o fluxo das informações jornalísticas no tempo-espaço das mídias digitais/online
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7/31/2019 O fluxo das Informaes Jornalsticas no Tempo-Espao das Mdias Digitais/Online
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O fluxo das Informaes Jornalsticas no Tempo-Espao das Mdias Digitais/Online
Trabalho apresentado ao NP 08 Tecnologias da Informao e Comunicao
Andria Denise Mallmann12
ResumoPartindo das premissas de Harvey (2003), na obra Condio Ps-Moderna, um
olhar se fora atento a esse perodo, citado nesse ttulo, e levanta as questes de tempo-espaono fluxo das imfornaes imagsticas dessa poca. A relao de elementos como tempo,espao, tecnologia, ps-modernidade, imaginrio, linguagens imagsticas e convergncia demdias, ser o foco principal desse estudo. Para tanto, a metodologia que melhor se aplicar construo e anlise da pesquisa a da complexidade moriniana, tendo em vista sua abordagemdialgica e a capacidadde deste mtodo contar com a multidisciplinariedade (no caso, das reasda fsica, da histria e da comunicao social).
Palavras-chave
Tempo-espao; tecnologia; mdias; comunicao; jornalismo
Corpo do trabalho
Tempo, espao e sociedade
Atravs do capitalismo, a Revoluo Industrial criou as primeiras redes materiais
(ferrovias) que interligaram os espaos (inter)nacionais. A mesma revoluo (capitalista) que
trouxe a energia eltrica, anos mais tarde, inovou os mercados da microeletrnica. Hoje
vivemos em uma era dita ps-moderna, no perodo da ps-industrializao que invergaram
velhas noes de tempo-espao, garantindo, a esses conceitos fsicos e tantos outros sociais,
novos valores e interpretaes.
1* Mestre em Comunicao Social, linha Tecnologias do Imaginrio pelo PPGCOMDocente da Faculdade de Comunicao Social/Jornalismo da PUCRS
2 A mestre e docente, prof. Andria D. Mallmann ministra aulas de jornalismo on-line etcnicas digitais na PUCRS h 2 anos e meio. Possui publicaes em seminrios econgressos nas reas de tecnologias do imaginrio e estudos audiovisuais. A autora bacharel em Jornalismo, curso o qual concluiu no ano de 2002, iniciando, seqencialmente,sua trajetria docente na mesma Universidade, no ano de 2003.
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Quando ouvimos falar que o mundo est cada dia mais acelerado, estamos diante de
um elemento que aplica sua lei fsica sob outros dois pontos: a velocidade e, por conseguinte, o
tempo. As distncias percorridas (espaos), tanto para o transporte de materiais concretos,reais; como para levar ao outro lado do mundo informaes, dados virtuais, digitais, ganharam
veicularidade, graas s tecnologias disponveis em cada tempo. Assim, a revoluo
tecnolgica, ou como diz HARVEY (2003,190) o progresso implica a conquista do espao, a
derrubada de todas as barreiras espaciais e a aniquilao do espao atravs do tempo.
Como j estudava Einstein, na questo da viagem no tempo, muito abordada pelo
cinema, aniquilar o espao atravs do tempo, seria o mesmo que obter tamanha acelerao
capaz de criar um movimento com altssima velocidade, onde o espao (a distncia) a ser
cumprido desaparecesse. Trazendo tais reflexes para uma realidade mais mundana, o que as
novas tecnologias digitais prometem rezar por um avano (uma velocidade de processamento
de bits3, agilidade de administrao, rotinas, etc) capaz de diminuir o tempo de execuo de
inmeras funes pretendidas pelo homem. Esse processo implica, justamente, alteraes em
questes culturais, operacionais, de linguagem, de imaginrio, enfim, mudanas importantes
no histrico social humano.O problema imediato, porm, compreender os processos sociais mediante os quaissuas qualidades objetivas so estabelecidas. Com isso, podemos avaliar melhor aafirmao de que, a part ir dos anos 70, vem ocorrendo algo vital para a nossaexperincia do espao e do tempo que provocou a virada para o ps-modernismo.(HARVEY:2003,207)
A conhecida expresso time is money a representao de um ideal capitalista vigente
na poca de um marxismo de ponta que ainda hoje vigora. Uma produo acelerada rende uma
economia de tempo e, portanto, rende lucro. O que Marx estudou no se restringe apenas aquesto temporal do trabalho humano (fixar horrios de trabalho a um preo), mas uma anlise
social desse tempo nas rotinas de trabalho.
A preocupao com o social, em meio ao novo tempo-espao vivido pelo homem, nesse
perodo de globalizao em rede, leva escritores como Manuel Castells, David Harvey, Virilio,
3Bitsignifica dgito binrio, variao do registro de informaes digitais em 0 e 1.
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prima, informaes ou produtos j comercializveis. Harvey (2003, 148) adiciona Castells
(1999) a questo da instalibilidade gerada por esses sistemas de fluxos, pois, segundo ele a
esttica relativamente estvel do modernismo fordista cedeu lugar a todo o fermento,instabilidade e qualidades fugidas de uma esttica ps-moderna que celebra a diferena, a
efemeridade, o espetculo, a moda e a mercantilizao de formas culturais.
Castells(1999,459-460) reconhece a perspectiva materialista abordada por Harvey, mas
contrape-se s concluses sobre a ps-modernidade, afirmando que as sociedades
contemporneas ainda esto em grande parte dominadas pelo conceito de tempo cronolgico
() importantssim[o] para a construo do capitalismo industrial. Ele acredita que a
fragmentao do tempo s de fato prpria e concreta com a chegada da conexo da sociedade
em rede.
Esse tempo linear, irreversvel, mensurvel e previsvel est sendo fragmentadona sociedade em rede, em um movimento de extraordinria importncia histrica. Noentanto no estamos apenas testemunhando uma relativizao do tempo de acordo comos contextos sociais (). A transformao mais profunda: a mistura de tempos paracriar um universo eterno que no se expande sozinho, mas que se mantm por si s, nocclico, mas aleatrio, no recursivo, mas incursor: tempo intemporal, utilizando atecnologia para fugir dos contextos de sua existncia e para apropriar, de maneira
seletiva, qualquer valor que cada contexto possa oferecer ao presente eterno.
Desse modo, Castells (1999, 460) afirma que essa tranformao de valores e conceitos
no est ocorrendo apenas em detrimento do sistema capitalista, o qual se esfora para libertar-
se de todas as restries. A liberto do capital em relao ao tempo e a fuga da cultura ao
relgio so decisivamente facilitadas pelas novas tecnologias da informao e embutidas na
estrutura da sociedade em rede.
Para Harvey (2003, 259), a volatilidade de valores e a apropriao individual,
caractersticas prprias impregnadas na condio ps-moderna, que possibilitam a manipulao
do gosto e da opinio () construi[ndo] novos sistemas de signos e imagens. Assim, sem
padres estabelecidos, a apropriao dos bens (de produtos materiais at informaes
disponibilizadas em diferentes fluxos por aparatos) garante ao homem o poder de decidir o
tempo e o espao desejvel. Em outras palavras, a possibilidade de optar pelo momento e pelo
lugar para atender suas demandas individuais. Assim, o tempo intemporal de Castells, seria o
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tempo sem tempo para ser efetivado, um tempo fragmentado no espao de enmeras
possibilidades de escolhas.
Em meio a esse quadro, Harvey cria o conceito de compresso espao-temporal, onde
o universo encolhido atravs de mapas que tendem a diminuir suas distncias (espaos) de
acordo com a evoluo dos meios de transporte. De modo semelhante, Virilio (1996, 43) fala do
efeito de encolhimento, baseando-se na instabilidade do olhar, o qual intui dimenses.
atravs das ferramentas de percepo e comunicao que o homem poder realizar esse
paradoxo das aparncias, comprimindo a dimenso do universo.
mas de acordo com o autor, nasce de outra vertigem, associada diretamente com o
imprio da imagem e a forma como, atravs da engenharia das comunicaes, ao servio da
mdia ela engendrada. Apostando em um tempo de paradoxos, o qual altera a percepo
do horizonte histrico, o autor aponta para a abertura de um terreno [que vai de encontro
com] o reino da metfora, de que hoje se valem os discursos recentes sobre o Tempo e o
Espao.
Como j apostava Einstein, necessrio relativizar o olhar. Morin, com o pensamento
complexo, jamais apostaria no extremo dos opostos. Relativizar para ele seria caminhar pela
estrada de ponta ponta, sem esquecer-se da trajetria como um todo. No a toa, Morin
acredita que o universo deve ser observado de trs prismas: o todo, as partes isoladamente e a
soma das partes, a qual no corresponde ao todo.
O Fluxo das Informaes Jornalsticas
Como afirma HARVEY (2003,190), a aniquilao do espao atravs do tempo se d
de forma a derrubar todas as barreiras, fronteiras que separam a globalizao. atravs de fatos
como as ondas gigantes, conhecidas como Tsunamis, que causaram mais de 250 mil
mortes e devastaram pases na sia e na Africa, que se pode perceber, nas coberturas
miditicas, as relaes tempo-espaciais das mesmas.
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Eventos inesperados como estes no possibilitam uma organizao por parte dos
veculos para ministrar uma ampla cobertura de imadiato. Dessa forma, fica evidente o alcance,
a velocidadde e o tempo-espao de cada mdia, bem como outras caractersiticas que seroanalisadas mais adiante.
Cabe aqui, retomar algumas questes prprias dos meios que so analisados,
observando suas caractersticas tempo-espaciais (fig.1):
Fig.1: Quadro comparativo das relaes tempo-espaciais das mdias
Desse ponto de vista, um acontecimento ocorrido do outro lado do mundo (ao qual
HARVEY chama de sem fronteiras) pode evidenciar as dificuldades enfrentadas pelas mdias
convencionais, caso essas no se valham de tecnologias digitais/on-line para mapear os fatos. A
compresso de tempo-espao de Harvey se mostra a mesma que o efeito de encolhimento
de Virilio. Como exemplo, a anlise de jornais impressos dos dias 26 (data em que ocorrera o
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chamado Tsunami) 31 de dezembro de 2004 pode elucidar a relao tempo-espacial da mdia
impressa, para posterior comparao com as mdias digitais, conectadas em rede.
Zero Hora, em seu destaque de capa do dia 26 de dezembro, deu espao para a matria
A cara do vero 2005, avisando ainda, para seus leitores, que a circulao do peridico nesse
domingo (26) teve fechamento editorial na noite de sbado, o que impossibilitou o veculo de
cobrir quaisquer fatos ocorridos na manh do dia 26 de dezembro ou no decorrer deste dia
fatdico. O impresso Correio do Povo, na presente data, tambm no fez diferente. Sua capa
destacava a Semana decisiva para finanas do Estado, no abordando, em nenhuma linha, o
ocorrido. A comparao do contedo publicado na mdia impressa e na mdia digital/on-line,
demostra muito bem a diferena tempo-espacial entre os suportes miditicos (Fig.2) e o efeito
da compresso de tempo e de espao, citada por Harvey (2003, p.219).
O tempo necessrio para cruzar o espao e a forma como costumamosrepresentar esse fato para ns mesmo so indicadores teis do tipo de fenmenoque tenho em mente. medida que o espao parece encolher numa aldeiaglobal de telecomunicaes e numa espaonave terra de interdependnciasecolgicas e econmicas para usar apenas duas imagens conhecidas ecorriqueiras , e que os horizontes temporais se reduzem a um ponto em que s
existe o presente (o mundo do esquizofrnico), temos de aprender a lidar comum avassalador sentido de compresso dos nossos mundos espacial e temporal.(HARVEY:2003, 219)
Fig.2: Site ClicRSB e a capa da Zero Hora (dia 26 de dezembro de 2004)
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Tendo por base, os conceitos e as premissas de Harvey (2003), notavel e plenamente
compreensvel que os impressos s levassem a notcia do Tsunami para seus leitores, no final
do dia 26 de dezembro. A baixa das vendas de uma edio extra, rodada pela empresa decomunicao RBS, na tarde do ocorrido, pode ser justificada pela agilidade de outros veculos
que j haviam passado as informaes contidas nessa edio tardia.
Na manh de segunda-feira (27/12/2004), a edio normal do peridico Zero Hora e do
Correio do Povo lanaram mo das informaes mais especficas, enquando sites e at mesmo
a televiso e o rdio j haviam noticiado e contextualizado o fato. Isso registra, no universo
impresso, uma rotina altamente linear, ligada ao tempo de fechamento prvio com horas de
antecedncia, impossibilitando coberturas em tempo real, ou prximo dele.
O espao dos impressos tambm limitado em relao ao fluxo informativo. o que se
constata nas capas dos dias 30, em Zero Hora e 31, no Correio do Povo, as quais no mais se
referiam ao ocorrido, muito embora, a Internet ainda estivesse cobrindo o fato em suas
ilimitadas pginas on-line, publicando, diariamente, destaques sobre o tema, em suas capas
(homepages).
O fluxo informativo fica limitado s escolhas editoriais (processo do gatekeeper), sendo
sempre de contextualizao generalista, em sua grande maioria. Dessa forma, o jornal impresso
no presta o servio personalizado de busca, por exemplo, das pessoas desaparecidas, no
oferece abertura aos anseios e demandas de seu pblico receptor, mantendo a forma fechada do
sistema de comunicao, onde emissor e receptor no se cruzam, nem interagem.
Sendo assim, com um tempo de produo estrangulado pelas 24 horas do dia, tendo umprocesso lento de finalizao (impresso do jornal), um espao restrito (mediante formato do
impresso) e uma circulao limitada. O impresso serve mais memria histrica, caracterstica
essa tambm presente nos demais veculos noticiosos, atravs de gravaes ou armazenamento
de dados.
No diferentemente, embora um pouco mais gil, o rdio emitiu, muito prximo ao
universo on-line, as primeiras informaes sobre o Tsunami ocorrido na sia. De forma
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semelhante ao episdio do dia 11 de setembro, nos Estados Unidos, com a queda das Torres
Gmeas do World Trade Center, os telefones das principais rdios do mundo sofreram um
engarrafamento de ligaes.
O que os receptores desejavam, ligando incessantemente para as rdios, era um
tratamento individualizado, caso por caso, na busca por parentes e amigos, alm de mais
informaes sobre o ocorrido. Obviamente, a mdia convencional no trata de casos
especficos, perdidos no universo individual de seus receptores (a menos que isso seja um
destaque informativo em meio aos fatos), mas importante ressaltar que o fluxo informativo
jornalstico, enquanto um bem pertencente todos, deve angariar meios de suprir tais
demandas.
Por ser um meio linear, dependente do tempo de transmisso, o qual seu espao de
fluxo informativo, o rdio no proporcionou uma cobertura acirrada sobre o eventual desastre.
Todas as informaes transmitidas pela radiodifuso foram, na maioria das vezes, a rplica de
informativos via Web e de agncias de notcias internacionais. Nenhum reprter do grupo RBS,
por exemplo, deslocou-se para o ponto do abalo ssmico asitico, at mesmo porque no
haveria tempo bil para tal deslocamento e posterior retorno das informaes de l obtidas, sem
contar, obviamente, com as tecnologias digitais/on-line (que dispensam o deslocamento). O
fluxo informativo do rdio, portanto, concentrou-se, em esparsos boletins dirios, sem furos
de reportagem.
A TV contou com imagens de cinegrafistas amadores que estavam nos locais das
regies atingidas, com correspondentes internacionais fixos nos EUA e na Europa. O primeiro
boletim televisionado pela emissora brasileira foi o do programa jornalstico Fantstico, nanoite do dia 26 de dezembro.
A Rede Globo optou por blocos que contextualizaram o fato. O programa Fantstico,
no diferentemente de outros telejornais, utilizou, em sua cobertura, imagens cedidas (j
transmitidas por emissoras locais), grficos animados explicativos, informaes em udio via
telefonemas, imagens de arquivo, imagens de filmes que abordam o tema de frias martmas
e entrevistas feitas com especialistas na rea da metereologia e da geografia no Brasil.
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A Internet foi a mdia que se destacou por sua agilidade, constante atualizao,
capacidade de interagir com os usurios, contextualizando o fato ocorrido de forma no-linear,sob demanda personalizada. Nesse meio, webjornais, jornais impressos que utilizam a Internet,
emissoras de TVs na Web e rdios disponveis na rede conseguiram atingir um nmero de
pessoas muito maior, sanando no s a procura por notcias sobre o fato em si, mas a busca por
parentes, pessoas desaparecidas e mortas pelo Tsunami.
Essa no-linearidade de captao/recepo de fluxos informativos s se faz presente na
mdia digital/on-line devido a caracterstica de tempo-espao da mesma. A possibilidade de
obter informaes variadas, complementares, sobrepostas em uma tela plana, que garante ao
usurio a escolha hiperlincada, no-retilnia. A no-linearidade e a interatividade desse meio
so as caractersticas determinantes para modificar o fluxo informativo nas mdias
digitais/online.
O hiperlink das pginas, bem como as inmeras informaes em udios, vdeos, fotos,
grficos e textos possibilitaram uma melhor contextualizao e abertura interatividade junto
aos usurios. Os blogs, pginas noticiosas alternativas, conseguiram realizar coberturas to oumais completas que muitos sites profissionais da comunicao, devido sua interatividade.
Da mesma forma, como j havia ocorrido no 11 de Setembro e em outras grandes
tragdias dos ltimos anos, a Web foi uma importante fonte de notcias, com uma cobertura em
tempo real j na manh do domingo (26/12) (UOL:2005). Desse modo, percebe-se a
diferenciao entre o digital/online e as mdias convencionais, as quais s apresentaram a
notcia de forma completa ao pblico na noite do dia 26, quase 12 horas depois do ocorrido ou
na segunda-feira (27/12), com 24 horas de atraso.
Nascida em plena poca de guerra, a Internet, instrumento miditico capaz de veicular
diferentes fluxos informativos, em espaos ilimitados e tempos diversos, se faz presente de
forma mpar no universo que HARVEY (2003) chama de sem fronteiras, obtendo destaque
na globalizao de notcias, de forma a confirmar CASTELLS (2003,13), o qual afirma que a
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histria da Internet ajuda-nos a compreender os caminhos de sua futura produo histrica,
bem como a produo histrica de uma dada tecnologia molda seu contexto e seus usos.
Nessa nova economia, as redes digitais e o conhecimento humano estotransformando quase tudo o que produzimos e fazemos. Na velha economia, ainformao, as comunicaes e as transaes eram fsicas, representadas por dinheiroem espcie, cheques, faturas, conhecimentos de embarque, relatrios, reunies frente afrente, telefonemas analgicos ou transmisses de rdio ou televiso, recibos, desenhos,projetos, mapas, fotografias, discos, livros, jornais, revistas (). Na nova economia, demaneira crescente, a informao sob todas as suas formas, as transaes e ascomunicaes humanas esto se tornando digitais, reduzidas a bytes armazenados emcomputadores que se movem velocidade da luz por meio de redes (). As grandescompanhias esto deixando de ser organizaes hierarquizadas para se converter emorganizaes interconectadas. (CEBRIN: 1999, 15)
De acordo com o autor, esse novo meio (digital/on-line) que est mudando a forma
de fazer negcios, de trabalhar, de aprender, de brincar e at mesmo de pensar (1999, 19).
Sendo assim, no h como imaginar a comunicao, intrnseco instrumento associado s
mudanas e aos avanos sociais, no sofrer e refletir tais transformaes. Como afirma
CEBRIN (1999,22), a medida que as comunicaes humanas, o trabalho, a aprendizagem
() vo se incorparando rede, quantidades e tipos inimaginveis de informao vo sendo
digitalizadas e difundidas () tendo a necessidade, a partir de ento, de veicularidade em
meios que, da mesma forma, sejam digitais e estejam conectados 24 horas por dia ao sistema de
redes comunicacionais (Web).
Pelo que entendo, meio de inovao um conjunto especfico de relaes deproduo e gerenciamento com base em uma organizao social que, de modo geral,compartilha uma cultura de trabalho e metas institucionais, visando gerar novosconhecimentos, novos processos e novos produtos. Embora o conceito de meio no
inclua necessariamente uma dimenso espacial, afirmo que no caso das indstrias detecnologia da informao, pelo menos neste sculo, a proximidade espacial umacondio material necessria para a existncia desse meio devido natureza dainterao no processo de inovao. O que define a especificidade de um meio suacapacidade de gerar sinergia, isto , o valor agregado resultante no do efeitocumulativo dos elementos presentes no meio, mas de sua interao. (CASTELLS:1999,414)
Talvez por isso, os blogs (denominados por profissionais da mdia convencional, como
jornais virtuais alternativos) tenham ganhado tamanho espao e valorizao em meio s
diferentes fontes de informaes sobre o Tsunami. () mais uma vez, a Internet oferece
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liberdade num mundo de crescente controle por grandes grupos de mdia. (CASTELLS:
2003,162) Comunidades virtuais, bem como blogs, tem sua base de afinidade intermediada por
sistemas de comunicao telemticos. Seus membros esto reunidos pelos mesmos ncleos deinteresses, pelos mesmos problemas: a geografia, contingente, no mais nem um ponto de
partida, nem uma coero. (LVY, 1996:20)
A quebra de fronteiras, garante o acesso s informaes. No entanto, necessrio
verificar que um novo usurio nasce, quando de encontro mdia digital/online. A to estudada
passividade frente aos fluxos informativos, toma nova forma, requestionando o
posicionamento do emissor-receptor na estrutura do sistema comunicacional.
A partir de ento, o chamado usurio (em outras palavras: aquele que se vale, que usa a
informao) tem a opo de interagir. Possibilidades de armazenamento de dados (informao
enquanto um bem prprio do receptor), de feedback ao reprter, de escolhas no-lineares, de
publicaes sem filtros (como em blogs), mostram-se como potencialidades de um usurio no
passivo, mas interativo em uma ambincia digital/online. A capacidade de gerar uma interao
mtua como afirma Alex Primo (1999) e transmitir notcias de forma personalizada e sob
demanda, garante mdia digital/on-line um alcance/acesso diferenciado. Essa emergente
mdia digital/on-line agrega, como se verifica, qualidades no observadas, em um mesmo nvel,
nos meios convencionais: relativizao tempo-espacial, interatividade, no-linearidade,
convergncia de linguagens e quebra do formato padro de jornalismo.
A emergncia da Internet como um novo meio de comunicao esteveassociada a afirmaes conflitantes sobre a ascenso de novos padres de interaosocial. Por um lado, a formao de comunidades virtuais, baseadas sobretudo emcomunicaes on-line, foi interpretada como a culminao de um processo histrico de
desvinculao entre localidade e sociabilidade na formao da comunidade: novospadres, seletivos, de relaes sociais subtituem as formas de interao humanaterritorialmente limitadas. (CASTELLS: 2003,98)
Nesse espao de fluxos nas mdias digitais/on-line no s h a possibilidade de escolhas
desuniformes, como a disponibilizao da informao se d em tempo real/total. Em outras
palavras, o contedo permanence on demand espara do usurio. No h um horrio marcado
para sua exibio, tampouco restries espaciais ou de linguagens.
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Sendo assim, jamais um usurio ser obrigado a assistir um vdeo do incio ao fim para
ver a parte que realmente lhe interessa. Jamais o usurio ter de esperar o horrio marcado de
um programa jornalstico (como no rdio e na TV) para receber informaes. A possibilidadede montar, individualmente, uma playlist, conforme a demanda personalizada do usurio,
quebra com o padro formal do telejornalismo convencional, onde se apresentam
primeiramente os assuntos mais srios, finalizando o programa com matrias mais agradveis
ao telespectador. Essa observao j foi verificada por Harvey(2003,259), como uma das
condies da ps-modernidade, no captulo 1: a capacidade de optar e obter a informao
disponibilizada em banco de dados, em qualquer tempo e lugar. O rompimento dessa
linearidade obrigatria garante liberdade de escolha de contedos ao receptor, o qual nesse
momento, tornasse proprietrio da informao. O receptor, dessa forma, um interagente no
fluxo informativo, agindo como um verdadeiro editor de montagem de seu prprio tempo e
espao de fluxo.
Pode-se dizer, seguindo CASTELLS (1999,490), que o receptor torna-se gerenciador do
processo de fruio informativa. A tendncia predominante de nossa sociedade mostra a
vingana histrica do espao, estruturando a temporalidade em lgicas diferentes () de
acordo com a dinmica especial. No site Globo Media Center, da empresa Rede Globo, o
usurio, em busca de informaes videogrficas, pode escolher os trechos informativos que
deseja receber/assistir, sem horrio marcado. Pode ainda, alterar a ordem das matrias mesmo
que sua playlist aparea montada linearmente. Da mesma forma que no necessita assistir
comerciais ou intervalos para retomar o fluxo informativo que lhe interessa. O play-stop fica
disposio de comando do prprio usurio, em uma ordem relativizada de tempo-espao. Isso
implica a quebra de formato padro do jornalismo, como o mesmo foi apresentado em mdia
convencional.
Portanto, quando se diz que o fluxo das informaes possui categorizaes diversas ao
ser disponibilizado em um meio convencional (jornal impresso, TV, rdio) ou em um meio
digital/on-line, o que se percebe que o suporte com suas caractersticas quem determina
o tempo-espao, o nvel de interatividade (e se essa ou no reativa e/ou mtua), a
convergncia ou no de linguagens e a modificao de padres de formatos jornalsticos.
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