o ensino e o clima socio relacional da aula

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O Ensino e o “clima” sócio-relacional da aula Mestrado em Ensino em TIC Teoria e Desenvolvimento Curricular Escola Superior de Educação de Fafe 2008-2009 Artur Ramísio

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A aula: espaço de interacção...

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O Ensino e o “clima” sócio-relacional da aula

Mestrado em Ensino em TIC

Teoria e Desenvolvimento Curricular

Escola Superior de Educação de Fafe2008-2009

Artur Ramísio

A aula A aula

Espaço “vital” do ensino

Um momento – um problema? – de interacção

A aula: cenário formal e nuclear do ensino A aula: cenário formal e nuclear do

ensino É uma “actividade reflexiva que,

utilizando uma boa comunicação e gerando uma boa comunicação e uma adequada interacção, promove, propicia e dá azo a que o aluno adquira um estilo de aprendizagem significativa”

Medina (1990:575)

A aula: cenário formal e nuclear do ensino Contudo…

…os processos de aprendizagem são condicionados pelas relações e pelos intercâmbios que constituem a vida dos grupos a que os alunos pertencem Os amigos, a turma…

Ou seja, não se resume à actividade unidirecional do professor na aula… …visto que é “uma actividade comunicacional e interactiva em

que participam outros sujeitos – os alunos – cujo protagonismo é preciso ter em conta para o êxito do próprio ensino

A aula: cenário formal e nuclear do ensino

Por isso… …a prática do ensino só adquire

sentido quando se consegue promover processos de trabalho cooperativo e de genuíno intercâmbio na sala de aula Pressupõe:

Diálogo / negociação Concretização dos conteúdos educativos

(conhecimentos, procedimentos e atitudes) de forma democrática e flexível

A aula: cenário formal e nuclear do ensino

Segundo Tikunoff (1979) a aula é configurada pelas interacções de 3 tipos de variáveis: Situacionais ou contextuais

Finalidades, interesses e expectativas do grupo Cenários ou referências de convivência social

Experienciais Significados e modos de actuação prévios do

professor e dos alunos

Comunicacionais De nível intrapessoal, interpessoal e grupal

A aula: cenário formal e nuclear do ensino

Assim… …o ensino é uma actividade muito complexa que

ultrapassa o tratamento e transmissão de conteúdos curriculares

É uma actividade que: Co-implica diferentes sujeitos nas dimensões social

e afectiva Requer articulação conjunta de professores e

alunos em torno das tarefas escolares

A aula: cenário formal e nuclear do ensino

Shulman (1986) releva dois aspectos importantes no ensino: A actividade sócio-interactiva entre

professor-alunos e alunos-profesor

A actividade de desenvolvimento intelectual dos alunos e do próprio professor

A aula: cenário formal e nuclear do ensino

Mas… …apesar da actividade auto-estruturante em que

se baseia a construção do conhecimento, o professor influencia sempre esta actividade, no sentido de ter “um maior ou menor impacto sobre a aprendizagem escolar”

Cool; 1990:134)

Ou seja: o ensino implica as capacidades do professor para criar as “condições óptimas” para a “interacção construtiva entre o aluno e o objecto de Conhecimento”

A aula: cenário formal e nuclear do ensino

Deste modo… …o professor deve procurar criar na sala de aula

um “clima” humano e social para que a tarefa instrutiva propicie “uma aprendizagem intelectual significativa e social”

Para isso o professor precisa de: Conhecer as múltiplas influências (previstas ou

não) que podem ter lugar na aula e que condicionam o modo de aprendizagem

A aula: cenário formal e nuclear do ensino

Ou seja: a vida da aula tem de ser estudada no âmbito da complexa estrutura de variáveis interdependentes que configuram o grupo “turma”…

Assim… a aula deve privilegiar “um estilo de comunicação que potencie a negociação real e aberta de todas as características e factores que nela se entrecruzam”…

…o que também exige “a transformação radical do sistema educativo “ (…) e da função social atribuída às escolas

A aula: cenário formal e nuclear do ensino

Este desenvolvimento da interacção sócio-comunicativa na sala de aula depende das concepções que os professores têm da educação:

do currículo como projecto educativo válido para a formação dos alunos

Da visão pessoal sobre o ensino e sobre os métodos de aprendizagem

Da contextualização de âmbito sócio-político e institucional definido

A aula: cenário formal e nuclear do ensino

Em conclusão: Como o “bom ensino” também se deve aos

professores (embora não exclusivamente), estes devem: Criar na aula um “clima” cooperativo, de empatia e de

estímulo da autonomia, propício ao desenvolvimento de relações favoráveis à maturação humana e social dos alunos

Pelo que… “o estudo do que se passa na aula resulta essencial para

conhecer e compreender as dinâmicas que se estabelecem a respeito do currículo”

(Gairin e Tejada;1990:358)

A problemática da interacção

“O processo ensino-aprendizagem é essencialmente interactivo, dialéctico, momento em que a linguagem do docente se entrelaça com a do discente, não como segmentos separados, mas como momentos de um único processo comunicativo”

(Titone;1986:51)

A problemática da interacção Deste modo, a interacção comunicativa não é mais do que a

“co-implicação existencial e social que se estabelece entre os agentes do processo educativo…” Com os seus respectivos papéis e funções

“…e que é determinada pelo ambiente da aula, da Escola e do Meio, pela biografia e expectativas daqueles e da comunidade escolar… Discurso da aula e da Escola “Clima” social da aula e da Escola Texto / contexto espácio-simbólico

…tendo como finalidade a formação integral dos alunos”

A problemática da interacção

Segundo Medina (1990a:580)… …”a interacção dialéctica é um

intercâmbio recíproco, formativo, que implica no professor e nos alunos, novas atitudes e procedimentos, baseados no respeito mútuo e na procura sistemática de funções e papéis de realização humana”

A problemática da interacção

Assim, o interesse pelo estudo da interacção centra-se em: Saber quais são as “regras e sequências

interactivas que favorecem ao máximo o processo de construção do conhcimento”

Compreender os mecanismos da interacção professor-aluno e aluno-professor que condicionam e configuram a actividade auto-estruturante do aluno

A problemática da interacção Deste modo, a análise empírica da interacção no

contexto do processo de ensino-aprendizagem deve: Realizar-se em todas as unidades didácticas

Desde a planificação e preparação da tarefa até à avaliação dos resultados

Centrar-se na articulação das modalidades interactivas Com os processos psicológicos subjacentes à aprendizagem e à

execução das tarefas escolares Ter em conta os elementos:

Evolução da aprendizagem Modelos de funcionamento cognitivo Sequência de procedimentos interactivos

A problemática da interacção

A interacção dialéctica é encarada por Medina (1990a) segundo três níveis de análise:

“Como realidade de confrontação institucional entre «saber estar» e o «dever ser»”

“Como uma situação de colaboração e empatia que surge da cultura interpretativa dos membros da aula e da escola”

“Como uma realidade institucional que, determinando o trabalho crítico-reflexivo do professor e dos alunos, estabelece as regras da interacção”

A problemática da interacção Esta perspectiva pode ser sintetizada na ideia de

Gairin e Tejada (1990:342-343”, para quem: O processo de ensino-aprendizagem não é apenas o

resultado da interacção entre professor e alunos, mas também da situação ou contexto do ensino

Todo o acto dialéctico é levado a cabo segundo determinadas situações que configuram as suas coordenadas espaciais em duas dimensões fundamentais: A dimensão comunicativa A dimensão instituinte

Ambiente da aula, relações professor-alunos, etc.

A problemática da interacção No quadro da perspectiva de que a interacção na

sala de aula pode favorecer ou retardar a aprendizagem, é indispensável: “ter sempre em conta os contextos sociais e

culturais dos alunos” Implicar os alunos em actividades relevantes

Actividades para eles significativas que resultem de debate amplo e aberto Implica conceber a aula como uma rede de relações

interpessoais e culturais

A problemática da interacção Em suma, a comunicação didáctica…

…”é a facilitação e clarificação das mensagens válidas que optimizam as dimensões intelectuais, sócio-afectivas e emocionais do aluno”

(Medina; 1989c:256)

Assim… É de grande importância o discurso na sala de aula:

Modo como os professores seleccionam os fragmentos de conhecimentos a apresentar aos alunos

Modo como se veiculam esses fragmentos do conhecimento Modo como se introduzem e se concluem os diferentes tópicos Modo como se avaliam as respostas dos alunos às perguntas formuladas Modo como se graduam os fragmentos de conhecimento e se permite a sua

utilização

A problemática da interacção

Assim… …o contexto tem de ser visto como um constructo

essencial na preparação do discurso na sala de aula, por um lado porque: Se trata da “situação tal como a encontra o sujeito que fala,

antes de começar a falar, traduzindo-se nas regras apropriadas que devem ser seguidas enquanto se fala nesse contexto” (Cazden;1990:633)

E também porque: A comunicação entre as pessoas cria e modifica os contextos

Em conclusão: a criatividade do discurso é fundamental para o êxito da aula, devendo ter em consideração as diferenças entre os alunos

A problemática da interacção

O clima social é outro factor a considerar na interacção didáctica, visto que… …é um constructo “constituído pelo conjunto de relações

criadas entre os entre os membros da aula e da escola” que “se evidencia pela utilização que aqueles fazem na sala de aula”

O agrupamento dos alunos e o tamanho das turmas são factores determinantes deste clima

A problemática da interacção Medina (1989c) aponta como factores

condicionantes do clima social: Os agentes intervenientes A arquitectura do espaço A temporalização A tarefa a desenvolver A configuração sócio-cultural da escola Os meios tecnológicos O contexto político-ecoómico e administrativo

A comunicação relacionada com as relações mais significativas que acontecem na sala de aula é, assim, fundamental para o “clima social” da escola e da aula Esta comunicação deve ser fluida e aberta

A problemática da interacção A escola e a sala de aula são, assim, os espaços de

realização social dos alunos e dos professores, visto que…

…“a aprendizagem social é uma actividade de assimilação, observação e acomodação de estilos e formas de conduta humana que cada um vai interiorizando e aplicando, de acordo com a percepção/interpretação das circunstâncias”

(Medina; 1989b:65)

Deste modo se constrói o ambiente de aprendizagem, para o qual contribuem ainda as seguintes dimensões sugeridas por Moos (1978): O cenário físico – escola e salas de aula Os factores organizativos A turma como grupo social e humano O “clima social” resultante do sistema de vida na sala de aula

A problemática da interacção

Em resumo: O ambiente de aprendizagem gerado na escola e

na sala de aula, constitui um componente integrante da interacção didáctica…

…a qual, sendo configurada pelo discurso e pelo clima social, se apresenta como uma síntese entre o pensamento e a acção…

…visando a plena aprendizagem formativa dos alunos

Bibliografia

Vilaça A. Matos (1994). Currículo e Ensino. Porto: Asa