Ó espírito santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20assembl%e9ia%20inter... ·...

149
1 Ó Espírito Santo, nós Vos adoramos Deus, como o Pai e o Filho Jesus Cristo, e Vos oferecemos o nosso coração. Assim como vós cumulastes de todas as mais belas graças a alma da nossa Mãe Imaculada, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda-nos a graça dos vossos sete dons. Gloria ao Pai... Pe. Jacinto Bianchi

Upload: lynga

Post on 01-Dec-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

1

Ó Espírito Santo,

nós Vos adoramos Deus,

como o Pai

e o Filho Jesus Cristo,

e Vos oferecemos o nosso coração.

Assim como vós cumulastes

de todas as mais belas graças

a alma da nossa Mãe

Imaculada,

pedimos-vos,

que com vosso amor,

conceda-nos a graça

dos vossos sete dons.

Gloria ao Pai...

Pe. Jacinto Bianchi

Page 2: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

2

MULHERES QUE VIVEM NO MUNDO

ATOS DA V ASSEMBLÉIA INTERCAPITULAR

Roma

De 06 a 28 de Julho de 2008

FILHAS DE MARIA MISSIONÁRIAS

2008

Page 3: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

3

Na capa:

Chegada das Irmã Benedetta Barbera e Irmã Anna Barrile ao Rio de Janeiro, 1953 (AFMM)

© FILHAS DE MARIA MISSIONÁRIAS

Casa Geral

Via Lorenzo Valla, 21

00152 Roma

Publicação para uso interno

Dezembro de 2008

Page 4: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

4

Apresentação

«Recorda Israel... Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer

nestes anos» (cf. Dt 8, 2).

Tenho o prazer de entregar-lhes os atos da nossa V Assembléia Inter-

capitular apresentado-os com esta frase do Deuteronômio, pois recordar,

fazer memória, é um aspecto essencial para viver cada experiência na sua

autenticidade, para não esquecer a nossa história e os benefícios que a nossa

Congregação recebeu de Deus ao longo de todos estes anos. De fato, após a

conclusão da experiência da Assembléia, continuam presentes em nós os

estímulos, as sugestões e os objetivos que nos foram oferecidos nestes dias.

A Assembléia foi uma primeira meta após o caminho que a Comissão de

estudos do Fundador realizou durante estes três anos, realizando assim esta

determinação específica do XIX Capítulo Geral (cf. Atos, p. 54).

O trabalho de equipe está fundamentado no Relatório apresentado nestes

atos, fruto de pesquisa, de reflexões partilhadas e do diálogo de todas as Irmãs

que participaram da Comissão. Foi reelaborado com a assessoria no nosso

consultor Fabrizio Fabrizi, para a publicação, enriquecido de muitos escritos

de Pe. Jacinto: textos que são garantidos na sua originalidade e autenticidade,

que correspondem plenamente às suas intenções, assim como saíram de sua

mente e de sua caneta.

Estes documentos oferecem uma ocasião favorável para aproximar-nos

diretamente do nosso Fundador, para compreender o seu pensamento no

contexto histórico, religioso e cultural: acolhendo-o como um dom precioso,

como semente lançada em terra fértil da nossa fidelidade à vocação. Uma

leitura atenciosa nos ajudará a colocar em evidência a personalidade de Pe.

Jacinto, a mensagem da figura deste homem que hoje chega até nós,

certamente distante em muitos aspectos, mas exemplar para a sua vida cristã e

atual para o carisma e o Espírito revelado ao longo dos anos da sua vida, da

juventude à maturidade, do sacerdócio à responsabilidade de fundador.

Além disso, poderemos percorrer novamente os primeiros passos da vida de

nossa Congregação e relembrar algumas Irmãs que se destacaram no período

difícil e entusiasmante das origens. Como Pe. Jacinto e junto a ele, sentiam

fortemente o imperativo missionário: o amor e o zelo nunca as deixavam

paradas e elas não pouparam sacrifícios nem tempo, motivadas para os

irmãos com a mesma caridade de Jesus.

Page 5: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

5

Estas realidades podem reavivar a nossa experiência pessoal, de fato

conhecer o passado quer dizer compreender as pessoas que viveram aquele

tempo e entender como elas o enfrentaram.

Temos os meios para recuperar toda a energia vital transmitida pelo

Fundador às primeiras Irmãs, que com ele partilharam, sofreram e lutaram. O

exemplo da plena e total resposta delas nos ajudará a redescobrir a nossa

verdadeira identidade de mulheres discípulas de Jesus Cristo. Isto nos ajudará

a alargar os horizontes, com a coragem de dar uma nova direção à nossa vida

e à nossa missão para sermos sinais críveis de esperança e vida neste mundo

fragmentado. A sermos mais atentas à “passagem de Deus”, guiando-nos a

uma análise objetiva e serena da nossa vida consagrada, pessoal e

comunitária.

O zelo fiel do carisma requer audácia profética e criativa, sobretudo hoje em

época de desafios planetários. É somente entregando-nos totalmente a Deus, à

Sua mão que nos conduz e nos impulsiona, que poderemos ir além dos restritos

horizontes do cotidiano e das nossas capacidades humanas.

Confio-lhes este instrumento como uma contribuição valiosa para

aprofundar a resposta generosa, que também nos momentos difíceis, Pe.

Jacinto deu a Deus com o exemplo da sua vida cristã. Por isto a Igreja

reconheceu a heroicidade das suas virtudes declarando-o venerável.

Desejo-lhes que a leitura destes Atos, seja ocasião per aumentar em nós a

consciência de sermos mulheres consagradas, verdadeiras missionárias

“presentes no mundo”.

Ir. Fiorenza Amato

6 de dezembro de 2008

Novena da Imaculada Conceição

Promulgação da venerabilidade de Pe. Jacinto Bianchi

Page 6: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

6

NOTA DE EDIÇÃO

A V Assembléia inter-capitular das Filhas de Maria Missionárias foi desenvolvida tendo

como “pano de fundo”a Relação intitulada: Às origens das Filhas de Maria Missionárias. A

idéia e a possibilidade da fundação na experiência e na reflexão de Pe. Jacinto Bianchi. Tal

trabalho, que forma a seção principal desta publicação, baseou-se sobre a análise e sobre a

interpretação dos numerosos documentos originais e em parte inéditos. Trata-se, sobretudo de

alguns textos autografados pelo Fundador, que estão conservados no Arquivo da Casa Geral

junto a muitos outros documentos. Há quase dois anos iniciou-se um trabalho sistemático de

ordenação e transcrição sobre este considerável patrimônio de fontes históricas, do qual a

Relação é um primeiro resultado significativo, além disso uma ulterior contribuição à

historiografia critica sobre a vida e sobre as obras de Jacinto Bianchi.

* * *

O critério de publicação dos Documentos recolhidos nesta seção especial objetiva restitui

com fidelidade a integridade dos textos, sobretudo quando são redigidos em forma esquemática

e de anotações, segundo o estilo característico de Jacinto Bianchi, exigido pela sua atividade de

pregador popular.

Portanto os textos publicados apresentam-se desprovidos de notas de caráter filológico

(indicações relativas a rasuras, repetições, termos abreviados, trechos ou palavras citadas nas

entrelinhas ou ao longo das margens...) que informam sobre a elaboração dos textos, mas não

dão contribuição significativa ao conteúdo deles. Estão presentes entre parênteses quadrados [

] somente poucas indicações consideradas mais interessantes.

Sempre entre parênteses quadrados encontram-se também algumas integrações redacionais e

explicações que procuram facilitar a leitura.

Os manuscritos de Jacinto Bianchi em gênero trazem como cabeçalho a sigla VJJM( «Viva

Jesus, José e Maria»), que na transcrição é omitida.

Abreviações

AFMM Roma, Arquivo Filhas de Maria Missionárias

f. folha, folhas

inc incipit (início de um trecho)

Ms. -ms. manuscrito

Positio CONGREG. DE CAUSIS SANCTORUM, Cremonen. Canonizationis Servi Dei Hyacinthi

Bianchi sacerdotis fundatoris Instituti Sororum Filiarum Mariae Missionariarum (1835-

1914), Positio Super Virtutibus, Roma, Tipografia Guerra, 1993.

r– r retro da folha ( frente )

v - v verso da folha

[...] texto omitido ou faltoso

| | Indicação de troca de folha ou página

Explicação de termos italianos não existentes na tradução para a língua portuguesa: aCorrettrice- cargo semelhante ao do Conselho fiscal no sentido de aprovar, aconselhar,

admoestar as pessoas que exercem cargos de responsabilidade. bPrimária- Nome dado à Sede das Pias Uniões em Roma.

Page 7: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

7

Page 8: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

8

“sejais irrepreensíveis e íntegras, como perfeitas filhas de Deus...”

Fil 2, 15

Meditação de Padre Jacinto Bianchi às Filhas de Maria

TESTEMUNHO DAS VIRTUDES E LUTA CONTRA AS PAIXÕES

POR UMA VIDA DE PERFEIÇÃO

Quero falar-vos de um nítido espelho onde olhando para vós mesmas, podeis

purificar-vos dos vossos defeitos para apresentar-vos como a Virgem Mãe

Imaculada.

Quero por isso dizer-vos de acreditardes sempre em duas coisas:

1. não podereis jamais merecer o elogio e a coroa de verdadeiras Filhas de

Maria se às tantas virtudes que embelezam a vossa alma fizer sombra um só

defeito, obscurecendo os claríssimos raios da inocência;

2. não podeis jamais alcançar a perfeição se não decidirdes de combater com

determinação, até ter vencido aquele vício dominante que vos faz guerra

contínua, à exemplo da nossa Mãe Imaculada que com o calcanhar esmaga a

soberba.

Não vos peço virtudes heróicas, mas sem medo de vos ofender, vos peço a

humildade, e com ela todas as virtudes cristãs – porque sem a humildade todas

são nada. É necessário que as vossas intenções sejam retas, que nunca vos

afastem das leis escritas por Deus sobre o Sinai e sobre o Calvário; é

necessário que em todos os vossos comportamentos resplandeça um constante

testemunho, de tal modo que não dêem um passo sem deixar uma marca de

perfeição, e que o vosso bom nome seja tão íntegro que não somente não seja

manchado, mas nem mesmo suspeito.

Não sereis dignas de serem verdadeiras Filhas de Maria, dignas do nome que

vos honra e glorifica, se não fordes muito puras de costumes, muito

desapegadas do mundo, muito desejosas de virtudes, muito unidas à

N.Senhora, muito fervorosas do bem e mortificadas, portanto irrepreensíveis.

Convém, aliás, é indispensável que vos mostreis desse modo ao mundo, aos

anjos e aos homens; é tão necessário que sejam desse modo ilustres e claras a

vossa virtude e a vossa inocência, que as outras admirando o vosso estilo de

Page 9: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

9

vida ou fiquem caladas ou sejam forçadas a admitir que as Pias Uniões

Marianas são uma providência.

Cada pequeno defeito é percebido em vós: um discurso negligenciado, um

descuido, uma frieza, uma moda, um olhar, uma visita, uma palavra, uma

risada é notada e se exclama: « Que bela Filha de Maria!...» sejais puras nos

pensamentos, voltando-os a Deus, puras nas mãos para as boas obras, puras no

coração para a retidão dos propósitos, puras na alma para a santidade da vida.

Mas como sois mulheres que vivem no mundo, eis a necessidade da

Congregação Mariana, para espelhar-vos em Maria. As faltas se ressaltam aos

olhos de todos (a virtude não, porque se esconde por humildade ou mesmo

porque o mundo não a percebe) e ofuscam aquelas virtudes heróicas que

tornam a vossa alma perfeita.

As vossas virtudes são como o ouro que se encontra na areia dos rios: se

assenta no fundo e não se pode ver; ao passo que os vossos defeitos são como

as algas e as palhas que as turvas correntes transportam consigo: flutuam e

fazem crer que o rio seja mais feio que bonito. Portanto se entre tantas virtudes

que coroam o vosso apostolado transparecer alguma imperfeição que

desacredita a santidade do Instituto, o mundo dirá «O rio é mais rico de lama

que de água límpida».

Se olhardes com pouca cautela, se dizeis uma palavra menos correta, se sair

de vossos peitos uma centelha de desdenho, se florescer sobre os vossos lábios

um sorriso inoportuno, é somente isto que todos vêem, que todos notam e

censuram, sem considerar as muitas virtudes com as quais engrandeceis a

honra da vossa Pia União. Por esta fraqueza, que vos faz vacilar, mas não cair,

bradam contra vós os malignos e vos zombam os ímpios. Se entre as pessoas

comuns do mundo é cobrada de serem muito atentas, de terem modos gentis:

como se poderia tolerar que as Filhas de Maria sejam más?

Se a virtude é misturada com qualquer vício, bem pouco é apreciada por

Deus. Correm no mundo doutrinas novas, cômodas, perigosas: a liberdade das

colocações às quais intervém homens e mulheres de toda qualidade, as igrejas

que parecem teatros e certas homilias que parecem comédias, palavras vazias

que não dizem nada; alguns não jejuam na Quaresma, outros não se

comunicam nem mesmo na Páscoa, outros ainda enrolam... basta olhar ao

nosso redor.

Há quem diz: isto é pretender muito das jovens, que embora que sejam Filhas

de Maria e chamadas a serem perfeitas de espírito são porém feitas de carne,

sujeitas à corrupção; não se pode pretender que sejam como N.Senhora

Imaculada.

Page 10: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

10

Eu peço muito com isso: mas Jesus Cristo não pretendia muito mais quando

propôs de sermos perfeitos como seu Pai? Sim – vós dizeis – mas Cristo era

Deus.

Porém São Paulo escreve que somos santos e imaculados diante de Deus.

Vós respondereis: «Somos pecadoras», e é verdade, mas quem impede de se

tornarem santas? Deus quer que todos nos tornemos perfeitos e assim seremos

bem aventurados já nesta terra.

Peço demais? Sim, mas a quem o peço? Às Filhas de Maria que professam a

virtude. Não vos nego que, para trazer novamente uma total vitória sobre o

mundo, que vos impede de serem perfeitas – eu vos expliquei como Jesus quer

que sejais perfeitas – é preciso força e coração. Eu bem sei que as nossas

paixões são sempre impetuosas e turbulentas, e se domadas com o freio da

mortificação perdem força;

Mas, quanto mais cremos que elas poderão nos vencer, mais crescem: por

isso qual será o remédio? Aí está ele, muito seguro, testado sempre com grande

sucesso: para gozar a paz, protegei-vos sempre da paixão predominante, aquela

que nos causa a guerra mais dura.

Alguém poderá dizer: «Eu pela graça de Deus estou longe das suspeitas e das

conversas perigosas: estou em casa, tenho companheiras virtuosas, sou

moderada no comer, não sou ambiciosa; rezo, trabalho, não leio romances,

passeio pouco... mas me lamento da pobreza»; outra ao contrário diz: «Pois eu

tenho paciência no meu estado e condição, mas gostaria de ter mais saúde»,

«Pois eu não me preocupo comigo mesma: não penso jamais ao matrimônio e

deixei minha alma em paz, porém não posso negar que também eu não me

empenho muito para a Pia União e não me esforço com ardor para que seja

estimada». Estas posturas são um mal grave, e necessita mudar de vida para

chegar a vencer a própria paixão.

Analiseis a vossa fraqueza – ambição, inveja, soberba – combateis até o fim:

senão que perfeição seria a vossa, em corrigir somente um só defeito, e os

outros não? No caminho da perfeição, nada faz quem não faz tudo: ai de quem

se coloca a arar e olha pra trás, quem não se inflama é morno. Deus quer

derrotar todos os vícios e triunfar inteiramente sobre os inimigos da virtude

eliminando a paixão dominante, aquela que nos faz abusar do poder, e então

todas poderão exclamar: «Viva Maria Imaculada e as Pias Uniões».

Texto reelaborado do manuscrito autografado, AFMM, VIII.2.6.1/3

Page 11: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

11

Page 12: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

12

“Procurai a Iahweh e sua força, buscai sempre a sua face; recordai as

maravilhas que ele fez...” Sl 104, 4-5

Saudação da Superiora Geral

DA NOSSA HISTÓRIA

«UMA REFLEXÃO ILUMINADORA» PARA O FUTURO

Caríssimas Irmãs,

a todas vós que estais aqui reunidas para a nossa Assembléia inter-capitular,

dirijo a minha cordial e fraterna saudação, em particular às Irmãs que vieram

de longe: Brasil, Costa do Marfim e República Centroafricana.

1. Um período de graça

Antes de tudo podemos reconhecer que os três anos passados desde o último

Capítulo Geral foi um período verdadeiramente especial. O Senhor nos fez

viver acontecimentos de graça, tocando não somente o coração de cada uma,

mas a história do nosso Instituto, com as profissões de várias irmãs, a entrada

no noviciado de algumas jovens, a abertura da missão brasileira de Tianguá, no

nordeste, e há pouquíssimos meses o início do novo “desafio” no Equador. E

ainda o percurso da causa de beatificação do nosso Fundador, que avançou

primeiramente com a decisão da Comissão teológica, e conseqüentemente com

aquela do Congresso dos Cardeais sobre o reconhecimento das suas virtudes

heróicas. Atravessamos também momentos difíceis, por causa de doenças

graves perdemos Irmãs caríssimas que agora certamente nos protegem do

Paraíso, enquanto que a saúde de outras permanece muito precária. Sou, porém

convicta que no plano de Deus tudo é graça, então mesmo as provas de

sofrimento e de morte têm um significado bom na vida do nosso Instituto.

2. Uma inesgotável riqueza Pensando nas palavras que deveria vos dirigir, me surpreendi com o episódio

evangélico de Jesus que subiu na barca de Pedro e de seus companheiros, e

pediu-lhes para saírem ao largo para a pesca. Mas Pedro lhe disse: «Senhor,

trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar». Jesus respondeu: «Lançai

vossas redes do lado direito, e encontrareis». Eles assim fizeram, e apanharam

tamanha quantidade de peixes que suas redes se rompiam (cf. Lc 5, 3-6).

Page 13: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

13

Para adaptar esse episódio à nossa situação, modifiquei um pouco a imagem

evangélica, na realidade em nome de todas nós, eu haveria dito a Jesus:

«Senhor, trabalhamos, cansamos, encontramos qualquer coisa e acreditamos

que não tenha mais nada a pegar fora daquilo que as nossas redes já pescaram».

Entendo assim referir-me à pesquisa sobre os escritos do nosso Fundador.

Jesus nos solicitou e encorajou a lançarmos novamente as redes, porque

encontramos muito mais do que as nossas expectativas.

Porque esta reflexão? Logo depois do Concílio Vaticano II, também o nosso

Instituto retomou o estudo dos escritos de Pe.Jacinto, continuando a difundi-los

e a propor alguns dos quais inéditos.

Mas, parecia quase que não tivéssemos mais nada a descobrir: já tínhamos

tudo em mãos, o que poderíamos conhecer ainda dele? Mesmo que fosse muito

difundido, certamente, este não era o pensamento de todas. Muitas de nós

éramos de fato convictas que o estudo do aspecto carismático e espiritual do

nosso Fundador não tinha absolutamente um itinerário completo; julgava-se

ainda que continuando as pesquisas e aprofundamentos poder-se-ia chegar a

descobrir novidade e vitalidade, seja para dar hoje, a nossa resposta à Igreja,

seja para exprimir o valor do nosso vínculo de caridade e sobretudo pelo

desejo, vivo em cada Irmã, de contribuir na construção de um rosto renovado,

mais bonito, das Filhas de Maria Missionárias.

3. A alegria de um trabalho sempre novo

Neste empenho de estudo e conhecimento, que vem sendo feito há décadas,

as Superioras gerais precedentes, com os respectivos Conselhos, procuraram

trabalhar animadas com um forte sentido eclesial, baseado num autêntico amor

pela Vida Consagrada e pelo nosso Instituto, sempre atentas a envolver todas

as Irmãs para que cada uma pudesse dar a sua contribuição, mesmo que fosse

somente com a oração. Como no passado, também depois do Capítulo de

2005, nós recomeçamos o trabalho, procurando a ajuda de pessoas peritas nas

disciplinas necessárias para um estudo correto e frutuoso.Temos assim

renovado o desejo comum de aproximarmo-nos do nosso fundador com uma

perseverante dedicação, mas também com amor sincero, profundo e

desinteressado pela nossa Família Religiosa que, apesar de simples e pequena,

tem um grande valor, como nos assegura Pe.Jacinto: «Parece aos olhos

humanos muito modesto o trabalho de uma humilde Congregação entre os

importantíssimos acontecimentos dos quais se faz célebre este século, um

acontecimento pouco considerado, mas de imensos bens e germe fecundo» (p.

71).

Page 14: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

14

Todas de fato desejamos revisitar as nossas origens, porque sabemos que o

conhecimento de nossa história nos ajuda a redefinir a nossa espiritualidade na

sua tríplice expressão de consagração, comunhão e missão.

Esta Assembléia foi preparada com um instrumento de trabalho denso de

sabedoria, fruto de pesquisas, de meditações partilhadas e de diálogo ao interno

da Comissão que foi designada logo depois do Capítulo de 2005.

Como em todo caminho, não faltaram as dificuldades: nós as vivenciamos

participando da Cruz de Cristo.

O trabalho dos próximos dias será orientado por pessoas competentes: as

intervenções delas nos oferecerão um espaço de reflexão sobre a riqueza

carismática e espiritual de Pe. Jacinto e a do Instituto, sobre a história que

chegou até nós através da vida de todas as Irmãs que nos precederam. As

nossas reflexões certamente não poderão limitar-se ao período da Assembléia,

que é somente um ponto de partida intenso e partilhado, onde encontrar

material e pontos relevantes afim de que cada uma possa continuar e “fazer

seu” o trabalho de pesquisa.

Tenho certeza que poderei contar com a colaboração generosa de cada uma,

para ajudar a todas, enfrentar e esclarecer os problemas, a desatar os nós que

certamente surgirão. Somos também conscientes que, sobretudo nestes dias, a

reflexão pessoal e as orientações comuns não estarão isentas de erros e

incompreensões, mas se vivermos tudo isso em autêntica comunhão, o Espírito

Santo será como sempre generoso, e nos dará toda a luz e a simplicidade para

um verdadeiro discernimento.

4. Uma vocação para o mundo

O tema escolhido para esta Assembléia: «Donne viventi nel mondo»

“Mulheres que vivem no mundo”, foi tirado do texto de Pe. Jacinto e vale

ainda hoje como uma definição de nós mesmas, do nosso apostolado, e é por

isso de grande utilidade. Mas para compreendê-lo adequadamente, necessita

também inseri-lo no contexto original do Fundador. A expressão se encontra na

redação de uma de suas conferências às Filhas de Maria da Itália e em

particular aquelas de Roma, feita aproximadamente entre 1887 e 1888, durante

as celebrações jubilares para o cinqüentenário de sacerdócio de Leão XIII.

Pe. Jacinto as exorta dizendo: «Convém, aliás, é indispensável que vos

mostreis desse modo ao mundo, aos anjos e aos homens; é tão necessário que

sejam desse modo ilustres e claras a vossa virtude e a vossa inocência, que as

outras admirando o vosso estilo de vida ou fiquem caladas ou sejam forçadas a

admitir que as Pias Uniões Marianas são uma providência. Cada pequeno

defeito é percebido em vós: um discurso negligenciado, um descuido, uma

frieza, uma moda, um olhar, uma visita, uma palavra, uma risada é notada [...]

Page 15: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

15

Mas como sois mulheres que vivem no mundo, eis a necessidade da

Congregação Mariana, para espelhar-vos em Maria » (pp. 11-12).

Surge espontaneamente recordar as palavras de Jesus, quando disse aos

apóstolos que eles estão no mundo, mas não são do mundo (cf. Jo 17, 16-18).

Também S. Paulo nos ajuda a compreender melhor estas palavras de Pe.

Jacinto: «Tornai-vos irreprováveis e puros, filhos de Deus, sem defeito, no

meio de uma geração má e pervertida, no seio da qual brilhais como astros no

mundo, mensageiros da Palavra de vida» (Fil 2, 15-16). E por sua vez quase

comentando esta exortação paulina, Pe. Jacinto especifica: «Se o mundo nos

cega à graça, o século permanece envolvido entre as trevas do pecado, cobre

uma outra nuvem de infidelidade a quem não crê, ou a quem mal crê: as Filhas

de Maria devem resplandecer entre todos estes horrores » (AFMM,

VIII.2.6.1/2).

«Vós sois o sal da terra e a luz do mundo» (Mt 5, 13-14) nos diz ainda hoje

Jesus. E nós seremos verdadeiramente «sal» e «luz» se vivermos a nossa

espiritualidade na radicalidade, sem sermos “radicais”, mas realistas, isto é,

bem conscientes que as situações mudaram e com elas também a modalidade

da nossa presença: «A vida religiosa é um testemunho e um sinal necessário à

Igreja, as formas de vida podem também mudar, algumas encarnações deste

testemunho podem até mesmo acabar, mas a verdadeira preocupação é que, se

a raiz é boa, os ramos bons continuarão a existir e portarão o seu fruto » (Enzo

Bianchi).

O mundo é o palco teatral da ação salvífica de Deus, manifestada aos homens

em Cristo e continuamente atualizada através dos seus discípulos: «Como tu

me enviaste ao mundo, também eu os envio ao mundo» (Jo 17, 18).

É Ele que nos quis e nos colocou no mundo como consagradas e

missionárias, portanto não podemos fugir do confronto com o mundo: tudo

aquilo que acontece nos deve interpelar e interessar. Sobretudo, não podemos

fechar os olhos e muito menos o coração diante da dura realidade que tantos

dos nossos irmãos e irmãs vivem. Devemos pedir ao Espírito de

permanecermos prontas e disponíveis para deixarmo-nos guiar por Ele entre os

clamores do nosso tempo.

A nossa vocação, precioso dom do Espírito a cada uma de nós, nos pede de

viver no meio do povo, de armar a nossa tenda entre a humanidade mais

sofrida para escutar o «grito do pobre» (Prov 21, 13): iluminadas pela Palavra,

teremos a coragem de reavivar a esperança, e assim tornarmos um sinal da

ternura salvífica de Deus.

Nós, Filhas de Maria Missionárias, fortificadas pelo zelo apostólico herdado

do nosso Fundador e com o olhar fixo em Jesus Cristo queremos viver uma

Vida Consagrada que seja dinâmica, ativa e eficaz. Por isto estamos presentes

Page 16: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

16

nos lugares onde existe pobreza, conflitos, tensões. Somos chamadas a viver as

mesmas condições do povo que sofre, conscientes de que a nossa missão é

cuidar da vida onde quer que ela esteja ameaçada. Assim nos exortava Ana

Roy: «Nas estradas onde ninguém caminhou, deixa os teus passos. Nos

pensamentos que ninguém formou, projeta o teu coração.

Na oração que ninguém rezou, una as tuas mãos em súplica.

Às lágrimas que ninguém derramou, ofereça os teus olhos e purifica a tua

esperança...».

5. Uma identidade para o nosso tempo

Descrevendo a situação dos seus tempos, há cerca de um século, Padre

Jacinto se exprimia com acentuações que hoje podemos definir “proféticas”

pois suas palavras daquele tempo são perfeitamente válidas também para nós:

«Agora diante desses males, desta praga profunda, bastara levantar lamentos e

choros, e mover-se um pouco? Não, é tempo de correr onde exista o perigo, de

trabalhar com grande esforço, é tempo de zelo heróico porque a sociedade se

enfraquece separada de Deus» (AFMM,VIII.2.3.3). Também hoje a sociedade

nos parece dramaticamente «separada de Deus» com distâncias que parecem

insuperáveis, com situações concretas que continuamente nos colocam à prova.

Hoje, que coisa nos desafia como religiosas e missionárias?

Uma realidade que nos deve interrogar fortemente é a da imigração,

sobretudo após as recentes mudanças políticas na Itália e na Europa. O nosso

julgamento sobre este fenômeno complexo deve partir das palavras de

Jesus:«Tive fome e me deste de comer, tive sede e me destes de beber; fui

estrangeiro e me hospedastes» (Mt 25, 35). Por isso não podemos aceitar a

ação indiscriminada das nações assim ditas “civilizadas” e “evoluídas” em

desfavor de tantos inocentes, não podemos nos conformar com grande parte da

sociedade que vê nos imigrantes irregulares e clandestinos a causa primeira da

criminalidade. Não podemos esquecer e nem fazer esquecer que quase todas

estas pessoas são forçadas a abandonar a pátria para fugir de terríveis situações

sócio-politicas, da insegurança difundida, da guerra que prossegue há anos na

indiferença do ocidente, da miséria causada pela corrupção e exploração.

Quando chegam às nossas terras, é muito fácil que se tornem vítimas do crime

organizado. Mas nós, quando é que tivemos a coragem de intervir em defesa

destes nossos irmãos?

Este fenômeno dramático deve hoje nos interrogar sobre a verdadeira

identidade e sobre a fidelidade da qual somos capazes. É urgente clarear a

especificidade e o significado da nossa vida religiosa missionária no meio do

mundo.

Page 17: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

17

Somos Igreja a caminho, e ao longo dos séculos, cada tempo tem as suas

dificuldades e contradições, os momentos de escuridão ou os obstáculos que

aos olhos humanos parecem insuperáveis. Mas ainda que nos vejamos

circundadas pelo mal, bem sabemos que ele não está destinado a vencer. De

fato «toda a criação geme e sofre até hoje as dores do parto», mas «os

sofrimentos do momento presente não são comparados à glória futura que

deverá ser revelada em nós» (Rm 8, 22.18).

Por isso a nossa atitude diante da realidade, o nosso “viver no mundo” seja

uma espera vigilante, capaz de acolher e pronta a proteger e fazer crescer tudo

quanto é bonito, bom e verdadeiro que Deus continua incansavelmente a criar:

«Eis que faço uma coisa nova: ela já vem despontando: não a percebeis?» (Is

43, 19).

6. Viver hoje como Maria Imaculada

A nossa voz profética e o nosso testemunho adquirem força e geram atrativos

se “vivemos no mundo” espelhando-nos em Maria.

Padre Jacinto quer que vivamos como N.Senhora Imaculada! Mas o que

significa para nós sermos imaculadas? Certamente não é um chamado a estar

fora das controvérsias do mundo, a evitar de “sujar as mãos” nos

acontecimentos dos nossos tempos. É ao contrário um estímulo a confrontar-

nos abertamente, a “combater” contra um mundo idólatra que sacraliza o lucro,

anuncia a “boa notícia” da competição desenfreada que exclui a maioria das

filhas e filhos de Deus e, além disso, aplaude a esta injustiça gritante. «Não vos

conformeis com este mundo, mas transformai-vos renovando a vossa mente, a

fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e

perfeito» (Rm 12, 2). Um anúncio que não “atrapalhe” o critério do mundo não

seria autêntico, não faria irromper a “novidade” de Cristo em uma sociedade

dominada pela injustiça e pelo esquecimento. «Eles me perseguiram, também

vos perseguirão» (Jo 15, 20). Quando dizia estas palavras, Jesus tinha em

mente também nós, mas se hoje o mundo não nos persegue como perseguiu os

primeiros cristãos, é talvez porque não representamos para ele uma ameaça, ou

uma pequena possibilidade de desestabilizar o seu “sistema” feito de violência

e egoísmo. Bem pior seria se também nós desviássemos o olhar da miséria que

nos circunda, se não denunciássemos as suas causas, porque assim seríamos

coniventes com tudo isso. Quem aceita passivamente esta situação não pode

dizer de ser como Maria Imaculada. As palavras do Fundador nos pedem e nos

impulsiona para ir contra a corrente, para continuar a afirmar uma visão de

mundo que nasce da Palavra de Deus e da sua plena Revelação em Cristo: a

construção do Seu Reino de paz, fraternidade e justiça, porque «Cada vez que o

Page 18: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

18

fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes» (Mt 25,

40).

A vigilância e a solicitude de Maria em ver crescer Seu Filho sejam o nosso

olhar sobre o nosso tempo: a nossa amantíssima Mãe nos dê a capacidade de

viver cada situação com o nosso verdadeiro rosto, de estar sempre “em missão”

levando o testemunho de Cristo às mulheres e aos homens que encontramos

sobre nosso caminho.

7. Abraçar a Cruz para crescer na virtude

Sabemos bem que não podemos abraçar Cristo sem a Cruz. E esta cruz é a

prova cotidiana de sentirmo-nos incompreendidas ou inadequadas em uma

sociedade que dá valor àquilo que é superficial e imediato, onde quase tudo é

imediatamente disponível pois o ter vale mais que o ser. Mas este é o lugar do

nosso testemunho, humilde e tenaz. O documento Vita Consecrata nos

adverte: «A cada um é pedido não tanto o sucesso, quanto o empenho da

fidelidade. Aquilo que se deve absolutamente evitar é a verdadeira falência da

Vida Consagrada que não está no declínio numérico, mas na decadência da

qualidade da adesão espiritual ao Senhor e à própria vocação e missão» (VC

63).

Como consagradas, devemos continuamente oferecer a Deus toda a nossa

pobre humanidade para que da Sua onipotência seja transfigurada e salvada,

modelada como sinal crível e luminoso do Evangelho de Cristo.

No texto que introduz a Assembléia, Padre Jacinto nos adverte: «

Cada pequeno defeito é percebido em vós[...] As faltas se ressaltam aos olhos

de todos[...]e ofuscam aquelas virtudes heróicas que tornam a vossa alma

perfeita» (p. 12), e num outro ponto rebate: «Se o mundo não for influenciado

e edificado pela vossa presença, sois um corpo morto e não tendes razão de

existir: por isso sejais verdadeiras Filhas de Maria» (AFMM, VIII.2.6.1/1).

Mas pela graça de Deus, a nossa história não é feita somente defeitos e falhas.

A memória viva de tantas Irmãs que nos precederam é para nós um grande

conforto, na certeza que também hoje é possível dar um autêntico testemunho

de virtudes, a nível pessoal e comunitário, permanecendo fiéis ao carisma do

nosso Instituto. A graça que Deus nos dá na consagração é maior que os nossos

limites. Nossa responsabilidade é não esquecer jamais a preciosidade deste

dom, e assim deixar espaço na nossa vida à obra de Deus, para fazê-la emergir

como as fagulhas de ouro que, segundo a comparação de Padre Jacinto, estão

presentes na areia do rio mas escondidas pelas algas e palhas esmagadas pela

corrente:

Page 19: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

19

«Portanto se entre tantas virtudes que coroam o vosso apostolado

transparecer alguma imperfeição que desacredita a santidade do Instituto, o

mundo dirá «O rio é mais rico de lama que de água límpida»(p. 12).

Como os santos, como os fundadores, como Padre Jacinto, confiemo-nos a

Deus! Com as palavras de João Paulo II a Igreja nos convida a uma luminosa

esperança: «Vós não haveis somente uma história gloriosa para recordar e

recontar, mas uma grande história a construir! Olhais o futuro, no qual o

Espírito vos projeta para fazer convosco ainda grandes coisas» (VC 110). A

fidelidade de Deus e o poder da Sua graça são capazes de gerar maravilhas,

assim que Cristo seja vivo em nós e por meio de nós. A perene novidade do

Espírito nos impulsiona a encontrar novos caminhos, para exprimir como

Maria, com profundidade e coragem, o amor de Cristo à humanidade.

Animadas por esta grande confiança, podemos nos mover «às pressas» (Lc 1,

39) sobre os passos de Maria para apresentar Cristo ao mundo, às mulheres e

aos homens sedentos de paz e de salvação, para sermos como Ela presentes aos

pés das inumeráveis cruzes do nosso tempo.

Por isto recebemos o dom da vocação, como nos diz ainda Padre Jacinto:

«Deus vos colocou no mundo para que cada exemplo das vossas virtudes seja

um raio luminoso da luz de sua Mãe» (AFMM,VIII.2.6.1/1).

Ajudemo-nos no trabalho que nos espera criando um clima de abertura,

disponibilidade e escuta recíproca, «de Irmã para Irmã». Para o bem do nosso

caro Instituto, pedimos ao Espírito de Deus que nos ilumine a mente e o

coração. Imploremos a benção da Santíssima Trindade, a proteção de Maria

Imaculada e a intercessão do Fundador Padre Jacinto Bianchi. Desejo a todas

uma Assembléia construtiva, alegre e fecunda.

Com afeto e muita fraternidade

Ir. Fiorenza Amato

Roma, 29 de junho de 2008

Festa dos Santos Pedro e Paulo

Page 20: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

20

RELATÓRIO

ÀS ORIGENS DAS FILHAS DE MARIA MISSIONÁRIAS

A idéia e a possibilidade da fundação

na experiência e na reflexão

de Pe. Jacinto Bianchi

Page 21: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

21

Page 22: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

22

Introdução

Como todas as histórias vivas, que ainda hoje envolvem pessoas e atividades,

também a história do nosso Instituto é interessante. Primeiramente porque é a

“nossa” história e depois porque é uma história longa, de mais de cento e trinta

anos, que atravessou aquela que vem definida a idade contemporânea.

Do ponto de vista da história da Igreja foi de muito trabalho, que preparou o

momento no qual estamos vivendo; um período diferente de todos, nem melhor

e nem pior do que os demais. Para o cristão, a história é sempre a “história da

providência” e em cada época é chamado a reconhecer esta verdade e a

colaborar com ela. O tempo não existe em função do avanço do “progresso”,

mas o tempo é o espaço da manifestação de Deus, cujas vias não são

evidentemente aquelas conhecidas e apreciadas pelos homens:

“Parece aos olhos humanos muito modesto o trabalho de uma humilde

Congregação entre os importantíssimos acontecimentos dos quais se faz

célebre este século, um acontecimento pouco considerado, mas de

imensos bens e germe fecundo”. 1

Organização e limites do trabalho

Procuraremos percorrer a gênese, o desenvolvimento e a manifestação

da perspectiva fundacional, em Pe. Jacinto Bianchi enfatizando alguns

momentos de sua biografia e analisando o seu primeiro texto impresso de

caráter normativo. Leremos alguns de seus “fragmentos” típicos (não se trata

de pequenos trechos, mas textos não organizados), buscando uni-los e

interpretá-los. Este trabalho poderia até parecer arbitrário, mas é só uma

tentativa, uma busca de critério sobre o qual apoiar a hipótese, que por ora

parece ser a mais convincente sobre a origem do Instituto. Após breves

considerações sobre o segundo texto impresso, tentaremos chegar a algumas

conclusões que expressem o espírito que Pe. Jacinto Bianchi desejava para as

suas Missionárias.

1 “Rezem a Deus que na Sua imensa bondade...” ms. de J. Bianchi,AFMM, VIII.2.5.3; cf.

Documento 1, p.71.

Page 23: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

23

Certamente é necessário reforçar uma vez mais que restam muitos

estudos e pesquisas a serem feitos para conhecer Jacinto Bianchi e o Instituto

que ele fundou, que são duas realidades bem diferentes, ainda que apresentem

muitas coincidências historiográficas e documentais. Em seguida, o estudo dos

vários contextos: históricos, eclesiais, normativos, espirituais, nos quais o

Fundador viveu e por eles foi influenciado. Como adquirimos novas

informações e documentos sobre a pessoa de Pe. Jacinto Bianchi e sua obra, o

atual conhecimento de muitos acontecimentos memoráveis não é ainda

definitivamente confirmado do ponto de vista historiográfrico; uma parcial

compreensão correta das circunstâncias permite de justapor e arriscar a

interpretação dos fenômenos, comportamentos e juízos, mas com a firme

consciência que as ulteriores e necessárias pesquisas (a serem feitas em outros

arquivos e através da sistematização do nosso) poderão iluminar seja zonas até

então sombrias confirmando as hipóteses, seja impor uma validação também

substancialmente diversa dos acontecimentos.

Os principais momentos da história do Instituto foram novamente

percorridos, na medida do possível respeitando uma organização cronológica

através de uma leitura “transversal” dos documentos disponíveis ( muitos dos

quais atualmente sem datas), na tentativa de delinear um quadro de referências

tendencialmente coerentes, sugerindo uma “chave de leitura” unitária para

atribuir a cada escrito uma possível colocação orgânica. O objetivo é

evidentemente o de aproximar-se de uma reconstrução realista dos

acontecimentos, ligada a uma lógica do suceder das circunstâncias, procurando

evitar uma interpretação simplificada a posteriori que acaba por reconduzir a

inevitável complexidade do presente às fases conseqüentes de um projeto

delineado.

A interpretação proposta quer somente evidenciar a efetiva

multiplicidade das “origens” do Instituto, ligadas em boa parte aos

acontecimentos biográficos de Pe.Bianchi, mas também à atuação das pessoas

e contextos que fugiam ao seu controle ou dos quais não podia ter direto ou

completo conhecimento. Se pensarmos, por exemplo, à utilidade que nesta

perspectiva poderia ter uma rigorosa investigação histórica sobre a

singularidade das co-irmãs do início, nas suas relações recíprocas e com o

Fundador.

Page 24: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

24

Primeira Parte

AS ORIGENS DO INSTITUTO NA EXPERIÊNCIA

PESSOAL DO FUNDADOR

1864-1875

1.1 As raízes em Scandolara (1864-1865)

Pode-se chegar às primeiras origens das Filhas de Maria Missionárias não apenas

resgatando a conhecida história de Pigna a Belém, mas também reconstruindo os fatos

biográficos de Jacinto Bianchi, de modo particular, sua permanência em Scandolara

Ravara como vigário paroquial (da primeira metade de 1860 até abril de 1865); onde

ele faz sua primeira «tentativa fundacional» 2 com o projeto e a realização de uma

comunidade: a Casa de trabalho para mulheres, aberta temporariamente no início de

1865.

Em uma carta a João Bosco em 19 de novembro de 18653 Jacinto Bianchi

transcreveu o Programa e um regulamento aos quais chama de Espírito e Finalidade

da Casa. Quando escreve a carta, já há alguns meses Pe. Jacinto encontra-se em

Gênova e a fim de que Dom Bosco faça a sua apreciação, expõe a idéia de uma nova

fundação que pretende fazer próxima a Cremona. O novo «projeto de proveito

público-religioso» 4 previa a abertura de outra Casa de Trabalho para mulheres, mas

desta vez coligada a uma casa de hospedagem masculina para juntos sustentarem um

colégio de jovens estudantes; a proposta era não muito articulada e não teve

continuidade: D.Bosco não responderá limitando-se a colocar sobre a carta a anotação:

«simples memória». Jacinto queria propor novamente para a casa de Trabalho, o

regulamento já utilizado em Scandolara e por isso fez com que Dom Bosco também o

conhecesse, informando-o de que «o mesmo foi feito bastante amplo de modo que

não pareça somente religioso»5.

Entendia deste modo cautelar-se para evitar a hostilidade anti-clerical pela qual o

forçaram a fechar a casa de Scandolara6 e conseqüentemente fizeram com que ele

pedisse ao bispo para ser o quanto antes destinado a um novo lugar:

“Não posso e além do mais não devo ficar em Scandolara como Coadjutor.

Tardar a saída seria querer em seguida ser o acusador do modo de comportar-se

do Arcipreste: o que absolutamente não quero. Não se aborreça em permitir de

2 Positio, p. 33.

3 Carta de Jacinto Bianchi a João Bosco, Gênova 19 de novembro de 1865, AFMM, VIII.

1.1b Ep202; cf. Documento 2, pp. 73-80. 4 Idem, p.73.

5 Idem.

6 Cf. Documento 2, anexo 3, Uma casa de trabalho em Scandolara Ravara, pp. 77-78.

Page 25: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

25

retirar-me súbito, ou transferir-me a outro local [...]Portanto espero do senhor

uma notificação permitindo o que peço, que é a necessidade do momento.”7.

O embrião do regulamento da Casa de Scandolara, Espírito e Objetivo da Casa,

com seus quatro artigos delineiam uma primeira estrutura de vida comunitária,

baseada no «espírito de fraternidade»8 e na partilha de vida «como muitas irmãs» que

convivem observando a «disciplina [...] para o bem privado e público.»Alguns

indícios sugerem que Pe. Jacinto já tinha em mente um estilo de «convivência»

semelhante àquele de uma Casa religiosa: são as referências (mesmo que de forma

negativa) ao «distintivo», ou seja, ao hábito e à «clausura», a denominação de

«Superiora» com um cargo próprio, a prescrição de caráter moral, a obra de

misericórdia corporal, o «dar esmola» e, sobretudo, a missão educativa da juventude

feminina, atividade típica das Pias Uniões das Filhas de Maria, que permanecerá como

uma característica fundamental do Instituto.

As intenções de iniciar uma Casa religiosa, já eram explícitas, conforme bem havia

entendido o autor de um artigo que ele enviara para Dom Bosco, transcrevendo-o ao

final da carta. Com o passar de diversos anos, no final de 1891, o próprio Pe. Bianchi

reconhece explicitamente que em Scandolara começou «a primeira idéia da casa»9, e

poucos meses depois, em 16 de julho de 1892, conseguiu abrir uma Casa de

Missionárias.

Do ponto de vista biográfico, é significativo o fato que Pe. Bianchi atribui à

abertura e ao abandono forçado da Casa de Scandolara a causa da sua saída da

diocese de Cremona e conseqüentemente a sua transferência para Gênova:

“Diante de todas as coisas considerei ser melhor ir-me embora, pois me retirei

de lá não por outra causa, a não ser pelo fato do bispo ter sido enganado e

acreditado que o governo queria me prender por motivo dessa minha

iniciativa”10

.

Na realidade o bispo Novasconi, que bem o conhecia pois foi quem o ordenou,

tinha sofrido pressão da autoridade civil para afastar Pe. Jacinto, que na época tinha

seus trinta anos, mas evidentemente lhe foi apresentada uma explicação bastante

cômoda: distanciar-se para prevenir uma possível prisão11

.

7 Carta de Jacinto Bianchi a D. Antonio Novasconi, Scandolara Ravara, 30 de março de

1865, AFMM, VIII.1.1c.Ep214; cf.Documento 3, pp. 80-81. 8 Todas as citações deste parágrafo são tiradas da Carta de Jacinto Bianchi a J.Bosco, Gênova

19 de novembro de 1865, anexo 1, Programa de uma Casa de Trabalho para mulheres; cf.

Documento 2, pp.74-75. 9 J.BIANCHI, Cartas a Delfina 1886-1894, Roma, Filhas de Maria Missionárias, 2007, p. 36.

Ir.Delfina Delfino explica que por «Casa» se entende «Obra» e portanto o próprio Instituto; cf.

Idem. 10

Carta de J.Bianchi a J.Bosco, Genova, 19 de novembro de 1865; cf. Documento 2, p.73. 11

Cf. Positio,pp.34-40,nn.2-5.

Page 26: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

26

Na história de Scandolara, primeira experiência «falida» de uma nova fundação, já

aparece a referência à Pia União das Filhas de Maria de Roma com a qual Bianchi

devia estar em contato, pois faz referência ao «cordão» e à «corrente» que havia

encomendado para a jovem que «foi constituída Diretora da mesma Congregação»12

.

1.2 Na escola de Giuseppe Frassinetti (1865-1868)

Quando Pe. Jacinto, em abril 1865, transferiu-se para Gênova, já havia feito diversos

contatos com Frassinetti, que evidentemente tinha percebido suas qualidades de

homem e de sacerdote, a ponto de convidá-lo para ficar junto com ele13

.

Desde os primeiros tempos de permanência em Gênova, Pe. Jacinto Bianchi teve

condições de viver a consagração pessoal na Pia União dos Filhos de Santa Maria

Imaculada, iniciada por Frassinetti, sobre o exemplo da análoga Pia União feminina.

Um pequeno grupo desses primeiros consagrados foi em seguida convidado a assumir

a vida em comum e dar origem à Congregação frassinetiana. Para difundir a

consagração secular masculina, Frassinetti em 1864 publicou O religioso no mundo,

baseado em A monja em casa de 1859.

Bianchi definiu Frassinetti como uma «alma santa e conhecedora das necessidades

da juventude cristã»14

. É uma chave de leitura para interpretar a influência deste

grande mestre espiritual sobre o desenvolvimento que assumiu a obra de Pe. Jacinto

Bianchi:

Frassinetti dá uma importância particular à educação das meninas e das

jovens: vê nelas as futuras mães de família das quais dependerá em grande

parte a tarefa tão delicada de fazer crescer uma nova geração enraizada na fé.

«Observo – assim afirma – que a educação dos filhos depende em quase tudo

das mães, mostrando-nos a experiência que se a mãe é boa, mesmo se o pai

não o é, conseguem-se bons filhos e não vice-versa». Cabe-nos então, cuidar

da educação das crianças «as quais formam a metade da adolescência», e

12

Idem, p.37. 13

Cf. Idem, p.61. Giuseppe Maria frassinetti (1804-1868), fundador dos Filhos de S. Maria

Imaculada, nasceu em Gênova, primogênito de quatro irmãos, todos sacerdotes, e de uma irmã,

Paola, fundadora das Irmãs Dorotéas, canonizada em 1984. Ordenado em 1827, foi

primeiramente pároco a Quinto, onde orientou a irmã na fundação de seu Instituto. Depois foi

transferido para Gênova, na Paróquia de Santa Sabina, onde trabalhou na defesa da religião

católica ameaçada pelas idéias liberais e maçônicas. Escreveu obras ascéticas que estão

traduzidas nas principais línguas européias e fundou instituições de cultura, piedade e

assistência. A característica fundamental de sua ascese era a afirmação que cada cristão,

mesmo vivendo no mundo, pode atingir a perfeição evangélica, através da consagração pessoal

e o estado de graça obtido por meio da Comunhão freqüente. Quando morreu foi assistido por

Pe. Jacinto Bianchi. 14

Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias sob o patrocínio

da Virgem Imaculada e de S. Inês Virgem e Mártir, ms. de Jacinto Bianchi, AFMM,

VIII.2.1.4a/b; cf. Documento 4, p.83.

Page 27: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

27

particularmente daquelas descuidadas pelos pais, porque «se elas crescerem

bem, tornar-se-ão boas mães, e a outra metade, sob a educação delas

necessariamente deverá também melhorar». Com este objetivo, Frassinetti

convida os sacerdotes a se valerem da ajuda de tantas mulheres leigas prontas

a se empenharem no apostolado em favor das jovens: «No povo cristão existe

ainda um bom número de pessoas piedosas dedicadas a fazerem o bem, as

quais, se fossem motivadas e orientadas seriam de grande valor tanto para as

próprias famílias como para as outras». Elas podem ter acesso às jovens lá

onde um homem, e particularmente um padre, não poderia chegar «sem se

expor e sem causar suspeitas de uma familiaridade inconveniente.»15

Em 1855, Frassinetti havia escrito a Regra para a Pia União de Santa Maria

Imaculada, fundada em 1851 em Mornese por Angela Maccagno, na qual havia

esboçado aquelas que eram as características de uma santificação pessoal. Esta Pia

União tinha, porém, uma expressão de tipo “religiosa” ligada à prática dos Conselhos

evangélicos, baseando-se nas Ursulinas de Santa Angela Merici. Deste grupo é que

surgirão as irmãs salesianas Filhas de Maria Auxiliadora. As qualidades exigidas para

se inscreverem eram:

1. Aquelas ditas solteironas que queriam observar corretamente a lei divina,

evitando todo pecado, mesmo os veniais, que são plenamente advertidos. 2.

Aquelas que queriam praticar os conselhos evangélicos, conservando

castidade perfeita, cultivando o espírito de piedade e de obediência.16

O objetivo desta Pia União era:

formar congregações [grupos, associações locais] de solteironas devotas

interessadas na busca da própria santificação e em ajudar na salvação do

próximo, congregações aptas a serem criadas também nas pequenas

localidades. [...] o dever delas é em geral de exercitarem-se na misericórdia

corporal e espiritual. Portanto, devem assistir as enfermas pobres do lugar, e

ao mesmo tempo cumprir suas próprias obrigações; devem fazer com que

reine nas próprias famílias o santo temor de Deus; devem empenhar-se para

que as crianças descuidadas pelos pais freqüentem os sacramentos e a doutrina

cristã; e ainda, podendo, devem instruí-las: zelar para as que já são

maiorzinhas se apaixonem pelas coisas santas e se entreguem a uma vida

devota; devem ainda promover as práticas de piedade usadas no local”.17

15

S. VRANKEN, Quale accompagnamento per i giovani sulle vie della santità?, in La

forrmazione alla santità nella Chiesa genovese dell’Ottocento. Il contributo di Giuseppe

Frassinetti, a cura di D.Bruzzone – M.F.Porcella, Roma, LAS,2004,pp.380-381. 16

G. FRASSINETTI, Apêndice sobre a Pia União das Filhas de S. Maria Imaculada, 1862,

em Obra ascética, IV, Tip. Poliglota vaticana, Roma 1912, p. 401. 17

Idem.

Page 28: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

28

Em 1856 Frassinetti “importa” para Gênova, na igreja de Santa Sabina, a Pia União

das Filhas de Maria Imaculada de Mornese, que ele define como «novas ursulinas»;

depois de alguns anos, prosseguindo a obra, convida as congregadas a viver em

comum, abrindo casas para tal fim:

[através dessa fundação] desejava-se criar um apostolado voltado para a

moralização dos costumes. Em particular esta exigência nascia da constatação

de que muitas jovens mulheres ficavam «expostas ao mundo com mil perigos

e seduções, sem nenhuma advertência paterna, sem os cuidados maternos, sem

um conselho fiel de uma amiga piedosa, longe dos sacramentos». As Filhas de

Maria poderiam inseri-las nos ambientes de trabalho e na sociedade,

conduzindo-as para uma direção certa. Desse modo Frassinetti conseguiu

reunir ao redor de si um bom número de jovens que instruía semanalmente,

direcionando-as ao caminho da perfeição cristã. [...] Pensou-se também em

preparar a fórmula da vida em comum: em 1860 algumas delas se reuniram

em uma casa, incluindo outras que as auxiliavam em seus respectivos

trabalhos. A comunidade, assim, aumentou rapidamente e em pouco tempo

consideraram oportuno abrir uma segunda casa maior, seguida sucessivamente

de uma terceira.18

A abertura da primeira casa é assim recontada em 1863 pelo próprio Frassinetti, no

início de um parágrafo significadamente intitulado A Casa de trabalho:

Quatro solteironas vivem juntas numa habitação muito simples, composta de

uma salinha sem luz, dois quartos e cozinha. Elas trabalham para ganhar o

pão; duas na confecção de flores artificiais; uma numa fábrica de botas, outra

numa confecção de roupas de cama e mesa; fazem ainda hóstias para várias

igrejas. Dão também trabalho às jovenzinhas da vizinhança; e outras em

número maior vêm até elas para aprenderem a doutrina cristã. [...] Esta casa de

trabalho é ainda lugar de encontro para um grande número de meninas, já

grandinhas e também as adultas, que moram próximo ou até bem distante

desta localidade. Para lá se dirigem especialmente em dias de festa, quando

não vão trabalhar; e tendo um pouco de tempo livre, reúnem-se também em

dias normais [...] É fácil entender o quanto seria útil que casas semelhantes a

estas fossem fundadas em outras localidades, especialmente onde há maior

número de crianças com pouca instrução, educadas de qualquer modo,

desprotegidas, as quais se já não o são, logo serão vitimas de uma depravação

cada vez mais crescente.19

18

P.GHEDA, Giuseppe Frassinetti testemunha e formador de santidade, in La formazione

alla santitità..., cit, p. 145. 19

G. FRASSINETTI, La missione delle fanciulle, 1863, in Opere ascetiche, IV, cit, p. 514,

p. 516, p.517.

Page 29: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

29

Jacinto Bianchi, provavelmente se refere a esta experiência de vida comum ao dizer

que:

[Frassinetti] formou uma congregação especifica e abriu duas casas pequenas

com o objetivo de orientar as crianças no caminho do bem através de uma

afetuosa correção fraterna.20

Neste método frassinetiano, ainda que delineado sinteticamente, pode-se reconhecer

a fonte principal de inspiração para as obras de Bianchi, seja para a primeira Casa a

Scandolara (cuja origem pode ser reconhecida no pedido de um «parecer sobre como

posicionar-me na paróquia»21

), quanto para a verdadeira e própria fundação de Pigna.

Esta será mais sólida e duradoura, porque foi um período que Bianchi pôde conviver

diretamente com Frassinetti, desfrutando prazerosamente de sua paternidade espiritual,

observando o método de fundador na prática e aderindo pessoalmente às suas

propostas de perfeição cristã; certamente, também as condições sócio-ambientais de

Pigna (ao menos as iniciais) foram bem mais oportunas (bem diferentes das de

Scandolara, onde era forte o influxo do anti-clericalismo) e contribuíram para o

sucesso da obra.

1.3 O método da “correção fraterna” e a contribuição do Pe. Luca Passi

Jacinto Bianchi fundamentou a espiritualidade das FMM no método da “correção

fraterna”. O inspirador desta interpretação educativa e formativa do mandamento

evangélico de Mt 18,15 («Se o teu irmão pecar, vá e mostre o erro dele, mas em

particular, só entre vocês dois. Se ele der ouvidos, você terá ganho o seu irmão») foi

Pe. Luca Passi22

ajudado pelo irmão Pe.Marco.

Em 1835 Pe. Luca estava em Gênova para a pregação da Quaresma e entrou em

contato com a beata Paola Frassinetti, irmã de Pe. Giuseppe, que havia coordenado

20

Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias..., cf.

Documento 4,p.83. 21

Positio, p.61 22

Luca Passi(1789-1866), foi ordenado sacerdote em 1813, era caracterizado por uma sólida

espiritualidade e por uma vida apostólica muito dinâmica, enquanto ainda eram fortes as

influências da Revolução Francesa. Nesta época as condições de degradação moral se

repercutiam de modo marcante sobre as crianças e a juventude, e à religiosidade popular se

contrapunha as classes altas com um espírito arrogante de independência da Igreja. Nessa

sociedade agitada e carregada de tensões, Pe. Luca solidificou sua vocação de missionário

itinerante, título que lhe foi conferido por Gregório XVI. Se dedicou à evangelização e à

elevação dos mais vulneráveis com várias iniciativas educativas e pastorais, entre as quais a Pia

Obra de Santa Dorotéia que tinha como meta firmar as jovens na fé mediante o envolvimento

de mulheres leigas que seriam “guias amorosas” para as jovens. Da sua atividade em 1838

surgiu as Irmãs Mestras de Santa Dorotéia de Veneza. Deixou como testamento uma afirmação

ao mesmo tempo maravilhosa e comprometedora: é preciso dar a vida ainda que seja para a

salvação de uma só pessoa.

Page 30: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

30

uma comunidade religiosa feminina. Desse encontro nasceram as Irmãs de Santa

Dorotéia, cujo nome proveio da Pia Obra de Santa Dorotéia, fundada por Passi. Esta

era uma obra paroquial de tipo associativo, destinada à educação cristã das meninas,

através de um sistema pedagógico-catequético, do qual se dizia

um meio pastoral para atrair, educar, formar de modo cristão as meninas e

transformá-las em pequenas apóstolas no meio das suas contemporâneas. [...

Passi] era convicto por experiência de que, se de um lado, «as meninas

comumente são mais dóceis para serem guiadas ao bem», por outro, «são

também mais fáceis, tanto para serem pervertidas como para se tornarem

pervertedoras». Portanto, «é de suma importância a boa conduta delas e a

influência que sempre causarão sobre a moral pública, principalmente quando

se tornarem mães de família».23

A Obra era organizada de modo muito simples, expressado de forma sintética e

eficaz pelo próprio fundador Pe. Luca Passi:

Toda a obra consiste nisto: algumas pessoas piedosas, com o nome de

Reguladoras, ou Mestras como de costume, assumem cuidar das meninas para

estimulá-las ao santo temor a Deus e formá-las nos bons costumes, instruindo-

as, preparando-as para os Santos Sacramentos, fazendo com que freqüentem o

ensinamento da doutrina, corrigindo seus defeitos pessoais24

.

A alma da Obra de Santa Dorotéia era o método da correção fraterna, utilizado

como forma de educação preventiva:

Nas duas palavras: correção fraterna está a alma da Obra apostólica instituída por

Pe. Luca Passi. Este conceito parece cheio de implicações e de valores. O dever

geral do cristão de corrigir o irmão é entendido, de acordo com a natureza da Obra,

como dever particular que cabe ao Apóstolo, de ensinar a prudência às meninas: um

dever cuidadoso, delicado, para ser feito com amor, indo ao encontro delas no seu

ambiente, sem mudar em nada seus costumes: «A educação vai ao encontro das

meninas em seus próprios bairros, nas suas casas, na roça... é como um guia

amoroso que se coloca em companhia do viajante». Esta orientação prática

específica é muito clara e exige que as mestras-apóstolas tenham uma

disponibilidade que antes de tudo significa serem capazes de descer de seus postos e

se colocar no mesmo nível das meninas, caminhando junto com elas. Este é um dos

traços mais significativos da espiritualidade própria da Pia Obra e que revela

também a sensibilidade pedagógica dos iniciantes, lançando um raio de luz sobre o

sentido humano e cristão da ação de Pe. Luca Passi. A correção fraterna tem uma

23

L. PORSI, Luca Passi. Ardere per accendere, Città Nuova, Roma 2001, p.68, p.69. 24

Idem, pp.70-71.

Page 31: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

31

grande finalidade: a salvação das almas. Nesta perspectiva, esta é a máxima de todas

as obras: corrigindo o irmão, eu “ajudo a Deus”, antecipo o seu Reino, preparo a sua

vinda. O fundo teológico é, em última análise, o princípio paulino de completar a

paixão redentora de Cristo; pois são palavras de Pe. Luca – «conforme disse o

Apóstolo, deste modo se completa em nós aquilo que falta à paixão de Jesus Cristo,

ou seja, tornar frutífera a paixão de Cristo por meio da nossa cooperação”25

.

No ambiente frassinetiano os irmãos Passi eram bem conhecidos e por isso Pe.

Bianchi também pôde entrar em contato com a Obra de Santa Dorotéia. É até provável

que ele tenha escolhido como padroeira das FMM uma santa pouco conhecida, a

virgem belga Ermelinda ( que viveu no século VI perto da atual cidade de Tirlemont),

pelas mesmas razões que induziram Pe. Luca Passi a eleger Santa Dorotéia:

Não se consegue colher de imediato o significado e a importância escondida nesta

denominação e pode-se perguntar: por que a Obra de Santa Dorotéia? Quem era

Dorotéia e que relação tinha com esta Obra? Não foi por acaso que Pe. Luca deu

este nome à sua instituição, que deveria ter uma clara destinação e finalidade

religiosa. Segundo ele, era necessário que as meninas, às quais a obra era

destinada, tivessem um modelo e uma padroeira. Entre as numerosas santas que

eram lembradas no calendário da Igreja, algumas das quais muito conhecidas e

muito presentes na devoção popular, escolheu Dorotéia, que, se não era

desconhecida, não era ao menos, por assim dizer, presente no cenário dos

conhecimentos hagiográficos e da consciência eclesial de sua época. Pe. Luca,

pesquisando no vasto campo da hagiografia, no qual era perito, deu-se conta de

que a figura e as vicissitudes da vida de Dorotéia, virgem e mártir, faziam-na apta

a ser proposta como um modelo para as meninas, e por elas ser venerada e

imitada26

.

1.4. A Pia União das Filhas de Maria e de Santa Inês do abade Alberto

Passèri

O convite à uma jovem que tivesse coerentemente vivido a própria fé, ao ponto

de chegar a dar o supremo testemunho do martírio, era uma constante espiritual nos

resultados requeridos à educação religiosa e moral da juventude feminina. Pe.Jacinto

Bianchi trabalhou muito para a difusão da Pia União das Filhas de Maria e de Santa

Inês. Como já foi exposto, desde a época em que esteve em Scandolara, Pe. Jacinto

conhecia e difundia a Pia União. A associação mariana foi fundada em Roma pelo

canônico regular lateranense Alberto Passèri (1822-1884), com a colaboração da

marquesa Costanza Lepri e inaugurada oficialmente em 23 de janeiro de 1864 na

25

G. PAPÁSOGLI, Don Luca Passi, Roma, Instituto das Irmãs Mestras de Santa Dorotéa, p.

106 26

L. PORSI, Luca Passi, cit., pp.62-63.

Page 32: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

32

basílica de Santa Inês com o título de Pia União das Filhas de Maria sob o patrocínio

da Virgem Imaculada e de Santa Inês virgem e mártir; o objetivo da Pia União

“romana”(instituída em 12 de abril do mesmo ano)era:

Proteger a inocência das jovenzinhas, defender a idade crítica delas da maldade

do mundo e encaminhá-las através de conselhos e da prática religiosa no

cumprimento dos deveres que têm para com Deus, para com o próximo e para

consigo mesmas; conquistando assim uma virtude cristã sólida sob a proteção

fidelíssima da Imaculada Rainha do Céu e à luz dos exemplos da adolescente de

13 anos, a Virgem Santa Inês27

.

A Pia União de Passèri caracterizava-se por uma clara postura secular, pronta a

formar cristãs maduras e responsáveis, capazes, portanto de reconhecer e percorrer

com coerência o caminho da vocação delas: no matrimônio, na vida religiosa, na

consagração pessoal:

Em poucas palavras pode-se dizer que a finalidade desta associação não é a de

encher o mundo de religiosas, como estão dizendo os nossos inimigos, e sim

fazer com que as jovenzinhas cresçam na piedade cristã, na honestidade dos

costumes, obedientes e respeitosas para com seus genitores; a fim de que um dia,

conforme o estado de vida ao qual Deus as chamará, consigam ser esposas fiéis e

ótimas mães de família, ou esposas do Senhor no convento, ou ainda virgens

bondosas inseridas no mundo, no seio de suas próprias famílias e onde estiverem,

serem exemplo de piedade e de virtude para todos 28

.

Como se pode ver esta se diferenciava explicitamente daquela originada em

Mornese e depois “guiada” por Frassinetti. Porém, era bastante comum que na Pia

União nascessem (ou fossem incentivadas) vocações, era quase como um terreno fértil

no qual germinava o desejo de uma vida de perfeição, que aprofundasse esta pertença

através de uma forma de consagração que poderia ser vivida também no mundo:

É conveniente advertir aqui que, se na Pia União tivessem jovens que mesmo

continuando a viver no mundo desejassem consagrar a própria virgindade

inteiramente a Deus, as mesmas ficariam sob o cuidado do Diretor que as

orientaria para se inscreverem em outras Pias Uniões destinadas a tal fim, como à

Companhia de Santa Úrsula instituída por Santa Ângela Merici. Quem, porém

desejar dedicar-se a tal ato ao Senhor, e continuar na nossa Pia União, neste caso,

ao mesmo tempo em que aconselhamos aos zelosos Diretores a ajudarem estas

27

Prefácio do Manual Grande de uso das Filhas de Maria elaborado pelo Revmo. Abade

Pe. Alberto Passèri, Roma, Sociedade de São João Ev., Desclée, Lefebvre e C.i,1903, ed. 36ª,

p. 20. O prefácio citado vem como premissa à 31ª edição do Manual, publicada antes da morte

de Passèri em 1884. 28

Idem.

Page 33: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

33

meninas e encorajá-las a responder a Deus que as chama para uma vida de

perfeição, aconselhamos, outrossim, a não formar um grupo diferente dentro da

Pia União. O ato da consagração seria feito privadamente, evitando-se qualquer

tratamento diferenciado e divisão na associação. Para os Diretores das nossas Pias

Uniões fica bem claro que as Filhas de Maria como tais, não têm nenhum vínculo

de voto e de promessa, pois a finalidade destas é muito diferente daquela da Pia

União de Santa Ângela Merici29

.

A intuição de Pe. Bianchi será não somente a de permitir, mas de favorecer,

direcionar e guiar o desejo de perfeição que encontrava nas Pias Uniões Marianas,

distinguindo-as, mas sem separá-las da congregação de origem, pois assim seria de

proveito recíproco.

No manuscrito já citado Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria

Missionárias Pe. Jacinto menciona juntamente com Frassinetti, os irmãos Passi e o

abade Passèri, quase que identificando as fontes inspiradoras do seu pensamento

fundacional:

Deus suscita vocações de acordo com as necessidades dos tempos; e desta vez,

pela sua excessiva caridade pelas almas – hoje em dia cheias de si próprias e

de espírito mundano, não dispostas a aceitar e escutar como boas as

advertências da autoridade eclesiástica – fez com que estas Irmãs

“Correttrice”a surgissem para consolar a sua Igreja, desolada ao ver seus

filhos correrem atrás do mundo e de seus prazeres. São necessárias vocações

novas porque a maldade humana é nova. Como já foi dito da parte de homens

competentes, esta obra foi considerada necessária 30

.

1.5 A fundação em Pigna (1870-1875)

Pe.Jacinto Bianchi chegou em Pigna no ano de 1870 para a pregação das

missões ao povo e no ano seguinte voltou como ecônomo espiritual. Na cidade “já

existia uma congregação de mulheres solteiras, mas sem estatutos”. 31

Em março de

29

Prefácio do Manual grande para o uso das Filhas de Maria..., cit., p.20. 30

Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias...; cf.

Documento 4, p.83. A citação continua: «com afeto quero citar aqui as Santas almas dos

irmãos Passi, Marco e Luca, Missionários que foram os primeiros a iniciar e desenvolver a

prática da correção fraterna. Além deles citarei também Frassinetti, aquela alma santa e

grandíssima entendedora das necessidades da juventude cristã [...]. Por fim nomearei, com

sentimentos da mais profunda veneração e reconhecimento pelo bem feito a mim e às primeiras

Missionárias, o abade Passèri – o Pai das Pias Uniões Marianas». 31

Coletânea descritiva dos atos e memórias importantes que dizem respeito à implantação,

instituição canônica, a agregação à Primária de Roma e à vida moral da Congregação das

Filhas de Maria de Pigna, ms. de Jacinto Bianchi, AFMM, VIII.2.6.18; cf.Documento 5, p.84.

Page 34: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

34

1871 a Pia União Mariana foi instituída canonicamente, sendo agregada à Primáriab de

Roma e no mês de agosto Pe Jacinto Bianchi foi nomeado seu diretor. 32

Assim como Frassinetti já havia feito em Gênova com a Casa de trabalho, Pe.

Jacinto proporcionou a esta instituição, o início de uma vida em comum33

, conforme

se pode constatar no manuscrito Implantação e desenvolvimento da Casa das Filhas

de Maria Imaculada:

1. Desde o ano de mil oitocentos e setenta e três concebeu-se a idéia de fundar

uma Casa das Filhas de Maria Imaculada sob a proteção de S. Ermelinda. Em

1874 fez-se alguma coisa para preparar tal Casa: porém, somente no fim do

mesmo ano uma Filha de Maria Imaculada realizou tal propósito de abrir aquela

Casa com a intenção de acolher todas as Filhas que quisessem viver e trabalhar

para a maior glória de Deus. 34

Neste documento, redigido na primeira metade de 1876, observam-se os

seguintes conteúdos:

Encontram-se as definições simples e precisas daquilo que Pe. Jacinto

iniciou: uma Casa das Filhas de Maria Imaculada(cf. nn.1,7,8);

Aparece provavelmente pela primeira vez a referência à Santa Ermelinda

(cf. nn. 1,8);

A decisão de congregar-se à vida comum vem manifestada publicamente

(cf.nn. 1,2);

É indicado o nome das primeiras irmãs que iniciaram a Casa (cf. n.5);

Esta comunidade cria uma “regra moderadora” própria que é enviada ao

bispo, junto à notícia da sua constituição (cf. n.8);

32

Cf. Idem. 33

Muitas das numerosas congregações religiosas femininas surgidas na Itália durante o séc.

XIX tiveram inicio conforme o modelo da associação mariana, tanto de tipo “religioso” como

laical. Um exemplo disto são as Filhas de Sta. Maria da Providência fundada por Pe. Luiz

Guanella (1842-1915) que se formaram a partir de um pequeno grupo de jovens ursulinas em

Pianello Lario, no alto lago de Como: “O sacerdote pároco Carlo Coppini, meu imediato

antecessor, com decreto diocesano em 1º de julho de 1871 n. 1023, instituía nesta paróquia a

Pia União de Maria SS. Imaculada sobre a proteção de Santa Úrsula e de S. Ângela Merici. E

desta Pia União e com o consenso do Ordinário em 1871 tirando algumas jovens as uniu em

forma de comunidade religiosa e confiou-as à educação das filhas órfãs e abandonadas. Esta

pequena sociedade foi consolidando-se e em 1880 deu-lhe um esboço de Regra com cópia para

o objetivo da narração histórica” (Carta de L. Guanella a mons. G. Merizzi, Pianello Lario, 19

de setembro 1884, cit. in As constituições e os Regulamentos de Dom Luiz Guanella.

Aproximações históricas e temáticas, aos cuidados de A. Diegues, Nova Fronteira, Roma,

1998, p. 103 34

Implantação e desenvolvimento da Casa das Filhas de Maria Imaculada, de 1873 a 1875,

ms. de Pe. Jacinto, Roma, AFMM, VIII.2.1.1.

Page 35: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

35

As congregadas trabalham para se manterem (cf. nn.18,20).

É definido com ênfase o caráter laical da Casa e desta iniciativa, opondo-se à

possibilidade de se agregarem às irmãs salesianas (cf. n. 15); contudo estas Filhas de

Maria têm um hábito diferente e seguem uma Regra (cf. nn. 27-29).

O documento narra finalmente (com referências históricas bem definidas) o

início da missão na Palestina (cf. nn. 33-36). A circunstância é identificada como uma

“preciosa e pleníssima consolação” quase uma confirmação da bondade e da solidez

da vocação comum, através das quais seria aberta inesperada e providencialmente uma

nova estrada.

Page 36: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

36

Segunda Parte

A MISSÃO NA PALESTINA

1876-1892

2.1 A presença das Filhas de Maria na missão

Pe. Jacinto Bianchi já tinha estado na Palestina em 1868, provavelmente por

solicitação da Igreja Genovesa, em cujo ambiente reinava uma vigorosa sensibilidade

para a missão no exterior, especialmente para com o Vizinho Oriente. De fato, os dois

primeiros Patriarcas do restabelecido Patriarcado de Jerusalém (23 de julho de 1847)

eram da Ligúria: Monsenhor Giuseppe Valerga (1813-1872) de Loano e Monsenhor

Vicenzo Bracco (1835-1889) de Torazza, na província de Impéria; em 1855 tinha sido

aberto em Gênova o seminário de Brignole-Sale, onde estudou Pe. Antonio Belloni

(1831-1903) natural de Oneglia, que estava na Palestina desde 1859.

Num manuscrito intitulado O Instituto das Missionárias Pe. Bianchi fez uma

releitura das poucas anotações que possuía sobre a história dos primórdios e da partida

para Belém, reconhecendo com satisfação nestes eventos «o germe, o

desenvolvimento e a manifestação da vontade de Maria Imaculada35

», uma série de

ocasiões que com o tempo as consentiram de clarear e amadurecer o seu espírito

missionário:

“Encontrando-me a Pigna por missão e lá permanecendo como regente – leitor

assíduo da Unidade Católica – compreendi como em Belém Belloni... – rezei

– fiz também – preguei e algumas Filhas decidiram-se - e assim foi. Tinha,

porém, estado no Oriente no fim de 1868, amava aqueles lugares. Era Maria

Imaculada que me guiava, como é a sua missão e mantinha em mim um terno

amor para com ela”36

.

Parece com isso que nesta época Pe. Jacinto Bianchi não pretendia fundar um

Instituto religioso, uma “congregação” no sentido atual do termo, nem tão pouco uma

obra própria e original. Ele respondeu generosamente a um pedido de ajuda, enviando

ao Orfanato de Pe. Belloni algumas entre as Filhas de Maria que ele guiava e as reunia

em vida comum com um programa de formação que evidentemente compreendia

35

O Instituto das Missionárias, ms. de Jacinto Bianchi, AFMM, VIII.2.1.8; cf. Documento 7,

p.91. 36

Idem.

Page 37: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

37

também o espírito missionário. Na experiência de Pe. Jacinto a exigência missionária

era coligada com a figura de Maria, que desde a sua primeira viagem no Oriente o

«guiava» e alimentava sua vocação com um «terno amor». Assim se apresentou a

ocasião favorável para concretizar em terra de missão a sua aspiração de uma presença

de caridade e de testemunho sobre o exemplo de Maria.

Pe.Jacinto enviou as suas Filhas de Maria para a Palestina com o mesmo objetivo,

o da correção fraterna, pelo qual as havia reunido em vida comum na casa de Pigna,

conforme explicação citada no manuscrito Origem e desenvolvimento do Instituto das

Filhas de Maria Missionárias:

“Mas, e as Missões exteriores? Respondo que estas são parte integrante do

Instituto porque são delas a correção fraterna levada ao heroísmo, à verdadeira

caridade fraterna pregada por Jesus – a maior, porque dá a vida ao próximo. As

missionárias vão advertir aqueles pobres infiéis, fazê-los compreender que vivem

no erro e na morte. E existiria algo mais essencial ao Instituto das Missionárias?” 37

Neste documento, redigido desde que as jovens Filhas de Maria partiram de

Pigna para junto de Belloni, deve-se considerar o seguinte:

A denominação «Instituto»;

A estima pelas Pias Uniões das Filhas de Maria;

O «objetivo essencial» das iniciativas de Pe. Bianchi: «a correção fraterna das

Filhas de Maria»;

A explícita e estreita relação entre missão exterior e correção fraterna;

A consciência em corresponder a uma exigência dos tempos;

A referência aos “mestres espirituais” Passi, Frassinetti e Passèri, como que para

individualizar as inspirações, as origens de uma realidade que vai se

transformando para assumir uma fisionomia própria e original: por motivo da

missão, as jovens enviadas a Belém não são mais simplesmente Filhas de Maria

reunidas para a vida comum;

A hipótese que Pe. Bianchi tenha colocado em prática a intuição de Passèri cuja

finalidade era a conservação do espírito originário das Filhas de Maria.

A missão é considerada também neste documento como um dom de Deus à

«família» das Filhas de Maria, como sinal de uma benevolência particular:

“Pois, sem medo de falar demais, observo que Deus, logo que foi aberta a

primeira casa das Missionárias com o objetivo já citado, Deus inspirou as missões

exteriores, abriu caminhos e favoreceu os meios [...] E Deus mesmo revelou o

37

Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias...; cf.

Documento 4, pp.82-83.

Page 38: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

38

quanto queria bem esta família, pois onde ela se instalava, providenciava-lhe

também os meios necessários para ir em frente, defendendo-a dos perseguidores,

dos caluniadores e as primeiras irmãs que se uniram Deus se serviu delas para as

missões exteriores. As outras, porém, tiveram que esperar muito. Se Deus as

abençoar, hão de dar inúmeros frutos. As missionárias, corrigindo as Filhas de

Maria como irmãs, contribuirão para o bem da sociedade” 38

.

Ainda em 1882, depois de seis anos da chegada das primeiras missionárias na

Palestina, Pe. Bianchi as apresenta somente como Filhas de Maria. Junto a outros

sucessivos testemunhos, em 1882, também foi reeditada e difundida uma carta sua

datada de 09 de novembro de 1880, já publicada em «A Filha de Maria»,

documentário da Pia União romana39

. Neste documento ele narra para todas as Filhas

de Maria a sua viagem no Oriente e antecipa um pedido de ajuda para as «irmãs»

descrevendo o trabalho delas no Orfanato de Belloni:

“Sabeis, (já que vosso Jornal A Filha de Maria falou com grandes louvores) que

faz quatro anos que 5 Filhas de Maria de Pigna, perto de Ventimiglia, foram para

a Terra Santa e estão muito contentes, embora trabalhem um dia mais que o

outro, no Orfanato católico fundado em Belém do M. R. Canônico Belloni

[...]Oh! Vinde muitas em ajuda. De que modo?

Com a oração pelas 5 filhas de Maria e também para as outras que estão

dispostas a virem [...] cada Pia União poderá comprar uma fotografia onde tem os

órfãos com as Filhas de Maria e colocá-la na Congregação, pois será de grande

estímulo tê-la sob os olhos [...] As vossas 5 irmãs Filhas de Maria, que vos

precederam generosamente, não vos impulsionam a partir? Ah! filhas de Maria

Imaculada fazeis alguma coisa logo, senão acabarão por não fazerem nada. As

vossas 5 irmãs que estão aqui em Belém, à tarde se decidiram e à noite

partiram”40

.

2.2 Os votos de 1877: das Filhas de Maria “missionárias” ao Instituto das

FMM

Pe. Jacinto continuava a apresentar publicamente as jovens enviadas à Palestina

como simples Filhas de Maria. A resposta generosa delas ao chamado missionário

implicava o desapego da família e a vida comum, mesmo se como modalidade de

pertença à Igreja não eram formalmente diferentes das outras Filhas de Maria, as

«irmãs» às quais Pe.Jacinto se dirigiu para obter ajuda à missão e na esperança de

respostas vocacionais positivas.

38

Idem, p.83. 39

Gênova, Tipografia Arquidiocesana, 1882, 8 p.; exemplar conservado em AFMM, X.1

falta a capa e folha de rosto; cf.Documento 8, pp. 92-96. 40

Idem, pp.95-96.

Page 39: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

39

Na realidade, porém, as condições de vida das jovens que foram para a Palestina

eram muito diferentes daquelas que ficaram. Pois através do exercício da obra de

caridade à Belém, as “missionárias” estavam assumindo as características de uma

comunidade autônoma que vivia os Conselhos evangélicos. Do mesmo modo viviam

as suas co-irmãs que ficaram em Pigna, onde mantinham a Casa mãe que de fato tinha

a função embrionária, “noviciado”.

Todos os institutos, que receberam a aprovação, nasceram da intuição carismática

de um fundador, que desde as origens atraiu os primeiros membros para a própria

santificação pessoal mediante os Conselhos evangélicos, e assim suscitou um núcleo

originário definido pela unidade dos mesmos objetivos, vida em comum e trabalho em

uma obra de apostolado. A razão de ser desta forma primogênita devia encontrar uma

forma de expressão, que geralmente consistia em uma profissão privada e comum dos

Conselhos evangélicos nas mãos do fundador.

Esta mesma inevitável e realística dinâmica pode ser encontrada também na

história das FMM. No primeiro Livro mestre do Instituto, escrito nos anos trinta, narra

que em 1877 Pe. Bianchi foi na Palestina e em 25 de março recebeu os votos de

Ir.Callista Lantero, Ir. Pacífica Garoscio, Ir.Crocifissa Ferrero, Ir Fortunina Orengo,

Ir.Seconda Allavena e Ir.Agnese Ughetti; no mesmo ano, e em 15 de agosto, em

Pigna, professaram Ir.Ermelinda Cereseto e Ir. Francesca Barucchi, que nunca foram à

Palestina. Mesmo sendo plenamente válida como intenção diante de Deus, estes

considerados “votos” tinham um valor puramente privado, como uma recíproca

garantia “de uso interno” da comum escolha de vida, um empenho partilhado e

assumido solenemente. O considerável incentivo inicial suscitado por Pe. Bianchi nas

Filhas de Maria em Pigna, foi necessariamente destinado para exprimir-se em

condições que de fato não eram previsíveis, diante das quais se revelou oportuno

realizar um gesto significativo para confirmar e consolidar as intenções de origem.

Além disso, desde 1878 algumas das jovens se transferiram para outras casas

abertas por Pe. Belloni em Beitgemal e depois em Cremisan, onde chegaram ainda

como Filhas de Maria.

“Algumas Filhas de Maria, a exemplo do quanto já fazem suas co-irmãs no

Orfanato de Belém com dedicação admirável, consideraram uma honra ir para

Beitgemal na nossa escola agrícola e serem encarregadas de dirigir a cozinha, a

rouparia e a enfermaria” 41

.

Esta nova situação exigia uma organização mínima para aquelas jovens: a decisão

sobre transferências, a direção local, as relações entre as duas comunidades

implicavam escolhas e portanto responsabilidades, mesmo sendo um grupo

quantitativamente modesto42

.

41

A. BELLONI, Nossa escola agrícola de São José em Beitgemal, in Obras da Santa Família

na Terra Santa, Paris, Tournai, 1878, p. 9. 42

Em 1882 as FMM são apresentadas publicamente com uma estrutura que prevê ao menos

uma Superiora e uma Assistente; cf. Documento 8, p.97.

Page 40: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

40

Elas tinham partido de Pigna como Filhas de Maria “missionárias”, ou seja,

“enviadas em missão”, no sentido puramente descritivo, para identificar o dado de fato

representado pela partida delas. Mas a permanência que se prolongava, a partilha do

trabalho e a vida delas em comunidade ia progressivamente dando-lhes uma

configuração diferente: não mais a soma de vontades pessoais singulares e nem de

intenções (aquelas que impulsionaram cada uma das primeiras a partir), mas um

corpus original, as “Filhas de Maria Missionárias", ou seja, uma síntese de

experiências, uma forma nova de se unificarem e para onde convergirem as

motivações individuais.

Na perspectiva de uma história “carismática” do Instituto, é justo reconhecer sua

data de nascimento em 11 de fevereiro de 1875, como a tradição assim o quer,

mesmo se os acontecimentos da fundação foram historicamente mais complexos e

dinamicamente desenvolvidos ao longo do tempo, entendidos de forma progressiva,

onde a idéia da fundação foi amadurecendo em cada uma das irmãs através das

experiências e da compreensão que delas iam fazendo. Este desenrolar histórico pode

ser comprovado num Relatório Histórico do Instituto, apresentado pela Superiora

Geral Irmã Maria Solimani, em 1933, para a Sagrada Congregação dos Religiosos, em

vista da aprovação, onde declara:

“O longo tempo transcorrido desde 1875 até hoje e a ausência de documentos

autênticos, não nos possibilitam prever a vida real das primeiras missionárias no

Oriente e em Pigna. Pôde-se conseguir alguma informação oral de algumas Irmãs

idosas, das quais uma ainda é viva [Irmã Seconda Allavena, falecida em 29 de

abril de 1935]. Elas viveram juntas durante alguns anos como uma simples

Sociedade fazendo promessas e não votos. Parece que Pe. Bianchi no início

simplesmente as animou a viverem juntas como boas Irmãs, porque foram

encontrados alguns manuscritos dele a respeito disto, talvez como um primeiro

indício de uma vida em comum” 43

.

2.3 O Esquema da Regra de 1889

No Arquivo da Casa Geral das FMM estão conservados dois exemplares de um

texto impresso atribuído a Jacinto Bianchi: Esquema da Regra para o Instituto das

Filhas de Maria Missionárias. Sob o patrocínio de Santa Ermelinda, datado de

188944

. Este documento marca a passagem definitiva, ainda que formal, da experiência

secular iniciada por Pe. Bianchi com as Filhas de Maria de Pigna, à vida religiosa. É

43

MARIA SOLIMANI, Relatório Histórico do Instituto das FMM tendo a Casa Geral em

Massa (Carrara), Massa, 8 de julho de 1933, ms., Cidade do Vaticano, Arquivo da

Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedade de Vida Apostólica, M 126,

pp. 10-11. 44

[J. BIANCHI], Esquema da Regra para o Instituto das Filhas de Maria Missionárias. Sob o

patrocínio de Santa Ermelinda, Lendinara, Tipografia de Luigi Buffetti,1889; AFMM, X.5; cf.

Documento 9, pp.98-104.

Page 41: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

41

uma declaração pública da própria identidade, perfeitamente contextualizada, que

poderia ter sido solicitada diante das dificuldades que passaram as Filhas de Maria

naquele período, na Palestina: da morte do patriarca Vincenzo Bracco em 16 de junho

de 1889, com as complicações das mudanças de sua sucessão, até os primeiros sinais

de dificuldades que na época a obra do Belloni começou a demonstrar45

.

A finalidade deste Esquema, dividido em Constituições, Regulamento e Rituais,

era obter da Propaganda Fide, a aprovação do «Instituto das Missionárias» ou “Irmãs

do Oriente” (cf. Introdução Histórica). Tem-se a impressão de que este texto já existia,

e que foi reelaborado e integrado para colocar em âmbito «canônico» a presença na

Palestina. Nele encontram-se indicações claras da dupla finalidade do Instituto, as

missões exteriores e o apostolado junto às Pias Uniões Marianas, a espelhar a presença

na Palestina e a existência da Casa de Pigna.

O texto é muito heterogêneo. Traz conselhos para a vida espiritual, aspectos

normativos, o diretório do Capítulo, indicações para o discernimento vocacional e a

formação, pequenas prescrições de caráter pessoal e vários rituais. Ao mesmo tempo

em que é muito, é também muito pouco.

Quanto ao Esquema de 1889, podemos fazer algumas observações:

Introdução histórica: aquelas que «se retiraram para uma casa modesta e deram

início ao Instituto das Missionárias» foram juntar-se a uma vida em comum já em

andamento, a Casa das Filhas de Maria. Pelo contrário, os acontecimentos iniciais

devem ser interpretados a posteriore e “lidos novamente” de maneira integral à

luz do presente, que dá também a prospectiva para o futuro: a continuação da

missão na Palestina.

Art. 1, Art.4: as FMM se configuram como um Instituto de votos simples: está

explícito que não existe nem classe, nem requisitos econômicos mínimos, cf.

também Art. 16, Art. 17.

Art. 3: a presença da Pia União Mariana como exclusivo espaço de vocações para

o Instituto delineia a situação da Casa de Pigna, enquanto que o «zelo em

promover a virtude na juventude feminina» certamente não define a obra das

Missionárias na Palestina, onde desenvolvem trabalhos domésticos para um

orfanato masculino.

Art. 5-9: aspectos do discernimento vocacional, onde coexistem dados objetivos e

considerações sugestivas de tipo psicológico.

Art. 10-13: a admissão das viúvas é um sinal típico das formas de consagração

laical, derivado das ursulinas (Frassinetti): nos institutos de votos simples não era

possível a presença delas.

45

«De Beitgemal em 10 de julho de 1890 após serem descritos o mal estar e os contrastes

surgidos entre os religiosos na eleição do novo Patriarca e entre os missionários e Pe. Belloni

que naquele tempo tinha feito maus negócios e parece que os Seus e as Irmãs queriam

abandoná-lo caso ele admitisse estrangeiros (os Salesianos) em casa; escrevia o Diretor» (J.

BIANCHI, Cartas à Delfina, cit.,p.18).

Page 42: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

42

Em diversos artigos (62, 74, 79, 103, 136, 157) se faz referência à autoridade das

coisas ordinárias ( que poderia ser entendido como o bispo em cuja diocese se

encontra a Casa «central»), mas na introdução do tema sobre Constituição é

afirmado explicitamente: «O Patriarca latino de Jerusalém é o superior»; é

também obviamente prevista a figura da Superiora geral: «A Superiora do

Instituto como um todo é chamada de Superiora geral» (Art. 46) onde vem

definidas as suas funções. Permanece no seu todo uma certa ambigüidade

terminológica, o que confirma que o Autor se baseou num texto já existente sem

eliminar as incoerências nas quais a Congregação iria se integrando nas suas

eventuais exigências.

Art. 84: a Casa mãe («central») deve ser a única onde a Congregação está presente

com uma atividade própria da natureza da casa; a vontade de transferi-la para

Roma (que não seria realizada enquanto Pe. Bianchi estava vivo) insere-se em um

outro elemento de provisoriedade e de ambigüidade neste texto, que busca dar

uma característica sólida ao Instituto, partindo de uma situação que ainda não está

definida.

Art. 85: a expansão do Instituto deveria dar-se seguindo as linhas paralelas de um

duplo objetivo: a simples presença nas «missões exteriores» (sem especificar o

tipo da obra) e a ação educativa junto às Pias Uniões Marianas «mediante a

correção fraterna»; cf. também o Art. 128.

A figura da “Corretrice”(cf.Art. 39, Art. 50, Art. 96), lembra também o método

educativo-relacional de Pe. Luca Passi, que era habitual na vida religiosa

tradicional.

Art. 89-92: as relações entre as Casas e as integrantes do Instituto são marcadas

por uma vida fraterna partilhada.

Art. 119-135: a vida em comum se desenvolve entre « verdadeiras e

amorosíssimas irmãs» (Art.119), unidas por um vínculo espiritual da comum

filiação mariana: «Recordar sempre que a Missionária é Filha de Maria, e tem por

sua vocação procurar de imitar, amar ternamente, honrar e fazer honrar a celeste

Mãe Imaculada, por todos, em todos os lugares e sempre» (Art. 122). Porém, a

vida em comum é de qualquer modo baseada em uma forma bastante tradicional,

em alguns aspectos, quase monástica, bem diferente da forma da consagração

secular.

Art. 167-173: com os horários definidos por esta forma de vida, não era possível

fazer outra coisa a não ser o serviço do orfanato.

Além de ser o documento que publicamente sancionava a existência do

Instituto, este Esquema da Regra se torna a base para a primeira expansão, realizada

graças à Irmã Delfina Delfino, «a segunda fundadora da Obra» 46

. Para preparar o

retorno das missionárias e para acolher as novas vocações, entre 1891 e 1895, Pe.

Jacinto teve a sua colaboração para abrir as casas de Frata Polesine, Recco, Scandolara

Ravara, Cingia de‟ Botti, Santo Ilario d‟Enza e Vicovaro. Era necessário, portanto,

46

J. BIANCHI, Cartas à Delfina, cit., p. 80.

Page 43: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

43

uma direção única para a formação e uma disciplina de vida em comum, cuja base foi

tomada do Esquema de 1889. Nas Cartas à Delfina está documentado o uso deste

texto, onde é aconselhada a leitura comunitária com sua respectiva explicação, de

modo que possa ser compreendido e conhecido:

Aos Domingos, ou em um outro dia mais favorável, ler alguns pontos do

Regulamento, explicá-lo e compreendê-lo bem, de modo que a regra seja

conhecida e praticada por todas as Irmãs[...]

Nada de desânimo; confiança, oração, confidência, amor, segurança, alegria

em Deus e na nossa Mãe Imaculada. Duas vezes na semana lerá o

Regulamento porque todas devem conhecê-lo bem. Eu explico às Irmãs[...]

Minha Isabella, peço-te que pegue o Regulamento, chame as Irmãs e leia as

regras da vida em comum (capítulo 18) e as explique a fim de que

compreendam bem. Depois leia o artigo 159 do capítulo 21, e na sexta-feira

santa à noite comece a ensiná-las a fazer a acusação47

.”

É interessante fazer referência sobre a disciplina dos votos assim como estão

expostos no Esquema de 1889 (Capítulo IX: Das promessas, dos votos e das suas

renovações. Art. 34-37), quando declara irmã Maria Solimani no Relatório Histórico

de 1933 já citado: depois de ter resumido os Artigos, afirma que «Não era estritamente

necessária a emissão destes votos e que quem não quisesse pronunciá-los,

pertenceria igualmente ao Instituto»48

.

2.4 A progressiva autoconsciência do Instituto

Em 21 de setembro de 1890 Pe. Bianchi escreveu um pequeno texto sobre o

Instituto para obter a aprovação por parte da Propaganda, Origem e desenvolvimento

do Instituto Irmãs Missionárias 49

; o documento parece ser um esboço ou minuta de

um relatório enviado à Propaganda seguido pelo Esquema de 1889. Ele contém

«outras informações a respeito da origem ou do desenvolvimento deste Instituto»50

,

que no Esquema de 1889 não se achou oportuno acrescentar à introdução histórica.

É um documento importante para aquela releitura meditada sobre as origens à luz

dos eventos providenciais que se sucederam; onde se podem notar algumas

relevâncias do ponto de vista histórico:

47

Idem, p. 19, p.20, p.55. 48

M. SOLIMANI, Relatório histórico do Instituto..., cit., p. 11. 49

Origem e desenvolvimento do Instituto das Irmãs Missionárias. Sob o patrocínio S.

Ermelinda Virgem, ms. de J. Bianchi, Roma, 21 de setembro de 1890, AFMM, VIII.2.1.11; cf.

Documento 10, pp 104-105. 50

[J. BIANCHI], Esquema da Regra para o Instituto...; cf. Documento 9, p.99.

Page 44: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

44

na denominação do Instituto está o título de «Irmãs Missionárias» e não «Filhas

de Maria Missionárias», transportado do Esquema impresso de 1889;

O Instituto nasce de uma experiência de «vida em comum para cuidar melhor da

santificação própria e a da juventude feminina com a correção fraterna»51

: onde é

expresso o fim primeiro (perfeição das próprias integrantes) e o fim secundário ou

especial (obra de caridade) que toda congregação “moderna” deve ter e que serão

formalizadas pela Congregação dos Bispos e Regulares com as Normas de 190152

;

as «Missões exteriores» são uma possibilidade que se apresenta sucessivamente,

«depois de poucos meses de vida em comum»;

a notícia da presença nas obras de Pe. Belloni na Palestina assume alguma

relevância e traz um florescer vocacional que, porém, não foi acolhido

integralmente;

durante a permanência na Palestina, apresentam-se outros campos de apostolado

na Itália (Ventimiglia e Taggia), aos quais as «Missionárias» se dedicaram durante

algum tempo.

Do ponto de vista de uma compreensão mais ampla, cabe refletir sobre o conceito

de «predileção» que Pe. Bianchi utiliza para reler a história daqueles primeiros 15

anos. «Agrada a Deus tornar conhecida sua predileção caridosa para com estas

Missionárias». Prae-diligo, isto é “prefiro” mas também “desejo mais”. A Casa de

origem das Filhas de Maria era um bom terreno no qual Deus quis lançar a semente de

«sua caridosa predileção», pedindo as primeiras «Irmãs» alguma coisa a mais: coloca-

as à prova e sustenta a resposta generosa delas com a Sua graça. É uma dinâmica da

relação entre Deus e a criatura que encontra o seu cume na Anunciação.

Sob esta luz podem ser lidas outras considerações de Pe. Bianchi a respeito do

início do Instituto e da missão, nas quais não é difícil reconhecer significativas

sugestões bíblicas, da vocação de Abraão (cf. Gn 12) ao canto de alegria sobre

Jerusalém (cf. Sl 121):

Conselhos e instruções para estar [Sim] foi e depois disto não houve nenhum

momento que não fosse para a glória de Deus a serviço dos órfãos. Vibraram com

uma especial alegria quando partiram [...] daquela alegria que Deus sabe tão bem

fazer enamorar de Si e de Suas obras, as pessoas que escolhe, e para coisas

grandes as destina. Tal foi o princípio do Instituto, que nasceu no mês das e sob

a forma de congregação Mariana53

.

51

Origens e desenvolvimento do Instituto das Irmãs Missionárias; cf.Documento 10, pp.104-

105. 52

S.C. EPISCOPORUM ET REGULARIUM, Normae secundum quas

S.Congr.Episcoporum et Regulorum procedere solet in approbandis novis institutis votorum

simplicium, Romae, Typis S.C. de Propaganda Fide, [18 de junho] 1901, nn. 1-325,59 p. 53

«Conselhos e instruções para estar», ms. de J. Bianchi, AFMM, VII.2.1.2; cf.Documento

11, p.106.

Page 45: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

45

É “predileto” aquilo que foi motivado em vista de um cumprimento, uma

experiência precedente; e isto Pe. Bianchi reforça em um outro escrito seu, Memórias

dos primórdios, desenvolvimento e conquistas do Instituto Irmãs Missionárias54

, onde

evoca de novo com precisão as circunstâncias nas quais lançou a proposta das missões

às Filhas de Maria de Pigna:

Num Domingo, pregando às Filhas de Maria e de Santa Inês na presença de

todo o povo para animá-las ao bem, falou do grande bem que faziam as Irmãs

nas Missões exteriores, e fez referência a um fato particular dizendo: «Em

Belém, um tal Pe. Antonio Belloni fundou um Orfanato Masculino e não tem

mulheres que se dediquem ao governo doméstico do Orfanato, ou seja, da

cozinha, da rouparia etc.» 55

.

O documento deveria ser posterior a 1902 e Pe. Bianchi retoma eventos de

aproximadamente trinta anos atrás, recordando claramente que Caterina Orengo, “na

época Superiora das Irmãs Missionárias com o nome de Fortunina”, ofereceu-se para

ir à missão e foi convidada, juntamente com outras cinco companheiras

“missionárias” que a seguiram, a fazerem parte da Casa das Filhas de Maria para

«morarem juntas».

O impulso missionário ia se inserindo fecundamente em uma realidade viva,

desejada por Deus através de uma intuição carismática, a realização do “ideal”

confiado a Pe. Bianchi, expresso em um seu intenso fragmento autobiográfico:

“Vós não tendes idéia dos obstáculos que atrapalham o nosso caminho. Os

desenganos, os desgostos não têm fim: mas sigo adiante sem me abalar e não volto

atrás diante do sacrifício a fim de alcançar a minha meta, o meu ideal. E sabeis qual é

o meu ideal? Quero que a juventude feminina adquira virtudes. Para este fim e para

melhor colaborar, de minha parte, procurei unir as Filhas de Maria como família”56

.

A «família [das] Filhas de Maria» foi uma oferenda agradável a Deus, que a

“transformou” de acordo com os seus misteriosos desígnios e de fato «as primeiras

que se uniram, Deus se serviu delas já nas Missões exteriores» 57

. Mas a obra delas era

54

Memórias dos primórdios, desenvolvimento e conquistas do Instituto das Irmãs

Missionárias, ms. de J. Bianchi, posterior a 1902, AFMM, VIII.2.1.7; cf.Documento 12, p.107. 55

Idem, também para as citações dos parágrafos seguintes. 56

« Vocês não têm idéia dos obstáculos », ms. de J. Bianchi, AFMM, VIII.2.1.12; cf.

Documento 13, p.108. 57

Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias...; cf.

Documento 4, p.84.

Page 46: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

46

uma necessidade dos tempos, uma daquelas «vocações novas» que o Espírito suscita

na Igreja no momento oportuno:

“Quem quisesse pensar e temer que estas Missionárias, exercitando-se em tal

obra [a correção fraterna] nos países civis, perderiam logo o espírito bom, porque

o trabalho é de pouco empenho, reflita que Deus suscita vocações de acordo com

as necessidades dos tempos; e desta vez, pela sua excessiva caridade pelas almas

– hoje em dia cheias de si próprias e de espírito mundano, não dispostas a aceitar

e escutar como boas as advertências da autoridade eclesiástica – fez com que

estas Irmãs “Correttrice”a surgissem para consolar a sua Igreja, desolada ao ver

seus filhos correrem atrás do mundo e de seus prazeres. São necessárias

vocações novas porque a maldade humana é nova”58

.

A missão definiu e iluminou a experiência inicial, modificando uma sucessão

temporal (primeiro a Casa das Filhas de Maria e depois a ocasião de predileção) numa

dinâmica providencial: a Casa das Filhas de Maria “para” a missão. Com uma imagem

mariana, o nascimento do Instituto em Belém pode ser relido como o cumprimento da

“promessa” (pro-mitto = mandar para, a favor de) feita em Pigna, lugar do anúncio,

Nazaré das FMM.

2.5 O retorno à Itália em 1892

Com as mudanças da sucessão dos salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora

na condução das obras fundadas por Pe. Belloni, em maio de 1892, as FMM

retornaram definitivamente para a Itália. Num documento, provavelmente de 1902,

Memórias do desenvolvimento do Instituto Irmãs Missionárias de Propaganda da

Fé59

, Pe. Bianchi descreve resumidamente o desenvolvimento sucessivo do Instituto,

mas, sobretudo exprime a grande expectativa que tinha motivado aquela primeira

década passada:

“vive-se desejando ardentemente o modo e meio seguros para viver em plenitude

de acordo com a finalidade do Instituto: preparar-se para as Missões Exteriores.

O bem que pode fazer o Instituto nestas cidades é de fato secundário à finalidade.

Se for agradável a Deus abrir caminhos para as Missões Exteriores, 12 estão

prontas a partir para cuidar das casas dos Missionários, costurando, bordando,

cozinhando, instruindo as crianças e qualquer outro serviço necessário nas

58

Idem, p.83. 59

Memórias do desenvolvimento do Instituto das Irmãs Missionárias da Propaganda da Fé,

ms. de J. Bianchi, [1902], AFMM, VIII.2.1.3; cf. Documento 14, pp. 108-109.

Page 47: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

47

Missões. E quanto à língua, estão prontas a aprendê-la, assim como bem

aprenderam o árabe e o turco” 60

.

Reconhecida a providencial predileção de Deus, a Sua iniciativa que não começa

a não ser para atingir a sua meta, o interromper da missão pode ser aceito como um

“sacrifício de Isaac”, uma situação que aparentemente contradiz a origem. Mas a

espera é confiante e produtiva, fundamentalmente dócil e disponível aos desígnios de

Deus, vivida quase naquele espírito “messiânico” com o qual os primeiros cristãos

aguardavam o próximo retorno de Jesus.

Observa-se que neste manuscrito aparece a referência à Propaganda da Fé, a

qual Pe.Bianchi continuará a querer confiar o seu Instituto, mas tal inspiração

permanecerá irrealizável. É igualmente importante ressaltar que ao invés das obras de

apostolado já desenvolvidas na Palestina, é a “missão para a missão” que dá

significado pleno à vida do Instituto: ser uma presença onde é necessário, onde o

Senhor chama de acordo com as circunstâncias.

Assim se compreende o motivo pelo qual as Irmãs Missionárias foram

“convocadas” à vida em comum na pertença ao Instituto, no qual a vocação de cada

uma se revela e se realiza a partir das diversas circunstâncias históricas. A “provação”

do retorno permite um aprofundamento do impulso inicial, que neste momento assume

uma dimensão diferente, uma plena consciência do chamado à uma total dedicação de

si mesma.

A continuidade do Instituto após o forçado retorno da missão, a primeira fase

de expansão e a consolidação devem-se à Irmã Delfina Delfino. A ela Pe. Bianchi

confia e entrega o destino do Instituto, que graças ao seu modo discreto e atuante de

guiar, revive em consciência renovada o «ideal» do fundador61

, a «vocação nova» da

origem 62

vivenciada na prática de exemplo, estímulo e educação voltada à juventude

feminina, na espera do retorno em missão:

Voltaram à Itália: e sempre firmes na intenção de retornar às Missões

Exteriores se dedicam a trabalhar na costura e bordado, e juntas a promover a

piedade e as virtudes cristãs na juventude feminina – especialmente cuidando

das Pias Uniões de Maria Imaculada e de Santa Inês 63

.

A finalidade e o desejo delas [era] de ir às Missões exteriores, toda vez que

Deus lhes abrir os caminhos e, no entanto, dedicam-se a promover a piedade e

a prática das virtudes cristãs na juventude feminina, ensinar-lhes a doutrina,

60

Memórias do desenvolvimento do Instituto das Irmãs Missionárias...; cf. Documento 14, p.

109. 61

« Vocês não têm idéia dos obstáculos »; cf.Documento 13, p.108. 62

Cf. Origens e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias...; cf.

Documento 4, p. 83. 63

Relatório do Instituto, ms. de J. Bianchi, posterior a janeiro de 1901, AFMM, VIII.2.1.9;

cf. Documento 15, p.109.

Page 48: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

48

sob a direção do Pároco; cultivar as Pias Uniões Marianas nas jovens e

ensinar costura e bordado às filhas do povo 64

.

Voltando à Itália, permanecem sempre firmes na intenção que as havia

reunido, a se prepararem para as Missões exteriores: e enquanto aguardam,

colocam-se a trabalhar conforme a finalidade secundária de educar as filhas do

povo na piedade e nas virtudes cristãs, promovendo as Congregações

Marianas,dirigindo-as onde as implantam, ensinando a Doutrina Cristã sob a

direção dos Párocos e ensinando os trabalhos femininos de costura, bordado

em branco ou colorido, e em ouro etc. e entretendo as jovens com a recreação

para tirá-las das libertinagens mundanas65

.

Este retorno forçado não foi um reditum, um “voltar atrás”, mas também um

redditum, isto é um “ganho” na riqueza da obediência e da experiência de investir em

um novo início. Assim o retorno na Itália pode ser interpretado como um “novo

nascimento” no Espírito Santo (cf. Jo 3, 3-6) que as Irmãs tinham merecido pelo fato

de estarem prontas ao chamado do Senhor, dóceis ao quanto Ele mesmo tinha

reservado a este “Seu” Instituto.

64

Memória histórica do Instituto Irmãs Missionárias, ms. de J. Bianchi, posterior a 1902,

AFMM, VIII.2.1.10; cf. Documento 16, p.110. 65

Memória histórica do Instituto, ms. de J. Bianchi, [1901-1903], AFMM, VIII.2.1.6; cf.

Documento 17, p.112.

Page 49: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

49

Terceira Parte

O TEXTO NORMATIVO DE 1907

3.1 Análise sintética e circunstância da publicação

A nova “estação” do Instituto pode ser encontrada numa edição nova de normas,

subdividida em Constituições e Rituais, e intitulada simplesmente Instituto das Filhas

de Maria Missionárias. Sob o patrocínio de Santa Ermelinda virgem (da Bélgica)66

.

A edição não tem data e pode se referir a 1907, como comprovado em documentação

epistolar67

e através de algumas anotações autografadas por Jacinto Bianchi sobre os

exemplares do Esquema de 1889, conservados no arquivo AFMM68

. O texto se

apresenta quase idêntico ao Esquema de 1889, mas com uma diferença clara que é a

ausência de referências específicas à missão na Palestina, onde nem sequer é citada a

Propaganda da Fé.

No Capítulo primeiro, Origem e natureza, são retomados brevemente os

acontecimentos iniciais de Pigna, a partida em 1876 e a permanência junto a Pe.

Belloni, mas descreve principalmente a obra atual que é o “fim secundário” educativo-

apostólico (como na originária «família das Filhas de Maria» em Pigna), que as

Missionárias desenvolvem, permanecendo, porém “firmes na primeira intenção”, ou

seja, na espera de voltar à missão:

“ocupam-se a educar as filhas do povo na prática das virtudes cristãs e a

ensinar costura e bordado. Depois, sob a guia dos Párocos, ensinam a doutrina

cristã e promovem as Pias Uniões Marianas. Não dão aulas nas escolas

públicas”69

.

66

[J. BIANCHI], Instituto das Filhas de Maria Missionárias. Sob o patrocínio de Santa

Ermelinda virgem (da Bélgica), Treviso, Tipografia Luigi Buffetti, [1907]; AFMM, X.6; cf.

Documento 18, pp. 112-116. 67

Cf. notas 71-72. 68

A Introdução histórica dos exemplares conservados no arquivo AFMM de [J. Bianchi],

Esquema da Regra..., cit., ( cf. nota 44) foi utilizado por Jacinto Bianchi como esboço para o

seu análogo parágrafo introdutório ao texto de 1907, Origem e natureza, parágrafo primeiro de

[Id.], Instituto das Filhas de Maria Missionárias..., cit., p. 3: onde se encontra a indicação dos

trinta e dois anos passados desde 1875. Cf. Documento 9 e 18, p.99, p.113. 69

[J. BIANCHI], Instituto das Filhas de Maria Missionárias..., cit., p. 3; cf. Documento 18,

p.113.

Page 50: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

50

Uma referência idêntica à experiência anterior está no Art. 21, onde é acrescentado

aos três votos tradicionais o «propósito de ir às missões exteriores». Como novidade

nota-se especialmente uma denominação diferente, agora “Instituto das Irmãs

Missionárias”, e sobretudo a indicação da presença das irmãs em oito cidades de três

diferentes dioceses (Capítulo primeiro); a menção a uma consistência patrimonial em

imóveis e rendimentos (Art. 6); a introdução do título de «assistente» para as

Superioras locais, que permanecerá uma característica do Instituto (Art. 28); a

presença da Casa Mãe em Villa Pasquali, sem sinais de intenção de transferi-la para

Roma (Art. 56). São tirados também os artigos relativos à admissão das viúvas70

.

Além de tudo isto é significativo o fato de não se fazer mais a referência sobre as

aspirantes serem de proveniência exclusiva das Pias Uniões das Filhas de Maria (cf.

Art. 3 do Esquema de 1889): a associação mariana é indicada somente como espaço

onde desenvolver a ação educativa e a animação vocacional junto às jovens (cf.

Capítulo primeiro e Art. 98).

A publicação deste texto normativo se apresenta em um momento significativo

para a história das FMM: a chegada na Sicilia no início de 1908. Esta escolha, que

depois se revelou fecunda em vocações e possibilidade de trabalho, foi uma ocasião

similar àquela de 1876 da partida para a Palestina. Pe. Bianchi ficou sabendo através

de um padre religioso siciliano, Pe. Li Vigni, este também ativo no ministério da

pregação, que o orfanato Renda em Partanna, seu país natal, necessitava de irmãs

educadoras. Pe.Bianchi então, ofereceu a disponibilidade das suas irmãs, a proposta

foi aceita e em 06 de fevereiro de 1908 Ir.Maria Solimani e Ir. Silvia Leveratto, com

duas postulantes, iniciaram a primeira comunidade das FMM na Sicília. Em breve

foram abertas outras quatro Casas: Montevago (07 de dezembro de 1908), Sta.Ninfa

(15 de dezembro de 1909), Sta. Margherita Belice (26 de janeiro de 1910) e Mazara

Del Vallo (04 de maio de 1911), também graças às numerosas vocações que

começaram a surgir: Pe. Jacinto chegou a ver cerca de uma vintena de jovens

sicilianas professarem entre as irmãs.

Após a morte de Ir. Delfina Delfino (10 de dezembro de 1897) aconteceu uma

ulterior expansão do Instituto, de 1900 a 1902, foram abertas quatro novas Casas,

sendo elas em Bagno, Licenza, Villa Pasquali e Mandela, mas foi a experiência

siciliana que representou um momento “forte” e qualificativo na retomada do impulso

missionário. Pode-se supor que também por este motivo fosse oportuno munir-se de

um instrumento “oficial” que acompanhasse e sustentasse a expansão, adequado a

fornecer uma configuração específica ao Instituto, respondendo assim àquela que era a

sua realidade efetiva depois do retorno em 1892.

70

Apesar de tudo Pe. Bianchi, de fato, se restringe a aceitar: «No primeiro regulamento tinha

um artigo sobre as Viúvas, que para serem aceitas não poderiam ter filhos e nem serviços de

responsabilidade no Instituto. Retirei este artigo, mas se as Viúvas se apresentarem, serão

aceitas aquelas que forem boas e humildes.» (Carta de Jacinto Bianchi à Irmã Maria Solimani,

Gênova, 14 agosto de 1908, AFMM, VIII.1.1a.Ep114; cf. Documento 19, p.117).

Page 51: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

51

3.2 Um instrumento inadequado à aprovação Além de ser encaminhado aos bispos

71, o texto foi também apresentado à

Propaganda Fide em Roma,porém, mais na esperança de obter uma destinação

missionária do que para facilitar uma ulterior tentativa de aprovação72

. De fato, sendo

substancialmente idêntico àquele de 1889, não pode obter um parecer positivo. E

ainda, em 28 de junho de 1901 a Sagrada Congregação dos Bispos e Regulares já

tinha publicado as Normas73

, que davam indicações claras sobre os requisitos

necessários para a aprovação dos “novos institutos”, e sobretudo ofereciam um

modelo de texto constitucional. Ora, pela documentação existente, parece que Pe.

Bianchi tivesse conhecimento destas Normas: pois elas são citadas numa carta de um

religioso dominicano de Roma em 6 de junho de 1901, a quem ele se dirigiu

justamente por causa da aprovação do Instituto74

; por isso parece muito impossível

que ele não tenha tido acesso ao esquema preparado pela Congregação, e é bastante

estranho que não se encontre nada destas indicações na edição de 1907. Em três de

seus textos, (dos quais no Apêndice se discorre sobre o “fim secundário” do Instituto),

se encontra repetida e traduzida do n.42 das Normas («Finis primarius et generalis

Instituti[...] est sanctificatio membrorum suorum per observantiam trium eorundem

votorum et propriarum Constitutionum») a correta formulação prevista para indicar o

«fim primário» de um Instituto Religioso:

71

«Assim que o tipógrafo me entregar a Regra, te enviarei 6 cópias. Tu levarás 2 ao Bispo

[de Tivoli], 1 para Monsenhor Giustini, conhecido teu, em Roma.» ( Carta de J. Bianchi à Irmã

Consolata Zampieri, Gênova, 28 de julho de 1902, AFMM, VIII.1.1a.Ep59; cf. Documento 20,

p.118); «No entanto veja com o Pároco ou com o Capelão se deram uma cópia das nossas

Regras para o Bispo; eu te mando outras cópias». (Carta de J. Bianchi à Irmã Maria Solimani,

Gênova, 25 de maio de 1908, AFMM, VIII.1.1a.Ep24; cf. Documento 21,p.121); «Enviei o

regulamento a Girgenti pelo Bispo. » (Carta de J. Bianchi à Irmã Maria Solimani, posterior. a

01 de dezembro de 1908, AFMM, VIII.1.1a.Ep25; cf. Documento 22,p.122). 72

«Muitíssimo confiante na Bondade de V.Eminência Reverendíssima, apresento a Regra

das Irmãs Missionárias que foi reeditada, já conhecida pela S.Congregação pelo trabalho que

elas prestaram por vários anos no Orfanato de Belloni em Belém [...]apresentam juntamente

comigo a regra delas ao Senhor Cardeal Prefeito, não para ser examinada, mas somente para

que a V.Eminência a conheça.» (Carta de J. Bianchi ao Card. G.M.Gotti, Gênova, 31 de agosto

de 1907, AFMM, VIII.1.1b.Ep400; cf. Documento 23, pp.122-123). 73

Cf. nota 52. 74

«Enfim, o Instituto cresceu e se expandiu suficientemente; poder-se-ia dar início às

práticas para ser aprovado por Roma e assim constituir-se em forma de associação

perfeitamente organizada. No momento também a S. Congregação dos Bispos e Regulares está

justamente discutindo e formando um esquema de Constituições para ser aplicado em todos os

Institutos no que se refere às regras comuns para cada Instituto: como por ex. sobre os votos,

sobre a eleição dos Superiores etc.» (Carta de p.Vincenzo Nardelli a Jacinto Bianchi, Roma, 5

de junho de 1901, AFMM, VIII.1.2a.140; cf. Documento 24, p.124).

Page 52: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

52

O Instituto [...] tem como objetivo primário a santificação das próprias integrantes

por meio da observância dos três votos simples de obediência, pobreza e castidade,

além das presentes constituições75

.

Após diversos anos, Pe. Bianchi ainda fará chegar este texto até D. Guido Maria

Conforti para fazer considerações sobre o mesmo. Em 1913 este bispo de Parma,

fundador dos Missionários Xaverianos, submeterá o mesmo a Pe. Giuseppe Parma,

professor do Seminário, cujo parecer não poderia certamente ser positivo:

Parece-me que a Constituição do Instituto das Filhas de Maria Missionárias,

sob a proteção de Sta. Ermelinda virgem (o qual, no seu conjunto, apresenta-

se não como uma Pia União qualquer, vivendo em Comunidade, mas como

uma verdadeira e própria Congregação religiosa de Votos simples) não

responda nem às mais modestas exigências em relação a si mesma, como

Estatuto de uma Associação; nem em relação às exigências do Direito

Canônico; e nem mesmo a respeito da Autoridade Eclesiástica 76

.

Depois desta análise inicial sintética, o Pe. Parma passa a um exame mais

aprofundado e rigoroso do texto, rebatendo todas as suas justificadas perplexidades e

conclui:

As Constituições em análise, nem como organização de uma sociedade, nem

como Regra de Vida, nem em relação ao Direito Canônico, nem da

Autoridade Eclesiástica, são suficientes às necessidades tanto de direito como

de fato, pois nascem do desenvolvimento destas obras delicadas,

especialmente em se tratando de Missionárias, das quais se exige uma forte

educação de espírito e normas definidas e claras77

.

Enquanto aguardam-se outras pesquisas, vale considerar o fato de Pe. Bianchi

continuar por um longo período a sustentar e a propor para a aprovação do Instituto

um texto cujos limites já não poderiam ser mais ignorados. Permanecem, portanto, no

momento abertas ( e necessitadas de pesquisa) as questões referentes aos modos e

tempos nos quais ele buscou obter para as FMM o reconhecimento da Santa Sé. De

qualquer modo o “espírito” que animava as Missionárias deveria ser bem mais sólido

e eficaz do que o exposto na “carta” e que constituía uma configuração pública, ainda

que não fosse oficial. Mesmo desejando uma confirmação institucional, Pe. Bianchi

foi capaz de se arriscar, destinando os seus recursos humanos e materiais para

amenizar uma realidade de obras e de pessoas que de qualquer modo crescia e se

consolidava sem seguranças objetivas de um reconhecimento da parte da autoridade

eclesiástica.

75

Instituto das Filhas de Maria Missionárias. Sob o patrocínio de Sta. Ermelinda virgem,

ms. de J. Bianchi, posterior a 1901, AFMM, VIII.2.2.7b; cf. Documento 25, p.125. 76

Carta de Pe. Giuseppe Parma a D. Guido M. Conforti, Parma, 30 de janeiro de 1913;

cf.Documento 26, p. 127. 77

Idem, pp.129-130.

Page 53: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

53

Quarta parte

CONSIDERAÇÕES SOBRE UMA EXPERIÊNCIA

Depois de ter traçado o desenvolvimento histórico do Instituto, da tentativa

de Pe. Bianchi em Scandolara, da instituição da Pia União das Filhas de Maria

Imaculada e de Santa Inês em Pigna, até a partida para a Palestina, do retorno após 16

anos e da difusão na Itália, neste trecho se procurará analisar as considerações do

próprio Pe. Bianchi sobre estes acontecimentos no seu todo, seguindo-os assim como

emergem de alguns de seus manuscritos, o testemunho de como amadurecia nele a

consciência da obra que por meio dele foi suscitada.

Obviamente as sugestões que se seguem assinalam apenas alguns pontos dos

textos que são sempre muito ricos de referências, densos de reflexão, articulados nas

possíveis coligações internas e recíprocas: sempre merecedoras de uma leitura

completa e meditada.

4.1 MANIFESTAÇÕES DA PROVIDÊNCIA

É de absoluta importância um documento sem título, atualmente não datado,

que discorre resumidamente sobre os momentos relevantes da «obra das

Missionárias»78

. Parece um esquema traçado, bastante articulado, de um discurso

desenvolvido numa festividade mariana, provavelmente dirigido às postulantes,

convidadas a ter como virtude a confiança nos sinais concretos da Providência, que

desde as origens se manifestaram no Instituto. Sugere-se uma linha de interpretação do

manuscrito, retomando-o por subdivisões em pontos:

1. «a obra das Missionárias» é «instrumento» do qual Deus se serve para a «sua

glória»: obviamente segundo modos e tempos diferentes daqueles humanos;

2. a referência à Maria está na própria natureza das FMM «desde as primeiras, as

fundadoras»: ou seja, das missionárias na Palestina a quem o próprio Pe.

Bianchi dá o mérito de ter iniciado o Instituto;

78

«Rezai a Deus para que na Sua imensa bondade», cf. Documento 1, p.71.

Page 54: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

54

3. a providencialidade que é reconhecida numa «história de propósitos

generosos, de lutas angustiantes, de sacrifícios heróicos, de solicitudes

paternas e constantes, de obras santas, de frutos copiosos, fecundos» é o efeito

de uma predileção evidente, «expressão daquela caridade que poucas almas

privilegiadas sabem dignamente viver»;

4. discurso que é ocasião pela redação do documento;

5. ponto central de toda a reflexão de Pe. Bianchi sobre “seu” Instituto, que o

considera na perspectiva evangélica do grão de mostarda; desde o «berço» da

«simples Congregação Mariana» em Pigna, o Instituto se inicia quando

algumas «se decidem», de decido, isto é, “corte”, e estão, portanto prontas a

“cortar” as ligações, a dar uma virada radical à própria vida com a partida:

deste modo concreto «corresponderam à graça», isto é, juntas responderam a

uma iniciativa de Deus para com elas, certas de que «o Senhor passo a passo

lhes teria preparado novas ajudas»;

6. como na tradição bíblica, também para o Instituto o «nome» (aqui

“Missionárias da Propagandac Filhas de Maria”), marca a origem e o destino,

que acontece em uma realidade que «abraça a fé e a caridade, o intelecto e o

coração, a palavra e a ação, a compaixão e o amor, a mulher e Deus»;

7. o retorno forçado da Palestina é aceito em uma perspectiva totalmente

providencial, que poderia ser definida “manzoniana” pois «Quem vos dava

tanto contentamento é para tudo; e não perturba jamais a alegria de seus

filhos, a não ser para lhes preparar uma outra ainda mais certa e maior» 79

;

enquanto que a «palavra de grande conforto [...] considerável e santa» só pode

ser a aprovação desejada;

8. conteúdos da «vocação nova»80

aprendida dos grandes mestres, é uma obra

educativa integral mas discreta e pessoal, simples e eficaz, voltada para a

regeneração cristã da sociedade realizada por meio da mulher, pois a

«verdadeira» Filha de Maria é aquela que sabe «gerar verdade e virtude»,

como se lê no verso do mesmo documento;

9. total consagração mariana, completo abandono a Maria, na confiança absoluta

que um filho tem em sua mãe, assim é o Instituto para com Ela. A afirmação

«As nossas coisas sejam todas para Maria», parece uma “profecia” do Totus

tuus de João Paulo II, através da qual mais uma vez na Igreja, foi retomado o

papel imprescindível de Maria na realidade da Redenção cristã;

10. a «firme confiança» no desenvolvimento do Instituto, não pode ser

fundamentada em argumentos humanos, considerando as «penúrias no qual se

encontrava», mas só «na proteção de Maria».

79

A. MANZONI, I promessi sposi, cap. VIII. 80

Cf. Origens e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias...; cf

Documento 4, p.83.

Page 55: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

55

4.2 A VIRTUDE E A REGRA

Como comprovam também as Cartas à Delfina81

, Pe. Bianchi sempre se

interessou pela formação das Missionárias, baseada principalmente na confiança

absoluta da oração. Num manuscrito seu ainda sem data, provavelmente posterior a

1889, trata de sua própria «diligência [...] referente à educação das Missionárias»82

e

ainda define bem o quanto é importante a observância da «regra», o Esquema de 1889:

“A convicção verdadeira e constante de que Deus quer este Instituto, me dá

confiança de ver um dia as Missionárias atuantes, espalhadas em grande parte

do mundo. Para isto, portanto, não podem diminuir o fervor; para tornar viva a

memória destas regras, cada assistente das casas fará com que elas as leiam

todos os meses, não permitindo que aconteçam abusos ou faltas de nenhuma

natureza, sendo que a observância exata delas sempre será o único meio para

fazer com que cada Missionária assuma um teor de vida regulada e perfeita,

fazendo com que cresçam no espírito, a serviço de Deus, para [o] bem das

almas83

.”

Apropriando-se da lógica de Gamaliel (cf. At 5,38), Pe. Bianchi reconhece na

continuidade do Instituto um sinal da vontade de Deus, pois Ele mesmo a fez, “elegeu-

a” como um «instrumento» para trabalhar «para a Sua glória»84

, obedientes ao

mandato da evangelização (cf. Mc 16,15) que verá as «Missionárias atuantes

espalhadas pelo mundo»85

. A eficaz cooperação com os desígnios divinos está

interligada ao «fervor» na «exata observância». A regra nasce da «solicitude, ternura e

zelo» que as Missionárias suscitaram no Fundador, que foi induzido a oferecê-las um

instrumento de educação «fácil» a fim de que pudessem «alcançar as virtudes do

próprio estado de vida, a seu benefício próprio e dos outros»: portanto, por meio da

observância da regra, poderiam «[continuar] a serem verdadeiras Filhas de Maria, ou

seja, gerar verdade e virtudes»86

.

4.3 A FORÇA DA HUMILDADE

Num outro interessante documento Pe. Bianchi discorre sobre orientações

destinadas à mestra das noviças para um correto discernimento vocacional, além de

81

Cf. nota 9. 82

«A convicção verdadeira e constante», ms. de J. Bianchi, AFMM, VIII.2.5; cf. Documento

27, p.131. 83

Idem, p.130. 84

«Rezai a Deus na Sua imensa bondade»; cf. Documento 1, p.71. 85

«A convicção verdadeira e constante», também para as citações sucessivas cf. Documento

27, pp.130-131. 86

«Pregai a Deus na Sua imensa bondade»; cf. Documento 1, p.72.

Page 56: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

56

dar conselhos de caráter educativo e espiritual destinados às irmãs87

. Além disso,

delineia as características do estilo de vida que deseja para elas (mesmo depois da

volta da Palestina): vida extremamente simples, uma aplicação sempre válida do Ora

et labora, onde a oração se torna fonte de energia e a ação é dirigida para o bem dos

irmãos:

“Vidas Missionárias, de oração e de ação; com a oração para revigorar-se no

zelo à glória de Maria no bem das filhas, com a ação para se tornarem úteis88

.”

É uma vida fundamentada na humildade, no reconhecimento dos próprios limites,

portanto baseada num discernimento realístico, numa correta valoração da natureza

humana, que nada pode se não for envolvida pela Graça:

“A humildade dá força e energia até aos pacíficos e a confiança em Deus,

também sinal de Deus. Entre muitas e diferentes circunstâncias, às vezes

contrárias, outras vezes favoráveis, entre as contradições e os sofrimentos

mais sensíveis(fome e doenças, desemprego), entre as necessidades urgentes e

as angustiantes incertezas, mantiveram sempre, aquela perfeita igualdade,

aquela inalterável tranqüilidade, aquela constante segurança que vem somente

de Deus, da sua padroeira particular Sta. Ermelinda, que sofreu89

.”

Humilitas vem de húmus, que quer dizer “terra”, “solo”, “pó”; como imagem da

existência humana; o conceito nos indica toda a pobreza e a provisoriedade («Lembra-

te de que és pó e em pó te hás de tornar»), mas sugere também que este “solo” sem

veste e aparentemente instável é o lugar que através da Encarnação Deus escolheu

para edificar o seu Reino, «assim na terra como no céu» (Mt 6,10): Ele faz surgir da

“terra” daqueles que escolhe, as magníficas construções de Sua caridade.

Deste modo podem também ser aplicadas a Pe. Bianchi e às primeiras «irmãs»,

à sua experiência de fundador e aos acontecimentos iniciais das FMM, as palavras do

filósofo católico Emmanuel Mounier que descrevem a paciência (patior, “suporto”,

“espero”) e o sacrifício (sacrum facere, “torno sagrado”, “me refiro a Deus”), como

também a confiança e a esperança que animam toda experiência autêntica de vida

cristã, a sabedoria em permanecer numa atitude de interrogação e de espera:

“É da terra, da solidez, que deriva necessariamente um parto pleno de alegria

e o sentimento paciente da obra que cresce, das etapas que se sucedem,

87

«Relembrando os acontecimentos felizes», ms. de J.Bianchi, AFMM, VIII.2.5.4; cf.

Documento 28, pp.132-134. 88

Idem, p.133. 89

Idem, p.134.

Page 57: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

57

esperadas quase com calma, com segurança [...] Ocorre sofrer para que a

verdade não se cristalize em doutrina, mas nasça da carne90

.”

Pe. Bianchi certamente não se livrou da necessidade de «sofrer», à Via Sacra, ao

cálice amargo da incompreensão, para salvaguardar e cumprir a missão para a qual se

sentia chamado: não uma obra “sua”, ou uma obra qualquer que facilmente acabe em

“teoria” e «se cristaliz[e] em doutrina», mas a obra desejada por Deus e realizada por

ele de modo irrevogável como o sinal definitivo na «carne» de Jacó:

“Foi um tempo em que o instituto (Belloni) sentiu-se ameaçado por um golpe

mortal e se disse fora o falso – se quis impedir a sua liberdade em um dos

interesses mais delicados e importantes para o desenvolvimento normal de

uma comunidade (obrigá-las a entrar nas Sales[ianas] ). Foi um tempo de

incertezas, de fadigas, de angústias indescritíveis: o Diretor sofreu, mas não

temeu, nem seu programa foi prejudicado; era cada vez mais firme, quanto

mais era confusa a questão e duvidosa a conclusão91

.”

A humildade difícil e definitiva de Pe. Bianchi está toda na fidelidade ao

«programa» colocado à sua disposição; pro-grapho, isto é “primeiro escrever”:

aprendeu a “ler” os acontecimentos encontrando neles a permanência do desígnio de

Deus, perseverou na adesão a quanto Ele lhe “escreveu por primeiro”, ou seja, desde a

origem, desde o momento em que Deus o escolheu para manifestar um carisma na

Igreja.

Pe. Bianchi quer que as Missionárias vivam com esta mesma humildade, é o

“segredo” que lhes revela para o bom êxito do Instituto e para a sua aprovação; numa

carta circular, com ênfase profética, garante-lhes que, juntamente com a total

confiança em Deus, a humildade é a única e verdadeira riqueza delas, a arma mais

eficaz contra as corrupções do mundo, por maior que pareçam as adversidades:

“Confiança absoluta somente em Deus – Respeitai as pessoas, mas não

busqueis apoio nelas. Deus vos ajudará, assistirá, proverá sempre melhor do

que o mundo todo vos fizesse porque o Instituto é desejado por Deus, para a

glória da Sagrada Família e o bem das almas, sob o patrocínio de Sta.

Ermelinda. Sim, Deus é quem a tornou conhecida, estejais, pois certas, o

Instituto florescerá muito após a minha morte.

Coragem – não temais, não, não, nem se chegarem fortes tribulações. Deus é o

dono do Instituto, vós sejais verdadeiras Irmãs, todas de um só coração e uma

só vontade: e Deus estará convosco e vos dará grande conforto. Agora

90

E. MOUNIER, Cartas sobre a dor. Um olhar sobre o mistério do sofrimento, Milão, BUR,

1995, p. 39, p. 40. 91

« Relembrando os acontecimentos felizes »; Documento 28, p.134 .

Page 58: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

58

vivemos momentos difíceis demais, demais, devido aos escândalos que

acontecem, e Roma irá devagar com as aprovações, mas vós sejais humildes,

humildes, humildes e Deus vos exaltará. Sejais firmes e fortes na vontade de

serdes verdadeiras Missionárias e sereis consoladas muito, muito, porque

Roma vos dará a aprovação e abençoará imensamente” 92

.

4.4 A MISSÃO DE HOJE NA VOCAÇÃO DE ORIGEM

Num outro manuscrito, provavelmente redigido antes de 1892, Pe. Bianchi

sublinha quase de forma paradigmática a “descendência” das FMM das Pias Uniões93

.

Quando começa insistindo na idéia de que «O missionário não se cria de

improviso, não»94

parece que queria exprimir em síntese a sua experiência pessoal e os

acontecimentos do Instituto, para depois expor as características da formação à vida de

missão. Passa então a considerar como as FMM, que «trabalham demais» e se

prepararam através da pertença às Pias Uniões, pois «antes foram verdadeiras Filhas

de Maria». Além da seqüência cronológica, é possível perceber nesta afirmação a

identificação de uma origem, um traço indelével que é encontrado em cada eventual

experiência :

“Não podemos elogiá-las sem primeiramente bendizer e agradecer a Pia União que

as dispôs e as fortaleceu. E inspirou um zelo fervoroso para propagar o Reino de

Jesus no Oriente.”

Os méritos que a atividade missionária e depois educativa que as FMM obteriam

é de estarem todos enraizados na obediente fidelidade à forma original de pertença

(“ser parte de”, mas também “depender”), na qual a fé delas é reconhecida, fidelidade

à vocação que continha in nuce a disponibilidade para um testemunho mais explícito e

convicto «para mostrar a caridade cristã e evidenciar os grandes princípios do

Evangelho, e assim atrair pessoas para Jesus».

Os acontecimentos tinham manifestado a fecundidade da fé que permanece firme

ao seu princípio, até vir a ser «uma obediência de coração àquela forma de

ensinamento que lhes foram entregues»95

.

É significativo que neste documento não faça referências à vida em comum na

Casa das Filhas de Maria, quase confirmando que as primeiras congregadas na casa

eram da mesma “natureza” das outras “irmãs” que depois partiram para o Oriente, isto

é que aquela passagem não foi substancial, mas foi somente uma ocasião para tornar

92

Carta de Jacinto Bianchi à Irmã Consolata Zampieri, Gênova, 28 de julho de 1907; cf.

Documento 20, p.118. 93

“O Missionário não se cria de improviso...”, ms. de J. Bianchi, AFMM, VIII.2.5.6; cf.

Documento 29, pp.134-135. 94

Idem, também para as citações sucessivas. 95

Intervenção de Cardeal Joseph Ratzinger à apresentação do Catecismo da Igreja católica,

«L‟Osservatore Romano», Cidade do Vaticano, 20 de janeiro de 1993; cf. Rm 6,17.

Page 59: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

59

mais evidente o dom da graça recebida na comum vocação originária. Segundo o

método da Encarnação, a origem de toda experiência cristã já contém tudo, como no

Batismo, porque a obra de Deus se cumpre desde o seu princípio, sendo que o tempo e

as contingências são somente o Caminho onde encontrar a Verdade e a Vida.

Neste mesmo documento, onde as Missionárias são ligadas intimamente às Pias

Uniões, Pe. Bianchi exprime também o desejo que uma experiência de fé, como

aquela suscitada por meio dele, se repita e se multiplique, de tal modo que «não exista

lugar onde não seja implantada e que não surja uma Missionária».

Na sua invocação final («o nosso voto»), pode-se enfatizar a mais profunda

esperança de um fundador, a oração propiciadora para a obra na qual tinha

reconhecido a sensível intervenção de Deus e que também depois a Igreja, com a

aprovação, teria confirmado. Ele quer que a vida de cada Missionária e do Instituto

possa dedicar-se a uma missão única e definitiva, não necessariamente ligada a lugares

ou a circunstâncias particulares, mas destinada essencialmente ao anúncio evangélico.

Numa visão providencial da história (e da história do Instituto), a perspectiva da

extensão “espacial” desejada por Pe. Bianchi («não exista lugar onde não se

implante») mudou-se necessariamente ao longo do tempo, porque também necessitou

de um reconhecimento canônico definitivo, ainda que fosse de “forma” limitada e

contingente, necessária a circunscrever um “sopro” particular do Espírito. O carisma

suscitado por meio de Pe. Bianchi, mesmo nas mudanças de contextos e de

perspectivas, pôde na sua essencialidade ser compreendido como graça capaz de

suscitar e favorecer uma companhia de vida cristã, reunindo em nome de Cristo,

mulheres que O reconheçam e O acolham integralmente, para torná-Lo presente onde

vivam. Juntas sabem oferecer liberdade, abertura e acolhida num autêntico espírito

evangélico, e criar assim lugares de encontro cotidiano onde a graça de Deus possa

facilmente “tocar,” tornando-as exemplos de testemunho e vocação, atraindo e

fazendo surgir «almas decepcionadas com o mundo, almas desejosas da vida perfeita».

O horizonte deste carisma “católico” é aberto sobre cada pessoa e cada

condição humana, porque «Deus iluminará a mente dos cativos para conhecer o bem e

fará sentir em seus corações a necessidade das virtudes para a dignidade da própria

natureza humana»96

; abraça cada cristão na vocação comum à santidade, isto é, à

perfeição da vida segundo o próprio estado.

96

«Rezai a Deus na Sua imensa bondade»; Cf. Documento 1, p.72.

Page 60: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

60

CONCLUSÃO

Concluindo estas considerações sobre algumas passagens biográficas de Pe.

Jacinto Bianchi e sobre o Instituto que nele teve suas origens, é oportuno ressaltar que

aqui antes de tudo tentou-se sugerir hipóteses, mais que dar respostas e soluções.

Como todas as realidades que surgem da livre vontade humana e se concretizam em

uma dimensão comunitária reunida gradativamente até formar uma fisionomia

reconhecível. Também o Instituto das FMM surge e se delineia ao longo dos

acontecimentos que às vezes pode ser tortuoso, contraditório, favorável ou até mesmo

“providencial”, mas praticamente jamais linear e previsível. Nesta perspectiva, cada

circunstância conhecida ou documentada, ou mesmo cada juízo e interpretação

daqueles que viveram os acontecimentos, marca um ponto de desenvolvimento, que

pode ser mais ou menos determinante, mas portanto destinado a traçar um percurso e a

influenciar sobre o passo seguinte.

Provavelmente é uma operação arbitrária e substancialmente incerta, querer

determinar a relação de cada “fonte” identificável a um sucessivo e articulado «curso»

de acontecimentos, mas isto não impede reconhecer que uma imagem unitária e uma

consistência original são normalmente o êxito da convergência das multiplicidades,

como um rio que desde a sua nascente canaliza em si águas de várias proveniências, e

estas fundindo-se, continuamente o criam, o alimentam e o impulsionam para o mar.

Também Pe. Primo Mazzolari, um dos “profetas” dos anos Novecentos, há setenta

anos atrás descreveu desta mesma forma as origens daquele “movimento” suscitado

por meio de Pe. Jacinto Bianchi:

“Existem paternidades que são inexplicáveis: como aquela de Pe. Bianchi,

por exemplo. Sobre o primeiro grupo, não se vê nem mesmo como começa

e a quais atividades se propõe. Sem carta de fundação, sem regras, mas um

ímpeto de graça e de espontaneidade que resiste ao tempo e aos homens, às

oposições e aos insucessos de todo tipo... Depois, o breve córrego aumenta,

se desemboca, caminha, retrocede, se esconde, procurando ser perdoado por

existir e por fazer o bem” 97

.

97

PRIMO MAZZOLARI Um bom semeador. O missionário apostólico Jacinto Bianchi, padre

cremonense, em “A Vida Católica”, Cremona, 9 de dezembro de 1938, p. 2. O artigo é uma

apreciação de F. MANDELLI, Um bom semeador . Biografia do Missionário Apostólico sac.

Jacinto Bianchi, Brescia, Vittorio Gatti, 1938, p.151.

Page 61: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

61

Apêndice

O “FIM SECUNDÁRIO” DAS FMM NAS FORMULAÇÕES

SUCESSIVAS

Nas Normas de 1901 foi dada a definição genérica do «fim secundário» que cada

Instituto de votos simples deveria ter:

“O fim secundário e particular, evidentemente específico de cada Instituto, é

constituído por aquelas peculiares obras de caridade para com Deus ou para

com o próximo a serem praticadas para as quais o próprio Instituto foi

constituída” 98

.

Em seguida são apresentadas as sucessivas formulações sobre o «fim secundário»

das FMM, em três manuscritos 99

de Pe. Bianchi após as Normas até as expressões

com as quais vem mais articuladamente indicado nas Constituições vigentes,

promulgadas em 1985, e no relativo decreto de aprovação.

Manuscritos de Jacinto Bianchi

- 2. O fim secundário é o bem espiritual e corporal do próximo por meio da

educação cristã das meninas - especialmente as pobres – e dos trabalhos de

mulher, e a assistência aos jardins de infância e aos Orfanatos femininos

[VIII.2.2.7a].

- Art. 2. O fim secundário é o bem espiritual e corporal do próximo por meio

da educação cristã das meninas – especialmente as pobres – e do ensino da

costura, do bordado, e também, após considerar todas as circunstâncias, se a

caridade cristã sugerisse, a assistência aos jardins de infância[VIII.2.2.7b].

- 2. O fim secundário é o bem espiritual e corporal do próximo por meio da

instrução e educação cristã das meninas – especialmente as pobres – e com a

98

«Finis secundarius et specialis, unicuique scilicet Instituto proprius, constituitur in illis

peculiaribus caritatis operibus erga Deum aut erga proximum, ad quae exercenda Institutum

ipsum formatum est» (S. C. EPISCOPORUM ET REGULARIUM, Normae..., cit., n. 42). 99

Cf. Documento 25, pp. 125-127.

Page 62: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

62

assistência aos jardins de infância, após considerar todas as circunstâncias que

a caridade cristã sugerisse[VIII. 2.2.7c].

Constituições aprovadas em 17 de maio de 1924 por D. Eduardo Brettoni,

bispo de Reggio Emilia

O fim secundário da Congregação é educar as filhas do povo à prática das

virtudes cristãs, ensinar-lhes a costura e o bordado, assistir aos jardins de

infância e as escolas, dirigir orfanatos e educandários. Sob a direção dos

Párocos as Irmãs Missionárias dedicam-se ao ensino da Doutrina cristã e às

obras paroquiais. Salvo raras exceções, não atendem aos cuidados dos

enfermos em domicílio100

.

Constituições de 1934

2. O fim especial do Instituto é: a) a instrução e a educação religiosa das filhas

do povo, mediante a prática das virtudes cristãs, a assistência nos Jardins de

Infância, nos Orfanatos, nos Educandários, nas Oficinas de trabalhos manuais

e em todos os modos sugeridos pela piedade cristã, juntamente com o

propósito de ir às Missões Exteriores se vierem a ser chamadas; b) prestar

trabalhos nos Seminários, nos Internatos e em outras Obras de Caridade.

3. Sob a direção dos Párocos, as Irmãs deste Instituto se consagrarão também

para o ensino da Doutrina cristã e das Obras Paroquiais. Somente em casos

excepcionais poderão atender aos cuidados dos enfermos em domicílio e isto

com a permissão da Superiora Geral e com o voto deliberativo do seu

Conselho101

.

Constituições de 1946 e reedição de 1964

2. O fim especial é: instruir e educar religiosa e civilmente as filhas do povo

por meio das escolas, educandários, jardins de infância, orfanatos, Oficinas de

trabalhos manuais e em todos os modos sugeridos pela piedade cristã, assistir

os enfermos em seus domicílios, sem, todavia diminuir o pessoal do ensino

que deve ser considerado como obra principal, dedicar-se com todos os meios

disponíveis às Missões Exteriores entre os infiéis e entre os Italianos nos

países católicos, prestar serviço nos Seminários, nos Internatos e em outros

Institutos de Caridade.

100

Texto datilografado, AFMM, I.1. Na parte do artigo precedente à citação, à observância

dos três votos simples vinha acrescentado «o propósito de ir às Missões exteriores», de modo

idêntico ao art. 21 do texto impresso de 1907; cf. Documento 18, p.114 101

Constituições das FMM (Massa Carrara), Carrara, Tipografia Rolla, 1934, p. 3.

Page 63: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

63

3. Sob a direção dos Párocos, as Irmãs da Congregação consagram-se também

ao ensino da doutrina cristã e às Obras Paroquiais102

.

Decreto de aprovação das Constituições, 11 de fevereiro de 1985

As irmãs, Filhas de Maria Missionárias [...] inspirando-se na Virgem e

assumindo-lhe o espírito e o estilo missionário, tem como missão específica

na Igreja testemunhar, anunciar e servir, onde a Igreja ainda não existe e onde

Cristo não é ainda suficientemente conhecido e amado, dedicando-se

especialmente à formação da mulher, à educação da juventude e à animação

vocacional-missionária da comunidade cristã103

Regra de Vida - Constituições, 1985

1.[...] Nascida de uma necessidade de missão e recebida, por impulso do

mesmo Espírito, pelo Servo de Deus Pe. Jacinto Bianchi, Missionário

Apostólico, a nossa Família religiosa é uma comunidade de irmãs que, fiéis à

graça das origens, pretendem realizar no tempo, com a consagração religiosa,

o desígnio salvífico do Pai, que foi atuado, por Cristo, dedicando toda a vida

exclusivamente ao serviço missionário no mundo.

[...]

Finalidade específica

8. Unidas no Espírito Santo de Cristo pelo comum carisma, vivido na

liberdade dos Conselhos evangélicos, o nosso compromisso de Missionárias,

na fidelidade ao espírito do Fundador, torna-se testemunho, anúncio e serviço:

- onde a Igreja ainda não existe;

- onde Cristo ainda não é suficientemente conhecido e amado.

9. Por força da nossa vocação missionária permaneceremos disponíveis para

os serviços concretos exigidos pelas necessidades da Igreja e que nos

permitem realizar as finalidades próprias das origens. Com efeito, na

evangelização da qual a promoção humana constitui parte integrante,

orientamo-nos particularmente:

- na formação da mulher em todas as suas expressões;

- na educação da juventude.

102

Constituições das FMM, Aulla, Tipografia Mori, 1946, pp. 3-4; Formigine, Tipografia

Golinelli, 1964, pp. 3-4. 103

Decreto da Sagrada Congregação para os Religiosos e os Institutos Seculares, prot.

n.M.126 – 1/84, Roma, 11 de fevereiro de 1985.

Page 64: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

64

Estimulamos a comunidade cristã para que descubra a dimensão missionária

da sua vocação104

.

104

CONGREGAÇÃO FMM, Regra de Vida - Constituições, Roma 1985.

Page 65: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

65

Page 66: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

66

DOCUMENTAÇÃO

Page 67: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

67

Page 68: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

68

1

_______________________________________________________________

AFMM, VIII.2.5.3 – Ms. de J. Bianchi, inc r: Rezai a Deus para que na Sua imensa

bondade -inc v: [...] queira ajudar em abundância quando ficardes mais velhas; 1 f. de

formatação, 310x210 mm.

Elogia a obra modesta, mas fecunda do Instituto das Missionárias traçando o seu

perfil espiritual e a devoção a Maria- Fragmentos sobre os benefícios que gozam em

pertencer à Pia União das Filhas de Maira, com referência a uma superiora de nome

Chiara.

1. Rezai a Deus para que na Sua imensa bondade queira ajudar a obra das

Missionárias e se sirva delas como instrumento para sua glória.

2. Dia solene, sagrado às glorias de Maria, porque escolhido para a entrada das

postulantes, e para manifestar aquela piedade filial para com a augusta Mãe

divina, que formou, desde as primeiras, as fundadoras deste Instituto, e que foi

herdada e sempre mantida.

3. História de generosos propósitos, de lutas angustiantes, de heróicos sacrifícios,

de paternas e constantes solicitudes, de obras santas, de frutos copiosos e

fecundos. Diante da eloqüência dos fatos, qual voz seria suficiente e digna de

elogiar uma obra que é a expressão daquela caridade que poucas almas

privilegiadas sabem dignamente realizar?

4. Será modestíssima a minha palavra, mas vós que rendeste homenagem de estima

a esta Congregação que forma o objetivo da vossa alegria.

5. Parece aos olhos humanos muito modesto o trabalho de uma humilde

Congregação entre os importantíssimos acontecimentos dos quais se faz célebre

este século, um acontecimento pouco considerado, mas de imensos bens e germe

fecundo: uma simples congregação Mariana, que iniciada já florescente em Pigna

foi o berço do Instituto; ao falar de Belém, sentiram irresistível desejo de iniciar a

obra santa como empreendedoras, resolutas e de consagrar-se todas à causa dos

órfãos e ser conhecida do povo. Veio a resposta de Belloni, a vontade de Deus é

clara, não se deve resistir: decididas iniciam o Instituto e vão, correspondendo

primeiro a graça e por ser próprio da bondade de Deus multiplicar, se a obra

prosseguir o Senhor aos poucos preparar novas ajudas.

6. O Instituto já se iniciou! O seu programa está compreendido na união destes

nomes: Missionárias da Propaganda Filhas de Maria, nomes que abraçam a fé e a

caridade, o intelecto e o coração, a palavra e a obra, a compaixão e o amor, a

mulher e Deus. Pensar como pensa Propaganda, todas as coisas que ela dirige a

Deus por Maria, arder como Ela de celestial amor, trabalhar com seu espírito de

sacrifício, dispostas também a sofrer: é o conceito, a marca da sua vida bem

trabalhada.

Page 69: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

69

7. Deus não aflige a não ser para multiplicar as mais suaves consolações; é o

conforto de ver prosperar o Instituto, multiplicar-se a família, tornar-se sensível o

fruto da cooperação aos convites celestes. Virá a palavra de grande conforto:

palavra firme e santa, sinal de bênçãos celestiais, do querer misericordioso de

Deus.

8. Poderá ocorrer, em dias mais tristes, de doce conforto a todos aqueles que

apreciam a verdade e a virtude; as jovens são educadas, instruídas e crescidas na

piedade e entregues às famílias, sábias, de bons costumes, obedientes, de decoro

na cidade, de verdadeira honra e de ajuda às suas famílias.

9. Se [a obra] nos dá sinais de prosperidade, isto confirma que tem a ajuda celeste, a

proteção da Virgem sob a qual teve inicio e desenvolvimento, ainda que operando

modestamente: proteção especial obtida pela nossa confiança e devoção a Maria.

As coisas nossas todas por Maria.

10. E nas dificuldades em que se encontra põe toda sua esperança na proteção de

Maria e nutre firme confiança que logo o Instituto crescerá e se desenvolverá.

|f.1v| [...] Deus com certeza providenciará e, quando serão mais velhas, tendo

superado as tempestades do mundo se lembrarem do passado, terão saudade daquele

tempo em que viveram à sombra da Pia União, e as memórias queridas dos encontros

e das festas farão brotar, do coração comovido, uma lágrima de agradecimento. Ou

com freqüência, todas reunidas para cumprir aqueles atos de piedade que contém as

delícias celestes e saboreiam o paraíso, suspirando ardentemente exclamarão: “Bendita

seja a Pia União na qual passei as horas mais inocentes e mais alegres da minha vida”.

Tristes dias vos prepara a maldade humana - nos quais deverão lutar, vós Filhas de

Maria - glória, alegria, espelho da virtude. Minhas caríssimas irmãs, agradeçais a

Deus que na Pia União tendes um poderoso meio para santificar a vós mesmas e

edificar o próximo. O mundo, o demônio vos molestarão, mas vós contentes, felizes

de serdes Filhas de Maria respondereis: “Viva Maria”, e continuareis sendo

verdadeiras Filhas de Maria, produzindo verdade e virtude.

E Deus iluminará a mente dos maus para que conheçam o bem e brotará nos seus

corações a necessidade da virtude própria do ser humano. E peçais sempre que a vossa

Pia União se torne cada vez mais [ilegível] e fecunda de boas obras.

E vós membros da Pia União, resplandeceis pela virtude da caridade e do espírito

de sacrifício. E você superiora, de modo especial seja sempre o anjo da guarda de suas

filhas. Seja Chiara não tanto no nome, quanto no mais perfeito cumprimento dos seus

deveres, seja lúcida em tudo.

Page 70: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

70

2

_______________________________________________________________

AFMM, VIII.1.1b.Ep202 – Carta de Jacinto Bianchi a João Bosco, Gênova, 19 de

novembro de 1865; fotocópia de autógrafo autenticada, 2 f., 205x305 mm, com

anexos.

Pede conselho para a abertura de um asilo, uma casa de trabalho e um colégio em

Solarolo Rainerio (CR). Transcreve outros quatro documentos informativos sobre a

questão.

Senhor Diretor!

Quem lhe escreve a bela carta foi a Torino para pedir-lhe um conselho sobre um

projeto de proveito público religioso. A levar menos incômodo ao senhor de estar a

escutar, muitas coisas que são descritas.

Sou Lombardo Cremonense, Padre jovem, pobre, mas de coração grande, outros

diriam pertencer eu à classe dos qualificados temerosos.

Desde Outubro de 64 idealizei uma Casa de Trabalho de mulheres, e redigi o

programa. Apresentei-o à R. Prefeitura de Cremona, que o aprovou, e tentei realizar a

obra contra a opinião pública, que se pronunciou contra mim e as minhas ações.

(Programa - Decreto – Artigo de Página única em Cremona os verá aqui unidos).

Foi então aberta a Casa: mas agora está fechada porque eu estou em Gênova junto

ao Claríssimo Frassinetti, Prior de Sta. Sabina, por ele mesmo chamado em abril deste

ano. Diante de todas as coisas considerei ser melhor ir-me embora, pois me retirei de

lá não por outra causa, a não ser pelo fato do bispo ter sido enganado e acreditado que

o governo queria me prender por motivo dessa minha iniciativa.

Agora me incita meu caráter a tentar outra coisa, a qual bem me parece possa um

dia vir a ser causa e ocasião de 3 grandes vantagens sociais. Abrir um «Pequeno Asilo

para Homens Italianos célebres nas Profissões nobres – Liberais - Mecânicos». O

programa é simples: será aprovado já que como da outra vez da Casa de Trabalho eu o

fiz flexível e de modo que não aparece nada de religioso. A vida material deste Asilo

deve dar a moral religiosa a dois outros Institutos. Eis ai a explicação.

O asilo tem necessidade de serviços, de roupas de cama e mesa e roupas pessoais,

etc., etc. A Casa de trabalho pode oferecer tudo isso com um belo louvor e aprovação

social, visto |f.2r| que o juízo público não conseguirá supô-lo um Instituto religioso,

mas do contrário só uma obra apenas filantrópica. E eis abertas duas Casas que podem

proporcionar grandes bens.

Estas duas acomodações – o Asilo e a Casa de Trabalho – levariam naturalmente a

um Colégio, sustentável com poucas despesas, e não também, sem proveito material.

Pode-se aceitar como hóspede um jovenzinho por somente fr. 220 ao ano. Os

professores, os empregados não se paga. Só o alimento se paga, por isso com esta

modesta quota ou pensão, se pode fazer tudo por 220 francos.

Page 71: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

71

Vós me direis: e os meios? Eis no Programa, os mencionei.

O local do Asilo vai ser comprado por duas pessoas em uma bela propriedade

rural, distante 18 quilômetros de Cremona, Solarolo-Rainerio na estrada principal

Giuseppina.

A mobília necessitará, de mais algum dinheiro para a sua implantação. Depois os

hóspedes farão alguma coisa. A Casa de Trabalho se compõe de mulheres jovens,

todas providas de dotes e dinheiro. Entre estas alguma professora de Método e de

Trabalhos. A casa de Trabalho não pode padecer nenhum defeito, como já vi na

prática. O colégio rapidamente terá um belo número porque cada família se

acostumaria a gastar pouco. E o local já existe, já foi tentado anteriormente por um

outro Colégio.

Eu depois me empenharei, ajudado pelo Senhor, a procurar cada utensílio. Vós me

aconselhais a coisa melhor. Entrego tudo a vós, e o vosso parecer dará norma a minha

obra.

Do vosso Devotíssimo Servo

Bianchi Jacinto Sacerdote

Gênova, manhã de 19/11/65

|f.2v| [manuscrito de J. Bosco] Simples memória.

• Anexo 1 - 1 f., autografado por J. Bianchi

Programa de uma Casa de Trabalho para mulheres

Existem muitas mulheres que não tiveram marido, e já de idade avançada

encontram-se rejeitadas por todos, e cheias de amargura e de lágrimas mesmo quando

tem um pedaço de pão. Tal panorama me sugeriu a idéia da Casa de Trabalho. Ali

dentro se darão conta no entanto que são jovens, e aptas ao trabalho, e terminarão os

dias delas em paz. As jovens de cada cidade podem gozar da vantagem da Casa

sempre que atenderem aos pré-requisitos exigidos, e pretenderem uniformizar-se à

disciplina da Casa.

I. Para entrar necessita de permissão escrita e assinada, pelos Pais e 3 testemunhas,

e autenticada pelo Prefeito. Além de um Certificado do Pároco de boa conduta.

II. Idade não menos de 20 anos, sã razão, saúde boa.

Page 72: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

72

III. Dote de no mínimo 12 camisas – 3 pares de lençol – 3 vestidos – 2 lenços de

mão – 2 de cabelo e outras pequenas coisas necessárias. Cama de lã. Este dote é

descrito em um Inventário assinado do pai da jovem e da Superiora da Casa e

conservado nos documentos da Casa.

Observa-se que, se alguma jovem rica quiser entrar, que além do dote traga consigo

também dinheiro, este será inscrito com uma declaração registrada em cartório, e

colocado em usufruto: ou mesmo empregado para comprar um local para a Casa,

quando tiver o consentimento da jovem e de seus pais.

Espírito e Objetivo da Casa

O espírito animador da família é especialmente o espírito de fraternidade, que torna

manso o coração, e prudente a palavra, e a alma ardente de amor ao próximo. De fato:

I. Vivem como tantas irmãs, estas jovens: sem distintivo, sem clausura, livres de si

mesmas: mas, não sem uma certa ordem.

II. Elegem a cada 3 anos, ou mesmo a cada ano a Superiora delas por voto, escolhem

as suas conselheiras, e suas regras antes experimentadas na prática, depois as

sancionam.

|f.1v| III. Mas se cansam de conviver, voltam para suas famílias: mas não é

permitido que saiam sem a presença dos pais, que serão avisados por carta, e que

confirmem isso quando vier a acontecer. O dote será devolvido como estiver no

momento. Não se dará porém o fruto do trabalho feito.

IV. Cumprem com liberdade aquelas funções que a superiora achar, pensar e querer

realizar para a disciplina da Casa para o bem público e privado. As funções são as

seguintes, exercidas segundo a capacidade física e moral de cada uma:

- Conduzir uma vida honesta e respeitosa sempre e sem nenhuma exceção.

- Trabalhar as profissões domésticas. Tecer, cozinhar etc.

- Visitar os pobres em suas casas para conhecê-los e consolá-los, e depois, com a

permissão da Superiora dar esmola em material, não em dinheiro.

- Empenhar-se em instruir todas as jovens externas, que queiram adquirir

conhecimento das profissões e da vida doméstica; no cuidar dos bebês, enquanto a

mãe deles trabalham nos campos.

- Ensinar na Escola infantil ou no Ensino Médio conforme indicação do Prefeito.

Sacerdote Bianchi Jacinto

Scandolara Ravara, 12 de outubro de 1864

Page 73: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

73

• Anexo 2 - 2 f., transcrição

Scandolara Ravara, 28 de outubro de 1864

Ao muito reverendo Sacerdote Bianchi Jacinto de Scandolara Ravara

Comunica-se ao senhor em cópia a Nota da R. Sub- Prefeitura de Casalmaggiore

Para Vossa norma e pela execução correspondente.

O Prefeito Zanetti

______________

Reino da Itália

Sub-Prefeitura de Casalmaggiore

Seção P.S. - N. 3607

Objeto: Projeto de uma Casa de Trabalho elaborado pelo Sacerdote Bianchi Jacinto

para as jovens de Scandolara Ravara.

Ao Senhor Prefeito de Scandolara Ravara

Casalmaggiore, 19 de Outubro de 1864.

A R. Prefeitura de Cremona, à qual vem apresentada a demanda deste Sacerdote

Bianchi Jacinto para obter a faculdade de instituir uma Casa de Trabalho em

Scandolara Ravara, declarou com Sua Nota 16 do corrente mês N. 17238 de tê-la

considerado em termo das Leis vigentes em matéria.

|f.1v| Vos pedimos para levar ao conhecimento do próprio Sacerdote Bianchi que as

leis vigentes Institucionais garantem o direito de associação, sempre que nada se faça

que seja contrário às leis do Reino; e que então no estado em que as coisas se

encontram, a R. Prefeitura Provincial não pode opor-se à execução do seu

planejamento. Porém que a Instituição da qual ele se faz promotor não tendo uma

existência segura por falta de meios, deverá considerar-se como uma Instituição

temporária de acordo com o artigo 3° da Lei de 3 de Agosto de 1862: e então não

poderá ser compreendida por ora na categoria das Obras Pias, nem como tal poderá

obter a tutela e a proteção Administrativa, se bem que resta ao Governo o direito de

vigilância para o cumprimento das obrigações assumidas e para impedir qualquer

abuso.

Quando pois a Instituição puder sustentar-se com meios próprios e seja tornado

público o verdadeiro objetivo dela, então a R.Prefeitura se apressará a encaminhar à

Prática para que a Institui |f.2r|cão mesma venha erigida como corpo moral.

Page 74: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

74

No entanto a V.S. será complacente de ter o olho vigilante sobre esta Instituição a

qual venha ativada onde evitar qualquer abuso.

p. Sub-Prefeito

O encarregado da circunscrição

Para cópia conforme [assinatura ilegível]

• Anexo 3 - 2 f., transcrição

Uma casa de trabalho em Scandolara Ravara

Com este título raro, um jovem sacerdote se agita com uma original atividade a

estabelecer neste vilarejo uma monástica utopia que seria aos nossos tempos um

verdadeiro anacronismo. Cartas de algumas filiadas da redondeza, todas perfumadas

de ascéticas expansões, a época da inauguração da Casa pré-fixada no Programa, o

fantástico ascetismo do Promotor, tudo isto garante que de uma coisa assim feita

quando quer que seja e no tempo oportuno, poderá um dia tornar-se um mosteiro.

O vigário daquela cidade Pe. Jacinto Bianchi, de uma imaginação viva, não lhe falta

correspondente saber, é o tal jovem ao qual no coração não faltam benéficas e

generosas propostas; mas desafortunadamente nisso o ímpeto do bem se traduz em

atos desordenados e mal elaborados da mente. Tais exageradas aspirações vindas das

ingênuas para outras manipuladoras e astutas, servem para tecer a teia sutil e enganosa

daquela escravidão moral das consciências cujo domínio desejam ferozmente os

inimigos da nossa pátria. O rude Programa de tal instituição, revela a capacidade da

mente que o concebeu. Erigir uma Casa de trabalho na cidade ou nas periferias

industriais e comerciais, é obra plausível e civil porque de possibilidade útil e prática;

mas querê-la em um vilarejo campestre, essencialmente agrícola, onde os hábitos,

necessidades territoriais, a robusta temperatura |f.1v| física dos habitantes leva-os a

viver ao ar livre, a céu aberto, é empreendimento absolutamente insensato e talvez

impossível de ser realizado.

Julgando tal proposta de Bianchi, não mais do lado oculto e misterioso, mas sim

enquanto externo, ou seja na linha do seu valor social, não nos intimidemos a

considerá-la uma violência para com as tradições locais, um deslocamento dos

interesses e costumes de data secular. Se poderia chamá-la uma metamorfose contra a

natureza pela qual mulheres ou jovens já habituadas aos trabalhos campestres e aos

cuidados rústicos de domésticas das famílias delas, deveriam passar bruscamente à

clausura monástica deste instituto, a inusitados trabalhos, ao desamor das casas delas.

Page 75: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

75

O projeto de Bianchi tem comovido e assustado intensamente muitos pais de

família, os quais temem pela pressão de secretas influências a serem desautorizados do

poder paterno deles, e isto não sem fundamento, porque se sabe como algumas destas

jovens, seduzidas das ilusões de prioridade e supremacia na futura Casa de trabalho

estão prontas a romper com laços familiares e colocarem-se lá onde esperam de

gozar das delícias bem-aventuradas das meditações ociosas.

Esta Casa que o Idealizador, como é apresentada no Programa, deve ser erigida

sobre a proteção da Beata Virgem Conceição sine labe,deveria abrir-se às filiadas no

dia 08 de dezembro de 1864. Se não o foi até agora, o Bianchi não abandonou a sua

intenção. Seria um fato inconcebível a sua realização, porque um jovem Padre, talvez

com |f.2r| ótimas intenções, mas que não tem a ciência e o conhecimento social

exigidos pela fgrave função de fundador a qual aspira, atingiria o fim contraditório da

opinião pública hoje em dia, a qual já pronunciou a sua solene palavra sobre questão

vital das corporações religiosas.

Esperamos que aquela sede autorizada sobre a qual vaidosamente se apóia, como

Ele afirma, as suas esperanças de sucesso, que tenha conhecimento do mesquinho e

grosseiro Programa e das sociais e políticas precedências do idealizador, ponha à

análise severa, junto com o seu passado também as audaciosas pretensões do presente.

Esperamos que a fama de tais fantasias, isto é, de construir sem uma base sólida de

conhecimento, de fundos estabilizados e de dinheiro, sem nenhuma garantia material e

intelectual, possa chamar a atenção de seu responsável Diocesano e motivá-lo, na sua

inteligente prudência um remédio radical.

Façamos votos de que este sacerdote, que mesmo tendo em si algum elemento

utilizável para o bem, seja colocado no seu verdadeiro posto hierárquico. A sua

corpórea atividade é antes única que rara, e mais vezes explodiu-se de vários modos,

se não retos e racionais, sempre, porém honestos e desinteressados, e tem sofrido

muitas crises e passado por fases diversas. Que se tome portanto providencialmente

pela mão esta atividade sem defesa, e a guie sobre objeto de natureza não suspeita. E

se é possível, renda-a frutífera de efeitos benéficos para a sociedade e para si mesma.

Page 76: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

76

• Anexo 4 – transcrição

Projeto

Pequeno Asilo dos Homens Italianos célebres nas Profissões Nobres –

Liberais – Mecânicas .

Razão - Excelência - Utilidade – Oportunidade do Asilo

Razão - É um fato que Homens Italianos célebres nas Profissões Nobres-Liberais-

Mecânicas levem a vida à duras penas.

Excelência – Tira o avermelhar-se de vergonha a quem o sente mais.

Utilidade – Teremos pessoas talentosas, obras de gênio inflamadas dos mais vivos

sentimentos de gratidão e reconhecimento.

Oportunidade – Não existe ainda entre as muitas obras filantrópicas uma como

esta: e a Nação do presente, se é bem disposta a beneficiar-se, pensará nesta que de

modo particular, é belíssima.

Meios para a Implantação e para a Manutenção

Aqui ele quer levar conta toda mínima coisa porque são bem poucos os bens no

momento. Depois certamente crescerão porque assim que o Asilo for implantado, será

provido de muitas coisas sem despesa. Quer fazer valer a simples afirmação, o

esquema que segue abaixo.

I. Algumas Jovens mulheres alojadas em tal Casa, onde juntas trabalham e vivem

como irmãs, se preocupam com toda a rouparia do Asilo e necessária ordem, sem

pretensão nenhuma recompensa: sendo pessoas abastadas.

II. Dois homens estão prontos a servir somente em troca da alimentação e do

alojamento.

III. Um Sacerdote doa todos os seus salários tirados do exercício do seu ministério,

já ganhos. |f.1v| Ajuntando estes meios reais a outros pequenos meios que virão, nós

podemos esperar rapidamente o bem do empreendimento. Eis os meios reais:

I. O local comprado em bela propriedade rural, perto de um grande vilarejo, e

próximo da estrada principal.

II. Toda a mobília necessária, e respectivas camas, providenciadas, porém a serem

montadas no momento que tiver necessidade.

III. 800 francos prometidos por pessoa digna de confiança.

Estes meios para alguns parecerão pouquíssimos, e, sobretudo talvez insuficientes ao

objetivo: mas considerando bem, que nos primeiros anos não serão numerosos os

Hospedados, e no futuro o número deles não será elevado, já que não são tão comuns

os Homens Célebres, será necessário convencer que então estes meios são suficientes.

Suficiente para dar início a uma obra que certamente à Nação se tornará cara, e então

será ajudada.

Page 77: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

77

Outros meios, com o tempo o próprio Asilo providenciará. Tendo internados

Homens Célebres, estes podem dar aula: e assim abrir um Colégio Econômico, muito

útil nos tempos presentes.

Em tal Colégio se poderia manter bem o Aluno por somente 200 francos ao ano,

pois não vos existirá a despesa com Professores e todos os outros serviços.

|f.2r| Condições para entrar

I. Idade não inferior aos 40 anos, sem mulher e sem filhos.

II. Celebridade notável ou por herança, ou por grandes obras.

III. Promessa de trabalhar segundo as próprias forças físicas e morais.

IV. Promessa assinada de depositar à casa do Asilo – o ganho adquirido por

trabalhos encomendados.

V. Juramento de professar a Religião Católica.

VI. Juramento de cultivar no jovenzinho de família pobre todo raro talento.

Obrigações daqueles que entram

I. Vestir o uniforme do Asilo.

II. Viver em comunhão, menos no dormir.

III. Não sair do Asilo arbitrariamente ou sem necessidade.

IV. Não dormir fora do Asilo sem uma licença especial.

V. Não trazer para o Asilo nem comida, nem bebida para uso privado.

VI. Notificar ao Superior do Asilo os dons recebidos.

Deveres do Asilo

I. Manter os Hóspedes da melhor maneira possível.

II. De cuidar-lhes e servir-lhes amorosamente quando doentes.

III. De sepultá-los honradamente, e sufragar a alma deles.

3

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1c.Ep214 – Carta de Jacinto Bianchi ao bispo de Cremona D.Antonio

Novasconi, Scandolara Ravara, 30 de março de 1865; fotocopia do original, 1 f.

Pede ao bispo que lhe dê a permissão de deixar Scandolara Ravara.

Dom!

Sendo reta a minha intenção e justíssimo o motivo do meu pedido tenho razão de

esperar de vós boa correspondência e estou bastante confiante de ser favorecido.

Page 78: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

78

Não posso e além do mais não devo ficar em Scandolara como Coadjutor. Tardar a

saída seria querer em seguida ser o acusador do modo de comportar-se do Arcipreste:

o que absolutamente não quero. Não se aborreça em permitir de retirar-me súbito, ou

transferir-me a outro local, por falta de Missa a Scandolara, ou por outros

compromissos que assumil. Eu irei à minha casa para recuperar a saúde, e depois no

Convento para fazer um pouco de retiro. Restam ainda Nº 3 Missa a Scando|f.1v|lara.

Quanto à minha Obra, saiba que mesmo de longe posso ajudá-la uma vez que esta já

existe.

Portanto espero do senhor uma notificação permitindo o que peço, que é a

necessidade do momento.

Um outro dia, e em breve, Deus fará ver claramente a todos, se é o meu zelo que é

sem moderação, ou se a culpa é do Arcipreste.

Creia-me o quanto me confio a Vós Sr.Bispo

Devotíssimo Filho

Bianchi Giacinto Coad.

Scandolara Ravara, 30 de março de 1865.

4

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.4a/b - Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria

Missionárias sob o patrocínio da Virgem Imaculada e de Sta. Inês Virgem e Mártir,

ms. de J. Bianchi; 4a: 2 f. protocolo, 285x212 mm, 4b: 1 f., 300x210 mm.

Oportunidade da função educativa das Filhas de Maria Missionárias para as Pias

Uniões das Filhas de Maria ( e as missões exteriores) realizada mediante a correção

fraterna.

Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias

Sob o patrocínio da Virgem Imaculada e de Sta. Inês Virgem e Mártir e

de Sta. Ermelinda

As Pias Uniões das Filhas de Maria sob o patrocínio da Virgem Imaculada e Sta.

Inês Virgem e Mártir, agora já espalhadas em todo o mundo e geralmente conhecidas

pela experiência de fatos luminosos, tão eficazes para transmitir as virtudes ao

Page 79: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

79

costume público da juventude feminina, as mais adaptadas e oportunas nos nossos

tempos, enfim uma verdadeira providência do Senhor, não se pode, a meu ver ( que é

sustentado por competente e influente juízo, como explicarei logo em seguida),

racionalmente esperar que elas se mantenham no seu espírito, sem duvidar da

eficácia delas, se não que lhes forneça um guia e estímulo permanente, homogêneas e

agradáveis ao mesmo tempo.

Confiadas ao zelo dos sucessivos diretores, que naturalmente possam ter diferentes

maneiras de ver, mais ou menos coniventes com o espírito do Regulamento romano,

que é a regra de todas as Pias Uniões marianas agregadas, estarão sujeitas a mil

variações, à confusão e, portanto até mesmo a se deteriorar. No momento, não se

sabe como poder dar às estas Pias Uniões um guia e um espírito contínuo, a não ser

que com uma [cancelado: casa] família de Filhas de Maria a qual tenha por objetivo a

conservação do espírito do Regulamento romano mediante uma rigorosa observância

do Manual Passèri, e a abertura de pequenas casas [cancelado:marianas] de Filhas de

Maria em todo lugar possível, isto é onde existam Pias Uniões erigidas canonicamente

– e agregadas a Roma – casas que promovam com o exemplo e levem as filhas a

conhecerem a grande graça, a grande honra que é ser Filha de Maria. E (que é aquilo

que vale mais e que fará bem às Pias Uniões)

através da correção fraterna feita verdadeiramente na mais bela caridade cristã, que

forma as irmãs de amor.

|f.1v| Estas pequenas famílias de Filhas de Maria manterão o espírito nas Pias

Uniões porque agirão em todo lugar unânimes e com amor de Irmãs e corrigindo por

amor, e com amor impedirão que as Filhas de Maria venham a diminuir seu fervor.

Repitamos, as Missionárias como verdadeiras irmãs, com maneiras dóceis, afáveis,

cativantes com as crianças, sem requerer direitos, ou autoridade, ou importância

magistral, com correções amigáveis, de irmã a Irmã, e as filhas de fora reconhecendo

nelas o objetivo do seu empenho, naturalmente não se ofenderão pelas correções, ao

contrário as amarão, e desejarão aproximar-se das Missionárias. Este é então o

objetivo essencial do Instituto das Missionárias, a correção fraterna às Filhas de Maria.

Desta maneira, as outras obras que o Instituto vier a realizar não serão jamais o seu

objetivo essencial, pois o Instituto pode viver sem elas. Por isso é que se recomenda

de favorecer e promover obras não substanciais com zelo bem moderado, esperando

muito mais que as oportunidades se apresentem por si mesmas, do que procurá-las

com solicitude: porque nós seremos depois desconcertadas, se terão atrasos,

contradições no fazer o bem, e não se deixará ver e conhecer o Instituto naquela franca

simplicidade, pela qual por si se justifica, e se coloca em posição segura de qualquer

prevenção contrária.

Mas, e as Missões exteriores? Respondo que estas são parte integrante do Instituto

porque são delas a correção fraterna levada ao heroísmo, à verdadeira caridade

fraterna pregada por Jesus – a maior, porque dá a vida ao próximo. As missionárias

vão advertir aqueles pobres infiéis, fazê-los compreender que vivem no erro e na

morte. E existiria algo mais essencial ao Instituto das Missionárias? Pois, sem medo

de falar demais, observo que Deus, logo que foi aberta a primeira casa das

Page 80: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

80

Missionárias com o objetivo já citado, Deus inspirou as missões exteriores, abriu

caminhos e favoreceu os meios.

|f.2r| Quem quisesse pensar e temer que estas Missionárias, exercitando-se em tal

obra [a correção fraterna] nos países civis, perderiam logo o espírito bom, porque o

trabalho é de pouco empenho, reflita que Deus suscita vocações de acordo com as

necessidades dos tempos; e desta vez, pela sua excessiva caridade pelas almas – hoje

em dia cheias de si próprias e de espírito mundano, não dispostas a aceitar e escutar

como boas as advertências da autoridade eclesiástica – fez com que estas Irmãs

“Correttrice”a surgissem para consolar a sua Igreja, desolada ao ver seus filhos

correrem atrás do mundo e de seus prazeres. São necessárias vocações novas porque a

maldade humana é nova.

No mais, como já disse acima esta obra foi considerada como que necessária por

homens competentes - entre os quais me é caro citar as santas almas dos irmãos Passi,

Marco e Luca, Missionários que por primeiro deram a vida e desenvolveram a obra da

correção fraterna. Depois destes, citarei aquela alma santa e conhecedora das

necessidades da juventude cristã, Frassinetti, que logo que escutou os irmãos Passi

falarem da utilidade da correção fraterna, Ele formou uma congregação especial e

abriu duas pequenas casas destinadas justamente a atrair as crianças ao bem com a

dulcíssima correção fraterna. Enfim nominarei, com a mais profunda veneração e

reconhecimento pelo bem feito, de modo particular a mim e às missionárias nascentes,

ao Padre Passèri, Pai das Pias Uniões Marianas, que, nos últimos anos de sua vida

sacrificada com todo ardor com a alma ardente pela glória de Nossa Senhora, ele

repetia – refletindo sobre o andamento das Pias Uniões em geral – que a implantação

deste Instituto seria como que necessária, para que as Pias Uniões florescessem por

longo tempo na virtude. Ele mesmo observava que se tornava cada mais difícil juntar

[=agregar] as Pias Uniões às Monjas, |f.2v| disposição do restante do seu Manual, que

eu julgo ser um argumento favorável à obra da correção fraterna, porque não se vê

outro motivo de querer juntar as Pias Uniões às Monjas, senão aquele de dar às Pias

Uniões amorosas e sábias corretricia.

Posso garantir que o Abade Passèri, ainda fosse vivo, Ele mesmo tinha se colocado

à disposição para que se desse início a esta obra sobre sua imediata inspiração, guia,

nome e autoridade.

|4b, f.1v| [...] E Deus mesmo revelou o quanto queria bem esta família, pois onde ela

se instalava, providenciava-lhe também os meios necessários para ir em frente,

defendendo-a dos perseguidores, dos caluniadores e as primeiras irmãs que se uniram

Deus se serviu delas para as missões exteriores. As outras, porém, tiveram que esperar

muito. Se Deus as abençoar [cancelado: a conquista], hão de dar inúmeros frutos. As

missionárias, corrigindo as Filhas de Maria como irmãs, contribuirão para o bem da

sociedade: pelo fato que educando as crianças, [se] pode educar metade da geração

nascente; quando esta cresce boa, conseguindo influenciar na educação das mães sobre

os filhos, também a outra metade deverá necessariamente melhorar, e as Irmãs terão o

mérito do bem que virá. Alguém dirá que esta mudança universal é esperança utópica.

Seria realmente verdade se, se pretendesse com este meio acabar com todos os

Page 81: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

81

perversos do mundo: mas aqui procura-se somente acabar com um grande número, e

por meios evangélicos, e por isso eficazes.

5

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.6.18 – Descrição dos atos e memórias importantes referentes à

implantação, à instituição canônica, à agregação à Primária de Roma e a vida moral

da Congregação das Filhas de Maria de Pigna; ms. de J. Bianchi; 1 f., 140x190

mm.

Instituição e itinerário de aprovação das Filhas de Maria de Pigna(março-setembro

de 1871).

Descrição dos atos e memórias importantes referentes à implantação, à

instituição canônica, à agregação à Primária de Roma e a vida moral da

Congregação das Filhas de Maria de Pigna

Paróquia da diocese de Ventimiglia

No ano de 1871 no mês de Março, em ocasião das Missões, iniciou a Pia união das

Filhas de Maria Santíssima Imaculada e de Sta. Inês Virgem e Mártir.

Já existia um grupo de mulheres celibatárias, mas sem estatuto – e já há alguns anos

sem Diretor, depois da morte do excelente sacerdote, canônico Siccardi Antonio, de

santa memória de todos os moradores de Pigna e das cidades vizinhas.

Durante a referida Missão, as Filhas foram informadas e receberam explicações

sobre a Pia União estabelecida por decreto do Papa Pio IX, se pode dizer que

decidiram unanimemente professar no futuro esta Regra que foi aprovada por Roma.

Fizeram com grande devoção o mês Mariano para obter as graças que elas

necessitavam: e no mês de Agosto do mesmo ano de 1871, obtiveram, de D. Lorenzo

Biale, |f.1v| ordinário da diocese de Ventimiglia, um diretor na pessoa do sacerdote

Missionário Jacinto Bianchi – segundo o decreto de 1° de agosto de 1871.

Assim no mês de setembro obtiveram também o decreto de Instituição Canônica,

com um documento provisório(Breve) para agregar-se à Primária de Roma. E de

Roma foi expedido o diploma de Agregação por M. R. Pe. Frediano Fiamma – diretor

da revista La Figlia di Maria sulla tomba di S. Agnese fuori le mura di Roma (A Filha

de Maria sobre a sepultura de Sta. Inês fora dos muros de Roma) – no dia 17 de

setembro de 1871 da sua residência em S. Pietro in Vincoli.

Page 82: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

82

Com cartas apropriadas e autografadas, aprovando as modificações feitas no

Regulamento de Roma, levando em consideração a situação moral da cidade.

(N.i Controle das cartas). As ditas modificações concernem aos capítulos 4° art. 2°,

5° art. 1°, 6° art. 1°- 9° do livro 1° parte 2a.

E são as seguintes: I – Convêm aceitar na Pia União mulheres velhas celibatárias e

2 viúvas sem filhos. II – Às razões para expulsar uma filha da Congregação foram

ajuntadas as seguintes: a) conversas contínuas na Igreja; b) ir à Missa somente na

Páscoa; c) cantar, ensinar, escrever, emprestar, comprar para si ou para as outras

canções obscenas; d) ler em sua casa ou na casa de qualquer um outro.

6

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.1 – Implantação e desenvolvimento da Casa das Filhas de Maria

Imaculada, ms. de J. Bianchi, [1876]; 3 f., 422x280 mm.

Relatório sobre a fundação em Pigna: integrantes da casa e vida em comum,

aprovação da Autoridade eclesiástica, relação com os salesianos e com a Obra das

Morette (meninas negras árabes), abertura missionária.

Implantação e desenvolvimento da Casa das Filhas de Maria Imaculada

De 1873 a 1875

1. Desde mil oitocentos e setenta e três se concebeu a idéia de fundar uma casa das

Filhas de Maria Imaculada sob a proteção de Sta. Ermelinda. Em 1874 se elaborou

algo para preparar tal Casa: Porém somente quase no final deste mesmo ano, que uma

Filha de Maria Imaculada estabeleceu seu propósito de abrir esta Casa com a intenção

de acolher quantas Filhas quisessem viver e trabalhar para a maior glória de Deus

fazendo tudo em união com as mais puras intenções de Jesus e Maria e todos os santos

que estão no céu.

2. Em poucos dias, outras se associaram a seu projeto e à vigília da Imaculada

Conceição ao meio dia, 12 vestidas com o uniforme da Companhia das Filhas de

Maria e de Sta. Inês, assistiram à missa e fizeram a comunhão para reforçarem-se na

própria determinação, e para manifestarem-se a todo o povo, separadas do mundo e

decididas de viver em comum.

Page 83: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

83

3. Queriam morar juntas à partir da noite do Santíssimo Natal, depois da Missa da

meia noite, à guisa das Congregadas de N.Senhora instituídas por B. Pietro Fourier,

mas foi preciso esperar exatamente até dia 11 de fevereiro de 1875: e entraram sem

nenhuma cerimônia especial.

4. E dia 11 de fevereiro foi escolhido para entrarem na Casa, quase como se fosse

uma festa da Imaculada e dia abençoado pela Santíssima Virgem Imaculada, sendo

que Ela nesta data apareceu à Bernardete Soubirous em Lourdes.

5. O nome e sobrenome das primeira Filhas que entraram, são: Giuseppina Lantero

- Catterina Barucchi - Anna Maria Ferrero - Maddalena Ferrero.

6. A Casa era provida de poucas coisas, e foi alugada durante algum tempo do

serralheiro Luigi Allavena, aliás, aluguel este que consistia em as Filhas limparem e

fornecerem as portas e o forro de madeira. A despesa total foi............ liras italianas.

7. Giuseppina Lantero foi considerada a diretora da Casa [cancelado: e fundadora]

já que foi a primeira que emitiu o propósito de abrir uma Casa para as Filhas de Maria.

8. Um dia depois que entraram as ditas Filhas, foi enviada ao bispo titular D. Biale

Lorenzo, uma carta de informação e de pedido da benção pastoral. A carta era do

seguinte teor:

«Excelência Reverendíssima – Ontem pela manhã, na Paróquia de Pigna, aconteceu

um fato do qual Vossa Excelência já tem algum conhecimento. 5 das Filhas de Maria

Imaculada e de Sta. Inês se recolheram numa Casa por elas alugada com a intenção de

viver e trabalhar para a maior glória de Deus, fazendo tudo em união das mais puras

intenções de Jesus e de Maria, e todos os santos que estão no céu.

O empreendimento nestes tempos que correm e para os sujeitos que a tentam, é

muito, muito árdua, mas confiantes como nós somos todas na ajuda de Deus e

protegidas de Nossa Boa Mãe, e guiadas por Nossa Padroeira Sta.Ermelinda, sob a

qual proteção foi aberta a Casa, conseguiremos. Que Deus abençoe nossos desejos e

nossos esforços. Mais tarde mandaremos a regra moderadora da nossa pequena

Comunidade. No entanto, nós abaixo-assinadas, ajoelhadas em espírito diante de

Vossa Senhoria |f.1v| Lhe beijamos com reverência o vosso sacro anel e pedimos-lhe

por elas e por aquelas que entrarão, a Benção pastoral, e nos declaramos de todo

coração e com plena vontade, dispostas aos sinais que Vós dareis, na esperança de

receber uma resposta reconfortante de Vossa ternura paternal, Vossa Excelência, vos

subscrevo, em nome de todas, Giuseppina Lantero B., Pigna, 12 de fevereiro de

1875».

9. O bispo responde com sua nota de 23 de fevereiro, mesmo mês, endereçada à

M.R. Ecônomo Espiritual Bianchi Jacinto, estas textuais palavras: «Eu recebi a carta

das 5 filhas, às quais diga que voluntariamente dou a minha benção pastoral; mas para

fundar estabelecimentos, convém pensar e providenciar os meios que são necessários

à sua existência. Convém ir devagar, e avançar à proporção que se encontram os

meios, onde nós temos a dizer: coepit edificare...».

10. Enquanto se passavam estas coisas, Deus providenciou que o Santo Sacerdote

Biagio Verri, continuador da Obra das Morette iniciada pelo Servo de Deus Nicolò

Olivieri de Gênova, levasse a Pigna uma moretta de 7 anos; e por recomendação do

Page 84: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

84

Ecônomo Espiritual Giacinto Bianchi diretor da mesma Casa, a deixasse na Casa das

Filhas ali aberta, e a confiasse aos cuidados delas, porém com pleno consentimento do

Ordinário D. Lorenzo Biale.

11. A Moretta fala árabe, e se entende mediante o aprendizado de algumas palavras

árabes mais usadas na linguagem falada e na vida doméstica, ensinadas pelo M.R. Pe.

Verri. O caráter natural da moretta é doce e dócil. É muito esperta e inteligente, seu

caráter moral é constante, não caprichoso. Aprende facilmente o italiano e os

trabalhos femininos, e a cada dia ela se torna mais amável, e reconhecedora do bem

que nós lhe fazemos e é atenta a rezar fervorosamente.

12.A nossa casa deu em esmola para a obra das Morette, 100 L. em moeda de ouro.

13. A moretta acolhida na Casa foi chamada de Ambrosia, e foi particularmente e

amorosissimamente guardada e instruída no Catecismo e nos trabalhos pela Filha

Maddalena Ferrero – verdadeiramente como uma mãe – que se engajou com empenho

sempre mais louvável. E a Moretta a chama: «Maddalena Minha mãe». E chama da

mesma maneira a Diretora. As outras da Casa ela chama de Irmãs.

14. É notável na moretta uma tendência a honrar o Menino Jesus, e um vivo e

ardente desejo do Santo Batismo e do Paraíso.

15. Como memória, assinala-se: I - uma visita feita pelo muito Reverendíssimo

Dom João Bosco, Fundador do Oratório de S. Francisco de Sales

em Valdocco de Torino, à nossa Casa na metade do mês de dezembro de 1874, e ter

feito na Casa uma conferência para as Filhas, que neste momento eram em número de

12 e ter falado várias vezes em particular com as Filhas que conseguiram aproximar-se

dele, visto que ele era sempre rodeado por tantas pessoas que queriam pedir-lhe

conselhos, pois era venerado por todos como um Santo; II – Algumas negociações

com o mesmo D.Bosco de unir a Casa de Pigna àquela fundada pelo próprio D.Bosco

em Mornese, na diocese de Acqui, sobre a denominação e regra das Filhas de Maria

Auxiliadora. Estas negociações não sortiram o efeito que se pensava antes, 1) D.Bosco

queria que não se abrisse logo a Casa de Pigna, mas que todas as Filhas de Pigna

fossem para Mornese e fizessem o noviciado naquela Casa, e que em Pigna viessem

aquelas de Mornese, 2) porque - mesmo que a população fosse propensa, e visse com

bons olhos a Casa – à Pigna não era oportuno fazer vir aquelas de Mornese, vestidas

de monjas.

O povo teria gritado: «Elas são todas Monjas». No mais, Dom Bosco se mostrou

muito favorável à Casa de Pigna, e a fez ser abençoada em particular pelo Sumo

Pontífice Pio IX – como havia abençoado, desde o dia 13 de julho de 1875,

Giuseppina Lantero, com as suas companheiras.

|f.2r| 16. A razão pela qual vieram Dom Bosco e o Sacerdote missionário Dom

Biagio Verri, e outros personagens em Pigna, e a Casa entrou em relação com várias

obras Católicas, é que além dos seus méritos, o Diretor Pe. Jacinto Bianchi era

conhecido destas pessoas e Obras e Casas religiosas, e era muito estimado por eles.

17. Foram compradas 12 camas de ferro do Sr. Giambattista Dellepiane empresário

de trabalhos em ferro no Albergue dos Pobres em Gênova pelo preço de 30 liras

Page 85: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

85

italianas cada uma. O total foi de 400 liras italianas, incluindo as despesas de

embalagem e transporte ferroviário e terrestre.

18. A Casa procede bem, e as Filhas são procuradas para trabalhos manuais na roça

(onde se permite ir por causa da boa saúde das mesmas Filhas, que são acostumadas à

vida livre e ativa sobre as montanhas e sofrem demais por estarem sempre em casa) e

para costurar. O povo mostra-se bem afetuoso para com todas as Filhas e as respeita, e

as presenteia continuamente com todo tipo de comestíveis. E as Filhas de Maria

chegam muito voluntariamente na Casa, e ficam trabalhando alegres e contentes.

19. Um quarto da Casa foi preparado como Capela interna- com seu altar para

celebrar - e não mais adornado em azul celeste, mas em vermelho – com bordas.

20. As Filhas da Casa passam seus dias trabalhando e rezando, mas ainda não

praticam a regra disciplinar da casa, pois o Diretor avisou que é melhor esperar para

obrigar as Filhas a uma regra metódica, pois a vida em comum torna-se muito pesada

para elas.

21. Nas cidades vizinhas se fala da Casa das Filhas, e a curiosidade leva as pessoas a

perguntarem para aquelas que entraram sobre o que elas fazem e dizem. A poucas e

estimadas pessoas, foi permitido de visitar a Casa. Entre estas é bom recordar uma

ótima Senhora de Gênova, viúva, a qual veio e ficou por 15 dias e mais, vivendo com

as Filhas (sem dormir) para conhecer o bem que elas fazem. E ficando bem contente

com a disponibilidade e o bem querer das Filhas, gosta tanto delas que as convida para

ir à sua casa em Gênova, e propôs – se não tiver nenhuma motivação contrária- de

proteger a Casa e de abrir-lhes uma Filial fora de Pigna, nas arredores de Gênova.

22. Na festa de S. Miguel de 1875, entrou uma outra Filha da cidade na Casa com o

consenso dos pais – seu nome é Catarina Allavena – apelidada como General

Ambrogia

- jovem de ótimo coração, e paciente com as ofensas que lhe fazem, de bom humor,

dedicada aos trabalhos da roça.

23. Na manhã do dia de S. Miguel Arcanjo, titular da Paróquia aconteceu um fato

inesquecível, e que daqueles que viram, merecerá muitas bênçãos às Filhas da Casa.

Eis a narração fiel de tudo para edificação comum. A moretta acolhida pelas Filhas da

Casa, foi instruída e preparada para o Batismo. O Bispo – como havia prometido – por

causa de uma bronquite aguda, devido à sua idade de 91 anos, enviou seu

representante Canônico Faraldo. Este, na manhã de S.Miguel às 8 horas? Aparece para

administrar o Batizado, enquanto que a Companhia de S. José, na qualidade de

padroeira das Filhas da Casa, vestida com seu uniforme cor-de-rosa, enfeitado com

distintivo de ouro – foram à Casa das Filhas para pegar a Catecúmena, já pronta com o

padrinho e a madrinha, e acompanhada das Filhas da Casa. No meio de uma grande

multidão a companhia chega à Igreja onde diante da porta, ela encontra o dito

Canônico ministro do Batismo que iniciou as devidas cerimônias preparatórias. |f.2v|

O povo ficou todo comovido com esta celebração, especialmente ao sentir a profissão

de fé que fazia, com voz terna e aguda a Catecúmena trêmula não se podia conter as

lágrimas, e os tristes e melancólicos não ousariam falar mal do que foi feito. A

Celebração, como houve a missa com o discurso do Canônico ministro do Batismo,

Page 86: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

86

durou até as 9? O padrinho foi o Senhor prefeito local, honorável Nicolò Pianavia

Cavalier. A Madrinha foi a senhora Cattarina Orengo mulher do Senhor Stefano

Girardi de Castel Vittorio. Os nomes dados à Neófita foram Ambrosia Maria Agnese.

24. A Crisma de Ambrosia foi administrada em Gênova por Sua Excelência

Reverendíssima o Senhor Arcebispo Salvatore Magnasco, no dia 04 de novembro- na

primeira quinta-feira no mesmo mês às 7 da manhã.

25. A madrinha de Crisma foi a Senhora Marina Solari – viúva de Parodi Angelo –

de Gênova.

26. Dom Verri, o santo missionário que trouxe a moretta, notificou que o Santo

Padre Pio IX abençoou a Casa das Filhas particularmente por causa das Morette.

27. O Diretor fez conferência especial na casa para falar às Filhas de vestir um

uniforme – porém não monacal – e deixa a escolha da cor e modelo às filhas

mesmas. E de vestir este uniforme nas cerimônias públicas, e todas as Festas na Igreja.

28. As Filhas adotaram a cor preta e o mesmo modelo para todas, com casaquinho.

O tecido todo de lã, porque ele perde menos a cor.

29. O Diretor falou às Filhas de lerem as regras da Casa, e as encorajou a

continuarem naquele ardor e firme vontade que até o momento têm demonstrado, e a

disporem-se a praticar as regras da Casa, assegurando-lhes que estas, eram fáceis e

dóceis na prática.

30. Estabeleceu-se na Casa o Sufrágio perpétuo das Almas do Purgatório idealizado

pelo Sacerdote Alessandro Ciolli de Firenze – e aprovado pela Santa Sé Romana –

que consiste em escolher 30 pessoas, as quais num dia determinado do mês –

distribuídas assim que todos os dias do meses sejam ocupados. – estas pessoas se

aproximam aos SS. Sacramentos, assistem a Santa Missa, e recitam 5 Pai Nosso –

Ave Maria – Réquiem com o refrão «Te ergo quesumus famulis tuis subveni...» em

sufrágio das [almas] do Purgatório. Os nomes das pessoas que aceitarem de praticar o

Sufrágio Perpétuo sãos descritos em um registro preparado próprio para isso,

conservado na Casa.

31. Como última notícia marcante do 1° ano da Casa faz-se memória da Benção

dada pelo Pontífice Pio IX no dia 13 de julho de 1875 – isto é poucos dias depois que

as Filhas começaram a viver em família-comunidade.

32. |f.3r| Não houve coisas marcantes no primeiro trimestre de 1876, exceto a não

louvável conduta de uma Filha, da qual pode se bem dizer que, foi um belo exemplo

de humildade, recolhimento e zelo pela companhia, mas em seguida, depois de mil

desprazeres, deixou sua casa com o consenso dos seus, e entrou na Casa das Filhas de

Maria, passados não mais de quinze dias, sem nada dizer, ela voltou pra sua família,

verdadeiramente por capricho. Toda a cidade desaprovou tal inconstância e leviandade

e pouca sinceridade.

33. Se os nossos pecados causaram este desprazer, porém a ternura da nossa

Imaculada Mãe não deixou as suas Filhas sem uma cara e pleníssima consolação,

provada poucos dias depois da saída daquela filha nomeada há pouco. Eis o relato. O

Diretor Pe. Jacinto foi a Gênova a pregar a novena solene e o tríduo das almas na festa

de Sto. Estevão e no dia que ele voltava para Pigna encontrou-se ao longo da rua Balbi

Page 87: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

87

com um padre barbudo, e com o pressentimento que fosse o Missionário vindo de

Belém a recomendar a obra do Orfanato masculino – aquele fundado pelo Caríssimo

D.Antonio Belloni, como ele tinha lido no jornal Il Cittadino(O Cidadão), de Gênova

– começou a falar de Belém e do acordo feito com o acima citado Belloni de mandar

algumas Filhas de Maria em ajuda ao Orfanato. Trocaram poucas palavras ali na rua, e

ficou estabelecido que o mencionado Missionário (que era o próprio encarregado,

vindo expressamente de Belém para fazer conhecer as necessidades da obra) fosse até

Pigna, e assim conheceria as filhas propostas. Veio então a Pigna e ficou lá, bem dois

dias por causa do mal tempo. Ele teve a oportunidade de conhecer as Filhas e ficou

satisfeitíssimo com a boa vontade delas, e até quis fazer uma conferência a toda Pia

União das Filhas de Maria, como de fato fez no dia 25 de março, com palavras sábias,

muito eficazes e ao mesmo tempo tão amáveis que tocava todas as Filhas, e as deixou

tão animadas que depois o Diretor teve que as entreter e sugerir de não mais pensar e

fazer propostas.

34. O título do citado Missionário é: Sacerdote Piperni Raffaele, Vice-diretor do

Orfanato Masculino de Moretti(meninos negros árabes) em Belém. Siciliano de

nascimento, doce, gentilíssimo nos modos, festivo, se mostrou erudito e perito demais

dos meios a serem usados para implantar um Estabelecimento de educação moral-

religiosa.

35. As Filhas da Casa tinham, desde janeiro, juntas à Superiora da Pia União das

Filhas de Maria - Giacinta Rebaudo - a assinatura de adesão delas para ir a Belém a

ajudar no Orfanato do jeito que desejasse o fundador Belloni - escrita e enviada por

carta a D.Belloni - e no mesmo dia do encontro em Gênova do Diretor com D.Piperni,

tinham já a resposta de Belém.

36. As filhas que se tinham oferecido a ir foram primeiro duas – uma antes de todas

as outras, esta chamada Fortunina. O nome da outra é Pacifica. Mais tarde outra se

preparou e declarou-se pronta, e esta chama-se Ambrosia Seconda.

Page 88: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

88

7

_________________________________________________________________

AFMM, VIII.2.1.8 – O Instituto das Missionárias, ms. de J. Bianchi; 1 f., 280x150

mm.

Considerações histórico-autobiográficas para a introdução de um memorial sobre a

fundação do Instituto: reflexões sobre a própria fraqueza e sobre a constante

presença mariana na sua experiência.

O Instituto das Missionárias

1. As 81 missionárias imitando as mulheres piedosas – as primeiras que receberam

na casa delas Jesus Cristo no SS.Sacramento. A Santíssima Virgem manteve em mim

a atração por tudo aquilo que concerne ao seu culto e o respeito pela Igreja.

2. Precisamente o objetivo destes sinais é de fazer conhecer o instituto das

Missionárias. E um olhar rápido ao desenvolvimento e acontecimentos precedentes

permitirá de descobrir com satisfação o germe, o desenvolvimento e a manifestação da

vontade de Maria Imaculada. Encontrando-me a Pigna por missão e lá permanecendo

como regente – leitor assíduo da Unidade Católica – compreendi como em Belém

Belloni... – rezei – fiz também – preguei e algumas Filhas decidiram-se - e assim foi.

Tinha, porém, estado no Oriente no fim de 1868, amava aqueles lugares. Era Maria

Imaculada que me guiava, como é a sua missão e mantinha em mim um terno amor

para com ela.

3. O pensamento das Missionárias não me deixava tranqüilo, e foi necessária tal

vocação para vencer as dificuldades que eu atravessava – com a força da proteção de

Maria e impulsionada por uma voz interior: Avante! E contente me colocava aos pés

de Maria. Eu a tomei como boa Mãe pedindo-lhe a realização da obra. Sou infeliz

porque não soube conservar o meu coração livre de todo desejo, reto sim nas

intenções, mas muito humano, por isso menos casto nos seus afetos – se bem que

sempre quis manter meu coração livre, independente, desapegado completamente das

criaturas. Mil vezes eu prometi à Nossa Senhora, mas não mantive a promessa.

Page 89: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

89

8

_______________________________________________________________ AFMM, X.1 - Opúsculo impresso, Gênova, Tipografia Arquidiocesana, 1882, extraído

da revista «A Filha de Maria»; 8 p., 50x100 mm, exemplar sem capa e contracapa.

Publicação para divulgar o apelo que no dia 9 de novembro de 1880 Jacinto Bianchi

faz de Belém às Filhas de Maria (relação de sua viagem e pedido de ajuda para as

Filhas de Maria no Orfanato de Belloni mediante a aquisição de uma fotografia delas

com os jovens); relação sobre a audiência com o papa no sucessivo dia 20 de

dezembro; referimento a alguns jornais que deram noticias da obra.

|p. 1|Em Belém foi aberto pelo Rev. Canônico Belloni um Orfanato masculino

católico que conta com mais de cem internos, os quais todos são assistidos pelas cinco

Filhas de Maria que foram de Pigna (diocese de Ventimiglia) conduzidas pelo

Missionário Pe.Jacinto Bianchi do qual se faz referência na seguinte carta tirada da

revista A Filha de Maria.

Caríssimas Filhas de Maria no Senhor!

Eu vos peço um favor: fazei-o por mim. Eu vos peço pelo amor que tendes por

N.Senhora, pelo vosso próprio bem. Já faz três meses que estou na Terra Santa, Deus é

testemunho que todo dia que pude, fui rezar por vós no Santo Presépio: por vós que

sois minha principal preocupação depois daquela de minha alma. Fazei-me então este

prazer tão desejado? Rápido, respondei-me. Se quiserdes verdadeiramente podeis. Um

pouco de incômodo sim, mas pouco. E este pouco prometo compensar-vos

celebrando-vos uma Missa no Santo Presépio, antes de voltar à Itália. Então, ledes

com toda atenção, com muita prontidão, com o coração grande as notícias que vos

dou; e depois reflitais bem cada coisa, e aplicai-vos segundo as vossas forças a servir a

uma boa causa.

No dia 18 de outubro o Bispo Patriarca de Jerusalém me levou como acompanhante

na sua visita pastoral nas cidades onde moram os Beduínos, aqueles homens ferozes

que vivem em tendas pretas ou em grutas escavadas na terra e que, exceto comer

gente, são capazes de tudo, e fazem de tudo um pouco.

Eu fui de boa vontade, imaginai-vos com uma |p. 2| companhia assim preciosa,

excelentíssima, mas depois também para ver, observar, como as mulheres, e também

ainda com a intenção de fazer bem a vós de qualquer modo se possa.

Atentas então que vos faço um relatório das coisas, que mais me chamaram a

atenção e que ficaram gravadas em mim. Nós fizemos o mesmo caminho sobre o qual

Page 90: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

90

caminhava Jesus com seus Apóstolos, indo e vindo de Jericó a Jerusalém.

Atravessamos o vale de Josafá que é pequeno, vejais: a gente atravessa as águas de

Cedron que está seco, contorna o Horto de Getsemani onde Jesus Cristo rezou e suou

sangue, um pouco adiante e ai está o lugar onde Judas se enforcou. De lá a Betfage,

onde nosso Senhor pegou o jumento para entrar em Jerusalém, e depois se desce a

Betânia onde estava[m] Maria, Marta e Lázaro, todos queridos por Jesus. De lá à fonte

dos Apóstolos, onde Jesus Cristo parou para beber e pegar água para o resto do

caminho até Jericó, visto que não se encontra mais água, e ainda é preciso cinco boas

horas de viagem.

Depois de quatro horas de caminho a cavalo e eis a montanha da quarentena, onde

Jesus Cristo rezou e jejuou quarenta dias e quarenta noites. Ah, minha Filhas se

visses! Faz medo só em ver esta montanha, preta, queimada, toda pedra, separada de

outros montes por um vale profundo: tem cavernas grandes, não existem estradas para

caminhar. Meu Deus!!! Que penitência Jesus fez por nós. E nós, caríssimas Filhas, o

que fazemos por Jesus? Ah, a pensar-nos me vem de chorar. Nos tempos antigos,

vejais vós, tantos eremitas vinham nesta montanha, e com cordas se faziam descer nas

cavernas e permaneciam ali dentro até a morte. Felizes eles: aqueles sim, pensavam

bem. Mas vós direis: Deus não pretende que se faça o impossível, basta fazer aquilo

que se pode. Bem, bem, mas fazemos verdadeiramente aquilo que se pode? Ao

contrário hoje se faz mais pelo mundo e pelo diabo. Escutais isto que faz vergonha e

dor ao mesmo tempo. Em uma das grutas, ou cavernas desta montanha, já há vários

anos vivem duas mulheres russas, de aproximadamente 40 anos para fazer penitência

por seus pecados. Eu não as vi, porém todas as pessoas que moram daquele lado as

viram, e o chefe da cidade de Jericó contou ao |p. 3| Patriarca, e a toda comitiva, e

éramos três padres com outras pessoas, entre as quais o interprete oficial do Patriarca,

conhecedor de várias línguas faladas no Oriente pelos estrangeiros. Dizem que elas

são muito magras, sofridas, vestidas de preto, porque duas vezes por semana as vêem

sair da caverna e subir pelas encostas indo buscar água em uma fonte situada a uma

meia-hora de lá, não conversam com ninguém, vivem de raízes de ervas. O cônsul

Russo mandou-as chamar, e intimou-as a ir embora: mas elas continuam sempre lá.

Oh pobres criaturas! Elas não são católicas, com a penitência delas não ganharão o

paraíso. Caríssimas Filhas, que dizeis vós? Não seria vosso dever rezar com uma

grande fé a Nossa Senhora Imaculada nossa Mãe para que as converta à fé católica?

Vós o fareis? As tirareis da escravidão do demônio?

Eu vi o Mar Morto, Jericó. – Oh, minhas Filhas, que horror: se vê verdadeiramente a

maldição de Deus sobre estes lugares. O Mar Morto é o ponto mais baixo do mundo e

acredita-se que Deus enterrou cinco cidades nele, Sodoma, Gomorra etc. cheias de

pecado, de desonestidade e de abominação. Existe uma grande planície próxima ao

Mar Morto, chamada El Ghor, uma das mais quentes do mundo, e antigamente era

um dos terrenos mais férteis da terra. Agora está cheia de espinhos. Que coisa faz

ainda o pecado, minhas Filhas! É assim que ela é também chamada na Itália a rosa de

Jericó que colocada na água se abre inteiramente e floresce, se bem que não se

encontra mais a verdadeira, assim dizem os conhecedores. Oh, Filha de Maria vós

Page 91: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

91

deveis ser a rosa tão louvada pela Sagrada Escritura. Vós deveis dar, em meio ao mau

cheiro dos pecados do mundo, o bom odor das virtudes cristãs: mas ai de vós se não

estiverdes bem protegidas dos enganos do mundo e suas ilusões. Podereis ser já

estrelas de N. Senhora, e depois virar monstros de iniqüidade.

Consolai-vos, caríssimas, eu vi, atravessei o Jordão e talvez justamente no lugar

onde se dizem que Jesus Cristo foi batizado. Eu bebi sete vezes desta água santa. É um

pouco turva, esbranquiçada, mas boa, leve. Oh, se vistes que belo rio, corre rápido:

terá 5 metros de profundidade ou mais, 70 de largura, em certos |p. 4| pontos.

Caríssimas, eu imaginava Jesus Cristo batizado por S. João: imaginava-o a atravessar

o rio. Oh que consolação! Ainda mais uma coisa e depois basta! Não quero perturbá-

las muito. Mas, atentas, atentíssimas que o bom fica no fundo, diz o provérbio. Eu vos

falei dos Beduínos, eu vos disse que são maus, e eles são: se vistes que cara de

viacrucis(via sacra) tem verdadeiramente estes violentos crucificadores, e no entanto

possuem um bom coração. Apenas chegamos perto da cidade deles, oh que festa:

disparos, gritos, pulos, eles possuem cavalos que voam, uma maravilha, eles estão

sobre eles como que amarrados, não se pode descrevê-los. Em seguida todos queriam

beijar e apertar na testa a mão do Patriarca e dos padres, e se limpavam primeiro a

boca, velhos, jovens, todos, todos.

Não se vêem as mulheres: elas estão sempre sozinhas, é proibido conversar com

homens. Em parte um belo costume; a mulher não é considerada em nada, compram-

na caro até 8, 10 mil piastres, ( 5 piastres valem uma lira) mas ela é a serva de casa e

basta.

Salt e Fehes são as primeiras cidades beduínas, uma de 7 mil habitantes, só 1000 são

Católicos; a outra 700 e são 160 católicos neófitos. E como eles rezam devotos, mas

em Fehes as mulheres não vão à missa nos dias de festa porque a Capela é muito

pequena, e elas não podem se misturar com os homens (Despropósito exagerado

mas....) Vós direis: e as filhas? É aqui que eu vos espero minhas caras: mas volto a

recomendar-vos de fazer alguma coisa de verdade mesmo. As filhas aqui todas

querem ser de Maria, e todas estão sujeitas à professora da cidade, ela é a patroa; é

belo que comanda também as mães. E foi precisamente a professora que conduziu as

filhas e as mães a beijar a mão do Patriarca. Ela que falou em nome de todas, e em

toda a cidade não se fala nada das mulheres de coisas cristãs sem a ordem da

professora e a sua direção. É uma sorte que esta professora é boa, de Nazaré.

Noteis porém uma coisa, também aqui no meio dos Beduínos vieram os protestantes,

dão dinheiro, fazem, brigam, mas as mulheres não os olham e nem mesmo os homens,

porque não usam a medalha de N.Senhora.

Bem ao contrário. Escuteis o que vos refere mais de perto. Os Beduínos são

atraídos singularmente pelas Filhas |p. 5| de Maria européias. Benat Mariam assim

eles me perguntavam: e assim eles perguntavam sobre elas aos missionários, Benat

Mariam

(as Filhas de Maria): vos explico como é a coisa.

Sabeis, (já que vosso Jornal A Filha de Maria falou com grandes louvores) que faz

quatro anos que 5 Filhas de Maria de Pigna, perto de Ventimiglia, foram para a Terra

Page 92: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

92

Santa estão muito contentes, embora trabalhem um dia mais que o outro, no Orfanato

católico fundado em Belém do M. R. Canônico Belloni.

Agora os Beduínos que vão a Belém a vender cereais, dois dias e uma noite de

caminhada, vindo no Orfanato visitar os parentes órfãos, e vendo estas filhas, e

escutando os órfãos as chamarem de Irmãs, Irmãs, eles ficam admirados e querem o

Orfanato e as Filhas nas cidades deles para colocarem seus filhos, para serem vestidos

e cuidados. Vós não podeis imaginar como são simples estes povos, não lavam nunca

o rosto, não se trocam nunca, são quase nus, dormem no chão sempre vestidos. Quero

vos dizer duas coisas curiosas, uma que dá nojo, e uma que faz rir, vistas por mim e

que o Patriarca me mostrou. Pela manhã as mulheres, as filhas vão com pratos

grandes de madeira ( onde depois comem a sopa e talvez sem lavá-los) vão a recolher

a urina dos animais, e com esta se lavam a cabeça para curar os males que elas tem...

entendeis?

Agora rides. Todos os rapazes usam os cabelos partidos, e belas tranças como vós na

Europa; e as filhas de até 12, 13 anos raspam a cabeça, o que vos parece?

Então não seria uma grande caridade vir em ajuda as 5 Filhas de Pigna?

O Orfanato abriga 100 meninos ou mais, que cada dia crescem; precisa educá-los,

lavá-los, vesti-los de novo, o que podem fazer 5 Filhas? É verdade que duas monjas e

uma viúva as ajudam; mas não é certamente suficiente. E depois, o Orfanato vive de

esmolas, e estas faltam. A roça grande que temos produz ainda pouco, como ir em

frente? As despesas são tantas que o pobre fundador quase perde a cabeça: mas, vós

direis o que é mesmo este Orfanato? Eis que eu vos explico, mas preparai-vos a ajudá-

lo. Todos os meninos pobres abandonados são recolhidos, |p. 6| são instruídos na

religião e são batizados se ainda não o são, e os fazem estudar e aprender uma arte.

Como D.Bosco, por exemplo. Pensais que no Oriente os meninos estão todos em

perigo porque tantos genitores turcos, gregos, cismáticos, protestantes, viciados, por

meia lira trocam de religião; o Orfanato é uma verdadeira grande providência. Mas

nós somos poucos a trabalhar. Oh! Vinde muitas em ajuda. De que modo?

I. Com a oração pelas 5 filhas de Maria e também para as outras que estão dispostas

a virem: e

depois pelo fundador e diretor do Orfanato, que Deus o conserve longos anos para o

bem dos órfãos, e Deus o console com outros padres ajudantes.

II. Cada Pia União poderá comprar uma fotografia onde tem os órfãos com as Filhas

de Maria e colocá-la na Congregação, pois será de grande estímulo tê-la sob os olhos.

Cada uma custará 4 liras. A esmola que fazeis, para vós é pouco sacrifício, para o

Orfanato é um alívio. A caminho, animai-vos. Pobres órfãos, não vos compadeceis

deles?

As vossas 5 irmãs Filhas de Maria, que vos precederam generosamente, não vos

impulsionam a partir? Ah! Filhas de Maria Imaculada fazeis alguma coisa logo, senão

acabarão por não fazerem nada. As vossas 5 irmãs que estão aqui em Belém, à tarde se

decidiram e à noite partiram. Filhas de Maria lestes atentamente isto? Reflitais agora:

mas eu vos recomendo, fazeis alguma coisa. As Pias Uniões pobres se derem esmola

menor do que a indicada terão a fotografia do mesmo jeito, porque nós visamos

Page 93: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

93

principalmente o bem da alma. Sabeis que as fotos serão colocadas no Santo Sepulcro

e no Presépio antes de serem levadas para a Europa.

Rezarão por vós estes órfãos, e as vossas 5 irmãs irão sempre comungar no Santo

Presépio por vós. E eu, se a Direção permitisse, vos escreveria outros artigos para vos

fazer conhecer os costumes dessas cidades referentes à mulher. Vamos, compreis ao

menos uma fotografia. As Filhas ricas então...

Adeus, caríssimas Filhas de Maria. Adeus; desejando-vos todo bem no Senhor

Todo Vosso

Pe. Jacinto Bianchi, Missionário

Belém, 9 de Novembro de 1880

|p. 7| O citado Missionário logo depois que expediu a carta à Roma para a revista

das Filhas de Maria, foi enviado de Belém a Roma e no dia 20 de dezembro teve a

honra de ser recebido em audiência especial pelo Santo Padre. O ótimo Missionário

deu à Sua santidade algumas cópias da fotografia da qual se fala na carta, e um

trabalhinho em madre pérola, obra dos pequenos órfãos. O Santo Padre apreciou

muitíssimo as fotografias e o trabalhinho, e exclamou com verdadeira efusão de alma

paterna: “Queridos órfãos, queridas Filhas, que Deus lhes abençoem todos!Oh

consola-me esta fotografia a mim dedicada! Dizeis a estas boas Filhas que se façam

corajosas.”

A respeito destas palavras do Santo Padre o Aurora, jornal de Roma, publicou um

belo artigo em honra das cinco virtuosas Filhas de Maria. E outros jornais repetiram

belos elogios. Mas se distinguiu La Discussione( A discussão), jornal de Nápoles, o

qual publicou um artigo propondo as cinco Filhas como modelo de virtude para todas

as famílias.

Ultimamente ainda o Amico delle Famiglie(Amigo das Famílias) de Gênova

publicou o seguinte artigo em honra das Filhas tirado da Figlia di Maria sulla tomba

di S.

Agnese(Filha de Maria sob a sepultura de Santa Inês):

Recordaram as nossas leitoras que na carta a nós enviada pelo zelante missionário

Pe. Jacinto Bianchi, se fazia menção honrosa às cinco Filhas de Maria da Pia União de

Pigna, às quais deixaram a Itália e a Europa para dedicar-se ao serviço do Orfanato

católico fundado em Belém pelo famoso canônico Belloni. Traduzimos do Bulletin de

l’oeuvre de La Sainte Famille(Boletim da obra da Santa Família) etc. a seguinte

passagem que lhes diz respeito:

«Estas santas Filhas deixaram a pátria delas e as suas co-irmãs da Europa para se

tornarem as assistentes e as enfermeiras das nossas crianças. Elas são de uma atividade

prodigiosa: de manhã à noite vós as vereis solícitas a dissimular a pobreza da mobília

Page 94: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

94

sobre o luxo da limpeza extrema delas, com pouco fazem maravilhas e desejariam de

fazer muito mais ainda, ah se tivessem a chave do caixa! Mas elas tem que se virar

com um ecônomo que se esforça a persuadi-las que as despesas devem manter-se de

acordo com as entradas.... Habituadas à linguagem celeste, escutam alegres esta

linguagem para elas terrena e procuram dissimular com um sorriso, uma lágrima

furtiva que trai os verdadeiros sentimentos delas. O nosso excelente ecônomo retoma a

caneta e continua seu trabalho cansativo; e as santas Filhas retornam aos seus afazeres,

se banhando de suor a fronte e os anjos, no entanto recolhem estas preciosas gotas em

vasos de ouro para depô-las aos pés do trono de Deus.»

No mesmo boletim de 1882 conta que quatro destas Filhas ficaram no serviço

doméstico do Orfanato; a quinta junto com uma árabe também Filha de Maria se

encontra pelo mesmo objetivo na escola agrícola de S. José em Beitgemal.

Eis os nomes das cinco Filhas de Maria italianas: Fortunina Orengo, superiora,

Calista Lantero, assistente, Pacifica Garoscio, Seconda Allavena, Agnese Ughetto.

Na fotografia da qual se fala na carta acima citada estão representadas estas cinco

filhas de Maria com um grupo de órfãos árabes. Quem quiser fazer uma oferta para

esta obra tão católica e tão italiana, entregue-a exclusivamente na Tipografia

Arquidiocesana de Gênova, e da mesma Tipografia receberá o quadrinho fotográfico.

Page 95: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

95

9

_________________________________________________________________

AFMM, X.5 - [JACINTO BIANCHI], Esquema da Regra para o Instituto das Filhas

de Maria Missionárias. Sob a proteção de Santa Ermelinda, Lendinara, Tipografia de

Luigi Buffetti, 1889, 305x210 mm, 23 p.

Primeiro texto normativo publicado. Depois da estrutura completa, são reportados

somente os artigos os quais se faz referência no texto.

Instituto das Filhas de Maria Missionárias. Sob a proteção de Sta. Ermelinda

[Introdução histórica]

Constituição [protetores, superioras gerais, obrigação da Regra]

I. Organização do Instituto e requisitos para serem admitidas [Art. 1-3]

II. Dos impedimentos para serem admitidas [Art. 4-9]

III. Da admissão das viúvas [Art. 10-13]

IV. Dos fundos do Instituto, dos dotes e do enxoval [Art. 14-17]

V. Disposições do Instituto sobre dotes e sobre enxovais [Art. 18-24]

VI. Do postulado ao noviciado [Art. 25-28]

VII. Do vestido das postulantes, das noviças e das professas [Art. 29-31]

VIII. Do uniforme das postulantes, das noviças e das professas [Art. 32-33]

IX. Das promessas, e dos votos, e suas renovações [Art. 34-37]

X. Das superioras, de seus uniformes, deveres e direitos [Art. 38-55]

XI. Da eleição das superioras maiores e menores [Art. 56-70]

XII. Disposições sobre as candidatas, e duração dos cargos [Art. 71-79]

XIII. Da casa central e filiais [Art. 80-86]

XIV. Relação das filiais com a central e entre elas [Art. 87-95]

XV. Direitos e deveres da Superiora geral [Art. 96-106]

XVI. Do capítulo e suas atribuições [Art. 107-113]

XVII. Método a ser seguido na visita nas casas filiais [Art. 114-118]

Regulamento

XVIII. Regra de vida comum [Art. 119-135]

XIX. Deveres do Instituto para com as Missionárias [Art. 136-144]

XX. Das funções religiosas e dos sufrágios [Art. 145-151]

XXI. Das práticas de piedade e da acusação [Art. 152-159]

XXII. Da alimentação, vestuário e mobília da Comunidade [Art. 160-165]

XXIII. Do modo de vida da Missionária no Oriente [Art. 166-176]

Page 96: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

96

Ritual

XXIV. Rito e orações para a aceitação das filhas como aspirantes [Art. 177-178]

XXV. Rito e orações para a admissão e vestição das noviças [Art. 179-183]

XXVI. Rito e orações para as profissões [Art. 184-186]

XXVII.Orações para a eleição das superioras [Art. 187-188]

***

Instituto das Filhas de Maria Missionárias. Sob a proteção de Sta. Ermelinda

Já faz quinze anos que algumas filhas de Maria da Pia União de Maria Imaculada e

Sta. Inês da Paróquia de Pigna(diocese de Ventimiglia) se retiraram em uma casa

modesta, e deram início ao Instituto das Missionárias; já há bem 12 anos que

trabalham nas Missões da Palestina com espírito de sacrifício e de caridade, assistindo

especialmente os órfãos, que dos orientais hoje em dia são por todos conhecidas e

chamadas com o nome de Irmãs.

Sem no momento acrescentar outras notícias sobre a origem, ou desenvolvimento

deste Instituto, dão-se as regras, que observam as Irmãs do Oriente, para submetê-las à

Congregação da Propaganda, e assim obter a aprovação, depois que sua Eminência o

Cardeal prefeito com sua carta elogiou a obra.

Constituições

Este Instituto honra como protetoras principais Maria Santíssima Imaculada e Sta.

Inês Virgem e Mártir, como protetoras menores os titulares das várias casas ou

famílias do Instituto. Sta. Ermelinda Virgem é honrada como co-padroeira do

Instituto. O Patriarca latino de Jerusalém é o superior. As suas regras por si só não

obrigam como pena de pecado.

Art. 1. No Instituto não existe distinção de classes, mas todas são iguais ajudando-se

reciprocamente na santa caridade e ocupando-se cada uma daquele ofício que é mais

conforme à sua capacidade sempre segundo o parecer da Superiora.

Art. 3. As qualidades necessárias para a admissão são as seguintes: conduta cristã a

toda prova, piedade sólida, não ter sido cancelada da Pia União Mariana, conforme o

Manual Passèri aprovado pela Santa Sé e em vigor para todo o mundo católico, zelo

no promover a virtude na juventude feminina, licença dos genitores ou tutores, idade

não inferior como de costume a 21 anos, mente sã e corpo são, aptidão para cumprir os

deveres impostos pelo Instituto, sem exceção.

Art. 4. A pobreza em si não fará excluir uma postulante: do mesmo jeito que as

riquezas não serão requisitos de admissão.

Art. 5. Não se admitem postulantes dadas a somente atos de piedade exterior, e

apegadas às suas devoções especiais.

Page 97: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

97

Art. 6. Do mesmo jeito serão mandadas embora aquelas de caráter melancólico ou

fechado, e pior ainda suspeitoso e, portanto invejoso.

Art. 7. Como também não serão aceitas aquelas saídas de outro Instituto, sem razão

plausível, nem as neófitas, nem as penitentes e muito menos as separadas dos maridos,

mesmo que seja de maneira legitima, e as outras que tenham sido prometidas em

casamento repetidas vezes.

Art. 8. As postulantes, que por simples respeito humano rejeitarem de usar

publicamente a medalha, que a Superiora lhes dará em sinal de aceitação, e temerão de

declararem-se Missionárias, não serão admitidas.

Art. 9. Toda postulante já aceita, que depois, por puro capricho sai ou é expulsa pela

Superiora, não é mais readmitida.

Art. 10. Tratando-se de admitir uma viúva, ela deverá ter passado um ano ao menos

de viuvez, não ter filhos, livre de toda relação de interesses com a família paterna e do

marido, gozar de boa reputação nas cidades onde morou, e estar pronta a ir às Missões

exteriores.

Art. 11. As viúvas não terão cargos no Instituto: mas terminado o noviciado como

toda noviça receberão a medalha do Instituto ligada a um cordão de cor azul celeste, e

o nome de Coadjutoras e dependerão das Superioras como as outras irmãs.

Art. 12. Elas trarão dote e enxoval como determinará a Superiora.

Art. 13. As viúvas de segundas núpcias não serão admitidas. Como também são

exclusas as viúvas de primeiras núpcias que coabitaram com o marido depois do

matrimônio civil e antes de ter feito o matrimônio eclesiástico, mesmo se tal

coabitação acontecesse por insinuação, ou violência dos parentes, ou motivo de

interesse. Assim também as viúvas de marido protestante, ou sectário, por elas

conhecido antes da contração matrimonial eclesiástica.

Art. 16. Cada admitida portará seu dote: mas não se exigirá igual para todas. Porém

ele será estabelecido e declarado antes da admissão.

Art. 17. Cada admitida deverá também trazer enxoval de roupas pessoais e de casa.

Art. 34. As promessas se farão no noviciado. Os votos se farão depois de 5 anos de

profissão, e são anuais. Os votos perpétuos se farão depois de 12 anos de profissão.

Art. 35. Tanto as promessas como os votos são emitidos de joelhos aos pés do altar

da Capela interna do Instituto, e na presença das noviças, das professas, e também das

coadjutoras. As postulantes não assistem.

Art. 36. Os votos são de obediência, de castidade, de pobreza e de zelo.

Art. 37. Um Ritual apropriado ensina as cerimônias a seguir para a vestição e a

profissão e na emissão das promessas e dos votos que se farão e renovarão no dia da

Imaculada, 08 de dezembro.

Art. 39. Existem sete responsáveis que são: Superiora, duas Assistentes, Mestra das

Noviças, Correttrice, Ecônoma, Secretária.

Art. 46. A Superiora de todo o Instituto é chamada Superiora geral.

Art. 50. A Correttrice adverte a Superiora dos seus mal feitos ou defeitos.

Page 98: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

98

Art. 62. A eleição da Superiora, e das duas Assistentes se faz do seguinte modo, sem

modificação sempre. Estando reunidas todas as irmãs professas na capela interna do

Instituto, feitas todas as preces do rito, sobre a presidência do Bispo ou de seu

delegado assistidos por dois sacerdotes completamente estranhos à comunidade, se

passa ao apelo nominal das presentes, pela secretária. Isto feito, o presidente conta as

cédulas enviadas pelas casas filiais, e depois recebe aquelas das presentes, que se

retiram todas, assim que apresentam suas respectivas cédulas. O presidente, ficando só

com os dois sacerdotes assistentes, faz a contagem das cédulas obtidas, e escreve o

número dos votos obtidos pelas indicadas nas cédulas. Ele anota em seguida a

indicada, que obteve o maior número de votos: e observa se obteve a maioria dos

votos estabelecida pelas constituições do Instituto, que deve sempre ser aquela da

maior parte de todas as professas. Terminada esta operação, faz a contagem das

cédulas para conhecer quais serão as indicadas como Assistentes, seguindo a mesma

regra usada para a Superiora. Então chama novamente a comunidade, e proclama a

nomeação da Superiora e das duas Assistentes lendo os seus respectivos nomes.

Art. 74. No caso de dever modificar absolutamente estas disposições, primeiro se

consultará o Bispo, e nada se fará sem sua ordem expressa por escrito.

Art. 79. Se acontecer, que Deus não permita, que a Superiora ou as Assistentes, ou

todas juntas desmereçam o cargo delas, o Bispo proverá, e as suas disposições

obrigarão a comunidade, até à eleição geral, que poderá se fazer de maneira

extraordinária.

Art. 84. A casa central é estabelecida neste momento em Belém, mas o Instituto se

prepara para colocá-la em Roma.

Art. 85. As casas filiais são abertas pela casa central nas missões exteriores, e

também nos países civis, no caso onde existe a esperança de poder cultivar o espírito

das Pias Uniões das Filhas de Maria Imaculada e de Sta. Inês, mediante a correção

fraterna.

Art. 89. As casas filiais se corresponderão reciprocamente coisas que edificam e

reconfortam.

Art. 90. As casas filiais que são vizinhas uma da outra poderão se visitar nas festas

do Instituto e nos dias livres aos passeios.

Art. 91. Em pleno acordo com a central, elas se ajudarão também com meios

materiais.

Art. 92. Hospedar-se-ão reciprocamente, e com os modos mais amorosos e festivos,

seja quando passarem as Missionárias destinadas a alguma outra casa, seja quando vão

a visitar os parentes delas ou por qualquer outra razão autorizada pela Central.

Art. 96. A Geral preside o Instituto todo, e da casa central, dirige as filiais, elege os

cargos maiores de Mestra de noviças, de Correttrice, de Ecônoma e Secretária, e

depois os cargos menores. Envia as Vicárias às casas filiais, e vigia sobre a exata

observância das regras.

Art. 103. A cada 6 meses, apresentará ao capítulo as contas do Instituto, e pedirá a

aprovação escrita. Caso seja negada, ela recorrerá ao Bispo, e estará às suas

disposições.

Page 99: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

99

Regulamento

Art. 119. As missionárias conviverão como verdadeiras e amorosas irmãs: nunca

devem existir entre elas rivalidades de competências e privilégios; ao contrário,

devem fugir de toda idéia ambiciosa, de superioridade ou de dominação, umas para

com as outras terão caridade recíproca. Enfim, que haja um só coração, e uma só alma

na comunidade.

Art. 120. Obediência pronta, alegre e exata à Superiora e às outras responsáveis, sem

nada fazer ou dizer que lhes desacredite ou ofenda.

Art. 121. A cada manhã pedir a Deus a sua benção para as co-irmãs.

Art. 122. Cada uma aceitará com boa vontade o ofício que lhe foi destinado: mesmo

que depois que tenha apresentado fortíssimas motivações para rejeitá-lo, a Superiora

ainda queira o contrário. Recordar sempre que a Missionária é Filha de Maria, e tem

por sua vocação de procurar imitar, amar ternamente, honrar e fazer honrar a celeste

Mãe Imaculada, de todos e por todos, e sempre.

Art. 123. Considerar os sinais e as disciplinas da comunidade como vozes do

Senhor, e conseqüentemente interromper com rapidez a oração e a obra iniciada para

cumpri-las.

Art. 124. Fugir das amizades particulares e das relações com pessoas externas, sem

grande necessidade: e não ter lições com professores homens mesmo que for

conveniente: e muito menos prometer, dizer, fazer, ou permitir que isto aconteça sem

as ordens e disposições da Superiora, ou das Assistentes.

Art. 125. É desejável entre as Irmãs um caráter alegre, franco e doce, mas cada

Missionária deverá sempre observar a mais rigorosa modéstia, e compostura nas

palavras, e nos atos. Falando com homens não se permitirá fazer gracejos, com os

benfeitores terá mais precaução; e com Sacerdotes não será nunca excessivo o

respeito.

Art. 126. Exceto a Superiora, nenhuma Irmã falará em segredo com quem quer que

seja, e devendo falar com o Confessor, irá ao Confessionário.

Art. 127. É rigorosamente proibido falar de coisas da comunidade com pessoas

estranhas ao Instituto: e sob pena de exclusão é proibido lamentar-se das Irmãs e

desacreditá-las. No caso que uma Irmã não esteja contente, que ela informe a

Superiora e esta encontrará a solução.

Art. 128. As Irmãs não se intrometerão jamais nos afazeres dos outros. Mas com

prudência e cautela, aprendidas na comunidade, elas se apressarão e ajudarão as Filhas

de Maria e Santa Inês, consolando-as, aconselhando-as, e animando-as a viver com o

espírito da Pia União Mariana, formada pelo abade Passèri e aprovada pelo Sumo

Sacerdote Pontífice Pio IX e louvada pelo papa vivente Leão XIII, e ainda a estarem

firmes na vocação que Deus as inspirasse.

Art. 129. As Irmãs não farão visitas de cortesia, nem sozinhas, nem acompanhadas

de pessoas estranhas à Comunidade, mesmo que estas sejam religiosas. Nem se

Page 100: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

100

permitirão de irem a espetáculos públicos, como também evitarão visitar santuários

em tempo de grande movimento.

Art. 130. É proibido às Irmãs de ler jornais, romances e livros históricos ou

científicos sem a licença expressa da Superiora.

Art. 131. Da mesma maneira as irmãs se absterão de dar noticias de coisas políticas

do mundo à Comunidade.

Art. 132. As Irmãs nem mesmo pedirão à Superiora para que dê permissão de se

inscreverem às pias associações, darem esmola, mandarem celebrar Missa, e de

levarem ex-votos (promessas) de quem quer que seja, em santuários ou em capelas.

Art. 133. O Instituto estabeleceu celebrar um dia de onomástico para toda a

comunidade: e não permite nem mesmo à Superiora celebrar o seu próprio.

Art. 134. Na vestição trocam o respectivo nome de batismo, por aquele que a

Superiora impõe.

Art. 135. A todas as Irmãs é proibido usar botas grandes, e às simples Irmãs também

é proibido usar relógio: mas às graduadas não é permitido de usá-lo de ouro, mesmo

que tenha sido presenteado.

Art. 136. As Irmãs professas não podem ser expulsas da comunidade, ao não ser que

por motivos gravíssimos e urgentíssimos e reconhecidos por tal pelo Bispo.

Art. 157. A confissão é se possível semanalmente: e se faz somente com o confessor

designado e aprovado pelo Bispo.

Art. 159. As últimas sextas-feiras de cada mês, normalmente depois do jantar, se

reunirão todas as Irmãs, as noviças, e as postulantes também, e, farão as preces rituais,

a Superiora lerá, ou fará uma Irmã ler um capítulo da Regra, e explicando-o, todas se

colocarão de joelhos, e a Superiora ordenará a todas, ou somente a algumas, de

dizerem suas próprias falhas. Aquelas chamadas vão diante da Superiora, e beijando-

lhe a mão, se acusam de algum defeito, ou transgressão de regra ou falta de caridade,

ou de paciência, ou de obediência pronta, ou de atenção em cumprir os deveres, e a

Superiora impõe uma penitência que será qualquer jaculatória, qualquer mortificação,

ou outro ato de virtude fácil. Isto feito, elas recitarão as preces rituais, e todas se

retirarão sem nada comentar das coisas ouvidas e muito menos murmurar ou lamentar

da Superiora pelas penitências impostas.

Art. 167. Dado o sinal de se levantar que é as 5, em meia hora se vestem e arrumam

a cama. Depois elas agradecem a Deus pelos benefícios recebidos, fazem a meditação

no próprio Oratório privado: e logo em seguida vão à Igreja para a Missa, e para a

comunhão.

Art. 168. Às 7 horas dão o café da manhã aos órfãos, aos Missionários e às outras

pessoas ligadas ao orfanato.

Art. 169. Por volta das 8 tomam o café da manhã em quinze minutos, e depois se

colocam no trabalho até meio-dia, que é a hora do almoço para todos do orfanato.

Art. 170. Depois de ter dado o almoço a todos, dão de comer aos muitos pobres, que

vêm habitualmente e depois elas almoçam.

Art. 171. No horário do almoço não se lê: conversa-se para se distrair já que não tem

outro tempo livre, mas não se omite a leitura do Martirológio Romano.

Page 101: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

101

Art. 172. Às 14h30 vão à Igreja para a visita ao SS. Sacramento, e depois rezam o

terço, e outras orações. Em seguida retornam ao trabalho até a hora do jantar dos

Órfãos.

Art. 173. Às 21h30 se retiram para o dormitório e, depois de ter agradecido a Deus,

se repousam.

10

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.11 – Origem e desenvolvimento do Instituto Irmãs Missionárias. Sob

a proteção de Santa Ermelinda Virgem, ms. de J. Bianchi, Roma, 21 de setembro de

1890; 1 f. protocolo, 300x210 mm.

Relatório à Propaganda Fide para pedir a aprovação do Instituto.

Origem e desenvolvimento do Instituto Irmãs Missionárias. Sob a proteção de Santa Ermelinda Virgem.

Quinze anos já se passaram que algumas Filhas da Pia União de Maria Imaculada e

Santa Inês da diocese de Ventimiglia – paróquia de Pigna- se retiraram em uma

modesta casa na mesma cidade delas e deram início ao Instituto das Missionárias que

já há 14 anos trabalham nas missões da Palestina com um tal espírito de sacrifício e de

caridade, assistindo especialmente os órfãos, que dos orientais hoje em dia são por

todos conhecidas e chamadas com o nome de Irmãs.

Eis em breves notas a origem e o desenvolvimento desse Instituto. As Filhas em

questão saíram espontaneamente das respectivas famílias e se reuniram na vida em

comum para melhor procurar a própria santificação e a da juventude feminina, com a

correção fraterna, especialmente das associadas à Pia União Mariana, em

conformidade com o Regulamento Passèri aprovado pelo Sumo Pontífice Pio IX de

santa memória.

Depois de poucos meses de vida em comum foi lhes falado das Missões exteriores, e

em particular da necessidade do Orfanato do Canônico Belloni de Belém, que foram

relatadas e descritas no jornal A Unidade Católica. Essas, depois de longas orações e

repetidas considerações durante vários meses, resolveram, confortadas pelo consenso

dos respectivos genitores, irem a prestar serviços |f.1v| no Orfanato e assim

dedicarem-se às Missões. Foi escrito e combinado cada coisa com o Reverendíssimo

Canônico Belloni e em agosto de 1876, 3 partiram e 2 outras se juntaram a elas em

setembro.

E aqui é preciso lembrar que o Santo Padre Pio IX, informado da decisão destas

Filhas, as confortou com a sua Benção e D.Bosco as visitou e as animou a estarem

firmes na própria vocação, que ele julgava toda vinda do Senhor. Sabendo da

Page 102: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

102

expedição por meio de bons jornais – e também dos ruins- muitas filhas quiseram

entrar na família das Missionárias de todas as províncias da Itália.

Mas por causa de muitas opiniões e contrastes, que não vale a pena recordar, não se

acreditou oportuno de aceitar Noviças em grande número por algum tempo. As

Missionárias foram chamadas a trabalhar no Seminário de Ventimiglia e a assistir o

Hospital de Taggia, e mereceram bem de si pelos serviços prestados. Mas por certas

razões e circunstâncias, elas foram |f.2r| depois chamadas à Casa.

De Belém veio o pedido de outras Missionárias, e prontamente foram enviadas.

Assim, no momento, em 3 casas do Orfanato trabalham com amor sempre mais vivo

juntamente com elogios. São 12 as Missionárias na Palestina. E como o Regulamento

admite as Viúvas, assim com as 12 Missionárias se ajuntou uma viúva, como

coadjutora.

Agradou a Deus fazer conhecer o seu amor predileto por estas Missionárias, seja

dando-lhes espírito sempre melhor e fortaleza diante dos contrastes e perseguições,

seja provendo-lhes contínuos meios materiais; entre os quais doações de terrenos e de

casas e uma quantia de dinheiro, e seja melhor ainda dando-lhes um bom número de

postulantes, as quais dão as melhores esperanças.

Sem acrescentar outras notícias o redator abaixo-assinado confia à bondade do

Senhor Cardeal Prefeito da Propaganda para obter a aprovação do Regulamento

observado pelas Missionárias. Sempre, porém pronto a conformar-se às disposições da

mesma Sagrada Congregação

Bianchi Jacinto Miss. Ap.

Roma, 21 de setembro de 1890.

Page 103: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

103

11

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.2 - Ms. de J. Bianchi, inc r: Conselhos e instruções para estar - inc v:

Obras de Deus; 1 f., 210x135 mm.

Anotações sobre a partida para a Palestina e sobre os inícios da presença

missionária.

Conselhos e instruções para estar [Sim] foi e depois disto não houve nenhum

momento que não fosse para a glória de Deus a serviço dos órfãos. Vibraram com uma

especial alegria quando parti [ram] – uma boa Senhora as acolheu (que pena pois [...])

- daquela alegria que Deus sabe tão bem fazer enamorar de Si e de Suas obras, as

pessoas que escolhe, e para coisas grandes as destina. Tal foi o princípio do Instituto,

que nasceu no mês das flores e sob a forma de congregação Mariana. Passèri. Todas

as coisas por Maria: e eu desejaria que fossem mais estimuladas a amar e (as Pias

Uniões) honrar com afeto sempre mais ardente a Nossa Senhora Mãe Imaculada. Aos

outros caríssimos, dulcíssimos motivos pelos quais Ela é mãe de todos os redimidos, a

vós, acrescenta-se outro especial, porque isto vem principalmente d‟Ela, depois de

Deus, deveis reconhecer o bem da educação cristã.

[...]

A fama espalhou, publicaram os jornais, se fotografaram – elogios e elogios –

depois Filhas vieram, mas por anos a coisa ficou como morta. Porém por uma série de

circunstâncias 34. se teve 35 não faltaram pontos – As Filhas não corresponderam-

moretta trazida por Dom Verri.

O coração cada vez mais de dilatava ao ardor inflamado da glória de Deus, e do bem

maior pelo próximo - eficacíssimos impulsos do Papa à obra iniciada. |f.1v| Obra de

Deus 40 - modificações 40 42 é preciso muito para comprar lugares e reformá-los de

modo que eles possam servir de moradia- mendigar jamais 47 sinal de Deus- As

dificuldades, em vez de impedi-las, davam-lhes força de continuar no bem iniciado;

sozinhas, sem saber a língua – 3 sozinhas depois 5 ( procuram sempre novos meios

para fazer a juventude se enamorar pela piedade: nem mesmo a ocasião de ter alguém

que quisesse associar-se a elas – conviver- aliás por anos tudo ficou como se estivesse

morto) não temais pela aprovação apostólica.

[...]

Foi estabelecido o dia de N. Senhora para receber porque sem a ajuda visível de sua

mediação a pequena obra não daria os primeiros passos de sua existência moral.

Assisti a cenas muito comoventes – mas não posso colocá-las na sua verdadeira luz

porque o sentimento do meu coração não é assim tão maravilhoso como os outros

pensam. Não rezar, não esconjurar a não eleger Superiora ainda que se tenha a intima

convicção que sua inaptidão destruirá a obra- mas eleita,em seguida, se jogar mesmo

com o rosto por terra a protestar do modo mais expressivo a miséria, e nulidade, então

ceder, mesmo com a maior repugnância.

Page 104: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

104

Daquelas que são sempre unidas na caridade, o diabo não pega nenhuma.

Recomendo que ao receber o hábito do Instituto, e pronunciar os votos – com a

vivacidade de sentimentos prometer a perfeita observância da disciplina religiosa-

declarar o propósito de perseverar até a morte, adjuvante Domino (com a ajuda de

Deus) – e não enfraquecer no fervor adquirido.

12

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.7 – Memórias dos primórdios, desenvolvimento e aquisições do

Instituto Irmãs Missionárias; ms. de J. Bianchi, posterior a 1902; 1 f., 270x218 mm.

Instituição da primeira comunidade em Pigna, partida e atividade missionária na

Palestina, elenco das sedes depois do retorno à Itália

Memórias dos primórdios, desenvolvimento e aquisições do Instituto Irmãs

Missionárias

Depois de uma missão em 1870 em Pigna – Diocese de Ventimiglia – permaneci

como Regente por 7 anos ( sendo expulso o Pároco).

Num Domingo, pregando às Filhas de Maria e de Santa Inês na presença de todo o

povo para animá-las ao bem, falou do grande bem que faziam as Irmãs nas Missões

exteriores, e fez referência a um fato particular dizendo: «Em Belém, um tal Pe.

Antonio Belloni fundou um Orfanato Masculino e não tem mulheres que se dediquem

ao governo doméstico do Orfanato, ou seja, da cozinha, da rouparia etc.»

No outro dia vem uma Filha de Maria, Caterina Orengo ( ora Superiora das Irmãs

Missionárias com o nome de Fortunina, dado a ela por um caso acontecido) e se

oferece de ir a Belém, e eu respondi: «Quando tiver pelo menos 2 companheiras, eu te

mandarei». No dia seguinte me trouxe 3, e depois outras 2. Então eu as obriguei a

deixar as respectivas famílias e a morarem juntas, trabalhando na roça para viver. Elas

prontamente obedeceram e eu no Santo Natal, à meia-noite, as vesti de um tecido de

lã fino(Tibet) preto, abençoando-as. No ano seguinte partiram para Belém todas as

cinco e lá permaneceram 16 anos, dedicadas ao governo do Orfanato dividido em 3

casas- Belém, Cremisan, Beitgemal – elogiadas pelo Patriarca e amadas pelos órfãos.

Vieram os Salesianos de D.Bosco e quiseram as Irmãs deles, e elas retornaram à

Pátria.

Lá em Belém, nestes 16 anos, às 5 se uniram outras Irmãs.

Na Itália agora elas estão em 8 casas - Pigna, Scandolara Ravara, Villa Pasquali, S.

Ilario d‟Enza, Bagno, Vicovaro, Licenza, Mandela.

Page 105: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

105

13

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.12 - Ms. de J. Bianchi, inc: Vós não tende idéia dos obstáculos que

atrapalham o nosso caminho; 1 f., 160x110 mm.

Breves considerações autobiográficas sobre os sofrimentos e sacrifícios para infundir

virtudes na juventude feminina através da instituição na família religiosa das Filhas

de Maria.

Vós não tendes idéia dos obstáculos que atrapalham o nosso caminho. Os

desenganos, os desgostos não têm fim: mas sigo adiante sem me abalar e não volto

atrás diante do sacrifício a fim de alcançar a minha meta, o meu ideal. E sabeis qual é

o meu ideal? Quero que a juventude feminina adquira virtudes. Para este fim e para

melhor colaborar, de minha parte, procurei unir as Filhas de Maria como família.

14

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.3 - Memória do desenvolvimento do Instituto Irmãs Missionárias da

Propaganda Fide, ms. de J. Bianchi, [1902]; 1 f.computisteria 275x215 mm.

Atividades das Missionárias desde 1875, consistência da sua presença na Itália e

disponibilidade ao retorno em missão.

Memória do desenvolvimento do Instituto Irmãs Missionárias da Propaganda

Fide

Em 1875 começou com 5 Irmãs em Pigna – diocese de Ventimiglia – em [18]76 5

Irmãs transferiram-se a Belém para os trabalhos domésticos do Orfanato Belloni, e lá

trabalharam durante 16 anos com elogios dos Superiores. O Fundador do Orfanato

tendo cedido sua obra à Ordem Salesiana de D.Bosco, substituiu-as pelas Irmãs

Salesianas de Maria Auxiliadora.

No momento as Irmãs Missionárias estão divididas nas seguintes casas na Itália:

Pigna (Diocese Vent[imiglia]), Scandolara Ravara (Diocese Cremona) e Villa Pasquali

(Diocese Cremona), S. Ilario d‟Enza (Diocese Reggio Emilia), Bagno

(Diocese Reggio Emilia), Vicovaro, Mandela, Licenza (Diocese di Tivoli).

O número das irmãs Missionárias é de 30 professas, poucas noviças e muitas

postulantes. A razão do escasso número de Professas é devido a que, se vai bem

devagar a aceitar postulantes, porque os tempos não são promissores e depois vive-se

Page 106: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

106

desejando ardentemente o modo e meio seguros para viver em plenitude de acordo

com a finalidade do Instituto: preparar-se para as Missões Exteriores. O bem que pode

fazer o Instituto nestas cidades é de fato secundário à finalidade. Se for agradável a

Deus abrir caminhos para as Missões Exteriores, 12 estão prontas a partir para cuidar

das casas dos Missionários, costurando, bordando, cozinhando, instruindo as crianças

e qualquer outro serviço necessário nas Missões. E quanto à língua, estão prontas a

aprendê-la, assim como bem aprenderam o árabe e o turco. Elas são providas de

roupas íntimas e de cama, mesa e banho, e ainda uma piedosa [mulher] dará dinheiro

para a viagem.

15

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.9 – Relação do Instituto, ms. de J. Bianchi, posterior a Janeiro de

1901; 1 f., 280x210 mm.

Etapas do Instituto do início em 1875 ao retorno na Itália, existência e observância

das Constituições, notas econômicas e presença do noviciado.

RELATÓRIO DO INSTITUTO

1. Iniciou-se em Pigna - Diocese de Ventimiglia – no ano de 1875 aos 11 dias do

mês de fevereiro. Vestiram o hábito na noite do Santíssimo Natal.

2. Partiram para Belém em 22 de agosto no ano de 1876: e permaneceram na gestão

doméstica do Orfanato masculino Dom Antonio Belloni - dividido em 3 Casas, por

mais de 16 anos.

3. Deixaram o lugar e o posto por causa da vinda dos Salesianos e salesianas,

deixando-lhes, porém 2 irmãs.

4. Voltaram à Itália: e sempre firmes na intenção de retornar às Missões Exteriores

se dedicam a trabalhar na costura e bordado, e juntas a promover a piedade e as

virtudes cristãs na juventude feminina – especialmente cuidando das Pias Uniões de

Maria Imaculada e de Santa Inês.

5. Atualmente multiplicadas, estão espalhadas em 5 Dioceses e distribuídas em 8

cidades. Dioceses: Ventimiglia, Genova, Cremona, Reggio Emilia, Tivoli.

6. Número de Professas 30, noviças 4, postulantes 6.

Constituições

7. Publicadas e apresentadas à Sagrada Congregação da Propaganda – e mantidas

em vigor.

Page 107: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

107

Situação econômica

8. Em Pigna: Casa e terrenos no valor estimado em dezesseis mil liras; em

Scandolara Ravara: Casa e terreno no valor reconhecido de 5 mil liras; em Vila

Pasquali: Casa e terreno no valor de 10 mil liras; em Vicovaro: Casa no valor de 4 mil

liras.

9. Capital (valor) versado à Sagrada Congregação de Propaganda para erigir a

Capela na Casa Madre. Capital de 16 mil Fr.(Francos) doado por uma pessoa piedosa,

a qual também doa a cada ano Mil liras de subvenção para as necessidades das Casas.

Outra pessoa piedosa doa 600 Fr. ao ano.

Observação

As entradas provenientes da costura e bordado produzem em média em três casas,

400 liras ao ano. Nas cidades das próprias filhas, se recebe quase tudo para viver todo

o ano, do povo reconhecido pelo bem que se vê fazer.

10.A Casa do Noviciado foi aberta em Vila Pasquali, Diocese de Cremona.

16

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.10 - Memória histórica do Instituto Irmãs Missionárias. Sob a

proteção de Sta. Ermelinda Virgem, ms. de J. Bianchi, posterior a 1902; 1 f., 300x210

mm.

Origens e finalidade do Instituto: educação da juventude feminina e missões

exteriores; aprovação episcopal e situação patrimonial das Casas.

Memória histórica do Instituto Irmãs Missionárias Sob a proteção de Sta.

Ermelinda Virgem.

No ano de 1875, no dia 11 de fevereiro, 3 Filhas da Pia União de Maria Imaculada e

Santa Inês de Pigna – Diocese de Ventimiglia- deixaram as famílias e se colocaram a

viver juntas em uma humilde habitação na mesma cidade. Na noite de Natal do

mesmo ano colocaram o hábito preto, com a aprovação do Bispo. A finalidade e o

desejo delas [era] de ir às Missões exteriores, toda vez que Deus lhes abrir os

caminhos e, no entanto, dedicam-se a promover a piedade e a prática das virtudes

cristãs na juventude feminina, ensinarem-lhes a doutrina, sob a direção do Pároco;

cultivar as Pias Uniões Marianas nas jovens e ensinar costura e bordado às filhas do

povo.

Em 1876, 5 das agregadas partiram para o oriente no dia 22 de agosto: e ficaram na

Palestina, no Orfanato masculino de Belloni em Belém para a gestão doméstica do

estabelecimento: onde permaneceram por 16 anos com toda boa vontade e com um

belo elogio do Patriarca Bracco.

Page 108: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

108

Vieram depois os Salesianos para a direção do Orfanato e quiseram as suas Irmãs, as

Salesianas. Mas a Sagrada Congregação da Propaganda fez reconhecer o direito das

Missionárias, sendo então Secret[ário] Geral da Propaganda D. Ciasca, e Patriarca D.

Piavi.

|f.1v| De retorno na Itália continuaram na cidade natal com o mesmo propósito- que

as tinha reunido- o de prepararem-se às Missões exteriores, dedicando-se na busca do

bem religioso moral da juventude feminina, como foi acenado.

D. Lorenzo Biale de felicíssima memória – que foi o primeiro Bispo local que a

aprovou – permitiu a Capela na Casa, com o altar para celebrar a Missa, e ainda

aprovou a festa da Titular Sta. Ermelinda virgem belga, que se celebra no dia 29 de

outubro. O seu sucessor D. Tommaso Reggio aprovou também como tinha feito seu

predecessor. D. Ambrogio Daffra, atual Bispo, corou a obra de seus dois

predecessores.

No momento as Missionárias estão presentes em 4 dioceses, aprovadas por seus

respectivos bispos.

1. Ventimiglia – na Paróquia de Pigna.

2. Cremona – nas Paróquias de Scandolara Ravara e Villa Pasquali

3. Reggio Emilia – nas Paróquias de Sto. Ilario d‟Enza e Bagno

4. Tivoli – nas Paróquias de Vicovaro - Licenza - Mandela.

Possuem bens imóveis:

Casa e terrenos de olivas e horta em Pigna.

Casa e terreno para horta em Scandolara Ravara.

Casa e terreno para horta em Villa Pasquali.

Casa e terreno para horta em Vicovaro.

17

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.6 – Memória histórica do Instituto, ms. de J. Bianchi, [1901-1903]; 1

f., 265x218 mm.

Origem do Instituto, missão na Palestina e retorno, perseverança no ideal

missionário, atividades na Itália, sedes e consistência de bens.

Memória histórica do Instituto

As irmãs entraram para conviver dia 11 de fevereiro de 1875. Vestiram-se de preto

na noite de Natal do mesmo ano. Partiram para o Oriente dia 22 de agosto de 1876: e

lá ficaram no Orfanato de Belloni na gestão doméstica da Casa: isto é cozinhavam

para 300 ou mais Órfãos e para o pessoal da direção. Fizeram roupas de casa novas, e

Page 109: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

109

remendaram para os Órfãos- na Casa de Belém, Betgemal e Cremisan – e todos [o]s

outros trabalhos domésticos, durante 16 anos com a aprovação de todos os

Superiores, que se recordam delas ainda hoje.

Elas deixaram o Orfanato pela intromissão dos Salesianos os quais assumiram a

direção do Orfanato e quiseram com eles, as Irmãs Salesianas. Contra a vontade,

chorando elas deixaram os seus postos.

Voltando à Itália, permanecem sempre firmes na intenção que as havia reunido, a se

prepararem para as Missões exteriores: e enquanto aguardam, colocam-se a trabalhar

conforme a finalidade secundária de educar as filhas do povo na piedade [cancelado:

religião] e nas virtudes cristãs, promovendo as Congregações Marianas,dirigindo-as

onde as implantam, ensinando a Doutrina Cristã sob a direção dos Párocos e

ensinando os trabalhos femininos de costura, bordado em branco ou colorido, e em

ouro etc. e entretendo as jovens com a recreação para tirá-las das libertinagens

mundanas.

Elas fizeram isto nestes anos, e com elogios dos Párocos e Bispos, como é

comprovado pela difusão delas em várias cidades além de Pigna de onde elas são

provenientes. Eu os cito:

Taggia, foram enfermeiras do Hospital – Ventimiglia, no Seminário para os

Clérigos - Fratta Polesine - Cingia de‟ Botti - Scandolara Ravara - Sto. Ilario

d‟Enza - S. Donnino Bagno - Vicovaro - Licenza - Borgo Fornari - Belém - Villa

Pasquali.

Possuem casa e terrenos em Pigna - em Scandolara, casa e terreno – em Villa

[Pasquali], casa e terreno – em Vicovaro também – e ainda um fundo para a Capelania

festiva, sob a custódia da Propaganda – no valor de 16 mil francos e 800 francos de

subvenções anuais – além de outros ganhos por parte das Irmãs.

18

____________________________________________________________________

AFMM, X.6 - [JACINTO BIANCHI], Instituto das Filhas de Maria Missionárias.

Sob a proteção de Santa Ermelinda Virgem (da Bélgica), Treviso, Tipografia Luigi

Buffetti, [1907], 295x200 mm, 19 p.

Segundo texto normativo publicado. Depois da estrutura completa, são relatados

somente os artigos onde se faz referência no texto e no sucessivo Documento 26.

Constituições

I. Origem e natureza

II. Requisitos para serem admitidas [Art. 1-5]

III. Fundos do Instituto, dotes e enxovais das admitidas [Art. 6-9]

IV. Disposições sobre dotes e enxovais [Art. 10-13]

V. Do postulado, do noviciado e do uniforme [Art. 14-19]

Page 110: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

110

VI. Das promessas, dos votos e renovações [Art. 20-22]

VII. Das superioras, e seus direitos e deveres [Art. 23-28]

VIII. Da eleição das superioras maiores e menores [Art. 29-43]

IX. Disposições sobre as candidatas e duração dos cargos [Art. 44-52]

X. Da Casa mãe e filiais [Art. 53-56]

XI. Relação das filiais com a casa mãe e entre elas [Art. 57-65]

XII. Direitos especiais e deveres da Superiora geral [Art. 66-76]

XIII. Do capítulo e suas atribuições [Art. 77-83]

XIV. Método a ser seguido na visita das casas filiais [Art. 84-88]

XV. Regras da vida comunitária [Art. 89-114]

XVI. Deveres do Instituto para com as Missionárias [Art. 115-121]

XVII. Das funções religiosas e dos sufrágios [Art. 122-127]

XVIII. Das práticas de piedade e da acusação [Art. 128-135]

XIX. Da alimentação, do vestuário e da mobília comunitária [Art. 136-141]

Rituais

XX. Rito e oração para a aceitação das filhas como aspirantes [Art. 142-143]

XXI. Rito e oração para a admissão e vestição das Noviças [Art. 144-148]

XXII. Rito e oração para a profissão [Art. 149-151]

XXIII. Oração para a eleição das superioras [Art. 152-153]

***

I. Origem e natureza

Em fevereiro do ano de 1875 algumas filhas da Pia União de Maria Imaculada e

Santa Inês da Paróquia de Pigna(diocese de Ventimiglia) uniram-se em uma pequena

casa na própria cidade, e deram início ao Instituto das Irmãs Missionárias com a

intenção de preparar-se às missões exteriores: e no ano seguinte, 1876 partiram para o

oriente, para ocupar-se das tarefas domésticas do orfanato masculino Belloni em

Belém e lá trabalharam por 16 anos. Retornadas na pátria, firmes na primeira

intenção, estão agora espalhadas em oito cidades de três dioceses, ocupam-se a educar

as filhas do povo na prática das virtudes cristãs e a ensinar costura e bordado. Depois,

sob a guia dos Párocos, ensinam a doutrina cristã e promovem as Pias Uniões

Marianas. Não dão aulas nas escolas públicas.

Art. 1. O Instituto honra como padroeiros: Maria SS. Imaculada, S. José e Sta.

Ermelinda virgem.

Art. 2. As regras do Instituto por si não obrigam a nenhuma falta.

Page 111: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

111

Art. 3. No Instituto não existe distinção de classes, mas todas se ajudam

reciprocamente em uma bela caridade segundo suas capacidades.

Art. 4. Nada de pessoas estranhas para o trabalho doméstico.

Art. 5. As qualidades exigidas para a admissão são as seguintes: conduta cristã à

toda prova, piedade sólida, caráter bom, cortesia, juízo, saúde perfeita.

Art. 6. O Instituto é proprietário de quatro casas e terrenos para o cultivo, e goza de

um subsídio anual de seiscentas liras.

Art. 14. Cada postulante admitida permanece por algum tempo junto aos parentes,

ou tutores, ou patrões, este espaço constitui o postulado.

Art. 15. O noviciado dura 18 meses ou mais, a julgamento da Superiora, mas não

mais de 20 meses.

Art. 16. As postulantes e as noviças não se entreterão com as professas sem a licença

expressa da mestra de noviças.

Art. 17. As postulantes por algumas semanas vestem o hábito próprio para elas. As

noviças colocam o uniforme das professas, mas sem o colarinho branco.

Art. 18. A comunidade veste lã Tibet cor preta, saia e um pequeno casaco, com

lenço preto na cabeça em casa, e fora véu preto.

Art. 19. As postulantes usam medalha no pescoço pendurada a um cordão de cor

celeste; as noviças a medalha pendurada a uma corrente de metal branco, como as

professas. A Superiora geral usa corrente e medalha de prata.

Art. 20. As noviças fazem promessas; as professas fazem votos anuais depois de 5

anos de profissão, e os votos perpétuos depois de 12 anos de profissão.

Art. 21. Os votos são de castidade, de obediência, pobreza e o propósito de ir às

Missões exteriores.

Art. 28. As superioras maiores raríssimas vezes e em casos de grande urgência

poderão propor à Superiora o que fazer, sem serem consultadas. Mas as menores não

ousarão jamais propor à Superiora o que fazer sem que sejam chamadas pela

Superiora. E as Missionárias que são superioras nas casas filiais se chamam

Assistentes.

Art. 56. A casa mãe no momento está estabelecida em Villa Pasquali (diocese de

Cremona).

Art. 89. As Missionárias conviverão como verdadeiras e amorosíssimas irmãs: e não

existirão jamais entre elas competições e honras; ao contrário deverão afastar-se de

suas almas toda idéia ambiciosa de grandeza ou prioridade. Terão caridade recíproca

umas com as outras. Enfim um só coração e uma só alma reinarão na comunidade.

Art. 90. Obediência pronta, alegre e exata à Superiora e às outras superioras, sem

jamais fazer ou dizer nada que lhes desacredite ou ofenda.

Art. 91. Cada manhã pedir a Deus a benção para as co-irmãs.

Art. 92. Cada uma aceitará com boa vontade o ofício que lhe foi destinado: mesmo

que depois que tenha apresentado fortíssimas motivações para rejeitá-lo, a Superiora

ainda queira o contrário. Recordar sempre que a Missionária é Filha de Maria, e tem

por sua vocação de procurar imitar, amar ternamente, honrar e fazer honrar a celeste

Page 112: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

112

Mãe Imaculada, de todos e por todos, e sempre. Insistindo-se em rejeitar poderá ser

expulsa do Instituto especialmente se por capricho próprio o Instituto sofrer algum

dano

Art. 93. Considerar os sinais, e as disciplinas da comunidade como vozes do Senhor,

e conseqüentemente interromper com rapidez a oração e a obra iniciada para cumpri-

las.

Art. 94. Fugir das amizades particulares e das relações com pessoas externas, sem

grande necessidade: e não ter lições com professores homens mesmo que for

conveniente: e muito menos prometer, dizer, fazer, ou permitir que isto aconteça sem

as ordens e disposições da Superiora, ou das Assistentes.

Art. 95. É desejável entre as Irmãs um caráter alegre, franco e doce, mas cada

Missionária deverá sempre observar a mais rigorosa modéstia, e compostura nas

palavras, e nos atos. Falando com homens não se permitirá fazer gracejos, com os

benfeitores terá mais precaução; e com Sacerdotes não será nunca excessivo o

respeito, e sem nenhum tipo de confidência.

Art. 96. Exceto a Superiora, nenhuma Irmã falará em segredo seja com quem for, e

devendo falar com o Confessor, irá ao Confessionário.

Art. 97. É rigorosamente proibido falar de coisas da comunidade com pessoas

estranhas ao Instituto: e sob pena de expulsão é proibido lamentar-se das Irmãs e

desacreditá-las. No caso que uma Irmã não esteja contente, que ela informe a

Superiora e esta encontrará a solução.

Art. 98. As Irmãs não se intrometerão jamais nos afazeres dos outros. Mas com

prudência e cautela, aprendidas na comunidade, ajudarão as Filhas de Maria e Santa

Inês, consolando-as, aconselhando-as, e animando-as a viver com o espírito da Pia

União Mariana, formada pelo abade Passèri e aprovada pelo Sumo Pontífice Pio IX e

louvada por Leão XIII, e pelo reinante Pio X, ainda a estarem firmes na vocação que

Deus as inspirasse.

Art. 99. As Irmãs não farão visitas de cortesia, nem sozinhas, nem acompanhadas de

pessoas estranhas à Comunidade, mesmo que estas sejam religiosas. Nem se

permitirão de irem a espetáculos públicos, como também evitarão visitar santuários

em tempo de grande movimento.

Art. 100. É proibido às Irmãs de ler jornais, romances e livros históricos ou

científicos sem a licença expressa da Superiora.

Art. 101. Da mesma maneira as irmãs se absterão de dar noticias de coisas políticas

do mundo à Comunidade.

Art. 102. As Irmãs nem mesmo pedirão à Superiora para que dê permissão de se

inscreverem às pias associações, darem esmola, mandarem celebrar Missa, e de

levarem ex-votos (promessas) de quem quer que seja, em santuários ou em capelas.

Art. 103. O Instituto estabeleceu celebrar um dia de onomástico para toda a

comunidade: e não permite nem mesmo à Superiora celebrar o seu próprio.

Art. 104. Na vestição trocam o respectivo nome de batismo, por aquele que a

Superiora impõe.

Page 113: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

113

Art. 105. A todas as Irmãs é proibido usar botas grandes, e às simples Irmãs também

é proibido de usar relógio: mas às graduadas não é permitido de usá-lo de ouro,

mesmo que tenha sido presenteado.

Art. 106. Menos de 7 horas de repouso noturno não: nem mesmo dormir durante o

dia, exceto por ordem médica.

Art. 107. Dado o sinal para levantar-se, em meia hora vestir-se e arrumar a cama,

depois ir à Igreja para as orações, Missa e comunhão.

Art. 108. Logo em seguida do retorno à casa, elas fazem a leitura do Diário

Espiritual, e depois se colocam ao trabalho segundo as ordens da Assistente.

Art. 109. O café da manhã, o almoço e o jantar serão nos horários determinados: e

não serão trocados facilmente, e rezar antes e depois.

Art. 110. As esmolas aos pobres que se apresentarem à porta, não serão jamais em

dinheiro.

Art. 111. À tardinha visita ao SS. Sacramento, se a igreja é próxima: se é longe, se

faz espiritualmente com todas as irmãs reunidas e ajoelhadas.

Art. 112. As irmãs viajando por via terrestre em trem viajarão em 3ª classe, em mar

na 2ª classe, sempre modestas, sem sombra de exuberância no jeito de falar, responder

ou perguntar, e nunca entrar em discussões religiosas.

Art. 113. Nunca escrever não importa o que em papéis onde estão impressos o nome

de Deus e da Virgem Maria.

Art. 114. As Missionárias não irão almoçar nas famílias e nem admitirão na mesa

delas, mulheres estranhas ao Instituto.

19

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1a.Ep114 – Carta de Jacinto Bianchi à Ir Maria Solimani, Gênova, 14

de agosto de 1908; original autografado, 1 f., 135x212 mm.

Ele implora sobre ela Bênçãos divinas, convida-a à oferta dominical de toda a

semana e garante-lhe suas orações. Esclarecimento sobre a aceitação das viúvas e

indicações relativas às profissões.

Caríssima no Senhor!

I. Que Deus te abençoe, te ilumine e santifique, assim o teu coração será bom e

justo: a tua mente compreenderá e conhecerá aquilo que vai bem, e a tua alma se

santificará. Amanhã eu celebrarei a missa por mim e por Ti. Terça-feira também,

porque eu nasci no dia 15 de agosto, e o meu santo é no dia 18.

Page 114: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

114

II. No primeiro regulamento tinha um artigo sobre as Viúvas, que para serem aceitas

não poderiam ter filhos e nem serviços de responsabilidade no Instituto. Retirei este

artigo, mas se as Viúvas se apresentarem, serão aceitas aquelas que forem boas e

humildes.

III. Na manhã do Domingo ofereça a Deus tudo aquilo que tu pensarás, dirás, e farás

na semana, tudo por Sua glória, conservando a intenção e o desejo. Tu tens rezado

bem e muito, viva tranqüila. Depois, comigo, todas as irmãs e almas boas a me

confiadas rezam por ti, não temer. Mantenha confiança em Deus e na Sagrada Família

e terás êxito nas tuas atividades.

|f.1v| IV. Meu muitíssimo obrigado ao Bispo. Tu tens as medalhas, e as Correntes?

Devo enviar-te aquelas para as Professas?

V. Não te preocupes com a Capela, porque até mesmo um quarto poderá

transformar-se em Capela. Consolata fará tudo muito bem.

VI. Para os anéis, tendo-lhes proibido Leão XIII, é necessário colocar-se de acordo

com Roma, Consolata pensará sobre isso.

VII. Agora pensemos sobre a casa de Roma, e basta.

Cordiais saudações e os melhores votos

Teu Pe. Jacinto

Gênova, 14 de ag. de 908

Doces expedidos segunda-feira. Escreva como pode, e vai bem. Para a vestição

espera ter em mãos as medalhas e a resposta da Consolata para os anéis. À Consolata

que deve correr à Roma, etc., mando o dinheiro: mas também Tu de vez em quando

mande-me algum.

20

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1a.Ep59 – Carta de Jacinto Bianchi à Ir.Consolata Zampieri, Gênova,

28 de Julho de 1907; original autografado, 1 f., 217x293 mm.

Ele recomenda atenção, confiança em Deus e coragem, porque os tempos são difíceis

e as autoridades civis muito severas. Enviará cópia da regra o mais rápido possível.

Procuradora Geral!

Reunirás as Irmãs de Vicovaro, depois irás a Licenza e em Mandela e lerás esta carta

– que conservarás – às Irmãs para que compreendam como devem viver no futuro,

Page 115: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

115

onde continuarem a fazer o bem, para a glória de Deus, de Nossa Mãe Imaculada e do

Nosso Pai S. José, sobre a proteção de Sta. Ermelinda.

Recordar sempre três coisas, e colocá-las em prática com muito gosto.

I. Atenção - II. Confiança absoluta em Deus - III. Coragem grande.

Atenção – Saibais, Irmãs, que o governo começou a fechar 2 Institutos a Torino

porque tinham hospedado rapazes calabreses depois do terremoto, e queria fechar

outros Institutos de beneficência. Se acontecesse de vir alguma visita (fiscalização) na

Vossa casa, não temais, e respondais, que não ensinais a rapazes e nem os hospedais

em casa. Se vos pedirem a aprovação do Bispo, dizeis sim, e basta. Se virem mulheres

a vos interrogar, sejais atentas em responder que sois conhecidas pelo Prefeito e basta.

Estais atentas, muito, muito.

Confiança absoluta somente em Deus – Respeitai as pessoas, mas não busqueis

apoio nelas. Deus vos ajudará, assistirá, proverá sempre melhor do que o mundo todo

vos fizesse porque o Instituto é desejado por Deus, para a glória da Sagrada Família e

o bem das almas, sob a proteção de Sta. Ermelinda. Sim, Deus é quem a tornou

conhecida, estejais, pois certas, o Instituto florescerá muito após a minha morte.

Coragem – não temais, não, não, nem se chegarem fortes tribulações. Deus é o dono

do Instituto, vós sejais verdadeiras Irmãs, todas de um só coração e uma só vontade: e

Deus estará convosco e vos dará grande conforto. Agora vivemos momentos difíceis

demais, demais, devido aos escândalos que acontecem, e Roma irá devagar com as

aprovações, mas vós sejais humildes, humildes, humildes e Deus vos exaltará. Sejais

firmes e fortes na vontade de serdes verdadeiras Missionárias e sereis consoladas

muito, muito, porque Roma vos dará a aprovação e abençoará imensamente.

Vosso Pe. Jacinto

Gênova, 28 de julho de 907.

|f.1v| Assim que o tipógrafo me entregar a Regra, te enviarei 6 cópias. Tu levarás 2

ao Bispo [de Tivoli], 1 para Monsenhor Giustini, conhecido teu, em Roma, 1 para Ti,

1 para Licenza, 1 para Mandela, e se por acaso Tu queiras outras, eu Te enviarei.

Page 116: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

116

21

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1a.Ep24 – Carta de Jacinto Bianchi à Ir. Maria Solimani, Gênova, 25

de maio de 1908; original autografado, 2 f. de caderno de linhas, 184x245 mm.

Respostas e disposições várias: direção do orfanato, transferências das co-irmãs

aceitação das postulantes e professas, questões de gestão e patrimoniais, relações

com a Igreja local. Propõe figuras exemplares e práticas devotas.

Maria Caríssima no Senhor!

Respondo à tua carta sempre bem contente, se bem que não tenha tempo, porque

domingo, além de 4 horas de confissão, devo pregar às 8, às 2 e às 6? Noite, e sem

falar das outras incumbências. Tuas cartas me consolam.

1. A tua parente [a venerável Giovanna M. Battista Solimani, 1688-1758,

Fundadora das Romitas Batistinas] peça-lhe que te obtenha a firmeza de ânimo e de

propósito que Ela tinha, pois quando a contestavam e a atormentavam-na demais, Ela

era sempre corajosa e nunca lamentosa. Vai avante, avante sempre. Leia um pouco de

cada vez os capítulos das suas tribulações, e verás. Confia-te a Deus em tudo sempre,

mas tenhais confiança plenamente quando notares que as coisas não vão bem como

quererias.

Faça como a pequena Bernadete de Lourdes que quando o governador e o

comissário lhe disseram: «Te colocaremos na prisão», ela respondeu: «Depois tereis o

trabalho de me fazer sair». Maria caríssima, seja alegre e avante. Hoje e sexta-feira

próxima celebrarei a Missa por nós; seja forte, nunca, nunca, nunca pensar muito,

nunca, nunca, tristeza; sorria, sorria, a glória de Maria Imaculada, de S. José nosso Pai

e de Sta. Ermelinda nossa Padroeira. Eu te ajudarei em tudo, sempre, sim, sim.

2. As imagens do Anjo as dê às postulantes e somente às pessoas que queiram fazer

o bem. Explique a todos o significado da imagem. Sobre a colina de Brescia, Maria

órfã, pobre, se colocou a pastorear as ovelhas com um pastor maldoso, incrédulo. Ele

a proibiu de ir à Igreja. Ela disse ao seu Anjo Guardião: «Tu vais por mim à Missa de

segunda a sábado, aos domingos pela manhã venha a cuidar das ovelhas |f.1v| porque

quero ir à Missa, à pregação, a confessar-me e comungar-me». Um domingo o patrão

a viu sobre a Praça entrar na Igreja; parou-a e reprovou. Ela respondeu: «As ovelhas

estão bem cuidadas». Ele respondeu: «Te mato se as encontrar dispersas». Foi a vê-las

e todas dormiam. O patrão disse: «Na Igreja, absolutamente não, não, não». Ela disse

ao Anjo: «Fala a Deus por mim, porque eu quero ser toda de Deus». E em seguida o

Anjo lhe apareceu e lhe disse: «Maria, prepara-te que virá logo no céu». Ela morreu

depois de poucos dias, e foi beatificada. Diga às pessoas que repitam com a mente as

palavras: «Ó Senhor, etc...», mas sempre de coração.

Page 117: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

117

3. Ontem e também sexta-feira celebrarei Missa para mim e para te, afim que Deus

nos assista para que possamos trabalhar para a sua glória. Envio-te o Cittadino, leia

onde está assinalado de vermelho. Coragem, que também cresça o Orfanato; confiante

em Deus tu o conduzirá bem. As pequenas de 5 anos, quando tu tiveres um pouco de

tempo, leve-as diante de N.Senhora e ensina-lhes a rezar assim: « Mãe Maria

SS.Imaculada, abençoe a nós que somos vossas filhas e à Superiora, para que ela

possa nos fazer o bem». Quando tiverem aprendido, envia-lhes sozinhas a rezar,

dando-lhes depois um presentinho se elas rezarem bem. S. Francisco [de] Sales

quando queria uma graça tocava uma capainha e os pequenos e as pequenas vinham

correndo, ele então dava um biscoito se rezassem bem e obtivessem a graça. Às vezes

lhes chamava e dizia: «Deus não me concedeu a graça, vós não rezastes bem». Eles

então lamentavam e ele envia-lhes ao redor do altar do SS.Sacramento com um pedaço

de vela acesa, ou mesmo ele acendia 2 velas diante do Tabernáculo e eles |f.2r|

rezavam: «Ó Jesus, concedeis a graça, porque esperais? Nosso Superior tem

necessidade»; alguns choravam e Jesus os atendia, e S. Francisco [de] Sales dava os

biscoitos. Faça assim, porque Deus escuta a voz dos inocentes.

4. Dê com cuidado as imagens do Anjo, e a quem compreende o seu objetivo. Eu

não tenho a intenção que Cândida fique em Scandolara, se tu tens necessidade dela,

ela deve vir quando tu quiseres. Ela bordou em ouro um belo véu para o tabernáculo.

É preciso tirar Pia de Villa por causa do ar que não é bom. Ela não está doente, está

anêmica (pouco sangue), tem necessidade de ar bom para refazer o sangue: eis tudo,

fico contente se ela vier à sua casa porque ela vale tanto quanto Cândida, e ainda mais

para os trabalhos em seda e em ouro. Ângela se te agrada, fique com ela; se não eu a

retiro. As Irmãs de Mandela e Vicovaro temem que ela não se acostume com a

alimentação porque não será boa ai como a tua; eis tudo; tu a conheces e saberás como

apresentá-la às Irmãs. Ela sabe bordar?

5. Tu tens contato com a jovem de Nápoles? Escreva-lhe.

6. Não, não, por Sto. Antonio de Pádua; ele se chama Antonino e sua festa já

passou; no ano que vem. No entanto diga-lhe que estou fora de Gênova para pregar e

não pude escrever ao Sacerdote que haveis como Capelão, mas escreverei sexta-feira.

Eu faço pregações 3 vezes ao dia e confesso 5 horas.

7. Se tiver cédulas, é melhor que tu as conserves até a profissão. Na festa de Corpus

Domini faça a vestição e na da Imaculada fará a Profissão. Diga-lhe que Sta. Ângela

é no dia 31 de maio. Se quiserdes, vos envio a vida de Sta.Angela. A oração me parece

de tê-la enviado. Não te sacrifiques muito; quando puder, sem se agitar.

|f.2v| 8. Os administradores te concederão de aceitar tais pessoas?

Combina bem antes. Mas aqui eu te repito: com tantas incumbências, tens

necessidade de uma Irmã que mantenha notas e registros claros. Se Ângela é boa,

então a aproveite; senão, eu te mandarei uma capaz e segura. Quanto à mulher dos 150

francos, sendo robusta e rica, seria melhor – me parece – pegar 200 francos por ano e

não ter nada o que fazer depois da morte, porque te venha de pagar a sua sucessão que

é de mais de 12%. Se ela não quiser te dar 200 francos ao ano, te dê enquanto que é

viva os 1000 francos e tu os coloque em ações a usufruto e deixe também aos

Page 118: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

118

parentes, então 150 francos ela te paga e sobre isso, tu pegas 30 francos de lucro,

assim serão 180 francos.

9. Tu podes muito bem aceitá-las todas as três, mas em Julho eu virei em Tua casa,

súbito. Sim, podes escrever sobre isso ao Bispo, mas o Canônico providenciará para

que eu fale com o Bispo. E se poderá abrir a casa.

Sim, é bela a carta. Rezemos a S. José.

No entanto veja com o Pároco ou com o Capelão se deram uma cópia das nossas

Regras para o Bispo; eu te mando outras cópias.

Adeus de todo coração.

Teu Pe. Jacinto

Gênova, 25 de maio de 908

22

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1a.Ep25 – Carta de Jacinto Bianchi à Ir. Maria Solimani, s. l., posterior

a 1 de dezembro de 1908; original autografado, 1 f., 210x185 mm.

Propõe exemplos significativos de providência. Faz referências às suas relações com

bispos da Sicilia e com o canônico Antonino Gioia. Terminou de pagar a casa de

Villa Pasquali.

Faltam as fórmulas de conclusão.

Maria Caríssima no Senhor!

I. Peço-te ardentemente que Tu consideres muito bem a coisa que te descrevo e que

Tu em seguida, tenhas um tempo livre, me garanta que entendeu o fato e a proteção

especialíssima de Deus, e agradeça a Deus vivamente. Sob meu parecer e minha

ordem, a Superiora e Cândida partiram. Eu as dei dinheiro uma segunda vez para que

não lhes falte na viagem; em Spezia os trens não coincidiam e Cândida ficou pra trás

sem dinheiro para continuar, ela tinha só 1 franco. Telegrafou então à estação de Pisa

pedindo para que parassem a Superiora, e Deus a fez encontrá-la. Como Cândida não

tinha dinheiro esperaram-na. A Superiora pagou a viagem para as duas até Grosseto,

Desceram na estação pensativas e lamentosas; aproximou-se uma Senhora e disse: « O

que tens? Onde andais?». Responderam: «A Roma, mas não temos dinheiro para pagar

o trem». A Senhora respondeu: « Eu sou uma da Proteção da Juventude e pagarei

tudo eu, e em Roma ireis a tal lugar para comer e dormir, sem despesas».

Page 119: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

119

Contentes, elas se foram: pela estrada encontraram meu sobrinho, a Superiora o

conhecia e ele acolheu-as em sua casa, e ele providenciou de tudo. Elas vão a

Vicovaro. |f.1v| Consolata escreveu que ela não tem dinheiro suficiente, e uma

Senhora me havia dado para as Missionárias 100 francos e por telégrafo eu os enviei a

Consolata. O que você acha? Eis que as Missionárias devem todas confiar em Deus,

sempre e mais ainda nas grandes tribulações.

II. Tu, portanto, com as órfãs, e com tua alma peça a Deus para que providencie

Filhas para as casas, que saibam costurar e bordar; em Licenza choram, em Vicovaro,

em Mandela, porque são transferidas as irmãs boas. Peça forte para que Deus as envie

a ti.

III. Eu escrevi ao Bispo de Mazzara pelo seu onomástico. Enviei o regulamento a

Girgenti pelo Bispo.

IV. Eu respondi ao Canônico Gioia por Sua carta escrita a mim, e disse que em

Janeiro eu irei na sua casa e na dos 2 Bispos. Espero que Deus me pague a viagem em

terceira classe sempre.

Saiba que a Casa de Villa está toda paga, e rezo a Deus de mandar-me dinheiro para

construir o oratório de Sta. Ermelinda.

Escreva-me se puderes, em Palermo ou em Mazzara faça colocar moldura no

quadro de Sta. Ermelinda para dar aos 2 Bispos e colocar no noviciado, porque senão,

eu os levo comigo emoldurados, em um pacote.

23

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1b.Ep400 – Carta de Jacinto Bianchi ao cardeal Girolamo M. Gotti,

prefeito da Propaganda Fide, Gênova, 31 de agosto de 1907; fotocópia do original

autenticada, 2 f., 206x135 mm.

Apresenta o novo texto constitucional e a situação das FMM.

|f.1v| Eminentíssimo Senhor Cardeal Prefeito!

Muitíssimo confiante na Bondade de V. Eminência Reverendíssima, apresento a

Regra das Irmãs Missionárias que foi reeditada, já conhecida pela Sagrada

Congregação pelo trabalho que elas prestaram por vários anos no Orfanato de Belloni

em Belém. No momento trabalham em quatro Dioceses, divididas em 8 casas-

ensinando trabalhos domésticos, e a Doutrina Cristã sob a direção dos respectivo

Senhores Bispos, e Párocos.

Sempre firmes na primeira intenção de ir às Missões exteriores, quando Deus quiser,

apresentam juntamente comigo a regra delas ao Senhor Cardeal Prefeito, não para ser

examinada, mas somente para que a V. Eminência a conheça.

Page 120: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

120

|f.2r| Eminentíssimo Senhor Cardeal Prefeito, disponha de mim e do Instituto como

o julgarás segundo a Vossa Bondade.

Até o presente momento, compadecendo-se com a nossa miséria, Deus

providenciou sempre tudo às nossas necessidades, e ainda mais, chegam pedidos de

muitos países para ter as Irmãs.

Prostrado, beijo a S. Púrpura, confirmando o sentimento que tenho por Vossa

Eminência Reverendíssima,

Seu Prontíssimo Servo,

Bianchi Jacinto Miss. Ap

Gênova, 31 de ag. 907 - às 10 horas

24

____________________________________________________________________

AFMM, VIII.1.2a.140 – Carta de padre Vincenzo Nardelli op a Jacinto Bianchi,

Roma, 6 de junho de 1901; original autografado, 2 f., 210x135 mm.

Fornece alguns esclarecimentos pedidos sobre alguns aspectos canônicos inerentes

ao Instituto, provavelmente em vista de uma demanda de aprovação

Reverendíssimo Senhor

Eu satisfaço com prazer ao seu pedido.

I. Quanto ao objetivo. A unidade do objetivo pedida pela Bula Pontifical, dentro

deste Instituto está em plena regra. A instrução religiosa moral e intelectual,

(compreendidos os trabalhos) entra na unidade do objetivo. E também as escolas

primárias públicas não se opõem à unidade do objetivo; porque a instrução seja

religiosa, seja intelectual é tudo um campo único, ao qual as Irmãs podem ser

preparadas com suas leis próprias e com a educação do Noviciado.

II. Quanto às Regras. Podem conservar o Regulamento dado e aprovado pela

Propaganda, adaptando-o naturalmente às circunstâncias dos tempos e dos lugares.

Nas Regras é preciso distinguir:

a) algumas coisas comuns a todos os Institutos, para os votos etc. e estas devem ser

imutáveis.

b) outras coisas próprias do objetivo do Instituto, e estas |f.1v| também não devem

ser mudadas.

Page 121: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

121

c) outras que estão sujeitas à mudanças. Também algumas regras são boas para

lugares de missão, não o são para a Itália, por exemplo. Devendo neste caso fazer

algumas modificações, dentro deste Instituto espalhado em diferentes dioceses, pede-

se o consentimento dos outros Bispos, segundo a Bula Conditae.

Enfim, o Instituto cresceu e se expandiu suficientemente; poder-se-ia dar início às

práticas para ser aprovado por Roma e assim constituir-se em forma de associação

perfeitamente organizada. No momento também a Sagrada Congregação dos Bispos e

Regulares está justamente discutindo e formando um esquema de Constituições para

ser aplicado em todos os Institutos no que se refere às regras comuns para cada

Instituto: como por ex. sobre os votos, sobre a eleição dos Superiores etc.

III. Quanto aos rendimentos. As entradas ocasionais e fixas que tem o Instituto da

Pia União oferecem uma garantia suficiente de segurança para o seu futuro. O caso

contemplado pela Bula refere-se aos Institutos que vivem somente das oblações

espontâneas dos benfeitores, ou mesmo da oferta, |f.2r| quando, porém umas e outras

sejam tais que, com o tempo possam diminuir. Por exemplo, o piedoso Asilo do

Cottolengo vive de ofertas ocasionais, mas, porém a circunstância da instituição e do

lugar são tais que pode se dizer que quase certas. Não é a mesma coisa para outros

Institutos que para viver devem andar mendigando a maior parte do ano, prejudicando

o espírito das Irmãs. Mas este não é o caso do Instituto que vós dirigis.

IV. Quanto às Missões Exteriores. Agora a Propaganda está muito atenta aos

Institutos que queiram fazer fundações no exterior, para que sejam aprovados pela

Santa Sé. Talvez possam obtê-lo facilmente para os lugares onde estão os emigrantes

Italianos. Em S. Paulo, no Brasil existem centenas de milhares de necessitados de

ajuda religiosa e moral. De qualquer modo podem fazer contemporaneamente os

encaminhamentos junto à Congregação dos Bispos e Regulares para a aprovação- e

junto à Propaganda para a permissão de fundar algumas Casas no exterior.

V. Quanto ao governo interno. Na organização interna, como na aceitação das

Postulantes, no transferir as irmãs, no nomear as Superioras locais

|f.2v| é bom deixar às Irmãs uma certa autonomia. Este é um direito delas,

reconhecido pela Santa Sé. No mais, o trabalho do Diretor é de dar-lhes alta direção, a

inspiração, deixando-lhes o dever de atuação. Eis os esclarecimentos que podem ser

dados a esse respeito. Se vos for necessário esclarecer algum outro ponto em

particular, escreva-me sempre, que de bom agrado farei tudo àquilo que for para o

bem das almas.

E agora, sou eu quem pedirei um favor. Eu fiz imprimir Meditazioni sullo Spirito

Santo( Meditações sobre o Espírito Santo) de Avrillon. Mereceriam ser publicadas

novamente porque são sólidas e cheias de unção e não se encontra mais o livro. Eu

envio-lhes uma cópia de presente. Eu coloco junto alguns panfletos de divulgação: que

eu vos peço de apresentar às Irmãs e às Monjas e também aos Sacerdotes, e pessoas

pias. Todos podem tirar vantagens e proveitos.

Desejo-vos frutos copiosos para a vossa alma e para o próximo, da pregação do

Jubileu e do mês de Sagrado Coração. Recomenda-me fortemente ao Senhor e confie

em mim.

Page 122: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

122

Muito devoto no Senhor

F. Vincenzo Nardelli dos Pregadores

Minerva, Roma - 6 de Junho de 1901

25

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.2.7b - Instituto das Filhas de Maria Missionárias sob a Proteção de

Sta. Ermelinda Virgem, ms. de J. Bianchi, posterior a 1901; 2 f. protocolo, 300x210

mm.

Parte inicial de um texto normativo (constituição).

No arquivo AFMM estão conservados outras duas versões menos completas

(VIII.2.2.7a, Da natureza do Instituto, da admissão ao mesmo e do modo de se viver;

VIII.2.2.7c, Constituições do Instituto das Irmãs Missionárias).

Instituto das Filhas de Maria Missionárias

Sob a proteção de Sta. Ermelinda Virgem

[Capítulo I]

Art. 1. O Instituto honra como patronos Maria Santíssima Imaculada, S. José e Sta.

Ermelinda virgem, e tem como objetivo primário a santificação das próprias

integrantes por meio da observância dos três votos simples de obediência, pobreza e

castidade, além das presentes constituições.

Art. 2. O objetivo secundário é o bem espiritual e corporal do próximo por meio da

educação cristã das adolescentes – especialmente pobres – e do ensinamento da

costura e do bordado, e também a assistência dos jardins de infância, quando

consideradas todas as circunstâncias e a caridade cristã o aconselhasse.

Art. 3. Não ter pessoas estranhas para o serviço.

Art. 4. No Instituto não existe distinção de classes sociais, todas se ajudam

reciprocamente nos afazeres em bela caridade segundo as próprias aptidões. Porém,

existem aquelas que exercem o governo do Instituto e a direção dos trabalhos. No

Instituto existem duas categorias de irmãs- à primeira categoria competem os serviços

referentes ao governo do Instituto e a direção dos trabalhos, à segunda os serviços

mais comuns.

|f.1v| Art. 5. Apesar desta distinção, as Irmãs de uma ou outra categoria formam uma

só família, vivem sobre a mesma disciplina e participam igualmente dos bens

Page 123: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

123

espirituais e materiais do Instituto, ajudando-se todas reciprocamente em bela caridade

segundo as próprias capacidades.

Art. 6. A ordem de precedência no Instituto será esta: 1º a Superiora Geral, 2° as

Assistentes Gerais segundo a prioridade das eleições, 3º a Secretária Geral, 4º a

Ecônoma Geral, 5º as Assistentes locais segundo a antiguidade de fundação das Casas,

6º a mestra de noviças, 7º as visitadoras gerais que durante a visita terão sempre o

primeiro lugar nas casas que elas visitam.

Art. 7. As irmãs usarão um hábito de lã Tibet cor preta, com touca branca em casa, e

fora, coberta com véu preto que desce sobre os ombros; elas usarão no peito a medalha

de N.Senhora Imaculada e farão uso de calçados simples.

Art. 8. As noviças vestirão do mesmo modo, mas sem o colarinho branco.

Capítulo II

Art. 9. As irmãs do Instituto professarão plena e ilimitada submissão, veneração e

obediência ao Papa.

Art. 10. Elas venerarão igualmente os Bispos locais e lhes serão fielmente

submissas em conformidade às prescrições |f.2r| da Constituição Apostólica Conditae

de Leão XIII do dia 8 de dezembro de 1900.

Capítulo III

Da admissão no Instituto, dos dotes, do enxoval, e da pensão para o tempo de

experiência.

Art. 11. A admissão das jovens aspirantes ao Instituto é de responsabilidade da

Superiora Geral. Por isso, ela mesma ou por meio de outros, deverá recolher as

informações necessárias referentes àquelas que pedem de serem admitidas no

Instituto.

Art. 12. Antes de receber uma jovem serão exigidos os atestados de batismo, de

crisma, de boa conduta, de estado civil e de nascimento legítimos. Estes atestados

podem ser emitidos pela Cúria Episcopal ou pelo próprio Pároco, ou onde não se tem

outra possibilidade, de outra autoridade eclesiástica autorizada.

Art. 13. Não se admitirá jamais uma jovem que não tenha dado prova de sua

vocação, e que por suas qualidades morais e físicas não dê fundamentadas esperanças

que será uma Missionária capaz de trabalhar segundo o Espírito e o objetivo do

Instituto.

Art. 14. Sem a dispensa da Santa Sé não podem ser admitidas no Instituto:

1° as ilegítimas não legitimadas, 2° as menores de 15 anos e maiores de 30,

3° as casadas e as viúvas, 4° as professas de votos perpétuos e também temporários

|f.2v| enquanto estiverem em outro Instituto, 5° aquelas que possuem débito que não

podem pagar, ou que se encontram em meio à administração de negócios pelos quais

o Instituto poderia ir de encontro a litígios ou chateações, 6° aquelas que não possuem

nenhum dote.

Page 124: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

124

Art. 15. Por ocasião da profissão da Missionária entrega o seu dote ao Instituto. O

enxoval ao ingresso e também a pensão do noviciado, tudo é determinado pela

Superiora geral.

Capítulo IV

Art. 16. O Postulado durará 3 meses e por motivos justos pode ser prolongado na

casa do noviciado.

26

_______________________________________________________________ Carta de Pe. Giuseppe Parma a D. Guido M. Conforti, Parma 30 de janeiro de 1913;

publicada in GUIDO M. CONFORTI, As Pequenas Filhas dos sagrados Corações de

Jesus e Maria. Relação entre D. G. M. Conforti, a Congregação e o Assistente

Eclesiástico Pe. G. Parma [...] Cartas e documentos de 1895 a 1931 e breve

documentação da história da congregação até os dias de hoje, aos cuidados de F.

Teodori, Roma, Procuradoria Geral Xaveriana - Parma, Casa Mãe das Pequenas

Filhas,1980, pp. 307-309, nota 106.

Comunica o seu julgamento negativo sobre a Constituição do Instituto das Filhas de

Maria Missionárias de 1907 (cf. Documento 18).

Excelência Ilma. e Revma.,

Parece-me que a Constituição do instituto das Filhas de Maria Missionárias, sob a

proteção de Sta. Ermelinda virgem (o qual, no seu conjunto, apresenta-se não como

uma Pia União qualquer, vivendo em Comunidade, mas como uma verdadeira e

própria Congregação religiosa de Votos simples) não responda nem às mais modestas

exigências em relação a si mesma, como Estatuto de uma Associação; nem em relação

às exigências do Direito Canônico; e nem mesmo a respeito da Autoridade

Eclesiástica.

Eis, Excelência, as principais observações, nas quais se baseiam a minha afirmação:

A esta Associação falta uma real e verdadeira organização. De fato não se determina

quem tem o direito ao voto nas eleições; não é dito quais são as atribuições do

Capítulo e se tem voto deliberativo e em quais casos; a eleição da Superiora Geral não

é protegida o suficiente; falta tudo sobre o modo de eleição das Superioras locais; não

existe uma palavra sobre as relações entre as Superioras locais e a Superiora Geral, e

Page 125: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

125

isto é realmente muito importante; as atribuições das duas Assistentes não são

suficientemente determinadas.

Mesmo por aquilo que concerne à Administração não se sabe quem tem a

responsabilidade, e depois aqui também falta a organização. Por exemplo, em quais

relações econômicas estão a Casa Central e as filiais? Não é dita uma palavra sobre

isso, e isto é grave.

Mesmo no que concerne aos Santos Votos, não é muito claro, um ponto muito

essencial para uma congregação religiosa. Por exemplo, o que quer dizer o art. 20: «as

Professas fazem os Votos anuais depois de cindo anos de Profissão», e antes: «As

Noviças fazem promessas»?

E a proposta de ir às Missões Exteriores é um voto? Se fosse, teria contra ela uma

disposição do Direito (1901): «Non admittitur innovis Institutis quartum votum [Nos

novos institutos não é admitido um quarto voto]».

Faltam todas as particularidades dos Votos em si, nas suas explicações particulares,

e nas suas aplicações seja pelo que concerne a vida individual que a vida comunitária.

Não existe uma palavra na sua organização para as Obras das Missões às quais elas se

dedicam.

Como exemplo da falta absoluta de disposições oportunas pode-se ler o capítulo II,

Condições para serem admitidas, Capítulo que fala toda outra coisa, e dá ao objetivo

do Capítulo somente o último artigo, o Nº5 onde, por fim, as condições de aceitação e

a documentação necessária não são suficientemente precisas. Assim também o

postulado e o Noviciado no Capítulo V não são suficientemente regulamentos. Não

que se requer particularidades, que vão depois acabar em pedantismos e formalismos

vãos, mas francamente, parece-me que, faltam as linhas fundamentais.

E depois qual é o sistema e o modo de seleção? Quem tem o direito de selecionar as

novas integrantes? Qual é o sistema educativo? Qual a cultura e os seus meios? Estas

são as principais observações, pelas quais me parece de poder concluir que realmente

falta a consistência de uma verdadeira organização social.

Não é melhor o trabalho, segundo opina o escrevente, se se olha a Constituição em

palavras, como Regra de vida. De fato na aplicação dos Votos está o principal

elemento da vida individual das religiosas. Agora falta de fato no Regulamento toda

determinação; como também é muito faltoso o Capítulo da Piedade, seja no que se

refere às Práticas, como do que se refere às das direções, que é a coisa mais

importante.

No Capítulo XV, Regras de vida comum, enquanto se mostra a insuficiência no

providenciar às necessidades e aos cuidados necessários para a disciplina, tem coisas

minuciosas que não deveriam jamais entrar em um Regulamento. Veja, a título de

exemplo, o art. 91, o art. 109, o art. 112 e, de modo especial, o artigo 113. Também

aqui não se faz alusão às coisas principais.

E, no que concerne o Direito Canônico, me parece que se pode dizer em uma só

palavra. Que o presente Regulamento é totalmente fora ( e digo o minimum) das

Normas fixadas pela Sagrada Congregação em 1901, segundo as quais a Igreja aprova

os Institutos de Votos simples. E deste modo a presente Constituição não prevê

Page 126: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

126

suficientemente segundo as leis, que são formais (deixemos de lado as leis que as

Normas têm somente de diretiva), à admissão das Aspirantes, ao Postulado, ao

Noviciado, aos Votos, à disciplina religiosa em geral.

Creio que se possa afirmar que tudo quanto é disposto tem base realmente arbitrária

fora daquilo que a Santa Sé quer ou desejava a este respeito. E esta observação é ainda

mais importante porque S. S. Pio X estabeleceu no Motu próprio Dei providentis (16

de julho de 1906) que: «Conditae sodalitatis constitutiones ordinarius recognoscat;

verum ne prius approbet quam eas ad normas eorum, quas sacrum Consilium in hac

causa decrevit exigendas curaverit [O bispo examine as constituições da nova

congregação; mas não as aprove antes de estar seguro que correspondem às normas

que a sagrada Congregação estabeleceu sobre isso]».

Finalmente também nas relações com a Autoridade Eclesiástica não são

suficientemente indicadas as linhas formais assinaladas por Leão XIII na constituição

Conditae a Christo Ecclesiae (6 de Dezembro de 1900), na qual as relações entre

Bispos e Congregações Religiosas de caráter natural da presente são

determinantemente reguladas.

De fato, não se pode calar nas Constituições, por força desta lei, sobre as disposições

referentes à instituição das Casas, a autorização para as Vestições e Profissões, os

exames oportunos, a autorização para mandar embora as Irmãs Professas, a dispensa

dos Votos, o andamento disciplinar e administrativo, o direito de visita, a

administração dos Santíssimos Sacramentos e da Divina Palavra, e do serviço

religioso em geral.

Outra observação muito importante, porque é já citada no Motu proprio de Pio X, é

esta: «Instituta sodalitas, quamvis decursu temporis in plures dioeceses diffusa, usque

tamen dum pontificiae approbationis aut laudis testimonio caruerit, ordinariorum

iurisdictioni subiaceat, ut decessori nostri constitutione Conditae sancitum est [Uma

congregação aprovada, mesmo se ela está presente há muito tempo em várias dioceses,

até que ela não tenha a aprovação pontifícia ou o decreto de louvor, permanece sujeita

à jurisdição dos bispos, como está estabelecido na constituição Conditae de nosso

predecessor]».

Um exame, Excelência, mais aprofundado (que eu farei se a Vossa Excelência

quiser) teria levado, naturalmente, a uma maior positividade de afirmação. Mas o que

foi dito me parece suficiente para concluir que estas Constituições em análise, nem

como organização de uma sociedade, nem como Regra de Vida, nem em relação ao

Direito Canônico, nem da Autoridade Eclesiástica, são suficientes às necessidades

tanto de direito como de fato, pois nascem do desenvolvimento destas obras delicadas,

especialmente em se tratando de Missionárias, das quais se exige uma forte educação

de espírito e normas definidas e claras.

Eu vos agradeço de novo Vossa Excelência pela confiança, e aproveito a ocasião

para vos apresentar minha distinta reverência e vos pedir a Benção Pastoral...

Page 127: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

127

27

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.5.1 - Ms. de J. Bianchi, inc r: A convicção verdadeira e constante de

que Deus quer - inc v: Estes são os sentimentos que inspiram as Missionárias; 1 f.

computisteria, 307x207 mm.

Sobre o valor da observação da regra, com indicações práticas (leituras,

comportamento pessoal, tempo de doença, uso do italiano) – Oportunidade da

animação vocacional e seu empenho para a formação das missionárias.

A convicção verdadeira e constante de que Deus quer este Instituto, me dá confiança

de ver um dia [cancelado: ótimas] as Missionárias atuantes, espalhadas em grande

parte do mundo. Para isto, portanto, não podem diminuir o fervor; para tornar viva a

memória destas regras, cada assistente das casas fará com que elas as leiam todos os

meses, não permitindo que aconteçam abusos ou faltas de nenhuma natureza, sendo

que a observância exata delas sempre será o único meio para fazer com que cada

Missionária assuma um teor de vida regulada e perfeita, fazendo com que cresçam no

espírito, a serviço de Deus, para [o] bem das almas.

1. Não se impede possuir livros de devoção, ou similares, relacionados a estudos

realizados, mas ao entrar deverão mostrá-los à Superiora.

2. A roupa será para todas o hábito uniforme. Não será nem apertado nem ostentado,

nem sujo, mas de grande modéstia e limpo, expressando a limpeza da alma. 3. Cada Missionária terá o cuidado de conservar a decência e higiene nos cabelos,

sem ostentação ou vaidade. Cada uma terá a testa descoberta e sem cabelos; enfim

a cabeça bem arrumada, sem ambições alguma. Nisto a Assistente vigiará e em

caso de desobediência corrigirá. 4. A irmã doente obedecerá a tudo o que o médico ou a quem a assiste solicitar, sem

a necessidade de usar de insistência ou ameaças, para fazê-las tomar os

medicamentos ou fazer as cirurgias prescritas, oferecendo ao Senhor a

repugnância que naturalmente se experimenta, e dar assim exemplo de paciência e

piedade a quem viesse visitá-la. 5. Sendo a língua italiana entre nós de suma importância, pois a devemos usá-la para

falar com as pessoas, as Missionárias todas, tanto com a assistente e com as

outras Superioras, como também entre elas falarão sempre Italiano, para que

possam aprender as expressões próprias da língua e o mesmo sotaque por quanto

for possível, constatando pois, pela experiência que devido a inobservância se

Page 128: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

128

usam palavras e vocábulos nem sempre convenientes, será punida aquela que não

falar em italiano. |f.1v| Estes são os sentimentos que inspiram as Missionárias e que ressoam naquelas

jovens que as conhecem. Qual será o mérito então, se entre tantas boas obras as

Missionárias fossem promovidas pelos párocos e por outras zelantes pessoas? De qual

recompensa e consolação não se tornaria digno quem ajudasse e favorecesse a vocação

de entrar nas Missionárias para o bem das almas?

A Deus agrada tais ajudas, ainda mais nestes tempos nos quais a educação cristã é

negligenciada e degrada ao máximo e são sempre poucos os operários que unem em si

as qualidades necessárias, todos devemos rezar prontamente para que Deus chame e

envie as Missionárias, e também cooperar com eficácia a tão santo e nobre fim.

Por isso, enquanto sinto de recomendar o bom êxito da obra, não escapa à minha

consideração aquela maior solicitude, e também aquele especial cuidado que deve

ocupar o meu ânimo, isto é, a educação das Missionárias. Depois dos cuidados de

Deus, a fim de que resplandeçam nas mesmas as nobres idéias, é meu dever, vigiar

assiduamente as qualidades e motivações da vocação delas para este estado, e também

a orientação de seus costumes e talentos para que suficientemente instruídas nas letras

– e avançando-se muito mais na ciência dos santos, dia após dia – possam chegar

finalmente a produzir aqueles frutos, que a razão lhes espera e que disso justamente

exige a vocação.

As Missionárias despertaram em mim solicitude, ternura e zelo ao propor-lhes uma

regra justa a qual adequando à própria conduta parecerá a elas fácil chegar logo à

aquisição das virtudes próprias da vocação, para seu próprio bem e também dos outros

pessoas. As regras das quais falo, foram apresentadas à Propaganda, adaptadas às

circunstâncias dos tempos, discretas, observadas por todas, para que ponderando o fim

do Instituto, os dons e as prerrogativas que serão exigidas das pessoas dedicadas a

serem Missionárias possam confrontar às próprias ações e conduta com tais regras.

Page 129: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

129

28

_______________________________________________________________

AFMM, VIII.2.5.4 - Ms. de J. Bianchi, inc: Relembrando os acontecimentos felizes; 2

f., 205x155 mm.

Indicações para o discernimento à mestra de noviças, entre outros conselhos de

caráter educativo e espiritual.

Relembrando os acontecimentos felizes da juventude, com a calma de uma idade

mais madura, aquele tempo em que mais freqüentemente se aprecia somente agora que

é passado, será importante pensar às alegrias da Pia União – que formava à virtude e à

experiência do mundo, e que por leviandade e inconstância juvenil correspondia-se

pouco, e pior perdendo em futilidade os anos da juventude.

Muita prudência e perspicácia nos afazeres, apresentando seu nome e a sua obra.

Espelhada piedade e virtudes robustas embelezam a vida, sobretudo na velhice,

quando então poderão se tornar sofisticadas resmungonas.

Cuidem das filhas como tesouros a vós confiados por Nossa Senhora e mostrai-vos

para com elas cheias de amor e de atenção, não daquele amor puramente sensível que

só se satisfaz de afetuosas expressões, de adocicadas carícias, mas de um amor de

caridade que não descuidando das inumeráveis necessidades destas tenras criaturas,

tenham para com elas cuidados principais em formar o coração para a justiça, para o

sentimento do dever, aos afetos bondosos e às aspirações generosas. Tratai-as como

flores delicadas, falai-lhes da criação e do destino da pessoa, do pecado - prêmio,

castigo- habituai-as devotamente aos retiros com vossos belos exemplos.

|f.1v| Mestra das noviças; descubra do exterior a jovem calma, reflexiva,

comportada, tímida, resguardada, ou mesmo vivaz, pronta, animada, empreendedora –

mas veja a pureza ingênua que revela o coração inocente, que se abre ao amor do bem

e da virtude.

A amorosa atenção com que escutam os professores, a piedade amável e viva com

que rezam, o respeito pela Superiora, a discrição no trato, a plena submissão - que

sempre custa ainda mais na idade juvenil - os ímpetos com que desejam a vestição

(amorosos), os sinceros propósitos com os quais repetem em querer procurar a Deus

por toda a vida, a sua glória e a sua vontade em tudo. Percebendo isso [a] Mestra das

noviças possa consolar-se e encher o coração da alegria mais pura.

Para acostumar as jovens à reflexão e ao exercício da escrita, entregar-lhes-á um

caderno no qual deverão anotar os acontecimentos mais importantes segundo as

moções do coração, a fim de que seus corações batam a uníssono com os sentimentos

da piedade e da caridade, e a fim de conhecer o empenho, a criatividade, o ânimo, se

custa trabalhar e se com amor se aplicam no consentimento da Mestra.

Page 130: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

130

Se têm amor, se busca não aparecer, se gostam de rezar, de estudar, de trabalhar, se

saem do quarto por obediência, ou por necessidade verdadeira, ou dever, ou impelida

pela caridade, se fazem tudo como dever sagrado e religiosa piedade com a intenção

de agradar somente a Deus, |f.2r| se assistem com fervor e bom espírito ás

cerimônias, se se aproximam dos Santíssimos Sacramentos com uma compostura que

revele o sentimento interno de que elas estão cheias; Nada fazer ou dizer ou ir sem

obediência, sempre muito modestas no tratamento, no discurso, no comportamento; se

elas se aborrecem com o esbanjamento, com a preguiça; se mesmo que de índoles

diferentes, se amam, se compadecem, se ajudam mutuamente a guisa de ser um só

coração e uma só alma; se si embelezam de virtudes sólidas e sem perceber vão a cada

dia melhorando e amadurecendo de acordo com os amorosos desígnios da

providência para o bem da juventude, da sociedade e da obra. O princípio, a alma, a

vida, o fim último dos trabalhos seja sempre Deus, N.Senhora e S. José. Se cresce o

amor à vida retirada e escondida, se aprofundam no sentimento da própria miséria, se

redobram a busca de coroar o ânimo a alma das virtudes mais perfeitas (se mostram

animadas de recolhimento piedoso, atitude devota, piedade fervorosa), se oferecem a

Deus o pleno e completo holocausto de si mesmas; com que paz e serenidade, com

quanta consolação e alegria, com qual fervor de espírito vão à vestição e se exclamam

depois: “Deus queira que este seja o dia mais feliz para mim”, correspondendo a tanta

graça, não tendo outro busca a não ser Deus,

Vidas Missionárias, de oração e de ação; com a oração para revigorar-se no zelo à

glória de Maria no bem das filhas, com a ação para se tornarem úteis.

Compostas de um especialíssimo recolhimento, e um forte fervor nos retiros. Com

calma e espírito admirável e com a serenidade própria dos santos suportais as

doenças.

|f.2v| Se o Instituto pudesse prosperar sem isto, não me ocuparia nem mesmo de uma

palavra de elogio.

Se receberdes honras até mesmo do Papa ou do imperador a respeito do Instituto

(que se referem a vós, a vossa pessoa, considerai-as como espinhos) considerai-lhes

graças que Deus faz para que vós estimais o dom da vocação, e mais perfeitamente

lhe correspondam.

Superioras e assistentes sejam discretas em tudo e sempre, no dar uma ordem – e

será um belo ato de exemplo se às vezes pedirem perdão, compreensão se falham, com

palavras e atos que demonstrem o coração todo pleno de arrependimento que fala

mais que qualquer outra coisa. Rezai pelo diretor, mas oferecei-vos sempre para a

sua maior necessidade, aquela de não ter correspondido como devia à graça da sua

vocação.

A humildade dá força e energia até aos pacíficos e a confiança em Deus, também

sinal de Deus. Entre muitas e diferentes circunstâncias, às vezes contrárias, outras

vezes favoráveis, entre as contradições e os sofrimentos mais sensíveis (fome e

doenças, desemprego), entre as necessidades urgentes e as angustiantes incertezas,

mantiveram sempre, aquela perfeita igualdade, aquela inalterável tranqüilidade, aquela

Page 131: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

131

constante segurança que vem somente de Deus, da sua padroeira particular Sta.

Ermelinda, que sofreu.

Foi um tempo em que o instituto (Belloni) sentiu-se ameaçado por um golpe mortal

por um falso testemunho – se quis impedir a sua liberdade em um dos interesses mais

delicados e importantes para o desenvolvimento normal de uma comunidade (obrigá-

las a entrar nas Sales[ianas] ). Foi um tempo de certezas, de fadigas, de angústias

indescritíveis: o Diretor sofreu, mas não temeu, nem seu programa foi [prejudicado];

era cada vez mais firme, quanto mais era confusa a questão e duvidosa a conclusão.

29

_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.5.6 - Ms. de J. Bianchi, inc: O missionário não se cria de improviso; 1

f., 133x130 mm.

Formação de uma missionária a partir da verdadeira Filha de Maria, seu zelo pela

caridade cristã e pela evangelização até mesmo a dar a vida.

O Missionário não se cria de improviso, não; a austeridade de vida, a renúncia da

vontade, amor aos sofrimentos preparam a ida entre os infiéis: e quem não faz entre os

santos exercícios da vida mais dura as suas primeiras provas, como poderá dobrar-se

de boa vontade às dificuldades de uma vida entre os bárbaros, e sorrir diante da morte?

As nossas Missionárias trabalham demais, mas antes foram verdadeiras Filhas de

Maria; renunciaram ao conforto da vida, aos seus deleites, às suas pompas e não

sentiram peso em abandoná-las (e se nossas Missionárias trabalham tanto assim, é

mérito da Pia União), renunciaram aos [ilegível], aliás se alegraram ao encontrar

perigos, tentações, ódio do bem e a prevalência do mal – mérito das Pias Uniões.

Não podemos elogiá-las sem primeiramente bendizer e agradecer a Pia União que as

dispôs e as fortaleceu. E inspirou um zelo fervoroso para propagar o Reino de Jesus

no Oriente. |f.1v| Todas inflamaram-se pelo desejo de trabalhar para os órfãos; que no

oficio de [...] - trabalham quase que competindo nos mais humildes serviços para

mostrar a caridade cristã e demonstrar os grandes princípios do Evangelho e assim

atrair para Jesus, pois onde falta a fé, a caridade não se hospeda, ou não encontra a

não ser que compaixão.

Ó Missionária que foste a primeira a dar a vida para os infiéis, ouça o nosso pedido.

Em ti alma gloriosa - vale a pena esperar – o triunfo da Pia União. Seja tua

recompensa que esta Pia União triunfe e reine no meio de cada nação[e] cidade. Não

Page 132: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

132

haja lugar onde não se implante e não surja uma Missionária e assim renasça o

primeiro fervor, floresça e seduza as Filhas ao amor de Maria Imaculada, ao desejo

dos bens eternos: almas desiludidas pelo mundo, almas desejosas da vida perfeita,

missionária reúna-as.

Page 133: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

133

Page 134: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

134

Ele que nos salvou e nos chamou com uma vocação santa.

2Tm 1, 9

Síntese dos Grupos de trabalho

O CAMINHO PARA UMA «CONSTANTE

EXEMPLARIEDADE»

Simples, mas importante é o caminho que o Fundador nos traçou afim de que a

nossa vida de consagradas deixe «um sinal de perfeição» e torne-se constantemente

exemplar: «Não vos peço virtudes heróicas, mas sem temor de vos ofender, vos peço a

humildade».

Esta demanda permanece ainda atual e nos solicita a acolhê-la concretamente, na

simplicidade e na “terra” da nossa vida quotidiana.

Pela graça de Deus, o espírito das origens não cessa de atrair enquanto que a nossa

fé e “humilde” adesão a Cristo na história, na qual nos chamou, mantém vivo na Igreja

o carisma confiado a Pe. Jacinto.

O fato de nos termos aproximado com consciência aos acontecimentos biográficos

do Fundador e às origens da nossa história faz constatar que aqueles fatos distantes no

tempo são na realidade próximos ao coração de cada uma e podem inspirar e guiar a

vida do Instituto.

Da partilha de experiências e dos plenários surgiram propostas para ajudar-nos a

viver a vida comunitária, a oração e a missão na unidade que funda e alimenta a nossa

vida de consagradas.

Comunidade

A nossa vida comum brota da relação trinitária entre Pai, Filho e Espírito Santo.

Cada uma de nós sente a comunidade como lugar onde o Amor trinitário manifesta-se

na experiência de unidade e diversidade, de realizações pessoais e partilha total, de

ascese individual e diálogo fraterno, de sofrimento e alegria. Assim a comunidade

torna-se Eucaristia vivida, porque nos torna Cristo presente na Sua vida, que

misteriosamente circula em cada uma de nós.

A nossa vida fraterna é, portanto testemunho e expressão que o Reino de Deus é

possível já neste mundo.

Page 135: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

135

Segundo o método da “correção fraterna” inspirado a nós pelo fundador, somos

chamadas cada dia a construir a nossa vida de comunidade «como verdadeiras irmãs,

com maneiras dóceis, afáveis [...] sem requerer direitos, ou autoridade, ou importância

magistral, com correções amigáveis». Humildade e perdão, sinceridade e fidelidade,

escuta recíproca e respeito mútuo criam o nosso estilo de vida, que é simples e

essencial, em um clima de estima e confiança onde cada uma se sente compreendida e

valorizada em um amor «de irmã para irmã», à luz da vida de Maria.

Na comunidade afloram as diversas culturas, revela-se o caminho pessoal de

maturidade humana e espiritual, emergem caráter e sentimentos. É o âmbito onde a

realidade nos alcança de modo mais imediato e onde os desafios e os conflitos que

dela derivam são vividos e reelaborados à luz do Evangelho.

Viver juntas é para nós reconhecer que o objetivo da nossa comunidade é a missão,

ideal de vida à origem da vocação e da fé de cada uma. É na pertença que encontramos

impulsos e razões para a missão: a comunidade nos envia, nos acolhe e nos sustenta.

Somente vivendo juntas, vivemos verdadeiramente para os outros e nos tornamos

capazes de anunciar e testemunhar o amor de Deus, de sermos imagem de Cristo e

mulheres de esperança como Maria.

Oração

A oração nos coloca em diálogo com a Trindade, nos dispõe a acolher a presença de

Deus e o Seu desígnio de amor para a nossa vida. Revela-nos assim a condição

concreta do nosso ser e nos torna capazes de um discernimento atento e vigilante.

O encontro pessoal com o Senhor é o coração da nossa vida e nos abre à

comunidade, numa atitude de humildade e de perdão recíproco. Juntas podemos

melhor agradecer ao Pai pelos seus dons: a vida, a vocação, a pertença ao Seu povo, à

salvação em Cristo.

Na meditação da Palavra, a oração nos conforma à vontade de Deus e nos dá a

disponibilidade de segui-Lo. É força essencial e insubstituível para a seqüela Christi, é

graça que sustenta a nossa fé e a conversão da qual temos necessidade a cada dia.

Na adoração do Mistério eucarístico experimentamos a verdadeira comunhão entre

nós e com as nossas comunidades, enquanto abraçamos e apresentamos a Deus tudo

aquilo que se passa, na Igreja, na sociedade e no mundo.

Em todas as suas formas, a oração nos interpela e nos encoraja a carregar o peso da

realidade, incentivando-nos a nos confrontar com o Evangelho, a oferecermos nós

mesmas, a escutar e fazer nosso o grito da humanidade que sofre.

Na oração sentimos que Deus nos envia sempre de novo ao encontro com a

variedade das culturas, plenas de esperança na construção do Seu reino e confiantes

que a Sua providência saberá nos sustentar nas inevitáveis dificuldades.

Page 136: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

136

Identificando-nos com Maria, nós desejamos que cada uma de nossas ações seja

oração e que toda a nossa vida torne-se adoração, oferta e agradecimento: uma oração

«incessante, universal, prudente, corajosa» (J. Bianchi).

Missão

Às origens da nossa vocação missionária tem Cristo que escolheu cada uma de nós:

«Como o Pai me enviou, também eu vos envio» (Jo 20, 21).

Acolher e responder a este chamado é a missão da nossa vida, no testemunho do

amor misericordioso de Deus para com toda criatura que nós por primeiro

experimentamos: «O que vimos e ouvimos nós vo-lo anunciamos, também a vós» (1Jo

1, 3).

Somos conscientes que o anúncio do Evangelho é sempre obra do Espírito Santo. A

Sua força nos impulsiona sempre a partir, tornando-nos capazes de superar toda nossa

incredulidade e fragilidade humana.

Para continuar a guardar e transmitir o carisma missionário ad gentes suscitado na

Igreja através de Padre Jacinto Bianchi, peçamos ao Espírito de permanecermos dóceis

à Sua ação, prontas a sair de nós mesmas para nos abrir ao novo e partilhar o diferente,

segundo as exigências da evangelização que cada uma de nós sente como próprias.

Para esta tarefa nos formamos ao conhecimento e à valorização das outras culturas, à

prática do diálogo ecumênico e inter-religioso, numa experiência pessoal do Mistério

pascal.

À imagem de Cristo misericordioso, nós nos inclinamos sobre a humanidade

sofredora com gestos simples e concretos de solidariedade e compaixão, sinais de

alegria autêntica e esperança cristã onde a vida e a dignidade da pessoa humana são

oprimidas e violadas.

Inserindo-nos nas realidades onde nós somos enviadas, a nossa vocação se faz

presença na Igreja local colaborando com o dinamismo missionário e à promoção

humana, com uma atenção preferencial à mulher e à juventude. Maria «estrela da

evangelização» nos guia na missão: à Sua luz e com o Seu exemplo tornamos Cristo

presente no Mistério da encarnação. E assim como Ela, nós acolhemos os dons de

Deus para as mulheres e os homens do nosso tempo.

Page 137: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

137

Page 138: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

138

A vossa fé e a vossa esperança repousam em Deus.

Santificais as vossas almas e amai-vos entre vós intensamente, de coração

verdadeiro.

1Pd 1, 21-22

Conclusões da Superiora Geral

CONFIANTES EM DEUS E CONTENTES NA

CAMINHADA

1. Ricas da nossa pobreza

No fim da nossa V assembléia inter-capitular, quero agradecer a todas, e a cada uma

de vocês em particular, pela intensidade, o amor e a paixão com a qual vocês

participaram, sustentadas pela força da esperança, e pela certeza de pertencer a uma

Congregação que, embora pequena, é atenta a se deixar renovar pelo Espírito.

Juntas iniciamos um novo sulco no qual hoje podemos lançar novas sementes para

renová-la e revitalizá-la no seu espírito, na sua tradição e nas suas expressões

operativas.

Nestes dias eu refleti com o texto bíblico no qual Ezequiel descreve o vale de ossos

secos (cf. Ez 37, 1-14). A pergunta de Deus me tocou muito: «Filho do homem,

tornarão a viver estes ossos?» e a resposta do profeta: «Senhor, Deus, tu o sabes»;

depois o Senhor faz reviver aqueles ossos que pouco a pouco se recompõem, retomam

vida e se levantam em forma humana.

Eu refleti também sobre os quarenta anos que Israel passou no deserto. É uma

condição que sempre se repete, na história da Salvação e na experiência de cada um.

Também nós, agora nos encontramos no meio de uma travessia que parece sempre

mais longa, difícil e insegura. Também para nós, este é o tempo da provisoriedade,

portanto estamos certas que Deus mesmo se faz fiador desta viagem, que nos proverá

água e alimento e nos defenderá dos perigos, do desânimo e da sedentariedade.

Hoje temos uma consciência mais profunda que a nossa vocação e o seguimento de

Cristo na Vida Consagrada são um dom precioso, mesmo se confiado às nossas

“pobrezas” pessoais, comunitária e de Congregação.

Podemos ser pequena, mas não parte menos importante do «pequeno rebanho»

(Lc12, 32) com a condição de sermos fermento de Cristo na massa, que saibamos nos

reconhecer como o servo inútil (cf. Lc 17, 10) e tornar-nos essenciais, como um pão

ázimo de sinceridade e verdade, na certeza que somente abandonando as seguranças

Page 139: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

139

humanas e até mesmo nossos justos critérios, pode renascer uma vida nova que

produz fruto, como o grão de trigo caído na terra (cf. Jo 12, 24).

2. Esperar os tempos de Deus

Tantos e preciosos foram nestes dias os pontos de reflexão, como centelhas que

acompanhando-nos, traçam e iluminam o caminho a ser feito.

Jamais como nesta época de tempestades e contradições «o Senhor está perto de

todos os que o invocam, de todos os que o invocam sinceramente» (Sl 144, 18). Ele é

fiel à Sua aliança, nos dá continuamente a graça para responder ao seu chamado

mantendo viva nos nossos corações a sedução de Cristo. Assim podemos continuar a

segui-Lo e, através da nossa vida de missionárias, a desmascarar a ausência de valores,

os mitos das falsas liberdades e dos sucessos efêmeros.

Escutamos fortes apelos: ao avaliarmo-nos cada dia com as exigências do

Evangelho, dentro da realidade do nosso tempo difícil, ao acolhermo-nos

reciprocamente valorizando as nossas diversidades, ao integrarmo-nos nas várias

culturas que representamos, ao aceitar de conviver e partilhar com o outro, nos vários

aspectos apresentados. Sobretudo fomos solicitadas a auxiliar e viver a continua

evolução da Vida Consagrada, na Igreja e na sociedade.

Tudo isto nos interpela à necessidade de uma fé mais profunda e de uma continua

conversão do coração. Nesta mudança reside a fidelidade à nossa vocação e

conseqüentemente a Cristo que nos chama a cada dia: é Ele que nos “sinais dos

tempos” continua a nos revelar a vontade do Pai e a face autêntica dos outros Seus

filhos e nossos irmãos.

Esta tarefa hoje exige de nós a humildade da obediência, a paciência da espera e a

responsabilidade do discernimento, como nos ensina Jesus: «Pois bem, eu vos digo:

Erguei vossos olhos e vede os campos: estão brancos para a colheita... um é o que

semeia e outro é o que recolhe os frutos» (Jo 4, 35.37). É o mesmo horizonte que João

Paulo II nos convida a olhar: «Vejo alvorecer uma nova época missionária, que se

tornará dia radiante e rico de frutos, se todos os cristãos e, em particular, os

missionários e as jovens Igrejas responderem com generosidade e santidade aos apelos

e desafios do nosso tempo» (Redemptoris missio, 92).

3. A caminho como Padre Jacinto

Há alguns anos padre Antonio da Silva nos falava da necessidade de estabelecer

uma empatia com Padre Jacinto, resgatando a sua imagem autêntica e a sua memória

viva, aprendendo a considerá-lo não uma pessoa do passado, mas presente entre nós,

Page 140: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

140

graças à potência do Espírito. Portanto nós perguntávamos como podermos nos

aproximar verdadeiramente dele, dos seus pensamentos e estado de espírito, da sua

sensibilidade de homem e de cristão, de sacerdote e de fundador. Padre Antonio nos

respondia que a possibilidade de uma empatia brota da convicção que Padre Jacinto

Bianchi está vivo no meio do povo de Deus através do sinal visível e concreto que são

as Filhas de Maria Missionárias, depositárias da sua hereditariedade e chamadas a

fazê-la frutificar. É o mistério da Comunhão dos Santos. Estes dias foram

fundamentais para nos aproximarmos dele: à luz de tudo quanto aprendemos que

imagem temos da sua pessoa? Acredito de poder interpretar o sentimento de todas

indicando-o como um profeta: ele foi na verdade um portador de novidade fazendo-se

intermediário para a manifestação de um carisma, viveu a fidelidade à sua vocação

através de uma confiança inabalável no desígnio de Deus. Sobretudo, era convicto de

fazer a vontade de Deus, de ser seu instrumento, e jamais se preocupou consigo

mesmo.

Desta humilde certeza tirava a audácia e a força para caminhar nas estradas não

certamente simples, que Deus lhe havia traçado, um percurso que às vezes se via com

clareza, mas freqüentemente se confundia até quase desaparecer.

Quem sabe quantas vezes terá perguntado: «O que fazer?». Mas os fatos

demonstram que ele jamais parou, continuando a caminhar na certeza de não estar

sozinho ao longo do caminho, porque sabia que Deus guardava os seus passos, mesmo

os mais inacessíveis e arriscados que o levavam a abandonar um caminho cômodo e

conhecido para abrir estradas completamente novas.

É esta a passagem a qual somos chamadas também nós, suas filhas?

Somos chamadas a traçarmos o caminho sem parar de caminhar, sustentadas pela

esperança de atingir a meta?

Para orientar-se é necessário olhar para o alto, e nós temos a Palavra de Deus, a

Regra de Vida, os escritos do Fundador, os documentos da Igreja. Mas tudo isso serve

se conservamos a «juventude do coração» isto é, a vontade de arriscar, de colocar a

vida em jogo, de não fazer cálculos, porque confiantes completamente em Deus, o

único que pode manter viva a nossa esperança.

Que os nossos olhos olhem sempre para o futuro à luz da esperança e o coração se

deixe penetrar pelas palavras de Jesus: «Coragem, sou eu, não tenhais medo... A vossa

tristeza se transformará em alegria... Até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão

todos contados; portanto, não tenhais medo» (Mt 14, 27; Jo 16, 20; Mt 10,30-31).

Como o «Sim» de Maria, o nosso “sim” nasça da humilde disponibilidade e do total

abandono a Deus, certas da Sua promessa também quando o Seu reino de paz parece

inevitavelmente danificado pela agressão e pela violência.

Maria nos acompanha na vida, no trabalho de cada dia, nos desejos do bem para nós

e para o mundo. A onipotência de Deus confiou na sua humildade para realizar o

grande desígnio de Salvação. Assim cada uma de nós seja dócil e generosa a dar tudo

de si mesma para realizar o projeto que Deus traçou para nossa Congregação.

Page 141: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

141

Abraço-vos, todas, com profundo afeto, desejo-vos uma boa caminhada e muita

audácia para continuar a serem «donne viventi nel mondo»(mulheres que vivem no

mundo).

Ir. Fiorenza Amato

Page 142: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

142

CALENDÁRIO DOS TRABALHOS

Sábado 5 de julho de 2008

Saudação da Superiora Geral

Introdução à Assembléia e apresentação do documento de Jacinto Bianchi

Testemunho das virtudes e luta contra as paixões por uma vida de perfeição

Domingo 6 – terça-feira 8 de Julho

Tríduo de espiritualidade: Os fundamentos bíblicos da missão

STEFANO BERTON SX – Encarregado da animação missionária nos Seminários

Italianos

Quarta-feira 9 de Julho

Visita à Basílica papal de „São Paulo fora dos muros‟ em ocasião do ano paulino

Relatório: O nascimento dos institutos femininos na Itália no século XIX. Elementos

constantes e experiências específicas com referência particular ao âmbito

missionário

GIANCARLO ROCCA SSP - Diretor do Dizionario degli Istituti di

Perfezione(Dicionário dos Institutos de Perfeição) e Presidente do CSR

Coordinamento Storici Religiosi (Coordenação dos Históricos Religiosos)

Quinta-feira 10 de Julho

Relatório: Sociedade e Igreja na Itália entre os séculos XIX e XX na perspectiva da

mulher e da vida religiosa feminina. Formação dos membros, serviço à comunidade e

presença no meio do povo.

GRAZIA LOPARCO FMA – Professora de História da Igreja na Pontifícia

Faculdade de Ciências da Educação Auxilium e vice-presidente da CSR

Coordinamento Storici Religiosi (Coordenação dos Históricos Religiosos)

Page 143: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

143

Sexta-feira 11 de Julho

Relatório: Dos “novos institutos” às novas comunidades. Leis da Igreja e sopro do

Espírito em um século de História da Vida Consagrada

LEONELLO LEIDI CP - Canonista e Responsável do escritório da Congregação

para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedade de Vida Apostólica

Segunda-feira 14 de Julho

Visita ao Arquivo Histórico da Congregação para a Evangelização dos Povos

(Propaganda Fide)

Relatório: O trabalho histórico e arquivístico sobre Padre Jacinto Bianchi

FABRIZIO FABRIZI – Pesquisador do Centro de Estudos Guanelliani (Obra Padre

Guanella) e consultor histórico-filológico

Terça-feira 15 de Julho

Apresentação do Documento de Trabalho: Às origens das Filhas de Maria

Missionárias. A idéia e a possibilidade da fundação na experiência e na reflexão de

Pe. Jacinto Bianchi

Quarta-feira 16 de Julho - Beata Virgem do Carmelo

Relatório: Espiritualidade e devoção mariana em Padre Jacinto Bianchi

ANTONIO F. DA SILVA SSP – “Postulador” geral da Família Paulina

Visita à Igreja do Carmelo e à Basílica de Santa Maria em Trastevere

Quinta-feira 17 de Julho

Relatório: Direito canônico e dimensão espiritual

S.E. MONS. VELASIO DE PAOLIS - Presidente da Prefeitura das Relações

Econômicas da Santa Sé

Sábado 19 de Julho

Relatório: Valor e significado das Constituições para um Instituto religioso

AGOSTINO MONTAN CSI - Professor de Direito Canônico na Faculdade de

Teologia da Pontifícia Universidade Lateranense

Page 144: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

144

Domingo 20 de Julho

Apresentação da Associação «Guardas de Honra de Padre Jacinto Bianchi»

ENRICO ROSSI E ROBERTO MARCHINI - Villa Pasquali

Terça-feira 22 de Julho

Visita à Necrópole Vaticana e sepultura de São Pedro

Em complemento aos encontros programados e nas datas não especificadas foram

desenvolvidos trabalhos de grupos divididos por grupos lingüísticos.

Page 145: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

145

PARTICIPANTES

Conselho Geral

Ir. Fiorenza Amato, Superiora Geral

Ir. Maria Alice Freire, Vicária

Ir. Marisa Crialesi, Ecônoma

Ir. Carla Saluto, Conselheira

Ir. Antonietta Papa, Secretária geral

Itália

Ir. Lucina Amato

Ir. Fabiana Abate

Ir. Fabrizia Zaffanella

Ir. Angela Bono

Rep. Centro-Africana

Ir. Ida Casotti, Delegada

Ir. Lucie G. Mbomby

Ir. Olga R. Yangue

Ir. Evelyne Lette Yabanga

Ir. Pauline Mbesima Kala

Brasil

Ir. Neusa da Conceição Vale, Superiora Regional

Ir. Benedita Domingos Nogueira

Ir. Sirlei de Souza Antunes

Ir. Marinalva Ribeiro da Silva

Ir. Hélem de Oliveira Araújo

Ir. Vanessa Gomes Ferreira

Page 146: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

146

Índice

Page 147: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

147

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Nota de edição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Meditações de Padre Jacinto Bianchi às Filhas de Maria

Testemunho das virtudes e luta contra as paixões por uma vida de perfeição . . . . . . . . 11

Saudação da Superiora Geral

Da nossa história «um raio luminoso» para o futuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

RELAÇÃO

ÀS ORIGENS DAS FILHAS DE MARIA MISSIONÁRIAS

A idéia e a possibilidade da fundação na experiência e na reflexão de Pe.Jacinto Bianchi . . . 23

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Organização e limites do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Primeira parte - As origens do Instituto na experiência pessoal do Fundador (1864-1875)

1.1 As raízes em Scandolara (1864-1865) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

1.2 Na escola de Giuseppe Frassinetti (1865-1868) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

1.3 O método da “correção fraterna" e a contribuição de Pe. Luca Passi . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

1.4 A Pia União das Filhas de Maria e de Sta. Inês do abade Alberto Passèri . . . . . . . . . . . . . 34

1.5 A fundação em Pigna (1870-1875) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

Segunda parte – A missão na Palestina (1876-1892)

2.1 A presença das Filhas de Maria na missão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39

2.2 Os votos de 1877: das Filhas de Maria “missionárias” ao Instituto das FMM . . . . . . . . . 41

2.3 O Esquema da Regra de 1889 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

2.4 A progressiva autoconsciência do Instituto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

2.5 O retorno na Itália em 1892 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49

Terceira parte - O texto normativo de 1907

3.1 Análise sintética e circunstância de publicação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

3.2 Um instrumento inadequado à aprovação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

Quarta parte – Avaliação sobre uma experiência

4.1 Manifestação da Providência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

4.2 A virtude e a regra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

4.3 A força da humildade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

4.4 A missão de hoje na vocação originária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63

Page 148: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

148

Apêndice - O «fim secundário» das FMM nas formulações sucessivas. . . . . . . . . . . . . . . . . 64

DOCUMENTAÇÃO

Documento 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

Documento 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

Documento 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

Documento 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

Documento 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

Documento 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

Documento 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

Documento 8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

Documento 9 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

Documento 10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

Documento 11 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

Documento 12 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

Documento 13 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

Documento 14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

Documento 15 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

Documento 16 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

Documento 17 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

Documento 18 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

Documento 19 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

Documento 20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

Documento 21 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

Documento 22 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

Documento 23 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122

Documento 24 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

Documento 25 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

Documento 26 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127

Documento 27 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

Documento 28 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132

Documento 29 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

Síntese dos Grupos de trabalho

O caminho para um «constante testemunho» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

Comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

Oração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138

Missão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .139

Conclusão da Superiora Geral

Confiantes em Deus e contentes na caminhada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

Calendário dos trabalhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145

Participantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148

Page 149: Ó Espírito Santo, pedimos-vos, que com vosso amor, conceda ...20da%20Assembl%e9ia%20inter... · Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer ... conhecer o passado quer

149

Editado em italiano no mês de dezembro de 2008

Pela Comas Gráfica srl - Roma Traduzido em português em setembro de 2009