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Ó Espírito Santo,
nós Vos adoramos Deus,
como o Pai
e o Filho Jesus Cristo,
e Vos oferecemos o nosso coração.
Assim como vós cumulastes
de todas as mais belas graças
a alma da nossa Mãe
Imaculada,
pedimos-vos,
que com vosso amor,
conceda-nos a graça
dos vossos sete dons.
Gloria ao Pai...
Pe. Jacinto Bianchi
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MULHERES QUE VIVEM NO MUNDO
ATOS DA V ASSEMBLÉIA INTERCAPITULAR
Roma
De 06 a 28 de Julho de 2008
FILHAS DE MARIA MISSIONÁRIAS
2008
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Na capa:
Chegada das Irmã Benedetta Barbera e Irmã Anna Barrile ao Rio de Janeiro, 1953 (AFMM)
© FILHAS DE MARIA MISSIONÁRIAS
Casa Geral
Via Lorenzo Valla, 21
00152 Roma
Publicação para uso interno
Dezembro de 2008
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Apresentação
«Recorda Israel... Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer
nestes anos» (cf. Dt 8, 2).
Tenho o prazer de entregar-lhes os atos da nossa V Assembléia Inter-
capitular apresentado-os com esta frase do Deuteronômio, pois recordar,
fazer memória, é um aspecto essencial para viver cada experiência na sua
autenticidade, para não esquecer a nossa história e os benefícios que a nossa
Congregação recebeu de Deus ao longo de todos estes anos. De fato, após a
conclusão da experiência da Assembléia, continuam presentes em nós os
estímulos, as sugestões e os objetivos que nos foram oferecidos nestes dias.
A Assembléia foi uma primeira meta após o caminho que a Comissão de
estudos do Fundador realizou durante estes três anos, realizando assim esta
determinação específica do XIX Capítulo Geral (cf. Atos, p. 54).
O trabalho de equipe está fundamentado no Relatório apresentado nestes
atos, fruto de pesquisa, de reflexões partilhadas e do diálogo de todas as Irmãs
que participaram da Comissão. Foi reelaborado com a assessoria no nosso
consultor Fabrizio Fabrizi, para a publicação, enriquecido de muitos escritos
de Pe. Jacinto: textos que são garantidos na sua originalidade e autenticidade,
que correspondem plenamente às suas intenções, assim como saíram de sua
mente e de sua caneta.
Estes documentos oferecem uma ocasião favorável para aproximar-nos
diretamente do nosso Fundador, para compreender o seu pensamento no
contexto histórico, religioso e cultural: acolhendo-o como um dom precioso,
como semente lançada em terra fértil da nossa fidelidade à vocação. Uma
leitura atenciosa nos ajudará a colocar em evidência a personalidade de Pe.
Jacinto, a mensagem da figura deste homem que hoje chega até nós,
certamente distante em muitos aspectos, mas exemplar para a sua vida cristã e
atual para o carisma e o Espírito revelado ao longo dos anos da sua vida, da
juventude à maturidade, do sacerdócio à responsabilidade de fundador.
Além disso, poderemos percorrer novamente os primeiros passos da vida de
nossa Congregação e relembrar algumas Irmãs que se destacaram no período
difícil e entusiasmante das origens. Como Pe. Jacinto e junto a ele, sentiam
fortemente o imperativo missionário: o amor e o zelo nunca as deixavam
paradas e elas não pouparam sacrifícios nem tempo, motivadas para os
irmãos com a mesma caridade de Jesus.
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Estas realidades podem reavivar a nossa experiência pessoal, de fato
conhecer o passado quer dizer compreender as pessoas que viveram aquele
tempo e entender como elas o enfrentaram.
Temos os meios para recuperar toda a energia vital transmitida pelo
Fundador às primeiras Irmãs, que com ele partilharam, sofreram e lutaram. O
exemplo da plena e total resposta delas nos ajudará a redescobrir a nossa
verdadeira identidade de mulheres discípulas de Jesus Cristo. Isto nos ajudará
a alargar os horizontes, com a coragem de dar uma nova direção à nossa vida
e à nossa missão para sermos sinais críveis de esperança e vida neste mundo
fragmentado. A sermos mais atentas à “passagem de Deus”, guiando-nos a
uma análise objetiva e serena da nossa vida consagrada, pessoal e
comunitária.
O zelo fiel do carisma requer audácia profética e criativa, sobretudo hoje em
época de desafios planetários. É somente entregando-nos totalmente a Deus, à
Sua mão que nos conduz e nos impulsiona, que poderemos ir além dos restritos
horizontes do cotidiano e das nossas capacidades humanas.
Confio-lhes este instrumento como uma contribuição valiosa para
aprofundar a resposta generosa, que também nos momentos difíceis, Pe.
Jacinto deu a Deus com o exemplo da sua vida cristã. Por isto a Igreja
reconheceu a heroicidade das suas virtudes declarando-o venerável.
Desejo-lhes que a leitura destes Atos, seja ocasião per aumentar em nós a
consciência de sermos mulheres consagradas, verdadeiras missionárias
“presentes no mundo”.
Ir. Fiorenza Amato
6 de dezembro de 2008
Novena da Imaculada Conceição
Promulgação da venerabilidade de Pe. Jacinto Bianchi
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NOTA DE EDIÇÃO
A V Assembléia inter-capitular das Filhas de Maria Missionárias foi desenvolvida tendo
como “pano de fundo”a Relação intitulada: Às origens das Filhas de Maria Missionárias. A
idéia e a possibilidade da fundação na experiência e na reflexão de Pe. Jacinto Bianchi. Tal
trabalho, que forma a seção principal desta publicação, baseou-se sobre a análise e sobre a
interpretação dos numerosos documentos originais e em parte inéditos. Trata-se, sobretudo de
alguns textos autografados pelo Fundador, que estão conservados no Arquivo da Casa Geral
junto a muitos outros documentos. Há quase dois anos iniciou-se um trabalho sistemático de
ordenação e transcrição sobre este considerável patrimônio de fontes históricas, do qual a
Relação é um primeiro resultado significativo, além disso uma ulterior contribuição à
historiografia critica sobre a vida e sobre as obras de Jacinto Bianchi.
* * *
O critério de publicação dos Documentos recolhidos nesta seção especial objetiva restitui
com fidelidade a integridade dos textos, sobretudo quando são redigidos em forma esquemática
e de anotações, segundo o estilo característico de Jacinto Bianchi, exigido pela sua atividade de
pregador popular.
Portanto os textos publicados apresentam-se desprovidos de notas de caráter filológico
(indicações relativas a rasuras, repetições, termos abreviados, trechos ou palavras citadas nas
entrelinhas ou ao longo das margens...) que informam sobre a elaboração dos textos, mas não
dão contribuição significativa ao conteúdo deles. Estão presentes entre parênteses quadrados [
] somente poucas indicações consideradas mais interessantes.
Sempre entre parênteses quadrados encontram-se também algumas integrações redacionais e
explicações que procuram facilitar a leitura.
Os manuscritos de Jacinto Bianchi em gênero trazem como cabeçalho a sigla VJJM( «Viva
Jesus, José e Maria»), que na transcrição é omitida.
Abreviações
AFMM Roma, Arquivo Filhas de Maria Missionárias
f. folha, folhas
inc incipit (início de um trecho)
Ms. -ms. manuscrito
Positio CONGREG. DE CAUSIS SANCTORUM, Cremonen. Canonizationis Servi Dei Hyacinthi
Bianchi sacerdotis fundatoris Instituti Sororum Filiarum Mariae Missionariarum (1835-
1914), Positio Super Virtutibus, Roma, Tipografia Guerra, 1993.
r– r retro da folha ( frente )
v - v verso da folha
[...] texto omitido ou faltoso
| | Indicação de troca de folha ou página
Explicação de termos italianos não existentes na tradução para a língua portuguesa: aCorrettrice- cargo semelhante ao do Conselho fiscal no sentido de aprovar, aconselhar,
admoestar as pessoas que exercem cargos de responsabilidade. bPrimária- Nome dado à Sede das Pias Uniões em Roma.
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“sejais irrepreensíveis e íntegras, como perfeitas filhas de Deus...”
Fil 2, 15
Meditação de Padre Jacinto Bianchi às Filhas de Maria
TESTEMUNHO DAS VIRTUDES E LUTA CONTRA AS PAIXÕES
POR UMA VIDA DE PERFEIÇÃO
Quero falar-vos de um nítido espelho onde olhando para vós mesmas, podeis
purificar-vos dos vossos defeitos para apresentar-vos como a Virgem Mãe
Imaculada.
Quero por isso dizer-vos de acreditardes sempre em duas coisas:
1. não podereis jamais merecer o elogio e a coroa de verdadeiras Filhas de
Maria se às tantas virtudes que embelezam a vossa alma fizer sombra um só
defeito, obscurecendo os claríssimos raios da inocência;
2. não podeis jamais alcançar a perfeição se não decidirdes de combater com
determinação, até ter vencido aquele vício dominante que vos faz guerra
contínua, à exemplo da nossa Mãe Imaculada que com o calcanhar esmaga a
soberba.
Não vos peço virtudes heróicas, mas sem medo de vos ofender, vos peço a
humildade, e com ela todas as virtudes cristãs – porque sem a humildade todas
são nada. É necessário que as vossas intenções sejam retas, que nunca vos
afastem das leis escritas por Deus sobre o Sinai e sobre o Calvário; é
necessário que em todos os vossos comportamentos resplandeça um constante
testemunho, de tal modo que não dêem um passo sem deixar uma marca de
perfeição, e que o vosso bom nome seja tão íntegro que não somente não seja
manchado, mas nem mesmo suspeito.
Não sereis dignas de serem verdadeiras Filhas de Maria, dignas do nome que
vos honra e glorifica, se não fordes muito puras de costumes, muito
desapegadas do mundo, muito desejosas de virtudes, muito unidas à
N.Senhora, muito fervorosas do bem e mortificadas, portanto irrepreensíveis.
Convém, aliás, é indispensável que vos mostreis desse modo ao mundo, aos
anjos e aos homens; é tão necessário que sejam desse modo ilustres e claras a
vossa virtude e a vossa inocência, que as outras admirando o vosso estilo de
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vida ou fiquem caladas ou sejam forçadas a admitir que as Pias Uniões
Marianas são uma providência.
Cada pequeno defeito é percebido em vós: um discurso negligenciado, um
descuido, uma frieza, uma moda, um olhar, uma visita, uma palavra, uma
risada é notada e se exclama: « Que bela Filha de Maria!...» sejais puras nos
pensamentos, voltando-os a Deus, puras nas mãos para as boas obras, puras no
coração para a retidão dos propósitos, puras na alma para a santidade da vida.
Mas como sois mulheres que vivem no mundo, eis a necessidade da
Congregação Mariana, para espelhar-vos em Maria. As faltas se ressaltam aos
olhos de todos (a virtude não, porque se esconde por humildade ou mesmo
porque o mundo não a percebe) e ofuscam aquelas virtudes heróicas que
tornam a vossa alma perfeita.
As vossas virtudes são como o ouro que se encontra na areia dos rios: se
assenta no fundo e não se pode ver; ao passo que os vossos defeitos são como
as algas e as palhas que as turvas correntes transportam consigo: flutuam e
fazem crer que o rio seja mais feio que bonito. Portanto se entre tantas virtudes
que coroam o vosso apostolado transparecer alguma imperfeição que
desacredita a santidade do Instituto, o mundo dirá «O rio é mais rico de lama
que de água límpida».
Se olhardes com pouca cautela, se dizeis uma palavra menos correta, se sair
de vossos peitos uma centelha de desdenho, se florescer sobre os vossos lábios
um sorriso inoportuno, é somente isto que todos vêem, que todos notam e
censuram, sem considerar as muitas virtudes com as quais engrandeceis a
honra da vossa Pia União. Por esta fraqueza, que vos faz vacilar, mas não cair,
bradam contra vós os malignos e vos zombam os ímpios. Se entre as pessoas
comuns do mundo é cobrada de serem muito atentas, de terem modos gentis:
como se poderia tolerar que as Filhas de Maria sejam más?
Se a virtude é misturada com qualquer vício, bem pouco é apreciada por
Deus. Correm no mundo doutrinas novas, cômodas, perigosas: a liberdade das
colocações às quais intervém homens e mulheres de toda qualidade, as igrejas
que parecem teatros e certas homilias que parecem comédias, palavras vazias
que não dizem nada; alguns não jejuam na Quaresma, outros não se
comunicam nem mesmo na Páscoa, outros ainda enrolam... basta olhar ao
nosso redor.
Há quem diz: isto é pretender muito das jovens, que embora que sejam Filhas
de Maria e chamadas a serem perfeitas de espírito são porém feitas de carne,
sujeitas à corrupção; não se pode pretender que sejam como N.Senhora
Imaculada.
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Eu peço muito com isso: mas Jesus Cristo não pretendia muito mais quando
propôs de sermos perfeitos como seu Pai? Sim – vós dizeis – mas Cristo era
Deus.
Porém São Paulo escreve que somos santos e imaculados diante de Deus.
Vós respondereis: «Somos pecadoras», e é verdade, mas quem impede de se
tornarem santas? Deus quer que todos nos tornemos perfeitos e assim seremos
bem aventurados já nesta terra.
Peço demais? Sim, mas a quem o peço? Às Filhas de Maria que professam a
virtude. Não vos nego que, para trazer novamente uma total vitória sobre o
mundo, que vos impede de serem perfeitas – eu vos expliquei como Jesus quer
que sejais perfeitas – é preciso força e coração. Eu bem sei que as nossas
paixões são sempre impetuosas e turbulentas, e se domadas com o freio da
mortificação perdem força;
Mas, quanto mais cremos que elas poderão nos vencer, mais crescem: por
isso qual será o remédio? Aí está ele, muito seguro, testado sempre com grande
sucesso: para gozar a paz, protegei-vos sempre da paixão predominante, aquela
que nos causa a guerra mais dura.
Alguém poderá dizer: «Eu pela graça de Deus estou longe das suspeitas e das
conversas perigosas: estou em casa, tenho companheiras virtuosas, sou
moderada no comer, não sou ambiciosa; rezo, trabalho, não leio romances,
passeio pouco... mas me lamento da pobreza»; outra ao contrário diz: «Pois eu
tenho paciência no meu estado e condição, mas gostaria de ter mais saúde»,
«Pois eu não me preocupo comigo mesma: não penso jamais ao matrimônio e
deixei minha alma em paz, porém não posso negar que também eu não me
empenho muito para a Pia União e não me esforço com ardor para que seja
estimada». Estas posturas são um mal grave, e necessita mudar de vida para
chegar a vencer a própria paixão.
Analiseis a vossa fraqueza – ambição, inveja, soberba – combateis até o fim:
senão que perfeição seria a vossa, em corrigir somente um só defeito, e os
outros não? No caminho da perfeição, nada faz quem não faz tudo: ai de quem
se coloca a arar e olha pra trás, quem não se inflama é morno. Deus quer
derrotar todos os vícios e triunfar inteiramente sobre os inimigos da virtude
eliminando a paixão dominante, aquela que nos faz abusar do poder, e então
todas poderão exclamar: «Viva Maria Imaculada e as Pias Uniões».
Texto reelaborado do manuscrito autografado, AFMM, VIII.2.6.1/3
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“Procurai a Iahweh e sua força, buscai sempre a sua face; recordai as
maravilhas que ele fez...” Sl 104, 4-5
Saudação da Superiora Geral
DA NOSSA HISTÓRIA
«UMA REFLEXÃO ILUMINADORA» PARA O FUTURO
Caríssimas Irmãs,
a todas vós que estais aqui reunidas para a nossa Assembléia inter-capitular,
dirijo a minha cordial e fraterna saudação, em particular às Irmãs que vieram
de longe: Brasil, Costa do Marfim e República Centroafricana.
1. Um período de graça
Antes de tudo podemos reconhecer que os três anos passados desde o último
Capítulo Geral foi um período verdadeiramente especial. O Senhor nos fez
viver acontecimentos de graça, tocando não somente o coração de cada uma,
mas a história do nosso Instituto, com as profissões de várias irmãs, a entrada
no noviciado de algumas jovens, a abertura da missão brasileira de Tianguá, no
nordeste, e há pouquíssimos meses o início do novo “desafio” no Equador. E
ainda o percurso da causa de beatificação do nosso Fundador, que avançou
primeiramente com a decisão da Comissão teológica, e conseqüentemente com
aquela do Congresso dos Cardeais sobre o reconhecimento das suas virtudes
heróicas. Atravessamos também momentos difíceis, por causa de doenças
graves perdemos Irmãs caríssimas que agora certamente nos protegem do
Paraíso, enquanto que a saúde de outras permanece muito precária. Sou, porém
convicta que no plano de Deus tudo é graça, então mesmo as provas de
sofrimento e de morte têm um significado bom na vida do nosso Instituto.
2. Uma inesgotável riqueza Pensando nas palavras que deveria vos dirigir, me surpreendi com o episódio
evangélico de Jesus que subiu na barca de Pedro e de seus companheiros, e
pediu-lhes para saírem ao largo para a pesca. Mas Pedro lhe disse: «Senhor,
trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar». Jesus respondeu: «Lançai
vossas redes do lado direito, e encontrareis». Eles assim fizeram, e apanharam
tamanha quantidade de peixes que suas redes se rompiam (cf. Lc 5, 3-6).
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Para adaptar esse episódio à nossa situação, modifiquei um pouco a imagem
evangélica, na realidade em nome de todas nós, eu haveria dito a Jesus:
«Senhor, trabalhamos, cansamos, encontramos qualquer coisa e acreditamos
que não tenha mais nada a pegar fora daquilo que as nossas redes já pescaram».
Entendo assim referir-me à pesquisa sobre os escritos do nosso Fundador.
Jesus nos solicitou e encorajou a lançarmos novamente as redes, porque
encontramos muito mais do que as nossas expectativas.
Porque esta reflexão? Logo depois do Concílio Vaticano II, também o nosso
Instituto retomou o estudo dos escritos de Pe.Jacinto, continuando a difundi-los
e a propor alguns dos quais inéditos.
Mas, parecia quase que não tivéssemos mais nada a descobrir: já tínhamos
tudo em mãos, o que poderíamos conhecer ainda dele? Mesmo que fosse muito
difundido, certamente, este não era o pensamento de todas. Muitas de nós
éramos de fato convictas que o estudo do aspecto carismático e espiritual do
nosso Fundador não tinha absolutamente um itinerário completo; julgava-se
ainda que continuando as pesquisas e aprofundamentos poder-se-ia chegar a
descobrir novidade e vitalidade, seja para dar hoje, a nossa resposta à Igreja,
seja para exprimir o valor do nosso vínculo de caridade e sobretudo pelo
desejo, vivo em cada Irmã, de contribuir na construção de um rosto renovado,
mais bonito, das Filhas de Maria Missionárias.
3. A alegria de um trabalho sempre novo
Neste empenho de estudo e conhecimento, que vem sendo feito há décadas,
as Superioras gerais precedentes, com os respectivos Conselhos, procuraram
trabalhar animadas com um forte sentido eclesial, baseado num autêntico amor
pela Vida Consagrada e pelo nosso Instituto, sempre atentas a envolver todas
as Irmãs para que cada uma pudesse dar a sua contribuição, mesmo que fosse
somente com a oração. Como no passado, também depois do Capítulo de
2005, nós recomeçamos o trabalho, procurando a ajuda de pessoas peritas nas
disciplinas necessárias para um estudo correto e frutuoso.Temos assim
renovado o desejo comum de aproximarmo-nos do nosso fundador com uma
perseverante dedicação, mas também com amor sincero, profundo e
desinteressado pela nossa Família Religiosa que, apesar de simples e pequena,
tem um grande valor, como nos assegura Pe.Jacinto: «Parece aos olhos
humanos muito modesto o trabalho de uma humilde Congregação entre os
importantíssimos acontecimentos dos quais se faz célebre este século, um
acontecimento pouco considerado, mas de imensos bens e germe fecundo» (p.
71).
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Todas de fato desejamos revisitar as nossas origens, porque sabemos que o
conhecimento de nossa história nos ajuda a redefinir a nossa espiritualidade na
sua tríplice expressão de consagração, comunhão e missão.
Esta Assembléia foi preparada com um instrumento de trabalho denso de
sabedoria, fruto de pesquisas, de meditações partilhadas e de diálogo ao interno
da Comissão que foi designada logo depois do Capítulo de 2005.
Como em todo caminho, não faltaram as dificuldades: nós as vivenciamos
participando da Cruz de Cristo.
O trabalho dos próximos dias será orientado por pessoas competentes: as
intervenções delas nos oferecerão um espaço de reflexão sobre a riqueza
carismática e espiritual de Pe. Jacinto e a do Instituto, sobre a história que
chegou até nós através da vida de todas as Irmãs que nos precederam. As
nossas reflexões certamente não poderão limitar-se ao período da Assembléia,
que é somente um ponto de partida intenso e partilhado, onde encontrar
material e pontos relevantes afim de que cada uma possa continuar e “fazer
seu” o trabalho de pesquisa.
Tenho certeza que poderei contar com a colaboração generosa de cada uma,
para ajudar a todas, enfrentar e esclarecer os problemas, a desatar os nós que
certamente surgirão. Somos também conscientes que, sobretudo nestes dias, a
reflexão pessoal e as orientações comuns não estarão isentas de erros e
incompreensões, mas se vivermos tudo isso em autêntica comunhão, o Espírito
Santo será como sempre generoso, e nos dará toda a luz e a simplicidade para
um verdadeiro discernimento.
4. Uma vocação para o mundo
O tema escolhido para esta Assembléia: «Donne viventi nel mondo»
“Mulheres que vivem no mundo”, foi tirado do texto de Pe. Jacinto e vale
ainda hoje como uma definição de nós mesmas, do nosso apostolado, e é por
isso de grande utilidade. Mas para compreendê-lo adequadamente, necessita
também inseri-lo no contexto original do Fundador. A expressão se encontra na
redação de uma de suas conferências às Filhas de Maria da Itália e em
particular aquelas de Roma, feita aproximadamente entre 1887 e 1888, durante
as celebrações jubilares para o cinqüentenário de sacerdócio de Leão XIII.
Pe. Jacinto as exorta dizendo: «Convém, aliás, é indispensável que vos
mostreis desse modo ao mundo, aos anjos e aos homens; é tão necessário que
sejam desse modo ilustres e claras a vossa virtude e a vossa inocência, que as
outras admirando o vosso estilo de vida ou fiquem caladas ou sejam forçadas a
admitir que as Pias Uniões Marianas são uma providência. Cada pequeno
defeito é percebido em vós: um discurso negligenciado, um descuido, uma
frieza, uma moda, um olhar, uma visita, uma palavra, uma risada é notada [...]
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Mas como sois mulheres que vivem no mundo, eis a necessidade da
Congregação Mariana, para espelhar-vos em Maria » (pp. 11-12).
Surge espontaneamente recordar as palavras de Jesus, quando disse aos
apóstolos que eles estão no mundo, mas não são do mundo (cf. Jo 17, 16-18).
Também S. Paulo nos ajuda a compreender melhor estas palavras de Pe.
Jacinto: «Tornai-vos irreprováveis e puros, filhos de Deus, sem defeito, no
meio de uma geração má e pervertida, no seio da qual brilhais como astros no
mundo, mensageiros da Palavra de vida» (Fil 2, 15-16). E por sua vez quase
comentando esta exortação paulina, Pe. Jacinto especifica: «Se o mundo nos
cega à graça, o século permanece envolvido entre as trevas do pecado, cobre
uma outra nuvem de infidelidade a quem não crê, ou a quem mal crê: as Filhas
de Maria devem resplandecer entre todos estes horrores » (AFMM,
VIII.2.6.1/2).
«Vós sois o sal da terra e a luz do mundo» (Mt 5, 13-14) nos diz ainda hoje
Jesus. E nós seremos verdadeiramente «sal» e «luz» se vivermos a nossa
espiritualidade na radicalidade, sem sermos “radicais”, mas realistas, isto é,
bem conscientes que as situações mudaram e com elas também a modalidade
da nossa presença: «A vida religiosa é um testemunho e um sinal necessário à
Igreja, as formas de vida podem também mudar, algumas encarnações deste
testemunho podem até mesmo acabar, mas a verdadeira preocupação é que, se
a raiz é boa, os ramos bons continuarão a existir e portarão o seu fruto » (Enzo
Bianchi).
O mundo é o palco teatral da ação salvífica de Deus, manifestada aos homens
em Cristo e continuamente atualizada através dos seus discípulos: «Como tu
me enviaste ao mundo, também eu os envio ao mundo» (Jo 17, 18).
É Ele que nos quis e nos colocou no mundo como consagradas e
missionárias, portanto não podemos fugir do confronto com o mundo: tudo
aquilo que acontece nos deve interpelar e interessar. Sobretudo, não podemos
fechar os olhos e muito menos o coração diante da dura realidade que tantos
dos nossos irmãos e irmãs vivem. Devemos pedir ao Espírito de
permanecermos prontas e disponíveis para deixarmo-nos guiar por Ele entre os
clamores do nosso tempo.
A nossa vocação, precioso dom do Espírito a cada uma de nós, nos pede de
viver no meio do povo, de armar a nossa tenda entre a humanidade mais
sofrida para escutar o «grito do pobre» (Prov 21, 13): iluminadas pela Palavra,
teremos a coragem de reavivar a esperança, e assim tornarmos um sinal da
ternura salvífica de Deus.
Nós, Filhas de Maria Missionárias, fortificadas pelo zelo apostólico herdado
do nosso Fundador e com o olhar fixo em Jesus Cristo queremos viver uma
Vida Consagrada que seja dinâmica, ativa e eficaz. Por isto estamos presentes
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nos lugares onde existe pobreza, conflitos, tensões. Somos chamadas a viver as
mesmas condições do povo que sofre, conscientes de que a nossa missão é
cuidar da vida onde quer que ela esteja ameaçada. Assim nos exortava Ana
Roy: «Nas estradas onde ninguém caminhou, deixa os teus passos. Nos
pensamentos que ninguém formou, projeta o teu coração.
Na oração que ninguém rezou, una as tuas mãos em súplica.
Às lágrimas que ninguém derramou, ofereça os teus olhos e purifica a tua
esperança...».
5. Uma identidade para o nosso tempo
Descrevendo a situação dos seus tempos, há cerca de um século, Padre
Jacinto se exprimia com acentuações que hoje podemos definir “proféticas”
pois suas palavras daquele tempo são perfeitamente válidas também para nós:
«Agora diante desses males, desta praga profunda, bastara levantar lamentos e
choros, e mover-se um pouco? Não, é tempo de correr onde exista o perigo, de
trabalhar com grande esforço, é tempo de zelo heróico porque a sociedade se
enfraquece separada de Deus» (AFMM,VIII.2.3.3). Também hoje a sociedade
nos parece dramaticamente «separada de Deus» com distâncias que parecem
insuperáveis, com situações concretas que continuamente nos colocam à prova.
Hoje, que coisa nos desafia como religiosas e missionárias?
Uma realidade que nos deve interrogar fortemente é a da imigração,
sobretudo após as recentes mudanças políticas na Itália e na Europa. O nosso
julgamento sobre este fenômeno complexo deve partir das palavras de
Jesus:«Tive fome e me deste de comer, tive sede e me destes de beber; fui
estrangeiro e me hospedastes» (Mt 25, 35). Por isso não podemos aceitar a
ação indiscriminada das nações assim ditas “civilizadas” e “evoluídas” em
desfavor de tantos inocentes, não podemos nos conformar com grande parte da
sociedade que vê nos imigrantes irregulares e clandestinos a causa primeira da
criminalidade. Não podemos esquecer e nem fazer esquecer que quase todas
estas pessoas são forçadas a abandonar a pátria para fugir de terríveis situações
sócio-politicas, da insegurança difundida, da guerra que prossegue há anos na
indiferença do ocidente, da miséria causada pela corrupção e exploração.
Quando chegam às nossas terras, é muito fácil que se tornem vítimas do crime
organizado. Mas nós, quando é que tivemos a coragem de intervir em defesa
destes nossos irmãos?
Este fenômeno dramático deve hoje nos interrogar sobre a verdadeira
identidade e sobre a fidelidade da qual somos capazes. É urgente clarear a
especificidade e o significado da nossa vida religiosa missionária no meio do
mundo.
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Somos Igreja a caminho, e ao longo dos séculos, cada tempo tem as suas
dificuldades e contradições, os momentos de escuridão ou os obstáculos que
aos olhos humanos parecem insuperáveis. Mas ainda que nos vejamos
circundadas pelo mal, bem sabemos que ele não está destinado a vencer. De
fato «toda a criação geme e sofre até hoje as dores do parto», mas «os
sofrimentos do momento presente não são comparados à glória futura que
deverá ser revelada em nós» (Rm 8, 22.18).
Por isso a nossa atitude diante da realidade, o nosso “viver no mundo” seja
uma espera vigilante, capaz de acolher e pronta a proteger e fazer crescer tudo
quanto é bonito, bom e verdadeiro que Deus continua incansavelmente a criar:
«Eis que faço uma coisa nova: ela já vem despontando: não a percebeis?» (Is
43, 19).
6. Viver hoje como Maria Imaculada
A nossa voz profética e o nosso testemunho adquirem força e geram atrativos
se “vivemos no mundo” espelhando-nos em Maria.
Padre Jacinto quer que vivamos como N.Senhora Imaculada! Mas o que
significa para nós sermos imaculadas? Certamente não é um chamado a estar
fora das controvérsias do mundo, a evitar de “sujar as mãos” nos
acontecimentos dos nossos tempos. É ao contrário um estímulo a confrontar-
nos abertamente, a “combater” contra um mundo idólatra que sacraliza o lucro,
anuncia a “boa notícia” da competição desenfreada que exclui a maioria das
filhas e filhos de Deus e, além disso, aplaude a esta injustiça gritante. «Não vos
conformeis com este mundo, mas transformai-vos renovando a vossa mente, a
fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e
perfeito» (Rm 12, 2). Um anúncio que não “atrapalhe” o critério do mundo não
seria autêntico, não faria irromper a “novidade” de Cristo em uma sociedade
dominada pela injustiça e pelo esquecimento. «Eles me perseguiram, também
vos perseguirão» (Jo 15, 20). Quando dizia estas palavras, Jesus tinha em
mente também nós, mas se hoje o mundo não nos persegue como perseguiu os
primeiros cristãos, é talvez porque não representamos para ele uma ameaça, ou
uma pequena possibilidade de desestabilizar o seu “sistema” feito de violência
e egoísmo. Bem pior seria se também nós desviássemos o olhar da miséria que
nos circunda, se não denunciássemos as suas causas, porque assim seríamos
coniventes com tudo isso. Quem aceita passivamente esta situação não pode
dizer de ser como Maria Imaculada. As palavras do Fundador nos pedem e nos
impulsiona para ir contra a corrente, para continuar a afirmar uma visão de
mundo que nasce da Palavra de Deus e da sua plena Revelação em Cristo: a
construção do Seu Reino de paz, fraternidade e justiça, porque «Cada vez que o
18
fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes» (Mt 25,
40).
A vigilância e a solicitude de Maria em ver crescer Seu Filho sejam o nosso
olhar sobre o nosso tempo: a nossa amantíssima Mãe nos dê a capacidade de
viver cada situação com o nosso verdadeiro rosto, de estar sempre “em missão”
levando o testemunho de Cristo às mulheres e aos homens que encontramos
sobre nosso caminho.
7. Abraçar a Cruz para crescer na virtude
Sabemos bem que não podemos abraçar Cristo sem a Cruz. E esta cruz é a
prova cotidiana de sentirmo-nos incompreendidas ou inadequadas em uma
sociedade que dá valor àquilo que é superficial e imediato, onde quase tudo é
imediatamente disponível pois o ter vale mais que o ser. Mas este é o lugar do
nosso testemunho, humilde e tenaz. O documento Vita Consecrata nos
adverte: «A cada um é pedido não tanto o sucesso, quanto o empenho da
fidelidade. Aquilo que se deve absolutamente evitar é a verdadeira falência da
Vida Consagrada que não está no declínio numérico, mas na decadência da
qualidade da adesão espiritual ao Senhor e à própria vocação e missão» (VC
63).
Como consagradas, devemos continuamente oferecer a Deus toda a nossa
pobre humanidade para que da Sua onipotência seja transfigurada e salvada,
modelada como sinal crível e luminoso do Evangelho de Cristo.
No texto que introduz a Assembléia, Padre Jacinto nos adverte: «
Cada pequeno defeito é percebido em vós[...] As faltas se ressaltam aos olhos
de todos[...]e ofuscam aquelas virtudes heróicas que tornam a vossa alma
perfeita» (p. 12), e num outro ponto rebate: «Se o mundo não for influenciado
e edificado pela vossa presença, sois um corpo morto e não tendes razão de
existir: por isso sejais verdadeiras Filhas de Maria» (AFMM, VIII.2.6.1/1).
Mas pela graça de Deus, a nossa história não é feita somente defeitos e falhas.
A memória viva de tantas Irmãs que nos precederam é para nós um grande
conforto, na certeza que também hoje é possível dar um autêntico testemunho
de virtudes, a nível pessoal e comunitário, permanecendo fiéis ao carisma do
nosso Instituto. A graça que Deus nos dá na consagração é maior que os nossos
limites. Nossa responsabilidade é não esquecer jamais a preciosidade deste
dom, e assim deixar espaço na nossa vida à obra de Deus, para fazê-la emergir
como as fagulhas de ouro que, segundo a comparação de Padre Jacinto, estão
presentes na areia do rio mas escondidas pelas algas e palhas esmagadas pela
corrente:
19
«Portanto se entre tantas virtudes que coroam o vosso apostolado
transparecer alguma imperfeição que desacredita a santidade do Instituto, o
mundo dirá «O rio é mais rico de lama que de água límpida»(p. 12).
Como os santos, como os fundadores, como Padre Jacinto, confiemo-nos a
Deus! Com as palavras de João Paulo II a Igreja nos convida a uma luminosa
esperança: «Vós não haveis somente uma história gloriosa para recordar e
recontar, mas uma grande história a construir! Olhais o futuro, no qual o
Espírito vos projeta para fazer convosco ainda grandes coisas» (VC 110). A
fidelidade de Deus e o poder da Sua graça são capazes de gerar maravilhas,
assim que Cristo seja vivo em nós e por meio de nós. A perene novidade do
Espírito nos impulsiona a encontrar novos caminhos, para exprimir como
Maria, com profundidade e coragem, o amor de Cristo à humanidade.
Animadas por esta grande confiança, podemos nos mover «às pressas» (Lc 1,
39) sobre os passos de Maria para apresentar Cristo ao mundo, às mulheres e
aos homens sedentos de paz e de salvação, para sermos como Ela presentes aos
pés das inumeráveis cruzes do nosso tempo.
Por isto recebemos o dom da vocação, como nos diz ainda Padre Jacinto:
«Deus vos colocou no mundo para que cada exemplo das vossas virtudes seja
um raio luminoso da luz de sua Mãe» (AFMM,VIII.2.6.1/1).
Ajudemo-nos no trabalho que nos espera criando um clima de abertura,
disponibilidade e escuta recíproca, «de Irmã para Irmã». Para o bem do nosso
caro Instituto, pedimos ao Espírito de Deus que nos ilumine a mente e o
coração. Imploremos a benção da Santíssima Trindade, a proteção de Maria
Imaculada e a intercessão do Fundador Padre Jacinto Bianchi. Desejo a todas
uma Assembléia construtiva, alegre e fecunda.
Com afeto e muita fraternidade
Ir. Fiorenza Amato
Roma, 29 de junho de 2008
Festa dos Santos Pedro e Paulo
20
RELATÓRIO
ÀS ORIGENS DAS FILHAS DE MARIA MISSIONÁRIAS
A idéia e a possibilidade da fundação
na experiência e na reflexão
de Pe. Jacinto Bianchi
21
22
Introdução
Como todas as histórias vivas, que ainda hoje envolvem pessoas e atividades,
também a história do nosso Instituto é interessante. Primeiramente porque é a
“nossa” história e depois porque é uma história longa, de mais de cento e trinta
anos, que atravessou aquela que vem definida a idade contemporânea.
Do ponto de vista da história da Igreja foi de muito trabalho, que preparou o
momento no qual estamos vivendo; um período diferente de todos, nem melhor
e nem pior do que os demais. Para o cristão, a história é sempre a “história da
providência” e em cada época é chamado a reconhecer esta verdade e a
colaborar com ela. O tempo não existe em função do avanço do “progresso”,
mas o tempo é o espaço da manifestação de Deus, cujas vias não são
evidentemente aquelas conhecidas e apreciadas pelos homens:
“Parece aos olhos humanos muito modesto o trabalho de uma humilde
Congregação entre os importantíssimos acontecimentos dos quais se faz
célebre este século, um acontecimento pouco considerado, mas de
imensos bens e germe fecundo”. 1
Organização e limites do trabalho
Procuraremos percorrer a gênese, o desenvolvimento e a manifestação
da perspectiva fundacional, em Pe. Jacinto Bianchi enfatizando alguns
momentos de sua biografia e analisando o seu primeiro texto impresso de
caráter normativo. Leremos alguns de seus “fragmentos” típicos (não se trata
de pequenos trechos, mas textos não organizados), buscando uni-los e
interpretá-los. Este trabalho poderia até parecer arbitrário, mas é só uma
tentativa, uma busca de critério sobre o qual apoiar a hipótese, que por ora
parece ser a mais convincente sobre a origem do Instituto. Após breves
considerações sobre o segundo texto impresso, tentaremos chegar a algumas
conclusões que expressem o espírito que Pe. Jacinto Bianchi desejava para as
suas Missionárias.
1 “Rezem a Deus que na Sua imensa bondade...” ms. de J. Bianchi,AFMM, VIII.2.5.3; cf.
Documento 1, p.71.
23
Certamente é necessário reforçar uma vez mais que restam muitos
estudos e pesquisas a serem feitos para conhecer Jacinto Bianchi e o Instituto
que ele fundou, que são duas realidades bem diferentes, ainda que apresentem
muitas coincidências historiográficas e documentais. Em seguida, o estudo dos
vários contextos: históricos, eclesiais, normativos, espirituais, nos quais o
Fundador viveu e por eles foi influenciado. Como adquirimos novas
informações e documentos sobre a pessoa de Pe. Jacinto Bianchi e sua obra, o
atual conhecimento de muitos acontecimentos memoráveis não é ainda
definitivamente confirmado do ponto de vista historiográfrico; uma parcial
compreensão correta das circunstâncias permite de justapor e arriscar a
interpretação dos fenômenos, comportamentos e juízos, mas com a firme
consciência que as ulteriores e necessárias pesquisas (a serem feitas em outros
arquivos e através da sistematização do nosso) poderão iluminar seja zonas até
então sombrias confirmando as hipóteses, seja impor uma validação também
substancialmente diversa dos acontecimentos.
Os principais momentos da história do Instituto foram novamente
percorridos, na medida do possível respeitando uma organização cronológica
através de uma leitura “transversal” dos documentos disponíveis ( muitos dos
quais atualmente sem datas), na tentativa de delinear um quadro de referências
tendencialmente coerentes, sugerindo uma “chave de leitura” unitária para
atribuir a cada escrito uma possível colocação orgânica. O objetivo é
evidentemente o de aproximar-se de uma reconstrução realista dos
acontecimentos, ligada a uma lógica do suceder das circunstâncias, procurando
evitar uma interpretação simplificada a posteriori que acaba por reconduzir a
inevitável complexidade do presente às fases conseqüentes de um projeto
delineado.
A interpretação proposta quer somente evidenciar a efetiva
multiplicidade das “origens” do Instituto, ligadas em boa parte aos
acontecimentos biográficos de Pe.Bianchi, mas também à atuação das pessoas
e contextos que fugiam ao seu controle ou dos quais não podia ter direto ou
completo conhecimento. Se pensarmos, por exemplo, à utilidade que nesta
perspectiva poderia ter uma rigorosa investigação histórica sobre a
singularidade das co-irmãs do início, nas suas relações recíprocas e com o
Fundador.
24
Primeira Parte
AS ORIGENS DO INSTITUTO NA EXPERIÊNCIA
PESSOAL DO FUNDADOR
1864-1875
1.1 As raízes em Scandolara (1864-1865)
Pode-se chegar às primeiras origens das Filhas de Maria Missionárias não apenas
resgatando a conhecida história de Pigna a Belém, mas também reconstruindo os fatos
biográficos de Jacinto Bianchi, de modo particular, sua permanência em Scandolara
Ravara como vigário paroquial (da primeira metade de 1860 até abril de 1865); onde
ele faz sua primeira «tentativa fundacional» 2 com o projeto e a realização de uma
comunidade: a Casa de trabalho para mulheres, aberta temporariamente no início de
1865.
Em uma carta a João Bosco em 19 de novembro de 18653 Jacinto Bianchi
transcreveu o Programa e um regulamento aos quais chama de Espírito e Finalidade
da Casa. Quando escreve a carta, já há alguns meses Pe. Jacinto encontra-se em
Gênova e a fim de que Dom Bosco faça a sua apreciação, expõe a idéia de uma nova
fundação que pretende fazer próxima a Cremona. O novo «projeto de proveito
público-religioso» 4 previa a abertura de outra Casa de Trabalho para mulheres, mas
desta vez coligada a uma casa de hospedagem masculina para juntos sustentarem um
colégio de jovens estudantes; a proposta era não muito articulada e não teve
continuidade: D.Bosco não responderá limitando-se a colocar sobre a carta a anotação:
«simples memória». Jacinto queria propor novamente para a casa de Trabalho, o
regulamento já utilizado em Scandolara e por isso fez com que Dom Bosco também o
conhecesse, informando-o de que «o mesmo foi feito bastante amplo de modo que
não pareça somente religioso»5.
Entendia deste modo cautelar-se para evitar a hostilidade anti-clerical pela qual o
forçaram a fechar a casa de Scandolara6 e conseqüentemente fizeram com que ele
pedisse ao bispo para ser o quanto antes destinado a um novo lugar:
“Não posso e além do mais não devo ficar em Scandolara como Coadjutor.
Tardar a saída seria querer em seguida ser o acusador do modo de comportar-se
do Arcipreste: o que absolutamente não quero. Não se aborreça em permitir de
2 Positio, p. 33.
3 Carta de Jacinto Bianchi a João Bosco, Gênova 19 de novembro de 1865, AFMM, VIII.
1.1b Ep202; cf. Documento 2, pp. 73-80. 4 Idem, p.73.
5 Idem.
6 Cf. Documento 2, anexo 3, Uma casa de trabalho em Scandolara Ravara, pp. 77-78.
25
retirar-me súbito, ou transferir-me a outro local [...]Portanto espero do senhor
uma notificação permitindo o que peço, que é a necessidade do momento.”7.
O embrião do regulamento da Casa de Scandolara, Espírito e Objetivo da Casa,
com seus quatro artigos delineiam uma primeira estrutura de vida comunitária,
baseada no «espírito de fraternidade»8 e na partilha de vida «como muitas irmãs» que
convivem observando a «disciplina [...] para o bem privado e público.»Alguns
indícios sugerem que Pe. Jacinto já tinha em mente um estilo de «convivência»
semelhante àquele de uma Casa religiosa: são as referências (mesmo que de forma
negativa) ao «distintivo», ou seja, ao hábito e à «clausura», a denominação de
«Superiora» com um cargo próprio, a prescrição de caráter moral, a obra de
misericórdia corporal, o «dar esmola» e, sobretudo, a missão educativa da juventude
feminina, atividade típica das Pias Uniões das Filhas de Maria, que permanecerá como
uma característica fundamental do Instituto.
As intenções de iniciar uma Casa religiosa, já eram explícitas, conforme bem havia
entendido o autor de um artigo que ele enviara para Dom Bosco, transcrevendo-o ao
final da carta. Com o passar de diversos anos, no final de 1891, o próprio Pe. Bianchi
reconhece explicitamente que em Scandolara começou «a primeira idéia da casa»9, e
poucos meses depois, em 16 de julho de 1892, conseguiu abrir uma Casa de
Missionárias.
Do ponto de vista biográfico, é significativo o fato que Pe. Bianchi atribui à
abertura e ao abandono forçado da Casa de Scandolara a causa da sua saída da
diocese de Cremona e conseqüentemente a sua transferência para Gênova:
“Diante de todas as coisas considerei ser melhor ir-me embora, pois me retirei
de lá não por outra causa, a não ser pelo fato do bispo ter sido enganado e
acreditado que o governo queria me prender por motivo dessa minha
iniciativa”10
.
Na realidade o bispo Novasconi, que bem o conhecia pois foi quem o ordenou,
tinha sofrido pressão da autoridade civil para afastar Pe. Jacinto, que na época tinha
seus trinta anos, mas evidentemente lhe foi apresentada uma explicação bastante
cômoda: distanciar-se para prevenir uma possível prisão11
.
7 Carta de Jacinto Bianchi a D. Antonio Novasconi, Scandolara Ravara, 30 de março de
1865, AFMM, VIII.1.1c.Ep214; cf.Documento 3, pp. 80-81. 8 Todas as citações deste parágrafo são tiradas da Carta de Jacinto Bianchi a J.Bosco, Gênova
19 de novembro de 1865, anexo 1, Programa de uma Casa de Trabalho para mulheres; cf.
Documento 2, pp.74-75. 9 J.BIANCHI, Cartas a Delfina 1886-1894, Roma, Filhas de Maria Missionárias, 2007, p. 36.
Ir.Delfina Delfino explica que por «Casa» se entende «Obra» e portanto o próprio Instituto; cf.
Idem. 10
Carta de J.Bianchi a J.Bosco, Genova, 19 de novembro de 1865; cf. Documento 2, p.73. 11
Cf. Positio,pp.34-40,nn.2-5.
26
Na história de Scandolara, primeira experiência «falida» de uma nova fundação, já
aparece a referência à Pia União das Filhas de Maria de Roma com a qual Bianchi
devia estar em contato, pois faz referência ao «cordão» e à «corrente» que havia
encomendado para a jovem que «foi constituída Diretora da mesma Congregação»12
.
1.2 Na escola de Giuseppe Frassinetti (1865-1868)
Quando Pe. Jacinto, em abril 1865, transferiu-se para Gênova, já havia feito diversos
contatos com Frassinetti, que evidentemente tinha percebido suas qualidades de
homem e de sacerdote, a ponto de convidá-lo para ficar junto com ele13
.
Desde os primeiros tempos de permanência em Gênova, Pe. Jacinto Bianchi teve
condições de viver a consagração pessoal na Pia União dos Filhos de Santa Maria
Imaculada, iniciada por Frassinetti, sobre o exemplo da análoga Pia União feminina.
Um pequeno grupo desses primeiros consagrados foi em seguida convidado a assumir
a vida em comum e dar origem à Congregação frassinetiana. Para difundir a
consagração secular masculina, Frassinetti em 1864 publicou O religioso no mundo,
baseado em A monja em casa de 1859.
Bianchi definiu Frassinetti como uma «alma santa e conhecedora das necessidades
da juventude cristã»14
. É uma chave de leitura para interpretar a influência deste
grande mestre espiritual sobre o desenvolvimento que assumiu a obra de Pe. Jacinto
Bianchi:
Frassinetti dá uma importância particular à educação das meninas e das
jovens: vê nelas as futuras mães de família das quais dependerá em grande
parte a tarefa tão delicada de fazer crescer uma nova geração enraizada na fé.
«Observo – assim afirma – que a educação dos filhos depende em quase tudo
das mães, mostrando-nos a experiência que se a mãe é boa, mesmo se o pai
não o é, conseguem-se bons filhos e não vice-versa». Cabe-nos então, cuidar
da educação das crianças «as quais formam a metade da adolescência», e
12
Idem, p.37. 13
Cf. Idem, p.61. Giuseppe Maria frassinetti (1804-1868), fundador dos Filhos de S. Maria
Imaculada, nasceu em Gênova, primogênito de quatro irmãos, todos sacerdotes, e de uma irmã,
Paola, fundadora das Irmãs Dorotéas, canonizada em 1984. Ordenado em 1827, foi
primeiramente pároco a Quinto, onde orientou a irmã na fundação de seu Instituto. Depois foi
transferido para Gênova, na Paróquia de Santa Sabina, onde trabalhou na defesa da religião
católica ameaçada pelas idéias liberais e maçônicas. Escreveu obras ascéticas que estão
traduzidas nas principais línguas européias e fundou instituições de cultura, piedade e
assistência. A característica fundamental de sua ascese era a afirmação que cada cristão,
mesmo vivendo no mundo, pode atingir a perfeição evangélica, através da consagração pessoal
e o estado de graça obtido por meio da Comunhão freqüente. Quando morreu foi assistido por
Pe. Jacinto Bianchi. 14
Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias sob o patrocínio
da Virgem Imaculada e de S. Inês Virgem e Mártir, ms. de Jacinto Bianchi, AFMM,
VIII.2.1.4a/b; cf. Documento 4, p.83.
27
particularmente daquelas descuidadas pelos pais, porque «se elas crescerem
bem, tornar-se-ão boas mães, e a outra metade, sob a educação delas
necessariamente deverá também melhorar». Com este objetivo, Frassinetti
convida os sacerdotes a se valerem da ajuda de tantas mulheres leigas prontas
a se empenharem no apostolado em favor das jovens: «No povo cristão existe
ainda um bom número de pessoas piedosas dedicadas a fazerem o bem, as
quais, se fossem motivadas e orientadas seriam de grande valor tanto para as
próprias famílias como para as outras». Elas podem ter acesso às jovens lá
onde um homem, e particularmente um padre, não poderia chegar «sem se
expor e sem causar suspeitas de uma familiaridade inconveniente.»15
Em 1855, Frassinetti havia escrito a Regra para a Pia União de Santa Maria
Imaculada, fundada em 1851 em Mornese por Angela Maccagno, na qual havia
esboçado aquelas que eram as características de uma santificação pessoal. Esta Pia
União tinha, porém, uma expressão de tipo “religiosa” ligada à prática dos Conselhos
evangélicos, baseando-se nas Ursulinas de Santa Angela Merici. Deste grupo é que
surgirão as irmãs salesianas Filhas de Maria Auxiliadora. As qualidades exigidas para
se inscreverem eram:
1. Aquelas ditas solteironas que queriam observar corretamente a lei divina,
evitando todo pecado, mesmo os veniais, que são plenamente advertidos. 2.
Aquelas que queriam praticar os conselhos evangélicos, conservando
castidade perfeita, cultivando o espírito de piedade e de obediência.16
O objetivo desta Pia União era:
formar congregações [grupos, associações locais] de solteironas devotas
interessadas na busca da própria santificação e em ajudar na salvação do
próximo, congregações aptas a serem criadas também nas pequenas
localidades. [...] o dever delas é em geral de exercitarem-se na misericórdia
corporal e espiritual. Portanto, devem assistir as enfermas pobres do lugar, e
ao mesmo tempo cumprir suas próprias obrigações; devem fazer com que
reine nas próprias famílias o santo temor de Deus; devem empenhar-se para
que as crianças descuidadas pelos pais freqüentem os sacramentos e a doutrina
cristã; e ainda, podendo, devem instruí-las: zelar para as que já são
maiorzinhas se apaixonem pelas coisas santas e se entreguem a uma vida
devota; devem ainda promover as práticas de piedade usadas no local”.17
15
S. VRANKEN, Quale accompagnamento per i giovani sulle vie della santità?, in La
forrmazione alla santità nella Chiesa genovese dell’Ottocento. Il contributo di Giuseppe
Frassinetti, a cura di D.Bruzzone – M.F.Porcella, Roma, LAS,2004,pp.380-381. 16
G. FRASSINETTI, Apêndice sobre a Pia União das Filhas de S. Maria Imaculada, 1862,
em Obra ascética, IV, Tip. Poliglota vaticana, Roma 1912, p. 401. 17
Idem.
28
Em 1856 Frassinetti “importa” para Gênova, na igreja de Santa Sabina, a Pia União
das Filhas de Maria Imaculada de Mornese, que ele define como «novas ursulinas»;
depois de alguns anos, prosseguindo a obra, convida as congregadas a viver em
comum, abrindo casas para tal fim:
[através dessa fundação] desejava-se criar um apostolado voltado para a
moralização dos costumes. Em particular esta exigência nascia da constatação
de que muitas jovens mulheres ficavam «expostas ao mundo com mil perigos
e seduções, sem nenhuma advertência paterna, sem os cuidados maternos, sem
um conselho fiel de uma amiga piedosa, longe dos sacramentos». As Filhas de
Maria poderiam inseri-las nos ambientes de trabalho e na sociedade,
conduzindo-as para uma direção certa. Desse modo Frassinetti conseguiu
reunir ao redor de si um bom número de jovens que instruía semanalmente,
direcionando-as ao caminho da perfeição cristã. [...] Pensou-se também em
preparar a fórmula da vida em comum: em 1860 algumas delas se reuniram
em uma casa, incluindo outras que as auxiliavam em seus respectivos
trabalhos. A comunidade, assim, aumentou rapidamente e em pouco tempo
consideraram oportuno abrir uma segunda casa maior, seguida sucessivamente
de uma terceira.18
A abertura da primeira casa é assim recontada em 1863 pelo próprio Frassinetti, no
início de um parágrafo significadamente intitulado A Casa de trabalho:
Quatro solteironas vivem juntas numa habitação muito simples, composta de
uma salinha sem luz, dois quartos e cozinha. Elas trabalham para ganhar o
pão; duas na confecção de flores artificiais; uma numa fábrica de botas, outra
numa confecção de roupas de cama e mesa; fazem ainda hóstias para várias
igrejas. Dão também trabalho às jovenzinhas da vizinhança; e outras em
número maior vêm até elas para aprenderem a doutrina cristã. [...] Esta casa de
trabalho é ainda lugar de encontro para um grande número de meninas, já
grandinhas e também as adultas, que moram próximo ou até bem distante
desta localidade. Para lá se dirigem especialmente em dias de festa, quando
não vão trabalhar; e tendo um pouco de tempo livre, reúnem-se também em
dias normais [...] É fácil entender o quanto seria útil que casas semelhantes a
estas fossem fundadas em outras localidades, especialmente onde há maior
número de crianças com pouca instrução, educadas de qualquer modo,
desprotegidas, as quais se já não o são, logo serão vitimas de uma depravação
cada vez mais crescente.19
18
P.GHEDA, Giuseppe Frassinetti testemunha e formador de santidade, in La formazione
alla santitità..., cit, p. 145. 19
G. FRASSINETTI, La missione delle fanciulle, 1863, in Opere ascetiche, IV, cit, p. 514,
p. 516, p.517.
29
Jacinto Bianchi, provavelmente se refere a esta experiência de vida comum ao dizer
que:
[Frassinetti] formou uma congregação especifica e abriu duas casas pequenas
com o objetivo de orientar as crianças no caminho do bem através de uma
afetuosa correção fraterna.20
Neste método frassinetiano, ainda que delineado sinteticamente, pode-se reconhecer
a fonte principal de inspiração para as obras de Bianchi, seja para a primeira Casa a
Scandolara (cuja origem pode ser reconhecida no pedido de um «parecer sobre como
posicionar-me na paróquia»21
), quanto para a verdadeira e própria fundação de Pigna.
Esta será mais sólida e duradoura, porque foi um período que Bianchi pôde conviver
diretamente com Frassinetti, desfrutando prazerosamente de sua paternidade espiritual,
observando o método de fundador na prática e aderindo pessoalmente às suas
propostas de perfeição cristã; certamente, também as condições sócio-ambientais de
Pigna (ao menos as iniciais) foram bem mais oportunas (bem diferentes das de
Scandolara, onde era forte o influxo do anti-clericalismo) e contribuíram para o
sucesso da obra.
1.3 O método da “correção fraterna” e a contribuição do Pe. Luca Passi
Jacinto Bianchi fundamentou a espiritualidade das FMM no método da “correção
fraterna”. O inspirador desta interpretação educativa e formativa do mandamento
evangélico de Mt 18,15 («Se o teu irmão pecar, vá e mostre o erro dele, mas em
particular, só entre vocês dois. Se ele der ouvidos, você terá ganho o seu irmão») foi
Pe. Luca Passi22
ajudado pelo irmão Pe.Marco.
Em 1835 Pe. Luca estava em Gênova para a pregação da Quaresma e entrou em
contato com a beata Paola Frassinetti, irmã de Pe. Giuseppe, que havia coordenado
20
Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias..., cf.
Documento 4,p.83. 21
Positio, p.61 22
Luca Passi(1789-1866), foi ordenado sacerdote em 1813, era caracterizado por uma sólida
espiritualidade e por uma vida apostólica muito dinâmica, enquanto ainda eram fortes as
influências da Revolução Francesa. Nesta época as condições de degradação moral se
repercutiam de modo marcante sobre as crianças e a juventude, e à religiosidade popular se
contrapunha as classes altas com um espírito arrogante de independência da Igreja. Nessa
sociedade agitada e carregada de tensões, Pe. Luca solidificou sua vocação de missionário
itinerante, título que lhe foi conferido por Gregório XVI. Se dedicou à evangelização e à
elevação dos mais vulneráveis com várias iniciativas educativas e pastorais, entre as quais a Pia
Obra de Santa Dorotéia que tinha como meta firmar as jovens na fé mediante o envolvimento
de mulheres leigas que seriam “guias amorosas” para as jovens. Da sua atividade em 1838
surgiu as Irmãs Mestras de Santa Dorotéia de Veneza. Deixou como testamento uma afirmação
ao mesmo tempo maravilhosa e comprometedora: é preciso dar a vida ainda que seja para a
salvação de uma só pessoa.
30
uma comunidade religiosa feminina. Desse encontro nasceram as Irmãs de Santa
Dorotéia, cujo nome proveio da Pia Obra de Santa Dorotéia, fundada por Passi. Esta
era uma obra paroquial de tipo associativo, destinada à educação cristã das meninas,
através de um sistema pedagógico-catequético, do qual se dizia
um meio pastoral para atrair, educar, formar de modo cristão as meninas e
transformá-las em pequenas apóstolas no meio das suas contemporâneas. [...
Passi] era convicto por experiência de que, se de um lado, «as meninas
comumente são mais dóceis para serem guiadas ao bem», por outro, «são
também mais fáceis, tanto para serem pervertidas como para se tornarem
pervertedoras». Portanto, «é de suma importância a boa conduta delas e a
influência que sempre causarão sobre a moral pública, principalmente quando
se tornarem mães de família».23
A Obra era organizada de modo muito simples, expressado de forma sintética e
eficaz pelo próprio fundador Pe. Luca Passi:
Toda a obra consiste nisto: algumas pessoas piedosas, com o nome de
Reguladoras, ou Mestras como de costume, assumem cuidar das meninas para
estimulá-las ao santo temor a Deus e formá-las nos bons costumes, instruindo-
as, preparando-as para os Santos Sacramentos, fazendo com que freqüentem o
ensinamento da doutrina, corrigindo seus defeitos pessoais24
.
A alma da Obra de Santa Dorotéia era o método da correção fraterna, utilizado
como forma de educação preventiva:
Nas duas palavras: correção fraterna está a alma da Obra apostólica instituída por
Pe. Luca Passi. Este conceito parece cheio de implicações e de valores. O dever
geral do cristão de corrigir o irmão é entendido, de acordo com a natureza da Obra,
como dever particular que cabe ao Apóstolo, de ensinar a prudência às meninas: um
dever cuidadoso, delicado, para ser feito com amor, indo ao encontro delas no seu
ambiente, sem mudar em nada seus costumes: «A educação vai ao encontro das
meninas em seus próprios bairros, nas suas casas, na roça... é como um guia
amoroso que se coloca em companhia do viajante». Esta orientação prática
específica é muito clara e exige que as mestras-apóstolas tenham uma
disponibilidade que antes de tudo significa serem capazes de descer de seus postos e
se colocar no mesmo nível das meninas, caminhando junto com elas. Este é um dos
traços mais significativos da espiritualidade própria da Pia Obra e que revela
também a sensibilidade pedagógica dos iniciantes, lançando um raio de luz sobre o
sentido humano e cristão da ação de Pe. Luca Passi. A correção fraterna tem uma
23
L. PORSI, Luca Passi. Ardere per accendere, Città Nuova, Roma 2001, p.68, p.69. 24
Idem, pp.70-71.
31
grande finalidade: a salvação das almas. Nesta perspectiva, esta é a máxima de todas
as obras: corrigindo o irmão, eu “ajudo a Deus”, antecipo o seu Reino, preparo a sua
vinda. O fundo teológico é, em última análise, o princípio paulino de completar a
paixão redentora de Cristo; pois são palavras de Pe. Luca – «conforme disse o
Apóstolo, deste modo se completa em nós aquilo que falta à paixão de Jesus Cristo,
ou seja, tornar frutífera a paixão de Cristo por meio da nossa cooperação”25
.
No ambiente frassinetiano os irmãos Passi eram bem conhecidos e por isso Pe.
Bianchi também pôde entrar em contato com a Obra de Santa Dorotéia. É até provável
que ele tenha escolhido como padroeira das FMM uma santa pouco conhecida, a
virgem belga Ermelinda ( que viveu no século VI perto da atual cidade de Tirlemont),
pelas mesmas razões que induziram Pe. Luca Passi a eleger Santa Dorotéia:
Não se consegue colher de imediato o significado e a importância escondida nesta
denominação e pode-se perguntar: por que a Obra de Santa Dorotéia? Quem era
Dorotéia e que relação tinha com esta Obra? Não foi por acaso que Pe. Luca deu
este nome à sua instituição, que deveria ter uma clara destinação e finalidade
religiosa. Segundo ele, era necessário que as meninas, às quais a obra era
destinada, tivessem um modelo e uma padroeira. Entre as numerosas santas que
eram lembradas no calendário da Igreja, algumas das quais muito conhecidas e
muito presentes na devoção popular, escolheu Dorotéia, que, se não era
desconhecida, não era ao menos, por assim dizer, presente no cenário dos
conhecimentos hagiográficos e da consciência eclesial de sua época. Pe. Luca,
pesquisando no vasto campo da hagiografia, no qual era perito, deu-se conta de
que a figura e as vicissitudes da vida de Dorotéia, virgem e mártir, faziam-na apta
a ser proposta como um modelo para as meninas, e por elas ser venerada e
imitada26
.
1.4. A Pia União das Filhas de Maria e de Santa Inês do abade Alberto
Passèri
O convite à uma jovem que tivesse coerentemente vivido a própria fé, ao ponto
de chegar a dar o supremo testemunho do martírio, era uma constante espiritual nos
resultados requeridos à educação religiosa e moral da juventude feminina. Pe.Jacinto
Bianchi trabalhou muito para a difusão da Pia União das Filhas de Maria e de Santa
Inês. Como já foi exposto, desde a época em que esteve em Scandolara, Pe. Jacinto
conhecia e difundia a Pia União. A associação mariana foi fundada em Roma pelo
canônico regular lateranense Alberto Passèri (1822-1884), com a colaboração da
marquesa Costanza Lepri e inaugurada oficialmente em 23 de janeiro de 1864 na
25
G. PAPÁSOGLI, Don Luca Passi, Roma, Instituto das Irmãs Mestras de Santa Dorotéa, p.
106 26
L. PORSI, Luca Passi, cit., pp.62-63.
32
basílica de Santa Inês com o título de Pia União das Filhas de Maria sob o patrocínio
da Virgem Imaculada e de Santa Inês virgem e mártir; o objetivo da Pia União
“romana”(instituída em 12 de abril do mesmo ano)era:
Proteger a inocência das jovenzinhas, defender a idade crítica delas da maldade
do mundo e encaminhá-las através de conselhos e da prática religiosa no
cumprimento dos deveres que têm para com Deus, para com o próximo e para
consigo mesmas; conquistando assim uma virtude cristã sólida sob a proteção
fidelíssima da Imaculada Rainha do Céu e à luz dos exemplos da adolescente de
13 anos, a Virgem Santa Inês27
.
A Pia União de Passèri caracterizava-se por uma clara postura secular, pronta a
formar cristãs maduras e responsáveis, capazes, portanto de reconhecer e percorrer
com coerência o caminho da vocação delas: no matrimônio, na vida religiosa, na
consagração pessoal:
Em poucas palavras pode-se dizer que a finalidade desta associação não é a de
encher o mundo de religiosas, como estão dizendo os nossos inimigos, e sim
fazer com que as jovenzinhas cresçam na piedade cristã, na honestidade dos
costumes, obedientes e respeitosas para com seus genitores; a fim de que um dia,
conforme o estado de vida ao qual Deus as chamará, consigam ser esposas fiéis e
ótimas mães de família, ou esposas do Senhor no convento, ou ainda virgens
bondosas inseridas no mundo, no seio de suas próprias famílias e onde estiverem,
serem exemplo de piedade e de virtude para todos 28
.
Como se pode ver esta se diferenciava explicitamente daquela originada em
Mornese e depois “guiada” por Frassinetti. Porém, era bastante comum que na Pia
União nascessem (ou fossem incentivadas) vocações, era quase como um terreno fértil
no qual germinava o desejo de uma vida de perfeição, que aprofundasse esta pertença
através de uma forma de consagração que poderia ser vivida também no mundo:
É conveniente advertir aqui que, se na Pia União tivessem jovens que mesmo
continuando a viver no mundo desejassem consagrar a própria virgindade
inteiramente a Deus, as mesmas ficariam sob o cuidado do Diretor que as
orientaria para se inscreverem em outras Pias Uniões destinadas a tal fim, como à
Companhia de Santa Úrsula instituída por Santa Ângela Merici. Quem, porém
desejar dedicar-se a tal ato ao Senhor, e continuar na nossa Pia União, neste caso,
ao mesmo tempo em que aconselhamos aos zelosos Diretores a ajudarem estas
27
Prefácio do Manual Grande de uso das Filhas de Maria elaborado pelo Revmo. Abade
Pe. Alberto Passèri, Roma, Sociedade de São João Ev., Desclée, Lefebvre e C.i,1903, ed. 36ª,
p. 20. O prefácio citado vem como premissa à 31ª edição do Manual, publicada antes da morte
de Passèri em 1884. 28
Idem.
33
meninas e encorajá-las a responder a Deus que as chama para uma vida de
perfeição, aconselhamos, outrossim, a não formar um grupo diferente dentro da
Pia União. O ato da consagração seria feito privadamente, evitando-se qualquer
tratamento diferenciado e divisão na associação. Para os Diretores das nossas Pias
Uniões fica bem claro que as Filhas de Maria como tais, não têm nenhum vínculo
de voto e de promessa, pois a finalidade destas é muito diferente daquela da Pia
União de Santa Ângela Merici29
.
A intuição de Pe. Bianchi será não somente a de permitir, mas de favorecer,
direcionar e guiar o desejo de perfeição que encontrava nas Pias Uniões Marianas,
distinguindo-as, mas sem separá-las da congregação de origem, pois assim seria de
proveito recíproco.
No manuscrito já citado Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria
Missionárias Pe. Jacinto menciona juntamente com Frassinetti, os irmãos Passi e o
abade Passèri, quase que identificando as fontes inspiradoras do seu pensamento
fundacional:
Deus suscita vocações de acordo com as necessidades dos tempos; e desta vez,
pela sua excessiva caridade pelas almas – hoje em dia cheias de si próprias e
de espírito mundano, não dispostas a aceitar e escutar como boas as
advertências da autoridade eclesiástica – fez com que estas Irmãs
“Correttrice”a surgissem para consolar a sua Igreja, desolada ao ver seus
filhos correrem atrás do mundo e de seus prazeres. São necessárias vocações
novas porque a maldade humana é nova. Como já foi dito da parte de homens
competentes, esta obra foi considerada necessária 30
.
1.5 A fundação em Pigna (1870-1875)
Pe.Jacinto Bianchi chegou em Pigna no ano de 1870 para a pregação das
missões ao povo e no ano seguinte voltou como ecônomo espiritual. Na cidade “já
existia uma congregação de mulheres solteiras, mas sem estatutos”. 31
Em março de
29
Prefácio do Manual grande para o uso das Filhas de Maria..., cit., p.20. 30
Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias...; cf.
Documento 4, p.83. A citação continua: «com afeto quero citar aqui as Santas almas dos
irmãos Passi, Marco e Luca, Missionários que foram os primeiros a iniciar e desenvolver a
prática da correção fraterna. Além deles citarei também Frassinetti, aquela alma santa e
grandíssima entendedora das necessidades da juventude cristã [...]. Por fim nomearei, com
sentimentos da mais profunda veneração e reconhecimento pelo bem feito a mim e às primeiras
Missionárias, o abade Passèri – o Pai das Pias Uniões Marianas». 31
Coletânea descritiva dos atos e memórias importantes que dizem respeito à implantação,
instituição canônica, a agregação à Primária de Roma e à vida moral da Congregação das
Filhas de Maria de Pigna, ms. de Jacinto Bianchi, AFMM, VIII.2.6.18; cf.Documento 5, p.84.
34
1871 a Pia União Mariana foi instituída canonicamente, sendo agregada à Primáriab de
Roma e no mês de agosto Pe Jacinto Bianchi foi nomeado seu diretor. 32
Assim como Frassinetti já havia feito em Gênova com a Casa de trabalho, Pe.
Jacinto proporcionou a esta instituição, o início de uma vida em comum33
, conforme
se pode constatar no manuscrito Implantação e desenvolvimento da Casa das Filhas
de Maria Imaculada:
1. Desde o ano de mil oitocentos e setenta e três concebeu-se a idéia de fundar
uma Casa das Filhas de Maria Imaculada sob a proteção de S. Ermelinda. Em
1874 fez-se alguma coisa para preparar tal Casa: porém, somente no fim do
mesmo ano uma Filha de Maria Imaculada realizou tal propósito de abrir aquela
Casa com a intenção de acolher todas as Filhas que quisessem viver e trabalhar
para a maior glória de Deus. 34
Neste documento, redigido na primeira metade de 1876, observam-se os
seguintes conteúdos:
Encontram-se as definições simples e precisas daquilo que Pe. Jacinto
iniciou: uma Casa das Filhas de Maria Imaculada(cf. nn.1,7,8);
Aparece provavelmente pela primeira vez a referência à Santa Ermelinda
(cf. nn. 1,8);
A decisão de congregar-se à vida comum vem manifestada publicamente
(cf.nn. 1,2);
É indicado o nome das primeiras irmãs que iniciaram a Casa (cf. n.5);
Esta comunidade cria uma “regra moderadora” própria que é enviada ao
bispo, junto à notícia da sua constituição (cf. n.8);
32
Cf. Idem. 33
Muitas das numerosas congregações religiosas femininas surgidas na Itália durante o séc.
XIX tiveram inicio conforme o modelo da associação mariana, tanto de tipo “religioso” como
laical. Um exemplo disto são as Filhas de Sta. Maria da Providência fundada por Pe. Luiz
Guanella (1842-1915) que se formaram a partir de um pequeno grupo de jovens ursulinas em
Pianello Lario, no alto lago de Como: “O sacerdote pároco Carlo Coppini, meu imediato
antecessor, com decreto diocesano em 1º de julho de 1871 n. 1023, instituía nesta paróquia a
Pia União de Maria SS. Imaculada sobre a proteção de Santa Úrsula e de S. Ângela Merici. E
desta Pia União e com o consenso do Ordinário em 1871 tirando algumas jovens as uniu em
forma de comunidade religiosa e confiou-as à educação das filhas órfãs e abandonadas. Esta
pequena sociedade foi consolidando-se e em 1880 deu-lhe um esboço de Regra com cópia para
o objetivo da narração histórica” (Carta de L. Guanella a mons. G. Merizzi, Pianello Lario, 19
de setembro 1884, cit. in As constituições e os Regulamentos de Dom Luiz Guanella.
Aproximações históricas e temáticas, aos cuidados de A. Diegues, Nova Fronteira, Roma,
1998, p. 103 34
Implantação e desenvolvimento da Casa das Filhas de Maria Imaculada, de 1873 a 1875,
ms. de Pe. Jacinto, Roma, AFMM, VIII.2.1.1.
35
As congregadas trabalham para se manterem (cf. nn.18,20).
É definido com ênfase o caráter laical da Casa e desta iniciativa, opondo-se à
possibilidade de se agregarem às irmãs salesianas (cf. n. 15); contudo estas Filhas de
Maria têm um hábito diferente e seguem uma Regra (cf. nn. 27-29).
O documento narra finalmente (com referências históricas bem definidas) o
início da missão na Palestina (cf. nn. 33-36). A circunstância é identificada como uma
“preciosa e pleníssima consolação” quase uma confirmação da bondade e da solidez
da vocação comum, através das quais seria aberta inesperada e providencialmente uma
nova estrada.
36
Segunda Parte
A MISSÃO NA PALESTINA
1876-1892
2.1 A presença das Filhas de Maria na missão
Pe. Jacinto Bianchi já tinha estado na Palestina em 1868, provavelmente por
solicitação da Igreja Genovesa, em cujo ambiente reinava uma vigorosa sensibilidade
para a missão no exterior, especialmente para com o Vizinho Oriente. De fato, os dois
primeiros Patriarcas do restabelecido Patriarcado de Jerusalém (23 de julho de 1847)
eram da Ligúria: Monsenhor Giuseppe Valerga (1813-1872) de Loano e Monsenhor
Vicenzo Bracco (1835-1889) de Torazza, na província de Impéria; em 1855 tinha sido
aberto em Gênova o seminário de Brignole-Sale, onde estudou Pe. Antonio Belloni
(1831-1903) natural de Oneglia, que estava na Palestina desde 1859.
Num manuscrito intitulado O Instituto das Missionárias Pe. Bianchi fez uma
releitura das poucas anotações que possuía sobre a história dos primórdios e da partida
para Belém, reconhecendo com satisfação nestes eventos «o germe, o
desenvolvimento e a manifestação da vontade de Maria Imaculada35
», uma série de
ocasiões que com o tempo as consentiram de clarear e amadurecer o seu espírito
missionário:
“Encontrando-me a Pigna por missão e lá permanecendo como regente – leitor
assíduo da Unidade Católica – compreendi como em Belém Belloni... – rezei
– fiz também – preguei e algumas Filhas decidiram-se - e assim foi. Tinha,
porém, estado no Oriente no fim de 1868, amava aqueles lugares. Era Maria
Imaculada que me guiava, como é a sua missão e mantinha em mim um terno
amor para com ela”36
.
Parece com isso que nesta época Pe. Jacinto Bianchi não pretendia fundar um
Instituto religioso, uma “congregação” no sentido atual do termo, nem tão pouco uma
obra própria e original. Ele respondeu generosamente a um pedido de ajuda, enviando
ao Orfanato de Pe. Belloni algumas entre as Filhas de Maria que ele guiava e as reunia
em vida comum com um programa de formação que evidentemente compreendia
35
O Instituto das Missionárias, ms. de Jacinto Bianchi, AFMM, VIII.2.1.8; cf. Documento 7,
p.91. 36
Idem.
37
também o espírito missionário. Na experiência de Pe. Jacinto a exigência missionária
era coligada com a figura de Maria, que desde a sua primeira viagem no Oriente o
«guiava» e alimentava sua vocação com um «terno amor». Assim se apresentou a
ocasião favorável para concretizar em terra de missão a sua aspiração de uma presença
de caridade e de testemunho sobre o exemplo de Maria.
Pe.Jacinto enviou as suas Filhas de Maria para a Palestina com o mesmo objetivo,
o da correção fraterna, pelo qual as havia reunido em vida comum na casa de Pigna,
conforme explicação citada no manuscrito Origem e desenvolvimento do Instituto das
Filhas de Maria Missionárias:
“Mas, e as Missões exteriores? Respondo que estas são parte integrante do
Instituto porque são delas a correção fraterna levada ao heroísmo, à verdadeira
caridade fraterna pregada por Jesus – a maior, porque dá a vida ao próximo. As
missionárias vão advertir aqueles pobres infiéis, fazê-los compreender que vivem
no erro e na morte. E existiria algo mais essencial ao Instituto das Missionárias?” 37
Neste documento, redigido desde que as jovens Filhas de Maria partiram de
Pigna para junto de Belloni, deve-se considerar o seguinte:
A denominação «Instituto»;
A estima pelas Pias Uniões das Filhas de Maria;
O «objetivo essencial» das iniciativas de Pe. Bianchi: «a correção fraterna das
Filhas de Maria»;
A explícita e estreita relação entre missão exterior e correção fraterna;
A consciência em corresponder a uma exigência dos tempos;
A referência aos “mestres espirituais” Passi, Frassinetti e Passèri, como que para
individualizar as inspirações, as origens de uma realidade que vai se
transformando para assumir uma fisionomia própria e original: por motivo da
missão, as jovens enviadas a Belém não são mais simplesmente Filhas de Maria
reunidas para a vida comum;
A hipótese que Pe. Bianchi tenha colocado em prática a intuição de Passèri cuja
finalidade era a conservação do espírito originário das Filhas de Maria.
A missão é considerada também neste documento como um dom de Deus à
«família» das Filhas de Maria, como sinal de uma benevolência particular:
“Pois, sem medo de falar demais, observo que Deus, logo que foi aberta a
primeira casa das Missionárias com o objetivo já citado, Deus inspirou as missões
exteriores, abriu caminhos e favoreceu os meios [...] E Deus mesmo revelou o
37
Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias...; cf.
Documento 4, pp.82-83.
38
quanto queria bem esta família, pois onde ela se instalava, providenciava-lhe
também os meios necessários para ir em frente, defendendo-a dos perseguidores,
dos caluniadores e as primeiras irmãs que se uniram Deus se serviu delas para as
missões exteriores. As outras, porém, tiveram que esperar muito. Se Deus as
abençoar, hão de dar inúmeros frutos. As missionárias, corrigindo as Filhas de
Maria como irmãs, contribuirão para o bem da sociedade” 38
.
Ainda em 1882, depois de seis anos da chegada das primeiras missionárias na
Palestina, Pe. Bianchi as apresenta somente como Filhas de Maria. Junto a outros
sucessivos testemunhos, em 1882, também foi reeditada e difundida uma carta sua
datada de 09 de novembro de 1880, já publicada em «A Filha de Maria»,
documentário da Pia União romana39
. Neste documento ele narra para todas as Filhas
de Maria a sua viagem no Oriente e antecipa um pedido de ajuda para as «irmãs»
descrevendo o trabalho delas no Orfanato de Belloni:
“Sabeis, (já que vosso Jornal A Filha de Maria falou com grandes louvores) que
faz quatro anos que 5 Filhas de Maria de Pigna, perto de Ventimiglia, foram para
a Terra Santa e estão muito contentes, embora trabalhem um dia mais que o
outro, no Orfanato católico fundado em Belém do M. R. Canônico Belloni
[...]Oh! Vinde muitas em ajuda. De que modo?
Com a oração pelas 5 filhas de Maria e também para as outras que estão
dispostas a virem [...] cada Pia União poderá comprar uma fotografia onde tem os
órfãos com as Filhas de Maria e colocá-la na Congregação, pois será de grande
estímulo tê-la sob os olhos [...] As vossas 5 irmãs Filhas de Maria, que vos
precederam generosamente, não vos impulsionam a partir? Ah! filhas de Maria
Imaculada fazeis alguma coisa logo, senão acabarão por não fazerem nada. As
vossas 5 irmãs que estão aqui em Belém, à tarde se decidiram e à noite
partiram”40
.
2.2 Os votos de 1877: das Filhas de Maria “missionárias” ao Instituto das
FMM
Pe. Jacinto continuava a apresentar publicamente as jovens enviadas à Palestina
como simples Filhas de Maria. A resposta generosa delas ao chamado missionário
implicava o desapego da família e a vida comum, mesmo se como modalidade de
pertença à Igreja não eram formalmente diferentes das outras Filhas de Maria, as
«irmãs» às quais Pe.Jacinto se dirigiu para obter ajuda à missão e na esperança de
respostas vocacionais positivas.
38
Idem, p.83. 39
Gênova, Tipografia Arquidiocesana, 1882, 8 p.; exemplar conservado em AFMM, X.1
falta a capa e folha de rosto; cf.Documento 8, pp. 92-96. 40
Idem, pp.95-96.
39
Na realidade, porém, as condições de vida das jovens que foram para a Palestina
eram muito diferentes daquelas que ficaram. Pois através do exercício da obra de
caridade à Belém, as “missionárias” estavam assumindo as características de uma
comunidade autônoma que vivia os Conselhos evangélicos. Do mesmo modo viviam
as suas co-irmãs que ficaram em Pigna, onde mantinham a Casa mãe que de fato tinha
a função embrionária, “noviciado”.
Todos os institutos, que receberam a aprovação, nasceram da intuição carismática
de um fundador, que desde as origens atraiu os primeiros membros para a própria
santificação pessoal mediante os Conselhos evangélicos, e assim suscitou um núcleo
originário definido pela unidade dos mesmos objetivos, vida em comum e trabalho em
uma obra de apostolado. A razão de ser desta forma primogênita devia encontrar uma
forma de expressão, que geralmente consistia em uma profissão privada e comum dos
Conselhos evangélicos nas mãos do fundador.
Esta mesma inevitável e realística dinâmica pode ser encontrada também na
história das FMM. No primeiro Livro mestre do Instituto, escrito nos anos trinta, narra
que em 1877 Pe. Bianchi foi na Palestina e em 25 de março recebeu os votos de
Ir.Callista Lantero, Ir. Pacífica Garoscio, Ir.Crocifissa Ferrero, Ir Fortunina Orengo,
Ir.Seconda Allavena e Ir.Agnese Ughetti; no mesmo ano, e em 15 de agosto, em
Pigna, professaram Ir.Ermelinda Cereseto e Ir. Francesca Barucchi, que nunca foram à
Palestina. Mesmo sendo plenamente válida como intenção diante de Deus, estes
considerados “votos” tinham um valor puramente privado, como uma recíproca
garantia “de uso interno” da comum escolha de vida, um empenho partilhado e
assumido solenemente. O considerável incentivo inicial suscitado por Pe. Bianchi nas
Filhas de Maria em Pigna, foi necessariamente destinado para exprimir-se em
condições que de fato não eram previsíveis, diante das quais se revelou oportuno
realizar um gesto significativo para confirmar e consolidar as intenções de origem.
Além disso, desde 1878 algumas das jovens se transferiram para outras casas
abertas por Pe. Belloni em Beitgemal e depois em Cremisan, onde chegaram ainda
como Filhas de Maria.
“Algumas Filhas de Maria, a exemplo do quanto já fazem suas co-irmãs no
Orfanato de Belém com dedicação admirável, consideraram uma honra ir para
Beitgemal na nossa escola agrícola e serem encarregadas de dirigir a cozinha, a
rouparia e a enfermaria” 41
.
Esta nova situação exigia uma organização mínima para aquelas jovens: a decisão
sobre transferências, a direção local, as relações entre as duas comunidades
implicavam escolhas e portanto responsabilidades, mesmo sendo um grupo
quantitativamente modesto42
.
41
A. BELLONI, Nossa escola agrícola de São José em Beitgemal, in Obras da Santa Família
na Terra Santa, Paris, Tournai, 1878, p. 9. 42
Em 1882 as FMM são apresentadas publicamente com uma estrutura que prevê ao menos
uma Superiora e uma Assistente; cf. Documento 8, p.97.
40
Elas tinham partido de Pigna como Filhas de Maria “missionárias”, ou seja,
“enviadas em missão”, no sentido puramente descritivo, para identificar o dado de fato
representado pela partida delas. Mas a permanência que se prolongava, a partilha do
trabalho e a vida delas em comunidade ia progressivamente dando-lhes uma
configuração diferente: não mais a soma de vontades pessoais singulares e nem de
intenções (aquelas que impulsionaram cada uma das primeiras a partir), mas um
corpus original, as “Filhas de Maria Missionárias", ou seja, uma síntese de
experiências, uma forma nova de se unificarem e para onde convergirem as
motivações individuais.
Na perspectiva de uma história “carismática” do Instituto, é justo reconhecer sua
data de nascimento em 11 de fevereiro de 1875, como a tradição assim o quer,
mesmo se os acontecimentos da fundação foram historicamente mais complexos e
dinamicamente desenvolvidos ao longo do tempo, entendidos de forma progressiva,
onde a idéia da fundação foi amadurecendo em cada uma das irmãs através das
experiências e da compreensão que delas iam fazendo. Este desenrolar histórico pode
ser comprovado num Relatório Histórico do Instituto, apresentado pela Superiora
Geral Irmã Maria Solimani, em 1933, para a Sagrada Congregação dos Religiosos, em
vista da aprovação, onde declara:
“O longo tempo transcorrido desde 1875 até hoje e a ausência de documentos
autênticos, não nos possibilitam prever a vida real das primeiras missionárias no
Oriente e em Pigna. Pôde-se conseguir alguma informação oral de algumas Irmãs
idosas, das quais uma ainda é viva [Irmã Seconda Allavena, falecida em 29 de
abril de 1935]. Elas viveram juntas durante alguns anos como uma simples
Sociedade fazendo promessas e não votos. Parece que Pe. Bianchi no início
simplesmente as animou a viverem juntas como boas Irmãs, porque foram
encontrados alguns manuscritos dele a respeito disto, talvez como um primeiro
indício de uma vida em comum” 43
.
2.3 O Esquema da Regra de 1889
No Arquivo da Casa Geral das FMM estão conservados dois exemplares de um
texto impresso atribuído a Jacinto Bianchi: Esquema da Regra para o Instituto das
Filhas de Maria Missionárias. Sob o patrocínio de Santa Ermelinda, datado de
188944
. Este documento marca a passagem definitiva, ainda que formal, da experiência
secular iniciada por Pe. Bianchi com as Filhas de Maria de Pigna, à vida religiosa. É
43
MARIA SOLIMANI, Relatório Histórico do Instituto das FMM tendo a Casa Geral em
Massa (Carrara), Massa, 8 de julho de 1933, ms., Cidade do Vaticano, Arquivo da
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedade de Vida Apostólica, M 126,
pp. 10-11. 44
[J. BIANCHI], Esquema da Regra para o Instituto das Filhas de Maria Missionárias. Sob o
patrocínio de Santa Ermelinda, Lendinara, Tipografia de Luigi Buffetti,1889; AFMM, X.5; cf.
Documento 9, pp.98-104.
41
uma declaração pública da própria identidade, perfeitamente contextualizada, que
poderia ter sido solicitada diante das dificuldades que passaram as Filhas de Maria
naquele período, na Palestina: da morte do patriarca Vincenzo Bracco em 16 de junho
de 1889, com as complicações das mudanças de sua sucessão, até os primeiros sinais
de dificuldades que na época a obra do Belloni começou a demonstrar45
.
A finalidade deste Esquema, dividido em Constituições, Regulamento e Rituais,
era obter da Propaganda Fide, a aprovação do «Instituto das Missionárias» ou “Irmãs
do Oriente” (cf. Introdução Histórica). Tem-se a impressão de que este texto já existia,
e que foi reelaborado e integrado para colocar em âmbito «canônico» a presença na
Palestina. Nele encontram-se indicações claras da dupla finalidade do Instituto, as
missões exteriores e o apostolado junto às Pias Uniões Marianas, a espelhar a presença
na Palestina e a existência da Casa de Pigna.
O texto é muito heterogêneo. Traz conselhos para a vida espiritual, aspectos
normativos, o diretório do Capítulo, indicações para o discernimento vocacional e a
formação, pequenas prescrições de caráter pessoal e vários rituais. Ao mesmo tempo
em que é muito, é também muito pouco.
Quanto ao Esquema de 1889, podemos fazer algumas observações:
Introdução histórica: aquelas que «se retiraram para uma casa modesta e deram
início ao Instituto das Missionárias» foram juntar-se a uma vida em comum já em
andamento, a Casa das Filhas de Maria. Pelo contrário, os acontecimentos iniciais
devem ser interpretados a posteriore e “lidos novamente” de maneira integral à
luz do presente, que dá também a prospectiva para o futuro: a continuação da
missão na Palestina.
Art. 1, Art.4: as FMM se configuram como um Instituto de votos simples: está
explícito que não existe nem classe, nem requisitos econômicos mínimos, cf.
também Art. 16, Art. 17.
Art. 3: a presença da Pia União Mariana como exclusivo espaço de vocações para
o Instituto delineia a situação da Casa de Pigna, enquanto que o «zelo em
promover a virtude na juventude feminina» certamente não define a obra das
Missionárias na Palestina, onde desenvolvem trabalhos domésticos para um
orfanato masculino.
Art. 5-9: aspectos do discernimento vocacional, onde coexistem dados objetivos e
considerações sugestivas de tipo psicológico.
Art. 10-13: a admissão das viúvas é um sinal típico das formas de consagração
laical, derivado das ursulinas (Frassinetti): nos institutos de votos simples não era
possível a presença delas.
45
«De Beitgemal em 10 de julho de 1890 após serem descritos o mal estar e os contrastes
surgidos entre os religiosos na eleição do novo Patriarca e entre os missionários e Pe. Belloni
que naquele tempo tinha feito maus negócios e parece que os Seus e as Irmãs queriam
abandoná-lo caso ele admitisse estrangeiros (os Salesianos) em casa; escrevia o Diretor» (J.
BIANCHI, Cartas à Delfina, cit.,p.18).
42
Em diversos artigos (62, 74, 79, 103, 136, 157) se faz referência à autoridade das
coisas ordinárias ( que poderia ser entendido como o bispo em cuja diocese se
encontra a Casa «central»), mas na introdução do tema sobre Constituição é
afirmado explicitamente: «O Patriarca latino de Jerusalém é o superior»; é
também obviamente prevista a figura da Superiora geral: «A Superiora do
Instituto como um todo é chamada de Superiora geral» (Art. 46) onde vem
definidas as suas funções. Permanece no seu todo uma certa ambigüidade
terminológica, o que confirma que o Autor se baseou num texto já existente sem
eliminar as incoerências nas quais a Congregação iria se integrando nas suas
eventuais exigências.
Art. 84: a Casa mãe («central») deve ser a única onde a Congregação está presente
com uma atividade própria da natureza da casa; a vontade de transferi-la para
Roma (que não seria realizada enquanto Pe. Bianchi estava vivo) insere-se em um
outro elemento de provisoriedade e de ambigüidade neste texto, que busca dar
uma característica sólida ao Instituto, partindo de uma situação que ainda não está
definida.
Art. 85: a expansão do Instituto deveria dar-se seguindo as linhas paralelas de um
duplo objetivo: a simples presença nas «missões exteriores» (sem especificar o
tipo da obra) e a ação educativa junto às Pias Uniões Marianas «mediante a
correção fraterna»; cf. também o Art. 128.
A figura da “Corretrice”(cf.Art. 39, Art. 50, Art. 96), lembra também o método
educativo-relacional de Pe. Luca Passi, que era habitual na vida religiosa
tradicional.
Art. 89-92: as relações entre as Casas e as integrantes do Instituto são marcadas
por uma vida fraterna partilhada.
Art. 119-135: a vida em comum se desenvolve entre « verdadeiras e
amorosíssimas irmãs» (Art.119), unidas por um vínculo espiritual da comum
filiação mariana: «Recordar sempre que a Missionária é Filha de Maria, e tem por
sua vocação procurar de imitar, amar ternamente, honrar e fazer honrar a celeste
Mãe Imaculada, por todos, em todos os lugares e sempre» (Art. 122). Porém, a
vida em comum é de qualquer modo baseada em uma forma bastante tradicional,
em alguns aspectos, quase monástica, bem diferente da forma da consagração
secular.
Art. 167-173: com os horários definidos por esta forma de vida, não era possível
fazer outra coisa a não ser o serviço do orfanato.
Além de ser o documento que publicamente sancionava a existência do
Instituto, este Esquema da Regra se torna a base para a primeira expansão, realizada
graças à Irmã Delfina Delfino, «a segunda fundadora da Obra» 46
. Para preparar o
retorno das missionárias e para acolher as novas vocações, entre 1891 e 1895, Pe.
Jacinto teve a sua colaboração para abrir as casas de Frata Polesine, Recco, Scandolara
Ravara, Cingia de‟ Botti, Santo Ilario d‟Enza e Vicovaro. Era necessário, portanto,
46
J. BIANCHI, Cartas à Delfina, cit., p. 80.
43
uma direção única para a formação e uma disciplina de vida em comum, cuja base foi
tomada do Esquema de 1889. Nas Cartas à Delfina está documentado o uso deste
texto, onde é aconselhada a leitura comunitária com sua respectiva explicação, de
modo que possa ser compreendido e conhecido:
Aos Domingos, ou em um outro dia mais favorável, ler alguns pontos do
Regulamento, explicá-lo e compreendê-lo bem, de modo que a regra seja
conhecida e praticada por todas as Irmãs[...]
Nada de desânimo; confiança, oração, confidência, amor, segurança, alegria
em Deus e na nossa Mãe Imaculada. Duas vezes na semana lerá o
Regulamento porque todas devem conhecê-lo bem. Eu explico às Irmãs[...]
Minha Isabella, peço-te que pegue o Regulamento, chame as Irmãs e leia as
regras da vida em comum (capítulo 18) e as explique a fim de que
compreendam bem. Depois leia o artigo 159 do capítulo 21, e na sexta-feira
santa à noite comece a ensiná-las a fazer a acusação47
.”
É interessante fazer referência sobre a disciplina dos votos assim como estão
expostos no Esquema de 1889 (Capítulo IX: Das promessas, dos votos e das suas
renovações. Art. 34-37), quando declara irmã Maria Solimani no Relatório Histórico
de 1933 já citado: depois de ter resumido os Artigos, afirma que «Não era estritamente
necessária a emissão destes votos e que quem não quisesse pronunciá-los,
pertenceria igualmente ao Instituto»48
.
2.4 A progressiva autoconsciência do Instituto
Em 21 de setembro de 1890 Pe. Bianchi escreveu um pequeno texto sobre o
Instituto para obter a aprovação por parte da Propaganda, Origem e desenvolvimento
do Instituto Irmãs Missionárias 49
; o documento parece ser um esboço ou minuta de
um relatório enviado à Propaganda seguido pelo Esquema de 1889. Ele contém
«outras informações a respeito da origem ou do desenvolvimento deste Instituto»50
,
que no Esquema de 1889 não se achou oportuno acrescentar à introdução histórica.
É um documento importante para aquela releitura meditada sobre as origens à luz
dos eventos providenciais que se sucederam; onde se podem notar algumas
relevâncias do ponto de vista histórico:
47
Idem, p. 19, p.20, p.55. 48
M. SOLIMANI, Relatório histórico do Instituto..., cit., p. 11. 49
Origem e desenvolvimento do Instituto das Irmãs Missionárias. Sob o patrocínio S.
Ermelinda Virgem, ms. de J. Bianchi, Roma, 21 de setembro de 1890, AFMM, VIII.2.1.11; cf.
Documento 10, pp 104-105. 50
[J. BIANCHI], Esquema da Regra para o Instituto...; cf. Documento 9, p.99.
44
na denominação do Instituto está o título de «Irmãs Missionárias» e não «Filhas
de Maria Missionárias», transportado do Esquema impresso de 1889;
O Instituto nasce de uma experiência de «vida em comum para cuidar melhor da
santificação própria e a da juventude feminina com a correção fraterna»51
: onde é
expresso o fim primeiro (perfeição das próprias integrantes) e o fim secundário ou
especial (obra de caridade) que toda congregação “moderna” deve ter e que serão
formalizadas pela Congregação dos Bispos e Regulares com as Normas de 190152
;
as «Missões exteriores» são uma possibilidade que se apresenta sucessivamente,
«depois de poucos meses de vida em comum»;
a notícia da presença nas obras de Pe. Belloni na Palestina assume alguma
relevância e traz um florescer vocacional que, porém, não foi acolhido
integralmente;
durante a permanência na Palestina, apresentam-se outros campos de apostolado
na Itália (Ventimiglia e Taggia), aos quais as «Missionárias» se dedicaram durante
algum tempo.
Do ponto de vista de uma compreensão mais ampla, cabe refletir sobre o conceito
de «predileção» que Pe. Bianchi utiliza para reler a história daqueles primeiros 15
anos. «Agrada a Deus tornar conhecida sua predileção caridosa para com estas
Missionárias». Prae-diligo, isto é “prefiro” mas também “desejo mais”. A Casa de
origem das Filhas de Maria era um bom terreno no qual Deus quis lançar a semente de
«sua caridosa predileção», pedindo as primeiras «Irmãs» alguma coisa a mais: coloca-
as à prova e sustenta a resposta generosa delas com a Sua graça. É uma dinâmica da
relação entre Deus e a criatura que encontra o seu cume na Anunciação.
Sob esta luz podem ser lidas outras considerações de Pe. Bianchi a respeito do
início do Instituto e da missão, nas quais não é difícil reconhecer significativas
sugestões bíblicas, da vocação de Abraão (cf. Gn 12) ao canto de alegria sobre
Jerusalém (cf. Sl 121):
Conselhos e instruções para estar [Sim] foi e depois disto não houve nenhum
momento que não fosse para a glória de Deus a serviço dos órfãos. Vibraram com
uma especial alegria quando partiram [...] daquela alegria que Deus sabe tão bem
fazer enamorar de Si e de Suas obras, as pessoas que escolhe, e para coisas
grandes as destina. Tal foi o princípio do Instituto, que nasceu no mês das e sob
a forma de congregação Mariana53
.
51
Origens e desenvolvimento do Instituto das Irmãs Missionárias; cf.Documento 10, pp.104-
105. 52
S.C. EPISCOPORUM ET REGULARIUM, Normae secundum quas
S.Congr.Episcoporum et Regulorum procedere solet in approbandis novis institutis votorum
simplicium, Romae, Typis S.C. de Propaganda Fide, [18 de junho] 1901, nn. 1-325,59 p. 53
«Conselhos e instruções para estar», ms. de J. Bianchi, AFMM, VII.2.1.2; cf.Documento
11, p.106.
45
É “predileto” aquilo que foi motivado em vista de um cumprimento, uma
experiência precedente; e isto Pe. Bianchi reforça em um outro escrito seu, Memórias
dos primórdios, desenvolvimento e conquistas do Instituto Irmãs Missionárias54
, onde
evoca de novo com precisão as circunstâncias nas quais lançou a proposta das missões
às Filhas de Maria de Pigna:
Num Domingo, pregando às Filhas de Maria e de Santa Inês na presença de
todo o povo para animá-las ao bem, falou do grande bem que faziam as Irmãs
nas Missões exteriores, e fez referência a um fato particular dizendo: «Em
Belém, um tal Pe. Antonio Belloni fundou um Orfanato Masculino e não tem
mulheres que se dediquem ao governo doméstico do Orfanato, ou seja, da
cozinha, da rouparia etc.» 55
.
O documento deveria ser posterior a 1902 e Pe. Bianchi retoma eventos de
aproximadamente trinta anos atrás, recordando claramente que Caterina Orengo, “na
época Superiora das Irmãs Missionárias com o nome de Fortunina”, ofereceu-se para
ir à missão e foi convidada, juntamente com outras cinco companheiras
“missionárias” que a seguiram, a fazerem parte da Casa das Filhas de Maria para
«morarem juntas».
O impulso missionário ia se inserindo fecundamente em uma realidade viva,
desejada por Deus através de uma intuição carismática, a realização do “ideal”
confiado a Pe. Bianchi, expresso em um seu intenso fragmento autobiográfico:
“Vós não tendes idéia dos obstáculos que atrapalham o nosso caminho. Os
desenganos, os desgostos não têm fim: mas sigo adiante sem me abalar e não volto
atrás diante do sacrifício a fim de alcançar a minha meta, o meu ideal. E sabeis qual é
o meu ideal? Quero que a juventude feminina adquira virtudes. Para este fim e para
melhor colaborar, de minha parte, procurei unir as Filhas de Maria como família”56
.
A «família [das] Filhas de Maria» foi uma oferenda agradável a Deus, que a
“transformou” de acordo com os seus misteriosos desígnios e de fato «as primeiras
que se uniram, Deus se serviu delas já nas Missões exteriores» 57
. Mas a obra delas era
54
Memórias dos primórdios, desenvolvimento e conquistas do Instituto das Irmãs
Missionárias, ms. de J. Bianchi, posterior a 1902, AFMM, VIII.2.1.7; cf.Documento 12, p.107. 55
Idem, também para as citações dos parágrafos seguintes. 56
« Vocês não têm idéia dos obstáculos », ms. de J. Bianchi, AFMM, VIII.2.1.12; cf.
Documento 13, p.108. 57
Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias...; cf.
Documento 4, p.84.
46
uma necessidade dos tempos, uma daquelas «vocações novas» que o Espírito suscita
na Igreja no momento oportuno:
“Quem quisesse pensar e temer que estas Missionárias, exercitando-se em tal
obra [a correção fraterna] nos países civis, perderiam logo o espírito bom, porque
o trabalho é de pouco empenho, reflita que Deus suscita vocações de acordo com
as necessidades dos tempos; e desta vez, pela sua excessiva caridade pelas almas
– hoje em dia cheias de si próprias e de espírito mundano, não dispostas a aceitar
e escutar como boas as advertências da autoridade eclesiástica – fez com que
estas Irmãs “Correttrice”a surgissem para consolar a sua Igreja, desolada ao ver
seus filhos correrem atrás do mundo e de seus prazeres. São necessárias
vocações novas porque a maldade humana é nova”58
.
A missão definiu e iluminou a experiência inicial, modificando uma sucessão
temporal (primeiro a Casa das Filhas de Maria e depois a ocasião de predileção) numa
dinâmica providencial: a Casa das Filhas de Maria “para” a missão. Com uma imagem
mariana, o nascimento do Instituto em Belém pode ser relido como o cumprimento da
“promessa” (pro-mitto = mandar para, a favor de) feita em Pigna, lugar do anúncio,
Nazaré das FMM.
2.5 O retorno à Itália em 1892
Com as mudanças da sucessão dos salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora
na condução das obras fundadas por Pe. Belloni, em maio de 1892, as FMM
retornaram definitivamente para a Itália. Num documento, provavelmente de 1902,
Memórias do desenvolvimento do Instituto Irmãs Missionárias de Propaganda da
Fé59
, Pe. Bianchi descreve resumidamente o desenvolvimento sucessivo do Instituto,
mas, sobretudo exprime a grande expectativa que tinha motivado aquela primeira
década passada:
“vive-se desejando ardentemente o modo e meio seguros para viver em plenitude
de acordo com a finalidade do Instituto: preparar-se para as Missões Exteriores.
O bem que pode fazer o Instituto nestas cidades é de fato secundário à finalidade.
Se for agradável a Deus abrir caminhos para as Missões Exteriores, 12 estão
prontas a partir para cuidar das casas dos Missionários, costurando, bordando,
cozinhando, instruindo as crianças e qualquer outro serviço necessário nas
58
Idem, p.83. 59
Memórias do desenvolvimento do Instituto das Irmãs Missionárias da Propaganda da Fé,
ms. de J. Bianchi, [1902], AFMM, VIII.2.1.3; cf. Documento 14, pp. 108-109.
47
Missões. E quanto à língua, estão prontas a aprendê-la, assim como bem
aprenderam o árabe e o turco” 60
.
Reconhecida a providencial predileção de Deus, a Sua iniciativa que não começa
a não ser para atingir a sua meta, o interromper da missão pode ser aceito como um
“sacrifício de Isaac”, uma situação que aparentemente contradiz a origem. Mas a
espera é confiante e produtiva, fundamentalmente dócil e disponível aos desígnios de
Deus, vivida quase naquele espírito “messiânico” com o qual os primeiros cristãos
aguardavam o próximo retorno de Jesus.
Observa-se que neste manuscrito aparece a referência à Propaganda da Fé, a
qual Pe.Bianchi continuará a querer confiar o seu Instituto, mas tal inspiração
permanecerá irrealizável. É igualmente importante ressaltar que ao invés das obras de
apostolado já desenvolvidas na Palestina, é a “missão para a missão” que dá
significado pleno à vida do Instituto: ser uma presença onde é necessário, onde o
Senhor chama de acordo com as circunstâncias.
Assim se compreende o motivo pelo qual as Irmãs Missionárias foram
“convocadas” à vida em comum na pertença ao Instituto, no qual a vocação de cada
uma se revela e se realiza a partir das diversas circunstâncias históricas. A “provação”
do retorno permite um aprofundamento do impulso inicial, que neste momento assume
uma dimensão diferente, uma plena consciência do chamado à uma total dedicação de
si mesma.
A continuidade do Instituto após o forçado retorno da missão, a primeira fase
de expansão e a consolidação devem-se à Irmã Delfina Delfino. A ela Pe. Bianchi
confia e entrega o destino do Instituto, que graças ao seu modo discreto e atuante de
guiar, revive em consciência renovada o «ideal» do fundador61
, a «vocação nova» da
origem 62
vivenciada na prática de exemplo, estímulo e educação voltada à juventude
feminina, na espera do retorno em missão:
Voltaram à Itália: e sempre firmes na intenção de retornar às Missões
Exteriores se dedicam a trabalhar na costura e bordado, e juntas a promover a
piedade e as virtudes cristãs na juventude feminina – especialmente cuidando
das Pias Uniões de Maria Imaculada e de Santa Inês 63
.
A finalidade e o desejo delas [era] de ir às Missões exteriores, toda vez que
Deus lhes abrir os caminhos e, no entanto, dedicam-se a promover a piedade e
a prática das virtudes cristãs na juventude feminina, ensinar-lhes a doutrina,
60
Memórias do desenvolvimento do Instituto das Irmãs Missionárias...; cf. Documento 14, p.
109. 61
« Vocês não têm idéia dos obstáculos »; cf.Documento 13, p.108. 62
Cf. Origens e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias...; cf.
Documento 4, p. 83. 63
Relatório do Instituto, ms. de J. Bianchi, posterior a janeiro de 1901, AFMM, VIII.2.1.9;
cf. Documento 15, p.109.
48
sob a direção do Pároco; cultivar as Pias Uniões Marianas nas jovens e
ensinar costura e bordado às filhas do povo 64
.
Voltando à Itália, permanecem sempre firmes na intenção que as havia
reunido, a se prepararem para as Missões exteriores: e enquanto aguardam,
colocam-se a trabalhar conforme a finalidade secundária de educar as filhas do
povo na piedade e nas virtudes cristãs, promovendo as Congregações
Marianas,dirigindo-as onde as implantam, ensinando a Doutrina Cristã sob a
direção dos Párocos e ensinando os trabalhos femininos de costura, bordado
em branco ou colorido, e em ouro etc. e entretendo as jovens com a recreação
para tirá-las das libertinagens mundanas65
.
Este retorno forçado não foi um reditum, um “voltar atrás”, mas também um
redditum, isto é um “ganho” na riqueza da obediência e da experiência de investir em
um novo início. Assim o retorno na Itália pode ser interpretado como um “novo
nascimento” no Espírito Santo (cf. Jo 3, 3-6) que as Irmãs tinham merecido pelo fato
de estarem prontas ao chamado do Senhor, dóceis ao quanto Ele mesmo tinha
reservado a este “Seu” Instituto.
64
Memória histórica do Instituto Irmãs Missionárias, ms. de J. Bianchi, posterior a 1902,
AFMM, VIII.2.1.10; cf. Documento 16, p.110. 65
Memória histórica do Instituto, ms. de J. Bianchi, [1901-1903], AFMM, VIII.2.1.6; cf.
Documento 17, p.112.
49
Terceira Parte
O TEXTO NORMATIVO DE 1907
3.1 Análise sintética e circunstância da publicação
A nova “estação” do Instituto pode ser encontrada numa edição nova de normas,
subdividida em Constituições e Rituais, e intitulada simplesmente Instituto das Filhas
de Maria Missionárias. Sob o patrocínio de Santa Ermelinda virgem (da Bélgica)66
.
A edição não tem data e pode se referir a 1907, como comprovado em documentação
epistolar67
e através de algumas anotações autografadas por Jacinto Bianchi sobre os
exemplares do Esquema de 1889, conservados no arquivo AFMM68
. O texto se
apresenta quase idêntico ao Esquema de 1889, mas com uma diferença clara que é a
ausência de referências específicas à missão na Palestina, onde nem sequer é citada a
Propaganda da Fé.
No Capítulo primeiro, Origem e natureza, são retomados brevemente os
acontecimentos iniciais de Pigna, a partida em 1876 e a permanência junto a Pe.
Belloni, mas descreve principalmente a obra atual que é o “fim secundário” educativo-
apostólico (como na originária «família das Filhas de Maria» em Pigna), que as
Missionárias desenvolvem, permanecendo, porém “firmes na primeira intenção”, ou
seja, na espera de voltar à missão:
“ocupam-se a educar as filhas do povo na prática das virtudes cristãs e a
ensinar costura e bordado. Depois, sob a guia dos Párocos, ensinam a doutrina
cristã e promovem as Pias Uniões Marianas. Não dão aulas nas escolas
públicas”69
.
66
[J. BIANCHI], Instituto das Filhas de Maria Missionárias. Sob o patrocínio de Santa
Ermelinda virgem (da Bélgica), Treviso, Tipografia Luigi Buffetti, [1907]; AFMM, X.6; cf.
Documento 18, pp. 112-116. 67
Cf. notas 71-72. 68
A Introdução histórica dos exemplares conservados no arquivo AFMM de [J. Bianchi],
Esquema da Regra..., cit., ( cf. nota 44) foi utilizado por Jacinto Bianchi como esboço para o
seu análogo parágrafo introdutório ao texto de 1907, Origem e natureza, parágrafo primeiro de
[Id.], Instituto das Filhas de Maria Missionárias..., cit., p. 3: onde se encontra a indicação dos
trinta e dois anos passados desde 1875. Cf. Documento 9 e 18, p.99, p.113. 69
[J. BIANCHI], Instituto das Filhas de Maria Missionárias..., cit., p. 3; cf. Documento 18,
p.113.
50
Uma referência idêntica à experiência anterior está no Art. 21, onde é acrescentado
aos três votos tradicionais o «propósito de ir às missões exteriores». Como novidade
nota-se especialmente uma denominação diferente, agora “Instituto das Irmãs
Missionárias”, e sobretudo a indicação da presença das irmãs em oito cidades de três
diferentes dioceses (Capítulo primeiro); a menção a uma consistência patrimonial em
imóveis e rendimentos (Art. 6); a introdução do título de «assistente» para as
Superioras locais, que permanecerá uma característica do Instituto (Art. 28); a
presença da Casa Mãe em Villa Pasquali, sem sinais de intenção de transferi-la para
Roma (Art. 56). São tirados também os artigos relativos à admissão das viúvas70
.
Além de tudo isto é significativo o fato de não se fazer mais a referência sobre as
aspirantes serem de proveniência exclusiva das Pias Uniões das Filhas de Maria (cf.
Art. 3 do Esquema de 1889): a associação mariana é indicada somente como espaço
onde desenvolver a ação educativa e a animação vocacional junto às jovens (cf.
Capítulo primeiro e Art. 98).
A publicação deste texto normativo se apresenta em um momento significativo
para a história das FMM: a chegada na Sicilia no início de 1908. Esta escolha, que
depois se revelou fecunda em vocações e possibilidade de trabalho, foi uma ocasião
similar àquela de 1876 da partida para a Palestina. Pe. Bianchi ficou sabendo através
de um padre religioso siciliano, Pe. Li Vigni, este também ativo no ministério da
pregação, que o orfanato Renda em Partanna, seu país natal, necessitava de irmãs
educadoras. Pe.Bianchi então, ofereceu a disponibilidade das suas irmãs, a proposta
foi aceita e em 06 de fevereiro de 1908 Ir.Maria Solimani e Ir. Silvia Leveratto, com
duas postulantes, iniciaram a primeira comunidade das FMM na Sicília. Em breve
foram abertas outras quatro Casas: Montevago (07 de dezembro de 1908), Sta.Ninfa
(15 de dezembro de 1909), Sta. Margherita Belice (26 de janeiro de 1910) e Mazara
Del Vallo (04 de maio de 1911), também graças às numerosas vocações que
começaram a surgir: Pe. Jacinto chegou a ver cerca de uma vintena de jovens
sicilianas professarem entre as irmãs.
Após a morte de Ir. Delfina Delfino (10 de dezembro de 1897) aconteceu uma
ulterior expansão do Instituto, de 1900 a 1902, foram abertas quatro novas Casas,
sendo elas em Bagno, Licenza, Villa Pasquali e Mandela, mas foi a experiência
siciliana que representou um momento “forte” e qualificativo na retomada do impulso
missionário. Pode-se supor que também por este motivo fosse oportuno munir-se de
um instrumento “oficial” que acompanhasse e sustentasse a expansão, adequado a
fornecer uma configuração específica ao Instituto, respondendo assim àquela que era a
sua realidade efetiva depois do retorno em 1892.
70
Apesar de tudo Pe. Bianchi, de fato, se restringe a aceitar: «No primeiro regulamento tinha
um artigo sobre as Viúvas, que para serem aceitas não poderiam ter filhos e nem serviços de
responsabilidade no Instituto. Retirei este artigo, mas se as Viúvas se apresentarem, serão
aceitas aquelas que forem boas e humildes.» (Carta de Jacinto Bianchi à Irmã Maria Solimani,
Gênova, 14 agosto de 1908, AFMM, VIII.1.1a.Ep114; cf. Documento 19, p.117).
51
3.2 Um instrumento inadequado à aprovação Além de ser encaminhado aos bispos
71, o texto foi também apresentado à
Propaganda Fide em Roma,porém, mais na esperança de obter uma destinação
missionária do que para facilitar uma ulterior tentativa de aprovação72
. De fato, sendo
substancialmente idêntico àquele de 1889, não pode obter um parecer positivo. E
ainda, em 28 de junho de 1901 a Sagrada Congregação dos Bispos e Regulares já
tinha publicado as Normas73
, que davam indicações claras sobre os requisitos
necessários para a aprovação dos “novos institutos”, e sobretudo ofereciam um
modelo de texto constitucional. Ora, pela documentação existente, parece que Pe.
Bianchi tivesse conhecimento destas Normas: pois elas são citadas numa carta de um
religioso dominicano de Roma em 6 de junho de 1901, a quem ele se dirigiu
justamente por causa da aprovação do Instituto74
; por isso parece muito impossível
que ele não tenha tido acesso ao esquema preparado pela Congregação, e é bastante
estranho que não se encontre nada destas indicações na edição de 1907. Em três de
seus textos, (dos quais no Apêndice se discorre sobre o “fim secundário” do Instituto),
se encontra repetida e traduzida do n.42 das Normas («Finis primarius et generalis
Instituti[...] est sanctificatio membrorum suorum per observantiam trium eorundem
votorum et propriarum Constitutionum») a correta formulação prevista para indicar o
«fim primário» de um Instituto Religioso:
71
«Assim que o tipógrafo me entregar a Regra, te enviarei 6 cópias. Tu levarás 2 ao Bispo
[de Tivoli], 1 para Monsenhor Giustini, conhecido teu, em Roma.» ( Carta de J. Bianchi à Irmã
Consolata Zampieri, Gênova, 28 de julho de 1902, AFMM, VIII.1.1a.Ep59; cf. Documento 20,
p.118); «No entanto veja com o Pároco ou com o Capelão se deram uma cópia das nossas
Regras para o Bispo; eu te mando outras cópias». (Carta de J. Bianchi à Irmã Maria Solimani,
Gênova, 25 de maio de 1908, AFMM, VIII.1.1a.Ep24; cf. Documento 21,p.121); «Enviei o
regulamento a Girgenti pelo Bispo. » (Carta de J. Bianchi à Irmã Maria Solimani, posterior. a
01 de dezembro de 1908, AFMM, VIII.1.1a.Ep25; cf. Documento 22,p.122). 72
«Muitíssimo confiante na Bondade de V.Eminência Reverendíssima, apresento a Regra
das Irmãs Missionárias que foi reeditada, já conhecida pela S.Congregação pelo trabalho que
elas prestaram por vários anos no Orfanato de Belloni em Belém [...]apresentam juntamente
comigo a regra delas ao Senhor Cardeal Prefeito, não para ser examinada, mas somente para
que a V.Eminência a conheça.» (Carta de J. Bianchi ao Card. G.M.Gotti, Gênova, 31 de agosto
de 1907, AFMM, VIII.1.1b.Ep400; cf. Documento 23, pp.122-123). 73
Cf. nota 52. 74
«Enfim, o Instituto cresceu e se expandiu suficientemente; poder-se-ia dar início às
práticas para ser aprovado por Roma e assim constituir-se em forma de associação
perfeitamente organizada. No momento também a S. Congregação dos Bispos e Regulares está
justamente discutindo e formando um esquema de Constituições para ser aplicado em todos os
Institutos no que se refere às regras comuns para cada Instituto: como por ex. sobre os votos,
sobre a eleição dos Superiores etc.» (Carta de p.Vincenzo Nardelli a Jacinto Bianchi, Roma, 5
de junho de 1901, AFMM, VIII.1.2a.140; cf. Documento 24, p.124).
52
O Instituto [...] tem como objetivo primário a santificação das próprias integrantes
por meio da observância dos três votos simples de obediência, pobreza e castidade,
além das presentes constituições75
.
Após diversos anos, Pe. Bianchi ainda fará chegar este texto até D. Guido Maria
Conforti para fazer considerações sobre o mesmo. Em 1913 este bispo de Parma,
fundador dos Missionários Xaverianos, submeterá o mesmo a Pe. Giuseppe Parma,
professor do Seminário, cujo parecer não poderia certamente ser positivo:
Parece-me que a Constituição do Instituto das Filhas de Maria Missionárias,
sob a proteção de Sta. Ermelinda virgem (o qual, no seu conjunto, apresenta-
se não como uma Pia União qualquer, vivendo em Comunidade, mas como
uma verdadeira e própria Congregação religiosa de Votos simples) não
responda nem às mais modestas exigências em relação a si mesma, como
Estatuto de uma Associação; nem em relação às exigências do Direito
Canônico; e nem mesmo a respeito da Autoridade Eclesiástica 76
.
Depois desta análise inicial sintética, o Pe. Parma passa a um exame mais
aprofundado e rigoroso do texto, rebatendo todas as suas justificadas perplexidades e
conclui:
As Constituições em análise, nem como organização de uma sociedade, nem
como Regra de Vida, nem em relação ao Direito Canônico, nem da
Autoridade Eclesiástica, são suficientes às necessidades tanto de direito como
de fato, pois nascem do desenvolvimento destas obras delicadas,
especialmente em se tratando de Missionárias, das quais se exige uma forte
educação de espírito e normas definidas e claras77
.
Enquanto aguardam-se outras pesquisas, vale considerar o fato de Pe. Bianchi
continuar por um longo período a sustentar e a propor para a aprovação do Instituto
um texto cujos limites já não poderiam ser mais ignorados. Permanecem, portanto, no
momento abertas ( e necessitadas de pesquisa) as questões referentes aos modos e
tempos nos quais ele buscou obter para as FMM o reconhecimento da Santa Sé. De
qualquer modo o “espírito” que animava as Missionárias deveria ser bem mais sólido
e eficaz do que o exposto na “carta” e que constituía uma configuração pública, ainda
que não fosse oficial. Mesmo desejando uma confirmação institucional, Pe. Bianchi
foi capaz de se arriscar, destinando os seus recursos humanos e materiais para
amenizar uma realidade de obras e de pessoas que de qualquer modo crescia e se
consolidava sem seguranças objetivas de um reconhecimento da parte da autoridade
eclesiástica.
75
Instituto das Filhas de Maria Missionárias. Sob o patrocínio de Sta. Ermelinda virgem,
ms. de J. Bianchi, posterior a 1901, AFMM, VIII.2.2.7b; cf. Documento 25, p.125. 76
Carta de Pe. Giuseppe Parma a D. Guido M. Conforti, Parma, 30 de janeiro de 1913;
cf.Documento 26, p. 127. 77
Idem, pp.129-130.
53
Quarta parte
CONSIDERAÇÕES SOBRE UMA EXPERIÊNCIA
Depois de ter traçado o desenvolvimento histórico do Instituto, da tentativa
de Pe. Bianchi em Scandolara, da instituição da Pia União das Filhas de Maria
Imaculada e de Santa Inês em Pigna, até a partida para a Palestina, do retorno após 16
anos e da difusão na Itália, neste trecho se procurará analisar as considerações do
próprio Pe. Bianchi sobre estes acontecimentos no seu todo, seguindo-os assim como
emergem de alguns de seus manuscritos, o testemunho de como amadurecia nele a
consciência da obra que por meio dele foi suscitada.
Obviamente as sugestões que se seguem assinalam apenas alguns pontos dos
textos que são sempre muito ricos de referências, densos de reflexão, articulados nas
possíveis coligações internas e recíprocas: sempre merecedoras de uma leitura
completa e meditada.
4.1 MANIFESTAÇÕES DA PROVIDÊNCIA
É de absoluta importância um documento sem título, atualmente não datado,
que discorre resumidamente sobre os momentos relevantes da «obra das
Missionárias»78
. Parece um esquema traçado, bastante articulado, de um discurso
desenvolvido numa festividade mariana, provavelmente dirigido às postulantes,
convidadas a ter como virtude a confiança nos sinais concretos da Providência, que
desde as origens se manifestaram no Instituto. Sugere-se uma linha de interpretação do
manuscrito, retomando-o por subdivisões em pontos:
1. «a obra das Missionárias» é «instrumento» do qual Deus se serve para a «sua
glória»: obviamente segundo modos e tempos diferentes daqueles humanos;
2. a referência à Maria está na própria natureza das FMM «desde as primeiras, as
fundadoras»: ou seja, das missionárias na Palestina a quem o próprio Pe.
Bianchi dá o mérito de ter iniciado o Instituto;
78
«Rezai a Deus para que na Sua imensa bondade», cf. Documento 1, p.71.
54
3. a providencialidade que é reconhecida numa «história de propósitos
generosos, de lutas angustiantes, de sacrifícios heróicos, de solicitudes
paternas e constantes, de obras santas, de frutos copiosos, fecundos» é o efeito
de uma predileção evidente, «expressão daquela caridade que poucas almas
privilegiadas sabem dignamente viver»;
4. discurso que é ocasião pela redação do documento;
5. ponto central de toda a reflexão de Pe. Bianchi sobre “seu” Instituto, que o
considera na perspectiva evangélica do grão de mostarda; desde o «berço» da
«simples Congregação Mariana» em Pigna, o Instituto se inicia quando
algumas «se decidem», de decido, isto é, “corte”, e estão, portanto prontas a
“cortar” as ligações, a dar uma virada radical à própria vida com a partida:
deste modo concreto «corresponderam à graça», isto é, juntas responderam a
uma iniciativa de Deus para com elas, certas de que «o Senhor passo a passo
lhes teria preparado novas ajudas»;
6. como na tradição bíblica, também para o Instituto o «nome» (aqui
“Missionárias da Propagandac Filhas de Maria”), marca a origem e o destino,
que acontece em uma realidade que «abraça a fé e a caridade, o intelecto e o
coração, a palavra e a ação, a compaixão e o amor, a mulher e Deus»;
7. o retorno forçado da Palestina é aceito em uma perspectiva totalmente
providencial, que poderia ser definida “manzoniana” pois «Quem vos dava
tanto contentamento é para tudo; e não perturba jamais a alegria de seus
filhos, a não ser para lhes preparar uma outra ainda mais certa e maior» 79
;
enquanto que a «palavra de grande conforto [...] considerável e santa» só pode
ser a aprovação desejada;
8. conteúdos da «vocação nova»80
aprendida dos grandes mestres, é uma obra
educativa integral mas discreta e pessoal, simples e eficaz, voltada para a
regeneração cristã da sociedade realizada por meio da mulher, pois a
«verdadeira» Filha de Maria é aquela que sabe «gerar verdade e virtude»,
como se lê no verso do mesmo documento;
9. total consagração mariana, completo abandono a Maria, na confiança absoluta
que um filho tem em sua mãe, assim é o Instituto para com Ela. A afirmação
«As nossas coisas sejam todas para Maria», parece uma “profecia” do Totus
tuus de João Paulo II, através da qual mais uma vez na Igreja, foi retomado o
papel imprescindível de Maria na realidade da Redenção cristã;
10. a «firme confiança» no desenvolvimento do Instituto, não pode ser
fundamentada em argumentos humanos, considerando as «penúrias no qual se
encontrava», mas só «na proteção de Maria».
79
A. MANZONI, I promessi sposi, cap. VIII. 80
Cf. Origens e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias...; cf
Documento 4, p.83.
55
4.2 A VIRTUDE E A REGRA
Como comprovam também as Cartas à Delfina81
, Pe. Bianchi sempre se
interessou pela formação das Missionárias, baseada principalmente na confiança
absoluta da oração. Num manuscrito seu ainda sem data, provavelmente posterior a
1889, trata de sua própria «diligência [...] referente à educação das Missionárias»82
e
ainda define bem o quanto é importante a observância da «regra», o Esquema de 1889:
“A convicção verdadeira e constante de que Deus quer este Instituto, me dá
confiança de ver um dia as Missionárias atuantes, espalhadas em grande parte
do mundo. Para isto, portanto, não podem diminuir o fervor; para tornar viva a
memória destas regras, cada assistente das casas fará com que elas as leiam
todos os meses, não permitindo que aconteçam abusos ou faltas de nenhuma
natureza, sendo que a observância exata delas sempre será o único meio para
fazer com que cada Missionária assuma um teor de vida regulada e perfeita,
fazendo com que cresçam no espírito, a serviço de Deus, para [o] bem das
almas83
.”
Apropriando-se da lógica de Gamaliel (cf. At 5,38), Pe. Bianchi reconhece na
continuidade do Instituto um sinal da vontade de Deus, pois Ele mesmo a fez, “elegeu-
a” como um «instrumento» para trabalhar «para a Sua glória»84
, obedientes ao
mandato da evangelização (cf. Mc 16,15) que verá as «Missionárias atuantes
espalhadas pelo mundo»85
. A eficaz cooperação com os desígnios divinos está
interligada ao «fervor» na «exata observância». A regra nasce da «solicitude, ternura e
zelo» que as Missionárias suscitaram no Fundador, que foi induzido a oferecê-las um
instrumento de educação «fácil» a fim de que pudessem «alcançar as virtudes do
próprio estado de vida, a seu benefício próprio e dos outros»: portanto, por meio da
observância da regra, poderiam «[continuar] a serem verdadeiras Filhas de Maria, ou
seja, gerar verdade e virtudes»86
.
4.3 A FORÇA DA HUMILDADE
Num outro interessante documento Pe. Bianchi discorre sobre orientações
destinadas à mestra das noviças para um correto discernimento vocacional, além de
81
Cf. nota 9. 82
«A convicção verdadeira e constante», ms. de J. Bianchi, AFMM, VIII.2.5; cf. Documento
27, p.131. 83
Idem, p.130. 84
«Rezai a Deus na Sua imensa bondade»; cf. Documento 1, p.71. 85
«A convicção verdadeira e constante», também para as citações sucessivas cf. Documento
27, pp.130-131. 86
«Pregai a Deus na Sua imensa bondade»; cf. Documento 1, p.72.
56
dar conselhos de caráter educativo e espiritual destinados às irmãs87
. Além disso,
delineia as características do estilo de vida que deseja para elas (mesmo depois da
volta da Palestina): vida extremamente simples, uma aplicação sempre válida do Ora
et labora, onde a oração se torna fonte de energia e a ação é dirigida para o bem dos
irmãos:
“Vidas Missionárias, de oração e de ação; com a oração para revigorar-se no
zelo à glória de Maria no bem das filhas, com a ação para se tornarem úteis88
.”
É uma vida fundamentada na humildade, no reconhecimento dos próprios limites,
portanto baseada num discernimento realístico, numa correta valoração da natureza
humana, que nada pode se não for envolvida pela Graça:
“A humildade dá força e energia até aos pacíficos e a confiança em Deus,
também sinal de Deus. Entre muitas e diferentes circunstâncias, às vezes
contrárias, outras vezes favoráveis, entre as contradições e os sofrimentos
mais sensíveis(fome e doenças, desemprego), entre as necessidades urgentes e
as angustiantes incertezas, mantiveram sempre, aquela perfeita igualdade,
aquela inalterável tranqüilidade, aquela constante segurança que vem somente
de Deus, da sua padroeira particular Sta. Ermelinda, que sofreu89
.”
Humilitas vem de húmus, que quer dizer “terra”, “solo”, “pó”; como imagem da
existência humana; o conceito nos indica toda a pobreza e a provisoriedade («Lembra-
te de que és pó e em pó te hás de tornar»), mas sugere também que este “solo” sem
veste e aparentemente instável é o lugar que através da Encarnação Deus escolheu
para edificar o seu Reino, «assim na terra como no céu» (Mt 6,10): Ele faz surgir da
“terra” daqueles que escolhe, as magníficas construções de Sua caridade.
Deste modo podem também ser aplicadas a Pe. Bianchi e às primeiras «irmãs»,
à sua experiência de fundador e aos acontecimentos iniciais das FMM, as palavras do
filósofo católico Emmanuel Mounier que descrevem a paciência (patior, “suporto”,
“espero”) e o sacrifício (sacrum facere, “torno sagrado”, “me refiro a Deus”), como
também a confiança e a esperança que animam toda experiência autêntica de vida
cristã, a sabedoria em permanecer numa atitude de interrogação e de espera:
“É da terra, da solidez, que deriva necessariamente um parto pleno de alegria
e o sentimento paciente da obra que cresce, das etapas que se sucedem,
87
«Relembrando os acontecimentos felizes», ms. de J.Bianchi, AFMM, VIII.2.5.4; cf.
Documento 28, pp.132-134. 88
Idem, p.133. 89
Idem, p.134.
57
esperadas quase com calma, com segurança [...] Ocorre sofrer para que a
verdade não se cristalize em doutrina, mas nasça da carne90
.”
Pe. Bianchi certamente não se livrou da necessidade de «sofrer», à Via Sacra, ao
cálice amargo da incompreensão, para salvaguardar e cumprir a missão para a qual se
sentia chamado: não uma obra “sua”, ou uma obra qualquer que facilmente acabe em
“teoria” e «se cristaliz[e] em doutrina», mas a obra desejada por Deus e realizada por
ele de modo irrevogável como o sinal definitivo na «carne» de Jacó:
“Foi um tempo em que o instituto (Belloni) sentiu-se ameaçado por um golpe
mortal e se disse fora o falso – se quis impedir a sua liberdade em um dos
interesses mais delicados e importantes para o desenvolvimento normal de
uma comunidade (obrigá-las a entrar nas Sales[ianas] ). Foi um tempo de
incertezas, de fadigas, de angústias indescritíveis: o Diretor sofreu, mas não
temeu, nem seu programa foi prejudicado; era cada vez mais firme, quanto
mais era confusa a questão e duvidosa a conclusão91
.”
A humildade difícil e definitiva de Pe. Bianchi está toda na fidelidade ao
«programa» colocado à sua disposição; pro-grapho, isto é “primeiro escrever”:
aprendeu a “ler” os acontecimentos encontrando neles a permanência do desígnio de
Deus, perseverou na adesão a quanto Ele lhe “escreveu por primeiro”, ou seja, desde a
origem, desde o momento em que Deus o escolheu para manifestar um carisma na
Igreja.
Pe. Bianchi quer que as Missionárias vivam com esta mesma humildade, é o
“segredo” que lhes revela para o bom êxito do Instituto e para a sua aprovação; numa
carta circular, com ênfase profética, garante-lhes que, juntamente com a total
confiança em Deus, a humildade é a única e verdadeira riqueza delas, a arma mais
eficaz contra as corrupções do mundo, por maior que pareçam as adversidades:
“Confiança absoluta somente em Deus – Respeitai as pessoas, mas não
busqueis apoio nelas. Deus vos ajudará, assistirá, proverá sempre melhor do
que o mundo todo vos fizesse porque o Instituto é desejado por Deus, para a
glória da Sagrada Família e o bem das almas, sob o patrocínio de Sta.
Ermelinda. Sim, Deus é quem a tornou conhecida, estejais, pois certas, o
Instituto florescerá muito após a minha morte.
Coragem – não temais, não, não, nem se chegarem fortes tribulações. Deus é o
dono do Instituto, vós sejais verdadeiras Irmãs, todas de um só coração e uma
só vontade: e Deus estará convosco e vos dará grande conforto. Agora
90
E. MOUNIER, Cartas sobre a dor. Um olhar sobre o mistério do sofrimento, Milão, BUR,
1995, p. 39, p. 40. 91
« Relembrando os acontecimentos felizes »; Documento 28, p.134 .
58
vivemos momentos difíceis demais, demais, devido aos escândalos que
acontecem, e Roma irá devagar com as aprovações, mas vós sejais humildes,
humildes, humildes e Deus vos exaltará. Sejais firmes e fortes na vontade de
serdes verdadeiras Missionárias e sereis consoladas muito, muito, porque
Roma vos dará a aprovação e abençoará imensamente” 92
.
4.4 A MISSÃO DE HOJE NA VOCAÇÃO DE ORIGEM
Num outro manuscrito, provavelmente redigido antes de 1892, Pe. Bianchi
sublinha quase de forma paradigmática a “descendência” das FMM das Pias Uniões93
.
Quando começa insistindo na idéia de que «O missionário não se cria de
improviso, não»94
parece que queria exprimir em síntese a sua experiência pessoal e os
acontecimentos do Instituto, para depois expor as características da formação à vida de
missão. Passa então a considerar como as FMM, que «trabalham demais» e se
prepararam através da pertença às Pias Uniões, pois «antes foram verdadeiras Filhas
de Maria». Além da seqüência cronológica, é possível perceber nesta afirmação a
identificação de uma origem, um traço indelével que é encontrado em cada eventual
experiência :
“Não podemos elogiá-las sem primeiramente bendizer e agradecer a Pia União que
as dispôs e as fortaleceu. E inspirou um zelo fervoroso para propagar o Reino de
Jesus no Oriente.”
Os méritos que a atividade missionária e depois educativa que as FMM obteriam
é de estarem todos enraizados na obediente fidelidade à forma original de pertença
(“ser parte de”, mas também “depender”), na qual a fé delas é reconhecida, fidelidade
à vocação que continha in nuce a disponibilidade para um testemunho mais explícito e
convicto «para mostrar a caridade cristã e evidenciar os grandes princípios do
Evangelho, e assim atrair pessoas para Jesus».
Os acontecimentos tinham manifestado a fecundidade da fé que permanece firme
ao seu princípio, até vir a ser «uma obediência de coração àquela forma de
ensinamento que lhes foram entregues»95
.
É significativo que neste documento não faça referências à vida em comum na
Casa das Filhas de Maria, quase confirmando que as primeiras congregadas na casa
eram da mesma “natureza” das outras “irmãs” que depois partiram para o Oriente, isto
é que aquela passagem não foi substancial, mas foi somente uma ocasião para tornar
92
Carta de Jacinto Bianchi à Irmã Consolata Zampieri, Gênova, 28 de julho de 1907; cf.
Documento 20, p.118. 93
“O Missionário não se cria de improviso...”, ms. de J. Bianchi, AFMM, VIII.2.5.6; cf.
Documento 29, pp.134-135. 94
Idem, também para as citações sucessivas. 95
Intervenção de Cardeal Joseph Ratzinger à apresentação do Catecismo da Igreja católica,
«L‟Osservatore Romano», Cidade do Vaticano, 20 de janeiro de 1993; cf. Rm 6,17.
59
mais evidente o dom da graça recebida na comum vocação originária. Segundo o
método da Encarnação, a origem de toda experiência cristã já contém tudo, como no
Batismo, porque a obra de Deus se cumpre desde o seu princípio, sendo que o tempo e
as contingências são somente o Caminho onde encontrar a Verdade e a Vida.
Neste mesmo documento, onde as Missionárias são ligadas intimamente às Pias
Uniões, Pe. Bianchi exprime também o desejo que uma experiência de fé, como
aquela suscitada por meio dele, se repita e se multiplique, de tal modo que «não exista
lugar onde não seja implantada e que não surja uma Missionária».
Na sua invocação final («o nosso voto»), pode-se enfatizar a mais profunda
esperança de um fundador, a oração propiciadora para a obra na qual tinha
reconhecido a sensível intervenção de Deus e que também depois a Igreja, com a
aprovação, teria confirmado. Ele quer que a vida de cada Missionária e do Instituto
possa dedicar-se a uma missão única e definitiva, não necessariamente ligada a lugares
ou a circunstâncias particulares, mas destinada essencialmente ao anúncio evangélico.
Numa visão providencial da história (e da história do Instituto), a perspectiva da
extensão “espacial” desejada por Pe. Bianchi («não exista lugar onde não se
implante») mudou-se necessariamente ao longo do tempo, porque também necessitou
de um reconhecimento canônico definitivo, ainda que fosse de “forma” limitada e
contingente, necessária a circunscrever um “sopro” particular do Espírito. O carisma
suscitado por meio de Pe. Bianchi, mesmo nas mudanças de contextos e de
perspectivas, pôde na sua essencialidade ser compreendido como graça capaz de
suscitar e favorecer uma companhia de vida cristã, reunindo em nome de Cristo,
mulheres que O reconheçam e O acolham integralmente, para torná-Lo presente onde
vivam. Juntas sabem oferecer liberdade, abertura e acolhida num autêntico espírito
evangélico, e criar assim lugares de encontro cotidiano onde a graça de Deus possa
facilmente “tocar,” tornando-as exemplos de testemunho e vocação, atraindo e
fazendo surgir «almas decepcionadas com o mundo, almas desejosas da vida perfeita».
O horizonte deste carisma “católico” é aberto sobre cada pessoa e cada
condição humana, porque «Deus iluminará a mente dos cativos para conhecer o bem e
fará sentir em seus corações a necessidade das virtudes para a dignidade da própria
natureza humana»96
; abraça cada cristão na vocação comum à santidade, isto é, à
perfeição da vida segundo o próprio estado.
96
«Rezai a Deus na Sua imensa bondade»; Cf. Documento 1, p.72.
60
CONCLUSÃO
Concluindo estas considerações sobre algumas passagens biográficas de Pe.
Jacinto Bianchi e sobre o Instituto que nele teve suas origens, é oportuno ressaltar que
aqui antes de tudo tentou-se sugerir hipóteses, mais que dar respostas e soluções.
Como todas as realidades que surgem da livre vontade humana e se concretizam em
uma dimensão comunitária reunida gradativamente até formar uma fisionomia
reconhecível. Também o Instituto das FMM surge e se delineia ao longo dos
acontecimentos que às vezes pode ser tortuoso, contraditório, favorável ou até mesmo
“providencial”, mas praticamente jamais linear e previsível. Nesta perspectiva, cada
circunstância conhecida ou documentada, ou mesmo cada juízo e interpretação
daqueles que viveram os acontecimentos, marca um ponto de desenvolvimento, que
pode ser mais ou menos determinante, mas portanto destinado a traçar um percurso e a
influenciar sobre o passo seguinte.
Provavelmente é uma operação arbitrária e substancialmente incerta, querer
determinar a relação de cada “fonte” identificável a um sucessivo e articulado «curso»
de acontecimentos, mas isto não impede reconhecer que uma imagem unitária e uma
consistência original são normalmente o êxito da convergência das multiplicidades,
como um rio que desde a sua nascente canaliza em si águas de várias proveniências, e
estas fundindo-se, continuamente o criam, o alimentam e o impulsionam para o mar.
Também Pe. Primo Mazzolari, um dos “profetas” dos anos Novecentos, há setenta
anos atrás descreveu desta mesma forma as origens daquele “movimento” suscitado
por meio de Pe. Jacinto Bianchi:
“Existem paternidades que são inexplicáveis: como aquela de Pe. Bianchi,
por exemplo. Sobre o primeiro grupo, não se vê nem mesmo como começa
e a quais atividades se propõe. Sem carta de fundação, sem regras, mas um
ímpeto de graça e de espontaneidade que resiste ao tempo e aos homens, às
oposições e aos insucessos de todo tipo... Depois, o breve córrego aumenta,
se desemboca, caminha, retrocede, se esconde, procurando ser perdoado por
existir e por fazer o bem” 97
.
97
PRIMO MAZZOLARI Um bom semeador. O missionário apostólico Jacinto Bianchi, padre
cremonense, em “A Vida Católica”, Cremona, 9 de dezembro de 1938, p. 2. O artigo é uma
apreciação de F. MANDELLI, Um bom semeador . Biografia do Missionário Apostólico sac.
Jacinto Bianchi, Brescia, Vittorio Gatti, 1938, p.151.
61
Apêndice
O “FIM SECUNDÁRIO” DAS FMM NAS FORMULAÇÕES
SUCESSIVAS
Nas Normas de 1901 foi dada a definição genérica do «fim secundário» que cada
Instituto de votos simples deveria ter:
“O fim secundário e particular, evidentemente específico de cada Instituto, é
constituído por aquelas peculiares obras de caridade para com Deus ou para
com o próximo a serem praticadas para as quais o próprio Instituto foi
constituída” 98
.
Em seguida são apresentadas as sucessivas formulações sobre o «fim secundário»
das FMM, em três manuscritos 99
de Pe. Bianchi após as Normas até as expressões
com as quais vem mais articuladamente indicado nas Constituições vigentes,
promulgadas em 1985, e no relativo decreto de aprovação.
Manuscritos de Jacinto Bianchi
- 2. O fim secundário é o bem espiritual e corporal do próximo por meio da
educação cristã das meninas - especialmente as pobres – e dos trabalhos de
mulher, e a assistência aos jardins de infância e aos Orfanatos femininos
[VIII.2.2.7a].
- Art. 2. O fim secundário é o bem espiritual e corporal do próximo por meio
da educação cristã das meninas – especialmente as pobres – e do ensino da
costura, do bordado, e também, após considerar todas as circunstâncias, se a
caridade cristã sugerisse, a assistência aos jardins de infância[VIII.2.2.7b].
- 2. O fim secundário é o bem espiritual e corporal do próximo por meio da
instrução e educação cristã das meninas – especialmente as pobres – e com a
98
«Finis secundarius et specialis, unicuique scilicet Instituto proprius, constituitur in illis
peculiaribus caritatis operibus erga Deum aut erga proximum, ad quae exercenda Institutum
ipsum formatum est» (S. C. EPISCOPORUM ET REGULARIUM, Normae..., cit., n. 42). 99
Cf. Documento 25, pp. 125-127.
62
assistência aos jardins de infância, após considerar todas as circunstâncias que
a caridade cristã sugerisse[VIII. 2.2.7c].
Constituições aprovadas em 17 de maio de 1924 por D. Eduardo Brettoni,
bispo de Reggio Emilia
O fim secundário da Congregação é educar as filhas do povo à prática das
virtudes cristãs, ensinar-lhes a costura e o bordado, assistir aos jardins de
infância e as escolas, dirigir orfanatos e educandários. Sob a direção dos
Párocos as Irmãs Missionárias dedicam-se ao ensino da Doutrina cristã e às
obras paroquiais. Salvo raras exceções, não atendem aos cuidados dos
enfermos em domicílio100
.
Constituições de 1934
2. O fim especial do Instituto é: a) a instrução e a educação religiosa das filhas
do povo, mediante a prática das virtudes cristãs, a assistência nos Jardins de
Infância, nos Orfanatos, nos Educandários, nas Oficinas de trabalhos manuais
e em todos os modos sugeridos pela piedade cristã, juntamente com o
propósito de ir às Missões Exteriores se vierem a ser chamadas; b) prestar
trabalhos nos Seminários, nos Internatos e em outras Obras de Caridade.
3. Sob a direção dos Párocos, as Irmãs deste Instituto se consagrarão também
para o ensino da Doutrina cristã e das Obras Paroquiais. Somente em casos
excepcionais poderão atender aos cuidados dos enfermos em domicílio e isto
com a permissão da Superiora Geral e com o voto deliberativo do seu
Conselho101
.
Constituições de 1946 e reedição de 1964
2. O fim especial é: instruir e educar religiosa e civilmente as filhas do povo
por meio das escolas, educandários, jardins de infância, orfanatos, Oficinas de
trabalhos manuais e em todos os modos sugeridos pela piedade cristã, assistir
os enfermos em seus domicílios, sem, todavia diminuir o pessoal do ensino
que deve ser considerado como obra principal, dedicar-se com todos os meios
disponíveis às Missões Exteriores entre os infiéis e entre os Italianos nos
países católicos, prestar serviço nos Seminários, nos Internatos e em outros
Institutos de Caridade.
100
Texto datilografado, AFMM, I.1. Na parte do artigo precedente à citação, à observância
dos três votos simples vinha acrescentado «o propósito de ir às Missões exteriores», de modo
idêntico ao art. 21 do texto impresso de 1907; cf. Documento 18, p.114 101
Constituições das FMM (Massa Carrara), Carrara, Tipografia Rolla, 1934, p. 3.
63
3. Sob a direção dos Párocos, as Irmãs da Congregação consagram-se também
ao ensino da doutrina cristã e às Obras Paroquiais102
.
Decreto de aprovação das Constituições, 11 de fevereiro de 1985
As irmãs, Filhas de Maria Missionárias [...] inspirando-se na Virgem e
assumindo-lhe o espírito e o estilo missionário, tem como missão específica
na Igreja testemunhar, anunciar e servir, onde a Igreja ainda não existe e onde
Cristo não é ainda suficientemente conhecido e amado, dedicando-se
especialmente à formação da mulher, à educação da juventude e à animação
vocacional-missionária da comunidade cristã103
Regra de Vida - Constituições, 1985
1.[...] Nascida de uma necessidade de missão e recebida, por impulso do
mesmo Espírito, pelo Servo de Deus Pe. Jacinto Bianchi, Missionário
Apostólico, a nossa Família religiosa é uma comunidade de irmãs que, fiéis à
graça das origens, pretendem realizar no tempo, com a consagração religiosa,
o desígnio salvífico do Pai, que foi atuado, por Cristo, dedicando toda a vida
exclusivamente ao serviço missionário no mundo.
[...]
Finalidade específica
8. Unidas no Espírito Santo de Cristo pelo comum carisma, vivido na
liberdade dos Conselhos evangélicos, o nosso compromisso de Missionárias,
na fidelidade ao espírito do Fundador, torna-se testemunho, anúncio e serviço:
- onde a Igreja ainda não existe;
- onde Cristo ainda não é suficientemente conhecido e amado.
9. Por força da nossa vocação missionária permaneceremos disponíveis para
os serviços concretos exigidos pelas necessidades da Igreja e que nos
permitem realizar as finalidades próprias das origens. Com efeito, na
evangelização da qual a promoção humana constitui parte integrante,
orientamo-nos particularmente:
- na formação da mulher em todas as suas expressões;
- na educação da juventude.
102
Constituições das FMM, Aulla, Tipografia Mori, 1946, pp. 3-4; Formigine, Tipografia
Golinelli, 1964, pp. 3-4. 103
Decreto da Sagrada Congregação para os Religiosos e os Institutos Seculares, prot.
n.M.126 – 1/84, Roma, 11 de fevereiro de 1985.
64
Estimulamos a comunidade cristã para que descubra a dimensão missionária
da sua vocação104
.
104
CONGREGAÇÃO FMM, Regra de Vida - Constituições, Roma 1985.
65
66
DOCUMENTAÇÃO
67
68
1
_______________________________________________________________
AFMM, VIII.2.5.3 – Ms. de J. Bianchi, inc r: Rezai a Deus para que na Sua imensa
bondade -inc v: [...] queira ajudar em abundância quando ficardes mais velhas; 1 f. de
formatação, 310x210 mm.
Elogia a obra modesta, mas fecunda do Instituto das Missionárias traçando o seu
perfil espiritual e a devoção a Maria- Fragmentos sobre os benefícios que gozam em
pertencer à Pia União das Filhas de Maira, com referência a uma superiora de nome
Chiara.
1. Rezai a Deus para que na Sua imensa bondade queira ajudar a obra das
Missionárias e se sirva delas como instrumento para sua glória.
2. Dia solene, sagrado às glorias de Maria, porque escolhido para a entrada das
postulantes, e para manifestar aquela piedade filial para com a augusta Mãe
divina, que formou, desde as primeiras, as fundadoras deste Instituto, e que foi
herdada e sempre mantida.
3. História de generosos propósitos, de lutas angustiantes, de heróicos sacrifícios,
de paternas e constantes solicitudes, de obras santas, de frutos copiosos e
fecundos. Diante da eloqüência dos fatos, qual voz seria suficiente e digna de
elogiar uma obra que é a expressão daquela caridade que poucas almas
privilegiadas sabem dignamente realizar?
4. Será modestíssima a minha palavra, mas vós que rendeste homenagem de estima
a esta Congregação que forma o objetivo da vossa alegria.
5. Parece aos olhos humanos muito modesto o trabalho de uma humilde
Congregação entre os importantíssimos acontecimentos dos quais se faz célebre
este século, um acontecimento pouco considerado, mas de imensos bens e germe
fecundo: uma simples congregação Mariana, que iniciada já florescente em Pigna
foi o berço do Instituto; ao falar de Belém, sentiram irresistível desejo de iniciar a
obra santa como empreendedoras, resolutas e de consagrar-se todas à causa dos
órfãos e ser conhecida do povo. Veio a resposta de Belloni, a vontade de Deus é
clara, não se deve resistir: decididas iniciam o Instituto e vão, correspondendo
primeiro a graça e por ser próprio da bondade de Deus multiplicar, se a obra
prosseguir o Senhor aos poucos preparar novas ajudas.
6. O Instituto já se iniciou! O seu programa está compreendido na união destes
nomes: Missionárias da Propaganda Filhas de Maria, nomes que abraçam a fé e a
caridade, o intelecto e o coração, a palavra e a obra, a compaixão e o amor, a
mulher e Deus. Pensar como pensa Propaganda, todas as coisas que ela dirige a
Deus por Maria, arder como Ela de celestial amor, trabalhar com seu espírito de
sacrifício, dispostas também a sofrer: é o conceito, a marca da sua vida bem
trabalhada.
69
7. Deus não aflige a não ser para multiplicar as mais suaves consolações; é o
conforto de ver prosperar o Instituto, multiplicar-se a família, tornar-se sensível o
fruto da cooperação aos convites celestes. Virá a palavra de grande conforto:
palavra firme e santa, sinal de bênçãos celestiais, do querer misericordioso de
Deus.
8. Poderá ocorrer, em dias mais tristes, de doce conforto a todos aqueles que
apreciam a verdade e a virtude; as jovens são educadas, instruídas e crescidas na
piedade e entregues às famílias, sábias, de bons costumes, obedientes, de decoro
na cidade, de verdadeira honra e de ajuda às suas famílias.
9. Se [a obra] nos dá sinais de prosperidade, isto confirma que tem a ajuda celeste, a
proteção da Virgem sob a qual teve inicio e desenvolvimento, ainda que operando
modestamente: proteção especial obtida pela nossa confiança e devoção a Maria.
As coisas nossas todas por Maria.
10. E nas dificuldades em que se encontra põe toda sua esperança na proteção de
Maria e nutre firme confiança que logo o Instituto crescerá e se desenvolverá.
|f.1v| [...] Deus com certeza providenciará e, quando serão mais velhas, tendo
superado as tempestades do mundo se lembrarem do passado, terão saudade daquele
tempo em que viveram à sombra da Pia União, e as memórias queridas dos encontros
e das festas farão brotar, do coração comovido, uma lágrima de agradecimento. Ou
com freqüência, todas reunidas para cumprir aqueles atos de piedade que contém as
delícias celestes e saboreiam o paraíso, suspirando ardentemente exclamarão: “Bendita
seja a Pia União na qual passei as horas mais inocentes e mais alegres da minha vida”.
Tristes dias vos prepara a maldade humana - nos quais deverão lutar, vós Filhas de
Maria - glória, alegria, espelho da virtude. Minhas caríssimas irmãs, agradeçais a
Deus que na Pia União tendes um poderoso meio para santificar a vós mesmas e
edificar o próximo. O mundo, o demônio vos molestarão, mas vós contentes, felizes
de serdes Filhas de Maria respondereis: “Viva Maria”, e continuareis sendo
verdadeiras Filhas de Maria, produzindo verdade e virtude.
E Deus iluminará a mente dos maus para que conheçam o bem e brotará nos seus
corações a necessidade da virtude própria do ser humano. E peçais sempre que a vossa
Pia União se torne cada vez mais [ilegível] e fecunda de boas obras.
E vós membros da Pia União, resplandeceis pela virtude da caridade e do espírito
de sacrifício. E você superiora, de modo especial seja sempre o anjo da guarda de suas
filhas. Seja Chiara não tanto no nome, quanto no mais perfeito cumprimento dos seus
deveres, seja lúcida em tudo.
70
2
_______________________________________________________________
AFMM, VIII.1.1b.Ep202 – Carta de Jacinto Bianchi a João Bosco, Gênova, 19 de
novembro de 1865; fotocópia de autógrafo autenticada, 2 f., 205x305 mm, com
anexos.
Pede conselho para a abertura de um asilo, uma casa de trabalho e um colégio em
Solarolo Rainerio (CR). Transcreve outros quatro documentos informativos sobre a
questão.
Senhor Diretor!
Quem lhe escreve a bela carta foi a Torino para pedir-lhe um conselho sobre um
projeto de proveito público religioso. A levar menos incômodo ao senhor de estar a
escutar, muitas coisas que são descritas.
Sou Lombardo Cremonense, Padre jovem, pobre, mas de coração grande, outros
diriam pertencer eu à classe dos qualificados temerosos.
Desde Outubro de 64 idealizei uma Casa de Trabalho de mulheres, e redigi o
programa. Apresentei-o à R. Prefeitura de Cremona, que o aprovou, e tentei realizar a
obra contra a opinião pública, que se pronunciou contra mim e as minhas ações.
(Programa - Decreto – Artigo de Página única em Cremona os verá aqui unidos).
Foi então aberta a Casa: mas agora está fechada porque eu estou em Gênova junto
ao Claríssimo Frassinetti, Prior de Sta. Sabina, por ele mesmo chamado em abril deste
ano. Diante de todas as coisas considerei ser melhor ir-me embora, pois me retirei de
lá não por outra causa, a não ser pelo fato do bispo ter sido enganado e acreditado que
o governo queria me prender por motivo dessa minha iniciativa.
Agora me incita meu caráter a tentar outra coisa, a qual bem me parece possa um
dia vir a ser causa e ocasião de 3 grandes vantagens sociais. Abrir um «Pequeno Asilo
para Homens Italianos célebres nas Profissões nobres – Liberais - Mecânicos». O
programa é simples: será aprovado já que como da outra vez da Casa de Trabalho eu o
fiz flexível e de modo que não aparece nada de religioso. A vida material deste Asilo
deve dar a moral religiosa a dois outros Institutos. Eis ai a explicação.
O asilo tem necessidade de serviços, de roupas de cama e mesa e roupas pessoais,
etc., etc. A Casa de trabalho pode oferecer tudo isso com um belo louvor e aprovação
social, visto |f.2r| que o juízo público não conseguirá supô-lo um Instituto religioso,
mas do contrário só uma obra apenas filantrópica. E eis abertas duas Casas que podem
proporcionar grandes bens.
Estas duas acomodações – o Asilo e a Casa de Trabalho – levariam naturalmente a
um Colégio, sustentável com poucas despesas, e não também, sem proveito material.
Pode-se aceitar como hóspede um jovenzinho por somente fr. 220 ao ano. Os
professores, os empregados não se paga. Só o alimento se paga, por isso com esta
modesta quota ou pensão, se pode fazer tudo por 220 francos.
71
Vós me direis: e os meios? Eis no Programa, os mencionei.
O local do Asilo vai ser comprado por duas pessoas em uma bela propriedade
rural, distante 18 quilômetros de Cremona, Solarolo-Rainerio na estrada principal
Giuseppina.
A mobília necessitará, de mais algum dinheiro para a sua implantação. Depois os
hóspedes farão alguma coisa. A Casa de Trabalho se compõe de mulheres jovens,
todas providas de dotes e dinheiro. Entre estas alguma professora de Método e de
Trabalhos. A casa de Trabalho não pode padecer nenhum defeito, como já vi na
prática. O colégio rapidamente terá um belo número porque cada família se
acostumaria a gastar pouco. E o local já existe, já foi tentado anteriormente por um
outro Colégio.
Eu depois me empenharei, ajudado pelo Senhor, a procurar cada utensílio. Vós me
aconselhais a coisa melhor. Entrego tudo a vós, e o vosso parecer dará norma a minha
obra.
Do vosso Devotíssimo Servo
Bianchi Jacinto Sacerdote
Gênova, manhã de 19/11/65
|f.2v| [manuscrito de J. Bosco] Simples memória.
• Anexo 1 - 1 f., autografado por J. Bianchi
Programa de uma Casa de Trabalho para mulheres
Existem muitas mulheres que não tiveram marido, e já de idade avançada
encontram-se rejeitadas por todos, e cheias de amargura e de lágrimas mesmo quando
tem um pedaço de pão. Tal panorama me sugeriu a idéia da Casa de Trabalho. Ali
dentro se darão conta no entanto que são jovens, e aptas ao trabalho, e terminarão os
dias delas em paz. As jovens de cada cidade podem gozar da vantagem da Casa
sempre que atenderem aos pré-requisitos exigidos, e pretenderem uniformizar-se à
disciplina da Casa.
I. Para entrar necessita de permissão escrita e assinada, pelos Pais e 3 testemunhas,
e autenticada pelo Prefeito. Além de um Certificado do Pároco de boa conduta.
II. Idade não menos de 20 anos, sã razão, saúde boa.
72
III. Dote de no mínimo 12 camisas – 3 pares de lençol – 3 vestidos – 2 lenços de
mão – 2 de cabelo e outras pequenas coisas necessárias. Cama de lã. Este dote é
descrito em um Inventário assinado do pai da jovem e da Superiora da Casa e
conservado nos documentos da Casa.
Observa-se que, se alguma jovem rica quiser entrar, que além do dote traga consigo
também dinheiro, este será inscrito com uma declaração registrada em cartório, e
colocado em usufruto: ou mesmo empregado para comprar um local para a Casa,
quando tiver o consentimento da jovem e de seus pais.
Espírito e Objetivo da Casa
O espírito animador da família é especialmente o espírito de fraternidade, que torna
manso o coração, e prudente a palavra, e a alma ardente de amor ao próximo. De fato:
I. Vivem como tantas irmãs, estas jovens: sem distintivo, sem clausura, livres de si
mesmas: mas, não sem uma certa ordem.
II. Elegem a cada 3 anos, ou mesmo a cada ano a Superiora delas por voto, escolhem
as suas conselheiras, e suas regras antes experimentadas na prática, depois as
sancionam.
|f.1v| III. Mas se cansam de conviver, voltam para suas famílias: mas não é
permitido que saiam sem a presença dos pais, que serão avisados por carta, e que
confirmem isso quando vier a acontecer. O dote será devolvido como estiver no
momento. Não se dará porém o fruto do trabalho feito.
IV. Cumprem com liberdade aquelas funções que a superiora achar, pensar e querer
realizar para a disciplina da Casa para o bem público e privado. As funções são as
seguintes, exercidas segundo a capacidade física e moral de cada uma:
- Conduzir uma vida honesta e respeitosa sempre e sem nenhuma exceção.
- Trabalhar as profissões domésticas. Tecer, cozinhar etc.
- Visitar os pobres em suas casas para conhecê-los e consolá-los, e depois, com a
permissão da Superiora dar esmola em material, não em dinheiro.
- Empenhar-se em instruir todas as jovens externas, que queiram adquirir
conhecimento das profissões e da vida doméstica; no cuidar dos bebês, enquanto a
mãe deles trabalham nos campos.
- Ensinar na Escola infantil ou no Ensino Médio conforme indicação do Prefeito.
Sacerdote Bianchi Jacinto
Scandolara Ravara, 12 de outubro de 1864
73
• Anexo 2 - 2 f., transcrição
Scandolara Ravara, 28 de outubro de 1864
Ao muito reverendo Sacerdote Bianchi Jacinto de Scandolara Ravara
Comunica-se ao senhor em cópia a Nota da R. Sub- Prefeitura de Casalmaggiore
Para Vossa norma e pela execução correspondente.
O Prefeito Zanetti
______________
Reino da Itália
Sub-Prefeitura de Casalmaggiore
Seção P.S. - N. 3607
Objeto: Projeto de uma Casa de Trabalho elaborado pelo Sacerdote Bianchi Jacinto
para as jovens de Scandolara Ravara.
Ao Senhor Prefeito de Scandolara Ravara
Casalmaggiore, 19 de Outubro de 1864.
A R. Prefeitura de Cremona, à qual vem apresentada a demanda deste Sacerdote
Bianchi Jacinto para obter a faculdade de instituir uma Casa de Trabalho em
Scandolara Ravara, declarou com Sua Nota 16 do corrente mês N. 17238 de tê-la
considerado em termo das Leis vigentes em matéria.
|f.1v| Vos pedimos para levar ao conhecimento do próprio Sacerdote Bianchi que as
leis vigentes Institucionais garantem o direito de associação, sempre que nada se faça
que seja contrário às leis do Reino; e que então no estado em que as coisas se
encontram, a R. Prefeitura Provincial não pode opor-se à execução do seu
planejamento. Porém que a Instituição da qual ele se faz promotor não tendo uma
existência segura por falta de meios, deverá considerar-se como uma Instituição
temporária de acordo com o artigo 3° da Lei de 3 de Agosto de 1862: e então não
poderá ser compreendida por ora na categoria das Obras Pias, nem como tal poderá
obter a tutela e a proteção Administrativa, se bem que resta ao Governo o direito de
vigilância para o cumprimento das obrigações assumidas e para impedir qualquer
abuso.
Quando pois a Instituição puder sustentar-se com meios próprios e seja tornado
público o verdadeiro objetivo dela, então a R.Prefeitura se apressará a encaminhar à
Prática para que a Institui |f.2r|cão mesma venha erigida como corpo moral.
74
No entanto a V.S. será complacente de ter o olho vigilante sobre esta Instituição a
qual venha ativada onde evitar qualquer abuso.
p. Sub-Prefeito
O encarregado da circunscrição
Para cópia conforme [assinatura ilegível]
• Anexo 3 - 2 f., transcrição
Uma casa de trabalho em Scandolara Ravara
Com este título raro, um jovem sacerdote se agita com uma original atividade a
estabelecer neste vilarejo uma monástica utopia que seria aos nossos tempos um
verdadeiro anacronismo. Cartas de algumas filiadas da redondeza, todas perfumadas
de ascéticas expansões, a época da inauguração da Casa pré-fixada no Programa, o
fantástico ascetismo do Promotor, tudo isto garante que de uma coisa assim feita
quando quer que seja e no tempo oportuno, poderá um dia tornar-se um mosteiro.
O vigário daquela cidade Pe. Jacinto Bianchi, de uma imaginação viva, não lhe falta
correspondente saber, é o tal jovem ao qual no coração não faltam benéficas e
generosas propostas; mas desafortunadamente nisso o ímpeto do bem se traduz em
atos desordenados e mal elaborados da mente. Tais exageradas aspirações vindas das
ingênuas para outras manipuladoras e astutas, servem para tecer a teia sutil e enganosa
daquela escravidão moral das consciências cujo domínio desejam ferozmente os
inimigos da nossa pátria. O rude Programa de tal instituição, revela a capacidade da
mente que o concebeu. Erigir uma Casa de trabalho na cidade ou nas periferias
industriais e comerciais, é obra plausível e civil porque de possibilidade útil e prática;
mas querê-la em um vilarejo campestre, essencialmente agrícola, onde os hábitos,
necessidades territoriais, a robusta temperatura |f.1v| física dos habitantes leva-os a
viver ao ar livre, a céu aberto, é empreendimento absolutamente insensato e talvez
impossível de ser realizado.
Julgando tal proposta de Bianchi, não mais do lado oculto e misterioso, mas sim
enquanto externo, ou seja na linha do seu valor social, não nos intimidemos a
considerá-la uma violência para com as tradições locais, um deslocamento dos
interesses e costumes de data secular. Se poderia chamá-la uma metamorfose contra a
natureza pela qual mulheres ou jovens já habituadas aos trabalhos campestres e aos
cuidados rústicos de domésticas das famílias delas, deveriam passar bruscamente à
clausura monástica deste instituto, a inusitados trabalhos, ao desamor das casas delas.
75
O projeto de Bianchi tem comovido e assustado intensamente muitos pais de
família, os quais temem pela pressão de secretas influências a serem desautorizados do
poder paterno deles, e isto não sem fundamento, porque se sabe como algumas destas
jovens, seduzidas das ilusões de prioridade e supremacia na futura Casa de trabalho
estão prontas a romper com laços familiares e colocarem-se lá onde esperam de
gozar das delícias bem-aventuradas das meditações ociosas.
Esta Casa que o Idealizador, como é apresentada no Programa, deve ser erigida
sobre a proteção da Beata Virgem Conceição sine labe,deveria abrir-se às filiadas no
dia 08 de dezembro de 1864. Se não o foi até agora, o Bianchi não abandonou a sua
intenção. Seria um fato inconcebível a sua realização, porque um jovem Padre, talvez
com |f.2r| ótimas intenções, mas que não tem a ciência e o conhecimento social
exigidos pela fgrave função de fundador a qual aspira, atingiria o fim contraditório da
opinião pública hoje em dia, a qual já pronunciou a sua solene palavra sobre questão
vital das corporações religiosas.
Esperamos que aquela sede autorizada sobre a qual vaidosamente se apóia, como
Ele afirma, as suas esperanças de sucesso, que tenha conhecimento do mesquinho e
grosseiro Programa e das sociais e políticas precedências do idealizador, ponha à
análise severa, junto com o seu passado também as audaciosas pretensões do presente.
Esperamos que a fama de tais fantasias, isto é, de construir sem uma base sólida de
conhecimento, de fundos estabilizados e de dinheiro, sem nenhuma garantia material e
intelectual, possa chamar a atenção de seu responsável Diocesano e motivá-lo, na sua
inteligente prudência um remédio radical.
Façamos votos de que este sacerdote, que mesmo tendo em si algum elemento
utilizável para o bem, seja colocado no seu verdadeiro posto hierárquico. A sua
corpórea atividade é antes única que rara, e mais vezes explodiu-se de vários modos,
se não retos e racionais, sempre, porém honestos e desinteressados, e tem sofrido
muitas crises e passado por fases diversas. Que se tome portanto providencialmente
pela mão esta atividade sem defesa, e a guie sobre objeto de natureza não suspeita. E
se é possível, renda-a frutífera de efeitos benéficos para a sociedade e para si mesma.
76
• Anexo 4 – transcrição
Projeto
Pequeno Asilo dos Homens Italianos célebres nas Profissões Nobres –
Liberais – Mecânicas .
Razão - Excelência - Utilidade – Oportunidade do Asilo
Razão - É um fato que Homens Italianos célebres nas Profissões Nobres-Liberais-
Mecânicas levem a vida à duras penas.
Excelência – Tira o avermelhar-se de vergonha a quem o sente mais.
Utilidade – Teremos pessoas talentosas, obras de gênio inflamadas dos mais vivos
sentimentos de gratidão e reconhecimento.
Oportunidade – Não existe ainda entre as muitas obras filantrópicas uma como
esta: e a Nação do presente, se é bem disposta a beneficiar-se, pensará nesta que de
modo particular, é belíssima.
Meios para a Implantação e para a Manutenção
Aqui ele quer levar conta toda mínima coisa porque são bem poucos os bens no
momento. Depois certamente crescerão porque assim que o Asilo for implantado, será
provido de muitas coisas sem despesa. Quer fazer valer a simples afirmação, o
esquema que segue abaixo.
I. Algumas Jovens mulheres alojadas em tal Casa, onde juntas trabalham e vivem
como irmãs, se preocupam com toda a rouparia do Asilo e necessária ordem, sem
pretensão nenhuma recompensa: sendo pessoas abastadas.
II. Dois homens estão prontos a servir somente em troca da alimentação e do
alojamento.
III. Um Sacerdote doa todos os seus salários tirados do exercício do seu ministério,
já ganhos. |f.1v| Ajuntando estes meios reais a outros pequenos meios que virão, nós
podemos esperar rapidamente o bem do empreendimento. Eis os meios reais:
I. O local comprado em bela propriedade rural, perto de um grande vilarejo, e
próximo da estrada principal.
II. Toda a mobília necessária, e respectivas camas, providenciadas, porém a serem
montadas no momento que tiver necessidade.
III. 800 francos prometidos por pessoa digna de confiança.
Estes meios para alguns parecerão pouquíssimos, e, sobretudo talvez insuficientes ao
objetivo: mas considerando bem, que nos primeiros anos não serão numerosos os
Hospedados, e no futuro o número deles não será elevado, já que não são tão comuns
os Homens Célebres, será necessário convencer que então estes meios são suficientes.
Suficiente para dar início a uma obra que certamente à Nação se tornará cara, e então
será ajudada.
77
Outros meios, com o tempo o próprio Asilo providenciará. Tendo internados
Homens Célebres, estes podem dar aula: e assim abrir um Colégio Econômico, muito
útil nos tempos presentes.
Em tal Colégio se poderia manter bem o Aluno por somente 200 francos ao ano,
pois não vos existirá a despesa com Professores e todos os outros serviços.
|f.2r| Condições para entrar
I. Idade não inferior aos 40 anos, sem mulher e sem filhos.
II. Celebridade notável ou por herança, ou por grandes obras.
III. Promessa de trabalhar segundo as próprias forças físicas e morais.
IV. Promessa assinada de depositar à casa do Asilo – o ganho adquirido por
trabalhos encomendados.
V. Juramento de professar a Religião Católica.
VI. Juramento de cultivar no jovenzinho de família pobre todo raro talento.
Obrigações daqueles que entram
I. Vestir o uniforme do Asilo.
II. Viver em comunhão, menos no dormir.
III. Não sair do Asilo arbitrariamente ou sem necessidade.
IV. Não dormir fora do Asilo sem uma licença especial.
V. Não trazer para o Asilo nem comida, nem bebida para uso privado.
VI. Notificar ao Superior do Asilo os dons recebidos.
Deveres do Asilo
I. Manter os Hóspedes da melhor maneira possível.
II. De cuidar-lhes e servir-lhes amorosamente quando doentes.
III. De sepultá-los honradamente, e sufragar a alma deles.
3
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1c.Ep214 – Carta de Jacinto Bianchi ao bispo de Cremona D.Antonio
Novasconi, Scandolara Ravara, 30 de março de 1865; fotocopia do original, 1 f.
Pede ao bispo que lhe dê a permissão de deixar Scandolara Ravara.
Dom!
Sendo reta a minha intenção e justíssimo o motivo do meu pedido tenho razão de
esperar de vós boa correspondência e estou bastante confiante de ser favorecido.
78
Não posso e além do mais não devo ficar em Scandolara como Coadjutor. Tardar a
saída seria querer em seguida ser o acusador do modo de comportar-se do Arcipreste:
o que absolutamente não quero. Não se aborreça em permitir de retirar-me súbito, ou
transferir-me a outro local, por falta de Missa a Scandolara, ou por outros
compromissos que assumil. Eu irei à minha casa para recuperar a saúde, e depois no
Convento para fazer um pouco de retiro. Restam ainda Nº 3 Missa a Scando|f.1v|lara.
Quanto à minha Obra, saiba que mesmo de longe posso ajudá-la uma vez que esta já
existe.
Portanto espero do senhor uma notificação permitindo o que peço, que é a
necessidade do momento.
Um outro dia, e em breve, Deus fará ver claramente a todos, se é o meu zelo que é
sem moderação, ou se a culpa é do Arcipreste.
Creia-me o quanto me confio a Vós Sr.Bispo
Devotíssimo Filho
Bianchi Giacinto Coad.
Scandolara Ravara, 30 de março de 1865.
4
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.4a/b - Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria
Missionárias sob o patrocínio da Virgem Imaculada e de Sta. Inês Virgem e Mártir,
ms. de J. Bianchi; 4a: 2 f. protocolo, 285x212 mm, 4b: 1 f., 300x210 mm.
Oportunidade da função educativa das Filhas de Maria Missionárias para as Pias
Uniões das Filhas de Maria ( e as missões exteriores) realizada mediante a correção
fraterna.
Origem e desenvolvimento do Instituto das Filhas de Maria Missionárias
Sob o patrocínio da Virgem Imaculada e de Sta. Inês Virgem e Mártir e
de Sta. Ermelinda
As Pias Uniões das Filhas de Maria sob o patrocínio da Virgem Imaculada e Sta.
Inês Virgem e Mártir, agora já espalhadas em todo o mundo e geralmente conhecidas
pela experiência de fatos luminosos, tão eficazes para transmitir as virtudes ao
79
costume público da juventude feminina, as mais adaptadas e oportunas nos nossos
tempos, enfim uma verdadeira providência do Senhor, não se pode, a meu ver ( que é
sustentado por competente e influente juízo, como explicarei logo em seguida),
racionalmente esperar que elas se mantenham no seu espírito, sem duvidar da
eficácia delas, se não que lhes forneça um guia e estímulo permanente, homogêneas e
agradáveis ao mesmo tempo.
Confiadas ao zelo dos sucessivos diretores, que naturalmente possam ter diferentes
maneiras de ver, mais ou menos coniventes com o espírito do Regulamento romano,
que é a regra de todas as Pias Uniões marianas agregadas, estarão sujeitas a mil
variações, à confusão e, portanto até mesmo a se deteriorar. No momento, não se
sabe como poder dar às estas Pias Uniões um guia e um espírito contínuo, a não ser
que com uma [cancelado: casa] família de Filhas de Maria a qual tenha por objetivo a
conservação do espírito do Regulamento romano mediante uma rigorosa observância
do Manual Passèri, e a abertura de pequenas casas [cancelado:marianas] de Filhas de
Maria em todo lugar possível, isto é onde existam Pias Uniões erigidas canonicamente
– e agregadas a Roma – casas que promovam com o exemplo e levem as filhas a
conhecerem a grande graça, a grande honra que é ser Filha de Maria. E (que é aquilo
que vale mais e que fará bem às Pias Uniões)
através da correção fraterna feita verdadeiramente na mais bela caridade cristã, que
forma as irmãs de amor.
|f.1v| Estas pequenas famílias de Filhas de Maria manterão o espírito nas Pias
Uniões porque agirão em todo lugar unânimes e com amor de Irmãs e corrigindo por
amor, e com amor impedirão que as Filhas de Maria venham a diminuir seu fervor.
Repitamos, as Missionárias como verdadeiras irmãs, com maneiras dóceis, afáveis,
cativantes com as crianças, sem requerer direitos, ou autoridade, ou importância
magistral, com correções amigáveis, de irmã a Irmã, e as filhas de fora reconhecendo
nelas o objetivo do seu empenho, naturalmente não se ofenderão pelas correções, ao
contrário as amarão, e desejarão aproximar-se das Missionárias. Este é então o
objetivo essencial do Instituto das Missionárias, a correção fraterna às Filhas de Maria.
Desta maneira, as outras obras que o Instituto vier a realizar não serão jamais o seu
objetivo essencial, pois o Instituto pode viver sem elas. Por isso é que se recomenda
de favorecer e promover obras não substanciais com zelo bem moderado, esperando
muito mais que as oportunidades se apresentem por si mesmas, do que procurá-las
com solicitude: porque nós seremos depois desconcertadas, se terão atrasos,
contradições no fazer o bem, e não se deixará ver e conhecer o Instituto naquela franca
simplicidade, pela qual por si se justifica, e se coloca em posição segura de qualquer
prevenção contrária.
Mas, e as Missões exteriores? Respondo que estas são parte integrante do Instituto
porque são delas a correção fraterna levada ao heroísmo, à verdadeira caridade
fraterna pregada por Jesus – a maior, porque dá a vida ao próximo. As missionárias
vão advertir aqueles pobres infiéis, fazê-los compreender que vivem no erro e na
morte. E existiria algo mais essencial ao Instituto das Missionárias? Pois, sem medo
de falar demais, observo que Deus, logo que foi aberta a primeira casa das
80
Missionárias com o objetivo já citado, Deus inspirou as missões exteriores, abriu
caminhos e favoreceu os meios.
|f.2r| Quem quisesse pensar e temer que estas Missionárias, exercitando-se em tal
obra [a correção fraterna] nos países civis, perderiam logo o espírito bom, porque o
trabalho é de pouco empenho, reflita que Deus suscita vocações de acordo com as
necessidades dos tempos; e desta vez, pela sua excessiva caridade pelas almas – hoje
em dia cheias de si próprias e de espírito mundano, não dispostas a aceitar e escutar
como boas as advertências da autoridade eclesiástica – fez com que estas Irmãs
“Correttrice”a surgissem para consolar a sua Igreja, desolada ao ver seus filhos
correrem atrás do mundo e de seus prazeres. São necessárias vocações novas porque a
maldade humana é nova.
No mais, como já disse acima esta obra foi considerada como que necessária por
homens competentes - entre os quais me é caro citar as santas almas dos irmãos Passi,
Marco e Luca, Missionários que por primeiro deram a vida e desenvolveram a obra da
correção fraterna. Depois destes, citarei aquela alma santa e conhecedora das
necessidades da juventude cristã, Frassinetti, que logo que escutou os irmãos Passi
falarem da utilidade da correção fraterna, Ele formou uma congregação especial e
abriu duas pequenas casas destinadas justamente a atrair as crianças ao bem com a
dulcíssima correção fraterna. Enfim nominarei, com a mais profunda veneração e
reconhecimento pelo bem feito, de modo particular a mim e às missionárias nascentes,
ao Padre Passèri, Pai das Pias Uniões Marianas, que, nos últimos anos de sua vida
sacrificada com todo ardor com a alma ardente pela glória de Nossa Senhora, ele
repetia – refletindo sobre o andamento das Pias Uniões em geral – que a implantação
deste Instituto seria como que necessária, para que as Pias Uniões florescessem por
longo tempo na virtude. Ele mesmo observava que se tornava cada mais difícil juntar
[=agregar] as Pias Uniões às Monjas, |f.2v| disposição do restante do seu Manual, que
eu julgo ser um argumento favorável à obra da correção fraterna, porque não se vê
outro motivo de querer juntar as Pias Uniões às Monjas, senão aquele de dar às Pias
Uniões amorosas e sábias corretricia.
Posso garantir que o Abade Passèri, ainda fosse vivo, Ele mesmo tinha se colocado
à disposição para que se desse início a esta obra sobre sua imediata inspiração, guia,
nome e autoridade.
|4b, f.1v| [...] E Deus mesmo revelou o quanto queria bem esta família, pois onde ela
se instalava, providenciava-lhe também os meios necessários para ir em frente,
defendendo-a dos perseguidores, dos caluniadores e as primeiras irmãs que se uniram
Deus se serviu delas para as missões exteriores. As outras, porém, tiveram que esperar
muito. Se Deus as abençoar [cancelado: a conquista], hão de dar inúmeros frutos. As
missionárias, corrigindo as Filhas de Maria como irmãs, contribuirão para o bem da
sociedade: pelo fato que educando as crianças, [se] pode educar metade da geração
nascente; quando esta cresce boa, conseguindo influenciar na educação das mães sobre
os filhos, também a outra metade deverá necessariamente melhorar, e as Irmãs terão o
mérito do bem que virá. Alguém dirá que esta mudança universal é esperança utópica.
Seria realmente verdade se, se pretendesse com este meio acabar com todos os
81
perversos do mundo: mas aqui procura-se somente acabar com um grande número, e
por meios evangélicos, e por isso eficazes.
5
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.6.18 – Descrição dos atos e memórias importantes referentes à
implantação, à instituição canônica, à agregação à Primária de Roma e a vida moral
da Congregação das Filhas de Maria de Pigna; ms. de J. Bianchi; 1 f., 140x190
mm.
Instituição e itinerário de aprovação das Filhas de Maria de Pigna(março-setembro
de 1871).
Descrição dos atos e memórias importantes referentes à implantação, à
instituição canônica, à agregação à Primária de Roma e a vida moral da
Congregação das Filhas de Maria de Pigna
Paróquia da diocese de Ventimiglia
No ano de 1871 no mês de Março, em ocasião das Missões, iniciou a Pia união das
Filhas de Maria Santíssima Imaculada e de Sta. Inês Virgem e Mártir.
Já existia um grupo de mulheres celibatárias, mas sem estatuto – e já há alguns anos
sem Diretor, depois da morte do excelente sacerdote, canônico Siccardi Antonio, de
santa memória de todos os moradores de Pigna e das cidades vizinhas.
Durante a referida Missão, as Filhas foram informadas e receberam explicações
sobre a Pia União estabelecida por decreto do Papa Pio IX, se pode dizer que
decidiram unanimemente professar no futuro esta Regra que foi aprovada por Roma.
Fizeram com grande devoção o mês Mariano para obter as graças que elas
necessitavam: e no mês de Agosto do mesmo ano de 1871, obtiveram, de D. Lorenzo
Biale, |f.1v| ordinário da diocese de Ventimiglia, um diretor na pessoa do sacerdote
Missionário Jacinto Bianchi – segundo o decreto de 1° de agosto de 1871.
Assim no mês de setembro obtiveram também o decreto de Instituição Canônica,
com um documento provisório(Breve) para agregar-se à Primária de Roma. E de
Roma foi expedido o diploma de Agregação por M. R. Pe. Frediano Fiamma – diretor
da revista La Figlia di Maria sulla tomba di S. Agnese fuori le mura di Roma (A Filha
de Maria sobre a sepultura de Sta. Inês fora dos muros de Roma) – no dia 17 de
setembro de 1871 da sua residência em S. Pietro in Vincoli.
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Com cartas apropriadas e autografadas, aprovando as modificações feitas no
Regulamento de Roma, levando em consideração a situação moral da cidade.
(N.i Controle das cartas). As ditas modificações concernem aos capítulos 4° art. 2°,
5° art. 1°, 6° art. 1°- 9° do livro 1° parte 2a.
E são as seguintes: I – Convêm aceitar na Pia União mulheres velhas celibatárias e
2 viúvas sem filhos. II – Às razões para expulsar uma filha da Congregação foram
ajuntadas as seguintes: a) conversas contínuas na Igreja; b) ir à Missa somente na
Páscoa; c) cantar, ensinar, escrever, emprestar, comprar para si ou para as outras
canções obscenas; d) ler em sua casa ou na casa de qualquer um outro.
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_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.1 – Implantação e desenvolvimento da Casa das Filhas de Maria
Imaculada, ms. de J. Bianchi, [1876]; 3 f., 422x280 mm.
Relatório sobre a fundação em Pigna: integrantes da casa e vida em comum,
aprovação da Autoridade eclesiástica, relação com os salesianos e com a Obra das
Morette (meninas negras árabes), abertura missionária.
Implantação e desenvolvimento da Casa das Filhas de Maria Imaculada
De 1873 a 1875
1. Desde mil oitocentos e setenta e três se concebeu a idéia de fundar uma casa das
Filhas de Maria Imaculada sob a proteção de Sta. Ermelinda. Em 1874 se elaborou
algo para preparar tal Casa: Porém somente quase no final deste mesmo ano, que uma
Filha de Maria Imaculada estabeleceu seu propósito de abrir esta Casa com a intenção
de acolher quantas Filhas quisessem viver e trabalhar para a maior glória de Deus
fazendo tudo em união com as mais puras intenções de Jesus e Maria e todos os santos
que estão no céu.
2. Em poucos dias, outras se associaram a seu projeto e à vigília da Imaculada
Conceição ao meio dia, 12 vestidas com o uniforme da Companhia das Filhas de
Maria e de Sta. Inês, assistiram à missa e fizeram a comunhão para reforçarem-se na
própria determinação, e para manifestarem-se a todo o povo, separadas do mundo e
decididas de viver em comum.
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3. Queriam morar juntas à partir da noite do Santíssimo Natal, depois da Missa da
meia noite, à guisa das Congregadas de N.Senhora instituídas por B. Pietro Fourier,
mas foi preciso esperar exatamente até dia 11 de fevereiro de 1875: e entraram sem
nenhuma cerimônia especial.
4. E dia 11 de fevereiro foi escolhido para entrarem na Casa, quase como se fosse
uma festa da Imaculada e dia abençoado pela Santíssima Virgem Imaculada, sendo
que Ela nesta data apareceu à Bernardete Soubirous em Lourdes.
5. O nome e sobrenome das primeira Filhas que entraram, são: Giuseppina Lantero
- Catterina Barucchi - Anna Maria Ferrero - Maddalena Ferrero.
6. A Casa era provida de poucas coisas, e foi alugada durante algum tempo do
serralheiro Luigi Allavena, aliás, aluguel este que consistia em as Filhas limparem e
fornecerem as portas e o forro de madeira. A despesa total foi............ liras italianas.
7. Giuseppina Lantero foi considerada a diretora da Casa [cancelado: e fundadora]
já que foi a primeira que emitiu o propósito de abrir uma Casa para as Filhas de Maria.
8. Um dia depois que entraram as ditas Filhas, foi enviada ao bispo titular D. Biale
Lorenzo, uma carta de informação e de pedido da benção pastoral. A carta era do
seguinte teor:
«Excelência Reverendíssima – Ontem pela manhã, na Paróquia de Pigna, aconteceu
um fato do qual Vossa Excelência já tem algum conhecimento. 5 das Filhas de Maria
Imaculada e de Sta. Inês se recolheram numa Casa por elas alugada com a intenção de
viver e trabalhar para a maior glória de Deus, fazendo tudo em união das mais puras
intenções de Jesus e de Maria, e todos os santos que estão no céu.
O empreendimento nestes tempos que correm e para os sujeitos que a tentam, é
muito, muito árdua, mas confiantes como nós somos todas na ajuda de Deus e
protegidas de Nossa Boa Mãe, e guiadas por Nossa Padroeira Sta.Ermelinda, sob a
qual proteção foi aberta a Casa, conseguiremos. Que Deus abençoe nossos desejos e
nossos esforços. Mais tarde mandaremos a regra moderadora da nossa pequena
Comunidade. No entanto, nós abaixo-assinadas, ajoelhadas em espírito diante de
Vossa Senhoria |f.1v| Lhe beijamos com reverência o vosso sacro anel e pedimos-lhe
por elas e por aquelas que entrarão, a Benção pastoral, e nos declaramos de todo
coração e com plena vontade, dispostas aos sinais que Vós dareis, na esperança de
receber uma resposta reconfortante de Vossa ternura paternal, Vossa Excelência, vos
subscrevo, em nome de todas, Giuseppina Lantero B., Pigna, 12 de fevereiro de
1875».
9. O bispo responde com sua nota de 23 de fevereiro, mesmo mês, endereçada à
M.R. Ecônomo Espiritual Bianchi Jacinto, estas textuais palavras: «Eu recebi a carta
das 5 filhas, às quais diga que voluntariamente dou a minha benção pastoral; mas para
fundar estabelecimentos, convém pensar e providenciar os meios que são necessários
à sua existência. Convém ir devagar, e avançar à proporção que se encontram os
meios, onde nós temos a dizer: coepit edificare...».
10. Enquanto se passavam estas coisas, Deus providenciou que o Santo Sacerdote
Biagio Verri, continuador da Obra das Morette iniciada pelo Servo de Deus Nicolò
Olivieri de Gênova, levasse a Pigna uma moretta de 7 anos; e por recomendação do
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Ecônomo Espiritual Giacinto Bianchi diretor da mesma Casa, a deixasse na Casa das
Filhas ali aberta, e a confiasse aos cuidados delas, porém com pleno consentimento do
Ordinário D. Lorenzo Biale.
11. A Moretta fala árabe, e se entende mediante o aprendizado de algumas palavras
árabes mais usadas na linguagem falada e na vida doméstica, ensinadas pelo M.R. Pe.
Verri. O caráter natural da moretta é doce e dócil. É muito esperta e inteligente, seu
caráter moral é constante, não caprichoso. Aprende facilmente o italiano e os
trabalhos femininos, e a cada dia ela se torna mais amável, e reconhecedora do bem
que nós lhe fazemos e é atenta a rezar fervorosamente.
12.A nossa casa deu em esmola para a obra das Morette, 100 L. em moeda de ouro.
13. A moretta acolhida na Casa foi chamada de Ambrosia, e foi particularmente e
amorosissimamente guardada e instruída no Catecismo e nos trabalhos pela Filha
Maddalena Ferrero – verdadeiramente como uma mãe – que se engajou com empenho
sempre mais louvável. E a Moretta a chama: «Maddalena Minha mãe». E chama da
mesma maneira a Diretora. As outras da Casa ela chama de Irmãs.
14. É notável na moretta uma tendência a honrar o Menino Jesus, e um vivo e
ardente desejo do Santo Batismo e do Paraíso.
15. Como memória, assinala-se: I - uma visita feita pelo muito Reverendíssimo
Dom João Bosco, Fundador do Oratório de S. Francisco de Sales
em Valdocco de Torino, à nossa Casa na metade do mês de dezembro de 1874, e ter
feito na Casa uma conferência para as Filhas, que neste momento eram em número de
12 e ter falado várias vezes em particular com as Filhas que conseguiram aproximar-se
dele, visto que ele era sempre rodeado por tantas pessoas que queriam pedir-lhe
conselhos, pois era venerado por todos como um Santo; II – Algumas negociações
com o mesmo D.Bosco de unir a Casa de Pigna àquela fundada pelo próprio D.Bosco
em Mornese, na diocese de Acqui, sobre a denominação e regra das Filhas de Maria
Auxiliadora. Estas negociações não sortiram o efeito que se pensava antes, 1) D.Bosco
queria que não se abrisse logo a Casa de Pigna, mas que todas as Filhas de Pigna
fossem para Mornese e fizessem o noviciado naquela Casa, e que em Pigna viessem
aquelas de Mornese, 2) porque - mesmo que a população fosse propensa, e visse com
bons olhos a Casa – à Pigna não era oportuno fazer vir aquelas de Mornese, vestidas
de monjas.
O povo teria gritado: «Elas são todas Monjas». No mais, Dom Bosco se mostrou
muito favorável à Casa de Pigna, e a fez ser abençoada em particular pelo Sumo
Pontífice Pio IX – como havia abençoado, desde o dia 13 de julho de 1875,
Giuseppina Lantero, com as suas companheiras.
|f.2r| 16. A razão pela qual vieram Dom Bosco e o Sacerdote missionário Dom
Biagio Verri, e outros personagens em Pigna, e a Casa entrou em relação com várias
obras Católicas, é que além dos seus méritos, o Diretor Pe. Jacinto Bianchi era
conhecido destas pessoas e Obras e Casas religiosas, e era muito estimado por eles.
17. Foram compradas 12 camas de ferro do Sr. Giambattista Dellepiane empresário
de trabalhos em ferro no Albergue dos Pobres em Gênova pelo preço de 30 liras
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italianas cada uma. O total foi de 400 liras italianas, incluindo as despesas de
embalagem e transporte ferroviário e terrestre.
18. A Casa procede bem, e as Filhas são procuradas para trabalhos manuais na roça
(onde se permite ir por causa da boa saúde das mesmas Filhas, que são acostumadas à
vida livre e ativa sobre as montanhas e sofrem demais por estarem sempre em casa) e
para costurar. O povo mostra-se bem afetuoso para com todas as Filhas e as respeita, e
as presenteia continuamente com todo tipo de comestíveis. E as Filhas de Maria
chegam muito voluntariamente na Casa, e ficam trabalhando alegres e contentes.
19. Um quarto da Casa foi preparado como Capela interna- com seu altar para
celebrar - e não mais adornado em azul celeste, mas em vermelho – com bordas.
20. As Filhas da Casa passam seus dias trabalhando e rezando, mas ainda não
praticam a regra disciplinar da casa, pois o Diretor avisou que é melhor esperar para
obrigar as Filhas a uma regra metódica, pois a vida em comum torna-se muito pesada
para elas.
21. Nas cidades vizinhas se fala da Casa das Filhas, e a curiosidade leva as pessoas a
perguntarem para aquelas que entraram sobre o que elas fazem e dizem. A poucas e
estimadas pessoas, foi permitido de visitar a Casa. Entre estas é bom recordar uma
ótima Senhora de Gênova, viúva, a qual veio e ficou por 15 dias e mais, vivendo com
as Filhas (sem dormir) para conhecer o bem que elas fazem. E ficando bem contente
com a disponibilidade e o bem querer das Filhas, gosta tanto delas que as convida para
ir à sua casa em Gênova, e propôs – se não tiver nenhuma motivação contrária- de
proteger a Casa e de abrir-lhes uma Filial fora de Pigna, nas arredores de Gênova.
22. Na festa de S. Miguel de 1875, entrou uma outra Filha da cidade na Casa com o
consenso dos pais – seu nome é Catarina Allavena – apelidada como General
Ambrogia
- jovem de ótimo coração, e paciente com as ofensas que lhe fazem, de bom humor,
dedicada aos trabalhos da roça.
23. Na manhã do dia de S. Miguel Arcanjo, titular da Paróquia aconteceu um fato
inesquecível, e que daqueles que viram, merecerá muitas bênçãos às Filhas da Casa.
Eis a narração fiel de tudo para edificação comum. A moretta acolhida pelas Filhas da
Casa, foi instruída e preparada para o Batismo. O Bispo – como havia prometido – por
causa de uma bronquite aguda, devido à sua idade de 91 anos, enviou seu
representante Canônico Faraldo. Este, na manhã de S.Miguel às 8 horas? Aparece para
administrar o Batizado, enquanto que a Companhia de S. José, na qualidade de
padroeira das Filhas da Casa, vestida com seu uniforme cor-de-rosa, enfeitado com
distintivo de ouro – foram à Casa das Filhas para pegar a Catecúmena, já pronta com o
padrinho e a madrinha, e acompanhada das Filhas da Casa. No meio de uma grande
multidão a companhia chega à Igreja onde diante da porta, ela encontra o dito
Canônico ministro do Batismo que iniciou as devidas cerimônias preparatórias. |f.2v|
O povo ficou todo comovido com esta celebração, especialmente ao sentir a profissão
de fé que fazia, com voz terna e aguda a Catecúmena trêmula não se podia conter as
lágrimas, e os tristes e melancólicos não ousariam falar mal do que foi feito. A
Celebração, como houve a missa com o discurso do Canônico ministro do Batismo,
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durou até as 9? O padrinho foi o Senhor prefeito local, honorável Nicolò Pianavia
Cavalier. A Madrinha foi a senhora Cattarina Orengo mulher do Senhor Stefano
Girardi de Castel Vittorio. Os nomes dados à Neófita foram Ambrosia Maria Agnese.
24. A Crisma de Ambrosia foi administrada em Gênova por Sua Excelência
Reverendíssima o Senhor Arcebispo Salvatore Magnasco, no dia 04 de novembro- na
primeira quinta-feira no mesmo mês às 7 da manhã.
25. A madrinha de Crisma foi a Senhora Marina Solari – viúva de Parodi Angelo –
de Gênova.
26. Dom Verri, o santo missionário que trouxe a moretta, notificou que o Santo
Padre Pio IX abençoou a Casa das Filhas particularmente por causa das Morette.
27. O Diretor fez conferência especial na casa para falar às Filhas de vestir um
uniforme – porém não monacal – e deixa a escolha da cor e modelo às filhas
mesmas. E de vestir este uniforme nas cerimônias públicas, e todas as Festas na Igreja.
28. As Filhas adotaram a cor preta e o mesmo modelo para todas, com casaquinho.
O tecido todo de lã, porque ele perde menos a cor.
29. O Diretor falou às Filhas de lerem as regras da Casa, e as encorajou a
continuarem naquele ardor e firme vontade que até o momento têm demonstrado, e a
disporem-se a praticar as regras da Casa, assegurando-lhes que estas, eram fáceis e
dóceis na prática.
30. Estabeleceu-se na Casa o Sufrágio perpétuo das Almas do Purgatório idealizado
pelo Sacerdote Alessandro Ciolli de Firenze – e aprovado pela Santa Sé Romana –
que consiste em escolher 30 pessoas, as quais num dia determinado do mês –
distribuídas assim que todos os dias do meses sejam ocupados. – estas pessoas se
aproximam aos SS. Sacramentos, assistem a Santa Missa, e recitam 5 Pai Nosso –
Ave Maria – Réquiem com o refrão «Te ergo quesumus famulis tuis subveni...» em
sufrágio das [almas] do Purgatório. Os nomes das pessoas que aceitarem de praticar o
Sufrágio Perpétuo sãos descritos em um registro preparado próprio para isso,
conservado na Casa.
31. Como última notícia marcante do 1° ano da Casa faz-se memória da Benção
dada pelo Pontífice Pio IX no dia 13 de julho de 1875 – isto é poucos dias depois que
as Filhas começaram a viver em família-comunidade.
32. |f.3r| Não houve coisas marcantes no primeiro trimestre de 1876, exceto a não
louvável conduta de uma Filha, da qual pode se bem dizer que, foi um belo exemplo
de humildade, recolhimento e zelo pela companhia, mas em seguida, depois de mil
desprazeres, deixou sua casa com o consenso dos seus, e entrou na Casa das Filhas de
Maria, passados não mais de quinze dias, sem nada dizer, ela voltou pra sua família,
verdadeiramente por capricho. Toda a cidade desaprovou tal inconstância e leviandade
e pouca sinceridade.
33. Se os nossos pecados causaram este desprazer, porém a ternura da nossa
Imaculada Mãe não deixou as suas Filhas sem uma cara e pleníssima consolação,
provada poucos dias depois da saída daquela filha nomeada há pouco. Eis o relato. O
Diretor Pe. Jacinto foi a Gênova a pregar a novena solene e o tríduo das almas na festa
de Sto. Estevão e no dia que ele voltava para Pigna encontrou-se ao longo da rua Balbi
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com um padre barbudo, e com o pressentimento que fosse o Missionário vindo de
Belém a recomendar a obra do Orfanato masculino – aquele fundado pelo Caríssimo
D.Antonio Belloni, como ele tinha lido no jornal Il Cittadino(O Cidadão), de Gênova
– começou a falar de Belém e do acordo feito com o acima citado Belloni de mandar
algumas Filhas de Maria em ajuda ao Orfanato. Trocaram poucas palavras ali na rua, e
ficou estabelecido que o mencionado Missionário (que era o próprio encarregado,
vindo expressamente de Belém para fazer conhecer as necessidades da obra) fosse até
Pigna, e assim conheceria as filhas propostas. Veio então a Pigna e ficou lá, bem dois
dias por causa do mal tempo. Ele teve a oportunidade de conhecer as Filhas e ficou
satisfeitíssimo com a boa vontade delas, e até quis fazer uma conferência a toda Pia
União das Filhas de Maria, como de fato fez no dia 25 de março, com palavras sábias,
muito eficazes e ao mesmo tempo tão amáveis que tocava todas as Filhas, e as deixou
tão animadas que depois o Diretor teve que as entreter e sugerir de não mais pensar e
fazer propostas.
34. O título do citado Missionário é: Sacerdote Piperni Raffaele, Vice-diretor do
Orfanato Masculino de Moretti(meninos negros árabes) em Belém. Siciliano de
nascimento, doce, gentilíssimo nos modos, festivo, se mostrou erudito e perito demais
dos meios a serem usados para implantar um Estabelecimento de educação moral-
religiosa.
35. As Filhas da Casa tinham, desde janeiro, juntas à Superiora da Pia União das
Filhas de Maria - Giacinta Rebaudo - a assinatura de adesão delas para ir a Belém a
ajudar no Orfanato do jeito que desejasse o fundador Belloni - escrita e enviada por
carta a D.Belloni - e no mesmo dia do encontro em Gênova do Diretor com D.Piperni,
tinham já a resposta de Belém.
36. As filhas que se tinham oferecido a ir foram primeiro duas – uma antes de todas
as outras, esta chamada Fortunina. O nome da outra é Pacifica. Mais tarde outra se
preparou e declarou-se pronta, e esta chama-se Ambrosia Seconda.
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_________________________________________________________________
AFMM, VIII.2.1.8 – O Instituto das Missionárias, ms. de J. Bianchi; 1 f., 280x150
mm.
Considerações histórico-autobiográficas para a introdução de um memorial sobre a
fundação do Instituto: reflexões sobre a própria fraqueza e sobre a constante
presença mariana na sua experiência.
O Instituto das Missionárias
1. As 81 missionárias imitando as mulheres piedosas – as primeiras que receberam
na casa delas Jesus Cristo no SS.Sacramento. A Santíssima Virgem manteve em mim
a atração por tudo aquilo que concerne ao seu culto e o respeito pela Igreja.
2. Precisamente o objetivo destes sinais é de fazer conhecer o instituto das
Missionárias. E um olhar rápido ao desenvolvimento e acontecimentos precedentes
permitirá de descobrir com satisfação o germe, o desenvolvimento e a manifestação da
vontade de Maria Imaculada. Encontrando-me a Pigna por missão e lá permanecendo
como regente – leitor assíduo da Unidade Católica – compreendi como em Belém
Belloni... – rezei – fiz também – preguei e algumas Filhas decidiram-se - e assim foi.
Tinha, porém, estado no Oriente no fim de 1868, amava aqueles lugares. Era Maria
Imaculada que me guiava, como é a sua missão e mantinha em mim um terno amor
para com ela.
3. O pensamento das Missionárias não me deixava tranqüilo, e foi necessária tal
vocação para vencer as dificuldades que eu atravessava – com a força da proteção de
Maria e impulsionada por uma voz interior: Avante! E contente me colocava aos pés
de Maria. Eu a tomei como boa Mãe pedindo-lhe a realização da obra. Sou infeliz
porque não soube conservar o meu coração livre de todo desejo, reto sim nas
intenções, mas muito humano, por isso menos casto nos seus afetos – se bem que
sempre quis manter meu coração livre, independente, desapegado completamente das
criaturas. Mil vezes eu prometi à Nossa Senhora, mas não mantive a promessa.
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_______________________________________________________________ AFMM, X.1 - Opúsculo impresso, Gênova, Tipografia Arquidiocesana, 1882, extraído
da revista «A Filha de Maria»; 8 p., 50x100 mm, exemplar sem capa e contracapa.
Publicação para divulgar o apelo que no dia 9 de novembro de 1880 Jacinto Bianchi
faz de Belém às Filhas de Maria (relação de sua viagem e pedido de ajuda para as
Filhas de Maria no Orfanato de Belloni mediante a aquisição de uma fotografia delas
com os jovens); relação sobre a audiência com o papa no sucessivo dia 20 de
dezembro; referimento a alguns jornais que deram noticias da obra.
|p. 1|Em Belém foi aberto pelo Rev. Canônico Belloni um Orfanato masculino
católico que conta com mais de cem internos, os quais todos são assistidos pelas cinco
Filhas de Maria que foram de Pigna (diocese de Ventimiglia) conduzidas pelo
Missionário Pe.Jacinto Bianchi do qual se faz referência na seguinte carta tirada da
revista A Filha de Maria.
Caríssimas Filhas de Maria no Senhor!
Eu vos peço um favor: fazei-o por mim. Eu vos peço pelo amor que tendes por
N.Senhora, pelo vosso próprio bem. Já faz três meses que estou na Terra Santa, Deus é
testemunho que todo dia que pude, fui rezar por vós no Santo Presépio: por vós que
sois minha principal preocupação depois daquela de minha alma. Fazei-me então este
prazer tão desejado? Rápido, respondei-me. Se quiserdes verdadeiramente podeis. Um
pouco de incômodo sim, mas pouco. E este pouco prometo compensar-vos
celebrando-vos uma Missa no Santo Presépio, antes de voltar à Itália. Então, ledes
com toda atenção, com muita prontidão, com o coração grande as notícias que vos
dou; e depois reflitais bem cada coisa, e aplicai-vos segundo as vossas forças a servir a
uma boa causa.
No dia 18 de outubro o Bispo Patriarca de Jerusalém me levou como acompanhante
na sua visita pastoral nas cidades onde moram os Beduínos, aqueles homens ferozes
que vivem em tendas pretas ou em grutas escavadas na terra e que, exceto comer
gente, são capazes de tudo, e fazem de tudo um pouco.
Eu fui de boa vontade, imaginai-vos com uma |p. 2| companhia assim preciosa,
excelentíssima, mas depois também para ver, observar, como as mulheres, e também
ainda com a intenção de fazer bem a vós de qualquer modo se possa.
Atentas então que vos faço um relatório das coisas, que mais me chamaram a
atenção e que ficaram gravadas em mim. Nós fizemos o mesmo caminho sobre o qual
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caminhava Jesus com seus Apóstolos, indo e vindo de Jericó a Jerusalém.
Atravessamos o vale de Josafá que é pequeno, vejais: a gente atravessa as águas de
Cedron que está seco, contorna o Horto de Getsemani onde Jesus Cristo rezou e suou
sangue, um pouco adiante e ai está o lugar onde Judas se enforcou. De lá a Betfage,
onde nosso Senhor pegou o jumento para entrar em Jerusalém, e depois se desce a
Betânia onde estava[m] Maria, Marta e Lázaro, todos queridos por Jesus. De lá à fonte
dos Apóstolos, onde Jesus Cristo parou para beber e pegar água para o resto do
caminho até Jericó, visto que não se encontra mais água, e ainda é preciso cinco boas
horas de viagem.
Depois de quatro horas de caminho a cavalo e eis a montanha da quarentena, onde
Jesus Cristo rezou e jejuou quarenta dias e quarenta noites. Ah, minha Filhas se
visses! Faz medo só em ver esta montanha, preta, queimada, toda pedra, separada de
outros montes por um vale profundo: tem cavernas grandes, não existem estradas para
caminhar. Meu Deus!!! Que penitência Jesus fez por nós. E nós, caríssimas Filhas, o
que fazemos por Jesus? Ah, a pensar-nos me vem de chorar. Nos tempos antigos,
vejais vós, tantos eremitas vinham nesta montanha, e com cordas se faziam descer nas
cavernas e permaneciam ali dentro até a morte. Felizes eles: aqueles sim, pensavam
bem. Mas vós direis: Deus não pretende que se faça o impossível, basta fazer aquilo
que se pode. Bem, bem, mas fazemos verdadeiramente aquilo que se pode? Ao
contrário hoje se faz mais pelo mundo e pelo diabo. Escutais isto que faz vergonha e
dor ao mesmo tempo. Em uma das grutas, ou cavernas desta montanha, já há vários
anos vivem duas mulheres russas, de aproximadamente 40 anos para fazer penitência
por seus pecados. Eu não as vi, porém todas as pessoas que moram daquele lado as
viram, e o chefe da cidade de Jericó contou ao |p. 3| Patriarca, e a toda comitiva, e
éramos três padres com outras pessoas, entre as quais o interprete oficial do Patriarca,
conhecedor de várias línguas faladas no Oriente pelos estrangeiros. Dizem que elas
são muito magras, sofridas, vestidas de preto, porque duas vezes por semana as vêem
sair da caverna e subir pelas encostas indo buscar água em uma fonte situada a uma
meia-hora de lá, não conversam com ninguém, vivem de raízes de ervas. O cônsul
Russo mandou-as chamar, e intimou-as a ir embora: mas elas continuam sempre lá.
Oh pobres criaturas! Elas não são católicas, com a penitência delas não ganharão o
paraíso. Caríssimas Filhas, que dizeis vós? Não seria vosso dever rezar com uma
grande fé a Nossa Senhora Imaculada nossa Mãe para que as converta à fé católica?
Vós o fareis? As tirareis da escravidão do demônio?
Eu vi o Mar Morto, Jericó. – Oh, minhas Filhas, que horror: se vê verdadeiramente a
maldição de Deus sobre estes lugares. O Mar Morto é o ponto mais baixo do mundo e
acredita-se que Deus enterrou cinco cidades nele, Sodoma, Gomorra etc. cheias de
pecado, de desonestidade e de abominação. Existe uma grande planície próxima ao
Mar Morto, chamada El Ghor, uma das mais quentes do mundo, e antigamente era
um dos terrenos mais férteis da terra. Agora está cheia de espinhos. Que coisa faz
ainda o pecado, minhas Filhas! É assim que ela é também chamada na Itália a rosa de
Jericó que colocada na água se abre inteiramente e floresce, se bem que não se
encontra mais a verdadeira, assim dizem os conhecedores. Oh, Filha de Maria vós
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deveis ser a rosa tão louvada pela Sagrada Escritura. Vós deveis dar, em meio ao mau
cheiro dos pecados do mundo, o bom odor das virtudes cristãs: mas ai de vós se não
estiverdes bem protegidas dos enganos do mundo e suas ilusões. Podereis ser já
estrelas de N. Senhora, e depois virar monstros de iniqüidade.
Consolai-vos, caríssimas, eu vi, atravessei o Jordão e talvez justamente no lugar
onde se dizem que Jesus Cristo foi batizado. Eu bebi sete vezes desta água santa. É um
pouco turva, esbranquiçada, mas boa, leve. Oh, se vistes que belo rio, corre rápido:
terá 5 metros de profundidade ou mais, 70 de largura, em certos |p. 4| pontos.
Caríssimas, eu imaginava Jesus Cristo batizado por S. João: imaginava-o a atravessar
o rio. Oh que consolação! Ainda mais uma coisa e depois basta! Não quero perturbá-
las muito. Mas, atentas, atentíssimas que o bom fica no fundo, diz o provérbio. Eu vos
falei dos Beduínos, eu vos disse que são maus, e eles são: se vistes que cara de
viacrucis(via sacra) tem verdadeiramente estes violentos crucificadores, e no entanto
possuem um bom coração. Apenas chegamos perto da cidade deles, oh que festa:
disparos, gritos, pulos, eles possuem cavalos que voam, uma maravilha, eles estão
sobre eles como que amarrados, não se pode descrevê-los. Em seguida todos queriam
beijar e apertar na testa a mão do Patriarca e dos padres, e se limpavam primeiro a
boca, velhos, jovens, todos, todos.
Não se vêem as mulheres: elas estão sempre sozinhas, é proibido conversar com
homens. Em parte um belo costume; a mulher não é considerada em nada, compram-
na caro até 8, 10 mil piastres, ( 5 piastres valem uma lira) mas ela é a serva de casa e
basta.
Salt e Fehes são as primeiras cidades beduínas, uma de 7 mil habitantes, só 1000 são
Católicos; a outra 700 e são 160 católicos neófitos. E como eles rezam devotos, mas
em Fehes as mulheres não vão à missa nos dias de festa porque a Capela é muito
pequena, e elas não podem se misturar com os homens (Despropósito exagerado
mas....) Vós direis: e as filhas? É aqui que eu vos espero minhas caras: mas volto a
recomendar-vos de fazer alguma coisa de verdade mesmo. As filhas aqui todas
querem ser de Maria, e todas estão sujeitas à professora da cidade, ela é a patroa; é
belo que comanda também as mães. E foi precisamente a professora que conduziu as
filhas e as mães a beijar a mão do Patriarca. Ela que falou em nome de todas, e em
toda a cidade não se fala nada das mulheres de coisas cristãs sem a ordem da
professora e a sua direção. É uma sorte que esta professora é boa, de Nazaré.
Noteis porém uma coisa, também aqui no meio dos Beduínos vieram os protestantes,
dão dinheiro, fazem, brigam, mas as mulheres não os olham e nem mesmo os homens,
porque não usam a medalha de N.Senhora.
Bem ao contrário. Escuteis o que vos refere mais de perto. Os Beduínos são
atraídos singularmente pelas Filhas |p. 5| de Maria européias. Benat Mariam assim
eles me perguntavam: e assim eles perguntavam sobre elas aos missionários, Benat
Mariam
(as Filhas de Maria): vos explico como é a coisa.
Sabeis, (já que vosso Jornal A Filha de Maria falou com grandes louvores) que faz
quatro anos que 5 Filhas de Maria de Pigna, perto de Ventimiglia, foram para a Terra
92
Santa estão muito contentes, embora trabalhem um dia mais que o outro, no Orfanato
católico fundado em Belém do M. R. Canônico Belloni.
Agora os Beduínos que vão a Belém a vender cereais, dois dias e uma noite de
caminhada, vindo no Orfanato visitar os parentes órfãos, e vendo estas filhas, e
escutando os órfãos as chamarem de Irmãs, Irmãs, eles ficam admirados e querem o
Orfanato e as Filhas nas cidades deles para colocarem seus filhos, para serem vestidos
e cuidados. Vós não podeis imaginar como são simples estes povos, não lavam nunca
o rosto, não se trocam nunca, são quase nus, dormem no chão sempre vestidos. Quero
vos dizer duas coisas curiosas, uma que dá nojo, e uma que faz rir, vistas por mim e
que o Patriarca me mostrou. Pela manhã as mulheres, as filhas vão com pratos
grandes de madeira ( onde depois comem a sopa e talvez sem lavá-los) vão a recolher
a urina dos animais, e com esta se lavam a cabeça para curar os males que elas tem...
entendeis?
Agora rides. Todos os rapazes usam os cabelos partidos, e belas tranças como vós na
Europa; e as filhas de até 12, 13 anos raspam a cabeça, o que vos parece?
Então não seria uma grande caridade vir em ajuda as 5 Filhas de Pigna?
O Orfanato abriga 100 meninos ou mais, que cada dia crescem; precisa educá-los,
lavá-los, vesti-los de novo, o que podem fazer 5 Filhas? É verdade que duas monjas e
uma viúva as ajudam; mas não é certamente suficiente. E depois, o Orfanato vive de
esmolas, e estas faltam. A roça grande que temos produz ainda pouco, como ir em
frente? As despesas são tantas que o pobre fundador quase perde a cabeça: mas, vós
direis o que é mesmo este Orfanato? Eis que eu vos explico, mas preparai-vos a ajudá-
lo. Todos os meninos pobres abandonados são recolhidos, |p. 6| são instruídos na
religião e são batizados se ainda não o são, e os fazem estudar e aprender uma arte.
Como D.Bosco, por exemplo. Pensais que no Oriente os meninos estão todos em
perigo porque tantos genitores turcos, gregos, cismáticos, protestantes, viciados, por
meia lira trocam de religião; o Orfanato é uma verdadeira grande providência. Mas
nós somos poucos a trabalhar. Oh! Vinde muitas em ajuda. De que modo?
I. Com a oração pelas 5 filhas de Maria e também para as outras que estão dispostas
a virem: e
depois pelo fundador e diretor do Orfanato, que Deus o conserve longos anos para o
bem dos órfãos, e Deus o console com outros padres ajudantes.
II. Cada Pia União poderá comprar uma fotografia onde tem os órfãos com as Filhas
de Maria e colocá-la na Congregação, pois será de grande estímulo tê-la sob os olhos.
Cada uma custará 4 liras. A esmola que fazeis, para vós é pouco sacrifício, para o
Orfanato é um alívio. A caminho, animai-vos. Pobres órfãos, não vos compadeceis
deles?
As vossas 5 irmãs Filhas de Maria, que vos precederam generosamente, não vos
impulsionam a partir? Ah! Filhas de Maria Imaculada fazeis alguma coisa logo, senão
acabarão por não fazerem nada. As vossas 5 irmãs que estão aqui em Belém, à tarde se
decidiram e à noite partiram. Filhas de Maria lestes atentamente isto? Reflitais agora:
mas eu vos recomendo, fazeis alguma coisa. As Pias Uniões pobres se derem esmola
menor do que a indicada terão a fotografia do mesmo jeito, porque nós visamos
93
principalmente o bem da alma. Sabeis que as fotos serão colocadas no Santo Sepulcro
e no Presépio antes de serem levadas para a Europa.
Rezarão por vós estes órfãos, e as vossas 5 irmãs irão sempre comungar no Santo
Presépio por vós. E eu, se a Direção permitisse, vos escreveria outros artigos para vos
fazer conhecer os costumes dessas cidades referentes à mulher. Vamos, compreis ao
menos uma fotografia. As Filhas ricas então...
Adeus, caríssimas Filhas de Maria. Adeus; desejando-vos todo bem no Senhor
Todo Vosso
Pe. Jacinto Bianchi, Missionário
Belém, 9 de Novembro de 1880
|p. 7| O citado Missionário logo depois que expediu a carta à Roma para a revista
das Filhas de Maria, foi enviado de Belém a Roma e no dia 20 de dezembro teve a
honra de ser recebido em audiência especial pelo Santo Padre. O ótimo Missionário
deu à Sua santidade algumas cópias da fotografia da qual se fala na carta, e um
trabalhinho em madre pérola, obra dos pequenos órfãos. O Santo Padre apreciou
muitíssimo as fotografias e o trabalhinho, e exclamou com verdadeira efusão de alma
paterna: “Queridos órfãos, queridas Filhas, que Deus lhes abençoem todos!Oh
consola-me esta fotografia a mim dedicada! Dizeis a estas boas Filhas que se façam
corajosas.”
A respeito destas palavras do Santo Padre o Aurora, jornal de Roma, publicou um
belo artigo em honra das cinco virtuosas Filhas de Maria. E outros jornais repetiram
belos elogios. Mas se distinguiu La Discussione( A discussão), jornal de Nápoles, o
qual publicou um artigo propondo as cinco Filhas como modelo de virtude para todas
as famílias.
Ultimamente ainda o Amico delle Famiglie(Amigo das Famílias) de Gênova
publicou o seguinte artigo em honra das Filhas tirado da Figlia di Maria sulla tomba
di S.
Agnese(Filha de Maria sob a sepultura de Santa Inês):
Recordaram as nossas leitoras que na carta a nós enviada pelo zelante missionário
Pe. Jacinto Bianchi, se fazia menção honrosa às cinco Filhas de Maria da Pia União de
Pigna, às quais deixaram a Itália e a Europa para dedicar-se ao serviço do Orfanato
católico fundado em Belém pelo famoso canônico Belloni. Traduzimos do Bulletin de
l’oeuvre de La Sainte Famille(Boletim da obra da Santa Família) etc. a seguinte
passagem que lhes diz respeito:
«Estas santas Filhas deixaram a pátria delas e as suas co-irmãs da Europa para se
tornarem as assistentes e as enfermeiras das nossas crianças. Elas são de uma atividade
prodigiosa: de manhã à noite vós as vereis solícitas a dissimular a pobreza da mobília
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sobre o luxo da limpeza extrema delas, com pouco fazem maravilhas e desejariam de
fazer muito mais ainda, ah se tivessem a chave do caixa! Mas elas tem que se virar
com um ecônomo que se esforça a persuadi-las que as despesas devem manter-se de
acordo com as entradas.... Habituadas à linguagem celeste, escutam alegres esta
linguagem para elas terrena e procuram dissimular com um sorriso, uma lágrima
furtiva que trai os verdadeiros sentimentos delas. O nosso excelente ecônomo retoma a
caneta e continua seu trabalho cansativo; e as santas Filhas retornam aos seus afazeres,
se banhando de suor a fronte e os anjos, no entanto recolhem estas preciosas gotas em
vasos de ouro para depô-las aos pés do trono de Deus.»
No mesmo boletim de 1882 conta que quatro destas Filhas ficaram no serviço
doméstico do Orfanato; a quinta junto com uma árabe também Filha de Maria se
encontra pelo mesmo objetivo na escola agrícola de S. José em Beitgemal.
Eis os nomes das cinco Filhas de Maria italianas: Fortunina Orengo, superiora,
Calista Lantero, assistente, Pacifica Garoscio, Seconda Allavena, Agnese Ughetto.
Na fotografia da qual se fala na carta acima citada estão representadas estas cinco
filhas de Maria com um grupo de órfãos árabes. Quem quiser fazer uma oferta para
esta obra tão católica e tão italiana, entregue-a exclusivamente na Tipografia
Arquidiocesana de Gênova, e da mesma Tipografia receberá o quadrinho fotográfico.
95
9
_________________________________________________________________
AFMM, X.5 - [JACINTO BIANCHI], Esquema da Regra para o Instituto das Filhas
de Maria Missionárias. Sob a proteção de Santa Ermelinda, Lendinara, Tipografia de
Luigi Buffetti, 1889, 305x210 mm, 23 p.
Primeiro texto normativo publicado. Depois da estrutura completa, são reportados
somente os artigos os quais se faz referência no texto.
Instituto das Filhas de Maria Missionárias. Sob a proteção de Sta. Ermelinda
[Introdução histórica]
Constituição [protetores, superioras gerais, obrigação da Regra]
I. Organização do Instituto e requisitos para serem admitidas [Art. 1-3]
II. Dos impedimentos para serem admitidas [Art. 4-9]
III. Da admissão das viúvas [Art. 10-13]
IV. Dos fundos do Instituto, dos dotes e do enxoval [Art. 14-17]
V. Disposições do Instituto sobre dotes e sobre enxovais [Art. 18-24]
VI. Do postulado ao noviciado [Art. 25-28]
VII. Do vestido das postulantes, das noviças e das professas [Art. 29-31]
VIII. Do uniforme das postulantes, das noviças e das professas [Art. 32-33]
IX. Das promessas, e dos votos, e suas renovações [Art. 34-37]
X. Das superioras, de seus uniformes, deveres e direitos [Art. 38-55]
XI. Da eleição das superioras maiores e menores [Art. 56-70]
XII. Disposições sobre as candidatas, e duração dos cargos [Art. 71-79]
XIII. Da casa central e filiais [Art. 80-86]
XIV. Relação das filiais com a central e entre elas [Art. 87-95]
XV. Direitos e deveres da Superiora geral [Art. 96-106]
XVI. Do capítulo e suas atribuições [Art. 107-113]
XVII. Método a ser seguido na visita nas casas filiais [Art. 114-118]
Regulamento
XVIII. Regra de vida comum [Art. 119-135]
XIX. Deveres do Instituto para com as Missionárias [Art. 136-144]
XX. Das funções religiosas e dos sufrágios [Art. 145-151]
XXI. Das práticas de piedade e da acusação [Art. 152-159]
XXII. Da alimentação, vestuário e mobília da Comunidade [Art. 160-165]
XXIII. Do modo de vida da Missionária no Oriente [Art. 166-176]
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Ritual
XXIV. Rito e orações para a aceitação das filhas como aspirantes [Art. 177-178]
XXV. Rito e orações para a admissão e vestição das noviças [Art. 179-183]
XXVI. Rito e orações para as profissões [Art. 184-186]
XXVII.Orações para a eleição das superioras [Art. 187-188]
***
Instituto das Filhas de Maria Missionárias. Sob a proteção de Sta. Ermelinda
Já faz quinze anos que algumas filhas de Maria da Pia União de Maria Imaculada e
Sta. Inês da Paróquia de Pigna(diocese de Ventimiglia) se retiraram em uma casa
modesta, e deram início ao Instituto das Missionárias; já há bem 12 anos que
trabalham nas Missões da Palestina com espírito de sacrifício e de caridade, assistindo
especialmente os órfãos, que dos orientais hoje em dia são por todos conhecidas e
chamadas com o nome de Irmãs.
Sem no momento acrescentar outras notícias sobre a origem, ou desenvolvimento
deste Instituto, dão-se as regras, que observam as Irmãs do Oriente, para submetê-las à
Congregação da Propaganda, e assim obter a aprovação, depois que sua Eminência o
Cardeal prefeito com sua carta elogiou a obra.
Constituições
Este Instituto honra como protetoras principais Maria Santíssima Imaculada e Sta.
Inês Virgem e Mártir, como protetoras menores os titulares das várias casas ou
famílias do Instituto. Sta. Ermelinda Virgem é honrada como co-padroeira do
Instituto. O Patriarca latino de Jerusalém é o superior. As suas regras por si só não
obrigam como pena de pecado.
Art. 1. No Instituto não existe distinção de classes, mas todas são iguais ajudando-se
reciprocamente na santa caridade e ocupando-se cada uma daquele ofício que é mais
conforme à sua capacidade sempre segundo o parecer da Superiora.
Art. 3. As qualidades necessárias para a admissão são as seguintes: conduta cristã a
toda prova, piedade sólida, não ter sido cancelada da Pia União Mariana, conforme o
Manual Passèri aprovado pela Santa Sé e em vigor para todo o mundo católico, zelo
no promover a virtude na juventude feminina, licença dos genitores ou tutores, idade
não inferior como de costume a 21 anos, mente sã e corpo são, aptidão para cumprir os
deveres impostos pelo Instituto, sem exceção.
Art. 4. A pobreza em si não fará excluir uma postulante: do mesmo jeito que as
riquezas não serão requisitos de admissão.
Art. 5. Não se admitem postulantes dadas a somente atos de piedade exterior, e
apegadas às suas devoções especiais.
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Art. 6. Do mesmo jeito serão mandadas embora aquelas de caráter melancólico ou
fechado, e pior ainda suspeitoso e, portanto invejoso.
Art. 7. Como também não serão aceitas aquelas saídas de outro Instituto, sem razão
plausível, nem as neófitas, nem as penitentes e muito menos as separadas dos maridos,
mesmo que seja de maneira legitima, e as outras que tenham sido prometidas em
casamento repetidas vezes.
Art. 8. As postulantes, que por simples respeito humano rejeitarem de usar
publicamente a medalha, que a Superiora lhes dará em sinal de aceitação, e temerão de
declararem-se Missionárias, não serão admitidas.
Art. 9. Toda postulante já aceita, que depois, por puro capricho sai ou é expulsa pela
Superiora, não é mais readmitida.
Art. 10. Tratando-se de admitir uma viúva, ela deverá ter passado um ano ao menos
de viuvez, não ter filhos, livre de toda relação de interesses com a família paterna e do
marido, gozar de boa reputação nas cidades onde morou, e estar pronta a ir às Missões
exteriores.
Art. 11. As viúvas não terão cargos no Instituto: mas terminado o noviciado como
toda noviça receberão a medalha do Instituto ligada a um cordão de cor azul celeste, e
o nome de Coadjutoras e dependerão das Superioras como as outras irmãs.
Art. 12. Elas trarão dote e enxoval como determinará a Superiora.
Art. 13. As viúvas de segundas núpcias não serão admitidas. Como também são
exclusas as viúvas de primeiras núpcias que coabitaram com o marido depois do
matrimônio civil e antes de ter feito o matrimônio eclesiástico, mesmo se tal
coabitação acontecesse por insinuação, ou violência dos parentes, ou motivo de
interesse. Assim também as viúvas de marido protestante, ou sectário, por elas
conhecido antes da contração matrimonial eclesiástica.
Art. 16. Cada admitida portará seu dote: mas não se exigirá igual para todas. Porém
ele será estabelecido e declarado antes da admissão.
Art. 17. Cada admitida deverá também trazer enxoval de roupas pessoais e de casa.
Art. 34. As promessas se farão no noviciado. Os votos se farão depois de 5 anos de
profissão, e são anuais. Os votos perpétuos se farão depois de 12 anos de profissão.
Art. 35. Tanto as promessas como os votos são emitidos de joelhos aos pés do altar
da Capela interna do Instituto, e na presença das noviças, das professas, e também das
coadjutoras. As postulantes não assistem.
Art. 36. Os votos são de obediência, de castidade, de pobreza e de zelo.
Art. 37. Um Ritual apropriado ensina as cerimônias a seguir para a vestição e a
profissão e na emissão das promessas e dos votos que se farão e renovarão no dia da
Imaculada, 08 de dezembro.
Art. 39. Existem sete responsáveis que são: Superiora, duas Assistentes, Mestra das
Noviças, Correttrice, Ecônoma, Secretária.
Art. 46. A Superiora de todo o Instituto é chamada Superiora geral.
Art. 50. A Correttrice adverte a Superiora dos seus mal feitos ou defeitos.
98
Art. 62. A eleição da Superiora, e das duas Assistentes se faz do seguinte modo, sem
modificação sempre. Estando reunidas todas as irmãs professas na capela interna do
Instituto, feitas todas as preces do rito, sobre a presidência do Bispo ou de seu
delegado assistidos por dois sacerdotes completamente estranhos à comunidade, se
passa ao apelo nominal das presentes, pela secretária. Isto feito, o presidente conta as
cédulas enviadas pelas casas filiais, e depois recebe aquelas das presentes, que se
retiram todas, assim que apresentam suas respectivas cédulas. O presidente, ficando só
com os dois sacerdotes assistentes, faz a contagem das cédulas obtidas, e escreve o
número dos votos obtidos pelas indicadas nas cédulas. Ele anota em seguida a
indicada, que obteve o maior número de votos: e observa se obteve a maioria dos
votos estabelecida pelas constituições do Instituto, que deve sempre ser aquela da
maior parte de todas as professas. Terminada esta operação, faz a contagem das
cédulas para conhecer quais serão as indicadas como Assistentes, seguindo a mesma
regra usada para a Superiora. Então chama novamente a comunidade, e proclama a
nomeação da Superiora e das duas Assistentes lendo os seus respectivos nomes.
Art. 74. No caso de dever modificar absolutamente estas disposições, primeiro se
consultará o Bispo, e nada se fará sem sua ordem expressa por escrito.
Art. 79. Se acontecer, que Deus não permita, que a Superiora ou as Assistentes, ou
todas juntas desmereçam o cargo delas, o Bispo proverá, e as suas disposições
obrigarão a comunidade, até à eleição geral, que poderá se fazer de maneira
extraordinária.
Art. 84. A casa central é estabelecida neste momento em Belém, mas o Instituto se
prepara para colocá-la em Roma.
Art. 85. As casas filiais são abertas pela casa central nas missões exteriores, e
também nos países civis, no caso onde existe a esperança de poder cultivar o espírito
das Pias Uniões das Filhas de Maria Imaculada e de Sta. Inês, mediante a correção
fraterna.
Art. 89. As casas filiais se corresponderão reciprocamente coisas que edificam e
reconfortam.
Art. 90. As casas filiais que são vizinhas uma da outra poderão se visitar nas festas
do Instituto e nos dias livres aos passeios.
Art. 91. Em pleno acordo com a central, elas se ajudarão também com meios
materiais.
Art. 92. Hospedar-se-ão reciprocamente, e com os modos mais amorosos e festivos,
seja quando passarem as Missionárias destinadas a alguma outra casa, seja quando vão
a visitar os parentes delas ou por qualquer outra razão autorizada pela Central.
Art. 96. A Geral preside o Instituto todo, e da casa central, dirige as filiais, elege os
cargos maiores de Mestra de noviças, de Correttrice, de Ecônoma e Secretária, e
depois os cargos menores. Envia as Vicárias às casas filiais, e vigia sobre a exata
observância das regras.
Art. 103. A cada 6 meses, apresentará ao capítulo as contas do Instituto, e pedirá a
aprovação escrita. Caso seja negada, ela recorrerá ao Bispo, e estará às suas
disposições.
99
Regulamento
Art. 119. As missionárias conviverão como verdadeiras e amorosas irmãs: nunca
devem existir entre elas rivalidades de competências e privilégios; ao contrário,
devem fugir de toda idéia ambiciosa, de superioridade ou de dominação, umas para
com as outras terão caridade recíproca. Enfim, que haja um só coração, e uma só alma
na comunidade.
Art. 120. Obediência pronta, alegre e exata à Superiora e às outras responsáveis, sem
nada fazer ou dizer que lhes desacredite ou ofenda.
Art. 121. A cada manhã pedir a Deus a sua benção para as co-irmãs.
Art. 122. Cada uma aceitará com boa vontade o ofício que lhe foi destinado: mesmo
que depois que tenha apresentado fortíssimas motivações para rejeitá-lo, a Superiora
ainda queira o contrário. Recordar sempre que a Missionária é Filha de Maria, e tem
por sua vocação de procurar imitar, amar ternamente, honrar e fazer honrar a celeste
Mãe Imaculada, de todos e por todos, e sempre.
Art. 123. Considerar os sinais e as disciplinas da comunidade como vozes do
Senhor, e conseqüentemente interromper com rapidez a oração e a obra iniciada para
cumpri-las.
Art. 124. Fugir das amizades particulares e das relações com pessoas externas, sem
grande necessidade: e não ter lições com professores homens mesmo que for
conveniente: e muito menos prometer, dizer, fazer, ou permitir que isto aconteça sem
as ordens e disposições da Superiora, ou das Assistentes.
Art. 125. É desejável entre as Irmãs um caráter alegre, franco e doce, mas cada
Missionária deverá sempre observar a mais rigorosa modéstia, e compostura nas
palavras, e nos atos. Falando com homens não se permitirá fazer gracejos, com os
benfeitores terá mais precaução; e com Sacerdotes não será nunca excessivo o
respeito.
Art. 126. Exceto a Superiora, nenhuma Irmã falará em segredo com quem quer que
seja, e devendo falar com o Confessor, irá ao Confessionário.
Art. 127. É rigorosamente proibido falar de coisas da comunidade com pessoas
estranhas ao Instituto: e sob pena de exclusão é proibido lamentar-se das Irmãs e
desacreditá-las. No caso que uma Irmã não esteja contente, que ela informe a
Superiora e esta encontrará a solução.
Art. 128. As Irmãs não se intrometerão jamais nos afazeres dos outros. Mas com
prudência e cautela, aprendidas na comunidade, elas se apressarão e ajudarão as Filhas
de Maria e Santa Inês, consolando-as, aconselhando-as, e animando-as a viver com o
espírito da Pia União Mariana, formada pelo abade Passèri e aprovada pelo Sumo
Sacerdote Pontífice Pio IX e louvada pelo papa vivente Leão XIII, e ainda a estarem
firmes na vocação que Deus as inspirasse.
Art. 129. As Irmãs não farão visitas de cortesia, nem sozinhas, nem acompanhadas
de pessoas estranhas à Comunidade, mesmo que estas sejam religiosas. Nem se
100
permitirão de irem a espetáculos públicos, como também evitarão visitar santuários
em tempo de grande movimento.
Art. 130. É proibido às Irmãs de ler jornais, romances e livros históricos ou
científicos sem a licença expressa da Superiora.
Art. 131. Da mesma maneira as irmãs se absterão de dar noticias de coisas políticas
do mundo à Comunidade.
Art. 132. As Irmãs nem mesmo pedirão à Superiora para que dê permissão de se
inscreverem às pias associações, darem esmola, mandarem celebrar Missa, e de
levarem ex-votos (promessas) de quem quer que seja, em santuários ou em capelas.
Art. 133. O Instituto estabeleceu celebrar um dia de onomástico para toda a
comunidade: e não permite nem mesmo à Superiora celebrar o seu próprio.
Art. 134. Na vestição trocam o respectivo nome de batismo, por aquele que a
Superiora impõe.
Art. 135. A todas as Irmãs é proibido usar botas grandes, e às simples Irmãs também
é proibido usar relógio: mas às graduadas não é permitido de usá-lo de ouro, mesmo
que tenha sido presenteado.
Art. 136. As Irmãs professas não podem ser expulsas da comunidade, ao não ser que
por motivos gravíssimos e urgentíssimos e reconhecidos por tal pelo Bispo.
Art. 157. A confissão é se possível semanalmente: e se faz somente com o confessor
designado e aprovado pelo Bispo.
Art. 159. As últimas sextas-feiras de cada mês, normalmente depois do jantar, se
reunirão todas as Irmãs, as noviças, e as postulantes também, e, farão as preces rituais,
a Superiora lerá, ou fará uma Irmã ler um capítulo da Regra, e explicando-o, todas se
colocarão de joelhos, e a Superiora ordenará a todas, ou somente a algumas, de
dizerem suas próprias falhas. Aquelas chamadas vão diante da Superiora, e beijando-
lhe a mão, se acusam de algum defeito, ou transgressão de regra ou falta de caridade,
ou de paciência, ou de obediência pronta, ou de atenção em cumprir os deveres, e a
Superiora impõe uma penitência que será qualquer jaculatória, qualquer mortificação,
ou outro ato de virtude fácil. Isto feito, elas recitarão as preces rituais, e todas se
retirarão sem nada comentar das coisas ouvidas e muito menos murmurar ou lamentar
da Superiora pelas penitências impostas.
Art. 167. Dado o sinal de se levantar que é as 5, em meia hora se vestem e arrumam
a cama. Depois elas agradecem a Deus pelos benefícios recebidos, fazem a meditação
no próprio Oratório privado: e logo em seguida vão à Igreja para a Missa, e para a
comunhão.
Art. 168. Às 7 horas dão o café da manhã aos órfãos, aos Missionários e às outras
pessoas ligadas ao orfanato.
Art. 169. Por volta das 8 tomam o café da manhã em quinze minutos, e depois se
colocam no trabalho até meio-dia, que é a hora do almoço para todos do orfanato.
Art. 170. Depois de ter dado o almoço a todos, dão de comer aos muitos pobres, que
vêm habitualmente e depois elas almoçam.
Art. 171. No horário do almoço não se lê: conversa-se para se distrair já que não tem
outro tempo livre, mas não se omite a leitura do Martirológio Romano.
101
Art. 172. Às 14h30 vão à Igreja para a visita ao SS. Sacramento, e depois rezam o
terço, e outras orações. Em seguida retornam ao trabalho até a hora do jantar dos
Órfãos.
Art. 173. Às 21h30 se retiram para o dormitório e, depois de ter agradecido a Deus,
se repousam.
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_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.11 – Origem e desenvolvimento do Instituto Irmãs Missionárias. Sob
a proteção de Santa Ermelinda Virgem, ms. de J. Bianchi, Roma, 21 de setembro de
1890; 1 f. protocolo, 300x210 mm.
Relatório à Propaganda Fide para pedir a aprovação do Instituto.
Origem e desenvolvimento do Instituto Irmãs Missionárias. Sob a proteção de Santa Ermelinda Virgem.
Quinze anos já se passaram que algumas Filhas da Pia União de Maria Imaculada e
Santa Inês da diocese de Ventimiglia – paróquia de Pigna- se retiraram em uma
modesta casa na mesma cidade delas e deram início ao Instituto das Missionárias que
já há 14 anos trabalham nas missões da Palestina com um tal espírito de sacrifício e de
caridade, assistindo especialmente os órfãos, que dos orientais hoje em dia são por
todos conhecidas e chamadas com o nome de Irmãs.
Eis em breves notas a origem e o desenvolvimento desse Instituto. As Filhas em
questão saíram espontaneamente das respectivas famílias e se reuniram na vida em
comum para melhor procurar a própria santificação e a da juventude feminina, com a
correção fraterna, especialmente das associadas à Pia União Mariana, em
conformidade com o Regulamento Passèri aprovado pelo Sumo Pontífice Pio IX de
santa memória.
Depois de poucos meses de vida em comum foi lhes falado das Missões exteriores, e
em particular da necessidade do Orfanato do Canônico Belloni de Belém, que foram
relatadas e descritas no jornal A Unidade Católica. Essas, depois de longas orações e
repetidas considerações durante vários meses, resolveram, confortadas pelo consenso
dos respectivos genitores, irem a prestar serviços |f.1v| no Orfanato e assim
dedicarem-se às Missões. Foi escrito e combinado cada coisa com o Reverendíssimo
Canônico Belloni e em agosto de 1876, 3 partiram e 2 outras se juntaram a elas em
setembro.
E aqui é preciso lembrar que o Santo Padre Pio IX, informado da decisão destas
Filhas, as confortou com a sua Benção e D.Bosco as visitou e as animou a estarem
firmes na própria vocação, que ele julgava toda vinda do Senhor. Sabendo da
102
expedição por meio de bons jornais – e também dos ruins- muitas filhas quiseram
entrar na família das Missionárias de todas as províncias da Itália.
Mas por causa de muitas opiniões e contrastes, que não vale a pena recordar, não se
acreditou oportuno de aceitar Noviças em grande número por algum tempo. As
Missionárias foram chamadas a trabalhar no Seminário de Ventimiglia e a assistir o
Hospital de Taggia, e mereceram bem de si pelos serviços prestados. Mas por certas
razões e circunstâncias, elas foram |f.2r| depois chamadas à Casa.
De Belém veio o pedido de outras Missionárias, e prontamente foram enviadas.
Assim, no momento, em 3 casas do Orfanato trabalham com amor sempre mais vivo
juntamente com elogios. São 12 as Missionárias na Palestina. E como o Regulamento
admite as Viúvas, assim com as 12 Missionárias se ajuntou uma viúva, como
coadjutora.
Agradou a Deus fazer conhecer o seu amor predileto por estas Missionárias, seja
dando-lhes espírito sempre melhor e fortaleza diante dos contrastes e perseguições,
seja provendo-lhes contínuos meios materiais; entre os quais doações de terrenos e de
casas e uma quantia de dinheiro, e seja melhor ainda dando-lhes um bom número de
postulantes, as quais dão as melhores esperanças.
Sem acrescentar outras notícias o redator abaixo-assinado confia à bondade do
Senhor Cardeal Prefeito da Propaganda para obter a aprovação do Regulamento
observado pelas Missionárias. Sempre, porém pronto a conformar-se às disposições da
mesma Sagrada Congregação
Bianchi Jacinto Miss. Ap.
Roma, 21 de setembro de 1890.
103
11
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.2 - Ms. de J. Bianchi, inc r: Conselhos e instruções para estar - inc v:
Obras de Deus; 1 f., 210x135 mm.
Anotações sobre a partida para a Palestina e sobre os inícios da presença
missionária.
Conselhos e instruções para estar [Sim] foi e depois disto não houve nenhum
momento que não fosse para a glória de Deus a serviço dos órfãos. Vibraram com uma
especial alegria quando parti [ram] – uma boa Senhora as acolheu (que pena pois [...])
- daquela alegria que Deus sabe tão bem fazer enamorar de Si e de Suas obras, as
pessoas que escolhe, e para coisas grandes as destina. Tal foi o princípio do Instituto,
que nasceu no mês das flores e sob a forma de congregação Mariana. Passèri. Todas
as coisas por Maria: e eu desejaria que fossem mais estimuladas a amar e (as Pias
Uniões) honrar com afeto sempre mais ardente a Nossa Senhora Mãe Imaculada. Aos
outros caríssimos, dulcíssimos motivos pelos quais Ela é mãe de todos os redimidos, a
vós, acrescenta-se outro especial, porque isto vem principalmente d‟Ela, depois de
Deus, deveis reconhecer o bem da educação cristã.
[...]
A fama espalhou, publicaram os jornais, se fotografaram – elogios e elogios –
depois Filhas vieram, mas por anos a coisa ficou como morta. Porém por uma série de
circunstâncias 34. se teve 35 não faltaram pontos – As Filhas não corresponderam-
moretta trazida por Dom Verri.
O coração cada vez mais de dilatava ao ardor inflamado da glória de Deus, e do bem
maior pelo próximo - eficacíssimos impulsos do Papa à obra iniciada. |f.1v| Obra de
Deus 40 - modificações 40 42 é preciso muito para comprar lugares e reformá-los de
modo que eles possam servir de moradia- mendigar jamais 47 sinal de Deus- As
dificuldades, em vez de impedi-las, davam-lhes força de continuar no bem iniciado;
sozinhas, sem saber a língua – 3 sozinhas depois 5 ( procuram sempre novos meios
para fazer a juventude se enamorar pela piedade: nem mesmo a ocasião de ter alguém
que quisesse associar-se a elas – conviver- aliás por anos tudo ficou como se estivesse
morto) não temais pela aprovação apostólica.
[...]
Foi estabelecido o dia de N. Senhora para receber porque sem a ajuda visível de sua
mediação a pequena obra não daria os primeiros passos de sua existência moral.
Assisti a cenas muito comoventes – mas não posso colocá-las na sua verdadeira luz
porque o sentimento do meu coração não é assim tão maravilhoso como os outros
pensam. Não rezar, não esconjurar a não eleger Superiora ainda que se tenha a intima
convicção que sua inaptidão destruirá a obra- mas eleita,em seguida, se jogar mesmo
com o rosto por terra a protestar do modo mais expressivo a miséria, e nulidade, então
ceder, mesmo com a maior repugnância.
104
Daquelas que são sempre unidas na caridade, o diabo não pega nenhuma.
Recomendo que ao receber o hábito do Instituto, e pronunciar os votos – com a
vivacidade de sentimentos prometer a perfeita observância da disciplina religiosa-
declarar o propósito de perseverar até a morte, adjuvante Domino (com a ajuda de
Deus) – e não enfraquecer no fervor adquirido.
12
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.7 – Memórias dos primórdios, desenvolvimento e aquisições do
Instituto Irmãs Missionárias; ms. de J. Bianchi, posterior a 1902; 1 f., 270x218 mm.
Instituição da primeira comunidade em Pigna, partida e atividade missionária na
Palestina, elenco das sedes depois do retorno à Itália
Memórias dos primórdios, desenvolvimento e aquisições do Instituto Irmãs
Missionárias
Depois de uma missão em 1870 em Pigna – Diocese de Ventimiglia – permaneci
como Regente por 7 anos ( sendo expulso o Pároco).
Num Domingo, pregando às Filhas de Maria e de Santa Inês na presença de todo o
povo para animá-las ao bem, falou do grande bem que faziam as Irmãs nas Missões
exteriores, e fez referência a um fato particular dizendo: «Em Belém, um tal Pe.
Antonio Belloni fundou um Orfanato Masculino e não tem mulheres que se dediquem
ao governo doméstico do Orfanato, ou seja, da cozinha, da rouparia etc.»
No outro dia vem uma Filha de Maria, Caterina Orengo ( ora Superiora das Irmãs
Missionárias com o nome de Fortunina, dado a ela por um caso acontecido) e se
oferece de ir a Belém, e eu respondi: «Quando tiver pelo menos 2 companheiras, eu te
mandarei». No dia seguinte me trouxe 3, e depois outras 2. Então eu as obriguei a
deixar as respectivas famílias e a morarem juntas, trabalhando na roça para viver. Elas
prontamente obedeceram e eu no Santo Natal, à meia-noite, as vesti de um tecido de
lã fino(Tibet) preto, abençoando-as. No ano seguinte partiram para Belém todas as
cinco e lá permaneceram 16 anos, dedicadas ao governo do Orfanato dividido em 3
casas- Belém, Cremisan, Beitgemal – elogiadas pelo Patriarca e amadas pelos órfãos.
Vieram os Salesianos de D.Bosco e quiseram as Irmãs deles, e elas retornaram à
Pátria.
Lá em Belém, nestes 16 anos, às 5 se uniram outras Irmãs.
Na Itália agora elas estão em 8 casas - Pigna, Scandolara Ravara, Villa Pasquali, S.
Ilario d‟Enza, Bagno, Vicovaro, Licenza, Mandela.
105
13
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.12 - Ms. de J. Bianchi, inc: Vós não tende idéia dos obstáculos que
atrapalham o nosso caminho; 1 f., 160x110 mm.
Breves considerações autobiográficas sobre os sofrimentos e sacrifícios para infundir
virtudes na juventude feminina através da instituição na família religiosa das Filhas
de Maria.
Vós não tendes idéia dos obstáculos que atrapalham o nosso caminho. Os
desenganos, os desgostos não têm fim: mas sigo adiante sem me abalar e não volto
atrás diante do sacrifício a fim de alcançar a minha meta, o meu ideal. E sabeis qual é
o meu ideal? Quero que a juventude feminina adquira virtudes. Para este fim e para
melhor colaborar, de minha parte, procurei unir as Filhas de Maria como família.
14
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.3 - Memória do desenvolvimento do Instituto Irmãs Missionárias da
Propaganda Fide, ms. de J. Bianchi, [1902]; 1 f.computisteria 275x215 mm.
Atividades das Missionárias desde 1875, consistência da sua presença na Itália e
disponibilidade ao retorno em missão.
Memória do desenvolvimento do Instituto Irmãs Missionárias da Propaganda
Fide
Em 1875 começou com 5 Irmãs em Pigna – diocese de Ventimiglia – em [18]76 5
Irmãs transferiram-se a Belém para os trabalhos domésticos do Orfanato Belloni, e lá
trabalharam durante 16 anos com elogios dos Superiores. O Fundador do Orfanato
tendo cedido sua obra à Ordem Salesiana de D.Bosco, substituiu-as pelas Irmãs
Salesianas de Maria Auxiliadora.
No momento as Irmãs Missionárias estão divididas nas seguintes casas na Itália:
Pigna (Diocese Vent[imiglia]), Scandolara Ravara (Diocese Cremona) e Villa Pasquali
(Diocese Cremona), S. Ilario d‟Enza (Diocese Reggio Emilia), Bagno
(Diocese Reggio Emilia), Vicovaro, Mandela, Licenza (Diocese di Tivoli).
O número das irmãs Missionárias é de 30 professas, poucas noviças e muitas
postulantes. A razão do escasso número de Professas é devido a que, se vai bem
devagar a aceitar postulantes, porque os tempos não são promissores e depois vive-se
106
desejando ardentemente o modo e meio seguros para viver em plenitude de acordo
com a finalidade do Instituto: preparar-se para as Missões Exteriores. O bem que pode
fazer o Instituto nestas cidades é de fato secundário à finalidade. Se for agradável a
Deus abrir caminhos para as Missões Exteriores, 12 estão prontas a partir para cuidar
das casas dos Missionários, costurando, bordando, cozinhando, instruindo as crianças
e qualquer outro serviço necessário nas Missões. E quanto à língua, estão prontas a
aprendê-la, assim como bem aprenderam o árabe e o turco. Elas são providas de
roupas íntimas e de cama, mesa e banho, e ainda uma piedosa [mulher] dará dinheiro
para a viagem.
15
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.9 – Relação do Instituto, ms. de J. Bianchi, posterior a Janeiro de
1901; 1 f., 280x210 mm.
Etapas do Instituto do início em 1875 ao retorno na Itália, existência e observância
das Constituições, notas econômicas e presença do noviciado.
RELATÓRIO DO INSTITUTO
1. Iniciou-se em Pigna - Diocese de Ventimiglia – no ano de 1875 aos 11 dias do
mês de fevereiro. Vestiram o hábito na noite do Santíssimo Natal.
2. Partiram para Belém em 22 de agosto no ano de 1876: e permaneceram na gestão
doméstica do Orfanato masculino Dom Antonio Belloni - dividido em 3 Casas, por
mais de 16 anos.
3. Deixaram o lugar e o posto por causa da vinda dos Salesianos e salesianas,
deixando-lhes, porém 2 irmãs.
4. Voltaram à Itália: e sempre firmes na intenção de retornar às Missões Exteriores
se dedicam a trabalhar na costura e bordado, e juntas a promover a piedade e as
virtudes cristãs na juventude feminina – especialmente cuidando das Pias Uniões de
Maria Imaculada e de Santa Inês.
5. Atualmente multiplicadas, estão espalhadas em 5 Dioceses e distribuídas em 8
cidades. Dioceses: Ventimiglia, Genova, Cremona, Reggio Emilia, Tivoli.
6. Número de Professas 30, noviças 4, postulantes 6.
Constituições
7. Publicadas e apresentadas à Sagrada Congregação da Propaganda – e mantidas
em vigor.
107
Situação econômica
8. Em Pigna: Casa e terrenos no valor estimado em dezesseis mil liras; em
Scandolara Ravara: Casa e terreno no valor reconhecido de 5 mil liras; em Vila
Pasquali: Casa e terreno no valor de 10 mil liras; em Vicovaro: Casa no valor de 4 mil
liras.
9. Capital (valor) versado à Sagrada Congregação de Propaganda para erigir a
Capela na Casa Madre. Capital de 16 mil Fr.(Francos) doado por uma pessoa piedosa,
a qual também doa a cada ano Mil liras de subvenção para as necessidades das Casas.
Outra pessoa piedosa doa 600 Fr. ao ano.
Observação
As entradas provenientes da costura e bordado produzem em média em três casas,
400 liras ao ano. Nas cidades das próprias filhas, se recebe quase tudo para viver todo
o ano, do povo reconhecido pelo bem que se vê fazer.
10.A Casa do Noviciado foi aberta em Vila Pasquali, Diocese de Cremona.
16
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.10 - Memória histórica do Instituto Irmãs Missionárias. Sob a
proteção de Sta. Ermelinda Virgem, ms. de J. Bianchi, posterior a 1902; 1 f., 300x210
mm.
Origens e finalidade do Instituto: educação da juventude feminina e missões
exteriores; aprovação episcopal e situação patrimonial das Casas.
Memória histórica do Instituto Irmãs Missionárias Sob a proteção de Sta.
Ermelinda Virgem.
No ano de 1875, no dia 11 de fevereiro, 3 Filhas da Pia União de Maria Imaculada e
Santa Inês de Pigna – Diocese de Ventimiglia- deixaram as famílias e se colocaram a
viver juntas em uma humilde habitação na mesma cidade. Na noite de Natal do
mesmo ano colocaram o hábito preto, com a aprovação do Bispo. A finalidade e o
desejo delas [era] de ir às Missões exteriores, toda vez que Deus lhes abrir os
caminhos e, no entanto, dedicam-se a promover a piedade e a prática das virtudes
cristãs na juventude feminina, ensinarem-lhes a doutrina, sob a direção do Pároco;
cultivar as Pias Uniões Marianas nas jovens e ensinar costura e bordado às filhas do
povo.
Em 1876, 5 das agregadas partiram para o oriente no dia 22 de agosto: e ficaram na
Palestina, no Orfanato masculino de Belloni em Belém para a gestão doméstica do
estabelecimento: onde permaneceram por 16 anos com toda boa vontade e com um
belo elogio do Patriarca Bracco.
108
Vieram depois os Salesianos para a direção do Orfanato e quiseram as suas Irmãs, as
Salesianas. Mas a Sagrada Congregação da Propaganda fez reconhecer o direito das
Missionárias, sendo então Secret[ário] Geral da Propaganda D. Ciasca, e Patriarca D.
Piavi.
|f.1v| De retorno na Itália continuaram na cidade natal com o mesmo propósito- que
as tinha reunido- o de prepararem-se às Missões exteriores, dedicando-se na busca do
bem religioso moral da juventude feminina, como foi acenado.
D. Lorenzo Biale de felicíssima memória – que foi o primeiro Bispo local que a
aprovou – permitiu a Capela na Casa, com o altar para celebrar a Missa, e ainda
aprovou a festa da Titular Sta. Ermelinda virgem belga, que se celebra no dia 29 de
outubro. O seu sucessor D. Tommaso Reggio aprovou também como tinha feito seu
predecessor. D. Ambrogio Daffra, atual Bispo, corou a obra de seus dois
predecessores.
No momento as Missionárias estão presentes em 4 dioceses, aprovadas por seus
respectivos bispos.
1. Ventimiglia – na Paróquia de Pigna.
2. Cremona – nas Paróquias de Scandolara Ravara e Villa Pasquali
3. Reggio Emilia – nas Paróquias de Sto. Ilario d‟Enza e Bagno
4. Tivoli – nas Paróquias de Vicovaro - Licenza - Mandela.
Possuem bens imóveis:
Casa e terrenos de olivas e horta em Pigna.
Casa e terreno para horta em Scandolara Ravara.
Casa e terreno para horta em Villa Pasquali.
Casa e terreno para horta em Vicovaro.
17
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.1.6 – Memória histórica do Instituto, ms. de J. Bianchi, [1901-1903]; 1
f., 265x218 mm.
Origem do Instituto, missão na Palestina e retorno, perseverança no ideal
missionário, atividades na Itália, sedes e consistência de bens.
Memória histórica do Instituto
As irmãs entraram para conviver dia 11 de fevereiro de 1875. Vestiram-se de preto
na noite de Natal do mesmo ano. Partiram para o Oriente dia 22 de agosto de 1876: e
lá ficaram no Orfanato de Belloni na gestão doméstica da Casa: isto é cozinhavam
para 300 ou mais Órfãos e para o pessoal da direção. Fizeram roupas de casa novas, e
109
remendaram para os Órfãos- na Casa de Belém, Betgemal e Cremisan – e todos [o]s
outros trabalhos domésticos, durante 16 anos com a aprovação de todos os
Superiores, que se recordam delas ainda hoje.
Elas deixaram o Orfanato pela intromissão dos Salesianos os quais assumiram a
direção do Orfanato e quiseram com eles, as Irmãs Salesianas. Contra a vontade,
chorando elas deixaram os seus postos.
Voltando à Itália, permanecem sempre firmes na intenção que as havia reunido, a se
prepararem para as Missões exteriores: e enquanto aguardam, colocam-se a trabalhar
conforme a finalidade secundária de educar as filhas do povo na piedade [cancelado:
religião] e nas virtudes cristãs, promovendo as Congregações Marianas,dirigindo-as
onde as implantam, ensinando a Doutrina Cristã sob a direção dos Párocos e
ensinando os trabalhos femininos de costura, bordado em branco ou colorido, e em
ouro etc. e entretendo as jovens com a recreação para tirá-las das libertinagens
mundanas.
Elas fizeram isto nestes anos, e com elogios dos Párocos e Bispos, como é
comprovado pela difusão delas em várias cidades além de Pigna de onde elas são
provenientes. Eu os cito:
Taggia, foram enfermeiras do Hospital – Ventimiglia, no Seminário para os
Clérigos - Fratta Polesine - Cingia de‟ Botti - Scandolara Ravara - Sto. Ilario
d‟Enza - S. Donnino Bagno - Vicovaro - Licenza - Borgo Fornari - Belém - Villa
Pasquali.
Possuem casa e terrenos em Pigna - em Scandolara, casa e terreno – em Villa
[Pasquali], casa e terreno – em Vicovaro também – e ainda um fundo para a Capelania
festiva, sob a custódia da Propaganda – no valor de 16 mil francos e 800 francos de
subvenções anuais – além de outros ganhos por parte das Irmãs.
18
____________________________________________________________________
AFMM, X.6 - [JACINTO BIANCHI], Instituto das Filhas de Maria Missionárias.
Sob a proteção de Santa Ermelinda Virgem (da Bélgica), Treviso, Tipografia Luigi
Buffetti, [1907], 295x200 mm, 19 p.
Segundo texto normativo publicado. Depois da estrutura completa, são relatados
somente os artigos onde se faz referência no texto e no sucessivo Documento 26.
Constituições
I. Origem e natureza
II. Requisitos para serem admitidas [Art. 1-5]
III. Fundos do Instituto, dotes e enxovais das admitidas [Art. 6-9]
IV. Disposições sobre dotes e enxovais [Art. 10-13]
V. Do postulado, do noviciado e do uniforme [Art. 14-19]
110
VI. Das promessas, dos votos e renovações [Art. 20-22]
VII. Das superioras, e seus direitos e deveres [Art. 23-28]
VIII. Da eleição das superioras maiores e menores [Art. 29-43]
IX. Disposições sobre as candidatas e duração dos cargos [Art. 44-52]
X. Da Casa mãe e filiais [Art. 53-56]
XI. Relação das filiais com a casa mãe e entre elas [Art. 57-65]
XII. Direitos especiais e deveres da Superiora geral [Art. 66-76]
XIII. Do capítulo e suas atribuições [Art. 77-83]
XIV. Método a ser seguido na visita das casas filiais [Art. 84-88]
XV. Regras da vida comunitária [Art. 89-114]
XVI. Deveres do Instituto para com as Missionárias [Art. 115-121]
XVII. Das funções religiosas e dos sufrágios [Art. 122-127]
XVIII. Das práticas de piedade e da acusação [Art. 128-135]
XIX. Da alimentação, do vestuário e da mobília comunitária [Art. 136-141]
Rituais
XX. Rito e oração para a aceitação das filhas como aspirantes [Art. 142-143]
XXI. Rito e oração para a admissão e vestição das Noviças [Art. 144-148]
XXII. Rito e oração para a profissão [Art. 149-151]
XXIII. Oração para a eleição das superioras [Art. 152-153]
***
I. Origem e natureza
Em fevereiro do ano de 1875 algumas filhas da Pia União de Maria Imaculada e
Santa Inês da Paróquia de Pigna(diocese de Ventimiglia) uniram-se em uma pequena
casa na própria cidade, e deram início ao Instituto das Irmãs Missionárias com a
intenção de preparar-se às missões exteriores: e no ano seguinte, 1876 partiram para o
oriente, para ocupar-se das tarefas domésticas do orfanato masculino Belloni em
Belém e lá trabalharam por 16 anos. Retornadas na pátria, firmes na primeira
intenção, estão agora espalhadas em oito cidades de três dioceses, ocupam-se a educar
as filhas do povo na prática das virtudes cristãs e a ensinar costura e bordado. Depois,
sob a guia dos Párocos, ensinam a doutrina cristã e promovem as Pias Uniões
Marianas. Não dão aulas nas escolas públicas.
Art. 1. O Instituto honra como padroeiros: Maria SS. Imaculada, S. José e Sta.
Ermelinda virgem.
Art. 2. As regras do Instituto por si não obrigam a nenhuma falta.
111
Art. 3. No Instituto não existe distinção de classes, mas todas se ajudam
reciprocamente em uma bela caridade segundo suas capacidades.
Art. 4. Nada de pessoas estranhas para o trabalho doméstico.
Art. 5. As qualidades exigidas para a admissão são as seguintes: conduta cristã à
toda prova, piedade sólida, caráter bom, cortesia, juízo, saúde perfeita.
Art. 6. O Instituto é proprietário de quatro casas e terrenos para o cultivo, e goza de
um subsídio anual de seiscentas liras.
Art. 14. Cada postulante admitida permanece por algum tempo junto aos parentes,
ou tutores, ou patrões, este espaço constitui o postulado.
Art. 15. O noviciado dura 18 meses ou mais, a julgamento da Superiora, mas não
mais de 20 meses.
Art. 16. As postulantes e as noviças não se entreterão com as professas sem a licença
expressa da mestra de noviças.
Art. 17. As postulantes por algumas semanas vestem o hábito próprio para elas. As
noviças colocam o uniforme das professas, mas sem o colarinho branco.
Art. 18. A comunidade veste lã Tibet cor preta, saia e um pequeno casaco, com
lenço preto na cabeça em casa, e fora véu preto.
Art. 19. As postulantes usam medalha no pescoço pendurada a um cordão de cor
celeste; as noviças a medalha pendurada a uma corrente de metal branco, como as
professas. A Superiora geral usa corrente e medalha de prata.
Art. 20. As noviças fazem promessas; as professas fazem votos anuais depois de 5
anos de profissão, e os votos perpétuos depois de 12 anos de profissão.
Art. 21. Os votos são de castidade, de obediência, pobreza e o propósito de ir às
Missões exteriores.
Art. 28. As superioras maiores raríssimas vezes e em casos de grande urgência
poderão propor à Superiora o que fazer, sem serem consultadas. Mas as menores não
ousarão jamais propor à Superiora o que fazer sem que sejam chamadas pela
Superiora. E as Missionárias que são superioras nas casas filiais se chamam
Assistentes.
Art. 56. A casa mãe no momento está estabelecida em Villa Pasquali (diocese de
Cremona).
Art. 89. As Missionárias conviverão como verdadeiras e amorosíssimas irmãs: e não
existirão jamais entre elas competições e honras; ao contrário deverão afastar-se de
suas almas toda idéia ambiciosa de grandeza ou prioridade. Terão caridade recíproca
umas com as outras. Enfim um só coração e uma só alma reinarão na comunidade.
Art. 90. Obediência pronta, alegre e exata à Superiora e às outras superioras, sem
jamais fazer ou dizer nada que lhes desacredite ou ofenda.
Art. 91. Cada manhã pedir a Deus a benção para as co-irmãs.
Art. 92. Cada uma aceitará com boa vontade o ofício que lhe foi destinado: mesmo
que depois que tenha apresentado fortíssimas motivações para rejeitá-lo, a Superiora
ainda queira o contrário. Recordar sempre que a Missionária é Filha de Maria, e tem
por sua vocação de procurar imitar, amar ternamente, honrar e fazer honrar a celeste
112
Mãe Imaculada, de todos e por todos, e sempre. Insistindo-se em rejeitar poderá ser
expulsa do Instituto especialmente se por capricho próprio o Instituto sofrer algum
dano
Art. 93. Considerar os sinais, e as disciplinas da comunidade como vozes do Senhor,
e conseqüentemente interromper com rapidez a oração e a obra iniciada para cumpri-
las.
Art. 94. Fugir das amizades particulares e das relações com pessoas externas, sem
grande necessidade: e não ter lições com professores homens mesmo que for
conveniente: e muito menos prometer, dizer, fazer, ou permitir que isto aconteça sem
as ordens e disposições da Superiora, ou das Assistentes.
Art. 95. É desejável entre as Irmãs um caráter alegre, franco e doce, mas cada
Missionária deverá sempre observar a mais rigorosa modéstia, e compostura nas
palavras, e nos atos. Falando com homens não se permitirá fazer gracejos, com os
benfeitores terá mais precaução; e com Sacerdotes não será nunca excessivo o
respeito, e sem nenhum tipo de confidência.
Art. 96. Exceto a Superiora, nenhuma Irmã falará em segredo seja com quem for, e
devendo falar com o Confessor, irá ao Confessionário.
Art. 97. É rigorosamente proibido falar de coisas da comunidade com pessoas
estranhas ao Instituto: e sob pena de expulsão é proibido lamentar-se das Irmãs e
desacreditá-las. No caso que uma Irmã não esteja contente, que ela informe a
Superiora e esta encontrará a solução.
Art. 98. As Irmãs não se intrometerão jamais nos afazeres dos outros. Mas com
prudência e cautela, aprendidas na comunidade, ajudarão as Filhas de Maria e Santa
Inês, consolando-as, aconselhando-as, e animando-as a viver com o espírito da Pia
União Mariana, formada pelo abade Passèri e aprovada pelo Sumo Pontífice Pio IX e
louvada por Leão XIII, e pelo reinante Pio X, ainda a estarem firmes na vocação que
Deus as inspirasse.
Art. 99. As Irmãs não farão visitas de cortesia, nem sozinhas, nem acompanhadas de
pessoas estranhas à Comunidade, mesmo que estas sejam religiosas. Nem se
permitirão de irem a espetáculos públicos, como também evitarão visitar santuários
em tempo de grande movimento.
Art. 100. É proibido às Irmãs de ler jornais, romances e livros históricos ou
científicos sem a licença expressa da Superiora.
Art. 101. Da mesma maneira as irmãs se absterão de dar noticias de coisas políticas
do mundo à Comunidade.
Art. 102. As Irmãs nem mesmo pedirão à Superiora para que dê permissão de se
inscreverem às pias associações, darem esmola, mandarem celebrar Missa, e de
levarem ex-votos (promessas) de quem quer que seja, em santuários ou em capelas.
Art. 103. O Instituto estabeleceu celebrar um dia de onomástico para toda a
comunidade: e não permite nem mesmo à Superiora celebrar o seu próprio.
Art. 104. Na vestição trocam o respectivo nome de batismo, por aquele que a
Superiora impõe.
113
Art. 105. A todas as Irmãs é proibido usar botas grandes, e às simples Irmãs também
é proibido de usar relógio: mas às graduadas não é permitido de usá-lo de ouro,
mesmo que tenha sido presenteado.
Art. 106. Menos de 7 horas de repouso noturno não: nem mesmo dormir durante o
dia, exceto por ordem médica.
Art. 107. Dado o sinal para levantar-se, em meia hora vestir-se e arrumar a cama,
depois ir à Igreja para as orações, Missa e comunhão.
Art. 108. Logo em seguida do retorno à casa, elas fazem a leitura do Diário
Espiritual, e depois se colocam ao trabalho segundo as ordens da Assistente.
Art. 109. O café da manhã, o almoço e o jantar serão nos horários determinados: e
não serão trocados facilmente, e rezar antes e depois.
Art. 110. As esmolas aos pobres que se apresentarem à porta, não serão jamais em
dinheiro.
Art. 111. À tardinha visita ao SS. Sacramento, se a igreja é próxima: se é longe, se
faz espiritualmente com todas as irmãs reunidas e ajoelhadas.
Art. 112. As irmãs viajando por via terrestre em trem viajarão em 3ª classe, em mar
na 2ª classe, sempre modestas, sem sombra de exuberância no jeito de falar, responder
ou perguntar, e nunca entrar em discussões religiosas.
Art. 113. Nunca escrever não importa o que em papéis onde estão impressos o nome
de Deus e da Virgem Maria.
Art. 114. As Missionárias não irão almoçar nas famílias e nem admitirão na mesa
delas, mulheres estranhas ao Instituto.
19
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1a.Ep114 – Carta de Jacinto Bianchi à Ir Maria Solimani, Gênova, 14
de agosto de 1908; original autografado, 1 f., 135x212 mm.
Ele implora sobre ela Bênçãos divinas, convida-a à oferta dominical de toda a
semana e garante-lhe suas orações. Esclarecimento sobre a aceitação das viúvas e
indicações relativas às profissões.
Caríssima no Senhor!
I. Que Deus te abençoe, te ilumine e santifique, assim o teu coração será bom e
justo: a tua mente compreenderá e conhecerá aquilo que vai bem, e a tua alma se
santificará. Amanhã eu celebrarei a missa por mim e por Ti. Terça-feira também,
porque eu nasci no dia 15 de agosto, e o meu santo é no dia 18.
114
II. No primeiro regulamento tinha um artigo sobre as Viúvas, que para serem aceitas
não poderiam ter filhos e nem serviços de responsabilidade no Instituto. Retirei este
artigo, mas se as Viúvas se apresentarem, serão aceitas aquelas que forem boas e
humildes.
III. Na manhã do Domingo ofereça a Deus tudo aquilo que tu pensarás, dirás, e farás
na semana, tudo por Sua glória, conservando a intenção e o desejo. Tu tens rezado
bem e muito, viva tranqüila. Depois, comigo, todas as irmãs e almas boas a me
confiadas rezam por ti, não temer. Mantenha confiança em Deus e na Sagrada Família
e terás êxito nas tuas atividades.
|f.1v| IV. Meu muitíssimo obrigado ao Bispo. Tu tens as medalhas, e as Correntes?
Devo enviar-te aquelas para as Professas?
V. Não te preocupes com a Capela, porque até mesmo um quarto poderá
transformar-se em Capela. Consolata fará tudo muito bem.
VI. Para os anéis, tendo-lhes proibido Leão XIII, é necessário colocar-se de acordo
com Roma, Consolata pensará sobre isso.
VII. Agora pensemos sobre a casa de Roma, e basta.
Cordiais saudações e os melhores votos
Teu Pe. Jacinto
Gênova, 14 de ag. de 908
Doces expedidos segunda-feira. Escreva como pode, e vai bem. Para a vestição
espera ter em mãos as medalhas e a resposta da Consolata para os anéis. À Consolata
que deve correr à Roma, etc., mando o dinheiro: mas também Tu de vez em quando
mande-me algum.
20
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1a.Ep59 – Carta de Jacinto Bianchi à Ir.Consolata Zampieri, Gênova,
28 de Julho de 1907; original autografado, 1 f., 217x293 mm.
Ele recomenda atenção, confiança em Deus e coragem, porque os tempos são difíceis
e as autoridades civis muito severas. Enviará cópia da regra o mais rápido possível.
Procuradora Geral!
Reunirás as Irmãs de Vicovaro, depois irás a Licenza e em Mandela e lerás esta carta
– que conservarás – às Irmãs para que compreendam como devem viver no futuro,
115
onde continuarem a fazer o bem, para a glória de Deus, de Nossa Mãe Imaculada e do
Nosso Pai S. José, sobre a proteção de Sta. Ermelinda.
Recordar sempre três coisas, e colocá-las em prática com muito gosto.
I. Atenção - II. Confiança absoluta em Deus - III. Coragem grande.
Atenção – Saibais, Irmãs, que o governo começou a fechar 2 Institutos a Torino
porque tinham hospedado rapazes calabreses depois do terremoto, e queria fechar
outros Institutos de beneficência. Se acontecesse de vir alguma visita (fiscalização) na
Vossa casa, não temais, e respondais, que não ensinais a rapazes e nem os hospedais
em casa. Se vos pedirem a aprovação do Bispo, dizeis sim, e basta. Se virem mulheres
a vos interrogar, sejais atentas em responder que sois conhecidas pelo Prefeito e basta.
Estais atentas, muito, muito.
Confiança absoluta somente em Deus – Respeitai as pessoas, mas não busqueis
apoio nelas. Deus vos ajudará, assistirá, proverá sempre melhor do que o mundo todo
vos fizesse porque o Instituto é desejado por Deus, para a glória da Sagrada Família e
o bem das almas, sob a proteção de Sta. Ermelinda. Sim, Deus é quem a tornou
conhecida, estejais, pois certas, o Instituto florescerá muito após a minha morte.
Coragem – não temais, não, não, nem se chegarem fortes tribulações. Deus é o dono
do Instituto, vós sejais verdadeiras Irmãs, todas de um só coração e uma só vontade: e
Deus estará convosco e vos dará grande conforto. Agora vivemos momentos difíceis
demais, demais, devido aos escândalos que acontecem, e Roma irá devagar com as
aprovações, mas vós sejais humildes, humildes, humildes e Deus vos exaltará. Sejais
firmes e fortes na vontade de serdes verdadeiras Missionárias e sereis consoladas
muito, muito, porque Roma vos dará a aprovação e abençoará imensamente.
Vosso Pe. Jacinto
Gênova, 28 de julho de 907.
|f.1v| Assim que o tipógrafo me entregar a Regra, te enviarei 6 cópias. Tu levarás 2
ao Bispo [de Tivoli], 1 para Monsenhor Giustini, conhecido teu, em Roma, 1 para Ti,
1 para Licenza, 1 para Mandela, e se por acaso Tu queiras outras, eu Te enviarei.
116
21
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1a.Ep24 – Carta de Jacinto Bianchi à Ir. Maria Solimani, Gênova, 25
de maio de 1908; original autografado, 2 f. de caderno de linhas, 184x245 mm.
Respostas e disposições várias: direção do orfanato, transferências das co-irmãs
aceitação das postulantes e professas, questões de gestão e patrimoniais, relações
com a Igreja local. Propõe figuras exemplares e práticas devotas.
Maria Caríssima no Senhor!
Respondo à tua carta sempre bem contente, se bem que não tenha tempo, porque
domingo, além de 4 horas de confissão, devo pregar às 8, às 2 e às 6? Noite, e sem
falar das outras incumbências. Tuas cartas me consolam.
1. A tua parente [a venerável Giovanna M. Battista Solimani, 1688-1758,
Fundadora das Romitas Batistinas] peça-lhe que te obtenha a firmeza de ânimo e de
propósito que Ela tinha, pois quando a contestavam e a atormentavam-na demais, Ela
era sempre corajosa e nunca lamentosa. Vai avante, avante sempre. Leia um pouco de
cada vez os capítulos das suas tribulações, e verás. Confia-te a Deus em tudo sempre,
mas tenhais confiança plenamente quando notares que as coisas não vão bem como
quererias.
Faça como a pequena Bernadete de Lourdes que quando o governador e o
comissário lhe disseram: «Te colocaremos na prisão», ela respondeu: «Depois tereis o
trabalho de me fazer sair». Maria caríssima, seja alegre e avante. Hoje e sexta-feira
próxima celebrarei a Missa por nós; seja forte, nunca, nunca, nunca pensar muito,
nunca, nunca, tristeza; sorria, sorria, a glória de Maria Imaculada, de S. José nosso Pai
e de Sta. Ermelinda nossa Padroeira. Eu te ajudarei em tudo, sempre, sim, sim.
2. As imagens do Anjo as dê às postulantes e somente às pessoas que queiram fazer
o bem. Explique a todos o significado da imagem. Sobre a colina de Brescia, Maria
órfã, pobre, se colocou a pastorear as ovelhas com um pastor maldoso, incrédulo. Ele
a proibiu de ir à Igreja. Ela disse ao seu Anjo Guardião: «Tu vais por mim à Missa de
segunda a sábado, aos domingos pela manhã venha a cuidar das ovelhas |f.1v| porque
quero ir à Missa, à pregação, a confessar-me e comungar-me». Um domingo o patrão
a viu sobre a Praça entrar na Igreja; parou-a e reprovou. Ela respondeu: «As ovelhas
estão bem cuidadas». Ele respondeu: «Te mato se as encontrar dispersas». Foi a vê-las
e todas dormiam. O patrão disse: «Na Igreja, absolutamente não, não, não». Ela disse
ao Anjo: «Fala a Deus por mim, porque eu quero ser toda de Deus». E em seguida o
Anjo lhe apareceu e lhe disse: «Maria, prepara-te que virá logo no céu». Ela morreu
depois de poucos dias, e foi beatificada. Diga às pessoas que repitam com a mente as
palavras: «Ó Senhor, etc...», mas sempre de coração.
117
3. Ontem e também sexta-feira celebrarei Missa para mim e para te, afim que Deus
nos assista para que possamos trabalhar para a sua glória. Envio-te o Cittadino, leia
onde está assinalado de vermelho. Coragem, que também cresça o Orfanato; confiante
em Deus tu o conduzirá bem. As pequenas de 5 anos, quando tu tiveres um pouco de
tempo, leve-as diante de N.Senhora e ensina-lhes a rezar assim: « Mãe Maria
SS.Imaculada, abençoe a nós que somos vossas filhas e à Superiora, para que ela
possa nos fazer o bem». Quando tiverem aprendido, envia-lhes sozinhas a rezar,
dando-lhes depois um presentinho se elas rezarem bem. S. Francisco [de] Sales
quando queria uma graça tocava uma capainha e os pequenos e as pequenas vinham
correndo, ele então dava um biscoito se rezassem bem e obtivessem a graça. Às vezes
lhes chamava e dizia: «Deus não me concedeu a graça, vós não rezastes bem». Eles
então lamentavam e ele envia-lhes ao redor do altar do SS.Sacramento com um pedaço
de vela acesa, ou mesmo ele acendia 2 velas diante do Tabernáculo e eles |f.2r|
rezavam: «Ó Jesus, concedeis a graça, porque esperais? Nosso Superior tem
necessidade»; alguns choravam e Jesus os atendia, e S. Francisco [de] Sales dava os
biscoitos. Faça assim, porque Deus escuta a voz dos inocentes.
4. Dê com cuidado as imagens do Anjo, e a quem compreende o seu objetivo. Eu
não tenho a intenção que Cândida fique em Scandolara, se tu tens necessidade dela,
ela deve vir quando tu quiseres. Ela bordou em ouro um belo véu para o tabernáculo.
É preciso tirar Pia de Villa por causa do ar que não é bom. Ela não está doente, está
anêmica (pouco sangue), tem necessidade de ar bom para refazer o sangue: eis tudo,
fico contente se ela vier à sua casa porque ela vale tanto quanto Cândida, e ainda mais
para os trabalhos em seda e em ouro. Ângela se te agrada, fique com ela; se não eu a
retiro. As Irmãs de Mandela e Vicovaro temem que ela não se acostume com a
alimentação porque não será boa ai como a tua; eis tudo; tu a conheces e saberás como
apresentá-la às Irmãs. Ela sabe bordar?
5. Tu tens contato com a jovem de Nápoles? Escreva-lhe.
6. Não, não, por Sto. Antonio de Pádua; ele se chama Antonino e sua festa já
passou; no ano que vem. No entanto diga-lhe que estou fora de Gênova para pregar e
não pude escrever ao Sacerdote que haveis como Capelão, mas escreverei sexta-feira.
Eu faço pregações 3 vezes ao dia e confesso 5 horas.
7. Se tiver cédulas, é melhor que tu as conserves até a profissão. Na festa de Corpus
Domini faça a vestição e na da Imaculada fará a Profissão. Diga-lhe que Sta. Ângela
é no dia 31 de maio. Se quiserdes, vos envio a vida de Sta.Angela. A oração me parece
de tê-la enviado. Não te sacrifiques muito; quando puder, sem se agitar.
|f.2v| 8. Os administradores te concederão de aceitar tais pessoas?
Combina bem antes. Mas aqui eu te repito: com tantas incumbências, tens
necessidade de uma Irmã que mantenha notas e registros claros. Se Ângela é boa,
então a aproveite; senão, eu te mandarei uma capaz e segura. Quanto à mulher dos 150
francos, sendo robusta e rica, seria melhor – me parece – pegar 200 francos por ano e
não ter nada o que fazer depois da morte, porque te venha de pagar a sua sucessão que
é de mais de 12%. Se ela não quiser te dar 200 francos ao ano, te dê enquanto que é
viva os 1000 francos e tu os coloque em ações a usufruto e deixe também aos
118
parentes, então 150 francos ela te paga e sobre isso, tu pegas 30 francos de lucro,
assim serão 180 francos.
9. Tu podes muito bem aceitá-las todas as três, mas em Julho eu virei em Tua casa,
súbito. Sim, podes escrever sobre isso ao Bispo, mas o Canônico providenciará para
que eu fale com o Bispo. E se poderá abrir a casa.
Sim, é bela a carta. Rezemos a S. José.
No entanto veja com o Pároco ou com o Capelão se deram uma cópia das nossas
Regras para o Bispo; eu te mando outras cópias.
Adeus de todo coração.
Teu Pe. Jacinto
Gênova, 25 de maio de 908
22
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1a.Ep25 – Carta de Jacinto Bianchi à Ir. Maria Solimani, s. l., posterior
a 1 de dezembro de 1908; original autografado, 1 f., 210x185 mm.
Propõe exemplos significativos de providência. Faz referências às suas relações com
bispos da Sicilia e com o canônico Antonino Gioia. Terminou de pagar a casa de
Villa Pasquali.
Faltam as fórmulas de conclusão.
Maria Caríssima no Senhor!
I. Peço-te ardentemente que Tu consideres muito bem a coisa que te descrevo e que
Tu em seguida, tenhas um tempo livre, me garanta que entendeu o fato e a proteção
especialíssima de Deus, e agradeça a Deus vivamente. Sob meu parecer e minha
ordem, a Superiora e Cândida partiram. Eu as dei dinheiro uma segunda vez para que
não lhes falte na viagem; em Spezia os trens não coincidiam e Cândida ficou pra trás
sem dinheiro para continuar, ela tinha só 1 franco. Telegrafou então à estação de Pisa
pedindo para que parassem a Superiora, e Deus a fez encontrá-la. Como Cândida não
tinha dinheiro esperaram-na. A Superiora pagou a viagem para as duas até Grosseto,
Desceram na estação pensativas e lamentosas; aproximou-se uma Senhora e disse: « O
que tens? Onde andais?». Responderam: «A Roma, mas não temos dinheiro para pagar
o trem». A Senhora respondeu: « Eu sou uma da Proteção da Juventude e pagarei
tudo eu, e em Roma ireis a tal lugar para comer e dormir, sem despesas».
119
Contentes, elas se foram: pela estrada encontraram meu sobrinho, a Superiora o
conhecia e ele acolheu-as em sua casa, e ele providenciou de tudo. Elas vão a
Vicovaro. |f.1v| Consolata escreveu que ela não tem dinheiro suficiente, e uma
Senhora me havia dado para as Missionárias 100 francos e por telégrafo eu os enviei a
Consolata. O que você acha? Eis que as Missionárias devem todas confiar em Deus,
sempre e mais ainda nas grandes tribulações.
II. Tu, portanto, com as órfãs, e com tua alma peça a Deus para que providencie
Filhas para as casas, que saibam costurar e bordar; em Licenza choram, em Vicovaro,
em Mandela, porque são transferidas as irmãs boas. Peça forte para que Deus as envie
a ti.
III. Eu escrevi ao Bispo de Mazzara pelo seu onomástico. Enviei o regulamento a
Girgenti pelo Bispo.
IV. Eu respondi ao Canônico Gioia por Sua carta escrita a mim, e disse que em
Janeiro eu irei na sua casa e na dos 2 Bispos. Espero que Deus me pague a viagem em
terceira classe sempre.
Saiba que a Casa de Villa está toda paga, e rezo a Deus de mandar-me dinheiro para
construir o oratório de Sta. Ermelinda.
Escreva-me se puderes, em Palermo ou em Mazzara faça colocar moldura no
quadro de Sta. Ermelinda para dar aos 2 Bispos e colocar no noviciado, porque senão,
eu os levo comigo emoldurados, em um pacote.
23
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.1.1b.Ep400 – Carta de Jacinto Bianchi ao cardeal Girolamo M. Gotti,
prefeito da Propaganda Fide, Gênova, 31 de agosto de 1907; fotocópia do original
autenticada, 2 f., 206x135 mm.
Apresenta o novo texto constitucional e a situação das FMM.
|f.1v| Eminentíssimo Senhor Cardeal Prefeito!
Muitíssimo confiante na Bondade de V. Eminência Reverendíssima, apresento a
Regra das Irmãs Missionárias que foi reeditada, já conhecida pela Sagrada
Congregação pelo trabalho que elas prestaram por vários anos no Orfanato de Belloni
em Belém. No momento trabalham em quatro Dioceses, divididas em 8 casas-
ensinando trabalhos domésticos, e a Doutrina Cristã sob a direção dos respectivo
Senhores Bispos, e Párocos.
Sempre firmes na primeira intenção de ir às Missões exteriores, quando Deus quiser,
apresentam juntamente comigo a regra delas ao Senhor Cardeal Prefeito, não para ser
examinada, mas somente para que a V. Eminência a conheça.
120
|f.2r| Eminentíssimo Senhor Cardeal Prefeito, disponha de mim e do Instituto como
o julgarás segundo a Vossa Bondade.
Até o presente momento, compadecendo-se com a nossa miséria, Deus
providenciou sempre tudo às nossas necessidades, e ainda mais, chegam pedidos de
muitos países para ter as Irmãs.
Prostrado, beijo a S. Púrpura, confirmando o sentimento que tenho por Vossa
Eminência Reverendíssima,
Seu Prontíssimo Servo,
Bianchi Jacinto Miss. Ap
Gênova, 31 de ag. 907 - às 10 horas
24
____________________________________________________________________
AFMM, VIII.1.2a.140 – Carta de padre Vincenzo Nardelli op a Jacinto Bianchi,
Roma, 6 de junho de 1901; original autografado, 2 f., 210x135 mm.
Fornece alguns esclarecimentos pedidos sobre alguns aspectos canônicos inerentes
ao Instituto, provavelmente em vista de uma demanda de aprovação
Reverendíssimo Senhor
Eu satisfaço com prazer ao seu pedido.
I. Quanto ao objetivo. A unidade do objetivo pedida pela Bula Pontifical, dentro
deste Instituto está em plena regra. A instrução religiosa moral e intelectual,
(compreendidos os trabalhos) entra na unidade do objetivo. E também as escolas
primárias públicas não se opõem à unidade do objetivo; porque a instrução seja
religiosa, seja intelectual é tudo um campo único, ao qual as Irmãs podem ser
preparadas com suas leis próprias e com a educação do Noviciado.
II. Quanto às Regras. Podem conservar o Regulamento dado e aprovado pela
Propaganda, adaptando-o naturalmente às circunstâncias dos tempos e dos lugares.
Nas Regras é preciso distinguir:
a) algumas coisas comuns a todos os Institutos, para os votos etc. e estas devem ser
imutáveis.
b) outras coisas próprias do objetivo do Instituto, e estas |f.1v| também não devem
ser mudadas.
121
c) outras que estão sujeitas à mudanças. Também algumas regras são boas para
lugares de missão, não o são para a Itália, por exemplo. Devendo neste caso fazer
algumas modificações, dentro deste Instituto espalhado em diferentes dioceses, pede-
se o consentimento dos outros Bispos, segundo a Bula Conditae.
Enfim, o Instituto cresceu e se expandiu suficientemente; poder-se-ia dar início às
práticas para ser aprovado por Roma e assim constituir-se em forma de associação
perfeitamente organizada. No momento também a Sagrada Congregação dos Bispos e
Regulares está justamente discutindo e formando um esquema de Constituições para
ser aplicado em todos os Institutos no que se refere às regras comuns para cada
Instituto: como por ex. sobre os votos, sobre a eleição dos Superiores etc.
III. Quanto aos rendimentos. As entradas ocasionais e fixas que tem o Instituto da
Pia União oferecem uma garantia suficiente de segurança para o seu futuro. O caso
contemplado pela Bula refere-se aos Institutos que vivem somente das oblações
espontâneas dos benfeitores, ou mesmo da oferta, |f.2r| quando, porém umas e outras
sejam tais que, com o tempo possam diminuir. Por exemplo, o piedoso Asilo do
Cottolengo vive de ofertas ocasionais, mas, porém a circunstância da instituição e do
lugar são tais que pode se dizer que quase certas. Não é a mesma coisa para outros
Institutos que para viver devem andar mendigando a maior parte do ano, prejudicando
o espírito das Irmãs. Mas este não é o caso do Instituto que vós dirigis.
IV. Quanto às Missões Exteriores. Agora a Propaganda está muito atenta aos
Institutos que queiram fazer fundações no exterior, para que sejam aprovados pela
Santa Sé. Talvez possam obtê-lo facilmente para os lugares onde estão os emigrantes
Italianos. Em S. Paulo, no Brasil existem centenas de milhares de necessitados de
ajuda religiosa e moral. De qualquer modo podem fazer contemporaneamente os
encaminhamentos junto à Congregação dos Bispos e Regulares para a aprovação- e
junto à Propaganda para a permissão de fundar algumas Casas no exterior.
V. Quanto ao governo interno. Na organização interna, como na aceitação das
Postulantes, no transferir as irmãs, no nomear as Superioras locais
|f.2v| é bom deixar às Irmãs uma certa autonomia. Este é um direito delas,
reconhecido pela Santa Sé. No mais, o trabalho do Diretor é de dar-lhes alta direção, a
inspiração, deixando-lhes o dever de atuação. Eis os esclarecimentos que podem ser
dados a esse respeito. Se vos for necessário esclarecer algum outro ponto em
particular, escreva-me sempre, que de bom agrado farei tudo àquilo que for para o
bem das almas.
E agora, sou eu quem pedirei um favor. Eu fiz imprimir Meditazioni sullo Spirito
Santo( Meditações sobre o Espírito Santo) de Avrillon. Mereceriam ser publicadas
novamente porque são sólidas e cheias de unção e não se encontra mais o livro. Eu
envio-lhes uma cópia de presente. Eu coloco junto alguns panfletos de divulgação: que
eu vos peço de apresentar às Irmãs e às Monjas e também aos Sacerdotes, e pessoas
pias. Todos podem tirar vantagens e proveitos.
Desejo-vos frutos copiosos para a vossa alma e para o próximo, da pregação do
Jubileu e do mês de Sagrado Coração. Recomenda-me fortemente ao Senhor e confie
em mim.
122
Muito devoto no Senhor
F. Vincenzo Nardelli dos Pregadores
Minerva, Roma - 6 de Junho de 1901
25
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.2.7b - Instituto das Filhas de Maria Missionárias sob a Proteção de
Sta. Ermelinda Virgem, ms. de J. Bianchi, posterior a 1901; 2 f. protocolo, 300x210
mm.
Parte inicial de um texto normativo (constituição).
No arquivo AFMM estão conservados outras duas versões menos completas
(VIII.2.2.7a, Da natureza do Instituto, da admissão ao mesmo e do modo de se viver;
VIII.2.2.7c, Constituições do Instituto das Irmãs Missionárias).
Instituto das Filhas de Maria Missionárias
Sob a proteção de Sta. Ermelinda Virgem
[Capítulo I]
Art. 1. O Instituto honra como patronos Maria Santíssima Imaculada, S. José e Sta.
Ermelinda virgem, e tem como objetivo primário a santificação das próprias
integrantes por meio da observância dos três votos simples de obediência, pobreza e
castidade, além das presentes constituições.
Art. 2. O objetivo secundário é o bem espiritual e corporal do próximo por meio da
educação cristã das adolescentes – especialmente pobres – e do ensinamento da
costura e do bordado, e também a assistência dos jardins de infância, quando
consideradas todas as circunstâncias e a caridade cristã o aconselhasse.
Art. 3. Não ter pessoas estranhas para o serviço.
Art. 4. No Instituto não existe distinção de classes sociais, todas se ajudam
reciprocamente nos afazeres em bela caridade segundo as próprias aptidões. Porém,
existem aquelas que exercem o governo do Instituto e a direção dos trabalhos. No
Instituto existem duas categorias de irmãs- à primeira categoria competem os serviços
referentes ao governo do Instituto e a direção dos trabalhos, à segunda os serviços
mais comuns.
|f.1v| Art. 5. Apesar desta distinção, as Irmãs de uma ou outra categoria formam uma
só família, vivem sobre a mesma disciplina e participam igualmente dos bens
123
espirituais e materiais do Instituto, ajudando-se todas reciprocamente em bela caridade
segundo as próprias capacidades.
Art. 6. A ordem de precedência no Instituto será esta: 1º a Superiora Geral, 2° as
Assistentes Gerais segundo a prioridade das eleições, 3º a Secretária Geral, 4º a
Ecônoma Geral, 5º as Assistentes locais segundo a antiguidade de fundação das Casas,
6º a mestra de noviças, 7º as visitadoras gerais que durante a visita terão sempre o
primeiro lugar nas casas que elas visitam.
Art. 7. As irmãs usarão um hábito de lã Tibet cor preta, com touca branca em casa, e
fora, coberta com véu preto que desce sobre os ombros; elas usarão no peito a medalha
de N.Senhora Imaculada e farão uso de calçados simples.
Art. 8. As noviças vestirão do mesmo modo, mas sem o colarinho branco.
Capítulo II
Art. 9. As irmãs do Instituto professarão plena e ilimitada submissão, veneração e
obediência ao Papa.
Art. 10. Elas venerarão igualmente os Bispos locais e lhes serão fielmente
submissas em conformidade às prescrições |f.2r| da Constituição Apostólica Conditae
de Leão XIII do dia 8 de dezembro de 1900.
Capítulo III
Da admissão no Instituto, dos dotes, do enxoval, e da pensão para o tempo de
experiência.
Art. 11. A admissão das jovens aspirantes ao Instituto é de responsabilidade da
Superiora Geral. Por isso, ela mesma ou por meio de outros, deverá recolher as
informações necessárias referentes àquelas que pedem de serem admitidas no
Instituto.
Art. 12. Antes de receber uma jovem serão exigidos os atestados de batismo, de
crisma, de boa conduta, de estado civil e de nascimento legítimos. Estes atestados
podem ser emitidos pela Cúria Episcopal ou pelo próprio Pároco, ou onde não se tem
outra possibilidade, de outra autoridade eclesiástica autorizada.
Art. 13. Não se admitirá jamais uma jovem que não tenha dado prova de sua
vocação, e que por suas qualidades morais e físicas não dê fundamentadas esperanças
que será uma Missionária capaz de trabalhar segundo o Espírito e o objetivo do
Instituto.
Art. 14. Sem a dispensa da Santa Sé não podem ser admitidas no Instituto:
1° as ilegítimas não legitimadas, 2° as menores de 15 anos e maiores de 30,
3° as casadas e as viúvas, 4° as professas de votos perpétuos e também temporários
|f.2v| enquanto estiverem em outro Instituto, 5° aquelas que possuem débito que não
podem pagar, ou que se encontram em meio à administração de negócios pelos quais
o Instituto poderia ir de encontro a litígios ou chateações, 6° aquelas que não possuem
nenhum dote.
124
Art. 15. Por ocasião da profissão da Missionária entrega o seu dote ao Instituto. O
enxoval ao ingresso e também a pensão do noviciado, tudo é determinado pela
Superiora geral.
Capítulo IV
Art. 16. O Postulado durará 3 meses e por motivos justos pode ser prolongado na
casa do noviciado.
26
_______________________________________________________________ Carta de Pe. Giuseppe Parma a D. Guido M. Conforti, Parma 30 de janeiro de 1913;
publicada in GUIDO M. CONFORTI, As Pequenas Filhas dos sagrados Corações de
Jesus e Maria. Relação entre D. G. M. Conforti, a Congregação e o Assistente
Eclesiástico Pe. G. Parma [...] Cartas e documentos de 1895 a 1931 e breve
documentação da história da congregação até os dias de hoje, aos cuidados de F.
Teodori, Roma, Procuradoria Geral Xaveriana - Parma, Casa Mãe das Pequenas
Filhas,1980, pp. 307-309, nota 106.
Comunica o seu julgamento negativo sobre a Constituição do Instituto das Filhas de
Maria Missionárias de 1907 (cf. Documento 18).
Excelência Ilma. e Revma.,
Parece-me que a Constituição do instituto das Filhas de Maria Missionárias, sob a
proteção de Sta. Ermelinda virgem (o qual, no seu conjunto, apresenta-se não como
uma Pia União qualquer, vivendo em Comunidade, mas como uma verdadeira e
própria Congregação religiosa de Votos simples) não responda nem às mais modestas
exigências em relação a si mesma, como Estatuto de uma Associação; nem em relação
às exigências do Direito Canônico; e nem mesmo a respeito da Autoridade
Eclesiástica.
Eis, Excelência, as principais observações, nas quais se baseiam a minha afirmação:
A esta Associação falta uma real e verdadeira organização. De fato não se determina
quem tem o direito ao voto nas eleições; não é dito quais são as atribuições do
Capítulo e se tem voto deliberativo e em quais casos; a eleição da Superiora Geral não
é protegida o suficiente; falta tudo sobre o modo de eleição das Superioras locais; não
existe uma palavra sobre as relações entre as Superioras locais e a Superiora Geral, e
125
isto é realmente muito importante; as atribuições das duas Assistentes não são
suficientemente determinadas.
Mesmo por aquilo que concerne à Administração não se sabe quem tem a
responsabilidade, e depois aqui também falta a organização. Por exemplo, em quais
relações econômicas estão a Casa Central e as filiais? Não é dita uma palavra sobre
isso, e isto é grave.
Mesmo no que concerne aos Santos Votos, não é muito claro, um ponto muito
essencial para uma congregação religiosa. Por exemplo, o que quer dizer o art. 20: «as
Professas fazem os Votos anuais depois de cindo anos de Profissão», e antes: «As
Noviças fazem promessas»?
E a proposta de ir às Missões Exteriores é um voto? Se fosse, teria contra ela uma
disposição do Direito (1901): «Non admittitur innovis Institutis quartum votum [Nos
novos institutos não é admitido um quarto voto]».
Faltam todas as particularidades dos Votos em si, nas suas explicações particulares,
e nas suas aplicações seja pelo que concerne a vida individual que a vida comunitária.
Não existe uma palavra na sua organização para as Obras das Missões às quais elas se
dedicam.
Como exemplo da falta absoluta de disposições oportunas pode-se ler o capítulo II,
Condições para serem admitidas, Capítulo que fala toda outra coisa, e dá ao objetivo
do Capítulo somente o último artigo, o Nº5 onde, por fim, as condições de aceitação e
a documentação necessária não são suficientemente precisas. Assim também o
postulado e o Noviciado no Capítulo V não são suficientemente regulamentos. Não
que se requer particularidades, que vão depois acabar em pedantismos e formalismos
vãos, mas francamente, parece-me que, faltam as linhas fundamentais.
E depois qual é o sistema e o modo de seleção? Quem tem o direito de selecionar as
novas integrantes? Qual é o sistema educativo? Qual a cultura e os seus meios? Estas
são as principais observações, pelas quais me parece de poder concluir que realmente
falta a consistência de uma verdadeira organização social.
Não é melhor o trabalho, segundo opina o escrevente, se se olha a Constituição em
palavras, como Regra de vida. De fato na aplicação dos Votos está o principal
elemento da vida individual das religiosas. Agora falta de fato no Regulamento toda
determinação; como também é muito faltoso o Capítulo da Piedade, seja no que se
refere às Práticas, como do que se refere às das direções, que é a coisa mais
importante.
No Capítulo XV, Regras de vida comum, enquanto se mostra a insuficiência no
providenciar às necessidades e aos cuidados necessários para a disciplina, tem coisas
minuciosas que não deveriam jamais entrar em um Regulamento. Veja, a título de
exemplo, o art. 91, o art. 109, o art. 112 e, de modo especial, o artigo 113. Também
aqui não se faz alusão às coisas principais.
E, no que concerne o Direito Canônico, me parece que se pode dizer em uma só
palavra. Que o presente Regulamento é totalmente fora ( e digo o minimum) das
Normas fixadas pela Sagrada Congregação em 1901, segundo as quais a Igreja aprova
os Institutos de Votos simples. E deste modo a presente Constituição não prevê
126
suficientemente segundo as leis, que são formais (deixemos de lado as leis que as
Normas têm somente de diretiva), à admissão das Aspirantes, ao Postulado, ao
Noviciado, aos Votos, à disciplina religiosa em geral.
Creio que se possa afirmar que tudo quanto é disposto tem base realmente arbitrária
fora daquilo que a Santa Sé quer ou desejava a este respeito. E esta observação é ainda
mais importante porque S. S. Pio X estabeleceu no Motu próprio Dei providentis (16
de julho de 1906) que: «Conditae sodalitatis constitutiones ordinarius recognoscat;
verum ne prius approbet quam eas ad normas eorum, quas sacrum Consilium in hac
causa decrevit exigendas curaverit [O bispo examine as constituições da nova
congregação; mas não as aprove antes de estar seguro que correspondem às normas
que a sagrada Congregação estabeleceu sobre isso]».
Finalmente também nas relações com a Autoridade Eclesiástica não são
suficientemente indicadas as linhas formais assinaladas por Leão XIII na constituição
Conditae a Christo Ecclesiae (6 de Dezembro de 1900), na qual as relações entre
Bispos e Congregações Religiosas de caráter natural da presente são
determinantemente reguladas.
De fato, não se pode calar nas Constituições, por força desta lei, sobre as disposições
referentes à instituição das Casas, a autorização para as Vestições e Profissões, os
exames oportunos, a autorização para mandar embora as Irmãs Professas, a dispensa
dos Votos, o andamento disciplinar e administrativo, o direito de visita, a
administração dos Santíssimos Sacramentos e da Divina Palavra, e do serviço
religioso em geral.
Outra observação muito importante, porque é já citada no Motu proprio de Pio X, é
esta: «Instituta sodalitas, quamvis decursu temporis in plures dioeceses diffusa, usque
tamen dum pontificiae approbationis aut laudis testimonio caruerit, ordinariorum
iurisdictioni subiaceat, ut decessori nostri constitutione Conditae sancitum est [Uma
congregação aprovada, mesmo se ela está presente há muito tempo em várias dioceses,
até que ela não tenha a aprovação pontifícia ou o decreto de louvor, permanece sujeita
à jurisdição dos bispos, como está estabelecido na constituição Conditae de nosso
predecessor]».
Um exame, Excelência, mais aprofundado (que eu farei se a Vossa Excelência
quiser) teria levado, naturalmente, a uma maior positividade de afirmação. Mas o que
foi dito me parece suficiente para concluir que estas Constituições em análise, nem
como organização de uma sociedade, nem como Regra de Vida, nem em relação ao
Direito Canônico, nem da Autoridade Eclesiástica, são suficientes às necessidades
tanto de direito como de fato, pois nascem do desenvolvimento destas obras delicadas,
especialmente em se tratando de Missionárias, das quais se exige uma forte educação
de espírito e normas definidas e claras.
Eu vos agradeço de novo Vossa Excelência pela confiança, e aproveito a ocasião
para vos apresentar minha distinta reverência e vos pedir a Benção Pastoral...
127
27
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.5.1 - Ms. de J. Bianchi, inc r: A convicção verdadeira e constante de
que Deus quer - inc v: Estes são os sentimentos que inspiram as Missionárias; 1 f.
computisteria, 307x207 mm.
Sobre o valor da observação da regra, com indicações práticas (leituras,
comportamento pessoal, tempo de doença, uso do italiano) – Oportunidade da
animação vocacional e seu empenho para a formação das missionárias.
A convicção verdadeira e constante de que Deus quer este Instituto, me dá confiança
de ver um dia [cancelado: ótimas] as Missionárias atuantes, espalhadas em grande
parte do mundo. Para isto, portanto, não podem diminuir o fervor; para tornar viva a
memória destas regras, cada assistente das casas fará com que elas as leiam todos os
meses, não permitindo que aconteçam abusos ou faltas de nenhuma natureza, sendo
que a observância exata delas sempre será o único meio para fazer com que cada
Missionária assuma um teor de vida regulada e perfeita, fazendo com que cresçam no
espírito, a serviço de Deus, para [o] bem das almas.
1. Não se impede possuir livros de devoção, ou similares, relacionados a estudos
realizados, mas ao entrar deverão mostrá-los à Superiora.
2. A roupa será para todas o hábito uniforme. Não será nem apertado nem ostentado,
nem sujo, mas de grande modéstia e limpo, expressando a limpeza da alma. 3. Cada Missionária terá o cuidado de conservar a decência e higiene nos cabelos,
sem ostentação ou vaidade. Cada uma terá a testa descoberta e sem cabelos; enfim
a cabeça bem arrumada, sem ambições alguma. Nisto a Assistente vigiará e em
caso de desobediência corrigirá. 4. A irmã doente obedecerá a tudo o que o médico ou a quem a assiste solicitar, sem
a necessidade de usar de insistência ou ameaças, para fazê-las tomar os
medicamentos ou fazer as cirurgias prescritas, oferecendo ao Senhor a
repugnância que naturalmente se experimenta, e dar assim exemplo de paciência e
piedade a quem viesse visitá-la. 5. Sendo a língua italiana entre nós de suma importância, pois a devemos usá-la para
falar com as pessoas, as Missionárias todas, tanto com a assistente e com as
outras Superioras, como também entre elas falarão sempre Italiano, para que
possam aprender as expressões próprias da língua e o mesmo sotaque por quanto
for possível, constatando pois, pela experiência que devido a inobservância se
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usam palavras e vocábulos nem sempre convenientes, será punida aquela que não
falar em italiano. |f.1v| Estes são os sentimentos que inspiram as Missionárias e que ressoam naquelas
jovens que as conhecem. Qual será o mérito então, se entre tantas boas obras as
Missionárias fossem promovidas pelos párocos e por outras zelantes pessoas? De qual
recompensa e consolação não se tornaria digno quem ajudasse e favorecesse a vocação
de entrar nas Missionárias para o bem das almas?
A Deus agrada tais ajudas, ainda mais nestes tempos nos quais a educação cristã é
negligenciada e degrada ao máximo e são sempre poucos os operários que unem em si
as qualidades necessárias, todos devemos rezar prontamente para que Deus chame e
envie as Missionárias, e também cooperar com eficácia a tão santo e nobre fim.
Por isso, enquanto sinto de recomendar o bom êxito da obra, não escapa à minha
consideração aquela maior solicitude, e também aquele especial cuidado que deve
ocupar o meu ânimo, isto é, a educação das Missionárias. Depois dos cuidados de
Deus, a fim de que resplandeçam nas mesmas as nobres idéias, é meu dever, vigiar
assiduamente as qualidades e motivações da vocação delas para este estado, e também
a orientação de seus costumes e talentos para que suficientemente instruídas nas letras
– e avançando-se muito mais na ciência dos santos, dia após dia – possam chegar
finalmente a produzir aqueles frutos, que a razão lhes espera e que disso justamente
exige a vocação.
As Missionárias despertaram em mim solicitude, ternura e zelo ao propor-lhes uma
regra justa a qual adequando à própria conduta parecerá a elas fácil chegar logo à
aquisição das virtudes próprias da vocação, para seu próprio bem e também dos outros
pessoas. As regras das quais falo, foram apresentadas à Propaganda, adaptadas às
circunstâncias dos tempos, discretas, observadas por todas, para que ponderando o fim
do Instituto, os dons e as prerrogativas que serão exigidas das pessoas dedicadas a
serem Missionárias possam confrontar às próprias ações e conduta com tais regras.
129
28
_______________________________________________________________
AFMM, VIII.2.5.4 - Ms. de J. Bianchi, inc: Relembrando os acontecimentos felizes; 2
f., 205x155 mm.
Indicações para o discernimento à mestra de noviças, entre outros conselhos de
caráter educativo e espiritual.
Relembrando os acontecimentos felizes da juventude, com a calma de uma idade
mais madura, aquele tempo em que mais freqüentemente se aprecia somente agora que
é passado, será importante pensar às alegrias da Pia União – que formava à virtude e à
experiência do mundo, e que por leviandade e inconstância juvenil correspondia-se
pouco, e pior perdendo em futilidade os anos da juventude.
Muita prudência e perspicácia nos afazeres, apresentando seu nome e a sua obra.
Espelhada piedade e virtudes robustas embelezam a vida, sobretudo na velhice,
quando então poderão se tornar sofisticadas resmungonas.
Cuidem das filhas como tesouros a vós confiados por Nossa Senhora e mostrai-vos
para com elas cheias de amor e de atenção, não daquele amor puramente sensível que
só se satisfaz de afetuosas expressões, de adocicadas carícias, mas de um amor de
caridade que não descuidando das inumeráveis necessidades destas tenras criaturas,
tenham para com elas cuidados principais em formar o coração para a justiça, para o
sentimento do dever, aos afetos bondosos e às aspirações generosas. Tratai-as como
flores delicadas, falai-lhes da criação e do destino da pessoa, do pecado - prêmio,
castigo- habituai-as devotamente aos retiros com vossos belos exemplos.
|f.1v| Mestra das noviças; descubra do exterior a jovem calma, reflexiva,
comportada, tímida, resguardada, ou mesmo vivaz, pronta, animada, empreendedora –
mas veja a pureza ingênua que revela o coração inocente, que se abre ao amor do bem
e da virtude.
A amorosa atenção com que escutam os professores, a piedade amável e viva com
que rezam, o respeito pela Superiora, a discrição no trato, a plena submissão - que
sempre custa ainda mais na idade juvenil - os ímpetos com que desejam a vestição
(amorosos), os sinceros propósitos com os quais repetem em querer procurar a Deus
por toda a vida, a sua glória e a sua vontade em tudo. Percebendo isso [a] Mestra das
noviças possa consolar-se e encher o coração da alegria mais pura.
Para acostumar as jovens à reflexão e ao exercício da escrita, entregar-lhes-á um
caderno no qual deverão anotar os acontecimentos mais importantes segundo as
moções do coração, a fim de que seus corações batam a uníssono com os sentimentos
da piedade e da caridade, e a fim de conhecer o empenho, a criatividade, o ânimo, se
custa trabalhar e se com amor se aplicam no consentimento da Mestra.
130
Se têm amor, se busca não aparecer, se gostam de rezar, de estudar, de trabalhar, se
saem do quarto por obediência, ou por necessidade verdadeira, ou dever, ou impelida
pela caridade, se fazem tudo como dever sagrado e religiosa piedade com a intenção
de agradar somente a Deus, |f.2r| se assistem com fervor e bom espírito ás
cerimônias, se se aproximam dos Santíssimos Sacramentos com uma compostura que
revele o sentimento interno de que elas estão cheias; Nada fazer ou dizer ou ir sem
obediência, sempre muito modestas no tratamento, no discurso, no comportamento; se
elas se aborrecem com o esbanjamento, com a preguiça; se mesmo que de índoles
diferentes, se amam, se compadecem, se ajudam mutuamente a guisa de ser um só
coração e uma só alma; se si embelezam de virtudes sólidas e sem perceber vão a cada
dia melhorando e amadurecendo de acordo com os amorosos desígnios da
providência para o bem da juventude, da sociedade e da obra. O princípio, a alma, a
vida, o fim último dos trabalhos seja sempre Deus, N.Senhora e S. José. Se cresce o
amor à vida retirada e escondida, se aprofundam no sentimento da própria miséria, se
redobram a busca de coroar o ânimo a alma das virtudes mais perfeitas (se mostram
animadas de recolhimento piedoso, atitude devota, piedade fervorosa), se oferecem a
Deus o pleno e completo holocausto de si mesmas; com que paz e serenidade, com
quanta consolação e alegria, com qual fervor de espírito vão à vestição e se exclamam
depois: “Deus queira que este seja o dia mais feliz para mim”, correspondendo a tanta
graça, não tendo outro busca a não ser Deus,
Vidas Missionárias, de oração e de ação; com a oração para revigorar-se no zelo à
glória de Maria no bem das filhas, com a ação para se tornarem úteis.
Compostas de um especialíssimo recolhimento, e um forte fervor nos retiros. Com
calma e espírito admirável e com a serenidade própria dos santos suportais as
doenças.
|f.2v| Se o Instituto pudesse prosperar sem isto, não me ocuparia nem mesmo de uma
palavra de elogio.
Se receberdes honras até mesmo do Papa ou do imperador a respeito do Instituto
(que se referem a vós, a vossa pessoa, considerai-as como espinhos) considerai-lhes
graças que Deus faz para que vós estimais o dom da vocação, e mais perfeitamente
lhe correspondam.
Superioras e assistentes sejam discretas em tudo e sempre, no dar uma ordem – e
será um belo ato de exemplo se às vezes pedirem perdão, compreensão se falham, com
palavras e atos que demonstrem o coração todo pleno de arrependimento que fala
mais que qualquer outra coisa. Rezai pelo diretor, mas oferecei-vos sempre para a
sua maior necessidade, aquela de não ter correspondido como devia à graça da sua
vocação.
A humildade dá força e energia até aos pacíficos e a confiança em Deus, também
sinal de Deus. Entre muitas e diferentes circunstâncias, às vezes contrárias, outras
vezes favoráveis, entre as contradições e os sofrimentos mais sensíveis (fome e
doenças, desemprego), entre as necessidades urgentes e as angustiantes incertezas,
mantiveram sempre, aquela perfeita igualdade, aquela inalterável tranqüilidade, aquela
131
constante segurança que vem somente de Deus, da sua padroeira particular Sta.
Ermelinda, que sofreu.
Foi um tempo em que o instituto (Belloni) sentiu-se ameaçado por um golpe mortal
por um falso testemunho – se quis impedir a sua liberdade em um dos interesses mais
delicados e importantes para o desenvolvimento normal de uma comunidade (obrigá-
las a entrar nas Sales[ianas] ). Foi um tempo de certezas, de fadigas, de angústias
indescritíveis: o Diretor sofreu, mas não temeu, nem seu programa foi [prejudicado];
era cada vez mais firme, quanto mais era confusa a questão e duvidosa a conclusão.
29
_______________________________________________________________ AFMM, VIII.2.5.6 - Ms. de J. Bianchi, inc: O missionário não se cria de improviso; 1
f., 133x130 mm.
Formação de uma missionária a partir da verdadeira Filha de Maria, seu zelo pela
caridade cristã e pela evangelização até mesmo a dar a vida.
O Missionário não se cria de improviso, não; a austeridade de vida, a renúncia da
vontade, amor aos sofrimentos preparam a ida entre os infiéis: e quem não faz entre os
santos exercícios da vida mais dura as suas primeiras provas, como poderá dobrar-se
de boa vontade às dificuldades de uma vida entre os bárbaros, e sorrir diante da morte?
As nossas Missionárias trabalham demais, mas antes foram verdadeiras Filhas de
Maria; renunciaram ao conforto da vida, aos seus deleites, às suas pompas e não
sentiram peso em abandoná-las (e se nossas Missionárias trabalham tanto assim, é
mérito da Pia União), renunciaram aos [ilegível], aliás se alegraram ao encontrar
perigos, tentações, ódio do bem e a prevalência do mal – mérito das Pias Uniões.
Não podemos elogiá-las sem primeiramente bendizer e agradecer a Pia União que as
dispôs e as fortaleceu. E inspirou um zelo fervoroso para propagar o Reino de Jesus
no Oriente. |f.1v| Todas inflamaram-se pelo desejo de trabalhar para os órfãos; que no
oficio de [...] - trabalham quase que competindo nos mais humildes serviços para
mostrar a caridade cristã e demonstrar os grandes princípios do Evangelho e assim
atrair para Jesus, pois onde falta a fé, a caridade não se hospeda, ou não encontra a
não ser que compaixão.
Ó Missionária que foste a primeira a dar a vida para os infiéis, ouça o nosso pedido.
Em ti alma gloriosa - vale a pena esperar – o triunfo da Pia União. Seja tua
recompensa que esta Pia União triunfe e reine no meio de cada nação[e] cidade. Não
132
haja lugar onde não se implante e não surja uma Missionária e assim renasça o
primeiro fervor, floresça e seduza as Filhas ao amor de Maria Imaculada, ao desejo
dos bens eternos: almas desiludidas pelo mundo, almas desejosas da vida perfeita,
missionária reúna-as.
133
134
Ele que nos salvou e nos chamou com uma vocação santa.
2Tm 1, 9
Síntese dos Grupos de trabalho
O CAMINHO PARA UMA «CONSTANTE
EXEMPLARIEDADE»
Simples, mas importante é o caminho que o Fundador nos traçou afim de que a
nossa vida de consagradas deixe «um sinal de perfeição» e torne-se constantemente
exemplar: «Não vos peço virtudes heróicas, mas sem temor de vos ofender, vos peço a
humildade».
Esta demanda permanece ainda atual e nos solicita a acolhê-la concretamente, na
simplicidade e na “terra” da nossa vida quotidiana.
Pela graça de Deus, o espírito das origens não cessa de atrair enquanto que a nossa
fé e “humilde” adesão a Cristo na história, na qual nos chamou, mantém vivo na Igreja
o carisma confiado a Pe. Jacinto.
O fato de nos termos aproximado com consciência aos acontecimentos biográficos
do Fundador e às origens da nossa história faz constatar que aqueles fatos distantes no
tempo são na realidade próximos ao coração de cada uma e podem inspirar e guiar a
vida do Instituto.
Da partilha de experiências e dos plenários surgiram propostas para ajudar-nos a
viver a vida comunitária, a oração e a missão na unidade que funda e alimenta a nossa
vida de consagradas.
Comunidade
A nossa vida comum brota da relação trinitária entre Pai, Filho e Espírito Santo.
Cada uma de nós sente a comunidade como lugar onde o Amor trinitário manifesta-se
na experiência de unidade e diversidade, de realizações pessoais e partilha total, de
ascese individual e diálogo fraterno, de sofrimento e alegria. Assim a comunidade
torna-se Eucaristia vivida, porque nos torna Cristo presente na Sua vida, que
misteriosamente circula em cada uma de nós.
A nossa vida fraterna é, portanto testemunho e expressão que o Reino de Deus é
possível já neste mundo.
135
Segundo o método da “correção fraterna” inspirado a nós pelo fundador, somos
chamadas cada dia a construir a nossa vida de comunidade «como verdadeiras irmãs,
com maneiras dóceis, afáveis [...] sem requerer direitos, ou autoridade, ou importância
magistral, com correções amigáveis». Humildade e perdão, sinceridade e fidelidade,
escuta recíproca e respeito mútuo criam o nosso estilo de vida, que é simples e
essencial, em um clima de estima e confiança onde cada uma se sente compreendida e
valorizada em um amor «de irmã para irmã», à luz da vida de Maria.
Na comunidade afloram as diversas culturas, revela-se o caminho pessoal de
maturidade humana e espiritual, emergem caráter e sentimentos. É o âmbito onde a
realidade nos alcança de modo mais imediato e onde os desafios e os conflitos que
dela derivam são vividos e reelaborados à luz do Evangelho.
Viver juntas é para nós reconhecer que o objetivo da nossa comunidade é a missão,
ideal de vida à origem da vocação e da fé de cada uma. É na pertença que encontramos
impulsos e razões para a missão: a comunidade nos envia, nos acolhe e nos sustenta.
Somente vivendo juntas, vivemos verdadeiramente para os outros e nos tornamos
capazes de anunciar e testemunhar o amor de Deus, de sermos imagem de Cristo e
mulheres de esperança como Maria.
Oração
A oração nos coloca em diálogo com a Trindade, nos dispõe a acolher a presença de
Deus e o Seu desígnio de amor para a nossa vida. Revela-nos assim a condição
concreta do nosso ser e nos torna capazes de um discernimento atento e vigilante.
O encontro pessoal com o Senhor é o coração da nossa vida e nos abre à
comunidade, numa atitude de humildade e de perdão recíproco. Juntas podemos
melhor agradecer ao Pai pelos seus dons: a vida, a vocação, a pertença ao Seu povo, à
salvação em Cristo.
Na meditação da Palavra, a oração nos conforma à vontade de Deus e nos dá a
disponibilidade de segui-Lo. É força essencial e insubstituível para a seqüela Christi, é
graça que sustenta a nossa fé e a conversão da qual temos necessidade a cada dia.
Na adoração do Mistério eucarístico experimentamos a verdadeira comunhão entre
nós e com as nossas comunidades, enquanto abraçamos e apresentamos a Deus tudo
aquilo que se passa, na Igreja, na sociedade e no mundo.
Em todas as suas formas, a oração nos interpela e nos encoraja a carregar o peso da
realidade, incentivando-nos a nos confrontar com o Evangelho, a oferecermos nós
mesmas, a escutar e fazer nosso o grito da humanidade que sofre.
Na oração sentimos que Deus nos envia sempre de novo ao encontro com a
variedade das culturas, plenas de esperança na construção do Seu reino e confiantes
que a Sua providência saberá nos sustentar nas inevitáveis dificuldades.
136
Identificando-nos com Maria, nós desejamos que cada uma de nossas ações seja
oração e que toda a nossa vida torne-se adoração, oferta e agradecimento: uma oração
«incessante, universal, prudente, corajosa» (J. Bianchi).
Missão
Às origens da nossa vocação missionária tem Cristo que escolheu cada uma de nós:
«Como o Pai me enviou, também eu vos envio» (Jo 20, 21).
Acolher e responder a este chamado é a missão da nossa vida, no testemunho do
amor misericordioso de Deus para com toda criatura que nós por primeiro
experimentamos: «O que vimos e ouvimos nós vo-lo anunciamos, também a vós» (1Jo
1, 3).
Somos conscientes que o anúncio do Evangelho é sempre obra do Espírito Santo. A
Sua força nos impulsiona sempre a partir, tornando-nos capazes de superar toda nossa
incredulidade e fragilidade humana.
Para continuar a guardar e transmitir o carisma missionário ad gentes suscitado na
Igreja através de Padre Jacinto Bianchi, peçamos ao Espírito de permanecermos dóceis
à Sua ação, prontas a sair de nós mesmas para nos abrir ao novo e partilhar o diferente,
segundo as exigências da evangelização que cada uma de nós sente como próprias.
Para esta tarefa nos formamos ao conhecimento e à valorização das outras culturas, à
prática do diálogo ecumênico e inter-religioso, numa experiência pessoal do Mistério
pascal.
À imagem de Cristo misericordioso, nós nos inclinamos sobre a humanidade
sofredora com gestos simples e concretos de solidariedade e compaixão, sinais de
alegria autêntica e esperança cristã onde a vida e a dignidade da pessoa humana são
oprimidas e violadas.
Inserindo-nos nas realidades onde nós somos enviadas, a nossa vocação se faz
presença na Igreja local colaborando com o dinamismo missionário e à promoção
humana, com uma atenção preferencial à mulher e à juventude. Maria «estrela da
evangelização» nos guia na missão: à Sua luz e com o Seu exemplo tornamos Cristo
presente no Mistério da encarnação. E assim como Ela, nós acolhemos os dons de
Deus para as mulheres e os homens do nosso tempo.
137
138
A vossa fé e a vossa esperança repousam em Deus.
Santificais as vossas almas e amai-vos entre vós intensamente, de coração
verdadeiro.
1Pd 1, 21-22
Conclusões da Superiora Geral
CONFIANTES EM DEUS E CONTENTES NA
CAMINHADA
1. Ricas da nossa pobreza
No fim da nossa V assembléia inter-capitular, quero agradecer a todas, e a cada uma
de vocês em particular, pela intensidade, o amor e a paixão com a qual vocês
participaram, sustentadas pela força da esperança, e pela certeza de pertencer a uma
Congregação que, embora pequena, é atenta a se deixar renovar pelo Espírito.
Juntas iniciamos um novo sulco no qual hoje podemos lançar novas sementes para
renová-la e revitalizá-la no seu espírito, na sua tradição e nas suas expressões
operativas.
Nestes dias eu refleti com o texto bíblico no qual Ezequiel descreve o vale de ossos
secos (cf. Ez 37, 1-14). A pergunta de Deus me tocou muito: «Filho do homem,
tornarão a viver estes ossos?» e a resposta do profeta: «Senhor, Deus, tu o sabes»;
depois o Senhor faz reviver aqueles ossos que pouco a pouco se recompõem, retomam
vida e se levantam em forma humana.
Eu refleti também sobre os quarenta anos que Israel passou no deserto. É uma
condição que sempre se repete, na história da Salvação e na experiência de cada um.
Também nós, agora nos encontramos no meio de uma travessia que parece sempre
mais longa, difícil e insegura. Também para nós, este é o tempo da provisoriedade,
portanto estamos certas que Deus mesmo se faz fiador desta viagem, que nos proverá
água e alimento e nos defenderá dos perigos, do desânimo e da sedentariedade.
Hoje temos uma consciência mais profunda que a nossa vocação e o seguimento de
Cristo na Vida Consagrada são um dom precioso, mesmo se confiado às nossas
“pobrezas” pessoais, comunitária e de Congregação.
Podemos ser pequena, mas não parte menos importante do «pequeno rebanho»
(Lc12, 32) com a condição de sermos fermento de Cristo na massa, que saibamos nos
reconhecer como o servo inútil (cf. Lc 17, 10) e tornar-nos essenciais, como um pão
ázimo de sinceridade e verdade, na certeza que somente abandonando as seguranças
139
humanas e até mesmo nossos justos critérios, pode renascer uma vida nova que
produz fruto, como o grão de trigo caído na terra (cf. Jo 12, 24).
2. Esperar os tempos de Deus
Tantos e preciosos foram nestes dias os pontos de reflexão, como centelhas que
acompanhando-nos, traçam e iluminam o caminho a ser feito.
Jamais como nesta época de tempestades e contradições «o Senhor está perto de
todos os que o invocam, de todos os que o invocam sinceramente» (Sl 144, 18). Ele é
fiel à Sua aliança, nos dá continuamente a graça para responder ao seu chamado
mantendo viva nos nossos corações a sedução de Cristo. Assim podemos continuar a
segui-Lo e, através da nossa vida de missionárias, a desmascarar a ausência de valores,
os mitos das falsas liberdades e dos sucessos efêmeros.
Escutamos fortes apelos: ao avaliarmo-nos cada dia com as exigências do
Evangelho, dentro da realidade do nosso tempo difícil, ao acolhermo-nos
reciprocamente valorizando as nossas diversidades, ao integrarmo-nos nas várias
culturas que representamos, ao aceitar de conviver e partilhar com o outro, nos vários
aspectos apresentados. Sobretudo fomos solicitadas a auxiliar e viver a continua
evolução da Vida Consagrada, na Igreja e na sociedade.
Tudo isto nos interpela à necessidade de uma fé mais profunda e de uma continua
conversão do coração. Nesta mudança reside a fidelidade à nossa vocação e
conseqüentemente a Cristo que nos chama a cada dia: é Ele que nos “sinais dos
tempos” continua a nos revelar a vontade do Pai e a face autêntica dos outros Seus
filhos e nossos irmãos.
Esta tarefa hoje exige de nós a humildade da obediência, a paciência da espera e a
responsabilidade do discernimento, como nos ensina Jesus: «Pois bem, eu vos digo:
Erguei vossos olhos e vede os campos: estão brancos para a colheita... um é o que
semeia e outro é o que recolhe os frutos» (Jo 4, 35.37). É o mesmo horizonte que João
Paulo II nos convida a olhar: «Vejo alvorecer uma nova época missionária, que se
tornará dia radiante e rico de frutos, se todos os cristãos e, em particular, os
missionários e as jovens Igrejas responderem com generosidade e santidade aos apelos
e desafios do nosso tempo» (Redemptoris missio, 92).
3. A caminho como Padre Jacinto
Há alguns anos padre Antonio da Silva nos falava da necessidade de estabelecer
uma empatia com Padre Jacinto, resgatando a sua imagem autêntica e a sua memória
viva, aprendendo a considerá-lo não uma pessoa do passado, mas presente entre nós,
140
graças à potência do Espírito. Portanto nós perguntávamos como podermos nos
aproximar verdadeiramente dele, dos seus pensamentos e estado de espírito, da sua
sensibilidade de homem e de cristão, de sacerdote e de fundador. Padre Antonio nos
respondia que a possibilidade de uma empatia brota da convicção que Padre Jacinto
Bianchi está vivo no meio do povo de Deus através do sinal visível e concreto que são
as Filhas de Maria Missionárias, depositárias da sua hereditariedade e chamadas a
fazê-la frutificar. É o mistério da Comunhão dos Santos. Estes dias foram
fundamentais para nos aproximarmos dele: à luz de tudo quanto aprendemos que
imagem temos da sua pessoa? Acredito de poder interpretar o sentimento de todas
indicando-o como um profeta: ele foi na verdade um portador de novidade fazendo-se
intermediário para a manifestação de um carisma, viveu a fidelidade à sua vocação
através de uma confiança inabalável no desígnio de Deus. Sobretudo, era convicto de
fazer a vontade de Deus, de ser seu instrumento, e jamais se preocupou consigo
mesmo.
Desta humilde certeza tirava a audácia e a força para caminhar nas estradas não
certamente simples, que Deus lhe havia traçado, um percurso que às vezes se via com
clareza, mas freqüentemente se confundia até quase desaparecer.
Quem sabe quantas vezes terá perguntado: «O que fazer?». Mas os fatos
demonstram que ele jamais parou, continuando a caminhar na certeza de não estar
sozinho ao longo do caminho, porque sabia que Deus guardava os seus passos, mesmo
os mais inacessíveis e arriscados que o levavam a abandonar um caminho cômodo e
conhecido para abrir estradas completamente novas.
É esta a passagem a qual somos chamadas também nós, suas filhas?
Somos chamadas a traçarmos o caminho sem parar de caminhar, sustentadas pela
esperança de atingir a meta?
Para orientar-se é necessário olhar para o alto, e nós temos a Palavra de Deus, a
Regra de Vida, os escritos do Fundador, os documentos da Igreja. Mas tudo isso serve
se conservamos a «juventude do coração» isto é, a vontade de arriscar, de colocar a
vida em jogo, de não fazer cálculos, porque confiantes completamente em Deus, o
único que pode manter viva a nossa esperança.
Que os nossos olhos olhem sempre para o futuro à luz da esperança e o coração se
deixe penetrar pelas palavras de Jesus: «Coragem, sou eu, não tenhais medo... A vossa
tristeza se transformará em alegria... Até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão
todos contados; portanto, não tenhais medo» (Mt 14, 27; Jo 16, 20; Mt 10,30-31).
Como o «Sim» de Maria, o nosso “sim” nasça da humilde disponibilidade e do total
abandono a Deus, certas da Sua promessa também quando o Seu reino de paz parece
inevitavelmente danificado pela agressão e pela violência.
Maria nos acompanha na vida, no trabalho de cada dia, nos desejos do bem para nós
e para o mundo. A onipotência de Deus confiou na sua humildade para realizar o
grande desígnio de Salvação. Assim cada uma de nós seja dócil e generosa a dar tudo
de si mesma para realizar o projeto que Deus traçou para nossa Congregação.
141
Abraço-vos, todas, com profundo afeto, desejo-vos uma boa caminhada e muita
audácia para continuar a serem «donne viventi nel mondo»(mulheres que vivem no
mundo).
Ir. Fiorenza Amato
142
CALENDÁRIO DOS TRABALHOS
Sábado 5 de julho de 2008
Saudação da Superiora Geral
Introdução à Assembléia e apresentação do documento de Jacinto Bianchi
Testemunho das virtudes e luta contra as paixões por uma vida de perfeição
Domingo 6 – terça-feira 8 de Julho
Tríduo de espiritualidade: Os fundamentos bíblicos da missão
STEFANO BERTON SX – Encarregado da animação missionária nos Seminários
Italianos
Quarta-feira 9 de Julho
Visita à Basílica papal de „São Paulo fora dos muros‟ em ocasião do ano paulino
Relatório: O nascimento dos institutos femininos na Itália no século XIX. Elementos
constantes e experiências específicas com referência particular ao âmbito
missionário
GIANCARLO ROCCA SSP - Diretor do Dizionario degli Istituti di
Perfezione(Dicionário dos Institutos de Perfeição) e Presidente do CSR
Coordinamento Storici Religiosi (Coordenação dos Históricos Religiosos)
Quinta-feira 10 de Julho
Relatório: Sociedade e Igreja na Itália entre os séculos XIX e XX na perspectiva da
mulher e da vida religiosa feminina. Formação dos membros, serviço à comunidade e
presença no meio do povo.
GRAZIA LOPARCO FMA – Professora de História da Igreja na Pontifícia
Faculdade de Ciências da Educação Auxilium e vice-presidente da CSR
Coordinamento Storici Religiosi (Coordenação dos Históricos Religiosos)
143
Sexta-feira 11 de Julho
Relatório: Dos “novos institutos” às novas comunidades. Leis da Igreja e sopro do
Espírito em um século de História da Vida Consagrada
LEONELLO LEIDI CP - Canonista e Responsável do escritório da Congregação
para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedade de Vida Apostólica
Segunda-feira 14 de Julho
Visita ao Arquivo Histórico da Congregação para a Evangelização dos Povos
(Propaganda Fide)
Relatório: O trabalho histórico e arquivístico sobre Padre Jacinto Bianchi
FABRIZIO FABRIZI – Pesquisador do Centro de Estudos Guanelliani (Obra Padre
Guanella) e consultor histórico-filológico
Terça-feira 15 de Julho
Apresentação do Documento de Trabalho: Às origens das Filhas de Maria
Missionárias. A idéia e a possibilidade da fundação na experiência e na reflexão de
Pe. Jacinto Bianchi
Quarta-feira 16 de Julho - Beata Virgem do Carmelo
Relatório: Espiritualidade e devoção mariana em Padre Jacinto Bianchi
ANTONIO F. DA SILVA SSP – “Postulador” geral da Família Paulina
Visita à Igreja do Carmelo e à Basílica de Santa Maria em Trastevere
Quinta-feira 17 de Julho
Relatório: Direito canônico e dimensão espiritual
S.E. MONS. VELASIO DE PAOLIS - Presidente da Prefeitura das Relações
Econômicas da Santa Sé
Sábado 19 de Julho
Relatório: Valor e significado das Constituições para um Instituto religioso
AGOSTINO MONTAN CSI - Professor de Direito Canônico na Faculdade de
Teologia da Pontifícia Universidade Lateranense
144
Domingo 20 de Julho
Apresentação da Associação «Guardas de Honra de Padre Jacinto Bianchi»
ENRICO ROSSI E ROBERTO MARCHINI - Villa Pasquali
Terça-feira 22 de Julho
Visita à Necrópole Vaticana e sepultura de São Pedro
Em complemento aos encontros programados e nas datas não especificadas foram
desenvolvidos trabalhos de grupos divididos por grupos lingüísticos.
145
PARTICIPANTES
Conselho Geral
Ir. Fiorenza Amato, Superiora Geral
Ir. Maria Alice Freire, Vicária
Ir. Marisa Crialesi, Ecônoma
Ir. Carla Saluto, Conselheira
Ir. Antonietta Papa, Secretária geral
Itália
Ir. Lucina Amato
Ir. Fabiana Abate
Ir. Fabrizia Zaffanella
Ir. Angela Bono
Rep. Centro-Africana
Ir. Ida Casotti, Delegada
Ir. Lucie G. Mbomby
Ir. Olga R. Yangue
Ir. Evelyne Lette Yabanga
Ir. Pauline Mbesima Kala
Brasil
Ir. Neusa da Conceição Vale, Superiora Regional
Ir. Benedita Domingos Nogueira
Ir. Sirlei de Souza Antunes
Ir. Marinalva Ribeiro da Silva
Ir. Hélem de Oliveira Araújo
Ir. Vanessa Gomes Ferreira
146
Índice
147
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Nota de edição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Meditações de Padre Jacinto Bianchi às Filhas de Maria
Testemunho das virtudes e luta contra as paixões por uma vida de perfeição . . . . . . . . 11
Saudação da Superiora Geral
Da nossa história «um raio luminoso» para o futuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
RELAÇÃO
ÀS ORIGENS DAS FILHAS DE MARIA MISSIONÁRIAS
A idéia e a possibilidade da fundação na experiência e na reflexão de Pe.Jacinto Bianchi . . . 23
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Organização e limites do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Primeira parte - As origens do Instituto na experiência pessoal do Fundador (1864-1875)
1.1 As raízes em Scandolara (1864-1865) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.2 Na escola de Giuseppe Frassinetti (1865-1868) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.3 O método da “correção fraterna" e a contribuição de Pe. Luca Passi . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.4 A Pia União das Filhas de Maria e de Sta. Inês do abade Alberto Passèri . . . . . . . . . . . . . 34
1.5 A fundação em Pigna (1870-1875) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Segunda parte – A missão na Palestina (1876-1892)
2.1 A presença das Filhas de Maria na missão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
2.2 Os votos de 1877: das Filhas de Maria “missionárias” ao Instituto das FMM . . . . . . . . . 41
2.3 O Esquema da Regra de 1889 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.4 A progressiva autoconsciência do Instituto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.5 O retorno na Itália em 1892 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
Terceira parte - O texto normativo de 1907
3.1 Análise sintética e circunstância de publicação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.2 Um instrumento inadequado à aprovação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Quarta parte – Avaliação sobre uma experiência
4.1 Manifestação da Providência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.2 A virtude e a regra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.3 A força da humildade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.4 A missão de hoje na vocação originária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
148
Apêndice - O «fim secundário» das FMM nas formulações sucessivas. . . . . . . . . . . . . . . . . 64
DOCUMENTAÇÃO
Documento 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Documento 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Documento 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Documento 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Documento 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Documento 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Documento 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Documento 8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Documento 9 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Documento 10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Documento 11 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
Documento 12 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
Documento 13 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Documento 14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Documento 15 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
Documento 16 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
Documento 17 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Documento 18 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
Documento 19 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
Documento 20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Documento 21 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
Documento 22 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Documento 23 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
Documento 24 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
Documento 25 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
Documento 26 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
Documento 27 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
Documento 28 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
Documento 29 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
Síntese dos Grupos de trabalho
O caminho para um «constante testemunho» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
Comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
Oração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
Missão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .139
Conclusão da Superiora Geral
Confiantes em Deus e contentes na caminhada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
Calendário dos trabalhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
Participantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
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Editado em italiano no mês de dezembro de 2008
Pela Comas Gráfica srl - Roma Traduzido em português em setembro de 2009