hipermodernidade, sofrimento psíquico e o trabalho do estagiário
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Monografia apresentada como requisito para aquisição de título de bacharel em Psicologia na PUC-MG / 2012.TRANSCRIPT
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Faculdade de Psicologia
Mariana Márcia Rezende da Costa
HIPERMODERNIDADE, SOFRIMENTO PSÍQUICO E O TRABALHO
DO ESTAGIÁRIO.
Belo Horizonte 2012
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Mariana Márcia Rezende da Costa
HIPERMODERNIDADE, SOFRIMENTO PSÍQUICO E O TRABALHO
DO ESTAGIÁRIO.
Monografia apresentada ao Curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia.
Orientadora: Márcia de Mendonça Jorge
Belo Horizonte 2012
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Mariana Márcia Rezende da Costa
HIPERMODERNIDADE, SOFRIMENTO PSÍQUICO E O TRABALHO
DO ESTAGIÁRIO.
Monografia apresentada ao Curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia.
Orientadora: Márcia de Mendonça Jorge
___________________________________________ Márcia de Mendonça Jorge (orientadora) - PUC - MG
_________________________________________ Rosana Carvalho de Oliveira (leitora) – PUC-MG
Belo Horizonte, 14 de junho de 2012.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a meus pais pela oportunidade de realizar esse curso e a confiança
em mim.
A minha orientadora Márcia de Mendonça Jorge pela disponibilidade em me
ouvir, orientar e guiar nesse projeto.
A leitora Rosana Carvalho de Oliveira pela atenção dada ao meu trabalho e
por também me orientar e sugerir melhorias importantes para um bom resultado.
A professora Ângela Spesiali Aroeira por fazer com que as primeiras ideias
surgissem e fossem aprimoradas através de diálogos ricos e reflexões mais
humanas sob a condição e papel do homem na realidade a qual vivemos.
A todos os estudantes que disponibilizaram seu tempo e com boa vontade
realizaram as entrevistas.
E a colegas que indiretamente também contribuíram através de sugestões,
debates e incentivo.
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RESUMO
Essa pesquisa discorre sobre a realidade do mundo profissional na
hipermodernidade: seus significados, formas de apresentação e maneira de se
considerar o homem. Foca-se principalmente no trabalho dos estagiários da
Geração Y, sobre suas experiências iniciais de atuação profissional, o que inclui
suas percepções, vivências e sentimentos numa etapa de descobrimento do
ambiente e relações trabalhistas. Foram realizadas entrevistas semi estruturadas
com estudantes da PUC-MG dos últimos períodos de graduação, dos cursos de
Psicologia, Engenharia e Administração a fim de se constatar possíveis dificuldades,
angústias e sofrimento psíquico diante da realidade profissional do contexto
hipermoderno, caracterizado pelo individualismo, consumismo e precarização do
homem. Os resultados mostram que a alta demanda de trabalho e exigências
constantes de qualificação já são presentes desde o momento em que o estudante
atua como profissional. Junto a isso, verificou-se como a Geração Y se mostra
despreparada e imatura para lidar com essas exigências, tal geração tende a
demonstrar altas expectativas, dificuldades de lidar com a frustração e assimilar de
forma assertiva as renúncias que a vida profissional exige, como: tempo para o
lazer, família e amigos, bem como as exigências o trabalho faz: qualificação
constante, competitividade, contato com os outros e responsabilidade.
Palavras-chave: hipermodernidade, estágio, Geração Y, trabalho, relações.
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LISTA DE IMAGENS
1 IMAGEM 1 – Senac publicidade 1 ................................................................... 13 2 IMAGEM 2 – Senac publicidade 2 ................................................................... 21
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 08 2 A REALIDADE DO TRABALHO NA HIPERMODERNIDADE .......................... 10 3 A GERAÇÃO Y A RELAÇÃO COM O TRABALHO ......................................... 16 4 ANÁLISE DE DADOS ...................................................................................... 24 4.1 Metodologia ...................................................................................................... 24 5.1 Perfil dos entrevistados .................................................................................. 24 5.2 Resultados ....................................................................................................... 25 5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 35 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 38 APÊNDICE A .......................................................................................................... 40 APÊNDICE B .......................................................................................................... 43
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1 INTRODUÇÃO
"Nenhuma época acumulou sobre o homem conhecimentos tão numerosos e diversos como a nossa (...). Nenhuma época conseguiu tornar esse saber tão pronta e facilmente acessível. Mas nenhuma época tampouco soube menos o que é o homem." (Heidegger apud Morin, 2005, p. 16)
O trabalho organiza e dá sentido à existência humana, possibilitando o
desenvolvimento e integração social do sujeito. Diante do contexto social
hipermoderno ele tem representado não apenas a sobrevivência material, como
também social e psicológica dos indivíduos.
O mercado de trabalho segue a lógica da rapidez da informação, das
inovações tecnológicas e da diminuição das fronteiras, necessitando cada vez mais
ser dinâmico e integrador. Desde então, o capital intelectual se valoriza cada vez
mais, isso já desde o momento em que o profissional atua como estagiário, com as
empresas qualificando-o e desenvolvendo-o de acordo com seus valores,
perspectivas e interesses.
Diante de tal realidade, esse momento na trajetória profissional pode se tornar
sinônimo de ansiedade, angústia e medo, visto que o jovem estagiário se encontra
em meio a uma turbulência de exigências e demandas às quais tem que responder
para que suas perspectivas de carreira tenham a chance de ao menos existirem,
tamanha a competitividade e cobrança contínua por qualificação e resultados.
Supõe-se que a insegurança quanto ao desenvolvimento da carreira pós-
universidade contribui para que os estagiários aceitem se subordinar e produzir
muito acima do possível e adequado, além de realizar, por vezes, trabalhos
incondizentes com seus valores e princípios, o que pode gerar sofrimento psíquico.
Este trabalho de pesquisa se propôs a compreender como jovens vivenciam a
atuação profissional e perspectiva quanto à carreira no mercado de trabalho. Os
dados foram obtidos através de entrevistas, realizadas com estudantes que se
encontram nos últimos períodos de graduação (7º ao 10º) que fazem estágio, estes
que estão se preparando para a carreira pós-formatura. A idade estipulada foi 22 a
27 anos, considerando esta como a faixa etária na qual os estudantes de fim de
cursos se encontram. O sexo é indiferente, variações neste sentido não foram
investigadas.
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A pesquisa se mostra relevante, pois contribui para a compreensão da
realidade psicológica dos estagiários, ratificando a importância da Psicologia em
mapear e subsidiar esses profissionais num momento de vida que se torna
angustiante e aversivo. Também contribui para que novas práticas de gestão sejam
realizadas e as empresas tenham uma visão mais clara sobre as expectativas dos
estagiários, futuros profissionais.
O primeiro capítulo aborda a realidade do trabalho na hipermodernidade, ou
seja, como as relações trabalhistas se configuram frente ao contexto neoliberal e
capitalista existente. Foram investigados, como o homem reage a essas exigências,
como se torna uma mercadoria passível de ser consumida, como seu valor se torna
irrisório frente a oferta de produtos cada vez mais dinâmicos, eficientes e
descartáveis, mesmo que esse produto seja o próprio homem.
O segundo capítulo discorre sobre o que vem a ser a “Geração Y”, sua
história, características e posturas. Discorreu-se sobre seus limites e capacidades
frente a realidade do mundo do trabalho. O capítulo também apresenta o conceito de
estágio, sua finalidade e características. Aprofundou-se sobre a questão da
realidade do trabalho na hipermodernidade em relação ao trabalho do estagiário,
contextualizando sobre a alta competitividade, a hiper demanda de qualificação e
sucesso na carreira já na fase da formação profissional.
O último capítulo trata da análise de dados. Entrevistas semi-estruturadas
foram realizadas com estudantes dos cursos de Psicologia, Engenharia e
Administração e buscou-se, através da fala dos estagiários, compreender a
realidade e percepção de trabalho dos estudantes, possíveis dificuldades e maneiras
de lidar com elas.
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2 A REALIDADE DO TRABALHO NA HIPERMODERNIDADE
O trabalho possibilita a construção de subjetividades correspondentes a cada
época histórica, o que significa que “é pelo trabalho que o homem se faz homem,
constrói a sociedade, transforma-a e faz a história” (ARAÚJO; SACHUK, 2007, p.55).
A forma de produção dominante dita à organização do trabalho de
determinada conjuntura social, o que implica em posturas e ideologias próprias que
influenciam no investimento e nas considerações sobre o trabalhador. As diretrizes
econômicas articulam as políticas e ideias dominantes em cada contexto histórico,
subsidiando as manifestações coletivas e individuais.
Na sociedade capitalista e globalizada impera a inovação tecnológica, a
rapidez da informação, o narcisismo e o consumo. Os valores são instáveis e
manipulados pela publicidade e a mídia. As fronteiras são encurtadas, a cultura
prevalecente é a do efêmero e do individualismo. As identidades são adaptadas aos
interesses políticos e econômicos, referências já não existem ou são mutáveis.
Identidade hoje é sinônimo de processo, contínuo e inconstante. Bauman (2010)
refere-se há esses tempos, como o mundo líquido “porque, como todos os líquidos,
ele jamais se imobiliza nem conserva sua forma por muito tempo.”
O consumo é acelerado e personalizado, torna tudo descartável, inclusive os
trabalhadores. Esses que, ao produzir desenvolvem suas faculdades, também as
consomem no mesmo processo, gastando sua energia, força e afeto. O trabalhador
se encontra em meio a um círculo vicioso, no qual precisa produzir para consumir e
ao mesmo tempo consumir para manter a produção ativa e gerar lucros. Para
Lawson citado por Bauman (2010), “compramos coisas como sinais do que
queremos ser e de como queremos que os outros pensem que somos. O que
compramos misturou-se profundamente à nossa identidade. Agora somos o que
compramos.”
Na hipermodernidade as ofertas de relacionamento, cultura, informação,
estilos, dentre outros, são diversas, “o homem indiferente não se apega a nada, não
tem uma certeza absoluta, está preparado para tudo e as suas opiniões são
susceptíveis de modificações rápidas: para conseguirem um tal grau de
socialização”, (LIPOVETSKY, 2005, p. 42).
Prevalece o relativismo, a indeterminação e a descontinuidade. O ser humano
busca mais do que nunca o reconhecimento. Tais fatores fazem com que ele se
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encontre cada vez mais desamparado, enxergando o outro como um “rival”, que
representa uma ameaça às suas possibilidades de ascensão e sucesso, inclusive
profissional; laços sólidos deixam de ser construídos.
A sobrevivência agora não é apenas econômica, mas social e psicológica, o
trabalho mais do que nunca, torna-se a possibilidade da obtenção de realização
pessoal. Segundo Borsoi,
[...] quando o trabalho começa a fazer parte efetiva da vida das pessoas, ele se torna tão significativo (ou quase) quanto às relações amorosas que elas constroem e – a meu ver, não seria exagero dizer - tão necessário quanto o sono. Sem trabalho, não teremos como satisfazer necessidades básicas do nosso corpo e da nossa fantasia. [...] (BORSOI, 2007, p.106)
Nota-se que a realidade sócio-profissional se torna cada vez mais
perturbadora, exigindo das empresas grandes investimentos não apenas
tecnológicos, mas intelectuais para se manterem no mercado, além da adoção de
práticas mais agressivas e inovadoras. O capital humano se torna estratégico para
que as organizações se desenvolvam e mantenham-se atualizadas e competitivas.
Os investimentos em captação de mão de obra qualificada com posterior
desenvolvimento delas é cada vez mais valorizado.
O trabalhador tem que se adaptar e operar segundo as movimentadas leis do
mercado, envolvendo-se numa rede de mudanças e contradições contínuas, sendo
controlado pelo que ainda pode alcançar, produzir e “doar” à empresa.
“Agora cabe aos atuais e futuros empregados “se automonitorarem”, serem seus próprios observadores a fim de assegurar que seu desempenho é convincente e aprovável pelos compradores – e que continuará a merecer a aprovação caso estes mudem de desejos, gostos e preferências [...]” (BAUMAN. 2010, p.120)
A lógica capitalista é reproduzida nos relacionamentos profissionais, o
trabalhador se torna uma mercadoria, passível de ser consumida, inclusive
subjetivamente. E como todo produto ofertado, está sujeito a ser descartado na
medida em que se torna menos “rentável, prático e inovador” assim como objetos,
tecnologia e serviços.
Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinha fornecido sólidas localizações como indivíduos
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sociais. Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados. Esta perda de um ‘’sentido de si’’ estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento - descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos – constitui uma ‘’crise de identidade’’ para o indivíduo (HALL, 2006, p.9).
O tempo para a reflexão sobre as próprias escolhas neste contexto corre no
ritmo da urgência, tudo tem que ser decidido e resolvido em tempo hábil, todas as
oportunidades são consideradas sem uma avaliação mais crítica e racional. A
complexidade das relações atuais de trabalho nesse cenário mutante e de
impensáveis possibilidades responde de maneira condizente com as posturas e
ideologias ditadas pela forma de produção capitalista.
Os profissionais, inclusive os que estão iniciando a carreira como os
estagiários, estão sempre em estado de alerta, num devir constante, envolvidos
numa série de começos, ingressando em empresas muitas vezes sem ponderar se
elas atendem suas demandas de aprendizado e cultura, e se estão de acordo com
seus valores e busca de realização profissional, tudo isto para não fracassar frente à
família, amigos, professores, etc.
Assim, o mundo do trabalho torna-se, de forma rápida e surpreendente, um complexo monstruoso, que se por um lado poderia ajudar, auxiliar o homem em sua qualidade de vida, por outro lado – patrocinado pelos que mantém o controle do capital, da ferramenta diária que movimenta a escolha de prioridades, avassala o homem em todos os seus aspectos. Alguns são absorvidos, exigidos, sugados. Outros alçados a postos de poder e de liderança que reproduzem o capital virtual. (CAPITÃO; HELOANI, 2003, p.103)
Tal realidade contribui para a emergência de sofrimento psíquico, que tende a
ser reforçado pelo discurso ideológico de que o indivíduo é o único responsável pelo
seu desenvolvimento profissional, ou seja, é ele o provedor de meios para seu
sucesso, através do esforço e de sua competência. Tal discurso tende a culpabilizar
o indivíduo por suas derrotas e dar mérito a suas vitórias, sendo subsidiado pela
falsa ideia de que apenas a dedicação romperá com as fronteiras econômicas e
sociais. Retoma-se assim a visão da teoria do capital humano, na qual:
O processo de escolaridade era interpretado como um elemento fundamental na formação do capital humano necessário para garantir a capacidade competitiva das economias e, consequentemente, o incremento progressivo da riqueza social e da renda individual. (GENTILLI apud LEMOS et aL. 2009, p. 371)
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Estabelece-se uma relação causal entre formação e empregabilidade,
tornando a corrida por qualificação mais extensa e penosa, o que tende a moldar o
profissional às expectativas e exigências do setor produtivo. O trabalhador se vê
cercado por diversas possibilidades, sem que elas representem qualquer garantia de
segurança. Seu conhecimento fica sujeito a mudanças rápidas e é desvalorizado na
medida em que novas práticas vão surgindo. O profissional tem que se avaliar,
atualizar e modificar constantemente, pois a única certeza é a mudança.
Os processos seletivos estão cada vez mais impessoais e se tornam
angustiantes frente à altíssima concorrência que assola ainda mais as relações
interpessoais, tornando o outro fonte de preocupação e acompanhamento constante.
O grau de pessimismo tende a se elevar e a autoestima a decair, pois o olhar se
volta para as competências e qualificações do concorrente, mais do que para as do
próprio sujeito.
Figura 1 – Senac Publicidade 1
Fonte: SENAC 2011
Surge assim um paradoxo, através do trabalho “o sujeito tem acesso ao
reconhecimento de si mesmo e, simultaneamente, pela via da alteridade, ao
inelutável reconhecimento do outro.” (VIEIRA et al, 2007, p.156), porém, ocorre que
a lógica hipermoderna somada a organização do trabalho ditada pela forma de
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produção dominante, faz com que este mesmo trabalho distancie e reforce a
indiferença e a solidão entre os homens, já que ao se tornar maior o nível de
exigências por qualificação, aumenta-se também proporcionalmente o nível de
competitividade.
Sendo assim, o outro se torna opositor, representando mais um obstáculo a
ser superado, o que acentua e ratifica o individualismo hipermoderno.
O trabalho como regulador social é fundamental para a subjetividade humana, e essa condição mantém a vida do sujeito; quando a produtividade exclui o sujeito podem ocorrer as seguintes situações: reatualização e disseminação das práticas agressivas nas relações entre os pares, gerando indiferença ao sofrimento do outro e naturalização dos desmandos administrativos; pouca disposição psíquica para enfrentar as humilhações; fragmentação dos laços afetivos; aumento do individualismo e instauração do pacto do silêncio coletivo; sensação de inutilidade, acompanhada de progressiva deteriorização identitária; falta de prazer; demissão forçada; e sensação de esvaziamento. (CAPITÃO; HELOANI, 2003, p. 106)
O controle agora segue a lógica da sociedade hipermoderna através da
sedução no “sentido em que o processo de personalização reduz os quadros
rígidos e coercivos, funciona suavemente jogando a cartada da pessoa individual, do
seu bem-estar, da sua liberdade, do seu interesse próprio.” (LIPOVETSKY, 2005, p.
19).
O trabalho seguindo essa lógica integra não apenas a dimensão material,
mas toma para si a dimensão afetiva entre empresa e trabalhador, fazendo com que
perfis de profissionais sejam idealizados no estereótipo de “super-homens”, que
conseguem se superar a cada momento. Esta imagem é vendida e se torna um ideal
a ser atingido, o que, do contrário, faz do trabalhador um incapaz.
O marketing feito pelas empresas a fim de atrair o profissional que quando
estagiário se mostra mais propenso a ser seduzido faz com que esses
profissionais se identifiquem com a organização, com sua marca, valores e
objetivos, tomando estes como seus. O apelo se torna subjetivo e se estende após a
contratação do profissional, a produção é atrelada ao afeto, à imaginação e à
sensibilidade.
Ao reconhecer a subjetividade como fonte de produção de riqueza, as empresas estimulam o exercício da invenção no cotidiano do trabalho com o objetivo de transformar seus resultados em novas mercadorias, que serão produzidas em série e posteriormente consumidas pela população, que engloba também os próprios inventores. (MANSANO, 2009, p. 519)
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O trabalho organiza e dá sentido à existência humana, possibilitando seu
desenvolvimento e integração social. Diante da possibilidade de não inserção no
mercado profissional, não apenas distúrbios físicos podem se manifestar, mas
também psicológicos, visto que a crise pode afetar a condição subjetiva do
trabalhador, tornando-o desconfiado, paranóico e pouco solidário em razão da rotina
de concursos em que vive e que assombra como nunca suas relações de trabalho.
[...] É por meio do trabalho que o homem se autoproduz: desenvolve habilidade e imaginação, aprende a conhecer as forças da natureza e ao desafiá-las, conhece suas próprias forças e limitações, relaciona-se com os companheiros e vive o afeto de toda relação, impõe-se uma disciplina. (ARAÚJO; SACHUK, 2007, p.55)
A ruptura entre trabalho e afeto pode desalojar o sujeito e transparecer em
sentimentos de desvalorização e incapacidade, com críticas profundas a si mesmo,
insatisfação e medo em relação à carreira, distanciamento social e culpa, o indivíduo
passar a trabalhar apenas para atender a um interesse e imposição coletiva.
“Trabalhar é impor à natureza a nossa face, o mundo fica mais parecido
conosco e, portanto, nossa subjetividade depositada ali, fora de nós, nos
representando.” (CODO, 1993, p. 190). Sendo assim, infere-se que o trabalho deve
proporcionar autonomia ao sujeito, liberdade de expressão e principalmente
identificação com as tarefas que realiza e com o produto delas.
Através do trabalho o homem completa sua formação social, ética e política,
descobre novas possibilidades e maneiras de se portar e lidar com o mundo. Ele
representa uma
instância privilegiada de inserção social, que comparece, de modo decisivo, para as produções da subjetividade, possuindo papel fundamental na construção de projetos de vida dos jovens que possibilitem o desenvolvimento de trajetórias e narrativas consistentes. (MAIA; MANCEBO, 2010, p.378)
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3 A GERAÇÃO Y E A RELAÇÃO COM O TRABALHO
Segundo Lipkin e Perrymore (2010), “a Geração Y, também conhecida como
Geração Millennials, Geração da Internet e iGeração”, nasceu, embora haja pouco
consenso, entre os anos de 1980 e 2000. Concebidos na era digital e democrática,
jovens dessa geração estão presenciando profissionalmente o modelo hipermoderno
de organização do trabalho. Tais jovens cresceram junto com o desenvolvimento da
internet e da informática, além do desenvolvimento de grandes potencias mundiais.
Essa geração se encontra imersa em tecnologia, sendo bombardeada por
informações, fatos e ideias a todo o tempo.
Os jovens da geração Y se caracterizam pelo dinamismo, inovação,
criatividade, crença em seus próprios valores e imediatismo. Mostram-se capazes de
grande performance e aprendizado. Almejam simultaneamente diversas
possibilidades, precisando constantemente de novos desafios para continuar
motivados. Visam à realização profissional em consonância com a realização
pessoal, ou seja, buscam não o equilíbrio entre elas, mas a interação, o que significa
que o ambiente de trabalho é como uma extensão de sua vida e não ela própria.
Representam o perfil da sociedade hipermoderna,
(...) sociedade aberta, plural, levando em conta os desejos dos indivíduos e aumentando a sua liberdade combinatória. A vida sem imperativo categórico, a vida kit modulada em função das motivações individuais, a vida flexível da época das combinações, das opções, das fórmulas independentes tornadas possíveis por uma oferta infinita.” (LIPOVETSKY, 2005, p. 19)
São filhos da geração X, criada com um estilo de educação mais rígida e
categórica, educação esta que foi contestada, o que gerou mudanças na maneira da
Geração X perceber, lidar e atuar no mundo, principalmente na criação de seus
filhos Y.
Os pais da Geração Y procuraram se concentrar em desenvolver um bom relacionamento com seus filhos, dando-lhes apoio, força e proteção incondicional, além de proporcionar os meios para que eles crescessem e se expressassem livremente. Essa revolta parental, junto com as mudanças culturais dos últimos 20 anos (mudanças acadêmicas, sociais, políticas, ambientais, globais, tecnológicas), produziu grandes mudanças na criação da Geração Y e em seu subseqüente comportamento profissional. (LIPKIN; PERRYMORE, 2010. p. 3)
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Tais mudanças fizeram com que a Geração Y desenvolvesse um olhar mais
autocentrado sobre o mundo, o que fez com que atuem nele com maior crítica,
ousadia e vontade de se sobressair frente aos outros, independentemente das
diferenças de idade, sexo ou capacitação, seja ela técnica ou comportamental. “As
pessoas da Geração Y foram criadas com uma grande base de autoestima. A elas
era dito que podiam ser e fazer o que quisessem, o que, por sua vez, gerou uma
população consciente de seus pontos fortes.” (LIPKIN; PERRYMORE, 2010. p. 12).
Os Y são bastante proativos, informados e criativos, com boa desenvoltura
social, porém, também se caracterizam por serem bastante exigentes, afoitos por
gratificações, feedbacks e retornos rápidos sobre seu trabalho, comportamento e
expectativas.
Devido à autoinflação do ego, fruto da super proteção de seus pais, que
tiveram presença marcante em suas decisões, protegendo-os e orientando-os
constantemente sobre diversas circunstâncias, dificuldades, medos ou dúvidas,
esses jovens foram mal preparados para lidar com a realidade, possuem uma
tendência maior a dependência, insegurança e falta de confiança.
Necessitam de constantes orientações e recompensas para se sentirem
reconhecidos e valorizados, já que cresceram ouvindo muitos elogios e poucas
críticas que proporcionassem o aprendizado para lidar com a frustração.
Quando recebemos recompensas e elogios por um desempenho abaixo da média, desenvolvemos expectativas de reconhecimento por tudo o que fazemos. Essas expectativas vão ficando casa vez maiores com a idade se não forem corrigidas. (LIPKIN; PERRYMORE, 2010, p. 70)
Diante disso, os jovens tornaram-se muito sensíveis ao fracasso e as
dificuldades encontradas podem fazer com que não levem adiante muitos projetos,
sua motivação e compromisso com o trabalho sejam afetados, além de abalar sua
autoconfiança. Esses jovens necessitam desenvolver a paciência e a capacidade de
renunciar a reforços positivos de curto prazo.
Os preceitos hipermodernos tendem a medir o valor de um profissional de
acordo com o desempenho e resultados que apresentam, o que tende a intensificar
a angústia dos jovens, visto que eles crescem sem visualizar outra opção que não
seja a vitória. Estão condenados a sempre ter de responder de maneira satisfatória a
todas as demandas, sem fraquejar ou ter tempo de aprender e/ou refletir com os
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erros. Isso reforça a dificuldade deles em lidar com os problemas e inviabiliza o
reconhecimento de suas limitações e consequentemente a possibilidade de trabalhá-
las, para assim desenvolver o autoconhecimento.
No mundo profissional, os Y exigem que as normas e cultura das empresas
sejam revistas, solicitam flexibilidade, menos formalidade e rigidez quanto a
vestimentas, etiqueta e hierarquia, porém, tratando-se do ambiente tradicional de
trabalho, essa Geração, muitas vezes, tende a ser vista como prepotente
inconsistente e ansiosa.
Como foram criados sendo o centro das atenções, os jovens podem
apresentar dificuldades em se adaptar às rotinas de trabalho, regimento interno,
forma de se comunicar e hierarquia da organização, sendo pouco realistas e
exigindo ser reconhecidos rapidamente, por seu talento e não pelo tempo de carreira
e experiência adquirida.
A elevação da autoestima a qualquer custo acabou dando lugar a ideia de que as falhas não vêm de dentro, mas de fora, o que dificulta autorregulação independente e a capacidade de aprender com os erros. (LIPKIN; PERRYMORE, 2010, p. 24)
Quando percebem que não podem promover mudanças na proporção e
âmbito que esperam, a nova geração de profissionais tende a se sentir
decepcionada, interpretando, muitas vezes, precipitadamente, que estão sendo
subaproveitados, o que faz com que não permaneçam por muito tempo num mesmo
trabalho ou que se recusem a fazer tarefas que julgam banais ou que percam
progressivamente a motivação e o empenho.
Esses jovens tendem a ser profissionais que sabem trabalhar em equipe,
prezando por líderes coerentes, justos e empáticos, os quais muitas vezes são
vistos como mentores, substitutos dos pais. Sendo assim, a importância que os
novos profissionais dão ao trabalho tende a ser mais ideológica do que econômica.
Para eles, os valores da empresa devem ser compatíveis com seus valores
psicossociais.
Os “Y” tendem a buscar trabalhos que permitam o estabelecimento de
vínculos afetivos positivos e sua fonte de satisfação no trabalho se encontra nos
relacionamentos, nas possibilidades de aprendizado, desenvolvimento e
principalmente na identificação com as tarefas realizadas. “A Geração Y valoriza o
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tempo livre, a energia e a saúde no trabalho, que deve ser parte da vida, não a
própria vida.” (LIPKIN; PERRYMORE, 2010, p. 3)
Segundo a pesquisa da Cia de Talentos citada por Oliveira (2010), para os
jovens da geração Y
um dos principais motivos para escolher uma empresa na qual trabalhar é um ambiente agradável, que não intimida, mas promove o bem-estar e o respeito, no qual o trabalho é quase um lazer com constante movimento criativo e um bom relacionamento com os colegas. (CIA DE TALENTOS apud OLIVEIRA, 2010, p. 66)
Essa geração necessita agregar sentido ao que realiza, envolvendo-se em
atividades prazerosas, que lhe proporcionem relações amistosas, possibilidades de
ascensão e desenvolvimento rápido. O trabalho deve ser sinônimo de desafio,
autonomia, flexibilidade e realização pessoal.
Atualmente, o primeiro momento em que organizações e a geração Y,
enquanto estudantes se relacionam através de vínculos de trabalho, ocorre na
experiência de estágio. A Lei 11.788/2008 (BRASIL, 2008) no parágrafo 1º do artigo
1, define o estágio como sendo um ato educativo escolar supervisionado,
desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho
produtivo de educandos.
Ainda de acordo com a legislação, no parágrafo 2º do artigo 1, o estágio visa
ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e à
contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para a vida
cidadã e para o trabalho.
Nota-se que a lei estabelece como propósito da experiência de estágio, não
apenas o aprendizado, mas também o compromisso social, ou seja, a contribuição
do profissional para o exercício da cidadania. Segundo Zubiri citado por Perelló
(1998),
O estágio, como prática, forma a base e o resultado da educação, pois transforma o pensamento, o conhecimento, em mercadorias e serviços elementares à sustentação e a expansão de qualquer grupo humano. Pensar e realizar o pensamento será o fundamento da prática – estágio. (ZUBIRI apud PERELLÓ, 1998, p.25)
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A instituição de ensino tem como papel mediar e regulamentar a situação de
estágio entre aluno e a instituição concedente, assim como avaliar a experiência de
estágio quanto à adequação à formação cultural e profissional do educando.
Porém, o que se observa é que a prática de estágio em algumas
organizações não cumpre seu papel de educar e formar cidadãos mais conscientes
sobre sua contribuição social. Isto significa que muitas vezes, o trabalho realizado no
estágio ultrapassa as atividades próprias da área de conhecimento do curso de
graduação do estudante, utilizando-o como funcionário administrativo.
Os jovens profissionais motivados e sedentos por qualificação, que se
mostram capazes de “oxigenar” e renovar a organização, inovando-a ao apresentar
ideias criativas, trazer soluções práticas e promover a descontração no ambiente,
muitas vezes têm sido considerados como um meio de se obter “mão de obra
barata”. Também representam para a empresa, a possibilidade de formar
profissionais conforme suas normas e cultura, treinando-os a reproduzir e adaptar
esses preceitos a qualquer situação. Sendo assim, o objetivo do estágio, que é o
desenvolvimento e formação do educando para a vida cidadã e profissional não se
concretiza.
O jovem ao ingressar no mercado de trabalho como estagiário, já sente e
percebe como o nível de exigências por competências, sejam elas técnicas ou
comportamentais têm se elevado. As organizações almejam um profissional pronto e
completo em curto espaço de tempo, que seja capaz de gerar lucros a qualquer
custo (dele), isto já desde a experiência de estágio. Muitas empresas cobram a
performance de um profissional sênior dos estagiários, porém os tratam e
remuneram como um profissional júnior.
Diante de tal realidade, esse momento na trajetória profissional pode se tornar
sinônimo de ansiedade, angústia e medo, visto que o jovem estagiário se encontra
em meio a uma turbulência de exigências e demandas às quais tem que responder
para que suas perspectivas de carreira tenham a chance de ao menos existirem,
tamanha a alta competitividade e cobrança contínua por qualificação e resultados. A
dificuldade que esses jovens têm de lidar com o fracasso é duplicada diante das
exigências sociais.
21
Figura 2 – Senac Publicidade 2
Fonte: SENAC 2011
A geração Y, que tanto preza qualidade de vida e identificação com o
trabalho, agora se vê fazendo escolhas, muitas vezes contrárias às suas convicções,
a fim de garantir seu lugar no mercado profissional. Os sacrifícios feitos em razão da
organização, sustentados pelos ideais e representações que a revestem, mostram-
se válidos principalmente pela relevância social que têm para as pessoas as quais,
essa geração, necessita provar sua capacidade e, inclusive, para si mesma, já que
cresceu cercada de elogios. O desespero pela sobrevivência social e psicológica faz
com que seus valores sejam adaptados e o trabalho, muitas vezes, torna-se
desprovido de prazer e significado.
Atualmente, a legislação estabelece que a jornada de estágio extracurricular
para estudantes do ensino superior terá duração máxima de seis horas diárias,
perfazendo um total de 30 horas semanais, com contrato de duração máxima de
dois anos, carga horária que não poderá ser excedida e deverá ser compatível com
a jornada escolar do aluno. O estudante com contrato de estágio superior a um ano
tem direito a férias remuneradas, preferencialmente em consonância com o recesso
escolar.
22
Porém, o que se nota é que os profissionais Y, na busca por uma colocação,
já que não podem fracassar socialmente, sujeitam-se a rotinas longas, estressantes
e desgastantes, tanto físicas como emocionais. Seu trabalho não se encerra com o
fim da jornada diária e os prazos e cobranças muitas vezes fazem com que o
trabalho seja “levado para casa”, privando o sujeito de horas de descanso ou estudo.
Soma-se a isto, a ilusão e sedução da sociedade capitalista, que associa
sucesso profissional apenas a boa remuneração e status social.
O adestramento social já não se efectua através da coerção disciplinar nem mesmo da sublimação; efectua-se por meio da auto-sedução. O narcisismo, nova tecnologia de controlo flexível e autogerido, socializa dessocializando, põe os indivíduos de acordo com um social pulverizado, glorificando o reino da plena realização do Ego puro.” (LIPOVETSKY, 2005, p. 53)
O jovem estagiário se depara muitas vezes com tarefas delegadas que vão
contra seus valores, perspectivas e capacidade de produção. A rotina de estudos,
lazer, amigos e demais interesses agora se chocam com a rotina da organização.
Esse princípio de realidade adentra e fere o psiquismo humano, fazendo com que as pessoas sintam-se exigidas; o sentimento de impotência e de desvalorização, que leva as pessoas pouco resistentes a degenerar-se rapidamente, avilta de si qualquer potencial humano que pudesse se somar as conquistas da civilização. (CAPITÃO; HELOANI, 2003. p.103)
A realidade sócio-histórica na qual o estagiário está envolvido cobra alta
performance em curto espaço de tempo, impõe uma rotina de constante formação e
atualização. O estagiário tem que ser ao mesmo tempo flexível, ousado, dinâmico,
criativo e maduro, características essas que já fazem parte do repertório
comportamental da Geração Y, mas frente a alta concorrência tem que ser
constantemente otimizados.
Os gestores traçam o perfil comportamental de seu estagiário
estrategicamente, com o objetivo de treinar o mais rápido e eficazmente possível o
jovem profissional para trazer resultados para a empresa.
Porém, o caminho entre a admissão do estagiário e o momento em que ele
pode ser promovido na empresa, torna-se muitas vezes angustiante, cansativo e
desesperador, já que sua efetivação depende de sua performance. Nesse processo,
o estudante tem que lidar com pressões, cobranças excessivas, chefias autoritárias,
estresse, desvalorização, dificuldades nos relacionamentos interpessoais,
23
incompatibilidade de valores, dentre outros, tudo isto somado a ainda ter que
administrar sua vida acadêmica.
A insegurança quanto ao seu futuro profissional pode fazer com que o jovem
estagiário aceite se subordinar às condições de trabalho desgastantes e produzir
muito além de suas possibilidades. Isto para tentar garantir um possível emprego.
Essa situação pode desencadear sofrimento psíquico, visto que há um
desvencilhamento entre o afeto e o trabalho na medida em que
o modo de produção separa o produtor de seu produto, transforma os trabalhos diferentes, portanto portadores de subjetividades diferentes em iguais, mercadoria como qualquer outra a ser vendida no mercado, transformação do trabalho em força de trabalho, impedindo a subjetivação do indivíduo no trabalho e empurrando o ser subjetivo do homem para fora da fábrica, restrito ao lar. (CODO, 1993, p.193)
A competitividade e demanda de exigências tendem a ser naturalizadas e
encaradas como fatores que devem ser vencidos a todo custo. Diante dessas
dificuldades, os jovens tendem a não visar a alterar ou questionar a realidade na
qual vivem comportamento típico e esperado dessa geração mas apenas
adaptar-se a ela. Ao jovem profissional cabe apenas conviver com o movimento
contínuo de incertezas quanto ao futuro e aproveitar ao máximo as oportunidades,
mesmo que elas sejam efêmeras e angustiantes.
24
4 ANÁLISE DE DADOS
A análise de dados foi feita a partir do discurso de estagiários, obtidos através
de entrevistas.
4.1 Metodologia
A presente pesquisa teve caráter exploratório, foi realizada buscando “o
aprimoramento de ideias, a familiarização com o problema proposto, ou seja, a
tomada de conhecimentos do tema a ser estudado.” (FARIA, 2007, p. 31). O método
utilizado para análise foi o qualitativo; para a coleta de dados foram realizadas
entrevistas semi-estruturadas.
Participaram da pesquisa alunos dos cursos de Psicologia, Administração e
Engenharia, cursos que foram escolhidos por representar, na PUC-MG, cada um
deles, três áreas de conhecimento: Saúde, Humanas e Exatas. Os estudantes foram
escolhidos aleatoriamente nos períodos finais da graduação (7º e 8º ou 9º ou 10º),
pois a intenção da pesquisa foi obter informações de estagiários que já estejam
prestes a se formar e a entrar no mercado de trabalho. A idade estipulada foi de 22 a
27 anos, considerando esta como a faixa etária predominante em que os estudantes
de fim de curso se encontram. Não se considerou o sexo dos entrevistados,
variações neste sentido não foram investigadas. Foram realizadas 12 entrevistas, 4
estudantes de cada curso anteriormente citados foram selecionados.
As entrevistas foram realizadas individualmente pela pesquisadora no horário
de aula dos alunos. Buscou-se com o instrumento conhecer a opinião dos
estagiários sobre suas vivências profissionais e perspectivas de carreira. O relatório
da pesquisa foi organizado através da análise qualitativa das respostas e falas dos
estagiários.
4.2 Perfil dos entrevistados
As entrevistas foram realizadas durante o mês de março/abril, com doze
estudantes do ensino superior: quatro estudantes do curso de Psicologia, quatro de
Engenharia e quatro do curso de Administração, estudantes que se encontram nos
períodos finais da graduação (7º ao 10º). A escolha dos entrevistados foi aleatória.
25
Todos os entrevistados realizam estágio há no mínimo, 6 meses em organizações e
instituições da sociedade belo-horizontina. Segue abaixo o perfil da população
pesquisada:
Quadro 1 – População pesquisada
Fonte: Dados da Pesquisa
4.3 Resultados
Nos relatos dos entrevistados, nota-se que todos os estudantes avaliam suas
experiências de estágio como proveitosas, há um consenso de que o estágio
proporciona aprendizado e oportunidade de crescimento. Observa-se nas
afirmações que os estudantes tendem a enxergar no estágio um meio de se
capacitar e de se preparar para o mercado e que sem ele, suas perspectivas de
ingresso no mercado de trabalho seriam bem menores.
Segundo eles, o estágio ajudou a adquirir competências necessárias para o
exercício competente e autônomo da profissão; a maioria deles ressaltou
principalmente o quanto se desenvolveram tecnicamente, porém enfatizaram que
muito ainda precisa ser estudado. Nota-se que o discurso da qualificação é bastante
presente; ela nunca é suficiente e está sempre em processo.
IDENTIFICAÇÃO
IDADE
SEXO
PERÍODO
CURSO
TEMPO NO ATUAL
ESTÁGIO
A.C.M 23 Feminino 10º Psicologia 1 ano e 10 meses
M. M. A. O. 23 Feminino 10º Psicologia 6 meses
M. K.S 27 Feminino 9º Psicologia 1 ano
K. C. O. R. 24 Feminino 9º Psicologia 1 ano e 11 meses
C. R. D. G. 24 Masculino 10º Engenharia 2 anos
E. O. C 24 Feminino 10º Engenharia 1 ano e 5 meses
C. R. A. A. 22 Masculino 9º Engenharia 1 ano
R. M. R 24 Masculino 9º Engenharia 1 ano e 1 mês
L. F. P. 22 Feminino 8º Administração 11 meses
L. D. S. 23 Feminino 8º Administração 6 meses
R. N. M. 20 Feminino 7º Administração 6 meses
N. R 23 Feminino 7º Administração 1 ano e 4 meses
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“Hoje eu vejo que pessoas qualificadas, que estão sempre se qualificando, que se preocupam com sua formação, têm lugar no mercado sim...” (M K. S. – Estudante de Psicologia) “Então o negócio é sempre você estar correndo atrás, sempre tentando mudar de emprego, ir pra uma empresa melhor, que te valoriza mais, que tem uma possibilidade de você seguir carreira lá dentro, pra tentar melhorar a situação.” (C .R. A. A – estudante de Engenharia)
“Quanto mais você quiser se capacitar, você que tem que ir atrás, principalmente como estagiário, eu vejo isso até um pouco em empregado, mas estagiário é muito maior (intervenção) Porque estagiário é escraviário, eles não querem ficar gastando muito dinheiro com um possível profissional, que eles não têm certeza se vai permanecer ou não na organização.” (L. F. P. – estudante de Administração)
A maioria dos estagiários afirmou se sentir desgastado com a rotina de
estágio e estudo. Todos eles apontaram dificuldades em administrá-la, informando
que não conseguem distribuir assertivamente o tempo que possuem pelas
atividades que têm que realizar, visto que o estágio ocupa grande parte de suas
preocupações. Além disso, todos demonstraram que com o estágio em seu dia-a-
dia, o tempo para lazer, família e amigos diminuiu, fazendo com que eles tivessem
que estabelecer prioridades, abrindo mão de sua vida social para adiantar alguma
atividade de estágio ou estudar algum conteúdo de disciplina atrasado ou qualquer
atividade que não pode ser feita durante a semana.
“É muito complicado, principalmente final de semestre, é desesperador, parece que eu não vou dar conta, dá vontade de largar tudo, de parar tudo...” (K. C. O. R. - Estudante de Psicologia)
“Ah a gente sente né, porque o tempo reduz, então a você tem prioridades, então às vezes o tempo de estágio é o tempo que você tinha pra ficar com seus colegas, que você tinha que ficar com sua família principalmente, era o tempo que “cê” tinha até pra você mesmo, “pro cê” descansar e tudo e aí você não tem mais, e aí o tempo que você tem livre você tem que priorizar outras coisas, por exemplo, da faculdade que antes você tinha o tempo do estágio pra fazer e que agora você não tem mais, então você acaba que tem que priorizar determinadas coisas e sua vida social fica bem de lado.” (A. C. M. – Estudante de Psicologia)
“A partir do momento que a gente leva mais a sério o profissional a gente deixa algumas coisas de lado, então no meu caso foi uma escolha no decorrer desse meu processo de aprendizado, é eu deixei de namorar pessoas pra se dedicar ao ambiente de trabalho, porque eu tenho certeza que nenhuma pessoa ia gostar ou a família ou os amigos ia gostar de me ver o tempo todo preocupado com o ambiente de trabalho, preocupado com o dia-a-dia, então eu já deixei sim de sair, ter lazer, já deixe de freqüentar algumas aulas, já deixe de viajar, de curtir o final de semana mesmo por questão de trabalho” (C. R. D. G. – Estudante de Engenharia)
27
“Sim, porque você quer mostrar serviço, você quer ficar até tarde no estágio, quer ficar correndo atrás, eu faço inglês e tenho que estar aqui (faculdade). Quando vai chegando à reta final, mais você deixa a faculdade de lado.” (L. F. P. – estudante de Administração)
O excesso de trabalho também foi muito relatado, principalmente pelas
estudantes de Psicologia. Nota-se que a alta performance tão cobrada no mercado
de trabalho, já atinge os profissionais desde quando eles atuam como estagiários. O
número alto de demandas demonstrou ser um fator de ansiedade e desgaste físico e
psíquico:
“Tinha vez que eu tinha que contratar quase cinquenta pessoas, cem pessoas, tinha que viajar pra fazer a contratação, tinha que chegar, ver os testes, fazer os laudos, ainda cuidar das outras vagas mesmo. Eu cheguei a pensar:, gente eu não vou aguentar, é muita coisa né?.” (K. C. O. R. - Estudante de Psicologia)
“Junto com a faculdade fica muito pesado, tem semanas que é mais tranqüilo, mas têm semanas, por exemplo, essa semana pra mim é complicado, tem muita prova, muito trabalho, mas eu acabo conciliando porque eu não quero abrir mão do estágio, Estágio pra mim é muito importante, justamente pelo que eu te disse, de em me preparar pro mercado de trabalho, então eu concilio. Vai chegando final de semestre eu emagreço, mais ou menos uns quatro, cinco quilos, todo final de semestre eu emagreço, de tanta correria, de tanta loucura, mas eu gosto, eu vou lidando com isso. (M. K.S. – Estudante de Psicologia)” “Às vezes a minha chefe me dá atividades demais, atividades assim que eu ainda não estou preparada para tomar uma decisão sozinha sem ninguém, sem ela, e... e aí eu fico com medo de não conseguir atender as expectativas dela, né?” (K. C. O. R. - Estudante de Psicologia) “Eu ficava atoa em casa e de uma hora pra outra eu comecei a estudar e trabalhar, mesmo que fosse seis horas, no início foi um impacto.” (M. M. A. O. – estudante de Psicologia)
Verifica-se nas falas que as estudantes sofrem psiquicamente com as
pressões no trabalho. Delas são cobrados resultados como de um profissional já
formado e experiente. Nota-se que essa pressão somada ao medo de não agradar
ao outro, são fonte de insegurança e ansiedade. A própria ideia de não
responderem a todas às demandas em tempo útil representa uma ameaça às suas
chances de contratação.
“Mesmo sendo estagiário, as cobranças para entrega das tarefas impostas são comuns no meu estágio atual.” (R. M. R. - Estudante de Engenharia) “Eu, como estagiário também cubro férias de colaboradores, são profissionais ali que devem estar a seus vinte, trinta anos, não sei, quase aposentando, mas com a ausência deles, é em modo de email formalizado, em que o estagiário né, será responsável por tal projeto ou pela tal gestão.
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Eu me sinto privilegiado por tanta responsabilidade, por tanta confiança que a própria empresa e os gestores me dão, mas ao mesmo tempo eu não me sinto confortável, pois são responsabilidades muito grandes e que podem acarretar, não sei, demissão até mesmo pra pessoa que me passou.” (C. R. D. G. – estudante de Engenharia) “O pessoal eles acham que é um faz tudo dentro da empresa, então a gente acaba tomando antipatia.” (L. D. S. – estudante de Administração)
Quanto a ter que tomar medicação para conseguir responder ao esforço,
tensão e/ou estresse sentidos durante o estágio, apenas uma estudante informou
que isso foi necessário:
“Tive que tomar antidepressivo, comecei também o acompanhamento psicológico por causa de estágio, porque eu não conseguia lidar bem com a equipe, eu achava que eles eram... que eles exigiam mais do que eu podia dar. E assim, eu acho que em estágio tem que ter um tempo, por exemplo, lá eles exigem muito de mim coisa que eu não sabia, não sei, eles fazem muita pressão.” (L. D. S. - Estudante de Administração)
A concorrência que os estudantes enfrentam, a instabilidade do mercado de
trabalho e a insegurança quanto ao futuro são fatores que contribuem para o
aumento do nível de ansiedade, receio do mundo profissional e falta de confiança no
futuro.
“O mundo do trabalho muitas vezes não é justo, não é justo assim. Nem sempre a pessoa cresce só por competência ou só por mérito dela, mas tem uma série de fatores que às vezes uma pessoa que não é tão competente e passa na sua frente e cresce mais dentro de um lugar do que você.” (A. C. M. – Estudante de Psicologia) “hoje em dia, o mercado está altamente competitivo e cada vez exige mais do empregado e... queira ou não o que prevalece no mercado hoje é a indicação né... quanto maior sua networking, melhor sua possibilidade de emprego garantido e não mais só por sua própria competência, é lógico que você tem que ter sua competência, tem que ter um currículo bacana e além disso agora tá tendo essa, uma outra concorrência que seria as indicações, Se você conhece alguém forte numa empresa você acaba entrando lá. Então você tem que dar o dobro do seu potencial pra conseguir alguma coisa, às vezes fica sendo desgastante, mas é você não desistir.” (E. O. C. – Estudante de Engenharia) “Sim, eu acho que é uma disputa mais na teoria, de conhecimento, prática, teórica, é ruim, aí você chega a pessoa tá num período maior, tem um conhecimento mais amplo, ta aplicando na prática o que já viu na teoria, então acaba sendo mais competitivo, se volta mais por interesse, eu já posso ser contratada, tenho mais tempo que você, sendo que eu não terminei o curso.” (L. D. S. – estudante de Administração)
Na fala dos estudantes, foi possível perceber como se tornou naturalizado o
discurso de que o excesso de trabalho, cobrança e esforço são práticas típicas do
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ambiente organizacional e sem eles não é possível se manter trabalhando.
Colocações do tipo: “É assim mesmo, vai, vai dar certo” (N. R. - estudante de
Administração) são comuns, o que reforça o ideal social de que para se conseguir
um lugar no mercado de trabalho, o profissional deve habituar-se a rotinas
desgastantes, mascaradas pelas representações sociais de que “sofrer” no trabalho
é comum.
“Hoje eu acredito que tem um maior desgaste mental, por causa da pressão, você tem que entregar aquilo tudo na hora e correndo.” (C. R. A. A. – Estudante de Engenharia)
“O meu tempo diminuiu bastante nos estudos, pra dedicações a graduação, mas em contrapartida eu acho que eu ganho muito; aquela preocupação de fazer mais o filme, pra ter uma garantia da contratação.” (E. O. C. – Estudante de Engenharia)
“No dia-a-dia, o psíquico foi bem abalado e por isso que eu falei que eu tento separar essa parte pessoal com o trabalho. O estresse também conta, as preocupações contam, as noites mal dormidas contam e então eu acho que a demanda a preocupação no trabalho também influenciam.” (C. R. D. G. – Estudante de Engenharia)
Os estudantes enfatizaram a questão do receio de não conseguir apresentar
resultados ou responder pelas responsabilidades:
“Sobre os procedimentos, também encontrei dificuldades nas primeiras vezes de realizá-los, e um pouco de insegurança também, com medo de algo dar errado, pois a responsabilidade é um pouco grande.” (N. R. - Estudante de Administração) “Você tem que estar preparado pra qualquer coisa, então quando você estiver formado e tiver um emprego na área você vai ter umas situações que não vai ter mais desculpas, ah eu sou estagiário então eu posso deixar pra amanhã. Você tem que resolver aquilo e a sua vida vai ser dedicada a empresa, você tem que ficar bem antes, o tempo todo” (C. R. A. A– Estudante de Engenharia)
O discurso ideológico de que o indivíduo é o único responsável pelo seu
desenvolvimento profissional, ou seja, é o provedor de meios para seu sucesso,
através de seu esforço e de sua competência foi identificado na fala dos
participantes. Eles atribuem apenas a si a responsabilidade pelo sucesso de sua
carreira e afirmam que se esforçam o quanto podem:
“Sou uma pessoa determinada, e gosto do que faço, assim espero ter uma carreira profissional digna, com responsabilidade e determinação. Digo espero, mas farei o possível para ser assim.” (K. C. O. R. - Estudante de Psicologia)
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“Acho que o importante é a força de vontade para superar desafios, que no meu ponto de vista é essencial, pois a teoria vista em sala de aula é só um suporte para o dia-a-dia. O diferencial está em saber lidar com as pessoas e passar segurança. Mesmo que o assunto ou trabalho imposto seja novidade no momento em que é passado, cabe ao profissional ter a capacidade de achar a melhor solução não medindo esforços para tal.” (N. R. - Estudante de Administração) “Eu quero me preparar mais, e a gente sabe que um curso superior não é nada, a gente tem que se especializar e estudar cada vez mais.” (M. K. S. – Estudante de Psicologia) “Olha, porque a questão da competição eu tenho, porque eu comecei muito tarde. Eu sinto que eu poderia estar bem mais capacitada.” (L. F. P. – estudante de Administração)
Nota-se também que os estudantes entrevistados tendem a dirigir sua carreira
para as exigências do mercado, baseando-a no que, naquele momento, é julgado
como o melhor curso, treinamento e caminho a se seguir.
“Me mantenho informado das necessidades do mercado profissional atual e futuro. Assim, tento me direcionar no mercado e me aprimorar, tento buscar os requisitos exigidos atualmente, com objetivo de fazer o que gosto no lugar certo.” (R. M. R. - Estudante de Engenharia Eletrônica)
Quando perguntados se mudariam de estágio, os entrevistados disseram que
não, isso ocorreria apenas se já ingressassem na nova empresa com a possibilidade
de serem efetivados. Esse fator possivelmente foi influenciado pelo fato de que a
busca por um estágio no final do curso acarretaria um grande desgaste, visto que as
oportunidades de mercado são menores, o que torna a rotina de seleção mais
angustiante. Além de que muitos não trocariam “o certo pelo duvidoso”, já que
esperam ser contratados, depois de formados, pelas empresas em que atuam.
Os estudantes afirmaram que percebem que estão sendo reconhecidos na
medida em que seus gestores os estimulam e elogiam, o que ratifica o quanto a
Geração Y necessita ser incentivada e encorajada para se sentir mais autoconfiante
e capaz.
“Através de resultado, de elogio da Mary (supervisora) e dos clientes também, dessa forma” (M. K. S. – Estudante de Psicologia).
A importância da relação com profissionais mais experientes foi bastante
expressada. Os gestores são vistos como referenciais de conduta e
profissionalismo.
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“As experiências que eles me passam, as informações, os exemplos, as historias que eles já passaram e o que acontece no dia-a-dia com certeza são excelentes, é... para o meu futuro e não só as partes positivas as negativas também, eu também erro e nos erros eles também comentam, apresentam nos relatórios que é feito mensalmente, é também valorizado, as críticas construtivas.” (C. R. D. G. – Engenharia) “Muito, porque a medida do possível eles estão transmitindo conhecimento e você a medida em que vai tendo a convivência você vai captando, vendo o jeito que eles resolvem os problemas, executam as tarefas, então eu acho muito importante.” (L. F. P. – estudante de Administração)
Porém, quando questionados sobre o empenho dos gestores em orientar e
acompanhar atentamente o estágio, muitos estudantes se sentem insatisfeitos.
Nota-se que tendem a se sentir perdidos em suas atividades, sem saber ao certo se
estão realizando-as de maneira assertiva. Segundo eles, os supervisores do estágio
poderiam indicar com maior frequência e clareza os erros e/ou maneiras novas ou
mais práticas de realizar a tarefa. Segundo os estagiários, falta de tempo e realidade
da empresa, foram os motivos apontados pelas organizações em que atuam, para
justificar a falha na supervisão de estágio.
Esses discursos são mais presentes na fala das estudantes de Administração
e Psicologia, acredita-se que isso ocorre pelo fato de que esses cursos são mais
teóricos e amplos didaticamente, o que já não ocorre no curso de Engenharia, que
requer acompanhamento constante, pois depende de cálculos e medidas exatas.
“Não, não mesmo. Lá questão de horário é muito flexível, eles não estavam muito preocupados com os estagiários” (R. N. M. – estudante de Administração “Lá é muito corrido, então tem coisa que você tem que pegar e procurar outras pessoas pra fazer. Sinto mais falta de ser me repassado tarefas mais complexas que me ajudariam na minha formação.” (L. F. P. – estudante de Administração) “Atentamente não. (intervenção) Atentamente pra mim é aquela pessoa que tá sempre ali, tá sempre perguntando, sempre te supervisionando, tem a preocupação de te dar um feedback, isso não acontece, não é uma coisa constante.” (A. C. M. – estudante de Psicologia) “Sim, existe um programa de acompanhamento dos meus supervisores e padrinhos, em que ocorre uma avaliação a cada dois meses e encontro com todos os estagiários referentes à área de engenharia, a qual é discutido todas as questões em relação à evolução, opiniões e como posso te dizer... e também defeitos da empresa.” (C. R. D. G. – estudante de Engenharia)
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Todos os estudantes reconhecem a importância do trabalho em equipe,
afirmam que crescem e aprendem a lidar com seu temperamento diante do fato de
que necessitam dos outros para realizar seu trabalho.
“Eu acho que a gente aprende muito trabalhando em equipe, eu sou uma pessoa muito impaciente, você acaba adquirindo algumas habilidades necessárias quando você trabalha em equipe.” (R. N. M. – estudante de Administração)
As estudantes de Administração afirmaram que realizam ou já realizaram
atividades que vão além do âmbito de sua graduação:
“É lá na Caixa às vezes você tinha que comprar um cafezinho... Isso não me incomodava, mas incomodava muita gente lá dentro. Às vezes eu levava como um favor.” (R. N. M. – estudante de Administração)
“Várias, o famoso escraviário, tira o Xerox, monta uma pasta. No meu primeiro mês de estágio eu fiquei arrumando trinta armários, fazendo o 5S, era o 5S braçal, de ficar lá arrumando, não tinha ninguém pra parar e me ensinar, pra me dar um curso.” (L. F. P. – estudante de Administração)
Nota-se que conflitos entre gerações são presentes. Muitos estudantes da
Geração Y se sentem frustrados diante da resistência e divergência de opiniões de
profissionais mais experientes.
“Aí você estuda pra você ter um planejamento estratégico, pra você conseguir desenvolver alguma coisa com mais facilidade, aí a outra pessoa como ela já trabalha muito com aquilo há muito tempo, ela acha que tem um limite pra aquilo, não deixa ir além, então no caso, o que eu quero passar pra ir além é barrado.” (L. D. S. – estudante de Administração)
Todos os estagiários demonstraram receio de não conseguir arrumar um
emprego depois de formados, principalmente os do curso de Administração.
Acredita-se que isso ocorre pelo fato do curso em questão ser um dos mais
presentes no Brasil, o que amplia sua concorrência. Diferenciar-se nessa área exige
um esforço muito grande, além dos profissionais terem que competir com outros de
cursos técnicos ou que se especializam na área sem ser formados nela.
“Eu tenho muito medo, acho que todos que estão formando têm medo sim de sair da faculdade e não conseguir um emprego.” (N. R. – estudante de Administração)
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“É o meu maior medo no momento é de formar desempregada. (intervenção). Meio incompetente mesmo, porque o mercado está muito apertado. Talvez o que eu poderia ter feito é ter começado estágio bem mais cedo, ter começado muito tarde isso me prejudicou um pouco.” (L. F. P. – estudante de Administração) “Pela falta mesmo de experiência e prática, porque hoje em dia eles pedem curso, pedem pós-graduação e pedem muita experiência na área e as vezes eu fico com medo, com receio né.” (M. M. A. O. – estudante de Psicologia)
Verificou-se através dos relatos que os estagiários, em sua maioria, sentem-
se preparados para a vida profissional pós-universidade, porém têm consciência de
que para se manter no mercado de trabalho terão que competir e se qualificar
constantemente. Os estudantes demonstram como o relativismo e as
descontinuidades da época hipermoderna transparecem no campo do trabalho. As
mudanças são contínuas, manter-se atualizado requer estudo e esforço constante,
isto sem saber até quando será suficiente ou capaz de garantir sua posição.
Eu me sinto preparada sim. Nos primeiros dias ou semanas num trabalho acho que será tempo de adaptação (mas em todo local ou profissão existe isso), e com o tempo sei que “pegarei o jeito” e me acostumarei com o serviço. Entretanto acho que será necessário um pouco de estudo ao decorrer dos tempos, para estar sempre atualizada. (N. R. - Estudante de Administração) “Não 100%. Pela responsabilidade, eu acho que eu não atingi um nível bom ainda e pela minha capacidade técnica, qualificação mesmo. Hoje por mais que minha vontade de ser contratada é gigantesca, num lugar de analista, porque é um cargo bom pra um recém formado, por mais que a minha vontade é ser analista, eu no lugar da minha gerente eu não me contrataria, porque eu não tenho um nível em comparação aos demais profissionais, que seria um nível bom pra atuação das tarefas que tem que ser realizadas.” (L. F. P. – estudante de Administração)
Nessa questão, as respostas dos estudantes de Administração se mostraram
ser mais otimistas e imperativas. Boa parte dos que responderam afirmaram já ter a
capacidade necessária para assumir grandes responsabilidades.
“Acredito. Porque eu acho que hoje, eu consigo assimilar, depois das experiências também e também com a experiência teórica da faculdade, hoje se qualquer pessoa colocar uma empresa na minha mãe eu consigo lidar assim, ter autonomia e tato em todas as áreas.” (L. D. S. – estudante de Administração)
“Na verdade a única coisa que me falta é um cursos de inglês, eu acho que é só isso.” (R. N. M. – estudante de Administração)
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As respostas dadas sobre alguma desilusão sobre o mundo do trabalho
indicam que a Geração Y muitas vezes, se vê cercada de responsabilidades para as
quais não foi preparada.
“Sim, com certeza, você às vezes entra num lugar pensando assim, não vou mudar minha vida, vou receber, agora posso fazer de tudo. Aí com o emprego gera despesa, ai com a despesa já vem aquela responsabilidade, mas eu tenho que pagar aquela conta, tem que pagar isso, tenho que parar em tal lugar, tem que pegar... você tem que ter limite de horário, você não pode ultrapassar nada, você é obrigado a ter mais responsabilidade do que você é acostumado.” (C. R. A. A. – Estudante de Engenharia)
“A dificuldade em ver que você está crescendo, pô agora tenho que saber administrar o meu dinheiro, não é o meu pai que me dá mais. Tenho que começar a pensar no meu futuro, quero ser contratada, quero me tornar uma profissional, será que eu vou ter aquele impacto: Vou ser uma profissional, vou ter meu carro, ter minha casa, você vê que não é isso. É muita ilusão que a gente cria na cabeça da gente. Não você vai custar a ter sua casa, você vai custar a chegar. Você vê que quanto mais você trabalha, quanto mais você está no mercado, isso como estagiária que eu to falando, você vê melhor a realidade, de como que é, de quanto é difícil você alcançar maiores níveis, maiores patamares, profissionalmente falando.” (L. F. P. – estudante de Administração) “Eu conheço muita coisa e não conheço nada o que eu eles falam né, aí é mais difícil, aí você tem que saber em que área você vai atuar, o que você vai fazer, se eu consigo emprego ou não... é difícil, acho que em todo 8º período.” (L. D. S. – estudante de Administração) “Financeiramente sim, eu acho que a maioria dos estagiários de administração são muito mal valorizados, mas eu acho que é mais por causa da concorrência, tem muito curso de administração, então por causa da concorrência os salários do estágio são muito baixos. Mas só isso.” (R. N. M. – estudante de Administração) “Sim, um pouquinho da concorrência e até mesmo do profissional de Psicologia que se desvaloriza. Questão de como trabalhar, de aceitar algumas coisas. Nem é aceitar, é de expor o trabalho, de valorizar o nosso trabalho.” (M. M. A. O. – estudante de Psicologia)
Nota-se que os jovens se deslumbram com a possibilidade de conseguir a
independência financeira, porém a realidade que constatam os assustam, faz com
que eles tomem consciência das responsabilidades da vida adulta de forma penosa
e decepcionante. Suas respostas demonstram a imaturidade para lidar com seu
orçamento, com a administração de seu tempo, planejamento em longo prazo,
dentre outros.
35
5 CONCLUSÃO
Através desta pesquisa, foi possível constatar como as relações de trabalho
são atravessadas pelo consumo, individualismo e indiferença hipermodernos. O
trabalho que deveria ser um local de expressão das potencialidades humanas tende
a se tornar fonte de sofrimento, visto a alta competitividade e desvalorização
constante do saber do trabalhador, que é subjugado na medida em que novos
cursos, tecnologias e qualificações vão surgindo.
No caso dos estagiários, a situação se torna mais aversiva, uma vez que a
gama de opções, sejam elas de estudo, conhecimento e oportunidades são ainda
maiores, o que faz com que a preparação para o mundo do trabalho se torne mais
confusa e nômade, já que nunca se sabe o que é suficiente.
Esta pesquisa visou demonstrar como os futuros profissionais tendem a
responder às demandas do mercado, à competitividade e às exigências feitas. Nota-
se que entre eles há pouca ou nenhuma crítica quanto à perversidade dessa
realidade; para os estudantes, o discurso da competência tornou-se natural,
cabendo apenas a eles sobreviver e se adaptar ao mercado. Os estagiários
entrevistados não demonstraram claramente uma consciência social a respeito de
seu papel e capacidade de mudar esses preceitos e nenhuma pontuação a respeito
de alterar o sistema foi feita. Esperava-se que os estudantes de Psicologia
manifestassem algo a respeito, já que no curso de graduação debates em torno do
tema trabalho e subjetividade são constantemente realizados, porém isso não foi
verificado.
Ressalta-se também que o curso de graduação do estudante não
necessariamente é fator relevante para a reflexão da realidade do trabalho e seu
papel nela. Como foi dito, mesmo os estudantes de Psicologia que têm maior acesso
a esse tipo de tema e estudam a subjetividade humana, não demonstram crítica
quanto ao porquê de seguirmos essa lógica; que ideologias permeiam as relações
de trabalho e o que reproduzimos da realidade hipermoderna.
Isso fica ainda mais explícito nas colocações dos estudantes de Engenharia,
os quais não se mostraram capazes de perceber essa realidade, apenas se
submetem a ela e sentem seu peso. Neste caso, supõe-se que fatores como:
reconhecimento social das empresas em que atuam e do curso em questão tendem
36
a iludir o profissional, principalmente diante de um mercado tão aquecido para os
estagiários, além do histórico de valorização da profissão e remuneração atraente.
Ainda sobre a consideração social dos cursos em questão, é notável que
Psicologia e Administração não se situam no mesmo patamar de valorização social
como Engenharia e é perceptível na fala dos entrevistados dessas áreas a diferença
e consideração social quanto à forma como eles enxergam e acreditam nas
possibilidades de sucesso de sua carreira.
Observa-se que os estagiários tendem a assumir a visão da teoria do capital
humano, estabelecendo uma relação causal entre formação e empregabilidade.
Todos eles deixaram claro que com determinação e força de vontade conseguirão
consolidar sua carreira. Apesar de demonstrar segurança quanto a assumir
responsabilidades, é sabido que terão que se qualificar constantemente para se
manterem no mercado.
Os resultados demonstraram como o discurso da competência, da qualidade
e do “super homem” foram internalizados pelos jovens estagiários, fazendo com que
eles acreditem ser comum ter que suportar rotinas desgastantes e desleais a fim de
garantir sua colocação no mercado. Parece estar enraizado na mentalidade dos
estudantes e na da sociedade hipermoderna, a ideia de que “sofrer” faz parte do
caminho para o sucesso, que é comum todos os novatos terem que se sujeitar a
excessos de trabalhos, cobranças e responsabilidades, a fim de futuramente serem
recompensados.
Diante da constatação de que os jovens profissionais ainda não
desenvolveram uma consciência crítica sobre a precarização do trabalho que seja
capaz de modificar o círculo vicioso em que se encontram enquanto estagiários,
levantam-se duas questões similares:
1. Esses jovens profissionais que passam pela situação de sofrimento no trabalho
hoje, serão os mesmos profissionais que futuramente contribuirão para o sofrimento
de seus futuros estagiários?
2. Os jovens que sofreram há alguns anos atrás em suas experiências de estágio,
são os profissionais que hoje sugam e cobram excessivamente dos novatos?
37
Para que as perguntas sejam esclarecidas, mais pesquisas devem ser
realizadas. Quanto à indagação número um, seria interessante que os jovens em
questão fossem acompanhados em suas carreiras, para que as mudanças quanto a
maneira de pensar o campo profissional e o futuro possam ser percebidas, para
assim, responder à questão proposta.
Quanto à pergunta número dois, uma pesquisa com profissionais que
empregam estagiários pode ser realizada para que suas opiniões sobre a prática e
gerenciamento do estágio sejam conhecidas, além de seu papel no desenvolvimento
do estudante. Através de entrevistas, pode-se investigar como os profissionais
veteranos internalizaram sua experiência de estágio e como isso pode ter refletido
no tratamento e formação dada aos estagiários que hoje supervisionam.
Os jovens entrevistados demonstram como a Geração Y necessita ser
subsidiada e amparada em suas questões. Muitos dos estagiários se sentem
perdidos quanto ao rumo de sua vida, de como construí-la e principalmente que
caminhos seguir para que não fracassem. Os jovens tendem a fantasiar, a criar
expectativas muito altas e quando se deparam com a realidade, ratificada pelo
trabalho, assustam-se e revêem com cautela e receio suas aspirações. Nota-se que
esse processo de constatação da realidade, é angustiante, demanda do jovem uma
revisão de seus valores e principalmente da concepção de mundo a qual
acreditavam.
Percebe-se que os estudantes entrevistados são muito sensíveis ao fracasso,
pois acreditam que seu valor depende de seus resultados ou desempenho e apenas
eles são os responsáveis por isso. O egocentrismo típico dessa geração agora
retorna de forma negativa a eles e chega um momento em que seus pais não podem
estar sempre por perto.
Constata-se que o pacote: realidade hipermoderna, trabalho precarizado e um
repertório comportamental dependente e imaturo da geração Y, tendem a tornar a
realidade, principalmente a profissional dos estagiários, mais frustrante, aversiva e
decepcionante, o que gera sofrimento psíquico. Tais profissionais precisam de apoio
e segurança, necessitam de pessoas que os ajudem a persistir e criar alternativas
para se mudar a realidade. Do contrário, a tendência é que se tornem profissionais
instáveis, atuem em trabalhos desprovidos de sentido e adoeçam frente às
demandas tanto profissionais quanto sociais de sucesso.
38
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A ENTREVISTA REALIZADA COM OS ESTUDANTES
1a. Parte – PERFIL DO ESTAGIÁRIO
1. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino 2. Idade: ____________ 3. Curso de graduação: ______________________ 4. Período do curso o qual você se encontra: ________________ 5. Em quantas instituições você fez estágio? _________ Quanto tempo em cada uma delas? 1ª Instituição ( ) menos de 3 meses ( ) de 3 a 6 meses ( ) de 9 a 1 ano ( ) de 1 a 2 anos ( ) Outros _______ 2ª Instituição ( ) menos de 3 meses ( ) de 3 a 6 meses ( ) de 9 a 1 ano ( ) de 1 a 2 anos ( ) Outros _______ 3ª Instituição ( ) menos de 3 meses ( ) de 3 a 6 meses ( ) de 9 a 1 ano ( ) de 1 a 2 anos ( ) Outros _______ 6. Estado Civil: a) Casado d) Amigado b) Solteiro e) Viúvo c) Desquitado/ divorciado/ separado 7. Se você é casado, responda há quanto tempo? a) Há mais de 01 ano. b) Entre um e três anos. c) Entre 3 e 5 anos. d) Entre 5 e 10 anos. e) Há mais de 10 anos. 8. Número de filhos? a) Sem filhos d) 03 filhos b) 01 filho e) 04 filhos c) 02 filhos f) 05 filhos ou mais
2ª. PARTE – VIVÊNCIAS E PERCEPÇÕES DO ÚLTIMO ANO DE ESTÁGIO
41
09. O seu estágio, de modo geral, é atentamente acompanhado pelos seus supervisores? 10. Ao longo do último ano de estágio você acredita que adquiriu as competências necessárias para o exercício competente e autônomo da sua profissão? 11. O estágio contribuiu positivamente para a sua auto-imagem (auto-estima, maior auto-confiança)? 12. O desenvolvimento de um trabalho em conjunto com outros profissionais mais experientes foi importante na sua formação? 13. Você teme a possibilidade de não conseguir arranjar um emprego uma vez concluído o curso? 14. Você sente que o estágio te levou a crescer como pessoa? 15. Você tem receio do mundo profissional (competição, mau ambiente de trabalho, não ser capaz de me relacionar com os outros profissionais)? 16. Para você, o ano de estágio implicou um maior desgaste físico? 17. Para você, o ano de estágio implicou um maior desgaste psíquico? 18. Você sentiu dificuldades em compreender o funcionamento / valores / interesses da organização em que faz estágio? 19. Foi difícil trabalhar em equipe na instituição que você faz estágio? 20. Com o estágio em sua rotina, você deixou de participar como antes de atividades de lazer ou sentiu falta de maior contato com as pessoas de quem mais gosta? 21. Você se sentiu tenso (a) no seu dia-a-dia de estágio? 22. Você se sente reconhecido e valorizado em seu estágio? 23. Você teve que tomar medicação para conseguir responder ao esforço, tensão e/ou estresse sentidos durante o estágio? 24. Você sentiu dificuldades em adaptar aos horários de estágio (rígidos, incompatíveis com transporte, incompatibilidade com seus horários pessoais/familiares/escolares)? 25. Você acredita que o exercício profissional do estágio que realiza poderá contribuir para seu desenvolvimento profissional? 26. Se voltasse atrás (ou pudesse) teria escolhido outra instituição para estagiar? 27. Você sentiu dificuldades em “sintonizar” com os outros profissionais (formas de “ler” a realidade, postura profissional, questões éticas)?
42
28. Durante o estágio você realizou tarefas que vão além dos objetivos ou âmbito de sua graduação? 29. A competição com seus colegas de estágio foi, para você, motivo de dificuldade? 30. A realidade do mundo profissional lhe trouxe algumas desilusões? 31. O que você acha necessário para que seu estágio seja bom ou ainda melhor? 32. Você acredita estar preparado para o mercado de trabalho? Por quê?
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO APLICADO AOS ESTUDANTES
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 1ª via voluntário
Projeto: Compreender como os estagiários vivenciam
trabalho.
A pesquisa trata-se de uma coleta de dados cujo objetivo é conhecer a opinião dos estagiários sobre a relação entre eles e as
empresas nas quais atuam.
EU,_____________________________
_____________________,
residente à rua_____________________________________________________________________, n.
cidade de
___________________________________________Estado de______________
consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário(a) da pesquisa abaixo discriminada.
• A participação é de cunho livre e consensual;
• Meus dados pessoais, que serão mantidos em sigilo, refletirão o
ser publicados em congressos e periódicos científicos;
• Os procedimentos aplicados não oferecem riscos desconhecidos à minha integridade moral, física, mental ou
efeitos colaterais;
• Estou livre para interromper minha participação a qualquer momento e não receberei qualquer pagamento pela
mesma;
• Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, sempre que julgar necessário;
• Este termo de consentimento foi lido oralmente na minha presença e feito em
em meu poder e a outra com o pesquisador responsável.
_______________________________, ______de___________________de 2012.
_________________________________________ _______________________________________
Assinatura do (a) Participante
.................................................................................................................................................................................
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 2ª via pesquisador
Projeto: Compreender como os estagiários vivenciam
trabalho.
A pesquisa trata-se de uma coleta de dados cujo objetivo é conhecer a opinião dos estagiários sobre a relação entre eles e as
empresas nas quais atuam.
EU,_________________________________________________________________,portador do R.G.
_____________________,
residente à rua_____________________________________________________________________, n.
cidade de
___________________________________________Estado de______________, telefone ( )___________________dou o
consentimento livre e esclarecido para parti
• A participação é de cunho livre e consensual;
TERMO DE CONSENTIMENTO APLICADO AOS ESTUDANTES
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 1ª via voluntário
Compreender como os estagiários vivenciam sua atuação profissional e projetam à carreira e ingresso no mercado de
se de uma coleta de dados cujo objetivo é conhecer a opinião dos estagiários sobre a relação entre eles e as
EU,_________________________________________________________________,portador do R.G.
residente à rua_____________________________________________________________________, n.
___________________________________________Estado de______________, telefone ( )___________________dou o
consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário(a) da pesquisa abaixo discriminada.
A participação é de cunho livre e consensual;
Meus dados pessoais, que serão mantidos em sigilo, refletirão o retrato de um grupo e não de uma pessoa e poderão
ser publicados em congressos e periódicos científicos;
Os procedimentos aplicados não oferecem riscos desconhecidos à minha integridade moral, física, mental ou
omper minha participação a qualquer momento e não receberei qualquer pagamento pela
Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, sempre que julgar necessário;
Este termo de consentimento foi lido oralmente na minha presença e feito em duas vias, sendo que uma delas ficará
em meu poder e a outra com o pesquisador responsável.
_______________________________, ______de___________________de 2012.
_________________________________________ _______________________________________
Assinatura do (a) Participante Pesquisador responsável – Mariana Rezende (9883
Orientadora: Márcia de Mendonça Jorge
..........................................................................................................................................................................................................................................
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 2ª via pesquisador
Compreender como os estagiários vivenciam sua atuação profissional e projetam à carreira e ingresso no mercado de
se de uma coleta de dados cujo objetivo é conhecer a opinião dos estagiários sobre a relação entre eles e as
EU,_________________________________________________________________,portador do R.G.
à rua_____________________________________________________________________, n.
___________________________________________Estado de______________, telefone ( )___________________dou o
consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário(a) da pesquisa abaixo discriminada.
A participação é de cunho livre e consensual;
43
TERMO DE CONSENTIMENTO APLICADO AOS ESTUDANTES
PUC Minas
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 1ª via voluntário
à carreira e ingresso no mercado de
se de uma coleta de dados cujo objetivo é conhecer a opinião dos estagiários sobre a relação entre eles e as
____________________________________,portador do R.G.
residente à rua_____________________________________________________________________, n.º_________,da
, telefone ( )___________________dou o
consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário(a) da pesquisa abaixo discriminada.
retrato de um grupo e não de uma pessoa e poderão
Os procedimentos aplicados não oferecem riscos desconhecidos à minha integridade moral, física, mental ou
omper minha participação a qualquer momento e não receberei qualquer pagamento pela
Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, sempre que julgar necessário;
duas vias, sendo que uma delas ficará
_______________________________, ______de___________________de 2012.
_________________________________________ ____________________________________________
Mariana Rezende (9883-3509)
Orientadora: Márcia de Mendonça Jorge
.............................................................................................................
PUC Minas
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 2ª via pesquisador
à carreira e ingresso no mercado de
se de uma coleta de dados cujo objetivo é conhecer a opinião dos estagiários sobre a relação entre eles e as
EU,_________________________________________________________________,portador do R.G.
à rua_____________________________________________________________________, n.º_________,da
___________________________________________Estado de______________, telefone ( )___________________dou o
cipar como voluntário(a) da pesquisa abaixo discriminada.
44
• Meus dados pessoais, que serão mantidos em sigilo, refletirão o retrato de um grupo e não de uma pessoa e poderão
ser publicados em congressos e periódicos científicos;
• Os procedimentos aplicados não oferecem riscos desconhecidos à minha integridade moral, física, mental ou
efeitos colaterais;
• Estou livre para interromper minha participação a qualquer momento e não receberei qualquer pagamento pela
mesma;
• Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, sempre que julgar necessário;
• Este termo de consentimento foi lido oralmente na minha presença e feito em duas vias, sendo que uma delas ficará
em meu poder e a outra com o pesquisador responsável.
_______________________________, ______de___________________de 2012.
______________________________________________ __________________________________________________
Assinatura do (a) Participante Pesquisador responsável - Mariana Rezende (9883-3509) Orientadora: Márcia de Mendonça Jorge
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