o formalismo depois da reforma

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A Política e a Reforma  Vamos agora tratar deste importante período, que foi previsto na carta à igreja de Sardo, no Apocalipse, e devemos ter muito cuidado em distinguir entre a obra da Reforma e o formalismo mo rto que se desenvolveu a par dela, pois que logo que experimentaram bem o poder emancipador das doutrinas reformadas, aqueles que as tinham abraçado, esquecendo a suci!ncia do seu "abeça que estava no "#u, e receando novos assaltos da parte de Roma, colocaram$se sob a proteç%o dos magistrados civis& Satisfeitos com esta segurança, entregaram$se imediatamente ao go'o dos seus novos privil#gios, e em pouco tempo tinham caído num estado deplor(vel de in#rcia e torpe'a espirituais& As palavras do )spírito à igreja que est( em Sardo s%o estas* + )u sei as tuas obras, que tens nome de que vives, e est(s morto& S! vigilante, e conrma o resto que estava para morrer porque n%o achei as tuas obras perfei tas diante de -eus& .embra$te pois do que tens recebido, e guarda$o, e arrepende$te+ /Ap 0&1$02&  3 odos os historiadores concordam em que o segundo "onselho da Spires marca o começo do protestantismo, mas talve' nem todos haviam de concordar com a seguinte opini%o que, n%o obstante, merece a nossa consideraç%o* +4a Reforma+, di' 5ell6, +ao fugirem do papismo, os crist%os caíram no erro de p7r a igreja nas m%os dos magistrados civis, ou 'eram a pr8pria igreja deposit(ria desse poder enquanto que "risto, pelo seu )spírito, deve ainda exercer o ofício de Senhor da 9greja+&  : protestantismo errou, desde o princípio, no ponto eclesi(stico, porque considerava o chefe civil como aquele em cujas m%os estava investida a autoridade eclesi(stica, de modo que, se a 9greja tivesse sido, sob o papismo, o chefe do mundo, o mundo ter$se$ia tornado, sob o protestantismo, o chefe da 9greja& : leitor pode e stranhar, à primeira vista, o que ca dito mas estamos persuadidos de que, meditando e orando, h( de chegar a igual conclus%o& Proteção dos Príncipes ao Movimento  A reforma alem% n%o começou pelas classes mais baixas, como aconteceu na Suíça& 4a Alemanha os príncipes puseram$se à frente, ajudando a causa, e adotando as opini;es dos reformadores, mas quando os luteranos começaram a sentir seriamente a necessidade de uma constituiç%o eclesi(stica para as igrejas, em ve' de seguirem as instruç;es da <alavra de -eus, adotaram para seu uso um sistema de leis e princípios que o príncipe de =esse coordenou& ) assim as igrejas reformadas tiveram logo uma constituiç%o puramente humana e política&  : bondoso príncipe de Sax7nia >rederico, o S(bio, morreu no ano 1?@?, e o seu sucessor o%o, um .uterano valente, deu um grande impulso à obra da

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A Política e a Reforma

 Vamos agora tratar deste importante período, que foi previsto na carta àigreja de Sardo, no Apocalipse, e devemos ter muito cuidado em distinguirentre a obra da Reforma e o formalismo morto que se desenvolveu a pardela, pois que logo que experimentaram bem o poder emancipador dasdoutrinas reformadas, aqueles que as tinham abraçado, esquecendo asuci!ncia do seu "abeça que estava no "#u, e receando novos assaltos daparte de Roma, colocaram$se sob a proteç%o dos magistrados civis&Satisfeitos com esta segurança, entregaram$se imediatamente ao go'o dosseus novos privil#gios, e em pouco tempo tinham caído num estadodeplor(vel de in#rcia e torpe'a espirituais& As palavras do )spírito à igrejaque est( em Sardo s%o estas* +)u sei as tuas obras, que tens nome de quevives, e est(s morto& S! vigilante, e conrma o resto que estava paramorrer porque n%o achei as tuas obras perfeitas diante de -eus& .embra$tepois do que tens recebido, e guarda$o, e arrepende$te+ /Ap 0&1$02&

 3odos os historiadores concordam em que o segundo "onselho da Spiresmarca o começo do protestantismo, mas talve' nem todos haviam deconcordar com a seguinte opini%o que, n%o obstante, merece a nossaconsideraç%o* +4a Reforma+, di' 5ell6, +ao fugirem do papismo, os crist%oscaíram no erro de p7r a igreja nas m%os dos magistrados civis, ou 'eram apr8pria igreja deposit(ria desse poder enquanto que "risto, pelo seu)spírito, deve ainda exercer o ofício de Senhor da 9greja+&

 : protestantismo errou, desde o princípio, no ponto eclesi(stico, porqueconsiderava o chefe civil como aquele em cujas m%os estava investida aautoridade eclesi(stica, de modo que, se a 9greja tivesse sido, sob opapismo, o chefe do mundo, o mundo ter$se$ia tornado, sob oprotestantismo, o chefe da 9greja& : leitor pode estranhar, à primeira vista,o que ca dito mas estamos persuadidos de que, meditando e orando, h(de chegar a igual conclus%o&

Proteção dos Príncipes ao Movimento

 A reforma alem% n%o começou pelas classes mais baixas, como aconteceuna Suíça& 4a Alemanha os príncipes puseram$se à frente, ajudando a causa,e adotando as opini;es dos reformadores, mas quando os luteranoscomeçaram a sentir seriamente a necessidade de uma constituiç%oeclesi(stica para as igrejas, em ve' de seguirem as instruç;es da <alavra de-eus, adotaram para seu uso um sistema de leis e princípios que o príncipede =esse coordenou& ) assim as igrejas reformadas tiveram logo umaconstituiç%o puramente humana e política&

 : bondoso príncipe de Sax7nia >rederico, o S(bio, morreu no ano 1?@?, e oseu sucessor o%o, um .uterano valente, deu um grande impulso à obra da

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Reforma& "omo um meio de reprimir a autoridade do papa, assumiu umacompleta jurisdiç%o em mat#ria religiosa, demitindo homens incompetentese preenchendo os lugares destes com luteranos piedosos e aprovados&:utros príncipes seguiram seu exemplo, introdu'indo na igreja sistemas degoverno que eram meramente organi'aç;es humanas, e assim se

estabeleceram as primeiras igrejas luteranas& Sempre que se tomemmedidas precipitadas em mat#rias de importBncia h( de se encontraroposiç%o& At# aqui a moderaç%o de >rederico tinha conservado os partidoscat8licos e luteranos at# certo ponto, por#m as medidas en#rgicas eextremas do seu sucessor alarmaram os príncipes cat8licos, que formaramuma aliança entre si para reprimir o progresso das doutrinas reformadas nosseus respectivos territ8rios& A separaç%o tornou$se irremedi(vel& Cmagrande parte da Sax7nia, o antigo distrito de fris;es, e as col7nias orientaisde Alemanha eram agora protestantes enquanto que a Dustria, Eaviera, eos bispados alem%es do Sul conservaram a velha religi%o& A guerra civil

parecia inevit(vel, mas os pormenores desta contenda pertencem mais àhist8ria política do que à eclesi(stica, e por isso n%o nos ocuparemos comeles&

O Imperador Resolve Convocar Outro Conselho

 Fuanto ao imperador, havia muito que ele tinha na sua id#ia reunir um"onselho com o m de se certicar, ele pr8prio, pela boca dos principaisprotestantes, quais eram as ra';es por que eles se separavam da antiga

igreja&

 : papa, que ainda se lembrava do procedimento dos "onselhos de Gorms eSpires, op7s$se a isso, e aconselhou medidas en#rgicas& +As grandescongregaç;es+, di'ia ele, +s8 servem para introdu'ir opini;es populares& 4%o# com decretos de concílios, mas com a ponta da espada que devemosdecidir as controv#rsias+& "arlos prometeu reHetir sobre este conselho, mas,depois de vacilar por algum tempo entre as duas opini;es, optou pela sua, econvocou um conselho em Augsburgo& .ogo que se conheceram as ra';esdo imperador para convocar o conselho, os protestantes prepararam umaf8rmula de conss%o para ser submetida& >oi escrita por Ielanchton, e nelase enumeravam claramente as principais doutrinas dos reformadores, sendoa mat#ria fornecida principalmente por .utero que leu o documento e deu$lhe a sua aprovaç%o, di'endo* +)u nasci para ser um rude polemista limpo aterra, arranco o joio, encho os fossos e endireito as estradas& Ias quanto aoedicar, plantar, semear, regar, embele'ar o campo, isso pertence, pelagraça de -eus, a >elipe Ielanchton+& : documento foi chamado +"onss%ode Augsburgo+&

Encontro do Imperador com os Príncipes

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 4o dia 1? de junho de 1?0J, o imperador entrou em Augsburgo com umacomitiva importante& :s príncipes protestantes, apeando$se dos seuscavalos, foram ao seu encontro, e "arlos, com uma amabilidade igual àlealdade deles, tamb#m se apeou e estendeu cordialmente a m%o a cadaum deles, por sua ve'& 4o entanto, o legado papal, o cardeal "ampeggio,

cou im8vel na sua mula /parecendo haver entre eles na verdade, algumaanidade2, mas vendo que tinha cometido um erro, procurou remedi($lolançando a b!nç%o aos príncipes reunidos& Fuando levantava as m%os paraesse m o imperador e a sua comitiva caram de joelhos, mas os príncipesprotestantes conservavam$se de p#& )sta circunstBncia n%o tinha sidoprevista, e os do partido do papa caram um tanto perplexos com oincidente& Iais tarde havia de se di'er uma missa na capela de Augsburgo,para soleni'ar a abertura do "onselho, e os protestantes ganharam maisuma vit8ria recusando$se a assistir a ela& Ias o astuto prelado ainda se n%odeu por vencido& : príncipe de Sax7nia, como marechal do 9mp#rio, era

obrigado em tais ocasi;es a ir à frente do imperador, de espada na m%o, e ocardeal apresentou a id#ia de que "arlos lhe ordenasse que cumprisse como seu dever na missa do )spírito Santo, que devia preceder à abertura dasseç;es& : príncipe concordou em assistir, mas deu a entender ao imperadorque era unicamente no desempenho de um cargo civil& Ao legado estavareservado sofrer mais um desengano& A elevaç%o da h8stia toda acongregaç%o caiu de joelhos em adoraç%o, mas o príncipe conservou$se dep#&

Abertura do Conselho

 A abertura do conselho teve lugar no dia @J de junho, e o imperadorpresidiu a ela& 9maginava$se que se trataria do assunto de religi%o antes dequalquer outro, mas pouco se fe' nesse dia e a leitura da +Apologia+ $ outronome dado à +"onss%o+ $ foi marcada para o dia @K&

 A grande esperança dos cat8licos era que os protestantes n%o tivessemoportunidade de expor a sua causa publicamente, e no dia @K 'eram tudoquanto estava ao seu alcance $ prolongando os outros assuntos do dia $ parademorar a leitura da "onss%o at# ser tarde demais para isso&

 >oi extraordin(rio o tempo que o cardeal levou a apresentar as suascredenciais, e a entregar a mensagem do papa& <or seu lado o imperadortamb#m foi muito minucioso a pedir pormenores das devastaç;es dosturcos na Dustria, e da captura de Rhodes& Assim se gastaram momentospreciosos at# quase a hora de encerrar a sess%o& )nt%o fe'$se notar que j(era tarde demais para a leitura da Apologia& +)ntregai a vossa conss%o aosociais competentes,+ disse "arlos, +e cai certos de que responderemos aela depois de ser devidamente ponderada+&

 Ias aqui levantou$se uma certa oposiç%o& 4unca ocorreu a "arlos que asua jurisdiç%o n%o se estendia às consci!ncias dos seus sLditos, nem que

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ele estava excedendo a sua prerrogativa pelas suas evasivas e artifícios, en%o estava preparado para a resposta que recebeu& +A nossa honra est( emperigo+, disseram os príncipes, +e as nossas almas tamb#m somosacusados publicamente e # publicamente que devemos responder+& Fue sehavia de fa'erM :s príncipes mostraram$se respeitosos, mas tamb#m rmes

e intransigentes& +Amanh%+, replicou o imperador, +ouvirei o vosso sum(rio $n%o nesta sala, mas na capela do pal(cio <aladino+&

 4o dia seguinte $ dia memor(vel na hist8ria do "ristianismo $, os chefesprotestantes apresentaram$se perante o imperador& =avia duas c8pias da"onss%o, uma em latim, outra em alem%o& "arlos desejava que se lesse ac8pia latina, por#m o príncipe lembrou$lhe que estavam na Alemanha, e n%oem Roma, e que, portanto, devia ser permitido talar em alem%o& A suaproposta admitiu$se, e o chanceler Ea6er levantou$se do seu lugar e leu a"onss%o de um modo vagaroso e claro, sendo ouvido a uma distBncia

consider(vel& )sta leitura levou pouco mais ou menos duas horas, e<ontano, um reformador not(vel, entregou as duas c8pias da "onss%o aosecret(rio do imperador, di'endo* +"omo a graça de -eus, que h( dedefender a sua "ausa, esta "onss%o h( de triunfar contra as portas do9nferno+&

Resultado da Leitura da Apoloia

 : efeito que a leitura da "onss%o produ'iu no pLblico foi o mais animador

possível& A extrema moderaç%o dos protestantes era a admiraç%o demuitos e, di' SeNendorf* +Iuitas pessoas sumamente ilustradas 'eram um juí'o muito favor(vel do que tinham ouvido, e declararam que n%o teriamdeixado de ouvi$lo nem por uma grande soma+& +3udo quanto os luteranosdisseram # a verdade+, disse o bispo de Augsburgo, +n%o o podemos negar+&) testemunhos destes havia muitos& : duque de Eaviera disse ao -r& )cN, omaior campe%o de Roma na Alemanha* +: doutor tinha$me dado uma id#iamuito diferente desta doutrina e deste neg8cio, mas, no m de contas, podeporventura contradi'er com ra';es boas a "onss%o feita pelo príncipe eseus amigosM+ $ +4%o pelas )scrituras+, replicou )cN, +mas pelos escritos dospadres da 9greja e dos cBnones dos concílios podemos+& +)nt%o j( entendo+,respondeu o duque, censurando, +os luteranos tiram a sua doutrina das)scrituras e n8s achamos a nossa fora das )scrituras+&