, sem
por isso se sentirem obrigados a se transformarem em psicólogos.
Fazer com que a Organização descubra e dê importância à subjetividade seria o papel
dos profissionais que se dedicam a estudar o funcionamento psíquico.
Levar em consideração os sonhos, desejos, condições históricas e econômicas como
participantes ativos na formação do indivíduo trabalhador é de fundamental importância, pois
só assim, se entenderá o valor que o sujeito dá a seu trabalho, e o modo como ele se comporta
diante do trabalho.
Fazer com que o ser humano entenda seu trabalho e passe a dedicar-se a ele também
com fonte de obtenção de prazer e felicidade pode ser julgado como utopia diante de um
sistema capitalista que tem como objetivo principal, o lucro.
Utopia seria pensar que os acidentes de trabalho podem deixar de acontecer. Conflitos
gerados pelo choque entre subjetividade e Organização nunca vão deixar de ocorrer, pois a
sociedade é bastante desigual e pensar em um “mundo perfeito” seria inviável, e não é do que
se tratou o trabalho em questão. No entanto, os acidentes poderiam ter seus índices
diminuídos consideravelmente, a partir do momento em que a Organização pudesse
31
compreender um homem que é fruto das relações com a sociedade, economia, cultura, e não
um homem-máquina, como, apesar de ocultado por novos conceitos, continua sendo
entendido.
Mas a Psicologia hoje, não pode desconsiderar as variações que se apresentam na
complexa relação homem-trabalho. Tem o papel de apontar o sofrimento psíquico nas marcas
estampadas no corpo do trabalhador. Necessita revelar que as doenças e acidentes gerados
pelo trabalho são mascarados por medicações ou omissões de estatísticas nacionais. Precisa
resgatar a dignidade do trabalho como fonte de prazer e não como sofrimento ou obrigação.
Tem a dura tarefa de retirar do corpo o peso de carregar toda a insatisfação gerada pelo
descaso, ou falta de conhecimento, da Organização diante de sua condição de ser humano.
Pois...
...O corpo, na sua naturalidade, é um credor implacável; não perdoa dívidas contraídas, tem métodos próprios de acertos e não delega as ações de cobranças. O corpo não reconhece nenhuma linguagem que não seja a sua própria. A dor física não é orientada, enquanto revelação, por concepções racionais. É a linguagem da natureza que prevalece. (Oliveira, 2002, p.82).
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